Arginina

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arginina

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  • Autoras: Maria Isabel Toulson Davisson Correia

    Iara Eliza Pacfico Quirino

    Arginina A arginina ou cido L-amino-5-guanidino-valrico (Figura 1) um

    aminocido bsico, estvel em solues aquosas e esterilizao (1, 2).

    Possui quatro tomos de nitrognio por molcula. Devido a essa

    caracterstica estrutural o principal carreador de nitrognio em humanos e

    animais, apresentando importante funo na sntese proteica e no

    metabolismo intermedirio de nitrognio ao participar do ciclo da uria (3).

    Figura 1: Estrutura qumica da arginina (4)

    precursora da sntese de molculas com grande importncia

    biolgica como ornitina, poliaminas, xido ntrico, creatina, agmatina,

    glutamina e prolina, dentre outras (4, 5). Tradicionalmente considerada no

    essencial para adultos e crianas, devido capacidade do organismo em

    sintetiz-la (6). No entanto, em certas condies clnicas como aps trauma

    grave e sepsis h aumento do consumo. Esse excede a capacidade de

    produo corporal levando depleo da arginina, que nestes casos ainda

    agravada pela reduzida ingesto do nutriente. Desta forma, classificada

    como sendo aminocido condicionalmente essencial (7). Nessas situaes,

    a arginina possui importante papel na manuteno da resposta imunolgica,

    L-Arginina

  • processos inflamatrios, sntese de colgeno na cicatrizao de feridas e

    outras adaptaes fisiopatolgicas (4).

    Metabolismo Os nveis plasmticos de arginina so mantidos a partir de fontes

    exgenas (dieta) e endgenas (degradao proteica corporal e sntese

    endgena pela citrulina). A sntese endgena de arginina varia de acordo

    com a espcie, estado nutricional e estgio de desenvolvimento (8).

    O metabolismo da arginina complexo e envolve diversas vias e

    sistemas orgnicos. Em adultos, 40% da arginina ingerida degradada pelo

    intestino delgado, na primeira etapa do metabolismo, em citrulina. Esta

    convertida, de novo, em L-arginina, nos rins e, ento, liberada para a corrente

    sangunea, que a faz chegar ao fgado, onde metabolizada pela arginase I,

    enzima do ciclo da ureia. O resultado a ornitina que gerar poliaminas

    (importantes como estmulo trfico e proliferao celular) e tambm prolina

    (fundamental na sntese de colgeno e na cicatrizao). Por outro lado, a

    arginase tipo II, presente nas mitocndrias, em geral, em tecidos extra-

    hepticos metaboliza a arginina no lumen intestinal. A L-arginina tambm

    utilizada na sntese de creatina convertida em creatina fosfato, fundamental

    para o estoque muscular .

    Sntese endgena A quebra de protenas corporais e dietticas gera arginina, que pode

    ento seguir duas vias: ciclo da ureia ou degradao intestinal (9).

    A arginina pode ser diretamente sintetizada no tecido heptico a partir

    do ciclo da ureia, porm devido alta atividade da enzima arginase, a

    arginina produzida ser rapidamente hidrolisada em ureia e ornitina, no

    havendo, portanto, sntese lquida do aminocido (10).

    A outra via de utilizao da arginina consiste na transformao que

    dependente do metabolismo intestinal. A arginina produzida da degradao

    de protenas corporais transformada no epitlio intestinal em citrulina,

    sintetizada a partir do glutamato, glutamina e ornitina em processo que ocorre

    nas mitocndrias dos entercitos e dependente das enzimas ornitina

    aminotranferase e ornitina transcarbamilase (4).

  • A citrulina circulante, proveniente dos entercitos ento captada

    pelos rins e convertida em arginina em processo mediado pelas enzimas

    argininosuccinato sintase (ASS) e argininosuccinato liase (ASL), que contribui

    para aproximadamente 10% do fluxo plasmtico de arginina. Desta forma, a

    sntese endgena em adultos envolve principalmente o eixo intestino-rins (9).

    importante ressaltar que alm da sntese renal, a citrulina

    rapidamente convertida em arginina em quase todas as clulas, incluindo

    adipcitos, clulas endoteliais, entercitos, macrfagos, neurnios e micitos.

    Estudos com macrfagos e clulas endoteliais demonstraram que a citrulina

    transportada para o interior celular pelo sistema N, seletivo para

    aminocidos com cadeia lateral contendo um grupo amino. Dentro das

    clulas, a converso de citrulina em arginina via argininossuccinato sintase e

    liase a nica via para a utilizao de citrulina (2).

    Absoro

    A absoro da arginina ocorre no jejuno e leo a partir de componentes

    saturveis e no saturveis. No clon, a absoro reduzida (9).

    O transporte de arginina constitui-se no primeiro passo da utilizao

    pelas clulas. O transporte de aminocidos catinicos, incluindo a arginina

    ocorre por diferentes sistemas de transporte (y+, b0,+, y+L e B0,+). No entanto,

    o mais importante para a maioria das clulas o sistema y+, que possui como

    caractersticas principais a independncia de sdio. Estudos em animais

    demonstraram que a arginina predominantemente transportada atravs da

    membrana intestinal via y+ (9). As protenas transmembrana CAT-1, CAT-2 e

    CAT-3, apesar de apresentarem menor afinidade, tambm possuem

    propriedades de transporte de aminocidos consistentes com o transportador

    y+.

    Uma vez no interior celular, existem mltiplas vias de degradao da

    arginina nas quais importantes produtos biolgicos so formados (Figura 1).

  • Figura 1: Vias e produtos da degradao de arginina.

    A arginina possui ao secretagoga. Induz a liberao de

    somatrotopina e prolactina pela hipfise e a liberao pancretica de insulina.

    Tambm estimula a secreo de fator de crescimento semelhante insulina

    (IGF) e a liberao de hormnios anti-insulinmicos como glucagon,

    somatostatina e catecolaminas (11).

    A arginina precursora da creatina, importante substrato do

    metabolismo energtico. A ingesto diettica de arginina de

    aproximadamente 5g/dia em adultos, destes em mdia 2,3 g so utilizados

    para a sntese de creatina.

    Existem, contudo, duas vias de degradao direta. A primeira

    mediada pela arginase, liberando ornitina e ureia, enquanto a outra

    catalisada pela enzima xido ntrico sintase e tem como produto o xido

    ntrico (9).

    Vias e produtos do catabolismo da arginina Arginase sntese de poliaminas

    Existem duas isoformas distintas da arginase (tipo I e tipo II). A

    arginase citoslica do tipo I expressa abundantemente em hepatcitos e

    est envolvida na detoxificao de amnia e sntese de ureia. A arginase

    L-Arginina

    Fonte exgena/ endgena

    L-Citrulina

    Uria

    L- Ornitina

    Putrescina Espermidina Espermina

    GH IGF Insulina Glucagon Prolactina

    xido Ntrico Nitrato Nitrito

  • mitoncondrial do tipo II expressa em nveis relativamente baixos nas

    mitocndrias de clulas extra-hepticas, incluindo entercitos, clulas

    mielides do bao, clulas endoteliais, epiteliais, macrfagos e clulas

    vermelhas, estando envolvida em funes biossintticas como: sntese de

    ornitina, prolina e glutamato. As diferentes localizaes subcelulares das

    isozimas da arginase podem prover mecanismo de regulao metablica da

    arginina (9, 10).

    O metabolismo da L-ornitina via ornitina aminotransferase (OAT) leva

    produo de prolina, componente essencial do colgeno Alm dessa via, a L-

    ornitina pode ser metabolizada em poliaminas (putrescinas, espermidina,

    espermina) pela enzima ornitina descarboxilase (ODC). As poliaminas so

    pequenas molculas catinicas e podem interagir com diversas estruturas

    aninicas incluindo DNA, RNA e protenas. So consideradas como

    segundos mensageiros intracelulares, influenciando a sntese de protenas e

    cidos nucleicos. Tornam-se essenciais para a diviso celular normal e

    crescimento, alm de atuarem como antioxidantes, protegendo as clulas de

    danos oxidativos (12).

    A mucosa intestinal e colnica apresenta demanda especial por

    poliaminas, devido alta taxa de proliferao. Desta forma, essas possuem

    importante contribuio para a manuteno da funo intestinal. A funo

    principal se d no reparo de eventuais danos por dois mecanismos

    sucessivos: a restituio no qual a superfcie lesada recoberta por clulas

    vizinhas, e a reposio das clulas perdidas pela diviso celular (13).

    xido ntrico sintase produo do xido ntrico A arginina, quando metabolizada a citrulina, promove a formao de

    compostos nitrogenados como: xido ntrico, nitritos e nitratos. A arginina o

    nico substrato para a sntese de ON nas clulas eucariticas, e grande parte

    da importncia biolgica est atribuda ao xido ntrico (ON) (14).

    A N-hidroxiarginina a intermediria na reao da NOS, na qual o

    grupo guanidino modificado pelo oxignio molecular para formar ON e

    citrulina em reao que possui como cofatores o NADPH2, Ca2+ (Figura 2)

    (15).

  • Figura 2: Sntese de xido ntrico a partir da L-arginina (15)

    A enzima encontrada em trs formas diferentes. A NOS-1 ou nNOS

    tem origem neuronal e funo de neurotransmissor no adrenrgico e no

    colinrgico, sendo expressa nos plexos mientricos do intestino. A NOS-3 ou

    eNOS, de origem endotelial, potente vasodilatador que regula o fluxo

    sanguneo gastrointestinal. NOS-1 e NOS-3 so enzimas constitutivas

    controladas pelo Ca2+ intracelular e produzem baixos nveis de ON. No

    entanto, a terceira isoforma indutiva NOS-2 ou iNOS produzida em

    quantidades maiores e expressa por macrfagos e outros tecidos em

    resposta a mediadores pr-inflamatrios, como lipopolissacardeos de

    membrana bacteriana, endotoxinas e citocinas pr-inflamatrias (15, 16).

    O xido ntrico est envolvido em variedade de funes biolgicas em

    todo o organismo (16). potente regulador vasoativo e principal fator de

    relaxamento derivado do endotlio. Ao promover a vasodilatao, eleva o

    fluxo sanguneo a tecidos lesados. Alm disso, o ON possui importante papel

    na resposta imunolgica, sendo produzido por clulas que atuam na resposta

    imunolgica inata como os moncitos, macrfagos, micrglia, clulas de

    Kupffer, eosinfilos e neutrfilos. Por isso, durante a inflamao, age

    mediando mecanismos de citotoxidade e defesa no especfica do

    hospedeiro (17).

    No entanto, o xido ntrico parece exercer dupla funo no organismo,

    os efeitos benficos ou destrutivos, dependem da quantidade em que

    produzido (18). Muitas clulas expressam iNOS, quando expostas a

    lipopolissacardeos presentes na parede bacteriana ou citocinas pr

    inflamatrias como IL-1, TNF- e INF-, podendo gerar grandes quantidades

    de xido ntrico. A expresso aumentada da iNOS tem sido demonstrada em

    desordens como: destruio da mucosa, sepse e sintomas clnicos inerentes

    a essa condio (19).

  • A quantificao da produo de ON difcil, j que este rapidamente

    oxidado pela oxihemoglobina a nitrato e nitrito o que contribui para a meia-

    vida no sangue ser muito curta (

  • 16. Poeze M, Bruins MJ, Luiking YC, Deutz NE. Reduced caloric intake during endotoxemia reduces arginine availability and metabolism. Am J Clin Nutr.2010;91(4):992-1001. 17. Ochoa JB, Strange J, Kearney P, Gellin G, Endean E, Fitzpatrick E. Effects of L-arginine on the proliferation of T lymphocyte subpopulations. JPEN J Parenter Enteral Nutr. 2001;25(1):23-9. 18. Preiser JC, Luiking Y, Deutz N. Arginine and sepsis: a question of the right balance? Crit Care Med. 2011;39(6):1569-70. 19. Poeze M, Bruins MJ, Kessels F, Luiking YC, Lamers WH, Deutz NE. Effects of L-arginine pretreatment on nitric oxide metabolism and hepatosplanchnic perfusion during porcine endotoxemia. Am J Clin Nutr. 2011;93(6):1237-47.