Arbitragem - Dizer o Direito

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apostila arbitragem

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NOES GERAIS SOBRE ARBITRAGEM

Em que consiste:Arbitragem representa uma tcnica de soluo de conflitos por meio da qual os conflitantes aceitam que a soluo de seu litgio seja decidida por uma terceira pessoa, de sua confiana.Vale ressaltar que a arbitragem uma forma de heterocomposio, isto , instrumento por meio do qual o conflito resolvido por um terceiro.

Arbitragem jurisdio?H intensa discusso na doutrina se a arbitragem pode ser considerada como jurisdio ou se seria apenas um equivalente jurisdicional. Podemos identificar duas correntes:1) SIM. a posio de Fredie Didier.2) NO. defendida por Luiz Guilherme Marinoni.

RegulamentaoA arbitragem, no Brasil, regulada pela Lei n.9.307/96, havendo tambm alguns dispositivos no CPC versando sobre o tema.

Arbitragem de direito ou de equidadeA arbitragem poder ser de direito ou de equidade, a critrio das partes (art. 2 da Lei n 9.307/96).

a)Arbitragem de DIREITO: aquela em que os rbitros decidiro a controvrsia com base em regras de direito. Ex: as partes combinam que os rbitros encontraro a soluo para o caso seguindo as regras do Cdigo Civil.Vale ressaltar que as partes podem escolher livremente as regras de direito que sero aplicadas na arbitragem, desde que no haja violao aos bons costumes e ordem pblica ( 1 do art. 2).As partes tambm podero convencionar que a arbitragem se realize com base nos princpios gerais de direito, nos usos e costumes e nas regras internacionais de comrcio ( 2).

b)Arbitragem de EQUIDADE: aquela em que os rbitros decidiro a controvrsia no com base necessariamente no ordenamento jurdico, mas sim de acordo com aquilo que lhes parecer mais justo, razovel e equnime. Aqui, os rbitros tero uma liberdade de julgamento mais elstica, j que no estaro obrigados a seguir o que diz a lei, podendo conferir soluo contrria s regras do direito se isso, no caso concreto, parecer mais justo e adequado.

Apesar de parecer estranha para quem tem contato com ela uma primeira vez, a arbitragem por equidade pode ser muito til para determinados tipos de lide envolvendo conhecimentos tcnicos muito especializados, os quais a legislao ainda no conseguiu regular de forma satisfatria. Alexandre Freitas Cmara aponta seus benefcios:

a arbitragem de equidade ter, sobre a de direito, a imensa vantagem da especializao do rbitro. Basta pensar, por exemplo, numa arbitragem de equidade envolvendo conflito que diga respeito a uma questo de engenharia, ou qumica. A se levar tal lide ao Judicirio, o juiz fatalmente convocaria um perito no assunto para assessor-lo, e dificilmente sua sentena teria orientao diversa, quanto aos fatos, daquela apontada pelo perito em seu laudo. Neste caso, com a arbitragem se poder entregar a soluo da controvrsia diretamente nas mos do especialista, retirando-se da composio do conflito o juiz, que funcionaria aqui, em verdade, como um mero intermedirio entre as pessoas e o expert. (CAMARA, Alexandre Freitas.Arbitragem. Lei n. 9.307/96. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 1997).

CONVENO DE ARBITRAGEM

As partes interessadas podem submeter a soluo de seus litgios ao juzo arbitral mediante conveno de arbitragem (art. 3).

Conveno de arbitragem o gnero, que engloba: a clusula compromissria e o compromisso arbitral.

CLUSULA COMPROMISSRIA

Em que consiste:A clusula compromissria, tambm chamada de clusula arbitral, ...- uma clusula prevista no contrato,- de forma prvia e abstrata,- por meio da qual as partes estipulam que- qualquer conflito futuro relacionado quele contrato- ser resolvido por arbitragem (e no pela via jurisdicional estatal).

A clusula compromissria est prevista no art. 4 da Lei n.9.307/96:Art. 4 A clusula compromissria a conveno atravs da qual as partes em um contrato comprometem-se a submeter arbitragem os litgios que possam vir a surgir, relativamente a tal contrato.

Regra geral: validade da clusula compromissriaEm regra, a clusula compromissria vlida e, tendo sido imposta, de observncia obrigatria, sendo hiptese de derrogao da jurisdio estatal.

1 regra especfica: contrato de adeso possvel que um contrato de adeso contenha uma clusula compromissria?SIM, no entanto, essa clusula compromissria s ter eficcia se o aderente:tomar a iniciativa de instituir a arbitragem; ouconcordar, expressamente, com a sua instituio, por escrito, em documento anexo ou em negrito, com a assinatura ou visto especialmente para essa clusula.

Essa regra encontra-se prevista no 2 do art. 4 da Lei n.9.307/96: 2 Nos contratos de adeso, a clusula compromissria s ter eficcia se o aderente tomar a iniciativa de instituir a arbitragem ou concordar, expressamente, com a sua instituio, desde que por escrito em documento anexo ou em negrito, com a assinatura ou visto especialmente para essa clusula.

Vale lembrar que nem todo contrato de adeso um contrato de consumo e que nem todo contrato de consumo de adeso.

2 regra especfica: contrato de consumo possvel que um contrato de consumo contenha uma clusula compromissria?NO. O CDC estipula que nula de pleno direito a clusula que determina a utilizao compulsria de arbitragem (art. 51, VII). Assim, em qualquer contrato de consumo, seja ele de adeso ou no, nula a clusula compromissria.

Qual a razo para o legislador ter proibido a clusula compromissria no contrato de consumo?A Min. Nancy Andrighi explica que:O legislador, inspirado na proteo do hipossuficiente, reputou prejudicial a prvia imposio de conveno de arbitragem, por entender que, usualmente, no ato da contratao, o consumidor carece de informaes suficientes para que possa optar, de maneira livre e consciente, pela adoo dessa forma de resoluo de conflitos.Via de regra, o consumidor no detm conhecimento tcnico para, no ato de concluso do negcio, avaliar as vantagens e desvantagens inerentes futura e ocasional sujeio ao procedimento arbitral. Ainda que o contrato chame a ateno para o fato de que se est optando pela arbitragem, o consumidor, naquele momento, no possui os elementos necessrios realizao de uma escolha informada. (REsp 1.169.841-RJ)

Vale ressaltar, no entanto, que o STJ admite ocompromisso arbitralnas relaes de consumo, conforme ser explicado mais abaixo.

3 regra especfica: dissdios individuais de trabalhoNo vlida arbitragem nos dissdiosindividuaisde trabalho, conforme entendimento pacfico do TST:(...) 3. Seja sob a tica do artigo 114, 1 e 2, da Constituio Federal, seja luz do artigo 1 da Lei n 9.307/1996, o instituto da arbitragem no se aplica como forma de soluo de conflitos individuais trabalhistas. Mesmo no tocante s prestaes decorrentes do contrato de trabalho passveis de transao ou renncia, a manifestao de vontade do empregado, individualmente considerado, h que ser apreciada com naturais reservas, e deve necessariamente submeter-se ao crivo da Justia do Trabalho ou tutela sindical, mediante a celebrao de vlida negociao coletiva. Inteligncia dos artigos 7, XXVI, e 114, caput, I, da Constituio Federal.4. Em regra, a hipossuficincia econmica nsita condio de empregado interfere no livre arbtrio individual. Da a necessidade de interveno estatal ou, por expressa autorizao constitucional, da entidade de classe representativa da categoria profissional, como meio de evitar o desvirtuamento dos preceitos legais e constitucionais que regem o Direito Individual do Trabalho. Artigo 9 da CLT.5. O princpio tuitivo do empregado, um dos pilares do Direito do Trabalho, inviabiliza qualquer tentativa de promover-se a arbitragem, nos moldes em que estatudo pela Lei n 9.307/1996, no mbito do Direito Individual do Trabalho. Proteo que se estende, inclusive, ao perodo ps-contratual, abrangidas a homologao da resciso, a percepo de verbas da decorrentes e at eventual celebrao de acordo com vistas quitao do extinto contrato de trabalho. A premncia da percepo das verbas rescisrias, de natureza alimentar, em momento de particular fragilidade do ex-empregado, frequentemente sujeito insegurana do desemprego, com maior razo afasta a possibilidade de adoo da via arbitral como meio de soluo de conflitos individuais trabalhistas, ante o maior comprometimento da vontade do trabalhador diante de tal panorama.6. A intermediao de pessoa jurdica de direito privado - "cmara de arbitragem" - quer na soluo de conflitos, quer na homologao de acordos envolvendo direitos individuais trabalhistas, no se compatibiliza com o modelo de intervencionismo estatal norteador das relaes de emprego no Brasil. (...)Processo: E-ED-RR - 25900-67.2008.5.03.0075 Data de Julgamento: 16/04/2015, Relator Ministro: Joo Oreste Dalazen, Subseo I Especializada em Dissdios Individuais, Data de Publicao: DEJT 22/05/2015.

Obs: a Lei n.13.129/2015 tentou inserir a permisso de arbitragem para contratos individuais de trabalho de determinados empregados de maior escalo, mas esse dispositivo foi vetado pela Presidente da Repblica, de forma que permanece a vedao quanto arbitragem nos dissdios individuais de trabalho.

permitida a arbitragem no caso de dissdioscoletivosde trabalho, conforme previso expressa do 1 do art. 114 da CF/88: 1 - Frustrada a negociao coletiva, as partes podero eleger rbitros.

COMPROMISSO ARBITRAL

Em que consiste:O compromisso arbitral ...- um acordo (conveno) feito entre as partes- aps o conflito j ter surgido, (independente de ser judicial)- por meio do qual se combina que a soluo desta lide- no ser resolvida pelo Poder Judicirio,- mas sim por intermdio da arbitragem.

No compromisso arbitral, as partes renunciam ao seu direito de buscar a atividade jurisdicional estatal e decidem se valer da arbitragem.

Art. 9 O compromisso arbitral a conveno atravs da qual as partes submetem um litgio arbitragem de uma ou mais pessoas, podendo ser judicial ou extrajudicial. 1 O compromisso arbitral judicial celebrar-se- por termo nos autos, perante o juzo ou tribunal, onde tem curso a demanda. 2 O compromisso arbitral extrajudicial ser celebrado por escrito particular, assinado por duas testemunhas, ou por instrumento pblico.

Diferena entre a clusula compromissria e o compromisso arbitral:

Clusula compromissriaCompromisso arbitral

uma conveno de arbitragem em que as partes dizem que qualquer conflito futuro ser resolvido por arbitragem. uma conveno de arbitragem posterior ao conflito. O conflito surgiu e as partes decidem resolv-lo por arbitragem.

uma clusula prvia e abstrata, que no se refere a um conflito especfico. feito aps o conflito ter surgido e se refere a um problema concreto, j instaurado.

Em regra, mesmo havendo a clusula compromissria no contrato, as partes ainda precisaro de um compromisso arbitral para regular como a arbitragem ser feita.Exceo: Fredie Didier ressalta que no ser necessrio o compromisso arbitral se a clusula compromissria for completa, ou seja, contiver todos os elementos para a instaurao imediata da arbitragem (exs: quem sero os rbitros, o direito a ser aplicvel, o tempo de durao etc.).Mesmo que no exista clusula compromissria no contrato, as partes podero decidir fazer um compromisso arbitral para resolver o conflito.

vlido que seja realizado compromisso arbitral para dirimir conflito existente em uma relao de consumo?SIM. O STJ entende que o art. 51, VII, do CDC se limita a vedar a adoo prvia e compulsria da arbitragem, no momento da celebrao do contrato, mas no impede que, posteriormente, diante de eventual litgio, havendo consenso entre as partes (em especial a aquiescncia do consumidor), seja instaurado o procedimento arbitral.Em outras palavras, o que se veda a clusula compromissria nos contratos de consumo. No entanto, surgido o conflito entre consumidor e fornecedor, possvel que este seja resolvido mediante arbitragem, desde que, obviamente, as partes assim desejem.STJ. 3 Turma. REsp 1.169.841-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 6/11/2012.

ARBITRAGEM E ADMINISTRAO PBLICAUm dos temas mais debatidos sobre o mbito de aplicao da arbitragem dizia respeito possibilidade de sua utilizao pela Administrao Pblica.

H alguns anos, o legislador vem inserindo em determinados diplomas legislativos a possibilidade de arbitragem em contratos administrativos.

Como um primeiro exemplo, podemos citar a Lei n.11.079/2004, que previu expressamente que seria possvel instituir arbitragem nos contratos de parceria pblico-privada (art. 11, III).

Em seguida, foi editada a Lei n.11.196/2005, que acrescentou o art. 23-A, Lei n.8.987/95, estabelecendo que o contrato de concesso poder prever o emprego de mecanismos privados para resoluo de disputas decorrentes ou relacionadas ao contrato, inclusive a arbitragem, a ser realizada no Brasil e em lngua portuguesa, nos termos da Lei n.9.307/96.

Outros exemplos: Lei n 9.472/97 (Lei Geral de Telecomunicaes), Lei 9.478/97 (Lei de Petrleo e Gs), Lei n 10.233/ 2001 (Lei de Transportes Aquavirios e Terrestres), Lei n 10.438/2002 (Lei do Setor Eltrico), Lei n 11.196/2005 (Lei de Incentivos Fiscais Pesquisa e Desenvolvimento da Inovao Tecnolgica), Lei n 11.909/2009 (Lei de Transporte de Gs Natural), entre outras.

Mesmo assim, eram previses especficas e que encontravam ainda grande resistncia por parte dos administrativistas mais tradicionais.

Pensando nisso, o legislador foi mais ousado e, por meio da Lei n.13.129/2015, ora comentada, previu, de forma genrica, a possibilidade de a Administrao Pblica valer-se da arbitragem quando a lide versar sobre direitos disponveis. Foram acrescentados dois pargrafos ao art. 1 da Lei n.9.307/96, com a seguinte redao:

Art. 1 (...)

1 A administrao pblica direta e indireta poder utilizar-se da arbitragem para dirimir conflitos relativos a direitos patrimoniais disponveis.

2 A autoridade ou o rgo competente da administrao pblica direta para a celebrao de conveno de arbitragem a mesma para a realizao de acordos ou transaes.

Desse modo, atualmente, existe uma autorizao genrica para a utilizao da arbitragem pela Administrao Pblica para todo e qualquer conflito que envolva direitos patrimoniais disponveis. Isso vale para os trs entes federativos: Unio, Estados/DF e Municpios.

A autoridade que ir celebrar a conveno de arbitragem a mesma que teria competncia para assinar acordos ou transaes, segundo previsto na legislao do respectivo ente. Ex: se o Secretrio de Estado quem tem competncia para assinar acordos no mbito daquele rgo, ele quem poder firmar a conveno de arbitragem.

Como a Administrao Pblica deve obedincia ao princpio da legalidade (art. 37, da CF/88) e, a fim de evitar questionamentos quanto sua constitucionalidade, a Lei n.13.129/2015 determinou que a arbitragem, nestes casos,no poder ser por equidade, devendo sempre ser feita com base nas regras de direito. Confira:

Art. 2 (...) 3 A arbitragem que envolva a administrao pblica ser sempre de direito e respeitar o princpio da publicidade.

ESCOLHA DOS RBITROS

Regras para a escolha dos rbitrosAs regras relacionadas com a escolha dos rbitros esto previstas nos arts. 13 a 18 da Lei n.9.307/96.

Quem pode ser rbitro?Qualquer pessoa civilmente capaz e que tenha a confiana das partes (art. 13).As partes que escolhem quem elas querem como rbitro.As partes nomearo um ou mais rbitros, sempre em nmero mpar, podendo nomear, tambm, suplentes.

E se as partes nomearem rbitros em nmero par?Quando as partes nomearem rbitros em nmero par, estes (os rbitro) esto autorizados a nomear mais um rbitro (para ficar mpar).No havendo acordo, requerero as partes ao rgo do Poder Judicirio a que tocaria, originariamente, o julgamento da causa a nomeao do rbitro.

rgo arbitral institucional ou entidade especializadaEm vez de as partes escolherem individualmente os rbitros que iro julgar a causa, elas podem escolher um rgo arbitral institucional ou entidade especializada.rgo arbitral institucional ou entidade especializada uma pessoa jurdica constituda para a soluo extrajudicial de conflitos por meio da mediao, negociao, conciliao e arbitragem.Desse modo, as partes podero, de comum acordo, estabelecer o processo de escolha dos rbitros ou adotar as regras de um rgo arbitral institucional ou entidade especializada (art. 13, 3).

Escolha de rbitros caso as partes optem por um rgo arbitral institucional ou entidade especializadaSe as partes escolherem um rgo arbitral institucional ou entidade especializada para solucionar a causa, a seleo dos rbitros ser feita, em princpio, pelas regras previstas no estatuto da entidade.

Normalmente, tais entidades possuem uma lista de rbitros previamente cadastrados e a escolha recai sobre esses nomes.

A Lei n.13.129/2015, com o objetivo de conferir maior liberdade aos envolvidos, incluiu um pargrafo ao art. 13 da Lei n.9.307/96 prevendo que as partes podem, de comum acordo, afastar algumas regras do regulamento do rgo arbitral ou entidade especializada a fim de terem maior autonomia na escolha dos rbitros:

4 As partes, de comum acordo, podero afastar a aplicao de dispositivo do regulamento do rgo arbitral institucional ou entidade especializada que limite a escolha do rbitro nico, corbitro ou presidente do tribunal respectiva lista de rbitros, autorizado o controle da escolha pelos rgos competentes da instituio, sendo que, nos casos de impasse e arbitragem multiparte, dever ser observado o que dispuser o regulamento aplicvel.

Em outras palavras, o que o 4 quis dizer foi que as partes, mesmo tendo escolhido um rgo arbitral institucional ou entidade especializada que trabalhe com lista fechada de rbitros, podero escolher outros que no estejam previstos naquela relao.

Trata-se de inovao desarrazoada considerando que, se as partes escolheram aquele rgo arbitral ou entidade especializada porque confiam (ou deveriam confiar) na sua expertise e em trabalhos anteriormente por eles realizados. Assim, no h sentido em escolher um rgo pelo seu bom desempenho em arbitragens anteriores e querer mudar a essncia, o mago dessa entidade, que justamente a qualidade e o conhecimento tcnico de seus rbitros credenciados. Andou mal, portanto, o legislador neste ponto.

Impedimento e suspeio dos rbitrosAplicam-se aos rbitros as mesmas causas de impedimento e suspeio previstas para os juzes no CPC (amizade ntima, inimizade, interesse na causa etc.) (art. 14).No desempenho de sua funo, o rbitro dever proceder com imparcialidade, independncia, competncia, diligncia e discrio.

Equiparao funcionrio pblico para fins penaisOs rbitros, quando no exerccio de suas funes ou em razo delas, ficam equiparados aos funcionrios pblicos, para os efeitos da legislao penal (art. 17).

PRESCRIO E ARBITRAGEM

A Lei n.9.307/96 tratava sobre prescrio?NO. A Lei de Arbitragem (Lei n.9.307/96) no traz prazos de prescrio. No entanto, apesar disso, a doutrina majoritria afirma que essa omisso foi proposital, j que os prazos de prescrio so previstos nas leis de direito material e a lei de arbitragem uma norma processual.Assim, para a corrente majoritria, aplicam-se os prazos prescricionais previstos na legislao tambm para a arbitragem. Ex: imagine que determinado engenheiro foi contratado para uma obra e no contrato preveja a clusula compromissria; o prazo prescricional para pretenses decorrentes deste contrato de 5 anos, nos termos do art. 206, 5, II, do CC. Logo, este engenheiro teria o prazo de 5 anos para pedir a instituio da arbitragem.

E quando se considera instituda a arbitragem?Considera-se instituda a arbitragem quando aceita a nomeao pelo rbitro, se for nico, ou por todos, se forem vrios (art. 19).

O que a Lei n.13.129/2015 alterou sobre a prescrio? Foram inseridos prazos prescricionais na Lei de Arbitragem?NO. A Lei n.9.307/96 continua sem prever prazos de prescrio, at porque, como visto acima, isso matria atinente s leis de direito material. No entanto, a Lei n.13.129/2015 acrescentou um pargrafo ao art. 19 fixando um marco interruptivo da prescrio. Veja:

2 A instituio da arbitragem interrompe a prescrio, retroagindo data do requerimento de sua instaurao, ainda que extinta a arbitragem por ausncia de jurisdio.

Desse modo, os prazos de prescrio continuaro a observar as regras previstas na legislao extravagante (Cdigo Civil, Lei de Propriedade industrial etc.), mas, agora, a Lei de Arbitragem traz a regra de que a instituio da arbitragem interrompe o prazo prescricional.

SENTENA ARBITRAL

Ttulo executivo judicialA sentena arbitral constitui-se em ttulo executivo JUDICIAL (art. 475-N, IV, do CPC 1973; art. 515, VII, do CPC 2015).O rbitro decide a causa, mas se a parte perdedora no cumprir voluntariamente o que lhe foi imposto, a parte vencedora ter que executar esse ttulo no Poder Judicirio.

No necessrio homologao judicialVale ressaltar que a sentena arbitral, para produzir seus efeitos, no precisa de homologao judicial:Art. 18. O rbitro juiz de fato e de direito, e a sentena que proferir no fica sujeita a recurso ou a homologao pelo Poder Judicirio.

Art. 31. A sentena arbitral produz, entre as partes e seus sucessores, os mesmos efeitos da sentena proferida pelos rgos do Poder Judicirio e, sendo condenatria, constitui ttulo executivo.

possvel que o(s) rbitro(s) profira(m) sentena arbitral PARCIAL, ou seja, decidindo apenas parte do litgio que foi submetido sua apreciao?

Redao original da Lei 9.307/96:NO. A Lei n.9.307/96 vedava a prolao de sentena parcial.Caso o rbitro proferisse sentena parcial, esta seria nula, nos termos do art. 32, V:Art. 32. nula a sentena arbitral se:V - no decidir todo o litgio submetido arbitragem;

Alterao promovida pela Lei 13.129/2015:A Lei n.13.129/2015 passou a prever que possvel a sentena arbitral parcial:Art. 23 (...) 1 Os rbitros podero proferir sentenas parciais.

Alm disso, o inciso V do art. 32 acima transcrito foi revogado.

A mudana salutar, sendo aplaudida pela doutrina, considerando que h situaes em que melhor que os rbitros profiram a sentena parcial, resolvendo os pontos controvertidos da lide, como infraes contratuais, culpa pelo trmino da relao contratual e dever de indenizar. Em um segundo momento, na sentena arbitral final, os rbitros podero decidir sobre liquidao de crditos e dbitos recprocos e a estipulao de eventual determinao de compensao da verba de sucumbncia. (BAPTISTA, Luiz Olavo. Sentena parcial em arbitragem.Revista de Arbitragem e Mediao. Ano 5, n.17, abr-jun/2008, RArb 17, p. 189).

Com isso, resolve-se tambm um grave problema. Isso porque muitos Tribunais arbitrais ao longo do mundo permitem e proferem sentenas arbitrais parciais, como o caso do Regulamento da Cmara de Comrcio Internacional de Paris (CCI) e do Regulamento Arbitral da Comisso das Naes Unidas para o Direito do Comrcio Internacional (CNUDCI). O direito norte-americano do Estado de Nova Iorque, grande centro de arbitragem, igualmente permite sentenas parciais. Assim, algumas empresas brasileiras participavam de arbitragens internacionais em que eram proferidas sentenas parciais e depois, se sucumbentes, poderiam, em tese, buscar a anulao desta sentena no Poder Judicirio brasileiro com fundamento no art. 32, V, da Lei n.9.307/96, o que gerava grande risco segurana jurdica e credibilidade do instituto.

Alm disso, a sentena parcial, mesmo quando apresentar este vicio por um equvoco dos rbitros, no pode ser tida como nula, sendo apenas incompleta. Assim, no h sentido de se anular uma sentena incompleta, sendo o mais lgico exigir que ela seja completada, o que feito pelo art. 33, 4 da Lei n.9.307/96, com redao dada pela Lei n.13.129/2015.

A sentena arbitral pode ser invalidade pelo Poder Judicirio?SIM. Fredie Didier explica que h possibilidade de controle judicial da sentena arbitral, mas somente quanto sua validade (arts. 32 e 33, caput, da Lei n.9.307/96), ou seja, ela pode ser anulada se tiver vcios formais.O Poder Judicirio no pode, por outro lado, revogar ou modificar a sentena arbitral quanto ao seu mrito por entend-la injusta ou errada.A parte prejudicada que desejar anular a sentena arbitral por vcios formais dever ajuizar a ao de nulidade no prazo mximo de 90 dias aps o recebimento da notificao da sentena arbitral ou de seu aditamento (art. 33, 1). Ultrapassado esse prazo, a deciso arbitral torna-se imutvel pela coisa julgada material.(DIDIER, Fredie.Curso de Direito Processual Civil.Salvador: Juspodivm, 2015, p. 171).

Causas de nulidade da sentena arbitralA Lei n.9.307/96 traz, em seu art. 32, as hipteses em que a sentena arbitral poder ser anulada. A Lei n.13.129/2015 promoveu duas alteraes neste rol:

1) Revogou o inciso V que previa a nulidade das sentenas arbitrais parciais.

2) Alterou a redao do inciso I do art. 32. Compare:

Redao original da Lei 9.307/96Alterao promovida pela Lei 13.129/2015

Art. 32. nula a sentena arbitral se:I - for nulo o compromisso;

Art. 32. nula a sentena arbitral se:I - for nula a conveno de arbitragem;

A alterao corrige falha da redao original da LA. O inciso I falava apenas na nulidade do compromisso arbitral, deixando de fora a clusula arbitral. Agora, utiliza, corretamente, a palavra conveno de arbitragem, que o gnero que engloba: a clusula compromissria e o compromisso arbitral.

NULIDADE DA SENTENA ARBITRAL

Ao de declarao de nulidade da sentena arbitralA parte interessada poder pleitear ao rgo do Poder Judicirio competente adeclarao de nulidade da sentena arbitral, nos casos previstos no art. 32 da Lei n.9.307/96.

Prazo:90 dias, aps o recebimento da notificao da respectiva sentena, parcial ou final, ou da deciso do pedido de esclarecimentos.

Procedimento a ser aplicado:Procedimento comum previsto no CPC.Compare a mudana operada pela Lei n.13.129/2015 no art. 33 da Lei n.9.307/96:

Redao original da Lei 9.307/96Alterao promovida pela Lei 13.129/2015

Art. 33 (...)

1 A demanda para a decretao de nulidade da sentena arbitral seguir o procedimento comum, previsto no Cdigo de Processo Civil, e dever ser proposta no prazo de at noventa dias aps o recebimento da notificao da sentena arbitral ou de seu aditamento.

Art. 33 (...)

1 A demanda para a declarao de nulidade da sentena arbitral, parcial ou final, seguir as regras do procedimento comum, previstas na Lei n.5.869, de 11 de janeiro de 1973 (Cdigo de Processo Civil), e dever ser proposta no prazo de at 90 (noventa) dias aps o recebimento da notificao da respectiva sentena, parcial ou final, ou da deciso do pedido de esclarecimentos.

Aqui, o legislador cometeu um equvoco, porque aprovou este 1 fazendo meno ainda ao CPC 1973, quando, na verdade, j temos um novo Cdigo aprovado e que se encontra apenas aguardando o fim do prazo devacatio legispara entrar em vigor.

A pergunta que surge diante deste impasse a seguinte:quando o CPC 2015 entrar em vigor em maro de 2016, qual ser o procedimento a ser aplicado para a ao declaratria de nulidade da sentena arbitral? Aplica-se o CPC 1973 ou o CPC 2015?O CPC 2015.

O CPC 2015, quando entrar em vigor, em maro de 2016, acarretar a revogao do CPC 1973, conforme previsto em seu art. 1.046:Art. 1.046. Ao entrar em vigor este Cdigo, suas disposies se aplicaro desde logo aos processos pendentes, ficando revogada a Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973.

O fato de a Lei n.13.129/2015 ter mencionado o procedimento do CPC 1973 no deu uma sobrevida nem evitar a revogao deste, considerando que no foi esta a inteno do legislador e o CPC 2015 somente revogar o Cdigo atual em maro de 2016.

Para que a Lei n.13.129/2015 tivesse evitado a revogao de parte do CPC 1973, ela teria que ter se referido expressamente ao art. 1.046 do CPC 2015, o que no foi o caso.

O projeto que deu origem Lei n.13.129/2015 tramita h anos no Congresso Nacional e a sua inteno era simplesmente manter a regra de que a ao de declarao de nulidade da sentena arbitral deve ser regida pelo procedimento ordinrio do CPC vigente, seja ele o de 1973, seja o de 2015.

Alm disso, como um ltimo argumento, veja o que diz o 4 do art. 1.046 do CPC 2015: 4 As remisses a disposies do Cdigo de Processo Civil revogado, existentes em outras leis, passam a referir-se s que lhes so correspondentes neste Cdigo.

Dessa forma, quando o CPC 2015 entrar em vigor, onde se l CPC 1973, no 1 do art. 33 da Lei n.9.307/96, passar a ser lido CPC 2015.

Comandos da sentena que julgar procedente a anulao:Agora, se o juiz considerar procedentes os argumentos do autor, ele ir declarar a nulidade da sentena arbitral, em todas as hipteses do art. 32 da Lei n.9.307/96:

Redao original da Lei 9.307/96Alterao promovida pela Lei 13.129/2015

Art. 33 (...)

2 A sentena que julgar procedente o pedido:I - decretar a nulidade da sentena arbitral, nos casos do art. 32, incisos I, II, VI, VII e VIII;II - determinar que o rbitro ou o tribunal arbitral profira novo laudo, nas demais hipteses.

Art. 33 (...)

2 A sentena que julgar procedente o pedido declarar a nulidade da sentena arbitral, nos casos do art. 32, e determinar, se for o caso, que o rbitro ou o tribunal profira nova sentena arbitral.

Impugnao incidental da sentena arbitralEm vez de ajuizar uma ao autnoma pedindo a nulidade da sentena arbitral, a parte poder alegar esse vcio como uma matria de defesa no momento em que a outra parte estiver executando a sentena arbitral. Essa alegao feita mediante IMPUGNAO, j que a sentena arbitral ttulo executivo judicial, no havendo que se falar, portanto, em embargos do devedor, que uma defesa tpica da execuo de ttulos extrajudiciais. Compare a mudana:

Redao original da Lei 9.307/96Alterao promovida pela Lei 13.129/2015

Art. 33 (...)

3 A decretao da nulidade da sentena arbitral tambm poder ser arguida mediante ao de embargos do devedor, conforme o art. 741 e seguintes do Cdigo de Processo Civil, se houver execuo judicial.

Art. 33 (...)

3 A declarao de nulidade da sentena arbitral tambm poder ser arguida medianteimpugnao, conforme o art. 475-L e seguintes da Lei n.5.869, de 11 de janeiro de 1973 (Cdigo de Processo Civil), se houver execuo judicial.

Aqui o legislador cometeu o mesmo equvoco do 1 e a Presidente da Repblica, a fim de evitar discusses estreis, deveria ter vetado esse 3. Isso porque o CPC 2015 j traz uma regra muito semelhante alterando este mesmo 3 do art. 33 da Lei n.9.307/96. Vamos comparar:

Redao original daLei 9.307/96Alterao feita na Lei 9.307/96 pela Lei 13.129/15Alterao feita na Lei 9.307/96 pelo CPC 15

Art. 33 (...)

3 A decretao da nulidade da sentena arbitral tambm poder ser argida mediante ao de embargos do devedor, conforme o art. 741 e seguintes do Cdigo de Processo Civil, se houver execuo judicial.

Art. 33 (...)

3 A declarao de nulidade da sentena arbitral tambm poder ser arguida medianteimpugnao, conforme o art. 475-L e seguintes da Lei n.5.869, de 11 de janeiro de 1973 (Cdigo de Processo Civil), se houver execuo judicial.

Art. 33 (...)

3 A decretao da nulidade da sentena arbitral tambm poder ser requerida naimpugnao ao cumprimento da sentena, nos termos dos arts. 525 e seguintes do Cdigo de Processo Civil, se houver execuo judicial.

Como j explicado nos comentrios ao 1, quando o CPC 2015 entrar em vigor, em maro de 2016, a redao dada pela Lei n.13.129/2015 ser revogada pelo novo CPC.

Assim, a partir de maro de 2015, a redao que ir vigorar no 3 do art. 33 da Lei n.9.307/96 ser aquela que foi dada pelo CPC 2015 (terceiro quadro).

Sentena arbitral complementarComo visto mais acima, agora possvel a prolao de sentena arbitral parcial. Ocorre que poderia acontecer de os rbitros proferirem uma sentena parcial e, mesmo passado tempo razovel, no decidissem o restante da controvrsia. A fim de evitar esta indesejvel situao, a Lei n.13.129/2015 acrescentou um pargrafo ao art. 33 trazendo a possibilidade de a parte ajuizar ao exigindo que os peritos complementem a sentena arbitral caso esta tenha sido apenas parcial. Veja:

Art. 33 (...) 4 A parte interessada poder ingressar em juzo para requerer a prolao de sentena arbitral complementar, se o rbitro no decidir todos os pedidos submetidos arbitragem.

Repare que a parte interessada no ir requerer que Poder Judicirio complete a sentena arbitral. A ao proposta com o objetivo de que Poder Judicirio determine aos rbitros que decidam todos os pedidos submetidos arbitragem.

O 4 foi omisso quanto ao prazo desta ao, razo pela qual deve-se aplicar o mesmo prazo de 90 dias previsto no 1 deste art. 33. Ora, se a ao objetivando a declarao de nulidade segue o prazo de 90 dias, com mesma razo deve ser este o prazo para a ao visando apenas a complementao da sentena arbitral parcial.

TUTELAS CAUTELARES E DE URGNCIA

A Lei brasileira de arbitragem possua uma grave falha: no havia previso de que, antes de ser iniciado o procedimento arbitral, pudessem ser concedidas tutelas cautelares e antecipadas para resguardar os interesses das partes que estivessem em situao de urgncia.

Imagine, por exemplo, que duas grandes companhias mantivessem entre si um contrato para fornecimento de insumos e matrias-primas. Neste ajuste, havia uma clusula arbitral vazia (em branco), ou seja, uma clusula prevendo que os litgios deveriam ser resolvidos por meio de arbitragem, mas sem especificar os detalhes sobre o procedimento. Dessa feita, seria necessria, ainda, a firmao de um compromisso arbitral. Ocorre que a empresa responsvel pelo fornecimento no est cumprindo sua parte no contrato e no tem entregue a matria-prima, o que tem gerado gigantescos prejuzos outra parte contratante. Esta empresa prejudicada no tinha, na Lei de Arbitragem, nenhum instrumento jurdico por meio do qual pudesse resguardar seus interesses de forma imediata e rpida.

E agora?A Lei n.13.129/2015 acrescentou um importante captulo na Lei n.9.307/96 prevendo a possibilidade de serem concedidas tutelas cautelares e de urgncia antes e durante o procedimento arbitral.

Mas se ainda no existem rbitros escolhidos, quem ir deferir tais medidas?O Poder Judicirio. A Lei n.13.129/2015 estabeleceu que, se for necessria alguma medida cautelar ou de urgncia e ainda no houver sido instituda a arbitragem, as partes podero requer-las junto ao Poder Judicirio. Veja a novidade:

Art. 22-A. Antes de instituda a arbitragem, as partes podero recorrer ao Poder Judicirio para a concesso de medida cautelar ou de urgncia.

Assim, em nosso exemplo, a empresa prejudicada poder pedir ao juiz que conceda uma medida de urgncia no sentido de que a outra empresa continue fornecendo a matria-prima ajustada no contrato at que a disputa contratual seja resolvida pelos rbitros, sob pena de multa diria.

Depois de conseguir a medida pleiteada junto ao Poder Judicirio, a parte ter que requerer a instituio da arbitragem em at 30 dias, sob pena de a medida ser cessada:

Art. 22-A (...)Pargrafo nico. Cessa a eficcia da medida cautelar ou de urgncia se a parte interessada no requerer a instituio da arbitragem no prazo de 30 (trinta) dias, contado da data de efetivao da respectiva deciso.

Depois de instituda a arbitragem, os rbitros podero revogar a medida concedida pelo Judicirio?SIM. A medida cautelar ou de urgncia concedida pelo Poder Judicirio provisria e, depois de instituda a arbitragem, os rbitros iro reexamin-lo e podero mant-la, modific-la ou revog-la. Veja:

Art. 22-B. Instituda a arbitragem, caber aos rbitros manter, modificar ou revogar a medida cautelar ou de urgncia concedida pelo Poder Judicirio.

Podero ser concedidas medidas cautelares ou de urgncia depois de instaurado o procedimento arbitral?SIM, mas neste caso tais medidas sero concedidas pelos prprios rbitros que j estaro escolhidos:

Art. 22-B (...)Pargrafo nico. Estando j instituda a arbitragem, a medida cautelar ou de urgncia ser requerida diretamente aos rbitros.

Antes da Lei n.13.129/2015, a Lei n.9.703/96 determinava que tais medidas deveriam ser requeridas pelo rbitro ao Poder Judicirio, conforme previsto no art. 22, 4: 4 Ressalvado o disposto no 2, havendo necessidade de medidas coercitivas ou cautelares, os rbitros podero solicit-las ao rgo do Poder Judicirio que seria, originariamente, competente para julgar a causa. STJ carter jurisdicional da arbitragem e competncia para determinar medidas cautelares.Em sntese, segundo Chiovenda, a atividade jurisdicional se caracterizaria pela atuao da vontade concreta da lei, emanada de um rgo estatal em substituio atuao das partes. A teoria criada por Carnelutti, aps algumas adaptaes motivadas pelas crticas que recebeu, estabelece que na atividade jurisdicional se realizaria na justa composio de uma lide, caracterizada por uma pretenso resistida (processo de conhecimento) ou insatisfeita (processo de execuo). Por fim, Allorio v na aptido para a formao da coisa julgada o elemento caracterizador da jurisdio (v., por todos, SILVA, Ovdio A. Batista da Silva e GOMES, Fbio, Teoria Geral do Processo Civil, So Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, p. 60 a 74)A crtica mais pungente, no entanto, a de Luiz Guilherme Marinoni (Teoria Geral do Processo . So Paulo: RT, 2006, p. 147 e seguintes), para quem arbitragem e jurisdio no se confundem pelos seguintes motivos, em linhas gerais: (i) a escolha, pelas partes, da soluo do conflito por arbitragem implica renncia jurisdio ; (ii) o exerccio da jurisdio pressupe investidura por concurso pblico; (iii) a arbitragem no observa o princpio do juiz natural; (iv) o rbitro no tem aptido para executar suas decises. Todas essas crticas, contudo, foram adequadamente respondidas por Fredie Didier (Curso de Direito Processual Civil, Salvador: Ed. Jus Podivm, 11 edio, 2009, p. 82 a 85). Em resumo, argumenta o professor baiano: (i) ao escolher a arbitragem o jurisdicionado no renuncia jurisdio, mas jurisdio prestada pelo Estado; (ii) a jurisdio, mesmo Estatal, no exercida apenas por pessoas aprovadas em concurso pblico, do que seriam exemplos as vagas destinadas aos advogados pelos arts. 94, 104, 107, I, 111-A, I, 115, 118, II, 119, II, 120, 1, III, e 123, pargrafo nico, I, da CF; (iii) o princpio do juiz natural tem como principal elemento a garantia de julgamento por um rgo cuja competncia tenha sido pr-estabelecida, de modo a assegurar a imparcialidade do julgador.... o indispensvel fortalecimento da arbitragem que vem sendo levado a efeito desde a promulgao da Lei n 9.307/96 torna indispensvel que se preserve, na maior medida possvel, a autoridade do rbitro como juiz de fato e de direito para as questes ligadas ao mrito da causa. Negar tal providncia esvaziaria o contedo da Lei de Arbitragem, permitindo que, simultaneamente, o mesmo direito seja apreciado, ainda que em cognio perfunctria, pelo juzo estatal e pelo juzo arbitral, muitas vezes com srias possibilidades de interpretaes conflitantes para os mesmos fatosComo cedio, ao Juzo Arbitral falta a coero estatal para o cumprimento de seus julgados, tanto que formam ttulo executivo exatamente para que parte refratria, que concordou em se submeter ao julgamento, seja imposta, perante a justia comum, a prestao a que foi condenada. Portanto, no est entre suas funes promover a execuo de suas decises. Na espcie em comento, o que se verifica que na medida preparatria a parte requerente demonstrou possuir os requisitos do fumus boni iuris e do periculum in mora indispensveis concesso da liminar, cujo provimento determinou a administrao de bens e bloqueio de valores, portanto transferiu precariamente parcela do patrimnio das suscitantes at que o mrito da demanda seja decidido pelo Tribunal Arbitral. Essa medida possui, ento, inegavelmente, carter executrio antecipado, de competncia exclusiva do Poder Judicirio e deve persistir at que, eventualmente, conclua a arbitragem em sentido contrrio. Contudo, no possvel analisar a hiptese dos autos sem descer a algumas mincias da situao concreta. Aqui, a medida cautelar proposta foi de arrolamento . Ela inicialmente foi deferida apenas para que se promovesse o inventrio de bens mas, depois, Como cedio, ao Juzo Arbitral falta a coero estatal para o cumprimento de seus julgados, tanto que formam ttulo executivo exatamente para que parte refratria, que concordou em se submeter ao julgamento, seja imposta, perante a justia comum, a prestao a que foi condenada. Portanto, no est entre suas funes promover a execuo de suas decises. Na espcie em comento, o que se verifica que na medida preparatria a parte requerente demonstrou possuir os requisitos do fumus boni iuris e do periculum in mora indispensveis concesso da liminar, cujo provimento determinou a administrao de bens e bloqueio de valores, portanto transferiu precariamente parcela do patrimnio das suscitantes at que o mrito da demanda seja decidido pelo Tribunal Arbitral. Essa medida possui, ento, inegavelmente, carter executrio antecipado, de competncia exclusiva do Poder Judicirio e deve persistir at que, eventualmente, conclua a arbitragem em sentido contrrio. Contudo, no possvel analisar a hiptese dos autos sem descer a algumas mincias da situao concreta. Aqui, a medida cautelar proposta foi de arrolamento . Ela inicialmente foi deferida apenas para que se promovesse o inventrio de bens mas, depois,declaro a competncia do Tribunal Arbitral do Centro de Arbitragem e Mediao da Cmara de Comrcio Brasil - Canad para apreciar e, se entender cabvel, deferir as medidas de conservao de patrimnio atualmente submetidas apreciao do juzo da 2 a Vara Empresarial do Rio de Janeiro, RJ,(STJ - CC 111230 DF - 2014)

Esse 4 foi, contudo, revogado pela Lei n.13.129/2015, deixando claro que o prprio rbitro quem determina a medida deferida.

CARTA ARBITRAL

O que so as cartas no Direito Processual?Todo juzo possui competncia restrita a limites territoriais. Dentro destes limites, o prprio magistrado pode praticar os atos processuais por meio de ordem judicial. Se o ato tiver que ser praticado fora dos limites territoriais onde o juzo exerce sua competncia, ele ter que se valer das chamadas cartas.Carta, para o direito processual, , portanto, um instrumento de auxlio entre dois juzos. Determinado juzo expede uma carta para que outro juzo pratique determinado ato processual na esfera de sua competncia.

Espcies de cartaTradicionalmente, nosso Direito Processual conhecia trs tipos de carta:

Carta de ordemCarta rogatriaCarta precatria

Serve para que um Tribunal delegue a juzo inferior subordinado a ele a prtica de determinado ato processual.

Ex: o Ministro do STF expede carta de ordem para que o juzo federal oua uma testemunha localizada em Natal (RN).Ocorre quando um juzo solicita que outro juzo pratique determinado ato processual fora do pas.

Ex: juzo de Belm (PA) expede uma carta rogatria para que seja ouvida uma testemunha residente na Alemanha, pela autoridade judiciria alem.Ocorre quando um juzo solicita que outro juzo, de igual hierarquia, pratique determinado ato processual nos limites de sua competncia, dentro do Brasil.

Ex: o juzo da comarca de Niteri (RJ) expede uma carta precatria para que o juzo da comarca de Bzios (RJ) oua uma testemunha que l reside.

Carta arbitralA Lei n.13.129/2015 criou uma quarta espcie: a carta arbitral.

Por meio da carta arbitral, o rbitro ou o tribunal arbitral solicita que um rgo jurisdicional nacional (juiz de direito ou juiz federal) pratique ou determine o cumprimento de algum ato que seja necessrio para o procedimento arbitral. Ex: o rbitro que est solucionando uma controvrsia envolvendo duas partes que moram em Salvador (BA) expede uma carta arbitral para que o juzo de direito de Manaus (AM) intime um diretor de empresa que reside na capital amazonense.

Veja a previso legal que foi inserida na Lei n.9.307/96:Art. 22-C. O rbitro ou o tribunal arbitral poder expedir carta arbitral para que o rgo jurisdicional nacional pratique ou determine o cumprimento, na rea de sua competncia territorial, de ato solicitado pelo rbitro.Pargrafo nico. No cumprimento da carta arbitral ser observado o segredo de justia, desde que comprovada a confidencialidade estipulada na arbitragem.

Desse modo, magistrados no se assustem quando comearem a receber cartas expedidas por rbitros e tribunais arbitrais requerendo a prtica de atos processuais.

Vale ressaltar que novo CPC, que entrar em vigor em 2016, tambm j previa expressamente a existncia das cartas arbitrais determinando que elas devero atender, no que couber, aos requisitos das demais cartas (precatria, de ordem, rogatria) eexigindo que ela seja instruda com a conveno de arbitragem e com as provas da nomeao do rbitro e de sua aceitao da funo(art. 260, 3 do CPC 2015).CLAUSULAS COMPROMISSRIAS CHEIAS E VAZIASAndre RamosA cheia dispensa o compromisso arbitralAUTONOMIA DA CLAUSULA COMPROMISSORIO E O PRINCIPIO DA KOMPETEZ KOMPETENZAndre RamosALTERAO NA LEI DAS S/A

Arbitragem societriaA Lei n.13.129/2015 acrescenta um artigo Lei das Sociedades Annimas Lei n.6.404/76) permitindo que a arbitragem seja utilizada como mtodo para soluo de controvrsias societrias. Confira a redao:

Art. 136-A. A aprovao da insero de conveno de arbitragem no estatuto social, observado o quorum do art. 136, obriga a todos os acionistas, assegurado ao acionista dissidente o direito de retirar-se da companhia mediante o reembolso do valor de suas aes, nos termos do art. 45.

1 A conveno somente ter eficcia aps o decurso do prazo de 30 (trinta) dias, contado da publicao da ata da assembleia geral que a aprovou.

2 O direito de retirada previsto no caput no ser aplicvel:I - caso a incluso da conveno de arbitragem no estatuto social represente condio para que os valores mobilirios de emisso da companhia sejam admitidos negociao em segmento de listagem de bolsa de valores ou de mercado de balco organizado que exija disperso acionria mnima de 25% (vinte e cinco por cento) das aes de cada espcie ou classe;II - caso a incluso da conveno de arbitragem seja efetuada no estatuto social de companhia aberta cujas aes sejam dotadas de liquidez e disperso no mercado, nos termos das alneas a e b do inciso II do art. 137 desta Lei.

VACATIO LEGISA Lei n.13.129/2015 possui vacatio legis de 60 dias, de forma que s entra em vigor no dia 26/07/2015.