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MAGISTRATURA FEDERAL Guia completo sobre como se preparar para a carreira Aprenda com quem tem história para contar COLEÇÃO RODRIGO GONÇALVES DE SOUZA Aprovado no concurso do TRF da 1ª Região 2020 3ª edição Revista e atualizada

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MAGISTRATURA FEDERAL

Guia completo sobre como se preparar para a carreira

Aprenda com quem tem história para contar

COLEÇÃO

RODRIGO GONÇALVES DE SOUZAAprovado no concurso do TRF da 1ª Região

2020

3ª ediçãoRevista e atualizada

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Técnico Judiciário pouco tempo depois. Foi quando me ligaram para ver meu interesse na nova seleção do escritório. Agradeci bastante, mas recusei a proposta.

Apesar do dinamismo e da possibilidade de sucesso na advocacia, a estabilidade do serviço público me atraia bem mais. Nunca tive a intenção de ser rico e, assim, “me casei com a classe média”. Esse “casamento profissional” já dura mais de uma década e, felizmente, tem dado muito certo.

A minha escolha precoce pelo serviço público pode ser considerada um dos fatores de êxito nas aprovações que logrei ao longo dos anos. Apesar de só ter iniciado meus estudos especificamente para a Magistratura Federal alguns anos após a conclusão do curso de Direito, consegui acumular bastante conhecimento – e experiência – em concursos públicos ao longo de quase 15 anos de estudo. Durante esse período, foram várias e várias reprovações. Mas o segredo do sucesso nos concursos públicos não está na aprovação, mas na persistência!

De qualquer forma, cada caso é um caso! Conheço vários colegas que decidiram mudar o rumo profissional e passaram a estudar para concurso público após anos de formados. Não há problema algum nisso. Desde que a estratégia de preparação seja adequada para o perfil do candidato, é perfeitamente pos-sível construir uma trajetória de sucesso nos concursos públicos e alcançar a tão sonhada aprovação.

TEMPO DE PREPARAÇÃO

Estratégia na preparação é fundamental para aprovação no concurso público. É necessário estabelecer um tempo mínimo de preparação, um cronograma de estudo, as prioridades para cada disciplina, a pesquisa das provas anteriores etc.

Sempre segui um cronograma de estudos. Evidentemen-te, tal planejamento foi se alterando a cada concurso que reali-

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zei, pois a estratégia de preparação deve levar em consideração fatores específicos de cada certame. O candidato precisa ana-lisar a quantidade de disciplinas, a data provável das provas, o número de etapas do concurso, o prazo previsto entre cada etapa, dentre outros fatores que certamente influenciarão na qualidade da preparação.

Especificamente no caso do concurso da Magistratura Federal, estabeleci um cronograma de preparação muito espe-cífico para atingir meus objetivos, conforme demonstrarei no próximo tópico. Contudo, a primeira coisa foi antever um tempo mínimo de estudos.

Aliás, essa é a pergunta que mais recebo dos candidatos: quanto tempo de preparação até ser aprovado? Vamos a ela...

Atualmente, não há concurso fácil. Todos os certames es-tão cada vez mais concorridos e os candidatos mais preparados. A disseminação de bons livros e cursos preparatórios de altíssi-ma qualidade proporcionou uma significativa equiparação entre os candidatos do país inteiro. Há muitos anos, quando iniciei minha preparação, Brasília era uma das “referências” em estu-dos para concursos públicos. Os cursos presenciais dominavam o mercado e nem todas as cidades tinham essa estrutura. Além disso, não havia uma “cultura” de dedicação aos cargos públicos.

Nessa época, cheguei a conhecer pessoas que se mudavam para a Capital Federal na esperança de obter uma preparação melhor para os concursos públicos. Outras cidades já não ti-nham a mesma tradição entre os candidatos.

Passados mais de dez anos, hoje, a realidade é comple-tamente diferente. Qualquer candidato, em todo o país, pode se preparar com altíssimo nível graças aos cursos on-line e a ampla disseminação de obras voltadas especificamente para concursos públicos. Portanto, todo candidato é um concorrente em potencial.

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Como se não bastasse, vejo que há um progressivo au-mento no nível de exigência das bancas examinadoras. As provas estão cada vez mais difíceis, independentemente do cargo público.

Consciente dessa nova realidade, percebi que meu projeto para me tornar Juiz Federal deveria ser de longo prazo. Não adiantava me iludir. Portanto, estabeleci um prazo mínimo de três a quatro anos de estudos para atingir minha meta. Se conseguisse ser aprovado antes disso, ótimo... Caso contrário, a preparação durante três, quatro ou cinco anos seria algo dentro da minha previsão inicial.

Estabelecer um prazo mínimo de preparação realista é essencial para o sucesso do candidato. Não adianta ser otimis-ta demais e acreditar na aprovação em pouco tempo: o risco de frustração é muito grande. O cronograma de preparação para a Magistratura Federal deve ser elaborado com base em um projeto de longo prazo. Várias decisões laterais da vida do candidato serão formadas com base nesse cronograma. A preparação envolve tempo de dedicação e dinheiro investido (cursinhos, livros, apostilas, taxas de inscrições etc.). Além disso, há um prejuízo no convívio familiar e social que precisa ser “calculado”.

É bem verdade que existem casos de pessoas com capa-cidades extraordinárias e que acabam sendo aprovadas mui-to jovens e com pouquíssimo tempo de dedicação. Contudo, são casos raros e, definitivamente, não era a minha realidade. Costumo dizer que “ninguém dorme recém-formado e acorda Magistrado”. A Magistratura envolve uma longa caminhada na preparação.

Outra coisa importante é não se deixar influenciar pe-los outros candidatos. Cada pessoa tem o seu tempo e a sua história de preparação. Não se preocupe com quanto tempo o seu colega levou para ser aprovado em um concurso. Inúmeros

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fatores influenciam na preparação de cada um. A partir de agora, concentre sua energia no seu próprio tempo e na sua estratégia.

Portanto, fica como uma recomendação que conquistei com base na experiência acumulada ao longo de vários anos de estudo: estabeleça uma meta de longo prazo e não se preocupe com o tempo que outras pessoas levaram para ser aprovado.

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PARTE II

CRONOGRAMA DE ESTUDOS

Para o concurso da Magistratura Federal, meu cronogra-ma foi montado com base em uma previsão de, no mínimo, três anos de estudo intenso até a sonhada aprovação.

Na época, eu continuava minhas atribuições como Defen-sor Público Federal e precisava conciliar o trabalho, o tempo de aula do cursinho e os estudos em casa.

Além disso, como o concurso da Magistratura envolve quatro etapas específi cas (prova objetiva, provas discursivas, provas de sentença e prova oral), decidi que minha preparação seguiria a ordem de cada uma delas. Ou seja, inicialmente, me preocupei em ser aprovado nas provas objetivas para, poste-riormente, iniciar minha preparação para as demais fases do certame. Sempre que possível, é conveniente o candidato tentar antecipar um pouco a preparação, mas, no meu caso, em função do pouco tempo disponível para os estudos, tive que optar pela divisão durante a minha preparação.

Decidi que faria, novamente, um curso preparatório de longo prazo. Eram três semestres de curso: dois semestres de matérias gerais e mais um semestre de matérias específi cas para a Magistratura Federal. Após a conclusão desse curso (um ano

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e meio), eu estudaria sozinho e faria a atualização do material montado ao longo dos semestres.

Então, durante um ano e meio, assisti aulas de segunda a sábado e elaborei meus próprios cadernos de resumos. Achei que o curso foi um excelente investimento, pois, além de me ajudar a organizar minha rotina de estudos, permitiu a produção de um material resumido de qualidade para as provas objetivas da Magistratura Federal. Aliás, após minha aprovação, distribuí meu material a vários colegas que continuaram a utilizá-lo.

Durante esse período no cursinho, não fiz provas da Ma-gistratura Federal. Vi que meu nível de preparação ainda não era suficiente e decidi que minhas inscrições nos concursos começariam apenas durante o terceiro semestre, momento em que eu já estava estudando as matérias específicas do concurso para o cargo de Juiz Federal.

A distribuição diária do meu cronograma de estudos para as provas objetivas foi feita, basicamente, da seguinte forma:

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REALIZAÇÃO DE EXERCÍCIOS

Uma das melhores maneiras de aprender alguma coisa é “fazendo na prática”. Por isso, a resolução de exercícios é uma ótima maneira de fixar o conteúdo estudado. Faça uma pes-quisa e veja vários gráficos na internet que mostram a eficácia da resolução de exercícios na fixação da aprendizagem de uma maneira geral.

De fato, refazendo questões de prova anteriores, o con-curseiro coloca em prática aquilo que leu e descobre o estilo de cada banca examinadora. Além disso, o aprendizado se torna mais “dinâmico” e menos entediante.

É possível incrementar os estudos com a resolução de exercícios. Na época do concurso da Magistratura Federal, uti-lizei livros com questões comentadas e divididas por assunto. Esses livros são ótimos, pois, os autores comentam todos os itens das questões e, ainda, fazem uma revisão geral do conteúdo com dicas rápidas.

Um grande amigo de trabalho me recomendou a coleção Revisaço. Adorei os volumes para Magistratura Federal e para Procurador da República. Criamos o hábito de nos encontrar no trabalho para resolver algumas questões juntos. Fazíamos como se fosse um jogo. Cada um escolhia uma questão e lia para o outro. Em seguida, corrigíamos o gabarito com base nos comen-tários do livro. Era uma troca de conhecimentos constante. Foi um ótimo método de aprendizado, pois, não era nada cansativo. Parecia mais um “quiz” (disputa na qual os jogadores – indivi-dualmente ou em equipes – tentam responder corretamente a questões que lhes são colocadas).

Além das questões do Revisaço, também tive o cuidado de resolver as provas anteriores dos concursos da Magistratura. Isso é importante para que o candidato possa conhecer as bancas

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Toda a pesquisa dos candidatos foi compilada em um grande arquivo contendo dezenas de julgamentos, separados por tema e por cada examinador. Como era de se esperar, parte dos assuntos abordados nas provas de sentença penal e de sen-tença cível havia sido julgada pelo Tribunal há alguns meses...

Falarei sobre a preparação para cada uma das provas que compõem a segunda etapa nos próximos tópicos.

A PREPARAÇÃO PARA A PROVA DISCURSIVA

Geralmente, a prova discursiva no concurso da Magis-tratura Federal é composta por uma dissertação e de respostas a 2 questões de livre escolha da Comissão de Concurso. A quantidade de linhas costuma ser limitada, p. ex., máximo de 90 linhas para resposta da dissertação e de 30 linhas para cada questão discursiva. Às vezes, as bancas não exigem dissertação, mas cobram o total de 4 questões discursivas. A nota mínima depende de cada edital, mas, em regra, exige-se para aprovação o mínimo de 60% (6,00 pontos) no total da prova escrita.

Como enfatizei, sempre gostei de utilizar um material mais objetivo e resumido na preparação para a prova objetiva. Agora, entretanto, a coisa era bem diferente.

A dissertação e as questões discursivas exigem do candi-dato não apenas o conhecimento jurídico do que foi arguido, mas também a capacidade de argumentação. Nesse momento, um conhecimento doutrinário mais aprofundado pode ser útil para desenvolver melhor as respostas.

Na parte de doutrina, em cada matéria, eu tentava selecio-nar aqueles temas que teriam mais chances de serem cobrados na prova subjetiva de acordo com o perfil dos examinadores. Evidentemente, trabalhei apenas com base na probabilidade, pois, era impossível conseguir estudar e revisar todo o conteú-do previsto no edital. Assim, lia alguns capítulos específicos de

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Pontuação Tópicos

0,20 Inaplicabilidade à obrigação acessória

0,30 Incompatibilidade com lançamento de ofício

0,30 Compatibilidade relativa com lançamento por declaração

0,30 Compatibilidade condicionado com lançamento por homologação

1,50 Total

Exemplo 02:

(Questão do XIV Concurso Público para Juiz Federal Substituto do TRF-2) – Diferencie as técnicas decisórias da interpretação conforme a Constituição e da inconsti-tucionalidade parcial sem redução de texto, fornecendo ao menos um exemplo de aplicação de cada uma delas. (Valor 1,5 pontos).

A distribuição de pontos foi feita da seguinte forma:

Pontuação Tópicos

0,50 Correta delimitação da interpretação conforme a Consti-tuição: caracterização como técnica que não afeta o enun-ciado legal, mas atinge seu significado normativo possível, mediante declaração de constitucionalidade condicionada à observância de uma única interpretação compatível com o texto constitucional.

0,50 Correta delimitação da inconstitucionalidade parcial sem redução de texto: caracterização como técnica que não afe-ta o enunciado legal, mas atinge seu significado normativo possível, mediante declaração de inconstitucionalidade res-trita a um dos significados possíveis do enunciado.

0,25 Descrição de exemplo adequado de interpretação confor-me a Constituição.

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OS ERROS MAIS FREQUENTES DURANTE A PREPARAÇÃO PARA AS PROVAS DE SENTENÇA

Tive a felicidade de identificar, logo no início dos meus estudos para a segunda fase, qual seria o maior erro que eu poderia cometer na minha preparação: não ter uma estratégia para o dia da prova.

Chegar em uma prova de sentença sem uma estratégia bem definida é praticamente pedir para ser reprovado. Lembro que na mesma época em que eu fui aprovado na primeira fase do TRF-1, um colega estava se preparando para a prova de sentença de um concurso da Magistratura Estadual. Troquei algumas ideias com ele sobre a preparação e, com relação às provas de sentença, recebi a seguinte resposta: “vou decidir como faço a sentença na hora da prova mesmo...”. Quando ouvi isso, pensei: “Pronto! Ou eu estou fazendo uma tempestade em copo d’água ou esse colega não tem a menor noção do que está prestes a acontecer...”.

Em função da minha absoluta falta de experiência na época, fiquei calado e até dei certa razão a ele. Alguns meses depois, como já era de se esperar, fiquei sabendo que o colega fora reprovado. Fiquei muito pesaroso por ele, pois, sei o quan-to se dedicava aos estudos. Contudo, a vida de concurseiro é implacável: se você não se prepara corretamente, está fadado ao fracasso.

Quando dei aulas de sentença criminal, vi que muitos con-curseiros pretendiam fazer algo mais ou menos parecido com o que esse meu colega fez. O objetivo principal do curso, portanto, era mostrar a necessidade de que o candidato chegasse no dia da prova com uma estratégia pronta.

Não precisamos ir longe para perceber a importância desse objetivo. Qualquer atleta profissional – sempre comparo o concurseiro com um atleta de alto rendimento – chega em uma competição com uma estratégia definida. Os jogadores de fu-

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ção individual, mas para o sucesso coletivo. Talvez isso tenha feito com que, no final das contas, tudo desse muito certo para nós. Aliás, para todos nós...

A PREPARAÇÃO PARA A PROVA ORAL

A prova oral (chamada de P4) é realizada em sessão pú-blica e solene, na sede do Tribunal Regional Federal, mediante arguição a cada candidato. A prova tem caráter eliminatório e classificatório. Para a atribuição de nota, os cinco examinado-res da banca avaliam o domínio do conhecimento jurídico, o emprego adequado da linguagem, a articulação do raciocínio, a capacidade de argumentação e o uso correto do vernáculo da parte do examinando.

No caso do concurso do TRF-1, a arguição do candidato versa sobre o conhecimento técnico acerca dos temas relacio-nados em um ponto sorteado com 24 horas de antecedência. Cada ponto é bem extenso e abrange conteúdos de todas as disciplinas do edital.

No XV Concurso, a banca examinadora dividiu os candi-datos em turmas de três a serem arguidos pela manhã ou pela tarde. Ou seja, pela manhã era sorteado o ponto que seria objeto de arguição na manhã seguinte. O ponto sorteado com 24h de antecedência tinha diversos assuntos, um para cada disciplina prevista no edital. O candidato teria essas 24h para conseguir estudar o máximo de temas possíveis que poderiam ser arguidos pelos examinadores.

Tivemos cerca de dois meses de preparação até o dia da prova oral. Nesse tempo, os candidatos se reuniram em um gru-po de estudos por e-mail e por WhatsApp. Várias tarefas foram organizadas, dentre elas, a atualização de um grande resumo que havia sido elaborado por candidatos de concursos anterio-

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outros colegas e fiz dois cursos preparatórios, além de continuar minha rotina de estudos com muito afinco. Foi uma época de muita dedicação.

O retorno de tanto investimento veio no dia da minha prova oral. Nada obstante o nervosismo, passei pela arguição com segurança e consegui uma boa nota.

DICAS DE PREPARAÇÃO PARA A PROVA ORAL

Após ser aprovado no concurso da Magistratura Federal, recebi alguns convites para dar aula em alguns cursos. Como professor, trabalhei com a preparação de candidatos especifica-mente para provas de sentença e para provas orais.

Graças a essa experiência, elaborei algumas dicas rápidas que poderão ajudá-los a conseguir a tão sonhada aprovação:

1ª Dica: faça simulados presenciais de arguição oral.

Uma boa maneira de fazer os treinamentos para prova oral é a realização de pequenos simulados com os demais can-didatos aprovados ou, ainda, com colegas que já passaram por alguma experiência semelhante. Particularmente, tive a oportu-nidade de participar de vários desses simulados (um por sema-na) com colegas que também foram aprovados. O resultado é excelente. A cada simulado, percebíamos a evolução na oratória, na gesticulação e na capacidade de articulação do raciocínio.

2ª Dica: faça arguições orais também pela internet.

Enquanto me preparava para a prova oral da Magistratura Federal, tive a oportunidade de participar de grupos, pelo Skype, para arguição dos candidatos. Fiz vários encontros de treina-mento com três ou quatro colegas simultaneamente. Apesar de não ser um treinamento tão bom quanto o presencial, tinha a vantagem de permitir a realização mesmo durante a semana.

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PARTE IV

O CURSO DE FORMAÇÃO

O curso de formação dos novos Magistrados Federais é um tópico que merece comentários à parte.

O curso foi organizado pela Escola da Magistratura Fe-deral – ESMAF em Brasília/DF. Logo após a nomeação, os organizadores do curso enviaram informações detalhadas do curso que ocorreria nos próximos meses seguintes à nossa posse.

A carga horária e o cronograma de estudos eram enor-mes. A duração estava prevista para quatro meses. O curso foi dividido em uma parte teórica e outra prática.

Os colegas que vieram de todas as partes do país tinham alguns problemas “práticos” a serem resolvidos, por exemplo, a moradia. Permanecer durante alguns meses em Brasília acaba se tornando dispendioso, pois, o custo de vida na capital federal não é nada atrativo. Além disso, havia o desafi o para aqueles que optaram por trazer as famílias ou para os que vieram sozinhos, mas, viajavam quase toda semana de volta para casa. Foi uma época de grande superação para vários colegas.

A parte teórica ocorreu no Centro de Treinamento da Jus-tiça Federal – CENTREJUFE, localizado no Setor de Clubes Sul, em Brasília. A estrutura da Justiça Federal para os treinamentos

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PARTE V

AFINAL, O QUE FAZ UM JUIZ FEDERAL?

Parabéns se você encheu a boca para responder “o Juiz julga”, pois, acaba de cometer o mesmo erro que cometi, durante minha vida inteira, até me tornar Magistrado.

Essa pergunta parece ser tola, sobretudo para alguém que fez o concurso da Magistratura Federal durante um longo cer-tame que durou quase dois anos. No entanto, defi nitivamente, a resposta não é tão óbvia.

Foi uma sensação muito estranha, mas, percebi ao longo do curso de formação que o Juiz não faz, “apenas”, julgar. Aliás, dentro do universo de atribuições que o Magistrado deve de-sempenhar no dia a dia, eu diria que a atividade judicante pode estar pareada com um conjunto enorme de outras atividades de cunho administrativo e gerencial.

Já no curso de formação foi possível que o Magistrado Federal deve cumprir uma série de rotinas administrativas re-lacionadas com o funcionamento da Vara. São muitos relatórios a serem assinados; Requisições de Pequeno Valor – RPV e Pre-catórios a serem liberados; Ofícios e Memorandos a serem res-pondidos; férias de servidores a serem autorizadas; estatísticas de produtividade a serem acompanhadas; advogados e partes a serem atendidos; reuniões com procuradores e membros do

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Ministério Público a serem realizadas; estratégias para aumento de produtividade a serem criadas; melhorias no atendimento do jurisdicionado a serem implantadas... E assim vai...

O conjunto das atividades administrativas é objeto de estudo da Administração Judicial, ramo multidisciplinar do conhecimento que já desponta como sendo um dos mais rele-vantes para a solução dos problemas que afetam a atividade jurisdicional brasileira. A melhoria do desempenho no funcio-namento da máquina estatal, inclusive no Judiciário, depende da melhor gestão dos recursos disponíveis.

O Juiz Federal Carlos Henrique Haddad, um dos pales-trantes durante o curso de formação inicial, publicou um livro em coautoria com Luís Capanema Pedrosa. A obra Administra-ção Judicial Aplicada trabalha com conceitos próprios da Admi-nistração adaptados ao Poder Judiciário. Traz, ainda, um estudo de caso sobre o modelo de gestão bem-sucedido implantado em uma das Subseções Judiciárias do Estado de Minas Gerais.

Carlos Henrique Haddad evidencia o novo perfil da Ad-ministração Judicial. Para ele, nos últimos anos, o Poder Judi-ciário acordou para a necessidade de melhorar seus métodos gerenciais de processos.

De fato, o sistema judicial começa a ser objeto da análise e recomendações que pretendem explorar nova dimensão ges-tionária, considerando-se que o déficit de organização, gestão e planejamento, em geral, são responsáveis por grande parte da ineficiência e ineficácia do seu desempenho funcional. As organizações burocráticas do Estado funcionam como entrave à eficácia, à eficiência e à qualidade do desempenho. Defende-se, por isso, a introdução de medidas que visem a alteração de mé-todos de trabalho, uma melhor e mais eficaz gestão de recursos humanos (humanos, materiais e dos processos) e maior articu-lação dos tribunais com os serviços complementares da justiça. As reformas que visam ao reforço da capacidade de organiza-