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Lidia Eliane Canuto de Souza Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender: Trigonometria Ribeirão Pires 2010

Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

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Page 1: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

Lidia Eliane Canuto de Souza

Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender:

Trigonometria

Ribeirão Pires

2010

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Lidia Eliane Canuto de Souza

Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender:

Trigonometria

Trabalho de Conclusão do Curso de Licenciatura

Plena em Matemática, apresentado como exigência

parcial para a obtenção do titulo de Licenciada em

Matemática, nas Faculdades Integradas de Ribeirão

Pires, sob a orientação do Professor Mestre Marcelo

Dias Pereira.

Ribeirão Pires

2010

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Parecer dos Professores

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Dedico este trabalho à minha família, meu porto seguro. Às minhas irmãs Raquel,

Noemi, Vera e Maria as quais dedico o meu mais puro amor e são a razão de nunca ter

desistido das lutas que se apresentaram. À D. Jovelina Maria, minha mãe, pela ajuda e amor

incondicional. Ao Senhor Antonio Canuto, meu pai, por ter me ensinado a ser uma pessoa

integra. Ao meu irmão Naor, meu conselheiro. E aos meus irmãos Natanael e Neemias. Às

minhas cunhadas Marta, Sonia e Rafaela, por estarem sempre na torcida pela minha vitória. E

aos meus sobrinhos queridos.

Dedico também a todos os professores do Curso de Matemática, em especial ao

Professor Walter, que mesmo percebendo minha dificuldade na matéria em que ele lecionava

nunca deixou de acreditar em mim. À Professora Luiza, por seus ensinamentos, sua doçura e

palavras de ânimo. Ao Professor Francinildo por nos ensinar a ter orgulho de nossa profissão.

Ao Professor Gerson, por nos contagiar com sua paixão pela Matemática. E à Professora

Roseli, que foi em quem me inspirei no decorrer do curso: a mulher mais encantadoramente

inteligente que conheci.

Page 5: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

Agradecimentos

Em primeiro lugar, a Deus por ter me dado este presente, me ajudado em tudo e

preparado todo o necessário para que eu pudesse ver este sonho concretizado.

Agradeço à minha amiga e companheira de aventura Maria Célia de Souza por

ter acreditado em mim quando eu mesmo não acreditava. Pelos incontáveis finais de

semana que me aturou em sua casa no decorrer deste curso, quando por muitas vezes,

nem precisando estudar, ficava por horas me ensinando. Por todos os seus valiosos

conselhos que me deu entre um teorema e a descoberta de uma forma para resolver

algum exercício complicado.

Ao Professor Mestre Marcelo Dias Pereira, por ouvir minhas reclamações e

opiniões, mesmo quando fundamentadas em nada. Pelas vezes que conversávamos e eu

não conseguia achar as palavras certas e, mesmo assim, ele me entendia. Por me olhar

nos olhos, pelo respeito que demonstrou ter por mim. Pela paciência e profissionalismo

com o qual me orientou. E por me ensinar a gostar de Geometria.

A todos os funcionários e alunos da EMEF Desembargador Amorim Lima por

terem me recebido de forma tão generosa. Em especial a aluna Letícia, por sua

franqueza e amizade. E também a Professora Vilma Cristiane e Professora Solange

Maria, por me permitirem aprender grandes lições de humildade e amor ao magistério

no pouco tempo em que tive oportunidade de visitar a escola.

Ao Professor José Francisco de Almeida Pacheco, pelas palavras de animo

quando solicitei ajuda no encaminhamento deste trabalho e pelos textos que me enviou

os quais foram bastante elucidativos na minha pesquisa. Ao Professor Cristiano Silva,

coordenador da Escola da Ponte e ao Professor André Pacheco, ex- aluno desta escola,

que me deram a chance de vislumbrar a educação sobre outro prisma além do que

estava acostumada.

A todos os colegas que estiveram comigo durante o curso, os quais fizeram

desses anos a mais rica experiência da minha vida.

Page 6: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

Deus não escolhe os capacitados, mas capacita os escolhidos.

(Albert Einstein)

Page 7: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

Resumo

Iniciando com um breve passeio pela História da Trigonometria e depois abordando

alguns elementos que compõem a Trigonometria na Circunferência, o objetivo deste

trabalho foi criar e apresentar um ensaio de planejamento para o ensino deste conteúdo,

utilizando o conceito de autonomia e a linguagem natural para o desenvolvimento da

emancipação discente. Após participar como estagiária do Projeto Amorim Lima, na

Escola Municipal de Ensino Fundamental Desembargador Amorim Lima, baseado no

Projeto Escola da Ponte, de Portugal, da qual também obtive respostas a alguma

perguntas encaminhadas com relação a ensino e aprendizagem, abordo um pouco do

que aprendi com estas experiências, bases para que eu pudesse escrever e apresentar

uma sequência didática sobre Trigonometria na Circunferência, que tem como objetivo

principal a construção do conhecimento por meio da “descoberta”, através da linguagem

natural, inserindo-o em uma forma independente de estudo.

Palavras chaves: Trigonometria na Circunferência. Aprender a aprender. Linguagem

natural. Autonomia discente.

Page 8: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

INDICE DAS FIGURAS:

Figura 1: Distância Terra-Lua e distância Terra-Sol .................................................. 18

Figura 2: Revolução da Lua ............................................................................... 19

Figura 3: Eclipse Lunar ............................................................................................

20

Figura 4: Ângulos de visão da Lua na Terra......................................................................

20

Figura 5: Função corda .............................................................................................. 21

Figura 6: Função de meia corda ou seno...........................................................................

22

Figura 7: Triângulo esférico ....................................................................................... 24

Figura 8: Seqt .............................................................................................................

24

Figura 9: Sombra de um gnômom.............................................................................. 25

Figura 10: Circunferência e alguns elementos .............................................................

30

Figura 11: Corda e Diâmetro da Circunferência .......................................................

30

Figura 12: Arcos de Circunferência ............................................................................

31

Figura 13: Semicircunferências ....................................................................................

31

Figura 14: Arco nulo e Arco de uma volta ....................................................................

31

Figura 15: Sistema Cartesiano Ortogonal ..................................................................

33

Figura 16: Ciclo Trigonométrico: arco com medida negativa......................................

34

Figura 17: Ciclo Trigonométrico: arco com medida positiva......................................

34

Figura 18: Arco de medida um radiano .....................................................................

35

Figura 19: Arcos notáveis do ciclo trigonométrico e seus múltiplos: em graus e em

radianos ..................................................................................................................

36

Figura 20: Esboço dos eixos trigonométricos .........................................................

38

Figura 21: Seno, cosseno, tangente e cotangente....................................................... 39

Figura 22: Secante e cossecante ..............................................................................

40

Figura 23: Foto da área externa da escola ..................................................................... 66

Figura 24: Foto da Oca construída na área externa da escola .......................................

66

Figura 25: Pátio da escola .............................................................................................

69

Figura 26: Realização de trabalhos manuais .................................................................

71

Figura 27: Painel da festa da cultura realizada em 2009 ...............................................

78

Figura 28: Signos ..........................................................................................................

82

Figura 29: A importância dos signos ...........................................................................

81

Figura 30: Materiais necessários ...................................................................................

91

Page 9: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

Figura 31: Medindo a largura da garrafa ....................................................................

92

Fonte 32: Mostrador de horas ......................................................................................

92

Figura 33: Colando o mostrador de horas ....................................................................

93

Figura 34: Furando a garrafa .......................................................................................

93

Figura 35: Criando o ponteiro .......................................................................................

94

Figura 36: Ponteiro .......................................................................................................

94

Figura 37: Triângulo retângulo ...................................................................................

95

Figura 38: Retângulo ..................................................................................................

95

Figura 39: Suporte ......................................................................................................

95

Figura 40: Suporte ......................................................................................................

96

Figura 41: Suporte .......................................................................................................

96

Figura 42: Representação do relógio solar ...............................................................

97

Figura 43: Primeiras civilizações ..............................................................................

99

Figura 44: Perímetro da Terra ....................................................................................

104

Figura 45: Circunferências circuncêntricas ................................................................

106

Figura 46: Eixos cartesianos ......................................................................................

106

Figura 47: Semirreta OP ............................................................................................. 107

Figura 48: Retas v e z .................................................................................................

107

Figura 49: Pontos de intercecção ..............................................................................

108

Figura 50: Triângulos OBC e OPD ............................................................................

108

Figura 51: Modelo de Ciclo Trigonométrico ..............................................................

108

Page 10: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

SUMÁRIO

Introdução

....................................................................................................................................

12

Capítulo 1: Um pouco de história da Trigonometria

1.1. O estudo das relações existentes nos triângulos .............................................................. 15

1.2. Ângulos ........................................................................................................................... 15

1.3. Bases para uma nova ciência .......................................................................................... 16

1.4. Medida angular ................................................................................................................. 17

1.5. Importantes descobertas pré-trigonométricas ................................................................. 17

1.6 O uso sistemático da Trigonometria ........................................................................ 21

Capítulo 2: Um pouco de Trigonometria

2.1. O que é Trigonometria? .......................................................................................... 29

2.2. Qual Trigonometria? ............................................................................................. 29

2..2.1. Circunferência, centro e raio ................................................................................... 29

2.2.2. Corda e Diâmetro ...................................................................................................... 30

2.2.3. Arco de Circunferência e semicircunferência ......................................................... 31

2.2.4. Medida (ou perímetro) de uma Circunferência ........................................................ 32

2.2.5. Sistema Cartesiano Ortogonal .................................................................................. 33

2.2.6 Ciclo trigonométrico e medidas de Arcos ................................................................. 34

2.2.7.Como converter graus em radianos e radianos em graus? ................................. 35

2..2.8. Seno, cosseno, tangente, cotangente, secante e cossecante no Ciclo

Trigonométrico. ........................................................................................................

....................

37

Capitulo 3: Aprender a aprender e ensinar a aprender................................................. 41

3.1.Heteronomia ...................................................................................................................... 42

3.2.Autonomia ......................................................................................................................... 44

3.3.O processo de passagem da heteronomia para a autonomia ........................................... 45

3.4.Considerações sobre a linguagem das grandezas ............................................................. 50

3.5. Aprender a aprender Matemática: a importância da aquisição da linguagem das

grandezas para a autonomia discente.............................................................................

52

Capitulo 4: Autonomia: Como ela pode funcionar na prática?

4.1. Lembranças ..................................................................................................................... 56

4.2 As escolas nos dias atuais ................................................................................................ 56

4.3. Vivência de uma professora ............................................................................................. 58

4.5. E a emancipação? ................................................................................................... 59

Page 11: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

4.6. Escola da Ponte ............................................................................................................... 60

4.7. EMEF Desembargador Amorim Lima .................................................................... 63

Capitulo 5: Linguagem Natural: Como utilizá-la nas

aulas de Matemática em prol da autonomia discente?........................................................

81

5.1. Sequência Didática sobre Trigonometria na Circunferência .................................. 84

Considerações finais ............................................................................................................ 114

Referências Bibliográficas ................................................................................................ 116

Anexos ............................................................................................................................. 119

Page 12: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

12

INTRODUÇÃO

Existia uma cidade distante na qual os habitantes não tiveram acesso à alfabetização.

Nesta cidade morava uma dona de casa muito prendada, chamada Maria. Maria adorava

cozinhar, mas seu conhecimento nesta área era escasso, resumindo-se às receitas que ela

tinha visto sua avó e sua mãe fazer.

Na cidade onde ela morava, instalou-se uma fábrica de açúcar. Para estimular suas

clientes a exercer a arte da culinária esta empresa abriu uma pequena escola de culinária

onde deixou à disposição de suas clientes uma instrutora que ensinava a estas mulheres

diversas receitas. As mulheres da cidade ficaram bastante contentes com a novidade.

Maria também ficou contente, mas havia um pequeno porém que a entristecia: a

empresa que disponibilizou a instrutora produzia somente açúcar. Não era prioridade para

ela que suas clientes aprendessem receitas salgadas.

Ela bem que tentou perguntar para a instrutora sobre as receitas salgadas, mas, todas

as vezes, a instrutora protelava a resposta, porque tinha seu tempo escasso e havia muitas

outras receitas doces para ensinar.

Por vezes Maria sentia vontade de preparar um prato salgado, olhava para um livro

de receitas que tinha lindas ilustrações destes pratos, mas, como não sabia ler, ficava difícil

compreender o que estava escrito nele. Então Maria, conformada, pôs-se a preparar um

prato doce...

Será justo que Maria tivesse seu conhecimento reduzido ao que é interessante para a

empresa de açúcar? (Lidia Eliane)

A situação apresentada é apenas imaginária, mas pode perfeitamente ilustrar a situação

existente entre os alunos e o ensino de Matemática. Ao iniciar sua vida escolar, a maior parte

dos alunos não sabe ler nem escrever. Em muito pouco tempo aprendem a ler e a escrever no

idioma do seu país.

Ao aprender a ler adquire algo como “um passaporte para um novo mundo” e o seu

olhar se abre para infindas possibilidades.

Estudar quase todas as disciplinas torna-se algo fácil, é só observar as ilustrações dos

livros, ler o que está escrito neles e pronto: aos poucos aprender qualquer disciplina torna-se

algo agradável.

Page 13: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

13

Com a Matemática isto não ocorre. Ela possui uma linguagem própria, rica em

símbolos, os quais, geralmente, não usamos ao escrever em nossa língua materna no dia a dia.

O Professor, ao ensinar a Matemática, tem uma grande responsabilidade: ensinar os

conceitos, os procedimentos e as atitudes dos conteúdos mínimos sugeridos pelos documentos

que regem a Educação que, às vezes, pela dificuldade da turma, mal cabem na sua carga

horária.

Mesmo que o aluno sinta vontade de aprender mais sobre Matemática e peça

explicação sobre outro conteúdo, alguns professores podem protelar a resposta, por estarem

despreparados para sanar a dúvida do aluno, por falta de tempo, pela indisciplina na sala de

aula ou, talvez, por não considerar importante ensinar nada além do que está no plano de

ensino.

Fato é que, se este aluno não conseguir que alguém o ensine, mesmo que ele tenha

acesso aos meios de obter este conteúdo, como internet ou livros de Matemática, não

conseguirá estudar sozinho, simplesmente porque não sabe ler Matemática.

Uma coisa é alguém ler um livro e ensinar uma criança o que está escrito nele. Outra

coisa é alguém ensinar a criança a ler este livro. Quando o assunto é Matemática, não se tem

usado ensinar as crianças a lerem os livros.

Será justo que um aluno tenha o seu conhecimento matemático reduzido a fatores

como a disponibilidade de um professor, ou ao desenvolvimento médio da sua classe, ou ao

que foi estipulado por qualquer instituição, seja ela estadual municipal ou iniciativa privada,

de acordo com interesses que nem sempre são os mesmos deste aluno?

Esta é uma questão discutida por Hogben (1970, p.20):

Três séculos já são passados desde que os livros eram escritos em latim e se

abriram escolas a fim de que o povo pudesse ler diretamente a bíblia como

um livro aberto. Já é tempo de uma nova reforma. O povo precisa aprender a

ler e escrever a linguagem das medições, para que consiga compreender a

Bíblia aberta da ciência moderna.

A grande maioria da população dos países civilizados não sabe nem ler, nem

escrever desembaraçadamente a linguagem das grandezas, do mesmo modo

que a maioria dos contemporâneos de Wycliff e Lutéro ignorava latim,

língua em que se tratavam as controvérsias religiosas. Mas o Diderot

moderno precisa aprender a linguagem das grandezas como medida de

Page 14: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

14

autodefesa, porque nenhuma sociedade estará em segurança se confiada

inteiramente aos mais sabidos.

Apresentadas as reflexões acima, o presente Trabalho de Conclusão de Curso tem

como objetivo pesquisar sobre as barreiras enfrentadas pelas novas gerações para

compreender os conceitos matemáticos e, através do estudo da Trigonometria, área da

Matemática que exige uma grande abstração e capacidade de assimilar novas linguagens e

códigos, pesquisar formas possíveis de estimular o aluno a adquirir autonomia na busca pelo

conhecimento.

Entendo que o mundo atualmente está em constante estado de transformação e a

Educação Matemática é uma ferramenta importante para que o cidadão possa viver com

dignidade essas mudanças e se posicionar de forma crítica diante delas. Portanto, anseio, com

o auxilio do estudo da Trigonometria, área da matemática que exige uma grande abstração e

capacidade de assimilar novas linguagens e códigos, através deste trabalho, buscar e propor

formas de auxiliar o aluno a aprender a aprender, para que possa estar apto a adquirir novos

conhecimentos e lidar com os recursos tecnológicos existentes e que possam a surgir.

Para ir ao encontro desse anseio e atingir o objetivo exposto acima, este Trabalho de

Conclusão está estruturado da seguinte forma: um capítulo que trata um pouco da História da

Trigonometria, o capítulo 1; o capítulo 2 que aborda alguns elementos que compõem a

Trigonometria na Circunferência; o capítulo 3 que trata da autonomia e a importância do uso

da linguagem natural para auxiliar os alunos na aprendizagem; o capítulo 4, que aborda duas

experiências de aplicação de projetos pedagógicos visando o estímulo e a emancipação

discente: o Projeto Escola da Ponte, em Portugal, e o Projeto Amorim Lima, no Brasil; e o

capítulo 5, que apresenta um ensaio de programa de ensino e aprendizagem de Trigonometria

na Circunferência, estruturado em prol da autonomia discente.

Page 15: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

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CAPÍTULO 1: UM POUCO DE HISTÓRIA DA TRIGONOMETRIA

1.1. O estudo das relações existentes nos triângulos

O estudo das relações existentes nos triângulos surgiu com a necessidade de se medir

distâncias inacessíveis, provocado pelo avanço da Astronomia, da Agrimensura e da

Navegação. Não se sabe ao certo onde ele surgiu, mas há registros de que as descobertas

provocadas por ele já eram utilizadas no ano 3000 a.C.

O estudo das relações existentes nos triângulos era tão necessário para o

desenvolvimento da Astronomia, que só no século XIII passou-se a tratar esse campo do

conhecimento como assunto distinto.

O uso formal desta “ciência” só começou a ser feito quando Hiparco de Nicéia, no ano

150 a.C., produziu uma tabela com valores de cordas dos ângulos de meio em meio grau, um

dos principais elementos do estudo da Trigonometria.

1.2. Ângulos

O estudo de ângulos, sendo este atualmente definido como a união de um par de

semirretas de mesma origem, não contidas numa mesma reta (Rezende; Queiroz, 2000, p. 21)

surgiu, provavelmente como contam os historiadores, da necessidade de medir o tempo.

No início da civilização os homens eram nômades e viviam da caça e da colheita de

frutos silvestres. Com o passar do tempo passaram a fixar residência próxima às margens de

rios da Ásia, como o Eufrates, o Gandes e o Nilo. Quando começaram a criar animais e a

cultivar plantações para sobrevivência, surgiu a necessidade de registrar a passagem do

tempo, pois há animais que só se reproduzem e culturas que só nascem em determinadas

épocas do ano. Além disso, as margens destes rios passavam por épocas de cheia nas quais a

população do lugar não podia plantar. Quando as cheias acabavam, o solo destas margens

tornava-se ótimo para o cultivo.

Um instrumento muito utilizado na antiguidade para medir o tempo era o relógio de

sol. Ele era inicialmente constituído com uma vareta posicionada de forma vertical com o solo

e sob a luz solar. Esta vareta recebeu o nome de gnômom.

Ao observar a sombra produzida pelo gnômom percebeu-se que seu comprimento

variava conforme a hora do dia. Desta forma dava para acompanhar a passagem do tempo

pela variação do comprimento da sombra.

Page 16: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

16

O eixo de rotação da Terra possui uma ligeira inclinação em relação à elipse formada

pela sua translação. Esta é a causa de algumas variações na posição aparente dos seres

celestes e das quatro estações climáticas. Por este motivo a sombra mais curta produzida pelo

gnômom, a sombra da metade do dia, não tinha seu comprimento constante: sofria uma

pequena variação com o passar dos dias. Ficava mais curta nas épocas quentes e mais

comprida em épocas frias. Ao observar o ângulo formado por esta sombra e o gnômom podia-

se prever quanto tempo faltava para época das cheias, planejar a época propicia para a

colheita e já preparar o plantio para quando as águas baixassem. De acordo com Hogben

(1970, p.54), a medição de ângulos, provavelmente ocorreu antes da medição de

comprimentos: “A necessidade de mediações exatas surgiu, naturalmente, da prática de

registrar o tempo, pré-requisito essencial para a vida metropolitana. É quase certo que o

homem aprendeu a medir ângulos muito antes de se dar ao trabalho de medir comprimentos.”

1.3. Bases para uma nova ciência

A utilização da Trigonometria intensificou-se a partir do seu embasamento em

conceitos geométricos. A relação existente entre a altura do gnômom e a sombra produzida

por ele era também utilizada para medir alturas as quais não se tinha acesso. Utilizando-se do

conhecimento geométrico sobre semelhança de triângulos podia-se medir as razões entre os

comprimentos das sombras e comparar com as alturas do gnômom e do objeto a ser medido.

No Papiro Ahmes, escrito, aproximadamente, em 1650 a.C. e encontrado no Egito,

existem indicações dos primeiros indícios do uso das razões entre os lados de um triângulo

retângulo. Nele há 84 problemas que se referem a estas razões.

Sabe-se que Tales de Mileto (640-549 a.C.), um dos primeiros matemáticos a escrever

sobre Geometria, se dedicava ao estudo das relações existentes entre os triângulos

semelhantes. Ele se utilizou deste conhecimento para calcular o valor da altura da pirâmide

Quéops.

A Pitágoras (570-495 a.C), aluno de Tales, apesar de controvérsias, é atribuída a

descoberta do teorema que afirma que a soma do quadrado das medidas dos lados menores de

um triângulo retângulo é igual ao quadrado da medida do seu maior lado, teorema do qual

surgiu uma importante relação trigonométrica: sen2 x + cos2 x = 1, conhecida como Relação

Trigonométrica Fundamental.

Page 17: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

17

1.4. Medida angular

As primeiras tentativas feitas pelos babilônicos para medir a duração de um ano,

através das anotações feitas sobre as observações do comprimento das sombras do gnômom,

os levaram a concluir que o solstício de verão e o solstício de inverno ocorriam,

aproximadamente, a cada trezentos e sessenta dias.

Segundo Hogben (1970, p.59) “não resta dúvida de que destas trezentas e sessentas

divisões naturais do passeio do Sol pelo arco descrito em sua trajetória circular completa, se

originou o grau”, utilizado como medida de ângulos e de arcos. Acredita-se que foi Hipceclis

(180 a.C.) que escreveu a primeira obra considerando o uso do grau.

Já a utilização do radiano1 surgiu da necessidade de uma nova medida angular para

simplificação de fórmulas matemáticas e físicas. Essa unidade de medida angular foi

utilizada, primeira vez, pelo físico James T. Thomson, em 1873, e sua apresentação pública

foi feita no livro Algebra Identified with Geometry (Álgebra identificada com Geometria),

escrito em Londres, no ano de 1874 por Alexander J. Ellis.

1.5. Importantes descobertas pré-trigonométricas

O conhecimento a respeito da sombra do gnômom também produziu descobertas

importantes, como o valor do comprimento da circunferência da Terra. Eratóstenes (276 -194

a.C.), um astrônomo que nasceu em Sirene e com 40 anos foi trabalhar como bibliotecário

chefe na cidade de Alexandria, ao pesquisar nos livros, ficou sabendo que no dia 21 de junho,

dia do solstício de verão na cidade de Sirene, ou seja, o dia mais longo do ano, a luz do Sol

refletia, ao meio dia, no fundo de um poço. Isso significava que o Sol e o poço estavam

alinhados e que a sombra de um gnômom, naquele horário, não existiria. Observou que, nesta

mesma hora, em Alexandria, uma torre projetava uma sombra que, através de um

equipamento chamado astrolábio, indicava um ângulo de 7,2o com relação à torre. Para

Eratóstenes, este era um indicativo de que a Terra era esférica. Caso contrário, a sombra da

torre não existiria também. Sabendo que a distância entre Siene e Alexandria era igual a 5.000

estádios e que 7,2º corresponde a 1/50 da medida total do arco de uma circunferência, ele

chegou à conclusão que o perímetro da circunferência da Terra era igual a 250.000 estádios,

ou seja, 50 vezes a distância entre Sirene a Alexandria.

1 As definições de grau e radiano como unidades de medida de um arco são apresentadas no próximo capítulo

Page 18: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

18

Aristarco de Samos (310-230 a.C.) foi o primeiro cientista a propor a existência de um

sistema heliocêntrico, onde os planetas giram em torno do Sol. Ele se dedicava a pesquisar a

distância existente entre a Terra e a Lua ( e a distância existente entre a Terra e o Sol

( .

Os instrumentos utilizados por Aristarco eram muito rudimentares, o que motivou

algumas imprecisões nas medidas encontradas por ele. Mas o método que ele utilizou estava

correto e era sinal de boas novas para a ciência. Por isso, suas descobertas foram muito

importantes e merecem ser citadas na História da Trigonometria.

Para alcançar seu objetivo Aristarco passou a guardar informações obtidas em suas

pesquisas. Tais informações foram registradas na obra De Magnitudinibus et Distantiis Solis

et Lunae (Sobre as Dimensões das Distâncias do Sol e da Lua).

Dentre as informações escritas por Aristarco, constam:

1ª informação: A distância existente entre o Sol e a Terra é vinte vezes maior que a

distância existente entre a Lua e a Terra.

Figura 1: Distância Terra-Lua e distância Terra-Sol

Fonte: www.zenite.nu

Aristarco havia percebido que quando a Lua está na fase quarto crescente ou quarto

minguante os feixes de raios solares são perpendiculares a uma reta que contem um ponto no

centro da Terra (ponto T) e outro no centro da Lua (ponto L). Ele percebeu que se pudesse

traçar um triângulo com um vértice em L, um vértice em T e o terceiro vértice no centro do

Sol (ponto S), este triângulo seria retângulo em L.

Para medir o ângulo interno pelo vértice T do triângulo TLS, Aristarco observou que a

passagem da Lua da fase quarto crescente para a fase quarto minguante durava cerca de 14

dias e seis horas. Considerando que a Lua passa pela reta TS na metade deste percurso, ela

demora 7 dias e 3 horas para passar por esta reta. A revolução, movimento que a Lua realiza

ao redor da Terra, dura cerca de 29 dias e meio. Sabendo que 360º equivale à circunferência

da Terra, temos:

Page 19: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

19

( ) ( ) 87x59.8

57.720x

57

x8

59

720x360

dias7

grausx

dias29

graus360

857

259

81

21

≅⇔=⇔=⇔=⇒+

=+

Figura 2: Revolução da Lua

Fonte: Silveira, s.d.

Os cálculos de Aristarco indicaram que a medida do ângulo STL era,

aproximadamente, 87º. Sabendo ele que a soma das medidas dos ângulos internos de um

triângulo é igual 180º, concluiu que o ângulo TSL media, aproximadamente 3º.

Aristarco também sabia que quando dois triângulos possuem os três ângulos

correspondentes congruentes, eles são semelhantes e, em triângulos semelhantes, as razões

entre as medidas dos lados correspondentes são todas iguais. Sendo assim, ele construiu um

triângulo T’L’S’ de ângulos L' igual a 90º, T’ igual a 87º e S’ igual a 3º, com lados 'T'L e

'T'S conhecidos. Calculou a razão existente entre os comprimentos destes lados, encontrando

20'T'L

'T'S= .

Chegou, então, à conclusão de que LT.20ST = , pois se chamasse de k a razão

existente entre os pares de segmentos correspondentes 'T'L e LT e 'T'S e ST , chegaria à

igualdade 'T'L

'T'S

LT

ST= , conforme segue:

Se kLT

'T'L= e k

ST

'T'S= , então ⇔=⇔=

'T'S

1.

ST

'T'S

LT

'T'L.'T'S

1

ST

'T'S

LT

'T'L

ST

LT

'T'S

'T'LLT.

ST

1

LT

'T'L.'T'S

1.LT

ST

1

LT

'T'L.'T'S

1=⇔=⇔=⇔

Page 20: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

20

Atualmente sabe-se que a medida do ângulo STL é 89,85º, o que implica na medida

de 0,15º para o ângulo TSL . Isso nos leva à conclusão de que a distância entre a Terra e o Sol

é, aproximadamente, 380 vezes a distância entre a Terra e a Lua.

2ª informação: O comprimento do diâmetro da Lua é, aproximadamente, 3

1 do

comprimento do diâmetro da Terra.

Figura 3: Eclipse Lunar

Fonte: www.ccvalg.pt/astronomia/sistema_solar/lua.htm

Aristarco percebeu esta relação, observando a sombra produzida pela Terra sobre a

Lua, durante os eclipses lunares. Atualmente se sabe-se que o diâmetro da Lua é,

aproximadamente, 100

27 do comprimento do diâmetro da Terra.

3ª informação: O triângulo formado por um ponto A aqui na Terra e pelas

extremidades B e C de um diâmetro da Lua possui os ângulos CBA e BCA medindo

( )º89 41+ e o ângulo CAB medindo ( )º2

1 .

Figura 4: Ângulos da visão da Lua na Terra

Fonte: Silveira, s.d.

Outras informações registradas:

• O diâmetro da Lua é igual a 1/720 da órbita dela ao redor da Terra;

• O diâmetro da Terra é igual a 1/3 do diâmetro da Lua.

Page 21: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

21

• A distância entre a Terra e a Lua é aproximadamente igual a 115 vezes o diâmetro

da Lua: conhecendo o valor da razão entre o comprimento de uma circunferência e

o comprimento de seu raio, aproximadamente 7

22 de acordo com Arquimedes, ele

estabeleceu a seguinte relação: fazendo TLD a distância entre a Terra e a Lua e dl o

diâmetro da Lua, temos: dl.115D44

7.dl.720Ddl.720D.

7

22.2 TLTLTL ≅⇔=⇔= .

1.6. O uso sistemático da Trigonometria

Inicialmente, a Trigonometria não era vista como uma ciência e sim como uma

ferramenta auxiliar no estudo da Astronomia. Conforme foi se desenvolvendo ela passou a

servir de base para o aprimoramento de diversas áreas do conhecimento.

O matemático responsável pela sistematização do uso deste novo ramo da Matemática

foi o grego Hiparco de Niceia (180-125 a.C.).

A Trigonometria no tempo de Hiparco baseava-se em uma única função denominada

função corda, que relacionava o ângulo formado por duas semirretas r e s, ambas com origem

no centro de uma circunferência α, com o comprimento do segmento de extremidades A e B,

respectivamente determinados pelas intersecções das semirretas r e s com a circunferência α.

Figura 5: Função corda.

Ele construiu uma tabela de função corda dos valores de meio em meio grau, até 180o,

que representou um grande avanço para os estudos astronômicos.

Page 22: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

22

Os primeiros mapas construídos pelos homens foram os mapas estelares. Hiparco foi

responsável pela construção de um mapa que continha a posição de mil e oitenta estrelas

fixas. Antes da construção das tabelas, os cálculos envolvendo medidas astronômicas eram

muito complicados e, com as tábuas contendo o valor das cordas, tornaram-se menos

trabalhosos. Esse feito concedeu a ele o direito de ser considerado o pai da Trigonometria.

Existem indícios que Hiparco já sabia dos processos que equivalem a várias fórmulas

empregadas hoje na resolução de problemas ligados à trigonometria, como a Relação

Trigonométrica Fundamental.

Segundo Eves (2004, p. 202) como nenhum dos escritos de Hiparco chegou até nós,

tudo o que se sabe sobre suas realizações cientificas provém de fonte indireta. Entre os

matemáticos que escreveram sobre os feitos de Hiparco está Claudio Ptolomeu (85-165). Em

sua obra, o Almagesto, existe uma tábua de cordas compilada de Hiparco.

Ptolomeu foi um dos mais notáveis matemáticos da sua época. A Syntaxis

Mathemática (Coleção Matemática), escrito por ele, foi um dos mais importantes trabalhos

escritos até o inicio da era cristã. Nesta obra, chamada de Almagesto (O maior, na língua

árabe) havia o uso dos termos grau, minutos

graude

60

1 e segundos

graude

3600

1.

Entre os séculos I e XV, a Índia, tinha domínio de um terço da economia mundial.

Nesta época, vários campos do conhecimento encontraram terreno fértil para evoluírem, como

a Engenharia, a Ciência e a Astronomia. Ao tentar aperfeiçoar o uso da função corda para que

pudesse ser utilizada de forma mais eficiente no estudo destas áreas do conhecimento, os

indianos revolucionaram o uso da Trigonometria. Passaram a utilizar funções relacionando

comprimentos de segmentos dos segmentos de retas que compõem as cordas. Sentiram, então,

a necessidade de cortar o segmento de extremidades A e B, da função corda, ao meio. Nasceu,

assim, a função meia corda, conhecida hoje como função seno, que possibilitou a ampliação

do campo de atuação da Trigonometria.

Figura 6: Função de meia corda ou seno.

Page 23: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

23

Brahmagupta (628) é o autor da obra Brahmasphuta (Tratado de Astronomia Brama)

que possui uma tabela de senos com uma exposição minuciosa da forma de se montar uma

tabela de senos.

Por sua vez, o povo árabe, antes do século VI, residia em tribos, sem que houvesse

uma forma de governo unificado que o representasse. Essas tribos viviam da criação de

animais e do comércio.

Por volta do ano 570 nasceu Maomé que pregou o islamismo, religião que acreditava

no monoteísmo, com o desprezo de outros deuses. Meca, cidade onde se cultuava vários

deuses, era também o principal centro comercial dos árabes. Seus moradores, temendo perder

seus compradores, começaram uma perseguição a Maomé que acabou fugindo para Medina

(Cidade do Profeta).

Com sua fuga, Maomé começou a incentivar seus fiéis e se expandirem e dominar

outros territórios. O povo árabe conquistou várias regiões da Ásia Ocidental, contribuindo

para o desenvolvimento da Matemática.

Os árabes se apropriaram dos conhecimentos gregos e hindus, fazendo um trabalho de

conservação e tradução das obras produzidas por esses povos, possibilitando que esses

conhecimentos chegassem até o dia de hoje. Com isso, tiveram, conforme Eves (2004, p.

260), grande importância como divulgadores da Geometria, elemento básico para a

Trigonometria: “O papel importante desempenhado pelos árabes em geometria foi mais de

preservação do que de descoberta. O mundo lhe deve um pleito de reconhecimento por seus

esforços continuados para traduzir satisfatoriamente os clássicos gregos”.

Outra contribuição que os árabes deram para a Trigonometria foi a compilação de uma

tabela de seno reverso: ( )AcosR − , onde R corresponde à medida do raio da circunferência

que contém o arco cujo seno foi obtido.

O matemático Al-Battâni, por sua vez, construiu uma tabela de valores para cossenos,

utilizando-se das fórmulas Acos.senc.senbccos.bcosacos += , aplicada nos triângulos

esféricos de vértices A, B e C e senA.bcosBcos = , aplicada nos triângulos esféricos de

vértices A, B e C, retângulos em C.

Page 24: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

24

Figura 7: Triângulo esférico.

Fonte: www.if.ufrgs.br/.../fis2005/textos/esferast.htm

Foi Al-Battâni que construiu a primeira tabela trigonométrica na qual não era de uso

exclusivo da Trigonometria, mas ao uso da Álgebra.

Ao povo árabe é creditado o uso das seis funções trigonométricas: funções seno,

cosseno, tangente, secante, cossecante e cotangente.

Com relação às funções tangente e cotangente, Kennedy (1997, p. 41) cita que no

Papiro Rhind (1650 a.C.) há um problema que fornece as dimensões de uma pirâmide

quadrada e pede o seqt, que é a razão entre comprimento do apótema da base da pirâmide (a)

dividida pelo comprimento de sua altura (b).

Figura 8.:Seqt

Fonte: www.egiptologia.org/.../papiro_rhind.htm

Esta relação é equivalente à função que damos o nome de cotangente.

As primeiras tabuas produzidas que possuíam anotações sobre o comprimento de uma

sombra produzida por um gnômom, usadas no Egito já em 1500 a.C, eram os primeiros sinais

do surgimento das funções tangente e cotangente.

Page 25: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

25

Figura 9: Sombra de um gnômom

Na Figura 9, o segmento de reta b, representa um gnômom vertical e o segmento de

reta a representa sua sombra. O segmento d representa um gnômom horizontal e o segmento c

a sua sombra.

A razão existente entre os comprimentos a e b, nesta ordem, é equivalente a

cotangente do ângulo formado pelos raios solares e a horizontal. A razão entre os

comprimentos dos segmentos c e d, nesta ordem, representa a tangente do ângulo formado

pelos raios solares e a horizontal.

Desde a morte de Maomé seus discípulos se encarregaram de propagar o islamismo

por toda a Europa e Ásia, tendo êxito em seus planos de expansão da fé islâmica. Do ano 650

ao ano 1050 ocorreu a era considerada a “Idade de Ouro” do Islã. Foi neste cenário que

nasceu Al-Biruni (973-1048), natural do Uzbequistão, considerado um dos maiores cientistas

de todos os tempos.

Entre as contribuições de Al-Biruni para o estudo da Trigonometria, está a introdução

do uso da função tangente como a razão entre o seno e o cosseno. Juntamente com Abu’l-

Wefa, ele iniciou a utilização, em suas obras, do ciclo trigonométrico de raio igual a uma

unidade. Mas os matemáticos da época ainda tinham dificuldade em trabalhar com números

decimais, por esse motivo, não fizeram uso desta nova notação até a Idade Média.

Por volta de 1050, o Império Islão começou a perder sua força, sendo combatido por

diversas nações.

Nasîr Ed-din (1201-1274) era um matemático árabe que trabalhava em Bagdá. Ele

estava descontente com sua ocupação de astrólogo do governador e planejou fugir da corte,

mas teve seus planos descobertos e foi aprisionado.

Quando em 1256 os mongóis intentaram tomar a cidade de Bagdá, que tinha tornado-

se a capital sede do islamismo, Nasîr foi libertado por eles em troca de ajudá-los a derrubar as

defesas da cidade.

Page 26: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

26

Em 1258 ocorreu a queda do Império Árabe e os mongóis assumiram a cidade de

Bagdá. O chefe dos mongóis, em reconhecimento a ajuda de Nasîr, construiu para ele um

observatório de Astronomia, onde ele tinha acesso a mais de quatrocentos mil livros e todo

material que precisava para realizar suas pesquisas. Ele dedicou-se a pesquisar a respeito das

seis funções trigonométricas. O fruto de suas pesquisas foi a obra “Tratado sobre

quadriláteros”, onde, pela primeira, vez a Trigonometria foi tratada como um assunto

independente da Astronomia.

Por volta do ano 1430, com a invenção da imprensa, a expansão do conhecimento a

toda a população possibilitou que os cientistas e pesquisadores europeus pudessem ter acesso

aos estudos indianos e árabes para, assim, basear e escrever suas obras.

O primeiro matemático europeu a escrever sobre o arco-metade, com precisão, foi

Joham Muller (1436-1476), conhecido como Regiomontanus. Ele foi discípulo de Georg Van

Peurbch (1423-1461), matemático que construiu a primeira tabela de senos, fazendo uso dos

algarismos hindo-arábicos, que teve sua utilização difundida na Europa pelo matemático

Leonardo Fibonaci (1170-1250).

Peurbach se dedicava à tradução de clássicos indianos como o Almagesto. Ao

perceber que estava perto de sua morte incumbiu seu discípulo Regiomontanus de concluir

seu trabalho.

Regiomontanus continuou os estudos do seu mestre, até chegar a superá-lo com suas

obras. Entre seus trabalhos mais importantes está “De triângulos Omnimodis” (Triângulos de

todos os tipos), publicado em 1533. Nesta obra ele escreveu sobre Trigonometria Plana,

Geometria e Trigonometria Esférica.

Nela, continha a lei dos senos e dos cossenos para triângulos esféricos:

senC

senc

senB

senb

senA

sena==

e

Acos.senc.senbccos.bcosacos +=

Continha, também, as relações equivalentes para a trigonometria plana:

senC

c

senB

b

senA

a==

e

Acos.bc2cba 222 −+=

Page 27: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

27

Esta obra de Regiomontanus influenciou a substituição dos números sexagesimais

pelos números decimais nas tabelas trigonométricas que foi de grande utilidade no

desenvolvimento da Trigonometria e sua utilização no estudo da Álgebra e da Geometria.

Com relação à Trigonometria no triângulo retângulo, Georg Joachim Iserin (1514–

1576), nascido na Áustria e obrigado a mudar seu nome para se esconder da perseguição da

igreja católica por ter o seu pai sido condenado de feitiçaria, baseando-se nas colocações de

Regiomomtanus, inaugurou uma nova forma de tratamento da Trigonometria.

Dntre seus trabalhos, Georg Joachim Von Laucheno Rheticus, como passou a chamar,

iniciou a “Opus Palatinum de Triangulis” (Nobre obra sobre triângulos) que foi concluída,

após sua morte, pelo seu aluno Valentin Othon (1545-1605).

A obra de Rheticus e Othon dispensou o uso direto das funções trigonométricas na

circunferência. Eles estudavam as razões existentes no triângulo retângulo, proporcionando

assim novas possibilidades para o aperfeiçoamento do uso das funções trigonométricas.

Outro matemático que fazia seus estudos sobre Trigonometria e fez alusão às relações

da meia corda no círculo foi François Viet (1540-1603). Nascido na França, Viet era um

exímio conhecedor de Álgebra. Utilizando-se desta habilidade, ele sistematizou o uso da

Trigonometria Algébrica, ampliando suas formas de utilização.

Edmund Gunter (1581-1628), outro personagem que merece ser citado, era um

estudioso hindu, que lidava com problemas de Trigonometria e Navegação que envolviam o

uso de logaritmos. À Gunter é atribuída a autoria dos nomes cosseno e cotangente, pois foi ele

o primeiro a utilizar a idéia de complementar de seno e complementar da tangente.

No século XVII, o estudo da Matemática teve um grande avanço acompanhado por

quase todas as áreas do conhecimento. As ciências foram favorecidas pelas melhorias

econômicas, políticas e sociais da época.

Aos poucos, a Trigonometria deixou de ser apenas uma ferramenta utilizada nos

cálculos de áreas e distâncias entre corpos celestes e começou a ganhar espaço no

desenvolvimento e estudo de objetos circulares, de objetos de natureza periódica, oscilatória e

vibratória, como os movimentos de um pêndulo de um relógio, a fabricação de um

instrumento musical, a acústica, a economia, a medicina, entre outros.

Os principais avanços ocorridos naquela época devem-se a Galileu Galilei (1584-

1642). Ele inaugurou um novo campo de conhecimento chamado Dinâmica, em que a

Trigonometria passou a ser utilizada no estudo da Física.

Page 28: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

28

O físico Isaac Newton (1642-1727) guiou-se pelas descobertas de Galileu ao estudar

as teorias do movimento, parte importante da Física. Foi ele o responsável pelos estudos e

divulgação da função arco-seno. Seu aluno, Roger Cotes (1682-1716), foi o primeiro a notar

que as funções tangentes e secantes eram regulares.

Leonhard Paul Euler (1707-1783) foi outro grande nome na história da Trigonometria.

Ele abandonou em suas obras o uso do seno como comprimento de um segmento de reta e

passou a usá-lo como um número ou uma razão.

Diferente do tempo em que viveu Al-Biruni, Euler, nasceu em uma época em que os

matemáticos já estavam acostumados a trabalhar com números decimais. Por isso, quando

colocou em seus trabalhos a notação do raio do ciclo trigonométrico como uma unidade, seu

trabalho influenciou todos os trabalhos que se seguiram.

Outra inovação muito útil nos trabalhos de Euler foi a utilização de letras maiúsculas

para representar os ângulos e letras minúsculas para representar seus lados opostos

correspondentes.

Page 29: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

29

CAPÍTULO 2: UM POUCO DE TRIGONOMETRIA

2.1. O que é trigonometria?

A Trigonometria pode ser entendida como a parte da Matemática que estuda as

relações existentes nos triângulos.

Mas porque reservar uma parte da Matemática exclusivamente para estudar as relações

existentes nos triângulos? Não são eles apenas polígonos como outros quaisquer? A resposta é

não! Os triângulos são os polígonos com a menor quantidade de lados e, qualquer outro

polígono, pode ser decomposto em uma quantidade mínima de triângulos. A título de

curiosidade, vale lembrar que três pontos distintos e não colineares do espaço podem

determinar um plano. Se ligarmos eles através de segmentos de retas, formaremos um

polígono: o triângulo. Isso não ocorre, necessariamente, por exemplo, se ligarmos, por

segmentos de retas, quatro pontos do espaço. O resultado pode ser um quadrilátero ou não:

tudo dependerá da posição dos pontos!

2.2. Qual Trigonometria?

A Trigonometria pode, para fins didáticos, ser subdividida. Temos, por exemplo, a

Trigonometria no Triângulo Retângulo, a Trigonometria na Circunferência, a Trigonometria

na Esfera, entre outros.

Após refletir sobre qual forma de abordagem utilizaria no meu Trabalho decidi

escrever sobre Trigonometria na Circunferência, pois teria, com isso, a chance de aprender

algo que para mim é pouco conhecido.

Para estudarmos a Trigonometria na Circunferência são necessários alguns conceitos,

os quais são apresentados a seguir.

2.2.1. Circunferência, centro e raio.

Dado um ponto fixo do espaço, a cada um dos conjuntos de todos os pontos coplanares

e equidistantes a este ponto fixo é dado o nome de Circunferência. Este ponto fixo é

denominado Centro da Circunferência (C).

Aos segmentos de reta existentes com uma extremidade no Centro e outra num ponto

P qualquer pertencente à Circunferência é dado o nome de Raio da Circunferência (r).

Page 30: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

30

C

r P

Figura 10: Circunferência e alguns elementos

Na Figura 10 o ponto C é o Centro da Circunferência e o segmento de reta CP um

Raio da Circunferência.

2.2.2. Corda e Diâmetro

Corda de uma Circunferência é qualquer segmento de reta que possui como

extremidades dois pontos pertencentes à Circunferência.

A

B

E

C

D

Figura 11: Corda e Diâmetro da Circunferência

Diâmetro de uma Circunferência é qualquer Corda desta que passa pelo seu Centro.

Todo Diâmetro é uma das Cordas de maior comprimento da Circunferência e possui o dobro

do comprimento do Raio desta Circunferência.

Na Figura 11 os segmentos de retas AB e ED são cordas da Circunferência, sendo o

segmento ED um Diâmetro da mesma.

Page 31: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

31

2.2.3. Arco de Circunferência e semicircunferência

Dados uma Circunferência e dois pontos dela, chamamos de Arco cada uma das partes

dessa circunferência determinadas por estes dois pontos.

C

B

A

x

y Figura 12: Arcos de Circunferência

Na Figura 12 temos os arcos BxA)

e ByA)

, sendo os pontos A e B extremidades dos

arcos.

C

A

x

y

B

Figura 13: Semicircunferências

Quando as extremidades de um Arco forem também as extremidades de um Diâmetro,

chamamos cada um dos Arcos de semicircunferência.

Na Figura 13, as extremidades do Diâmetro AB , são também as extremidades das

duas semicircunferências BxA)

e ByA)

.

Quando os pontos que são as extremidades dos arcos são coincidentes obtemos o Arco

nulo e o Arco de uma volta.

Page 32: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

32

C

A=B

x

Figura 14: Arco nulo e Arco de uma volta

No caso da Figura 14, como os pontos A e B são coincidentes, temos o arco BxA)

,

chamado arco de uma volta, e o arco AB , chamado de arco nulo.

2.2.4. Medida (ou perímetro) de uma Circunferência

O Perímetro de uma Circunferência corresponde à medida do seu comprimento.

A divisão do comprimento de qualquer Circunferência pela medida de um dos seus

Diâmetros gera a constante irracional π (PI) cujo valor aproximado é de 3,14159. A primeira

tentativa para determinar o valor dessa constante deve-se a Arquimedes. Ele mostrou que esta

razão era 7

22.

Sendo o comprimento do Diâmetro igual a d e comprimento da Circunferência igual a

C , temos:

π=÷ dC

Multiplicando ambos os membros da igualdade pelo valor do comprimento do

Diâmetro temos:

( ) d.d.dC π=÷

No que podemos concluir que:

d.C π=

Como o valor do comprimento do diâmetro é igual ao dobro do comprimento do raio,

podemos escrever:

r.2.C π=

Apresento, abaixo, um exemplo de resolução utilizando o conceito de comprimento da

Circunferência:

Determinar o perímetro aproximado de uma circunferência que possui raio de 2 cm.

Page 33: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

33

Resolução:

Valor do perímetro da Circunferência: C

Valor do raio: 2 cm

r.2.C π=

Substituindo o valor do raio e o valor aproximado de π, encontraremos o perímetro aproximado

22147159,3C ××≅

Efetuando as multiplicações temos:

cm56636,12C ≅

2.2.5. Sistema Cartesiano Ortogonal

Sistemas Ortogonais são sistemas utilizados para identificar, através de coordenadas,

um ponto no espaço. Os mais conhecidos são os bi e os tridimensionais.

Os bidimensionais, conhecidos como Sistema Cartesiano Bidimensional, ou,

simplesmente, Sistema Cartesiano, geram os chamados Planos Cartesianos e são compostos

por um par de eixos ortogonais orientados, ou seja, perpendiculares entre si.

Didaticamente, um dos eixos é horizontal e recebe o nome de eixo das abscissas,

enquanto o outro eixo é vertical e recebe o nome de eixo das ordenadas. O ponto de

intersecção entre os dois eixos é denominado Origem do Sistema.

Todo ponto X do eixo das abscissas pode ser relacionado com um, e somente um,

número real, assim como todo ponto Y do eixo das ordenadas, sendo a Origem do Sistema

correspondente ao número 0 (zero), para ambos os eixos.

Figura 15: Sistema Cartesiano Ortogonal

Fonte: Pereira, 2006

Page 34: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

34

Para o eixo das abscissas, cada ponto X, à direita de zero, está associado a um número

real estritamente positivo e, à esquerda de zero, a um número real estritamente negativo. Para

o eixo das ordenadas, cada ponto Y, acima de zero, está associado a um real estritamente

positivo e, abaixo de zero, a um real estritamente negativo.

Todo Sistema Cartesiano Bidimensional divide o plano por ele formado em quatro

regiões denominadas quadrantes, os quais são enumerados no sentido anti-horário, sendo o

quadrante superior direito o primeiro quadrante.

2.2.6 Ciclo trigonométrico e medidas de Arcos

Tomemos uma Circunferência de raio unitário com centro na origem de um Sistema

Cartesiano Bidimensional.

Nela, fixemos um ponto A, intersecção da Circunferência com a parte positiva do eixo

das abscissas, que será denominado Origem dos Arcos. Como a Circunferência tem Raio

unitário, seu comprimento é 2π. Tomando x como um número real tal que 0 ≤ x ≤ 2π,

podemos associar cada Arco da Circunferência a tal número, de modo que, se x = 0, então

P coincide com A e, se x ≠ 0, então, a partir de A, em sentido anti-horário, é marcado um

ponto P, de modo que x seja o comprimento do Arco . O mesmo podemos fazer com o

oposto de x. Neste caso, –2π ≤ – x ≤ 0 e o ponto P será marcado na Circunferência, a partir do

ponto A, em sentido horário.

Figura 16: Ciclo Trigonométrico

Arco com medida negativa

Fonte: Pereira, 2006

Figura 17.: Ciclo Trigonométrico

Arco com medida positiva

Fonte: Pereira, 2006

Page 35: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

35

Toda Circunferência, com tais tratamentos pode ser chamada Ciclo Trigonométrico.

Com o intuito de padronizar a medida de um Arco, fez-se necessário estabelecer

algumas unidades de medidas. As mais utilizadas são o radiano e o grau.

O radiano é um Arco unitário com o mesmo comprimento do raio da circunferência

que o contém. Cada arco de uma volta mede, aproximadamente, seis vezes o comprimento do

seu próprio raio, ou seja, aproximadamente, seis radianos.

C

B

D

x

Figura 18. : Arco de medida um radiano.

A medida do Arco DxB)

da Figura 18 é igual a um radiano.

Como citamos, Arquimedes foi a primeira pessoa a “demonstrar” que a razão entre o

perímetro e o Diâmetro de uma Circunferência gera uma constante. Ele defendeu, na época,

que esta razão era 7

22. Hoje, sabe-se que esta razão é um número irracional simbolizado pela

letra grega π.

Como o radiano é um Arco unitário com o mesmo comprimento do raio da

circunferência que o contém, podemos deduzir, a partir da relação do perímetro de uma

circunferência, que a medida de um arco de uma volta, em radianos, é 2π.

O grau é um Arco unitário cuja medida equivale a 360

1 da medida da circunferência

que o contém. Sendo assim, cada Arco de uma volta mede, exatamente, 360 graus.

2.2.7.Como converter graus em radianos e radianos em graus?

No Ciclo Trigonométrico o comprimento um Arco de uma volta é igual a 360 graus ou

2π radianos.

Sendo assim, temos:

Page 36: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

36

radianos4

graus45

radianos2

graus90

radianosgraus180

radianos2graus360

π

πππ

Da equivalência 360 graus ≡ 2π radianos podemos, através da regra de três, por

exemplo, efetuar a conversão graus para radianos e vice versa.

A figura a seguir apresenta os principais resultados dessa conversão para os Arcos de

30º, 45º e 60º, considerados Arcos notáveis por serem usados com certa freqüência, e seus

múltiplos.

Figura 19: Arcos notáveis do ciclo trigonométrico e seus múltiplos: em graus e em radianos.

Fonte: http://www.diaadia.pr.gov.br/.../viewcat.php?cid=15&min=40&orderby=titleA&show=10 (Adaptado)

site:

O procedimento da regra de três para converter as medidas de Arcos é aplicada nos

exemplos a seguir.

Exemplo 1: Determinar o valor em radianos de um Arco de 95 graus.

radianosxgraus95

radianos2graus360

≡ π ⇒

x

2

95

360 π= ⇒ π2.95x360 =

Page 37: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

37

Resolvendo a equação, temos que π36

19=x . Portanto, um Arco de 95 graus

corresponde a π36

19 radianos.

Exemplo 2: Determinar o valor em graus de um Arco de π12

13 radianos.

radianos12

13grausy

radianos2graus360

π

π

≡ ⇒

ππ

1213

2360=

y ⇒ ππ 2.y

12

13360 =×

Resolvendo a equação, temos que 195=y . Portanto, um Arco de π12

13 radianos

corresponde a 195 graus.

2.2.7. Seno, cosseno, tangente, cotangente, secante e cossecante no Ciclo

Trigonométrico.

Construído um Ciclo Trigonométrico em um Sistema Cartesiano, o eixo horizontal do

sistema (eixo das abscissas) corresponde ao eixo dos cossenos, o eixo vertical do sistema

(eixo das ordenadas) corresponde ao eixo dos senos. Como já apresentamos, a intersecção de

ambos os eixos corresponde ao valor zero e, para cada ponto X, à direita de zero, está

associado um número real estritamente positivo e, à esquerda de zero, um número real

estritamente negativo, assim como para cada ponto Y, acima de zero, está associado um real

estritamente positivo e, abaixo de zero, um real estritamente negativo.

Paralelo ao eixo dos senos, conforme Figura 20, com o mesmo sentido e contendo a

Origem dos Arcos temos o eixo das tangentes. Paralelo ao eixo dos cossenos, com o mesmo

sentido e contendo o ponto de intersecção da Circunferência com o eixo dos senos, temos o

eixo das cotangentes.

À intersecção dos eixos do cosseno e da tangente associamos o valor zero para

tangente e o valor um para o cosseno. Já à intersecção dos eixos da cotangente com o do seno,

associamos o valor zero para a cotangente e o valor um para o seno.

Page 38: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

38

Figura 20: Esboço dos eixos trigonométricos

Fonte: Pereira, 2006

Para encontrar, no Ciclo Trigonométrico, o valor do seno de um Arco de extremidades

AP, sendo o ponto A a origem dos arcos, traçamos um segmento de reta contendo o ponto P,

perpendicular ao eixo dos senos. O ponto de intersecção deste segmento com o eixo dos

senos, digamos, ponto S, determinará o segmento de reta OS , em que a extremidade O

corresponde à origem do Sistema Cartesiano. A medida do segmento OS , que chamaremos

de m, corresponderá ao seno do Arco de extremidades A e P. Se OS estiver acima do ponto

O, teremos 0m > . Se estiver abaixo, estabeleceremos 0m < . Se OS ≡ , teremos 0m = . Já

para encontrar o valor do cosseno desse Arco, traçamos um segmento de reta contendo o

ponto P, perpendicular ao eixo dos cossenos. O ponto de intersecção deste segmento com o

eixo dos cossenos, digamos, ponto C, determinará o segmento de reta OC , em que a

extremidade O corresponde à origem do Sistema Cartesiano. A medida do segmento OC , que

chamaremos de n, corresponderá ao cosseno do Arco de extremidades A e P. Se OC estiver à

direita do ponto O, teremos 0n > . Se estiver à esquerda, estabeleceremos 0n < . Caso

OC ≡ , teremos 0n = .

Page 39: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

39

Figura 21: Seno, cosseno, tangente e cotangente

Fonte: Pereira, 2006

Com relação aos valores da tangente e da cotangente do arco de extremidades A e P,

traçamos a semirreta OP , com O sendo a origem do Sistema Cartesiano. A intersecção desta

com o eixo das tangentes, quando existir, determinará o ponto T. A medida do segmento AT ,

digamos k, corresponderá à tangente do arco de extremidades A e P. Se AT estiver acima do

ponto A, teremos 0k > . Se estiver abaixo, estabeleceremos 0k < . Caso AT ≡ , teremos

0k = . A intersecção da semirreta OP com o eixo das cotangentes, quando existir,

determinará o ponto G. A medida do segmento BG , em que B é o ponto de intersecção dos

eixo do seno e da cotangente, que chamaremos de w, corresponderá à cotangente do Arco de

extremidades A e P. Se BG estiver à direita de B, teremos 0w > . Caso esteja à esquerda de

B, estabeleceremos 0w < . Caso BG ≡ , teremos 0w = . No caso de não existirem os pontos

T ou G, não existirão, respectivamente, a tangente ou a cotangente do Arco de extremidades

A e P.

Para secante e cossecante do Arco de extremidades A e P, traçamos a semirreta OP ,

com O sendo a origem do Sistema Cartesiano, e a reta r , contendo o ponto P e perpendicular

à semirreta OP . A intersecção desta com o eixo das abscissas, quando existir, determinará o

ponto M. A medida do segmento OM , digamos t, corresponderá à secante do Arco de

extremidades A e P. Se OM estiver à direita de O, teremos 0t > . Caso contrário, teremos

0t < . A intersecção da reta r com o eixo das ordenadas, quando existir, determinará o ponto

Page 40: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

40

N. A medida do segmento ON , que chamaremos de u, corresponderá à cossecante do Arco de

extremidades A e P. Se ON estiver acima de O, teremos 0u > . Caso contrário, teremos

0u < . No caso de não existirem M ou N, não existirão a secante ou a cossecante,

respectivamente, do Arco de extremidades A e P.

Figura 22: Secante e cossecante

Fonte: Pereira, 2006

Page 41: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

41

CAPÍTULO 3: APRENDER A APRENDER E ENSINAR A APRENDER

“Era uma vez um menino bastante pequeno que contrastava com a escola bastante

grande. Uma manhã, a professora disse: - Hoje nós iremos fazer um desenho. ‘Que bom!’-

pensou o menininho. Ele gostava de desenhar leões, tigres, galinhas, vacas, trens e barcos...

Pegou a sua caixa de lápis-de-cor e começou a desenhar. A professora então disse: -

Esperem, ainda não é hora de começar! Ela esperou até que todos estivessem prontos. -

Agora, disse a professora, nós iremos desenhar flores. E o menininho começou a desenhar

bonitas flores com seus lápis rosa, laranja e azul. A professora disse: - Esperem! Vou

mostrar como fazer. E a flor era vermelha com caule verde. - Assim, disse a professora,

agora vocês podem começar. O menininho olhou para a flor da professora, então olhou para

a sua flor. Gostou mais da sua flor, mas não podia dizer isso... virou o papel e desenhou uma

flor igual a da professora. Era vermelha com caule verde.

Num outro dia, quando o menininho estava em aula ao ar livre, a professora disse: -

Hoje nós iremos fazer alguma coisa com o barro. ‘Que bom!’, pensou o menininho. Ele

gostava de trabalhar com barro. Podia fazer com ele todos os tipos de coisas: elefantes,

camundongos, carros e caminhões. Começou a juntar e amassar a sua bola de barro. Então,

a professora disse: - Esperem! Não é hora de começar! Ela esperou até que todos estivessem

prontos. - Agora, disse a professora, nós iremos fazer um prato. ‘Que bom!’, pensou o

menininho. Ele gostava de fazer pratos de todas as formas e tamanhos. A professora disse: -

Esperem! Vou mostrar como se faz. Assim, agora vocês podem começar. E o prato era um

prato fundo. O menininho olhou para o prato da professora, olhou para o próprio prato e

gostou mais do seu, mas ele não podia dizer isso. Amassou seu barro numa grande bola

novamente e fez um prato fundo, igual ao da professora.

Muito cedo o menininho aprendeu a esperar e a olhar e a fazer as coisas exatamente

como a professora. E muito cedo ele não fazia mais coisas por si próprio. Então aconteceu

que o menininho teve que mudar de escola. A outra escola era ainda maior que a primeira.

Um dia a professora disse: - Hoje nós vamos fazer um desenho. "Que bom!", pensou o

menininho e esperou que a professora dissesse o que fazer. Ela não disse. Apenas andava

pela sala. Então veio até o menininho e disse: - Você não quer desenhar? - Sim, e o que é que

nós vamos fazer? - Eu não sei, até que você o faça. - Como eu posso fazê-lo? - Da maneira

que você gostar. - E de que cor? - Se todo mundo fizer o mesmo desenho e usar as mesmas

cores, como eu posso saber o desenho de cada um? - Eu não sei...

Page 42: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

42

E então o menininho começou a desenhar uma flor vermelha com o caule verde...”

A estória narrada acima foi escrita por Helen Buckley. Decidi iniciar este capítulo

contando esta estória, porque ela retrata bem o conceito de heteronímia.

Heteronímia esta que, segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), é papel

da educação básica combater, através de ações que estimulem o desenvolvimento da

autonomia discente. Como o educando deixa de ser um objeto moldado na educação e passa a

ser o sujeito deste processo é o que tentarei a abordar neste capítulo.

3.1. Heteronomia

Heteronomia é a condição de um sujeito ou um conjunto de pessoas que vivem sob

leis externas. Um sujeito ou uma sociedade heterônoma possui todos os seus atos controlados

por uma lei externa, não sendo capaz de se auto-regulamentar. Desta forma, só agem de

acordo com o representante desta lei, porque ele impõe, quando ele impõe e como ele impõe.

“Na perspectiva histórico-cultural, a heteronomia (hetero: diferente e nomos: lei) significa a

aceitação da norma e da vontade que não é nossa...” (Hernandes, 2002, p.12)

A heteronomia pode se apresentar de diversas formas, como por exemplo: quando

alguém compra uma roupa, não porque gostou ou precisa dela, mas porque “está na moda”;

ou quando um sujeito toma determinada atitude por causa de uma norma religiosa e não

guiado por sua convicção ou consciência.

Segundo Freire (1987, p.33), na Educação, a heteronomia discente é reforçada pela

prática da “educação bancária”, conforme citação abaixo:

Em lugar de comunicar-se, o educador faz “comunicados” e depósitos que o

educando, meras incidências, recebem pacientemente, memorizam e

repetem. Eis a concepção “bancaria” da educação, em que a única margem

de ação que se oferece aos educandos é a de receberem os depósitos, guardá-

los e arquivá-los.

Freire (1987, p.34) faz uma relação de características que marca a forma de educação

bancária. Essas características são:

- educador é o que educa; os educandos são os que são educados;

- O educador é o que sabe; os educandos, os que não sabem;

- O educador é o que pensa; os educandos, os pensados;

Page 43: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

43

- O educador é o que dita a palavra; os educandos, os que escutam

docilmente;

- O educador é o que opta e prescreve sua opção; os educandos, os que

seguem a prescrição;

- O educador é o que atua; os educandos, os que têm a ilusão de que atuam,

na atuação do educador;

- O educador escolhe o conteúdo programático; os educandos, jamais

ouvidos nesta escolha, se acomodam a ele;

- O educador identifica a qualidade do saber com sua autoridade funcional

que opõe antagonicamente à liberdade dos educandos; esses devem adaptar-

se as determinações daquele;

- O educador, finalmente é o sujeito do processo; os educandos, meros

objetos.

Freire (1987, p. 34), ainda salienta que essa forma de educação serve aos interesses de

uma classe dominante, pois ensina o aluno a se adaptar a situação de dominação, não

deixando que ele perceba que pode ser um agente transformador desta mesma situação.

De acordo com Zatti (2007) outro fator gerador da situação de dependência integral do

aluno no processo de ensino aprendizagem é a falta de perspectivas. Essa falta de horizontes

leva o educando a não saber se colocar de forma ativa frente a este processo, simplesmente

por não conseguir ver sentido em estudar.

Uma das perguntas mais frequentes que tenho ouvido como professor no

ensino fundamental trabalhando em escolas públicas é: Para que estudar?

Essa pergunta poderia ser confundida com uma pergunta/pretexto para não

estudar, coisa de adolescente. Mas é muito mais que isso, ela é reveladora da

perda de horizonte, da desorientação, da falta de sentido, que as pessoas em

geral vivem hoje. Isso é preocupante, pois quando as pessoas não têm um

sentido próprio a partir de si e das relações que estabelecem, viverão de

acordo com sentidos e sob orientações externas, o que as fará heterônomas.

(ZATTI, 2007, p. 59)

Canário et all (2004, p.43) alerta para a introdução de novos métodos pedagógicos à

educação sem a mudança de concepção que vê o professor como sujeito do sistema

educacional. Segundo ele “o velho mestre de aldeia batia no aluno que não sabia gramática,

Page 44: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

44

mas depois o mandava brincar para o recreio; o mestre científico moderno segue-o até ao

pátio e obriga-o a praticar jogos educativos e exercícios saudáveis!”

Essa é uma preocupação demonstrada também por Pacheco (2008, p.8)

Se a não-directividade ingenua descura a influência da sociedade sobre o

indivíduo, a pedagogia autoritária descura a possibilidade de autonomia no

educando. Estes extremos não realizam a tarefa fundamental de dotar os

aprendentes com uma adaptação crítica às condições sociais. O conceito de

liberdade está embotado de equívocos. E, à semelhança de qualquer nova

pedagogia, a não-directividade foi assimilada na sua exterioridade e a

escolástica destituiu-a de qualquer significado transformador.

De acordo com os autores do PCN combater a heteronomia discente e estimular o

educando a tornar-se sujeito no seu processo de aprendizagem é uma meta que deve ser

perseguida pela educação básica.

Para tanto, é necessário que, no processo de ensino e aprendizagem, sejam

exploradas: a aprendizagem de metodologias capazes de priorizar a

construção de estratégias de verificação e comprovação de hipóteses na

construção do conhecimento, a construção de argumentação capaz de

controlar os resultados desse processo, o desenvolvimento do espírito crítico

capaz de favorecer a criatividade, a compreensão dos limites e alcances

lógicos das explicações propostas. Além disso, é necessário ter em conta

uma dinâmica de ensino que favoreça não só o descobrimento das

potencialidades do trabalho individual, mas também, e sobretudo, do

trabalho coletivo. Isso implica o estímulo à autonomia do sujeito,

desenvolvendo o sentimento de segurança em relação às suas próprias

capacidades, interagindo de modo orgânico e integrado num trabalho de

equipe e, portanto, sendo capaz de atuar em níveis de interlocução mais

complexos e diferenciados. (BRASIL, 1997, p. 26)

3.2. Autonomia

A palavra autonomia tem origem grega, nela “auto” significa próprio e “nomos”

significa regras. Então autonomia pode ser entendida como a capacidade de se auto-regular.

Sendo, assim, a palavra autonomia é antônima a palavra heteronomia.

Page 45: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

45

Segundo os autores dos PCN, o termo autonomia, em educação, possui um sentido

abrangente, que engloba, além da capacidade de aprender, o desenvolvimento integral do ser

humano.

A autonomia refere-se à capacidade de posicionar-se, elaborar projetos

pessoais e participar enunciativa e cooperativamente de projetos coletivos,

ter discernimento, organizar-se em função de metas eleitas, governar-se,

participar da gestão de ações coletivas, estabelecer critérios e eleger

princípios éticos, etc. Isto é, a autonomia fala de uma relação emancipada,

íntegra com as diferentes dimensões da vida, o que envolve aspectos

intelectuais, morais, afetivos e sociopolíticos.” (BRASIL, 1997, p. 62)

É importante destacar que autonomia nada tem a ver com auto-suficiência, pois o

conceito de autonomia inclui a capacidade de se relacionar com a sociedade possuindo a

capacidade de negociar as regras ditadas por ela, para o melhor desenvolvimento do trabalho

em conjunto.

3.3. O processo de passagem da heteronomia para a autonomia

Com a velocidade em que o conhecimento se expande e transforma uma informação

que é adquirida hoje, em muito pouco tempo pode se tornar ultrapassada. Portanto, é

necessário que qualquer pessoa que pretenda se conservar atualizado perante as mudanças

ocorrentes no mundo esteja apto a adquirir novos conhecimentos e rever os conhecimentos

antigos. “O grande desafio para a educação é por em prática hoje o que vai servir para o

amanhã.” (D’Ambrosio, 1996, p. 80)

D’Ambrosio (1990), chama atenção para o fato de que a escola, mais especificamente

a Educação Matemática, não pode fugir à sua responsabilidade de ensinar o jovem a lidar com

as novas formas de aquisição de informação, para que ele não fique à margem da sociedade,

mas possa estar inserido de forma digna nela:

Creio que um dos maiores males que a escola pratica é tomar a atitude de

que computadores, calculadoras e coisas do gênero não são para

as escolas dos pobres. Ao contrário: uma escola de classe pobre necessita

expor seus alunos a esses equipamentos que estarão presentes em todo o

mercado de futuro imediato.

Page 46: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

46

Se uma criança de classe pobre não vê na escola um computador, como

jamais terá oportunidade de manejá-lo em sua casa, estará condenada a

aceitar os piores empregos que se lhe ofereçam. Nem mesmo estará

capacitada para trabalhar como um caixa num grande magazine ou num

banco. É inacreditável que a Educação Matemática ignore isso. Ignorar a

presença de computadores e calculadoras é condenar os estudantes a uma

subordinação total a subempregos. (D’AMBROSIO, 1990, p.17).

Para garantir que a formação do aluno ultrapasse os muros da escola é necessário que

se crie um ambiente propício para o desenvolvimento da autonomia discente. De acordo com

Sampaio (2008, p. 12), a busca pela autonomia é um dos eixos centrais na vida do jovem.

Segundo ela, essa conquista da autonomia representa a passagem para o mundo dos adultos, e

não acontece definitivamente, é feita de várias indas e vindas.

Tanto na vida pessoal como na vida acadêmica do jovem, essa passagem da

heteronomia para a autonomia “consiste num árduo processo” (Sampaio, 2008, p.12). Freire

(1987, p.19), chega a citar que “a libertação, por isso é um parto. E um parto doloroso.”

Apesar da dificuldade que o aluno possa sentir neste processo de passagem, é

necessário que as instituições de ensino criem dispositivos para que o aluno alcançe um

estado de autonomia. De acordo com Paier (2009), a autonomia, tanto a intelectual como a

moral, não nascem com o sujeito, precisam ser construídas:

A autonomia, bem como a solidariedade, o respeito aos demais, a

capacidade de diálogo e o apreço pela democracia não são características

intrínsecas às pessoas nem podem ser ensinadas apenas através do

discurso dos mais velhos sejam familiares ou professores. Estes

valores precisam ser construídos paulatinamente, num exercício diário que

requer um ambiente propício a experiências de tomada de decisão, de

tomada de consciência, de busca de informações, de diálogo e de

convivência e também a presença de adultos atentos a orientar esse percurso

de cada estudante e o percurso coletivo do grupo rumo à convivência

democrática. (PAIER, 2009, p 49)

A existência de uma relação hierárquica, entre professor e aluno pode prejudicar esse

processo de transição. “Tudo o que é meramente transmitido/ensinado tem pouca influência

Page 47: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

47

no comportamento da pessoa. Os conhecimentos que podem influenciar o comportamento do

indivíduo são os que ele próprio descobre e de que se apropria.” (Pacheco, 2009, p.8)

A falta de hierarquia em um processo de ensino emancipador, não libera o professor

de exercer sua autoridade frente aos alunos. Pois ele é responsável por criar condições para o

desenvolvimento da autonomia discente e é baseada nesta responsabilidade que deve estar

pautada esta autoridade.

É importante ressaltar que o desejo de estabelecer uma relação

respeitosa e democrática com seus estudantes não pode permitir ao professor

que se considere igual a eles, afinal o professor já possui a cultura produzida

por sua sociedade e tem a responsabilidade perante esta sociedade de formar

as novas gerações. Dessa autoridade, o professor não pode abrir mão, é

uma autoridade que pode ser exercida dentro de princípios democráticos,

considerando o outro sujeito do processo, dialogando com ele e com ele

aprendendo, se transformando. ( PAIER, 2009, p. 55)

Em uma educação voltada para o desenvolvimento da autonomia discente, é

necessário que haja por parte do aluno um engajamento e que ele se reconheça como parte

responsavel pelo bom andamento deste processo. Cobrar do aluno e auxilia-lo para que ele

assuma esta responsabilidade é papel do professor.

O exercício de autonomia näo se confunde com a permissividade, nem

dispensa a colaboração do professor. Esta colaboração concretiza-se através

de mediações que permitam ao aluno: a percepçäo correcta das tarefas e suas

finalidades; a participação na seleção e planificação dessas tarefas; a ação

decorrente de projectos pessoais, ou de grupo; a gestão individualizada de

tempos e espaço de aprendizagem; a escolha de momentos e instrumentos de

avaliação; regular o seu comportamento numa base de reciprocidade;

desenvolver formas de cooperação autonomas; comunicar. (PACHECO,

2008, p. 7)

A auto-avaliação é uma ferramenta importante no processo de aquisição da autonomia

discente. Refletir sobre o próprio processo cognitivo é importante para que o aluno possa criar

estratégias para otimizar este processo. “ Não conhecer um determinado assunto, seja por falta

Page 48: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

48

de interesse, seja por falta de capacidade para aprender este tema, não é grave desde que o

aluno tenha conciência de suas limitações.” (D’ Ambrosio, 1996, p. 77).

Essa também é uma das considerações feitas nos PCN:

A avaliação, apesar de ser responsabilidade do professor, não deve ser

considerada função exclusiva dele. Delegá-la aos alunos, em determinados

momentos, é uma condição didática necessária para que construam

instrumentos de auto-regulação para as diferentes aprendizagens. A auto-

avaliação é uma situação de aprendizagem em que o aluno desenvolve

estratégias de análise e interpretação de suas produções e dos diferentes

procedimentos para se avaliar. (BRASIL, 1997, p. 57)

Além da participação do aluno no processo de avaliação, também se faz necessário

que o professor participe ao aluno todos os aspectos do processo de ensino e aprendizagem,

objetivos deste processo, escolhas de materiais, metodologia de ensino, cada passo deve ser

partilhado com o aluno e dada a ele a possibilidade de opinar neste processo. Essa é uma das

questões colocada por Paier (2009, p. 53) em seu trabalho.

Certamente, numa educação democrática e voltada para a construção do

sujeito autônomo, todo o trabalho do professor não é uma caixa secreta a

que somente ele tem acesso, cabendo aos estudantes estarem

passivamente preparados para as ações que serão realizadas, mas os

objetivos, estratégias e avaliações estão postos para a compreensão de todos

e o diálogo é a essência da relação pedagógica. Através do diálogo, o

professor vai compartilhando suas metas com os estudantes e

simultaneamente vai revendo-as a partir das necessidades e das vontades de

seu grupo.

Outro aspecto muito importante em um trabalho voltado para a emancipação discente

é o estimulo ao trabalho em grupo. Para que a criança aprenda a se posicionar na sociedade,

debater e expor seus pontos de vista.

Através de procedimentos simples como esse, de um colega ensinar ao outro,

a professora possibilitava o desenvolvimento da autonomia das crianças.

Elas vão se tornando autônomas na medida em que vão se tornado capazes

Page 49: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

49

de realizar sozinhas as atividades, ficando menos dependentes de situações

imediatas. A professora contribuía para a autonomia de seus alunos na

medida em que dava condições para as crianças pensarem sobre o que

faziam, quando incentivava e permitia que o colega mais experiente

auxiliasse o outro a dar formas para suas reelaborações. (HERNENDES,

2002, p.113)

Um dos pontos mais importantes para uma educação emancipadora é o estímulo a

curiosidade da criança, pois “todo conhecimento começa pela pergunta” (Faundez; Freire,

1985, p. 24).

Pacheco (2009, p. 24) questiona o preparo de aulas que visam informar e não suscitar

a curiosidade dos educandos: “[...] eu não consigo entender como pode ser interessante

escutar respostas a perguntas que ninguém fez.”

A importância do papel do professor como instigador da curiosidade discente é

reforçada pelo autor:

Implicada numa aprendizagem por descoberta, através de atividades de

exploração e de pesquisa, num processo significativo, a criança age como

sujeito de aprendizagem. O papel do professor é o de fomentador de

curiosidades, de orientador na resolução de problemas. O professor é alguém

que ajuda a resolver problemas, que estimula as crianças, que confia nas suas

potencialidades. O professor não se impõe pelo seu estatuto, assume tarefas

de estímulo e organização. (PACHECO, 2009, p. 75)

Valorizar a pergunta do aluno, estimulando a formular questionamentos mais

elaborados é função imprescindível da qual o professor não pode abrir mão.

Para um educador nesta posição não há perguntas bobas nem respostas

definitivas. Um educador que não castra a curiosidade do educando, que se

insere no movimento interno do ato de conhecer, jamais desrespeita pergunta

alguma. Porque, mesmo quando a pergunta, para ele, possa parecer ingênua,

mal formulada, nem sempre o é para quem a fez. Em tal caso, o papel do

educador, longe de ser o de ironizar o educando, é ajudá-lo a refazer a

pergunta, com o que o educando aprende, fazendo, a melhor perguntar.

(FREIRE, 1985, p.25)

Page 50: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

50

Diz um ditado popular, que “ser pai é a arte de se tornar desnecessário”, creio que esse

ditado serve também para os professores. Deve ser o principal objetivo do trabalho do

professor, tornar-se, gradativamente, dispensável ao aluno, “já que o saber de futuras

profissões pode ainda estar em gestação, devendo buscar-se competências que possibilitem a

independência de ação e aprendizagem futura.” (Brasil, 1997, p. 23)

3.4. Considerações sobre a linguagem das grandezas

Linguagem é todo e qualquer sistema de símbolos que serve para comunicar o que se

sente ou pensa através de sinais, sons, gráficos, ou de gestos conceituados em uma

determinada sociedade. Esses símbolos lingüísticos, ao serem utilizados, atuam de forma a

serem percebidos pelos órgãos do sentido e interpretados pelo nosso cérebro.

A Linguagem das Grandezas, ou Linguagem Matemática, é a linguagem utilizada para

representar padrões ou grandezas, como comprimento, largura, peso, distâncias, quantidades

etc. A escrita matemática surgiu nas épocas mais remotas, da necessidade de registrar a

passagem do tempo, a quantidade de animais que havia em uma criação, o tamanho de uma

plantação ou outros bens. Os primeiros registros matemáticos eram feitos em pau, pedra ou na

parede de cavernas, com traços e rabiscos, utilizando-se de uma correspondência biunívoca.

Os mais antigos registros matemáticos encontrados datam de 3500 a.C.

Para Hogben (1970), a Linguagem da Grandezas é a própria Matemática, e, segundo

ele, reconhecer a semelhança existente entre está linguagem e a Linguagem das Espécies é

mais do que uma comparação, é um caminho para que se consiga entender de forma integral

a Linguagem das Grandezas.

Falar em Matemática como linguagem das grandezas em regras

matemáticas, como regras gramaticais, é mais do que simples figura de

retórica. Muito contribui para a compreensão da Matemática, o

reconhecimento da afinidade profunda existente entre as línguas que

designamos as várias espécies de coisas deste mundo, e as em que

designamos as suas várias grandezas. (HOGBEM, 1970, p. 76)

Uma analogia que pode ser feita entre a Linguagem das Grandezas e a Linguagem das

Espécies é que ambas possuem palavras, sendo essas palavras na Linguagem das Grandezas,

chamadas de símbolos matemáticos. Segundo Hogben (1970) a união de duas ou mais

Page 51: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

51

“palavras matemáticas” formam “orações matemáticas”. Cada uma das “palavras

matemáticas” possui uma função dentro dessas “orações matemáticas”. Sobre este fato ele

escreveu:

A analogia fundamental existente entre os vários gêneros da gramática,

sejam elas de grandezas ou espécies, é muito bem evidenciada pelo fato de

as duas partes fundamentais do discurso serem comum as duas línguas. Uma

dessas partes é o substantivo que exprime as coisas a que se refere a oração.

A outra é o verbo que exprime que se faz com essas coisas, ou o que essas

coisas fazem. (HOGBEN, 1970, p. 77)

Para a compreendermos uma palavra seja ela na língua das grandezas, ou na língua

das espécies é necessário saber em que contexto ela está inserida. Uma palavra em si pode não

possuir sentido, mas pode ser essencial dentro de uma estrutura a ser lida.

Nada há de mais misterioso na compreensão do sentido da palavra seno de

15º, que na compreensão da palavra écoutille. Achamos o significado da

expressão seno de 15º procurando o numero correspondente a ele nas tábuas

de senos naturais. As tabelas dão que seno de 15º = 0,2588, exatamente

como o dicionário francês informa écoutille significa gaiuta. É verdade que

isto não nos ensina a usar o seno de 15º. Tampouco a saber que a palavra

écoutille significa gaiuta permite usar a palavra a menos que saibamos qual a

parte do navio a que se dá este nome. Em ambos os casos, o conhecimento

da utilização da palavra importa em conhecermos o navio inteiro.

(HOGBEM, 1970, p. 77)

A Linguagem das Grandezas é uma língua universal. O objetivo desta universalização

é que em qualquer lugar do mundo que se faça uso deste mesmo símbolo possa se executar

uma operação pelo conhecimento dos procedimentos de resoluções e propriedades existentes.

Por seu caráter universal, a Linguagem Matemática possui uma responsabilidade: ser

precisa, não deixando em seus textos, margem para dupla interpretação. Para ser considerado

claro, um texto matemático precisa ser escrito com o menor número possível de palavras

invariáveis e comportar um número reduzido de regras as quais não podem ser desrespeitadas.

Esse rigor matemático proposto pelos especialistas em Matemática causa alguns

problemas de entendimento, pois como suas palavras não possuem duplo sentido, a sua

passagem para a linguagem natural pode comprometer o seu rigor científico. “O uso dos

Page 52: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

52

números, tanto para contar como para medir, foi o motivo de freqüentes desentendimentos

entre o homem prático e o matemático” (Hogben, 1970, p. 80). Porque ao tentar

contextualizar uma frase matemática deve-se tomar um cuidado especial para não alterar o seu

sentido.

Hogben (1970), também chama atenção para outro aspecto da linguagem matemática:

um número geralmente cumpre o papel de substantivo nas orações, mas em ocasiões especiais

ele pode assumir papel de verbo, de acordo com a posição onde ele estiver colocado. Sobre

este fato o autor explica:

Muitas vezes, em inglês uma mesma palavra é usada com várias funções, ou

melhor, a mesma palavra é usada ora como substantivo, ora como verbo, etc.

Não raro encontramos, nas publicações turfistas, frases como estas:

‘Windsor Lady volta ao Derby’. A palavra volta nesta acepção, é um

‘verbo’. Exprime uma direção do mesmo modo que x e +. Entretanto, na

frase: ‘Esperar-te-ei na volta da estrada’, volta é um substantivo.

Infelizmente os matemáticos também têm esse hábito lamentável. Quando

eles escrevem 10 2, que significa 10 x 10 ( isto é, dois 10 multiplicados um

pelo outro), 10 é um número, um substantivo, mas o 2 colocado no canto

superior direito, não é um número, sim uma ordem de ação, em outras

palavras, um sinal de operação. (HOGBEN, 1970, p.92)

[...] uma letra x, por exemplo, figurando numa expressão ou frase como 10x,

não é um substantivo, nem abstrato nem coletivo, mas sim um verbo e um

verbo que, alias, inclui, em seu significado muito outros verbos. Pode

representar, por exemplo, os verbos 2 e 5 nas expressões 102 e 105.

(HOGBEN, 1970, p.95)

3.5. Aprender a aprender Matemática: a importância da aquisição da linguagem

das grandezas para a autonomia discente.

Dando aulas de reforço de Matemática deparei-me por duas vezes com uma situação

que me levou a querer escrever neste trabalho sobre a importância da apropriação da

linguagem matemática para o desenvolvimento da autonomia na aprendizagem de

Matemática.

Procurava, antes de iniciar a abordagem de um novo conceito, pedir para que os alunos

fizessem uma atividade para que eu pudesse identificar quais eram as dificuldades que

Page 53: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

53

apresentavam. Pedi para que duas turmas diferentes fizessem a mesma atividade e nesta

atividade existiam algumas operações envolvendo frações. Durante a realização da atividade

fui indagada por duas crianças de salas diferentes: “― Pro, quanto é meio, mais meio?” ―

Assim, como escrevi, em linguagem natural.

Tendo pouca experiência em sala de aula, temi não conseguir sanar a dúvida dos

alunos. Depois achei que se eles não tinham percebido a ligação entre a expressão meio “do

mundo real”, e a expressão meio “da aula de matemática”. Eles poderiam entender se eu

usasse na explicação algum recurso visual. Pedi para as crianças repetirem a pergunta, só que

desta vez prestando atenção ao que estavam falando. Peguei uma folha de papel e rasguei em

dois pedaços iguais. Mostrei cada um dos dois pedaços e perguntei quanto da folha eu tinha,

eles responderam meio. Mostrei os dois pedaços juntos e perguntei: “―E agora quantas

folhas tenho?” ― Consegui explicar, e ambas as crianças me olharam com um jeito de quem

pensa: “― Era só isso?”

Já tinha decidido contextualizar meu trabalho escrevendo sobre Trigonometria. Uma

das principais propriedades que embasam a Trigonometria fala sobre triângulos semelhantes.

Há uma propriedade afirmando que em dois triângulos semelhantes as razões entre os lados

correspondentes são iguais.

Preocupei-me, pois pesquisaria sobre as formas de auxiliar meu aluno a aprender a

aprender. E percebi que mesmo traduzindo uma expressão para a linguagem natural o meu

aluno não conseguiu associar a expressão meio com o meio, de “meio pão”, “meio litro de

leite” ou “repartir ao meio”, expressões que com certeza eles ouvem com freqüência. Conclui

que meu aluno terá dificuldades em conseguir aprender Trigonometria de forma

independente, se não conseguir ler com propriedade e de forma consciente os sinais que

representam e explicam os conceitos que a embasa.

A sensação de não-pertinência da matemática ao mundo em que o aluno

está inserido pode ser explicada, segundo Carrasco (2001), pela dificuldade

que muitas vezes ele encontra ao deparar-se com a linguagem matemática, o

que conseqüentemente o impede de mostrar, pela escrita, seu conhecimento

matemático, ou elaborar tal conhecimento. (SOUZA, 2008, p.2)

A apropriação da linguagem é importante, pois é por meio da linguagem que o sujeito

se comunica com o mundo. Os símbolos são uma representação do objeto a ser pensado. Ele

conduz a forma que a pessoa armazena e processa uma informação recebida.

Page 54: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

54

É por meio dos símbolos que podemos interagir com a sociedade em que vivemos

demonstrar nossa forma de pensar e transmitir a impressão que as coisas que ocorrem a nossa

volta nos causaram. “Uma palavra que não representa uma idéia é uma coisa morta, da mesma

forma que uma idéia não incorporada em palavras não passa de uma sombra.” (Vygotsky,

2001, p.151)

A importância da aquisição da linguagem, seja ela natural ou matemática, é algo da

qual não se pode abrir mão para que ocorra o desenvolvimento cognitivo do sujeito, pois

existe uma ligação íntima entre a compreensão matemática e a sua representação externa.

Assim, o desenvolvimento intelectual da criança é uma função proporcional

ao seu domínio dos meios sociais do pensamento, isto é, da linguagem.

Consequentemente, será no processo de negociação dos significados

intercambiados no plano intersubjetivo que os conceitos matemáticos,

enquanto formas culturais serão assimilados. (ROSSI, 1993, p. 30)

Ensinar e aprender a linguagem das grandezas exige certo esforço por parte de

professores e alunos. Pois é difícil escrever sobre entidades abstratas, porque a criança sente

dificuldade de compreender a utilidade de tal forma de se comunicar. Souza (2008) apresenta

como alternativa para auxiliar o aluno a aprender ler a linguagem das grandezas, a introdução

da leitura e escrita de textos em linguagem natural nas aulas de matemática.

Procurar tornar os conceitos matemáticos mais próximos dos alunos parece

ser o primeiro passo na busca do sucesso, no desenvolvimento do processo

de ensino-aprendizagem de matemática escolar. Contribuir para superar as

deficiências de leitura dos alunos passa a ser uma atribuição agregada às

ações do educador matemático, mesmo que atividades envolvendo leitura

ainda não sejam tão comuns nas aulas de matemática. (SOUZA, 2008, p. 6)

Continuando, o autor ainda alerta:

A escrita, nas aulas de matemática, não deve ser concebida de forma

arbitrária nem tampouco improvisada, fruto de modismos. É preciso que ela

seja feita de forma articulada com os textos lidos pelos alunos, para que

possa ser o meio através do qual o aluno amplie sua aprendizagem.

(SOUZA, 2008, p.10)

Page 55: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

55

CAPÍTULO 4. AUTONOMIA: COMO ELA PODE FUNCIONAR NA

PRÁTICA?

Há escolas que são asas

Há escolas que são gaiolas. Há escolas que são asas. Escolas que são

gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do vôo. Pássaros

engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-

los para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram

de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o vôo. Escolas que são

asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são os pássaros em

vôo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o vôo, isso

elas não podem fazer, porque o vôo já nasce dentro dos pássaros. O vôo não

pode ser ensinado. Só pode ser encorajado. (Rubem Alves)

4.1. Lembranças

Quando conclui, em 1997, o Ensino Médio, vi decretada o fim da minha carreira

acadêmica, pois não teria condições financeiras para continuar a estudar.

Queria, como toda adolecente, me destacar em alguma área da vida. Já tinha perdido a

chance de ter nascido a mais bonita e, pela minha fama de encrenqueira, jamais seria a mais

simpática. Mas ainda restava uma esperança: ser a mais inteligente. Na minha concepção para

ser a mais inteligente eu precisava entender de Matemática e considerava como pessoa que

sabia Matemática qualquer um que soubesse fazer contas em que aparecessem os símbolos

sen(x), cos(x) ou tg(x). Apesar de não me recordar se vi essa matéria na escola, as vezes,

caiam contas com esses simbolos nos concursos que eu prestava.

Não tinha tido oportunidade de aprender sobre Trigonometria nos anos que frequentei

a escola. Como já comentei, Trigonometria é uma área da Matematica embasada em conceitos

de Geometria. E, segundo Arbach (2002, p. 14), desde o início do Movimento da Matematica

Moderna, o ensino de Geometria foi deixado de lado nas escolas. Segundo ele "nas escolas

públicas o abandono do ensino de Geometria se inicia primeiro e mais intensamente do que

nas escolas privadas".

Em consequencia disso, tentar ensinar Trigonometria para uma pessoa que não possuia

nenhuma base, era um desafio que muitos professores preferiam não enfrentar.

Fato é que me recordo de várias vezes ter tentado em vão pegar livros de Matemática

Page 56: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

56

com este assunto para estudar. Nunca conseguia entender nada e acabei me acostumando a

pular questões com trigonometria nos concursos que fazia, apesar de nunca ter me

conformado com a situação.

4.2. As escolas nos dias atuais

No ano de 2008 voltei para o Ensino Básico, agora como professora de Matemática. O

desenvolvimento deste trabalho ocorreu de forma concomitante com as minhas primeiras

experiências no magistério. Iniciei minha atividade docente em uma fase desfavoravel para a

educação. Ainda era bastante inesperiente para poder compreender o que ocorria, mas

conseguia sentir que estavamos em meio a uma crise educacional. Como cita Novaes (2009):

Desde a segunda metade dos anos 90 os profissionais da educação da rede

estadual paulista têm sofrido os impactos da política educacional

empreendida pela SEE/SP2 no que diz respeito às precárias condições de

trabalho e organização da escola, traduzidas na elevada razão professor/

aluno, na ausência de um projeto consistente de formação em serviço, na

manutenção de processos de itinerância e rotatividade dos professores,

ocasionado por um processo anacrônico de atribuição de aulas, no elevado

absenteísmo docente, além da responsabilização individual dos professores

pelo fracasso escolar dos alunos. O que ocorre em São Paulo não é muito

diferente do que ocorre em outras redes públicas do país [...] (NOVAES,

2009, p.19)

Sempre estudei em escolas que funcionavam sob o paradígma tradicional de ensino.

Naquela época já haviam trabalhos isolados por parte de alguns professores para promover

uma participação ativa dos alunos no desenvolvimento da aula, mas era algo que ocorria de

forma tímida e o método de ensino que predominava era a educação bancária. Alves (2001)

faz uma definição do que seriam as escolas nos dias atuais:

Nossas escolas são construídas segundo o modelo das linhas de montagem.

Escolas são fábricas organizadas para a produção de unidades bio-

psicológicas móveis portadoras de conhecimentos e habilidades. Esses

2 Secretaria Estadual de Ensino de São Paulo.

Page 57: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

57

conhecimentos e habilidades são definidos exteriormente por agências

governamentais a que se conferiu autoridade para isso. Os modelos

estabelecidos por tais agências são obrigatórios, e têm a força de leis.

Unidades bio-psicológicas móveis que, ao final do processo, não estejam de

acordo com tais modelos são descartadas. É a sua igualdade que atesta a

qualidade do processo. Não havendo passado no teste de qualidade-

igualdade, elas não recebem os certificados de excelência ISO-12.000,

vulgarmente denominados diplomas. As unidades bio-psicológicas móveis

são aquilo que vulgarmente recebe o nome de ‘alunos’. (ALVES, 2001, p.

36)

As escolas com a concepção tradicional de ensino possuem uma forma de organização

que lhe é peculiar, tanto a organização do seu espaço físico como a organização dos níveis de

aprendizagem em períodos. Entre os aspectos comuns dessas escolas está o tempo de duração

de cinquenta minutos para a aula de cada disciplina, o sinal sonoro indicando a hora de início

e de término de cada aula, a divisão do conhecimento em áreas distintas, a distinção do nível

de conhecimento dos estudantes por séries, entre outros. De acordo com Alves (2001), o

objetivo alcançado por escolas organizadas dessa forma, mesmo que essa não seja sua

intenção, é transformar o estudante em uma espécie de produto para o mercado de trabalho:

As linhas de montagem denominadas escolas se organizam segundo

coordenadas espaciais e temporais. As coordenadas espaciais se denominam

‘salas de aula’. As coordenadas temporais se denominam ‘anos’ ou ‘séries’.

Dentro dessas unidades espaço-tempo os professores realizam o processo

técnico-científico de acrescentar sobre os alunos os saberes-habilidades que,

juntos, irão compor o objeto final. Depois de passar por esse processo de

acréscimos sucessivos - à semelhança do que acontece com os objetos

originais na linha de montagem da fábrica - o objeto original que entrou na

linha de montagem chamada escola (naquele momento ele chamava

‘criança’) perdeu totalmente a visibilidade e se revela, então, como um

simples suporte para os saberes-habilidades que a ele foram acrescentados

durante o processo. A criança está, finalmente, formada, isso é, transformada

num produto igual a milhares de outros. ISO-12.000: está formada, isto é, de

acordo com a forma. É mercadoria espiritual que pode entrar no mercado de

trabalho. (ALVES, 2001, p. 36)

Page 58: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

58

4.3. Vivência de uma professora

As minhas primeiras atuações no magistério foram como professora eventual. O

professor eventual é o professor que substitui o professor responsável pela sala de aula, na sua

ausência. Novaes (2009) define essa parcela da categoria do professorado da seguinte forma:

Tais professores, licenciados ou não (pois se admite a contratação de alunos

da licenciatura), são contratados para suprir as ausências dos professores

com aulas atribuídas, tendo seu salário calculado somente a partir das aulas

efetivamente ministradas, criando, assim, uma subcategoria de professores

dentro das unidades escolares, os chamados professores eventuais.

(NOVAES, 2009, p.4)

Ao atuar como eventual tive a oportunidade de trabalhar em diversas escolas

localizadas na cidade onde moro. Se por um lado sentia falta da oportunidade de criar

vínculos, por outro lado tive a chance de vivenciar a forma de organização de diversas dessas

escolas e ter, com isso, visão mais abrangente sobre elas.

O tratamento dispensado pelos alunos aos professores eventuais geralmente é hostil,

pois “há, de antemão, uma aposta na ineficácia do trabalho do eventual, no intuito de dar

continuidade ao conteúdo alvo da disciplina a ser substituída” (Zanard, 2008, p. 13). Existe

entre os alunos uma cultura de desrespeitos ao professor substituto. Ao perceberem qualquer

resquício de nervosismo na voz do professor ou despreparo para aula, os estudantes entendem

esse sinal como permissão para desacatá-lo. O que há de preocupante neste comportamento é

que atualmente a parcela de professores temporários na rede estadual de ensino de São Paulo

chega a quarenta e seis por cento3, ou seja, quase metade dos professores da rede. Sobre este

assunto Zanardi (2008) escreveu:

[...] há professores que entram em suas salas de aula e a sensação aparente é

a de que não entrou ninguém no ambiente; os alunos que conversam,

ignorando a sua presença na classe, continuam a fazê-lo, os que dormitavam,

assim permanecem. Durante a aula não prestam atenção e isto quando não

resolvem - ao enredarem perturbações no ambiente, com conversas paralelas

3 Informação escrita por Fábio Takahashi no site www1.folha.uol.com.br no dia 14 de setembro de 2010.

Page 59: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

59

e brincadeiras - atrapalhá-la. (ZANARDI, 2008, p.13)

“Nesse modelo, a escola se caracteriza pela postura conservadora. O professor é visto

como a autoridade máxima, um organizador dos conteúdos e estratégias de ensino e, portanto,

o guia exclusivo do processo educativo.” (Brasil, 1997, p.31). Sendo assim o comportamento

dos alunos é atenuado quando o professor aprende a “dominar a sala de aula”. “Domínio de

sala de aula” é a expressão usada para designar a habilidade de um professor coordenar as

atividades realizadas em sala de aula e de se fazer respeitar pelos alunos.

O tempo que leva para um professor aprender a “dominar uma sala” de aula e a forma

que ele usa para este fim costuma ser algo muito individual, “não existe fórmula” como dizem

os professores mais experientes. Quando aprendi a “dominar a sala de aula” comecei a

conseguir com que os alunos prestassem atenção nas minhas aulas. Mas, desde então, já

ocorreu de presenciar professores que, por estarem passando por algum momento de

fragilidade ou estarem iniciando no magistério, não conseguiram reger a classe e passaram

pelos mesmos constrangimentos que passei quando comecei.

4.5. E a emancipação?

A educação é um assunto muito fino, pois envolve uma gama de aspectos a serem

considerados quando escrevemos sobre ela. Por esse motivo decidi iniciar este capítulo

retratando alguns acontecimento que me ocorreram enquanto via a educação sob o prisma de

uma aluna e, posteriormente, quando comecei a observar os rumos da educação como

professora, pois é “qualquer tipo de pesquisador um sujeito que olha a partir de suas

condições prévias” (Paier, 2009, p. 28). Sendo assim não há como observar uma situação e

escrever sobre ela sem que o que sou e vivencieie interfiram nas minhas palavras.

Ao lecionar, ainda não tinha bem formulada a ideia de qual seriam as atitudes que

poderia tomar como professora para auxiliar meu aluno a adquirir independência em seus

estudos.

As crianças demonstravam uma dependência muito grande ao necessitarem sempre de

alguém para lembra-los de agir de forma adequada no que dizia respeito aos mais elementares

aspectos das aulas. Apesar de compreender a necessidade dessa figura de liderança e saber

que faz parte da responsabilidade do professor exercê-la, preocupava-me com o fato de eles

não serem capazes de perceber como isso os deixava com uma defazagem muito grande com

relação aos conteúdos a serem estudados por causa da rotatividade existente dos professores

Page 60: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

60

mensionada por Novaes (2009).

Perguntas como “professora, me empresta um lápis? Esqueci o meu em casa”,

“professora, quantas linhas eu deixo?”, “professora, posso fazer de caneta?” são comuns em

salas do Ensino Fundamental II e Ensino Médio. Sem parar para refletir sobre o assunto,

facilmente estas perguntas poderiam passar desapercebidas, pois são clássicas e já eram

usadas no tempo em que frequentava o Ensino Básico como estudante. Mas ao atentar para

elas dá para perceber como retratam a subordinação das crianças ao comando do professor.

Seguindo a linha de raciocinio de Alves (2001, p.36), existindo eficiência no processo

de ensino da escola tradicional teriamos, ao final do processo educacional, “produtos”

perfeitos, que, pela rapidez com que muda o grau de importância de uma informação no

mundo atual, estariam em muito pouco tempo ultrapassada. Mas há uma deficiência no

sistema de ensino atual: esses “produtos” saem com defeito de fábrica, faltando peças que elas

não possuem capacidade de reporem sozinhas. “Com a rotatividade de professores existente

dentro das redes públicas, o currículo apresentado aos alunos é bastante fragmentado e

desorganizado.” (Paier, 2009, p. 60). Refletindo sobre o assunto chego a me perguntar se não

fiz parte de um lote de “unidades bio-psicológicas móveis” que saíram da fábrica com defeito,

ou pior, já saíram da fábrica ultrapassadas.

4.6. Escola da Ponte

Quando se é educado sob um paradígma educacional e começa-se a lecionar em

escolas onde este paradígma de ensino é usado e valorizado, fica difícil imaginar a existência

de outras formas de aprendizagem. Mas decidi que seria importante pesquisar sobre outras

formas de organização de ensino onde existisse um trabalho efetivo de auxílio para que as

crianças alcançassem a autonomia. Lembrei-me que em uma das aulas de Filosofia que tinha

tido no Curso de Matemática o professor propôs a discução de um texto que abordava uma

escola denominada Escola da Ponte. Era o texto de Rubens Alves, entitulado A escola que

sempre sonhei sem imginar que pudesse existir. O autor narrava uma visita à uma escola

situada em Portugual. No texto o autor conta que foi guiado durante esta visita por uma

criança de 9 anos que mostrava a escola com a familiaridade de quem apresentava a própria

casa. Ele cita que descobriu através do relato desta criança que nesta escola são os próprios

estudantes que escolhem as regras que deverão seguir. Que há um grande salão onde crianças

com niveis de desenvolvimento diferentes podem estudar juntas trocando experiência e que

eram os próprios alunos que escolhiam quando queriam estudar determinado assunto. Contava

Page 61: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

61

ainda que toda ação da escola era voltada para que as crianças pudessem adquirir autonomia

na busca pelo conhecimento.

Ainda não sabia se era o que estava à buscar por isso resolvi pesquisar para ver se

encontrava mais referencias sobre ela. Nessa minha pesquisa tive a felicidade de entrar em

contato com o Professor José Pacheco, ex-diretor dessa escola que me forneceu o email do

cordenador dessa instituição, Professor Cristiano e de seu filho, ex-aluno da Escola da Ponte

que acompanhou o inicio do processo de estruturação do progeto, Professor André Pacheco.

Interessava-me em saber como era realizado o trabalho de incentivo para auxiliar as

crianças a aprenderem estudar de forma independente e mais especificamente adquirirem

autonomia no estudo de Matemática. Encaminhei a eles um questionário que só fez aumentar

minha vontade de conhecer uma escola como esta de perto.

Inicialmente enviei o questionário ao Professor André4 perguntando como hávia sido

seu primeiro contato com a disciplina matemática na escola. Ele relatou que não conseguia ter

lembranças específicas deste acontecimento por que havia um único professor por disciplina,

“o que leva a que os alunos não sintam a fronteira imaginária entre as várias áreas de estudo”.

Questinando sobre as atitudes tomadas pelos professores quando o aluno mostrava não gostar

de Matemática ele contou que todas as ações da escola eram voltadas para que os alunos

adquirissem autonomia o que fazia com que desenvolvessem autoconfiança ao trabalhar com

novos contextos matemáticos. Uma das minhas inquietações e motivo para eu decidir o tema

do meu trabalho é o fato de considerar que os alunos terminam o Ensino Médio sem ter

desenvolvido a capacidade de ler um livro do Ensino Fundamental. Outro fator citado por ele

ao responder o questionário é que seus pais sempre o incentivaram a buscar respostas ao invés

de fornecê-las sem que ele houvesse se empenhado para aprender. Sobre a liberdade de

escolha dos temas que serão estudados ele explicou da seguinte maneira:

Na Escola da Ponte actual são as crianças que organizam as áreas de estudo

que trabalham em cada momento, respeitando os conteúdos gerais de cada

um dos ciclos de estudo e as especificidades de cada disciplina, sempre com

a supervisão dos professores. Deste modo, não havendo a rigidez do ensino

tradicional dirigido e com a utilização praticamente exclusiva de métodos

passivos, qualquer criança terá liberdade para estudar tal tema, desde que os

professores considerem que ela está apta a fazê-lo.

4 Anexo 1.

Page 62: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

62

Sobre a liberdade de escolha dos temas que serão estudados, o Professor Cristiano

explicou ao responder o questionário5, a não existência de cronograma pré-determinado para

que os alunos estudem determinados assuntos:

Cara Lídia, parece-me pertinente assinalar que na Ponte não há aulas. Não

existem momentos pré-determinados para um determinado assunto e em que

todos os alunos aprendam o mesmo ao mesmo tempo. No caso de um aluno

escolher um aspecto programático relacionado com a Geometria terá que: 1.º

Pesquisar sobre o assunto nos diferentes manuais disponibilizados para o

efeito e, se justificar, também noutras fontes de informação (internet,

enciclopédias. etc.); 2.º Se sentir dificuldades na pesquisa, solicita a ajuda do

grupo de trabalho; 3.º Se a mesma persistir, recorre a um dispositivo

pedagógico intitulado Preciso de Ajuda onde coloca o seu nome, data e

assunto e ser-lhe-á marcada uma Aula Directa6 sobre esse assunto.

O Professor Cristiano também cita que os professores de diversas áreas trabalham em

conjunto, tanto na escolha dos materiais didáticos como ao tomar a decisão de nortear suas

ações pedagógicas para resolver algum caso de aluno que declare não gostar de Matemática,

apesar de citar nunca ter presenciado um caso de algum aluno rejeitar essa disciplina desde

que começou a fazer parte da equipe desta escola.

Questionado se um aluno pode estudar um assunto que não esteja na grade curricular

da escola ele disse que o aluno possui esta liberdade:

Claro que pode! A questão é saber se existem precedências no seu percurso

que lhe permitam estudar mais aprofundadamente esse determinado assunto.

Exemplo: se um aluno do Núcleo de Iniciação (que integra, normalmente,

alunos desde os 5/6 anos até aos 9/10 anos) decidir estudar trigonometria

pode fazê-lo mas de um modo ajustado ao seu desenvolvimento cognitivo –

muito provavelmente passaria por saber o que é a trigonometria e para que

5 Anexo 2. 6 As Aulas Directas são organizadas pelos professores do seguinte modo: para além do aluno com a dificuldade assinalada, o professor solicita a presença de outros que detenham o mesmo problema e outros que, já tendo estudado o assunto, possam ajudar a superar a dificuldade. Na Aula Directa o aluno expõe a dúvida e tenta-se que seja o restante grupo (nunca mais de 6 alunos no total) a esclarecê-lo. No caso de tal não ser satisfatório, o professor explica diretamente o assunto.

Page 63: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

63

serve. No fundo pretende-se que a aquisição seja significativa e funcional.

No entanto, estas serão as excepções e não as regras porque muito

dificilmente escolhem assuntos matemáticos que não lhes sejam

próximos/concretos.

A Escola da Ponte é tida como referência mundial no estímulo à formação da

autonomia dos seus alunos. De acordo com o Professor Cristiano, ao lecionar numa escola

como esta é interessante que o professor reveja todo seu processo educativo para se adequar a

nova organização de ensino e aprendizagem da escola:

Quando um professor chega à escola pela primeira vez, inicia, normalmente,

um processo de desconstrução dos referentes profissionais veiculados,

também normalmente, pelas instituições de formação de professores – aliás,

considero que mais valia encerrar todo o sistema de ensino superior de

formação de professores! O processo que atrás refiro deve ser, tanto quanto

possível, monitorizado pelos que cá estão há mais anos. A nossa forma de

estar exige um enorme investimento pessoal e um rasgar com velhas

concepções – o que nem sempre é fácil. Contudo, tal como tudo na Ponte, o

acompanhamento dos outros é fundamental para que as dificuldades sejam

menorizadas.

Ao ler as respostas às perguntas das entrevistas deparei-me com afirmações como a

feita pelo Professor André: “o que leva a que os alunos não sintam a fronteira imaginária entre

as várias áreas de estudo”; ou a observação feita pelo professor Cristiano: “parece-me

pertinente assinalar que na Ponte não há aulas.” Conclui que para compreender o sentido de

uma escola como esta, só vivenciando sua realidade. Tive mais certeza disso ao ler a resposta

do Professor Cristiano quando indagado sobre as atitudes tomadas quando um aluno

manifesta não gostar de Matemática: “Sinceramente nunca me deparei com tal situação desde

que estou cá na Ponte”, algo impensável em uma escola que funciona nos moldes tradicionais.

4.7. EMEF Desembargador Amorim Lima

Ao pesquisar um pouco mais sobre o assunto li um artigo sobre a escola municipal

Desembargador Amorim Lima, situada na cidade de São Paulo.

No artigo havia indicação de que escola possuía um projeto pedagógico semelhante ao

da Escola da Ponte. Não queria escrever sobre projetos voltados para o estímulo da autonomia

Page 64: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

64

discente sem ter tido a oportunidade de um contato real com esse projeto. Decidi então, ir

conhecer esta escola.

Escrevi um e-mail para essa instituição e eles retornaram marcando uma entrevista. No

dia marcado fui recebida, junto com um grupo de estagiários, pela diretora da EMEF.

Durante a reunião ela se apresentou, perguntou por que tínhamos escolhido estagiar lá,

contou a história da escola e recomendou que quem fosse estagiar lá ficasse pelos menos até o

final daquele semestre. Ela explicou que demoraríamos a entender que a escola só possuía

uma forma de organização diferente, mas que, ao primeiro olhar, podíamos considerá-la uma

bagunçada. E ela não queria que “julgássemos o livro pela capa”.

Achei graça na recomendação feita por ela, mas não demorei muito a entender o

porquê. Na semana seguinte comecei a frequentar a escola. Escolhi o período da tarde para

fazer minhas observações. Ele teria inicio às treze horas e, nesse primeiro dia, eu cheguei

meia hora adiantada. Como não conhecia a escola achei que seria melhor esperar na sala dos

professores. Acostumada com uma sala de professores com a porta encostada onde os alunos

estão proibidos de entrar para não atrapalhar, confesso que nunca tinha visto uma tão agitada.

As crianças entravam para pegar material, medir pedaços de pano e algumas estavam

enfeitando bambolês com tira de papel num canto da sala. Logo uma das professoras me

explicou que tanta agitação é porque estávamos próximos à Festa da Cultura Brasileira.

A Festa da Cultura Brasileira é um evento que ocorre todo ano no mês de setembro na

escola. Quando assumiu sua direção a diretora que nos recebeu encontrou a EMEF em uma

situação muito delicada: havia uma taxa muito alta de evasão e o número de faltas de

professores era muito elevado, o que fazia com que os alunos ficassem dispersos pelas

dependências da escola por não terem quem os orientassem. Por causa disto ficaram muito

atrasados em relação ao conteúdo e a indisciplina era constante.

Analisando a situação, ela decidiu que sua primeira ação para revertê-la deveria ser no

sentido de diminuir a evasão dos alunos, pois conhecia a comunidade e sabia dos perigos aos

quais ficavam expostas as crianças quando não estavam na escola. Resolveu, então, pedir a

colaboração da comunidade para criar oficinas em que os alunos pudessem participar fora do

horário de aula.

Foram criadas oficinas de dança, músicas e capoeira com a ajuda dos pais dos alunos.

Com o funcionamento dessas oficinas, começou-se a se perceber a importância da valoração

da cultura de onde a comunidade está inserida para o aumento da sua auto-estima e cuidado

que ele passa a ter com o ambiente onde vive. A partir dai “a Cultura Brasileira veio a se

Page 65: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

65

tornar um dos pilares fundamentais da EMEF” (Paier, 2009, p.33) e as formas de valorizar

esta cultura tornaram-se parte da grade curricular da escola. A Festa da Cultura Brasileira é

uma forma de celebrar este aspecto da escola para que ele seja reforçado a cada ano.

Achei estranho porque o sinal não tocou quando deu a hora da aula começar. Nem o

sinal tocou nem as crianças foram para a sala de aula, continuaram ocupando todos os espaços

da escola, levavam e traziam materiais que serviriam para enfeitá-la e para decorá-la para a

festa. Uma das professoras explicou que as crianças não estavam naquele momento estudando

matérias dos livros por que cada grupo tinha escolhido uma forma de ajudar na preparação da

festa e se ocupariam com isso até que ela acontecesse. Senti-me em uma grande oficina de

arte.

A Professora Maria7, especialista em Matemática no período da tarde, me convidou

para acompanhá-la ao salão onde estavam sendo feitos alguns projetos pelos alunos do Ciclo

II. Ela explicou que as crianças já tinham definido qual seria a colaboração delas para o bom

andamento da festa e que eu podia ficar a vontade, depois que tivesse tido a oportunidade de

conhecer cada um deles, de escolher de qual queria participar.

Quando cheguei ao salão estavam todos entretidos com seus afazeres, me senti meio

deslocada. Resolvi, então, passear pela escola para conhecê-la melhor. Achei a aparência da

escola bastante feminina, pois havia um cuidado grande com cada detalhe. A escola possui

dois pátios: no pátio menor há uma maquete da cidade feita de pedaços de azulejos e um

quadro, representando a bandeira do Brasil, fixado à parede além de vasos de plantas. O outro

pátio, mais espaçoso, possui a parede pintada com uma carta de princípios de convivências

que foi formulada pelos alunos em conjunto com os professores. Em todos os corredores que

unem os pátios com as outras dependências da escola há quadros com temas ligados a cultura

brasileira.

No refeitório há um mural com desenhos dos alunos, feitos em azulejo, que mostra

como os trabalhos das crianças são valorizados. A biblioteca fica no fim do corredor e é

organizada de forma a parecer um cantinho de leitura, onde as crianças podem procurar

materiais complementares para a realização de atividades ou apenas ler,

descompromissadamente. Além da biblioteca as crianças também podem contar com um

laboratório de computação para pesquisas.

7 Nome fictício

Page 66: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

66

Figura 23: Foto da área externa da escola.

A escola possui três andares e em cada um deles um salão. Os salões são formados

pela derrubada das paredes de duas ou mais salas de aula para a criação de um espaço onde os

alunos de diferentes séries pudessem estudar no mesmo ambiente. Eles são bastante amplos e

possuem janelas em toda sua extensão. Nas janelas há cortinas verdes e nas paredes estão

expostos trabalhos feitos pelos alunos. Além do salão a escola possui salas de aulas menores

que são usadas eventualmente para aulas expositivas e realização de projetos. Na parte de

fora, encontramos uma oca e um forno a lenha, construídos com ajuda de uma tribo indígena

que visitou a escola. Tem ainda uma pista de skate e um pequeno parque. A aparência da

escola é cuidada em cada mínimo detalhe, pois essa foi uma das providencias tomadas para

que o ambiente se tornasse aconchegante e as crianças aprendessem a gostar dele.

Figura 24: Foto da Oca construída na área externa da escola

Cada ser humano possui características individuais e diferentes ritmos e formas de

Page 67: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

67

perceber o mundo. Respeitar a individualidade de cada um dos envolvidos no projeto

pedagógico e, especialmente a individualidade das crianças, é um cuidado que a EMEF

Amorim Lima faz questão de ter. Para isso procurou planejar uma divisão temporal, de forma

a respeitar o ritmo de aprendizagem de cada um de seus alunos, dando a eles espaço para

desenvolverem plenamente seu potencial. Sobre este assunto, Paier (2009) fez a seguinte

observação:

Quando cada estudante é co-autor de seu processo de aprendizagem, a

igualdade não pode ser tomada como objetivo final, pois cada um traçará um

caminho próprio. A igualdade, dentro do Projeto Limongi8, é encarada como

a capacidade de todo ser humano para o aprendizado, mas as diferenças

individuais são respeitadas ao longo do processo, numa atitude de equidade

por parte dos educadores. (PAIER, 2009, p. 63)

A escola atende crianças em todos os anos do Ensino Fundamental. As séries que vão

do primeiro ao quarto ano, pertencem ao Nível I e as que vão do quinto ao oitavo ano, ao

Nível II. Ainda existe uma distinção entre crianças que estão em anos letivos diferentes, mas

faz parte dos planos da escola abolir essa distinção, permitindo que alunos de séries diferentes

possam realizar as atividades em conjunto.

Ao inicio de cada ano letivo cada criança recebe um roteiro de aprendizagem que

deverá ter concluído quando o ano terminar. Se, porventura, isso não ocorrer, deve retomá-lo

no ano seguinte do ponto em que parou. Se ao final de um nível ela não tiver concluído as

atividades, permanece por mais tempo neste nível, até que consiga concluí-lo.

A escola funciona no período da manhã, das sete às doze horas, e no período da tarde,

das treze às dezoito horas. Durante o tempo em que permanecem na escola, as crianças

participam de atividades realizadas na sala de informática, de atividades de pesquisa e de

diversas oficinas.

Cada professor faz o acompanhamento de uma turma de até vinte alunos. Todas as

atividades são realizadas em grupos de, em média, cinco alunos. Os grupos recebem o nome

de uma letra ou um número para que possam ser identificados na escola. Na composição

destes grupos é tomada a precaução de que ele seja heterogêneo, de preferência com crianças

de ambos os gêneros e que possuam ritmos diferentes de aprendizagem. Essa medida é

8 Nome fictício dado pelo autor ao Projeto da EMEF Desembargador Amorim Lima.

Page 68: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

68

importante para que as crianças possam aprender a trabalhar suas diferenças e trocarem

experiências.

Em uma escola estruturada de uma forma tradicional, onde o professor é quem define

o ritmo de aprendizagem e determina o que é melhor para a maioria dos alunos, uma criança

que possua um ritmo particular é, automaticamente, excluída desse processo. Tanto uma

criança que possua um ritmo de aprendizagem rápido, porque ela se entedia, ao estudar por

muito tempo, assuntos que já compreendeu. Dessa forma, não consegue manter a

concentração, pois tem a impressão de que o professor está falando em um idioma

incompreensível, ou falando sempre a mesma coisa. Permitir que as crianças trabalhem os

roteiros recebidos em seu próprio ritmo, visa sanar este problema.

Outra característica que diferencia a Amorim Lima de uma escola tradicional é que

não existe o toque de sinal avisando o término e o início de cada atividade. Ao começo de

cada ano é feito o planejamento dos horários em que cada atividade deverá acontecer, com a

participação das crianças e professores. Esse horário é cumprido durante o ano letivo. Essa

medida é tomada para que as crianças e funcionários da escola aprendam a se auto-

regulamentarem no cumprimento das responsabilidades que assumiram para si. A não divisão

sistemática dos conteúdos em matérias distintas também visa evitar que as crianças tenham

uma visão compartimentada de saberes.

Conversando com o Eduardo9, um dos inspetores da escola, ele me explicou que

combater essa visão compartimentada é importante, pois quando se vai trabalhar com um

determinado objeto não é possível dividi-lo por disciplinas, separando a parte matemática, a

parte geográfica, a parte histórica ou a parte linguística. Ao estudar um objeto, o trabalhamos

como um todo. Por isso devemos ensinar as crianças que essa separação foi feita só para

facilitar as aulas, mas que ela não existe no mundo real.

A escola, ao mesmo tempo em que valoriza o trabalho do especialista de cada

disciplina, toma o cuidado de realizar trabalhos de forma a auxiliar as crianças a olharem de

forma transdisciplinar para os conteúdos, para que elas estejam aptas a dispor desses

conhecimentos para resolver situações que ocorram em suas vidas e não somente em questões

propostas de forma escrita em atividades.

Voltei na quarta feira à escola e confesso que me sentia perdida: o sinal nunca tocava,

não existiam salas de aula com fileiras de carteiras, nas lousas das salas só haviam desenhos e,

9Nome fictício

Page 69: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

69

em pleno horário de aula, as crianças estavam fora da sala sem que ninguém as repreendessem

por isso. “Se você ficar dando aula aqui, uns... dois anos, conseguirá entender toda essa

bagunça!”, disse uma das crianças em tom de brincadeira, estendendo as mãos para mostrar a

“desorganização” da escola. Não consegui segurar o riso por causa da forma com que ela fez

essa observação, mas por outro lado, temi que ela estivesse certa.

Uma das professoras do Nível I prepararia, com a ajuda de seus alunos, um painel para

colocar na fachada da escola. Colaborar nessa tarefa foi a minha primeira ação para o bom

andamento daquela festa. O cartaz era grande, tinha uma área de aproximadamente doze

metros quadrados. Durante a preparação, começou a ventar muito. Fui elogiada quando tive a

ideia colocar uns livros velhos que tinha em um armário da escola como peso nas bordas do

painel, mas quem salvou mesmo o dia foi uma das crianças que resolveu aprimorar minha

idéia usando os livros para fixar as estrelas de papel laminado com mensagens escritas pelas

crianças para suas mães, pois além de poupar os colegas do trabalho de segurar os desenhos,

ainda dava a oportunidade de podermos nos afastar para visualizar como o cartaz ficaria

quando estivesse pronto.

Figura 25: Pátio da escola

Fonte: http://www.amorimlima.org.br

Fiquei aquela tarde toda auxiliando na colagem das mensagens no cartaz e quando o

relógio marcava dezessete horas e meia tive que avisar que já era hora de eu ir embora,

deixando as crianças ainda terminando o trabalho.

Em uma escola onde o sinal tocasse a cada cinquenta minutos aquele pareceria ser um

tempo perdido, mas ao fazer parte daquela preparação, comecei a entender o conceito de

Page 70: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

70

autonomia em um sentido mais amplo. Além de se ensinar conteúdos, é necessário que a

escola crie condições para que a criança aprenda a viver em sociedade. De acordo com Piaget

(1977), a educação moral é essencial para que o indivíduo possa ter esse convívio:

A educação moral é algo que se torna essencial devido à crescente

preocupação com o individualismo dos sujeitos na sociedade atual, cada vez

mais violenta. Indivíduos presos a uma moral egocêntrica e heterônoma

estão muito longe de um processo de cooperação ou da busca do bem

comum, e, portanto, são muito mais suscetíveis a estar à margem de

nossa sociedade. (PIAGET, 1977, p.3)

Autonomia moral é a capacidade que uma pessoa ou um grupo de pessoas tem de

discutir as regras, legitimarem e obedecerem a um código de ética sem que sofram pressões

externas para fazê-lo. Uma pessoa que só não comete vandalismo por medo de ser descoberto,

que não rouba por medo de ser preso ou que não maltrata seu filho só por receio de que os

vizinhos tenham uma visão negativa ao seu respeito é uma pessoa moralmente heterônoma. A

conquista da autonomia moral só se dá quando a pessoa interioriza as regras e a reconhece

como importante para o seu bem estar e o bem estar da comunidade onde vive. De acordo

com os autores dos PCN, tão importante quanto à conquista da autonomia intelectual é a

conquista da autotomia moral.

Ainda que na escola se destaque a autonomia na relação com o

conhecimento — saber o que se quer saber, como fazer para buscar

informações e possibilidades de desenvolvimento de tal conhecimento,

manter uma postura crítica comparando diferentes visões e reservando para

si o direito de conclusão, por exemplo —, ela não ocorre sem o

desenvolvimento da autonomia moral (capacidade ética) e emocional que

envolve auto-respeito, respeito mútuo, segurança, sensibilidade, etc.

(BRASIL, 1997, p. 62)

Citando Piaget, Galllego (2006) explica que a imposição de normas pelos adultos

somente consegue reprimir atitudes consideradas inconvenientes para a sociedade, mas que a

obediência das crianças a uma regra imposta só se dá de forma aparente:

[...] a coação do adulto não é capaz de reprimir o egocentrismo infantil.

Page 71: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

71

A criança submete-se em aparência, ou seja, ela pensaria “devo obedecer

somente quando sou observado”. Entretanto a submissão efetiva a uma regra

só se dá quando ela é reconhecida como boa. (GALLEGO, 2006, p. 2)

Para um projeto de ensino que visa o desenvolvimento da autonomia de uma forma

ampla, de nada interessa a obediência cega às normas por parte das crianças. Por isso a

Amorim Lima procurou criar mecanismos para que os alunos pudessem obedecer de forma

autônoma as normas da escola, tentando criar um ambiente onde se torne necessária a

cooperação entre os estudantes, com tarefas que necessitem de mais de uma criança para

concluí-la para que elas aprendam na prática o que é viver em sociedade, pois “não pode

haver completa autonomia moral, exceto pela cooperação.” (Piaget, 1977, p.335)

Figura 26: Realização de trabalhos manuais.

Fonte: http://www.amorimlima.org.br

Além de aproveitar todas as situações ocorrentes na escola como forma de incentivar a

cooperação entre os alunos, outro cuidado tomado foi a não imposição de regras por parte dos

adultos: todas as regras da escola foram discutidas com as crianças.

Em dezembro de 2005, ano de inicio do projeto na EMEF Desembargador Amorim

Lima, foram realizadas três assembléias onde havia cerca de cem alunos e os professores

participaram apenas como observadores, dando a possibilidade para os alunos guiarem todo o

processo. Foram decididos quais seriam os direitos e os deveres a serem cumpridos na escola.

Page 72: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

72

Essas normas resultaram no documento intitulado “Carta de Princípios de Convivência10”. O

conteúdo desse documento foi pintado em um dos pátios da escola estando sempre a vista de

todos os alunos, inclusive dos alunos que começaram a estudar na escola, após sua

formulação.

Ensinar na autonomia não é tarefa fácil, pois ao trabalhar com crianças, tratar com

liberdade, entre outros, pode ser interpretado como tratar com indiferença. Essa é uma questão

que faz com que tanto os educadores como as crianças passem por conflitos internos sobre a

forma “correta” de conduzir as intervenções feitas no processo de ensino e aprendizagem. Ao

conversar com a Professora Carmen11 ela relatou que ao entrar nas salas da outra escola em

que trabalha, pede para as crianças sentarem em suas cadeiras e passa lição na lousa, mas que,

para respeitar o projeto, ao entrar nas salas da Amorim Lima tenta dar um tempo maior para

que as crianças se conscientizem da necessidade da aula por si mesmas. Ela contou que já

chegou a se perguntar se esse era o certo a ser feito, mas respeita o projeto pedagógico da

escola, porque acredita estar, dessa forma, educando elas para serem autônomas.

As crianças a qual ela se referia eram os alunos do ultimo ano do Ciclo II. De todos os

alunos, essa é a turma que possui a memória mais viva da fase anterior ao projeto que trouxe

tantas mudanças a escola.

Ao contrario do que se possa pensar a observância às regras em uma escola que educa

para a autonomia precisa ser feita de forma bem mais rigorosa do que em uma escola com as

regras pré-definidas pela direção, pois as crianças tendem a colocar as convicções dos adultos

a prova. Quando alguma criança desrespeita as regras de forma intencional, o caminho

percorrido é sempre o do dialogo. Inicialmente o diálogo entre as crianças e os professores e,

em segunda instancia, o diálogo entre os professores e os responsáveis pelos alunos. “Não é

que a escola não tenha problemas. A diferença é que aqui eles não são mascarados: são

enfrentados.” disse a Professora Maria quando conversávamos sobre como lidavam com os

possíveis casos de indisciplina na escola.

Segundo Baroukh (2006, p.2), o dialogo é sempre o melhor caminho quando se educa

na autonomia: “Os envolvidos no processo educativo precisam saber escutar e através do

diálogo fica mais fácil viver este percurso difícil de conquista de autonomia, muitas vezes

doloroso tanto para o educador quanto para o educando.”

Um dia em que eu estava visitando a escola, as crianças da sétima série tinham entrado

10 Anexo 3

11 Nome fictício

Page 73: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

73

no salão onde as crianças do Nível I estudam e bagunçado alguns materiais. As professoras

chamaram as crianças para conversar e pediram para que elas refletissem se seria daquela

forma que elas gostariam de ver seus materiais ou local de estudo serem tratados. Depois de

conversarem, ficou decidido que as crianças arrumariam a bagunça que fizeram e que, pela

gravidade do ocorrido, os pais seriam avisados. O interessante é que após o ocorrido, salvo

algumas exceções, os próprios estudantes declaram terem percebido como a atitude deles foi

imatura e se comprometem não repetir mais o que fizeram.

Fatos como o que relatei acima são cada vez menos comuns na escola. As professoras

contam que a transição da escola de um modelo de organização tradicional para a

incorporação do projeto Amorim Lima não foi fácil, exigiu bastante persistência e paciência

por parte dos professores, pais e funcionários da escola, mas que aos poucos um número

grande de alunos chamou a responsabilidade para si e vive de forma plena o projeto.

Tive a oportunidade de perceber que a cooperação não é só estimulada entre os alunos:

essa união também ocorre entre os professores: estava saindo da escola para voltar para casa

quando passei pelo pátio e pude ouvir um trecho da conversa entre os pais dos alunos

envolvidos na bagunça e os professores. Ao comunicar ao responsável, em uma escola

tradicional, sobre algum ato de indisciplina dos estudantes, geralmente apenas um professor é

chamado para essa conversa. Diferente do que ocorre nessas escolas, no pátio da Amorim

Lima estavam cerca de oito professores participando da conversa. Por sua forma de

organização e comprometimento, os professores têm mantido o bom andamento do projeto e o

bem estar dos alunos. Nunca um professor assume, sozinho, a responsabilidade por algo que

fugiu ao controle nos ambientes de estudo. Sentindo esta união entre os professores, além de

terem oportunidade de aprenderem solidariedade no convívio com seus colegas, os estudantes

ainda podem aprender essa cooperação pelo exemplo dos professores.

Na escola, com a criação dos salões de estudo, surgiu um espaço perfeito para que os

professores pudessem trabalhar de forma solidária com os demais colegas, na chamada

docência compartilhada. As atividades na EMEF Amorim Lima são programadas de forma

que possa estar sempre dois ou mais professores nos espaços de estudo para auxiliarem as

crianças. Essa interação entre os professores favorece a elaboração de projetos

transdiciplinares em que as crianças têm a oportunidade de ver o objeto estudado do ponto de

vista de diversas disciplinas distintas.

Foi um dos fatores que achei mais encantadores da escola. A docência, até então para

mim, era algo solitário onde o professor tinha que dar conta de ensinar e manter a disciplina,

Page 74: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

74

fazendo certo ou errado seu serviço: desde que não desse trabalho para a direção, estava tudo

bem. Esse sentimento de solidão é comum entre os membros do magistério. Acabamos por

temer dar demonstrações de estar passando por dificuldades, com medo que isso seja

interpretado como sinal fraqueza ou incompetência. “Você embrutece, não importa o quão

delicado você seja, você embrutece ou não sobrevive ao sistema”. Essa foi a resposta dada por

um professor a um questionamento feito por uma das professoras Amorim Lima sobre como

os professores trabalham nas redes educacionais, tidas como difíceis de atuar, para lidar com

os contratempos que ocorrem se tiverem uma natureza frágil. Dizem que “os livros são

amigos que não falam”, e, na maioria das vezes, eles são os únicos com quem podemos

contar. Sobre este assunto Paier (2009) escreveu:

Nas duas escolas municipais em que trabalhei anteriormente, o isolamento

dos professores era assustador. Nas tentativas que fiz de conhecer o projeto

político-pedagógico e o currículo das escolas, fui informada pelas

respectivas coordenadoras que elas “respeitavam a liberdade” docente,

indicando que eu fizesse o trabalho que julgasse melhor, lembrando de

“manter os alunos calmos e dentro da sala!” (PAIER, 2009, p.23)

A docência solidária veio para amenizar os inconvenientes ocasionados pela falta de

alguns professores, pois mesmo que um docente falte, a função que ele desempenharia é

assumida imediatamente por um colega.

Para que seja efetiva essa ação dos professores, eles passaram a trabalhar de forma

polivalente, sendo cada um responsável por auxiliar os estudantes em questões referentes a

todas as disciplinas. Para isso alguns professores fazem curso de introdução em disciplinas

distintas da quais eles estão habilitados, além de contarem com o auxílio dos colegas

especialistas em cada área do conhecimento.

Outra vantagem descrita pelos estudantes e professores sobre haver mais de um

professor nos espaços de estudo é que, às vezes, uma pessoa que não é especialista em uma

determinada área fala sobre os conteúdos utilizando uma linguagem mais simples do que

alguém que se especializou nela.

Uma questão a ser observada na docência solidária é que o professor precisa exercer

sua autoridade frente aos alunos, pois o trabalho é direcionado a seres heterônomos que estão

se preparando para a autonomia, como cita Paier (2009) no trecho abaixo:

Page 75: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

75

Portanto, o trabalho não parte do pressuposto de que os estudantes sejam

autônomos, mas, ao contrário, que estão num estágio de heteronomia e

requerem um ambiente apropriado e uma supervisão de seus educadores para

se desenvolverem rumo à autonomia. Nessa perspectiva de trabalho, o

professor assume um papel fundamental no coletivo dos estudantes e sua

autoridade deve ser assumida integralmente, sem medo de obstruir o

caminho dos estudantes. (PAIER, 2009, p.53)

O exercício da autoridade requer coerência e quando ela é exercida em cooperação

com outra pessoa é necessário que a criança não sinta que dissonância de opiniões desvalorize

a opinião de uma das pessoas a exercerem esta autoridade. Para que haja sincronia entre os

professores, são realizadas reuniões onde são conversados os aspectos relevantes ocorrentes

nos horários de estudo.

Lecionar em cooperação é uma experiência bastante enriquecedora e exige humildade

tanto para que se possa fazer criticas construtivas a respeito das atitudes do seu companheiro,

quanto para ouvir a opinião de alguém sobre o que pode ser melhorado no seu trabalho. Na

primeira vez que subi ao salão onde as crianças do Nível II estudam, fui avisada que ao entrar

lá precisaria estar preparada para responder as dúvidas dos alunos, pois qualquer adulto entre

eles é promovido a educador.

Inicialmente, os alunos da Amorim Lima não tinham aulas expositivas de Matemática,

mas reivindicaram essas aulas por se sentirem sem condições de estudar de forma

independente essa disciplina, pois consideravam não terem ainda amadurecida sua capacidade

de ler textos matemáticos. Sabendo que eu era aluna de Matemática, a professora Maria me

convidou para ministrar algumas aulas.

A maior parte dos conteúdos que trabalhei já tinha trabalhado nas salas que lecionei,

mas teve uma vez que fui explicar sobre equação e tive que lidar com a inquietação das

crianças, apesar delas agirem de forma bastante educada. Ao término da aula a professora me

chamou atenção para o fato de eu estar detalhando demais a explicação, pois os adolescentes

são geralmente impacientes.

No outro dia dei continuidade à explicação e eles dessa vez prestaram atenção e

fizeram muitas perguntas interagindo com a aula. Se tivesse em sala de aula sozinha, levaria

um bom tempo para perceber a falha que estava cometendo.

O que poderia ser interpretado como um inconveniente para alguém que olhasse

distraído é um fator muito importante na aquisição da autonomia das crianças.

Page 76: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

76

Como um mesmo assunto pode ser conversado com todos os professores, as crianças

tendem a não quererem esperar o professor especialista para perguntar sobre ele. Ao

questionar sobre a matéria para uma pessoa que não vem acompanhando todo o seu processo

de aprendizagem, o aluno precisa sintetizar para esse interlocutor todo o seu processo de

evolução. Essa necessidade de resgatar o ponto onde a matéria parou, faz com que o aluno

chame para si a responsabilidade sobre esse processo.

Por exemplo, se o aluno se depara com a necessidade de utilizar o conceito de tangente

na resolução de um exercício, para não ter que ouvir de novo a explicação sobre semelhança

de triângulos, cateto oposto, cateto adjacente, hipotenusa, ângulos etc., ele geralmente acaba

achando mais fácil resumir o que já aprendeu para que o professor possa ir direto ao ponto.

Assim ele pode explicar que já conhece o significado de seno ou o de cosseno e somente

chegou a uma questão que precisa saber outro conceito que ele ainda não aprendeu e não

conseguiu entender nas aulas diretas nem na leitura do livro. Esse trabalho de síntese feita de

forma constante faz com que o aluno se aproprie do seu processo de aprendizagem, dando

assim um passo importante para a conquista de sua autonomia intelectual.

Com exceção de Matemática e Inglês, duas matérias em que se trabalham com outra

forma de linguagem que não a natural, os assuntos referentes as outras disciplinas são

trabalhados de forma independentes pelos alunos. O professor atua como um colaborador

incentivando o aluno a consultar seus colegas e indicando livros e sites. A explicação é algo

que é feita somente em última instância, quando o professor percebe que o aluno já dispôs de

todos os meios para entender a matéria trabalhada.

Os temas que os alunos deverão trabalhar são separados por eixos temáticos12 e cada

Eixo Temático é composto por, em média, treze roteiros de pesquisa13. Os roteiros de

pesquisa possuem o tema a ser estudado e em qual livro o aluno poderá encontrar as

atividades teóricas a serem realizadas, além de textos sobre o conteúdo que está sendo

estudado.

De acordo com Paier (2009, p. 58) a EMEF Amorim Lima participa do projeto Plano

Nacional do Livro Didático (PNLD) que tem como objetivo a distribuição gratuita de livros

com conteúdos de Língua Portuguesa, Matemática, Ciências, História e Geografia.

As partes teóricas dos roteiros a serem trabalhados provêm desses livros. Além dos

livros que as crianças recebem anualmente, ainda existe um acervo reserva na biblioteca para

12 Modelo de lista de Eixo Temático no Anexo 4

13 Modelo de roteiro de pesquisa no Anexo 5

Page 77: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

77

o caso das crianças sentirem curiosidade de saber um conteúdo que não faça parte da série que

ela estuda.

Os roteiros de pesquisas são instrumentos importantes para que as crianças possam

estudar com autonomia, pois não precisam esperar todo dia uma nova instrução do professor,

pois têm liberdade de escolher em que sequência realizarão as atividades teóricas.

O fato das crianças poderem trabalhar no seu próprio ritmo, buscando em primeiro

lugar a ajuda dos colegas e solicitando a ajuda do professor somente no caso de ter tentado

todos os meios, é bom porque libera os professores para que possam dar uma atenção maior

aos alunos que apresentam maiores dificuldades em determinados conteúdos.

O respeito aos ritmos de aprendizagem dos alunos geram muitos bons frutos. Na

Amorim Lima, o respeito às diferenças é algo levado a sério. Algumas vezes, ao ver uma

criança necessitada de atenção especial um pouco agitada, nós, que não estávamos

acostumados, indagávamos sobre o que ela tinha e recebíamos como resposta: “Vontade de

aparecer”, “manha” ou “rebeldia” (essas coisas que mãe fala). Nunca respostas como “Ah

coitado ele é doente”, “ele é autista” ou “ele é especial”.

Um dia, fiquei responsável no auxilio de um aluno que tinha dificuldade de

aprendizagem e escolhi uns exercícios de multiplicação para ele fazer. Uma das professoras

me explicou que já tinham tentado ensinar antes para ele e ele não conseguiu aprender. “Ela

acha que eu não sei, ta bom que eu não sei!” ele comentou bravo. Pegou o papel, resolveu os

exercícios e depois levantou a mão para mostrar para a professora que já tinha aprendido. A

expressão que a professora fez mostrava um misto de surpresa e felicidade por presenciar o

avanço de uma criança que, sabia ela, não teria chance de desenvolver seu potencial se

estivesse em uma escola onde o tempo fosse cronometrado.

De forma simultânea à parte teórica, as crianças participam de projetos que visam dar

uma abordagem prática aos conteúdos trabalhados.

Para isso, qualquer ocasião é usada como fonte de aprendizado. Por exemplo, nos

meses do novembro e dezembro as crianças da oitava série do Nível II, de acordo com seu

roteiro de pesquisa, começam a estudar as relações existentes nos triângulos. A Festa da

Cultura ocorre no final de setembro. Então é uma ocasião perfeita para que os alunos

comecem a ter as primeiras noções sobre este conteúdo. No ano de 2009 o tema da festa foi

“Etnoastronomia: como diferentes povos vêem o céu”. Como já foi citado, o estudo das

relações existentes nos triângulos se iniciou pela necessidade que os povos antigos tinham de

conhecer de forma mais detalhada os movimentos dos astros celestes. Criaram assim

Page 78: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

78

instrumentos e teorias que facilitavam esses estudos. Os professores da Amorim Lima

propuseram então, projetos que, de certa forma, recriam esse ambiente de pesquisa existente

na antiguidade.

Figura 27: Painel da festa da cultura realizada em 2009

Fonte: http://www.amorimlima.org.br

Em um dos projetos foi criado um astrolábio e em outro projeto foi feita uma maquete

do céu, segundo a crença de Aristóteles de que a Terra era o centro do universo, além de uma

maquete do céu segundo Aristarco, que foi o primeiro a defender a existência de um sistema

heliocêntrico, onde os planetas giravam em torno do Sol.

Dessa forma, quando as crianças começam a ter um contato com a parte teórica do

conteúdo, lembram-se da parte prática e conseguem assimilar os conceitos com uma maior

facilidade.

Outra vantagem das abordagens dos conteúdos pela parte prática é que, por exemplo,

ao criar a maquete dos sistemas “solares ou terrestres” propostos pelos astrônomos da

antiguidade, era necessário um estudo histórico sobre a vida desses astrônomos e dos povos

contemporâneos a eles, assim como um estudo sobre planetas e satélites e um estudo

geográfico, pois algumas coisas escritas nos livros, como o fato do Sol do meio dia estar

exatamente no meio do céu, só é verdade para algumas partes da Terra. Enfim, ao criar um

Page 79: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

79

projeto para auxiliar a aprendizagem de algum conteúdo, acabam-se criando a oportunidade

de se contemplar diversas áreas do conhecimento.

Ensinar para a autonomia requer, além do ensino da autonomia moral, o ensino de

atitudes que viabilizem o andamento desse processo. O aluno deve ter sua metacognição, que

é o conhecimento sobre os seus meios cognitivos, estimulados para que se torne apto a

reconhecer as particularidades existentes em sua forma de aprender. Em outras palavras, mais

do que aprender conteúdos é necessário que a criança aprenda a aprender.

Qualidades como perseverança, paciência e disciplina são muito importantes nesse

processo e devem ser estimuladas, pois o estudante deixa de ser apenas um espectador do

processo de aprendizagem que espera para saber qual será o próximo passo dado pelo

professor, para tornar-se autor desse processo. De acordo com Baroukh (2006), esse é um

processo trabalhoso:

O desejo pelo conhecimento e apropriação por sua busca são também

processos difíceis e dolorosos. Ser agente deste processo dá muito trabalho e

demanda muita persistência e disposição para correr riscos. Um projeto que

propõe autonomia de pesquisa muda radicalmente o papel do estudante, que

passa a ser sujeito do próprio aprendizado. (BAROUKH, 2006, p.3)

Por ter ciência que aprender a aprender não é tarefa fácil, a escola Amorim Lima criou

alguns mecanismos para auxiliar os alunos no desenvolvimento de sua metacognição. Entre

esses mecanismos está a elaboração de um plano quinzenal de estudos14. Neste plano os

alunos definem quais são as metas a serem alcançadas no prazo de quinze dias, tanto metas

sobre o conteúdo como metas referentes a atitudes, como ser amável com os colegas ou

dedicar uma determinada quantidade de horas diárias para estudar. Formular e tentar

acompanhar as metas traçadas faz com que as crianças vão tomando consciência de suas

qualidades e limitações e sua forma de se relacionar com os conteúdos.

Outro dispositivo utilizado é o Registro Diário15 onde as crianças fazem uma síntese

de suas descobertas diárias. Essas anotações diárias são úteis para que as crianças possam

refletir sobre o que foi estudado e se houve uma efetiva aprendizagem. Auxiliam também na

hora em que o aluno precisa questionar um professor ou colega sobre determinado assunto

14 Modelo do plano quinzenal de estudos no Anexo 6.

15 Modelo de ficha do Registro Diário no Anexo 7.

Page 80: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

80

para que ele possa direcionar a pergunta de uma forma a situar o seu colega ou professor

sobre a profundidade que ela precisa que esse assunto seja esclarecido. Sobre a utilização de

relatórios diários como estratégia no estimulo da metacognição, D’Ambrósio (1996) fez a

seguinte observação:

Trata-se de um relatório escrito, reconhecendo que o mundo moderno exige

escrita em praticamente todas as suas ações. Além disso, é amplamente

reconhecido que, por intermédio da escrita, o indivíduo pode, mais

facilmente, reconhecer seu próprio processo cognitivo e assim encaminhar

adequadamente esse processo. Metacognição da qual essa é uma estratégia, é

uma das mais promissoras direções que vem tomando as ciências cognitivas.

Mesmo em Matemática, a adoção de escrita vem sendo defendida.

(D’AMBROSIO, 1996, p. 70)

Também são usadas fichas de auto-avaliação16 dos trabalhos quinzenais onde a criança

dá seu parecer sobre o que foi estudado e se conseguiu realmente aprender durante esse

período.

A avaliação dos estudantes passa por diversas fases. A hora que quer ser avaliado é

decidida pelo aluno quando sente que seu trabalho já está pronto para ser mostrado ao

professor. Ela é feita quando os professores lêem os roteiros dos alunos, indicando se ele foi

feito de uma forma coerente com o que foi pedido. A outra parte da avaliação é a preparação

de um portfólio, onde as crianças descrevem o que foi aprendido ao final de um roteiro de

pesquisa, além de representar o que foi aprendido por meio de uma colagem ou um desenho.

A correção dos roteiros e idéias para aperfeiçoá-lo pode ser feita por qualquer educador que

esteja disponível nos espaços de aprendizagem. Já a correção da ficha de auto-avaliação, só

pode ser pelo professor responsável.

A falta da aplicação de provas é uma coisa que angustia os alunos que já estão para

sair da EMEF Desembargador Amorim Lima. “A escola podia retomar a realização de provas.

Se não somos avaliados, como podemos ter certeza que aprendamos? Ano que vem, vamos

para outra escola e lá terá provas.” Essa foi uma observação feita por uma das alunas. A

professora explicou que ao permitir ser avaliada a pessoa está delegando a alguém a função de

decidir o que é necessário ou não que ela aprenda. E uma pessoa que quer conquistar a

16 Modelo de ficha de auto-avaliação no Anexo 8.

Page 81: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

81

autonomia deve estar pronta para ser o melhor no que faz, independentemente de ser avaliada

ou não. Pois no mercado de trabalho, nas relações de amizade e nas relações familiares, a

maior parte das vezes, ninguém te dará nota por sua atuação, você terá que intuir se está

conseguindo ir bem e no caso de perceber que não foi feliz em uma coisa ou outra, precisa ter

ciência de que fez o melhor que estava ao seu alcance.

A conquista da autonomia intelectual acontece, na maioria das vezes, de forma lenta e

requer que todos os envolvidos nesse processo estejam atentos para as mudanças ocorrentes

para que se criem novas situações que estimule seu progresso. As crianças da Amorim Lima,

apesar do projeto ser muito novo em relação ao tempo de maturação que é necessário para

colher os primeiros frutos de um projeto que visa melhorar a educação, já apresentam certo

grau de autonomia, inclusive na área de Matemática, onde eles declaram ter dificuldades de

compreender. Creio que a expressão que define bem esses alunos é que são “bons

perguntadores”, eles têm cuidado de se expressar de forma clara ao fazer uma interrogação e

principalmente, não têm medo de que a pergunta feita será considerada tola por seu

interlocutor, pois sabem que todos lá são aprendizes, principalmente seus educadores.

Page 82: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

82

CAPITULO 5: LINGUAGEM NATURAL: COMO UTILIZÁ-LA NAS AULAS DE

MATEMÁTICA EM PROL DA CONQUISTA DA AUTONOMIA DISCENTE?

Signo “é tudo aquilo que, sob certos aspectos e em alguma medida, substitui alguma

coisa, representando-a para alguém” (Terciott; Gregorin; Martonelli, 2002).

Figura 28: Signos

A figura acima mostra alguns signos utilizados para representar um objeto esférico ou

arredondado. Na figura há a representação escrita na língua francesa, italiana, portuguesa, por

meio de gesto e em forma de figura.

Ao estudar um determinado assunto o aluno entra em contato com diversos signos que

representam o objeto estudado. Neste capítulo, ater-me-ei na importância do uso dos signos

que compõem a linguagem natural na assimilação do conteúdo trabalhado por parte dos

alunos, pois, é ela que “no rendimento desigual das diversas aprendizagens intelectuais, o que

todos os filhos dos homens aprendem melhor é o que nenhum mestre lhes pode explicar — a

língua materna.” (Rancière, 2002, p.17)

Figura 29: A importância dos signos – Caco Xavier

Fonte: http://www.releituras.com/quadrinhoquadrado17.asp

Page 83: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

83

Para que haja um trabalho onde possamos ter como resultado a emancipação discente,

se faz necessário que algumas precauções sejam tomadas ao se planejar o estudo de um

determinado conteúdo. Entre essas precauções estão:

- o cuidado para que ao iniciar a sequência didática, sejam esclarecidos aos alunos

cada passo dado no seu desenvolvimento, objetivos das atividades e formas de avaliação que

serão utilizadas.

- deixar um espaço para que sejam feitas sugestões, por parte das crianças, de

atividades que possam ser realizadas, pois quando não estiverem mais frequentando a escola,

não terão alguém para decidir por elas o que e quando estudar e precisam ter a habilidade, ou

ao menos desenvolvida a competência, para fazê-lo.

- a interação entre o conteúdo e situações que possam ser concretas e/ou significativas

para os alunos o que inclui o tratamento interdisciplinar dos conceitos a serem trabalhados.

- incentivo para que os alunos possam expressar de forma escrita e oral suas

conclusões a respeito do conteúdo estudado, tanto na língua natural, quanto na linguagem

matemática, para que possam tornar-se aptos tanto para compreender as mensagens com

conteúdos matemáticos encontradas de diversas formas no mundo como para transmitir de

forma legível idéias que possa ter ou argumentos que queira usar ao se posicionar

matematicamente no mundo.

- realização de auto-avaliação por parte dos alunos, para que possa acostumar-se a

fazer autocríticas construtivas a respeito do próprio trabalho realizado.

Outro aspecto a ser observado por um professor que pretenda educar para a

emancipação é a de não aceitar de forma permanente o papel de tradutor dos livros didáticos.

Essa é uma reflexão feita por Rancière (2002, p.17).

Eis, por exemplo, um livro entre as mãos do aluno. Esse livro é composto de

um conjunto de raciocínios destinados a fazer o aluno compreender uma

matéria. Mas, eis que, agora, o mestre toma a palavra para explicar o livro.

Ele faz um conjunto de raciocínios para explicar o conjunto de raciocínios

em que o livro se constitui. Mas, por que teria o livro necessidade de tal

assistência? Ao invés de pagar um explicador, o pai de família não poderia,

simplesmente, dar o livro a seu filho, não poderia este compreender,

diretamente, os raciocínios do livro? E, caso não o fizesse, por que, então,

compreenderia melhor os raciocínios que lhe explicarão aquilo que não

Page 84: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

84

compreendeu? Teriam esses últimos uma natureza diferente? E não seria

necessário, nesse caso, explicar, ainda, a forma de compreendê-los?

(RANCIÈRE, 2002, p.17)

De acordo com o autor existe uma contradição no ato de explicar de forma sistemática

todo o conteúdo dos livros para as crianças e no ato de conceber que o ser humano pode

aprender por si só. Ao se precipitar em dar explicações, o mestre ensina às crianças a não

confiar na sua capacidade de assimilar as informações por si só. Assim o aluno aprende que

“compreender significa, para ele, compreender que nada compreenderá, a menos que lhe

expliquem.” (Rancière, 2002, p.21).

Rancière (2002, p.21), ainda alerta que não ensinar sem mostrar ao aluno que ele é

capaz de ler livros resulta em uma dependência: “Há sempre uma distância a separar o mestre

do aluno, que, para ir mais além, sempre ressentirá a necessidade de outro mestre, de

explicações suplementares”. De acordo com ele, antes de ser um explicador, o professor deve

ser um ignorante, que, ao invés de ter resposta, tenha sempre perguntas a fazer para o aluno,

perguntas que os auxiliem compreender o que os livros têm a dizer: “O aluno deve ver tudo

por ele mesmo, comparar incessantemente e sempre responder à tríplice questão: O que vês?

O que pensas disso? O que fazes com isso? E, assim, até o infinito.” (Rancière, 2002, p.21).

Observando todas as considerações até aqui apresentadas, prepararei uma sequência

didática sobre Trigonometria na Circunferência, que procura contemplar os aspectos para a

aquisição da autonomia por parte dos alunos.

Cabe ressaltar que a sequência a seguir apresentada fez parte do meu Projeto de

Estágio, mais especificamente, a sequência desenvolvida para ser utilizada na regência de

uma série do Ensino Médio, do Estágio Curricular Supervisionado.

5.1. Sequência Didática sobre Trigonometria na Circunferência:

Objetivo Geral: Compreender como os conhecimentos matemáticos são

aperfeiçoados a fim de embasar uma nova forma de ciência e como a evolução da humanidade

está intrinsecamente ligada a evolução dos conhecimentos matemáticos.

Série: 1ª série do Ensino Médio

Conteúdo: Trigonometria na Circunferência.

Page 85: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

85

********************************************************Aula 1

********************************************************

Objetivo Específico: Discutir procedimentos, metodologias e avaliações que serão

utilizadas durante o estudo da Trigonometria na Circunferência.

Tempo estimado: 50 minutos

Procedimento:

Inicialmente deverão ser formados grupos de três alunos para trabalhar no período em

que for estudada a sequência didática sobre Trigonometria na Circunferência.

Após a formação dos grupos, será entregue a cada grupo uma cópia dos planos das

aulas que serão realizadas durante o Bimestre, tomada a precaução de deixar um espaço em

branco neste plano para que possam ser introduzidas novas idéias que venham a surgir no

decorrer das atividades. Em seguida será feito esclarecimento sobre as atividades que serão

realizadas e as formas de avaliação de cada passo do processo.

Material a ser oferecido aos alunos

******************************************************** Ponto 1: Ao final de cada aula o aluno você ficará incumbido de preparar um relatório a

respeito da aula do dia. O relatório deverá ser formulado conforme modelo presente no anexo

desta sequência didática. ***************************************************************************

Ponto 2: Ao inicio de cada dia de aula a professora lerá cinco relatórios escolhidos conforme

julgar que contenha observações que possam ser enriquecedoras para o andamento dessa

sequência didática.

***************************************************************************

Ponto 3: Em algumas os alunos serão incumbidos de ler textos em linguagem matemática e

em linguagem natural, de expressarem suas conclusões a respeito dos textos lidos e

informações que assimilaram durante as aulas. A intenção é que haja uma familiarização com

as formas usadas para se expressar matematicamente. Para tanto, serão aceitas nas aulas o uso

da linguagem escrita, da linguagem falada, da linguagem gestual ou em forma de desenhos,

Page 86: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

86

como forma de expressão, apenas não serão aceitas, “porque é muito fácil”, respostas

evasivas e o uso da expressão “não sei”.

***************************************************************************

Ponto 4: Não se espera que ao falar ou escrever sobre os textos lidos você tenha eloqüência.

Você sempre poderá contar com apoio dos seus colegas de grupo e da professora para

concluir da melhor forma possível seu pensamento.

***************************************************************************

Ponto 5: Todas as atividades realizadas em grupo serão feitas na escola, em horário de aula.

***************************************************************************

Ponto 6: Os norteadores das conversas que teremos sobre os projetos realizados durante essa

sequência didática devem ser analisados pelos grupos e as considerações feitas devem ser

escritas e entregues à professora.

***************************************************************************

Ponto 7: Nas aulas vocês terão que ler textos em linguagem matemática. Durante a leitura

desses textos é interessante descrever com riqueza de detalhes o que perceber. Em alguns

casos poderei fazer perguntas para auxiliar na interpretação dos textos, conforme o exemplo a

seguir:

Corda, diâmetro e raio

Os segmentos de reta que têm suas extremidades na circunferência são chamados

corda.

As cordas que contêm o centro da

circunferência são chamadas

diâmetro.

Na figura ao lado:

e são cordas, mas apenas é

um diâmetro.

MD

O B

A

C

, são raios. Um raio é um segmento de reta com uma das extremidades

na circunferência e outra no centro da mesma.

Observe que a medida do diâmetro é o dobro da medida do raio. Indicando a medida do

diâmetro por D e a medida do raio por r, temos D = 2r

Fonte: Bianchini, 2004, p.148 (adaptado)

Page 87: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

87

Perguntas:

- A letra A, utilizada no texto, refere-se a que objeto geométrico?

- Se ela estivesse em outra posição no desenho, o texto deveria ser escrito diferente?

-A letra D que o texto sugeriu ser usada para representar a medida do diâmetro é a

mesma que aparece na figura?

******************************************************************************************

Formas de avaliação: As avaliações serão feitas a partir dos seguintes instrumentos:

- Ao final de cada aula, um relatório a respeito do que realizaram e aprenderam durante a aula,

conforme anexo17, deverá ser entregue. A coerencia na realização deste relatório será um dos

instrumentos de avaliação.

- Exercicios propostos para resolução em sala de aula.

- Interação dos grupos durante as aulas.

- Auto avaliação realizada no final de cada mês.

******************************************************** Aula 2

******************************************************** Objetivo Específico: Estudar os conceitos que embasam o estudo da Trigonometria

na Circunferência.

Conteúdos: Circunferência, razões.

Tempo estimado: 50 minutos

Material necessário: Barbante, tesoura, giz, lápis, borracha (liguinha), caderno,

calculadora e fita métrica.

Procedimento:

Os alunos serão encaminhados ao pátio onde a atividade será realizada.

Cada grupo cortará dois pedaços de barbantes de diferentes comprimentos e em

seguida amarrarão, em uma das extremidades destes barbantes, um pedaço de giz.

Cada grupo marcará com giz um determinado ponto em uma superfície plana. Logo

após, fixarão a extremidade que não possui o giz nesse ponto e deslocarão a outra

extremidade do barbante, de forma a mantê-lo esticado, riscarão a superfície com o giz.

17 Anexo 10.

Page 88: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

88

Com o material proposto, cada grupo dividirá, com pontos, uma das figuras em seis

partes de comprimentos aproximados e traçarão um segmento ligando dois pontos

extremidades de uma dessas partes. Logo após, deverá dividir a outra figura em oito partes

iguais e traçar um segmento ligando as extremidades de uma dessas partes. Depois de feito

isso, criará uma tabela contendo os seguintes dados:

- comprimento do pedaço de barbante inicial;

-comprimento aproximado das respectivas figuras formadas;

- comprimento dos respectivos segmentos que ligam as extremidades da sexta parte da

figura;

-comprimento aproximado dos respectivos segmentos que ligam as extremidades da

oitava parte da figura;

-razão aproximada dos comprimentos dos pedaços de barbantes iniciais e os

comprimentos aproximados das respectivas figuras formadas;

-razão aproximada dos comprimentos dos pedaços de barbantes iniciais e os

comprimentos dos respectivos segmentos que unem as extremidades da sexta parte da figura

formada

- a razão aproximada dos comprimentos dos pedaços de barbantes iniciais e os

comprimentos dos respectivos segmentos que unem as extremidades da oitava parte da figura

formada.

Após colocar os dados pedidos na tabela será proposto um diálogo com a classe sobre

as razões encontradas observando os seguintes aspectos:

- alguém se lembrou ter estudado nas séries anteriores sobre essas razões e sabiam

quais seriam os valores encontrados?;

- conseguem explicar o que ocorreu para que os valores das razões encontrados fossem

esses?

- quais utilidades os fatores que acabamos de perceber podem ter para a evolução das

civilizações?

******************************************************** Aula 3

********************************************************

Objetivo Específico: Estudar conceitos que embasam o estudo da Trigonometria na

Circunferência.

Conteúdos: Circunferência.

Page 89: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

89

Tempo estimado: 50 minutos

Material necessário: Folha de sulfite

Procedimento:

No inicio da aula será entregue aos alunos uma folha de sulfite contendo texto O

circulo. Será escolhido um aluno de cada grupo para ler um parágrafo do texto.

O circulo

E o homem criou a roda. Ao longo de sua história, para facilitar seu trabalho,

o homem inventou muitas máquinas. E nessa caminhada, um dos acontecimentos mais

marcantes foi o aparecimento da roda, lá pelo século 3000 a.C.

Ao que tudo indica, foi observando um tronco de árvore, que rolava solto por

um declive, que o homem teve a idéia de fazer rolar cargas pesadas – ao invés de

carregá-las- colocando-as sobre objetos rolantes, quando não podiam rolar sozinhas.

É curioso verificar que os místicos egípcios adoravam um animalzinho, o

escaravelho dourado, acreditando que ele era capaz de fazer mover o sol -

simplesmente porque, instintivamente, o escaravelho costuma destruir as arestas e os

ângulos dos objetos, para tornar mais fácil carregá-los de um lado para o outro,

rolando-os.

Para fazer vasilhas de argila, os homens utilizavam uma tábua de apoio

colocada sobre uma base, o mancal, que fazia girar, facilitando o trabalho de

modelagem das vasilhas.

A partir daí muitas rodas rolaram; as sólidas rodas das carretas; as rodas

raiadas das carroças; os moinhos de água; os moinhos de ventos; as rodas das

bicicletas, das locomotivas, dos automóveis; as rodas gigantes, as dos patins;as

esteiras rolantes dos aeroportos, as rocas de fiação, os tornos, as roscas inúmeras

outras engrenagens.

Mas não é só em objetos a roda está presente: para conversar, dançar, assar a

caça, a roda também é interessante. As pessoas quando se reúnem, costumam se dispor

em circulo para que todos possam participar melhor da conversa.

Algumas tribos primitivas colocavam a caça de várias famílias ao redor do

fogo para que todas recebessem a mesma intensidade de calor.

As danças típicas de vários povos, as brincadeiras infantis, muitas delas se

desenvolvem em roda! Também em ornamentações e nas edificações é possível

Page 90: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

90

observar o formato de roda. Nas rosáceas que enfeitam templos e palácios, nas pontes

e em forma de arcos lá está ele: O circulo, a mais regular das formas geométricas e a

mais desafiante dos espíritos inovadores. (PIRES et all, 1998, p.149)

Após a leitura do texto será realizado um dialogo com a sala sobre o que

compreenderam observando os seguintes aspectos:

- Porque o aparecimento da roda foi tão importante?

- Porque é interessante estudar os objetos circulares?

- Na época do surgimento da roda o homem já sabia que a Terra girava em torno do

Sol?

-Qual característica da circunferência torna as conversas feitas em circulos mais

democráticas?

******************************************************** Aulas 4 e 5

******************************************************** Objetivo Específico: Estudar conceitos que embasam o estudo da Trigonometria na

Circunferência.

Conteúdo: Circunferência.

Tempo estimado: 01h40min

Material necessário: Livro didático do 8º ou do 9º ano, lápis, borracha, lousa e giz.

Procedimento:

Após a leitura dos relatórios da aula 2 cada grupo escolherá um parágrafo de um texto

sobre circunferência e seus elementos, do livro que trouxeram para sala de aula, e o lerão em

voz alta para seus colegas.

Nestes parágrafos deverão constar definição de: circunferência; centro; raio; corda;

diâmetro; arcos; semicircunferência e medidas do perímetro.

Após a leitura, cada grupo escolherá um membro para fará a exposição do tema

escolhido para a classe.

Cada grupo escolherá dois exercícios do livro que trouxeram a respeito de cada

parágrafo e os resolverá, lembrando de entregar uma copia dos exercícios para a professora e

de que cada aluno deverá ter eles escrito no caderno.

Como atividade para casa os alunos ficarão responsáveis por descobrir ou lembrar o

que é a Latitude de uma região da Terra e qual a latitude da cidade onde moram.

Page 91: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

91

********************************************************Aulas 6 e 7

********************************************************

Objetivo Específico: Compreender como os meios de medir o tempo criado pelo homem

contribuíram para o surgimento de uma nova ciência denominada Trigonometria.

Conteúdos: Medidas dos arcos

Tempo estimado: 1h40 minutos.

Material necessário: Régua, garrafa pet com tampa, tesoura, rolo de fita adesiva, tubo de

cola, vela, caixa de fósforos, prego, alicate, pedaço de papelão, transferidor, lápis, caneta

hidrocor, borracha (liguinha), folha de papel ofício e rolo de barbante.

Procedimento:

Construção de um relógio de Sol18

Inicialmente a sala será preparada juntando as carteiras para formar uma mesa

extensa onde se possam apoiar os materiais e fazer o experimento.

Figura 30: Materiais necessários

Fonte: http://pontociencia.org.br/experimentos-interna.php?experimento =264#top

Com a mesa organizada e todos os materiais ao alcance da mão medirão, em

milímetros, a largura o perímetro da garrafa colocando um barbante em volta da parte

cilíndrica onde não haja curvas.

18 Experiência encontrada no site http://pontociencia.org.br/experimentos-interna.php?experimento

=264#top

Page 92: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

92

Figura 31: Medindo a largura da garrafa

Fonte: http://pontociencia.org.br/experimentos-interna.php?experimento =264#top

Após feito isso iniciarão a construção de um mostrador de horas. Para isso dividirão

circunferência da garrafa por 24, pois é o número de horas de um dia. Numa folha de papel,

traçarão 13 segmentos de retas paralelos e equidistantes, cujas distâncias serão iguais a 1/24

da circunferência da garrafa19. Para cada segmento de reta paralelo construído será dada uma

etiqueta com os números 6 a 18, da direita para a esquerda, conforme figura abaixo:

Fonte 32: Mostrador de horas

Fonte: http://pontociencia.org.br/experimentos-interna.php?experimento =264#top

Feito isso, utilizando de pedaços de fita adesiva, colarão esta folha conforme mostra a

figura a seguir:

19 Neste momento, os alunos serão convidados a pesquisar sobre o Teorema Fundamental da

Proporcionalidade, para poder utilizá-lo na realização dessa divisão.

Page 93: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

93

Figura 33: Colando o mostrador de horas

Fonte: http://pontociencia.org.br/experimentos-interna.php?experimento =264#top

Para criar o ponteiro deste relógio, deverão aquecer no fogo da vela o prego e utilizá-

lo para furar o centro da tampinha da garrafa e o centro da parte inferior da garrafa.

Figura 34: Furando a garrafa

Fonte: http://pontociencia.org.br/experimentos-interna.php?experimento =264#top

Passarão um barbante pelo furo da tampinha e pelo furo da garrafa de forma que ele

perpasse o seu interior. Darão, em seguida, um nó na ponta do barbante que está no fundo da

garrafa e esticarão este barbante, pela tampinha, de forma que ele fique bem esticado no

interior da garrafa. Finalizando, darão um nó final.

Page 94: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

94

Figura 35: Criando o ponteiro

Fonte: http://pontociencia.org.br/experimentos-interna.php?experimento =264#top

Figura 36: Ponteiro

Fonte: http://pontociencia.org.br/experimentos-interna.php?experimento =264#top

Para fazer um suporte para o relógio, recortarão um papelão em forma de um triângulo

retângulo que possua sua hipotenusa com a inclinação de valor igual à latitude da cidade em

que moram, com relação a um dos catetos20. Depois de ter determinado a inclinação do

suporte, recortarão um retângulo de papelão com largura e comprimento respectivamente de

10 cm e 30 cm. Com o auxilio de uma régua e um lápis, traçarão um segmento que será a

mediatriz do menor lado do retângulo.

20 Os alunos serão convidados a pesquisar o porquê disso.

Page 95: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

95

Figura 37: Triângulo retângulo

Fonte: http://pontociencia.org.br/experimentos-interna.php?experimento =264#top

Figura 38: Retângulo

Fonte: http://pontociencia.org.br/experimentos-interna.php?experimento =264#top

Colarão, com fita adesiva, os pedaços conforme figura abaixo:

Figura 39: Suporte

Fonte: http://pontociencia.org.br/experimentos-interna.php?experimento =264#top

Page 96: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

96

Depois de construído o suporte, fixarão, com o auxilio de uma liguinha a garrafa ao

suporte de forma que o segmento que representa as 12 horas coincida com o traço desenhado

no centro do papelão retangular.

Figura 40: Suporte

Fonte: http://pontociencia.org.br/experimentos-interna.php?experimento =264#top

Desta forma, terão concluído a construção do relógio de sol.

Figura 41: Suporte

Fonte: http://pontociencia.org.br/experimentos-interna.php?experimento =264#top

Será feito o esclarecimento para os alunos a respeito do funcionamento do relógio.

Será explicado para as crianças que esse relógio deve ser exposto à luz solar com a parte

oposta ao mostrador das horas voltado para o Sol é que a hora é indicada pela posição em que

a sombra do ponteiro se encontra sobre o mostrador das horas.

Como atividade para casa os alunos ficarão incumbidos de observar o funcionamento

do relógio de sol, pois conversaremos sobre ele na próxima aula observando os seguintes

aspectos:

- Qual o comportamento aparente do Sol que fez com que se tornasse um aliado na medição

do tempo?

Page 97: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

97

- Como fizeram para descobrir qual era a latitude da cidade onde moram e qual era a unidade

de medida em que essa informação estava escrita?

- Se fixarmos o zênite como um ponto Z, fixarmos como outro ponto S o local onde o Sol está

localizado e um terceiro ponto O o local onde se localiza um observador aqui da Terra e uni-

los por segmentos de retas, qual figura geométrica obtemos?

- Não se esquecendo de considerar o mesmo plano em que se situa a figura da questão

anterior: Se fixarmos um ponto O onde se localiza o ponteiro do nosso relógio de sol, um

ponto M no segmento que indica às 12h e um ponto N na sombra formada pelo ponteiro, qual

figura geométrica obtemos?

O

MN

S

Z

Figura 42: Representação do relógio solar

- Qual a relação existente entre a figura geométrica SOZ e a figura geométrica MON?

- Quanto tempo a sombra produzida pelo ponteiro leva para percorrer toda a extensão do

mostrador das horas?

- O eixo de rotação da Terra possui uma ligeira inclinação em relação a trajetória de sua

translação fazendo com que a sombra de uma determinada hora do dia possua uma ligeira

variação com o passar dos dias. O que posso fazer para medir essa leve mudança se às doze

horas em que dividi o meu dia é uma medida grosseira para tal?

Page 98: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

98

******************************************************** Aula 8

********************************************************

Objetivo Específico: Estudar conceitos que embasam o estudo de Trigonometria na

circunferência.

Conteúdos: Ângulos

Tempo estimado: 50 minutos

Material necessário: Folha de sulfite

Procedimento:

Será entregue para a classe uma folha com o texto O inicio das civilizações. Será

feita a leitura deste texto, escolhendo um aluno da cada grupo para ler um parágrafo do texto.

O inicio das civilizações

Cansado da vida incerta que levava decidiu que já era hora de achar um lugar

para se estabelecer. Desde que se conhecia como ser vivo e se descobriu pensante

vivia a vagar pelo mundo. Nunca tivera grandes ambições, se contentava com o que a

natureza lhe proporcionava. Um fruto maduro aqui, uma caça ali e tudo o que

necessitava estava ali pelo caminho.

Ao mesmo tempo em que conhecia o prazer de amanhecer a cada dia com uma

paisagem diferente a encher-lhe os olhos, ficava por demais exposto. Como não

conhecia todos os caminhos pelo qual andava, às vezes passava de caçador a caça e

via seus companheiros ter a vida ceifada por algum animal traiçoeiro. Sem falar sobre

as chuvas que vinha para castigar. Quando tinha uma caverna que pudesse se abrigar

ficava ali até ela passar, mas não era sempre que tinha essa sorte.

Decidiu, então, fixar morada. Conhecia bem aquelas bandas, precisava apenas

decidir onde iria transformar em lar. Não podia ser em qualquer lugar, tinha que ser

em um canto abençoado pelos céus, cercado de arvores e onde pudesse deixar alguns

animais, que a essa altura já tinha aprendido a domesticar. Mas o mais importante

que tudo, precisava ser um lugar onde sempre houvesse água, pois já tinha percebido

que sem ela demorava muito pouco tempo para perecer.

E foi assim que o homem escolheu os lugares em que seriam formadas as

Page 99: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

99

primeiras civilizações. Os lugares escolhidos foram às margens dos grandes rios

conhecidos na época. Entre eles o Eufrates na Mesopotâmia, a Tigre no Iraque e o

Nilo no Norte da África.

Figura 43: Primeiras civilizações

Fonte: http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=82

Mas enganava-se ao pensar que seus problemas cessariam. A natureza é

geniosa e faz tudo ao seu tempo. Assim, por vezes, ao jogar na terra suas sementes,

mesmo cumprindo o mesmo ritual de sempre, remexendo a terra para torná-la

receptiva ao plantio, regando periodicamente até nascer o primeiro broto, por mais

que se esforçasse, alguma coisa desandava.

Entre erros e acertos percebeu que, coincidência ou não, nas vezes que

acertava a temperatura e a posição do Sol era a mesma. Foi assim que começou a

observar com mais atenção o movimento aparente do Sol. Assim marcava as horas do

dia de uma forma bastante curiosa, bem diferente de hoje que da para ver a hora em

qualquer celular ou relógio de pulso, naquela época eles viam as horas pelo

comprimento da sombra de um instrumento com um nome um tanto engraçado,

“gnômom”. Entenda-se por gnômom uma estaca enfiada de forma vertical em uma

superfície plana utilizada para projetar a luz solar. Na verdade o gnômom era uma

espécie de espião do Sol. Como já era sabido que olhar diretamente para o Sol pode

ser prejudicial inventaram o gnômom para saber qual posição ocupava no céu através

de sua sombra. A intenção era saber a que distância estava o Sol do zênite. Zênite é o

ponto mais alto do céu sobre a cabeça de um observador aqui na terra. Se o Sol

estivesse a uma distância muito longe ao leste, queria dizer que era muito cedo, se

tivesse muito longe ao oeste queria dizer que era muito tarde. Como havia alguns

Page 100: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

100

povos que tinham a base do sistema duodecimal se conceituou dividir o período em

que o Sol aparece no leste até o período que ele desaparece no oeste em doze partes,

período hoje conhecido como horas.

Outro fator que inquietava os povos que moravam nos terrenos adjacentes a

esses rios é que de tempo em tempo eles transbordavam por isso não se podia plantar

nada quando se aproximava a época das cheias. O problema é que tinham que

arrumar uma forma de prever quando seria a próxima cheia.

Começaram a observar que o Sol mudava ligeiramente a posição em que

nascia conforme os dias iam passando. Criaram por isso o hábito de fazer anotações

sobre a distância em que o Sol estava do zênite na metade do dia e perceberam que

essa distância era sempre a mesma quando as cheias começavam. Ao observar essas

anotações perceberam que o tempo que passava entre uma cheia e outra eram

aproximadamente 360 dias. Como os Egípcios adotaram por um bom tempo a idéia de

que o ano tinha 360 dias, acredita-se que daí surgiu o grau. A partir do momento que

aprenderam a prever a época das cheias perceberam que o solo das margens desses

rios eram ótimos para o cultivo. Conseguindo saber a época certa de plantar

conseguia planejar a hora do plantio e da colheita. A partir daí, as primeiras

civilizações passaram a crescer já não estando expostos aos perigos da vida nômade.

(Lidia Eliane)

Após a leitura, conversaremos sobre o que conseguiram compreender do texto e na

construção do relógio de sol construído na aula anterior, observando os seguintes aspectos:

- Se fixarmos o zênite, como um ponto, fixarmos como outro ponto o local onde o Sol está

localizado e um terceiro ponto o local onde se localiza um observador aqui na Terra e uni-los

por segmentos de retas, qual figura geométrica obtemos.

- Quando o homem percebeu que a data do inicio de uma cheia do rio para outra se passavam

360 dias ele chegou a uma conclusão correta?

- Por que dizemos que o movimento do Sol é um movimento aparente?

- Por que o comprimento das sombras em uma mesma hora do dia varia conforme o dia do

ano?

- Qual contribuição para a Matemática a observação do movimento aparente do Sol pode ter

trazido para o desenvolvimento das civilizações?

Page 101: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

101

******************************************************** Aulas 9 e 10

********************************************************

Objetivo Específico: Trabalhar conceitos que servem para embasar o estudo de

Trigonometria na Circunferência.

Conteúdos: Unidades de medidas de uma Circunferência.

Tempo estimado: 01h40min horas

Material necessário: Livro didático do 1º ano do EM, caderno, lápis, borracha.

Procedimento:

Reunir os grupos para decidir, entre os parágrafos do livro que trouxeram que abordam

sobre unidade de medidas das Circunferências, quais deles serão explanados na sala. Os

assuntos deverão conter: Graus; Minutos; Segundos; Radianos; e Como converter radiano em

grau.

Os alunos farão a leitura desses parágrafos. Após a leitura, cada grupo deve escolher

qual membro fará a exposição do tema escolhido para a classe.

Após a leitura do texto e explanação dos alunos, cada grupo escolherá dois exercícios

a respeito de cada um dos assuntos e resolverá para entregar, lembrando que todos os alunos

deverão ter eles resolvidos no caderno.

******************************************************** Aula 11

********************************************************

Objetivo Específico: Estudar conceitos que embasam a Trigonometria na Circunferência.

Conteúdo: Semelhança de triângulos.

Tempo estimado: 50 minutos

Material necessário: Caderno, lápis, borracha caneta, fita métrica e calculadora.

Procedimento:

Os alunos serão encaminhados ao pátio onde a atividade será realizada. Cada grupo

deverá escolher um dos seus integrantes para medir sua altura e comprimento de sua sombra.

Após feito isso, encontrarão a razão existente entre essas duas informações.

Voltaremos para a sala onde conversaremos sobre os dados encontrados observando os

seguintes aspectos:

Page 102: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

102

- o que os alunos conseguiram observar com relação às razões entre altura e sombras

calculadas?

- alguém já tinha estudado a respeito deste assunto e sabia o que ocorreria ao comparar as

razões encontradas pelos grupos?

- conseguem explicar em linguagem natural o que ocorreu para que os valores das razões

encontradas fossem esses?

- em outra hora do dia as razões entre comprimento da sombra e altura dos alunos seria outra?

Após as considerações feitas pelos alunos, o professor fará o fechamento explanando

sobre Semelhança de Triângulos e explicará os casos existentes de semelhança: caso LAL (

lado, ângulo, lado) onde é conhecido que o triângulo possui dois lados correspondentes

proporcionais e um ângulo congruente; caso AA (ângulo, ângulo), quando dois triângulos

possuem dois ângulos congruentes, então sabemos que eles são semelhantes; caso LLL (lado,

lado, lado) quando dois triângulos possuem seus lados correspondentes proporcionais.

Após a explanação, mostrará aos alunos que se temos triângulos EFG e E’F’G’, onde

E e E’ são pontos situados onde fica seus pés, F e F’ são pontos situados na extremidade de

suas cabeças e G e G’ são pontos situados nas extremidades das sombras, este triângulos

podem ser considerados semelhantes pois o comprimento da sombra é proporcional ao

comprimento do corpo e os ângulos e possuem 90º, ou seja, são congruentes.

Por isso os triângulos EFG e E’F’G’ se enquadram no caso LAL, podendo ser considerados

assim, semelhantes.

******************************************************** Aula 12

********************************************************

Objetivo Específico: Compreender as razões históricas do surgimento da Trigonometria.

Conteúdos: Triângulos

Tempo estimado: 50 minutos

Material necessário: Folha de sulfite, livro didático, lápis, borracha e caderno.

Procedimento: Serão escolhidos alguns alunos para fazerem a leitura do texto A história do

mineiro que via as horas pelo rabo do boi.

Page 103: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

103

A história do mineiro que via as horas pelo rabo do boi

Era uma vez um rapaz que foi visitar uma cidadezinha de Minas. Vila daquelas

bem típicas: praça da matriz, igreja, relógio na torre da igreja, ruas de

paralelepípedo...

O rapaz andou muito, uns 15 minutos, e já tinha conhecido a cidade toda. Foi

ai que ele resolveu assuntar os arredores e pegou um caminho que saia da cidade.

Como toda cidade de Minas, esse caminho subia um morro. Quando já estava lá no

meio do morro, o rapaz viu um mineiro parado, sentado numa pedra, mascando seu

capinzinho. Do outro lado o boi ruminando. Quando o rapaz chegou mais perto,

perguntou:

-Por favor, o senhor sabe que horas são?

O mineiro, calmamente, tirou o capim da boca, foi lá, mexeu no rabo do boi e

respondeu:

- Ói, seu moço, são duas e quinze.

O rapaz achou aquilo muito estranho e não entendeu nada, mas seguiu adiante.

E no passeio ele passou porteira, passou riacho, passou um tempo vendo plantação de

milho, criação de gado e céu azul.

E voltou. E quando chegou perto da cidade, no meio do morro, viu o mesmo

mineiro, parado na mesma pedra, mascando seu capinzinho. E o boi parado do lado

ruminando. O rapaz não resistiu:

- E agora, por favor, o senhor sabe que horas são?

O mineiro, calmamente, tirou o capim da boca, foi lá, mexeu no rabo do boi e

respondeu:

- Ói, seu moço, agora são quatro e trinta e cinco.

O rapaz coçou a cabeça, fez cara de besta e perguntou:

- Pera aí, como é que o senhor consegue ver as horas pelo rabo do boi?

- Não, seu moço, eu só tô tirando da frente prá ver o relógio da torre da igreja

lá embaixo...

(Fonte: Adaptado de postagem feita por Ademário Iris da Silva Junior no site :

http://blogln.ning.com/profiles/ blogs/a-historia-do-mineiro-que-via)

Page 104: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

104

Logo após a leitura do texto conversaremos sobre a respeito dele observando os

seguintes aspectos:

- Neste texto o personagem demonstra preocupação em observar a trajetória aparente do sol

para descobrir que horas eram?

- O relógio de sol é um instrumento eficiente quando queremos medir o tempo com precisão

de minutos e segundos?

Após conversarmos, os alunos ficarão responsáveis por resolver um desafio proposto

visando demonstrar como o conhecimento a respeito das relações existentes entre os lados

dos triângulos semelhantes foi importante para algumas descobertas sobre o planeta em que

vivemos.

Desafio:

Eratóstenes (276 - 194 a.C.), um astrônomo que nasceu em Sirene e com 40 anos foi

trabalhar como bibliotecário chefe na cidade de Alexandria, ao pesquisar nos livros,

ficou sabendo que no dia 21 de junho, dia do solstício de verão na cidade de Sirene, ou

seja, o dia mais longo do ano, a luz do Sol refletia, ao meio dia, no fundo de um poço.

Isso significava que o Sol e o poço estavam alinhados e que a sombra de um gnômom

não existiria, naquele horário. Observou que, nesta mesma hora, em Alexandria, uma

torre projetava uma sombra que, através de um equipamento chamado astrolábio,

indicava um ângulo aproximado de 7,2o com relação à torre. Para Eratóstenes, este

era um indicativo de que a Terra era esférica. Caso contrário, a sombra da torre não

existiria, também.

Figura 44: Circunferência da Terra

Fonte: http://penta.ufrgs.br/edu/telelab/mundo_mat/malice3/erast.htm

Page 105: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

105

Erastóstenes sabia que a distância de Alexandria até Sirene era de 500 estádios (ou 800

km) de posse desta informação ele descobriu a medida aproximada da circunferência

da Terra. Você e seu grupo conseguem dizer quais os possíveis procedimentos ele pode

ter tomado para encontrar essa informação?

******************************************************** Aula 13

********************************************************

Objetivo Específico: Compreender alguns elementos que compõe o estudo de Trigonometria

na Circunferência.

Conteúdo: Ciclo Trigonométrico

Tempo estimado: 50 minutos

Material necessário: Livro didático do 1º ano do EM.

Procedimento:

Os grupos deverão reunir-se para decidir entre os parágrafos que abordam sobre Ciclo

Trigonométrico, no livro didático que utilizam, qual tema desejam expor para a sala. Entre

esses temas devem estar: Circunferência orientada; Arco orientado; Definição de Ciclo

Trigonométrico; Quadrantes; e Arco orientado.

Os alunos farão a leitura desses parágrafos. Após a leitura, cada grupo deve escolher

qual membro fará a exposição do tema escolhido para a classe.

Após a explanação sobre os temas escolhidos cada grupo deverá escolher dois

exercícios a respeito de cada parágrafo para resolver, lembrando que devem entregar para a

professora uma folha com os exercícios resolvidos além de que cada aluno precisa manter

esses exercícios resolvidos no caderno.

******************************************************** Aulas 14 e 15

********************************************************

Objetivo Específico: Visualizar de forma gráfica elementos matemáticos que compõe a

Trigonometria.

Conteúdo: Ciclo Trigonométrico

Page 106: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

106

Tempo estimado: 01h40min minutos

Material necessário: Computador (programa Cabri Geometre), caderno, lápis, borracha.

Procedimento:

Representação do Ciclo Trigonométrico

Cada grupo deverá ligar o computador e abrir o programa Cabri Geometre. A primeira

aula será reservada para que possam conhecer programa, visitar sites de busca, procurar

informações a respeito do que é possível realizar com o auxílio deles.

Após esse período de exploração, os alunos deverão desenhar duas circunferências

concêntricas na tela do Cabri. A circunferência menor deve ser chamada de t e a maior de u.

t

u

Figura 45: Circunferências concêntricas

Após desenhar as circunferências, deverão desenhar uma “reta” horizontal r e outra

vertical s para representar os eixos cartesianos, dividindo as circunferências em quatro partes

iguais.

t

u

r

s

Figura 46: Eixos cartesianos

Page 107: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

107

Em seguida deverão desenhar uma semi reta com a origem no centro das

circunferências e em um ponto P qualquer da circunferência maior.

O

t

u

r

s

P

Figura 47: Semirreta

Desenharão duas “retas”, v e z, perpendiculares ao eixo r, de forma que o ponto B de

intersecção da circunferência t com a semirreta , pertença à “reta” v e o ponto P pertença a

“reta” z. Fazendo isso, serão definidos os pontos C e D, respectivamente, intersecções das

“retas” v e z com o eixo horizontal.

O

t

u

r

s

P

B

vz

C D

Figura 48: Pontos de intercecção

Em seguida criarão o triângulo OCB e o triângulo ODP.

Page 108: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

108

O

t

u

r

s

P

B

vz

C D

Figura 49: Triângulos OBC e OPD

Deverão esconder as retas v e z para melhor visualização do desenho e pintar as

regiões internas dos triângulos OBC e OPD, tomando o cuidado de pintar OPD com uma cor

mais fraca que OBC para uma melhor visualização do desenho.

O

t

u

r

s

P

B

C D

Figura 50: Modelo de Ciclo Trigonométrico

Com o modelo de ciclo trigonométrico pronto os alunos terão que “deslizar o ponto

sobre a circunferência” u e observar as modificações que ocorrem com os triângulos OBC e

OPD. Em seguida haverá uma conversa com os alunos sobre as conclusões que chegaram

observando os seguintes aspectos:

- Qual a relação existente entre o triângulo OCB e o triângulo ODP?

Page 109: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

109

- Ao “movimentar” o ponto P, o ângulo apresenta medidas diferentes. A relação

existente entre os triângulos OCB e ODP se mantém?

******************************************************** Aula 16

******************************************************** .

Objetivo Específico: Conhecer um pouco da História da Trigonometria

Conteúdos: Trigonometria na Circunferência.

Tempo estimado: 50 minutos

Material necessário: Folha de sulfite

Procedimento:

Os alunos receberão uma folha com o texto Surgimento de uma nova ciência.

Surgimento de uma nova ciência

Curioso era que o céu, tão distante, fornecia mais elementos sobre si do que a

própria Terra, que só seria totalmente conhecida séculos depois. Já o céu, em seu giro

em torno da Terra, como cria Hiparco, se revelava totalmente aos olhos humanos.

Sendo assim, conhecer o céu ia ser uma forma de conhecer o mundo.

Foi com esse pensamento que o homem começou a aprimorar seus

conhecimentos sobre os seres celestes. Desta forma podia prever a época das cheias, a

época boa para o plantio e como se comportariam as marés em determinada época do

ano. Sabendo da responsabilidade que tinha Hiparco usava seus conhecimentos para

facilitar o trabalho de observação do céu. Ele tinha percebido que olhando aqui da

Terra dois corpos celestes, a razão entre a o valor que representa a distância dele aqui

na Terra com o corpo celeste e a distância existente entre esses dois corpos seria a

mesma se ele simulasse o triângulo formado por esses três pontos aqui na Terra.

Já estávamos no ano 150 a.C e os campos da Agrimensura, da Navegação e da

Astronomia necessitavam evoluir para cumprir as novas demandas e exigências do

mercado. Hiparco, foi então contratado para criar um mapa do céu já que naquela

época era ainda impossível fazer um mapa terrestre que pudesse orientar os

navegadores em suas descobertas pelo mundo. Cansado de comparar triângulos por

Page 110: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

110

triângulos, começou a fazer com precisão anotações sobre as razões existentes entre

raios e cordas de circunferência. Surgiu assim, mesmo que timidamente e ainda

reconhecida apenas como um instrumento da Astronomia, a Trigonometria.

Hiparco foi tão minucioso na catalogação dos dados sobre comprimento de

cordas e raios de circunferência que chegou a catalogar a razão existentes nos

ângulos de meio em meio grau de 0 até 180 graus. Seu trabalho teve importância tal,

que 250 anos depois o catalogo que ele tinha feito foi parar na Índia, uma das

maiores economias do mundo naquela época.

Para os indianos a função corda não era suficiente e eles resolveram dividi-la

ao meio, nascendo assim a função seno. Com essa adaptação foi feita a tabela de seno

e o seu uso se expandiu para diversas áreas, inclusive para a matemática.

Mas como sabemos de tudo isso nos dias de hoje? No ano de 570 nasceu

Maomé. Ele pregava o monoteísmo, que é o culto de um só Deus. Isso fazia com que

ele tivesse problemas, pois morava em uma região de culto de diversos deuses. Como o

comércio próximo a Meca era, estrategicamente localizado próximo aos templos os

comerciantes e produtores da época temeram perder mercado, começaram a perseguir

Maomé, obrigando este a fugir para Medina.

Com sua fuga, Maomé começou a incentivar seus fiéis e se expandirem e

dominar outros territórios. O povo árabe conquistou várias regiões da Ásia Ocidental.

Este fato foi de grande importância para o desenvolvimento da Matemática. Os árabes

se apropriaram dos conhecimentos gregos e hindus, fazendo um trabalho de

conservação e tradução das obras produzidas por esses povos, possibilitando que

esses conhecimentos chegassem até o dia de hoje.

Outra contribuição dada pelos árabes foi a construção de uma tabela com

valores de seno reverso, que corresponde a relação R – cos, onde R é o raio da

circunferência que contém o arco cujo seno foi obtido.

A trigonometria ficou associada ao uso da corda das circunferências até o

século XV, quando um rapaz chamado Rheticus escreveu um livro sobre as razões

trigonométricas no triângulo retângulo dispensando o uso da corda da circunferência.

Neste mesmo tempo a trigonometria passou a ter outra forma de tratamento, além do

tratamento geométrico ela passou a ter tratamento algébrico, fazendo crescer assim ou

uso de seis funções, alem da tabela de senos e cossenos agora tínhamos também as

tabelas das funções tangente, cotangente, secante e cossecante.

Page 111: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

111

Em 1050 o estudo da Trigonometria tinha adquirido importância tal que já não

fazia sentido continuar sendo tratada como apenas uma parte da Astronomia e foi

assim que ela ganhou identidade própria. Um fator que colaborou para esse fato é que

começou a ser usada para sua escrita os algarismos indo-arábicos o que ajudou na

sua popularização quando foi inventada a imprensa século XIV.

A Trigonometria foi assim, conquistando cada vez mais espaço no estudo de

objetos circulares, de objetos de natureza periódica, oscilatória e vibratória, como os

movimentos de um pendulo de um relógio, a fabricação de um instrumento musical, a

acústica, a economia, a medicina, entre outros.

No século XVII o uso do seno como unidade de comprimento foi abandonada e

nas obras de Euler que passou a usá-lo como um número ou razão. Foi introduzido o

uso do ciclo trigonométrico com raio igual a 1 unidade. (Lidia Eliane)

Após a entrega dos textos será promovido um diálogo sobre o texto observando as

seguintes questões:

- O que motivou o surgimento da Trigonometria?

- Hiparco utilizava a forma de abordagem da Trigonometria no Triangulo Retângulo?

- Porque era tão importante conhecer a posição que ocupava os seres celestes?

- Qual foi a importância da religiosidade de Maomé na evolução da Trigonometria?

******************************************************** Aula 17

********************************************************

Objetivo Específico: Estudar sobre os elementos que compõe a Trigonometria na

Circunferência.

Conteúdos: Trigonometria na Circunferência.

Tempo estimado: 50 minutos

Material necessário: Livro didático

Procedimento:

Os grupos se reunirão para escolher no livro didático que usam, parágrafos de textos

que abordam Trigonometria na Circunferência. Entre os assuntos desses parágrafos devem

Page 112: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

112

estar: Seno; Cosseno; Tangente; Cotangente; Secante; Cossecante; e as Relações

Fundamentais existente entre eles.

Em seguida serão escolhidos alunos de cada grupo para fazer a leitura de cada

parágrafo referente a este tema.

Após a leitura do texto e explanação dos alunos, cada grupo escolherá dois exercícios

a respeito de cada um dos assuntos e resolverá para entregar, lembrando que todos os alunos

deverão ter eles resolvidos no caderno.

********************************************************

Aula 18 ********************************************************

Objetivo Específico: Estudar sobre os elementos que compõe a Trigonometria na

Circunferência.

Conteúdos: Trigonometria na Circunferência.

Tempo estimado: 50 minutos

Material necessário: Caderno, lápis, borracha, lousa e giz

Procedimento:

O professor fará o fechamento da sequência sobre Trigonometria na Circunferência,

tratando de forma sistemática junto com os alunos os conhecimentos adquiridos sobre o Ciclo

Trigonométrico e as razões trigonométricas Seno, Cosseno, Tangente, Cotangente, Secante,

Cossecante e as Relações Fundamentais existente entre eles.

******************************************************** Aulas 19 e 20

********************************************************

Objetivo Específico: Os alunos julgarão como foi sua atuação durante o período que foi

trabalhada esta sequência didática, o que estudaram e o que efetivamente aprenderam durante

sua realização.

Conteúdos: Trigonometria na circunferência.

Tempo estimado: 1h40

Material necessário: Folha de sulfite e caneta.

Procedimento:

Page 113: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

113

Será proposto o preenchimento de uma ficha de auto-avaliação21 na qual os alunos terão

oportunidade de relembrar os assuntos que foram estudados, rever sua forma de agir durante

as atividades e registrar suas conquistas durante o tempo em que foi trabalhado essa

sequência.

21 Modelo de ficha de auto-avaliação no anexo 10 deste trabalho.

Page 114: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

114

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nada é impossível de mudar.

Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo. E examinai,

sobretudo, o que parece habitual. Suplicamos expressamente: não

aceiteis o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo de

desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade

consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural

nada deve parecer impossível de mudar. (Bertold Brechet)

Esse trabalho surgiu de uma inquietação que tinha, pois já tinha encontrado algumas

portas fechadas por falta de conhecimentos matemáticos que, pelos anos que já tinha

estudado, “deveria saber”, apesar de considerar ter estudado nas melhores escolas. Como

aluna do Curso de Matemática, por diversas vezes fui interrogada por colegas minhas do “por

que não se ensina na escola essas coisas que caem nas provas”, quando descobriram que eu

viraria professora.

Ser professor traz uma grande responsabilidade, pois de nossas ações depende em

parte o futuro de nossos alunos. Creio que entre as maiores responsabilidades de um educador

está em ensinar as novas gerações entrar e sair de cabeça erguida em qualquer ambiente por

onde ela tenha que passar. Como professora por vezes sentia que não estava cumprindo este

papel.

Escolhi contextualizar esse trabalho com o estudo da Trigonometria na Circunferência

porque não conseguia vislumbrar o ensino deste conteúdo utilizando de meios concretos para

explicá-lo, seria esse o meu desafio.

Ao pesquisar sobre a História da Trigonometria descobri que essa foi uma das

primeiras ciências formuladas para resolver questões da vida prática da humanidade e que ela

se embasava em conceitos facilmente explicáveis com o uso de material concreto. Primeira

descoberta: O adjetivo “abstrata” não fazia jus a esta ciência.

Mesmo chegando a esta conclusão faltava descobrir uma forma de ensiná-la

estimulando os alunos a adquirirem autonomia. No terceiro capítulo deste trabalho há uma

breve explanação do conceito de heteronomia e de autonomia e o parecer de vários autores

sobre como ocorre o processo de passagem da heteronomia para a autonomia.

Creio que uma das grandes conquista de uma pessoa ocorre quando ela aprende a ler,

porque entra em contato com um mundo novo e com uma nova forma de interagir com ele.

Page 115: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

115

Sempre gostei bastante de Matemática, mas nunca me apropriei dela. Lembro-me de que

quando era pequena me escondia debaixo da cama e ficava escrevendo os numerais “até o

infinito”, não gostava porque cansava e nunca achei o infinito. Mas apesar desse gosto pela

Matemática ela nunca foi minha, adorava ler tudo quanto era tipo de coisa, mas desanimei dos

livros de matemática. A Matemática virou “coisa que via na aula mais legal”. Ao lecionar

sentia agora que tinha conquistado a Matemática, se não sabia estudava e aprendia, mas não

conseguia ensinar aos meus alunos a se apropriarem do conhecimento a respeito dessa

disciplina. Percebi que eles não sabiam ler Matemática nem tão pouco relacioná-la as coisas

do mundo. Por isso, o terceiro capítulo termina fazendo uma reflexão sobre a importância do

uso da linguagem natural nas aulas de Matemática como auxilio para que as crianças se

aproprie do conhecimento matemático.

No quarto capítulo há uma reflexão sobre a educação nos dias atuais e são apresentado

dois projetos que visam auxiliar na conquista da autonomia discente. Esses projetos mostram

como o sonho de uma educação pública de qualidade e que prepare a criança de forma

integral para viver como cidadão critico no mundo não é apenas sonho.

Após abordarmos sobre estes dois projetos, no último capitulo deste trabalho é

apresentada uma sequência didática voltada para o ensino de Trigonometria na Circunferência

onde são explorados projetos que permitam a visualização dos objetos matemáticos, logo após

o conteúdo é apresentado de forma a explorá-lo com o uso da linguagem natural e finalmente

com o uso da linguagem matemática.

Em um projeto pedagógico tradicional é o professor que traz a matéria que será

estudada e os alunos são meros receptores desse saber. Para que haja um trabalho voltado para

a autonomia discente é necessário que haja uma mudança nessa concepção de ensino. Creio

que escrever é, entre outras coisas, uma forma de registrar conhecimentos e descobertas para

que ele possa ser compartilhado, com outras pessoas. Acredito que ao ler qualquer trabalho,

seja ele, Fundamentos da Matemática elementar, Pedagogia do oprimido, Bíblia ou qualquer

clássico devemos fazê-lo não como quem lê algo escrito por gênios ou deuses, mas como

quem lê uma carta enviada por um amigo que quer nos contar suas experiências, descobertas

ou até mesmo anseios. Assim desejo que este trabalho seja lido, não como as boas novas de

alguém que quer “professar um novo credo pedagógico”, mas como as boas novas de alguém

que procurou achar resposta à uma inquietação e com base nas pesquisas realizadas sugere

uma nova forma de ensinar a aprender Trigonometria na Circunferência.

Page 116: Aprender a Aprender e Ensinar a Aprender Trigonometria

116

REFERÊNCIA BIBLIOGRAFICA

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Anexo 1:

Questionário com Professor André Pacheco, para TCC (Trabalho de Conclusão de

Curso) Aprender a aprender Matemática: Trigonometria como trilhar caminhos tão

abstratos para o Curso de Matemática pelas Faculdades Integradas de Ribeirão Pires.

1)Como foi seu primeiro contato com a disciplina matemática na escola?

O tempo que passou relativamente ao primeiro contacto com a Matemática na escola, no

Primeiro Ciclo, e o facto de esse ciclo funcionar em monodocência, havendo um único

professor em todas as áreas, o que leva a que os alunos não sintam a fronteira imaginária

entre as várias áreas de estudo, faz com que não tenha uma imagem do referido primeiro

contacto.

2) Qual era atitude tomada pelos professores quando um aluno manifestava não gostar de

matemática?

Relativamente a este ponto, devo começar por informar que fui aluno na Escola da Ponte

num momento embrionário do projecto. Por exemplo, as turmas ainda funcionavam com o

seu professor de modo independente relativamente às demais. Deste modo, como alunos só

poderei falar sobre o meu professor que era igualmente meu pai. Tenho dificuldades em

lembrar qual a sua atitude perante alunos que manifestavam não gostar de Matemática. Para

além disso, eu sempre fui um aluno com predilecção pela disciplina e na idade que tinha, 6 a

9 anos, não observava muito o que se passava com os restantes colegas. No entanto, lembro-

me de haver, por parte do professor, um trabalho centrado em actividades que envolviam a

aprendizagem da autonomia. Esta aprendizagem permitia uma atitude mais positiva e segura

relativamente a novos contextos matemáticos.

3) Como as crianças ai em Portugal, ou mais precisamente na escola que você teve os seu

primeiros anos de estudo, aprendem geometria? Qual a metodologia de ensino usada no

ensino desta disciplina?

A Geometria faz parte do currículo de todos os ciclos de estudo em Portugal. Infelizmente já

não tenho imagem do estudo da Geometria de quando era aluno dos primeiros anos de

escolaridade. Por outro lado, como trabalho com alunos dos 12 aos 18 anos de idade, não

tenho um conhecimento efectivo sobre as metodologias aplicadas nos primeiros anos de

estudo. Sei que nos primeiros momentos existe um esforço em fazer com que os alunos

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120

apreendam um conjunto de conceitos, sobretudo ao nível da nomenclatura geométrica,

relacionando as mesmas com as características de cada tipo de figura geométrica. Em

seguida surge um esforço em trabalhar com material de medida e desenho. Aqui as

metodologias utilizadas são muito variadas, dependendo do professor. No entanto, tem

havido uma forte aposta na formação de professores deste ciclo, procurando que os mesmos

optem por metodologias activas.

4) Uma das minhas inquietações e motivo para eu decidir o tema do meu trabalho é o fato de

considerar que os alunos terminam o Terceiro Ciclo (ou Ensino Médio) sem ter desenvolvido

a capacidade de ler um livro do Segundo Ciclo (ou Ensino Fundamental). Antes de você fazer

Faculdade de Matemática você considera que estava apto de ler e interpretar um livro de

Segundo Ciclo de Matemática sem a interferência de um adulto?

Pessoalmente, penso que na altura estava perfeitamente apto para o efeito. Fui educado

pelos meus pais a procurar respostas, em detrimento de me fornecerem as respostas sem que

houvesse esforço envolvido da minha parte. Deste modo, tornei-me suficientemente

autónomo, de modo a ter uma considerável capacidade de auto-aprendizagem.

5) O trabalho que vou realizar é sobre trigonometria, este conteúdo pelo PCN (Parâmetros

Curriculares Nacionais), documento que rege a educação aqui no Brasil é um assunto

trabalhado no Ensino Médio (ou terceiro ciclo). Se uma criança da Escola da Ponte se

interessar por este tema e decidir estudá-lo mesmo não fazendo parte da grade curricular da

escola ela tem esta liberdade?

Na Escola da Ponte actual são as crianças que organizam as áreas de estudo que trabalham

em cada momento, respeitando os conteúdos gerais de cada um dos ciclos de estudo e as

especificidades de cada disciplina, sempre com a supervisão dos professores. Deste modo,

não havendo a rigidez do ensino tradicional dirigido e com a utilização praticamente

exclusiva de métodos passivos, qualquer criança terá liberdade para estudar tal tema, desde

que os professores considerem que ela está apta a fazê-lo.”

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Anexo 2:

Questionário com o Professor Cristiano, para o TCC (Trabalho de Conclusão de Curso)

Trigonometria como trilhar caminhos tão abstratos para o Curso de Matemática pelas

Faculdades Integradas de Ribeirão Pires.

1) Como são as aulas voltadas para o aprendizado de Geometria? Como é feita a escolha do

material didático que será utilizado durante as aulas?

Cara Lídia, parece-me pertinente assinalar que na Ponte não há aulas. Não existem

momentos pré-determinados para um determinado assunto e em que todos os alunos

aprendam o mesmo ao mesmo tempo. No caso de um aluno escolher um aspecto

programático relacionado com a Geometria terá que: 1.º Pesquisar sobre o assunto nos

diferentes manuais disponibilizados para o efeito e, se justificar, também noutras fontes de

informação (internet, enciclopédias. etc.); 2.º Se sentir dificuldades na pesquisa, solicita a

ajuda do grupo de trabalho; 3.º Se a mesma persistir, recorre a um dispositivo pedagógico

intitulado Preciso de Ajuda onde coloca o seu nome, data e assunto e ser-lhe-á marcada

uma Aula Directa22 sobre esse assunto.

A escolha de todo o material didáctico, independentemente das diferentes formações

académicas dos professores de Matemática, é realizada nas reuniões preparatórias de cada

ano lectivo, podendo a escolha ser ajustada a todo o momento durante o ano lectivo.

Considero pertinente referir que todo o material está à disposição de todos os alunos durante

todo o ano lectivo.

2) Quais são as atitudes tomadas pelos professores quando um aluno manifesta não gostar de

Matemática?

Sinceramente nunca me deparei com tal situação desde que estou cá na Ponte. No entanto,

saliento que estou cá desde há quatro anos e que sempre trabalhei com os alunos do Núcleo

de Iniciação. Se tal acontecesse, a atitude não poderia ser assumida por apenas um

professor. Com as nossas dinâmicas pedagógicas este assunto teria que ser resolvido no

22 As Aulas Directas são organizadas pelos professores do seguinte modo: para além do aluno com a

dificuldade assinalada, o professor solicita a presença de outros que detenham o mesmo problema e outros que, já tendo estudado o assunto, possam ajudar à superação da dificuldade. Na Aula Directa o aluno expõe a dúvida e tenta-se que seja o restante grupo (nunca mais de 6 alunos no total) a esclarecê-lo. No caso de tal não ser satisfatório, o professor explica directamente o assunto.

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122

colectivo de professores do núcleo de projecto e, muito especialmente, pelo tutor desse aluno

em conjunto com os seus pais.

3) A Escola da Ponte é tida como referência no estímulo à formação da autonomia dos seus

alunos. O professor que inicia seu trabalho nesta escola recebe alguma orientação especial de

como lidar com as crianças que difere das orientações dadas aos professores das outras

escolas da região?

Quando um professor chega à escola pela primeira vez inicia, normalmente, um processo de

desconstrução dos referentes profissionais veiculados, também normalmente, pelas

instituições de formação de professores – aliás, considero que mais valia encerrar todo o

sistema de ensino superior de formação de professores!

O processo que atrás refiro deve ser, tanto quanto possível, monitorizado pelos que cá estão

há mais anos. A nossa forma de estar exige um enorme investimento pessoal e um rasgar com

velhas concepções – o que nem sempre é fácil. Contudo, tal como tudo na Ponte, o

acompanhamento dos outros é fundamental para que as dificuldades sejam menorizadas.

4) Uma das minhas inquietações e motivo para eu decidir o tema do meu trabalho é o fato de

considerar que os alunos terminam o Terceiro Ciclo (ou Ensino Médio) sem ter desenvolvido

a capacidade de ler um livro do Segundo Ciclo (ou Ensino Fundamental). Antes de você fazer

Faculdade de Matemática você considera que estava apto de ler e interpretar um livro de

Segundo Ciclo de Matemática sem a interferência de um adulto?

Sim.

5) O trabalho que vou realizar é sobre trigonometria, este conteúdo pelos PCNs (Parâmetros

Curriculares Nacionais), documento que rege a educação aqui no Brasil é um assunto

trabalhado no Ensino Médio (ou terceiro ciclo). Se uma criança da Escola da Ponte se

interessar por este tema e decidir estudá-lo mesmo não fazendo parte da grade curricular da

escola ela tem esta liberdade?

A Escola da Ponte integra, desde 2003/ 2004, o 3.º Ciclo. No entanto, responderei à sua

questão partindo do seguinte princípio: se um aluno quiser estudar um assunto que não

conste do programa disciplinar até ao 3.º ciclo, pode fazê-lo?

Claro que pode!

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A questão é saber se existem precedências no seu percurso que lhe permitam estudar mais

aprofundadamente esse determinado assunto. Exemplo: se um aluno do Núcleo de Iniciação

(que integra, normalmente, alunos desde os 5/6 anos até aos 9/10 anos) decidir estudar

trigonometria pode fazê-lo mas de um modo ajustado ao seu desenvolvimento cognitivo –

muito provavelmente passaria por saber o que é a trigonometria e para que serve. No fundo

pretende-se que a aquisição seja significativa e funcional. No entanto, estas serão as

excepções e não as regras porque muito dificilmente escolhem assuntos matemáticos que não

lhes sejam próximos/concretos.

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Anexo 3:

Carta de Princípios de Convivência

Todos merecemos ser tratados com respeito

Todos devem saber ouvir e saber falar.

Todos devem levantar a mão para pedir a palavra.

Ninguém deve sofrer ameaças.

Ninguém deve receber apelidos desrespeitosos.

Ninguém deve ser xingado ou ofendido.

Todos temos direito a uma escola tranqüila, limpa e organizada

Todos devem cuidar das plantas e do jardim.

Todos devem se esforçar para manter os banheiros limpos.

Todos devem jogar o lixo nos cestos.

Ninguém deve correr nos corredores.

Ninguém deve pular os muros da escola.

Todos devem ter calma, para que não haja brigas.

Não devemos pichar ou rabiscar as paredes e muros.

Na escola não devemos falar palavrões.

Todos temos que levar a escola a sério

Ninguém deve cabular as aulas.

Os horários devem ser respeitados por todos.

Todos devem vir à escola com roupas adequadas.

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125

Não devemos mascar chicletes nas aulas.

Não devemos fumar na escola.

Todos temos direito a materiais de estudo e livros limpos e bem conservados

Não devemos rabiscar as carteiras.

Devemos cuidar dos livros e dos outros materiais de uso coletivo, não rabiscando ou

rasgando.

Devemos respeitar os materiais dos outros, não roubando ou mexendo em mochilas sem

autorização.

Só devemos trazer para a escola os materiais que vamos usar para estudar e dos quais

poderemos cuidar.

Não devemos trazer MP3, e celular só se for muito necessário.

Devemos ser solidários e emprestar nossos materiais, que devem ser bem cuidados e

devolvidos após o uso.

Todos temos direito a fazer as refeições em local limpo e tranqüilo

Devemos nos servir somente da quantidade que pretendemos comer, para não desperdiçar

comida.

Não devemos brincar com a comida, nem jogá-la no chão ou nos outros.

Todos devem respeitar a fila para pegar os pratos.

Não devemos comer em locais inadequados.

Todos temos direito a uma escola que funcione organizadamente

Os horários das atividades devem ser definidos e respeitados.

Todos os roteiros e trabalhos dos alunos devem ser corrigidos.

O número de educadores deve ser suficiente.

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Anexo 4:

Modelo de lista de Eixos Temáticos e organização dos roteiros de pesquisa de 5º a 8º anos. IDENTIDADE E ALTERIDADE

NOSSO PLANETA

NOSSO PAÍS

NOSSO MUNDO

SAÚDE

Debatedores(7ª)

Água (5º) Brasil (7º) África (8º) Alimento (7º)

Entrevistadores(5ª) Arqueólogo (5º) Chargistas América

Central (7º)

Átomos (8º)

Família(7ª) Astrônomo (5º) Cidades (5º) América do Norte (7º)

Biblioteca (5º)

Genoma(7ª) Big Bang (8º) Colônia (6º) América do

Sul (7º)

Desigualdades

(7º) Identidade

Cultural (6º)

Camada de

Ozônio (5º)

Jornais (5º) Ásia (8º) Esportistas (8º)

Leitores (7º)

Canções (6º) Mitos (7º) Cartografia (5º) Esqueleto (7º)

Lendas (5º)

Evoluções (7º)

Memória (5º) Geólogos e

Paleontólogos (5º)

Região Centro-

Oeste (6º)

Europa (8º) Pesquisador (8º)

Percepção (6º) Notícias (6º) Região Nordeste

(6º)

Globalização (8º)

Reprodução (6º)

Teatro (6º) Terra (5º) Região

Sudeste (6º)

Internet (5º) Trabalhadores

(8º) Telespectadores (7º) Região Sul

(6º) Navegações (6º)

Trabalho (6º)

Oceania e Regiões

Polares (7º)

Revoluções (8º)

Revoluções (8º)

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Anexo 5:

Modelo de roteiro de pesquisa utilizado pelos oitavo ano do Nive II Roteiro de pesquisa: Triângulos

Estudante_____________________________Grupo___________________

Objetivos Atividades Avaliação do

Profº Tutor

1. Descobrir quando dois triângulos são

congruentes, isto é, quando eles se sobrepõem

perfeitamente.

Mat 8, p. 137-

140(ex.4-8).

2. Saber por que dois triângulos que possuem

ângulos correspondentes congruentes são

semelhantes.

Mat 8, p. 146-

149(ex.16-20).

3. Resolver problemas aplicando a semelhança de

triângulos como saber a altura de uma árvore.

Mat 8, p. 150-

152(ex.21-24).

4. Fazer uma auto-avaliação.

Mat 8, p. 161-162

(ex.1,3,4,5,6,7,10 e

11).

5. Saber qual é a relação entre o triângulo

retângulo e o ângulo reto para os egípcios.

Mat 8, p. 163-165.

6. Aplicar o teorema de Pitágoras que diz que em

todo triângulo retângulo, o quadrado da medida da

hipotenusa é igual à soma dos quadrados das

medidas dos catetos.

Mat 8, p. 166-

168(ex.1-6).

7. Resolver problemas aplicando outras relações

métricas nos triângulos retângulos.

Mat 8, p. 172-

176(ex.13-14).

8. Fazer uma auto-avaliação Mat 8, p. 180

(ex.1,4,5,8,9,10,11

Exercicios do livro Novo Praticando Matemática. De Alvaro Andrine, São Paulo: Editora do

Brasil, 2002.

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128

Anexo 6 :

Modelo de plano de estudos quinzenal

PLANO DE ESTUDOS QUINZENAL de: ___/____/____ a: ___/____/____

Nome:

Tutor(a) : Série: Grupo:

Objetivos do grupo de tutoria Objetivos pessoais Objetivos que vou estudar nesta quinzena

Roteiros Objetivos Orientação para atarefa de casa:

Tarefa Data de entrega

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129

Anexo 7 :

Modelo de ficha do Registro Diário

REGISTRO DIÁRIO Data:____/____/_____

Data:____/____/_____

Data:____/____/_____

Data:____/____/_____

Data:____/____/_____

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130

Anexo 8:

Modelo de ficha de auto-avaliação do trabalho na quinzena.

Observação do professor (a) Tutor (a) Data Mensagem Assinatura Observações dos pais ou responsável Data Mensagem Assinatura

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131

Anexo 9:

Relatório diário

Relatório Diário:

Nome do aluno:

Nome da disciplina:

Nome do professor:

Tema da aula:

Data:

Síntese da aula:

Bibliografia pertinente:

Comentário do aluno:

(Modelo de relatório sugerido em D’AMBROSIO, 1996, p.71)

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132

Anexo 10 :

Modelo de ficha de auto-avaliação

Ficha de auto-avaliação

Nome: ____________________________ Nº.: ___Série:___Turma: ___Data: ___/___/___

A auto-avaliação é um instrumento que além de quantificar o que foi aprendido durante um

período de estudo serve para auxiliar o aluno a repensar e replanejar sua forma de estudar.

Suas respostas e colocações serão lidas pelo professor e servirão de base para

direcionarmos nossas aulas durante os próximos períodos que virão.

1ª Parte: Assinale com um X o item que descreve de forma mais próxima sua situação

como estudante durante o estudo dessa sequência didática. Assinale na coluna S se sua

resposta for sempre, na coluna Q se sua resposta for quase sempre, na coluna R se sua

resposta for raramente, e na coluna N se sua resposta for nunca.

SOBRE COMO FOI MEU DESEMPENHO S Q R N Ajudei meus colegas?

Evitei atrapalhar as aulas com conversas paralelas?

Dediquei-me as atividades da escola?

Questionei meus colegas quando tive dúvidas?

Prestei atenção as considerações do feita pelo Professor?

Fiz anotações dos pontos que considerei importante?

Entendi a matéria?

Realizei as atividades propostas demonstrando organização?

Resolvi exercícios além do que foi pedido em sala de aula?

Persisti quando me vi diante de uma dificuldade?

Procuro reforçar o que sei consultando outros livros.

Reforço a dedicação diante de resultados insatisfatórios?

Posso contar com a ajuda de alguém para estudar em casa?

2ª Parte: Escreva um texto no verso dessa folha, contando como foi o estudo dessa

sequência didática do seu ponto de vista observando os seguintes aspectos:

- Quais foram os assuntos que você teve a oportunidade de ver? - Apresente o enunciado de algum dos exercícios ou problemas que viu e que teve maior dificuldade em resolver. - Quantifique de 1 a 10 o seu aprendizado durante este período.

- Conte um momento da aula que você pode participar dando opiniões e sugestões ou mesmo indicando aos seus colegas formas de fazer uma atividade ou questão proposta. - Quais os meios que você utiliza para aprender? Pede ajuda para os colegas, pesquisas em livros, pede ajuda para alguém em casa ou para o professor, etc.

- De sugestões ou faça observações sobre as aulas. - Seus responsáveis colaboram para o bom andamento de sua vida escola?

( Modelo de ficha de auto-avaliação sugerido no site http://cidda53332234973166.office.live.com/self.aspx/ .Public/Auto--avalia%c3%a7%c3%a3o.doc)