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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS - UNIMONTES CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS – CCH DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA/ GRADUAÇÃO EM FILOSOFIA GABRIEL RIBEIRO FERNANDES A EUDAIMONIA ARISTOTÉLICA OU AQUILO QUE PROPORCIONA À VIDA O SENTIMENTO DE SATISFAÇÃO MONTES CLAROS DEZEMBRO/2014

ARISTÓTELES AEUDAIMONIAARISTOTÉLICA OU AQUILO QUE PROPORCIONA À VIDA O SENTIMENTO DE SATISFAÇÃO

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AEUDAIMONIAARISTOTÉLICA OU AQUILO QUE PROPORCIONA À VIDA O SENTIMENTO DE SATISFAÇÃO

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS - UNIMONTESCENTRO DE CINCIAS HUMANAS CCHDEPARTAMENTO DE FILOSOFIA/ GRADUAO EM FILOSOFIA

GABRIEL RIBEIRO FERNANDES

A EUDAIMONIA ARISTOTLICA OU AQUILO QUE PROPORCIONA VIDA O SENTIMENTO DE SATISFAO

MONTES CLAROSDEZEMBRO/2014

(...) a felicidade pertence ao nmero das coisas estimadas e perfeitas. E tambm parece ser assim pelo fato de ser ela um primeiro princpio; pois tendo-a em vista que fazermos tudo que fazemos, e o primeiro princpio e causa dos bens , afirmamos ns, algo de estimado e de divino. (Aristteles, tica a Nicmaco)No ano de 384 a.C. numa cidade grega de nome Estagira (hoje Stavros), na pennsula da Calcdia, nasce Aristteles. Aquele que mais tarde iria ser considerado unanimemente como um dos pensadores mais admirvel do Ocidente. Seu pai, Nicmaco, era mdico do rei da Macednia, Amyntas II, que por sua vez era av de Alexandre. Talvez esse fato tenha facilitado o convite feito a Aristteles para ser o preceptor daquele que seria chamado de o Grande. sabido que o filsofo de Estagira cresceu sob a atmosfera da cincia mdica e pode ser que isso o tenha influenciado ao ponto de ser antes de tudo aquilo que hoje chamamos de cientista. Seus pais morrem cedo e Aristteles passa a ser criado por um tio da cidade de Atarneu. Era magro, nem um pouco bonito, tinha canelas finas e, alm disso, um pouco gago. Atrado pela fama de Plato, por volta dos 17 ou 18 anos sai da cidade de Atarneu e segue rumo a Atenas onde ingressa na Academia de Plato que contava com sessenta e um anos de idade e j liderava a escola por no mnimo 15 anos. Torna-se um aluno brilhante. Os apelidos de A Inteligncia da Escola e de Leitor no foram por acaso. Permanecera na Academia por cerca de vinte anos at a morte do seu mestre em 348 ou 347 a.C. e depois disso deixa a Academia. Nesse nterim, Aristteles j desenvolve suas prprias pesquisas e concepes e j comea a contestar as ideias do seu mestre.Despois de algum tempo, aos 53 anos de idade, Aristteles retorna a Atenas e funda uma escola chamada Liceu. Recebe este nome por ficar localizado nos jardins do templo que era dedicado ao deus Apolo Lcio. Pelo fato de a escola possuir uma alameda para passeio onde o estagirita fazia suas reflexes junto aos alunos enquanto caminhava, a escola chamada por muitos de peripattica e os seus alunos de peripatticos.A obra de Aristteles pode ser dividida em dois grupos: escritos dedicados ao pblico, por isso, com uma linguagem de fcil entendimento foram chamados de exotricos e as anotaes sobre os cursos que ministrava aos seus alunos, que ao contrrio dos primeiros, possuam maior rigor conceitual e sistematizao e que recebem o nome de acromticos ou esotricos.Aps fazer essa ampla e breve exposio da vida e obra de Aristteles ocupemo-nos com aquilo que mais nos interessa por hora, a saber, a questo tica, ou seja, sobre as aes humanas, sua vida prtica. Destarte, filsofo de Estagira est preocupado em responder perguntas simples, mas no pouco importantes, alis, muito importantes como: qual a melhor maneira de viver? Qual a vida que vale a pena ser vivida? O que virtude? Como vamos encontrar felicidade e satisfao? Qual o bem supremo da vida?Essas so algumas das questes que fundamentam a tica aristotlica. O que ele procura aquilo que proporciona vida do homem o sentimento de satisfao, aquilo que bom em si mesmo.A tradio atribui a Aristteles a autoria de quatro obras sobre tica: a primeira escrita na juventude intitulada Protptico, fragmentos que foram concebidos ainda na Academia, Magna Morlia de autoria ainda duvidosa, tica a Eudemo e a tica a Nicmaco, talvez a mais conhecida e importante. E justamente sobre esta ltima que o presente trabalho ir tratar, mais precisamente sobre o livro primeiro da tica. Logo no incio do primeiro livro Aristteles empreende uma busca por aquilo que o fim do homem, sua funo, ou melhor, por tudo aquilo que ele faz (ao) e escolhe (desejo) e que para o estagirita no passa de meios para se alcanar um bem qualquer. Por isso afirma que o bem aquilo a que todas as coisas tendem. (ARISTTELES, 1979, p. 49). Ora, se est se falando das aes humanas, ento logo surge a pergunta pela finalidade daquilo que o homem pratica ou deseja, j que para tudo que fazemos h sempre um fim que almejado. Ento, qual o objetivo do homem?A tica ensina que o objetivo do homem o perfeito exerccio da mais elevada das funes essenciais nossa natureza, e esta finalmente identificada com a atividade daquele ser racional e divino que Scrates descobrira e que Plato declarara ser imortal. Esta razo, ou esprito, no possui nenhum rgo fsico, nenhum acompanhamento material. Na verdade, ela por vezes se mostra ativa em termos de sabedoria prtica, de conduta diretiva, mas essa atividade prtica um meio para chegar a um fim alm de si mesma, enquanto a atividade terica sempre um fim em si mesma e, portanto (afirma Aristteles), de um valor mais elevado. (CONFORD, 2001, P. 89-90).

Esse ser racional e divino a alma e a tica aristotlica diz respeito a uma certa atividade desse ser em conformidade com a virtude excelente. Mas antes, Aristteles quer saber em que o homem se difere dos outros seres, j que o que ele procura a funo do homem, a sua excelncia. Para tanto, faz uma anlise da alma em relao ao corpo e divide suas potncias em trs: vegetativa, sensitiva e intelectiva ou racional. A parte vegetativa e sensitiva no so funes apenas constitutivas do homem, mas de todas as plantas e animais. Todavia, a funo da alma que corresponde ao intelecto, diz respeito apenas aos seres humanos e justamente essa caracterstica, que lhe peculiar, que o torna diferente dos outros animais. O intelecto ou a razo, por sua vez, possui operaes distintas, a saber, a razo produtiva, razo prtica e razo terica. Evidentemente que o trabalho em questo ir contemplar somente a parte da alma que denomina-se razo prtica. Destarte, talvez j possamos saber qual a funo do homem ou melhor, qual o bem do homem por excelncia.

(...) afirmamos ser a funo do homem uma certa espcie de vida, e esta vida uma atividade ou aes da alma que implicam um princpio racional; e acrescentamos que a funo de um bom homem uma boa e nobre realizao das mesmas; e se qualquer ao bem realizada quando est de acordo com a excelncia que lhe prpria; se realmente assim , o bem do homem nos aparece como uma atividade da alma em consonncia com a virtude, e, se h mais de uma virtude, com a melhor e mais completa. (ARISTTELES, 1979, p. 56).

A isso Aristteles chama de eudaimonia, termo grego que significa de modo bastante genrica, felicidade. O mais elevado de todos os bens que pode ser alcanado pela ao. Em outras palavras, o que Aristteles quer nos dizer, que todas as nossas aes e propsitos tem em vista um fim, que, como se sabe a felicidade, pois, ela procurada sempre por si mesma e nunca com vistas em outra coisa. (ARISTTELES, 1979, p. 55). A felicidade um fim em si mesmo. o bem perfeito do homem. Contudo, a felicidade que se encontra em Aristteles nada tem a ver com aquilo que entendemos contemporaneamente por este conceito. A saber, a compreenso que constantemente se v acerca do conceito, est fortemente marcada com as manchas do hedonismo e do relativismo. Para o filsofo de Estagira, a felicidade diz respeito prtica, ao, a uma atividade da alma em conformidade com as virtudes. a forma mais adequada de agir na circunstncia dada, ou melhor, aplicar as virtudes apropriadas determinada atividade especfica. A atividade da alma em harmonia com a virtude excelente.

A virtude, ou melhor, a excelncia, ir depender de um julgamento claro, autocontrole, simetria de desejos, mestria dos meios; no pertence ao homem simples, nem dom da inteno inocente, mas a realizao da experincia no homem plenamente desenvolvido. (DURANT, 1991, p. 91).

As virtudes no so paixes e tampouco faculdades. So disposies de carter. O que constitui a eudaimonia ou o seu oposto so as atividades virtuosas ou viciosas. Mas a felicidade no depende somente de agir em consonncia com as virtudes. No. Aristteles faz meno a bens exteriores como algo necessrio felicidade, uma vez, que para ele, muito difcil ou quase impossvel realizar atos nobres sem os devidos meios, a saber, os amigos, sade, riqueza e poder poltico. Sem falar em uma boa descendncia e na beleza.Por conseguinte, podemos constatar que a eudaimonia aristotlica possui um fim tico que deve ser buscado por ele mesmo. Claro, no se deve esquecer que, esse bem supremo, que a felicidade, no se alcana em um nico ato, ou de uma s vez, pelo contrrio, exige um grande esforo durante toda a vida, no exerccio contnuo das virtudes. Ademais, o estagirita tambm reconhece e afirma que, a felicidade no ocorre o tempo todo, ou seja, no se trata de uma plenitude daquele sentimento de satisfao em relao vida, o futuro e suas incertezas tambm so levados em conta pelo filsofo. Ora, o homem virtuoso e sbio poder sofrer muitas voltas da roda da fortuna, pois as intempries da vida podem se voltar para ele assim como para qualquer ser humano. A questo que, o homem verdadeiramente bom e sbio suporta com dignidade, pensamos ns, todas as contingncias da vida, e sempre tira o maior proveito das circunstncias. (ARISTTELES, 1979, p. 61).Ento, quando o homem conseguir, num esforo e exerccio dirio, equilibrar seus desejos e suas aes com o seu pensamento, ou melhor, com sua razo prtica, agindo em plena consonncia com a prpria natureza e realizando os fins que lhe so prprios, alcana esse sentimento de plenitude que constitui a felicidade e que mais caro do que a honra, o poder, o sucesso ou o prazer. (FARIA 1994, P. 73). A felicidade o que proporciona vida do homem o sentimento da sua realizao, a vida boa, virtuosa, portanto, a vida que vele a pena ser vivida.

REFERNCIAS

ARISTTELES. tica a Nicmaco. Trad. Leonel Vallandro e Gerd Bornheim. So Paulo, Abril Cultural, 1979.

CONFORD, Francis Macdonald. Antes e depois de Scrates. Trad. Valter Lellis Siqueira. So Paulo, Martins Fontes, 2001.

DURANT, Will. A Histria da Filosofia. Trad. Luiz Carlos do Nascimento Silva. So Paulo, Nova Cultural, 1991. (Coleo Os Pensadores).

FARIA, Maria do Carmo Bettencourt de. Aristteles: da plenitude como horizonte do ser. So Paulo, Moderna, 1994. (Coleo Logos).