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ARISTÓTELES E A "FILOSOFIA PRIMEIRA" Prof. Helder Salvador

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ARISTTELES E A "FILOSOFIA PRIMEIRA"

ARISTTELES E A "FILOSOFIA PRIMEIRA"Prof. Helder SalvadorA "filosofia primeira" de Aristteles deu Metafsica o nome, como tambm o seu contedo e as estruturas fundamentais. Como a Lgica aristotlica, durante quase dois mil anos, era simplesmente considerada "a" lgica, do mesmo modo a metafsica aristotlica tornou-se "a" metafsica. Aristteles, envolvido pela busca do "verdadeiro", enfrenta o repto de perquirir a cincia que explica como e por que o saber pode ser fundamentado. Existe, segundo sua opinio, uma cincia que investiga o ser como ser e os atributos que lhe so prprios em virtude de sua natureza, Ora, esta cincia diversa de todas as chamadas cincias particulares, pois nenhuma delas trata universalmente do ser como ser. Dividem-no, tomam uma parte e dessa estudam os atributos: o que fazem, por exemplo, as cincias matemticas.Mas, como estamos procurando os primeiros princpios e as causas supremas, evidentemente deve haver algo a que eles pertenam como atributos essenciais. Se, pois, andavam em busca desses mesmos princpios aqueles filsofos que pesquisaram os elementos das coisas existentes, necessrio que esses sejam elementos essenciais e no acidentais do ser. Portanto, do ser enquanto ser que tambm ns teremos de descobrir as primeiras causas. (cf. Aristteles, Metafsica, IV 1003a 25-30 (P. Alegre, Ed. Globo, 1969).

Esta cincia (epistme), pela qual aspirava Aristteles em toda a sua obra, expressa um "saber fundado", um saber ciente de que necessariamente " sempre assim", j que conhece a razo (o porqu) daquilo que conhecido, o seu fundamento (ltimo), a sua "causa"."Estamos buscando os princpios e as causas das coisas que so, e - evidentemente - enquanto so" (Metafsica, VI, 1025b).O lugar prprio da verdade (cientfica) o "ser assim como ". O que quer dizer concretamente: "aquilo que enquanto " (on h on, ens qua ens). E a cincia fundamental, a "filosofia primeira", dever considerar "o que enquanto . Tal filosofia ser, impreterivelmente, uma ''filosofia do ser" (do " assim'').Ela responde necessidade de conhecer o verdadeiro, radical necessidade de averiguar o "porqu" ltimo."Poder-se-ia perguntar se a Filosofia Primeira universal ou se trata de um gnero, isto , de uma espcie de ser; pois nem mesmo as cincias matemticas so todas iguais a esse respeito - tanto a Geometria e a Astronomia estudam uma espcie particular de ser, enquanto a Matemtica universal se aplica igualmente a todos. A isto respondemos que, se no existe substncia alm das que so formadas pela Natureza, a Fsica ser a cincia primeira; mas, se existe uma substncia imvel, a cincia que a estuda deve ser anterior, e essa ser a Filosofia Primeira, universal no sentido de ser a primeira. E a ela competir a considerao do ser enquanto ser-tanto da sua essncia como dos atributos que lhe pertencem enquanto ser" (Metafsica VI , 1026a 25-30).Aristteles atribui metafsica a finalidade de indagar: a) sobre o ser enquanto ser, b) sobre as causas e princpios primeiros, c) sobre a substncia, d) sobre Deus e a substncia suprassensvel.a) As diferentes acepes de ser"A cincia do filsofo trata do ser enquanto ser, universalmente e no de um ponto de vista particular. Ora, o ser tem muitos sentidos e no se entende num s" ...(Metafsica XI 1060b 30)."Em vrios sentidos se pode dizer que uma coisa ''. Num desses sentidos, 'ser' significa 'o que uma coisa ', ou uma essncia; noutro, designa uma qualidade, uma quantidade ou algum atributo desse gnero. Embora 'ser' tenha todos esses sentidos, evidente que o que primariamente , a essncia, a substncia da coisa" (Metafsica VII 1028a 10-15).

J se percebe que "ser" uma palavra e uma realidade analgica. Seus diferentes significados implicam um ponto de referncia unitrio, comum: a substncia.Uma rpida anlise semntica da palavra "ser" mostra que o " assim" pode ser dito de modos diferentes: 1 - No caso principal, quando se trata de um saber cientfico (necessrio e fundado), ser significa aquilo que o sujeito (do juzo) em si mesmo (a sua "essncia"), aquilo que a ele pertence necessariamente: dizendo "", enuncia-se a verdade profunda do ser de quem se fala. Este o "ser-por-essncia" (per se). 2 - Podem ser verdadeiros tambm os juzos que no se fundam sobre a essncia, que no tm nada de necessrio nem de demonstrvel, mas que se mostram "verdadeiros de fato". Este o "ser-por-acidente" (per accidens). 3 - "Ser" e "o que " significam igualmente que algumas coisas "so" em potncia e outras em ato. "Pois tanto do que tem a potencialidade de ver como do que efetivamente v dizemos que 'vidente'; e, do mesmo modo, dizemos que 'sabe' quer o que pode efetivar o seu conhecimento, quer o que o est efetivando; e tanto do que j se encontra em repouso como do que pode repousar dizemos que repousa"." denominado de "ser-em-potncia" (in potentia). 4 - Por outro lado, "ser" e "" significam que uma proposio verdadeira, e "no ser", que ela no verdadeira, mas falsa - isso tanto no caso da afirmativa como da negativa." O verbo ser, nesta acepo, tem uma funo puramente lgica. Servindo para expressar uma negao, jamais pode significar uma existncia ou um ser. A sua funo a de ligar ("cpula") o predicado ao sujeito (essere copulae). A "analogia do ser" deve ser compreendida dentro desta perspectiva ontolgica. As anlises precedentes mostram que o "ser" se diz de modo mais ou menos prprio. Isto quer indicar que no existem diferentes "graus" de ser (como em Plato), mas diferentes "modos" de ser, de existir, realmente. Isto , o que existe per se o "" num modo diferente daquele que per accidens. Assim, o termo "ser" no unvoco, nem equvoco. E, apenas, empregado num sentido "anlogo", segundo s diferentes significaes que possam existir numa determinada relao de seres. No plano ontolgico, a palavra "ser" se refere em modo prprio ao "ser por essncia" (ousia) e, em modo derivado, atravs da relao deste com os outros.b) As categoriasA "substncia", enunciada pelo sujeito do juizo, e os seus "acidentes", afirmados pelos predicados, so tambm modos diferentes de ser: "em si mesmo" (in se) ou "em outro" (in alio). As modalidades de 'ser em si' so exatamente as indicadas pelas figuras de predicao, pois os sentidos de 'ser' so em nmero igual ao dessas figuras.Por conseguinte, como alguns predicados indicam o que o sujeito, outros a sua qualidade, outros a quantidade, outros a relao, outros a atividade ou passividade, outros ainda o 'onde' ou o 'quando', 'ser' tem um significado correspondente a cada uma destas categorias.As "categorias" designam os modos de ser da "ousia". Estes se deduzem novamente de um fato lingustico - do modo pelo qual se enuncia "aquilo que ", dado que o juzo sempre composto de um sujeito e predicados. O sujeito expressa aquilo que propriamente, a "ousia" como tal, a substncia: o que sustm (substat) todo o ser; ou o que em si mesmo (ens in se).Quanto aos predicados, Aristteles distingue nove aspectos, sob os quais pode ser considerado o ser enquanto tal de um sujeito (ou nove maneiras de ser da substncia): quantidade (quanto), qualidade (como), relao, lugar (onde), tempo (quando), posio, ter (provido de que coisa), atividade e passividade (paixo). Estas maneiras de ser no existem "em si mesmas", mas somente "em outro" (entia in alio), com mais preciso, na substncia.As dez categorias so os gneros supremos de tudo o que ou pode ser. Contudo, o elenco das categorias de acidente, por ser estabelecido de modo emprico, no necessrio nem exaustivo. Como a "substncia" o objeto principal do estudo da metafsica aristotlica, outras questes a ela se vinculam: 1) Cada ser real (que existe ou pode existir) composto de forma [morph], mediante a qual "tal" ser, e de matria (hyle) pela qual "este" ser. Reconhece-se, de fato, um ser por aquilo que segundo o seu aspecto exterior, peculiar, sempre o mesmo, por aquilo que possui em comum com os outros seres da mesma espcie. A sua forma especfica um conjunto estrutura do de traos caractersticos que forma um "todo", superior e diverso da soma ou unio de suas partes.Indo mais a fundo, constata-se que este ser determinado possui um "princpio interno de unidade", em virtude do qual este se apresenta sempre com o seu aspecto especfico: um gato, no se assemelha apenas a um gato. Para os viventes, o seu "princpio vital" [psych] ou entelecheia. Dessa maneira, a forma o princpio que determina e atualiza a matria. Constitui a essncia de cada coisa. Define o que a coisa , pertencendo-lhe como constitutivo intrinseco. A matria, por sua vez, o princpio constitutivo da realidade sensvel. Funciona como "substrato" para a forma. Neste sentido, potencialidade indeterminada. Tem a possibilidade de ser atualizada, de receber uma forma.O composto de matria e de forma , por Aristteles, chamado de "synolon". S o "synolon" considerado substncia a ttulo pleno, por integrar a "substancialidade" do princpio material como a do formal." O que existe verdadeiramente, portanto, no apenas a forma ou a matria, mas o todo, o concreto; s que assim como , em virtude da forma. Certamente, se pode dizer: a forma que configura o ser. A matria, como tal, apreendida em si mesma, no nada (nem isso nem aquilo): um "puro poder-ser" (potentia pura).2) Tudo o que devm, enquanto tal, composto de potncia (um poder-ser real, determinado pelo ato) e de ato (o ser efetivamente). Analogicamente, a matria est em potncia em relao forma, e a substncia em relao aos seus acidentes."Falar de potncia e de ato, relacionados ao devir, movimento (kinesis), traz tona algumas implicaes: 1) Para que ocorra o devir, preciso, antes de tudo, perceber que o que devm, mesmo sofrendo transformaes, permanece a mesma coisa. Do contrrio, no seria este ser que de vrn, mas uma substituio de um ser por outro. necessrio, ento, que exista em cada devir um substrato (hypokeimenon). 2) Todo devir se desenvolve a partir de dois termos: o inicial e o final (semente-rvore, ignorncia-saber etc.). O primeiro caracterizado pela falta (strsis: privao) daquilo que se "encontra" (hxis: ter) no termo final: uma perfeio, um "ser-efetivamente-assim" . 3) O devir se desenvolve de maneira ordenada, numa nica direo. No termo inicial do devir, encontra-se um "poder-ser" determinado, algo que pode passar ao ato, pois a ele est ordenado. "E porque tudo que vem a ser move-se em direo a um princpio, isto , um fim (aquilo para que existe um ser o seu fim, e o devir se dirige ao fim); ora, o ato o fim, e a potncia existe em vista desse fim". a partir do ato que se define o poder-ser ou a potncia: o ato anterior no s potncia como tambm a qualquer princpio de mudana.4) Tudo o que devm composto de ato e potncia, que se do simultaneamente. No existe a sucesso isolada dos termos: primeiro, ocorre a potncia; depois, o ato. A sucesso progressiva. O "poder-ser" permanece o mesmo, sendo, paulatinamente, atualizado. 5) Por esta razo, aquilo que devm no se encontra no termo inicial nem no termo final de sua mudana; apenas se situa entre ambos os termos, pois o que est em devir j est atualizado mas ainda se atualizar. A cada momento do devir, encarna a situao ontolgica de termo final e de termo inicial. Esta ideia facilita a compreenso da definio aristotlica de devir: " o ato de um ser em potncia, enquanto ainda est em potncia".c) O sentido de "causa" A possibilidade real do devir depende, todavia, ainda de outro fator que Aristteles chama causa (aitiai). "Causa significa: (1) aquilo de que, como material imanente, provm o ser de uma coisa; p. ex., o bronze a causa da esttua e a prata, da taa, e do mesmo modo todas as classes que incluem estas. (2) A forma ou modelo, isto , a definio da essncia, e as classes que incluem esta ( ... ); bem como as partes includas na definio. (3) Aquilo de que origina a mutao ou a quietao; p. ex., o conselheiro causa da ao e o pai causa do filho; e, de modo geral, o autor causa da coisa realizada e o agente modiicador, causa da alterao. (4) O fim, isto , aquilo que a existncia de uma coisa tem em mira; p. ex., a sade causa do passeio. Efetivamente, pergunta 'por que que a gente passeia?' respondemos 'para ter sade', e ao falar assim julgamos ter apontado a causa. O mesmo vale para todos os meios que se interpem antes do fim, quando alguma outra coisa deu incio ao processo, como, p. ex., a dieta, a purgao, as drogas ou os instrumentos intervm antes de ser lograda a sade; pois todos a tm em mira, embora difiram uns dos outros pelo fato de alguns serem instrumentos e outros serem aes".Segundo a reflexo acima transcrita, Aristteles estabelece a existncia de quatro causas: 1) No ser que devm, esto presentes, de modo necessrio, duas causas "internas": o elemento que muda (a causa formal e o que permanece (a causa material). O elemento material, por exemplo, o lenho do qual feita a mesa, a cadeira etc, recebe atravs do processo formativo variadas formas. 2) Fora do ser que devm, agem, ainda, as "causas externas", que impulsionam o termo final do devir sua realizao. Por exemplo, o artista "realiza mediante a sua atividade" (causa eficiente) a "ideia preconcebida" do que realmente quer produzir (causa final). A realizao da causa final s possvel sob a influncia de uma causa eficiente e externa. No caso dos viventes, a perfeio final j se encontra predeterminada na prpria "entlcheia". Esta tem um cunho eminentemente "teleolgico". Em conformidade com a natureza da "mudana" que se produz, estas causas apresentam outras conotaes: - A "ousia", embora permanecendo a mesma, pode sofrer uma mudana "acidental", receber novos predicados. - Pode tambm ser destruda ou constituda. Este processo designado por Aristteles de "gerao" e "corrupo". - Na suposio de que os "elementos" possam ser destrudos ou transformados em outros, restaria apenas como "causa material" um substrato universal, absolutamente indeterminado: a matria prima (prt hyl) incorruptvel e eterna, em oposio "matria segunda", os elementos j formados. - O devir requer necessariamente a existncia de uma causa externa, enunciada pelo princpio: "tudo aquilo que se move (devm) movido por alguma coisa" ("quidquid movetur,ab alio movetur).d) A substncia suprassensvel Na busca das "causas externas" do devir, ocorre ir ao encontro da causa primeira, por si mesma, no causada, sendo, por conseguinte, imutvel, enquanto ato puro. Chega-se assim existncia de uma substncia suprassensvel. Se todas as substncias fossem corruptveis, no existiria no mundo nada de incorruptvel. Contudo, segundo a argumentao aristotlica, o tempo eterno, pelo fato de que no gerado e nem se corrompe. O movimento o tambm, em funo do que o tempo por ele definido. Em vista disso, a eternidade de um postula a do outro. Desse modo, o Deus aristotlico descoberto a partir do raciocnio, deduzido sistematicamente do princpio do movimento. O Primeiro Motor a causa direta ou indireta de todo movimento, entendido, claro, como causa final. Para que o raciocnio encontre um fundamento, no se pode proceder na especulao de forma indefinida. necessrio deter-se e admitir a existncia de uma apropriada causa "primeira" (ou "ltima") de todo movimento. Suposto que verdadeiramente a "primeira", no pode estar sujeita a nenhum movimento. Deve ser imvel. Se eterno o movimento eterna a sua causa. Sendo imvel, causa absoluta de tudo o que mvel. Enquanto imutvel, o Primeiro Motor "ato puro". Est privado de potencialidade, uma vez que a "potncia" concentra um poder-ser-mutvel. E, por ser o pensamento a atividade mais nobre, Ele puro pensamento que no tem outro objeto seno o prprio pensamento. definido como "puro pensamento que pensa em si mesmo" (nosis noseos). Para concluir, verificamos que a reflexo aristotlica nos ajuda a compreender que o fundamento metafsico do saber no tem necessidade de ser projetado para alm do dado da experincia. No requer a ideao de um mundo transcendente, constitudo de essncias imutveis. A realidade concreta a sua fonte inesgotvel. O saber metafsico apreendido no s pela via do arrebatamento esttico, mas atravs da anlise racional disciplinada e laboriosa. A metafsica , por isso, um saber "reflexivo", um saber do saber. Aristteles, ainda, nos abre o caminho para perceber a Importncia do Significado da categoria "ser", pois a sua anlise rigorosa das estruturas metafsicas basilares (Substncia-acidente, matria-forma, potncia-ato) funda o conhecimento da realidade vinculado ao ato de ser, pela razo de que "sendo", a realidade por ns conhecida. Dessa forma, tudo "o que " tem em si mesmo uma dimenso metafsica, a ser desvendada pelo discurso racional. Tal discurso tambm nos leva a reconhecer, para alm do mundo, a existncia de uma causa primeira, de um fundamento ltimo.ReassumindoA diviso das cincias

Aristteles dividiu as cincias em trs ramos:1) as cincias teorticas, que procuram o saber pelo saber e que consistem na metafsica, na fsica (em que incorporada tambm a psicologia) e na matemtica;2) as cincias prticas, que usam o saber com a finalidade da perfeio moral: a tica e a poltica;3) as cincias poiticas, isto , que tendem produo de determinadas coisas.

Definio da metafsica

A metafsica a principal das cincias teorticas, as quais, por sua vez, so as cincias mais elevadas. A metafsica, portanto, toca uma espcie de primado absoluto. Aristteles d quatro definies dela:1) ela indaga as causas, os princpios supremos (e neste sentido se pode chamar de etiologia);2) indaga o ser enquanto ser (e, portanto pode chamar-se de ontologia);3) indaga a substncia (e por isso pode chamar-se ousiologia, uma vez que em grego substncia se diz ousia);4) indaga Deus e a substncia supra-sensvel (e, portanto Aristteles a chama expressamente de teologia).

As quatro causas

Quanto ao que se refere pesquisa das causas e dos princpios primeiros, o Estagirita formulou a teoria, que se tornou clebre, das quatro causas:1) a causa formal (a que confere a forma, e, portanto a natureza e a essncia de cada realidade singular);2) a causa material (ou seja, o "aquilo de que" composta toda realidade sensvel);3) a causa eficiente (aquilo que produz gerao, movimento ou transformao);4) a causa final (ou seja, o escopo, o "aquilo a que" toda coisa tende).

A doutrina do ser e os quatro significados do ser Na pesquisa em torno do SER Aristteles retoma a temtica debatida pelos Eleticos e a resolve, refutando a tese da univocidade do ser (ou seja, a tese de que existe um s tipo de ser em sentido absoluto, que se ope ao no-ser em sentido absoluto).A tese aristotlica que o ser tem mltiplos significados, em vrios nveis, que se reduzem aos quatro seguintes:a) o ser em si (segundo a substncia e as categorias);b) o ser como ato e potncia;c) o ser corno acidente;d) o ser como verdadeiro (e o no-ser como falso).- As categorias (que so 10: substncia, qualidade, quantidade, relao, ao, paixo, onde, quando, ter, jazer) constituem os gneros supremos do ser. Isto significa que aquilo que chamado de ser ou substncia, ou qualidade, ou outra categoria.- Potncia e ato so dois significados no definveis em abstrato, mas "demonstrveis" por meio de exemplos ou de uma experincia direta. Por exemplo, vidente aquele que neste momento v (vidente em ato), mas tambm aquele que tem olhos sos, mas neste momento os fechou, e no est vendo: este vidente porque pode ver, e neste sentido em potncia.- O ser acidental aquele que se apresenta de modo casual e fortuito, e que, portanto, no nem sempre nem no mais das vezes, mas apenas s vezes.- O ser como verdadeiro se tem quando a mente rene coisas que na realidade esto de fato reunidas, ou desune coisas que na realidade esto desunidas.Do ser como acidente no existe cincia, pois a cincia existe apenas da necessria e no da casual.Do ser como verdadeira ocupa-se a lgica.A metafsica se ocupa dos primeiros dois grupos de significados.A teoria substncia

As categorias se referem todas primeira, ou seja, substncia, e a pressupem (e com efeito no existe qualidade a no ser da substncia; e o mesmo se diga sobre a quantidade e de todas as outras categorias). , portanto, evidente que o estudo da substancia fundamental da para a metafsica.O que a substncia em geral?Aristteles formulou tambm neste caso, assim como para o ser, uma resposta plurifactica: substncia pode ser considerada, mas apenas em sentido bastante imprprio, a matria (como queriam os Naturalistas); mas em particular e no mais alto grau a forma (ou seja, a essncia de determinada realidade); e tambm a sinolo (isto , a unio de matria e forma, ou seja, os entes singulares individuais).Matria e forma, potncia e atoPara ilustrar a relao entre a matria e a forma, a potncia e o ato, Aristteles recorre ao exemplo da esttua de bronze. Na esttua de bronze fcil distinguir a matria (por exemplo, o bronze) da forma (por exemplo, o deus Hermes).No difcil ligar a matria potncia: e, com efeito, o bronze teria tido a possibilidade, ou seja, a potncia, de assumir qualquer forma, e, portanto, tambm a do deus Hermes. A forma se liga ao contrrio ao ato, dado que a esttua resulta perfeita em funo da atuao da forma (e em tal sentido o ato se diz tambm entelquia, que significa atuao).Nesta perspectiva tambm se capta o maior valor do ato em relao potncia e, portanto, da forma em relao matria: com efeito, a potncia que se realiza no ato, e no vice-versa, assim como a matria que se realiza na forma.A substncia divina supra-sensvel O problema de fundo da metafsica o seguinte: existem apenas substncias sensveis, ou tambm substncias supra-sensveis?A resposta de Aristteles que as substncias supra-sensveis eternas existem, enquanto sem a eterna no poderia subsistir nem mesmo o devir.Na demonstrao ele parte da anlise do tempo e do movimento. O tempo - e, portanto, tambm o movimento do qual a medida eterno (com efeito, no pode existir um momento de origem do tempo, porque de outro modo deveramos admitir um "antes" daquele momento, mas isso seria por sua vez um tempo; nem pode existir um fim do tempo, porque posteriormente a tal fim deveria existir um "depois", que tambm tempo). Contudo, se assim, deve tambm existir uma causa adequada ao efeito, isto , uma causa eterna, como um princpio da qual eternamente deriva o tempo-movimento.E como deve ser esta causa eterna?Deve ser imvel, porque, se; a causa fosse mvel, requereria outra causa e esta ainda outra, ao infinito. Alm disso, para ser eterna e imvel, no deve ter nenhuma potencialidade (de outro modo poderia tambm no passar para o ato), isto , nenhuma matria; e, portanto, ser pura forma, ou seja, pura forma imaterial (e, portanto, supra-sensvel).Contudo, como possvel que uma realidade mova permanecendo imvel? O Motor Imvel move como o objeto de amor move o amante. O Motor Imvel, portanto, a causa final do mundo, e o efeito do movimento que produz, o produz justamente atraindo o primeiro cu por causa de sua perfeio.Problemas concernentes substancia supra-sensvelA realidade mais perfeita o ser vivo, e em particular o ser vivo inteligente. E o Motor Imvel inteligncia e vida. E, justamente por causa de sua perfeio, O Motor Imvel no pode pensar a no ser a coisa mais perfeita, e, portanto, a si mesmo. Portanto, O Motor Imvel "pensamento de pensamento".Como era impossvel reduzir unidade os vrios movimentos das esferas celestes que, segundo as contagens de Aristteles inspiradas na astronomia de seu tempo, deveriam presumivelmente ser 55, ele entregou ao Motor Imvel (causa do movimento do cu das estrelas fixas) outras 55 Inteligncias motoras prepostas aos outros cus. Estas Inteligncias divinas so independentes do Motor Imvel e de natureza anloga, mas so no apenas inferiores a ele, mas tambm uma inferior outra em escala hierrquica.