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LETÍCIA CARASCO NOCENTINI APRIMORAMENTO DA GESTÃO DE IDEIAS EM UMA ÁREA DE UM GRANDE BANCO DE VAREJO Trabalho de Formatura apresentado à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para obtenção do Diploma de Engenheiro de Produção SÃO PAULO 2012

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LETÍCIA CARASCO NOCENTINI

APRIMORAMENTO DA GESTÃO DE IDEIAS EM UMA ÁREA DE UM

GRANDE BANCO DE VAREJO

Trabalho de Formatura apresentado à Escola

Politécnica da Universidade de São Paulo para

obtenção do Diploma de Engenheiro de

Produção

SÃO PAULO

2012

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LETÍCIA CARASCO NOCENTINI

APRIMORAMENTO DA GESTÃO DE IDEIAS EM UMA ÁREA DE UM

GRANDE BANCO DE VAREJO

Trabalho de Formatura apresentado à Escola

Politécnica da Universidade de São Paulo para

obtenção do Diploma de Engenheiro de

Produção

Orientador:

Professor Dr. Eduardo de Senzi Zancul

SÃO PAULO

2012

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FICHA CATALOGRÁFICA

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho à minha família, aos

meus amigos e ao professor Eduardo Zancul,

pelo apoio, dedicação e paciência.

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RESUMO

O presente trabalho tem como principal objetivo aprimorar o sistema de registro e o processo

de triagem e seleção de ideias em uma área de um grande banco de varejo nacional, a fim de

que os profissionais da organização possam reconhecer e se beneficiar com as vantagens que

um gerenciamento eficaz de ideias pode trazer. A gestão de ideias se tornou tema relevante e

recorrente ao longo dos últimos anos, principalmente por se tratar do primeiro passo e do

principal insumo do processo inovativo. Logo, empresas que reconhecem na inovação um

importante instrumento de vantagem competitiva devem estar preparadas para lidar com esse

tema. Pensando nisso e observando o sistema de sugestões adotado pelo banco, juntamente

com a análise das principais características do ambiente e da cultura organizacional, busca-se,

através desse trabalho, desenvolver alternativas que motivem os funcionários a participar do

processo de geração de ideias de maneira mais efetiva. Para tanto, foram estudados temas

referentes à gestão de ideias, tais como os fatores facilitadores e bloqueadores da criatividade

dentro do ambiente corporativo e a criação e transferência de conhecimento nas organizações.

Além disso, foram analisadas diferentes abordagens e ferramentas relacionadas à gestão de

ideias encontradas na literatura, bem como em algumas das empresas que apresentam as

melhores práticas do mercado. A solução proposta envolve a combinação dos métodos

considerados mais eficazes e adequados, estudados na revisão bibliográfica, levando em

consideração as características particulares do banco em questão.

Palavras-chave: Gestão de ideias. Gestão do conhecimento organizacional. Sistemas de

sugestões. Banco de varejo.

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ABSTRACT

This work aims to improve the registration system and the process of screening and selection

of ideas in an area of a large national retail bank, so that professionals can recognize and

benefit themselves from the advantages of an effective management of ideas. The idea

management became an important and recurring subject, mainly because it is the first step and

the main input of the innovative process. Therefore, companies that recognize innovation as

an important tool of competitive advantage should be prepared to deal with this subject.

Thinking about it and studying the suggestion system adopted by the bank, together with the

analysis of the main characteristics of the environment and organizational culture, the

objective of this work is to develop alternatives that motivate employees to participate, in a

more effective way, of the process of generating ideas. To this end, issues related to the

management of ideas, such as blocking factors of creativity within the corporate environment

and the creation and transfer of knowledge in organizations, were studied. In addition,

different approaches and tools related to the management of ideas were analyzed, as well as

some of the companies that provide the best market practices. The proposed solution involves

a combination of methods deemed most appropriate and effective, studied in the literature

review, taking into account the particular characteristics of the bank analyzed.

Keywords: Ideas management. Knowledge management. Suggestions systems. Retail bank.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1: Participação do Banco nas Diferentes Regiões do País. ........................................... 17

Figura 2: Segmentação Adotada pelo Banco. ........................................................................... 18

Figura 3: Metodologia do Trabalho. ......................................................................................... 20

Figura 4: Processo de Influência Recíproca entre o Indivíduo e o Sistema Organizacional. ... 25

Figura 5: Cadeia de Valor da Gestão do Conhecimento. ......................................................... 33

Figura 6: Tipologia não Tradicional para a Busca de Aprendizado e Inovações. .................... 35

Figura 7: Processos para Combinação de Conhecimentos para Inovação. ............................... 36

Figura 8: Modelo de Inovação de Sete Fases de Cooper. ......................................................... 41

Figura 9: Processo de Inovação – Modelo do Funil. ................................................................ 41

Figura 10: Modelo de Inovação Linear Combinado. ................................................................ 42

Figura 11: Modelo de Inovação Não-Sequencial. .................................................................... 43

Figura 12: Modelo de Inovação Sequencial X Modelo Não Sequencial. ................................. 44

Figura 13: Curva de Decaimento de Ideias. ............................................................................. 46

Figura 14: Pensamento Vertical e Pensamento Lateral. ........................................................... 52

Figura 15: Motivadores da Necessidade de Inovação. ............................................................. 62

Figura 16: As Principais Fases da Inovação (“O funil do Desenvolvimento”). ....................... 63

Figura 17: A Gestão de Ideias como Suporte à Fase de Concepção. ....................................... 63

Figura 18: Principais Fatores que Motivam os Funcionários a Gerarem Ideias. ...................... 66

Figura 19: Influência do Aumento da Diversidade no Número de Inovações Radicais........... 69

Figura 20: Modelo do “Mercado Aberto de Ideias”. ................................................................ 70

Figura 21: Número de Ideias por Ano – Brasilata .................................................................... 75

Figura 22: Moeda Virtual Utilizada no Mercado Preditivo da Serasa Experian. ..................... 77

Figura 23: Organograma do Banco Pessoa Física. ................................................................... 81

Figura 24: Imagem Ilustrativa Simplificada do Portal de Ideias Adotado pelo Banco. ........... 82

Figura 25: Imagem Ilustrativa Simplificada do Formulário de Ideias Adotado pelo Banco .... 83

Figura 26: Processo de Seleção das Ideias Inseridas no “Portal de Inovação e Melhoria

Contínua”. ................................................................................................................................. 86

Figura 27: Tela Inicial – As Sete Funções do Sistema ............................................................. 95

Figura 28: Exemplo de Preenchimento na Tela de Registro de Ideias ..................................... 96

Figura 29: Tela de Registro de Novas Necessidades de Inovação ........................................... 97

Figura 30: Exemplo de Preenchimento na Tela de Registro de Novos Participantes .............. 98

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Figura 31: Exemplo de Preenchimento na Tela de Busca de Ideias ......................................... 98

Figura 32: Exemplo de Preenchimento na Tela Mercado de Ideias ......................................... 99

Figura 33: Exemplo de Preenchimento na Tela de Consulta de Saldo ................................... 100

Figura 34: Exemplo de Gráfico Disponível na Tela Ranking ................................................ 100

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Fatores Facilitadores e Bloqueadores da Criatividade nas Organizações. ............... 26

Tabela 2: Principais Características das Abordagens Top-Down e Bottom-Up. ...................... 49

Tabela 3: Fontes de Ideias e Exemplos. ................................................................................... 50

Tabela 4: Geração de Ideias – Exemplos de Métodos Estruturados......................................... 54

Tabela 5: Sistemas de Sugestões – Resumo das Abordagens Dominantes. ............................. 59

Tabela 6: Principais Características dos Softwares para Gestão de Programas de Ideias. ....... 61

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

JHRA Japan Human Relations Association

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 14

1.1. ESCOPO E OBJETIVOS DO TRABALHO .................................................................... 16

1.2. A EMPRESA..................................................................................................................... 17

1.3. METODOLOGIA ............................................................................................................. 19

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ....................................................................................... 22

2.1. A IMPORTÂNCIA DA CRIATIVIDADE NAS ORGANIZAÇÕES .............................. 22

2.2. GESTÃO DO CONHECIMENTO ................................................................................... 27

2.2.1. Competências Organizacionais .................................................................................. 29

2.2.2. Direcionadores da Gestão do Conhecimento ............................................................. 32

2.2.3. Criação, Transferência e Integração do Conhecimento da Organização ................... 34

2.3. IDEIAS, INVENÇÕES E INOVAÇÕES.......................................................................... 40

2.3.1. As Ideias nos Diferentes Modelos de Inovação ......................................................... 42

2.3.2. Fontes e Geração de Ideias ........................................................................................ 45

2.3.2.1. Métodos para Geração de Ideias ........................................................................... 51

2.3.2.2. Sistemas ou Programas de Sugestões e Ideias ....................................................... 55

2.4. GESTÃO DE IDEIAS ....................................................................................................... 61

2.4.1. A Importância da Gestão de Ideias nas Organizações ............................................... 66

2.4.2. Práticas para Gestão de Ideias Colaborativa .............................................................. 69

2.5. CASOS DE SUCESSO ..................................................................................................... 72

2.5.1. O Sistema de Sugestões da Brasilata ......................................................................... 72

2.5.2. O Mercado de Ideias na Serasa Experian .................................................................. 75

2.5.3. Gestão de Ideias na Suvinil ........................................................................................ 77

3. DIAGNÓSTICO E ANÁLISE ....................................................................................... 80

3.1. DESCRIÇÃO DO ATUAL PROCESSO DE GERENCIAMENTO DE IDEIAS ........... 80

3.2. PRINCIPAIS PROBLEMAS IDENTIFICADOS NO ATUAL SISTEMA ..................... 88

3.3. ANÁLISE DO ATUAL PROCESSO ............................................................................... 88

3.4. ANÁLISE E COMPREENSÃO DAS CARACTERÍSTICAS DO BANCO ................... 91

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4. PROPOSTA ..................................................................................................................... 94

4.1. NOVO SISTEMA DE REGISTRO E GERENCIAMENTO DE IDEIAS ....................... 94

4.2. PROPOSTAS PARA A ORGANIZAÇÃO .................................................................... 101

5. CONCLUSÕES ............................................................................................................. 103

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1. INTRODUÇÃO

O incontável número de livros e artigos publicados nos últimos anos a respeito da importância

da inovação para as empresas revela o crescente valor desse tema dentro do mundo

corporativo (GOFFIN; MITCHEL, 2010). Para a maioria maciça dos autores desses livros e

artigos é incontestável que, diante do atual contexto de mudanças rápidas e contínuas

enfrentado pelas empresas, a inovação se tornou processo fundamental para que as

organizações mantenham seus espaços competitivos (TERRA, 2012).

Terra (2012) acredita que a inovação está fortemente ligada à lógica do capitalismo. Se não

fosse ele, as forças de mercado não seriam tão intensas e provavelmente tenderiam a certa

acomodação, levando a uma menor necessidade de criar novas e melhores maneiras de

responder aos problemas da realidade organizacional.

Apesar dessa ligação com o advento do capitalismo, que nos mostra que a inovação não é um

tema recente, foi nas últimas décadas que ela ganhou destaque dentro das organizações,

principalmente porque as forças de mercado se intensificaram ainda mais e as mudanças se

tornaram bruscas e frequentes (TERRA, 2012). Os avanços tecnológicos, as alterações nos

padrões de consumo, a intensificação da concorrência e as mudanças no ambiente das

organizações, considerados por Goffin e Mitchel (2010) como as quatro principais forças de

mercado que levam à inovação, fizeram do ambiente competitivo mundial algo muito mais

complexo e interdependente (TERRA, 2012).

Nesse contexto, Barbieri, Álvares e Cajazeira (2009, p. 17) afirmam que “as organizações que

consideram as inovações instrumentos privilegiados de suas estratégias competitivas devem

estar preparadas para a criação e gestão de um dos principais insumos dos processos de

inovação: as ideias.”. Em outras palavras, não há inovação sem que haja ideia. A ideia é o

embrião da invenção e a inovação, dentro do contexto organizacional, é a invenção colocada

em prática, incorporada, de fato, aos sistemas produtivos (BARBIERI; ÁLVARES;

CAJAZEIRA, 2009). Fica claro, portanto, que se a inovação é importante para as

organizações, as ideias são tão importantes quanto.

Todo esse processo que envolve ideia, invenção e inovação surge dentro das mentes dos

profissionais que compõem a organização. Isto é, trata-se de um fenômeno estritamente

humano, de caráter intuitivo e imersivo (TERRA, 2012). Para alguns autores como Kao

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(1997), a preocupação das empresas com esse processo significa, também, a superação da

preocupação apenas com aspectos físicos e financeiros em prol da preocupação com

características mais humanas, como imaginação, inspiração, engenhosidade e iniciativa.

Carpenter apud Karlsson (2010) acredita que, dentro do contexto organizacional, todos os

profissionais estão intrinsecamente motivados a gerar ideias e isso está fortemente relacionado

ao dia-a-dia de trabalho, ou seja, é resultado das interações com clientes, das insatisfações

com processos existentes, dos objetivos profissionais, entre outros. O desafio para as

organizações é saber aproveitar essas ideias, fornecendo um meio atrativo para que os

funcionários se sintam motivados a registrá-las (CARPENTER, 2009 apud KARLSSON,

2010). Outro desafio é auxiliar os profissionais, principalmente nas grandes organizações, a

terem foco e senso de urgência, uma vez que é impossível pensar em inovação sem que

existam funcionários desafiados e altamente motivados. É preciso criar meios e perturbações

que impeçam a tendência natural das pessoas de buscarem um nível de conforto, pouco

voltado à mudança (TERRA, 2012).

Utilizar os profissionais internos à organização como fontes de ideias, desde que existam

condições e meios adequados para isso, é a principal finalidade dos sistemas de sugestões,

sendo que o primeiro do qual se tem registro é o da Eastman Kodak, em 1898. Os programas

ou sistemas de sugestões foram praticamente esquecidos ao longo dos últimos anos,

principalmente porque estão associados às ideias incrementais (ou de melhoria contínua) e

não às ideias radicais, portadoras de grandes novidades (BARBIERI; ÁLVARES;

CAJAZEIRA, 2009). Muitos autores criticam a estratégia incrementalista, como Peters apud

Barbieri, Álvares e Cajazeira (2009) que afirma que o incrementalismo é o pior inimigo para a

inovação. Essas críticas possuem fundamento quando se analisa um sistema exclusivamente

baseado em ideias incrementais, uma vez que são as ideias radicais aquelas capazes de lidar

com ameaças mais graves à organização, introduzindo novos produtos, modificando o modo

de competir e criando novos setores econômicos (BARBIERI; ÁLVARES; CAJAZEIRA,

2009). O ideal é que as empresas sejam ambidestras, isto é, atuem de forma dupla, obtendo

vantagens competitivas através do aumento da eficiência (melhorias incrementais) e das

inovações radicais e de maior risco, sem esquecer que, muitas vezes, são as ideias

incrementais que resultam na inovação radical (TUSHMAN; O’REILLY, 1998 apud

BARBIERI; ÁLVARES e CAJAZEIRA, 2009).

O surgimento de ideias (sejam elas radicais ou incrementais), no entanto, não é suficiente para

que uma empresa se torne inovadora. É preciso buscar maneiras efetivas de lidar com as

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novas ideias. Duas questões centrais permeiam essa busca: como utilizar o potencial criativo

dos funcionários e como ter certeza de que as boas ideias chegam às pessoas que podem

colocá-las em prática, ou seja, não se perdem pelo caminho (KARLSSON, 2010).

Pensando nessas duas questões centrais, na importância da inovação para as organizações

atualmente, no estreito vínculo entre o processo inovativo e as ideias, nos profissionais como

principal fonte dessas ideias e nos sistemas de sugestões como importante meio de registro e,

portanto, estoque de insumos para a inovação, o presente trabalho tem como objetivo

aprimorar a gestão de ideias em uma pequena área de um dos maiores bancos de varejo do

país e do mundo, a fim de que os profissionais, sejam eles de alta cúpula ou não, participem

mais ativamente do sistema e possam reconhecer e se beneficiar com as vantagens que um

gerenciamento eficaz de ideias traz para a organização.

O trabalho se inicia com uma revisão bibliográfica, a fim de que se construa uma base sólida

que permita realizar um diagnóstico adequado a respeito do atual processo adotado pelo banco

e identificar oportunidades de melhoria. A revisão bibliográfica também apresenta alguns

casos de sucesso em gestão de ideias, permitindo a seleção das melhores práticas do mercado.

O trabalho é finalizado, então, com uma proposta de um novo modelo de gestão que visa

minimizar os problemas levantados.

1.1. ESCOPO E OBJETIVOS DO TRABALHO

O principal objetivo deste trabalho é identificar as lacunas do atual processo de gestão de

ideias do banco estudado, a fim de que melhorias possam ser propostas. Essas melhorias

visam aproximar os profissionais do processo de geração, triagem e seleção de ideias, fazendo

com que eles possam reconhecer e se beneficiar com as vantagens trazidas por um

gerenciamento eficaz de ideias e sugestões.

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1.2. A EMPRESA

O banco estudado neste trabalho é nacional e possui sua sede em São Paulo, mais

precisamente no bairro do Jabaquara. Faz parte de uma Sociedade Gestora de Participações

Sociais de mesmo nome, fundada em 4 de Novembro de 2008 mediante a fusão de duas das

maiores instituições financeiras do país. Após essa fusão, que foi anunciada em 2008 e

aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica somente em 2010, a

organização se tornou o maior conglomerado financeiro do hemisfério sul, alcançando em

2011 um lucro de R$ 14,6 bilhões.

Atualmente, o banco em questão está dividido em treze principais áreas administrativas; são

elas: Banco Pessoa Física, Crédito ao Consumidor, Empresas, Jurídico, Marketing, Pessoas,

Risco Operacional e Eficiência, Riscos e Finanças, Tecnologia (TI), Unidades Externas,

Crédito, Seguros e Wealth Management & Services. Essas áreas são responsáveis por todos

os serviços e produtos financeiros vendidos nas cerca de 3.700 agências e 1.200 postos de

atendimento bancário espalhados por mais de 1.000 municípios de todas as regiões do Brasil

(Figura 1).

Figura 1: Participação do Banco nas Diferentes Regiões do País.

Fonte: Relatórios Internos – Relações com os Investidores (2011).

De acordo com as necessidades específicas de cada um dos públicos que atende, o banco

divide seus clientes em segmentos, que podem ser recebidos em estruturas comuns (agências)

ou em estruturas especializadas. A figura 2 mostra como se dá essa segmentação e fornece

algumas das características principais de cada um dos públicos atendidos.

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Figura 2: Segmentação Adotada pelo Banco.

Fonte: Relatórios Internos – Relações com os Investidores (2011).

O presente trabalho foi desenvolvido dentro da área Banco Pessoa Física da instituição

financeira estudada. Essa área é responsável pela gestão dos correntistas do banco, que

possuem atendimento personalizado conforme segmentação mostrada anteriormente. O Banco

Pessoa Física cuida dos públicos pertencentes ao Varejo, Alta Renda I e Alta Renda II, que

serão mais bem detalhados a seguir:

Varejo:

É o segmento de maior visibilidade e não há critérios de renda nem de investimento,

isto é, qualquer pessoa pode abrir sua conta, desde que não tenha impedimentos de

crédito. Atualmente, o banco possui cerca de 14 milhões de clientes posicionados neste

segmento.

Alta Renda I:

Trata-se de um segmento intermediário, que possui alguns benefícios e serviços

exclusivos. Para que uma pessoa possa abrir conta nesse segmento deve possuir renda

mensal entre R$ 5 mil e R$ 10 mil ou investimentos acima de R$ 50 mil. Atualmente, o

banco possui cerca de 4 milhões de clientes que se encaixam neste público.

Alta Renda II:

É o segmento destinado a pessoas de alta renda, isto é, pessoas com receitas mensais a

partir de R$ 10 mil ou investimentos a partir de R$ 100 mil. Possui uma rede de

agências exclusiva (estrutura especializada) e diversos benefícios, como melhores

oportunidades de investimentos ou taxas diferenciadas para financiamentos.

Atualmente, o banco possui cerca de 700 mil clientes posicionados neste segmento.

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Do ponto de vista de inovação e de negócios, Facó e Csillag (2010) destacam algumas

particularidades que tornam o segmento bancário único e interessante e que se encaixam ao

banco estudado:

Atende a uma quantidade muito grande de clientes;

Atende a diversos segmentos de clientes, que vão desde aqueles com alta renda até

aqueles com baixa renda ou sem renda comprovada;

Possui alta capilaridade de pontos de atendimento;

Realiza a gestão e controle de bilhões de transações financeiras anualmente;

Está imerso em um ambiente regido por normas rígidas e intensas;

Passa por um momento de rápidas mudanças em termos de tecnologia e processos.

Considerando os itens acima citados, a relevância do setor bancário para o país e o aumento

da concorrência, principalmente no que diz respeito a serviços e produtos personalizados para

cada tipo de público, fica claro não só o importante papel da inovação como meio de criação

de novos e melhores produtos financeiros, mas também como meio de diferenciação com base

em qualidade e custos.

1.3. METODOLOGIA

A metodologia que será utilizada para a realização do trabalho é composta por seis blocos

principais, que se relacionam conforme mostrado na Figura 3.

A seguir, cada um dos blocos principais da metodologia será detalhado através de seus

objetivos.

Revisão Bibliográfica:

A revisão bibliográfica tem como objetivo fornecer fundamentação teórica sobre o tema

principal, gestão de ideias, e também sobre temas relacionados a ele, como criatividade,

gestão do conhecimento e geração de ideias. Com isso, espera-se construir uma base

sólida que permita realizar um diagnóstico adequado a respeito do atual processo

adotado pelo banco e identificar oportunidades de melhoria.

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Figura 3: Metodologia do Trabalho.

Fonte: Elaborado pelo Autor.

Melhores Práticas do Mercado:

A busca pelas melhores práticas adotadas no mercado tem como objetivo apresentar

casos de sucesso em Gestão de Ideias, verificados em empresas de setores diversos,

através de estudos de caso da literatura. Assim como a revisão bibliográfica, a análise

das melhores práticas auxiliará no desenvolvimento de uma solução, uma vez que

mostrará meios e ferramentas que já funcionaram em outras organizações e que,

portanto, também podem funcionar no banco estudado.

Descrição e Análise da Ferramenta Utilizada e do Processo Atual:

Nesta etapa o objetivo é descrever a atual ferramenta utilizada pelo banco para a coleta

de ideias e analisar o processo de triagem e seleção dessas ideias, buscando identificar

lacunas e oportunidades de melhoria.

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Análise e Compreensão das Características do Banco:

A análise e compreensão das características do banco têm como objetivo principal

analisar os atributos, principalmente aqueles relacionados à cultura organizacional, de

instituições financeiras e, mais particularmente, do banco onde o estudo será realizado,

a fim de entender como eles interferem na criatividade dos profissionais, no processo de

Gestão de Ideias e no desenvolvimento de uma solução adequada.

Oportunidades de Melhoria:

Esse bloco envolve a determinação das oportunidades de melhoria a serem consideradas

na proposição de uma possível solução. Para que essa determinação seja adequada,

levar-se-á em conta aquilo que foi estudado na teoria, as melhores práticas adotadas por

empresas tidas como exemplo em gestão de ideias e as lacunas identificadas tanto na

ferramenta de coleta de ideias utilizada pelo banco quanto no processo de triagem e

seleção adotado.

Proposição de Solução:

A solução a ser proposta buscará implantar melhorias no processo e no sistema de

Gestão de Ideias em uma pequena área do banco, de forma que essas melhorias possam

ser difundidas e integradas ao processo de Gestão de Ideias corporativo.

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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Neste capítulo é realizada a revisão da literatura, que cobre os conceitos fundamentais à

execução deste trabalho. Assim, são apresentados os temas relativos à gestão de ideias e às

melhores práticas exploradas por algumas empresas de grande importância mundialmente,

com o objetivo de embasar o diagnóstico, a análise e a proposição de uma posterior solução.

2.1. A IMPORTÂNCIA DA CRIATIVIDADE NAS ORGANIZAÇÕES

A criatividade tem sido tema muito discutido nas organizações e na área acadêmica,

principalmente por causa de sua crescente contribuição para as empresas. Sua importância

está diretamente relacionada à necessidade de criação de novas e melhores maneiras de

responder aos desafios e problemas enfrentados pelas organizações, que são reflexos dos

cenários de intensa competição e de mudanças rápidas e contínuas (RODRIGUES; SILVA,

1998).

Para Kao (1997), a era da criatividade, na qual estamos adentrando, é consequência direta dos

avanços da tecnologia da informação. Uma vez que o simples acesso às informações não é

mais capaz de conferir poder, de forma automática, às organizações, a criatividade torna-se

elemento fundamental na transformação do conhecimento em valor. As ferramentas

tecnológicas relacionadas à informação passam a ser acessórias e o mais importante é a

aplicação que lhes é dada. Kao (1997) acredita, ainda, que o recente destaque dado à

criatividade significa certa superação, por parte das empresas, da preocupação com aspectos

físicos e financeiros em favor da preocupação com aspectos mais humanos, como imaginação,

inspiração, engenhosidade e iniciativa.

Segundo Filho et al apud Rodrigues e Silva (1998), a criatividade é essencial para as

empresas, porque é um dos principais recursos necessários para que o processo inovativo

aconteça, trazendo benefícios para a organização. Na realidade, o crescimento, a

sobrevivência ou até mesmo a morte das empresas está fortemente ligado à mudança e à

inovação, que se tornaram processos cruciais ao longo dos últimos anos.

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Bono apud Rodrigues e Silva (1998) considera que a criatividade dentro das organizações

possui alguns papéis que merecem destaque. Esses papéis são brevemente descritos a seguir:

1. A criatividade auxilia na liberação do potencial dos profissionais, na motivação

destes por aquilo que fazem e na promoção do pensamento pró-ativo;

2. A criatividade permite que os funcionários encontrem maneiras mais eficientes e

eficazes para realizar suas atividades, obter informações e solucionar problemas,

bem como atingir os objetivos, a qualidade, a redução de custos e o

aperfeiçoamento contínuo;

3. A criatividade é importante quando há a necessidade de uma nova ideia, para a

resolução de um problema, crise ou conflito, mas também quando não há essa

necessidade de forma explícita, porém a nova ideia traz oportunidades e vantagens

à organização;

4. A criatividade auxilia no desenvolvimento de novos e melhores conceitos, que irão

direcionar a atenção e selecionar as informações adequadas, trazendo vantagens

competitivas à medida em que a organização atinge um platô de competência;

5. A criatividade permite a formulação de certas tendências ou possibilidades futuras e

no planejamento de estratégias, contingências e posições de retirada.

Por fim, Bono apud Rodrigues e Silva (1998, p.65) afirma que “o pensamento criativo está

crescendo rapidamente em importância, e virá a ter uma posição tão proeminente quanto

finanças, matérias-primas e pessoas”. Esta afirmação intensifica a já citada abordagem de Kao

(1997) a respeito da era da criatividade. Portanto, não se pode deixar de lado a crescente

importância da criatividade e a urgência de despertá-la dentro das organizações

(RODRIGUES; SILVA, 1998).

Para Terra (2012), é importante reconhecer a diferença entre criatividade e inovação. A

criatividade é um dos inputs do processo de inovação nas organizações e pode ter origem

tanto em fontes internas quanto em fontes externas. Já a inovação relaciona-se com o coletivo

organizacional e envolve a mobilização e a articulação de recursos para gerar resultados

concretos no mercado. Portanto, embora a criatividade e a inovação estejam estritamente

relacionadas, elas têm natureza e princípios bem distintos.

Terra (2012) destaca, ainda, que a criatividade é uma capacidade associada à concepção de

ideias inéditas e que geram valor, entendendo-se o conceito valor de uma maneira mais ampla

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do que aquela associada à forma de negociar, de se relacionar com outros ou, ainda, de

trabalhar com produções visuais.

Não existe, ainda, um teste fidedigno capaz de medir quantitativamente, e de forma precisa, a

criatividade de uma pessoa, uma vez que ela se manifesta de diferentes formas e sob inúmeras

facetas. Portanto, a inventividade encontra como única forma de mensuração o

reconhecimento dos pares. Ou seja, uma possível medição ocorre de forma qualitativa e tem

por base critérios subjetivos, pois se baseia na percepção daqueles que compartilham os

campos de produção humana nos quais determinado indivíduo manifesta sua criatividade

(TERRA, 2012).

Associações e combinações inovadoras de planos, modelos, sentimentos, experiências e fatos

são os meios através dos quais a criatividade humana se revela. Propiciar oportunidades e

incentivar os indivíduos a buscar novas experiências, testar hipóteses e, principalmente,

estabelecer novas formas de diálogo, sobretudo com pessoas de outras formações e culturas,

são as maneiras mais eficazes de estimular essa criatividade. Os indivíduos que se revelam

altamente criativos são aqueles que possuem, naturalmente, esse padrão de comportamento,

ou seja, são curiosos, investigativos, gostam de experimentar e buscam pequenas e grandes

nuances, tanto em suas áreas de interesse quanto em áreas que desconhecem completamente,

envolvendo outras culturas, tecnologias, idiomas, etc. Esses indivíduos fazem, intuitivamente,

um grande exercício para o cérebro ao investir no aprendizado e no estímulo de diversas

capacidades cognitivas e sensoriais (TERRA, 2012).

Embora seja impossível modificar algumas características essenciais das pessoas, as

organizações devem incentivar comportamentos e formas de interação com o mundo que

auxiliem no desenvolvimento de novos padrões cognitivos, permitindo aos indivíduos

oportunidades de geração de insights criativos. Infelizmente, não é isso o que se observa em

grande parte das empresas brasileiras atualmente (TERRA, 2012).

Segundo Vasconcellos apud Rodrigues e Silva (1998, p.65), “todo indivíduo tem um

potencial criativo que é muito pouco utilizado pela empresa por falta de mecanismos e

estímulos adequados”. Dessa forma, é comum o surgimento de muitos críticos que defendem

a ideia de que as pessoas, de uma maneira geral, não são criativas. No entanto, algumas

experiências revelam que, na realidade, as pessoas deixam de utilizar o seu lado criativo por

conta da rotina de trabalho, do não recebimento de feedbacks a respeito das atividades que

realizam e por desconhecerem os objetivos das organizações em que atuam (RODRIGUES;

SILVA, 1998).

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Neste sentido, estudando os principais fatores que têm contribuído para o quase inexistente

proveito do potencial criativo das pessoas dentro das organizações, é possível destacar as

variáveis relacionadas à organização e ao próprio indivíduo, que podem contribuir ou

dificultar a ocorrência de mudanças (RODRIGUES; SILVA, 1998). Para Alencar (1997),

existe um processo de influência recíproca entre o indivíduo e o sistema organizacional, em

que ambos influenciam e são influenciados, conforme mostrado na Figura 4.

Figura 4: Processo de Influência Recíproca entre o Indivíduo e o Sistema Organizacional.

Fonte: ALENCAR (1997).

Essa influência recíproca se verifica através da análise de dois fatores principais que afetam o

grau de abertura à expressão da criatividade dentro das empresas: a cultura organizacional e o

clima psicológico. A cultura organizacional está relacionada aos sistemas de crenças, normas,

sentimentos e valores que são compartilhados por todos os membros da organização,

principalmente por aqueles que estão no comando (alta gestão). Já o clima psicológico

predominante na empresa envolve diversas dimensões, tais como o estímulo ao

comportamento de correr riscos, o grau de liberdade para inovar e a extensão dos estímulos à

expressão de opiniões.

Alencar apud Rodrigues e Silva (1998) afirma que o clima psicológico corresponde a um fator

de fundamental importância para a promoção da criatividade e a geração de propostas

inovadoras. As principais características de um clima organizacional favorável, segundo

VanGundy apud Rodrigues e Silva (1998), são:

1. Autonomia: relaciona-se ao grau de liberdade que a organização dá às pessoas para

expor ideias e tomar iniciativas;

2. Sistema de Recompensa por Desempenho e Competência: refere-se à percepção de

que o sistema de recompensa é justo e adequado e se baseia na competência e no

desempenho das pessoas;

3. Suporte à Criatividade: diz respeito à percepção dos membros da organização em

relação ao apoio dado a novas ideias;

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4. Aceitação das Diferenças e Interesse pela Diversidade entre as Pessoas: refere-se

ao espaço dado para a discussão de opiniões e propostas que divergem, estimulando

o respeito e a análise de diferentes pontos de vista;

5. Envolvimento Pessoal: diz respeito ao reconhecimento das habilidades e esforços

dos profissionais;

6. Apoio da Gerência: está relacionado ao apoio da alta administração da organização

na criação e manutenção de um clima criativo.

Alencar apud Rodrigues e Silva (1998) destaca a adoção de certos princípios de administração

e gerência que auxiliam no desenvolvimento dos profissionais. Esses princípios têm sido

adotados, principalmente, em empresas que se destacam na área de criatividade. São eles:

incentivo à liberdade no local de trabalho; estrutura organizacional e políticas flexíveis, com

ênfase na confiança e na cooperação mútuas; predomínio do respeito à dignidade e ao valor

dos indivíduos; e autonomia e flexibilidade, através da delegação de responsabilidade a

autoridade.

É importante destacar que os fatores influenciadores da criatividade podem atuar tanto como

facilitadores quanto como bloqueadores da expressão e do desenvolvimento do potencial

criativo dentro das organizações (RODRIGUES; SILVA, 1998). Pensando nesta distinção e

tendo como objetivo a identificação desses fatores, bem com suas influências sobre a

criatividade, Faria e Alencar apud Rodrigues e Silva (1998) elaboraram, através de pesquisas

em diferentes empresas, uma Tabela com Fatores Facilitadores versus Fatores Bloqueadores

(Tabela 1).

Tabela 1: Fatores Facilitadores e Bloqueadores da Criatividade nas Organizações.

Fonte: FARIA e ALENCAR apud RODRIGUES e SILVA (1998).

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Pode-se concluir que a criatividade apresenta papel relevante nas organizações, uma vez que

contribui para um melhor desempenho e é importante fonte de vantagem competitiva, visto

que é capaz de aumentar a produtividade e eficiência no trabalho. Além disso, a constatação

de que todo indivíduo possui um potencial criativo e que a criatividade pode ser desenvolvida,

reforça a necessidade das organizações em proporcionar os mecanismos e estímulos

adequados para que este potencial seja aproveitado da melhor maneira possível

(RODRIGUES; SILVA, 1998).

2.2. GESTÃO DO CONHECIMENTO

Para Sanchez, Heene e Thomas apud Oliveira Jr. (2001), conhecimento é definido, de modo

geral, como o conjunto de crenças que são mantidas por um indivíduo a respeito das relações

causais entre fenômenos, tendo por relações causais as relações de causa e efeito entre eventos

e ações imagináveis e suas possíveis consequências. Tendo em vista essa definição, Sanchez e

Heene apud Oliveira Jr. (2001) caracterizam o conhecimento organizacional como “o

conjunto compartilhado de crenças sobre relações causais mantidas por indivíduos dentro de

um grupo”.

Sanchez e Heene apud Oliveira Jr. (2001) explicam, ainda, que essas definições sobre o

conhecimento individual e organizacional têm três objetivos principais:

Explicar que a importância estratégica do conhecimento não é algo determinado ou

absoluto, mas apenas existe sob a forma de crenças, baseadas em avaliações das

prováveis relações de causa e efeito entre fenômenos;

Reconhecer que o conhecimento se origina e existe na mente das pessoas, mas as

organizações podem possuí-lo em diferentes formas que são compreendidas por

mais de um indivíduo na organização;

Reposicionar o conceito de conhecimento no nível dos processos mentais

conscientes, mais do que nos processos mentais de baixo nível, relacionados com o

que alguns autores chamam de um componente do conhecimento tácito.

Para Nonaka apud Oliveira Jr. (2001), é importante a distinção entre dois tipos de

conhecimento: o conhecimento explícito e o conhecimento tácito, já citado. O conhecimento

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explícito, ou codificado, está relacionado ao conhecimento que pode ser transmitido através

de uma linguagem formal e sistemática, enquanto o conhecimento tácito possui uma

característica pessoal, o que o torna mais difícil de ser formalizado e, consequentemente,

comunicado. Segundo o autor, o conhecimento tácito está intrinsecamente relacionado com a

ação, com o comportamento e com o envolvimento em um contexto específico.

Muitos autores entendem o conhecimento como o principal ativo estratégico de uma

organização. Para eles, a função central da empresa é gerenciar esse recurso de forma a se

tornar mais eficiente que seus concorrentes (OLIVEIRA JR., 2001). Segundo definição de

Kogut e Zander apud Oliveira Jr. (2001, p.131), as “empresas são meios eficientes pelos quais

o conhecimento é criado e transferido”. Sob o ponto de vista desses autores, ainda, as

empresas são locais privilegiados nos quais os indivíduos e grupos podem desenvolver uma

compreensão comum de como transformar conhecimento na forma de ideias em

conhecimento relacionado à produção e aos mercados. A empresa é entendida, portanto, como

um estoque de conhecimento que consiste, simplificadamente, de informação codificada e

disponibilizada para aplicação, bem como do conhecimento relacionado à coordenação das

ações na organização (OLIVEIRA JR., 2001). Logo, o que determina o sucesso da empresa é

sua eficiência nesse processo de transformação do conhecimento existente no plano das ideias

para o conhecimento aplicado no plano das ações (KOGUT; ZANDER, 1993 apud

OLIVEIRA JR., 2001). É responsabilidade da organização atuar como agente organizador do

conhecimento que possui, tornando-o aplicável e gerando novo conhecimento, realizando essa

tarefa melhor que seus concorrentes (OLIVEIRA JR., 2001).

Nesse sentido, a inovação pode ser vista como consequência da combinação de

conhecimentos complementares, adjacentes ou sinérgicos (plano das ideias) com aplicação

prática e útil para um processo organizacional ou para um público específico (plano das

ações); isto é, depende de conhecimento novo, ou já dominado, aplicado e gerando valor para

alguém. Logo, a gestão do conhecimento é uma das molas indutoras da produtividade e

criatividade dos trabalhadores do conhecimento (Knowledge Workers), podendo contribuir

bastante com a gestão da inovação, uma vez que o conhecimento é um dos insumos essenciais

para este processo (TERRA, 2012).

Para TERRA (2012, p.101), “a gestão do conhecimento está no coração da inovação, da

sustentabilidade, do crescimento e da expansão saudável das organizações”. O autor

considera, no entanto, que ainda há uma grande distância entre as disciplinas de planejamento

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estratégico, gestão da inovação e gestão do conhecimento. Os modelos e, principalmente, os

profissionais que atuam nessas disciplinas ainda se tangenciam tenuamente.

Na economia atual, na qual o valor das empresas é cada vez mais intangível, o conhecimento

organizacional se tornou um fator de destaque, seja ele tácito, implícito ou explícito. Os

grandes avanços organizacionais e inovações (novos serviços ou produtos, por exemplo) estão

relacionados diretamente à mobilização e concatenação de conhecimentos novos ou

dominados (ou ainda uma mistura de ambos), estejam eles internalizados ou sejam parte do

ecossistema de valor da empresa, chamado de value chain (TERRA, 2012).

De certa maneira, pode-se considerar que todas as organizações já lidam com a gestão do

conhecimento a partir da perspectiva do aprendizado e da capacitação de seus funcionários.

Algumas empresas o fazem de maneira explícita, como parte de sua estratégia, através de

métodos e tecnologias virtuais bastante avançados. Todavia, grande parte das organizações

ainda trata do conhecimento de forma intuitiva e empírica, através de métodos e ferramentas

tradicionais. A gestão do conhecimento, porém, vai além da capacitação de funcionários;

trata, sobretudo, da mobilização de conhecimento (não importando sua origem) com a

finalidade de atingir objetivos de negócio específicos (TERRA, 2012).

Os principais erros cometidos pelas empresas com relação à gestão do conhecimento estão

associados a iniciativas cujo foco principal está no software, nos dados e na informação, e não

no conhecimento, principalmente aquela considerado crítico. As ferramentas são importantes

e cada vez mais commodities e acessórias. Contudo, elas são apenas uma pequena parte de um

novo contexto competitivo, no qual velocidade, escala global e capacidade de mobilização e

sourcing de competências, conhecimentos e expertise são um diferencial (TERRA, 2012).

Apesar de muitas organizações não possuírem uma estratégia explícita de gestão do

conhecimento ou uma área formalmente designada para isso, é evidente que as organizações

líderes, de rápido crescimento e de sucesso gerenciam, ainda que apenas intuitivamente, o

conhecimento organizacional (TERRA, 2012).

2.2.1. COMPETÊNCIAS ORGANIZACIONAIS

Para Prahalad e Hamel apud Oliveira Jr. (2001, p.126), mais importante do que o

desenvolvimento de Unidades Estratégicas de Negócio, que muitas vezes criam barreiras para

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a disseminação do conhecimento nas empresas, é a “habilidade em construir, a menor custo e

mais velozmente do que os competidores, as competências essenciais que originarão produtos

não esperados”. Para esses autores, ainda, competências essenciais, ou competências

organizacionais, podem ser definidas como “a aprendizagem coletiva na organização,

especialmente relacionada a como coordenar diversas habilidades de produção e integrar

múltiplos streams de tecnologias” (PRAHALAD; HAMEL, 1990, p.82 apud OLIVEIRA JR.,

2001, p.126). Em outras palavras, “competências essenciais são o conjunto de habilidades e

tecnologias que habilitam uma companhia a proporcionar um benefício particular para os

clientes, mais do que uma habilidade ou tecnologia isoladamente” (PRAHALAD; HAMEL,

1994, p.203 apud OLIVEIRA JR., 2001, p.126).

Para TERRA (2012), as competências organizacionais estão relacionadas à capacidade de

alcançar resultados específicos e tangíveis a partir da mobilização das competências

individuais e coletivas e do uso adequado dos recursos e das informações disponíveis. Saber

exatamente quais as competências e habilidades da organização é essencial no contexto da

gestão do conhecimento, pois facilita o desenvolvimento de estratégias de negócio que

alavancam esses ativos, direciona esforços individuais e coletivos no sentido de melhorar

essas competências e habilidades centrais e, também, porque permite avaliar de forma

consciente quais novos conhecimentos e competências são necessários para competir em

novos mercados, aproveitando, dessa forma, oportunidades emergentes.

Para reconhecer as competências essenciais de uma organização, é preciso compreender os

motivos pelos quais uma empresa alcança resultados superiores e quais são as capacidades

que a diferenciam de suas concorrentes e que, portanto, sustentam tais resultados. De acordo

com esse ponto de vista, pode-se dizer que as competências ou capacidades possuem caráter

dinâmico, uma vez que precisam ser modificadas a fim de atender as mudanças no ambiente

competitivo, em um processo ininterrupto (OLIVEIRA JR., 2001). Rumelt apud Oliveira Jr.

(2001) cita as seguintes características principais das competências essenciais:

Abrangência corporativa: Competências essenciais são aquelas capazes de

sustentar vários produtos ou negócios dentro de uma organização. Não pertencem a

uma área ou indivíduo isoladamente, ou seja, é propriedade da organização como

um todo;

Estabilidade no tempo: Produtos são a expressão momentânea das competências

essenciais de uma organização. Competências são estáveis e evoluem lentamente

com o tempo;

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Aprendizagem ao fazer: Competências são adquiridas e aperfeiçoadas através do

trabalho operacional e do esforço gerencial do cotidiano. Quanto mais se investir no

desenvolvimento de determinada competência, maior sua diferenciação em relação

à concorrência;

Locus competitivo: A competição de produto-mercado é somente a expressão

superficial de uma competição mais profunda em termos de competências.

Atualmente, a competição entre as empresas se dá em torno de competências e não

de produtos ou serviços.

Para Leonard-Barton apud Oliveira Jr. (2001), as empresas precisam ficar atentas para que as

atuais competências essenciais, que hoje asseguram a vantagem competitiva da organização,

sejam suscetíveis à mudança, a fim de não se tornarem fonte de dificuldades no futuro. A

chamada “rigidez essencial”, que inibe a inovação, é decorrente da dificuldade que as

empresas (e as pessoas, em geral) têm em mudar, principalmente quando o comportamento e

as ações gerenciais que precisam ser modificadas são aquelas que alavancaram o sucesso do

negócio. É importante que a administração prospecte e invista no desenvolvimento de novas

competências enquanto as antigas ainda estão rendendo lucros para a organização

(OLIVEIRA JR., 2001).

As competências essenciais devem ter uma natureza dinâmica, principalmente em ambientes

caóticos e turbulentos (OLIVEIRA JR., 2001). Essa dinâmica

[...] refere-se à capacidade de renovar as competências de forma a obter

congruência com o ambiente de negócios em mudança; certas respostas

inovativas são necessárias quando o ‘timing’ do mercado é crítico, a taxa de

mudança tecnológica é rápida e a natureza da futura competição e os

mercados são de difícil determinação” (TEECE; PISANO; SCHUEN, 1997,

p.515 apud OLIVEIRA JR., 2001, p.128).

A questão do dinamismo necessário às competências organizacionais também é abordada por

Fleury e Fleury apud Oliveira Jr. (2001, p.128), que definem competência como “um saber

agir responsável e reconhecido que implica mobilizar, integrar, transferir conhecimentos,

recursos, habilidades, que agreguem valor econômico à organização e valor social ao

indivíduo”. Para os autores, ainda, uma empresa competitiva deve saber gerenciar o processo

de aprendizagem organizacional de forma sistêmica, aprendendo em cada uma de suas áreas

de atividade e, ao mesmo tempo, repensando todo o conjunto, na busca por um desempenho

cada vez mais eficiente.

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É importante compreender, também, que as competências organizacionais estão relacionadas

às competências dos indivíduos e dos grupos que compõem a organização, mas não são a

mesma coisa. As competências organizacionais referem-se a potencialidades que a

organização possui em função das competências desses indivíduos e desses grupos,

direcionadas e mobilizadas em função da estratégia organizacional (TERRA, 2012).

No momento em que uma organização compreende a importante relação entre conhecimento

e inovação, sua estratégia passa a considerar não apenas os fatores tradicionais, como

mercados, receitas e custos, mas também o desenvolvimento, disseminação, proteção e uso de

competências, conhecimentos e todos os outros ativos intangíveis críticos para o futuro da

organização. Isto é, os líderes passam a se preocupar com ações destinadas a melhorar

algumas competências específicas dos colaboradores, em contratar funcionários com perfis,

experiências e competências estratégicas, em estimular o compartilhamento de alguns tipos de

melhores práticas, proteção e retenção de conhecimentos e competências estratégicas, etc.

(TERRA, 2012).

Uma organização que tem um olhar mais apurado sobre o futuro e se preocupa com as

potenciais áreas de inovação identifica os gaps de conhecimento e elabora planos para

minimizá-los. Os gaps, ou lacunas, de conhecimento podem incluir as competências e

habilidades da equipe, informações externas sobre mercados, setores industriais, tendências e

áreas de expertise (sejam elas internas ou externas). Já os planos que focam na minimização

dos gaps normalmente estão relacionados à programas de desenvolvimento pessoal,

treinamento on-the-job e elaboração de soluções de aprendizado e acesso à informações

online. Estudos ad-hoc também são encomendados para acelerar a compreensão de temas

específicos (TERRA, 2012).

Na prática, porém, são poucas as empresas que conseguem manter uma visão integrada entre

a estratégia, o conhecimento e a inovação.

2.2.2. DIRECIONADORES DA GESTÃO DO CONHECIMENTO

Para Terra (2012), “a gestão do conhecimento deve estar amplamente ancorada e direcionada

por desafios específicos do negócio segundo uma lógica agregadora de valor”. Segundo o

autor, sem isso e sem a identificação das competências realmente necessárias para o negócio,

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a gestão do conhecimento tende a se aproximar de atividades tradicionais de gestão da

informação e de tecnologia da informação, que nunca devem ser as principais direcionadoras

das ações de gestão do conhecimento. A figura a seguir (Figura 5) representa a cadeia de valor

da gestão do conhecimento.

Figura 5: Cadeia de Valor da Gestão do Conhecimento.

Fonte: TERRA (2012).

A Figura 5 mostra, ainda, que os objetivos da Gestão do Conhecimento, assim como os

métodos e ferramentas, podem trabalhar em diversos planos, desde o simples tratamento da

informação até conceitos mais elaborados relacionados ao estímulo cognitivo, aprendizado,

geração de insights e preservação da capacidade organizacional (TERRA, 2012).

Uma abordagem sistêmica da gestão do conhecimento pode ajudar iniciativas e processos que

lidam com os conhecimentos organizacionais a gerarem melhores resultados.

Para Terra (2012), estabelecer o direcionamento estratégico de gestão do conhecimento

envolve entender o contexto da organização como um todo (em seus principais cenários,

presentes e futuros). A partir desse pano de fundo, é possível estabelecer os principais

direcionadores para a gestão do conhecimento:

Conhecimentos essenciais que sustentam a estratégia da organização e alavancam

seu desempenho no curto prazo;

Estratégias relacionadas à aquisição, desenvolvimento, compartilhamento e

aplicação desses conhecimentos essenciais em contextos específicos;

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Governança ampla que garanta processos estratégicos e participativos de gestão do

conhecimento;

Ferramentas e métodos que sejam capazes de operacionalizar de forma efetiva as

práticas de gestão do conhecimento.

Existe hoje uma variedade de métodos e ferramentas que podem ser utilizados pelas

organizações, que vão desde ações fortemente estratégicas até ferramentas de TI. Para a

adequada escolha dessas ferramentas, é necessário um processo sistemático de alinhamento de

objetivos, através de uma governança estabelecida e um claro entendimento da natureza dos

conhecimentos a serem geridos, assim como do valor organizacional que se pretende obter

com o uso dos métodos e ferramentas escolhidos (TERRA, 2012).

2.2.3. CRIAÇÃO, TRANSFERÊNCIA E INTEGRAÇÃO DO CONHECIMENTO DA

ORGANIZAÇÃO

Para se manterem competitivas, as empresas precisam desenvolver, constantemente, novas

competências, metodologias e novos produtos. Isso não ocorre apenas por uma questão de

planejamento estratégico e orçamentário. Competências, métodos e inovações ocorrem,

também, porque há gente motivada em aprender, individual e coletivamente, e porque a

empresa disponibiliza tempo para que as pessoas saiam da rotina e acessem pessoas, lugares e

tecnologias habilitadoras. Treinamentos pontuais fazem grande sentido, mas é a parceria entre

os indivíduos e a organização, visando objetivos comuns de evolução profissional e

competitiva, que faz a diferença (TERRA, 2012).

Para Terra (2012), as teorias de aprendizado tipicamente aplicadas nas empresas, em

particular nas empresas brasileiras, ainda se baseiam em paradigmas da era industrial e focam,

principalmente, em ganhos de eficiência e eficácia. Empresas altamente inovadoras tocam

algo mais profundo: a capacidade de indivíduos genuinamente capacitados e motivados a

aprender. Nessas organizações, as pessoas são incitadas e providas de recursos para aprender

de diferentes maneiras (com tempo pessoal para se aprofundar em suas áreas de expertise

analiticamente e, principalmente, sensorialmente, por meio de histórias, com redes de

conhecimento de dentro e fora da empresa, com mecanismos bem estruturados para aprender

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por meio de pesquisas, experimentações, protótipos, etc.). A figura a seguir (Figura 6)

apresenta uma tipologia não tradicional para a busca de aprendizado e inovações.

Figura 6: Tipologia não Tradicional para a Busca de Aprendizado e Inovações.

Fonte: TERRA (2012).

O aprendizado individual e, principalmente, o organizacional regenerativo, voltado para o

conhecimento coletivo e para a criação de conhecimento voltado à inovação, estão

intimamente ligados ao aprendizado informal. Este se tornou prevalente à medida que

caminhamos para um uso cada vez maior de redes sociais e foco em dinâmicas de trabalho e

organizacionais nas quais o conhecimento e a capacidade de contribuição e aprendizado

individual ficam menos bloqueados em função de barreiras de status, hierárquicas e

geográficas (TERRA, 2012).

Para o aprendizado informal acontecer, é preciso organização e direcionamento. Entre os

fatores necessários, pode-se destacar (TERRA, 2012):

Organizar fluxos de informação e produção de conteúdos;

Estimular e facilitar o uso de ferramentas colaborativas;

Intervir estrategicamente para colocar em contato, de forma regular, pessoas que

não se conhecem ou raramente se encontram;

Prover um bom grau de liberdade para as pessoas aprenderem fora da organização;

Criar um ambiente saudável e de alta confiança entre as pessoas e entre as pessoas e

a organização;

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Formar e promover líderes aderentes a uma cultura em que são valorizadas a

iniciativa, o aprendizado coletivo e a colaboração contínua.

Dentro do contexto de aprendizado informal, é possível distinguir diversos níveis de interação

social através dos quais conhecimento é criado na organização, e é importante que esta seja

capaz de integrar aspectos importantes do conhecimento desenvolvido a partir dessas

interações (OLIVEIRA JR., 2001). O modelo da figura a seguir (Figura 7) destaca quatro

níveis principais de interação, combinação e transferência de conhecimentos para a inovação.

Figura 7: Processos para Combinação de Conhecimentos para Inovação.

Fonte: NONAKA & TAKEUCHI (1995), TERRA (1999).

Os quatro processos apresentados na Figura 7 podem ser caracterizados através de uma série

de atividades que incentivam a criação e aquisição de novos conhecimentos em grupos de

pessoas envolvidos com a questão da inovação; são elas (TERRA, 2012):

1. Socialização (combinação de conhecimentos tácitos)

Ambientes de trabalho nos quais confiança e transparência sejam palavras

chave, estimulando a criatividade, a colaboração e a flexibilidade;

Discussões e colaborações planejadas e estruturadas que auxiliam no

enriquecimento e expansão da capacidade de realização de profissionais cujos

resultados são medidos essencialmente pela qualidade e não pela quantidade;

Eventos planejados para que o conhecimento entre unidades de negócio seja

compartilhado;

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Revisão pelos pares (peer review ou peer assist);

Reuniões presenciais estruturadas sobre lições aprendidas;

Intercâmbios com universidades e centros de pesquisa externos;

Visitas a clientes e fornecedores;

Painéis de especialistas.

2. Processos induzidos e facilitação (conversão de conhecimento tácito em explícito)

Mecanismos que facilitam o acesso a diferentes tipos de informação e a uma

ampla gama de especialistas internos ou externos à organização podem auxiliar

no processo de inovação corporativa;

Comunidades de prática;

Desenvolvimento de check lists detalhados;

Portais abertos para ideias externas (captura de ideias de clientes, fornecedores e

parceiros);

Brainstorms facilitados e técnicas de clusterização e criatividade;

Equipes multidisciplinares de inovação;

Desafios internos, externos e prêmios de inovação;

Programas de ideias;

Crowdsourcing (conhecimento coletivo).

3. Acesso à informação (combinação de conhecimentos explícitos)

Métodos estruturados para receber ideias de qualquer pessoa (interna ou externa

à organização);

Mapeamento de especialistas internos e externos (“páginas amarelas”);

Depósitos de boas práticas e lições aprendidas de projetos;

Acesso a bases de dados com literatura acadêmica (física e digital);

Acesso a projetos internos (físicos e digitais);

Acesso a revistas técnicas (físicas e digitais);

Acesso a pesquisas de mercado;

Acesso a benchmarks.

4. Desenvolvimento de competências (conversão de conhecimento explícito em tácito)

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Mapeamento dos conhecimentos considerados críticos (árvore de

conhecimentos críticos);

Estratégia de desenvolvimento de competências (curto e longo prazos);

Convênios estruturados com universidades;

Carreira em Y para desenvolvimento focado em expertises (formação de

especialistas);

Apoio estruturado para formação de alto nível e pós-graduação;

Participação ativa em congresso das áreas de conhecimento e atuação;

Storytelling (internalização de competências);

Capacitação em gestão de projetos.

O framework da Figura 7 enfatiza o papel do conhecimento tácito (aquele que não é expresso,

que é subentendido ou implícito) como estratégico para a conversão de informação e

conhecimentos adquiridos em ideias, insights e bons projetos de inovação. Conforme listado

anteriormente, as organizações são capazes de facilitar o desenvolvimento de conhecimento

específico para a inovação através de uma série de atividades e ações, que criam contextos

mais favoráveis para que os indivíduos envolvidos com a questão da inovação possam cocriar

as bases de conhecimento que suportem as ambições de inovação da empresa (TERRA,

2012).

Nonaka e Takeuchi (1995) denominam o conjunto dos quatro processos apresentados na

Figura 7 de “Espiral de Criação de Conhecimento”, uma vez que acreditam que a gestão dos

quatro modos de conversão de conhecimento deve ser articulada e cíclica. Nessa espiral, o

conhecimento se inicia no nível individual, passa para o nível grupal e, então, atinge o nível

da organização. À medida que a espiral de conhecimento vai subindo na empresa, ela pode ser

enriquecida e estendida, através da interação dos indivíduos uns com os outros e com suas

organizações. A criação de conhecimento dentro das empresas exige compartilhamento e

disseminação de experiências individuais.

As empresas normalmente aprendem em áreas relacionadas àquelas que constituem suas

práticas atuais, com a criação do conhecimento ocorrendo por meio de recombinações de

conhecimentos que já existem. Conhecimentos novos podem ser trazidos para a empresa

através da contratação de profissionais ou de parcerias com outras organizações. Mesmo

nesses casos, porém, saber agregar o novo conhecimento ao conhecimento já existente é

decisivo para que a iniciativa seja considerada bem sucedida (OLIVEIRA JR., 2001).

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Para Grant apud Oliveira Jr. (2001), o papel principal de uma organização é saber integrar o

conhecimento, mais do que criá-lo. Os mecanismos utilizados para a coordenação do

conhecimento de especialistas são o caminho para essa integração. O autor apresenta quatro

mecanismos capazes de integrar conhecimento especializado:

Regras e instruções, ou seja, padrões que regulam as interações entre os indivíduos

e proporcionam os meios através dos quais conhecimento tácito pode ser

transformado em conhecimento explícito prontamente compreensível;

Sequenciamento, considerado o meio mais simples através do qual os indivíduos

podem integrar seu conhecimento especialista, ao mesmo tempo em que

minimizam comunicação e coordenação contínua. Trata-se da organização das

atividades de produção em uma sequência de tempo padrão, de tal forma que a

contribuição de cada especialista ocorra independentemente, através de tarefas

estipuladas em um período de tempo especificado previamente;

Rotinas, que são padrões de comportamento capazes de suportar complicados

padrões de interação entre os indivíduos na ausência de regras e instruções, ou

mesmo na ausência de comunicação verbal significativa, assim como diversas

sequências de interações;

Grupos de solução de problemas e tomada de decisão que, diferentemente dos

outros mecanismos apresentados (que buscam a eficiência de integração

minimizando os custos de comunicação e aprendizagem), pressupõem formas de

integração mais pessoais e comunicação intensiva, mais apropriadas para tarefas

não usuais, complexas e importantes.

“A relação entre a abordagem de integração do conhecimento e a geração de vantagem

competitiva é que o desenvolvimento de competências em uma organização é o resultado da

integração do conhecimento” (OLIVEIRA JR., 2001). As empresas precisam, portanto, saber

alinhar e integrar o conhecimento de muitos indivíduos especialistas. Para Grant apud

Oliveira Jr. (2001, p.151), “quanto mais amplo o escopo do conhecimento integrado em uma

competência, maior a dificuldade de imitação se torna”. Reconhecer que as competências

estrategicamente relevantes são resultado da integração de conhecimento torna o

conhecimento coletivo, esteja ele na forma de linguagem ou de significado compartilhado,

mais importante (OLIVEIRA JR., 2001).

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2.3. IDEIAS, INVENÇÕES E INOVAÇÕES

Para organizações que procuram realizar inovações de modo sistemático, a geração de ideias

constitui uma das preocupações principais. Para Barbieri, Álvares e Cajazeira (2009), a

inovação pode ser entendida como o processo através do qual as ideias portadoras de

novidade se tornam realidade. Segundo o autor, o termo ideia indica um objeto do

pensamento, bem como sua representação ou forma. “Nesse sentido, uma ideia se expressa

mediante opinião, ponto de vista, noção, conhecimento ou qualquer outro meio capaz de

representar a concepção mental de algo concreto ou abstrato” (BARBIERI; ÁLVARES;

CAJAZEIRA, 2009, p.21).

Para o filósofo Dewey apud Barbieri, Álvares e Cajazeira (2009), a ideia não é apenas a

representação mental de um objeto existente, mas também uma possibilidade ou a antecipação

de algo. Ela surge como uma sugestão e se torna ideia quando examinada relativamente à sua

possibilidade de resolver uma dada situação.

O processo de desenvolvimento de uma ideia é conhecido como invenção (ROGERS, 1995

apud BARBIERI; ÁLVARES; CAJAZEIRA, 2009). Em outras palavras, uma nova ideia é o

embrião da invenção, e entre uma e outra há diversas etapas que devem ser cumpridas,

constituindo o que se denomina atividade inventiva, caracterizada como um trabalho criativo

cujo resultado se apresenta na forma de planos, fórmulas, modelos, protótipos, descrições e

outros meios que permitam registro e comunicação (BARBIERI; ÁLVARES; CAJAZEIRA,

2009).

Para Barbieri, Álvares e Cajazeira (2009), a inovação, dentro do contexto organizacional, é a

invenção efetivamente incorporada aos sistemas produtivos, isto é, é a introdução de uma

nova ideia. O processo de inovação refere-se à sequência de etapas nas quais as pessoas

interagem a fim de desenvolver e implantar suas ideias inovadoras em um contexto

institucional (VAN DE VEN, 2000 apud BARBIERI; ÁLVARES; CAJAZEIRA, 2009).

Trata-se da exploração da invenção, ou seja, dos estágios de desenvolvimento comercial,

aplicação e transferência de uma ideia, incluindo a focalização em objetivos estratégicos

específicos, a avaliação desses objetivos, a transferência de conhecimentos da pesquisa para

os setores produtivos, entre outras atividades (ROBERTS, 1997 apud BARBIERI;

ÁLVARES; CAJAZEIRA, 2009). Sob tal perspectiva, a inovação consiste no uso de novos

conhecimentos com o objetivo de produzir produtos e serviços que atendam necessidades e

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desejos dos consumidores, podendo ser resumida na combinação entre invenção e

comercialização (AFUAH, 1998 apud BARBIERI; ÁLVARES; CAJAZEIRA, 2009). Alguns

autores preferem destacar os resultados das inovações como a combinação entre novas ideias

e ações ou implantações que resultem em melhorias, ganhos ou lucros para a empresa.

Não existe inovação sem que haja uma ideia. Para Freeman e Soete apud Barbieri, Álvares e

Cajazeira (2009), a inovação é um processo que começa nas mentes de pessoas imaginativas.

É por essa razão que os modelos de inovação sempre fazem referência à geração de ideias em

alguma fase do processo (Figuras 8 e 9). Segundo Barbieri, Álvares e Cajazeira (2009), o

ideal para as organizações é que surjam muitas delas para que algumas possam ser escolhidas

por atenderem os objetivos estratégicos da empresa. Em geral, os modelos de inovação

pressupõem que a geração de ideias faça parte da fase inicial do processo e que, ao selecionar

uma ideia que cumpra os critérios da organização, as fases seguintes sejam dedicadas ao

aperfeiçoamento da ideia escolhida, até que ela possa ser lançada comercialmente, sendo que

entre uma fase e outra haverá uma decisão do tipo continua/não continua. Para Barbieri,

Álvares e Cajazeira (2009), no entanto, essa é uma visão muito simplista e não corresponde à

realidade dos verdadeiros processos de inovação.

Figura 8: Modelo de Inovação de Sete Fases de Cooper.

Fonte: COOPER apud BARBIERI, ÁLVARES e CAJAZEIRA (2009).

Figura 9: Processo de Inovação – Modelo do Funil.

Fonte: CLARK E WHEELWRIGHT apud BARBIERI, ÁLVARES e CAJAZEIRA (2009).

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Para o autor, ainda, os processos de inovação partem de uma ideia inicial, à qual vão se

agregando outras ideias no decorrer do tempo. Isto é, o processo é permeado de ideias em

todas as suas etapas. Mesmo depois de finalizado o projeto de inovação e de concluído seu

objetivo, novas ideias irão acompanhá-lo no sentido de aperfeiçoá-lo ao longo de seu ciclo de

vida.

2.3.1. AS IDEIAS NOS DIFERENTES MODELOS DE INOVAÇÃO

As inovações tecnológicas estão relacionadas a uma combinação entre necessidades de

mercado e oportunidades técnicas. Logo, um processo de inovação de alta qualidade deve

levar em conta esses dois fatores (antes mesmo de iniciadas as demais fases de

desenvolvimento de novos produtos). A Figura 10 apresenta um modelo conhecido como

“modelo combinado”, no qual as ideias estão presentes em todas as fases do processo de

inovação e são estimuladas tanto pelos conhecimentos científicos e tecnológicos acumulados

quanto pelos problemas e oportunidades mercadológicas e operacionais. Este modelo

apresenta uma visão linear, ou seja, considera que a inovação decorre de uma sequência de

atividades que tem início com a apresentação de ideias iniciais (BARBIERI; ÁLVARES;

CAJAZEIRA, 2009).

Figura 10: Modelo de Inovação Linear Combinado.

Fonte: ROTHWELL apud BARBIERI, ÁLVARES e CAJAZEIRA (2009).

Os modelos de inovação representados por funis (mostrados anteriormente) podem ser

considerados “modelos combinados”, pois neles as ideias ocorrem em todas as etapas do

processo. Considerando as inovações de modo geral, sejam elas incrementais ou radicais, as

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ideias iniciais, que entram pela boca do funil, surgem em função de dois motivos principais

(BARBIERI; ÁLVARES; CAJAZEIRA, 2009):

Problemas, necessidades e oportunidades nas áreas de produção e comercialização,

que podem ocorrer tanto na própria empresa quanto no seu ambiente;

Oportunidades que surgem através da ampliação dos conhecimentos científicos e

tecnológicos.

A partir das ideias iniciais, novas ideias vão sendo estimuladas em função das características,

necessidades e desafios de cada etapa ou fase do processo de inovação. Ao final, muitas delas

terão sido geradas e avaliadas segundo critérios que se diferenciam conforme a fase, e as

aprovadas serão implantadas (BARBIERI; ÁLVARES; CAJAZEIRA, 2009).

Uma geração de modelos de inovação posterior à geração do “modelo combinado” baseia-se

na realização de atividades diferenciadas sobrepostas no tempo. Segundo Lyianage,

Greenfiled e Don apud Barbieri, Álvares e Cajazeira (2009), ao invés de sequências, as

atividades, por apresentarem elevada interação entre si, são realizadas simultânea e

paralelamente, fazendo com que a comunicação entre os diferentes profissionais envolvidos

seja bastante fluida. As ideias internas à organização, bem como dos fornecedores, clientes e

outras fontes, participam de todas as etapas, que devem ser executadas com elevada sintonia,

conforme mostrado na Figura 11 (BARBIERI; ÁLVARES, CAJAZEIRA, 2009).

Figura 11: Modelo de Inovação Não-Sequencial.

Fonte: BARBIERI, ÁLVARES e CAJAZEIRA (2009).

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Para Barbieri, Álvares e Cajazeira (2009), essa forma de conceber o processo de inovação, na

qual os produtos e processos são idealizados e desenvolvidos de modo interativo, ajuda a

reduzir possíveis conflitos entre os profissionais envolvidos nas diferentes atividades que o

compõem, graças a um intenso esforço de articulação. No entanto, para que isso ocorra de

maneira bem sucedida, faz-se necessário uma nova organização do trabalho, que favoreça

tanto a interação multifuncional de pessoas com atuação em diferentes áreas (como

desenvolvimento de produto, engenharia de processo, produção, marketing, compras, etc.)

quanto, dependendo do caso, o envolvimento de fornecedores e clientes. Para esse modelo

não sequencial, é determinante que exista uma gestão capaz de promover a integração

funcional. As ideias devem fluir em todas as fases com mais desenvoltura.

Há duas principais vantagens quando a inovação é feita por meio de um processo não

sequencial: encurtamento do tempo e redução do custo total (Figura 12). Os problemas que

surgem ao longo do processo podem ser identificados e resolvidos com maior rapidez,

mediante a execução de atividades com alto grau de interação entre os responsáveis por elas.

No caso de processos sequenciais (como no “modelo combinado”), problemas encontrados

em determinada fase exigem revisões por parte dos profissionais que atuaram em fases

anteriores, podendo levar a atrasos e custos financeiros (há casos extremos, nos quais é

necessário retornar ao início do processo a fim de rever aspectos conceituais do projeto).

Essas demoras afetam o timing de lançamento do produto ou serviço ou da implantação do

novo processo. A revisão do que já foi feito encontra, na maior parte das vezes, os

profissionais envolvidos com outros projetos, que também têm seus prazos, precisando

disputar prioridade com trabalhos que estão em andamento no momento (BARBIERI;

ÁLVARES; CAJAZEIRA, 2009).

Figura 12: Modelo de Inovação Sequencial X Modelo Não Sequencial.

Fonte: BARBIERI, ÁLVARES e CAJAZEIRA (2009).

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Há, ainda, uma geração posterior ao modelo de inovação não sequencial, que se baseia na

formação de redes de organizações diversas em que se desenvolvem diferentes formas de

intercâmbios, tais como acordos para realização de P&D cooperativo, uso compartilhado de

bancos de dados, licenciamentos cruzados e parcerias com objetivos múltiplos. Nesse último

modelo, as interações entre diferentes agentes são ainda mais intensas, o que forma um

ambiente de alta conectividade entre empresas, associações de empresas, instituições de

pesquisa, órgãos governamentais e entidades da sociedade civil. A sincronia e o paralelismo

entre as diferentes etapas do processo de inovação são decisivos e devem ser expandidos para

o conjunto das instituições envolvidas, requerendo, para tanto, vínculos forte que permitam

gerir um fluxo intenso de informações e conhecimentos de natureza variada (BARBIERI;

ÁLVARES; CAJAZEIRA, 2009).

Para todos os modelos de inovação acima citados, as fontes de ideias que desencadeiam os

processos de inovação são elementos fundamentais. Do primeiro ao último modelo discutido,

verifica-se a ampliação das fontes de ideias, exigindo um esforço crescente para gerenciá-las

enquanto bens intangíveis que representam a matéria-prima das invenções e inovações. Todos

esses modelos consideram que as ideias podem ser estimuladas por diferentes meios ao

alcance dos gestores (BARBIERI; ÁLVARES; CAJAZEIRA, 2009).

2.3.2. FONTES E GERAÇÃO DE IDEIAS

Sabe-se que em um processo de inovação nem todas as ideias geradas são aproveitadas. O

primeiro artigo que focou nesse fato mais profundamente foi realizado pela empresa de

consultoria Booz, Allen & Hamilton, em 1968, no qual era apresentada uma curva de

decaimento das ideias, resultado da rejeição progressiva de ideias e projetos ao longo das

etapas de desenvolvimento de novos produtos (Figura 13). O artigo mostrava que de cada 58

ideias que surgiam apenas uma era capaz de sobreviver às avaliações das distintas fases do

processo de inovação (BARBIERI; ÁLVARES; CAJAZEIRA, 2009). Segundo Stevens e

Burley apud Barbieri, Álvares e Cajazeira (2009), para grande parte das indústrias são

necessárias três mil ideias em estado inicial para se obter um novo produto de significativo

sucesso comercial (esse número pode ser menor no caso de inovações que representem

extensões da linha de produtos). Os autores, assim como Booz, Allen e Hamilton, também

representam o processo de inovação como uma curva de sucesso na qual o número de ideias

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vai declinando à medida que elas avançam para os estágios mais próximos do lançamento

comercial. Esse declínio decorre do fato de que as ideias iniciais precisam ser aperfeiçoadas

em conformidade com inúmeros condicionantes organizacionais, tecnológicos e

mercadológicos. O fato é que, por mais valiosas e interessantes que sejam as ideias geradas,

nunca haverá recursos suficientes para financiar e executar todas elas. É necessário escolher

as melhores ideias, as mais alinhadas com o propósito estratégico da empresa e, ainda,

verificar qual é a capacidade de execução de projetos da organização. Em outras palavras,

mostra-se necessário identificar, através de critérios claros e focados na estratégia da empresa,

quais as melhores apostas para a inovação. É por isso que, para empresas que consideram a

inovação constante parte de sua estratégia competitiva, gerar ideias em grandes quantidades

torna-se muito importante (BARBIERI; ÁLVARES; CAJAZEIRA, 2009).

Figura 13: Curva de Decaimento de Ideias.

Fonte: BOOZ, ALLEN & HAMILTON (1981).

Para Terra (2012), no entanto, gerar uma ampla gama de boas ideias não garante, por si só,

que a empresa seja inovadora e colha resultados dessa atividade. Inovação, como já citado,

requer ideias implantadas, gerando valor. Além disso, é preciso reconhecer que as novas

ideias são combinações diferenciadas e originais de informações e conhecimentos existentes.

Dessa definição, conclui-se que é difícil (ou quase impossível) imaginar novas ideias se o

contexto de informação e conhecimento permanece o mesmo (conforme discutido

anteriormente no item sobre gestão do conhecimento). Na prática, para gerar boas ideias é

necessário investir tempo, esforço e recurso nas fases que antecedem o surgimento das ideias:

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a aquisição e o compartilhamento de informação e conhecimento e a definição dos problemas

ou necessidades que precisam ser endereçados ou resolvidos por meio de novos produtos ou

serviços.

O autor, ainda, condena a atitude de algumas empresas que acreditam que implantando

sistemas de informação serão capazes de suprir a demanda por ideias com grande potencial de

inovação. Para ele,

Capturar, coletar e receber ideias parece muito mais simples e rápido.

Melhor ainda, exige pouco esforço, investimento e paciência. Parece ser um

ótimo negócio: investe-se muito pouco, monta-se um formulário na intranet

ou mesmo no site da empresa e daí é só esperar: cedo ou tarde, entre

milhares de ideias que vão surgir, algumas delas trarão os resultados de

grande impacto esperados (TERRA, 2012, p.135).

Há, nos dias de hoje, vários conceitos, métodos e ferramentas que podem ajudar as

organizações a combinar e focar o processo de ideação. Eles podem ser divididos em duas

macroetapas (TERRA, 2012):

1. Descobrir:

Nessa macroetapa, todas as ferramentas utilizadas devem possibilitar a geração e o

registro de ideias, impressões, associações, etc. O importante, nesse momento, é que

não se deve desperdiçar nem julgar nada. As informações a respeito do mercado, dos

usuários (e não usuários), dos concorrentes (e não concorrentes) e outras que os

profissionais julguem necessárias devem ser descobertas e armazenadas.

Empresas que desejam ter um posicionamento estratégico proativo e querem ser líderes

em inovação devem monitorar o ambiente no qual a organização está inserida de forma

deliberada, formal, organizada, coletiva e seletiva. Em casos mais avançados, esse

monitoramento é auxiliado por recursos humanos e tecnológicos dedicados e com

processos bem estruturados para captura, disseminação e interpretação coletiva das

informações obtidas.

As organizações precisam ter um bom entendimento de suas cadeias de valor e de seus

mercados atuais e adjacentes. Essas informações podem ser compradas ou obtidas

internamente através de uma equipe de profissionais internos e externos. Outro ponto

importante é a permissão para que várias áreas e níveis da organização possam

contribuir para o sistema de inteligência a partir de informações coletadas no campo,

nos clientes ou em eventos.

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Empresas que valorizam as ideias de seus funcionários são empresas que

compreenderam que sua maior riqueza é o conhecimento organizacional, que evolui de

forma sistêmica e social. Para essas empresas, alguns conceitos são fundamentais:

Para se ter boas ideias, é necessário gerar muitas ideias;

As pessoas, independente do nível hierárquico em que se encontram, podem

contribuir com boas ideias;

Profissionais que têm suas ideias implantadas se identificam mais com o seu

trabalho;

Avaliar com rapidez e transparência as ideias dos funcionários é mais importante do

que a premiação;

Às vezes, grandes ideias e projetos começam como pequenos projetos.

São muitas as ferramentas que estimulam os sentidos e a geração de ideias. A escolha de

uma dessas ferramentas depende do porte da empresa, do setor de atuação e da

importância da tecnologia como direcionador da inovação. Sabe-se, no entanto, que as

empresas mais inovadoras investem em métodos não tradicionais para a geração de

insights e linhas de pesquisa.

2. Enriquecer:

Para que o conhecimento organizacional evolua, é necessário contextualizá-lo e

enriquecê-lo. Para tanto, nessa etapa é realizada a interpretação das informações

coletadas e o alinhamento dessas informações aos objetivos da organização. Todas as

ferramentas, rotinas e práticas organizacionais dessa fase devem ser voltadas a dar

sentido às informações coletadas. Informações desconexas devem ser conceitualizadas,

contextualizadas, detalhadas e desenvolvidas de forma que se possa analisar sua

praticabilidade, viabilidade e “desejabilidade” frente a um ou vários mercados

específicos.

São muitos os programas de ideias possíveis em uma organização, desde aqueles totalmente

espontâneos até alguns altamente sofisticados, com processos colaborativos e induzidos para a

geração e enriquecimento de ideias (algumas delas podendo gerar mudanças relevantes nos

rumos estratégicos da organização). O que predomina na realidade das empresas nacionais são

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programas mais simples e espontâneos, que demandam baixo envolvimento e investimento

(TERRA, 2012).

Para Terra (2012), uma decisão importante no processo de geração de ideias é o

direcionamento a ser dado a ele. Há duas possibilidades: processo direcionado pela liderança

e estratégia (top-down) ou processo mais espontâneo, baseado na criatividade e oportunidades

identificadas pelos funcionários da empresa (bottom-up). Como regra geral, abordagens top-

down tendem a focar objetivos mais estratégicos, enquanto abordagens bottom-up, objetivos

mais incrementais. Algumas abordagens top-down podem ser muito conservadoras e levam

apenas à condução de projetos de baixo risco e retorno financeiro de curto prazo. Muitas

empresas possuem vários tipos de mecanismos de inovação coexistindo com diferentes

objetivos. Na Tabela 2 são apresentadas as principais características que favorecem o êxito

nas abordagens top-down e bottom-up.

Tabela 2: Principais Características das Abordagens Top-Down e Bottom-Up.

Fonte: TERRA (2012).

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Segundo Barbieri, Álvares e Cajazeira (2009), a identificação de fontes de ideias também é

um passo importante no processo de inovação. As ideias sobre produtos, processos e negócios

(novos ou modificados) podem surgir de fontes externas ou internas à organização (Tabela 3).

Trabalhadores com atribuições diversas (não relacionadas às atividades de pesquisa e

desenvolvimento), como vendedores, compradores, operários e técnicos administrativos, são o

foco dos sistemas de sugestões concebidos pelas empresas.

Tabela 3: Fontes de Ideias e Exemplos.

Fonte: BARBIERI, ÁLVARES e CAJAZEIRA (2009).

Para West apud Barbieri, Álvares e Cajazeira (2009), os clientes merecem destaque, uma vez

que constituem fontes de ideias fundamentais, já que a inovação só se completa quando aceita

pelo mercado. Além disso, o que dizem e pensam os consumidores pesa muito no momento

de decidir quais ideias devem ser levadas adiante. A pesquisa de mercado é um meio bastante

eficiente para chegar até eles. Dentre suas diversas técnicas, o autor destaca o focus group,

modalidade de pesquisa qualitativa realizada diretamente com pequenos grupos de pessoas

com conhecimento ou experiência em relação ao bem ou serviço que se pretende analisar com

profundidade. Outro meio importante são os serviços de atendimento ao consumidor, que

captam suas queixas, reclamações ou sugestões.

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Pensando em fontes internas e externas à organização, há duas vertentes distintas que se

destacam quanto ao estímulo à geração das ideias. Uma delas procura encontrar métodos para

gerar ideias ou tornar as pessoas mais criativas (como o brainstorming, por exemplo). Já a

outra, procura estimular e captar ideias de funcionários, clientes e outros participantes da

organização (fontes externas) através de programas ou sistemas de sugestões.

2.3.2.1. MÉTODOS PARA GERAÇÃO DE IDEIAS

A primeira vertente, que procura encontrar meios para gerar ideias ou tornar as pessoas mais

criativas, foca em métodos que são transmitidos através de treinamentos especiais às pessoas-

chave do processo de inovação, normalmente profissionais que trabalham com

desenvolvimento de produtos, engenharia de processo, P&D, círculos de controle da

qualidade, etc. Grande parte desses sistemas têm aplicações específicas para o planejamento

de longo prazo, uma vez que são também métodos de previsão e avaliação tecnológicas

(BARBIERI; ÁLVARES; CAJAZEIRA, 2009).

O brainstorming surgiu na década de 1930 e é, provavelmente, o método mais difundido entre

os existentes para estimular a produção de ideias. Seu objetivo é obter o maior número

possível de ideias a respeito de um dado assunto estabelecido previamente. Ele é realizado em

grupos compostos, em geral, de 5 a 10 pessoas que devem ser escolhidas com cautela.

Profissionais inibidos, submissos e influenciáveis devem ser descartados, bem como aqueles

que se julgam donos da verdade ou que gostam de ser o centro das atenções. Além disso, não

é recomendado reunir no mesmo grupo chefes e subordinados, principalmente se os primeiros

possuem perfil autoritário. O moderador deve promover a interação entre os participantes e

assegurar que todos se sintam motivados a dar suas contribuições de maneira livre

(BARBIERI; ÁLVARES; CAJAZEIRA, 2009).

O brainstorming é composto, na maior parte das vezes, de três fases. A primeira consiste em

deixar todos os participantes a par do problema que se pretende resolver. Na segunda,

promove-se a mais ampla produção de ideias possível, estimulada por um ambiente de

liberdade, cordialidade e interação entre os membros do grupo (o moderador deve assegurar

que as pessoas se sintam livres para exprimir suas opiniões, cuidando para que não haja

críticas que prejudiquem a espontaneidade dos membros). Na terceira e última fase, que se

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inicia quando o moderador verifica um esgotamento, desenvolvem-se as ideias apresentadas;

nesse momento, não vigora mais a liberdade total, pois os participantes devem avaliar cada

uma delas com respeito à sua contribuição para o problema. Perguntas como “a ideia é nova

mesmo?”, “faz sentido para o tipo de solução que se espera obter?”, “é viável do ponto de

vista técnico?” e “traz um diferencial significativo, levando em conta a situação atual?”

podem ser úteis para as discussões a serem realizadas nessa última fase (BARBIERI;

ÁLVARES; CAJAZEIRA, 2009).

Há muitas variações para o método do brainstorming. No entanto, uma preocupação deve

estar sempre presente: a manutenção de um ambiente cordial, desinibido e tolerante ao erro.

Quando as pessoas se sentem respeitadas, confiam umas nas outras, se sentem à vontade para

manifestar suas opiniões e percebem que são recompensadas por isso, a geração de ideias se

dá de forma mais natural (BARBIERI; ÁLVARES; CAJAZEIRA, 2009).

Outro método bastante conhecido, que surge em decorrência do brainstorming, é o

pensamento lateral, desenvolvido por Edward Bono em 1967. Trata-se de um método cujo

objetivo é gerar novas ideias para inovações em qualquer área, através de uma mudança de

atitude mental pela eliminação dos efeitos limitantes de ideias antiquadas, estereotipadas e

arraigadas, responsáveis por produzir o mesmo padrão de pensamento. Em outras palavras, o

pensamento lateral pode ser definido como uma heurística, na qual você tentar olhar o

problema de vários ângulos, ao invés de ataca-lo de frente. Ao contrário do pensamento

lógico, que BONO denomina pensamento vertical, o pensamento lateral não é analítico nem

segue fases sequenciais, rompendo com os padrões lógicos de pensamento (Figura 14). É

considerado o método mais adequado para gerar ideias capazes de resolver problemas de

modo criativo (BARBIERI; ÁLVARES; CAJAZEIRA, 2009).

Figura 14: Pensamento Vertical e Pensamento Lateral.

Fonte: De BONO (1996) apud BARBIERI, ÁLVARES e CAJAZEIRA (2009).

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O pensamento lateral não substitui o pensamento vertical. Ambos devem ser usados em

conjunto, porém com finalidades diferentes. Enquanto o pensamento vertical utiliza as

informações com seu valor intrínseco a fim de chegar a uma solução que inclua os modelos

mentais já existentes, o pensamento lateral faz uso das informações para provocar uma

reviravolta transformadora nesses modelos e sua subsequente reestruturação em novas ideias

(BARBIERI; ÁLVARES; CAJAZEIRA, 2009).

Há, ainda, outro método muito utilizado para geração de ideias nas organizações, também

inspirado no brainstorming: a sinética. Esse método é de autoria de Willian Gordon e foi

desenvolvido em 1961. Seu objetivo principal é desenvolver a capacidade de gerar ideias

novas e criativas através de metáforas e analogias como forma de entrar em um universo

estranho ou muito diferente do habitual, explorando conceitos ambíguos, contraditórios e

incompatíveis (GORDON, 1961 apud BARBIERI; ÁLVARES; CAJAZEIRA, 2009). O

método procura fazer com que os participantes se afastem do problema real, pensando de

modo mais abstrato possível, para depois voltar ao problema inicialmente determinado. Há

duas estratégias de ação a serem conduzidas pelo moderador:

1. Tornar conhecido o que é estranho: consiste em analisar o problema da forma mais

profunda e racional possível, a fim de torna-lo conhecido;

2. Tornar estranho o que é conhecido: consiste em olhar o problema sob perspectivas

novas e inusitadas, com o intuito de não incorrer em soluções convencionais, óbvias

ou decorrentes da trajetória tipicamente utilizada para tais situações. Isso é feito

através do uso de analogias (vale ressaltar que a analogia é frequentemente

empregada como método para estimular a criatividade, independentemente da

sinética; analisar elementos semelhantes em coisas diferentes é um processo que há

muito vem sendo utilizado para estimular o surgimento de ideias criativas).

Há muitos métodos de estímulo à geração de ideias criativas (e sempre surgem outros novos),

o que demonstra a importância das ideias no mundo corporativo. A Tabela 4 contém um

resumo dos dez principais métodos, segundo Barbieri, Álvares e Cajazeira (2009). Esse modo

de produção de ideias tem recebido destaque, uma vez que ele permite manter a criatividade

do pessoal técnico relacionado diretamente aos processos de planejamento e execução das

atividades de inovação com elevado conteúdo de P&D.

O uso de métodos aumenta a quantidade e a qualidade das ideias dos profissionais envolvidos

com atividades inovadoras. Sua aplicação é feita, na grande parte das vezes, de modo seletivo,

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devido ao elevado custo envolvido (contratação de especialistas no método escolhido,

recursos didáticos especiais, etc.). Quando há a necessidade de estimular a criatividade de

todo pessoal de uma organização complexa, que possui muitos trabalhadores dispersos em

diversas áreas realizando as mais variadas atividades, os métodos supracitados se mostram

pouco eficazes. Nesse caso, a melhor solução são os sistemas ou programas de sugestões e

ideias (BARBIERI; ÁLVARES; CAJAZEIRA, 2009).

Tabela 4: Geração de Ideias – Exemplos de Métodos Estruturados.

Fonte: BARBIERI, ÁLVARES e CAJAZEIRA (2009).

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2.3.2.2. SISTEMAS OU PROGRAMAS DE SUGESTÕES E IDEIAS

Os programas ou sistemas de sugestões foram, por muito tempo e por grande parte das

organizações, esquecidos nos estudos de inovação, principalmente por não terem sido

associados às ideias de grande valor comercial, mas às inovações incrementais ou melhorias

em produtos e processos (BARBIERI; ÁLVARES; CAJAZEIRA, 2009).

Segundo um texto publicado pela Japan Human Relations Association (JHRA), associação

que se tornou uma das grandes divulgadoras dos sistemas de ideias, a solicitação de sugestões

foi utilizada pela primeira vez na Escócia, por Willian Denny, e tinha como principal objetivo

ouvir a opinião dos funcionários com relação a meios para reduzir custos na construção de

navios. Outro exemplo bastante conhecido aconteceu em 1898, quando um funcionário da

Eastman Kodak recebeu um prêmio de dois dólares por ter sugerido que as janelas do prédio

da companhia fossem lavadas a fim de tornar as áreas de trabalho mais iluminadas

(BARBIERI; ÁLVARES; CAJAZEIRA, 2009).

Em seu livro Minha vida e minha obra, FORD, 1925, revela que a única certeza ao gerenciar

suas ações era a compreensão de que tudo está sempre muito longe de ser perfeito, motivo

pelo qual considerava que a direção da fábrica deveria estar apta a aceitar sugestões. Por isso,

estabeleceu um sistema voluntário de informação, através do qual os funcionários podiam

comunicar suas ideias e tentar implantá-las. Em um sistema como o fordista, uma economia

de poucos centavos em cada peça poderia exceder a milhões de dólares anualmente. Além

disso, o sistema de sugestões implantado exigia pouca ou nenhuma atenção do ponto de vista

administrativo, principalmente porque não apresentava contra indicação (isto é, não custava

nada, em termos financeiros, solicitar ideias aos funcionários) (BARBIERI; ÁLVARES;

CAJAZEIRA, 2009).

Os sistemas de sugestões ficaram muito conhecidos no início do século XX e um grande

número de empresas passou a adotá-los. A Toyota contribui de forma especial para a

disseminação desse modo de gestão no Japão. Em 1951, a empresa implantou seu sistema de

sugestões sob o nome de Ideia Criativa Toyota, que cresceu vertiginosamente, atingindo a

marca de acumulada de 1 milhão de ideias em 1977, 10 milhões em 1984 e 20 milhões em

1988. No ano de 1986, a média foi de 47,7 ideias por funcionário (YASUDA, 1991 apud

BARBIERI; ÁLVARES; CAJAZEIRA, 2009).

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O sistema de sugestões da Toyota precedeu a implantação de seu sistema de produção e

muitos autores acreditam que esse foi um dos principais fatores que levaram ao sucesso do

modelo, na medida em que proporcionou o surgimento de um ambiente de trabalho

colaborativo (BARBIERI; ÁLVARES; CAJAZEIRA, 2009). Segundo Bedek (1991) apud

Barbieri, Álvares e Cajazeira (2009), a sintonia fina que fez o Sistema Toyota de Produção

realmente funcionar não veio da administração superior nem dos engenheiros, mas do chão da

fábrica, na forma de sugestões dos empregados.

Apesar do elevado número de sistemas de sugestões criados ao longo do tempo, observam-se

duas abordagens distintas: a abordagem japonesa e a abordagem norte-americana ou

ocidental. Schuring e Luijten apud Barbieri, Álvares e Cajazeira (2009) preferem as seguintes

denominações: sistema tradicional e sistema no contexto do kaizen (o primeiro deles é o

sistema da caixa de sugestões, que corresponde ao sistema baseado na abordagem ocidental

ou norte-americana pela denominação da JHRA, e o segundo é o sistema de sugestões

japonês).

O sistema de sugestões denominado tradicional, ocidental ou norte-americano tem como

principal característica a busca por ideias geniais estimuladas por recompensa econômica. Isto

é, premia-se o gerador de uma ideia aprovada através do pagamento de um percentual sobre

os ganhos por ela proporcionados no primeiro ano. Atualmente, esse formato de sistema

praticamente desapareceu, dando lugar a outro que estabelece limites máximos para a ideia

aprovada, sem, no entanto, abandonar a relação entre o prêmio concedido ao autor da ideia e o

benefício proporcionado à empresa (BARBIERI; ÁLVARES; CAJAZEIRA, 2009).

No Japão, esse modelo de sistema baseado em benefícios econômicos para a empresa e para o

gerador da ideia deu lugar a outro, baseado na participação dos funcionários, que recebeu o

nome de sistema japonês ou oriental. Essa abordagem enfatiza a importância da contribuição

de todos para a melhoria e o bem-estar da organização (BARBIERI; ÁLVARES;

CAJAZEIRA, 2009).

Enquanto o sistema norte-americano era fortemente influenciado pelo individualismo e

visava, sobretudo, à redução de custos, o sistema japonês buscava produzir um clima

favorável à participação de todos os funcionários na busca de soluções para os problemas

cotidianos, levando, dessa forma, à melhoria contínua, conceito do kaizen (YASUDA, 1991

apud BARBIERI; ÁLVARES; CAJAZEIRA, 2009). As sugestões eram estimuladas por

recompensas simbólicas que reforçavam a coesão interna.

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Segundo a abordagem japonesa, quanto maior a participação das pessoas, maior a acumulação

gradual de pequenos conhecimentos. Isso requer um estilo de gestão participativo que valorize

o conhecimento dos funcionários de qualquer área, função ou nível hierárquico. Além disso,

manter o pessoal permanentemente motivado a dar sugestões redunda na geração de milhares

de ideias por mês, o que exige um suporte administrativo específico, a fim de que essas ideias

sejam respondidas rápida e adequadamente, não frustrando as expectativas de seus autores.

Portanto, esses sistemas de sugestões precisam ser bem estruturados e contar com o

comprometimento efetivo da alta administração, fazendo-se sempre presente na gestão do

sistema e estimulando a participação dos funcionários. Por ser descentralizada, a gestão do

sistema permite que todos os gestores possuam autoridade suficiente para aprovar e implantar

as ideias de seus subordinados aplicáveis ao respectivo setor (BARBIERI; ÁLVARES;

CAJAZEIRA, 2009).

Em termos de gestão, os sistemas ocidentais são menos exigentes, seja pelo menor número de

ideias que geram, seja por deixarem sob responsabilidade dos funcionários a iniciativa de

gera-las, confiando no estímulo proporcionado pelas recompensas financeiras

(BӦHMERWALD, 1996 apud BARBIERI; ÁLVARES; CAJAZEIRA, 2009). A aprovação

de uma ideia nesse sistema e sua autorização dependem da alta administração, que necessita

de análises da viabilidade técnica, sempre levando em consideração os ganhos econômicos

que a empresa poderá obter com a sua implantação, tendo em vista os investimentos que serão

necessários. Por isso, os procedimentos para aprovação de uma sugestão e sua implantação,

nesse sistema, envolvem processos complexos e demorados.

Segundo a JHRA, para o sistema de sugestão ocidental o importante é que sejam geradas boas

ideias, mesmo que sejam poucas, levando a um número restrito de pessoas recebendo grandes

prêmios por elas. Já para o sistema oriental, obter um elevado número de sugestões é

fundamental, pois é a participação dos funcionários que importa, e não o benefício imediato

que a sugestão pode render à empresa. Para Godfrey apud Barbieri, Álvares e Cajazeira

(2009), todavia, os resultados econômicos observados em sistemas orientais são superiores

àqueles observados em sistemas ocidentais. O autor explica que, enquanto as empresas

japonesas apresentam uma média anual de 24 ideias por funcionário e implantam 82% delas, a

média das empresas americanas é de 0,16 ideias, sendo que apenas 22% são implantadas. As

companhias americanas se interessam por ideias que gerem melhorias de no mínimo US$

5.500,00, ao passo que, para as japonesas, as melhorias representam em média US$ 100,00 de

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economia. No fim das contas, 100 funcionários japoneses economizam US$ 200.000,00 por

ano, em comparação com os menos de US$ 20.000,00 dos americanos.

Para Bohmerwald apud Barbieri, Álvares e Cajazeira (2009), as ideias não se resumem

àquelas que geram melhorias de processo, levando à economia no uso de recursos. As ideias

podem beneficiar todas as áreas de atuação da empresa, sendo que muitas delas se referem a

novos produtos ou a melhorias nos produtos atuais. Algumas, também, dizem respeito a

questões que aparentemente nada têm a ver com as inovações, como ideias que melhoram o

ambiente de trabalho e as relações interpessoais, mas que acabam contribuindo para sustentar

um meio propício à cooperação e à criatividade.

Tanto a abordagem ocidental quanto a oriental foram fortemente difundidas pelo mundo todo.

Alguns estudos mostram que os aspectos culturais dos países que originaram os sistemas de

sugestões acima tratados tiveram pouca relevância no processo de difusão. Bonache apud

Barbieri, Álvares e Cajazeira (2009) apresenta uma análise de diversos programas de

sugestões concebidos em multinacionais norte-americanas e repassados para suas filiais em

outros países. Para o autor, a cultura nacional não afetou a efetividade desses programas,

apesar de terem sido projetados com elevado grau de padronização.

Hellwing apud Barbieri, Álvares e Cajazeira (2009), ao estudar as estratégias competitivas das

empresas de acordo com o sistema de sugestões adotado por elas, concluiu que aquelas que

seguem o modelo ocidental (ou tradicional) enfatizam a novidade dos produtos, enquanto

aquelas que seguem o modelo oriental (ou japonês) preferem focar em inovações

incrementais, ou seja, em aprender com a identificação de falhas dos produtos, de preferências

dos consumidores e de recursos tecnológicos mais adequados, procurando aproximar as áreas

de manufatura e de desenvolvimento de produtos e processos.

Muitos autores têm criticado a estratégia incrementalista proposta pelo sistema japonês,

afirmando que a melhoria contínua dos processos (kaizen) atuaria contra as inovações

radicais. Para Peters apud Barbieri, Álvares e Cajazeira (2009), o incrementalismo é o pior

inimigo para a inovação. Segundo Barbieri, Álvares e Cajazeira (2009), as críticas a um

sistema exclusivamente baseado em inovações incrementais estão corretas, uma vez que são

as inovações radicais aquelas capazes de introduzir novos produtos, modificar o modo de

competir e criar novos setores econômicos, reduzindo as ameaças mais graves às empresas.

Todavia, não está correto condenar as inovações incrementais, pois elas são muito

importantes para a empresa e para a economia de forma geral. Além disso, as inovações

radicais precisam de muitas ideias incrementais para serem bem sucedidas.

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Tabela 5: Sistemas de Sugestões – Resumo das Abordagens Dominantes.

Fonte: BARBIERI, ÁLVARES e CAJAZEIRA (2009).

Para Tushman e O’Reilly III apud Barbieri, Álvares e Cajazeira (2009) o ideal é que as

empresas sejam ambidestras, o que significa atuar de forma dupla, obtendo vantagens

competitivas através do aumento da eficiência (curto prazo) e das inovações radicais e de

maior risco (longo prazo). Na realidade, as inovações incrementais e radicais devem ser vistas

como complementares, de funções distintas, mas igualmente importantes. Sem as inovações

incrementais, as inovações radicais não se sustentam. Por outro lado, na falta de inovações

radicais, as inovações incrementais acabam se esgotando.

Os sistemas de sugestões podem contribuir para manter um ambiente interno

voltado para a eficiência operacional e receptivo a toda sorte de mudanças,

conduzindo a um processo de inovações contínuas, entendido como a

habilidade de combinar efetividade operacional com flexibilidade

estratégica, ou seja, a habilidade para aperfeiçoar o que existe e desenvolver

novos produtos, mercados e sistemas de gestão (BARBIERI; ÁLVARES;

CAJAZEIRA, 2009, p.51).

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60

O importante é que os sistemas de sugestões, para que sejam eficientes, se alinhem à

estratégia da empresa, possuindo foco, direção comprometimento e integração,

independentemente da abordagem que seguem (oriental ou ocidental).

Terra (2012) destaca algumas das vantagens dos programas ou sistemas estruturados de

sugestões em comparação com uma simples caixa de sugestões:

Direcionamento constante quanto à oportunidade e desafios do negócio;

Esforços sistemáticos para aumentar o potencial cognitivo dos colaboradores;

Várias metodologias para construção de conceitos, recebimento de inputs do

ambiente externo da empresa (pessoas, dados, etc.);

Reconhecimento de que diferentes tipos de ideias precisam de diferentes processos

de avaliação, enriquecimento, tempo de maturação, etc.;

Mecanismos de colaboração para enriquecimento de ideias;

Ampliação do foco estreito do “passa/não passa”;

Mecanismos de gestão que permitam visualizar o ciclo de vida de uma ideia;

Governança superatenta e motivadora dos vários níveis da organização;

Vários mecanismos de reconhecimento que contemplem os vários atores

envolvidos no processo de inovação: os exploradores, os facilitadores, os

apoiadores, os testadores, etc.;

Uso de software para gerenciar e classificar as ideias e seu ciclo de vida.

Para Terra (2012), a caixa de sugestões tem baixo impacto para a organização, enquanto

programas estruturados e estratégicos de geração e gestão de ideias impactam

consideravelmente os negócios.

Muitas organizações têm optado pela utilização de softwares para gerenciar seus programas

de ideias. Esses softwares procuram organizar todo o fluxo de ideias e, até mesmo, projetos

complexos de inovação de uma empresa. Na última década, houve uma grande evolução

desses programas de suporte. Em muitos casos, são verdadeiros portais de inovação. As

típicas características destes são apresentadas na Tabela 6 (TERRA, 2012).

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61

Tabela 6: Principais Características dos Softwares para Gestão de Programas de Ideias.

Fonte: TERRA (2012).

2.4. GESTÃO DE IDEIAS

Nos últimos anos, o número de livros e artigos sobre a necessidade de as empresas se

tornarem mais inovadoras aumentou consideravelmente e o assunto se tornou corriqueiro

tanto na mídia quanto nas universidades. A maior parte das organizações enfrenta hoje um

novo momento, no qual existe uma necessidade urgente de explorar novas ideias

(relacionadas diretamente à criatividade, tema abordado no item 2.1 do presente trabalho) e

oportunidades para lidar, principalmente, com a crescente pressão da concorrência, com as

alterações nas necessidades de seus consumidores, com as mudanças no ambiente (os

mercados estão se tornando mais abertos, por exemplo) e com os avanços tecnológicos

(Figura 15). Portanto, fica claro que sem inovação uma empresa pode perder rapidamente seu

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poder competitivo, o que acaba por comprometer sua permanência no mercado em que atua

(GOFFIN; MITCHELL, 2010).

Figura 15: Motivadores da Necessidade de Inovação.

Fonte: Modificado de SHETH e RAM (1987) apud GOFFIN e MITCHELL (2010).

Embora a importância da inovação esteja clara para os gestores das organizações, como

alcançá-la ainda é uma questão sem resposta. Na prática, reconhecer a necessidade de tornar a

empresa mais inovadora e torná-la mais inovadora de fato são duas coisas completamente

distintas. Aumentar a capacidade de inovar em uma organização (seja ela pertencente ao setor

de manufatura ou ao setor de serviços, como é o caso de um banco) é o verdadeiro desafio

(GOFFIN; MITCHELL, 2010).

Gerenciar a inovação é uma tarefa complexa e atual e, portanto, não existem passos fixos ou

pré-determinados a serem seguidos. O desafio também envolve o fato de que muitas práticas

que foram bem sucedidas em uma organização não são facilmente transferidas a outras. Cabe

aos gestores adaptá-las à realidade que sua empresa enfrenta num determinado momento

(GOFFIN; MITCHELL, 2010).

Organizações que desejam aumentar sua capacidade de inovar precisam melhorar a gestão de

diversas áreas, incluindo a geração e seleção de ideias, que representam os dois primeiros

passos, ou o início, do processo de inovação, conforme mostrado na Figura 16 (GOFFIN;

MITCHELL, 2010).

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Figura 16: As Principais Fases da Inovação (“O funil do Desenvolvimento”).

Fonte: GOFFIN e MITCHEL (2010).

As empresas têm buscado maneiras efetivas de lidar com as novas ideias, sejam referentes a

pequenas melhorias ou a inovações radicais, pois são elas que permitem o crescimento e a

renovação organizacional. Duas questões centrais permeiam essa busca: como utilizar o

potencial criativo dos funcionários, clientes e parceiros para promover a inovação e como ter

certeza de que as boas ideias chegam às pessoas que podem colocá-las em prática, isto é, não

se perdem pelo caminho. Para tanto, algumas organizações utilizam a gestão de ideias como

parte importante de seu processo de inovação (KARLSSON, 2010).

De maneira geral, a gestão de ideias é um processo estruturado para a coleta, seleção,

manipulação e distribuição das ideias. Pode incluir suporte para melhorar, avaliar e priorizar

as ideias através da utilização de métodos e ferramentas específicos, como alguns modelos de

orientação (KARLSSON, 2010). A gestão de ideias facilita o fluxo entre a geração de uma

ideia e a conversão desta ideia em um conceito, na cadeia de valor da inovação (HANSEN e

BIRKINSHAW, 2007, apud KARLSSON, 2010). Também é considerada como suporte à

difícil fase de concepção da ideia, que fica entre o insight e a implantação, conhecida como

“meio nebuloso”, conforme mostrado na Figura 17 (JARREHULT, 2009, apud KARLSSON,

2010).

Figura 17: A Gestão de Ideias como Suporte à Fase de Concepção.

Fonte: JARREHULT apud KARLSSON (2010).

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64

Para Karlsson (2010), a gestão de ideias é relevante para qualquer tipo de ideia, desde aquelas

incrementais até aquelas que promovem uma mudança radical no modelo de negócio da

empresa. Além disso, ela pode estar focada em apenas uma ou algumas áreas, cobrir toda a

organização ou, ainda, incluir partes externas interessadas, tais como clientes e parceiros.

Algumas organizações optam por implantar a gestão de ideias por tempo limitado, através de

campanhas, enquanto algumas utilizam processos contínuos (através de ferramentas de TI, por

exemplo).

Alguns autores defendem a utilização de uma gestão um pouco mais ampla, conhecida como

gestão colaborativa de ideias, ou seja, uma gestão que envolve todos os funcionários na busca

pela inovação. Segundo eles, esta abordagem sistemática para a coleta e seleção de ideias traz

algumas vantagens, tais como (KARLSSON, 2010):

Utiliza a diversidade e a criatividade de todos os funcionários;

Assegura que as boas ideias acabem atendendo necessidades de inovação

relevantes;

Permite medir e conduzir atividades que estimulem a inovação;

Permite o reconhecimento dos funcionários que disponibilizam boas ideias;

Permite a integração da gestão de ideias com outras práticas e ferramentas de

inovação.

A gestão de ideias envolve alguns desafios, principalmente quando se deseja implantá-la em

grandes organizações. O primeiro deles refere-se à dificuldade de avaliar todas as ideias e dar

feedback aos autores de forma rápida e eficaz. Esse desafio se torna ainda mais crítico quando

se deseja envolver todos os funcionários da organização e, nesses casos, é necessário uma

alternativa capaz de centralizar todas as ideias, canalizando-as para as áreas responsáveis, que

possam realizar um avaliação consistente (KARLSSON, 2010).

O segundo desafio está mais presente em grandes organizações, que, na maior parte das vezes,

possuem necessidades de inovação constantes e diversas. Saber definir essas necessidades de

inovação e direcioná-las corretamente são fatores críticos de sucesso para a empresa e

permitem focar o sistema de gestão de ideias em desafios e temas relevantes.

Como terceiro desafio, o autor destaca a importância de um sistema de gestão de ideias

sustentável, que vá além da utilização de ferramentas de TI. É necessário uma infraestrutura

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65

com diretrizes, que esteja alinhada ao processo global de inovação e colaboração e que siga os

princípios culturais da organização.

Muitas empresas têm utilizado essas novas ferramentas colaborativas de TI (utilizando a

internet, por exemplo), que permitem a integração e a troca de ideias e informações entre

funcionários de diversas áreas da empresa. Grande parte dessas ferramentas disponibilizam

fóruns de discussão, permitindo que pessoas de diferentes perfis, formações e opiniões

trabalhem juntas, refletindo sobre o impacto e a probabilidade de sucesso de uma mesma

ideia. Algumas vezes, essas ferramentas acabam impactando positivamente na cultura

corporativa, levando a um ambiente mais integrado e colaborativo (KARLSSON, 2010).

Para Terra (2012), no entanto, a pior coisa para uma organização que está realmente

envolvida com a gestão de ideias voltadas à inovação é começar a falar sobre o assunto a

partir da implantação desse tipo de ferramentas, em sua maior parte on-line. São muitos os

exemplos de fracasso, que ocorrem principalmente porque as empresas se esquecem de que

quem realmente detém o conhecimento e a capacidade de inovar são as pessoas, que precisam

estar sempre motivadas a compartilhar, colaborar e a se arriscar em um ambiente digital, no

qual tudo fica registrado. Além disso, muitos se esquecem de que o ambiente digital é apenas

uma pequena parte da cadeia de valor gerada a partir da aplicação do conhecimento e da

inovação.

Para o autor, ainda, podemos ter vários cenários improdutivos nessas iniciativas:

Iniciativas on-line que não saem do lugar, ou seja, ninguém participa;

Iniciativas on-line que geram muito volume, mas poucas coisas realmente úteis e de

valor para as empresas;

Iniciativas on-line que geram boas ideias, bons intercâmbios de informação e

conhecimento, mas que nunca de fato se transformam em projetos com recursos

humanos e financeiros alocados para aprofundar os insights iniciais e transformar

fragmentos de ideias em ideias, depois em conceitos, em propostas de valor, em

aplicações efetivas nos negócios.

É necessário que as empresas se construam e se transformem, a fim de terem práticas,

métodos e ferramentas de colaboração on-line cada vez mais incorporadas no seu modelo de

gestão. Muitos autores antecipam que, num futuro próximo, as redes sociais serão prevalentes,

o que trará ganhos e ônus específicos quanto à produtividade, agilidade, comunicação,

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compartilhamento de conhecimento e cocriação em grande escala (crowdsourcing) (TERRA,

2012).

Um quarto desafio destacado por Karlsson (2010) é engajar os funcionários a fim de que eles

contribuam com novas ideias. Para Carpenter apud Karlsson (2010), os profissionais estão

intrinsecamente motivados a gerar ideias e isso está fortemente associado ao dia-a-dia de

trabalho, sendo resultado das interações com clientes, insatisfações com processos existentes,

objetivos de carreira pessoais, desejo por trabalhos mais relevantes, etc. (Figura 18). O real

desafio para as organizações é saber aproveitar essas ideias e fornecer um meio para que elas

sejam, de fato, registradas. Empresas altamente inovadoras sabem como alavancar seus

processos de inovação através dessas ideias rotineiras.

Figura 18: Principais Fatores que Motivam os Funcionários a Gerarem Ideias.

Fonte: CARPENTER apud KARLSSON (2010).

Como último desafio, o autor destaca o fato de que as organizações devem garantir que suas

iniciativas de criar um sistema de gestão de ideias bem sucedido cheguem a soluções

resultantes de um trabalho colaborativo, gerando novas e boas ideias. Caso note-se que apenas

ideias medianas são geradas, os esforços de implantação do sistema terão sido em vão.

2.4.1. A IMPORTÂNCIA DA GESTÃO DE IDEIAS NAS ORGANIZAÇÕES

A necessidade de inovar que muitas empresas estão enfrentando nos últimos anos, fruto da

crescente pressão da concorrência, das rápidas mudanças nos hábitos de seus consumidores,

das mudanças no ambiente organizacional e dos avanços tecnológicos, tem feito com que elas

busquem maneiras mais efetivas de explorar a criatividade de seus funcionários e o seu

conhecimento interno. Para McAfee apud Karlsson (2010), as organizações não sabem o que

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sabem – mas precisam aprender logo, o que demonstra a necessidade cada vez mais urgente

de uma gestão do conhecimento organizacional efetiva, que leve a geração de ideias

relevantes para o sucesso da organização. Pensando nisso, Karlsson (2010) cita em seu artigo

cinco principais razões que revelam a importância da gestão de ideias corporativa, mostradas

a seguir.

1. As Melhores Ideias vêm dos Funcionários

Os funcionários da organização são a principal fonte de ideias inovadoras. Segundo

estudo da IBM, realizado em 2006, parceiros de negócio e clientes também são fontes

importantes de ideias e vêm logo atrás dos funcionários, respectivamente. Segundo

Terwiesch e Ulrich apud Karlsson (2010), 50% das inovações relevantes para as

indústrias são criadas internamente, sendo que outros 25% surgem das interações com

os clientes.

É importante que as organizações iniciem com um sistema de gestão de ideias interno e

somente expanda esse sistema, a fim de incluir parceiros e clientes, após adquirir

experiência considerável.

2. Integração e Colaboração

A inovação é, fundamentalmente, resultado de esforços colaborativos e não surge a

partir de uma única fonte de insights. Segundo Sawyer apud Karlsson (2010), esforços

colaborativos estão relacionados a processos contínuos que combinam uma longa cadeia

de ideias. Além disso, para o autor, inovações de sucesso acontecem quando há a junção

entre ideias certas e estruturas adequadas.

Para Chesbrough apud Karlsson (2010), as organizações de maior sucesso estão

abandonando a ideia de que é necessário manter um rígido controle de todo o processo

criativo que leva à inovação. Elas estão buscando maneiras mais colaborativas de obter

ideias, integrando a organização e criando alianças com parceiros, clientes, fornecedores

e, algumas vezes, até com seus concorrentes. Essas empresas entendem que são as suas

competências essenciais (e as de seus aliados) que são capazes de resultar em produtos e

serviços inovadores.

3. As Fases Iniciais são Críticas

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As fases iniciais são fundamentais para um processo de gestão da inovação bem

sucedido. Quando a inovação faz parte da estratégia da organização, a geração e triagem

de ideias, em conjunto com clientes e parceiros, são as atividades que mais estão

relacionadas à obtenção de sucesso com novos produtos ou serviços (AT KEARNEY,

2008 apud KARLSSON, 2010).

Little apud Karlsson (2010) também mostra em seus estudos a importância da gestão de

ideias para se obter excelência em processos inovativos. O autor apresenta três

importantes fatores que levam à inovação e que são usados para gerenciá-la, podendo

ser encontrados tanto no setor de serviços quanto no setor de manufatura: ideia,

pesquisa e análise. Além disso, Little afirma que a gestão de ideias em conjunto com a

gestão de portfolio dos produtos ou serviços da organização representam fator de

diferenciação frente à concorrência.

4. Benefícios da Colaboração

As organizações têm adotado uma série de ferramentas on-line (com frequência

chamadas de tecnologias Web 2.0) a fim de obter colaboração interna e externa. Essas

ferramentas incluem espaços de trabalho compartilhados, blogs, redes sociais, fóruns de

discussão, etc. Cada vez mais as empresas têm se mostrado confortáveis com o uso

desses aplicativos, que modificam as formas de trabalho e a cultura corporativa, e os

funcionários mais novos são os principais usuários. Essas ferramentas permitem o

envolvimento de todos os profissionais da organização, que podem compartilhar

conhecimentos e ideias, e têm tornado as empresas mais ágeis, produtivas e inovativas.

Acredita-se que os investimentos em tecnologias Web 2.0 serão crescentes dentro das

organizações, uma vez que seus benefícios são cada vez mais claros e necessários. Além

disso, a aquisição de plataformas e softwares de colaboração auxiliarão as empresas em

seus processos de inovação e na gestão de ideias.

5. A Gestão de Ideias está Amadurecendo

Segundo Gartner apud Karlsson (2010), a gestão de ideias não é mais um novo conceito

administrativo, isto é, já superou a fase de novidade e iniciou sua jornada para a

maturidade. As empresas de tecnologia foram as primeiras a abordar o tema, sendo as

últimas as organizações de serviços e estatais. Para o autor, agora é o momento de as

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empresas construírem sobre aquilo que já foi experimentado por ela e por outras e

seguir a tendência de ferramentas e práticas colaborativas.

2.4.2. PRÁTICAS PARA GESTÃO DE IDEIAS COLABORATIVA

O primeiro passo quando se pensa em gestão de ideias colaborativa, segundo Karlsson (2010),

é envolver todos os funcionários e, com o tempo e aquisição de experiência, clientes e

parceiros. Isso aumenta os benefícios e gera maior quantidade de ideias, elevando, dessa

forma, a probabilidade de obter algumas que sejam relevantes e que levem a inovações

radicais. Além disso, combinar fontes de ideias internas e externas à organização garante

pontos de vistas diferentes vindos de pessoas com perfis distintos e isso, consequentemente,

aumenta a diversidade das ideias geradas, resultando em um maior número de inovações

radicais (Figura 19).

Figura 19: Influência do Aumento da Diversidade no Número de Inovações Radicais.

Fonte: Modificado de FLEMING (2007) apud KARLSSON (2010).

Para o autor, ainda, o grande objetivo das organizações ao gerenciar suas ideias é obter

oportunidades diferenciadas, que tragam lucros e vantagens competitivas. No entanto, a maior

parte das ideias geradas é mediana e nunca será colocada em prática. Isso é esperado e

constitui parte natural do processo de inovação e colaboração organizacional.

Karlsson (2010) afirma, também, que envolver todos os funcionários faz com que eles se

sintam incluídos no processo de inovação e entendam que isso é parte importante de seu

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trabalho cotidiano. Uma gestão de ideias colaborativa serve de instrumento para incentivar

profissionais criativos, levar as pessoas a pensar sobre novidades e melhorias e desenvolver

uma cultura organizacional voltada à inovação.

No entanto, quando todos os funcionários da organização são envolvidos no processo de

geração e gestão de ideias, a complexidade do sistema aumenta. Além disso, em grandes

empresas, as necessidades de inovação são muitas e estão espalhadas, o que significa que há a

necessidade de criar uma estrutura que permita direcionar as ideias vindas de múltiplas fontes

para os potenciais destinos.

Karlsson (2010) propõe a implantação de um sistema escalável e que se auto-organize, no

qual as necessidades de inovação são ativadas assim que identificadas por algum funcionário.

Nesse sistema, as ideias registradas são automaticamente direcionadas para a necessidade de

inovação previamente identificada com a qual estão relacionadas (através de identificação de

padrões comum na sugestão, palavras-chaves, por exemplo). Dessa forma, a gestão de ideias

colaborativa é implantada na organização como um “mercado aberto de ideias”, isto é, uma

rede que permite a interação entre os participantes e a troca de ideias sem a existência de um

controle central (Figura 20).

Figura 20: Modelo do “Mercado Aberto de Ideias”.

Fonte: KARLSSON (2010).

Para que esse sistema funcione, é fundamental a existência de gerentes, que são os

profissionais que identificaram necessidades de inovação dentro da organização e, sobretudo,

conhecem o processo e detém os recursos necessários para colocar as melhores ideias,

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relacionadas às necessidades de inovação que identificou, em prática. Qualquer funcionário

que cumpra os três requisitos supracitados pode se tornar gerente dentro do sistema proposto

por Karlsson (2010).

Cada necessidade de inovação identificada é descrita em uma caixa de sugestões (Figura 20,

idea boxes) e cada caixa pode ter mais de um gerente responsável por avaliar e selecionar as

melhores ideias. Dessa maneira, as caixas de sugestões refletem verdadeiras necessidades de

inovação da organização e as ideias são rapidamente avaliadas pelos gerentes, fornecendo

feedbacks aos autores.

Além disso, os funcionários que participam do sistema fornecendo suas sugestões conseguem

ter uma visão ampla das necessidades de inovação mais urgentes da empresa, podendo

registrar suas ideias manualmente em uma das caixas existentes ou automaticamente, através

da identificação de padrões comum. Caso uma ideia fornecida não esteja relacionada a

nenhuma das caixas de sugestões existentes, ela é mantida no sistema e direcionada assim que

algum gerente identifique a necessidade a qual ela está relacionada.

Karlsson (2010) acredita que, através desse tipo de sistema de gestão coletiva, os funcionários

são direcionados para reais necessidades de inovação da organização e não se focam apenas

em ideias incrementais. Com a presença de gestores ativos, que possuam de fato os recursos

necessários, a probabilidade de que as melhores ideias sejam colocadas em prática aumenta

consideravelmente.

A ampla participação dos funcionários e a auto-organização são características fundamentais

da gestão de ideias colaborativa. A colaboração auxilia no surgimento de novas ideias, no

aperfeiçoamento das ideias existentes, na difusão do conhecimento de especialistas, na maior

rapidez no fornecimento de feedbacks aos participantes e na avaliação e seleção das melhores

ideias. Segundo Johansson apud Karlsson (2009), a combinação das ideias vindas de pessoas

de diferentes áreas da organização é frequentemente surpreendente e possui o poder de abrir

novos caminhos e soluções. Além disso, alguns autores acreditam que a participação de todos

os funcionários na seleção e triagem das melhores ideias, e não apenas dos gerentes, como

sugerido por Karlsson (2010), ajuda a aumentar o valor destas e cria “comunidades” de

usuários com interesses em assuntos semelhantes.

Uma gestão de ideias colaborativa evita a duplicação de informações (os usuários possuem

acesso ao banco de sugestões e, em alguns casos, são alertados da existência de ideias

semelhantes, podendo complementá-las), permite visualizar quem são os profissionais que

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estão trabalhando com cada necessidade de inovação identificada e auxilia no registro de

ideias que foram criadas no “momento errado”, mas que podem ser muito úteis no futuro

(KARLSSON, 2010).

Outro fator importante quando se busca implantar uma gestão de ideias colaborativa bem

sucedida é o reconhecimento dos usuários que contribuem com o sistema. Além de feedback

rápido e construtivo de pares e gestores, destacar os profissionais mais participativos é um

esforço fundamental para sustentar qualquer sistema de gestão de ideias, uma vez que

estimula e serve de exemplo para outros funcionários (KARLSSON, 2010). O

reconhecimento desses profissionais não precisa, necessariamente, ser na forma de prêmios

materiais ou monetários. Muitas vezes a construção de uma reputação dentro da organização e

o maior envolvimento com novos projetos de inovação valem mais do que apenas uma

remuneração extra.

2.5. CASOS DE SUCESSO

A seguir será realizada uma breve descrição de três sistemas de gestão de ideias distintos e

bem sucedidos, a fim de explorar as melhores práticas desenvolvidas por algumas empresas

de grande importância mundial.

2.5.1. O SISTEMA DE SUGESTÕES DA BRASILATA1

O sistema de sugestões da Brasilata foi criado em 1987 e chamado de “Projeto

Simplificação”. O objetivo inicial desse sistema era estabelecer um canal de comunicação de

duplo sentido entre os funcionários e a cúpula da empresa. Atualmente, ele é administrado em

cada uma das três unidades da Brasilata (São Paulo, Rio Grande do Sul e Goiás) por uma

equipe que se reporta diretamente ao diretor-superintendente. Essa equipe é formada por um

auxiliar técnico, um auxiliar administrativo, um eletricista e dois mecânicos e sua

1 Fonte: BARBIERI, J.C.; ÁLVARES, A.C.T.; CAJAZEIRA, J.E.R. Projeto Simplificação. In: ______. Gestão

de ideias para inovação contínua. Porto Alegre: Bookman, 209. cap.3, p.53-72.

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coordenação fica sob responsabilidade do funcionário que exerce a chefia da Coordenadoria

de Desenvolvimento Pessoal. Além disso, cada unidade possui também uma equipe indireta

composta no mínimo por cinco pessoas que atuam voluntariamente.

A coleta de ideias é feita por meio do sistema on-line ou através de caixas espalhadas pelas

unidades. Assim que a ideia chega à equipe, verifica-se se ela está completa, ou seja, se não

faltam, por exemplo, dados da pessoa que a enviou ou da seção na qual trabalha. Caso

contrário, a equipe entra em contato com o autor a fim de completa-la. Validada a sugestão, a

equipe submete a ideia ao avaliador. Esse processo de validação não pode levar mais de dois

dias.

O responsável por avaliar as ideias é o coordenador da área a que se aplicam. O prazo

máximo para a conclusão da avaliação é de sete dias, que começam a ser contados a partir do

recebimento da ideia. Desse processo podem resultar quatro situações:

1. A ideia já foi executada: nesse caso, o avaliador apenas toma conhecimento dela e o

inventor recebe uma carta com cumprimentos;

2. A ideia é aprovada: o inventor recebe uma carta comunicando que sua ideia passou

pelo processo de avaliação e que a chefia da área tem 30 dias para implantá-la;

3. A ideia é reprovada: o inventor recebe uma carta contendo as justificativas da

recusa;

4. A ideia é repetida: o inventor recebe uma carta comunicando que houve repetição

de uma ideia anteriormente apresentada.

Há dois critérios principais para a aprovação de uma ideia: sua aplicabilidade e a relação

custo-benefício, sendo que o tempo de retorno do investimento não pode ultrapassar três anos.

Em termos de custo de execução, os limites para a aprovação das ideias respeitam os

seguintes critérios:

1. Ideias muito simples (que, em geral, não implicam custos superiores a R$ 50,00):

são aprovadas diretamente pelos autores e comunicadas em até 30 dias após sua

implantação para registro no sistema;

2. Ideias que necessitem de até R$ 100,00 de investimento: dependem da aprovação

do avaliador, que possui autonomia para tanto;

3. Ideias que necessitem de investimentos superiores a R$ 100,00 e inferiores a R$

1000,00: dependem da aprovação do gerente da área;

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4. Ideias acima de R$ 1000,00: devem seguir o roteiro normal de qualquer gasto com

investimento, respeitando os limites orçamentários da unidade;

5. Ideias corporativas (ou seja, que se aplicam à empresa como um todo): devem ser

avaliadas pela diretoria.

As ideias muito simples, que podem ser aprovadas diretamente pelos inventores, são

registradas no sistema de sugestões da empresa através de um processo que a JHRA denomina

“registro de ideias executadas”. A partir dele, o funcionário que introduziu melhorias em seu

local de trabalho pode submetê-las ao programa mesmo depois de sua implantação. Essa

medida provoca um aumento considerável no número de ideias da organização e,

consequentemente, no percentual de aprovação, uma vez que essas ideias já nascem

executadas e aprovadas. O registro de ideias já colocadas em prática tem papel importante em

termos de gestão do conhecimento, pois ao estarem presentes no banco de dados, não se corre

o risco de serem perdidas e converte-se conhecimento tácito em conhecimento explícito. Em

2006, 70% das ideias geradas na organização foram executadas e só depois registradas.

A Brasilata, com o objetivo de auxiliar o trabalho da equipe e dar transparência às decisões

relacionadas ao processo de seleção de ideias, desenvolveu um software, cujo acesso é livre

para todos os funcionários. Nele, é possível verificar o status das ideias registradas, enviar

sugestões à equipe, obter o número total de ideias por área ou por unidade, etc. Para facilitar o

uso do programa e promover a inclusão digital do pessoal, foi criado um cibercafé dentro da

empresa com computadores disponíveis para uso coletivo.

O sistema de sugestões da Brasilata baseia-se, principalmente, na abordagem oriental, isto é,

grande parte das ideias geradas refere-se a inovações incrementais. No entanto, o sistema já

registrou ideias que levaram a inovações radicais de grande importância para o negócio da

empresa.

Outro ponto importante dentro do “Projeto Simplificação” são as celebrações. Na visão da

empresa, elas são fundamentais para manter um elevado número de ideias registradas. A cada

mês é escolhida uma ideia vencedora, que foi implantada com sucesso. Ao final de seis

meses, é realizada uma celebração na qual os autores das melhores ideias são premiados.

Também são premiados os funcionários que registraram o maior número de ideias e o

coordenador que tiver obtido a maior média de ideias por funcionário naquele respectivo

semestre. Realiza-se também uma festa anual, cada vez em uma unidade diferente, na qual são

premiadas as melhores ideias do ano anterior.

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O “Projeto Simplificação” sofreu reestruturações no início de 2002 e, desde então, apresenta

um crescimento vertiginoso no número de ideias por ano (Figura 21). Os executivos da

companhia acreditam que isso se deve às reformulações do sistema, que focaram

principalmente em três aspectos:

Fornecer rápida resposta ao gerador da ideia;

Executar de forma ágil as ideias aprovadas;

Celebrar as ideias aprovadas.

Figura 21: Número de Ideias por Ano – Brasilata

Fonte: Documentos Brasilata

2.5.2. O MERCADO DE IDEIAS NA SERASA EXPERIAN2

A Serasa Experian foi pioneira no uso de ferramentas colaborativas para a gestão de ideias no

Brasil. Em 2007, a área de TI da empresa desenvolveu um sistema de colaboração baseado em

modelos preditivos com o objetivo de melhorar o processo de decisão sobre quais ideias ou

sugestões, dentre as milhares geradas, têm maior chance de sucesso. Esse modelo foi batizado

de Mercado de Ideias.

O conceito de mercado preditivo tem sido amplamente utilizado dentro do contexto de

negócios. Trata-se de um mercado especulativo, criado para realizar previsões sobre eventos

diversos (desde o preço do petróleo até resultados de uma eleição, por exemplo). Muitas

organizações têm adotado esse modelo em conjunto com ferramentas da Web 2.0, permitindo 2 DOURADO, D. et al. Rede de ideias: como ferramentas de colaboração podem ser usadas para melhorar os

processos de inovação nas empresas. Harvard Business Review Brasil, abr., 2010.

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a participação de muitas pessoas, que podem fazer investimentos ou apostas através de

dinheiro real ou virtual. A chance de ganhar ou perder é o principal motivo pelo qual os

participantes apostam no que realmente acreditam. Assim, ao analisar todas as apostas tem-se

uma previsão que se aproxima bastante da realidade.

O Google já utilizou modelos preditivos mais de 200 vezes e é o exemplo mais conhecido de

organização que utiliza esse conceito. Dentro da empresa, os funcionários utilizam um

dinheiro virtual conhecido como Goobles para fazer suas apostas e investimentos. A

Microsoft também utiliza modelos preditivos para prever riscos em projetos de

desenvolvimento de software.

Na Serasa Experian o modelo foi implantado inicialmente apenas na área de TI e gerou

projetos importantes, tais como o Portal de Nota Fiscal Eletrônica e o de uma oferta

customizada para processamento de propostas de cartão de crédito. O sistema fez tanto

sucesso que será difundido por toda a organização.

No modelo adotado pela organização, os profissionais podem registrar ideias a qualquer

momento, o que o torna bastante semelhante a grande parte dos programas de gestão de ideias

presentes nas empresas. Contudo, algumas diferenças são marcantes:

As ideias podem ser enriquecidas por todos a qualquer momento, o que significa

que são promovidos debates e novas informações ou perspectivas podem ser

adicionadas, assim como dificuldades e riscos.

Os funcionários podem investir nas ideias que acreditam ser mais viáveis, através

de uma moeda virtual chamada Experians (EXP$), mostrada na Figura 22. Cada

usuário possui um saldo que pode ser usado para investir nas ideias que ele acredita

ter potencial de gerar valor agregado para a empresa.

As ideias que se destacam pelo valor de investimentos recebido são encaminhadas

para um comitê, formado por membros da alta direção e por outros executivos. A

grande vantagem é que, ao invés de analisar uma enorme quantidade de ideias, o

comitê já recebe aquelas que foram pré-selecionadas pelos funcionários e usuários

do sistema. Aquelas que forem aprovadas nessa fase de avaliação, passam de “em

debate” para “em análise”.

Os funcionários adquirem Experians sempre que registram alguma ideia para

debate no sistema, a título de royalties. Toda vez que uma ideia avança um estágio,

seu autor e as pessoas que investiram nela também recebem royalties e dividendos,

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respectivamente. Por outro lado, quando uma ideia estaciona, os usuários que

apostaram nela perdem o valor investido, o que estimula os participantes a

pensarem com cuidado antes de investirem. Um funcionário pode ganhar

Experians, também, com as suas contribuições no debate, quando seus comentários

são indicados por outros como sendo úteis para o esclarecimento no debate.

Ideias com alto potencial podem ir para frente desde que recebam “endosso” de

membros da alta direção, ou seja, sempre que uma boa ideia passar despercebida

pelo debate no sistema, os membros da diretoria podem endossá-la e, com isso,

levá-la para a avaliação do comitê. O objetivo do endosso é garantir que exista uma

alternativa para quando uma ideia possuir valor percebido pela alta cúpula, mas não

percebido pelos usuários do Mercado de Ideias.

Figura 22: Moeda Virtual Utilizada no Mercado Preditivo da Serasa Experian.

Fonte: Harvard Business Review (2010).

2.5.3. GESTÃO DE IDEIAS NA SUVINIL3

A Suvinil, marca de tintas imobiliárias pertencente à BASF (empresa de origem alemã e

maior indústria química do mundo), foi fundada em 1961 e atualmente é a empresa com

maior market share no mercado de tintas brasileiro. Hoje, 72% das vendas dessa marca vêm

de produtos lançados recentemente, o que demonstra a importância da gestão da inovação

para a organização. Segundo a própria gerente de inovação da Suvinil, Carolina Araújo, “além

3 Fonte: TERRA, J.C. Geração de Ideias e insights (fuzzy front-end). In: ______. 10 dimensões da gestão da

inovação: uma abordagem para a transformação organizacional. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. cap.7, p.138-

141.

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da excelência na gestão de projetos em si, coletar e gerir ideias é o primeiro passo para

garantir o funil de inovação vivo”.

O processo de gestão de ideias na Suvinil é um pouco diferente daqueles vistos anteriormente

(Brasilata e Serasa Experian) e não conta com um programa colaborativo online de gestão de

ideias. Ele está dividido atualmente em quatro etapas principais:

1. Levantamento de todos os pontos de contato:

O processo de compra de tintas é, em grande parte das vezes, assistido, isto é, o

consumidor consulta alguns profissionais, como arquitetos, pintores e balconistas, para

fazer a escolha mais adequada. Esses profissionais são chamados pela empresa de

influenciadores e devem ser ouvidos, entendidos e consultados no momento de geração

de ideias. Além deles, a empresa conta com seus funcionários, estudantes, fornecedores

e clientes (lojistas) como fonte importante de ideias.

2. Tempo para pensar e ouvir:

Para os profissionais envolvidos com inovação na Suvinil, ouvir é passo importante no

momento de coleta de ideias de todos os públicos citados no primeiro item. Por essa

razão, a empresa possui um processo formal e rotineiro para ouvir as ideias e críticas

dos públicos que considera relevantes.

Esse processo é chamado de Innovation Day. Em 2011 foram realizados seis

innovations days que geraram aproximadamente 1200 ideias. Cada um desses dias

contém um tema pré-definido, que é abordado através de uma palestra inicial com um

profissional renomado da organização (ou executivos de outras organizações) atuante

em uma área relacionada ao tema.

A primeira atividade após a palestra é um brainstorming baseado em mind-mapping.

Após o levantamento das ideias, elas são apresentadas aos outros grupos, que podem

comentá-las, criticá-las ou complementá-las.

3. Triagem e seleção:

O primeiro passo da triagem envolve descartar as ideias repetidas. Em seguida, excluir o

que já é projeto e separar as ideias de melhoria de comunicação, vendas e finanças,

direcionando-as para as áreas responsáveis. Também faz parte da triagem relacionar as

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ideias aos objetivos estratégicos da organização. O produto da triagem é uma redução

de, aproximadamente, 60% do total de ideias.

Já a seleção é um processo multifuncional, do qual diversas áreas participam a fim de

eleger as ideias com maior potencial e diferencial. As quarenta ideias mais interessantes

são transformadas em protótipos simples e, em seguida, a alta liderança é envolvida,

selecionando as vinte melhores para ir adiante.

4. Decidindo o que vai, de fato, adiante:

Nessa fase, as ideias são transformadas em conceitos e vão para testes quantitativos com

os consumidores. As ideias mais bem avaliadas tornam-se projetos.

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3. DIAGNÓSTICO E ANÁLISE

Neste capítulo realiza-se a descrição e análise crítica do processo atual de gerenciamento de

ideias dentro do banco estudado. Para tanto, utiliza-se como base toda a fundamentação

teórica apresentada no capítulo anterior juntamente com as características culturais da

empresa, a fim de sejam determinadas as possíveis oportunidades de melhoria que serão

desenvolvidas posteriormente na proposição de uma solução. A descrição e análise crítica

envolvem todas as áreas do Banco Pessoa Física da organização, em especial a Diretoria de

Produtos do Banco Pessoa Física, na qual o presente estudo foi realizado com maior

proximidade. Essa área aparece destacada no organograma apresentado no item 3.1.

3.1. DESCRIÇÃO DO ATUAL PROCESSO DE GERENCIAMENTO DE

IDEIAS

De acordo com a literatura estudada, pode-se dizer que o banco analisado adota uma gestão

colaborativa de ideias, uma vez que envolve grande parte de seus funcionários na busca pela

inovação, utilizando uma abordagem sistemática para a coleta e seleção dessas ideias.

Atualmente, o banco possui um portal conhecido como “Portal de Melhoria Contínua”, de

responsabilidade da Superintendência de Inovação e Melhoria Contínua. Participam desse

portal apenas as áreas do Banco Pessoa Física, que estão representadas no organograma da

Figura 23. O portal funciona como ferramenta de divulgação de boas práticas da organização

e, também, como ferramenta de coleta de ideias. Ele possui cartilhas sobre as visões da

empresa, suas expectativas sobre o futuro, a conduta adequada e esperada de seus

funcionários, a importância de algumas práticas, como feedback e termômetro (que buscam

identificar, precocemente, problemas que possam comprometer o desenvolvimento individual

ou de determinada equipe), etc.

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Figura 23: Organograma do Banco Pessoa Física.

Fonte: Elaborado pelo Autor.

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O portal está dividido em dois grandes blocos: “Documentos” e “Banco de Ideias” (Figura

24). O bloco “Documentos” está subdividido nos seguintes links:

Quem somos: contém uma breve descrição da atuação da Superintendência de

Inovação e Melhoria Contínua na organização e sua importância;

Cursos e treinamentos: não há nenhum conteúdo neste link;

Material de apoio: contém as cartilhas de boas práticas, algumas já citadas;

Atas: não há nenhum conteúdo neste link;

Artigos e leia agora: não há nenhum conteúdo neste link;

Compartilhando práticas: não há nenhum conteúdo neste link;

Dinâmicas de grupo: não há nenhum conteúdo neste link;

Fórum de melhoria contínua: não há nenhum conteúdo neste link;

Lista de líderes de melhoria contínua: contém uma planilha em Excel que mostra

quais analistas são responsáveis por promover a melhoria contínua em cada uma

das gerências das diferentes diretorias do Banco Pessoa Física (PF).

Figura 24: Imagem Ilustrativa Simplificada do Portal de Ideias Adotado pelo Banco.

Fonte: Elaborado pelo Autor.

Já o bloco “Banco de Ideias” está subdividido nos seguintes links:

Formulário de Ideias

Banco de Ideias

Editar Banco de Ideias

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O link “Formulário de Ideias” permite que o funcionário acesse uma página, na qual pode

preencher um formulário a fim de inserir uma nova ideia no sistema (Figura 25). Este

formulário contém os seguintes campos:

1. Título

2. Nome completo

3. Telefone

4. Área de origem (campo com opções para seleção)

5. Área de destino (campo com opções para seleção)

6. Decálogo tema (campo com opções para seleção)

7. Dimensão (campo com opções para seleção)

8. Descreva a situação atual/procedimento

9. Descreva a situação proposta

10. Descreva os benefícios esperados

Figura 25: Imagem Ilustrativa Simplificada do Formulário de Ideias Adotado pelo Banco

Fonte: Elaborado pelo Autor

As áreas de origem e destino (itens 4 e 5), que são selecionáveis no formulário de ideias

supracitado, correspondem a todas as diretorias, superintendências e gerências que fazem

parte do Banco Pessoa Física (detalhadas na Figura 23). Isso significa que, caso um

profissional não saiba exatamente a qual gerência direcionar sua ideia, ele pode direcioná-la a

uma superintendência ou a uma diretoria que achar mais adequada e, então, estas passarão a

ser responsáveis por encaminhar a ideia à gerência apropriada.

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O sexto item do formulário acima descrito, “Decálogo Tema”, é selecionável, assim como os

dois itens anteriores, e está relacionado ao que a organização chama de “Nosso Jeito de

Fazer”, isto é, dez “mandamentos” que auxiliam os funcionários a entender qual a conduta

esperada pelo banco (suas crenças, normas, sentimentos e valores compartilhados por seus

membros) e, consequentemente, direcionar suas ideias. Esses mandamentos estão descritos a

seguir, conforme divulgados pela organização aos seus profissionais (Fonte: “Nosso Jeito de

Fazer”, 2008):

1. Todos pelo Cliente: a organização acredita que a liderança de mercado é

consequência de um processo de melhoria contínua dos serviços prestados aos

clientes. Qualquer crescimento obtido sem ter cada cliente como foco não será

sustentável.

2. Paixão pela Performance: é a paixão que permite à organização atingir ambiciosos

objetivos. Renovar essa paixão na hora de planejar e executar novos projetos deve

ser um objetivo permanente de todos.

3. Liderança Ética e Responsável: a organização é líder em diversos mercados em que

atua e considera fundamental que essa liderança seja exercida com

responsabilidade. É importante, também, que essa liderança seja positiva, ética,

transparente e comprometida com a sociedade e com as melhores práticas de

gestão. Busca-se líderes que pensem e ajam como donos.

4. Craques que Jogam para o Time: a meritocracia e o trabalho em equipe são as

bases do sistema de gestão de pessoas da organização. Procura-se atrair talentos e

reconhecer performances diferenciadas de forma diferenciada. As individualidades

são valorizadas, mas não o individualismo. Segundo a empresa, é preciso saber

jogar em um time, pois gente boa forma e atrai gente boa.

5. Foco na Inovação e Inovação com Foco: para o banco, a inovação é uma questão

permanente de atitude. Procura-se estabelecer um ambiente que estimule a

criatividade, o empreendedorismo, o debate de ideias e a procura de novas

respostas, sempre com o objetivo de criar vantagens competitivas para a

organização.

6. Processos Servindo Pessoas: os processos existem para servir às pessoas, e não o

contrário. É preciso que as pessoas melhorem os processos para que os processos

melhorem a vida das pessoas.

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7. Ágil e Descomplicado: busca-se a objetividade, combatendo a burocracia, a

excessiva hierarquização e a complexidade pela complexidade.

8. Carteirada não Vale: dentro da organização a liderança é compartilhada,

desapegada de símbolos de status e conquistada com talento e competência. É

fundamental criticar sem ser destrutivo e aceitar críticas sem ser defensivo.

Tratamento educado e atencioso é muito importante.

9. Brilho nos Olhos: os colaboradores precisam de espaço para expressar opiniões,

participar ativamente da gestão e celebrar suas conquistas. O banco estimula suas

equipes a trabalhar com atitude descontraída, afinal divertido não é o contrário de

sério, mas o contrário de chato. Trabalho é algo para ser feito com brilho nos olhos.

10. Sonho Grande: para a organização, o importante é sonhar grande e fazer cada vez

mais e melhor, porque essa é a essência da superação. Sem tirar os pés do chão, é

preciso pensar grande e estabelecer desafios ambiciosos. Pensando assim, o banco

busca se tornar um dos maiores e melhores do mundo.

O sétimo item do formulário de ideias disponível no portal, “Dimensão”, também é

selecionável e exige que o usuário escolha, dentre as duas opções possíveis, cultural ou

operacional, qual aquela que mais se adequa a ideia ou sugestão de melhoria proposta.

O segundo link do bloco, “Banco de Ideias”, permite que os funcionários acessem uma

planilha aonde se encontram todas as ideias que já foram registradas no sistema. Essa planilha

mostra, além dos itens preenchidos previamente no formulário de ideias pelo autor, mais oito

campos:

Grau de Impacto

Responsável

Novo Status

Motivo

Data Análise

Data Retorno

Data Implantação

Observações

Esses campos são preenchidos por profissionais da gerência que foi marcada como destino no

formulário de ideias (caso a área selecionada tenha sido uma superintendência ou diretoria, a

gerência é aquela para a qual a ideia foi posteriormente direcionada), em reuniões ocasionais

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demandadas pela Superintendência de Inovação e Melhoria Contínua. Para que essas reuniões

aconteçam, o gestor da área destino recebe uma planilha com todas as ideias que lhe foram

destinadas e com todos os campos mostrados acima em branco e é seu papel e de sua equipe

realizar a triagem e seleção das melhores ideias e preencher os campos na planilha recebida.

Parte considerável das sugestões geradas já existe ou é inviável (por razões econômicas ou

relacionadas à cultura organizacional). Algumas são direcionadas a outras áreas (pois a

gerência foi selecionada equivocadamente) e as poucas que restam são alocadas à algum

profissional da gerência, que se torna o responsável pela implantação. A planilha recebida

pelo gestor, devidamente preenchida, é, então, devolvida ao analista da Superintendência de

Inovação e Melhoria Contínua que a enviou, a fim de que ele preencha os campos no portal. O

mesmo ocorre para a data de implantação, que é informada posteriormente à mesma

superintendência pelo profissional responsável. Dessa forma, os autores podem acompanhar

suas ideias e receber um feedback (Figura 26). É importante destacar que, para as reuniões de

triagem e seleção de ideias, o gestor demandado pode convidar outras gerências que possuam

atividades semelhantes as suas (por exemplo, Gerência de Tarifas e Serviços de Conta

Corrente do Alta Renda II e Gerência de Tarifas e Serviços do Varejo/Alta Renda I).

Como descrito anteriormente, a Superintendência de Inovação e Melhoria Contínua é

responsável por agrupar as ideias e sugestões registradas no portal e demandar as reuniões de

triagem e seleção. Essas reuniões são realizadas conforme a quantidade de ideias destinadas à

gerência em questão. Logo, não existe uma frequência pré-determinada para que essas

reuniões ocorram e, portanto, o feedback para o autor de uma ideia pode demorar um tempo

considerável (a última reunião desse tipo demandada para a Gerência de Tarifas e Serviços de

Conta Corrente do Alta Renda II, por exemplo, aconteceu há cerca de quatro meses).

Figura 26: Processo de Seleção das Ideias Inseridas no “Portal de Inovação e Melhoria Contínua”.

Fonte: Elaborado pelo Autor.

Por fim, o último link “Editar Banco de Dados” permite que qualquer funcionário acesse as

ideias registradas no portal para comentá-las ou complementá-las. Além disso, caso um

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funcionário deseje alterar uma ideia que registrou anteriormente no sistema, pode fazê-lo

através desse link.

Atividades pontuais são utilizadas em algumas gerências para incentivar o registro de ideias

no portal. Dentre elas podemos citar almoços nos quais o profissional que teve o maior

número de ideias inseridas no sistema, ao longo de um determinado período de tempo, não

paga ou o profissional mais ativo no portal ganha uma cesta de café da manhã (ou alguma

recompensa semelhante), etc. Os prêmios dados aos ganhadores, frutos dessas atividades

“extras”, são pagos pelos gestores ou divididos entre todos os membros da equipe, através de

um acordo prévio. A alta gestão não incentiva essas atividades, mas não impede que elas

aconteçam. Com a recente imposição de metas às superintendências (vindas das diretorias do

Banco Pessoa Física), que se referem ao número médio de ideias inseridas no portal por

funcionário por mês, essas atividades pontuais se tornaram ainda mais presentes no cotidiano

das equipes.

É importante destacar, também, que somente os profissionais internos à organização

(pertencentes ao Banco Pessoa Física), independente da área de atuação, possuem acesso ao

portal. Isto é, as fontes, nesse caso, são exclusivamente internas. Esse acesso deve ser

solicitado pelo gestor através do portal de segurança da informação e leva cerca de três dias

para que o funcionário seja liberado e possa começar a utilizar o sistema.

Além do “Portal de Melhoria Contínua”, que se baseia na criatividade e oportunidades

identificadas pelos funcionários da empresa, há no banco, também, processos de geração de

ideias do tipo top-down, isto é, direcionados pela liderança e focados em objetivos mais

estratégicos. Nesses casos, as necessidades de inovação partem da alta gestão e são

direcionadas às superintendências responsáveis pelos temas a que se referem. As

superintendências direcionam essas necessidades, então, a uma ou mais gerências que

pertencem aos seus domínios, ficando sob responsabilidade dessas a geração de ideias e

elaboração de um projeto ou conceito que passará pela aprovação dos executivos da alta

cúpula. Em alguns casos específicos, a geração das ideias e a elaboração do projeto ou

conceito referente à determinada necessidade de inovação podem ser realizadas através de

parcerias entre duas ou mais superintendências, dependendo da abrangência da inovação

solicitada.

A geração de ideias em processos do tipo top-down dentro do banco é feita, na maior parte

das vezes, através de benchmarking, isto é, por meio da busca das melhores práticas em

produtos, processos e serviços em organizações concorrentes ou não concorrentes (empresas

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que se destacam em relação ao tema abordado pela necessidade de inovação ou bancos

estrangeiros que possuam modelos diferentes daqueles praticados aqui no Brasil) e através de

brainstormings realizados com os profissionais envolvidos na elaboração do projeto (fontes

exclusivamente internas, nessa atividade específica).

3.2. PRINCIPAIS PROBLEMAS IDENTIFICADOS NO ATUAL SISTEMA

Em um levantamento realizado com duas gerências pertencentes à Superintendência de

Tarifas e Serviços de Conta Corrente, (Gerência de Tarifas e Serviços de Conta Corrente Alta

Renda II e Gerência de Gestão de Conta Corrente), envolvendo cerca de quinze pessoas, as

três principais queixas levantadas em relação ao “Portal de Melhoria Contínua” foram:

O formulário para registro de ideias é longo e há dúvidas com relação ao

preenchimento de alguns campos obrigatórios (como área destino e situação ou

procedimento atual);

É preciso pedir acesso ao portal, mas os profissionais só se lembram disso quando

têm uma ideia (muitas vezes, por conta da falta de acesso, acabam deixando as

ideias de lado por não se tratar de uma prioridade no cotidiano de trabalho);

Os profissionais não recebem ou demoram muito para receber atualizações sobre o

andamento das ideias que registraram no portal, criando uma sensação de que as

ideias não foram analisadas nem levadas adiante.

3.3. ANÁLISE DO ATUAL PROCESSO

As ideias obtidas através do “Portal de Melhoria Contínua”, na maior parte das vezes, estão

relacionadas a melhorias incrementais nos processos internos ou nos produtos financeiros.

Algumas também se referem a melhorias no ambiente de trabalho e nas relações entre as áreas

e entre os profissionais, a fim de criar um local mais agradável e colaborativo para se

trabalhar. O processo de geração de ideias através do portal é do tipo bottom-up, uma vez que

é espontâneo e baseado na criatividade e oportunidades identificadas pelos funcionários.

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Pode-se afirmar que a principal abordagem adotada na construção do portal de ideias do

banco é a oriental, baseada em um sistema com normas simples e pouco detalhadas. Além

disso, o principal objetivo é estimular a geração de ideias através da ampliação da

comunicação e do relacionamento entre os profissionais de diferentes áreas. A participação de

todos é fundamental e a redução no número de sugestões é vista com preocupação pela

superintendência responsável. Os gerentes possuem autoridade para aprovar e implantar as

sugestões que julgarem adequadas (através das reuniões solicitadas pela Superintendência de

Inovação e Melhoria Contínua, como citado anteriormente), sem precisar de autorização da

alta gestão da organização. Além disso, o banco defende a ideia de que a recompensa é

coletiva, fruto das melhorias obtidas através das sugestões, sejam elas referentes ao clima

organizacional ou a alguma economia gerada, que se refletirá no aumento do valor do PLR

(Participação nos Lucros e Resultado).

A imposição de metas referentes ao número médio de ideias inseridas no portal por

funcionário por mês, citado no item anterior como um dos motivos da ocorrência de

atividades paralelas destinadas a fomentar o registro de sugestões no portal, é um dos indícios

da pouca eficácia do sistema de gestão colaborativa de ideias utilizado pelo banco e da falta

de disposição e motivação dos funcionários. Forçar os profissionais a participar do portal,

visando resultados quantitativos, pode gerar ideias medianas e muitas vezes sem aplicação

prática (por inviabilidade econômica ou cultural, por exemplo). Como estudado na teoria, os

colaboradores estão intrinsecamente motivados a gerar ideias e essa motivação que lhes é

inerente vem das interações com os clientes, insatisfações com os processos existentes,

objetivos de carreira, etc. É importante que a organização saiba aproveitar essas ideias,

fornecendo um meio atrativo para que sejam registradas no momento em que surgem, e não

tornando esse processo algo burocrático e parte de uma obrigação.

A teoria nos mostra, também, que o apoio da alta gestão é fundamental para que o programa

de ideias ganhe direcionamento, visibilidade e importância. Esse apoio nem sempre é claro

dentro da organização e, em alguns casos, pode gerar gerentes focados somente nos resultados

quantitativos, que remuneram, através de prêmios simbólicos, os funcionários com o maior

número de ideias (e não com as melhores ideias) e que preferem profissionais concentrados

apenas nas suas tarefas diárias e no cumprimento de metas. É papel da alta gestão deixar

claro, tanto aos gestores quanto aos analistas, os objetivos do programa, sua utilidade, seu

funcionamento e como se deve participar, estimulando a colaboração e a parceria entre as

pessoas de diferentes áreas.

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Outros três problemas identificados no banco e citados na literatura referem-se à implantação

das ideias geradas, à avaliação rápida e transparente dessas ideias e ao reconhecimento dos

funcionários ativos, que fornecem boas sugestões. O processo de avaliação das ideias geradas

no portal é, na maior parte das vezes, demorado, podendo levar meses para que o autor receba

um feedback. É importante que exista um prazo pré-determinado para que cada etapa do

processo de triagem e análise seja finalizada e para que o feedback seja fornecido, assim

como na Brasilata. Isso resulta em maior satisfação e envolvimento do profissional que

registrou sua sugestão no portal, uma vez que ele sabe qual o encaminhamento dado à sua

ideia ou os motivos pelos quais ela não foi adiante. Caso determinada sugestão seja escolhida

para ser implantada, a participação do autor nas primeiras fases de aperfeiçoamento e

aprofundamento da ideia também é importante, dando a ele a oportunidade de se envolver em

um projeto com profissionais de diferentes perfis (difundindo conhecimento) e de participar

do processo de inovação mais diretamente (e não apenas na fase de geração de ideias).

O reconhecimento dos autores de boas ideias nem sempre ocorre de forma satisfatória. Ideias

que são implantadas e que resultam em melhorias relevantes para o banco, gerando projetos

de destaque, permitem que os profissionais responsáveis pela implantação concorram nas

categorias “Eficiência”, “Inovação” e “Qualidade” no Prêmio W. M. S.. Esse prêmio acontece

anualmente e premia os melhores projetos, desenvolvidos em todo o banco (e não apenas no

Banco Pessoa Física), nas quatro categorias descritas a seguir:

Eficiência: destaca projetos que trouxeram benefícios de eficiência para o banco,

onde a máxima “fazer mais com menos” é uma das principais características.

Busca-se reconhecer projetos que agilizaram processos, reduziram despesas,

aumentaram receitas e eliminaram etapas desnecessárias (melhoria contínua).

Qualidade: destaca projetos baseados na satisfação e no relacionamento com os

clientes.

Inovação: concorrem nessa categoria projetos que apresentaram soluções inéditas,

criando vantagens competitivas para o banco.

Gestão de Pessoas: destaca os gestores que tiveram performances reconhecidas

como diferenciadas.

É importante salientar, no entanto, que os projetos de destaque em “Eficiência”, “Inovação” e

“Qualidade” raramente se originam de sugestões vindas do portal. Normalmente surgem de

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ideias internas à própria gerência ou superintendência responsável pela implantação e que,

portanto, possui domínio e vivencia diariamente o assunto ao qual a ideia se refere ou são

projetos resultantes das necessidades de inovação que partem da alta gestão e que são

implantados e bem sucedidos. Os vencedores do prêmio recebem uma remuneração na forma

de ações do banco.

3.4. ANÁLISE E COMPREENSÃO DAS CARACTERÍSTICAS DO

BANCO

Conforme estudado na literatura (ALENCAR, 1996 apud RODRIGUES e SILVA, 1998),

existe um processo de influência recíproca entre o indivíduo e o sistema organizacional, em

que ambos influenciam e são influenciados continuamente. Essa influência se verifica através

de dois fatores principais que afetam o grau de abertura à expressão da criatividade: cultura

organizacional e clima psicológico, estando o primeiro relacionado aos sistemas de crenças e

normas da organização e o segundo à diferentes dimensões, como grau de liberdade,

expressão de opiniões e comportamento de correr riscos.

Pode-se dizer que a busca por um ambiente corporativo mais criativo, integrado e inovador é

uma preocupação atual da alta gestão do banco e isso se reflete em praticamente todos os itens

presentes em seu sistema de normas e valores (mostrado no item 3.1) como Craques que

Jogam para o Time (incentivo ao trabalho em equipe), Foco na Inovação e Inovação com

Foco (incentivo a um ambiente que estimule a criatividade, o empreendedorismo, o debate de

ideias e a procura por novas respostas), Ágil e Descomplicado (incentivo ao combate à

burocracia) e Carteirada não Vale (incentivo à liderança compartilhada e desapegada de

símbolos de status). O estímulo à expressão de opiniões, que se relaciona ao clima psicológico

da organização, também está presente no decálogo, em especial no item Brilho nos Olhos,

mostrando a preocupação da alta gestão em promover um ambiente de trabalho descontraído.

No entanto, a realidade de trabalho pode ser contrastante com aquilo que se procura promover

através dos valores explícitos da empresa. Atualmente, o banco possui um sistema de metas

definidas pela alta gestão, que nem sempre conhece as dificuldades que podem ser

encontradas pelos profissionais em determinadas áreas. Além disso, o sistema de análise de

desempenho é baseado na chamada “curva forçada”, na qual um percentual pré-determinado

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de funcionários (que varia a cada ano, dependendo dos resultados obtidos pelo banco) deve

ser classificado como abaixo do desempenho esperado. Muitos consideram esse sistema

injusto, uma vez que nem sempre um funcionário que teve sua performance classificada como

abaixo do esperado apresentou, de fato, um desempenho ruim ou inferior ao que poderia ter

demonstrado. As análises de desempenho são realizadas através de dois indicadores,

atingimento de metas e adequação ao sistema de valores (decálogo), e a avaliação de um

profissional é individualizada, baseada na comparação com seus pares. É através da

classificação geral obtida pelo funcionário que se dá a distribuição dos bônus anuais. Todo

esse sistema de avaliação de desempenho, que envolve metas, pode estimular um ambiente

competitivo e um comportamento mais individualista por parte dos profissionais.

O acúmulo de tarefas e as rotinas repetitivas também se destacam como características muitas

vezes presentes no cotidiano dos profissionais, mas que se distanciam dos valores explícitos

da organização. A combinação entre uma carga de trabalho elevada com um sistema de metas

definidas pela alta gestão leva a um número considerável de profissionais afastados por

doenças.

É importante destacar que as características acima citadas podem se tornar ainda mais

marcantes quando se trata da rede de agências. Essas características são agravadas por metas

de vendas de produtos financeiros consideradas abusivas por grande parte dos funcionários,

muitas vezes acompanhadas de assédio psicológico por parte dos gerentes das agências, que

têm suas metas ligadas diretamente às metas dos funcionários. Além disso, há um forte

conflito moral que envolve o trabalho dos profissionais das agências, resultado das pressões

por vendas, que forçam os funcionários a venderem produtos dos quais o cliente não precisa,

prometendo benefícios que muitas vezes não existem.

O fato de as metas serem impostas pela alta gestão do banco, sendo que nem sempre existe

uma discussão a respeito delas ou reformulação, reflete a estrutura burocrática da

organização, fortemente centralizada em cargos dispostos através de uma hierarquia bem

delimitada (Figura 23). Esse tipo de estrutura dificulta a criação, transferência e integração do

conhecimento da organização e, consequentemente, a geração de boas ideias. Como afirmado

por TERRA (2012), é preciso que as organizações reconheçam que as novas ideias são

combinações diferenciadas e originais de informações e conhecimentos existentes. Dessa

definição, conclui-se que é difícil imaginar novas ideias se o contexto de informação e

conhecimento permanece o mesmo. Para gerar boas sugestões, é necessário investir tempo,

esforço e recurso nas fases que antecedem o surgimento das ideias: a aquisição e o

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compartilhamento de informação e conhecimento e a definição dos problemas ou

necessidades que precisam ser endereçados ou resolvidos.

Dentro das áreas administrativas do banco há ainda outra dificuldade relacionada à criação,

transferência e integração do conhecimento organizacional: a falta de espaço nas redes

internas. Cada gerência tem um espaço limitado para salvar seus arquivos e isso faz com que

os profissionais evitem trabalhar na rede, salvando os trabalhos realizados em suas próprias

máquinas. Caso um funcionário resolva sair do banco, as informações e conhecimentos que

obteve ao longo de sua permanência são perdidos (na maior parte das vezes), uma vez que seu

computador é formatado pela área responsável por dar assistência técnica em informática.

Além disso, os profissionais têm acesso apenas aos documentos salvos na rede de sua própria

gerência, não podendo visualizar os arquivos de outras gerências da mesma superintendência,

por exemplo, que possuem trabalhos semelhantes. Grande parte dos funcionários reclama do

fato de desconhecerem totalmente quais trabalhos estão sendo tocados por seus pares nas

outras gerências, levando, muitas vezes, a trabalhos duplicados.

A estrutura organizacional burocrática, as metas agressivas (impostas de cima para baixo), o

sistema de análise de performance baseado em uma “curva forçada” e as dificuldades

relacionadas à criação, transferência e integração do conhecimento dentro da empresa podem

ser considerados fatores bloqueadores da criatividade, conforme estudado na teoria (FARIA e

ALENCAR, 1996 apud RODRIGUES e SILVA, 1998). Por outro lado, a recente divulgação

de um novo sistema de crenças e valores organizacionais, lançado logo após a fusão

anunciada no final de 2008, revela que a organização não ignora a necessidade de um

ambiente menos burocrático, que estimule a criatividade, e que está preocupada em incentivar

seus funcionários na busca por novas respostas. No entanto, essas mudanças culturais não se

dão apenas por meio de livretos com novas regras. É preciso repensar a organização como um

todo, analisando todos os seus processos e métricas.

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4. PROPOSTA

Tendo em vista os problemas identificados pelos profissionais, as características da

organização analisada no presente trabalho, a literatura estudada e as melhores práticas

levantadas, a proposta para a superação dos problemas encontrados é a implantação de um

novo programa de registro e gerenciamento das ideias geradas que seja mais dinâmico que o

atual. O objetivo principal desse programa é atrair os funcionários, a fim de que eles

participem mais ativamente do processo de geração de ideias dentro da organização (sem que

sejam forçados a isso por meio de metas). A proposta envolve, também, a melhoria no

processo de triagem e seleção das melhores ideias, para que ele se torne mais rápido e

dinâmico, e a inserção de atividades que celebrem e remunerem os autores das melhores

ideias.

4.1. NOVO SISTEMA DE REGISTRO E GERENCIAMENTO DE IDEIAS

O sistema proposto surge de uma combinação entre a teoria estudada e as melhores práticas

em gestão de ideias levantadas na Brasilata, Serasa Experian e Suvinil. Um dos objetivos do

sistema é direcionar a criatividade dos funcionários para necessidades de inovação já

identificadas por gestores e coordenadores, a fim de que esse banco de sugestões reflita

verdadeiras necessidades da organização. Além disso, permite que os funcionários que

participam do sistema tenham uma visão ampla dessas necessidades, podendo refletir antes de

registrar suas ideias e sugestões.

A participação ativa dos gestores e coordenadores é fundamental para que o sistema atinja os

objetivos esperados. São esses profissionais que serão responsáveis por inserir necessidades

de inovação relevantes para a organização. Além disso, eles serão responsáveis por gerenciar

as ideias relacionadas às necessidades que inseriram no sistema, realizando as etapas de

triagem e seleção (juntamente com sua equipe) e fornecendo feedback aos autores em um

prazo determinado e estabelecido previamente, por meio de um acordo entre todos os

participantes.

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As ideias não relacionadas às necessidades de inovação previamente identificadas por

gestores ou coordenadores não são excluídas, existindo um espaço reservado para elas no

sistema. Caso um funcionário deseje inserir uma sugestão sobre uma nova oportunidade que

identificou, ele pode encaminhá-la a uma caixa específica e a ideia, então, será armazenada e

direcionada à gerência que ele marcou como destino no formulário de registro de ideias,

seguindo um processo semelhante ao existente atualmente.

O sistema possui também uma área baseada em mercados preditivos, assim como estudado no

caso Serasa Experian (e em outras empresas reconhecidamente inovadoras, como o Google).

Nele, os funcionários podem investir nas ideias que acreditam ser mais viáveis. Sempre que

um usuário inserir uma ideia no sistema ele recebe um determinado valor (em reais virtuais),

que é o mesmo para todas as ideias registradas por qualquer um dos participantes. Além disso,

caso a ideia seja implantada pelo gestor ou coordenador que identificou a necessidade de

inovação, o autor recebe mais uma quantia em reais virtuais, dessa vez estipulada pelo

profissional responsável pela implantação (essa quantia deve respeitar uma escala de valores,

que varia de acordo com o impacto gerado pela ideia). Com os valores acumulados, os

funcionários podem, então, investir nas sugestões que acreditam ser viáveis. Caso as

sugestões nas quais determinado usuário investiu sejam colocadas em prática, ele recebe uma

bonificação, também em reais virtuais. No entanto, é preciso que os funcionários sejam

cautelosos, uma vez que, caso invistam em ideias que não sejam levadas adiante, perdem os

valores investidos.

Inicialmente, o sistema foi desenvolvido em Excel e será implantado em apenas uma gerência

do banco, para que seja testado e para que os profissionais possam opinar a respeito de

melhorias ou com novas ideias. Ele possui sete funções, mostradas na Figura 27, que serão

descritas a seguir.

Figura 27: Tela Inicial – As Sete Funções do Sistema

Fonte: Elaborado pelo Autor

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1. Inserir Nova Ideia

Ao clicar sobre o botão “Inserir Nova Ideia”, na tela inicial, o usuário será direcionado

ao formulário de registro de ideia (Figura 28). No bloco “Informações do Autor”, ao

inserir sua funcional no campo “Entre com a sua Funcional”, seus dados aparecem

automaticamente, deixando o preenchimento mais dinâmico e rápido. No bloco

“Registro de Ideia”, o usuário deve selecionar a necessidade de inovação a qual a ideia

se refere. Com essa seleção, um resumo da necessidade aparece no campo “Breve

Descrição”, facilitando o entendimento daquilo que, de fato, se busca com as sugestões.

Além disso, aparecem, automaticamente, os dados do gestor responsável pela

necessidade selecionada (nos campos “Superintendência”, “Gestor Responsável”, “E-

mail” e “Telefone”), permitindo que o usuário entre em contato caso tenha dúvidas ou

caso não tenha recebido feedback da ideia registrada. Caso a sugestão não esteja

relacionada a nenhuma necessidade de inovação previamente identificada, o funcionário

deve selecionar “Outras” e, em seguida, escolher a área para a qual sua ideia será

destinada, dentre as diretorias, superintendências e gerências do Banco Pessoa Física, no

campo “Área de Destino”.

Figura 28: Exemplo de Preenchimento na Tela de Registro de Ideias

Fonte: Elaborado pelo Autor

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Por fim, o usuário deve descrever brevemente sua ideia e, em seguida, relacioná-la a um

dos itens do decálogo, que aparece descrito em “Breve Descrição do Decálogo” após a

seleção.

2. Inserir Nova Necessidade

Através dessa tela (Figura 29) gestores e coordenadores podem inserir no sistema novas

necessidades de inovação (melhorias no processo de abertura de conta, por exemplo),

que aparecerão disponíveis para seleção no formulário de registro de ideia. É importante

o correto preenchimento de todos os campos, para que os responsáveis pelas

necessidades identificadas sejam facilmente encontrados em caso de dúvida, por

exemplo.

Figura 29: Tela de Registro de Novas Necessidades de Inovação

Fonte: Elaborado pelo Autor

3. Inserir Novo Participante

Ao clicar em “Inserir Novo Participante” na tela inicial, o usuário será direcionado para

um formulário de inserção de novos participantes no sistema (Figura 30).

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Figura 30: Exemplo de Preenchimento na Tela de Registro de Novos Participantes

Fonte: Elaborado pelo Autor

4. Busca de Ideias

Através dessa tela, mostrada na Figura 31, os usuários podem visualizar todas as ideias

já registradas referentes a cada uma das necessidades de inovação identificadas

(incluindo aquelas que foram marcadas como “Outras” no formulário de registro de

ideia). Para isso, basta que a necessidade de inovação seja selecionada no campo

“Necessidade de Inovação”. As ideias relacionadas à necessidade escolhida aparecerão,

então, disponíveis para seleção no campo “Ideias”. Todos os outros campos são

automáticos, deixando o sistema mais dinâmico e permitindo que o usuário saiba a

origem de cada uma das ideias registradas.

Figura 31: Exemplo de Preenchimento na Tela de Busca de Ideias

Fonte: Elaborado pelo Autor

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5. Mercado de Ideias

Os itens presentes na tela “Mercado de Ideias” (Figura 32) são, basicamente, os mesmos

que foram descritos no item anterior, “Busca de Ideias”. A diferença está no campo

“Investimento”, no qual o usuário deve preencher o valor que deseja investir na ideia

que selecionou. As informações do autor da ideia, presentes nos campos “Autor”,

“Telefone”, “Superintendência” e “Gerência”, visam, nesse caso, facilitar o contato

entre os usuários para tirar dúvidas ou obter maiores esclarecimentos sobre a ideia.

Figura 32: Exemplo de Preenchimento na Tela Mercado de Ideias

Fonte: Elaborado pelo Autor

6. Consulta de Saldo

Ao clicar em “Consulta de Saldo” na tela inicial, o usuário é direcionado para uma

planilha na qual pode visualizar o valor, em reais virtuais, que possui disponível para

novos investimentos. Para tanto, basta que ele preencha sua funcional no campo “Entre

com sua Funcional”.

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Figura 33: Exemplo de Preenchimento na Tela de Consulta de Saldo

Fonte: Elaborado pelo Autor

7. Ranking

Através desse link é possível visualizar um gráfico que mostra o desempenho de cada

um dos participantes do sistema. Esse desempenho é dado pelo saldo, no momento da

consulta, em reais virtuais.

Figura 34: Exemplo de Gráfico Disponível na Tela Ranking

Fonte: Elaborado pelo Autor

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4.2. PROPOSTAS PARA A ORGANIZAÇÃO

A utilização de um sistema mais dinâmico, como o proposto no item anterior, busca atrair a

atenção dos funcionários da organização, a fim de que eles participem mais ativamente do

processo de geração de ideias. No entanto, como visto na teoria, é preciso que as empresas

estejam conscientes de que essas ferramentas auxiliam o processo, mas não são capazes de

resolver o problema de geração e gerenciamento de ideias sozinhas. Os exemplos de fracasso

são muitos, principalmente porque as empresas se esquecem de que são as pessoas da

organização quem detém o conhecimento e a capacidade de inovar e elas precisam estar

sempre motivadas a compartilhar, colaborar e a se arriscar em um ambiente virtual onde tudo

fica registrado.

Para que as empresas tenham práticas, métodos e ferramentas de colaboração on-line cada vez

mais incorporadas no seu modelo de gestão é preciso elas se construam e se transformem, a

fim de se beneficiarem com os ganhos relativos à produtividade, agilidade, comunicação,

compartilhamento de conhecimento e cocriação em grande escola (crowdsourcing) que essas

ferramentas podem proporcionar.

Além disso, é preciso reconhecer que boas ideias estão fortemente atreladas a combinações

diferenciadas e originais de informações e conhecimentos existentes. Se o contexto de

informações e conhecimento permanece o mesmo, dificilmente novas ideias surgirão. É

essencial o investimento em um ambiente que promova o compartilhamento, a socialização, a

facilitação e o desenvolvimento de competências.

Pensando nisso, e tendo em vista as características já analisadas da empresa em questão, é

importante que surjam iniciativas que promovam o encontro de profissionais atuantes em

diferentes áreas e com diferentes perfis. Eventos planejados de compartilhamento de

conhecimento entre unidades de negócio podem produzir bons resultados, promovendo a

socialização e a consequente combinação de conhecimentos tácitos. O acesso a base de dados

com literatura acadêmica e a projetos internos também auxilia na disseminação de

conhecimento explícito, permitindo aos profissionais conhecer atividades diferentes das suas e

se aprofundar em outros temas. Como já citado, o banco possui restrições com relação ao

acesso às redes das gerências, que possuem os trabalhos atuais e projetos já finalizados. A

criação de uma rede que envolva todas as gerências de uma superintendência ou, ainda, todas

as superintendências de uma diretoria, permitindo o acesso de todos os funcionários aos

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principais projetos, pode resultar em benefícios consideráveis com relação à criação,

transferência e integração do conhecimento da organização.

Outro aspecto importante relaciona-se à motivação dos funcionários, para que eles colaborem

e participem ativamente dos programas de gestão e geração de ideias. Como visto no caso da

Brasilata, as celebrações, que ocorrem periodicamente dentro da organização, foram

fundamentais para manter um elevado número de ideias registradas no sistema. Reconhecer,

celebrar e remunerar os autores de boas ideias é fundamental para que qualquer sistema a ser

implantado forneça bons resultados. O reconhecimento apenas de grandes projetos

relacionados à inovação e eficiência desestimula a realização de projetos menores, voltados às

melhorias incrementais. No caso do sistema proposto, a remuneração através de ações da

empresa, assim como é feito para o Prêmio W. M. S., porém em menor proporção, pode

incentivar consideravelmente a participação de todos.

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5. CONCLUSÕES

Este capítulo tem como principal objetivo apresentar os possíveis benefícios que o novo

sistema proposto para gestão de ideias pode trazer à empresa e destacar os pontos estudados

na literatura considerados como os mais importantes para o desenvolvimento da solução.

Além disso, serão expostas algumas das dificuldades encontradas ao longo da execução do

trabalho e sugestões a respeito do que pode ser feito, a fim de aperfeiçoar o sistema proposto,

serão apresentadas.

Primeiramente, um estudo mais amplo sobre a gestão de ideias, que envolveu não apenas o

tema central, mas também temas relacionados, tais como fatores bloqueadores da criatividade

no ambiente corporativo e gestão do conhecimento, demonstrou que gerar ideias ou sugestões

e, principalmente, gerenciá-las são problemas extensos, abrangentes e complexos. Isso porque

todo o processo que envolve ideia e invenção possui um caráter muito intuitivo e imersivo,

tipicamente humano, e depende de condições favoráveis, relacionadas ao ambiente e ao

sistema de valores intrínsecos à organização. Além disso, a triagem e seleção de ideias são,

grande parte das vezes, baseadas em critérios subjetivos e, portanto, dependem da percepção

daqueles que realizam essa análise inicial.

Nesse contexto, um importante ponto observado ao longo do desenvolvimento do trabalho,

principalmente nas etapas de descrição do processo atual e análise das características e

peculiaridades do banco estudado, foi a lacuna existente entre os valores explícitos da

organização e a eficácia de seu sistema de sugestões. Fica claro nesses valores explícitos que

a empresa reconhece na inovação um importante instrumento de vantagem competitiva e sabe

que um ambiente que estimule o diálogo e a integração dos funcionários é fundamental para

que a inovação se concretize de forma bem sucedida. No entanto, a realidade de trabalho

dentro de grande parte das gerências observadas e, também, de algumas agências se distingue

daquilo que se tenta transmitir através das cartilhas de valores organizacionais, o que

prejudica sobremaneira a eficácia do sistema de sugestões adotado atualmente.

Nesse sentido, acredita-se que a implantação do novo sistema para gestão de ideias, baseado

em inovações direcionadas e mercados preditivos, pode atrair os funcionários, de modo que

eles participem mais ativamente do processo de geração de ideias dentro da organização,

apesar do ambiente corporativo competitivo. Trata-se de um sistema simplificado, destinado a

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uma pequena área do banco, e a participação dos profissionais na identificação de possíveis

problemas é fundamental para que ele possa ser aprimorado. O sistema foi desenvolvido com

conceitos que podem ser incorporados à ferramenta já existente ou a um novo sistema a ser

implantado, que consiga envolver uma maior quantidade de áreas. A simples implantação do

novo sistema não garante, no entanto, seu sucesso. Características ambientais e apoio da alta

gerência são importantes fatores que podem contribuir para a motivação e conscientização dos

funcionários.

Apesar dos problemas enfrentados com relação à disponibilidade dos dados necessários, que

em sua maior parte eram confidenciais e, portanto, não podiam ser divulgados, acredita-se que

o presente trabalho cumpriu o objetivo de propor um novo modelo, mais dinâmico e atrativo,

para que a gestão de ideias dentro da organização seja eficaz e para que os profissionais

reconheçam e se beneficiem com as vantagens por ela trazidas.

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