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1 Panorama da AQÜICULTURA, novembro, dezembro 2015

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Editorial

Jomar Carvalho FilhoBiólogo e Editor

importância da certificação na aquicultura é o assunto abordado por Fernando Kubitza nesta edição. Trata-se de um tema que costuma ser negligenciado pelos produtores, que em geral associam a certificação ao aumento das despesas sem

que isso gere o retorno esperado. Mas o que Kubitza mostra, ao contrário do que pensa o aquicultor brasileiro, é que a certificação é a forma como muitos produtores ao redor do mundo encontraram para enfrentar um mercado cada vez mais competitivo. Esse artigo chama a atenção para o fato de ainda não termos, no Brasil, empreendimentos certificados por nenhuma das principais certificadoras internacionais. Kubitza lembra ainda que enquanto “descem o pau” no panga, os brasileiros nem sonham que no Vietnã existe pelo menos 77 empreendimentos produzindo e processando com certificados internacionalmente reconhecidos - uma garantia de que os filés encontrarão os mercados europeus, norte americano e brasileiro - de portas totalmente abertas. E, de quebra, ao falar de certificação, Kubitza aborda as melhores práticas de produção e manejo, que são informações que ajudarão bastante a quem desejar, a qualquer momento, se preparar para obter uma certificação internacional.

Quero, porém, chamar a atenção para um fato que torna, para nós da Panorama da AQÜICULTURA, este artigo do Kubitza ainda mais especial, e não é apenas pelo fato de trazer, como de costume, conhecimentos relevantes e muito práticos para o aquicultor. É que nesta edição, publicamos o centésimo artigo escrito por esse brilhante profissional, que tenho a honra de publicar nas páginas da revista. Lembro-me ainda do nosso primeiro encontro, em 1997, do entusiasmo nos olhos do Fernando e do seu desejo de compartilhar seus conhecimentos, que não são poucos. Neste mesmo ano, na edição 43 de setembro/outubro de 1997, iniciamos uma parceria publicando um artigo sobre o transporte de peixes vivos. Nele Fernando trouxe esclarecimentos importantes sobre um tema que tinha tudo a ver com aquele momento, em que toneladas de peixes vivos eram transportados, de qualquer jeito, no auge da febre dos pesqueiros. De lá pra cá, para deleite de milhares de leitores, foram 100 artigos, onde foram abordados praticamente todos os principais temas da aquicultura brasileira. Além de considerá-lo um profissional de uma magnitude peculiar – o que me honra em ser seu editor - quero dizer também sobre o prazer que é ter Fernando Kubitza como um amigo. Fernando traz com ele a simplicidade do seu olhar para o mundo. E isso está presente na clareza e na luz dos seus textos. A todos, uma ótima leitura,

A

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Certificação e melhores práticas de manejo e gestão

Por:Fernando Kubitza, Ph.D.

Acqua Imagem Serviços em [email protected]

O setor aquícola precisa estar preparado para competir globalmente

A aquicultura tem sofrido pressões de or-ganizações não governamentais (ONG’s)

focadas na preservação ambiental e biodiver-sidade. Esses ataques têm sido especialmente concentrados sobre commodities aquícolas des-tinadas à exportação, como o camarão marinho e o salmão. Essas ONG’s alegam que a aquicultura ocupa e degrada áreas costeiras e que as fazendas de cultivo causam diversos impactos ambientais. Esses grupos organizados também disparam aler-tas sensacionalistas sobre os riscos do consumo do pescado cultivado, alegando serem produzi-dos em águas poluídas e conterem resíduos de antibióticos, hormônios e outros contaminantes prejudiciais à saúde. Esperam, assim, aumentar a percepção negativa dos consumidores quanto a essas “commodities” aquícolas, inibindo o con-sumo. Não bastassem os ataques dessas ONG’s, também vemos com frequência o fogo cruzado entre associações de produtores tentando prote-ger seus mercados da concorrência, como a briga entre produtores de catfish nos Estados Unidos e os exportadores de Pangasius e outros bagres do Vietnã e da China.

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Espécies marinhas na Galícia

Certificação, manejo e gestão

Em respostas a essas pressões, um grande número de empreendimentos aquí-colas tem aderido a programas de certifi-cação (Figura 1), implantando melhores práticas de manejo e gestão, segurança alimentar e responsabilidade social e am-biental. Sem ter que competir ou atender às exigências de mercados internacionais, poucas empresas do setor no Brasil se preocuparam até o momento em obter certificações. Mas o cenário no país agora é diferente. Temos uma ótima perspectiva para exportar nossos produtos, e o Brasil sinaliza para uma postura de livre mercado para produtos de pescado como a tilápia e o camarão, o que trará uma dura competição à tilápia e camarão cultivados no país. Os produtores/empresários do setor aquícola no Brasil precisam se organizar e mostrar para clientes e consumidores que os produtos nacionais possuem qualidade similar ou superior aos importados. Esse caminho vai certamente passar por processos de certificações, seja ele feito por agências internacionais ou nacionais.

O que é certificação?

Muitos leitores se lembram do Fantástico, programa dominical de TV que, em parceria com o INMETRO (Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Quali-dade Industrial), avaliava diferentes marcas de papel higiênico, escova de dente, ca-

Figura 1. Mapa com a distribuição dos empreendimentos de aquicultura certificados pela Global Aquaculture Alliance (GAA). O número de certificações vem crescendo rapidamente. Observe que no Brasil ainda não há nenhum empreendimento certificado pela GAA (Fonte: http://bap.gaalliance.org/find-certified-facilities/map-of-all-facilities/)

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Cert

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ção,

man

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stão

deira de rodas, col-c h ã o , a n d a d o r para criança, su-plemento nutr i-cional, medidor d e g l i c o s e n o sangue, etc. Nas segundas-fe i ras era comum ouvir amigos dizendo, indignados, que não comprariam mais produtos da marca X ou Y. Notícias de frau-des, adulterações e até catástrofes têm sido bastante comuns nos noti-ciários do país: é

leite com soda cáustica, embalagens com peso abaixo do especificado, congelados com excesso de água e uma lista extensa de outros produtos adulterados ou do tipo “gato por lebre”, além de boates pegando fogo, prédios desabando, eteceteras. Fico imaginando como seria isso se no país não existisse Serviço de Inspeção Federal, Vigilância Sanitária, INMETRO, ABNT, Cor-po de Bombeiros, DETRANS e outros. Essas agências estabelecem normas e certificações, muitas obrigatórias (certificações compulsórias), com o intuito de proteger tanto o consumidor como o ambiente. Por exemplo, nenhuma montadora de carro seria autorizada a vender uma só unidade no Brasil se não atendesse a requisitos mínimos de segurança e qualidade. Não é a toa que sem-pre que compramos um assento de criança para o carro, nos preocupamos se ele traz o selo do INMETRO, uma garantia que o produto oferece segurança para o trans-porte da criança. Se a empresa fabricante não atendesse às normas do INMETRO, provavelmente não iria vender assento algum. Da mesma forma, quando compramos carne ou pescado de procedência formal, geralmente na embalagem há informação sobre quem é o fabricante, o seu endereço e também se ele está certificado pelo SIF (Serviço de Inspeção Federal), SIE (Serviço de Inspe-ção Estadual) ou SIM (Serviço de Inspeção Municipal) a produzir aquele produto. O selo de inspeção atesta que o fabricante atende às exigências determinadas

pela agência regulamentadora (seja o Ministério da Agricultura, a Secretaria de Agricultura do Estado ou a vigilância sanitária do município). Esse selo é uma garantia de que aquele produto é mais seguro do que carnes ou pescado sem nenhuma inspeção ou certificação, nem indicação de fornecedor. Se o SIF, SIE ou SIM está sendo eficiente em fazer cumprir suas normas e em fiscalizar as empresas, isso é outra conversa.

Em geral, os empresários têm uma percepção negativa em relação às certificações, especialmente quando são obrigatórias. Certificações geralmente implicam em mais regulamentações e podem de-mandar mais aumentos de tributos e de custos, do que reais benefícios. Também há um receio de que a formalização leve a um aumento nas fiscalizações, pois dificilmente um produtor ou empresa certificada permanece anônimo ou informal. E o brasileiro já é escaldado com tantos impostos, taxas e achaques da fiscalização. No entanto, muitas empresas no Brasil e no mundo, atendendo a demandas específicas de compradores, consumidores, governos, etc., já aderi-ram a certificações ISO (International Organization for Standardization). Existem certificações do grupo ou família ISO 9000, que trata da qualidade de pro-dutos e serviços; da família ISO 22000, que trata da segurança dos alimentos; da família ISO 14000, que trata de questões ligadas ao meio ambiente; entre outras famílias de normas ISO. De fato, agências de normatização em diversos países adotam as normas ISO, como a ABNT (Agência Brasileira de Normas Técnicas) que dispõe de normas técnicas ABNT NBR ISO 9001 e ABNT NBR ISO 14001.

Programas de certificação para aquicultura

No caso específico dos empreendimentos de aquicultura, os programas de certificação se baseiam no uso das MPMG - Melhores Práticas de Manejo e Gestão (BAP na sigla em inglês) necessárias para que as empresas sejam capazes de oferecer produtos seguros ao consumidor, ao mesmo tempo em que praticam responsabilidade social e a preservação ambiental. Engajado em um ou mais programas de certificação, o aquicultor ou empresa poderá assegu-rar que seus produtos foram obtidos sob as melhores práticas de produção e gestão possíveis, com foco

“Engajado em um ou mais programas

de certificação, o aquicultor ou empresa poderá

assegurar que seus produtos foram obtidos sob as

melhores práticas de produção e

gestão possíveis. ”

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Espécies marinhas na Galícia

Certificação, manejo e gestão

no uso eficiente dos recursos, manejo de efluentes, responsabilidade social e ambiental, bem estar animal e sanidade, segurança alimentar, entre outros aspectos.

Apesar de parecer um pouco complexo a princí-pio, as certificações são estímulos e ferramentas impor-tantes para o aumento na eficiência do uso de recursos em uma empresa, para a compatibilização dos produtos e do próprio empreendimento com as agências regula-mentadoras, para a expansão de mercados e agregação de valor aos produtos, dentre outros benefícios. Para os consumidores, as certificações servem como garantia de que os produtos que compram são seguros e isentos de fraudes. Hoje, no Brasil, muitos frigoríficos, super-mercados, peixarias, restaurantes, exportadores, etc., já exigem que seus fornecedores adotem determinados procedimentos e cuidados específicos na produção e entrega de produtos e matérias primas. A maioria dos supermercados já não aceita mais pescado sem inspeção (SIF ou SIE). À medida que vão aderindo às certifica-ções para se credenciarem a novos mercados (domés-tico ou exportação), os frigoríficos são obrigados a dar cada vez mais atenção e importância à qualidade e rastreabilidade da matéria prima que compram. Desse modo vão demandar que os produtores implantem con-troles e práticas de manejo que assegurem o padrão de qualidade da matéria prima (pescado) que precisam. Nas certificações ainda estarão comprometidos com a responsabilidade social e ambiental dos seus produtos. Portanto, toda a cadeia de produção (produção de pós--larvas e alevinos, recria/engorda, frigoríficos, rações, equipamentos, exportadores, etc.) precisa se adequar e

Certificadoras* Tilápia Pangasius Camarão Salmão

Aquaculture Stewardship Council (ASC) 23 38 35 83

Global Aquaculture Alliance (GAA-BAP) 132 29 453 330

Global GAP (Good Agricultural Practices) 2 10 30 27

Tabela 1. Principais programas de certificação específicos para aquicultura e número de empreendimentos certificados para as principais espécies da aquicultura

acompanhar essa evolução. Nem todas as certificações são obrigatórias. Mas, chegaremos a um momento em que, sem elas, as opções de mercado ficarão cada vez mais restritas, limitando a expansão dos empreendi-mentos do setor.

Diversos programas de certificações de empreen-dimentos de aquicultura já estão disponíveis (Tabela 1) e o número de certificações de empreendimentos ligados ao setor vem crescendo rapidamente. O maior número de certificações está concentrado nas indústrias do sal-mão, camarão marinho, pangasius e tilápia, que são hoje as principais “commodities” da aquicultura mundial. Países asiáticos como a China e o Vietnã, tradicionais exportadores de pescado cultivado, reúnem o maior número de certificações. Não encontrei na lista dessas certificadoras nenhuma empresa do setor aquícola no Brasil, o que é natural visto que nossos empreendimen-tos de cultivo atuam mais no mercado doméstico, com poucas empresas hoje exportando. Mas esse número deverá aumentar nos próximos anos caso as empresas nacionais comecem a exportar.

No Brasil a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), com o apoio da Embrapa Aquicul-tura e do Sebrae, após uma série de consultas públicas, lançou suas normas técnicas com requisitos básicos para o cultivo de tilápias, peixes redondos e moluscos bivalves no Brasil. Essas normas não são obrigatórias aos aquicultores brasileiros, mas se adotadas, podem ajudar a promover a imagem dos produtos da aquicultura junto ao consumidor nacional e mesmo junto a importa-dores de diversos países. O extinto Ministério da Pesca

*Não encontramos empreendimentos do Brasil na relação dessas certificadoras.

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Certificação, manejo e gestão

e Aquicultura lançou um selo “Peixes da Amazônia” com o objetivo de certificar a qualidade dos peixes ama-zônicos cultivados no Brasil. O acesso dos aquicultores a esse selo foi condicionado ao engajamento dos mesmos às normas técnicas da ABNT.

Tabela 2. Grupos de melhores práticas de manejo e gestão (MPMG), os problemas que elas podem ajudar a minimizar e os benefícios econômicos que podem trazer

Grupos de MPMG’s Problemas a serem mitigados Benefícios econômicos

● Uso da água

● Uso ineficiente e desnecessário de água.● Excessivo volume de efluentes.● Conflitos no uso/captação da água.● Lançamento de efluentes.● Risco de entrada de patógenos/poluentes.

● Reduz custos com bombeamento, fertilizantes e corretivos.● Ganhos na conversão alimentar em peixes como a tilápia (manejo do plâncton).● Menor risco de entrada de patógenos e perdas por doenças.● Volume de efluentes compatível com a regulamentação (menor risco de multas).

● Controle de erosão e sedimentos

● Erosão de taludes, estradas e canais.● Assoreamento de tanques e canais.● Excesso de sólidos nos efluentes.● Frequentes reformas e limpezas de tanques e canais.

● Menor risco de rompimento de diques.● Menor custo com a manutenção de viveiros, taludes, estra-das e canais. ● Efluentes compatíveis com os padrões regulamentados (evita multas).

● Qualidade da água, manejo da produção, nutrição e alimentação (práticas que impactam o ambiente de cultivo e a qualidade do pescado)

● Deterioração da qualidade da água (baixo oxigênio, alto pH, toxidez por amônia, nitrito, gás carbônico, etc.). ● Proliferação excessiva de algas: mau sabor (“off-flavor”) e toxinas. ● Atraso no crescimento dos animais.Ineficiente conversão alimentar.● Saúde debilitada, doenças e mortalidade.● Aumento no custo de produção.

● O uso eficiente do espaço, melhor crescimento e conversão reduzem o custo de produção. ● Menores perdas de peixes associadas à má qualidade de água e doenças.● Maior qualidade do pescado produzido. ● Efluentes em melhores condições (menos autuações).

● Sanidade (prevenção e controle de doenças)

● Introdução e propagação de doenças.● Mortalidade devido a doenças.

● Redução de perdas de animais por doenças.● Reduz custos com tratamento de doenças.● Uso criterioso e efetivo de medicamentos.● Melhora a imagem do empreendimento.

● Controle de dados

● Falta de controle do estoque (peixes e cama-rões) na água.● Ausência de histórico de resultados de produ-ção e custo.

● Melhor previsão dos estoques de produtos para vendas e de entradas e saídas de caixa.● Melhor tomada de decisão sobre mercados e preços.● Melhor julgamento sobre as práticas de gestão e manejo mais efetivas para o empreendimento.● Rastreabilidade de produtos e processos.

● Redução do impacto de efluentes

● Poluição de rios, lagos estuários que recebem efluentes dos empreendimentos.● Conflitos com outros usuários.● Multas e autuações ambientais.

● Menor custo com limpeza de canais de drenagem e bacias ou lagoas de sedimentação.● Redução de multas por descarga de efluentes fora dos padrões.● Melhor relação com outros usuários dos recursos.

● Social

● Problemas com vizinhos / comunidade.● Vandalismos / Roubos.● Processos trabalhistas.

● Cooperação entre vizinhos = ganhos mútuos.● Melhor imagem da empresa na comunidade.● Redução de perdas e danos por vandalismo.● Reduz custos advocatícios e indenizações trabalhistas.

● Segurança Alimentar● Contaminação microbiológica.● Resíduos de medicamentos / químicos.● Toxinas.

● Produto seguro ausência de reclamações.● Manutenção do mercado/Preços prêmios.● Certificações de qualidade = mais opções de mercado.

Melhores práticas de manejo e gestão

A adoção das melhores práticas de manejo e ges-tão (MPMG) é o primeiro passo para uma certificação. MPMG nada mais são do que um conjunto de práticas

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Certificação, manejo e gestão

consideradas como as mais adequadas às condições particulares de cada empreendimento. Muitas MPGM´s já são utilizadas no dia a dia dos empreendimentos. Num programa de certificação essas práticas devem estar de acordo com as MPGM´s recomendadas pela certificadora e precisam apenas ser formalizadas e colocadas na rotina do empreendimento. Existem práticas que podem atender a todos os empreendi-mentos, por exemplo, manter o controle e o registro de dados e das ocorrências na produção que possam ser de relevância não apenas ao empreendimento, mas também aos clientes e fornecedores (rastreabilidade dos produtos e processos). Outras práticas podem ser específicas a um determinado empreendimento, por exemplo, “adicionar sal na quantidade de 6 kg para cada mil litros de água e manter a temperatura da água entre 22 e 24ºC quando for realizar uma transferência de peixes”.

Independentemente de quais forem as melhores práticas de produção e gestão adotadas, elas devem fazer sentido ao empreendimento. As MPMG’s pos-sibilitam aumentar a eficiência do uso e gestão dos recursos e da produção, preservar a infraestrutura de produção, minimizar os conflitos com funcionários e vizinhos, reduzir os impactos sobre o ambiente, re-duzir custos e aumentar a segurança dos produtos da aquicultura ao consumidor. Assim, cada empreendedor deve eleger e implantar as MPMG’s mais adequadas ao seu empreendimento. Os aquicultores não vão implantar MPMG’s apenas pelo fato delas mitigarem efeitos ambientais ou aumentarem a segurança do consumidor. As MPMG’s apenas serão incorporadas na rotina dos empreendimentos se elas trouxerem reais benefícios econômicos. Esses benefícios econômicos não estão unicamente associados à maior eficiência de produção e redução de custos. Podem estar as-sociados à redução de despesas com manutenção da infraestrutura, evitar despesas com ações trabalhistas (custos advocatícios e indenizações) e com autuações e multas ambientais desnecessárias. Outros benefícios estão associados ao menor desgaste em conflitos com vizinhos, redução de danos por vandalismo ou perdas por roubos. Melhorar a imagem do empreendimento e seus produtos com as certificações também trazem ganhos adicionais. A adoção de MPMG’s é um requi-sito fundamental para a sustentabilidade de qualquer empreendimento individual de aquicultura e, portanto, para todo o setor. E devemos começar a pensar nisso o mais rápido possível.

Grupos de MPMG

Não é meu objetivo aqui apre-sentar uma longa lista de MPMG’s e procedimentos para sua execução. Há uma grande quanti-dade de livros, ar-tigos, manuais de boas práticas, tra-balhos científicos, e tc . , detalhando MPMG’s. A inten-ção desse artigo é trazer ao conheci-mento do leitor al-guns dos grupos de melhores práticas de manejo e gestão, os principais proble-mas que podem solucionar ou minimizar e quais benefícios econômicos podem ser esperados com a implantação das MPMG’s (Tabela 2). E, com isso, convido os aquicultores/empresários do setor a pensar e organizar, dentro de cada um desses grupos, uma relação de MPMG´s que acreditem possam trazer benefícios aos seus empreendimentos, inde-pendente ou não de almejarem nesse momento qualquer certificação.

Considerações finais

Produtores e empresas precisam entender que, em poucos anos, a concorrência não será mais com o seu vizinho de fazenda, nem com o camarão ou o peixe que vem de outro estado. A disputa será global e já come-çou. Empresas internacionais que forem competentes, transparentes e respeitarem o consumidor vão ser bem recebidas no Brasil. E empresas brasileiras que tiverem a mesma atitude também vão ter seu espaço aqui e no exterior. Produtores, frigoríficos e mercados não podem mais agir isoladamente. É preciso que cada elo do setor convirja seus esforços para uma causa comum.

O pangasius tem sido malhado pelos produtores de catfish nos EUA e por outras indústrias de pescado cultivado em diversos países. Aqui no Brasil também é comum “descer o pau” no bagre vietnamita. Mas vejam vocês que há pelo menos 77 empreendimentos com

“Produtores e

empresas precisam

entender que, em

poucos anos, a

concorrência não

será mais com o seu

vizinho de fazenda,

nem com o camarão

ou o peixe que vem

de outro estado. A

disputa será global.“

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certificações internacionais que abrem os mercados da Europa, da América do Norte e do Brasil para o filé do pangasius (Tabela 1), enquanto há poucas empresas na aquicultura brasileira com certificações equivalentes. Mas ainda assim, os leigos e desinformados batem no pangasius sem sequer conhecer como esse peixe é de fato produzido. Ataques sem fundamentos, partindo dos próprios empresários do setor, podem fomentar uma percepção muito ruim da aquicultura como um todo junto aos consumidores. Não devemos esquecer que nosso telhado também é de vidro e, um dia, vão aparecer pessoas buscando denegrir a imagem dos camarões e peixes que iremos exportar. Lembremos que já fertiliza-mos tanques com esterco de porco e de outros animais e que também produzimos peixes em rios que recebem esgotos e contaminantes. Eu duvido que produtores de tilápia que estão nos lagos do Rio Tietê tenham coragem de mencionar em seus panfletos ou propagandas que seus peixes são produzidos em águas límpidas e cristalinas do Rio Tietê, conhecendo a situação do Rio Tietê na região da grande São Paulo. Temos que estar preparados, pois se um dia começarmos a incomodar alguém, podem trazer esse histórico à tona. Vão dizer que nossos peixes são produzidos em rios e represas que recebem esgotos industriais e urbanos, que nossas águas e peixes estão contaminados com metais pesados, e por aí a fora. E é possível que estejam mesmo, com tanto descaso que vemos com nossas águas e ambiente.

Durante anos a avicultura carrega o estigma da carne de frango conter “hormônios e muita química”, no expressar do consumidor leigo. No entanto, o frango continua sendo uma das carnes mais consumidas no Brasil e as empresas de avicultura, com extrema com-petência e transparência aprimoram cada vez mais seus processos, se adequam a diversas certificações nacionais e internacionais, exportam seus produtos para centenas de países e, através de marketing diário intenso, reforçam o compromisso que têm com a saúde e o bem estar das gerações atuais e futuras. Eu não conheço nenhum maluco pensando em exportar carne de frango de outros países para o Brasil, tamanha a competência, competitividade e qualidade do nosso setor avícola, duro de ser batido. A avicultura brasileira produz anualmente cerca de 12 mi-lhões de toneladas de carne de frango e exporta 4 milhões desse total. O país precisa dos recursos que aqui entram vindos da exportação do frango. As empresas avícolas do Brasil, portanto, precisam contar com reciprocidade de mercado. E com isso o mercado brasileiro de carnes também vai ter que se manter aberto a empresas de outros

países. A avicultura conta com um benefício adicional que a aquicultura não tem: isenção de PIS e COFINS nas rações. Precisamos conquistar isso também. De resto, a avicultura paga os mesmos salários e encargos trabalhistas que o piscicultor. O único diferencial é que a produção de frango ocorre em um sistema de integração, no qual o custeio da mão de obra, da energia e de outros itens de produção ocorre por conta do integrado/produtor. Já temos exemplo disso acontecendo na aquicultura. A avi-cultura pode e deve ser o modelo de gestão da produção, da qualidade, do social e do ambiente que a aquicultura precisa mirar.

Em breve, a tilápia e o camarão cultivado na China e em outros países vão chegar aos supermercados do nosso país. Não há como impedir isso diante da globalização e necessidade de reciprocidade no comércio. Se exportamos frango, suínos e bovinos para a China e outros países, com importante contribuição para o PIB do país, por que a China deve ser proibida de exportar pescado para o Brasil, desde que seus produtos atendam as exigências sanitárias do nosso país? Quem vai dar o veredito sobre qualidade e aceitar ou reprovar os produtos chineses e de qualquer outro país, afinal, vai ser o consumidor brasileiro. E quando a tilápia e o camarão importados aqui chegarem, o setor aquícola e pesqueiro não poderá se limitar a diminuir a qualidade desses produtos apenas com factoides. Vai ter, sim, é que mostrar competência.

Informações sobre melhores práticas de manejo, normas técnicas e programas de certificação:

Recomendações de melhores práticas de manejo na produção do catfish no Alabama https://efotg.sc.egov.usda.gov/references/public/AL/INDEX.pdf

USAID – melhores práticas de manejo na aquiculturahttp://pdacrsp.oregonstate.edu/pubs/featured_titles/boyd.pdf

FAO – melhores práticas de manejo da produção de carpas na Europa Centralhttp://www.fao.org/docrep/016/i2409e/i2409e.pdf

Global Aquaculture Alliance – Best Aquaculture Practices Finfish and Crustaceanshttp://bap.gaalliance.org/http://bap.gaalliance.org/wp-content/uploads/sites/2/2015/02/bap-fishcrust-914_003.pdf

Aquaculture Stewardship Council http://www.asc-aqua.org/index.cfm?lng=6

ABNT NBR 16375:2015 – Peixes redondoshttp://www.abntcatalogo.com.br/norma.aspx?ID=333326

ABNT NBR 16374:2015 - Tilápiashttp://www.abntcatalogo.com.br/norma.aspx?ID=333324

ABNT NBR 16376:2015 – Moluscos bivalveshttp://www.abntcatalogo.com.br/norma.aspx?ID=333327

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