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M A R I S A N T A F A R I A S N Ó B R E G A ÁREAS PROPÍCIAS A PROTEÇÃO AMBIENTAL NO MUNICÍPIO DE SÃO JOÃO DO CARIRI – PB: O CASO DO SÍTIO BARRA DE FIGUEIRA Recife 2002

ÁREAS PROPÍCIAS A PROTEÇÃO AMBIENTAL NO …paulorosa/Documentos/Monografias_pos/... · FIGURA 13 – Escoamento torrencial proveniente de enxurradas de elevada magnitude contribuintes

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M A R I S A N T A F A R I A S N Ó B R E G A

ÁREAS PROPÍCIAS A PROTEÇÃO AMBIENTAL NO MUNICÍPIO DE SÃO JOÃO DO CARIRI – PB:

O CASO DO SÍTIO BARRA DE FIGUEIRA

Recife 2002

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M A R I S A N T A F A R I A S N Ó B R E G A

ÁREAS PROPÍCIAS A PROTEÇÃO AMBIENTAL NO

MUNICÍPIO DE SÃO JOÃO DO CARIRI – PB:

O CASO DO SÍTIO BARRA DE FIGUEIRA Dissertação apresentada a Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação, da Universidade Federal de Pernambuco, como parte dos requisitos para obtenção do grau de Mestre em Gestão e Políticas Ambientais. Comissão de Orientação: Profª Drª Eugênia Cristina Gonçalves Pereira

- Orientadora Profª Drª Laise de Holanda C. Andrade – Co-

Orientadora Profº MSc. Paulo Roberto de Oliveira Rosa –

Co-Orientador

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Nóbrega, Marisanta Farias

Áreas propícias a proteção ambiental no município deSão João do Cariri –PB: o caso do sítio Barra deFigueira.. Recife: UFPE, 2002 p. 83 Dissertação (em Gestão e Políticas Ambientais) - Pró –Reitoria de Pesquisa e Pós –Graduação – UniversidadeFederal de Pernambuco. Palavras-chave: Caatinga, Conservação, Preservação,Reserva natural, Semi - árido.

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FICHA DE APROVAÇÃO

Dissertação defendida e aprovada pela banca examinadora:

Orientadora: Profª Drª Eugênia Cristina Gonçalves Pereira Departamento de Geografia, UFPE

Examinadores: 1º Examinador: _________________________________________________________________________

2º Examinador: _________________________________________________________________________

3º Examinador:

Recife ,____/____/ 2002

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Dedico esta dissertação in

memoriam ao meu pai Auton

Peres, minha mãe Izabel, meu

irmão Auton Filho, minhas irmãs

Elvira e Glória, meu esposo

Edilton, meus filhos Camila e

Edilton Filho, meus sobrinhos

Gabriel, Isabelle, Clara Beatriz e

Lucas.

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AGRADECIMENTOS A Deus que iluminou e conduziu em mais uma etapa de estudo, dando-me a graça de concretizar mais um projeto de vida. Ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA, pelo apoio na minha liberação em meio expediente para participar do Curso. A Universidade Federal de Pernambuco, ao Coordenador Dr. Joaquim Correa Xavier de Andrade Neto e demais professores do Departamento de Pós-Graduação pela oportunidade de estudar nesta Instituição e acolhimento recebidos. Em especial a Profª Drª Eugênia Cristina Gonçalves Pereira, por ter me aceitado como orientanda, pela sua amizade, sua competente e, paciente orientação. A Profª Drª Laisse Andrade, por seu fundamental apoio na finalização deste trabalho. Ao Profº MSc. Paulo Rosa da UFPB pela orientação especial no decorrer deste trabalho. Por compartilhar sua amizade, seu ambiente de trabalho e seus valiosos ensinamentos. Aos pesquisadores do LGA/SIGA/UFPB, Kallianna Dantas, Maria Barros, Mônica Ferreira, Nádjacleia Vilar, Pablo Rosa e Conrad Rosa, pelo o grande envolvimento e colaboração dispensada em todos os níveis deste trabalho. Pelo apoio de José da Cunha Barbosa. A Srª Solange de Paula Lima, secretária do Curso, pela sua atenção e o apoio prestado. A Srª Nílvea Rosa pelas valiosas revisões. Aos senhores Valter Marcondes Medeiros, Hermano Morais e Maurício Pereira da Silveira, respectivamente prefeito municipal, secretário de planejamento e presidente da câmara de vereadores do município de São João

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do Cariri-PB, por todas as informações prestadas no decorrer de nossa estada naquele município. A Srª Tânia Medeiros, secretária de Educação e herdeira do sítio Barra de Figueira, com seu grande apoio foi possível realizar parte deste trabalho. Ao Engº Florestal do IBAMA/PB, José Maria Castro de Lima, pelas informações prestadas. A Srª Maria Santos Rodrigues da Silva, responsável pelo setor de cadastro do INCRA/PB, por todas as informações prestadas. Às Senhoras Débora Maria Medeiros de Brito e Márcia Costa de Almeida de Medeiros, respectivamente escrivã e secretária do 2º Cartório de Registro de Imóveis de São João do Cariri-PB, pelas informações prestadas, valiosas para este trabalho. A Srª Maria Débora Chaves, bibliotecária da UFPB, pelo carinho e atenção dispensada nas revisões deste trabalho. À Irmã Ana Angélica e demais religiosas do Colégio Vera Cruz em Recife, pelo carinho e apoio dispensado quando de nossa passagem por aquela casa. À Analista Administrativa do IBAMA/PB, Arianne Fontoura, pela sua valiosa atenção em todos os momentos de nossa pesquisa e conclusão deste trabalho. As amigas Adelice e Edvânia, pela amizade compartilhada em todos os momentos e a valiosa troca de experiências. Aos membros da banca examinadora por terem aceitado participar desta defesa. Aos colegas de turma do Curso, pelo convívio e trocas de experiências durante a realização dos créditos do curso. A todos aqueles que, mesmo não tendo sido mencionados, contribuíram para a realização deste trabalho.

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“Ah, quão injusto com a Natureza e consigo é o homem, irrefletido, ingrato, inconsistente ! “ Edward

Young (1742) .

“Somos mais sensíveis ao que é feito contra os costumes do que contra a Natureza.” Plutarco (C. 100

d. C).

O fato mais incompreensível da natureza é que a natureza é compreensível. Albert Eintein (citado por

Spielberg e Anderson, 1995).

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RESUMO O empenho das Políticas Públicas em restabelecer os processos naturais, de forma amparada por legislação pertinente, cria a possibilidade dos proprietários rurais associarem atividades sócioeconômicas com a atitude preservacionista e conservacionista. O território paraibano é um local que requer atenção especial, pois possui um ritmo climático cujo rigor em relação a estiagem é algo que não pode ser despercebido e, ampliando essas condições geográficas, parte do território encontra-se sobre terrenos cristalinos e com altitudes relativamente elevadas, o que caracteriza ainda mais o rigor climático. A região do Município de São João do Cariri está efetivamente dentro da região bioclimática designada a partir de leituras sobre a precipitação, como lugar subdesértico, e nesse sentido torna-se pertinente observar que a realidade das matrizes ambientais nem sempre são favoráveis às atividades econômicas costumeiras. Por isso, é conveniente demonstrar essas condições para os proprietários rurais se sensibilizarem, e assim aplicarem a legislação que estabelece a Reserva Particular do Patrimônio Natural - RPPNs em suas propriedades, como foi o empenho de um proprietário da área de estudo. O objetivo deste trabalho foi analisar a situação das propriedades rurais em São João do Cariri-PB, que mantêm áreas com características que justifiquem a criação de RPPNs, e averbação de reservas legais. Para realização foram necessárias visitas ao município, levantamentos de informações no 2º Cartório de Imóveis e Protesto, IBAMA, INCRA e IBGE. Foram constatadas propriedades rurais com características para implantação de RPPNs e averbação de reservas legais. Para a instituição de RPPNs existem problemas de ordem fundiária, jurídica e o custo elevado para o levantamento georeferencial das propriedades. Ocorre fragmentação de propriedades e as informações referentes as áreas averbadas no município não coincidem com dados do cartório. A comunidade local desconhece toda a legislação ambiental, principalmente as autoridades e proprietários rurais. A partir de dados obtidos foi possível recomendar que a proteção de ecossistemas no município de São João do Cariri-PB requer maior envolvimento do Estado, municípios e entidades interessadas na execução de projetos de conservação, que visem a recuperação de áreas degradadas, de remanescentes de caatinga e matas ciliares.

Palavras - chave : caatinga, conservação, preservação, reserva natural, semi-árido.

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ABSTRACT

The pawn of Public Politics in reestablishing the natural processes, based on specific

legislation, makes possible the rural owners to associate socioeconomic activities with

preservationist attitudes. The Paraíba territory deserves a special attention, due to its

climatic rhythm whose rigor in relation to the dryness can not be unseen, and amplifying

those geographic conditions, part of this territory is on crystalline basement and with

slightly high altitudes, what emphasizes the climatic rigor. The region of São João do Cariri

County is effectively inside a bioclimatic region identified by its characteristics of

precipitation as a sub desert place. This way, is advisable to observe that the reality of

environmental matrix are every time favorable to ordinary economic activities. For this

reason is convenient to show these conditions to the rural owners and sensitize them. Thus,

they should apply the legislation that institutes the Private Reserve of Natural Patrimony

(RPPN), inside their lands, quoting an owner from the studied area. The objective of this

work was to analyze the status of the rural proprieties in São João do Cariri, the remain

areas with characteristics that justify the creation of RPPN, and register of legal reserves.

For work realization there were necessary visits to the County, survey of information on 2º

Cartório de Imóveis e Protesto, IBAMA, INCRA and IBGE. There were found rural

proprieties with characteristics for RPPN implantation and register of legal reserves. For

implementation of RPPN, problems in rural land structures, juridical and high cost for geo

reference data survey of each propriety does exist. It was observed fragmentation of the

land and the information relative to registered areas are not coincident to register office

data. The local community have not knowledge about environmental legislation, mainly the

authorities and rural owners. Since the obtained data, it was possible to advise that the

ecosystems preservation in São João do Cariri-PB requires a major involvement of the

State, municipality and entities interested in realizing conservation projects, objecting the

recuperation of degradation areas, Caatinga remaining and riparian vegetation.

Key words: caatinga, conservation, preservation, natural reserve, semi arid

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SUMÁRIO Agradecimentos

Resumo

Abstract

LISTA DE FIGURAS

LISTA DE TABELAS

1. INTRODUÇÃO 12

1.1 - Ação do homem sobre o ambiente e a necessidade de

conservação

12

1.2 - Referencial Teórico – Conceitual 19

1.3 – Metodologia 25

2. A ÁREA DE ESTUDO: CARACTERÍSTICAS E IMPACTOS 28

2.1 Características bioclimáticas do município de São João do Cariri-

PB

28

2.2 Características fluviais do município de São João do Cariri-PB 35

3. PROPRIEDADES E ÁREAS COM RESERVA LEGAL

AVERBADAS EM CARTÓRIO DE IMÓVEIS DO

MUNICÍPIO

50

3.1 O Caso do sítio Barra de Figueira: uma propriedade com interesse

na criação de RPPN

60

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS 70

5. REFERÊNCIAS 74

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LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 – Cartograma referente ao Estado da Paraíba com destaque para São

João do Cariri - PB

28 FIGURA 2 – Diagrama referente a distribuição de precipitações no Mundo 29

FIGURA 3 - Gráfico demonstrativo do volume de precipitação pluviométrica

no intervalo de 71 anos no município de São João do Cariri-PB

30

FIGURA 4 – Disposição bioclimática no território paraibano FIGURA 5 – Paisagem panorâmica do espaço no entorno da cidade de São João

do Cariri - PB FIGURA 6 – Característica da vegetação regional no sítio Barra de Figueira –

PB

31

32

33

FIGURA 7 – Leito seco do rio Taperoá na cidade de São João do Cariri-PB

33

FIGURA 8 - Núcleo com solo sem vegetação e com dificuldade de recuperação no sítio Barra de Figueira – PB

34

FIGURA 9 - Interação de conjuntos pertinentes ao ambiente

36

FIGURA 10 – Rede de drenagem e topografia que verte para o rio Taperoá junto a cidade de São João do Cariri-PB

39

FIGURA 11 – Gradiente de declividade do Riacho que abastece o açude Namorado em São João do Cariri-PB

40

FIGURA 12 – Leito do Rio Taperoá ainda com umidade, poucos quilômetros a jusante da cidade de São João do Cariri-PB

41

FIGURA 13 – Escoamento torrencial proveniente de enxurradas de elevada magnitude contribuintes do rio Taperoá, em São João do Cariri-PB

42

FIGURA 14 – Perfil transversal do Rio Taperoá, em São João do Cariri-PB 43

FIGURA 15 – Sedimentos carreados para o rio Taperoá por época de chuvas torrenciais /São João do Cariri-PB

44

FIGURA 16 – Fabricação de tijolos junto ao rio Taperoá , São João do Cariri-PB

47

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FIGURA 17 – Pastoreio extensivo de gado ovino no município de São João do

Cariri -PB FIGURA 18 - Classes dos imóveis cadastrados em São João do Cariri-PB

48

59

FIGURA 19 – Mapa de localização da área do Sítio Barra de Figueira, São João do Cariri - PB.

62

FIGURA 20 – Possível desenho geométrico da configuração da propriedade “Sitio Barra de Figueira”, fragmentada, São João do Cariri -PB

63

FIGURA 21 – Algaroba no leito do riacho Gangorra, sítio Barra de Figueira, São João do Cariri - PB

65

FIGURA 22 – Espécimen testemunho de caatinga arbórea, Craibeira (Tabebuia sp )no sítio Barra de Figueira, em São João do Cariri-PB

66

FIGURA 23 – Superfície levemente inclinada junto ao riacho Gangorra que serve ao plantio de hortaliças no sítio Barra de Figueira – PB

FIGURA 24 - Distribuição da freqüência produtiva referente a pecuária do

município de São João do Cariri-PB

67

68

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LISTA DE TABELAS TABELA 1 – Classe de áreas dos imóveis cadastrados em São João do Cariri -

PB

56

TABELA 2 – Áreas de reservas legais averbadas em São João do Cariri - PB

57

TABELA 3 -Áreas averbadas em São João do Cariri – PB segundo o 2º Cartório de Imóveis e Protesto

58

TABELA 4 – Rebanho pecuário em São João do Cariri-PB, nos anos de 1985 e 1999

TABELA 5 -.Distribuição de imóveis por classe de área em São João do Cariri -

PB

68

70

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1. INTRODUÇÃO 1.1 Ação do homem sobre o ambiente e a necessidade de conservação

A intensa ação do Homem sobre o ambiente, tanto por motivos extrativistas como

para urbanização, industrialização, dentre outros, vem destruindo os ecossistemas,

acarretando o desaparecimento das espécies animais e vegetais, colaborando assim para

efeitos paralelos e/ou conseqüentes como erosão, perda da fertilidade dos solos, aumento da

temperatura, perda de umidade relativa, culminando com a desertificação.

A criação de Estações Ecológicas, Reservas Ecológicas, Parques Nacionais,

Monumentos Naturais, Refúgio de Vida Silvestre, Reservas Particulares do Patrimônio

Natural - RPPN, averbação de reservas legais obrigatórias em propriedades particulares e

estabelecimento de Áreas de Preservação Permanentes - APPs, são medidas que vêm sendo

tomadas no sentido de recuperar-se áreas degradadas e preservar aquelas em estágio inicial

de degradação.

Através de leis, os órgãos ambientais procuram proteger as florestas e demais formas de

vegetação às margens dos cursos de água/rios; ao redor de lagoas, lagos ou reservatórios;

nas nascentes e olhos d água; nos topos de morros, montes, montanhas e serras; nas

encostas com mais de 45º de inclinação; nas restingas, como fixadora de dunas ou

estabilizadora de mangues; nas bordas de tabuleiros e em altitudes superiores a 1800m.

Estas atitudes vêm amenizar os problemas relacionados com a proteção e a conservação de

ambientes naturais.

Neste contexto, o Brasil, juntamente com outros países como a Indonésia, Peru,

Colômbia e México, possui a maior parte da biodiversidade do planeta, localizada em seus

biomas tropicais, especialmente em suas florestas. Procurar resguardar essa biodiversidade

significa tomar medidas em relação ao futuro da própria espécie humana, pois ela é o

suporte à sobrevida das sociedades.

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Muita atenção tem sido dispensada às florestas tropicais úmidas e suas respectivas

extensões, como manguezais e restingas. No que se refere às florestas tropicais secas, o

semi-árido nordestino é ainda pouco referenciado, sendo a Caatinga considerada como o

espaço geográfico que contém o menor número de unidades de conservação, dentre os

biomas brasileiros.

O ecossistema Caatinga vem sendo degradado de maneira intensa e sem controle.

Os recursos florestais de algumas regiões chegam a não atender mais às necessidades de

suas populações. A intensa pressão sobre a utilização destes recursos vem originando um

aspecto de degradação e ação antrópica violenta. Necessitam-se ações que implementem a

utilização disciplinada, ou outras formas de alternativas para a sobrevivência da população,

bem como à conservação e manutenção dos remanescentes de Caatinga.

É possível relatar como exemplo de uma ação estratégica de preservação do bioma

Caatinga a transformação da Reserva Ecológica do Xingó em um Parque Nacional.

Medidas dessa envergadura, que se institui em uma área de semi-árido, com vistas à

preservação, pesquisa e uso sustentado, são ações a serem repetidas por toda a região

Nordeste para que o resto da Caatinga e sua extensão (brejos e cerrados) sejam preservados.

Atualmente o Estado da Paraíba tem seu Território marcado por situações

problemáticas, tanto no que diz respeito a aspectos de ordem natural, como de ordem sócio-

ambiental, chamando a atenção para a questão da sobrevida da sociedade. Desta forma,

selecionou-se para este estudo o município de São João do Cariri, localizado num ambiente

semi-árido do Estado da Paraíba, município que tem sido considerado um dos lugares mais

críticos com relação ao problema de desertificação.

Sabendo-se da existência de Políticas Públicas que visam a proteção de

ecossistemas, com a criação de áreas protegidas, dentre elas as Reservas Particulares do

Patrimônio Natural, de titularidade particular e não obrigatório, procurou-se identificar no

município de São João do Cariri-PB, propriedades rurais que mantêm áreas de Reserva

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Legal obrigatórias, averbadas e que disponham de áreas com características que justifiquem

a criação de RPPNs, na intenção de reconhecimento e proteção das mesmas.

O estudo teve, entre suas metas, a verificação das propriedades rurais ao longo de

bacias, sub-bacias e microbacias hidrográficas, cujas cabeceiras encontravam-se no

domínio territorial de São João do Cariri – PB para, com este levantamento, poder orientar

os proprietários na manutenção de parte da vegetação protegida por Lei.

O levantamento forneceu também subsídios para que fossem sugeridos os

procedimentos da Lei Ambiental, e averiguados os proprietários rurais interessados em

transformar parte de suas áreas em Reserva Particular do Patrimônio Natural – RPPN, com

fundamento no Brasil. Decreto nº 1.922/96 e no art. 21, da Lei n° 9.985/2000, que

regulamenta o artigo 225, § 1º, incisos I, II, III e VII da Constituição Federal, institui o

Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza – SNUC.

O Brasil dispõe, hoje de um quadro de unidades de conservação (UC) extenso.

Mesmo com 2,61% do território nacional constituído de unidades de proteção integral (de

uso indireto) e 5,52% de unidades de uso sustentável (de uso direto), importantes esforços

têm sido empreendidos com a finalidade de ampliar as áreas protegidas. A soma dessas

categorias totaliza 8,13% do território nacional, um valor um pouco superestimado, isso

devido ao fato de que muitas áreas de proteção ambiental (APAs) incluem, na sua extensão,

uma ou mais unidades de conservação (UC), de uso indireto. Mesmo assim, ele reflete um

esforço considerável de conservação in situ da diversidade biológica.

As unidades de conservação federais administradas pelo IBAMA somam

aproximadamente 45 milhões de hectares, sendo 201 unidades de conservação de uso direto

e indireto assim distribuidas: 26 Áreas Federais de Proteção Ambiental – APAs; 12

Reservas Extrativistas – RESEX; 28 Reservas Biológicas; 34 Estações Ecológicas; 48

Florestas Nacionais – FLONA; 5 Reservas Ecológicas; 18 Áreas de Relevante Interesse

Ecológico – ARIE; 46 Parques Nacionais e 253 Reservas Particulares do Patrimônio

Natural – RPPNs.

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Existe também um grande número de unidades de conservação administradas pelos

estados brasileiros (cerca de 460), perfazendo uma área total de aproximadamente 20

milhões de hectares.

As Reservas Particulares do Patrimônio Natural, também conhecidas como RPPNs,

são unidades de conservação da natureza em propriedades particulares. A existência de uma

RPPN é um ato de vontade. O proprietário decide se quer fazer de sua propriedade, ou de

parte dela, uma RPPN sem que isso acarrete perda do direito de propriedade. Atualmente o

território nacional é protegido por unidades de conservação da natureza, como parques

(nacionais, estaduais ou municipais), reservas biológicas e estações ecológicas. Essas terras

são de propriedade da União, do estado ou do município, estando, porém, a maioria das

áreas ainda bem conservadas do Brasil nas mãos de proprietários particulares. A RPPN é

uma forma dos proprietários contribuírem para a preservação e conservação do meio

ambiente no país.

Para transformar uma propriedade, ou parte dela, em uma RPPN, o proprietário

deverá seguir as orientações contidas no Brasil. Portaria nº 16/2001 do IBAMA e

protocolar na Gerência Executiva do IBAMA em seu estado, requerimento solicitando que

sua propriedade seja reconhecida integral, ou parcialmente como RPPN, assinado pelo

proprietário e sua esposa, ou um representante designado através de procuração, quando se

tratar de pessoa física. Caso o imóvel tenha vários proprietários, todos assinam o

requerimento, designado através de procuração, assinada por todos os proprietários. Para

pessoa jurídica, o requerimento será assinado pelo representante legal da empresa,

conforme ato de designação a ser comprovado com contrato social, ou última alteração

contratual e cópias dos seguintes documentos:

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1- Certidão atualizada e autenticada em Cartório, de inteiro teor, referente

à matrícula do imóvel, emitida pelo Cartório de Registro de Imóveis,

contendo inclusive, informações identificando o proprietário, área,

limites, confrontações atuais e ônus, porventura incidentes (hipoteca),

anexar cópia do memorial descritivo;

2 - Cópia autenticada do comprovante de inscrição no CPF e identidade

do proprietário e esposa, procurador ou representante legal, quando se

tratar de pessoa jurídica;

3 – Cópia autenticada do comprovante de pagamento do último Imposto

Territorial Rural-ITR;

4- Mapa de localização da propriedade no município ou região. Pode ser

utilizada carta geográfica do município encontrada no IBGE ou no

Exército;

5- Planta de localização da RPPN dentro da propriedade, contendo limites

e confrontações atuais. Se os mapas não indicarem as coordenadas

geográficas, colocar limites naturais e pontos de referência, como

estradas, cursos d’água, rodovias, estradas de ferro;

6- Termo de compromisso em 02 (duas) vias, assinado pelo proprietário e

sua esposa e, em caso de Pessoa Jurídica, assinado pelo Diretor ou seu

representante legal, instituído por procuração, com firma reconhecida,

outorgando poderes para representá-lo perante o IBAMA. O Termo

deverá ser preenchido posteriormente no Diário Oficial da União.

O reconhecimento oficial de áreas protegidas em propriedades particulares, que

permaneçam na posse e no domínio de seus proprietários, adquire diferentes contornos no

tempo e no espaço. No Brasil, a Reserva Particular do Patrimônio Natural - RPPN, que é a

reserva oficial de propriedades particulares, parte do princípio democrático da manifestação

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expressa de vontade do proprietário, onde a “vontade de proteger” é o ponto de partida e o

início do procedimento que culmina na criação de uma RPPN. Sua destinação não pode ser

outra, senão a de proteção integral dos recursos, admitindo-se, neste contexto, a prática do

turismo ecológico, a pesquisa científica e a educação ambiental. Neste sentido, a

consciência de que a intensidade do uso dos recursos da natureza pode levar ao

esgotamento destes, assim como estabelecer uma nova cadeia de efeitos de conseqüências

não imaginadas, pode ser um primeiro passo no sentido de ações efetivas que beneficiem o

meio ambiente.

Deste modo, torna-se importante estabelecer um inventário, mais próximo possível

do real, para que este venha a aclarar as possibilidades de amenizar a situação da rudeza

ambiental. Conforme Almeida (1966), o território paraibano foi ocupado em 1585, mesmo

antes da fundação da cidade que hoje é denominada de João Pessoa, quando ainda era

pertencente à Capitania de Itamaracá. A empreitada de ocupação se deu por parte dos

piratas franceses, que após terem sido expulsos do Rio de Janeiro por Men de Sá, vieram

para o litoral paraibano, na Baía da Traição, local onde aportaram e se estabeleceram para a

extração do Pau-brasil (Caesalpinia echinata).

A marcha para o oeste ocorreu por dentro dos vales úmidos, pois nestes lugares

posteriormente foram sendo estabelecidos plantios da Cana-de-açúcar (Saccharum

officinarum), que passou a dar uma forte sustentação na economia regional. Os vales

úmidos são, na realidade, planícies fluviais ladeando grandes rios regionais, como os rios

Camaratuba, Mamanguape, Miriri, Gramame e principalmente o rio Paraíba. Estes cursos

d´agua têm suas nascentes sobre as bordas do planalto da Borborema, mas o rio Paraíba tem

sua nascente bem no interior do Estado, percorrendo o planalto, atravessando áreas de

clima semi-árido bastante rigoroso.

O Estado da Paraíba, conforme Ferreira et al 1994 citado em Souza (1999), possui

70,3% dos 56.372 km2 de suas terras classificadas como susceptíveis à desertificação,

apresentando 29,03% dessa área com ocorrência muito grave, 15,28% com ocorrência

grave e 26,03% com ocorrência moderada. Estes dados sobre o fenômeno da desertificação,

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classificados como de ocorrência muito grave, fazem do Estado da Paraíba a primeira

unidade brasileira nessa categoria, quando comparada a outros estados nordestinos.

Na área de estudo não foram encontradas pesquisas relacionadas às propriedades

que apresentam vegetação de Caatinga, nem levantamentos de características geográficas

de áreas para averbação de reserva legal, nem a previsão de criação de Reserva Particular

do Patrimônio Natural. Deste modo, pelo desconhecimento de qualquer tipo de pesquisa

que privilegie esta questão, foi proposto com este trabalho, além do inventário, aumentar

possivelmente o número de áreas protegidas em São João do Cariri-PB, através da criação

de Reservas Particulares do Patrimônio Natural e de reservas legais averbadas em cartório.

Acredita-se que, dessa forma, poder-se-á contribuir para a sociedade e o poder público,

principalmente no incremento de áreas protegidas por particulares.

Desta forma, no sentido de procurar responder ao problema levantado, foi

necessário o estabelecimento como foco de atenção as propriedades rurais que possuem

leito de rios e nascentes de rios e riachos. Também foram observadas as propriedades que

contêm, em seu interior, áreas com cobertura vegetal nativa. Compreendendo que esses

enfoques serviram como agentes que sinalizaram o ponto a ser atingido, neste tocante fez-

se presente o estabelecimento do caminho metódico a ser trilhado, como também a

definição dos objetivos. Com isto, pretendeu-se analisar a situação das propriedades rurais

em São João do Cariri-PB, ao longo de bacias, sub-bacias e microbacias hidrográficas, e

daquelas que mantêm áreas com características que justifiquem a criação de RPPNs, bem

como a averbação de reservas legais.

E especificamente, este trabalho procurou caracterizar geograficamente as áreas que

apresentaram uma representatividade da biodiversidade regional; delimitando-se o

município de São João do Cariri, PB; definindo-se o complexo referente a hierarquia fluvial

a partir das bacias e sub-bacias hidrográficas e, ainda, quantificando-se as propriedades e

áreas com Reserva Legal averbadas em Cartório de Imóveis do município.

Page 22: ÁREAS PROPÍCIAS A PROTEÇÃO AMBIENTAL NO …paulorosa/Documentos/Monografias_pos/... · FIGURA 13 – Escoamento torrencial proveniente de enxurradas de elevada magnitude contribuintes

19

Para atingir os objetivos propostos algumas metas foram traçadas, tais como

contactar os proprietários do município que possuem áreas que estejam enquadradas nos

critérios para a criação de Reserva Particular do Patrimônio Natural – RPPN, sugerir a

averbação das áreas que ainda não foram averbadas em cartório e fazer o encaminhamento

formal junto ao IBAMA.

1.2 Referencial teórico-conceitual

A análise proposta neste trabalho segue o método da dissecação mental de um todo

em seus conteúdos parciais (BRUGGER,1987). Reforçando esta concepção Garcia (1978)

postula que análise é a (...) operação do espírito em que se parte do mais complexo para o

menos complexo(...) do todo para suas partes. Análise parte de algo complexo, sendo que

esta complexidade é a situação tanto dominial quanto da exploração nas propriedades rurais

no município de São João do Cariri-PB.

Provavelmente algumas dessas propriedades ainda possuem áreas com

possibilidades de averbação de suas reservas legais não somente para o cumprimento legal,

mas principalmente como fonte de manutenção de uma reserva natural que propicie as

combinações naturais num processo continuum da diversidade biológica. Este lugar está

diretamente ligado ao seu ambiente regional. Por isso, a complexidade encontra-se nas

relações entre o fenômeno sociedade/natureza de forma localizada no interior de uma

região.

Um outro conceito utilizado como instrumental de trabalho, é o de região. Neste

caso reporta-se a Broek (1976) como referência, pois este autor estabelece de forma

coerente a extensão do termo região enquanto um postulado e, neste sentido, auxiliou a

representar os conteúdos numa dada realidade, e neste caso específico o território do

município de São João do Cariri na Paraíba. O termo região remete diretamente às

concepções delineadas pela Geografia, que estuda a dinâmica dos elementos da natureza e

as relações da sociedade com o meio ambiente. Região e território são conceitos

intimamente ligados de forma geográfica, pois relacionam sociedade à natureza.

Page 23: ÁREAS PROPÍCIAS A PROTEÇÃO AMBIENTAL NO …paulorosa/Documentos/Monografias_pos/... · FIGURA 13 – Escoamento torrencial proveniente de enxurradas de elevada magnitude contribuintes

20

A composição geográfica do território municipal de São João do Cariri passou a ser

observada a partir do que Broek (1976) estabelece como região. Para ele “as regiões não

têm um tamanho fixo. Vão de localidade do tamanho de um pequeno vale ou pequena área

de comércio a regiões tão amplas quanto a América Latina (....)”.

Partindo desse conceito, procurou-se adequar esta complexidade, que é o fenômeno

regional, ao que está estabelecido pela Lei do Estado Brasileiro referente aos Recursos

Hídricos, posto que indica no seu artigo primeiro, item quinto que “a bacia hidrográfica é a

unidade territorial para implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos (...)”.

O salto que foi dado do mundo real da geografia do lugar para a dinâmica sócio-

ambiental fez-se pertinente neste estudo a partir da condução analítica do fenômeno lugar,

que é o resultado do espaço territorializado pelo fenômeno humano. Daí pôde ser instaurada

a compreensão do valor de uma Reserva Particular do Patrimônio Natural – RPPN para o

futuro, tanto do lugar como para os que estão por vir.

O conceito RPPN é o resultado de uma idealização que transcende o momento, ou

seja, procura visionar a permanência da dinâmica natural num determinado lugar,

permitindo, assim, a perpetuidade de situações especiais. O conceito de RPPN requer a

compreensão efetiva de Políticas Públicas do Estado Brasileiro, sendo que este tem seu

formato baseado em legislação que contempla o meio ambiente de forma bem pertinente,

pois o artigo 225 da Constituição Brasileira, que assim prevê a questão ambiental onde diz:

Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem

de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,

impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e

preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao

Poder Público:

I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e

prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas;

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21

II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio

genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e

manipulação de material genético;

III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços

territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos,

sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei,

vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos

que justifiquem sua proteção.

Partindo dessa premissa, as leis ordinárias também acabam por apontar o meio

ambiente como um patrimônio de elevado teor para as gerações futuras, daí é que no Brasil.

Lei 4.771, de 15/09/65 (Código Florestal), em seu artigo 1º cita que

As florestas existentes no território nacional e as demais formas de

vegetação, reconhecidas de utilidade às terras que revestem são bens

de interesse comuns a todos os habitantes do País, exercendo-se os

direitos de propriedade, com as limitações que a legislação em geral e

especialmente esta Lei estabelecem.

Esta legislação brasileira prevê uma reserva legal nas propriedades particulares

assim entendida a área de no mínimo, 20% de cada propriedade. A área de reserva legal

deve ser averbada à margem de inscrição de matrícula do imóvel, no Registro de Imóveis

competente, sendo vedada a alteração de sua destinação, nos casos de transmissão, a

qualquer título, de desmembramento ou de retificação da área, com as exceções previstas

no Brasil. Código (artigo nº 16, § 8º).

Um ponto a abordar, no que se refere a manutenção de áreas com reserva legal, está

relacionado principalmente com a escassez dos recursos hídricos, e neste caso admite-se a

possibilidade de regiões com processos de subdesertos, em que as condições de

precipitação, em certos momentos, são inferiores às de evaporação.

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22

No Estado da Paraíba esse processo aparentemente encontra-se bem visível nas

regiões do semi-árido, que atinge também uma grande extensão do Nordeste Brasileiro e

provém basicamente de características climáticas próprias. Tomando como exemplo dessas

características, é possível destacar as diferentes massas de ar que circulam na região e

determinam a ocorrência de chuvas com regularidades diferenciadas ao normal conhecido

nas outras regiões do país.

Segundo Mendes (1985), quase todos os critérios utilizados para definir semi-árido

são baseados em níveis de pluviosidade e de evapotranspiração. Walker (1979), citado em

Mendes (1985), porém, conceitua regiões semi-áridas como sendo aquelas detentoras de

clima que proporcione o desenvolvimento de cobertura vegetal mais ou menos contínua,

mas que são muito secas e de chuvas variáveis para permitir o cultivo de plantas anuais, tais

como cereais, de maneira regular e com boa produtividade.

O produtor rural tem arriscado o cultivo de culturas de subsistência, mas

freqüentemente não obtêm êxito pela escassez de água. Todas as regiões semi-áridas do

planeta possuem peculiaridades que as diferenciam entre si, existindo determinadas

características que são comuns a todas elas e que, segundo Walker (1979), são as seguintes:

1) Pluviosidade reduzida e altamente irregular no tempo e no espaço. 2) Produção primária altamente variável e dependente do padrão de

pluviosidade.

3) As populações animais e humanas reagem à variação de

pluviosidade e da produção agropecuária mediante a emigração.

4) Os solos são caracteristicamente pobres em matéria orgânica, mas

geralmente muito férteis, já que sofrem pouca ou nenhuma dissolução.

5) Presença de uma crosta, que reveste os solos expostos, reduzindo a

infiltração da água, favorecendo assim o escorrimento superficial e a

erosão. Essa crosta resulta do impacto das gotas de chuva no solo

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23

desnudo, que agrega as pequenas partículas, tornando-o impermeável.

A crosta é complementada pelo desenvolvimento de um tapete de

microflora, composto de algas azuis e/ou liquens.

6) Ocorrência de solos salinos em grandes áreas, em virtude da

deficiente dissolução e das altas taxas de evaporação.

7) Acelerado processo de desertificação ao redor das aguadas, em

virtude do super pastejo dos animais domésticos.

8) Vegetação geralmente constituída por uma mistura de espécies

arbóreas e herbáceas.

9) O fogo geralmente não constitui problema relevante, como em

outras regiões climáticas.

10) Ocorrem, com freqüência, temperaturas extremas. Tanto é alta a

amplitude térmica diária, como a variação sazonal é marcante. As

zonas tropicais e subtropicais não sofrem baixas temperaturas.

11) É comum o aparecimento de surtos periódicos de grandes

populações de insetos, os quais disputam com os herbívoros o pasto

disponível e destroem as lavouras.

Grisi (1997) aponta que os Cariris paraibanos, principalmente o ocidental, onde

estão os municípios de Taperoá (ao norte), São José dos Cordeiros, Serra Branca, Ouro

Velho, Sumé, Prata, Congo, Monteiro, Camalaú, São João do Tigre e São Sebastião do

Umbuzeiro (ao sul), sejam hoje uma micro-região em processo de desertificação. Nesta

micro-região, a precipitação pluvial em 1993 foi inferior a 50 mm (no Saara, chove 200

mm/ano e no deserto de Atacama, no Chile, chove 75 mm/ano); além disso, a atividade

humana mais comum é a olaria (caieiras, cerâmicas). O mesmo autor entende que a

desertificação é um processo de origem climática e/ou antrópica, que converte um

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determinado local sob cobertura vegetal ou sob cultivo, em terra onde a produtividade

agroecológica é insignificante.

São muitas as causas da desertificação, podendo ocorrer como conseqüência

climática, combinada com outros agentes, tais como superpastejo ou superexploração,

erosão, queimas repetidas, dentre outros. Os estudos de Virgilio Filho (1996) sobre a

desertificação no Nordeste do Brasil concluem que 55, 25% das terras da Região já estão

afetadas por este processo, atingindo a 15.748.769 pessoas. A Paraíba tem

proporcionalmente o maior percentual de área suscetível, que perfaz 20% do Estado. A

desertificação provoca impactos ambientais, sociais e econômicos. Segundo o Brasil.

Resolução nº 001, de 23/01/86, do CONAMA, impactos ambientais, podem ser definidos

como

Qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do

meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia

resultante das atividades humanas que direta ou indiretamente, afetam:

(I) a saúde, a segurança e o bem-estar da população; (II) as atividades

sociais e econômicas; (III) a biota; (IV) as condições estéticas e

sanitárias do meio ambiente; (V) a qualidade dos recursos ambientais.

Nos impactos ambientais, conforme Guia do Meio Ambiente (1999), ocorre a

destruição da biodiversidade, que engloba todas as espécies de plantas, animais e

microrganismos, bem como os ecossistemas e processos ecológicos dos quais são

componentes. A biodiversidade constitui-se num termo abrangente para a variedade natural,

que inclui o número e a freqüência de espécies ou genes, além dos respectivos

ecossistemas.

Com os impactos ambientais são geradas conseqüências como a diminuição da

disponibilidade de recursos hídricos, através do assoreamento de rios e reservatórios além

da perda física e química dos solos. Todos esses fatores, reduzem o potencial biológico do

solo, diminuindo a produtividade agrícola e, portanto, impactando as populações.

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25

1.3 Metodologia

A partir do momento em que se estabelece uma relação entre os fenômenos naturais

localizados e seu ambiente regional, passa-se a observar o contingente efetivo do ambiente

como recurso natural. Neste momento é possível observar, de forma analítica, que se inicia

um processo de gestão, que segundo Franco (1977), é o conjunto dos acontecimentos

verificados na entidade, sejam fatos contábeis ou meramente administrativos.

Ao se dissecar esse todo complexo, que é um procedimento analítico, faz-se

necessário estabelecer-se um conjunto de técnicas, cujo uso é pertinente à sua adequação

relacionada a equipamentos e ferramentas, pois para caracterizar geograficamente as áreas

que possam apresentar características e representatividade relativas à diversidade regional,

é indispensável o uso de técnicas cartográficas.

Utilizaram-se além das cartas planialtimétricas, ferramentas como a imagens de

satélite e fotografia convencional. Essas técnicas servem como instrumental para

identificação do relevo e de sua rugosidade, bem como provas relacionadas à presença ou

ausência de flora e fauna.

É pertinente ainda se ter em mãos dados referentes ao meso-clima local, pois esta é

uma área que se encontra no interior de uma região bioclimática considerada subdesértica,

conforme Atlas Geográfico da Paraíba (1985). Com esse instrumental, seguido da

legislação estadual e municipal foi necessário delimitar o município de São João do Cariri-

PB para uma melhor caracterização. E assim, com a delimitação foi possível definir o

complexo referente à hierarquia fluvial e, a partir da carta da SUDENE de 1:25.000, foram

localizadas as bacias hidrográficas existentes. Dessa forma, estabeleceu-se a rede de

drenagem, assim como a hierarquia fluvial, baseando-se na concepção proposta por Strahler

(1989) in Christofoletti (1980).

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26

A técnica do inventário como referência é tomada por empréstimo à Contabilidade,

a partir do estudo de Franco (1977), pois é um procedimento cadastral, e assim será feito

para se poder quantificar as propriedades e áreas com Reserva Legal averbadas em Cartório

de Imóveis de São João do Carirri-PB. Para obtenção de informações acerca das

propriedades rurais no município, foram definidas as seguintes estratégias:

Na primeira etapa foram levantadas, de forma inventariada, as bacias, as sub-bacias

e microbacias hidrográficas cujas cabeceiras encontram-se no domínio territorial de São

João do Carirri-PB. Esse procedimento foi realizado inicialmente através de interpretação

de cartas planialtimétricas na escala de 1:250.000. Estas foram ampliadas a Escala para

1:100.000, e para 1:25.000 com objetivo de maior detalhamento. A segunda etapa teve

como função apurar, junto aos órgãos competentes do Estado, a situação de ocupação e uso

do solo nas áreas anteriormente definidas, com as seguintes atividades:

a) no INCRA, foi levantado no setor de cadastro a quantidade de propriedades

cadastradas no município de São João do Cariri;

b) no IBAMA/PB, Área Flora foram levantadas as propriedades com Reserva Legal

averbadas em Cartório;

c) no Cartório de Registro de Imóveis do Município de São João do Cariri-PB,

foram verificadas as propriedades que estavam com reservas legais averbadas;

d) na Delegacia da Receita Federal, não foi possível obter informações para que

fosse realizado o cruzamento dos dados;

De posse das informações documentais e oficiais, o procedimento foi ir ao campo,

para obtenção do perfil das propriedades rurais nas referidas bacias hidrográficas, já

determinadas para averiguação dos componentes ecológicos, cujos indicativos de pressão

antrópica requisitassem proteção da diversidade biológica. Foram plotados dados

geográficos pertinentes aos elementos físicos e naturais, e levantados registros sócio-

ambientais.

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A terceira etapa constou da correlação dos dados físicos, naturais e sócio-

econômicos com os obtidos nos levantamentos juntos aos órgãos governamentais e

cartórios. Isto possibilitou a indicação das áreas prioritárias para preservação, bem como o

trabalho de delimitação cartográfica, para o qual será elaborado um plano para sua

implementação.

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2. A ÁREA DE ESTUDO: CARACTERÍSTICAS E IMPACTOS

2.1 Características bioclimáticas do município de São João do Cariri-PB

O município de São João do Cariri apresenta uma área de 698 km2. Limita-se ao

norte com os municípios de Gurjão, Santo André e Parari; a oeste com os municípios de

Serra Branca, Coxixola e Caraúbas; ao sul com o estado de Pernambuco e a oeste com os

municípios de Cabaceiras, Barra de São Miguel e São Domingos do Cariri. Localiza-se na

mesorregião da Borborema e microrregião do Cariri Paraibano. A posição geográfica do

município corresponde a uma altitude média de 458 m, latitude de 7,39083 graus e

longitude de 36,53278 graus (Figura 1).

FIGURA 1 – Cartograma referente ao Estado da Paraíba com destaque para São João do Cariri - PB Fonte: IBGE (2000)

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A região dos Cariris Velhos, onde está localizado o município de São João do Cariri,

apresenta características climáticas que são consideradas de semi-aridez. Neste tocante

apresenta-se, de forma diagramada, a distribuição das relações gerais entre umidade,

temperatura e latitude, sendo que a ocorrência da semi-aridez é mais acentuada do que o

Sertão, por estar situada na diagonal seca existente na superfície da Borborema (Figura 2).

As precipitações variam entre 359,7 e 379,2 mm anuais, com curta estação chuvosa (Figura

3).

FIGURA 2 – Diagrama referente a distribuição de precipitações no Mundo. Fonte: Strahler (1999).

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FIGURA 3– Gráfico demonstrativo do volume de precipitação pluviométrica no intervalo de 71 anos no município de São João do Cariri - PB Fonte: SUDENE (1990).

O balanço hídrico para a região normalmente tem um índice negativo e, em muitos

lugares, a evaporação é superior à precipitação. Isto pode ser constatado com o exemplo

referente a taxa de evaporação do ano de 2001, que foi de 564,17 mm e a precipitação de

399,0 mm anuais. Dessa forma, é demonstrado o rigor do clima, cuja escassez d ‘ água

constitui um dos fatores de baixa reposição na bacia hidrográfica. Isto contribui para uma

configuração bioclimática da região caracterizada como semi-árido.

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

1000

(mm

)

1911

1914

1917

1920

1923

1926

1929

1932

1935

1938

1941

1944

1947

1950

1953

1956

1959

1962

1965

1968

1971

1974

1977

1980

1983

Anos

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FIGURA 4 – Disposição bioclimática no território paraibano Fonte: Atlas do Estado da Paraíba, 1985. Escala aproximada: 1: 12500000

A vegetação do município apresenta-se degradada, com raros remanescentes da

Caatinga hiperxerófila primitiva (Figura 5 e 6). Ocorrem grandes extensões de solos

desnudos por entre manchas de Caatinga, em vários estágios de devastação, e as únicas

exceções encontram-se ainda em algumas serras e morros isolados e matas ciliares nos

terraços dos rios principais que cortam o município, notadamente do rio Taperoá, em estado

avançado de degradação (Figura 7).

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Figura 5 – Paisagem panorFonte – Imagem Landsat –Escala aproximada 1: 50 00

Rio Taperoá

Rodovia BR 412

Cobertura vegetal esparsa

Área sem cobertura vegetal solo

âmica do espaço no entorno da cidade de São João do Cariri - PB Embrapa – 2002 0

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FIGURA 6 – Características da vegetação regional no sítio Barra de Figueira-PB Foto – Conrad R.Rosa / 2001

FIGURA 7– Leito seco do rio Taperoá na cidade de São João do Cariri-PB Foto: Conrad R. Rosa/2001.

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Pela acelerada ação antrópica na área de estudo observam-se aspectos fisionômicos,

na vegetação de caatinga, em diferentes graus de evolução, que indicam um possível

processo de desertificação. Isto é justificado não apenas pela aparência, mas também a

questão do balanço hídrico ser negativo (Figura 8).

FIGURA 8 – Núcleo com solo sem vegetação e com dificuldade de recuperação no sítio Barra de Figueira-PB Foto: Conrad R. Rosa/ 2001.

A realidade exposta revela que o ambiente não contém sistemas rápidos de

recuperação ambiental, indicando que a paisagem contida no território municipal está

vulnerável à ação interventora de economias, que não contabilizam a degradação ambiental

e tendem a agredir o ambiente até seu esgotamento.

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2.2 Características fluviais no município de São João do Cariri - PB

A riqueza de espécies tem sido erroneamente usada como sinônimo de diversidade ou

biodiversidade. Como destaca O’brien (1995), a riqueza de espécies consiste no número de

espécies que ocorrem em determinada área, enquanto que a biodiversidade inclui, além da

diversidade de espécies, sua abundância e equitabilidade de distribuição, bem como a

diversidade de habitats e da carga genética de cada espécie.

Odum (1986) denomina de sistema ecológico, ou ecossistema, qualquer unidade

(biossistema) que abranja todos os organismos que funcionam em conjunto (a comunidade

biótica) numa dada área, interagindo com o ambiente físico de tal forma que um fluxo de

energia produza estruturas bióticas claramente definidas e uma ciclagem de materiais entre

as partes vivas e não vivas.

Por população define-se qualquer grupo de organismos da mesma espécie (ou outros

grupos dentro dos quais os indivíduos podem intercambiar a informação genética) que

ocupa um espaço determinado e funciona como uma parte de uma comunidade biótica que

é o conjunto de populações que trabalham como uma unidade integradora, através de

transformações metabólicas co-evoluídas numa dada área de habitat físico. Segundo a

Convenção sobre a diversidade biológica, firmada por ocasião da Rio/92, a biodiversidade

pode ser definida como a variabilidade dos organismos vivos de qualquer origem,

compreendendo, entre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas

aquáticos e os complexos ecológicos dos quais fazem parte. Isso compreende a diversidade

no seio das espécies e entre espécies, bem como, aquela dos ecossistemas, na concepção de

Lévêque (1999).

Não resta dúvida que a partir dessas concepções apresentadas sobre a biodiversidade

há respaldo para avançar em relação não apenas ao universo biológico, mas principalmente

sobre as combinações de elementos e fatores naturais não bióticos que acabam por imputar

a dinâmica da vida. Nesse sentido procura-se ainda observar o que Drew (1986) estabelece

como interação de conjuntos que compõem a natureza, e assim pode-se verificar que o

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ambiente está diretamente interconectado, havendo uma constante troca de matéria e

energia, o que acaba por definir uma atividade intensa (Figura 9).

FIGURA 9 – Interação de conjuntos pertinentes ao ambiente Fonte: Adaptado de DREW (1986).

A partir da concepção sobre a interatividade de conjuntos abióticos que acabam por

interferir no conjunto biótico, é possível iniciar uma inferência destacando que há conexão

entre matrizes ditas ambientais, como atmosfera, hidrosfera e litosfera, e que nesta

interconexão surge a biosfera. E pode-se ainda indicar que o fluxo de matéria e energia que

se estabelece entre os conjuntos ambientais estão, na medida, diretamente proporcional ao

processo e à contabilidade ambiental.

Neste processo, em que um conjunto vai doar para o outro, a quantidade a receber

será diretamente proporcional à sua capacidade em poder receber. Caso contrário, o

acumulado poderá trazer alterações significativas ao estado de equilíbrio dinâmico dos

fenômenos que compõem o lugar. A riqueza do ambiente está então num processo contábil

em que há entrada e saída de material diretamente proporcional à possibilidade de ganho e

de perda. Observando o ambiente por este prisma, passa-se a visualizar, através do

diagrama proposto por Drew (1986), que se uma das matrizes ambientais diminuir, ou

mesmo faltar, as outras irão também perder.

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37

Pode-se inferir, deste modo, que a riqueza ambiental é diretamente proporcional ao

saldo positivo de material no lugar. Nesse sentido, reporta-se ao processo histórico de

ocupação do território paraibano. Como ficou demonstrado historicamente, os lugares mais

ocupados nos primórdios da ocupação européia foram os fundos do vales dos principais

rios, por se caracterizarem como planícies aluviais que apresentam áreas úmidas e com

sedimentação de constante renovação, sendo estes ambientes muito selecionados para

instalação de comunidades por serem lugares propícios ao crescimento populacional.

Partindo-se de uma visão macro pode-se destacar que a topografia do relevo

paraibano tem um modelado de baixa rugosidade na zona da Mata, que está situado entre a

zona costeira e o piemonte do planalto da Borborema. No entanto, na unidade de relevo

referente à Borborema há uma conformação estrutural cuja litologia é geologicamente

considerada de estrutura cristalina, o que denota uma composição muito antiga, e

conseqüentemente com uma resistência maior diante dos agentes referentes ao

intemperismo.

O planalto da Borborema tem uma configuração semelhante a uma grande chapada

cuja litologia é apresentada por rochas de maior densidade e, conseqüentemente, com um

perfil de solo raso, não permitindo assim a presença de lençóis freáticos. Quando muito há

a presença de aqüíferos confinados a profundidades significativas totalmente fora do

alcance das raízes dos vegetais.

Com uma presença pouco significativa de horizontes de solo bem estabelecidos no

planalto, surge um grande obstáculo ao crescimento dos vegetais, dificultando assim o bom

desempenho das comunidades desses indivíduos, repassando essas conseqüências à

população animal. Esse fato não indica pobreza, mas que há um ambiente que contém uma

configuração resultante de combinações adversas às combinações ditas ótimas. Nesse caso,

a vida se estabelece a partir do ritmo determinado pelo ambiente e suas configurações.

Mesmo no planalto há a presença de áreas que contêm pequenas depressões e vales sendo

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sulcados na teimosia ritmica da natureza, cujo teor de magnitude é conseqüência das

relações efetivas entre os conjuntos naturais.

No fundo dos vales há a presença de material sedimentar formando solos aluviais, e

conseqentemente há aí presença de umidade, pois quando há solo com uma relativa

profundidade há o subsolo, que se torna um pacote de material que acaba por armazenar

água. Esses lugares passam a conter os elementos bióticos de vital importância para o

crescimento da vida de populações e conseqüentemente de comunidades.

A importância ou mesmo a atenção dada à hidrografia e à rede de drenagem passa

por essas concepções. Nesse caso, se recomenda uma atenção mais acurada, pois esses são

ambientes em que uma intervenção humana deliberada ocorre naqueles pontos vulneráveis,

onde um mínimo de esforço produz o máximo de resultados (DREW, 1986).

A vulnerabilidade no meio ambiente é considerada como sendo um ponto fraco de

um dado sistema contido num conjunto de atividades diversas, porém essa diversidade se

não for de alta magnitude é salutar à diversidade ambiental, pois as perturbações irão

interferir designando novos arranjos (ALMEIDA; TERTULIANO, 2002).

O município de São João do Cariri é um ambiente que está no interior de uma zona

bioclimática considerada sensível à ação antrópica, devido ao ritmo climático, cujos

intervalos entre as precipitações são relativamente grandes. Combinando as variáveis de

clima, rugosidade do relevo, rede hidrográfica e conseqüentemente a cobertura vegetal,

foram apresentados à Secretária de Educação e ao Prefeito Municipal, dados geográficos

que caracterizam a área como um lugar sensível à intervenção antrópica de alta intensidade

e freqüência. Nesse sentido, demonstrou-se que o lugar pode receber uma RPPN, pois

servirá também como uma área de reposição natural dos recursos tão explorados.

O município está dentro da sub-bacia do rio Taperoá, afluente da margem esquerda

do rio determinante, que é o Paraíba. A drenagem tributária que abastece o rio Taperoá vem

das superfícies mais elevadas nos topos das serras em seu entorno (Figura 10). Os pontos

mais elevados nas cumeadas das serras adjacentes variam entre as cotas de 500 e 600

metros de altitude. A drenagem desses tributários se dirige diretamente para o rio Taperoá,

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e quando esse rio passa pela sede da cidade de São João do Cariri, a cota altimétrica está na

superfície de aproximadamente 450 metros de altitude.

FIGURA 10 – Rede de drenagem e topografia que verte para o rio Taperoá junto a cidade de São João do Cariri - PB Fonte: Carta da Sudene / 1985. Escala: 1:100.000.

A diferença observada denota que há um gradiente de declividade relativamente

intenso, pois há rios tributários que descem da cumeada, cuja altura apresenta-se pouco

superior a 500 metros até a cota de 450. Essa declividade se torna mais intensa devido à

distância percorrida entre as altitudes mais elevadas e o rio nas imediações da sede do

município, que é de aproximadamente 4 km, ou seja, 12,5 metros de altitude por cada km

de extensão (Figura 11).

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40

500 m altitude

450 m altitude

FIGURA 11 – Diagrama demonstrativo do gradiente de declividade do Riacho que abastece o

açude Namorado em São João do Cariri - PB

Diante das evidências geográficas que estão sendo apresentadas, o ambiente

territorial no referido município vai sendo desenhado aos poucos, para que se possa

identificá-lo como um ambiente relativamente frágil diante de possibilidades de

intervenções. Estas podem vir a acelerar, de forma significativa, a degradação da paisagem.

Essas explanações mostram que a natureza apresenta-se nesse ambiente de forma bastante

sensível e que, se não houver uma atenção sobre as intervenções, a paisagem pode ser

totalmente alterada, interferindo significativamente na sua dinâmica natural.

Para que haja vida é necessária uma série de fatores e elementos. Neste momento é

destacada a questão da água, porque depois do ar e da luz do sol, este elemento passa a se

tornar um componente que integra a receita para que a vida possa ter seu impulso através de

uma série de outras combinações, que irão permitir o crescimento das populações e

conseqüentemente das comunidades.

A biodiversidade da caatinga tem um sistema de manutenção diretamente ligado à

combinação desses fatores e elementos. Assim também é a sua sazonalidade específica,

cujos ambientes úmidos mantêm uma certa reserva de umidade durante um período maior

que os outros lugares adjacentes. Isto deve-se à topografia, que não permite o escoamento

da água que fica retida por um tempo maior.

Açude Namorado

Gradiente de dclividade 12.5 m p/km

Extensão 4 km

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Esses ambientes possuem também um certo grau de sedimentação, pois assim a

água percola de forma vertical para a sub-superfície, e depois vai abastecendo a superfície

por capilarização. Ao redor destas áreas, e dentro delas, conforme Maltichik(1996), a vida

se propaga através das populações e das comunidades, determinando o comportamento

competitivo e designando a diversidade (Figura 12).

FIGURA 12 – Leito do rio Taperoá ainda com umidade, poucos quilômetros a jusante da cidade de São João do Cariri – PB, em 15/06/2001 Foto: Conrad Rosa

Outros elementos que chamam a atenção sobre a drenagem dessa sub-bacia, onde

encontram-se instalados o município e a cidade sede de São João do Cariri, é que o regime

predominante dos rios e riachos é decorrente dos fluxos de precipitações pluviométricas.

Com a escassez dessas precipitações, os cursos d’água apresentam fluxo intermitente. No

entanto, em alguns momentos, esses fluxos são de origem das enxurradas torrenciais

(Figura 13).

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FIGURA 13– Escoamento torrencial proveniente de enxurradas de elevada magnitude contribuintes do rio Taperoá em 27/04/2002, em São João do Cariri -PB Foto: Conrad Rosa

O rio Taperoá, bem ao lado da cidade, apresenta uma configuração semelhante a uma

planície aluvial, pois nessa superfície altimétrica o curso do rio diminui sua declividade,

passando a ser uma calha cujo terraço fluvial acumula material sedimentar vindo no

período das grandes cheias (Figura 14).

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FIGURA 14 – Perfil transversal do rio Taperoá, em São João do Cariri - PB

Os sedimentos acumulados ao longo do leito e no terraço fluvial são normalmente

oriundos das vertentes tributárias da bacia, e este material tem natureza não somente

arenosa, mas também possui muita argila e silte, acarretando assim a conformação de uma

paisagem que destoa do cristalino das superfícies do entorno (Figura 15).Tanto nas áreas de

escoamento laminar quanto por sulcos, os materiais são carreados para a calha do rio

Taperoá e ali vão se acumulando.

Calha Terraço

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FIGURA 15 – Sedimentos carreados para o rio Taperoá por época de chuvas torrenciais /São João do Cariri - PB– 15/06/2001 Foto: Conrad Rosa.

Esses elementos denotam que a paisagem é decorrente de combinações tênues e que

o ser humano ainda não tem um conhecimento profundo sobre ela. Por isso, a aparência da

paisagem é de um ambiente relativamente hostil à vida sócio-econômica devido ao cenário

que não oferece abundância de suprimentos. Porém esse ambiente tem mantido toda uma

dinâmica diante da arritmia climática, ou talvez o clima aí neste ambiente forneça

suprimentos referentes à matéria água, a partir de outro rigor de demanda, estabelecendo

neste caso, uma paisagem típica dessa relação e mantendo a dinâmica de toda uma

comunidade.

No ambiente úmido, e com presença de sedimentos acumulados, começam a surgir

os suprimentos que dão início às combinações, como também sustentação à vida e

conseqüentemente às comunidades. No entanto, as relações dentro da natureza acontecem

muitas vezes através de absorções lentas onde há acomodação e/ou assimilação e, em

outros momentos, há perturbações que provocam rupturas drásticas. Tanto um movimento

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quanto o outro têm uma capacidade impactante, cujas tendências poderão determinar a

magnitude da ação do evento sobre o equilíbrio do ambiente.

Quando os eventos sobre a paisagem são de origem antrópica e de orientação

econômica, os impactos poderão causar danos irreparáveis, pois nem sempre o ambiente

tem a capacidade de suporte e/ou elasticidade efetiva para recuperar o dano causado por

uma ação inadvertida e persistente. Nesse caso, o que mais chamou a atenção foram as

atividades econômicas presentes, tanto no entorno da calha fluvial do rio Taperoá quanto no

seu leito.

A ocupação do solo paraibano, como já foi mencionado anteriormente, já vem a

séculos, e no caso específico do sertão não é muito diferenciada, pois as investidas dos

colonizadores para o interior em busca de riquezas não são um fenômeno atual, já é uma

situação bem antiga. No entanto, os primeiros habitantes do lugar, quando os colonizadores

chegaram em meados do século XVII, eram os índios Cariris. O sítio de São João, de

propriedade do alferes Custódio Alves Martins, originário de uma sesmaria requerida por

doação em 17 de dezembro de 1669, foi o primeiro núcleo populacional depois dos

silvícolas, que ali se formou (Enciclopédia, 1976). A partir da ocupação do solo como

propriedade, o proprietário deveria retribuir com tributos e dar início a ocupação efetiva

para que fossem pagos.

A terra e conseqüentemente a paisagem como recurso são elementos que passam a

fazer parte do patrimônio do proprietário. Dessa concepção iniciam-se as investidas

diretamente sobre o ambiente, formando daí uma cultura de exploração dos recursos

naturais sem levar em conta a sensibilidade do ambiente.

À medida que o tempo passa e o conhecimento sobre as características do lugar vão

se tornando sedimentada e mais acentuada, a propriedade por sua vez vai sendo

fragmentada pela imposição de condições diversas. Como acontece quando da divisão da

gleba rural em partes referentes à herança, ou por outro modo, que é pela questão de

mercado.

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Com o passar do tempo, vai aumentando de forma incisiva o número de

proprietários, e esses quando se instalam no lugar inserem sistemas produtivos a partir da

exploração dos recursos possíveis que a terra lhes oferece. A propriedade assim

estabelecida passa por outras situações de exploração que acarretam uma intensidade maior

de ação antrópica. Nesse caso, quando o proprietário não tem recursos financeiros para

instituir um sistema produtivo em ritmo de agroindústria, a terra sofre um novo golpe do

sistema de exploração, pois o proprietário estabelece uma relação de parceria com um

trabalhador rural denominado de arrendatário, e com ele contrata oficiosamente ou

oficialmente um sistema de parceria, em que o arrendatário paga com tributos e/ou

produção ao proprietário.

Outras modalidades de ocupação e organização do solo estão dispostas, como o

morador que em troca do abrigo, pode produzir em um pequeno trecho para sua

subsistência e, simultaneamente, paga ao proprietário com alguma forma de trabalho, como

por exemplo vigiar a terra.

As matrizes ambientais para a produção agrícola comercial são deficitárias, pois os

principais elementos para a agropecuária se instalar e ter um processo rendoso em termos

de produção e produtividade, são a água, o solo e a luz solar. Essas três matrizes interativas

favorecem o estabelecimento de um processo agrícola que satisfaça o capital tempo,

reposição de nutrientes e sobrevivência do capital empregado (monetário e tecnologias).

O município de São João do Cariri não é beneficiado com a correlação dos

benefícios naturais que correspondem ao processo de produção agropecuária de forma

comercial de grande envergadura. Nesse sentido, as propriedades acabam sendo

fragmentadas e passam para diversas responsabilidades comerciais, quase sempre essas

situações não compreendem a paisagem como recurso contábil e de difícil recuperação,

pois a natureza interativa dos conjuntos não contribui.

O sistema produtivo por exploração pode levar ao esgotamento de alguns recursos

naturais, assim como a própria paisagem pode ser totalmente alterada, e em muitos casos o

ambiente se transforma e o cenário anterior não mais retorna. Esse fato é decorrente da

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pequena capacidade de elasticidade que o ambiente possui, e essa situação passa a ser o que

se pode designar como o elo fraco da cadeia sistêmica constituinte do ambiente.

A freqüência e a intensidade da intervenção econômica têm sido a tônica do sistema

produtivo no sertão paraibano e, conseqüentemente, no município de São João do Cariri –

PB. Foi verificado que, como o rio Taperoá é um grande fornecedor de sedimentos argilo-

siltoso, a atividade referente à indústria de cerâmica é uma situação acentuada, porém de

cunho artesanal. Essa situação está conferida no Diagnóstico fornecido pelo SEBRAE em

que anuncia a presença de três olarias, uma delas situada bem próximo ao rio (Figura 16).

FIGURA 16 – Fabricação de tijolos junto ao rio Taperoá, São João do Cariri - PB

Foto: Conrad Rosa, 2001.

O sistema por exploração agroindustrial, e ainda com tecnologias artesanais, pode

trazer perturbações significativas ao ambiente, pois o maior problema não se encontra na

retirada de sedimentos do leito do rio intermitente, que é relativamente pequena. Porém, o

que traz uma certa preocupação é que a vegetação do entorno já está sendo alterada pelo

Olaria

Retirada de argila

Leito do rio Taperoá

Algaroba

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uso da energia vegetal, através dos fornos para cozimento da cerâmica, ou seja, a vegetação

é o principal suprimento de energia para os fornos das olarias.

Um outro segmento agrícola existente é o rebanho de gado ovino e caprino, cujo

pastoreio extensivo ocorre livremente, acarretando com isto um pisoteio constante em que

alterações podem ser observadas no solo. O produtor mais preocupado com os lucros

imediatos não percebe o alto custo ambiental desta atividade a longo prazo. Tendo em vista

que a reposição de suprimentos alimentares nem sempre é feita em tempo hábil, também

não se pode desconsiderar que as matrizes ambientais não apresentam uma capacidade de

sincronia em relação à utilização dos recursos. Nesse sentido o solo acaba ficando nu e

exposto à ação efetiva das intempéries, favorecendo então ao desencadeamento do processo

denominado de desertificação (Figura 17).

FIGURA 17 – Pastoreio extensivo de gado ovino no município de São João do Cariri - PB Foto: Conrad Rosa, 2001.

As propriedades rurais com produção em nível comercial são aquelas que têm as

matrizes ambientais disponíveis, ou seja, terra, água e vegetação. Os pequenos proprietários

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não possuem tais matrizes e erguem barreiras para a contenção da água, visando qualquer

tipo de produção em suas propriedades. Nestes lugares formam-se os pequenos açudes que

vão abrigar água o que permitirá a produção por um pequeno intervalo de tempo, ou seja,

ficando no aguardo de outra precipitação que realimente o reservatório.

Passou-se agora a destacar que, em uma contabilidade relativamente simples,

havendo propriedades na região que apresentem características de matrizes ambientais

interativas, essas indicam que a paisagem deve ser vista como um patrimônio de recursos

para exploração até seu esgotamento, pois é uma paisagem que poderá estabelecer uma

situação de saldo para o futuro, ou seja, para a sobrevida

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3. PROPRIEDADES E ÁREAS COM RESERVA LEGAL AVERBADAS EM CARTÓRIO DE IMÓVEIS DO MUNICÍPIO

Para este trabalho teve-se a intenção de elaborar a carta de ocupação rural, porém

com as dificuldades relativas a prestação de informações, obstaculizadas por diversidades

sócio-políticas, ou mesmo por falta de conhecimento efetivo do proprietário sobre as suas

terras, não foi possível atingir a totalidade de tal intento. Mesmo assim elencou-se um

número significativo de proprietários. No entanto, não foi em vão estabelecer a hipótese

que aponta na direção do conhecimento mais amplo e técnico sobre a organização e

ocupação rural do município, posto que viria a corroborar enquanto agente fundamental, o

estabelecimento de uma correlação dos diversos fatores, como a relação entre legislação e a

mata ciliar em proveito do leito úmido. Esses elementos imputam ao propósito de sugerir-se

a preservação de alguns mananciais hidrográficos e, conseqüentemente, os corpos vegetais

constituintes da mata ciliar.

A legislação ambiental brasileira é rica, pois há diversos instrumentos que fornecem

material de rigor elevado no que concerne ao uso da natureza. Porém, o diploma legal que

melhor dispõe sobre questões pertinentes à relação econômica, que envolve a paisagem

vegeta,l como recurso da natureza é o Código Florestal (BRASIL. Lei nº 4.771/65).

O Código disciplina o uso do ambiente como recurso interminável, e procura

proteger os ambientes como reservas futuras. O cuidado em que a lei determina a relação

do homem com a natureza passa por um rigor severo, principalmente no que está proposto

no artigo segundo:

Art. 2º - Consideram-se de preservação permanente, pelo só efeito desta lei, as florestas e demais forma de vegetação natural situadas: a) ao longo de rios ou de qualquer curso d´água desde o seu nível mais alto em faixa marginal cuja largura mínima seja: 1) de 30 metros (trinta) metros para os cursos d´água de menos de 10 (dez) metros de largura; 2) de 50 (cinqüenta) metros para os cursos d´água que tenham de 10 (dez) a 50 (cinqüenta) metros de largura; 3) (...); 4) (...);

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5) (...); b) ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios d´água naturais ou artificiais; c) nas nascentes, ainda que intermitentes e nos chamados “olhos d´água”, qualquer que seja a sua situação topográfica, num raio mínimo de 50 (cinqüenta) metros de largura; d) no topo de morros, montes, montanhas e serras; e) (...); f) (...); g) (...); h) (...); Parágrafo Único. (...). Art. 3º Consideram-se, ainda, de preservação permanente quando assim declaradas por ato do Poder Público, as florestas e demais formas de vegetação natural destinadas: a) a atenuar a erosão das terras; b) (...); c) (...) d) (...); e) a proteger sítios de excepcional beleza ou de valor científico ou histórico; f) a asilar exemplares da fauna ou da flora ameaçados de extinção; g) manter o ambiente necessário à vida das populações silvícolas; h) a assegurar condições de bem-estar público.

A atenção se volta sobre alguns elementos de importância em relação à área

referente ao município em estudo, pois o enunciado no caput do artigo segundo, assim

como as alíneas a), b) e d); e no artigo terceiro o enunciado das alíneas a) e g), são

elementos norteadores para que a vida seja preservada no ambiente permitindo a contínua

dinâmica comunitária.

Apesar do Brasil. Lei n° 4.771, que instituiu o Código Florestal, ter passado a

vigorar a partir de 15/09/1965, somente no ano de l986 o Instituto Brasileiro de

Desenvolvimento Florestal – IBDF, no Estado da Paraíba, iniciou a averbação de reservas

legais. Esse fato é decorrente de várias intervenções do Engenheiro Florestal José Maria

Castro de Lima.

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Até aquela data, o IBDF apenas fornecia a autorização, mas não exigia do

proprietário rural a averbação de reserva legal à margem da matrícula do imóvel, junto ao

Cartório de Registro competente. Mesmo iniciando em 1986, nem todos os processos

obedeciam o contido no artigo 16 do Código Florestal que assim enuncia:

Art. 16º. As florestas e outras formas de vegetação nativa, ressalvadas as situações em área de preservação permanente, assim como aquelas não sujeitas ao regime de utilização limitada ou objeto de legislação específica, são suscetíveis de supressão, desde que sejam mantidas, a título de reserva legal, no mínimo: I – oitenta por cento, na propriedade rural situada em área de floresta localizada na Amazônia Legal; II – trinta por cento, na propriedade rural situada em área de cerrado localizada na Amazônia Legal, sendo no mínimo vinte por dento na propriedade e quinze por cento na forma de compensação em outra área, desde que esteja localizada na mesma microbacia, e seja averbada do § deste artigo; III – vinte por cento, na propriedade rural situada em área de floresta ou outras formas de vegetação localizada nas demais regiões do País; e IV – vinte por cento, na propriedade rural em área de campos gerais localizada em qualquer região do País. § 1º (...); § 2º - A vegetação da reserva legal não pode ser suprimida, podendo apenas ser utilizada sob regime de manejo florestal sustentável, de acordo com princípios e critérios técnicos e científicos estabelecidos no regulamento, ressalvadas as hipóteses previstas no § 3º deste artigo, sem prejuízo das demais legislações específicas. § 3º - Para cumprimento da manutenção a compensação da área de reserva legal em pequena propriedade ou posse rural familiar, podem ser computados os plantios de árvores frutíferas ornamentais ou industriais, compostos por espécies exóticas, cultivadas em sistema intercalar ou em consórcio com espécies nativas. § 8º A área de reserva legal deve ser averbada à margem da inscrição de matrícula do imóvel, no registro de imóveis competente, sendo vedada a alteração de sua destinação, nos casos de transmissão, a qualquer título, de desmembramento ou de retificação da área, com exceções neste Código.

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§ 9º cita que A averbação da reserva legal da pequena propriedade ou posse familiar é gratuita, devendo o Poder Público prestar apoio técnico e jurídico, quando necessário. § 11 Poderá ser instituída reserva legal em regime de condomínio entre mais de uma propriedade, respeitando o percentual legal em relação a cada imóvel, mediante a aprovação do órgão ambiental estadual competente e as devidas averbações referentes a todos os imóveis envolvidos.

As áreas averbadas na Paraíba foram propriedades que solicitaram licença para

desmatamento, exploração e limpeza de áreas. A primeira propriedade com área averbada

em cartório, no estado da Paraíba, foi a fazenda Dois Rios, de propriedade da Companhia

Açucareira de Goiana, com área total de 3.285,10 ha, situada no município de Pedras de

Fogo e teve a área de 657,02 ha, como 20% da área averbada em cartório, na data de

06/05/1986. Nesse ano de 1986, 23 proprietários rurais requereram autorização para

desmatamento, mas somente 05 averbaram áreas de reserva legal, conforme discriminação

abaixo:

1.0 – Nome da propriedade: Fazenda Dois Rios

1.1 – Nome do proprietário: Companhia Açucareira de Goiana

1.2 - Finalidade da solicitação: Plantio de cana-de-açúcar

1.3 - Município: Pedras de Fogo

1.4 - Área total da propriedade: 3.285,10 ha

1.5 - Área averbada em cartório: 657,02 ha

1.6 - Data da averbação em cartório: 06/05/86

1.7 - Data da autorização pelo IBDF: 07/05/86

2.0 – Nome da propriedade: Fazenda Gargaú

2.1 – Nome do proprietário: S/A Usina Santa Rita

2.2 – Finalidade da solicitação: Plantio de cana-de-açucar

2.3 – Município: Santa Rita

2.4 – Área total da propriedade: 5.487,8120 ha

2.5 – Área averbada em cartório: 992,0924 ha

2.6 – Data da averbação em cartório: 16/05/86

2.7 – Data da autorização pelo IBDF:20/05/86

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3.0 – Nome da propriedade: Fazenda Tabú

3.1 – Nome do proprietário: Agro Industrial Tabú Ltda

3.2 – Finalidade da solicitação: Plantio de cana-de-açucar

3.3 – Município: Pedras de Fogo

3.4 – Área total da propriedade: 118,00 ha

3.5 – Área averbada em cartório: 80,00 ha

3.6 – Data da averbação em cartório: 02/06/86

3.7 – Data da autorização pelo IBDF: 03/06/86

4.0 – Nome da propriedade: Fazenda Ibura S/A

4.1 – Nome do proprietário: Gramame Indust e Agrícola S/A – GIASA

4.2 – Finalidade da solicitação: Plantio de cana-de-açucar

4.3 – Município: Alhandra

4.4 – Área total da propriedade: 450,527 ha

4.5 – Área averbada em cartório: 96,45 ha

4.6 – Data da averbação em cartório: 26/06/86

4.7 – Data da autorização pelo IBDF: 30/06/86

5.0 – Nome da propriedade: Fazenda Gale

5.1 – Nome do proprietário: Côco e Pesca N. S. do Livramento Ltda

5.2 – Finalidade da solicitação: Cultivo de camarão de água doce

5.3 – Município: Santa Rita

5.4 – Área total da propriedade: 504,43 ha

5.5 – Área averbada em cartório: 241,21 ha

5.6 – Data da averbação em cartório: 09/12/86

5.7 – Data da autorização pelo IBDF: 02/02/87

Foi observado, por ocasião da pesquisa realizada no IBAMA, que nos municípios

mais próximos a João Pessoa como Cabedelo, Santa Rita, Pitimbu e Mamanguape, onde a

fiscalização do extinto IBDF estava mais presente, os proprietários rurais tinham a

preocupação de cumprir a legislação. É o caso de grandes propriedades, com áreas

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destinadas ao cultivo da Cana-de-açúcar (Saccharum officinarum), onde os proprietários

solicitavam autorizações para desmatamento e limpeza de áreas.

Atualmente, o proprietário rural solicita a averbação de reserva legal, através de um

requerimento ao gerente executivo do IBAMA no seu estado, acompanhado de documento

de propriedade ou justa posse, termo de responsabilidade de averbação de reserva legal,

croqui de localização ou planta topográfica da propriedade, comprovante de recolhimento

de taxa de vistoria para fins de averbação de área de reserva legal sobre a área total da

propriedade. O valor desta taxa varia de acordo com o tamanho da propriedade, conforme

discriminado abaixo:

- propriedades com área total de até 100 ha estão isentas da taxa;

- propriedades com área total de 101 a 300 ha, pagam uma taxa de R$

75,00;

- propriedades com área total de 301 a 500 ha, pagam uma taxa de R$

122,00;

- propriedades com área total de 501 a 750 ha, pagam uma taxa de R$

160,00;

- propriedades com área total acima de 750 ha, pagam uma taxa de R$

160,00 mais R$ 0,21 por hectare excedente. E quando a solicitação

de vistoria para averbação de reserva legal for concomitante a outras

vistorias (desmatamento, plano de manejo, etc), cobra-se pelo maior

valor.

Antes da autorização, o IBAMA realiza uma vistoria técnica na área solicitada para

averbação de reserva legal, solicitando do proprietário rural sua regularização perante o

Brasil. Código Florestal (art. 1º, § 2º - III da MP 2.166-67, de 24 de agosto de 2001).

No município de São João do Cariri-PB o cartório de imóveis está cobrando uma

taxa de R$ 30,00 a R$ 40,00 para proceder a averbação da reserva legal, não definindo

valor referente ao tamanho da propriedade. Foi constatado que o que mais onera para o

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proprietário rural é o levantamento topográfico da área, que origina uma planta topográfica

da propriedade, custando atualmente em torno de R$ 1,00 por ha para áreas de 1.000 ha.

Áreas abaixo de 1.000 ha, cobra-se R$ 2,00 por ha. Em propriedades com áreas superiores

a 50 ha é necessário plotar a área de reserva legal com coordenadas geográficas

confrontantes, escala, convenções. Com a inclusão da taxa de vistoria do IBAMA, mais a

taxa de averbação no cartório, o levantamento em campo, e a confecção da planta

topográfica da propriedade com uma área de 330 ha, o proprietário rural tem um custo estimado em

R$ 705,00.

No município de São João do Cariri, somente no ano de 1986, conforme registros

do IBAMA/PB, ocorreu a regularização de algumas áreas. Com base em dados do Instituto

Nacional de Colonização e Reforma Agrária-INCRA, o município possui uma área total de

65.478,9 hectares de propriedades cadastradas, como demonstra a Tabela 1.

TABELA 1 - Classes de áreas dos imóveis cadastrados em São João do Cariri – PB

CLASSES DE ÁREAS TOTAL DE IMÓVEIS ÁREA (HA)

Até 5 32 116,0 Mais de 5 até 10 53 441,1 Mais de 10 até 50 205 5.715,2 Mais de 50 até 100 73 5.252,3 Mais de 100 até 500 105 24.470,0 Mais de 500 até 1.000 14 9.342,9 Mais de 1.000 até 5.000 11 20.137,4 Total geral 493 65.478,9

Fonte: INCRA/PB ( 2001)

Ainda com base nos dados do INCRA, o município de São João do Cariri dispõe de

493 imóveis cadastrados. No entanto, nos registros do IBAMA somente 06 (seis)

propriedades possuem os 20% de reservas legais averbadas em cartório que totalizam uma

área de apenas 639,42 ha (Tabela 2).

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TABELA 2 - Áreas de reservas legais averbadas em São João do Cariri – PB

PROPRIETÁRIO

PROPRIEDADE

ÁREA

TOTAL

(HA)

ÁREA

AVERBADA

(HA)

DATA DA

AVERBAÇÃO

Dulce Mota de Carvalho Faz. Malhada Roça 211,60 42,03 01/07/92 Carlos Alberto M. de Carvalho Faz.Santa Joaquina 420,32 84,06 26/07/93 Roberto Pedro Medeiros Faz.Capoeiras 1.795,68 359,13 12/03/96 Antonio Carneiro Arnaud Faz.Sacramento 171,00 20,00 Antonio Carneiro Arnauld Faz.Sacramento 100,00 34,20 Marcos F. Dutra Caldas Faz.Paraíso 500,00 100,00 10/05/99 Total 639,42 FONTE: Área Flora/IBAMA/ PB ( 2002)

Alguns proprietários rurais procedem averbação de reservas legais em áreas contínuas

ou separadas, conforme áreas de matas mais uniformes. No caso da Fazenda Sacramento, o

proprietário definiu duas áreas para sua reserva legal.

Em levantamento realizado no 2º Cartório de Registro de Imóveis e Protesto do

município de São João do Cariri, verificaram-se 23 propriedades rurais com áreas

averbadas em cartório, porém em algumas propriedades as áreas de reserva legal não estão

definidas, conforme tabela 3.

A partir desse demonstrativo é possível observar que somente a partir de maio de

1992, foi utilizado o Termo de Averbação oficial do IBAMA no referido Cartório. Fatos

desta natureza podem ter sido ocasionados pela falta de divulgação da legislação vigente,

pouco envolvimento entre os órgãos, nos casos específicos do INCRA, IBAMA, Receita

Federal e cartórios locais. O Banco do Nordeste atualmente está exigindo dos proprietários

rurais, por ocasião de financiamentos, documentos que comprovem que sua área está com

reserva legal averbada em Cartório. Solicitações como estas vêm contribuir com a

legislação vigente, e com a possibilidade do aumento de áreas protegidas na Caatinga.

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TABELA 3 - Áreas averbadas em São João do Cariri – PB segundo o 2º Cartório de

Imóveis e Protesto em 26/04/2002

PROPRIETÁRIO

PROPRIEDADE

ÁREA

TOTAL

(ha)

ÁREA

AVERBADA

(ha)

DATA DA

AVERBAÇÃO

Juarez Maracajá Coutinho Faz. Arara e Nova Vista

27/09/1984

Luiz de Brito Campos Faz. Urucu 329 30/10/1984 Alcides Benedito de Araújo Faz. Ginete 15 31/07/1986 Alcides Benedito de Araújo Faz. Quimiejé 183,6 31/07/1986 Inácio de Assis Meira Faz. Sta Clara 80 06 02/12/1986 Djalma Bezerra de Araújo Faz. Poço do

Angico 570 10/04/1987

Genuíno Pereira dos Santos (Herdeiros)

Faz. Timbaúba 3.017 262,33 06/04/1988

Manoel Hóstio das Neves Faz. Caruatá 2.024 13/08/1990 José Anísio de Souza, Adalberto de Souza e Olindina Germana da Silva

Faz. Poço das Pedras

152 19/09/1990

Saint-Clair Fernandes de Avelar

Faz. Mariano 1.440 288 30/08/1991

Pedro César de Farias Faz. Sta Rita 19/04/1991 João Vitorino Raposo Faz. Cacimbas e

Salinas 462 22/04/1991

Ricardo Meireles da Mota Faz. Riacho do Padre

180 10/08/1992

Jader Fidelis Gurjão Faz. Icor e Sta Rita 140 28 03/06/1994 Luiz da Costa Ramos Sítio Riacho do

Cachorro 230 46 16/06/1994

Mônica Mª da Mota da Rocha Faz. Malhada da Roça

105 25,2 12/08/1994

Jorge Fidelis de Farias Sítio União do Icor 300 60 06/09/1994 Evandro Coutinho Ramos Faz. Açude do Rio 343,85 68,7 16/10/1996 Juarez Maracajá Coutinho Faz. Nova Vista 19 3,8 18/10/1996 Juarez Maracajá Coutinho Faz. Cipriano 155 18/11/1996 João Soares de Albuquerque Filho

Faz. Forquilha 253 15/05/2001

Ademar Batista de Moraes Faz. Santana do Maracajá

550 110 07/08/2001

José Borges Batista Faz. Pascácio 231 46,20 19/11/2001

Fonte: 2º Cartório de Imóveis e Protesto de São João do Cariri - PB

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O IBAMA, através do Brasil. Portaria n° 094 de 24.08.2001, resolveu autorizar

vistoria por sistema amostral, desde que haja condições técnicas que garantam o uso desse

sistema. Uma das exigências desta portaria, no seu artigo segundo, é que o pequeno

produtor rural deverá apresentar ao IBAMA o georreferenciamento da área com as

respectivas coordenadas geográficas da propriedade e da reserva legal, para fins da

expedição do respectivo Termo de Averbação. A partir dessas considerações acredita-se

que, na região, a dificuldade dos proprietários rurais averbarem as áreas indicadas na

Legislação vigente é porque as propriedades normalmente não estão plenamente

documentadas incluindo plantas das áreas, assim como sua localização por coordenadas

geográficas. Esta documentação auxilia no aspecto dominial, pois evita sobreposições de

propriedades.

Como ficou bem destacado, a partir da representação na figura 18, o município de

São João do Cariri está com o território rural bastante fragmentado, o que denota a presença

significativa de minifúndios com baixa produtividade devido à escassez do elemento água.

FIGURA 18 – Classes dos imóveis cadastrados em São João do Cariri - PB Fonte: INCRA ( 2001).

32

53

205

73

105

14 11

0

50

100

150

200

250

Qua

ntid

ade

1 |--| 5 5 --| 10 10 --| 50 50 --| 100 100 --| 500 500 --| 1000 1000 -| 5000

Hectares

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3.1 O Caso do Sítio Barra de Figueira: uma propriedade com interesse na

criação de RPPN

O município de São João do Cariri não foi selecionado como lugar para o estudo e

possível instalação de RPPN de forma aleatória. Partiu-se do princípio que neste território

existem duas áreas já reconhecidas como RPPN, e alguns trabalhos acadêmicos estão sendo

realizados na região. Outro fato que tem motivado o estudo nessas áreas é o chamado clima

rigoroso e, conseqüentemente, a ação econômica sobre esses lugares de natureza tão

sensível.

Inicialmente foi apontada no mapa qual deveria ser a área que poderia ser realizado

o trabalho, e que ele viesse a indicar a possibilidade de instalação da RPPN; foi selecionada

a sub-bacia hidrográfica que abriga o açude Namorado, sendo este o reservatório que

abastece a cidade e que tem a sua margem esquerda totalmente abrigada pelo Centro

Avançado de Agronomia da Universidade Federal da Paraíba. Porém na primeira visita à

cidade, as primeiras dificuldades em relação à informação foram encontradas. Em visita

inicial, e sem contato a priori com qualquer autoridade para que não fosse causada

nenhuma expectativa, a cidade estava relativamente vazia em se tratando de autoridades.

Esse dia, deveria ter expediente na prefeitura, no entanto a única autoridade que estava de

passagem era a Secretária de Educação. Esta informou sobre a falta do expediente local,

pois havia ponto facultativo municipal.

A Secretária foi informada dos objetivos da visita, a qual ficou bastante interessada

e procurou auxiliar em todos os sentidos conduzindo, inclusive, ao Cartório de imóveis do

município para posteriormente, iniciar-se alguma pesquisa naquela instituição, pois ali

deveria abrigar toda a documentação referente às propriedades do município.

Foi também providenciado guia para ciceronear numa visita ao seu entorno,

incluindo um rápido reconhecimento do reservatório da cidade, porém não havia ninguém

disponível que pudesse dar maiores informações nesse sentido. Por isso, decidiu-se visitar

algum proprietário rural. Então foi visitado o sítio herdado pela Secretária, juntamente com

outros parentes. O Sítio Barra de Figueira está localizado a 6 km da sede do município de

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São João do Cariri, e tem uma área de 220 ha (Figura 19). Conforme o livro número 2 B,

matrícula 474, na data de 17/09/79, houve aquisições e registros do 2º Cartório de Imóveis

e Protesto do município de São João do Cariri, em nome de herdeiros. No entanto a senhora

Francisca Medeiros, genitora da Secretária, não registrou em cartório estas aquisições,

apesar de possuir recibos que efetuou os pagamentos.

Alguns parentes já faleceram e seus herdeiros não reconhecem a venda das partes de

seus pais. Em contato com a senhora Luzinete Medeiros, uma das herdeiras nos relatou que

seu pai, o senhor Francisco das Chagas possuía 48 ha, que está escriturado em Cartório e

paga ITR desta área. Parte da área da senhora Francisca Medeiros não se encontra

escriturada.

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FIGURA 19 – Mapa da localização da área do Sítio Barra de Figueira, São João do Cariri - PB Fonte: Carta da Sudene / 1985. Escala: 1:100.000.

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A propriedade passa a ser fragmentada nessa partilha, pois os outros parentes que

herdaram a outra parte dividiram a área em lotes menores, que ficam situados um ao lado

do outro, porém sem nenhuma demarcação, o que dificulta significativamente a sua

representação cartográfica.

A parcela de solo que passou a pertencer à proprietária é uma poligonal retangular,

porém as visadas são aleatórias, pois quando visitou-se a área, tanto na primeira vez assim

como nas demais, os proprietários não haviam chegado a consenso algum onde uma

parcela terminava para começar a outra, havendo assim superposição de áreas.

Mesmo com essa confusão sobre os limites das propriedades, desconsiderou-se essa

questão referente à agrimensura dos limites, passando a considerar o limiar da poligonal,

pois não seria de bom alvitre continuar, naquele momento, a questionar de maneira muito

formal o tamanho exato da propriedade, nem mesmo onde estavam as referidas

coordenadas geográficas que definiam os vértices da propriedade (Figura 20).

FIGURA 20 – Possível desenho geométrico da configuração da propriedade “Sítio Barra de Figueira” fragmentada, São João do Cariri - PB Fonte: Carta da Sudene / 1985. Escala: 1:100.000.

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Essa situação não é incomum no território paraibano, pois a título de ilustração é

possível referir-se à experiência do Município de Patos, onde um proprietário, também por

herança, quis estabelecer os vinte por cento da propriedade para averbação e,

conseqüentemente, requerer junto ao IBAMA a titulação para RPPN. Nesse caso, o

proprietário teve um empenho mais acentuado na regularização das terras, delimitou de

forma georreferenciada a propriedade e protocolou toda documentação junto à Instituição

para a titulação, a qual encontra-se em tramitação para juízo do setor jurídico daquele

Instituto.

Esse apêndice serve apenas para ilustrar duas situações com aparente semelhança,

sendo que em uma delas a tramitação logo se resolveu devido ao empenho de todos os

herdeiros, o que possibilitou a partilha da área de forma oficial.

Já em relação ao Sítio Barra de Figueira, a proprietária tem elevado interesse em

torná-lo um exemplo local, visto ser uma possibilidade ímpar de instalar na região um

programa de recuperação ambiental das áreas degradadas.

O riacho Gangorra que passa dentro da propriedade vai desaguar no rio Taperoá.

Neste riacho, conforme as informações dos moradores do lugar, havia sempre água em seu

leito, mesmo nos períodos de longas estiagens. No entanto, após a algaroba (Prosopis

juliflora Sw. DC) ter sido implantada, a população cresceu de tal forma, que invadiu o

lugar dos outros vegetais, denotando assim que a espécie é altamente competitiva,

ocupando toda a área de mata ciliar (Figura 21).

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FIGURA 21 – Algaroba no leito do riacho Gangorra, sítio Barra de Figueira, São João do Cariri - PB

Foto: Conrad Rosa, 2001. O vizinho da Srª Secretária, que também herdou parte da propriedade do Sítio Barra

de Figueira, assim que assumiu a posse da parcela do solo empenhou-se em dar cunho

econômico a terra. Passou a fazer a limpeza das áreas de capoeira, desentocando resíduos

de vegetação nativa resultante de antigo desflorestamento, pois a área era povoada por uma

diversidade de indivíduos pertencentes à Caatinga arbórea (Figura 22). Em alguns locais da

propriedade observaram-se espécimes de Umbuzeiro (Spondias tuberosa Arruda) e

Juazeiro (Ziziphus joazeiro Mart.), que conseguem sobreviver junto com a Algaroba. Em

outras áreas foram registradas a Craibeira (Tabebuia sp), que apresenta porte alto, e o

Mulungu (Erythrina velutina Willd.), que estava verde em meados de junho de 2001.

Estavam presentes também na área o Angico (Anadenanthera colubrina Vell), Baraúna

(Schinopsis brasiliensis Engl) e Jucá (Caesalpinia ferrea Mat. ex Tul.)

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FIGURA 22 – Espécimen testemunho de caatinga arbórea, Craibeira (Tabebuia sp), no Sítio Barra de Figueira, em São João do Cariri, PB Foto: Conrad R. Rosa/ 2001.

O morador do sítio utiliza-se de técnicas, como a queima de restos de vegetação

(tocos) procedendo a limpeza da área para plantio de hortaliças (Figura 23) que são

comercializadas em Campina Grande, cidade distante 80 km. O que chamou a atenção é

que o solo da propriedade não possui cobertura vegetal nativa, é bastante raso, com

presença de sulcos, indicando que não ocorre infiltração de água.

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FIGURA 23 – Superfície levemente inclinada junto ao riacho Gangorra que serve ao plantio de hortaliças, sítio Barra de Figueira, São João do Cariri - PB Foto Conrad R.Rosa/ 2001.

Com base em informações do Presidente da Câmara de Vereadores do

município, em uma propriedade com área inferior a 1000 ha e que não contenha a matriz

água, não existem condições para o proprietário viver do produto desta área, pois o custo

operacional é relativamente grande em função do pequeno benefício, sendo que a

propriedade acabará por dar prejuízo. A Srª Secretária não tem interesse em produção

diretamente ligada a o setor agrícola, pois a demanda de capital é relativamente alta e a

propriedade é pequena. O Presidente da Câmara de Vereadores do município é proprietário

de um patrimônio rural com área em torno de 700 ha, e considera a área de pequena

relevância em extensão, para que efetivamente se instale um sistema produtivo. Isto em

relação às condições de São João do Cariri, pois em outras regiões a situação é bem

diferenciada.

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Essas informações corroboram o que já salientou-se anteriormente, indicando que as

propriedades são fragmentadas e, por isso, tendem a estabelecer uma produção extensiva.

Como a água é uma matriz ambiental escassa, esta ausência passa a ser significativa para se

dirigir qual o tipo de produção que aparentemente se pode estabelecer na área. No caso de

São João do Cariri, o que mais se encontra em termos de produção rural é a criação

extensiva do gado bovino, ovino e caprino (Tabela 4 e Figura 24).

TABELA 4 – Rebanho pecuário em São João do Cariri-PB, nos anos de 1985 e 1999.

QUANTIDADE EM CABEÇAS REBANHO 1985 1999

Bovinos 9.151 4.200 Suínos 1.155 405 Aves (poedeiras e abate) 25.845 6.690 Eqüinos 450 210 Asininos 685 245 Muares 116 63 Caprinos 13.257 6.450 Ovinos 6.493 4.010 Fonte: IBGE, 1985 in Diagnóstico SEBRAE e IBGE/2000

0

5000

10000

15000

20000

25000

30000

Bovinos Aves(poedeirase abate)

Bubalinos Muares Ovinos

Rebanho pecuário - número efetivo de cabeças

FIGURA 24 – Distribuição da freqüência produtiva referente a pecuária do município de São João do Cariri - PB

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É interesse da proprietária revitalizar a área com espécies nativas, retirando toda

espécie exótica, como é o caso da algaroba, que se apresenta com ótimo aspecto de

desenvolvimento, estando sempre verde. A Srª Secretária acredita na revitalização, e tem

interesse na criação de uma Reserva Particular do Patrimônio Natural – RPPN; objetiva o

desenvolvimento do turismo ecológico na área, assim como a motivação, a partir de

experimentações com viveiro de plantas nativas, cujo propósito é difundir ao máximo

possível sobre a realidade referente às diferenças que há entre as populações nativas e

exóticas.

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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo envolvendo propriedades ao longo de bacias, sub-bacias e

microbacias hidrográficas, cujas cabeceiras encontravam-se no domínio territorial de São

João do Cariri – PB, identificou as propriedades rurais com características para implantação

de RPPNs, bem como, as que dispõem de áreas para averbação de reservas legais.

Os dados obtidos neste levantamento fornecem subsídios para sugerir-se os

procedimentos da Lei Ambiental e averiguar quais os proprietários rurais interessados em

transformar parte de suas áreas em Reserva Particular do Patrimônio Natural – RPPN, com

fundamento no Brasil. Decreto nº 1.922/96 e no art. 21, da Lei n° 9.985/2000.

Com base em documento cartográfico, mesmo em escala muito pequena, foi

possível definir o traçado da rede do escoamento hidrográfico mais significativo. Já em

trabalho de campo detectou-se o escoamento superficial, oriundo das enxurradas torrenciais

que também fazem parte desse fluxo hidrográfico, pois esses leitos, mesmos que

temporários, são responsáveis pelo carreamento d’água.

Num outro sentido, observando o tamanho das propriedades rurais pertencentes ao

município, através de documentação disponibilizada pelo INCRA, foi possível detectar que

as propriedades rurais estão distribuídas por classe de área, em São João do Cariri-PB,

conforme dados do INCRA (2001), demonstrados na Tabela 5.

TABELA 5 – Distribuição dos imóveis por classe de área em São João do Cariri – PB

CLASSES DE ÁREAS TOTAL DE IMÓVEIS ÁREA (ha)

Mais de 50 até 100 73 5.252,3

Mais de 100 até 500 105 24.470,0

Mais de 500 até 1.000 14 9.342,9

Mais de 1.000 até 5.000 11 20.137,4

Fonte: INCRA/PB, 2001

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O cruzamento de informações do relevo pouco rugoso, disposição da rede

hidrográfica, e o tamanho das propriedades, permitiu verificar que todas as áreas são

propensas ao escoamento superficial.

Apesar de ser uma atividade de elevado vulto em termos de investimentos

relacionados ao tempo e custo econômico, conseguiu-se contactar uma proprietária de uma

área pequena em relação às demais propriedades rurais elencadas anteriormente. Esta

proprietária ficou afeita à proposta não somente em averbar a terra, como também à

instituição da RPPN.

Nas propriedades rurais que contêm em seu interior áreas de cobertura vegetal

nativa, são passíveis de serem instituídas as RPPNs e averbadas as reservas legais.

A presença de espécies nativas é uma constante, mantendo as características típicas

da vegetação da Caatinga.

Outro agente agressor é o superpasteio praticado pelo gado caprino e ovino,

indivíduos esses bem adaptados ao lugar. Além desse outro fator degradante, há ainda

colônias de vegetação típica resistentes às agressões. Esses componentes nativos,

pertencentes à população vegetal estão bem distribuídos ao longo das propriedades e,

principalmente, nas áreas de vertentes próximas aos rios e riachos, ou mesmo em outros

tipos de ambientes úmidos, como áreas de superfície com baixa declividade, permitindo a

acumulação de forma endorréica.

Os grandes problemas da instituição das RPPNs nas propriedades rurais e das

averbações de reservas legais no município de São do Cariri, no Estado da Paraíba, estão

relacionados às questões de natureza jurídica, fundiária, e o alto custo para regularização e

levantamento topográfico em campo. Conforme observado, a ocupação da área é muito

antiga e acabou por gerar conseqüências relacionadas às questões de heranças.

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Nas propriedades cuja situação dominial é pessoal, quando há o falecimento do

proprietário, e este não destinou a herança de forma jurídica adequada, o patrimônio rural

acaba sendo fragmentado, quando os herdeiros estão dispersos tanto em intenção, ou

mesmo de forma geográfica, há outro problema que é a demora dos acordos em família

para serem resolvidas as questões referentes à partilha do patrimônio. Foi possível observar

esse fato no processo de implementação da RPPN na propriedade Sítio Barra de Figueira.

No caso do Sítio Barra de Figueira, não resta dúvida que foi um processo de ordem

amostral, porém serviu como base para se estabelecer outro problema referente à questão

dominial, considerado como fator importante e também condicionante para que as Políticas

Públicas possam progredir e ampliar o estabelecimento de processos referentes à

conservação da diversidade biológica.

Segundo as conclusões do “IV Congresso Internacional de Áreas Protegidas”,

Caracas 1992 – (apud Ministério do Meio Ambiente, 2002), se considera que o total da área

protegida por bioma é insuficiente para a conservação da biodiversidade (mínimo de 10%

de proteção integral), sendo necessária a ampliação das unidades de conservação, hoje

insuficientes como porcentagem mínima do território e dimensão por unidade,

principalmente no bioma Caatinga.

No entanto, a conjuntura atual indica o surgimento de oportunidades únicas,

favoráveis à superação dos desafios acima expostos, após o Brasil. Lei nº 9.985, de 18 de

julho de 2000. Esta institui um sistema de unidades de conservação que integra, sob um só

marco legal, as unidades de conservação das três esferas de governo (federal, estadual e

municipal).

Pela primeira vez no Brasil, o meio ambiente é visto não como uma restrição ao

desenvolvimento, mas como um mosaico de oportunidades de negócios sustentáveis, que

harmonizam o crescimento econômico, a geração de emprego e renda e a proteção de

nossos recursos naturais.

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73

Considera-se que para amenizar as situações acima descritas algumas ações podem

contribuir com o município em pauta:

- estudo de alternativas para que a população não utilize de forma indiscriminada

os recursos naturais;

- divulgação perante as autoridades municipais, a população, principalmente os

proprietários rurais da legislação ambiental, no que se refere a averbação de

reservas legais, RPPNs, plano de manejo florestal e educação ambiental;

- maior envolvimento entre os órgãos IBAMA, UFPB, EMBRAPA, INCRA,

Cartórios municipais, Prefeituras, Bancos, Delegacia Federal da Fazenda e

EMATER, objetivando a divulgação da legislação vigente, bem como a

resolução de problemas de ordem fundiária;

- o IBAMA estudar a possibilidade de verificar in loco as propriedades já

averbadas, se correspondem com os dados em campo, cartório e cadastro no

órgão;

- a Prefeitura em parceria com o IBAMA desenvolver projetos para produção de

mudas nativas, objetivando a recuperação de áreas degradas e de matas ciliares,

bem como incentivar projetos de manejo florestal em áreas acima de 1000 ha;

- a Prefeitura juntamente com INCRA, IBAMA e Cartório, estudar a

possibilidade de criação de mecanismos que proporcionem incentivos para a

realização de levantamentos georreferenciado das propriedades e a produção de

mapas para posterior averbação de reservas legais e criação de RPPNs;

- o IBAMA promover a divulgação de suas atividades no município, referente a

licenciamentos (plano de manejo, utilização de algaroba, produção de mudas

nativas, etc);

- a Prefeitura estudar a possibilidade de implementar um programa de

conservação do solo e recuperação de áreas degradas.

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5. REFERÊNCIAS

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