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Copyright © da Editora CRV Ltda. Editor-chefe: Railson Moura Diagramação e Capa: Editora CRV Revisão: Os Autores Conselho Editorial: Prof. Dr. Andréia da Silva Quintanilha Sousa (UNIR) Prof. Dr. Antônio Pereira Gaio Júnior (UFRRJ) Prof. Dr. Carlos Alberto Vilar Estêvão - (Universidade do Minho, UMINHO, Portugal) Prof. Dr. Carlos Federico Dominguez Avila (UNIEURO - DF) Prof. Dr. Carmen Tereza Velanga (UNIR) Prof. Dr. Celso Conti (UFSCar) Prof. Dr. Cesar Gerónimo Tello - (Universidad Nacional de Três de Febrero -Argentina) Prof. Dr. Eliane Maria Nogueira Diogenes (UFAL) Prof. Dr. Élsio José Corá (Universidade Federal da Fronteira Sul, UFFS) Prof. Dr. Gloria Fariüas León (Universidade de La Havana - Cuba) Prof. Dr. Francisco Carlos Duarte (PUC-PR) Prof. Dr. Guillem10 Arias Beatón (Universidade de La Havana - Cuba) Prof. Dr. João Adalberto Campato Junior (FAP - SP) Prof. Dr. Jailson Alves dos Santos (UFRJ) Prof. Dr. Leonel Severo Rocha (URI) Prof. Dt.a. Lourdes Helena da Silva (UFV) Prof. Dr 1 Josania P01tela (UFPI) Prof. D1.a. Maria de Lom:des Pinto de Almeida (UNICAMP) Prof. Dr 1 Maria Lília Irnbiriba Sousa Colares (UFOPA) Prof. Dr. Paulo Romualdo Hernandes (UNIFAL- MG) Prof. Dr. Rodrigo Pratte-Santos (UFES) Prof. D{ Maria Cristina dos Santos Beze1ra (UFSCar) Prof. Dr. Sérgio Nunes de Jesus (IFRO) Prof. Dt.a. Solange Helena Ximenes-Rocha (UFOPA) Prof. Dr 1 Sydione Santos (UEPG PR) Prof. Dr. Tadeu Oliver Gonçalves (UFPA) Prof. Dr 1 Tania Suely Azevedo Brasileiro (UFOPA) Este livro foi aprovado pelo conselho editorial. P762 CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ Política em movimento: a constrnção da política na América Latina e Caribe. / Lemos Igreja, Jacques de Novion (Org.). -Curitiba: CRV, 2016. 226 p. Bibliografia ISBN 978-85-444-1248-0 1. Ciência Política 2. Estudos latino-ameticanos 3. Ciências sociais - Catibe I. Igreja, Rebecca Lemos. Org. II. Novion, Jacques de, Org. III. Título IV. Série. CDD 320.980 2016 Foi feito o depósito legal conf. Lei 10.994 de 14112/2004 Proibida a reprodução parcial ou total desta obra sem autorização da Editora CRV Todos os direitos desta edição reservados pela: Editora CRV Tel.: (41) 3039-6418 www.editoracrv.com.br E-mail: [email protected]. br APRESENTAÇÃO O livro que aqui apresentamos, POLÍTICA EM MOVIMENTO: A CONSTRUÇÃO DA POLÍTICA NA AMÉRlCA LATINA E CARIBE, faz parte da Coleção Américas Compartilhadas editada pelo Centro de Pesquisa e Pós-graduação sobre as Américas (CEPPAC) da Universidade de Brasília (UnB). O primeiro livro da Coleção, que teve o título que dá iní- cio a ela, "América Compartilhadas", foi organizado pela professora Ana Maria Fernandes e Sônia Ranincheski e publicado pela Editora Francis, em 2009. Um segundo livro foi publicado em 2015, quando se retomou a ideia da coleção, com o título "An1érica Latina na contemporaneidade: desa- fios, oportunidades e riscos", livro organizado pelos professores Leonardo Cavalcanti e Simone Rodrigues Pinto e editado pela Editora CRV. A coleção tem como objetivo difundir reflexões sobre a América Latina, a partir de diferentes perspectivas disciplinares e temáticas, re- flexões essas resultantes de discussões e debates promovidos em salas de aula e em seminários de pesquisa desenvolvidos por docentes e dis- centes do Programa de Pós-Graduação em Estudos Comparados sobre as Américas do CEPPAC. O CEPPAC surgiu a partir de um convênio entre a UnB e a Faculdade Latino Americana de Ciências Sociais (FLACSO) em 1987, quando ain- da havia poucos doutoramentos no Brasil. Foi o primeiro programa de Doutorado da FLACSO no país, com foco em estudos comparativos sobre a América Latina e Caribe. A partir de 2002, o CEPPAC integrou-se ao Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Brasília, ao lado dos departamentos de Antropologia (DAN) e Sociologia (SOL) e voltou-se multi e interdisciplinarmente para a área de Ciências Sociais, com ênfase em Estudos Comparados sobre as Américas. Em 2013 o CEPPAC criou o Mestrado em Ciências Sociais que somado ao Doutorado, consolidou o Programa de Pós-Graduação em Estudos Comparados sobre as Américas. A primeira tunna de Mestrado iniciou suas atividades em 2003, seguindo a mesma lógica de formação do doutorado, mas com uma menor carga de créditos e maior delimitação dos objetos e temas de pesquisa, por ne- cessidade de adequação aos propósitos de uma dissertação. Em 2012, o CEPPAC e o PPG/CEPPAC completou 25 anos de existência, ressaltando que foi o p1imeiro programa a tratar exclusivamente da comparação entre países das Américas e o único com esta proposta no âmbito das Ciências Sociais e na Interdisciplinar da CAPES.

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Copyright © da Editora CRV Ltda. Editor-chefe: Railson Moura

Diagramação e Capa: Editora CRV Revisão: Os Autores Conselho Editorial:

Prof. Dr. Andréia da Silva Quintanilha Sousa (UNIR) Prof. Dr. Antônio Pereira Gaio Júnior (UFRRJ) Prof. Dr. Carlos Alberto Vilar Estêvão - (Universidade do Minho, UMINHO, Portugal) Prof. Dr. Carlos Federico Dominguez Avila (UNIEURO -DF) Prof. Dr. Carmen Tereza Velanga (UNIR) Prof. Dr. Celso Conti (UFSCar) Prof. Dr. Cesar Gerónimo Tello - (Universidad Nacional de Três de Febrero -Argentina) Prof. Dr. Eliane Maria Nogueira Diogenes (UFAL) Prof. Dr. Élsio José Corá (Universidade Federal da Fronteira Sul, UFFS) Prof. Dr. Gloria Fariüas León (Universidade de La Havana - Cuba) Prof. Dr. Francisco Carlos Duarte (PUC-PR) Prof. Dr. Guillem10 Arias Beatón (Universidade de La Havana - Cuba)

Prof. Dr. João Adalberto Campato Junior (FAP - SP) Prof. Dr. Jailson Alves dos Santos (UFRJ) Prof. Dr. Leonel Severo Rocha (URI) Prof. Dt.a. Lourdes Helena da Silva (UFV) Prof. Dr1

• Josania P01tela (UFPI) Prof. D1.a. Maria de Lom:des Pinto de Almeida (UNICAMP) Prof. Dr1• Maria Lília Irnbiriba Sousa Colares (UFOPA) Prof. Dr. Paulo Romualdo Hernandes (UNIFAL- MG) Prof. Dr. Rodrigo Pratte-Santos (UFES) Prof. D{ Maria Cristina dos Santos Beze1ra (UFSCar) Prof. Dr. Sérgio Nunes de Jesus (IFRO) Prof. Dt.a. Solange Helena Ximenes-Rocha (UFOPA) Prof. Dr1• Sydione Santos (UEPG PR) Prof. Dr. Tadeu Oliver Gonçalves (UFPA) Prof. Dr1

• Tania Suely Azevedo Brasileiro (UFOPA)

Este livro foi aprovado pelo conselho editorial.

P762

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

Política em movimento: a constrnção da política na América Latina e Caribe. / Rebecc~ Lemos Igreja, Jacques de Novion (Org.). -Curitiba: CRV, 2016.

226 p.

Bibliografia

ISBN 978-85-444-1248-0

1. Ciência Política 2. Estudos latino-ameticanos 3. Ciências sociais - Catibe I. Igreja, Rebecca Lemos. Org. II. Novion, Jacques de, Org. III. Título IV. Série.

CDD 320.980

2016 Foi feito o depósito legal conf. Lei 10.994 de 14112/2004

Proibida a reprodução parcial ou total desta obra sem autorização da Editora CRV Todos os direitos desta edição reservados pela:

Editora CRV Tel.: (41) 3039-6418

www.editoracrv.com.br E-mail: [email protected]. br

APRESENTAÇÃO

O livro que aqui apresentamos, POLÍTICA EM MOVIMENTO: A CONSTRUÇÃO DA POLÍTICA NA AMÉRlCA LATINA E CARIBE, faz parte da Coleção Américas Compartilhadas editada pelo Centro de Pesquisa e Pós-graduação sobre as Américas (CEPPAC) da Universidade de Brasília (UnB). O primeiro livro da Coleção, que teve o título que dá iní­cio a ela, "América Compartilhadas", foi organizado pela professora Ana Maria Fernandes e Sônia Ranincheski e publicado pela Editora Francis, em 2009. Um segundo livro foi publicado em 2015, quando se retomou a ideia da coleção, com o título "An1érica Latina na contemporaneidade: desa­fios, oportunidades e riscos", livro organizado pelos professores Leonardo Cavalcanti e Simone Rodrigues Pinto e editado pela Editora CRV.

A coleção tem como objetivo difundir reflexões sobre a América Latina, a partir de diferentes perspectivas disciplinares e temáticas, re­flexões essas resultantes de discussões e debates promovidos em salas de aula e em seminários de pesquisa desenvolvidos por docentes e dis­centes do Programa de Pós-Graduação em Estudos Comparados sobre as Américas do CEPPAC.

O CEPPAC surgiu a partir de um convênio entre a UnB e a Faculdade Latino Americana de Ciências Sociais (FLACSO) em 1987, quando ain­da havia poucos doutoramentos no Brasil. Foi o primeiro programa de Doutorado da FLACSO no país, com foco em estudos comparativos sobre a América Latina e Caribe. A partir de 2002, o CEPPAC integrou-se ao Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Brasília, ao lado dos departamentos de Antropologia (DAN) e Sociologia (SOL) e voltou-se multi e interdisciplinarmente para a área de Ciências Sociais, com ênfase em Estudos Comparados sobre as Américas. Em 2013 o CEPPAC criou o Mestrado em Ciências Sociais que somado ao Doutorado, consolidou o Programa de Pós-Graduação em Estudos Comparados sobre as Américas. A primeira tunna de Mestrado iniciou suas atividades em 2003, seguindo a mesma lógica de formação do doutorado, mas com uma menor carga de créditos e maior delimitação dos objetos e temas de pesquisa, por ne­cessidade de adequação aos propósitos de uma dissertação. Em 2012, o CEPPAC e o PPG/CEPPAC completou 25 anos de existência, ressaltando que foi o p1imeiro programa a tratar exclusivamente da comparação entre países das Américas e o único com esta proposta no âmbito das Ciências Sociais e na áre~ Interdisciplinar da CAPES.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................... 9

CAPÍTULO 1

PARTE 1 - DEMOCRACIA, SISTEMA POLÍTICO E GEOPOLÍTICA

DENOMINAR PARA DOMINAR: Geopolítica e identidade na gênese dos termos América Latina e Caribe ................................................................... 17 Simone Rodrigues Pinto Carlos F. Domínguez Avila

CAPÍTULO 2 AVANCES, RETROCESOS Y HORIZONTES DEL PROCESO DE DEMOCRATIZACIÓN EN AMÉRICA LATINA EN LA SEGUNDA DÉCADA DEL SIGLO XXI ............................................. 33 Fanar Julián Solano Cárdenas Leonardo Cavalcanti ·

CAPÍTULO 3 A COMUNICAÇÃO PÚBLICA COMO ASPIRAÇÃO CONTRA-HEGEMÔNICA NA AMÉRICA LATINA. ............................ 55 Richard Santos Maria do Carmo Rebouças C. F. dos Santos Jacques de Novion

PARTE 2 - DEMOCRATIZAÇÃO, CULTURA POLÍTICA E GÊNERO

CAPÍTULO 4 LAS SESIONES DE LAAMPP EN CUBA: implicaciones subjetivas y prácticas desde un estudio de caso ............ 81 Hans Carril/o Guach Camilo Negri

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f'P O=i-- \21-1 ••

lc.;UMU LLl::GAN LAS MUJERES AL PARLAMENTO? POLÍTICA DE CUOTAS Y PARIDAD EN LAS CÁMARAS BAJAS LATINOAMERICANAS ....................................................... 107 Ellen da Silva De/ia Outra /sadora Lopes Harvey

CAPÍTULO 6

PARTE 3 - POLÍTICAS PÚBLICAS E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO

O DESENVOLVIMENTO DO CAPITALISMO PERIFÉRICO LATINO-AMERICANO E AS CONTRIBUIÇÕES DO ESTRUTURALISMO CEPALINO NA SUA CONSTRUÇÃO ........ 131 Maria Carolina Carvalho Motta Luiz Guilherme de Oliveira

CAPÍTULO 7 TRIPARTITE GOVERNANCE ANO EMPLOYMENT POLICIES IN BRAZIL:the case of the Unemployment lnsurance Program ......... 151 Moisés Villamil Balestro Danilo No/asco Cortes Marinho

PARTI: 4 - DISCRIMINAÇÃO, INTERCULTURALIDADE, . PLURINACIONALIDADE E FRONTEIRAS

CAPÍTULO 8 A INSTITUCIONALIZAÇÃO DO COMBATE À DISCRIMINAÇÃO NAAMÉRICA LATINA .......... 169 Nath.alia Vince Esgalha Fernandes Rebedca Lemos Igreja

CAPÍTULO 9 REPENSANDO A "LIDERANÇA" NO ALTO SOLIMÕES: Metamorfoses da etnopolítica Ticuna na Amazônia brasileira e colombiana ................................................................... 195 Liliana Vignoli de Salvo Souza Elizabeth Dei Socorro Ruano /barra Cristhian Teófilo da Silva

SOBRE OS AUTORES ................................................................... 219

INTRODUÇÃO

A ideia de organizar esse livro, "POLÍTICA EM MOVIMENTO: A CONSTRUÇÃO DA POLÍTICA NA AMÉRICA LATINA E CARIBE" surgiu a partir de debates entre docentes e discentes do CEPPAC sobre os acontecimentos políticos em andamento no Brasil. Situação que tem afetado o cotidiano e o contexto nacional referente às profundas mudanças e debates políticos decorrentes da abertura do processo de impeachment da presidente Dilma Rot1ssef e a denúncia de um golpe rompendo a or­dem democrática no país. De fonna a contribuir para o debate nacional, acreditamos ser importante estender nossa perspectiva para a realidade latino-americana, promovendo um olhar mais amplo, capaz de aproximar as diversas experiências em curso na região com as particularidades do contexto brasileiro.

O objetivo foi elaborar uma publicação em tomo à temática da cons­trução política no continente, do fazer política, a partir da observação e análise de políticas públicas, partidos políticos, govemabilidade e crise política, mídia e política, democracia e participação social, entre outros, te­mas relacionados aos processos políticos de disputa pelo poder. Produções que aproximam particularidades nacionais que analisadas em âmbito con­tinental conectam semelhanças e proximidades com as diversas realida­des. Um olhar macrorregional que pennite diálogos com as experiências vizinhas, possibilita ampliar o horizonte de perspectivas e compreender as disputas para além do âmbito nacional, indiscutivelmente conectadas aos contextos continental e global.

Acreditamos que as mudanças em curso no Brasil podem e devem ser vistas a partir de uma perspectiva interna, imp01iante para a promoção de um debate sobre os rumos nacionais que respeite as singularidades do con­texto político do país. Porém, insistimos que o distanciamento do cenário macr01Tegional tem limitado as possibilidades de leituras conjunturais e análises da realidade nacional conectadas às políticas e doutrinas hegemô­nicas do presente início de século. No mundo globalizado do século XXI, desconectar o nacional do continental e global limita a potencialidade e complexidade da realidade, assim como fragiliza a busca de alternativa condizentes com os anseios, necessidade e sonhos de nossos povos.

O debate nacional em tomo ao impeachment e golpe tem enfrentado esse desafio. Observações desconectadas da realidade do século XXI tem produzido fonnµlações muitas vezes limitadas, que acabam por reproduzir

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CAPÍTULO 1

DENOMINAR PARA DOMINAR: Geopolítica e identidade na gênese dos

termos América Latina e Caribe

Simone Rodrigues Pinto e Carlos F. Domínguez Avila

Introdução

Quando Cristóvão Colombo pisou pela primeira vez no novo mundo em 1492 apressou-se a dar-lhe um nome, San Salvador, a despeito do nome Guanahani pelo qual era chamada pelos nativos - os lucaians, taínos ou aruaques. Desde tempos idos, denominar tem o poder simbólico de tomar posse. Tal como ensina Foucault (1970, p. 10), "por mais que o discurso seja aparentemente bem pouca coisa, as interdições que o atingem revelam logo, rapidamente, sua ligação com o desejo e com o poder".

Não foi diferente quando, mais tarde, diversas potências tentaram exercer seu poder sobre a região. Qual deveria ser o nome deste continente tão diverso? A história da construção da denominação desta vasta faixa de ten-a coincide com a história das tentativas de apropriação deste ima­ginário - e consequentemente das riquezas materiais que o acompanha­vam. Primeiro os ibéricos, depois os franceses, mais tarde os "norte-ame-1i.canos". Segundo Lulú Giménez: " ... ni el latinoamericanismo se impone como tendencia, ni la denominación de América Latina es oficialmente legitimada hasta la década de los cuarenta dei presente siglo" (1990, p. 64 ). Da mesma f01ma que a latino-americana, as identidades caribenhas começaram a ser definidas em tomo de projetos articulados no estrangeiro.

Assim, a construção do nome América Latina e Caribe deixou na pe­numbra e no esquecimento qualquer tentativa de valorizar os povos autóc­tones, indígenas ou negros. Sempre da perspectiva europeia, a América Latina e o Caribe foram se estabelecendo no mundo ocidental moderno como periferia, inferiorizada e explorada. Compreender o processo de construção do nome compõe um esforço maior de entender nossa situação colonial e de questionar nossa identidade (PINTO; FARRET, 2011).

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O texto se divide, portanto, em duas partes. Primeiro, buscamos re­constituir o processo de surgimento da denominação América Latina para a parcela continental do novo mundo. Depois, procuramos reconstituir o processo de constrnção do nome e das delimitações geográficas da região do Caribe. A ênfase será as articulações geopolíticas que levaram às con­figurações e reconfigurações dos tennos e das confom1ações geográficas.

De Índias Ocidentais à América Latina

Segundo Miguel Rojas Mix, a história da identidade latino-americana é também a "história dos diversos nomes da América e das razões pelas quais estes nomes foram impostos" (ROJAS MIX, 1991, p. 61-62). Assim como Rojas Mix, o filósofo umguaio Arturo Ardao ( 1980) escreve importante obra, ainda pouco conhecida do público brasileiro, em que busca explicar a constm­ção da identidade latino-americana a patiir do surgimento da ideia e do nome América Latina 1• Em Genes is de la idea y e! nombre de América Latina, Ardao defende que os processos de formação identitária tanto da América quanto da América Latina podem ser divididos cada llln deles em três etapas. Em uma primeira etapa, a característica predominante será a ausência não só de uma ideia, mas também de um nome referente ao recorte geográfico específico. A segunda etapa é caracterizada pela criação da ideia de que existe uma região específica, mas que ainda não tem um nome. Por último, temos a etapa na qual a ideia de existência de uma região passa a ser acompanhada por um nome que a expressa de maneira definitiva.

Ardao nos lembra que antes de ser chamada de América, a extensa faixa ten-itorial conquistada pelos europeus foi denominada primeiramen­te como sendo Índias, e num segundo momento Novo Mundo. O nome América só nasce em 1507, quando Martin Waldseemüller publica a obra 1~1trodução à Cosmogrqfia, obra esta que continha um mapa no qual ele se refere ao Novo Mundo como sendo América, em uma clara homenagem do geógrafo alemão à Américo Vespúcio.

Os europeus ainda utilizariam outros tennos para se referirem ao con­tinente americano por muitos e muitos anos. A própria expressão Novo Mundo continuou a ser utilizada ainda por séculos, e continua até os dias de hoje, mesmo que com bem menos força do que antes2

, o que é justificado

Para Ardao, a ideia de América Latina e o nome que a expressa são dois signos diferentes, que merecem ser analisados separadamente.

2 A título de exemplo, vide a obra de Carmen Bernand e Serge Gruzinski, "Histoire du Nouveau Monde". Paris: Fayard, 1991-1993 (2 vais.) - lançadas recentemente no Brasil pela EDUSP, com o título de "História do Novo Mundo".

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por Ardao pelo fato de "haver grande riqueza semântica em seu jogo dialé­tico com o Velho Mundo [isto é, a Europa] - desde o geográfico e histórico até o filosófico" (ARDAO, 1980).

Enquanto que na Europa prevalecia esse jogo semântico dicotômico, in­ternamente, outras denominações eram usadas para definir o habitante des­se novo mundo, reflexo da percepção geral sobre a identidade do continente. Rojas Mix afinna que "se durante a colônia o americano admitia ser chamado de 'criollo', 'indiano' ou 'espanhol das Índias', em começos do século XIX, associado aos processos de independência, o problema da identidade se apre­senta sob uma nova perspectiva", com o processo emancipatório tenninando "por impor o nome de 'americano'" (ROJAS MIX, 1991, p. 63-64).

Claro está que a autoafinnação como americano c01Tesponde a uma necessidade de se diferenciar do inimigo europeu, da metrópole coloni­zadora, e sua eficiência no processo de lutas de independência foi con­siderável (GUERRA, 2000, p. 348). Entretanto, talvez mais importante do que isso seria o fato de que tanto a criação quanto a divulgação desse conceito representavam uma necessidade de se implantar uma identidade continental nas ex-colônias, pois assim se estabeleceria a criação de uma grande força responsável pela defesa contra possíveis ataques das anti­gas metrópoles europeias (GRANADOS, 2004, p. 42). Certamente estas ações eram praticadas quase que exclusivamente pelos grnpos situados no topo da pirâmide social da região recém-liberta, mas isso não diminui sua importância no processo de consolidação de uma futura identidade latino­-americana, visto que a mesma também foi construída de cima para baixo, confom1e veremos mais adiante.

Apesar de Bolívar utilizar o termo América na Conferência do Panamá de 1826, nos anos subsequentes o ideal de construção de uma Hispanoamérica passou a ser predominante. Essa mudança é relevante quando se busca compreender o processo de gênese do nome América Latina. O historiador Aimer Garcia Granados (2004) explicita bem esta transição quando analisa os conteúdos dos congressos de união con­tinental realizados na América hispânica ao longo das primeiras dé­cadas posteriores aos processos de independência. Além do já citado Congresso do Panamá, em 1826, poderíamos destacar os congressos de Lima, realizado em 1848, e o de Santiago do Chile, de 1856. Segundo ele, em meio a uma fase difícil da história das antigas colônias es­panholas, marcada pela conturbada construção das futuras nações das Américas Central e do Sul, a mudança de América para Hispanoaniérica não foi inocente, pois no fundo tal mudança

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[ ... ] obedeceu a uma maior consciência do que constituía a identidade cultural do grupo de países que fonnavam a antiga Amética espanhola, e que em função das constantes tentativas de agressão de que eram objeto desde o momento da Independência, tentavam se mostrar perante a comunidade internacional como países livres e unidos por uma série de interesses e vínculos culturais (GRANADOS, 2004, p. 53).

Rojas Mix parece concordar com Granados, dizendo que "esta his­panoamericanidade se define pelo único vínculo importante deixado pela dominação espanhola: a língua. Consequentemente, é vista como uma co­munidade cultural formada pelas repúblicas, antigas colônias espanholas" (ROJAS MIX, 2001, p. 64-65).

No século XIX, os Estados Unidos despontavam como uma potência regional. A partir da criação da Doutrina Momoe em 1823, com seu lema "a América para os americanos", suas ambições imperialistas em relação aos países do continente ficaram claras. Sendo inicialmente apenas uma ad­vertência às potências europeias no sentido de que não tentassem reativar o domínio colonial sobre o continente, esta doutrina passou a ser utilizada ainda no século XIX como justificativa intervencionista em todo o conti­nente americano. Seu lema poderia ser lido, portanto, como a América para os norte-americanos.

A força de seu imperialismo regional pôde ser sentida pelo México no final dos anos 1840, quando da guerra travada pelos dois países e que teve como saldo a cessão aos EUA de aproximadamente 2,4 milhões de quilômetros quadrados do tenitório mexicano. Além disso, vale lembrar a façanha de William Walker ( 1824-1860), norte-americano que a paiiir de 185 5 passou a ser o grande líder político da Nicarágua.

Segundo Arturo Ardao, a então emergente hispano-americanidade aparece nesta luta em se ''definir e afirmar a identidade comum frente aos Estados Unidos, o jovem império que ameaçava a partir da América e com o nome de América" (ARDAO, 1995, p. 46). A parte final deste comentário de Ardao nos parece muito interessante, já que nos chama atenção ao fato da apropriação do termo América pelos no1ie-america­nos. Este fato também teria contribuído para a definição de um outro termo que denominasse a antiga América espanhola, como fica explí­cito nas palavras de José Maria Samper, publicadas em 1861, quando ele justifica o porquê da necessidade de se inovar a terminologia "his­tórico-geográfica do Novo Mundo [ ... ]"em meados do século XIX, já que "os cidadãos da Confederação do Norte chamada Estados Unidos, atribuíram a si mesmos e com razão, o nome de Americanos, como

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expressão de sua nacionalidade política, assim como designam com o nome genérico de América a Confederação fundada por Washington [ ... ]" (SAMPER apud ARDAO, 1995, p. 48).

Chegamos assim ao momento-chave da trajetória gestacional do nome América Latina, já que é neste período de definição de uma nova identidade perante os EUA que aparecem, portanto, novos te1mos identi­tários para a América hispânica. Diversos nomes vieram à tona ao longo da busca desta identidade, como por exemplo Magna Colômbia, proposta ainda em fins do século XVIII por Francisco de Miranda, e que em meados do século XIX ainda era defendida por alguns intelectuais como a melhor definição para a região. Mas dentre todos os nomes que apareceram neste período, o tenno América Latina foi sem dúvida aquele que mais logrou êxito, pois ao contrário dos demais, se perpetua até os dias de hoje.

O ponto de partida da análise arqueológica do nome América Latina se inicia com o artigo do historiador norte-americano John Leddy Phelan: Pan-Latinism, French Intervention in Mexico (1861-1867) and the Genesis ofthe Idea of Latin America3

, publicado em 1968. Seu im­pacto no meio acadêmico foi enorme, podendo ser considerado até os dias de hoje como a referência bibliográfica predominante sobre este tema (GRANADOS, 2004, p. 41). Nesse artigo, Phelan considera que o termo América Latina aparece pela primeira vez em 1861, no contex­to do panlatinismo. Esta ideologia panlatina, que já existia na França desde os anos 1830 e que ganhou força no governo de Napoleão III (o chamado Segundo Império, que durou de 1852 a 1870), objetivava subjugar as nações hispano-americanas ao poderio francês e ao mesmo tempo visava diminuir a área de atuação da política imperialista dos EUA. Seu ponto central era se aproximar culturalmente das nascentes repúblicas de língua espanhola, pregando a ideia de uma união latina intercontinental, mas que obviamente teria a França como liderança.

Phelan destaca o papel do político e economista francês Michel Chevalier (1806-1879) no processo de elaboração do tem10 América Latina. Um dos principais ideólogos do panlatinismo, Chevalier já pensava a existência de rnnaAmérica latina, com "l" minúsculo, muito antes do reinado de Napoleão III, mais precisamente em 1836, conforme fica claro na introducão de sua obra Lettres sur l 'Amerique du Nord: "Os dois troncos, latino e ge1;nânico, se

3 Este texto foi publicado primeiramente em inglês, no ano de 1968, mas já em 1969 foi traduzido para o espanhol. Existe atualmente uma versão disponível· na coletânea de artigos organizados por Leopoldo Zea. Fuentes de La Cultura Americana. México: FCE, 1995, Tomo 1, sob o título de "EI origen de la idea de Latinoamérica.". Esta foi a versão aqui utilizada.

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reproduziram no Novo Mundo. América do Sul é, como a Europa meridional, católica e latina. A América do Norte pertence a lm1a população protestante e anglo-saxônica" (CHEVALIER, 1980, p. 162).

Temendo o crescimento imperial dos EUA e da Rússia e a conse­quente superação dos franceses nesta coITida, Chevalier afirnm o papel de liderança da França no panlatinismo:

A França [ ... ] constitui o topo do gmpo latino; é seu protetor. Nos acontecimentos que parecem se aproximar, o papel da França é grande. A França é depositária dos destinos de todas as nações do gmpo latino nos dois continentes. Somente ela pode impedir que esta família inteira de povos não seja tragada pelo duplo avanço dos Gennanos ou Saxões e dos Eslavos (CHEVALIER, 1980, p. 165).

Segundo Phelan é a partir daqui que nasce não o nome América Latina, mas sim a ideia de uma América Latina, o que por sua vez nos per­mite concluir que aqui se dá o momento de criação da dualidade América Latina/ América Saxônica.

Dessa proposição de Michel Chevalier é que o panlatinismo francês se constrói e com o passar dos anos aos poucos ele vai sofrendo alterações. Durante o governo de Napoleão III, presidente da república francesa a par­tir de 1848 e autoproclamado imperador a partir de 1852, inúmeros intelec­tuais franceses e até mesmo hispano-americanos abraçaram a proposta do panlatinismo, cada um deles por motivações diferentes. Os primeiros por razões geopolíticas: ampliação do império francês, como que numa espé­cie de volta ao Antigo Sistema Colonial ou antecipando o neocolonialismo de fins do século XIX. Para os intelectuais hispano-americanos significava se identificar com o europe_u civilizado, aproximandb-se de sua esfera de influencia e afastando-se da noção de atraso (SORIA, 2004, p. 72).

Como consequência mais marcante deste panlatinismo enquanto ma­nifestação imperialista temos, além de alguns projetos que fracassaram,4 a invasão do México por parte dos franceses em 1862. Aproveitando a fra­queza dos EUA por causa da GueITa de Secessão (1861-1865), Napoleão III invade militarmente uma paiie do teITitório mexicano e para garan­tir seu predomínio na região acaba por nomear o arquiduque austríaco Maximiliano de Habsburgo como monarca daquele país.

4 Exemplos destes fracassos seriam o projeto de construção de um canal marítimo no Panamá que ligaria os oceanos Pacífico e Atlântico, e a criação do Reino dos Andes.

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Segundo Phelan, foi à época dos preparativos da invasão francesa ao teITitório mexicano que nasce o tenno América Latina, em um artigo de 1861 escrito por L. M. Tisserand na Revue des Races Latines (PHELAN, 1993, p. 138). Rapidamente, o tenno passa a ser apropriado por outros in­telectuais franceses e por alguns hispano-americanos residentes na Europa. Esse artigo de Phelan foi duramente criticado por ArturoArdao (1980). Em seu estudo, Ardao trouxe nova luz ao debate sobre a criação do conceito de América Latina e inevitavelmente acaba por confrontar a visão do histo­riador norte-americano. Ardao defende que o nome América Latina não foi criado pelos franceses, mas sim pelo pensador e jornalista colombiano re­sidente em Paris José Maria ToITes Caicedo (1830-1889), no ano de 1856.

Em Paris desde 1853, o jornalista colombiano publica em setembro de 1856 na capital francesa um poema intitulado "Las dos Américas", onde expressa o seguinte:

La raza de la América latina AI frente tiene la sajona raza, Enemiga mortal que ya amenaza Su libertad destmir y su pendón

O poema marcaria, segundo Ardao, o nascimento do nome América Latina, já que o termo "latina" não mais é empregado como um adjetivo, mas sim como um substantivo. Mesmo que não abandonasse em seus es­critos os tern10s América do Sul, Hispanoamérica e América Espanhola, ainda nos anos 1850, ToITes Caicedo utilizará inúmeras vezes a expressão América Latina e suas variações, tais como Estados latino-americanos, na­ções latino-americanas, Estados da América latina, Repúblicas da América latina. Por isso Ardao conclui que "antes do fim da década de 50, na pena hispano-americana de Torres Caicedo, não só chegou a existir como que se encontrava em circulação, e portanto em processo de difusão, o nome como nome - de América Latina" (ARDAO, 1980, p. 86).

Em suma, há apenas um ponto em que Ardao e Phelan parecem con­cordar em relação ao processo de gênese do nome América Latina, que seria o contexto histórico e geográfico em que este se deu, isto é, o do panlatinismo da França de meados do século XIX. Mas divergem sobre o momento exato de seu surgimento. De acordo com a reconstrnção histórica proposta por Ardao, cinco anos antes de L. M. Tisserand escrever o termo ''L' Amerique Latine" em 1861, ToITes Caicedo já o havia criado (em espa­nhol) e o difundido na própria França em diversos textos.

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Os dois autores divergem também a respeito das razões políticas para a difusão do novo nome. Para Caicedo, havia a necessidade de fazer frente à ameaça representada pela expansão dos EUA na região. Na perspectiva de John Phelan, o nome surge para foiialecer as justificativas para a inva­são do México pela França. As duas razões representam diferentes ângulos para se entender a geopolítica da época e os interesses em jogo.

Em 1991, Rojas Mix publica a obra Los Cien Nombres de America, onde faz uma interessante listagem e análises dos diversos nomes atribuí­dos ao continente americano, ao menos em sua parte de origem espanhola e portuguesa. Quando analisa a origem do nome América Latina, ele apre­senta a visão de Phelan, contrastando-a com a de Ardao.

Entretanto, Rojas Mix afirma que Ardao também se equivoca ao des­considerar o pensamento do intelectual chileno Francisco Bilbao (1823-1865). Bilbao, que entre os anos de 1855 e 1857 residia em Paris, pregava também, como alguns intelectuais hispano-americanos exilados na França, uma união dos povos das repúblicas de origem espanhola para fazer frente ao imperialismo ianque. Porém, segundo Rojas Mix, em junho de 1856 - ou seja, três meses antes de Ton-es Caicedo o pensador chileno teria criado o termo América Latina durante uma conferência em Paris.

Suas palavras foram posteriormente transcritas em um texto, sob o título de Iniciativa de la América. Jdea de un Congreso Federal de las Republicas, e_ nele- encontramos os seguintes dizeres: "Pero la América vive, la América latina, sajona e indígena protesta, y se encarga de repre­sentar la causa del hombre [ ... ]"(BILBAO, 1995, p. 56). Para Rojas Mix, aqui está a origem do nome América Latina.

Ardao ( 1980, p. 81-82) não chega a desprezar Bilbao por completo, pois em sua obra ele dedica aproximadamente uma página e meia à apre­sentação e análise de suas -palavras. Entretanto, o filósofo uruguaio não as reconhece como sendo o momento da criação do termo, pois para ele ainda se estaria usando o tem10 "latina" como um adjetivo e não como um substantivo. Além disso, a denominação que Bilbao aplica ao continente no restante de seu texto é o de América do Sul. Apesar desta consideração negativa, Ardao se preocupa em afümar que as palavras de Bilbao mere­cem um privilegiado lugar na história do advento da ideia de uma América Latina (ARDAO, 1980, p. 82).

.Criticando outros autores que defendem a tese de Ardao, Rojas Mix paiie para uma conclusão direta, onde não só defende veementemente o seu compatriota como também propõe uma reavaliação deste assunto por parte dos estudiosos do tema:

POLÍTICA EM MOVIMENTO: a construção da política na América Latina e Caribe 25

Não é justificável escamotear, ou minimizar, o papel de Bilbao na fundação do termo em que hoje reconhecemos nossa identidade. Não só porque foi o primeiro a utilizá-lo, mas também porque ele lhe deu o seu sentido atual muito distante das concepções de latinidade de então.[ ... ] Nâo se trata de desprezar o colombiano [isto é, Torres Cai cedo], que foi quem mais fez para difundir a ideia, mas não se pode esquecer do chileno, porque além disso foi ele quem melhor entendeu esta denominação como um paradigma de identidade anticolonial e anti-imperialista. Inclusive o fato de ter deixado de utilizá-la é coerente e mostra a estreita ligação que estabelecia entre este nome e a decisão anti-imperialista. Quando o abandona é porque percebe que serve para legitimar o colonialismo francês (ROJAS MIX, 1991, p. 346).

A sobrevivência do tenno América Latina e sua utilização ainda nos dias de hoje não constituem fatos óbvios. É importante ressaltar que este termo enfrentaria altos e baixos ao longo do final do século XIX. A própria questão do imperialismo francês nas Américas de língua espanhola, apesar de seu total fracasso posterior, foi impo1iante para trazer um sentimento de repulsa às pretensões francesas e à inevitável associação ao panlatinismo. Além disso, e talvez como consequência do motivo anterior, temos a as­censão de outras ideologias identitárias no continente americano como um todo, tais como a volta do hispano-americanismo, com José Enrique Rodó e seu clássico Ariel, e o fortalecimento do pan-americanismo, encabeçado pelos EUA, ambos em fins do século XIX.

O certo é que após a Segunda Gue1Ta Mundial, o termo América Latina foi impulsionado e se consolidou, principalmente por meio da ação dos organismos políticos multilaterais (BANDEIRA, 2005). Até hoje, a despeito de todas as polêmicas que invoca, é o teimo usado para a região continental ao sul dos EUA.

De Antilhas a Caribe

Para além da complexa questão acerca de uma identidade caribenha imbricada em uma identidade latino-americana e a relação entre as duas regiões - continental e insular -, pretendemos discutir a gênese do nome Caribe, para definir essa parcela de ten-as envolvidas pelo mar do Caribe e adjacente à América Central. Segundo Andrés Bansaii, "lCómo definir este Caribe?" e considera que "mejor no responder a estas preguntas para dejar a cada caribefio, a cada ser individual o colectivo, contestarias desde

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sus Yo y sus Otros, desde sus ayer y su ahora, también desde sus proyectos de desarrollo". Diante dessa multiplicidade de definições, buscaremos tra­çar algumas linhas para iluminar esse debate.

O que há de comum entre os autores que se aventuram neste tema é o consenso de que a denominação Caribe é muito recente. Assim, Antonio Gaztambide (2003 ), ao pesquisar o uso do nome Caribe e resumir os modos de delimitar seus contornos, afinna que o termo nem sempre serviu de definição da região na cartografia dos séculos anteriores. Afinal, Caribe surge como de­finição de uma região apenas no século XX. Antes, era apenas o nome do mar delimitado pelas Antilhas, Centro-américa e parte da costa norte da América do Sul. Quando os povos autóctones, principahnente os caribes, viram-se re­duzidos a reservas na Martinica e Dominica ou exilados na costa de Hondmas pelos britânicos, conseguiram deixar sua marca na história batizando o mar de Caribe. Os franceses corroboraram a definição, registrando a massa de água de Mer des Caraibes. Mais tarde, também os hispano-americanos, inclusive os piratas, corsários e contrabandistas que circulavam na região, adotaram essa denominação. O que antes era a definição de un1 mar passa a ser usado dentro de uma geopolítica norte-americana para definir uma nova geografia.

No1man Girvan (2000), afirma que

[ ... ] la noción de Caribe ha sido-y está siendo-continuamente redefinida y reinterpretada, en función del interés por ofrecer respuestas a las influencias externas y a los procesos internos. Una posición apropiada es sostener que no hay una definición "precisa" o consumada; el contenido depende más bien dei contexto, pero ello debe especificarse con claridad cuando se emplee con propósitos descriptivos o analíticos [ .. .]. en el nivel cultural, la creciente importancia de la diáspora del Caribe insular hacia Norteamérica y Europa ha sido reconocida, así que el Caribe no es sólo multilingüe, también es trasnacional.

O conceito de Caribe surge então na transição da hegemonia europeia para a hegemonia estadunidense na região e como resultado de uma geo­política intervencionista que se dá principalmente a partir de 1898, como corolário da Doutrina Monroe. Esta nova geopolítica se concretiza com a ocupação e anexação de Cuba, Porto Rico, Filipinas e Havaí, construção do canal do Panamá e a ocupação desse espaço estratégico, seguido pelas ocupações militares da Nicarágua (1909 a 1925, 1927 a 1933), do Haiti (1915 a 1934) e da República Dominicana (1916 a 1924), além da compra das Ilhas Virgens em 1916, da ocupação do porto mexicano de Veracruz em 1914, dentre outras ações (GAZTAMBIDE, 2003).

POLÍTICA EM MOVIMENTO: a construção da política na América Latina e Caribe 27

Os usos e interpretações da geografia e dos nomes relativos à região sempre foram marcados pela geopolítica. Diferente do século XVI, quan­do era predominante o domínio espanhol, o século XVII marcou a pre­sença de outros poderes imperiais europeus e deu início a um processo de modernização que privilegiava a exploração de alimentos tropicais, a escravidão e o tráfico negreiro. Expandiu-se em todo o território o siste­ma de plantation, que marcou a história do Caribe para sempre. A partir da segunda metade do século XVIII e primeiras décadas do século XIX, era mais frequente o nome Antilhas para designar o mar e as ilhas por ele banhadas. Da mesma forma, era comum o termo Índias Ocidentais (West Indies) entre os britânicos. Somente ao final do século XIX, com o desfe­cho da guerra Hispano-Cubano-N01ieamericana de 1898 e a derrocada da Espanha, os EU A desponta como potencia regional emergente e ocupa a ilha de Cuba em 1902. Outros pontos nodais, da política imperial norte­-americana serão a politica da boa vizinhança de Roosevelt, a criação da Comissão Anglo-Americana do Caribe, organizada em 1942 ainda durante a Segunda Guerra Mundial, a Iniciativa de la Cuenca dei Caribe, encabe­çada por Ronald Reagan na década de 1980 e a proclamada caribeneidad dos EUA, enunciada por Bill Clinton em 1997 (CASTILLO, 2007, p. 307).

Não foi sem resistência, que o termo Caribe foi sendo consolidado. O escritor porto-riquenho Edgardo Rodríguez Juliá afüma em 1988,

[ ... ] para nosotros, los puertorriquefios, el ténnino antillanía tiene significado pleno, pero no los ténninos caribefio o caribefiidad. Uno nos congrega en la experiencia histórica y cultural compartida con las Antillas Mayores, el otro -the Caribbean- nos somete a una categoría suprahistórica, a un invento de la objetividad sociológica, antropológica o etnológica de origen anglófono, objetividad que siempre funciona en contra dei colonizado [ ... ].

Um fator a favor da generalização do teimo Caribe, principalmen­te por parte das elites intelectuais e políticas das Antilhas foi o processo descolonizador que se iniciou na década de 1960 e continuou até a década de 1970, principalmente da paiie anglófona. As West Indies vão se tornan­do cada vez mais Caribe a partir da independência da Jamaica, Trinidad Tobago, Guiana, Barbados, Granada e Suriname. Esses países iniciam um processo de integração que se fortalece com a criação da Associação Caribenha de Livre Comércio (CARIFTA) em 1968, e a Comunidade Econômica do Caribe (CARICOM) em 1973.

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Nessa discussão, dois historiadores se destacam, por suas análises e por suas divergências: Eric Williams e Juan Bosch. Para Willians, a par­tir de uma perspectiva mais britânica que norte-americana, refere-se à região insular, o Caribe etnohistórico, sinônimo de Antilhas e de Indias Ocidentais, seguindo uma tradição hispânica e anglófona.

Juan Bosch, em seu livro, De Cristóbal Colón a Fidel Castro. E! Caribe fi~ontera imperial ( 19 7 O), afirma:

las tierras del Caribe son, pues, las islas antillanas que van en forma de cadena desde el canal de Yucatán hasta el golfo de Paria; la tierra continental de Venezuela, Colombia, Panamá y Costa Rica, la de Nicaragua, Honduras, Guatemala, Belice y Yucatán, y todas las islas, los islotes y los cayos comprendidos dentro de esos límites.

Dessa forma, para Bosch o Caribe é esse Gran Caribe, objeto da re­flexão teórica e política norte-americana. Esta extensão da compreensão do que compreende o Caribe tem, sem dúvida, um viés ideológico desde a perspectiva n01ie-americana e coincide com a formação de organizações de cooperação internacional na região. A Associação dos Estados do Caribe (AEC), criada em 1994 na Colômbia, integra a maioria dos Estados centro­-americanos, sul-americanos e insulares banhados pelo mar do Caribe, à exceção dos EUA _e de algumas colônias atuais. Cabe lembra que essa região, a Cuenca dei Caribe, coincide com os Estados que mais sofreram intervenções militares dos EUA.

Há ainda aqueles que, como Charles Wagley, define o Caribe como a América das Plantations ou Afro-América, incluindo os EUA, o Caribe insu­lar e o Brasil, além de outros lugares onde prevaleceu a plantation como orga­nização socioeconómica. Inspirados pelas ideias de Wagley, surgiu em 1960 o New World Group, influendados também pelos nacionalistas C. L. R. James é Eric Williams. O grnpo elaborou uma visão do Caribe como parte integrante da "american plantation", como elemento transversal para a multiplicidade de línguas, metrópoles, grupos étnicos etc. As publicações do grupo buscavam ressaltar as similitudes acerca da história e das experiências coloniais.

Em suma, as Antilhas se confundem com as West Jndies, como percep­ções dos primeiros colonizadores, espanhóis e ingleses. Ambos os nomes serão subsumidos, depois da Segunda Gue1rn Mundial, pelo termo Caribe, agora já sob a hegemonia mundial norte-americana. O tenno consagra-se na criação da Comissão do Caribe, em 1946, que incluía colônias n01ie­-americanas, inglesas, francesas e holandesas, e está presente em outras organizações internacionais.

POLÍTICA EM MOVIMENTO: a construção da política na América Latina e Caribe 29

A definição da região não é uma questão que se esgota. É muito mais fluida do que a definição da América Latina. Esse espaço de terras e mar toma conotações e configurações que dependem do olhar de quem procura entendê-lo. Percebemos abordagens tão diversas quanto as disciplinas que as estudam, seja a história, a geografia, a política, a economia, a sociologia, o direito ou a antropologia. Os que focam nas manifestações culturais ten­dem a ampliar suas fronteiras, outros reduzem a uma pequena parcela das ilhas, as Índias Ocidentais de Colombo. Em cada tempo, e a depender da ocupação de seus territórios, têm coexistido diferentes caribes e diferentes mundos dentro de cada pequena ilha (REINOSA; GARCÍA, 2013).

Considerações Finais

Ao discutir a gênese e consolidação dos designativos América Latina e Caribe esbarramos inevitavelmente nas discussões de identidade. Essas são múltiplas e não mutuamente excludentes. Os hispânicos tendem a se ver como caribenhos e latino-americanos, os haitianos se identificam como afrodescendentes e, ao mesmo tempo, francófonos. Os latinos do México não são os latinos do Brasil. A autodefinição e a recepção das definições externas são diversas. O que nos leva a concluir que a América Latina e o Caribe são eminentemente mestiços.

Podemos depurar da diversidade da região uma história comum de domí­nio imperialista e de resistência constante, de condição periférica e de desen­volvimento desigual, de confluência de raças, etnias e culturas, que se mistu­ram para formar esse grande caleidoscópio chamado América Latina e Caribe.

Por suas características históricas, geográficas e estratégicas, é uma região que sempre foi objeto de disputa pelas potencias hegemônicas, desde sua "descobetia". Primeiro Espanha, Portugal, depois Inglaterra, Holanda, França e, mais proximamente, EUA. Para além dos termos, que procuramos aqui interpretar, a América Latina e Caribe são resultados da dinâmica luta pela dominação e pela resistência.

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CAPÍTUL02

AVANCES,RETROCESOS Y HORIZONTES DEL PROCESO

DE DEMOCRATIZACIÓN EN AMÉRICA LATINA EN LA

SEGUNDA DÉCADA DEL SIGLO XXI

Introducción

Fanor Julián Solano Cárdenas Leonardo Cavalcanti

La crisis del régimen de acumulación capitalista5 que se dio entre 1970-1980 creó las condiciones idóneas para que los partidos políticos de derecha astm1ieran el control del Estado en todos los países deAmérica'Latina durante la fase de transición a la democracia. hriciado el siglo XXI, esa hegemonía llegó a su fin con el ascenso al poder de un conjunto de mandatarios que en el discurso público representaban los intereses de los obreros, can1pesinos, indígenas y otros grupos históricamente excluídos del escenario político. Después de una década de movilizaciones, protestas, refonnas y contra-refonnas hoy en día tenemos un variado mapa político e ideológico que va desde el Socialismo del Siglo XXI hasta Neoliberalismo Ortodoxo. En el marco de estas transfonnaciones en la estructura del poder, se crearon políticas de inclusión social para beneficiar a los más pobres, se modificaron varias cartas constitucionales, se firmaron tratados de integración regional y algunos países redefinieron sus relaciones con potencias hegemónicas. Desde la postura de varios gobemantes, se avanzó en el proceso de consolidación de la democracia regional. No obstante, todos los sectores de la sociedad no piensan lo mismo, en especial, los movimientos indígenas de Bolívia, Ecuador y Perú (ESCÁRZAGA, 2014, p. 452) y los movimientos obreros de Brasil o Argentina, que hoy más que nunca se sienten inconfonnes por las promesas incumplidas (ZIBECHI, 2009, p. 186). Un ejemplo de este

5 EI régimen de acumulación es un concepto construido en Francia en la década de 1970 por la Escuela de la Regulación, liderada por intelectuales como Michel Aglietta, Robert Boyer, Alain Lipietz, quienes pretendían dar c1,1enta de los periodos de crecimiento estable y cambio estructural dei capitalismo.

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SOBRE OS AUTORES

SIMONE RODRIGUES PINTO Professora do Centro de Pesquisa e Pós-Graduação sobre as Américas

(CEPPAC), da Universidade de Brasília (UnB). Possui graduação em Direito pela Universidade Federal de Juiz de Fora ( 1996), mestrado em Relações Internacionais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro ( 1998), doutorado em Ciência Política pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (2004). Atualmente é uma das coordenado­ras do Laboratório de Estudos Interdisciplinares sobre Acesso à Justiça e Direitos nas Américas (LEIJUS).

CARLOS FEDERICO DOMINGUEZ AVILA Possui Graduação em História ( 1995), Mestrado em Estudos Sociais e

Políticos Latino-americanos (1999) e Doutorado em História das Relações Internacionais pela Universidade de Brasília (2003). Docente do Mestrado em Ciência Política do Centro Universitário UNIEURO. Pesquisador es­pecializado em Estudos Políticos, Transfonnações Globais e Relações Sociedade-Estado.

FANOR JULIÁN SOLANO CÁRDENAS Sociólogo y Magister en Sociología de la Universidad del Valle,

Doctorando en el Instituto de Ciências Sociais- ICS- Centro de Pesquisa e Pós-Graduação sobre as Américas (CEPPAC). Profesor catedrático de las sedes regionales de la Universidad del Valle.

LEONARDO CAVALCANTI Professor da Universidade de Brasília (UnB), lotado no Centro de

Pesquisa e Pós-Graduação sobre as Américas (CEPPAC). Possui estu­dos de Pós-doutorado na University of Oxford e na Columbia University. Desenvolve pesquisas sobre estudos comparados sobre as migrações lati­no-americanas, com ênfase na perspectiva transnacional das migrações.

RICHARD SANTOS Doutorando em Ciências Sociais no CEPPAC-UNB, mestre em co­

municação pela Universidade Católica de Brasília, especialista em História e Cultura no Brasil pela Universidade Gama-Filho e graduado em Ciências Sociais pela Univ~rsidade Metodista de São Paulo.

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~o

MARIA DO CARMO REBOUÇAS C. F. DOS SANTOS Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento,

ociedade e Cooperação Internacional da UnB. É advogada com gradua­ão em Direito pela Universidade Católica do Salvador, Especialização em >ireitos Humanos pela Universidade do Estado da Bahia, Especialização m Estado, Governo e Políticas Públicas pelo Instituto de Ciência olítica da Universidade de Brasília, Mestre em Desenvolvimento, ociedade e Cooperação Internacional no Centro de Estudos Avançados foltidisciplinares da Universidade de Brasília.

JACQUES DE NOVION Doutor em Estudos Latino-Americanos, pela Universidade Nacional

"utônoma do México (2011). Professor adjunto do Centro de Pesquisa Pós-graduação sobre as Américas (CEPPAC/UnB). Coordenador do

rrupo de Estudos Comparados México, Caribe, América Central e Brasil MeCACB e do Laboratório de Estudos Interdisciplinares sobre Acesso Justiça e Direitos nas Américas (LEIJUS/CEPPAC/UnB). Desenvolve esquisas nos temas relacionados à Hegemonia nas Américas, Geopolítica atino-Americana, Cooperação nas Américas, Integração Econômica, egurança Continental (Terrorismo, Narcotráfico, Meio Ambiente), ensamento Latino-Americano, Geopolítica Amazônica, Recursos aturais, Novas Territoriali4ades e Novos Conflitos. Têm experiência na rgentina, Equador, Bolívia e México.

HANS CARRILLO GUACH Possui graduação e mestrado em Sociologia pela Universidade da Havana

008) (2012). Doutorando do programa em Ciências Sociais com ênfase em 3tudos Comparados sobre as Américas, no Centro de Pesquisa e Pos-graduação 1bre as América~ (CEPPAC) da Universidade de Brasília (UnB). Professor > Departamentô de Estudos socioculturais na Universidade de Matanzas ~amilo' Cienfuegos" (Cuba) e integrante do projeto municipal de Pesquisa '.ultidisciplinar em Desenvolvimento Comunitário, no Departamento de :arxismo da Universidade de Matanzas. Seus principais temas e áreas de inte­sses são: processos de desenvolvimento, govemança local, participação, repre­ntações sociais, sistemas políticos e democratização.

CAMILO NEGRI É Professor Adjunto do Centro de Pesquisa e Pós-Graduação sobre as

méricas (CEPPAC) da Universidade de Brasília (UnB). mestre e doutor

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em Ciências Sociais- Estudos Comparados sobre as Américas (CEPPAC, UnB - 2005, 2009). Pesquisa principalmente nos seguintes temas: esquer­das, democracia e ideologia na América Latina em perspectiva comparada.

ELLEN DA SILVA Mestranda em Ciências Sociais no Centro de Pesquisa e Pós­

Graduação sobre as Américas (CEPPAC) da Universidade de Brasília, com dissertação sobre a inclusão de mulheres nos parlamentos e as trajetórias políticas das eleitas no Brasil e Costa Rica. Pesquisadora do Grupo de Estudos Interdisciplinares sobre Gênero, GRIEG/CEPPAC. Vencedora do concurso de redações da ONU "Many Languages, One World" em 2016 e selecionada para o "Programa de Fortalecimento da Função Pública na América Latina" da Fundação Botín (Espanha) & Universidade de Brown (Estados Unidos) em 2012.

DELIADUTRA Doutora em Sociologia. Pesquisadora Colaboradora Plena e Bolsista

.PNPD/CAPES no Centro de Pesquisa e Pós-Graduação sobre as Américas (CEPPAC) da Universidade de Brasília. Coordenadora do Grupo de Estudos Interdisciplinares sobre Gênero, GRIEG/CEPPAC. Investigadora Associada Nivel I do "Sistema Nacional de Investigadores del Uruguay, Agencia Nacional de Investigación e Innovación". Pesquisadora do Observatório das Migrações Internacionais e do Laboratório de Estudos sobre as Migrações Internacionais.

ISADORA LOPES HARVEY Mestra em Ciência Política pelo Instituto de Ciência Política (IPOL)

da Universidade de Brasília (UnB). Assistente de Suporte ao Grupo Temático de Gênero, Raça e Etnia da Organização das Nações Unidas (ONU), vinculada à ONU Mulheres Brasil. Pesquisadora na área de in­terseccionalidade entre gênero e raça, com ênfase em desigualdade e em construção de identidades raciais.

MARIA CAROLINA CARVALHO MOTTA Doutoranda pelo Centro de Pesquisa e Pós-Graduação sobre as

Américas da Universidade de Brasília (CEPPAC/UNB). Bolsista CAPES. Mestre em Direito pela UNAERP/2011. Graduada em História/2003 (UEG) e em Direito/1994 (Faculdade de Direito Milton Campos-Belo Horizonte).

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LUIZ GUILHERME DE OLIVEIRA

Professor do Centro de Pesquisa e Pós graduação sobre as Américas :=EPPAC) da Universidade de Brasília (UnB). Professor Visitante na '.olumbia University - School of International and Public Affairs - Cátedra "uth Cardoso (SIPA, Columbia NYC/EUA. Economista. Pós doutora­º École des Hautes Études en Science Sociales (EHESS, Paris/França). ioutor em Política Científica e Tecnológica (DPCT/Unicamp). Mestre em conomia (PUC/SP). Pesquisador do Centro de Estudos Avançados de íoverno e Administração Pública (CEAG-UnB).

MOISÉS VILLAMIL BALESTRO Doutor em Ciências Sociais (UnB) e professor no Centro de Pesquisa

Pós-Graduação das Américas (CEPPAC) da UnB. Líder do Grupo Estudos amparados de Sociologia Econômica (CNPQ). Membro do INCT de olíticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento (PPED). Realizou Pós-1outorado no Instituto de Ciência Política da Goethe Universitãt (2014-315) com bolsa da CAPES. Suas áreas de interesse são diversidades do ipitalismo, construção de mercados, inovação e desenvolvimento e de­mvolvimento rural. É membro da Society for the Advancement of Socio­conomics (SASE) .e da World Interdisciplinary Network for Institutional esearch (WINIR).

DANILO NOLASCO CORTES MARINHO Doutor em Sociologia (UnB) e pós-doutorado senior pela UNICAMP

~006-2007), pós-doutorado senior pela Universiteit van Amsterdam ~013-2014). Professor do Departamento de Sociologia e do Centro de méricas da Universidade de Brasília. Os trabalhos de pesquisa e interesse ;adêmico estão relacionados com teoria do desenvolvimento, avaliação e ~lineamento de. políticas públicas e sociais com concentração nas áreas de abalho/sindicalismo, desenvolvimento rural, educação, saúde e justiça. o período de setembro de 2013 a agosto de 2014 foi visiting scholar no msterdam Institute of Advanced Labour Studies (AIAS) da University of msterdam contou com bolsa de Estágio Pós-doutoral Sénior da CAPES.

NATHÁLIA VINCE ESGALHA FERNANDES Mestre em Ciências Sociais pelo Centro de Pesquisa e PósGraduação

>bre as Américas (CEPPAC) da Universidade de Brasília, possui gra­iação em Relações Internacionais pela Universidade Estadual Paulista

POLÍTICA EM MOVIMENTO: a construção da política na América Latina e Caribe 223

Júlio de Mesquita Filho (2009). Atualmente é Pesquisadora Observatório das Migrações Internacionais (OBMigra) do CEPPAC/UnB e do Grupo de Estudos Comparados México, Caribe, América Central e Brasil (MeCACB), também do CEPPAC/UnB. Tem experiência na área de Discriminação étnico-racial, Migrações Internacionais, Políticas Públicas e Direitos Humanos.

REBECCA LEMOS IGREJA Antropóloga, Professora e coordenadora da Pós-Graduação do

Centro de Pesquisa e Pós-Graduação sobre as Américas (CEPPAC/ Universidade de Brasília). É coordenadora do Laboratório de Estudos Interdisciplinares sobre Acesso à Justiça e Direitos nas Américas (LEIJUS/CEPPAC/UnB) e do Grupo de Estudos Comparados México, Caribe, América Central e Brasil (MeCACB). Seus estudos concen­tram-se na discussão sobre categorias sociais, étnicas e raciais, discri­minação e racismo, direitos coletivos, no âmbito das políticas públicas e do Direito, acesso à justiça e reformas judiciárias.

LILIANA VIGNOLI DE SALVO SOUZA Mestre em Ciências Sociais pela Universidade de Brasília (2015),

especialista em Indigenismo e Desenvolvimento Sustentável, pelo Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília (2009), e graduada em Comunicação Social pela Universidade de Brasília (1992). É membro do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Movimentos Indígenas, Políticas Indigenistas e Indigenismo (LAEPI/ CEPPAC). Atua na área do indigenismo, projetos socioambientais e educacionais, e comunicação social.

ELIZABETH DEL SOCORRO RUANO IBARRA Professora Visitante Centro de Pesquisa e Pós-Graduação sobre

as Américas (CEPPAC) da Universidade de Brasília (UnB) Doutora em Ciências Sociais, com especialidade em estudos comparados sobre as Américas (CEPPAC - UnB). Mestre em Agronegócios (PROPAGA­UnB). Pós-graduada em Gestão de Projetos de Desenvolvimento de Arranjos Produtivos Locais (APLs) (CEPAL/SEBRAE). Graduada em Administración Pública Municipal y Regional (ESAP), diploma reco­nhecido pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Possui experi­ência em pesquisa qualitativa com povos indígenas e agricultores fami­liares na Colômbia e no Brasil.

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CRISTHIAN TEÓFILO DA SILVA Antropólogo e professor do Centro de Pesquisa e Pós-Graduação

sobre as Américas (CEPPAC) da Universidade de Brasília (UnB). Pesquisador Associado do Centro interuniversitário de estudos e pesqui­sas indígenas (CIÉRA) da Université Laval (Québec, Canadá). Membro da Comissão de Ass1mtos Indígenas (CAI) da Associação Brasileira de Antropologia (ABA). Membro da Canadian Anthropology Society/La Société Canadienne d' Anthropologie (CASCA). Fundador e coordena­dor do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Movimentos Indígenas, Políticas Indigenistas e Indigenismo (LAEPI) e do Observatório dos Direitos e Políticas Indigenistas (OBIND).

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