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No primeiro capítulo, a autora procura expor características biográficas de Apuleio, como sua posição social, sua formação político-cultural, sua trajetória como homem público e sua ligação com a região onde nasceu e sofreu sua acusação: a África Romana. Apuleio é considerado um expoente da literatura, da retórica e da filosofia platônica do século II d. C. tendo nascido entre 114 e 125 d. C. na África e viveu entre os governos dos Imperadores Adriano (117-138 d. C.) e Marco Aurélio (161-180 d. C.). De acordo com a autora, a família de Apuleio ocupou cargos importantes na

Apuleio

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No primeiro captulo, a autora procura expor caractersticas biogrficas de Apuleio, como sua posio social, sua formao poltico-cultural, sua trajetria como homem pblico e sua ligao com a regio onde nasceu e sofreu sua acusao: a frica Romana. Apuleio considerado um expoente da literatura, da retrica e da filosofia platnica do sculo II d. C. tendo nascido entre 114 e 125 d. C. na frica e viveu entre os governos dos Imperadores Adriano (117-138 d. C.) e Marco Aurlio (161-180 d. C.).De acordo com a autora, a famlia de Apuleio ocupou cargos importantes na administrao de uma cidade do norte da frica, provavelmente Madaura, um dos mais importantes centros de influncia romana. Sendo a ordem social hereditria em Roma, Apuleio fez parte da ordem dos decuries, uma ordem senatorial de nvel local e, conforme o prprio autor ocupou o lugar do pai no senado de sua cidade natal.Como era comum entre os jovens das ordens da elite romana, Apuleio dedicou-se muitos aos estudos, tendo em usa formao aprendido as duas lnguas principais do Imprio, que eram o latim e o grego, alm de ter estudados as matrias elementares do ensino romano como aritimtica, leitura e escrita e, quando em Cartago, estudou gramtica e retrica, fundamentais para seu futuro enquanto homem pblico. Ainda, na Grcia, veio a estudar a filosofia de Aristteles e principalmente a de Plato, completando, assim, sua formao poltico-cultural.De acordo com indicaes do prprio Apuleio, este foi filsofo, orador, romancista, advogado, pesquisador e dedicou-se tambm a vrias expresses artsticas. Conforme a autora, Apuleio, vido por saberes diversos, viajava com o objetivo de fazer estudos e era um sofista, no possuindo moradia fixa e viajando o Imprio pronunciando conferncias. Apuleio tambm se iniciou em vrios cultos mistricos no Oriente, na qual a nova forma platnica se configurava.Em uma de suas viagens, conheceu a me de seu amigo Ponciano, que era viva e com quem veio a casar-se.Apuleio, ao contrrio de outros sofistas, permaneceu na cidade de Oea aps ter se casado e ter sido convidados pelos cidados, o que, de acordo com a autora, leva a crer que o matrimnio foi algo de extrema importncia, pois o fez mudar a forma como exercia suas atividades de filsofo e sofista. Apesar de ter sido, a principio, bem recebido pelos cidados de Oea, o filsofo foi acusado pela famlia do falecido marido de sua esposa, membros da elite local, de ter praticado magia para contrair matrimnio. Apuleio advogou em causa prpria e, ao final do processo de magia, ele partiu com sua esposa para Cartago, tendo sido nesta cidade mdico, advogado e conferencista, bem como, tambm foi sacerdote, tendo sido vangloriado na cidade.A autora coloca que, pela anlise biogrfica de Apuleio, este era envolto em um misticismo prprio da iniciaes magico-filosficas que fez, bem como era um homem de letras. Alm disso, tambm coloca que de suma importncia apresentar as obras escritas do autor afim de maior compreenso dos temas que interessavam ao autor e sua Paideia, ou seja, a educao poltica, filosfica e religiosa recebida pelos cidados da elite romana. Entre suas obras esto produes filosficas, poticas, um romance, hinos, panegricos e discursos, alm de tradues de obras de Plato do grego para o latim, alm de obras apcrifas a ele atribudas. No segundo captulo, O discurso Apologia e sua historiografia, a autora observa que o discurso original pode ter recebidos modificaes ao longo do tempo e que um dos pontos importantes para sua anlise, pouco ressaltada por outros historiadores a transformao da linguagem oral em linguagem escrita.Uma questo que a autora levanta se foi o prprio Apuleio ou seus copiadores que elaboraram o discurso em sua forma escrita. De acordo com ela, os antigos romanos possuam esquemas de pronunciamento de seus discursos e recorriam ajuda profissionais conhecidos como estengrafos para a escrita dos mesmos. Os estengrafos chegavam a copiar de uma vez s at cinco horas de discursos oral que, em especial no caso dos de natureza jurdica, sofriam cortes para sua publicao. Outro ponto colocado que era pratica comum dos romanos escrever seus discursos aps os pronunciamentos. Com base nisso, a autora infere que o autor escreveu sua defesa intentando torna-la literatura, a fim de suscitar a crtica do pblico, bem como de se tornar conhecido e apreciado, bem como com o objetivo de autoafirmar sua imagem de homem ntegro em Cartago.De acordo com a autora, ainda, vrios estudos sobre a Apologia no levam em conta pontos fundamentais de acusao para a compreenso da motivao do processo. Uma das questes pouco consideradas quando se fala da acusao de magia so as significaes de ser uma mago na sociedade romana. Conforme a autora, os autores que tratam do tema no analisam a acusao em sua totalidade, no analisando de forma suficiente as condies sociais e econmicas dos envolvidos no processo. Outro aspecto seria em relao ao questionamento da eloquncia de Apuleio na acusao, algo que no se relacionaria propriamente com a magia e que pouco levado em conta. No terceiro captulo, a autora observa que as prticas compreendidas sob a denominao de magia englobam vrios fenmenos que tem em comum a pretenso da capacidade de mudar o curso natural dos eventos atravs da utilizao correta de procedimentos, objetos e foras sobrenaturais.A crena em poderes mgicos poderia ser interpretada como um fenmeno sociocultural, presente em vrias outras sociedades. Os romanos tambm se inseriram neste fenmeno, evidenciado por indcios arqueolgicos e literrios. Tambm, em Roma, havia a diferena entre a magia popular, considerada malfica e aquela incorporada em rituais oficiais da religio romana, bem como aquelas usadas em estudos filosficos, como as praticadas por Apuleio. Alm da questo da magia, todos os outros pontos que envolvem o caso de Apuleio, como o casamento e a filosofia, se relacionam estreitamente com as formas de poder. Desta forma, os poderes mgicos eram considerados de forma ambgua, ora representando beneficio e credibilidade, ora sendo malfico e perseguido, com desprezo e punies. Tal atitude, variava de acordo da concepo acerca da prtica de quem era considerado portador de atributos mgicos. Os filsofos e oradores tambm muitas vezes ocupavam posies de poder no Imprio. O casamento, da mesma forma, ao representar alianas entre as famlias da elite e ser fundamental para a carreira dos homens pblicos, tambm guardava intimas relaes com o poder. No quarto captulo, a autora coloca que os discursos dos romanos tinham sua estrutura montada de acordo com os manuais de retrica de cada perodo e regio do Imprio. Em relao ao caso de Apuleio, a principal referncia entre os retricos era Quintiliano, cuja obra considerada por alguns o maior tratado de retrica da Antiguidade Clssica.A autora busca, atravs da anlise da Apologia, entender como a montagem do discurso mostra a forma com que Apuleio compreendeu sua acusao e os principais pontos dela, o que leva a perceber as possveis motivaes da mesma. Pode ser ressaltado, conforme a autora, que Apuleio ao aliar sua defesa defesa da filosofia, objetiva equiparar-se ao juiz e defender um dos pontos de acusao propriamente, o que configura a hiptese da autora de a imagem do filsofo e sua funo social e poltica estar relacionada acusao.De acordo com a autora, todas as trs possveis motivaes do processo so abordadas de forma equiparvel durante o discurso. Os valores da eloquncia e a inveja dos acusadores, a filosofia mstica e suas prticas de cunho mgico e o casamento com a viva so todos bem desenvolvidos por Apuleio. Ainda, nas consideraes finais, a autora coloca que, ao que tudo indica, o texto de Apologia foi elabora cerca de quinze anos depois do processo, em outro contexto e quando Apuleio j era um importante sacerdote em Cartago, podendo, com isso, ter sofrido alteraes em relao s acusaes e defesa. No entanto, o discurso pode ser considerado como um testemunho vlido para a compreenso das motivaes de acusao, conforme a tica do acusado e com a inteno de manter sua imagem ilibada.