ARENDT, Hannah. O significado de revolução. In Da Revolução

Embed Size (px)

Citation preview

. -f:'I)eJ,..i('(v~ ~

d.Q ~eLe~,

~.i

Ir}1\"

/\Jl~

~

U/T

Y

1

'I.}

un

r

~I

......

,(';:\'.\

I

II

't","

i i\\: o /

f' ~,,/)

~\ v1

1 ""

.)

l

t

I

i,,

._"I:~-/:: ...!/

20

DA REVOLUO

~

.:

o SIGNIFICADO DE REVOLUio'

~I

i I

j

mostra no menos refutada pelos fatos do que a teoria da no-existncia "de uma Revoluo Americana. Pois o fato que nenhuma revoluo ja;' mais foi feita em nome da cristandade antes da Idade Moderna, de tal sorte que o melhor que se pode dizer em favor dessa teoria que ela necessitou de modernidade para poder liberar os germes revolucionrios da f crist, , o que , obviamente, dar a questo como provada. H, porm, uma outra alegao que se aproxima mais do mago do problema. Temos enfatizado o elemento de inovao inerente .a todas as revolues, e tem sido afirmado, com freqncia, que toda nossa noo de Histria, pois-que essa segue um desenvolvimento linear, crist em sua origem. bvio que somente sob as condies de um conceito de tempo linear, fenmenos como inovao, sin.gularidade-de..ac-Qg!~i~---~]!.~ml[de~ dey.~riam ) t"~cf~~~er-~~t=s~_~~fi~~a~~~~~~~:~ii!'Qs~$.lJEr.:':.l.!!.qUj-:_!.~~:..guisa de Se, comparao, quisssemos unaginr um evento dessa natureza em termos f\ de condies antigas, seria como se no o povo de Roma ou Atenas, o i populus ou o demos, as classes mais baixas da cidadania, mas os escravos . e os estrangeiros residentes, que compunham a maioria da populao sem \ jamais fazer parte do povo, tivessem se sublevado e exigido igualdade dt i,;.F-.direitos. Isso, como_sabe!!l0sLjamais aco~u. A prpria idia de igual-l .;:' dade, como ns a entendemos, isto , que todas as pessoa~ nascem iguais, 1\ ! pelo simples fato de haverem nascido, e que a igualdade um direito ina-II \ to, era totalmente desconhecida antes da Idade Moderna. ~ verdade que a teoria medieval e ps-medieval j conhecia a rebelio legtima, a sublevao contra a autoridade constituda, o franco desafio e a desobedincia. No entanto, o alvo dessas rebelies no era uma contestao da autoridade e da ordem estabelecida das coisas, como tais; era sempre uma questo de mudar a pessoa que acontecia estar investida de autoridade, fosse a troca de um usurpador por um monarca legtimo, fosse a substituio de um tirano que tivesse abusado do poder por um governante legal. Por conseguinte, ~]Je s_p_~~o.s.s.e re~oJ1h_eid"o o direitQ. dedecidir qllem no deveria govern-Ias, certamente no o ti'nF~J~ai:.~~~s_o.lher q~.~~~ti.~~~ii:'~-;-uit~mensJIDillsnuve"r-egistro [de--que pessoas tivessem o direito de se governar a si prprias; ou de indicar aquelas de suas prprias fileiras para os negcios do governo. Onde realmente aconteceu que homens das camadas sociais inferiores se elevassem para o esplendor do poder pblico, como no caso dos condottieri das cidades-Estados italianas, seu ingresso na esfera pblica e no poder foi

i ft.

'I

'I'..\I[

11

li

'i

\'!

(

I

devido a qualidades pelas quais se distinguiam do povo, por uma virlu que era tanto mais louvada e admirada por no ser reconhecida por origem social e nascimento. Entre os direitos, os antigos privilgios e liberdades do povo, manifestamente no se encontrava o direito de participar dogovemo. E esse direito de autogoverno no est ainda claramente definido no famoso direito de representao, decorrente da taxao. Para poder governar, era preciso que algum tivesse nascido com esse direito, um homem livre, na Antiguidade, e, na Europa feudal, um membro da nobreza; e no obstante houvesse bastantes palavras na linguagem poltica prmoderna para descrever a rebelio de sditos contra um governante, no havia nenhuma que descrevesse uma mudana to radical que os prprios sditos se tornassem governantes.

qiie-~~y~~~

4'

\~\M) vo.cPP

v~1\

.\

1I

\!11

\

"~,

li

I,

as

li'j

,,

(

Que o fenmeno da revoluo sejaum fato mpa; na Histria pr. moderna no , de forma alguma, Uma coisa natural. E certo que muitas pessoas concordariam que a.avidezpor coisas novas, juntllm~g~:_cO.lJLi_ COJl-v...ic