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CONSTRUTORA ANDRADE GUTIERREZ S.A. CENTRAIS ELÉTRICAS DO NORTE DO BRASIL S.A. – ELETRONORTE FURNAS CENTRAIS ELÉTRICAS S.A. Aproveitamento Hidrelétrico Colíder – 300 MW Rio Teles Pires – MT. Estudo de Impacto Ambiental – EIA Volume IV – Capítulo 10.0 ao 12.0 Janeiro de 2009.

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CONSTRUTORA ANDRADE GUTIERREZ S.A. CENTRAIS ELÉTRICAS DO NORTE DO BRASIL S.A. – ELETRONORTE FURNAS CENTRAIS ELÉTRICAS S.A. Aproveitamento Hidrelétrico Colíder – 300 MW Rio Teles Pires – MT. Estudo de Impacto Ambiental – EIA Volume IV – Capítulo 10.0 ao 12.0 Janeiro de 2009.

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AHE Colíder – 300 MW Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - Volume IV

CONSTRUTORA ANDRADE GUTIERREZ S.A. CENTRAIS ELÉTRICAS DO NORTE DO BRASIL S.A. – ELETRONORTE FURNAS CENTRAIS ELÉTRICAS S.A. Aproveitamento Hidrelétrico Colíder – 300 MW Rio Teles Pires – MT. Estudo de Impacto Ambiental – EIA

ÍNDICE 10.0 SÍNTESE E TENDÊNCIAS GERAIS DE OCUPAÇÃO REGIONAL.....................................1 11.0 MARCO INSTITUCIONAL E JURÍDICO.................................................................................5 11.1 Introdução ........................................................................................................................................5 11.2 Legislação sobre o Setor Elétrico.....................................................................................................6 11.2.1 Outorga de Concessão de Serviços Públicos de Geração de Energia Elétrica............................8 11.2.2 Órgãos de Regulação, Fiscalização e Planejamento do Setor Elétrico .......................................9 11.2.3 Comercialização de Energia Elétrica .........................................................................................10 11.2.4 Inventário Hidrelétrico ...............................................................................................................11 11.2.5 Monitoramento Hidrológico-Climatológico ...............................................................................12 11.2.6 Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) ...........................................................................................13 11.2.7 Compensação Financeira (royalties)..........................................................................................13 11.2.8 Declaração de Utilidade Pública para Desapropriação ou Instituição de Servidão .................14 11.3 Legislação sobre Licenciamento e Compensação Ambiental ........................................................16 11.3.1 Definições Gerais: Degradação, Poluição, Dano e Licenciamento Ambiental..........................16 11.3.2 EIA/RIMA e Etapas de Licenciamento........................................................................................19 11.3.3 Compensação Ambiental.............................................................................................................21 11.3.4 Licenciamento e Compensação Ambiental no Estado de Mato Grosso......................................22 11.4 Legislação Florestal........................................................................................................................26 11.4.1 Definição das Áreas de Preservação Permanente (APP) e do seu Regime de Uso....................29 11.4.2 Reserva Legal e Autorização de Supressão ................................................................................32 11.4.3 Proteção à Biodiversidade ..........................................................................................................34 11.5 Legislação sobre Outorga de Direito de Uso de Recursos Hídricos .............................................37 11.5.1 Gestão dos Recursos Hídricos e Outorga para Aproveitamento Hidrelétrico ...........................38 11.5.2 Outras Outorgas ..........................................................................................................................41 11.6 Legislação sobre Controle da Poluição e Padrões de Qualidade Ambiental ..................................41 11.6.1 Classificação e Padrões de Qualidade das Águas Superficiais e Subterrâneas.........................42 11.6.2 Padrões de Qualidade do Ar.......................................................................................................44 11.6.3 Padrões de Conforto Acústico.....................................................................................................47 11.6.4 Controle da Disposição de Resíduos Sólidos..............................................................................49 11.6.5 Controle do Transporte e Armazenamento de Produtos Perigosos............................................52 11.7 Legislação sobre Planejamento e Ordenamento Territorial ...........................................................54 11.7.1 Amazônia Legal...........................................................................................................................54

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11.7.2 Zoneamento Econômico-Ecológico.............................................................................................54 11.7.3 Terras de Domínio Público .........................................................................................................56 11.7.4 Planos Diretores Municipais ......................................................................................................57 11.8 Legislação sobre Direitos Minerários ............................................................................................57 11.9 Legislação sobre Desapropriação ou Instituição de Servidão por Utilidade Pública .....................60 11.10 Legislação sobre Compensação Social e Reassentamento Involuntário ......................................61 11.11 Legislação sobre Patrimônio Histórico e Cultural .......................................................................63 11.12 Legislação de Proteção às Populações Indígenas e Quilombolas ................................................65 11.12.1 Populações Indígenas ...............................................................................................................65 11.12.2 Populações Quilombolas...........................................................................................................68 11.13 Legislação Trabalhista e de Saúde e Segurança Ocupacional ....................................................69 11.13.1 Condições de Trabalho .............................................................................................................69 11.13.2 Saúde Ocupacional e Segurança do Trabalho..........................................................................70 12.0 AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS .......................................................................74 12.1 Referencial Metodológico Geral ....................................................................................................74 12.2 Identificação de Ações Impactantes ...............................................................................................76 12.3 Identificação de Componentes Ambientais....................................................................................92 12.4 Identificação de Impactos Potencialmente Decorrentes.................................................................99 12.4.1 Meio Físico................................................................................................................................102 12.4.2 Meio Biótico ..............................................................................................................................119 12.4.3 Meio Antrópico..........................................................................................................................142

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10.0 Síntese e Tendências Gerais de Ocupação Regional Para a análise sintética dos diferentes aspectos dos meios físico, biótico e socioeconômico foi utilizada abordagem de Paisagem, que segundo a perspectiva geográfica definida por Bertrand (1972), constitui o resultado da dinâmica de elementos físicos, biológicos e antrópicos que reagem dialeticamente uns sobre os outros, em constante evolução. Na prática, a paisagem, no sentido considerado, constitui a síntese da interação entre os componentes numa dada porção do espaço. Neste contexto, a unidade de paisagem refere-se a uma área homogênea quanto as seus atributos ecológicos, um sistema aberto da superfície da Terra, que se transforma ao longo do tempo mediante a interação dos fatores físicos, biológicos e antrópicos que nela atuam, dando origem a um fenômeno complexo e tridimensional que pode ser reconhecido visualmente. Esse fenômeno apresenta um padrão horizontal de elementos mutuamente relacionados e um padrão vertical relacionado com estratos chamados de atributos da paisagem que também estão estreitamente interligados. Esses atributos incluem a atmosfera o clima, as rochas, o relevo, os solos, a água, a vegetação, a fauna e os diferentes aspectos das atividades antrópicas. Assim, dentro desta perspectiva, deve-se considerar a Paisagem enquanto resultado de um processo social de ocupação e gestão do território, um sistema onde as diferentes ações e atividades, provocam reações e alterações morfológicas parciais ou totais.. Na caracterização das diferentes paisagens deve-se observar o processo de intervenção que ocorre na transformação dos lugares pela utilização humana. Assim se devem considerar os vários aspectos e atributos do ambiente, as características funcionais do suporte físico e suas suscetibilidades à ação antrópica, as características climáticas e as formas de adaptação dos seres vivos, as características dos ecossistemas existentes, os valores sociais atribuídos ao local, os padrões de ocupação antrópica e seu relacionamento com o suporte físico, o nível de transformação das estruturas ambientais e sua capacidade de resposta a explorações. A análise sintética desenvolvida na presente Seção, com base nas informações relativas aos componentes ambientais dos meios físico, biológico e antrópico, levantadas em diferentes níveis ou escalas, objetiva tão somente sistematizar os arranjos que definem as unidades ou compartimentos de paisagem na região em que é proposta a implantação do AHE Colíder. Assim, os compartimentos de paisagem identificados com base nas diretrizes e pressupostos registrados anteriormente são descritos a seguir. Além dos aspectos ecológicos foram considerados os diferentes processos e atividades antrópicas que vêm transformando e estabelecendo novas feições na paisagem local e regional. Conforme diretrizes e observações de Lima & Queiroz Neto (1997), os estudos integrados na perspectiva da análise de paisagem, devem buscar entender os processos que definem os diferentes arranjos e paisagens. Para tanto, se faz necessário o desenvolvimento de uma análise multiescalar, uma vez que muitos fenômenos só têm significado numa grande escala,

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enquanto outros só podem ser explicados se analisados em escalas pequenas, constituindo o que Lacoste (1979) chamou de “análise da espacialidade diferenciada”. Propostas de classificação e taxonomia da paisagem foram formuladas ao longo da segunda metade do século XX, destacando-se além do próprio Bertrand (1972), propostas como a de Sotchava (1978), através do conceito de geossistema. No Brasil, um exemplo de análise multiescalar para o estudo da paisagem é a proposta metodológica de Ab’Saber, que apresenta três níveis ou escalas básicas, definidos pela compartimentação topográfica regional, a estrutura superficial da paisagem (dos compartimentos) e a fisiologia da paisagem (análise dos processos). A proposta de Ab’Saber foi concebida para condução de estudos geomorfológicos. Todavia, o relevo é de fato um dos principais fatores de estruturação da paisagem, constituindo-se em importante elemento na configuração dos arranjos paisagísticos. Daí reside a importância da primeira etapa proposta, relativa à compartimentação topográfica, efetuada com base verificação das formas, do seu agrupamento e da sua descrição. Os resultados obtidos através dos levantamentos que subsidiaram o Diagnóstico Ambiental das Áreas de Influência Indireta do AHE Colíder podem ser integrados. Uma das possibilidades de integração dos resultados é a identificação de unidades ou compartimentos de paisagem. Os resultados desse processo são apresentados a seguir. Compartimento 1: Setor sul da AII Trata-se da porção sul da AII correspondente às bordas do Planalto dos Parecis, que apresenta relevo de grande homogeneidade e constitui uma grande superfície em processo de dissecação pela drenagem. Dá origem a relevos pouco dissecados em tabuleiros e colinas, que foram mapeados como colinas de diferentes dimensões. Esta paisagem se caracteriza por um relevo de topo aplainado, com diferentes ordens de grandeza e aprofundamento de drenagem, separado por vales de fundo plano. As altitudes variam de 240 a 360 m. Os terrenos predominantes são colinosos argilo-arenosos e planícies fluviais ao longo do rio Teles Pires. Na área de influência indireta, esta unidade da paisagem ocupa a faixa centro-sul, desde a cidade de Itaúba e o rio Renato até o limite sul. Trata-se de área de coincide com a BR-163 e apresenta uma maior dinâmica em termos de usos agropecuários. As unidades fitofisionômicas dominantes correspondem a áreas de tensão ecológica entre florestas ombrófila e estacional e entre savana e floresta estacional. Devido à grande dinâmica dos usos do solo na região do AHE Colíder, a fragmentação da paisagem vem aumentando e modificando a composição das comunidades presentes na região. Compartimento 2: Setor norte da AII Constitui área rebaixada, apresentando altitudes de 200 a 220 m, englobando praticamente toda a Área de Influência Direta. Sob o aspecto geomorfológico, engloba também terrenos dissecados, como a Serra Formosa.

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Trata-se de área que ao norte do vale do rio Teles Pires caracterizada pela intensa substituição da cobertura vegetal nativa por pastagens. Levando em consideração as informações apresentadas na Seção 8.2.2, sobre o desmatamento observado na área de influência indireta do AHE Colíder, nos últimos dezoito anos (1990–2007), pode-se traçar um cenário sobre o uso e a ocupação do solo para a próxima década. Como foi comentado, no período 1990-1999 houve um significativo aumento na substituição da cobertura do solo, principalmente na região entre a BR-163 e o Rio Teles Pires, nas proximidades da cidade de Itaúba. Já para o período 2000-2007 quase todos os interflúvios da AII apresentavam usos agrícolas, com uma maior dinâmica na margem esquerda do Rio Teles Pires. No eixo do Rio Renato e na porção Sul da AII, novas áreas de colonização agrícola foram estabelecidas. Por outro lado, quantificando esse processo, os números do desmatamento nos municípios da AII, até o ano 2000, mostravam que o Município de Nova Canaã do Norte dividia a liderança nesse quesito, junto com o Município de Colíder com 34% do total da área desmatada da AII, para cada um deles. Já no ano 2007, Nova Canaã do Norte continuava responsável por 34% da área desmatada entanto que Colíder passava para 29%. Essa diferença se explica porque entre 2000 e 2007, o Município de Itaúba aumentou sua contribuição de 16%, para 19% e o Município de Cláudia passou de 16%, para 18% do total de desmatamento da AII (Tabela 10.a). Tabela 10.a Desmatamento nos municípios da AII do AHE Colíder, até 2007

Fonte: PRODES, 2008 Na Seção 8.3.3 foi apontado que a região correspondente à AII teve seu povoamento e desenvolvimento, nas últimas décadas, associados à implantação da rodovia federal BR-163, que liga Cuiabá a Santarém e à ação das empresas colonizadoras, devida tanto às políticas de Estado como às iniciativas de empresas privadas, a partir da década de 1970. Todos os centros urbanos da região foram criados no processo de ocupação por empresas colonizadoras. Já entre os ciclos de desenvolvimento econômico presentes na região destaca-se a expansão da fronteira agropecuária relacionada principalmente à implantação da cultura da soja e da pecuária de exportação.

Município Desmatamento (km2)Nova Canaã do Norte 2.931,1 Colíder 2.488,5Itaúba 1.581,1 Cláudia 1.503,2

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Assim, pode-se concluir que nos próximos anos, em um cenário que envolva os atuais preços para soja, milho e carne, se intensifique e consolide o processo de ocupação ao longo da BR-163, entre Sinop e Itaúba (Área I, Figura 10.a) e entre a BR-163 e o núcleo urbano de Cláudia (Área II, Figura 10.a). Já na margem esquerda do Rio Teles Pires, nos Municípios de Itaúba e Nova Canaã do Norte, a dinâmica na substituição da cobertura atual do solo dependerá, em grande parte, das características geográficas e da fertilidade dos solos (Área III, Figura 10.a). Nas regiões ao norte e sul da área de influência antrópica, Nova Canaã do Norte e Sinop, se observa uma situação consolidada, em termos de uso e ocupação do solo (Áreas IV e V, Figura 10.a). Finalmente, a Área VI, da Figura 10.a apresenta uma situação intermediária entre as outras. No entorno do núcleo urbano de Cláudia se observa um processo de ocupação praticamente consolidado e nas partes norte e sul da Área ainda há espaço que certamente será ocupado, levando em consideração os antecedentes e tendências acima citados.

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11.0 Marco Institucional e Jurídico 11.1 Introdução Neste capítulo, analisa-se a legislação ambiental aplicável ao empreendimento nas fases de implantação e operação, destacando-se os diplomas e os aspectos jurídicos mais importantes, assim como a estrutura institucional e as atribuições legais ou competências dos órgãos públicos das diferentes esferas de governo, no que se refere aos aspectos ambientais e sociais pertinentes ao projeto. Na organização hierárquica do corpo jurídico brasileiro, a legislação ambiental é composta por capítulos das Constituições Federal e Estaduais, por leis ordinárias e complementares e seus decretos regulamentadores, e por resoluções, portarias e instruções normativas dos órgãos gestores do meio ambiente e dos recursos hídricos. Em decorrência da quantidade e da diversidade de diplomas legais pertinentes, a análise da legislação foi estruturada segundo temas, da seguinte forma:

• Legislação sobre o Setor Elétrico • Legislação sobre Licenciamento e Compensação Ambiental • Legislação Florestal • Legislação sobre Outorga de Direito de Uso dos Recursos Hídricos • Legislação sobre Controle da Poluição e Qualidade Ambiental • Legislação sobre Planejamento e Ordenamento Territorial • Legislação sobre Direitos Minerários • Legislação sobre Desapropriação ou Instituição de Servidão por Utilidade Pública • Legislação sobre Patrimônio Histórico e Cultural • Legislação sobre Populações Indígenas e Quilombolas • Legislação Trabalhista e de Saúde e Segurança Ocupacional

Como a Área de Influência Indireta do empreendimento localiza-se dentro dos limites territoriais do Estado do Mato Grosso, o licenciamento ambiental é de competência da Secretaria de Meio Ambiente do Estado de Mato Grosso – SEMA/MT. Também estão envolvidas no processo de licenciamento entidades de nível federal, como a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), responsável pela outorga para aproveitamento hidrelétrico e por autorizações complementares. A declaração de reserva de disponibilidade hídrica e a emissão de outorga de direito de uso dos recursos hídricos será feita pela SEMA/MT. Até a regulamentação específica da emissão de outorgas no Estado de Mato Grosso, feita recentemente, a competência era da Agência Nacional de Águas (ANA), responsável pela outorga de direito de uso de recursos hídricos em cursos d’água de domínio federal.

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Além dessas instituições, também há necessidade de consultas aos seguintes órgãos federais: Departamento de Produção Mineral (DNPM), órgão vinculado ao Ministério de Minas e Energia, responsável pela cessão de direitos minerários na área de intervenção do empreendimento; Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), responsável por autorizar estudos e levantamentos do potencial arqueológico na área de intervenção do empreendimento; e Fundação Nacional do Índio (FUNAI), responsável por avaliar a necessidade de gestões específicas junto às Terras Indígenas localizadas na área de influência indireta do AHE. As seções a seguir descrevem as principais disposições legais aplicáveis ao caso em estudo, para cada tema e esfera de governo. Os órgãos públicos envolvidos na gestão e fiscalização dos aspectos legais são identificados ao longo do texto, assim como as leis que os criaram e as respectivas incumbências administrativas. 11.2 Legislação sobre o Setor Elétrico A legislação que regula a concessão para exploração de serviços e instalações de energia elétrica e de aproveitamento energético dos cursos de água é composta basicamente por leis e decretos federais e por Resoluções da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), inexistindo legislação estadual importante sobre a matéria. No contexto do empreendimento, os instrumentos legais mais importantes são os seguintes (por ordem cronológica): Nível Federal

• Leis No 8.987/95 e No 9.074/95, que dispõem sobre o regime de concessão e permissão da prestação de serviços públicos previstos no Art. 175º da Constituição Federal.

• Decreto Federal No 2003/96, que regulamenta a produção de energia elétrica por produtor independente e autoprodutor.

• Lei No 9.427/96, que institui a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), disciplina o regime de serviços públicos de energia elétrica e dá outras providências.

• Decreto No 2.335/97, que constitui a ANEEL como autarquia sob regime especial, e aprova seu regimento e quadro de cargos.

• Lei No 9.648/98, que altera dispositivos das Leis Nº 3.890-A/61, Nº 8.666/93, Nº 8.987/95, Nº 9.074/95, Nº 9.427/96, autoriza o Poder Executivo a promover a reestruturação das Centrais Elétricas Brasileiras - ELETROBRÁS - e de suas subsidiárias, cria o Operador Nacional do Sistema Elétrico - ONS - e dá outras providências.

• Decreto No 2.655/98, que regulamenta o Mercado Atacadista de Energia Elétrica - MAE -, define as regras de organização do Operador Nacional do Sistema Elétrico - ONS - e dá outras providências.

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• Resolução ANEEL No 249/98, que estabelece as condições de participação dos agentes no MAE e diretrizes para estabelecimento do Mecanismo de Realocação de Energia - MRE.

• Resolução ANEEL No 256/98, que estabelece as condições para o exercício da atividade de comercialização de energia elétrica.

• Resoluções ANEEL Nos 393/98 e 395/98, que estabelecem os procedimentos gerais para registro e aprovação dos estudos de inventário hidrelétrico de bacias hidrográficas.

• Resolução ANEEL No 396/98, que estabelece as condições para implantação, manutenção e operação de estações fluviométricas e pluviométricas associadas a empreendimentos hidrelétricos.

• Lei No 9.991/00, que dispõe sobre realização de investimentos em pesquisa e desenvolvimento e em eficiência energética por parte das empresas concessionárias, permissionárias e autorizadas do setor de energia elétrica, e dá outras providências.

• Resolução ANEEL No 398/01, que estabelece os requisitos gerais para apresentação dos estudos e as condições e os critérios específicos para análise e comparação de Estudos de Inventários Hidrelétricos, visando a seleção no caso de estudos concorrentes.

• Resolução ANEEL No 067/01, Estabelece o procedimento para cálculo e recolhimento da Compensação Financeira pela Utilização de Recursos Hídricos, devida pelos concessionários e autorizados de geração hidrelétrica, e dá outras providências.

• Lei No 10.438/02, que altera o art. 2o da Lei No 9.991/00, sobre a aplicação de recursos em P&D.

• Resolução ANEEL No 433/03 e Resolução Normativa ANEEL Nº 190/05, que estabelecem os procedimentos e as condições para início da operação em teste e da operação comercial de empreendimentos de geração de energia elétrica.

• Lei No 10.847/04 e Decreto No 5.184/04, que criam e regulamentam a Empresa de Pesquisa Energética – EPE - e dão outras providências.

• Lei No 10.848/04, que dispõe sobre a comercialização de energia elétrica no regime de contratação regulada ou livre, e altera várias leis anteriores (Leis Nos 5.655/71, 8.631/93, 9.074/95, 9.427/96, 9.478/97, 9.648/98, 9.991/2000 e 10.438/02), e dá outras providências.

• Lei No 5.081/04, que regulamenta os arts. 13º e 14º da Lei Nº 9.648/98 e o art. 23º da Lei Nº 10.848/04, que tratam do Operador Nacional do Sistema Elétrico - ONS.

• Decreto No 5.163/04, que regulamenta a comercialização de energia elétrica e o processo de outorga de concessões de autorizações de geração de energia elétrica por parte da ANEEL.

• Resolução ANEEL No 279/07, que revoga a Resolução ANEEL No 259/03 e estabelece os procedimentos gerais para requerimento de declaração de utilidade pública, para fins de desapropriação ou instituição de servidão administrativa, de áreas de terras necessárias à implantação de instalações elétricas.

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11.2.1 Outorga de Concessão de Serviços Públicos de Geração de Energia Elétrica De acordo com a Lei No 8.987/1995, a construção, conservação, reforma, ampliação ou melhoramento de quaisquer obras de interesse público pode ser delegada pelo poder concedente mediante licitação, na modalidade de concorrência, à pessoa jurídica ou consórcio de empresas que demonstre capacidade para a sua realização, por sua conta e risco, de forma que o investimento da concessionária seja remunerado e amortizado mediante a exploração do serviço ou da obra por prazo determinado (art. 2º, III). Segundo o art. 6º, toda concessão ou permissão pressupõe a prestação de serviço adequado ao pleno atendimento dos usuários, conforme estabelecido na lei, nas normas pertinentes e no respectivo contrato. A Lei No 9.074/1995, em seu Capítulo II (“Dos Serviços de Energia Elétrica”), estabelece as regras para a concessão de serviços de energia elétrica por parte da União, com base nas disposições da Lei No 8.987/1995. Conforme o art. 4o, § 2º, as concessões de geração de energia elétrica terão o prazo necessário à amortização dos investimentos, limitado a trinta e cinco anos, contado da data de assinatura do contrato, prorrogável, no máximo, por igual período, a critério do poder concedente, conforme as condições estabelecidas no contrato. Segundo o art. 5º, o aproveitamento de potencial hidráulico superior a 1.000 kW, destinado à execução de serviço público ou à produção independente de energia elétrica, é objeto de concessão mediante licitação. O § 2º estabelece que nenhum aproveitamento hidrelétrico será licitado sem a definição do “aproveitamento ótimo” pelo poder concedente, podendo ser atribuída ao licitante vencedor a responsabilidade pelo desenvolvimento dos projetos básico e executivo. Considera-se “aproveitamento ótimo” todo potencial definido em sua concepção global pelo melhor eixo do barramento, arranjo físico geral, níveis d’água operativos, reservatório e potência, integrante da alternativa escolhida para divisão de quedas de uma bacia hidrográfica (§ 3º). De acordo com o artigo 4º, § 7º, as concessionárias e as autorizadas de geração de energia elétrica que atuem no Sistema Interligado Nacional (SIN) não poderão ser coligadas ou controladoras de sociedades que desenvolvam atividades de distribuição de energia elétrica no sistema. Trata-se da chamada “desverticalização” dos ativos das empresas do setor, com a finalidade de evitar formação de monopólio e assegurar a competitividade no mercado de energia. O art. 18º autoriza a constituição de consórcios com o objetivo de geração de energia elétrica para fins de serviços públicos. Os contratos de concessão e permissão conterão cláusulas relativas a requisitos mínimos de desempenho técnico do concessionário ou permissionário, bem assim, sua aferição pela fiscalização através de índices apropriados (art. 25º, § 1o).

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O art. 11º cria a figura jurídica do Produtor Independente de Energia Elétrica (PIE), definido como sendo a “pessoa jurídica ou as empresas reunidas em consórcio que recebam concessão ou autorização do poder concedente para produzir energia elétrica destinada ao comércio de toda ou parte da energia produzida, por sua conta e risco”. O PIE, diferentemente do Concessionário de Serviço Público de Geração, não é um agente titular de serviço público federal, mas um agente individual, não sendo obrigado a comercializar toda a energia elétrica produzida para as concessionárias de distribuição, podendo vender apenas parte dela, inclusive diretamente para consumidores livres. Ambos estão sujeitos às regras de comercialização regulada ou livre, e têm livre acesso garantido aos sistemas de transmissão e distribuição de energia elétrica. No entanto, o PIE pode receber do poder concedente uma autorização para operar, sem a necessidade de concessão via licitação. No caso em pauta, o futuro responsável pela operação da UHE se enquadrará na categoria de concessionário de serviço de geração de energia elétrica, e não como produtor independente, devido à importância estratégica do aproveitamento proposto dentro dos planos do governo para ampliação do sistema hidrelétrico na bacia amazônica. 11.2.2 Órgãos de Regulação, Fiscalização e Planejamento do Setor Elétrico O governo federal, por meio da Lei No 9.427/96, instituiu a ANEEL como autarquia em regime especial, com a finalidade de regular e fiscalizar a produção, transmissão, distribuição e comercialização de energia elétrica, em conformidade com as políticas e diretrizes do governo federal. O Decreto No 2.335/97, que regulamenta o regimento interno da ANEEL, detalha as competências da agência no Anexo 1, Art. 4o. Entre elas, estão: (i) implementar as políticas para o setor elétrico; (ii) promover as licitações para concessão; celebrar e gerir os contratos de concessão; (iii) fiscalizar a conservação e o aproveitamento dos potenciais de energia hidráulica, bem como a utilização dos reservatórios das usinas hidrelétricas; (iv) determinar o “aproveitamento ótimo” do potencial de energia hidráulica (art. 5o da Lei Nº 9.074/95); (v) expedir as autorizações para a realização de estudos, anteprojetos e projetos (art. 28º da Lei Nº 9.427/96), estipulando os valores das respectivas cauções; e (vi) emitir a declaração de utilidade pública, para fins de desapropriação ou instituição de servidão administrativa, das áreas necessárias à implantação de instalações de energia elétrica de concessionários e autorizados (art. 10º da Lei No 9.074/95). A Lei Nº 9.648/98, no seu art. 10º, estabelece o regime de livre negociação para compra e venda de energia elétrica entre concessionários e autorizados. As atividades de coordenação e controle da operação da geração e transmissão de energia elétrica nos sistemas interligados, anteriormente de competência da Eletrobrás, serão executadas, após a privatização da estatal, pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico, pessoa jurídica de direito privado, mediante autorização da ANEEL, a ser integrada por titulares de concessão, permissão ou autorização e consumidores a que se referem os artigos 15º e 16º da Lei Nº 9.074/95.

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AHE Colíder – 300 MW 10 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - Volume IV

A Resolução ANEEL No 351/98 autoriza o ONS a executar as atividades de coordenação e controle da operação da geração e transmissão de energia elétrica nos sistemas interligados. O Decreto No 5.081/04, por sua vez, detalha mais as atribuições do ONS, tais como: (i) o planejamento e a programação da operação e o despacho centralizado da geração, com vistas à otimização do Sistema Interligado Nacional - SIN; (ii) a supervisão e a coordenação dos centros de operação de sistemas elétricos, a supervisão e o controle da operação do SIN e das interligações internacionais; (iii) a contratação e a administração de serviços de transmissão de energia elétrica e as respectivas condições de acesso, bem como dos serviços ancilares; (iv) a proposição ao Poder Concedente das ampliações de instalações da Rede Básica, bem como de reforços do SIN, a serem considerados no planejamento da expansão dos sistemas de transmissão; (v) a proposição de regras para a operação das instalações de transmissão da Rede Básica do SIN, consolidadas em Procedimentos de Rede, a serem aprovadas pela ANEEL. O Decreto No 5.184/04, que regulamenta a Lei nº 10.847/04, cria a Empresa de Pesquisa Energética - EPE, como empresa pública dotada de personalidade jurídica de direito privado, vinculada ao Ministério de Minas e Energia. Segundo o art. 2º, a EPE tem por finalidade prestar serviços na área de estudos e pesquisas destinadas a subsidiar o planejamento do setor energético. 11.2.3 Comercialização de Energia Elétrica O Decreto No 2.655/98, que regulamenta o Mercado Atacadista de Energia Elétrica (MAE) e o funcionamento do ONS, teve vários de seus artigos revogados posteriormente, pelos Decretos No 4.550/02, No 5.081/04, No 5.163/04, No 5.177/04 e 5.287/04. A Resolução ANEEL No 249/98, no art. 2º, estabelece que os concessionários ou autorizados de geração de energia elétrica que possuam central geradora com capacidade instalada igual ou superior a 50 MW poderão participar do Mercado Atacadista de Energia Elétrica.

A Resolução ANEEL No 256/98, no art. 2o, impõe, como condição para o exercício da atividade de comercialização de energia elétrica, a autorização da ANEEL. Segundo o art. 4o, a atividade de comercialização de energia elétrica compreende a compra, a importação, a exportação, e a venda de energia elétrica a outros comercializadores, ou a consumidores que tenham livre opção de escolha do fornecedor.

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AHE Colíder – 300 MW 11 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - Volume IV

Durante os anos de 2003 e 2004, o Governo Federal lançou as bases de um novo modelo para o Setor Elétrico Brasileiro, sustentado pelas Leis nº 10.847/04 e 10.848/04 e pelo Decreto nº 5.163/04. Em termos institucionais, o novo modelo definiu a criação de uma entidade responsável pelo planejamento do setor elétrico em longo prazo (a Empresa de Pesquisa Energética – EPE), uma instituição com a função de avaliar permanentemente a segurança do suprimento de energia elétrica (o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico – CMSE), e uma instituição para dar continuidade às atividades de comercialização de energia elétrica no Sistema Interligado (a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica - CCEE). Outras alterações importantes incluem a definição do exercício do Poder Concedente ao Ministério de Minas e Energia (MME) e a ampliação da autonomia do ONS. Com relação à comercialização de energia, foram instituídos dois ambientes para celebração de contratos de compra e venda de energia: o Ambiente de Contratação Regulada (ACR), do qual participam Agentes de Geração e de Distribuição de energia; e o Ambiente de Contratação Livre (ACL), do qual participam Agentes de Geração, Comercializadores, Importadores e Exportadores de energia e Consumidores Livres (Decreto Federal No 5.163/04). Cabe à EPE participar do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico e habilitar tecnicamente e cadastrar os empreendimentos de geração que poderão ser incluídos nos leilões de energia elétrica proveniente de novos empreendimentos, de que trata o inciso II do § 5º do art. 2º da Lei Nº 10.848/04. A Resolução ANEEL No 433/03 estabelece os procedimentos e as condições para que os agentes detentores concessão de geração possam solicitar à ANEEL a liberação para o início da operação em teste e da operação comercial das respectivas unidades geradoras. De acordo com o Art. 5º, a liberação estará condicionada à apresentação de vários documentos, incluindo declarações de aceitação técnica do ONS e do agente de distribuição, e cópia da Licença de Operação emitida pelo órgão ambiental. 11.2.4 Inventário Hidrelétrico A Lei No 9.427/96, no seu art. 28º, traz diretrizes para a fase de estudos e projetos de aproveitamento de potencial hidráulico, posteriormente detalhadas por Resoluções da ANEEL. A Resolução ANEEL No 393/08, no art. 1º, conceitua como “inventário hidrelétrico” a etapa de estudos de engenharia em que se define o potencial hidrelétrico de uma bacia hidrográfica, mediante o estudo de divisão de quedas e a definição prévia do aproveitamento ótimo de que tratam os §§ 2º e 3º do art. 5º da Lei nº 9.074/95.

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AHE Colíder – 300 MW 12 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - Volume IV

Segundo o art. 2º, a ANEEL publicará anualmente o “Relatório do Potencial Hidrelétrico Brasileiro - Inventários Propostos para o Biênio”, em consonância com o Planejamento Indicativo do Setor Elétrico, apresentando a programação da Agência quanto aos inventários a serem, preferencialmente, executados no período. Outras bacias, não contempladas no Relatório, poderão ter seus estudos de inventário hidrelétrico realizados por conta e risco dos empreendedores. Caso os aproveitamentos identificados nesses estudos vierem a integrar programa de licitações de concessões, será assegurado ao autor dos estudos o ressarcimento dos respectivos custos incorridos e reconhecidos pela ANEEL, pelo vencedor da licitação, nas condições estabelecidas no edital. Os estudos de inventário hidrelétrico serão realizados diretamente pela ANEEL, ou por terceiros, após o necessário registro, segundo os critérios e procedimentos descritos nos arts. 6o a 15º da referida Resolução e nos arts. 4o a 14º da Resolução ANEEL No 395/98. A Resolução ANEEL No 395/98, no art. 3º, estabelece que os interessados em obter concessão para exploração de aproveitamentos hidrelétricos com potência superior a 30.000 kW previstos ou não no Planejamento Indicativo do Setor Elétrico, deverão apresentar os estudos de viabilidade ou o projeto básico à ANEEL, solicitando a sua inclusão no programa de licitação de concessões. Após análise da solicitação, a ANEEL expedirá comunicado ao interessado, informando sobre o resultado do pleito, podendo solicitar informações adicionais que julgar necessárias. Caso o pleito seja considerado válido, após a aprovação do estudo de viabilidade ou do projeto básico, a ANEEL iniciará o procedimento de licitação para outorga de concessão. De acordo com a Resolução ANEEL No 398/01, art. 5º, os Estudos de Inventário Hidrelétrico deverão contemplar o escopo básico definido no Anexo I desta Resolução, tendo como referência o Manual de Inventário Hidrelétrico de Bacias Hidrográficas (ELETROBRÁS-DNAEE, edição 1997, disponibilizado na ANEEL). 11.2.5 Monitoramento Hidrológico-Climatológico A Resolução ANEEL No 396/98 obriga os concessionários e os autorizados, em todos os aproveitamentos hidrelétricos, a instalar, manter e operar estações fluviométricas e pluviométricas na região do empreendimento, nas condições previstas na Resolução. Entende-se por estação fluviométrica o monitoramento limnimétrico contínuo em determinado local do curso d’água, apoiado por medições regulares de vazão, que permitam a manutenção atualizada de curva de descarga para o local. Entende-se por estação pluviométrica o monitoramento contínuo da precipitação num determinado local. O número de estações a serem instaladas será quantificado conforme a área de drenagem incremental de cada aproveitamento, sendo esta entendida como a diferença entre a área de drenagem do aproveitamento em questão e o somatório das áreas de drenagem dos aproveitamentos imediatamente à montante (critérios definidos no art. 1o, § 3o, I).

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AHE Colíder – 300 MW 13 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - Volume IV

Uma das estações fluviométricas deverá ser instalada a jusante do aproveitamento, em local que permita a medição da vazão de jusante, compreendendo as vazões vertidas e turbinadas. Nos aproveitamentos com área inundada superior a 3,0 km², referida ao nível d'água atingido pela cheia com tempo de recorrência de 100 anos, deverá, também, ser instalada uma estação fluviométrica telemetrizada junto ao barramento, com registro local, de hora em hora, e disponibilização das informações de, no mínimo, 3 vezes ao dia. Segundo o art. 2o, os concessionários e autorizados de geração de energia hidrelétrica deverão manter atualizadas as curvas de descarga das estações fluvimétricas associadas aos aproveitamentos hidrelétricos, informando à ANEEL essas atualizações, bem como as curvas “cota-volume” dos reservatórios dos aproveitamentos. O art. 3o fixa o prazo de 180 dias para que as concessionárias e autorizadas de geração ajustem com a ANEEL o programa de implantação ou adequação das estações mencionadas e respectivos procedimentos operacionais. 11.2.6 Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) A Lei No 9.991/00, em seu art. 2o, alterado pela Lei No 10.438/02, obriga as concessionárias de geração de energia elétrica a aplicarem, anualmente, o montante mínimo, 1% de sua receita operacional líquida em pesquisa e desenvolvimento do setor elétrico. O art. 4o estabelece como os recursos devem ser distribuídos entre MME (0,20), Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – FNDCT (0,40) e projetos de P&D regulamentados pela ANEEL (0,40). 11.2.7 Compensação Financeira (royalties) A Lei No 9.648/98, em seu art. 17, estabelece que a compensação pela utilização de recursos hídricos, de que trata a Lei Nº 7.990/89, será de 6% (seis por cento) sobre o valor da energia elétrica produzida, a ser paga por titular de concessão ou autorização para exploração de potencial hidráulico aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios onde se localiza o aproveitamento ou que tenham áreas alagadas por águas do respectivo reservatório. No entanto, a Lei No 9.984/00, que institui a Agência Nacional de Águas (ANA), acrescentou, além dos 6%, uma compensação adicional de 0,75% do valor da energia produzida, a serem destinados ao Ministério do Meio Ambiente, para aplicação na implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos.

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AHE Colíder – 300 MW 14 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - Volume IV

Conforme a Resolução ANEEL No 067/01, art. 1º, os concessionários e autorizados para a produção de energia hidrelétrica deverão pagar, nos termos da legislação em vigor e desta Resolução, mensalmente, os valores relativos à Compensação Financeira pela Utilização de Recursos Hídricos, calculados com base na geração mensal de suas centrais hidrelétricas, observados os casos de isenção estabelecidos em lei. O valor da compensação financeira, para cada central hidrelétrica, será calculado mensalmente, de acordo com a seguinte fórmula:

CF = GH x TAR x PERC onde: CF - é o valor da compensação financeira, em um determinado mês, a ser pago por uma central hidrelétrica considerada; GH - é a energia gerada por uma central hidrelétrica em um determinado mês; TAR - é o valor da Tarifa Atualizada de Referência no mês determinado, fixado pela ANEEL; PERC – percentual correspondente à Compensação Financeira, estabelecido em lei. De acordo com o art. 1o, § 2º, os concessionários e autorizados deverão realizar os respectivos cálculos da compensação devida, informando à ANEEL, até o dia 20 do mês subseqüente ao da geração, os montantes de energia gerada e os valores a serem recolhidos, individualizados por central geradora. Em termos práticos, o valor da Compensação Financeira corresponde a 6,75% da energia de origem hidráulica efetivamente verificada, medida em MWh, multiplicado pela Tarifa Atualizada de Referência (TAR), fixada pela ANEEL. Na distribuição dos recursos da Compensação Financeira, 0,75% são destinados ao MMA, e os 6% restantes, destinados da seguinte forma: 45% dos recursos aos municípios atingidos pelas barragens, proporcionalmente às áreas alagadas de cada município abrangido pelos reservatórios e instalações das UHEs; 45% aos estados onde se localizam os reservatórios, correspondentes à soma das áreas alagadas dos seus respectivos municípios; 10% para a União. No Estado de Mato Grosso, o art. 9o da Lei Estadual No 232/05, alterado pela Lei Estadual No 267/06 e regulamentado pelo Decreto Estadual No 037/07, determina que, a partir do ano de 2007, 50% (cinqüenta por cento) do total das receitas provenientes de compensação financeira (royalties) que o Estado receber em decorrência dos aproveitamentos hidroenergéticos, nos termos da legislação federal, serão destinados ao Fundo Estadual de Meio Ambiente (FEMAM/MT), ficando os 50% restantes (cinqüenta por cento) garantidos à Secretaria de Estado de Indústria, Comércio, Minas e Energia (SICME) e à Companhia Mato-Grossense de Mineração (METAMAT), divididos em metades iguais. 11.2.8 Declaração de Utilidade Pública para Desapropriação ou Instituição de Servidão A Resolução ANEEL No 279/07 descreve os documentos que devem ser apresentados à agência para fins de declaração de utilidade pública para desapropriação ou instituição de servidão administrativa de áreas de terras necessárias à implantação de instalações de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica.

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AHE Colíder – 300 MW 15 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - Volume IV

O art. 2o define que, para obtenção da declaração de utilidade pública, para fins de desapropriação para implantação de central hidrelétrica, o concessionário, permissionário ou autorizado deverá enviar à ANEEL os seguintes documentos:

(i) Requerimento, acompanhado da especificação da dimensão, em hectares, e da destinação das áreas de terras necessárias à implantação do empreendimento, discriminadas por Estado e Município;

(ii) Mapa planialtimétrico, com representação cartográfica das curvas de nível, da poligonal envolvendo a área objeto do requerimento, da representação dos limites dos imóveis atingidos, e do arranjo-geral do empreendimento, com as indicações dos níveis de água máximo normal e máximo maximorum do reservatório, da APP, para relocação de pessoas, para canteiro de obras e demais estruturas, tais como áreas de empréstimo, bota-fora e vias de acesso, bem como das áreas indispensáveis à continuação da obra e das que se destinam à revenda;

(iii) Memorial descritivo dos polígonos das áreas necessárias, com rumos, azimutes e distâncias entre vértices;

(iv) Metodologia empregada para as avaliações das áreas de terras, benfeitorias e indenizações, segundo as normas da ABNT;

(v) Licença Ambiental Prévia. Atendidos os requisitos acima, a declaração de utilidade pública para fins de desapropriação ou servidão administrativa será expedida pela ANEEL a partir da data em que, tecnicamente, em face do estágio de desenvolvimento do projeto, for possível a identificação e delimitação das áreas de terras destinadas à implantação das instalações necessárias à exploração dos serviços de energia elétrica. Segundo o art. 10, constituem obrigações do concessionário em favor do qual seja expedida Declaração de Utilidade Pública – DUP - para desapropriação:

(i) Comunicar aos proprietários ou possuidores, na fase de levantamento cadastral ou topográfico, a destinação das áreas de terras onde serão implantadas as instalações necessárias à exploração dos serviços de energia elétrica;

(ii) Promover ampla divulgação e esclarecimentos acerca da implantação do empreendimento, junto à comunidade e aos proprietários ou possuidores das áreas a serem atingidas, mediante reunião pública ou outras ações específicas de comunicação, tratando inclusive de aspectos relacionados à delimitação das áreas afetadas e aos critérios para indenização;

(iii) Desenvolver máximos esforços de negociação junto aos proprietários ou possuidores, objetivando promover, de forma amigável, a liberação das áreas de terras destinadas à implantação das instalações necessárias à exploração dos serviços de energia elétrica;

(iv) Encaminhar, trimestralmente, à Superintendência de Fiscalização dos Serviços de Geração – SFG -, o quadro resumo das negociações entabuladas com os proprietários ou possuidores dos imóveis por ele afetados, segundo modelos constantes dos Anexos IX e X da Resolução, até a conclusão do processo de negociação.

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AHE Colíder – 300 MW 16 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - Volume IV

A comprovação da realização de Audiência(s) Pública(s) no âmbito do processo de licenciamento prévio do empreendimento supre a obrigação de que trata o inciso II. Os autos dos processos de negociação, incluindo os acordos estabelecidos com os proprietários das áreas de terra objeto do requerimento de declaração de utilidade pública, deverão ser preservados pela requerente e mantidos à disposição da ANEEL pelo prazo de cinco anos. Demais disposições gerais aplicáveis a processos de desapropriação por utilidade pública, constam na Seção 11.9. 11.3 Legislação sobre Licenciamento e Compensação Ambiental Os principais diplomas que tratam dos procedimentos de Licenciamento e Compensação Ambiental aplicáveis ao empreendimento são de nível federal e estadual. Não há legislação municipal específica sobre estes temas, devendo-se atender às determinações constantes nos diplomas federais e estaduais. 11.3.1 Definições Gerais: Degradação, Poluição, Dano e Licenciamento Ambiental Os principais diplomas legais de nível federal sobre os temas em foco são os seguintes:

• Constituição Federal, Título VI – Do Meio Ambiente, art. 225. • Lei No 6.938/81, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e

mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. • Lei Federal No 7.347/85, que disciplina a ação civil pública de responsabilidade por

danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico, e dá outras providências.

• Resolução CONAMA No 001/86, que define os empreendimentos a serem licenciados por meio de EIA/RIMA.

• Resolução CONAMA Nº 006/86, que aprova os modelos de publicação de licenciamento em quaisquer de suas modalidades, sua renovação e a respectiva concessão.

• Resolução CONAMA Nº 006/87, que dispõe sobre o licenciamento ambiental das concessionárias de exploração, geração e distribuição de energia elétrica.

• Resolução CONAMA No 09/87, que trata de procedimentos relativos a audiências públicas em processos de licenciamento ambiental.

• Lei No 7.804/89, que altera a Lei nº 6.938/81 (Política Nacional do Meio Ambiente), a Lei nº 7.735/89, a Lei nº 6.803/80, e dá outras providências.

• Decreto No 99.274/90, que regulamenta a Lei No 6.938/81 e estabelece a sistemática de licenciamento em três etapas: Licença Prévia (LP), Licença de Instalação (LI) e Licença de Operação (LO).

• Resolução CONAMA No 237/97, que detalha melhor a distribuição de responsabilidades de licenciamento entre as três esferas de governo e confirma a sistemática de licenciamento seqüencial (LP, LI e LO).

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AHE Colíder – 300 MW 17 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - Volume IV

• Lei No 9.605/98 (lei de crimes ambientais), que dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências.

• Lei Nº 9.985/00, que regulamenta o art. 225º, § 1º, inciso I, II, III e VII da Constituição Federal, instituindo o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC) e que altera o disposto na Resolução CONAMA Nº 02/96 no que se refere à compensação ambiental.

• Decreto Nº 4.340/02, que regulamenta artigos da Lei Nº 9.985/00. • Instrução Normativa IBAMA Nº 48/04, que revoga as Portarias Nos 71-N/98 e 02-

N/99, e dá outras providências (a modalidade de compensação prevista nestas portarias não atinge os objetivos da reposição florestal, por isso as mesmas foram revogadas).

• Decreto Nº 5.566/05, que dá nova redação ao caput do art. 31 do Decreto Nº 4.340/02, que regulamenta artigos da Lei Nº 9.985/00.

• Resolução CONAMA Nº 371/06, que revoga a Resolução CONAMA Nº 02/96 e estabelece diretrizes aos órgãos ambientais para o cálculo, cobrança, aplicação, aprovação e controle de gastos de recursos advindos de compensação ambiental, conforme a Lei Nº 9.985/00.

• Resolução CONAMA Nº 378/06, que define os empreendimentos potencialmente causadores de impacto ambiental nacional ou regional para fins do disposto no inciso III, § 1º, art. 19º da Lei nº 4.771/65, e dá outras providências.

• Decreto No 6.514/08 (nova lei de crimes ambientais), que dispõe sobre as infrações e sanções administrativas ao meio ambiente estabelece o processo administrativo federal para apuração destas infrações, e dá outras providências.

A Política Nacional de Meio Ambiente foi estabelecida pela Lei No 6.938/81, posteriormente alterada pelas Leis Nos 7.804/89 e 8.028/90, e regulamentada pelo Decreto Nº 99.274/90, tendo sido assimilada à Constituição Federal de Outubro de 1988, cujo Artigo 225º é integralmente consagrado ao meio ambiente. A Política Nacional de Meio Ambiente visa a compatibilizar o desenvolvimento econômico-social com a preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico. Para tanto, criou-se uma estrutura institucional e administrativa descentralizada - o Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA) -, composta por órgãos federais, estaduais e municipais responsáveis pelo controle, licenciamento e fiscalização de atividades capazes de causar danos ao meio ambiente, e um conjunto de instrumentos técnicos e jurídicos (art. 9o), entre eles, a avaliação de impactos ambientais, o licenciamento ambiental e a criação de áreas protegidas. Segundo o art. 14 do Decreto No 99.274/90, a atuação do SISNAMA efetivar-se-á mediante articulação coordenada dos órgãos e entidades que o constituem, observado “o acesso da opinião pública às informações relativas às agressões ao meio ambiente e às ações de proteção ambiental, na forma estabelecida pelo CONAMA”, cabendo aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios a regionalização das medidas emanadas do SISNAMA, elaborando normas e padrões supletivos e complementares, como em relação a parâmetros de emissão, ejeção e emanação de agentes poluidores.

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AHE Colíder – 300 MW 18 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - Volume IV

No nível federal, a implementação da política nacional de meio ambiente é competência do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis – IBAMA - e do Conselho Nacional de Meio Ambiente – CONAMA -, vinculados ao Ministério do Meio Ambiente (MMA). Nos estados, a tarefa fica por conta das secretarias de meio ambiente (SEMAs) ou entidades com similar função (fundações, autarquias, departamentos), e dos conselhos estaduais de meio ambiente (COEMAs, CONSEMAs). A Lei No 6.938/81 define conceitos básicos importantes, como “degradação” e “poluição”. Segundo o art. 3o, degradação ambiental é “a alteração adversa das características do meio ambiente”, sendo que poluição é “a degradação ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente: a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota; d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos”. A política ambiental brasileira estabelece que todas as atividades com potencial de degradar ou poluir o meio ambiente devem ser submetidas a processos de licenciamento ambiental. Também fica estabelecido o princípio da responsabilidade objetiva, conforme reza o Artigo 14o: “Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos ao meio ambiente e a terceiros afetados por sua atividade (...)”. Depreende-se da Lei No 6.938/81 que todo dano ao meio ambiente é vetado, salvo, por exceção, por meio do regime de licenciamento. Desta forma, as licenças ambientais constituem provas de adequação de empreendimentos e/ou atividades dentro do regime de exceção pelo qual se admite a realização de atividades impactantes, desde que de forma controlada e/ou mediante compensação. O licenciamento ambiental é o instrumento da Política Nacional do Meio Ambiente que permite a localização, construção, instalação, ampliação, modificação e operação de empreendimentos e/ou atividades que utilizam recursos ambientais, que são considerados efetiva ou potencialmente poluidores, ou capazes de causar degradação ambiental. Para tanto, exige-se a elaboração e apresentação de Estudo de Impacto Ambiental e respectivo Relatório de Impacto sobre o Meio Ambiente (EIA/RIMA), para análise do IBAMA ou do órgão estadual competente. A Lei Federal No 7.347/85, alterada pelas Leis Nos 7.804/89 e 8.028/90, define o procedimento de ação civil pública por danos causados ao meio ambiente e aos bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico. Por essa lei, qualquer cidadão tem direito a denunciar danos ao meio ambiente. Segundo o art. 5º, a ação principal e a cautelar pode ser proposta pelo Ministério Público, pela União, pelos Estados e Municípios, bem como por autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista. O Ministério Público, se não intervier no processo como parte, atuará obrigatoriamente como fiscal da lei.

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A Lei Federal No 9.605/97 dispõe sobre os crimes ambientais, detalhando as sanções penais e administrativas para condutas e atividades lesivas ao meio ambiente. O Decreto Federal No 3.179/99 regulamentava e Lei No 9.605/97, definindo o regime de multas aplicáveis segundo o tipo de dano ambiental causado. Mais recentemente, o Decreto No 6.514/08 veio regulamentar o Capítulo VI da Lei No 9.605/98, tornando mais rígidas as sanções administrativas derivadas de infrações à legislação ambiental e revogando o Decreto No 3.179/99 e alterações posteriores (Decretos Nos 3.919/01, 4.592/03 e 5.523/05, principalmente). 11.3.2 EIA/RIMA e Etapas de Licenciamento A Resolução CONAMA No 001/86 define o conteúdo mínimo que o EIA e o RIMA devem abordar (arts. 5o, 6o e 9o), e exige que estes sejam realizados por equipe multidisciplinar habilitada, não dependente direta ou indiretamente do proponente do projeto, e que se responsabilize tecnicamente pelos resultados apresentados (art. 7o). O art. 2o lista todos os tipos de empreendimentos que estão sujeitos a licenciamento mediante apresentação de EIA/RIMA, incluindo: “VII - Obras hidráulicas para exploração de recursos hídricos, tais como: barragem para fins hidrelétricos, acima de 10MW, de saneamento ou de irrigação, abertura de canais para navegação, drenagem e irrigação, retificação de cursos d'água, abertura de barras e embocaduras, transposição de bacias, diques”. A Resolução CONAMA No 006/87 edita regras específicas para o licenciamento de obras de geração de energia elétrica de grande porte. Segundo o art. 4º, a Licença Prévia (LP) deverá ser requerida no início do estudo de viabilidade do aproveitamento hidroelétrico; a Licença de Instalação (LI), obtida antes da realização da licitação para construção do empreendimento; e a Licença de Operação (LO), antes do fechamento da barragem. O Anexo da resolução lista os documentos necessários às três etapas do licenciamento de usinas hidrelétricas, quais sejam:

Licença Prévia (LP)

- Requerimento de LP; - Portaria MME autorizando o Estudo de Viabilidade; - EIA/RIMA; - Cópia da publicação do pedido da LP.

Licença de Instalação (LI)

- Relatório do Estudo de Viabilidade; - Requerimento de LI; - Cópia da publicação da concessão da LP; - Cópia da publicação do pedido de LI; - Cópia do Decreto de outorga de concessão do aprov. hidrelétrico; - Projeto Básico Ambiental (PBA).

Licença de Operação (LO) - Requerimento de LO; - Cópia da publicação da concessão da LI; - Cópia da publicação do pedido de LO.

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O Anexo I da Resolução CONAMA No 237/97 também descreve os tipos de atividades ou empreendimentos sujeitos ao licenciamento ambiental, incluindo, como obras civis, “barragens e diques”. Segundo o art. 1o, II dessa resolução, licença ambiental é o “ato administrativo pelo qual o órgão ambiental competente, estabelece as condições, restrições e medidas de controle ambiental que deverão ser obedecidas pelo empreendedor, pessoa física ou jurídica, para localizar, instalar, ampliar e operar empreendimentos ou atividades utilizadoras dos recursos ambientais consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou aquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental”. Conforme o art. 8º, o Poder Público, no exercício de sua competência de controle, expedirá as seguintes licenças:

“I - Licença Prévia (LP) - concedida na fase preliminar do planejamento do empreendimento ou atividade aprovando sua localização e concepção, atestando a viabilidade ambiental e estabelecendo os requisitos básicos e condicionantes a serem atendidos nas próximas fases de sua implementação;” “II - Licença de Instalação (LI) - autoriza a instalação do empreendimento ou atividade de acordo com as especificações constantes dos planos, programas e projetos aprovados, incluindo as medidas de controle ambiental e demais condicionantes, da qual constituem motivo determinante;” “III - Licença de Operação (LO) - autoriza a operação da atividade ou empreendimento, após a verificação do efetivo cumprimento do que consta das licenças anteriores, com as medidas de controle ambiental e condicionantes determinados para a operação”.

O art. 10º descreve as etapas do procedimento de licenciamento, compreendendo a análise do órgão competente, a solicitação de complementações, a emissão de parecer técnico final e a realização de audiência pública. As licenças ambientais poderão ser expedidas isolada ou sucessivamente, de acordo com a natureza, as características e a fase do empreendimento ou atividade. O art. 5o, § Único estabelece, ainda, que o órgão ambiental estadual ou o IBAMA farão o licenciamento ambiental somente após considerarem o exame técnico dos órgãos ambientais dos municípios em que se localiza a atividade ou empreendimento. De acordo com o art. 10º, § 1º, no procedimento de licenciamento ambiental, deverá ser apresentada, obrigatoriamente, a certidão de uso do solo das Prefeituras Municipais envolvidas, declarando que o local e o tipo de empreendimento ou atividade estão em conformidade com a legislação aplicável de zoneamento e uso e ocupação do solo. É importante ressaltar, entretanto, que os empreendimentos ou atividades serão licenciados em um único nível competente, não podendo haver superposições (art. 7º). Os pedidos das licenças ambientais deverão ser publicados de acordo com os modelos em anexo à Resolução CONAMA Nº 006/86. O art. 1º da Resolução CONAMA No 009/87 define que a audiência pública referida na Resolução CONAMA Nº 001/86 tem por finalidade expor aos interessados o conteúdo do produto em análise e do seu referido RIMA, dirimir dúvidas e

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AHE Colíder – 300 MW 21 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - Volume IV

recolher dos presentes críticas e sugestões. Segundo o art. 2º, sempre que julgar necessário, ou quando for solicitado por entidade civil, pelo Ministério Público, ou por 50 (cinqüenta) ou mais cidadãos, o órgão ambiental promoverá a realização de audiência pública. A partir da data do recebimento do RIMA, o órgão ambiental fixará em edital e anunciará pela imprensa local a abertura do prazo, que será, no mínimo, de 45 dias para solicitação de audiência pública. A ata da(s) audiência(s) pública(s) e seus anexos servirão de base, juntamente com o RIMA, para a análise e parecer final do órgão licenciador quanto à aprovação do projeto (art. 5º). 11.3.3 Compensação Ambiental Conforme definição do IBAMA, a Compensação Ambiental “é um mecanismo financeiro de compensação pelos efeitos de impactos não mitigáveis ocorridos quando da implantação de empreendimentos, e identificados no processo de licenciamento ambiental”. Estes recursos são destinados às Unidades de Conservação, para a consolidação do Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC. A Lei No 9.985/2000, regulamentada pelo Decreto Nº 4.340/02 e alterada pela Lei No 11.132/05 e pelo Decreto Nº 5.566/05, revoga os arts. 5° e 6° da Lei N° 4.771/65 (Código Florestal), o art. 5° da Lei N° 5.197/67 e o art. 18º da Lei N° 6.938/81, instituindo o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza. A legislação sobre o SNUC determina que, no caso de licenciamento de empreendimentos de significativo impacto ambiental via EIA/RIMA, o empreendedor é obrigado a apoiar a implantação e manutenção de Unidade de Conservação do Grupo de Proteção Integral, que pode ser dos seguintes tipos: Estação Ecológica, Reserva Biológica, Parque Nacional, Estadual ou Municipal, Monumento Natural ou Refúgio de Vida Silvestre. O montante de recursos a ser destinado pelo empreendedor para esta finalidade não pode ser inferior a 0,5% (meio por cento) dos custos totais previstos para a implantação do empreendimento, sendo o percentual fixado pelo órgão licenciador, de acordo com o grau de impacto ambiental causado pelo empreendimento. Ao órgão compete definir também as unidades de conservação a serem beneficiadas, considerando as propostas apresentadas no EIA/RIMA, podendo inclusive ser contemplada a criação de novas unidades de conservação. Quando o empreendimento afetar uma UC específica ou sua zona de amortecimento, o licenciamento só poderá ser concedido mediante autorização do órgão responsável por sua administração, e a unidade afetada, mesmo que não pertencente ao Grupo de Proteção Integral, deverá ser uma das beneficiárias da compensação.

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AHE Colíder – 300 MW 22 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - Volume IV

A Resolução CONAMA Nº 371/06 esclarece que os empreendimentos passíveis de compensação ambiental são aqueles que geram impactos negativos e não mitigáveis, ou seja, o empreendimento deve se enquadrar nas duas situações concomitantemente. O órgão ambiental estabelecerá o grau de impacto ambiental causado pela implantação do empreendimento, fundamentado em base técnica específica, que permita avaliar os impactos negativos e não mitigáveis, identificados no processo de licenciamento, de acordo com o EIA/RIMA, e respeitando o princípio da publicidade. Para efeito da determinação do grau de impacto ambiental, serão considerados somente os impactos ambientais causados aos recursos ambientais, isto é, aos componentes dos meio físico e biótico da área de influência do empreendimento. Entende-se que o valor da compensação ambiental fica fixado em 0,5% (meio por cento) dos custos previstos para a implantação do empreendimento, até que o órgão ambiental estabeleça e publique metodologia para definição do grau de impacto ambiental. Uma vez definido o valor, seja ele combinado ou pago, não haverá reavaliação, nem a obrigatoriedade de destinação de recursos complementares constantes em acordos, termos de compromisso, Termos de Ajustamento de Conduta (TAC), contratos, convênios, atas ou qualquer outro documento formal firmado pelo empreendedor junto aos órgãos ambientais, a título de compensação ambiental (arts. 14º e 15º). O percentual estabelecido para a compensação ambiental de novos empreendimentos deverá ser definido no processo de licenciamento quando da emissão da Licença Prévia, ou, quando esta não for exigível, da Licença de Instalação. O desembolso da compensação ambiental não será exigido antes da emissão da Licença de Instalação. É no momento da emissão da LI que será fixado o montante da compensação e celebrado o termo de compromisso, que deverá prever mecanismo de atualização dos valores dos desembolsos. Cabe ao EIA sugerir as Unidades de Conservação mais adequadas para aplicação dos recursos da compensação ambiental, embora a decisão final seja das Câmaras de Compensação Ambiental federal ou estadual, em comum acordo com o órgão licenciador (arts. 9º e 10º). 11.3.4 Licenciamento e Compensação Ambiental no Estado de Mato Grosso Os principais diplomas estaduais sobre licenciamento e compensação ambiental no Mato Grosso são os seguintes:

• Constituição Estadual de 1989, Capítulo III – Dos Recursos Naturais, Seção I – Do Meio Ambiente.

• Código Estadual do Meio Ambiente: Lei Complementar Nº 38/95, regulamentada pelos Decretos Nº 790/96, No 769/99 e No 037/07, e alterada pelas Leis Complementares No 70/00, No 86/01, No 232/05, Nº 267/06 e No 282/07.

• Portaria FEMA Nº 129/96, que dispõe sobre as licenças ambientais para a construção, instalação, ampliação e o funcionamento de estabelecimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais, considerados efetiva ou potencialmente degradadores, elencadas no Anexo III desta Portaria, nos termos do art. 1º do Decreto Nº 790/96.

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AHE Colíder – 300 MW 23 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - Volume IV

• Decreto N° 1.795/97, que dispõe sobre o Sistema Estadual de Unidades de Conservação e dá outras providências.

• Decreto N° 4.585/02, que dispõe sobre a aplicação dos recursos obrigatórios decorrentes de licenciamento ambiental de significativo impacto precedido de EIA/RIMA, e dá outras providências.

• Lei Complementar No 214/05, alterada pelas Leis Complementares Nº 216/05 e No 220/05, que cria a Secretaria de Estado do Meio Ambiente – SEMA – em substituição à FEMA, e dá outras providências.

• Decreto No 7.007/06, Anexo Único, que relaciona as atividades passíveis de licenciamento ambiental (regulamenta o § 1º do art. 1º da Lei nº 8.418/05, que foi revogada).

• Decreto No 7.772/06, que cria a Câmara de Compensação Ambiental, disciplina a compensação por significativo impacto ambiental, e dá outras providências.

• Lei No 8.791/07, que disciplina a cobrança pelos serviços realizados pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente, e dá outras providências.

• Decreto Nº 807/07, que dispõe sobre o prazo de validade das Licenças Ambientais, sua renovação, e dá outras providências.

A Constituição Estadual do Mato Grosso, de 1989, no art. 263º, define como uma das incumbências do Estado “exigir, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade, garantida a participação da comunidade mediante audiências públicas e de seus representantes em todas as fases”. O art. 279º exige, para a construção de centrais termoelétricas e hidroelétricas, a apresentação de projeto técnico de impacto ambiental, a participação do Conselho Estadual do Meio Ambiente e a aprovação da Assembléia Legislativa. A legislação referente ao Código Estadual do Meio Ambiente estabelece as bases normativas e administrativas para a Política Estadual de Meio Ambiente. O Sistema Estadual do Meio Ambiente (SISEMA) é composto por órgãos colegiados de caráter deliberativo, com participação de representantes do Estado e da sociedade civil, como o Conselho Estadual do Meio Ambiente (CONSEMA) e o Conselho Estadual de Recursos Hídricos (CEHIDRO); pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente (SEMA), substituta da antiga Fundação Estadual do Meio Ambiente (FEMA), como órgão executivo; e pelos órgãos ambientais municipais de controle e fiscalização. O Batalhão de Polícia Militar de Proteção Ambiental, responsável pela fiscalização e autuação de infrações ambientais, também participa do SISEMA. A legislação estabelece, ainda, o Fundo Estadual do Meio Ambiente (FEMAM), com o objetivo de financiar a implementação de ações de gestão ambiental. Cabe à SEMA, entre outras tarefas, exercer o poder de polícia administrativa ambiental no Estado de Mato Grosso, por meio dos instrumentos de: (i) licenciamento ambiental de atividades potencialmente impactantes; (ii) fiscalização e aplicação de penalidades por infração à legislação ambiental; (iii) controle e monitoramento das atividades de exploração dos recursos minerais, hídricos, florestais e faunísticos (art. 6o, II). Dentre as tarefas do CONSEMA, consta a de “apreciar e deliberar sobre o licenciamento ambiental de projetos públicos ou privados” que impliquem na realização de EIA/RIMA (art. 3o).

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Segundo a redação dada ao art. 3o do Código Estadual pela Lei Complementar No 070/00, dentre as atribuições do órgão colegiado, está a de “opinar sobre o licenciamento ambiental das usinas termelétricas ou hidrelétricas com capacidade acima de 30MW, para o que, obrigatoriamente, será exigida a prévia elaboração de Estudo de Impacto Ambiental - EIA e apresentação do respectivo Relatório de Impacto Ambiental - RIMA, dependendo a validade da licença de aprovação pela Assembléia Legislativa”. No caso do AHE Colíder, o CONSEMA e a Assembléia Legislativa participarão obrigatoriamente da aprovação do empreendimento. A SEMA, no exercício de sua competência, expedirá as licenças ambientais habituais determinadas pela legislação federal (LP, LI e LO), além da Licença Ambiental Única (LAU), que autoriza exploração florestal, desmatamento e atividades agropecuárias, e da Licença de Operação Provisória (LOP), não aplicável ao caso em pauta. De acordo com a redação do art. 19 do Código Estadual do Meio Ambiente, dada pela Lei Complementar No 282/07, os prazos de validade das licenças são: (i) LP: mínimo de 3 (três) e máximo de 4 (quatro) anos; (ii) LI: mínimo de 3 (três) e máximo de 5 (cinco) anos; (iii) LO: mínimo de 3 (três) e máximo de 6 (seis) anos; LAU: mínimo de 8 (oito) e máximo de 10 (dez) anos (art. 19º). Quando a expedição de Licença de Instalação envolver a supressão da cobertura vegetal e remoção da fauna, as Autorizações de desmatamento e de resgate de fauna serão concedidas pelo setor responsável pela expedição da respectiva licença. A expedição da Autorização de Desmatamento está condicionada à execução do Plano de Exploração Florestal e do aproveitamento da madeira ou material lenhoso existente na área. Segundo o Anexo Único do Decreto No 7.007/06, a construção de barragens para geração de energia elétrica é uma obra com Grau e Poluição Alto. A Lei No 8.791/07, por sua vez, normatiza os cálculos para cobrança, por parte da SEMA, pela prestação de serviços de licenciamento e autorização aos empreendedores, trazendo em seu Anexo I os parâmetros para classificação dos empreendimentos segundo o porte (mínimo, pequeno, médio, grande e excepcional). No caso do empreendimento em pauta, o porte é dado pelo volume de investimento, convertido em UPF/MT, o que resulta no seu enquadramento como de Grande Porte. O Anexo III traz as fórmulas para cálculo do valor dos serviços de licenciamento de empreendimentos específicos. Para usinas hidrelétricas, a fórmula é a seguinte:

Pr = 30 + 2 x Pt + 15 x Ai Sendo: Pr = preço das licenças em UPF/MT; Pt = potência instalada (MW); Ai = área a ser inundada (hectare). Compensação Ambiental no Mato Grosso O Decreto N° 1.795/97 dispõe sobre o Sistema Estadual de Unidades de Conservação, criando basicamente as mesmas categorias de áreas protegidas estabelecidas na legislação federal.

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Segundo o Decreto No 4.585/02, art. 1º, para fazer face à reparação dos danos ambientais causados pelos empreendimentos de significativo impacto ambiental, assim considerados pelo Órgão Ambiental a partir da análise do EIA/RIMA, o empreendedor é obrigado a apoiar a implantação e a manutenção de Unidade de Conservação do Grupo de Proteção Integral. Entende-se como “implantação e manutenção” de UC “o estabelecimento de infra-estrutura, aquisição de equipamentos, materiais permanentes e de consumo, diárias e capacitação técnica do órgão ambiental”. O montante mínimo de recursos a ser destinado pelo empreendedor para esta finalidade não poderá ser inferior a 0,5% (meio por cento) dos custos totais previstos para a implantação do empreendimento, sendo o percentual fixado pelo órgão licenciador, de acordo com o grau de impacto ambiental causado pelo empreendimento. Do valor total da reparação, poderá ser estipulado, no máximo, 30% (trinta por cento) para a SEMA, para aquisição de equipamentos, materiais permanentes e de consumo, diárias e capacitação técnica ambiental. O valor restante - 70% (setenta por cento) - deverá ser aplicado na Unidade de Conservação na qual será destinada a compensação, em infra-estrutura, implementação de programas de manejo, aquisição de terras, aquisição de materiais permanentes e equipamentos e realização de parceria para gestão. O Decreto No 7.772/06 cria a Câmara de Compensação Ambiental (CCA) como órgão colegiado deliberativo, no âmbito da SEMA. De acordo com o art. 6º, compete à CCA: (i) aprovar anualmente o Plano de Aplicação relativo aos recursos provenientes de Compensação ambiental; (ii) analisar e propor critérios de graduação de impactos ambientais derivados de empreendimentos ou ações que provoquem ou venham a provocar dano ao meio ambiente nos casos de licenciamento; (iii) analisar as propostas de compensação ambiental, verificando a adequação legal e técnica; (iv) opinar sobre o Termo de Compromisso de compensação ambiental; (v) homologar o Parecer de Gradação e apreciar o Plano de Trabalho apresentado pelo empreendedor. Cabe destacar, conforme citado na legislação federal, que a compensação ambiental aplica-se em função dos impactos não mitigáveis ou residuais de um dado empreendimento ou atividade sobre os recursos ambientais. O Decreto No 7.772/06 estabelece que os percentuais serão gradativos, a partir de 0,5% (meio por cento), considerando a amplitude dos impactos gerados. Será acrescido percentual de 0,25%, (vinte e cinco centésimos) como Fator Adicional para empreendimentos instalados: (i) em áreas consideradas de importância biológica especial, extrema ou muito alta, de acordo com o disposto no Zoneamento Econômico Ecológico de Mato Grosso e em legislações especificas de áreas prioritárias para a conservação; (ii) em áreas de ocorrência, trânsito ou reprodução de espécies consideradas endêmicas, raras, vulneráveis ou ameaçadas de extinção, observadas as publicações vigentes; (iii) em um raio de até 10 Km dos limites das Unidades de Conservação do Grupo de Proteção Integral ou em sua zona de amortecimento, assim estabelecida em seu plano de manejo, independentemente de sua localização. Havendo a ocorrência simultânea de mais de uma das características assim descritas, o percentual de 0,25% será aplicado cumulativamente.

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AHE Colíder – 300 MW 26 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - Volume IV

Após a análise dos impactos não mitigáveis do empreendimento, o órgão licenciador emitirá um parecer de gradação fixando o valor da compensação ambiental devida dando ciência ao empreendedor. O Parecer de Gradação e o Plano de Trabalho apresentado pelo empreendedor serão homologados pela Câmara de Compensação, antes da assinatura do Termo de Compromisso de Compensação Ambiental a ser firmado pelo empreendedor. 11.4 Legislação Florestal Os diplomas que tratam da proteção de florestas e formações de vegetação nativa, da conservação do solo e dos critérios para demarcação de Áreas de Preservação Permanente (APP) e Reserva Legal (RL) e autorização para desmatamento, em nível federal e estadual, são os seguintes: Nível Federal

• Código Florestal Brasileiro: Lei Nº 4.771/65, alterada pelas Leis No 7.803/89 e No 11.284/06 e pela Medida Provisória Nº 2.166-67/01.

• Portaria IBAMA No 37-N/92, que torna pública a Lista Oficial de Espécies da Flora Brasileira Ameaçada de Extinção.

• Lei No 9.985/00 (SNUC), regulamentada pelo Decreto No 4.340/02, que revoga o art. 5o do Código Florestal.

• Resolução CONAMA Nº 302/02, que dispõe sobre os parâmetros para delimitação de APP de reservatórios artificiais e o regime de uso do entorno (regulamenta o art. 2o do Código Florestal).

• Resolução CONAMA Nº 303/02, que dispõe sobre parâmetros, definições e limites de APP (regulamenta o art. 2o do Código Florestal).

• Resolução CONAMA No 369/06, que dispõe sobre os casos excepcionais de utilidade pública, interesse coletivo ou baixo impacto ambiental que possibilitam intervenção ou supressão de vegetação em APP.

• Resolução CONAMA Nº 378/06, que define os empreendimentos potencialmente causadores de impacto ambiental nacional ou regional para fins do disposto no inciso III, § 1º, art. 19º da Lei nº 4.771/65, e dá outras providências.

• Decreto No 5.975/06, que regulamenta o arts. 12º da Lei No 4.771/65, o art. 4o, inciso III, da Lei No 6.938/81, o art. 2o da Lei No 10.650/03, altera e acrescenta dispositivos aos Decretos No 3.179/99 e 3.420/00, e dá outras providências.

• Portaria IBAMA No 178/08, que define a diretrizes e procedimentos para apreciação e anuência relativas à emissão de autorizações de supressão de florestas e outras formas de vegetação nativa em área maior que dois mil hectares em imóveis rurais localizados na Amazônia Legal.

• Nível Estadual

• Código de Terras do Estado de Mato Grosso: Lei Nº 3.922/77, regulamentada pelo Decreto nº 1.260/78, alterado pelos Decretos No 2.024/03 e No 7.491/06.

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AHE Colíder – 300 MW 27 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - Volume IV

• Constituição Estadual de 1989, Capítulo III – Dos Recursos Naturais, Seção I – Do Meio Ambiente.

• Lei Nº 6.126/92, que institui o Programa Estadual de Conservação do Solo e dá outras providências.

• Código Estadual do Meio Ambiente: Lei Complementar Nº 38/95, regulamentada pelos Decretos Nº 790/96 e No 769/99, e alterada pelas Leis Complementares No 70/00, No 86/01, No 232/05, Nº 267/06 e No 282/07.

• Decreto N° 1.795/97, que dispõe sobre o Sistema Estadual de Unidades de Conservação e dá outras providências.

• Política Florestal do Estado de Mato Grosso: Lei No 233/05, regulamentada pelos Decretos No 8.188/06, No 1.214/08 e No 1.375/08, e alterada pelas leis No 254/06, No 309/08, No 311/08 e No 312/08.

• Lei No 7.330/00, regulamentada pelo Decreto No 2.759/01 e alterada pela Lei No 7.868/02, que institui o sistema de compensação entre áreas de reserva legal alterada em áreas de Unidades de Conservação Estaduais e dá outras providências.

• Lei No 8.399/05, que institui a Legislação de Segurança Contra Incêndio e Pânico do Estado de Mato Grosso e estabelece outras providências.

• Decreto Nº 6.974/06, que institui os Termos de Ajustamento de Conduta para Recuperação de Áreas Degradadas, para Compensação de Reserva Legal Degradada e para Locação de Reserva Legal em Área de Posse, e dá outras providências.

• Decreto No 7.349/06, que regulamenta o Programa Estadual de Regularização Ambiental - Pró-Regularização.

• Decreto No 8.189/06, que disciplina a utilização, o preenchimento e a emissão da Guia Florestal (GF) para o transporte de produtos e/ou subprodutos de origem florestal do Estado de Mato Grosso, e dá outras providências.

• Lei N° 8.961/08, que cria o Programa Mato-grossense de Legalização Ambiental Rural – MT LEGAL, disciplina as etapas do Processo de Licenciamento Ambiental de Imóveis Rurais e dá outras providências.

• Portaria FEMA No 40/04, que dispõe sobre a Compensação de Áreas de Reserva Legal e dá outras providências.

• Portaria SEMA No 10/05, que proíbe a concessão de licenças, autorizações ou atos administrativos de qualquer espécie que permitam ou legitimem de qualquer modo a desobediência à reserva legal mínima de 80%, devendo obedecer integralmente o art. 16º, I, da Lei nº 4.771/65 na redação da MP 2.166-67/2001.

• Portaria SEMA No 32/06, que define procedimentos a serem adotados para cubagem de tora no âmbito do Estado de Mato Grosso.

• Portaria SEMA No 89/07, que define o novo formato dos mapas digitais e analógicos dos projetos de Licenciamento Ambiental, através da LAU, Exploração Florestal, Manejo Florestal Sustentado de Uso Múltiplo e Levantamento Circunstanciado e/ou Plano de Corte, no âmbito da SEMA.

• Portaria SEMA No 99/07, que relaciona os documentos necessários para instruir os projetos de Licenciamento Ambiental Único, Plano de Exploração Florestal, Plano de Manejo Florestal Sustentado de Uso Múltiplo, Averbação de Reserva Legal de Propriedades Intactas, Projeto de Plantio Florestal, Levantamento Circunstanciado e Plano de Corte.

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AHE Colíder – 300 MW 28 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - Volume IV

• Portaria SEMA No 112/07, que dispõe sobre as propriedades rurais com fitofisionomia florestal de contato entre cerrado e floresta.

No nível municipal, aplicam-se as definições de APP constantes na legislação federal e estadual. As restrições a intervenções em Áreas de Preservação Permanente (APP) constam no Código Florestal Federal, nas resoluções do CONAMA que tratam do assunto e no Código Estadual do Meio Ambiente do Mato Grosso. Em todos os tipos de APP, é proibida a supressão de vegetação, assim como qualquer outro tipo de intervenção humana, salvo as consideradas de utilidade pública ou interesse social e as consideradas de baixo impacto ambiental, devidamente caracterizadas e motivadas em procedimento administrativo próprio, quando inexistir alternativa técnica e locacional ao empreendimento proposto (Resolução CONAMA No 369/06). A legislação estadual determina que “as áreas e a vegetação de preservação permanente somente poderão ser utilizadas mediante licença especial, no caso de obras públicas ou de interesse social comprovado e ainda para as atividades necessárias, sem alternativas economicamente viáveis, a critério do órgão ambiental, exigindo-se nesses casos a apresentação e aprovação do Estudo de Impacto Ambiental - EIA - e respectivo Relatório de Impacto Ambiental – RIMA” (Parágrafo único, art. 59, Lei Complementar Estadual Nº 38/95). A implantação da barragem e a formação do respectivo reservatório artificial também gerarão a necessidade de supressão de vegetação nativa em área do Bioma Cerrado (savana-parque), afetando propriedades rurais onde existem áreas de vegetação savânica e florestas de galeria, dentro ou fora de áreas de Reserva Legal. As definições sobre averbação, recomposição e compensação ambiental de RL, constantes na legislação federal e estadual sobre a matéria, afetam terceiros com propriedades localizadas dentro da área de intervenção e enchimento. Considerando que o aproveitamento hidrelétrico em tela é uma obra de utilidade pública, as intervenções em áreas de preservação permanente e reserva legal, incluindo a supressão de vegetação nativa, poderão ocorrer, desde que autorizadas pelos órgãos competentes. Esta situação faz com que a análise da legislação florestal, federal e estadual, seja de grande relevância para a compreensão das restrições legais de cunho ambiental que incidem na área de intervenção do empreendimento. Ressalta-se que o regime de exceção quanto a interferências em APP e RL, nos casos de utilidade pública, não implica que as mesmas devam ser simplesmente desconsideradas. Subentende-se que as interferências devem ser minimizadas dentro do possível, de maneira que a sua delimitação constitui uma condicionante a ser considerada nos estudos feitos para o projeto de implantação da UHE.

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AHE Colíder – 300 MW 29 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - Volume IV

11.4.1 Definição das Áreas de Preservação Permanente (APP) e do seu Regime de Uso O Código Florestal, conforme a redação dada ao art. 1o, § 2º, inciso II pela Medida Provisória No 2.166-67/01, define área de preservação permanente (APP) como a “área protegida nos termos dos arts. 2o e 3o desta Lei, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem estar das populações humanas”. Entende-se, desta forma, que a ausência de vegetação nativa não elimina a incidência das restrições legais em APP. Segundo o art. 3o, § 1° do Código Florestal, a intervenção em APP e a supressão total ou parcial de florestas nessas áreas só será admitida com prévia autorização, quando for necessário à execução de obras, planos, atividades ou projetos de utilidade pública ou interesse social. O desmatamento ou alteração da cobertura vegetal em área de preservação permanente, sem a competente licença, constitui-se em infração, ficando o proprietário do imóvel obrigado a recuperar o ambiente degradado, de acordo com as exigências do órgão ambiental competente. A Resolução CONAMA No 303/02, no art. 3o, considera de preservação permanente as florestas e demais formas de vegetação natural situadas ao longo de qualquer curso d'água, em faixa marginal medida a partir do nível mais alto, em projeção horizontal, com largura mínima de:

a) Trinta metros, para o curso d'água com menos de dez metros de largura; b) Cinqüenta metros, para o curso d'água com dez a cinqüenta metros de largura; c) Cem metros, para o curso d'água com cinqüenta a duzentos metros de largura; d) Duzentos metros, para o curso d'água com duzentos a seiscentos metros de largura; e) Quinhentos metros, para o curso d'água com mais de seiscentos metros de largura.

Deste modo, a referência para a definição da faixa de preservação é a calha do rio, mas o limite a partir do qual se conta a largura da faixa é o nível d’água mais alto, correspondente ao leito maior sazonal. Também são consideradas de preservação permanente, dentre outras, as formações nativas localizadas:

f) Ao redor de nascente ou olho d'água, ainda que intermitente, com raio mínimo de cinqüenta metros; g) Ao redor de lagos e lagoas naturais, em faixa com metragem mínima de Trinta metros, para os que estejam situados em áreas urbanas consolidadas, e de Cem metros, para as que estejam em áreas rurais, exceto os corpos d'água com até vinte hectares de superfície, cuja faixa marginal será de cinqüenta metros; h) Em vereda e em faixa marginal, em projeção horizontal, com largura mínima de cinqüenta metros, a partir do limite do espaço brejoso e encharcado; i) No topo de morros e montanhas, em áreas delimitadas a partir da curva de nível correspondente a dois terços da altura mínima da elevação em relação à base;

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j) Nas linhas de cumeada, em área delimitada a partir da curva de nível correspondente a dois terços da altura, em relação à base, do pico mais baixo da cumeada, fixando-se a curva de nível para cada segmento da linha de cumeada equivalente a mil metros; l) Em encosta ou parte desta, com declividade superior a cem por cento ou quarenta e cinco graus na linha de maior declive; m) Nas escarpas e nas bordas dos tabuleiros e chapadas, a partir da linha de ruptura em faixa nunca inferior a cem metros em projeção horizontal no sentido do reverso da escarpa; n) Em altitude superior a mil e oitocentos metros, ou, em Estados que não tenham tais elevações, a critério do órgão ambiental competente; o) Nos locais de refúgio ou reprodução de aves migratórias; p) Nos locais de refúgio ou reprodução de exemplares da fauna ameaçados de extinção que constem de lista elaborada pelo Poder Público Federal, Estadual ou Municipal.

A legislação estadual não traz delimitações mais restritivas do que as definidas pelas Resoluções CONAMA Nº 302/02 e No 303/02, quando trata de APP. No caso do empreendimento proposto, que compreende a construção de uma barragem e a formação de um reservatório artificial com área de 152,5 km2, aplicam-se especialmente as disposições da Resolução CONAMA Nº 302/02, que trata dos parâmetros, definições e limites sobre APP de reservatórios artificiais e o regime de uso de seu entorno. No entorno dos reservatórios artificiais localizados em áreas rurais, constitui APP a área com largura mínima de 100 (cem) metros, em projeção horizontal, medida a partir da cota ou nível máximo normal de operação do reservatório (art. 3º, I). Cabe destacar, ainda, que o art. 3º do Código Florestal considera também de preservação permanente as florestas e demais formas de vegetação natural destinadas: a) a atenuar a erosão das terras; b) a fixar as dunas; c) a formar faixas de proteção ao longo de rodovias e ferrovias; d) a auxiliar a defesa do território nacional a critério das autoridades militares; e) a proteger sítios de excepcional beleza ou de valor científico ou histórico; f) a asilar exemplares da fauna ou flora ameaçados de extinção; g) a manter o ambiente necessário à vida das populações silvícolas; h) a assegurar condições de bem-estar público. O § 2º determina que as florestas que integram o Patrimônio Indígena também ficam sujeitas ao regime de preservação permanente. De acordo com o art. 10º, não é permitida a derrubada de florestas situadas em áreas de inclinação entre 25 a 45 graus, só sendo nelas tolerada a extração de toros, quando em regime de utilização racional, que vise a rendimentos permanentes. O empreendedor, no âmbito do procedimento de licenciamento ambiental, deve elaborar o Plano Ambiental de Conservação e Uso do Entorno de Reservatório Artificial (PACUERA), em conformidade com o termo de referência expedido pelo órgão ambiental competente, para os reservatórios artificiais destinados à geração de energia e abastecimento público. O projeto do plano ambiental de conservação e uso do entorno de reservatório artificial poderá indicar áreas para implantação de pólos turísticos e lazer no entorno do reservatório artificial, que não poderão exceder a 10% da área total do seu entorno. Estas áreas somente poderão ser ocupadas conforme determina a legislação municipal, estadual e federal, e desde que a ocupação seja devidamente licenciada pelo órgão ambiental competente.

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AHE Colíder – 300 MW 31 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - Volume IV

Cabe ao órgão ambiental aprovar o PACUERA, consultando o plano de recursos hídricos e o respectivo comitê de bacia hidrográfica, quando houver. Ressalta-se que o deferimento ou não das licenças ambientais não está vinculado à aprovação do plano ambiental de conservação e uso do entorno dos reservatórios artificiais. Eles são documentos distintos e com processos de aprovação separados. Entretanto, a aprovação do PACUERA deve ser precedida da realização de consulta pública, sob pena de nulidade do ato administrativo, na forma da Resolução CONAMA Nº 09/87, naquilo que for aplicável, informando-se ao Ministério Público com antecedência de trinta dias da respectiva data. De acordo com a Medida Provisória No 2.166-67/01, art. 4o, § 6o, quando da implantação de reservatório artificial, é obrigatória a desapropriação ou aquisição, pelo empreendedor, das áreas de preservação permanente criadas no seu entorno, cujos parâmetros e regime de uso são definidos pela Resolução CONAMA No 302/02. No entanto, no Estado do Mato Grosso, o Código Estadual do Meio Ambiente determina que, nas áreas de preservação permanente dos reservatórios artificiais de barragens hidrelétricas, será respeitada a ocupação antrópica consolidada, atendidas as recomendações técnicas do poder público para a adoção de medidas mitigadoras, sendo vedada a expansão da área ocupada. Neste caso, o interessado deverá obter, junto ao órgão ambiental competente, autorização especifica para permanência (art. 58, § 3º e 4º). Caso seja necessário, e desde que possível, o empreendedor adquirirá e custeará a recuperação dos 50 (cinqüenta) metros contíguos ao reservatório artificial das barragens hidrelétricas, após os quais serão mantidos outros 50 (cinqüenta) metros adicionais, para recuperação natural. Nesta situação, deverá ser respeitada a ocupação antrópica consolidada, conforme dito anteriormente (§ 5º). No caso da área de recuperação, ou seja, de 50 metros, o empreendedor instituirá servidão nas terras dos proprietários atingidos, os quais, previamente indenizados a valor de mercado, serão responsáveis pela sua respectiva manutenção e conservação (art. 58, § 6º). No caso do empreendimento proposto, a delimitação das APP considerou todas as disposições legais sobre a matéria, abrangendo faixas marginais de: 100 (cem) metros ao longo do futuro reservatório; 50 (cinqüenta) metros ao redor de nascentes, olhos d’água e veredas; e 30 (trinta) metros ao longo dos afluentes do Rio Teles Pires que serão afetados. Não há outras situações, como áreas de alta declividade e topos de morros e montanhas, que impliquem em demarcações de APP adicionais. A solução a ser adotada para a conservação da faixa de 100 (cem) metros do entorno do futuro reservatório do AHE Colíder - aquisição, desapropriação ou instituição de servidão de APP -, deverá ser decidida mediante entendimento entre a SEMA/MT, os órgãos gestores dos recursos hídricos e o empreendedor, dentro do processo de licenciamento ambiental.

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AHE Colíder – 300 MW 32 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - Volume IV

11.4.2 Reserva Legal e Autorização de Supressão Reserva Legal De acordo com o Código Florestal (art. 1o, III, conforme redação dada pela Medida Provisória Nº 2.166-67/2001), Reserva Legal é a “área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, excetuada a de preservação permanente, necessária ao uso sustentável dos recursos naturais, à conservação e reabilitação dos processos ecológicos, à conservação da biodiversidade e ao abrigo e proteção de fauna e flora nativas”. A RL deve ter área de, no mínimo, 20% (vinte por cento) de cada propriedade, não sendo nela permitido o corte raso da vegetação. Esta área deve ser averbada à margem da inscrição de matrícula do imóvel, no registro de imóveis competente, sendo vedada a alteração de sua destinação nos casos de transmissão a qualquer título ou de retificação e desmembramento da área. Admite-se o cômputo das áreas relativas à vegetação nativa existente em APP no cálculo do percentual de reserva legal, desde que não implique em conversão de novas áreas para o uso alternativo do solo, e quando a soma da vegetação nativa em área de preservação permanente e reserva legal exceder a 80% da propriedade rural localizada na Amazônia Legal. A RL pode ser instituída em regime de condomínio entre mais de uma propriedade, respeitando-se o percentual legal em relação a cada imóvel, mediante a aprovação do órgão ambiental estadual competente e as devidas averbações referentes a todos os imóveis envolvidos. Segundo a redação dada ao art. 44 do Código Florestal, o proprietário ou possuidor de imóvel rural com área de floresta nativa, natural, primitiva ou regenerada ou outra forma de vegetação nativa em extensão inferior ao estabelecido em lei, deve adotar as seguintes alternativas, isoladas ou conjuntamente: (i) recompor a RL mediante o plantio, a cada três anos, de no mínimo 1/10 da área total necessária à sua complementação, com espécies nativas, de acordo com critérios estabelecidos pelo órgão ambiental estadual; (ii) conduzir a regeneração natural da reserva legal, desde que autorizada pelo órgão ambiental estadual competente, quando sua viabilidade for comprovada por laudo técnico, podendo ser exigido o isolamento da área; e (iii) compensar a RL por outra área equivalente em importância ecológica e extensão, desde que pertença ao mesmo ecossistema e esteja localizada na mesma microbacia, conforme critérios estabelecidos em regulamento. Na impossibilidade de compensação da RL dentro da mesma microbacia, o órgão ambiental estadual deve aplicar o critério de maior proximidade possível entre a propriedade desprovida de RL e a área escolhida para compensação, desde que na mesma bacia hidrográfica e no mesmo Estado, atendido, quando houver, o respectivo Plano de Bacia Hidrográfica. A compensação de que trata o inciso (iii) deve ser submetida a aprovação pelo órgão ambiental estadual, e pode ser implementada mediante o arrendamento de área sob regime de servidão florestal ou reserva legal, ou aquisição de cotas. O proprietário rural poderá ser desonerado, pelo período de trinta anos, das obrigações previstas no art. 44º, mediante a doação, ao órgão ambiental competente, de área localizada no interior de UC de Proteção Integral. A Lei No 7.330/00 estabelece o sistema de compensação entre áreas de reserva legal alterada em área de UC Estadual de Proteção Integral.

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AHE Colíder – 300 MW 33 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - Volume IV

A área de intervenção direta do empreendimento em tela está inserida em Área de Cerrado do tipo Savana-Parque (campo sujo de cerrado), conforme o Mapa de Vegetação do Brasil (IBGE), localizando-se dentro da Amazônia Legal (ver legislação específica sobre a Amazônia Legal na Seção 12.7.1). O Código Florestal brasileiro estabelece que a área de Reserva Legal (RL) deve ser de 80% na Amazônia Legal, 35% em área de cerrado nos estados da Amazônia Legal, e 20% nas demais regiões do país. No âmbito estadual, entretanto, a Portaria SEMA/MT No 112/07 determina que as “propriedades rurais com fitofisionomia florestal de contato entre cerrado e floresta devem manter o percentual de 80% (oitenta por cento) a título de reserva legal”. Entende-se, desta forma, que nas propriedades rurais afetadas pelo enchimento do reservatório onde houver presença de vegetação típica de áreas de contato ou Tensão Ecológica, conforme identificado no diagnóstico da vegetação do EIA/RIMA, aplicam-se as disposições mais restritivas da portaria estadual (80% de RL). No restante das propriedades, onde predominam campos sujos e vegetação antropizada, aplicam-se os 35% de RL. Em todos os casos em que eventualmente houver interferência direta do empreendimento com áreas de Reserva Legal em propriedades de terceiros, será necessário proceder à re-averbação de área complementar equivalente no remanescente da propriedade afetada, de forma a garantir a manutenção da porcentagem anterior de RL na gleba. Os procedimentos para a regularização florestal das propriedades afetadas serão de responsabilidade dos respectivos proprietários, que deverão observar os códigos estaduais de meio ambiente e florestas e os decretos e portarias regulamentadores sobre reserva legal e regularização florestal, listados e comentados anteriormente. Supressão de Vegetação Nativa Entende-se por “uso alternativo do solo” a substituição de florestas e formações sucessoras por outras coberturas do solo, tais como projetos de assentamento para reforma agrária, agropecuários, industriais, de geração e transmissão de energia, de mineração e de transporte. De acordo com o Decreto Federal No 5.975/06, art. 10º, a exploração de florestas e formações sucessoras que implique a supressão a corte raso de vegetação arbórea natural somente será permitida mediante autorização de supressão para o uso alternativo do solo, expedida por órgão competente do SISNAMA. O art. 16 determina que “não haverá duplicidade na exigência de reposição florestal na supressão de vegetação para atividades ou empreendimentos submetidos ao licenciamento ambiental, nos termos do art. 10 da Lei No 6.938/81”. Essa determinação aparece também na legislação do Estado de Mato Grosso, na Lei Estadual Complementar No 233/05 (art. 41º, inciso III). Entende-se, deste modo, que a recuperação ambiental imposta como condicionante para o licenciamento ambiental do empreendimento em tela (LI), em função da supressão de vegetação nativa para construção da barragem e formação do reservatório, será considerada como reposição florestal.

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De acordo com o art. 21 da Política Florestal do Estado do Mato Grosso, a SEMA poderá autorizar o desmatamento e a exploração florestal em áreas devidamente licenciadas, mediante a apresentação de projeto com a devida responsabilidade técnica. A Autorização de Desmate, visando à conversão da floresta para uso alternativo do solo, somente será concedida após a aprovação do Plano de Exploração Vegetal - PEF, comprovada mediante vistoria do órgão estadual do meio ambiente ou apresentação de laudo do técnico responsável pela elaboração, e a comprovação do cumprimento da reposição florestal. Observa-se, porém, que as pessoas físicas ou jurídicas que venham a se prover de matéria-prima florestal proveniente de desmatamento autorizado nas Licenças de Instalação ficam isentas da reposição florestal, sendo este o caso do empreendimento proposto. A legislação federal não prevê obrigatoriedade de reflorestamento para os casos de empreendimentos hidrelétricos, conforme se depreende dos Decretos Nº 97.628/89 e Nº 97.628/89, da Instrução Normativa MMA Nº 01/96 e das Instruções Normativas IBDF Nº 01/80 e Nº 01/80. O PEF, no caso de áreas passíveis de conversão de floresta que abriguem espécies ameaçadas de extinção, deverá indicar as medidas compensatórias e mitigadoras que assegurem a conservação das referidas espécies. Aprovado o PEF, a SEMA expedirá a Autorização de Exploração Florestal (AUTEX), permitindo a supressão total ou parcial da vegetação da área passível de conversão. A Autorização de Exploração Florestal deve preceder a Autorização de Desmatamento, e terá prazo de validade definido de acordo com o cronograma apresentado no projeto técnico. O Decreto No 8.188/06, art. 63, determina que o Inventário Florestal para PEF, concebido segundo a tipologia vegetal, observará, para área de floresta, amostragem com 95% (noventa e cinco por cento) de probabilidade e erro amostral de até 10%. Para área de cerrado, a estimativa de volume poderá ser aleatória ou sistemática, com intensidade amostral de 0,1 a 0,2% da área total do projeto. Para efeito do cálculo do volume de matéria-prima florestal, será considerada cada tipologia florestal encontrada na área total do PEF, excluídas as áreas que não serão objeto de exploração. A Portaria SEMA No 32/06 e o Decreto Nº 1.375/08 estabelecem os procedimentos para estimativa do volume de material lenhoso a ser gerado na supressão. Por último, cabe ressaltar que o transporte de produtos florestais decorrentes da supressão de vegetação é controlado, dependendo de autorização do órgão competente. A destinação e o transporte da vegetação removida da área de intervenção direta do empreendimento deverão obedecer aos trâmites legais, conforme procedimentos estabelecidos nos regulamentos estaduais específicos. 11.4.3 Proteção à Biodiversidade A flora e a fauna silvestres são protegidas pela legislação florestal, por meio dos instrumentos jurídicos das APP e das RLs e da criação de Unidades de Conservação de Proteção Integral. Entretanto, existem diplomas federais e estaduais que dispõem especificamente sobre a proteção da biodiversidade. Os mais importantes são:

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Nível Federal

• Código Florestal Brasileiro: Lei Nº 4.771/65, alterada pelas Leis No 7.803/89 e No 11.284/06 e pela Medida Provisória Nº 2.166-67/01.

• Lei No 5.197/67, alterada pelas Leis No 7.584/87 e No 7.653/88, que institui o Código de Proteção à Fauna.

• Portaria IBAMA No 37-N/92, que publica a Lista Oficial de Espécies da Flora Brasileira Ameaçada de Extinção.

• Instrução Normativa MMA N° 03/03, que traz a Lista das Espécies da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção.

• Instrução Normativa IBAMA No 146/07, que estabelece critérios e padroniza os procedimentos relativos à fauna no âmbito do licenciamento ambiental de empreendimentos e atividades que causam impactos sobre a fauna silvestre.

• Nível Estadual

• Lei Nº 8.149/04, que dispõe sobre a proibição da utilização, perseguição,

destruição, caça, apanha, coleta ou captura de exemplares da fauna ameaçada de extinção, bem como a remoção, comércio de espécies, produtos e objetos que impliquem nas atividades.

• Lei Nº 6.672/95, que dispõe sobre a pesca, estabelecendo medidas de proteção à ictiofauna e dá outras previdências.

Segundo o art. 37-A do Código Florestal, nas áreas passíveis de uso alternativo do solo, a supressão da vegetação que abrigue espécie ameaçada de extinção dependerá da adoção de medidas compensatórias e mitigadoras que assegurem a conservação da espécie.

O Código de Proteção à Fauna estabelece a proibição da perseguição, caça, utilização e apanha de espécies de animais que vivem naturalmente fora de cativeiro, salvo mediante licença das autoridades, e define as penalidades para o descumprimento desta medida. Pelo art. 14, pode ser concedida a cientistas pertencentes a instituições científicas, oficiais ou oficializados, ou por estas indicadas, licença especial para a coleta de material destinado a fins científicos, em qualquer época.

No caso do empreendimento em tela, a Lista Oficial de Espécies da Flora Brasileira Ameaçada de Extinção, publicada pela Portaria IBAMA No 37-N/92, foi utilizada para fins de verificação dos resultados do Inventário Florestal realizado na área de intervenção do empreendimento. Da mesma forma, para verificação dos resultados do Inventário de Fauna, consultou-se a Instrução Normativa MMA N° 03/03, que traz a Lista das Espécies da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção.

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AHE Colíder – 300 MW 36 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - Volume IV

A Instrução Normativa No 146/07, art. 1º, estabelece os critérios para procedimentos relativos ao manejo de fauna silvestre (levantamento, monitoramento, salvamento, resgate e destinação) em áreas de influência de empreendimentos e atividades consideradas efetiva ou potencialmente causadoras de impactos à fauna. O art. 2o determina que “as solicitações para concessão de autorização de captura, coleta ou transporte de fauna silvestre em áreas de empreendimento e atividades deverão ser formalizadas e protocoladas na DIFAP/IBAMA, ou na Superintendência do Estado onde se localizará o empreendimento, para avaliação no prazo máximo de 60 (sessenta) dias”. As disposições relativas ao conteúdo e à apresentação dos resultados do levantamento de fauna estão detalhadas nos artigos 4o e 5o. De acordo com o art. 6º, os impactos sobre a fauna silvestre na área de influência do empreendimento, durante e após sua implantação, serão avaliados mediante realização de monitoramento, tendo como base o levantamento de fauna. Em caso de empreendimentos que contenham estruturas e equipamentos que minimizem o impacto sobre a fauna, deverá estar previsto o monitoramento desses para avaliar o seu funcionamento e eficiência (art. 9o). A necessidade de elaboração de programa de resgate ou salvamento de fauna será definida pelo IBAMA (art. 10), sendo que o mesmo deverá ser apresentado no âmbito do PBA, conforme o conteúdo especificado no art. 13º.

Especificamente com relação fauna aquática (peixes e invertebrados), as disposições relativas ao conteúdo e à apresentação dos resultados do levantamento de fauna são detalhadas nos artigos 16º e 17º. Os arts. 19º e 20º tratam especificamente do conteúdo do programa de monitoramento; o art. 21º, do programa de resgate; e o art. 22º, do programa de repovoamento de ictiofauna. Para cada etapa do manejo de fauna, deverão ser enviados ao IBAMA relatórios técnico-científicos, com descrição e resultados de todas as atividades realizadas na área de influência do empreendimento (art. 23º). O Anexo à Instrução Normativa traz a seqüência do fluxo de informações concernentes ao manejo de fauna em processos de licenciamento. Particularmente no que se refere às condições de reprodução de espécies de peixes reofílicos ou de piracema, existem projetos de lei federais para tornar obrigatória a implantação de sistemas de transposição (escadas) que possibilitem a migração dos peixes (Projetos de Lei Nº 4.630/98 e Nº 884/99). No entanto, ainda não há legislação aprovada sobre o tema, nem no nível federal, nem nos âmbitos estaduais. No Estado de Mato Grosso, a Lei Estadual Nº 8.149/04 reproduz as disposições da legislação federal sobre a matéria, tratando sobre a proibição da utilização, perseguição, destruição, caça, apanha, coleta ou captura de exemplares da fauna ameaçada de extinção. A Lei Estadual Nº 6.672/95 dispõe sobre a pesca, estabelecendo medidas de proteção à ictiofauna, e dá outras providências. O art. 8º considera predatória a pesca realizada a 200 m (duzentos) metros a montante e a jusante de barragem, corredeiras, cachoeiras e escadas de peixes ou das embocaduras das baias. Outros diplomas posteriores, como a Lei Estadual No 7.881/02, complementam a legislação sobre a política de controle da pesca no Mato Grosso.

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11.5 Legislação sobre Outorga de Direito de Uso de Recursos Hídricos De acordo com a legislação, estão sujeitos à outorga de direito de uso dos recursos hídricos (superficiais e subterrâneos) os aproveitamentos hidrelétricos, as captações de água para consumo humano ou industrial e o lançamento de efluentes, entre outros usos. Os diplomas mais relevantes para o caso do empreendimento em pauta são os seguintes: Nível Federal

• Decreto Nº 24.643/34 – Código de Águas. • Lei No 9.433/97, que institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, cria o

Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, regulamenta o inciso XIX do art. 21 da Constituição Federal, e altera o art. 1º da Lei nº 8.001/90, que modificou a Lei nº 7.990/89.

• Lei No 9.984/00, que dispõe sobre a criação da Agência Nacional de Águas - ANA, entidade federal de implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e de coordenação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, e dá outras providências.

• Resolução CNRH Nº 16/01, que dispõe sobre a outorga de direito de uso de recursos hídricos.

• Resolução ANA Nº 135/02, que estabelece que os pedidos de outorga de direito e de outorga preventiva de uso de recursos hídricos encaminhados à ANA observarão os requisitos e a tramitação previstos nesta Resolução.

• Resolução CNRH Nº 37/04, que estabelece diretrizes para a outorga de recursos hídricos para a implantação de barragens em corpos de água de domínio dos Estados, do Distrito Federal ou da União.

• Resolução ANA Nº 219/05, que define as diretrizes para análise e emissão de outorga de direito de uso de recursos hídricos para fins de lançamento de efluentes.

Nível Estadual

• Constituição Estadual, Título V, Cap. III, Seção II. • Lei Nº 6.391/94, que dispõe sobre informações quanto à qualidade de águas dos

rios e lagos de Mato Grosso. • Lei Complementar Nº 38/95, alterada pela Lei Complementar Estadual Nº 232/05,

que dispõe sobre o Código Estadual do Meio Ambiente, e dá outras providências. • Lei Nº 6.945/97, que dispõe sobre a Lei de Política Estadual de Recursos Hídricos,

institui o Sistema Estadual de Recursos Hídricos e dá outras providências. • Lei Nº 8.097/04, que define sobre a administração e conservação das águas

subterrâneas. • Lei Complementar Estadual Nº 214/05. • Resolução CEHIDRO Nº 05/06, que institui a Divisão Hidrográfica do Estado de

Mato Grosso. • Portaria SEMA Nº 39/06, que institui o Cadastro de Usuários de Água do Estado

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AHE Colíder – 300 MW 38 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - Volume IV

de Mato Grosso. • Decreto Nº 336/07, que regulamenta a outorga de direitos de uso dos recursos

hídricos e adota outras providências. • Decreto Nº 614/07, que constitui Grupo Governamental para acompanhar o

desenvolvimento do Plano Estadual de Recursos Hídricos. • Resolução CEHIDRO Nº 09/07, que institui a Câmara Técnica de Construção de

Barragens, de acordo com os critérios estabelecidos no Regimento Interno do Conselho Estadual de Recursos Hídricos.

• Portaria SEMA Nº 68/07, que dispõe sobre os procedimentos a serem adotados para os processos de outorga de uso de recursos hídricos de águas de domínio do Estado do Mato Grosso.

• Portaria SEMA Nº 122/07 e Instrução Normativa SEMA Nº 09/08, que dispõem sobre procedimentos referentes à emissão de Declaração de Reserva de Disponibilidade Hídrica (DRDH) e de outorga de direito de uso de recursos hídricos, para uso de potencial de energia hidráulica superior a 1 MW em corpo de água de domínio do Estado e dá outras providências.

Não há legislação municipal específica sobre o tema, devendo-se atender às determinações da legislação federal e estadual vigentes. 11.5.1 Gestão dos Recursos Hídricos e Outorga para Aproveitamento Hidrelétrico A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 20, III, define como bens da União: “os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de um Estado, sirvam de limites com outros, países, ou se estendam a território estrangeiro ou dele provenham, bem como os terrenos marginais e as praias fluviais”. O art. 26 define, como bens dos Estados, as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes e em depósito, ressalvadas, neste caso, na forma da lei, as decorrentes de obras da União. A competência para legislar sobre padrões de qualidade das águas é privativa da União, de acordo com o art. 22, IV da Constituição Federal. Compete aos órgãos estaduais aplicar os critérios federais e efetuar a classificação dos corpos d’água. A Lei No 9.433/97 descreve os objetivos, diretrizes e instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos. O art. 5º estabelece como instrumentos: (i) os Planos de Recursos Hídricos; (ii) o enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usos preponderantes da água; (iii) a outorga dos direitos de uso de recursos hídricos; (iv) a cobrança pelo uso de recursos hídricos – ainda não regulamentada; (vi) a compensação a municípios; (vii) o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos. Segundo o art. 12º, os aproveitamentos de potenciais hidrelétricos estão sujeitos a outorga. Independem de outorga o uso de recursos hídricos para a satisfação das necessidades de pequenos núcleos populacionais, distribuídos no meio rural; as derivações, captações e lançamentos considerados insignificantes; e as acumulações de volumes de água consideradas insignificantes.

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AHE Colíder – 300 MW 39 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - Volume IV

O art. 32 cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos – SIGRH -, com objetivo de coordenar a gestão integrada das águas e implementar a Política Nacional de Recursos Hídricos. Integram o SIGRH: (i) o Conselho Nacional de Recursos Hídricos - CNRH; (ii) a Agência Nacional de Águas – ANA -; (iii) os Conselhos de Recursos Hídricos dos Estados e do Distrito Federal; (iv) os Comitês de Bacia Hidrográfica; (v) os órgãos dos poderes públicos federal, estadual e municipal cujas competências se relacionem com a gestão de recursos hídricos; (vi) as Agências de Água. A ANA, criada pela Lei No 9.984/00, é a entidade federal responsável pela implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos, pela coordenação do SIGRH e pela concessão de outorgas de direito de uso de recursos hídricos de corpos d’água de domínio da União. É responsável, também, por definir e fiscalizar as condições de operação de reservatórios por agentes públicos e privados, visando a garantir o uso múltiplo dos recursos hídricos, e por promover a coordenação das atividades desenvolvidas no âmbito da rede hidrometeorológica nacional, em articulação com órgãos e entidades públicas ou privadas que a integram, ou que dela sejam usuárias. Segundo o art. 5o, § 4o, as outorgas de direito de uso de recursos hídricos para concessionárias e autorizadas de serviços públicos e de geração de energia hidrelétrica vigorarão por prazos coincidentes com os dos correspondentes contratos de concessão ou atos administrativos de autorização. De acordo com o art. 7o, para licitar a concessão ou autorizar o uso de potencial de energia hidráulica em corpo de água de domínio da União, a ANEEL deverá promover, junto à ANA, a prévia obtenção de declaração de reserva de disponibilidade hídrica. Quando o potencial hidráulico localizar-se em corpo de água de domínio dos Estados ou do Distrito Federal, a declaração de reserva de disponibilidade hídrica será obtida em articulação da ANEEL junto à respectiva entidade gestora de recursos hídricos, no caso, a SEMA/MT. A declaração será transformada automaticamente, pelo respectivo poder outorgante, em outorga de direito de uso de recursos hídricos à instituição ou empresa que receber da ANEEL a concessão ou a autorização de uso do potencial de energia hidráulica. Compete ao CNRH estabelecer diretrizes complementares para a implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos, para a aplicação dos seus instrumentos e para a atuação do SIGRH. A Resolução CNRH Nº 16/01 esclarece que “a outorga de direito de uso de recursos hídricos é o ato administrativo mediante o qual a autoridade outorgante faculta ao outorgado previamente ou mediante o direito de uso de recurso hídrico, por prazo determinado, nos termos e nas condições expressas no respectivo ato, consideradas as legislações específicas vigentes” (art. 1º). Cabe esclarecer que a outorga não implica alienação total ou parcial das águas, que são inalienáveis, mas o simples direito de uso condicionado à disponibilidade hídrica e ao regime de racionamento, sujeitando o outorgado à suspensão da outorga. A Resolução CNRH Nº 37/04 estabelece diretrizes para a outorga de recursos hídricos para a implantação de barragens em corpos de água de domínio dos Estados, do Distrito Federal ou

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AHE Colíder – 300 MW 40 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - Volume IV

da União. O interessado, na fase inicial de planejamento do empreendimento, deverá solicitar à respectiva autoridade outorgante a relação de documentos e o conteúdo dos estudos técnicos exigíveis para análise do correspondente requerimento de outorga de recursos hídricos. O conteúdo dos estudos técnicos será definido pela autoridade outorgante considerando as fases de planejamento, projeto, construção e operação do empreendimento, formulando termo de referência que considere as características hidrológicas da bacia hidrográfica, porte da barragem, a finalidade da obra e do uso do recurso hídrico (art. 3º, caput e § 1º). Especificamente no caso de barragens destinadas ao uso de potencial de energia hidráulica, a outorga será precedida da declaração de reserva de disponibilidade hídrica expedida pela autoridade competente (ANA ou órgão estadual), ficando esta sujeita ao cumprimento das exigências estabelecidas na Resolução e em legislação pertinente (art. 9º). O Estado do Mato Grosso instituiu a Política Estadual de Recursos Hídricos (PERH) por meio da Lei Estadual Nº 6.945/97. A PERH cria o Sistema Estadual de Recursos Hídricos, do qual fazem parte o Conselho Estadual de Recursos Hídricos (CEHIDRO) e os Comitês Estaduais de Bacias Hidrográficas, e determina a elaboração de um Plano Estadual de Recursos Hídricos. O CEHIDRO já está estruturado no Estado do Mato Grosso, no entanto, o Plano Estadual de Recursos Hídricos está sendo feito, e os Comitês Estaduais de Bacias ainda não foram instituídos, inexistindo, até o presente momento, o Comitê de Bacia do Rio Teles Pires. De acordo com a Resolução CEHIDRO No 05/06, que institui a divisão hidrográfica do Estado do Mato Grosso, o AHE Colíder situa-se no Rio Teles Pires, pertencente à Região Hidrográfica Nacional do Rio Amazonas e à Região Hidrográfica Regional do Rio Juruena - Teles Pires, encontrando-se na Unidade de Planejamento e Gerenciamento do Médio Teles Pires - UPG A-5. A PERH determina que o Estado de Mato Grosso articular-se-á com a União e Estados vizinhos para o aproveitamento e controle dos recursos hídricos de interesse comum. A implantação, ampliação e alteração de projeto de qualquer empreendimento, que demande a utilização de recursos hídricos de domínio do Estado, a execução de obras e/ou serviços que alterem o regime, quantidade ou qualidade dos mesmos, dependerão de prévio cadastramento e outorga pela SEMA (art. 10º). Estão sujeitos à outorga estadual os aproveitamentos de potenciais hidrelétricos (art. 11º, IV), dentre outros usos, como captações e lançamentos de efluentes. O Decreto No 336/07 regulamenta a outorga de direito de uso dos recursos hídricos de domínio estadual. Segundo o art. 13, para licitar a concessão ou autorizar o uso de potencial de energia hidráulica, a ANEEL deverá promover, junto à SEMA/MT, a prévia obtenção de Declaração de Reserva de Disponibilidade Hídrica (DRDH), observando-se o Parágrafo 1º, art. 7º da Lei Federal Nº 9.984/00. A Declaração de Reserva de Disponibilidade Hídrica será transformada automaticamente pela SEMA em outorga de direito de uso de recursos hídricos à instituição ou empresa que receber da ANEEL a concessão ou a autorização de uso do potencial de energia hidráulica. A SEMA dará publicidade aos pedidos de outorga, bem como aos atos administrativos que deles resultarem, por meio de publicação no Diário Oficial do Estado do Mato Grosso.

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AHE Colíder – 300 MW 41 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - Volume IV

A Portaria No 122/07 trata especificamente dos procedimentos a serem adotados pela ANEEL junto à SEMA, para a emissão da DRDH e da sua respectiva transformação em outorga de direito de uso. O CEHIDRO, por meio da Resolução CEHIDRO No 09/07, instituiu uma Câmara Técnica de Construção de Barragens, com o intuito de possibilitar a avaliação de intervenções deste tipo sobre os recursos hídricos de domínio do Estado. 11.5.2 Outras Outorgas O empreendimento poderá envolver a obtenção de outras outorgas de direito de uso dos recursos hídricos, para captação de água superficial ou subterrânea ou para lançamento de efluentes em cursos d’água, principalmente durante a fase de construção da barragem. O lançamento de efluentes em corpo receptor depende de outorga do órgão competente. Segundo o art. 15º da Resolução CNRH Nº 37/04, a outorga de direito de uso da água para o lançamento de efluentes será dada “em quantidade de água necessária para diluição da carga poluente, que pode variar ao longo do prazo de validade da outorga, com base nos padrões de qualidade da água correspondentes à classe de enquadramento do respectivo corpo receptor, e/ou em critérios específicos definidos no correspondente plano de recursos hídricos ou pelos órgãos competentes”. É vedado, no Estado do Mato Grosso, o lançamento de águas residuais nos cursos d'água, quando essas não forem compatíveis com a classificação dos mesmos (art. 79, Lei Complementar Nº 38/95). Todo aquele que utilizar recursos hídricos para fins industriais ficará obrigado a abastecer-se em local à jusante do ponto de lançamento (art. 81º). A Lei Estadual Nº 8.097/04, o Decreto Estadual No 336/07 e a Portaria SEMA Nº 68/07 regulamentam a outorga de direito de uso dos recursos hídricos de domínio estadual pela SEMA/MT, especificando os procedimentos para autorização de captações superficiais e subterrâneas e lançamentos de efluentes. A Portaria do Ministério da Saúde No 518/04 estabelece, por sua vez, procedimentos e responsabilidades relativos ao controle e vigilância da qualidade da água para consumo humano (padrão de potabilidade), que deverão ser atendidos pelos responsáveis pela manutenção do sistema de abastecimento de água para a população empregada, tanto na fase de implantação quanto na fase de operação da usina. 11.6 Legislação sobre Controle da Poluição e Padrões de Qualidade Ambiental De acordo com o art. 4o, inciso III da Lei No 6.938/81, a Política Nacional do Meio Ambiente visará, dentre outras finalidade, “ao estabelecimento de critérios e padrões de qualidade ambiental e de normas relativas ao uso e manejo de recursos ambientais”. Segundo o art. 9º,

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AHE Colíder – 300 MW 42 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - Volume IV

“o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental” é um dos instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente. Segundo o art. 84 da Lei Estadual Complementar No 38/95 (Código do Meio Ambiente do Mato Grosso), considera-se poluição o lançamento ou a liberação no meio ambiente de toda e qualquer forma de matéria ou energia em desconformidade com as normas, critérios e parâmetros ou com exigências técnicas ou operacionais estabelecidas na legislação. Os padrões de qualidade do ar, das águas e do solo e de conforto acústico são estipulados pela legislação federal, basicamente, por Resoluções do CONAMA. Os riscos de contaminação relacionados ao transporte e ao armazenamento de produtos perigosos também são regulamentados e normatizados no nível federal. A legislação estadual do Mato Grosso não traz definições específicas sobre esses temas, apenas diretrizes gerais de prevenção e gestão. No caso do empreendimento em pauta, os impactos potenciais de poluição do ar, sonora, das águas e do solo estão relacionados às fontes de emissões atmosféricas, ruído, águas residuais, esgotos domésticos e resíduos sólidos, e aos possíveis riscos de contaminação e incêndio devidos a vazamentos de produtos perigosos durante o seu transporte e armazenamento, principalmente na fase de construção da barragem. Os principais diplomas e normas técnicas sobre controle da poluição e qualidade ambiental, aplicáveis ao caso em tela, são listados nas subseções a seguir, conforme o tema. 11.6.1 Classificação e Padrões de Qualidade das Águas Superficiais e Subterrâneas O enquadramento e/ou classificação de qualidade dos recursos hídricos em um trecho de um corpo d’água não significa, necessariamente, o nível de qualidade que este apresenta num determinado momento, mas sim aquele que se busca alcançar ou manter por longo tempo, tendo em vista os usos preferenciais que se fazem das águas. Os principais diplomas que tratam da classificação e dos padrões de qualidade das águas superficiais e subterrâneas são:

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AHE Colíder – 300 MW 43 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - Volume IV

Nível Federal

• Resolução CONAMA Nº 357/05, que dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes (revoga a Resolução CONAMA Nº 20/86).

• Resolução CONAMA Nº 396/08, que dispõe sobre a classificação e diretrizes ambientais para o enquadramento das águas subterrâneas e dá outras providências.

• Resolução CONAMA No 397/08, que altera o inciso II do § 4o e a Tabela X do § 5o, ambos do art. 34º da Resolução CONAMA No 357/05.

Nível Estadual

• Lei Nº 6.391/94, que dispõe sobre informações quanto à qualidade de águas dos rios e lagos de Mato Grosso.

• Código Estadual do Meio Ambiente: Lei Complementar Nº 38/95, regulamentada pelos Decretos Nº 790/96, No 769/99 e No 037/07, e alterada pelas Leis Complementares No 70/00, No 86/01, No 232/05, Nº 267/06 e No 282/07.

• Lei Nº 6.945/97, que dispõe sobre a Lei de Política Estadual de Recursos Hídricos, institui o Sistema Estadual de Recursos Hídricos e dá outras providências.

• Lei 8.097/04, que define sobre a administração e conservação das águas subterrâneas.

Na esfera federal, a Resolução CONAMA Nº 20/86 regulamentou, inicialmente, a classificação dos corpos d’água superficiais, com os respectivos padrões de qualidade e de emissão de efluentes. Essa Resolução foi revogada pela Resolução CONAMA Nº 357/05, a qual estabeleceu nova classificação para as águas superficiais em território nacional. Segundo o art. 4º, as águas doces são classificadas com base na sua qualidade e no tratamento requerido para a sua destinação ao abastecimento humano, podendo ser de Classe Especial ou de Classe 1 a 4. Os padrões e condições de qualidade da água, conforme a Classe estão listados nos arts. 14º a 17º da Resolução. No Estado do Mato Grosso, a Lei Complementar Nº 38/95 dispõe sobre a gestão dos recursos hídricos em seus arts. 77º a 81º (Seção VI - Dos Recursos Hídricos). A lei veda o lançamento de águas residuais nos cursos d'água, quando essas não forem compatíveis com a classificação dos mesmos, e determina que o Estado “estabelecerá diretrizes específicas para a proteção de mananciais, através de planos de uso e ocupação de áreas de drenagem de bacias e sub-bacias hidrográficas”, podendo exigir dos usuários de recursos hídricos o automonitoramento de seus efluentes. Todo aquele que utilizar recursos hídricos para fins industriais ficará obrigado a abastecer-se em local à jusante do ponto de lançamento. De acordo com a Política Estadual de Recursos Hídricos (PERH), as classes de corpos de água no Estado de Mato Grosso são aquelas estabelecidas pela legislação federal (art. 9°, parágrafo único, da Lei Estadual Nº 6.945/97), não havendo classificação estadual específica.

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AHE Colíder – 300 MW 44 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - Volume IV

Deve-se adotar, deste modo, os padrões de qualidade de Classe 2 para os cursos d’água que possam vir a ser utilizados para fins de abastecimento ou lançamento de efluentes. Águas de Classe 2 são aquelas “que podem ser destinadas ao abastecimento humano, após tratamento convencional; à proteção das comunidades aquáticas; à recreação de contato primário, à irrigação de hortaliças, plantas frutíferas e de parques, jardins, campos de esporte e lazer, com os quais o público possa vir a ter contato direto; e à aqüicultura e à atividade de pesca”. Caso haja qualquer tipo de lançamento de efluente em cursos d’água durante a construção e a operação do empreendimento, os valores dos parâmetros físico-químicos e biológicos de qualidade de água para rios de Classe 2, definidos pela Resolução CONAMA Nº 357/05, devem ser observados, assim como os valores dos parâmetros de qualidade dos efluentes lançados, definidos na Resolução CONAMA No 397/08. O diagnóstico da qualidade da água apresentado neste EIA/RIMA apresenta a comparação dos resultados obtidos nas análises de amostras coletadas no Rio Teles Pires com os valores de referência dos parâmetros para Classe 2, para verificação da adequação da situação atual (linha-base) ao enquadramento vigente. A Resolução CONAMA No 396/08 classifica as águas subterrâneas em cinco Classes (1 a 5), além da Classe Especial. A aplicação e disposição de efluentes e resíduos no solo deverão observar critérios e exigências definidos pelos órgãos competentes, e não poderão conferir às águas subterrâneas características em desacordo com o seu enquadramento (art. 27). A classe de enquadramento, bem como sua condição de qualidade, deverão ser divulgadas periodicamente pelos órgãos competentes, por meio de relatórios de qualidade e placas de sinalização nos locais de monitoramento (art. 33). Os padrões de Classe 1 a 4 deverão ser estabelecidos com base em Valores de Referência de Qualidade (VRQ), determinados pelos órgãos competentes, e nos Valores Máximos Permitidos para cada uso preponderante, observados os Limites de Quantificação Praticáveis (LQPs), apresentados no Anexo I da referida Resolução (ver item a seguir). No Estado do Mato Grosso, a administração, a proteção e a conservação das águas subterrâneas são regidas pelas disposições da Lei Nº 8.097/04. A utilização das águas subterrâneas de domínio do Estado depende de concessão administrativa, quando a água se destinar a uso de utilidade pública, ou autorização administrativa, quando a água se destinar a finalidade diversa. Para as águas subterrâneas, também se devem adotar os parâmetros de enquadramento para Classe 2, conforme estipulado pela Resolução CONAMA No 396/08, até que haja outra definição por parte do órgão estadual. 11.6.2 Padrões de Qualidade do Ar A fase de implantação da barragem envolverá a operação de fontes de poluição móveis e fixas. As emissões atmosféricas de fontes móveis serão geradas pela circulação de veículos e pela utilização de equipamentos de obra movidos a combustíveis fósseis. As emissões de

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AHE Colíder – 300 MW 45 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - Volume IV

fontes fixas serão geradas pelo funcionamento de instalações industriais de apoio às obras, como a usina de concreto (cimento) a ser implantada. Na fase de operação do empreendimento, não haverá geração de emissões atmosféricas significativas que possam causar impactos na qualidade do ar, de modo que as metas de qualidade do ar definidas na legislação subsidiarão a estruturação de programas de controle e monitoramento principalmente na fase de implantação. Os principais diplomas legais sobre controle da poluição e qualidade do ar a serem observados são: Nível Federal

• Resolução CONAMA Nº 18/86 estabelece o Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores – PROCONVE.

• Resolução CONAMA Nº 05/89 instituiu o Programa Nacional de Controle de Qualidade do Ar – PRONAR.

• Resolução CONAMA Nº 03/90, que dispõe sobre a Qualidade do Ar, definições e padrões.

• Resolução CONAMA Nº 08/90, que estabelece limites máximos de emissão de poluentes do ar para fontes fixas.

• Resolução CONAMA No 382/06, que estabelece limites máximos de emissão de poluentes do ar para fontes fixas.

Nível Estadual

• Lei Complementar Nº 38/95, dispõe sobre o Código Estadual do Meio Ambiente, e dá outras providências.

Não há legislação municipal específica sobre o tema, devendo-se atender às determinações da legislação federal e estadual vigentes. A Resolução CONAMA Nº 18/86 - Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores – PROCONVE - estabelece os limites máximos de emissão de poluentes no ar para os diferentes tipos de veículos e motores, que deverão ser atendidos pela frota de veículos a serviço das empreiteiras, na fase de implantação, e da empresa operadora, na fase de operação da usina. O Programa Nacional de Controle de Qualidade do Ar – PRONAR -, instituído pela Resolução CONAMA Nº 05/89, é um dos instrumentos básicos de gestão ambiental, definindo critérios para a classificação do território nacional em três tipos de zona (Classes I, II e III), em função do grau de contaminação atmosférica tolerável. A resolução estabelece o “limite máximo de emissão” como sendo a quantidade de poluentes passível de ser lançada por fontes poluidoras para a atmosfera, e diferencia os limites em função da classificação de usos pretendidos para as diversas áreas, que são mais rígidos para as fontes novas de poluição.

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AHE Colíder – 300 MW 46 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - Volume IV

Cabe a cada Estado definir o enquadramento de seu território nas classes definidas pelo PRONAR, ou adotar os padrões primários de qualidade do ar estabelecidos na Resolução CONAMA No 03/90. Esta resolução estabelece os padrões nacionais de qualidade do ar, com base em padrões primários - concentrações de poluentes que, ultrapassadas, poderão afetar a saúde da população - e secundários - concentrações de poluentes abaixo das quais se prevê o mínimo efeito adverso sobre o bem-estar da população, assim como o mínimo dano à fauna, à flora, aos materiais e ao meio ambiente em geral. São fornecidos padrões para os seguintes parâmetros: partículas totais em suspensão, fumaça, partículas inaláveis, dióxido de enxofre, monóxido de carbono, ozônio e dióxido de nitrogênio. A Tabela 11.6.2.a apresenta os padrões estabelecidos na Resolução CONAMA Nº 03/90 que deverão ser observados e atendidos durante a fase de construção e operação do empreendimento. Tabela 11.6.2.a Padrões Nacionais de Qualidade do Ar

Resolução CONAMA 03/90

Poluente Tempo de Amostragem

Padrão Primário (µg/m3)

Padrão Secundário

(µg/m3)

Método de Medição

MGA (3) 80 60 Partículas Totais em Suspensão Média de 24 h (1) 240 150 Amostrador de Grandes Volumes

MAA (2) 60 40 Fumaça Média de 24 h (1) 150 100 Refletância

MAA (2) 50 50 Partículas inaláveis Média de 24 h (1) 150 150 Separação Inercial/ Filtração

MAA (2) 80 40 Dióxido de enxofre Média de 24 h (1) 365 100 Pararonasilina

Média de 08 h (1) 10.000 (9 ppm)

10.000 (9 ppm) Monóxido de carbono

Média de 01 h (1) 40.000 (35 ppm)

40.000 (35 ppm)

Infra-vermelho não Dispersivo

Ozônio Média de 01 h (1) 160 160 Quimiluminescência MAA (2) 100 100 Dióxido de nitrogênio Média de 01 h 320 190 Quimioluminescência

(1) Não deve ser excedida mais de uma vez por ano. / (2) Média aritmética anual / (3) Média geométrica anual

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AHE Colíder – 300 MW 47 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - Volume IV

O art. 1º da Resolução CONAMA Nº 08/90 estabelece limites máximos de emissão de poluentes do ar (padrões de emissão) para processos de combustão externa em fontes novas fixas de poluição com potências nominais totais até 70 MW (setenta megawatts) e superiores. Entende-se por processo de combustão externa em fontes fixas toda a queima de substâncias combustíveis realizada nos seguintes equipamentos: caldeiras; geradores de vapor; centrais para a geração de energia elétrica; fornos, fornalhas, estufas e secadores para a geração e uso de energia térmica incineradores e gaseificadores. A resolução define limites máximos de emissão apenas para particular totais e dióxido de enxofre (SO2), expressos em peso de poluentes por poder colorífico superior do combustível e densidade colorimétrica, consoante à classificação de usos pretendidos definidas pelo PRONAR. Por fim, a Resolução CONAMA No 382/06 veio estabelecer os limites máximos de emissão de poluentes atmosféricos para fontes fixas conforme o tipo de combustão. Para o caso específico de indústrias de cimento Portland, o Anexo XI define os valores para os parâmetros Material Particulado (MP) e NO2, conforme a Tabela 11.6.2.b. Tabela 11.6.2.b Limites de emissão para poluentes atmosféricos provenientes de processos de produção de cimento

Equipamentos MP* Óxidos de Nitrogênio

(expresso como NO2)

Fornos 50 (1)

650(3)

Resfriadores 50 N.A.

Moinhos de cimento 50 N.A.

Secadores de escória e de areia 50(2)

N.A.

Ensacadeiras 50 N.A.

* os resultados devem ser expressos na unidade de concentração mg/Nm3, em base seca e com o teor de oxigênio

definido para cada fonte. (1)

teor de oxigênio - 11%. (2)

teor de oxigênio - 18%. (3)

- teor de oxigênio - 10%. N.A. - Não aplicável. 11.6.3 Padrões de Conforto Acústico A legislação que estabelece os níveis de emissão de ruído compatíveis com o conforto acústico é de nível federal, inexistindo especificações das legislações estaduais e municipais sobre a matéria. Os principais diplomas e normas técnicas federais a considerar são:

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AHE Colíder – 300 MW 48 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - Volume IV

• Resolução CONAMA Nº 01/90, que dispõe sobre a emissão de ruídos, em decorrência de quaisquer atividades industriais, comerciais, sociais ou recreativas, determinando padrões, critérios e diretrizes.

• Resolução CONAMA No 02/90, que institui em caráter nacional o programa Nacional de Educação e Controle da Poluição Sonora - "SILÊNCIO".

• Norma ABNT NBR 10.151:2000, que trata da avaliação dos níveis de ruído em áreas habitadas.

• Norma ABNT NBR 10.152:2000, que estabelece os níveis de ruído para conforto acústico.

Os altos níveis de ruído são responsáveis pela deterioração da qualidade de vida e estão sujeitos ao controle da poluição do meio ambiente. A emissão de ruídos, em decorrência de quaisquer atividades industriais, comerciais, sociais ou recreativas, inclusive as da propaganda política, obedecerá, no interesse da saúde, do sossego público, aos padrões, critérios e diretrizes estabelecidas na Resolução CONAMA Nº 01/90. A regulamentação da poluição sonora foi delegada ao IBAMA pela Resolução CONAMA Nº 02/90, que estabeleceu o “Programa Nacional de Educação e Controle da Poluição Sonora”. Essas duas resoluções adotaram os padrões das Normas ABNT NBR 10.151:2000 (Avaliação dos Níveis de Ruído em Áreas Habitadas) e 10.152:2000 (Níveis de Ruído para Conforto Acústico) para controle da poluição sonora. A NBR 10.151:2000 normatiza os níveis de conforto acústico para ambientes externos, conforme indicado na Tabela 11.6.3.a. Tabela 11.6.3.a Nível de Critério de Avaliação (NCA) para Ambientes Externos, em dB (A) Tipo de Áreas Diurno Noturno Áreas de sítios e fazendas 40 35 Área estritamente residencial urbana ou de hospitais ou de escolas 50 45 Área mista, predominantemente residencial 55 50 Área mista, com vocação comercial e administrativa 60 55 Área mista, com vocação recreacional 65 55 Área predominantemente industrial 70 60 Os limites de horário para o período diurno e noturno podem ser definidos pelas autoridades de acordo com os hábitos da população. Porém, conforme estabelecido na Norma NBR 10.151:2000, o período noturno não pode começar depois das 22,00 h e não deve terminar antes das 7h do dia seguinte. Se o dia for domingo ou feriado, o término do período noturno não deve ser antes das 9.00 h.

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AHE Colíder – 300 MW 49 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - Volume IV

A Norma NBR 10.152:2000 também define níveis de ruído interno aceitáveis, segundo alguns tipos de usos ou atividades. Essa tabela não inclui áreas de produção industrial, mas inclui restaurantes (refeitório), escritórios e usos residenciais. No caso do empreendimento, esses níveis máximos deverão ser respeitados nas áreas de escritório e refeitório do canteiro de obras. 11.6.4 Controle da Disposição de Resíduos Sólidos A implantação e a operação do empreendimento em pauta implicarão na geração de resíduos sólidos de diversos tipos, tais como: lixo comum, resíduos de construção civil (entulho), resíduos oleosos, sucatas e resíduos de serviços de saúde ambulatoriais, entre outros tipos. A legislação vigente define diretrizes e restrições para a disposição final de resíduos sólidos, tendo em vista prevenir a contaminação do solo e das águas. Os principais diplomas a observar são: Nível Federal

• Portaria ANP Nº 125/99, que regulamenta a atividade de recolhimento, coleta e destinação final do óleo lubrificante usado ou contaminado.

• Resolução CONAMA Nº 307/02, que estabelece diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos de construção civil.

• Resolução ANVS/RDC Nº 306/04, que dispõe sobre o Regulamento Técnico para o gerenciamento de resíduos de serviços de saúde.

• Resolução CONAMA Nº 358/05, que dispõe sobre o tratamento e a disposição final dos resíduos dos serviços de saúde e dá outras providências.

• Resolução CONAMA Nº 362/05, que estabelece novas diretrizes para o recolhimento e destinação de óleo lubrificante usado ou contaminado.

• Norma ABNT NBR 12.809:1993, que estabelece os procedimentos para manuseio e acondicionamento de resíduos de serviços de saúde.

• Norma ABNT NBR 10.004:2004, que classifica os resíduos sólidos quanto à sua periculosidade, considerando seus riscos potenciais ao meio ambiente e à saúde pública.

Nível Estadual

• Lei Complementar Nº 38/95, dispõe sobre o Código Estadual do Meio Ambiente, e dá outras providências.

• Lei Nº 7.110/99, que dispõe sobre a promoção, proteção e preservação da saúde individual e coletiva no Estado de Mato Grosso e dá outras providências.

• Lei Nº 7.862/02, que dispõe sobre a Política Estadual de Resíduos Sólidos e dá outras providências.

• Lei Nº 7.597/01, que estabelece a política estadual de reciclagem de materiais e dá outras providências.

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AHE Colíder – 300 MW 50 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - Volume IV

• Resolução CONSEMA Nº 37/97, que dispõe sobre o acondicionamento, o armazenamento, a coleta, o transporte, o tratamento e a disposição final de resíduos sólidos provenientes de serviços de saúde, e dá outras providências.

Não há legislação municipal específica sobre o tema, devendo-se observar a legislação federal e estadual vigentes. A NBR Nº 10.004/2004 classifica os resíduos sólidos quanto aos seus riscos potenciais ao meio ambiente e à saúde pública, para que esses resíduos possam ter manuseio e destinação adequados. A norma estabelece três classes para enquadramento dos resíduos: Classe I (resíduos perigosos), Classe II-A (resíduos, não perigosos, não inertes) e Classe II – B (resíduos inertes). Na Classe I estão enquadrados os resíduos sólidos com características inflamáveis, corrosivas, reativas, tóxicas e patogênicas; e na Classe II, os resíduos com propriedades de combustibilidade, biodegradabilidade ou solubilidade em água e os resíduos insolúveis (Classe II – B). As diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil foram estabelecidos pela Resolução CONAMA Nº 307/02. O objetivo desta Resolução é a redução do volume de resíduos da construção civil, o estímulo à reciclagem e a disposição adequada dos resíduos para os quais não se dispõe ainda de tecnologias de reciclagem aplicável ou economicamente viável. Esses resíduos são classificados em quatro categorias: (A) resíduos reutilizáveis ou recicláveis como agregados; (B) resíduos recicláveis para outras destinações; (C) resíduos para os quais não foram desenvolvidas tecnologias ou aplicações economicamente viáveis que permitam a sua reciclagem/recuperação; e (D) resíduos perigosos oriundos do processo de construção. Os resíduos da construção civil não poderão ser dispostos em aterros de resíduos domiciliares, em áreas de "bota-fora", em encostas, corpos d'água, lotes vagos ou em áreas protegidas por lei. A Resolução CONAMA Nº 362/05 estabelece que os resíduos oleosos, em especial os resíduos de óleos lubrificantes usados ou contaminados, deverão ser recolhidos, coletados e destinados de forma a não afetar negativamente o meio ambiente e a propiciar a máxima recuperação dos constituintes nele contidos. O consumidor final de óleo lubrificante fica responsável pelo recolhimento do óleo lubrificante usado ou contaminado, de acordo com a Portaria ANP Nº 125/99.

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AHE Colíder – 300 MW 51 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - Volume IV

Conforme o art. 3º da Resolução CONAMA Nº 358/05, os geradores de resíduos de serviço de saúde (RSS) deverão gerenciar os resíduos desde a geração até a disposição final, de forma a atender aos requisitos ambientais, de saúde pública e saúde ocupacional, sem prejuízo de responsabilização solidária de todos aqueles, pessoas físicas e jurídicas que, direta ou indiretamente, causem ou possam causar degradação ambiental, em especial os transportadores e operadores das instalações de tratamento e disposição final, nos termos da Lei Nº 6.938/81. A ANVISA também regulamenta a questão dos resíduos de serviços de saúde, exigindo o gerenciamento dos RSS de acordo com a Resolução RDC ANVISA Nº 306/04. No Estado de Mato Grosso, conforme o art. 59º da Lei Complementar Nº 38/95, é proibido o depósito de qualquer tipo de resíduos e o exercício de atividades que impliquem na remoção da cobertura vegetal em áreas de preservação permanente. Segundo o art. 87º, é proibido depositar, dispor, enterrar, infiltrar ou acumular no solo, resíduos em qualquer estado de matéria, desde que sejam poluentes ou possam causar a degradação da qualidade ambiental. A utilização do solo, para quaisquer fins, deverá atender às diretrizes genéricas de preservação e conservação determinadas pelo art. 82º. A disposição final do lixo processar-se-á em condições que não tragam malefícios ou inconveniências à saúde, ao bem-estar público ou ao meio ambiente (art. 89º). Os resíduos de qualquer natureza, portadores de agentes patogênicos ou alta toxidade, bem como inflamáveis, explosivos, radioativos e outros prejudiciais à saúde pública e ao meio ambiente, deverão ser tratados de acordo com normas estabelecidas pelo CONSEMA (art. 88º). Todavia, ainda não há resoluções do CONSEMA específicas sobre o tema. O empreendedor deverá encaminhar seu resíduo para destinação final em unidades receptoras devidamente aprovadas pelo órgão ambiental estadual competente, devendo elaborar o Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos – PGRS, conforme as disposições dos arts. 15º e 19º da Lei Estadual Nº 7.862/02. A Política Estadual de Resíduos Sólidos define os resíduos de saúde como “aqueles provenientes de qualquer estabelecimento de saúde ou unidade que execute atividades de natureza médico-assistencial humana ou animal; de centros de pesquisa, desenvolvimento ou experimentação na área de farmacologia e saúde; medicamentos e imunoterápicos vencidos ou deteriorados; de necrotérios, funerárias e serviços de medicina legal; e aqueles provenientes de barreiras sanitárias” (art. 2º, c, Lei Estadual Nº 7.862/02). Cabe aos estabelecimentos geradores de resíduos de serviços de saúde a elaboração de um plano de gerenciamento destes resíduos, bem como a segregação dos resíduos, o acondicionamento e a identificação adequada no local e momento da geração dos mesmos, conforme dispuser a legislação específica; assegurar, de forma sanitária e ambientalmente adequada, o armazenamento intermediário e temporário dos resíduos, devidamente segregados, acondicionados e identificados (art. 36º da Lei Estadual Nº 7.862/02).

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AHE Colíder – 300 MW 52 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - Volume IV

Os ambulatórios são considerados estabelecimentos geradores de resíduos de serviços de saúde, de modo que os ambulatórios instalados nos canteiros de obras das empreiteiras, na fase de implantação, ou mesmo, na fase de operação, deverão atender às exigências da legislação vigente. O transporte e a destinação final dos RSS gerados nos ambulatórios ficarão a cargo de empresas especializadas contratadas. 11.6.5 Controle do Transporte e Armazenamento de Produtos Perigosos Durante as fases de implantação e operação do empreendimento, caso seja necessário o transporte terrestre e/ou o armazenamento de produtos perigosos (combustíveis, inflamáveis, químicos) ou controlados (explosivos), os seguintes diplomas deverão ser observados: Nível Federal

• Decreto Nº 96.044/88, que aprova o Regulamento para o Transporte Rodoviário de Produtos Perigosos.

• Resolução CONTRAN Nº 14/98, que estabelece os equipamentos obrigatórios para a frota de veículos em circulação e revoga a Resolução CONTRAN Nº 02/98.

• Decreto Nº 3.665/00, que regulamenta a fiscalização, por parte do Exército Brasileiro, das condições de certificação comercial, armazenagem, transporte e uso de produtos controlados.

• Resolução ANTT Nº 420/04, alterada pela Resolução ANTT Nº 701/04, que aprova as instruções complementares ao Regulamento do Transporte Terrestre de Produtos Perigosos.

• Norma ABNT NBR 7.821:1983, que fixa exigências mínimas para materiais, projetos, fabricação, montagem e testes de tanques de aço-carbono, soldados, cilíndricos, verticais, não enterrados, com teto fixo ou flutuante, destinados ao armazenamento de petróleo e seus derivados líquidos.

• Norma ABNT NBR 13.786:2001, que especifica os Equipamentos para Sistemas para Instalações Subterrâneas de Combustíveis.

• Norma ABNT NBR 14.064:2003, que estabelece procedimentos para o atendimento a emergência no transporte terrestre de produtos perigosos.

• Norma ABNT NBR 14.095:2003, que define critérios para a implantação de área de estacionamento para veículos rodoviários de transporte de produtos perigosos.

• Norma ABNT NBR 15.054:2004, que define critérios para contentores para produtos perigosos.

• Norma ABNT NBR 7.500:2005, que estabelece critérios para identificação para o transporte, manuseio, movimentação e armazenamento de produtos perigosos.

• Norma ABNT NBR 7.501:2005, que define os termos empregados no transporte terrestre de produtos perigosos.

• Norma ABNT NBR 7.503:2005, que especifica os requisitos e as dimensões para confecção da ficha de emergência e do envelope para o transporte terrestre de produtos perigosos.

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AHE Colíder – 300 MW 53 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - Volume IV

• Norma ABNT NBR 9.735:2005, que define o conjunto de equipamentos para emergências no transporte terrestre de produtos perigosos.

• Norma ABNT NBR 13.221:2005, que especifica os requisitos para o transporte terrestre de resíduos, de modo a evitar danos ao meio ambiente e a proteger a saúde pública.

• Norma ABNT NBR 17.505 – Partes 1 a 7:2006, que estabelece critérios para o armazenamento de líquidos inflamáveis e combustíveis.

• Norma ABNT NBR 15.480:2007, que estabelece os requisitos para elaboração do Plano de Ação de Emergência (PAE) no atendimento a acidentes envolvendo o transporte de produtos perigosos.

• Norma ABNT NBR 15.481:2008, que estabelece requisitos mínimos de segurança para o transporte terrestre de produtos perigosos.

Nível Estadual

• Lei Complementar Nº 38/95, dispõe sobre o Código Estadual do Meio Ambiente, e dá outras providências.

A legislação federal e diversas normas técnicas da ABNT estabelecem os requisitos e cuidados necessários para o transporte terrestre e armazenamento de combustíveis e produtos inflamáveis e tóxicos, considerados perigosos ao meio ambiente e à saúde pública. No caso do empreendimento em tela, o transporte terrestre desses produtos deverá ocorrer principalmente na fase de implantação, e ficará a cargo das empreiteiras, que poderão subcontratar empresas especializadas para tanto. Estas deverão obedecer às especificações técnicas de segurança constantes no Decreto Nº 96.044/88, na Resolução CONTRAN Nº 14/98, no Decreto Federal Nº 3.665/00 e na Resolução ANTT Nº 420/04, assim como nas normas técnicas NBR 14.095:2003, 15.054:2004, 7.500:2005, 7.501:2005, 7.503:2005, 13.221:2005 e 15.481:2008. Os procedimentos para atendimento a emergências envolvendo acidentes com produtos perigosos estão especificados nas normas NBR 14.064:2003, 9.735:2005 e 15.480:2007. As especificações técnicas para armazenamento de líquidos inflamáveis e combustíveis em tanques aéreos ou subterrâneos, incluindo a implantação de bacias de contenção de vazamentos e dispositivos de separação água-óleo e segurança contra incêndio, constam nas normas NBR 7.821:1983, 13.786:2001 e 17.505 – Partes 1 a 7:2006. No Estado de Mato Grosso, a única disposição sobre a matéria consta no art. 80 da Lei Estadual Complementar Nº 38/95. De acordo com esta disposição, caso haja depósitos de substâncias capazes de causar riscos aos recursos hídricos, estes deverão ser dotados de dispositivos de segurança e prevenção de acidentes e deverão estar localizados a uma distância mínima de 300 m (trezentos metros) dos corpos d'água, em áreas urbanas e 1.000 m (mil metros) em áreas rurais. Verificada a impossibilidade técnica de serem mantidas as referidas distâncias ou de serem constituídos os dispositivos de prevenção de acidente, a execução do projeto poderá ser autorizada, desde que sejam oferecidas outras medidas de segurança.

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AHE Colíder – 300 MW 54 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - Volume IV

Os aspectos de armazenagem, transporte e utilização de produtos controlados (explosivos) deverão ser considerados caso haja utilização destes produtos na fase de execução do empreendimento. Caso isto ocorra, serão aplicados os dispositivos do Decreto Federal Nº 3.665/00, que regulamenta a fiscalização, por parte do Exército Brasileiro, das condições de certificação comercial, armazenagem, transporte e uso de produtos controlados (R-105). 11.7 Legislação sobre Planejamento e Ordenamento Territorial 11.7.1 Amazônia Legal Em 1955, por meio da Lei No 806/53 (criação da Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia - SPVEA), foram incorporados à Amazônia Brasileira o Estado do Maranhão (oeste do meridiano 44º), o Estado de Goiás (norte do paralelo 13º de latitude sul, atualmente Estado de Tocantins) e Mato Grosso (norte do paralelo 16º, Latitude Sul). Com esse dispositivo legal, a Amazônia Brasileira passou a ser chamada de Amazônia Legal. A Região Amazônica foi definida, portanto, pela Lei, independentemente se sua área pertencer à bacia hidrográfica. Em 1966, a Lei 5.173/66 (extinção da SPVEA e criação da Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia - SUDAM) adotou os limites da Amazônia Legal para fins de planejamento. Em decorrência da criação do Estado do Mato Grosso do Sul, em 11 de outubro de 1977 (Lei Complementar Nº 31/77), o limite estabelecido pelo paralelo 16º foi extinto, passando o Estado do Mato Grosso a pertencer integralmente à Amazônia Legal. 11.7.2 Zoneamento Econômico-Ecológico O planejamento territorial e o controle do uso e da ocupação do solo, visando ao desenvolvimento sustentável e à preservação do meio ambiente, são os objetivos gerais do Zoneamento Econômico-Ecológico do Brasil (ZEE). A Lei No 6.938/1981, em seu art. 5º, estabelece que as diretrizes da Política Nacional de Meio Ambiente serão formuladas em normas e planos, destinados a orientar a ação dos Governos da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios no que se relaciona com a preservação da qualidade ambiental e manutenção do equilíbrio ecológico. Dentre os instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente, figura o zoneamento ambiental.

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AHE Colíder – 300 MW 55 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - Volume IV

O principal diploma federal que rege a matéria é o Decreto Federal Nº 4.297/02, que regulamenta o artigo 9o, inciso II, da Lei No 6.938/1981 (Política Nacional de Meio Ambiente). Este Decreto estabelece os princípios e objetivos do ZEE, os termos para sua elaboração, os elementos mínimos que deverão constar de seu conteúdo, bem como o uso, o armazenamento, a custódia e a publicidade dos dados e informações coletados, entre outros aspectos. O Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE) tem por objetivo geral organizar, de forma vinculada, as decisões dos agentes públicos e privados quanto a planos, programas, projetos e atividades que, direta ou indiretamente, utilizem recursos naturais, assegurando a plena manutenção do capital e dos serviços ambientais dos ecossistemas. O ZEE leva em conta a importância ecológica, as limitações e as fragilidades dos ecossistemas, estabelecendo vedações, restrições e alternativas de exploração do território e determinando, quando for o caso, inclusive a relocalização de atividades incompatíveis com suas diretrizes gerais. O Programa Zoneamento Ecológico-Econômico é um programa do Plano Plurianual - PPA, de caráter multisetorial e descentralizado, gerenciado pelo Ministério do Meio Ambiente e com executores federais, estaduais e municipais. Materializa, por isso, a transversalidade requerida pelos programas e projetos de meio ambiente, assim como incorpora e subsidia as políticas regionais de desenvolvimento e as ações de gestão do território. O objetivo do Programa ZEE é proporcionar base técnico-científica e operacional ao planejamento estratégico em nível federal, e apoiar técnica e operacionalmente as iniciativas de projetos de ZEE no país, nas dimensões sub-regionais, estaduais e locais, incentivando as discussões sobre a ocupação do território, bem como a geração de propostas sustentáveis de uso dos recursos naturais. O Caderno de Referência do Programa ZEE está disponível no site oficial do MMA na Internet. Compete ao Poder Público Federal elaborar e executar o ZEE nacional ou regional, em especial quando tiver por objeto bioma considerado patrimônio nacional ou que não deva ser tratado de forma fragmentada. O Poder Público Federal poderá, mediante celebração de documento apropriado, elaborar e executar o ZEE em articulação e cooperação com os Estados, preenchidos os requisitos previstos no Decreto Federal Nº 4.297/02. No Estado do Mato Grosso, os principais diplomas que tratam especificamente do ZEE estadual são:

• Lei Nº 5.993/92, que define a Política de Ordenamento Territorial e as ações para a sua consolidação, objetivando o uso racional dos recursos naturais da área rural de Estado do Mato Grosso, segundo o Zoneamento Antrópico Ambiental, tecnicamente denominado Zoneamento Sócio-Econômico-Ecológico – ZSEE.

• Decreto Nº 1.139/08, alterado pelo Decreto Nº 1.139/08, que institui Comissão Estadual do Zoneamento Socioeconômico Ecológico - CEZSEE.

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AHE Colíder – 300 MW 56 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - Volume IV

O Estado de Mato Grosso ainda não aprovou a Lei que trata do Zoneamento Sócio-Econômico-Ecológico (ZSEE). O Projeto de Lei Estadual 71/04, quando aprovado, instituirá a Política de Planejamento e Ordenamento Sustentado do Estado, considerando a variação ambiental de acordo com cada região de Mato Grosso, norteando os empreendimentos, além ordenar o uso e ocupação do espaço e dos recursos naturais. Conforme a proposta do ZSEE-MT, a AID do AHE Colíder está inserida na Região de Planejamento RP XII – Sinop -, especialmente na Categoria de Uso 3 / Zona 3.1.9 – Áreas que Requerem Manejos Específicos em Ambientes com Elevado Potencial Florestal, onde Predominam Formações Florestais, na Área de Influência do Pólo Regional de Sinop. Em termos de diretrizes de uso, a Categoria de Uso 3 compreende as áreas que apresentam elevado potencial biótico, especificidade ecológica e paisagística, e elevada fragilidade, requerendo manejos específicos para garantir a manutenção de suas características e a exploração racional e adequada de sua base de recursos naturais. A Zona 3.1.9 é indicada para o incentivo aos estudos de biodiversidade; à implantação de sistemas agroflorestais em pequenos e médios estabelecimentos; e ao manejo florestal sustentável de uso múltiplo em grandes estabelecimentos. 11.7.3 Terras de Domínio Público O Código de Terras do Mato Grosso (Lei Nº 3.922/77, regulamentada pelo Decreto Nº 1.260/78, alterado pelos Decretos No 2.024/03 e No 7.491/06) inclui entre as terras de domínio do Estado as ilhas fluviais situadas em seus rios interiores (art. 1o). De acordo com o art. 8º, o Estado pode doar ou ceder à União áreas necessárias a obras de interesse nacional. • Segundo o art. 6º, será promovido o desapossamento de quem ilegalmente detenha terras públicas, apurando-se a responsabilidade civil e penal. As terras desapossadas poderão ser vendidas mediante licitação ou aproveitadas para fim compatível com a essa lei. Pelo art. 17º, respeitada a legislação federal correlata, deverão ser utilizadas em planos racionais de ocupação as terras públicas discriminadas como desocupadas, que ficarão sob controle do Instituto de terras do Mato Grosso (INTERMAT), especialmente para fins de reflorestamento, colonização particular e exploração agropecuária intensiva. O art. 8º do Decreto Nº 1.260/78 determina que o INTERMAT poderá legitimar posse de área contínua até 100 (cem) hectares ao ocupante de terras devolutas, que as tenha tornado produtivas com o seu trabalho e o da sua família, desde que preencha os seguintes requisitos: não seja proprietário de imóvel rural; comprove a morada permanente e cultura efetiva pelo prazo mínimo de 1 (um) ano. Entende-se que as ilhas fluviais existentes no Rio Teles Pires são terras de domínio público do estado de Mato Grosso, e assim o serão aquelas porventura aflorantes no futuro reservatório do AHE.

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11.7.4 Planos Diretores Municipais O art. 41º do Estatuto da Cidade (Lei Federal No 10.257/01) obriga os municípios com mais de 20 mil habitantes a elaborarem planos diretores de ordenamento territorial. Dentre os municípios pertencentes à AID do AHE Colíder, apenas o Município de Colíder possui Plano Diretor aprovado, conforme as disposições da Lei Municipal Nº 1.841/06. Segundo este plano, o empreendimento situa-se em Área Rural. Os municípios de Itaúba e Nova Canaã do Norte e Cláudia ainda não têm planos aprovados. 11.8 Legislação sobre Direitos Minerários A implantação do empreendimento e a formação do reservatório poderão afetar diretamente áreas de titularidade mineral e de ocorrências minerais. Em função disso, o presente EIA inclui um levantamento de informações junto ao Sistema de Controle de Áreas do Departamento Nacional de Produção Mineral – DNPM -, para verificação das interferências com processos de direitos minerários existentes na área de intervenção e avaliação econômica das indenizações cabíveis, bem como para subsidiar um programa de informação e gestão junto ao DNPM, para que não sejam emitidos novos alvarás de pesquisa ou outorgas de títulos minerários nas áreas a serem inundadas pelo AHE. A legislação sobre direitos minerários é composta por diplomas federais e estaduais. As principais disposições são analisadas a seguir. Nível Federal A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 20º, declara os bens minerais metálicos, não-metálicos e fossilíferos como pertencentes ao patrimônio da União, sendo seu aproveitamento por particulares dependente de concessão (art. 176º). A forma do aproveitamento é definida pelo Código de Mineração (Decreto-Lei Nº 227/67, regulamentado pelo Decreto No 62.934/68 e alterado substancialmente pela Lei Nº 9.314/96 e por outros diplomas), onde são especificados os regimes de autorização, concessão, licenciamento e garimpagem, este último pouco usado para minerais não-metálicos, como os de uso imediato em construção civil (agregados, como areia e cascalho) são considerados bens minerais de uso social pela sua importância no atendimento das necessidades diretas da população. Por esse motivo, são favorecidos pela legislação, que oferece a possibilidade de opção pelo regime de licenciamento simplificado, embora menos seguro que o de autorização e concessão por exigir renovação periódica da licença. O Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), instituído como autarquia pela Lei No 8.876/94, é o órgão responsável por promover a outorga dos títulos minerários relativos à exploração e ao aproveitamento dos recursos minerais, e expedir os demais atos referentes à execução da legislação minerária, dentre outras incumbências. As etapas para obtenção de

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AHE Colíder – 300 MW 58 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - Volume IV

autorização de lavra junto ao DNPM compreendem a autorização ou alvará de pesquisa, a outorga de lavra e a imissão de posse da jazida ao requerente, para o que se devem providenciar os estudos, documentos e procedimentos de licenciamento descritos na legislação sobre a matéria. O art. 225º, § 2º da Constituição Federal de 1988 impõe àquele que explorar recursos minerais a responsabilidade de recuperar os danos ambientais causados pela atividade de mineração, consistente na obrigação de recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com a solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma de lei. Segundo o art. 19 da Lei No 7.805/89, o titular da autorização de pesquisa, de permissão de lavra garimpeira, de concessão de lavra, de licenciamento ou de manifesto de mina responde pelos danos causados ao meio ambiente. Portanto, a não recuperação do dano ambiental causado pela atividade de mineração pode acarretar sanções de natureza penal e administrativa, sem desonerar o minerador da obrigação de recuperar o meio ambiente degradado pela atividade (responsabilidade civil). O Decreto Nº 97.632/89 determina que os empreendimentos que se destinam à exploração de recursos minerais deverão, quando da apresentação do Estudo de Impacto Ambiental - EIA - e do Relatório de Impacto Ambiental – RIMA -, submeter à aprovação do órgão ambiental competente um plano de recuperação de área degradada (PRAD). São considerados como “degradação” os processos resultantes dos danos ao meio ambiente, pelo quais se perdem ou se reduzem algumas de suas propriedades, tais como, a qualidade ou capacidade produtiva dos recursos ambientais. A recuperação deverá ter por objetivo o retorno do sítio degradado a uma forma de utilização, de acordo com um plano preestabelecido para o uso do solo, visando à obtenção de uma estabilidade do meio ambiente. A Portaria DNPM Nº 237/01, alterada pela Portaria DNPM Nº 12/02, instituiu as Normas Reguladoras de Mineração (NRMs). A NRM Nº 20, que trata da “Suspensão, Fechamento de Mina e Retomada das Operações Mineiras”, especifica, dentre os instrumento comprobatórios a apresentar ao DNPM para suspensão das atividades, a apresentação das áreas recuperadas e a recuperar. Recentemente, a Lei No 11.685/08 instituiu o Estatuto do Garimpeiro, destinado a disciplinar os direitos e deveres assegurados aos garimpeiros. Entende-se como garimpeiro “toda pessoa física de nacionalidade brasileira que, individualmente ou em forma associativa, atue diretamente no processo da extração de substâncias minerais garimpáveis”. O exercício da atividade de garimpagem só poderá ocorrer após a outorga do competente título minerário, expedido nos termos do Decreto-Lei No 227/67 e da Lei No 7.805/89, sendo o referido título indispensável para a lavra e a primeira comercialização dos minerais garimpáveis extraídos. Segundo o art. 12º do Estatuto, o garimpeiro, a cooperativa de garimpeiros e a pessoa que tenha celebrado Contrato de Parceria com garimpeiros, em qualquer modalidade de trabalho, ficam obrigados a recuperar as áreas degradadas por suas atividades, atender ao disposto no Código de Mineração no que lhe couber, e cumprir a legislação vigente em relação à segurança e à saúde no trabalho.

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AHE Colíder – 300 MW 59 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - Volume IV

Nível Estadual No Estado de Mato Grosso, a Lei Complementar No 38/95, em seu art. 91º, estabelece que as atividades de extração de recursos minerais são sujeitas ao licenciamento ambiental, que levará em conta a legislação federal pertinente, inclusive no que concerne à obrigação do titular da lavra e do empreendedor de recuperar o meio ambiente degradado pela atividade, de acordo com a solução técnica a ser aprovada pela SEMA. A expedição de Licença de Instalação para lavra garimpeira dependerá da comprovação do requerimento da área junto ao órgão federal competente. A Licença de Operação somente será processada mediante a apresentação do documento federal de concessão de lavra (DNPM). Fica a SEMA autorizada a regulamentar a extração mineral feita por plataforma flutuante no leito dos rios, vedada à atividade escariante. De acordo com o art. 93º, a juízo das autoridades ambientes estaduais, os trabalhos de extração mineral que, contrariando as prescrições técnicas ou restrições constantes das licenças ambientais, estejam sendo executadas em desacordo com normas legais de proteção ambiental, causando danos significativos ao meio ambiente, serão considerados infrações gravíssimas, justificando a suspensão dos trabalhos, ou interdição da atividade. O órgão ambiental exigirá o monitoramento das atividades de extração de recursos minerais, sob a responsabilidade dos interessados, nos termos da programação aprovada, sobre o qual exercerá auditoria periódica (art. 94º). O licenciamento de lavra garimpeira é regulamentado pelas Portarias FEMA Nº 17 e No 41, de 1994, que estabelecem o regime de licenciamento ambiental através de LP, LI e LO e a obrigatoriedade de realização de Plano de Controle Ambiental e Recuperação de Área Degradada (PRAD). No entanto, o art. 92 da Lei Complementar No 38/95 determina que as lavras garimpeiras de pequeno porte poderão ser objeto de licenciamento simplificado. Este aspecto foi regulamentado posteriormente pela Resolução CONSEMA Nº 12/03, que institui o regime de permissão de lavra garimpeira, e a Resolução CONSEMA Nº 13/03, que dispensa da elaboração de EIA/RIMA as atividades de extração de alguns tipos de minérios, conforme o porte da extração anual. O regime de permissão de lavra garimpeira “é o aproveitamento imediato de jazimento mineral que, por sua natureza, dimensão, localização e utilização econômica, possa ser lavrado, independentemente de prévios trabalhos de pesquisa, segundo critérios fixados pelo Departamento Nacional de Produção Mineral – DNPM”. Considera-se garimpagem “a atividade de aproveitamento de substâncias minerais garimpáveis, executados no interior de áreas estabelecidas para este fim, exercida por brasileiro, cooperativa de garimpeiros, autorizada a funcionar como empresa de mineração, sob o regime de permissão de lavra garimpeira”. São considerados minerais garimpáveis: ouro, diamante, cassiterita, columbita, tantalita e wolframita, nas formas aluvionar, eluvional e coluvional; a sheelita, as demais gemas, o rutilo, o quartzo, o berilo, a muscovita, o espodumênio, a lepidolita, o feldspato, a mica e outros, em tipos de ocorrência indicados a critério do DNPM.

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AHE Colíder – 300 MW 60 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - Volume IV

11.9 Legislação sobre Desapropriação ou Instituição de Servidão por Utilidade Pública A implantação do empreendimento e o enchimento do reservatório requererão a liberação das áreas afetadas, mediante os instrumentos de desapropriação ou instituição de servidão administrativa por utilidade pública. No Brasil, as desapropriações por utilidade pública de maneira geral são, basicamente, regidas pelo Decreto-Lei Nº 3.365/41, complementado por outros dispositivos posteriores, a saber: Decreto-Lei Nº 4.152/42; Decreto-Lei Nº 7.42/45; Decreto-Lei Nº 9.282/46; Decreto-Lei Nº 9.881/46; Lei Nº 2.786/56; Lei Nº 3.833/60; Lei Nº 4.132/62; Lei Nº 4.686/65; Decreto-Lei Nº 856/69; Lei Nº 6.306/75; e Lei Nº 6.602/78 (define casos de desapropriação por interesse social e dispõe sobre sua aplicação). Os procedimentos de desapropriação ou instituição de servidão pública envolvem duas fases: (i) de natureza declaratória: declaração de Utilidade Pública referente ao imóvel a ser desapropriado ou usufruído; (ii) de natureza executória: cálculo do valor da indenização e transferência do imóvel desapropriado para o domínio ou usufruto do expropriador, na hipótese de desapropriação ou instituição de servidão. A declaração de utilidade pública, para fins de desapropriação ou instituição de servidão administrativa, das áreas necessárias à implantação de instalações de concessionários de energia elétrica, deve ser dada pela ANEEL, nos termos da Lei Federal Nº 9.074/95, art. 10, e da Resolução ANEEL Nº 279/07 (ver Seção 12.2.8). O art. 31 da Lei No 8.987/95 define as incumbências da concessionária, que inclui, entre outras, promover as desapropriações e constituir servidões autorizadas pelo poder concedente, conforme previsto no edital e no contrato, e zelar pela integridade dos bens vinculados à prestação do serviço, bem como segurá-los adequadamente. O Decreto-Lei Nº 33.65/41, com modificações posteriores, determina as diretrizes e os procedimentos para realização da desapropriação para os casos de utilidade pública que deverão ser atendidos depois de definidos pela ANEEL, se o empreendimento foi ou não declarado de utilidade pública. Assim, a desapropriação será realizada através de acordo administrativo entre as partes ou por ordem judicial mediante documento público devidamente registrado no Cartório de Registro de Imóveis competente. Após a publicação do Decreto de Utilidade Pública, a autoridade pública ou seus representantes terão um prazo de 5 (cinco) anos para preparar o acordo com o proprietário ou arquivar o processo. Pode-se concluir, portanto, que caso nenhum acordo seja alcançado, a parte interessada terá apenas a alternativa de entrar com uma Ação para Desapropriação (art. 10º do Decreto-Lei Nº 3.365/41). Os procedimentos necessários para a compra de imóveis para a execução do empreendimento encontram-se estabelecidos pelo Código de Processo Civil brasileiro, enquanto os direitos e

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AHE Colíder – 300 MW 61 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - Volume IV

deveres de desapropriados e desapropriante são regidos pelo Decreto-Lei Nº 3.365/41 e alterações posteriores. Ainda com relação ao Decreto de Utilidade Pública e à Declaração de Utilidade Pública dada pela ANEEL, deve-se ressaltar que os seus efeitos não podem ser confundidos com a desapropriação em si. O processo de desapropriação poderá ser considerado iniciado somente após a citação do proprietário do Imóvel. A partir desse momento, porém, é permitido que as autoridades expropriantes entrem no imóvel sempre que necessário, para a realização do levantamento topográfico, de avaliações e outras atividades de identificação do imóvel, desde que não prejudiquem o uso regular da propriedade por parte do proprietário ou possuidores, sob pena de incorrerem no pagamento de indenização por prejuízos causados, além de estarem criminalmente sujeitos à ação penal. Essa permissão, porém, não significa um mandado de imissão de posse, o qual poderá vigorar apenas por meio de mandado do Juiz, após o início do processo judicial adequado. Para que o valor da indenização a proprietários seja definido, deve ser elaborado um Laudo Geral de Avaliação em conformidade as normas de avaliações vigentes publicadas pela ABNT. Para tanto, deverão ser consideradas as seguintes normas: NBR 14.653-1:2001 – Avaliação de bens, Parte 1: Procedimentos; NBR 14.653-2:2004 – Avaliação de bens, Parte 2: Imóveis urbanos; NBR 14.653-3:2004 – Avaliação de bens, Parte 3: Imóveis rurais; e NBR 14.653-4:2004 – Avaliação de bens, Parte 4: Empreendimentos. 11.10 Legislação sobre Compensação Social e Reassentamento Involuntário Em que pese o regime especial de utilidade pública aplicado a empreendimentos hidrelétricos, outras formas de compensação social podem se aplicar às populações afetadas pelo enchimento de reservatórios de barragens, além da indenização por desapropriação ou instituição de servidão. No Brasil, não há legislação específica que estabeleça formas de compensação social e procedimentos de reassentamento involuntário de famílias relacionadas a projetos de utilidade pública, devendo-se observar, para todos os fins, o Código de Processo Civil. Especialmente no que se refere a projetos hidrelétricos, as reivindicações do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) motivaram Projetos de Lei que se encontram em análise junto à Comissão de Mines e Energia (CME) da Câmara dos Deputados em Brasília. Tais projetos pretendem instituir a obrigatoriedade de prestação de assistência social às populações de áreas inundadas para a construção de barragens. O Projeto de Lei No 4849/05, de autoria do Dep. Fed. Ivo José (PT), propõe, em seu art. 2º, a criação de um Plano de Assistência Social, aplicável àqueles que habitem imóvel rural ou urbano desapropriado, bem como aos que nele exerçam qualquer atividade econômica, aí incluídos comerciantes, posseiros, assalariados, parceiros, arrendatários, meeiros. A assistência abrangeria: (i) assistência jurídica; (ii) assistência psicológica e atendimento médico, odontológico e hospitalar; (iii) fornecimento de cesta básica por período de, no

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AHE Colíder – 300 MW 62 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - Volume IV

mínimo, 1 (um) ano; (iv) abertura de linhas de financiamento para o desenvolvimento de atividades produtivas; (v) prestação de assistência técnica e agrícola, com oferta de cursos profissionalizantes de curta duração; (vi) fornecimento de transporte aos moradores das áreas atingidas, para que possam participar de audiência pública destinada à análise e à exposição de planos de assistência social e de estudos ambientais; (vii) elaboração de material informativo, de fácil compreensão, sobre os direitos e deveres dos empreendedores públicos e privados e da população das áreas atingidas. Para o custeio da assistência, os empreendedores (públicos ou consórcios privados) seriam obrigados a incluir dotações específicas no orçamento de reservatórios de alcance regional e “significativo impacto social” (conceito a ser definido em regulamento específico). Os recursos destinados à implementação do Plano de Assistência Social seriam repassados aos órgãos ou entidades públicas responsáveis pela sua execução. O plano seria apresentado na Audiência Pública de exposição do EIA/RIMA, e o acompanhamento e monitoração da aplicação dos recursos seriam estabelecidos em regulamento, previstas necessariamente a participação de representantes da sociedade local e a disposição pública da prestação de contas. Embora não tenham força de lei, as políticas de salvaguarda de instituições de financiamento internacionais, como o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), incluem políticas específicas de reassentamento involuntário para projetos financiados por estas instituições, que detalham princípios, objetivos, diretrizes e procedimentos para elaboração, implementação e acompanhamento de planos de reassentamento e compensação social junto às populações afetadas, e que são condicionantes para a liberação dos empréstimos solicitados. De acordo com as diretrizes da Política Operacional OP 4.12 – Reassentamento Involuntário -, do Banco Mundial, um projeto que causar o deslocamento de menos de 200 pessoas poderá ser objeto de um Plano de Reassentamento Abreviado. Um subprojeto que causar o deslocamento de 200 pessoas ou mais necessita ter um Plano de Ação de Reassentamento (PAR) completo. O PAR deverá ter como objetivos:

• Minimizar o número de famílias deslocadas; • Restaurar o nível de vida dos reassentados até o nível anterior, ou melhor; • Possibilitar que os afetados tenham possibilidade de ser beneficiados pela obra; • Prover assistência técnica para permitir que os reassentados tenham a

possibilidade de restabelecer seu nível anterior de renda; • Estabelecer critérios claros e transparentes de elegibilidade para receber

benefícios; • Definir os benefícios disponíveis (ex. casa e lote em agrovila, compensação

financeira, etc.); • Em casos de indenização em dinheiro, calcular o valor de bens perdidos pelo

seu custo de reposição, sem considerar depreciação; • Em casos de indenização em dinheiro, proporcionar assistência às famílias que

receberem para evitar que gastem a sua indenização em bens de consumo ou investimentos sem futuro;

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AHE Colíder – 300 MW 63 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - Volume IV

• Estabelecer um padrão mínimo de reassentamento ou indenização para garantir uma qualidade mínima de vida, independente do status anterior do reassentado (proprietário, posseiro, morador, etc.);

• Contar com a participação da(s) comunidade(s) afetada(s); • Envolver entidades locais tais como a prefeitura local, a igreja, entidades

sociais; • Incluir os custos do reassentamento nos custos globais do subprojeto; • Garantir que o PAR seja executado harmonicamente com o subprojeto de

infraestrutura para evitar transtornos e deslocamentos temporários; • Fornecer um título de proprietário definitivo, sem ônus para o reassentado,

para todos os relocados em agrovilas ou outros assentamentos construídos pelo projeto.

11.11 Legislação sobre Patrimônio Histórico e Cultural Os recursos minerais e o subsolo e as cavidades naturais subterrâneas e os sítios arqueológicos e pré-históricos são bens da União (art. 20º, IX e X, Constituição Federal de 1988). É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos, impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e outros bens de valor histórico, artístico ou cultural. E é concorrente entre a União, os Estados e Distrito Federal legislar sobre o tema (art. 23º, III, IV e art. 24º, VII, Constituição Federal de 1988). Segue a legislação principal sobre o tema: Nível Federal

• Decreto-Lei Federal Nº 25/37, que organiza a proteção do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional;

• Decreto-Lei Nº 4.146/42, que dispõe sobre a proteção dos depósitos fossilíferos; • Lei Nº 3.924/61, que dispõe sobre os monumentos arqueológicos e pré-históricos; • Portaria SPHAN Nº 07/88, que estabelece os procedimentos necessários à

comunicação prévia, às permissões e às autorizações para pesquisas e escavações arqueológicas em sítios arqueológicos;

• Portaria IBAMA Nº 887/90, dispõe sobre a realização de diagnósticos da situação do Patrimônio Espeleológico Nacional;

• Portaria IPHAN Nº 230/02, que dispõe sobre os procedimentos necessários para obtenção das licenças ambientais referentes à apreciação e acompanhamento das pesquisas arqueológicas no país;

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AHE Colíder – 300 MW 64 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - Volume IV

• Resolução CONAMA 347/04 dispõe sobre a proteção do patrimônio espeleológico, instituindo o CANIE – Cadastro Nacional de Informações Espeleológicas.

Estado de Mato Grosso

• Lei Nº 3.774/76, que organiza a proteção do patrimônio histórico e artístico estadual.

• Lei Nº 7.782/02, que declara integrantes do patrimônio científico-cultural do Estado os sítios paleontológicos e arqueológicos localizados em Municípios do Estado de Mato Grosso e dá outras providências.

O patrimônio histórico e artístico nacional é definido como o conjunto dos bens móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja de interesse público, quer por sua vinculação aos fatos memoráveis da História do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico (Decreto-Lei Nº 25/37, em seu art. 1o). A Lei Federal Nº 3.924/61 delineou as competências institucionais relativas à pesquisa de sítios arqueológicos, introduzindo vários procedimentos administrativos a serem exarados exclusivamente pelo órgão federal competente, hoje o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional — IPHAN. Em razão da evolução de conceitos da ciência e da práxis arqueológica, a lei supracitada necessitou de regulamentação pelo órgão gestor. Assim, foram editadas a Portaria Nº 7/88, da antiga Sub-Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, e as Portarias Nº 230/02 e Nº 28/03, do seu órgão sucessor, o IPHAN1. A norma mais antiga (Portaria Nº 7/88) foi a primeira a regulamentar a Lei Federal Nº 3.924/61, propondo um roteiro de procedimentos concretizado em plano de trabalho obrigatório aos profissionais acadêmicos e liberais que trabalham com arqueologia. As duas últimas portarias (230/02 e 28/03) referem-se especificamente às condições da arqueologia preventiva nos procedimentos de licenciamento ambiental. Os sítios arqueológicos encontrados em território nacional devem ser objeto de operação científica de resgate por equipe técnica qualificada, de acordo com as normas do IBPC - Instituto Brasileiro de Patrimônio Cultural. O resgate arqueológico deve viabilizar a recuperação de informações a respeito do bem cultural ameaçado, de modo que ele possa ser histórica e culturalmente contextualizado e, assim, incorporado à Memória Nacional, de acordo com as diretrizes definidas na Lei Federal Nº 3.924/61.

1 O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional [IPHAN] hoje vinculado ao Ministério da Cultura foi criado em 13 de janeiro de 1937 e, “em sua luta pela proteção do patrimônio cultural, estendeu sua ação à proteção dos acidentes geográficos notáveis e das paisagens agenciados pelo homem.” [www.iphan.gov.br]

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Além das normas de caráter mais genérico, o órgão federal gestor do patrimônio arqueológico (IPHAN) também editou, no âmbito de sua competência, normas em forma de Portarias, a serem cumpridas principalmente pelos profissionais de arqueologia no licenciamento ambiental. No que tange à compatibilização dos procedimentos de arqueologia preventiva com os procedimentos de licenciamento ambiental, a Portaria Nº 07/1988 do IPHAN foi a primeira regulamentação da Lei Federal Nº 3.924/61. Posteriormente, a Portaria IPHAN Nº 230/02 partiu de algumas considerações preliminares que se resumem na compatibilização das fases de obtenção de licenças ambientais em urgência ou não, com os estudos preventivos de arqueologia, objetivando o licenciamento de empreendimentos potencialmente capazes de afetar o patrimônio arqueológico. Essa norma determina os procedimentos a serem mobilizados na fase de obtenção de Licença Prévia. O diagnóstico deve incluir a contextualização arqueológica e etnohistórica da área de influência do empreendimento, por meio de levantamento de dados secundários e levantamento arqueológico de campo, e de prospecções em áreas pouco ou mal conhecidas sob o ponto de vista arqueológico. Em seguida, deverá ser feita a avaliação dos impactos do empreendimento sobre o patrimônio arqueológico regional, com base no diagnóstico elaborado, na análise das cartas ambientais temáticas (geologia, geomorfologia, hidrografia, declividade e vegetação) e nas particularidades técnicas da obra. A partir do diagnóstico e da avaliação de impactos, deverão ser apresentados os programas de prospecção e de resgate compatíveis com o cronograma das obras e com as fases de licenciamento ambiental do empreendimento, de forma a garantir a integridade do patrimônio cultural da área. Segundo os arts. 1º e 3º da Lei Estadual Nº 3.774/76, constituem o patrimônio histórico e artístico do Estado do Mato Grosso os bens móveis e imóveis, existentes no Estado e cuja conservação seja de interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história estadual ou do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico. Equiparam-se aos bens acima referidos e são também sujeitos a tombamento: os monumentos naturais, bem como os sítios e paisagens que importe conservar e proteger, pela feição notável com que tenham sido dotados pela natureza ou agenciada pela dinastia humana. A Lei Estadual Nº 7.782/02, por sua vez, declara integrantes do patrimônio científico-cultural do Estado os sítios paleontológicos e arqueológicos localizados em municípios do Estado de Mato Grosso. 11.12 Legislação de Proteção às Populações Indígenas e Quilombolas 11.12.1 Populações Indígenas Além da Constituição Federal, os seguintes diplomas legais regem as questões indígenas:

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• Lei Nº 5.371/1967, que autoriza a instituição da Fundação Nacional do Índio

(FUNAI) e dá outras providências. • Lei Nº 6.001/1973 - Estatuto do Índio. • Decreto No 1.141/1994, que dispõe sobre as ações de proteção ambiental, saúde e

apoio às atividades produtivas para as comunidades indígenas. • Decreto Nº 1.775/1996, que dispõe sobre o procedimento administrativo de

demarcação das terras indígenas (revogou o Decreto Nº 22/1991). • Decreto Nº 4.645/03, que estabelece o Estatuto da FUNAI. • Resolução CONAMA No 378/2006, que define os empreendimentos

potencialmente causadores de impacto ambiental nacional ou regional para fins do disposto no inciso III, § 1º, art. 19 da Lei nº 4.771/1965.

• Instrução Normativa FUNAI Nº 02/2007, que estabelece normas sobre a participação do órgão no processo de licenciamento ambiental de empreendimentos ou atividades potencialmente causadoras de impacto no meio ambiente das Terras Indígenas, na cultura e nos povos indígenas.

De acordo com o art. 22º, XIV, da Constituição Federal, é competência privativa da União legislar sobre populações indígenas. O art. 231º determina que “são reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens”. O Estatuto do Índio regula a situação jurídica dos índios ou silvícolas e das comunidades indígenas, com o propósito de preservar a sua cultura e integrá-los, progressiva e harmoniosamente, à comunhão nacional. Segundo o art. 18, as terras indígenas não poderão ser objeto de arrendamento ou de qualquer ato ou negócio jurídico que restrinja o pleno exercício da posse direta pela comunidade indígena ou pelos silvícolas. Nessas áreas, é vedada a qualquer pessoa estranha aos grupos tribais ou comunidades indígenas a prática da caça, pesca ou coleta de frutos, assim como de atividade agropecuária ou extrativa. A demarcação administrativa das terras indígenas será feita mediante processo estabelecido em Decreto do Poder Executivo, por iniciativa e orientação da FUNAI. Segundo o art. 22º, cabe aos índios ou silvícolas a posse permanente das terras que habitam e o direito ao usufruto exclusivo das riquezas naturais e de todas as utilidades naquelas terras existentes. De acordo com o art. 9º do Decreto No 1.141/94, as ações voltadas à proteção ambiental das terras indígenas e seu entorno destinam-se a garantir a manutenção do equilíbrio necessário à sobrevivência física e cultural das comunidades indígenas, contemplando: (i) diagnóstico ambiental, para conhecimento da situação, como base para as intervenções necessárias; (ii) acompanhamento e controle da recuperação das áreas que tenham sofrido processo de degradação de seus recursos naturais; (iii) controle ambiental das atividades potencial ou efetivamente modificadoras do meio ambiente, mesmo aquelas desenvolvidas fora dos limites das terras indígenas que afetam; (iv) educação ambiental, dirigida às comunidades indígenas e às comunidades vizinhas, visando a participação na proteção do meio ambiente nas terras indígenas e no seu entorno; (v) identificação e difusão de tecnologias indígenas e não-indígenas, consideradas apropriadas do ponto de vista ambiental e antropológico.

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AHE Colíder – 300 MW 67 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - Volume IV

O Decreto Nº 1.775/96, em seu art. 2°, determina que a demarcação das terras tradicionalmente ocupadas pelos índios será fundamentada em trabalhos desenvolvidos por antropólogo de qualificação reconhecida, que elaborará, em prazo fixado na portaria de nomeação baixada pelo titular do órgão federal de assistência ao índio, estudo antropológico de identificação. Segundo o art. 4º da Resolução CONAMA No 378/06, a autorização para exploração de florestas e formações sucessoras que envolva manejo ou supressão em imóveis rurais, numa faixa de dez quilômetros no entorno de terra indígena demarcada, deverá ser precedida de informação georreferenciada à FUNAI, exceto no caso da pequena propriedade rural ou posse rural familiar. Conforme disposto na Instrução Normativa FUNAI Nº 02/2007, art. 2º, os empreendimentos ou atividades efetiva ou potencialmente causadoras de impacto sobre Terras Indígenas (TIs), a cultura e os povos indígenas são aqueles localizados dentro das terras demarcadas, ou aqueles listados na Resolução CONAMA nº 237/97. Segundo o art. 4º, cabe à Coordenação Geral de Patrimônio Indígena e Meio Ambiente (CGPIMA/FUNAI) a responsabilidade pelo acompanhamento dos empreendimentos e atividades potencialmente causadoras de degradação do meio ambiente das TIs, da cultura e dos povos indígenas, mesmo daquelas desenvolvidas no entorno das terras. Para a definição do que seria este “entorno”, a FUNAI tem adotado a distância de 10 km do limite da TI mais próximo do local do empreendimento. Segundo o art. 6º, compete ao IBAMA o licenciamento de empreendimentos ou atividades com impacto ambiental e sociocultural em Terras Indígenas. A FUNAI, por solicitação do órgão licenciador, deverá participar do processo de licenciamento ambiental desde seu início, a partir do cadastro do projeto de empreendimento ou atividade a ser licenciada (art. 8o). De acordo com o art. 11º, após a análise dos documentos do processo de licenciamento, a CGPIMA, com o apoio e a colaboração das Unidades Locais da FUNAI, elaborará, com a participação das comunidades indígenas potencialmente afetadas, um Termo de Referência para elaboração do componente indígena do Estudo de Impacto Ambiental. O Termo de Referência (art. 12º) deve necessariamente prever: (i) os possíveis impactos ambientais e sociais do empreendimento, bem como a relação dos povos potencialmente afetados com a obra; (ii) os impactos causados por outros empreendimentos que surgem em decorrência do efeito multiplicador do empreendimento estudado; (iii) a contextualização da área de influência do empreendimento, com relação às terras e povos indígenas, baseada nas particularidades técnicas das obras, dos povos potencialmente afetados e do contexto ambiental e regional; (iv) a participação efetiva das comunidades indígenas em todo o processo de levantamento de dados, reflexão e discussão dos impactos; (v) as relações interétnicas e históricas entre os povos indígenas envolvidos e outros grupos sociais, analisando, de forma dinâmica as relações dinâmicas entre esses grupos socioeconômicos ao longo do tempo, de forma a estabelecer tendências e cenários; (vi) a garantia de que os conhecimentos e práticas tradicionais e conhecimento imaterial dos povos indígenas sejam incluídos no processo de avaliação dos impactos ambientais e socioculturais, respeitando seus

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direitos sobre o território, o uso sustentável dos recursos naturais e a necessidade de se proteger e salvaguardar as práticas tradicionais. A equipe que realizará os estudos de impacto ambiental deverá ser apresentada à CGPIMA e às comunidades indígenas potencialmente afetadas, podendo ser recusadas fundamentadamente (art. 13º). O empreendedor deverá apresentar o componente indígena do EIA à CGPIMA, que o encaminhará às comunidades indígenas afetadas para considerações e manifestação (art. 16º). Às comunidades indígenas afetadas, serão encaminhados o componente indígena em sua versão integral e um Relatório em linguagem acessível. De acordo com o art.17º, a FUNAI, após a análise do componente indígena e ouvidas as comunidades indígenas, poderá: (i) considerar insatisfatório, justificadamente, solicitando novo estudo; (ii) solicitar complementação dos estudos; (iii) aprovar os estudos. A FUNAI se manifestará conclusivamente, após a necessária manifestação das comunidades potencialmente afetadas, através de análise técnica encaminhada oficialmente aos órgãos licenciadores (art. 20º). O art. 23º, em complementação à instrução normativa, instituiu o Manual de Procedimentos da FUNAI para os Processos de Licenciamento Ambiental. A Constituição Federal e o Estatuto do Índio garantem que não haverá discriminação entre trabalhadores indígenas e os demais trabalhadores, aplicando-se todos os direitos e garantias das leis trabalhistas e de Previdência Social. Segundo o Mapa de Etnias da FUNAI, existem 73 Terras Indígenas no Estado do Mato Grosso, sendo 56 regularizadas, 12 em estudo e 5 delimitadas. Na AII do empreendimento, não existem TI´s. Já na AAR, nos seus limites norte e sul há duas áreas indígenas quais sejam: TI Bakairi em Paranatinga e as TI´s Kayabi e Munduruku, na divisa norte de Mato Grosso e Pará. 11.12.2 Populações Quilombolas As denominações quilombos, mocambos, terra de preto, comunidades remanescentes de quilombos, comunidades negras rurais, comunidades de terreiro são expressões que designam grupos sociais afro-descendentes trazidos para o Brasil durante o período colonial, que resistiram ou se rebelaram contra o sistema colonial e sua condição de cativo, formando territórios independentes, onde a liberdade e o trabalho comum passaram a constituir símbolos de diferenciação do regime de trabalho adotado pela metrópole. O Decreto Federal No 4.887/03, em seu artigo 2º, considera os remanescentes das comunidades dos quilombos, os grupos étnico-raciais, segundo critérios de auto-atribuição, com trajetória histórica própria, dotados de relações territoriais específicas, com presunção de ancestralidade negra, relacionada com a resistência à opressão histórica sofrida. Os objetivos do programa federal para as comunidades quilombolas são garantir a posse da terra e promover o desenvolvimento sustentável das comunidades remanescentes dos quilombos. A Fundação Cultural Palmares, criada pela Lei Federal No 7.668/88, é uma instituição federal pública, subordinada ao Ministério da Cultura, com o objetivo de promover a preservação dos

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valores culturais, sociais e econômicos derivados das origens africanas da sociedade brasileira, e desenvolver e implementar as políticas públicas no sentido de aperfeiçoar a participação dos descendentes afro-brasileiros nos processos de desenvolvimento. A Fundação Palmares é sediada em Brasília, e tem representações regionais nos estados do Rio de Janeiro e da Bahia. No Estado de Mato Grosso, a Lei Estadual No 7.775/02 instituiu o Programa de Resgate Histórico e Valorização das Comunidades Remanescentes de Quilombos em Mato Grosso, com o objetivo de desenvolver as atividades de identificação, levantamento, demarcação e legalização das áreas dos territórios ancestrais e das terras remanescentes de quilombos no Estado, por meio do INTERMAT, entre outras finalidades. No Mato Grosso, ainda não foram cadastradas todas as comunidades quilombolas existentes, mas é certo que mais de oitenta já foram cadastradas, localizando-se nas regiões de Barra do Bugres, Cuiabá, Acorizal, Chapada dos Guimarães, Nossa Senhora do Livramento, Poconé, Cáceres e Vila Bela da Santíssima Trindade. Não há terras quilombolas oficializadas na área de influência do empreendimento. 11.13 Legislação Trabalhista e de Saúde e Segurança Ocupacional 11.13.1 Condições de Trabalho O Brasil é signatário de vários Tratados e Convenções Internacionais sobre Direitos Humanos, tais como: Declaração Universal dos Direitos do Homem, Pacto Internacional pelos Direitos Civis, Pacto Internacional pelos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais e Convenção Americana de Direitos Humanos. Esses tratados asseguram as mesmas condições garantidas pela Constituição federal de 1988 e pela Lei Federal No 7.176/89, alterada pela Lei Federal No 9.459/97, que determinam as punições por crimes resultantes de discriminação de indivíduos por preconceito contra raça, etnia, religião ou nacionalidade. A todos os brasileiros e aos estrangeiros residentes em solo brasileiro, é garantida a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. Pessoas portadoras de HIV têm seus direitos garantidos como qualquer cidadão, incluindo o acesso a cuidados médicos. De acordo com o Ministério da Saúde, uma pessoa com HIV-‘positivo tem direito a manter confidencialidade sobre os resultados do teste em seu ambiente de trabalho e nos exames admissionais ou periódicos. Ninguém é obrigado a mostar os resultados dos testes, a não ser por imposição legal (art. 5º, II). A detecção do HIV também não pode ser utilizada como justificativa para demissão do emprego. A Constituição Federal determina ainda que a privacidade, a honra e a imagem das pessoas são invioláveis, e assegura o direito a compensação por sofrimento ou danos à propriedade causados por violação (art. 5º, X).

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Os direitos da criança e do adolescente estão assegurados pelo art. 7º, item XXXIII da Constituição Brasileira, pelo art. 405 da CLT e pelo art. 67º do Estatuto da Criança e do Adolescente, bem como pelas convenções 138 e 182 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e pela Convenção da ONU pelos Direitos da Criança. Crianças e adolescentes com menos de 16 anos estão proibidos de trabalhar, a não ser como aprendizes. Um adolescente de 14 anos ou mais pode trabalhar como aprendiz, mediante contrato CLT por tempo determinado (art. 428º). Menores de 18 anos não podem ser contratados para trabalho noturno ou atividades perigosas ou extenuantes (Art. 8º da Lei No 5.889/73). O emprego de trabalhadores rurais com 16 anos ou mais é permitido e um soldo mínimo igual ao do trabalhador adulto é garantido por lei (art.11º). Os direitos garantidos aos trabalhadores adolescentes são os mesmos dos adultos, isto é: registro em carteira (CTPS), descanso semanal remunerado, feriados, Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), Aviso Prévio, bônus e outros direitos assegurados pela Constituição e pela CLT. 11.13.2 Saúde Ocupacional e Segurança do Trabalho Os principais diplomas que regem os aspectos de saúde ocupacional e segurança do trabalho são os seguintes:

• Lei Nº 6.514/77, que altera o Capítulo V do Título II da Consolidação das Leis do Trabalho, relativo à Segurança e Medicina do Trabalho;

• Portaria MTb Nº 3.214/78, que aprova as Normas Regulamentadoras (NRs) do Capítulo V, Título II da CLT;

• Resolução SS Nº 317/94, que dispõe sobre o diagnóstico da perda auditiva induzida por ruído, e sobre a redução e o controle do ruído nos ambientes e postos de trabalho.

Nas Normas Regulamentadoras (NRs) listadas a seguir, encontram-se as principais disposições gerais e específicas aplicáveis ao empreendimento, em suas fases de implantação e operação:

• NR 01: dispõe sobre as competências dos órgãos federais e estaduais, bem como as obrigações referentes à segurança e medicina do trabalho, a serem cumpridas pelas empresas, sindicatos e trabalhadores avulsos.

• NR 02: dispõe sobre a obrigatoriedade, pelas empresas, previamente ao início de suas atividades, de solicitação de aprovação, pelo órgão regional do Trabalho, de suas instalações (Certificado de Aprovações de Instalações – CAI).

• NR 03: dispõe sobre o embargo ou interdição de estabelecimento, setor, máquina ou obra, em função de evidência de risco grave e iminente para o trabalhador.

• NR 04: dispõe sobre a obrigatoriedade, nas empresas privadas e públicas, que possuam empregados exigidos pela CLT, de manutenção de Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMT). Dependendo do porte da empresa e/ou do exercício de atividades de

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risco, esta deverá contratar ou manter profissionais de segurança e medicina do trabalho. Esta NR procede ao enquadramento das atividades de trabalho em diferentes graus de risco, e estabelece a necessidade de diferentes tipos de técnicos em segurança do trabalho conforme o nível de risco.

• NR 05: dispõe sobre a obrigatoriedade de manutenção, pelas empresas privadas, públicas, etc., de Comissão Interna de Prevenção de Acidentes – CIPA – composta por representantes do empregador e dos empregados, e encarregada da prevenção de acidentes e doenças decorrentes do trabalho.

• NR 06: dispõe sobre a utilização de Equipamento de Proteção Individual (EPI) pelos trabalhadores, para a proteção de riscos suscetíveis de ameaçar sua segurança e saúde. O equipamento deve possuir Certificado de Aprovação (CA) expedido pelo órgão nacional de saúde e segurança do trabalho, e ser fornecido, gratuitamente, pela empresa, sempre que as medidas de ordem geral não ofereçam completa proteção, enquanto as medidas de proteção coletiva estiverem sendo implementadas, bem como para atender a situações de emergência. Os EPIs estão classificados, segundo esta Norma, em equipamentos para a proteção da cabeça, de olhos e face, auditiva, respiratória, do tronco, de membros superiores, de membros inferiores, do corpo inteiro e contra quedas com diferença de nível.

• NR 07: dispõe sobre a elaboração e implementação, pelas empresas, de Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional – PCMSO -, com o objetivo de promover e preservar a saúde do trabalhador.

• NR 08: dispõe sobre edificações, definindo os requisitos técnicos mínimos que devem ser observados nas edificações, envolvendo medidas de segurança e conforto referentes a pisos, escadas, rampas, corredores, locais de passagem, andaimes, proteção contra intempéries, cobertura e insolação.

• NR 09: dispõe sobre a elaboração e implementação, pelas empresas, de Programa de Prevenção de Riscos Ambientais – PPRA -, visando à preservação da saúde e da integridade dos trabalhadores, através da antecipação, reconhecimento, avaliação e conseqüente controle da ocorrência de riscos ambientais existentes ou que venham a existir no ambiente de trabalho. Os riscos ambientais previstos nesta Norma são de três tipos: físicos (ruído, vibração, pressão anormal, temperatura extrema, radiação ionizante e não ionizante, infra-som e ultra-som), químicos (substâncias, compostos ou produtos que possam penetrar no organismo na forma de poeiras, fumos, névoas, neblinas, gases ou vapores, ou ser absorvidos através da pele ou ingestão) e biológicos (bactérias, fungos, bacilos, parasitas, protozoários, vírus, entre outros), capazes de causar danos à saúde do trabalhador.

• NR 10: dispõe sobre instalações e serviços em eletricidade, prescrevendo a proteção contra risco de contato e de incêndio e explosão, bem como orientações referentes a componentes das instalações, equipamentos de utilização de energia elétrica, sinalização de proteção ao trabalhador, procedimentos quanto a riscos de contatos e indução elétrica, situações de emergência, qualificação para realização de trabalhos em instalações elétricas e responsabilidade na execução dos serviços.

• NR 11: dispõe sobre transporte, movimentação, armazenagem e manuseio de materiais, garantindo em especial o transporte manual de material ensacado.

• NR 12: dispõe sobre máquinas e equipamentos, em especial aquelas normas referentes a pisos, dispositivos de acionamento, partida e parada de máquinas e equipamentos.

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• NR 15: dispõe sobre atividades e operações insalubres. • NR 16: dispõe sobre atividades e operações perigosas. • NR 17: dispõe sobre ergonomia, definindo parâmetros que permitam a adaptação

das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores. Inclui a avaliação de atividades de transporte e descarga de materiais, mobiliário de postos de trabalho, equipamentos de postos de trabalho, condições ambientais de trabalho e organização do trabalho.

• NR 18: dispõe sobre condições e meio ambiente de trabalho na indústria da construção.

• NR 21: dispõe sobre trabalho a céu aberto, impondo, neste locais, a obrigatoriedade de abrigo para a proteção dos trabalhadores contra intempéries, dotado de condições sanitárias compatíveis com a atividade.

• NR 23: dispõe sobre proteção contra incêndios. • NR 24: dispõe sobre condições sanitárias e de conforto nos locais de trabalho,

incluindo instalações para higiene pessoal, e descanso. • NR 27: dispõe sobre registro profissional do técnico de segurança do trabalho no

Ministério do Trabalho. • NR 28: dispõe sobre fiscalização e penalidades. • NRR 3 – dispõe sobre a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes do Trabalho

Rural - CIPATR. • NRR 4 - Equipamento de Proteção Individual – EPI.

De acordo com a legislação brasileira vigente, a comunicação de acidente de trabalho pela empresa ao Ministério da Previdência Social é obrigatória, e deverá ser feita até o primeiro dia útil seguinte ao da ocorrência, e, em caso de morte, de imediato, sob pena de multa variável entre o limite mínimo e o teto máximo do salário de contribuição, sucessivamente aumentada nas reincidências, aplicada e cobrada na forma do artigo 109 do Decreto nº 2.173/97. Deverão ser comunicadas ao INSS, mediante o formulário "Comunicação de Acidente do Trabalho – CAT". Ruído Ocupacional A Norma Reguladora 15 (NR-15) contém os limites de tolerância para ruído contínuo ou intermitente nos ambientes ou postos de trabalho estabelecendo 85 dB(A) como limite inicial de preocupação. Não há limites de tempo para exposição diária profissional para níveis de ruído inferiores a 85 dB (A). Os limites de tempo para exposição a níveis de ruído 85 dB (A) e superior são apresentados na Tabela 11.12.2.a.

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Tabela 11.13.2.a Restrições do Ruído Profissional (Ministério do Trabalho NR-15)

Nível de Ruído Máximo Permitido Exposição Diária

<85 8 horas 85 5 horas 88 4 horas 91 3 horas 96 2 horas 105 1 hora 110 30 minutos 115 15 minutos

>115 Não permitido sem proteção Os trabalhadores que ficarem expostos a níveis de ruído igual ou superior a 85 dB(A) deverão receber proteção adequada para que os limites de exposição da NR-15 não sejam excedidos.

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12.0 Avaliação de Impactos Ambientais 12.1 Referencial Metodológico Geral A metodologia de análise de impacto ambiental desenvolvida a seguir tem por objetivo viabilizar uma avaliação detalhada do impacto resultante em cada componente ambiental da área de influência do AHE Colíder. Os componentes ambientais em questão são os elementos principais dos meios físico, biótico e antrópico, como o relevo (terrenos), os recursos hídricos, a vegetação, a fauna, a infra-estrutura física e social, atividades econômicas, qualidade de vida da população, finanças públicas e patrimônio histórico, cultural e arqueológico, entre outros. Entende-se como impacto resultante o efeito final sobre cada componente ambiental afetado, após a ocorrência de todas as ações impactantes e a aplicação de todas as medidas preventivas, mitigadoras ou compensatórias propostas para o empreendimento. O ponto de partida desta análise é a identificação das ações impactantes e dos impactos potencialmente decorrentes sobre cada um dos componentes ambientais em estudo. Impacto potencialmente decorrente é aquele passível de indução pelas ações identificadas. Assim, o impacto resultante seria aquele impacto residual após a adoção das medidas preventivas, mitigadoras ou compensatórias. As ações impactantes são separadas em três grupos:

- Ações com na fase de planejamento; - Ações durante a construção; - Ações durante a operação.

Os componentes ambientais são, por sua vez, classificados em três grupos:

- Componentes do meio físico; - Componentes do meio biótico; - Componentes do meio antrópico.

A análise utiliza uma Matriz de Interação para a identificação de impactos ambientais potenciais, que consiste no cruzamento entre as ações potencialmente impactantes do empreendimento e os componentes ambientais passíveis de serem afetados pelas mesmas. A Matriz de Interação de Ações Impactantes por Componentes Ambientais é um instrumento adequado para a compreensão detalhada das relações de interdependência entre ações e componentes ambientais, propiciando uma base metodológica para a identificação geral de todos os impactos que serão potencialmente gerados pelo empreendimento. Entretanto, ela não identifica as relações de interdependência que existem entre os impactos.

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Essas relações de interdependência são diversas e complexas, sendo possível discriminar impactos indutores e impactos induzidos. A compreensão das relações de interdependência entre impactos é fundamental para uma visão sistêmica das conseqüências da inserção do empreendimento no ambiente. Essa visão sistêmica é, por sua vez, um dos elementos de base necessários para a formulação de programas de prevenção, controle e mitigação de impacto ambiental com a abrangência funcional requerida a cada situação e permite, com uma visão estratégica coerente, priorizar o ataque às fontes (impactos indutores) sem descuidar das ações corretivas e/ou compensatórias. A técnica utilizada no presente EIA para a identificação, análise e representação das inter-relações entre impactos é a análise conjunta dos impactos por componente ambiental, em que a inter-relação entre todos os impactos resultantes é consolidada de maneira integrada. A ênfase desta análise é a compreensão global e sistêmica entre subgrupos afins de impactos, em uma abordagem que permita a formulação de programas de controle e mitigação de impacto com visão estratégica. A partir da compreensão dos impactos potenciais foram formuladas as medidas ambientais, que podem ser genericamente classificadas como preventivas, mitigadoras ou compensatórias apresentadas no Capitulo 13. O conjunto de Medidas Preventivas, Mitigadoras ou Compensatórias proposto é estruturado em Programas Ambientais, que agrupam conjuntos de medidas, de maneira a torná-las operacionais. A formulação de cada programa obedece a critérios de gestão do empreendimento, de modo a permitir a separação das medidas por etapa de implantação e pelos respectivos responsáveis pela execução. Assim, as Medidas preventivas referem-se a toda ação planejada de forma a garantir que os impactos potenciais previamente identificados possam ser evitados. As Medidas mitigadoras são aquelas que visam garantir a minimização da intensidade dos impactos identificados. Portanto, as medidas preventivas e mitigadoras tendem a ser incorporadas às práticas de engenharia correntes, muitas vezes tornando-se normas técnicas ou exigências da legislação. Entretanto, a garantia de que as obras sejam executadas seguindo estas medidas é dada pelos compromissos assumidos pelo EIA e pela fiscalização posterior. Complementarmente, as Medidas compensatórias referem-se a formas de compensar impactos negativos considerados irreversíveis. Para garantir que todos os potenciais impactos do empreendimento sejam abrangidos pelas medidas preventivas, mitigadoras ou compensatórias propostas, e permitir também uma visão global e sintética dos Programas Ambientais, é elaborada uma matriz de verificação, ou Matriz de Cruzamento de Impactos por Medidas. Essa matriz associa os impactos potenciais às medidas propostas, permitindo, por meio da análise de cada célula gerada, a verificação de que todos os impactos identificados serão objeto de alguma forma de prevenção, mitigação ou compensação. Em adição, foi realizada uma Avaliação Preliminar de Perigos considerando a segurança das estruturas da barragem (Anexo 24). A etapa seguinte do processo de avaliação ambiental do empreendimento consiste na análise de todos os impactos incidentes sobre cada componente ambiental afetado, conjuntamente com todas as medidas propostas com relação a ele, de maneira a se obter uma visão integrada

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dos impactos resultantes no componente. Essa análise inclui a avaliação de alguns atributos individuais de cada impacto, incluindo vetor, intensidade, abrangência geográfica, reversibilidade e temporalidade, resultando em um balanço consolidado de ganhos e perdas ambientais segundo cada componente ambiental afetado. Por fim, dois aspectos fundamentais da metodologia adotada devem ser ressaltados. Em primeiro lugar, conforme já indicado anteriormente, o objetivo da avaliação detalhada de impactos é qualificar e quantificar (quando possível) o impacto resultante, ou seja, aquele que poderá, de fato, se materializar, mesmo após a efetiva implantação das medidas preventivas, mitigadoras ou compensatórias preconizadas. Em segundo lugar, a avaliação tem ênfase no impacto resultante por componente ambiental afetado (como recursos hídricos superficiais e vegetação), e não na análise individual de cada impacto específico. Ou seja, a diretriz metodológica adotada prioriza uma avaliação global do balanço ambiental do empreendimento em relação a cada um dos componentes ambientais afetados, consolidando a quantificação de ganhos e/ou perdas ambientais com base no cruzamento entre as ações impactantes, os impactos potencialmente decorrentes e todas as medidas preventivas, mitigadoras ou compensatórias propostas. Finalmente, a conclusão do EIA apresenta o balanço ambiental geral do empreendimento, consolidando o resultado das avaliações multidisciplinares desenvolvidas para cada componente ambiental afetado. 12.2 Identificação de Ações Impactantes As ações impactantes que deverão ocorrer durante as fases de planejamento, construção e operação do AHE Colíder são descritas a seguir. Cabe registrar que essas ações incluem todas as tarefas e serviços que são considerados parte indissociáveis da obra. Foram excluídos, no entanto aqueles serviços que são de natureza opcional e/ou complementar, e que no contexto do presente EIA são tratados como medidas mitigadoras. A.1 - Fase de Planejamento A.1.01 Divulgação prévia A divulgação do empreendimento deverá ocorrer da forma prevista em lei, tanto no que diz respeito às exigências de consulta pública e de divulgação prevista na legislação de licenciamento ambiental, quanto no que diz respeito às exigências da Resolução ANEEL 259/03 que determina a realização de Reunião Pública com os proprietários a serem desapropriados. Outras atividades de divulgação de natureza não compulsória serão desenvolvidas pelo empreendedor antes do início da construção, envolvendo a utilização da mídia local e regional para manter a população informada sobre cronogramas e outros aspectos das obras.

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A.1.02 Mobilização de obra (contratação de pessoal e aquisição de bens e serviços) Englobam-se nessa atividade todos os procedimentos de mobilização, incluindo a seleção e recrutamento de mão-de-obra direta, o estabelecimento de acordos com fornecedores locais para aquisição de bens e serviços, a obtenção de alvarás, licenças e autorizações e outras atividades inerentes a preparação para o início das atividades construtivas. A.1.03 Aquisição de terras Inclui as atividades relativas ao desenvolvimento dos processos desapropriatórios. Engloba a definição do polígono de utilidade pública, a elaboração e publicação de decreto de utilidade pública, o cadastro individual das propriedades rurais afetadas, o levantamento dos valores dos imóveis e terrenos, as atividades de negociação e o estabelecimento de acordos com os proprietários, o pagamento pela aquisição das propriedades ou parte delas. A.1.04 Cadastro social e remanejamento de população residente Englobam os serviços de cadastramento (cadastro social) das famílias e remanejamento das pessoas para locais de destino pré-determinados. Registra-se que a elaboração de planos de reassentamento constitui medida mitigadora/compensatória, não estando incluída nesta ação potencialmente impactante. A.2 - Fase de Construção A.2.01 Limpeza e desmatamento das áreas de intervenções diretas de obras Essa ação inclui a demarcação topográfica prévia e posterior supressão de vegetação nas áreas objeto de intervenção direta para implantação do barramento e dos perímetros a serem ensecados, assim como as áreas de apoio a serem habilitadas em locais adjacentes ou próximos ao barramento, incluindo bota-foras, bota-esperas e áreas previstas para os canteiros de obras. As ações de limpeza e desmatamento incluem o corte e transporte do material vegetal até os bota-esperas vegetais da obra. Esta ação inclui também a destoca e a remoção do horizonte orgânico do solo, incluindo o seu transporte até bota-esperas de solo orgânico ou bota-foras da obra, mas não inclui o acondicionamento desses solos e o manejo dos bota-esperas/bota-foras.

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A.2.02 Limpeza e desmatamento das áreas de fornecimento de materiais naturais de construção Esta atividade engloba os mesmos procedimentos técnicos já descritos para a atividade anterior, salientando-se que nesse caso, todo o horizonte orgânico será estocado em bota-espera de solos para aproveitamento na recuperação ambiental das áreas após a conclusão das obras. Os estudos de viabilidade levantaram a viabilidade de exploração de 5 áreas para exploração de solos argilosos. As ocorrências de areia e cascalho nas margens do rio Teles Pires são inadequadas para uso como material de construção. Os cascalhos ocorrem em pequenos volumes. Assim, as areias necessárias para as obras de concreto e de terra deverão ser obtidas por moagem das rochas graníticas existentes em locais próximos do empreendimento. A.2.03 Limpeza e desmatamento das áreas de bota-fora São previstas 2 áreas situadas no interior do futuro reservatório para utilização como depósitos dos materiais excedentes gerados nas escavações obrigatórias. Ambos bota-foras são previstos no interior da área de inundação (ver localização no Capítulo 5.0). O desmatamento desses terrenos será executado ao longo da fase de construção e finalizado quando das atividades de limpeza da área do reservatório. A.2.04 Implantação do canteiro de obras A implantação do canteiro de obras na margem direita engloba um amplo conjunto de serviços construtivos que serão executados após a limpeza do terreno. Inicialmente, serão implantadas instalações provisórias na margem esquerda e direita utilizando-se dos acessos rodoviários disponíveis apenas para os trabalhos de construção do canteiro definitivo e do ramal de fornecimento de energia elétrica. No entanto, há possibilidade que na fase inicial das obras a demanda por energia elétrica seja atendida por meio de grupos geradores. A geração de energia elétrica de emergência deverá ser feita também através de grupos geradores diesel. Nessa fase da implantação do canteiro serão utilizados contêineres e construções provisórias. Simultaneamente serão executadas as atividades de terraplenagem necessárias a configuração topográfica do terreno através de platôs, nos quais serão implantadas as edificações definitivas de uso administrativo, os laboratórios, as oficinas, os pátios de armação, carpintaria, refeitório, alojamento e unidades industriais provisórias. A segunda a fase engloba a construção das edificações, a implantação de sistema de drenagem pluvial e a montagem das instalações industriais provisórias, compostas no caso do AHE Colíder por centrais de britagem e concreto.

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A.2.05 Exploração de áreas de empréstimo – solos argilosos As áreas de exploração de materiais naturais de construção estão situadas nas proximidades do eixo, conforme indicado no Capítulo 5.0. As ações de exploração das áreas de empréstimo de solos argilosos incluem os serviços de escavação e carregamento de caminhões basculantes. Envolvem ainda a circulação de tratores e carregadores frontais, assim como caminhões basculantes sobre áreas de solo exposto. A espessura das escavações varia de 1 a 4 metros de profundidade. O transporte de materiais até a frente de obras ou até as áreas de estoque está incluindo em outra ação de potencial impactante. A.2.06 Exploração de rocha, areia e cascalho As ocorrências de areia e cascalho nas margens do rio Teles Pires são inadequadas para uso como material de construção. As areias apresentam granulometria muito fina e estão contaminadas por argilas e matéria orgânica. Os cascalhos, por sua vez, apesar de constituídos por arenito coerente, ocorrem em pequenos volumes. Assim, as areias necessárias para as obras de concreto e de terra deverão ser obtidas por moagem das rochas graníticas. Foram delimitados dois locais de ocorrência de rocha granítica em pontos mais próximos do empreendimento. O material é um granito grosseiro, relacionado à Suíte Canaã (biotita monzogranito e sienogranito) adequado para uso previsto nas obras de concreto e enrocamento. A.2.07 Manejo dos bota-foras Em princípio, os materiais provenientes de escavação obrigatória que não terão utilidade deverão ser colocados em área contida no futuro reservatório, com o topo do aterro no máximo na cota 263,0 metros, ou seja, 5,5 metros abaixo do NA máximo normal do reservatório (cota 268,5 metros). Assim, a ação inclui o acondicionamento de materiais escavados não aproveitáveis nas áreas de bota-fora, cujo aproveitamento será efetuado mediante horizontalização dos materiais depositados. Conforme estimativas iniciais, as duas áreas selecionadas serão suficientes para a disposição dos materiais de escavação (volume inferior a 1.100.000 m3) não aproveitados. As atividades de manejo dos bota-foras incluem a descarga de caminhões basculantes, o espalhamento e compactação do material com trator esteira e aparelhos auxiliares, a conformação/regularização de saias de aterro e a implantação e adequação contínua de dispositivos de drenagem para regularização do escoamento pluvial sobre áreas de solo exposto.

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A.2.08 Manejo de bota-esperas de solos e depósitos de outros materiais de construção Esta atividade engloba a disposição/acondicionamento, em áreas de bota-espera (estoque provisório), dos solos argilosos e rochas que serão utilizados nas atividades de construção das ensecadeiras e do corpo das barragens de terra no leito do rio Teles Pires e das ombreiras. Complementarmente, engloba a disposição dos solos orgânicos potencialmente utilizáveis para recuperação de áreas degradadas no final das obras. As atividades de manejo de bota-esperas de solos e materiais de construção envolvem o uso de caminhões basculantes e carregadores frontais em operações de carga e descarga, e tratores de esteira para apoio no acondicionamento dos materiais. A.2.09 Construção de novos acessos e melhorias nos acessos e caminhos existentes Os trabalhos de construção e melhoria dos acessos compreenderão execução de desmatamento, destocamento e limpeza da faixa prevista para a implantação dos acessos, implantação do sistema de drenagem superficial, terraplenagem e pavimentação da pista de rolamento. A pavimentação dos acessos secundários será executada com materiais existentes na região e, para os acessos principais, tais como o da casa de força, serão pavimentados com tratamento superficial duplo, pois serão de caráter definitivo ou de longa duração. Os trabalhos de melhoria de acessos existentes incluirão alargamentos de maneira a se obter uma superfície de rolamento de 5 a 6 metros de largura. Haverá também necessidade de reforço do leito carroçável de maneira a tornar os acessos transitáveis o ano todo. Os caminhos previstos para acesso ao local de implantação do AHE Colíder, bem como para atendimento às demandas de circulação durante a fase construtiva são representados no Capítulo 5.0. A.2.10 Construção de acessos internos às obras Diversos acessos para circulação de veículos e equipamentos deverão ser implantados no interior das áreas desmatadas para circulação de veículos envolvidos nas obras, assim como no interior da área a ser inundada, para acesso aos bota-foras, às jazidas e de maneira mais generalizada para execução dos trabalhos de limpeza e desmatamento da área de inundação. A habilitação desses acessos internos exigirá terraplenagem localizada, assim como a utilização de cascalho para constituição de um leito carroçável com condições mínimas de trafegabilidade. Nos caminhos a serem implantados no interior da área de inundação, sobre a planície aluvial, poderá ser necessária a remoção pontual de solos moles, sendo que nesse caso os mesmos serão dispostos em área lindeira aos traçados implantados.

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Serão construídos caminhos de acesso internos ao projeto, possibilitando acesso também às áreas de estocagem de materiais naturais, às instalações do canteiro de obras e aos bota-foras. Acessos serão implantados até os locais de exploração de materiais naturais de construção, o que inclui as jazidas de solos argilosos situadas na área interna ao futuro reservatório. A.2.11 Fornecimento de energia elétrica O atendimento será efetuado preferencialmente pelas Centrais Elétricas Matogrossenses S/A (CEMAT). Não há diretriz ou estudo de traçado ou mesmo definição do ponto de conexão com a rede existente. Inicialmente é previsto que o atendimento à demanda de energia no canteiro seja realizada por meio de grupos geradores diesel. A.2.12 Transporte de solo, areia e cascalho até as frentes e canteiros de obras Como ilustrado no Capítulo 5.0 e no Anexo 03, as jazidas potencialmente exploráveis localizam-se na região próxima às obras (duas margens), todas com acessos existentes. Os solos argilosos explorados nas jazidas serão transportados até a frente de obra pelas estradas e caminhos existentes ou implantados no interior da área diretamente afetada pelo reservatório. O volume total disponível nas 5 jazidas estudadas é estimado em 2.950.000 m3. As distâncias de transportes devem variar de 1 a 25 quilômetros. Já no caso das areias naturais e de cascalho, os estudos demonstraram que as ocorrências desses materiais, nas margens do rio Teles Pires são inadequadas para uso como material de construção. No caso específico do transporte de rocha, como registrado anteriormente, foram delimitados dois locais de ocorrência de rocha granítica em pontos mais próximos do empreendimento. A primeira ocorrência localiza-se à margem da estrada que liga Colíder à área de implantação do empreendimento em estudo, a cerca de 9 km em linha reta do sítio do AHE. Neste local será possível implantar uma pedreira com volume superior a 300.000 m³. A segunda ocorrência localiza-se à margem da mesma estrada, distante cerca de 3 km da ocorrência anterior. É formada por afloramentos do mesmo material anterior. Neste local será possível implantar uma pedreira com volume superior a 300.000 m³.

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A.2.13 Operação do canteiro de obras Essa ação engloba um conjunto diversificado de ações com destaque inicial para as atividades de manutenção de veículos e equipamentos que implicam no manuseio de combustível, óleos e graxas, assim como a estocagem de peças, lubrificantes e outros produtos. Outro aspecto relevante da operação do canteiro é a estocagem de combustíveis e outros produtos perigosos. Destacam-se também as instalações de carpintaria (preparação de fôrmas) e os pátios de armação. A ação engloba também a operação do refeitório, das áreas administrativas e dos alojamentos, incluindo os sistemas de tratamento de efluentes e a geração de resíduos sólidos. Para construção do AHE Colíder será instalado um canteiro de obras. Estará composto por alojamentos, refeitório, ambulatório, instalações administrativas, oficinas, almoxarifado, pátios de armadura e montagem de equipamentos, posto de abastecimento, paiol de explosivos e depósitos de materiais e equipamentos. A operação das centrais de concreto e britagem, embora instaladas no interior do canteiro é tratada como uma ação específica em função das suas características diferenciadas na geração de efluentes e emissões atmosféricas. A.2.14 Operação de instalações sanitárias nas frentes de obras As características das obras implicam em que grande parte da mão-de-obra trabalhará diretamente na área de intervenção direta, na construção das estruturas de concreto em ambas as margens. Parte significativa do contingente de trabalhadores não estará motorizada, o que justifica a implantação e utilização de instalações sanitárias nas frentes de obra com as respectivas fossas sépticas para tratamento e infiltração. Posteriormente, será implantado sistema de tratamento de efluentes. A.2.15 Operação da central de concreto É prevista a implantação e operação de uma central de concreto situada no canteiro de obras. Será realizada a mistura de cimento, areia e brita nas proporções especificadas no projeto executivo, assim como o carregamento em caminhões betoneiras que realizarão o transporte até as frentes de obra. Os aspectos mais importantes da operação desses equipamentos incluem o acondicionamento das pilhas de estocagem, a operação de correias transportadoras e dispositivos de carga e a operação do sistema de descarga, a geração de emissões atmosféricas e de efluentes. Assim como as atividades de manutenção.

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A.2.16 Operação da central de britagem Será implantada uma central de britagem, cujo objetivo é atender as demandas de brita e enrocamento da obra. Através das atividades britagem poderão ser obtidos volumes complementares de areia artificial. A atividade de britagem objetiva a quebra do material rochoso pela ação de compressão ou impacto aplicada sistematicamente por mandíbulas, martelos e outros dispositivos. Além do sistema de desagregação física do material rochoso, a central de britagem será composta por sistemas de correias de transporte e peneiramento para separação do material britado segundo a granulometria prevista em projeto. A implantação de sistema de aspersão de água para minimização da geração de poeira pode ser necessária. Em síntese, os aspectos mais importantes da operação da central de britagem é o acondicionamento do material rochoso, as operações nas correias, a desagregação física da rocha e geração de ruído, de poeira, o armazenamento provisório do material britado e as operações de carga. O material britado será transportado até a central de concreto. No caso de materiais como rachão, enrocamento e rip-rap, brita para aplicação em caminhos de serviço, o transporte será efetuado através de caminhões. A.2.17 Escavações obrigatórias Diferentemente das ações de escavação subterrânea, o serviços construtivos reunidos na presente ação de potencial impactante se referem aos serviços de escavação a céu aberto nos locais destinados a implantação das estruturas de concreto e sob a barragem de enrocamento de núcleo argiloso prevista no leito do rio Teles Pires. As escavações serão executadas inicialmente sobre solos superficiais coluvionares e residuais, atingindo em maior profundidade o maciço composto por rocha sã. O Vertedouro terá suas fundações à cota 232 m para o corpo principal e para a laje da bacia de dissipação, ou seja, no mínimo a cerca de 11 m de profundidade do topo rochoso local. Com isto, a base da estrutura será embutida em arenitos de boas características geomecânicas. Além disto, é previsto um rebaixo na sua parte de montante até a cota 227 m. A escavação para a construção deste rebaixo permitirá a inspeção das fundações da estrutura principal, permitindo eventuais ajustes nas suas cotas e tratamentos. Procedimentos de escavação semelhantes serão executados para implantação das estruturas da tomada d’água, da casa de força e do canal de fuga.

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A Tomada d’Água e Casa de Força terão suas fundações, respectivamente, às cotas 226 m e 223 m, ou seja, a cerca de 18 m e 22 m de profundidade do topo rochoso local. Nesta cotas o maciço arenítico apresenta boas características geomecânicas. Em relação às barragens das ombreiras direita e esquerda, as escavações se limitarão a retirada dos solos coluvionares e de alteração. Para implantação da barragem principal, prevista no leito do rio Teles Pires e nas duas margens, as escavações terão como objetivo a retirada de toda a capa de solos coluvionares e de alteração existentes. Os blocos de rocha de diversos tamanhos existentes no leito serão também retirados, de forma que as fundações da barragem sejam assentadas sobre o maciço rochoso são. Todas as escavações em rocha serão executadas em maciço com boas propriedades geomecânicas, de forma que os taludes serão quase sempre verticais. O desmonte de rocha será efetuado com uso de explosivos. Serão também utilizados equipamentos como retro-escavadeiras, carregadores frontais, tratores de esteira e caminhões fora-de-estrada. Estão incluídos no conjunto de ações relativas às escavações obrigatórias, os serviços referentes ao rebaixamento e drenagem subsuperficial, entre os quais a instalação de ponteiras e drenos. Estão incluídos também os serviços relativos ao tratamento superficial e estabilização dos taludes de escavação, incluindo a aplicação de injeções de impermeabilização devido à presença de juntas horizontais. A.2.18 Transporte dos materiais escavados Os materiais provenientes das escavações obrigatórias serão transportados, conforme as demandas das obras e tipo de material (solo orgânico, solos ou rocha), até as áreas de estoques para utilização posterior ou até as centrais de britagem e bota-foras. O transporte dos materiais deverá ocorrer através de caminhões fora-de-estrada. A circulação dos veículos de transporte entre as áreas de escavação e o destino de materiais ocorrerá pelos caminhos de serviço internos que serão implantados para tal finalidade. A.2.19 Injeções de impermeabilização Objetivando controlar a percolação de água sub-superficial ao longo do eixo, será implanta uma ou mais cortinas de injeções. Esse tipo de tratamento deverá ser executado através de furos verticais num mesmo alinhamento à montante do pé da barragem, formando uma cortina impermeável. O tratamento é previsto principalmente junto às estruturas de concreto e na barragem de terra principal. Conforme a necessidade, injeções serão executadas também nas barragens laterais das duas ombreiras.

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As profundidades das injeções devem variar em função das características do maciço rochoso. As injeções poderão ser executadas com calda de cimento ou outros componentes como resinas e polímeros impermeabilizantes. A.2.20 Implantação das estruturas de concreto Esta ação engloba um conjunto diversificado de tarefas que inclui a montagem das fôrmas de madeira fabricadas na carpintaria do canteiro de obras, assim como a colocação das armaduras pré-fabricadas no pátio de armação. Também inclui o transporte do concreto por caminhões betoneiras entre as centrais de concreto e os locais de implantação das estruturas de concreto, bem como o seu lançamento. Estão incluídos também os serviços de complementares de vibração, controle de cura, entre outros. Inclui, finalmente, a desforma e o transporte das fôrmas removidas. A.2.21 Execução do canal de fuga – casa de força e vertedouro Os canais de fuga/dissipação previstos junto ao vertedouro e a casa de força contarão com estrutura de concreto e com proteção de laje de fundo. O canal de fuga foi dimensionado considerando-se as condicionantes hidráulicas, as dimensões da Casa de Força junto ao tubo de sucção das turbinas e as características topográficas e geológicas no trecho de implantação do canal. Os canais serão executados através de escavação em rocha. No caso do canal de fuga do vertedouro (margem direita), as escavações necessárias a sua implantação ocorrerão na fase de implantação das estruturas de desvio do rio Teles Pires. No canal de aproximação, que ficará submerso após o enchimento do reservatório, o tratamento previsto será em concreto projetado com espessura de 10 cm e tela de aço. A.2.22 Drenagem sub-superficial das estruturas de concreto Para redução da subpressão nas estruturas de concreto está prevista uma galeria de drenagem localizada longitudinalmente no eixo da barragem. A partir dessa galeria será implantada uma cortina de drenagem composta por drenos com tubos de PVC perfurados. Também será prevista a implantação de malha de dreno sob a laje de fundo do canal de fuga / canal de dissipação.

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A.2.23 Ancoragem do canal de fuga/canal de dissipação Essa ação consiste na ancoragem da estrutura de concreto do canal de fuga/canal de dissipação, sendo prevista a instalação de tirantes. A ação envolve a utilização de máquinas perfuratrizes e equipamentos auxiliares para instalação de chumbadores e injeção de calda nos furos. Tais serviços serão executados nos canais de fuga do sistema tomada d’água/casa de força e do vertedouro. A.2.24 Implantação das ensecadeiras de montante e de jusante A execução do desvio do rio é uma das atividades mais críticas da obra e será executada simultaneamente a partir de quatro frentes, ou seja, das duas margens na ensecadeira de montante e jusante. Os trabalhos serão executados mediante o estreitamento progressivo da calha do rio, com o lançamento de enrocamento. Conforme a calha for se estreitando, ocorrerá aumento da velocidade do fluxo e, conseqüentemente, será necessário utilizar pedras de porte maior para evitar o seu arraste. Os materiais necessários a implantação das ensecadeiras serão provenientes das escavações obrigatórias e serão convenientemente estocadas para tal finalidade. São previstas duas fases para implantação das ensecadeiras de montante de jusante, sendo a primeira fase correspondente ao lançamento das pré-ensecadeiras até cotas intermediárias previstas em projeto. A segunda fase consiste no alteamento das ensecadeiras até as cotas finais de projeto, as quais serão incorporadas à barragem principal no leito do rio Teles Pires. A ensecadeira de 1ª fase tem como objetivo a proteção contra inundações da área de trabalho da margem direita, onde serão construídas as estruturas de concreto e iniciada a execução da Barragem de Terra Principal. Conforme os estudos de viabilidade, a ensecadeira será constituída de solo argiloso, protegido com enrocamento compactado e material de transição nas faces voltadas para o fluxo d’água, com espessuras de 0,80 m e 0,40 m, respectivamente. Adicionalmente, no trecho assentado abaixo da El. 247,00 m, será executado um enrocamento de proteção no pé da ensecadeira, com 1,50 m de altura e 9,00 m de comprimento. A ensecadeira de 1ª fase, com crista de 6,50 m de largura, atingirá a El. 251,00 m. Para realização do desvio do rio Teles Pires, através das adufas do Vertedouro, serão executadas duas ensecadeiras transversais, à montante e à jusante do eixo da Barragem Principal, das quais, apenas a ensecadeira de jusante será incorporada a esta estrutura. A ensecadeira de montante estará distante o suficiente para permitir a implantação de tapete impermeabilizante. As ensecadeiras de 2ª fase estarão assentes sobre rocha sã, tendo-se previsto a remoção de eventuais aluviões presentes no leito do rio.

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Com objetivo de proteger as atividades na área da Casa de Força, será construída uma ensecadeira provisória à jusante da mesma, a partir do prolongamento do Muro Divisor que separa o Canal de Fuga da Bacia de Dissipação. Esta ensecadeira auxiliar, com coroamento na El. 251,00 m, crista com largura de 5,00 m e taludes de montante e jusante disporá, na face voltada para o fluxo d’água, de enrocamento de proteção e camada de transição, com espessuras de 0,80 m e 0,40 m, respectivamente. Após o término da etapa de desvio do rio, a região entre as ensecadeiras de montante e jusante será esgotada para a construção da barragem. Na execução desta ação, serão utilizados principalmente retro-escavadeiras e tratores de esteira com apoio de caminhões basculantes. A.2.35 Drenagem, bombeamento e ensecamento da área entre as ensecadeiras de montante e jusante Uma vez concluídas as ensecadeiras de montante e de jusante serão instalados os equipamentos de bombeamento para a remoção da água no interior da área ensecada. O bombeamento deverá ser contínuo durante todo o período de escavação para implantação da barragem principal. A.2.26 Construção do corpo e filtros das barragens de terra Esta ação engloba a descarga de solo argiloso ao longo do eixo da barragem e o seu espalhamento e compactação de acordo com o zoneamento do maciço estipulado em projeto, o que inclui o aproveitamento dos solos obtidos nas escavações compulsórias nas ombreiras e em outras zonas. A barragem principal será constituída por uma estrutura de enrocamento com núcleo impermeável de solo argiloso compactado. As ensecadeiras de montante e de jusante serão incorporadas. São previstas faixas de transição entre o núcleo argiloso e os corpos de enrocamento compactado previstos nos espaldares de montante e de jusante da barragem principal. As barragens das ombreiras serão construídas com solo compactado. O corpo das barragens será executado em camadas sucessivas até atingir a cota de coroamento. Na execução das barragens em terra, serão empregados tratores esteira, motoniveladoras, rolos compressores de diversos tipos, caminhões pipa, caminhões basculantes e retro-escavadeiras.

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A.2.27 Proteções superficiais das barragens Para controle de percolação, à montante, em continuação ao maciço, as barragens de terra contemplarão um tapete impermeabilizante com extensão correspondente a dez vezes a carga hidráulica, a partir de seu eixo. A partir do “off-set” da barragem, a extensão máxima do tapete é de 120,0 m no leito do rio, diminuindo progressivamente na medida em que a barragem fica assente em cotas mais elevadas, até o limite de 20,0 m. O tapete abrangerá toda a extensão da projeção do talude de montante e sua espessura variará entre 3,00 m, junto à barragem e 1,00 m na sua extremidade de montante. No trecho exposto, o tapete será protegido por camada de materiais soltos com 0,50 m de espessura, de forma a evitar o seu fissuramento por ressecamento. O talude de montante será protegido com “rip-rap” com espessura de 0,90 m, desde a crista até a El. 263,00 m, executando-se uma transição grossa de 0,40 m entre esta proteção externa e o maciço terroso. No talude de jusante, será feito o plantio de vegetação apropriada ao clima regional. A.2.28 Drenagem subsuperficial das barragens de terra (ombreiras) e transições entre materiais Para o sistema de drenagem interna é prevista a execução de dreno vertical de areia no interior do maciço terroso com 1,00 m de espessura, tapete drenante tipo ”sanduíche” no espaldar de jusante junto à fundação com 1,50 m de espessura e filtro de pé para a proteção da saída de água. O tapete drenante, composto de três camadas, deverá ser executado com camadas de 0,30 m de espessura de areia limpa compactada nas faces externas e uma mistura de brita 0 e brita 1, com 0,90 m de espessura, no seu interior. O filtro de pé, além destes materiais, contará com uma camada de enrocamento de proteção de 0,50 m de espessura. No espaldar de montante, a transição entre o material terroso e o enrocamento de proteção será efetuada com material de diâmetro máximo de 150 mm (transição única de rocha), em camada de espessura de 0,40 m. A.2.29 Montagem eletromecânica Essa ação engloba todas as atividades necessárias a colocação de estruturas metálicas, equipamentos eletromecânicos da casa de força e subestação, condutos forçados, comportas, pórticos rolantes e outros equipamentos. São atividades que envolvem a manipulação de equipamentos pesados com utilização de guindastes e que exigem também a utilização de equipamentos de corte, soldadoras, perfuradoras, chumbadoras e acessórios complementares.

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A.2.30 Execução de obras civis complementares Paredes e divisórias internas da casa de força, assim como muretas e outras estruturas externas de porte menor, serão executadas em alvenaria convencional. Também estão englobadas nessa ação as atividades de colocação de janelas e portas, revestimentos em argamassa, pintura e outras atividades típicas da construção em alvenaria convencional. A.2.31 Desmobilização da mão-de-obra Engloba-se nessa atividade todos os procedimentos de desmobilização da mão-de-obra contratada, encerramento de contratos de trabalho e de fornecimento de materiais e serviços. A desmobilização será gradativa, ou seja, ocorrerá à medida que terminarem as etapas definidas no cronograma de obras. A.2.32 Desmatamento e limpeza da área de inundação A biomassa vegetal no interior da área de inundação será totalmente removida antes do enchimento do reservatório. Essa atividade será executada gradualmente durante grande parte do período de construção, porém as interferências nas encostas laterais se concentrarão nos meses imediatamente anteriores ao enchimento. As atividades de desmatamento e limpeza incluem ainda os serviços de demolição de edificações e, conforme o caso, da transferência da população residente. Inclui também a desativação ou retirada ou demolição da infra-estrutura existente, caso de redes elétricas, de telecomunicações e pequenas pontes. Na execução das atividades serão utilizados principalmente caminhões, retro-escavadeiras, motoniveladoras, tratores-esteira e moto serras. Os serviços serão efetuados após a conclusão dos processos desapropriatórios. A.2.33 Readequação dos caminhos e acessos locais Atualmente, as propriedades rurais e as margens do rio Teles Pires são acessadas através de caminhos e estradas locais. Trechos dessas vias serão inundados, o que exigirá a realocação dos trechos afetados a fim de garantir condições adequadas de circulação para a população local. Os serviços incluem basicamente a abertura de novos trechos de estradas rurais.

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A.2.34 Enchimento do reservatório Concluída a implantação das barragens de terra e de enrocamento, bem como a montagem dos equipamentos eletromecânicos dos sistemas de geração e transmissão, o fluxo de água será interrompido pelo fechamento das comportas da estrutura de controle, o que resultará no enchimento progressivo do reservatório. O tempo de enchimento completo do reservatório até o NA Máximo Normal (cota 268,5 metros) dependerá do mês em que ocorrer o início do enchimento, sendo mais viável o início durante os meses de maior vazão. Dessa forma, foram determinados os tempos decorridos desde o início da operação de enchimento até que se atingisse o nível da soleira do vertedouro (256,10 m) e o nível d’água normal (268,50 m), o que equivale à acumulação de um volume de 1.582 hm3. Conforme definições apresentadas no Capítulo 5.0, os estudos de enchimento consideraram a necessidade de manutenção de vazões equivalentes ao Q7,10 no rio Teles Pires, no local do empreendimento. A adoção da vazão residual equivalente a vazão média mínima com 7 dias de duração e 10 anos de recorrência (Q7,10) no local do aproveitamento torna impraticável o fechamento do rio, no caso de um ano seco, nos meses de maio a outubro. De maio a julho há impossibilidade de realizar o fechamento do rio em virtude de sua vazão não ser suficiente para promover o enchimento total até o início de agosto, quando o balanço de massa passa a ser negativo, já que entre esse mês e outubro a vazão afluente é inferior à vazão residual. Dessa forma, o tempo mínimo necessário para que o nível d’água normal seja atingido será de cerca de 7 dias, correspondente ao fechamento do rio no mês de março, na ocorrência de um ano extremamente chuvoso. Por outro lado, já que no ano seco torna-se impraticável o fechamento do rio entre os meses de maio a outubro, o maior tempo de enchimento se dá em um ano médio. Nesse caso, iniciando-se o enchimento no mês de julho, o processo pode demorar mais de 4 meses. A.2.35 Testes pré-operacionais Atingido o nível operacional do reservatório, será realizada a interconexão da subestação com o sistema de transmissão e iniciados os testes pré-operacionais. A.2.36 Desativação e limpeza do canteiro de obras Essa ação engloba todas as atividades necessárias à total remoção dos equipamentos e instalações do canteiro de obras.

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A.2.37 Recuperação de áreas degradadas Todas as áreas externas ao reservatório, que tenham sido objeto de desmatamento e limpeza para implantação das obras, serão recuperadas, restituindo-se as suas condições originais. Isto incluirá as áreas afetadas à jusante da barragem, a área do canteiro de obras, as áreas utilizadas como estoques de terra e rocha, os traçados de caminhos de serviços implantados para as obras e que não terão utilização continuada durante a fase de operação. As atividades de recuperação das áreas degradadas incluirão em geral trabalhos de retaludamento, implantação de terraços de nível, descompactação de solo, enriquecimento edáfico com espalhamento de resíduos vegetais, execução de ações para indicação da regeneração natural da vegetação, e execução de plantios com espécies nativas caso necessário. Essas atividades envolverão o uso de equipamentos leves, incluindo tratores agrícolas com trados de disco e trados manuais e/ou mecânicos para a abertura de covas. A.3 - Fase de Operação A.3.01 Operação em condições normais A operação do AHE Colíder será a fio d’água, não existindo função de acumulação no reservatório. O padrão operacional pode ser verificado no Capítulo 5 que apresenta a curva de permanência de vazões. Na operação a fio d’água, não haverá variação do nível d’água do reservatório, que se manterá na elevação 268,5 metros durante todo o tempo, excetuando nos momentos em que houver vertimento pelo vertedouro. Na maior parte do tempo, a condição de vertimento implicará em aumento do nível d’água de somente alguns centímetros, equivalente à altura a lamina d’água escorrendo sobre o vertedouro. No entanto, em condições excepcionais, a sobre-elevação do reservatório poderá ser mais significativa, atingindo a elevação de 272,79 metros durante a cheia milenar (NA Máximo Maximorum). A.3.02 Manutenção preventiva e conservação de rotina A manutenção preventiva e conservação de rotina incluindo todas as atividades periódicas de limpeza e lubrificação de equipamentos, as trocas de óleo do transformador e capacitadores e atividades similares. Na tomada d’água, serão realizados trabalhos contínuos de remoção de folhagem e limpeza das grades. As atividades de manutenção de rotina que exijam a parada das turbinas serão programadas para a época de estiagem. Essas atividades, quando implicarem em inspeção interna e/ou desmontagem dos equipamentos de geração, serão realizadas com apoio de pontes rolantes.

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A.3.03 Manutenção Corretiva Os serviços de manutenção corretiva poderão ser necessários de maneira excepcional, podendo ou não implicar na necessidade da parada de equipamentos de geração. Inspeções periódicas de todos os equipamentos, das estruturas de concreto e das barragens em terra, serão realizadas durante todo o ciclo de vida operacional, sendo com base nelas que se identificarão eventuais necessidades de manutenção corretiva. 12.3 Identificação de Componentes Ambientais A definição de componente ambiental adotada na presente avaliação de impactos ambientais refere-se a um conjunto relativamente homogêneo de elementos que compõem o que se denomina meio ambiente, e que estão sujeitos às interações com as ações que serão executadas durante a implantação e operação do AHE Colíder. Este conjunto de componentes engloba tanto elementos do meio natural (solos, recursos hídricos, vegetação) como do meio sócio-econômico (economia, qualidade de vida ou infra-estrutura social). A seguir são descritos os componentes ambientais passíveis de serem afetados pelas ações descritas anteriormente. Cabe ressaltar o fato de que, embora sujeitos às ações de potencial impactante, não necessariamente indica que haja impacto ambiental negativo sobre todos os componentes. A descrição a seguir indica o grau de fragilidade dos componentes ambientais face às ações consideradas para as obras a serem executadas, e a partir desta análise serão apontados os impactos potencialmente decorrentes, a serem apresentados na seção seguinte do presente capítulo. C.1 - Componentes do Meio Físico C.1.01 Recursos hídricos superficiais Integra este componente, no âmbito da Área de Influência Indireta (AII), da Área de Influência Direta (AID) e da Área Diretamente Afetada (ADA), o rio Teles Pires e seus afluentes. No trecho do barramento, o rio Teles Pires possui largura superior a 200 metros e vazões medidas superiores a 1.800 m3/s em março (mês de maior vazão) e de 444 m3/s em setembro (mês de menor vazão média). Não foram identificadas captações de água superficial destinadas ao abastecimento público urbano na AID.

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C.1.02 Recursos hídricos subterrâneos Os terrenos afetados diretamente pela implantação do AHE Colíder são associados principalmente a sedimentos aluviais e aos arenitos da Formação Dardanelos. De modo geral, o substrato rochoso arenítico da Formação Dardanelos compõe aqüífero de média a alta permeabilidade relativa. Todavia, os setores mais próximos das margens do rio Teles Pires são formados por planícies fluviais nas quais a profundidade do lençol freático é baixa, com áreas em que o mesmo é aflorante. C.1.03 Relevo e solos (terrenos) As obras de implantação do AHE Colíder, bem como a instalação de estruturas acessórias (acessos, canteiros, bota-foras), se darão predominantemente sobre os terrenos colinosos areno-argilosos e morrotes dissecados (ombreiras nas duas margens). Os morrotes dissecados apresentam susceptibilidade a erosão laminar e em sulcos, a rastejo e a movimentos de massa de média intensidade quando da remoção da cobertura vegetal natural. Nos terrenos colinosos, que constituem boa parte da ADA do AHE Colíder, os principais processos superficiais são a erosão laminar e em sulcos, além do assoreamento de canais fluviais e nascentes. Já as planícies planícies fluviais englobam lagoas formadas em canais abandonados, brejos, alagadiços, e barras longitudinais arenosas que formam praias e ilhas. Além de serem eventualmente inundadas durante as grandes cheias do rio, estas planícies recebem um aporte contínuo de água, proveniente do fluxo subterrâneo das encostas, mesmo em época de estiagem, constituindo-se por isso em áreas permanentemente úmidas ou alagadas. C.1.04 Clima e qualidade do ar Este componente deve ser considerado para a AID e para a AII. Conforme relatado no diagnóstico ambiental, não foram identificados pólos industriais ou atividades que possam contribuir para a deterioração da qualidade do ar na área de inserção do AHE Colíder. Os fatores de alteração da qualidade do ar restringem-se à circulação de veículos pelas estradas não pavimentadas e às queimadas.

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As condições são propícias à dispersão dos poluentes, sendo baixa, portanto, a probabilidade de que existam altas concentrações de CO2 ou de óxidos de enxofre e nitrogênio na área de influência do empreendimento, sendo favoráveis as condições para dispersão de eventuais contaminantes que porventura sejam emitidos por fontes móveis (veículos, máquinas e equipamentos) durante as obras. A estação seca (maio a setembro), em razão da estiagem e da forte redução dos níveis de umidade do ar, constitui o período crítico, no qual a poeira é o principal fator de incômodo à população. C.1.05 Patrimônio paleontológico A AID do AHE Colíder encontra-se localizada sobre rochas metassedimentares da Formação Dardanelos, datada do Mesoproterozóico, cuja granulometria medianamente grosseira é fator limitante à preservação de estruturas biogênicas. C.2 - Componentes do Meio Biótico C.2.01 Cobertura vegetal De acordo com o Mapeamento da Cobertura Vegetal na AID, a vegetação nativa ao longo da AID é constituída principalmente pelas Formações Florestais Submontanas e Formações Florestais Aluviais. Ocorrem também, em menor extensão, formações savânicas na forma de encraves e formações pioneiras, o que evidencia a inserção da área estudada na zona de transição entre o Cerrado e a Amazônia. Embora se reconheça significativo processo de substituição da cobertura vegetal nativa por pastagens, a AID apresenta expressivos setores cobertos por vegetação natural de porte florestal. As formações florestais aluviais que ocorrem nas margens do rio Teles Pires são as potencialmente mais afetadas pela implantação do empreendimento. C.2.02 Fauna aquática O rio Teles Pires é um rio constituído por ambientes variados, com corredeiras, remansos, lagoas marginais, planícies de inundação. No trecho superior de seu curso, o leito é encaixado com predominância de formações rochosas e corredeiras. O trecho médio, no segmento em que está situado o eixo do AHE Colíder, apresenta declividade mais baixa e planícies fluviais quase sempre contínuas, muitas com lagoas marginais.

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O levantamento de campo das três campanhas realizadas na AID contemplou 165 espécies distribuídas em 6 ordens e 30 famílias. Dentre as espécies catalogadas, 57% pertencem a ordem dos Characiformes, 30% a ordem dos Siluriformes, 7% a Perciformes, 4% a Gymnotiformes e 1% a ambas as ordens dos Symbranchiformes e Cyprinodontiformes. Considerando este levantamento, 22 espécies eram migradoras, sendo 2 de pequeno porte (indivíduos ≤ 30 cm) e 6 de médio porte (indivíduos de 31 a 60 cm), não havendo nenhum migrador de grande porte (≥ 60 cm). Convém destacar, que nas campanhas de campo da AID foi capturada a espécie Nannorhamdia cf. stictonotus que não consta no acervo do Museu de Zoologia da USP e, portanto, está ausente no levantamento bibliográfico realizado para a AII desta bacia hidrográfica. Os migradores capturados na AID totalizaram 22 espécies, sendo pertencentes à ordem dos Siluriformes somente 8: Imparfinis cf. hasemanni (Heptapteridae), Pimelodella sp (Heptapteridae), Pimelodella cristata (Heptapteridae), Pimelodella steindachneri (Heptapteridae), Hemisorubim platyrhynchus (Pimelodidae), Pimelodus albofasciatus (Pimelodidae), Pimelodus ornatus (Pimelodidae), Sorubim trigonocephalus (Pimelodidae). Dentre estes, somente as espécies Hemisorubim platyrhynchus e Pimelodus ornatus são citados como peixes de pesca comercial na bacia do rio Tapajós, a qual a do rio Teles Pires pertence. C.2.03 Fauna terrestre Situada em área de transição entre o bioma amazônico e do Cerrado, a AID apresenta, conforme resultados obtidos em duas campanhas de campo (estação seca e chuvosa), uma fauna de mamíferos de caráter essencialmente amazônico. Para o grupo herpetofauna, os levantamentos indicaram uma composição com predomínio de espécies de distribuição ampla e com afinidades amazônicas e de Cerrado. Foram obtidos também resultados que atestam uma elevada diversidade de espécies de aves. C.3 - Componentes do Meio Antrópico C.3.01 Dinâmica demográfica e condições de vida da população Este componente inclui diversos aspectos a partir dos quais se pode caracterizar a dinâmica demográfica local e regional e as condições de vida da população residente nos municípios da AII, e como esses aspectos podem ser alterados em função da implantação e operação do empreendimento. Em geral, os aspectos mais associados à qualidade de vida das populações situadas em área próxima a empreendimentos, na fase de implantação, são os que se referem ao aumento da poluição devido às obras, à existência de incômodos ou perturbações no seu cotidiano (principalmente devido a alterações da infra-estrutura viária).

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De modo geral, também podem ser incluídos aspectos relacionados à migração forçada de pessoas e outras interferências no seu cotidiano. Por outro lado, também são incluídos, neste componente, a maior oferta de insumos de produção e recursos tecnológicos, as melhorias na circulação local (para alguns empreendimentos) e o acesso a outros bens e serviços, aspectos que podem gerar a melhoria da qualidade de vida local. No caso específico do AHE Colíder, a população que reside na Área de Influência Direta se limita aos residentes das propriedades rurais. O contingente populacional residente nas sedes dos municípios da AII. C.3.02 Atividades econômicas e finanças públicas De modo geral, este componente abrange o conjunto das atividades de produção de bens e serviços nos municípios em que se localiza o empreendimento, incluindo a geração de empregos e o crescimento da riqueza local, bem como o crescimento e disponibilidade de recursos destinados à produção. Os aspectos a serem considerados na avaliação de impactos relacionados ao empreendimento são a geração de empregos e o aumento do consumo de materiais e de serviços especializados, associados às obras, resultando na ampliação do consumo de bens e serviços nos municípios da área de influência. Outro aspecto importante associado à operação é a maior disponibilidade da energia gerada, incorporada ao Sistema Interligado Nacional, correlacionada, ainda que indiretamente, ao crescimento das atividades econômicas. Este componente se relaciona também às alterações, geralmente positivas, nas finanças públicas dos municípios em que o empreendimento se localiza, acarretadas pela presença de nova atividade econômica. Para o AHE Colíder, este componente é representado pelos aspectos concernentes ao aumento na arrecadação municipal (ISSQN decorrente da compra de materiais e insumos para as obras) na fase de implantação e, após a entrada em operação, ao pagamento da compensação financeira pelo uso dos recursos hídricos (royalties). C.3.03 Saúde pública Este componente relaciona-se às alterações negativas das condições de saúde pública que podem advir da implantação e operação do AHE Colíder. Os municípios da AII são afetados principalmente por malária, além de outras endemias, como leishmaniose tegumentar americana. Estas endemias estão associadas a vetores silvestres cujas populações podem ser afetadas pelo incremento demográfico e pela supressão de vegetação para as obras, assim como pela formação do reservatório.

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C.3.04 Uso e ocupação do solo Este componente abrange as alterações que o empreendimento pode ocasionar na organização do território, esta última representada pelas formas de uso e ocupação do solo pré-existentes à sua implantação, incluindo o estabelecimento de eventuais restrições e/ou obrigações. Para o AHE Colíder, este componente é representado, ainda, pela criação de faixa de 100 m correspondente à área de preservação permanente (APP) do entorno do reservatório. C.3.05 Infra-estrutura e serviços públicos Este componente abrange as condições operacionais da infra-estrutura e dos serviços públicos existentes nos municípios em que o empreendimento se localiza, representados pelo sistema viário, pelos sistemas de saneamento ambiental instalados e pelos equipamentos sociais de saúde, educação e assistência social, que constituem a infra-estrutura disponível para atendimento de necessidades básicas da população. Para o AHE Colíder, a infra-estrutura física e social passível de impacto inclui, principalmente, os seguintes aspectos: • Os equipamentos de saúde pública que poderão ser eventualmente acionados para

atendimento do pessoal empregado nas obras; • As estruturas de disposição de resíduos sólidos que poderão receber os resíduos gerados

no canteiro de obras, alojamento, cozinha e ambulatório; e • As estradas e acessos existentes e que serão utilizados para o transporte de materiais e o

acesso às obras, além de estradas vicinais rurais também utilizadas ou inundadas. C.3.06 Paisagem A paisagem constitui o resultado da dinâmica de elementos físicos, biológicos e antrópicos que reagem uns sobre os outros, em constante transformação. De modo geral, muitos dos impactos individualizados e organizados segundo os componentes ambientais são evidenciados por alterações de diversos tipos e intensidades na paisagem. Assim, os impactos relativos aos meios físico, biótico e antrópico ocorrem sobre os componentes ambientais, e, em última análise, sobre a paisagem. Embora represente a síntese de elementos físicos, bióticos e antrópicos, os impactos relativos à percepção ambiental da população, ou à simples modificação, são manifestados sobre o componente antrópico. Nesse sentido, as modificações na paisagem ocorrem já na fase de obras, com as escavações obrigatórias e a supressão de vegetação e, posteriormente, com a formação do reservatório.

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C.3.07 Patrimônio histórico, cultural e arqueológico Este componente consiste nos aspectos relativos ao patrimônio arqueológico, histórico e cultural identificado, ou potencialmente existente, na área de estudo, abrangendo aspectos materiais e imateriais relacionados às diferentes fases de formação da sociedade local (passada e presente), sendo representados, de modo geral, por ruínas, edificações e áreas representativas de valor histórico/antropológico e arqueológico (relacionados ao povoamento pré-colonial e colonial, na região), além do patrimônio imaterial. Os bens imateriais são representados pelas manifestações culturais existentes na área, envolvendo as políticas públicas de cultura, as referências histórico/culturais das comunidades envolvidas, a infra-estrutura cultural identificada (equipamentos culturais), os bens móveis e imóveis urbanos e rurais, públicos e privados. Incluem também as manifestações culturais, tradicionais e populares, resultantes da criação coletiva da comunidade, abrangendo festas, atividades coletivas, danças, jogos e cultos religiosos, além da identificação das “pessoas de saber”, membros da comunidade que detêm conhecimentos histórico/culturais importantes para a memória regional. É possível, através dos dados coletados com o levantamento de campo, indicar que o entorno do local onde é planejada a implantação do AHE Colíder possui potencial arqueológico positivo, principalmente na margem esquerda do rio Teles Pires, onde se localiza a maioria dos 15 sítios identificados no levantamento arqueológico realizado na área do empreendimento. A maioria dos sítios identificados remete a ocupações indígenas relacionadas a grupos cultivadores ceramistas diversificados, os quais iniciaram a ocupação da porção meridional da Bacia Amazônica a cerca de 2.000 anos. Entrevistas com a comunidade revelaram informações de outros vestígios arqueológicos, o que é confirmado pelo grande número de acervos particulares existentes nos municípios abrangidos e pela bibliografia especializada. C.3.08 População indígena e comunidades tradicionais Estão incluídas neste componente as terras indígenas e a sua população. Não há comunidades quilombolas na bacia do rio Teles Pires. A bacia do rio Teles Pires conta atualmente com as Kayabi, Munduruku, Bakairi, Santana e Pananá. Destas, apenas as terras Kayabi e Bakairi têm os seus territórios integralmente inseridos na bacia do rio Teles Pires, uma vez que a TI Munduruku tem a maior parte de seu território na bacia do rio Cururu, além de pequena parte na bacia do rio Cadariru. Nenhuma destas Terras Indígenas encontra-se na Área Diretamente Afetada, na Área de Influência Direta ou Indireta do AHE Colíder. As terras indígenas Kayabi e Munduruku estão situadas no baixo rio Teles Pires.

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C.3.09 Unidades de conservação Compõem o presente componente ambiental todas as unidades de conservação de uso sustentado e de proteção integral estabelecidas na bacia do rio Teles Pires em conformidade com o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) – Lei Federal Nº 9.985/2000. Foi levantado um total de 12 unidades de conservação na bacia, sendo duas Áreas de Proteção Ambiental estaduais, dois Parques Estaduais, uma Reserva Ecológica estadual, cinco Reservas Particulares do Patrimônio Natural, um Parque Municipal, um Parque Nacional e uma Reserva Biológica. As unidades de conservação mais próximas do AHE Colíder são a RPPN Gleba Cristalino e o Parque Estadual do Cristalino. As duas unidades estão situadas na foz rio Cristalino, a jusante do AHE Colíder. A distância em relação ao barramento é de aproximadamente 230 quilômetros pelo rio Teles Pires. 12.4 Identificação de Impactos Potencialmente Decorrentes A correlação entre as ações impactantes e os componentes ambientais passíveis de serem impactados, feita a partir da Matriz de Interação de Ações Impactantes por Componentes Impactáveis (Matriz 12.4.a), permitiu identificar um total de 59 impactos potenciais claramente diferenciáveis entre si. Todos os impactos são elencados a seguir, acordo com o componente ambiental principal a ser impactado. Meio Físico 1. Recursos Hídricos Superficiais

1.01 Alterações na qualidade da água durante as obras 1.02 Assoreamento durante a fase construtiva 1.03 Alterações no regime fluviométrico e na qualidade da água durante o enchimento do

reservatório 1.04 Formação de ambiente lêntico e alterações das propriedades físicas, químicas e

biológicas das águas superficiais na fase de operação 1.05 Assoreamento de remansos e confluências 1.06 Retenção de sedimentos no reservatório e alterações na geometria fluvial a jusante do

barramento

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AHE Colíder – 300 MW 100 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - Volume IV

2. Recursos Hídricos Subterrâneos 2.01 Rebaixamento do lençol freático em decorrência das obras 2.02 Elevação do nível do lençol freático após a formação do reservatório 3. Relevo e solos (terrenos) 3.01 Indução de processos erosivos durante as obras 3.02 Alteração do risco de contaminação do solo durante as obras 3.03 Instabilização de margens e indução de processos erosivos no reservatório durante a

operação 3.04 Criação de áreas úmidas permanentes 3.05 Ocorrência de sismos induzidos 4. Clima e qualidade do ar 4.01 Alteração na qualidade do ar durante as obras 4.02 Alterações no clima local 5. Patrimônio Paleontológico Não foram identificados impactos sobre este componente

Meio Biótico 6. Cobertura vegetal 6.01 Redução da cobertura vegetal nativa 6.02 Ampliação do grau de fragmentação dos remanescentes e dos efeitos de borda e

redução da conectividade entre remanescentes florestais 6.03 Alteração da estrutura da vegetação florestal em decorrência da elevação do lençol

freático 7. Fauna aquática e demais organismos 7.01 Redução da qualidade do habitat durante as obras 7.02 Aprisionamento de peixes nas áreas ensecadas 7.03 Redução da qualidade do habitat a jusante do barramento durante o enchimento 7.04 Alteração na dinâmica de deslocamento da ictiofauna em decorrência da implantação

do barramento 7.05 Alterações nas populações de peixes no rio Teles Pires na fase de operação 8. Fauna Terrestre 8.01 Perturbação e afugentamento da fauna terrestre durante as obras 8.02 Óbito e fuga de animais durante as atividades de desmatamento e inundação 8.03 Aumento da pressão sobre a fauna durante o período de obras

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AHE Colíder – 300 MW 101 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - Volume IV

8.04 Alteração nas populações terrestres em função da mudança/perda de habitats naturais 8.05 Ampliação da barreira física decorrente da formação do reservatório 8.06 Alteração na dinâmica da população de vetores Meio Antrópico 9. Dinâmica Demográfica e Condições de Vida da População 9.01 Geração de empregos diretos e indiretos durante a construção 9.02 Geração de empregos diretos e indiretos durante a operação 9.03 Aumento da massa salarial durante a construção e a operação 9.04 Atração de fluxos migratórios durante a construção 9.05 Saldos migratórios negativos ao final da fase de construção 9.06 Perda de moradias e fontes de rendimento e subsistência 9.07 Risco de tensões entre mão-de-obra imigrante e população local 9.08 Geração de expectativas da população sobre o empreendimento 9.09 Interferências com áreas e atividades de lazer da população local 9.10 Incômodos à população devido ao tráfego pesado e a alterações em estradas rurais,

acessos e travessias 10. Atividades Econômicas e Finanças Públicas 10.01 Aumento das receitas fiscais durante a construção e a operação 10.02 Alterações nos valores imobiliários durante a construção e a operação 10.03 Dinamização das economias locais durante a construção 10.04 Retração econômica ao final da fase de construção 10.05 Perda de áreas de produção agrossilvopastoril 10.06 Interferências com atividades turísticas 10.07 Interferência com a pesca artesanal profissional 11. Saúde Pública 11.01 Riscos à saúde pública durante a construção 11.02 Risco de indução de endemias em decorrência da formação do reservatório 12. Uso e Ocupação do Solo 12.01 Substituição de usos nas áreas de intervenção e inundação 12.02 Indução de alterações nos padrões de uso e/ou cobertura do solo no entorno do

reservatório 12.03 Indução ao crescimento e alterações nos padrões de uso do solo urbanos 13. Infra-Estrutura e Serviços Públicos 13.01 Apropriação da capacidade e deterioração das vias locais por veículos a serviço das

obras 13.02 Aumento da demanda por serviços públicos de saúde durante a construção

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AHE Colíder – 300 MW 102 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - Volume IV

13.03 Apropriação parcial da capacidade local de disposição de resíduos sólidos 13.04 Obstrução de estradas vicinais pelo reservatório e interferência com redes de utilidades 13.05 Pressões indiretas sobre as infra-estruturas e os serviços públicos urbanos 13.06 Ampliação da oferta de energia elétrica no Sistema Interligado Nacional 14. Paisagem 14.01 Alterações na paisagem durante a construção e a operação 15. Patrimônio Histórico, Cultural e Arqueológico 15.01 Risco de perda de sítios e bens de interesse histórico, cultural e arqueológico 16. Populações Indígenas e Comunidades Tradicionais Não foram identificados impactos sobre este componente. 17. Unidades de Conservação Não foram identificados impactos sobre este componente. 12.4.1 Meio Físico 1. Recursos Hídricos Superficiais 1.01 Alterações nas propriedades físico-químicas e da qualidade da água durante as obras O impacto potencial de alterações nas propriedades físicas e químicas e da qualidade da água superficial durante a fase de construção decorre de um amplo conjunto de ações impactantes vinculadas principalmente ao desmatamento e movimentação de terra, mas também a operação do canteiro de obras e de suas instalações. Nesse contexto, aspectos como o porte e duração das intervenções previstas, o regime de precipitação pluviométrica local, a fragilidade dos terrenos e as características do regime fluvial dos corpos d’água são fatores que influenciam a magnitude e abrangência espacial dos impactos sobre a qualidade da água. Os impactos sobre os solos e relevo são identificados e analisados mais à frente no componente “Relevo e solos (terrenos). Em todo caso, cumpre lembrar que os terrenos que compõem a Área Diretamente Afetada e a Área de Influência Direta do AHE Colíder apresentam distintos graus de fragilidade. Por outro lado, os três tipos de terrenos identificados sofrerão intervenções associadas a etapa de implantação. As escavações obrigatórias e a implantação do canteiro de obras ocorrerão sobre terrenos colinosos, de morrotes e em planícies. A implantação de acessos e melhoramento dos existentes e habilitação das demais áreas de apoio afetará tanto os terrenos de morrotes como os terrenos colinosos.

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AHE Colíder – 300 MW 103 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - Volume IV

O fato é que em razão da movimentação de terra e especificamente da exposição de horizontes de solo mais erodíveis, quando da ocorrência de chuvas, poderá ocorrer a intensificação do carreamento de sedimentos para os tributários e para o próprio rio Teles Pires, o que pode resultar em alterações nas propriedades físicas e químicas da água. Alterações dessa natureza podem ocorrer ainda quando do bombeamento e lançamento das águas provenientes das frentes de escavação e das áreas ensecadas, que normalmente apresentam consideráveis concentrações de sedimentos em suspensão. Entre as modificações nas propriedades físicas com conseqüente alteração da qualidade da água destacam-se as alterações na cor, a elevação da turbidez e ao aumento da concentração de sólidos totais. As potenciais alterações químicas decorrem principalmente do aporte de nutrientes presentes nos sedimentos. Tanto uma como a outra podem representar interferência com o habitat das comunidades aquáticas como um todo. Especificamente em relação ao aumento da turbidez, bem como às alterações na cor e nas concentrações de sólidos, é oportuno ressaltar que tais variações ocorrem de forma associada. Modificações significativas dessas propriedades da água podem resultar em uma maior absorção de luz e em redução da transparência da coluna d’água. As concentrações de húmus (matéria orgânica oriunda da degradação de matéria de origem vegetal), plâncton (conjunto de plantas e animais microscópicos em suspensão nas águas), além de nutrientes como o fósforo e o nitrogênio podem também sofrer incremento, potencializando a ocorrência de processos de eutrofização, notadamente nos cursos d’água de pequeno porte. Também associada ao aporte de matéria orgânica proveniente da matéria de origem vegetal transportado com os solos carreados, há possibilidade de aumento de variáveis como o pH e a DBO. A possibilidade de aporte proveniente de nutrientes fosfatados e nitrogenados presentes em solos agrícolas fertilizados é reduzida, uma vez as áreas de intervenção encontram-se cobertas por vegetação natural ou por pastagens. As áreas afetadas pela implantação do canteiro de obras somam aproximadamente 1 km2. As atividades de desmatamento na área do reservatório totalizam 118 km2. Os volumes de escavação são superiores a 1.000.000 de m3. Como já caracterizado, junto ao local em que é prevista a implantação do barramento, é prevista a implantação do canteiro de obras na margem direita, além da habilitação de áreas de estoques de materiais naturais de construção. A montante do local do barramento, dentro da área do futuro reservatório é prevista a habilitação de dois bota-foras. As jazidas e pedreiras potenciais são previstas em áreas distantes do rio, localizadas ao longo de estradas de acesso (entre o AHE Colíder e a cidade de Colíder, por exemplo).

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AHE Colíder – 300 MW 104 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - Volume IV

Embora se reconheça o grande porte das intervenções, trata-se do trecho do rio Teles Pires em que as características como as grandes vazões tendem a minimizar a intensidade do impacto potencial em pauta, favorecendo a dispersão os sedimentos transportados. Cumpre nesse sentido ressaltar que as vazões médias naturais do rio Teles Pires no eixo são de 943 m³/s. Durante o período de chuvas, as vazões médias variam de 960 m³/s em dezembro a 1827 m³/s no mês de março. Tais descargas evidenciam o rio Teles Pires como um sistema de alta capacidade de diluição, de forma que o aumento da turbidez nas águas do rio Teles Pires tende a ser de pequeno significado. Tratando-se de impacto associado ao período de obras, a alteração na qualidade da água é um impacto temporário. Após o encerramento das atividades de movimentação de terra, as possibilidades de disponibilização de sedimentos para o rio Teles Pires e demais corpos d’água da AID serão significativamente reduzidas. Assim, espera-se um período de 36 meses em que o risco de alteração dos parâmetros de cor, turbidez e sólidos em suspensão, decorrentes da ação das obras deve ser prevenido de forma mais intensiva através de medidas de controle de erosão e monitorado a jusante das áreas afetadas. Outras possibilidades de alterações da qualidade da água durante a etapa de implantação do AHE Colíder estão vinculadas às atividades de operação das instalações do canteiro de obras, à movimentação e utilização de máquinas e veículos e a operação de geradores de energia elétrica (diesel). Trata-se na prática da potencial contaminação das águas superficiais em razão de vazamentos de óleos lubrificantes ou de combustível. A degradação da qualidade das águas superficiais por contaminantes orgânicos, metais e derivados de petróleo está associada predominantemente ao transporte, armazenamento e manipulação de produtos perigosos (combustíveis, lubrificantes, tintas, vernizes e solventes) utilizados nas obras. Com exceção dos combustíveis e lubrificantes, os demais produtos serão utilizados em quantidades bastante reduzidas e sua manipulação e armazenamento serão limitados ao interior do canteiro de obras. Além do armazenamento e manipulação destes produtos, existe o risco de contaminação associado ao descarte dos efluentes da lavagem das máquinas e equipamentos e o risco associado a vazamentos acidentais dos produtos acima citados. Todos estes riscos serão controlados com a adoção de medidas de gerenciamento dos almoxarifados e das áreas de tancagem e lavagem. Todas as áreas de armazenamento e manipulação de produtos perigosos, incluindo a área de lavagem de equipamentos serão pavimentadas, contidas e providas de caixas separadoras de sólidos e de água/óleo, de forma a assegurar a coleta e tratamento dos efluentes gerados pelas atividades diárias ou por vazamentos. A operação da central de concreto implica no armazenamento e manipulação de areia, brita e cimento e na geração de um efluente alcalino e rico em sedimentos, cujo descarte pode alterar o pH das águas superficiais. Este impacto deve ser controlado com a adoção de tratamento específico para os efluentes e com a contenção das pilhas de insumos.

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AHE Colíder – 300 MW 105 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - Volume IV

Complementarmente, a operação do canteiro de obras implica no risco de contaminação das águas superficiais pelos lançamentos de efluentes domésticos originados nas áreas de alojamento, sanitários e refeitório. Os efluentes gerados nas instalações do canteiro serão lançados nos corpos d’água após tratamento em ETE. O risco de contaminação das águas do rio Teles Pires é reduzido e limita-se ao período de obras, uma vez que o tratamento dos efluentes está previsto durante a operação do canteiro de obras. Cabe ressaltar ainda que todas as ações a serem adotadas para controle de eventos acidentais de vazamentos estão descritas nas medidas de controle de poluição, organização e limpeza do canteiro de obras e também no sub-programa de atendimento a emergências ambientais durante construção. 1.02 Assoreamento durante a fase construtiva O assoreamento de cursos d’água poderá materializar-se em decorrência do aumento da contribuição sólida além da capacidade de transporte do rio (carga máxima que o rio pode transportar). Considerando a implantação de um aproveitamento hidrelétrico, um amplo conjunto de ações de potencial impactante pode desencadear a ocorrência de processos de erosão laminar e em sulcos e, por conseguinte, o assoreamento dos corpos d’água durante a fase de construção. Intervenções associadas à supressão de vegetação e limpeza do terreno na área de implantação do canteiro de obras, na área de implantação do barramento e para abertura e melhoramento de acessos, em razão da exposição dos horizontes superficiais dos solos, são ações iniciais que podem resultar em assoreamento. Posteriormente, a terraplenagem para implantação do canteiro de obras, as escavações obrigatórias no barramento, a exploração de jazidas, a deposição dos materiais excedentes nos bota-foras e a supressão de vegetação na área de inundação, são outras ações da fase de construção que potencialmente podem resultar em impactos sobre os cursos d’água, entre os quais o assoreamento. Assim como no caso dos impactos sobre a qualidade da água, além da tipologia e porte das ações de potencial impactante, as características dos terrenos afetados e da rede de drenagem natural são fatores que influenciam na magnitude e na localização das áreas afetadas pelo processo de assoreamento. Nesse sentido, os três tipos de terrenos identificados na AID e na ADA, Morrotes dissecados, Colinosos argilosos e Planícies fluviais, sofrerão intervenções associadas a etapa de implantação do empreendimento, seja pela implantação do canteiro de obras e do barramento, pela exploração de materiais naturais de construção, pela abertura de acessos e pela supressão de vegetação. Em conjunto, pela exposição dos horizontes superficiais dos solos, naturalmente mais susceptíveis aos processos de dinâmica superficial, durante os períodos chuvosos, poderá ocorrer um incremento do suprimento de sedimentos que, por conseguinte, poderá resultar no assoreamento dos corpos d’água a jusante das obras.

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AHE Colíder – 300 MW 106 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - Volume IV

Conforme caracterização climática da região da implantação do AHE Colíder, a precipitação é concentrada nos meses entre dezembro a março. Especialmente nesse período, a ocorrência de chuvas de grande intensidade durante as atividades de terraplenagem constitui um grande fator de risco e desencadeador do impacto de assoreamento dos cursos d’água. O assoreamento de cursos d’água gera alterações localizadas da morfologia fluvial dos trechos afetados, podendo originar situações de obstrução de drenagem com a formação de ilhas e bancos de areia. A tendência no longo prazo é que ocorra o carreamento gradativo do material acumulado no leito para trechos a jusante, caracterizando assim um processo de média a longa duração. Por outro lado, especificamente em relação aos trechos afetados pelas obras e particularmente no caso do rio Teles Pires, devem-se considerar as configurações do canal fluvial ao longo do trecho afetado e jusante deste. Considerando as características fisiográficas do rio a jusante do setor da AID que concentra as intervenções previstas, pode-se afirmar que as condições físicas necessárias a ocorrência de processos de assoreamento são restritas a setores de remanso nas margens do rio Teles Pires. Outros corpos d’água são aqueles de 1ª e 2ª ordens situados junto às instalações do canteiro de obras ou junto a bota-foras, mas que serão integralmente inundados quando da formação do reservatório. Como caracterizado no diagnóstico e citado anteriormente, o desenvolvimento de processos de erosão laminar e em sulcos devido a exposição de horizontes de solos mais erodíveis são fatores que podem potencializar o impacto de assoreamento. Nessa perspectiva, as medidas de controle de erosão em todas as áreas de intervenção são determinantes na prevenção e na minimização do impacto. 1.03 Alterações no regime fluviométrico e na qualidade da água durante o enchimento do reservatório Objetivando a acumulação de água para enchimento do reservatório, as vazões do rio Teles Pires no trecho a jusante do AHE Colíder serão reduzidas, o que configura uma alteração temporária no regime de vazões do rio a jusante do barramento. Os estudos que nortearam os procedimentos para o enchimento do reservatório do AHE Colíder consideraram como premissa a manutenção de uma vazão mínima equivalente ao Q7,10 no rio Teles Pires de forma que a jusante deste ponto não ocorrerão impactos significativos decorrentes do enchimento do reservatório do AHE Colíder. As vazões equivalentes ao Q7,10 na seção são de 376 m3/s. A primeira fase será iniciada com o fechamento das adufas e finalizada quando o nível d’água do reservatório alcançar a soleira do vertedouro na cota 256,1 metros.

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AHE Colíder – 300 MW 107 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - Volume IV

O início de passagem das águas pelo vertedouro marca o início da segunda fase de enchimento do reservatório, cujo término ocorrerá quando a água atingir o NA Máximo Normal (cota 268,5 metros). Durante esta segunda fase de enchimento, as vazões no rio Teles Pires serão gradativamente incrementadas pelas contribuições de drenagens que deságuam no rio. Em todo caso, logo a jusante do eixo serão minimamente de 376 m3/s, o correspondente ao Q7,10. No que se refere aos tempos de enchimento para as duas fases ora indicadas, as simulações realizadas consideraram três diferentes cenários de vazões afluentes correspondentes às vazões estimadas para um ano seco, um ano médio e um ano considerado úmido (Tabela 1.03.a). Os resultados obtidos são consolidados na Tabela 1.03.b e indicam que o início do enchimento do reservatório entre os meses de maio e outubro é inviável, uma vez que as vazões residuais previstas são superiores às vazões afluentes. Tabela 1.03.a Vazões Afluentes Consideradas no Estudo de Enchimento (m³/s)

ANO Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Seco (1967) 778 685 1158 1245 425 474 417 357 300 323 404 642

Médio (1985) 1705 1703 1473 1370 961 677 557 464 437 568 670 710 Úmido (1940) 1790 2478 3201 2497 1227 727 682 557 502 498 817 710

Fonte: AHE Colide - Estudos de viabilidade (PCE et al. 2008) Tabela 1.03.b Tempos de enchimento do reservatório do AHE Colíder (em dias)

Cota da Soleira do Vertedouro (256,1m) Cota do NA Máximo Normal (268,5m) Mês de início do enchimento Ano Seco Ano Médio Ano Úmido Ano Seco Ano Médio Ano Úmido

Jan 9 3 3 51 14 13 Fev 11 3 2 41 14 9 Mar 5 4 2 24 17 7 Abr 4 4 2 22 19 9 Mai 50 6 4 N/A 33 22 Jun 40 11 10 N/A 110 56 Jul N/A 19 11 N/A 131 89

Ago N/A 41 19 N/A 119 104 Set N/A 38 27 N/A 56 86 Out N/A 18 27 N/A 72 65 Nov 39 12 8 84 59 46 Dez 13 10 10 57 37 37

Mínimo 4 3 2 22 14 7 Máximo 50 41 27 84 131 104

Notas: N/A = Não aplicável; Os tempos de enchimento máximos referem-se somente aos campos com valores. Fonte: AHE Colide - Estudos de viabilidade (PCE et al. 2008)

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AHE Colíder – 300 MW 108 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - Volume IV

Os resultados obtidos nas simulações indicam que a adoção da vazão residual equivalente a vazão média mínima com 7 dias de duração e 10 anos de recorrência (Q7,10) no local do aproveitamento torna impraticável o fechamento do rio, no caso de um ano seco, nos meses de maio a outubro. Com base nos dados apresentados na Tabela 1.03.b verifica-se que o tempo em que as vazões do rio Teles Pires serão reduzidas para o enchimento deve variar de 7 dias na hipótese de um ano chuvoso (enchimento em março) a 120 dias em caso de um ano hidrológico considerado seco. Associadas às reduções das vazões, sobretudo na primeira fase de enchimento, poderão ocorrer alterações na qualidade da água do rio Teles Pires no trecho a jusante do barramento. De fato, as alterações no regime fluviométrico decorrentes da redução das vazões naturais, mesmo que temporárias, resultam na alteração da velocidade da água, na profundidade do escoamento, no transporte de material sólido e na formação de poças em função da morfologia irregular do leito fluvial e da redução do perímetro molhado. Em conjunto, tais fatores podem contribuir a alterações na qualidade da água, notadamente no que se refere à redução das concentrações de oxigênio dissolvido. Elevações nas concentrações de nutrientes também são possíveis em função da vazão reduzida e, por conseguinte, da menor capacidade de diluição do rio Teles Pires no trecho a jusante do barramento. Sob o aspecto espacial, as modificações no regime fluviométrico e na qualidade da água do rio Teles Pires deverão ter sua intensidade reduzida no sentido de jusante, na medida em que as vazões do rio serão progressivamente ampliadas com as contribuições dos tributários do rio. 1.04 Formação de ambiente lêntico e alterações das propriedades físicas, químicas e biológicas das águas superficiais na fase de operação O barramento de cursos d’água para a formação de reservatórios para geração de energia determina transformações de sistemas hídricos, promovendo modificações significativas na fisiografia, na ampliação da massa d’água e redução nas velocidades de corrente, resultando na substituição do ambiente lótico pelo ambiente lêntico. Além de implicações diretas na biota aquática através de interferências nas populações, a formação de um ambiente lêntico pode também provocar alterações na qualidade da água. Aspectos como a área do reservatório, os volumes de água acumulada, a morfometria do reservatório, as profundidades, o regime de chuvas e as vazões afluentes, bem como o padrão de ocupação do solo na área de contribuição são fatores que condicionam a abrangência e intensidade dos impactos sobre a qualidade da água. Nesse aspecto, cumpre lembrar que a extensão linear do reservatório é de 93 quilômetros. A profundidade máxima é de 33,5 metros junto ao eixo e a profundidade média é de apenas 5,94 metros. O tempo de residência é de 12,9 dias e a operação a fio d’água, sem acumulação para regularização de vazões.

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AHE Colíder – 300 MW 109 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - Volume IV

Considerando tais aspectos, não são esperadas situações críticas na qualidade da água na transição do sistema lótico para o sistema lêntico, sobretudo se considerado o fato que o aproveitamento hidrelétrico foi projetado para operar com um reservatório no qual a renovação da água é contínua. Assim, espera-se que as condições limnológicas no reservatório (ambiente lêntico) sejam influenciadas principalmente pela hidrologia da bacia, ou seja, pela intensidade do fluxo natural de entrada de água no reservatório. Em síntese, com o término da fase de enchimento e início da liberação das vazões ocorrerá o início de um processo contínuo de renovação dos volumes acumulados no reservatório, o que reduz a potencial ocorrência de processos de eutrofização. Para tanto, faz-se necessária a supressão total da vegetação na área de inundação, já que o processo de decomposição da matéria orgânica submersa produz também emissões de gases (CO2, CH4 e N2O) e a formação de ácidos (entre os quais o ácido húmico) com conseqüente redução do pH. Deve-se no entanto registrar que algumas das amostras analisadas no diagnóstico ambiental a AID indicaram alto potencial de eutrofização, o que justifica o desenvolvimento de monitoramento durante a fase de estabilização do reservatório. 1.05 Assoreamento de remansos e confluências Assim como no caso de outros impactos sobre os recursos hídricos, os processos de assoreamento no reservatório apresentam forte relação com os processos de dinâmica superficial e com os padrões de uso e ocupação do solo na sua bacia de contribuição e especialmente no seu entorno, cujos terrenos apresentam diferentes níveis de fragilidade face às interferências ou intervenções antrópicas. O impacto associado ao assoreamento de remansos e confluências constitui impacto potencial previsto nos contatos entre os ambientes lóticos e lênticos que serão formados com o reservatório, ou seja, no contato entre o reservatório do AHE Colíder (ambiente lêntico) e os afluentes do reservatório (ambientes lóticos). Nesses locais, em função da redução da velocidade da corrente fluvial, deverão ocorrer pontos de assoreamento, que a médio e longo prazo, dependendo da descarga sólida dos tributários, podem resultar na obstrução das desembocaduras no reservatório. Considerando a configuração espacial do reservatório e a rede de drenagem contribuinte, a Figura 12.4.1.a indica a localização dos setores do reservatório suscetíveis ao impacto potencial de assoreamento de confluências e remansos. Evidentemente, a intensidade da acumulação de material deve variar em função de carga sólida transportada, da erodibilidade dos solos e da ocupação na bacia de drenagem dos afluentes. Destaca-se o rio Renato como principal contribuinte do rio e do futuro reservatório na AID. Na foz desse rio há ampla planície fluvial. O remanso do reservatório poderá também ser afetado pelo assoreamento no contato dos ambientes lêntico e lótico no próprio rio Teles Pires. Todavia, no cenário de implantação dos aproveitamentos hidrelétricos de montante, caso principalmente do AHE Sinop, o processo de

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deposição de sedimentos no remanso poderá ser diminuído. Os estudos de remanso realizados (Capítulo 5) demonstraram que a influência do reservatório é limitada, não devendo se estender significativamente no sentido de montante. 1.06 Retenção de sedimentos e alterações na geometria fluvial a jusante do barramento A estabilidade da morfologia de um canal pode ser alterada em decorrência de intervenções diretas no canal ou por modificações nas vazões e no aporte de sedimentos provenientes da bacia hidrográfica. De modo geral, as alterações na estabilidade podem resultar na ocorrência de processos de erosão e de assoreamento. O AHE Colíder está planejado para um regime de operação a fio d’água, com mínima variação do nível do reservatório e com pequeno tempo de residência da água acumulada. Nessa concepção de aproveitamento hidrelétrico, todas as vazões afluentes serão turbinadas, não havendo alterações nas vazões naturais do rio no segmento a jusante do barramento. No entanto, mesmo nessa condição operacional (fio d’água), um reservatório apresenta condições de retenção da carga sólida que seria transportada pelo rio, alterando o suprimento de sedimentos para o segmento de jusante. Nessa perspectiva, considerando a redução do suprimento de sedimentos proporcionada pelo reservatório e simultaneamente a manutenção da capacidade de transporte a jusante do barramento, há possibilidade de ocorrência de processos de erosão do canal fluvial. A erosão fluvial ocorre sob dois contextos. O primeiro se refere ao aumento da capacidade de transporte e manutenção do suprimento ou aporte de sedimentos. O segundo envolve a manutenção da capacidade de transporte e a redução do fornecimento de sedimentos. A segunda situação é virtualmente esperada em sistemas fluviais compostos por reservatórios. Assim, logo a jusante do barramento do AHE Colíder, em razão da manutenção da capacidade de transporte e redução do suprimento de sedimentos, poderá ocorrer ao longo do rio Teles Pires, processos erosivos que alterarão a geometria fluvial mediante a instabilização das margens (erosão lateral) e o entalhamento do leito, ou seja, ajustes no perfil transversal e longitudinal (alteração do nível de base local). Evidentemente, a erodibilidade do leito e das margens deve ser considerada como fatores que potencializam ou que minimizam o risco de ocorrência ou ainda a intensidade dos processos de erosão marginal e entalhamento do talvegue. No rio Teles Pires, no trecho a jusante do AHE Colíder, a calha do rio encontra-se quase totalmente sobre rochas areníticas da Formação Dardanelos. Ao longo das margens há trechos compostos por sedimentos inconsolidados, os quais podem ser remobilizados em decorrência da redução do suprimento de sedimentos provocada pela formação do reservatório.

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No exterior e no Brasil, estudos recentes têm procurado avaliar a magnitude desses processos a jusante de reservatórios de usinas hidrelétricas (BRAND, 2007). No caso dos reservatórios brasileiros destaca-se o trabalho de Manyari (2007), que estudou modificações a jusante do reservatório da UHE Tucuruí, implantada no rio Tocantins. Todavia, o mesmo trabalho aponta que o período de vinte cheias fluviais não foi suficiente para uma completa mudança no padrão do canal. O processo de ajustamento (erosão) ocorre até que seja atingido uma nova relação de equilíbrio. No entanto, não há como precisar o período necessário para a completa estabilização, podendo ocorrer ao longo de décadas, cabendo para tanto o monitoramento dos processos de ajustamento da seção fluvial a jusante do barramento. 2. Recursos Hídricos Subterrâneos 2.01 Rebaixamento do lençol em decorrência das obras Todas as ações de obra que tenham necessidade de escavação provocarão afloramento de água subterrânea e conseqüente necessidade de bombeamento, o que resultará no rebaixamento do nível d'água. Devido à proximidade com a calha do rio, espera-se surgência de grandes quantidades de água durante as escavações obrigatórias. Como não existem poços de captação ou outras obras próximas à área de implantação do barramento do AHE Colíder, este impacto pode ser considerado não-significativo, uma vez que não interferirá no suprimento de água subterrânea para a população do entorno imediato. Ressalta-se, no entanto que devem ser adotadas medidas de contenção dos taludes escavados para evitar que a instabilização e conseqüente potencialização de impactos como o assoreamento e outros sobre os recursos hídricos superficiais. 2.02 Elevação do nível do lençol freático após a formação do reservatório A elevação do nível do lençol freático é um impacto decorrente da formação do reservatório e deve ser imediato devido às características dos terrenos que compõem a Área Diretamente Afetada (ADA) e a Área de Influência Direta (AID). Os setores da AID potencialmente afetados são aqueles situados ao longo das planícies fluviais alagadiças, as quais serão em parte submersas e afetadas pela elevação do lençol freático. Essa alteração pode propiciar a formação de áreas de solo mais úmido, numa faixa de largura variável na margem do reservatório.

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Nesta faixa, a maior disponibilidade de água pode favorecer, em longo prazo, a implantação de cobertura vegetal de maior porte, o que reproduziria, de certa forma as condições de zoneamento da vegetação condicionada pela disponibilidade da água, como ocorre atualmente ao longo das margens do rio Teles Pires e dos afluentes afetados pelo reservatório. Complementarmente, a elevação do lençol freático pode, especialmente em solos arenosos, desencadear processos de instabilização das margens mediante processos de fluxo subsuperficial de água. 3. Relevo e solos (terrenos) 3.01 Indução de processos erosivos durante as obras A potencial geração de processos erosivos durante as atividades de construção do AHE Colíder está associada ao conjunto de intervenções sobre os terrenos da ADA. Tais intervenções englobam um amplo conjunto de ações de potencial impactante vinculadas aos serviços de abertura de caminhos de serviço e melhoramento dos existentes, supressão de vegetação, terraplenagem da área de implantação do canteiro de obras, habilitação e utilização de áreas de apoio (áreas de empréstimo, estoques, jazidas e bota-foras) e às escavações obrigatórias. As ações de potencial impactante serão executadas ao longo de toda a fase de construção, englobando desde os serviços iniciais para implantação do canteiro de obras até o desmatamento da área de inundação e recuperação das áreas degradadas, perfazendo, conforme o cronograma de obras, um período aproximado de 40 meses. O desmatamento da área de inundação totaliza 121 km2, o melhoramento dos existentes soma mais de 20 quilômetros e as escavações obrigatórias devem alcançar 1.104.000 m3. Em conjunto, tais aspectos ilustram o porte das intervenções previstas para a implantação do AHE Colíder. Os serviços construtivos serão executados nos três tipos de terrenos identificados na Área de Influência Direta, caso dos Morrotes dissecados, dos Colinosos areno-argilosos e das Planícies fluviais. Embora devidamente caracterizados no Diagnóstico da Área de Influência Direta e da Área Diretamente Afetada, alguns dos atributos desses terrenos são relacionados na Tabela 3.01.a.

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Tabela 3.01.a Principais intervenções e atributos dos terrenos identificados na ADA e na AID do AHE Colíder Terrenos Principais intervenções

previstas Dinâmica superficial Restrições

Morrotes dissecados

Abertura de caminhos e acessos; Terraplenagem para implantação do canteiro de obras; Escavações obrigatórias; Escavações subterrâneas para desvio do rio; Supressão de vegetação para implantação de áreas de apoio e limpeza da área de inundação;

Erosão em sulco, reentalhe de drenagem, rastejo generalizado e de média intensidade. Movimentos de massa do tipo: escorregamento planar e queda de blocos são ocasionais e de média intensidade.

Susceptibilidade a erosão laminar, em sulcos, rastejo e a movimentos de massa quando da remoção d cobertura vegetal natural. Solos rasos, com baixa fertilidade, problemas de toxidez por alumínio, baixa capacidade de retenção de umidade, e susceptibilidade a compactação superficial, a erosão hídrica e a movimentos de massa. Declividades altas, solos rasos e afloramentos rochosos.

Colinosos areno-

argilosos

Abertura de caminhos e acessos; Habilitação e exploração de jazidas e materiais naturais de construção; Implantação de bota-foras; Supressão de vegetação para implantação de áreas de apoio e limpeza da área de inundação;

Erosão laminar e em sulcos, assoreamento de canais fluviais e nascentes são freqüentes e de média a alta intensidade. Rastejo localizado e de baixa intensidade.

Susceptibilidade a compactação, a erosão laminar, em sulcos quando da remoção do solo superficial devido à aração, a obras de terraplenagem ou a obras de drenagem que provocam a concentração do escoamento superficial e assoreamento de talvegues. Deficiência de nutrientes, baixa fertilidade do solo e gradiente textural pode provocar degradação das pastagens e aumento de erosão. Apresentam restrições para a mecanização extensiva devido a densidade de drenagem e a presença freqüente de afloramentos rochosos.

Planícies fluviais

Abertura de caminhos e acessos; Habilitação e exploração de jazidas e materiais naturais de construção; Supressão de vegetação para implantação de áreas de apoio e limpeza da área de inundação;

Inundações periódicas nas planícies e nos alagadiços, deposição de finos e matéria orgânica por decantação durante as cheias. Solapamento e escorregamentos são localizados e de baixa intensidade nas margens da planície e dos baixos terraços. No período de estiagem as margens da planície são estáveis. Nos terraços baixos e terraços a erosão laminar e em sulcos são processos localizados e de baixa intensidade.

Enchentes anuais, alagadiços e solos moles, erosão lateral e vertical do canal e das margens, deposição de finos durante as enchentes, Estabilidade precária das paredes de escavação, recalque de fundações. Freático elevado e Vulnerabilidade do aqüífero a contaminação; Áreas favoráveis ao assoreamento Solos com fertilidade geralmente baixa.

Os Morrotes dissecados, dada a condição morfométrica e a constituição dos materiais, são considerados os terrenos mais frágeis sob o aspecto da indução aos processos de dinâmica superficial, sobretudo mediante processos de erosão acelerada (em sulcos), mas também de movimentos de massa e erosão laminar, que podem ocorrer de forma intensiva caso não devidamente prevenidos e controlados. Assim, nesses terrenos, a remoção da cobertura vegetal e exposição dos horizontes mais erodíveis dos solos à ação das águas pluviais, podem provocar aumento na intensidade e na freqüência de ocorrência de processos de dinâmica superficial, os quais podem resultar em impactos sobre os recursos hídricos superficiais e sobre a biota aquática. Nessa perspectiva, o impacto 1.01, é em parte, um resultado claro do impacto de indução de processos erosivos nas áreas de intervenção.

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Trata-se em todo caso de impacto que se encerra imediatamente após o término das obras. 3.02 Alteração do risco de contaminação do solo durante as obras O risco de contaminação do solo durante a fase construtiva está associado a operação das instalações do canteiro de obras e da movimentação e utilização de máquinas e veículos. Eventuais acidentes e vazamentos podem resultar na contaminação do solo. Os fatores que potencializam os riscos de contaminação dos solos são os mesmos indicados na avaliação do impacto sobre as alterações na qualidade das águas superficiais durante as obras (Impacto 1.01), englobando desse modo o transporte, o armazenamento e a manipulação de produtos perigosos (combustíveis, lubrificantes, tintas, vernizes e solventes) utilizados nas obras. Como registrado na avaliação do Impacto 1.01, exceto os combustíveis e lubrificantes, os demais produtos considerados perigosos serão utilizados em pequenas quantidades, com manipulação e armazenamento restrito à área do canteiro de obras. Todos os fatores ou atividades que implicam no risco de contaminação do solo e dos recursos hídricos serão objeto de medidas de gerenciamento previstas para o canteiro de obras, cabendo destacar que obrigatoriamente, todas as áreas de armazenamento e manipulação de lubrificantes, combustíveis e outros produtos, serão pavimentadas, devendo ainda contar com dispositivos de contenção de eventuais vazamentos. 3.03 Instabilização de margens e indução de processos erosivos no reservatório durante a operação A implantação do reservatório pode provocar erosão e movimentos de massa nas encostas situadas nas suas margens, sobretudo nos setores dos terrenos que configurarão margens abruptas ou de declividade acentuada. Esse impacto potencial poderá ocorrer no contanto do reservatório com margens formadas por terrenos de Morrotes dissecados. Conforme ilustrado na Figura 12.4.1.a, relativa ao mapeamento dos impactos potenciais do Meio Físico, os processos dessa natureza ocorrerão principalmente ao longo da margem direita do futuro reservatório, onde setores nas margens são caracterizados por terrenos de Morrotes dissecados. Em outros setores de margens do reservatório projetado, os terrenos são mais suavizados, não devendo compor margens abruptas ou íngremes. Assim, é possível que ocorra erosão nas margens e movimentos de massa condicionados pelo embate de ondas do espelho do reservatório do AHE Colíder, ondas estas causadas por ventos, sobretudo nos setores mais largos do espelho d’água.

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De modo geral, o reservatório e seus braços são relativamente estreitos, com larguras mais significativas (aproximadamente 2500 metros) na região próxima ao barramento. Nos demais setores o espelho d’água será bem mais estreito. A área total do reservatório no nível máximo normal (NA 220 m) será de 137 km2. Além das dimensões e configuração do reservatório, o fato de não haver deplecionamento também merece ser ressaltado, o que torna o impacto menos expressivo quando comparado a um reservatório de acumulação. A manutenção da cobertura vegetal nas margens é outro fator que deve minimizar os riscos ou mesmo a intensidade dos processos associados ao impacto potencial em pauta. Todavia, os setores das margens do reservatório atualmente desprovidos de cobertura vegetal nativa, ocupados atualmente por pastagens, mas com relevos de Morrotes dissecados, podem se configurar como os setores mais susceptíveis ao impacto. Nesse aspecto, as medidas de recuperação vegetal das margens previstas no Programa de Gestão Ambiental e Sócio-patrimonial do Reservatório são estratégicas para a efetiva proteção das margens e prevenção de processos de instabilização dos terrenos. Complementarmente, deve-se considerar os processos de instabilidade associados a flutuação do lençol freático nos terrenos marginais, gerando processos de erosão sub-superficial (pipping). No caso específico do reservatório do AHE Colíder, dada a constituição dos terrenos, pode-se afirmar que é baixa a probabilidade de ocorrência de processos dessa natureza. A Figura 12.4.1.a ilustra a localização dos pontos propensos à instabilização. Estes pontos devem ser alvo de monitoramento no âmbito do Programa de Monitoramento de Processos Erosivos no reservatório e entorno. 3.04 Criação de áreas úmidas permanentes Após a formação do reservatório espera-se a criação de áreas úmidas, diferentes das antigas planícies aluviais existentes na calha do rio Teles Pires e de afluentes como o rio Renato. Nestas áreas se formará um novo habitat em que se desenvolverão processos sucessionais e de colonização. Estas áreas úmidas serão formadas por dois componentes: • áreas alagadas rasas, com lâmina d’água de profundidade igual ou inferior a 1 metro; • áreas externas ao reservatório, com solo saturado de água pela proximidade a lâmina

d’água; A formação das áreas rasas ocorrerá em decorrência da topografia dos limites do reservatório próximo às margens. As áreas de solo saturado serão formadas pela elevação no nível d’água nas margens do reservatório, numa faixa com largura variável em função da topografia e não superior a 20 metros, que se estende por todo o perímetro do reservatório.

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Nestas áreas úmidas formadas pelo conjunto das áreas rasas e das áreas saturadas, espera-se, inicialmente a instalação de um hábitat brejoso. Espera-se ainda que, com a estabilização dos processos de sucessão, seja estabelecido um habitat que permita a manutenção de áreas de procriação e alimentação para a ictiofauna e para a herpetofauna, especialmente de anfíbios e também a reimplantação de espécies da flora características das úmidas que caracterizam os setores próximos dos corpos d’água. 3.05 Ocorrência de sismos induzidos Objetivando subsidiar a avaliação do potencial de ocorrência de sismicidade induzida pelo reservatório (SIR) do AHE Colíder, foram levantados os registros de sismos naturais na bacia do rio Teles Pires. A sismicidade induzida pela formação de grandes reservatórios de água decorre de eventuais alterações nos esforços crustais decorrentes do peso da massa d’água e de complexos processos de alteração nas pressões de poros e fraturas das rochas subjacentes aos reservatórios. Os dados do Observatório Sismológico da Universidade de Brasília (UnB) indicam a ocorrência de 963 eventos sísmicos entre 1744 e 2005. Desse total, 943 eventos foram registrados na região do município de Porto dos Gaúchos, que concentra grande parte dos sismos registrados no norte do Mato Grosso. Os demais 20 eventos foram registrados em outras áreas. A área que concentra os sismos na região de Porto dos Gaúchos está situada fora da bacia do rio Teles, a uma distância de aproximadamente 200 quilômetros do AHE Colíder. Embora numerosos nessa região de Porto dos Gaúchos, de modo geral, a magnitude dos eventos registrados é considerada baixa. Tanto a distância em relação ao empreendimento como a baixa magnitude dos eventos são atenuantes que devem ser considerados na avaliação da potencial indução de sismos após a formação do reservatório do AHE Colíder. De qualquer forma, a ocorrência de abalos sísmicos induzidos pela formação do reservatório do AHE Colíder não deve ser descartada, o que configura o impacto de ocorrência de sismos como um impacto potencial. Deve-se ainda considerar a perspectiva de implantação de outros aproveitamentos na bacia do rio Teles Pires. Em relação ao AHE Colíder o aproveitamento mais próximo previsto é o AHE Sinop, o que de certa forma amplia o potencial de ocorrência do impacto na hipótese de proximidades temporal na formação dos reservatórios. Como medida preventiva recomenda-se um acompanhamento das atividades sísmicas nas proximidades do futuro reservatório, por meio do Programa de Monitoramento da Atividade Sísmica.

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4. Clima e qualidade do ar 4.01 Alteração na qualidade do ar durante as obras A qualidade do ar na área das obras da AHE Colíder poderá ser alterada em decorrência de dois fatores:

• aumento de material particulado (poeira) em suspensão • aumento de emissões decorrentes da queima de combustíveis fósseis (gasolina e óleo

diesel)

A suspensão de material particulado (poeira) é uma decorrência de todas as atividades que exijam movimentação de terra, circulação de veículos por estradas não pavimentadas, limpeza do terreno, terraplenagem das áreas de apoio e implantação das vias de acesso. Trata-se, porém, de impacto temporário e de curta duração, que deverá ocorrer somente durante a execução destas atividades, e principalmente nos períodos de seca (maio a setembro). Em qualquer caso, trata-se de alteração pontual que não deverá se estender significativamente além dos limites das obras. Nas proximidades do canteiro de obras e do alojamento, o excesso de poeira será controlado por meio da umectação periódica do solo exposto durante a execução das obras. Ao longo da estrada que liga os acessos ao empreendimento à sede urbana de Colíder, em razão do incremento do tráfego de veículos, poderá ocorrer aumento da ressuspensão de poeira, causando incomodo aos usuários desta estrada não pavimentada. As emissões decorrentes da queima de combustíveis fósseis (gasolina e óleo diesel) decorrem da utilização de veículos e equipamentos (geradores, tratores, retro-escavadeiras, bate-estacas etc) nos canteiros de obras e no transporte de materiais ao longo dos eixos viários que atendem ao empreendimento. A combustão de derivados de hidrocarbonetos gera emissões de óxidos de enxofre e nitrogênio e dióxido e monóxido de carbono que poderão alterar de maneira muito pontual a qualidade do ar na área das obras. Esta alteração ocorrerá de maneira descontínua e apenas durante o período de operação dos equipamentos e veículos, ou seja, sua abrangência e duração são desprezíveis em virtude das boas condições originais da qualidade do ar, que favorecem a dispersão das emissões. Além disso, os programas de manutenção preventiva da frota garantirão que a emissões se mantenham dentro dos padrões permitidos pela legislação. 4.02 Alterações no clima local Modificações na cobertura da superfície provocam alterações nas taxas de transferência de umidade, calor e nas condições de circulação do ar. Dependendo da abrangência espacial e da intensidade temporal, tais modificações podem resultar em mudanças nos regimes térmico, pluviométrico e nos padrões de umidade na região afetada.

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Nessa perspectiva, a formação de um reservatório artificial de água em substituição às áreas antes ocupadas por cobertura vegetal, pode provocar alterações locais nas taxas de transferência de umidade, calor e nos ventos. Em relação aos ventos, durante o dia, é possível que ocorra um aquecimento diferenciado entre a massa d’água correspondente ao reservatório e as áreas marginais, compostas por distintos tipos de cobertura, seja ela por vegetação natural de diferentes portes, áreas agropastoris cobertas ou de solos expostos. Nessa condição, há aquecimento rápido da superfície dos terrenos, enquanto a temperatura da superfície da água pouco se altera em função do alto calor específico. Trata-se de uma situação em que se verifica um gradiente horizontal térmico da temperatura do ar. O ar aquecido dos terrenos das margens tende a ascender, enquanto o ar mais frio sobre o reservatório tende a se deslocar horizontalmente para as áreas marginais. Durante a noite, em razão da perda lenta do calor da água do reservatório e da rápida perda de calor dos terrenos, ocorre o processo inverso, ou seja, ascensão do ar lentamente aquecido sobre o espelho d’água e movimento horizontal do ar frio dos terrenos para a zona central do reservatório. Ambas as situações ora sucintamente descritas configuram células de circulação, nas quais as brisas alternam a direção entre o dia e a noite. Também em associação ao maior valor de calor específico da água e às brisas descritas anteriormente, é possível que haja também uma maior homegenização da temperatura entre o reservatório e os terrenos próximos, o que resulta na diminuição da amplitude térmica diária, uma vez que a noite a água encontra-se ainda perdendo calor. Em síntese, durante a noite, as áreas próximas ao reservatório passarão a apresentar temperaturas um pouco mais elevadas que na condição anterior. Por outro lado, a criação de uma massa d’água com mais de 160 km2 tende a proporcionar a evaporação e o conseqüente aumento da umidade do ar nas áreas próximas ao reservatório, atenuando os efeitos da queda das taxas de umidade do ar durante a estação seca. As áreas das margens afetadas por tais processos podem variar entre centenas de metros a alguns quilômetros, o que configura alterações de escala local ou mesoclimáticas. Não são esperados efeitos sobre o regime de precipitação. O processo de evaporação e ascendência do ar aquecido do reservatório não deve ocorrer em intensidade suficiente para formar nebulosidade e precipitação. Todas as modificações potenciais ora registradas vêm sendo objeto de discussões e questionamentos em diversas situações. Embora não haja confirmação através de estudos científicos e de monitoramento de longo prazo, há vários casos no Brasil, em que os reservatórios de água para geração de energia elétrica têm sido responsabilizados por supostas mudanças nos regimes pluviométricos e térmicos de regiões e cidades lindeiras ou mesmo situadas até a dezenas de quilômetros de distância. As eventuais mudanças serão monitoradas pelo Programa de Monitoramento Climatológico.

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5. Patrimônio paleontológico As ações que são implicadoras de interferências com as ocorrências fossilíferas envolvem os serviços de escavação e terraplenagem na área de implantação do barramento, do canteiro de obras, das áreas de apoio e a própria formação do reservatório. Conforme caracterizado no diagnóstico ambiental, os terrenos afetados diretamente pelas obras e pela formação do reservatório se restringem a terrenos sustentados principalmente pelos arenitos mesoproterozóicos da Formação Dardanelos, a qual não apresenta possibilidade de preservação de material fóssil. Nesta condição, não são previstos impactos potenciais sobre o componente “Patrimônio Paleontológico”. 12.4.2 Meio Biótico 6. Cobertura Vegetal Com a implantação do AHE Colíder a cobertura vegetal será impactada direta e indiretamente. Os impactos diretos estão relacionados com a redução da cobertura vegetal em função da necessidade de liberação das áreas para a implantação do AHE Colíder (áreas a serem alagadas) e de toda a infra-estrutura de apoio necessária, ou seja, trata-se da supressão de vegetação propriamente dita. Em ordem de importância e magnitude, os principais locais em que ocorrerá este tipo de impacto serão a área do futuro reservatório, do barramento e do canteiro de obras. Os impactos indiretos estão relacionados com as conseqüências da supressão de vegetação e do enchimento do reservatório sobre a vegetação remanescente. A redução da cobertura vegetal irá ocasionar a criação de fragmentos florestais isolados ou mesmo a intensificação de um isolamento já existente. Também poderão ocorrer situações em que haverá a redução de conectividade entre grandes manchas de vegetação, tanto em virtude da supressão de vegetação como pelo distanciamento entre remanescentes florestais ocasionado pelo enchimento do reservatório. O enchimento do reservatório também provocará a elevação do lençol freático em pontos específicos, o que poderá ocasionar alterações nas florestas remanescentes adjacentes. Os principais impactos identificados são descritos a seguir e representados na Figura 12.4.2.a, referente à espacialização dos impactos do Meio Biótico.

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6.01 Redução da cobertura vegetal A supressão de vegetação na Área Diretamente Afetada – ADA - do AHE Colíder constitui uma das principais ações de potencial impactante da fase construtiva e que resultará na redução da cobertura vegetal nativa remanescente, bem como na perda de germoplasma e de habitats para a fauna. Conforme indicado na Figura 12.4.2.a, as áreas de supressão de vegetação englobam principalmente os setores da ADA nos quais é prevista a implantação do reservatório. Secundariamente, são previstos impactos decorrentes da abertura ou do melhoramento dos acessos e de eixos de circulação interna. Nesses últimos casos, os impactos são de pequena intensidade, pois se vinculam à eventual necessidade de melhorias geométricas e alargamentos de vias e caminhos existentes. As intervenções necessárias ao melhoramento ou alargamento de caminhos e estradas existentes, os quais serão utilizados como caminhos de serviço, demandarão a supressão de vegetação que normalmente constitui-se de espécies características de áreas já perturbadas. Após a implantação do empreendimento, a vegetação em muitos dos setores afetados deverá regenerar naturalmente, visto que toda supressão de vegetação resulta, num primeiro momento, na instalação de espécies pioneiras, altamente competitivas e que tendem a ocupar imediatamente os espaços deixados pela vegetação removida. Em geral, salvo em casos específicos de compactação e alterações no solo, tendo em vista que a fonte de propágulos está muito próxima, não haverá necessidade de intervenções de recuperação destas áreas ou, pelo menos, em parte delas. Há, no entanto, setores em que a cobertura vegetal será suprimida para abertura de novos acessos ou caminhos de serviço. Muitos dos novos trechos previstos para circulação encontram-se dentro da área prevista para inundação. Também situadas no interior da área de inundação estão os dois bota-foras e as jazidas de solos argilosos previstas, o que de fato minimiza a necessidade de desmatamento para exploração de materiais naturais de construção e para o destino dos materiais excedentes ou inservíveis. Especificamente em relação à cobertura vegetal que será suprimida na área de inundação é oportuno considerar que, a supressão integral dos remanescentes existentes até a cota 268,5 metros (NA Máximo Normal) objetiva evitar impactos sobre a qualidade da água e sobre a biota aquática, uma vez a decomposição de matéria vegetal submersa resulta na formação de ácidos e na emissão de gases de efeito estufa como CO2, CH4 e N2O. Complementarmente, a presença de troncos pode dificultar ou impossibilitar a navegação, comprometendo o uso futuro do reservatório.

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Cumpre ainda ressaltar que as formações vegetais originais ou secundárias ocupam atualmente 116,7 km2 ou 84,4% da área de inundação. Os demais 22 km2 são ocupados principalmente por pastagens. Nestas últimas áreas, o impacto sobre a cobertura vegetal estará limitado à supressão de pequenas manchas de capoeiras de vegetação secundária existentes predominantemente nos locais sem manutenção das pastagens ou no entorno de cursos d’água, além dos vários indivíduos arbóreos nativos isolados, como principalmente tucumã (Astrocaryum aculeatum), babaçu (Orbignya phalerata), inajá (Maximiliana maripa), palmeira-bacaba (Oenocarpus sp) e castanheira (Bertholletia excelsa). Embora a implantação do empreendimento implique na supressão de vegetação na Área Diretamente Afetada pelo empreendimento, com a conseqüente redução da cobertura vegetal local, deve-se salientar que não ocorrerá redução da diversidade de espécies vegetais, mas sim a redução de espécimes da flora local, visto que as formações e ambientes afetados não são únicos na região em que o empreendimento é proposto. A Tabela 6.01.a apresenta a quantificação da vegetação a ser suprimida para a implantação do empreendimento (barramento, reservatório e áreas de apoio), considerando cada tipo de formação vegetal nativa ou antropizada existente na área de intervenção do AHE Colíder, conforme descrito na caracterização da cobertura vegetal da AID. Tabela 6.01.a Área de supressão de vegetação na Área Diretamente Afetada pelo AHE Colíder

Área de supressão

Fitofisionomias (em km2) (em ha)

Porcentagem em relação às

formações afetadas

Porcentagem em relação às formações

existentes na AID

Formações Florestais Submontanas 70,66 49,24 49,2 13,7 Formações Florestais Aluviais 46,11 32,13 32,1 54,8 Vegetação Secundária 3,03 2,11 2,1 15,8 Formações Pioneiras 0,52 0,36 0,4 15,1 Flormações Florestais Semideciduais 0,61 0,43 0,4 4,3 Formações Savânicas 0,16 0,11 0,1 5,3 Área em desmatamento 0,10 0,07 0,1 4,7

Reservatório

Área Antropizada 22,31 15,55 15,5 13,3 TOTAL 143,5 100 100,0 -

Conforme apontado na Tabela 6.01.a 143,5 km2 serão afetados na ADA. A vegetação nativa de diferentes fisionomias e níveis de conservação e regeneração totaliza 121 km2. Ao todo, são 70,66 km2 de formações florestais submontanas; 46,11 km2 de formações florestais aluviais; 0,52 km2 de formações pioneiras e 3,03 km2 de formações secundárias. As áreas correspondentes a agrupamentos de árvores isoladas e pequenas manchas de vegetação em regeneração em áreas de pastagem não constam na tabela. Deve-se considerar ainda a área de implantação do canteiro de obras com 1.03 km2, dos quais 0,47 km2 são ocupados por vegetação nativa.

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AHE Colíder – 300 MW 122 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - Volume IV

Na área de inundação, todas as formações florestais situadas abaixo do NA Máximo Normal (cota 268,5 metros) serão suprimidas. Conforme indicado Mapa de Impactos Ambientais do Meio Biótico (Figura 12.4.2.a), a supressão de formações florestais será mais intensa no setor do reservatório à jusante da ilha Rasa, onde a área de alagamento é espacialmente mais ampla e significativa. No trecho compreendido entre a ilha Rasa e a ilha Rose, a área de inundação do reservatório é bem mais estreita que o trecho citado anteriormente, porém não deixará de haver interferência nas Formações Florestais Submontanas e Formações Florestais Aluviais, as quais se equiparam em área afetada. À montante da ilha Rose, onde ocorre um relevo mais suave, com predomínio de planícies de inundação e depósitos aluviais associados ao regime de cheias do rio Teles Pires e seus afluentes, a área de inundação será bastante restrita a uma estreita faixa nas margens do rio Teles Pires. Assim, a supressão de vegetação incidirá principalmente sobre as Formações Florestais Aluviais. As áreas afetadas são significativamente menos expressivas na comparação com os outros dois trechos à jusante. De modo geral, as áreas afetadas pela formação do reservatório são aquelas posicionadas nas planícies de inundação e nos fundos de vale. As Formações Florestais Submontanas, por estarem distribuídas nos terrenos topograficamente mais altos, possuem menor inclusão na cota de inundação do NA 268,5 metros. A supressão destas formações na área de inundação totalizará 70,66 km2 (menos de 20% das formações submontanas na AID). Já em relação às Formações Florestais Aluviais, que ocorrem associadas às planícies de inundação, a supressão prevista é de 46 km2 na área de inundação e correspondem a 54,8% das Florestas Aluviais presentes na AID. A Floresta Estacional Semidecidual e a Savana Arborizada, por estarem associadas a um relevo mais alto e a uma cota elevada do terreno, quase sempre distantes da área de inundação, serão afetadas em proporção menor. As Formações Secundárias associadas às áreas com alguma atividade ou alteração antrópica, dentro da cota de inundação também serão impactadas pela supressão de vegetação em menos 3,0 km2. Apesar de estas formações serem altamente antropizadas ou alteradas, em algumas situações os fragmentos existentes podem funcionar como meio de ligação (fluxo gênico) entre fragmentos florestais, justamente por ser o único resquício de vegetação florestal no entorno de muitos cursos d’água existentes nas pastagens. Em virtude de estarem em cotas inferiores ao NA Máximo Normal de 268,5 metros, as ilhas fluviais existentes no rio Teles Pires, neste segmento afetado pela formação do reservatório do AHE Colíder, serão totalmente inundadas, de forma que toda a cobertura vegetal existente nas mesmas será suprimida. Todas as áreas que sofrerão o impacto direto da supressão de vegetação encontram-se indicadas no Mapa de Impactos no Meio Biótico (Figura 12.4.2.a).

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6.02 Ampliação do grau de fragmentação dos remanescentes e dos efeitos de borda e redução da conectividade entre remanescentes florestais A supressão de vegetação para liberação da área do futuro reservatório e barramento do AHE Colíder irá ocasionar impactos indiretos sobre a cobertura vegetal com o isolamento de áreas florestadas, intensificando o processo de fragmentação florestal que toda região vem sofrendo em virtude da ocupação agrosilvopastoril nas últimas décadas. Serão criados ou ampliados fragmentos florestais de diversos tamanhos e variados graus de isolamento em relação à distância com os maiores remanescentes florestais e grandes contínuos de matas. A fragmentação florestal em virtude da implantação do empreendimento será resultante principalmente da formação do reservatório. É prevista também a intensificação de processos inerentes à esse fenômeno e ao aumento do isolamento dos fragmentos florestais já existentes. Esta situação ocorrerá nas situações em que fragmentos florestais serão reduzidos ou ficarão mais distantes dos maiores remanescentes e contínuos de matas. O Mapa de Impactos do Meio Biótico (Figura 12.4.2.a) indica que a fragmentação florestal criada ou intensificada com o enchimento do reservatório será mais forte na margem esquerda do rio Teles Pires. Isto ocorre em virtude de que nesta margem a antropização é maior que na margem direita, aliada ao fato de que a conecção atual dos futuros fragmentos florestais se dá especialmente nas zonas ciliares do rio Teles Pires e seus afluentes, como o córrego Tristão e o ribeirão dos Catetos, as quais serão inundadas pelo futuro reservatório, reduzindo ou mesmo eliminando sua conectividade. A formação do reservatório e particularmente dos braços a serem criados nestes principais afluentes isolará os fragmentos florestais existentes nesse setor da Área de Influência Direta. Na margem direita do rio Teles Pires, a formação de fragmentos florestais estará limitada ao trecho próximo do futuro remanso do reservatório, à montante da foz do rio Renato. No entanto, há diversos setores em que a conectividade existente será reduzida pela formação de pequenos braços de reservatório. A previsão de um processo de fragmentação florestal menor, nesta margem do rio Teles Pires se dá pela baixa antropização e pela ainda expressiva cobertura florestal, evitando que seja criada uma situação em que a única ligação entre os remanescentes florestais seja pelas faixas ciliares dos cursos d’água a serem inundadas. No caso dos dois grandes fragmentos florestais a serem criados nas proximidades do futuro remanso, o isolamento está ocorrendo pela inundação da estreita faixa ciliar que antes os conectava a outros remanescentes e também pela presença da rodovia BR-163, que contribui com este isolamento. Vale ser ressaltado que o próprio enchimento do reservatório aumentará a distância entre remanescentes, contribuindo com a redução do grau de conectividade entre as manchas de vegetação nativa existentes em ambas as margens do rio Teles Pires e seus afluentes, configurando uma importante barreira física. Em síntese, com a formação do reservatório, a conexão entre os fragmentos florestais existentes na AID e no seu entorno será reduzida. Em longo prazo, o isolamento ou insularização destes fragmentos, outrora ligados pelas formações ciliares ao longo do rio

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Teles Pires e tributários, poderá resultar em efeitos secundários de alteração da composição florística e redução da diversidade nas formações remanescentes. De acordo com Forman & Godron (1986), insularização é a distribuição de um determinado hábitat na matriz dominante, em manchas menores e menos contínuas. O fundamento teórico sobre fragmentação florestal indica que o aumento da distância entre os fragmentos, considerando uma matriz desfavorável ao deslocamento, pode dificultar o transporte de pólen ou de sementes em decorrência das especificidades de alguns polinizadores ou dispersores que podem não ser aptos a atravessar as distâncias maiores através de áreas de vegetação mais aberta. A redução na disponibilidade de polinizadores ou dispersores pode dificultar a reprodução de algumas espécies cujas populações tendem a diminuir, em decorrência dos fatores já comentados. Espécies com populações pequenas num dado fragmento compartilham o mesmo pool gênico em toda a população e, portanto, não podem reproduzir-se entre si. Estas espécies dependem das populações localizadas nos fragmentos vizinhos para que possam trocar genes e reproduzir-se. Para que isto ocorra são necessários polinizadores capazes de cruzar longas distâncias, ou então áreas de vegetação intermediárias que facilitem o trajeto entre as populações. Segundo este modelo teórico, as espécies que dependem de polinizadores de longa distância, e aquelas polinizadas por vento não seriam afetadas, porém as espécies cujos polinizadores têm baixa autonomia de deslocamento podem ficar isoladas, uma vez que a conexão entre remanescentes será dificultada em comparação com a situação anterior ao enchimento. Outro fator que determina o sucesso da manutenção de uma população é a disponibilidade de dispersores. O mesmo raciocínio aplicado para os polinizadores se aplica aos dispersores. Espécies cujas populações são pequenas em um determinado fragmento usualmente dependem de dispersores de longa distância para o sucesso da germinação de suas sementes. Os animais frugívoros dispersores que não conseguirem acessar os fragmentos isolados, tenderão a defecar ou regurgitar as sementes no próprio fragmento em que os frutos foram coletados, ou eventualmente nas áreas antropizadas fora do fragmento. A viabilidade de germinação das sementes e da sobrevida das plântulas fora do fragmento florestal dependerá da biologia de cada espécie. Terão maior probabilidade de sucesso as espécies pioneiras e de estágio inicial de sucessão, com baixa exigência em termos de umidade e insolação. A aplicação dos efeitos relatados na AID da AHE Colíder deve ser tratada com cautela, pois estes refletem apenas a possibilidade de sua ocorrência. A efetiva ocorrência na AID do AHE Colíder e seu entorno só poderá ser constatada através de estudos de longo prazo e de ações de monitoramento da diversidade florística nas áreas remanescentes. Apesar deste impacto da criação ou intensificação do processo de fragmentação florestal e da redução de conectividade entre grandes manchas de vegetação ser inevitável na implantação do empreendimento em foco, o mesmo poderá ser mitigado e ter seus efeitos reduzidos com a criação de corredores de vegetação entre remanescentes, a serem implantados através de plantios de espécies nativas ou mesmo com o manejo da regeneração secundária da vegetação nativa.

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AHE Colíder – 300 MW 125 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - Volume IV

Alguns remanescentes florestais serão parcialmente suprimidos para implantação do futuro reservatório, do barramento e da infra-estrutura de apoio às obras. Esses fragmentos permanecerão no entorno do futuro reservatório gerando novas configurações, com a conseqüente exposição de porções maiores ou novas (bordas) de mata antes localizadas e protegidas em seu interior. Os acessos que serão alargados deverão produzir alterações que podem resultar numa série de efeitos secundários ou indiretos nos fragmentos. Dentre os efeitos indiretos da fragmentação florestal e criação de uma nova borda nas matas atingidas pela supressão de vegetação, destacam-se as alterações microclimáticas. Elas são decorrentes do aumento da insolação e incidência de ventos, o que resulta no aumento da temperatura, luminosidade e diminuição da umidade relativa do ar. Estas alterações implicam em um novo equilíbrio da estrutura da floresta em sua nova borda criada. Não necessariamente implica na substituição das espécies existentes, tendendo a estabilizar-se no sentido do interior da mata. Espera-se que nas bordas dos fragmentos ocorra a proliferação de espécies pioneiras heliófitas e escandentes, nativas da região e adaptadas às condições de alta insolação, temperatura e umidade inferior ao interior da mata. Assim, haverá a formação de uma faixa de vegetação diferenciada, que pode alterar a estrutura da vegetação remanescente. Este impacto é inevitável e ocorrerá em todas as matas que forem parcialmente suprimidas e criadas novas bordas. Sua duração dependerá da estabilização que as próprias espécies pioneiras favorecidas propiciarão na produção de um efeito tampão nas novas bordas das matas. É possível que haja colonização destas novas bordas das matas por espécies exóticas, invasoras e ruderais, estranhas aos ecossistemas nativos da região e com potencial competitivo diferenciado, como os capins forrageiros das pastagens. Este tipo de impacto é potencial e sua magnitude varia de acordo com a existência de fontes próximas de propágulos destas espécies. O Programa de Monitoramento de Flora atuará no acompanhamento destas novas áreas de borda e indicará as necessidades de adoção de manejo quando necessário para estabilização, caso estes efeitos dêem indicativos que estão se estendendo em direção ao centro da mata. 6.03 Alteração da estrutura da vegetação florestal em decorrência da elevação do lençol freático O enchimento do reservatório do AHE Colíder provocará a elevação do lençol freático no seu entorno em diferentes intensidades. Nos terrenos mais declivosos, a elevação do lençol freático resultará em alterações mínimas no nível de saturação por água dos solos. No entanto, em pontos geomorfologicamente específicos, nos terrenos mais planos e com solos formados, onde serão formados remansos do reservatório, o solo tenderá a ficar saturado de água, com a criação de áreas permanentemente úmidas ou mesmo encharcadas em faixas com largura e extensão variáveis. A saturação permanente dos solos por água poderá ocasionar alterações nos setores com florestas remanescentes que permanecerão no entorno do reservatório.

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O principal fator que determina a presença das formações aluviais, florestais ou não, é a disponibilidade de água, principalmente devido à profundidade do lençol freático, que influencia a composição florística, a estrutura e a fisionomia desta vegetação. Estas formações são compostas por comunidades de plantas que suportam diferentes níveis de alagamento. Formações Pioneiras não florestais, adaptadas a solos saturados ou com lençol freático próximo à superfície, ocorrem na vizinhança imediata dos corpos d’água ou nas áreas deprimidas. Já nas áreas sujeitas a alagamento, apenas em determinadas épocas do ano e com alta umidade (como nos terraços aluviais ou planícies de inundação os rios), ocorrem as Formações Florestais Aluviais, até o limite com as áreas mais altas e dificilmente inundadas ou não sujeitas ao alagamento. Nestas últimas regiões se desenvolvem as Formações Florestais Submontanas. Desta forma, tem-se um zoneamento na vegetação ciliar conforme o distanciamento dos corpos d’água e o nível do lençol freático, o qual responde com comunidades de espécies diferentemente adaptadas aos diferentes níveis de saturação do solo. O padrão observado indica uma sucessão de tipos fitofisionômicos em que áreas mais sujeitas ao alagamento são cobertas por vegetação herbácea, seguida de vegetação arbustiva e, posteriormente, por vegetação arbustivo-arbórea e floresta, conforme se diminui o nível de saturação do solo. Quando o nível de profundidade do lençol freático é alterado, como poderá ocorrer em função do alagamento provocado pelo reservatório do AHE Colíder, mudanças nas condições de disponibilidade de água e de saturação do solo poderão levar a alterações na composição florística e na estrutura da vegetação remanescente nas áreas imediatamente vizinhas ao reservatório. Estes impactos são inevitáveis e de caráter permanente. Na vegetação florestal situada nestas áreas, todos os componentes serão afetados, desde os estratos inferiores até os superiores e, apenas plantas dotadas de adaptações específicas para as novas situações ambientais é que têm chances de sobrevivência. Em curto prazo, provavelmente haverá mortalidade significativa de espécies não adaptadas às novas condições estabelecidas. Em médio e longo prazo, é provável que haja substituição da vegetação original por um novo tipo de formação adaptada às novas condições ambientais. As Formações Florestais Submontanas estarão mais susceptíveis a este impacto, visto que as mesmas são constituídas por espécies florestais não adaptadas à alta umidade do solo e muito menos ao encharcamento contínuo. Diferentemente das Formações Florestais Aluviais, as quais ocupam um ambiente com solo bastante úmido e sujeito a inundações freqüentes e duradouras, e as Formações Pioneiras arbustivas, que poderão substituir ao longo do tempo as Formações Florestais Submontanas e mesmo as Formações Florestais Aluviais. No entanto, convém salientar que apesar das Formações Florestais Aluviais estarem adaptadas a um ambiente mais úmido, é provável que sofram os efeitos deletérios de um encharcamento contínuo durante um período superior ao que estão adaptadas, podendo resultar em alguma degradação da estrutura da vegetação, com a morte de indivíduos de algumas espécies e favorecimento de outras, porém em amplitude inferior às Formações Florestais Submontanas.

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A alteração das condições de umidade do solo e do microclima nos limites das margens do futuro reservatório poderão ser fatores promotores de mudanças nos habitats florestais remanescentes e nas áreas antropizadas, permitindo o estabelecimento de novas espécies ou promovendo a eliminação de outras menos adaptadas às novas condições ambientais. Esse processo de transição poderá caracterizar, em alguns locais, o estabelecimento de Formações Florestais Aluviais ou de Formações Pioneiras, dependendo do nível de saturação da água. As mudanças esperadas de curto, médio e longo prazos, poderão levar até a total substituição por outros tipos de vegetação mais adaptados a uma nova condição ambiental e colonizados por comunidades botânicas específicas. Estas áreas serão alvo de monitoramento durante e após a formação do reservatório, através do Programa de Monitoramento de Flora, permitindo o acompanhamento destas alterações e a identificação dos locais em que será necessário realizar qualquer intervenção, como o enriquecimento florestal de forma a auxiliar ou acelerar um processo de regeneração natural que esteja ocorrendo. Conforme o diagnóstico do meio físico do AHE Colíder espera-se que este impacto potencial se concentre nas florestas existentes nas planícies aluviais que não serão inundadas com o enchimento do reservatório do AHE Colíder, mas que são susceptíveis à elevação do lençol freático e à formação de alagadiços. Portanto, este impacto potencial estará concentrado à montante da ilha Rose, em ambas as margens do rio Teles Pires. Nos outros trechos do reservatório, praticamente todas as planícies aluviais serão inundadas, com a chegada da área de inundação nas encostas dos terrenos colinosos, não criando situações de susceptibilidade à elevação do lençol freático e formação de alagadiços. 7. Fauna e demais organismos aquáticos 7.01 Redução da qualidade do habitat durante as obras A fase de obras do AHE Colíder engloba um amplo conjunto de serviços construtivos associados a intervenções nos terrenos marginais ao rio e no próprio corpo d’água. Tais serviços, que incluem a remoção da cobertura vegetal, escavações, implantação de ensecadeiras para desvio do rio, entre outras, podem resultar no aumento do suprimento de sedimentos transportados pelo rio Teles Pires, com conseqüente alteração da qualidade da água (Impacto 1.01). A alteração da qualidade da água do rio Teles Pires e dos seus afluentes durante o período de construção do empreendimento resulta por sua vez na redução da qualidade do habitat das comunidades ícticas e dos demais organismos aquáticos. Potencialmente, podem ocorrer alterações na distribuição e nas abundâncias das comunidades. Os impactos potenciais associados às alterações na qualidade da água sobre as comunidades aquáticas são de diferentes ordens. Sobre a comunidade íctica, podem ser observadas alterações na população dos ciclídeos em função da diminuição da transparência da coluna d’água, pois estes são peixes orientados pela visão. Entre as espécies da ordem dos Perciformes no trecho da AHE Colíder, os ciclídeos representaram 81% do total amostrado.

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Em relação às comunidades de fitoplâncton e macrófitas, pode-se esperar um aumento na densidade em indivíduos/ml e indivíduos/m², respectivamente, decorrentes do aumento de carga orgânica (fósforo e nitrogênio) advindo do material carreado da área de entorno. Esses nutrientes enriquecem a água e favorecem a proliferação das mesmas. A comunidade de zooplâncton também pode aumentar sua densidade em decorrência do acréscimo de fontes de alimento (fitoplâncton) e abrigo (macrófitas). Entretanto, algumas espécies podem ter declínio populacional, pois a taxa de filtração para algumas espécies se reduz com o aumento do tamanho das partículas em suspensão na água. Ainda que ocorra um aumento das concentrações de nutrientes no trecho das obras, durante a fase de construção, é importante considerar as características morfológicas do rio Teles Pires que favorecem a diluição destes nutrientes a jusante. Uma vez concluídas as obras, o material carreado diminui, a qualidade dos habitats melhora e as comunidades entram em fase de resiliência. 7.02 Aprisionamento de peixes nas áreas ensecadas A implantação das ensecadeiras de montante e de jusante no rio Teles Pires constitui intervenção que pode resultar no aprisionamento de peixes num curto trecho do rio delimitado entre as duas barreiras que constituem as ensecadeiras. Após a conclusão dos barramentos correspondente às ensecadeiras, todas as vazões afluentes serão desviadas por 12 adufas que serão construídas na margem direita na estrutura do vertedouro. Assim, entre as duas ensecadeiras, será formado um espaço restrito com alguma acumulação de água que, por sua vez, em razão do lançamento de material argiloso, deverá apresentar alta turbidez. Nessa condição, nas águas remanescentes entre as duas ensecadeiras poderá ocorrer um aprisionamento de grupos de peixes que não conseguiram manter a continuidade dos seus fluxos no sentido de montante ou de jusante. Tal aprisionamento poderá ocorrer com indivíduos das mais diferentes espécies que ocorrem no rio Teles Pires. No entanto, considerando as características e diversidade da ictiofauna verificada no rio através das três campanhas de campo, os peixes de grande porte eventualmente confinados na área ensecada são os mais vulneráveis ao presente impacto potencial, em razão da pequena disponibilidade de espaço físico das poças que serão formadas no irregular leito fluvial ensecado. Outro aspecto que merece ser registrado é o fato de que os indivíduos confinados na área ensecada podem ser capturados com facilidade, cabendo nesse aspecto o efetivo controle de acessos a fim de evitar a captura por parte de pescadores.

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O impacto potencial de aprisionamento será mitigado pelo resgate de ictiofauna no trecho ensecado. Todavia, mesmo considerando o acompanhamento dos serviços e o regate, é possível que ocorram perdas de alguns indivíduos que podem não sobreviver à ação do resgate ou ao tempo de confinamento entre as áreas ensecadas. 7.03 Redução da qualidade do habitat à jusante do barramento durante o enchimento A redução das vazões do rio Teles Pires é uma ação necessária ao processo de formação do reservatório. Trata-se de alteração do regime fluvial analisada e individualizada no impacto 1.03 (Alterações no regime fluviométrico e na qualidade da água durante o enchimento do reservatório). Especialmente na primeira fase de enchimento, as reduções nas vazões resultarão na alteração da velocidade da água, na profundidade do escoamento, no transporte de material sólido, na formação de poças em função da morfologia irregular do leito fluvial e da redução do perímetro molhado da calha do rio Teles Pires. Associada a tais fatores, alterações na qualidade da água poderão também ocorrer evidenciadas pela potencial redução das concentrações de oxigênio dissolvido. Tanto a menor disponibilidade de água no sistema fluvial à jusante, como as alterações físico-químicas da água decorrentes configuram uma redução da qualidade do habitat das comunidades aquáticas durante o enchimento do reservatório. Sob o aspecto espacial, o impacto potencial de redução da qualidade do habitat durante o enchimento ocorrerá com maior intensidade no trecho entre o barramento e o ribeirão da Águia, cuja foz está situada a 10 quilômetros do eixo do AHE Colíder. Também como parte da redução da qualidade do habitat provocada pela redução das vazões, há possibilidade de formação de poções de água acumulada ao longo do leito irregular do rio Teles Pires. Alguns desses poções, dependendo das características do leito fluvial, podem permanecer isolados do fluxo de água remanescente. Em todo caso, o aprisionamento de peixes nesses poços poderá resultar na perda de indivíduos em função de condições adversas como a baixa profundidade, a evaporação da água e a pouca oferta de alimentos. 7.04 Alteração na dinâmica de deslocamento da ictiofauna em decorrência da implantação do barramento As ações que iniciarão efetivamente o início do processo de alteração na dinâmica de deslocamento da ictiofauna vinculam-se inicialmente a implantação das ensecadeiras de jusante e de montante no leito do rio Teles Pires. Entre as ensecadeiras poderá ocorrer aprisionamento de espécimes (Impacto 7.02). Para os espécimes não aprisionados, posicionados tanto a montante como a jusante das ensecadeiras, o deslocamento será inviabilizado pelo canal natural.

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Posteriormente, com a construção da barragem de terra no leito e fechamento das adufas, consolidam-se as intervenções que implicarão nas modificações da dinâmica de deslocamento da ictiofauna, em especial das espécies que reconhecidamente migram rio acima para a desova. Após a formação do reservatório, os fluxos serão mantidos por meio de dispositivo de transposição de peixes (escada). 7.05 Alterações nas populações de peixes no rio Teles Pires na fase de operação A implantação do AHE Colíder poderá implicar em efeitos capazes de alterar a dinâmica populacional das espécies de peixes, especialmente em relação à composição da comunidade e aos ciclos reprodutivos migratórios (Impacto 7.04). É de conhecimento que a composição das espécies de peixes de um reservatório é primariamente dependente da fauna do rio que foi represado, sendo que cada região zoogeográfica tem uma distinta fauna de peixes. Quando ocorre o enchimento de um reservatório, as espécies pré-adaptadas a ambientes lacustres são recrutadas, passando a fazer parte do ambiente limnológico, e a relação existente entre o tamanho, a ecomorfometria das espécies e o metabolismo dos organismos, faz com que as comunidades redefinam sua estrutura trófica. Essa estrutura é uma propriedade fundamental que tende a se restabelecer quando uma comunidade for agudamente perturbada (Odum, 1985). Esse processo poderá ocorrer no reservatório do AHE Colíder. A jusante do barramento, a dinâmica das populações dependerá do número de tributários do rio Teles Pires, da presença de sítios de reprodução e de lagoas marginais localizadas neste trecho. Desta maneira, quanto maiores as possibilidades de áreas reprodutivas, maior a probabilidade da manutenção do equilíbrio populacional das espécies localizadas a jusante do barramento. 8. Fauna Terrestre 8.01 Perturbação e afugentamento da fauna silvestre durante as obras Este impacto está relacionado principalmente a fatores como a supressão da vegetação nativa e o aumento gradativo do nível de ruído resultante da movimentação de veículos, escavações e aumento de pessoas na área de influência do empreendimento, além do aumento na utilização das estradas de acesso aos canteiros de obras. A intensidade da luz artificial nas vias que atravessam áreas de vegetação remanescente também constitui fator de perturbação da fauna terrestre florestal que possui hábitos noturnos, além de atrair diversas espécies de invertebrados, aumentando a atratividade pela fauna de hábitos insetívoros e os riscos de atropelamento da fauna silvestre.

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O aumento da circulação de pessoas e atividades pode resultar ainda na atração de animais domésticos ou sinantrópicos que atuam como predadores, competidores e vetores de enfermidades. Além disso, espécies hemissinantrópicas como os gambás (Didelphis marsupialis) e diversos gaviões (Caracara plancus, Rupornis magnirostris), também poderão ser atraídos durante as atividades das obras como o desmatamento, devido ao afugentamento de pequenos vertebrados como serpentes, lagartos e roedores. A perturbação na fauna semi-aquática e aquática também pode ocorrer em razão da geração de ruído durante as atividades construtivas junto ao leito fluvial, o que resultará no afugentamento dos indivíduos para outros trechos do rio. Complementarmente, alguma perturbação da fauna semi-aquática e aquática durante o período de enchimento não deve ser descartada. Alterações significativas no regime fluviométrico, mesmo que temporárias, podem afetar espécies de mustelídeos, Lontra longicaudis e Pteronura brasiliensis, presentes no rio Teles Pires e espécies de vertebrados aquáticos como o jacaré-coroa (Paleosuchus trigonatus). Medidas de monitoramento da fauna durante a construção, além de instruções aos trabalhadores e eventual controle de espécies sinantrópicas minimizarão o impacto em foco. 8.02 Óbito e fuga de animais durante as atividades de desmatamento e inundação As atividades de supressão de vegetação para implantação do canteiro de obra, abertura de acessos e formação do reservatório causarão o afugentamento imediato da fauna silvestre presente no interior dos fragmentos florestais. Embora habitualmente ocorra perturbação da fauna e fuga de animais nesse tipo de atividade, existe a possibilidade de acidentes com risco de óbito ou perda de indivíduos. O risco de ocorrência de óbitos de animais é também previsto na fase de enchimento do reservatório. O enchimento é, particularmente, a etapa de risco mais significativo, uma vez que o nível d’água até a cota 286,5 m será elevado rapidamente. Nesta cota, o reservatório em formação ocupará área de 168,2 km2. Cumpre salientar que a área de inundação, no enchimento, se encontrará desprovida de cobertura vegetal, o que pressupõe um prévio afugentamento da fauna silvestre tipicamente florestal associada ao antigo habitat. Em todo caso, particularmente para a herpetofauna e em especial os animais com pouco poder de deslocamento como os anfíbios (Allobates brunneus, Rhaebo guttatus, Rhinella margaritifera, Dendropsophus minutes, Dendropsophus nanus, Hypsiboas geographicus, Osteocephalus leprieurii, Phyllomedusa hypochondrialis, Pseudopaludicola saltica, Leptodactylus hylaedactylus, Chiasmocleis shudikarensis, Lithobates palmipes), lagartos (Gonatodes sp, Bachia scolecoides, Mabuya nigropunctata, Stenocercus sinesaccus, Tupinambis merianae, Leposoma osvaldoi, Prionodactylus engenmanni) e serpentes (Boa constrictor, Eunectes murinus, Drymoluber dichrous, Leptodeira annulata, Rhinobothryum lentiginosum, Bothrops atrox, Helicops angulatus, Chironius fuscus, Atractus albuquerquei)

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podem não se retirar da Área Diretamente Afetada durante o enchimento, o que pode resultar na morte de espécimes por afogamento, além disso, as ilhas presentes na AID serão cobertas com a elevação do nível da água. Já os animais com capacidade de deslocamento como mamíferos de médio e grande porte, entre os quais Cuniculus paca, Hydrochoerus hydrochaeris, Mazama americana, Mazama gouzoubira, Pecari tajacu, Tayassu pecari, Cerdocyon thous e aves de dossel e de copa como Ara ararauna, Ara macao, Pyrrhura perlata, Primolius maracana, Psarocolius bifasciatus, Trogon viridis, Trogon collaris, Pharomachrus pavoninus serão afugentadas durante as atividades de desmatamento. Cabe lembrar, ainda, os impactos causados com a elevação do nível da água sobre os ninhos e ovos de aves na AID. A supressão de vegetação ciliar causará a eliminação de habitas de nidificação para diversas espécies de aves como psitacídeos, picídeos, falconídeos, furnarídeos, etc. Entretanto, tais impactos serão mitigados com o Programa de Resgate de Fauna previsto. 8.03 Aumento da pressão de caça durante o período de obras Os trabalhos de campo durante o Inventário da Fauna Terrestre detectaram a presença da caça local. Com o início da fase de implantação do empreendimento, embora pouco provável, poderá ocorrer um aumento da caça praticada por trabalhadores envolvidos nas obras. Trata-se de um risco que será reduzido já na fase de contratação de mão-de-obra, com as atividades de educação ambiental e com informações e instruções transmitidas aos trabalhadores quanto à proibição de caça e às implicações legais de tais atos. As informações estarão necessariamente incluídas em módulos de Educação Ambiental que farão parte do treinamento admissional de segurança e saúde do trabalho. Os atos de caça por parte dos trabalhadores serão reprimidos de acordo com a gravidade e/ou efetividade do ato. Complementarmente, não deve ser descartado um aumento da caça associado ao impacto de afugentamento da fauna, causado pelos serviços de desmatamento e pelo enchimento do reservatório. Durante o desmatamento e particularmente no enchimento, com a conseqüente fuga de animais, caçadores locais podem aproveitar a situação para captura de animais, em tese facilitada pelo afugentamento. 8.04 Alteração nas populações terrestres em função das mudanças e redução dos habitats naturais A Área Diretamente Afetada é composta principalmente por formações florestais submontanas e aluviais ciliares. Esses ambientes estão localizados dentro do limite da faixa de inundação e servem como fontes de abrigo e alimentação para a fauna terrestre. A supressão de vegetação na área de inundação configura uma redução local dos habitats. Conforme o diagnóstico dos levantamentos faunísticos na AID e nos ambientes adjacentes, a fauna de vertebrados terrestres é bastante diversificada. Muitos representantes dessa fauna são dependentes das formações florestais, principalmente das formações aluviais.

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No caso principalmente das aves e da mastofauna, os levantamentos de campo na ADA e na AID resultaram na identificação de diversas espécies com algum grau de dependência de formações florestais, importantes para manutenção da diversidade faunística local. Com o início das obras para a implantação do empreendimento, espera-se inicialmente que ocorram alterações de hábitos das espécies presentes e próximas aos locais das atividades construtivas, no caso do canteiro de obras e da área de implantação do barramento. Posteriormente, com a supressão da vegetação para a formação do reservatório e seu enchimento, se consolidará a eliminação dos habitats naturais, com a conseqüente redução de recursos alimentares, abrigos e diminuição das populações de vertebrados terrestres. As mudanças comportamentais correspondem ao afugentamento da fauna com certa vagilidade, que passa a ocupar áreas com fisionomias semelhantes adjacentes às obras. Conforme registrado no impacto 8.01 (Perturbação e afugentamento da fauna silvestre durante as obra), animais sensíveis e pouco tolerantes ao aumento do ruído e luminosidade se deslocarão para áreas periféricas. Espécies de mamíferos de médio e grande porte consideradas generalistas podem beneficiar-se das alterações locais nas obras, como é o caso do cachorro-do-mato (Cerdocyon thous) e do quati (Nasua nasua), que passarão a freqüentar os locais onde houver aumento de recursos alimentares. Dessa forma, alterações no comportamento natural dessas espécies poderão ser modificados em função da facilidade de obtenção desses recursos. No caso da fauna semi-aquática e aquática, a redução do habitat natural alterará as interações entre os indivíduos que habitam a região. Mustelídeos (Pteronura brasiliensis, Lontra longicaudis) presentes no trecho a ser impactado procurarão novos abrigos e passarão a ocupar outros ambientes onde já existe uma população estabelecida. Além disso, iguanas (Iguana iguana), jacarés (gênero Paleosuchus) e cágados (Phrynops geoffroanus, Kinosternon scorpioides, Podocnemis unifilis) que, segundo levantamentos realizados pela equipe da JGP na região de Paranaíta (350 km a jusante do AHE Colíder), ocorrem no rio Teles Pires, mas não foram detectados nas campanhas realizadas neste EIA. Esses animais utilizam os bancos de areia como área de descanso e no período reprodutivo como áreas de nidificação Essas espécies perderão esses habitats devido à elevação do nível do rio e, assim, pode ocorrer uma diminuição de suas populações nesse trecho do rio. Iguanas e cágados fazem cavidades no solo em colônias. Assim, em um único banco de areia podem ser encontradas diversas colônias. Dessa forma, a eliminação de bancos de areia e das lagoas marginais poderá causar uma diminuição nessas populações. Outros vertebrados que utilizam os bancos de areia foram identificados em campo, como a ave conhecida como urubuzinho (Chelidoptera tenebrosa). Como previsto para a fauna semi-aquática, a eliminação dos bancos de areia afetará os aspectos reprodutivos dessas populações. Entretanto, segundo Sigrist (2006) a espécie pode utilizar também aterros, barrancos ou beira de estradas para nidificar. Assim, a eliminação dos bancos de areia ocasionará a perda de hábitat local para a nidificação dessa espécie. Espera-se que as aves passem a utilizar outros ambientes presentes no rio Teles Pires.

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Espécies de vertebrados terrestres consideradas sensíveis como os felídeos (Leopardus pardalis, L tigrinus, Panthera onca, Puma concolor, Puma yagouaroundi), tayassuídeos (Pecari tajacu, Tayassu pecari), canídeos (Atelocynus microtis, Speothos venaticus), tatu-canastra (Priodontes maximus), paca (Cuniculus paca) e primatas (Callicebus moloch, Pithecia irrorata, Ateles paniscus, Ateles chamek) passarão a habitar sítios vizinhos. Entretanto, deve ser considerado que os novos sítios habitáveis já sustentam outros indivíduos e populações. Esse fato pode incrementar a competição por recursos e, a médio e longo prazo, dependendo da capacidade de suporte dos sítios vizinhos, pode resultar na diminuição das populações locais. Espécies silvestres de hábitos escansoriais, arborícolas, fossorias e semi-fossorias serão potencialmente os grupos faunísticos mais afetados com a perda de hábitat, sobretudo pela capacidade restrita de locomoção até sítios florestados vizinhos capazes de atender as demandas desses animais. Podem-se incluir nesses grupos mamíferos como roedores, marsupiais, quirópteros, primatas; répteis de hábitos florestais como lagartos, serpentes e em geral e os anfíbios. Exemplos desses grupos são os gêneros Didelphis, Marmosops, Gracilinanus, Marmosa, Micoreus, Monodelphis, Oecomys, Hylaeamys, Euryoryzomys, Neacomys, Rhipidomys, Dendropsophus, Hypsiboas, Osteocephalus, Pseudopaludicola, Stenocercus, Liophis. O mesmo se aplica às aves dependentes das formações aluviais e florestais, como é o caso de Thamnophilus palliatus, Myrmotherula brachyura, Cercomacra nigrescens, Chamaeza nobilis, Lepidocolaptes albolineatus e de espécies das famílias Tinamidae, Cracidae, Psophiidae, que dependem do chão da floresta ou abrigo nessas formações. Mesmo os carnívoros generalistas que exigem áreas de vida relativamente grandes podem ter suas populações reduzidas caso a perturbação nos habitats atinja uma área relativamente ampla, como os 168,2 km2 do reservatório do AHE Colíder. Neste caso, indivíduos de certas espécies de carnívoros serão mais afetados. Estão incluídos nesse grupo o cachorro-vinagre (Speothos venaticus), a irara (Eira barbara) e todos os felídeos silvestres (Leopardus tigrinus, L. pardalis, Panthera onca, Puma concolor, P. yagouaroundi) cujas áreas de vida variam de acordo com a disponibilidade de recursos e períodos do ano, ou seja, em função da disponibilidade das presas que serão afetadas pelo enchimento do reservatório. Dessa forma, não é possível estimar o número de carnívoros que são afetados nesse trecho. No entanto, ao estabelecer as áreas de vida dos grupos de carnívoros pela literatura (ver Tabela 8.04.a, abaixo), pode-se deduzir que diversas espécies podem ser afetadas na área de inundação. A onça-pintada e a irara podem ter suas populações diminuídas devido à perda de hábitat e recursos, porém passarão a habitar fragmentos remanescentes como as espécies de mamíferos de hábitos herbívoro/onívoro (e.g Mazama gouazobira, Tayassu pecari, Pecari tajacu, Tapirus terrestris), que apresentam baixa territorialidade e que são capazes de ocupar grandes áreas de vida. Assim, podem se deslocar para os habitats que não serão afetados.

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Entretanto, a permanência desses animais nos remanescentes florestais adjacentes será temporária, ou seja, em um primeiro momento haverá o adensamento dos indivíduos nesses fragmentos, tendo como conseqüência negativa as alterações nas interações ecológicas. Tais alterações incluem: 1) o aumento da competição, 1) aumento da predação sobre certas espécies, 3) aumento de parasitismo, 4) aumento de doenças e 5) desequilíbrio das populações e redução da densidade populacional. Cabe lembrar que algumas espécies poderão ser substituídas por outras mais adaptas ao ambiente futuro, processo conhecido como turnover. Elencar quais serão as espécies nesse processo é impossível, porém com a riqueza da fauna atual e com o conhecimento das áreas de vida e biologia de algumas espécies, pode-se deduzir quais espécies se beneficiarão desses novos habitats. Para a grande maioria dos mamíferos terrestres da América do Sul, os dados sobre densidades populacionais são escassos ou estão completamente ausentes. Todavia, são conhecidas as áreas de vida (home range) de uma variedade de espécies. A Tabela 8.04.a apresenta os dados de área de vida em km2 de algumas espécies de importância ecológica como os grandes carnívoros (Panthera onca), grandes herbívoros (Tapirus terrestris) e presas de grandes carnívoros como veados (Mazama gouazoubira) e cutias (Dasyptocta leporina). A escolha desses animais para exemplificar a distribuição das espécies de vertebrados na AID refere-se ao nicho ecológico. Ou seja, espécies de predadores como grandes felídeos ocupam uma grande área de vida e, a permanência desses indivíduos na região depende diretamente do número de presas existentes. Os grandes herbívoros (antas) são também considerados presas. Além disso, os tapirídeos percorrem grandes extensões de florestas a procura de plantas. A seguir a Tabela 8.04.a apresenta a área de vida aproximada dessas espécies, segundo a literatura. Tabela 8.04.a Áreas de vida de espécies de importância ecológica que ocorrem na AID do AHE Colíder

Táxon Área de vida (km2) – (média) Fonte

Pantera onca (onça-pintada) 44 (fêmeas) 88 (machos Nowak (2003)

Eira barbara (irara) 16 (fêmea) 24 (macho) Presley (2000)

Tapirus terrestris (anta) 1,25 Foerster & Vaughn (2002)

Mazama gouazoubira (veado mateiro)

0,040 (fêmea) 0,075 (macho) Black-Decima (2000)

Dasyprocta leporina (cutia) 0,03 a 0,08 Silvius & Fragoso (2003)

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O exame da Tabela 8.04.a confirma que carnívoros e herbívoros possuem áreas de vida muito diferentes. É necessário considerar que herbívoros tendem a ser menos territoriais que carnívoros. Por exemplo, uma onça-pintada macho tende a não sobrepor seu território com outras onças, embora aceite fêmeas em sua área de vida. Já as cutias sobrepõem amplamente suas áreas de vida. Dessa forma, o impacto devido à eliminação de habitats é maior sobre os grupos territoriais como os carnívoros, que passarão a ocupar áreas periféricas onde já existe uma população estabelecida. Principalmente, para os felídeos machos, haverá competição pelo território nas áreas periféricas. Considerando os dados da literatura e a área da AID com aproximadamente 596,15 km2, é possível estimar uma população de cerca de 6 indivíduos macho de onça-pintada e talvez um número maior de fêmeas. As onças “batem” o terreno atrás de suas presas e o fazem em função da densidade das presas. Se levar em consideração que a maioria das presas está mais próxima da água, particularmente nas áreas associadas às matas de galeria, então o número de indivíduos de onça-pintada de ambos os sexos é possivelmente menor que o número “máximo” obtido simplesmente pela divisão da área total de terreno pelo valor da área de vida de onças. As onças-pintadas tenderiam, neste modelo, a passar mais tempo em áreas próximas à água e, assim, ocupariam o terreno de forma desigual entre os diferentes hábitats. Com a perda de vegetação ciliar esses animais passarão a habitar os ambientes florestais e ciliares adjacentes à área impactada. Desta forma, o adensamento populacional é um processo previsto. Conforme apresentado nos itens acima, as interações ecológicas serão alteradas e assim, o aumento da competição, predação, parasitismo, etc., levará a médio e longo prazo à diminuição das populações de carnívoros. Outro impacto a ser considerado para os grandes felídeos será o uso de ambientes de transição, entre florestas e campos antrópicos. Provavelmente, esses animais passarão a atacar a criação doméstica com mais freqüência e assim, poderão ser abatidos por fazendeiros locais. Para mitigar esses efeitos, espera-se que atividades de educação ambiental com moradores locais sejam aplicadas juntamente com programas de conservação (e.g Pró-carnívoros/IBAMA). Ainda, nos trechos onde haverá supressão da vegetação ciliar (aluvial), os impactos produzidos pela elevação do nível das águas serão apresentados a seguir, por grupos de mamíferos. Cabe lembrar que esses impactos estão restritos à vegetação florestal que será suprimida devido à elevação do nível do rio e em áreas de instalação de canteiro de obras:

1. Marsupiais: correspondentes às espécies exclusivamente florestais, seriam afetadas e suas populações reduzidas ao longo do trecho alagado;

2. Roedores pequenos: o mesmo efeito descrito acima para os marsupiais; 3. Xenartros terrestres pequenos: nenhum impacto aparente, porém espera-se a perda

de indivíduos no trecho impactado; 4. Xenartros terrestres maiores: o tamanduá-mirim sofreria maior impacto, pois

reduziria o acesso a fontes de alimentos arbóreos. Ambos os tamanduás sofreriam por perda de áreas de abrigo. Haverá uma redução da densidade populacional;

5. Mamíferos arborícolas: redução das populações nas áreas de vegetação ciliar com a perda de abrigo e alimento,

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6. Carnívoros: espécies afetadas pela diminuição da área de abrigos; redução das densidades populacionais em habitas florestais;

7. Herbívoros maiores: o mesmo efeito sofrido pelos carnívoros, exceto que antas sofreriam maior redução na densidade populacional;

8. Morcegos: redução das densidades populacionais e de abrigos (todas as espécies) e de fontes de alimento de alta densidade em ambiente florestal (morcegos frugívoros e nectarívoros);

9. Tinamídeos, Cracídeos, Trogonídeos: aves dependentes dos ambientes florestais terão redução das densidades populacionais;

10. Ramphastídeos: redução de abrigo e alimento de todas as espécies; 11. Dendrocolaptídeos, Picídeos, Galbulídeos: o mesmo efeito dos Ramphastídeos e

diminuição das densidades populacionais; 12. Caprimulgídeos: diminuição da perda de habitat e provável diminuição de suas

populações; 13. Anfíbios: as espécies seriam afetadas pela perda de área de abrigos; redução das

densidades populacionais; 14. Répteis: espécies de hábitos fossoriais e semi-fossoriais (coral, anfisbênias) seriam

primeiramente afetadas e espécies arborícolas, além de jabutis teriam suas populações diminuídas nos ambientes ciliares/florestais.

Não é possível estimar quantos indivíduos serão impactados com a perda de habitats e quais espécies se adaptarão às condições ambientais. Devem ser encontradas espécies de hábitos diversos como generalistas, vágeis e especialistas. Certamente, as densidades populacionais da fauna atual diminuirão devido à perda de hábitat, conforme previsto nas seções anteriores. Entretanto, não se descarta a possibilidade de outras espécies aumentarem sua densidade a médio e longo prazo. 8.05 Ampliação de barreira física decorrente da formação do reservatório Sob o aspecto do deslocamento, o rio Teles Pires constitui uma barreira física ao deslocamento de algumas espécies da fauna. Espécies de pequeno e médio porte como do gênero Marmosops, Monodelphis, Cuniculus, Dasyprocta, Didelphis não devem atravessar o rio, que trecho compreendido pela AID apresentar larguras que variam de 100 a 800 metros de largura. Entretanto, no caso das espécies de grande porte como Tapirus terrestris, Puma concolor e Panthera onca, podem atravessar o rio em alguns setores. A formação do reservatório do AHE Colíder, com a inundação de áreas marginais ao rio Teles Pires significará a ampliação de uma barreira física existente. Considerando os trechos que o reservatório inundará como os vales do córrego Tustão e do ribeirão dos Catetos, a ampliação dessas barreiras representará a imposição de obstáculos ao deslocamento da fauna em locais antes propícios ao fluxo gênico.

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A Figura 12.4.2.a indica a localização esquemática dos efeitos de ampliação e imposição de barreira ao deslocamento da fauna. Tendo em vista os diferentes níveis de fragmentação da cobertura vegetal, as variações fisiográficas ao longo do canal natural e a morfometria do reservatório previsto, a imposição de barreira ao fluxo gênico é um impacto que ocorrerá de formas distintas na AID. Na região próxima ao barramento, entre o córrego do Tostão e a ilha da Rosa existem as seguintes fisionomias: floresta estacional semidecidual, formação aluvial e floresta submontana que serão afetadas com a elevação do nível do rio. Tal elevação eliminará espécies de pequeno porte com pouco poder de deslocamento como lagartos, anfíbios, roedores, marsupiais, etc. Aves presentes na copa e dossel, além de morcegos que utilizem ocos para abrigo poderão se deslocar para outros ambientes. Quanto às espécies de quirópteros, elas dependem em grande parte da manutenção dos mosaicos nas paisagens. Assim, as modificações em escala macro-geográfica reduzirão a diversidade da composição fitossociológica regional. Em decorrência da capacidade de voar por distâncias de dezenas a centenas de metros, as espécies frugívoras e polinívoras como os morcegos dos gêneros Artibeus se sentirão pressionadas pela perda de hábitat e possivelmente passarão a utilizar as manchas de vegetação próximas. Os deslocamentos entre elas serão freqüentes, incluindo o deslocamento transversal do futuro reservatório. Para as aves esperam-se deslocamentos restritos. A avifauna remanescente no habitat florestal se manterá fragmentada nas manchas de vegetação e os deslocamentos entre elas são improváveis para as espécies com pouco poder de deslocamento. Excluem-se dessa situação as aves de rapina generalistas e de áreas abertas, que transitarão regularmente entre os fragmentos florestais. A elevação do nível do rio impactará também as populações de mustelídeos presentes na AID. Apesar da vagilidade em habitar outras áreas do rio Teles Pires, esses mamíferos dependem de tocas presentes em barrancos no período reprodutivo e utilizam os mesmos como dormitórios. Sendo assim, os impactos sobre esses grupos estão relacionados com a perda de habitat e os adensamentos populacionais para os ambientes adjacentes, levando a diminuição das populações na área de influência, em longo prazo. A área seguinte à ilha da Rosa até o início do córrego dos Catetos apresenta as seguintes formações: florestal aluvial, florestal submontana e trechos com áreas antropizadas e com vegetação secundária na margem esquerda do rio Teles Pires. Dessa forma, a elevação do nível do rio nesse trecho afetará principalmente a margem direita, formada por florestal aluvial. Segundo Santos-Filho e Silva (2002), as espécies de mamíferos de médio e grande porte como Myrmecophaga tridactyla, Mazama americana e M. gouazoubira utilizam com maior freqüência os habitats aluviais. Sendo assim, a eliminação desses ambientes resultará na perda de habitas para essas populações. Dessa forma, as interações ecológicas serão alteradas e perdas populacionais são previstas para todos os grupos.

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A partir do córrego dos Catetos até o córrego Pau Furado haverá a eliminação das formações aluviais e submontana, produzindo maior fragmentação. De qualquer maneira, essa fragmentação se junta com a descontinuidade populacional. Essa descontinuidade deverá se expressar pelo alargamento considerável da extensão de água que ocorrerá com o represamento. Assim, os eventuais vertebrados que antes eram capazes de cruzar o rio Teles Pires e demais afluentes não poderão fazê-lo no futuro, principalmente nas áreas onde a largura do rio será significativa (> 500 m). Desta forma, haverá o estabelecimento de descontinuidade populacional tanto ao longo do rio (margens inundadas) quanto uma cessação de trocas gênicas entre as margens. Nesses trechos, a elevação do nível do rio afetará as densidades populacionais dos vertebrados terrestres. Deve ser levado em consideração o efeito de borda produzido pela fragmentação dos habitats e supressão de vegetação em área de floresta aluvial. Bordas recém-criadas apresentam diferenças no micro-clima; ou seja, as umidades do solo e do ar diminuem e as temperaturas do ar, do solo e a incidência de luz aumentam. Dessa forma, para espécies de anfíbios e aves de sub-bosque, exclusivamente florestal, os efeitos dessas alterações são negativos. O trecho final apresenta, ainda, ambientes antrópicos que já exercem um impacto negativo sobre as populações de vertebrados silvestres. A eliminação de habitats pelo aumento do nível da água e a criação e ampliação de pastos (já existentes) resultarão na perda de ambientes naturais para a comunidade faunística. Dessa forma, a ação antrópica (pastos) presente nas margens do rio, já é um impacto a ser considerado, devido à derrubada de grandes extensões de florestas. 8.06 Alteração na dinâmica da população de vetores Os levantamentos da entomofauna de interesse epidemiológico realizados na AID indicaram uma riqueza elevada de espécies de mosquitos, com dominância de Anopheles darlingi (vetor primário de plasmódios, agente biológico da malária) e Culex (Melanoconion) seção Melanoconion (táxon composto por várias espécies com potencial de veiculação de arbovírus). Considerando a tipologia e o porte das intervenções previstas como parte da implantação e operação do empreendimento, é oportuno considerar alguns aspectos principais da bioecologia dos taxa citados.

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No caso do mosquito Anopheles darlingi, a fêmea grávida deposita seus ovos, providos de flutuadores, que ficam isolados uns dos outros, flutuando na superfície da água. A fase imatura iniciada a partir da eclosão dos ovos, representada por larvas e pupas, é encontrada nas planícies de inundação dos rios, em coleções aquáticas permanentes, geralmente em brejos, em pântanos, em braços mortos dos rios, dentre outras coleções aquáticas. Seus criadouros geralmente se formam em ambientes semi-sombreados em meio da vegetação emergente ou flutuante. As fêmeas adultas têm comportamento antropofílico, ou seja, obtêm repasto sangüíneo no homem e, quando infectadas com os parasitos da malária veiculam esses patógenos gerando a infecção. Os anofelinos passam as horas do dia em refúgios naturais, em locais úmidos e sem ventos, geralmente em meio à áreas florestadas. A atividade hematofágica se potencializa ao escurecer, com picos crepusculares, porém variáveis de acordo com a região. Podem adentrar ambientes como o interior de residências e obter o repasto durante as horas de sono se seus moradores. Assim, a malária pode se disseminar em locais onde se concentram criadouros favoráveis, em que há elevada densidade do mosquito e que tenha a presença humana também em certa densidade. Em relação aos mosquitos Culex (Melanoconion) spp., que engloba um conjunto variado de espécies, as fêmeas grávidas depositam seus ovos, que são liberados de forma aglutinada, semelhante a pequenas “jangadas” flutuantes. Colocam as “jangadas” em criadouros, geralmente sombreados. Os criadouros desse grupo de mosquitos são representados por água estagnada acumulada no solo, rica em matéria orgânica. O conteúdo orgânico é proveniente de folhas caídas e demais fragmentos vegetais em decomposição. As formas aladas femininas têm atividade hematofágica noturna, podendo iniciar-se no crepúsculo e estender-se por toda a noite. Algumas espécies apresentam picos crepusculares de atividade de hematofagia. Quanto a esse comportamento alimentam-se principalmente de sangue de roedores, porém, possuem valência ampla podendo sugar o sangue humano. São mosquitos associados aos ambientes florestais e relacionados a manutenção de focos enzoóticos de arboviroses. Os dois grupos considerados poderão apresentar respostas adaptativas diversas diante das modificações ambientais previstas, que incluem basicamente a supressão da cobertura vegetal e a formação do reservatório. A supressão de vegetação gera distúrbios que habitualmente desestabilizam as populações de mosquitos, podendo provocar sua redução devido à destruição de hábitats. Por se tratar de modificação rápida, geralmente não haverá tempo de adaptação durante essa intervenção. Por outro lado, os serviços de supressão de vegetação implicam em contanto direto do contingente de trabalhadores com áreas de floresta e, por conseguinte, com os locais de concentração dos vetores. Por outro lado, a supressão da vegetação resultará no progressivo afugentamento da fauna de vertebrados, o que em certa medida potencializa os trabalhadores como fonte sanguínea para os mosquitos.

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Já a partir do enchimento do reservatório, as populações de mosquitos podem se beneficiar da formação do ambiente lêntico. Todavia, na fase inicial do enchimento, antes do início da fase de estabilização do reservatório, os criadouros existentes fora do leito fluvial serão tomados e destruídos pela elevação do nível d’água. Posteriormente, depois de completada a inundação até a cota 268,5 metros, nas margens do reservatório, especialmente em zonas de pouca profundidade e águas pouco movimentadas, podem ser formados ambientes favoráveis ao surgimento de criadouros. Nessa condição, são esperadas variações que incluem a dominância e proliferação de espécies seguida pelo seu escasseamento, ou ao contrário. Tais respostas adaptativas podem ser observadas no caso de mosquitos anofelinos, que possuem potencial para ocorrência de picos explosivos, o que inclui a espécie Anopheles darlingi. Em caso de proliferação de macrófitas no reservatório, pode haver a infestação por outros mosquitos antropofílicos, como os dos gêneros Coquillettidia Mansonia. Esses mosquitos são provocadores de incômodo pelas picadas e guardam associação direta com as macrófitas, pois seus imaturos, larvas e pupas, respiram diretamente a partir do aerênquima dessas plantas. O corpo principal do reservatório apresentará menor potencial e condições para proliferação de mosquitos devido aos ventos e formação de ondas. Os pontos mais propícios a formação de criadouros correspondem às zonas remanso e às margens dos braços do reservatório previsto. Comparados ao corpo central, os braços são mais susceptíveis a processos de eutrofização de proliferação de macrófitas, o que contribui com a formação de ambientes propícios ao desenvolvimento de anofelinos. Ao longo do período de estabilização do reservatório, os organismos presentes se adaptarão a nova condição do ambiente lêntico. Assim, o risco de proliferação de mosquitos deve diminuir progressivamente. Esse processo deve ocorrer ao longo dos primeiros três a cinco anos da fase de operação do AHE Colíder.

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12.4.3 Meio Antrópico 9. Impactos na Dinâmica Demográfica e nas Condições de Vida da População 9.01 Geração de empregos diretos e indiretos durante a construção O potencial de geração de empregos previsto na fase de construção do empreendimento será de 2.700 homens no pico e 1.800 homens na média, durante 40 meses de obras. Para se ter uma idéia da dimensão deste volume de contratações dentro do mercado de trabalho formal da AII, em 2005, havia um total de 26.957 pessoas ocupadas assalariadas nos municípios de Sinop, Colíder, Nova Canaã do Norte, Itaúba e Cláudia, sendo 25.072 pessoas (93% do total) em Sinop e 4.769 pessoas (17,7%) em Colíder, principais pólos de empregos da AII (ver Tabela 8.3.3.b, na Seção 8.3.3). Ou seja, na média, o número de empregos gerados durante a construção do AHE Colíder (1.800) representará 6,67% do total de pessoal ocupado assalariado na AII em 2005, e 37,7% do pessoal ocupado assalariado em Colíder. Os novos postos de trabalho incluirão todos os direitos previstos na legislação trabalhista em vigor. A contratação de mão-de-obra no regime da CLT, além de aumentar a massa salarial (ver avaliação do Impacto 9.03) e gerar benefícios, promoverá a inclusão do pessoal em programas de treinamento e capacitação profissional, assim como em programas de treinamento em saúde e segurança do trabalho e educação ambiental, conforme exige a lei. O conhecimento e a experiência adquiridos pelos trabalhadores representarão ganhos permanentes, mesmo no caso de trabalhadores temporários, aumentando seu grau de qualificação e ampliando as chances de contratação em oportunidades futuras. Entretanto, quando se avaliam os efeitos positivos da geração de empregos diretos durante a construção, uma questão principal deve ser respondida. Em que medida a criação de novos postos de trabalho beneficiará as populações residentes nos municípios da área de influência do empreendimento? Municípios de pequeno porte populacional, até 100 mil habitantes, apresentam, geralmente, uma disponibilidade limitada de mão-de-obra, sobretudo de mão-de-obra qualificada ou semi-especializada em serviços de construção civil. Assim, apenas uma parte das vagas criadas durante a construção do AHE Colíder poderá ser ocupada pela força de trabalho originalmente residente na AII, aqui denominada como mão-de-obra “local”. O restante das vagas será ocupada por trabalhadores residentes em municípios localizados fora da AII (municípios da AAR, de fora desta ou de fora do Estado de Mato Grosso), a serem recrutados pela construtora durante a fase inicial de contratação e ao longo do período de duração das obras, na medida das necessidades e do cronograma de execução. Assim, a geração de empregos diretos durante a construção guarda um potencial de atração de fluxos migratórios para as localidades anfitriãs do projeto, diminuindo a intensidade do impacto positivo para as populações originalmente residentes na AII, podendo, ainda, gerar impactos negativos associados a um rápido incremento populacional (ver a avaliação do

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Impacto 9.04). Qual será, então, a disponibilidade de mão-de-obra local possível de ser recrutada para as obras do AHE Colíder? Para tanto, cabe uma análise preliminar dos dados disponíveis acerca do grau de ocupação da população economicamente ativa residente nos municípios da AII. O diagnóstico apresentado na Seção 8.3.2 (ver Tabela 8.3.2.e) mostra que, no ano 2000, Sinop era o município com o maior contingente de pessoas desocupadas, de quase 3 mil pessoas. Colíder vinha em seguida, com 1 mil pessoas desocupadas, e Cláudia e Itaúba em terceiro lugar, cada um com cerca de 400 pessoas nessa condição. Ao todo, na AII, havia aproximadamente 5.000 pessoas sem ocupação no ano 2000, para uma PEA de 63,5 mil pessoas (taxa de desocupação de quase 8%). Numa hipótese conservadora, considera-se que a população desocupada na AII, à época do início da fase de contratação (2010), estará num patamar 30% inferior ao de 2000, ou algo em torno de 6% da PEA, devido ao crescimento econômico. Nessa hipótese, haveria aproximadamente 3,5 mil pessoas desocupadas na AII em 2010. Evidentemente, nem todo esse contingente estará apto a ocupar vagas abertas na construção do empreendimento, devendo-se excluir as pessoas que não atenderão às exigências mínimas de qualificação. Isto poderá reduzir a população desocupada na AII considerada apta em até metade do contingente disponível estimado, ou seja, 1,75 mil pessoas. Admite-se, conservadoramente, que apenas 40% das vagas diretas criadas pela construtora serão ocupadas por mão-de-obra atualmente residente nos municípios da AII (mão-de-obra local, semi-especializada ou de baixa qualificação). O restante das vagas será ocupado por pessoal recrutado pela construtora em localidades fora da AII. Deste modo, em termos do potencial de vagas diretas disponíveis para a força de trabalho local, tem-se um potencial de aproximadamente 1.080 vagas no pico e 720 na média. Teoricamente, o contingente de mão-de-obra disponível na AII em 2010 (1.750), sem contar a população imigrante, seria suficiente para atender à demanda de pico de 40% de mão-de-obra local direta (1.080). Restariam, portanto, 1.620 vagas no pico e 1.080 na média, a serem ocupadas por mão-de-obra imigrante. Entretanto, deve-se levar em conta que pessoas já empregadas à época da contratação poderão achar mais vantajoso se candidatar a vagas na construção do empreendimento, em função de oportunidades de estabilidade e crescimento profissional, competindo, assim, com a população desocupada, inclusive em situação de vantagem, já que é maior a probabilidade desses candidatos apresentarem melhor nível de qualificação e experiência. Assim, para todos os efeitos, a população a competir por vagas diretas na construção será a população economicamente ativa residente na AII, mais a população imigrante oriunda de municípios da AAR, de outras regiões do Estado de Mato Grosso ou de outros estados brasileiros (ver avaliação do Impacto 9.04).

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Quanto aos empregos indiretos, não existem estudos aprofundados que permitam prever com exatidão o potencial de geração de empregos indiretos em obras de hidrelétricas. No entanto, existem parâmetros de referência. De acordo com informações sobre hidrelétricas em fase de implantação no Brasil, tais como Retiro Baixo (MG), Baguari (MG), Batalha (MG/GO), Serra do Facão (GO), Simplicio/Anta (RJ/MG) e Foz do Chapecó (RS/SC), divulgadas na Revista FURNAS, Nº 339 (FURNAS, Abril/2007), a geração de empregos indiretos na construção de hidrelétricas representa o dobro do número de empregos diretos. Adotando-se esta referência, estima-se que serão gerados, na construção do AHE Colíder, até 3.600 empregos indiretos na média e até 5.400 empregos no pico, ou seja, duas vezes a quantidade de empregos diretos. A distribuição dos empregos indiretos na fase de construção será difusa, uma vez que os bens e serviços de maior valor agregado, como aqueles referentes à fabricação dos equipamentos eletromecânicos (turbinas, geradores, transformadores, condutores, etc.), serão executados por profissionais especializados, residentes fora da AAR ou do Estado de Mato Grosso. No entanto, uma parte dos empregos indiretos será gerada na AII, em função das demandas da construtora, das sub-contratadas e dos seus empregados por bens de consumo e serviços menos sofisticados, bem como dos efeitos multiplicadores decorrentes da dinamização das economias locais e da geração de massa salarial e receitas fiscais (ver avaliação dos Impactos 9.03 e 10.03). Deve-se observar, porém, que o aquecimento das economias locais da AII também tende a constituir fator de atratividade à imigração, de modo que a mão-de-obra imigrante viria a competir com as populações locais pelos empregos indiretos gerados pelo empreendimento. 9.02 Geração de empregos diretos e indiretos durante a operação O AHE Colíder operará de forma automatizada, demandando pequeno contingente para sua operação. O potencial de geração de empregos estimado na fase de operação da usina é de 150 empregos diretos e 300 empregos indiretos. Ou seja, os empregos diretos representam apenas 15% do potencial médio de geração de empregos na construção. Mesmo assim, será um impacto permanente, diferentemente dos empregos de caráter temporário criados durante as obras. Somando-se os empregos diretos e indiretos (450), percebe-se que é um contingente pequeno dentro do mercado de trabalho formal da região, representando pouco menos de 10% do total de pessoal ocupado em Colíder em 2005 (4.769 pessoas ocupadas) e 1,3% do total de pessoal ocupado no mercado formal da AII, no mesmo ano (33.603 pessoas ocupadas), segundo os dados apresentados na Tabela 8.3.3.b (ver Seção 8.3.3). Deve-se observar que uma parte dos cargos operacionais, que demandarão maior qualificação da mão-de-obra, será ocupada por imigrantes. No entanto, estes acabarão se tornando

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residentes permanentes nas localidades anfitriãs - principalmente em Colíder, onde ficará a sede operacional da usina -, de modo que o impacto terá abrangência limitada à AII. Nota-se, porém, que os empregos diretos serão concentrados na sede operacional, isto é, dentro da AID. 9.03 Aumento da massa salarial durante a construção e a operação A geração de empregos diretos e indiretos terá como conseqüência o aumento da massa salarial da população, de forma temporária, no caso da fase de construção, e de forma permanente, no caso da operação. Conforme os dados informados na Seção 8.3.3, em 2005, o salário anual médio do empregado formal na construção civil em Sinop era de aproximadamente R$ 8.000 reais (incluindo o 13o salário), o que resultava num piso salarial mensal médio de cerca de R$ 615,00. Considerando-se uma projeção de aumento salarial da ordem de 3% ao ano, o piso salarial médio mensal na construção civil, na região do empreendimento, estaria no patamar de R$ 725,00 ao final do primeiro ano de obras (2011). Admitindo-se a geração média de 720 empregos diretos na construção para a mão-de-obra local, e um salário médio mensal de R$ 725,00, a massa salarial anual média gerada pela construção da barragem para a população originalmente residente na AII, incluindo o 13o salário, seria de aproximadamente R$ 6,8 milhões de reais em 2011. Para se ter um parâmetro de comparação, este montante representaria 20,5% da massa salarial anual gerada em Colíder em 2011 (aproximadamente R$ 33 milhões), admitindo-se a mesma taxa de crescimento de 3% ao ano, com base no montante de salários de 2005. No caso dos empregos indiretos gerados na fase de construção, se 50% deles fossem gerados na região, seriam 1.800 empregos. Considerando-se um salário mensal médio de R$ 830,00 (referência no salário médio em Sinop para 2005, mais reajuste de 3% ao ano), seria gerada uma massa salarial anual indireta de R$ 19 milhões de reais, incluindo o 13o salário. Não se pode afirmar, entretanto, que toda esta massa salarial adicional seria captada pela população originalmente residente nos municípios da AII, podendo uma parte ser captada pela população imigrante atraída pelo aquecimento da economia nas localidades anfitriãs. Comparativamente ao aumento da massa salarial regional na fase de construção, o aumento na fase de operação será pouco significativo. No entanto, será permanente. Assim, adotando-se os mesmos parâmetros do cálculo acima, os 150 empregos diretos gerados na operação da usina resultariam em um aumento perene da massa salarial no município de Colíder da ordem de R$ 1,6 milhões de reais. Todos os valores estimados servem apenas como referência para a análise, pois poderão variar significativamente em função dos salários reais praticados na época da construção e da proporção de empregos efetivamente gerados na região de influência do empreendimento. De qualquer modo, o impacto será bastante positivo. A geração de empregos e de massa salarial

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para a população local ampliará o poder aquisitivo das famílias, de forma temporária, durante a construção, e de forma permanente, durante a operação. 9.04 Atração de fluxos migratórios durante a construção Conforme se pode depreender da avaliação do Impacto 9.01, o empreendimento do AHE Colíder poderá constituir fator de estímulo à imigração para as localidades anfitriãs, tanto em função do potencial de geração de empregos diretos quanto do potencial de geração de empregos indiretos. Entende-se por “localidades anfitriãs” os centros urbanos da AII mais próximos ao local da obra, e que, por suas condições de infra-estrutura e serviços, tendem a ser preferidos como locais de residência da mão-de-obra imigrante. No caso em tela, consideram-se como tais as cidades de Colíder, principalmente, e Sinop, em segundo lugar. As cidades de Nova Canaã do Norte e Itaúba, embora relativamente próximas do local da obra, são muito pequenas e não oferecem condições de infra-estrutura e serviços atrativas para imigrantes. A cidade de Cláudia, por sua localização e porte, dificilmente constituirá pólo de atração. A atração de fluxos migratórios para Colíder e Sinop poderá, por sua vez, causar outros impactos indiretos associados, nas fases de construção e operação (ver avaliações dos Impactos 9.05, 9.07, 9.08, 10.02, 10.03, 10.04, 11.01, 12.03, 13.02 e 13.05). Conforme descrito na avaliação do Impacto 9.01, o potencial previsto de ocupação de mão-de-obra é de 2.700 homens nos meses de pico da obra e de 1.800 homens, na média, durante 40 meses de construção. A demanda de mão-de-obra indireta está estimada em duas vezes a mão-de-obra direta, de modo que a construção poderá gerar, na média, até 3.600 empregos indiretos, número este que poderá chegar até 5.400, no pico. A avaliação do Impacto 9.01 mostra que os municípios da AII teriam disponibilidade de população desocupada para atender à demanda de mão-de-obra local no pico das obras, estimada em 40% da demanda total. No entanto, devido às exigências de qualificação profissional, a população a competir por vagas diretas na fase de construção será, para todos os efeitos, a população economicamente ativa residente nos municípios da AII, mais a população que migrar para as localidades anfitriãs. Na AII, no período 2000-2007, apenas Sinop apresentou taxa de crescimento da população superior à média estadual (5,07% a.a.). Com exceção de Itaúba, que teve taxa negativa de cerca de 8% ao ano no período, os demais municípios apresentaram taxas positivas, mas baixas, aquém do patamar de 1,89% ao ano, que era a média do estado de MT. Assim, com exceção de Sinop, pólo mesorregional, não há uma tendência significativa de atratividade populacional nos demais municípios da AII, incluindo Colíder, sem o empreendimento.

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De qualquer modo, a notícia da geração de empregos na região, logo na fase de pré-construção ou ao longo dos seus primeiros anos, poderá se espalhar inadvertidamente, gerando fluxos migratórios que tendem a exceder o crescimento real do mercado de trabalho nas localidades anfitriãs. Muitas vezes sem recursos para voltar a seus locais de origem, ou sem perspectiva de emprego em outros lugares, essas pessoas não incluídas tendem a engrossar o mercado informal ou o contingente de desempregados. Não é possível estimar previamente qual será a intensidade dos fluxos migratórios durante a fase de construção, pois esta dependerá de vários fatores, inclusive a adoção de medidas mitigadoras por parte do empreendedor. No entanto, é importante lembrar que o município de Colíder possui cerca de 30 mil habitantes – isto é, mais do que os três municípios anteriores juntos -, enquanto que Sinop possui cerca de 105 mil habitantes e uma economia quatro vezes maior do que a de Colíder. Assim, um aumento súbito das demandas por alimentação, hospedagem e outros serviços em Colíder tende a provocar um maior inchaço na economia local, atraindo mais gente, inclusive de municípios vizinhos, como Nova Canaã do Norte e Itaúba. A cidade de Sinop, apesar de estar um pouco mais distante do local da obra (cerca de 100 km), é a que apresenta a melhor estrutura de comércio e serviços e a economia mais diversificada, de modo que a construtora e suas sub-contratadas deverão privilegiar a aquisição de bens e serviços nesta localidade. O município já apresenta uma taxa de crescimento populacional alta, conforme citado anteriormente, e é bem possível que a construção do AHE Colíder contribua para atrair mais imigrantes. Conclui-se, portanto, que, dependendo da intensidade dos fluxos migratórios durante a fase de construção, o impacto do empreendimento em termos de alterações na dinâmica demográfica poderá ser significativo, sobretudo em Colíder. Trata-se de um impacto de alta importância, tendo em vista o seu potencial indutor de outros impactos indiretos. 9.05 Saldos migratórios negativos ao final da fase de construção À medida que se aproximar o término da fase construtiva, no último ano de obras, o contingente de trabalhadores ocupado diretamente pela construtora e por suas sub-contratadas diminuirá até que se efetive a total desmobilização do pessoal residente no alojamento. Como a maior parte do contingente empregado será composta de imigrantes, estes tendem a voltar para seus locais de origem, gerando saldos migratórios negativos nas localidades anfitriãs, concentrados ao longo de todo o último ano de obras. Indiretamente, a queda mais ou menos abrupta na demanda por bens e serviços em função do término das obras e da desmobilização do pessoal, poderá reverter os efeitos de dinamização da economia ocorridos durante a construção (ver avaliação do Impacto 10.04), provocando também evasão da população que porventura migrar para estas localidades durante a fase de construção. Ressalta-se que este impacto tende a ser mais significativo em Colíder do que em Sinop, devido à diferença de porte das respectivas economias.

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No entanto, mesmo que ocorra tal fenômeno, a probabilidade de ocorrência de taxas de crescimento negativas pós-desmobilização será pequena, uma vez que, no período 2000/2007, as taxas de crescimento nas localidades anfitriãs, sem o empreendimento, foram positivas, principalmente em Sinop. Na fase operacional, o potencial de geração de empregos diretos será de apenas 150 pessoas, ou seja, 15% da quantidade média de pessoal ocupada na obra. O impacto desse acréscimo de postos de trabalho no mercado de trabalho de Colíder, onde ficará a sede operacional da usina, será pequeno, embora longe de ser desprezível. Tanto em Colíder quanto em Sinop, instalar-se-ão também as famílias dos empregados imigrantes, e uma parte do contingente que migrou em busca de oportunidades, durante as obras, contribuindo, assim, para contrabalançar os saldos migratórios negativos no último ano de construção. O mais provável, portanto, é que o saldo migratório final nas localidades anfitriãs, na fase de operação, seja positivo em comparação à situação atual, sem o empreendimento. De qualquer modo, seja qual for a sua intensidade, trata-se de um impacto importante, em função de seu potencial indutor de outros impactos indiretos (ver avaliações dos Impactos 9.08, 10.04 e 12.03). 9.06 Perda de moradias e fontes de rendimento e subsistência De acordo com os levantamentos de campo e de cartografia realizados, a área de inundação do reservatório, estimada em 143,5 km2, afetará poucas residências permanentes (Figura 12.4.3.a), localizadas nas margens ou nas ilhas fluviais do Teles Pires, criando uma necessidade muito pequena de reassentamento involuntário. Ao todo, será necessário remover edificações utilizadas como moradia em 11 sedes de fazendas e/ou residências rurais, 02 pousadas e/ou chácaras de recreio, 02 ranchos de pesca e 07 ilhas, afetando diretamente 42 pessoas ao todo, distribuídas da seguinte forma:

• Faz. Missões: 6 pessoas (4 homens e 2 mulheres); • Faz. Cruzeiro do Sul I: 4 pessoas (2 homens e 2 mulheres); • Faz. Cruzeiro do Sul II: 2 pessoas (1 homem e 1 mulher); • Propriedade de Wilson Rosseto: 4 pessoas (1 homem, 1 mulher e 2 crianças); • Faz. Santa Emília: 2 pessoas (1 homem e 1 mulher); • Faz. São Sebastião: 2 pessoas (1 homem e 1 mulher); • Faz. Fofoca: 6 pessoas, assim distribuídas: Lote 2 (1 homem), Lote 3 (1 homem e 1

mulher), Lote 7 (1 homem), Lote 14 (1 homem) e Lote 15 (1 homem); • Pousada Ana Lima: 2 pessoas (1 homem e 1 mulher); • Recanto Dona Carmem: 2 pessoas (1 homem e 1 mulher); • Rancho do Nilton: 1 pessoa (homem); • Rancho do Chico Latoeiro: 1 pessoa (homem); • Ilhas “C”, “D”, “F” e “H”: 4 pessoas (1 homem em cada); • Ilhas “A” e “G”: 4 pessoas (1 homem e 1 mulher em cada); • Ilha “B”: 2 pessoas (homens).

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AHE Colíder – 300 MW 149 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - Volume IV

Além destas edificações, serão afetados outros 10 ranchos de pesca onde não há ninguém morando de forma permanente: Faz. Tratex (2 ranchos), Faz. Sta. Emília, Lírio Postal, Francisco, Brasilino, Juliano, Ceará, Chaleira Preta e Mané. A operação da Balsa existente para travessia do rio Teles Pires, próximo à cidade de Itaúba e à BR-163, será afetada na fase de enchimento, o que poderá implicar a sua desativação temporária, resultando na perda de 02 empregos (operadores), além da perda temporária da fonte de rendimento dos donos da concessão, pelo menos até que as operações possam ser reativadas. Como serão afetadas atividades econômicas agrossilvopastoris, turísticas e pesqueiras (ver Impactos 10.05, 10.06 e 10.07), isto poderá resultar, indiretamente, na perda de empregos ou atividades autônomas que são fontes de rendimento familiar, gerando, assim, a necessidade de alguma forma de compensação ou apoio social até que estas pessoas possam se inserir novamente no mercado de trabalho local. No caso das atividades agrossilvopastoris, a maior parte das áreas produtivas afetadas pelo empreendimento será de pastagens cultivadas para pecuária bovina extensiva e de florestas com potencial de exploração de madeira. A implantação do AHE Colíder implicará a perda de 2.231 hectares de pastagens cultivadas e na supressão de aproximadamente 11.451 hectares de florestas aluviais e submontanas, localizadas dentro da área de inundação. Ressalta-se, porém, que apenas 20% das áreas de floresta em cada propriedade seriam passíveis de derrubada para produção de madeira, conforme a restrição imposta pelo Código Florestal na Amazônia Legal. Segundo pesquisadores do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (IMAZON) 2, para gerar um emprego permanente na pecuária são necessários 428 hectares de pastagens, enquanto que, na atividade madeireira, são necessários 07 hectares de floresta. Conforme identificado no diagnóstico do meio antrópico da AID (Seção 9.3.4), não há produção agrícola relevante nas áreas afetadas. Das 58 unidades fundiárias amostradas, apenas duas fazendas desenvolvem lavouras com finalidade de comercialização (soja, milho e arroz); nas quatro outras propriedades onde foi confirmada a existência de algum tipo de cultivo, este é desenvolvido para subsistência.

2 VERÍSSIMO, Adalberto, Eugenio Arima e Paulo Barreto / Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia - IMAZON. A derrubada de mitos amazônicos. Matéria publicada no Jornal Folha de São Paulo, em 28 de maio de 2000. Disponível no link: http://www.greenpeace.org.br/codigoflorestal/derrubada_mitos.php.

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AHE Colíder – 300 MW 150 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - Volume IV

No tocante às atividades turísticas, os principais atrativos nos municípios da AII são as pousadas e chácaras especializadas em pesca amadora, localizadas junto ao rio Teles Pires. O empreendimento afetará diretamente apenas a infra-estrutura de uma pousada (Pousada Ana Lima) e uma chácara de recreio (Recanto Dona Carmem), cabendo indenizações aos proprietários pelas benfeitorias perdidas e por lucros cessantes. Indiretamente, também poderá ocorrer perda de postos de trabalho de pessoas ocupadas nessas atividades. Conforme identificado no diagnóstico das atividades econômicas na AII (Seção 8.3.3), o potencial turístico da região é pouco explorado. As praias de estiagem e as corredeiras localizadas no rio Teles Pires servem mais como locais de lazer das populações locais do que como atrativos turísticos para gente de fora (ver avaliação do Impacto 9.09). O empreendimento poderá afetar também as atividades de pescadores profissionais registrados nos municípios diretamente afetados, pertencentes à Colônia de Pescadores de Sinop. Vale lembrar que a captura de peixes comuns ou ornamentais é permitida somente aos pescadores profissionais registrados na Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca (SEAP) e cadastrados na SEMA/MT, de acordo com o Art. 3º, § 1º do Decreto Estadual Nº 7.175/06, que disciplina a captura, o transporte e o comércio de peixes ornamentais, iscas vivas e pescado no âmbito do Estado de Mato Grosso. Em Itaúba, existem aproximadamente 40 pescadores que sobrevivem da pesca no rio Teles Pires e em seus afluentes; em Colíder, existem 8 ou 9 pescadores profissionais registrados; em Nova Canaã do Norte, estima-se que apenas 12 pescadores vivam atualmente da pesca; não foi possível descobrir quantos pescadores profissionais existem em Cláudia. A renda média de um pescador varia de um a dois salários mínimos, sendo que todo profissional registrado tem direito ao salário-desemprego na época da piracema. Várias ilhas no rio Teles Pires, no trecho diretamente afetado, contam com alguma espécie de rancho para apoio aos pescadores. As necessidades diretas de reassentamento involuntário e compensação social no caso do empreendimento do AHE Colíder, quando comparadas com outras barragens já realizadas ou por realizar no país, são muito pequenas, fato este que se deve ao relativo isolamento e à baixíssima densidade populacional da área. Entretanto, para as pessoas afetadas, os impactos serão sempre significativos, podendo implicar, além dos efeitos sobre o rendimento mensal familiar, em dificuldades de re-inserção econômica, incômodos relacionados à mudança e problemas de adaptação às novas condições nos futuros locais de moradia ou trabalho. Todos os trabalhadores que sofrerem perda ou redução do rendimento mensal em função de impactos diretos e indiretos sobre as atividades agrossilvopastoris, turísticas, pesqueiras e de transporte fluvial (balsa), assim como a perda de fontes de subsistência (roças, pesca), terão direito a compensações sociais, desde que os registros profissionais ou vínculos empregatícios, assim como os prejuízos possivelmente causados pelo empreendimento, possam ser comprovados.

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AHE Colíder – 300 MW 151 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - Volume IV

9.07 Risco de tensões entre mão-de-obra imigrante e população local Conforme descrito na avaliação do Impacto 9.04, devido ao potencial de geração de empregos durante a construção, o empreendimento poderá atrair fluxos migratórios para as localidades anfitriãs. As notícias sobre a criação de novos empregos e a dinamização da economia na região tendem a se espalhar, gerando um afluxo adicional de mão-de-obra para as localidades de Colíder e Sinop, em busca de oportunidades de trabalho. Esse contingente adicional de imigrantes pode vir a exceder a demanda real do mercado de trabalho nestes municípios, de modo que há o risco de que as pessoas não incluídas venham a engrossar o mercado informal ou a população desocupada, agravando problemas sociais. A maioria da população empregada, imigrante ou local, ficará alojada no canteiro de obras principal, numa área de 10 mil metros quadrados, capaz de hospedar, com folga e com a infra-estrutura necessária, todo o contingente ocupado na condição de pico das obras. Assim, não serão geradas demandas diretas de habitação e infra-estrutura urbana nas cidades anfitriãs. No entanto, a dinamização das economias locais, assim como a demanda por lazer da população imigrante empregada nas obras, durante os fins-de-semana, estimulará a abertura de bares, lanchonetes, restaurantes e casas de tolerância. Cabe ressaltar que a mão-de-obra imigrante ocupada nas obras será composta, principalmente, de homens solteiros, ou que não trarão suas famílias consigo, e, em sua maioria, com nível de instrução médio ou baixo. Considerando-se que a razão de sexos no estado e na AII indica a predominância do sexo masculino na população residente total, a probabilidade de consumo excessivo de álcool e de agressões, de maior incidência entre os homens, tende a aumentar. Além disso, o incremento populacional poderá facilitar a proliferação de endemias (malária, dengue) e de outras doenças infecto-contagiosas, como as DST (doenças sexualmente transmissíveis). Todos esses fatores podem contribuir para gerar, nas comunidades anfitriãs, uma indisposição contra o elemento estranho, mesmo que este seja oriundo de cidades próximas (AII ou AAR), estimulando temores, xenofobias e desentendimentos. Este risco será significativamente reduzido pelas características dos contratos de trabalho da mão-de-obra, que prevêem períodos ininterruptos de trabalho, alternados com folgas para visitas às cidades de origem. Não obstante, todos os trabalhadores envolvidos na obra serão submetidos a um treinamento de admissão (incluindo o pessoal das empresas sub-contratadas), ocasião em que serão apresentadas boas práticas de conduta com relação aos demais funcionários e à população local. Reforçando este treinamento, os funcionários assinarão um Código de Conduta, comprometendo-se a não se envolverem em atividades anti-sociais, sob pena de demissão imediata.

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AHE Colíder – 300 MW 152 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - Volume IV

9.08 Geração de expectativas da população local sobre o empreendimento Empreendimentos do porte do AHE Colíder podem provocar alterações na rotina dos moradores das localidades anfitriãs, gerando expectativas negativas e positivas sobre seus possíveis desdobramentos. Deste modo, é natural que se criem, junto às populações locais, expectativas e posições favoráveis em relação ao empreendimento, associadas aos impactos econômicos positivos (geração de empregos, dinamização do comércio e dos serviços, incremento na arrecadação fiscal, etc.). Por outro lado, surgirão expectativas negativas, associadas à perda de moradias e benfeitorias na área de inundação do reservatório, a interferências com áreas de produção agrícola e atividades turísticas e pesqueiras, à atração de fluxos migratórios para as cidades e suas possíveis conseqüências em termos de aumento do desemprego, da criminalidade e dos riscos à saúde pública. Além disso, poderão surgir posições contrárias devido aos impactos ambientais e paisagísticos do empreendimento, como a supressão de florestas, a degradação da qualidade da água do rio Teles Pires, os impactos sobre a ictiofauna, a inundação de cachoeiras, praias e ilhas, etc.. As especulações sobre os impactos do empreendimento começarão na fase dos estudos ambientais (levantamentos de campo e contatos com proprietários de terras, autoridades e técnicos municipais), intensificando-se durante o processo de licenciamento ambiental, incluindo as audiências públicas, e, principalmente, após o início das negociações para aquisição de terras e das ações de contratação da mão-de-obra, que poderão gerar expectativas exageradas sobre os valores das indenizações às pessoas afetadas e o potencial de geração de empregos, respectivamente. Este último fator é particularmente importante, na medida em que a notícia da abertura de novos postos de trabalho poderá circular através de uma região muito mais ampla que a própria AAR, atingindo parentes e amigos dos moradores das localidades anfitriãs, e atraindo fluxos migratórios. Depois de transcorrido o primeiro ano de construção, as expectativas tendem a diminuir em função da acomodação das pessoas à realidade dos fatos e às implicações positivas e negativas das obras. No entanto, ainda restarão dúvidas e inseguranças a respeito das conseqüências advindas do término das obras, que somente serão sanadas algum tempo após a completa desmobilização do pessoal e a readaptação das comunidades locais à situação sem a demanda extra por bens e serviços gerada pelas obras. Tanto as expectativas negativas quanto as positivas deverão ser trabalhadas no âmbito de um programa de comunicação social, que divulgará as ações e fases do empreendimento, informando os diferentes públicos-alvos sobre a real demanda de mão-de-obra durante as obras, as principais características do projeto e seus possíveis impactos ambientais e sociais durante as fases de construção e operação.

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9.09 Interferências com áreas e atividades de lazer da população local Nos municípios da AII, as populações locais têm algumas de suas atividades de lazer associadas ao desfrute de atrativos paisagísticos, como a pesca amadora e os banhos de rio em cachoeiras e praias fluviais do rio Teles Pires e seus afluentes, que atraem inclusive pessoas de localidades vizinhas, propiciando o encontro e a integração das comunidades. Os impactos ambientais associados às obras, principalmente as alterações na qualidade da água do rio Teles Pires e na ictiofauna, próximo ao local da obra e a jusante (ver Impacto 1.01), assim como os impactos potenciais da formação do reservatório, que eliminará praias, ilhas e corredeiras, alterando a paisagem, podem vir a reduzir os locais e as possibilidades de lazer da população local. No município de Colíder, a pesca amadora é praticada como atividade de lazer por moradores, principalmente nos finais de semana. Algumas cachoeiras de afluentes do rio Teles Pires, como as do Rio do Meio, do Mercúrio (local com infra-estrutura para a realização de festividades) e da região do Triângulo, também atraem pessoas nos fins-de-semana, além de visitantes de municípios vizinhos. O Festival de Pesca de Colíder já teve grande importância, mas já não ocorre todo ano. As praias do Teles Pires também já foram utilizadas como locais de lazer e atrativos turísticos, porém, foram desativadas por motivos de segurança. Em Itaúba, os principais atrativos paisagísticos são os rios Teles Pires e Renato, onde a população local desfruta da pesca e dos esportes náuticos e também de banhos de rios nas praias de estiagem. O Balneário Barro Preto, às margens do rio Renato, é a principal atração. Em Nova Canaã do Norte, há a Praia da Balsa um Festival de Pesca no rio Teles Pires, além de duas cachoeiras (rio Perdido e a do Triângulo, já citada) e do Balneário MB. Embora muitas praias se formem na época da seca, no trecho do rio Teles Pires diretamente afetado pelo empreendimento, os locais de lazer mais utilizados pelas populações locais se localizam a jusante do AHE Colíder, ou em afluentes do Teles Pires, fora da área de inundação. Deste modo, a implantação do empreendimento não deverá provocar impactos significativos em locais e atividades de lazer dos moradores dos municípios citados. 9.10 Incômodos à população devido ao tráfego pesado e a alterações em estradas rurais, acessos e travessias O rio Teles Pires já se constitui em barreira física natural no trecho afetado pelo empreendimento. Não existem pontes sobre o rio, apenas duas travessias por balsa, uma delas localizada próximo à cidade de Itaúba e à BR-163, e a outra, cerca de 15 km a jusante do sítio do aproveitamento.

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Para a implantação do acesso principal ao canteiro de obras e de acessos secundários às frentes de trabalho e áreas de apoio (jazidas, bota-fora) do empreendimento, será preciso executar pequenas melhorias no sistema viário existente, como alargamentos, correção de processos erosivos e cotovelos muito fechados, abertura de desvios e outras intervenções, visto que as estradas vicinais não apresentam condições de conservação nem de geometria adequadas para suportar o trânsito de veículos pesados a ser gerado pelo transporte de materiais. O acesso principal ao local do empreendimento será feito a partir da cidade de Colíder, pela estrada de terra que contorna a Serra Formosa e serve de acesso às comunidades de São Sebastião e Santo Antonio, bem como à balsa que atravessa o rio Teles Pires, a jusante do local do barramento. Na margem direita, antes de se alcançar a balsa, a partir de uma ramificação desta estrada, percorre-se cerca de 47 km, chegando-se a um lugarejo chamado Triângulo, donde se toma a esquerda e segue-se por mais 18 km, atravessando a Serra Formosa, para chegar à sede da Fazenda Assunção, no local do eixo de barramento. Para o acesso à margem esquerda, continua-se na mesma estrada que parte de Colíder até atravessar a balsa. Nesta margem, a estrada desenha uma longa volta de aproximadamente 50 km, até a Fazenda Bela Vista, cuja sede se encontra a poucos quilômetros do eixo de barramento. Acessos secundários deverão ser construídos proporcionando a ligação entre as jazidas e bota-foras com o acesso principal, área do barramento e casa de força. Deverá também ser construída a ligação entre os canteiros e as frentes de serviço do barramento e a casa de força. Outro acesso secundário possível à margem esquerda do rio Teles Pires se dará a partir de Sinop, via BR-163 e MT-220/010. Esta estrada estadual cruza o rio Teles Pires através de ponte, dando acesso a estradas vicinais e acessos a fazendas situadas próximo ao local da obra. Embora este acesso seja mais longo e não esteja, em princípio, previsto pelo empreendedor como acesso principal ao local do empreendimento, é possível que venha a ter alguma utilidade para o transporte de materiais de construção, ajudando a aliviar a demanda sobre a BR-163. O tráfego pesado dos caminhões a serviço da construtora e de suas sub-contratadas gerará poeira em suspensão, aumento dos níveis de ruído, riscos de acidentes de trânsito (sobretudo na BR-163) e problemas de conservação dos pavimentos das vias (principalmente nos acessos vicinais). Juntamente com as intervenções a realizar em estradas, acessos a fazendas e travessias de cursos d’água, poderão provocar incômodos aos proprietários das áreas atravessadas, bem como aos moradores e trabalhadores que utilizam com freqüência esses caminhos.

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As operações das balsas citadas também poderão ser afetadas, seja pelo tráfego de caminhões (balsa a jusante do barramento), seja pela interrupção devido ao enchimento do reservatório (balsa de Itaúba). Neste segundo caso, será preciso planejar e construir novas instalações em função da elevação do nível d’água, a fim de minimizar o tempo de interrupção dos serviços e os incômodos associados à população usuária. Felizmente, as duas balsas não são travessias de intensa utilização, ainda que sejam importantes como ligações locais entre as áreas rurais situadas em ambas margens do rio Teles Pires. Com o enchimento do reservatório, também serão inundados trechos de estradas vicinais que dão acesso e interligam as propriedades rurais da AID. Os trechos afetados englobam, principalmente, segmentos em que as estradas vicinais atravessam os vales de ribeirões e córregos que serão também inundados, formando os braços do reservatório. Serão afetadas, além desses trechos de estradas, as pontes de madeira existentes sobre os afluentes inundados. Alguns trechos de vias dão acesso das propriedades às margens do rio Teles Pires, mas há segmentos que são utilizados por moradores para acessar suas propriedades. Com a formação do reservatório, o acesso a algumas propriedades deverá ser alterado, em função da necessidade de contornar o braço do reservatório. Estima-se, preliminarmente, que será necessário realocar 7 km de estradas vicinais. Desvios, trechos a serem realocados e novos trechos a serem abertos deverão ser objetos de planejamento prévio, a fim de garantir condições adequadas de acessibilidade à população usuária. No final, após a recuperação de trechos deteriorados pelo tráfego de veículos pesados (ver Impacto 13.01) e a adoção de medidas de adequação do sistema viário, o novo arranjo de vias deverá exibir dimensões mais adequadas e seguras do que as atuais. Os incômodos causados à população usuária e aos moradores existentes ao longo das vias utilizadas tendem a diminuir à medida que as pessoas forem se acostumando às mudanças introduzidas, e as obras forem chegando ao seu término. 10. Impactos nas Atividades Econômicas 10.01 Aumento das receitas fiscais durante a construção e a operação A construção e a operação do empreendimento envolverão atividades que serão fatos geradores de arrecadação de impostos e taxas. Para efeitos desta avaliação de impacto, interessa identificar, sobretudo, aqueles tributos recolhidos diretamente aos cofres dos municípios afetados pelo empreendimento, ou indiretamente, mediante repasses ou transferências constitucionais do estado ou da União.

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O primeiro impacto do empreendimento na arrecadação tributária direta dos municípios que terão áreas inundadas pelo reservatório – Colíder, Nova Canaã do Norte, Itaúba e Cláudia -, começará a ser contabilizado após a obtenção da Licença Prévia. As desapropriações por utilidade pública, tanto das áreas inundadas quanto das áreas inseridas na APP do futuro reservatório, constituirão fatos geradores do Imposto sobre Transferência de Bens Imóveis (ITBI). A competência impositiva do ITBI é do município da situação dos bens imóveis a serem transmitidos e dos direitos a eles relativos (art. 156, § 2º, II da CF), sendo irrelevante o fato de que a escritura aquisitiva seja lavrada em outro município ou em outro estado. A base de cálculo desse imposto é o valor venal dos bens ou direitos transmitidos, tal como usado para a cobrança do ITR ou do IPTU, e a alíquota máxima é de 2%, cabendo ao município a definição da alíquota específica. Vale lembrar que o imposto não incide sobre a aquisição da propriedade por usucapião. Outro imposto resultante das desapropriações será o Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural (ITR), que tem como fato gerador a propriedade, o domínio útil ou a posse de imóvel localizado fora da zona urbana do município. O ITR é um imposto de arrecadação federal, sendo que 50% do montante são repassados aos municípios. A contribuição é calculada em função da “área tributável” do imóvel, que exclui APPs, áreas de reserva legal e áreas declaradas de interesse ecológico. Especificamente no caso em tela, somente serão desapropriadas por inteiro as propriedades cujas áreas remanescentes ficarem com seu aproveitamento econômico inviabilizado. Ou seja, o empreendedor desapropriará, principalmente, as terras que forem inundadas ou ficarem dentro da APP do reservatório. Deste modo, o impacto sobre o recolhimento de ITR aos cofres públicos será negativo, diminuindo em relação à situação atual, uma vez que o imposto não incide sobre áreas não aproveitáveis. Durante a construção, a cada etapa da obra, será recolhido o Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS ou ISSQN) aos cofres dos municípios onde ficarão instalados os canteiros. O fato gerador do ISSQN (ou simplesmente ISS) é a prestação dos serviços de qualquer natureza, realizada por empresa ou profissional autônomo, desde que tais serviços estejam compreendidos na lista anexa à Lei Complementar No 116/03. No caso dos serviços de construção civil, o recolhimento do ISSQN deve ser feito no local aonde os serviços serão prestados, sendo do município o direito exclusivo à cobrança. A alíquota pode variar de 2% a 5%, cabendo ao município defini-la. A base de cálculo para o ISSQN da construção será o valor total estipulado no contrato de construção, deduzidos os custos com a aquisição dos componentes eletromecânicos que virão compor o ativo imobilizado da usina.

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Com base na estimativa do empreendedor, o custo total dos serviços de construção do AHE Colíder (obras civis e eletromecânicas do conjunto barragem-usina-subestação), excluídos os custos de aquisição de terras, realocações e ações sócio-ambientais, e considerando a atualização monetária do investimento em 18,1%, está orçado em R$ 1.323.714.700,00, para 40 meses ou 3 anos de obras, o que resulta num valor médio de R$ 441.238.230,00 por ano. Aplicando-se uma alíquota média de 3,5% de ISSQN sobre esse custo, a arrecadação total durante os cinco anos de obra seria de R$ 46.330.000,00, ou aproximadamente R$ 15.443.000,00 por ano, na média. Em princípio, o montante de ISSQN devido pela construtora será partilhado igualmente entre os tesouros dos municípios de Colíder, Itaúba e Nova Canaã do Norte, onde serão realizadas obras, cabendo, portanto, 5,14 milhões de reais para cada um. De acordo com os dados apresentados na Tabela 8.3.4.a (Seção 8.3.4), em Colíder, o total de receitas correntes no exercício de 2006 era de aproximadamente R$ 20.755.000,00; em Nova Canaã do Norte, de R$ 11.078.000,00; e em Itaúba, de R$ 7.133.000,00. Donde se verifica que o aumento das receitas correntes municipais, durante cada ano de obra, poderá ser de 24,8% em Colíder, 46,4% em Nova Canaã do Norte e 72% em Itaúba, com base nos valores arrecadados pelas respectivas prefeituras em 2006. Na fase de construção do empreendimento, não haverá recolhimento do Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual, Intermunicipal e de Comunicação (ICMS) que possa resultar em impacto significativo sobre as receitas dos municípios onde se localizará a obra. A construtora não produzirá mercadorias para venda a terceiros, fora do local da prestação dos serviços. O imposto também não incidirá sobre o fornecimento de material adquirido de terceiros por empreiteiro ou subempreiteiro para aplicação na obra, nem sobre a saída de máquinas, veículos, ferramentas ou utensílios para prestação de serviço em obra, desde que os mesmos retornem ao estabelecimento do remetente. No entanto, o ICMS poderá incidir nas operações que envolverem: saídas de materiais destinados a terceiros, inclusive sobras e resíduos decorrentes da obra; a entrada de mercadoria importada do exterior; e a entrada, no estabelecimento da empresa, de mercadoria oriunda de outro estado, destinada a consumo ou a ativo fixo. As alíquotas do ICMS variam em cada estado, segundo o tipo de mercadoria ou operação. No Estado de Mato Grosso, as alíquotas estabelecidas pela Lei Estadual No 7.098/98 (e suas alterações posteriores) variam de 4% a 30%. No Estado do Pará, a Lei Estadual No 5.530/89 e suas alterações posteriores estabelecem percentuais entre 12% e 30%. Diferenças de alíquota em operações interestaduais devem ser contabilizadas. Especificamente no Mato Grosso, a Lei Estadual Nº 7.293/00, alterada pela Lei Nº 8.629/06, regulamentada pelo Decreto No 215/07, estabelece que as empresas que pretendam implantar projetos de geração de energia elétrica no estado terão, limitadas ao prazo de 21 (vinte e um) anos, garantias legais quanto ao diferimento do ICMS incidente, no momento da saída, em operações de importação de mercadorias ou relativo ao diferencial de alíquotas incidente nas operações interestaduais para aquisição de bens e/ou serviços de transporte. As operações inerentes às aquisições internas e destinadas a esses empreendimentos serão tributadas nos

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AHE Colíder – 300 MW 158 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - Volume IV

termos da legislação vigente, permitindo-se, entretanto, o usufruto do crédito de ICMS pertinente. No caso em tela, só haverá recolhimento de ICMS quando a construtora adquirir materiais de construção, máquinas e equipamentos (incluindo os equipamentos eletromecânicos para a fase de operação), veículos e serviços de transporte em outros estados ou fora do país, ou comercializar resíduos. Como há previsão de consumo somente de materiais construção produzidos na região do empreendimento (exceto brita, que será obtida diretamente no local da obra, em função das escavações), e os equipamentos eletromecânicos da usina serão adquiridos provavelmente em outros estados, notadamente São Paulo, ou no exterior, não haverá repasse significativo de ICMS para os cofres dos municípios onde se localizará a obra. Na fase de operação, não haverá tributação de ICMS sobre a produção de energia elétrica, pois o tributo incide integralmente na saída ou entrega da mercadoria (energia) ao consumidor final. Em outras palavras, o ICMS incide somente sobre a distribuição, cabendo à concessionária do estado consumidor o recolhimento do tributo, com base em alíquotas variáveis conforme a classe e o tipo de consumo. No Estado de Mato Grosso, as alíquotas podem variar de 0 (consumo mensal até 100 KWh) a 30% (acima de 500 KWh). A remuneração pela geração de energia elétrica é realizada de uma maneira peculiar, pois as geradoras de energia celebram contratos de fornecimento com as distribuidoras, baseados na chamada “energia assegurada”, definida pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) como algo em torno de 55% da capacidade instalada. A energia assegurada torna-se uma das cláusulas do contrato de concessão, e é com base nela que se efetua o pagamento da geradora, independentemente de haver, ou não, a entrega “física” da energia. Na realidade, cabe ao Operador Nacional do Sistema Elétrico (NOS) coordenar essa entrega de energia. Como o sistema é interligado, o objetivo é manter estável a oferta de energia durante todo o ano, em todo o território nacional, mediante intercompensação de acordo com a alternância dos períodos de seca em cada região. Como forma de compensar estados produtores de energia elétrica pelo não recolhimento do ICMS, a Constituição Federal prevê a compensação pelo uso de recursos hídricos para fins de geração de energia elétrica (art. 20, § 1º), os chamados “royalties” (ver Seção 12.2.7). O valor da Compensação Financeira corresponde a 6,75% da energia de origem hidráulica efetivamente verificada, medida em MWh, multiplicados pela Tarifa Atualizada de Referência (TAR), fixada pela ANEEL. Na distribuição dos recursos, 0,75% são destinados ao MMA, e os 6% restantes, destinados da seguinte forma: 45% dos recursos aos municípios atingidos, proporcionalmente às áreas alagadas pelo reservatório ou ocupadas por instalações da usina; 45% aos estados onde se localizam os reservatórios, correspondentes à soma das áreas alagadas dos seus respectivos municípios; e 10% para a União. No caso do AHE Colíder, caberá ao Estado de Mato Grosso e aos municípios que terão áreas inundadas – Colíder, Nova Canaã do Norte, Itaúba e Cláudia - o percentual de 6% do valor calculado com base na fórmula, sendo 45% deste montante para os estados e 45% para os municípios, nas proporções de áreas inundadas (subtraídas as calhas dos rios):

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AHE Colíder – 300 MW 159 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - Volume IV

CF = Geração mensal x Tarifa Atualizada de Referência (ANEEL) x 6% Os valores anuais estimados para o Estado de MT e os municípios são apresentados na Tabela abaixo. Estimativa da compensação financeira aos estados e municípios pelo uso de recursos hídricos para fins de geração de energia elétrica (valores em MW, MWh e R$ de 2008) Parâmetros AHE Colíder

Potência firme (MW) 166,30

Tarifa R$ / MWh 124,43

Geração anual (MWh) 1.456.788

Geração mensal (MWh) 121.400

Total da Receita Anual (R$) 181.268.141,00

Total da compensação anual (R$) – Estado de MT e municípios (6%) 10.876.088,00

Total da compensação mensal (R$) 906.340,00

Total de repasse anual aos municípios (R$) 4.894.240,00

Total de repasse anual - Colíder (11,28919% da área alagada pelo reservatório) 552.520,00

Total de repasse anual – Nova Canaã do Norte (15,95818% da área alagada pelo reservatório) 781.032,00

Total de repasse anual - Itaúba (71,98606% da área alagada pelo reservatório) 3.523.170,00

Total de repasse anual - Cláudia (0,76655% da área alagada pelo reservatório) 37.517,00

Considerando os totais de receitas correntes informados na Tabela 8.3.4.a para o exercício de 2006 (ver Seção 8.3.4 – Finanças públicas), estima-se que, com o repasse anual destinado aos municípios como compensação financeira pelo uso dos recursos hídricos, o incremento anual nas receitas municipais será de aproximadamente 2,66% em Colíder, 7,05% em Nova Canaã do Norte, 49,39% em Itaúba e 0,30% em Cláudia. Essas compensações resultarão em aumento do Valor Adicionado dos municípios afetados e, conseqüentemente, do Estado de Mato Grosso. Disto derivará outra conseqüência importante para as finanças públicas: os “índices de participação dos municípios” dos municípios, utilizados para cálculo do montante de repasse do ICMS estadual, aumentarão, de modo que haverá um adicional indireto das receitas fiscais. Cada estado fixa alíquotas de ICMS sobre o valor das mercadorias e serviços tributáveis, de acordo com o tipo de mercadoria, serviço ou operação. Os montantes são recolhidos pelas Secretarias de Estado da Fazenda à União, e esta repassa para cada estado um montante de acordo com o seu índice de participação no conjunto do país. Deste montante estadual, a Constituição Federal determina que 75% fiquem com o estado e 25% sejam repassados aos municípios, proporcionalmente às suas cotas-parte ou aos chamados “índices de participação dos municípios”.

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AHE Colíder – 300 MW 160 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - Volume IV

O cálculo do índice de participação do município no rateio dos 25% do ICMS estadual é uma ponderação do Valor Adicionado municipal e de outros fatores geográficos e econômicos definidos em lei estadual específica. O valor adicionado corresponde ao valor das mercadorias saídas, acrescido do valor das prestações de serviços, no município, deduzido o valor das mercadorias entradas, em cada ano civil. No mínimo, ¾ ou 75% do índice de participação do município serão proporcionais ao valor adicionado nas operações relativas à circulação de mercadorias e nas prestações de serviços realizadas em seu território (CF, art. 158, IV, Parágrafo único). No Estado de Mato Grosso, a Lei Complementar Nº 157/04 estabelece as normas relativas ao cálculo dos índices de participação dos municípios no produto da arrecadação do ICMS. De acordo com o art. 2º desta lei, 75% do índice serão proporcionais ao valor adicionado municipal, obtido pela média geométrica da relação entre os valores adicionados de cada município e os valores totais do estado, para os dois anos civis imediatamente anteriores ao da apuração. Os outros 25% do índice são definidos em função de outros fatores, a saber, as proporções entre município e estado em termos de receita tributária própria, população, área territorial, IDH (índices de desenvolvimento humano) e área de unidades de conservação e/ou terras indígenas. Note-se que o valor adicionado de cada município é bem diferente de sua arrecadação de ICMS, porque, para efeito da apuração do valor adicionado, são consideradas também as operações não tributadas, por força de isenção ou não incidência do ICMS. O ICMS é não-cumulativo, de modo que, a título de compensação, “é assegurado ao sujeito passivo o direito de creditar-se do imposto anteriormente cobrado em operações de que tenha resultado a entrada de mercadoria, real ou simbólica, no estabelecimento, inclusive a destinada ao seu uso ou consumo ou ao ativo permanente, ou o recebimento de serviços de transporte interestadual e intermunicipal ou de comunicação” (Lei Kandir, art. 20). Além disso, pode haver renúncia fiscal dos estados (incentivos) com a finalidade de atrair investidores ou estimular determinado setor produtivo. Outros impostos incidirão sobre a compra de produtos e serviços por parte da construtora, como IPI, IPVA e CIDE, todos de competência da União. Sobre a mão-de-obra contratada, além do ISSQN, que é de competência municipal, incidirão o IRRF e os encargos sociais (PIS, COFINS, CSLL), de competência federal. De acordo com o art. 159 da CF, do produto da arrecadação dos impostos sobre renda e outros proventos (IRRF, IRPJ) e produtos industrializados (IPI), 48% serão distribuídos pela União para: o Fundo de Participação dos Estados e do Distrito Federal (21,5%); o Fundo de Participação dos Municípios – FPM (23,5%); e programas de financiamento ao setor produtivo das Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, através de suas instituições financeiras de caráter regional (3%). Além disso, do produto da arrecadação do IPI, 10% são repassados aos estados, proporcionalmente ao valor das respectivas exportações de produtos industrializados, sendo que, desse montante, o estado deve repassar ¼ para os municípios onde foram fabricados esses produtos.

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AHE Colíder – 300 MW 161 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - Volume IV

Do Imposto sobre Veículos Automotores (IPVA), a União repassa ao município 50% do montante relativo aos veículos registrados em seu território. Do produto da arrecadação da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE), 29% são repassados aos estados. Além de todas estas implicações tributárias, o empreendimento gerará, diretamente, o pagamento de taxas relativas aos processos de desapropriação e escrituração dos imóveis adquiridos junto aos cartórios de registro, bem como para obtenção dos alvarás do canteiro de obras, entre outras atividades. Indiretamente, a dinamização da economia nos municípios da AII durante a construção (ver Impacto 10.03), incluindo Colíder e Sinop, prováveis pólos fornecedor de bens e serviços para o empreendimento, implicará o aumento das contribuições fiscais às receitas municipais, estaduais e federais. Conclui-se, portanto, que o impacto do empreendimento será extremamente positivo e de alta intensidade para os municípios onde se localizará a obra, resultando no aumento das receitas fiscais diretas e indiretas. O impacto será de caráter temporário durante as obras, mas permanente durante a operação. O Estado de Mato Grosso também será beneficiado em termos de aumento do valor adicionado e dos repasses tributários da União, ainda que com menor intensidade do que os municípios. O segundo fator a contribuir indiretamente para este impacto positivo será o aumento das receitas fiscais dos municípios beneficiados pela arrecadação de ISSQN durante as obras e pelo pagamento de royalties durante a operação. Os acréscimos nas capacidades de investimento das respectivas prefeituras possibilitarão a ampliação da cobertura das redes de infra-estrutura e a melhoria da qualidade dos serviços públicos, dos quais depende a maior parte da população residente. 10.02 Alterações nos valores imobiliários durante a construção e a operação As alterações nos valores imobiliários decorrentes da implantação do empreendimento nos municípios da AII poderão trazer efeitos negativos e positivos sobre as economias locais. De um lado, os efeitos poderão ser positivos, se provocarem o aumento da renda da terra auferida por proprietários de imóveis rurais e urbanos, e, conseqüentemente, o aumento do consumo das respectivas famílias ou dos investimentos em atividades produtivas. Por outro lado, poderão ser negativos, se implicarem o aumento do custo de vida (preços dos aluguéis e arrendamentos) ou dificultarem o acesso à propriedade para fins residenciais ou produtivos (preço de venda da gleba de terra nua ou do lote urbano).

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AHE Colíder – 300 MW 162 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - Volume IV

No campo, há uma variação considerável dos preços das propriedades, em função dos diversos fatores a considerar na avaliação patrimonial de um imóvel rural: facilidade de acesso, topografia, tipo e fertilidade do solo, disponibilidade de água, área aproveitável ou agricultável, benfeitorias existentes e outros aspectos pertinentes. De um modo geral, as terras rurais próximas aos limites dos perímetros urbanos são sempre mais valorizadas do que as terras mais distantes, em qualquer região. Nas cidades, os imóveis são mais valorizados devido ao maior aporte de capital socialmente produzido na urbanização, lógica esta que atinge seu ápice nas áreas mais centrais, onde se concentram os serviços urbanos, o que eleva os coeficientes de aproveitamento dos lotes, propiciando a verticalização e o adensamento. No caso do empreendimento em tela, a inflação nos preços das terras rurais na AID deverá começar a ocorrer logo na fase de planejamento e elaboração do EIA/RIMA, como resultado das primeiras atividades de levantamento das propriedades afetadas pelo projeto. Após a realização das audiências públicas nos municípios diretamente afetados, as especulações com os preços das terras rurais aumentarão, atingindo seu ápice após a emissão da Licença Prévia e da realização do processo de concorrência (leilão para concessão), quando então serão ativados os processos de negociação para desapropriação das áreas a serem inundadas ou incluídas na APP do futuro reservatório. É esperado que um empreendimento hidrelétrico do porte do AHE Colíder constitua um fator indutor de valorização dos imóveis diretamente afetados, provocando o aumento dos preços até então praticados no mercado de terras da região. Os grandes proprietários, que são os que têm maior poder de barganha, tendem a supervalorizar suas propriedades diante da perspectiva de desapropriação por utilidade pública. De qualquer modo, algumas propriedades continuarão economicamente viáveis após a perda de parte de sua área para o reservatório, e receberão indenização apenas pela parte perdida; outras terão sua viabilidade econômica comprometida, devendo receber indenização total. Famílias a serem removidas, mas que não são proprietárias, receberão compensações financeiras pela perda de benfeitorias, não cabendo indenização no sentido estrito. Assim, uma avaliação patrimonial bem feita, executada de acordo com as normas técnicas da ABNT, e uma gestão transparente das negociações com os proprietários afetados, são medidas indispensáveis para garantir desapropriações amigáveis e a preços justos. Segundo informado no diagnóstico das atividades econômicas na AII (Seção 8.3.3), predomina nos municípios da AII a grande propriedade, com área acima de 500 hectares, existindo também propriedades de menor porte. Foram levantados valores entre R$ 6 e 7 mil reais por alqueire paulista, nas terras próximas ao rio Teles Pires. Na fase de construção, a abertura de estradas de serviço e a alteração do traçado de vias interceptadas por braços do reservatório também são ações do empreendimento que podem resultar em valorização imobiliária das propriedades atravessadas, uma vez que as condições de acesso viário na região são bastante limitadas. O regime de uso desses caminhos, e a decisão sobre a sua permanência ou desativação, serão objetos de definição posterior, cabendo, porém, na fase de construção, medidas de restrição e controle do acesso. Devido à situação de isolamento do local da obra, a maior parte da população empregada ficará hospedada no alojamento junto ao canteiro de obras principal. Mesmo no caso da força

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AHE Colíder – 300 MW 163 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - Volume IV

de trabalho local contratada pelas construtoras, está prevista a dispensa ou retorno aos locais de residência fixa apenas nos fins-de-semana. Eventualmente, o pessoal de empresas subcontratadas terá que se hospedar em Colíder ou em Sinop. Mesmo assim, não haverá aumento significativo da demanda da população empregada no empreendimento por habitação e hospedagem nas cidades da região, o que poderia pressionar para o aumento dos preços dos imóveis urbanos e seus impactos associados. No entanto, indiretamente, as obras provocarão o aumento da demanda por bens e serviços nos centros urbanos mais próximos (alimentação, hospedagem, serviços de saúde, lazer, etc.), e gerarão aumento da massa salarial em circulação, dinamizando as economias locais durante os 40 meses de construção. Assim, é possível que ocorra um aumento dos preços dos imóveis urbanos, em função do aumento da demanda residencial e comercial. A intensidade deste aumento dependerá, porém, de outros fatores condicionantes, como a intensidade dos fluxos migratórios, o ritmo do crescimento da população e da área urbana, e o comportamento dos preços dos imóveis após as desapropriações e a formação do reservatório. Conforme o diagnóstico da dinâmica demográfica dos municípios da AII (Seção 8.3.2), as taxas de crescimento foram positivas no período 2000-2007, sobretudo em Sinop, com exceção de Itaúba, onde a taxa foi negativa. A cidade de Colíder, na condição de pólo urbano da microrregião, com cerca de 30 mil habitantes, será o principal provedor de bens e serviços de apoio ao empreendimento, ao longo do ciclo de construção. Devido ao porte populacional do município, à sua taxa de urbanização, e à existência de um mercado de terras mais estruturado e organizado e de propriedades mais caras, a margem para uma valorização relativa dos imóveis rurais e urbanos é menor. Por outro lado, a demanda por terras e solo urbano, ao longo de 5 anos de construção, poderá aumentar, como decorrência de um maior desenvolvimento econômico. Na fase de operação, poderá ocorrer a valorização dos imóveis com frente para o reservatório, que tende a constituir estímulo aos usos recreativos e turísticos. Loteamentos de chácaras de recreio, pousadas, pesqueiros, etc., poderão surgir, levando ou não ao parcelamento do solo rural. A influência do empreendimento nos processos de valorização imobiliária só pode ser medida ao longo do tempo, uma vez que é um efeito indireto de segunda ordem, decorrente de impactos indiretos. O monitoramento dos preços dos imóveis rurais e urbanos até dois anos após o término das obras, tendo como linha-base os acordos de desapropriação efetivados no âmbito do licenciamento, é uma forma de verificar o impacto efetivo do empreendimento sobre os valores imobiliários na AID e na AII. Por último, é importante ressaltar que, na fase final das obras e após a sua conclusão, tende a ocorrer um processo de desaquecimento ou retração da economia nas localidades anfitriãs. A desmobilização das equipes no último ano de obra e o retorno de parte do pessoal para seus locais de origem representará uma queda mais ou menos abrupta da demanda por bens e serviços, a que os mercados locais de terras nos municípios da AII terão que se adaptar. É possível que ocorram, inclusive, processos de desvalorização relativa dos imóveis, dependendo da intensidade da queda nas taxas de crescimento das economias locais. É

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improvável, porém, que os imóveis sofram desvalorização acentuada, devido ao acréscimo de capital fixo (construções) e aos processos de valorização ocorridos durante a fase de construção. Nesse sentido, é importante que as municipalidades catalisem os benefícios fiscais resultantes do empreendimento na promoção do desenvolvimento sustentável local, estimulando setores produtivos estratégicos, que ajudem a criar um dinamismo próprio para a economia, tornando-a menos dependente de fatores externos. 10.03 Dinamização das economias locais durante a construção O período das obras, estimado em 40 meses ou 3 anos, provocará um aumento significativo da demanda direta da construtora por bens e serviços na região de influência indireta do empreendimento, sobretudo de materiais de construção, bens de consumo não-duráveis (alimentos, remédios, produtos de higiene pessoal, etc.) e serviços (transporte, hospedagem, telefonia, correios, etc.). Com base nas características econômicas dos núcleos urbanos, descritas na Seção 8.3.3, é presumível que o município de Colíder polarize parte significativa dessa demanda, devido ao maior porte e diversificação da sua economia e à sua relativa proximidade com o local da obra. A cidade de Sinop, localizada a cerca de 130 km de Colíder, pela BR-163, será outro pólo econômico da região norte-matogrossense a fornecer mercadorias e serviços. Nova Canaã do Norte e Itaúba também poderão se beneficiar, mas, por terem estruturas de comércio e serviços muito modestas, dificilmente poderão atender demandas por bens e serviços em maior quantidade ou de caráter mais complexo. Indiretamente, tendem a ocorrer efeitos multiplicadores sobre a economia, na medida em que parte da massa salarial da população empregada na obra ficará na região, revertendo-se em consumo. Além disso, fatalmente haverá algum incremento populacional em Colíder e Sinop, devido à migração das famílias dos empregados e de pessoas em busca de oportunidades de trabalho. Com o aquecimento do consumo, os donos de estabelecimentos precisarão contratar mais pessoal, o que gerará mais renda e massa salarial pra ser gasta na região. O mercado imobiliário também ser aquecido, e com ele, o setor de construção civil. Outro importante fator de dinamização econômica será o aumento direto e indireto das receitas fiscais nos municípios da AII (exceto Sinop), conforme descrito na avaliação do Impacto 10.01. Assim, pode-se esperar a ampliação dos investimentos públicos em obras nos setores de saneamento, habitação, saúde, educação, lazer, etc., o que deverá gerar mais contratações temporárias e cargos permanentes, mais renda e assim por diante.

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10.04 Retração econômica ao final da fase de construção A desmobilização gradativa do pessoal no último ano de obras tende a provocar uma queda significativa na demanda por bens e serviços nas localidades anfitriãs, podendo deflagrar um processo de retração econômica. Ou seja, o impacto de dinamização da economia (Impacto 10.03) tende a ser revertido com o fim das obras. Este impacto de desaquecimento tende a ser mais intenso em Colíder, que será o principal pólo fornecedor de bens e serviços durante a fase de construção. No entanto, a intensidade do impacto dependerá, fundamentalmente, do afluxo de imigrantes e do crescimento verificado no setor terciário. É bastante provável que algumas empresas e serviços criados para aproveitar o aumento das demandas na fase construtiva sejam desativados no decorrer do processo de retração econômica. Quanto maior for o “inchaço” da demanda e da oferta nas economias locais durante o período de dinamização provocado pelas obras, maior tende a ser a intensidade do processo de reorganização ou acomodação da economia após o término da construção. Em certa medida, o aumento das receitas fiscais ajudará a compensar uma pequena parte do potencial de geração de riqueza perdido com o término das obras. Conforme já citado anteriormente, é importante que as municipalidades catalisem os benefícios econômicos e fiscais resultantes do empreendimento, durante a construção e a operação, na promoção do desenvolvimento sustentável local, estimulando setores produtivos estratégicos, que ajudem a criar um dinamismo próprio para a economia, tornando-a menos dependente de fatores externos ou predatórios, como tem sido marcante na história da região. 10.05 Perda de áreas de produção agrossilvopastoril A área de inundação do AHE Colíder totaliza 14.350 hectares (sem a calha do rio), dos quais 2.231 hectares são atualmente ocupados por pastagens cultivadas. Além disso, a criação da APP do reservatório (100 metros de largura) implicará uma perda adicional de área de pastagem. Essas áreas se distribuem pelas propriedades rurais da AID e servem à pecuária bovina extensiva, que é uma das principais atividades econômicas na região, juntamente com a atividade madeireira. A perda de áreas de pastagens em função da criação do reservatório e da sua APP não trarão impactos significativos para a atividade pecuária nos municípios afetados, uma vez representam pouco frente ao total de pastagens existente nos municípios da AII. Conforme caracterizado na Seção 8.3.3, a maior parte das propriedades rurais afetadas pelo reservatório é considerada de médio ou grande porte. Considerando-se uma proporção média de 02 cabeças de gado por hectare de pastagem, conforme verificado na região, a área de pastagens afetada pelo reservatório tem capacidade para suportar, aproximadamente, até 4400 cabeças de gado.

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Deve-se ressaltar, entretanto, que as propriedades que tiverem suas áreas úteis (já desmatadas) inundadas em proporção significativa, a ponto de comprometer a viabilidade do seu aproveitamento econômico, serão desapropriadas integralmente pelo empreendedor. Isto ajudará também a evitar pressões indiretas de desmatamento nas áreas remanescentes para compensar as perdas de área útil. Por outro lado, isso poderá implicar, indiretamente, a desmobilização da mão-de-obra ocupada nestas propriedades, exigindo medidas mitigadoras de compensação social (ver Impacto 9.06). As áreas de agricultura são pouco representativas na AID, servindo principalmente a cultivos familiares não-comerciais. Outra possibilidade de perda de áreas produtivas nas propriedades rurais da AID se refere à redução do potencial de exploração de madeira tropical e lenha. A implantação do AHE Colíder implicará a supressão de 121 km2 de formações nativas localizadas dentro da área de inundação.. Considerando-se que apenas 20% das áreas de floresta em cada propriedade seriam passíveis de derrubada para produção de madeira (restrição imposta pelo Código Florestal na Amazônia Legal), e que cada hectare da floresta amazônica tem capacidade para gerar até 05 metros cúbicos de madeira nobre para serraria, o potencial de exploração florestal perdido em função do empreendimento seria da ordem de 60 mil metros cúbicos. Este volume representa pouco da produção de madeira da AII e da região norte do Mato Grosso.. Conclui-se, portanto, que a perda de áreas de produção agrossilvopastoril devido à implantação do AHE Colíder constituirá impacto significativo no contexto da AID e da produção dos municípios da AII, principalmente no que se refere ao potencial de exploração florestal. A perda de áreas de pastagens, por sua vez, implicará redução muito pouco expressiva da produção pecuária. Note-se que a atividade madeireira na região tem sido realizada, com algumas exceções, de forma ilegal, sem manejo, e com base em relações de trabalho precárias. Devido às ações mais recentes do governo federal no combate ao desmatamento no norte do Mato Grosso, a atividade madeireira informal vem sofrendo franco desestímulo, ao passo que a exploração manejada e sustentada da floresta tende a aumentar. Entretanto, além da questão ambiental, deve-se ter em conta a questão do emprego, visto que a atividade madeireira é uma das que mais ocupa trabalhadores de baixa qualificação na região. 10.06 Interferências com atividades turísticas A exploração do turismo na região do rio Teles Pires está fortemente vinculada à pesca esportiva, e secundariamente, ao ecoturismo e aos esportes de aventura, conforme identificado no diagnóstico apresentado na Seção 8.3.3. Nesse contexto, há dois tipos de interferências possíveis com as atividades turísticas a serem consideradas na avaliação do impacto do AHE Colíder. A primeira interferência é de caráter direto, e diz respeito à perda de locais onde as atividades turísticas se concentram, no trecho de intervenção ou logo a jusante, tais como pousadas e

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ranchos de apoio à pesca esportiva situados às margens do rio, e locais utilizados para ecoturismo, esportes de aventura e banhos de rio, como trechos de afluentes do Teles Pires, ilhas, praias e corredeiras, os quais serão eliminados com a formação do lago. As únicas instalações de infra-estrutura de turismo que serão afetadas diretamente pela formação do reservatório serão a Pousada Ana Lima e o Recanto Dona Carmem (chácara de recreio). Ranchos de apoio à pesca esportiva, localizados às margens do Teles Pires e seus afluentes e em algumas das ilhas existentes, também serão afetados. Não serão eliminados locais de grande valor cênico ou paisagístico para turistas, como cachoeiras, tampouco locais utilizados para a realização de festividades. As praias que se formam na estação seca, às margens do Teles Pires ou de suas ilhas, são mais utilizadas como locais de lazer das populações locais, não constituindo atrativos turísticos propriamente ditos. Como a pesca esportiva não é praticada apenas no trecho abrangido pelo futuro reservatório, mas também a jusante da barragem, há uma segunda interferência do empreendimento sobre as atividades turísticas, de caráter indireto, e que está relacionada aos impactos sobre a ictiofauna do rio Teles Pires. Durante as obras, as interferências na qualidade da água e no regime fluvial a jusante do desvio do rio serão mais intensas, afetando os habitats aquáticos e, conseqüentemente, a pesca, tanto esportiva quanto profissional. Por questões de segurança, deverão ser interrompidas as atividades de pesca e turismo no trecho do rio Teles Pires a jusante da barragem durante os dias em que ocorrerá o enchimento do reservatório. Na fase de operação, a implantação do barramento e a transformação de ambientes lóticos em lênticos provocarão alterações permanentes nas dinâmicas de deslocamento e reprodução das populações de peixes. Isso tende a dificultar a ocorrência de espécies mais sensíveis ou menos adaptáveis às novas condições dos ambientes fluviais. Embora não afete diretamente ao turismo, na fase de enchimento do reservatório, a desativação temporária da operação da balsa de Itaúba, que realiza a travessia do rio Teles Pires no trecho de inundação (ver Impacto 9.10), poderá dificultar o tráfego de pessoas entre ambas as margens durante algum tempo. A balsa continuará operando após o enchimento do reservatório, mas em novo local, para onde será transferida a infra-estrutura do terminal de travessia. Conclui-se, portanto, que a atratividade turística nos municípios da AII, seja em função da pesca esportiva, seja pelos atrativos paisagísticos e ecológicos de quedas, corredeiras e praias fluviais, não será significativamente afetada pelo empreendimento. Atualmente, o potencial turístico é pouco explorado em comparação a outros municípios do Nortão matogrossense, como Alta Floresta. 10.07 Interferência com a pesca artesanal profissional A pesca artesanal profissional não se desenvolveu significativamente nos municípios da AII, em comparação a outras regiões, como a do rio Tapajós, no Pará. No Mato Grosso, de um

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modo geral, a pesca profissional vem encontrando dificuldades devido à competição da pesca amadora ou esportiva, além das alterações ambientais nos rios e seus ecossistemas ribeirinhos. Entretanto, o empreendimento poderá afetar as atividades de pescadores profissionais registrados nos municípios diretamente afetados, pertencentes à Colônia de Pescadores de Sinop. Em Itaúba, existem aproximadamente 40 pescadores que sobrevivem da pesca no rio Teles Pires e em seus afluentes; em Colíder, existem 8 ou 9 pescadores profissionais registrados; em Nova Canaã do Norte, estima-se que apenas 12 pescadores vivam atualmente da pesca; não foi possível obter o número de pescadores profissionais existentes em Cláudia. A renda média de um pescador varia de um a dois salários mínimos, sendo que todo profissional registrado tem direito ao salário-desemprego na época da piracema. Várias ilhas do rio Teles Pires, no trecho diretamente afetado, contam com alguma espécie de rancho para apoio à pesca. Além dos pescadores profissionais mencionados, a pesca de peixes ornamentais é uma atividade que se encontra em expansão na região do empreendimento, conforme relatado por pescadores entrevistados durante os trabalhos de campo para diagnóstico da ictiofauna. Os entrevistados afirmaram haver famílias cuja renda provém da pesca e comercialização de peixes ornamentais. Vale lembrar que a captura de peixes comuns ou ornamentais é permitida somente aos pescadores profissionais registrados na Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca (SEAP) e cadastrados na SEMA/MT, de acordo com o Art. 3º, § 1º do Decreto Estadual Nº 7.175/06, que disciplina a captura, o transporte e o comércio de peixes ornamentais, iscas vivas e pescado no âmbito do Estado de Mato Grosso. Valem para a pesca profissional as mesmas considerações feitas na avaliação do Impacto 10.06 acerca das conseqüências potenciais do empreendimento sobre a pesca esportiva no rio Teles Pires, tanto no trecho diretamente afetado pelo reservatório quanto a jusante. O acréscimo de outros contribuintes importantes do Teles Pires limitará os efeitos sobre a pesca a jusante. A montante, porém, a transformação de um trecho significativo de ambiente lótico em ambiente lêntico, devido à formação do reservatório, fará com que espécies de peixes menos sensíveis às alterações ambientais predominem sobre as mais exigentes, que, em geral, são as espécies mais cobiçadas e de maior valor no mercado. Quanto mais a montante do reservatório, os efeitos sobre a dinâmica populacional de peixes tendem a diminuir, devido à permanência dos habitats fluviais típicos de ambientes lóticos. No entanto, é possível que ocorram impactos cumulativos ou sinérgicos com outros empreendimentos hidrelétricos a montante, como o AHE Sinop, afetando, assim, a dinâmica de transporte de sedimentos e matéria orgânica e a vida aquática em um trecho mais longo do rio. Tendo em vista os aspectos citados, o impacto do empreendimento sobre a atividade pesqueira profissional será pouco significativo no contexto geral da pesca profissional na AII, que é pouco desenvolvida em relação a outras regiões. No entanto, poderá afetar alguns pescadores e suas famílias, que dependem da pesca para sua subsistência ou como principal fonte de rendimento. Nesse sentido, tais famílias deverão ser identificadas, cadastradas e contempladas dentro de um programa de compensação social.

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11. Impactos na Saúde Pública 11.01 Riscos à saúde pública durante a construção Quando se analisam os riscos específicos do empreendimento à saúde pública, cinco são as possibilidades que se apresentam:

• O aumento da quantidade de possíveis portadores de doenças infecto-contagiosas, como DST, viroses e parasitoses, devido à maior presença de imigrantes durante as obras, residindo e circulando pelos municípios da AII;

• O aumento do número de casos de contração de doenças endêmicas (malária, dengue e leishmaniose) e de acidentes com animais peçonhentos (cobras, aranhas, abelhas, etc.), devido às alterações ambientais e à exposição direta de um grande contingente de trabalhadores;

• Riscos de saúde e segurança do trabalho e de acidentes com terceiros em canteiros, frentes de obra e caminhos de serviço;

• Um maior risco de incidência de doenças de veiculação hídrica nas áreas urbanas das localidades anfitriãs, devido a impactos indesejados do crescimento populacional e econômico durante as obras, como a expansão urbana sem infra-estrutura sanitária adequada;

• A criação de habitats propícios à reprodução das populações de vetores de doenças endêmicas, devido à formação do reservatório, na fase de operação.

As doenças infecto-contagiosas compreendem uma série de patologias ou de grupos de doenças cuja transmissão pode se dar diretamente, de pessoa para pessoa, por contato com secreções, ou indiretamente, através do meio (via aérea, ingestão de água, contato com água e solo contaminados) ou de vetores biológicos. Incluem-se no grande grupo das doenças infecto-contagiosas:

• Doenças transmitidas por via respiratória ou contato com secreções corporais, como sarampo, rubéola, caxumba, difteria, gripe (Influenza), rotavírus, pneumonia, meningite, tuberculose, histoplasmose;

• Doenças sexualmente transmissíveis (DST), como AIDS, hepatite B, herpes, sífilis, gonorréia e candidiase;

• Doenças transmitidas por vetores biológicos (zoonoses), como malária, febre amarela, dengue, leishmaniose, filariose (todas por mosquitos), esquistossomose (caramujo de água doce), doença de chagas (“barbeiro”) e febre maculosa (carrapato);

• Doenças transmitidas por ingestão de água e alimentos contaminados por agentes etiológicos, como verminoses, amebíase, disenteria, febre tifóide, hepatites e poliomelite, ou por contato com águas e solo contaminados, como leptospirose e ancilostomose.

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AHE Colíder – 300 MW 170 Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - Volume IV

As doenças infecto-contagiosas de maior incidência são sempre as do trato respiratório, devido ao maior potencial de contágio por esta via e à ampla gama de agentes etiológicos (bactérias, bacilos e vírus) de veiculação aérea. As doenças de veiculação hídrica estão mais associadas a áreas urbanas, sobretudo às condições de vida nos bairros mais carentes, sem infra-estrutura sanitária adequada, e estão fortemente relacionadas aos índices de mortalidade infantil. Doenças sexualmente transmissíveis atingem todas as classes sociais e preferências sexuais, mas podem ser eficientemente prevenidas controladas com a ampliação do acesso à informação e aos preservativos. Outras doenças são típicas de áreas rurais, como as zoonoses, as endemias tropicais e os acidentes com animais peçonhentos De acordo com sua progressão no tempo, as epidemias podem ser classificadas em explosivas ou maciças e progressivas ou propagadas. Nas epidemias maciças, os casos aparecem em rápida sucessão e num curto período de tempo, isto é, a epidemia surge, aumenta de intensidade e declina, sugerindo a existência de um veículo comum de transmissão e uma exposição simultânea de vários suscetíveis. Nas epidemias progressivas, ou propagadas, a progressão é mais lenta, sugerindo uma exposição simultânea ao agente etiológico, denotando, em geral, uma transmissão pessoa a pessoa ou por vetor. Este segundo tipo de epidemia seria o mais provável de acontecer no caso da situação gerada pelo empreendimento na fase de construção, devido às características da região, típica de endemias como malária, e ao aumento significativo da densidade demográfica, sobretudo em Colíder, durante, pelo menos, quatro anos seguidos de obras. Os canteiros, alojamentos e frentes de obra implicarão também uma maior exposição de pessoas aos vetores em seus próprios habitats florestais. Na fase de operação, a redução da população residente nos municípios contribuirá para reduzir sensivelmente os riscos de contágio. No entanto, o reservatório poderá criar habitats propícios à reprodução das populações de vetores, como mosquitos e caramujos. Conforme registrado na Seção 9.2.2.4, foram identificadas na região espécies de mosquitos de importância para a saúde pública, como é o caso de Anopheles darlingi, vetor do plasmódio da malária, além da espécie Culex (Melanoconion), transmissor de arbovírus, e da espécie Anopheles evansae, que é considerado vetor secundário de plasmódios. A supressão de vegetação nas margens do rio Teles Pires para a implantação de canteiros de obras e alojamentos deverá promover a alteração do ciclo biológico desses vetores, que vivem preferencialmente no nível do solo e próximos à vegetação, em tocas de animais, raízes tubulares de árvores, ocos, sob as rochas, fendas e lugares com pouca luz, e têm atividade no período crepuscular. A retirada da cobertura vegetal acarretará a destruição de habitats, o que poderá resultar na diminuição das populações de mosquitos, sem tempo para adaptações. No entanto, os serviços de supressão de vegetação colocam um contingente de trabalhadores diretamente em contato com os habitats dos vetores. Dessa forma, a supressão da vegetação natural e a concentração de trabalhadores no local podem aumentar o contato e os riscos da transmissão. Outro aspecto digno de comentário é o fato de que os mosquitos de modo geral, apresentam raio de vôo em torno de dois quilômetros. Assim, nas proximidades do canteiro de obras e especialmente dos alojamentos, havendo condições favoráveis às espécies de

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mosquitos identificadas, a população humana que freqüentar os referidos sítios estará exposta às picadas. Chama a atenção a presença de mosquitos anofelinos no local, o Anopheles darlingi. Além de ser considerado o principal vetor de plasmódios da malária humana no Brasil, o mosquito Anopheles darlingi costuma proliferar em áreas de desmatamento (CARME & VENTURIN, 1999). Como visto, esses mosquitos são atraídos aos pontos onde o homem se concentra e durante as horas noturnas exercem a hematofagia e, até mesmo, podem penetrar o interior dos alojamentos ou habitações. Por se tratar de uma região de endemismo de malária, toda atenção deverá ser dada às condições ambientais do entorno do canteiro de obras que possam favorecer a proliferação dessa espécie, como charcos ou remansos semi-sombreados e ricos em macrófitas. Quanto ao Culex (Melanoconion) seção Melanoconion e demais espécies do subgênero identificadas na área, são mosquitos que necessitam de matas, onde proliferam e se abrigam. Como possuem atividade noturna, o risco maior de contato com esses culicídeos seria a entrada humana nesses ecótopos no período referido, comportamento raro, mas não impossível, imaginando-se a eventualidade de alguns trabalhadores terem interesse por caça e pesca. O risco de infecção humana por arbovírus é reconhecido como de reduzida probabilidade, pois para tal, há o requisito de um ciclo enzoótico natural ativo e a pessoa ter tido o infortúnio de ser picada por um vetor infectado. Além de ter sido confirmada a presença de flebotomíneos no local do AHE Colíder, deve-se considerar que boa parte do Estado do Mato Grosso, sobretudo nas áreas rurais e silvestres, é propícia às leishmanioses, principalmente a do tipo tegumentar. Dados recentes do quadro de saúde pública dos dois municípios afetados pelo empreendimento indicam o registro de casos de Leishmaniose Tegumentar Americana (ver Seção 8.3.6). A leishmaniose é uma doença zoonótica, ou seja, ocorre nos animais silvestres e domésticos, sendo que os possíveis hospedeiros desse protozoário são os gambás-de-orelha-branca (Didelphis albiventris), os canídeos (Cerdocyon thous, Lycalopex vetulus) e os tamanduás (Tamandua tetradactyla). Da família Didelphidae foi registrada, nas campanhas de campo, apenas a espécie Didelphis marsupialis (gambá-de-orelha-preta), que também é hospedeiro de Leishmania. Das demais espécies, também foram registradas, nos levantamentos executados, o cachorro-do-mato (Cerdocyon thous) e os tamanduás. No ciclo rural, os hospedeiros são os cães domésticos. Cabe lembrar que o comportamento dos mosquitos dependente da sazonalidade e a densidade de alguns fatores como temperatura, umidade (chuva) e velocidade dos ventos. Sendo assim, os riscos de transmissão são maiores durante a estação chuvosa e menores durante a estação seca, que apresenta também temperaturas médias menores. Outras doenças transmitidas por vetores biológos, como a dengue, transmitida pela espécie de mosquito Aedes aegypti, também foram registradas nos municípios afetados (ver Seção 8.3.4), embora não haja registro de casos de febre amarela.

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De um modo geral, as alterações geradas no relevo e na drenagem dos terrenos das áreas de intervenção poderão propiciar criadouros tanto para os mosquitos citados quanto para os caramujos do gênero Biomphalaria (sobretudo da espécie B. glabrata), transmissores da esquistossomose. No entanto, esta, diferentemente da malária, da dengue e da leishmaniose, é uma endemia mais facilmente controlável. Há também riscos indiretos para a saúde pública, relacionados a pressões sobre o sistema de infra-estrutura e serviços públicos de Colíder, devido ao crescimento populacional induzido indiretamente pelo empreendimento. Este poderia resultar em expansão urbana desordenada e em sobrecarga dos sistemas de saneamento (abastecimento de água, coleta de esgotos e coleta de lixo), e, conseqüentemente, no aumento do risco de incidência de doenças de veiculação hídrica ou zoonótica. Somado ao aumento da demanda natural por serviços de saúde, o impacto final no atendimento da rede pública poderá ser significativo. No caso do canteiro de obras, o abastecimento do canteiro e da população empregada será feito mediante sistema isolado de captação, reservação e tratamento, dimensionado para atender à demanda máxima, mo pico da lotação do alojamento, e devidamente licenciado junto à SEMA/MT ou à ANA (no caso de captação no rio Teles Pires). A coleta, triagem e disposição do lixo também serão autônomas no canteiro de obras.

Os esforços mais importantes direcionados ao controle da saúde pública na região do empreendimento devem ser concentrados em programas especiais de prevenção à malária, à leishmaniose e à dengue, que ocorrem com maior freqüência na região. Com relação às DST, devem ser concentrados esforços em programas de higiene e educação sexual, além da realização de exames admissionais e periódicos para diagnóstico. Para que este impacto seja controlado e minimizado, o empreendedor deverá implementar um programa de vigilância epidemiológica e controle de endemias, desde o início da fase de mobilização do pessoal e implantação do canteiro de obras e alojamentos. Além dos riscos de saúde pública propriamente ditos, a construção trará uma série de riscos inerentes à saúde dos trabalhadores contratados, devido à necessidade de envolver pessoas em trabalhos em altura, escavações e explosões, operações de carga e descarga de materiais, operação de maquinário e equipamentos pesados, condução de veículos, operações em instalações elétricas e outras atividades. Todos os procedimentos concernentes à prevenção de acidentes de trabalho, à adoção de procedimentos seguros e de fiscalização do uso de EPIs nas frentes de obra, assim como o controle médico das condições de saúde dos trabalhadores, entre outros aspectos, serão operacionalizados no âmbito d e um programa de gestão de saúde e segurança do trabalho na construção.

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11.02 Risco de endemias em decorrência da formação do reservatório Além das modificações provocadas pelas atividades de supressão de vegetação na fase construtiva (ver Impacto 6.01), o enchimento do reservatório pode se tornar um fator de elevação dos riscos de endemias. Como caracterizado na avaliação do Impacto 8.06, sob o aspecto da população de vetores, podem ocorrer diferentes respostas adaptativas. A ampliação da superfície úmida resultará também na formação de um conjunto de áreas nas margens do reservatório que poderão se configurar em locais propícios ao desenvolvimento de alguns insetos vetores. É o caso, por exemplo, da espécie Anopheles darlingi, a qual, segundo pesquisa de Zeilhofer (2007), é beneficiada em reservatórios, principalmente em braços ou zonas com vegetação arbórea e águas protegidas do vento e da ação de ondas. Nesse sentido, o corpo principal do reservatório do AHE Colíder, comparado aos braços, apresentará menor potencial de formação de criadouros. Além da formação do reservatório, a ocupação existente no entorno é outro fator a ser considerado na análise do risco de endemias na fase de operação. Evidentemente, um reservatório com grande potencial de formação de criadouros de mosquitos, com matas e habitações próximas, em tese, constitui um quadro favorável ao risco de doenças com agentes veiculados por mosquitos, como a malária e as arboviroses, e ainda as leishmanias. Todavia, para que ocorra a possibilidade de surtos das doenças citadas, é necessária densa presença humana e também a infestação elevada do vetor. Havendo esses requisitos, caso entre na área um portador, a chance de se iniciar o processo de transmissão é potencializada. Sempre que houver densidade humana elevada acompanhada de infestação de mosquitos cresce o potencial de incômodo e de emergência de doenças por vetor. No caso de eventuais processos de eutrofização e proliferação de macrófitas, a infestação por mosquitos antropofílicos, como os do gênero Coquillettidia pode ser potencializada, causando incômodos decorrentes de picadas. Deve-se ainda considerar que atualmente a AID e áreas adjacentes não são densamente habitadas, havendo o predomínio de grandes propriedades rurais. Contudo, conforme avaliado no Impacto 12.02, após a formação do reservatório, haverá a possibilidade de modificações no uso e ocupação do solo associadas às atividades de lazer e turismo, como chácaras, pesqueiros e pousadas. Tais usos, porém, não serão capazes de acarretar significativo adensamento populacional. Cumpre registrar que ao longo do período de estabilização do reservatório, nos primeiros anos após a sua formação, o risco de proliferação de mosquitos será progressivamente diminuído. De qualquer forma, faz-se necessário, durante a de estabilização, a identificação dos sítios favoráveis a proliferação de macrófitas e de criadouros de mosquitos bem como o monitoramento dos indicadores entomológicos e controle sanitário de endemias.

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12. Impactos no Uso e na Ocupação do Solo 12.01 Substituição de usos nas áreas de intervenção e inundação A implantação do AHE Colíder acarretará alterações diretas nos padrões de uso e/ou cobertura do solo rural nas áreas de intervenção (canteiros, áreas de empréstimo e bota-fora, caminhos de serviço, etc.) e inundação (reservatório). As alterações de uso do solo ocorrerão, inicialmente, nas áreas do canteiro de obras, das jazidas de agregados para construção e dos bota-foras, em áreas de ambas as margens do rio, hoje ocupadas predominantemente por florestas. Na fase de enchimento do reservatório, concretizar-se-á a substituição de usos e/ou coberturas existentes na área inundada. As áreas que margeiam o rio Teles Pires e seus afluentes, na AID, são cobertas principalmente por florestas aluviais e submontanas, que constituem a matriz de cobertura do solo dominante na AID. As áreas destas formações nativas a serem inundadas totalizam 121 km2, representando 82% das formações nativas da AID. Quanto às áreas antropizadas, predominam na ADA as pastagens sem práticas conservacionistas, com diferentes tipos de gramíneas e estágios de crescimento, que totalizam 22 km2, representando 13,3% do total de pastagens existentes atualmente na AID. As ilhas e praias fluviais situadas abaixo da cota 220, localizadas no trecho afetado do rio Teles Pires, e que são utilizadas como locais de lazer pela população local na época mais seca do ano, também serão inundadas. Além dessas alterações, o enchimento do reservatório provocará a interrupção de algumas estradas vicinais existentes na AID, sobretudo nos braços de afluentes, de modo que será preciso abrir novos trechos de vias ou alterar traçados existentes. Nota-se, portanto, que, com exceção de algumas poucas situações onde será feita a recuperação de áreas de trabalho e circulação, a substituição de usos provocada pelo empreendimento na fase de construção será de caráter definitivo. 12.02 Indução de alterações nos padrões de uso e/ou cobertura do solo no entorno do reservatório Além da substituição direta de usos e/ou coberturas existentes nas áreas de intervenção e inundação, o empreendimento também poderá induzir, indiretamente, alterações de uso do solo fora da área inundada, na AID, devido a quatro fatores. Em primeiro lugar, a criação da APP do reservatório implicará na implantação de um zoneamento e de medidas de recuperação ambiental e reflorestamento (a área da APP do reservatório é de 220 km2). A recuperação florestal de áreas de pastagens existentes na APP ajudará a evitar usos conflitantes e processos de degradação que possam vir a comprometer a preservação da qualidade ambiental do reservatório.

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Em segundo lugar, será necessário abrir caminhos de serviço para a circulação de veículos pesados durante as obras, o que poderá constituir fator de estímulo ao desmatamento das áreas lindeiras e, em última instância, induzir alterações nos padrões de uso do solo. De acordo com os dados do diagnóstico da cobertura vegetal na AII, que traz as estatísticas de desmatamento de áreas maiores que 6,25 ha (INPE/DETER), no período de 01 de Janeiro de 2004 a 30 de Setembro de 2008, os índices de desmatamento nos municípios da AII são bem menores do que os de outros municípios do Norte do Mato Grosso. Mesmo assim, não se pode desconsiderar que a abertura de novas estradas pode vir a constituir forte fator de indução ao desmatamento, exigindo a adoção de medidas de controle e mitigação. Em terceiro lugar, a criação do reservatório poderá induzir a instalação de novos usos recreativos e turísticos nas propriedades com frente para o lago (APP) ou no seu entorno, como loteamentos de chácaras, pousadas e pesqueiros. Posteriormente ao enchimento do reservatório, deverão ser definidas zonas de uso e estabelecidos parâmetros de parcelamento e ocupação permitidos no entorno do lago, assim como locais para a instalação de infra-estruturas de apoio ao lazer, à pesca e ao turismo. O quarto fator diz respeito a possíveis alterações de uso do solo fora da AID, decorrentes de impactos sobre as atividades turísticas e de pesca esportiva no rio Teles Pires (ver Impacto 10.06). Dependendo da intensidade desses efeitos, poderá ocorrer desvalorização do uso turístico, afetando as pousadas existentes, principalmente a jusante da barragem, e induzindo a substituição de usos. Assim, a tendência é que ocorra um re-arranjo ou uma re-distribuição dos padrões de usos atualmente existentes na AID após a formação do reservatório, não se esperando mudanças estruturais ou o surgimento de usos indutores de transformações, como núcleos habitacionais. 12.03 Indução ao crescimento e alterações nos padrões de uso do solo urbano O impacto potencial de indução ao crescimento urbano nos municípios da AII é um impacto indireto de segunda ordem, decorrente de efeitos sinérgicos de outros impactos diretos e indiretos sobre o meio antrópico, tais como: geração de empregos e massa salarial, valorização imobiliária, dinamização das economias locais, interferências com atividades econômicas, alterações na dinâmica demográfica, perda de moradias e fontes de rendimento e geração de expectativas da população em relação ao empreendimento e seus benefícios. Assim, a intensidade da indução ao crescimento das cidades da AII, durante a construção do empreendimento, dependerá da intensidade desses impactos indutores ou de primeira ordem. O crescimento urbano pode ocorrer de várias formas: expansão horizontal centrífuga, expansão urbana isolada, compactação da área edificada (ocupação de lotes vazios inseridos na trama urbana) e verticalização. Estes dois últimos processos causam o adensamento, que é o aumento da quantidade de habitantes por unidade de área (densidade demográfica). Processos de alteração ou substituição de usos não estão necessariamente ligados à expansão horizontal (substituição de usos rurais por usos urbanos), mas a qualquer processo de

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transformação do espaço intra-urbano (substituição de usos residenciais por comerciais, por exemplo). Note-se que a verticalização residencial em um bairro originalmente residencial horizontal não resulta em alteração estrutural do uso do solo (que continua residencial), mas sim, da sua forma de ocupação. A ocupação de lotes vagos em bairros predominantemente residenciais resulta em compactação da área edificada, mas também não gera mudança de uso. De um modo geral, a principal conseqüência negativa de um incremento populacional acelerado em área urbana, sem planejamento prévio, é o déficit da cobertura de serviços públicos e infra-estrutura, analisado na descrição do Impacto 13.05 (ver mais adiante). No caso em tela, a população empregada nas obras não gerará pressões significativas em termos de demanda por habitação e saneamento básico nas cidades anfitriãs, uma vez que já terá essas necessidades atendidas no alojamento da construtora. Como se viu, as pressões sobre a infra-estrutura urbana e a demanda habitacional poderão ocorrer com mais intensidade em Colíder. Nos demais municípios da AII, o crescimento demográfico e as demandas decorrentes tendem a ser menos significativos. Pode-se esperar, ainda, um aquecimento do mercado imobiliário de Colíder, inclusive, um surto de reformas, construções ou alterações de usos de imóveis urbanos, de residencial para comercial, visto que o tempo de duração das obras permite investimentos pequenos com perspectiva de ganho em médio prazo (três anos). 13. Impactos na Infra-Estrutura e nos Serviços Públicos 13.01 Apropriação da capacidade e deterioração das vias locais por veículos a serviço das obras O uso de trechos de vias locais para a realização das obras, considerando especialmente que as estradas da região não são pavimentadas, deverá alterar as condições de manutenção dos trechos envolvidos, exigindo obras de melhoria para utilização dos mesmos e recuperação posterior à fase de construção. As melhorias a serem executadas pontualmente nos acessos já existentes, ou a abertura de pequenos trechos de novas vias nas frentes de obras, podem induzir processos erosivos localizados. Embora de pequeno porte, todas as intervenções de engenharia nos acessos a serem utilizados deverão ser executadas visando à minimização da formação de focos erosivos. As devidas medidas de controle ambiental deverão ser parte integrante do contrato de construção a ser firmado com a empresa construtora responsável. As principais vias a serem potencialmente impactadas pelo incremento do tráfego durante as obras são as rodovias BR-163 e MT-320 e as estradas vicinais que levam à região do Triângulo, conforme descrito na avaliação do Impacto 9.10. Além da possibilidade de deterioração, o uso das estradas locais para as obras implicará, ainda, o aumento do tráfego em vias vicinais, o que pode aumentar o risco de acidentes com veículos. Este impacto é pouco significativo, uma vez que as vias a serem utilizadas pelas obras apresentam pouco tráfego, servindo predominantemente para acesso às fazendas e ranchos de pesca existentes na região do empreendimento.

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13.02 Aumento da demanda por serviços públicos de saúde durante a construção A presença de um contingente médio de cerca de 1.800 operários, ocupados nas obras do AHE Colíder, podendo chegar a 2.700 pessoas na fase de pico, tende a aumentar os riscos à saúde pública (ver avaliação do Impacto 11.01) e a gerar, conseqüentemente, um aumento da demanda por atendimento médico em Colíder e Sinop, principais pólos de serviços de saúde da AII. A demanda adicional por infra-estrutura de saúde restringir-se-á à mão-de-obra contratada fora da AII, estimada em 60% do contingente total de empregados, sendo que os 40% restantes, a serem contratados nos municípios da AII, já são usuários dos equipamentos de saúde locais. Este impacto será restrito à fase de implantação da usina e deverá concentrar-se especialmente em Colíder, que possui uma melhor infra-estrutura hospitalar do que as localidades de Nova Canaã do Norte e Itaúba, mais próximas ao local do empreendimento. Em casos de acidentes mais graves, que exigem serviços e infra-estrutura de maior complexidade, os pacientes serão encaminhados para unidades hospitalares em Sinop. Deve-se lembrar, entretanto, que o canteiro de obras, onde será implantado o alojamento da população empregada, será equipado com ambulatório para atendimentos de primeiros socorros, exigido pela legislação trabalhista, e contará com ambulância no local, para atendimento a emergências. A construtora implementará procedimentos de prevenção e controle de doenças infecto-contagiosas e monitorará indicadores de saúde pública nos municípios afetados, assim como as populações de vetores de doenças endêmicas. Além disso, serão estabelecidos procedimentos para receber demandas específicas das prefeituras relacionadas aos serviços públicos de saúde nas localidades anfitriãs e sanar deficiências no atendimento à população local. 13.03 Apropriação parcial da capacidade local de disposição de resíduos sólidos Na fase de construção da barragem, serão gerados diversos tipos de resíduos, como lixo domiciliar (restos de alimentos, papéis, embalagens, pilhas comuns, etc.), restos vegetais das atividades de desmatamento, entulho de construção civil, óleos usados (de cozinha e de veículos), além de tambores de óleo e combustível, panos, filtros e EPIs contaminados com óleo e graxa, e resíduos sólidos de serviços de saúde, entre outros. O município de Colíder dispõe atualmente apenas de “lixão” a céu aberto, localizado a 4 km da sede na bacia do rio Carapá. No entanto, um aterro licenciado está em fase de construção, localizando-se a 15 km da sede, próximo à comunidade de São Mateus. Está prevista a construção de uma usina de reciclagem em Alta Floresta, que deverá receber também o lixo de outros municípios integrantes do Consórcio do Alto do Tapajós, incluindo Colíder.

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De qualquer modo, a distância do local da obra aos centros urbanos mais próximos, a quantidade e diversidade do lixo a ser gerado e as condições atuais de disposição final nos municípios anfitriões indicam que os resíduos devem ser encaminhados ao novo aterro de Colíder a partir de acordo com a prefeitura desse município. Outra alternativa é a implantação de um aterro próprio nas proximidades do empreendimento. Além disso, a construtora deverá executar um programa completo de gestão de resíduos sólidos, destinando áreas específicas para centro de triagem, depósitos separados para lixo orgânico, resíduos sólidos de saúde e materiais recicláveis, tanque de compostagem e outros. Como nenhum dos municípios listados na AII possui aterro industrial apto ao recebimento de resíduos Classe I (Perigosos) ou Classe II A (não-inertes), a construtora deverá selecionar e separar esses tipos de resíduos e proceder à sua destinação final para processadores licenciados, de forma a evitar a disposição de resíduos no aterro próprio ou nos lixões municipais. 13.04 Obstrução de estradas vicinais pelo reservatório e interferência com redes de utilidades A formação do reservatório do AHE Colíder inundará trechos de estradas vicinais que dão acesso e interligam as propriedades rurais da AID e entorno. Os trechos afetados distribuem-se pela AID e englobam principalmente segmentos em que as estradas vicinais atravessam os vales de ribeirões e córregos que serão também inundados, devendo formar braços do reservatório. Serão afetados os trechos das estradas rurais, além das pontes existentes nas travessias dos afluentes inundados e redes de energia elétrica ao longo das vias. Alguns dos trechos afetados dão acesso somente às margens do rio Teles Pires. Porém, há segmentos afetados que são utilizados por moradores para acessar suas propriedades e residências. Outras situações são previstas também em pequenos afluentes de ambas as margens. Todas as situações de impacto serão solucionadas através da realocação planejada das vias e respectivas utilidades associadas, o que garantirá condições adequadas de acessibilidade à população usuária ao sistema viário rural local e a minimização do tempo de interrupção de serviços de fornecimento de energia elétrica. 13.05 Pressões indiretas sobre as infra-estruturas e os serviços públicos urbanos Nas cidades brasileiras, a expansão urbana das periferias, sobretudo em áreas metropolitanas e cidades médias, se dá sem que seja acompanhada do devido provimento da infra-estrutura sanitária, por meio de assentamentos precários e habitações auto-construídas, muitas vezes em áreas de preservação ambiental, de mananciais ou em áreas de risco, como margens de rios e represas, baixadas alagadiças e encostas íngremes.

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Os efeitos indiretos mais sérios do afluxo migratório abrupto para uma localidade se referem ao aumento súbito das demandas sociais nas áreas de habitação, saneamento, saúde, assistência social, segurança pública e lazer. Quanto menor for o município, menos apto ele estará para planejar a contento a expansão urbana e dos serviços públicos. Menor será também a sua capacidade de absorver o elemento externo e suas conseqüências para a vida das comunidades. Além da expansão urbana desordenada, da elevação dos preços dos imóveis e dos aluguéis e do déficit habitacional, problemas de saúde pública podem surgir em função de doenças trazidas para a região por imigrantes. A violência e a prostituição também podem aumentar em decorrência do grande afluxo de população masculina para cidades até então pacatas, criando atritos com a população local, problemas de segurança e mais problemas de saúde pública, entre outros. No caso em tela, o canteiro principal da construtora contará com alojamentos com capacidade para hospedar toda a mão-de-obra direta na condição de pico prevista para a fase construtiva. Trata-se de uma população bastante significativa, concentrada num único local, de modo que o acampamento, apesar de provisório, contará com soluções adequadas de saneamento básico e serviços de refeitório, ambulatório / enfermaria com ambulância, assistência social, área de lazer, portaria e segurança próprios, além de transporte regular para os centros urbanos mais próximos. Mesmo uma parte da mão-de-obra residente na região, devido ao isolamento do local da obra, poderá ficar no alojamento, voltando para casa somente no fim-de-semana. Assim, serão completamente providas pelo empreendedor as demandas diretas por habitação, saneamento básico e alimentação, e atendidas as necessidades de primeiros socorros que surgirem durante as obras, evitando-se maiores pressões sobre a infra-estrutura urbana e de serviços de Colíder, que é o principal centro urbano com que a população empregada no empreendimento estabelecerá vínculos. De qualquer modo, conforme descrito na avaliação do Impacto 9.04, haverá migração para as localidades anfitriãs, seja em função da geração de empregos diretos na obra, seja devido ao aumento da atratividade geral das cidades, em função da dinamização da economia (ver Impacto 10.03). O empreendimento necessitará de fornecimento de gêneros alimentícios e produtos industrializados em geral para consumo da população empregada. Empresas sub-contratadas poderão alojar seus técnicos em imóveis alugados ou em hotéis nas cidades de Colíder e Sinop, que também atenderão as demandas de lazer da população empregada nos fins-de-semana, estimulando a abertura de bares, lanchonetes, restaurantes, etc. Assim, os equipamentos públicos de saúde acabarão sendo fatalmente mais solicitados, em função da maior incidência de doenças tropicais, sexualmente transmissíveis, acidentes de trabalho e outros males. Problemas de alcoolismo e tensões entre imigrantes e população local também poderão resultar no aumento das ocorrências policiais e, em última instância, em necessidades de atendimento médico. Trata-se de um impacto significativo do empreendimento, apesar de indireto, como decorrência do afluxo de imigrantes.

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13.06 Ampliação da oferta de energia elétrica no Sistema Interligado Nacional Trata-se do principal impacto de caráter positivo e permanente vinculado às obras, e a justificativa principal da implantação do empreendimento. O AHE Colíder terá potência instalada de 300 MW, e assegurará a produção de 1,45 GWh anuais médios (energia firme média de 166,30 MWh), a serem disponibilizados no Sistema Interligado Nacional – SIN. A potência instalada do AHE Colíder corresponde a 0,3% da potência total instalada no Brasil (100.346,16 MW), considerando a geração proveniente de CGHs, PCHs, UHEs, além das usinas termelétricas, nucleares, eólicas e solares. Considerando apenas a potência instalada relativa às UHEs, a energia gerada no AHE Colíder corresponde a 0,4% do total (74.936,89 MW). 14. Impactos na Paisagem 14.01 Alterações na paisagem durante a construção e a operação Enquanto categoria de análise do espaço, a paisagem representa a síntese dinâmica de elementos físicos, bióticos e antrópicos, expressando morfologicamente as transformações nos padrões de uso e ocupação do solo ao longo do tempo. Todavia, os impactos relativos à percepção da sua modificação ocorrem sobre o componente antrópico. Várias intervenções durante a fase de construção alterarão de forma radical e permanente a paisagem do vale do rio Teles Pires, no trecho afetado pelo projeto: a supressão de vegetação nas áreas de canteiros de obras; a implantação das estruturas e edificações provisórias; as atividades de escavação e a conseqüente alteração do relevo; a implantação de ensecadeiras e o desvio do rio; a exploração de jazidas de solos e rocha e a abertura de acessos; a implantação da barragem; a supressão de vegetação na área de inundação, dos quais 121 km2 são ocupados atualmente por vegetação nativa (116 km2 de porte florestal); o fechamento das adufas de desvio e o conseqüente enchimento do reservatório. A formação do reservatório do AHE Colíder resultará na inundação de um trecho do rio Teles Pires onde há algumas poucas corredeiras e onde se formam pequenas praias no período de estiagem, além da perda do próprio rio em si, em segmento caracterizado por segmentos com grande quantidade de canais entrelaçados, com formações insulares, o que valoriza a sua beleza cênica.

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Por outro lado, a criação do reservatório introduzirá um novo elemento na paisagem do vale do Teles Pires, uma grande quantidade de água represada, que também ensejará beleza cênica. Além disso, o empreendedor adquirirá a totalidade da Área de Preservação Permanente no entorno do reservatório, mantendo-a conservada por meio da implementação do Programa de Conservação e Uso do Entorno do Reservatório, nos termos da Resolução CONAMA No 302/02. A percepção das modificações na paisagem é sempre subjetiva, e varia significativamente de indivíduo para indivíduo. De qualquer forma, pode-se afirmar que as alterações promovidas ao longo da fase de implantação serão percebidas negativamente. No entanto, com a formação do reservatório, há potencial para composição de um quadro paisagístico positivo, sobretudo com a garantia da preservação da vegetação existente nas margens do reservatório, a recomposição florestal de áreas antropizadas e a recuperação de áreas degradadas por erosão e extração mineral. 15. Impactos no Patrimônio Histórico, Cultural e Arqueológico 15.01 Risco de perda de sítios e bens de interesse histórico, cultural e arqueológico A avaliação preliminar do potencial arqueológico na AID do AHE Colíder resultou na identificação de 6 sítios arqueológicos e 5 Áreas de Ocorrência Arqueológica, estas últimas correspondendo a locais onde foi encontrada baixa quantidade de peças arqueológicas. Dos 6 sítios identificados, a maioria corresponde a sítios do tipo cerâmico (Sítios CO 01 a 06). Já dentre as áreas de ocorrência (Oc. 01 a 05), tem-se somente material lítico lascado. De acordo com as conclusões do Relatório de Diagnóstico Arqueológico, inserido no Anexo 15, embora tenham sido identificados apenas 6 sítios nos trabalhos de campo realizados, a baixa disponibilidade de áreas com boa visibilidade e acesso certamente contribuiu para não se ter obtido um resultado ainda maior. De acordo com o zoneamento arqueológico da área, em que se baseou o modelo preditivo apresentado, devem ocorrer dezenas de outros sítios arqueológicos na área diretamente afetada pelo AHE, não apenas um maior número de sítios arqueológicos relacionados ao horizonte de ocupação indígena ceramista, mas também sítios arqueológicos relacionados ao horizonte mais antigo, de grupos caçadores e coletores, que podem recuar há mais de 20.000 anos de idade. Assim, considerando o processo de ocupação da região e a ocorrência de sítios próximos, o potencial de ocorrência de sítios arqueológicos e históricos na AID e na ADA é alto. Trata-se de impacto que poderá ocorrer a partir dos serviços de limpeza do terreno junto ao eixo, da abertura de caminhos e acessos, do desmatamento da área de inundação e da própria inundação. É um impacto potencialmente negativo, caso as medidas previstas de prospecção e resgate anteriores à entrada das equipes de obra em campo não sejam adotadas. Os trabalhos de arqueologia deverão ser desenvolvidos mediante projeto devidamente autorizado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), nos termos da Lei No 3984/61 e das Portarias IPHAN No 07/88 e No 230/2002. Somente após a prospecção e

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eventual resgate de sítios encontrados é que as áreas serão liberadas para os trabalhos de construção. Todo o material resgatado será enviado a instituições depositárias que atuarão na produção de conhecimento sobre o significado científico dos eventuais sítios, conhecimento este que deverá ser incorporado à memória nacional e regional através de estratégias detalhadas em programa específico. 16. Impactos em Populações Indígenas e Comunidades Tradicionais Conforme descrito na Seção 7.4.2, as Terras Indígenas existentes na bacia do rio Teles Pires encontram-se distantes da área de implantação do AHE Colíder, mais precisamente no baixo curso do rio. Outras terras indígenas estão situadas em bacias próximas, como as dos rios Juruena, Arinos e Xingu. Considerando o conjunto de atividades associadas à construção e à operação do AHE Colíder, bem como a localização das terras indígenas, pode-se afirmar que não são previstos impactos decorrentes da implantação e operação do empreendimento. Mesmo quanto ao incremento da circulação de pessoas na região, considerando a localização do empreendimento e o sistema viário regional, verifica-se que as obras não demandarão qualquer aproximação das pessoas envolvidas em sua execução das TIs. Complementarmente, cumpre registrar que não foi verificada a existência de comunidades quilombolas na Área de Influência Indireta. 17. Impactos em Unidades de Conservação Não foram identificados impactos associados à implantação e operação do AHE Colíder sobre as unidades de conservação existentes na bacia do rio Teles Pires. Na Área de Influência Direta e nas regiões adjacentes não há nenhuma unidade de conservação do proteção integral ou de uso sustentado implantada ou planejada. Unidade como o Parque Estadual do Cristalino, situada a jusante do AHE proposto, encontra-se significativamente distante, a mais de 200 quilômetros pelo canal fluvial.