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Teologia Sistemática Patriarcado de Lisboa| Instituto Diocesano de Formação Cristã Escola de Leigos | 1º Semestre 2014/2015 Fernando Catarino Docente: Juan Ambrosio

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Teologia Sistemática

Patriarcado de Lisboa| Instituto Diocesano de Formação Cristã Escola de Leigos | 1º Semestre 2014/2015

Fernando Catarino

Docente: Juan Ambrosio

PATRIARCADO DE LISBOA

ESCOLA DE LEIGOS

Tema da sessão

A eucaristia

• Meta da iniciação cristã

• Evolução histórica e teológica do sacramento

Séc. I a IV

Séc. V a Trento

O Concílio de Trento

Influência de Trento na teologia posterior

• Notas para uma reflexão teológica

TRIÉNIO

Nossa Senhora do Amparo

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TRIÉNIO

Nossa Senhora do Amparo

2014 | 2015

Eucaristia - meta da Iniciação Cristã

A Eucaristia é o vértice e o ponto culminante de toda a iniciação cristã. O que

começa com o batismo, desenvolve-se com o crisma/ confirmação, atinge a sua

plenitude na participação eucarística.

Do batismo à eucaristia é um único processo que se desenrola por etapas: trata-

se de tornar-se plenamente membros do corpo eclesial de Cristo pela

participação no seu corpo eucarístico; trata-se de tornar-se eclesialmente o que

se recebe sacramentalmente.

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Eucaristia - meta da Iniciação Cristã

Com o batismo e a confirmação, somos introduzidos no mistério pascal de Jesus

Cristo. Esta nova vida não é uma realidade acabada, mas um organismo vivo,

que deve crescer. Ora, é a eucaristia que alimenta permanentemente essa vida e

a fortalece. Se o batismo e a confirmação são participação no mistério pascal de

Jesus Cristo, a eucaristia é, por excelência, o sacramento memorial desse

mistério pascal.

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Eucaristia - meta da Iniciação Cristã

Na eucaristia, o Espírito Santo, que 'transformou' o pão e vinho no corpo e

sangue de Cristo, 'transforma' também os batizados no corpo eclesial de Cristo,

como refere a Oração Eucarística II: pedimos a Deus Pai que, “pela comunhão no

Corpo e Sangue de Cristo, o Espírito Santo nos reúna num só corpo”, a Igreja. É

que, se a eucaristia é alimento, está sobretudo ordenada à construção do corpo

de Cristo que é a Igreja.

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Evolução – Séc. I a IV

Para as primeiras gerações cristãs, o contexto da refeição foi de grande

importância para a compreensão e celebração da Eucaristia.

Bem depressa, porém, a tendência será a do desaparecimento da refeição. Em

muitas comunidades manteve-se ainda durante algum tempo o agape, uma

refeição fraterna unida ou não à Eucaristia, mas a tendência crescente foi a de

desligar tais refeições da Eucaristia propriamente dita.

O aumento numérico dos cristãos terá sido um dos fatores que levou ao

desaparecimento progressivo do agape; mas também o contato com outras

áreas culturais, menos sensibilizadas para o significado de tal ato.

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Evolução – Séc. I a IV

Esquematicamente, a evolução foi a seguinte:

Eucaristia com a refeição no meio (relatos de Lc e 1 Cor).

Eucaristia no final de refeição (1 Cor 11, Mt e Mc).

Eucaristia e agape separados, a horas diferentes.

Eucaristia sem agape.

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Evolução histórica – Séc. I a IV

Esta evolução ritual foi acompanhada de uma evolução no modo de entender a

própria Eucaristia.

É significativo que o desaparecimento das designações “fração do pão” e

“ceia do Senhor” tenha acompanhado o desaparecimento da refeição.

Progressivamente, é o termo “eucaristia” que se impõe, o que indica que

a categoria de bênção e ação de graças prevalecia na interpretação do

significado da Eucaristia.

A ação de graças solene, presidencial, tende a desenvolver-se.

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Evolução histórica – Séc. I a IV

O testemunho de S. Justino (+/-150 DC):

“E, no chamado dia do Sol, reúnem-se num mesmo lugar todos os que

moram nas cidades ou nos campos, e lêem-se, na medida em que o tempo

o permite, as memórias dos Apóstolos e os escritos dos Profetas. Quando o

leitor termina, o presidente toma a palavra para fazer uma exortação,

convidando os presentes a imitar tão belos ensinamentos. A seguir pomo-

nos todos de pé e elevamos as nossas preces e, como já dissemos, logo que

as preces terminam, apresenta-se o pão, o vinho e a água. Então, aquele

que preside eleva, com todo o fervor, preces e ações de graças, e o povo

aclama: Ámen. Depois, procede-se à distribuição dos dons sobre os quais foi

pronunciada a ação de graças; cada um dos presentes participa deles, e os

diáconos levam-nos também aos ausentes. (Apologia I, 67, 3-7: AL 397)

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Evolução histórica – Séc. I a IV

A celebração

Partindo dos relatos da instituição da Eucaristia, a celebração eucarística

foi- se desenvolvendo progressivamente nos seus diversos elementos, de tal

modo que já em meados do século II encontramos definida a estrutura

fundamental.

Contudo, tal estrutura foi-se enriquecendo com o desenvolvimento de

outros elementos da celebração. Um momento importante desse

desenvolvimento foi a liberdade de culto dada à Igreja pelo imperador

romano Constantino, em 313, pois permitiu um notável desenvolvimento da

liturgia cristã. Não tendo já de se esconder, os cristãos adaptam espaços

para templos cristãos, ou fazem construções de raiz. A celebração ganha

solenidade e visibilidade.

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Evolução histórica – Séc. I a IV

A compreensão teológica

Significativas sobre a compreensão teológica da Eucaristia, eram as

designações deste sacramento. Já se referiu que as designações mais

antigas eram “fração do pão” e “ceia do Senhor”.

Bem depressa se divulgou a designação de Eucaristia, por ser “ação de

graças” a Deus.

Outras designações: Synaxis (reunião, assembleia) Ação; Memorial da

paixão e morte do Senhor; Oblação, Sacrifício, porque atualiza o único

sacrifício de Cristo na cruz; Liturgia (ainda hoje nas Igrejas orientais), porque

toda a liturgia da Igreja encontra o seu centro e a sua expressão mais densa

neste Sacramento; Missa, porque a sua celebração termina com o envio

(missio) dos fiéis, para que vivam no quotidiano o mistério celebrado e/ou

porque os féis “enviam”, isto é, elevam a Deus a ação de graças e a súplica.

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Evolução histórica – Séc. V a Trento

Da criatividade à codificação.

A partir do século IV e até ao século VI, floresceu a composição de

Orações eucarísticas e de outros textos de oração. Lentamente, começou-se

por fixar o texto da Oração eucarística. Depois, elaboraram-se as listas de

leituras para cada celebração. Posteriormente, fixaram-se também os

outros textos de oração. S. Agostinho justifica essa preocupação em fixar os

textos e em dar-lhes carácter obrigatório: para evitar heresias e tagarelices

ocas...

O Bispo, que antes presidia sempre às celebrações, deixa de poder fazê-

lo, por causa do crescimento das comunidades e da sua dispersão pelos

campos. Tem, pois, de delegar nos presbíteros a presidência de tais

celebrações. Ora, nem sempre esses presbíteros conseguiam improvisar

adequadamente as orações, pelo que se impunha dar-lhes textos já feitos.

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Evolução histórica – Séc. V a Trento

A partir do século VIII, intensifica-se a influência franco-germânica na

liturgia, entrando na celebração elementos que estavam ausentes do estilo

sóbrio romano: beijos, genuflexões, sinais da cruz, ausência de silêncios,

preenchidos agora com orações “privadas” do sacerdote.

Perda progressiva da assembleia. A língua da liturgia começa a ser

entendida por cada vez menos pessoas; clericaliza-se, pois os clérigos são

dos poucos que ainda percebem o latim.

O sacerdote vai progressivamente assumindo todos os ministérios.

O altar é deslocada para a abside das igrejas, passando o sacerdote a

celebrar de costas para a assembleia.

A partir do século IX, impõe-se o uso do pão ázimo.

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Evolução histórica – Séc. V a Trento

Pouco a pouco, a conceção de Eucaristia vai sofrendo alteração significativa, a par de progressivas alterações na forma de celebrar.

A Eucaristia é vista, cada vez mais, não tanto como ação de graças que a comunidade eleva a Deus como memorial do mistério pascal de Cristo, mas como consagração do pão e do vinho; a dimensão ascendente (ação de graças) é completamente subordinada à dimensão descendente: o milagre que Deus opera nos dons.

Recorre-se à separação do corpo e sangue, na consagração, para explicar a Eucaristia como representação da morte de Cristo (um corpo sem sangue – com o sangue separado – é um corpo morto) e fundamentar aí o carácter sacrificial da eucaristia.

Em consequência da progressiva atenção exclusiva à consagração, é a presença real que absorve toda a atenção. A conceção da Eucaristia perde o seu carácter dinâmico de memorial do acontecimento pascal, para se fixar numa conceção estática (e coisificante) da presença real.

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Evolução histórica – Séc. V a Trento

O século XII viu nascer a formulação da doutrina da transubstanciação. Com a

ajuda das categorias aristotélicas de substância e acidentes, chega-se à doutrina

da transubstanciação, segundo a qual o pão e vinho consagrados na Eucaristia

são em substância o corpo e sangue de Cristo, sob a aparência exterior de pão e

vinho (acidentes). Esta doutrina tornou-se património doutrinal da Igreja

Católica. A transubstanciação aparece pela primeira vez em documentos do

Magistério em 1215, no Concílio IV de Latrão (DH 802). Tal conceito permitia

evitar os dois extremos: o do realismo fisicista, pois o que muda é a substância,

mantendo-se os acidentes; o do simbolismo espiritualizante, porque se afirma

que há uma verdadeira transformação.

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Evolução histórica – Séc. V a Trento

A grande síntese medieval deve-se, mais uma vez, ao génio de S. Tomás de

Aquino:

Rejeitou o realismo popular crasso: Cristo não se faz pequeno, não se

esconde no pão, não é tocado e mordido... S. Tomás defende que a

presença real é sacramental; e como presença sacramental é que é real.

Para expressar a transformação dos dons no corpo e sangue de Cristo,

adota o termo transubstanciação como o mais conveniente.

Defende a dimensão sacrificial da Eucaristia: esta é presencialização do

único sacrifício de Cristo.

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O Concílio de Trento (1545-1563)

A Eucaristia como sacrifício.

O Concílio conjuga a unicidade do sacrifício de Cristo com o carácter

sacrificial da Eucaristia. A Eucaristia é “memorial”, “representação” e

“aplicação” do sacrifício pascal de Cristo. O Concílio afirma ainda o valor

propiciatório do sacrifício da Eucaristia para o perdão dos pecados, porque

é o mesmo sacrifício da cruz. Há identidade de sacrifício, uma vez que a

vítima e sacerdote são os mesmos, mas diversidade de modos: o sacrifício

da cruz foi cruento, o da Eucaristia é incruento. Note-se que, ao falar da

dimensão sacrificial da Eucaristia, o Concílio fala de memorial e

representação, isto é, da dimensão sacramental.

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O Concílio de Trento (1545-1563)

A presença real e a doutrina da transubstanciação.

O Concílio afirma explicitamente que essa presença era real e

sacramental, para evitar os dois extremos do realismo fisicista e o

espiritualismo. Também a este nível, o Concílio sublinhou o carácter de

memorial da Eucaristia.

Mais complexa era a questão da transubstanciação. O Concílio insiste na

“conversão” ou “transformação” das espécies eucarísticas, adotando a

doutrina da transubstanciação, sem contudo a absolutizar: “esta conversão,

própria e convenientemente, foi chamada transubstanciação pela santa

Igreja católica”(DH 1642); “a Igreja Católica chama a esta conversão

'aptissimamente' transubstanciação” (DH 1652).

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Influência de Trento na teologia posterior

O Concílio de Trento tratou da Eucaristia em 3 sessões, abordando

sucessivamente: a presença real e a transubstanciação (Sessão XIII); a Eucaristia como sacramento (Sessão XXI); a natureza sacrificial da missa (Sessão XXII). Ora, a manualística posterior dividiu-se em dois campos:

Os que tratavam a) da Eucaristia como sacramento da presença real (o que Deus nos dá) e b) a Eucaristia como sacrifício (o que nós fazemos, oferecendo);

Os que abordavam separadamente a temática de cada sessão do concílio, isto é, a) a presença real, b) a Eucaristia como sacramento (comunhão) e c) a Eucaristia como sacrifício.

Estas abordagens eram praticamente autónomas, o que significou a completa perda de unidade da reflexão teológica sobre a Eucaristia. Este tipo de abordagem chegou particamente até aos nossos dias.

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Notas para uma reflexão teológica

O Mandato de celebrar a Eucaristia - Fazei isto em memória de mim (refere-se

à sua atitude existencial e não simplesmente a determinados gestos).

A presença real (sacramental) do Ressuscitado na comunidade que come o

corpo e bebe o sangue.

A transubstanciação de toda a comunidade que celebra.

A celebração do Ressuscitado, mas acima de tudo com o Ressuscitado.

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Orientações Bibliográficas

Carlos Cabecinhas, Teologia dos Sacramentos. Fundamentos e iniciação, Texto

para uso dos alunos da Licenciatura de Ciências Religiosas da Faculdade de

Teologia da Universidade Católica Portuguesa, ano letivo de 2011-2012.

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Teologia Sistemática

Patriarcado de Lisboa| Instituto Diocesano de Formação Cristã Escola de Leigos | 1º Semestre 2014/2015

Fernando Catarino

Docente: Juan Ambrosio