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APRENDENDO GEOMETRIA: do origami à poesia

Autora: Valéria do Rocio Pedroso Walchaki1

Orientadora: Luiza Takako Matumoto2

Resumo

A literatura mostra que o Origami pode ser usado como uma atividade educativa, inspiradora e prazerosa para complementar o ensino de geometria, entre outras possibilidades. Através das dobraduras (origami) este trabalho teve a finalidade de diminuir as dificuldades encontradas pelos alunos na apropriação dos conceitos geométricos e procurando uma visão mais ampla de conhecimento, considerando a interdisciplinaridade, procurou interagir com as disciplinas de Língua Portuguesa e Arte. Este artigo relata a experiência vivenciada em sala de aula com alunos do 9º ano do ensino fundamental, no contra turno, usando o origami e a investigação matemática para articular teoria e prática. Ao construírem os origamis, uma forma de arte, foi nítida a formação e a fixação dos conceitos geométricos pelos alunos; tais como retas, segmentos e figuras formadas; além de terem servido como estímulo e inspiração para expressarem suas ideias; neste caso, através de poesias na forma de acrósticos e usando termos inspirados nas dobraduras e na matemática. Outro ponto positivo foi à melhora no desenvolvimento cognitivo entre professor e aluno. O resultado desta experiência foi positivo, pois os principais conceitos objetivados da geometria foram apreendidos e a formação da poesia matemática obteve sucesso, despertando no aluno maior interesse pela leitura e produção de textos.

PALAVRAS-CHAVE: origami; investigação matemática; geometria; poesia.

1 Especialista em Magistério de 1º e 2º Graus em Metodologia do Ensino pelo Instituto Brasileiro de

Pós-graduação e Extensão (IBPEX), Licenciada em Ciências na área de Matemática pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Professora de Matemática no Colégio Estadual Professora Linda Salamuni Bacila de Ponta Grossa - PR. [email protected] 2 Mestre em Ciências na área de Ciências de Computação e Matemática Computacional pelo Instituto

de Ciências Matemáticas de São Carlos da Universidade de São Paulo (ICMSC-USP), Licenciada em Matemática pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (FCT-UNESP), Professora Assistente do Departamento de Matemática e Estatística da Universidade Estadual de Ponta Grossa (DEMAT-UEPG). [email protected]

1 Introdução

A aprendizagem da matemática consiste em criar estratégias que possibilitem

o aluno a desenvolver habilidades, resolver problemas ou fixar conceitos. Para isso

é necessário adequar ou resgatar formas de trabalhar os conteúdos de maneira a

melhorar o processo de ensino. Percebe-se que uma das grandes dificuldades do

ensino da matemática é a linguagem utilizada. Normalmente os alunos

compreendem a ―ideia‖, mas não são capazes de manipular a linguagem e em

outras vezes, manipulam a linguagem de maneira automática sem atingir o

significado.

Para melhorar esse contexto, atividades lúdicas, concretas e instigantes

podem ser alternativas para serem desenvolvidas em sala de aula com o objetivo de

motivar e fazer com que o aluno, diante de um problema concreto, ―traduza‖ a

situação para a linguagem matemática e resolva o problema. Então trabalhar com o

lúdico e atividades extracurriculares é muito importante. O conhecimento deve

acontecer de forma única, onde ao mesmo tempo em que ensina, também diverte.

A necessidade de buscar melhorias na qualidade do ensino-aprendizagem da

geometria fez com que este projeto procurasse novos rumos e maneiras diferentes

de trabalhar, que contribuíssem para a melhora do conhecimento. As atividades

diferenciadas apresentam abordagens técnicas e teóricas dos conteúdos da

geometria, direcionando-os para uma aprendizagem significativa.

A geometria é parte importante da matemática. Com o objetivo de melhorar os

conceitos geométricos, tanto aqueles vistos nas séries anteriores como na série

atual, o projeto desenvolveu-se com a construção de dobraduras (origami),

procurando relacionar as disciplinas de Arte e Língua Portuguesa, buscando integrar

os conhecimentos. Teve-se por finalidade apresentar e demonstrar formas de inter-

relacionar a geometria com suas figuras elementares e as respectivas propriedades

que aparecem no dia-a-dia, onde a importância do seu conhecimento é bem

proeminente tal qual sua aplicação.

Para Teixeira (2010, p.14) ―do ponto de vista pedagógico, as atividades

lúdicas são usadas como instrumentos para transmitir conhecimentos‖.

Desse modo, é preciso pensar sempre em como encaminhar o trabalho em

sala de aula, para que o aluno construa seu conhecimento, de forma a desenvolver

e utilizar todo seu potencial criativo e crítico, em busca da apropriação dos

conceitos.

Com a necessidade de encontrar meios para que o aluno possa construir seu

conhecimento matemático através de materiais manipuláveis, que auxiliem o

processo ensino-aprendizagem, buscou-se neste projeto aliar conhecimento,

criação, formação e desenvolvimento de auto-estima para trabalhar em grupos; e

ainda realizar o trabalho na perseverança de busca de soluções.

Ao fazer origami, a percepção torna-se necessária para que a prática dos

movimentos se concretize. Também permite o desenvolvimento do raciocínio para

realizar os movimentos passo a passo. Ao dobrar e desdobrar uma folha de papel

pode-se observar em meio aos vincos e à própria forma dobrada, elementos de

geometria como triângulos, quadrados, retângulos, retas e ângulos. As atividades

desenvolvidas nesse trabalho buscaram estimular o aluno a representar, examinar,

transformar e criar.

As dobraduras, além do conhecimento para geometria e os conceitos

apreendidos, foram utilizadas como elementos inspiradores para a produção de

acrósticos e poesia, tentando valorizar a escrita e a leitura, criatividade e imaginação

e ainda, explorar ideias para confecção de cartões, decoração e ornamentação. Os

trabalhos feitos com origamis buscaram promover aulas interessantes, mostrar que é

possível trabalhar de forma interdisciplinar e também melhorar a relação professor-

aluno.

2 Referencial teórico

A escola que é comprometida com o aprendizado de seus alunos, busca

promover atividades para que aconteça o enriquecimento dos conteúdos e é esse o

papel do professor enquanto facilitador e orientador do conhecimento. As aulas

precisam ser mais interessantes, visando uma ação educativa onde alunos e

professores tenham suporte para adquirir conhecimentos, e estes serem relevantes.

Para Schlesener (2009, p.100) ―o trabalho do professor precisa ser ao mesmo

tempo criativo e rigoroso, a fim de gerar as condições de florescimento de

habilidades e de realização humana‖. Pela literatura, o trabalho com dobraduras

parece apresentar condições para favorecer as habilidades e propiciar ao aluno ver

seu trabalho se desenvolver, ponto importante no amadurecimento de seu

aprendizado.

A geometria é parte importante da matemática e o projeto que resultou neste

artigo desenvolveu-se com atividades que utilizaram as dobraduras, particularmente

focando o origami, o qual procurou relacionar as disciplinas de Arte e Língua

Portuguesa, e desta forma integrar os conhecimentos. Considerando que as

disciplinas são o pressuposto para a interdisciplinaridade, as relações

interdisciplinares se estabelecem quando:

Conceitos, teorias ou práticas de uma disciplina são discutidos e

podem auxiliar a compreensão de uma parte do conteúdo qualquer de

outra disciplina;

Ao tratar-se do objeto de estudo de uma disciplina, buscam-se nos

quadros conceituais de outras disciplinas referenciais teóricos que

permitem um referencial mais abrangente desse objeto (PARANÁ,

2008).

Para que o professor seja um facilitador do desenvolvimento da criatividade

dos estudantes, é importante ele conhecer as características do pensamento

criativo, saber como se podem criar oportunidades para que os estudantes

desenvolvam atitudes criativas, ter conhecimentos do que pode inibi-las e de que

forma elas podem ser estimuladas.

Considerando que para vivenciar um trabalho é preciso dedicação, motivação

e principalmente interesse, observando a realidade da escola constatou-se que os

alunos enfrentavam dificuldades em compreender os conceitos da geometria, e com

a motivação de modificar esta realidade o projeto foi desenvolvido resultando no

presente trabalho.

Os conteúdos foram abordados articulando a teoria e a prática procurando

assim, valorizar o ensino-aprendizagem e conseguir o conhecimento aprofundado

pelo educando. Além de aulas mais interessantes, também se buscou que o aluno

fizesse reflexões e aumentasse suas perspectivas de conseguir realizar seu

trabalho.

A geometria está em toda parte, desde os tempos mais remotos da nossa

existência. Convive-se com muitos conceitos geométricos, os quais precisam ser

compreendidos para ampliar a capacidade de se estabelecerem inferências e

conexões lógicas.

O estudo da geometria tem muitas aplicações no mundo real tais como na

engenharia para planejar e fazer plantas de casa, na arquitetura para planejar

ambientes, nas embalagens de produtos, no artesanato e outras situações.

Através da manipulação de materiais de apoio o aluno tem possibilidades de

desenvolver suas potencialidades e o desenvolvimento de habilidades, onde a

motivação é um fator importante e possivelmente trará segurança em sua

aprendizagem. O estudo da formação de conceitos é de fundamental importância,

pois permite identificar os níveis conceituais dos alunos e assim propor atividades

conforme o seu entendimento. Para Klausmeier (1977, p.310), ―o ensino-

aprendizagem de conceitos é um objetivo educacional muito importante em todos os

níveis escolares‖.

Os professores observam que as dificuldades apresentadas pelos alunos em

ler e interpretar um problema estejam associadas a pouca competência que eles têm

para leitura, pois ler é um dos principais caminhos para ampliarmos a aprendizagem

em qualquer área do conhecimento. A interpretação da leitura matemática é parte

fundamental durante o processo de cálculos e resoluções. Fazer reflexões

oportuniza entendimentos que podem contribuir para a diminuição das dificuldades.

Para aprender geometria é preciso pensar geometricamente e desenvolver

competências e habilidades como: experimentar, representar, comunicar,

argumentar, estabelecer relações e validar. Desta forma através de situações

planejadas os estudantes podem ser levados a adquirir competência para identificar

os conceitos e assim fazer a apropriação da aprendizagem. Quando o aluno tem o

conhecimento sobre o conceito poderá resolver problemas que o envolvam nas

determinações futuras.

Klausmeier (1977) relacionou alguns procedimentos para ensinar conceitos:

identificar o nível em que o aluno pode formar conceitos, ensinar uma estratégia

para formar o conceito, programar uma seqüência adequada de conjuntos para o

ensino e avaliação do conceito, tornar claros os atributos definidores do conceito,

estabelecer a terminologia correta para o conceito e seus atributos, fornecer

―feedback informativo‖, propiciar o uso do conceito e encorajar e orientar a

descoberta e a auto avaliação. Com relação a isso ele afirma:

[...] que não se pode esperar que a maioria dos professores seja capaz de colocar todos os passos precedentes em ação, sem que tenham excelentes materiais de ensino e bastante tempo para planejar e se preocupar para ensinar conjuntos específicos de conceitos e princípios (KLAUSMEIER, 1977, p.343).

É inegável a dificuldade em trabalhar com a formação de conceitos, mas o

objetivo do trabalho foi analisar como o origami poderia contribuir, para que os

principais conceitos da geometria apresentassem entendimento pelo educando. A

finalidade dessa proposta foi levar os alunos a trabalharem com as dobras do papel

procurando formar os conceitos. O origami é uma atividade educativa que utiliza

basicamente dobras. Cada dobra que é efetuada gera um segmento de reta; os

segmentos de reta podem determinar lados, diagonais, ângulos, vértices e assim, o

aluno poderia ser orientado a perceber a formação do conceito geométrico.

Ao falar sobre dobras em papel, não se pode deixar de mencionar que o

papel foi uma das grandes invenções da humanidade, uma contribuição importante

para o desenvolvimento da sociedade civilizada através das muitas formas de

utilização. A dobradura é uma delas.

A palavra papel vem do latim papyrus e faz referência ao papiro, uma planta

que cresce nas margens do rio Nilo no Egito. Depois vieram os pergaminhos feitos

de couro curtido de bovinos, bem mais resistentes. Finalmente, o papel seria

inventado na China por volta do século VI a.C., que produziram um papel de seda

branco próprio para pintura e para escrita. O papel foi introduzido na América pelos

colonizadores e no Brasil em 1809. A sua produção se deu desde então a nível

industrial. A primeira fábrica de papel no Brasil foi construída no Rio de Janeiro por

Henrique Nunes Cardoso e Joaquim José da Silva, industriais portugueses. A fábrica

começou a funcionar entre 1810 e 1811 (HAYASAKA, NISHIDA, s.d.).

Com a invenção do papel, muitas atividades foram desenvolvidas. Surgiu a

dobradura, também conhecido como origami. O origami é uma palavra de origem

japonesa, que significa ―arte de dobrar papel‖ (oru=dobrar; kami=papel). Essa arte

foi desenvolvida por volta do século VIII. As possibilidades de se criar formas através

do origami são muito ricas e variadas. O papel tipicamente japonês ficou conhecido

como washi e sobre ele podia-se escrever ou usá-lo para várias finalidades,

inclusive para o origami. Apesar de ser patrimônio da cultura japonesa, é provável

que tenha começado na China, a qual é considerada ―o berço do papel‖. As

dobraduras remetem ao termo origami porque os japoneses pelos seus imigrantes

foram os que mais propagaram a arte de dobrar papel, tanto é que no Brasil o termo

origami é bem conhecido.

O origami tradicionalmente é feito com uma folha de papel em formato

quadrado sem uso de cortes ou colagens, porém neste trabalho não houve

preocupação rigorosa em estipular essas condições em prol dos objetivos

estabelecidos.

Nesse projeto as dobras e o origami foram utilizadas como recurso

interessante para exploração dos conceitos geométricos. Assim, ao executar os

movimentos no papel, os conceitos da introdução à geometria gradativamente

estariam em desenvolvimento. O objetivo também foi criar uma poesia, então leituras

importantes foram feitas durante as aulas, que possibilitaram aos alunos, após a

dobradura pronta, apresentar a poesia.

Para que qualquer iniciativa de recuperação aconteça e tenha resultado

positivo, os alunos precisam sentir-se confiantes e motivados a apreender. Nessa

perspectiva, o trabalho teve o propósito de tentar aprofundar o entendimento e a

compreensão por meio de várias interações, e também a atribuição de significados

matemáticos da geometria, olhando principalmente a prática pedagógica na sala de

aula.

No momento em que o professor assume uma postura de orientador da

aprendizagem, na sala de aula, além de dispor de bons materiais e saber usá-los,

deve segundo Lorenzato (1995), citado em Scheffer (2010):

[...] ao referir-se ao ensino de geometria, ter sempre presentes nas aulas de geometria os seguintes questionamentos: Por que você pensa assim? Como você chegou a essa conclusão? Isso vale para outros casos? Como isso pode ser dito de outro modo? É possível representar essa situação? O que isso quer dizer? Por que você concorda? Existem outras possibilidades? O que mudou? Como isso é possível? (SCHEFFER, 2010, p.98).

É essa compreensão que orientará o professor a respeito da abordagem que

se dará à geometria, especialmente em atribuições, habilidades e competências,

como destaca Fainguelernt (1999), citado em Scheffer (2010, p.98): ―apropriar-se de

um conceito é fazer a passagem de uma representação para outra, trabalhando com

desenvoltura nas diferentes representações‖.

3 O desenvolvimento das atividades

No Colégio Estadual Profª Linda Salamuni Bacila há o ''dia da leitura'' — uma

vez por semana na primeira aula alternando toda semana — e tal atividade já

contribuiu para a formação da poesia, após a construção do origami. Hoje quanto

maior for à participação dos alunos e dos professores, em atividades diversificadas,

mais benefícios haverá para a educação e a melhoria no contexto escolar.

Para o desenvolvimento desse trabalho pedagógico, inicialmente foi

conversado com os alunos sobre a proposta das atividades e quais deles poderiam

vir no período vespertino para participarem do projeto.

Em seguida foi enviado um comunicado aos pais, pedindo a autorização para

a participação dos alunos no projeto, buscando a parceria, responsabilidade e

ciência dos mesmos para uma melhor efetivação na aprendizagem.

Para realização do Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola

―Aprendendo Geometria: do origami à poesia‖ na Produção Didático-Pedagógica

ficou estabelecido oito encontros de quatro horas para a realização das atividades.

Entretanto devido à falta de sala de aula disponível no período planejado, a

intervenção do projeto na escola ocorreu em uma sala improvisada, a qual era muito

pequena. Desta forma as aulas estenderam-se para onze encontros que

aconteceram às quartas-feiras, das 13h30min às 16h50min no Colégio Estadual

Profª Linda Salamuni Bacila. O grupo iniciou as atividades com 23 alunos.

Na primeira atividade ou encontro, foi exposto aos alunos como seria

desenvolvido o projeto através do pôster e puderam ver as atividades propostas

para cada encontro na TV multimídia, conforme planejado na Produção Didático-

Pedagógica. Em seguida os alunos receberam um texto em folha impressa sobre a

história do origami e isto fez com que conhecessem um pouco da cultura japonesa e

da origem do papel, que causou interesse e curiosidade por parte dos alunos.

Durante essa leitura houve diversos comentários o que trouxe uma interação entre o

grupo. Responderam as perguntas da atividade proposta e para iniciar o movimento

das dobras, foi feito um origami do pássaro para simples apresentação, onde os

alunos receberam uma folha de papel quadrada e efetuaram as dobras conforme a

indicação do professor. Este origami foi levado para casa para mostrarem aos pais.

Na segunda atividade, foi feito a execução das dobras para tornar a folha de

papel A4 em formato de um quadrado. Os alunos receberam uma folha de papel

retangular e foram questionados de que forma eles poderiam transformar o

retângulo em um quadrado. Em contrapartida alguns alunos deram a resposta

correta e o quadrado apareceu. Na sequência receberam a folha de papel circular,

cuja atividade causou um pouco mais de dificuldade, pois foi necessário iniciar os

movimentos dobrando ao meio duas vezes e marcar a linha unindo as duas pontas

para recortá-las.

Neste segundo encontro os conceitos geométricos observados nas

dobraduras foram sendo mencionados naturalmente. Responderam a atividade

proposta e construíram o origami do pato. Foi pedido que ilustrassem uma folha de

papel branca A4 com o origami construído e que produzissem uma frase poética.

Observe resultado na FIGURA 1.

FIGURA 1- Trabalhos apresentados FONTE: Arquivo pessoal

Com essas duas atividades observou-se o interesse dos alunos pelo

conhecimento dos conceitos que estavam sendo adquiridos, pois muitas perguntas

foram feitas, o que não ocorria anteriormente.

Por este início foi possível vislumbrar que os alunos podem melhorar seus

conhecimentos não apenas através de cópias de textos de livros didáticos,

explanações do professor e anotações tiradas do quadro-negro, mas também por

meio de atividades lúdicas.

A terceira atividade proporcionou aos alunos trabalhar com movimentos de

dobras no quadrado, verificando retas paralelas e retas concorrentes. Alguns alunos

perceberam que no quadrado as retas concorrentes perpendiculares e as retas

concorrentes oblíquas formavam ângulos de 90º em diferentes posições. Houve

muitas perguntas devido às curiosidades manifestadas pelos alunos sobre os

ângulos de 90º. Por exemplo, perguntaram se no retângulo as diagonais também

formavam ângulos de 90º. A resposta foi deduzida por eles mesmos quando foi

entregue uma folha retangular e pedido que realizassem os mesmos movimentos

das dobras do quadrado. Desta execução perceberam que não acontecia a

formação do ângulo reto com as diagonais do retângulo.

Devido às curiosidades apresentadas pelos alunos, que foram produtivas para

aprimorar o ensino aprendizagem dos conceitos geométricos, este encontro

demorou mais do que o previsto.

Em seguida foi feito o origami da cabeça do gato. Os alunos perceberam que

alguns movimentos de dobras eram os mesmos da atividade anterior. Uma

ilustração com frase poética foi produzida. Observe resultado na FIGURA 2.

FIGURA 2 – Trabalhos apresentados FONTE: Arquivo pessoal

Na quarta atividade os alunos receberam uma folha de papel colorida do tipo

color plus para desenharem alguns polígonos. Com auxílio de régua, transferidor e

compasso, construíram quadrado, retângulo, triângulo, paralelogramo, trapézio e

pentágono. Em seguida recortaram e colaram na folha de atividades.

Interagindo com a professora de Língua Portuguesa que já havia trabalhado

o acróstico e a poesia em sala de aula, de interesse do projeto, os alunos

produziram livremente alguns acrósticos com termos do cotidiano escolar.

Construíram o origami do catavento e perguntas sobre elementos geométricos

presentes nesta construção foram feitas no sentido de estimular a discussão e

identificar o aprendizado dos conceitos. Ilustraram uma folha de papel branca A4

com o catavento e uma frase poética. Veja a produção na FIGURA 3.

FIGURA 3 – Trabalho apresentado FONTE: Arquivo pessoal

Nesta etapa das atividades os alunos já estavam acostumados com as dobras

e a formação dos origamis. Perguntavam qual o origami da próxima aula para

trazerem algo pronto para ser corrigido e o trabalho ficar ainda mais bonito, havendo

preocupação da parte deles em obter um resultado estético agradável. E com isso a

probabilidade de que o trabalho estava correspondendo às necessidades propostas

no projeto aumentavam e, claro, os objetivos estavam sendo pouco a pouco

atingidos.

Para a quinta atividade foi entregue um texto em folha impressa sobre a flor

tulipa. Em seguida os alunos foram para o laboratório de informática pesquisar em

alguns sites sobre a flor e também ver algumas imagens. De volta à sala de aula

partiram para a construção da tulipa — flor, haste e o vaso. Foi possível identificar

durante a construção vários polígonos, retas paralelas e ângulos.

As produções com o origami e a poesia foram muito interessantes a partir do

momento que; movidos pela curiosidade, pela novidade, pelo próprio trabalho que

viam concretizados, pela abstração dos termos geométricos começarem aparecer

naturalmente na fala cotidiana da sala de aula; os alunos manifestaram melhor suas

próprias ideias nos trabalhos. Como um extra e a pedido dos alunos, foi construído o

origami do balão. Veja as produções da quinta atividade na FIGURA 4.

FIGURA 4 – Trabalhos apresentados FONTE: Arquivo pessoal

A sexta atividade, a construção do origami do coração, era muito esperada

pelos alunos. Através deste origami foram observados diagonais, ângulos, retas e

formação de polígonos. Confeccionaram um cartão, produziram a poesia e usaram a

criatividade individual para a finalização deste trabalho. Nesta atividade ainda foi

construído o origami extra do foguete. Ver FIGURA 5.

FIGURA 5 – Trabalhos apresentados FONTE: Arquivo pessoal

A sétima atividade era a vez do origami do avião caça. Os procedimentos

para a construção do avião caça seguiram sua normalidade, identificaram diagonais,

tipos de triângulos, retas paralelas, ângulos e outros polígonos. Quando terminaram

a construção foi lançado um desafio aos alunos: ir à quadra da escola verificar se o

avião caça levantava vôo. Entusiasmo imediato. Neste dia havia 17 alunos no

projeto e começaram a lançar seus aviões, porém ficaram decepcionados, pois o

avião caça não levantou vôo como esperado. Voltaram para a sala e fizeram outro

avião mais simples, desta vez, usando uma folha de papel retangular. Retornaram à

quadra e refizeram o mesmo procedimento do avião caça. Agora a alegria dos

alunos foi notória, pois o novo avião levantou vôo.

Estrategicamente aproveitando a iniciativa e o entusiasmo, e delimitando seu

tempo, seguiram para uma tarefa extra do dia. Individualmente cada aluno refez seu

lançamento para medir a distância até a queda com o auxílio de uma trena, e os

resultados estão indicados na TABELA 1.

Alunos Distância do lançamento

Alunos Distância do lançamento

1. Samilly 1,25m 10. Nayara 2,45m

2. Kimberly 2,35m 11. Karoline 3,60m

3. Joicielly 3,50m 12. Talita 4,30m

4. Fernanda 1,60m 13. Thaís 4,20m

5. Hawany 2,80m 14. Gabriel 5,50m

6. Larissa 4,25m 15. Davi 3,85m

7. Seoni 5,20m 16. Luan Daniel 5,80m

8. Maria Eduarda 4,50m 17. Wellington 4,75m

9. Emely 3,80m

TABELA 1: Medidas das distâncias do lançamento do origami do avião FONTE: Arquivo pessoal

Observaram as distâncias encontradas e foi comentado que com medidas

numéricas como estas, podem-se trabalhar conceitos matemáticos como perímetro,

área, potência, raiz quadrada e as quatro operações fundamentais — adição,

subtração, multiplicação e divisão — entre outros. Obstante a atividade extra com o

avião mais simples, visando os objetivos pré-estabelecidos para a atividade, os

alunos retornaram a sala de aula e utilizaram o origami do avião caça para produzir

um acróstico ou poesia e finalizar o trabalho.

Para a oitava atividade um vídeo sobre simetrias foi mostrado e em seguida

receberam um texto impresso com questionamentos sobre os tipos de simetrias.

Durante a construção do origami do cachorro foi observado tipos de retas, ângulos

internos e externos, simetrias e polígonos. Produziram a poesia sobre esse origami

e ilustraram na folha de papel branca A4. Houve tempo para um origami extra do

peixe. Ver FIGURA 6.

FIGURA 6 – Trabalhos apresentados FONTE: Arquivo pessoal

Encerradas as oito atividades planejadas, mais encontros foram necessários

para a construção do cubo — atividade especial — e apresentação de um dos

símbolos tradicionais de origami, o pássaro tsuru, na parte relacionada à curiosidade

prevista na Produção Didático-Pedagógica.

Como o origami do cubo escolhido necessitava de seis peças ou módulos

idênticos, feita a primeira peça, as demais ficaram prontas rapidamente, pois o grupo

estava mais hábil para efetuar as dobras. Na hora de montar o cubo, contudo, as

dificuldades foram maiores. Alguns até conseguiram formar o cubo no primeiro

momento, mas o encaixe não ficou perfeito. Com explicações e algumas tentativas o

cubo foi construído. Ver FIGURA 7.

FIGURA 7 – Trabalhos apresentados FONTE: Arquivo pessoal

Por curiosidade, um pouco das histórias sobre o pássaro tsuru foi comentada,

pois o tsuru é considerado por muitos, como símbolo do origami e carrega muitos

significados — trazer saúde, paz, felicidade e longevidade.

Dificuldades surgiram no passo a passo da construção deste origami, as

dobras não ficavam perfeitas, rasgos no papel e a formação do origami não se

concretizavam. Como o tsuru criou muitas expectativas, desde que mencionado no

primeiro encontro, os alunos não desanimaram. A tarde toda não foi suficiente para

que a construção do origami do pássaro ficasse perfeita. Por iniciativa dos alunos,

foram para casa com uma tarefa: praticar a construção do tsuru.

Na aula seguinte alguns alunos trouxeram o tsuru pronto e outros construíram

em sala. No entanto não foi possível montar o painel na forma de coração, como

planejado, pois não foi possível a formação dos 1000 tsurus, devido à dificuldade

enfrentada para sua construção.

Como uma experiência para verificar a possibilidade de aplicação da proposta

no turno normal, foi realizada trabalhos em sala de aula, no horário da disciplina de

Matemática, com as três turmas de 8ª série/9º ano. Os alunos receberam uma folha

de papel colorido color plus no tamanho 10 cm x 10 cm para efetuar dobras das

diagonais, perceberem a formação dos triângulos, identificarem retas paralelas e

ângulos. Os alunos de cada turma também receberam uma folha de papel colorido

color plus no tamanho 15 cm x 15 cm para construir um origami. O 9º ano A fez o

pingüim, o 9º ano B fez o barco e o 9º ano C fez o ratinho, onde, durante as

respectivas construções, percebeu-se a formação de alguns conceitos geométricos,

já citados.

Quando completaram essas instruções, foi entregue aos alunos uma folha de

papel branca A4 com um questionamento sobre o trabalho desenvolvido, um espaço

para colagem do quadrado 10 cm x 10 cm, um espaço para produção de um

acróstico da palavra quadrado, outro espaço para a colagem do origami e para a

escrita de uma poesia de forma livre. Observe trabalhos realizados na FIGURA 8.

FIGURA 8 – Trabalhos apresentados FONTE: Arquivo pessoal

O resultado foi bem-sucedido, todavia esse trabalho demorou quatro

horas/aula. Considerando o tempo e os conteúdos a serem dados na disciplina de

Matemática, a experiência coloca que estas atividades são importantes e podem ser

trabalhadas com planejamento, para que não fiquem desarticuladas do conteúdo,

contudo não se pode contar com essa ferramenta a todo o momento.

Encerrando a proposta de Intervenção Didático-Pedagógica, os trabalhos

desenvolvidos pelos alunos ficaram expostos em um mural, no saguão da escola,

onde os demais alunos e a comunidade pudessem observá-los. Ver FIGURA 9.

FIGURA 9 – Mural da escola FONTE: Arquivo pessoal

4 Resultados obtidos

O resultado desta Intervenção Didático-Pedagógica foi positivo, pois os

conceitos da geometria relacionados na proposta foram mais bem compreendidos e

a formação de acrósticos e poesia obteve sucesso. Também despertou no aluno

maior interesse pela leitura e produção de textos, além de desenvolver a criatividade

e realçar o conceito da interdisciplinaridade.

Os alunos desenvolveram atitudes de autonomia e cooperação durante as

atividades da proposta. O conhecimento sobre os conceitos geométricos foram

assimilados através dos movimentos das dobras e dos origamis, aperfeiçoando sua

aprendizagem.

A literatura faz referência ao estímulo e a fascinação que as atividades lúdicas

provocam no seu público alvo. As dobraduras, uma atividade lúdica, deram um novo

enfoque aos conceitos pré-estabelecidos fazendo com que o aluno apreenda-os pela

repetição dos movimentos e de forma prazerosa.

Os professores constatam que as dificuldades apresentadas pelos alunos em

ler e interpretar um problema esteja associadas a pouca competência que eles têm

para leitura, pois ler é um dos principais caminhos para ampliarmos a aprendizagem

em qualquer área do conhecimento. No trabalho realizado oportunizou mais leitura e

interpretação, fato importante que pode acontecer em todas as disciplinas.

A finalização de cada atividade proposta com a poesia precisou de leitura e

de escrita e, neste contexto, percebeu-se a importância da interdisciplinaridade com

Língua Portuguesa. A disciplina de Arte ficou contemplada no momento da ilustração

na folha de papel branca A4, bem como na própria ação de dobrar papéis para obter

novas formas ou significados uma vez que o origami é uma forma de arte.

Notou-se que os alunos adquiriram conhecimentos mais aprofundados em

geometria e trabalhavam melhor em grupos. As aulas também foram importantes

para o desenvolvimento cognitivo entre professor-aluno devido ao fato de que os

alunos ficaram mais a vontade para fazerem perguntas e tirarem dúvidas, mesmo

sem perceberem.

Trabalhar com atividades lúdicas o tempo inteiro com muitos alunos em sala

de aula sabe-se que é inviável, mas estabelecer critérios para explorar essa

ludicidade em alguns momentos é importante ao aluno. Aula planejada, com

objetivos claros, permite um conhecimento mais efetivo e favorece a descoberta,

assim o aluno sente-se confiante e motivado para aprender.

5 Conclusão

Atividades diferenciadas são interessantes e permitem oportunidades

diferentes de aprendizagem. A proposta apresentada nesta atividade lúdica pode ser

incorporada à prática pedagógica e ser trabalhada em todos os anos do ensino

fundamental e médio. O origami permite um trabalho fascinante, aliado com a

geometria, nos proporciona momentos de lazer com uma aprendizagem significativa.

É uma estratégia de ensino que favorece o trabalho em grupos, motiva a

participação, a interação e a construção do conhecimento.

Observou-se que projetos no contra turno, para se desenvolverem, requerem

disponibilidade de tempo, material adequado e disponível, espaço físico,

atendimento de exigências burocráticas, além da colaboração da comunidade

escolar.

Devido o interesse e a insistência dos alunos que participaram do projeto em

continuar o trabalho nas séries seguintes, há possibilidade de eventualmente,

dependendo do conteúdo, em realizar atividades com o origami em sala de aula.

6 Referências bibliográficas

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