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ÁREAS SUSCETÍVEIS A RISCOS GEOMORFOLÓGICOS NO CONTEXTO DAS ENCOSTAS URBANAS: O CASO DAS ENCOSTAS DE UM BAIRRO DE
MACEIÓ (AL).
James Rafael Ulisses dos Santos
Universidade Federal do Espírito Santo - UFES
Edilsa Oliveira dos Santos
Universidade Federal de Alagoas - UFAL
Everson de Oliveira Santos
Universidade Federal de Alagoas - UFAL
Nivaneide Alves de Melo
Universidade Federal de Alagoas - UFAL
1. INTRODUÇÃO
Encostas urbanas são ambientes que ao longo dos anos vem sofrendo processos
de modelagem, devido a sua dinâmica natural e principalmente pelos fatores de ordem
antropogênica. O homem nas últimas décadas tem intensificado e alterado as encostas
íngremes, em detrimento das ocupações irregulares, com construções precárias
realizadas sem planejamento habitacional prévio, e sendo na maioria dos casos,
caracterizadas por populações de baixa renda. Fato que temdinamizadoos movimentos
de massa nas vertentes, decorrente do lançamento de águas servidas (águas servidas
cinzas e marrons), devido as precárias condições de moradia nessas áreas, sem
infraestrutura básica.
As discussões a respeito das ocupações desordenadas em áreas de risco e dos
desastres naturais tem-se intensificado no meio acadêmico, em diversos setores do
poder público e na comunidade cível etc. Nesse sentido na perspectiva de Florenzano
(2008), o interesse sobre esses fenômenos tem levado pesquisadores, planejadores e
gestores do setor público e privado a pensar novas estratégias sobre a instalação de
complexos industriais, estradas, linhas de transmissão de energia e principalmente casa
e conjunto residenciais. Bem como desenvolver novas soluções para os
empreendimentos que já estão instalados em áreas de riscos.
Segundo a ONU (1993), os movimentos de massa são os fenômenos naturais que
mais causam prejuízos financeiros e mortes no mundo. Sendo esses processos
morfológicos importantes para a evolução do relevo e tendo sua ocorrência nas
vertentes. No entanto, nas cidades, eles assumem, em geral, proporções catastróficas,
uma vez que causam danos materiais e perdas de vidas humanas (Brunsden; Prior,
1984; Montgomery; Dietrich, 1994; Fernandes; Amaral, 1996; Larsen; Torres-Sánchez,
1998; Zerkal, S.; Zerkal, O., 2004). (GUIMARÃES et al, 2008).
Este estudo foi desenvolvido em Flechal de Cima, comunidade localizada no
bairro de Bebedouro em Maceió, Alagoas, onde realizou-se um levantamento das
principais áreas suscetíveis à ocorrência delandslides (deslizamentos e/ou
escorregamento) nas encostas (slopes), e um mapeamento das características físicas da
área, com auxílio dos Sistemas de Informações Geográficas (SIGs). Sendo essas
ferramentas importantes na elaboração de estudos voltados para o monitoramento,
prevenção e recuperação de áreas suscetíveis à ocorrência de desastres naturais.
E como produto final adotou-se uma proposta de sensibilização ambiental da
comunidade supracitada, realizando debates e palestras, a respeito da problemática de
ocupar áreas suscetíveis a riscos geomorfológicos e da necessidade da preservação
ambiental das mesmas.
2. OBJETIVOS 2.1.Geral:
Analisar as áreas suscetíveis aos riscos de movimentos de massa nas encostas
urbanas do bairro de Bebedouro em Maceió, Alagoas.
2.2.Específicos:
Entender a problemática do processo de ocupação urbana desordenada nas
encostas íngremes do bairro;
Caracterizar os pontos do bairro com maior suscetibilidade para a ocorrência de
deslizamentos, por meio de um mapeamento das encostas;
Trabalhar com as comunidades do bairro de Bebedouro uma metodologia de
sensibilização e gestão dos riscos de movimentos de massa em encostas íngremes.
3. METODOLOGIAS
Como metodologia adotada para o desenvolvimento desse estudo utilizou-se os
seguintes procedimentos: realizou-se pesquisas bibliográficas concernentes aos
processos de ocupação em encostas urbanas íngremes que apresentam suscetibilidade
para o desencadeamento de riscos geomorfológicos.
Em seguida, obteve-se o mapeamento de risco de deslizamentos do município de
Maceió, em escala de detalhe junto a COMDEC (Coordenadoria Municipal de Defesa
Civil), tendo como fonte o Plano Municipal de Redução de Riscos – Produto 2.
Relatório de Mapeamento de Risco. Maceió, Julho de 2007. Além do banco de dados,
com todos as informações de Alagoas, no site do Instituto do Meio Ambiente –
IMA/AL para a produção do mapeamento da área de estudo.
Posteriormente foram feitas visitas a campo, com a finalidade de validar os
dados adquiridos e tabulados em laboratório, sendo essa uma etapa relevante para o
desenvolvimento do estudo, (na ocasião foram realizadas cinco visitas de campo na
encosta da comunidade Flechal de Cima em Bebedouro), onde delimitou-se e
caracterizou-se as unidades geomorfológicas, tipos de litológicas, os solos da área,
aspectos climáticos, rede hidrográfica e classes de declividade.Sendo enquadrado como
um ambiente suscetível a ocorrência de riscos geomorfológicos.
Na sequência, foram desenvolvidas atividades como palestras e debates com a
população no âmbito de tentar sensibilizar a comunidade do bairro inserida nas encostas
urbanas íngremes, sobre a problemática de edificar suas casas nessas áreas sujeitas a
deslizamentos. Fato que tem causado uma série de perdas tanto materiais, como de
vidas humanas, devido aos aspectos geológicos-geomorfológicos do ambiente,
inadequado para construções de residências, devido à instabilidade do terreno.
E como produto final, no Laboratório de Geomorfologia e Solos
(GEOMORFOS), do Instituto de Geografia, Desenvolvimento e Meio Ambiente -
IGDEMA/UFAL, foram editadas as fotografias do levantamento tiradas em campo e
confeccionados os mapas da área de estudo, com auxílio dos Sistemas de Informações
Geográficas (SIGs), e das técnicas de Geoprocessamento. E dessa forma, tendo como
meta representar o bairro de Bebedouro, descrevendo suas áreas com maior grau de
suscetibilidade de riscos à ocorrência de movimentos de massa (landslades) devido a
ocupação sem planejamento das suas encostas.
4. RESULTADOS PRELIMINARES
4.1. Análise das Encostas Urbanas em Maceió
Segundo Guerra (2012), o desenvolvimento das encostas é, consequentemente, o
principal resultado da denudação, e o estudo dessas feições possui um caráter de grande
importância para a Geomorfologia. E que qualquer processo que ocorra nas encostas por
intervenção do homem acarretará em mudanças significativas nas formas de relevo.
Nesse sentido, Guerra (2012) destaca que a ação humana sobre as formas de relevo
causa alterações e transformações devido à ocupação desordenada, seja em áreas
urbanas ou rurais. Essa ocupação quando se dá sem nenhum planejamento habitacional
prévio desenvolverá impactos ambientais que tende a afetar tanto o meio físico como os
seres humanos, além de culminar em riscos geomorfológicos, como movimentos de
massa.
Com relação as feições geomorfológicas de Maceió,a cidade está inserida
praticamente nas encostas, sejam elas do tipo fundos de vale, flúvio-lagunares ou
originárias de falésias erosivas, e sendo nessas formas de relevo, caracterizadas pelas
acentuadas declividades, que uma grande
parte da população da cidade construiu suas moradias. No entanto, as encostas são
ambientes que sofrem uma dinâmica tanto dos processos naturais como antropogênicos,
o que vem a acarretar uma série de problemas socioambientais por consequência do
desenvolvimento de movimentos de massa em decorrência da ocupação sem
planejamento subindo as vertentes íngremes (Figura: 01).
Figura: 01 – Lançamento de lixo ao longo da encosta em Bebedouro, Maceió (AL), fato que construiu
para o desencadeamento de umdeslizamento superficial, destruindo parte uma casa. Fonte: SANTOS, J. R. U, 2013.
De acordo com levantamento realizado pela Defesa Civil, em Maceió [...] grande
parte das encostas apresentam boa estabilidade natural, visto que os desastres vão se
consolidando devido à forma de ocupação, fato que desencadeia riscos aos moradores,
por consequência dos cortes no sopé dos taludes, saturação dos solos das vertentes
devido ao vazamento e lançamento de águas servidas e lixo (por falta de saneamento
básico) ao longo das encostas (COMDEC, 2007).
E para dar uma melhor representatividade a esse estudo sobre as áreas de riscos
geomorfológicos nas encostas da comunidade Flechal de Cima em Bebedouro, Maceió-
AL, foram caracterizadas, por meio de um Modelo Digital de Elevação – MDE (Figura:
02) de parte dos bairros que margeiam a laguna Mundaú (margem esquerda), com
destaque para Bebedouro, as classes de declividade com suscetibilidade para a
ocorrência de escorregamentos nas encostas (landslides).
Figura: 02 - Modelo Digital de Elevação (MDE), do município de Maceió, destacando o bairro de Bebedouro. (Classes de Declividade adaptado de FLORENZANO, 2008).
Fonte dos Dados: IMA-AL.
Portanto, para o MDE de Bebedouro, foi estabelecida cinco classes de
declividades com relação à ocorrência de riscos de deslizamentos nas encostas
(landslides). Onde foram determinadas as classes de declividades em porcentagem da
seguinte forma: < 6% declividade muito fraca (risco muito baixo); 6% a 12%
declividade fraca (risco baixo); 12% a 20% declividade média (risco moderado); 20% a
30% declividade forte (risco alto) e > 30% declividade muito forte (risco muito alto).
A comunidade Flechal de Cima, por se encontrar numa área de risco com
declividade variando entre 20% a mais de 30% apresenta suscetibilidade a movimentos
de massa de moderado, alto a muito alto.
4.2.Sensibilização Ambiental como Proposta de Prevenção e Gestão de Riscos
Geomorfológicos em Bebedouro, Maceió – AL.
Como proposta de sensibilização ambiental na comunidade Flechal de Cima,
inserida nas encostas urbanas do bairro de Bebedouro, Maceió (AL), foi proposta uma
metodologia de sensibilização ambiental no intuito de tornar a população mais crítica a
respeito da problemática de habitar em áreas de riscogeomorfológicos, por meio de
palestras e debates sobre o perigo de ocupar as encostas suscetíveis a ocorrência de
movimentos de massa, esses sendo desenvolvidos por consequência de processos físicos
decorrentes da dinâmica do relevo e de processos antrópicos, derivados do mau uso e
ocupação do solo urbano.
No norteamento das discussões com a comunidade do bairro, adotou-se a
proposta metodológica de Veyret (2007), para as ações e estratégias de prevenção e
gestão dos riscos, que do ponto de vista da autora deve ser adotado os seguintes
critérios:
Avaliar de maneira consensual a aceitabilidade do risco; facilitar sua percepção pelas populações ameaçadas; fundar a participação das comunidades locais na informação e na educação em matéria de riscos e de meio ambiente; adotar mecanismos de prevenção e de gestão dos riscos; definir uma estratégia de longo prazo, principalmente uma política de planificação urbana que integre o desenvolvimento dos bairros frágeis (MASURE, 1989, apud VEYRET, 2007, p.101).
Contudo, é importante que a população tenha um conhecimento elementar sobre
os eventos geomorfológicos e antropogênicos que contribui como fator relevante na
modelagem das formas de relevo, visto que, a ação antrópica tem sido ao longo dos
anos, o principal agente na transformação das encostas, principalmente, devido ao
processo de ocupação irregular, fruto da falta de planejamento urbano, obrigandocomo
quase sempre acontece, a população de baixa renda a avançar sobre as áreas
ambientalmente frágeis.
Ainda de acordo com a autora, algumas soluções teóricas são necessárias para a
prevenção dos efeitos e das catástrofes naturais na prática como:
Ocupação racional do território e, principalmente, orientação da urbanização das zonas menos expostas e menos frágeis; modificação das ações antrópicas geradoras de riscos e adoção de normas de construção adequadas [...]; realização de obras corretivas (estabilização das encostas, regulamentação e canalização dos cursos de água, luta contra a erosão); instalação de redes de
auscultação dos fenômenos perigosos; organização dos atores operacionais encarregados da proteção, do socorro a das ações de reabilitação etc. (MASURE, 1989, apud VEYRET, 2007, p.102).
Para se ter uma resposta eficaz quanto a uma boa gestação das áreas de risco, se
torna necessário um maior envolvimento da população a respeito do conhecimento da
base física do meio à qual está inserida, bem como, intensificar a capacidade crítica com
relação a percepção, prevenção e gestão dos riscos, podendo dessa forma, reivindicar
melhorias junto aos gestores públicos, no intuito de viabilizar obras de infraestrutura
como: saneamento básico com rede de esgoto tratada e sistema de drenagem de
qualidade, evitando que as águas servidas e pluviais sejam lançadas a céu aberto,
causando doenças à população, pavimentação das ruas, evitando transtornos durante o
período de chuva, etc.
Durante a realização do estudo, notou-se o descaso para com a população,
decorrente da falta de interesse dos gestores públicos na elaboração de políticas públicas
voltadas para a expansão e ordenamento urbano dos bairros periféricos da cidade. Pois,
segundo relatos dos moradores, projetos de infraestrutura são elaborados, mas na
realidade não se concretizam na prática, sendo que, muitas vezes os órgãos que tem a
incumbência de realizar melhorias, mesmo sendo dada a ordem de serviço, não realizam
as obras, deixando a população a mercê do descaso e numa situação humilhante e
preocupante.
Uma situação atípica e ao mesmo tempo dicotômica, mas que tem sido
considerada “normal” nas áreas frágeis sujeitas a ocorrência de movimentos de massa e
danos materiais e humanos, são as construções de grandes empreendimentos
imobiliários ao lado de casebres nas encostas de Maceió, como exemplo, desse tipo de
edificações nos bairros de Cruz das Almas, Jacarecica e Jacintinho.
Este tipo de empreendimento, em terrenos suscetíveis, denotam a falta do
cumprimento das leis ambientais e urbanas (devido a falta da aplicação das leis vigentes
no Plano Diretor do município de Maceió), as quais proíbem esse tipo de construção
habitacional nas Áreas de Preservação Permanente (APP), que, todavia, deveriam ser
preservadas por apresentar características geológico-geomorfológicas propícias ao
desenvolvimento de riscos ambientais (Figura: 03).
Figura: 03 - Cicatriz do movimento de massa na encosta da comunidade Flechal de Cima, Bebedouro em
Maceió, evento que danificou parte de uma residência, fato ocorrido em 2013. Fonte: SANTOS, J. R. U, 2013.
Na proposta de sensibilizar ambientalmente da população da comunidade
supracitada, não deve só ser adotado como objetivo o alerta sobre os problemas
derivados da ocupação irregular nas áreas com suscetibilidade aos riscos
geomorfológicos, como também das possíveis soluções para evitá-los, onde a população
deve reivindicar por seus direitos, enquanto cidadãos, cobrando junto as autoridades
soluções de infraestrutura habitacional no ambiente urbano onde vivem.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nos estudos de movimento de massa em encostas urbanas é necessário não
somenteas análises, mitigações e prevenções dos aspectos físicos do ambiente, mas
principalmente que a sociedade esteja a par dos fatores condicionantes dos processos
que desencadeiam os desastres naturais nas encostas das comunidades. Pois a sociedade
precisa de um senso mais crítico, e ser capacitada, no que tange aos conhecimentos de
preservação e gestão das áreas de risco nas encostas. No entanto, trabalhar essa temática
não é tarefa fácil, porque é algo a ser pensado não para curto prazo, e sim para médio e
longo prazo.
O estudo faz parte de um projeto maior que teve duração de um ano, e encontra -
se concluído, sendo realizado nas encostas da comunidade Flechal de Cima, localizada
no bairro de Bebedouro em Maceió, Estado de Alagoas. Nessa área foram analisados os
principais pontos com suscetibilidade para a ocorrência de deslizamentos,
caracterizando-se assim como área de risco geomorfológico.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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