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DISSERTAO
REAS DE PRESERVAO PERMANENTE NA BACIA
DO RIBEIRO DAS ANHUMAS: ESTABELECIMENTO
DE PRIORIDADES PARA RECUPERAO POR MEIO
DE ANLISE MULTICRITERIAL
CARLOS EDUARDO DA SILVA FRANCISCO
Campinas, SP
2006
INSTITUTO AGRONMICO
CURSO DE PS GRADUAO EM AGRICULTURA TROPICAL E SUBTROPICAL
REAS DE PRESERVAO PERMANENTE NA BACIA DO RIBEIRO DAS ANHUMAS: ESTABELECIMENTO DE
PRIORIDADES PARA RECUPERAO POR MEIO DE ANLISE MULTICRITERIAL
CARLOS EDUARDO DA SILVA FRANCISCO Orientador: Dr. Ricardo Marques Coelho
Dissertao submetida como requisito parcial para obteno do grau de Mestre em Agricultura Tropical e Subtropical, na rea de concentrao de Gesto dos Recursos Agroambientais.
Campinas, SP Junho 2006
Ficha elaborada pelo Ncleo de Informao e Documentao do Instituto Agronmico
F819a Francisco, Carlos Eduardo da Silva. reas de Preservao permanente na bacia do ribeiro das Anhumas: estabelecimento de prioridades para recuperao por meio de anlise multicriterial / Carlos Eduardo da Silva Francisco 2006. 108 f. Orientador: Dr. Ricardo Marques Coelho Dissertao (Mestrado em Agricultura Tropical e Subtropical) Instituto Agronmico
1. Bacia do ribeiro - Anhumas preservao 2. Bacia hidrogrfica - recuperao ambiental 3. Anlise multicriterial I.Coelho, Ricardo Marques II. Ttulo CDD 551.49
Aos meus queridos pais Arthur e Heloiza,
pelo amor incondicional aos filhos,
e responsveis por mais essa vitria.
DEDICO
Lcia, cujo incentivo, amor e
companheirismo foram imprescindveis;
e as minhas duas princesas Ana Luiza e Theodora.
OFEREO
AGRADECIMENTOS
A realizao deste trabalho contou com a importante colaborao de pessoas e
instituies, as quais ofereo meus sinceros agradecimentos:
Ao orientador prof Dr. Ricardo Marques Coelho, pelo exemplo de pacincia, amizade,
dedicao, confiana, entusiasmo, obstinao o qual nunca perdeu as esperanas apesar
das inmeras e diferentes dificuldades verificadas ao longo do percurso desse trabalho;
A Dra Roseli Buzanelli Torres, pelo incentivo, dedicao e pela oportunidade de
participao no Projeto de Poltica Pblicas do Projeto Anhumas;
Ao gegrafo Samuel Fernando Adami pela criatividade no qual auxiliou nos
procedimentos de espacializao dos modelos multicriteriais em ambiente SIG;
A prof Dra. Isabella C. De Maria pelo esforo em aglutinar os alunos de Gesto de
Recursos Agroambientais e as vrias reunies realizadas com este propsito;
Ao Dr Antnio Carlos Zuffo pela participao como membro de banca e auxiliar a
desvendar a aplicao dos mtodos de anlise multicriterial;
Ao prof Dr. Jener Fernando Leite de Moraes pela participao como membro de banca
e contribuio com importantes sugestes para o trmino deste trabalho;
Ao programa de ps-graduao do IAC pela oportunidade de realizao deste curso;
A todos os professores, funcionrios e colegas do curso da ps-graduao pelo
aprendizado proporcionado e contribuies mutuas;
Aos funcionrios do departamento geoprocessamento pelo carinho e amizade;
Aos Analistas de Projetos Ambientais do Departamento Estadual de Proteo de
Recursos Naturais (DEPRN), Eng Agr Antnio Carlos Bordignon Junior e Eng Agr
Minoru Iwakani Beltro; e ao consultor ambiental gelogo Dr. Dirceu Pagotto Stein
pelas importantes informaes prestadas na rea de legislao ambiental;
Aos profissionais da rea ambiental que gentilmente responderam aos questionrios:
Antnio C. Bordignon Junior, Antnio C. Zuffo, Adriano Andreo D. da Silva, Carlos A.
Vetorazzi, Elaine Cristina Fidalgo, Gerd Sparovek, Igo F. Lepsch, Isabella C. De Maria,
Miguel Cooper, Minoru I. Beltro, Ricardo R. Rodrigues, Roseli Buzanelli Torres,
Rozely Ferreira dos Santos, Samuel F. Adami e Snia Carmela F. Dechen.
Agropecuria Anhumas pela permisso de coleta de dados de campo em suas
dependncias e ao Eng Agrcola Paulo S. G. de Oliveira que intermediou este contato.
E a todos aqueles que direta ou indiretamente contriburam com a elaborao deste
trabalho.
v
BIOGRAFIA
Nascido em Adamantina, S.P. em 02/11/59, formou-se em 1990 como
Engenheiro Agrnomo pela Universidade Federal Rural da Amaznia Belm - Par.
Estagiou no Museu Paraense Emlio Goeldi acompanhando pesquisas na rea de
Etnocincia com os ndios Kaiap, na aldeia Gorotire. No perodo de 1991 a 2003
trabalhou no Departamento Estadual de Proteo dos Recursos Naturais (DEPRN),
rgo ligado a Secretaria do Estado de Meio Ambiente, ocupando nos ltimos dois anos
o cargo de supervisor na Equipe Tcnica de Atibaia SP.
Atualmente trabalha como consultor na elaborao de projetos de recuperao,
planejamento e licenciamento ambiental; e outorgas de obras que utilizam recursos
hdricos.
vi
Anhuma, que seu canto volte um dia,
a ser ouvido nos brejos de Campinas....
vii
SUMRIO
NDICES DE TABELAS....................................................................................................... x INDICES DE FIGURAS........................................................................................................ xiii LISTA DE ANEXOS.............................................................................................................. xvi RESUMO................................................................................................................................ xvii ABSTRACT............................................................................................................................ xix1 INTRODUO................................................................................................................... 01 2 REVISO DE LITERATURA............................................................................................ 03 2.1 Legislao Ambiental....................................................................................................... 03 2.2. Geoprocessamento e SIG................................................................................................. 08 2.3 Anlise multicriterial........................................................................................................ 2.4 Vegetao nativa e uso da terra........................................................................................ 3 MATERIAL E MTODO...................................................................................................
08 10 12
3.1 Caracterizao fsica da rea de estudo............................................................................ 12 3.1.1 Localizao.................................................................................................................... 13 3.1.2 Relevo............................................................................................................................ 12 3.1.3 Clima.............................................................................................................................. 13 3.1.4 Geologia......................................................................................................................... 14 3.1.5 Solos............................................................................................................................... 15 3.1.6 Uso e cobertura do solo.................................................................................................. 18 3.1.7 Remanescente de vegetao nativa................................................................................ 18 3.1.8 Hidrografia urbana......................................................................................................... 19 3.2. Seleo de bacia hidrogrfica para recuperao de APP................................................. 21 3.2.1.Critrios.......................................................................................................................... 21 3.2.1.1 rea da sub-bacia........................................................................................................3.2.1.2 Grau de urbanizao das sub-bacias...........................................................................
21 24
3.2.1.3 reas com risco de inundao.................................................................................... 26 3.21.4 Classe de capacidade de uso da terra........................................................................... 26 3.2.1.5 Corredores de vegetao............................................................................................. 26 3.2.1.6 Densidade de cursos dgua........................................................................................ 27 3.2.1.7 Vazo mdia................................................................................................................ 27 3.2.1.8 Matas ciliares.............................................................................................................. 27 3.2.1.9 Diversidade de formaes florestais........................................................................... 28 3.2.1.10 Presena de unidades de conservao (UC).............................................................. 29 3.2.1.11 Densidade de vegetao nativa.................................................................................3.2.1.12 Fragmentao da vegetao nativa...........................................................................
29 29
3.2.1.13 Distncia da sub-bacia foz do ribeiro das Anhumas............................................ 30 3.2.2 Anlise multicriterial..................................................................................................... 30 3.2.2.1 Pesos dos critrios....................................................................................................... 30 3.2.2.2 Mtodo Programao de Compromissso (Compromise Programming PC)............ 31 3.2.2.3 Mtodo Teoria do Jogos Cooperativos (Cooperative Game Theory CGT)............. 33 3.3 reas de Preservao Permanente (APP):priorizao para recuperao.......................... 33 3.3.1 Planos de Informao..................................................................................................... 33 3.3.1.1 Uso e cobertura do solo............................................................................................... 34
viii
3.3.1.2 Vegetao nativa e macios arbreos......................................................................... 34 3.3.1.3 Ncleos urbanos.......................................................................................................... 35 3.3.1.4 Declividade................................................................................................................. 35 3.3.1.5 Erodibilidade dos solos............................................................................................... 35 3.3.1.6 Malha viria................................................................................................................ 35 3.3.1.7 Capacidade de sustentabilidade da vegetao nativa.................................................. 35 3.3.1.8 reas de Preservao Permanente (APP)................................................................... 36 3.3.1.9 Leito Maior (vrzea)................................................................................................... 38 3.3.2 Mapas de critrios.......................................................................................................... 38 3.3.2.1 Proximidade de vegetao nativa................................................................................ 38 3.3.2.2 Proximidade de ncleos urbanos................................................................................ 40 3.3.2.3 Uso da terra................................................................................................................. 42 3.3.2.4 Vulnerabilidade a eroso............................................................................................. 44 3.3.2.5 Proximidade de malha viria...................................................................................... 47 3.3.2.6 Capacidade de sustentabilidade da vegetao nativa.................................................. 49 3.3.2.7 APP em funo de ordem de canais de drenagem...................................................... 52 3.3.2.8 Categoria de APP........................................................................................................ 54 3.3.3 Aplicao espacial dos mtodos multicriteriais em ambiente SIG................................ 56 3.3.4 Pesos dos critrios.......................................................................................................... 57 4 RESULTADOS E DISCUSSO......................................................................................... 58 4.1 Seleo de bacia hidrogrfica........................................................................................... 58 4.1.1 Pesos e matriz Pay-off................................................................................................ 58 4.1.2 Valorao dos critrios.................................................................................................. 62 4.1.2.1 rea da bacia............................................................................................................... 63 4.1.2.2 Grau de urbanizao da bacia..................................................................................... 63 4.1.2.3 reas com risco de inundao.................................................................................... 64 4.1.2.4 Classe de Capacidade de Uso das Terras.................................................................... 64 4.1.2.5 Corredores de vegetao............................................................................................. 65 4.1.2.6 Densidade de cursos dguas...................................................................................... 66 4.1.2.7 Vazo mdia ............................................................................................................... 66 4.1.2.8 Matas ciliares.............................................................................................................. 67 4.1.2.9 Diversidade de formaes de vegetao nativa.......................................................... 67 4.1.2.10 Presena de Unidades de Conservao..................................................................... 68 4.1.2.11 Densidade de vegetao nativa................................................................................. 68 4.1.2.12 Fragmentao da vegetao nativa.......................................................................... 69 4.1.2.13 Influncia da bacia para o regime de cheias............................................................. 69 4.1.3 Aplicao dos mtodos multicriteriais........................................................................... 72 4.2 reas de Preservao Permanente: priorizao para recuperao.................................... 76 4.2.1 Mapas de uso atual das terras......................................................................................... 76 4.2.2 Resultado dos questionrios (pesos).............................................................................. 82 4.2.2.1 Mtodo Programao de Compromissso (Compromise Programming PC)............ 85 4.2.2.2 Mtodo Teoria do Jogos Cooperativos (Cooperative Game Theory CGT)............. 89 5 CONCLUSES................................................................................................................... 98 6 REFERNCIAS................................................................................................................... 100 7 ANEXOS ............................................................................................................................ 105
ix
INDICE DE TABELAS
Tabela 1 reas de Preservao Permanente (APP).................................................. 4
Tabela 2 Efeito do tipo de uso do solo sobre as perdas por eroso (BERTONI et al., 1999)....................................................................................................
11
Tabela 3 Balano hdrico normal compensado de Campinas, SP............................ 14
Tabela 4 Crregos da bacia do ribeiro das Anhumas e extenso destes com mata
ciliar (TORRES et al., 2006).....................................................................
28
Tabela 5 Usos da terra da bacia e respectivos valores.............................................. 42
Tabela 6 Classe de declividade, segundo BERTONI, (1990).................................. 44
Tabela 7 Erodibilidadedos solos da bacia do So Quirino estimada atravs do namograma de WISCHMEIER & SMITH (1978)....................................
45
Tabela 8 Classes de erodibilidade segundo FOSTER (1981) e LEVY (1995)........ 45
Tabela 9 Sub-grupos de aptido agrcola e respectivas unidades de mapeamento
do solo da bacia.........................................................................................
50
Tabela 10 Classe de aptido agrcola conforme RAMALHO FILHO et al. (1998) e valores adotados para respectivo grupo.....................................................
50
Tabela 11 Hierarquia fluvial segundo Strahler e a respectiva valorao................... 52
Tabela 12 Valorao de acordo com o tipo de APP................................................... 54
Tabela 13 Caracterizao da bacia hidrogrfica......................................................... 59
Tabela 14 Pesos dados pelos especialistas (peso no normalizados) de 1 a 10 para
cada critrio e sua moda, mdia, desvio padro e mdia expurgada.........
61
Tabela 15 Freqncia de ocorrncia dos pesos (1 a 10) em relao aos questionrios..............................................................................................
62
Tabela 16 rea da bacia e os respectivos valores...................................................... 63
Tabela 17 Grau de urbanizao.................................................................................. 64
Tabela 18 reas com risco de inundao (BRIGUENTI, 2005)................................ 64
Tabela 19 Proporo de classes de capacidade de uso nas reas no
impermeabilizadas e ponderao referentes classe e urbanizao.......
65
x
Tabela 20 Valorao das bacias para a capacidade de uso das terras......................... 65
Tabela 21 Corredores de vegetao............................................................................ 66
Tabela 22 Densidade de cursos dgua (km/km)...................................................... 66
Tabela 23 Valorao do critrio vazo mdia............................................................ 66
Tabela 24 Extenso linear de mata ciliar (TORRES et al., 2006).............................. 67
Tabela 25 Diversidade de formao de vegetao nativa........................................... 67
Tabela 26 Presena de Unidade de Conservao (UC).............................................. 68
Tabela 27 Densidade de vegetao nativa.................................................................. 69
Tabela 28 Fragmentao de vegetao nativa............................................................ 69
Tabela 29 Distncia da bacia at a foz....................................................................... 70
Tabela 30 Coeficiente de escoamento superficial da bacia e sua valorao.............. 70
Tabela 31 Ponderao dos fatores (CES) e distncia (D)........................................... 70
Tabela 32 Capacidade regulatria de vazo na bacia do Anhumas............................ 70
Tabela 33 Matriz de pesos normalizados e valores para os critrios das alternativas possveis (Matriz Payoff)...........................................................................
71
Tabela 34 Distncia (l), conforme frmula 4 e 5, calculada para as bacias segundo
os dois modelos de anlise multicriterial...................................................
74
Tabela 35 Ordem crescente de priorizao para seleo da sub-bacia....................... 74
Tabela 36 rea e proporo de uso e ocupao do solo em APP.............................. 76
Tabela 37 Tipos de APP na bacia do So Quirino, de acordo com a Lei 4771/65 e suas alteraes (BRASIL, 2001)................................................................
76
Tabela 38 Pesos finais resultantes das notas dos questionrios para cada critrio
para priorizao de recuperao de APPs, com sua moda, mdia, desvio padro e mdia expurgada.........................................................................
83
Tabela 39 Freqncia dos pesos atribudos pelos especialistas em consulta atravs de questionrios, para critrios para recuperao de APPs.......................
84
Tabela 40 Pesos tratados pela da mdia e moda, normalizados................................. 84
xi
Tabela 41 reas prioritrias para recuperao de APP, segundo mtodo PC, pesos
tratados pela mdia expurgada e pela moda..............................................
86
Tabela 42 reas prioritrias para recuperao de APP, segundo mtodo CGT, pesos tratados pela mdia expurgada e pela moda....................................
90
Tabela 43 reas prioritrias para recuperao de APP, segundo a programao por
compromisso (PC) e teoria dos jogos cooperativos (CGT), pesos tratados pela mdia expurgada...................................................................
95
xii
INDICE DE FIGURAS
Figura 1 Ilustrao de um corte transversal de uma plancie de inundao, indicando o nvel mais alto (R +), nvel mais baixo (R -), Linha de crista da margem: LM (leito maior) e Lm (leito menor); e limite da APP, conforme informaes de STEIN, 2006, entrevista....................
5
Figura 2 Localizao da bacia do ribeiro das Anhumas, no estado de So
Paulo....................................................................................................
11
Figura 3 Mapa de solos da bacia do ribeiro das Anhumas (GOMES, et al. 2004)....................................................................................................
17
Figura 4 Mapa da bacia do ribeiro das Anhumas e a diviso de sub-bacias:
1-Alto Anhumas; 2-Crrego do Mato Dentro; 3-Mdio Anhumas; 4-Crrego So Quirino 5-Baixo-Mdio Anhumas; 6-Ribeiro Monte Deste e 7-Ribeiro das Pedras/baixo Anhumas (adaptado de CAMPINAS, 2005).............................................................................
23
Figura 5 Bacias hidrogrficas do municpio de Campinas e suas sub-bacias (CAMPINAS, 2005)............................................................................
24
Figura 6 Mosaico de fotos (Foto area de 2001) da bacia do ribeiro das
Anhumas, sub-divididada em sub-bacias, mostrando o avano da urbanizao: 1-Alto Anhumas; 2-Crrego do Mato Dentro; 3-Mdio Anhumas; 4-Crrego So Quirino 5-Baixo-Mdio Anhumas; 6-Ribeiro Monte Deste e 7-Ribeiro das Pedras/baixo Anhumas........
25
Figura 7 Situao de reas de Preservao Permanente (APP) verificadas na bacia do ribeiro So Quirino..............................................................
36
Figura 8 Maquete do relevo da bacia do So Quirino representando APP de
topo de morro, nascentes e cursos dgua............................................
37
Figura 9 Levantamento planialtimtrico na escala 1/10.000, proveniente do mapeamento cartogrfico IGC (2005), mostrando a situao de APP por topo de morro, nascentes, cursos dgua e lago. Representao: 1 - Topo morro (cota 705 m), 2 Limite da APP de topo de morro (cota 685 m), 3 - cota de base (650 m); 4 APP; 5 vrzea (leito maior) e 6 - lago...................................................................................
37
Figura 10 Mapa de distncia do critrio proximidade de floresta nativa e de macios arbreos................................................................................
39
Figura 11 Mapa de distncia aos ncleos urbanos............................................... 41
Figura 12 Usos da terra da APP na sub-bacia do ribeiro So Quirino, na bacia
do ribeiro das Anhumas.....................................................................
43
xiii
Figura 13 Mapa do critrio de vulnerabilidade a eroso obtido do cruzamento
dos Pis mapa de declividade e mapa de erodibilidade.........................
46
Figura 14 Mapa de distncia proximidade de malha viria mostrando as APPs e a valorao do critrio.............................................................
48
Figura 15 Mapa de critrio de capacidade de sustentabilidade da vegetao
nativa....................................................................................................
51
Figura 16 Mapa do critrio ordem de canais........................................................ 53
Figura 17 Mapa do critrio categoria de APP e a valorao de cada tipo........................................................................................................
55
Figura 18 Pgina principal do SIG ILWIS ilustrando a espacializao do
modelo de anlise multicriterial Programao por Compromisso (PC). A frmula inserida na linha de comando (A) para processamento do mapa de priorizao de APP para recuperao......
57
Figura 19 Disperso dos pesos obtidos por meio de questionrios, aps tratamento das respostas (a) mdia, (b) moda, para os 13 critrios.....
62
Figura 20 APP da bacia do So Quirino com vegetao secundria em estgio
pioneiro de regenerao (BRASIL, 1994), com predominncia da espcie Gochnatia polymorpha............................................................
78
Figura 21 Bacia do So Quirino: foto area de 1972 com seu uso e ocupao...............................................................................................
79
Figura 22 Foto area de 2001 da bacia do So Quirino........................................ 80
Figura 23 Mapa de uso e ocupao do solo da APP da bacia do So Quirino e
a sobreposio dos vrios usos agropecurios em APP.......................
81
Figura 24 Disperso das mdias de tendncia central dos pesos obtidos por consulta aos especialistas, para moda (a) e mdia (b) dos pesos obtidos por consultas aos especialistas................................................
84
Figura 25 Distribuio das prioridades levando em considerao mdia expurgada e moda, conforme modelo de anlise multicriterial Programao por compromisso (PC)...................................................
87 Figura 26 Mapa de priorizao para recuperao de APP conforme mdia
expurgada com o uso do mtodo PC....................................................
88
Figura 27 Mapa de priorizao para recuperao de APP conforme moda com o uso do mtodo Programao por Compromisso (PC).......................
88
xiv
Figura 28 Distribuio das prioridades levando em considerao mdia expurgada e moda, conforme mtodo de anlise multicriterial Teoria dos Jogos Cooperativos (CGT)............................................................
90
Figura 29 Mapa de priorizao para recuperao de APP conforme mdia expurgada com o uso do mtodo Jogos Cooperativos (CGT)..............
91
Figura 30 Mapa de priorizao para recuperao de APP conforme moda com
o uso do mtodo Jogos Cooperativos (CGT).......................................
92
Figura 31 Distribuio das freqncias de reas (%) prioritrias para recuperao de APPs, nas medidas de tendncia central mdia expurgada (a) e moda (b) nos mtodos CGT e PC...............................
94
Figura 32 Distribuio das freqncias de reas (%) prioritrias para recuperao de APPs, na medida de tendncia central de mdia expurgada, nos mtodos CGT e PC utilizando os quatro critrios que obtiveram mdias dos pesos mais altos: proximidade de fragmentos e macios, uso da terra, vulnerabilidade a eroso, e categoria de APP................................................................................................
95
Figura 33 Mapa de priorizao para recuperao de APP conforme mdia expurgada com o uso do mtodo Programao por Compromisso (PC) utilizando apenas quatro critrios: proximidade de fragmentos e macios, uso da terra, vulnerabilidade a eroso, e categoria de APP................................................................................................
96
Figura 34 Mapa de priorizao para recuperao de APP conforme moda com o uso do mtodo Teoria dos Jogos Cooperativos (CGT) utilizando apenas quatro critrios: proximidade de fragmentos e macios, uso da terra, vulnerabilidade a eroso, e categoria de APP.......
97
xv
LISTA DE ANEXOS
Anexo 1 Ofcio enviado aos analistas para o preenchimento de questionrios com o objetivo de seleo de bacia prioritria para recuperao......................................................................................
104
Anexo 2 Ofcio enviado aos analistas para o preenchimento de questionrios com o objetivo de priorizao para recuperao de APPs................................................................................................
106
xvi
FRANCISCO, Carlos Eduardo da Silva. reas de Preservao Permanente na bacia do ribeiro das Anhumas: estabelecimento de prioridades para recuperao por meio de anlise multicriterial, 2006. 108 f. Dissertao (Mestrado em Agricultura Tropical e Subtropical) Ps-Graduao IAC
RESUMO
A bacia do ribeiro das Anhumas, na regio de Campinas, SP, encontra-se com seus mananciais poludos e assoreados pela falta de cobertura florestal adequada e principalmente pelo uso e ocupao irregular das reas de Preservao Permanente (APP). Nessas condies, o regime de vazo dos cursos dgua alterado, promovendo enchentes sistemticas, com prejuzos materiais e humanos, alm de perda de vrias outras funes ambientais dessas APPs. A recuperao ambiental de uma rea degradada como essa requer um esforo abrangente, muitas vezes multidisciplinar. A anlise multicriterial(AMC) uma ferramenta que permite reunir caractersticas diversas, atribuir pesos e valores s mesmas, auxiliando na tomada de deciso. O objetivo deste trabalho foi aplicar dois mtodos de AMC para otimizao da seleo de uma bacia hidrogrfica para estudo de recuperao ambiental em APP dentro da bacia do ribeiro das Anhumas e para identificao de APPs prioritrias para recuperao na sub-bacia selecionada. Dividiu-se a bacia do ribeiro das Anhumas em sete sub-bacias com o objetivo de selecionar uma delas como bacia-piloto para o planejamento e priorizao para recuperao. Foram selecionados treze critrios de natureza ambiental para aplicao da AMC. Usaram-se os mtodos de AMC Programao por Compromisso (PC) e o da Teoria dos Jogos Cooperativos (CGT). A anlise multicriterial foi efetiva na seleo de bacias hidrogrficas para recuperao de APPs, permitindo o uso de vrios fatores no julgamento, com flexibilidade. Apesar dessa objetividade, a interferncia do tomador de deciso se mostrou importante para corrigir distores na anlise. Procedimentos complementares essenciais ao sucesso na AMC no contexto estudado foram evitar sobreposio conceitual de critrios, efetuar adequado julgamento de valor para os critrios e usar a experincia do tomador de deciso como complementar aos resultados obtidos com os especialistas. Numa segunda etapa, aplicaram-se oito critrios de natureza ambiental para identificar APPs prioritrias para recuperao, dentro da bacia do crrego do So Quirino. Nessa etapa, usaram-se os mesmos dois mtodos para AMC, mas essa analise foi espacializada em Sistema de Informao Geogrfica (SIG). A metodologia usada para insero dos mtodos AMC em SIG mostrou a viabilidade de sua espacializao. No estabelecimento de APPs prioritrias para recuperao, quando os pesos foram tratados pela media, a proporo de reas prioritrias diferiu significativamente quando usada analise por PC de quando por CGT. O tratamento com a moda tendeu a atenuar as diferenas entre os mtodos da AMC e entre reas totais de APP para cada classe de prioridade. Quando os pesos foram tratados pela media, o mtodo PC resultou em maior rea com alta e mdia prioridade para recuperao e o CGT tendeu a aumentar as reas de APP com baixa e mdia prioridades em relao ao PC. Essas diferenas no permitem afirmar que um mtodo seja superior a outro, mas que, no caso estudado, um ou outro pode ser usado, a depender do objetivo desejado. Boa disponibilidade de recursos para implementar uma recuperao com urgncia aponta para o uso do PC na anlise, enquanto uma recuperao efetuada de forma gradual, com liberao mais lenta de recursos pode indicar que o mtodo CGT mais adequado.
xvii
Palavras-chave: planejamento ambiental, Programao por Compromisso, Teoria dos Jogos Cooperativos, sistema de informao geogrfica (SIG), auxlio tomada de deciso.
xviii
FRANCISCO, Carlos Eduardo da Silva. Permanent Preservation Areas in the Anhumas watershed: establishing priorities for recovery with multicriterial analysis. 2006. 108 f Dissertao (Mestrado em Agricultura Tropical e Subtropical) Ps-Graduao IAC
ABSTRACT The Anhumas watershed, in the region of Campinas, So Paulo State, Brazil, is degraded also as a result of unplanned land use of its Permanent Preservation Areas (APP). Therefore, river flow is unstable, promoting frequent flood damages, besides the lack of several environmental functions of its APPs. Environmental recovery of a degraded area requires a comprehensive effort, often multidisciplinary. Multicriterial analysis is a tool which allows gathering a diversity of attributes of the studied subject, weight and value them, helping in the decision making effort. This work aims to apply two methods of multicriteria analysis to optimize the selection of a watershed for environmental recovery studies of APPs in the Anhumas watershed. The Anhumas watershed was divided in seven sub-basins aiming the selection of one of those to implement an environmental planning study and to establish and rank areas that should be priorized for recovery. Thirteen environmental criteria were selected for application of multicriteria analysis using two methods: Compromise Programming (PC) and Cooperative Game Theory (CGT). Multicriterial analysis proved effective for basin selection, but the decision maker interference was able to improve its results. Important procedures for carrying out such an analysis were to avoid conceptual overlapping among different criteria, to implement appropriate value judgment for each criterion and to use decision maker expertise to supplement weights obtained with specialists. In a second stage, eight environmental criteria were applied for identifying APP areas that should be prioritized for recovery in the So Quirino creek basin. Of the So Quirino basins 1480 ha, 316 ha were APP. PC and CGT were successfully spatialized in a Geographic Information System (GIS). Weights treated by mean tended to increase differences between PC and CGT, whereas treatment by mode tended to attenuate differences between multicriteria analysis methods. Weight treatment by mean with PC produced more areas with high and medium priority. Weight treatment by mean with CGT increased areas of medium and low priority if compared to PC. Results of analysis indicate that each method can be used for different goals. When resources are abundant and/or there is urgency for environmental recovery, PC can be used; whereas when resource availability is limited and/or recovery can be gradual, CGT might be the recommended method. Keywords: Anhumas creek, Compromise Programming, Cooperative Game Theory, Environmental Planning, GIS, decision making support
xix
1
1 INTRODUO
reas de Preservao Permanente (APP) so reas definidas e protegidas pelo
Cdigo Florestal (BRASIL, 2001) e esto localizadas em faixas marginais de cursos
dguas, tanques, represas e lagos naturais; ao redor de nascentes; em topo de morros, e
em declividades maiores que 100 % entre outras. Apesar dessas reas serem protegidas
por um instrumento legal, verifica-se sua ocupao irregular com agropecuria e uso
urbano. Sua importncia para a sade do meio ambiente indiscutvel, possuindo a
funo ambiental de preservar os recursos hdricos, a paisagem, a estabilidade
geolgica, a biodiversidade, o fluxo gnico da fauna e flora, proteger o solo e assegurar
o bem-estar das populaes humanas (BRASIL, 2001).
A grande extenso da degradao a que essas reas de preservao esto
submetidas e as conseqncias prticas desse fato apontam para a necessidade de
recuperao desses ambientes. Todavia, a recuperao ambiental de maneira simultnea
em toda rea de APP raramente vivel, tornando-se necessria uma sistematizao
dessa, que leve em considerao a disponibilidade da mo-de-obra e, principalmente, o
custo econmico da recuperao que, contraposto aos rendimentos atuais com o uso
agrosilvopastoril, dificulta a persuaso do proprietrio da terra a trocar o uso econmico
convencional pela funo ecolgica das matas ciliares.
A bacia do ribeiro das Anhumas, na regio de Campinas, SP, apresenta elevado
grau de degradao ambiental, conseqncia da falta de planejamento da ocupao da
terra, o que permitiu o avano dos ncleos urbanos e industriais, de maneira
desordenada, sobre reas rurais e de APP. Apenas 5% da extenso dos cursos dgua da
bacia do ribeiro das Anhumas esto cobertas com mata ciliar (TORRES et al., 2006).
Como conseqncia, problemas de alagamentos em reas densamente ocupadas,
poluio do ar, do solo e das guas, perda de diversidade biolgica, habitaes em reas
de risco, dentre outros, ameaam o ambiente e a qualidade de vida da populao
(BRIGUENTI, 2005; TORRES et al., 2006).
O planejamento ambiental tem como objetivo organizar uma determinada rea
visando um melhor desempenho, considerando sua vocao natural. Esse ordenamento
pode ser realizado atravs da organizao dos espaos em bacias hidrogrficas,
consideradas unidades territoriais para implementao da Poltica Nacional de Recursos
Hdricos (BRASIL, 1997).
1
2
Freqentemente, a tomada de deciso em planejamento ambiental necessita de
grande nmero de variveis, do meio fsico, biolgico, social e econmico,
quantificveis ou no, cujas combinaes podem produzir diferentes alternativas de
manejo. A anlise multicriterial um mtodo de anlise de alternativas para a resoluo
de problemas que utiliza vrios critrios. O resultado dessa anlise facilita a tomada de
deciso, mostrando as alternativas prioritrias para o objetivo considerado.
A espacializao de reas de interesse, utilizando-se sistemas de informao
geogrfica (SIG), conceitos da ecologia da paisagem e mtodos de anlise multicriterial,
contribui para que, num programa de polticas pblicas, seja elaborado um diagnstico
ambiental daquelas bacias e as APPs com maior grau de degradao sejam priorizadas
para recuperao.
Esta dissertao vem contribuir para o diagnstico scio-ambiental da bacia
hidrogrfica do ribeiro das Anhumas, em Campinas (SP), com o propsito de subsidiar
a elaborao de polticas pblicas para a recuperao ambiental da bacia.
Neste trabalho, objetivou-se (a) eleger uma sub-bacia, dentro da bacia
hidrogrfica do ribeiro das Anhumas, prioritria recuperao ambiental, utilizando-se
mtodos de anlise multicriterial; (b) elaborar o mapa de priorizao de APP para
recuperao, fazendo-se uso de SIG e anlise multicriterial e (c) testar dois mtodos de
anlise multicriterial com fins de planejamento ambiental.
O presente trabalho procura testar as hipteses de que: (i) a Legislao Florestal
no vm sendo cumprida satisfatoriamente na bacia hidrogrfica do ribeiro das
Anhumas; (ii) a anlise multicriterial (AMC) uma ferramenta que pode ser utilizada na
seleo de sub-bacias e no estabelecimento de APPs prioritrias para recuperao; (iii)
os resultados da aplicao dos mtodos de anlise multicriterial PC e CGT no
planejamento de APPs na bacia do ribeiro das Anhumas no diferem para seleo da
bacia; (iv) os mtodos de anlise multicriterial PC e CGT podem ser espacializados no
programa ILWIS.
2
3
2 REVISO DE LITERATURA
2.1 Legislao ambiental
A legislao ambiental brasileira contempla inmeras leis visando a preservao
da sade do meio ambiente, dentre elas, o Cdigo Florestal, Constituio Federal, Lei
de Crimes Ambientais, Poltica Nacional de Meio Ambiente, entre outras. Uma das
mais importante o Cdigo Florestal (BRASIL, 2001) que disciplina o uso e ocupao
do solo das reas de Preservao Permanente (APP). Logo em sua introduo, o artigo
1 declara que as florestas existentes no territrio nacional e as demais formas de
vegetao so bens de interesse comum a todos os habitantes do Pas, exercendo-se os
direitos de propriedade, com as limitaes que a legislao em geral e especificamente
esta lei estabelecem. Segundo MACHADO (2004) o Cdigo Florestal antecipou a
noo de interesse difuso, e foi precursor da Constituio Federal quando conceituou
meio ambiente como bem de uso comum do povo.
No pargrafo 1 deste mesmo artigo, ainda prev que as aes ou omisses
contrrias s disposies deste Cdigo na utilizao e explorao das florestas e demais
formas de vegetao so consideradas uso nocivo da propriedade, aplicando-se, para o
caso, o procedimento sumrio no artigo 275, inciso II do Cdigo de Processo Civil.
Portanto, a propriedade tanto localizada na rea urbana como na rea rural, deve ser
utilizada conforme critrios previstos pela legislao ambiental. Seu uso nocivo ser
coibido atravs de procedimentos administrativos, cveis e criminais.
O Cdigo Florestal brasileiro foi editado em sua primeira verso em 1934 e j
possua alguns conceitos de preservao de reas marginais a cursos dgua, porm no
fixava distncias mnimas a serem preservadas. Em 1965, a lei 4771 definiu as
distncias a serem preservadas das margens dos crregos e rios, deixando, entretanto,
sem definies os critrios de distncias e os parmetros de proteo para tanques e
represamentos artificiais; nascentes e topo de morro. Para cursos dgua com at 10m de
largura, a faixa mnima prevista em cada lado da margem, era de 5m. Com a edio da
Lei Federal 6.766, de 19 de dezembro de 1979 (BRASIL, 1979), que dispe sobre o
parcelamento do solo urbano, o legislador j entendia que esta faixa de apenas 5m no
era suficiente para cumprir o seu objetivo proposto e agregou uma faixa de 10m como
non aedificandi, estendendo a uma faixa total de 15m nas reas urbanas (BELTRO,
3
4
2006-entrevista; BORDIGNON JUNIOR, 2006-entrevista). A lei 7.511, de 7 de julho
de 1986, alterou a faixa mnima de preservao permanente de 5 para 30 m de largura
para cursos dgua de at 10 m de largura (BRASIL, 1986).
A Resoluo do CONAMA n 4, de 18 de setembro de 1985 (BRASIL, 1985),
revogada pela Resoluo do CONAMA 302, de 20.3.2002 (BRASIL, 2002), enquadrou
as reas de Preservao Permanente como Reservas Ecolgicas e definiu critrios e
parmetros para as reas de Preservao Permanente de lagoas, lagos ou reservatrios
de gua naturais ou artificiais; de nascentes; topos de morro, montes e montanhas;
bordas de chapadas e declarou como de preservao permanente as encostas com
declividade superior a 100% ou 45.
Atualmente, a Lei Federal 4771/65, alterada pela lei 7803/89 (BRASIL, 1989) e
medida provisria 2.166-67, de 24 de agosto de 2001, artigo 2, e Resoluo CONAMA
302/02 e 303/02 (BRASIL, 2002) define as faixas de preservao permanente da
seguinte forma:
Tabela 1 reas de Preservao Permanente (APP) CRITRIOS
RESERVATRIOS ARTIFICIAIS
REA DO ESPELHO DGUA (ha)
URB. CONS*. RURAL
LARGURA DO CURSO DGUA
(m)
menos 10
10 a 50
50 a 200
200 a 600
> 20 20 < 20
APP
30 50 100 200 30 100 15
SITUAO
NASCENTES
LAGOS
NATURAIS
DECLIVIDADES
TOPO MORROS
(elevao > 50 m
e declividade >30%)
MONTANHAS/
SERRAS
(elevao > 300 m; independe da declividade)
APP 50 m 50 m > 100% TERO-SUPERIOR/LINHA
DE CUMEADA
TERO-SUPERIOR/LINHA
DE CUMEADA
* rea urbana consolidada (Resoluo do CONAMA 302 e 303/02) Essas reas protegidas, as APPs, localizadas em cada posse ou propriedade, so
bens de interesse nacional e espaos territoriais especialmente protegidos, cobertos ou
no por vegetao, com a funo ambiental de preservar os recursos hdricos, a
paisagem, a estabilidade geolgica, a biodiversidade, o fluxo gnico de fauna e flora,
proteger o solo e assegurar o bem-estar das populaes humanas (BRASIL, 2001;
4
5
BRASIL, 2006). Assim, um agricultor que renovar seu pasto ou efetuar o cultivo em
APP infringir os dispositivos da lei, tanto do Cdigo Florestal (BRASIL, 2001), bem
como, da lei dos Crimes Ambientais (BRASIL, 1998).
A delimitao das APPs feita em faixa marginal e a partir do nvel mais alto
das guas (BRASIL, 2001). Entende-se como nvel mais alto (R +) a ruptura de
declividade positiva que define a crista da margem (LM), situada ao sop das encostas
adjacentes (Figura 1). Esta situao caracteriza a plancie de inundao ou plancie
aluvial de um curso dgua ligadas aos cursos fluviais e comumente chamadas de
vrzeas, que tm como caracterstica principal sofrerem cheias no perodo de maior
pluviosidade. Quando, por exemplo, essas vrzeas naturais so modificadas por obras
hidrulicas de drenagem para fins agrcolas, com o rebaixamento do lenol fretico e
alterada sua condio natural de sazonalidade, ento, por critrio adotado pelos rgos
ambientais competentes, a APP, nesses casos, delimitada a partir do leito menor (Lm),
ou seja, do nvel mais baixo das guas. Isto no elimina, conforme diz a lei, a obrigao
de delimitar a APP a partir do nvel mais alto das guas (LM), ou seja, a partir do limite
da plancie de inundao (STEIN, 2006-entrevista).
Figura 1 Ilustrao de um corte transversal de uma plancie de inundao, indicando o nvel mais alto (R +), nvel mais baixo (R -), Linha de crista da margem: LM (leito maior) e Lm (leito menor); e limite da APP, conforme informaes de STEIN, 2006-entrevista. O limite da faixa de APP pode ser ampliado em razo da largura mdia da calha
menor de um determinado trecho do curso dgua sofrer um aumento. Por exemplo, no
caso da bacia do ribeiro das Anhumas a faixa mais extensa de APP de 50m, pois a
largura mdia medida num determinado trecho da foz do ribeiro foi de 16m. No
entanto, se a largura mdia a montante da foz do ribeiro das Anhumas for menor que
5
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10 metros, a faixa de APP neste trecho passar a ser de 30 metros, e assim,
sucessivamente.
Uma situao problemtica a das nascentes intermitentes, ou seja, aquelas
nascentes onde o afloramento do lenol fretico ocorre apenas na poca de maior
pluviosidade. Estas so medidas num raio mnimo de 50m de tal forma que proteja, em
cada caso, a bacia hidrogrfica contribuinte (BRASIL, 2001; BRASIL, 2002). Essa
condio, que prevista e protegida em lei e que, no entanto, por sofrerem alteraes
adversas do meio ambiente, como desmatamentos, uso agrcola das APPs,
impermeabilizao do solo a montante das cabeceiras decorrentes da urbanizao e
inobservncia de prticas de conservao do solo, entre outras, podem secar
definitivamente ou enquanto perdurarem as interferncias e os desequilbrios.
Nos casos comprovados de modificaes das condies naturais da nascente,
recomenda-se uma anlise geolgica e/ou pedolgica para justificar a eventual
inexistncia de gua e a perda da funo de recarga do aqfero.Vale ressaltar, que caso
esta distncia mnima de 50 m no estiver sendo suficiente para proteger a bacia
hidrogrfica contribuinte, esta faixa de APP poder ser ampliada. Geralmente, este
procedimento realizado nos rgos da Secretaria do Meio Ambiente do Estado So
Paulo (DEPRN) atravs de uma consulta a assessoria de geologia para avaliar se esse
raio mnimo suficiente para preservao das condies ecolgicas da nascente
(BORDIGNON JUNIOR, 2006-entrevista).
Como informado anteriormente, o Cdigo Florestal (BRASIL, 2001) no define
os limites de APPs para reservatrios artificiais e lagoas naturais. A Resoluo do
CONAMA 4/85 (BRASIL, 1985) definiu os limites de APPs dessas situaes,
distinguindo reas urbanas de reas rurais. Para reas rurais estipulava-se uma faixa de
APP de 50 m para represamentos com at 20 ha de espelho dgua e 100 m de APP para
represamentos maiores que aquela superfcie. Em reas consideradas urbanas a faixa de
APP era reduzida de 100 para 30 m, em se tratando de espelho dgua com superfcie
superior a 20 ha. Porm, como no se definiram critrios para as reas urbanas
(BRASIL, 1985), invariavelmente essas faixas eram reduzidas de 100 para 30 m quando
localizadas em reas de expanso urbana. Atualmente, essas questes esto
ultrapassadas com a Resoluo do CONAMA 302/02 (BRASIL, 2002), que para reas
urbanas consolidadas define faixa de APP de 30 m e para reas rurais 100 m, para
espelho dgua com superfcie superior a 20 ha e 15 m as faixas de APPs para
6
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represamentos com espelhos dgua inferiores a 20 ha (Tabela 1), se localizadas em
reas rurais.
Outras situaes de APPs definidas pela legislao (BRASIL, 2001; BRASIL,
2002) so as de topo de morros, montanhas e serras. Inicialmente para delimitar a APP
de topo de morro tem que caracterizar a situao de morro, que definido como a
elevao do terreno com cota de topo em relao base entre 50 e 300 m e declividade
na encosta de maior declive maior que 30%. Para delimitar a APP dividi-se a altitude
do morro por 3, demarcando o tero-superior no terreno. Quando se verifica uma
seqncia de morros a menos de 500 m um do outro formada uma linha de cumeada,
que o divisor de guas (BRASIL, 2002). Em se tratando de serras e montanhas com
elevao superior a 300 m, a delimitao do limite de APP no tero-superior independe
da declividade (STEIN, 2006-entrevista).
Existem outros espaos protegidos pela legislao ambiental que so as Reservas
Legais e as Unidades de conservao. A Reserva Legal definida como rea localizada
no interior de uma propriedade ou posse rural, excetuada a de preservao permanente,
necessria ao uso sustentvel dos recursos naturais, conservao e reabilitao dos
processos ecolgicos, conservao da biodiversidade e ao abrigo e proteo de fauna e
flora nativas (BRASIL, 2001). Esta lei, bem como, BRASIL (2006) e SO PAULO
(2006) definem e regulamentam seu uso e recomposio.
Conforme a lei 9.985, de 18 de julho de 2000, unidade de conservao (UC)
definida como o espao territorial e seus recursos ambientais, incluindo as guas
jurisdicionais, com caractersticas naturais relevantes, legalmente institudo pelo Poder
Pblico, com objetivos de conservao e limites definidos, sob regime especial de
administrao, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteo. Ainda, segundo
essa mesma lei, as UC esto divididas em dois grupos diferentes, e os mesmos sub-
divididos em categorias de unidades de conservao distintas:
I Unidades de Proteo Integral: Estao Ecolgica, Reserva Biolgica, Parque
Nacional, Monumento Natural e Refgio da Vida Silvestre;
II Unidades de Uso Sustentvel: rea de Proteo Ambiental (APA), rea de
Relevante Interesse Ecolgico (ARIE), Floresta Nacional, Reserva Extrativista, Reserva
de Fauna, Reserva de Desenvolvimento Sustentvel, e Reserva Particular do Patrimnio
Natural (RPPN).
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2.2 Geoprocessamento e Sistema de Informao Geogrfica (SIG)
Geoprocessamento definido como a tecnologia de coleta e tratamento de
informao espacial e de desenvolvimento de sistemas que o utilizam (RODRIGUES,
1988).
O objetivo principal do geoprocessamento, segundo CMARA et al. (1996), o
de fornecer ferramentas computacionais para o tratamento de informao geogrfica.
Estas ferramentas chamadas de sistema de informao geogrfica (SIG) armazenam a
geometria e os atributos dos dados que esto georreferenciados, isto , localizados na
superfcie terrestre e numa projeo cartogrfica. O SIG possui as seguintes
caractersticas: integrar numa nica base de dados cartogrficos, dados de censo e
cadastros urbanos e rurais, imagens de satlite, redes e modelos numricos de terreno;
oferecer mecanismos para combinar as vrias informaes, atravs de algoritmos de
manipulao e anlise, bem como, para consultar, recuperar, visualizar e plotar o
contedo da base de dados geocodificados.
Os SIGs, segundo ALVES (1990), so destinados ao tratamento de dados
referenciados espacialmente (georreferncia). Estes sistemas permitem a manipulao
dos dados de diversas fontes como mapas, imagens e cadastros. O SIG permite ampla
utilizao dos dados no planejamento urbano regional, estudo de recursos naturais,
anlise multitemporal, avaliao e caracterizao de bacias hidrogrficas, e servir de
suporte a deciso em ambiente SIG (CMARA et al., 1996).
2.3 Anlise multicriterial
A tomada de deciso em planejamento ambiental necessita de grande nmero de
variveis do meio fsico, biolgico, social e econmico, quantificveis ou no, cujas
combinaes podem produzir diferentes alternativas de uso. Nesse contexto,
ferramentas de anlise que permitam reunir caractersticas to diversas, atribuir pesos e
valores s mesmas, dando prioridade s diferentes alternativas, facilitam a tomada de
deciso. A anlise multicriterial um mtodo de anlise de alternativas para resoluo
de problema que utiliza vrios critrios relacionados ao objeto de estudo, sendo possvel
identificar as alternativas prioritrias para o objetivo considerado (FIDALGO, 2003;
ZUFFO, 1998).
8
9
Existe um grande nmero de mtodos de anlise multicriterial para auxlio
tomada de deciso. Diferentes mtodos geralmente representam diferentes formas de
aproximao para a tomada de deciso. A seleo do mtodo depende do problema
particular considerado, das preferncias do tomador de deciso e de muitos outros
fatores. ZUFFO et al. (2002) testaram cinco mtodos de anlise multicriterial para
auxlio tomada de deciso em planejamento de recursos hdricos: mtodo da
Programao por Compromisso, mtodo da Teoria dos Jogos Cooperativos; mtodo
Analtico Hierrquico e outros dois mtodos baseados nas relaes hierrquicas (Electre
II e Promethee II). Foram incorporados anlise 20 critrios tcnicos, econmicos,
sociais e ambientais. Dentre nove alternativas de tomada de deciso examinadas, cinco
mtodos apontaram para a mesma alternativa ideal, e quatro deles tambm coincidiram
na indicao de uma segunda alternativa, mostrando a adequabilidade da utilizao de
diferentes tcnicas de anlise multicriterial na tomada de deciso em projetos de carter
ambiental.
Os mtodos de anlise multicriterial podem ainda ser trabalhados em ambiente
SIG, facilitando e tornando mais factveis os trabalhos dos tomadores de deciso em
planejamento ambiental. A comparao espacial em ambiente SIG com imagens no
formato raster de alternativas de manejo em uma plancie fluvial apresentada
conceitualmente como um problema de tomada de deciso com abordagem
multicriterial por TKACH & SIMONOVIC (1997). A anlise das estratgias de manejo
da plancie fluvial da regio do vale do Red river escolhida como um estudo de
caso para ilustrar a tcnica de programao de compromisso em ambiente SIG.
Conforme esses autores, uma tcnica de tomada de deciso multicriterial foi
desenvolvida combinando a tcnica convencional de programao de compromisso
com tecnologia SIG. Esta nova tcnica referida pelos autores como programao de
compromisso espacial (SCP). A principal contribuio da tcnica proposta sua
habilidade em atender a distribuio espacial desigual dos valores dos critrios na
avaliao e ordenao das alternativas. SCP usada para determinar a melhor
alternativa para cada locao geogrfica dentro da regio de interesse.
THINH & HEDEL (2004), descrevem uma extenso da programao de
compromisso (PC) na programao de compromisso fuzzy (FCP). Para isso,
combinam a modelagem fuzzy, a programao de compromisso (PC) e o SIG, criando
um ambiente fuzzy de programao de compromisso para avaliao ecolgica de
opes de uso da terra com um programa AML.
9
10
VALENTE (2005), empregou a abordagem multicriterial em ambiente SIG, com
o mtodo da mdia ponderada ordenada, para combinao de fatores (caractersticas da
paisagem) importantes ao objetivo do projeto. O mtodo multicriterial utilizado em
ambiente SIG foi o processo hierrquico analtico (AHP). Este mtodo, conforme
SAATY (1994), baseia-se na comparao par-a-par dos critrios considerados.
Para identificao de reas para recomposio florestal, FERRAZ et al. (2003),
desenvolveu uma metodologia para aplicao dos conceitos de ecologia da paisagem no
planejamento do uso da terra em reas de reflorestamento por meio da utilizao de
SIG. Para tanto, estabeleceu cinco critrios para determinao de reas para
recomposio: fertilidade de solos, vegetao nativa existente, corpos dgua,
declividade e suscetibilidade a eroso. Esses fatores foram analisados, empregando-se
os recursos de anlise multicriterial, em ambiente SIG. Ressalta-se que nos trabalhos
acima citados os modelos de anlise multicriterial j faziam parte do programa do SIG.
Em funo do exposto, acredita-se que a espacializao da anlise multicriterial
em SIG possa ser til no planejamento ambiental em reas degradadas e em outras reas
que necessitem maior ateno com enfoque ambiental, dentre as quais as APPs.
2.4 Vegetao nativa e uso da terra As reas de Preservao Permanente que perderam sua cobertura florestal nativa
e encontram-se degradadas pelo uso intensivo da agropecuria podem ser recuperadas
mediante isolamento das condies antrpicas com o objetivo de propiciar a
regenerao natural das espcies nativas. Essa condio satisfeita quando, nas
proximidades da rea a ser recuperada existir remanescente de vegetao nativa de
forma que os meios biticos ligados flora e fauna estejam presentes e consigam atuar
como precursores de banco de sementes e plntulas. O estabelecimento desse banco de
semente realizado pelos agentes dispersores como, por exemplo, a avifauna, morcegos
e o vento (CRESTANA et al., 2004).
Em experimento conduzido em APP localizada em bioma de cerrado, (LIMA &
RODRIGUES, 2006-entrevista) verificaram a regenerao abundante de espcies dos
estgios sucessionais pioneiros com predominncia de quatro espcies nativas, em rea
cultivada h anos com cana-de-acar. Observaram atravs deste estudo que fragmentos
de vegetao nativa distante 50m da APP podem propiciar um significativo aporte de
sementes para a rea a ser recuperada.
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11
Com a finalidade de recuperao de bacia hidrogrfica, VALENTE (2005)
priorizou a unio dos fragmentos florestais nativos, independente do seu tamanho, de
modo a restabelecer a conectividade entre os mesmos. Desse modo, quanto mais
prximo um fragmento do outro, maior prioridade se deu para escolha desses
fragmentos para recuperao visando a interligao dos mesmos.
Nos principais tipos de uso do solo, conforme estudo de BERTONI et al. (1999),
pastagens, culturas anuais e perenes (Tabela 2) tiveram diferenas significativas nas
perdas de solo e gua, em comparao com o solo protegido com mata.
Tabela 2 Efeito do tipo de uso do solo sobre as perdas por eroso (BERTONI et al., 1999).
Perdas de Tipo de uso Solo gua
toneladas/ha % da chuva mata 0,004 0,7 pastagem 0,4 0,7 cafezal 0,9 1,1 algodo 26,6 7,2
JOLY et al. (2001), no Projeto Jacar-Pepira, para demonstrar a eficincia da
mata ciliar na conservao da estabilidade do solo, reproduziram trs situaes distintas
(solo exposto, pastagem e mata), verificando perdas de sedimento por eroso na ordem
de 15.900, 245,57 e 0,896 kg/ha/ano, respectivamente. Ou seja, no solo exposto
ocorreram perdas de aproximadamente 16 toneladas/ha/ano de solo em detrimento de
apenas 900 g/ha/ano em situao de solo coberto com mata ciliar.
Alguns solos so mais susceptveis a processos erosivos do que outros, mesmo
quando o uso, declividade, precipitao e as prticas de conservao so as mesmas.
Portanto, a erodibilidade mede a diferena existente entre os solos em decorrncia das
suas propriedades intrnsecas. A erodibilidade influenciada pelas seguintes
propriedades do solo: (a) as que afetam a velocidade de infiltrao, permeabilidade e
capacidade total de reteno de gua; (b) as que resistem s foras de disperso, ao
impacto das gotculas de gua, abraso e s foras de transporte pela chuva e
escoamento superficial (BERTONI et al., 1999).
11
12
3 MATERIAL E MTODO
Esse captulo est dividido em duas partes, a primeira relaciona-se ao material e
mtodo utilizados para a seleo de sub-bacia piloto com o objetivo de recuperao e a
segunda descreve os mtodos utilizados para priorizar a recuperao ambiental de reas
de Preservao Permanente (APP) daquela bacia visando a sua adequao legislao
florestal.
3.1 Caracterizao fsica da rea de estudo
3.1.1 Localizao
A bacia hidrogrfica do ribeiro das Anhumas est delimitada pelas coordenadas
UTM, zona 23, de 22 4501 a 225611 S e 465842 a 470701 W (Figura 2),
correspondendo a uma superfcie de 15.024,82 ha, aproximadamente 150 km. Tem sua
maior parte inserida no municpio de Campinas e uma pequena parte no municpio de
Paulnia (TORRES et al., 2006).
Figura 2 - Localizao da bacia do ribeiro das Anhumas, no estado de So Paulo.
12
13
3.1.2 Relevo
A bacia do ribeiro das Anhumas situa-se em uma rea de transio entre o
Planalto Atlntico e a Depresso Perifrica Paulista. Ao norte e ao nordeste da bacia
ocorre, predominantemente, relevo de colinas amplas, que se apresenta como uma
superfcie contnua e pouco dissecada, com inclinao em direo ao rio Atibaia. Ao
leste encontra-se relevo de colinas mdias e amplas, as quais apresentam-se mais
elevadas medida que esse relevo sustentado por rochas mais resistentes, o que
caracteriza relevo de colinas e morrotes. Ao oeste, encontra-se o relevo de colinas
amplas. Ao sul, encontram-se colinas pequenas e morrotes, que apresentam blocos
rochosos esparsos por todo o terreno, que refletem o substrato gnissico que os suporta.
Ao longo da bacia, as plancies aluvionais apresentam, com raras excees, superfcies
reduzidas (INSTITUTO GEOLGICO, 1993).
3.1.3 Clima
Os dados relativos ao clima da bacia foram os obtidos no posto meteorolgico da
Fazenda Santa Eliza, do Instituto Agronmico. A distribuio pluvial segue o regime
tpico das zonas tropicais de baixa altitude, ou seja, vero chuvoso e inverno seco. Os
dados de temperatura assinalam valores inferiores a 18 oC durante o inverno e
superiores a 24 oC durante o vero, sendo junho o ms mais frio (17,1 oC) e janeiro o
mais quente (23,1 oC). Os dados dos valores mdios de temperatura do ar e da
precipitao pluvial encontrados permitem identificar o clima, segundo o sistema de
Kppen, como do tipo Cwa, ou seja, clima mesotrmico de inverno seco (Tabela 3).
13
14
Tabela 3 Balano hdrico normal compensado de Campinas, SP (674 m,2254lat.S, 4705long. W). Armazenamento de gua no solo igual a 125 mm.
Ms Temp ETo Prec Saldo Neg.Acu. Armazen. ETr Deficit Exced. C mm mm mm mm mm mm mm Mm
Jan 23,1 113 240 127 0 125 113 0 127 Fev 23,5 102 191 89 0 125 102 0 89 Mar 23,0 102 147 45 0 125 102 0 45 Abr 21,1 77 71 -6 6 119 77 0 0 Mai 18,7 57 65 8 0 125 57 0 2 Jun 17,4 47 49 1 0 125 47 0 1 Jul 17,3 46 37 -9 9 116 46 0 0 Ago 18,9 60 37 -23 32 97 57 3 0 Set 20,1 71 66 -5 37 93 70 1 0 Out 21,2 87 124 36 0 125 87 0 4 Nov 22,0 97 138 41 0 125 97 0 41 Dez 22,5 107 217 110 0 125 107 0 110 Ano 20,7 966 1382 414 N.A.* N.A. 962 4 419
* N.A.: no aplicvel Fonte: SAEE(1959/87) e Centro de Ecofisiologia e Biofsica IAC
3.1.4 Geologia
De acordo com levantamento realizado pelo INSTITUTO GEOLGICO,
(1993), a regio da bacia hidrogrfica do ribeiro das Anhumas est assentada, ao oeste,
sobre diabsios de idade jurssico-cretcea, que ocorrem sob a forma de sills, gnaisses
do perodo Proterozico Mdio (complexo Itapira), aluvies do perodo Quaternrio e,
em menor proporo, hornblenda-biotita granitos (sute grantica Jaguarina) referidos
ao Proterozico Superior. Ao leste da bacia predominam gnaisses bandados ou
indiferenciados e, em pequena proporo, milonitos/protomilonitos/ultramilonitos (Zona
de Cisalhamento de Campinas) referidos ao Proterozico Superior/Cambro-Ordoviciano
e aluvies de idade quaternria. Na poro sul da bacia predominam os gnaisses do
Proterozico Mdio (Complexo Itapira), seguidos em extenso por ritmitos turbticos e
arenitos de idade carbonfera-permiana (Subgrupo Itarar), com pequena ocorrncia de
aluvies do Quaternrio. Na poro norte, predomina os sedimentos (diamictitos,
arenitos e ritmitos) do subgrupo Itarar, seguidos de diabsios e, pequena proporo
(~20 %) de gnaisses, granitos e aluvies. Na poro central da bacia ocorrem
diamictitos do subgrupo Itarar, diabsios, granitos e gnaisses, seguidos em extenso de
arenitos do subgrupo Itarar, milonitos e aluvies.
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3.1.5 Solos
Os solos mapeados na bacia hidrogrfica do ribeiro das Anhumas (GOMES et
al., 2004) distribuem-se em cinco ordens dentro do Sistema Brasileiro de Classificao
de Solos (EMBRAPA, 1999): Latossolos, Argissolos, Gleissolos, Nitossolos e
Neossolos (Figura 3).
Os Latossolos ocupam cerca de 48 % nas pores centro-oeste, norte e nordeste.
Estes solos so acentuadamente drenados (Latossolos argilosos) a fortemente drenados
(latossolos de textura mdia) e muito profundos. A saturao por bases varivel,
observando-se desde solos com elevada saturao por alumnio (distrficos licos) at
aqueles com saturao por bases elevada (eutrficos). Os latossolos eutrficos na rea
so aqueles cujo material de origem tem maior influncia do diabsio, e ocorrem na
poro centro-oeste da bacia estudada. A textura dos latossolos , mais freqentemente,
argilosa, podendo ser encontrados latossolos de textura mdia no norte e nordeste da
bacia, quando influenciados por sedimentos da formao Itarar, e latossolos de textura
muito argilosa, quando mais influenciados por materiais originrios do diabsio
(latossolos vermelhos eutrofrricos e distrofrricos). Em algumas unidades de solo
mapeadas, os latossolos ocorrem em associaes ou com incluses de Nitossolos.
Os Argissolos ocupam cerca de 48 % da rea da bacia com ocorrncia mais
representativa em suas pores leste, sudeste e sul. Estes solos apresentam textura
varivel de arenosa a mdia, em superfcie, sobre mdia a argilosa, em subsuperfcie.
Sua saturao por bases , na maioria dos casos, baixa (distrficos), encontrando-se,
porm, pequena proporo de argissolos com mdia a elevada saturao do complexo
de troca por ctions bsicos (eutrficos) em reas de relevo mais ondulado com litologia
gnissica ou grantica (sudeste e centro-oeste da bacia), em associao com Neossolos
Litlicos ou no, e tambm em reas com grande influncia do diabsio, no noroeste da
bacia, prximo foz do Anhumas no rio Atibaia. Os Argissolos na bacia so em geral
profundos e, mais raramente, pouco profundos, estes ltimos nas reas de relevo mais
ondulado relacionadas ao embasamento cristalino. So solos mais freqentemente bem
drenados, quando de textura mais grossa (e.g. arenosa/mdia) e pequena relao textural
B/A, ou bem moderadamente drenados, quando com relaes texturais B/A mais
elevadas (GOMES et al., 2004)
No mapa de solos da bacia hidrogrfica (GOMES et al., 2004), as unidades de
mapeadas como Gleissolos ocupam cerca de 4 % da superfcie, nas vrzeas do ribeiro
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das Anhumas e de seus afluentes, sendo mais freqentes ao longo do canal principal
(ribeiro das Anhumas), principalmente no mdio e baixo curso. So solos com elevada
variabilidade em suas propriedades intrnsecas, tais como profundidade, textura e
fertilidade natural. As unidades de Gleissolo na rea mapeada apresentam, com
freqncia, incluso de Neossolos Flvicos, no ocorrendo os Neossolos, porm, como
componente principal em nenhuma unidade de solo da bacia.
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Figura 3 Mapa de solos da bacia do ribeiro das Anhumas (GOMES et al., 2004).
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3.1.6 Uso e cobertura do solo
Os dados de uso e cobertura do solo foram obtidos do mapa de Uso e Cobertura
do Solo da bacia do ribeiro das Anhumas (TORRES et al., 2006). Na bacia do ribeiro
das Anhumas verifica-se a ocupao mais antiga de Campinas, e 50 % de sua rea
encontra-se com urbanizao consolidada. Esse mapa baseou-se no mosaico de fotos
areas do ano de 2001 e imagem de satlite CBERS e abril de 2005. Apesar de ter sido
usado o mapa preliminar, com checagem de campo ainda incompleta para alguns usos
(p.ex., vegetao nativa/reflorestamento), considerou-se sua exatido suficiente para o
presente estudo.
3.1.7 Remanescente de vegetao nativa
Apesar de se verificar alguns remanescentes de cerrado, o municpio de
Campinas est inserido no domnio de mata Atlntica (IBGE, 1993). Segundo
CHRISTOFOLETTI & FEDERICI (1972), a cobertura vegetal de Campinas era
originalmente constituda por florestas, campos cerrados e cerrados. Atualmente, cerca
de 95 % da vegetao nativa remanescente de Campinas constituda pelas matas
(KRONKA et al., 2005). Dos 159 fragmentos remanescentes do municpio de Campinas
identificados por SANTIN (1999), 33 ocorrem na bacia do ribeiro das Anhumas
(TORRES et al., 2006). A Reserva Municipal da Mata de Santa Genebra, com 250,36
ha de rea total, o maior fragmento do municpio de Campinas, mas como se encontra
em um divisor de guas, apenas 40,46 ha da reserva est dentro da bacia do ribeiro das
Anhumas.
Em conjunto, mesmo considerando toda a Reserva Municipal da Mata de Santa
Genebra, os remanescentes de vegetao nativa ocupam uma rea muito reduzida,
apenas 445,55 ha, ou seja, 2,96 % do territrio da bacia do ribeiro das Anhumas. Essa
porcentagem prxima que encontramos para o municpio como um todo, onde a
vegetao nativa cobre uma rea de apenas 2,6 %, segundo os dados de (KRONKA et
al., 2005).
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Dos 33 fragmentos ocorrentes na bacia do ribeiro das Anhumas, 31 so
constitudos por remanescentes de floresta estacional semi-decidual, apenas um de
cerrado, um constitui-se numa rea de transio entre floresta estacional semi-decidual e
cerrado e sete de floresta paludosa (TORRES et al., 2006). Existem atualmente apenas
seis fragmentos de cerrado em todo o municpio, o que corresponde a irrisrios 3,3% da
vegetao remanescente. Os campos cerrados, formao associada origem do nome da
cidade (Campinas do Mato Grosso), j no existem mais no municpio (SANTIN,
1999).
3.1.8 Hidrografia urbana
Segundo TORRES et al. (2003), os crregos localizados nas reas centrais
encontram-se canalizados ou revestidos, recebendo esgoto sem tratamento (crrego
Proena e Orozimbo Maia). Os dois principais cursos dgua da cabeceira urbanizada
do ribeiro das Anhumas so o crrego Proena e o crrego Orozimbo Maia. Ambos
recebem a maior parte das guas pluviais e do esgoto domiciliar da regio central da
cidade. A rea drenada por estes afluentes caracteriza-se por ser densamente urbanizada
e impermeabilizada (TORRES et al., 2006).
O crrego Proena possui sua nascente no bairro Jardim Itatiaia, e drena parte da
rea central da cidade e do bairro Cambu, recebendo as guas do sistema de drenagem
e de esgoto desses bairros. No seu incio, na avenida Princesa DOeste, o crrego
encontra-se canalizado e, posteriormente, revestido parcialmente e com vias expressas
marginais. Aps o cruzamento com a avenida Moraes Sales, onde se inicia a avenida
Jos de Souza Campos (via Norte-Sul), o crrego possui em seu entorno, ao longo de
aproximadamente 300m, uma rea que foi integrada estrutura urbana como rea verde.
As praas Augusto Csar e Ralph Stettinger so um exemplo de uso mais adequado das
margens do crrego, embora a mata ciliar no esteja preservada. No entanto, a jusante,
ao longo da via Norte-Sul, o crrego foi novamente canalizado e aterrado, numa
tentativa de se evitar as cheias no local. A avenida expressa e o comrcio localizado nas
reas marginais sofrem sazonalmente com o problema, pois vrios pontos crticos de
alagamentos, com enxurradas invadindo vias e comrcios, podem ser identificados ao
longo da Norte-Sul (TORRES et al., 2006).
Mas no encontro do crrego Proena com o crrego Mato Dentro, onde se
forma o Anhumas, que se verifica, nitidamente, o descaso de longa data do poder
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pblico em relao s condies naturais, de infra-estrutura e com a populao que
reside prxima s margens do ribeiro das Anhumas. Neste curso dgua, que d nome
bacia, so registradas as mais freqentes e graves cheias, devido ao padro social da
populao atingida (TORRES et al., 2006).
Uma das reas mais atingidas pelas enchentes localiza-se na rua Moscou,
conhecida como favela da Moscou, na margem esquerda do ribeiro das Anhumas, no
bairro Parque So Quirino. Nessa rea h uma grande concentrao de moradores, com
muitas residncias nas margens do ribeiro. Pouco acima, na margem direita do
Anhumas, localiza-se a foz do crrego Brandina, que vem da regio do Shopping
Center Iguatemi e do bairro Vila Brandina, junto avenida Carlos Grimaldi. Nessa
regio, quando da ocorrncia de chuvas intensas, h um grande aumento no volume e na
vazo do ribeiro, devido contribuio desses afluentes. Pode-se, tambm, constatar
na rea o assoreamento do ribeiro das Anhumas, com a formao de um grande banco
de areia, o que ocasiona o alagamento de vias, residncias e campos de futebol
marginais (TORRES et al., 2006).
O bairro Parque Imperador, prximo foz do crrego So Quirino, no ribeiro
das Anhumas, localizado no mdio Anhumas, em conseqncia de fortes chuvas foi
drasticamente atingido na enchente do dia 17/02/03, em funo, principalmente, do
rompimento de represas artificiais localizadas em reas rurais prximas (TORRES et
al., 2006).
Todos esses afluentes de 1, 2 e 3 ordens e o ribeiro das Anhumas (4 ordem)
vo abastecer o rio Atibaia, considerado de 5 ordem, importante manancial regional e
formador do rio Piracicaba.
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3.2 Seleo de bacias hidrogrficas para recuperao de APP
3.2.1 Critrios
Para a seleo das bacias hidrogrficas levou-se em considerao 13 critrios,
descritos abaixo, considerados relevantes por serem indicadores dos aspectos
representatividade, fragilidade, contribuio ao regime das guas e potencial para
recuperao das bacias.
3.2.1.1 rea da sub-bacia
A rea da sub-bacia um critrio correlacionado com a superfcie de captao de
gua superficial, possibilidade de maior diversidade de usos, entre outras, todos
importantes para produo de gua na bacia. O critrio pressupe que quanto maior a
rea maior a importncia da bacia.
Os dados planialtimtricos utilizados provm das cartas topogrficas (IGC)
escala 1:10.000, de onde elaborou-se o mapa-base digital (TORRES et al., 2006). A
partir do mapa-base digital, e utilizando SIG, foi efetuada a diviso da bacia do ribeiro
das Anhumas em sete bacias hidrogrficas, partindo-se inicialmente na diviso adotada
pela Secretaria de Planejamento, Desenvolvimento Urbano e meio Ambiente
(CAMPINAS, 2005). Os critrios utilizados para a diviso foram: divisor topogrfico de
guas e os limites das reas urbanizadas (Figura 4).
A bacia do ribeiro das Anhumas oficialmente dividida, conforme SEPLAMA
(CAMPINAS, 2005) (Figura 5), em 6 sub-bacias crregos Proena e Mato Dentro, no
alto curso; o prprio ribeiro das Anhumas junto com o crrego So Quirino, no mdio-
baixo curso; o mdio Anhumas; o ribeiro das Pedras; o crrego da Fazenda Monte
dEste, e afluentes da margem esquerda do rio Atibaia. A rea pertencente ao municpio
de Paulnia corresponde poro localizada na face noroeste, limitada pelo ribeiro das
Anhumas entre sua foz no rio Atibaia e a foz do crrego da Fazenda do Quilombo, pelo
crrego da Fazenda do Quilombo e pelo contraforte de sua nascente (do crrego da
Fazenda do Quilombo) at o limite da bacia.
Com exceo da sub-bacia delimitada a partir da margem esquerda do rio
Atibaia, para efeito desse projeto s sub-bacias denominadas crrego Proena/Mato
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Dentro e afluentes da margem esquerda e direita (crrego So Quirino) do Mdio
Anhumas foram subdivididas em quatro sub-bacias, levando em considerao os limites
das reas densamente urbanizadas. Optou-se por esta diviso com o objetivo de
discriminar as reas com aglomerados urbanos das reas menos urbanizadas.
A delimitao das sub-bacias e sua rea foram obtidas com uso do SIG, usando-
se os planos de informao hidrografia e curva de nvel (Figura 4).
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Figura 4 Mapa da bacia do ribeiro das Anhumas e a diviso de sub-bacias: 1-Alto Anhumas; 2-Crrego do Mato Dentro; 3-Mdio Anhumas; 4-Crrego So Quirino 5-Baixo-Mdio Anhumas; 6-Ribeiro Monte Deste e 7-Ribeiro das Pedras/baixo Anhumas (adaptado de CAMPINAS, 2005)
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3.2.1.2 Grau de urbanizao das bacias
O grau de urbanizao da bacia est correlacionado com aumento da
impermeabilizao do solo e tubulao dos cursos dgua, com diminuio significativa
da rea das APPs. Aliado a este fator, a urbanizao freqentemente est associada com
a degradao dessas APPs em conseqncia de depsito de lixo, fogo, corte seletivo e
desmatamento. Procurou-se neste trabalho dar prioridade para aquelas bacias com
menor grau de edificao, refletido por uma maior proporo de atividades agro-silvo-
pastoris (Figura 6).
Em SIG, usou-se o mapa de uso e cobertura do solo (TORRES et al., 2006) para
quantificar, em cada bacia o uso denominado urbanizao, representado por edificaes,
arruamentos e quadras, mesmo que no impermeabilizadas. Bacias com menor grau de
urbanizao refletido por uma maior proporo de atividades agro-silvo-pastoris foram
consideradas mais relevantes para o objetivo de recuperao.
FIGURA 5 - Bacias hidrogrficas do municpio de Campinas e suas sub-bacias (CAMPINAS, 2005).
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Figura 6 Mosaico de fotos (Foto area de 2001) da bacia do ribeiro das Anhumas, sub-divididada em sub-bacias, mostrando o avano da urbanizao: 1-Alto Anhumas; 2-Crrego do Mato Dentro; 3-Mdio Anhumas; 4-Crrego So Quirino 5-Baixo-Mdio Anhumas; 6-Ribeiro Monte Deste e 7-Ribeiro das Pedras/baixo Anhumas.
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3.2.1.3 reas com risco de inundao
reas com risco de inundao geralmente refletem o tipo de relevo da bacia e a
cobertura do solo. Um elevado grau de impermeabilizao de cabeceiras e cursos
dgua aumenta drasticamente sua vazo nos perodos de chuva. Quanto maior for a
extenso linear de pontos de enchente em uma bacia, maior ser a prioridade para
seleo dessa bacia para recuperao. Os dados de reas com risco de inundao foram
obtidos de BRIGUENTI (2005).
3.2.1.4 Classe de Capacidade de Uso da Terra
Fatores de solo, eroso e gua so importantes caractersticas que definem a
classe de capacidade de uso predominante. Segundo LEPSCH et al. (1983) classe de
capacidade de uso refere-se associao de terras com a mesma intensidade de
limitao, ou seja, terras com as mesmas restries de uso e/ou perigos de
depauperamento do solo em intensidades e uso semelhantes.
As classes de capacidade de uso esto divididas em oito, e caracterizadas por
algarismos romanos (I a VIII), aumentando as restries de uso e exigncias de
conservao de solo em ordem crescente da numerao (LEPSCH et al., 1983). Dessa
forma, quanto maior a classe de capacidade de uso, maior ser as chances de degradao
do solo e, portanto, mais prioritria para recuperao.
As classes de capacidade de uso foram obtidas com o uso de SIG, mediante
combinao das unidades de mapeamento de solo (GOMES et al., 2004) com as classes
de declive preconizadas por LEPSCH et al. (1983), sendo a extenso de ocorrncia de
cada classe quantificada.
3.2.1.5 Corredores de vegetao
A APP coberta com vegetao nativa melhora as condies de vida da
populao, contribuindo com mais rea verde e de lazer, maior permeabilidade,
infiltrao da gua e favorece a amenizao da temperatura ambiente. Foi dada
prioridade para a seleo daquelas bacias com APPs com menor uso urbano e, assim,
passveis de recuperao, bem como para aquelas com projetos de parques lineares
institudos pelo poder pblico. Os dados para essa informao foram obtidos em SIG
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por meio dos planos de informao de uso e ocupao do solo (TORRES et al., 2006).
3.2.1.6 Densidade de cursos dgua
A rea e a forma da bacia, associada densidade de cursos dgua, tipo de solo,
substrato geolgico, relevo, clima e cobertura vegetal, so aspectos importantes que
identificam a capacidade de produo de gua. A densidade de cursos dgua um
critrio que identifica a bacia com maior proporo de APP a ser recuperada por rea, j
que grande parte das APPs est ao longo de cursos dgua ou em suas nascentes.
Densidade de cursos dgua definida como a razo entre o comprimento total dos
canais (km) e a rea da bacia hidrogrfica (km). A mensurao da extenso linear de
cursos dgua de cada bacia foi obtido em ambiente SIG utilizando-se do plano de
informao da hidrografia (TORRES et al., 2006).
3.2.1.7 Vazo mdia
A vazo mdia um outro critrio importante que permite avaliar, segundo
TUCCI (1993), os limites superiores do uso da gua de um manancial para as diferentes
finalidades. A vazo mdia (m/s) foi estimada atravs da rea da bacia, total anual
mdio precipitado na bacia hidrogrfica e outros parmetros regionais, conforme SO
PAULO (2005). O critrio considera que bacias com maior vazo possuem maior
prioridade para o estudo, porque teoricamente estas tm maior potencial de produo de
gua e, assim, maior potencial de regular a vazo do rio.
3.2.1.8 Matas ciliares
As APPs possuem a funo ambiental de preservar os recursos hdricos, a
paisagem, a estabilidade geolgica, a biodiversidade, o fluxo gnico da fauna e flora e
proteger o solo (BRASIL, 2001). No entanto, estas APPs que deveriam estar cobertas
com matas ciliares para atender a sua vocao natural, encontram-se desprotegidas e
degradas por desmatamentos, usos agrcolas e urbanizao. De uma maneira geral, os
mananciais encontram-se com suas reas de Preservao Permanente praticamente
descobertas de vegetao nativa. Em especial, o ribeiro das Anhumas e afluentes que
fazem parte da bacia refletem o estado de degradao dessas APPs. Segundo SANTIN
(1999) e TORRES et al. (2006), de 56.352 m de extenso de cursos dgua verificados
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na bacia do ribeiro das Anhumas apenas 2.726 m esto cobertos com matas ciliares
(Tabela 4).
Tabela 4 Crregos da bacia do ribeiro das Anhumas e extenso destes com
mata ciliar (TORRES et al., 2006). Cursos dgua Extenso
linear total (m)
Extenso linear com mata ciliar
(m) Ribeiro das Anhumas 21.120 236 Crrego Proena 7.195 0 Crrego Mato Dentro 5.170 0 Crrego So Quirino 5.481 0 Crrego da Faz. Monte DEste 7.686 1880 Ribeiro das Pedras 9.700 610
TOTAL 56.352 2.726 Este critrio estabelece que quanto menor a extenso de cursos dgua coberta
com matas ciliares em uma bacia, maior a sua importncia. Isto visa o aumento de APPs
recuperadas com mata ciliar, ou seja, visa reduzir a fragilidade dessas APPs. Os dados
de extenso linear de matas ciliares existentes nas bacias foram obtidos do estudo da
vegetao remanescente do municpio de Campinas (SANTIN, 1999; TORRES et al.,
2006).
3.2.1.9 Diversidade de formaes florestais
A diversidade de formaes florestais, bem como a sua distribuio natural em
uma bacia e a possibilidade de conectividade entre os fragmentos, so caractersticas
importantes para o aumento do fluxo gnico entre as espcies, atravs da disperso de
sementes e do intercmbio de plen (JANZEN, 1970, apud KAGEYAMA et al.; 2003),
e tero alta prioridade para seleo de uma bacia para recuperao.
Na bacia do ribeiro das Anhumas foram identificados, trs tipos diferentes de
formaes florestais: floresta estacional semidecidual, floresta paludosa (ou floresta
brejosa) e cerrado (SANTIN, 1999; TORRES et al., 2006). Essa diversidade foi
considerada para a aplicao do critrio.
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3.2.1.10 Presena de Unidades de Conservao (UC)
A presena de UC na bacia foi interpretada como um sinal do poder pblico que
indica a necessidade de uma maior ateno para este local, pois a lei 9985 de julho de
2001, que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservao da Natureza
(BRASIL, 2001) prev a regulamentao dessas unidades especiais e institui prazos
para elaborao de zoneamento e plano de manejo de seu entorno, atravs da criao de
uma faixa de proteo, visando possibilitar a conectividade dessas unid