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Aprenda xadrez

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Aprenda

Xadrez comGarry

Kasparov

Traduqao ' Bazan Tecnologia e Lingtifstica

Fabio Santos de Goes

Ediouro

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Sumario

Nota~ao Alg6brica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 LI<:;Ao 1 Por Que Estudar Xadrez? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 L1(; Ao 2 Id6ias e T6cnicas . . ...... . .. . ... .. . ... . .. . .. . 8 u<;:Ao 3 Equilibrio Material . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 13 u<;:Ao 4 A Importancia do Centro . . . .. .... . . .... . .. ... . 18 u<;:Ao 5 Como Ganhar Espa~o . .. ... . . .. ...... . . . . . .. . 24 u<;:Ao 6 Estruturas de Pe6es ..... . ............ . . . ..... 29 u<;:Ao 7 Dinarnismo e Iniciativa ... . ..... . .. . . . ... .. ... 34

Evitando Desastres na Abertura . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 u<;:Ao 9 Negligenciando os Principios da Abertura . . . . . . . .. 44 u<;:Ao 8

u<;:Ao 10 0 Objetivo da Abertura .......... . . .... . ... . . . 50 u<;:Ao 11 A Escolha da Abertura ... . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56 u<;:Ao 12 AArte do Planejamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 63 u<;:Ao 13 For~ando as Continua~6es .... . . . . . . . . . . . . . . . .. 69 u<;:Ao 14 Sacrificios de Dama . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 74 u<;:Ao 15 Estratagemas Taticos ... . ..... .. ... . . .... . . ... 79 u<;:Ao 16 0 Final. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 84 u<;:Ao 17 M6todos de Ataque . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89 u<;:Ao 18 Ataque ou Defesa? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 94 u<;:Ao 19 Contra-ataque . . . .. . ........ . ..... . .... . .... . 99 u<;:Ao 20 A Oposi~ao .... . .. . . .. .... . .... . . . ...... . ... 104 u<;:Ao 21 0 Ataque no Final . . ..... ... . . .. . ....... . .... 109 u<;:Ao 22 Fortalezas no Tabuleiro . . . ..... . . . . . .. . . . ... .. 114 u<;:Ao 23 A Beleza do Xadrez . .... . . . . .......... . . . . . .. 120 u<;:Ao 24 Dedique-se Bastante ..... . ....... . ..... . ..... . 125 fndice de Jogos e Posi~6es .. . . ..... . ... . ...... .. .... . .. . 128

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N ota~ao Algebrica

Os lances que aparecem neste livro sao escritos segundo a "nota<;;ao algebrica", uma denomina<;;ao pomposa para descrever urn metodo muito simples de se anotar os movimentos. Os leitores que j a estiverem familiarizados com 0 sistema podem passar direto para as li<;;6es propriamente ditas; mas aqueles que s6 conhecem a nota<;;ao descritiva ou que tenham pouca experiencia em xadrez irao considerar util 0

material que se segue. Partimos do principio de que os nossos leitores j a sabem jogar xadrez.

Cada pe<;;a e representada por urn simbolo, conforme se segue:

Peao £3, 6

Cavalo III Bispo ~ 4

Torre 1:1 Dama 1W 2

Rei ~

As casas do tabuleiro sao descritas por meio de urn sistema de coordenadas, a cada uma correspondendo urn par formado por uma letra e urn numero - a letra para a coluna e 0 numero para a fileira­(veja 0 diagrama). A casa marcada com urn X e denominada "e4". 0 principio e exatamente 0 mesmo aplicado no jogo "batalha naval" . Nao ha misterio algum nisto!

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LIC;Ao 1

Por Que Estudar Xadrez?

A proposta da revista Sport in the URSS, de publicar uma serie de li~6es minhas para os seus leito­res, me pegou urn pouco de sur­presa; porque eu mesmo ainda estou estudando as sutilezas do xadrez.

Depois de pensar urn pouco, eu resolvi que, escrever a respeito da minha compreensao e da mi­nha interpreta~ao dos fundamen­tos do xadrez, tambem seria uti! paramim.

Eu sou urn apaixonado pelo xadrez; esta paixao ja dura muitos anos e e para sempre. Eu estou sempre estudando xadrez, e estu­dando minuciosamente. Mesmo quando eu analiso aquilo que ja fiz e tra~o pIanos para 0 futuro, nao consigo deixar de me impres­sionar diante da inesgotabilidade do xadrez e de me tomar cada vez mais convencido da sua imprevi­sibilidade. Veja por voce mesmo: j a foram disputados milh6es de

partidas e milhares de livros fo­ram escritos, sobre van os aspec­tos do jogo. E assim mesmo nao existe urn metoda ou uma f6rmu­la capaz de garantir a vit6ria. Nao ha criterios, matematicamente comprovados, para avaliar-se se­quer urn lance, quanta mais uma posi~ao . Os experts em xadrez nao tern duvidas de que, na maio­ria das posi~6es, ba mais de uma continua~ao recomendavel e ca­da urn escolhe 0 "melbor" lance com base na sua pr6pria expe­riencia, capacidade analitica e ate mesmo carater. Nem mesmo a pos­sibilidade do emprego de compu­tadores, para analise, parece seria no presente, uma vez que ainda nao foi encontrado urn algoritmo [definitivo] da partida de xadrez, e nao ha program a algum capaz de Ii dar confiavelmente com suas complica~6es multiplas. E por que falar a respeito de detalhes, posicr6es e estagios da partida

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quando nem mesmo ha uma res­posta para a pergunta "0 que e 0

xadrez? Urn esporte, uma arte ou uma ciencia?"

Alguns dirao: "Os jogadores de xadrez participam de tomeios e disputam partidas, lutam para veneer e 0 resultado e importante para eles - 0 que significa que 0

xadrez e urn esporte. Ele desen­volve a for~a de vontade e ajuda as pessoas a se tomarem mais fortes ."

E como pode alguem conven­cer outro da corre~ao da opiniao daqueles que sempre se impres­sionam com a beleza das combi­na~6es e da l6gica das taticas do xadrez? Para estes urn engenhoso sacriffcio da Dama em uma parti­da perdida e uma fonte de prazer, ao passo que uma partida mon6-tona, for~ada, os deixa indiferen­tes. Para estes 0 xadrez e uma ar­te, capaz de trazer felicidade e de dar senti do aos momentos de lazer.

Ao mesmo tempo, ha tambem muitos entusiastas capazes de pas­sar noites em claro resolvendo urn problema do tipo: "Por que as Pretas moveram a Torre para a casa d8 em vez de mover 0 Cava-10 para a casa c6? Por que a posi­~ao das Pretas e melhor?" Para estes 0 xadrez e principalmente

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uma ciencia baseada no raciocf­nio l6gico.

Eu gosto do xadrez pela sua versatilidade e pela sua multipli­cidade. Foi a beleza e 0 brilhan­tismo dos golpes taticos que me cativaram ainda na infancia. Pri­meiro admirando este brilhantis­mo, e depois buscando-o nas rni­nhas pr6prias partidas, e a seguir tentando jogar bonito - tais fo­ram os estagios do meu cresci­mento - como urn prisioneiro da arte do xadrez. Mas depois veio a epoca em que comecei a compe­tir com os outros, a tomar parte em tomeio ap6s tomeio, e is to quer dizer que tive que come~ar a trilhar 0 carninho do xadrez como esporte. Eu ainda gosto de jogar bonito, mas nao mais posso ser indiferente aos meus resultados; a se vou ganhar ou terrninar nas ultimas posi~6es.

Eu quero veneer, eu quero der­rotar todos, mas quero faze-lo com estilo, em urn combate es­portivo honesto. 0 ex-campeao mundial, Mikhail Botvinnik, que eu considero meu professor, e urn acadernico do xadrez, cujo traba­Tho me ajudou a abordar 0 xadrez cientificamente. Ele despertou em rnim 0 prazer de pesquisar e de resolver os inumeraveis proble­mas do jogo. Ao longo de meus

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preparativos para as competi­~6es, e durante minhas amilises de partidas e aberturas, de rep en­te, percebi que estava tentando estudar meticulosa e metodica­mente, com uma persistencia tipi­ca de urn pesquisador. Estou con­vencido de que a minha afei~ao por todos estes aspectos do xa­drez ira contribuir para preservar a minha paixao, pelo resto da mi­nha vida.

Meus pais me ensinaram a mo­ver as pe~as quando eu tinha cin­co anos, e eu fiquei fascinado. Urn ana mais tarde, fui levado para urn grupo de xadrez no Clube de Jovens Pioneiros em Baku, on de eu me imaginava em urn reino de jogadores de xadrez. Desejando convencer-nos do carater parado­xal do xadrez, 0 nosso instrutor arrumou as pe~as sobre 0 tabulei­ro, logo em uma das primeiras sess6es; vej a 0 diagrama a seguir.

Esta posi~ao, onde os peque­nos Pe6es derrotam 0 inimigo, era tao surpreendente que parecia urn conto de fadas, e tomei-me incapaz de viver sem 0 xadrez desde enmo. Sempre admirei esta posi~o.

Eu sempre gostei de atacar desde a infancia; ainda gosto de jogar na of ens iva. Dediquei mui­to tempo para estudar os funda­mentos, que parecem nao ter ne-

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nhuma influencia direta no jo­go mas que - estou convencido - sao necessarios tanto para urn Grande Mestre quanto pa­ra urn amador que queira melho­rar 0 seu jogo e obter agradaveis resultados em torneios. Para atin­gir 0 seu alto padrao de jogo, urn Grande Mestre tern que gas­tar milhares de horas estudando centenas de partidas. Seu talento jamais se desenvolveria sem ta­manho trabalho. Se voce gosta de jogar xadrez mas nao tern tempo para dedicar-se a urn estudo inde­pendente, mas assim mesmo quer derrotar seus amigos, voce tera que gastar algumas dezenas de ho­ras debru~do sobre 0 tabuleiro.

Nesta serie de artigos, tento expor a minha compreensao dos fundamentos, em uma linguagem que seja clara para todos, e falar sobre as sutilezas que sao impres­cindiveis aos verdadeiros am an­tes do xadrez.

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LI<;Ao 2

Ideias e Tecnicas

Antes de discutir os fundamentos da partida de xadrez, eu gostaria de mostrar urn trecho de uma par­tida, e apresentar alguns com en­tarios meus preparados especifi­camente para 0 jogador de nivel medio. Espero que, apos ler a mi­nha analise, voce seja capaz de ver, por si mesmo, que qualquer urn que queira prover seus movi­mentos de significado e beleza precis a de muito conhecimento.

G. Kasparov - F. Gheorghiu Moscou 1982

1 d4 Os jogadores experientes sa­

bern que este lance, assim como o lance do Peao do Rei para a casa e4, e 0 mais logico e direto, ou para falar de modo mais simples, o melhor para se iniciar uma par­tida. Cada urn de voces pode che­gar Ii. mesma conclusao, apos es-

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tudar por duas ou tres horas os principios basicos que guiam os primeiros estagios da partida: co­locar as proprias pe<;:as em a<;:ao tao rapido quanta possivel e as­sumir 0 controle do centro do ta­buleiro.

1 !bf6 Este e urn dos melhores movi­

mentos para as Pretas. As Pretas poem uma pe<;:a emjogo e impe­dem que 0 adversario conduza seu Peao para a cas a e4, de modo a consolidar seu dominio sobre 0

centro.

2 c4 Agora as Brancas impedem 0

avan<;:o do Peao da Dama para a casa d5, pois, neste caso, apos 3 cd as Pretas terao de escolher en­tre 3 ... ~xd5 4 !bc3, quando as Brancas desenvolvem 0 Cavalo ao passo que as Pretas tern que mover novamente a Dama, desa­celerando 0 desenvolvimento de

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suas pe<;:as, ou ficando para tn1s no desenvolvimento, conforme costuma dizer-se. Se as Pretas to­marem 0 Peao com 0 Cavalo via 3 ... tZ'lxdS, permitirao que as Brancas joguem 4 e4 e mante­nham urn forte par de Pe6es no centro, todos eles controlando posi<;:6es importantes no lado das Pretas, ou seja, as casas cS, dS, eS e fS.

Vamos voltar as primeiras li­nhas da nossa analise do movi­mento 2 c4, onde dissemos que "as Brancas impedem ... ". Este e o inicio de urn conflito conscien­te no jogo de xadrez. ldeias se chocaram, 0 comb ate come<;:ou. Quanto maior for a habilidade e 0

conhecimento de urn jogador, tanto melhor estara ele capacita­do a detectar a ocorrencia de tais microconflitos, dos quais ha de­zenas em uma partida, e tanto me­Ihor sera tambem 0 seu julgamen­to sobre as consequencias e as a<;:6es futuras .

2 e6

As Pretas abrem uma passa­gem para 0 Bispo, e, como se querendo compensar 0 tempo perdido, preparam-se para levar 0

seu Peao da Dama para a casa dS.

3 tZ'lf3

As Brancas tern uma boa gama de continuacr6es fortes, inclusive

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os lances 3 ttJc3 e ate mesmo 3 ~ gS ou 3 ~f4. Sao primordiais a compreensao dos principios de desenvolvimento rapido das pe­<;:as e a sua implementa<;:ao pratica durante a abertura.

3 b6 As Pretas preocupam-se com 0

seu Bispo na casa c8 e preparam­se para coloca-lo em acrao na po­sicrao principal de comb ate na ca­sa b7 ou na posi<;:iio alternativa a6.

4 a3 Para entender este movimento,

aparentemente passivo, e neces­saria uma com preen sao profunda de medidas preventivas em uma partida. Este movimento discreto das Brancas evita que 0 Bispo Preto possa exercer uma pressao ativa a partir da casa b4, e ao mesmo tempo prepara a condu­<;:iio do Cavalo Branco a casa c3 onde ele pode desempenbar urn papel vital na luta pelo centro.

4 ~b7

5 lLlc3 Ambos os lados tentam colo­

car logo as pe<;:as em jogo, de modo a consolidar seu poder de fiscalizacriio das casas centrais do tabuleiro.

5 dS As Pretas fortaiecem, radical­

mente, a sua posicrao no centro. Mesmo assim, 0 lance dS tern as

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suas desvantagens, uma vez que bloqueia a diagonal do Bispo na casa b7.

6 cd 4JxdS Apos 6 ... ed, 0 Bispo na casa

b7 teria sido bloqueado pelo seu proprio Peao e correria 0 risco de continuar imobilizado por algum tempo. Embora uma tal caracte­ristica na posi~ao das Pretas nao seja capaz de, por si so, deterrni­nar 0 sucesso das Brancas, e 0

acumulo consistente de pequenas vantagens como est a que perrnite a urn Grande Mestre virar 0 jogo a seu favor.

7 ~e2

Urn outro microconflito se de­senvolve na partida em torno do lance e4, que permitiria as Bran­cas ocuparem 0 centro. Ao esco­Iher este lance as Brancas levam em considera~ao que apos 7 e4? liJxc3 8 bc ..txe4 as Pretas ga­nham urn Peao.

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7 c5 As Pretas poderiam acabar

com 0 plano das Brancas jogando 7 ... f5, mas 0 custo seria muito alto. Elas ficariam com urn Peao fraco e atrasado na cas a e6.

8 e4 liJxc3 9 be

Aqui h3. urn novo ganho por parte das Brancas. Elas consegui­ram colocar urn forte par de Pe6es no centro e estao lutando pelo controle da quinta fileira, isto e, de "territorio inirnigo". Os joga­dores de xadrez chamam isto de "vantagem em espa~o".

9 ..te7

10 ..tbS+ ..te6 11 ..td3

Em xadrez nem sempre uma linha reta corresponde a menor distancia entre dois pontos. Ao mover 0 Bispo para d3, em do is lances, as Brancas colheram mais beneflcios do que teriam feito ca­so 0 tivessem movido para Ii di­retamente. As Pretas tiveram que abdicar do lance mais natural contra 0 xeque, porque apos 10 ..tb5+ ltJc6 11 liJe5 ~8 12 ~a4 ~c713 ~xa7 na8? 14 ..txc6+ as Brancas venceriam. 0 Bispo das Pretas fica em uma posic;:ao infe­liz na casa c6, atrapalliando as suas proprias pe~as . Os jogadores de xadrez costumam se referir a

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tais casos como "mau posiciona­mento de pe~a" e "pobre coorde­na~ao de for~as".

11 ... 4Jbd7

OBispo ocupando a cas a c6 for~ou 0 Cavalo a urn papel pas­sivo, impedindo que pudesse exercer urn papel ativo naquela cas a, de onde ele atuaria sobre 0

centro controlado pelas Brancas. Po de ser que as Pretas nao quises­sem dar as Brancas a vantagem do par de Bispos ap6s 11 ... 0-0 124Je5, mas este teria sido 0 me­nor de do is males, uma vez que na situa~ao presente 0 Rei Preto permanece no centro. Teria sido mais razoavel se as Pretas bus cas­sem a seguran~a do seu mona rca retirando-o do centro, tao logo quanta possivel.

12 0-0 J a que as Pretas demoram a

colocar seu Rei em seguran~a, as Brancas decidem abrir 0 centro a qualquer custo (removendo os Pe6es das colunas centrais). Para isto elas afastam 0 seu Rei da zo­na de comb ate deixando a area livre para a a~ao das Torres.

12 ... h6 Uma medida preventiva, simi­

lar ao lance 4 a3, que impediu 0

lance das Pretas ... ~b4. Mas 12 .. . 0-0 seria mais adequado.

11

o seqiienciamento preciso das opera~6es e urn componente im­port ante da partida, e 0 Grande Mestre Florian Gheorghiu esco­lheu urn momenta infeliz para medidas preventivas.

13 ru1 As Brancas centralizam a Tor­

re, antevendo a abertura da colu­na da Dama.

13 ... tic7 J a e tarde demais para as Pretas

rocarem. Depois de 13 ... 0-0 14 d5 (urn sacrificio de Peao) 14 ... ed (14 ... .tb7? e uma jogada fra­ca, pois com 15 de fe 16 ~b5 ! as Pretas teriam problemas por cau­sa do seu Cavalo preso na cas a d7) 15 ed ~b7 16 c4 ~f6 17 ~b2 as Brancas obtem urn forte Peao passado no centro.

14 d5!

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"Aquele que esti em vanta­gem deve agir nipido." Esta era uma das maximas do grande pen­sador do xadrez e primeiro cam­peao mundial Wilhelm Steinitz (1836-1900), que formulou as leis basicas da estrategia enxa­dristica. Uma analise da heran~a classica deixada pelos corifeus do passado e util para todos os entu­siastas do xadrez e uma necessi­dade para aqueles que desej am estudar seriamente e melhorar seujogo.

Na partida anterior as Brancas sacrificaram apenas urn Peao para obter tudo 0 que queriam: abrir as colunas centrais, amarrar as pe~as Pretas na coluna da Da­rna e manter 0 Rei adversario no centro. As Brancas visivel­mente venceram 0 primeiro es­tagio da partida - a abertura -e fizeram por meio de urn plano de a~ao consistente. No entanto, para capitalizar tais vantagens, e preciso agir de modo rapido e preciso.

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LI<;Ao 3

Equilihrio Material

De modo a avaliar corretamente o equilfbrio de fon;,:as em urn ta­buleiro, e preciso, antes de tudo, estar ciente do valor comparativo das pe<;as. 0 Rei ocupa uma po­si<;ao excepcional aqui, ele nao tern pre<;o. Ele nao po de ser tro­cado, e qualquer amea<;a ao mes­mo deve ser elirninada, ou a parti­da terrnina imediatamente. A pe­<;a mais poderosa e a dama, que em media costuma ter 0 valor de uma Torre, urn Bispo e urn Peao e meio. Vma Torre tern aproxima­damente 0 valor de urn Cavalo ou Bispo e urn Peao e meio. E por ultimo, urn Bispo ou urn Cavalo sao mais ou menos equivalentes a tres PeDes.

Mas alem do valor nominal de cada pe<;a, h<i urn valor real que se modifica ao longo da partida. Es­ta no<;ao mais sutil e import ante reflete a importancia de cada pe<;a no que se refere a sua carga de

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traballio, em urn dado momenta (na hora de urn lance), e as suas perspectivas, que decorrem da posi<;ao especifica no tabuleiro e do plano de jogo. Aavalia<;ao cor­reta da for<;a real de cad a pe<;a, a cad a lance, determina em grande parte a extensao do potencial de umjogador.

Ano<;ao de vantagem material no xadrez reside no desequiHbrio de for<;as. Quando urn lado obtem uma vantagem material, ele tenta aumenta-Ia, de modo a quebrar a resistencia de seu adversario; ou mantem a vantagem, trocando tantas pe<;as quanta possivel para entrar na fase final. Mas as vezes acontece de urn jogador entregar material deliberadamente. Eu, por exemplo, gosto de atacar a posi<;ao do Rei, e nao hesito em sacrificar pe<;as em troca dos PeDes, de modo a derrubar sua defesa. Foi deste modo que jo-

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guei, algum tempo atras, com La­jos Portisch, urn Grande Mestre hlingaro. Depois dos primeiros 16 lances chegamos a seguinte posi~ao:

Se nos imaginassemos que 0

Peao na casa d4 nao estivesse no tabuleiro, veriamos que os Bispos Brancos atacam exatamente os dois PeDes Pretos que protegem 0

Rei, que nao tern nenhuma outra prote~ao. Tudo is to exige urn at a­que-reHimpago cujos fins - rou­bar do Rei suas ultimas defesas - justificam os meios, que neste caso representam a perda de urn Peao Branco e do formidavel par de Bispos.

Em primeiro lugar e necessa­rio abrir caminho para 0 Bispo na casa b2.

17 d5! IS cd

ed .txd5

o proximo passo e eliminar as defesas do Rei.

14

19 .txh7+ 20 l'lxd5

~xh7

Agora, quando 0 Rei busca proteger-se atras do seu Peao, 0

Bispo restante vern e, ao custo de sua vida, aniquila de vez 0 ultimo refUgio do Rei Preto.

20 21 .txg7

~gS

~xg7

Vma serie de sacrificios dei­xou 0 Rei Pre to encarando 0 nada, em uma posi~ao na qual a Dama Branca representa a maior amea­~a.

22 llle5! 23 ~g4+

24 ~f5

25 llld7+

rus ~f8

f6

l'lxd7 Se 25 ... ~f7 as Brancas ven­

cern imediatamente com 26 ~h7+ ~e6 27 l:le1+ ~xd5 28 'tte4+ ~d6 29 "'e6 mate .

26 l'lxd7 ~c5

27 ~h7 'n£7

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Ha urn certo equilibrio mate­rial na posi<;:ao acima. Vma Torre e urn Peao Brancos confrontam urn Bispo e urn Cavalo. Ainda assim as pe~as Pretas estao mal posicionadas, especialmente 0

Rei, e as Brancas penetraram na setima horizontal com duas de suas pe~as mais fortes. 0 final da batalha esta pr6ximo. Tudo de­pendera de quao rapido as Bran­cas possam trazer uma de suas Torres para a casa g3. No entanto, o ultimo lance das Pretas arrna discretamente uma cilada, para os jogadores afoitos.

28 "fHh8+ Se as Brancas tivessemjogado

28 .trd3 de imediato as conse­qiiencias seriam desastrosas, ja que as Pretas fariam urn sacriffcio de Dama - 28 ... ~xf2! 29 ~xf2 .tcS+ e llxh7 a seguir. A replica 29 llxf2? e ainda pior, seguindo­se mate com 29 ... 1lc1 + 30 nn .tcS+ 31 ~h1 .llxf1 mate.

15

28 ~f7

29 rId3 ttJc4

30 ned1 Nunca e demais por em jogo as

suas reservas ...

30 ••. lLJe5

31 'ill'h7+ ~e6

E impossivel recuar com 31... ~f8 porque se seguiria urn novo sacrificio com 32 .trd8+! hd833 llxd8 mate. 0 Rei e obrigado a dirigir-se para 0 centro do tabulei­ro, e em noventa e nove por cento dos casos, isto e sinonimo de der­rota.

32 ~g8+ ~f5

33 g4+ ~f4

34 rId4+ ~f3

35 ~b3+

E as Pretas abandonam. Nao e preciso dizer que todos

os jogadores devem conhecer e respeitar os principios basicos do xadrez, inclusive os valores rela­tivos das pe~as, mas e exatamente a diversidade de exce~6es a esta regra, que torna 0 xadrez umjogo tao fascinante. Tais exce<;:6es le­yam a situa<;:6es de equilibrio in­comuns, onde 0 caminho correto costuma ser encontrado pel a in­tuic;ao e pela experiencia. Como parte das minhas experiencias eu lembro de urn trecho de uma par­tida que eu estudei, disputada en-

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tre Mikhail Tal e Oscar Panno, em 1958.

Sem que houvessem conclui­do 0 desenvolvimento de suas pe­~as, os adversarios iniciaram urn embate feroz em que 0 equilibrio material de for~as perdeu a sua importancia imediata. Acoisa vi­tal ali era avaliar carretamente 0

alcance e a eficacia das pe~as. 18 ... 4Jxb3 19 4Jc6

As Brancas pretendem tomar a Dama com este lance, mas entre­gam material demais em troca.

19 4Jxal 20 4Jxd8 21 ~f3

22 nxe7 23 ~xf4

~f5!

l:taxd8 ~xb1

llxd4 A posi~ao se alterou, alem de

qualquer possibilidade de reco­nhecimento, em cinco lances.

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Dois Cavalos e uma Torre nao va­lem, de algum modo, menos que uma Dama e, alem disto, 0 Bispo Branco nao se encaixa adequada­mente no jogo. Obviamente 0 re­sultado desta luta dependera da agilidade da Dama Branca.

24 'iWg4! ~g6

25 'iWe6+ ~f7

26 'iWf5 4Je2 27 b3 ~g6

Tal temia mais urn contra-ata­que Pre to iniciando-se com 27 ... Iid1 + 28 ~h2 4Jd2. As Pretas acabam par jogar urn lance s6lido que for~a as Brancas a complica­rem 0 jogo ainda mais.

28 llxg7 + ~xg7 29 ~h6+ ~xh6

30 'iWxf8+ ~g5

31 be be Mais uma vez a posi~ao trans­

formou-se radicalmente. As Bran­cas tern apenas a Dama e alguns PeDes no ataque.

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32 g3 33 h4+

34 ~h2

~e4

~g4

~f5!

Panno visa entregar uma pec;a (35 f3+ ~xf3 36 'iWxf5+ ~e3) de modo a trazer 0 seu Rei para 0

flanco da Dama. Por isto e que as Brancas a recusam, preferindo a oportunidade de manter 0 Rei ini­migo no flanco direito, ao alcance dos seus Pe6es.

35 'iWf6 h6

36 'iWe5 l'le4

37 ~g7+ ~f3

38 ~c3+ llle3 Urn empate mais simples dar­

se-ia com 38 ... ~xf2 39 'i!Vxc2+ ~f3 .

39 ~gl

40 fe 41 'i!Ve1

~g4

h5 llxe3

41 ... I:l:e6 42 e4 c3 poderia ser outro caminho alternativo para urn empate, ja que as pec;as Pretas acabariam defendendo urn as as outras, com 0 Rei Branco imobi­lizado em uma jaula.

42 'i!Vfl + ~e4

43 'ii'xc4+ ~ 44 ~fl+ ~e4

45 'i!Vxa6

Agora a Dama Branca conta com urn auxilio - do Peao pas­sado na cas a a2. Foi este Peao que definiu 0 result ado do combate, mas trata-se de ass unto para uma outra lic;ao.

Page 18: Aprenda xadrez

u<;;Ao 4

A Importancia do Centro

As casas e4, d4, e5 e d5 no centro do tabuleiro sao muito importan­tes. Elas comparam-se a uma co­lina do alto da qual pode se ver todo 0 campo de batalha ou lan<;ar urn ataque nocauteador a qual­quer alvo no tabuleiro.

Express6es tais como "luta pe-10 centro", "controle do centro" e "rninar 0 centro" tam bern refle­tern instantes cruciais da batalha e sao vel has conhecidas de qual­quer jogador experiente.

Aluta pelo centro come<;a mes­mo nos primeiros lances. 0 lado

18

que conquista uma vantagem no centro (ou 0 ocupa) geralmente garante uma facilidade de mover suas pe<;as, de urn lado para outro do tabu1eiro, 0 que constitui uma vanta gem para suas for<;as .

Cern anos atnls 0 comb ate pelo centro era bern mais descompro­metido e cavalheiresco. As Bran­cas em geral corriam e ocupavam o centro com os seus Pe6es e dis­punham-se razoavelmente a sa­crificar material. Os gambitos, ou as aberturas em que se entregava material, estavam muito em yoga.

1 e4 e5 2 f4! ef

Atualmente a res posta mais comum e 0 contra-gambito 2 ... d5 3 ed d4!, tornando 0 combate central mais sutil.

3 ttJf3 Wilhelm Steinitz (1836-1900),

oficialmente considerado 0 pri­meiro campeao mundial, gostava de jogar 3 d4, de modo a permitir

Page 19: Aprenda xadrez

3 ... ~h4+ 4 ~e2. Ele acreditava que ter uma vantagem no centro era mais importante, do que uma boa proteC!ao para 0 Rei.

3 g5 4 ~c4 g4 5 O-O! gf 6 'i!t'xf3 ~f6

7 d3 ~h6

8 lDc3 tLle7 9 ~xf4 d6 10 ~xh6 ~xh6

11 ~xf7+ ~d8

12 l:lf6 ~g5

13 !laO

Esta foi a continuaC!ao de uma das partidas disputadas pelo gran­de enxadrista russo Mikhail Chi­gorin, em 1878. As Brancas sacri­ficaram uma peC!a e desencadea­ram urn forte ataque, onde a sua superioridade no centro des em­penhou urn papel decisivo.

o eminente enxadrista ameri­cano Paul Morphy (1837-1884)

19

ilustrou de modo mais pratico a estrategia das Brancas no centro.

P.Morphy-J. Aroous de Riviere

Paris 1863

1 e4 e5 2 tLlf3 1Dc6 3 ~c4 ~c5

4 b4 ~xb4

5 c3 ~c5

6 0-0 d6 7 d4 ed 8 cd ~b6

9 lDc3

N aquela epoca est a posiC!ao in­teressantissima nao ficava nada a dever a atual popularidade da abertura espanhola. Ao sacrificar urn Peao, as Brancas obH!m uma clara vantagem no centro, onde elas man tern urn poderoso par de Pe6es que, se usado como urn escudo s6lido, permite que as

Page 20: Aprenda xadrez

Brancas reagrupena suas for~as confornae necessario. As Brancas tanabena estabelecerana una forte controle sobre 0 centro do adver­sario, i.e., dois ataques contra duas defesas a cas a e5 e tres at a­ques a casa d5, que nao conta cona defesa algunaa.

As Pretas nao podemjogar 9 ... lLlf6 porque ai se exp6em ao at a­que 10 e5! de 11 ..ta3! ..txd4 12 ~b3! ..te6 13 ..txe6 fe 14 'ilkxe6+ lLle7 15 lLlxd4 ed 16 llfe1!

Considera-se que a melhor resposta para as Pretas e 9 ... ..tg4, continuando apos 10 ..tb5 conalO ... ..td70u 10 ... ~f8. J. Amous de Riviere fez urn lance natural, naas infeliz, que permitiu, as Brancas, tirar partido de uma outra vanta­gem, do seu par de Pe6es no cen­tro - a sua naobilidade. De fato, enquanto os Pe6es estao fixos na casa e4 e d4 eles provocam uma

20

situa~ao a qual as Pretas po dena se adaptar. Mas cada una destes Pe6es pode avan~ar, criando no­vas situa~6es para as quais as Pre­tas terao que achar unaa defesa, 0 que e consideravelmente mais di­ficil. Por isto e que urn "centro naovel" de Pe6es e urn fator im­portante na hora de se avaliar as chances de ambos os lados na batalha que se anuncia.

9 'ilkf6 10 lLldS ~g6

11 lLlf4! ~f6

12 eS! o Peao central avan~u e criou

uma situa~ao na qual as Pretas, ena vez de desenvolver suas pe­~as, tern de se preocupar cona a defesa do seu Rei. Sera preciso urn esfor~o forrnidavel, j a que a naaior parte das pe~as Pretas esta ainda presa nas suas posi~6es ini­ciais. E neste ponto que as Bran­cas - valendo-se da sua vanta­gem com rela~ao ao numero de pe~as efetivarnente envolvidas no combate - executam uma ope­ra~ao tipica: abrir 0 centro (eli­minando os seus proprios Pe6es e tanabern os do inirnigo) para dar passagem as pe~as naaiores. Quando 0 centro esta aberto, 0

papel das pe~as aurnenta conside­ravelnaente, e 0 seu posiciona­men to e revestido de uma impor-

Page 21: Aprenda xadrez

tancia critica. Esta etapa exige urn timing que s6 se consegue com caleulo e precisao excepcionais.

12 ... de 13 de "iWfS

As Pretas nao podem, certa­mente, tomar 0 Peao com 13 ... lLl xe5? 14 lLlxe5! 'tifxeS? 15 .l:rel, ap6s 0 que as Brancas ganham a Dama. E 0 Peao do Rei continua a movimentar-se para a £rente.

14 e6

14 ... f6 As Pretas nao melhoram a sua

situa~ao com 14 ... fe 15 lLlxe6 ~xe6 16 ~xe6! 'tiff6 17 'tifd7+ ~f8 18 ~b2! (por isso e que 0

Peao saiu da casa eS) 18 ... 'tifxb2 19 'tiff7 mate. Agora 0 Peao na casa e6 divide 0 contingente das Pretas em dois e 0 seu valor e revestido de uma importancia ainda maior. As Brancas s6 preci­sam impedir que 0 Rei Pre to consiga fugir para urn dos lados.

21

15 lLlh4 'tifcS 16 ~e3! 'ttgS

Se 16 ... 'ttxc4 segue 17 "iWhS+ 17 lLlO ~aS 18 hb6 'ttxb6 19 lLldS ~a5 20 lLld2!

Agora as Pretas nao podem fa­zer nada contra a amea~a a Torre em a8 ap6s 21lLlb3 e 22lLlxc7+, nem contra a amea~a nao menos importante ~h5+. 0 fim esta pr6-ximo.

20 lLld4 21 lLlb3 lLlxb3 22 ab ~cS

23 'tthS+ ~d8

Com 23 .. . g6 24lLlxf6+ perde­se a Dama.

24 wdl

Nao ha como fugir das graves conseqiiencias do xeque des co­berto (25lLlb6+; 0 Cavalo deixa a coluna da Dama expondo 0 Rei inimigo a Torre), portanto as Pre­tas abandonaram.

Page 22: Aprenda xadrez

E essencial que cada lado pres­te atenc;:ao it formac;:ao dos Pe6es no centro e tente fazer com que os seus predominem.

As vezes apenas urn Peao se mantem no centro. Esta situac;:ao cria novos problemas como, par exemplo, ocuparum "posto avan­c;:ado" no centro, que de modo geral permite que as pec;:as pos­sam ser utilizadas de modo mais vantajoso, determinando assim uma superioridade em relac;:ao ao adversario.

T. Petrosian - Kozma Munique 1958

1 ttJf3 ttJf6 2 d4 e6 3 ~g5 c5 4 e3 b6?!

o modo despretensioso como as Brancas jogam a abertura, dirni­nuiu a vigilancia das Pretas e per­mitiu que, par causa deste lance aparentemente natural, seu ad­versario ocupasse urn posto avan­c;:ado no centro com uma pec;:a.

5 d5! ed 6 llJc3 ~b7

7 tiJxd5! 8 ~xf6

9 ~xd5

~xd5

'tlI'xf6

As Brancas tern urn farte posto na cas a d5, ja que as Pretas nao

22

podem forc;:ar a saida da Dama desta posic;:ao nos pr6ximos lan­ces. Ao mesmo tempo, as debili­dades das Pretas na coluna da Da­rna sao permanentes e podem ad­quirir grande importancia.

Os enxadristas experientes nunca dao inicio a ataques nos flancos sem antes consoli dar suas posic;:6es no centro.

No diagrama a seguir, as Bran­cas, sem terem feito 0 necessario ttJc3, iniciaram urn ataque de Pe6es na ala do Rei. Isoladamen­te nao e uma ameac;:a muito gran­de. Em uma partida par corres­pondencia, entre Neergard e Si­magin, em 1964, as Pretas prova­ram 0 perigo que ele representa para as Brancas (!) de modo bas­tante convincente.

1 2 cb 3 ed 4 ~xe4

b5!! d5!! e4!

Page 23: Aprenda xadrez

A 4 fe seguir-se-ia 4 ... ttJe5!, mas ainda assim as Brancas fi­cam em uma posi~ao desconfor­tavel.

4 ~xg4

5 ~f4 ~hS

6 ~f2 ttJeS 7 ~g2 ~d6

8 ~a4 l:tc8! 9 ttd2 ~f6

Em poucos lances a posi~ao Branca, que parecia salida, des­moronou a partir de urn contra­ataque no centro no momento correto. A partida continuou:

10 ~gS ~fS

11 ttJf4 ~xf3 12 ~h3

Se 12 ~xf3 ttJxf3 13 ~xf3 se­gue-se 13 ... Ilc3+ 14 ~f2 ~c5+ 15 ~f1 Ilf3+ 16 ~g2 ~g4+.

12 ... ~g4 13 ~g2 l:tc2

e as Brancas abandonam, pois a sequencia 14 llhd1 ~xh3+ 15 ttJ xh3 "t!ff3+ ou 14 llf2 1lxf2+ 15 ~xf2 ttJd3+ e decisiva.

Portanto, tente controlar as ca­sas centrais, protege-las e nunca subestime 0 seu valor!

Page 24: Aprenda xadrez

LI<.;Ao 5

Como Ganhar Espa~o

Uma vez que 0 xadrez e jogado em uma area limitada, as 64 casas de urn tabuleiro, a dimensao do espa<;o, is to e, do niimero de casas conquistadas por cada lado, para o posicionamento de suas pe<;as, tern, em geral, grande importan­cia no desenvolvimento do jogo. No inicio, as Brancas e as Pretas control am a mesma area. Geral­mente, qualquer jogada na aber­tura visa ao controle de urn niime­ro maior de casas, de preferencia no territ6rio inirnigo. Os Peoes, ao pressionar as pe<;as maiores do adversario e dar maior liberdade para as pr6prias pe<;as, desem­penham 0 papel principal no ga­nho de espa<;o. Mas seu movi­mento tern de ser necessariamen­te acompanhado do apoio das ou­tras pe<;as, ou irao sucumbir logo. Urn enxadrista experiente tenta sempre assegurar a sua superiori­dade no centro do tabuleiro, deli­mitado pelas colunas c e f, onde

24

estao as melhores posi<;oes para as pe<;as.

Para tomar a nossa discussao mais especffica, vamos analisar duas partidas. A prirneira foi jo­gada no final do seculo passado.

S. Tarrasch - R. Charousek Nuremberg 1896

1 d4 d6 2 e4 lLlf6 3 l2Jc3 g6 4 f4 ~g7

5 lLlf3 0-0 6 ~e2

Page 25: Aprenda xadrez

Apenas cinco lances feitos, mas as vantagens em espa~os das Brancas sao grandes: tres Penes controlam casas importantes na quinta fila, que e territ6rio do ad­versario. Com 0 apoio das demais pe~as eles poderao avan~ar ainda mais, aumentando 0 controle so­bre 0 territ6rio inimigo.

No xadrez moderno, urn meto­do estrategico confiavel para combater tais cadeias de Penes e urn imediato contra-ataque de Penes (geralmente com 0 apoio das demais pe~as) com 0 objeti­vo de impedir a progressao dos Penes inimigos; ou ao menos abrir espa~o para as pr6prias pe­~as, atraves de trocas de Penes. Ao mesmo se segue uma of ens iva de Penes contra os Penes adver­sarios buscando quebrar a cadeia em se~nes isoladas, ou "ilhas". A variante 6 ... c5! 7 d5 e6 8 0-0 ed 9 ed ilustra bern este metodo.

Charousek, urn dos jogadores mais fortes da epoca, tambem tenta restringir a cadeia de Penes Brancos, mas sem sucesso. Ele bloqueia a movimenta~ao de suas pe~as e, mais importante, torna impossivel urn ataque ao centro de Pe6es Brancos.

A posi~ao das Pretas se torna extremamente deli cad a ap6s mais tres lances.

25

6 7 e5 S ~e3

d5 tDes e6

Sob a prote~ao do tridente de Pe6es nas casas d4-e5-f4, as pe­~as Brancas disp6em de bastante espa~o para manobrar e podem ser reagrupadas em qualquer pon­to do tabuleiro. 0 grande jogador alemao, Tarrasch, resolve 0 pro­blema de explorar esta superiori­dade de urn modo muito simples: ele inicia urn ataque de Pe6es no flanco do Rei. Os seus Pe6es iraQ abrir espa~o para as pe~as mais importantes, e as pe~as Pretas, confinadas as duas iiItimas filei­ras, acabarao por atrapalharem-se urn as as outras nao conseguindo organizar uma defesa.

9 h4! Uma das regras basicas do xa­

drez e: "Uma ofensiva nos flan­cos e melhor contest ada por urn contra-ataque no centro." Infeliz-

Page 26: Aprenda xadrez

mente ao efetuar 0 lance 6 ... d5 as Pretas perderam esta chance e tiveram 0 seu destino selado.

9 l.Dc6 10 h5 4Je7 11 g4 f5 12 hg ltJxg6 13 ~d3 h6 14 g5 ~h7

15 ~e2 mt8 16 ~g2 c5 17 gh

As Pretas abandonaram ten­do em vista as inevitaveis perdas de material, e.g. se 17 .. . ~xh6 18 ~g5!

A segunda partida ilustra os metodos modernos de obter uma vantagem em espa<;:o. Esta parti­da tern uma importancia especial para mim por representar a minha primeira vit6ria, jogando uma partida posicional contra urn ad­versario forte em uma competi­<;:ao de alto nivel.

26

G. Kasparov - T. Georgadze Minsk 1979

1 e4 e5 2 tLlO d6 3 ~c4 ~e7

4 d3 Este lance nao foi par medo,

mas por querer evitar as variantes desta abertura que se seguem a 4 d4 ed 5 tLlxd4, bastante estudadas pelo meu adversario.

4 tLlf6 5 c3 0-0 6 0-0 c6 7 ~b3 ~e6

8 ~c2 h6 9 ~1 tLlbd7 10 tLlbd2 ~c7

Ambos os jogadores jogam sem pressa, parecendo manobrar com 0 mesmo sucesso, mas isto nao e verdade. As Brancas sao as primeiras a conquistar espa<;:o.

11 d4! m-e8 12 h3!

Page 27: Aprenda xadrez

Limitar as oportunidades do adversario (nem 0 Bispo ou 0 Ca­valo podem chegar a casa g4 ago­ra) tambem e urn meio de se ga­nhar espa~o.

12 ... 13 c4!

1ZJf8 tZJg6

As Pretas nao desejam abrir 0

centro, liberando jogo as pe~as Brancas, ap6s 13 ... ed 141ZJxd4 ~ b6 15 1ZJ2f3! ~xc4 16 lZJf5. Pelo contrario, as Pretas abandonam a area sob fiscaliza~ao do tridente c4-d5-e4.

14 d5 ~d7

As Pretas deveriam ter jogado 14 ... cd para obter espa~o para manobrar no flanco da Dama com .. . b5! posteriormente.

15 lZJb1! ~f8

16 lZJc3 c5? 17 h4

Em uma posi~ao restringida como esta, a maior parte das tro­cas seria favoravel as Pretas, mas este nao e 0 caso do seu Bispo de casas brancas. Ele defende casas importantes e e tambem a pe~a menor que tern mais potencial.

17 a6 18 ~xd7 liJxd7 19 g3 ~e7

20 h4! As Brancas decidiram pela es­

trategia de lirnitar a mobilidade das pe~as Pretas na ala do Rei, e

27

prepararam-se para uma ruptura na ala da Dama.

20 lZJf6 21 lZJh2 "tIfd7 22 a4 fih3 23 fif3 fid7 24 as!

As Brancas cruzaram a linha central tambem no flanco da Da­rna, pressionando ainda mais as Pretas. A sua expansao e agora evidente para ambos os joga­dores, mas as Pretas, incapazes de manobrar suas reservas, nao po­dem fazer nada a respeito.

24 1ZJf8 25 ~d2 .llec8 26 lZJf1 tZJg4 27 liJa4 ~d8

28 .llec1 J:!ab8 29 b4! cb 30 ~xb4 h5 31 lZJb6!

Em principio esta parece tra­tar-se de uma continua~ao il6gi-

Page 28: Aprenda xadrez

ca, po is poder-se-ia exercer uma pressao maior na coluna b. Mas as Brancas planejavam abrir a co­luna c e e muito importante ter urn ponto de entrada a disposi~ao . A casa c7 e a melhor cabe~a-de­ponte para urn ataque das Bran­cas.

31 32 ab 33 ~a3

.ixb6 ~e7

rus A ultima oportunidade de

resistir era impedir 0 avan~o do Peao da coluna c sacrificando a Torre em troca de urn Bispo - 33 ... IIcS! 34 .ixcS dc. Ainda assim as Brancas manteriam todas as chances de vit6ria.

Agora, porem, a of ens iva das Brancas se desenvolve rapida­mente e de acordo com 0 planeja­do.

34 f3 ttJh6 35 c5 de 36 .txe5 ~f6

37 c;t>g2 rIeS 3S .te3 ttJd7 39 wb1 ~e7

As Pretas perderam no tempo, por nao terem efetuado 40 lances nas duas horas e trinta de que dis­punham. Porem, ap6s 40 ~xe7 llxe7 41 IIc7 a posi~ao das Pretas seria desesperadora.

Conclusao: valorize 0 espa~o,

obtenha tanta vantagem em espa­~o quanta puder. Mas nao se­ja ganancioso demais, a sua es­trutura de Pe6es muito avan~ada pode ser bloqueada e destruida, com as pe~as adversarias corren­do ao ataque por entre as brechas abertas, e af qualquer resultado e possive!.

Page 29: Aprenda xadrez

uC;Ao 6

Estruturas de Peoes

Embora os PeDes sej am os ele­mentos mais fracos , eles freqiien­temente deterrninam a progres­sao e 0 resultado de uma partida. Se algum dos lad os tern uma van­tagem de 2 ou 3 PeDes, esta van­tagem e na maior parte das ve­zes suficiente para for~ar uma vi­t6ria. Asitua~ao e mais complexa quando ha urn numero igual de PeDes. Ai a avalia~ao da posi~ao da-se pelo ex arne do posiciona­mento dos mesmos.

Antes da partida iniciar-se, os PeDes estao alinhados nas suas casas originais. Ao avan~ar eles se ap6iam mutuamente e lirnitam a mobilidade das pe~as adver­sarias. Os enxadristas experien­tes freqiientemente sacrificam material para conseguir uma li­nha de PeDes m6vel, flexivel, on­de os mesmos se protegem mu­tuamente, conforme 0 diagrama a seguir:

29

T. Petrosian - H. Pfleger URSS vs. Alemanha

Ocidental1960

1 tzJd5!! ed 2 cd

Agora os PeDes nas casas d5 e e5 tomaram-se 0 fator decisivo.

2 fic8

"\kja a diagrama a seguir.

3 e6! 4 ~c3

5 d6

0-0 f6 lLJa4

Page 30: Aprenda xadrez

5 ... 'ClVxe6 nao e uma boajoga­da, ja que se perde a Dama apos 6..tc4.

6 'ClVxcS 7 hI

l:lfxcS l:lc2

S de llxe2 9 ttdS+ 'ttg7 10 I::!cl

Seria urn erro promover a Da­rna com 10 e8'ClV, ja que apos 10 ... llxg2+!! 11 'tth1 .l:1g3+ as Brancas tomam urn xeque-mate inesperado.

10 llxe6 11 ~7

30

Agora ba a ameac,;a de 12 e8'ClV+ .

11 'tth6 12 ..txf6

E as Pretas abandonam. Como pode alguem lidar com

uma potente falange de Pe6es? E preciso usar de uma soluc,;ao radi­cal: destruir toda a linha, ou ao men os 0 elo central. Em outras palavras, quebrar a linha em duas entidades separadas, incapazes de protegerem-se mutuamente.

No entanto costuma acontecer que 0 meio mais eficaz de com­bater uma linha movel de Pe6es seja contendo a sua mobilidade ou preparando urn bloqueio. 0 que pode ser feito , por exemplo, vulnerando as casas em frente aos Pe6es. A linha de Pe6es Pretos nas casas c4, d5 e e6 pode ser con tid a por urn Bispo Branco po­sicionado na diagonal a1-h8.

~as se 0 avanc,;o dos Pe6es Pretos for apoiado por urn Cavalo

Page 31: Aprenda xadrez

Preto na casa c6, so mente 0 Bispo Branco nao sera capaz de parar 0

avan~o da cadeia de Pe6es. 0 me­Ihor metodo para montar uma barricada e bIoqueando Pe6es com Pe6es. Se os Pe6es Pretos nas casas c4, d5 e e6 fossem bIo­queados nao par urn Bispo mas par tres Pe6es colocados nas ca­sas c3, d4 e e5, tal barreira seria intransponfvel.

No xadrez moderno os dois la-dos tentam restringir a mobili-dade dos Pe6es desde 0 infcio da partida. Veja esta abertura, por exemplo:

1 d4 lLlf6 2 e4 e6 3 l2Jc3 .tb4 4 e3 e5 5 .td3 ttJc6 6 lLlf3 .txc3+ 7 be d6 8 e4 e5 9 d5 4Je7

31

Confarme se ve, tres Pe6es c4, d5 e e4 enfrentam a oposi~ao de uma estrutura das Pretas nas ca­sas c5 e e5, apoiada par urn Peao na casa d6. Isto mostra-se sufi­ciente para tornar a posi~ao no centro estavel. Nem todos os jo­gadores, no entanto, tent am res­tringir a mobilidade dos Pe6es com tamanha meticulosidade. As propriedades dinamicas das li­nhas de Pe6es of ere cern grandes oportunidades de combina~6es,

que pode levar a complica~6es interessantes, princi palmente quando ambos os jogadores pre­ferem uma partida aberta. Par ou­tro lado, uma cadeia de Pe6es es­tacionaria, bloqueada, geralmen­te leva a uma partida lenta e nao muito espetacular.

Voce ja deve ter esbarrado na literatura enxadrfstica com ex­press6es do tipo "Peao debil", "Peao isolado" e etc. Cada uma destas denota uma faIha na es-

Page 32: Aprenda xadrez

trutura de Pe6es que restringe a sua mobilidade e aumenta a sua vulnerabilidade.

Aqui se segue urn exemplo simples:

Apesar do obstaculo repre­sentado pelo Rei Preto, as Bran­cas, jogando corretamente, po­dem nao so proteger 0 Peao como tambem forc;:ar a sua promoc;:ao. Mas assim que movermos 0 Rei, digamos, para a coluna h, 0 Peao se toma fraco porque pode ser facilmente atacado pelo Rei ini­migo.

Outras fraquezas comuns na formac;:ao de Pe6es sao Pe6es do­brados ou triplicados na mesma coluna. Portanto, e muito raro que alguem os enfileire voluntaria­mente. Sua defesa e dificil, prin­cipalmente nos finais, onde po­dem se to mar a fonte de muitos problemas. Mas ha excec;:6es a todas as regras, especialmente no xadrez.

32

Aqui est a urn final que foi dis­putado de fato, h:i 55 anos, por dois jogadores poloneses, Tul­kowski e Wojciewski, em Poz­nan.

Apos os lances obvios 1 ru2 2 4Ja4

comec;:am a ocorrer milagres no tabuleiro.

2 llxb2 Acontece que os defeitos da

estrutura de Pe6es (de uma 0-

lhada nos Pe6es Pretos) podem ser compensados por urn jogo criativo. As Pretas entregam sua Torre sem nenhuro motivo apa­rente.

3 4Jxb2 c3 Acontece que apos 4 l2Jct3 c4+

oBispo que ate entao estivera "dormindo" entra no jogo, e 0

decide. 5 llxb6 cd 6 c;&f2 c2 7 l:!c6 d2 e urn Peao e promovido.

4 llxb6

Page 33: Aprenda xadrez

Ajogada 6bvia 4 ... ab segue-se 5 ttJd3 e as Brancas vencem com uma pe<;:a a mais.

As Pretas, no entanto, respon­demcom

4 c4! Agora a cas a d3 e tomada ao

Cavalo e ap6s 5 ttJxc4 0 Peao da coluna c e promovido. Sera pos­sivel que duas pe<;:as nao sejam capazes de conter dois Pe6es "aleijados" rastejando pel a colu­na c?

5 l:[b4 Parece que as Brancas vao

vencer ja que nao ha defesa contra 0 lance 6 .l:lxc4.

5 a5! Trata-se de uma verdadeira

ode aos Pe6es. 0 Peao deixado para tras que nao tomou a Torre agora define 0 combate em urn salta que parece irreal. Agora a

33

l:lxc4 segue-se 6 ... cb, sendo que a Torre nao po de voltar para b4 eo Peao na col una be promovi­do. Urn final surpreendentemente belo!

Mesmo tais finais classicos podem ser examinados critica­mente. 0 que aconteceria se as Brancas jogassem 2 a4 como res­posta a 2 ... llxb2 com 3 a5?

Urn final semelhante aconte­ceu dois anos depois entre Sanz e Ortueta, em Madri, com leves di­feren<;:as na posi<;:ao dos Pe6es na ala do Rei.

N6s concluimos a nossa bre­ve introdu~ao as peculiaridades das estruturas de Peao com este exemplo. Voce encontrara uma descri<;:ao mais detalhada dos ter­mos, regras e exce~6es mencio­nados nesta li~ao em manuais de xadrez.

Gostaria de recomendar aos principiantes que se atenham aos principios comuns de estabelecer e consolidar uma estrutura de Pe6es evitando enfraquece-la tan­to quanta possivel. Os enxadristas experientes podem usar das exce­~6es. E a capacidade de avaliar quando tais exce~6es se aplicam que em grande medida toma 0 xa­drez tao belo e cheio de surpresas.

Page 34: Aprenda xadrez

uC;Ao 7

Dinamismo e lniciativa

As regras do xadrez sao seme­lharites as de qualquer outro es­porte. E nao se aplicam apenas aos esportes: aqueles que sao mais ativos, habilidosos e criati­vos e que tern sucesso.

o que e en tao 0 dinamismo no jogo de xadrez? Na minha opi­niao, dinamismo e 0 fortaleci ­mento da pr6pria posi~ao a cad a lance e as amea~as colocadas so­bre as pe~as inimigas. Para que os lances sejam bem-sucedidos e preciso que sejam adequados a estrategia do jogo e baseados em fundamentos taticos solidos.

Urn enxadrista com a reputa­~ao de ser urn indivfduo energico tenta impor 0 seu proprio estilo ao adversario, for~ando-o a lidar com varios problemas.

Para ilustrar estes principios, vamos analisar uma partida dis­putada pelo entao carnpeao mun­dial, Anatoly Karpov.

34

A. Karpov - I. Dorfman Moscou 1976

1 e4 c5 2 tLJf3 d6 3 d4 cd 4 tLJxd4 tLJf6 5 tLJc3 e6 6 g4 ~e7

7 gS tLJfd7 8 h4

Alguns dos resultados da aber­tura sao obvios: as Brancas limi­taram as pe~as adversarias na ala do Rei as duas ultimas fileiras, com 0 Cavalo na casa d7 blo­queando 0 Bispo na casa c8 e ate a propria Dama, parcialmente.

8 tLJc6 9 ~e3 a6 10 ~e2!?

Veja 0 diagram a a seguir.

E uma ideia interessante e ati­va, que leva a uma disposi~ao

Page 35: Aprenda xadrez

equilibrada de pe~as. Karpov co­loca a sua Dama na coluna do Rei de modo que a mesma nao fique na frente da Torre na casa dl e ao mesmo tempo contribua para criar amea~as de combina~6es. A Dama nao bloqueia 0 Bispo na cas a f1 que pode ir para h3 e jogar .txe6 posteriormente. Conforme voce pode ver, 0 lance das Bran­cas e eficiente e pressiona as Pre­tas.

10 ••• VJic7 11 0-0-0 bS

A resposta adversana e for~a­da. As Pretas sao empurradas pa­ra tras e tentam encontrar algum jeito de irnpedir que as Brancas executem algum lance decisivo. Mas 0 jogo ja vai adiantado e 0

ultimo movirnento das Pretas tern mais a ver com desespero que com uma a~ao justificavel.

12 tzJxc6 'tifxc6 13 .td4!

35

Esta jogada e muito desagra­davel para as Pretas, porque 0

lance natural 13 ... 0-0 ira levar logo a derrota devido ao ataque par parte dos Pe6es Brancos, ao passo que 13 ... eS cria urn ponto fraco na estrutura Preta na cas a dS.

13 ... b4

As Pretas tentam far~ar a saida do CavaIo de uma posi~ao de controle da cas a dS. Elas jogam de modo l6gico, mas sua estra­tegia carece de urn embasamen­to s6lido e as suas pe~s estao mal posicionadas. Como podem as Brancas explorar estas fraque­zas?

14 lLxiS! Este e urn lance extremamente

eficaz ja que 0 Bispo na casa d4 se torna mais forte e a Dama Branca entra no comb ate, para a surpresa das Pretas.

Page 36: Aprenda xadrez

14 ed 15 ~xg7! I:tg8 16 ed ~c7

17 ~f6

As Brancas ganharam dois Pe6es em troca do Cavalo e boas perspectivas de ataque contra 0

Rei inimigo que fica preso no meio do tabuleiro.

17 ... tzJe5! Eo unico jeito de resistir. Uma

vez que ha a amea~a de 18 ... ~g4 as Brancas nlio tern tempo para jogar 18 f4. As Pretas tern que procurar reduzir 0 potencial de ataque das Brancas.

18 ~xe5 de 19 f4

Agora urn ataque de Pe6es substitui 0 ataque das pe~as. As Pretas nlio tern como evitar que as Brancas conectem os seus Pe6es pois ap6s 17 ... e4 seguir­se-ia a sequencia vencedora 18 d6 ~xd6 19 ~xe4+ etc.

19 ... ~f5

36

20 ~h3

o desejo de restringir 0 contra­jogo do adversario e tipico do estilo do campelio do mundo. As Brancas poderiam ter jogado 20 fe sem correr 0 risco de 20 ... .ll::8 por causa de 21 llh2 ~a5 22 "ttxa6 ~xa6 23 ha6. Karpov de­cide-se por trocar os Bispos de casas Brancas elirninando assirn qualquer risco a casa c2.

20 ~xh3

21 llxh3 .ilc8 22 fe

N a minha opinilio, 22 b3 e4 23 1Wxe4llf8 24 f5 seria melhor, por­que assirn a Dama Preta nlio po­deria entrar no jogo.

22 ... 1Wc4! As Pretas p6em sua Dama em

uma posi~lio ativa e 0 equilibrio parece alterar-se.

23 !tdd3 Manobras de Torre ao longo da

terceira fila tambem fazem parte das taticas preferidas do cam­pelio. Neste caso, este lance nlio s6 precede a troca de Damas co­mo tambem serve ao prop6sito de melhorar a coordena~lio das pe­~as Brancas. A coordena~lio das pe~as e urn fator muito irnpor­tante que de fato define a for~a de urn jogador de xadrez. A habili­dade de coordenar a movimenta­~lio de cada uma das pe~as e de

Page 37: Aprenda xadrez

cad a Peao de modo que eles ha­jam em conjunto e sob urn unico plano, ao mesmo tempo em que se protegem mutuamente, e uma grande arte.

Aqui novamente ambas as Torres na terceira fileira estao prontas a apoiar 0 progresso dos Pe6es centrais, ao passo que a Dama protege a casa c2 e esta pronta para apoiar as Torres. A dupla de Pe6es (d5, e5), protegida por suas proprias pe<;:as, e muito poderosa. Estes Pe6es podem for­<;:ar 0 adversario para a ultima fi­leira e desorganizar as suas a<;:6es.

23 ... "iWf4+

Esta parece ser a melhor res­posta. Se 23 ... "iWxa2 24 d6.

24 ~bl llc4! 25 d6 ~4!

26 llhe3 As Brancas tern de trocar outro

par de pe<;:as, abandonando qual-

37

quer esperan<;:a de explorar a 10-caliza<;:ao desfavoravel do Rei e da Torre das Pretas.

A falta de coordena<;:ao das pe­<;:as do adversario e resultado do mau posicionamento da Torre na casa g8 e da lirnita<;:ao da sua mo­bilidade.

26 ... llxe3 27 llxe3 "iWxh4

o contra-sacrificio 27 ... llxg5 28 hg ~xg5 seria ineficaz por causa da rna localiza<;:ao do Rei: 29 d7 + ~d8 30 ~xa6 ~xe3 31 ~c8+ ~e7 32 ~e8 mate.

28 ~f3!

Os Pe6es Brancos dividem as for<;:as das Pretas em duas partes e nao M uma defesa adequada as amea<;:as de ~c6+ ou ~a8+. Urn Peao defendido, que penetre fun­do na posi<;:ao do adversario ou a conquista de urn posto avan<;:ado similar, desorganiza as for<;:as do adversario e divide em duas uni­dades mais fracas.

28 ~xg5

29 !:leI ~g2?!

30 ~f5 ~6 31 m:t "iWd5 32 de ~xe7

33 ~f4!

As Brancas recuperaram a pe­<;:a e mantiveram 0 ataque. 0 pe­queno numero de pe<;:as restantes so melhora, ligeiramente, as chan-

Page 38: Aprenda xadrez

ces de sobrevivencia das Pretas. Quando sornente restarn algumas poucas pe~as no ataque tudo de­pende da for~a das defesas do Rei. Neste caso 0 Rei Preto nao tern praticarnente defesa alguma e tudo 0 que as Brancas precisam e de precisao no ataque, 0 que nao falta ao campeao mundial de en­tao.

33 34 ~h4+ 35 ..wxh7+

a5 s>e8 ~f3

36 ~h8+ s>e7 37 ~h4+ s>e8 38 ~c4! ~b7

39 b3 ~6 40 .l:Ig1 ! llxe5 41 ~8+ s>e7 42 ~h4+ s>d7 43 ~f6! ~7

44 ~f5+ s>d6 45 ~xa5 ~5 46 1!fd8+ s>e6 47 s>b2! f6 48 m'8 'lJig7 49 ~c8+ s>d5 50 ~c4+

E as Pretas abandonam. Portanto, tente ser energico e

voce podeni realrnente gozar dos beneficios. Deixe as suas pe~as interagirem bern, e ajudarern-se rnutuarnente. Assirn voce experi­rnentani os louros da vit6ria com rnais freqtiencia que a arnargura da derrota.

Page 39: Aprenda xadrez

uC;Ao 8

Evitando Desastres na Abertura

Tendo aprendido as no~6es basi­cas do jogo, 0 jogador ira perceber que os lances da abertura, quando quase todas as pe~as ainda estao no tabuleiro, freqiientemente de­terminam 0 desenrolar da partida e em alguns casos 0 seu final. E comum que urn enxadrista, que tenha dominado todos os fun­damentos e observado ataques brilhantes jogados por Grandes Mestres, tenha que passar toda a partida em uma defesa mon6tona, tentando consertar fraquezas na sua posi~ao que se originaram na abertura, mas com pouco suces­so. Este e 0 resultado de urn fraco conhecimento da teoria das aber­turas e de uma carencia de habili­dades basicas para se jogar a pri­meira etapa de uma partida.

Uma partida de xadrez e, de certo modo, semelhante a uma confronta~ao rnilitar onde, como se sabe, em muito depende nao

39

somente da capacita~ao tecnica e dos equipamentos das tropas, mas tambem da capacidade dos comandantes de antever 0 des en­volvimento da batalha e posicio­nar suas for~as de modo a engajar as mesmas nos momentos e na ordem mais favoraveis. E por isto que cada jogador que controla a movimenta~ao dos seus exercitos de madeira deveria conhecer os princfpios basicos da abertura.

E bern sabido que qualquer partida de xadrez pode ser anota­da e preservada para a posterida­de. Urn enorme numero de parti­das foi escrito ao longo da hist6ria do xadrez, e a sua analise ajudou a desenvolver todas as nuances da estrategia das aberturas.

Eu nao pretendo abordar todas as aberturas e as suas caracterfs­ticas, 0 que seria uma tarefa im­possivel em face da abundancia de informa~6es . Eu you limitar-

Page 40: Aprenda xadrez

me a descrever alguns princfpios gerais a serem seguidos e como evitar urn desastre.

o Primeiro Principio A abertura e ganha pelo jogador que desenvolve as pe<;as mais rapidamente.

Esta e uma regra basica e e muito importante aplica-Ia cor­retamente.

Vamos analisar urn exemplo simples:

1 e3 eS 2 ~c4 tZJc6 3 ~f3 tZJcs 4 ~xf7 mate

Parece que as Brancas fizeram tudo corretamente - des envol­veram duas pe~as e deram xeque­mate. Ainda assim, est a linha de jogo merece criticas.

o primeiro movimento e fra­co. N6s dissemos, em uma das nossas li~oes anteriores, 0 quao

40

importante e ocupar 0 centro do tabuleiro com os pr6prios Peoes. Isto tern de ser feito na abertura, de modo a posicionar as pe~as do modo mais favoravel. E por isso que 0 lance e4 e mais forte e mais 16gico que 0 lance e3 . Eu quero refor~ar mais uma vez 0 que dis­se, que e importante tentar domi­nar as casas com Peoes, especial­mente as casas centrais.

o segundo lance das Brancas (2 ~c4) nao e tao facil de se contestar, embora ele nao tenha tantos meritos. A experiencia das gera~oes anteriores nos indica 0

melhor metoda para desenvol­vermos nossas pe~as: primeiro avan~ar os Peoes para 0 centro, depois mover os Cavalos, segui­dos dos Bispos e s6 en tao as pe~as mais fortes - as Torres e a Dama. No nosso exemplo 0 Bispo saltou dire to para uma posi~ao imp or­tante, mas sem atentar para as conseqiiencias de urn possivel lance 2 ... d5 das Pretas, em que elas obteriam urn forte Peao cen­tral e for~ariam 0 Bispo Branco a recuar para posi~oes inferiores, tais como d3, e2, b5 ou b3.

o xadrez e urn jogo de 16gica, e uma combina~ao de jogadas ti­midas como 1 e3 e agressivas co­mo 2 ~c4 nao faz nenhum senti­do e como tal merece ser cas-

Page 41: Aprenda xadrez

tigada. As Pretas retrucaram com 2 ... lZJc6, que deve ser encarado como urn lance regular, nao sen­do de modo algum 0 mais forte possIvel, dada a situa~ao. E ver­dade que 0 lance 2 ... lZJc6 esta de acordo com os princfpios de de­senvolver rapidamente as pe~as, mas ele nao cria problemas para as Brancas, 0 que seria 0 caso do lance 2 ... d5!. 0 terceiro lance Branco 3 'iWf3 parece eficiente, mas urn enxadrista experiente nao 0 teria executado; mais ate, ele nem mesmo 0 consideraria. Se as Pretas reagissem correta­mente com 3 ... 4Jf6! a jogada da Dama Branca teria sido em vao. E alem disso a Dama Branca ao ocupar a casa f3 priva 0 Cavalo do Rei de uma boa casa para agir, deixando ao mesmo nenhuma escolha senao ocupar urn papel passivo na cas a e2 ou mover-se para h3, para longe do comb ate no centro. A pe~a mais poderosa do jogo, a Dama, nao deve entrar na batalha de modo apressado, sob 0 risco de ser ca~ada pelas pe~as menores do adversario, com ganho de tempo. Com rela­~ao a jogada das Pretas 3 ... ~c5??, ela e logica apenas sob uma otica formal (as Pretas des­envolvem uma segunda pe~a na seqiiencia correta), pois ela perde

41

a partida. 0 fato e que as Pretas nao levaram em conta a amea~a real representada pelo adversario. Voce pode ver 0 quanta se pode aprender a partir da analise de uma partida muito breve e cheia de erros mutuos.

Nos ilustraremos 0 primeiro princfpio- 0 do desenvolvimen­to rapido das pe~as, com uma par­tida disputada h3. mais de urn se­culo.

J. Schulten - P. Morphy Nova York 1857

1 e4 eS 2 f4

Esta e uma abertura antiga e romantica, que recebeu urn bela nome, "0 Gambito do Rei". Ela em geral define 0 jogo atraves de urn riipido avan~o das pe~as. A teoria moderna cre que a melhor defesa aqui e urn contra-ataque, 0

que foi claramente demonstrado pelo talentoso jogador americano Paul Morphy.

2 dS! 3 ed e4!

Tomar quaisquer dos Pe6es nao seria born, as Pretas tentam ganhar tempo e desenvolver as suas pe~as colocando-as nas ca­sas planejadas.

Page 42: Aprenda xadrez

4 5 d3 6 ~d2

4Jf6 ~b4

Ap6s 6 de 4Jxe4 7 'tlVd4 'tlVe7 8 ~e2 0-0 9 ~d2 4Jxd2 10 'tlVxd2 ~xg4, seria facil para as Brancas ativarem suas pec;as.

6 e3!

Trata-se de urn sacriffcio de Peao ousado e com vistas ao de­senvolvimento futuro, ja que a Torre ira ocupar a col una do Rei ap6s 0 roque.

7 ~xe3

8 ~d2

9 be 10 ~e2

11 e4?

0-0 ~xc3

~8+

~g4

Podemos dizer, com urn grau de confianc;a razoavel, que esta jogada e particularmente prejudi­cial as Brancas. Seria preferivel livrar-se da clavada na coluna do Rei, de preferencia com 11 ~f2.

42

Mas as Brancas desejam manter urn Peao a mais no centro.

11 ... c6! 12 de?!

Ainda nao era tarde para jogar 12 ~2 ou 12 h3. Ainda com uma vantagem material, as Brancas permitem que 0 seu adversario desenvolva 0 Cavalo da casa b8 com muita eficacia, e ai a vanta­gem das Pretas se torna esmaga­dora, na parte mais importante do tabuleiro.

12 ... 4Jxe6

13 ~f1

E diffcil dar bons conselhos para as Brancas. 13 ~c3 4Jd4 14 ~xd4 'tlVxd4 15 g3 pode ser retru­cado com 15 llxe2+ 16 4Jxe2 l:!e8, com urn ataque decisivo. Pa­rece que ap6s 12 dc?! nao ha de­fesa para as Brancas.

13

14 4Jxe2

.llxe2!

4Jd4

Page 43: Aprenda xadrez

Toda a a<;ao se passa na coluna do Rei, onde a clavada vertical tern urn papel decisivo. Pois de fato as amea<;as colocadas sobre esta coluna for<;aram as Brancas a atrasar a retirada do seu Rei da clavada. Agora segue-se uma no­va pequena combina<;ao, trans­formando a clavada vertical em uma ainda mais perigo sa, diago­nal.

15 'i!Vbl 16 '.tf2 17 '.tgl

~xe2+

liJg4+

o Rei come<;a a correr para todos os lados sentindo a iminen­cia do desastre.

Eu recomendaria, a todos os que querem desenvolver as suas habilidades de ataque, a deixar este livro de lado por uns 20 ou 30 minutos e tentar achar sozi­nhos uma vito ria flipida para as Pretas, so entao retornando ao li­vro e comparando a sua decisao com a que foi tomada por Paul Morphy.

17 18 gf 19 '.tg2 20 '.th3 21 '.th4 22 l:lbgl 23 '.tg5

tLlf3+ 't!Vd4+

't!Vh5mate. Continuaremos a estudar os

princfpios das aberturas no proxi­mo capitulo.

Page 44: Aprenda xadrez

LI<;Ao 9

N egligenciando os Principios da Abertura

Na ultima li~ao aprendemos que o domfnio do centro e 0 nipido desenvolvimento das pe~as em larga escala determinam 0 resul­tado do combate na abertura; es­pecialmente quando a partida e jogada por enxadristas experien­tes. Antes de prosseguir com a teoria das aberturas, vamos anali­sar alguns erros que sao frequen­temente cometidos por jogadores inexperientes nos estagios ini­ciais da partida.

Em primeiro lugar, e impor­tante lembrar que os pontos mais vulneraveis na ala do Rei sao aqueles que s6 con tam com a pro­te~ao do mesmo. Na posi~ao ini­cial tais pontos sao os Pe6es nas casas f2 e f7. Ap6s 0 roque, tais pontos sao os Pe6es nas casas h2, g2, h7 e g7. A prote~ao destas casas deve ser uma preocupa~ao primordial. A experiencia mostra que, geralmente, e nestas casas

44

que ocorrem desastres, mesmo nos sistemas de abertura mais sofisticados.

Vamos analisar uma posi~ao que ocorre na antiga e romantica Abertura Italiana:

1 e4 e5 2 tDf3 tD6

3 4 5 6 7

~c4

c3 d4 cd tDc3!

~c5

~f6

ed ~b4+

Em vez de jogar urn cauteloso 7 ~d2, as Brancas decidem sa­crificar do is Pe6es e uma Torre em troca do desenvolvimento ra­pido das suas pe~as - urn artifi­cio tfpico de jogadores de estilo agressivo. Os metodos modemos de luta na abertura nao recomen­dam os pr6ximos lances das Pre­tas, mas e preciso ter em mente que esta partida ocorreu urn secu-10 atras, quando ninguem duvida-

Page 45: Aprenda xadrez

va do principio de que "qualquer sacrificio deve ser aceito".

7 tZlxe4 8 0-0 tZJxc3 9 be i.xc3?

As Pretas tomaram dois Pe6es adversarios mas ficaram para tras quanta ao desenvolvimento. 0 castigo por tais viola~6es das re­gras de uma boa abertura vern em geral de forma rapida e selvagem. Esta velha analise e uma boa amostra das conseqiiencias de­sastrosas da "ganancia" na aber­tura. Ainda assim voce nao deve imaginar que esta partida somen­te tern valor hist6rico. E uma si­tua~ao freqiiente em simultaneas. Nao se distraia capturando todos os Pe6es do inimigo em detri­mento da mobiliza~ao das suas pr6prias for~as.

10 1!Vb3 .txal

As Pretasmantem-se consis­tentes em seu desejo de ganhar

45

tanto material quanta possivel e perdem a ultima oportunidade de retirar 0 Rei do centro. A chance era: 10 ... d5 11 i.xd5 0-0.

11 i.xf7+ ~f8

12 .tgS 4Je7 13 4JeS!

E chegada a hora das Pretas pagarem par terem ignorado 0

desenvolvimento de suas pe~as e saido devorando Pe6es na abertu­ra. Neste caso, 0 desastre deu-se na casa fl. As Pretas perdem, nao importa 0 quanto tent em defen­der-se. Por exemplo: 13 ... .txd4 14 .tg6 d5 15 ~f3+ .tf5 16 .txf5 .txe5 17 .te6+ .tf6 18 .txf6 gf

19 ~xf6+ ~e8 20 1!Vfl mate. (no­vamente a casa fl).

Alem de perseguir Pe6es, ou­tro erro tipico de muitos enxadris­tas e demarar para retirar 0 Rei do centro. Na pratica dos mestres, ha muitas partidas onde ambos os Reis permanecem no centro e so-

Page 46: Aprenda xadrez

brevi vern, mas tratam-se de ex­ce~6es a regra e ainda assim sao baseadas em urn conhecimento profundo da situa~ao e em habili­dades defensivas.

Os principiantes e aqueles que nao tern tanta experiencia devem fazer 0 roque na primeira oportu­nidade. Ao permanecer sem ro­car, 0 Rei po de ser atraido para 0

centro do tabuleiro atraves de sa­crificios e ai 0 desastre se torn a iminente.

Y. Vasyukov - B. Lebedev Moscou 1960

1 e4 eS 2 tilt3 d6 3 d4 tild7

o desenvolvimento, nao muito sofisticado, das Pretas e muito freqiiente em partidas de amado­res. A ideia perfeitamente valida de fortalecer 0 posto avan~ado, representado pela casa eS, no centro, e executada de urn modo meio esquisito, que acaba par bloquear 0 Bispo da casa c8.

4 ~c4 h6 E uma decisao dubia. Em vez

de desenvolver suas pe~as (com 4 ... ~e7, par exemplo), as Pretas, que planejam colocar seu Cavalo na cas a e6, perdem tempo impe­dindo a ida do Cavalo das Bran-

46

cas para gS. Mas ainda assim, para demonstrar a impropriedade da estrategia das Pretas na aber­tura, as Brancas tiveram que jo­gar de modo criativo e vigoroso.

5 de de Ap6s S ... tilxeS 6 tLlxeS de 7

~xf7+! as Pretas estariam perdi­das.

6 .txf7! o primeiro golpe recai no pon­

to mais vulneravel. 6 7 tilxeS+

~xf7

~f6

Qualquer outra coisa s6 apres­saria 0 desfecho.

8 tilc3!

Para trazer 0 Rei Preto para fora as Brancas sacrificaram urn Cavalo. As amea~as de 9 tild5+ e 9 ~d4 s6 podem ser evitadas de urn unico modo, parque qualquer continua~ao divers a nao salva as Pretas. Por exemplo: 8 ... c6 9

Page 47: Aprenda xadrez

~f3+ c;t>xeS 10 ~f5+ c;t>d6 11 ~f4+ tLleS 12 ~xeS+ c;t>d7 13 l:id1 + ou 8 ... ~cS 9 ~f3+ c;t>xeS 10 ~fS+ c;t>d6 11 ~f4+ c;t>e7 12 tLld5+ c;t>e813 tLlxc7+ ou 8 ... ~e8 9 tLldS+ c;t>xeS 10 ..tf4+ c;t>e6 11 tLlc7+.

8 c;t>xe5 A caminhada de e8 para eS foi

curta, e 0 mesmo pode ser valida quanta ao retorno, por isso as Brancas tern de atacar sem demo­ra.

9 ~h5+ g5 As Pretas tentam usar 0 Peao

para bloquear a Dama. 0 enfra­quecirnento destes Pe6es nao 6 muito importante aqui porque a pr6pria "caminhada" do Rei esta cheia de perigos: 9 ... c;t>e6 10 "tIVfS+ c;t>e7 11 tLldS+ tLld6 12 ~f4+ c;t>c6 13 ~e6+ ~d6 14 tLlb4+ etc.

10 ..txg5!

47

Urn toque brilhante. A 10 ... 'tlfxgS seguir-se-ia 11 f4+! c;t>xf4 120-0+ c;t>eS (12 ... c;t>e3 13 ll:id1! ~xhS 14 tid3 mate.) 13 llfs+ c;t>xfS 14 ~xfS+ c;t>d6 15 l:idl+ c;t>e716 tLldS+ c;t>d817 tLlb6! cb 18 ~xf8+ c;t>c7 19 fig7, ganhando.

As Pretas tentam agora safar-se entregando uma Torre.

10 hg 11 f4+! c;t>e6 12 f5+ c;t>e7 13 t2Jd5+ c;t>d6 14 ~xh8 tLlgf6 15 0-0-0 c;t>c6 16 llbe1 b6 17 tLlb4+ ~xb4!

As Pretas encontram urn enge­nhoso modo de complicar 0 com­bate sacrificando a Dama. A res­posta para 17 .. . c;t>b7 seria 18 e5 .

18 ~xd8 ~b7

Uma id6ia diab6lica! A Dama Branca acaba encurralada prestes a perecer. Mas 0 xadrez 6 urn jogo

Page 48: Aprenda xadrez

16gico, e nao parece que as Bran­cas possam perder ap6s conquis­tarem tanta vantagem. E de fato as Brancas tern urn trunfo.

19 llxd7 lLlxd7 Seria mais vantajoso para as

Brancas 0 lance 19 ... llxd8 20 llxd8 .txe1 21 e5! lLlg4 22 e6 .tb4 23 l:!rl4.

20 ~xg5 .txe1 21 ~e3!

Agora a situa<;ao esta clara. 0 Bispo das Pretas esta perdido, pois a 21 ... .tb4 ou 21 .. . .ta5 segue-se 22 ~d4!

21 .th4

22 ~h6+ .tf6

23 e5 ru-s 24 ef .ilxf6

o combate esta praticamente terminado. Nao ha como conter os Pe6es Brancos da ala do Rei, apoiados como estao pela Dama.

48

25 ft'f4 .tc8 26 g4 lLlS 27 b4 lLlb7 28 ~e4+ <t>d7 29 ~d4+ 1416 30 ~g7+ <t>c6 31 f6 lLJd8 32 f7 lLlxf7 33 ~xf7 .te6 34 ft'e8+ <t>d5 35 ~a8+ <t>e5 36 ~xa7 ~6 37 ~a4 ~4

38 ~b5+ <t>f4 39 g5 c6 40 ~xb6

E as Pretas abandonam. Para confirrnar a tese exposta

acima, eu gostaria de oferecer uma partida elegante e instrutiva, disputada no seculo passado, para uma analise independente par parte dos leitores.

M. Chigorin - S. Alapin St. Petersburg 1883

1 e4 e5 2 tLlf3 lLlc6 3 .tc4 .tc5 4 b4 .txb4 5 c3 .taS 6 0-0 lLlf6 7 d4 0-0 8 de lLlxe4 9 .td5! .txc3 10 .txe4 .txa1

Page 49: Aprenda xadrez

11 ... ~h8

Ap6s 11 ... ~xh7 as Brancas vencem com 12 4Jg5+ ~g6 13 ~g4 f5 14 ef 4Je5 15 ~g3! ~xf6 16 f4 ~e7 17 ttel d6 184Jc3!

12 lZJg5 g6 13 ~g4 ~xe5

14 ~h4 ~g7

15 4Je6+! fe 16 ~h6+ ~f7

17 11 ~xh7+ 18

~xg6+ ~e7

~h4+! ru'6 Urn sacrificio de Bispo exata- 19

mente no ponto mais vulnenivel. 20 Como voce pode ver, 0 Rei esta 21 melhor posicionado na cas a g8 do 22 que na casa e8, mas ainda assim 23 ele nao esta 100% segura.

b3+! d6 ~h7+ ~f8

'ith8+ ~e7

~g7+ ru7 'itxf7 mate.

Page 50: Aprenda xadrez

uC;Ao 10

o Objetivo da Abertura

N as duas lic;6es anteriores n6s nos voltamos para os erros mais comuns, cometidos por jogadores inexperientes, nos estagios ini­ciais da partida. Tendo visto co­mo nao jogar uma abertura, va­mos agora ten tar descobrir 0 que deve ser feito para conquistar uma boa posic;ao desde 0 inicio.

Praticamente todas as instru­c;6es a este respeito estao presen­tes na lic;ao 8, onde foi explicado o Primeiro Principio para 0 com­bate na abertura. Este principio define os fatores mais importan­tes do desenvolvimento, que sao validos independentemente de como esta abertura se desenvol­ve. 13, preciso lembrar-se que se deve liberar as pec;as para assegu­rar uma vantagem definitiva no meio-jogo, que e onde os eventos principais acontecem. Ao desen­volver as suas pec;as e importante, especialmente para os menos ex-

50

perientes, manter uma harmonia, isto e, deixar espac;o para mano­brar, sem amontoar as pec;as, e ao mesmo tempo tentar dificultar que 0 adversario fac;a 0 mesmo.

Nao importa qual seja a aber­tura, os melhores lances para ca­da lado estao sempre subordina­dos a uma meta - a luta pelo centro. As Brancas, tendo a van­tagem do primeiro lance, podem atingir 0 seu objetivo rna is rapido que as Pretas, que fazem 0 pos­sivel para atrapalha-Ias. Examine

Page 51: Aprenda xadrez

os primeiros lances de do is dos mais complexos sistemas da teo­ria modema, a Abertura Ruy Lo­pez (1 e4 e5 tLJf3 tLJc6 3 i.b5)

e a Defesa Nizmo India (1 d4 tLJf6 2 c4 e6 3 tLJc3 i.b4).

Esti evidente que, desde 0 ini­cio, a luta se da em tomo das casas centrais, e5 e e4, respectivamen­teo Isto e natural, j a que 0 dominio do centro (significando nao ape­nas a sua ocupa<;;ao por PeDes mas tambem 0 seu controle por pe<;;as) permite 0 estabelecimento de urn ponto forte de on de operar no meio-jogo.

Vamos tentar ilustrar isto com uma partida bastante elementar:

1 e4 e5

2 f4 tZJc6 3 tLJf3 ef

4 d4 d6

5 .txf4 tLJf6

51

6 tLlc3 7 .te2 8 0-0

.te7 0-0

Este e, alias, 0 modo pelo qual as partidas entre principiantes ou em partidas simultaneas costu­mam come<;;ar. Ambos os lados parecem ter mantido 0 ritmo de desenvolvimento, mas as Bran­cas estao claramente mais des en­volvidas, com urn forte centro de PeDes e espa<;;o para manobrar. E claro que a posi<;;ao das Pretas nao esta nem perto de perdida, mas por que comportar-se passiva­mente desde 0 inicio?

Nos nao vamos recomendar aqui nenhuma abertura, mas con­siderando a grande popularidade do gambito do Rei, entre jogado­res inexperientes, nos talvez de­vessemos examinar os metodos por tras da mesma.

1 e4 e5 2 f4 ef 3 tLJf3 d6 4 d4 g5 5 .tc4 .tg7 6 0-0 h6

Page 52: Aprenda xadrez

As Pretas ganharam urn Peao que pode ser mantido com segu­ran~a, e ao mesmo tempo nao ne­gligenciaram 0 desenvolvimento.

1 e4 e5 2 f4 d5 3 ed e4 4 d3 ll'lf6

Esta e uma tentativa de contra­ataque que guard a muitos peri­gos, para ambos os lad os, e exige urn born conhecimento de muitas variantes.

Do exemplo que se segue, tira­do de uma partida entre Grandes Mestres, podemos ver como a ne­gligencia dos principios do de-

52

senvolvimento na abertura levou as Brancas ao desastre rapida­mente.

E. Bogoljubow -M. Botvinnik

Nottingham 1936

1 d4 ll'lf6 2 ttJt3 b6 3 e3

Basicamente as Brancas estao se recusando a lutar ativamente pelo centro. -As tentativas de se garantir uma vantagem na abertu­ra envolvem, em geral, os lances c4 ou l2Jc3. (Compare com a par­tida Kasparov-Gheorghiu na li­~ao 2.)

3 .tb7 4 c4 c5 5 ll'lc3 cd 6 ed e6 7 .td3 .te7 8 0-0 O-O? 9 b3?

Urn momenta instrutivo. As Brancas, na ansia de desenvolve­rem suas pe~as, nao pesaram os problemas das Pretas e nao viram o lance 9 d5!, que tomaria impos­sivel 0 desenvolvimento tranqui-10 das pe~as adversarias.

o que digo e que a continua~ao 9 ... ed 10 cd ll'lxd5 11 ll'lxd5 .txd5 12 .txh7 + ~h7 13 ~xd5

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e claramente vantajosa para as Brancas, e portanto as Pretas te­riam que fazer concess6es pel a existencia do Peao Branco na ca­sa d5, 0 que restringe a sua posi­~ao.

9 dS

10 .te3? Aqui e preciso dizer clara­

mente que este lance e do tipo "vamos ver no que da". 0 Bispo na casa e3 foi colocado da forma mais desajeitada possivel, ja que atrapalha as pe~as Brancas e as impedem de controlar a imp or­tante casa e4, para onde 0 Cavalo das Pretas ira em breve. A partir do que vinha jogando, as Brancas deveriam prosseguir com ~b2 e ~e2, e en tao, dependendo do que acontecesse, jogar !lac1 e l'lfd1 ou .l:hd1 e nEel. As Brancas te­riam entao mais liberdade e po de­riam encarar 0 desenrolar do jogo com confian~a.

53

10 ttJe4 11 ~c1 ttJd7 12 ~e2

Ao continuar a jogar de modo descuidado, perrnitindo 0 des en­volvimento das Pretas, as Bran­cas perderam agora a sua ultima chance de contestar 0 dominio das Pretas no centro, com 12 cd ed.

12 ... l:!c8

Agora a troca cd nao e mais possive!.

13 ID'dl f5

As Pretas consolidaram a po­si~ao do seu Cavalo no centro. Agora esta claro que as Brancas estao em serios apuros. Em pri­meiro lugar, as Pretas prevalecem no centro. Alem disso, a fraqueza das Brancas nas casas pretas da ala da Dama esta come<;:ando a vir a tona. E lembramos que tudo isto poderia ser evitado se as Brancas tivessem colocado seu Bispo na

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casa b2 - 0 lugar mais natural para 0 mesmo nesta posi~ao! Este e urn exemplo claro de como a rna coloca~ao de uma unica pe~a pode afetar a solidez de uma po­si~ao inteira.

14 ~f4?

As Brancas tentam controlar a casa e5 tarde demais (e no mo­mento errado!). Teria sido mais sabio passar a defesa e tentar sim­plificar a posi~ao atraves de uma serie de trocas: 14 tilbl , seguido de cd e llxc8.

14 ... g5! Valendo-se da cobertura do

seu Cavalo na casa e4, as Pretas deslancham 0 ataque decisivo, sem se preocuparem com 0 enfra­quecimento da posi~ao do Rei.

15 ~e5

Uma maior resistencia seria com 0 lance 15 ~e3, mas como as Brancas poderiam fazer urn lance deste?

54

15 16 tile1 17 ~xe4

1S de

g4 tilxe5 de fic7

A luta acabou. 0 Peao na casa e5 vai seguir em frente e 0 forte par de Penes central das Pretas, apoiado pelo par de Bispos, vai for~ar em breve as Brancas a abandonar.

19 tilb5 fixeS 20 Iid7 .tg5!

Urn fecho de ouro para 0 final - 0 Bispo escapa do perigo e ganha urn tempo.

21 !!cd1 22 llxa7

.tc6 l:tcdS

E agora aIem de tudo as Pretas obtem 0 controle da coluna da Dama. A partida terrninou assim:

23 h4 llxd1 24 fixd1 J::tds 25 fic2 .td2

E as Brancas abandonaram. As Brancas nao poderiam de­

fender-se dos lances ... ~al e .. . e3 ao mesmo tempo. Este pode ser urn born momenta para citar uma analise de Mikhail Botvin­nik de uma outra partida dispu­tada entre ele e 0 Mestre Alexan­der Sokolsky nas semifinais do campeonato sovietico de 1938: " ... e 0 controle das casas centrais passa gradativamente para as Pretas. Aos poucos se toma claro

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que as Brancas nao tern nenhum plano de jogo e estao meramente preocupadas com 0 'desenvolvi­mento'.

Talvez alguem pudesse safar­se jogando assim na virada do seculo, mas hoje, quando todos os mestres comec;:am a estabele­cer pIanos para 0 meio-jogo, a partir do sexto ou oitavo lance, nao ha forma melbor de acabar em uma posic;:ao restringida do que buscar apenas 0 desenvolvi­mento."

Botvinnik fala aqui da visao dos experts, e por isso seria no minimo frivolo da minha parte exigir dos leitores tamanha com­preensao e analise de uma posi­c;:ao. Mas acho que a analise deste ex-campeao mundial pode ser to­mada como urn axiom a valida pa­ra qualquer pessoa que jogue xa­drez. Lembre-se dele e tente ain­da na abertura valer-se de qual­quer chance para planej ar mais ou menos como voce quer que a partida prossiga.

Page 56: Aprenda xadrez

LI<;Ao 11

A Escolha da Abertura

Tendo estudado as li~6es ante­riares voce arruma as pe~as e pensa sobre qual sera 0 seu pri­meiro lance. Nao se apresse em ler urn manual de aberturas -este s6 ira afasta-Io do caminho carreto. Vamos tentar fazer uma escolha juntos. Em primeiro lu­gar, lembre-se de que nao existe nenhum lance que possa ser con­siderado "0 melhar" ou "0 mais forte" a partir da posi~ao inicial. Ha VaTIOS lances que atendem aos principios de desenvolvirnento na abertura, e voce deve fazer uma escolha baseando-se no seu gosto, no seu conhecimento e na sua experiencia.

Eu sugiro que voce comece 0

jogo avan~ando urn dos Pe6es centrais. Antes de me tomar urn Grande Mestre eu costumava ini­ciar corn 1 e4! Este lance me evo­cava imagens de cavalheirismo galante e prontidao para 0 corn-

56

bate. 0 Peao Branco na casa e4 control a a irnportante casa d5, e espera par refor~os na casa d4. Como voce po de ver, as rnetas das Brancas sao bern claras e di­retas, e por isso 6 natural que as aberturas que se iniciam par 1 e4 sejam chamadas de "abertas" ou "serni-abertas".

Assim, as Brancas jogaram 1 e4. Qual a melhor resposta para as Pretas? Embora possa parecer estranho, as Pretas tern uma am­pIa escolha. Aresposta rnais basi­ca 6 realizar urn lance sirn6trico, com 0 Peao do Rei.

Todas as aberturas que se ini­ciam por 1 e4 e5 caem na catego­ria das "aberturas abertas", que sao ricas ern hist6ria e pela pratica nos tomeios.

o Gambito do Rei: 1 e4 e5 2 f4 ef 3 till3 d5 4 ed. Esta abertura esplendida saiu do circuito dos gran des tomeios devido as id6ias

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que advogam de urn contragam­bito que capacita as Pretas a lutar com sucesso pela iniciativa, jo­gando 2 ... dS! 3 ed e4! ou 2 ... ef 3 liJf3 dS 4 ed tili6.

Uma outra tentativa de retirar o Peao do centro - 2 d4 ed 3 'lIVxd4 - encontrou muito pou­cos defensores. 0 resultado do passeio da Dama 3 ... l2Jc6 4 'lIVe3 tDf6.

E que as Pretas poem seus do is Cavalos emjogo, garantindo chan­ces iguais.

57

A Giuoco Piano: 2 tDf3 tDc6 3 .tc4 .tcS. Aideia e ocupar 0 cen­tro e atacar a casa f7. Esta e uma das aberturas mais antigas do xa­drez e e rica em possibilidades. As tentativas de empregar sacri­ficios jogando 4 b4 .txb4 5 c3 .tc5 6 d4 ou 4 c3 tili6 5 d4 ed 6 0-0.

caminham lado a lado com os metodos modernos de lento de­senvolvimento das pecsas ap6s 4 d3 d6 5 c3 tDf6 6 0-0 0-0 7 .tgS.

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A Ruy Lopez, 2lili3lLJc6, ~b5 eo exemplo mais tfpico das aber­turas abertas. A abertura e rica em ideias estrategicas e taticas. Os melhores Grandes Mestres enca­ram a habilidade de jogar a Ruy Lopez com ambas as cores como urn teste de forr;a no xadrez. A abertura tern variantes para todos os gostos. A Variante das Trocas, por exemplo, que e relativamente simples (3 ... a6 4 ~xc6 dc)

a luta aberta pelo centro na Va­riante Aberta (3 ... a6 ~a4 lili6 5 0-0 tLJxe4 6 d4 b5 7 .tb3 d5 8 de ~e6)

58

o famoso contra-ataque Marshall (3 ... a6 4 ~a4 lL'lf6 5 0-0 ~e7 6 idel b5 7 ~b3 0-0 8 c3 d5!? 9 ed lL'lxd5 ou mesmo 9 ... e4), e, final-

mente, a Variante Classica, que so mente jogadores experientes e bern preparados estao capacita­dos a jogar (3 ... a6 4 .ta4 lL'lf6 5 0-0 ~e7 6 l:iel b5 7 ~b3 0-0 8 c3 d69 h3lL'la5 10 ~c2 ou 9 ... lL'lb8 10 d4).

Vamos voltar a posir;ao que se segue ao primeiro lance das Bran­cas. Alem do lance 1 ... e5 as Pretas podem iniciar 0 jogo com

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outras aberturas que nao a Ruy Lopez.

Todas as aberturas onde as Pre­tas evitam jogar 1 ... e5 em respos­ta ao lance 1 e4 das Brancas, sao chamadas "serni-abertas".

A abertura mais simples e a DefesaEscandinava: 1 e4 d5 2 ed ~xd5 3 liJc3 ~a5 . Ao custo de perder urn tempo recuando a Da­rna, as Pretas reduzem a tensao no centro, esperando poder des en­volver as pe<;as do seguinte mo­do: 4 d4 liJf6 5 liJf3 ..tg4 6 ..tc4 e6 7 0-0 liJc6

seguido por ... 0-0-0. Nao e uma abertura popular entre os enxa­dristas experientes (n6s nao gos­tamos de perder tempo), mas e bastante aceitavel para a maior parte dos jogadores.

A Defesa Siciiiana, que se inicia com 1 ... c5, e a abertura jogada com mais frequencia. As Pretas desencorajam as Brancas

59

de manter dois fortes Pe6es cen­trais. A continua<;ao 2 ttJf3 ttJc6 3 d4 cd 4 liJxd4 costuma conduzir a posi<;6es ricas em possibilida­des taticas e caracterizadas por uma luta complexa em torno das casas centrais. Eu 0 aconselharia a come<;ar a estudar a Defesa Si­ciliana em algumas partidas bern conhecidas na linha da Variante Dragao: 4 ... liJf6 5 liJc3 d6 6 ..te3 g67 f3

(ou 7 ..te2), ou no Sistema Sche­veningen: 4 ... liJf6 5 ttJc3 d6 6 ..te3 e6.

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Duas aberturas - a Defesa Caro-Kann (1 e4 c6 2 d4 d5) e a Defesa Francesa (1 e4 e6 2 d4 d5) - tern conceitos estrategicos semelhantes. As Pretas combatem a forma<;:ao do centro de PeDes "ideal" lirnitando a sua mobili­dade e estabelecendo urn ponto de controle bern protegido na cas a d5. As posi<;:Des mais criticas na Caro-Kann sao, a prime ira, 1 e4 c6 2 d4 d5 3 e5 ~f5 4 tLJc3 e6, e a segunda, 1 e4 c6 2 d4 d5 3 lLJc3 de 4 lLlxe4 ~f5 5 tLJg3 ~g6 on-

de as Brancas tern uma pequena vantagem. Mas nao ha fraquezas na posi<;:ao das Pretas, nem en­traves ao seu desenvolvimento. A posi<;:ao basica da Defesa Fran­cesa 1 e4 e6 2 d4 d5 3 lLJc3 ~b4 4 e5 c5 leva a posi<;:ao em que os PeDes bloqueados nas casas d4 e e5 estao sob amea<;:a constante.

60

Estas duas aberturas sao consi­deradas bastante confiaveis e le­yam a urn meio-jogo rico em ma­nobras complexas. Aqueles que se dao a trabalhos meticulosos no tabuleiro e tern paciencia para usar bern 0 tempo, fariam bern em estudar uma destas aberturas, em­bora eu, pessoalmente, prefira a Defesa Caro-Kann, on de as Pre­tas desenvolvem livremente suas pe<;:as, ao passo em que na Defesa Francesa 0 Bispo Preto na casa c8 fica preso pelos pr6prios PeDes.

o desenrolar dos aconteci­mentos e bern mais lento se as Brancas iniciam 0 jogo com 0

avan<;:o do Peao da Dama - 1 d4. Neste caso ap6s os primeiros lances os pIanos de ambos os la­dos nao estao claros e sao res­guardados do adversario. Todas as aberturas que se iniciam com 0

lance 1 d4 sao ditas "fechadas" ou "semifechadas". Para joga-Ias bern e com eficiencia e preciso

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que se tenha urn certo entendi­mento de jogo posicional e expe­riencia. Portanto, eu 0 aconselho a jogar, par ao menos urn ano, par­tidas abertas e somente entao co­me~ar a jogar partidas fechadas.

De modo analogo ao lance 1 e4, a resposta mais basica possivel e a imita~ao do lance 1 d4 com 1 ... dS. 2 c4 leva a diferentes linhas do Gambito da Dama. Aresposta 2 ... c6 leva a Defesa Eslava ou

2 ... e6 leva as Defesas Ortodoxa ou Tarrasch. As Pretas irao tentar consoli dar sua posi~ao na casa dS, ao passo que as Brancas irao, metodicamente, criar condi~6es favoraveis para 0 avan~o do Peao do Rei para a casa e4. No presente seculo surgiram outros metodos de desenvolvirnento que visam oferecer as Pretas urn contrajogo menos direto, no centro. Na De­fesa Nimzo india (1 d4 lili6 2 c4 e6 3 tZJc3 ~b4)

61

e naDefesa india da Dama (1 d4 tZJf6 2 c4 e6 3 tZJf3 b6)

as Pretas tentarn lutar pelo con­trole da casa e4.

Na Defesa india do Rei (1 d4 tZJf6 2 c4 g6 3 tZJc3 ~g7 4 e4 d6)

Page 62: Aprenda xadrez

e naDefesa Grunfeld (1 d4lLlf6 2 c4 g6 3 lLlc3 d5 4 cd lLlxd5 5 e4) as Pretas permitem que as Bran­cas estabele~am urn forte centro de Pe6es mas adotam uma es­trategia de mimi-lo.

E aqui termina 0 nosso breve esbo~o das aberturas basicas do xadrez. Quando voce ler urn dos varios manuais de xadrez disponi­veis, nao se deixe confundir pela profusao de variantes que voce podera encontrar. Elas refletem tudo 0 que pode ser import ante nos torneios, ou, em outras pala-

vras, as leis basicas da estrategia das aberturas. N6s ja discutimos a respeito e elas sao uma necessi­dade absoluta para 0 principiante.

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uC;Ao 12

A Arte do Planejamento

Antes de dedicar-se a qualquer atividade, quase todas as pessoas contemplam as opera~6es que te­dio de executar para atingir suas metas, e tenta descobrir qual a melhor sequencia para executa­las.

Eu acredito firmemente que 0

xadrez e, ate uma certa extensao, urn espelho de vida e que, port an­to, 0 planejamento e uma caracte­ristica fundamental deste jogo.

o que e 0 planejamento em uma partida de xadrez? E uma serie de opera~6es em uma ordem bern calculada que visam a urn objetivo concreto, sendo que esta ordem e determinada pelas posi­~6es que se apresentem no tabu­leiro e e constantemente alterada pelas a~6es do adversario.

o plano nao deve ser confun­dido com 0 objetivo do jogo. Al­gum amador poderia pensar, "eu quero dar urn xeque-mate, por is-

63

so eu you jogar visando urn mate desde 0 inicio e por isso eu jogo de acordo com urn plano". Trata­se de uma abordagem redon­damente equivocada; nao exis­tern condi~6es de se dar mate ao Rei do adversario no infcio da partida. 0 mate e 0 objetivo mc'ixi­mo do jogo e "jogar visando urn mate desde 0 infcio" e tao-so­mente uma vontade de satisfazer este desejo.

Primeiro, desenvolva as suas pe~as segundo urn padrao, para estabelecer uma supremacia em alguma parte do tabuleiro.

Em seguida aumente a pressao para conquistar vantagens posi­cionais concretas ou vantagens materiais no meio-jogo.

Finalmente, explore as vanta­gens no final, atraves do estabele­cimento de uma vantagem mate­rial que tome qualquer resistencia impraticavel.

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o lado que se defende tambem nao deve jogar de qualquer ma­neira; deve jogar segundo urn pla­no, considerando todos os peri­gos, amea~as e debilidades na sua posi~ao e tentando - acima de tudo - livrar-se delas.

o plano e elaborado com base em uma avalia~ao con creta da po­si~ao e das suas peculiaridades. Portanto, e importante ser capaz de analisar as forma~6es de com­bate de ambos os lados e com­preender todas as sutilezas desta posi~ao . A capacidade de se ela­borar urn plano e executa-Io de modo consistente no tabuleiro e urn dos aspectos mais atraentes do xadrez; as vezes, chega a ser mais gratificante que, digamos, lan~ar urn ataque dire to ao Rei inimigo. Ese voce levar em conta que, freqiientemente, os joga­dores disfar~am suas inten~6es, lan~ando mao de manobras que visam distrair 0 adversario, voce entendera que jogar segundo urn plano e uma grande arte.

E claro que demora muito para que alguem aprenda a conduzir as suas opera~6es no tabuleiro de xadrez. Erros graves e erros me­nores iraQ acontecer e estes sao inevitaveis. Mas acredito que aprender com seus erros e melhor do que jogar sem qualquer plano.

64

Para ilustrar 0 que foi dito, va­mos considerar os exemplos que se seguem.

A. Suetin - I. Bondarevsky Moscou 1963

1 e4 e5 2 tZJf3 tZJc6 3 ~b5 a6 4 ~a4 d6 5 0-0

Esta e uma das linhas mais an­tigas da abertura Ruy Lopez. Ap6s cumprirem a prime ira me­tade do plano na abertura (tirar 0

Rei do centro), as Brancas plane­jam a cria~ao de urn centro de Pe6es atraves dos lances c3 e d4, que tambem pressionam 0 Peao Pre to na cas a e5. As Pretas nor­malmente tentam sustentar seu Peao na casa e5 jogando tZJg8-e7-g6, seguidos de ~e7. Tambem e possivel montar uma outra for-

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ma<;ao defensiva: ... tLlg8-e7, .. . g6, ... ~g7. Ambos os lados pare­cern estar dispostos a engajarem­se em lentas manobras posicio­nais. De repente as Pretas jogam urn lance impulsivo e antiposicio­nal.

5 g5?! 6 d4!

As a<;oes energicas no centro devem ser consider ad as como a melhor res posta para 0 avan<;o prematuro dos Peoes da ala do Rei das Pretas. Amelhor maneira de se explorar 0 desenvolvimento lento das Pretas e abrindo 0 cen­tro. a sex to lance das Brancas e urn born exemplo de uma cor­re<;ao de urn plano anterior no momenta adequado, de modo a explorar as a<;oes do adversario.

6 g4 7 ~xe6+ be 8 llJe1 ed?

autra concessao posicional. Iludido por achar que a sua van­tagem em conservar 0 par de Bis­pos lhes permitira abrir 0 centro, as Pretas ainda pouco desenvolvi­das fazem concessoes importan­tes no centro.

9 "tlVxd4 10 "tlVa4 11 lZ'lc3

'ttf6 llJe7

Mais uma corre<;ao efetuada no plano para a abertura. Esta po-

65

si<;ao nao mais requer 0 avan<;o do Peao a casa c3, por isto esta cas a e agora ocupada pelo Cava-10, que tomara parte no comb ate pelo centro - 0 setor decisivo.

11 ... ~d7

12 ~a5!

As Brancas alteram 0 seu pla­no e se valem da debilidade do Peao na casa c7 para impedir que as Pretas fa<;am 0 roque, frustran­do a inten<;ao do adversario de mobilizar suas pe<;as. A perda de tempo e mais do que compensada pela desarrnonia das pe<;as Pretas.

12 ~d8

13 lDd3 ~g7 14 e5!

Esta e a parte do plano das Brancas que visa organizar urn ataque ao Rei, sem rocar. a modo mais rapido e limpar 0 caminho no centro.

14 ... ~f5

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Ap6s 14 ... de 15 tLlc5 nao ha defesa para Ilrll.

15 !leI d5 o unico meio de salvar a par­

tida e evitando a abertura da co­luna da Dama. No entanto, as de­bilidades das casas no territ6rio das Pretas acabam por tornar-se urn fator decisivo.

16 ttJe2 17 tLJg3 18 ~g5+ 19 tz'lc5!

20 tt:lli5!

tLJg6 ~e6

~c8

~e8

Os Cavalos das Brancas ga­nharam controle total sobre 0 ta­buleiro. 0 ultimo est agio do pla­no das Brancas e obter uma van­tagem material decisiva.

20 l:!g8 21 CiJxg7 22 CiJxa6 23 i.e3 24 ~xa6+

.llxg7 ~7

llxa6

e as Pretas abandonaram logo.

66

Aqui esta urn outro exemplo tirado de uma partida entre Sve­tozar Gligoric e Vasily Smyslov.

Alem do Peao extra que so­mente podera ser explorado no final, a maior vantagem das Pre­tas reside no controle de varias casas no centro: d4, d5, c5, f4 e f5. As Brancas tambem tern suas chances de contra-jogo: uma maioria de Pe6es na ala da Dama e a coluna da Dama aberta. Quan­tas posi~6es semelhantes nao acabaram em empate como resul­tado de lances superficiais! Mas Smyslov e urn grande expert em tais finais. 0 seu plano para ven­eer consiste de tres estagios fun­damentais.

o primeiro estagio e a troca imediata de uma das Torres para evitar a penetra~ao na coluna da Dama. A outra Torre sera preser­vada para com bater urn eventual avan~o dos Pe6es Brancos na ala daDama.

Page 67: Aprenda xadrez

20 21 .rr.ad1 22 Jlxd2 23 f3

ru"d8 llxd2 ~f8

~e7

A segunda etapa do plano e criar uma amea<;a de cria<;ao de urn Peao passado na col una h, para que a Torre Branca, ao evi­ta-Io, conceda a coluna da Dama a Torre Preta.

24 ~f2 h5 25 ~e3 g5! 26 Ilh2 nd8 27 m.1

67

A terceira e ultima etapa do plano incorpora urn ataque ao Peao Branco na cas a e4.

27 g4 28 fg tZJxg4+ 29 ~e2 tZJf6 30 ~e3 t!d4

Agora que as pe<;as Brancas tern que defender 0 Peao na casa e4, 0 Rei Preto entra no jogo, dirigindo-se para a casa g4.

31 nn tZJg4+ 32 ~e2 ~f8

33 ru3 ~g7

34 ~ ~f6

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Vma corre<;:ao necessaria ao plano. Originalmente, a rota tra­<;:ada para 0 Rei Pre to era g7-g6-g5-g4, desde que as Torres fos­sem preservadas. As Brancas, no entanto, bus cam a salva<;:ao em urn final com Cavalos, e por isto o Rei das Pretas deve manter-se junto ao centro.

35 llxd4 ed 36 lZ'lb5 ~e5!

37 lZ'lxa7 ~xe4

38 lZ'lc8 d3+ Certamente nao 38 ... e5? 39

lZ'ld6 mate! 39 ~d2 ~d4

40 e5 be 41 lZ'ld6 lZ'le5

E as Braneas abandonaram. Qual e 0 melbor me to do de se

planejar uma partida de xadrez? Presumivelmente, analisando os comentarios dos Grandes Mes­tres sempre que for dada uma en­fase especial a sequencia 16gica de opera<;:6es necessarias a obten­<;:ao do objetivo final.

Os comentarios de partidas, dos jogadores que lideram 0 ran­

king, serao altamente beneficos para todos os amantes do xadrez que desejem melborar 0 seu jogo.

Page 69: Aprenda xadrez

LIC;Ao 13

For~ando as Continua~oes

Para a maiar parte dos entusiastas do xadrez, 0 jogo constitui-se nu­rna partida onde os fogos de arti­ficio, representados par ataques impetuosos e combinac;oes, e que encantam. Todo mundo busca atacar e realizar belas combina­c;oes, mas muito poucos se en can­tam com a genuina beleza de ma­nobras posicionais sutis e pIanos estrategicos profundos.

A arte do jogo posicional nao e completamente apreciada par aqueles que em geral nao com­preendem como os Grandes Mes­tres conseguem executar tantos ataques bonitos e eficazes. Muitos amadares sao tao capazes de re­solver problemas e estudos quan­to os Grandes Mestres, mas so­mente se mergulharem de cabec;a nas complexidades do jogo e que poderao perceber que as oportu­nidades para ataques e combina­c;oes eficazes nao se dao por aca-

69

so; mas como resultado de urn j ogo posicional baseado na obser­vac;ao das leis da estrategia enxa­dristica.

Portanto, aque1es que que rem ter sucesso em xadrez devem per­ceber que 0 jogo de combinac;oes nao se opoe ao jogo posicional, mas que, pelo contrario, se com­plementam.

Eu gosto de atacar e de fazer sacriffcios, mas ainda assim te­nho uma firme convicc;ao de que o jogo posicional e a base do jogo de xadrez, refletindo a 16gica in­terna do combate no tabu1eiro e fechando com os requisitos da partida mode rna.

A base do j ogo posicional e 0

planejamento, do qual falamos no capitulo anterior. A farmac;ao de urn plano (correto) profundo e eficaz exige tanta imaginac;ao e versatilidade quanta 0 calculo de uma combinac;ao complexa. Se

Page 70: Aprenda xadrez

h:i ideia de uma combina~ao, en­tao 0 c31culo dos lances e uma questao de tempo e de tecnica. Os lances, com freqiiencia, assumem urn canlter de movirnentos for~a­dos; e se tornam reais e concretos.

Ao formular urn plano 0 joga­dor tern que levar em conta as posi~6es que podem ser atingidas dentro de alguns lances. 0 calcu-10 concreto, destas variantes, fre­qiientemente, leva a especula~6es semi-abstratas acerca das posi­~6es a que, provavelrnente, se deve chegar como resultado. A capacidade de jogar de acordo com a posi<;ao, ou posicional­mente, e importante em situa~6es complexas e abstratas, quando 0

alvo de urn ataque ainda nao esta definido ou e preciso manobrar as pe~as para consolidar uma posi­~ao e descobrir debilidades no territ6rio do adversano.

A simples men~ao do nome de Paul Morphy, 0 brilhante jogador americano do final do seculo XIX, e suficiente para que muitos amantes do xadrez lembrem dos seus fantasticos ataques e combi­na~6es brilhantes. Ainda assim, muito poucos percebem que estas combina~6es eram baseadas em principios estrategicos profun­dos, tais como: a centraliza~ao maxima das pe~as, a superiorida-

70

de no desenvolvirnento e a aber­tura de colunas no centro. Mor­phy compreendia intuitivamente as leis da estrategia enxadrfstica e, gra~as a esta compreensao, ob­teve tantas vit6rias brilhantes.

o grande pensador do xadrez do final do seculo passado, e pri­meiro campeao mundial oficial de xadrez, Wilhelm Steinitz, foi 0

primeiro a formular as leis basi­cas do jogo posicional (estrate­gia). Ele mostrou que urn plano nao surge da imagina~ao do joga­dor. 0 plano baseia-se em algum fator concreto presente (ainda que escondido) no tabuleiro num dado momento. Ele demonstrou que cada posi~ao no tabuleiro e caracterizada por varios fatores, favoraveis ou desfavoraveis a ca­da lado, que devem ser analisados em separado e em conjunto para que se avalie uma posi~ao. A ca­pacidade de avaliar corretamente a situa~ao a qualquer momenta de uma partida deterrnina, em gran­de parte, a for~a do jogador. Va­mos acompanhar urn exemplo simples:

I. Boleslavsky - A. Kotov Zurique 1953

Em urn exame preliminar as chances nao pare cern estar claras

Page 71: Aprenda xadrez

aqui. As Brancas tern urn Peao a mais, mas os Pe6es da ala da Da­rna sao debeis e 0 par de Bispos das Pretas e bern capaz de lhes oferecer condic:;:6es de atingir a igualdade. Seu problema e que 0

Bispo na casa d6 se en contra cla­vado. Para libertarem-se as Pretas precis am jogar em busca de sim­plificac:;:6es, na esperanc:;:a de ga­rantir urn empate em urn final com Bispos de cores opostas. In­felizmente, ha uma pequena falha nesta avaliac:;:ao que leva, em sete lances, as Pretas a derrota.

20 i.f4 i.xf3

21 .ilxd6 .ilxd6

22 't!fxd6 't!fxd6

23 i.xd6 l::!e8

24 llxe8+ 4Jxe8

25 i.e5! i.c6

26 b4! h5

27 13

71

Se as Pretas pudessem trocar os Cavalos, 0 empate estaria as­segurado, ainda que elas perrnitis­sem que 0 Rei Branco ocupasse 0

centro e entregassem 0 Peao na casa a6. Mas isto e impossive!. E f:icil no tar que 0 Bispo das Bran­cas ira tomar 0 Cavalo das Pretas caso ele se mova. Por isso e que 0

final com Bispos de cores opostas nao salva as Pretas e 0 Rei Branco se dirige para a ala da Dama, ap6s o que os Pe6es das Pretas ali pre­sentes cairao com certeza. Este exemplo elementar mostra que as Brancas puderam explorar esta vantagem com tanta facilidade, porque dentre tantas posic:;:6es possiveis no meio jogo 0 jogador viu que a melhor viria atraves do lance 25 i.e5! e 26 b4! Ap6s isto o calculo das variac:;:6es possiveis tomou-se bastante simples.

Para avaliar corretamente uma posic:;:ao e preciso que 0 jogador

Page 72: Aprenda xadrez

analise a disposic;ao das pec;as, a sua centralizac;ao, a qualidade da estrutura de Peoes, a mobilidade, a disponibilidade de linhas aber­tas e as relac;oes materiais entre as pec;as. A profundidade e a sutileza da avaliac;ao geral depende de ca­da urn dos fatores citados em cada posic;ao.

Por exemplo, e sabido que uma Torre e mais forte que urn Cavalo, mas se 0 Cavalo ocupa urn ponto avanc;ado bern protegido no cen­tro enquanto a Torre esta total­mente fora de jogo, entao 0 Cava-10 e, obviamente, mais forte que a Torre.

No final a avaliac;ao da posic;ao e deterrninada pela existencia de Peoes passados e pela centraliza­c;ao do Rei. No meio-jogo, pelo contrano, e melhor que 0 Rei per­manec;a longe do centro.

Qualquer enxadrista experien­te respeita a arte do jogo posicio­nal, porque ele valoriza os bene­ficios da acumulac;ao sistematica de pequenas vantagens, que aca­bam por deterrninar, em ultima analise, aquilo que se chama de vantagem posicional para urn dos lados. 0 j ogador que detem a van­tagem posicional da as cartas na situac;ao. Repentinamente ele descobre uma grande riqueza de possibilidades para as suas pec;as

72

e uma boa escolha de continua­c;oes combinativas e posicionais.

Se voce escolher dez belos ata­ques de combinac;oes de qualquer Grande Mestre e ten tar analisar as . posic;oes iniciais, voce vera que estas combinac;oes estavam las­tread as na superioridade posicio­nal. Em uma superioridade em termos de desenvolvimento ou mobilidade, por exemplo.

Nos ultimos 100 anos os ana­listas de xadrez revelaram muitos rnisterios na teoria do jogo posi­cional. As leis basicas da estrate­gia enxadristica forrnuladas pelo grande Steinitz perrnaneceram inalteradas, mas e dada hoje uma enfase maior a fatores como a di­namica da posic;ao, a compensa­c;ao de algumas desvantagens po­sicionais por algumas outras. E dada uma maior importancia a coordenac;ao das pec;as, ja que duas ou tres pec;as bern coordena­das podem sair vitoriosas sobre pec;as de maior forc;a do adversa­rio mas com menos mobilidade.

E finalmente, em contraste ao jogo de 150 anos atras onde as combinac;oes visavam principal­mente ao ataque a fortaleza do Rei, hoje, com 0 progresso das tecnicas defensivas, combina­c;oes complexas sao executadas para aumentar ganhos posicio-

Page 73: Aprenda xadrez

nais. Os sacrificios posicionais tornaram-se uma das tecnicas mais eficazes quando Pe6es e pe­c;as sao entregues em troca de ga­nhos posicionais (embora nao de­cisivos).

Concluindo, gostaria de acon­selhar todos aqueles que gostam do xadrez a estudar com mais per­sistencia a arte do jogo posicio­nal. Eu Ihes asseguro que voces nao VaG se arrepender.

Page 74: Aprenda xadrez

LI<::Ao 14

Sacrificios de Dama

Enquanto uma partida de xadrez se desenrolar sem sobressaltos e de acordo com as leis da estrate­gia enxadristica, 0 valor hienir­quico tradicional das pe~as se mantem. Alguem po de, e claro, discutir a respeito do que teria mais for~a - uma Torre ou urn Bispo e dois Pe6es - dependen­do da posi~ao ocupada por tais pe~as. Mas as vezes as pe~as se revestem de uma for~a sob rena­tural e come~am a fazer rnilagres. Toda a escala tradicional de va­lores e reduzida a po: urn Peao, por exemplo, se reveste de mais valor que uma Torre ou mesmo que uma Dama. Isto acontece com freqiiencia quando uma combina~ao bern formulada e operacionalizada no tabuleiro.

E bern sabido que 0 jogo com­binacional agrada aos entusiastas do xadrez. Por que? Primeiro pela sua beleza, par ser surpreendente

74

e pela sua logica inexoravel, ja que ao longo de uma combina~ao os movimentos do adversario sao geralmente for~ados . Este e urn dos paradoxos mais surpreenden­tes do xadrez. Quando ha urn combate, cada lado pode escolher entre varios lances posslveis, mas as complica~6es combinacionais violam os valores narmais e lirni­tam de modo estrito 0 modo pelo qual uma partida po de se des en­volver. Mais que isso, 0 adversa­rio nao tern nenhuma escolha de lances.

Vamos analisar uma partida en­tre Edward Lasker e George Tho­mas que foi disputada em 1911. Ela iniciou-se tranqiiilamente.

Edward Lasker - G. Thomas Londres 1911

1 d4 f5 2 ttJf3 e6

Page 75: Aprenda xadrez

3 ttJc3 4 ~g5

5 ~xf6

6 e4 7 tLJxe4 8 ~d3 9 4Je5

lLlf6 ~e7

~xf6

fe b6 ~b7

0-0

Agora vern 0 sinal de ataque: 10 ...vh5! ...ve7

As Pretas evitamjogar 0 lance 10 ... ~xe5 achando que podem safar-se do lance 11 lLlxf6+ j ogando 11 ... gf. Mas se ela soubesse 0 que estava por vir ...

11 ...vxh7+!!

75

Urn sacrificio desconcertante. As Brancas entre gam a Dama em troca de urn Peao fazendo com que 0 Rei Preto tenha que dirigir­se para 0 outro lado do tabuleiro onde tera uma marte ingl6ria.

11 ... ~xh7

12 tLJxf6+ ~h6 Se 0 Rei tivesse recuado para

a casa h8 a partida terminaria ime­diatamente com 13 lLlg6 mate.

13 4Jeg4+ ~g5

14 h4+ ~f4

15 g3+ ~t3

16 ~e2+ ~g2

17 l:lh2+ ~gl Esta casa geralmente abriga 0

Rei das Brancas, mas 0 Rei das Pretas esta fadado a perecer ali.

18 ~d2 mate. Bonito? Sim! Inesperado?

Sim! For~ado? Sim! Mas por que tao de repente? Como pode uma combina~ao ser vista e aplicada? Todo enxadrista experiente sabe que uma combinac;ao nunca co­me~a do nada. Para que uma combina~ao seja possivel e preci­so que alguem tenha certas vanta­gens, as quais sao acumuladas lentamente, lance por lance. 0 processo acumulativo pode ace­lerar os erros do adversario.

o que tornou possivel 0 sacri­ficio de Dama analisado acima? As Brancas nao tinham vantagem

Page 76: Aprenda xadrez

no desenvolvimento, mas tinham quatro pec;:as menores apontando diretamente para 0 Rei inimigo e para a fraca casa h7. A ausencia do Peao Preto na casa e7 originou as pre-condic;:6es para a obtenc;:ao de uma posic;:ao de mate: Cavalos Brancos nas casas f6 e g6, Rei Preto na casa h8 e 0 Peao das Pretas na casa g7. E uma posic;:ao tipica.

o conhecimento de tais po­sic;:6es e essencial para 0 enxa­drista. Ha muitas posic;:6es desta natureza e e bern facillembrar-se delas. Portanto, diante de urn la­birinto de combinac;:6es e preciso ser capaz de enxergar os elemen­tos das posic;:6es de mate elemen­tares. Vamos analisar uma posi­c;:ao que ocorreu em uma partida entre G. Rotlevi e A. Rubinstein em 1908.

22 llxc3!! 23 gh

76

23 ~xc3 nao e viavel porque se­gue-se 23 ... ~xe4+ 24 ~xe4 't!Vxh2 mate.

23 ... rId2!!

ADama tern tarefas demais ao proteger as importantes casas h2 e e4. 0 ultimo lance das Pretas irnpossibilitou-lhe a defesa destas casas por mais tempo.

24 ~xd2 ~xe4+

25 ~g2 l:lli.3! ! Brilhante! A Dama, clavada,

nao pode evitar que 0 Rei !eve mate na casa h2, e as Torres nada podem fazer!

Combinac;:6es como esta sao inesqueciveis.

Como surgem? Qual e a es­sencia? Nos iremos devotar algu­mas lic;:6es a tais quest6es. Agora nos iremos especificar as con­dic;:6es necessarias para a execu­c;:ao de combinac;:6es.

Page 77: Aprenda xadrez

Uma combina<;:ao, conforme se prega, nao ocorre em urn mo­mento predeterminado de uma partida; a ideia de uma combina­<;:ao acontece quando a situa<;:ao no tabuleiro apresenta certas ca­racteristicas especificas, delinean­do 0 "motif' da explosao combi­nacional.

Tais caracterfsticas inc1uem, por exemplo, debilidades na pri­meira (para as Brancas) ou oitava (para as Pretas) filas que pos­sibilitam a entrada de pe<;:as ini­migas no territ6rio do Rei. Quan­do isto acontece, 0 lado que se defende, para evitar urn mate imediato, tern de aceitar perdas pesadas e a seguir a luta acaba por tornar-se inutil.

Urn exemplo c1assico nos e oferecido em uma partida entre Edward Adams e Carlos Torre em 1920.

1 't't'g4!! 't't'b5

77

2 't't'c4!! ti'd7

3 "ii'c7!! "ii'b5! Estas elegantes ofertas da Da­

rna sao bonitas mas sao aparen­temente inuteis. 0 que e que as Brancas conseguiram? Se elas continuam na mesma ideia, com 4 ti'xb7 as Pretas responderiam com 4 ... "ii'xe2! 5 llxe2 t:tc1 + 6lLle1 llxe1+! 7 llxe1 com llxe1 quando sao as Brancas que levam xeque-mate por causa da debili­dade da primeira fila. Port an to, e preciso achar urn meio de fazer

Page 78: Aprenda xadrez

urn truque que afaste a vigiHincia da Dama Preta sobre a cas a e8. Este e 0 tema da combina<;:ao.

4 a4! 't!t'xa4

5 ~4!! Urn nocaute brilhante! As Pre­

tas nao tern tempo para abrir uma casa para fuga: 5 ... h6 6 't!t'xc8 llxc8 7 llxa4 e as Brancas ga­nham uma Torre. Tambem nao e possivel jogar 5 ... 't!t'xe4 porque com 6 llxe4 as Pretas nao mais podem capturar a Dama das Bran-

cas. Portanto a Dama das Pretas tern que recuar.

5 't!t'b5 6 't!t'xb7!!

Este sacrificio e decisivo. A Dama Preta nao pode mais per­manecer na diagonal a4-e8, e as Pretas tern de adrnitir a derrota.

N a pr6xima li<;:ao vamos conti­nuar com a analise das condi<;:6es necessarias para que se executem ataques de combinac;6es em uma partida.

Page 79: Aprenda xadrez

uc;Ao 15

Estratagemas Taticos

Na nossa li<;:ao anterior, lidamos com as combina<;:6es e como elas ocorrem nas partidas. Tambem analisamos algumas combina­<;:6es baseadas na debilidade da oitava (ou primeira) fileira . Agora examinaremos outras situa<;:6es especificas que dao origem a combina<;:6es diversas.

Primeiro, examine a debilida­de da segunda (setima) fila. Debi­lidades na Ultima fileira dao ori­gem a amea<;:as de mate contra 0

Rei. Debilidades na segunda ou setima fileira, geralmente, facili­tam a destrui<;:ao dos Pe6es que protegem 0 Rei, facilitando assim a vit6ria final. N a li<;:ao 14 n6s examinamos a partida entre G. Rotlevi e A. Rubinstein, em que as Brancas capitularam por causa da debilidade da sua segunda fi­leira quando ambas as Torres Pre­tas amea<;:aram a cas a h2. Vamos agora considerar uma situa<;:ao

79

analoga a que se chegou em uma partida entre Carlos Torre e Emanuel Lasker (Moscou, 1925).

Parece que as Pretas podem contentar-se com a situa<;:ao pre­sente, mas urn sacrificio brilhante e inesperado do Bispo Branco al­tera a situa<;:ao de modo drastico, possibilitando a execu<;:ao de uma combina<;:ao que e conhecida co­mo "pendulo".

Page 80: Aprenda xadrez

1 .w..f6!! ~xhS

2 llxg7+ ~h8

3 llxr7+ ~g8

4 l:tg7+ ~h8

S llxb7+ ~g8

6 l:tg7+ ~h8

7 t!gS+!

Depois de uma serie de xeques descobertos a Torre mutilou todo o exercito Pre to, ao longo da se­tima fileira, e agora a Dama Preta tambem perece.

7

8 llxhs 9 Ilh3 10 llxh6+

~h7

~g6

~xf6

As Brancas, com dois Pe6es a mais, venceram com facili­dade.

A pnitica demonstra que a en­trada de duas pec;:as maiores na segunda (setima) fileira e 0 carni­nbo mais certo para a vitoria. Tambem e sabido que e diffcil atacar 0 Rei inirnigo quando 0

80

mesmo e defendido por uma soli-da formac;:ao de Pe6es. No entan-to, quando M debilidades (ilhas de Pe6es) na sua formac;:ao a si-tuac;:ao e diferente. Observe a par-tida entre Caesias e Vladrnir Vu-kovic, de 1940.

1 e4 eS 2 tLlf3 tLlc6 3 .w..c4 tLlf6 4 d4 ed S 0-0 .w..cS 6 eS dS 7 ef dc 8 l:tel+

Nesta posic;:ao as Pretas deve­riam entregar urn Peao para pode­rem mobilizar as suas pec;:as. No entanto, as Pretas decidiram-se por proteger 0 Peao e apos

8 ~f8?

9 .w..gS gf 10 .w..h6+ ~g8

os Pe6es nas casas fl, f6 e h7 acabam por ser uma prisao, e nao

Page 81: Aprenda xadrez

urn escudo, para 0 Rei das Pretas. OBispo Branco na casa h6 e 0

sentinel a que evita a fuga do Rei das Pretas. Agora as Brancas tern de trazer uma pe~a capaz de dar mate para 0 jogo, mas qual pe~a? Poderia ser urn Cavalo na cas a f6, uma Torre na casa e8, ou a Dama na cas a g4. E interes­sante que possam ter ocorrido va­rias situa~6es nesta partida em que qualquer uma das pe~as es­tava em condi~6es de dar 0 golpe final.

11 lDc3! i.g4 12 0.e4 b6 13 c3 0.e5? 14 lLlxe5

A amea~a e 15 ~xg4 mate. Por que niio tomar a formidavel rai­nha?

14 ... ~xdl

15 tZ'ld7!! ~e7 Parece que as Pretas consegui­

ram defender-se do mate na casa

81

f6. Ainda assim, niio M defesa contra novos sacrificios.

16 0.exf6+!! ~xf6 17 I:!e8+!! ~xe8 18 lLlxf6 mate.

Uma vez que uma boa forma­~ao de Pe6es e particularmente importante para uma boa defesa, M alguns ataques de combina­~6es tfpicos que visam eliminar as defesas do Rei. Vamos agora exarninar urn outro exemplo de sacrificios utilizados no ataque aos Pe6es que constituem a defe­sa do Rei.

Em. Lasker - J.H. Bauer 1889

Ap6s 0 lance natural 1 'itt'h5 f5 seria dificil verificar a superio­ridade das Brancas, mas se as Brancas elirninarem os Pe6es das casas g7 e h7, a subida da Torre de f1 para f3 seria desastrosa para as Pretas.

Page 82: Aprenda xadrez

1 ~xh7+! ~xh7

2 'i!fhS ~g8

3 ~xg7! ~xg7

4 'i!fg4+ ~h7

E nao 4 ... <M6? 5 'i!fg5 mate.

S ~ eS As Pretas tern de entregar a sua

Dama.

6 !lh3+ 7 l'lxh6+

'i!fh6 ~xh6

Parece que as Pretas tern uma compensa<;;ao adequada pela Da­rna, mas

8 'i!fd7 as Brancas tinham visto esta ma­nobra antes do sacrificio do Bispo. Lasker recuperou urn dos Bispos, o que foi suficiente para assegu­rar-lhe uma vit6ria rapida.

Concluindo, vamos considerar urn exemplo classico de combina­<;;6es em que urn outro golpe tati­co, chamado "desvio", foi usado. Ao executar urn ataque com fre­qtiencia e preciso livrar-se de uma das pe<;(3s do adversano que pro­tegem uma ou mais casas imp or­tantes. 0 metodo mais simples, captura ou troca, nem sempre e possivel, assim surge a questao de como de desviar a aten<;;ao daque­la pe<;;a, atraves de urn golpe tati­co. Johannes Zukertort, no seculo pass ado, era famoso como urn mestre das combina<;;6es brilhan-

82

tes. Aqui esta a sua vit6ria espe­tacular sobre J.R. Blackburne.

As Pretas acabaram de recusar a captura do Peao na casa fS e ao colocarem a Torre na casa c8 elas amea<;;am entrar na casa c2. As Brancas, por sua vez, tern uma oportunidade de ataque: 1 d5 ~2 2 'i!fd4, 0 que praticamente for<;;a as Pretas a capturar 0 Bispo em b2. No entanto as Brancas esco­lheram urn modo mais complexo e de maior beleza de resolver 0

confronto.

1 fg! !lc2 As Pretas nao tern outra esco­

lha, porque ap6s 1 ... hg 0 seu Rei se tornaria tao vulneravel que as Brancas nao precisariam recorrer a nenhum artiffcio especial para vencer.

2 gh+ ~h8!

Parece drastico, mas e muito eficaz. 0 Rei se esconde atras do Peao inirnigo. As Brancas nao po-

Page 83: Aprenda xadrez

dem capturar seu proprio Peao e tern de fon:;ar as Pretas a faze-Io, do contrario seu ataque para.

3 d5+ e5

4 ~b4!!

Este lance e, essencialmente, 0

inicio da combina<;:ao. Qual e a ideia das Brancas? Com 0 desa­parecimento do Peao na casa h7, as duas Torres mais 0 Bispo darao mate ao Rei. 0 Peao na cas a e5, e a sua prote<;:ao, a Dama na casa e7, sao vitais para a defesa. As­sim, a Dama deve ser desviada tanto de e5 quanto do Rei.

Agora, se as Pretas aceitarem este presente luxuoso, da-se mate em seis lances - 4 ... "i:lVxb4 5 ~xe5+ ~xh7 6 llh3+ ~g6 7 .ktg3+ ~h7 8 nn + l:lh6 9 ~f4+ ~h5 10 l:lh7 mate. Tendo perce­bido 0 esperto plano das Brancas as Pretas protegem a Dama, ten­tando sustentar seu Peao na casa e5.

4 ljgc5

83

Explorando a debilidade da oi­tava file ira, as Brancas aplicam outro golpe que visa desviar a defesa das Pretas:

5 ru'8+!! Tambem e urn presente que

nao pode ser aceito - 5 ... ~xf8 seria retrucado com 6 ~xe5+ ~xh7 7 ~xe4+, seguindo-se urn mate for<;:ado.

5 6 ~xe4+

7 ~xe5+!

~xh7

~g7

~xf8

As Pretas ainda tern esperan­<;:as de levar 0 Rei para a ala da Dama, mas agora segue-se 0 iilti­mo golpe da combina<;:ao:

8 ~g7+!

Se 8 ... "fixg7? a Dama das Pre­tas bloqueia a fuga do Rei e perrni­te mate a partir da casa e8. Por­tanto, as Pretas abandonaram.

Na nossa proxima li<;:iio nos completaremos a nos sa apresen­tac;:ao dos princfpios do jogo com­binacional.

Page 84: Aprenda xadrez

uc;Ao 16

o Final

Muitos amantes do xadrez enca­ram 0 final com desdem, como uma parte mon6tona onde nao ha espac;o para combinac;6es nem imaginac;ao. N6s vamos analisar o final pratico e voce vera que este estagio da partida, alem de extremamente complexo, disp6e de uma rica abundancia de ideias

. originais. Com isto, tentaremos convencer 0 leitor de que a habi­lidade e a capacidade de jogar taticamente e essencial para 0

sucesso no final. Durante uma combinac;ao no

meio-j ogo ou na abertura, a maior parte dos Pe6es e das pec;as sao observadores passivos. Uma com­binac;ao no final , no entanto, exige a participac;ao de todas as pec;as, sendo 0 Rei a pec;a mais ativa. Vamos examinar urn exem­plo muito simples.

As Brancas tern que mover, e o seu primeiro impulso e de avan-

84

c;ar 0 Peao na casa h6, s6 que ap6s 1 h7 e4! nao ha nenhuma chance das mesmas promoverem seu Peao, ja que todas as casas da grande diagonal estao controla­das pelo Bispo.

Portanto, antes de avanc;ar 0

Peao, as Brancas devem afastar 0

Bispo da grande diagonal ou blo­quearem 0 avanc;o do Pdo Pre to na cas a e5. Vamos tentar a primei­ra opc;ao.

1 i.a7!

Page 85: Aprenda xadrez

Urn tern a tatico bern conheci­do charnado "desvio". 0 Bispo nao pode ser tornado porque 0 Peao na casa h6 alcan<;:aria a pro­rno<;:ao, e 0 lance 1 .. . ~g5 e res­pondido com 2 h7, quando entio 2 ... e4 permite que 0 Bispo das Brancas tome 0 Bispo das Pretas na cas a d4. S6 M uma resposta possivel:

I ~c3

2 ~c2

As Pretas nao tern escolha: 2 hI

Em principio, parece que as Brancas ja conseguiram 0 maxi­mo daquela posi<;:ao inicial, mas ainda nao podern irnpedir 0 avan­<;:0 do Peao na coluna do Rei. Ain­da assirn, a oferta do Bispo nao era nenhum truque que contasse com a ingenuidade das Pretas, mas sim 0 inicio de uma bela combina<;:ao.

85

3 ~d4!!

Absolutamente espantoso e inesperado. E facil perceber que ap6s 3 ... ed segue-se 4 ~d3! E ai as Brancas bloqueiarn 0 Peao. OBispo das Pretas na casa a1 nao pode irnpedir que 0 Peao Branco seja promovido. Mas e possivel tomar 0 Bispo com 0 Bispo.

3 ~xd4

4 ~d3!

Agora tudo esta claro. 0 Peao na coluna do Rei, protegendo 0 Bispo, nao po de rnover-se agora. Depois de

4 ~b2

as Brancas jogam 5 ~e4!

bloqueando 0 Peao na casa e5 e garantindo a promo<;:ao do seu Peao da casa h6.

Urna fantastica obra de arte, nao? S6 havia seis atores no palco, mas cada urn desernpenhou 0 seu papel ate 0 limite da sua capaci­dade. Tambem nao menos sutil e a performance teatral das pe<;:as neste diagrama publicado em urn jornal de Glasgow, em 1895.

Veja 0 diagrama a seguir.

A posi<;:ao e bastante 6bvia; as Pretas tern duas op<;:6es: permitir a prorno<;:ao do Peao das Brancas ou dar urn xeque com a Torre, 0

Page 86: Aprenda xadrez

1 e7

que parece bastante desproposi­tal.

1 l'ld6+ Este lance nao e tao simples

quanta possa parecer. A 2 t>b7 segue-se 2 ... l:lci7 e ap6s 2 t>cS as Pretas empatam imediatamen­te, com 2 ... l:lcil 3 t>b6 tlcl.

2 t>b5! l'ld5+

3 t>b4 .!ld4+

4 t>b3 1ld3+

5 t>e2!

Agora nao ha mais xeques e a Torre tambem nao pode chegar a casa cl. Mas a luta esta longe de terminar:

5 ild4! Uma cilada bern planejada!

Agora a 6 c8'C!V seguir-se-a 6 ... t!c4+! 7 ~xc4 e M urn empate, pois 0 Rei Preto fica afogado. Se­ra que e mesmo urn empate? Era o que sustentava 0 jornalista que publicou a posi<!ao.

86

F. Saavedra enviou-Ihe uma corre<!ao:

6 eSll! As Brancas executam urn ata­

que peculiar com urn minimo de for<!as e com a participa<!ao ativa do Rei.

6 :!'h4 7 t>b3!

E 0 fim. Para evitar 0 mate, as Pretas tern de entregar a Torre.

Este exemplo mostra bern as peculiaridades particulares de urn final tatico: 0 papel ativo do Rei e .0 valor cada vez maior dos Pe6es.

Aqui esta urn outr~ exemplo:

As Brancas parecem estar en­frentando dificuldades, ja que nao e facil proteger 0 Peao na casa as. 0 sacrificio oferecido pelas Brancas parece urn ate de deses­pero.

1 e6 be

Agora 0 lance natural 2 tics seria seguido por 2 ... ~d7, ap6s

Page 87: Aprenda xadrez

o que a Torre das Pretas chega a casa bS atraves da casa b4 e as Brancas ficam em uma posic;ao dificil. Sera que e possivel blo­quear a Torre das Pretas para que a mesma nao possa tomar 0 Peao na casa b6?

2 IlbS!! Esta ideia tipica se chama

"bloqueio" .

2 ab 3 b7

Agora a situac;ao mudou com­pletamente. As Pretas estao a bei­ra de urn abismo, ja que 0 surgi­mento de uma Dama Branca e iminente.

3

4 b8~+

5 ~h8

.llxaS <t>d7

As Pretas perdem 0 Peao na cas a h6 e com ele as suas uItimas esperanc;as de salvarem-se. ADa­rna Branca ira atacar os PeDes das Pretas na ala da Dama e ao mes­mo tempo as Pretas nao podem impedir 0 avanc;o do Peao das Brancas na coluna h.

A titulo de especulac;ao, ape­nas, se nao houvesse 0 Peao Preto na cas a f7 nem 0 Peao Branco na casa g2, as Pretas poderiam salvar a patria montando uma fortaleza impenetrave1 depois de 1 c6 bc 2 t!bS! cb! 3 b7 Ild4 4 b8~+ <t>f7

87

colo cando a Torre na casa d6 e eventualmente movendo-a entre d6 e f6 . Voce pode dispor das pec;as das Brancas como quiser que ainda assim nao conseguira penetrar as defesas das Pretas.

Conhecendo uma outra carac­teristica surpreendente do final, as Pretas conseguem achar urn ca­minIlO diante da seguinte duvida:

As Pretas pare cern estar em perigo. Por exemplo: 1 ... I:1.cl 2 <t>d6 <t>c8 3 c7 llxc7! 4 ~g4+! (e nao 4 bc - que da 0 empate!) 0 empate por afogamento do Rei parece ser 0 unico recurso.

Page 88: Aprenda xadrez

1 2 ~d5

tid7!! Itb7!!

Agora as Brancas tern uma escolha. Elas podem tentar empa­tar apos 3 q;,d6 llxb6 4 .te6 w6 ou jogar 3 cb e assegurar-se de uma grande vantagem material e so ganhar meio ponto com urn empate.

Ainda assim, a posi~ao de afo­gamento nem sempre serve para o lado que se defende. E precisa­mente esta mesma posi~ao que muito freqiientemente revela-se uma armadilha para 0 Rei.

Apesar da vanta gem material, as Brancas devem jogar com muito cui dado. Se 0 Peao na casa h2 for promovido, as Pretas ven­cern 0 jogo. Mas as Brancas con­seguem atrair 0 Rei para uma po­si~ao de afogamento atraves de urn sacriffcio engenhoso.

88

1 ~f3+

2 .th1!! 3 q;,f1!

q;,g1 q;,xh1

E incrivel! As Pretas tern dois Pe6es a mais, mas seu Rei, tendo capturado 0 Bispo, nao pode mo­ver-se e agora somente urn dos tres Pe6es das Pretas pode efetuar urn lance.

3 d5 4 ed e4 5 d6 e3

6 d7 e2+ Ao menos as Pretas consegui­

ram libertar 0 Rei. 7 q;,xe2 q;,g2

8 d8~ h1~

As Pretas fizeram 0 melhor possivel, mas a posi~ao passiva da sua Dama, incapaz de ajudar 0

Rei, e que sera responsavel pel a sua queda.

9 ~g5+

10 ~h5+

q;,h3 q;,g2

11 ~g4+ q;,h2 12 q;,f2!

As Pretas tern que abandonar: nao ha defesa contra ~h4 ou ~h5 mate.

Assim, voce pode ver que no final, que tantos fas do xadrez consideram a etapa mais chata da partida, ha urn amplo espectro de possibilidades de combina~6es.

Page 89: Aprenda xadrez

LI<;Ao 17

Metodos de Ataque

Todo enxadrista, nao importando o seu nlvel (M milh6es de ama­dores), sente a sua inspira~ao

crescer quando chega a uma posi­~ao em que pode lan~r urn ataque ao Rei inirnigo. Mas para organi­zar urn ataque e preciso que se adquira as habilidades do jogo po­sicional e 0 conhecimento dos golpes taticos vistos nas li~es an­teriores. Na maior parte das parti­das, urn dos lados, atraves de uma acumula~ao gradual de pequenas vantagens, obtem aquilo que cha­mamos de vantagem posicional, que precisa entao ser transforma­da em uma vantagem material real. Nestas situa~6es, 0 melhor a fazer e passar de manobras lentas e planejadas a a~6es energicas ca­racterizadas por opera~es of ens i­vas e golpes taticos concretos.

Este metodo da estrategia en­xadristica e chamado de ataque. Ha muitos tipos de ataque, 0 ata­que-relampago, em que decide-se

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o jogo em 2 ou 3 lances, ou ata­ques de varios estagios, que che­gam a desdobrar-se por 10 lances ou mais. Na maioria das vezes 0

Rei inirnigo e 0 alvo dos ataques. As pe~as que atacam tentam por todos os meios esmaga-Io, mes­mo que tenham que aceitar pesa­das perdas materiais. Em tais ca­sos 0 fim justifica os meios.

Para ilustrar tais ataques, gos­taria de analisar duas partidas. Primeiro vamos olhar uma de rni­nhas partidas.

E. Magerramov -G. Kasparov Baku 1977

A abertura foi bastante calma. 1 tUn tUf6 2 d4 e6 3 c4 dS 4 lUc3 ~e7

5 ~gS h6 6 ~h4 0-0 7 e3 b6

Page 90: Aprenda xadrez

8 ~b3 ~b7

9 .txf6 .txf6 10 cd ed 11 ~1 c5 12 de tZJd7 13 c6 .txc6 14 tZJd4? .txd4! 15 Ilxd4 tzJc5 16 ~dl tDe6 17 }ld2

Como result ado da manobra incorreta do Cavalo Branco para a casa d4, 0 Rei das Brancas ficou preso no centro, e ao mesmo tem­po as pec;as na ala do Rei ainda nao foram desenvolvidas. Assim, 0 pri­meiro estagio do ataque baseia-se em urn sacrificio de Peao, abrindo a grande diagonal para 0 Bispo e a coluna central para a Torre.

17 d4!

18 ed I:Ie8 19 t3

Urn plano de defesa interes­sante. Agora 19 ... lZJxd4+ seria contestado com 20 ~f2! Ainda

90

assim, ha uma falha fundamental no plano das Brancas: elas estao atrasadas no desenvolvimento de suas pe<ras.

19 ... .txt3!! Urn golpe tatico muito eficaz

no momenta apropriado. Uma vez que 20 ~xf3 e contestado com 20 .. . lZJxd4+, as Pretas des­truiram completamente a prote­<rao que os PeDes constituiam para o Rei das Brancas, impedindo que o mesmo escape do centro. Alem disso, as pe<ras das Brancas torna­ram-se descoordenadas. Tudo is­to e compensa<riio suficiente pelo sacrificio do Bispo. Ainda assim, as Pretas tern que conduzir 0 ata­que de modo bern energico.

20 gf ~h4+

21 m2 Com 21 ~e2 havia mate ime­

diato com 21 ... 4Jf4. 21 4Jxd4+ 22 .te2 24 ~f1

24 .l'lg2 25 llbgl

4Jxt3+ ~h3+

4Jh4 ttad8!

Completou-se urn outro es­tagio do ataque. As Pretas libera­ram todas as suas pe<ras e parali­saram as for<ras do adversario. Agora elas poderiam ter restabe­lecido 0 equilibrio material cap­turando a Torre, mas as Pretas nao tern muita pressa em faze-Io, uma

Page 91: Aprenda xadrez

vez que as pe~as das Brancas cer­cam 0 proprio Rei impedindo que o mesmo saia para 0 centro.

21 'fIVe1? o desejo natural de trazer a

Dama para junto do teatro de ope­ra~6es leva as Brancas para a bei­ra do abismo e tira a mobilidade do seu Rei. A unica possibilidade defensiva era levar a Dama a cas a g4. Ao jogar 26 'fIVa4! as Brancas teriam evitado uma derrota ime­diata, embora ap6s 26 ... ttJxg227 llxg2 l::te5 28 'fIVg4 'fIVxg4 29 ~xg4 f5 30 .tf3 g5 as Brancas ainda estariam em uma posi~ao dificil de defender.

Ap6s 26 'i!rel? as Brancas te­rao de suportar outra onda de ata­que, desta vez com a Dama e 0

Rei como alvos.

26 ... !id3! A Torre nao pode ser tornada

porque ap6s 27 ~xd3 ilxe1 + 28 ~xe1 a Torre na cas a g2 estaria desprotegida.

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27 'fIVf2 A amea~a era 27 ... nD+!

27 ... tllf3! Agora as Brancas nao tern a

disposi~o nenhum lance energi­co ou sequer util. A Torre, por exernplo, ainda nao po de ser to­rnada, porque seguir-se-ia 28 ... tllxh2 mate. As Brancas teriam tarnbern levado mate caso 0 Ca­valo recuasse. 28 tLlb 1 1::idl + 29 .txdl tllxh2 mate. Vma tentativa de retirada da Dama tambern fa­lharia, 28 fi'g3 tlld2+. Assirn, as Brancas tern de mover a sua Torre da cas a gl para a casa hI e voltar para gl.

28 rot1 29 ~1 30 :t:lh1

l:lDe3 ~h8

b5! Ap6s 0 lance 6bvio 31 a3 a5!

nao ha defesa contra 0 avan~o

decisivo do Peao na casa b5 para a casa b4. Por isto as Brancas abandonararn.

Ainda assim, urn ataque nao leva necessariamente a total der­rocada do inirnigo, conforme a partida a seguir ilustra:

A. Alekhine - A. Rubinstein Carlsbad 1923

1 d4 2 c4 3 tllf3

d5 e6 tllf6

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4 liJc3 ~e7

5 .i.g5 ttJbd7 6 e3 0-0 7 l:cl e6 8 'i!t'e2 a6 9 a4 l::te8 10 ~d3 de 11 ~xe4 ttJd5 12 .tf4 tDxf4 13 ef c5 14 de Vfle7 15 0-0 'i!rxf4

A vantagem posicional das Brancas e deterrninada pela sua maioria de Pe6es na ala da Dama e, alem disso, pelo desenvolvi­mento inferior das Pretas naquele setor. Ainda assim, Alekhine per­cebe uma ou tra caracteristica des­ta posic;ao: a protec;ao insufi­ciente na ala do Rei das Pretas, 0

que 0 capacita a lanc;ar urn ataque contra 0 Rei . Mas antes de atacar e preciso enfraquecer as defesas do adversario. Observe a tecnica soberba de Alekhine:

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16 ttJe4! ttJxe5 A continuac;ao 16 ... ~xc5 17

ttJeg5! g6 (17 ... ttJf8 18 .td3! ameac;ando tanto a cas a h7 como a casa c5) 18 :tel ttJf8 19 g3 'i!t'f6 parece passiva, mas e, provavel-mente, a melhor defesa.

17 ttJxc5 ~xc5

18 ~d3 b6 19 ~xh7+ ~h8

20 ~e4

A primeira meta foi atingida. Na forrnac;ao de Pe6es que defen-de 0 Rei das Pretas hi uma enorrne falha - 0 Peao na casa h7 desapa-receu e as Brancas podem situar suas pec;as pesadas na coluna h. Mas as Brancas tern de jogar de modo energico, ou as Pretas trarao o seu Bispo a casa b7 em dois lan-ces e 0 ataque sera neutralizado.

20 ... I:ta7?

21 b4! Este e 0 inicio de uma manobra

de desvio eficaz que visa clavar

Page 93: Aprenda xadrez

as pe<;as das Pretas, privando-as de mobilidade e criando uma pressao apreciavel na ala do Rei.

21 .H8 22 '\!Vc6! lld7 23 g3 '\!Vb8

Agora se 23 .. . '\!Vd6, Alekhi­ne sugeriria 24 '\!Vc4! 'fie7 (ou 24 ... ~g8 25 ~c6 .!:!c7 26 red1 VJtie7 27 'i!t'd3!) 25 lLle5 l:!d6 26 ~g6! ganhando material. Ao colocar a sua Dama na casa b8 (para apoiar o Pdo na casa b6), as Pretas deixam 0 seu Rei virtualmente desprotegido, e era exatamente is­to 0 que Alekhine buscava. Agora ele cria rapidamente uma serie de amea<;as diretas contra 0 Rei do adversario. As pe<;as das Brancas sao transferidas imediatamente para 0 outro lado do tabuleiro.

24 lDg5! Iied8 A amea<;a era 25 ttJxf7 + l'lxf7

28 'i!t'xe8.

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25 ~g6!!

Urn golpe inesperado e muito forte. As Pretas nao podem defen­der a casa f7 e a Dama Branca chega a casa h4. Por exemplo, 25 ... ~b7 26 "c4! ou 25 ... fg 26 'fie4! ~xb4 27 'fih4+ ~g8 28 'fih7+ ~f8 29 'fih8+ ~e7 30 '\!Vxg7+ <;t;>e8 31 '\!Vg8+ ~f8 32 'i!t'xg6+ rj;;e7 33 'i!t'xe6 mate. As Pretas tern de declinar a troca, mas ainda assim, nao serao ca­pazes de livrar-se das deficien­cias da sua posi<;ao. 0 res to e mera rotina.

25 'tlfe5 26 4Jxf7+ llxf7 27 ~xf7 "f5 28 ned1! .ilxd1+ 29 .ilxd1 '\!Vxf7 30 '\!Vxc8 ~h7

31 "xa6 'tlff3 32 'ilfd3+

e as Pretas abandonaram. Esperamos que as partidas

analisadas nesta li<;ao ajudem-no a ganhar alguma habilidade em conduzir opera<;6es ofensivas.

Page 94: Aprenda xadrez

uC;Ao 18

Ataque ou Defesa?

o que e 0 mais importante? 0 ataque ou a defesa? Hoje em dia esta questao nao mais e de grande relevancia, e cada urn joga a seu modo. Os jogadores mais impe­tuosos e inexperientes tentam re­solver logo 0 assunto atraves de ataques diretos. Atraidos pelas combinac;6es, eles buscam per­sistentemente golpes Uiticos bo­nitos e inesperados. Amaioria dos enxadristas experientes prefere formac;6es s6lidas e capazes de repelir qualquer ataque.

Os tas do xadrez sabem que 0

ataque, ou 0 chamado estilo ro­manti co, predominava no seculo XIX. Naquela epoca nao havia sistemas de defesa complexos; se o seu adversiirio sacrificasse urn peao ou uma pec;a, esperava-se que voce aceitasse 0 sacrificio e sustentasse a posiC;ao. Foi so­mente ao final do seculo, quando o grande fil6sofo do xadrez Wi-

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lhelm S teinitz formulou a sua teo­ria do jogo posicional e 0 cam­peao mundial Emanuel Lasker atingiu resultados espetaculares, que a defesa passou a ser aprecia­da e nov os mestres, extrema­mente talentosos na arte de defe­sa, surgiram no cenario enxadris­tico.

Como e que este problema e visto atualmente? A resposta e clara: tanto 0 escudo como a es­pada sao igualmente importantes. Hoje e mais do que claro que ninguem pode tomar-se urn joga­dor forte sem ser urn defensor habilidoso.

Hii 20 an os sacrificios intuiti­vos visando ao ganho da iniciati­va eram comuns em tomeios in­temacionais. Mas hoje as tecni­cas defensivas estao tao avanc;a­das que mesmo urn sacrificio de urn mero Peao tern que se basear em alguma variante conhecida e

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concreta, ou a defesa ira levar a melhor.

E por que nos olhamos para tras, para a historia? A resposta tambem e simples: qualquer jo­gador que que ira melhorar suas habilidades deve nutrir-se das ex­periencias das gera~6es anterio­res. Nossos precursores, na ca­rencia de conhecimento de xa­drez, valeram-se de metodos de tentativa e erro enos deixaram uma ampla sabedoria nas suas partidas e livros. 0 aprendizado que para eles levou decadas hoje e completado por urn jovem en­xadrista em urn ano. E como al­guem aprende a preparar uma boa defesa? Ha muitos carninhos e muitos metodos. Nos iremos nos inteirar dos mesmos nas nossas li~6es .

Vamos come~ar com posi~6es ruins. Lasker costumava dizer que qualquer posi~ao pode ser defendida e todos conhecem 0 di­tado enxadrfstico que diz que "nao se ganha uma partida aban­donando-a". A experiencia mos­trou que nao importa 0 quao per­dida uma posi~ao esteja, sempre aparece uma chance de se fazer uma resistencia teimosa. Voce precisa encontrar tais chances. Quando 0 seu adversario, que imaginava vencer com facilida-

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de, encontrar tais novos proble­mas e dificuldades, ele po de -devido ao cansa~o - cometer al­gum erro e deixar a vitoria esca­par das suas maos. E claro que se ambos os lados jogarem bern nes­ta situa~ao, uma situa~ao ruim, qualquer que seja a defesa, ira permanecer ruim. Mas ainda as­sim voce deve dar 0 melhor de si e jogar ate 0 final. Veja como Lasker 0 fazia:

E. Lasker - A. Nimzowitsch St. Petersburg 1914

As Pretas tern urn Peao a mais, urn Cavalo bern colocado no cen­tro e uma forte estrutura de Pe6es. Muito poucos teriam se defen­dido teimosamente nesta situa­~ao. Mas 0 grande Lasker, perce­bendo que os Cavalos poderiam ser simplificados e que 0 Peao a mais ainda estava dobrado, per-

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cebeu que a vantagem das Pretas, embora clara, ainda nao era deci­siva. As Pretas ainda teriam que descobrir como melhorar a sua posi~ao, assim as Brancas deve­riam esperar calmamente e jogar de modo a nao comprometerem a posi~ao.

27 a3 2S i.e3 29 'i&a2 30 'i&a1

a6 tnIdS tnIs tnIdS

o primeiro sucesso das Bran­cas - ao mover a sua Torre ao longo da ultima fileira, Nirnzo­witsch mostra nao saber como ex­plorar a sua vantagem. E urn born incentivo para que as Brancas in­tensifiquem a resistencia.

31 'i&a2 l:!eS

32 l::[gS llxgS 33 llxgS+ rus 34 l::[g7 t!d7 35 ~S+ rus 36 l::[g7 nrs

As Brancas colocaram nov os obstaculos no carninho das Pretas para a vit6ria. Uma troca de Torre aliviou a pressao sobre 0 Peao na casa h2. Alem disso, a Torre das Brancas esta posicionada de mo­do mais ativo que a Torre das Pretas, embora a me sma tenha que ser apoiada, pois do contrario a Dama das Pretas sera capaz de for~a-la a abandonar a posi~ao.

96

37 c4

Lasker prepara-se parajogar 0

lance dS.

37 ... tL'lf6?

o primeiro erro. Tendo esbar­rado com uma resistencia obs­tinada, as Pretas estao meio deso­rientadas e buscam defender-se da atividade das Brancas. As Pre­tas deveriam ter for~ado a saida da Torre das Brancas jogando 37 ... 'ilfh8!

3S i.g5 tL'lh5?

Desgra~as nunca andam desa­companhadas, e frequentemente a urn erro segue-se outro. Incapaz de explorar sua vantagem, as Pre­tas lan~am mao de manobras tati­cas. Agora as Pretas esperam uma vit6ria facil com 39 .l::th7 tLlf4! 40 w3 tL'lxe2 41 ou 39 i.e7 tL'lxg7 40 i.xf8 tLlhS.

Ap6s a partida descobriu-se que as Pretas ainda tinham chan­ces de vit6ria ap6s 38 ... 0e4 39 i.e7 l:te8 40 llxf7 ~g4! 41 i.h4! 1Ii'g6 42l:te7 Ilh8!, mas uma ana­lise p6stuma e bern diferente de uma disputa de verdade. Nirnzo­witsch nao ve a vit6ria e, cansado do duro comb ate, perde a sua van­tagem.

39 llxn 40 ~xe6+

41 tL'le5! i.xe5

Page 97: Aprenda xadrez

42 1We8+ 43 't!¥xeS+

riie7

Apesar da Torre a mais, as Pre­tas nao podem evitar 0 xeque per­petuo. Portanto, jogadores con­cord am sobre 0 empate, neste ponto.

Lasker muitas vezes safou-se de situa~6es diffceis gra~a a sua defesa feroz e habil.

o grande jogador cubano Jose Raul Capablanca perdeu muito poucas partidas ao longo da sua carreira de enxadrista. Ele era ex-celente na defesa.

A. Rubinstein -J. Capablanea

St. Petersburg 1914

Parece que as Brancas tern uma vantagem tremenda no final, com urn Peao a mais e uma Dama bern posicionada. 27 ... c4 parece urn lance natural, mas ap6s 28 f3 't!¥c8 29 e4 a Dama das Pretas

97

estaria totalmente imobilizada e sua derrota seria inevitavel. Ca­pablanca tenta liberar a sua Dama e obter urn Peao passado.

27 ... b4

Agora ap6s 28 cb "iWxb4 29 't!¥xa6 c4! 0 Peao passado na co­luna c salva as Pretas. As Brancas s6 tern urn caminho para a vit6ria: 28 c4! ffc8 29 "tlfu6! (impedindo 29 ... as) 1't'f5! 30 't!¥xa6 riih7!! 31 fia7 't!¥e5 32 ffxf7 1Wa1 + 33 riih2 'iWxa2. Ainda assim, Rubinstein segue uma outra linha de jogo.

28 1't'xeS be 29 1't'xc3 fibl+ 30 riih2 ff'xa2 31 'iWe8+ riih7 32 'iWfS+ g6 33 'iWf6

Asitua~ao esta clara. Aenorme superioridade das Brancas na ala do Rei e contrabalan~ada pelo Peao da col una a que apesar de parecer modesto e extremamente forte.

Page 98: Aprenda xadrez

33 as 34 g4 a4 35 hs gh 36 'tIVfs+

Reconhecendo a superiorida­de de Capablanca como finalista.

Jogar 36 .. . gh 36 'tIVe6! era ar­riscado demais para as Brancas.

36 ~g7

37 'tIVgs+ ~h7

38 'i!fxhs+ ~g7

E 0 jogo foi empatado aqui. Capablanca defendeu a sua posi­C;iio inferior com uma facilidade surpreendente, mostrando 0 seu virtuosismo. De importancia a defesa. Urn born escudo pode resistir ao golpe de qualquer es­pada.

A nossa pr6xima liC;iio sera de­dicada aos metodos basicos mo­demos de defesa.

Page 99: Aprenda xadrez

uC;Ao 19

Contra-ataque

Na nossa li~ao anterior n6s exa­minamos metod os de defesa ba­seados em esfor~os defensivos extremados e escrupulosos visan­do melhorar a coordena~ao das pe~as. Mas 0 xadrez hoje e mais complexo e dinamico do que, di­gamos, 50 anos atnis. A arte do ataque tomou-se mais versatil e mais sutil. E isto, por sua vez, gerou uma rea~ao de igual medi­da. Em outras palavras, uma vez que a lamina da espada teve seu corte afiado, tambem 0 escudo foi refor~ado .

Para inicio de conversa, 0 pa­pel da defesa ativa, que visa criar contra-amea~as, aumentou con­sideravelmente.

Eu tive a sorte de encontrar em muitas ocasi6es com Tigran Pe­trosian, cuja morte foi tragica­mente prematura. Ele comparti­lhou sem reservas a sua experien­cia comigo, e os encontros enxa­dristicos com este fenomenal

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mestre da defesa foram sempre extremamente liteis para mim. Por exemplo, levei muito tempo para entender 0 porque do meu ataque aparentemente irresistivel ter sido paralisado na partida que disputamos no supertomeio de Tilburg em 1981.

G. Kasparov - T. Petrosian Tilburg 1981

Tendo sacrificado urn Peao na abertura, eu consegui deixar as pe~as das Pretas sem espa~o. Alem dis to, 0 Rei das Pretas esta, obviamente, mal colocado. A

Page 100: Aprenda xadrez

amea~a e a4-aS, e nao esta claro como retrucar os lances ~b2 e ~ 1. A posi~ao restringida das Pretas torna a sua defesa passiva e absolutamente nada promis­sora, e por isso Petrosian recorre a urn lance desesperado.

30 b5 31 sb cb 32 l:ta2!

A impressao e de que as Pretas estao it beira do abismo. A des­trui~ao da sua ala da Dama atra­yeS da coluna aberta parece ine­vitavel, mas a partir de agora Pe­trosian encontra lances que trans­formam toda a partida em urn show de magica.

32 ... ~b7!

Amaior parte dos mestres teria preferido 32 .. . ..id6, entregando o Peao com uma posi~ao inferior - 33 llxbS llxbS 34 tZJxd6 ~xd6 3S ~xbS - mas evitando uma catastrofe.

Escapando de uma clavada, as Pretas se veem diante de duas outras. Eu realmente nao sei co­mo e que este meu muito es­timado adversario determinou que 0 seu Rei estaria a salvo na casa b7, mas esta sua resolu~ao teve urn efeito psicol6gico adver­so sobre mim. Eu ainda podia perceber a for~a de ataque das minhas pe~as, mas depois deste

lance inesperado eu realmente fi­quei confuso.

33 ~b4? Estranho como possa parecer,

este lance natural e energico aca­ba por revelar-se urn serio erro. Eu estava perfeitamente ciente de que a casa dS era urn foco de resistencia das Pretas, mas nao via como supera-Ia. Ao voltar pa­ra Moscou eu achei a linha ven­cedora - 33 ttJa3! ..ib6 34 lLlc2! na8 3S lLlb4 ~d6 36 e4! fe 37 'ilrxe4.lla7 38 ~xg6 ..ixd4+ 39 ~hl lLl7b6 40 fS! Como voce po de ver, a vit6ria nao seria nada facil e ainda exigiria muito tem­po. Eu tive que estudar muito a fundo os segredos da posi~ao.

33 ... 'ilre8! o linico lance: 0 Peao na casa

bS tern que ser firmemente defen­dido. Ap6s 33 ... 'tlfd8 a continua­~ao 34 e4 fe 3S ~xe4 ~e8 36 'tlfxdS+! ed 37 ~xdS+ ~a7 38 .ilxa6+! ~xa6 39 .lla3+ ..iaS 40 .ilxaS mate decidiria 0 jogo.

34 ~d6 rIas 35 ~bl

Neste ponto, pela primeira vez na partida, eu comecei a temer pelo resultado do ataque e decidi apenas desenvolver as pe~as ocu­pando pont os vantajosos na es­peran~a de poder aplicar algum golpe combinacional serio no

100

Page 101: Aprenda xadrez

meu adversario. Mesmo assim, 0

pr6ximo lance do antigo campeao mundial me pegou completa­mente de surpresa.

35 ... ~e6!!

Fantastico!! 0 Rei, abando­nando a prote~ao dos Pe6es, mar­cha em dire~ao as for~as Brancas. Isto nao e inconseqiiencia, mas urn exemplo de urn calculo preci­so. Agora as Brancas tern de achar urn modo de salvar, as suas pe~as confusas, sem perdas materiais. Ainda havia uma salva~ao neste ponto, mas, impressionado com a defesa tao cheia de recursos do meu adversario, eu nao consegui achar a melhor continua~ao e per­di 0 jogo em uns poucos lances.

36 lIba3? be 37 llxa6+ llxa6 38 llxa6+ ~b6

39 ~e5 'ilVd8 40 'ilVa1 lLlxe5 41 de ~xc5!

E as Brancas abandonaram. Assim, nao somente 0 Rei se

defendeu como tambem guiou suas for~as a vit6ria. Ao analisar esta partida voce deve tirar uma conclusao da maior importancia: voce deve ter sangue-frio e tran­qiiilidade quando for at acado pe-10 adversario. Ai voce po de ser capaz de repelir 0 ataque com sucesso e escolher 0 momenta adequado para lan~ar urn contra­ataque que, em ultima analise, e 0

metodo de defesa mais eficiente.

101

Vamos analisar urn exemplo classico de contra-ataque em uma partida brilhante entre dois gi­gantes do xadrez.

Y. Geller - M. Euwe Zurique 1953

o ataque das Brancas parece amea~ador. Em urn par de lances ele pode trazer a sua Dama e a sua Torre para a coluna h, de modo que praticamente todas as suas

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pecs:as (menos a Torre na casa al) participem do assalto as defesas do Rei das Pretas. Mas 0 ex-cam­peao mundial Euwe havia jogado mais de 70 partidas contra 0 maior de todos os magos do ataque, Ale­xander Alekhine, portanto nao era facil confundi-lo.

16 ... bS Este lance nao e perda de tem­

po. Eo inicio de urn grande plano. A defesa passiva da posics:ao do Rei nao e promissora para as Pre­tas, ja que suas pecs:as tern pouco - se e que tern - espacs:o para manobrar e metade delas sera in­capaz de proteger 0 Rei. Em vista disso Euwe decide reagir, tao lo­go quanta for possivel, com urn forte contra-jogo no centro, onde as suas pecs:as nao estao posicio­nadas de modo pior que as das Brancas.

17 .ID.4

18 eS 19 fe 20 "i!t'xd3

~b6

l2JxeS l2Jxd3

As Pretas elirninaram 0 peri­goso Bispo de casas bran cas das Brancas, e abrindo a grande dia­gonal para 0 seu Bispo, que con­trola a casa g2, que e muito im­portante. Ainda assim, parece que as Brancas estao claramente me­lhor: sua Dama em breve estara no meio do territ6rio inimigo.

21 21 ~xh7+

22 i..h6

U'xe6 ~f7

A posics:ao das Pretas parece critica. Se as Brancas trouxerem a sua Torre da cas a al para a cas a fl, havera ameacs:as imediatas ao Rei das Pretas, mas e neste mo­mento que Euwe encontra urn golpe tatico baseado no desvio e executa urn contra-ataque reI am­pago.

22 ... 23 ~xh8

.ID.8!!

1d.c2! A situacs:ao mudou drastica­

mente de repente. Agora a arne a­cs:a e 25 ... llxg2+ 26 <Ml "i!t'c4+ etc. Quando 0 torneio foi encer­rado, os Grandes Mestres, depois de analises exaustivas, conclui­ram que as Brancas poderiam sal­var-se se tivessem usado alguns lances sutis e bern disfarcs:ados. Esta e uma das variantes: 24 d5!

102

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~b6+ 25 ~hl ~f2 26llg1 ~xd5 27 tte4 $..xe4 28 lDxe4 ~h4 29 $..xg7 ~xe4 30 ~f8+ etc.

Exausto pelo arduo combate Geller nao pOde encontrar a con­tinua<;ao correta e a partida encer­rou-se rapidamente.

24 llcl? 25 ~f1

llxg2+ 't!Vb3!

26 <;!tel ~f3!

E as Brancas abandonaram. Por que 0 ataque das Brancas,

que parecia tao amea<;ador, foi frustrado? Porque as Brancas que­riam usar toda a sua for<;a de ata­que, mas, na pratica, era tao-so­mente a sua Dama que incomoda­va 0 Rei das Pretas, sendo as ou-

tras pe<;as meras observadoras. Por outro lado, varias pe<;as das Pretas participaram do contra­ataque bem-sucedido a casa g2. Euwe teve sucesso porque defen­deu-se com urn minimo de for<;as. Era este tipo de defesa "econorni­ca" que Lasker considerava ser a principal caracteristica de urn j 0-

gador de primeira classe. Portanto, quando na defesa,

mantenha a compostura. Quando voce perceber uma amea<;a do ini­rnigo, nao mova todas as pe<;as para a defesa, use as suas pe­<;as de modo econornico e escolha o momenta certo para 0 contra­ataque.

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uC;Ao 20

AOposi~ao

Para a maioria dos entusiastas, o xadrez e primordial mente urn jogo com uma gama infinita de possibilidades de se executar combina<;6es bonitas e ines­peradas. Estes acham que quanta menos pe<;as restarem sobre 0 ta­buleiro, tao menos interessante fica a partida. Para a maioria des­tes 0 final e como uma terra deso­lada, sombria e sem gra<;a. Que ilusao!

o final, a ultima etapa de uma partida de xadrez, e inesgotavel­mente rica para os jogadores do­tados de pensamento original e criativo, e tambem capazes de executar opera<;6es correspon­dentes a ideias profundas, bern planejadas. Esta fase da partida requer a precisao de urn meca­nismo de rel6gio. Se voce nao estiver satisfeito com a abertura, voce pode melhorar a sua posi­<;ao no meio-jogo. Se voce tiver

cometido alguns erros no meio­jogo, voce po de torcer para que possa corrigi-Ios no final. Mas erros no final, comparaveis a urn erro do goleiro no futebol, sao geralmente decisivos. Lembre­se, a nao ser que voce possa jogar bern os finais, voce jamais sera urn forte jogador de xadrez.

Nao e por acaso que todos os campe6es mundiais estao sempre dispostos a levar a partida para 0

final e sempre jogam bern este estagio, de modo firrne e artfstico. Emanuel Lasker, Jose Raul Capa­blanca e Mikhail Botvinnik eram virtuosi em finais .

Eu nao posso jamais desmere­cer 0 valor das li<;6es que me fo­ram dadas nas tecnicas de finais pelo ex-campeao mundial Mi­khail Botvinnik. Dez anos atras ele me convenceu da necessidade de estudar as posi<;6es e os meto­dos tfpicos do final.

104

Page 105: Aprenda xadrez

o grande Capablanca aconse­lbava que se come~asse a estudar pelos finais de Pe6es mais ele­mentares. Por que? Parece que M muito pouca cbance de cbegar-se a uma destas posi~6es. Se eu tivesse apresentado tal pragma­tismo ingenuo em 1978, no tor­neio de classifica~ao para 0 cam­peonato nacional, eu teria me ar­rependido. Ao final do torneio, na minba partida contra Alburt (eu jogava com as Pretas), cbegamos a seguinte posi~ao ap6s 0 lance 45 das Brancas:

Neste momento muitos es­pectadores come~aram a discutir a respeito da possibilidade de as Pretas ganbarem 0 jogo. Sentado em frente ao tabuleiro, eu estava analisando 0 metoda para vencer. Primeiro, as Pretas tern de obter urn Peao passado amea~ando contornar 0 Rei das Brancas:

105

45 ~d5

46 ~d3 ~c5!

47 ~c3

As Brancas nao tern escolha. 47 g4! 48 ~d3 gb 49 gb ~d5

50 ~e3 ~e5

51 ~f3 f4 52 ~t2 ~e4

53 ~e2 13+ 54 ~f1

A primeira vista parece que 0

Rei das Pretas nao pode avan~ar por causa do empate ap6s 54 ... ~f4 55 ~f2 ~e4 56 ~f1 ~e3 57 ~e1 f2+ 58 ~f1 ~f3. Mas eu sabia que este nao era 0 caso, nesta posi~ao e necessario for~ar as Brancas a jogar, criando uma posi~ao de "zugzwang", uma po­si~ao sem lances tlteis. Isto se consegue atraves da oposi~ao dis­tante dos Reis. Agora e preciso

Page 106: Aprenda xadrez

explicar 0 que vern a ser 0 termo "oposi<sao", e como ela po de ser utilizada na pnitica.

o sucesso em urn final de PeDes depende da atividade do Rei. 0 Rei tern que buscar de todas as formas ganhar tanto es­pa<s0 quanto for possivel, for<san­do 0 Rei do adversario para tras. Portanto, 0 Rei tern que avan<sar a frente de seus PeDes. Na luta pelo espa<s0 no tabuleiro, e preci­so ser capaz de explorar a oposi­<sao dos Reis. 0 metodo mais efi­caz e a chamada oposi<sao proxi­ma, ou simplesmente oposi<sao. Vamos considerar urn exemplo elementar.

Os Reis encontram-se em opo­si<sao. Aquele que fez 0 ultimo lance tern a vantagem da oposi­<sao. Se as Brancas tern de jogar urn lance agora, elas nao podem evitar 0 Peao passado: 1 ~g2 ~e3! 2 ~f1 f4 3 ~e1 f3 4 ~f1 f2

5 ~g2 ~e2 etc. Se as Pretas tive­rem que efetuar urn lance agora, elas nao poderao for<sar 0 recuo do Rei das Brancas e terao que se contentar com urn empate apos 1 ... ~e4 2 ~e2! f4 3 ~f2 f3 4 ~f1! ~e3 5 ~e1 f2+ 6 ~f1 ~f3 e hci empate pelo fato de 0 Rei das Brancas estar afogado.

Aoposi<sao distante, quando os Reis estao separados por tres fi­leiras, e urn metodo sutil que leva, em ultima analise, a oposi<sao di­reta.

Vamos retornar ao meu final de 1978 apos 0 lance 54 ~fl.

54 ... ~f5

55 ~gl

Apos 55 ~f2 ~f4 as Pretas tern a oposi<sao, ganhando 0 ulti­mo Peao das Brancas apos 56 ~g1 ~g3.

55 ... ~e5

56 ~f1 ~e4!

Agora 0 Rei das Brancas nao pode chegar a e2, e se 57 ~f2 ~f4 58 ~f1 ~g3 ou 57 ~e1 ~e3 58 ~f1 f2 59 ~g2 ~e2, portanto resistir e inutil.

106

E interessante notar que cinco anos mais tarde, no torneio in­ternacional da cidade iugoslava de Niksic, eu venci uma partida empregando urn metodo seme­lhante.

Page 107: Aprenda xadrez

Y. Seirawan - G. Kasparov

Esta claro que 0 Rei das Pretas pode avan<;:ar sobre os Pe6es da ala do Rei: 47 ... b3 48 ~c3 b2 49 ~xb2 ~d4 50 ~b3 ~xe4 51 ~c4 ~xf5 52 ~b5 ~g4, mas 0 final de Damas com 0 Peao da coluna h das Pretas leva ao empate. No entanto, eu percebi a possibilida­de de explorar a oposi<;:ao dis­tante, levando 0 meu adversario a uma posi<;:ao de "zugzwang".

47 ~c6

48 ~c4 ~c7

49 ~d3 ~d7!

Tendo feito uma triangula<;:ao, o Rei das Pretas esta pronto para uma march a vitoriosa rumo a ca­sa c5.

50 ~e3 ~c6

51 ~d3 ~c5

o Rei das Brancas tern que abrir caminho.

52 ~e3 b3! o tinico lance possivel. 0

lance "natural" 52 ... ~c4 levaria ao empate ap6s 53 e5! ~d5 54 e6! ~d6.

53 ~d3 ~b4

54 e5 ~a3!

Novamente, 0 tinico lance via­vel. Ap6s 54 ... b2 55 ~c2 ~a3 56 ~b 1 as Brancas vencem. Agora a partida chegou ao finall6gico:

55 ef b2 56 ~c2 ~a2

57 17 bl 'iW+ Com urn tempo de atraso, as

Brancas abandonaram. Pel a terceira vez, 0 meu co­

nhecimento de posi<;:6es tipicas dos finais de Pe6es me salvou de j ogar urn longo final contra Milan Vukic (Iugoslavia) no Campeo­nato Europeu por Equipes de 1980. Meu adversario jogava com as Pretas.

107

Page 108: Aprenda xadrez

As Brancas tern vantagem po­sicional; 0 potente Bispo e a forte farma~ao de Peces mantem as Pretas paralisadas em ambos os flancos. Geralmente, a explara­~ao de vantagens posicionais exi­ge muito tempo. Mas neste caso, a partida chega a urn fim subito. Primeiro, as Brancas trocam 0

Bispo 36 ~xf6 gf

e em seguida a Torre. 37 ru1

As Pretas tern de abandonar par causa do final de Peces ap6s

37 ~d1 38 ~xd1 ~d6

39 gS! E facilmente vencido pelas

Brancas. Bern, as Pretas tern urn Peao de vantagem na ala do Rei, mas por causa das falhas na es­trutura de Peces (Peces nas casas e6, f7, f6 e h6) elas nao podem

impedir que as Brancas obte­nham urn Peao passado. 0 Rei das Pretas pode alcan~a-Io ap6s os lances

39 40 fg 41 gb

fg ~e7

~f8

mas at as Brancas irao passar suas for~as no outro lado do tabuleiro:

42 b4 ~g8

43 bS Eo segundo Peao passado nao

pode ser impedido. Por favor me perdoem por ter

usado como exemplos minhas pr6prias partidas. Eu 0 fiz para demonstrar como alguem pode ti­rar proveito de urn conhecimento concreto deste tipo de final.

Eu 0 aconselho a estudar 0 fi­nal meticulosamente; sera de ex­trema utili dade para voce. Voce tambem deve ler alguns livros es­pecializados no tema.

Page 109: Aprenda xadrez

uC;Ao 21

o Ataque no Final

Na li~ao anterior, n6s fizemos colunas centrais e fortalecer a de­urn estudo dos princfpios e meto- fesa do seu Rei as Pretas se ar­dos basicos das tecnicas de finais. riscam a urn final inferior. Eu gostaria de lembrar aos lei-tores urn dos princfpios mais im­portantes que deve sempre nor­tear os enxadristas nos finais de Pe6es: 0 Rei deve lutar para con­qui star tanto espa~o quanto for possivel, afastando 0 Rei inirnigo do centro. Agora que hii urn gran­de numero de manuais de finais e guias de referencia, tudo 0 que e necessiirio e tempo e vontade pa­ra estudar. As posi~6es das aber­turas tern sido estudadas, de mo­do tao profundo e sistemiitico, que mesmo na abertura 0 enxa­drista deve ten tar perceber as pe­culiaridadesde possiveis finais.

o exemplo mais elementar disto po de ser tirado da Defesa Caro-Kann: 1 e4 c6 2 d4 d5 3 ttJ c3 ed 4 lOxe4 ttJt6 5 lOxf6+ ef, quando para obter a abertura das

Nesta li~o n6s iremos consi­derar os metod os empregados em finais com Bispos de cores opos­tas. Finais com Bispos de cores opostas geralmente acabam em empate, ainda que urn lado possa ter uma vantagem de dois Pe6es. Mas a situa~ao e diferente quando alem dos Bispos hii Torres em jogo. Neste caso, pode se garantir

109

Page 110: Aprenda xadrez

uma vantagem importante coor­denando as pe~as de modo mais ativo.

G. Kasparov - F. Gbeorghiu Moscou 1981

A posi~ao das Pretas e real­mente bastante dificil. 0 seu Rei esta, falando de modo figurado, em uma gaiola, bloqueado pelo Bispo das Brancas e pelo Peao na casa hS. A Torre das Pretas tern que permanecer na setima fila, guardando a casa c7. Apos 39 ~e3! gh 40 hg eu poderia ter evi­tado aventuras desnecessarias em uma corrida contra 0 tempo, e teria provavelmente achado urn modo facil de veneer, ao analisar o final, em casa.

Agora eu penso como poderia ter vencido a partida e como po­deria ter penetrado na posi~ao das Pretas. A Torre das Pretas contro­la a casa c7. 0 Bispo das Pretas

protege a cas a c8 e 0 Peao na cas a b6 fiscaliza a cas a cS. Este Peao deveria ser eliminado de qualquer maneira. Para isto as Brancas de­veri am posicionar seus PeDes na cas a a4 e na casa bS, levar seu Rei a casa d4. Depois da troca de Torres 0 Bispo capturaria 0 Peao na casa b6. A opera~ao inteira seria a seguir coroada com a pe­netra~ao do Rei das Brancas na ala da Dama e com a promo~ao do Peao da casa bS. Mas eu so encontrei esta solu~ao, com faci­lidade, em casa quando, irritado com 0 empate, sentei-me para

110

analisar a partida. 39 bg+? 40 w3

~xg6

.tc6 Neste ponto eu ofereci urn em­

pate. Meu adversario, e claro, fi­cou surpreso e contente, mas eu nao quis continuar 0 jogo porque eu havia sido levado a crer em urn moma: que finais com Bispos de cores opostas acabam em em­pates.

Mesmo na posi~ao final eu po­deria ter jogado bus cando a vito­ria explorando a passividade das pe~as das Pretas. Por exemplo:

41 l:lc3 .tb7 42 q;,e3 43 gb+ 44 l:lc1 45 !lg1+

b5 ~xh5

q;,g6 ~b7

Page 111: Aprenda xadrez

46 ..t.>d4 47 ~2!

.b6

Este ultimo lance isola 0 Bispo das Pretas da ala do Rei. Ap6s 47 e3 as Pretas teriam retrucado 47 ... .te2!

Agora as Brancas teriam joga­do e3, b3 e a4, e 0 resultado da partida dependeria da possibili­dade da Torre das Brancas poder penetrar na posirs:ao das Pretas.

E sabido que os enxadristas aprendem com os seus erros. Eu gostaria de acrescentar alguns co­mentarios a esta frase que esta, acima de qualquer duvida, abso­lutamente correta. Alem de es­tudar os motivos pelos quais voce perdeu, voce deve estudar as si­tuars:6es em que voce poderia ter melhorado a sua posi~o e on de voce nao viu a melhor continua­rs:ao. Estas oportunidades perdi­das de empatar ou de ganhar de­veriam ser consideradas derrotas.

Assim, faz-se necessario analisar os seus erros varias vezes, inde­pendentemente do resultado da partida. Tendo analisado 0 meu jogo com Florin Gheorghiu, eu me livrei da ingenuidade na ava­liars:ao dos finais .

111

Urn ana mais tarde, jogando contra 0 Grande Mestre dinamar­ques Bent Larsen (eu estava com as Pretas), eu obtive urn final me­Ihor, com poucas pers:as no tabu­leiro.

Em principio pode parecer que nao hci obstaculos para a vit6ria das Pretas. Sua Torre esta na seti­rna fila . Os Pe6es das Brancas nas casas e5 e g3 sao muito fracos. Mas havia muito poucas pers:as sobre 0 tabuleiro. Larsen jogou urn lance forte,

41 h5! provocando novas trocas.

Page 112: Aprenda xadrez

Mas, como e bern sabido, so­mente os lances que dao mate e que nao tern nenhuma safda. As Brancas conseguem a simpli­fica~ao mas permitem que as Pretas tragam 0 seu Rei para 0 jo­go. 0 Rei esta pronto para atacar seu adversario! E claro! Uma pessoa pode facilmente enfrentar urn ataque, mesmo no final.

41 ... ~h6!

o jogo poderia facilmente ter terminado em empate ap6s 41 .. . gh 42 liJd4 ru2 43 e6 ou 41 .. . liJe3 42 hg hg 43 e6! fe 44 liJd4 llg2+ 45 ~h1 e5 46 liJe6+! ~h6 47 lla4! g5 4Sl:te4l:te2! 49 ~gl !

42 hg hg 43 tta4 ~g5

44 liJd4! l:lc3!

As Pretas nao querem mais na­da alem de atacar. A captura do Peao 44 ... tlc1 + 45 ~g2ltJxe5 46 liJf3+ resultaria em urn final de Torres com jeito de empate.

45 e6

Ap6s 45 ~g2ltJxe5 as Pretas ga­nhariam urn Peao, evitando a tro­ca de Cavalos, e embora as chan­ces das Brancas empatarem sejam apreciaveis, nao ha urn em­pate garantido.

45 ... llxg3+

46 ~hl?

Urn caminho bastante espi­nhoso para 0 empate; agora as Brancas enfrentam 0 perigo de urn ataque visando ao mate. Seria mais preciso 46 ~f1! f5 47 e 7 l:te3 4SliJc6! liJf649 llas l:te6 50 ruS! f451 M2 e uma vez que as Pretas nao tern como melborar sua situa~ao, 0 empate e inevita­vel.

46 f5 47 e7 ~

48 liJc6 f4! Agora as Brancas tern de se

defender de uma seria amea~a. Por exemplo: 49 llaS l:te1 + 50 ~g2 l:te2 + 51 M1 f3! 52 eS"i!t' liJh2+ 53 ~gl f2+. Aideia parece ate ter side tirada de urn problema de xadrez. 49 liJe5 llxe5 50 lla5! nao livra as Brancas das suas di­ficuldades por causa da continua­~ao 50 ... llxaS 51 eS'i!f ru5. As Brancas carninham sobre ovos e

112

Page 113: Aprenda xadrez

a unica salva~ao e 0 lance para­doxal 49 tzJd4!! A chave da posi­~ao e 0 controle sobre a casa f3. Por exemplo: 49 ... llxe7 50 00+ ~f5 51 liJh4+, ou 49 ... ~h4 50 ~g2! Ambas as armadas estariam exaustas ap6s 49 ... liJf6! 50 .w6! llxe7 51 liJe6+ ~g4 52 tUxf4. Mas e quase impossivel encontrar lances como 49 liJd4!! durante a partida.

49 w5+ ~h4 50 w8

50 liJe5 teria Ievado a uma der­rota espetacular ap6s 50 ... tUxe5 51 eS~ 1le1+ 52 ~g2 f3+ 53 ~f2 liJd3+ capturando a nova Dama das Brancas.

50 ... liJf6!

As Pretas estao temporaria­mente brincando com fogo. Ap6s 51 nts ~g3! 0 Rei passa a des em­penhar urn papel decisivo no at a­que.

113

51 ~g2 13+

52 ~f1 ~g3

53 liJd4 ttJg4!

54 eS ~ seria agora refutado com 54 ... liJh2+ 55 ~g1 f2+ e as Brancas tern que entre gar 0 Cava-10.

54 tUx13

55 - ~g1

56 m'8 As Brancas abandonaram por­

que ap6s 57 nt1 tIe3 elas nao teriam mais chances de sobrevi­vencia.

Na li~ao anterior n6s falamos da necessidade de se estudar os principios da tecnica dos finais e do aperfei~oamento das habili­dades assim adquiridas por meio de partidas reais. Ao oferecer-lhe exemplos de partidas que eu mes­mo disputei, espero convence-Io a procurar por oportunidades em qualquer final. Ap6s analisar es­tes exemplos concretos cornigo, urn entusiasta do xadrez ira con­cordar que mesmo nos casos onde ba igualdade material e muito poucas pe~as sobre 0 tabuleiro, ainda e bastante possivel lan~ar urn ataque irresistivel.

Estude 0 final e voce nao tera medo dele. Farniliarize-se com 0

final e ele ira tomar-se urn aliado seu da maior confianc,;a.

Page 114: Aprenda xadrez

LIC;Ao 22

Fortalezas no Tabuleiro

Urn dos metodos de defesa nos finais consiste na transforma<!ao de posi<!ao em fortalezas impene­traveis, sen do as cadeias de Pe6es os elementos basicos para a sua constru<!ab. Vamos analisar uma partida disputada no Campeonato Ferninino da Ge6rgia, entre as mestres Tsiuri Kobaidze e Mzia Tseretei.

o Cavalo das Pretas esta per­dido. 0 lance "natural" 1 ... lLJas e refutado por 2 ~h5+, e ai 0 Rei das Brancas carninha na ala da

Dama e toma todas as pe<!as das Pretas. Somente foram neces­sarios dois lances para que as Pre­tas empatassem 0 jogo. Dois lances brilhantes.

1 2 ~xb6

~e8!!

~e7!!

E isso! E impossivel desalojar o Rei das Pretas da casa e7. Com rela<!ao ao Bispo, ele pode mano­brar com seguran<!a ao longo da diagonal as-e1. Uma vez que toda a a<!ao se passa nas casas Pretas, urn dos Bispos das Brancas e ab­solutamente inutil, ao passo que 0

outro estii permanentemente preso. Outra posi<!ao de defesa bri­

lhante poderia ter sido montada na partida entre 0 ex-campeao mundial Max Euwe (Bran cas ) e 0

canadense Daniel Yanofsky no grande tomeio intemacional de Groningen, em 1946.

Ap6s 1 ... c5 2 a6 i.a4 3 e5 ~e6 as Pretas poderiam ter empatado

114

Page 115: Aprenda xadrez

sem dificuldades, mas achando que todos os caminhos levassem a Roma, as Pretas jogaram 0 lance rotineiro e descuidado.

1 ~c2?

2 ~cS!

Agora, as Pretas tem que per­der um Pdio, para impedir que 0

Peao na casa as promova.

2 ~d3

3 ~xd6 ~xe4

4 a6 cS 5 ~xcS

Assim, as Brancas ficam com dois Pe6es a mais, mas os finais com Bispos de cores opostas sao extremamente peculiares (nos li­damos com um na li~ao anterior) e nem sempre uma vantagem ma­terial assegura a vitoria. As Pretas tentam montar uma "fortaleza" e tem bastante sucesso em princi­pio.

115

5 hS 6 ~f2 ~d3!

7 a7 ~e4

8 g3 ~e6

9 ~e3

Na pratica, a fortaleza ja foi montada, mas e necessario co­nhecer as suas dimens6es exatas. Aideia das Pretas e bastante sim­ples: os Pe6es da ala da Dama das Brancas nao podem avan~ar sem o apoio do seu Rei.

Ocupando a casa b6, 0 Rei das Brancas nao sera capaz de mover­se para a frente se 0 Rei das Pretas estiver na casa d7. No en tanto, se o Rei das Brancas ocupar a casa c5, entao 0 Rei das Pretas teni que posicionar-se na casa e6. E se 0

Rei das Brancas permanecer on­de esta, qual 0 melhor lugar para o Rei das Pretas? Aqueles que tiverem acompanhado a nos sa analise sem duvida dirao "em f5!". Claro que 0 mestre cana-

Page 116: Aprenda xadrez

dense vislumbrou a linha 9 ... 'i&f5! , garantindo urn empate ap6s 1 0 ~f8 g6 11 'i&d4 ~a8 12 'i&c5 'i&e6 13 b4 ~hl 14 b5 ~a8 15 'i&b6 'i&d7 16 'i&a6 ~h117 b6 'i&c8 etc. No entanto, Yanofsky resol­veu que 0 Rei nao precisava diri­gir-se para a ala do Rei, porque as Brancas nao seriam capazes de levar a cabo uma ruptura de Pe6es ali. Este seu erro foi fatal.

9 ~g2?

10 'i&f4! g6 11 g4! hg 12 'i&xg4 ~hl

13 'i&g5 'i&f7 14 ~d4 ..tg2 15 h4 ~hl

16 b4 ~g2

17 b5 ~hl

Em principio as Brancas nao parecem ter melhorado a sua po­si~ao, e ap6s 18 b6 ..ta8 0 seu Rei nao podeni dirigir-se a ala da Da­rna.

18 ~f6

Agora esta claro que a bela fortaleza vai cair por terra como resultado do lance descuidado 9 ... g2. 0 final e realmente espeta­cular!

18 ..tg2 19 h5! gh 20 'i&f5!!

As Pretas abandonaram, uma vez que a marcha do Rei das Brancas em dire~ao a cas a c7 e inevitavel: 20 ... ..td5 21 'i&e5 ~hl 22 ..th4 'i&e8 23 'i&d6 etc. Mas as Pretas poderiam ter evita­do que 0 Rei das Brancas chegas­se a cas a f5 jogando 18 ... ~e4? Mas ai, ap6s 19 h5 gh 20 'i&f4! ..thl 21 'i&e5 'i&e8 22 'i&d6 etc., 0

Rei tambem alcan~a a casa c7. Vamos analisar urn outro final

com Bispos de cores opostas. Em tais posi~6es 0 lado em vantagem deve tentar obter Pe6es passados em ambos os flancos. Se isto for possivel, 0 Rei ira apoiar urn deles e a vit6ria estara as segura­da. Vamos considerar urn exem­plo elementar que ilustra outro metodo de destruir uma posi~ao fortificada no xadrez.

Veja 0 diagrama a seguir.

116

As Pretas tern dois Pe6es a mais, mas nao podem dirigir-se para a ala da Dama. Se 0 Rei das

Page 117: Aprenda xadrez

Pretas for para ala do Rei, 0 Rei das Brancas, que 0 guard a, tam­bern ira para hi. Mesmo assim, nao hii sequer urn vestigio de uma fortifica~ao aqui. Tudo de que se precis a sao tres lances:

1 fS!

2 ef e4!

3 fe ~eS

Agora que ambos os lados es­tao em igualdade material, as Brancas estao definitivamente perdidas ja que seu Rei se encon­tra numa posi<;ao sem a menor esperan~a. D resto esta claro:

4 ~d3 ~f4

S .idS ~g3

6 ~e2 g4 7 ~f1 ~h2

e as Pretas vencem. Assim, n6s conhecemos al­

guns metodos de defesa no final. Ha ainda mais urn metoda de de­fesa que constitui-se na forma~ao de microfortalezas entre duas ou

mais pe<;as. Coloque 0 Rei das Pretas na casa a8, 0 Rei das Bran­cas na casa b6 e urn Peao das Brancas na coluna a. Voce vera que 0 Rei das Pretas esta confor­tavelmente situado na casa a8 e que nao ha a menor chance de promover 0 Peao. Outro fato ain­da mais surpreendente e que mes­mo com as Brancas com urn Bis­po de casas pretas 0 jogo continua empatado.

Outro bastiao, nao menos es­petacular, po de ser construido se os adversarios, alem dos res­pectivos Reis, contarem com uma Dama e urn Peao contra uma Tor­re e urn Peao. E sabido que a Dama e bern mais forte que uma Torre, mas hii posi~6es nas quais tal axioma nao e verdadeiro. Aqui esta uma posi~ao classica de for­taleza com 0 Rei no canto do ta­buleiro.

117

Page 118: Aprenda xadrez

As Pretas tern uma grande vantagem material, mas 0 maxi­mo que elas podem fazer e trocar a Dama pela Torre, retendo urn arremedo de vantagem (0 Peao na coluna h e bastante red un dante ). Para comprovar a inviolabilidade da sua defesa, as Brancas nao de­vern recorrer a nenhuma manobra complicada. Asua Torre move-se da casa f3 para a casa h3 e vice­versa, e 0 Rei se movimenta se­guindo urn triangulo, correndo as casas gl-hl-h2. Veja outro exem­plo de Dama contra Torre em que

o mestre sovietico Victor Khen­kin encontrou uma linha que con­duz a vit6ria do lado em vantagem.

E facil de ver que as pe~as das Pretas protegem-se mutuamente com seguran~a. Mas este e urn fator temporario. Se voce imobi­lizar 0 Rei das Pretas, privando-o de lances, os Pe6es das Pretas irao cairo 0 tinico modo de consegui-10 e conduzindo 0 Rei para uma posi~ao de afogado. Veja como isto e feito .

1 ct>a4

2 "l'fc4+ ct>aS

3 "l'fc5+ ct>a4!

3 ... ct>a6 4 "l'Vb4 e 0 Rei fica afogado com facilidade.

4 "l'fb6 ct>a3

5 "l'fbS ct>a2

6 "l'fb4 ct>al

Esta e a prime ira dificuldade: a casa b3 e fiscalizada pela Torre, impedindo que a Dama possa co­locar-se na casa c2 devido a rna posi~ao do Rei das Brancas. Por­tanto 0 Rei das Brancas dirige-se para a outra metade do tabuleiro:

7 ct>c1 Itc3 +

8 ct>dl ru3+

9 ct>e1 t!e3+ 10 ct>f2 ct>a2

11 ct>f1 l:ID+

12 ct>g2 l:1e3 13 ct>f2

118

Page 119: Aprenda xadrez

Uma microtarefa que ja foi executada.

13 ~al

14 ~d2! ~bl

15 ~g2 ~al

16 ft'c2 W3 17 ft'dl+ ~b2

18 ft'e2+ ~c3

19 ft'xe5

Ganhando 0 Peao. Agora 0 Rei das Brancas move-se para a casa d2, e toma 0 Peao do mesmo mo­do.

o nos so exemplo seguinte en­volve Bispo contra Cavalo e Peao da Torre.

A posi~ao das Brancas parece perdida porque nao M como evi­tar 1 ... h2 2 ... ~gl 3 ... tLlg2 e 4 .. . hI~. Ainda mais paradoxais parecem os dois lances das Bran­cas ajudando 0 adversario a exe­cutar este plano.

1 ~d7

2 3 4

~c6+

~hl!!

~e2!

h2 ~gl

tZ:lg2+ ~xhl

Se voce retirar 0 Cavalo do tabuleiro, as Brancas podem em­patar com 5 ~f1 ou 5 ~f2. A presen~a do Cavalo torna 0 em­pate urn pouco mais dificil. Ap6s 5 ~f1 tZ:le3+ 6 ~2 tLlg4+ 7 ~f1 o Cavalo po de chegar a qualquer casa do tabuleiro, mas nao pode ganhar 0 tempo necessario para libertar 0 Rei encurralado.

Assim, quando voce estiver na defesa em urn final, nao esque~a das possibilidades e dos metodos de se construir pequenas fortale­zas. Se bern que e muito melhor nao cometer erros serios de modo a nao terminar em uma posi~ao inferior no final!

Page 120: Aprenda xadrez

LIc;:Ao 23

A Beleza do Xadrez

Esta li<;;ao sera devotada a compo­si<;;ao de problemas, 0 aspecto mais bonito e misterioso da arte do xadrez. A defini<;;ao de urn pro­blema enxadristico como uma arte nao e urn exagero, de modo algum, uma vez que tais proble­mas e estudos, inspirados pela imagina<;;ao, sao responsaveis por horas de entretenimento para rni­Ih6es de fas.

A composi<;;ao de problemas e guiada pelas suas pr6prias leis. Os enxadristas lembram-se das partidas e combina<;;6es mais bri­lhantes, nao interessa quantos pe­quenos erros - dificilmente per­ceptiveis - est as possam conter. Os que elaboram problemas de xadrez, no entanto, jogam fora as suas composi<;;6es caso as mes­mas tenham urn pequeno erro ou uma solu<;;ao dupla.

o xadrez apresenta, com fre­qiiencia, situa<;;6es em que uma ou mais pe<;;as estao fora de a<;;ao.

Na composi<;;ao, isto e simples­mente impossive!. Aquele que cria urn problema invariavel­mente atribui uma fun<;;ao a cada pe<;;a no tabuleiro.

Eu gosto de resolver proble­mas, e gosto, particularmente, de estudos. 0 tempo de que eu pre­ciso para resolver os problemas serve como pariimetro para medir a minha forma para competi<;;6es; e, as vezes, eu uso ideias seme­lhantes em partidas de verdade.

Os problemas costumam ser cheios de paradoxos e ideias origi­nais. Vamos exarninar, por exem­plo, urn dos problemas criados por Samuel Loyd, 0 famoso pro­blemista americana do seculo XIX.

Veja 0 diagrama a seguir.

Ha urn pandem6nio inacredi­tavel no tabuleiro. 0 Peao da co­luna f das Pretas est a tam bern prestes a ser promovido.

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As Brancas jogam e dao mate em tres lances

1 ~e2!!

2 ~e3!!

fl 'W'++

Incrlvel! As Pretas podem agora dar dez diferentes xeques, mas cada xeque e refutado com urn xeque-mate. Se as Pretas ti­vessem se decidido por, em vez disto, promover 0 seu Peao a Tor­re ou Cavalo no seu primeiro lan­ce, entao 2llf2+ for~aria urn mate no pr6ximo lance. Aqui esta outra composi~ao de Samuel Loyd.

A variante principal baseia-se em manobras com a Dama ao longo do tabuleiro:

1 'W'fl! h6

2 '!!Vb1! Seguido de 2 g6 3 'W'xal

mate. Ou 2 ... g3 3 'W'h7 mate. 1 ... g3 2 tL'lg6+! hg e 3 'W'h3 mate e uma outra possibilidade.

Sem duvida a resolu~ao de problemas estimula urn pensa-

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As Brancas jogam e dao mate em tres lances

mento criativo. Mas os estudos tambem sao uteis ao jogador, por­quanta 0 capacitam a melhorar seu jogo de outro modo. Em uma destas composi~6es, a ideia do autor e expressa do modo mais econ6rnico possive!. Resolve-las ajuda 0 enxadrista a usar cada pe­~a ao maximo nas partidas reais.

Vamos ver urn estudo compos­to por Abram Gurvich, urn com­positor e problemista sovietico bern conhecido.

Como podem as Brancas ven­eer? Seu Peao na cas a c7 esta perdido, e 0 futuro do Bispo nao esta claro, embora seu Rei esteja ativo.

1 ~h5! ~xc7

2 .!lxf7 + ~d8

As Pretas nao tern escolha. 2 ... ~d6 e refutado com 3 llf6+, por exemplo.

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As Brancas jogam e ganham

3 .l:hc7, l:ig8!!

Se voce, tendo calculado uma variante long a, puder antever e avaliar corretamente uma defesa destas, no terceiro lance, entao voce chegou certamente a urn alto nivel de proficiencia.

4 r!.c4!! Vma id6ia esplendida, que

constitui 0 leitmotif deste estudo.

4 l:igS+

5 ~e6! Jlxhs 6 h4!

Apesar da igualdade material, as Pretas estao em "zugzwang", e a derrota e imediata. Ap6s resol­ver tais estudos, uma pessoa pode compreender, completamente, todas as sutilezas do dominio no tabuleiro.

Nos livros de xadrez, frequen­temente, encontramos a expres­sao "geometria do tabuleiro". 0 que 6 a essencia desta "geome-

tria"? Na minha opiniao, para res­ponder a esta pergunta, uma pes­soa deveria examinar 0 estudo brilhante composto pelo famoso Grande Mestre checo Richard Reti.

As Bran cas jogam e empatam

A tarefa parece, absolutamen­te, impossive!. 0 Peao das Pretas esta bern avan<:;:ado, e 0 Rei das Brancas s6 pode ver 0 seu Peao na casa c6 com urn potente bin6-culo. Portanto, os primeiros lances parecem servir para mostrar que a resistencia das Brancas e inutil.

1 ~g7 h4 2 ~f6

o Rei das Brancas esta ainda longe de ambos os Peoes, portan­to, as Pretas podem tomar 0 Peao das Brancas.

2 ~b6

3 ~eS!

Agora a situa<:;:iio mudou dras­ticamente. Se 3 ... ~xc6 as Bran-

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cas alcan<;;am 0 Peao das Pretas jogando 4 lti'f4. Assim, as Pretas tern de avanc;ar 0 seu Peao, e, ao mesmo tempo, 0 Rei das Brancas da apoio ao seu pr6prio Peao.

3 h3 4 lti'd6 h2 5 c7 lti'b7 6 lti'd7

o melhor exemplo da geome­tria do tabuleiro: 0 movimento do Rei pela diagonal e 0 caminho mais curto para a sua meta.

Este estudo excita a imagina­C;ao dos fas de xadrez ate hoje, inspirando novas cornposic;oes. Em 1929, Alexander e Kirill Sa­rychev, de Baku, publicaram uma composiC;ao inesquecfvel que acrescenta urn Bispo ao material do estudo original de Reti.

A posiC;ao das Brancas parece estar perdida. Promover 0 Peao e inutil, e 1 lti'e6 e refutado por 1 ... lti'e4. Os dois primeiros lances das Brancas parecem absurdos.

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1 lti'c8! 2 lti'd7!

b5 b4

As Brancas tern urn Bispo a menos, e ainda assim parecem convidar 0 Peao das Pretas a converter-se em Dama tao logo quanta possivel, mas ...

3 lti'd6 ..tf5 evitando que as Brancas possam promover 0 seu Peao. Agora 1embre-se do estudo de Reti.

4 lti'e5! ..tc8 5 lti'd4!

E uma icteia bern conhecida, nao e?

5 b3 (j lti'c3 ..te6 7 c8"iW ..txc8 8 lti'xb3

empate. Ha alguns estudos que eu

gosto de jogar repetidarnente. 0

As Brancas jogam e ganham

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estudo de Alexander Seletsky, composto em 1933, porexemplo.

Urn estudo tipico de meio-jo­go. As Brancas nao tern vantagem material, uma vez que seu Peao esta perdido. Mas as Pretas preci­sam de algum tempo para tomar o Peao, durante 0 que as Brancas aumentam a atividade das suas pe~as.

1 ~g5! ~e6+

Se 1 ... i.xd7 2lZ'lf4 amea~an­do 3 i.h5 mate.

2 ~gl ~xd7

Entao, as Pretas atingiram a igualdade material absoluta, mas agora as Brancas iniciam urn at a­que visando dar mate.

3 tZJc5+ ~c8 o leitor pode tentar encontrar

melhores continua~6es para as Brancas em res posta a 3 ... ~c7 ou 3 ... ~d6. Recuando para c8 0

Rei salva a Dama mas cai.

4 i.a6+ ~b8 5 ~g3+ ~a8

6 ..tb7+! i.xb7 7 lZ'ld7!!

Urn golpe esmagador!

7 ... ~d8

Alinica resposta, mas ai nao h:i defesa contra a combina~ao que liquida 0 jogo.

8 ~b8+!! ~xb8

9 lZ'lb6 mate! Fantastico! Como se alguma

for~a rnisteriosa houvesse empi­lhado todas as pe~as das Pretas no canto do tabuleiro; e 0 Cavalo das Brancas, sozinho, vence as for<;:as das Pretas.

Algum dia, voce podenl ter uma chance de jogar tais combi­na~6es. Vendo problemas e es­tudos enxadristicos voce nova­mente encontrara belezas genuf­nas criadas pela imagina~ao hu­mana.

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uC;Ao 24

Dedique-se Bastante

Agora chegamos a ultima li<;ao. Este conjunto de li<;6es, publica­do pela primeira vez na revista Sport in the USSR, foi 0 primeiro que produzi, mas espero ter tido exito, pelo menos ate certo ponto, ao lidar com esta tarefa. E ver­dade que, ao reler ° material, che­guei a conclusao que, em certas li<;6es, algumas ideias deveriam ter sido explicadas mais deta­lhadamente e que em outras mais exemplos deveriam ter sido da­dos.

o xadrez e urn jogo incrivel. Depois de quinze seculos as pe­<;as de madeira nao s6 mantive­ram seu charme, mas tambem se tomaram mais envolventes. A marcha continua da cultura e do pensamento humano influenciou o nosso jogo.

Para milh6es de amado res, 0

xadrez e tao-somente urn passa­tempo agrad:ivel. Estes nao tern

grandes ambi<;6es esportivas, mas apenas jogam em tomeios e, as vezes, analisam partidas ou re­solvem problemas. No entanto, h:i algumas pessoas para as quais 0

xadrez e sua pr6pria vida. Para estas 0 tabuleiro de 64 casas e urn campo de batalha e 0 pr6prio jogo, uma arte misteriosa e atraen­teo Atraves da rivalidade criam-se verdadeiras obras-primas que, por urn longo tempo, despertarao interesse e farao com que muitos fortale<;am seu carater ou se deixem abater.

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Entao por que razao n6s, discf­pulos de Caissa, adoramos xa­drez? 0 que ele faz por n6s? Eu, como muitos outros, vejo no xa­drez urn modelo extremamente preciso da vida humana, com suas lutas di:irias, seus altos e baixos. No tabuleiro, temos a chance de controlar os eventos. Podemos conceber nossos pIanos

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e tentar leva-los. a sua conclusao 16gica - e isto nao e analogo ao nos so dia-a-dia? Voce nao podeni ter sucesso em nada se nao culti­var em si persistencia, engenho­sidade e a capacidade de avaliar objetivamente as suas oportuni­dades. Voce deve ser capaz de estabelecer as suas pr6prias me­tas e busca-Ias em termos racio­nais, energica e resolutamente.

Como e que n6s, os verdadei­ros amantes do xadrez, escravos de Caissa por vontade pr6pria, conseguimos reconhecimento? Provavelmente do mesmo modo que nos outros esportes. Eu lem­bro do meu avo me levando para o clube de xadrez no "Palacio dos Pioneiros de Baku". Havia mui­tas crian~as la que queriam apren­der a jogar bern. Mas, depois de pouco tempo, a metade del as pa­rava de assistir as aulas ou de comparecer aos tomeios. As pri­meiras derrotas - e e claro que no inicio havera mais derrotas qu~ vit6rias - afastaram os que nao estavam firmemente decidi­dos. Ficavam somente aqueles que ja, na infiincia, eram bons nas competi~6es. Gra~as ao xadrez, esta capacidade de lidar com qualquer situa~ao fora refor~ada;

a deterrnina~ao, fortalecida; e 0

carater tomara-se mais firme.

Antes de despedir-me dos lei­tores eu gostaria de dar alguns conselhos aqueles que desejem progredir no xadrez: Em primeiro lugar e antes de tudo, voce precisa aprender a analisar as suas pr6-prias partidas, investigando os er­ros de ambos os lad os e tentando achar as continua~6es corretas. Geralmente, posi~6es no meio­jogo nao sao exatamente identi­cas, mas com freqiiencia chega­se a posi~6es semelhantes e ap6s tais analises voce estara mais ca­pacitado a encontrar a linha cor­reta. Voce tambem deve acostu­mar-se a analisar as partidas de outras pessoas , questionando constantemente "por que ele fez aquele lance?" e "mas nao teria sido melhor jogar 0 lance tal?" Como resultado, 0 numero de po­si~oes farniliares ira crescer e isto ira ajuda-lo a orientar-se melhor e com mais confian<;a ao longo de uma partida. 0 seu dorninio do xadrez tambem beneficia-se mui­to do estudo das anota<;oes, dos melhores jogador~~, sobre suas pr6prias partidas; voce deve ten­tar fazer isso com mais aten<;ao e reflexao. Este trabalho ira ajuda-10 a compreender como os verda­deiros mestres resolvem proble­mas especificos e que fatores eles consideram primordiais em po-

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si¢es particulares. Em principio muitas dessas anota¢es serao in­compreensiveis para voce. De­pois vinl a fase em que elas pare­cerao inquestionaveis. Mas che­gara finalmente 0 dia em que voce comec;:ara a questionar esses gran­des jogadores: "Mas par que voce considera isto necessario e nao ... ", o que significara que sua capaci­dade de jogo tera aumentado. Eu trabalhei em cima das anotac;:6es de colossos como Alekhine, Ca­pablanca, Botvinnik e Keres. Ate hoje eu me sinto profundamente agradecido a esses grandes enxa­dristas por lic;:6es que simples­mente nao tern prec;:o.

E claro que trabalhar cui dado­samente sobre, digamos, cern partidas de Capablanca nao 0 fara jogarcomo ele. Voce, na verdade, "somente" ira aprender a aplicar os metodos do grande enxadrista cubano em algumas posic;:6es. Mas ja e urn grande feito, e com­pens a ainda mais as horas dedica­das ao trabalho.

Ha urn volume enorme de in­formac;:6es em milhares de livros didaticos, colec;:6es de partidas, li­vros sobre os maiores jogadores e encicIopedias tanto de abertu-

ras, quanta de finais. E simples­mente impossivel memorizar to­da essa informac;:ao, mas, ainda assim, voce tera que conhece-Ia. No entanto, ha uma salvac;:ao - 0

metoda de posic;:6es tipicas. Voce nao poderia, por exemplo, me­morizar todas as variantes do Sis­tema Scheveningen na Defesa Si­ciliana, e aprender todas as parti­das. Mas com 30 a 40 horas de trabalho, com os melhores textos sobre este sistema, voce podera aprender as linhas principais. As variantes e pelo menos uma dlizia de partidas ilustrativas devem ser anotadas no seu cademo de exer­cicios. Como conseqiiencia, voce aprendera a jogar as posic;:6es ti­picas neste sistema. 0 repertorio de urn mestre constitui-se nao de urn, mas de uma dlizia de sis­temas. 0 estudo e a compreensao, de como jogar cada urn deles, re­quer uma quanti dade de tempo consideravel. Mas isto e indis­pensavel para urn mestre ou para qualquer urn que queira se tomar urn mestre.

Concluindo, se voce quiser desvendar a rnirfade de segredos do xadrez, entao nao perca tem­po. Eu lhe desejo sucesso!

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Indice de J ogos e Posi~oes

Adams-C. Torre 77 Alburt-Kasparov 105 Alekhine-Rubinstein 91 Bogoljubow-Botvinnik 52 Boleslavsky-Kotov 70 Caesias-V. Vukovic 80 Chigorin-Alapin 48 Euwe-Yanofsky 114 Geller-Euwe 101 Gligoric-Smyslov 66 Karpov-Dorfman 34 Kasparov-Georgadze 26 Kasparov-Gheorghiu 8, 110 Kasparov-Petrosian 99 Kasparov-Portisch 14 Kasparov-Vukic 107 Kobaidze-Tsereteli 114 Larsen-Kasparov 111 Ed. Lasker-Thomas 74

Em. Lasker-Bauer 81 Em. Lasker-Nimzowitsch 95 Magerramov-Kasparov 89 Morphy-Arnous de Riviere 19 Neergard-Simagin 22 Petrosian-Kozma 22 Petros ian-Pfleger 29 Rotlevi-Rubinstein 76 Rubinstein-Capablanca 97 Seirawan-Kasparov 107 Schulten-Morphy 41 Suetin-Bondarevsky 64 Tal-Panno 16 Tarrasch-Charousek 24 C. Torre-Em. Lasker 79 Tulkowski-Wojciewski 32 Vasyukov-Lebedev 46 Zukertort-Blackburne 82

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