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ARQUEOLOGIA DE UMA FÁBRICA DE FERRO: MORRO DE ARAÇOIABA SÉCULOS XVI-XVIII ANICLEIDE ZEQUINI São Paulo Dezembro de 2006

ARQUEOLOGIA DE UMA FÁBRICA DE FERRO: MORRO DE …

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ARQUEOLOGIA DE UMA FAacuteBRICA DE FERRO MORRO DE ARACcedilOIABA

SEacuteCULOS XVI-XVIII

ANICLEIDE ZEQUINI

Satildeo Paulo Dezembro de 2006

2

UNIVERSIDADE DE SAtildeO PAULO Museu de Arqueologia e Etnologia

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ARQUEOLOGIA

ARQUEOLOGIA DE UMA FAacuteBRICA DE FERRO MORRO DE ARACcedilOIABA SEacuteCULOS XVI-XVIII

Anicleide Zequini

Tese apresentada ao programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Arqueologia do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de Satildeo Paulo para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Doutor em Arqueologia

Orientadora Professora Doutora Margarida Davina Andreatta

Satildeo Paulo 2006

3

Aos meus Pais Francisco Zequini

e Dirce da Costa Zequini e Ismar

4

AGRADECIMENTOS

Durante a primeira visita ao Siacutetio Arqueoloacutegico Afonso Sardinha da Floresta

Nacional de Ipanema em Iperoacute Satildeo Paulo no ano de 2003 tive oportunidade de

conhecer o objeto de estudo desta Tese as evidecircncias da Faacutebrica de Ferro com a

sua respectiva vala da roda e os inuacutemeros artefatos que haviam sido recolhidos

durante as escavaccedilotildees Naquela oportunidade fui gentilmente recebida pela Sra

Janette Gutierrez a quem deixo meus agradecimentos extensivo aquela

Instituiccedilatildeo

Recebi ainda no transcorrer do meu trabalho importantes informaccedilotildees das

Sras Vivian Cristiane Fernandes e Nair Tanabe Tomiyama ambas do Nuacutecleo de

Arqueologia da Universidade Braz Cubas assim como das Sras Socircnia Paes do

Museu Histoacuterico Sorocabano e Marizia Tonelli

Agradeccedilo tambeacutem ao Sr Joseacute Monteiro Salazar o qual gentilmente me

recebeu em sua residecircncia em Boituva SP um apaixonado pela Historia de

Ipanema o qual contou fatos de grande interessante sobre a descoberta das

ruiacutenas assuntos que incorporei na minha Tese

Em marccedilo deste mesmo ano apresentei minha qualificaccedilatildeo oportunidade

em que recebi valiosas sugestotildees das Professoras Doutoras Heloiacutesa Maria

Silveira Barbuy e Elaine Farias Veloso Hirata a quem agradeccedilo

Finalmente eacute com admiraccedilatildeo e especial carinho que agradeccedilo a minha

orientadora a Professora Doutora Margarida Davina Andreatta com quem tive a

oportunidade de discutir longamente os conceitos e detalhes deste meu trabalho

Os seus conhecimentos e a responsabilidade com que conduziu a orientaccedilatildeo

foram fundamentais para a elaboraccedilatildeo desta Tese assim como para minha

proacutepria formaccedilatildeo em Arqueologia em especial na Arqueologia Histoacuterica

5

SUMAacuteRIO

Iacutendice 06 Iacutendice das Figuras 10 Resumo 14 Abstract 15 Introduccedilatildeo 16 Capiacutetulo I 19 Capiacutetulo II 47 Capiacutetulo III 83 Capiacutetulo IV 109 Capitulo V 126 Capitulo VI 167 Consideraccedilotildees finais 193 Bibliografia 195 Glossaacuterio 214 Anexos 220

6

IacuteNDICE INTRODUCcedilAtildeO 15 CAPIacuteTULO 1 O SIacuteTIO AFONSO SARDINHA QUESTOtildeES DA ARQUEOLOGIA HISTOacuteRICA 11 Contexto do presente trabalho 19

111 Avaliaccedilatildeo dos dados bibliograacuteficos 19 112 Histoacuterico das descobertas das ruiacutenas 26 113 Consideraccedilotildees sobre a metodologia 32

114 Descriccedilatildeo geral das pesquisas arqueoloacutegicas realizadas 37

12 Principais questotildees a serem abordadas no decorrer da Tese 46

CAPITULO 2 A TECNICA DE PRODUCcedilAtildeO DE FERRO NO PERIODO ENTRE OS SEacuteCULOS XVI AO XVIII 21 Consideraccedilotildees sobre Teacutecnica e Tecnologia 47 22 O conceito de Teacutecnica 50 23 A valorizaccedilatildeo do conhecimento teacutecnico e a ciecircncia

experimental moderna 53 2 4 A Tecnologia como sinocircnimo de Teacutecnica 55

25 A Teacutecnica de produccedilatildeo do ferro 59

26 Fornos de fundiccedilatildeo de ferro 64

27 Tratados Teacutecnicos de Metalurgia 78

CAPITULO 3 HISTOacuteRICO DA MINERACcedilAtildeO NO BRASIL COLONIAL 31 As primeiras expediccedilotildees mariacutetimas a busca dos metais nobres 83 32 O Peabiru uma trilha para o Sertatildeo 85 33 O descobrimento da prata em Potosi 88 34 A busca de metais nobres na Capitania de Satildeo Vicente 90 35 D Francisco de Sousa a organizaccedilatildeo da exploraccedilatildeo mineral 91

7

36 Teacutecnicos e praacuteticos na mineraccedilatildeo e metalurgia 94 37 A Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro 96

38 A Faacutebrica de Ferro do morro de Araccediloiaba os empreendedores 99 39 A Real Faacutebrica de Ferro de Satildeo Joatildeo do Ipanema 103 CAPIacuteTULO 4 O SIacuteTIO AFONSO SARDINHA 41 Localizaccedilatildeo 109 42 A vegetaccedilatildeo 116 43 Rios e ribeirotildees

44 A magnetita o mineacuterio do morro de Araccediloiaba 119

45 Fatores fisiograacuteficos da ocupaccedilatildeo europeacuteia 123

CAPIacuteTULO 5 INVESTIGACcedilOtildeES ARQUEOLOacuteGICAS AS EVIDENCIAS DE UMA FAacuteBRICA DE FERRO 126

51 Estruturas hidraacuteulicas para a produccedilatildeo da forccedila motriz 129

511 O Canal de Derivaccedilatildeo 129

512 A Vala da Roda 132

5121 Evidecircncias de esteios 134 52 A Faacutebrica de Ferro os espaccedilos de produccedilatildeo 137 521 Area ldquoCrdquo 137 522 A Aacuterea B (ldquoForjardquo) 139

53 Area E Sul da Faacutebrica de Ferro 150 531 Fornos de fundiccedilatildeo na aacuterea externa da Faacutebrica (Aacuterea A1) 155 531 Forno de Fundiccedilatildeo 1 157 532 Fornos de fundiccedilatildeo da Aacuterea A2 159 5321 Forno de fundiccedilatildeo 1 (aacuterea A2) 161 5322 Forno de fundiccedilatildeo 2 (aacuterea A2) 165

CAPITULO 6 INTERPRETACcedilOtildeES DOS DADOS ARQUEOLOacuteGICOS 61 Avaliaccedilatildeo das caracteriacutesticas do Arranjo das Estruturas 167 62 As ldquoferreriacuteasrdquo de aacutegua na Peniacutensula Ibeacuterica 170 63 Sistema hidraacuteulico produccedilatildeo da forccedila motriz 175

8

631 Dique de represamento do ribeiratildeo do Ferro 175 632 Canal de Derivaccedilatildeo das aacuteguas 176 633 Vala da roda 177 634 A Caixa de Aacutegua - ldquoBanzaordquo 179 635 A roda hidraacuteulica 180 6 4 A Faacutebrica de Ferro os espaccedilos de produccedilatildeo 183

641 A Oficina da Faacutebrica de Ferro 183 6411 O Malho 188 6412 Fornos de fundiccedilatildeo e foles 190 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 193 BIBLIOGRAFIA 195 GLOSSAacuteRIO 214 ANEXOS 220 1 Relatoacuterio de Ensaio ndash Laboratoacuterio de Vidros e Dataccedilatildeo ndash FATEC 2 Inventaacuterio de Peccedilas Ceracircmica 3 Inventario de Peccedilas Liacutetico 4 Inventaacuterio de Peccedilas Louccedilas 5 Inventaacuterio de Peccedilas Telhas 6 Inventaacuterio de Peccedilas Metal 7 Tratado da Arte de ensaiar e fundir cobre ferro e accedilo Ano de 1691 8 Aranzel ou Roteiro de haveres de oiro e pedras preciosas Ano de 1696 9 Planta Geral da aacuterea pesquisada Siacutetio Afonso Sardinha (Mapa 1) 10 Mapeamento das aacutereas de decapagem e escavaccedilatildeo ( Mapa 2) 11 Aacuterea E - Concentraccedilatildeo de lacircminas de metal (Mapa 3)

9

12 Aacuterea E - Concentraccedilatildeo de escoacuterias (Mapa 4) 13 Aacuterea E - Concentraccedilatildeo de blocos de arenito (Mapa 5) 14 Aacuterea E ndash Concentraccedilatildeo de cravos de metal (Mapa 6) 15 Aacuterea E - Concentraccedilatildeo de telhas (Mapa 7)

10

INDICE DAS FIGURAS

1 Mapa de localizaccedilatildeo da FLONA ndash Ipanema 2 Mapa de localizaccedilatildeo do Siacutetio Afonso Sardinha 3 Desenho esquemaacutetico da localizaccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro 4 Aspecto do Siacutetio Afonso Sardinha 1983 5 Iniacutecio das pesquisas arqueoloacutegicas no Siacutetio Afonso Sardinha 1983 6 Reuniatildeo de trabalhos 1984 7 Aspecto da Faacutebrica de ferro em 1987 8 Planta do Siacutetio Afonso Sardinha aacutereas A1 e A2 9 Planta da aacuterea A1 10 Vista Geral da aacuterea A1 11 Vista Geral da aacuterea A2 12 Planta da aacuterea A2B detalhe 13 Planta do morrote A2B 14 Aacuterea A2 morrote e evidencias de fornos de fundiccedilatildeo 15 Corte esquemaacutetico de um forno baixo 16 Maquete de forno de fundiccedilatildeo (Celta) 17 Forno de fundiccedilatildeo (romano) 18 Fornos de fundiccedilatildeo de lupa ou de vento 19 Corte esquemaacutetico de fornos de fundiccedilatildeo de lupa ou de vento 20 Fornos de fundiccedilatildeo de Guaira (Potosi)

11

21 Fornos de fundiccedilatildeo seacuteculo XVI 22 Fornos de Fundiccedilatildeo seacuteculo XVI 23 Arranjo funcional de uma Faacutebrica de Ferro 24 Elementos que compotildeem uma ldquoFarga Catalanrdquo 25 Traccedilado do Peabiru (Tronco de Satildeo Vicente) 26 Mapa do Peabiru feito por Pasquale Petrone 27 Prospecto das ruiacutenas da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro 28 Vista Geral da Faacutebrica de Ferro de Ipanema 1827 29 Vista Geral da Faacutebrica de Ferro de Ipanema seacuteculo XIX 30 Altos fornos geminados construiacutedos por Varnhagem 1818 31 Alto forno construiacutedo pelo Cel Mursa 1888 32 Roteiro Histoacuterico da Mineraccedilatildeo e metalurgia paulista 33 Mapa Geoloacutegico do Morro de Araccediloiaba 34 Bloco diagrama da regiatildeo da Serra de Araccediloiaba 35 Vista geral do morro de Araccediloiaba I 36 Vista geral do morro de Araccediloiaba II 37 Magnetita 38 Limpeza do Siacutetio Afonso Sardinha 1984 39 Equipe de trabalho 1988 40 Vista geral da aacuterea E 1988 41 Dimensotildees da Vala da roda e localizaccedilatildeo da evidecircncias de esteios 42 Vala da roda hidraacuteulica 1987 - I 43 Vala da roda hidraacuteulica 1987 ndash II 44 Evidecircncias de esteios

12

45 Detalhe da evidecircncia de esteios 46 Detalhe de um esteio 47 Topografia do terreno da aacuterea C 48 Vista geral da aacuterea C 1987 49 Reconstituiccedilatildeo das paredes da aacuterea B 1984 50 Evidecircncias de paredes da aacuterea B 1984 51 Parede reconstituiacuteda da aacuterea B 1984 - I 52 Parede reconstituiacuteda da aacuterea B 1984 - II 53 Parede reconstituiacuteda da aacuterea B 1984 - III 54 Vasilhame de ceracircmica (0106) aacuterea B seacuteculo XVI - I 55 Vasilhame de ceracircmica (0106) aacuterea B seacuteculo XVI - II 56 Vasilhame de ceracircmica (0106) aacuterea B seacuteculo XVI ndash III 57 Vasilhame de ceracircmica (0122) aacuterea B seacuteculo XVI ndash I 58 Vasilhame de ceracircmica (0122) aacuterea B seacuteculo XVI ndash II 59 ldquoTijelardquo faianccedila [seacuteculo XVII] 60 Escoacuteria ndash restos de fundiccedilatildeo aacuterea E 61 Telha (0115) aacuterea E seacuteculo XVIII 62 Telha aacuterea E 63 Telha aacuterea E 64 Raspador plano convexo aacuterea E 65 Garrafa de greacutes aacuterea A ndash forno1 66 Decapagem aacuterea A forno 1 67 Vestiacutegios do forno de fundiccedilatildeo 1 aacuterea A1 68 Morrote e vestiacutegios de fornos de fundiccedilatildeo aacuterea A2

13

69 Croqui da aacuterea A2 morrote B 70 Vestiacutegios do forno de fundiccedilatildeo 1 aacuterea A2 71 Croqui do forno de fundiccedilatildeo 1 aacuterea A2 72 Vestiacutegios do forno de fundiccedilatildeo 2 aacuterea A2 - I 73 Vestiacutegios do forno de fundiccedilatildeo 2 aacuterea A2 ndash II 74 Vestiacutegios do forno de fundiccedilatildeo 2 aacuterea A2 ndash III 75 Aspecto de uma ldquoferreriacutea de aacuteguardquo seacuteculo XVII 76 Sistema de ldquopujoacuten tuortordquo 77 Trabalho de extraccedilatildeo da ldquobola de ferrordquo ou ldquomassa de ferro 78 Traccedilado esquemaacutetico do Canal de Derivaccedilatildeo aacuterea A1 (Interpretaccedilatildeo) 79 rdquo Depoacutesito de aacutegua soluccedilatildeo ldquoBanzaordquo 80 localizaccedilatildeo do malho e da roda hidraacuteulica (Interpretaccedilatildeo) 81 Faacutebrica de Ferro do Siacutetio Afonso Sardinha arranjo dos equipamentos (interpretaccedilatildeo) 82 Faacutebrica de Ferro Planta baixa (interpretaccedilatildeo) 83 Faacutebrica de Ferro aacuterea erodida (Interpretaccedilatildeo)

14

RESUMO

Esta Tese tem como objetivo analisar a pesquisa arqueoloacutegica e os

artefatos coletados no Sitio Arqueoloacutegico Afonso Sardinha localizado no morro de

Araccediloiaba Iperoacute - Satildeo Paulo

O resultado da anaacutelise permitiu concluir que a aacuterea corresponde a um

campo de mineraccedilatildeo de ferro com a presenccedila de evidecircncias de uma Faacutebrica de

Ferro de um sistema de aproveitamento de energia hidraacuteulica para movimentar

os equipamentos e ferramentas destinadas a produccedilatildeo e de fornos de fundiccedilatildeo

Aleacutem disso a dataccedilatildeo do material ceracircmico (vasilhames e telhas) indica que as

atividades de exploraccedilatildeo do mineacuterio tiveram iniacutecio no seacuteculo XVI

Palavras-Chaves Arqueologia Histoacuterica Floresta Nacional de Ipanema Teacutecnica

de produccedilatildeo de ferro Colonial Sitio Afonso Sardinha morro de Araccediloiaba Iperoacute-

SP

15

ABSTRACT This Thesis has the goal to analyze archaeological research and artifacts

found in Afonso Sardinha Archaeological site located on Mount Araccediloiaba Iperoacute

Satildeo Paulo

The analysis result leads to the conclusion that the area corresponds to iron

mining field with the presence of Iron Factory evidence a system that makes use

of hydraulic power to move the equipment and tools used in the production and

small ovens to melt iron Besides the ceramic date (pots and tiles) indicates that

mineral digging activities began in the 16th century

Key words History Archeology Ipanema National Forest Colonial Iron

Production Technique Archeological Site Afonso Sardinha Mount Araccediloiaba

Iperoacute-SP

16

INTRODUCcedilAtildeO

A presente Tese busca analisar sob o ponto de vista da Arqueologia

Histoacuterica os resultados da pesquisa arqueoloacutegica desenvolvida pela pesquisadora

e arqueoacuteloga Margarida Davina Andreatta entre os anos de 1983 a 1989 na aacuterea

do siacutetio arqueoloacutegico Afonso Sardinha localizado no morro de Araccediloiaba

municiacutepio de Iperoacute a cerca de quinze quilocircmetros da cidade de Sorocaba Satildeo

Paulo

Os estudos desenvolvidos consideraram apenas os fatos relacionados agrave

exploraccedilatildeo e fabricaccedilatildeo do ferro no morro de Araccediloiaba desde finais do seacuteculo

XVI ateacute o seacuteculo XVIII portanto antes da instalaccedilatildeo do Estabelecimento

Montaniacutestico de Extraccedilatildeo de Ferro das Minas de Sorocaba em 1810 e mais tarde

com a denominaccedilatildeo de Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema

O resultado final do trabalho do levantamento de campo formou um

conjunto vasto e consolidado em textos de Diaacuterios de Campo escritos pela

pesquisadora correspondecircncias levantamentos topograacuteficos planos de

escavaccedilatildeo croquis e desenhos geomeacutetricos de plantas das ruiacutenas croquis de

cortes estratigraacuteficos e de reconhecimento das escavaccedilotildees Inventaacuterio de Peccedilas e

fotografias tudo devidamente registrado em relatoacuterios da pesquisa arqueoloacutegica

17

Os artefatos coletados durante as investigaccedilotildees de campo foram

acondicionados em caixas devidamente protegidas e identificadas e depositadas

nas dependecircncias do Museu do Centro de Visitantes da FLONA de Ipanema

Foram desenvolvidos trabalhos de reconhecimento e anaacutelise detalhada dos

registros arqueoloacutegicos que resultaram da pesquisa de campo e em seguida

interpretadas as informaccedilotildees anteriormente consolidadas com base nos

conhecimentos da Arqueologia Histoacuterica e Histoacuteria da Teacutecnica e da Ciecircncia

Na elaboraccedilatildeo da siacutentese interpretativa foi necessaacuterio valer-se de

instrumentos disponiacuteveis em outras aacutereas do conhecimento tais como Geologia

Mineralogia Metalurgia Engenharia dentre outras aacutereas

Tambeacutem foram elaborados exames visuais e catalograacuteficos visando a

dataccedilatildeo relativa assim como foram encaminhadas amostras de ceracircmica as

quais foram submetidas a testes de dataccedilatildeo absoluta com base em ensaios de

Termoluminescecircncia pelo Laboratoacuterio de Vidros e Dataccedilatildeo da Faculdade de

Tecnologia de Satildeo Paulo - FATEC

Por outro lado amostras de resiacuteduos de fundiccedilatildeo (escoacuterias) foram

ensaiadas em laboratoacuterio para anaacutelise quiacutemica-mineraloacutegica no Departamento de

Mineralogia e Geotectocircnica GMG do Instituto de Geociecircncias da Universidade de

Satildeo Paulo

No Capiacutetulo 1 O Siacutetio Afonso Sardinha questotildees da Arqueologia Histoacuterica

optamos por colocar uma siacutentese dos achados arqueoloacutegicos no Sitio Afonso

Sardinha sendo que com base nas informaccedilotildees disponiacuteveis foram expostas as

questotildees da Arqueologia Histoacuterica que resultaram das investigaccedilotildees de campo e

de laboratoacuterio assim como das pesquisas bibliograacuteficas

No Capitulo 2 A Teacutecnica de Produccedilatildeo de Ferro no periacuteodo entre os

seacuteculos XVI ao XVIII foram analisadas e discutidas as questotildees conceituais da

18

teacutecnica e da tecnologia relacionadas a metalurgia no periacuteodo de interesse desta

Tese compreendido entre os seacuteculos XVI e XVIII Para compreensatildeo dos

processos de produccedilatildeo de ferro foram apresentadas descriccedilotildees dos

procedimentos de fabricaccedilatildeo bem como ilustraccedilotildees das ferramentas

equipamentos e maacutequinas em uso naquele estaacutegio do conhecimento teacutecnico

O Capiacutetulo 3 Histoacuterico da Mineraccedilatildeo no Brasil Colonial trata de uma

avaliaccedilatildeo da historiografia disponiacutevel sobre as atividades de mineraccedilatildeo no Brasil

e particularmente para o caso da entatildeo Capitania de Satildeo Vicente merecendo

esclarecer que parte destas obras foi produzida na primeira metade do seacuteculo XX

Aleacutem disso foram consultados documentos do Arquivo Municipal de Satildeo Paulo

do Arquivo do Estado de Satildeo Paulo e Biblioteca e Arquivo do Museu Histoacuterico

Sorocabano

No Capiacutetulo 4 O Sitio Afonso Sardinha apresenta-se a localizaccedilatildeo

geograacutefica as caracteriacutesticas geoloacutegicas e geomorfoloacutegicas do morro de

Araccediloiaba a vegetaccedilatildeo a hidrografia recursos minerais com destaque especial

para a presenccedila da Magnetita Finalmente oferece-se um contexto sucinto a

respeito da ocupaccedilatildeo colonial e a presenccedila de naturalistas viajantes inclusive

Saint Hilaire em 1919

No Capiacutetulo 5 Investigaccedilotildees Arqueoloacutegicas as evidencias de uma Faacutebrica

de Ferro com base em todos os dados que resultaram da pesquisa de campo

foram desenvolvidos trabalhos sendo que num primeiro momento relacionados

ao reconhecimento e anaacutelise detalhada dos registros arqueoloacutegicos fornecidos

pela pesquisa acima mencionada

No uacuteltimo Capiacutetulo de nuacutemero 6 Interpretaccedilotildees dos dados arqueoloacutegicos

buscou-se elaborar uma interpretaccedilatildeo das informaccedilotildees consolidadas nos

documentos produzidos a partir dos conhecimentos da Arqueologia Histoacuterica e

Histoacuteria da Teacutecnica e da Ciecircncia

19

CAPIacuteTULO 1

O SIacuteTIO AFONSO SARDINHA QUESTOtildeES DA ARQUEOLOGIA HISTOacuteRICA O presente Capiacutetulo tem por objetivo indicar um conjunto de questotildees que

deveratildeo ser analisadas no decorrer da elaboraccedilatildeo desta Tese as quais

emanaram dos resultados alcanccedilados pelas pesquisas arqueoloacutegicas realizadas

no siacutetio Afonso Sardinha pela pesquisadora e arqueoacuteloga Margarida Davina

Andreatta

Para melhor compreensatildeo dos fatos que fazem parte do contexto do

presente trabalho tendo em vista a identificaccedilatildeo daquelas questotildees satildeo

apresentados a) uma avaliaccedilatildeo dos dados bibliograacuteficos que tratam de assuntos

relacionados ao siacutetio arqueoloacutegico b) um histoacuterico da descoberta das ruiacutenas c)

consideraccedilotildees sobre a metodologia utilizada d) uma descriccedilatildeo geral resumida

das pesquisas arqueoloacutegicas realizadas

11 Contexto do presente trabalho 111 Avaliaccedilatildeo dos dados bibliograacuteficos

As primeiras notiacutecias relacionadas agraves minas de ferro do Morro de

Araccediloiaba e com os trabalhos de fundiccedilatildeo daquele mineacuterio foram dadas por

Pedro Taques de Almeida Paes Leme (1714-1777) Aleacutem de sua obra mais

conhecida a Nobiliarquia Paulistana Histoacuterica e Genealoacutegica escreveu a Histoacuteria

da Capitania de Satildeo Vicente e um compecircndio sobre a exploraccedilatildeo e a legislaccedilatildeo

mineira intitulado Noticia das Minas de Satildeo Paulo e dos Sertotildees da mesma

Capitania

20

Neste uacuteltimo trabalho escrito na segunda metade do seacuteculo XVIII afirmou

ter sido o bandeirante Afonso Sardinha e seu filho mameluco do mesmo nome

ldquoos que tiveram a gloacuteria de descobrir ouro de lavagem nas Serras de

Jaramimbaba e do Jaraguaacute em Satildeo Paulo na de Votoruna em Parnaiacuteba e na

Biraccediloiaba no Sertatildeo do Rio Sorocaba ouro prata e ferro pelos anos de 1597rdquo

(TAQUES 1954 p 112) Em Notiacutecias Genealoacutegicas citado por Nicolau de

Campos Vergueiro PedroTaques completa aquela informaccedilatildeo indicando que

Afonso Sardinha havia construiacutedo uma faacutebrica e dois fornos de ferro em

Biraccediloiaba e que havia doado um dessas Faacutebricas agrave D Francisco de Souza

quando ldquoem pessoa passou a Biraccediloiaba no ano de 1600rdquo (VERGUEIRO 1978

p6)

Taques escreveu suas obras dentro de um contexto em que os trabalhos

historiograacuteficos buscaram dar um enfoque positivo a participaccedilatildeo bandeirante na

histoacuteria de Satildeo Paulo e ao mesmo tempo contrapor todas as outras narrativas

que haviam sido escritas nos seacuteculos anteriores sobretudo pelos Jesuiacutetas

Assim firmou para que Afonso Sardinha e seu filho passassem para a Histoacuteria

como tendo sido os descobridores daquelas minas e os pioneiros na fabricaccedilatildeo

do ferro no Morro de Araccediloiaba

Entre os veiacuteculos de divulgaccedilatildeo dessa historiografia estaacute o Instituto

Histoacuterico e Geograacutefico de Satildeo Paulo e do Brasil (sediado na cidade do Rio de

Janeiro) sendo este uacuteltimo responsaacutevel pela divulgaccedilatildeo das obras de Pedro

Taques1 Por outro lado aquelas afirmativas foram reforccediladas pelo

1 Os Institutos Histoacutericos e Geograacuteficos foram junto com os Museus brasileiros os primeiros e mais importantes espaccedilos que existiam no seacuteculo XIX para a pesquisa de humanidades e para a ciecircncia em geral no Brasil O Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Satildeo Paulo seraacute uma instacircncia de produccedilatildeo a afirmar uma suposta especificidade paulista elaborar tradiccedilotildees do estado ndash atraveacutes de biografias de seus vultos estudos sobre o passado da proviacutencia etc Nesse sentido eacute tambeacutem uma historiografia com teor ciacutevico paulista sobretudo mas que buscava afirmar a prevalecircncia de Satildeo Paulo perante a naccedilatildeo como um todo releitura da figura do bandeirante no sentido de elevaacute-lo agrave condiccedilatildeo de construtor da naccedilatildeo ROMANCINI Richard Inventando tradiccedilotildees os historiadores e a pesquisa inicial sobre o jornalismo II Encontro Nacional da Rede Alfredo de Carvalho Florianoacutepolis de 15 a 17 de abril de 2004 Disponiacutevel em lthttpwwwjornalismoufscbrredealcarcdgrupos20de20trabalho20de20historia20da20midiahistoria20dos20jornalismotrabalhos_selecionadosrichard_romancinidocgt Acesso em 060706

21

desaparecimento de total ou significativa parcela dos documentos que

constituiacuteram as fontes pesquisadas por aquele autor tais como os arquivos do

Primeiro Cartoacuterio dos Oacuterfatildeos de Satildeo Paulo os da Provedoria da Real Fazenda e

os da Cacircmara da Vila de Satildeo Paulo2

Aleacutem disso uma significativa parcela dos trabalhos publicados entre os

seacuteculos XIX e XX sobre as atividades metaluacutergicas desenvolvidas no morro de

Araccediloiaba estavam voltados para as anaacutelises sobre os aspectos da geografia

historia mineralogia botacircnica e geologia a partir da implantaccedilatildeo da Real Faacutebrica

de Ferro de Ipanema fundada em 1810 3 Quanto aos periacuteodos anteriores a fonte

de informaccedilatildeo sempre foi a obra de Pedro Taques a qual foi amplamente

difundida com a publicaccedilatildeo da obra de Azevedo Marques intitulada

Apontamentos histoacutericos geograacuteficos bibliograacuteficos e estatiacutesticos da proviacutencia de

Satildeo Paulo em 1879

A construccedilatildeo da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema estaacute inserida no acircmbito

da implementaccedilatildeo de poliacuteticas voltadas para favorecer a transferecircncia para a

colocircnia de todo o aparelho institucional do reino a partir da chegada de D Joatildeo VI

a cidade do Rio de Janeiro4 Entre os projetos estava a implantaccedilatildeo e

desenvolvimento da siderurgia no Brasil a partir da exploraccedilatildeo das jazidas de

ferro jaacute conhecidas como as do Morro de Araccediloiaba na Proviacutencia de Satildeo Paulo e

das jazidas de ferro de Minas Gerais localizadas nos atuais municiacutepios de

Congonhas do Campo e Gaspar5

2 Os arquivos da Provedoria foram destruiacutedos por uma enchente do Tamanduateiacute em 1929 Dos outros arquivos restam apenas poucos exemplares e que estatildeo incompleto como o das Atas da Cacircmara da Vila de Satildeo Paulo RODRIGUES Leda Maria Pereira As Minas de ferro em Araccediloiba (Satildeo Paulo Seacuteculos XVI-XVII-XVIII) Annais do III Simpoacutesio dos Professores Universitaacuterios de Histoacuteria Franca 1966 p 171 3 A Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema inicia suas atividades a partir da promulgaccedilatildeo da Carta Reacutegia de 4 de dezembro de 1810 Esta carta conteacutem instruccedilotildees para o funcionamento de uma faacutebrica de ferro em Sorocaba Em 1895 encerra definitivamente as suas atividades Ver bibliografia 4 Com a presenccedila de D Joatildeo VI foi promulgada em 1808 a abertura dos portos para o comeacutercio e um alvaraacute que revogava o Decreto de D Maria I de 1785 referente a proibiccedilatildeo da abertura de faacutebricas e manufaturas no estado do Brasil e Domiacutenios Ultramarinos 5 As minas de ferro de Gaspar Soares deram origem a Real Faacutebrica de Ferro de Gaspar Soares cuja direccedilatildeo foi dada ao Intendente Manuel Ferreira da Cacircmara Em 1811 tambeacutem para o Brasil o teacutecnico alematildeo Gotthelft Von Feldner com a incumbecircncia de examinar as minas receacutem

22

Para dar andamento agravequeles projetos foram trazidos para o Brasil o

mineralogista alematildeo Friederich Ludwig Wilhelm Varnhagen (1782-1842) e

Wilhelm-Ludwig Von Eschwege (1777-1835) ambos funcionaacuterios da Coroa

Portuguesa6 Eschwege foi enviado para Minas Gerais para inspecionar as

jazidas e minas de ferro e criar com outros acionistas a companhia sideruacutergica

Faacutebrica Patrioacutetica do Prata de Congonhas do Campo que comeccedilou a funcionar

em fins de 1811 e Varnhagen para o Morro de Araccediloiaba7

Apoacutes observaccedilotildees mineraloacutegicas realizadas por Varnhagen em

Araccediloiaba A partir dos resultados daquelas observaccedilotildees ficou determinado que

Sorocaba era o local mais apropriado para a construccedilatildeo de uma siderurgia pois

ldquoa mina existente dentro de sua circunscriccedilatildeo eacute muito rica em metal de ferro e

conta na sua proximidade com extensas matas as quais haacute muitos anos mandou

reservar e que forneceratildeo o indispensaacutevel combustiacutevelrdquo(FRAGA 1968 p 66)

Assim em 1810 foi fundado o Estabelecimento Montaniacutestico de Extraccedilatildeo de Ferro

das Minas de Sorocaba denominado posteriormente de Real Faacutebrica de Ferro de

Ipanema

A aacuterea escolhida para aquele novo empreendimento estava localizada junto

ao rio Ipanema que daiacute retira aquela denominaccedilatildeo deixando para traz a histoacuteria

da metalurgia que havia sido desenvolvida durante dois seacuteculos no interior Morro

de Araccediloiaba no vale das Furnas onde estaacute localizado o Siacutetio Arqueoloacutegico

Afonso Sardinha

Os primeiros trabalhos sobre a Real Faacutebrica privilegiavam as anaacutelises

voltadas para a mineralogia e as teacutecnicas de fundiccedilatildeo Quanto a este uacuteltimo

descobertas de carvatildeo do rio Pardo no Rio Grande do Sul Cf FIGUEIROA Silvia As ciecircncias Geoloacutegicas no Brasil uma Histoacuteria Social e Institucional 1875-1934 Satildeo Paulo Hicitec 1997 p 63-65 6 Varnhagen e Eschwege voltaram para Portugal em 1822 7 Varnhagen esteve em Araccediloiaba acompanhado por Martim Francisco de Andrada Martim Francisco Ribeiro de Andrada Inspetor de Minas e Matas da Capitania de Satildeo Paulo

23

aspecto destacam o emprego do alto forno da fabricaccedilatildeo do carvatildeo e o emprego

de fundentes bem como criacuteticas relacionadas agrave produccedilatildeo e qualidade do ferro8

Entre as obras mais gerais sobre aquele empreendimento publicadas no

seacuteculo XIX estatildeo os trabalhos de Antonio da Costa Pinto Silva (1852) Nicolau de

Campos Vergueiro (1843) Frederico Augusto Pereira de Moraes (1858) M Alves

de Arauacutejo (1882) Francisco de Assis Moura (1888) J Ewbank da Cacircmara (1875)

Leandro Dupreacute (1885) Baratildeo Homem de Mello (1888) Manuel Eufraacutezio de

Azevedo Marques (1879) Carlos Conrado de Niemeyer (1879) Frederico

Augusto Pereira de Moraes (1858)

Sobre a mineralogia e a geologia estatildeo os de Joseacute Bonifaacutecio de Andrada e

Silva (1820 1846) Martim Francisco Ribeiro de Andrada (1828 1846 1855) F

Schimidt (1853) e Wilhelm L Von Eschwege (1833) e Orville Adalbert Derby

(1891 e 1895 1909) Derby foi o descobridor em 1891 da apatita mineral que foi

amplamente explorado para a fabricaccedilatildeo de adubos a partir de 1927 Naquele

mesmo seacuteculo foram realizadas as primeiras anaacutelises da magnetita de Ipanema

pela Escola de Minas de Ouro Preto9 as quais tiveram como resultado a

identificaccedilatildeo do titacircnio como componente daquele mineacuterio

Dessa forma foi possiacutevel entender a dificuldade teacutecnica que enfrentaram

todos os diretores de Ipanema em produzir um ferro de boa qualidade pois a

magnetita aleacutem de sua exagerada densidade apresentava-se impregnada de

ocircxido de Titacircnio ldquofatores que contribuem de forma decisiva para dificultar sua

reduccedilatildeo mesmo em altos fornosrdquo (FRAGA 1968 p 86) Entre as pesquisas

realizadas por essa Escola estatildeo os trabalhos de Paul Ferrand (1885) e Leandro

Dupreacute (1885) Joatildeo Pandiaacute Caloacutegeras (1893 1895 19041828) e Ferdinando

Gautier responsaacutevel em 1891 pela identificaccedilatildeo da presenccedila de foacutesforo no

mineacuterio elemento tambeacutem nocivo para a produccedilatildeo do ferro Ainda no seacuteculo XIX

8 Fundentes satildeo materiais que quando mesclados com o carvatildeo vegetal dentro do forno facilitam a fundiccedilatildeo dos mineacuterios no caso de mineacuterios de ferro Em Ipanema eram utilizados como fundentes os dioritos tambeacutem chamada ldquopedra verde (do alematildeo grunstein) 9 A Escola de Minas de Ouro Preto foi inaugurada em 1876 Destinava-se a formar profissionais para a mineraccedilatildeo

24

estatildeo os relatos elaborados pelo naturalista viajantes como Saint Hilaire Von

Martius e Zaluar

No seacuteculo XX os trabalhos relacionados com aquele empreendimento

foram desenvolvidos em duas linhas de investigaccedilatildeo o da histoacuteria econocircmica e

da social Nesta uacuteltima as anaacutelises privilegiaram as abordagens sobre o processo

de trabalho e mais para o final daquele seacuteculo para as questotildees sobre o meio

ambiente como os aspectos da ecologia florestal recursos hiacutedricos gestatildeo

ambiental e do turismo ecoloacutegico

Os trabalhos historiograacuteficos daquele seacuteculo pouco acrescentaram aos

aspectos relacionados com a implantaccedilatildeo dos primeiros empreendimentos

metaluacutergicos anteriores agrave construccedilatildeo da Real Faacutebrica10 Contudo trecircs trabalhos

podem ser destacados pelas contribuiccedilotildees seja pela releitura de documentos

ainda existentes como foi o caso dos estudos realizados por Maacuterio Neme seja

pelos trabalhos de pesquisa documental elaborados tanto por Leda Maria Pereira

Rodrigues quanto por Estefania Knotz Canguccedilu Fraga

No primeiro caso Maacuterio Neme apresenta em seu livro Notas de Revisatildeo da

Histoacuteria de Satildeo Paulo uma reavaliaccedilatildeo das obras de Pedro Taques bem como

de outros autores que tratam da histoacuteria de Satildeo Paulo ateacute o momento da 10 Entre as obras direcionadas a um contexto geral brasileiro estatildeo Sylvio Froes Abreu (19371962) Afranio do Amaral (1946) Renato Frota de Azevedo (1955) Tanus Jorge Bastini (1957) Vicente Licinio Cardoso (1924) Sobrinho Costa e Silva (1953) Alpheu Diniz Gonccedilalves (1937) R Hermanns (1958) R N Jafet (1957) Theodor Knecht (1931) Viktor Leinz (1942) Clodomiro de Liveira (1914) Niacutecia Vilela Luz (1961) Manuel Moreira Machado (1919) Roberval Germano Medeiros (1947) Geraldo Magella Pires de Melo (1957) Geraldo Dutra Moraes (1943) Almiro de Lima (1929) Matias Gonccedilalves de Oliveira Roxo (1937) Edmundo de Macedo Soares (1953) Gilberto Freyre (1988) Francisco Adolpho de Varnhagen (1956) Joseacute Epitaacutecio Passos Guimaratildees (1981) Francisco Magalhatildees Gomes (1983) Francisco de Assis Barbosa (1958) Francisco de Assis Carvalho Franco (1928) Silvia Figueroa (1997) Roseli Santaella Stella (2000) Para anaacutelises direcionadas ao Estado de Satildeo Paulo estatildeo as de Paulo R Pestana (1928) Luis Flores de Moraes (1930) Afonso Taunay (1931) Benedito Lima de Toledo (1966) Maacuterio Neme (1959) Seacutergio Buarque de Holanda (1960 1966) Ernani da Silva Bruno (1953) Jesuiacuteno Feliciacutessimo Juacutenior (1969) Washington Luis (1956) Gabriel Pedro Moacyr (1935) E aqueles relacionados agrave histoacuteria local da Real Faacutebrica estatildeo o de Joseacute Monteiro Salazar (1982) Astor Franccedila Azevedo (1959) Luiz de Almeida Castanho (1937 1939 1958) Jaime Benedito de Arauacutejo (1939) Ezequiel Freire (1953) Emanuel Soares Veiga Garcia (1954) Joatildeo Lourenccedilo Rodrigues (1953) Otaacutevio Tarquiacutenio de Souza (1946) Heacutelio Vianna (1969) Andreacute Davino (1965) Guido Ranzani (1965) Miriam Escobar (1982) Theodoro Knecht (1930) Helmut Born (1989) Lenharo S L R (1996) Antonio Maciel Botelho Machado (1998) e Jaime Rodrigues (1998) Aluiacutezio de Almeida (2002)

25

publicaccedilatildeo da obra em 1959 confrontando as afirmaccedilotildees dos autores com base

nos documentos disponiacuteveis naquele momento A obra segundo o autor fora

escrita com base em pesquisa documental realizada por ele durante duas

deacutecadas tendo concluiacutedo que ldquofirmamo-nos na convicccedilatildeo mais absoluta de que a

crocircnica de nossa formaccedilatildeo e evoluccedilatildeo estaacute a exigir ampla revisatildeo quer em

mateacuteria de fatos e acontecimentos na sua ocorrecircncia e significaccedilatildeo imediata e

futura e no que toca a dados datas e nomes quer em mateacuteria de interpretaccedilatildeordquo

(NEME1959 p11)

Ao final deste trabalho Neme conclui que os dados oferecidos por Pedro

Taques a respeito da construccedilatildeo de uma Faacutebrica de ferro por Afonso Sardinha no

Morro de Araccediloiaba natildeo passou de uma faacutebula criada por aquele autor sendo

que a uacutenica Faacutebrica de ferro que de fato existiu no iniacutecio do seacuteculo XVII foi a de

Santo Amaro

No segundo trabalho a ser considerado trata-se de um artigo publicado em

1966 pela historiadora Leda Maria Pereira Rodrigues intitulado As Minas de ferro

em Araccediloiaba (Satildeo Paulo Seacuteculos XVI-XVII-XVIII) onde a autora afirma que ldquoos

primoacuterdios de nossa Histoacuteria fazem surgir duacutevidas difiacuteceis de serem esclarecidas

pois haacute falta de documentos coesos que provem incontestavelmente a veracidade

de certas afirmaccedilotildeesrdquo Neste mesmo trabalho ela conclui que ateacute a instalaccedilatildeo da

Real Faacutebrica em 1810 todos os empreendimentos anteriores constituiacuteram numa

ldquoseacuterie de tentativas frustrasrdquo A autora demonstra que pelo menos dois

empreendimentos foram efetivamente implementados naquele local o de Luiz

Lopes de Carvalho por volta de 1690 e o de Domingos Pereira Ferreira em 1875

(RODRIGUES 1966 p246-249)

Em 1968 Estefania Knotz Canguccedilu Fraga sob a orientaccedilatildeo da historiadora

Leda Maria Pereira Rodrigues seguindo as discussotildees iniciadas pela autora

acima mencionada desenvolveu uma tese na aacuterea de Histoacuteria do Brasil com o

titulo Subsiacutedios para o estudo da Histoacuteria da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema

(1779-1822) Neste trabalho analisou especialmente o empreendimento de

26

Domingos Pereira Ferreira como tambeacutem as primeiras deacutecadas de

funcionamento da Real Faacutebrica sob a direccedilatildeo de Hedberg (1810-1814) e

Varnhagen (1814-1822) A autora depois de enumerar as possiacuteveis causas que

teriam levado ao que atribui ser um ldquoinsucessordquo econocircmico daqueles

empreendimentos conclui que

mesmo que a faacutebrica de ferro de Araccediloiaba (como

primitivamente era denominado o local) natildeo possa oferecer

ao pesquisador nada aleacutem de constantes provas de seu

insucesso ainda assim o propoacutesito que o anima natildeo deve

esmorecer Afinal o que seria da Historia se soacute merecessem

registro os eventos vitoriosos Quantas derrotas natildeo

levaram as vitoacuterias Porque entatildeo omiti-las se fazem parte

integrante da mesma Porque esquececirc-la se refletem uma

circunstancia real mesmo que nela se insinue uma ou mais

ldquoforccedilas obstrutivasrdquo que consagram ao fracasso tudo o que

nela se condiciona mas que nem por isso obstam uma ou

vaacuterias tentativas de superaccedilatildeo Eacute sabido que a dualidade de

forccedilas impele a civilizaccedilatildeo E mais que a tanta gloacuteria existe

na derrota quanto na vitoacuteria quando supotildeem luta E poderaacute

algueacutem negar que Ipanema natildeo foi um glorioso campo de

luta (FRAGA 1966 p 109)

112 Histoacuterico das descobertas das ruiacutenas O Siacutetio Arqueoloacutegico Histoacuterico Afonso Sardinha foi assim denominado por

ter sido Afonso Sardinha bandeirante e seu filho mameluco11 Afonso Sardinha o

moccedilo apontados por Pedro Taques e pela historiografia como os provaacuteveis

11 Filho de pai branco e matildee indiacutegena No caso dos mamelucos os pais reconheciam publicamente a paternidade e os filhos gozavam da liberdade plena e aproximavam-se agrave identidade portuguesa Essa denominaccedilatildeo cai em desuso no seacuteculo XVIII e eacute substituiacuteda pelo termo bastardo que passava a designar qualquer pessoa com ascendecircncia indiacutegena (MONTEIRO 1994 p 167)

27

descobridores e construtores dos primeiros fornos de fundiccedilatildeo naquele local em

finais do seacuteculo XVI

No ano de 1977 Joseacute Monteiro Salazar pesquisador estudioso da histoacuteria

regional e particularmente da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema acompanhado

pelos engenheiros agrocircnomos Nerzon Nogueira de Barros e Dinchiti Sinzato e

pelo fotoacutegrafo Venedavel Acosta encontrou as ruiacutenas de um possiacutevel Faacutebrica de

ferro que atribuiu ser aquele construiacutedo por Afonso Sardinha em finais do seacuteculo

XVI (SALAZAR 1997156-159) Tal avaliaccedilatildeo decorria do fato de que aquela

regiatildeo teria sido uma aacuterea de provaacutevel exploraccedilatildeo mineral do ferro que

remontaria aos primoacuterdios da colonizaccedilatildeo de Satildeo Vicente conforme apontavam a

historiografia disponiacutevel sobre aquela Capitania

28

Fig 1 MAPA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA FLONA ndash Floresta Nacional de Ipanema Escala 1250 000 CENEA- Centro Nacional de Engenharia Agriacutecola 1985

29

Fig 2 MAPA DE LOCALIZACcedilAtildeO DO SIacuteTIO AFONSO SARDINHA Folheto IBAMA sem data e sem escala

30

Fig 3 DESENHO ESQUEMAacuteTICO DE LOCALIZACcedilAtildeO DA FAacuteBRICA DE FERRO Salazar (1997 p80)

Fig 4 MARGARIDA DAVINA ANDREATTA E JOSEacute MONTEIRO SALAZAR Aspecto do Siacutetio em 1983

31

Fig 5 MARGARIDA DAVINA ANDREATTA E JOSEacute MONTEIRO SALAZAR Iniacutecio das pesquisas no Siacutetio Afonso Sardinha 1983 As ruiacutenas foram localizadas no interior do vale das Furnas onde estaacute o

ribeiratildeo do Ferro que nasce e cruza o Morro de Araccediloiaba desaguando no rio

Ipanema o qual por sua vez eacute um afluente pela margem esquerda do rio

Sorocaba

Este ribeiratildeo

() nasce no Monte do Chapeacuteu e corre primeiro do norte para o

sul e depois de passar pelo Vale das Furnas torce bruscamente

e muda radicalmente de direccedilatildeo fazendo uma grande curva e

passando a correr do sul para o norte indo desaguar afinal no

Ipanema (SALAZAR 1997 p 02)

Foi numa das curvas do ribeiratildeo do Ferro que aquelas ruiacutenas foram

localizadas As estruturas ali descobertas se cercavam de condiccedilotildees fisiograacuteficas

favoraacuteveis para viabilizar a atividade de produccedilatildeo do ferro devido a proximidade

32

das jazidas do mineacuterio existecircncia de matas abundantes assim como de uma

hidrografia favoraacutevel para o aproveitamento da forccedila motriz das aacuteguas

A primeira constataccedilatildeo da existecircncia de uma estrutura por eles encontrada

foi uma fileira de pedras bem conservadas que identificaram ldquocomo canal

certamente para o desvio do rio a fim de mover os martinetesrdquo Descobriram uma

muralha que atribuiacuteram ser uma parede de forja (SALAZAR 1997 p159-160)

113 Consideraccedilotildees sobre a metodologia O termo arqueologia histoacuterica surge nos Estados Unidos nas deacutecadas de

1960 para designar o estudo da cultura material dos europeus no mundo Esse

termo passou a ser oficialmente adotado em 1967 tendo em vista regulamentar a

nomenclatura para designar as pesquisas arqueoloacutegicas em siacutetios histoacutericos que

estavam sendo desenvolvidas nos Estados Unidos Ateacute entatildeo eram utilizados

para identificar aqueles trabalhos arqueoloacutegicos uma nomenclatura diversificada

como arqueologia colonial arqueologia da historia arqueologia de siacutetios

histoacutericos entre outros

Naquela mesma deacutecada a arqueologia histoacuterica passa a ser uma

disciplina valendo-se da aplicaccedilatildeo de meacutetodos de escavaccedilatildeo jaacute consagrados

pela arqueologia preacute-historica e das abordagens teoacuterico-metoloacutegicas voltadas

para a interpretaccedilatildeo dos registros arqueoloacutegicos As ferramentas teoacutericas

metodoloacutegicas apresentadas pela arqueologia foram sendo revisadas e

aprimoradas de modo a contribuir com as anaacutelises destinadas a interpretar as

culturas preteacuteritas

Outra questatildeo diz respeito agrave compreensatildeo do papel da Arqueologia

Histoacuterica aplicada agraves pesquisas desenvolvidas na Ameacuterica tendo em vista a

visatildeo desenvolvida por Charles Orser Jr segundo o qual cabe a esta disciplina

investigar fundamentalmente os ldquo() aspectos mateacuterias em termos histoacutericos

33

culturais e sociais concretos dos efeitos do mercantilismo e do capitalismo que

foi trazido da Europa em fins do seacuteculo XV e que continua em accedilatildeo ainda hojerdquo

(ORSER 1992 p 23)

Posteriormente Orser trouxe novas contribuiccedilotildees a aquela conceituaccedilatildeo

ao formular a Teoria de Rede segundo a qual as pesquisas em Arqueologia

deveriam levar em consideraccedilatildeo a questatildeo das ldquointerligaccedilotildees globaisrdquo

demonstrando a ldquoorigem e os desenvolvimentos ulteriores da globalizaccedilatildeo da

modernizaccedilatildeo e da expansatildeo colonialistardquo criados por ldquoagentes conscientes do

colonialismo do eurocentrismo e da modernidaderdquo que proporcionaram a

criaccedilatildeo de uma ldquoseacuterie de elos complexos e multidimensionais que uniam

diversos povos ao redor do mundordquo (ORSER 1999 p 87)

No que se referem agrave interpretaccedilatildeo dos registros arqueoloacutegicos as

pesquisas em arqueologia histoacuterica empregam teorias e meacutetodos que foram

sendo desenvolvidos por meio da aplicaccedilatildeo de meacutetodos de abordagens como o

Histoacuterico-Culturalismo (foi amplamente difundida entre os arqueoacutelogos

brasileiros) New Archaeology ou Arqueologia Processual e Poacutes-

processualismo e suas derivaccedilotildees Cada meacutetodo privilegiou uma escala

apropriada de anaacutelise para o ldquoHistoacuterico Culturalismo foi o siacutetio para o

Processualismo a regiatildeo e para o Poacutes-Processualismo passou a ser o

indiviacuteduordquo (LIMA 2000 p 2)

No Brasil a formaccedilatildeo da primeira geraccedilatildeo de arqueoacutelogos na deacutecada de

1970 foi orientada por duas correntes teoacutericas A americana representada pelos

arqueoacutelogos Clifford Evans (1920-1981) e Betty Meggers coordenadores do

Programa Nacional de Pesquisas Arqueoloacutegicas (Pronapa) criado na deacutecada

de 1960 E a Francesa representada por Joseph e Annette Emperaire Da

escola francesa destacamos as pesquisas realizadas pelo grupo do Centre

National de la Recherche Scientifique que trabalharam em Minas Gerais

Paranaacute Satildeo Paulo e no Piauiacute em convenio com o Museu Paulista da

Universidade de Satildeo Paulo e a Universidade do Piauiacute com o objetivo de

34

proporcionar as primeiras dataccedilotildees para as obras rupestres e sua inserccedilatildeo no

contexto cultural preacute-histoacuterico (PROUS 1992 p17)

A partir da pesquisas do grupo Franco-Brasileiro foram fornecidas as

primeiras dataccedilotildees radiocarbono a introduccedilatildeo de teacutecnicas e meacutetodos mais

refinados de decapagem e a realizaccedilatildeo de escavaccedilotildees sistemaacuteticas no Brasil

Aleacutem da influecircncia teoacuterica-metodologica o convecircnio entre aquele grupo

representado por Joseph e Annette Laming Emperaire e o Centre National de

la Recherche Scientifique proporcionou a formaccedilatildeo de arqueoacutelogos e de

especializaccedilotildees na Franccedila Entre os anos de 1960-1980 o legado francecircs

permanecia em duas Instituiccedilotildees de Satildeo Paulo o Museu de Preacute-Histoacuteria

(atualmente incorporado ao MAE) e Museu Paulista da Universidade de Satildeo

Paulo e em Minas Gerais no Museu de Histoacuteria Natural da Universidade

Federal de Minas Gerais

A partir da deacutecada de 1960 as pesquisas relacionadas ao campo da

arqueologia histoacuterica foram conduzidas particularmente por arqueoacutelogos preacute-

historiadores que passaram a desenvolver pesquisas em Siacutetios Histoacutericos

Num primeiro momento aquelas pesquisas arqueoloacutegicas foram marcadas

pelas teorias do meacutetodo histoacuterico-culturalista privilegiando monumentos como

igrejas conventos missotildees jesuiacuteticas fortificaccedilotildees solares entre outros

encorajadas pelos oacutergatildeos de preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico e cultural e

pela receacutem-criada Lei 3924 de 26 de julho de 1961 atraveacutes da qual os

monumentos arqueoloacutegicos e preacute-histoacutericos passaram a serem considerados

como patrimocircnio da Uniatildeo (ANDRADE 1993 FUNARI 1998 RUBINO 1996)

Ateacute a deacutecada de 80 as pesquisas ainda seguiam aquela linha de

investigaccedilatildeo privilegiando pesquisas em monumentos Contudo jaacute havia

perspectivas de novas abordagens de pesquisa notadamente voltadas para

os segmentos sociais desfavorecidos de registros possibilitando ldquorecuperar

memoacuterias sociais reinterpretar a Histoacuteria Oficial resgatar elementos e praacuteticas

da vida cotidiana sobre os quais normalmente natildeo se escreverdquo

35

Proporcionando a arqueologia histoacuterica investigar uma diversificada temaacutetica

transformando em Siacutetios Histoacutericos quilombos unidades domeacutesticas becos

urbanos senzalas tecnologias de produccedilatildeo de materiais e povoados etc

(ANDRADE 1993 p 228)

Neste contexto se inserem as pesquisas em arqueoloacutegica histoacuterica

desenvolvida na cidade de Satildeo Paulo O Programa de Arqueologia Histoacuterica no

Municiacutepio de Satildeo Paulo foi coordenado por Margarida Davina Andreatta do

Museu Paulista da Universidade de Satildeo Paulo em colaboraccedilatildeo com o

Departamento do Patrimocircnio Histoacuterico da Secretaria Municipal de Cultural A

pesquisa realizada a partir de prospecccedilotildees e escavaccedilotildees sistemaacuteticas em

ldquoCasas Bandeiristasrdquo e locais puacuteblicos e privados do municiacutepio como becos

ruas praccedilas quintais lixotildees logradouros etc Entre os anos de 1979 e 1981

foram realizadas pesquisas arqueoloacutegicas no Municiacutepio de Satildeo Paulo nos

Siacutetios Mirim em Ermilindo Matarazzo Sitio de Morrinhos no Jardim Satildeo Bento

Casa do Grito no Parque da Independecircncia ndash Ipiranga Beco do Pinto Bairro

da Seacute Casa n 1 do Paacutetio do Coleacutegio e Casa do Tatuapeacute e no bairro do

Tatuapeacute (ANDREATTA 19812 1986a 1986b) Em 1983 Margarida Davina

Andreatta iniciou as pesquisas arqueoloacutegicas na Fazenda Ipanema ndash Iperoacute

Satildeo Paulo atualmente um aacuterea de proteccedilatildeo ambiental FLONA 12

Durante o desenvolvimento dessa pesquisa foram realizadas

escavaccedilotildees e prospecccedilotildees em uma aacuterea extensa daquela Fazenda incluindo

todas as edificaccedilotildees que pertenceram a Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema

(1810-1895)13 e as ruiacutenas existentes no Vale das Furnas junto do ribeiratildeo do

Ferro e interior do Morro de Araccediloiaba Nesta uacuteltima aacuterea denominada Siacutetio

Afonso Sardinha foi evidenciado estruturas de um Faacutebrica de Ferro e Fornos 12 As edificaccedilotildees da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema foram tombadas pelo Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional em 1964 O Siacutetio Arqueoloacutegico Afonso Sardinha foi registrado tambeacutem no IPHAN em 1997 por Margarida Davina Andreatta Ver Detalhes de Siacutetios Arqueoloacutegicos Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrportalmontaDetalheSitioArqueologicodoid=SP00236gt Acesso em 09mar 2004 13 Foram realizadas pesquisas arqueoloacutegicas nas aacutereas dos altos fornos fornos de carvatildeo edifiacutecio de armas brancas Praccedila Afonso Sardinha entre outros dependecircncias pertencentes a Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema

36

de Fundiccedilatildeo e uma diversificada tipologia de materiais os quais compotildee os

documentos arqueoloacutegicos que foram registrados no Inventaacuterio de Peccedilas

relacionadas a pesquisa (exemplos em anexo)

Da pesquisa no Sitio Afonso Sardinha foram produzidos um significativo

conjunto documental formado por inuacutemeras tipologias de documentos de

arquivo que formam o Fundo Sitio Afonso Sardinha A partir dessa

documentaccedilatildeo foi possiacutevel acompanhar o processo de desenvolvimento

daquela pesquisa e tambeacutem contextualizar os documentos arqueoloacutegicos

permitindo assim a realizaccedilatildeo de interpretaccedilotildees quanto sua dataccedilatildeo e

significado Nas palavras de Hodder ldquoa partir del momento em que se conoce

el contexto de um objeto este ya no es completamente mudordquo (HODDER

1994 18)

Os documentos do Fundo Siacutetio Afonso Sardinha satildeo compostos por

diaacuterios de campo relatoacuterios de pesquisa planos de escavaccedilatildeo fotografias

correspondecircncias e tambeacutem por uma coleccedilatildeo formada por documentos de

apoio a pesquisa como plantas topograacuteficas planoaltimeacutetricas bibliografia

histoacuterica e teacutecnica sobre mineraccedilatildeo e fundiccedilatildeo de ferro no Brasil nos primeiros

trecircs seacuteculos de colonizaccedilatildeo

A pesquisa realizada a partir da bibliografia encontrada no Fundo Afonso

Sardinha apontou caminhos de investigaccedilatildeo que direcionaram para uma

bibliografia teacutecnica e histoacuterica sobre a teacutecnica da produccedilatildeo de ferro

desenvolvida na Europa especialmente na Espanha entre os seacuteculos XVI-

XVIII Aleacutem disso foi agregada aquela investigaccedilatildeo um conjunto de

documentos de cunho oficial escritos pelos empreendedores daquela

produccedilatildeo e oacutergatildeos administrativos coloniais como a Cacircmara da Vila de Satildeo

Paulo

Assim os documentos pertencentes ao Fundo Afonso Sardinha

documentos textuais oficiais e documentos arqueoloacutegicos ndash permitiram

37

interpretar que a aacuterea do Siacutetio corresponde a um campo de trabalho de

produccedilatildeo de ferro e que as atividades de mineraccedilatildeo e fundiccedilatildeo estavam

distribuiacutedas por uma aacuterea extensa com forte influencia dos modelos de ferrarias

de aacutegua que haviam no periacuteodo pesquisado na regiatildeo basca da Espanha

Assim as possibilidades dadas pela arqueologia histoacuterica de permitir a

utilizaccedilatildeo tanto de documentos arqueoloacutegicos (artefatos) e textuais na

realizaccedilatildeo da pesquisa e produccedilatildeo do conhecimento eacute tambeacutem uma das

principais tensotildees que norteiam as questotildees teoacutericas-metodoloacutegicas da

arqueologia histoacuterica Para tanto autores como Anders Andreacuten ao considerar

que o problema da arqueologia histoacuterica eacute o encontro entre a cultura material e

a escrita indica tambeacutem que a arqueologia histoacuterica natildeo pode ignorar as

disciplinas que tratam do homem como eacute o caso da Histoacuteria da Antropologia

ou da Filologia propondo que a metodologia em arqueologia histoacuterica deve

estabelecer ldquodialogue between artifact and text that is unique in relation to

prehistoric archeology as well as historyrdquo (ANDREacuteN 1998 p 177)

114 Descriccedilatildeo geral das pesquisas arqueoloacutegicas realizadas Entre os anos de 1983 ndash 1989 as ruiacutenas encontradas por Joseacute Monteiro

Salazar (1982) foram objeto de uma pesquisa arqueoloacutegica iniciada pelo

Protocolo de Intenccedilotildees entre o Museu Paulista da Universidade de Satildeo Paulo e o

CENEA ndash Centro Nacional de Engenharia Agriacutecola - oacutergatildeo autocircnomo do Ministeacuterio

da Agricultura ao qual a Fazenda Ipanema estava ligado A pesquisa foi

coordenada pela arqueoacuteloga Margarida Davina Andreatta do Museu Paulista da

Universidade de Satildeo Paulo14

14 A Fazenda Ipanema pertenceu ao CENEA Centro Nacional de Engenharia Agriacutecola oacutergatildeo autocircnomo do Ministeacuterio da Agricultura ateacute a extinccedilatildeo desse Centro em 1990 eacutepoca em que foram exploradas as minas de Apatita para a fabricaccedilatildeo de adubos A pesquisa arqueoloacutegica nesta aacuterea foi coordenada pela pesquisadora e arqueoacuteloga Profa Dra Margarida Davina Andreatta tendo como assistente o pesquisador da Historia regional Joseacute Monteiro Salazar aleacutem de estagiaacuterios da Universidade de Satildeo Paulo e voluntaacuterios

38

Fig 6 MARGARIDA DAVINA ANDREATTA E EQUIPE EM REUNIAtildeO COM A DIRETORIA DA FLORESTA NACIONAL DE IPANEMA 1984

Fig 7 ASPECTO DA FAacuteBRICA DE FERRO em 1987

39

Fig 8 Planta da aacuterea do Sitio Afonso Sardinha aacutereas A1 e A2

40

As pesquisas arqueoloacutegicas desenvolvidas no sitio Afonso Sardinha

evidenciaram a existecircncia de um campo de produccedilatildeo de ferro localizado na

margem esquerda do ribeiratildeo do ferro o qual se mostrou formadas por duas

aacutereas identificadas durante aqueles trabalhos como aacuterea A1 e aacuterea A2

mostradas no Mapa da Figura 8

A aacuterea A1 situada no setor norte do campo apresentou ruiacutenas de uma

edificaccedilatildeo relativamente maior de produccedilatildeo de ferro composto por quatro setores

identificados como Forno (setor A) Forja (setor B) espaccedilo entre a Forja e o Canal

(setor C) e Canal (setor D) espaccedilo sul da estrutura (setor E)

Nessa aacuterea A1 a pesquisa arqueoloacutegica possibilitou as seguintes principais

evidecircncias

(i) ocorrecircncias de escoacuterias de forma disseminada e tambeacutem na forma de

um amontoado junto a parede externa (sul) da Forja

(ii) ocorrecircncias de telhas na aacuterea ao sul das paredes dos setores BC e D

(iii) ocorrecircncias de cravo e lacircminas de metal tambeacutem na aacuterea sul da

estrutura

(iv) ocorrecircncia de ceracircmica neo-brasileira nos setores da forja (B) e do

Forno (A)

(v) ocorrecircncia de faianccedila portuguesa nos setores da Forja (B) e do Forno

(A)

(vi) ocorrecircncia de vidro na parte norte do Forno (setor A) parte externa da

Forja (setor B) e tambeacutem um fragmento no setor E (parte sul da estrutura)

41

(vii) ocorrecircncia de metal na parte interna e externa da Forja (B) na aacuterea E

parte interna da aacuterea (C) e face oeste do Canal (D)

(viii) evidecircncias de esteios nas laterais do Canal (D)

Fig 9 Detalhe da aacuterea A 1 ndash Sitio Afonso Sardinha

42

Fig 10 VISTA GERAL DA AacuteREA A 1 ndash Sitio Afonso Sardinha 1987

Fig 11 VISTA GERAL DA AacuteREA A 2 ndash Siacutetio Afonso Sardinha 1987 Na aacuterea A2 mostrada na figura 12 as pesquisas arqueoloacutegicas

evidenciaram a existecircncia de duas subaacutereas sendo uma denominada de A2-B e a

43

outra de D constituiacuteda de parte de um muro de pedras cuja estrutura natildeo foi

possiacutevel identificar

Fig 12 DETALHE DA AacuteREA A 2 ndash Sitio Afonso Sardinha Na aacuterea A2-B (Morrote) foram observadas as seguintes evidecircncias

(i) ocorrecircncia de dois fornos soterrados sob um Morrote na aacuterea

designada como A2-B

(ii) ocorrecircncia de tijolos telhas e mureta de pedra

44

Na aacuterea D da figura 12 foram observados

(i) mureta de estrutura natildeo identificada

(ii) ocorrecircncia de duas estruturas circulares de natureza natildeo

identificada

(iii) ocorrecircncias de ceracircmicas telhas e tijolos

(iv) Ao sul da aacuterea A2-B observou-se a existecircncia de um muro de

pedra interpretado como sendo parte de um canal tendo ao seu lado duas

estruturas circulares com diacircmetro de 15 m (Figura 13 e 14)

Fig 13 PLANTA MORROTE ndash AacuteREA A2-B 1987

45

Fig 14 MORROTE COM EVIDENCIAS DE ldquoFORNOrdquo AacuteREA A2

46

12 Principais questotildees a serem abordadas no decorrer da Tese Os estudos histoacutericos disponiacuteveis acima apresentados bem como os

resultados das pesquisas arqueoloacutegicas realizadas conforme descritas nos itens

anteriores permitem relacionar um conjunto de questotildees que consideramos

importantes para esclarecimento do processo de instalaccedilatildeo da Faacutebrica de ferro

em Araccediloiaba (Sitio Afonso Sardinha) no periacuteodo compreendido entre o final do

seacuteculo XVI ao seacuteculo XVIII que antecedeu a instalaccedilatildeo da Real Faacutebrica de Ferro

de Ipanema em 1810

Tais questotildees podem ser resumidas conforme seguem

I - Avaliaccedilatildeo dos vestiacutegios arqueoloacutegicos das atividades relacionadas agrave mineraccedilatildeo

e agrave produccedilatildeo de ferro a partir do final do seacuteculo XVI e anteriormente agrave instalaccedilatildeo

da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema em 1810

II - Investigaccedilatildeo das possiacuteveis teacutecnicas de produccedilatildeo e meacutetodos de fundiccedilatildeo de

ferro empregadas em Araccediloiaba no periacuteodo de analise desta tese

III - Caracterizaccedilatildeo de modelos de fornos de fundiccedilatildeo e processos industriais

encontrados na aacuterea do sitio arqueoloacutegico

IV ndash Avaliaccedilatildeo das possiacuteveis causas teacutecnicas e cientiacuteficas relacionadas agraves

dificuldades de produccedilatildeo e de qualidade do ferro produzido em Araccediloiaba

47

CAPITULO 2

A TECNICA DE PRODUCcedilAtildeO DE FERRO NO PERIODO ENTRE OS SEacuteCULOS

XVI AO XVIII

21 Consideraccedilotildees sobre Teacutecnica e Tecnologia

Uma das primeiras questotildees para conceituar Teacutecnica refere-se agraves anaacutelises

que permitem diferenciaacute-la do conceito moderno de Tecnologia Ruy Gama (1986

p 19) ao analisar essa questatildeo a partir de autores de liacutengua inglesa observa que

o conceito de tecnologia aparece ldquoora como simplesmente sinocircnimo de teacutecnica ou

de conjunto de teacutecnicas alarga-se as vezes para incluir o produto material das

teacutecnicas e outras vezes menos frequumlentes eacute usada como sinocircnimo de saber

associado as teacutecnicas ou como estudo das teacutecnicasrdquo

A partir de 1930 a preocupaccedilatildeo com a Histoacuteria da Teacutecnica vem se

difundido sobretudo por meio das anaacutelises iniciadas por autores franceses como

Marc Bloch Lefevre de Noeumlttes e Lucien Febvre e ingleses como Abbott Payson

Lynn White Jr e Lewis Munford que a transformaram numa ldquonova disciplinardquo

historiograacutefica 15

No Brasil a primeira discussatildeo sobre essa temaacutetica foi apresentada em

1985 com a publicaccedilatildeo do livro Histoacuteria da Teacutecnica e da Tecnologia organizado

por Ruy Gama Este trabalho eacute formado por uma coletacircnea de textos claacutessicos e

de outros produzidos por autores estrangeiros e brasileiros sobre a Histoacuteria da

Teacutecnica da Tecnologia e da Ciecircncia Entre os textos escritos por autores

brasileiros destacam-se os trabalhos de Fernando Luis Lobo Barbosa Carneiro e

de Julio R Katinsky

15 Os Textos em que estes autores discutem o conceito de Teacutecnica e Tecnologia foram publicados no livro Historia da Teacutecnica e da Tecnologia organizado por Ruy Gama (1985)

48

No texto escrito por esse uacuteltimo autor estaacute um Glossaacuterio dos Carpinteiros

de Moinho onde o autor apresenta os resultados de uma pesquisa que fez sobre

os moinhos hidrauacutelicos no Brasil cuja utilizaccedilatildeo eacute bastante frequumlente nas aacutereas

rurais dos Estados de Satildeo Paulo e Sul de Minas Aleacutem disso oferece um

glossaacuterio de termos empregados ldquobasicamente na construccedilatildeo de monjolos

prensas de mandioca engenhocas de accediluacutecar e moinhos hidrauacutelicos de gratildeos

estes uacuteltimos geralmente preparados para produzir quirera ou fubaacuterdquo (KATINSKY1985 p 216)

Aleacutem desses textos a Coletacircnea traz dois artigos do economista alematildeo

Johann Beckmann (1729-1811) considerado ldquoo pai da Tecnologiardquo por haver

firmado aquele conceito em fins do seacuteculo XVIII e instituiacutedo a disciplina de

Tecnologia no ensino da Universidade de Goumlttingen16 Em 1777 publica a obra

Instruccedilatildeo sobre Tecnologia em que firmava o seu conceito de Tecnologia como

ldquoconhecimento dos ofiacutecios faacutebricas e manufaturas especialmente daquelas que

tem contacto estrito com a agricultura a administraccedilatildeo puacuteblica e as ciecircncias

cameraliacutesticasrdquo (GAMA 1985 p6) Na introduccedilatildeo dessa mesma obra Beckmann

escrevia que

A histoacuteria das artes pode dedicar-se a enumeraccedilotildees das

invenccedilotildees ao progresso e ao curso habitual de uma arte ou de

um trabalho manual mas eacute a tecnologia que explica de maneira

completa clara e ordenada todos os trabalhos assim como seus

fundamentos e suas consequumlecircncias (BECKMANN Apud GAMA

1985 p6)

Serge Moscovici em Essai sur lrsquohistorie humaine de la Nature referindo-se

a Beckmann afirma que este autor conscientemente ldquoforja o termo tecnologia

para designar a disciplina que descreve e ordena os ofiacutecios e as induacutestrias

existentesrdquo (MOSCOVICI apud GAMA 1985 p 8)

16 Goumlttingen era uma das mais conhecidas universidades da Europa agrave qual se vinculavam muitos estadistas e funcionaacuterios administrativos da Alemanha

49

Para Beckmann e outros autores de seu tempo a Tecnologia estava

intimamente ligada agrave escola e basicamente agrave uniatildeo dos ldquosaacutebiosrdquo com os

ldquofabricantesrdquo que dominavam o conhecimento teacutecnico numa eacutepoca em que este

mesmo conhecimento comeccedilava a ser objeto de investigaccedilatildeo de academias e

universidades as quais tinham como objetivo a formulaccedilatildeo de uma linguagem

tecnoloacutegica por intermeacutedio da codificaccedilatildeo de conceitos Ressaltamos ainda que

as propostas de Beckmann e esse novo olhar paras as teacutecnicas estavam

voltadas para o atendimento de demandas sociais surgidas com a Revoluccedilatildeo

Industrial

Se a Tecnologia tem a funccedilatildeo de explicar como afirma Beckmann ela

tambeacutem teve seu tempo de formulaccedilatildeo Segundo Ruy Gama o nascimento do

conceito de Tecnologia pode ser situado historicamente no decorrer da Idade

Moderna sendo difundido a partir do seacuteculo XVII Para este autor tal conceito foi

construiacutedo

pari passu ao desenvolvimento do capitalismo e agrave substituiccedilatildeo do

modo de produccedilatildeo feudalcoorporativo e do sistema de

transmissatildeo do conhecimento apoiado na aprendizagem pelo

emprego do trabalho assalariado e pelo sistema escolarizado do

conhecimento (GAMA 1986 p30)

Dessa forma ateacute pelo menos antes do advento da ldquoRevoluccedilatildeo da Ciecircnciardquo

(1789-1848) especialmente pelas descobertas proporcionadas pela Quiacutemica 17

todos os processos de produccedilatildeo eram realizados a partir de conhecimentos

ldquopraacuteticosrdquo e que natildeo eram e natildeo poderiam ser explicados cientificamente Assim

trabalhavam os carpinteiros camponeses mineiros e fundidores de metais e

outros artesatildeos da Idade Meacutedia associando engenhosidade experiecircncia e

habilidade manual ou em outras palavras centrados no ldquomais rude empirismordquo

(USHER 1994 p 465)

17 A Quiacutemica entre todas as ciecircncias ldquofoi a mais iacutentima e imediatamente ligada agrave praacutetica industrial ndash a Revoluccedilatildeo Industrial - especialmente integrada aos processos de tingimento de tecidos e branqueamento da industria tecircxtilrdquo ( HOBSBAWM 1979 p305)

50

Para Milton Vargas a Tecnologia soacute pode ter vigecircncia depois do

estabelecimento da Ciecircncia Moderna 18

principalmente pelo fato de essa cultura ser um saber que apesar

de teoacuterico deve necessariamente ser verificado pela experiecircncia

cientiacutefica Esse aspecto experimental e portanto empiacuterico da

Ciecircncia moderna proveacutem da ideacuteia renascentista de que tudo

aquilo que fora realizado pela tradiccedilatildeo teacutecnica poderia secirc-lo

tambeacutem pela teoria e metodologia cientiacuteficas o que

evidentemente aproxima o saber teoacuterico-cientiacutefico do fazer

empiacuterico da teacutecnica (VARGAS 1994 p 16)

22 O conceito de Teacutecnica Originaacuterio da Greacutecia Claacutessica o conceito de Teacutecnica estava inserindo num

tipo de ldquosaber-fazerrdquo associado a mitos como o de Hefestos (Vulcano para os

romanos) ndash o ferreiro - senhor do fogo e da forja que segundo aquela mitologia

havia revelado o segredo desta Teacutecnica aos homens Desta perspectiva

mitoloacutegica o conceito de Teacutecnica transformou-se num outro tipo saber-fazer o da

ldquotechneacuterdquo um conhecimento empiacuterico que somente pode ser obtido atraveacutes do

aprendizado baseado na experiecircncia ou entatildeo a partir dos ensinamentos

transmitidos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo

Neste sentido a Techneacute natildeo eacute uma habilidade qualquer ldquomas uma

habilidade que segue certas regras por isso techneacute significa tambeacutem ofiacutecio

pressupotildee a existecircncia de um substrato um saber e um conhecimento na

18 Para Hobsbawm o progresso da ciecircncia natildeo pode ser entendido como um simples ldquoavanccedilo linear cada estaacutegio determinando a soluccedilatildeo de problemas anteriormente impliacutecitos nele e por sua vez colocando novos problemas Estes avanccedilos tambeacutem procedem pela descoberta de novos problemas de novas maneiras de enfocar os antigos de novas maneiras de enfrentar e solucionar velhos problemas de campos de investigaccedilatildeo inteiramente novos de novos instrumentos praacuteticos e teoacutericos de investigaccedilatildeordquo (HOBSBAWM 1979 p 302)

51

execuccedilatildeo de uma atividaderdquo (NADAL 2000 p 18) Esta forma de saber baseada

na loacutegica prolongou-se atraveacutes da Idade Meacutedia e chegou aos nossos dias com o

tiacutetulo de Teacutecnicas Natildeo satildeo teorias satildeo conhecimentos que tanto podem ser

adquiridos pela praacutetica como pelo estudo de tratados teacutecnicos

Entre os seacuteculos XVI e XVII a Ciecircncia ao romper com a tradiccedilatildeo

escolaacutestica19 avanccedila para o caminho da experimentaccedilatildeo com a valorizaccedilatildeo das

artes (teacutecnica) as quais jaacute vinham se transformando em objeto de preocupaccedilatildeo e

de estudo desde a Baixa Idade Meacutedia e o Renascimento ateacute chegar agrave constituiccedilatildeo

da Ciecircncia Moderna (DANTAS 2004)

Contraposta ao pensamento grego e medieval em que a

contemplaccedilatildeo das verdades era a meta do conhecimento sabe-se

que a partir do Renascimento haacute uma valorizaccedilatildeo do

conhecimento praacutetico bem como uma mudanccedila no estatuto do

conhecimento teacutecnico Haacute uma expectativa de intervenccedilatildeo e de

controle da natureza e correlativamente um reconhecimento da

teacutecnica isto eacute das atividades inventos e construccedilotildees dos

praacuteticos engenheiros e artesatildeos Daiacute se falar em uma nova forma

de saber e uma nova figura de douto Haacute no entanto uma seacuterie de

dificuldades para estabelecer as razotildees do surgimento dessa

dimensatildeo ativa e o papel que ocupa no nascimento da ciecircncia

moderna (OLIVEIRA1997 p )

No seacuteculo XV esse movimento de valorizaccedilatildeo do trabalho teacutecnico dos

artesatildeos ligado agrave experimentaccedilatildeo foi amplamente difundido pela divulgaccedilatildeo

daqueles conhecimentos atraveacutes de publicaccedilotildees A partir de 1630 surgiram os

Tratados Teacutecnicos Manuais20 como tambeacutem dicionaacuterios e enciclopeacutedias que se

dedicavam ao levantamento da terminologia das diversas artes das

nomenclaturas teacutecnicas e da descriccedilatildeo dos processos e dos meacutetodos das artes

19 Escolaacutestica movimento cultural e filosoacutefico medieval baseado em grande parte em comentaacuterios da obra do filoacutesofo grego Aristoacuteteles e de cunho puramente contemplativo 20 Na arquitetura por exemplo o estabelecimento desta praacutetica permitiu a difusatildeo das teorias e desenhos imaginados pelos arquitetos renascentistas findando assim a necessidade de construir e realizar obras para exemplificar as ideacuteias arquitetocircnicas

52

mecacircnicas as quais acabaram por solapar o domiacutenio das corporaccedilotildees de ofiacutecios 21 (BARGALLOacute 1955 p47)

A publicaccedilatildeo dos manuais teacutecnicos teraacute uma importacircncia decisiva

na padronizaccedilatildeo de unidades de medida e de representaccedilatildeo O

esforccedilo por se fazer compreender sem a equivocidade do discurso

do senso comum e sem o hermetismo do discurso maacutegico-

religioso reservado aos iniciados eacute uma forma decisiva de

objetivaccedilatildeo da comunicaccedilatildeo que muito embora seja fundamental

ao empreendimento da ciecircncia nasce como uma necessidade do

desenvolvimento da teacutecnica As exigecircncias da precisatildeo aparecem

na representaccedilatildeo (desenhos graacuteficos etc) e na linguagem

daquele tipo de saber - as artes mecacircnicas - em seus manuais de

modelos de construccedilatildeo nas descriccedilotildees dos aspectos e

proporccedilotildees dos corpos ou no detalhamento do fabrico e do uso de

instrumentos e artefatos Natildeo eacute difiacutecil ver que esse interesse na

divulgaccedilatildeo de conhecimentos potencializado pelo aparecimento

da imprensa tornava necessaacuteria a padronizaccedilatildeo da divulgaccedilatildeo

com uma linguagem mais objetiva e medidas mais precisas

(OLIVEIRA 1997)

Entre os Tratados Teacutecnicos publicados estaacute a obra De pictura (1435)

considerado o primeiro estudo cientiacutefico da perspectiva pelo italiano Leone

Batista Alberti arquiteto literato e escultor (1404-1472) Para Alberti os artistas

deveriam aprender com todos os outros artesatildeos E o caminho para esse

aprendizado segundo ele consistia em conseguir com os proacuteprios artesatildeos os

21 Dos seacuteculos II (dC) ao XV as Artes estavam classificadas em Artes Liberais e Artes Mecacircnicas As Liberais (assim chamadas por serem consideradas dignas do homem livre) estavam associadas agrave Gramaacutetica Retoacuterica Astronomia Loacutegica Aritmeacutetica Muacutesica Quanto agraves Artes Mecacircnicas organizadas nas aacutereas urbanas eram consideradas menos honrosas mais proacuteprias do trabalhador manualservil como Medicina Arquitetura Agricultura Pintura Escultura Olaria Carpintaria Ferraria Cantaria Ofiacutecio de pedreiros etc As corporaccedilotildees de ofiacutecios ateacute entatildeo responsaacuteveis pelo treinamento dos artesatildeos e pelos segredos dos ofiacutecios (os misteacuterios dos misteres) tinham o sistema de aprendizado baseado na transmissatildeo dos conhecimentos teacutecnicos na praacutetica das oficinas ndash o aprender fazendo ndash que encaminhava o aprendiz na sua carreira passando pela categoria de oficial e finalmente pela de mestre isso quando conviesse agrave corporaccedilatildeo ter mais mestre vale dizer mais oficinas no mercado

53

saberes natildeo divulgados ou secretos dos ofiacutecios Para isso orientava os artistas

para frequumlentar as oficinas e outros lugares de trabalho e fazerem perguntas aos

ferreiros pedreiros construtores de barcos e ateacute aos sapateiros Deveriam

tambeacutem frequumlentemente fingir ignoracircncia para descobrir em que o conhecimento

dos outros excedia aos seus (GAMA 1983 p 284-85)

Esse novo caminho da Ciecircncia o da experimentaccedilatildeo encontra no

pensamento do Filoacutesofo inglecircs Francis Bacon (1561-1626) uma de suas

expressotildees teoacutericas Considerado o fundador da ciecircncia experimental moderna

foi tambeacutem o criador do meacutetodo cientiacutefico baseado na observaccedilatildeo e

experimentaccedilatildeo (empirismo) que permitiram o avanccedilo das teacutecnicas que

transformaram a vida do homem campesino e mineiro do seacuteculo XVII (GAMA

1983 p34)

Em linhas gerais Bacon ldquorejeitou a separaccedilatildeo e a oposiccedilatildeo vigentes nas

filosofias tradicionais entre teoria e praacutetica entre loacutegica e operaccedilotildees reais entre

verdade e utilidaderdquo (GAMA 1983 p 33)

Interpretou essas oposiccedilotildees como oriundas das condiccedilotildees

histoacutericas e sociais bem determinadas que valorizavam a

contemplaccedilatildeo ndash a verdade em sua pureza ndash e que desprezavam

tudo o que fosse ligado agraves atividades praacuteticas e materiais Por

tudo isso preocupou-se em realccedilar tanto quanto fosse necessaacuterio

a importacircncia dos fatores materiais no desenvolvimento da

filosofia e da cultura E a partir daiacute sustenta a identidade entre

verdade e utilidade teoria e atividade operativa conhecer e fazer

e afirma que qualquer separaccedilatildeo e contraposiccedilatildeo entre esses

termos cria obstaacuteculos intransponiacuteveis de resultados efetivos e

eficientes (GAMA1983 p33-34)

54

23 A valorizaccedilatildeo do conhecimento teacutecnico e a ciecircncia experimental moderna Com o nascimento da Ciecircncia Experimental a teacutecnica artesanal e os

procedimentos teacutecnicos ligados agraves Artes Mecacircnicas passaram a ser os meios que

permitiriam o progresso da ciecircncia e o avanccedilo do saber

Joan Luis Vives (1492-1540) filoacutesofo e preceptor da corte inglesa assim

como o italiano Leone Alberti defendia que o homem culto natildeo devia

envergonhar-se de entrar nas oficinas e perguntar aos artesatildeos pelas teacutecnicas

que empregavam em suas artes Vives em sua obra De Tradendis Disciplinis

convidava os estudiosos europeus a prestar grande atenccedilatildeo aos problemas

teacutecnicos relativos agrave construccedilatildeo das maacutequinas agrave agricultura agrave tecelagem agrave

navegaccedilatildeo Advertia ainda que devessem deitar os olhos sobre o trabalho dos

artesatildeos para tentar saber onde e como essas artes foram inventadas buscadas

desenvolvidas conservadas e como aplicaacute-las Dessa forma segundo Vives

(1531 apud ROSSI 1989 p 24) o homem venceria seu tradicional desdeacutem por

aquilo que considerava como conhecimento vulgar o dos artesatildeos22

Nota-se tambeacutem que esse movimento o de valorizaccedilatildeo do saber teacutecnico

nasce no acircmbito das Academias e Associaccedilotildees vinculadas a esta nova

perspectiva de Ciecircncia e natildeo nas Universidades que permaneceram ateacute finais do

seacuteculo XVIII com poucas alteraccedilotildees metodoloacutegicas Entre os novos centros de

conhecimento estavam a Academia dei Lincei en Roma (1603) a Accademia del

Cimento en Florenccedila (1657) a Royal Society de Londres (1660) a Acadeacutemie des

Sciences de Paris (1666) aleacutem de Escolas Artesanais entatildeo criadas que

conjugavam na Ciecircncia Empiacuterica a alianccedila entre o saber (ciecircncia) e o fazer

22 Dentro desta mesma perspectiva devem ser acrescentar as obras do jaacute citado Francis Bacon Harvey Galileu e Boyle que valorizavam a experimentaccedilatildeo e a observaccedilatildeo da natureza reformulando as concepccedilotildees cientiacuteficas e reconhecendo a importacircncia das teacutecnicas e da praacutetica para a Ciecircncia

55

(teacutecnica) Na Espanha por exemplo cria-se uma escola de mineiros exercitados

em teacutecnicas sobretudo nas teacutecnicas metaluacutergicas 23

Assim podemos afirmar que naquele momento entrar no mundo do

conhecimento teacutecnico representava entrar no mundo das corporaccedilotildees de ofiacutecios

desvendando os segredos por meio da apropriaccedilatildeo do saber teacutecnico e da

linguagem utilizada pelos artesatildeos para a realizaccedilatildeo de seus ofiacutecios Para Ruy

Gama A que parece o domiacutenio dos segredos da linguagem dos artesatildeos

foi a porta pela qual se entrou no domiacutenio dos proacuteprios segredos

dos ofiacutecios Dentre os misteacuterios dos misteres a linguagem foi a

primeira a ser desvendada decifrada e jogada na rua pelas portas

e janelas arrombadas das oficinas ndash numa espeacutecie de accedilatildeo de

despejo ndash para ser vista por todo mundo (GAMA 1986 p 48)

Nas escolas artesanais surge a Tecnologia como disciplina curricular A

institucionalizaccedilatildeo deste saber permitiu que aqueles conhecimentos teacutecnicos

fossem reunidos estruturados e sistematizados e dessa forma transmitidos a um

nuacutemero cada vez maior de pessoas (GAMA 1994 p 54)

2 4 A Tecnologia como sinocircnimo de Teacutecnica

Apesar de toda a diferenciaccedilatildeo jaacute feita entre os conceitos de Teacutecnica e

Tecnologia estes termos satildeo frequumlentemente utilizados como sinocircnimos Autores

da liacutengua ingleses natildeo fazem esta distinccedilatildeo pois consideram entre outros

aspectos que a Histoacuteria da Teacutecnica e a Histoacuteria da Tecnologia apresentam seus

campos embaralhados e sua periodizaccedilatildeo extremamente difiacutecil de definir Lynn

White Jr historiador econocircmico e medievalista americano por exemplo afirma

que a Tecnologia natildeo conhece fronteiras cronoloacutegicas e geograacuteficas pois entende

Tecnologia como o ldquoconjunto de todas as Teacutecnicasrdquo e ldquoas maneiras pelas quais as

56

pessoas fazem coisasrdquo (GAMA 1985 p 14) Mas segundo Ruy Gama esta

definiccedilatildeo natildeo permite nem o estabelecimento de uma fronteira histoacuterico-

cronoloacutegica e nem geograacutefica para situar o ldquonascimentordquo do conceito jaacute que Lynn

o emprega como sinocircnimo de Histoacuteria do Trabalho e dessa forma permite

empregar o termo Tecnologia para todas as realizaccedilotildees e obras materiais dos

povos (GAMA 1985 p 14-15)

Essa concepccedilatildeo de Tecnologia como sinocircnimo de Teacutecnica desenvolve-se

num contexto em que entre outros aspectos a Arqueologia e a Histoacuteria

passavam por reformulaccedilotildees conceituais A Arqueologia passava a revelar nos

anos 40 do seacuteculo XX novos documentos materiais relacionados a civilizaccedilotildees da

Ameacuterica preacute-colombiana que supunha-se natildeo conheciam a escrita (pesquisas

atuais comeccedilam a demonstrar que a conheciam) e tampouco a roda elementos

considerados naquele periacuteodo indicadores para qualificar o niacutevel de progresso

teacutecnico de uma determinada sociedade que poderia ser considerada como

ldquoavanccediladardquo ou ldquoatrasadardquo Essas descobertas levaram a uma reavaliaccedilatildeo nas

ideacuteias de progresso e civilizaccedilatildeo e na forma de olhar outras sociedades deixando

de centrar as anaacutelises somente no ldquoeixo tradicional etnocecircntrico europeurdquo (GAMA

1985 p 14-15)

Quanto agrave Histoacuteria o nascimento de uma nova escola historiograacutefica a

Histoacuteria Nova surgida na Franccedila na primeira metade do seacuteculo XX daacute um novo

enfoque teoacuterico-metodoloacutegico agrave pesquisa histoacuterica voltada para a anaacutelise do

cotidiano Esta nova tendecircncia amplia a noccedilatildeo de documento aproximando a

Histoacuteria das demais Ciecircncias Humanas entre elas a Arqueologia possibilitando

nos anos 60 do seacuteculo XX uma ldquoverdadeira Revoluccedilatildeo Documentalrdquo que permitiu

nas anaacutelises historiograacuteficas a incorporaccedilatildeo dos documentos natildeo-escritos -

cultura material ndash viabilizando o estudo das sociedades que natildeo possuiacuteam a

escrita para registrar sua Histoacuteria

Para a divulgaccedilatildeo desse novo conceito de documento Lucien Febvre

idealizou no periacuteodo entre as duas primeiras guerras uma revista de Histoacuteria que

57

seria fundada mais tarde em parceria com Marc Bloch com o nome de Annales

drsquoHistorie Economique et Sociale os ldquoAnnalesrdquo Para Febvre ao analisar o

trabalho do historiador a partir da noccedilatildeo ampliada de documento afirma que

A Historia faz-se com documentos escritos sem duacutevida Quando

estes existem Mas pode fazer-se deve fazer-se sem documentos

escritos quando natildeo existem Com tudo o que a habilidade do

historiador lhe permite utilizar para fabricar o seu mel na falta das

flores habituais Logo com palavras signos paisagens e telhas

Com as formas do campo e ervas daninhas Com os eclipses da

lua e a atrelagem dos cavalos de tiro Com os exames de pedras

feitos pelos geoacutelogos e com a anaacutelise de metais feitas pelos

quiacutemicos Numa palavra com tudo o que pertencente ao homem

depende do homem serve ao homem exprime o homem

demonstra a presenccedila a actividade os gostos e as maneiras de

ser do homem

Toda uma parte e sem duacutevida a mais apaixonante do nosso

trabalho de historiadores natildeo consistiraacute num esforccedilo constante

para fazer falar as coisas mudas para fazecirc-las dizer o que elas

por si proacuteprias natildeo dizem sobre os homens sobre as sociedades

que as produziram e para constituir finalmente entre elas aquela

vasta rede de solidariedade e de entre-ajuda que supre a

ausecircncia do documento escritordquo (FEBVRE 1953 p 428 apud

GOFF 1984 p 98)

Para conceituar Teacutecnica e Tecnologia recorremos tambeacutem ao Dicionaacuterio

das Ciecircncias Sociais de Alain Birou segundo o qual Teacutecnica significa

O conjunto de regras praacuteticas para fazer coisas determinadas

envolvendo a habilidade do executor e transmitidas verbalmente

por exemplo no uso das matildeos dos instrumentos e ferramentas e

das maacutequinas Alarga-se frequumlentemente o conceito para nele

incluir o conjunto dos processos de uma ciecircncia arte ou ofiacutecio

para obtenccedilatildeo de um resultado determinado com o melhor

rendimento possiacutevel (GAMA 1986 p 30)

58

Para este mesmo dicionaacuterio Tecnologia eacute

O estudo e conhecimento cientiacutefico das operaccedilotildees teacutecnicas ou da

teacutecnica Compreende o estudo sistemaacutetico dos instrumentos das

ferramentas e das maacutequinas empregadas nos diversos ramos da

teacutecnica dos gestos de trabalho e dos custos dos materiais e da

energia empregada A tecnologia implica na aplicaccedilatildeo dos meacutetodos

das ciecircncias fiacutesicas e naturais e como assinala Alan Birou tambeacutem

na comunicaccedilatildeo desses conhecimentos pelo ensino teacutecnico

(GAMA 1986 p 30)

Diante dessas consideraccedilotildees sobre Teacutecnica e Tecnologia salientamos

que neste trabalho pretendemos a partir da Arqueologia Histoacuterica contribuir

para a Histoacuteria da Teacutecnica no periacuteodo colonial brasileiro especialmente no que

diz respeito agraves teacutecnicas relacionadas agrave mineraccedilatildeo e agrave metalurgia

No periacuteodo analisado entre os seacuteculos XVI e XVIII todos os trabalhos

relacionados agravequelas atividades estavam baseados no puro empirismo no saber-

fazer e nas experiecircncias praacuteticas daqueles trabalhadores que sabiam realizar as

operaccedilotildees de fundiccedilatildeo de forma praacutetica mas natildeo tinham instrumentos para

explicaacute-los Somente com o advento da Ciecircncia Moderna especialmente com a

Revoluccedilatildeo Cientiacutefica eacute que aqueles mineiros e fundidores puderam compreender

as operaccedilotildees produtivas que realizavam

Assim assumimos a periodizaccedilatildeo proposta por Ruy Gama ao considerar

Teacutecnica e Tecnologia como categorias distintas e portanto que a Histoacuteria da

Teacutecnica natildeo coincide com a Histoacuteria da Tecnologia

59

25 A teacutecnica de produccedilatildeo do ferro no periacuteodo entre os seacuteculo XVI ao XVIII

Los antiguos herrreros descubrieron que si martillaban

repetidamente y recalentaban una y otra vez en fuego de carboacuten

un trozo de mineral de hierro al rojo obteniacutean un metal

extremamente fuerte y duro ndash hierro forjado (CARDWELL 1994

p 33)

Antes do conhecimento dos metais eram aproveitadas ldquotreze diferentes

espeacutecies minerais todas do grupo natildeo-metaacutelicos denominadas calcedocircnia (chert

e siacutelex) quartzo cristal de rocha jaspe serpentina pirita calcita ametista

fluorita esteatita acircmbar e obsidianardquo (GUIMARAtildeES1981p22) A estes minerais

natildeo metaacutelicos pode-se acrescentar a utilizaccedilatildeo de ldquopigmentos minerais usados

para ornamentos e pintura constituiacutedos de argila e oacutexidos metaacutelicos coloridos

embora alguns objetos feitos especialmente de cobre tenham sido encontrados e

datados de aproximadamente 9000 aC (GUIMARAtildeES 1981 p 22)

Atribui-se o iniacutecio do aproveitamento dos mineacuterios para a extraccedilatildeo de

metais entre os anos de 6000 a 5000 aC Admite-se que o cobre teria sido o

primeiro metal produzido pelo homem depois o bronze (uma liga metaacutelica de

estanho e cobre) Na mesma eacutepoca tambeacutem se passou a utilizar o chumbo e por

uacuteltimo o ferro Na chamada ldquoIdade do Ferrordquo houve tambeacutem a difusatildeo da

fabricaccedilatildeo do vidro e do mercuacuterio

Pesquisas arqueoloacutegicas em aacutereas mineiras da Europa tem possibilitado

revisotildees do conhecimento relacionado a natureza das mateacuterias-primas

empregadas na extraccedilatildeo do ferro Tradicionalmente sustentava-se a ideacuteia de que

a mateacuteria-prima com que se confeccionavam os primeiros objetos de ferro teria

origem em meteoritos Esta teoria se aplicava particularmente aos objetos

fabricados com ferro rico em niacutequel Atualmente pesquisas na aacuterea da

paleometalurgia demonstram que a origem de associaccedilotildees do ferro com outros

60

metais ocorre em razatildeo da composiccedilatildeo quiacutemica natural dos minerais utilizados

para a produccedilatildeo destes materiais (FAUS 2000 p 27)

O ferro como alguns outros metais natildeo eacute encontrado na natureza em

forma pura sendo que nestas condiccedilotildees encontra-se sempre combinado com

outros elementos formando oacutexidos carbonatos silicatos e sulfatos Para a

produccedilatildeo do ferro satildeo utilizados mineacuterios sobretudo os oacutexidos tais como a

hematita (Fe2O3) e a magnetita (Fe3O4) 24 Outros mineacuterios de menor importacircncia

para a produccedilatildeo tambeacutem contecircm ferro tais como a Siderita (FeCO3) Limonita

(Fe3O4) Pirita (FeS2) e a (Cromita FeOCr2O3) ( LABOURIAU 1928 p 95-110)

Os termos ldquomineralrdquo ldquomineacuteriordquo e ldquometalrdquo precisam ser esclarecidos para que

se possa compreender a forma da produccedilatildeo do ferro

Mineral eacute uma substacircncia formada em resultado da interaccedilatildeo de

processos geoloacutegicos em ambientes geoloacutegicos naturais Os minerais variam na

sua composiccedilatildeo desde elementos quiacutemicos em estado puro ou quase puro e

sais simples a silicatos complexos com milhares de formas conhecidas

(LABOURIAU 1928 p 95-96)

Mineacuterio eacute toda substacircncia natural da qual se possa fazer a extraccedilatildeo de

algum metal (como a hematita e a magnetita) Assim um mineacuterio eacute sempre uma

substacircncia mineral Entretanto nem todo mineral eacute mineacuterio pois alguns minerais

natildeo permitem a extraccedilatildeo de metais como exemplo pode-se citar a pirita (sulfeto

de ferro) um mineral que eacute aproveitado para a fabricaccedilatildeo do aacutecido sulfuacuterico mas

que natildeo permite a extraccedilatildeo do metal nele contido (o ferro) Por conseguinte a

perita eacute um mineral uacutetil mas natildeo eacute um mineacuterio (LABOURIAU 1928 p 95-96)

Metal cada um de um grande grupo de substancias simples obtidas a

partir de mineacuterios

24 A magnetita eacute assim denominada devido ao seu magnetismo natural eacute um mineral de cor preta acinzentada ou avermelhada com brilho metaacutelico de formula quiacutemica (Fe3O4)

61

Para a extraccedilatildeo do ferro dos seus mineacuterios (geralmente oacutexidos feacuterricos

como a hematita) foram desenvolvidas desde a Antiguumlidade teacutecnicas de fundiccedilatildeo

destes materiais por reduccedilatildeo que utilizavam carvatildeo de madeira como redutor

Entretanto variava de uma regiatildeo para outra o tipo do forno e forma de colocaccedilatildeo

do mineacuterio e do carvatildeo no seu interior

Elena Faus referindo ao caso da tradiccedilatildeo basca defende que ateacute o seacuteculo

XIX os avanccedilos dos meacutetodos de fundiccedilatildeo do ferro tecircm decorrido independentes

da investigaccedilatildeo cientiacutefica Para esta autora esses avanccedilos teacutecnicos foram

realizados por ldquouma multitud anoacutenima de individuos de talento formados a la

sombra del teller protagoniza la Historia de la Tecnologia Son analfabetos y no

han conocido ninguacuten tipo de ensentildeanzardquo (FAUS 2000 p 51) O aprimoramento

da teacutecnica de fundiccedilatildeo podia entatildeo ser considerado como uma sucessatildeo de

ldquoinventosrdquo de artesatildeos que na determinaccedilatildeo em resolver as dificuldades que

surgiam inventaram teacutecnicas de fundiccedilatildeo a partir de experiecircncias praacuteticas pelo

uacutenico meacutetodo que conheciam o da praacutexis do ensaio e erro (FAUS 2000 p51)

Toda a produccedilatildeo do ferro estava fundamentada em conhecimentos

teacutecnicos baseados na praacutetica e que eram conhecimentos secretos restritos aos

membros da respectiva corporaccedilatildeo de ofiacutecio Ateacute a ldquorevoluccedilatildeo da Quiacutemicardquo no

seacuteculo XVIII natildeo havia nenhum conhecimento que pudesse explicar de forma

cientiacutefica o processo em que ocorria a reduccedilatildeo do mineacuterio em metal Soacute a partir

daiacute foi possiacutevel por exemplo explicar a atuaccedilatildeo de um elemento o Carbono

obtido pela queima do carvatildeo vegetal no processo produtivo do ferro Na Franccedila

em 1722 o cientista Reneacute Reacuteaumur concluiu que a diferenccedila entre as distintas

qualidades do ferro e do accedilo resultava da incorporaccedilatildeo de uma substacircncia

material Em 1786 na Sueacutecia os matemaacuteticos Vandermonde e Berthollet e o

quiacutemico Monge confirmaram esta hipoacutetese e identificaram o elemento o

Carbono o mesmo procedente da queima do carvatildeo de madeira utilizado desde

a antiguidade na fabricaccedilatildeo (FAUS 2000 p 21-22)

62

Com o aprimoramento da teacutecnica de fabricaccedilatildeo do ferro descobriu-se

tambeacutem a forma de se produzir accedilo sendo que sua difusatildeo promoveu a

emergecircncia de instrumentos e ferramentas completamente novas dando prestiacutegio

a todos aqueles que dominavam a teacutecnica dos metais Dessa forma o ferro e

depois o accedilo foi empregado na fabricaccedilatildeo de uma diversificada variedade de

instrumentos que anteriormente eram confeccionados com madeira ou pedra

transformando assim a metalurgia em uma teacutecnica extremamente estrateacutegica

Para Donald Cardwel

la metalurgiacutea hizo posibles instrumentos y herramientas completamente nuevos ndash y anteriormente inimaginables - La

importancia fundamental de la metalurgiacutea y el prestigio de los

trabajadores expertos en el metal quedan confirmados como

sentildealaba Samuel Smiles por la frecuencia del apellido Smith

(lsquoHerrerorsquo) Ademaacutes la palabra Smith es de origen noacuterdico o

germacircnico lo cual da una clave para entender la localizacioacuten de

los primitivos centros del trabajo del metal en el occidente

europeo (CARDWEL 1994 p 34 grifo nosso)

A crescente demanda de objetos e utensiacutelios feitos de ferro proporcionou o

aprimoramento das teacutecnicas de fundiccedilatildeo como tambeacutem da especializaccedilatildeo

daquele trabalho

Na Espanha por exemplo os espaccedilos destinados a produccedilatildeo de ferro

foram se especializando Um desses espaccedilos era denominado de ferrarias

maiores que se especializaram na fundiccedilatildeo dos mineacuterios para a obtenccedilatildeo de

metal e outras denominadas de ferrarias menores dedicavam-se aacute manufatura

desse metal ou seja transformando-o em barras ou laminas para fabricar entre

outros produtos instrumentos e acessoacuterios agriacutecolas (ferraduras) armas

(espadas) e materiais construtivos (cravos) etc ( FERNANDEZ p 5)

63

Desde o iniacutecio da metalurgia tem-se buscado tambeacutem a maneira pela qual

os fornos pudessem alcanccedilar temperaturas cada vez elevadas pois para que se

possa retirar o ferro do mineacuterio de forma que fosse possiacutevel o aproveitamento de

todo metal nele existente a temperatura do forno deve se elevar aleacutem de 1535ordmC

ponto de fusatildeo daquele metal

Contudo os primeiros fornos empregados para a reduccedilatildeo com a utilizaccedilatildeo

de carvatildeo vegetal alcanccedilavam apenas temperaturas que variavam entre 1200ordmC

e 1300ordmC insuficientes para a fusatildeo completa e portanto o ferro obtido com

aquela temperatura natildeo era retirado do forno em estado liacutequido e sim em estado

pastoso A essa temperatura (12001300ordm C) o mineacuterio de ferro transformava-se

em uma ldquomassa esponjosardquo repleta de impurezas (escoacuterias que ainda

apresentavam uma significativa quantidade de ferro na sua composiccedilatildeo) Essa

massa era entatildeo colocada sobre uma bigorna e por meio de martelamento

manual ou mecacircnico retiravam-se as escoacuterias que ainda permaneciam grudadas

naquela massa compactando-a e dando forma ao metal

Labouriau ao explicar a accedilatildeo do carvatildeo vegetal durante o processo de

reduccedilatildeo explica que o carvatildeo vegetal em contato com o oxigecircnio da atmosfera

queima produzindo calor formando o gaacutes carbocircnico (CO e CO2) Esse CO2 entatildeo

ao reagir com uma parte do carvatildeo passa para CO e que esse CO juntamente

com uma parte do carvatildeo retira o oxigecircnio do mineacuterio e fica o ferro ligado a um

pouco de Carbonordquo (LABOURIAU 1928 p 146)

Essa teacutecnica de produccedilatildeo de ferro ficou conhecida como ldquoprocesso Diretordquo

ou ldquomeacutetodo de reduccedilatildeo diretardquo e o ferro produzido era o ldquoferro docerdquo Ateacute o seacuteculo

XV com o aparecimento do alto-forno esta era a uacutenica teacutecnica conhecida e

empregada na produccedilatildeo daquele metal No alto-forno o ferro atingia

temperaturas mais elevadas possibilitando uma maior absorccedilatildeo de carbono do

carvatildeo vegetal transformando-se em gusa (ferro-gusa ou ferro fundido) que saiacutea

64

do forno no estado liquido incandescente25 No seacuteculo XVI o alto forno foi

aperfeiccediloado na Alemanha e na Aacuteustria com o aparecimento do Stueckofen (alto-

forno) construiacutedos de alvenaria

Com a utilizaccedilatildeo do alto-forno e com a obtenccedilatildeo do ferro em sua forma

liacutequida foram possiacuteveis as produccedilotildees de armas de fogo balas de canhatildeo sinos

de igreja e mais tarde a fabricaccedilatildeo de adornos para as residecircncias tais como

grades enfim produtos que puderam ser produzidos a partir do ferro liacutequido

deitado em moldes

26 Fornos de fundiccedilatildeo de ferro Segundo Jordi Maluquer Motes no iniacutecio da metalurgia utilizavam-se

pequenos fornos (fornos baixos) para extraccedilatildeo do metal (ferro) os quais natildeo

eram mais que uma cavidade ciliacutendica escavada no terreno ou em uma rocha

Contudo a forma e o tamanho dos fornos foram mudando ao longo do tempo e

de simples cavidades escavadas no chatildeo os fornos comeccedilaram a ganhar ao

redor daquele ciacuterculo paredes de argila refrataacuteria o que permitia fazer fornadas

maiores aumentando assim a produccedilatildeo Contudo todos eles ateacute o advento do

alto-forno produziam por meio da reduccedilatildeo direta o ferro em estado pastoso O

produto (ferro) que ficava no interior do forno apoacutes a fundiccedilatildeo do mineacuterio era

chamado de massa de ferro patildeo de ferro ou lupa (MALUQUER DE MOTES

1983 p21)

25 No Brasil o alto-forno foi construiacutedo apenas no iniacutecio do seacuteculo XIX na Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema quando este estabelecimento estava sob a direccedilatildeo de Hedberg

65

Fig 15 CORTE ESQUEMAacuteTICO DE UM FORNO DE FUNDICcedilAtildeO ndash Forno

baixo26 Natildeo haacute descriccedilotildees detalhadas acerca desses fornos primitivos mas

vestiacutegios encontrados em vaacuterias partes da Europa como em Illasheim

(Alemanha) indicam que estes fornos apresentavam uma planta circular No

centro da Europa outros fornos construiacutedos pelos Celtas tambeacutem apresentavam

reduzidas dimensotildees Os fornos Celtas tinham em meacutedia 35 a 50 cm de

diacircmetro com uma profundidade de 45 a 50 cm Sobre uma base levantavam o

forno propriamente dito construiacutedo por uma parede ciliacutendrica de argila medindo

entre 60 a 100cm Os Celtas chegaram a desenvolver teacutecnicas eficientes de

aceramento (conversatildeo do ferro em accedilo) como por exemplo na Suiacuteccedila onde a

produccedilatildeo de espadas ganhou fama por sua resistecircncia (FAUS 2000 p 32-34)

Fornos ruacutesticos tambeacutem foram encontrados em Bengala Aacutefrica

denominados de fornos africanos ou fornos iacutendios Eram fornos ciliacutendricos e

confeccionados em areia ferruginosa mal amassada sustentada por uma

armadura de bambu Tinham dimensotildees de 090m de altura com um diacircmetro de

030m A base do forno era furada em vaacuterios lugares e colocava-se um fole em

cada uma das aberturas exceto na grade da frente (orifiacutecio pelo qual eram

26 Disponiacutevel em La Farga Rossel lthttpwwwfargarosseladcaslafarga21434htmgt

66

retiradas as escoacuterias) o que dava em geral um total de sete foles por forno

(FAUS 2000 p 50)

Fig 16 MAQUETE FORNO CELTA ndash forno baixo27

Durante o periacuteodo de dominaccedilatildeo romana Roma passou a controlar toda a

exploraccedilatildeo do ouro prata e ferro produzidos em seu impeacuterio Para a produccedilatildeo

desse uacuteltimo metal empregavam teacutecnicas de fundiccedilatildeo utilizando-se dos

chamados fornos romanos As ferrarias romanas eram constituiacutedas de ldquoum

montatildeo de fornosrdquo construiacutedos com barro e palha (RODRIGUES 1964 p11)

27 Disponiacutevel em Exposition 2000 ans de meacutetallurgie en Nivernais des Gaulois agrave Ariane ltjprostclubfravgexpo2003htmlgt

67

Fig 17 FORNO ROMANO RODRIGUES (1964 p 12)

Neste mesmo periacuteodo homens bascos dos redutos resistentes agrave

dominaccedilatildeo romana continuaram a produzir o ferro por meacutetodos de fundiccedilatildeo que

haviam aprendido com seus ancestrais utilizando os chamados ldquofornos de ventordquo

os quais podem ser relacionados agrave primeira fase da elaboraccedilatildeo do ferro As

instalaccedilotildees que utilizavam esses fornos passaram a ser conhecida como ferrarias

secas de montanha de vento Habitualmente os fornos dessas ferrarias eram

construiacutedos em aacutereas montanhosas em pontos elevados a fim de aproveitar a

forccedila dos ventos para ativar a combustatildeo do carvatildeo vegetal (FAUS 2000 p 47)

68

Fig 18 Fornos de vento ou de lupa28

Fig 19 FORNOS DE LUPA OU DE VENTO corte esquemaacutetico

28 Disponiacutevel em La Farga Rossel lthttpwwwfargarosseladcaslafarga21434htmgt

69

Para Jordi Maluquer de Motes a maior dificuldade de operaccedilatildeo da

combustatildeo era o controle das temperaturas do forno sendo que o grande

segredo para a utilizaccedilatildeo desses fornos de vento era a adequada posiccedilatildeo em que

este era instalado e tambeacutem a correta utilizaccedilatildeo dos meios artificiais empregados

na ativaccedilatildeo da combustatildeo do carvatildeo vegetal tal como o emprego de foles

manuais feitos de peles de animais Esse procedimento requeria um esforccedilo

bastante grande de trabalho humano natildeo apenas no acionamento do fole como

tambeacutem para as operaccedilotildees de martelamento da massa de ferro que se formava

no interior do forno (MALUQUER DE MOTES 1983 p 21)

Por utilizarem esta teacutecnica de reduccedilatildeo as ferrarias de vento geralmente

ficavam instaladas em regiotildees distantes dos povoados o que tambeacutem levava um

significativo nuacutemero de fundidores e mineiros a passar parte de suas vidas

distantes daqueles povoados Esse distanciamento suscitou ateacute mesmo o

surgimento de mitos e faacutebulas conforme aponta Elena Faus (2000) que

enriqueceram a cultura popular europeacuteia em especial a cultura basca

Las maravailhas del arte de aquellos seres ton solo por ellos

conocidos les hizo mecedores de leyendas Muchas de ellas les

han sobrevivido y han pasado a integrar el bagaje mitoloacutegico de la

cultura vasca

El velo de magia que enturbiaba la figura de los ferrones se

time en ocasiones de un cierto cariz de condena religiosa Se les

identifica con los lsquogentilesrsquo reacios a la evangelizacioacuten o con el

proprio demonio (lsquosentildeor de los bosquesrsquo o lsquobasejaunrsquo) en persona

(FAUS 2000 p 47)

Outros tipos de fornos de vento ou de montanha foram encontrados na

Ameacuterica Espanhola Em Potosi na atual Boliacutevia os indiacutegenas utilizavam um tipo

de forno para a fabricaccedilatildeo da prata denominado de ldquoforno de guairardquo Estes

fornos mesmo apoacutes a conquista espanhola em Potosiacute foram aproveitados para a

produccedilatildeo daquele metal (BARGALLOacute 1955 p 91)

70

Fig 20 FORNO DE GUAIRA ndash utilizado em Potosi Boliacutevia29

Aleacutem desses fornos de montanha que utilizavam a corrente de ar da

proacutepria atmosfera para acionar a combustatildeo do carvatildeo havia tambeacutem outros

tipos de fornos de fundiccedilatildeo acionados com o emprego de foles manuais Esses

fornos ficaram conhecidos por vaacuterias denominaccedilotildees e podiam ser construiacutedos de

formas e tamanhos diferentes Contudo todos eles apresentavam as mesmas

caracteriacutesticas teacutecnicas eram fornos baixos acionados por foles manuais e que

produziam o ferro utilizando o meacutetodo direto de fundiccedilatildeo Entre esses fornos

destacam os fornos de cuba de lupa de manga e castelhanos (BARGALLOacute

1955 p 91)

29Proyecto Arqueoloacutegico Porco-Potosi Disponiacutevel httplamarcolostateedu~mvanburespanish20participantshtm

71

Fig 21 Forno de Fundiccedilatildeo xilogravura de George Agriacutecola seacutec XVI30

Fig 22 Forno de Fundiccedilatildeo xilogravura de George Agriacutecola seacutec XVI31

30 Disponiacutevel em lttechnologyinfominecomdrmbook11htmgt Acesso em 17nov06

72

Tratados Teacutecnicos publicados no seacuteculo XVI como o De re metallica de

George Agriacutecola oferecerem descriccedilotildees e desenhos atraveacutes dos quais eacute possiacutevel

conhecer algumas formas daqueles fornos A partir de algumas gravuras ali

publicadas eacute possiacutevel identificar que os mesmos habitualmente eram construiacutedos

sobre uma base quadrada e eram utilizados na produccedilatildeo muitos metais como o

cobre o ouro prata e tambeacutem o ferro Esses fornos registrados por Agriacutecola

eram especialmente destinados para a fundiccedilatildeo de minerais em pedra Na

Ameacuterica Espanhola receberam o nome de ldquofornos castelhanosrdquo

Um outro autor a abordar esse tema foi Aacutelvaro Alonso Barba No seu

tratado Arte de los Metales afirmava que os fornos castelhanos eram utilizados

tambeacutem em outras partes do mundo A descriccedilatildeo que faz Barba do uso desses

fornos no Peru eacute por si soacute bastante didaacutetica para compreender o seu

funcionamento

Llaman en este reyno hornos castellanos a los que en las otras

trecircs partes del mundo han sido usados y comunes para la

fabricacioacuten de toda suerte de metales De ellos solos trata el

Agriacutecola para este efecto y es una la faacutebrica de todos y no

difieren en mas que en se mayores o menores y tener la boca

por onde el metal fundido sale oacute abierta siempre oacute cerrada a

ratos como se diraacute adelante Levaacutentense estos hornos a

perpendiculo en forma de um pilar quadrado algo maacutes largo que

anchos por lo hueco Tienen de alto algunos una vara otros casi

dos y otros menos seguacuten la grandeza de los fuelles con que

huviere de fundirse y la facilidad oacute dureza de los metales

requiere Por la parte de atraacutes en una ventanilla que para esto se

dexa en la pared algo levantada del suelo se afixa el alchrebiz en

que han de estar los cantildeones de fuelle puesto con advertencia

31 Disponiacutevel em httpwwwbizkaianetkulturakirol_gazteriaFTPGazteriapaginadedesplegablePrimitivas_instalacionespdfgt Acesso em 17nov06

73

de que no assome oacute passe aacute lo hueco del horno porque las

escorias que sobre eacutel cayeren helaacutendose con el ayre del sopro

no lo paten oacute impidan El suelo del horno se hace de dos partes

de carbon molido y una de tierra buena bien apretado con pisoacuten

Assientase pendiente azia la parte delantera donde tendraacute un

agujero por onde corra el metal fundido y salgan las escorias aacute

una hordilla que junto aacute el estaraacute bien caliente con carbones

encendidos con a llama del horno y aire del fuelle que sale por el

dicho agujero

Otros hacen estos hornos redondos mas anchos de arriba

que de abajo y son menores para lo que se pretende con que se

tenga advertecircncia que siempre este a perpendiculo la parede se

pone el fuelle porque el metal fundido o las escorias no caygan

sobre la boca del alchrebiz y la tanpenrdquo (BARBA 1640 Apud

BARGALLOacute 1955 p 93)

Entre os seacuteculos XII e XVI a teacutecnica de fundiccedilatildeo do ferro experimentou um

notaacutevel impulso em razatildeo da demanda por derivados de ferro incrementada tanto

pelas guerras que necessitavam de ferragens para as montarias apetrechos

defensivos para os soldados e armas mortiacuteferas como por instrumentos para a

agricultura Tambeacutem para a construccedilatildeo das grandes catedrais era necessaacuterio

ferro para as armaccedilotildees metaacutelicas cravos ferramentas entre outros (FAUS 2000

p52)

Para atender a estas demandas era necessaacuterio que se produzisse a maior

quantidade possiacutevel de ferro e os fornos baixos que eram anteriormente

utilizados natildeo atendiam aqueles objetivos Para tanto natildeo apenas os fornos

foram tomando outras formas como tambeacutem houve uma mecanizaccedilatildeo por meio

da utilizaccedilatildeo da energia hidraacuteulica (rodas drsquo aacutegua verticais) e da trompa hidraacuteulica

no processo produtivo tornando obsoletas as ferrarias que utilizavam a forccedila

humana e animal para a produccedilatildeo

A importacircncia da mecanizaccedilatildeo na produccedilatildeo do ferro com o uso da roda

hidraacuteulica e da trompa foi tanta que para alguns autores pode-se consideraacute-la

74

como uma autecircntica revoluccedilatildeo tecnoloacutegica (MALUQUER DE MOTES 1984 p 21-

24)

A aplicaccedilatildeo desse mecanismo (roda drsquoaacutegua) ao processo produtivo fez

com que as ferrarias que anteriormente ficavam concentradas no alto de

montanhas fossem trasladadas para as margens de rios buscando a energia

hidraacuteulica capaz de acionar primeiramente dos foles possibilitando a construccedilatildeo

de fornos de maiores dimensotildees e dessa maneira a produccedilatildeo do ferro em maior

escala

Depois dos foles a roda drsquoaacutegua foi utilizada para a mecanizaccedilatildeo do

acionamento dos malhos (grandes martelos responsaacuteveis por liberarem as

escoacuterias das massas de ferro dando-lhes formas que pudessem ser

comercializaacuteveis como o ferro em barra) A funccedilatildeo da trompa era a mesma dos

foles isto eacute insulflar ar ao interior do forno para que a combustatildeo alcanccedilasse

uma temperatura elevada A trompa era um engenhoso sistema de insuflar ar e

tambeacutem o elemento mais caracteriacutestico do procedimento conhecido como da

ldquofarga catalatilderdquo ou forno catalatildeo

O primeiro emprego da roda drsquoaacutegua vertical na produccedilatildeo de ferro foi

introduzido na regiatildeo correspondente aos Pirineus Catalatildees Neste local

desenvolveu-se uma instalaccedilatildeo destinada a produzir ferro denominado de

ldquofaacutebriques ou faacutebreguesrdquo que depois passou a ser conhecida como ldquofarguesrdquo ou

ldquofargardquo (o termo era usado tanto para descrever os lugares onde era obtido o ferro

como seu processamento) A partir do seacuteculo XIV o emprego da roda foi

difundido na regiatildeo basca ndash Espanha favorecida pelos trecircs elementos

fundamentais necessaacuterios para a sua instalaccedilatildeo a geografia da regiatildeo formada

por um territoacuterio montanhoso com a presenccedila de um significativo nuacutemero de rios

as jazidas de ferro e a floresta que fornecia o carvatildeo vegetal o uacutenico combustiacutevel

utilizado naquele processo ateacute o seacuteculo XVIII32

32 Com a Revoluccedilatildeo Industrial do seacuteculo XVIII passaram a utilizar como combustiacutevel o carvatildeo coque

75

Na Catalunha junto com o desenvolvimento das ldquofargasrdquo aprimoraram-se

tanto as teacutecnicas relacionadas agrave construccedilatildeo dos fornos como ao seu sistema de

funcionamento que ficou famoso no mundo todo como procedimento da ldquoforja

Catalatilderdquo ou ldquoprocedimento catalatildeordquo (MOLERA BARRUECO1983 p11)

A forja Catalatilde ou forno catalatildeo foi um sistema intermediaacuterio entre os fornos

baixo e os altos fornos utilizados atualmente Essa teacutecnica dominou todo o

processo de obtenccedilatildeo do ferro e accedilo durante a Idade Meacutedia espalhando-se para

a Alemanha Aacuteustria Inglaterra Franccedila e Itaacutelia Desde a Idade Meacutedia ateacute finais do

seacuteculo XIX esses paiacuteses entre outros conseguiam produzir ferro mediante aquele

sistema conhecido universalmente como ldquoprocedimento Catalatildeordquo

O periacuteodo aacuteureo do emprego da forja catalatilde se daacute entre os seacuteculos XVII e

XVIII devido sobretudo agrave introduccedilatildeo de um outro mecanismo em substituiccedilatildeo

aos foles acionados pela roda hidraacuteulica a ldquotrompa de aacuteguardquo (sistema empregado

par injetar ar no forno) Desenvolvido na Itaacutelia este novo equipamento se difunde

pelas regiotildees dos Pirineus da peniacutensula Ibeacuterica e foi assimilado pelas

manufaturas catalatildes ateacute o ponto de integraacute-las como uma das caracteriacutesticas do

meacutetodo que leva o nome de ldquofarga catalanardquo ou forno catalatildeo Jaacute nas ferrarias

bascas a trompa de aacutegua natildeo foi amplamente difundida prevalecendo a

utilizaccedilatildeo de rodas drsquoaacutegua para o acionamento de foles e do malho ( MALUQUER

DE MOTES 1983 p 23)

76

Fig 23 ARRANJO DE ldquoFARGA CATALANArdquo OBSERVAR USO DE RODA DrsquoAacuteGUA PARA ACIONAMENTO DO MALHO E A PRESENCcedilA DA TROMPA HIDRAacuteULICA JUNTO AO FORNO33

33 Folheto Museu de Ripoll sd

77

No interior das ldquofargas catalanasrdquo o forno era a parte mais importante Os

fornos de fundiccedilatildeo catalatildees diferentemente dos fornos de vento tinham uma

forma tronco-cocircnica isto eacute ldquouma forma de um tronco de piracircmide invertidardquo

(MALUQUER DE MOTES 1983 p 22) O forno era construiacutedo de pedras

refrataacuterias revestidas em parte de peccedilas de ferro com trecircs paredes planas e

uma convexa esta uacuteltima destinada a facilitar a extraccedilatildeo do produto final (massa)

A parede onde era colocada a ldquotoverardquo (entrada do fole) era oposta agrave convexa e

esta era feita de ferro numa inclinaccedilatildeo de 35o a 45o Em uma das paredes

laterais havia um buraco que deixava passar as escoacuterias liacutequidas

(MOLERABARRUECO1983 p13)

Fig 24 ELEMENTOS QUE COMPOtildeEM A OFICINA DA ldquoFARGA CATALANArdquo Observa- se a presenccedila do forno de fundiccedilatildeo e do malhos acionados por roda drsquoaacutegua34

34 Caderno de Apoio para visitante do Museu de Ripoll ndash Catalunha Espanha sd

78

Um outro aprimoramento teacutecnico do meacutetodo catalatildeo foi a forma como

passaram a carregar o forno Deixando para traacutes o meacutetodo anteriormente

conhecido que consistia em carregar o forno em camadas horizontais superpostas

com carvatildeo vegetal e mineacuterio os catalatildees passaram a carregar o forno por meio

de duas camadas verticais justapostas De um lado do forno (aquele em que

estava instalado o fole) era colocado o combustiacutevel (carvatildeo) de tal maneira que o

oacutexido de carbono que se desprendia da queima era forccedilado a atravessar a coluna

do mineacuterio (que estava disposta em uma outra coluna localizada junto agrave parede

oposta agrave do fole)

A produccedilatildeo do ferro ainda se realizava por meio do meacutetodo de produccedilatildeo

direta Sendo assim ainda se mantinha o processo de martelamento da massa de

ferro por meio do malho (que tambeacutem ficava instalado dentro daquele

estabelecimento) para a obtenccedilatildeo do produto final O meacutetodo catalatildeo natildeo apenas

melhorou a qualidade do produto final mas tambeacutem proporcionou o aumento da

produccedilatildeo

27 Tratados Teacutecnicos de Metalurgia

Entre os seacuteculos XV e XVI arquitetos engenheiros meacutedicos e artesatildeos e

outros publicaram inuacutemeros tratados voltados para os ofiacutecios mecacircnicos ou ldquoArtes

Mecacircnicasrdquo Essa literatura eacute extraordinariamente rica em Tratados de caraacuteter

teacutecnico que podem ser considerados autecircnticos manuais e representaram uma

contribuiccedilatildeo decisiva entre o saber cientiacutefico e saber teacutecnico-artesanal os quais

tiveram um grande efeito no nascimento da cooperaccedilatildeo entre cientistas e teacutecnicos

e entre ciecircncia e induacutestria (ROSSI 1989 p 30)

79

Entre as obras de caraacuteter teacutecnico publicadas naquele periacuteodo destacam-

se os escritos de Brunelleschi Ghiberti Peiro della Francesca Leonardo Cellini

Paolo Lomazzo o trabalho sobre as maacutequinas de guerra de

Konrad Keyser (1366-1405) os tratados teacutecnicos de Fontana

(1420) e Mariano (1438) as obras sobre arquitetura de Leon

Batista Alberti Filarete Francesco di Giorgio Martini Palladio o

livro sobre maquinas militares de Valturio da Rimini (publicado em

1472 reeditado em Verona em 1482 e 1483 em Bolonha em

1483 em Veneza em 1493 e nada menos que quatro vezes em

Paris entre 1532 e 1555) os dois tratados de Duumlrer sobre a

geometria descritivas e as fortificaccedilotildees (1525 e 1527) a

Pirotechnia de Biringuccio (1540) depois reeditada em duas

ediccedilotildees latinas trecircs francesas e quatro italianas) a obra de

baliacutestica de Nicolograve Tartaglia (1537) os dois tratados de

engenharia mineral de Georg Agriacutecola (1546-1556) o Teatro di

macchine de Besson (1569 depois traduzido para o francecircs e o

espanhol) os Mechanicorum libri de Guidobaldo Del Monte

(1577) as Diverse et artificiose macchine de Agostinho Ramelli

(1588) os trecircs livros sobre mecacircnica de Simon Stevin (1586

traduzido do flamengo para o francecircs em 1634) a obra sobre

fortificaccedilotildees de Lorini (1597) os trabalhos de arte da navegaccedilatildeo

de Willian Barlowe (1597) Thomas Harriot (1594) e Robert Hucs

(1599) (ROSSI 1989 p30-31)

Entre os tratados relacionados com a metalurgia e a mineraccedilatildeo

destacamos a De La Pirotechinia considerado o primeiro livro impresso dedicado

agrave metalurgia foi escrito pelo italiano Vannoccio Biringuccio (ca 1480-1539) e

publicado pela primeira vez em 1540 Adepto do empirismo Birunguccio

escreveu esse tratado baseado nas observaccedilotildees diretas do ofiacutecio que havia

adquirido durante as vaacuterias visitas que fez a Alemanha35 onde se destacava o

desenvolvimento de teacutecnicas de exploraccedilatildeo de minas de prata e tambeacutem de

35 Biringuccio visitou a Alemanha em 1516 e entre 1526 e 1529

80

equipamentos que possibilitavam a construccedilatildeo de tuacuteneis e galerias para a

exploraccedilatildeo do subsolo36

Embora tivesse sido publicado na Alemanha no iniacutecio do seacuteculo XVI de

forma anocircnima um conjunto de manuais teacutecnicos sobre o ensaio de metais a

obra de Biringuccio era mais ambiciosa explicava como descobrirem minerais e

veios a maneira de separar o ouro e a prata as teacutecnicas de ensaio e as

propriedades do cobre o zinco e outros metais Analisava aleacutem disso as

propriedades do mercuacuterio do enxofre do antimocircnio e de outros elementos

utilizados no processo de extraccedilatildeo do ouro e prata como tambeacutem os meacutetodos de

obtenccedilatildeo do accedilo aleacutem de apresentar ilustraccedilotildees sobre fundiccedilotildees de canhotildees e

sinos a fabricaccedilatildeo de objetos piroteacutecnicos e algumas poucas informaccedilotildees sobre

mineraccedilatildeo geologia e mineralogia (CARDWELL 1994 p 76)

Um outro tratado importante foi escrito pelo alematildeo Georg Bauer (1494-

1555) conhecido pela forma latina de seu nome como Georgius Agriacutecola Depois

de estudar em Leipzig Bolonha e Veneza foi em 1527 exercer a profissatildeo de

meacutedico em Joachimstal na Boemia a maior aacuterea mineira na eacutepoca Agricola

passou a maior parte de sua vida estudando mineralogia e geologia entre 1546 e

1556 escreveu dois tratados destacando a mineraccedilatildeo e a siderurgia

Em 1546 publicou dois tratados sistemaacuteticos de geologia e mineralogia a

De ortu et causis subterraneorum e a De natura fossilium os quais lhe conferiram

a designaccedilatildeo de ldquoPai da Mineralogiardquo37 O seu trabalho mais importante e de

maior divulgaccedilatildeo foi publicado em 1556 com o tiacutetulo de De Re Metallica - A Arte

dos Metais - o qual serviu como obra teacutecnica de mineraccedilatildeo durante quase dois

seacuteculos seguintes aquela primeira publicaccedilatildeo

36 A Alemanha havia desenvolvido importantes teacutecnicas de mineraccedilatildeo que foram intensificadas pelo contiacutenuo intercacircmbio de experiecircncias com a Hungria e a Sueacutecia 37 Georgius Bauer Agricola (1494-1555) cientista alematildeo considerado o fundador da mineralogia Foi um dos primeiros cientistas que baseou suas teorias na observaccedilatildeo em vez da especulaccedilatildeo Antes dele podemos destacar Alberto Magno (1193-1280) conhecido como Preacute-Tecnoacutelogo escreveu a obra De mineralibus que constitui natildeo somente uma histoacuteria dos mineralogia como tambeacutem uma descriccedilatildeo dos metais

81

O conteuacutedo do livro De Re Metallica estava baseado no estudo das coisas

materiais realizado por meio da observaccedilatildeo descriccedilatildeo sistemaacutetica analiacutetica e

meticulosa da natureza A transcriccedilatildeo dessas observaccedilotildees natildeo requeria apenas a

confecccedilatildeo de textos descritivos mas tambeacutem de ilustraccedilotildees com as quais

procuravam traduzir os conhecimentos obtidos pela observaccedilatildeo em imagens

graacuteficas as mais compreensiacuteveis possiacuteveis (ROSSI 1989 p 52)

Agriacutecola ao escrever a introduccedilatildeo desse tratado esclarecia ao leitor como

havia concebido a sua obra e as dificuldades que enfrentou para concluiacute-la

Diz ele Grandiacutessima fadiga e solicitude realmente aqui coloquei e ainda

algumas boas despesas porque natildeo escrevi simplesmente os

veios os instrumentos os canais as maacutequinas e as fornalhas

mas ainda agraves minhas expensas assalariei os pintores para fazer

seus retratos naturais a fim de que as coisas natildeo conhecidas que

satildeo apresentadas com palavras natildeo tragam real dificuldade agraves

pessoas de hoje ou de tempos vindouros (ROSSI 1989 p 51)

Os retratos naturais referidos por Agriacutecola eram as xilogravuras que

ilustravam as suas obras A partir dessas imagens era possiacutevel visualizar com

exatidatildeo de detalhes as dimensotildees sobre equipamentos instrumentos e teacutecnicas

empregadas na prospecccedilatildeo no processo de fundiccedilatildeo e orientaccedilotildees sobre o uso

da energia hidraacuteulica nas operaccedilotildees mineiras enfim as ilustraccedilotildees traziam

detalhes sobre praticamente todas as etapas das operaccedilotildees mineiras isto eacute

prospecccedilatildeo administraccedilatildeo beneficiamento e transporte de mineacuterios 38

Na segunda parte daquele mesmo livro o autor dedica-se ao ensaio e

tratamento dos minerais Como Biringuccio Agricola mostrava criacutetica e desprezo

pelo trabalho realizado pelos alquimistas Uma de suas criacuteticas referia-se ao

38Agricola demonstra neste Tratado o funcionamento de sete tipos diferentes de bombas de succcedilatildeo incluindo uma bomba muacuteltipla acionada por uma grande roda hidraacuteulica e uma bomba combinada de succcedilatildeo e impelente (bomba impelente bomba que eleva a aacutegua por meio de pressatildeo exercida sobre o liacutequido)

82

meacutetodo empregado por estes na busca de metais enterrados O uso da

radiestesia por meio do emprego de uma vara ou forquilha feita com galhos de

aacutervores era considerado por Bauer apenas uma arte da adivinhaccedilatildeo derivada da

magia antiga e que somente poderia ser e era utilizada por mineiros simples e

ordinaacuterios

A Ameacuterica Espanhola foi tambeacutem palco para a produccedilatildeo do conhecimento

relacionado agrave metalurgia Em 1640 Aacutelvaro Alonso Barba padre em Potosiacute e que

havia aperfeiccediloado o meacutetodo de amalgamaccedilatildeo39 desenvolvido por Bartolomeacute de

Medina (Beneficio de Patio)40 publicou a partir de experiecircncias proacuteprias com a

produccedilatildeo de prata naquele local o livro Arte de los Metales O livro de Barba foi o

primeiro trabalho em que se registrou o processo de amalgamaccedilatildeo por mercuacuterio

que ficou conhecido como ldquomeacutetodo de cazo y cocimientordquo (realizado por meio do

calor dentro de reservatoacuterio de cobre) Este livro foi o primeiro trabalho em que se

registraram as regras para beneficiamento de ouro e prata com a utilizaccedilatildeo do

mercuacuterio

39 Amalgamaccedilatildeo Operaccedilatildeo que consiste em ligar o mercuacuterio a outro metal ou separar o ouro e a prata da ganga por meio do mercuacuterio 40 O ldquobenefiacutecio de paacutetiordquo foi assim denominado pois toda a operaccedilatildeo de produccedilatildeo de prata era realizada em um paacutetio Consistia basicamente em mesclar a Mena (metal) moiacuteda e uacutemida com sal comum e mercuacuterio Esse meacutetodo era menos custoso que aqueles que eram utilizados e seu uso se prolongou ateacute o seacuteculo XIX

83

CAPITULO 3

HISTOacuteRICO DA MINERACcedilAtildeO NO BRASIL NO PERIacuteODO COLONIAL A Histoacuteria das primeiras expediccedilotildees no Brasil mostra que desde o inicio do

seacuteculo XVI jaacute havia uma preocupaccedilatildeo permanente aleacutem do reconhecimento do

novo territoacuterio na busca de metais e pedras preciosas que eram produtos de alto

valor econocircmico e poliacutetico aleacutem do interesse estrateacutegico

Durante os primeiros trinta anos de colonizaccedilatildeo do Brasil Portugal estava

voltado para a exploraccedilatildeo dos produtos da Aacutefrica e Iacutendia inclusive de metais

sendo que esta experiecircncia se reflete nas primeiras expediccedilotildees quando se

constata a preocupaccedilatildeo com a descoberta de metais nobres (ouro e prata)

conforme se demonstra nos itens que seguem

Embora a busca por metais fosse uma constante as exploraccedilotildees durante

a primeira metade do seacuteculo XVI resultaram a descoberta de produtos vegetais

(pau-brasil) e animais exoacuteticos (araras e papagaios) 41

Somente com a descoberta da prata na serra de Potosi em 1545 pelos

espanhoacuteis ficou comprovada a existecircncia de metais nobres no novo continente

31 As primeiras expediccedilotildees mariacutetimas a busca de metais nobres A primeira expediccedilatildeo portuguesa destinada ao reconhecimento do litoral do

Brasil partiu de Lisboa entre os anos 1501-02 sob o comando de Gonccedilalo Coelho

e pelo florentino Ameacuterico Vespuacutecio (cosmoacutegrafo contratado pela Coroa

Portuguesa) Apoacutes terem passado pelos atuais estados do Rio Grande do Norte

Bahia e Rio de Janeiro os navios desembarcaram em janeiro de 1502 numa ilha 41 O pau-brasil era extraiacutedo no litoral compreendido desde o atual Estado do Rio Grande do Norte ao Rio de Janeiro

84

que denominaram Cananeacuteia42 Este local tornou-se na primeira metade do seacuteculo

XVI importante posto avanccedilado responsaacutevel pelo abastecimento de

embarcaccedilotildees que mais tarde passaram a rumar para o sul do continente com o

objetivo de reconhecimento e busca de riquezas minerais

Em 1514 Portugal enviou uma outra expediccedilatildeo ao sul desta vez chefiada

por Joatildeo de Lisboa e Estevatildeo Frois financiada D Nuno Manuel e Cristoacutevatildeo de

Haro em cujo trajeto estava Cananeacuteia e a Ilha de Satildeo Francisco do Sul (Santa

Catarina) Esta expediccedilatildeo descobriu o estuaacuterio do rio que denominaram de Rio da

Prata Os resultados dessa expediccedilatildeo foram informaccedilotildees dadas pelos nativos

(Charruas) sobre a existecircncia de uma ldquoSerra de Pratardquo fato que deve ter

impulsionado o envio da expediccedilatildeo espanhola para o sul de Cananeacuteia em 1515

chefiada por Juan Diaz de Soacutelis (VIANNA 1972 p 54)

Entre 1521 e 1526 Aleixo Garcia junto com outros remanescentes da

expediccedilatildeo de Soacutelis e mais iacutendios guaranis partiram da Costa dos Patos (Santa

Catarina) indo aleacutem do rio paraguay e do Chaco obtendo riquezas perdidas na

viagem de regresso (VIANNA 1972 p 214)

Em 1530 parte de Lisboa a expediccedilatildeo de Martim Afonso de Souza uma

das mais importantes expediccedilotildees portuguesas Tinha como objetivos expulsar do

litoral os franceses que traficavam pau-brasil reconhecer a extensatildeo da costa

pertencente a Portugal promover a ocupaccedilatildeo do territoacuterio criando fortificaccedilotildees

em pontos de interesse estrateacutegico e especialmente explorar o rio da Prata 43

42 Cananeacuteia era local de fronteira entre as terras de Portugal e Espanha estabelecida pelo Tratado de Tordesilhas (1494) 43 A expediccedilatildeo de Martim Afonso se diferenciou das anteriores pelo fato de ter D Joatildeo III investido estes comandantes de poderes especiais aplicados sobretudo em Satildeo Vicente Entre eles permitia-se a Martim Afonso distribuir terras em sesmarias criar instrumentos juriacutedicos que permitiram o registro de propriedades atraveacutes da instalaccedilatildeo dos tabelionatos e a elevaccedilatildeo de povoados para a condiccedilatildeo de vilas o que possibilitou a instalaccedilatildeo de um processo colonizador na regiatildeo Sobre a expediccedilatildeo ver VIANNA Helio Historia do Brasil Satildeo Paulo Melhoramentos 1970 p56-61

85

Um dos fatos importantes resultantes da vinda dessas expediccedilotildees foi a

integraccedilatildeo do Porto de Satildeo Vicente44 juntamente com Cananeacuteia na rota de

navegaccedilatildeo para o sul do continente Estes portos serviam para abastecer as

embarcaccedilotildees e ali era possiacutevel contratar os ldquoliacutenguasrdquo 45

Em 1532 quando Martim Afonso chegou a Satildeo Vicente encontrou um

nuacutecleo formado por portugueses espanhoacuteis indiacutegenas Essa localidade tambeacutem

jaacute era conhecida como a porta de entrada para o sertatildeo e o caminho natural para

se ir agrave Serra da Prata atraveacutes dos Peabirus (ver item abaixo)

32 O Peabiru uma trilha para o Sertatildeo Tendo em vista a importacircncia da existecircncia de caminhos indiacutegenas

denominados Peabirus como facilitadores da interligaccedilatildeo da Vila de Satildeo Paulo

(Campos de Piratininga) com a regiatildeo onde se localiza o morro de Araccediloiaba

entendemos ser importante discorrer a respeito destas vias

A respeito desse sistema de caminhos escreveu Adolpho Pinto em 1902

() havia estradas extensas construiacutedas pelo gentio comunicando

vaacuterios pontos do litoral com o mais longiacutenquo interior do paiz

podendo-se mesmo dizer que figurava como tronco desse primitivo

sistema de viaccedilatildeo geral uma grande estrada pondo em ligaccedilatildeo as

tribus da naccedilatildeo Guarany da bacia do Paraguay com a tribu dos 44Satildeo Vicente segundo Washington Luiacutes ldquojaacute era um porto conhecido com lugar marcado nos rudimentares mapas da eacutepoca uma espeacutecie de pequena feitoria portuguesa de iniciativa particular visitada de esquadras para o trafico de escravos se forneciam viveres agrave navegaccedilatildeo de longo curso se construiacuteam bergantins e se contratavam liacutenguas da terrardquo LUIZ Washington Na Capitania de Satildeo Vicente Satildeo Paulo Livraria Martins Editora1956 p47 A povoaccedilatildeo de Satildeo Vicente foi elevada agrave condiccedilatildeo de Vila em 1532 com a instalaccedilatildeo de oacutergatildeos administrativos e poliacuteticos como a Cacircmara e Cadeia transformando-a no primeiro nuacutecleo de colonizaccedilatildeo portuguesa do litoral 45 Os liacutenguas eram aqueles versados na liacutengua indiacutegena O Tupi era falado em Satildeo Paulo ateacute meados do seacuteculo XVIII Segundo John Monteiro ldquoo domiacutenio da liacutengua geral ou qualquer outra liacutengua indiacutegena era consideraacutevel uma respeitaacutevel especializaccedilatildeo e a fluecircncia numa dessas liacutenguas limitava-se apenas aos maiores sertanistasrdquo MONTEIRO John Negros da Terra iacutendios e bandeirantes nas origens de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Companhia das Letras 1994 p164

86

Patos do litoral de Santa Catarina com os Carijoacutes de Iguape e

Cananeacuteia e com as tribus de Piratininga e do litoral proacuteximo

(GONCcedilALVES 1998 p8)

Em Satildeo Vicente o Peabiru constituiacutea o acesso obrigatoacuterio que do mar

seguia para os sertotildees do Planalto de Piratininga Construiacutedo de acordo com a

teacutecnica e a tradiccedilatildeo indiacutegena seguia os espigotildees dos morros de modo a evitar

terrenos iacutengremes embora em alguns trechos fossem inevitaacuteveis as encostas

com fortes declividades ((GONCcedilALVES 1998 p6 )

A partir do Planalto de Piratininga seguindo para o interior rumo ao Oeste

o caminho que levava ateacute a regiatildeo das minas de ferro era um Peabiru cuja trilha

contornava os morros do Apotribu no municiacutepio de Itu e alcanccedilava o morro de

Araccediloiaba no atual municiacutepio de Iperoacute interior de Satildeo Paulo

87

Fig 24 Peabiru (Tronco) Passando por Sorocaba (Galdino 2002 p182)

88

Fig 25 Mapa de Pasquale Petrone (GONCcedilALVES1998 p42)

89

33 O descobrimento da prata em Potosi

Em 1545 a Espanha anunciou o descobrimento na regiatildeo denominada de

Alto Peru (atualmente territoacuterio boliviano) de uma montanha denominada de

Potosi com 600 metros de altura onde ocorria uma importante jazida de prata

Diferentemente do que acreditavam portugueses e espanhoacuteis Potosi natildeo estava

localizada nem nas proximidades do rio da Prata nem na regiatildeo sul do continente

onde esperavam descobrir aquela lendaacuteria riqueza

Sergio Buarque de Holanda (1959 p 58) ao discorrer sobre aquela

descoberta escreve ldquotamanho era o prestiacutegio de Potosi que em pouco tempo a

velha atraccedilatildeo do ouro parece suceder facilmente a da pratardquo O ldquofeiticcedilo do Perurdquo

desencadeou um novo direcionamento da poliacutetica portuguesa com um maior

interesse da Coroa Portuguesa nos negoacutecios do Brasil e particularmente na

Capitania de Satildeo Vicente

Para dar maior incremento ao povoamento do interior foi instituiacutedo o

sistema de distribuiccedilatildeo de terras (Sesmarias) Uma dessas sesmarias foi doada a

Afonso Sardinha bandeirante que se destacou na atividade mineradora e

tambeacutem na vida poliacutetica da Vila de Satildeo Paulo na comercializaccedilatildeo com a regiatildeo

do Rio da Prata como proprietaacuterio de engenho de accediluacutecar traficante de escravos

africanos investidor financiador e produtor de ferro Foi um dos financiadores da

instalaccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro que comeccedila a funcionar em 1607 46

Acreditava-se que o ldquoCerro de Potosirdquo natildeo ficava muito longe das terras da

Coroa Portuguesa sendo este um dos motivos que impulsionavam as ldquopessoas a

continuarem as buscas em direccedilatildeo do Oeste apesar dos repetidos

desapontamentosrdquo (BOXER 2002 p 45)

46 Afonso Sardinha recebeu suas terras de sesmarias no lugar denominado de Ubataacute abrangendo o atual Butantatilde que eacute o Ubataacute citado por Pedro Taques ou Ibatata Batata ou Ibitatatilde em documentos municipais seiscentistas e setecentistas HOLANDA Sergio Buarque de Caminhos e Fronteiras 1957 p 188

90

Um dos caminhos Peabiru que partindo de Satildeo Vicente demandava o

Potosi passava pela Vila de Satildeo Paulo e seguindo a direccedilatildeo Oeste contornava o

morro de Araccediloiaba onde em finais do seacuteculo XVI iniciou-se a produccedilatildeo de ferro

seguindo para a regiatildeo do Guairaacute (atual Estado do Paranaacute) ateacute alcanccedilar as terras

castelhanas

Pode-se dizer que a esperanccedila de encontrar minas de prata um Potosi em

terras de Satildeo Vicente persistiu ateacute o iniacutecio do seacuteculo XVIII quando de fato

foram encontradas minas de ouro pelos paulistas na regiatildeo dos atuais Estados de

Minas Gerais Mato Grosso e Goiaacutes 47

34 A busca de metais nobres na Capitania de Satildeo Vicente

Desde meados do seacuteculo XVI jaacute corriam notiacutecias sobre a possiacutevel

existecircncia de riquezas minerais no interior da Capitania Joseacute de Anchieta em

carta escrita em Satildeo Paulo de Piratininga em 1554 dava as primeiras

informaccedilotildees sobre as descobertas de minas de ouro prata e ferro48 Neste

mesmo ano o jesuiacuteta Pero Correa tambeacutem destacava a descoberta de mina de

ferro proacutexima daquele local 49

47 As minas de ouro localizadas pelos paulistas foram disputadas tambeacutem por portugueses e baianos e todos reivindicavam aquela descoberta Essa disputa culminou na chamada Guerra dos Emboabas na qual os paulistas foram derrotados As descobertas das minas de Mato Grosso e Goiaacutes marcaram o iniacutecio das monccedilotildees expediccedilotildees fluviais regulares que faziam a comunicaccedilatildeo entre Satildeo Paulo e Cuiabaacute O ouro encontrado onde hoje se ergue a cidade de Cuiabaacute foi achado por escravos do sorocabano Miguel Sutil em 1722 Sobre as Monccedilotildees ver HOLANDA Sergio Buarque de Monccedilotildees Rio de Janeiro Casa do estudante do Brasil 1945 48 Ver Carta do quadrimestre de maio a setembro de 1554 dirigida por Joseacute de Anchieta a Santo Ignaacutecio de Loyola Roma In Minhas Cartas por Joseacute de Anchieta Publicaccedilatildeo 450 anos p 153 49 Carta do Irmatildeo Pero Correa escrita a um padre do Brasil In CARTAS Avulsas 1550-1568Azpilculta Navarro e outros Belo Horizonte Itatiaia Satildeo Paulo Edusp 1988 p 163-165

91

A respeito da pesquisa mineral na Capitania de Satildeo Vicente Heacutelio Vianna

escreve que com a intenccedilatildeo de investigar a existecircncia daquelas riquezas

ldquo() mandou o governo portuguecircs em 1559 um mineiro praacutetico

Luis Martins Por ordem do Governador Men de Saacute no ano

seguinte em Satildeo Vicente partiu ele para indeterminados pontos

do interior em uma leva organizada e dirigida por Braacutes Cubas

Regressando este a Santos em 1562 com algumas amostras de

metais e pedras que enviou ao Reino fez com que no mesmo

ano o mineiro voltasse as suas pesquisas Natildeo muito longe

ainda em terras vicentinas em Jaraguaacute talvez em Caatiba hoje

Bacaetava encontrou afinal o desejado ouro Explorou-o

inicialmente o proacuteprio Braz Cubas depois associado ao Capitatildeo

Mor Jerocircnimo Leitatildeordquo (VIANNA 1972 p 215)

35 D Francisco de Souza a organizaccedilatildeo da exploraccedilatildeo mineral De 1598 eacute a primeira referencia a ldquocertos lsquomontes de Sabaroasonrsquo de

onde um mameluco teria extraido amostras de metal que levadas a Bahia ao

Governador D Francisco de Sousa determinaram a vinda deste a Satildeo Vicenterdquo (VIANNA 1972 p 215)

D Francisco de Sousa Seacutetimo Governador Geral do Brasil (1591-1602) e

a partir de 1606 Governador das Minas das Capitanias do Sul 50 promoveu e

organizou vaacuterias expediccedilotildees ao sertatildeo destinadas a descobrir e explorar minas de

ouro e prata e outros metais Tais atividades eram apresentadas como parte de

50 As Capitanias do Sul correspondiam agraves Capitanias do Espiacuterito Santo Rio de Janeiro e Satildeo Vicente

92

seu projeto de desenvolvimento no qual tambeacutem estava inserido o setor de

agricultura e induacutestria sustentado com base no trabalho indiacutegena 51

A sua maior contribuiccedilatildeo decorre do fato de ter exercido o cargo de

Governador das Minas e de ter se fixado na Capitania de Satildeo Vicente mais

especificamente na Vila de Satildeo Paulo de onde provinham as notiacutecias da

existecircncia de minas de ouro prata e ferro

D Francisco veio para Satildeo Paulo munido de poderes que lhe permitiam

distribuir mercecircs agravequeles que tivessem trabalhado na exploraccedilatildeo das minas

Conforme o Regimento que jaacute vigorava no Peru e nas Iacutendias de Castela o

explorador haveria de aplicar seus proacuteprios recursos na busca e exploraccedilatildeo das

jazidas A contrapartida que poderia ser dada pelo Rei estava no fornecimento

de algumas comodidades e mercecircs (STELLA 2000 p 119)

Atraveacutes de Alvaraacutes D Francisco podia nomear uma quantidade

determinada de pessoas com tiacutetulos de nobreza Estas atribuiccedilotildees fizeram com

que muitos moradores da Vila de Satildeo Paulo despendessem de seus proacuteprios

recursos materiais e de indiacutegenas para organizar expediccedilotildees em buscas daqueles

metais

Em 1599 D Francisco esteve no morro de Araccediloiaba para verificar a

autenticidade e a natureza daquela mina que diziam ter ferro ouro e prata Para

viajar ateacute aquele local enfrentando toda a sorte de perigos D Francisco precisou

solicitar ajuda dos moradores de Satildeo Paulo 52

51 Quando no Cargo de Governador Geral Francisco de Souza conduzido pela esperanccedila de encontrar na regiatildeo das cabeceiras do rio Satildeo Francisco a lendaacuteria Sabarabuccediluacute (uma serra de prata e esmeraldas) organizou em 1596 trecircs entradas ao sertatildeo com saiacutedas da Bahia Espiacuterito Santo e Satildeo Paulo respectivamente A vertente paulista foi chefiada por Joatildeo Pereira de Sousa Botafogo e contava com 25 colonos e seus respectivos iacutendios A maioria desta expediccedilatildeo regressou a Satildeo Paulo ldquosatisfeita com os tupinambaacutes que haviam capturado no vale do Paraiacutebardquo MONTEIROJohn Negros da Terra iacutendios e bandeirantes nas origens de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Companhia das Letras 1994 p 58-68 52 PEREIRA Antonio Batista Carta a Paulo Duarte apud Donato Hernani Sumeacute e Peabiru misteacuterios maiores do seacuteculo da descoberta SP ediccedilotildees GRD 1997 p91

93

Aracy Amaral ao analisar a gestatildeo de D Francisco de Sousa como

Governador das Minas das Capitanias do Sul opina que esse administrador

() representa o veiacuteculo que transportou para Satildeo Paulo uma

experiecircncia uma mentalidade que Castela desde haacute muito

desenvolvia no Meacutexico e no Peru As concessotildees e privileacutegios que

obteve do Rei faziam parte de uma legislaccedilatildeo empregada com

sucesso naqueles domiacutenios Essa nova mentalidade estava

intimamente relacionada com os negoacutecios da mineraccedilatildeo e esse jaacute

chamado de ldquoeldorado-maniacuteacordquo que foi D Francisco tambeacutem

denominado por Taunay de ldquopropulsor dos paulistasrdquo seguia sem

duacutevida a diretriz apontada pelos Felipes (AMARAL 1981 p 13)

Apoacutes a Restauraccedilatildeo Portuguesa em 1640 as buscas pelo ouro e pela

prata permaneceram assim como as concessotildees de mercecircs para aqueles que

descobrissem minas ou incentivassem outros a descobri-las Para Ilana Blaj isso

tudo era ldquoum universo de honra de siacutembolos de dignidade e de prestiacutegio que a

elite perseguia e que a Coroa concedia estreitando ainda mais os laccedilos de

vassalagem no interior do Impeacuteriordquo Sintetizando a autora afirma que ldquoescravos

terra dignidade honrarias e prestiacutegio constituiacuteram os fundamentos da sociedade

colonial brasileirardquo (BLAJ 2002 p 322-338)

Em 1611 D Francisco de Sousa falece na mais extrema pobreza O

mesmo destino que tiveram outros que laacute apostaram na metalurgia Frei Vicente

do Salvador contemporacircneo de D Francisco descrevendo a situaccedilatildeo afirmou

que

() estando tatildeo pobre que affirmou um padre da Companhia que

se achava com elle a sua morte que nem uma vela tinha para lhe

metterem na matildeo si a natildeo mandara levar do seu convento mas

quereria deusalumia-lo em aquelle tenebroso transe por outras

muitas que ainda levado deante de muitas esmolas e obras de

piedade que sempre fez (FRANCO 1929 p 135)

94

36 Teacutecnicos e praacuteticos na mineraccedilatildeo e metalurgia Na Vila de Satildeo Paulo e tambeacutem no Sertatildeo as forjas de ferreiro se

instalaram desde cedo As atividades desses ferreiros se concentravam na

fabricaccedilatildeo de ferramentas como foices machados cravos e anzoacuteis utilizando

ferro em barra ou em lingotes trazido da Europa que eram aqui refundidos em

fornos de forja

Em 1553 Manoel da Noacutebrega noticia a presenccedila de ldquotendas de ferreirordquo

como um dos instrumentos levados nas expediccedilotildees ao Sertatildeo (NEME 1959

p158) Em 1584 trabalhavam em Satildeo Paulo trecircs ferreiros (HOLANDA 1957

p186)

Gilberto Freyre em seu trabalho Ferro e Civilizaccedilatildeo no Brasil (1988 p249-

251) destaca como conhecedor do trabalho com o ferro natildeo somente o colono

portuguecircs como tambeacutem os padres da Companhia de Jesus Para esse autor

ambos haviam iniciado seus saberes com ibeacutericos os quais haviam desenvolvido

as ldquoferreriacuteasrdquo os ldquohornosrdquo e aperfeiccediloado as teacutecnicas de fundiccedilatildeo com o ldquohorno

catalaacutenrdquo Entre os conhecedores de metalurgia estava o jesuiacuteta Joseacute de Anchieta

o qual como jaacute destacamos havia informado em 1554 a existecircncia de mineacuterios

nobres e do ferro nas imediaccedilotildees de Satildeo Paulo 53

Diferentemente do que ocorreu nas colocircnias espanholas da Ameacuterica os

indiacutegenas que aqui foram encontrados natildeo tinham conhecimento metaluacutergico e

portanto natildeo utilizavam nenhuma teacutecnica de fundiccedilatildeo que pudesse ser adaptada

aos interesses do colonizador

Quanto ao conhecimento e a exploraccedilatildeo do mineacuterio e produccedilatildeo do ferro as

teacutecnicas necessaacuterias eram totalmente desconhecidas no Novo Mundo Sendo

53 Joseacute de Anchieta era descendente de bascos seus pais eram de Guipuacutezcoa Proviacutencia do Paiacutes Basco BARBOSA Francisco de Assis Dom Joatildeo VI e a Siderurgia no Brasil Rio de JaneiroBiblioteca do Exercito 1958 p 26

95

assim podemos afirmar que essa teacutecnica foi totalmente trazida pelos europeus

em especial pelos espanhoacuteis

Logo apoacutes a Uniatildeo Ibeacuterica (1580-1640) foi encaminhada para as terras das

colocircnias da Ameacuterica a armada de Diego Flores Valdeacutes 54 A passagem de Valdeacutes

em Satildeo Vicente em 1583 revela o interesse pelas riquezas minerais na regiatildeo

sendo que por este motivo solicita agrave Coroa a vinda de teacutecnicos e especialistas em

minas para dar iniacutecio agrave exploraccedilatildeo das jazidas descobertas Ao mesmo tempo

alerta sobre a necessidade de fortificar Satildeo Vicente pois alegava que ldquohay

camino abierto por tierra que va al Rio de La Plata y al Paraguay y a Sancta Feerdquo

(GONZALEZ 2002 p 46)

Alguns autores atribuem a presenccedila do praacutetico Clemente Aacutelvares nas

expediccedilotildees de Sardinha e seu filho55 Em 1606 Clemente Aacutelvares afirmava que

estava haacute quatorze anos dedicando-se ao descobrimento de minas de ouro e

para isso utilizara seus proacuteprios recursos Ao registrar as minas que ele afirmava

ter descoberto no Jaraguaacute Parnayba e Ybituruna para natildeo perder os direitos

sobre elas afirmava que natildeo entendia de metalurgia ldquosenatildeo por notiacuteciardquo e que

natildeo era um oficial fundidor ou ensaiador 56

Os mineiros vindos do reino foram trazidos por D Francisco de Sousa com

a funccedilatildeo de verificar a autenticidade e a natureza das minas descobertas no

Brasil e nas imediaccedilotildees da Vila de Satildeo Paulo Os homens que acompanharam

em 1591 em sua vinda ao Brasil foram o castelhano Agostinho de Souto Maior

(que havia trabalhado anteriormente em Monomotapa ndash Moccedilambique colocircnia

portuguesa que possuiacutea minas e a metalurgia do ferro e do ouro) o qual foi

nomeado para o cargo de provedor das minas do Brasil Christovam o qual era

54 A armada de Diego Flores Valdeacutes foi enviada para o Estreito de Magalhatildees para iniciar a sua ocupaccedilatildeo e povoamento com a finalidade de estabelecer uma defesa das terras do Impeacuterio Espanhol onde jaacute se havia iniciado a exploraccedilatildeo das minas de prata de Potosi 55 Clemente Aacutelvares paulista mineiro praacutetico e sertanista Em 1634 ainda estava se dedicando agrave busca pelo descobrimento de minas Faleceu em 1641 56 Ver Registro de minas de Clemente Aacutelvares em 16 de dezembro de 1606 ATAS DA CAMARA DA VILA DE SAtildeO PAULO vol II Satildeo PauloA Cacircmara 1917 p 171-173

96

lapidaacuterio de esmeraldas e Joatildeo Correa para seria nomeado feitor das minas de

ferro 57

Para Satildeo Paulo enviados por Francisco de Sousa vieram os mineiros

Gaspar Gomes Moalho Miguel Pinheiro Zurara e o fundidor Domingos Rodrigues

Em 1592 Jacques de Oalte mineiro alematildeo o engenheiro tambeacutem alematildeo

Giraldo Betink o cirugiatildeo Joseacute Serratildeo o mestre fundidor flamengo Corneacutelio de

Arzatildeo e o engenheiro e arquiteto-mor florentino Baccio de Filicaya tambeacutem

mineiro de ouro o qual recebeu de D Francisco de Souza o cargo de engenheiro-

mor Felicaya restaurou e construiu algumas fortalezas e trabalhou durante cinco

anos no descobrimento de minas Aparece registrado no Rio de Janeiro em 1596

como arquiteto fortificador (TAUNAY 2003 p409)

Destaca-se tambeacutem ainda na gestatildeo de D Francisco a presenccedila do

mineiro castelhano Manoel Joatildeo Branco (ou Morales) que foi enviado em

companhia de um outro mineiro de prata ao morro de Araccediloiaba para examinaacute-la

Este mineiro acabou por confirmar que aquela Serra era ldquoriquiacutessima de yerrordquo58

37 A Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro

No iniacutecio do seacuteculo XVII as jazidas de ferro que haviam sido identificadas

nas imediaccedilotildees da Vila de Satildeo Paulo comeccedilaram a ser beneficiadas por Diogo de

Quadros atraveacutes da construccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro a qual

comeccedilou a funcionar em 1607 A Ferraria de Santo Amaro foi redescoberta em

1967 por Jesuiacuteno Felicissiacutemo Juacutenior e documentada nas ediccedilotildees de 5 e 6 de

janeiro deste mesmo ano no jornal Diaacuterio de Satildeo Paulo por Manoel Rodrigues

Ferreira ( FELICIacuteSSIMO1969 p14)

57 No mesmo ano em que D Francisco de Souza veio para o Brasil para assumir o cargo de Governador Geral tambeacutem retornava da Espanha Gabriel Soares de Souza o qual se dedicou agrave busca de minas autor de Tratado Descritivo do Brasil de 1587 58 Ver Carta de Manuel Joatildeo Branco Morales a D Felipe IVCORTESAtildeOJaime Jesuiacutetas e Bandeirantes no Guairaacute Rio de Janeiro Biblioteca Nacional 1951 p 182

97

Esta Faacutebrica foi construiacutedo na freguesia de Santo Amaro pela sociedade

formada em 1609 entre Diogo de Quadros juntamente com Francisco Lopes

Pinto e D Antonio de Souza filho de D Francisco de Sousa

Para dar andamento a esse projeto Diogo de Quadros obteve em 1604

de D Felipe III o cargo de provedor das minas da Capitania de Satildeo Vicente e a

concessatildeo de montar e explorar fundiccedilotildees de ferro no Brasil (NEME 1959

p353)

Segundo informaccedilotildees oferecidas por Wilhelm Ludwig Von Eschwege

(1777-1855) a Faacutebrica de Santo Amaro foi construiacuteda agrave beira de um pequeno

ribeiratildeo afluente do rio Pinheiros navegaacutevel a uma distacircncia de duas leacuteguas SE

de Satildeo Paulo Para Eschwege ldquoa situaccedilatildeo dessa pequena faacutebrica era

conveniente porque as margens dos rios proacuteximos estatildeo cobertas de matas

cerradas podendo o carvatildeo ser transportado por via fluvial e mesmo o produto

manufaturado que por essa via podiam ser levados ateacute a serra do Cubatatildeo e

para o interior ateacute o Tietecircrdquo (ESCHWEGE 1944 p336)

Aleacutem desse aspecto a Faacutebrica contava com apoio da Coroa recebendo

dos almoxarifados de Satildeo Vicente Bahia e Rio de Janeiro todas as ferramentas

de ferro que estavam disponiacuteveis e poderiam ser aproveitadas para o trabalho de

fundiccedilatildeo daquele metal Das ferramentas entregues para Diogo de Quadros em

1605 foram arrolados

dous malhos q podiatildeo pesar pouco mais ou menos entre ambos

trecircs quintais e por quintal a razatildeo de trecircs mil reis mais duas

argolas grandes da mesma ferramenta q podiatildeo pezar pouco

mais ou menos trecircs quintaes ao mesmo preccedilo mais duas Cafras

(bigornas) que podiam pezar outros quintaes ao mesmo preccedilo

mais duas chapas pequenas q cada hua pezava duas arrobas no

mesmo preccedilo mais duas chapas grandes q cada hua podia

pezar pouco mais ou menos hum quintal cada hua as quaes

todas juntas podem pezar pouco mais ou menos doze quintais

98

que a razatildeo dos ditos traacutes mil reis por quintal fazem a soma de

36$000 rs 59

Os indiacutecios da presenccedila e utilizaccedilatildeo da roda para fins de produccedilatildeo nesta

Faacutebrica satildeo tambeacutem reforccedilados pelas observaccedilotildees feitas por Eschwege em seu

livro Pluto Brasiliensis onde afirmava que ainda se podia ver ldquoa vala da roda o

lugar da oficina os restos de um accedilude assim como um monte de pesada escoacuteria

de ferrordquo ((ESCHWEGE 1944 p336)

Essas mesmas informaccedilotildees podem ser observadas em um levantamento

topograacutefico realizado em princiacutepios do seacuteculo XIX pelo topoacutegrafo portuguecircs

Rufino Joseacute Felizardo e Costa segundo tenente do Real Corpo de Engenheiros

Rufino provavelmente veio ao Brasil como membro do grupo de engenheiros

militares que constituiacuteram em meados do seacuteculo XVIII as ldquoMissotildees

Demarcatoacuterias destinadas a dar cumprimento aos Tratados de Limites relativos agraves

terras da Ameacuterica celebrados entre Portugal e Espanhardquo 60

O levantamento topograacutefico em questatildeo intitulado ldquoprospecto das ruiacutenas

da antiga faacutebrica de ferro de Santo Amarordquo apresenta uma planta dessa faacutebrica jaacute

em ruiacutenas e sua localizaccedilatildeo proacutexima aos rios ldquodos Pinheirosrdquo e Santo Amaro aleacutem

dos terrenos no seu entorno onde se observa a presenccedila de matas minas de

ferro e canais de derivaccedilatildeo de aacuteguas daqueles rios em direccedilatildeo ao edifiacutecio

confirmando as observaccedilotildees feitas por Eschwege que observou inclusive a

existecircncia da ldquovala da rodardquo (HOLANDA 1957 p188-189)

59Ver Provisatildeo passada por Diogo Botelho a Diogo de Quadros 1605 CLETTO Marcelino Pereira A respeito da Capitania de Satildeo Paulo Sua decadecircncia e modo de restabelececirc-la Santos 25 de outubro de 1782 Annaes da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro vol XXI Rio de Janeiro Typografia Leuzinger 1900 60 TOLEDO Benedito Lima de A Accedilatildeo dos Engenheiros Militares na Ordenaccedilatildeo do Espaccedilo Urbano no Brasil Lisboa 2000 lthttpurbaniscteptRevistanumero4artigosartigo_08htmgt Aceso em 16 de maio de 2006 Os tratados mencionados por Toledo satildeo o Tratado de Madri (1750) e do segundo o Tratado de Santo Ildefonso (1777)

99

Fig 27 Prospecto das ruiacutenas da antiga Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro Rufino Joseacute Felizardo seacutec XIX (HOLANDA1957)

38 A Faacutebrica de Ferro do morro de Araccediloiaba os empreendedores

Afonso Sardinha foi personagem importante na atividade de mineraccedilatildeo do

ouro e do ferro no periacuteodo compreendido entre a segunda metade do seacuteculo XVI

e inicio do seacuteculo XVII sendo um dos primeiros empreendedores da exploraccedilatildeo e

produccedilatildeo de ferro no morro de Araccediloiaba Foi tambeacutem um dos financiadores do

empreendimento da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro Em 1601 recebeu de

Francisco de Souza um regimento que permitia o acesso agraves minas jaacute descobertas

e a descobrir61 Ressalte-se que essa mesma provisatildeo natildeo permitia a ele

ldquoentabularrdquo as minas encontradas as quais deveriam ser trabalhadas somente

apoacutes inspeccedilatildeo feita por mineiros vindos do Reino

61 Ver Regimento do Capitatildeo Diogo Gonccedilalves Laccedilo que lhe deu o Senhor Governador Dom Francisco de Souza DERBY Orville A As Bandeiras paulistas de 1601 a 1604 Revista do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Satildeo Paulo vol VII Satildeo Paulo Typ Do Diaacuterio Official 1903 p 403

100

Joseacute Monteiro Salazar citando Pedro Taques e outros historiadores

aponta o ano de 1597 para o inicio das atividades da exploraccedilatildeo e fabricaccedilatildeo do

ferro em Araccediloiaba sendo que o empreendimento esteve em atividade ateacute o ano

de 1611 coincidindo com o ano da morte de D Francisco de Sousa

Somente em 1684 surge uma segunda tentativa de exploraccedilatildeo das minas

de Araccediloiaba financiada pela Coroa Portuguesa Para tanto foi enviado agravequele

local o Frei Pedro de Sousa com a finalidade de pesquisar a existecircncia de prata

nas jazidas que estava sendo explorada por Luiz Lopes de Carvalho o qual

contava com matildeo de obra indiacutegena

Entretanto apoacutes ter retirado algumas amostras do mineacuterio na jazida elas

foram ensaiadas poreacutem natildeo foi encontrada a prata motivo pelo qual foi

ordenada pelo Conselho Ultramarino a suspensatildeo daquelas pesquisas

(RODRIGUES 1966 p202)

Na sequumlecircncia o empreendedor Luiz Lopes de Carvalho que administrava

aquela mina retomou a exploraccedilatildeo do mineacuterio de ferro cuja existecircncia jaacute era

comprovada para cuja atividade obteve licenccedila concedida pela Coroa Para

realizar as obras necessaacuterias para o seu empreendimento foi obrigado a

hipotecar em 1681 todas as suas propriedades na Vila do Vimieiro em Portugal

(RODRIGUES 1966 p 214-217)

Em carta escrita no Rio de Janeiro em 1692 ao Rei de Portugal noticiava o

fracasso de seu empreendimento com o esgotamento dos recursos financeiros

Assim descreve

penetrei os Sertotildees mais ragozos so habitado de feras padecendo

as inclemecircncias qe experimentatildeo os q com zello e amor da paacutetria

lhe querem descubrir nossos Thezouros Todas estas calamidades

101

padeci por que haverem persuadido e ter achado alguns Roteiros62

q insinuavatildeo partes e serr[dilacerado] aonde em algum tempo se

achavatildeo Signais evidentes de minas de prata e esmeraldas E por

me esgotar o Cabedal proacuteprio e nam achar q me animasse com

algum socorro vim a entender q e Deus nosso Sr Tem guardado

essa fortuna pa outro q mais lho mereccedila Nestas entradas ao

Sertatildeo fui dar com a dictas Serras de Birasuaiava aonde estatildeo as

minas de ferro que na calidade e fertilidade desse groseiro metal

excede a todos asqe por haver no descuberto (RODRIGUES

1966 p217-219)

Naquele mesmo documento Luiz Lopes de Carvalho discorre sobre as

dificuldades teacutecnicas e materiais que havia enfrentado e destaca que para a

continuidade daqueles trabalhos faltara-lhe a matildeo de obra indiacutegena e um mestre

em fundiccedilatildeo que sugere deveria ser de Figueiroacute (Portugal) Biscaia (Espanha)

Alemanha ou Sueacutecia Aleacutem disso indicava que os fornos de fundiccedilatildeo que ali

deveriam ser instalados fossem do mesmo tipo empregado nas ferrarias de

Figueiroacute em Portugal (RODRIGUES 1966 p217-220)

Nova tentativa de exploraccedilatildeo daquela mina de ferro deveu-se ao portuguecircs

Domingos Pereira Ferreira em 1763 o qual organizou em Lisboa uma companhia

por accedilotildees para a construccedilatildeo de uma faacutebrica de ferro em Araccediloiaba 63 Para

viabilizar esse empreendimento recebeu uma concessatildeo de Sesmarias localizada

junto a mina de ferro para explorar a madeira necessaacuteria agrave fundiccedilatildeo 64

62 Esses roteiros - ou ldquomapas do tesourordquo - parecem ter sido frequumlentes na histoacuteria da mineraccedilatildeo colonial Haacute indicaccedilotildees de roteiros elaborados por Gabriel Soares de Souza para as minas de Sabarabassuacute 63 Foram soacutecios de Pereira Ferreira Matheus Lourenccedilo de Carvalho Caoitatildeo-mor Manoel de Oliveira Cardozo Antonio Lopes de Azevedo Capitatildeo Jacinto Jose de Abreu Silveacuterio Thomaz de Oliva Doacuteria Joatildeo Fritz Gerald (este natildeo participou da Sociedade por ser estrangeiro ndash inglecircs) e o Sargento Mor Antonio Francisco de Andrade Traslado da Escritura de Contrato da Sociedade e Companhia que Fazem Domingos Pereira Ferreira (RODRIGUES 1966 p 228-238) 64 Carta de Sesmaria a Domingos Ferreira Pereira e seus soacutecios de um morro cito termo da Vila de Sorocaba para dele se extraiacuterem lenha para a Faacutebrica de caldear o ferro que ali se pretende erigir por ordem de S Magestade (1767) Arquivo do Estado de Satildeo Paulo Sesmaria Patente e Provisatildeo Livro n17 p 125 v

102

Em dezembro de 1765 o Capitatildeo-General de Satildeo Paulo encaminhava ao

Conde de Oeiras amostra do ferro que Domingos Ferreira Pereira extraiacutera e

caldeara nas serras de Araccediloiaba Neste mesmo ano chegou a receber

encomendas de Diogo Lobo da Silva Capitatildeo General de Minas Gerais para a

fabricaccedilatildeo de armamentos tais como balas bombas e granadas aleacutem de

municcedilotildees Contudo esses armamentos natildeo chegaram a serem fabricados

Para viabilizar a produccedilatildeo do ferro trouxe de Portugal o mestre fundidor

Joatildeo de Oliveira Figueiredo poreacutem este decidiu abandonar aquele local com a

intenccedilatildeo de se mudar para Angola em 1767 Contudo quando jaacute se encontrava

no Rio de Janeiro foi preso e trazido de volta para Araccediloiaba sob a justificativa de

que ldquosem ele natildeo se poderiam por em praacutetica as experiecircnciasrdquo (CALOacuteGENAS

1904 p37)

O relatoacuterio encaminhado no ano de 1768 por Luiz Antonio de Souza ao

Conde de Oeiras em Portugal informava que o empreendimento de Pereira

Ferreira mostrava dificuldades em conseguir produzir um ferro de boa qualidade

mesmo tendo sido realizado por diversas vezes experiecircncias com o material pois

ldquonatildeo era possiacutevel acertar a caldeaccedilatildeo do ferro nem fazecirc-lo igual as primeiras

amostrasrdquo 65

Pereira Ferreira permanece naquela atividade durante dez anos sendo que

depois desse tempo vendeu a propriedade a Vitoriano Joseacute Sentena morador de

Viamatildeo Este empreendedor tambeacutem natildeo obteve sucesso nesta atividade

culminando por abandonaacute-la quatro anos apoacutes o seu iniacutecio (RODRIGUES 1966

p205-210)

No ano de 1784 Claacuteudio de Madureira Calheiros capitatildeo-mor da vila de

Sorocaba encaminha uma peticcedilatildeo a Martinho de Mello e Castro para explorar

aquelas jazidas Contudo esse projeto natildeo foi aprovado (RODRIGUES 1966 p

212) 65 ver Carta de Luiz Antonio de Souza ao Conde de Oeiras Satildeo Paulo 3 janeiro de 1768 In Dossiecirc Ipanema Arquivo do Museu Quinzinho de Barros ndash Sorocaba-SP

103

Em 1788 com aquele mesmo objetivo foi encaminhada a Bernardo Joseacute

de Lorena uma peticcedilatildeo onde o capitatildeo-mor de Sorocaba Claacuteudio da Cunha Oeiras

e o de Itu Vicente da Costa Taques Goacuteis e Aranha pela qual solicitavam

autorizaccedilatildeo para explorar e fabricar o ferro em Araccediloiaba Tambeacutem solicitavam a

vinda do Reino de ldquoum mestre inteiramente perito naquela arterdquo Juntaram agrave

peticcedilatildeo uma amostra de barra de ferro que diziam terem obtido naquele local

Este projeto tambeacutem natildeo foi viabilizado (RODRIGUES 1966 p212)

39 A Real Faacutebrica de Ferro de Satildeo Joatildeo do Ipanema

Jaacute no final do seacuteculo XVIII destaca-se a vinda do ldquoquiacutemicordquo Joatildeo Manso

Pereira Diretor Geral das Minas para examinar as jazidas de ferro do morro de

Araccediloiaba e acompanhar os trabalhos de demarcaccedilatildeo dos terrenos nos quais

iriam ser instaladas as edificaccedilotildees da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema

Tambeacutem realizou alguns ensaios com aquele mineacuterio mediante a construccedilatildeo de

um alto forno acionado com um fole manual

A esse respeito relata Eschwege (1944 p340) que conheceu Joatildeo Manso

Pereira que durante a primeira experiecircncia para a fundiccedilatildeo do ferro muitas

pessoas das vizinhanccedilas foram atraiacutedas para o local poreacutem ao final do teste

nenhum ferro foi produzido Manso entatildeo fugiu do local e os convidados tiveram

que voltar para as suas casas Eschwege lembrava que Manso ao recordar

aquele fato ldquoria-se gostosamente de toda aquela histoacuteria tendo chegado agrave

conclusatildeo de que para fabricar ferro em grande escala natildeo bastavam

conhecimentos de quiacutemicardquo

Em 1802 Manso Pereira natildeo havia apresentado nenhum resultado

satisfatoacuterio e foi destituiacutedo do cargo assumindo em seu lugar Francisco Ribeiro

de Andrade (FRAGA 1968 p 33-48)

104

Segundo o Governador D Rodrigo de Souza Coutinho Joatildeo Manso

Pereira

longe de ser hum verdadeiro chimico natildeo era senatildeo hum

Alquimista que debaixo de certos misteacuterios pretendia inculcar-se

sem ter os necessaacuterios conhecimentos para Inspector e dirigir a

mesma obra tendo toda a esperanccedila que entre os artistas que

pedia que viesse algum que soubesse tractar a referida Mina e

desta sorte colher o Laurel de que os outro se fazia digno

(FRAGA1966 p46)

No iniacutecio do seacuteculo XIX Martim Francisco Ribeiro de Andrada escolhe a

regiatildeo junto ao ribeiratildeo Ipanema para sediar as futuras instalaccedilotildees da faacutebrica de

ferro que estavam autorizadas em 1799 a Joatildeo Manso Pereira Atraveacutes de um

contrato realizado em Estocolmo em 1810 entre Dom Joaquim Lobo de

Saldanha ministro portuguecircs em Londres e o sueco Carlos Gustavo Hedberg

foram iniciados os trabalhos para a construccedilatildeo da Real Faacutebrica de Ferro de

Ipanema

Fig 28 Vista da Faacutebrica de Ferro de Ipanema 1827 Acervo Projeto Arqueologia Histoacuterica Museu Paulista-USP

105

Fig 29 Vista Geral da Faacutebrica de Ferro e Ipanema seacuteculo XIX

Fig 30 Altos fornos geminados construiacutedos por Varnhagem 1818

106

Fig 31 Alto forno construiacutedo pelo Cel Mursa 1888

Em 1815 Frederico Guilherme Varnhagen assume o cargo de Diretor da

Real Faacutebrica e em 1818 constroacutei dois altos-fornos para a produccedilatildeo de ferro

gusa os primeiros do Brasil Joaquim de Souza Mursa Diretor de Ipanema entre

1865-1890 construiu outro alto-forno e natildeo chegou a funcionar Em 1895 jaacute no

periacuteodo republicano Prudente de Moraes decreta a desativaccedilatildeo de Ipanema

Em 1929 tiveram iniacutecio experiecircncias para o aproveitamento da apatita

jazida descoberta em 1890 por DacuteOrville Derby Esse mineacuterio foi explorado ateacute

1944 por uma firma particular para a produccedilatildeo do superfosfato Mas jaacute em 1937

o acervo e aacuterea ocupada pela antiga Faacutebrica de Ferro passaram ao Ministeacuterio da

Agricultura que em 1947 instalou ali a Estaccedilatildeo Experimental do Trigo

107

Uma quarta fase da histoacuteria de Ipanema comeccedilou logo no iniacutecio dos anos

50 quando foi estabelecido o Plano Nacional da Induacutestria de Tratores e instituiacuteda

a obrigatoriedade de ensaios para tratores maacutequinas e ferramentas agriacutecolas

importados ou fabricadas no Brasil Ao mesmo tempo seguiram as atividades de

produccedilatildeo de sementes O estabelecimento passou a denominar-se CENTRI -

Centro Nacional de Ensaios e Treinamento Rural de Ipanema

A partir de 1975 foi criado o CENEA ndash Centro Nacional de Engenharia

Agriacutecola junto ao qual foi realizado em 1983 o convecircnio com o Museu Paulista-

Universidade de Satildeo Paulo para a realizaccedilatildeo da pesquisa arqueoloacutegica Em 1992

passou a integrar uma das aacutereas de conservaccedilatildeo e proteccedilatildeo ambiental do IBAMA

com a denominaccedilatildeo de FLONA ndash Floreta Nacional de Ipanema O Siacutetio Afonso

Sardinha foi registrado no IPHAN pela Professora Doutora Margarida Davina

Andreatta em 1997

108

Fig 32 ROTEIRO HISTORICO DA MINERACcedilAtildeO E METALURGIA PAULISTA

109

CAPIacuteTULO 4

O SIacuteTIO AFONSO SARDINHA 41- Localizaccedilatildeo O vale das Furnas eacute uma aacuterea privilegiada por sua geografia devido agrave

presenccedila do mineacuterio de ferro em suas cabeceiras e de uma diversificada

quantidade de rochas dentre elas o arenito que foi utilizado como material de

construccedilatildeo na forma de blocos para paredes e fornos Destaca-se a rede

hidrograacutefica que apresenta dois rios importantes como o Ipanema e o Sarapuhy

que contornam o morro de Araccediloiaba indo desaguar no rio Sorocaba A bacia do

ribeiratildeo do Ferro ocupa uma aacuterea importante dentro do morro de Araccediloiaba

porque eacute ela que drena a regiatildeo onde afloram os minerais de ferro sendo que a

topografia acidentada do seu leito possibilitou a implantaccedilatildeo de estruturas de

aproveitamento hidraacuteulico A regiatildeo apresentava significativa aacuterea coberta de

matas as quais foram transformadas desde finais do seacuteculo XVI em carvatildeo

vegetal o uacutenico combustiacutevel utilizado para a produccedilatildeo de ferro ateacute finais do

seacuteculo XIX

O morro de Araccediloiaba eacute conhecido tambeacutem pela denominaccedilatildeo de morro do

Ipanema toponiacutemico indiacutegena de Ypanema ndash Y= rio aacutegua + panema = sem valor

ou ainda aproximadamente sem peixes significando assim ldquorio sem valorrdquo ou

ldquorio sem peixesrdquo A denominaccedilatildeo Araccediloiaba (ldquoo lugar que esconde o Solrdquo)

aparece desde o seacuteculo XVI em documentos datados com variantes como

Arraraccediloiaba Byraccediloiaba Ibyraccediloiaba Guaccediloiava (SALAZAR 1997 p17)

Ocupa uma aacuterea isolada no interior de uma extensa bacia sedimentar que os

geomorfoacutelogos denominam de ldquoDepressatildeo Perifeacuterica Paulistardquo pertencente agrave

Bacia do Paranaacute Esta aacuterea constitui um ldquohorst docircmicordquo em razatildeo do seu formato

110

arredondado que lembra estruturas de coberturas do tipo domos (DAVINO 1975

p130)

Do ponto de vista geoloacutegico o morro eacute uma formaccedilatildeo montanhosa

resultante de ldquofenocircmenos de intrusotildees de rochas alcalinas que ocorreram

associadas agraves atividades tectocircnicas do Arco de Ponta Grossa no periacuteodo

denominado Cretaacuteceo Inferiorrdquo66 contemporacircneo do vulcanismo basaacuteltico na

regiatildeo Sudeste ndash Sul do Brasil A intrusatildeo magmaacutetica de Ipanema ocupa aacuterea

aproximadamente circular de nove quilocircmetros quadrados Sua maior altitude estaacute

em 970 metros sendo que dele ldquoeacute possiacutevel observar um dos trechos do vale do

Meacutedio - Tietecirc como tambeacutem trecircs importantes unidades de relevo do Estado de

Satildeo Paulo a Depressatildeo Perifeacuterica o Planalto Atlacircntico e as Cuestas Arenito ndash

Basaacutelticas no caso a Serra do Botucatu (CARPI JR 2002 p1)

Estaacute situado no centro-sul da Depressatildeo Perifeacuterica Paulista na Latitude

sul 23ordm25rsquo 23ordm17rsquo Longitude 47ordm35rsquo WGr 47ordm40rsquo WGr no municiacutepio de Iperoacute-

SP entre Sorocaba e Boituva a cerca de 125 km da Cidade de Satildeo Paulo

Encontra-se ainda dentro de uma aacuterea de proteccedilatildeo ambiental com 506973

hectares pertencente ao FLONA Ipanema Floresta Nacional de Ipanema do

IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

Renovaacuteveis) criada em 1992 para preservar e conservar um dos maiores

fragmentos de Mata Atlacircntica do Estado de Satildeo Paulo bem como aacutereas de

66 ldquoDuas medidas efetuadas no Laboratoacuterio de Geocronologia da USP segundo o meacutetodo do potaacutessio-argocircnico indicaram para as rochas alcalinas de Ipanema idade cretaacutecea inferior Estas determinaccedilotildees foram feitas em biotita contidas em shonkinitos-poacutertirosrdquo (DAVINO1975)

111

cerrado vaacuterzea e os ecossistemas associados67

67 A FLONA ndash Floresta Nacional de Ipanema possui plantas e fauna de grande representatividade tendo catalogado mais de 200 espeacutecies de aves 52 de mamiacuteferos 18 de anfiacutebios 15 de reacutepteis e 35 de peixes que totalizam 216 da riqueza do estado de Satildeo Paulo Caracteriacutesticas do relevo Ateacute 600 metros ndash vaacuterzea dos principais rios como Ipanema e Verde de declives suaves Acima de 875 metros ndash topo do Morro Araccediloiaba geralmente com platocircs e declives suavesmedianos De 600 a 725 metros ndash base das serras de declives acentuados (medianos) com nascentes de rios principalmente os intermitentes De 725 a 875 metros ndash proacuteximo ao topo de declives acentuados com rios encaixados entre as vertentes como o Ribeiratildeo do Ferro Hidrografia Integra a bacia hidrograacutefica do rio SorocabaMeacutedio Tietecirc classificada como UGRHI No 10 com sub-bacias dos rios Ipanema e Verde e ribeirotildees Iperoacute e do Ferro Clima O Troacutepico de Capricoacuternio passa pela parte sul da Floresta Nacional de Ipanema caracterizando uma zona de transiccedilatildeo de tropical para temperada Segundo Koeppen apresenta condiccedilotildees climaacuteticas tipo Cfa ndash subtropical quente constantemente uacutemido com inverno menos seco - ao sul limitando com Cwa ndash subtropical quente com inverno mais seco - ao norte Uso do solo 2800 hectares ndash floresta estacional semidecidual em estaacutegio de regeneraccedilatildeo do inicial ao tardio 29515 hectares ndash capoeira alta (grototildees) e cerrado 24293 hectares ndash capoeira baixa 250 hectares ndash vaacuterzea accediludes e represas 22150 hectares ndash reflorestamento com espeacutecies de raacutepido crescimento e nativas 121016 hectares ndash assentamentos rurais 50 hectares ndash sede administrativa vilas residenciais e siacutetios histoacuterico-culturais Ver Floresta Nacional (FLONA) de Ipanema NACIONAL Disponiacutevel em lthttpwwwibamagovbrspindexphpid_menu=191gt acesso em 22mar06

112

Fig 32 MAPA GEOLOacuteGICO DO MORRO DE ARACcedilOIABA (SEM ESCALA) Mapa Geoloacutegico do Estado Satildeo Paulo ndashIPT

113

Fig 33 BLOCO DIAGRAMA DA REGIAtildeO DA SERRA DE ARACcedilOIABA Interpretaccedilatildeo baseada em dados geoloacutegicos e geofiacutesicos por Andreacute Davino (DAVINO 1975 p140)

114

Fig 35 MORRO DE ARACcedilOIABA (AO FUNDO VISTA DA DEPRESSAtildeO

PERIFEacuteRICA) - I

FIG 36 MORRO DE ARACcedilOIABA (VISTA DA DEPRESSAtildeO PERIFEacuteRICA) - II

115

Aziz Nacib AbSaber ao analisar o morro de Araccediloiaba dos pontos de vista

geoloacutegico e geomoacuterfoloacutegico considera que

Geomorfologicamente eacute um acidente de grande exceccedilatildeo

emergente no meio de terras baixas colinosas que se estendem por

mais de 12 mil km2

Geologicamente eacute a consequumlecircncia de um vulcanismo hipoabissal

tardio anterior aos processos denudacionais que criaram a

Depressatildeo Perifeacuterica Paulista Filogeograficamente eacute um

componente de um mosaico de ecossistemas sub-regionais que

comporta cerrados e matas-galerias (vegetaccedilatildeo ciliar) matinhas

diferenciadas e descontiacutenuas nas paredes sub-rochosas do morro

Existem tambeacutem eventuais poreacutem altamente significativos relictos

de cactos mandacarus nas vertentes rochosas do morro Esse fato

associado ao que jaacute se conhece da regiatildeo de Itu e Salto permite

reconstituir a histoacuteria vegetacional da regiatildeo No passado ela

abrigou caatingas hoje relegadas a pequenos redutos de

cactaacuteceas na forma de rupestres-biomas logo seguidos por

cerradotildees e cerrados recortados por florestas-galerias biodiversas

E por fim grandes matas tropicais nos morros de solos vermelhos

argilo-arenosos das serranias de Satildeo Roque e Jundiaiacute As florestas

eliminaram importantes trechos de cerrado mas natildeo foram capazes

de expulsar os minirredutos de cactaacuteceas na serra do Jardim em

Vinhedo e Valinhos nos altos do Japi na serra de Satildeo Francisco

em Votorantim em Salto e Itu e no front rochoso das cuestas de

Botucatu e agora nos receacutem-identificados mandacarus dos morro

de Araccediloiaba e Ipanema

Para entender essa eacutepoca caracterizada por intrusotildees

hipoabissais desfeitas em sills - massas tabulares de rocha iacutegnea

que penetraram entre camadas de rocha mais antiga - nas

soerguidas camadas de arenitos da formaccedilatildeo de Itarareacute (originada

no Carboniacutefero Superior) haacute que visualizar o fato de que o atual

morro da Depressatildeo Perifeacuterica comportava centenas de metros de

espessura que se estendiam ateacute o embasamento de rochas

cristalinas As intrusotildees que perfuraram localmente o pacote de

116

rochas da borda da Bacia Sedimentar do Paranaacute foram

provavelmente as mais tardias em relaccedilatildeo ao vulcanismo que

precedeu os mega processos de separaccedilatildeo da Aacutefrica e Brasil Ao

que tudo indica primeiramente aconteceram os derrames

basaacutelticos e as intrusotildees hipoabissais de diabaacutesios (rochas

magmaacuteticas cristalinas) A seguir nos milhotildees de anos decorridos

entre o Triaacutessico Superior o Juraacutessico e o Cretaacuteceo Superior -

atraveacutes de bolsotildees magmaacuteticos descontiacutenuos e residuais -

aconteceram as penetraccedilotildees de sienitos em forma de ring dykes

(diques anelares) de Itatiaia da atual ilha de Satildeo Sebastiatildeo

Caxambu e alhures Tudo acontecendo antes que a tectocircnica

quebraacutevel aparecesse no embasamento cristalino do Brasil de

Sudeste Ou seja antes dos falhamentos que criaram a serra do

Mar a ilha de Satildeo Sebastiatildeo e a Mantiqueira Por fim um resiacuteduo

magmaacutetico de grande exceccedilatildeo teria interpenetrado a borda antiga

da Bacia do Paranaacute gerando a pequena aacuterea core que mais tarde

viria a ser o morro de AraccediloiabaIpanema com seus ankaratritos

impregnados de magnetita Um fato que de resto respondeu pelo

histoacuterico episoacutedio da experiecircncia industrial da Fazenda

Ipanema(ABSAacuteBER 2006 p1)

42 A Vegetaccedilatildeo

Quanto agrave vegetaccedilatildeo original o morro de Araccediloiaba tem um histoacuterico de

perturbaccedilotildees sofridas por intervenccedilotildees antroacutepicas iniciadas no final do seacuteculo XVI

Essas perturbaccedilotildees foram causadas pela retirada de mineacuterio madeiras calcaacuterio

apatita aleacutem de focos de incecircndio entre outros processos

Para a exploraccedilatildeo do mineacuterio era necessaacuteria a devastaccedilatildeo das matas que

cresciam sobre a jazida Segundo a descriccedilatildeo de Domingos Pereira Ferreira que

chegou no local em 1765 para dar iniacutecio a um projeto de Faacutebrica de Ferro aquele

117

Morro era como ldquoum Cubatatildeo de Matos e de Cerra Altardquo e somente era possiacutevel

ver uma pedra levando ldquoadeante fousse e machadordquo68

A devastaccedilatildeo das matas tambeacutem esteve ligada ao tipo de combustiacutevel que

era utilizado nos fornos de reduccedilatildeo (fornos baixos) 69 e depois nos de fundiccedilatildeo

(altos fornos)70 O combustiacutevel para a produccedilatildeo de ferro sempre foi o carvatildeo

vegetal71 o qual era fabricado a partir de uma variedade de madeiras existente na

proacutepria mata entre elas os chamados ldquopaus reaisrdquo as madeiras de lei como a

peroba jequitibaacutes e cedros cujos registros de extraccedilatildeo eacute encontrado ateacute o iniacutecio

do seacuteculo XIX 72

Mesmo sofrendo exploraccedilatildeo e desmatamento ainda hoje a Floreta

Nacional de Ipanema constitui-se num dos poucos redutos florestais do interior

paulista e tambeacutem eacute a maior detentora da biodiversidade regional Espeacutecies

vegetais como timburi ararib lixeira jangada do campo canela paineira figueira

branca e peroba satildeo encontrados em percurso assim como animais de haacutebitos

68 Encontramos uma coacutepia da Carta de Domingos Pereira Ferreira agrave Morgado de Mateus escrita em Sorocaba 30 de novembro de 1765 na Coleccedilatildeo Faacutebrica de Ferro de Ipanema entre todas as coacutepias que foram doadas por Joseacute Monteiro Salazar ao Arquivo Histoacuterico Sorocabano 69Nos fornos baixos o carvatildeo vegetal era colocado em camadas alternadas com o mineacuterio calcinado e triturado que com o auxiacutelio de foles manuais ou mecacircnicos realizavam a reduccedilatildeo e natildeo a fundiccedilatildeo do mineacuterio de ferro resultando numa ldquoesponja de ferrordquo ou ldquopatildeo de ferrordquo que posteriormente era novamente trabalhada nos fornos de forja e nos malhos (FAUS 2000) 70 Estes fornos que chegam a fundir o mineacuterio de ferro foram introduzidos em Ipanema no iniacutecio do seacuteculo XIX O produto derivado do alto forno eacute o ferro em estado liacutequido (ferro gusa) (FRAGA 1968 p 87) 71 Joseacute Bonifaacutecio de Andrada e Silva ao visitar a Faacutebrica de Ipanema em 1820 descreve o meacutetodo de fabricaccedilatildeo de carvatildeo ldquoO carvatildeo he todo misturado sem separaccedilatildeo do proacuteprio para as forjas do refino he mal feito e apagado comumente com agoa em vez de ser abafado com terra principalmente arenosa que he a melhor da qui vem que sahe mais pesado do que deveria ser contra a fabrica e a favor do carvoeiro reduz-se muito a poacute nos armazeacutens com prejuiacutezo da mesma Faacutebrica e o peior he que nas forjas de refino esfarela-se logo e se reduz a cinza sem dar o devido calor O carvatildeo que fazem de maneira mole he mais leve e arde mais e da madeira dura he pelo contrario O methodo de fazer carvatildeo he o seguinte pegatildeo em toda a lenha misturada e arrumatildeo em pilha deitadas que tem 40 palmos em quatro como a figura de um telhado com beiradas estas tem 6 palmos de alto e o espigatildeo 12 leva a quaimar cada piulha 30 ate 34 dias e mais e da cada pilha de 700 a 900 arrobas de carvatildeordquo (FRAGA 1968 p 86) 72 Joseacute Bonifaacutecio de Andrada e Silva em suas Memoacuterias Econocircmicas sobre a Faacutebrica de Ferro de Ipanema faz criacuteticas agrave construccedilatildeo dos Altos Fornos de Varnhagen e tambeacutem agrave preparaccedilatildeo do mineral e do combustiacutevel utilizado como ldquocavacos de perobardquo (MENON 1992 p144)

118

florestais destacando-se o jaguarundi o gambaacute o irara o tapiti o matildeo-pelada o

quati o jacupemba o chupa-dente o pica-pau de topete vermelho o tangaraacute

danccedilarino o sabiaacute coleira a jararaca a cascavel e o lagarto teiuacute 73

43 Rios e ribeirotildees

Dois rios circundam aquele morro o rio Ipanema e o Sarapuhy afluentes

do rio Sorocaba Na parte central daquele Morro surgem alguns riachos sendo o

mais importante deles o Ribeiratildeo do Ferro anteriormente denominado de Ribeiratildeo

das Furnas (afluente do Rio Ipanema) que nasce no Monte ou Pico do Chapeacuteu e

forma o Vale das Furnas com ocorrecircncia de cascatas e piscinas naturais Eacute

tambeacutem naquele Vale e em uma das curvas do Ribeiratildeo do Ferro que estaacute

situado o Siacutetio Arqueoloacutegico Histoacuterico Afonso Sardinha objeto de anaacutelise dessa

Tese

O Ribeiratildeo do Ferro ao descer o morro de Araccediloiaba apresenta

desniacuteveis de ateacute 500 metros com a presenccedila de alguns trechos encachoeirados

caracteriacutestica essa que proporcionou a execuccedilatildeo de projetos de aproveitamento

hidraacuteulico como a construccedilatildeo de obras de represamento canal de derivaccedilatildeo e

vala transformando as aacuteguas daquele ribeiratildeo em forccedila motriz aplicada ao

funcionamento dos equipamentos e ferramentas utilizadas no processo produtivo

da produccedilatildeo de ferro

73 Ver Fazenda Ipanema Disponiacutevel em lthttpfazendaipanemaiperospgovbrhistoriaphpgt

119

44 A magnetita o mineacuterio do morro de Araccediloiaba

Segundo Andreacute Davino a importacircncia do morro de Araccediloiaba do ponto de

vista geoloacutegico

deriva do fato de conter umas das muitas ocorrecircncias de rochas

alcalinas do Brasil As concentraccedilotildees de magnetita e apatita

[descobertas no final do seacuteculo XIX] nessas rochas despertaram

desde longa data especial interesse sobre a aacuterea O contorno da

intrusatildeo alcalina situa-se na parte central da Serra e estaacute contido

inteiramente dentro dos limites da Fazenda Federal de Ipanema

(DAVINO 1975 p130)

O mineacuterio de ferro encontrado no morro de Araccediloiaba eacute a Magnetita

um imatilde natural com propriedade magneacutetica de atrair objetos feitos de ferro ou

outros metais Essa propriedade do mineacuterio possivelmente facilitou o encontro

daquela jazida pelos sertanistas que por laacute passaram em meados do seacuteculo XVI

A magnetita eacute um mineacuterio do grupo das espinelas formado por oacutexido

magneacutetico de ferro (Fe3O4) composto por 724 de Fe (ferro) Eacute frequumlente a

existecircncia de cristais bem desenvolvidos pertencentes ao sistema cuacutebico

geralmente em forma de octaedros ou de dodecaedros Eacute abundante formando

as suas jazidas verdadeiras montanhas em massas granulares ou compactasA

composiccedilatildeo da magnetita eacute de oacutexido de feacuterrico (Fe2O3) 65 oacutexido ferroso (Fe O)

25 siacutelica (SiO2) 10 e traccedilos de aacutecido fosfoacuterico (P2O5) (FRAGA 1968 p149)

No Brasil encontram-se jazidas de magnetita nas regiotildees que

compreendem desde o Sudeste da Bahia ateacute o Leste do Paranaacute e Nordeste de

Santa Catarina Contudo sempre se apresentam impregnado de Titacircnio (Ti O2)

em proporccedilotildees que variam desde 04 ateacute 16 A exagerada densidade74 dessa

magnetita concorre para tornaacute-la inaproveitaacutevel para a reduccedilatildeo mesmo nos altos 74 A densidade eacute medida na proporccedilatildeo quilograma por metro cuacutebico kg m-3

120

fornos a coque a menos que sofra preacutevio e demorado tratamento ou que seja

misturada a mineacuterios menos densos (e portanto algo impuro) tais como a canga

a Hematita e outros De outro lado o oacutexido de titacircnio que a impregna dificulta

quando natildeo impede inteiramente a transformaccedilatildeo em gusa ou em esponja

(AMARAL 1946 p 264-266 Apud FRAGA 1968 p32) No morro de Araccediloiaba as

jazidas de Magnetita encontram-se na ldquoforma de depoacutesitos aluviais e

concentraccedilotildees in situ a poucas dezenas de metros de profundidaderdquo (DAVINO1975 p129)

Fig 37 MINEacuteRIO DE FERRO MAGNETITA

Embora no final do seacuteculo XIX os conhecimentos cientiacuteficos da Quiacutemica e

da aacuterea da metalurgia jaacute estivessem avanccedilados a composiccedilatildeo da Magnetita do

morro de Araccediloiaba impregnada de oacutexido de Titacircnio natildeo era conhecida75 A

carecircncia de conhecimento cientiacutefico sobre as propriedades quiacutemicas dessa

magnetita foi a principal causa dos trecircs seacuteculos de tentativas de se produzir ferro

naquele local e das inuacutemeras criacuteticas que eram feitas aos fundidores e

administradores 76 Sendo assim podemos indicar que essa realidade teacutecnica foi

determinante para que natildeo se produzisse em Ipanema desde finais do seacuteculo

XVI ferro de boa qualidade Estephania Fraga indica que

75 O titacircnio foi descoberto em 1791 por Willian Gregor mas soacute se tornou bem conhecido apoacutes os estudos de Wohler em 1857 e Peterson em 1887 76 Orville Derby no final do seacuteculo XIX presidia a comissatildeo de estudos geoloacutegicos da Proviacutencia de Satildeo Paulo e pesquisou a apatita de Ipanema

121

a dificuldade em fundir o mineacuterio de Ipanema ndash a magnetita ndash

provinha da composiccedilatildeo especiacutefica do mesmo pois aleacutem de sua

exagerada densidade apresenta-se impregnada de oacutexido de

Titacircnio fatores que contribuem de forma decisiva para dificultar

sua reduccedilatildeo mesmo em altos fornos (FRAGA 1968 p86)

A dificuldade de produzir um ferro de boa qualidade jaacute era sentida desde o

seacuteculo XVIII quando Domingos Pereira Ferreira apostou na construccedilatildeo de uma

Faacutebrica de Ferro naquele local Embora tenha construiacutedo diversos tipos de fornos

e empregado diferentes modos de fundiccedilatildeo natildeo havia conseguido um bom

resultado No seacuteculo XIX essa mesma dificuldade permaneceu nos trabalhos de

fundiccedilatildeo e na produccedilatildeo de ferro da Real Faacutebrica de Ipanema fundada em 1810

O desconhecimento das propriedades daquela magnetita apenas

descoberta na segunda metade do seacuteculo XIX quando a Real Faacutebrica de Ferro jaacute

estava em plena decadecircncia77 tambeacutem estava na origem das acirradas

discussotildees teacutecnicas entre Friederich Ludwig Wilhelm Varnhagen mineralogista

alematildeo e Carl Gustav Hedberg sueco e primeiro diretor de Ipanema (1811-

1814) sobre as vantagens do alto-forno proposto por Vanhagen em relaccedilatildeo aos

quatro fornos azuis Blauofen fornos de reduccedilatildeo direta inicialmente instalados

em Ipanema78

O diretor sueco foi substituiacutedo por Ludwig Wilhelm Varnhagen em 1815

que construiu dois Altos Fornos de aproximadamente 8 metros de altura cada

um Com estes fornos conseguiu produzir o ferro gusa em sua forma liacutequida

tendo moldado com a primeira corrida desse ferro trecircs cruzes sendo uma delas

ldquolevada em procissatildeo ateacute o ponto alto da montanha de Araccediloiabardquo onde

atualmente permanece Contudo Varnhagen natildeo produziu o ferro esperado e

77 Naquele periacuteodo nem o Estado nem a Real Faacutebrica possuiacuteam laboratoacuterios de anaacutelise que pudessem fazer ensaios do mineacuterio combustiacutevel e fundentes empregados na produccedilatildeo A primeira escola formadora de profissionais na aacuterea de mineraccedilatildeo foi a Escola de Minas de Ouro Preto fundada em 1875 (FRAGA 1968 p140) 78 Von Varnhagen havia dirigido a faacutebrica de ferro de Figueiroacute dos Vinhos em Portugal e foi enviado a Ipanema com a finalidade de projetar a construccedilatildeo de uma grande faacutebrica de ferro que afinal foi construiacuteda por Hedberg (FRAGA 1968 p 71-79)

122

essa dificuldade tambeacutem natildeo foi compreendida por Eschwege79 que estava na

direccedilatildeo de uma outra faacutebrica de ferro em Congonhas do Campo a qual produzia

ferro a partir de um outro mineacuterio a hematita que facilmente pode ser trabalhada

para a produccedilatildeo do ferro80 A partir de 1821 estes fornos altos jaacute estavam em

decadecircncia

Contudo parece que apenas Joseacute Bonifaacutecio de Andrada e Silva quando

esteve examinando as minas de ferro daquele Morro percebeu que

o problema capital de Ipanema liga-se ao mineacuterio de ferro ali

existente ldquoo ferro magneacuteticordquo de difiacutecil fusatildeo embora natildeo

pudesse conhecer ainda a composiccedilatildeo do mesmo (presenccedila de

Titacircnio que como eacute sabido foi descoberto apenas a partir da

segunda metade do seacuteculo XIX) considerando (com base nos

conhecimentos do gecircnero que visitou na Europa) que a soluccedilatildeo

estaria em aumentar a altura dos pequenos fornos (FRAGA 1968

p149)

Em 1878 foi a vez de Joaquim Antonio de Souza Mursa construir um Alto

Forno e quando a Faacutebrica fechou em 1895 este ainda natildeo havia sido utilizado

79 Ludwig von Eschwege depois de ter trabalhado em Portugal o baratildeo de Eschwege seguiu em 1810 para o Brasil a convite do priacutencipe regente D Joatildeo para reanimar a decadente mineraccedilatildeo de ouro e para trabalhar na nascente induacutestria sideruacutergica Em 1821 inicia em Congonhas do Campo Minas Gerais os trabalhos de construccedilatildeo de uma faacutebrica de ferro denominada de Patrioacutetica empreendimento privado sob a forma de sociedade por accedilotildees Em 1811 a siderurgia de Eschwege jaacute produzia em escala industrial Eschwege eacute o autor de Pluto Brasiliensis primeira obra cientiacutefica escrita sobre a geologia brasileira publicada primeiramente na Europa em 1833 (FIGUEIROA 1977 63-67) 80 As hematitas satildeo mineacuterios de ferro constituiacutedos por oacutexido feacuterrico (Fe2O3) contendo ateacute 70 de ferro(Fe) Seu aspecto varia consideravelmente pode se apresentar cristalizado em massas compactas ou em massas terrosas Satildeo utilizadas na produccedilatildeo de ferro sob duas formas principais a) hematita vermelha e b) hematita parda Dados sobre a composiccedilatildeo quiacutemica da hematita fornecidos pela Dra Heacutelegravene Nasson Storch (FRAGA 1968 p149)

123

45 Fatores fisiograacuteficos da ocupaccedilatildeo europeacuteia

A ocupaccedilatildeo das aacutereas interiores da Capitania de Satildeo Vicente no iniacutecio da

colonizaccedilatildeo foi caracterizada particularmente por expediccedilotildees de apresamento de

iacutendios Este movimento pioneiro na ocupaccedilatildeo das aacutereas interiores do continente

e era facilitado pela existecircncia de caminhos indiacutegenas os Peabirus

No caso da ocupaccedilatildeo da regiatildeo onde estaacute localizado o morro de

Araccediloiaba o acesso era facilitado pela presenccedila de importante caminho que ligava

a vila de Satildeo Paulo de Piratininga agraves terras de Guairaacute e regiotildees do Alto Peru

(atual Boliacutevia) Com a descoberta da prata do Potosi intensificaram-se as buscas

de metais nobres inclusive com incentivos da Coroa portuguesa com ajuda de

mineradores preparados para a identificaccedilatildeo de mineacuterios especialmente a prata e

o ouro As expediccedilotildees em busca daquelas riquezas foram estimuladas apoacutes a

chegada de D Francisco de Sousa que ocupou a governadoria Geral do Brasil no

periacuteodo de 1591 a 1601

Foi neste contexto que ocorreram as primeiras tentativas de exploraccedilatildeo do

ferro das minas de Araccediloiaba Dificilmente pode-se precisar a data em que se deu

o encontro do morro de Araccediloiaba pelos europeus mas certamente a sua

descoberta foi facilitada pela presenccedila dos Peabirus

Provavelmente o aspecto estrateacutegico e o encontro de traccedilos de prata junto

ao mineacuterio de ferro de Araccediloiaba tenham sido fatores que levaram D Francisco a

conceder sesmarias e dar iniacutecio ao povoamento colonial da regiatildeo Para tanto

ldquoplantou o pelourinhordquo no interior do Morro tendo como padroeira Nossa Senhora

do Monte Serrat Esta povoaccedilatildeo natildeo prosperou tendo sua populaccedilatildeo se

deslocado em 1611 ndash o mesmo ano da morte de D Francisco de Sousa - para o

Itavuvu local que recebeu a denominaccedilatildeo de Satildeo Felipe Somente mais tarde no

decorrer de 1661 houve a fundaccedilatildeo da Vila de Sorocaba (ALMEIDA 2002 p 11-

20)

124

Apesar da sua localizaccedilatildeo distante cerca de trinta leacuteguas de distacircncia do

litoral e isolada dos mercados consumidores o interesse da exploraccedilatildeo do ferro de

Araccediloiaba se explica pelo valor estrateacutegico desse metal que poderia ser utilizado

como mercadoria contando com mercado certo a proacutepria Capitania de Satildeo

Vicente e a regiatildeo do rio da Prata Por outro lado o ferro era um metal de grande

interesse para a Metroacutepole que contava com pequenas jazidas

Mais tarde jaacute no iniacutecio do seacuteculo XVIII havia um mercado promissor

representado regionalmente pelo avanccedilo da agricultura de cana-de-accediluacutecar e

tambeacutem pela exploraccedilatildeo das minas de ouro de Cuiabaacute e Minas Gerais81 A esse

respeito escreve em 1782 Marcelino Pereira Cleto

Ainda que as minas de ferro e accedilo estatildeo em terras de Sertatildeo e na

distancia de trinta legoas da Marinha com tudo o sitio he haacutebil

para o bom consumo destes gecircneros porqto por Sorocaba he o

caminho para Coritiba Minas de Pernampanema e outras terras

mais distantes da Capitania de Satildeo Paulo por Itu Va proacutexima he

o caminho por onde se dirige todo o negocio que vai para

Cuiabaacute por esta capitania e tambeacutem perto das das minas se

encaminha a estrada de Goiases Se os Negociantes do Cuiabaacute e

Goiases achassem no caminho ou perto delle este dous gecircneros

[ferro e accedilo] ainda pelo mesmo preccedilo qrsquo elles se vendem no Rio

de Janeiro e os de S Paulo o tivessem na sua proacutepria Capitania

certamte natildeo iratildeo busca-los ao Rio de Janeiro com despesa e

risco e bastaria ser seguro este consumo para ser uacutetil cuidar-se

nas das minas

Quanto mais em distancia como de seis leacutegoas das minas

passa o rio Teateacute navegaacutevel de canoa e unicamemte com o

embaraccedilo de algum ou alguns Saltos ou Cachoeiras neste rio

entra um pouco distancia de S Paulo outro chamado dos

Pinheiros neste o rio Grande neste o rio Pequeno qrsquo fica junto agrave

81 No seacuteculo XVIII a agricultura da cana-de-accediluacutecar foi significativa na regiatildeo denominada de ldquoquadrilaacutetero do accediluacutecarrdquo formada pelas localidades de Sorocaba Piracicaba Mogi-Guaccedilu e Jundiaiacute destacando-se duas aacutereas Itu e Campinas Para este tema ver PETRONE Maria Thereza S A lavoura canavieira em Satildeo Paulo Satildeo Paulo Difusatildeo Europeacuteia do livro 1968

125

Serra qrsquo cobre a Va de Santos do rio pequeno a santos seratildeo

sette legoas trecircs por terra maacutes caminho mto aacutespero E as quatro

por hum rio qrsquo em todas as partes admitte navegaccedilatildeo daquelles

rios vecirc-se qrsquo era pequena a distancia em qrsquo se precisava

condusir por terra estes dous gecircneros ateacute ao Porto da Va de

Santos e daqui dar-lhes extraccedilatildeo para mais Portos da Ameacuterica

(CLETO 1899 p p 210)

Embora natildeo haja estudos especiacuteficos sobre o trabalho indiacutegena na

produccedilatildeo do ferro dos empreendimentos metaluacutergicos instalados no morro de

Araccediloiaba os documentos escritos indicam que ateacute meados do seacuteculo XVIII a

produccedilatildeo do ferro em Araccediloiaba foi realizada com o trabalho de indiacutegenas que

eram levados para aquela atividade pelos exploradores 82 Dessa forma

exploraram aquelas minas Afonso Sardinha e Francisco de Souza (seacuteculo XVI e

XVII) Luiz Lopes de Carvalho (seacuteculo XVII) Domingos Pereira Ferreira (seacuteculo

XVIII) e depois a Real Faacutebrica de Ferro de Satildeo Joatildeo do Ipanema Neste uacuteltimo

empreendimento os iacutendios foram trazidos das aldeias de Itapecerica MrsquoBoy

Carapicuiacuteba Barueri e Itapevi Em 1815 trabalhavam nessa faacutebrica 16 iacutendios aleacutem

de escravos africanos Em 1834 a Real Faacutebrica de Ferro comeccedilou a receber

africanos livres em 1837 trabalhavam naquele estabelecimento 121 escravos (68

homens 24 mulheres e 29 crioulos) e 48 africanos livres (30 homens e 18

mulheres)83

Nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XIX o morro de Araccediloiaba passou a

integrar as rotas de muitos naturalistas geoacutegrafos mineralogistas botacircnicos e

geoacutelogos como Von Martius Martim Francisco de Andrada Auguste Saint Hilaire

o Baratildeo Eschewege Theodoro Knecht e Leandro Dupreacute que fizeram daquele

82 Conforme estabelecia a legislaccedilatildeo mineira compilada pelo Coacutedigo Filipino a exploraccedilatildeo de qualquer mineacuterio era realizada com os recursos do proacuteprio descobridor pagando os direitos dos quintos ao eraacuterio reacutegio Cf Ord L 2ordm ndash Tits 26 e 28 par 16 acolhendo a Ord Manuelina do L 2ordm Tt34 e seus paraacutegrafos Ver RODRIGUES (1966 p 182) 83 Sobre o trabalho indiacutegena na Real Faacutebrica de Ferro de Ypanema ver MENON Og A Real Fabrica de Ferro de Satildeo Joatildeo do Ipanema e seu mundo 1811-1835 Dissertaccedilatildeo (mestrado) Satildeo Paulo PUCSP 1992 p 84-90 Sobre o trabalho dos africanos livres em Ipanema ver RODRIGUES Jaime Ferro trabalho e Confliro os Africanos livres na Faacutebrica de Ipenema Historia Social n 45 Campinas IFCH-Unicamp 29-42 199798

126

local um laboratoacuterio a ceacuteu aberto para pesquisas cientiacuteficas aleacutem de terem

deixado dessas experiecircncias relatos preciosos que ajudam a compor aquela

histoacuteria como atesta o relato do naturalista Saint-Hilaire que esteve em Ipanema

em 1819 Diz ele

Encontrei em Ipanema um zoologista o Sr Natterer membro da

comissatildeo cientiacutefica que o imperador da Aacuteustria havia enviado ao

Brasil para recolher amostras de espeacutecimes diversos do pais

Fazia um ano que se achava instalado nas proximidades das

forjas tendo jaacute formado uma vasta coleccedilatildeo de paacutessaros Era

impossiacutevel natildeo admirar a beleza dessa coleccedilatildeo Natildeo se via uma

uacutenica ave cujas penas tivessem sido coladas ou que apresentasse

a menor mancha de sangue

Encontrei tambeacutem em Ipanema um jovem prussiano Sellow

o primeiro naturalista a chegar no Brasil depois de firmada a paz

Tinha feito anteriormente estaacutegio no Jardim Botacircnico de Paris a

fim de aperfeiccediloar os seus conhecimentos e vivia agora de uma

pensatildeo que lhe dava o ilustre e generoso Humboldt o qual fazia

crer ao rapaz que ele estava sendo pago pela administraccedilatildeo do

Jardim Sellow dedicava-se as suas pesquisas com um zelo e

uma energia sem par (SAINT-HILAIRE 1972 p194-195)

127

CAPIacuteTULO 5

INVESTIGACcedilOtildeES ARQUEOLOacuteGICAS AS EVIDENCIAS DE UMA FAacuteBRICA DE FERRO 84

O trabalho da pesquisa arqueoloacutegica se estendeu por um periacuteodo de 8

anos (1983-1989) e ficou registrado em documentos de Diaacuterios de Campo

escritos pela pesquisadora Margarida Davina Andreatta assim como em

correspondecircncias levantamentos topograacuteficos planos de escavaccedilatildeo croquis e

desenhos geomeacutetricos de plantas das ruiacutenas croquis de cortes estratigraacuteficos e

de reconhecimento das escavaccedilotildees Inventaacuterio de Peccedilas e fotografias tudo

devidamente registrado em relatoacuterios da pesquisa arqueoloacutegica (ver Planta Geral

da Aacuterea Anexo 9 e o mapeamento das escavaccedilotildees Anexo 10)

Os artefatos coletados durante as investigaccedilotildees de campo foram

acondicionados em caixas devidamente protegidas e identificadas e guardados

nas dependecircncias do Museu do Centro de Visitantes da FLONA de Ipanema

Por ocasiatildeo da primeira visita realizada no Siacutetio Afonso Sardinha em 09 de

maio de 1983 a pesquisadora observou que as ruiacutenas existentes estavam

cobertas por ldquopequenos arbustos cipoacutes gramiacuteneas deposiccedilatildeo de folhas e raiacutezes

secasrdquo as quais encobriam os blocos de pedra que formariam as paredes de uma

edificaccedilatildeo (ANDREATTA 1983 p7) O siacutetio apresentava sinais de alteraccedilotildees

causadas pela accedilatildeo de erosatildeo pelas aacuteguas da chuva bem como pela accedilatildeo

antroacutepica possivelmente pescadores e caccediladores que usavam aquele local como

acampamentos temporaacuterios para suas atividades observando-se ainda sinais de

frequumlentes incecircndios na mata existente em seu entorno

84 Para acompanhar as discussotildees deste Capiacutetulo consultar o Anexo 9 Planta Geral do Siacutetio Afonso Sardinha

128

Fig 38 LIMPEZA DO SIacuteTIO AFONSO SARDINHA 1984

Fig 39 EQUIPE DE TRABALHO SITIO AFONSO SARDINHA 1988

Para iniciar a pesquisa arqueoloacutegica foi necessaacuterio remover a vegetaccedilatildeo

que recobria as ruiacutenas mencionadas de modo a possibilitar as primeiras

observaccedilotildees e mediccedilotildees das paredes e da aacuterea do seu entorno Desta forma jaacute

no iniacutecio das investigaccedilotildees iniciais em maio de 1983 jaacute haviam sido

129

evidenciados embora ainda natildeo totalmente identificados os espaccedilos

possivelmente destinados agrave produccedilatildeo de ferro e os locais proacuteprios para o

aproveitamento da forccedila motriz hidraacuteulica necessaacuteria agravequelas atividades

51 Estruturas hidraacuteulicas para a produccedilatildeo da forccedila motriz

O trabalho de reconhecimento da aacuterea identificou um conjunto de

estruturas identificadas como pertencente a um sistema hidraacuteulico destinado a

produccedilatildeo da forccedila motriz o qual compreendia diversas partes o canal de

derivaccedilatildeo das aacuteguas (vestiacutegios de canaleta) a vala destinada ao alojamento da

roda hidraacuteulica e o trecho do canal de restituiccedilatildeo das aacuteguas ao ribeiratildeo Tais

dispositivos se localizam em aacuterea externa poreacutem adjacente ao edifiacutecio principal

de produccedilatildeo de ferro

Natildeo foi possiacutevel localizar a estrutura do barramento responsaacutevel pelo

desvio das aacuteguas do ribeiratildeo do Ferro para o canal de derivaccedilatildeo

511 O Canal de Derivaccedilatildeo A existecircncia do canal de derivaccedilatildeo foi evidenciada no ano de 1987 quando

foram realizados os trabalhos de decapagem para escavaccedilatildeo da aacuterea Sul da aacuterea

A (forno externo) conforme registrado no Diaacuterio de Campo no dia 02 de julho de

1987 onde de se indica que ldquoevidenciou uma canaleta que se prolonga para o

interior da ferradura que apareceu apoacutes a limpeza da vegetaccedilatildeo do entorno da

mesmardquo Outra evidecircncia da existecircncia do canal na regiatildeo ao Sul da aacuterea A (forno

externo) foi a constataccedilatildeo da ocorrecircncia de fluxo de aacutegua em direccedilatildeo ao Forno 1

(aacuterea A1) fenocircmeno que se observava toda a vez que chovia Este fato mostra

130

que deveria existir um possiacutevel canal interceptador de aacuteguas de chuvas

direcionando a correnteza em direccedilatildeo ao forno (Anexo 9 e Figura 75)

A evidecircncia encontrada revelava que o Canal de Derivaccedilatildeo havia sido

construiacutedo com a finalidade de obter um aproveitamento da corrente de aacutegua do

ribeiratildeo do Ferro contornando a face sul da edificaccedilatildeo ateacute encontrar o muro da

entrada da vala da roda drsquoaacutegua em um ponto onde o terreno se encontra agrave cota

520m medida pelo levantamento planialtimeacutetrico realizado na aacuterea Sendo assim

esse canal de desvio de aacuteguas deve partir do ribeiratildeo do Ferro numa posiccedilatildeo com

cota evidentemente superior a 520m (Figura 75)

No final do Canal de Derivaccedilatildeo no ponto correspondente a entrada da vala

(aacuterea E) foi encontrada durante as pesquisas uma quantidade significativa de

blocos de rocha arenito de tamanhos regulares amontoados e natildeo-alinhados os

quais testemunhavam que naquele local deveria haver uma estrutura de conexatildeo

entre o canal de derivaccedilatildeo e a vala As dimensotildees desses blocos apresentando

uma certa regularidade de formas satildeo tambeacutem um forte indiacutecio de que eles foram

cortados com a finalidade de proporcionar um entrosamento na construccedilatildeo da

parede (Anexo 13)

As pesquisas mostraram a existecircncia de trecircs grupos de blocos com

dimensotildees regulares As Tabelas abaixo apresentam as dimensotildees observadas

nos blocos de arenito acima mencionados

Tabela 1 Dimensotildees dos blocos de maior dimensatildeo ( em centiacutemetros - cm)

COMPRIMENTO LARGURA ESPESSURA

43 30 18

43 27 15

26 20 16

131

COMPRIMENTO LARGURA ESPESSURA

20 11 8

18 09 9

18 14 6

Tabela 2 Dimensotildees dos blocos de media dimensatildeo ( em centiacutemetros ndash cm)

COMPRIMENTO LARGURA ESPESSURA

10 6 6

10 5 6

11 7 35

Tabela 3 Dimensotildees dos blocos de menor dimensatildeo ( em centiacutemetros ndash cm)

Fig 40 VISTA GERAL DA AacuteREA E 1988

132

512 A Vala da Roda

Nas ruiacutenas encontradas da Faacutebrica de Ferro a existecircncia de estruturas

destinadas a utilizaccedilatildeo da energia hidraacuteulica eacute evidenciada pela presenccedila de

estruturas que caracterizam o controle das aacuteguas Em sequumlecircncia ao Canal de

Derivaccedilatildeo mencionado no item anterior observa-se a existecircncia da vala para o

alojamento da roda drsquoaacutegua indicada na planta baixa (Anexo 9) identificada como

ldquoCanal (D)rdquo conforme registrado no Diaacuterio de Campo da pesquisadora Margarida

Davina Andreatta em maio de 1983

A vala encontrada apresenta 19 metros de comprimento tendo ambas as

paredes cerca de 15 metros de largura e vatildeo livre entre as paredes com cerca de

225 m A uma distacircncia da ordem de 37 metros da margem do ribeiratildeo do Ferro

a parede da lateral direita apresenta um alargamento e por conseguinte ocorre

um estreitamento do vatildeo da vala passando a contar com apenas 1 (um) metro de

largura na saiacuteda

A vala encontrada no Siacutetio Afonso Sardinha apresentava o seu piso com

plano de declividade em direccedilatildeo ao ribeiratildeo do Ferro sendo que na parte mais

alta a cota do piso eacute de 453 m acima do niacutevel do ribeiratildeo enquanto que a

extremidade inferior da vala alcanccedila 041m acima do mesmo niacutevel portanto

mostrando forte inclinaccedilatildeo para facilitar a restituiccedilatildeo da aacutegua ao ribeiratildeo

A posiccedilatildeo do plano de declividade da vala mostra que na extremidade de

saiacuteda do canal formou forte desniacutevel em relaccedilatildeo ao piso da Faacutebrica sendo que no

ponto meacutedio o niacutevel da vala seria igual a 230 m (Figura 41)

133

Fig 41 Dimensotildees da Vala da roda e localizaccedilatildeo das evidecircncias de

esteios

134

Fig 42 VALA DA RODA HIDRAacuteULICA 1987 - I

Fig 43 VALA DA RODA HIDRAacuteULICA 1987 - II

135

5121 Evidecircncias de esteios

Em novembro de 1984 foram evidenciados trecircs pares de esteios nas

laterais externas das paredes da vala permitindo supor que as mesmas

funcionavam como pilares para alguma cobertura sobre a vala (ANDREATTA

1984 p 37)

As evidecircncias de esteios encontrados possuem formas circulares e

quadrangulares tendo os lados medidas semelhantes As evidecircncias localizadas

no lado leste apresentavam respectivamente 040 cm X 040 cm 045 cm X 045

cm e 045 cm X 040 cm Jaacute as evidencias encontradas no lado oeste as medidas

encontradas eram 050 X 055 cm e 050 X 050 cm Aleacutem disso apresentavam

espaccedilamentos semelhantes entre si da ordem de quatro metros e meio

Fig 44 EVIDENCIAS DE ESTEIOS vala da roda 1987

136

Fig 45 DETALHE DOS ESTEIOS

Fig 46 DETALHE DE UM ESTEIO

137

52 A Faacutebrica de Ferro os espaccedilos de produccedilatildeo 521 Area ldquoCrdquo

O relevo do terreno nesta aacuterea mostra irregularidade sendo que na

extremidade sul junto agrave parede limite a superfiacutecie do terreno apresenta uma

parte plana com cota mais elevada tendo sido medido pela topografia o niacutevel

448 enquanto que na porccedilatildeo central aparece um segundo platocirc com cota do

terreno igual a 343 e na extremidade norte junto ao ribeiratildeo do Ferro a cota

medida foi 0 85m ( ver figura 47)

As pesquisas nesta aacuterea ldquoCrdquo foram realizadas agrave partir de novembro de

1986 para a verificaccedilatildeo da estratigrafia com a abertura de 2 trincheiras na

extremidade norte e uma na parte central as quais tiveram as seguintes

caracteriacutesticas geomeacutetricas (comprimento X largura X profundidade) T1 4m X

065m X 080m T2 170m X 070m X 080m T3 140m X 065m X 095m

(ANDREATTA1984 p 5)

O resultado dos estudos estratigraacuteficos e de decapagem mostraram a

existecircncia unicamente de telhas e cravos aleacutem de alguns poucos fragmentos de

ceracircmica

138

Fig 47 ndash Topografia do Terreno da Aacuterea C (Seta indicaccedilatildeo das Trincheiras)

139

Fig 48 Vista Geral da Aacuterea C 1987

522 A Aacuterea B (ldquoForjardquo) Diferentemente do espaccedilo ldquoCrdquo analisado no item anterior a aacuterea

denominada ldquoBrdquo no desenho da planta baixa (anexo 9) apresentou importante

quantidade de materiais arqueoloacutegicos tais como metais liacuteticos ceracircmicas louccedila

e resiacuteduos de fundiccedilatildeo (escoacuterias)

No inicio das exploraccedilotildees do local no decorrer do ano de 1983 foram

observadas evidecircncias de paredes inclusive com amontoados de blocos de

arenito que mostravam possiacuteveis sinais de alteraccedilotildees construtivas

No ano seguinte orientado pela descoberta dos blocos acima

mencionados os quais foram caracterizados como possiacuteveis materiais de

construccedilatildeo a pesquisa arqueoloacutegica foi programada prevendo inicialmente a

140

remoccedilatildeo da vegetaccedilatildeo existente no espaccedilo assinalado ldquoBrdquo seguida da

decapagem do terreno

As pesquisas iniciais permitiram identificar a existecircncia da base de paredes

de uma antiga estrutura A partir desta descoberta foi possiacutevel reconstruir ldquoem

superposiccedilatildeo aos blocos de arenito da parede original da forjardquo 85 Tais blocos de

arenitos conforme foi possiacutevel constatar eram os mesmos materiais de

construccedilatildeo dos setores ldquoCrdquo e ldquoDrdquo

Fig 49 RECONSTITUICcedilAtildeO DAS PAREDES DA AacuteREA B 1984

85 Comunicaccedilatildeo Interna ao CENEA por Margarida Davina Andreatta Iperoacute 05dez1984

141

Fig 50 EVIDENCIAS DAS PAREDES DA AacuteREA B 1984 -

Fig 51 PAREDE DA AacuteREA B RECONSTITUIacuteDA 1984 - I

142

Fig 52 PAREDES DA AacuteREA B RECONSTITUIacuteDA 1984 - II

Durante a realizaccedilatildeo da pesquisa arqueoloacutegica com escavaccedilotildees nesta

aacuterea foi possiacutevel evidenciar a ocorrecircncia de significativa quantidade de peccedilas de

metais (ver Tabela Metais) tais como lacircminas plaquetas e cravos

aparentemente indicando a atividade de transformaccedilatildeo do ferro em peccedilas de

utilitaacuterios Tambeacutem foram encontrados liacuteticos fragmentos de telhas faianccedila de

origem portuguesa e ceracircmicas de produccedilatildeo regional ou local (neo-brasileira)

possivelmente ldquopara fins utilitaacuterios do grupo que habitou o localrdquo 86

86 Relatoacuterio de Atividades Periacuteodo 19-31 maio 1986 p 8

143

Fig 53 DECAPAGEM AacuteREA B 1984

Quanto ao piso arqueoloacutegico da aacuterea ldquoBrdquo observou-se que ele estava

situado entre 10 e 30 cm acima do solo original sendo constituiacutedo ldquode blocos de

arenito de diferentes tamanhos irregulares e cobertos por uma camada de terra

com huacutemus e raiacutezes tronco de aacutervores e a terra eacute latossolo (cor avermelhada) o

mesmo que se encontra entre os blocos de arenito nas paredes parece que

serviu como argamassa para assentar os blocos entre si e levantar a parederdquo

conforme descriccedilatildeo apresentada no Diaacuterio de Campo da pesquisadora Margarida

Davina Andreatta (ANDREATTA 1984 p 42) Notou-se tambeacutem que os blocos e

placas de arenito estavam ldquodispostos horizontalmente de maneira que indicavam

que a superfiacutecie do piso deveria ter sido nivelada com argila a fim de facilitar a

circulaccedilatildeo do homemrdquo (ANDREATTA 1984 p 42)

144

TABELA METAIS

CATEGORIAS NUacuteMERO DE FRAGMENTOS

Cravos 33

Plaquetas 06

Barras de ferro 02

Escoacuterias 03

Mineacuterios 03

ANDREATTA Inventaacuterio de Peccedilas 1983-1987

No interior do local da aacuterea ldquoBrdquo (ldquoforja) foram coletadas duas peccedilas

arqueoloacutegicas compreendendo dois fragmentos de ceracircmica com formato de

vasilhame para cozimento as quais foram encaminhadas para o laboratoacuterio da

FATEC ndash Faculdade de Tecnologia de Satildeo Paulo com o objetivo de obter a

dataccedilatildeo absoluta pelo meacutetodo da termoluminescecircnciardquo Este meacutetodo eacute aplicado

para o caso de materiais que apresentam quartzo em sua composiccedilatildeo tais como

ceracircmica vidros solos louccedilas faianccedilas etc

Uma dessas peccedilas era constituiacuteda de metade de um vasilhame de

pequenas dimensotildees de ceracircmica decorada com a presenccedila de apecircndice (alccedilas)

identificada conforme classificaccedilatildeo arqueoloacutegica como de produccedilatildeo local ou

regional (neo-brasileira) O exame visual dessa peccedila mostra a existecircncia de um

apecircndice (alccedila) que identifica a influencia do europeu na fabricaccedilatildeo daquele

objeto permitindo deduzir que o local teria sido um siacutetio de contato (entre o

indiacutegena e o europeu)

O resultado do ensaio de dataccedilatildeo absoluta dessa peccedila arqueoloacutegica pelo

meacutetodo da termoluminescecircncia apontou a idade de 520 +- 75 anos permitindo

avaliar a data da fabricaccedilatildeo entre 1411 a 1561 conforme Certificado da FATEC

datado de 21 de junho de 2006 (Relatoacuterio de Ensaio ndash Anexo 1) Levando em

conta os dados apresentados pela pesquisa histoacuterica para aquele local pode-se

145

supor que a data mais provaacutevel da fabricaccedilatildeo da peccedila seja em meados do seacuteculo

XVI eacutepoca em jaacute ocorria presenccedila do explorador europeu (Figuras 54 55 56)

Fig 53 VASILHAME CERAcircMICA ndash 0106 - SEacuteCULO XVI -I Idade de 520 +- 75 anos

Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema

Fig 54 VASILHAME CERAcircMICA ndash 0106 - AacuteREA B SEacuteCULO XVI - II

Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema

146

Fig 55 VASILHAME CERAcircMICA ndash 0106 - AacuteREA B SEacuteCULO XVI - III

Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema

Descriccedilatildeo Nuacutemero de Registro 0106

Niacutevel 015 m de profundidade

Laacutebio arredondado

Borda extrovertida inclinada externa

Diacircmetro de boca 014 m

Acircngulo da parede 115ordm

Vasilhame simeacutetrico profundo inflectido de boca ampliada e com

apecircndices lisos em forma de rolete com evidencias de pressatildeo na extremidade

para fixaccedilatildeo

Apresenta as seguintes decoraccedilotildees inciso na posiccedilatildeo vertical com 015m

de comprimento (em grupo de 3 incisos) distanciando cada grupo em 001m

dispostos em duas fileiras sendo a primeira proacutexima al laacutebio e a segunda junto a

altura do apecircndice

147

O bojo eacute liso e a sua base escovada e apresenta marcas de fuligem na

parte externa e sinais de desgaste por atrito na parte interna da base do

vasilhame

O outro vasilhame ceracircmico encontrado na aacuterea B identificada como de

procedecircncia local ou regional (neo-brasileira) apresenta caracteriacutesticas

semelhantes e tambeacutem a mesma dataccedilatildeo do vasilhame de ceracircmica

anteriormente descrito (Figura 57 58) Este artefato foi encontrado a 030 cm da

superfiacutecie e foi em parte reconstituiacutedo e levado para o exame de dataccedilatildeo pelo

processo de termoluminscecircncia ao Laboratoacuterio de Vidros e Dataccedilatildeo da Faculdade

de Tecnologia de Satildeo Paulo - FATEC O resultado do ensaio apontou a idade de

540 +- 75 anos correspondendo a possiacuteveis datas de fabricaccedilatildeo daquele artefato

entre 1391 e 1541 sendo esta uacuteltima data a mais provaacutevel(Relatoacuterio de Ensaio

Anexo 1)

Fig 57 VASILHAME CERAcircMICO ndash 0122 - AacuteREA B SEacuteCULO XVI - I Idade de 540 +- 75 anos

Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema

148

Fig 58 VASILHAME CERAcircMICO ndash 0122 - AacuteREA B SEacuteCULO XVI - II Idade de 540 +- 75 anos

Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema Descriccedilatildeo Nuacutemero de registro 0122

Niacutevel 030 m de profundidade

Tipo de laacutebio arredondado

Tipo de borda extrovertida inclinada externa

Diacircmetro da boca 028m

Acircngulo da parede 110ordm

Fragmento de vasilhame simeacutetrico de contorno inflectido com as seguintes

decoraccedilotildees parede lisa com engobo branco parede externa com banho de

engobo branco com uma linha incisa paralela a 001m do laacutebio Entre esta

primeira decoraccedilatildeo e o bojo haacute decoraccedilatildeo escovada com inclinaccedilatildeo

Na borda haacute ainda um apecircndice convexo com sinais de fixaccedilatildeo e nas

extemidades haacute pressatildeo de fixaccedilatildeo Entre a borda e o bojo apresenta decoraccedilatildeo

regulada contornando o vasilhame O bojo tambeacutem apresenta decoraccedilatildeo

escovada quase horizontal

149

Uma terceira peccedila encontrada no interior da aacuterea ldquoBrdquo eacute uma faianccedila

decorada de origem portuguesa e formada por fragmentos de louccedila de uso

domeacutestico a qual tambeacutem foi submetida a uma dataccedilatildeo relativa mediante

comparaccedilatildeo feita com auxilio de cataacutelogo (Itineraacuterio da Faianccedila do Porto e Gaia

publicaccedilatildeo do Museu Nacional de Soares dos Reis sem data) Os fragmentos

foram localizados em parte no interior da aacuterea ldquoBrdquo e outra parte na aacuterea externa

dessa mesma aacuterea sendo este uacuteltimo junto a um vestiacutegio de estrutura do forno 1

aacuterea A1 (Figura 59)

O exame visual sobre a faianccedila reconstituiacuteda a partir de cinco fragmentos

separados permitiu reconhecer com base no documento acima mencionado que

aquela peccedila era um utensiacutelio portuguecircs de uso domeacutestico a qual pode ser

descrita como ldquotiacutepicas tijelas malegueiras decoradas no fundo e na orla com

filetes concecircntricos azul [] que apresentam temas decorativos recorrentes

dentro das faianccedilas conhecidas para a segunda metade do seacuteculo XVII (GOMES

BOLTELLO p148)

Conforme parecer sobre a mesma faianccedila acima descrita apresentado por

Paulo Dordio arqueoacutelogo pesquisador da Casa do Infante Porto ndash Portugal em

28 de abril de 2004 aquela peccedila de faianccedila apresenta uma ldquodecoraccedilatildeo simples

que exibe com toques de pincel espaccedilados junto ao bordo filetes simples

resultando ciacuterculos concecircntricos e espiral no fundo tudo em azul aponta para

uma cronologia que se centraraacute no seacuteculo XVIIrdquo 87

87 Parecer sobre a faianccedila encontrada no Siacutetio Afonso Sardinha feita por Paulo Dordio arqueoacutelogo pesquisador da Casa do Infante Porto ndash Portugal em 28 abr 2004

150

Fig 59 FAIANCcedilA - AacuteREA B [SEacuteC XVII]

Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema

53 Area E Sul da Faacutebrica de Ferro

A pesquisa arqueoloacutegica realizada na aacuterea E Sul externa da Faacutebrica de

Ferro revelou a existecircncia de amontoados de resiacuteduos de fundiccedilatildeo da magnetita

conhecidos como escoacuteria os quais se distribuem por uma ampla aacuterea do terreno

identificada como escorial sendo que num local adjacente agrave face sul da estrutura

denominada aacuterea ldquoB se apresenta maior concentraccedilatildeo (ver anexo 9)

Uma amostra desse material foi encaminhada para anaacutelise no

Departamento de Mineralogia e Geotectocircnica GMG do Instituto de Geociecircncias

da Universidade de Satildeo Paulo aos cuidados de Daniel Atencio Professor

Associado daquele Departamento o qual constatou ser aquela amostra ldquo[]

provavelmente restos de fundiccedilatildeo Trata-se de wuumlstita (FeO) mais ferro (Fe)

Esses materiais satildeo muito raros como minerais mas comuns em fundiccedilotildeesrdquo88

88 Anaacutelise elaborada por Daniel Atencio Professor Associado do Departamento de Mineralogia e Geotectocircnica GMG IGUSP e enviado por e-mail no dia 21 set 2005

151

Como indica este parecer a amostra se constituiacutea de uma escoacuteria ldquoresto

de fundiccedilatildeordquo contendo wuumlstita (FeO) e ferro caracterizando desta forma o material

do escorial citado

Fig 60 ESCOacuteRIA RESTOS DE FUNDICcedilAtildeO AacuteREA E

Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema

Observe-se que a presenccedila do metal de ferro impregnado nessa escoacuteria

era resultante da teacutecnica de fundiccedilatildeo para fabricaccedilatildeo do ferro empregada no

Brasil ateacute o iniacutecio do seacuteculo XIX Com a introduccedilatildeo do processo de altos-fornos no

Brasil foi possiacutevel melhorar o aproveitamento do mineacuterio de ferro durante o

processo de fundiccedilatildeo

Nesta mesma aacuterea E foi encontrada uma grande quantidade de telhas

localizadas na parte externa das aacutereas ldquoBrdquo e ldquoCrdquo anteriormente descritas Foram

coletadas 930 fragmentos de telhas as quais foram localizadas ao longo de uma

faixa do terreno com largura da ordem de 060 e 080 cm paralelamente a parede

sul das aacutereas ldquoBrdquo e ldquoCrdquo sugerindo corresponder a mesma posiccedilatildeo sob um ldquobeiral

do telheiro que cobria as respectivas aacutereasrdquo (ANDREATTA 1987 p36v) (Anexo

15)

152

As telhas encontradas permitem afirmar que no local havia uma cobertura

sendo que os trabalhos de dataccedilatildeo sobre um exemplar de telha (Figura 61)

executado pelo meacutetodo de termoluminescecircncia pelo Laboratoacuterio de Vidros e

Dataccedilatildeo da Faculdade de Tecnologia de Satildeo Paulo ndash FATEC acusou uma

dataccedilatildeo (em anos) de 280 +- 40 o que equivale a afirmar que aquele fragmento

foi fabricado entre os anos de 1686 a 1766 periacuteodo correspondente a pelo

menos dois projetos de Faacutebrica de Ferro para aquele local o de Luiz Lopes de

Carvalho e o de Domingos Pereira Ferreira sendo que este uacuteltimo empreendedor

esteve ali estabelecido durante um periacuteodo de no miacutenimo 12 anos (Relatoacuterio de

Ensaio Anexo 1)

A partir dos exames dos fragmentos das telhas encontradas tendo por

base o tipo de pasta coloraccedilatildeo e decoraccedilatildeo foi possiacutevel identificar seis grupos

distintos daquele material conforme a tabela de classificaccedilatildeo abaixo

(ANDREATTA 1987 p21)

Classificaccedilatildeo Caracteriacutestica

Tipo I Branca com riscos (podem ter sentido

longitudinal transversal em X ou em cruz) -

Predominante

Tipo II Branca lisa

Tipo III Vermelha lisa

Tipo IV Marron lisa

Tipo V Vermelha marcadas com granulaccedilatildeo grosseira

Tipo VI Vermelha lisa e com granulaccedilatildeo grosseira

(ANDREATTA 1987 p22)

Quanto a decoraccedilatildeo foram identificados quatro tipos de motivos conforme

os itens descritos abaixo

153

Tipo 1 - linhas digitais horizontais formados por duas linhas relativamente finas

(10 cm) paralelas e orientadas de uma extremidade a outra da telha A natureza

dessas linhas indica que foram confeccionadas em alguns casos por meio da

utilizaccedilatildeo de dedos (indicador e meacutedio)

Tipo 2 - linhas digitais associadas neste caso a decoraccedilatildeo eacute composta por uma

uacutenica linha com a largura de 03 a 05 cm traccedilada na posiccedilatildeo horizontal associada

a uma outra decoraccedilatildeo de forma semicircular

Tipo 3 - linhas digitais paralelas e inclinadas a decoraccedilatildeo apresenta linhas de 10

cm inclinadas e entrelaccediladas

Tipo 4 - linhas digitais inclinadas apresentam linhas com 10 a 15 cm

154

Fig 61 TELHA (AacuteREA E) ndash SEacuteCULO XVIII Idade 280 +- 40 (tn 255 cm) Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema

155

Fig 62 TELHA (AacuteREA E) (tn30 cm) Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema

Fig 63 TELHA AacuteREA E (tn 33 cm) Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema

156

531 Fornos de fundiccedilatildeo na aacuterea externa da Faacutebrica (Aacuterea A1) Na aacuterea externa agrave Faacutebrica de Ferro localizada em diversas posiccedilotildees ao sul

e leste da edificaccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro inclusive na aacuterea aqui denominada de

escorial a pesquisa arqueoloacutegica mostrou a existecircncia de pequenos fornos de

fundiccedilatildeo do tipo ldquofornos baixosrdquo (Anexo 9)

Nessa mesma aacuterea junto ao local denominado ldquoArdquo foi identificado um dos

fornos de fundiccedilatildeo o qual foi denominado de ldquoforno1rdquo da aacuterea A1 junto ao qual

foram encontrados diversos materiais arqueoloacutegicos fragmento de ceracircmicas um

material liacutetico identificado como ldquoraspadorrdquo uma garrafa de greacutes fragmentos de

faianccedila portuguesa e telhas As evidecircncias de ceracircmicas encontradas nessa aacuterea

constituem artefatos relacionados ao grupo social de ocupaccedilatildeo colonial

Fig 64 RASPADOR PLANO-CONVEXO AacuteREA E

157

Fig 65 GARRAFA GRES AacuteREA A FORNO-1

Tambeacutem foi localizado um afloramento de rocha nas proximidades da

Faacutebrica margem esquerda do ribeiratildeo do Ferro o qual apresentava marcas de

uso possivelmente para afiar ferramentas (ANDREATTA 1983 p 18)

5311 Forno de Fundiccedilatildeo 1

O Forno 1 era do tipo conhecido como ldquoforno baixordquo sendo o uacutenico

encontrado junto a Faacutebrica de Ferro Entretanto dois outros fornos baixos foram

localizados em um local mais distante (da ordem de 50m) e denominado aacuterea A2

da referida Faacutebrica possivelmente fazendo parte de um outro conjunto de

produccedilatildeo de ferro (Anexo 9)

Os trabalhos de reconhecimento arqueoloacutegico mostraram que o Forno 1

(aacuterea A1) foi construiacutedo sobre uma base retangular com blocos de arenito sendo

158

que duas paredes foram erguidas tambeacutem com blocos de arenito (lados Norte e

Oeste ) enquanto que as duas outras faces foram encaixadas no proacuteprio terreno

rochoso do afloramento de arenito (lados Sul e Leste) aproveitando o relevo

inclinado no local

Uma descriccedilatildeo relacionada ao Forno 1 (aacuterea A1) feita pela pesquisadora e

arqueoacuteloga Margarida Davina Andreatta informa que

uma parte da ldquoconcavidaderdquo (lado Leste) eacute o proacuteprio afloramento

de arenito e o lado Sul tambeacutem enquanto que os lados Norte e

Oeste satildeo revestidos de blocos de arenito e no centro haacute

pequenos blocos tambeacutem de arenito que provavelmente rolaram

da superfiacutecie do proacuteprio muro de pedras da forja (ANDREATTA

1986 p9)

Os dados da pesquisa arqueoloacutegica mostraram ainda que o Forno 1 (aacuterea

A1) apresentava em planta as seguintes dimensotildees comprimento 340m (norte-

sul) largura 260m (leste ndash oeste) e profundidade de 085m (Andreatta 1986

p10)

Fig 66 DECAPAGEM FORNO1 AacuteREA A1 1987

159

Fig 67 VESTIacuteGIOS DO FORNO DE FUNDICcedilAtildeO1- (AacuteREA A1)89

532 Fornos de fundiccedilatildeo da Aacuterea A2 A pesquisa arqueoloacutegica mostrou vestiacutegios de dois outros fornos de

fundiccedilatildeo localizados subjacentes a um morrote denominado B nesta aacuterea A2 a

qual dista cerca de 50 metros ao Sul do local da aacuterea A1 onde existe uma ruiacutena

da Faacutebrica de Ferro O morrote B (ver Figuras 13 e 68) apresentava dimensotildees

de 1280 metros de comprimento por 250m de largura e 135 m altura Aleacutem do

forno de fundiccedilatildeo foram encontrados tijolos telhas e fragmentos de ceracircmica

(ANDREATTA 1987 p65-66) ( Anexo 9)

89 Ver em Pesquisas arqueoloacutegica prosseguem em Ipanema Jornal Cruzeiro do Sul Sorocaba 19 de marccedilo de 1987p 1

160

Fig 68 MORROTE E FORNOS 1 E 2 ndash AREA A2

161

Fig 69 CROQUI AacuteREA A 2 MORROTE B ndash FORNOS 1 E 2 Desenho de Maacutercia Gutierrez Escala 120

162

5321 Forno de fundiccedilatildeo 1 (aacuterea A2) O forno de fundiccedilatildeo 1 da aacuterea A2 caracteriza-se tambeacutem como do tipo

baixo Durante a pesquisa arqueoloacutegica esta evidecircncia se apresentou como o

forno de fundiccedilatildeo mais bem conservado dentre aqueles encontrados Este forno

tem a forma circular com 070 m de diacircmetro interno e 100 m de diacircmetro

externo com 030 m de profundidade A estrutura apresenta na base um vatildeo de

015 m que corresponde agrave abertura atraveacutes da qual se fazia a ldquocorrida das

escoacuteriasrdquo (Figuras 70 e 71)

A parede circular do Forno 1 (aacuterea A2) eacute ldquo assentada diretamente sobre o

solo e eacute constituiacuteda por tijolos e fragmentos de telhas e argamassa com argila do

proacuteprio solo originalrdquo (ANDREATTA 1987 p65-66) Junto ao vatildeo existente no

piso do forno foi feito um pequeno corte (025 m X 025 m X 010 m) para

evidenciar com maior precisatildeo a funccedilatildeo que teria aquela abertura em relaccedilatildeo agrave

estrutura do forno de fundiccedilatildeo

Com base nas investigaccedilotildees arqueoloacutegicas desenvolvidas foi possiacutevel

evidenciar a existecircncia de uma camada de 002 m de ldquosolo compactado e

queimado e com maior resistecircncia em relaccedilatildeo do restante do solo original abaixo

dele e do entornordquo( (ANDREATTA 1987 p65-66) comprovando que de fato

aquela abertura correspondia ao orifiacutecio responsaacutevel pela drenagem das escoacuterias

Esta abertura era comum a todos os fornos de fundiccedilatildeo do tipo forno baixo com

emprego do meacutetodo direto

163

Fig 70 VESTIacuteGIOS DE FORNO DE FUNDICcedilAtildeO 1- AacuteREA A2 1988

164

Fig 71 CROQUI DO FORNO 1 AacuteREA A2 (1987) Desenho de Marcia Gutierrez

165

5322 Forno de fundiccedilatildeo 2 (aacuterea A2)

O vestiacutegio arqueoloacutegico do Forno 2 foi encontrado a 045 m de

profundidade correspondendo a um forno do tipo baixo apresentando forma

circular construiacutedo com a utilizaccedilatildeo de telhas e ldquotijolosrdquo os quais eram materiais

diferentes daqueles encontrados em outras evidecircncias de fornos neste Sitio Esta

constataccedilatildeo denota que natildeo havia uma regra determinada para a construccedilatildeo de

fornos no que se refere agrave utilizaccedilatildeo de materiais de construccedilatildeo podendo haver

alternativas de uso de outros materiais conforme a disponibilidade de materiais

no local (Figuras 72 73 e 74)

Os registros do trabalho arqueoloacutegico permitiram evidenciar que o Forno 2

apresentava as seguintes dimensotildeesldquodiacircmetro de 110 m com uma borda de 28

cm de largura com a presenccedila de fragmentos de telhas tijolos e argamassa

(latossolo vermelho)rdquo ldquoDo interior do forno foram retiradas telhas (fragmentos)

em quantidade e tijolos e barro cozido com grande presenccedila de mineacuterio de ferrordquo

(ANDREATTA 1987 p65-66)

Quanto ao barro cozido (argila) encontrado no interior desse forno teria

sido provavelmente resto de um revestimento interno jaacute que o material do qual

ele foi construiacutedo (telhas e tijolos) estava disposto de forma bastante irregular A

utilizaccedilatildeo da argila como revestimento nos fornos de fundiccedilatildeo era muito comum

dando um efeito refrataacuterio ao forno fazendo com que natildeo fosse desperdiccedilada a

temperatura elevada que era proporcionada pela combustatildeo do carvatildeo vegetal no

interior do forno e necessaacuteria para separar o metal de ferro do mineacuterio no caso a

Magnetita

166

Fig 72 FORNO DE FUNDICcedilAtildeO 2 ndash AacuteREA A2 1988

Fig 73 FORNO DE FUNDICcedilAtildeO 2 ndash AacuteREA A2 1988

167

Fig 74 FORNO DE FUNDICcedilAtildeO 2 ndash AacuteREA A2 1988

168

CAPITULO 6

INTERPRETACcedilOtildeES DOS DADOS ARQUEOLOacuteGICOS

No Capiacutetulo 5 foram apresentados os resultados da pesquisa arqueoloacutegica

desenvolvida no Siacutetio Afonso Sardinha que envolveram trabalhos de

reconhecimento de campo segundo planos de escavaccedilatildeo coleta de artefatos

levantamentos planialtimeacutetricos e elaboraccedilatildeo de croquis tudo devidamente

registrado no Diaacuterio de Campo da arqueoacuteloga Margarida Davina Andreatta

No presente Capiacutetulo apresentam-se os resultados das anaacutelises detalhadas

dos registros arqueoloacutegicos que resultaram da pesquisa de campo e em seguida

interpretadas as informaccedilotildees anteriormente consolidadas com base nos

conhecimentos da Arqueologia Histoacuterica e Histoacuteria da Teacutecnica e da Ciecircncia

Na elaboraccedilatildeo da siacutentese interpretativa foi necessaacuterio em

complementaccedilatildeo valer-se de instrumentos disponiacuteveis em outras aacutereas do

conhecimento tais como Geologia Mineralogia Metalurgia Engenharia Civil

dentre outras aacutereas

Nesta fase dos estudos arqueoloacutegicos foram elaborados exames visuais e

catalograacuteficos visando a dataccedilatildeo relativa inclusive com o envio de imagem para

fins de comprovaccedilatildeo para Paulo Dordio arqueoacutelogo pesquisador da Casa do

Infante Porto ndash Portugal

Tambeacutem encaminhadas trecircs amostras de ceracircmica de utensiacutelios e telhas

as quais foram submetidas a testes de dataccedilatildeo absoluta com base em ensaios

de Termoluminescecircncia pelo Laboratoacuterio de Vidros e Dataccedilatildeo da Faculdade de

Tecnologia de Satildeo Paulo ndash FATEC sob a coordenaccedilatildeo da Professora Doutora

Sonia H Tatumi (Relatoacuterio de Ensaio Anexo 1)

169

Por outro lado amostras de resiacuteduos de fundiccedilatildeo (escoacuterias) foram

submetidas a anaacutelise quiacutemica-mineraloacutegica no laboratoacuterio do Departamento de

Mineralogia e Geotectocircnica ndash GMG Instituto de Geociecircncias da Universidade de

Satildeo Paulo sob a responsabilidade do pesquisador e Professor Associado Daniel

Atencio

61 Avaliaccedilatildeo das caracteriacutesticas do Arranjo das Estruturas Ao analisarmos o conjunto das estruturas arqueoloacutegicas entatildeo

descobertas considerando o contexto relacionado agrave produccedilatildeo do ferro na Europa

entre os seacuteculos XVI ao XVIII e levando em conta os conhecimentos que emanam

da Histoacuteria Colonial do Brasil e da Histoacuteria da Teacutecnica eacute possiacutevel estabelecer

muitas semelhanccedilas entre os arranjos das ldquoferrariacuteas de aacuteguardquo destinadas a

produccedilatildeo de ferro na Espanha (Paiacutes Basco) e os vestiacutegios descobertos no vale

das Furnas (Sitio Arqueoloacutegico Afonso Sardinha)

Um dos aspectos mais importantes que demonstram tal semelhanccedila entre

as ldquoferreriacuteas de aacuteguardquo e a Faacutebrica do Vale das Furnas refere-se agrave localizaccedilatildeo das

estruturas numa posiccedilatildeo de curva do ribeiratildeo do Ferro de onde era possiacutevel

captar e desviar as aacuteguas mediante a construccedilatildeo de um sistema hidraacuteulico

formado pelas seguintes unidades (a) Dique para represamento do ribeiratildeo (b)

Canal de Derivaccedilatildeo para desvio das aacuteguas (c) Estrutura de Vala com alojamento

de roda drsquoaacutegua e (d) Canal de restituiccedilatildeo das aacuteguas para o ribeiratildeo do Ferro

Tambeacutem chamam a atenccedilatildeo a arquitetura da principal estrutura construiacuteda

localizada na aacuterea A1 a qual mostra diversos recintos com a divisatildeo

caracteriacutestica das ldquoferreriacuteasrdquo encontradas na Espanha nos seacuteculos XVI assim

como as dimensotildees da edificaccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro construiacuteda numa aacuterea

retangular com 13m de largura por 16 m de comprimento No caso das ldquoferreriacuteasrdquo

170

bascas as edificaccedilotildees satildeo igualmente retangulares com as dimensotildees de 12 m de

largura por 17 metros de comprimento

Vale tambeacutem mencionar que arranjo semelhante pode ser observado no

caso da edificaccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro que entrou em operaccedilatildeo

em 1607 (ver fig 27)

Observa-se tambeacutem o emprego da alvenaria de pedra - teacutecnica construtiva

introduzida no Brasil pelos primeiros colonizadores como no caso da construccedilatildeo

da Casa da Torre de Garcia DrsquoAvila (ano de 1549) na Praia do Forte atual

municiacutepio de Mata de Satildeo Joatildeo Litoral Norte da Bahia (HOLANDA 2002)

Essa mesma teacutecnica exceto pequenas variaccedilotildees respeitavam as tradiccedilotildees

ibeacutericas tendo sido empregada no Brasil tambeacutem para construccedilotildees de

residecircncias edifiacutecios puacuteblicos igrejas e fortificaccedilotildees principalmente no litoral As

paredes feitas de pedra eram entatildeo revestidas com argamassa de areia e cal

obtido pela queima de cascas de ostras encontradas em depoacutesitos no litoral

Nota-se conforme registros das Atas da Cacircmara da Vila de Satildeo Paulo para o ano

de 1609 que essa mesma teacutecnica que se utilizava da cal como argamassa

tambeacutem foi utilizada na construccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro (1607)

(NEME 1959 p 348)

62 As ldquoferreriacuteasrdquo de aacutegua na Peniacutensula Ibeacuterica

Na Europa e principalmente na Espanha as ldquoferreriacuteas de aguardquo se

expandiram a partir do seacuteculo XIV90 Assim eram chamados os edifiacutecios

destinados ao trabalho de fundiccedilatildeo do ferro que utilizavam a forccedila motriz

hidraacuteulica para acionar os foles dos fornos de fundiccedilatildeo e os malhos

90 Ruta de las Minas y Ferreriacuteas Desde las primitivas instalaciones hasta el siglo XVIII Disponiacutevel em lthttpwwwbizkaianetkulturakirol_gazteriaFTPGazteriapaginadedesplegablesPrimitivas_instalcionespdfgt Acesso em 30 mar 05

171

Essas ldquoferreriacuteas de aacuteguardquo para viabilizar o seu funcionamento exigiam

certas condiccedilotildees fisiograacuteficas cujos componentes essenciais satildeo a presenccedila do

mineacuterio de ferro nas proximidades madeiras para produccedilatildeo de carvatildeo e cursos

drsquoagua com corredeiras e volume de aacuteguas suficientes para a geraccedilatildeo de forccedila

motriz

Hubo dos tipos de ferreriacuteas de agua las que se valiacutean del caudal

de los rios que funcionaban todo el antildeo y las que dependiacutean de

arroyos que no entraban em funcionamiento hasta las

temporadas de otontildeo e invierno cuando la lluviacuteas incrementaban

el caudal de los regatos y la fuerza del agua Estas uacutetimas no

llegaron a ser consideradas como autenticas ferreriacuteas de agua

Em Biskaia se disignaba a las primeras como ldquode rio caudalrdquo y a

las segundas como ldquoregaterasrdquo Tambieacuten em Gipuzkoa se

diferenciaban unas de otras com los nombres de ldquozeharrolakrdquo y

ldquoagorrolakrdquo respectivamente

Para aprovechar la fuerza del agua era imprescidible que la

ferreriacutea estuviesse construiacuteda em el lugar adecuado Debiacutea estar

situada em la curva de um rio em um lugar em el que fuese faacutecil

desviar el agua de su curso natural a traveacutes de um sistema de

canales y anteparas para que despueacutes de hacer rotar la rueda

hidaulica pudiesse volver a su cauce naturalCuando no era

posible conseguir esta situacioacuten se recurriacutea a crear um sistema

artificial de presas que contuviesen el agua em um niacutevel maacutes

elevado de forma que para mover las ruedas hidraacuteulicas bastaba

com dejar caer la aacutegua sobre ellas 91

91 Ruta de las Minas y Ferreriacuteas Desde las primitivas instalaciones hasta el siglo XVIII Disponiacutevel em lthttpwwwbizkaianetkulturakirol_gazteriaFTPGazteriapaginadedesplegablesPrimitivas_instalcionespdfgt

172

Fig 75 ASPECTO DE UMA ldquoFERRERIacuteA DE AGUArdquo SEacuteCULO XVII92

92 Felipe III visita la ferreriacutea de Yarza en Beasain (Guipuacutezcoa) en 02 noviembre de 1615

173

As plantas das ldquoferreriacuteas de aacuteguardquo encontradas na regiatildeo basca da

Espanha obedeciam a um arranjo de planta retangular medindo em meacutedia 12 X

17 metros com cobertura de duas aacuteguas sendo que suas dependecircncias e

instalaccedilotildees geralmente compreendiam duas estruturas baacutesicas para a produccedilatildeo

de ferro o sistema hidraacuteulico ao qual jaacute se fez referecircncia e o edifiacutecio de

produccedilatildeo

A construccedilatildeo desse edifiacutecio principal era executada por construtores

especializados em teacutecnicas de edificaccedilotildees em alvenaria de pedra bem como na

instalaccedilatildeo de sistemas hidraacuteulicos exigindo a participaccedilatildeo de carpinteiros os

quais seriam os responsaacuteveis pela construccedilatildeo da roda drsquoaacutegua dos eixos da caixa

de aacutegua e das estruturas para o telhado 93

Para a operaccedilatildeo das ldquoferreriacuteasrdquo era necessaacuterio contar com pessoal teacutecnico

com conhecimentos tanto em mineraccedilatildeo quanto na fundiccedilatildeo bem como no

manejo dos dispositivos de utilizaccedilatildeo da energia das aacuteguas dos rios atraveacutes do

sistema hidraacuteulico

Este edifiacutecio destinado a produccedilatildeo abrigava diversos compartimentos

sendo o maior deles reservado agrave oficina a qual deveria se localizar ao lado da

Vala onde estava instalada a roda drsquoaacutegua que acionavam os eixos responsaacuteveis

pela movimentaccedilatildeo do malho e foles

O espaccedilo destinado agrave oficina era organizado de modo a levar em conta

duas unidades fundamentais de produccedilatildeo do ferro o forno de fundiccedilatildeo e o malho

A disposiccedilatildeo desses equipamentos no interior da oficina natildeo era aleatoacuteria uma

vez que a teacutecnica empregada para a fabricaccedilatildeo do ferro exigia que aqueles

Disponivel em lthttpwwweuskomediaorgeuskomediaSAunandigt Acesso em 20 marccedilo 2005 93 FERNANDEZA C La construccioacuten del hierro ndashmazos y ferreriacuteas Escuela Universitaacuteria de Arquitectos tecnicos de la Corunatilde Disponiacutevel em wwwguillenderohancomEXPOGRImzos-memoriahtm Acesso em 07mar06

174

equipamentos estivessem posicionados nas proximidades tendo em vista o fato

de os trabalhos serem complementares

Aleacutem da oficina o edifiacutecio principal deveria abrigar depoacutesitos de mateacuteria-

prima como carvatildeo vegetal e mineacuterio de ferro jaacute calcinado (tostado) e uma aacuterea

comum de descanso

Fig 76 SISTEMA DE ldquoPUJOacuteN TUERTOrdquo foles e malho satildeo acionados com o emprego de uma uacutenica roda hidraacuteulica94

94 Ruta de las Minas y Ferreriacuteas Desde las primitivas instalaciones hasta el siglo XVIII Disponivel emhttpwwwbizkaianetKulturaKirol_gazteriaFTPGazteriapaginadedesplegablePrimitivas_instalacionespdf Acesso em 17 novembro de 2006

175

Fig 77 TRABALHO DE EXTRACcedilAtildeO DA MASSA DE FERRO 63 Sistema hidraacuteulico produccedilatildeo da forccedila motriz 631 Dique de represamento do ribeiratildeo do Ferro

As investigaccedilotildees de campo natildeo possibilitaram localizar o Dique de

represamento do ribeiratildeo do Ferro possivelmente em razatildeo da fragilidade dessas

estruturas diante da forccedila das aacuteguas

Entretanto vale registrar o testemunho de Luiz Lopes de Carvalho o qual

em carta dirigida ao Rei de Portugal em maio de 1692 afirmava que

por experiecircncia que fiz pelas minhas matildeos pois fabricando um

Engenho muito limitado por natildeo ter posses que mais tirava todos

os dias este rendimento de um quintal de ferro de duas pedras

176

poreacutem soacute cinco dias continuei nesta oficina em razatildeo de ir uma

cheia e como pela pobreza afabriquei com pouca fortaleza se

arruinou ficando incapaz de poder continuar na faacutebrica95

632 Canal de Derivaccedilatildeo das aacuteguas

As condiccedilotildees de erosatildeo na aacuterea do possiacutevel traccedilado tambeacutem natildeo

permitiram localizar a estrutura do dique responsaacutevel pelo desvio das aacuteguas no

ribeiratildeo do Ferro bem como localizar a comporta responsaacutevel pelo controle do

acesso de aacuteguas em direccedilatildeo ao canal

Deve-se ressaltar que a estrutura do dique eacute necessaacuteria para a elevaccedilatildeo

do niacutevel da aacutegua do ribeiratildeo para o desvio enquanto que a comporta permitiria

regular a vazatildeo em direccedilatildeo ao Canal de Derivaccedilatildeo A aacutegua conduzida atraveacutes do

deste Canal de derivaccedilatildeo impulsionada pela gravidade alcanccedilaria a entrada da

Vala sendo em seguida recolhida em um depoacutesito posicionado sobre aquela

estrutura

A Figura 78 mostra um possiacutevel traccedilado do referido canal sendo que no

desenho o iniacutecio do canal foi posicionado num ponto do ribeiratildeo acima da cota

583m conforme o levantamento planialtimeacutetrico executado na aacuterea do Siacutetio

Arqueoloacutegico Afonso Sardinha96

95 Carta enviada por Luiz Lopes de Carvalho ao Rei de Portugal datada de maio de 1692 RODRIGUES Leda Maria Pereira As minas de ferro em Biraccediloiaba ndash Satildeo Paulo seacuteculos XVI XVII XVIII Anais do III Simpoacutesio dos Professores Universitaacuterios de Histoacuteria Franca 1966 p 218 96 Planta Planialtimeacutetrica Siacutetio Arqueoloacutegico Histoacuterico Afonso Sardinha Escala 1200 CENEA sd

177

Fig 78 TRACcedilADO ESQUEMAacuteTICO DO CANAL DE DERIVACcedilAtildeO

633 Vala da roda A finalidade da estrutura da Vala eacute a de abrigar a roda drsquoaacutegua dispositivo

necessaacuterio para transformar a energia hidraacuteulica em energia mecacircnica para

movimentar os equipamentos e ferramentas da Faacutebrica de Ferro

A Vala da roda foi construiacuteda com paredes de blocos de pedras de modo a

permitir o fluxo da correnteza e ao mesmo tempo proteger o terreno contra as

erosotildees impedindo as infiltraccedilotildees das aacuteguas para o interior das dependecircncias da

Edificaccedilatildeo Principal

O fato de natildeo terem sido encontrados fragmentos de telhas no interior da

Vala quando foram realizadas as pesquisas arqueoloacutegicas parecem indicar que

178

os esteios natildeo serviam para sustentar telhado Por outro lado a Histoacuteria da

Teacutecnica mostra que outras instalaccedilotildees da mesma eacutepoca destinadas a produccedilatildeo

da energia hidraacuteulica tambeacutem natildeo apresentavam telhado na aacuterea da Vala

Sendo assim sobram duas hipoacuteteses para explicar a existecircncia daqueles

esteios A primeira hipoacutetese eacute que tais esteios serviriam para sustentar uma calha

de madeira com uma extensatildeo da ordem de 12 metros responsaacutevel pela

conduccedilatildeo e descarga da aacutegua diretamente sobre as paacutes da roda valendo-se de

um dispositivo denominado empejeiro ou pejador que servia para o controle da

quantidade de aacutegua descarregada sobre a roda (KATINSKY 1985 p 230)

Outra possibilidade eacute que os esteios sustentavam um reservatoacuterio de aacutegua

- o ldquobanzaordquo - responsaacutevel pelo repouso do liacutequido de modo a garantir a sua

descarga controlada sobre as paacutes da roda conforme os projetos comumente

encontrados nas construccedilotildees das ldquoferreriacuteas de aguardquo da regiatildeo Basca - Espanha

(Figura 79)

A laje de pedra do fundo da Vala mostra forte declividade da Vala sendo

que na extremidade superior (coincidente com o ponto de interligaccedilatildeo com o

Canal de Derivaccedilatildeo) a cota eacute igual a 453 enquanto que na extremidade inferior

junto a margem do ribeiratildeo do Ferro a cota do terreno eacute igual a 041 Sendo

assim o desniacutevel total eacute de 412 metros na extensatildeo total da Vala igual a 19

metros ou seja cerca de 20

Outra observaccedilatildeo importante eacute que o niacutevel do fundo da Vala no ponto

meacutedio da sua extensatildeo seria igual a 230 m mostrando nesta posiccedilatildeo desniacutevel de

cerca de 2 metros abaixo do provaacutevel niacutevel da Faacutebrica (cota aproximada 450 m)

revelando a possibilidade de alojamento da roda drsquoaacutegua a partir desta mesma

posiccedilatildeo

O desenho do arranjo do sistema hidraacuteulico encontrado no Sitio Sardinha

mostra semelhanccedilas claras com o arranjo que caracterizam as ferreriacuteas bascas

179

O exame do conjunto das estruturas mostram que a construccedilatildeo tirou partido da

declividade do terreno para aproveitamento da forccedila da gravidade aplicada ao

processo da produccedilatildeo do ferro

634 A Caixa de Aacutegua - ldquoBanzaordquo O ldquobanzaordquo era uma caixa de aacutegua com volume adequado para garantir o

repouso da aacutegua instalado acima do niacutevel da Vala em uma posiccedilatildeo diretamente

sobre a roda A instalaccedilatildeo dessas caixas tinha por objetivo garantir uma altura da

queda drsquoaacutegua necessaacuteria para impulsionar a roda e ao mesmo tempo armazenar

um volume de aacutegua adequado para direcionar o jato diretamente sobre as paacutes

da roda com uma pressatildeo constante de modo a resultar o movimento uniforme

para a rotaccedilatildeo da roda

Os rdquobanzaosrdquo mais ruacutesticos e antigos eram feitos de madeira material que

criava vaacuterios problemas de manutenccedilatildeo fato que levou agrave substituiccedilatildeo desse

material a partir do seacuteculo XVIII por alvenaria de pedra

O acionamento da roda se dava por meio de uma espeacutecie de vara

localizada no interior da Faacutebrica a qual permitia regular a quantidade de aacutegua

descarregada sobre a roda Elena Faus descreve esse funcionamento da

seguinte forma

El paso del aacutegua a la rueda se abre o cierra por meacutedio de

tanpones o ldquochimbosrdquo Cuando los operaacuterios los abren salta y

golpea directamente las palas de la rueda instalada debajo

provocando su giro Con el fin de evitar peacuterdidas de liacutequido y

maximizar su rendimiento se antildeade un canal ldquoguzur-askardquo que lo

conduce directamente sobre la rueda Posteriormente se evacua

por un aliviadero la ldquoonda-askardquo (FAUS 2000 p 63)

180

Contudo mesmo apostando na hipoacutetese de que haveria um ldquobanzaordquo

acima da Vala encontrada torna-se difiacutecil estabelecer a sua dimensatildeo e volume

Mas as evidecircncias encontradas sugerem que esta caixa de aacutegua deveria ter no

maacuteximo 12 metros de comprimento (medidos a partir do inicio do canal ateacute o

uacuteltimo vestiacutegio de esteio) por aproximadamente 225 m (largura da vala)

restando indefinida a medida da altura da caixa

Fig 79 SOLUCcedilAtildeO EM ldquoBANZAOrdquo DE MADEIRA ndash DEPOacuteSITO DE AacuteGUA97

97 LAS FERRERIacuteAS DE AGUA DE ASTURIAS Disponivel em ltwwwbelmontedemirandanetfraguaindexhtmgt Acesso em 20jun05

181

635 A roda hidraacuteulica

Em 1983 quando foram iniciadas as pesquisas arqueoloacutegicas no Siacutetio

Afonso Sardinha a Vala destinada agrave instalaccedilatildeo da roda drsquoaacutegua jaacute havia sido

identificada Contudo eacute somente em 1986 que as pesquisas se concentraram na

aacuterea daquela Vala Graccedilas ao fato de esta estrutura ter permanecido enterrada a

mesma ficou preservada possibilitando avaliar a sua funccedilatildeo e o fato de que o

local deveria ter sido destinado agrave instalaccedilatildeo de uma roda hidraacuteulica vertical com

eixo horizontal (Figura 79)

A utilizaccedilatildeo da roda drsquoaacutegua para os trabalhos metaluacutergicos natildeo era

novidade para os empreendimentos dessa natureza pois a teacutecnica aplicada para

a construccedilatildeo desse tipo de Faacutebrica jaacute era bastante difundida entre os artesatildeos da

Idade Meacutedia os quais buscaram adaptar as ferramentas utilizadas no trabalho da

produccedilatildeo de ferro (por exemplo foles e malhos) de modo a permitir a sua

movimentaccedilatildeo atraveacutes da forccedila obtida das rodas drsquoaacutegua

Em 1104 os ldquomoinhos para bater o ferrordquo jaacute eram encontrados nos Pirineus

espanhoacuteis Gille os descreve da seguinte forma

as forjas que anteriormente eram acionadas a braccedilos e que

itinerantes deslocavam-se agrave procura dos fornos-baixos a

procura de mateacuteria prima e do combustiacutevel a partir de entatildeo se

estabelecem permanentemente ao longo dos rios (GILLE Apud

GAMA 1985 p 133)

Entre os seacuteculos XIV e XV surgiram no paiacutes basco adaptaccedilotildees da roda

hidraacuteulica para acionar os ldquosoprantesrdquo - os foles - (instrumentos utilizados para

insuflar oxigecircnio para dentro dos fornos) possibilitando intensificar a combustatildeo

do carvatildeo vegetal de modo a elevar a temperatura no interior do forno No paiacutes

basco o martelo hidraacuteulico jaacute havia sido incorporado agravequela atividade desde o

seacuteculo XV em Gipuzkoa e desde o seacuteculo XVI em Biskaia ambas localizadas na

182

regiatildeo basca Em 1531 operavam em ambas as regiotildees cerca de 200

estabelecimentos utilizando essa teacutecnica (FAUS 2000 p 60)

Fig 80 ldquoLOCALIZACcedilAtildeOrdquo DO MALHO E DA RODA HIDRAUacuteLICA (INTERPRETACcedilAtildeO) (Desenho Agnaldo Zequini)

183

6 4 A Faacutebrica de Ferro os espaccedilos de produccedilatildeo

O local onde se encontra instalada a Faacutebrica de Ferro do Sitio Arqueoloacutegico

Afonso Sardinha oferece todas as condiccedilotildees fisiograacuteficas favoraacuteveis para a

instalaccedilatildeo daquele empreendimento De fato o conjunto se encontra

praticamente na aacuterea das jazidas de mineacuterios de ferro junto a um ribeiratildeo com

quantidade de aacuteguas satisfatoacuterias para o caso de produccedilatildeo do ferro relativamente

pequena como deveria ser o caso da instalaccedilatildeo existente no morro de Araccediloiaba

Outro fator decisivo para a produccedilatildeo de ferro era a presenccedila de matas com

abundacircncia de madeiras A esse respeito segundo uma descriccedilatildeo do Vale das

Furnas apresentada no decorrer de 1692 por Luiz Lopes de Carvalho (um dos

que investiram na construccedilatildeo de Faacutebrica de Ferro naquele local) o mesmo

lastimava o fato de ter que reduzir os ldquodensos arvoredos em que se achatildeo paos

Reais e madeirasrdquo em carvatildeo o uacutenico combustiacutevel utilizado nos processos de

fundiccedilatildeo de ferro (RODRIGUES 1963 p 203)

O mesmo Luiz Lopes de Carvalho testemunhava naquele mesmo ano que

aquele morro estava coberto ldquode mineral de ferro de meuda aacuterea athe pedras de

des a Robas e mui dilatadas betas [veios] Profundas Largas e Compridasrdquo

esclarecendo que o mineacuterio ao ser submetido ao processo de reduccedilatildeo tinha um

rendimento de dois para um ldquoa cada douz quintais de pedra se tira hum de ferrordquo

(RODRIGUES 1966 p 204)

641 A Oficina da Faacutebrica de Ferro

A planta da Faacutebrica de Ferro encontrada com dimensotildees de 13m X 16m

permite identificar as provaacuteveis posiccedilotildees de cada uma das unidades de produccedilatildeo

184

necessaacuterias agrave fabricaccedilatildeo do ferro quais sejam o espaccedilo destinado a oficina e a

forja

No caso da construccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro do Sitio Afonso Sardinha eacute

possiacutevel identificar a aacuterea destinada a oficina onde deveriam ficar instalados os

equipamentos do forno de fundiccedilatildeo e foles e do malho Nessa planta a aacuterea estaacute

identificada pelas letras C e F (Anexo 9)

Fig81 FAacuteBRICA DE FERRO DO SITIO AFONSO SARDINHA ARRANJO DOS EQUIPAMENTOS (Interpretaccedilatildeo) (Desenho Agnaldo Zequini)

185

Fig 82 FAacuteBRICA DE FERRO PLANTA BAIXA (Interpretaccedilatildeo) (Desenho Agnaldo Zequini)

Contudo entre os anos de 1986-1987 quando foram aprofundadas

as pesquisas arqueoloacutegicas naquelas aacutereas por meio de decapagem e abertura

de trincheiras natildeo foram encontrados vestiacutegios materiais que permitissem

identificar os locais dentro da oficina onde estariam instalados os fornos e o

malho como tambeacutem nenhum resiacuteduo testemunho da produccedilatildeo de ferro

Diante dessa constataccedilatildeo podemos levantar pelo menos duas hipoacuteteses

de interpretaccedilatildeo Uma delas estaacute relacionada agrave proacutepria natureza daquele siacutetio o

qual ao longo dos seacuteculos sofreu vaacuterias intervenccedilotildees antroacutepicas que poderiam

186

provocar algumas perturbaccedilotildees no registro arqueoloacutegico colaborando dessa

forma para o desaparecimento das evidecircncias

A segunda hipoacutetese decorre do fato de que os exames das condiccedilotildees de

superfiacutecie do terreno na parte da edificaccedilatildeo identificada como ldquoCrdquo (Oficina)

apresentam indiacutecios de antigas erosotildees decorrentes da presenccedila do ribeiratildeo do

Ferro Tal interpretaccedilatildeo permitia concluir que as enchentes do ribeiratildeo do Ferro

seriam responsaacuteveis pela pequena quantidade de artefatos arqueoloacutegicos

naquela aacuterea (Figura 81)

A figura abaixo apresenta um corte do terreno na provaacutevel aacuterea da Oficina

mostrando irregularidade na superfiacutecie do piso possivelmente decorrente de

erosotildees junto a margem do ribeiratildeo do Ferro provocadas pelas enchentes

187

Fig 83 INDICACcedilAtildeO DA POSSIacuteVEL AacuteREA ERODIDA PELAS ENCHENTES ndash AREA C ndash (Interpretaccedilatildeo) (Desenho Agnaldo Zequini)

188

6411 O Malho O malho era um instrumento imprescindiacutevel para o processo de produccedilatildeo

do ferro pelo denominado meacutetodo direto Essa ferramenta possuiacutea um longo

braccedilo de madeira que media cerca de trecircs a quatro metros de comprimento e

funcionava como alavanca com apoio intermediaacuterio Uma das extremidades do

braccedilo dessa alavanca funcionava como um martelo e apresentava na

extremidade uma cabeccedila de ferro ndash o malho ndash que dava o nome ao equipamento

Em outra extremidade havia um dispositivo que permitia transformar o movimento

de rotaccedilatildeo da roda em deslocamento vertical oscilante do braccedilo permitindo

assim que o malho golpeasse a ldquobola de ferrordquo que ficava apoiada em uma

bigorna

Ao golpear a ldquobola de ferrordquo denominaccedilatildeo dada ao produto retirado do

interior do forno de fundiccedilatildeo esta operaccedilatildeo perseguia trecircs objetivos importantes

eliminar as escoacuterias que ainda permaneciam aderidas a bola de ferro compactar

aquela massa e finalmente dar forma de barra ou lingote que era o produto final

para a comercializaccedilatildeo

A operaccedilatildeo desse martelo com funcionamento hidraacuteulico eacute descrito em um

texto informativo publicado pela Universidade de Oviedo-Espanha sem menccedilatildeo

de autor e ano de publicaccedilatildeo

La rueda hidraulica movida por el impulso del agua le comunica al

eje o aacuterbol un movimiento rotatoacuterio de este agraverbol sobresalen unos

dientes a modo de levas concretamente cuatro situados a 90ordm los

manobreiros quem en su giro percuten sobre el extremo del

mango del martillo la dendala en su movimiento oscilante el

yunque o incre esta golpeo se repite cuatro veces por cada giro

completa de la rueda 98

98 Ingenios hidraulicos histoacutericos molinos batanes y ferreriacuteas Universidad de Oviedo ndashEspana Disponiacutevel e em lthttpwww1unioviesasturiasferreriasgt Acesso em 17 jun 04

189

O movimento do malho era produzido mediante a transmissatildeo de forccedila

originada atraveacutes do eixo de uma roda hidraacuteulica especifica para esta tarefa Um

segundo tipo de sistema de acionamento utilizava uma uacutenica roda hidrauacutelica para

movimentaccedilatildeo do braccedilo do malho e ao mesmo tempo pelo acionamento dos

foles Este uacuteltimo sistema era conhecido como ldquopujoacuten tuertordquo e era o sistema mais

comumente empregado nas ferrariacuteas bascas99

No Brasil a utilizaccedilatildeo dessa ferramenta para a produccedilatildeo de ferro eacute

encontrada em documentos relacionados agrave construccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro de

Santo Amaro no iniacutecio do seacuteculo XVII Em 1605 para instalaccedilatildeo dessa Faacutebrica

foram entregues pela Administraccedilatildeo Espanhola agrave Diogo de Quadros ldquo2 malhos

que podiam pesar pouco mais ou menos entre ambos 3 quintais mais duas

argolas grandes da mesma ferramentardquo (RODRIGUES 1963 p 190)

Possivelmente foi entregue a Diogo de Quadros apenas a ldquocabeccedila de ferrordquo

(o malho propriamente dito) enquanto que as demais peccedilas da estrutura pelo

fato de serem confeccionadas inteiramente com madeira poderia ter sido

fabricada no Brasil

No caso da Faacutebrica de Ferro do Siacutetio Afonso Sardinha dispotildeem-se apenas

de documentos escritos que registram a presenccedila desse equipamento conforme

a carta escrita no ano de 1768 por D Luiz Antonio de Souza Governador da

Capitania de Satildeo Paulo dirigida ao Conde de Oeiras atraveacutes da qual apresenta

informaccedilotildees sobre a Faacutebrica de Ferro que havia sido construiacuteda por Domingos

Pereira Ferreira e seus soacutecios

Nesse documento D Luiz afirmava que aquele empreendimento era uma

das atividades que estava dando maior preocupaccedilatildeo em sua gestatildeo explicando

que

99 Binganaria no sistema de pujoacuten tuerto a Binganaria corresponde agrave viga de transmissatildeo entre a roda hidraacuteulica e os foles

190

se tem trabalhado desde aquele tempo [1760] ateacute o presente

em grandes dispecircndios dos acionistas em fazer fornos

grandes e pequenos por diferentes modos safras [bigorna

de ferreiro] martelos malhos rodas e engenhos para os

mover e tudo o necessaacuterio (RODRIGUES 1966 p 190)

Uma outra notiacutecia relacionada a essa mesma Faacutebrica ficou registrada em

outra documentaccedilatildeo datada de 1770 atraveacutes da qual Jacinto Joseacute de Abreu um

dos soacutecios de Domingos Pereira Ferreira dava conta de que o andamento dos

trabalhos lhe estava causando o ldquomaior desgostordquo pelo fato de ter quebrado o

malho ldquoque tanto dispecircndio e trabalho custourdquo A reclamaccedilatildeo expressada por

Jacinto Joseacute de Abreu pode ser compreendida natildeo somente pelo prejuiacutezo

financeiro decorrente da perda direta da peccedila como tambeacutem pelo prejuiacutezo

decorrente da consequumlente paralisaccedilatildeo da produccedilatildeo do ferro

6412 ndash O Forno de Fundiccedilatildeo e Foles As pesquisas arqueoloacutegicas no Siacutetio Afonso Sardinha natildeo lograram

identificar vestiacutegios materiais de fornos de fundiccedilatildeo no interior da aacuterea

reconhecida como sendo a Oficina da Faacutebrica Tendo em vista o arranjo e a

extensatildeo do espaccedilo levantado pelas pesquisas de campo bem como as teacutecnicas

de fundiccedilatildeo de ferro disponiacuteveis de acordo com os estudos da histoacuteria da teacutecnica

para o periacuteodo que interessa ao presente trabalho entendemos que eacute correto

afirmar que o forno de fundiccedilatildeo ali empregado deveria ser do tipo ldquoforno baixordquo

De qualquer forma natildeo eacute possiacutevel afirmar que o meacutetodo de fundiccedilatildeo

utilizado no interior da Faacutebrica de Ferro corresponda ao que eacute conhecido como

ldquomeacutetodo catalatildeordquo ou ldquoforno catalatildeordquo uma vez que as pesquisas arqueoloacutegicas e

tambeacutem as documentais natildeo conseguiram encontrar qualquer dado a respeito do

modelo do forno de fundiccedilatildeo ali utilizado nem qualquer informaccedilatildeo a respeito do

processo de extraccedilatildeo do ferro na operaccedilatildeo de fundiccedilatildeo

191

De fato o forno catalatildeo se diferenciava dos demais fornos baixo por

apresentar uma forma que lembrava o de uma piracircmide invertida com trecircs

paredes planas e uma convexa confeccionadas com pedras refrataacuterias

(GARCIA sd p7) O que tambeacutem caracterizava o forno catalatildeo era o

procedimento de colocaccedilatildeo do carvatildeo e do mineacuterio no interior do forno para

extraccedilatildeo do metal Pere Molera I Sola (1982 p 208) ao analisar o procedimento

direto de obtenccedilatildeo do ferro pelo meacutetodo catalatildeo assinala que este meacutetodo

apresentava a peculiaridade de empregar a teacutecnica de ldquotrompa de aacuteguardquo para

promover a injeccedilatildeo do ar para dentro do forno Entretanto alguns fornos

reconhecidos como do tipo catalatildeo tambeacutem empregavam a teacutecnica de foles

movidos por roda drsquoaacutegua com aquele objetivo

O mesmo autor esclarece que o forno catalatildeo era

sin duda elemento maacutes importante consistia en una cavidad de

forma trocopiramidal invertida cuyas dimensiones de la base

mayor estaban en torno a los 60 por 50 cm La altura era de unos

80 cm Dentro de la nave industrial el horno estaba situado junto

a una pared principal denominada lsquopiec del focrsquo (pie del fuego)

todas las paredes del horno presentaban superficies planas

menos lsquolrsquoore o contraventrsquo (contraviento) que para facilitar la

extraccioacuten del producto reducido ofreciacutea una superficie convexa

y estaban parcialmente recubiertas con planchas de acero La

pared del horno adosada al lsquopiec del focrsquo y opuesta a lsquolrsquoorersquo se

denominaba lsquoles porguesrsquo (las cribas) y estaba atravesada por la

tobera que inyectaba aire al horno Entre ambas las paredes

estaba el lsquolleteirolrsquo (rebosadero) pared agujereada para faciclitar

la eliminacioacuten de la escoria liquida frente a la cual se encontraba

la lsquocavarsquo pared de piedra sin revistir y ligeramente inclinada

(SOLA 1982 p 208-209)

A operaccedilatildeo de fundiccedilatildeo eacute descrita pelo mesmo autor conforme segue

192

La operacioacuten de reduccioacuten de la mena concentrada se iniciaba

cubriendo el fono del horno con polvo de carboacuten vegetal Se le

prendia fuego Una vez caliente el horno se antildeadia una capa de

trozos de caroacuten de mayor tamantildeo E inmediatamente se

superponia una plancha de acero en al centro del horno paralela

a las lsquoporguesrsquo Ello permitiacutea situar una capa vertical de carboacuten en

al lado de la tobera y una capa de mineral al otro lado de la

plancha Se quitaba luego la plancha y se cubriacutea la parte superior

del mineral con una capa de pequentildeos trozos de carboacuten huacutemedo

y escorias al objeto de que la superficie externa quedase de

forma esfeacuterica y concentrase las llamas Se insuflaba aire por las

toberas y a la hora y media se alcanzaban ya temperaturas

superiores o los 1200 grados C Durante tres o cuatro horas

consecutivas se iba antildeadiendo mineral y carboacuten al tiempo que

por el ldquolletirolrdquo se eliminaba la escoria liquida Si la escoria era

densa lo que evidenciaba un alto contenido en hierro se volviacutea a

introducir en el horno La operacioacuten terminaba cuando en el fondo

del horno se formaba una bola irregular de unos 100 kilogramos

de peso de hierro o acero dulce con inclusiones de escoria y

poros el lsquomasserrsquo (zamarra) En se momento empezaba la

operacioacuten maacutes espectacular de la fraga la saca el lsquomasserrsquo del

horno y transportarlo hasta el martinete lo que requeriacutea el

concurso de todo el personalrdquo (SOLA 1982 p 211-212)

193

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

1- A partir das evidecircncias arqueoloacutegicas levantadas pela pesquisadora Margarida

Davina Andreatta no Siacutetio Afonso Sardinha foram elaboradas anaacutelises e em

seguida as interpretaccedilotildees com base nos conhecimentos da Arqueologia Histoacuterica

e da Histoacuteria da Teacutecnica relacionadas a produccedilatildeo de ferro Tais estudos

permitiram comprovar que aquela aacuterea arqueoloacutegica corresponde a um campo de

exploraccedilatildeo e produccedilatildeo de ferro desde a segunda metade do seacuteculo XVI

2- As ruiacutenas da edificaccedilatildeo principal identificadas como ldquoBrdquo (Forja) e ldquoCrdquo (Oficina)

tratam-se de aacutereas de produccedilatildeo de uma Faacutebrica de Ferro O espaccedilo identificado

como ldquoDrdquo corresponde a uma vala de acomodaccedilatildeo da roda drsquoaacutegua responsaacutevel

pela produccedilatildeo da forccedila de origem hidraacuteulica necessaacuteria para movimentar os

equipamentos e ferramentas da fabricaccedilatildeo ( Anexo 9)

3- Os exames das condiccedilotildees de superfiacutecie do terreno na parte da edificaccedilatildeo

identificada como ldquoCrdquo (Oficina) apresentam indiacutecios de antigas erosotildees

decorrentes da presenccedila do ribeiratildeo do Ferro sendo que esta interpretaccedilatildeo

permite concluir que os fenocircmenos apontados foram os responsaacuteveis pela

ausecircncia de artefatos arqueoloacutegicos naquela aacuterea

4- Os exames dos vestiacutegios dos fornos de fundiccedilatildeo encontrados nas aacutereas A e

A2-B externa do edifiacutecio principal da fabricaccedilatildeo de ferro indicam que satildeo do tipo

baixo provavelmente insulflados a fole de matildeo natildeo sendo possiacutevel afirmar que

seriam fornos do tipo catalatildeo

5- As ruiacutenas da Faacutebrica de Ferro indicam que as mesmas tratam de instalaccedilotildees

de modelo de produccedilatildeo industrial inclusive com divisatildeo de tarefas em aacutereas

distintas uso de energia hidraacuteulica transformada em forccedila mecacircnica para

194

movimentaccedilatildeo das ferramentas e para insuflaccedilatildeo do ar para queima do carvatildeo

nos fornos de fundiccedilatildeo

6- As dataccedilotildees absolutas e tambeacutem as relativas realizadas indicaram que naquele

local houve uma sobreposiccedilatildeo de distintos empreendimentos para a produccedilatildeo do

ferro desde o final do seacuteculo XVI e ao longo do seacuteculo XVIII

7- A causa mais provaacutevel do insucesso econocircmico de todas as tentativas de

produccedilatildeo de ferro em Araccediloiaba se relaciona a mineralogia da magnetita e

associaccedilotildees com outras substancias minerais as quais eram nocivas agrave qualidade

do produto metaluacutergico Neste caso vale ressaltar a presenccedila prejudicial

principalmente do titacircnio e do foacutesforo cujas presenccedilas eram desconhecidas pelos

exploradores

8- A planta da edificaccedilatildeo principal (aacutereas ldquoBrdquo ldquoCrdquo e ldquoDrdquo e ldquoFrdquo) evidenciada se

ajusta aos arranjos de espaccedilo produtivo de ferro tiacutepicos de modelos encontrados

naquele mesmo periacuteodo nas aacutereas de mineraccedilatildeo da Peniacutensula Ibeacuterica

notadamente aquele desenvolvido na regiatildeo basca (Anexo 9)

195

BIBLIOGRAFIA E ARQUIVOS PESQUISADOS

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_____ Luis Miguel La industria del hierro en Guipuacutezcoa (siglos XIII-XVI) Aportacioacuten al estudio de la industria urbana Madri editorial de la Universidad Complutense 1985 Disponiacutevel em ltwwwucmesBUCMrevistasghi02143038articulosELEM8585120251APDFgt Acesso em 300606 SCHIMIDT F Carvatildeo de pedra e ferro (S Joatildeo de Ipanema) Revista Polytecnica Satildeo Paulo USP n 1 vol 11 p 287-293 1853 SILVA Edmundo de Macedo Soares O ferro na historia e na economia do Brasil Rio de Janeiro [Comissatildeo Executiva Central do Sesquicentenaacuterio da Independecircncia do Brasil] 1972 SODREacute Alcino de Azevedo Primeira visita de Pedro II a Satildeo Paulo Revista do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Satildeo Paulo vol XLV Satildeo Paulo Typ do Diaacuterio Official SOLAacute Pere Molera i Llivre de la Farga Barcelona Rafael Dalmau editor 1983 _____ La Farga Catalana Investigacioacuten y Ciecircncia n73 p 207-217 octubre 1982 SOUTO Pedro (org) Nos arquivos da Hispanha relaccedilatildeo dos manuscritos que interessam ao Brasil Revista do Instituto Histoacuterico Brasileiro Rio de Janeiro Imprensa Nacional tomo 81 p 11-67 1918 SOUZA Alfredo Mendonccedila de Histoacuteria da Arqueologia Brasileira Pesquisa Antropologia n 46 1991 SOUZA Margareth de Lourdes Arqueologia Histoacuterica aplicada ao reconhecimento de uma fazenda colonial seacuteculo XVIII Museu AntropoloacutegicoUFG 1997 SPIX J B Viagem pelo Brasil 1817-1820 Belo Horizonte Ed Itatiaia Satildeo Paulo EDUSP 1981 3v (Coleccedilatildeo Reconquista do Brasil) STELLA Roseli Santaella O Domiacutenio Espanhol no Brasil durante a Monarquia dos Felipes 1580-1640 Satildeo Paulo UniberoCenaUn 2000 TAQUES Pedro Noticias das minas de Satildeo Paulo e dos sertotildees da mesma capitania Satildeo Paulo Livraria Martins Editora 1954 TAVARES Luis Henrique Dias O primeiro seacuteculo do Brasil da expansatildeo da Europa Ocidental aos governos gerais das terras do Brasil Salvador Edufba 1999 TAUNAY Afonso drsquoEscragnolle Satildeo Paulo nos primeiros anos ensaio de reconstituiccedilatildeo social Satildeo Paulo no seacuteculo XVI Satildeo Paulo Paz e Terra 2003

212

TIMM Recht Pequentildea historia de la tecnologiacutea Madrid Ediciones Guadarrama 1964 TOLEDO Benedito Lima de A Accedilatildeo dos Engenheiros Militares na Ordenaccedilatildeo do Espaccedilo Urbano no Brasil Coloacutequio A construccedilatildeo do Brasil urbano Lisboa 2000 Disponiacutevel em lthttpurbaniscteptRevistanumero4artigosartigo_08htmgt Acesso em 16 de maio de 2006 TOLEDO PIZA Antonio de A igreja do Coleacutegio da Capital do Estado de Satildeo Paulo Revista do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Satildeo Paulo Satildeo Paulo O Instituto tomo LIX 1896 TOMAacuteS Estanislau The Catalan process for the direct production of malleable iron and its spread to Europe ant he Ameacutericas Contributions to Science Barcelona 1(2) p 225-232 1999 Disponiacutevel em lthttpwwwcatsciencecomadminarticlespdf-9901027-the_catalanpdfgt acesso em 20abr05 TOMAS Hugh El Imperio Espantildeol De Coloacuten a Magalhatildees Buenos AiresPlaneta 2004 Histoacuteria y Sociedad TRIGGER Bruce Histoacuteria do Pensamento Arqueoloacutegico Traduccedilatildeo Ordep Trindade Serra Satildeo Paulo Odysseus Editora 2004 USHER Abbott Payson Uma histoacuteria das invenccedilotildees mecacircnicas Traduccedilatildeo Lenita M Rimolli Esteves et all CampinasSP Papirus 1993 VARELA Alex Gonccedilalves Atividades Cientiacuteficas na ldquoBela e Baacuterbarardquo Capitania de Satildeo Paulo (1796-1823) Tese (Doutorado)Instituto de Geociencias 2005 VARGAS Milton (org) Histoacuteria da Teacutecnica e da Tecnologia no Brasil Satildeo Paulo editora UnespCEET Paula Souza 1994 _____ Para uma filosofia da tecnologia Satildeo Paulo Alfa ndashOmega 1994 VARNHAGEN Francisco Adolfo Historia Geral do Brasil antes da sua separaccedilatildeo e independecircncia de Portugal Satildeo Paulo Melhoramentos 1952 VERGUEIRO Nicolau Pereira de Campos Histoacuteria da faacutebrica de Ipanema e defesa perante o Senado Brasiacutelia Senado Federal 1979 VIAGEM DO CAPITAtildeO GENERAL FRANCA E HORTA A SOROCABA Itu e Porto Feliz em 1804 Revista do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Satildeo Paulo vol X p 93-99 Satildeo Paulo Typ do Diaacuterio Official 1906

213

VIAGEM DO RIO DE JANEIRO Aacute CIDADE DE SAtildeO PAULO de Spix e Martius Revista do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Satildeo Paulo vol XV p339-360 Satildeo Paulo Typ do Diaacuterio Official 1912 VIANA Helio Historia do Brasil Satildeo Paulo Melhoramentos 1970 _____ Satildeo Paulo no Arquivo de Mateus Rio de Janeiro Biblioteca Nacional Divisatildeo de Publicaccedilotildees e Divulgaccedilatildeo 1969 VON ESCHWEGE Wilhelm Ludwig Pluto Brasiliensis segundo volume brasiliana biblioteca pedagoacutegica brasileira 1833 WETTER Joatildeo A visita do meacutedico sueco dr Gustavo Beyer ao Brazil no ano de 1813 Revista do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Satildeo Paulo vol 14 Satildeo Paulo Typ do Diaacuterio Official 1912 ZENHA Edmundo Onde a primeira fundiccedilatildeo de ferro do Brasil Revista do Arqeuivo Municipal de Satildeo Paulo Satildeo Paulo n 140 p 19-26 1951 ZEQUINI Anicleide A fundaccedilatildeo de Satildeo Paulo e os primeiros paulistas indiacutegenas europeus e mamelucos Satildeo Paulo CENPEC Imprensa Oficial do Estado 2004 (Coleccedilatildeo] Terra paulista histoacuterias arte costumes v1

214

GLOSSAacuteRIO

Banzao de madeira BANZAO Denominaccedilatildeo que era dada na regiatildeo basca ndash Espanha para depoacutesitos de aacutegua que eram instalados sobre as rodas drsquoaacutegua e de onde era despejado jato de aacutegua sobre as paacutes daquela roda fazendo-a girar Na estrutura identificada por essa pesquisa as evidencias pressupotildee a utilizaccedilatildeo desse equipamento

BIGORNA Ferramenta feito por um bloco de pedra ou metal utilizado como suporte para martelar sobre o ferro

215

CABECcedilA DE MALHO Peccedila metaacutelica que eacute afixada em uma das extremidades da ferramenta que leva esse nome

ESCOacuteRIA ldquorestos de fundiccedilatildeordquo um sub-produto da fundiccedilatildeo de mineacuterio para purificar metais No caso das teacutecnicas de fundiccedilatildeo utilizadas ateacute o seacuteculo XIX no Brasil as escoacuterias produzidas apoacutes o processo de fundiccedilatildeo apresentavam uma grande quantidade de ferro (metal) em sua composiccedilatildeo O que vale dizer que os fornos utilizados para aquela atividades natildeo alcanccedilavam as temperaturas acima de para proporcionar maior aproveitamento do mineacuterio empregado

Ferreriacutea de Bolunburu es un conjunto ferro molinero que desde el siglo XVII

FERRERIacuteA Edifico que abrigava as ferramentas e equipamentos para a produccedilatildeo do ferro O sistema de produccedilatildeo empregado nas ferrariacuteas denominado de meacutetodo direto de produccedilatildeo consistia em ldquocozinharrdquo o mineacuterio de ferro em fornos baixo usando como combustiacutevel o carvatildeo vegetal Apoacutes ldquocozidordquo o ferro se transformava em uma esponja de ferro que era levada para ser trabalhada sobre

216

uma bigorna e golpeada pelo malho Este trabalho servia para compactar a massa liberar as escoacuterias e dar forma FERRO O ferro (do latim ferrum) eacute um elemento quiacutemico siacutembolo Fe de nuacutemero atocircmico 26

Foles acionados por forccedila humana seacuteculo XVI FOLES Equipamento utilizado para insuflar ar para dentro do forno promovendo assim a combustatildeo do carvatildeo Podiam ser acionados manualmente ou por utilizaccedilatildeo de roda drsquoaacutegua

Forno baixo com a utilizaccedilatildeo de fole manual FORNO BAIXO Espaccedilo normalmente de pequenas dimensotildees onde se realizava a reduccedilatildeo (extraccedilatildeo do metal ndashferro ndash do mineacuterio) e de Havia vaacuterias denominaccedilotildees para esse tipo de forno como fornos de vento fornos castelhanos fornos catalatildees forno de manga etc Estes fornos dada a sua dimensatildeo e os instrumentos de insuflaccedilatildeo do ar utilizado natildeo permitiam a fundiccedilatildeo do mineacuterio Nos fornos baixos acima referidos a disposiccedilatildeo do carvatildeo vegetal e dos pedaccedilos de mineacuterios no interior do forno eram feitos em camadas superpostas e horizontais

217

Forno Catalatildeo e Trompa Hidrauacutelica FORNO CATALAtildeO O forno catalatildeo eacute assim denominado por ter sido uma teacutecnica desenvolvida nos Pirineus catalatildees A teacutecnica catalatilde ou meacutetodo catalatildeo de fundiccedilatildeo possuem alguns elementos que o caracterizam como 1- a forma de construccedilatildeo do forno que lembra uma lareira tendo o seu formato interno feito de forma de uma piracircmide invertida 2- disposiccedilatildeo interna do carvatildeo e dos pedaccedilos de mineacuterios dentro do forno os quais eram colocados de lados opostos e paralelos 3- utilizaccedilatildeo da trompa hidraacuteulica para insuflar oxigecircnio para a combustatildeo do carvatildeo esse sistema foi desenvolvido na regiatildeo da atual Itaacutelia e utilizado em grande escala nas faacutebricas de ferro da Catalunha Na regiatildeo Basca foram utilizados foles de grandes dimensotildees acoplados a roda drsquoaacutegua FORNO DE FUNDICcedilAtildeO Espaccedilo onde se daacute a reduccedilatildeo do mineacuterio No periacuteodo estudado a reduccedilatildeo ou fundiccedilatildeo era proporcionada pela queima proporcionada pela insuflaccedilatildeo de oxigecircnio por meio de foles manuais do carvatildeo vegetal que era colocada dentro desses fornos junto com pedaccedilos de mineacuterio FORJA Fornalha de que se servem os ferreiros e outros artiacutefices para incandescer os metais para serem trabalhados numa bigorna Do francecircs forge e do Latin fabrica Tambeacutem pode designar o trabalho realizado pelo ferreiro por meio do fogo e do martelo para dar forma aos metais

HEMATITA mineral de foacutermula oacutexido de ferro III (Fe2O3) um dos diversos oacutexidos de ferro

218

MAGNETITA mineral magneacutetico formado pelos oacutexidos de ferro II e III ( FeO Fe2O3) cuja foacutermula quiacutemica eacute Fe3O4

MALHO Daacute se o nome de malho a peccedila metaacutelica que estaacute afixada em uma das extremidades do martinete o qual por conseguinte daacute o nome ao equipamento METAL elemento quiacutemico Satildeo metais os metais bem conhecidos satildeo alumiacutenio cobre ouro ferro prata titacircnio uracircnio e zinco MINERAL Substacircncia natural MINEacuteRIO mineral que conteacutem um metal na sua composiccedilatildeo quiacutemica Todo o mineacuterio eacute mineral OFICINA Ou Farga (em catalatildeo) espaccedilo em que estatildeo assentados o forno e o malho equipamentos destinados a produccedilatildeo de ferro MARTINETE Instrumento usado para golpear os metais incandescentes na forja para dar-lhes a forma desejada Tambeacutem pode designar um malho movido por roda drsquoagua METALURGIA Teacutecnica de obtenccedilatildeo dos metais No periacuteodo pesquisado a teacutecnica era conhecida como meacutetodo direto

219

OacuteXIDOS Combinaccedilatildeo do oxigecircnio com outros elementos No nosso caso com ferro

TROMPA Mecanismo que aproveita a forccedila da caiacuteda da aacutegua para gerar um fluxo contiacutenuo em direccedilatildeo do forno Era um elemento caracteriacutestico do forno catalatildeo

220

ANEXOS

221

222

223

  • FAacuteVERO Oriana Aparecida NUCCI Joatildeo Carlos De BIASI Maacuterio Mapeamento da vegetaccedilatildeo e usos das terras da Floresta Nacional de Ipanema IperoacuteSP

2

UNIVERSIDADE DE SAtildeO PAULO Museu de Arqueologia e Etnologia

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM ARQUEOLOGIA

ARQUEOLOGIA DE UMA FAacuteBRICA DE FERRO MORRO DE ARACcedilOIABA SEacuteCULOS XVI-XVIII

Anicleide Zequini

Tese apresentada ao programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Arqueologia do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de Satildeo Paulo para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Doutor em Arqueologia

Orientadora Professora Doutora Margarida Davina Andreatta

Satildeo Paulo 2006

3

Aos meus Pais Francisco Zequini

e Dirce da Costa Zequini e Ismar

4

AGRADECIMENTOS

Durante a primeira visita ao Siacutetio Arqueoloacutegico Afonso Sardinha da Floresta

Nacional de Ipanema em Iperoacute Satildeo Paulo no ano de 2003 tive oportunidade de

conhecer o objeto de estudo desta Tese as evidecircncias da Faacutebrica de Ferro com a

sua respectiva vala da roda e os inuacutemeros artefatos que haviam sido recolhidos

durante as escavaccedilotildees Naquela oportunidade fui gentilmente recebida pela Sra

Janette Gutierrez a quem deixo meus agradecimentos extensivo aquela

Instituiccedilatildeo

Recebi ainda no transcorrer do meu trabalho importantes informaccedilotildees das

Sras Vivian Cristiane Fernandes e Nair Tanabe Tomiyama ambas do Nuacutecleo de

Arqueologia da Universidade Braz Cubas assim como das Sras Socircnia Paes do

Museu Histoacuterico Sorocabano e Marizia Tonelli

Agradeccedilo tambeacutem ao Sr Joseacute Monteiro Salazar o qual gentilmente me

recebeu em sua residecircncia em Boituva SP um apaixonado pela Historia de

Ipanema o qual contou fatos de grande interessante sobre a descoberta das

ruiacutenas assuntos que incorporei na minha Tese

Em marccedilo deste mesmo ano apresentei minha qualificaccedilatildeo oportunidade

em que recebi valiosas sugestotildees das Professoras Doutoras Heloiacutesa Maria

Silveira Barbuy e Elaine Farias Veloso Hirata a quem agradeccedilo

Finalmente eacute com admiraccedilatildeo e especial carinho que agradeccedilo a minha

orientadora a Professora Doutora Margarida Davina Andreatta com quem tive a

oportunidade de discutir longamente os conceitos e detalhes deste meu trabalho

Os seus conhecimentos e a responsabilidade com que conduziu a orientaccedilatildeo

foram fundamentais para a elaboraccedilatildeo desta Tese assim como para minha

proacutepria formaccedilatildeo em Arqueologia em especial na Arqueologia Histoacuterica

5

SUMAacuteRIO

Iacutendice 06 Iacutendice das Figuras 10 Resumo 14 Abstract 15 Introduccedilatildeo 16 Capiacutetulo I 19 Capiacutetulo II 47 Capiacutetulo III 83 Capiacutetulo IV 109 Capitulo V 126 Capitulo VI 167 Consideraccedilotildees finais 193 Bibliografia 195 Glossaacuterio 214 Anexos 220

6

IacuteNDICE INTRODUCcedilAtildeO 15 CAPIacuteTULO 1 O SIacuteTIO AFONSO SARDINHA QUESTOtildeES DA ARQUEOLOGIA HISTOacuteRICA 11 Contexto do presente trabalho 19

111 Avaliaccedilatildeo dos dados bibliograacuteficos 19 112 Histoacuterico das descobertas das ruiacutenas 26 113 Consideraccedilotildees sobre a metodologia 32

114 Descriccedilatildeo geral das pesquisas arqueoloacutegicas realizadas 37

12 Principais questotildees a serem abordadas no decorrer da Tese 46

CAPITULO 2 A TECNICA DE PRODUCcedilAtildeO DE FERRO NO PERIODO ENTRE OS SEacuteCULOS XVI AO XVIII 21 Consideraccedilotildees sobre Teacutecnica e Tecnologia 47 22 O conceito de Teacutecnica 50 23 A valorizaccedilatildeo do conhecimento teacutecnico e a ciecircncia

experimental moderna 53 2 4 A Tecnologia como sinocircnimo de Teacutecnica 55

25 A Teacutecnica de produccedilatildeo do ferro 59

26 Fornos de fundiccedilatildeo de ferro 64

27 Tratados Teacutecnicos de Metalurgia 78

CAPITULO 3 HISTOacuteRICO DA MINERACcedilAtildeO NO BRASIL COLONIAL 31 As primeiras expediccedilotildees mariacutetimas a busca dos metais nobres 83 32 O Peabiru uma trilha para o Sertatildeo 85 33 O descobrimento da prata em Potosi 88 34 A busca de metais nobres na Capitania de Satildeo Vicente 90 35 D Francisco de Sousa a organizaccedilatildeo da exploraccedilatildeo mineral 91

7

36 Teacutecnicos e praacuteticos na mineraccedilatildeo e metalurgia 94 37 A Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro 96

38 A Faacutebrica de Ferro do morro de Araccediloiaba os empreendedores 99 39 A Real Faacutebrica de Ferro de Satildeo Joatildeo do Ipanema 103 CAPIacuteTULO 4 O SIacuteTIO AFONSO SARDINHA 41 Localizaccedilatildeo 109 42 A vegetaccedilatildeo 116 43 Rios e ribeirotildees

44 A magnetita o mineacuterio do morro de Araccediloiaba 119

45 Fatores fisiograacuteficos da ocupaccedilatildeo europeacuteia 123

CAPIacuteTULO 5 INVESTIGACcedilOtildeES ARQUEOLOacuteGICAS AS EVIDENCIAS DE UMA FAacuteBRICA DE FERRO 126

51 Estruturas hidraacuteulicas para a produccedilatildeo da forccedila motriz 129

511 O Canal de Derivaccedilatildeo 129

512 A Vala da Roda 132

5121 Evidecircncias de esteios 134 52 A Faacutebrica de Ferro os espaccedilos de produccedilatildeo 137 521 Area ldquoCrdquo 137 522 A Aacuterea B (ldquoForjardquo) 139

53 Area E Sul da Faacutebrica de Ferro 150 531 Fornos de fundiccedilatildeo na aacuterea externa da Faacutebrica (Aacuterea A1) 155 531 Forno de Fundiccedilatildeo 1 157 532 Fornos de fundiccedilatildeo da Aacuterea A2 159 5321 Forno de fundiccedilatildeo 1 (aacuterea A2) 161 5322 Forno de fundiccedilatildeo 2 (aacuterea A2) 165

CAPITULO 6 INTERPRETACcedilOtildeES DOS DADOS ARQUEOLOacuteGICOS 61 Avaliaccedilatildeo das caracteriacutesticas do Arranjo das Estruturas 167 62 As ldquoferreriacuteasrdquo de aacutegua na Peniacutensula Ibeacuterica 170 63 Sistema hidraacuteulico produccedilatildeo da forccedila motriz 175

8

631 Dique de represamento do ribeiratildeo do Ferro 175 632 Canal de Derivaccedilatildeo das aacuteguas 176 633 Vala da roda 177 634 A Caixa de Aacutegua - ldquoBanzaordquo 179 635 A roda hidraacuteulica 180 6 4 A Faacutebrica de Ferro os espaccedilos de produccedilatildeo 183

641 A Oficina da Faacutebrica de Ferro 183 6411 O Malho 188 6412 Fornos de fundiccedilatildeo e foles 190 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 193 BIBLIOGRAFIA 195 GLOSSAacuteRIO 214 ANEXOS 220 1 Relatoacuterio de Ensaio ndash Laboratoacuterio de Vidros e Dataccedilatildeo ndash FATEC 2 Inventaacuterio de Peccedilas Ceracircmica 3 Inventario de Peccedilas Liacutetico 4 Inventaacuterio de Peccedilas Louccedilas 5 Inventaacuterio de Peccedilas Telhas 6 Inventaacuterio de Peccedilas Metal 7 Tratado da Arte de ensaiar e fundir cobre ferro e accedilo Ano de 1691 8 Aranzel ou Roteiro de haveres de oiro e pedras preciosas Ano de 1696 9 Planta Geral da aacuterea pesquisada Siacutetio Afonso Sardinha (Mapa 1) 10 Mapeamento das aacutereas de decapagem e escavaccedilatildeo ( Mapa 2) 11 Aacuterea E - Concentraccedilatildeo de lacircminas de metal (Mapa 3)

9

12 Aacuterea E - Concentraccedilatildeo de escoacuterias (Mapa 4) 13 Aacuterea E - Concentraccedilatildeo de blocos de arenito (Mapa 5) 14 Aacuterea E ndash Concentraccedilatildeo de cravos de metal (Mapa 6) 15 Aacuterea E - Concentraccedilatildeo de telhas (Mapa 7)

10

INDICE DAS FIGURAS

1 Mapa de localizaccedilatildeo da FLONA ndash Ipanema 2 Mapa de localizaccedilatildeo do Siacutetio Afonso Sardinha 3 Desenho esquemaacutetico da localizaccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro 4 Aspecto do Siacutetio Afonso Sardinha 1983 5 Iniacutecio das pesquisas arqueoloacutegicas no Siacutetio Afonso Sardinha 1983 6 Reuniatildeo de trabalhos 1984 7 Aspecto da Faacutebrica de ferro em 1987 8 Planta do Siacutetio Afonso Sardinha aacutereas A1 e A2 9 Planta da aacuterea A1 10 Vista Geral da aacuterea A1 11 Vista Geral da aacuterea A2 12 Planta da aacuterea A2B detalhe 13 Planta do morrote A2B 14 Aacuterea A2 morrote e evidencias de fornos de fundiccedilatildeo 15 Corte esquemaacutetico de um forno baixo 16 Maquete de forno de fundiccedilatildeo (Celta) 17 Forno de fundiccedilatildeo (romano) 18 Fornos de fundiccedilatildeo de lupa ou de vento 19 Corte esquemaacutetico de fornos de fundiccedilatildeo de lupa ou de vento 20 Fornos de fundiccedilatildeo de Guaira (Potosi)

11

21 Fornos de fundiccedilatildeo seacuteculo XVI 22 Fornos de Fundiccedilatildeo seacuteculo XVI 23 Arranjo funcional de uma Faacutebrica de Ferro 24 Elementos que compotildeem uma ldquoFarga Catalanrdquo 25 Traccedilado do Peabiru (Tronco de Satildeo Vicente) 26 Mapa do Peabiru feito por Pasquale Petrone 27 Prospecto das ruiacutenas da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro 28 Vista Geral da Faacutebrica de Ferro de Ipanema 1827 29 Vista Geral da Faacutebrica de Ferro de Ipanema seacuteculo XIX 30 Altos fornos geminados construiacutedos por Varnhagem 1818 31 Alto forno construiacutedo pelo Cel Mursa 1888 32 Roteiro Histoacuterico da Mineraccedilatildeo e metalurgia paulista 33 Mapa Geoloacutegico do Morro de Araccediloiaba 34 Bloco diagrama da regiatildeo da Serra de Araccediloiaba 35 Vista geral do morro de Araccediloiaba I 36 Vista geral do morro de Araccediloiaba II 37 Magnetita 38 Limpeza do Siacutetio Afonso Sardinha 1984 39 Equipe de trabalho 1988 40 Vista geral da aacuterea E 1988 41 Dimensotildees da Vala da roda e localizaccedilatildeo da evidecircncias de esteios 42 Vala da roda hidraacuteulica 1987 - I 43 Vala da roda hidraacuteulica 1987 ndash II 44 Evidecircncias de esteios

12

45 Detalhe da evidecircncia de esteios 46 Detalhe de um esteio 47 Topografia do terreno da aacuterea C 48 Vista geral da aacuterea C 1987 49 Reconstituiccedilatildeo das paredes da aacuterea B 1984 50 Evidecircncias de paredes da aacuterea B 1984 51 Parede reconstituiacuteda da aacuterea B 1984 - I 52 Parede reconstituiacuteda da aacuterea B 1984 - II 53 Parede reconstituiacuteda da aacuterea B 1984 - III 54 Vasilhame de ceracircmica (0106) aacuterea B seacuteculo XVI - I 55 Vasilhame de ceracircmica (0106) aacuterea B seacuteculo XVI - II 56 Vasilhame de ceracircmica (0106) aacuterea B seacuteculo XVI ndash III 57 Vasilhame de ceracircmica (0122) aacuterea B seacuteculo XVI ndash I 58 Vasilhame de ceracircmica (0122) aacuterea B seacuteculo XVI ndash II 59 ldquoTijelardquo faianccedila [seacuteculo XVII] 60 Escoacuteria ndash restos de fundiccedilatildeo aacuterea E 61 Telha (0115) aacuterea E seacuteculo XVIII 62 Telha aacuterea E 63 Telha aacuterea E 64 Raspador plano convexo aacuterea E 65 Garrafa de greacutes aacuterea A ndash forno1 66 Decapagem aacuterea A forno 1 67 Vestiacutegios do forno de fundiccedilatildeo 1 aacuterea A1 68 Morrote e vestiacutegios de fornos de fundiccedilatildeo aacuterea A2

13

69 Croqui da aacuterea A2 morrote B 70 Vestiacutegios do forno de fundiccedilatildeo 1 aacuterea A2 71 Croqui do forno de fundiccedilatildeo 1 aacuterea A2 72 Vestiacutegios do forno de fundiccedilatildeo 2 aacuterea A2 - I 73 Vestiacutegios do forno de fundiccedilatildeo 2 aacuterea A2 ndash II 74 Vestiacutegios do forno de fundiccedilatildeo 2 aacuterea A2 ndash III 75 Aspecto de uma ldquoferreriacutea de aacuteguardquo seacuteculo XVII 76 Sistema de ldquopujoacuten tuortordquo 77 Trabalho de extraccedilatildeo da ldquobola de ferrordquo ou ldquomassa de ferro 78 Traccedilado esquemaacutetico do Canal de Derivaccedilatildeo aacuterea A1 (Interpretaccedilatildeo) 79 rdquo Depoacutesito de aacutegua soluccedilatildeo ldquoBanzaordquo 80 localizaccedilatildeo do malho e da roda hidraacuteulica (Interpretaccedilatildeo) 81 Faacutebrica de Ferro do Siacutetio Afonso Sardinha arranjo dos equipamentos (interpretaccedilatildeo) 82 Faacutebrica de Ferro Planta baixa (interpretaccedilatildeo) 83 Faacutebrica de Ferro aacuterea erodida (Interpretaccedilatildeo)

14

RESUMO

Esta Tese tem como objetivo analisar a pesquisa arqueoloacutegica e os

artefatos coletados no Sitio Arqueoloacutegico Afonso Sardinha localizado no morro de

Araccediloiaba Iperoacute - Satildeo Paulo

O resultado da anaacutelise permitiu concluir que a aacuterea corresponde a um

campo de mineraccedilatildeo de ferro com a presenccedila de evidecircncias de uma Faacutebrica de

Ferro de um sistema de aproveitamento de energia hidraacuteulica para movimentar

os equipamentos e ferramentas destinadas a produccedilatildeo e de fornos de fundiccedilatildeo

Aleacutem disso a dataccedilatildeo do material ceracircmico (vasilhames e telhas) indica que as

atividades de exploraccedilatildeo do mineacuterio tiveram iniacutecio no seacuteculo XVI

Palavras-Chaves Arqueologia Histoacuterica Floresta Nacional de Ipanema Teacutecnica

de produccedilatildeo de ferro Colonial Sitio Afonso Sardinha morro de Araccediloiaba Iperoacute-

SP

15

ABSTRACT This Thesis has the goal to analyze archaeological research and artifacts

found in Afonso Sardinha Archaeological site located on Mount Araccediloiaba Iperoacute

Satildeo Paulo

The analysis result leads to the conclusion that the area corresponds to iron

mining field with the presence of Iron Factory evidence a system that makes use

of hydraulic power to move the equipment and tools used in the production and

small ovens to melt iron Besides the ceramic date (pots and tiles) indicates that

mineral digging activities began in the 16th century

Key words History Archeology Ipanema National Forest Colonial Iron

Production Technique Archeological Site Afonso Sardinha Mount Araccediloiaba

Iperoacute-SP

16

INTRODUCcedilAtildeO

A presente Tese busca analisar sob o ponto de vista da Arqueologia

Histoacuterica os resultados da pesquisa arqueoloacutegica desenvolvida pela pesquisadora

e arqueoacuteloga Margarida Davina Andreatta entre os anos de 1983 a 1989 na aacuterea

do siacutetio arqueoloacutegico Afonso Sardinha localizado no morro de Araccediloiaba

municiacutepio de Iperoacute a cerca de quinze quilocircmetros da cidade de Sorocaba Satildeo

Paulo

Os estudos desenvolvidos consideraram apenas os fatos relacionados agrave

exploraccedilatildeo e fabricaccedilatildeo do ferro no morro de Araccediloiaba desde finais do seacuteculo

XVI ateacute o seacuteculo XVIII portanto antes da instalaccedilatildeo do Estabelecimento

Montaniacutestico de Extraccedilatildeo de Ferro das Minas de Sorocaba em 1810 e mais tarde

com a denominaccedilatildeo de Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema

O resultado final do trabalho do levantamento de campo formou um

conjunto vasto e consolidado em textos de Diaacuterios de Campo escritos pela

pesquisadora correspondecircncias levantamentos topograacuteficos planos de

escavaccedilatildeo croquis e desenhos geomeacutetricos de plantas das ruiacutenas croquis de

cortes estratigraacuteficos e de reconhecimento das escavaccedilotildees Inventaacuterio de Peccedilas e

fotografias tudo devidamente registrado em relatoacuterios da pesquisa arqueoloacutegica

17

Os artefatos coletados durante as investigaccedilotildees de campo foram

acondicionados em caixas devidamente protegidas e identificadas e depositadas

nas dependecircncias do Museu do Centro de Visitantes da FLONA de Ipanema

Foram desenvolvidos trabalhos de reconhecimento e anaacutelise detalhada dos

registros arqueoloacutegicos que resultaram da pesquisa de campo e em seguida

interpretadas as informaccedilotildees anteriormente consolidadas com base nos

conhecimentos da Arqueologia Histoacuterica e Histoacuteria da Teacutecnica e da Ciecircncia

Na elaboraccedilatildeo da siacutentese interpretativa foi necessaacuterio valer-se de

instrumentos disponiacuteveis em outras aacutereas do conhecimento tais como Geologia

Mineralogia Metalurgia Engenharia dentre outras aacutereas

Tambeacutem foram elaborados exames visuais e catalograacuteficos visando a

dataccedilatildeo relativa assim como foram encaminhadas amostras de ceracircmica as

quais foram submetidas a testes de dataccedilatildeo absoluta com base em ensaios de

Termoluminescecircncia pelo Laboratoacuterio de Vidros e Dataccedilatildeo da Faculdade de

Tecnologia de Satildeo Paulo - FATEC

Por outro lado amostras de resiacuteduos de fundiccedilatildeo (escoacuterias) foram

ensaiadas em laboratoacuterio para anaacutelise quiacutemica-mineraloacutegica no Departamento de

Mineralogia e Geotectocircnica GMG do Instituto de Geociecircncias da Universidade de

Satildeo Paulo

No Capiacutetulo 1 O Siacutetio Afonso Sardinha questotildees da Arqueologia Histoacuterica

optamos por colocar uma siacutentese dos achados arqueoloacutegicos no Sitio Afonso

Sardinha sendo que com base nas informaccedilotildees disponiacuteveis foram expostas as

questotildees da Arqueologia Histoacuterica que resultaram das investigaccedilotildees de campo e

de laboratoacuterio assim como das pesquisas bibliograacuteficas

No Capitulo 2 A Teacutecnica de Produccedilatildeo de Ferro no periacuteodo entre os

seacuteculos XVI ao XVIII foram analisadas e discutidas as questotildees conceituais da

18

teacutecnica e da tecnologia relacionadas a metalurgia no periacuteodo de interesse desta

Tese compreendido entre os seacuteculos XVI e XVIII Para compreensatildeo dos

processos de produccedilatildeo de ferro foram apresentadas descriccedilotildees dos

procedimentos de fabricaccedilatildeo bem como ilustraccedilotildees das ferramentas

equipamentos e maacutequinas em uso naquele estaacutegio do conhecimento teacutecnico

O Capiacutetulo 3 Histoacuterico da Mineraccedilatildeo no Brasil Colonial trata de uma

avaliaccedilatildeo da historiografia disponiacutevel sobre as atividades de mineraccedilatildeo no Brasil

e particularmente para o caso da entatildeo Capitania de Satildeo Vicente merecendo

esclarecer que parte destas obras foi produzida na primeira metade do seacuteculo XX

Aleacutem disso foram consultados documentos do Arquivo Municipal de Satildeo Paulo

do Arquivo do Estado de Satildeo Paulo e Biblioteca e Arquivo do Museu Histoacuterico

Sorocabano

No Capiacutetulo 4 O Sitio Afonso Sardinha apresenta-se a localizaccedilatildeo

geograacutefica as caracteriacutesticas geoloacutegicas e geomorfoloacutegicas do morro de

Araccediloiaba a vegetaccedilatildeo a hidrografia recursos minerais com destaque especial

para a presenccedila da Magnetita Finalmente oferece-se um contexto sucinto a

respeito da ocupaccedilatildeo colonial e a presenccedila de naturalistas viajantes inclusive

Saint Hilaire em 1919

No Capiacutetulo 5 Investigaccedilotildees Arqueoloacutegicas as evidencias de uma Faacutebrica

de Ferro com base em todos os dados que resultaram da pesquisa de campo

foram desenvolvidos trabalhos sendo que num primeiro momento relacionados

ao reconhecimento e anaacutelise detalhada dos registros arqueoloacutegicos fornecidos

pela pesquisa acima mencionada

No uacuteltimo Capiacutetulo de nuacutemero 6 Interpretaccedilotildees dos dados arqueoloacutegicos

buscou-se elaborar uma interpretaccedilatildeo das informaccedilotildees consolidadas nos

documentos produzidos a partir dos conhecimentos da Arqueologia Histoacuterica e

Histoacuteria da Teacutecnica e da Ciecircncia

19

CAPIacuteTULO 1

O SIacuteTIO AFONSO SARDINHA QUESTOtildeES DA ARQUEOLOGIA HISTOacuteRICA O presente Capiacutetulo tem por objetivo indicar um conjunto de questotildees que

deveratildeo ser analisadas no decorrer da elaboraccedilatildeo desta Tese as quais

emanaram dos resultados alcanccedilados pelas pesquisas arqueoloacutegicas realizadas

no siacutetio Afonso Sardinha pela pesquisadora e arqueoacuteloga Margarida Davina

Andreatta

Para melhor compreensatildeo dos fatos que fazem parte do contexto do

presente trabalho tendo em vista a identificaccedilatildeo daquelas questotildees satildeo

apresentados a) uma avaliaccedilatildeo dos dados bibliograacuteficos que tratam de assuntos

relacionados ao siacutetio arqueoloacutegico b) um histoacuterico da descoberta das ruiacutenas c)

consideraccedilotildees sobre a metodologia utilizada d) uma descriccedilatildeo geral resumida

das pesquisas arqueoloacutegicas realizadas

11 Contexto do presente trabalho 111 Avaliaccedilatildeo dos dados bibliograacuteficos

As primeiras notiacutecias relacionadas agraves minas de ferro do Morro de

Araccediloiaba e com os trabalhos de fundiccedilatildeo daquele mineacuterio foram dadas por

Pedro Taques de Almeida Paes Leme (1714-1777) Aleacutem de sua obra mais

conhecida a Nobiliarquia Paulistana Histoacuterica e Genealoacutegica escreveu a Histoacuteria

da Capitania de Satildeo Vicente e um compecircndio sobre a exploraccedilatildeo e a legislaccedilatildeo

mineira intitulado Noticia das Minas de Satildeo Paulo e dos Sertotildees da mesma

Capitania

20

Neste uacuteltimo trabalho escrito na segunda metade do seacuteculo XVIII afirmou

ter sido o bandeirante Afonso Sardinha e seu filho mameluco do mesmo nome

ldquoos que tiveram a gloacuteria de descobrir ouro de lavagem nas Serras de

Jaramimbaba e do Jaraguaacute em Satildeo Paulo na de Votoruna em Parnaiacuteba e na

Biraccediloiaba no Sertatildeo do Rio Sorocaba ouro prata e ferro pelos anos de 1597rdquo

(TAQUES 1954 p 112) Em Notiacutecias Genealoacutegicas citado por Nicolau de

Campos Vergueiro PedroTaques completa aquela informaccedilatildeo indicando que

Afonso Sardinha havia construiacutedo uma faacutebrica e dois fornos de ferro em

Biraccediloiaba e que havia doado um dessas Faacutebricas agrave D Francisco de Souza

quando ldquoem pessoa passou a Biraccediloiaba no ano de 1600rdquo (VERGUEIRO 1978

p6)

Taques escreveu suas obras dentro de um contexto em que os trabalhos

historiograacuteficos buscaram dar um enfoque positivo a participaccedilatildeo bandeirante na

histoacuteria de Satildeo Paulo e ao mesmo tempo contrapor todas as outras narrativas

que haviam sido escritas nos seacuteculos anteriores sobretudo pelos Jesuiacutetas

Assim firmou para que Afonso Sardinha e seu filho passassem para a Histoacuteria

como tendo sido os descobridores daquelas minas e os pioneiros na fabricaccedilatildeo

do ferro no Morro de Araccediloiaba

Entre os veiacuteculos de divulgaccedilatildeo dessa historiografia estaacute o Instituto

Histoacuterico e Geograacutefico de Satildeo Paulo e do Brasil (sediado na cidade do Rio de

Janeiro) sendo este uacuteltimo responsaacutevel pela divulgaccedilatildeo das obras de Pedro

Taques1 Por outro lado aquelas afirmativas foram reforccediladas pelo

1 Os Institutos Histoacutericos e Geograacuteficos foram junto com os Museus brasileiros os primeiros e mais importantes espaccedilos que existiam no seacuteculo XIX para a pesquisa de humanidades e para a ciecircncia em geral no Brasil O Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Satildeo Paulo seraacute uma instacircncia de produccedilatildeo a afirmar uma suposta especificidade paulista elaborar tradiccedilotildees do estado ndash atraveacutes de biografias de seus vultos estudos sobre o passado da proviacutencia etc Nesse sentido eacute tambeacutem uma historiografia com teor ciacutevico paulista sobretudo mas que buscava afirmar a prevalecircncia de Satildeo Paulo perante a naccedilatildeo como um todo releitura da figura do bandeirante no sentido de elevaacute-lo agrave condiccedilatildeo de construtor da naccedilatildeo ROMANCINI Richard Inventando tradiccedilotildees os historiadores e a pesquisa inicial sobre o jornalismo II Encontro Nacional da Rede Alfredo de Carvalho Florianoacutepolis de 15 a 17 de abril de 2004 Disponiacutevel em lthttpwwwjornalismoufscbrredealcarcdgrupos20de20trabalho20de20historia20da20midiahistoria20dos20jornalismotrabalhos_selecionadosrichard_romancinidocgt Acesso em 060706

21

desaparecimento de total ou significativa parcela dos documentos que

constituiacuteram as fontes pesquisadas por aquele autor tais como os arquivos do

Primeiro Cartoacuterio dos Oacuterfatildeos de Satildeo Paulo os da Provedoria da Real Fazenda e

os da Cacircmara da Vila de Satildeo Paulo2

Aleacutem disso uma significativa parcela dos trabalhos publicados entre os

seacuteculos XIX e XX sobre as atividades metaluacutergicas desenvolvidas no morro de

Araccediloiaba estavam voltados para as anaacutelises sobre os aspectos da geografia

historia mineralogia botacircnica e geologia a partir da implantaccedilatildeo da Real Faacutebrica

de Ferro de Ipanema fundada em 1810 3 Quanto aos periacuteodos anteriores a fonte

de informaccedilatildeo sempre foi a obra de Pedro Taques a qual foi amplamente

difundida com a publicaccedilatildeo da obra de Azevedo Marques intitulada

Apontamentos histoacutericos geograacuteficos bibliograacuteficos e estatiacutesticos da proviacutencia de

Satildeo Paulo em 1879

A construccedilatildeo da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema estaacute inserida no acircmbito

da implementaccedilatildeo de poliacuteticas voltadas para favorecer a transferecircncia para a

colocircnia de todo o aparelho institucional do reino a partir da chegada de D Joatildeo VI

a cidade do Rio de Janeiro4 Entre os projetos estava a implantaccedilatildeo e

desenvolvimento da siderurgia no Brasil a partir da exploraccedilatildeo das jazidas de

ferro jaacute conhecidas como as do Morro de Araccediloiaba na Proviacutencia de Satildeo Paulo e

das jazidas de ferro de Minas Gerais localizadas nos atuais municiacutepios de

Congonhas do Campo e Gaspar5

2 Os arquivos da Provedoria foram destruiacutedos por uma enchente do Tamanduateiacute em 1929 Dos outros arquivos restam apenas poucos exemplares e que estatildeo incompleto como o das Atas da Cacircmara da Vila de Satildeo Paulo RODRIGUES Leda Maria Pereira As Minas de ferro em Araccediloiba (Satildeo Paulo Seacuteculos XVI-XVII-XVIII) Annais do III Simpoacutesio dos Professores Universitaacuterios de Histoacuteria Franca 1966 p 171 3 A Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema inicia suas atividades a partir da promulgaccedilatildeo da Carta Reacutegia de 4 de dezembro de 1810 Esta carta conteacutem instruccedilotildees para o funcionamento de uma faacutebrica de ferro em Sorocaba Em 1895 encerra definitivamente as suas atividades Ver bibliografia 4 Com a presenccedila de D Joatildeo VI foi promulgada em 1808 a abertura dos portos para o comeacutercio e um alvaraacute que revogava o Decreto de D Maria I de 1785 referente a proibiccedilatildeo da abertura de faacutebricas e manufaturas no estado do Brasil e Domiacutenios Ultramarinos 5 As minas de ferro de Gaspar Soares deram origem a Real Faacutebrica de Ferro de Gaspar Soares cuja direccedilatildeo foi dada ao Intendente Manuel Ferreira da Cacircmara Em 1811 tambeacutem para o Brasil o teacutecnico alematildeo Gotthelft Von Feldner com a incumbecircncia de examinar as minas receacutem

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Para dar andamento agravequeles projetos foram trazidos para o Brasil o

mineralogista alematildeo Friederich Ludwig Wilhelm Varnhagen (1782-1842) e

Wilhelm-Ludwig Von Eschwege (1777-1835) ambos funcionaacuterios da Coroa

Portuguesa6 Eschwege foi enviado para Minas Gerais para inspecionar as

jazidas e minas de ferro e criar com outros acionistas a companhia sideruacutergica

Faacutebrica Patrioacutetica do Prata de Congonhas do Campo que comeccedilou a funcionar

em fins de 1811 e Varnhagen para o Morro de Araccediloiaba7

Apoacutes observaccedilotildees mineraloacutegicas realizadas por Varnhagen em

Araccediloiaba A partir dos resultados daquelas observaccedilotildees ficou determinado que

Sorocaba era o local mais apropriado para a construccedilatildeo de uma siderurgia pois

ldquoa mina existente dentro de sua circunscriccedilatildeo eacute muito rica em metal de ferro e

conta na sua proximidade com extensas matas as quais haacute muitos anos mandou

reservar e que forneceratildeo o indispensaacutevel combustiacutevelrdquo(FRAGA 1968 p 66)

Assim em 1810 foi fundado o Estabelecimento Montaniacutestico de Extraccedilatildeo de Ferro

das Minas de Sorocaba denominado posteriormente de Real Faacutebrica de Ferro de

Ipanema

A aacuterea escolhida para aquele novo empreendimento estava localizada junto

ao rio Ipanema que daiacute retira aquela denominaccedilatildeo deixando para traz a histoacuteria

da metalurgia que havia sido desenvolvida durante dois seacuteculos no interior Morro

de Araccediloiaba no vale das Furnas onde estaacute localizado o Siacutetio Arqueoloacutegico

Afonso Sardinha

Os primeiros trabalhos sobre a Real Faacutebrica privilegiavam as anaacutelises

voltadas para a mineralogia e as teacutecnicas de fundiccedilatildeo Quanto a este uacuteltimo

descobertas de carvatildeo do rio Pardo no Rio Grande do Sul Cf FIGUEIROA Silvia As ciecircncias Geoloacutegicas no Brasil uma Histoacuteria Social e Institucional 1875-1934 Satildeo Paulo Hicitec 1997 p 63-65 6 Varnhagen e Eschwege voltaram para Portugal em 1822 7 Varnhagen esteve em Araccediloiaba acompanhado por Martim Francisco de Andrada Martim Francisco Ribeiro de Andrada Inspetor de Minas e Matas da Capitania de Satildeo Paulo

23

aspecto destacam o emprego do alto forno da fabricaccedilatildeo do carvatildeo e o emprego

de fundentes bem como criacuteticas relacionadas agrave produccedilatildeo e qualidade do ferro8

Entre as obras mais gerais sobre aquele empreendimento publicadas no

seacuteculo XIX estatildeo os trabalhos de Antonio da Costa Pinto Silva (1852) Nicolau de

Campos Vergueiro (1843) Frederico Augusto Pereira de Moraes (1858) M Alves

de Arauacutejo (1882) Francisco de Assis Moura (1888) J Ewbank da Cacircmara (1875)

Leandro Dupreacute (1885) Baratildeo Homem de Mello (1888) Manuel Eufraacutezio de

Azevedo Marques (1879) Carlos Conrado de Niemeyer (1879) Frederico

Augusto Pereira de Moraes (1858)

Sobre a mineralogia e a geologia estatildeo os de Joseacute Bonifaacutecio de Andrada e

Silva (1820 1846) Martim Francisco Ribeiro de Andrada (1828 1846 1855) F

Schimidt (1853) e Wilhelm L Von Eschwege (1833) e Orville Adalbert Derby

(1891 e 1895 1909) Derby foi o descobridor em 1891 da apatita mineral que foi

amplamente explorado para a fabricaccedilatildeo de adubos a partir de 1927 Naquele

mesmo seacuteculo foram realizadas as primeiras anaacutelises da magnetita de Ipanema

pela Escola de Minas de Ouro Preto9 as quais tiveram como resultado a

identificaccedilatildeo do titacircnio como componente daquele mineacuterio

Dessa forma foi possiacutevel entender a dificuldade teacutecnica que enfrentaram

todos os diretores de Ipanema em produzir um ferro de boa qualidade pois a

magnetita aleacutem de sua exagerada densidade apresentava-se impregnada de

ocircxido de Titacircnio ldquofatores que contribuem de forma decisiva para dificultar sua

reduccedilatildeo mesmo em altos fornosrdquo (FRAGA 1968 p 86) Entre as pesquisas

realizadas por essa Escola estatildeo os trabalhos de Paul Ferrand (1885) e Leandro

Dupreacute (1885) Joatildeo Pandiaacute Caloacutegeras (1893 1895 19041828) e Ferdinando

Gautier responsaacutevel em 1891 pela identificaccedilatildeo da presenccedila de foacutesforo no

mineacuterio elemento tambeacutem nocivo para a produccedilatildeo do ferro Ainda no seacuteculo XIX

8 Fundentes satildeo materiais que quando mesclados com o carvatildeo vegetal dentro do forno facilitam a fundiccedilatildeo dos mineacuterios no caso de mineacuterios de ferro Em Ipanema eram utilizados como fundentes os dioritos tambeacutem chamada ldquopedra verde (do alematildeo grunstein) 9 A Escola de Minas de Ouro Preto foi inaugurada em 1876 Destinava-se a formar profissionais para a mineraccedilatildeo

24

estatildeo os relatos elaborados pelo naturalista viajantes como Saint Hilaire Von

Martius e Zaluar

No seacuteculo XX os trabalhos relacionados com aquele empreendimento

foram desenvolvidos em duas linhas de investigaccedilatildeo o da histoacuteria econocircmica e

da social Nesta uacuteltima as anaacutelises privilegiaram as abordagens sobre o processo

de trabalho e mais para o final daquele seacuteculo para as questotildees sobre o meio

ambiente como os aspectos da ecologia florestal recursos hiacutedricos gestatildeo

ambiental e do turismo ecoloacutegico

Os trabalhos historiograacuteficos daquele seacuteculo pouco acrescentaram aos

aspectos relacionados com a implantaccedilatildeo dos primeiros empreendimentos

metaluacutergicos anteriores agrave construccedilatildeo da Real Faacutebrica10 Contudo trecircs trabalhos

podem ser destacados pelas contribuiccedilotildees seja pela releitura de documentos

ainda existentes como foi o caso dos estudos realizados por Maacuterio Neme seja

pelos trabalhos de pesquisa documental elaborados tanto por Leda Maria Pereira

Rodrigues quanto por Estefania Knotz Canguccedilu Fraga

No primeiro caso Maacuterio Neme apresenta em seu livro Notas de Revisatildeo da

Histoacuteria de Satildeo Paulo uma reavaliaccedilatildeo das obras de Pedro Taques bem como

de outros autores que tratam da histoacuteria de Satildeo Paulo ateacute o momento da 10 Entre as obras direcionadas a um contexto geral brasileiro estatildeo Sylvio Froes Abreu (19371962) Afranio do Amaral (1946) Renato Frota de Azevedo (1955) Tanus Jorge Bastini (1957) Vicente Licinio Cardoso (1924) Sobrinho Costa e Silva (1953) Alpheu Diniz Gonccedilalves (1937) R Hermanns (1958) R N Jafet (1957) Theodor Knecht (1931) Viktor Leinz (1942) Clodomiro de Liveira (1914) Niacutecia Vilela Luz (1961) Manuel Moreira Machado (1919) Roberval Germano Medeiros (1947) Geraldo Magella Pires de Melo (1957) Geraldo Dutra Moraes (1943) Almiro de Lima (1929) Matias Gonccedilalves de Oliveira Roxo (1937) Edmundo de Macedo Soares (1953) Gilberto Freyre (1988) Francisco Adolpho de Varnhagen (1956) Joseacute Epitaacutecio Passos Guimaratildees (1981) Francisco Magalhatildees Gomes (1983) Francisco de Assis Barbosa (1958) Francisco de Assis Carvalho Franco (1928) Silvia Figueroa (1997) Roseli Santaella Stella (2000) Para anaacutelises direcionadas ao Estado de Satildeo Paulo estatildeo as de Paulo R Pestana (1928) Luis Flores de Moraes (1930) Afonso Taunay (1931) Benedito Lima de Toledo (1966) Maacuterio Neme (1959) Seacutergio Buarque de Holanda (1960 1966) Ernani da Silva Bruno (1953) Jesuiacuteno Feliciacutessimo Juacutenior (1969) Washington Luis (1956) Gabriel Pedro Moacyr (1935) E aqueles relacionados agrave histoacuteria local da Real Faacutebrica estatildeo o de Joseacute Monteiro Salazar (1982) Astor Franccedila Azevedo (1959) Luiz de Almeida Castanho (1937 1939 1958) Jaime Benedito de Arauacutejo (1939) Ezequiel Freire (1953) Emanuel Soares Veiga Garcia (1954) Joatildeo Lourenccedilo Rodrigues (1953) Otaacutevio Tarquiacutenio de Souza (1946) Heacutelio Vianna (1969) Andreacute Davino (1965) Guido Ranzani (1965) Miriam Escobar (1982) Theodoro Knecht (1930) Helmut Born (1989) Lenharo S L R (1996) Antonio Maciel Botelho Machado (1998) e Jaime Rodrigues (1998) Aluiacutezio de Almeida (2002)

25

publicaccedilatildeo da obra em 1959 confrontando as afirmaccedilotildees dos autores com base

nos documentos disponiacuteveis naquele momento A obra segundo o autor fora

escrita com base em pesquisa documental realizada por ele durante duas

deacutecadas tendo concluiacutedo que ldquofirmamo-nos na convicccedilatildeo mais absoluta de que a

crocircnica de nossa formaccedilatildeo e evoluccedilatildeo estaacute a exigir ampla revisatildeo quer em

mateacuteria de fatos e acontecimentos na sua ocorrecircncia e significaccedilatildeo imediata e

futura e no que toca a dados datas e nomes quer em mateacuteria de interpretaccedilatildeordquo

(NEME1959 p11)

Ao final deste trabalho Neme conclui que os dados oferecidos por Pedro

Taques a respeito da construccedilatildeo de uma Faacutebrica de ferro por Afonso Sardinha no

Morro de Araccediloiaba natildeo passou de uma faacutebula criada por aquele autor sendo

que a uacutenica Faacutebrica de ferro que de fato existiu no iniacutecio do seacuteculo XVII foi a de

Santo Amaro

No segundo trabalho a ser considerado trata-se de um artigo publicado em

1966 pela historiadora Leda Maria Pereira Rodrigues intitulado As Minas de ferro

em Araccediloiaba (Satildeo Paulo Seacuteculos XVI-XVII-XVIII) onde a autora afirma que ldquoos

primoacuterdios de nossa Histoacuteria fazem surgir duacutevidas difiacuteceis de serem esclarecidas

pois haacute falta de documentos coesos que provem incontestavelmente a veracidade

de certas afirmaccedilotildeesrdquo Neste mesmo trabalho ela conclui que ateacute a instalaccedilatildeo da

Real Faacutebrica em 1810 todos os empreendimentos anteriores constituiacuteram numa

ldquoseacuterie de tentativas frustrasrdquo A autora demonstra que pelo menos dois

empreendimentos foram efetivamente implementados naquele local o de Luiz

Lopes de Carvalho por volta de 1690 e o de Domingos Pereira Ferreira em 1875

(RODRIGUES 1966 p246-249)

Em 1968 Estefania Knotz Canguccedilu Fraga sob a orientaccedilatildeo da historiadora

Leda Maria Pereira Rodrigues seguindo as discussotildees iniciadas pela autora

acima mencionada desenvolveu uma tese na aacuterea de Histoacuteria do Brasil com o

titulo Subsiacutedios para o estudo da Histoacuteria da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema

(1779-1822) Neste trabalho analisou especialmente o empreendimento de

26

Domingos Pereira Ferreira como tambeacutem as primeiras deacutecadas de

funcionamento da Real Faacutebrica sob a direccedilatildeo de Hedberg (1810-1814) e

Varnhagen (1814-1822) A autora depois de enumerar as possiacuteveis causas que

teriam levado ao que atribui ser um ldquoinsucessordquo econocircmico daqueles

empreendimentos conclui que

mesmo que a faacutebrica de ferro de Araccediloiaba (como

primitivamente era denominado o local) natildeo possa oferecer

ao pesquisador nada aleacutem de constantes provas de seu

insucesso ainda assim o propoacutesito que o anima natildeo deve

esmorecer Afinal o que seria da Historia se soacute merecessem

registro os eventos vitoriosos Quantas derrotas natildeo

levaram as vitoacuterias Porque entatildeo omiti-las se fazem parte

integrante da mesma Porque esquececirc-la se refletem uma

circunstancia real mesmo que nela se insinue uma ou mais

ldquoforccedilas obstrutivasrdquo que consagram ao fracasso tudo o que

nela se condiciona mas que nem por isso obstam uma ou

vaacuterias tentativas de superaccedilatildeo Eacute sabido que a dualidade de

forccedilas impele a civilizaccedilatildeo E mais que a tanta gloacuteria existe

na derrota quanto na vitoacuteria quando supotildeem luta E poderaacute

algueacutem negar que Ipanema natildeo foi um glorioso campo de

luta (FRAGA 1966 p 109)

112 Histoacuterico das descobertas das ruiacutenas O Siacutetio Arqueoloacutegico Histoacuterico Afonso Sardinha foi assim denominado por

ter sido Afonso Sardinha bandeirante e seu filho mameluco11 Afonso Sardinha o

moccedilo apontados por Pedro Taques e pela historiografia como os provaacuteveis

11 Filho de pai branco e matildee indiacutegena No caso dos mamelucos os pais reconheciam publicamente a paternidade e os filhos gozavam da liberdade plena e aproximavam-se agrave identidade portuguesa Essa denominaccedilatildeo cai em desuso no seacuteculo XVIII e eacute substituiacuteda pelo termo bastardo que passava a designar qualquer pessoa com ascendecircncia indiacutegena (MONTEIRO 1994 p 167)

27

descobridores e construtores dos primeiros fornos de fundiccedilatildeo naquele local em

finais do seacuteculo XVI

No ano de 1977 Joseacute Monteiro Salazar pesquisador estudioso da histoacuteria

regional e particularmente da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema acompanhado

pelos engenheiros agrocircnomos Nerzon Nogueira de Barros e Dinchiti Sinzato e

pelo fotoacutegrafo Venedavel Acosta encontrou as ruiacutenas de um possiacutevel Faacutebrica de

ferro que atribuiu ser aquele construiacutedo por Afonso Sardinha em finais do seacuteculo

XVI (SALAZAR 1997156-159) Tal avaliaccedilatildeo decorria do fato de que aquela

regiatildeo teria sido uma aacuterea de provaacutevel exploraccedilatildeo mineral do ferro que

remontaria aos primoacuterdios da colonizaccedilatildeo de Satildeo Vicente conforme apontavam a

historiografia disponiacutevel sobre aquela Capitania

28

Fig 1 MAPA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA FLONA ndash Floresta Nacional de Ipanema Escala 1250 000 CENEA- Centro Nacional de Engenharia Agriacutecola 1985

29

Fig 2 MAPA DE LOCALIZACcedilAtildeO DO SIacuteTIO AFONSO SARDINHA Folheto IBAMA sem data e sem escala

30

Fig 3 DESENHO ESQUEMAacuteTICO DE LOCALIZACcedilAtildeO DA FAacuteBRICA DE FERRO Salazar (1997 p80)

Fig 4 MARGARIDA DAVINA ANDREATTA E JOSEacute MONTEIRO SALAZAR Aspecto do Siacutetio em 1983

31

Fig 5 MARGARIDA DAVINA ANDREATTA E JOSEacute MONTEIRO SALAZAR Iniacutecio das pesquisas no Siacutetio Afonso Sardinha 1983 As ruiacutenas foram localizadas no interior do vale das Furnas onde estaacute o

ribeiratildeo do Ferro que nasce e cruza o Morro de Araccediloiaba desaguando no rio

Ipanema o qual por sua vez eacute um afluente pela margem esquerda do rio

Sorocaba

Este ribeiratildeo

() nasce no Monte do Chapeacuteu e corre primeiro do norte para o

sul e depois de passar pelo Vale das Furnas torce bruscamente

e muda radicalmente de direccedilatildeo fazendo uma grande curva e

passando a correr do sul para o norte indo desaguar afinal no

Ipanema (SALAZAR 1997 p 02)

Foi numa das curvas do ribeiratildeo do Ferro que aquelas ruiacutenas foram

localizadas As estruturas ali descobertas se cercavam de condiccedilotildees fisiograacuteficas

favoraacuteveis para viabilizar a atividade de produccedilatildeo do ferro devido a proximidade

32

das jazidas do mineacuterio existecircncia de matas abundantes assim como de uma

hidrografia favoraacutevel para o aproveitamento da forccedila motriz das aacuteguas

A primeira constataccedilatildeo da existecircncia de uma estrutura por eles encontrada

foi uma fileira de pedras bem conservadas que identificaram ldquocomo canal

certamente para o desvio do rio a fim de mover os martinetesrdquo Descobriram uma

muralha que atribuiacuteram ser uma parede de forja (SALAZAR 1997 p159-160)

113 Consideraccedilotildees sobre a metodologia O termo arqueologia histoacuterica surge nos Estados Unidos nas deacutecadas de

1960 para designar o estudo da cultura material dos europeus no mundo Esse

termo passou a ser oficialmente adotado em 1967 tendo em vista regulamentar a

nomenclatura para designar as pesquisas arqueoloacutegicas em siacutetios histoacutericos que

estavam sendo desenvolvidas nos Estados Unidos Ateacute entatildeo eram utilizados

para identificar aqueles trabalhos arqueoloacutegicos uma nomenclatura diversificada

como arqueologia colonial arqueologia da historia arqueologia de siacutetios

histoacutericos entre outros

Naquela mesma deacutecada a arqueologia histoacuterica passa a ser uma

disciplina valendo-se da aplicaccedilatildeo de meacutetodos de escavaccedilatildeo jaacute consagrados

pela arqueologia preacute-historica e das abordagens teoacuterico-metoloacutegicas voltadas

para a interpretaccedilatildeo dos registros arqueoloacutegicos As ferramentas teoacutericas

metodoloacutegicas apresentadas pela arqueologia foram sendo revisadas e

aprimoradas de modo a contribuir com as anaacutelises destinadas a interpretar as

culturas preteacuteritas

Outra questatildeo diz respeito agrave compreensatildeo do papel da Arqueologia

Histoacuterica aplicada agraves pesquisas desenvolvidas na Ameacuterica tendo em vista a

visatildeo desenvolvida por Charles Orser Jr segundo o qual cabe a esta disciplina

investigar fundamentalmente os ldquo() aspectos mateacuterias em termos histoacutericos

33

culturais e sociais concretos dos efeitos do mercantilismo e do capitalismo que

foi trazido da Europa em fins do seacuteculo XV e que continua em accedilatildeo ainda hojerdquo

(ORSER 1992 p 23)

Posteriormente Orser trouxe novas contribuiccedilotildees a aquela conceituaccedilatildeo

ao formular a Teoria de Rede segundo a qual as pesquisas em Arqueologia

deveriam levar em consideraccedilatildeo a questatildeo das ldquointerligaccedilotildees globaisrdquo

demonstrando a ldquoorigem e os desenvolvimentos ulteriores da globalizaccedilatildeo da

modernizaccedilatildeo e da expansatildeo colonialistardquo criados por ldquoagentes conscientes do

colonialismo do eurocentrismo e da modernidaderdquo que proporcionaram a

criaccedilatildeo de uma ldquoseacuterie de elos complexos e multidimensionais que uniam

diversos povos ao redor do mundordquo (ORSER 1999 p 87)

No que se referem agrave interpretaccedilatildeo dos registros arqueoloacutegicos as

pesquisas em arqueologia histoacuterica empregam teorias e meacutetodos que foram

sendo desenvolvidos por meio da aplicaccedilatildeo de meacutetodos de abordagens como o

Histoacuterico-Culturalismo (foi amplamente difundida entre os arqueoacutelogos

brasileiros) New Archaeology ou Arqueologia Processual e Poacutes-

processualismo e suas derivaccedilotildees Cada meacutetodo privilegiou uma escala

apropriada de anaacutelise para o ldquoHistoacuterico Culturalismo foi o siacutetio para o

Processualismo a regiatildeo e para o Poacutes-Processualismo passou a ser o

indiviacuteduordquo (LIMA 2000 p 2)

No Brasil a formaccedilatildeo da primeira geraccedilatildeo de arqueoacutelogos na deacutecada de

1970 foi orientada por duas correntes teoacutericas A americana representada pelos

arqueoacutelogos Clifford Evans (1920-1981) e Betty Meggers coordenadores do

Programa Nacional de Pesquisas Arqueoloacutegicas (Pronapa) criado na deacutecada

de 1960 E a Francesa representada por Joseph e Annette Emperaire Da

escola francesa destacamos as pesquisas realizadas pelo grupo do Centre

National de la Recherche Scientifique que trabalharam em Minas Gerais

Paranaacute Satildeo Paulo e no Piauiacute em convenio com o Museu Paulista da

Universidade de Satildeo Paulo e a Universidade do Piauiacute com o objetivo de

34

proporcionar as primeiras dataccedilotildees para as obras rupestres e sua inserccedilatildeo no

contexto cultural preacute-histoacuterico (PROUS 1992 p17)

A partir da pesquisas do grupo Franco-Brasileiro foram fornecidas as

primeiras dataccedilotildees radiocarbono a introduccedilatildeo de teacutecnicas e meacutetodos mais

refinados de decapagem e a realizaccedilatildeo de escavaccedilotildees sistemaacuteticas no Brasil

Aleacutem da influecircncia teoacuterica-metodologica o convecircnio entre aquele grupo

representado por Joseph e Annette Laming Emperaire e o Centre National de

la Recherche Scientifique proporcionou a formaccedilatildeo de arqueoacutelogos e de

especializaccedilotildees na Franccedila Entre os anos de 1960-1980 o legado francecircs

permanecia em duas Instituiccedilotildees de Satildeo Paulo o Museu de Preacute-Histoacuteria

(atualmente incorporado ao MAE) e Museu Paulista da Universidade de Satildeo

Paulo e em Minas Gerais no Museu de Histoacuteria Natural da Universidade

Federal de Minas Gerais

A partir da deacutecada de 1960 as pesquisas relacionadas ao campo da

arqueologia histoacuterica foram conduzidas particularmente por arqueoacutelogos preacute-

historiadores que passaram a desenvolver pesquisas em Siacutetios Histoacutericos

Num primeiro momento aquelas pesquisas arqueoloacutegicas foram marcadas

pelas teorias do meacutetodo histoacuterico-culturalista privilegiando monumentos como

igrejas conventos missotildees jesuiacuteticas fortificaccedilotildees solares entre outros

encorajadas pelos oacutergatildeos de preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico e cultural e

pela receacutem-criada Lei 3924 de 26 de julho de 1961 atraveacutes da qual os

monumentos arqueoloacutegicos e preacute-histoacutericos passaram a serem considerados

como patrimocircnio da Uniatildeo (ANDRADE 1993 FUNARI 1998 RUBINO 1996)

Ateacute a deacutecada de 80 as pesquisas ainda seguiam aquela linha de

investigaccedilatildeo privilegiando pesquisas em monumentos Contudo jaacute havia

perspectivas de novas abordagens de pesquisa notadamente voltadas para

os segmentos sociais desfavorecidos de registros possibilitando ldquorecuperar

memoacuterias sociais reinterpretar a Histoacuteria Oficial resgatar elementos e praacuteticas

da vida cotidiana sobre os quais normalmente natildeo se escreverdquo

35

Proporcionando a arqueologia histoacuterica investigar uma diversificada temaacutetica

transformando em Siacutetios Histoacutericos quilombos unidades domeacutesticas becos

urbanos senzalas tecnologias de produccedilatildeo de materiais e povoados etc

(ANDRADE 1993 p 228)

Neste contexto se inserem as pesquisas em arqueoloacutegica histoacuterica

desenvolvida na cidade de Satildeo Paulo O Programa de Arqueologia Histoacuterica no

Municiacutepio de Satildeo Paulo foi coordenado por Margarida Davina Andreatta do

Museu Paulista da Universidade de Satildeo Paulo em colaboraccedilatildeo com o

Departamento do Patrimocircnio Histoacuterico da Secretaria Municipal de Cultural A

pesquisa realizada a partir de prospecccedilotildees e escavaccedilotildees sistemaacuteticas em

ldquoCasas Bandeiristasrdquo e locais puacuteblicos e privados do municiacutepio como becos

ruas praccedilas quintais lixotildees logradouros etc Entre os anos de 1979 e 1981

foram realizadas pesquisas arqueoloacutegicas no Municiacutepio de Satildeo Paulo nos

Siacutetios Mirim em Ermilindo Matarazzo Sitio de Morrinhos no Jardim Satildeo Bento

Casa do Grito no Parque da Independecircncia ndash Ipiranga Beco do Pinto Bairro

da Seacute Casa n 1 do Paacutetio do Coleacutegio e Casa do Tatuapeacute e no bairro do

Tatuapeacute (ANDREATTA 19812 1986a 1986b) Em 1983 Margarida Davina

Andreatta iniciou as pesquisas arqueoloacutegicas na Fazenda Ipanema ndash Iperoacute

Satildeo Paulo atualmente um aacuterea de proteccedilatildeo ambiental FLONA 12

Durante o desenvolvimento dessa pesquisa foram realizadas

escavaccedilotildees e prospecccedilotildees em uma aacuterea extensa daquela Fazenda incluindo

todas as edificaccedilotildees que pertenceram a Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema

(1810-1895)13 e as ruiacutenas existentes no Vale das Furnas junto do ribeiratildeo do

Ferro e interior do Morro de Araccediloiaba Nesta uacuteltima aacuterea denominada Siacutetio

Afonso Sardinha foi evidenciado estruturas de um Faacutebrica de Ferro e Fornos 12 As edificaccedilotildees da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema foram tombadas pelo Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional em 1964 O Siacutetio Arqueoloacutegico Afonso Sardinha foi registrado tambeacutem no IPHAN em 1997 por Margarida Davina Andreatta Ver Detalhes de Siacutetios Arqueoloacutegicos Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrportalmontaDetalheSitioArqueologicodoid=SP00236gt Acesso em 09mar 2004 13 Foram realizadas pesquisas arqueoloacutegicas nas aacutereas dos altos fornos fornos de carvatildeo edifiacutecio de armas brancas Praccedila Afonso Sardinha entre outros dependecircncias pertencentes a Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema

36

de Fundiccedilatildeo e uma diversificada tipologia de materiais os quais compotildee os

documentos arqueoloacutegicos que foram registrados no Inventaacuterio de Peccedilas

relacionadas a pesquisa (exemplos em anexo)

Da pesquisa no Sitio Afonso Sardinha foram produzidos um significativo

conjunto documental formado por inuacutemeras tipologias de documentos de

arquivo que formam o Fundo Sitio Afonso Sardinha A partir dessa

documentaccedilatildeo foi possiacutevel acompanhar o processo de desenvolvimento

daquela pesquisa e tambeacutem contextualizar os documentos arqueoloacutegicos

permitindo assim a realizaccedilatildeo de interpretaccedilotildees quanto sua dataccedilatildeo e

significado Nas palavras de Hodder ldquoa partir del momento em que se conoce

el contexto de um objeto este ya no es completamente mudordquo (HODDER

1994 18)

Os documentos do Fundo Siacutetio Afonso Sardinha satildeo compostos por

diaacuterios de campo relatoacuterios de pesquisa planos de escavaccedilatildeo fotografias

correspondecircncias e tambeacutem por uma coleccedilatildeo formada por documentos de

apoio a pesquisa como plantas topograacuteficas planoaltimeacutetricas bibliografia

histoacuterica e teacutecnica sobre mineraccedilatildeo e fundiccedilatildeo de ferro no Brasil nos primeiros

trecircs seacuteculos de colonizaccedilatildeo

A pesquisa realizada a partir da bibliografia encontrada no Fundo Afonso

Sardinha apontou caminhos de investigaccedilatildeo que direcionaram para uma

bibliografia teacutecnica e histoacuterica sobre a teacutecnica da produccedilatildeo de ferro

desenvolvida na Europa especialmente na Espanha entre os seacuteculos XVI-

XVIII Aleacutem disso foi agregada aquela investigaccedilatildeo um conjunto de

documentos de cunho oficial escritos pelos empreendedores daquela

produccedilatildeo e oacutergatildeos administrativos coloniais como a Cacircmara da Vila de Satildeo

Paulo

Assim os documentos pertencentes ao Fundo Afonso Sardinha

documentos textuais oficiais e documentos arqueoloacutegicos ndash permitiram

37

interpretar que a aacuterea do Siacutetio corresponde a um campo de trabalho de

produccedilatildeo de ferro e que as atividades de mineraccedilatildeo e fundiccedilatildeo estavam

distribuiacutedas por uma aacuterea extensa com forte influencia dos modelos de ferrarias

de aacutegua que haviam no periacuteodo pesquisado na regiatildeo basca da Espanha

Assim as possibilidades dadas pela arqueologia histoacuterica de permitir a

utilizaccedilatildeo tanto de documentos arqueoloacutegicos (artefatos) e textuais na

realizaccedilatildeo da pesquisa e produccedilatildeo do conhecimento eacute tambeacutem uma das

principais tensotildees que norteiam as questotildees teoacutericas-metodoloacutegicas da

arqueologia histoacuterica Para tanto autores como Anders Andreacuten ao considerar

que o problema da arqueologia histoacuterica eacute o encontro entre a cultura material e

a escrita indica tambeacutem que a arqueologia histoacuterica natildeo pode ignorar as

disciplinas que tratam do homem como eacute o caso da Histoacuteria da Antropologia

ou da Filologia propondo que a metodologia em arqueologia histoacuterica deve

estabelecer ldquodialogue between artifact and text that is unique in relation to

prehistoric archeology as well as historyrdquo (ANDREacuteN 1998 p 177)

114 Descriccedilatildeo geral das pesquisas arqueoloacutegicas realizadas Entre os anos de 1983 ndash 1989 as ruiacutenas encontradas por Joseacute Monteiro

Salazar (1982) foram objeto de uma pesquisa arqueoloacutegica iniciada pelo

Protocolo de Intenccedilotildees entre o Museu Paulista da Universidade de Satildeo Paulo e o

CENEA ndash Centro Nacional de Engenharia Agriacutecola - oacutergatildeo autocircnomo do Ministeacuterio

da Agricultura ao qual a Fazenda Ipanema estava ligado A pesquisa foi

coordenada pela arqueoacuteloga Margarida Davina Andreatta do Museu Paulista da

Universidade de Satildeo Paulo14

14 A Fazenda Ipanema pertenceu ao CENEA Centro Nacional de Engenharia Agriacutecola oacutergatildeo autocircnomo do Ministeacuterio da Agricultura ateacute a extinccedilatildeo desse Centro em 1990 eacutepoca em que foram exploradas as minas de Apatita para a fabricaccedilatildeo de adubos A pesquisa arqueoloacutegica nesta aacuterea foi coordenada pela pesquisadora e arqueoacuteloga Profa Dra Margarida Davina Andreatta tendo como assistente o pesquisador da Historia regional Joseacute Monteiro Salazar aleacutem de estagiaacuterios da Universidade de Satildeo Paulo e voluntaacuterios

38

Fig 6 MARGARIDA DAVINA ANDREATTA E EQUIPE EM REUNIAtildeO COM A DIRETORIA DA FLORESTA NACIONAL DE IPANEMA 1984

Fig 7 ASPECTO DA FAacuteBRICA DE FERRO em 1987

39

Fig 8 Planta da aacuterea do Sitio Afonso Sardinha aacutereas A1 e A2

40

As pesquisas arqueoloacutegicas desenvolvidas no sitio Afonso Sardinha

evidenciaram a existecircncia de um campo de produccedilatildeo de ferro localizado na

margem esquerda do ribeiratildeo do ferro o qual se mostrou formadas por duas

aacutereas identificadas durante aqueles trabalhos como aacuterea A1 e aacuterea A2

mostradas no Mapa da Figura 8

A aacuterea A1 situada no setor norte do campo apresentou ruiacutenas de uma

edificaccedilatildeo relativamente maior de produccedilatildeo de ferro composto por quatro setores

identificados como Forno (setor A) Forja (setor B) espaccedilo entre a Forja e o Canal

(setor C) e Canal (setor D) espaccedilo sul da estrutura (setor E)

Nessa aacuterea A1 a pesquisa arqueoloacutegica possibilitou as seguintes principais

evidecircncias

(i) ocorrecircncias de escoacuterias de forma disseminada e tambeacutem na forma de

um amontoado junto a parede externa (sul) da Forja

(ii) ocorrecircncias de telhas na aacuterea ao sul das paredes dos setores BC e D

(iii) ocorrecircncias de cravo e lacircminas de metal tambeacutem na aacuterea sul da

estrutura

(iv) ocorrecircncia de ceracircmica neo-brasileira nos setores da forja (B) e do

Forno (A)

(v) ocorrecircncia de faianccedila portuguesa nos setores da Forja (B) e do Forno

(A)

(vi) ocorrecircncia de vidro na parte norte do Forno (setor A) parte externa da

Forja (setor B) e tambeacutem um fragmento no setor E (parte sul da estrutura)

41

(vii) ocorrecircncia de metal na parte interna e externa da Forja (B) na aacuterea E

parte interna da aacuterea (C) e face oeste do Canal (D)

(viii) evidecircncias de esteios nas laterais do Canal (D)

Fig 9 Detalhe da aacuterea A 1 ndash Sitio Afonso Sardinha

42

Fig 10 VISTA GERAL DA AacuteREA A 1 ndash Sitio Afonso Sardinha 1987

Fig 11 VISTA GERAL DA AacuteREA A 2 ndash Siacutetio Afonso Sardinha 1987 Na aacuterea A2 mostrada na figura 12 as pesquisas arqueoloacutegicas

evidenciaram a existecircncia de duas subaacutereas sendo uma denominada de A2-B e a

43

outra de D constituiacuteda de parte de um muro de pedras cuja estrutura natildeo foi

possiacutevel identificar

Fig 12 DETALHE DA AacuteREA A 2 ndash Sitio Afonso Sardinha Na aacuterea A2-B (Morrote) foram observadas as seguintes evidecircncias

(i) ocorrecircncia de dois fornos soterrados sob um Morrote na aacuterea

designada como A2-B

(ii) ocorrecircncia de tijolos telhas e mureta de pedra

44

Na aacuterea D da figura 12 foram observados

(i) mureta de estrutura natildeo identificada

(ii) ocorrecircncia de duas estruturas circulares de natureza natildeo

identificada

(iii) ocorrecircncias de ceracircmicas telhas e tijolos

(iv) Ao sul da aacuterea A2-B observou-se a existecircncia de um muro de

pedra interpretado como sendo parte de um canal tendo ao seu lado duas

estruturas circulares com diacircmetro de 15 m (Figura 13 e 14)

Fig 13 PLANTA MORROTE ndash AacuteREA A2-B 1987

45

Fig 14 MORROTE COM EVIDENCIAS DE ldquoFORNOrdquo AacuteREA A2

46

12 Principais questotildees a serem abordadas no decorrer da Tese Os estudos histoacutericos disponiacuteveis acima apresentados bem como os

resultados das pesquisas arqueoloacutegicas realizadas conforme descritas nos itens

anteriores permitem relacionar um conjunto de questotildees que consideramos

importantes para esclarecimento do processo de instalaccedilatildeo da Faacutebrica de ferro

em Araccediloiaba (Sitio Afonso Sardinha) no periacuteodo compreendido entre o final do

seacuteculo XVI ao seacuteculo XVIII que antecedeu a instalaccedilatildeo da Real Faacutebrica de Ferro

de Ipanema em 1810

Tais questotildees podem ser resumidas conforme seguem

I - Avaliaccedilatildeo dos vestiacutegios arqueoloacutegicos das atividades relacionadas agrave mineraccedilatildeo

e agrave produccedilatildeo de ferro a partir do final do seacuteculo XVI e anteriormente agrave instalaccedilatildeo

da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema em 1810

II - Investigaccedilatildeo das possiacuteveis teacutecnicas de produccedilatildeo e meacutetodos de fundiccedilatildeo de

ferro empregadas em Araccediloiaba no periacuteodo de analise desta tese

III - Caracterizaccedilatildeo de modelos de fornos de fundiccedilatildeo e processos industriais

encontrados na aacuterea do sitio arqueoloacutegico

IV ndash Avaliaccedilatildeo das possiacuteveis causas teacutecnicas e cientiacuteficas relacionadas agraves

dificuldades de produccedilatildeo e de qualidade do ferro produzido em Araccediloiaba

47

CAPITULO 2

A TECNICA DE PRODUCcedilAtildeO DE FERRO NO PERIODO ENTRE OS SEacuteCULOS

XVI AO XVIII

21 Consideraccedilotildees sobre Teacutecnica e Tecnologia

Uma das primeiras questotildees para conceituar Teacutecnica refere-se agraves anaacutelises

que permitem diferenciaacute-la do conceito moderno de Tecnologia Ruy Gama (1986

p 19) ao analisar essa questatildeo a partir de autores de liacutengua inglesa observa que

o conceito de tecnologia aparece ldquoora como simplesmente sinocircnimo de teacutecnica ou

de conjunto de teacutecnicas alarga-se as vezes para incluir o produto material das

teacutecnicas e outras vezes menos frequumlentes eacute usada como sinocircnimo de saber

associado as teacutecnicas ou como estudo das teacutecnicasrdquo

A partir de 1930 a preocupaccedilatildeo com a Histoacuteria da Teacutecnica vem se

difundido sobretudo por meio das anaacutelises iniciadas por autores franceses como

Marc Bloch Lefevre de Noeumlttes e Lucien Febvre e ingleses como Abbott Payson

Lynn White Jr e Lewis Munford que a transformaram numa ldquonova disciplinardquo

historiograacutefica 15

No Brasil a primeira discussatildeo sobre essa temaacutetica foi apresentada em

1985 com a publicaccedilatildeo do livro Histoacuteria da Teacutecnica e da Tecnologia organizado

por Ruy Gama Este trabalho eacute formado por uma coletacircnea de textos claacutessicos e

de outros produzidos por autores estrangeiros e brasileiros sobre a Histoacuteria da

Teacutecnica da Tecnologia e da Ciecircncia Entre os textos escritos por autores

brasileiros destacam-se os trabalhos de Fernando Luis Lobo Barbosa Carneiro e

de Julio R Katinsky

15 Os Textos em que estes autores discutem o conceito de Teacutecnica e Tecnologia foram publicados no livro Historia da Teacutecnica e da Tecnologia organizado por Ruy Gama (1985)

48

No texto escrito por esse uacuteltimo autor estaacute um Glossaacuterio dos Carpinteiros

de Moinho onde o autor apresenta os resultados de uma pesquisa que fez sobre

os moinhos hidrauacutelicos no Brasil cuja utilizaccedilatildeo eacute bastante frequumlente nas aacutereas

rurais dos Estados de Satildeo Paulo e Sul de Minas Aleacutem disso oferece um

glossaacuterio de termos empregados ldquobasicamente na construccedilatildeo de monjolos

prensas de mandioca engenhocas de accediluacutecar e moinhos hidrauacutelicos de gratildeos

estes uacuteltimos geralmente preparados para produzir quirera ou fubaacuterdquo (KATINSKY1985 p 216)

Aleacutem desses textos a Coletacircnea traz dois artigos do economista alematildeo

Johann Beckmann (1729-1811) considerado ldquoo pai da Tecnologiardquo por haver

firmado aquele conceito em fins do seacuteculo XVIII e instituiacutedo a disciplina de

Tecnologia no ensino da Universidade de Goumlttingen16 Em 1777 publica a obra

Instruccedilatildeo sobre Tecnologia em que firmava o seu conceito de Tecnologia como

ldquoconhecimento dos ofiacutecios faacutebricas e manufaturas especialmente daquelas que

tem contacto estrito com a agricultura a administraccedilatildeo puacuteblica e as ciecircncias

cameraliacutesticasrdquo (GAMA 1985 p6) Na introduccedilatildeo dessa mesma obra Beckmann

escrevia que

A histoacuteria das artes pode dedicar-se a enumeraccedilotildees das

invenccedilotildees ao progresso e ao curso habitual de uma arte ou de

um trabalho manual mas eacute a tecnologia que explica de maneira

completa clara e ordenada todos os trabalhos assim como seus

fundamentos e suas consequumlecircncias (BECKMANN Apud GAMA

1985 p6)

Serge Moscovici em Essai sur lrsquohistorie humaine de la Nature referindo-se

a Beckmann afirma que este autor conscientemente ldquoforja o termo tecnologia

para designar a disciplina que descreve e ordena os ofiacutecios e as induacutestrias

existentesrdquo (MOSCOVICI apud GAMA 1985 p 8)

16 Goumlttingen era uma das mais conhecidas universidades da Europa agrave qual se vinculavam muitos estadistas e funcionaacuterios administrativos da Alemanha

49

Para Beckmann e outros autores de seu tempo a Tecnologia estava

intimamente ligada agrave escola e basicamente agrave uniatildeo dos ldquosaacutebiosrdquo com os

ldquofabricantesrdquo que dominavam o conhecimento teacutecnico numa eacutepoca em que este

mesmo conhecimento comeccedilava a ser objeto de investigaccedilatildeo de academias e

universidades as quais tinham como objetivo a formulaccedilatildeo de uma linguagem

tecnoloacutegica por intermeacutedio da codificaccedilatildeo de conceitos Ressaltamos ainda que

as propostas de Beckmann e esse novo olhar paras as teacutecnicas estavam

voltadas para o atendimento de demandas sociais surgidas com a Revoluccedilatildeo

Industrial

Se a Tecnologia tem a funccedilatildeo de explicar como afirma Beckmann ela

tambeacutem teve seu tempo de formulaccedilatildeo Segundo Ruy Gama o nascimento do

conceito de Tecnologia pode ser situado historicamente no decorrer da Idade

Moderna sendo difundido a partir do seacuteculo XVII Para este autor tal conceito foi

construiacutedo

pari passu ao desenvolvimento do capitalismo e agrave substituiccedilatildeo do

modo de produccedilatildeo feudalcoorporativo e do sistema de

transmissatildeo do conhecimento apoiado na aprendizagem pelo

emprego do trabalho assalariado e pelo sistema escolarizado do

conhecimento (GAMA 1986 p30)

Dessa forma ateacute pelo menos antes do advento da ldquoRevoluccedilatildeo da Ciecircnciardquo

(1789-1848) especialmente pelas descobertas proporcionadas pela Quiacutemica 17

todos os processos de produccedilatildeo eram realizados a partir de conhecimentos

ldquopraacuteticosrdquo e que natildeo eram e natildeo poderiam ser explicados cientificamente Assim

trabalhavam os carpinteiros camponeses mineiros e fundidores de metais e

outros artesatildeos da Idade Meacutedia associando engenhosidade experiecircncia e

habilidade manual ou em outras palavras centrados no ldquomais rude empirismordquo

(USHER 1994 p 465)

17 A Quiacutemica entre todas as ciecircncias ldquofoi a mais iacutentima e imediatamente ligada agrave praacutetica industrial ndash a Revoluccedilatildeo Industrial - especialmente integrada aos processos de tingimento de tecidos e branqueamento da industria tecircxtilrdquo ( HOBSBAWM 1979 p305)

50

Para Milton Vargas a Tecnologia soacute pode ter vigecircncia depois do

estabelecimento da Ciecircncia Moderna 18

principalmente pelo fato de essa cultura ser um saber que apesar

de teoacuterico deve necessariamente ser verificado pela experiecircncia

cientiacutefica Esse aspecto experimental e portanto empiacuterico da

Ciecircncia moderna proveacutem da ideacuteia renascentista de que tudo

aquilo que fora realizado pela tradiccedilatildeo teacutecnica poderia secirc-lo

tambeacutem pela teoria e metodologia cientiacuteficas o que

evidentemente aproxima o saber teoacuterico-cientiacutefico do fazer

empiacuterico da teacutecnica (VARGAS 1994 p 16)

22 O conceito de Teacutecnica Originaacuterio da Greacutecia Claacutessica o conceito de Teacutecnica estava inserindo num

tipo de ldquosaber-fazerrdquo associado a mitos como o de Hefestos (Vulcano para os

romanos) ndash o ferreiro - senhor do fogo e da forja que segundo aquela mitologia

havia revelado o segredo desta Teacutecnica aos homens Desta perspectiva

mitoloacutegica o conceito de Teacutecnica transformou-se num outro tipo saber-fazer o da

ldquotechneacuterdquo um conhecimento empiacuterico que somente pode ser obtido atraveacutes do

aprendizado baseado na experiecircncia ou entatildeo a partir dos ensinamentos

transmitidos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo

Neste sentido a Techneacute natildeo eacute uma habilidade qualquer ldquomas uma

habilidade que segue certas regras por isso techneacute significa tambeacutem ofiacutecio

pressupotildee a existecircncia de um substrato um saber e um conhecimento na

18 Para Hobsbawm o progresso da ciecircncia natildeo pode ser entendido como um simples ldquoavanccedilo linear cada estaacutegio determinando a soluccedilatildeo de problemas anteriormente impliacutecitos nele e por sua vez colocando novos problemas Estes avanccedilos tambeacutem procedem pela descoberta de novos problemas de novas maneiras de enfocar os antigos de novas maneiras de enfrentar e solucionar velhos problemas de campos de investigaccedilatildeo inteiramente novos de novos instrumentos praacuteticos e teoacutericos de investigaccedilatildeordquo (HOBSBAWM 1979 p 302)

51

execuccedilatildeo de uma atividaderdquo (NADAL 2000 p 18) Esta forma de saber baseada

na loacutegica prolongou-se atraveacutes da Idade Meacutedia e chegou aos nossos dias com o

tiacutetulo de Teacutecnicas Natildeo satildeo teorias satildeo conhecimentos que tanto podem ser

adquiridos pela praacutetica como pelo estudo de tratados teacutecnicos

Entre os seacuteculos XVI e XVII a Ciecircncia ao romper com a tradiccedilatildeo

escolaacutestica19 avanccedila para o caminho da experimentaccedilatildeo com a valorizaccedilatildeo das

artes (teacutecnica) as quais jaacute vinham se transformando em objeto de preocupaccedilatildeo e

de estudo desde a Baixa Idade Meacutedia e o Renascimento ateacute chegar agrave constituiccedilatildeo

da Ciecircncia Moderna (DANTAS 2004)

Contraposta ao pensamento grego e medieval em que a

contemplaccedilatildeo das verdades era a meta do conhecimento sabe-se

que a partir do Renascimento haacute uma valorizaccedilatildeo do

conhecimento praacutetico bem como uma mudanccedila no estatuto do

conhecimento teacutecnico Haacute uma expectativa de intervenccedilatildeo e de

controle da natureza e correlativamente um reconhecimento da

teacutecnica isto eacute das atividades inventos e construccedilotildees dos

praacuteticos engenheiros e artesatildeos Daiacute se falar em uma nova forma

de saber e uma nova figura de douto Haacute no entanto uma seacuterie de

dificuldades para estabelecer as razotildees do surgimento dessa

dimensatildeo ativa e o papel que ocupa no nascimento da ciecircncia

moderna (OLIVEIRA1997 p )

No seacuteculo XV esse movimento de valorizaccedilatildeo do trabalho teacutecnico dos

artesatildeos ligado agrave experimentaccedilatildeo foi amplamente difundido pela divulgaccedilatildeo

daqueles conhecimentos atraveacutes de publicaccedilotildees A partir de 1630 surgiram os

Tratados Teacutecnicos Manuais20 como tambeacutem dicionaacuterios e enciclopeacutedias que se

dedicavam ao levantamento da terminologia das diversas artes das

nomenclaturas teacutecnicas e da descriccedilatildeo dos processos e dos meacutetodos das artes

19 Escolaacutestica movimento cultural e filosoacutefico medieval baseado em grande parte em comentaacuterios da obra do filoacutesofo grego Aristoacuteteles e de cunho puramente contemplativo 20 Na arquitetura por exemplo o estabelecimento desta praacutetica permitiu a difusatildeo das teorias e desenhos imaginados pelos arquitetos renascentistas findando assim a necessidade de construir e realizar obras para exemplificar as ideacuteias arquitetocircnicas

52

mecacircnicas as quais acabaram por solapar o domiacutenio das corporaccedilotildees de ofiacutecios 21 (BARGALLOacute 1955 p47)

A publicaccedilatildeo dos manuais teacutecnicos teraacute uma importacircncia decisiva

na padronizaccedilatildeo de unidades de medida e de representaccedilatildeo O

esforccedilo por se fazer compreender sem a equivocidade do discurso

do senso comum e sem o hermetismo do discurso maacutegico-

religioso reservado aos iniciados eacute uma forma decisiva de

objetivaccedilatildeo da comunicaccedilatildeo que muito embora seja fundamental

ao empreendimento da ciecircncia nasce como uma necessidade do

desenvolvimento da teacutecnica As exigecircncias da precisatildeo aparecem

na representaccedilatildeo (desenhos graacuteficos etc) e na linguagem

daquele tipo de saber - as artes mecacircnicas - em seus manuais de

modelos de construccedilatildeo nas descriccedilotildees dos aspectos e

proporccedilotildees dos corpos ou no detalhamento do fabrico e do uso de

instrumentos e artefatos Natildeo eacute difiacutecil ver que esse interesse na

divulgaccedilatildeo de conhecimentos potencializado pelo aparecimento

da imprensa tornava necessaacuteria a padronizaccedilatildeo da divulgaccedilatildeo

com uma linguagem mais objetiva e medidas mais precisas

(OLIVEIRA 1997)

Entre os Tratados Teacutecnicos publicados estaacute a obra De pictura (1435)

considerado o primeiro estudo cientiacutefico da perspectiva pelo italiano Leone

Batista Alberti arquiteto literato e escultor (1404-1472) Para Alberti os artistas

deveriam aprender com todos os outros artesatildeos E o caminho para esse

aprendizado segundo ele consistia em conseguir com os proacuteprios artesatildeos os

21 Dos seacuteculos II (dC) ao XV as Artes estavam classificadas em Artes Liberais e Artes Mecacircnicas As Liberais (assim chamadas por serem consideradas dignas do homem livre) estavam associadas agrave Gramaacutetica Retoacuterica Astronomia Loacutegica Aritmeacutetica Muacutesica Quanto agraves Artes Mecacircnicas organizadas nas aacutereas urbanas eram consideradas menos honrosas mais proacuteprias do trabalhador manualservil como Medicina Arquitetura Agricultura Pintura Escultura Olaria Carpintaria Ferraria Cantaria Ofiacutecio de pedreiros etc As corporaccedilotildees de ofiacutecios ateacute entatildeo responsaacuteveis pelo treinamento dos artesatildeos e pelos segredos dos ofiacutecios (os misteacuterios dos misteres) tinham o sistema de aprendizado baseado na transmissatildeo dos conhecimentos teacutecnicos na praacutetica das oficinas ndash o aprender fazendo ndash que encaminhava o aprendiz na sua carreira passando pela categoria de oficial e finalmente pela de mestre isso quando conviesse agrave corporaccedilatildeo ter mais mestre vale dizer mais oficinas no mercado

53

saberes natildeo divulgados ou secretos dos ofiacutecios Para isso orientava os artistas

para frequumlentar as oficinas e outros lugares de trabalho e fazerem perguntas aos

ferreiros pedreiros construtores de barcos e ateacute aos sapateiros Deveriam

tambeacutem frequumlentemente fingir ignoracircncia para descobrir em que o conhecimento

dos outros excedia aos seus (GAMA 1983 p 284-85)

Esse novo caminho da Ciecircncia o da experimentaccedilatildeo encontra no

pensamento do Filoacutesofo inglecircs Francis Bacon (1561-1626) uma de suas

expressotildees teoacutericas Considerado o fundador da ciecircncia experimental moderna

foi tambeacutem o criador do meacutetodo cientiacutefico baseado na observaccedilatildeo e

experimentaccedilatildeo (empirismo) que permitiram o avanccedilo das teacutecnicas que

transformaram a vida do homem campesino e mineiro do seacuteculo XVII (GAMA

1983 p34)

Em linhas gerais Bacon ldquorejeitou a separaccedilatildeo e a oposiccedilatildeo vigentes nas

filosofias tradicionais entre teoria e praacutetica entre loacutegica e operaccedilotildees reais entre

verdade e utilidaderdquo (GAMA 1983 p 33)

Interpretou essas oposiccedilotildees como oriundas das condiccedilotildees

histoacutericas e sociais bem determinadas que valorizavam a

contemplaccedilatildeo ndash a verdade em sua pureza ndash e que desprezavam

tudo o que fosse ligado agraves atividades praacuteticas e materiais Por

tudo isso preocupou-se em realccedilar tanto quanto fosse necessaacuterio

a importacircncia dos fatores materiais no desenvolvimento da

filosofia e da cultura E a partir daiacute sustenta a identidade entre

verdade e utilidade teoria e atividade operativa conhecer e fazer

e afirma que qualquer separaccedilatildeo e contraposiccedilatildeo entre esses

termos cria obstaacuteculos intransponiacuteveis de resultados efetivos e

eficientes (GAMA1983 p33-34)

54

23 A valorizaccedilatildeo do conhecimento teacutecnico e a ciecircncia experimental moderna Com o nascimento da Ciecircncia Experimental a teacutecnica artesanal e os

procedimentos teacutecnicos ligados agraves Artes Mecacircnicas passaram a ser os meios que

permitiriam o progresso da ciecircncia e o avanccedilo do saber

Joan Luis Vives (1492-1540) filoacutesofo e preceptor da corte inglesa assim

como o italiano Leone Alberti defendia que o homem culto natildeo devia

envergonhar-se de entrar nas oficinas e perguntar aos artesatildeos pelas teacutecnicas

que empregavam em suas artes Vives em sua obra De Tradendis Disciplinis

convidava os estudiosos europeus a prestar grande atenccedilatildeo aos problemas

teacutecnicos relativos agrave construccedilatildeo das maacutequinas agrave agricultura agrave tecelagem agrave

navegaccedilatildeo Advertia ainda que devessem deitar os olhos sobre o trabalho dos

artesatildeos para tentar saber onde e como essas artes foram inventadas buscadas

desenvolvidas conservadas e como aplicaacute-las Dessa forma segundo Vives

(1531 apud ROSSI 1989 p 24) o homem venceria seu tradicional desdeacutem por

aquilo que considerava como conhecimento vulgar o dos artesatildeos22

Nota-se tambeacutem que esse movimento o de valorizaccedilatildeo do saber teacutecnico

nasce no acircmbito das Academias e Associaccedilotildees vinculadas a esta nova

perspectiva de Ciecircncia e natildeo nas Universidades que permaneceram ateacute finais do

seacuteculo XVIII com poucas alteraccedilotildees metodoloacutegicas Entre os novos centros de

conhecimento estavam a Academia dei Lincei en Roma (1603) a Accademia del

Cimento en Florenccedila (1657) a Royal Society de Londres (1660) a Acadeacutemie des

Sciences de Paris (1666) aleacutem de Escolas Artesanais entatildeo criadas que

conjugavam na Ciecircncia Empiacuterica a alianccedila entre o saber (ciecircncia) e o fazer

22 Dentro desta mesma perspectiva devem ser acrescentar as obras do jaacute citado Francis Bacon Harvey Galileu e Boyle que valorizavam a experimentaccedilatildeo e a observaccedilatildeo da natureza reformulando as concepccedilotildees cientiacuteficas e reconhecendo a importacircncia das teacutecnicas e da praacutetica para a Ciecircncia

55

(teacutecnica) Na Espanha por exemplo cria-se uma escola de mineiros exercitados

em teacutecnicas sobretudo nas teacutecnicas metaluacutergicas 23

Assim podemos afirmar que naquele momento entrar no mundo do

conhecimento teacutecnico representava entrar no mundo das corporaccedilotildees de ofiacutecios

desvendando os segredos por meio da apropriaccedilatildeo do saber teacutecnico e da

linguagem utilizada pelos artesatildeos para a realizaccedilatildeo de seus ofiacutecios Para Ruy

Gama A que parece o domiacutenio dos segredos da linguagem dos artesatildeos

foi a porta pela qual se entrou no domiacutenio dos proacuteprios segredos

dos ofiacutecios Dentre os misteacuterios dos misteres a linguagem foi a

primeira a ser desvendada decifrada e jogada na rua pelas portas

e janelas arrombadas das oficinas ndash numa espeacutecie de accedilatildeo de

despejo ndash para ser vista por todo mundo (GAMA 1986 p 48)

Nas escolas artesanais surge a Tecnologia como disciplina curricular A

institucionalizaccedilatildeo deste saber permitiu que aqueles conhecimentos teacutecnicos

fossem reunidos estruturados e sistematizados e dessa forma transmitidos a um

nuacutemero cada vez maior de pessoas (GAMA 1994 p 54)

2 4 A Tecnologia como sinocircnimo de Teacutecnica

Apesar de toda a diferenciaccedilatildeo jaacute feita entre os conceitos de Teacutecnica e

Tecnologia estes termos satildeo frequumlentemente utilizados como sinocircnimos Autores

da liacutengua ingleses natildeo fazem esta distinccedilatildeo pois consideram entre outros

aspectos que a Histoacuteria da Teacutecnica e a Histoacuteria da Tecnologia apresentam seus

campos embaralhados e sua periodizaccedilatildeo extremamente difiacutecil de definir Lynn

White Jr historiador econocircmico e medievalista americano por exemplo afirma

que a Tecnologia natildeo conhece fronteiras cronoloacutegicas e geograacuteficas pois entende

Tecnologia como o ldquoconjunto de todas as Teacutecnicasrdquo e ldquoas maneiras pelas quais as

56

pessoas fazem coisasrdquo (GAMA 1985 p 14) Mas segundo Ruy Gama esta

definiccedilatildeo natildeo permite nem o estabelecimento de uma fronteira histoacuterico-

cronoloacutegica e nem geograacutefica para situar o ldquonascimentordquo do conceito jaacute que Lynn

o emprega como sinocircnimo de Histoacuteria do Trabalho e dessa forma permite

empregar o termo Tecnologia para todas as realizaccedilotildees e obras materiais dos

povos (GAMA 1985 p 14-15)

Essa concepccedilatildeo de Tecnologia como sinocircnimo de Teacutecnica desenvolve-se

num contexto em que entre outros aspectos a Arqueologia e a Histoacuteria

passavam por reformulaccedilotildees conceituais A Arqueologia passava a revelar nos

anos 40 do seacuteculo XX novos documentos materiais relacionados a civilizaccedilotildees da

Ameacuterica preacute-colombiana que supunha-se natildeo conheciam a escrita (pesquisas

atuais comeccedilam a demonstrar que a conheciam) e tampouco a roda elementos

considerados naquele periacuteodo indicadores para qualificar o niacutevel de progresso

teacutecnico de uma determinada sociedade que poderia ser considerada como

ldquoavanccediladardquo ou ldquoatrasadardquo Essas descobertas levaram a uma reavaliaccedilatildeo nas

ideacuteias de progresso e civilizaccedilatildeo e na forma de olhar outras sociedades deixando

de centrar as anaacutelises somente no ldquoeixo tradicional etnocecircntrico europeurdquo (GAMA

1985 p 14-15)

Quanto agrave Histoacuteria o nascimento de uma nova escola historiograacutefica a

Histoacuteria Nova surgida na Franccedila na primeira metade do seacuteculo XX daacute um novo

enfoque teoacuterico-metodoloacutegico agrave pesquisa histoacuterica voltada para a anaacutelise do

cotidiano Esta nova tendecircncia amplia a noccedilatildeo de documento aproximando a

Histoacuteria das demais Ciecircncias Humanas entre elas a Arqueologia possibilitando

nos anos 60 do seacuteculo XX uma ldquoverdadeira Revoluccedilatildeo Documentalrdquo que permitiu

nas anaacutelises historiograacuteficas a incorporaccedilatildeo dos documentos natildeo-escritos -

cultura material ndash viabilizando o estudo das sociedades que natildeo possuiacuteam a

escrita para registrar sua Histoacuteria

Para a divulgaccedilatildeo desse novo conceito de documento Lucien Febvre

idealizou no periacuteodo entre as duas primeiras guerras uma revista de Histoacuteria que

57

seria fundada mais tarde em parceria com Marc Bloch com o nome de Annales

drsquoHistorie Economique et Sociale os ldquoAnnalesrdquo Para Febvre ao analisar o

trabalho do historiador a partir da noccedilatildeo ampliada de documento afirma que

A Historia faz-se com documentos escritos sem duacutevida Quando

estes existem Mas pode fazer-se deve fazer-se sem documentos

escritos quando natildeo existem Com tudo o que a habilidade do

historiador lhe permite utilizar para fabricar o seu mel na falta das

flores habituais Logo com palavras signos paisagens e telhas

Com as formas do campo e ervas daninhas Com os eclipses da

lua e a atrelagem dos cavalos de tiro Com os exames de pedras

feitos pelos geoacutelogos e com a anaacutelise de metais feitas pelos

quiacutemicos Numa palavra com tudo o que pertencente ao homem

depende do homem serve ao homem exprime o homem

demonstra a presenccedila a actividade os gostos e as maneiras de

ser do homem

Toda uma parte e sem duacutevida a mais apaixonante do nosso

trabalho de historiadores natildeo consistiraacute num esforccedilo constante

para fazer falar as coisas mudas para fazecirc-las dizer o que elas

por si proacuteprias natildeo dizem sobre os homens sobre as sociedades

que as produziram e para constituir finalmente entre elas aquela

vasta rede de solidariedade e de entre-ajuda que supre a

ausecircncia do documento escritordquo (FEBVRE 1953 p 428 apud

GOFF 1984 p 98)

Para conceituar Teacutecnica e Tecnologia recorremos tambeacutem ao Dicionaacuterio

das Ciecircncias Sociais de Alain Birou segundo o qual Teacutecnica significa

O conjunto de regras praacuteticas para fazer coisas determinadas

envolvendo a habilidade do executor e transmitidas verbalmente

por exemplo no uso das matildeos dos instrumentos e ferramentas e

das maacutequinas Alarga-se frequumlentemente o conceito para nele

incluir o conjunto dos processos de uma ciecircncia arte ou ofiacutecio

para obtenccedilatildeo de um resultado determinado com o melhor

rendimento possiacutevel (GAMA 1986 p 30)

58

Para este mesmo dicionaacuterio Tecnologia eacute

O estudo e conhecimento cientiacutefico das operaccedilotildees teacutecnicas ou da

teacutecnica Compreende o estudo sistemaacutetico dos instrumentos das

ferramentas e das maacutequinas empregadas nos diversos ramos da

teacutecnica dos gestos de trabalho e dos custos dos materiais e da

energia empregada A tecnologia implica na aplicaccedilatildeo dos meacutetodos

das ciecircncias fiacutesicas e naturais e como assinala Alan Birou tambeacutem

na comunicaccedilatildeo desses conhecimentos pelo ensino teacutecnico

(GAMA 1986 p 30)

Diante dessas consideraccedilotildees sobre Teacutecnica e Tecnologia salientamos

que neste trabalho pretendemos a partir da Arqueologia Histoacuterica contribuir

para a Histoacuteria da Teacutecnica no periacuteodo colonial brasileiro especialmente no que

diz respeito agraves teacutecnicas relacionadas agrave mineraccedilatildeo e agrave metalurgia

No periacuteodo analisado entre os seacuteculos XVI e XVIII todos os trabalhos

relacionados agravequelas atividades estavam baseados no puro empirismo no saber-

fazer e nas experiecircncias praacuteticas daqueles trabalhadores que sabiam realizar as

operaccedilotildees de fundiccedilatildeo de forma praacutetica mas natildeo tinham instrumentos para

explicaacute-los Somente com o advento da Ciecircncia Moderna especialmente com a

Revoluccedilatildeo Cientiacutefica eacute que aqueles mineiros e fundidores puderam compreender

as operaccedilotildees produtivas que realizavam

Assim assumimos a periodizaccedilatildeo proposta por Ruy Gama ao considerar

Teacutecnica e Tecnologia como categorias distintas e portanto que a Histoacuteria da

Teacutecnica natildeo coincide com a Histoacuteria da Tecnologia

59

25 A teacutecnica de produccedilatildeo do ferro no periacuteodo entre os seacuteculo XVI ao XVIII

Los antiguos herrreros descubrieron que si martillaban

repetidamente y recalentaban una y otra vez en fuego de carboacuten

un trozo de mineral de hierro al rojo obteniacutean un metal

extremamente fuerte y duro ndash hierro forjado (CARDWELL 1994

p 33)

Antes do conhecimento dos metais eram aproveitadas ldquotreze diferentes

espeacutecies minerais todas do grupo natildeo-metaacutelicos denominadas calcedocircnia (chert

e siacutelex) quartzo cristal de rocha jaspe serpentina pirita calcita ametista

fluorita esteatita acircmbar e obsidianardquo (GUIMARAtildeES1981p22) A estes minerais

natildeo metaacutelicos pode-se acrescentar a utilizaccedilatildeo de ldquopigmentos minerais usados

para ornamentos e pintura constituiacutedos de argila e oacutexidos metaacutelicos coloridos

embora alguns objetos feitos especialmente de cobre tenham sido encontrados e

datados de aproximadamente 9000 aC (GUIMARAtildeES 1981 p 22)

Atribui-se o iniacutecio do aproveitamento dos mineacuterios para a extraccedilatildeo de

metais entre os anos de 6000 a 5000 aC Admite-se que o cobre teria sido o

primeiro metal produzido pelo homem depois o bronze (uma liga metaacutelica de

estanho e cobre) Na mesma eacutepoca tambeacutem se passou a utilizar o chumbo e por

uacuteltimo o ferro Na chamada ldquoIdade do Ferrordquo houve tambeacutem a difusatildeo da

fabricaccedilatildeo do vidro e do mercuacuterio

Pesquisas arqueoloacutegicas em aacutereas mineiras da Europa tem possibilitado

revisotildees do conhecimento relacionado a natureza das mateacuterias-primas

empregadas na extraccedilatildeo do ferro Tradicionalmente sustentava-se a ideacuteia de que

a mateacuteria-prima com que se confeccionavam os primeiros objetos de ferro teria

origem em meteoritos Esta teoria se aplicava particularmente aos objetos

fabricados com ferro rico em niacutequel Atualmente pesquisas na aacuterea da

paleometalurgia demonstram que a origem de associaccedilotildees do ferro com outros

60

metais ocorre em razatildeo da composiccedilatildeo quiacutemica natural dos minerais utilizados

para a produccedilatildeo destes materiais (FAUS 2000 p 27)

O ferro como alguns outros metais natildeo eacute encontrado na natureza em

forma pura sendo que nestas condiccedilotildees encontra-se sempre combinado com

outros elementos formando oacutexidos carbonatos silicatos e sulfatos Para a

produccedilatildeo do ferro satildeo utilizados mineacuterios sobretudo os oacutexidos tais como a

hematita (Fe2O3) e a magnetita (Fe3O4) 24 Outros mineacuterios de menor importacircncia

para a produccedilatildeo tambeacutem contecircm ferro tais como a Siderita (FeCO3) Limonita

(Fe3O4) Pirita (FeS2) e a (Cromita FeOCr2O3) ( LABOURIAU 1928 p 95-110)

Os termos ldquomineralrdquo ldquomineacuteriordquo e ldquometalrdquo precisam ser esclarecidos para que

se possa compreender a forma da produccedilatildeo do ferro

Mineral eacute uma substacircncia formada em resultado da interaccedilatildeo de

processos geoloacutegicos em ambientes geoloacutegicos naturais Os minerais variam na

sua composiccedilatildeo desde elementos quiacutemicos em estado puro ou quase puro e

sais simples a silicatos complexos com milhares de formas conhecidas

(LABOURIAU 1928 p 95-96)

Mineacuterio eacute toda substacircncia natural da qual se possa fazer a extraccedilatildeo de

algum metal (como a hematita e a magnetita) Assim um mineacuterio eacute sempre uma

substacircncia mineral Entretanto nem todo mineral eacute mineacuterio pois alguns minerais

natildeo permitem a extraccedilatildeo de metais como exemplo pode-se citar a pirita (sulfeto

de ferro) um mineral que eacute aproveitado para a fabricaccedilatildeo do aacutecido sulfuacuterico mas

que natildeo permite a extraccedilatildeo do metal nele contido (o ferro) Por conseguinte a

perita eacute um mineral uacutetil mas natildeo eacute um mineacuterio (LABOURIAU 1928 p 95-96)

Metal cada um de um grande grupo de substancias simples obtidas a

partir de mineacuterios

24 A magnetita eacute assim denominada devido ao seu magnetismo natural eacute um mineral de cor preta acinzentada ou avermelhada com brilho metaacutelico de formula quiacutemica (Fe3O4)

61

Para a extraccedilatildeo do ferro dos seus mineacuterios (geralmente oacutexidos feacuterricos

como a hematita) foram desenvolvidas desde a Antiguumlidade teacutecnicas de fundiccedilatildeo

destes materiais por reduccedilatildeo que utilizavam carvatildeo de madeira como redutor

Entretanto variava de uma regiatildeo para outra o tipo do forno e forma de colocaccedilatildeo

do mineacuterio e do carvatildeo no seu interior

Elena Faus referindo ao caso da tradiccedilatildeo basca defende que ateacute o seacuteculo

XIX os avanccedilos dos meacutetodos de fundiccedilatildeo do ferro tecircm decorrido independentes

da investigaccedilatildeo cientiacutefica Para esta autora esses avanccedilos teacutecnicos foram

realizados por ldquouma multitud anoacutenima de individuos de talento formados a la

sombra del teller protagoniza la Historia de la Tecnologia Son analfabetos y no

han conocido ninguacuten tipo de ensentildeanzardquo (FAUS 2000 p 51) O aprimoramento

da teacutecnica de fundiccedilatildeo podia entatildeo ser considerado como uma sucessatildeo de

ldquoinventosrdquo de artesatildeos que na determinaccedilatildeo em resolver as dificuldades que

surgiam inventaram teacutecnicas de fundiccedilatildeo a partir de experiecircncias praacuteticas pelo

uacutenico meacutetodo que conheciam o da praacutexis do ensaio e erro (FAUS 2000 p51)

Toda a produccedilatildeo do ferro estava fundamentada em conhecimentos

teacutecnicos baseados na praacutetica e que eram conhecimentos secretos restritos aos

membros da respectiva corporaccedilatildeo de ofiacutecio Ateacute a ldquorevoluccedilatildeo da Quiacutemicardquo no

seacuteculo XVIII natildeo havia nenhum conhecimento que pudesse explicar de forma

cientiacutefica o processo em que ocorria a reduccedilatildeo do mineacuterio em metal Soacute a partir

daiacute foi possiacutevel por exemplo explicar a atuaccedilatildeo de um elemento o Carbono

obtido pela queima do carvatildeo vegetal no processo produtivo do ferro Na Franccedila

em 1722 o cientista Reneacute Reacuteaumur concluiu que a diferenccedila entre as distintas

qualidades do ferro e do accedilo resultava da incorporaccedilatildeo de uma substacircncia

material Em 1786 na Sueacutecia os matemaacuteticos Vandermonde e Berthollet e o

quiacutemico Monge confirmaram esta hipoacutetese e identificaram o elemento o

Carbono o mesmo procedente da queima do carvatildeo de madeira utilizado desde

a antiguidade na fabricaccedilatildeo (FAUS 2000 p 21-22)

62

Com o aprimoramento da teacutecnica de fabricaccedilatildeo do ferro descobriu-se

tambeacutem a forma de se produzir accedilo sendo que sua difusatildeo promoveu a

emergecircncia de instrumentos e ferramentas completamente novas dando prestiacutegio

a todos aqueles que dominavam a teacutecnica dos metais Dessa forma o ferro e

depois o accedilo foi empregado na fabricaccedilatildeo de uma diversificada variedade de

instrumentos que anteriormente eram confeccionados com madeira ou pedra

transformando assim a metalurgia em uma teacutecnica extremamente estrateacutegica

Para Donald Cardwel

la metalurgiacutea hizo posibles instrumentos y herramientas completamente nuevos ndash y anteriormente inimaginables - La

importancia fundamental de la metalurgiacutea y el prestigio de los

trabajadores expertos en el metal quedan confirmados como

sentildealaba Samuel Smiles por la frecuencia del apellido Smith

(lsquoHerrerorsquo) Ademaacutes la palabra Smith es de origen noacuterdico o

germacircnico lo cual da una clave para entender la localizacioacuten de

los primitivos centros del trabajo del metal en el occidente

europeo (CARDWEL 1994 p 34 grifo nosso)

A crescente demanda de objetos e utensiacutelios feitos de ferro proporcionou o

aprimoramento das teacutecnicas de fundiccedilatildeo como tambeacutem da especializaccedilatildeo

daquele trabalho

Na Espanha por exemplo os espaccedilos destinados a produccedilatildeo de ferro

foram se especializando Um desses espaccedilos era denominado de ferrarias

maiores que se especializaram na fundiccedilatildeo dos mineacuterios para a obtenccedilatildeo de

metal e outras denominadas de ferrarias menores dedicavam-se aacute manufatura

desse metal ou seja transformando-o em barras ou laminas para fabricar entre

outros produtos instrumentos e acessoacuterios agriacutecolas (ferraduras) armas

(espadas) e materiais construtivos (cravos) etc ( FERNANDEZ p 5)

63

Desde o iniacutecio da metalurgia tem-se buscado tambeacutem a maneira pela qual

os fornos pudessem alcanccedilar temperaturas cada vez elevadas pois para que se

possa retirar o ferro do mineacuterio de forma que fosse possiacutevel o aproveitamento de

todo metal nele existente a temperatura do forno deve se elevar aleacutem de 1535ordmC

ponto de fusatildeo daquele metal

Contudo os primeiros fornos empregados para a reduccedilatildeo com a utilizaccedilatildeo

de carvatildeo vegetal alcanccedilavam apenas temperaturas que variavam entre 1200ordmC

e 1300ordmC insuficientes para a fusatildeo completa e portanto o ferro obtido com

aquela temperatura natildeo era retirado do forno em estado liacutequido e sim em estado

pastoso A essa temperatura (12001300ordm C) o mineacuterio de ferro transformava-se

em uma ldquomassa esponjosardquo repleta de impurezas (escoacuterias que ainda

apresentavam uma significativa quantidade de ferro na sua composiccedilatildeo) Essa

massa era entatildeo colocada sobre uma bigorna e por meio de martelamento

manual ou mecacircnico retiravam-se as escoacuterias que ainda permaneciam grudadas

naquela massa compactando-a e dando forma ao metal

Labouriau ao explicar a accedilatildeo do carvatildeo vegetal durante o processo de

reduccedilatildeo explica que o carvatildeo vegetal em contato com o oxigecircnio da atmosfera

queima produzindo calor formando o gaacutes carbocircnico (CO e CO2) Esse CO2 entatildeo

ao reagir com uma parte do carvatildeo passa para CO e que esse CO juntamente

com uma parte do carvatildeo retira o oxigecircnio do mineacuterio e fica o ferro ligado a um

pouco de Carbonordquo (LABOURIAU 1928 p 146)

Essa teacutecnica de produccedilatildeo de ferro ficou conhecida como ldquoprocesso Diretordquo

ou ldquomeacutetodo de reduccedilatildeo diretardquo e o ferro produzido era o ldquoferro docerdquo Ateacute o seacuteculo

XV com o aparecimento do alto-forno esta era a uacutenica teacutecnica conhecida e

empregada na produccedilatildeo daquele metal No alto-forno o ferro atingia

temperaturas mais elevadas possibilitando uma maior absorccedilatildeo de carbono do

carvatildeo vegetal transformando-se em gusa (ferro-gusa ou ferro fundido) que saiacutea

64

do forno no estado liquido incandescente25 No seacuteculo XVI o alto forno foi

aperfeiccediloado na Alemanha e na Aacuteustria com o aparecimento do Stueckofen (alto-

forno) construiacutedos de alvenaria

Com a utilizaccedilatildeo do alto-forno e com a obtenccedilatildeo do ferro em sua forma

liacutequida foram possiacuteveis as produccedilotildees de armas de fogo balas de canhatildeo sinos

de igreja e mais tarde a fabricaccedilatildeo de adornos para as residecircncias tais como

grades enfim produtos que puderam ser produzidos a partir do ferro liacutequido

deitado em moldes

26 Fornos de fundiccedilatildeo de ferro Segundo Jordi Maluquer Motes no iniacutecio da metalurgia utilizavam-se

pequenos fornos (fornos baixos) para extraccedilatildeo do metal (ferro) os quais natildeo

eram mais que uma cavidade ciliacutendica escavada no terreno ou em uma rocha

Contudo a forma e o tamanho dos fornos foram mudando ao longo do tempo e

de simples cavidades escavadas no chatildeo os fornos comeccedilaram a ganhar ao

redor daquele ciacuterculo paredes de argila refrataacuteria o que permitia fazer fornadas

maiores aumentando assim a produccedilatildeo Contudo todos eles ateacute o advento do

alto-forno produziam por meio da reduccedilatildeo direta o ferro em estado pastoso O

produto (ferro) que ficava no interior do forno apoacutes a fundiccedilatildeo do mineacuterio era

chamado de massa de ferro patildeo de ferro ou lupa (MALUQUER DE MOTES

1983 p21)

25 No Brasil o alto-forno foi construiacutedo apenas no iniacutecio do seacuteculo XIX na Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema quando este estabelecimento estava sob a direccedilatildeo de Hedberg

65

Fig 15 CORTE ESQUEMAacuteTICO DE UM FORNO DE FUNDICcedilAtildeO ndash Forno

baixo26 Natildeo haacute descriccedilotildees detalhadas acerca desses fornos primitivos mas

vestiacutegios encontrados em vaacuterias partes da Europa como em Illasheim

(Alemanha) indicam que estes fornos apresentavam uma planta circular No

centro da Europa outros fornos construiacutedos pelos Celtas tambeacutem apresentavam

reduzidas dimensotildees Os fornos Celtas tinham em meacutedia 35 a 50 cm de

diacircmetro com uma profundidade de 45 a 50 cm Sobre uma base levantavam o

forno propriamente dito construiacutedo por uma parede ciliacutendrica de argila medindo

entre 60 a 100cm Os Celtas chegaram a desenvolver teacutecnicas eficientes de

aceramento (conversatildeo do ferro em accedilo) como por exemplo na Suiacuteccedila onde a

produccedilatildeo de espadas ganhou fama por sua resistecircncia (FAUS 2000 p 32-34)

Fornos ruacutesticos tambeacutem foram encontrados em Bengala Aacutefrica

denominados de fornos africanos ou fornos iacutendios Eram fornos ciliacutendricos e

confeccionados em areia ferruginosa mal amassada sustentada por uma

armadura de bambu Tinham dimensotildees de 090m de altura com um diacircmetro de

030m A base do forno era furada em vaacuterios lugares e colocava-se um fole em

cada uma das aberturas exceto na grade da frente (orifiacutecio pelo qual eram

26 Disponiacutevel em La Farga Rossel lthttpwwwfargarosseladcaslafarga21434htmgt

66

retiradas as escoacuterias) o que dava em geral um total de sete foles por forno

(FAUS 2000 p 50)

Fig 16 MAQUETE FORNO CELTA ndash forno baixo27

Durante o periacuteodo de dominaccedilatildeo romana Roma passou a controlar toda a

exploraccedilatildeo do ouro prata e ferro produzidos em seu impeacuterio Para a produccedilatildeo

desse uacuteltimo metal empregavam teacutecnicas de fundiccedilatildeo utilizando-se dos

chamados fornos romanos As ferrarias romanas eram constituiacutedas de ldquoum

montatildeo de fornosrdquo construiacutedos com barro e palha (RODRIGUES 1964 p11)

27 Disponiacutevel em Exposition 2000 ans de meacutetallurgie en Nivernais des Gaulois agrave Ariane ltjprostclubfravgexpo2003htmlgt

67

Fig 17 FORNO ROMANO RODRIGUES (1964 p 12)

Neste mesmo periacuteodo homens bascos dos redutos resistentes agrave

dominaccedilatildeo romana continuaram a produzir o ferro por meacutetodos de fundiccedilatildeo que

haviam aprendido com seus ancestrais utilizando os chamados ldquofornos de ventordquo

os quais podem ser relacionados agrave primeira fase da elaboraccedilatildeo do ferro As

instalaccedilotildees que utilizavam esses fornos passaram a ser conhecida como ferrarias

secas de montanha de vento Habitualmente os fornos dessas ferrarias eram

construiacutedos em aacutereas montanhosas em pontos elevados a fim de aproveitar a

forccedila dos ventos para ativar a combustatildeo do carvatildeo vegetal (FAUS 2000 p 47)

68

Fig 18 Fornos de vento ou de lupa28

Fig 19 FORNOS DE LUPA OU DE VENTO corte esquemaacutetico

28 Disponiacutevel em La Farga Rossel lthttpwwwfargarosseladcaslafarga21434htmgt

69

Para Jordi Maluquer de Motes a maior dificuldade de operaccedilatildeo da

combustatildeo era o controle das temperaturas do forno sendo que o grande

segredo para a utilizaccedilatildeo desses fornos de vento era a adequada posiccedilatildeo em que

este era instalado e tambeacutem a correta utilizaccedilatildeo dos meios artificiais empregados

na ativaccedilatildeo da combustatildeo do carvatildeo vegetal tal como o emprego de foles

manuais feitos de peles de animais Esse procedimento requeria um esforccedilo

bastante grande de trabalho humano natildeo apenas no acionamento do fole como

tambeacutem para as operaccedilotildees de martelamento da massa de ferro que se formava

no interior do forno (MALUQUER DE MOTES 1983 p 21)

Por utilizarem esta teacutecnica de reduccedilatildeo as ferrarias de vento geralmente

ficavam instaladas em regiotildees distantes dos povoados o que tambeacutem levava um

significativo nuacutemero de fundidores e mineiros a passar parte de suas vidas

distantes daqueles povoados Esse distanciamento suscitou ateacute mesmo o

surgimento de mitos e faacutebulas conforme aponta Elena Faus (2000) que

enriqueceram a cultura popular europeacuteia em especial a cultura basca

Las maravailhas del arte de aquellos seres ton solo por ellos

conocidos les hizo mecedores de leyendas Muchas de ellas les

han sobrevivido y han pasado a integrar el bagaje mitoloacutegico de la

cultura vasca

El velo de magia que enturbiaba la figura de los ferrones se

time en ocasiones de un cierto cariz de condena religiosa Se les

identifica con los lsquogentilesrsquo reacios a la evangelizacioacuten o con el

proprio demonio (lsquosentildeor de los bosquesrsquo o lsquobasejaunrsquo) en persona

(FAUS 2000 p 47)

Outros tipos de fornos de vento ou de montanha foram encontrados na

Ameacuterica Espanhola Em Potosi na atual Boliacutevia os indiacutegenas utilizavam um tipo

de forno para a fabricaccedilatildeo da prata denominado de ldquoforno de guairardquo Estes

fornos mesmo apoacutes a conquista espanhola em Potosiacute foram aproveitados para a

produccedilatildeo daquele metal (BARGALLOacute 1955 p 91)

70

Fig 20 FORNO DE GUAIRA ndash utilizado em Potosi Boliacutevia29

Aleacutem desses fornos de montanha que utilizavam a corrente de ar da

proacutepria atmosfera para acionar a combustatildeo do carvatildeo havia tambeacutem outros

tipos de fornos de fundiccedilatildeo acionados com o emprego de foles manuais Esses

fornos ficaram conhecidos por vaacuterias denominaccedilotildees e podiam ser construiacutedos de

formas e tamanhos diferentes Contudo todos eles apresentavam as mesmas

caracteriacutesticas teacutecnicas eram fornos baixos acionados por foles manuais e que

produziam o ferro utilizando o meacutetodo direto de fundiccedilatildeo Entre esses fornos

destacam os fornos de cuba de lupa de manga e castelhanos (BARGALLOacute

1955 p 91)

29Proyecto Arqueoloacutegico Porco-Potosi Disponiacutevel httplamarcolostateedu~mvanburespanish20participantshtm

71

Fig 21 Forno de Fundiccedilatildeo xilogravura de George Agriacutecola seacutec XVI30

Fig 22 Forno de Fundiccedilatildeo xilogravura de George Agriacutecola seacutec XVI31

30 Disponiacutevel em lttechnologyinfominecomdrmbook11htmgt Acesso em 17nov06

72

Tratados Teacutecnicos publicados no seacuteculo XVI como o De re metallica de

George Agriacutecola oferecerem descriccedilotildees e desenhos atraveacutes dos quais eacute possiacutevel

conhecer algumas formas daqueles fornos A partir de algumas gravuras ali

publicadas eacute possiacutevel identificar que os mesmos habitualmente eram construiacutedos

sobre uma base quadrada e eram utilizados na produccedilatildeo muitos metais como o

cobre o ouro prata e tambeacutem o ferro Esses fornos registrados por Agriacutecola

eram especialmente destinados para a fundiccedilatildeo de minerais em pedra Na

Ameacuterica Espanhola receberam o nome de ldquofornos castelhanosrdquo

Um outro autor a abordar esse tema foi Aacutelvaro Alonso Barba No seu

tratado Arte de los Metales afirmava que os fornos castelhanos eram utilizados

tambeacutem em outras partes do mundo A descriccedilatildeo que faz Barba do uso desses

fornos no Peru eacute por si soacute bastante didaacutetica para compreender o seu

funcionamento

Llaman en este reyno hornos castellanos a los que en las otras

trecircs partes del mundo han sido usados y comunes para la

fabricacioacuten de toda suerte de metales De ellos solos trata el

Agriacutecola para este efecto y es una la faacutebrica de todos y no

difieren en mas que en se mayores o menores y tener la boca

por onde el metal fundido sale oacute abierta siempre oacute cerrada a

ratos como se diraacute adelante Levaacutentense estos hornos a

perpendiculo en forma de um pilar quadrado algo maacutes largo que

anchos por lo hueco Tienen de alto algunos una vara otros casi

dos y otros menos seguacuten la grandeza de los fuelles con que

huviere de fundirse y la facilidad oacute dureza de los metales

requiere Por la parte de atraacutes en una ventanilla que para esto se

dexa en la pared algo levantada del suelo se afixa el alchrebiz en

que han de estar los cantildeones de fuelle puesto con advertencia

31 Disponiacutevel em httpwwwbizkaianetkulturakirol_gazteriaFTPGazteriapaginadedesplegablePrimitivas_instalacionespdfgt Acesso em 17nov06

73

de que no assome oacute passe aacute lo hueco del horno porque las

escorias que sobre eacutel cayeren helaacutendose con el ayre del sopro

no lo paten oacute impidan El suelo del horno se hace de dos partes

de carbon molido y una de tierra buena bien apretado con pisoacuten

Assientase pendiente azia la parte delantera donde tendraacute un

agujero por onde corra el metal fundido y salgan las escorias aacute

una hordilla que junto aacute el estaraacute bien caliente con carbones

encendidos con a llama del horno y aire del fuelle que sale por el

dicho agujero

Otros hacen estos hornos redondos mas anchos de arriba

que de abajo y son menores para lo que se pretende con que se

tenga advertecircncia que siempre este a perpendiculo la parede se

pone el fuelle porque el metal fundido o las escorias no caygan

sobre la boca del alchrebiz y la tanpenrdquo (BARBA 1640 Apud

BARGALLOacute 1955 p 93)

Entre os seacuteculos XII e XVI a teacutecnica de fundiccedilatildeo do ferro experimentou um

notaacutevel impulso em razatildeo da demanda por derivados de ferro incrementada tanto

pelas guerras que necessitavam de ferragens para as montarias apetrechos

defensivos para os soldados e armas mortiacuteferas como por instrumentos para a

agricultura Tambeacutem para a construccedilatildeo das grandes catedrais era necessaacuterio

ferro para as armaccedilotildees metaacutelicas cravos ferramentas entre outros (FAUS 2000

p52)

Para atender a estas demandas era necessaacuterio que se produzisse a maior

quantidade possiacutevel de ferro e os fornos baixos que eram anteriormente

utilizados natildeo atendiam aqueles objetivos Para tanto natildeo apenas os fornos

foram tomando outras formas como tambeacutem houve uma mecanizaccedilatildeo por meio

da utilizaccedilatildeo da energia hidraacuteulica (rodas drsquo aacutegua verticais) e da trompa hidraacuteulica

no processo produtivo tornando obsoletas as ferrarias que utilizavam a forccedila

humana e animal para a produccedilatildeo

A importacircncia da mecanizaccedilatildeo na produccedilatildeo do ferro com o uso da roda

hidraacuteulica e da trompa foi tanta que para alguns autores pode-se consideraacute-la

74

como uma autecircntica revoluccedilatildeo tecnoloacutegica (MALUQUER DE MOTES 1984 p 21-

24)

A aplicaccedilatildeo desse mecanismo (roda drsquoaacutegua) ao processo produtivo fez

com que as ferrarias que anteriormente ficavam concentradas no alto de

montanhas fossem trasladadas para as margens de rios buscando a energia

hidraacuteulica capaz de acionar primeiramente dos foles possibilitando a construccedilatildeo

de fornos de maiores dimensotildees e dessa maneira a produccedilatildeo do ferro em maior

escala

Depois dos foles a roda drsquoaacutegua foi utilizada para a mecanizaccedilatildeo do

acionamento dos malhos (grandes martelos responsaacuteveis por liberarem as

escoacuterias das massas de ferro dando-lhes formas que pudessem ser

comercializaacuteveis como o ferro em barra) A funccedilatildeo da trompa era a mesma dos

foles isto eacute insulflar ar ao interior do forno para que a combustatildeo alcanccedilasse

uma temperatura elevada A trompa era um engenhoso sistema de insuflar ar e

tambeacutem o elemento mais caracteriacutestico do procedimento conhecido como da

ldquofarga catalatilderdquo ou forno catalatildeo

O primeiro emprego da roda drsquoaacutegua vertical na produccedilatildeo de ferro foi

introduzido na regiatildeo correspondente aos Pirineus Catalatildees Neste local

desenvolveu-se uma instalaccedilatildeo destinada a produzir ferro denominado de

ldquofaacutebriques ou faacutebreguesrdquo que depois passou a ser conhecida como ldquofarguesrdquo ou

ldquofargardquo (o termo era usado tanto para descrever os lugares onde era obtido o ferro

como seu processamento) A partir do seacuteculo XIV o emprego da roda foi

difundido na regiatildeo basca ndash Espanha favorecida pelos trecircs elementos

fundamentais necessaacuterios para a sua instalaccedilatildeo a geografia da regiatildeo formada

por um territoacuterio montanhoso com a presenccedila de um significativo nuacutemero de rios

as jazidas de ferro e a floresta que fornecia o carvatildeo vegetal o uacutenico combustiacutevel

utilizado naquele processo ateacute o seacuteculo XVIII32

32 Com a Revoluccedilatildeo Industrial do seacuteculo XVIII passaram a utilizar como combustiacutevel o carvatildeo coque

75

Na Catalunha junto com o desenvolvimento das ldquofargasrdquo aprimoraram-se

tanto as teacutecnicas relacionadas agrave construccedilatildeo dos fornos como ao seu sistema de

funcionamento que ficou famoso no mundo todo como procedimento da ldquoforja

Catalatilderdquo ou ldquoprocedimento catalatildeordquo (MOLERA BARRUECO1983 p11)

A forja Catalatilde ou forno catalatildeo foi um sistema intermediaacuterio entre os fornos

baixo e os altos fornos utilizados atualmente Essa teacutecnica dominou todo o

processo de obtenccedilatildeo do ferro e accedilo durante a Idade Meacutedia espalhando-se para

a Alemanha Aacuteustria Inglaterra Franccedila e Itaacutelia Desde a Idade Meacutedia ateacute finais do

seacuteculo XIX esses paiacuteses entre outros conseguiam produzir ferro mediante aquele

sistema conhecido universalmente como ldquoprocedimento Catalatildeordquo

O periacuteodo aacuteureo do emprego da forja catalatilde se daacute entre os seacuteculos XVII e

XVIII devido sobretudo agrave introduccedilatildeo de um outro mecanismo em substituiccedilatildeo

aos foles acionados pela roda hidraacuteulica a ldquotrompa de aacuteguardquo (sistema empregado

par injetar ar no forno) Desenvolvido na Itaacutelia este novo equipamento se difunde

pelas regiotildees dos Pirineus da peniacutensula Ibeacuterica e foi assimilado pelas

manufaturas catalatildes ateacute o ponto de integraacute-las como uma das caracteriacutesticas do

meacutetodo que leva o nome de ldquofarga catalanardquo ou forno catalatildeo Jaacute nas ferrarias

bascas a trompa de aacutegua natildeo foi amplamente difundida prevalecendo a

utilizaccedilatildeo de rodas drsquoaacutegua para o acionamento de foles e do malho ( MALUQUER

DE MOTES 1983 p 23)

76

Fig 23 ARRANJO DE ldquoFARGA CATALANArdquo OBSERVAR USO DE RODA DrsquoAacuteGUA PARA ACIONAMENTO DO MALHO E A PRESENCcedilA DA TROMPA HIDRAacuteULICA JUNTO AO FORNO33

33 Folheto Museu de Ripoll sd

77

No interior das ldquofargas catalanasrdquo o forno era a parte mais importante Os

fornos de fundiccedilatildeo catalatildees diferentemente dos fornos de vento tinham uma

forma tronco-cocircnica isto eacute ldquouma forma de um tronco de piracircmide invertidardquo

(MALUQUER DE MOTES 1983 p 22) O forno era construiacutedo de pedras

refrataacuterias revestidas em parte de peccedilas de ferro com trecircs paredes planas e

uma convexa esta uacuteltima destinada a facilitar a extraccedilatildeo do produto final (massa)

A parede onde era colocada a ldquotoverardquo (entrada do fole) era oposta agrave convexa e

esta era feita de ferro numa inclinaccedilatildeo de 35o a 45o Em uma das paredes

laterais havia um buraco que deixava passar as escoacuterias liacutequidas

(MOLERABARRUECO1983 p13)

Fig 24 ELEMENTOS QUE COMPOtildeEM A OFICINA DA ldquoFARGA CATALANArdquo Observa- se a presenccedila do forno de fundiccedilatildeo e do malhos acionados por roda drsquoaacutegua34

34 Caderno de Apoio para visitante do Museu de Ripoll ndash Catalunha Espanha sd

78

Um outro aprimoramento teacutecnico do meacutetodo catalatildeo foi a forma como

passaram a carregar o forno Deixando para traacutes o meacutetodo anteriormente

conhecido que consistia em carregar o forno em camadas horizontais superpostas

com carvatildeo vegetal e mineacuterio os catalatildees passaram a carregar o forno por meio

de duas camadas verticais justapostas De um lado do forno (aquele em que

estava instalado o fole) era colocado o combustiacutevel (carvatildeo) de tal maneira que o

oacutexido de carbono que se desprendia da queima era forccedilado a atravessar a coluna

do mineacuterio (que estava disposta em uma outra coluna localizada junto agrave parede

oposta agrave do fole)

A produccedilatildeo do ferro ainda se realizava por meio do meacutetodo de produccedilatildeo

direta Sendo assim ainda se mantinha o processo de martelamento da massa de

ferro por meio do malho (que tambeacutem ficava instalado dentro daquele

estabelecimento) para a obtenccedilatildeo do produto final O meacutetodo catalatildeo natildeo apenas

melhorou a qualidade do produto final mas tambeacutem proporcionou o aumento da

produccedilatildeo

27 Tratados Teacutecnicos de Metalurgia

Entre os seacuteculos XV e XVI arquitetos engenheiros meacutedicos e artesatildeos e

outros publicaram inuacutemeros tratados voltados para os ofiacutecios mecacircnicos ou ldquoArtes

Mecacircnicasrdquo Essa literatura eacute extraordinariamente rica em Tratados de caraacuteter

teacutecnico que podem ser considerados autecircnticos manuais e representaram uma

contribuiccedilatildeo decisiva entre o saber cientiacutefico e saber teacutecnico-artesanal os quais

tiveram um grande efeito no nascimento da cooperaccedilatildeo entre cientistas e teacutecnicos

e entre ciecircncia e induacutestria (ROSSI 1989 p 30)

79

Entre as obras de caraacuteter teacutecnico publicadas naquele periacuteodo destacam-

se os escritos de Brunelleschi Ghiberti Peiro della Francesca Leonardo Cellini

Paolo Lomazzo o trabalho sobre as maacutequinas de guerra de

Konrad Keyser (1366-1405) os tratados teacutecnicos de Fontana

(1420) e Mariano (1438) as obras sobre arquitetura de Leon

Batista Alberti Filarete Francesco di Giorgio Martini Palladio o

livro sobre maquinas militares de Valturio da Rimini (publicado em

1472 reeditado em Verona em 1482 e 1483 em Bolonha em

1483 em Veneza em 1493 e nada menos que quatro vezes em

Paris entre 1532 e 1555) os dois tratados de Duumlrer sobre a

geometria descritivas e as fortificaccedilotildees (1525 e 1527) a

Pirotechnia de Biringuccio (1540) depois reeditada em duas

ediccedilotildees latinas trecircs francesas e quatro italianas) a obra de

baliacutestica de Nicolograve Tartaglia (1537) os dois tratados de

engenharia mineral de Georg Agriacutecola (1546-1556) o Teatro di

macchine de Besson (1569 depois traduzido para o francecircs e o

espanhol) os Mechanicorum libri de Guidobaldo Del Monte

(1577) as Diverse et artificiose macchine de Agostinho Ramelli

(1588) os trecircs livros sobre mecacircnica de Simon Stevin (1586

traduzido do flamengo para o francecircs em 1634) a obra sobre

fortificaccedilotildees de Lorini (1597) os trabalhos de arte da navegaccedilatildeo

de Willian Barlowe (1597) Thomas Harriot (1594) e Robert Hucs

(1599) (ROSSI 1989 p30-31)

Entre os tratados relacionados com a metalurgia e a mineraccedilatildeo

destacamos a De La Pirotechinia considerado o primeiro livro impresso dedicado

agrave metalurgia foi escrito pelo italiano Vannoccio Biringuccio (ca 1480-1539) e

publicado pela primeira vez em 1540 Adepto do empirismo Birunguccio

escreveu esse tratado baseado nas observaccedilotildees diretas do ofiacutecio que havia

adquirido durante as vaacuterias visitas que fez a Alemanha35 onde se destacava o

desenvolvimento de teacutecnicas de exploraccedilatildeo de minas de prata e tambeacutem de

35 Biringuccio visitou a Alemanha em 1516 e entre 1526 e 1529

80

equipamentos que possibilitavam a construccedilatildeo de tuacuteneis e galerias para a

exploraccedilatildeo do subsolo36

Embora tivesse sido publicado na Alemanha no iniacutecio do seacuteculo XVI de

forma anocircnima um conjunto de manuais teacutecnicos sobre o ensaio de metais a

obra de Biringuccio era mais ambiciosa explicava como descobrirem minerais e

veios a maneira de separar o ouro e a prata as teacutecnicas de ensaio e as

propriedades do cobre o zinco e outros metais Analisava aleacutem disso as

propriedades do mercuacuterio do enxofre do antimocircnio e de outros elementos

utilizados no processo de extraccedilatildeo do ouro e prata como tambeacutem os meacutetodos de

obtenccedilatildeo do accedilo aleacutem de apresentar ilustraccedilotildees sobre fundiccedilotildees de canhotildees e

sinos a fabricaccedilatildeo de objetos piroteacutecnicos e algumas poucas informaccedilotildees sobre

mineraccedilatildeo geologia e mineralogia (CARDWELL 1994 p 76)

Um outro tratado importante foi escrito pelo alematildeo Georg Bauer (1494-

1555) conhecido pela forma latina de seu nome como Georgius Agriacutecola Depois

de estudar em Leipzig Bolonha e Veneza foi em 1527 exercer a profissatildeo de

meacutedico em Joachimstal na Boemia a maior aacuterea mineira na eacutepoca Agricola

passou a maior parte de sua vida estudando mineralogia e geologia entre 1546 e

1556 escreveu dois tratados destacando a mineraccedilatildeo e a siderurgia

Em 1546 publicou dois tratados sistemaacuteticos de geologia e mineralogia a

De ortu et causis subterraneorum e a De natura fossilium os quais lhe conferiram

a designaccedilatildeo de ldquoPai da Mineralogiardquo37 O seu trabalho mais importante e de

maior divulgaccedilatildeo foi publicado em 1556 com o tiacutetulo de De Re Metallica - A Arte

dos Metais - o qual serviu como obra teacutecnica de mineraccedilatildeo durante quase dois

seacuteculos seguintes aquela primeira publicaccedilatildeo

36 A Alemanha havia desenvolvido importantes teacutecnicas de mineraccedilatildeo que foram intensificadas pelo contiacutenuo intercacircmbio de experiecircncias com a Hungria e a Sueacutecia 37 Georgius Bauer Agricola (1494-1555) cientista alematildeo considerado o fundador da mineralogia Foi um dos primeiros cientistas que baseou suas teorias na observaccedilatildeo em vez da especulaccedilatildeo Antes dele podemos destacar Alberto Magno (1193-1280) conhecido como Preacute-Tecnoacutelogo escreveu a obra De mineralibus que constitui natildeo somente uma histoacuteria dos mineralogia como tambeacutem uma descriccedilatildeo dos metais

81

O conteuacutedo do livro De Re Metallica estava baseado no estudo das coisas

materiais realizado por meio da observaccedilatildeo descriccedilatildeo sistemaacutetica analiacutetica e

meticulosa da natureza A transcriccedilatildeo dessas observaccedilotildees natildeo requeria apenas a

confecccedilatildeo de textos descritivos mas tambeacutem de ilustraccedilotildees com as quais

procuravam traduzir os conhecimentos obtidos pela observaccedilatildeo em imagens

graacuteficas as mais compreensiacuteveis possiacuteveis (ROSSI 1989 p 52)

Agriacutecola ao escrever a introduccedilatildeo desse tratado esclarecia ao leitor como

havia concebido a sua obra e as dificuldades que enfrentou para concluiacute-la

Diz ele Grandiacutessima fadiga e solicitude realmente aqui coloquei e ainda

algumas boas despesas porque natildeo escrevi simplesmente os

veios os instrumentos os canais as maacutequinas e as fornalhas

mas ainda agraves minhas expensas assalariei os pintores para fazer

seus retratos naturais a fim de que as coisas natildeo conhecidas que

satildeo apresentadas com palavras natildeo tragam real dificuldade agraves

pessoas de hoje ou de tempos vindouros (ROSSI 1989 p 51)

Os retratos naturais referidos por Agriacutecola eram as xilogravuras que

ilustravam as suas obras A partir dessas imagens era possiacutevel visualizar com

exatidatildeo de detalhes as dimensotildees sobre equipamentos instrumentos e teacutecnicas

empregadas na prospecccedilatildeo no processo de fundiccedilatildeo e orientaccedilotildees sobre o uso

da energia hidraacuteulica nas operaccedilotildees mineiras enfim as ilustraccedilotildees traziam

detalhes sobre praticamente todas as etapas das operaccedilotildees mineiras isto eacute

prospecccedilatildeo administraccedilatildeo beneficiamento e transporte de mineacuterios 38

Na segunda parte daquele mesmo livro o autor dedica-se ao ensaio e

tratamento dos minerais Como Biringuccio Agricola mostrava criacutetica e desprezo

pelo trabalho realizado pelos alquimistas Uma de suas criacuteticas referia-se ao

38Agricola demonstra neste Tratado o funcionamento de sete tipos diferentes de bombas de succcedilatildeo incluindo uma bomba muacuteltipla acionada por uma grande roda hidraacuteulica e uma bomba combinada de succcedilatildeo e impelente (bomba impelente bomba que eleva a aacutegua por meio de pressatildeo exercida sobre o liacutequido)

82

meacutetodo empregado por estes na busca de metais enterrados O uso da

radiestesia por meio do emprego de uma vara ou forquilha feita com galhos de

aacutervores era considerado por Bauer apenas uma arte da adivinhaccedilatildeo derivada da

magia antiga e que somente poderia ser e era utilizada por mineiros simples e

ordinaacuterios

A Ameacuterica Espanhola foi tambeacutem palco para a produccedilatildeo do conhecimento

relacionado agrave metalurgia Em 1640 Aacutelvaro Alonso Barba padre em Potosiacute e que

havia aperfeiccediloado o meacutetodo de amalgamaccedilatildeo39 desenvolvido por Bartolomeacute de

Medina (Beneficio de Patio)40 publicou a partir de experiecircncias proacuteprias com a

produccedilatildeo de prata naquele local o livro Arte de los Metales O livro de Barba foi o

primeiro trabalho em que se registrou o processo de amalgamaccedilatildeo por mercuacuterio

que ficou conhecido como ldquomeacutetodo de cazo y cocimientordquo (realizado por meio do

calor dentro de reservatoacuterio de cobre) Este livro foi o primeiro trabalho em que se

registraram as regras para beneficiamento de ouro e prata com a utilizaccedilatildeo do

mercuacuterio

39 Amalgamaccedilatildeo Operaccedilatildeo que consiste em ligar o mercuacuterio a outro metal ou separar o ouro e a prata da ganga por meio do mercuacuterio 40 O ldquobenefiacutecio de paacutetiordquo foi assim denominado pois toda a operaccedilatildeo de produccedilatildeo de prata era realizada em um paacutetio Consistia basicamente em mesclar a Mena (metal) moiacuteda e uacutemida com sal comum e mercuacuterio Esse meacutetodo era menos custoso que aqueles que eram utilizados e seu uso se prolongou ateacute o seacuteculo XIX

83

CAPITULO 3

HISTOacuteRICO DA MINERACcedilAtildeO NO BRASIL NO PERIacuteODO COLONIAL A Histoacuteria das primeiras expediccedilotildees no Brasil mostra que desde o inicio do

seacuteculo XVI jaacute havia uma preocupaccedilatildeo permanente aleacutem do reconhecimento do

novo territoacuterio na busca de metais e pedras preciosas que eram produtos de alto

valor econocircmico e poliacutetico aleacutem do interesse estrateacutegico

Durante os primeiros trinta anos de colonizaccedilatildeo do Brasil Portugal estava

voltado para a exploraccedilatildeo dos produtos da Aacutefrica e Iacutendia inclusive de metais

sendo que esta experiecircncia se reflete nas primeiras expediccedilotildees quando se

constata a preocupaccedilatildeo com a descoberta de metais nobres (ouro e prata)

conforme se demonstra nos itens que seguem

Embora a busca por metais fosse uma constante as exploraccedilotildees durante

a primeira metade do seacuteculo XVI resultaram a descoberta de produtos vegetais

(pau-brasil) e animais exoacuteticos (araras e papagaios) 41

Somente com a descoberta da prata na serra de Potosi em 1545 pelos

espanhoacuteis ficou comprovada a existecircncia de metais nobres no novo continente

31 As primeiras expediccedilotildees mariacutetimas a busca de metais nobres A primeira expediccedilatildeo portuguesa destinada ao reconhecimento do litoral do

Brasil partiu de Lisboa entre os anos 1501-02 sob o comando de Gonccedilalo Coelho

e pelo florentino Ameacuterico Vespuacutecio (cosmoacutegrafo contratado pela Coroa

Portuguesa) Apoacutes terem passado pelos atuais estados do Rio Grande do Norte

Bahia e Rio de Janeiro os navios desembarcaram em janeiro de 1502 numa ilha 41 O pau-brasil era extraiacutedo no litoral compreendido desde o atual Estado do Rio Grande do Norte ao Rio de Janeiro

84

que denominaram Cananeacuteia42 Este local tornou-se na primeira metade do seacuteculo

XVI importante posto avanccedilado responsaacutevel pelo abastecimento de

embarcaccedilotildees que mais tarde passaram a rumar para o sul do continente com o

objetivo de reconhecimento e busca de riquezas minerais

Em 1514 Portugal enviou uma outra expediccedilatildeo ao sul desta vez chefiada

por Joatildeo de Lisboa e Estevatildeo Frois financiada D Nuno Manuel e Cristoacutevatildeo de

Haro em cujo trajeto estava Cananeacuteia e a Ilha de Satildeo Francisco do Sul (Santa

Catarina) Esta expediccedilatildeo descobriu o estuaacuterio do rio que denominaram de Rio da

Prata Os resultados dessa expediccedilatildeo foram informaccedilotildees dadas pelos nativos

(Charruas) sobre a existecircncia de uma ldquoSerra de Pratardquo fato que deve ter

impulsionado o envio da expediccedilatildeo espanhola para o sul de Cananeacuteia em 1515

chefiada por Juan Diaz de Soacutelis (VIANNA 1972 p 54)

Entre 1521 e 1526 Aleixo Garcia junto com outros remanescentes da

expediccedilatildeo de Soacutelis e mais iacutendios guaranis partiram da Costa dos Patos (Santa

Catarina) indo aleacutem do rio paraguay e do Chaco obtendo riquezas perdidas na

viagem de regresso (VIANNA 1972 p 214)

Em 1530 parte de Lisboa a expediccedilatildeo de Martim Afonso de Souza uma

das mais importantes expediccedilotildees portuguesas Tinha como objetivos expulsar do

litoral os franceses que traficavam pau-brasil reconhecer a extensatildeo da costa

pertencente a Portugal promover a ocupaccedilatildeo do territoacuterio criando fortificaccedilotildees

em pontos de interesse estrateacutegico e especialmente explorar o rio da Prata 43

42 Cananeacuteia era local de fronteira entre as terras de Portugal e Espanha estabelecida pelo Tratado de Tordesilhas (1494) 43 A expediccedilatildeo de Martim Afonso se diferenciou das anteriores pelo fato de ter D Joatildeo III investido estes comandantes de poderes especiais aplicados sobretudo em Satildeo Vicente Entre eles permitia-se a Martim Afonso distribuir terras em sesmarias criar instrumentos juriacutedicos que permitiram o registro de propriedades atraveacutes da instalaccedilatildeo dos tabelionatos e a elevaccedilatildeo de povoados para a condiccedilatildeo de vilas o que possibilitou a instalaccedilatildeo de um processo colonizador na regiatildeo Sobre a expediccedilatildeo ver VIANNA Helio Historia do Brasil Satildeo Paulo Melhoramentos 1970 p56-61

85

Um dos fatos importantes resultantes da vinda dessas expediccedilotildees foi a

integraccedilatildeo do Porto de Satildeo Vicente44 juntamente com Cananeacuteia na rota de

navegaccedilatildeo para o sul do continente Estes portos serviam para abastecer as

embarcaccedilotildees e ali era possiacutevel contratar os ldquoliacutenguasrdquo 45

Em 1532 quando Martim Afonso chegou a Satildeo Vicente encontrou um

nuacutecleo formado por portugueses espanhoacuteis indiacutegenas Essa localidade tambeacutem

jaacute era conhecida como a porta de entrada para o sertatildeo e o caminho natural para

se ir agrave Serra da Prata atraveacutes dos Peabirus (ver item abaixo)

32 O Peabiru uma trilha para o Sertatildeo Tendo em vista a importacircncia da existecircncia de caminhos indiacutegenas

denominados Peabirus como facilitadores da interligaccedilatildeo da Vila de Satildeo Paulo

(Campos de Piratininga) com a regiatildeo onde se localiza o morro de Araccediloiaba

entendemos ser importante discorrer a respeito destas vias

A respeito desse sistema de caminhos escreveu Adolpho Pinto em 1902

() havia estradas extensas construiacutedas pelo gentio comunicando

vaacuterios pontos do litoral com o mais longiacutenquo interior do paiz

podendo-se mesmo dizer que figurava como tronco desse primitivo

sistema de viaccedilatildeo geral uma grande estrada pondo em ligaccedilatildeo as

tribus da naccedilatildeo Guarany da bacia do Paraguay com a tribu dos 44Satildeo Vicente segundo Washington Luiacutes ldquojaacute era um porto conhecido com lugar marcado nos rudimentares mapas da eacutepoca uma espeacutecie de pequena feitoria portuguesa de iniciativa particular visitada de esquadras para o trafico de escravos se forneciam viveres agrave navegaccedilatildeo de longo curso se construiacuteam bergantins e se contratavam liacutenguas da terrardquo LUIZ Washington Na Capitania de Satildeo Vicente Satildeo Paulo Livraria Martins Editora1956 p47 A povoaccedilatildeo de Satildeo Vicente foi elevada agrave condiccedilatildeo de Vila em 1532 com a instalaccedilatildeo de oacutergatildeos administrativos e poliacuteticos como a Cacircmara e Cadeia transformando-a no primeiro nuacutecleo de colonizaccedilatildeo portuguesa do litoral 45 Os liacutenguas eram aqueles versados na liacutengua indiacutegena O Tupi era falado em Satildeo Paulo ateacute meados do seacuteculo XVIII Segundo John Monteiro ldquoo domiacutenio da liacutengua geral ou qualquer outra liacutengua indiacutegena era consideraacutevel uma respeitaacutevel especializaccedilatildeo e a fluecircncia numa dessas liacutenguas limitava-se apenas aos maiores sertanistasrdquo MONTEIRO John Negros da Terra iacutendios e bandeirantes nas origens de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Companhia das Letras 1994 p164

86

Patos do litoral de Santa Catarina com os Carijoacutes de Iguape e

Cananeacuteia e com as tribus de Piratininga e do litoral proacuteximo

(GONCcedilALVES 1998 p8)

Em Satildeo Vicente o Peabiru constituiacutea o acesso obrigatoacuterio que do mar

seguia para os sertotildees do Planalto de Piratininga Construiacutedo de acordo com a

teacutecnica e a tradiccedilatildeo indiacutegena seguia os espigotildees dos morros de modo a evitar

terrenos iacutengremes embora em alguns trechos fossem inevitaacuteveis as encostas

com fortes declividades ((GONCcedilALVES 1998 p6 )

A partir do Planalto de Piratininga seguindo para o interior rumo ao Oeste

o caminho que levava ateacute a regiatildeo das minas de ferro era um Peabiru cuja trilha

contornava os morros do Apotribu no municiacutepio de Itu e alcanccedilava o morro de

Araccediloiaba no atual municiacutepio de Iperoacute interior de Satildeo Paulo

87

Fig 24 Peabiru (Tronco) Passando por Sorocaba (Galdino 2002 p182)

88

Fig 25 Mapa de Pasquale Petrone (GONCcedilALVES1998 p42)

89

33 O descobrimento da prata em Potosi

Em 1545 a Espanha anunciou o descobrimento na regiatildeo denominada de

Alto Peru (atualmente territoacuterio boliviano) de uma montanha denominada de

Potosi com 600 metros de altura onde ocorria uma importante jazida de prata

Diferentemente do que acreditavam portugueses e espanhoacuteis Potosi natildeo estava

localizada nem nas proximidades do rio da Prata nem na regiatildeo sul do continente

onde esperavam descobrir aquela lendaacuteria riqueza

Sergio Buarque de Holanda (1959 p 58) ao discorrer sobre aquela

descoberta escreve ldquotamanho era o prestiacutegio de Potosi que em pouco tempo a

velha atraccedilatildeo do ouro parece suceder facilmente a da pratardquo O ldquofeiticcedilo do Perurdquo

desencadeou um novo direcionamento da poliacutetica portuguesa com um maior

interesse da Coroa Portuguesa nos negoacutecios do Brasil e particularmente na

Capitania de Satildeo Vicente

Para dar maior incremento ao povoamento do interior foi instituiacutedo o

sistema de distribuiccedilatildeo de terras (Sesmarias) Uma dessas sesmarias foi doada a

Afonso Sardinha bandeirante que se destacou na atividade mineradora e

tambeacutem na vida poliacutetica da Vila de Satildeo Paulo na comercializaccedilatildeo com a regiatildeo

do Rio da Prata como proprietaacuterio de engenho de accediluacutecar traficante de escravos

africanos investidor financiador e produtor de ferro Foi um dos financiadores da

instalaccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro que comeccedila a funcionar em 1607 46

Acreditava-se que o ldquoCerro de Potosirdquo natildeo ficava muito longe das terras da

Coroa Portuguesa sendo este um dos motivos que impulsionavam as ldquopessoas a

continuarem as buscas em direccedilatildeo do Oeste apesar dos repetidos

desapontamentosrdquo (BOXER 2002 p 45)

46 Afonso Sardinha recebeu suas terras de sesmarias no lugar denominado de Ubataacute abrangendo o atual Butantatilde que eacute o Ubataacute citado por Pedro Taques ou Ibatata Batata ou Ibitatatilde em documentos municipais seiscentistas e setecentistas HOLANDA Sergio Buarque de Caminhos e Fronteiras 1957 p 188

90

Um dos caminhos Peabiru que partindo de Satildeo Vicente demandava o

Potosi passava pela Vila de Satildeo Paulo e seguindo a direccedilatildeo Oeste contornava o

morro de Araccediloiaba onde em finais do seacuteculo XVI iniciou-se a produccedilatildeo de ferro

seguindo para a regiatildeo do Guairaacute (atual Estado do Paranaacute) ateacute alcanccedilar as terras

castelhanas

Pode-se dizer que a esperanccedila de encontrar minas de prata um Potosi em

terras de Satildeo Vicente persistiu ateacute o iniacutecio do seacuteculo XVIII quando de fato

foram encontradas minas de ouro pelos paulistas na regiatildeo dos atuais Estados de

Minas Gerais Mato Grosso e Goiaacutes 47

34 A busca de metais nobres na Capitania de Satildeo Vicente

Desde meados do seacuteculo XVI jaacute corriam notiacutecias sobre a possiacutevel

existecircncia de riquezas minerais no interior da Capitania Joseacute de Anchieta em

carta escrita em Satildeo Paulo de Piratininga em 1554 dava as primeiras

informaccedilotildees sobre as descobertas de minas de ouro prata e ferro48 Neste

mesmo ano o jesuiacuteta Pero Correa tambeacutem destacava a descoberta de mina de

ferro proacutexima daquele local 49

47 As minas de ouro localizadas pelos paulistas foram disputadas tambeacutem por portugueses e baianos e todos reivindicavam aquela descoberta Essa disputa culminou na chamada Guerra dos Emboabas na qual os paulistas foram derrotados As descobertas das minas de Mato Grosso e Goiaacutes marcaram o iniacutecio das monccedilotildees expediccedilotildees fluviais regulares que faziam a comunicaccedilatildeo entre Satildeo Paulo e Cuiabaacute O ouro encontrado onde hoje se ergue a cidade de Cuiabaacute foi achado por escravos do sorocabano Miguel Sutil em 1722 Sobre as Monccedilotildees ver HOLANDA Sergio Buarque de Monccedilotildees Rio de Janeiro Casa do estudante do Brasil 1945 48 Ver Carta do quadrimestre de maio a setembro de 1554 dirigida por Joseacute de Anchieta a Santo Ignaacutecio de Loyola Roma In Minhas Cartas por Joseacute de Anchieta Publicaccedilatildeo 450 anos p 153 49 Carta do Irmatildeo Pero Correa escrita a um padre do Brasil In CARTAS Avulsas 1550-1568Azpilculta Navarro e outros Belo Horizonte Itatiaia Satildeo Paulo Edusp 1988 p 163-165

91

A respeito da pesquisa mineral na Capitania de Satildeo Vicente Heacutelio Vianna

escreve que com a intenccedilatildeo de investigar a existecircncia daquelas riquezas

ldquo() mandou o governo portuguecircs em 1559 um mineiro praacutetico

Luis Martins Por ordem do Governador Men de Saacute no ano

seguinte em Satildeo Vicente partiu ele para indeterminados pontos

do interior em uma leva organizada e dirigida por Braacutes Cubas

Regressando este a Santos em 1562 com algumas amostras de

metais e pedras que enviou ao Reino fez com que no mesmo

ano o mineiro voltasse as suas pesquisas Natildeo muito longe

ainda em terras vicentinas em Jaraguaacute talvez em Caatiba hoje

Bacaetava encontrou afinal o desejado ouro Explorou-o

inicialmente o proacuteprio Braz Cubas depois associado ao Capitatildeo

Mor Jerocircnimo Leitatildeordquo (VIANNA 1972 p 215)

35 D Francisco de Souza a organizaccedilatildeo da exploraccedilatildeo mineral De 1598 eacute a primeira referencia a ldquocertos lsquomontes de Sabaroasonrsquo de

onde um mameluco teria extraido amostras de metal que levadas a Bahia ao

Governador D Francisco de Sousa determinaram a vinda deste a Satildeo Vicenterdquo (VIANNA 1972 p 215)

D Francisco de Sousa Seacutetimo Governador Geral do Brasil (1591-1602) e

a partir de 1606 Governador das Minas das Capitanias do Sul 50 promoveu e

organizou vaacuterias expediccedilotildees ao sertatildeo destinadas a descobrir e explorar minas de

ouro e prata e outros metais Tais atividades eram apresentadas como parte de

50 As Capitanias do Sul correspondiam agraves Capitanias do Espiacuterito Santo Rio de Janeiro e Satildeo Vicente

92

seu projeto de desenvolvimento no qual tambeacutem estava inserido o setor de

agricultura e induacutestria sustentado com base no trabalho indiacutegena 51

A sua maior contribuiccedilatildeo decorre do fato de ter exercido o cargo de

Governador das Minas e de ter se fixado na Capitania de Satildeo Vicente mais

especificamente na Vila de Satildeo Paulo de onde provinham as notiacutecias da

existecircncia de minas de ouro prata e ferro

D Francisco veio para Satildeo Paulo munido de poderes que lhe permitiam

distribuir mercecircs agravequeles que tivessem trabalhado na exploraccedilatildeo das minas

Conforme o Regimento que jaacute vigorava no Peru e nas Iacutendias de Castela o

explorador haveria de aplicar seus proacuteprios recursos na busca e exploraccedilatildeo das

jazidas A contrapartida que poderia ser dada pelo Rei estava no fornecimento

de algumas comodidades e mercecircs (STELLA 2000 p 119)

Atraveacutes de Alvaraacutes D Francisco podia nomear uma quantidade

determinada de pessoas com tiacutetulos de nobreza Estas atribuiccedilotildees fizeram com

que muitos moradores da Vila de Satildeo Paulo despendessem de seus proacuteprios

recursos materiais e de indiacutegenas para organizar expediccedilotildees em buscas daqueles

metais

Em 1599 D Francisco esteve no morro de Araccediloiaba para verificar a

autenticidade e a natureza daquela mina que diziam ter ferro ouro e prata Para

viajar ateacute aquele local enfrentando toda a sorte de perigos D Francisco precisou

solicitar ajuda dos moradores de Satildeo Paulo 52

51 Quando no Cargo de Governador Geral Francisco de Souza conduzido pela esperanccedila de encontrar na regiatildeo das cabeceiras do rio Satildeo Francisco a lendaacuteria Sabarabuccediluacute (uma serra de prata e esmeraldas) organizou em 1596 trecircs entradas ao sertatildeo com saiacutedas da Bahia Espiacuterito Santo e Satildeo Paulo respectivamente A vertente paulista foi chefiada por Joatildeo Pereira de Sousa Botafogo e contava com 25 colonos e seus respectivos iacutendios A maioria desta expediccedilatildeo regressou a Satildeo Paulo ldquosatisfeita com os tupinambaacutes que haviam capturado no vale do Paraiacutebardquo MONTEIROJohn Negros da Terra iacutendios e bandeirantes nas origens de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Companhia das Letras 1994 p 58-68 52 PEREIRA Antonio Batista Carta a Paulo Duarte apud Donato Hernani Sumeacute e Peabiru misteacuterios maiores do seacuteculo da descoberta SP ediccedilotildees GRD 1997 p91

93

Aracy Amaral ao analisar a gestatildeo de D Francisco de Sousa como

Governador das Minas das Capitanias do Sul opina que esse administrador

() representa o veiacuteculo que transportou para Satildeo Paulo uma

experiecircncia uma mentalidade que Castela desde haacute muito

desenvolvia no Meacutexico e no Peru As concessotildees e privileacutegios que

obteve do Rei faziam parte de uma legislaccedilatildeo empregada com

sucesso naqueles domiacutenios Essa nova mentalidade estava

intimamente relacionada com os negoacutecios da mineraccedilatildeo e esse jaacute

chamado de ldquoeldorado-maniacuteacordquo que foi D Francisco tambeacutem

denominado por Taunay de ldquopropulsor dos paulistasrdquo seguia sem

duacutevida a diretriz apontada pelos Felipes (AMARAL 1981 p 13)

Apoacutes a Restauraccedilatildeo Portuguesa em 1640 as buscas pelo ouro e pela

prata permaneceram assim como as concessotildees de mercecircs para aqueles que

descobrissem minas ou incentivassem outros a descobri-las Para Ilana Blaj isso

tudo era ldquoum universo de honra de siacutembolos de dignidade e de prestiacutegio que a

elite perseguia e que a Coroa concedia estreitando ainda mais os laccedilos de

vassalagem no interior do Impeacuteriordquo Sintetizando a autora afirma que ldquoescravos

terra dignidade honrarias e prestiacutegio constituiacuteram os fundamentos da sociedade

colonial brasileirardquo (BLAJ 2002 p 322-338)

Em 1611 D Francisco de Sousa falece na mais extrema pobreza O

mesmo destino que tiveram outros que laacute apostaram na metalurgia Frei Vicente

do Salvador contemporacircneo de D Francisco descrevendo a situaccedilatildeo afirmou

que

() estando tatildeo pobre que affirmou um padre da Companhia que

se achava com elle a sua morte que nem uma vela tinha para lhe

metterem na matildeo si a natildeo mandara levar do seu convento mas

quereria deusalumia-lo em aquelle tenebroso transe por outras

muitas que ainda levado deante de muitas esmolas e obras de

piedade que sempre fez (FRANCO 1929 p 135)

94

36 Teacutecnicos e praacuteticos na mineraccedilatildeo e metalurgia Na Vila de Satildeo Paulo e tambeacutem no Sertatildeo as forjas de ferreiro se

instalaram desde cedo As atividades desses ferreiros se concentravam na

fabricaccedilatildeo de ferramentas como foices machados cravos e anzoacuteis utilizando

ferro em barra ou em lingotes trazido da Europa que eram aqui refundidos em

fornos de forja

Em 1553 Manoel da Noacutebrega noticia a presenccedila de ldquotendas de ferreirordquo

como um dos instrumentos levados nas expediccedilotildees ao Sertatildeo (NEME 1959

p158) Em 1584 trabalhavam em Satildeo Paulo trecircs ferreiros (HOLANDA 1957

p186)

Gilberto Freyre em seu trabalho Ferro e Civilizaccedilatildeo no Brasil (1988 p249-

251) destaca como conhecedor do trabalho com o ferro natildeo somente o colono

portuguecircs como tambeacutem os padres da Companhia de Jesus Para esse autor

ambos haviam iniciado seus saberes com ibeacutericos os quais haviam desenvolvido

as ldquoferreriacuteasrdquo os ldquohornosrdquo e aperfeiccediloado as teacutecnicas de fundiccedilatildeo com o ldquohorno

catalaacutenrdquo Entre os conhecedores de metalurgia estava o jesuiacuteta Joseacute de Anchieta

o qual como jaacute destacamos havia informado em 1554 a existecircncia de mineacuterios

nobres e do ferro nas imediaccedilotildees de Satildeo Paulo 53

Diferentemente do que ocorreu nas colocircnias espanholas da Ameacuterica os

indiacutegenas que aqui foram encontrados natildeo tinham conhecimento metaluacutergico e

portanto natildeo utilizavam nenhuma teacutecnica de fundiccedilatildeo que pudesse ser adaptada

aos interesses do colonizador

Quanto ao conhecimento e a exploraccedilatildeo do mineacuterio e produccedilatildeo do ferro as

teacutecnicas necessaacuterias eram totalmente desconhecidas no Novo Mundo Sendo

53 Joseacute de Anchieta era descendente de bascos seus pais eram de Guipuacutezcoa Proviacutencia do Paiacutes Basco BARBOSA Francisco de Assis Dom Joatildeo VI e a Siderurgia no Brasil Rio de JaneiroBiblioteca do Exercito 1958 p 26

95

assim podemos afirmar que essa teacutecnica foi totalmente trazida pelos europeus

em especial pelos espanhoacuteis

Logo apoacutes a Uniatildeo Ibeacuterica (1580-1640) foi encaminhada para as terras das

colocircnias da Ameacuterica a armada de Diego Flores Valdeacutes 54 A passagem de Valdeacutes

em Satildeo Vicente em 1583 revela o interesse pelas riquezas minerais na regiatildeo

sendo que por este motivo solicita agrave Coroa a vinda de teacutecnicos e especialistas em

minas para dar iniacutecio agrave exploraccedilatildeo das jazidas descobertas Ao mesmo tempo

alerta sobre a necessidade de fortificar Satildeo Vicente pois alegava que ldquohay

camino abierto por tierra que va al Rio de La Plata y al Paraguay y a Sancta Feerdquo

(GONZALEZ 2002 p 46)

Alguns autores atribuem a presenccedila do praacutetico Clemente Aacutelvares nas

expediccedilotildees de Sardinha e seu filho55 Em 1606 Clemente Aacutelvares afirmava que

estava haacute quatorze anos dedicando-se ao descobrimento de minas de ouro e

para isso utilizara seus proacuteprios recursos Ao registrar as minas que ele afirmava

ter descoberto no Jaraguaacute Parnayba e Ybituruna para natildeo perder os direitos

sobre elas afirmava que natildeo entendia de metalurgia ldquosenatildeo por notiacuteciardquo e que

natildeo era um oficial fundidor ou ensaiador 56

Os mineiros vindos do reino foram trazidos por D Francisco de Sousa com

a funccedilatildeo de verificar a autenticidade e a natureza das minas descobertas no

Brasil e nas imediaccedilotildees da Vila de Satildeo Paulo Os homens que acompanharam

em 1591 em sua vinda ao Brasil foram o castelhano Agostinho de Souto Maior

(que havia trabalhado anteriormente em Monomotapa ndash Moccedilambique colocircnia

portuguesa que possuiacutea minas e a metalurgia do ferro e do ouro) o qual foi

nomeado para o cargo de provedor das minas do Brasil Christovam o qual era

54 A armada de Diego Flores Valdeacutes foi enviada para o Estreito de Magalhatildees para iniciar a sua ocupaccedilatildeo e povoamento com a finalidade de estabelecer uma defesa das terras do Impeacuterio Espanhol onde jaacute se havia iniciado a exploraccedilatildeo das minas de prata de Potosi 55 Clemente Aacutelvares paulista mineiro praacutetico e sertanista Em 1634 ainda estava se dedicando agrave busca pelo descobrimento de minas Faleceu em 1641 56 Ver Registro de minas de Clemente Aacutelvares em 16 de dezembro de 1606 ATAS DA CAMARA DA VILA DE SAtildeO PAULO vol II Satildeo PauloA Cacircmara 1917 p 171-173

96

lapidaacuterio de esmeraldas e Joatildeo Correa para seria nomeado feitor das minas de

ferro 57

Para Satildeo Paulo enviados por Francisco de Sousa vieram os mineiros

Gaspar Gomes Moalho Miguel Pinheiro Zurara e o fundidor Domingos Rodrigues

Em 1592 Jacques de Oalte mineiro alematildeo o engenheiro tambeacutem alematildeo

Giraldo Betink o cirugiatildeo Joseacute Serratildeo o mestre fundidor flamengo Corneacutelio de

Arzatildeo e o engenheiro e arquiteto-mor florentino Baccio de Filicaya tambeacutem

mineiro de ouro o qual recebeu de D Francisco de Souza o cargo de engenheiro-

mor Felicaya restaurou e construiu algumas fortalezas e trabalhou durante cinco

anos no descobrimento de minas Aparece registrado no Rio de Janeiro em 1596

como arquiteto fortificador (TAUNAY 2003 p409)

Destaca-se tambeacutem ainda na gestatildeo de D Francisco a presenccedila do

mineiro castelhano Manoel Joatildeo Branco (ou Morales) que foi enviado em

companhia de um outro mineiro de prata ao morro de Araccediloiaba para examinaacute-la

Este mineiro acabou por confirmar que aquela Serra era ldquoriquiacutessima de yerrordquo58

37 A Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro

No iniacutecio do seacuteculo XVII as jazidas de ferro que haviam sido identificadas

nas imediaccedilotildees da Vila de Satildeo Paulo comeccedilaram a ser beneficiadas por Diogo de

Quadros atraveacutes da construccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro a qual

comeccedilou a funcionar em 1607 A Ferraria de Santo Amaro foi redescoberta em

1967 por Jesuiacuteno Felicissiacutemo Juacutenior e documentada nas ediccedilotildees de 5 e 6 de

janeiro deste mesmo ano no jornal Diaacuterio de Satildeo Paulo por Manoel Rodrigues

Ferreira ( FELICIacuteSSIMO1969 p14)

57 No mesmo ano em que D Francisco de Souza veio para o Brasil para assumir o cargo de Governador Geral tambeacutem retornava da Espanha Gabriel Soares de Souza o qual se dedicou agrave busca de minas autor de Tratado Descritivo do Brasil de 1587 58 Ver Carta de Manuel Joatildeo Branco Morales a D Felipe IVCORTESAtildeOJaime Jesuiacutetas e Bandeirantes no Guairaacute Rio de Janeiro Biblioteca Nacional 1951 p 182

97

Esta Faacutebrica foi construiacutedo na freguesia de Santo Amaro pela sociedade

formada em 1609 entre Diogo de Quadros juntamente com Francisco Lopes

Pinto e D Antonio de Souza filho de D Francisco de Sousa

Para dar andamento a esse projeto Diogo de Quadros obteve em 1604

de D Felipe III o cargo de provedor das minas da Capitania de Satildeo Vicente e a

concessatildeo de montar e explorar fundiccedilotildees de ferro no Brasil (NEME 1959

p353)

Segundo informaccedilotildees oferecidas por Wilhelm Ludwig Von Eschwege

(1777-1855) a Faacutebrica de Santo Amaro foi construiacuteda agrave beira de um pequeno

ribeiratildeo afluente do rio Pinheiros navegaacutevel a uma distacircncia de duas leacuteguas SE

de Satildeo Paulo Para Eschwege ldquoa situaccedilatildeo dessa pequena faacutebrica era

conveniente porque as margens dos rios proacuteximos estatildeo cobertas de matas

cerradas podendo o carvatildeo ser transportado por via fluvial e mesmo o produto

manufaturado que por essa via podiam ser levados ateacute a serra do Cubatatildeo e

para o interior ateacute o Tietecircrdquo (ESCHWEGE 1944 p336)

Aleacutem desse aspecto a Faacutebrica contava com apoio da Coroa recebendo

dos almoxarifados de Satildeo Vicente Bahia e Rio de Janeiro todas as ferramentas

de ferro que estavam disponiacuteveis e poderiam ser aproveitadas para o trabalho de

fundiccedilatildeo daquele metal Das ferramentas entregues para Diogo de Quadros em

1605 foram arrolados

dous malhos q podiatildeo pesar pouco mais ou menos entre ambos

trecircs quintais e por quintal a razatildeo de trecircs mil reis mais duas

argolas grandes da mesma ferramenta q podiatildeo pezar pouco

mais ou menos trecircs quintaes ao mesmo preccedilo mais duas Cafras

(bigornas) que podiam pezar outros quintaes ao mesmo preccedilo

mais duas chapas pequenas q cada hua pezava duas arrobas no

mesmo preccedilo mais duas chapas grandes q cada hua podia

pezar pouco mais ou menos hum quintal cada hua as quaes

todas juntas podem pezar pouco mais ou menos doze quintais

98

que a razatildeo dos ditos traacutes mil reis por quintal fazem a soma de

36$000 rs 59

Os indiacutecios da presenccedila e utilizaccedilatildeo da roda para fins de produccedilatildeo nesta

Faacutebrica satildeo tambeacutem reforccedilados pelas observaccedilotildees feitas por Eschwege em seu

livro Pluto Brasiliensis onde afirmava que ainda se podia ver ldquoa vala da roda o

lugar da oficina os restos de um accedilude assim como um monte de pesada escoacuteria

de ferrordquo ((ESCHWEGE 1944 p336)

Essas mesmas informaccedilotildees podem ser observadas em um levantamento

topograacutefico realizado em princiacutepios do seacuteculo XIX pelo topoacutegrafo portuguecircs

Rufino Joseacute Felizardo e Costa segundo tenente do Real Corpo de Engenheiros

Rufino provavelmente veio ao Brasil como membro do grupo de engenheiros

militares que constituiacuteram em meados do seacuteculo XVIII as ldquoMissotildees

Demarcatoacuterias destinadas a dar cumprimento aos Tratados de Limites relativos agraves

terras da Ameacuterica celebrados entre Portugal e Espanhardquo 60

O levantamento topograacutefico em questatildeo intitulado ldquoprospecto das ruiacutenas

da antiga faacutebrica de ferro de Santo Amarordquo apresenta uma planta dessa faacutebrica jaacute

em ruiacutenas e sua localizaccedilatildeo proacutexima aos rios ldquodos Pinheirosrdquo e Santo Amaro aleacutem

dos terrenos no seu entorno onde se observa a presenccedila de matas minas de

ferro e canais de derivaccedilatildeo de aacuteguas daqueles rios em direccedilatildeo ao edifiacutecio

confirmando as observaccedilotildees feitas por Eschwege que observou inclusive a

existecircncia da ldquovala da rodardquo (HOLANDA 1957 p188-189)

59Ver Provisatildeo passada por Diogo Botelho a Diogo de Quadros 1605 CLETTO Marcelino Pereira A respeito da Capitania de Satildeo Paulo Sua decadecircncia e modo de restabelececirc-la Santos 25 de outubro de 1782 Annaes da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro vol XXI Rio de Janeiro Typografia Leuzinger 1900 60 TOLEDO Benedito Lima de A Accedilatildeo dos Engenheiros Militares na Ordenaccedilatildeo do Espaccedilo Urbano no Brasil Lisboa 2000 lthttpurbaniscteptRevistanumero4artigosartigo_08htmgt Aceso em 16 de maio de 2006 Os tratados mencionados por Toledo satildeo o Tratado de Madri (1750) e do segundo o Tratado de Santo Ildefonso (1777)

99

Fig 27 Prospecto das ruiacutenas da antiga Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro Rufino Joseacute Felizardo seacutec XIX (HOLANDA1957)

38 A Faacutebrica de Ferro do morro de Araccediloiaba os empreendedores

Afonso Sardinha foi personagem importante na atividade de mineraccedilatildeo do

ouro e do ferro no periacuteodo compreendido entre a segunda metade do seacuteculo XVI

e inicio do seacuteculo XVII sendo um dos primeiros empreendedores da exploraccedilatildeo e

produccedilatildeo de ferro no morro de Araccediloiaba Foi tambeacutem um dos financiadores do

empreendimento da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro Em 1601 recebeu de

Francisco de Souza um regimento que permitia o acesso agraves minas jaacute descobertas

e a descobrir61 Ressalte-se que essa mesma provisatildeo natildeo permitia a ele

ldquoentabularrdquo as minas encontradas as quais deveriam ser trabalhadas somente

apoacutes inspeccedilatildeo feita por mineiros vindos do Reino

61 Ver Regimento do Capitatildeo Diogo Gonccedilalves Laccedilo que lhe deu o Senhor Governador Dom Francisco de Souza DERBY Orville A As Bandeiras paulistas de 1601 a 1604 Revista do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Satildeo Paulo vol VII Satildeo Paulo Typ Do Diaacuterio Official 1903 p 403

100

Joseacute Monteiro Salazar citando Pedro Taques e outros historiadores

aponta o ano de 1597 para o inicio das atividades da exploraccedilatildeo e fabricaccedilatildeo do

ferro em Araccediloiaba sendo que o empreendimento esteve em atividade ateacute o ano

de 1611 coincidindo com o ano da morte de D Francisco de Sousa

Somente em 1684 surge uma segunda tentativa de exploraccedilatildeo das minas

de Araccediloiaba financiada pela Coroa Portuguesa Para tanto foi enviado agravequele

local o Frei Pedro de Sousa com a finalidade de pesquisar a existecircncia de prata

nas jazidas que estava sendo explorada por Luiz Lopes de Carvalho o qual

contava com matildeo de obra indiacutegena

Entretanto apoacutes ter retirado algumas amostras do mineacuterio na jazida elas

foram ensaiadas poreacutem natildeo foi encontrada a prata motivo pelo qual foi

ordenada pelo Conselho Ultramarino a suspensatildeo daquelas pesquisas

(RODRIGUES 1966 p202)

Na sequumlecircncia o empreendedor Luiz Lopes de Carvalho que administrava

aquela mina retomou a exploraccedilatildeo do mineacuterio de ferro cuja existecircncia jaacute era

comprovada para cuja atividade obteve licenccedila concedida pela Coroa Para

realizar as obras necessaacuterias para o seu empreendimento foi obrigado a

hipotecar em 1681 todas as suas propriedades na Vila do Vimieiro em Portugal

(RODRIGUES 1966 p 214-217)

Em carta escrita no Rio de Janeiro em 1692 ao Rei de Portugal noticiava o

fracasso de seu empreendimento com o esgotamento dos recursos financeiros

Assim descreve

penetrei os Sertotildees mais ragozos so habitado de feras padecendo

as inclemecircncias qe experimentatildeo os q com zello e amor da paacutetria

lhe querem descubrir nossos Thezouros Todas estas calamidades

101

padeci por que haverem persuadido e ter achado alguns Roteiros62

q insinuavatildeo partes e serr[dilacerado] aonde em algum tempo se

achavatildeo Signais evidentes de minas de prata e esmeraldas E por

me esgotar o Cabedal proacuteprio e nam achar q me animasse com

algum socorro vim a entender q e Deus nosso Sr Tem guardado

essa fortuna pa outro q mais lho mereccedila Nestas entradas ao

Sertatildeo fui dar com a dictas Serras de Birasuaiava aonde estatildeo as

minas de ferro que na calidade e fertilidade desse groseiro metal

excede a todos asqe por haver no descuberto (RODRIGUES

1966 p217-219)

Naquele mesmo documento Luiz Lopes de Carvalho discorre sobre as

dificuldades teacutecnicas e materiais que havia enfrentado e destaca que para a

continuidade daqueles trabalhos faltara-lhe a matildeo de obra indiacutegena e um mestre

em fundiccedilatildeo que sugere deveria ser de Figueiroacute (Portugal) Biscaia (Espanha)

Alemanha ou Sueacutecia Aleacutem disso indicava que os fornos de fundiccedilatildeo que ali

deveriam ser instalados fossem do mesmo tipo empregado nas ferrarias de

Figueiroacute em Portugal (RODRIGUES 1966 p217-220)

Nova tentativa de exploraccedilatildeo daquela mina de ferro deveu-se ao portuguecircs

Domingos Pereira Ferreira em 1763 o qual organizou em Lisboa uma companhia

por accedilotildees para a construccedilatildeo de uma faacutebrica de ferro em Araccediloiaba 63 Para

viabilizar esse empreendimento recebeu uma concessatildeo de Sesmarias localizada

junto a mina de ferro para explorar a madeira necessaacuteria agrave fundiccedilatildeo 64

62 Esses roteiros - ou ldquomapas do tesourordquo - parecem ter sido frequumlentes na histoacuteria da mineraccedilatildeo colonial Haacute indicaccedilotildees de roteiros elaborados por Gabriel Soares de Souza para as minas de Sabarabassuacute 63 Foram soacutecios de Pereira Ferreira Matheus Lourenccedilo de Carvalho Caoitatildeo-mor Manoel de Oliveira Cardozo Antonio Lopes de Azevedo Capitatildeo Jacinto Jose de Abreu Silveacuterio Thomaz de Oliva Doacuteria Joatildeo Fritz Gerald (este natildeo participou da Sociedade por ser estrangeiro ndash inglecircs) e o Sargento Mor Antonio Francisco de Andrade Traslado da Escritura de Contrato da Sociedade e Companhia que Fazem Domingos Pereira Ferreira (RODRIGUES 1966 p 228-238) 64 Carta de Sesmaria a Domingos Ferreira Pereira e seus soacutecios de um morro cito termo da Vila de Sorocaba para dele se extraiacuterem lenha para a Faacutebrica de caldear o ferro que ali se pretende erigir por ordem de S Magestade (1767) Arquivo do Estado de Satildeo Paulo Sesmaria Patente e Provisatildeo Livro n17 p 125 v

102

Em dezembro de 1765 o Capitatildeo-General de Satildeo Paulo encaminhava ao

Conde de Oeiras amostra do ferro que Domingos Ferreira Pereira extraiacutera e

caldeara nas serras de Araccediloiaba Neste mesmo ano chegou a receber

encomendas de Diogo Lobo da Silva Capitatildeo General de Minas Gerais para a

fabricaccedilatildeo de armamentos tais como balas bombas e granadas aleacutem de

municcedilotildees Contudo esses armamentos natildeo chegaram a serem fabricados

Para viabilizar a produccedilatildeo do ferro trouxe de Portugal o mestre fundidor

Joatildeo de Oliveira Figueiredo poreacutem este decidiu abandonar aquele local com a

intenccedilatildeo de se mudar para Angola em 1767 Contudo quando jaacute se encontrava

no Rio de Janeiro foi preso e trazido de volta para Araccediloiaba sob a justificativa de

que ldquosem ele natildeo se poderiam por em praacutetica as experiecircnciasrdquo (CALOacuteGENAS

1904 p37)

O relatoacuterio encaminhado no ano de 1768 por Luiz Antonio de Souza ao

Conde de Oeiras em Portugal informava que o empreendimento de Pereira

Ferreira mostrava dificuldades em conseguir produzir um ferro de boa qualidade

mesmo tendo sido realizado por diversas vezes experiecircncias com o material pois

ldquonatildeo era possiacutevel acertar a caldeaccedilatildeo do ferro nem fazecirc-lo igual as primeiras

amostrasrdquo 65

Pereira Ferreira permanece naquela atividade durante dez anos sendo que

depois desse tempo vendeu a propriedade a Vitoriano Joseacute Sentena morador de

Viamatildeo Este empreendedor tambeacutem natildeo obteve sucesso nesta atividade

culminando por abandonaacute-la quatro anos apoacutes o seu iniacutecio (RODRIGUES 1966

p205-210)

No ano de 1784 Claacuteudio de Madureira Calheiros capitatildeo-mor da vila de

Sorocaba encaminha uma peticcedilatildeo a Martinho de Mello e Castro para explorar

aquelas jazidas Contudo esse projeto natildeo foi aprovado (RODRIGUES 1966 p

212) 65 ver Carta de Luiz Antonio de Souza ao Conde de Oeiras Satildeo Paulo 3 janeiro de 1768 In Dossiecirc Ipanema Arquivo do Museu Quinzinho de Barros ndash Sorocaba-SP

103

Em 1788 com aquele mesmo objetivo foi encaminhada a Bernardo Joseacute

de Lorena uma peticcedilatildeo onde o capitatildeo-mor de Sorocaba Claacuteudio da Cunha Oeiras

e o de Itu Vicente da Costa Taques Goacuteis e Aranha pela qual solicitavam

autorizaccedilatildeo para explorar e fabricar o ferro em Araccediloiaba Tambeacutem solicitavam a

vinda do Reino de ldquoum mestre inteiramente perito naquela arterdquo Juntaram agrave

peticcedilatildeo uma amostra de barra de ferro que diziam terem obtido naquele local

Este projeto tambeacutem natildeo foi viabilizado (RODRIGUES 1966 p212)

39 A Real Faacutebrica de Ferro de Satildeo Joatildeo do Ipanema

Jaacute no final do seacuteculo XVIII destaca-se a vinda do ldquoquiacutemicordquo Joatildeo Manso

Pereira Diretor Geral das Minas para examinar as jazidas de ferro do morro de

Araccediloiaba e acompanhar os trabalhos de demarcaccedilatildeo dos terrenos nos quais

iriam ser instaladas as edificaccedilotildees da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema

Tambeacutem realizou alguns ensaios com aquele mineacuterio mediante a construccedilatildeo de

um alto forno acionado com um fole manual

A esse respeito relata Eschwege (1944 p340) que conheceu Joatildeo Manso

Pereira que durante a primeira experiecircncia para a fundiccedilatildeo do ferro muitas

pessoas das vizinhanccedilas foram atraiacutedas para o local poreacutem ao final do teste

nenhum ferro foi produzido Manso entatildeo fugiu do local e os convidados tiveram

que voltar para as suas casas Eschwege lembrava que Manso ao recordar

aquele fato ldquoria-se gostosamente de toda aquela histoacuteria tendo chegado agrave

conclusatildeo de que para fabricar ferro em grande escala natildeo bastavam

conhecimentos de quiacutemicardquo

Em 1802 Manso Pereira natildeo havia apresentado nenhum resultado

satisfatoacuterio e foi destituiacutedo do cargo assumindo em seu lugar Francisco Ribeiro

de Andrade (FRAGA 1968 p 33-48)

104

Segundo o Governador D Rodrigo de Souza Coutinho Joatildeo Manso

Pereira

longe de ser hum verdadeiro chimico natildeo era senatildeo hum

Alquimista que debaixo de certos misteacuterios pretendia inculcar-se

sem ter os necessaacuterios conhecimentos para Inspector e dirigir a

mesma obra tendo toda a esperanccedila que entre os artistas que

pedia que viesse algum que soubesse tractar a referida Mina e

desta sorte colher o Laurel de que os outro se fazia digno

(FRAGA1966 p46)

No iniacutecio do seacuteculo XIX Martim Francisco Ribeiro de Andrada escolhe a

regiatildeo junto ao ribeiratildeo Ipanema para sediar as futuras instalaccedilotildees da faacutebrica de

ferro que estavam autorizadas em 1799 a Joatildeo Manso Pereira Atraveacutes de um

contrato realizado em Estocolmo em 1810 entre Dom Joaquim Lobo de

Saldanha ministro portuguecircs em Londres e o sueco Carlos Gustavo Hedberg

foram iniciados os trabalhos para a construccedilatildeo da Real Faacutebrica de Ferro de

Ipanema

Fig 28 Vista da Faacutebrica de Ferro de Ipanema 1827 Acervo Projeto Arqueologia Histoacuterica Museu Paulista-USP

105

Fig 29 Vista Geral da Faacutebrica de Ferro e Ipanema seacuteculo XIX

Fig 30 Altos fornos geminados construiacutedos por Varnhagem 1818

106

Fig 31 Alto forno construiacutedo pelo Cel Mursa 1888

Em 1815 Frederico Guilherme Varnhagen assume o cargo de Diretor da

Real Faacutebrica e em 1818 constroacutei dois altos-fornos para a produccedilatildeo de ferro

gusa os primeiros do Brasil Joaquim de Souza Mursa Diretor de Ipanema entre

1865-1890 construiu outro alto-forno e natildeo chegou a funcionar Em 1895 jaacute no

periacuteodo republicano Prudente de Moraes decreta a desativaccedilatildeo de Ipanema

Em 1929 tiveram iniacutecio experiecircncias para o aproveitamento da apatita

jazida descoberta em 1890 por DacuteOrville Derby Esse mineacuterio foi explorado ateacute

1944 por uma firma particular para a produccedilatildeo do superfosfato Mas jaacute em 1937

o acervo e aacuterea ocupada pela antiga Faacutebrica de Ferro passaram ao Ministeacuterio da

Agricultura que em 1947 instalou ali a Estaccedilatildeo Experimental do Trigo

107

Uma quarta fase da histoacuteria de Ipanema comeccedilou logo no iniacutecio dos anos

50 quando foi estabelecido o Plano Nacional da Induacutestria de Tratores e instituiacuteda

a obrigatoriedade de ensaios para tratores maacutequinas e ferramentas agriacutecolas

importados ou fabricadas no Brasil Ao mesmo tempo seguiram as atividades de

produccedilatildeo de sementes O estabelecimento passou a denominar-se CENTRI -

Centro Nacional de Ensaios e Treinamento Rural de Ipanema

A partir de 1975 foi criado o CENEA ndash Centro Nacional de Engenharia

Agriacutecola junto ao qual foi realizado em 1983 o convecircnio com o Museu Paulista-

Universidade de Satildeo Paulo para a realizaccedilatildeo da pesquisa arqueoloacutegica Em 1992

passou a integrar uma das aacutereas de conservaccedilatildeo e proteccedilatildeo ambiental do IBAMA

com a denominaccedilatildeo de FLONA ndash Floreta Nacional de Ipanema O Siacutetio Afonso

Sardinha foi registrado no IPHAN pela Professora Doutora Margarida Davina

Andreatta em 1997

108

Fig 32 ROTEIRO HISTORICO DA MINERACcedilAtildeO E METALURGIA PAULISTA

109

CAPIacuteTULO 4

O SIacuteTIO AFONSO SARDINHA 41- Localizaccedilatildeo O vale das Furnas eacute uma aacuterea privilegiada por sua geografia devido agrave

presenccedila do mineacuterio de ferro em suas cabeceiras e de uma diversificada

quantidade de rochas dentre elas o arenito que foi utilizado como material de

construccedilatildeo na forma de blocos para paredes e fornos Destaca-se a rede

hidrograacutefica que apresenta dois rios importantes como o Ipanema e o Sarapuhy

que contornam o morro de Araccediloiaba indo desaguar no rio Sorocaba A bacia do

ribeiratildeo do Ferro ocupa uma aacuterea importante dentro do morro de Araccediloiaba

porque eacute ela que drena a regiatildeo onde afloram os minerais de ferro sendo que a

topografia acidentada do seu leito possibilitou a implantaccedilatildeo de estruturas de

aproveitamento hidraacuteulico A regiatildeo apresentava significativa aacuterea coberta de

matas as quais foram transformadas desde finais do seacuteculo XVI em carvatildeo

vegetal o uacutenico combustiacutevel utilizado para a produccedilatildeo de ferro ateacute finais do

seacuteculo XIX

O morro de Araccediloiaba eacute conhecido tambeacutem pela denominaccedilatildeo de morro do

Ipanema toponiacutemico indiacutegena de Ypanema ndash Y= rio aacutegua + panema = sem valor

ou ainda aproximadamente sem peixes significando assim ldquorio sem valorrdquo ou

ldquorio sem peixesrdquo A denominaccedilatildeo Araccediloiaba (ldquoo lugar que esconde o Solrdquo)

aparece desde o seacuteculo XVI em documentos datados com variantes como

Arraraccediloiaba Byraccediloiaba Ibyraccediloiaba Guaccediloiava (SALAZAR 1997 p17)

Ocupa uma aacuterea isolada no interior de uma extensa bacia sedimentar que os

geomorfoacutelogos denominam de ldquoDepressatildeo Perifeacuterica Paulistardquo pertencente agrave

Bacia do Paranaacute Esta aacuterea constitui um ldquohorst docircmicordquo em razatildeo do seu formato

110

arredondado que lembra estruturas de coberturas do tipo domos (DAVINO 1975

p130)

Do ponto de vista geoloacutegico o morro eacute uma formaccedilatildeo montanhosa

resultante de ldquofenocircmenos de intrusotildees de rochas alcalinas que ocorreram

associadas agraves atividades tectocircnicas do Arco de Ponta Grossa no periacuteodo

denominado Cretaacuteceo Inferiorrdquo66 contemporacircneo do vulcanismo basaacuteltico na

regiatildeo Sudeste ndash Sul do Brasil A intrusatildeo magmaacutetica de Ipanema ocupa aacuterea

aproximadamente circular de nove quilocircmetros quadrados Sua maior altitude estaacute

em 970 metros sendo que dele ldquoeacute possiacutevel observar um dos trechos do vale do

Meacutedio - Tietecirc como tambeacutem trecircs importantes unidades de relevo do Estado de

Satildeo Paulo a Depressatildeo Perifeacuterica o Planalto Atlacircntico e as Cuestas Arenito ndash

Basaacutelticas no caso a Serra do Botucatu (CARPI JR 2002 p1)

Estaacute situado no centro-sul da Depressatildeo Perifeacuterica Paulista na Latitude

sul 23ordm25rsquo 23ordm17rsquo Longitude 47ordm35rsquo WGr 47ordm40rsquo WGr no municiacutepio de Iperoacute-

SP entre Sorocaba e Boituva a cerca de 125 km da Cidade de Satildeo Paulo

Encontra-se ainda dentro de uma aacuterea de proteccedilatildeo ambiental com 506973

hectares pertencente ao FLONA Ipanema Floresta Nacional de Ipanema do

IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

Renovaacuteveis) criada em 1992 para preservar e conservar um dos maiores

fragmentos de Mata Atlacircntica do Estado de Satildeo Paulo bem como aacutereas de

66 ldquoDuas medidas efetuadas no Laboratoacuterio de Geocronologia da USP segundo o meacutetodo do potaacutessio-argocircnico indicaram para as rochas alcalinas de Ipanema idade cretaacutecea inferior Estas determinaccedilotildees foram feitas em biotita contidas em shonkinitos-poacutertirosrdquo (DAVINO1975)

111

cerrado vaacuterzea e os ecossistemas associados67

67 A FLONA ndash Floresta Nacional de Ipanema possui plantas e fauna de grande representatividade tendo catalogado mais de 200 espeacutecies de aves 52 de mamiacuteferos 18 de anfiacutebios 15 de reacutepteis e 35 de peixes que totalizam 216 da riqueza do estado de Satildeo Paulo Caracteriacutesticas do relevo Ateacute 600 metros ndash vaacuterzea dos principais rios como Ipanema e Verde de declives suaves Acima de 875 metros ndash topo do Morro Araccediloiaba geralmente com platocircs e declives suavesmedianos De 600 a 725 metros ndash base das serras de declives acentuados (medianos) com nascentes de rios principalmente os intermitentes De 725 a 875 metros ndash proacuteximo ao topo de declives acentuados com rios encaixados entre as vertentes como o Ribeiratildeo do Ferro Hidrografia Integra a bacia hidrograacutefica do rio SorocabaMeacutedio Tietecirc classificada como UGRHI No 10 com sub-bacias dos rios Ipanema e Verde e ribeirotildees Iperoacute e do Ferro Clima O Troacutepico de Capricoacuternio passa pela parte sul da Floresta Nacional de Ipanema caracterizando uma zona de transiccedilatildeo de tropical para temperada Segundo Koeppen apresenta condiccedilotildees climaacuteticas tipo Cfa ndash subtropical quente constantemente uacutemido com inverno menos seco - ao sul limitando com Cwa ndash subtropical quente com inverno mais seco - ao norte Uso do solo 2800 hectares ndash floresta estacional semidecidual em estaacutegio de regeneraccedilatildeo do inicial ao tardio 29515 hectares ndash capoeira alta (grototildees) e cerrado 24293 hectares ndash capoeira baixa 250 hectares ndash vaacuterzea accediludes e represas 22150 hectares ndash reflorestamento com espeacutecies de raacutepido crescimento e nativas 121016 hectares ndash assentamentos rurais 50 hectares ndash sede administrativa vilas residenciais e siacutetios histoacuterico-culturais Ver Floresta Nacional (FLONA) de Ipanema NACIONAL Disponiacutevel em lthttpwwwibamagovbrspindexphpid_menu=191gt acesso em 22mar06

112

Fig 32 MAPA GEOLOacuteGICO DO MORRO DE ARACcedilOIABA (SEM ESCALA) Mapa Geoloacutegico do Estado Satildeo Paulo ndashIPT

113

Fig 33 BLOCO DIAGRAMA DA REGIAtildeO DA SERRA DE ARACcedilOIABA Interpretaccedilatildeo baseada em dados geoloacutegicos e geofiacutesicos por Andreacute Davino (DAVINO 1975 p140)

114

Fig 35 MORRO DE ARACcedilOIABA (AO FUNDO VISTA DA DEPRESSAtildeO

PERIFEacuteRICA) - I

FIG 36 MORRO DE ARACcedilOIABA (VISTA DA DEPRESSAtildeO PERIFEacuteRICA) - II

115

Aziz Nacib AbSaber ao analisar o morro de Araccediloiaba dos pontos de vista

geoloacutegico e geomoacuterfoloacutegico considera que

Geomorfologicamente eacute um acidente de grande exceccedilatildeo

emergente no meio de terras baixas colinosas que se estendem por

mais de 12 mil km2

Geologicamente eacute a consequumlecircncia de um vulcanismo hipoabissal

tardio anterior aos processos denudacionais que criaram a

Depressatildeo Perifeacuterica Paulista Filogeograficamente eacute um

componente de um mosaico de ecossistemas sub-regionais que

comporta cerrados e matas-galerias (vegetaccedilatildeo ciliar) matinhas

diferenciadas e descontiacutenuas nas paredes sub-rochosas do morro

Existem tambeacutem eventuais poreacutem altamente significativos relictos

de cactos mandacarus nas vertentes rochosas do morro Esse fato

associado ao que jaacute se conhece da regiatildeo de Itu e Salto permite

reconstituir a histoacuteria vegetacional da regiatildeo No passado ela

abrigou caatingas hoje relegadas a pequenos redutos de

cactaacuteceas na forma de rupestres-biomas logo seguidos por

cerradotildees e cerrados recortados por florestas-galerias biodiversas

E por fim grandes matas tropicais nos morros de solos vermelhos

argilo-arenosos das serranias de Satildeo Roque e Jundiaiacute As florestas

eliminaram importantes trechos de cerrado mas natildeo foram capazes

de expulsar os minirredutos de cactaacuteceas na serra do Jardim em

Vinhedo e Valinhos nos altos do Japi na serra de Satildeo Francisco

em Votorantim em Salto e Itu e no front rochoso das cuestas de

Botucatu e agora nos receacutem-identificados mandacarus dos morro

de Araccediloiaba e Ipanema

Para entender essa eacutepoca caracterizada por intrusotildees

hipoabissais desfeitas em sills - massas tabulares de rocha iacutegnea

que penetraram entre camadas de rocha mais antiga - nas

soerguidas camadas de arenitos da formaccedilatildeo de Itarareacute (originada

no Carboniacutefero Superior) haacute que visualizar o fato de que o atual

morro da Depressatildeo Perifeacuterica comportava centenas de metros de

espessura que se estendiam ateacute o embasamento de rochas

cristalinas As intrusotildees que perfuraram localmente o pacote de

116

rochas da borda da Bacia Sedimentar do Paranaacute foram

provavelmente as mais tardias em relaccedilatildeo ao vulcanismo que

precedeu os mega processos de separaccedilatildeo da Aacutefrica e Brasil Ao

que tudo indica primeiramente aconteceram os derrames

basaacutelticos e as intrusotildees hipoabissais de diabaacutesios (rochas

magmaacuteticas cristalinas) A seguir nos milhotildees de anos decorridos

entre o Triaacutessico Superior o Juraacutessico e o Cretaacuteceo Superior -

atraveacutes de bolsotildees magmaacuteticos descontiacutenuos e residuais -

aconteceram as penetraccedilotildees de sienitos em forma de ring dykes

(diques anelares) de Itatiaia da atual ilha de Satildeo Sebastiatildeo

Caxambu e alhures Tudo acontecendo antes que a tectocircnica

quebraacutevel aparecesse no embasamento cristalino do Brasil de

Sudeste Ou seja antes dos falhamentos que criaram a serra do

Mar a ilha de Satildeo Sebastiatildeo e a Mantiqueira Por fim um resiacuteduo

magmaacutetico de grande exceccedilatildeo teria interpenetrado a borda antiga

da Bacia do Paranaacute gerando a pequena aacuterea core que mais tarde

viria a ser o morro de AraccediloiabaIpanema com seus ankaratritos

impregnados de magnetita Um fato que de resto respondeu pelo

histoacuterico episoacutedio da experiecircncia industrial da Fazenda

Ipanema(ABSAacuteBER 2006 p1)

42 A Vegetaccedilatildeo

Quanto agrave vegetaccedilatildeo original o morro de Araccediloiaba tem um histoacuterico de

perturbaccedilotildees sofridas por intervenccedilotildees antroacutepicas iniciadas no final do seacuteculo XVI

Essas perturbaccedilotildees foram causadas pela retirada de mineacuterio madeiras calcaacuterio

apatita aleacutem de focos de incecircndio entre outros processos

Para a exploraccedilatildeo do mineacuterio era necessaacuteria a devastaccedilatildeo das matas que

cresciam sobre a jazida Segundo a descriccedilatildeo de Domingos Pereira Ferreira que

chegou no local em 1765 para dar iniacutecio a um projeto de Faacutebrica de Ferro aquele

117

Morro era como ldquoum Cubatatildeo de Matos e de Cerra Altardquo e somente era possiacutevel

ver uma pedra levando ldquoadeante fousse e machadordquo68

A devastaccedilatildeo das matas tambeacutem esteve ligada ao tipo de combustiacutevel que

era utilizado nos fornos de reduccedilatildeo (fornos baixos) 69 e depois nos de fundiccedilatildeo

(altos fornos)70 O combustiacutevel para a produccedilatildeo de ferro sempre foi o carvatildeo

vegetal71 o qual era fabricado a partir de uma variedade de madeiras existente na

proacutepria mata entre elas os chamados ldquopaus reaisrdquo as madeiras de lei como a

peroba jequitibaacutes e cedros cujos registros de extraccedilatildeo eacute encontrado ateacute o iniacutecio

do seacuteculo XIX 72

Mesmo sofrendo exploraccedilatildeo e desmatamento ainda hoje a Floreta

Nacional de Ipanema constitui-se num dos poucos redutos florestais do interior

paulista e tambeacutem eacute a maior detentora da biodiversidade regional Espeacutecies

vegetais como timburi ararib lixeira jangada do campo canela paineira figueira

branca e peroba satildeo encontrados em percurso assim como animais de haacutebitos

68 Encontramos uma coacutepia da Carta de Domingos Pereira Ferreira agrave Morgado de Mateus escrita em Sorocaba 30 de novembro de 1765 na Coleccedilatildeo Faacutebrica de Ferro de Ipanema entre todas as coacutepias que foram doadas por Joseacute Monteiro Salazar ao Arquivo Histoacuterico Sorocabano 69Nos fornos baixos o carvatildeo vegetal era colocado em camadas alternadas com o mineacuterio calcinado e triturado que com o auxiacutelio de foles manuais ou mecacircnicos realizavam a reduccedilatildeo e natildeo a fundiccedilatildeo do mineacuterio de ferro resultando numa ldquoesponja de ferrordquo ou ldquopatildeo de ferrordquo que posteriormente era novamente trabalhada nos fornos de forja e nos malhos (FAUS 2000) 70 Estes fornos que chegam a fundir o mineacuterio de ferro foram introduzidos em Ipanema no iniacutecio do seacuteculo XIX O produto derivado do alto forno eacute o ferro em estado liacutequido (ferro gusa) (FRAGA 1968 p 87) 71 Joseacute Bonifaacutecio de Andrada e Silva ao visitar a Faacutebrica de Ipanema em 1820 descreve o meacutetodo de fabricaccedilatildeo de carvatildeo ldquoO carvatildeo he todo misturado sem separaccedilatildeo do proacuteprio para as forjas do refino he mal feito e apagado comumente com agoa em vez de ser abafado com terra principalmente arenosa que he a melhor da qui vem que sahe mais pesado do que deveria ser contra a fabrica e a favor do carvoeiro reduz-se muito a poacute nos armazeacutens com prejuiacutezo da mesma Faacutebrica e o peior he que nas forjas de refino esfarela-se logo e se reduz a cinza sem dar o devido calor O carvatildeo que fazem de maneira mole he mais leve e arde mais e da madeira dura he pelo contrario O methodo de fazer carvatildeo he o seguinte pegatildeo em toda a lenha misturada e arrumatildeo em pilha deitadas que tem 40 palmos em quatro como a figura de um telhado com beiradas estas tem 6 palmos de alto e o espigatildeo 12 leva a quaimar cada piulha 30 ate 34 dias e mais e da cada pilha de 700 a 900 arrobas de carvatildeordquo (FRAGA 1968 p 86) 72 Joseacute Bonifaacutecio de Andrada e Silva em suas Memoacuterias Econocircmicas sobre a Faacutebrica de Ferro de Ipanema faz criacuteticas agrave construccedilatildeo dos Altos Fornos de Varnhagen e tambeacutem agrave preparaccedilatildeo do mineral e do combustiacutevel utilizado como ldquocavacos de perobardquo (MENON 1992 p144)

118

florestais destacando-se o jaguarundi o gambaacute o irara o tapiti o matildeo-pelada o

quati o jacupemba o chupa-dente o pica-pau de topete vermelho o tangaraacute

danccedilarino o sabiaacute coleira a jararaca a cascavel e o lagarto teiuacute 73

43 Rios e ribeirotildees

Dois rios circundam aquele morro o rio Ipanema e o Sarapuhy afluentes

do rio Sorocaba Na parte central daquele Morro surgem alguns riachos sendo o

mais importante deles o Ribeiratildeo do Ferro anteriormente denominado de Ribeiratildeo

das Furnas (afluente do Rio Ipanema) que nasce no Monte ou Pico do Chapeacuteu e

forma o Vale das Furnas com ocorrecircncia de cascatas e piscinas naturais Eacute

tambeacutem naquele Vale e em uma das curvas do Ribeiratildeo do Ferro que estaacute

situado o Siacutetio Arqueoloacutegico Histoacuterico Afonso Sardinha objeto de anaacutelise dessa

Tese

O Ribeiratildeo do Ferro ao descer o morro de Araccediloiaba apresenta

desniacuteveis de ateacute 500 metros com a presenccedila de alguns trechos encachoeirados

caracteriacutestica essa que proporcionou a execuccedilatildeo de projetos de aproveitamento

hidraacuteulico como a construccedilatildeo de obras de represamento canal de derivaccedilatildeo e

vala transformando as aacuteguas daquele ribeiratildeo em forccedila motriz aplicada ao

funcionamento dos equipamentos e ferramentas utilizadas no processo produtivo

da produccedilatildeo de ferro

73 Ver Fazenda Ipanema Disponiacutevel em lthttpfazendaipanemaiperospgovbrhistoriaphpgt

119

44 A magnetita o mineacuterio do morro de Araccediloiaba

Segundo Andreacute Davino a importacircncia do morro de Araccediloiaba do ponto de

vista geoloacutegico

deriva do fato de conter umas das muitas ocorrecircncias de rochas

alcalinas do Brasil As concentraccedilotildees de magnetita e apatita

[descobertas no final do seacuteculo XIX] nessas rochas despertaram

desde longa data especial interesse sobre a aacuterea O contorno da

intrusatildeo alcalina situa-se na parte central da Serra e estaacute contido

inteiramente dentro dos limites da Fazenda Federal de Ipanema

(DAVINO 1975 p130)

O mineacuterio de ferro encontrado no morro de Araccediloiaba eacute a Magnetita

um imatilde natural com propriedade magneacutetica de atrair objetos feitos de ferro ou

outros metais Essa propriedade do mineacuterio possivelmente facilitou o encontro

daquela jazida pelos sertanistas que por laacute passaram em meados do seacuteculo XVI

A magnetita eacute um mineacuterio do grupo das espinelas formado por oacutexido

magneacutetico de ferro (Fe3O4) composto por 724 de Fe (ferro) Eacute frequumlente a

existecircncia de cristais bem desenvolvidos pertencentes ao sistema cuacutebico

geralmente em forma de octaedros ou de dodecaedros Eacute abundante formando

as suas jazidas verdadeiras montanhas em massas granulares ou compactasA

composiccedilatildeo da magnetita eacute de oacutexido de feacuterrico (Fe2O3) 65 oacutexido ferroso (Fe O)

25 siacutelica (SiO2) 10 e traccedilos de aacutecido fosfoacuterico (P2O5) (FRAGA 1968 p149)

No Brasil encontram-se jazidas de magnetita nas regiotildees que

compreendem desde o Sudeste da Bahia ateacute o Leste do Paranaacute e Nordeste de

Santa Catarina Contudo sempre se apresentam impregnado de Titacircnio (Ti O2)

em proporccedilotildees que variam desde 04 ateacute 16 A exagerada densidade74 dessa

magnetita concorre para tornaacute-la inaproveitaacutevel para a reduccedilatildeo mesmo nos altos 74 A densidade eacute medida na proporccedilatildeo quilograma por metro cuacutebico kg m-3

120

fornos a coque a menos que sofra preacutevio e demorado tratamento ou que seja

misturada a mineacuterios menos densos (e portanto algo impuro) tais como a canga

a Hematita e outros De outro lado o oacutexido de titacircnio que a impregna dificulta

quando natildeo impede inteiramente a transformaccedilatildeo em gusa ou em esponja

(AMARAL 1946 p 264-266 Apud FRAGA 1968 p32) No morro de Araccediloiaba as

jazidas de Magnetita encontram-se na ldquoforma de depoacutesitos aluviais e

concentraccedilotildees in situ a poucas dezenas de metros de profundidaderdquo (DAVINO1975 p129)

Fig 37 MINEacuteRIO DE FERRO MAGNETITA

Embora no final do seacuteculo XIX os conhecimentos cientiacuteficos da Quiacutemica e

da aacuterea da metalurgia jaacute estivessem avanccedilados a composiccedilatildeo da Magnetita do

morro de Araccediloiaba impregnada de oacutexido de Titacircnio natildeo era conhecida75 A

carecircncia de conhecimento cientiacutefico sobre as propriedades quiacutemicas dessa

magnetita foi a principal causa dos trecircs seacuteculos de tentativas de se produzir ferro

naquele local e das inuacutemeras criacuteticas que eram feitas aos fundidores e

administradores 76 Sendo assim podemos indicar que essa realidade teacutecnica foi

determinante para que natildeo se produzisse em Ipanema desde finais do seacuteculo

XVI ferro de boa qualidade Estephania Fraga indica que

75 O titacircnio foi descoberto em 1791 por Willian Gregor mas soacute se tornou bem conhecido apoacutes os estudos de Wohler em 1857 e Peterson em 1887 76 Orville Derby no final do seacuteculo XIX presidia a comissatildeo de estudos geoloacutegicos da Proviacutencia de Satildeo Paulo e pesquisou a apatita de Ipanema

121

a dificuldade em fundir o mineacuterio de Ipanema ndash a magnetita ndash

provinha da composiccedilatildeo especiacutefica do mesmo pois aleacutem de sua

exagerada densidade apresenta-se impregnada de oacutexido de

Titacircnio fatores que contribuem de forma decisiva para dificultar

sua reduccedilatildeo mesmo em altos fornos (FRAGA 1968 p86)

A dificuldade de produzir um ferro de boa qualidade jaacute era sentida desde o

seacuteculo XVIII quando Domingos Pereira Ferreira apostou na construccedilatildeo de uma

Faacutebrica de Ferro naquele local Embora tenha construiacutedo diversos tipos de fornos

e empregado diferentes modos de fundiccedilatildeo natildeo havia conseguido um bom

resultado No seacuteculo XIX essa mesma dificuldade permaneceu nos trabalhos de

fundiccedilatildeo e na produccedilatildeo de ferro da Real Faacutebrica de Ipanema fundada em 1810

O desconhecimento das propriedades daquela magnetita apenas

descoberta na segunda metade do seacuteculo XIX quando a Real Faacutebrica de Ferro jaacute

estava em plena decadecircncia77 tambeacutem estava na origem das acirradas

discussotildees teacutecnicas entre Friederich Ludwig Wilhelm Varnhagen mineralogista

alematildeo e Carl Gustav Hedberg sueco e primeiro diretor de Ipanema (1811-

1814) sobre as vantagens do alto-forno proposto por Vanhagen em relaccedilatildeo aos

quatro fornos azuis Blauofen fornos de reduccedilatildeo direta inicialmente instalados

em Ipanema78

O diretor sueco foi substituiacutedo por Ludwig Wilhelm Varnhagen em 1815

que construiu dois Altos Fornos de aproximadamente 8 metros de altura cada

um Com estes fornos conseguiu produzir o ferro gusa em sua forma liacutequida

tendo moldado com a primeira corrida desse ferro trecircs cruzes sendo uma delas

ldquolevada em procissatildeo ateacute o ponto alto da montanha de Araccediloiabardquo onde

atualmente permanece Contudo Varnhagen natildeo produziu o ferro esperado e

77 Naquele periacuteodo nem o Estado nem a Real Faacutebrica possuiacuteam laboratoacuterios de anaacutelise que pudessem fazer ensaios do mineacuterio combustiacutevel e fundentes empregados na produccedilatildeo A primeira escola formadora de profissionais na aacuterea de mineraccedilatildeo foi a Escola de Minas de Ouro Preto fundada em 1875 (FRAGA 1968 p140) 78 Von Varnhagen havia dirigido a faacutebrica de ferro de Figueiroacute dos Vinhos em Portugal e foi enviado a Ipanema com a finalidade de projetar a construccedilatildeo de uma grande faacutebrica de ferro que afinal foi construiacuteda por Hedberg (FRAGA 1968 p 71-79)

122

essa dificuldade tambeacutem natildeo foi compreendida por Eschwege79 que estava na

direccedilatildeo de uma outra faacutebrica de ferro em Congonhas do Campo a qual produzia

ferro a partir de um outro mineacuterio a hematita que facilmente pode ser trabalhada

para a produccedilatildeo do ferro80 A partir de 1821 estes fornos altos jaacute estavam em

decadecircncia

Contudo parece que apenas Joseacute Bonifaacutecio de Andrada e Silva quando

esteve examinando as minas de ferro daquele Morro percebeu que

o problema capital de Ipanema liga-se ao mineacuterio de ferro ali

existente ldquoo ferro magneacuteticordquo de difiacutecil fusatildeo embora natildeo

pudesse conhecer ainda a composiccedilatildeo do mesmo (presenccedila de

Titacircnio que como eacute sabido foi descoberto apenas a partir da

segunda metade do seacuteculo XIX) considerando (com base nos

conhecimentos do gecircnero que visitou na Europa) que a soluccedilatildeo

estaria em aumentar a altura dos pequenos fornos (FRAGA 1968

p149)

Em 1878 foi a vez de Joaquim Antonio de Souza Mursa construir um Alto

Forno e quando a Faacutebrica fechou em 1895 este ainda natildeo havia sido utilizado

79 Ludwig von Eschwege depois de ter trabalhado em Portugal o baratildeo de Eschwege seguiu em 1810 para o Brasil a convite do priacutencipe regente D Joatildeo para reanimar a decadente mineraccedilatildeo de ouro e para trabalhar na nascente induacutestria sideruacutergica Em 1821 inicia em Congonhas do Campo Minas Gerais os trabalhos de construccedilatildeo de uma faacutebrica de ferro denominada de Patrioacutetica empreendimento privado sob a forma de sociedade por accedilotildees Em 1811 a siderurgia de Eschwege jaacute produzia em escala industrial Eschwege eacute o autor de Pluto Brasiliensis primeira obra cientiacutefica escrita sobre a geologia brasileira publicada primeiramente na Europa em 1833 (FIGUEIROA 1977 63-67) 80 As hematitas satildeo mineacuterios de ferro constituiacutedos por oacutexido feacuterrico (Fe2O3) contendo ateacute 70 de ferro(Fe) Seu aspecto varia consideravelmente pode se apresentar cristalizado em massas compactas ou em massas terrosas Satildeo utilizadas na produccedilatildeo de ferro sob duas formas principais a) hematita vermelha e b) hematita parda Dados sobre a composiccedilatildeo quiacutemica da hematita fornecidos pela Dra Heacutelegravene Nasson Storch (FRAGA 1968 p149)

123

45 Fatores fisiograacuteficos da ocupaccedilatildeo europeacuteia

A ocupaccedilatildeo das aacutereas interiores da Capitania de Satildeo Vicente no iniacutecio da

colonizaccedilatildeo foi caracterizada particularmente por expediccedilotildees de apresamento de

iacutendios Este movimento pioneiro na ocupaccedilatildeo das aacutereas interiores do continente

e era facilitado pela existecircncia de caminhos indiacutegenas os Peabirus

No caso da ocupaccedilatildeo da regiatildeo onde estaacute localizado o morro de

Araccediloiaba o acesso era facilitado pela presenccedila de importante caminho que ligava

a vila de Satildeo Paulo de Piratininga agraves terras de Guairaacute e regiotildees do Alto Peru

(atual Boliacutevia) Com a descoberta da prata do Potosi intensificaram-se as buscas

de metais nobres inclusive com incentivos da Coroa portuguesa com ajuda de

mineradores preparados para a identificaccedilatildeo de mineacuterios especialmente a prata e

o ouro As expediccedilotildees em busca daquelas riquezas foram estimuladas apoacutes a

chegada de D Francisco de Sousa que ocupou a governadoria Geral do Brasil no

periacuteodo de 1591 a 1601

Foi neste contexto que ocorreram as primeiras tentativas de exploraccedilatildeo do

ferro das minas de Araccediloiaba Dificilmente pode-se precisar a data em que se deu

o encontro do morro de Araccediloiaba pelos europeus mas certamente a sua

descoberta foi facilitada pela presenccedila dos Peabirus

Provavelmente o aspecto estrateacutegico e o encontro de traccedilos de prata junto

ao mineacuterio de ferro de Araccediloiaba tenham sido fatores que levaram D Francisco a

conceder sesmarias e dar iniacutecio ao povoamento colonial da regiatildeo Para tanto

ldquoplantou o pelourinhordquo no interior do Morro tendo como padroeira Nossa Senhora

do Monte Serrat Esta povoaccedilatildeo natildeo prosperou tendo sua populaccedilatildeo se

deslocado em 1611 ndash o mesmo ano da morte de D Francisco de Sousa - para o

Itavuvu local que recebeu a denominaccedilatildeo de Satildeo Felipe Somente mais tarde no

decorrer de 1661 houve a fundaccedilatildeo da Vila de Sorocaba (ALMEIDA 2002 p 11-

20)

124

Apesar da sua localizaccedilatildeo distante cerca de trinta leacuteguas de distacircncia do

litoral e isolada dos mercados consumidores o interesse da exploraccedilatildeo do ferro de

Araccediloiaba se explica pelo valor estrateacutegico desse metal que poderia ser utilizado

como mercadoria contando com mercado certo a proacutepria Capitania de Satildeo

Vicente e a regiatildeo do rio da Prata Por outro lado o ferro era um metal de grande

interesse para a Metroacutepole que contava com pequenas jazidas

Mais tarde jaacute no iniacutecio do seacuteculo XVIII havia um mercado promissor

representado regionalmente pelo avanccedilo da agricultura de cana-de-accediluacutecar e

tambeacutem pela exploraccedilatildeo das minas de ouro de Cuiabaacute e Minas Gerais81 A esse

respeito escreve em 1782 Marcelino Pereira Cleto

Ainda que as minas de ferro e accedilo estatildeo em terras de Sertatildeo e na

distancia de trinta legoas da Marinha com tudo o sitio he haacutebil

para o bom consumo destes gecircneros porqto por Sorocaba he o

caminho para Coritiba Minas de Pernampanema e outras terras

mais distantes da Capitania de Satildeo Paulo por Itu Va proacutexima he

o caminho por onde se dirige todo o negocio que vai para

Cuiabaacute por esta capitania e tambeacutem perto das das minas se

encaminha a estrada de Goiases Se os Negociantes do Cuiabaacute e

Goiases achassem no caminho ou perto delle este dous gecircneros

[ferro e accedilo] ainda pelo mesmo preccedilo qrsquo elles se vendem no Rio

de Janeiro e os de S Paulo o tivessem na sua proacutepria Capitania

certamte natildeo iratildeo busca-los ao Rio de Janeiro com despesa e

risco e bastaria ser seguro este consumo para ser uacutetil cuidar-se

nas das minas

Quanto mais em distancia como de seis leacutegoas das minas

passa o rio Teateacute navegaacutevel de canoa e unicamemte com o

embaraccedilo de algum ou alguns Saltos ou Cachoeiras neste rio

entra um pouco distancia de S Paulo outro chamado dos

Pinheiros neste o rio Grande neste o rio Pequeno qrsquo fica junto agrave

81 No seacuteculo XVIII a agricultura da cana-de-accediluacutecar foi significativa na regiatildeo denominada de ldquoquadrilaacutetero do accediluacutecarrdquo formada pelas localidades de Sorocaba Piracicaba Mogi-Guaccedilu e Jundiaiacute destacando-se duas aacutereas Itu e Campinas Para este tema ver PETRONE Maria Thereza S A lavoura canavieira em Satildeo Paulo Satildeo Paulo Difusatildeo Europeacuteia do livro 1968

125

Serra qrsquo cobre a Va de Santos do rio pequeno a santos seratildeo

sette legoas trecircs por terra maacutes caminho mto aacutespero E as quatro

por hum rio qrsquo em todas as partes admitte navegaccedilatildeo daquelles

rios vecirc-se qrsquo era pequena a distancia em qrsquo se precisava

condusir por terra estes dous gecircneros ateacute ao Porto da Va de

Santos e daqui dar-lhes extraccedilatildeo para mais Portos da Ameacuterica

(CLETO 1899 p p 210)

Embora natildeo haja estudos especiacuteficos sobre o trabalho indiacutegena na

produccedilatildeo do ferro dos empreendimentos metaluacutergicos instalados no morro de

Araccediloiaba os documentos escritos indicam que ateacute meados do seacuteculo XVIII a

produccedilatildeo do ferro em Araccediloiaba foi realizada com o trabalho de indiacutegenas que

eram levados para aquela atividade pelos exploradores 82 Dessa forma

exploraram aquelas minas Afonso Sardinha e Francisco de Souza (seacuteculo XVI e

XVII) Luiz Lopes de Carvalho (seacuteculo XVII) Domingos Pereira Ferreira (seacuteculo

XVIII) e depois a Real Faacutebrica de Ferro de Satildeo Joatildeo do Ipanema Neste uacuteltimo

empreendimento os iacutendios foram trazidos das aldeias de Itapecerica MrsquoBoy

Carapicuiacuteba Barueri e Itapevi Em 1815 trabalhavam nessa faacutebrica 16 iacutendios aleacutem

de escravos africanos Em 1834 a Real Faacutebrica de Ferro comeccedilou a receber

africanos livres em 1837 trabalhavam naquele estabelecimento 121 escravos (68

homens 24 mulheres e 29 crioulos) e 48 africanos livres (30 homens e 18

mulheres)83

Nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XIX o morro de Araccediloiaba passou a

integrar as rotas de muitos naturalistas geoacutegrafos mineralogistas botacircnicos e

geoacutelogos como Von Martius Martim Francisco de Andrada Auguste Saint Hilaire

o Baratildeo Eschewege Theodoro Knecht e Leandro Dupreacute que fizeram daquele

82 Conforme estabelecia a legislaccedilatildeo mineira compilada pelo Coacutedigo Filipino a exploraccedilatildeo de qualquer mineacuterio era realizada com os recursos do proacuteprio descobridor pagando os direitos dos quintos ao eraacuterio reacutegio Cf Ord L 2ordm ndash Tits 26 e 28 par 16 acolhendo a Ord Manuelina do L 2ordm Tt34 e seus paraacutegrafos Ver RODRIGUES (1966 p 182) 83 Sobre o trabalho indiacutegena na Real Faacutebrica de Ferro de Ypanema ver MENON Og A Real Fabrica de Ferro de Satildeo Joatildeo do Ipanema e seu mundo 1811-1835 Dissertaccedilatildeo (mestrado) Satildeo Paulo PUCSP 1992 p 84-90 Sobre o trabalho dos africanos livres em Ipanema ver RODRIGUES Jaime Ferro trabalho e Confliro os Africanos livres na Faacutebrica de Ipenema Historia Social n 45 Campinas IFCH-Unicamp 29-42 199798

126

local um laboratoacuterio a ceacuteu aberto para pesquisas cientiacuteficas aleacutem de terem

deixado dessas experiecircncias relatos preciosos que ajudam a compor aquela

histoacuteria como atesta o relato do naturalista Saint-Hilaire que esteve em Ipanema

em 1819 Diz ele

Encontrei em Ipanema um zoologista o Sr Natterer membro da

comissatildeo cientiacutefica que o imperador da Aacuteustria havia enviado ao

Brasil para recolher amostras de espeacutecimes diversos do pais

Fazia um ano que se achava instalado nas proximidades das

forjas tendo jaacute formado uma vasta coleccedilatildeo de paacutessaros Era

impossiacutevel natildeo admirar a beleza dessa coleccedilatildeo Natildeo se via uma

uacutenica ave cujas penas tivessem sido coladas ou que apresentasse

a menor mancha de sangue

Encontrei tambeacutem em Ipanema um jovem prussiano Sellow

o primeiro naturalista a chegar no Brasil depois de firmada a paz

Tinha feito anteriormente estaacutegio no Jardim Botacircnico de Paris a

fim de aperfeiccediloar os seus conhecimentos e vivia agora de uma

pensatildeo que lhe dava o ilustre e generoso Humboldt o qual fazia

crer ao rapaz que ele estava sendo pago pela administraccedilatildeo do

Jardim Sellow dedicava-se as suas pesquisas com um zelo e

uma energia sem par (SAINT-HILAIRE 1972 p194-195)

127

CAPIacuteTULO 5

INVESTIGACcedilOtildeES ARQUEOLOacuteGICAS AS EVIDENCIAS DE UMA FAacuteBRICA DE FERRO 84

O trabalho da pesquisa arqueoloacutegica se estendeu por um periacuteodo de 8

anos (1983-1989) e ficou registrado em documentos de Diaacuterios de Campo

escritos pela pesquisadora Margarida Davina Andreatta assim como em

correspondecircncias levantamentos topograacuteficos planos de escavaccedilatildeo croquis e

desenhos geomeacutetricos de plantas das ruiacutenas croquis de cortes estratigraacuteficos e

de reconhecimento das escavaccedilotildees Inventaacuterio de Peccedilas e fotografias tudo

devidamente registrado em relatoacuterios da pesquisa arqueoloacutegica (ver Planta Geral

da Aacuterea Anexo 9 e o mapeamento das escavaccedilotildees Anexo 10)

Os artefatos coletados durante as investigaccedilotildees de campo foram

acondicionados em caixas devidamente protegidas e identificadas e guardados

nas dependecircncias do Museu do Centro de Visitantes da FLONA de Ipanema

Por ocasiatildeo da primeira visita realizada no Siacutetio Afonso Sardinha em 09 de

maio de 1983 a pesquisadora observou que as ruiacutenas existentes estavam

cobertas por ldquopequenos arbustos cipoacutes gramiacuteneas deposiccedilatildeo de folhas e raiacutezes

secasrdquo as quais encobriam os blocos de pedra que formariam as paredes de uma

edificaccedilatildeo (ANDREATTA 1983 p7) O siacutetio apresentava sinais de alteraccedilotildees

causadas pela accedilatildeo de erosatildeo pelas aacuteguas da chuva bem como pela accedilatildeo

antroacutepica possivelmente pescadores e caccediladores que usavam aquele local como

acampamentos temporaacuterios para suas atividades observando-se ainda sinais de

frequumlentes incecircndios na mata existente em seu entorno

84 Para acompanhar as discussotildees deste Capiacutetulo consultar o Anexo 9 Planta Geral do Siacutetio Afonso Sardinha

128

Fig 38 LIMPEZA DO SIacuteTIO AFONSO SARDINHA 1984

Fig 39 EQUIPE DE TRABALHO SITIO AFONSO SARDINHA 1988

Para iniciar a pesquisa arqueoloacutegica foi necessaacuterio remover a vegetaccedilatildeo

que recobria as ruiacutenas mencionadas de modo a possibilitar as primeiras

observaccedilotildees e mediccedilotildees das paredes e da aacuterea do seu entorno Desta forma jaacute

no iniacutecio das investigaccedilotildees iniciais em maio de 1983 jaacute haviam sido

129

evidenciados embora ainda natildeo totalmente identificados os espaccedilos

possivelmente destinados agrave produccedilatildeo de ferro e os locais proacuteprios para o

aproveitamento da forccedila motriz hidraacuteulica necessaacuteria agravequelas atividades

51 Estruturas hidraacuteulicas para a produccedilatildeo da forccedila motriz

O trabalho de reconhecimento da aacuterea identificou um conjunto de

estruturas identificadas como pertencente a um sistema hidraacuteulico destinado a

produccedilatildeo da forccedila motriz o qual compreendia diversas partes o canal de

derivaccedilatildeo das aacuteguas (vestiacutegios de canaleta) a vala destinada ao alojamento da

roda hidraacuteulica e o trecho do canal de restituiccedilatildeo das aacuteguas ao ribeiratildeo Tais

dispositivos se localizam em aacuterea externa poreacutem adjacente ao edifiacutecio principal

de produccedilatildeo de ferro

Natildeo foi possiacutevel localizar a estrutura do barramento responsaacutevel pelo

desvio das aacuteguas do ribeiratildeo do Ferro para o canal de derivaccedilatildeo

511 O Canal de Derivaccedilatildeo A existecircncia do canal de derivaccedilatildeo foi evidenciada no ano de 1987 quando

foram realizados os trabalhos de decapagem para escavaccedilatildeo da aacuterea Sul da aacuterea

A (forno externo) conforme registrado no Diaacuterio de Campo no dia 02 de julho de

1987 onde de se indica que ldquoevidenciou uma canaleta que se prolonga para o

interior da ferradura que apareceu apoacutes a limpeza da vegetaccedilatildeo do entorno da

mesmardquo Outra evidecircncia da existecircncia do canal na regiatildeo ao Sul da aacuterea A (forno

externo) foi a constataccedilatildeo da ocorrecircncia de fluxo de aacutegua em direccedilatildeo ao Forno 1

(aacuterea A1) fenocircmeno que se observava toda a vez que chovia Este fato mostra

130

que deveria existir um possiacutevel canal interceptador de aacuteguas de chuvas

direcionando a correnteza em direccedilatildeo ao forno (Anexo 9 e Figura 75)

A evidecircncia encontrada revelava que o Canal de Derivaccedilatildeo havia sido

construiacutedo com a finalidade de obter um aproveitamento da corrente de aacutegua do

ribeiratildeo do Ferro contornando a face sul da edificaccedilatildeo ateacute encontrar o muro da

entrada da vala da roda drsquoaacutegua em um ponto onde o terreno se encontra agrave cota

520m medida pelo levantamento planialtimeacutetrico realizado na aacuterea Sendo assim

esse canal de desvio de aacuteguas deve partir do ribeiratildeo do Ferro numa posiccedilatildeo com

cota evidentemente superior a 520m (Figura 75)

No final do Canal de Derivaccedilatildeo no ponto correspondente a entrada da vala

(aacuterea E) foi encontrada durante as pesquisas uma quantidade significativa de

blocos de rocha arenito de tamanhos regulares amontoados e natildeo-alinhados os

quais testemunhavam que naquele local deveria haver uma estrutura de conexatildeo

entre o canal de derivaccedilatildeo e a vala As dimensotildees desses blocos apresentando

uma certa regularidade de formas satildeo tambeacutem um forte indiacutecio de que eles foram

cortados com a finalidade de proporcionar um entrosamento na construccedilatildeo da

parede (Anexo 13)

As pesquisas mostraram a existecircncia de trecircs grupos de blocos com

dimensotildees regulares As Tabelas abaixo apresentam as dimensotildees observadas

nos blocos de arenito acima mencionados

Tabela 1 Dimensotildees dos blocos de maior dimensatildeo ( em centiacutemetros - cm)

COMPRIMENTO LARGURA ESPESSURA

43 30 18

43 27 15

26 20 16

131

COMPRIMENTO LARGURA ESPESSURA

20 11 8

18 09 9

18 14 6

Tabela 2 Dimensotildees dos blocos de media dimensatildeo ( em centiacutemetros ndash cm)

COMPRIMENTO LARGURA ESPESSURA

10 6 6

10 5 6

11 7 35

Tabela 3 Dimensotildees dos blocos de menor dimensatildeo ( em centiacutemetros ndash cm)

Fig 40 VISTA GERAL DA AacuteREA E 1988

132

512 A Vala da Roda

Nas ruiacutenas encontradas da Faacutebrica de Ferro a existecircncia de estruturas

destinadas a utilizaccedilatildeo da energia hidraacuteulica eacute evidenciada pela presenccedila de

estruturas que caracterizam o controle das aacuteguas Em sequumlecircncia ao Canal de

Derivaccedilatildeo mencionado no item anterior observa-se a existecircncia da vala para o

alojamento da roda drsquoaacutegua indicada na planta baixa (Anexo 9) identificada como

ldquoCanal (D)rdquo conforme registrado no Diaacuterio de Campo da pesquisadora Margarida

Davina Andreatta em maio de 1983

A vala encontrada apresenta 19 metros de comprimento tendo ambas as

paredes cerca de 15 metros de largura e vatildeo livre entre as paredes com cerca de

225 m A uma distacircncia da ordem de 37 metros da margem do ribeiratildeo do Ferro

a parede da lateral direita apresenta um alargamento e por conseguinte ocorre

um estreitamento do vatildeo da vala passando a contar com apenas 1 (um) metro de

largura na saiacuteda

A vala encontrada no Siacutetio Afonso Sardinha apresentava o seu piso com

plano de declividade em direccedilatildeo ao ribeiratildeo do Ferro sendo que na parte mais

alta a cota do piso eacute de 453 m acima do niacutevel do ribeiratildeo enquanto que a

extremidade inferior da vala alcanccedila 041m acima do mesmo niacutevel portanto

mostrando forte inclinaccedilatildeo para facilitar a restituiccedilatildeo da aacutegua ao ribeiratildeo

A posiccedilatildeo do plano de declividade da vala mostra que na extremidade de

saiacuteda do canal formou forte desniacutevel em relaccedilatildeo ao piso da Faacutebrica sendo que no

ponto meacutedio o niacutevel da vala seria igual a 230 m (Figura 41)

133

Fig 41 Dimensotildees da Vala da roda e localizaccedilatildeo das evidecircncias de

esteios

134

Fig 42 VALA DA RODA HIDRAacuteULICA 1987 - I

Fig 43 VALA DA RODA HIDRAacuteULICA 1987 - II

135

5121 Evidecircncias de esteios

Em novembro de 1984 foram evidenciados trecircs pares de esteios nas

laterais externas das paredes da vala permitindo supor que as mesmas

funcionavam como pilares para alguma cobertura sobre a vala (ANDREATTA

1984 p 37)

As evidecircncias de esteios encontrados possuem formas circulares e

quadrangulares tendo os lados medidas semelhantes As evidecircncias localizadas

no lado leste apresentavam respectivamente 040 cm X 040 cm 045 cm X 045

cm e 045 cm X 040 cm Jaacute as evidencias encontradas no lado oeste as medidas

encontradas eram 050 X 055 cm e 050 X 050 cm Aleacutem disso apresentavam

espaccedilamentos semelhantes entre si da ordem de quatro metros e meio

Fig 44 EVIDENCIAS DE ESTEIOS vala da roda 1987

136

Fig 45 DETALHE DOS ESTEIOS

Fig 46 DETALHE DE UM ESTEIO

137

52 A Faacutebrica de Ferro os espaccedilos de produccedilatildeo 521 Area ldquoCrdquo

O relevo do terreno nesta aacuterea mostra irregularidade sendo que na

extremidade sul junto agrave parede limite a superfiacutecie do terreno apresenta uma

parte plana com cota mais elevada tendo sido medido pela topografia o niacutevel

448 enquanto que na porccedilatildeo central aparece um segundo platocirc com cota do

terreno igual a 343 e na extremidade norte junto ao ribeiratildeo do Ferro a cota

medida foi 0 85m ( ver figura 47)

As pesquisas nesta aacuterea ldquoCrdquo foram realizadas agrave partir de novembro de

1986 para a verificaccedilatildeo da estratigrafia com a abertura de 2 trincheiras na

extremidade norte e uma na parte central as quais tiveram as seguintes

caracteriacutesticas geomeacutetricas (comprimento X largura X profundidade) T1 4m X

065m X 080m T2 170m X 070m X 080m T3 140m X 065m X 095m

(ANDREATTA1984 p 5)

O resultado dos estudos estratigraacuteficos e de decapagem mostraram a

existecircncia unicamente de telhas e cravos aleacutem de alguns poucos fragmentos de

ceracircmica

138

Fig 47 ndash Topografia do Terreno da Aacuterea C (Seta indicaccedilatildeo das Trincheiras)

139

Fig 48 Vista Geral da Aacuterea C 1987

522 A Aacuterea B (ldquoForjardquo) Diferentemente do espaccedilo ldquoCrdquo analisado no item anterior a aacuterea

denominada ldquoBrdquo no desenho da planta baixa (anexo 9) apresentou importante

quantidade de materiais arqueoloacutegicos tais como metais liacuteticos ceracircmicas louccedila

e resiacuteduos de fundiccedilatildeo (escoacuterias)

No inicio das exploraccedilotildees do local no decorrer do ano de 1983 foram

observadas evidecircncias de paredes inclusive com amontoados de blocos de

arenito que mostravam possiacuteveis sinais de alteraccedilotildees construtivas

No ano seguinte orientado pela descoberta dos blocos acima

mencionados os quais foram caracterizados como possiacuteveis materiais de

construccedilatildeo a pesquisa arqueoloacutegica foi programada prevendo inicialmente a

140

remoccedilatildeo da vegetaccedilatildeo existente no espaccedilo assinalado ldquoBrdquo seguida da

decapagem do terreno

As pesquisas iniciais permitiram identificar a existecircncia da base de paredes

de uma antiga estrutura A partir desta descoberta foi possiacutevel reconstruir ldquoem

superposiccedilatildeo aos blocos de arenito da parede original da forjardquo 85 Tais blocos de

arenitos conforme foi possiacutevel constatar eram os mesmos materiais de

construccedilatildeo dos setores ldquoCrdquo e ldquoDrdquo

Fig 49 RECONSTITUICcedilAtildeO DAS PAREDES DA AacuteREA B 1984

85 Comunicaccedilatildeo Interna ao CENEA por Margarida Davina Andreatta Iperoacute 05dez1984

141

Fig 50 EVIDENCIAS DAS PAREDES DA AacuteREA B 1984 -

Fig 51 PAREDE DA AacuteREA B RECONSTITUIacuteDA 1984 - I

142

Fig 52 PAREDES DA AacuteREA B RECONSTITUIacuteDA 1984 - II

Durante a realizaccedilatildeo da pesquisa arqueoloacutegica com escavaccedilotildees nesta

aacuterea foi possiacutevel evidenciar a ocorrecircncia de significativa quantidade de peccedilas de

metais (ver Tabela Metais) tais como lacircminas plaquetas e cravos

aparentemente indicando a atividade de transformaccedilatildeo do ferro em peccedilas de

utilitaacuterios Tambeacutem foram encontrados liacuteticos fragmentos de telhas faianccedila de

origem portuguesa e ceracircmicas de produccedilatildeo regional ou local (neo-brasileira)

possivelmente ldquopara fins utilitaacuterios do grupo que habitou o localrdquo 86

86 Relatoacuterio de Atividades Periacuteodo 19-31 maio 1986 p 8

143

Fig 53 DECAPAGEM AacuteREA B 1984

Quanto ao piso arqueoloacutegico da aacuterea ldquoBrdquo observou-se que ele estava

situado entre 10 e 30 cm acima do solo original sendo constituiacutedo ldquode blocos de

arenito de diferentes tamanhos irregulares e cobertos por uma camada de terra

com huacutemus e raiacutezes tronco de aacutervores e a terra eacute latossolo (cor avermelhada) o

mesmo que se encontra entre os blocos de arenito nas paredes parece que

serviu como argamassa para assentar os blocos entre si e levantar a parederdquo

conforme descriccedilatildeo apresentada no Diaacuterio de Campo da pesquisadora Margarida

Davina Andreatta (ANDREATTA 1984 p 42) Notou-se tambeacutem que os blocos e

placas de arenito estavam ldquodispostos horizontalmente de maneira que indicavam

que a superfiacutecie do piso deveria ter sido nivelada com argila a fim de facilitar a

circulaccedilatildeo do homemrdquo (ANDREATTA 1984 p 42)

144

TABELA METAIS

CATEGORIAS NUacuteMERO DE FRAGMENTOS

Cravos 33

Plaquetas 06

Barras de ferro 02

Escoacuterias 03

Mineacuterios 03

ANDREATTA Inventaacuterio de Peccedilas 1983-1987

No interior do local da aacuterea ldquoBrdquo (ldquoforja) foram coletadas duas peccedilas

arqueoloacutegicas compreendendo dois fragmentos de ceracircmica com formato de

vasilhame para cozimento as quais foram encaminhadas para o laboratoacuterio da

FATEC ndash Faculdade de Tecnologia de Satildeo Paulo com o objetivo de obter a

dataccedilatildeo absoluta pelo meacutetodo da termoluminescecircnciardquo Este meacutetodo eacute aplicado

para o caso de materiais que apresentam quartzo em sua composiccedilatildeo tais como

ceracircmica vidros solos louccedilas faianccedilas etc

Uma dessas peccedilas era constituiacuteda de metade de um vasilhame de

pequenas dimensotildees de ceracircmica decorada com a presenccedila de apecircndice (alccedilas)

identificada conforme classificaccedilatildeo arqueoloacutegica como de produccedilatildeo local ou

regional (neo-brasileira) O exame visual dessa peccedila mostra a existecircncia de um

apecircndice (alccedila) que identifica a influencia do europeu na fabricaccedilatildeo daquele

objeto permitindo deduzir que o local teria sido um siacutetio de contato (entre o

indiacutegena e o europeu)

O resultado do ensaio de dataccedilatildeo absoluta dessa peccedila arqueoloacutegica pelo

meacutetodo da termoluminescecircncia apontou a idade de 520 +- 75 anos permitindo

avaliar a data da fabricaccedilatildeo entre 1411 a 1561 conforme Certificado da FATEC

datado de 21 de junho de 2006 (Relatoacuterio de Ensaio ndash Anexo 1) Levando em

conta os dados apresentados pela pesquisa histoacuterica para aquele local pode-se

145

supor que a data mais provaacutevel da fabricaccedilatildeo da peccedila seja em meados do seacuteculo

XVI eacutepoca em jaacute ocorria presenccedila do explorador europeu (Figuras 54 55 56)

Fig 53 VASILHAME CERAcircMICA ndash 0106 - SEacuteCULO XVI -I Idade de 520 +- 75 anos

Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema

Fig 54 VASILHAME CERAcircMICA ndash 0106 - AacuteREA B SEacuteCULO XVI - II

Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema

146

Fig 55 VASILHAME CERAcircMICA ndash 0106 - AacuteREA B SEacuteCULO XVI - III

Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema

Descriccedilatildeo Nuacutemero de Registro 0106

Niacutevel 015 m de profundidade

Laacutebio arredondado

Borda extrovertida inclinada externa

Diacircmetro de boca 014 m

Acircngulo da parede 115ordm

Vasilhame simeacutetrico profundo inflectido de boca ampliada e com

apecircndices lisos em forma de rolete com evidencias de pressatildeo na extremidade

para fixaccedilatildeo

Apresenta as seguintes decoraccedilotildees inciso na posiccedilatildeo vertical com 015m

de comprimento (em grupo de 3 incisos) distanciando cada grupo em 001m

dispostos em duas fileiras sendo a primeira proacutexima al laacutebio e a segunda junto a

altura do apecircndice

147

O bojo eacute liso e a sua base escovada e apresenta marcas de fuligem na

parte externa e sinais de desgaste por atrito na parte interna da base do

vasilhame

O outro vasilhame ceracircmico encontrado na aacuterea B identificada como de

procedecircncia local ou regional (neo-brasileira) apresenta caracteriacutesticas

semelhantes e tambeacutem a mesma dataccedilatildeo do vasilhame de ceracircmica

anteriormente descrito (Figura 57 58) Este artefato foi encontrado a 030 cm da

superfiacutecie e foi em parte reconstituiacutedo e levado para o exame de dataccedilatildeo pelo

processo de termoluminscecircncia ao Laboratoacuterio de Vidros e Dataccedilatildeo da Faculdade

de Tecnologia de Satildeo Paulo - FATEC O resultado do ensaio apontou a idade de

540 +- 75 anos correspondendo a possiacuteveis datas de fabricaccedilatildeo daquele artefato

entre 1391 e 1541 sendo esta uacuteltima data a mais provaacutevel(Relatoacuterio de Ensaio

Anexo 1)

Fig 57 VASILHAME CERAcircMICO ndash 0122 - AacuteREA B SEacuteCULO XVI - I Idade de 540 +- 75 anos

Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema

148

Fig 58 VASILHAME CERAcircMICO ndash 0122 - AacuteREA B SEacuteCULO XVI - II Idade de 540 +- 75 anos

Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema Descriccedilatildeo Nuacutemero de registro 0122

Niacutevel 030 m de profundidade

Tipo de laacutebio arredondado

Tipo de borda extrovertida inclinada externa

Diacircmetro da boca 028m

Acircngulo da parede 110ordm

Fragmento de vasilhame simeacutetrico de contorno inflectido com as seguintes

decoraccedilotildees parede lisa com engobo branco parede externa com banho de

engobo branco com uma linha incisa paralela a 001m do laacutebio Entre esta

primeira decoraccedilatildeo e o bojo haacute decoraccedilatildeo escovada com inclinaccedilatildeo

Na borda haacute ainda um apecircndice convexo com sinais de fixaccedilatildeo e nas

extemidades haacute pressatildeo de fixaccedilatildeo Entre a borda e o bojo apresenta decoraccedilatildeo

regulada contornando o vasilhame O bojo tambeacutem apresenta decoraccedilatildeo

escovada quase horizontal

149

Uma terceira peccedila encontrada no interior da aacuterea ldquoBrdquo eacute uma faianccedila

decorada de origem portuguesa e formada por fragmentos de louccedila de uso

domeacutestico a qual tambeacutem foi submetida a uma dataccedilatildeo relativa mediante

comparaccedilatildeo feita com auxilio de cataacutelogo (Itineraacuterio da Faianccedila do Porto e Gaia

publicaccedilatildeo do Museu Nacional de Soares dos Reis sem data) Os fragmentos

foram localizados em parte no interior da aacuterea ldquoBrdquo e outra parte na aacuterea externa

dessa mesma aacuterea sendo este uacuteltimo junto a um vestiacutegio de estrutura do forno 1

aacuterea A1 (Figura 59)

O exame visual sobre a faianccedila reconstituiacuteda a partir de cinco fragmentos

separados permitiu reconhecer com base no documento acima mencionado que

aquela peccedila era um utensiacutelio portuguecircs de uso domeacutestico a qual pode ser

descrita como ldquotiacutepicas tijelas malegueiras decoradas no fundo e na orla com

filetes concecircntricos azul [] que apresentam temas decorativos recorrentes

dentro das faianccedilas conhecidas para a segunda metade do seacuteculo XVII (GOMES

BOLTELLO p148)

Conforme parecer sobre a mesma faianccedila acima descrita apresentado por

Paulo Dordio arqueoacutelogo pesquisador da Casa do Infante Porto ndash Portugal em

28 de abril de 2004 aquela peccedila de faianccedila apresenta uma ldquodecoraccedilatildeo simples

que exibe com toques de pincel espaccedilados junto ao bordo filetes simples

resultando ciacuterculos concecircntricos e espiral no fundo tudo em azul aponta para

uma cronologia que se centraraacute no seacuteculo XVIIrdquo 87

87 Parecer sobre a faianccedila encontrada no Siacutetio Afonso Sardinha feita por Paulo Dordio arqueoacutelogo pesquisador da Casa do Infante Porto ndash Portugal em 28 abr 2004

150

Fig 59 FAIANCcedilA - AacuteREA B [SEacuteC XVII]

Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema

53 Area E Sul da Faacutebrica de Ferro

A pesquisa arqueoloacutegica realizada na aacuterea E Sul externa da Faacutebrica de

Ferro revelou a existecircncia de amontoados de resiacuteduos de fundiccedilatildeo da magnetita

conhecidos como escoacuteria os quais se distribuem por uma ampla aacuterea do terreno

identificada como escorial sendo que num local adjacente agrave face sul da estrutura

denominada aacuterea ldquoB se apresenta maior concentraccedilatildeo (ver anexo 9)

Uma amostra desse material foi encaminhada para anaacutelise no

Departamento de Mineralogia e Geotectocircnica GMG do Instituto de Geociecircncias

da Universidade de Satildeo Paulo aos cuidados de Daniel Atencio Professor

Associado daquele Departamento o qual constatou ser aquela amostra ldquo[]

provavelmente restos de fundiccedilatildeo Trata-se de wuumlstita (FeO) mais ferro (Fe)

Esses materiais satildeo muito raros como minerais mas comuns em fundiccedilotildeesrdquo88

88 Anaacutelise elaborada por Daniel Atencio Professor Associado do Departamento de Mineralogia e Geotectocircnica GMG IGUSP e enviado por e-mail no dia 21 set 2005

151

Como indica este parecer a amostra se constituiacutea de uma escoacuteria ldquoresto

de fundiccedilatildeordquo contendo wuumlstita (FeO) e ferro caracterizando desta forma o material

do escorial citado

Fig 60 ESCOacuteRIA RESTOS DE FUNDICcedilAtildeO AacuteREA E

Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema

Observe-se que a presenccedila do metal de ferro impregnado nessa escoacuteria

era resultante da teacutecnica de fundiccedilatildeo para fabricaccedilatildeo do ferro empregada no

Brasil ateacute o iniacutecio do seacuteculo XIX Com a introduccedilatildeo do processo de altos-fornos no

Brasil foi possiacutevel melhorar o aproveitamento do mineacuterio de ferro durante o

processo de fundiccedilatildeo

Nesta mesma aacuterea E foi encontrada uma grande quantidade de telhas

localizadas na parte externa das aacutereas ldquoBrdquo e ldquoCrdquo anteriormente descritas Foram

coletadas 930 fragmentos de telhas as quais foram localizadas ao longo de uma

faixa do terreno com largura da ordem de 060 e 080 cm paralelamente a parede

sul das aacutereas ldquoBrdquo e ldquoCrdquo sugerindo corresponder a mesma posiccedilatildeo sob um ldquobeiral

do telheiro que cobria as respectivas aacutereasrdquo (ANDREATTA 1987 p36v) (Anexo

15)

152

As telhas encontradas permitem afirmar que no local havia uma cobertura

sendo que os trabalhos de dataccedilatildeo sobre um exemplar de telha (Figura 61)

executado pelo meacutetodo de termoluminescecircncia pelo Laboratoacuterio de Vidros e

Dataccedilatildeo da Faculdade de Tecnologia de Satildeo Paulo ndash FATEC acusou uma

dataccedilatildeo (em anos) de 280 +- 40 o que equivale a afirmar que aquele fragmento

foi fabricado entre os anos de 1686 a 1766 periacuteodo correspondente a pelo

menos dois projetos de Faacutebrica de Ferro para aquele local o de Luiz Lopes de

Carvalho e o de Domingos Pereira Ferreira sendo que este uacuteltimo empreendedor

esteve ali estabelecido durante um periacuteodo de no miacutenimo 12 anos (Relatoacuterio de

Ensaio Anexo 1)

A partir dos exames dos fragmentos das telhas encontradas tendo por

base o tipo de pasta coloraccedilatildeo e decoraccedilatildeo foi possiacutevel identificar seis grupos

distintos daquele material conforme a tabela de classificaccedilatildeo abaixo

(ANDREATTA 1987 p21)

Classificaccedilatildeo Caracteriacutestica

Tipo I Branca com riscos (podem ter sentido

longitudinal transversal em X ou em cruz) -

Predominante

Tipo II Branca lisa

Tipo III Vermelha lisa

Tipo IV Marron lisa

Tipo V Vermelha marcadas com granulaccedilatildeo grosseira

Tipo VI Vermelha lisa e com granulaccedilatildeo grosseira

(ANDREATTA 1987 p22)

Quanto a decoraccedilatildeo foram identificados quatro tipos de motivos conforme

os itens descritos abaixo

153

Tipo 1 - linhas digitais horizontais formados por duas linhas relativamente finas

(10 cm) paralelas e orientadas de uma extremidade a outra da telha A natureza

dessas linhas indica que foram confeccionadas em alguns casos por meio da

utilizaccedilatildeo de dedos (indicador e meacutedio)

Tipo 2 - linhas digitais associadas neste caso a decoraccedilatildeo eacute composta por uma

uacutenica linha com a largura de 03 a 05 cm traccedilada na posiccedilatildeo horizontal associada

a uma outra decoraccedilatildeo de forma semicircular

Tipo 3 - linhas digitais paralelas e inclinadas a decoraccedilatildeo apresenta linhas de 10

cm inclinadas e entrelaccediladas

Tipo 4 - linhas digitais inclinadas apresentam linhas com 10 a 15 cm

154

Fig 61 TELHA (AacuteREA E) ndash SEacuteCULO XVIII Idade 280 +- 40 (tn 255 cm) Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema

155

Fig 62 TELHA (AacuteREA E) (tn30 cm) Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema

Fig 63 TELHA AacuteREA E (tn 33 cm) Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema

156

531 Fornos de fundiccedilatildeo na aacuterea externa da Faacutebrica (Aacuterea A1) Na aacuterea externa agrave Faacutebrica de Ferro localizada em diversas posiccedilotildees ao sul

e leste da edificaccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro inclusive na aacuterea aqui denominada de

escorial a pesquisa arqueoloacutegica mostrou a existecircncia de pequenos fornos de

fundiccedilatildeo do tipo ldquofornos baixosrdquo (Anexo 9)

Nessa mesma aacuterea junto ao local denominado ldquoArdquo foi identificado um dos

fornos de fundiccedilatildeo o qual foi denominado de ldquoforno1rdquo da aacuterea A1 junto ao qual

foram encontrados diversos materiais arqueoloacutegicos fragmento de ceracircmicas um

material liacutetico identificado como ldquoraspadorrdquo uma garrafa de greacutes fragmentos de

faianccedila portuguesa e telhas As evidecircncias de ceracircmicas encontradas nessa aacuterea

constituem artefatos relacionados ao grupo social de ocupaccedilatildeo colonial

Fig 64 RASPADOR PLANO-CONVEXO AacuteREA E

157

Fig 65 GARRAFA GRES AacuteREA A FORNO-1

Tambeacutem foi localizado um afloramento de rocha nas proximidades da

Faacutebrica margem esquerda do ribeiratildeo do Ferro o qual apresentava marcas de

uso possivelmente para afiar ferramentas (ANDREATTA 1983 p 18)

5311 Forno de Fundiccedilatildeo 1

O Forno 1 era do tipo conhecido como ldquoforno baixordquo sendo o uacutenico

encontrado junto a Faacutebrica de Ferro Entretanto dois outros fornos baixos foram

localizados em um local mais distante (da ordem de 50m) e denominado aacuterea A2

da referida Faacutebrica possivelmente fazendo parte de um outro conjunto de

produccedilatildeo de ferro (Anexo 9)

Os trabalhos de reconhecimento arqueoloacutegico mostraram que o Forno 1

(aacuterea A1) foi construiacutedo sobre uma base retangular com blocos de arenito sendo

158

que duas paredes foram erguidas tambeacutem com blocos de arenito (lados Norte e

Oeste ) enquanto que as duas outras faces foram encaixadas no proacuteprio terreno

rochoso do afloramento de arenito (lados Sul e Leste) aproveitando o relevo

inclinado no local

Uma descriccedilatildeo relacionada ao Forno 1 (aacuterea A1) feita pela pesquisadora e

arqueoacuteloga Margarida Davina Andreatta informa que

uma parte da ldquoconcavidaderdquo (lado Leste) eacute o proacuteprio afloramento

de arenito e o lado Sul tambeacutem enquanto que os lados Norte e

Oeste satildeo revestidos de blocos de arenito e no centro haacute

pequenos blocos tambeacutem de arenito que provavelmente rolaram

da superfiacutecie do proacuteprio muro de pedras da forja (ANDREATTA

1986 p9)

Os dados da pesquisa arqueoloacutegica mostraram ainda que o Forno 1 (aacuterea

A1) apresentava em planta as seguintes dimensotildees comprimento 340m (norte-

sul) largura 260m (leste ndash oeste) e profundidade de 085m (Andreatta 1986

p10)

Fig 66 DECAPAGEM FORNO1 AacuteREA A1 1987

159

Fig 67 VESTIacuteGIOS DO FORNO DE FUNDICcedilAtildeO1- (AacuteREA A1)89

532 Fornos de fundiccedilatildeo da Aacuterea A2 A pesquisa arqueoloacutegica mostrou vestiacutegios de dois outros fornos de

fundiccedilatildeo localizados subjacentes a um morrote denominado B nesta aacuterea A2 a

qual dista cerca de 50 metros ao Sul do local da aacuterea A1 onde existe uma ruiacutena

da Faacutebrica de Ferro O morrote B (ver Figuras 13 e 68) apresentava dimensotildees

de 1280 metros de comprimento por 250m de largura e 135 m altura Aleacutem do

forno de fundiccedilatildeo foram encontrados tijolos telhas e fragmentos de ceracircmica

(ANDREATTA 1987 p65-66) ( Anexo 9)

89 Ver em Pesquisas arqueoloacutegica prosseguem em Ipanema Jornal Cruzeiro do Sul Sorocaba 19 de marccedilo de 1987p 1

160

Fig 68 MORROTE E FORNOS 1 E 2 ndash AREA A2

161

Fig 69 CROQUI AacuteREA A 2 MORROTE B ndash FORNOS 1 E 2 Desenho de Maacutercia Gutierrez Escala 120

162

5321 Forno de fundiccedilatildeo 1 (aacuterea A2) O forno de fundiccedilatildeo 1 da aacuterea A2 caracteriza-se tambeacutem como do tipo

baixo Durante a pesquisa arqueoloacutegica esta evidecircncia se apresentou como o

forno de fundiccedilatildeo mais bem conservado dentre aqueles encontrados Este forno

tem a forma circular com 070 m de diacircmetro interno e 100 m de diacircmetro

externo com 030 m de profundidade A estrutura apresenta na base um vatildeo de

015 m que corresponde agrave abertura atraveacutes da qual se fazia a ldquocorrida das

escoacuteriasrdquo (Figuras 70 e 71)

A parede circular do Forno 1 (aacuterea A2) eacute ldquo assentada diretamente sobre o

solo e eacute constituiacuteda por tijolos e fragmentos de telhas e argamassa com argila do

proacuteprio solo originalrdquo (ANDREATTA 1987 p65-66) Junto ao vatildeo existente no

piso do forno foi feito um pequeno corte (025 m X 025 m X 010 m) para

evidenciar com maior precisatildeo a funccedilatildeo que teria aquela abertura em relaccedilatildeo agrave

estrutura do forno de fundiccedilatildeo

Com base nas investigaccedilotildees arqueoloacutegicas desenvolvidas foi possiacutevel

evidenciar a existecircncia de uma camada de 002 m de ldquosolo compactado e

queimado e com maior resistecircncia em relaccedilatildeo do restante do solo original abaixo

dele e do entornordquo( (ANDREATTA 1987 p65-66) comprovando que de fato

aquela abertura correspondia ao orifiacutecio responsaacutevel pela drenagem das escoacuterias

Esta abertura era comum a todos os fornos de fundiccedilatildeo do tipo forno baixo com

emprego do meacutetodo direto

163

Fig 70 VESTIacuteGIOS DE FORNO DE FUNDICcedilAtildeO 1- AacuteREA A2 1988

164

Fig 71 CROQUI DO FORNO 1 AacuteREA A2 (1987) Desenho de Marcia Gutierrez

165

5322 Forno de fundiccedilatildeo 2 (aacuterea A2)

O vestiacutegio arqueoloacutegico do Forno 2 foi encontrado a 045 m de

profundidade correspondendo a um forno do tipo baixo apresentando forma

circular construiacutedo com a utilizaccedilatildeo de telhas e ldquotijolosrdquo os quais eram materiais

diferentes daqueles encontrados em outras evidecircncias de fornos neste Sitio Esta

constataccedilatildeo denota que natildeo havia uma regra determinada para a construccedilatildeo de

fornos no que se refere agrave utilizaccedilatildeo de materiais de construccedilatildeo podendo haver

alternativas de uso de outros materiais conforme a disponibilidade de materiais

no local (Figuras 72 73 e 74)

Os registros do trabalho arqueoloacutegico permitiram evidenciar que o Forno 2

apresentava as seguintes dimensotildeesldquodiacircmetro de 110 m com uma borda de 28

cm de largura com a presenccedila de fragmentos de telhas tijolos e argamassa

(latossolo vermelho)rdquo ldquoDo interior do forno foram retiradas telhas (fragmentos)

em quantidade e tijolos e barro cozido com grande presenccedila de mineacuterio de ferrordquo

(ANDREATTA 1987 p65-66)

Quanto ao barro cozido (argila) encontrado no interior desse forno teria

sido provavelmente resto de um revestimento interno jaacute que o material do qual

ele foi construiacutedo (telhas e tijolos) estava disposto de forma bastante irregular A

utilizaccedilatildeo da argila como revestimento nos fornos de fundiccedilatildeo era muito comum

dando um efeito refrataacuterio ao forno fazendo com que natildeo fosse desperdiccedilada a

temperatura elevada que era proporcionada pela combustatildeo do carvatildeo vegetal no

interior do forno e necessaacuteria para separar o metal de ferro do mineacuterio no caso a

Magnetita

166

Fig 72 FORNO DE FUNDICcedilAtildeO 2 ndash AacuteREA A2 1988

Fig 73 FORNO DE FUNDICcedilAtildeO 2 ndash AacuteREA A2 1988

167

Fig 74 FORNO DE FUNDICcedilAtildeO 2 ndash AacuteREA A2 1988

168

CAPITULO 6

INTERPRETACcedilOtildeES DOS DADOS ARQUEOLOacuteGICOS

No Capiacutetulo 5 foram apresentados os resultados da pesquisa arqueoloacutegica

desenvolvida no Siacutetio Afonso Sardinha que envolveram trabalhos de

reconhecimento de campo segundo planos de escavaccedilatildeo coleta de artefatos

levantamentos planialtimeacutetricos e elaboraccedilatildeo de croquis tudo devidamente

registrado no Diaacuterio de Campo da arqueoacuteloga Margarida Davina Andreatta

No presente Capiacutetulo apresentam-se os resultados das anaacutelises detalhadas

dos registros arqueoloacutegicos que resultaram da pesquisa de campo e em seguida

interpretadas as informaccedilotildees anteriormente consolidadas com base nos

conhecimentos da Arqueologia Histoacuterica e Histoacuteria da Teacutecnica e da Ciecircncia

Na elaboraccedilatildeo da siacutentese interpretativa foi necessaacuterio em

complementaccedilatildeo valer-se de instrumentos disponiacuteveis em outras aacutereas do

conhecimento tais como Geologia Mineralogia Metalurgia Engenharia Civil

dentre outras aacutereas

Nesta fase dos estudos arqueoloacutegicos foram elaborados exames visuais e

catalograacuteficos visando a dataccedilatildeo relativa inclusive com o envio de imagem para

fins de comprovaccedilatildeo para Paulo Dordio arqueoacutelogo pesquisador da Casa do

Infante Porto ndash Portugal

Tambeacutem encaminhadas trecircs amostras de ceracircmica de utensiacutelios e telhas

as quais foram submetidas a testes de dataccedilatildeo absoluta com base em ensaios

de Termoluminescecircncia pelo Laboratoacuterio de Vidros e Dataccedilatildeo da Faculdade de

Tecnologia de Satildeo Paulo ndash FATEC sob a coordenaccedilatildeo da Professora Doutora

Sonia H Tatumi (Relatoacuterio de Ensaio Anexo 1)

169

Por outro lado amostras de resiacuteduos de fundiccedilatildeo (escoacuterias) foram

submetidas a anaacutelise quiacutemica-mineraloacutegica no laboratoacuterio do Departamento de

Mineralogia e Geotectocircnica ndash GMG Instituto de Geociecircncias da Universidade de

Satildeo Paulo sob a responsabilidade do pesquisador e Professor Associado Daniel

Atencio

61 Avaliaccedilatildeo das caracteriacutesticas do Arranjo das Estruturas Ao analisarmos o conjunto das estruturas arqueoloacutegicas entatildeo

descobertas considerando o contexto relacionado agrave produccedilatildeo do ferro na Europa

entre os seacuteculos XVI ao XVIII e levando em conta os conhecimentos que emanam

da Histoacuteria Colonial do Brasil e da Histoacuteria da Teacutecnica eacute possiacutevel estabelecer

muitas semelhanccedilas entre os arranjos das ldquoferrariacuteas de aacuteguardquo destinadas a

produccedilatildeo de ferro na Espanha (Paiacutes Basco) e os vestiacutegios descobertos no vale

das Furnas (Sitio Arqueoloacutegico Afonso Sardinha)

Um dos aspectos mais importantes que demonstram tal semelhanccedila entre

as ldquoferreriacuteas de aacuteguardquo e a Faacutebrica do Vale das Furnas refere-se agrave localizaccedilatildeo das

estruturas numa posiccedilatildeo de curva do ribeiratildeo do Ferro de onde era possiacutevel

captar e desviar as aacuteguas mediante a construccedilatildeo de um sistema hidraacuteulico

formado pelas seguintes unidades (a) Dique para represamento do ribeiratildeo (b)

Canal de Derivaccedilatildeo para desvio das aacuteguas (c) Estrutura de Vala com alojamento

de roda drsquoaacutegua e (d) Canal de restituiccedilatildeo das aacuteguas para o ribeiratildeo do Ferro

Tambeacutem chamam a atenccedilatildeo a arquitetura da principal estrutura construiacuteda

localizada na aacuterea A1 a qual mostra diversos recintos com a divisatildeo

caracteriacutestica das ldquoferreriacuteasrdquo encontradas na Espanha nos seacuteculos XVI assim

como as dimensotildees da edificaccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro construiacuteda numa aacuterea

retangular com 13m de largura por 16 m de comprimento No caso das ldquoferreriacuteasrdquo

170

bascas as edificaccedilotildees satildeo igualmente retangulares com as dimensotildees de 12 m de

largura por 17 metros de comprimento

Vale tambeacutem mencionar que arranjo semelhante pode ser observado no

caso da edificaccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro que entrou em operaccedilatildeo

em 1607 (ver fig 27)

Observa-se tambeacutem o emprego da alvenaria de pedra - teacutecnica construtiva

introduzida no Brasil pelos primeiros colonizadores como no caso da construccedilatildeo

da Casa da Torre de Garcia DrsquoAvila (ano de 1549) na Praia do Forte atual

municiacutepio de Mata de Satildeo Joatildeo Litoral Norte da Bahia (HOLANDA 2002)

Essa mesma teacutecnica exceto pequenas variaccedilotildees respeitavam as tradiccedilotildees

ibeacutericas tendo sido empregada no Brasil tambeacutem para construccedilotildees de

residecircncias edifiacutecios puacuteblicos igrejas e fortificaccedilotildees principalmente no litoral As

paredes feitas de pedra eram entatildeo revestidas com argamassa de areia e cal

obtido pela queima de cascas de ostras encontradas em depoacutesitos no litoral

Nota-se conforme registros das Atas da Cacircmara da Vila de Satildeo Paulo para o ano

de 1609 que essa mesma teacutecnica que se utilizava da cal como argamassa

tambeacutem foi utilizada na construccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro (1607)

(NEME 1959 p 348)

62 As ldquoferreriacuteasrdquo de aacutegua na Peniacutensula Ibeacuterica

Na Europa e principalmente na Espanha as ldquoferreriacuteas de aguardquo se

expandiram a partir do seacuteculo XIV90 Assim eram chamados os edifiacutecios

destinados ao trabalho de fundiccedilatildeo do ferro que utilizavam a forccedila motriz

hidraacuteulica para acionar os foles dos fornos de fundiccedilatildeo e os malhos

90 Ruta de las Minas y Ferreriacuteas Desde las primitivas instalaciones hasta el siglo XVIII Disponiacutevel em lthttpwwwbizkaianetkulturakirol_gazteriaFTPGazteriapaginadedesplegablesPrimitivas_instalcionespdfgt Acesso em 30 mar 05

171

Essas ldquoferreriacuteas de aacuteguardquo para viabilizar o seu funcionamento exigiam

certas condiccedilotildees fisiograacuteficas cujos componentes essenciais satildeo a presenccedila do

mineacuterio de ferro nas proximidades madeiras para produccedilatildeo de carvatildeo e cursos

drsquoagua com corredeiras e volume de aacuteguas suficientes para a geraccedilatildeo de forccedila

motriz

Hubo dos tipos de ferreriacuteas de agua las que se valiacutean del caudal

de los rios que funcionaban todo el antildeo y las que dependiacutean de

arroyos que no entraban em funcionamiento hasta las

temporadas de otontildeo e invierno cuando la lluviacuteas incrementaban

el caudal de los regatos y la fuerza del agua Estas uacutetimas no

llegaron a ser consideradas como autenticas ferreriacuteas de agua

Em Biskaia se disignaba a las primeras como ldquode rio caudalrdquo y a

las segundas como ldquoregaterasrdquo Tambieacuten em Gipuzkoa se

diferenciaban unas de otras com los nombres de ldquozeharrolakrdquo y

ldquoagorrolakrdquo respectivamente

Para aprovechar la fuerza del agua era imprescidible que la

ferreriacutea estuviesse construiacuteda em el lugar adecuado Debiacutea estar

situada em la curva de um rio em um lugar em el que fuese faacutecil

desviar el agua de su curso natural a traveacutes de um sistema de

canales y anteparas para que despueacutes de hacer rotar la rueda

hidaulica pudiesse volver a su cauce naturalCuando no era

posible conseguir esta situacioacuten se recurriacutea a crear um sistema

artificial de presas que contuviesen el agua em um niacutevel maacutes

elevado de forma que para mover las ruedas hidraacuteulicas bastaba

com dejar caer la aacutegua sobre ellas 91

91 Ruta de las Minas y Ferreriacuteas Desde las primitivas instalaciones hasta el siglo XVIII Disponiacutevel em lthttpwwwbizkaianetkulturakirol_gazteriaFTPGazteriapaginadedesplegablesPrimitivas_instalcionespdfgt

172

Fig 75 ASPECTO DE UMA ldquoFERRERIacuteA DE AGUArdquo SEacuteCULO XVII92

92 Felipe III visita la ferreriacutea de Yarza en Beasain (Guipuacutezcoa) en 02 noviembre de 1615

173

As plantas das ldquoferreriacuteas de aacuteguardquo encontradas na regiatildeo basca da

Espanha obedeciam a um arranjo de planta retangular medindo em meacutedia 12 X

17 metros com cobertura de duas aacuteguas sendo que suas dependecircncias e

instalaccedilotildees geralmente compreendiam duas estruturas baacutesicas para a produccedilatildeo

de ferro o sistema hidraacuteulico ao qual jaacute se fez referecircncia e o edifiacutecio de

produccedilatildeo

A construccedilatildeo desse edifiacutecio principal era executada por construtores

especializados em teacutecnicas de edificaccedilotildees em alvenaria de pedra bem como na

instalaccedilatildeo de sistemas hidraacuteulicos exigindo a participaccedilatildeo de carpinteiros os

quais seriam os responsaacuteveis pela construccedilatildeo da roda drsquoaacutegua dos eixos da caixa

de aacutegua e das estruturas para o telhado 93

Para a operaccedilatildeo das ldquoferreriacuteasrdquo era necessaacuterio contar com pessoal teacutecnico

com conhecimentos tanto em mineraccedilatildeo quanto na fundiccedilatildeo bem como no

manejo dos dispositivos de utilizaccedilatildeo da energia das aacuteguas dos rios atraveacutes do

sistema hidraacuteulico

Este edifiacutecio destinado a produccedilatildeo abrigava diversos compartimentos

sendo o maior deles reservado agrave oficina a qual deveria se localizar ao lado da

Vala onde estava instalada a roda drsquoaacutegua que acionavam os eixos responsaacuteveis

pela movimentaccedilatildeo do malho e foles

O espaccedilo destinado agrave oficina era organizado de modo a levar em conta

duas unidades fundamentais de produccedilatildeo do ferro o forno de fundiccedilatildeo e o malho

A disposiccedilatildeo desses equipamentos no interior da oficina natildeo era aleatoacuteria uma

vez que a teacutecnica empregada para a fabricaccedilatildeo do ferro exigia que aqueles

Disponivel em lthttpwwweuskomediaorgeuskomediaSAunandigt Acesso em 20 marccedilo 2005 93 FERNANDEZA C La construccioacuten del hierro ndashmazos y ferreriacuteas Escuela Universitaacuteria de Arquitectos tecnicos de la Corunatilde Disponiacutevel em wwwguillenderohancomEXPOGRImzos-memoriahtm Acesso em 07mar06

174

equipamentos estivessem posicionados nas proximidades tendo em vista o fato

de os trabalhos serem complementares

Aleacutem da oficina o edifiacutecio principal deveria abrigar depoacutesitos de mateacuteria-

prima como carvatildeo vegetal e mineacuterio de ferro jaacute calcinado (tostado) e uma aacuterea

comum de descanso

Fig 76 SISTEMA DE ldquoPUJOacuteN TUERTOrdquo foles e malho satildeo acionados com o emprego de uma uacutenica roda hidraacuteulica94

94 Ruta de las Minas y Ferreriacuteas Desde las primitivas instalaciones hasta el siglo XVIII Disponivel emhttpwwwbizkaianetKulturaKirol_gazteriaFTPGazteriapaginadedesplegablePrimitivas_instalacionespdf Acesso em 17 novembro de 2006

175

Fig 77 TRABALHO DE EXTRACcedilAtildeO DA MASSA DE FERRO 63 Sistema hidraacuteulico produccedilatildeo da forccedila motriz 631 Dique de represamento do ribeiratildeo do Ferro

As investigaccedilotildees de campo natildeo possibilitaram localizar o Dique de

represamento do ribeiratildeo do Ferro possivelmente em razatildeo da fragilidade dessas

estruturas diante da forccedila das aacuteguas

Entretanto vale registrar o testemunho de Luiz Lopes de Carvalho o qual

em carta dirigida ao Rei de Portugal em maio de 1692 afirmava que

por experiecircncia que fiz pelas minhas matildeos pois fabricando um

Engenho muito limitado por natildeo ter posses que mais tirava todos

os dias este rendimento de um quintal de ferro de duas pedras

176

poreacutem soacute cinco dias continuei nesta oficina em razatildeo de ir uma

cheia e como pela pobreza afabriquei com pouca fortaleza se

arruinou ficando incapaz de poder continuar na faacutebrica95

632 Canal de Derivaccedilatildeo das aacuteguas

As condiccedilotildees de erosatildeo na aacuterea do possiacutevel traccedilado tambeacutem natildeo

permitiram localizar a estrutura do dique responsaacutevel pelo desvio das aacuteguas no

ribeiratildeo do Ferro bem como localizar a comporta responsaacutevel pelo controle do

acesso de aacuteguas em direccedilatildeo ao canal

Deve-se ressaltar que a estrutura do dique eacute necessaacuteria para a elevaccedilatildeo

do niacutevel da aacutegua do ribeiratildeo para o desvio enquanto que a comporta permitiria

regular a vazatildeo em direccedilatildeo ao Canal de Derivaccedilatildeo A aacutegua conduzida atraveacutes do

deste Canal de derivaccedilatildeo impulsionada pela gravidade alcanccedilaria a entrada da

Vala sendo em seguida recolhida em um depoacutesito posicionado sobre aquela

estrutura

A Figura 78 mostra um possiacutevel traccedilado do referido canal sendo que no

desenho o iniacutecio do canal foi posicionado num ponto do ribeiratildeo acima da cota

583m conforme o levantamento planialtimeacutetrico executado na aacuterea do Siacutetio

Arqueoloacutegico Afonso Sardinha96

95 Carta enviada por Luiz Lopes de Carvalho ao Rei de Portugal datada de maio de 1692 RODRIGUES Leda Maria Pereira As minas de ferro em Biraccediloiaba ndash Satildeo Paulo seacuteculos XVI XVII XVIII Anais do III Simpoacutesio dos Professores Universitaacuterios de Histoacuteria Franca 1966 p 218 96 Planta Planialtimeacutetrica Siacutetio Arqueoloacutegico Histoacuterico Afonso Sardinha Escala 1200 CENEA sd

177

Fig 78 TRACcedilADO ESQUEMAacuteTICO DO CANAL DE DERIVACcedilAtildeO

633 Vala da roda A finalidade da estrutura da Vala eacute a de abrigar a roda drsquoaacutegua dispositivo

necessaacuterio para transformar a energia hidraacuteulica em energia mecacircnica para

movimentar os equipamentos e ferramentas da Faacutebrica de Ferro

A Vala da roda foi construiacuteda com paredes de blocos de pedras de modo a

permitir o fluxo da correnteza e ao mesmo tempo proteger o terreno contra as

erosotildees impedindo as infiltraccedilotildees das aacuteguas para o interior das dependecircncias da

Edificaccedilatildeo Principal

O fato de natildeo terem sido encontrados fragmentos de telhas no interior da

Vala quando foram realizadas as pesquisas arqueoloacutegicas parecem indicar que

178

os esteios natildeo serviam para sustentar telhado Por outro lado a Histoacuteria da

Teacutecnica mostra que outras instalaccedilotildees da mesma eacutepoca destinadas a produccedilatildeo

da energia hidraacuteulica tambeacutem natildeo apresentavam telhado na aacuterea da Vala

Sendo assim sobram duas hipoacuteteses para explicar a existecircncia daqueles

esteios A primeira hipoacutetese eacute que tais esteios serviriam para sustentar uma calha

de madeira com uma extensatildeo da ordem de 12 metros responsaacutevel pela

conduccedilatildeo e descarga da aacutegua diretamente sobre as paacutes da roda valendo-se de

um dispositivo denominado empejeiro ou pejador que servia para o controle da

quantidade de aacutegua descarregada sobre a roda (KATINSKY 1985 p 230)

Outra possibilidade eacute que os esteios sustentavam um reservatoacuterio de aacutegua

- o ldquobanzaordquo - responsaacutevel pelo repouso do liacutequido de modo a garantir a sua

descarga controlada sobre as paacutes da roda conforme os projetos comumente

encontrados nas construccedilotildees das ldquoferreriacuteas de aguardquo da regiatildeo Basca - Espanha

(Figura 79)

A laje de pedra do fundo da Vala mostra forte declividade da Vala sendo

que na extremidade superior (coincidente com o ponto de interligaccedilatildeo com o

Canal de Derivaccedilatildeo) a cota eacute igual a 453 enquanto que na extremidade inferior

junto a margem do ribeiratildeo do Ferro a cota do terreno eacute igual a 041 Sendo

assim o desniacutevel total eacute de 412 metros na extensatildeo total da Vala igual a 19

metros ou seja cerca de 20

Outra observaccedilatildeo importante eacute que o niacutevel do fundo da Vala no ponto

meacutedio da sua extensatildeo seria igual a 230 m mostrando nesta posiccedilatildeo desniacutevel de

cerca de 2 metros abaixo do provaacutevel niacutevel da Faacutebrica (cota aproximada 450 m)

revelando a possibilidade de alojamento da roda drsquoaacutegua a partir desta mesma

posiccedilatildeo

O desenho do arranjo do sistema hidraacuteulico encontrado no Sitio Sardinha

mostra semelhanccedilas claras com o arranjo que caracterizam as ferreriacuteas bascas

179

O exame do conjunto das estruturas mostram que a construccedilatildeo tirou partido da

declividade do terreno para aproveitamento da forccedila da gravidade aplicada ao

processo da produccedilatildeo do ferro

634 A Caixa de Aacutegua - ldquoBanzaordquo O ldquobanzaordquo era uma caixa de aacutegua com volume adequado para garantir o

repouso da aacutegua instalado acima do niacutevel da Vala em uma posiccedilatildeo diretamente

sobre a roda A instalaccedilatildeo dessas caixas tinha por objetivo garantir uma altura da

queda drsquoaacutegua necessaacuteria para impulsionar a roda e ao mesmo tempo armazenar

um volume de aacutegua adequado para direcionar o jato diretamente sobre as paacutes

da roda com uma pressatildeo constante de modo a resultar o movimento uniforme

para a rotaccedilatildeo da roda

Os rdquobanzaosrdquo mais ruacutesticos e antigos eram feitos de madeira material que

criava vaacuterios problemas de manutenccedilatildeo fato que levou agrave substituiccedilatildeo desse

material a partir do seacuteculo XVIII por alvenaria de pedra

O acionamento da roda se dava por meio de uma espeacutecie de vara

localizada no interior da Faacutebrica a qual permitia regular a quantidade de aacutegua

descarregada sobre a roda Elena Faus descreve esse funcionamento da

seguinte forma

El paso del aacutegua a la rueda se abre o cierra por meacutedio de

tanpones o ldquochimbosrdquo Cuando los operaacuterios los abren salta y

golpea directamente las palas de la rueda instalada debajo

provocando su giro Con el fin de evitar peacuterdidas de liacutequido y

maximizar su rendimiento se antildeade un canal ldquoguzur-askardquo que lo

conduce directamente sobre la rueda Posteriormente se evacua

por un aliviadero la ldquoonda-askardquo (FAUS 2000 p 63)

180

Contudo mesmo apostando na hipoacutetese de que haveria um ldquobanzaordquo

acima da Vala encontrada torna-se difiacutecil estabelecer a sua dimensatildeo e volume

Mas as evidecircncias encontradas sugerem que esta caixa de aacutegua deveria ter no

maacuteximo 12 metros de comprimento (medidos a partir do inicio do canal ateacute o

uacuteltimo vestiacutegio de esteio) por aproximadamente 225 m (largura da vala)

restando indefinida a medida da altura da caixa

Fig 79 SOLUCcedilAtildeO EM ldquoBANZAOrdquo DE MADEIRA ndash DEPOacuteSITO DE AacuteGUA97

97 LAS FERRERIacuteAS DE AGUA DE ASTURIAS Disponivel em ltwwwbelmontedemirandanetfraguaindexhtmgt Acesso em 20jun05

181

635 A roda hidraacuteulica

Em 1983 quando foram iniciadas as pesquisas arqueoloacutegicas no Siacutetio

Afonso Sardinha a Vala destinada agrave instalaccedilatildeo da roda drsquoaacutegua jaacute havia sido

identificada Contudo eacute somente em 1986 que as pesquisas se concentraram na

aacuterea daquela Vala Graccedilas ao fato de esta estrutura ter permanecido enterrada a

mesma ficou preservada possibilitando avaliar a sua funccedilatildeo e o fato de que o

local deveria ter sido destinado agrave instalaccedilatildeo de uma roda hidraacuteulica vertical com

eixo horizontal (Figura 79)

A utilizaccedilatildeo da roda drsquoaacutegua para os trabalhos metaluacutergicos natildeo era

novidade para os empreendimentos dessa natureza pois a teacutecnica aplicada para

a construccedilatildeo desse tipo de Faacutebrica jaacute era bastante difundida entre os artesatildeos da

Idade Meacutedia os quais buscaram adaptar as ferramentas utilizadas no trabalho da

produccedilatildeo de ferro (por exemplo foles e malhos) de modo a permitir a sua

movimentaccedilatildeo atraveacutes da forccedila obtida das rodas drsquoaacutegua

Em 1104 os ldquomoinhos para bater o ferrordquo jaacute eram encontrados nos Pirineus

espanhoacuteis Gille os descreve da seguinte forma

as forjas que anteriormente eram acionadas a braccedilos e que

itinerantes deslocavam-se agrave procura dos fornos-baixos a

procura de mateacuteria prima e do combustiacutevel a partir de entatildeo se

estabelecem permanentemente ao longo dos rios (GILLE Apud

GAMA 1985 p 133)

Entre os seacuteculos XIV e XV surgiram no paiacutes basco adaptaccedilotildees da roda

hidraacuteulica para acionar os ldquosoprantesrdquo - os foles - (instrumentos utilizados para

insuflar oxigecircnio para dentro dos fornos) possibilitando intensificar a combustatildeo

do carvatildeo vegetal de modo a elevar a temperatura no interior do forno No paiacutes

basco o martelo hidraacuteulico jaacute havia sido incorporado agravequela atividade desde o

seacuteculo XV em Gipuzkoa e desde o seacuteculo XVI em Biskaia ambas localizadas na

182

regiatildeo basca Em 1531 operavam em ambas as regiotildees cerca de 200

estabelecimentos utilizando essa teacutecnica (FAUS 2000 p 60)

Fig 80 ldquoLOCALIZACcedilAtildeOrdquo DO MALHO E DA RODA HIDRAUacuteLICA (INTERPRETACcedilAtildeO) (Desenho Agnaldo Zequini)

183

6 4 A Faacutebrica de Ferro os espaccedilos de produccedilatildeo

O local onde se encontra instalada a Faacutebrica de Ferro do Sitio Arqueoloacutegico

Afonso Sardinha oferece todas as condiccedilotildees fisiograacuteficas favoraacuteveis para a

instalaccedilatildeo daquele empreendimento De fato o conjunto se encontra

praticamente na aacuterea das jazidas de mineacuterios de ferro junto a um ribeiratildeo com

quantidade de aacuteguas satisfatoacuterias para o caso de produccedilatildeo do ferro relativamente

pequena como deveria ser o caso da instalaccedilatildeo existente no morro de Araccediloiaba

Outro fator decisivo para a produccedilatildeo de ferro era a presenccedila de matas com

abundacircncia de madeiras A esse respeito segundo uma descriccedilatildeo do Vale das

Furnas apresentada no decorrer de 1692 por Luiz Lopes de Carvalho (um dos

que investiram na construccedilatildeo de Faacutebrica de Ferro naquele local) o mesmo

lastimava o fato de ter que reduzir os ldquodensos arvoredos em que se achatildeo paos

Reais e madeirasrdquo em carvatildeo o uacutenico combustiacutevel utilizado nos processos de

fundiccedilatildeo de ferro (RODRIGUES 1963 p 203)

O mesmo Luiz Lopes de Carvalho testemunhava naquele mesmo ano que

aquele morro estava coberto ldquode mineral de ferro de meuda aacuterea athe pedras de

des a Robas e mui dilatadas betas [veios] Profundas Largas e Compridasrdquo

esclarecendo que o mineacuterio ao ser submetido ao processo de reduccedilatildeo tinha um

rendimento de dois para um ldquoa cada douz quintais de pedra se tira hum de ferrordquo

(RODRIGUES 1966 p 204)

641 A Oficina da Faacutebrica de Ferro

A planta da Faacutebrica de Ferro encontrada com dimensotildees de 13m X 16m

permite identificar as provaacuteveis posiccedilotildees de cada uma das unidades de produccedilatildeo

184

necessaacuterias agrave fabricaccedilatildeo do ferro quais sejam o espaccedilo destinado a oficina e a

forja

No caso da construccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro do Sitio Afonso Sardinha eacute

possiacutevel identificar a aacuterea destinada a oficina onde deveriam ficar instalados os

equipamentos do forno de fundiccedilatildeo e foles e do malho Nessa planta a aacuterea estaacute

identificada pelas letras C e F (Anexo 9)

Fig81 FAacuteBRICA DE FERRO DO SITIO AFONSO SARDINHA ARRANJO DOS EQUIPAMENTOS (Interpretaccedilatildeo) (Desenho Agnaldo Zequini)

185

Fig 82 FAacuteBRICA DE FERRO PLANTA BAIXA (Interpretaccedilatildeo) (Desenho Agnaldo Zequini)

Contudo entre os anos de 1986-1987 quando foram aprofundadas

as pesquisas arqueoloacutegicas naquelas aacutereas por meio de decapagem e abertura

de trincheiras natildeo foram encontrados vestiacutegios materiais que permitissem

identificar os locais dentro da oficina onde estariam instalados os fornos e o

malho como tambeacutem nenhum resiacuteduo testemunho da produccedilatildeo de ferro

Diante dessa constataccedilatildeo podemos levantar pelo menos duas hipoacuteteses

de interpretaccedilatildeo Uma delas estaacute relacionada agrave proacutepria natureza daquele siacutetio o

qual ao longo dos seacuteculos sofreu vaacuterias intervenccedilotildees antroacutepicas que poderiam

186

provocar algumas perturbaccedilotildees no registro arqueoloacutegico colaborando dessa

forma para o desaparecimento das evidecircncias

A segunda hipoacutetese decorre do fato de que os exames das condiccedilotildees de

superfiacutecie do terreno na parte da edificaccedilatildeo identificada como ldquoCrdquo (Oficina)

apresentam indiacutecios de antigas erosotildees decorrentes da presenccedila do ribeiratildeo do

Ferro Tal interpretaccedilatildeo permitia concluir que as enchentes do ribeiratildeo do Ferro

seriam responsaacuteveis pela pequena quantidade de artefatos arqueoloacutegicos

naquela aacuterea (Figura 81)

A figura abaixo apresenta um corte do terreno na provaacutevel aacuterea da Oficina

mostrando irregularidade na superfiacutecie do piso possivelmente decorrente de

erosotildees junto a margem do ribeiratildeo do Ferro provocadas pelas enchentes

187

Fig 83 INDICACcedilAtildeO DA POSSIacuteVEL AacuteREA ERODIDA PELAS ENCHENTES ndash AREA C ndash (Interpretaccedilatildeo) (Desenho Agnaldo Zequini)

188

6411 O Malho O malho era um instrumento imprescindiacutevel para o processo de produccedilatildeo

do ferro pelo denominado meacutetodo direto Essa ferramenta possuiacutea um longo

braccedilo de madeira que media cerca de trecircs a quatro metros de comprimento e

funcionava como alavanca com apoio intermediaacuterio Uma das extremidades do

braccedilo dessa alavanca funcionava como um martelo e apresentava na

extremidade uma cabeccedila de ferro ndash o malho ndash que dava o nome ao equipamento

Em outra extremidade havia um dispositivo que permitia transformar o movimento

de rotaccedilatildeo da roda em deslocamento vertical oscilante do braccedilo permitindo

assim que o malho golpeasse a ldquobola de ferrordquo que ficava apoiada em uma

bigorna

Ao golpear a ldquobola de ferrordquo denominaccedilatildeo dada ao produto retirado do

interior do forno de fundiccedilatildeo esta operaccedilatildeo perseguia trecircs objetivos importantes

eliminar as escoacuterias que ainda permaneciam aderidas a bola de ferro compactar

aquela massa e finalmente dar forma de barra ou lingote que era o produto final

para a comercializaccedilatildeo

A operaccedilatildeo desse martelo com funcionamento hidraacuteulico eacute descrito em um

texto informativo publicado pela Universidade de Oviedo-Espanha sem menccedilatildeo

de autor e ano de publicaccedilatildeo

La rueda hidraulica movida por el impulso del agua le comunica al

eje o aacuterbol un movimiento rotatoacuterio de este agraverbol sobresalen unos

dientes a modo de levas concretamente cuatro situados a 90ordm los

manobreiros quem en su giro percuten sobre el extremo del

mango del martillo la dendala en su movimiento oscilante el

yunque o incre esta golpeo se repite cuatro veces por cada giro

completa de la rueda 98

98 Ingenios hidraulicos histoacutericos molinos batanes y ferreriacuteas Universidad de Oviedo ndashEspana Disponiacutevel e em lthttpwww1unioviesasturiasferreriasgt Acesso em 17 jun 04

189

O movimento do malho era produzido mediante a transmissatildeo de forccedila

originada atraveacutes do eixo de uma roda hidraacuteulica especifica para esta tarefa Um

segundo tipo de sistema de acionamento utilizava uma uacutenica roda hidrauacutelica para

movimentaccedilatildeo do braccedilo do malho e ao mesmo tempo pelo acionamento dos

foles Este uacuteltimo sistema era conhecido como ldquopujoacuten tuertordquo e era o sistema mais

comumente empregado nas ferrariacuteas bascas99

No Brasil a utilizaccedilatildeo dessa ferramenta para a produccedilatildeo de ferro eacute

encontrada em documentos relacionados agrave construccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro de

Santo Amaro no iniacutecio do seacuteculo XVII Em 1605 para instalaccedilatildeo dessa Faacutebrica

foram entregues pela Administraccedilatildeo Espanhola agrave Diogo de Quadros ldquo2 malhos

que podiam pesar pouco mais ou menos entre ambos 3 quintais mais duas

argolas grandes da mesma ferramentardquo (RODRIGUES 1963 p 190)

Possivelmente foi entregue a Diogo de Quadros apenas a ldquocabeccedila de ferrordquo

(o malho propriamente dito) enquanto que as demais peccedilas da estrutura pelo

fato de serem confeccionadas inteiramente com madeira poderia ter sido

fabricada no Brasil

No caso da Faacutebrica de Ferro do Siacutetio Afonso Sardinha dispotildeem-se apenas

de documentos escritos que registram a presenccedila desse equipamento conforme

a carta escrita no ano de 1768 por D Luiz Antonio de Souza Governador da

Capitania de Satildeo Paulo dirigida ao Conde de Oeiras atraveacutes da qual apresenta

informaccedilotildees sobre a Faacutebrica de Ferro que havia sido construiacuteda por Domingos

Pereira Ferreira e seus soacutecios

Nesse documento D Luiz afirmava que aquele empreendimento era uma

das atividades que estava dando maior preocupaccedilatildeo em sua gestatildeo explicando

que

99 Binganaria no sistema de pujoacuten tuerto a Binganaria corresponde agrave viga de transmissatildeo entre a roda hidraacuteulica e os foles

190

se tem trabalhado desde aquele tempo [1760] ateacute o presente

em grandes dispecircndios dos acionistas em fazer fornos

grandes e pequenos por diferentes modos safras [bigorna

de ferreiro] martelos malhos rodas e engenhos para os

mover e tudo o necessaacuterio (RODRIGUES 1966 p 190)

Uma outra notiacutecia relacionada a essa mesma Faacutebrica ficou registrada em

outra documentaccedilatildeo datada de 1770 atraveacutes da qual Jacinto Joseacute de Abreu um

dos soacutecios de Domingos Pereira Ferreira dava conta de que o andamento dos

trabalhos lhe estava causando o ldquomaior desgostordquo pelo fato de ter quebrado o

malho ldquoque tanto dispecircndio e trabalho custourdquo A reclamaccedilatildeo expressada por

Jacinto Joseacute de Abreu pode ser compreendida natildeo somente pelo prejuiacutezo

financeiro decorrente da perda direta da peccedila como tambeacutem pelo prejuiacutezo

decorrente da consequumlente paralisaccedilatildeo da produccedilatildeo do ferro

6412 ndash O Forno de Fundiccedilatildeo e Foles As pesquisas arqueoloacutegicas no Siacutetio Afonso Sardinha natildeo lograram

identificar vestiacutegios materiais de fornos de fundiccedilatildeo no interior da aacuterea

reconhecida como sendo a Oficina da Faacutebrica Tendo em vista o arranjo e a

extensatildeo do espaccedilo levantado pelas pesquisas de campo bem como as teacutecnicas

de fundiccedilatildeo de ferro disponiacuteveis de acordo com os estudos da histoacuteria da teacutecnica

para o periacuteodo que interessa ao presente trabalho entendemos que eacute correto

afirmar que o forno de fundiccedilatildeo ali empregado deveria ser do tipo ldquoforno baixordquo

De qualquer forma natildeo eacute possiacutevel afirmar que o meacutetodo de fundiccedilatildeo

utilizado no interior da Faacutebrica de Ferro corresponda ao que eacute conhecido como

ldquomeacutetodo catalatildeordquo ou ldquoforno catalatildeordquo uma vez que as pesquisas arqueoloacutegicas e

tambeacutem as documentais natildeo conseguiram encontrar qualquer dado a respeito do

modelo do forno de fundiccedilatildeo ali utilizado nem qualquer informaccedilatildeo a respeito do

processo de extraccedilatildeo do ferro na operaccedilatildeo de fundiccedilatildeo

191

De fato o forno catalatildeo se diferenciava dos demais fornos baixo por

apresentar uma forma que lembrava o de uma piracircmide invertida com trecircs

paredes planas e uma convexa confeccionadas com pedras refrataacuterias

(GARCIA sd p7) O que tambeacutem caracterizava o forno catalatildeo era o

procedimento de colocaccedilatildeo do carvatildeo e do mineacuterio no interior do forno para

extraccedilatildeo do metal Pere Molera I Sola (1982 p 208) ao analisar o procedimento

direto de obtenccedilatildeo do ferro pelo meacutetodo catalatildeo assinala que este meacutetodo

apresentava a peculiaridade de empregar a teacutecnica de ldquotrompa de aacuteguardquo para

promover a injeccedilatildeo do ar para dentro do forno Entretanto alguns fornos

reconhecidos como do tipo catalatildeo tambeacutem empregavam a teacutecnica de foles

movidos por roda drsquoaacutegua com aquele objetivo

O mesmo autor esclarece que o forno catalatildeo era

sin duda elemento maacutes importante consistia en una cavidad de

forma trocopiramidal invertida cuyas dimensiones de la base

mayor estaban en torno a los 60 por 50 cm La altura era de unos

80 cm Dentro de la nave industrial el horno estaba situado junto

a una pared principal denominada lsquopiec del focrsquo (pie del fuego)

todas las paredes del horno presentaban superficies planas

menos lsquolrsquoore o contraventrsquo (contraviento) que para facilitar la

extraccioacuten del producto reducido ofreciacutea una superficie convexa

y estaban parcialmente recubiertas con planchas de acero La

pared del horno adosada al lsquopiec del focrsquo y opuesta a lsquolrsquoorersquo se

denominaba lsquoles porguesrsquo (las cribas) y estaba atravesada por la

tobera que inyectaba aire al horno Entre ambas las paredes

estaba el lsquolleteirolrsquo (rebosadero) pared agujereada para faciclitar

la eliminacioacuten de la escoria liquida frente a la cual se encontraba

la lsquocavarsquo pared de piedra sin revistir y ligeramente inclinada

(SOLA 1982 p 208-209)

A operaccedilatildeo de fundiccedilatildeo eacute descrita pelo mesmo autor conforme segue

192

La operacioacuten de reduccioacuten de la mena concentrada se iniciaba

cubriendo el fono del horno con polvo de carboacuten vegetal Se le

prendia fuego Una vez caliente el horno se antildeadia una capa de

trozos de caroacuten de mayor tamantildeo E inmediatamente se

superponia una plancha de acero en al centro del horno paralela

a las lsquoporguesrsquo Ello permitiacutea situar una capa vertical de carboacuten en

al lado de la tobera y una capa de mineral al otro lado de la

plancha Se quitaba luego la plancha y se cubriacutea la parte superior

del mineral con una capa de pequentildeos trozos de carboacuten huacutemedo

y escorias al objeto de que la superficie externa quedase de

forma esfeacuterica y concentrase las llamas Se insuflaba aire por las

toberas y a la hora y media se alcanzaban ya temperaturas

superiores o los 1200 grados C Durante tres o cuatro horas

consecutivas se iba antildeadiendo mineral y carboacuten al tiempo que

por el ldquolletirolrdquo se eliminaba la escoria liquida Si la escoria era

densa lo que evidenciaba un alto contenido en hierro se volviacutea a

introducir en el horno La operacioacuten terminaba cuando en el fondo

del horno se formaba una bola irregular de unos 100 kilogramos

de peso de hierro o acero dulce con inclusiones de escoria y

poros el lsquomasserrsquo (zamarra) En se momento empezaba la

operacioacuten maacutes espectacular de la fraga la saca el lsquomasserrsquo del

horno y transportarlo hasta el martinete lo que requeriacutea el

concurso de todo el personalrdquo (SOLA 1982 p 211-212)

193

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

1- A partir das evidecircncias arqueoloacutegicas levantadas pela pesquisadora Margarida

Davina Andreatta no Siacutetio Afonso Sardinha foram elaboradas anaacutelises e em

seguida as interpretaccedilotildees com base nos conhecimentos da Arqueologia Histoacuterica

e da Histoacuteria da Teacutecnica relacionadas a produccedilatildeo de ferro Tais estudos

permitiram comprovar que aquela aacuterea arqueoloacutegica corresponde a um campo de

exploraccedilatildeo e produccedilatildeo de ferro desde a segunda metade do seacuteculo XVI

2- As ruiacutenas da edificaccedilatildeo principal identificadas como ldquoBrdquo (Forja) e ldquoCrdquo (Oficina)

tratam-se de aacutereas de produccedilatildeo de uma Faacutebrica de Ferro O espaccedilo identificado

como ldquoDrdquo corresponde a uma vala de acomodaccedilatildeo da roda drsquoaacutegua responsaacutevel

pela produccedilatildeo da forccedila de origem hidraacuteulica necessaacuteria para movimentar os

equipamentos e ferramentas da fabricaccedilatildeo ( Anexo 9)

3- Os exames das condiccedilotildees de superfiacutecie do terreno na parte da edificaccedilatildeo

identificada como ldquoCrdquo (Oficina) apresentam indiacutecios de antigas erosotildees

decorrentes da presenccedila do ribeiratildeo do Ferro sendo que esta interpretaccedilatildeo

permite concluir que os fenocircmenos apontados foram os responsaacuteveis pela

ausecircncia de artefatos arqueoloacutegicos naquela aacuterea

4- Os exames dos vestiacutegios dos fornos de fundiccedilatildeo encontrados nas aacutereas A e

A2-B externa do edifiacutecio principal da fabricaccedilatildeo de ferro indicam que satildeo do tipo

baixo provavelmente insulflados a fole de matildeo natildeo sendo possiacutevel afirmar que

seriam fornos do tipo catalatildeo

5- As ruiacutenas da Faacutebrica de Ferro indicam que as mesmas tratam de instalaccedilotildees

de modelo de produccedilatildeo industrial inclusive com divisatildeo de tarefas em aacutereas

distintas uso de energia hidraacuteulica transformada em forccedila mecacircnica para

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movimentaccedilatildeo das ferramentas e para insuflaccedilatildeo do ar para queima do carvatildeo

nos fornos de fundiccedilatildeo

6- As dataccedilotildees absolutas e tambeacutem as relativas realizadas indicaram que naquele

local houve uma sobreposiccedilatildeo de distintos empreendimentos para a produccedilatildeo do

ferro desde o final do seacuteculo XVI e ao longo do seacuteculo XVIII

7- A causa mais provaacutevel do insucesso econocircmico de todas as tentativas de

produccedilatildeo de ferro em Araccediloiaba se relaciona a mineralogia da magnetita e

associaccedilotildees com outras substancias minerais as quais eram nocivas agrave qualidade

do produto metaluacutergico Neste caso vale ressaltar a presenccedila prejudicial

principalmente do titacircnio e do foacutesforo cujas presenccedilas eram desconhecidas pelos

exploradores

8- A planta da edificaccedilatildeo principal (aacutereas ldquoBrdquo ldquoCrdquo e ldquoDrdquo e ldquoFrdquo) evidenciada se

ajusta aos arranjos de espaccedilo produtivo de ferro tiacutepicos de modelos encontrados

naquele mesmo periacuteodo nas aacutereas de mineraccedilatildeo da Peniacutensula Ibeacuterica

notadamente aquele desenvolvido na regiatildeo basca (Anexo 9)

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BIBLIOGRAFIA E ARQUIVOS PESQUISADOS

ARQUIVOS Arquivo da Cidade de Satildeo Paulo Arquivo do Estado de Satildeo Paulo Arquivo do Museu Histoacuterico Sorocabano Arquivo Municipal da Cidade de Itu Documentaccedilatildeo do Museu Paulista -USP Instituto de Estudos Brasileiros ndash USP Museu Republicano Convenccedilatildeo de ItuMPUSP Projeto Arqueologia Histoacuterica ndash Museu Paulista USP Todas as fotografias croquis e plantas relacionadas a pesquisa arqueoloacutegica realizada no Siacutetio Afonso Sardinha entre os anos de 1983-1989 e que estatildeo inseridas nesta tese foram reproduzidas a partir deste acervo BIBLIOGRAFIA ABSAacuteBER Aziz Nacib Morro de Ipanema conhecimentos Scientific American Brasil Ediccedilatildeo Nordm 52 - setembro de 2006 Disponiacutevel em lthttpwww2uolcombrsciamconteudoeditorialeditorial_36Htmlgt Acesso em 14mar06 ARAUJO M Alves Faacutebrica de Ferro de Satildeo Joatildeo de Ipanema Auxiliador da Industria Nacional n50 Rio de Janeiro1882 ABREU Joatildeo Capistrano de Capiacutetulos de histoacuteria colonial (1500-1800) amp Os caminhos antigos e o povoamento do Brasil Brasiacutelia Editocircra Universidade de Brasiacutelia 1963 ALBUQUERQUE Gislene Batista RODRIGUES Ricardo Ribeiro A vegetaccedilatildeo do Morro de Araccediloiaba Floresta Nacional de Ipanema (SP) Scientia Florestalis n58 p 145-159 dez 2000 Disponiacutevel em lt wwwipefbrpublicacoesscientianr58cap11pdfgt

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GLOSSAacuteRIO

Banzao de madeira BANZAO Denominaccedilatildeo que era dada na regiatildeo basca ndash Espanha para depoacutesitos de aacutegua que eram instalados sobre as rodas drsquoaacutegua e de onde era despejado jato de aacutegua sobre as paacutes daquela roda fazendo-a girar Na estrutura identificada por essa pesquisa as evidencias pressupotildee a utilizaccedilatildeo desse equipamento

BIGORNA Ferramenta feito por um bloco de pedra ou metal utilizado como suporte para martelar sobre o ferro

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CABECcedilA DE MALHO Peccedila metaacutelica que eacute afixada em uma das extremidades da ferramenta que leva esse nome

ESCOacuteRIA ldquorestos de fundiccedilatildeordquo um sub-produto da fundiccedilatildeo de mineacuterio para purificar metais No caso das teacutecnicas de fundiccedilatildeo utilizadas ateacute o seacuteculo XIX no Brasil as escoacuterias produzidas apoacutes o processo de fundiccedilatildeo apresentavam uma grande quantidade de ferro (metal) em sua composiccedilatildeo O que vale dizer que os fornos utilizados para aquela atividades natildeo alcanccedilavam as temperaturas acima de para proporcionar maior aproveitamento do mineacuterio empregado

Ferreriacutea de Bolunburu es un conjunto ferro molinero que desde el siglo XVII

FERRERIacuteA Edifico que abrigava as ferramentas e equipamentos para a produccedilatildeo do ferro O sistema de produccedilatildeo empregado nas ferrariacuteas denominado de meacutetodo direto de produccedilatildeo consistia em ldquocozinharrdquo o mineacuterio de ferro em fornos baixo usando como combustiacutevel o carvatildeo vegetal Apoacutes ldquocozidordquo o ferro se transformava em uma esponja de ferro que era levada para ser trabalhada sobre

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uma bigorna e golpeada pelo malho Este trabalho servia para compactar a massa liberar as escoacuterias e dar forma FERRO O ferro (do latim ferrum) eacute um elemento quiacutemico siacutembolo Fe de nuacutemero atocircmico 26

Foles acionados por forccedila humana seacuteculo XVI FOLES Equipamento utilizado para insuflar ar para dentro do forno promovendo assim a combustatildeo do carvatildeo Podiam ser acionados manualmente ou por utilizaccedilatildeo de roda drsquoaacutegua

Forno baixo com a utilizaccedilatildeo de fole manual FORNO BAIXO Espaccedilo normalmente de pequenas dimensotildees onde se realizava a reduccedilatildeo (extraccedilatildeo do metal ndashferro ndash do mineacuterio) e de Havia vaacuterias denominaccedilotildees para esse tipo de forno como fornos de vento fornos castelhanos fornos catalatildees forno de manga etc Estes fornos dada a sua dimensatildeo e os instrumentos de insuflaccedilatildeo do ar utilizado natildeo permitiam a fundiccedilatildeo do mineacuterio Nos fornos baixos acima referidos a disposiccedilatildeo do carvatildeo vegetal e dos pedaccedilos de mineacuterios no interior do forno eram feitos em camadas superpostas e horizontais

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Forno Catalatildeo e Trompa Hidrauacutelica FORNO CATALAtildeO O forno catalatildeo eacute assim denominado por ter sido uma teacutecnica desenvolvida nos Pirineus catalatildees A teacutecnica catalatilde ou meacutetodo catalatildeo de fundiccedilatildeo possuem alguns elementos que o caracterizam como 1- a forma de construccedilatildeo do forno que lembra uma lareira tendo o seu formato interno feito de forma de uma piracircmide invertida 2- disposiccedilatildeo interna do carvatildeo e dos pedaccedilos de mineacuterios dentro do forno os quais eram colocados de lados opostos e paralelos 3- utilizaccedilatildeo da trompa hidraacuteulica para insuflar oxigecircnio para a combustatildeo do carvatildeo esse sistema foi desenvolvido na regiatildeo da atual Itaacutelia e utilizado em grande escala nas faacutebricas de ferro da Catalunha Na regiatildeo Basca foram utilizados foles de grandes dimensotildees acoplados a roda drsquoaacutegua FORNO DE FUNDICcedilAtildeO Espaccedilo onde se daacute a reduccedilatildeo do mineacuterio No periacuteodo estudado a reduccedilatildeo ou fundiccedilatildeo era proporcionada pela queima proporcionada pela insuflaccedilatildeo de oxigecircnio por meio de foles manuais do carvatildeo vegetal que era colocada dentro desses fornos junto com pedaccedilos de mineacuterio FORJA Fornalha de que se servem os ferreiros e outros artiacutefices para incandescer os metais para serem trabalhados numa bigorna Do francecircs forge e do Latin fabrica Tambeacutem pode designar o trabalho realizado pelo ferreiro por meio do fogo e do martelo para dar forma aos metais

HEMATITA mineral de foacutermula oacutexido de ferro III (Fe2O3) um dos diversos oacutexidos de ferro

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MAGNETITA mineral magneacutetico formado pelos oacutexidos de ferro II e III ( FeO Fe2O3) cuja foacutermula quiacutemica eacute Fe3O4

MALHO Daacute se o nome de malho a peccedila metaacutelica que estaacute afixada em uma das extremidades do martinete o qual por conseguinte daacute o nome ao equipamento METAL elemento quiacutemico Satildeo metais os metais bem conhecidos satildeo alumiacutenio cobre ouro ferro prata titacircnio uracircnio e zinco MINERAL Substacircncia natural MINEacuteRIO mineral que conteacutem um metal na sua composiccedilatildeo quiacutemica Todo o mineacuterio eacute mineral OFICINA Ou Farga (em catalatildeo) espaccedilo em que estatildeo assentados o forno e o malho equipamentos destinados a produccedilatildeo de ferro MARTINETE Instrumento usado para golpear os metais incandescentes na forja para dar-lhes a forma desejada Tambeacutem pode designar um malho movido por roda drsquoagua METALURGIA Teacutecnica de obtenccedilatildeo dos metais No periacuteodo pesquisado a teacutecnica era conhecida como meacutetodo direto

219

OacuteXIDOS Combinaccedilatildeo do oxigecircnio com outros elementos No nosso caso com ferro

TROMPA Mecanismo que aproveita a forccedila da caiacuteda da aacutegua para gerar um fluxo contiacutenuo em direccedilatildeo do forno Era um elemento caracteriacutestico do forno catalatildeo

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ANEXOS

221

222

223

  • FAacuteVERO Oriana Aparecida NUCCI Joatildeo Carlos De BIASI Maacuterio Mapeamento da vegetaccedilatildeo e usos das terras da Floresta Nacional de Ipanema IperoacuteSP

3

Aos meus Pais Francisco Zequini

e Dirce da Costa Zequini e Ismar

4

AGRADECIMENTOS

Durante a primeira visita ao Siacutetio Arqueoloacutegico Afonso Sardinha da Floresta

Nacional de Ipanema em Iperoacute Satildeo Paulo no ano de 2003 tive oportunidade de

conhecer o objeto de estudo desta Tese as evidecircncias da Faacutebrica de Ferro com a

sua respectiva vala da roda e os inuacutemeros artefatos que haviam sido recolhidos

durante as escavaccedilotildees Naquela oportunidade fui gentilmente recebida pela Sra

Janette Gutierrez a quem deixo meus agradecimentos extensivo aquela

Instituiccedilatildeo

Recebi ainda no transcorrer do meu trabalho importantes informaccedilotildees das

Sras Vivian Cristiane Fernandes e Nair Tanabe Tomiyama ambas do Nuacutecleo de

Arqueologia da Universidade Braz Cubas assim como das Sras Socircnia Paes do

Museu Histoacuterico Sorocabano e Marizia Tonelli

Agradeccedilo tambeacutem ao Sr Joseacute Monteiro Salazar o qual gentilmente me

recebeu em sua residecircncia em Boituva SP um apaixonado pela Historia de

Ipanema o qual contou fatos de grande interessante sobre a descoberta das

ruiacutenas assuntos que incorporei na minha Tese

Em marccedilo deste mesmo ano apresentei minha qualificaccedilatildeo oportunidade

em que recebi valiosas sugestotildees das Professoras Doutoras Heloiacutesa Maria

Silveira Barbuy e Elaine Farias Veloso Hirata a quem agradeccedilo

Finalmente eacute com admiraccedilatildeo e especial carinho que agradeccedilo a minha

orientadora a Professora Doutora Margarida Davina Andreatta com quem tive a

oportunidade de discutir longamente os conceitos e detalhes deste meu trabalho

Os seus conhecimentos e a responsabilidade com que conduziu a orientaccedilatildeo

foram fundamentais para a elaboraccedilatildeo desta Tese assim como para minha

proacutepria formaccedilatildeo em Arqueologia em especial na Arqueologia Histoacuterica

5

SUMAacuteRIO

Iacutendice 06 Iacutendice das Figuras 10 Resumo 14 Abstract 15 Introduccedilatildeo 16 Capiacutetulo I 19 Capiacutetulo II 47 Capiacutetulo III 83 Capiacutetulo IV 109 Capitulo V 126 Capitulo VI 167 Consideraccedilotildees finais 193 Bibliografia 195 Glossaacuterio 214 Anexos 220

6

IacuteNDICE INTRODUCcedilAtildeO 15 CAPIacuteTULO 1 O SIacuteTIO AFONSO SARDINHA QUESTOtildeES DA ARQUEOLOGIA HISTOacuteRICA 11 Contexto do presente trabalho 19

111 Avaliaccedilatildeo dos dados bibliograacuteficos 19 112 Histoacuterico das descobertas das ruiacutenas 26 113 Consideraccedilotildees sobre a metodologia 32

114 Descriccedilatildeo geral das pesquisas arqueoloacutegicas realizadas 37

12 Principais questotildees a serem abordadas no decorrer da Tese 46

CAPITULO 2 A TECNICA DE PRODUCcedilAtildeO DE FERRO NO PERIODO ENTRE OS SEacuteCULOS XVI AO XVIII 21 Consideraccedilotildees sobre Teacutecnica e Tecnologia 47 22 O conceito de Teacutecnica 50 23 A valorizaccedilatildeo do conhecimento teacutecnico e a ciecircncia

experimental moderna 53 2 4 A Tecnologia como sinocircnimo de Teacutecnica 55

25 A Teacutecnica de produccedilatildeo do ferro 59

26 Fornos de fundiccedilatildeo de ferro 64

27 Tratados Teacutecnicos de Metalurgia 78

CAPITULO 3 HISTOacuteRICO DA MINERACcedilAtildeO NO BRASIL COLONIAL 31 As primeiras expediccedilotildees mariacutetimas a busca dos metais nobres 83 32 O Peabiru uma trilha para o Sertatildeo 85 33 O descobrimento da prata em Potosi 88 34 A busca de metais nobres na Capitania de Satildeo Vicente 90 35 D Francisco de Sousa a organizaccedilatildeo da exploraccedilatildeo mineral 91

7

36 Teacutecnicos e praacuteticos na mineraccedilatildeo e metalurgia 94 37 A Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro 96

38 A Faacutebrica de Ferro do morro de Araccediloiaba os empreendedores 99 39 A Real Faacutebrica de Ferro de Satildeo Joatildeo do Ipanema 103 CAPIacuteTULO 4 O SIacuteTIO AFONSO SARDINHA 41 Localizaccedilatildeo 109 42 A vegetaccedilatildeo 116 43 Rios e ribeirotildees

44 A magnetita o mineacuterio do morro de Araccediloiaba 119

45 Fatores fisiograacuteficos da ocupaccedilatildeo europeacuteia 123

CAPIacuteTULO 5 INVESTIGACcedilOtildeES ARQUEOLOacuteGICAS AS EVIDENCIAS DE UMA FAacuteBRICA DE FERRO 126

51 Estruturas hidraacuteulicas para a produccedilatildeo da forccedila motriz 129

511 O Canal de Derivaccedilatildeo 129

512 A Vala da Roda 132

5121 Evidecircncias de esteios 134 52 A Faacutebrica de Ferro os espaccedilos de produccedilatildeo 137 521 Area ldquoCrdquo 137 522 A Aacuterea B (ldquoForjardquo) 139

53 Area E Sul da Faacutebrica de Ferro 150 531 Fornos de fundiccedilatildeo na aacuterea externa da Faacutebrica (Aacuterea A1) 155 531 Forno de Fundiccedilatildeo 1 157 532 Fornos de fundiccedilatildeo da Aacuterea A2 159 5321 Forno de fundiccedilatildeo 1 (aacuterea A2) 161 5322 Forno de fundiccedilatildeo 2 (aacuterea A2) 165

CAPITULO 6 INTERPRETACcedilOtildeES DOS DADOS ARQUEOLOacuteGICOS 61 Avaliaccedilatildeo das caracteriacutesticas do Arranjo das Estruturas 167 62 As ldquoferreriacuteasrdquo de aacutegua na Peniacutensula Ibeacuterica 170 63 Sistema hidraacuteulico produccedilatildeo da forccedila motriz 175

8

631 Dique de represamento do ribeiratildeo do Ferro 175 632 Canal de Derivaccedilatildeo das aacuteguas 176 633 Vala da roda 177 634 A Caixa de Aacutegua - ldquoBanzaordquo 179 635 A roda hidraacuteulica 180 6 4 A Faacutebrica de Ferro os espaccedilos de produccedilatildeo 183

641 A Oficina da Faacutebrica de Ferro 183 6411 O Malho 188 6412 Fornos de fundiccedilatildeo e foles 190 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 193 BIBLIOGRAFIA 195 GLOSSAacuteRIO 214 ANEXOS 220 1 Relatoacuterio de Ensaio ndash Laboratoacuterio de Vidros e Dataccedilatildeo ndash FATEC 2 Inventaacuterio de Peccedilas Ceracircmica 3 Inventario de Peccedilas Liacutetico 4 Inventaacuterio de Peccedilas Louccedilas 5 Inventaacuterio de Peccedilas Telhas 6 Inventaacuterio de Peccedilas Metal 7 Tratado da Arte de ensaiar e fundir cobre ferro e accedilo Ano de 1691 8 Aranzel ou Roteiro de haveres de oiro e pedras preciosas Ano de 1696 9 Planta Geral da aacuterea pesquisada Siacutetio Afonso Sardinha (Mapa 1) 10 Mapeamento das aacutereas de decapagem e escavaccedilatildeo ( Mapa 2) 11 Aacuterea E - Concentraccedilatildeo de lacircminas de metal (Mapa 3)

9

12 Aacuterea E - Concentraccedilatildeo de escoacuterias (Mapa 4) 13 Aacuterea E - Concentraccedilatildeo de blocos de arenito (Mapa 5) 14 Aacuterea E ndash Concentraccedilatildeo de cravos de metal (Mapa 6) 15 Aacuterea E - Concentraccedilatildeo de telhas (Mapa 7)

10

INDICE DAS FIGURAS

1 Mapa de localizaccedilatildeo da FLONA ndash Ipanema 2 Mapa de localizaccedilatildeo do Siacutetio Afonso Sardinha 3 Desenho esquemaacutetico da localizaccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro 4 Aspecto do Siacutetio Afonso Sardinha 1983 5 Iniacutecio das pesquisas arqueoloacutegicas no Siacutetio Afonso Sardinha 1983 6 Reuniatildeo de trabalhos 1984 7 Aspecto da Faacutebrica de ferro em 1987 8 Planta do Siacutetio Afonso Sardinha aacutereas A1 e A2 9 Planta da aacuterea A1 10 Vista Geral da aacuterea A1 11 Vista Geral da aacuterea A2 12 Planta da aacuterea A2B detalhe 13 Planta do morrote A2B 14 Aacuterea A2 morrote e evidencias de fornos de fundiccedilatildeo 15 Corte esquemaacutetico de um forno baixo 16 Maquete de forno de fundiccedilatildeo (Celta) 17 Forno de fundiccedilatildeo (romano) 18 Fornos de fundiccedilatildeo de lupa ou de vento 19 Corte esquemaacutetico de fornos de fundiccedilatildeo de lupa ou de vento 20 Fornos de fundiccedilatildeo de Guaira (Potosi)

11

21 Fornos de fundiccedilatildeo seacuteculo XVI 22 Fornos de Fundiccedilatildeo seacuteculo XVI 23 Arranjo funcional de uma Faacutebrica de Ferro 24 Elementos que compotildeem uma ldquoFarga Catalanrdquo 25 Traccedilado do Peabiru (Tronco de Satildeo Vicente) 26 Mapa do Peabiru feito por Pasquale Petrone 27 Prospecto das ruiacutenas da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro 28 Vista Geral da Faacutebrica de Ferro de Ipanema 1827 29 Vista Geral da Faacutebrica de Ferro de Ipanema seacuteculo XIX 30 Altos fornos geminados construiacutedos por Varnhagem 1818 31 Alto forno construiacutedo pelo Cel Mursa 1888 32 Roteiro Histoacuterico da Mineraccedilatildeo e metalurgia paulista 33 Mapa Geoloacutegico do Morro de Araccediloiaba 34 Bloco diagrama da regiatildeo da Serra de Araccediloiaba 35 Vista geral do morro de Araccediloiaba I 36 Vista geral do morro de Araccediloiaba II 37 Magnetita 38 Limpeza do Siacutetio Afonso Sardinha 1984 39 Equipe de trabalho 1988 40 Vista geral da aacuterea E 1988 41 Dimensotildees da Vala da roda e localizaccedilatildeo da evidecircncias de esteios 42 Vala da roda hidraacuteulica 1987 - I 43 Vala da roda hidraacuteulica 1987 ndash II 44 Evidecircncias de esteios

12

45 Detalhe da evidecircncia de esteios 46 Detalhe de um esteio 47 Topografia do terreno da aacuterea C 48 Vista geral da aacuterea C 1987 49 Reconstituiccedilatildeo das paredes da aacuterea B 1984 50 Evidecircncias de paredes da aacuterea B 1984 51 Parede reconstituiacuteda da aacuterea B 1984 - I 52 Parede reconstituiacuteda da aacuterea B 1984 - II 53 Parede reconstituiacuteda da aacuterea B 1984 - III 54 Vasilhame de ceracircmica (0106) aacuterea B seacuteculo XVI - I 55 Vasilhame de ceracircmica (0106) aacuterea B seacuteculo XVI - II 56 Vasilhame de ceracircmica (0106) aacuterea B seacuteculo XVI ndash III 57 Vasilhame de ceracircmica (0122) aacuterea B seacuteculo XVI ndash I 58 Vasilhame de ceracircmica (0122) aacuterea B seacuteculo XVI ndash II 59 ldquoTijelardquo faianccedila [seacuteculo XVII] 60 Escoacuteria ndash restos de fundiccedilatildeo aacuterea E 61 Telha (0115) aacuterea E seacuteculo XVIII 62 Telha aacuterea E 63 Telha aacuterea E 64 Raspador plano convexo aacuterea E 65 Garrafa de greacutes aacuterea A ndash forno1 66 Decapagem aacuterea A forno 1 67 Vestiacutegios do forno de fundiccedilatildeo 1 aacuterea A1 68 Morrote e vestiacutegios de fornos de fundiccedilatildeo aacuterea A2

13

69 Croqui da aacuterea A2 morrote B 70 Vestiacutegios do forno de fundiccedilatildeo 1 aacuterea A2 71 Croqui do forno de fundiccedilatildeo 1 aacuterea A2 72 Vestiacutegios do forno de fundiccedilatildeo 2 aacuterea A2 - I 73 Vestiacutegios do forno de fundiccedilatildeo 2 aacuterea A2 ndash II 74 Vestiacutegios do forno de fundiccedilatildeo 2 aacuterea A2 ndash III 75 Aspecto de uma ldquoferreriacutea de aacuteguardquo seacuteculo XVII 76 Sistema de ldquopujoacuten tuortordquo 77 Trabalho de extraccedilatildeo da ldquobola de ferrordquo ou ldquomassa de ferro 78 Traccedilado esquemaacutetico do Canal de Derivaccedilatildeo aacuterea A1 (Interpretaccedilatildeo) 79 rdquo Depoacutesito de aacutegua soluccedilatildeo ldquoBanzaordquo 80 localizaccedilatildeo do malho e da roda hidraacuteulica (Interpretaccedilatildeo) 81 Faacutebrica de Ferro do Siacutetio Afonso Sardinha arranjo dos equipamentos (interpretaccedilatildeo) 82 Faacutebrica de Ferro Planta baixa (interpretaccedilatildeo) 83 Faacutebrica de Ferro aacuterea erodida (Interpretaccedilatildeo)

14

RESUMO

Esta Tese tem como objetivo analisar a pesquisa arqueoloacutegica e os

artefatos coletados no Sitio Arqueoloacutegico Afonso Sardinha localizado no morro de

Araccediloiaba Iperoacute - Satildeo Paulo

O resultado da anaacutelise permitiu concluir que a aacuterea corresponde a um

campo de mineraccedilatildeo de ferro com a presenccedila de evidecircncias de uma Faacutebrica de

Ferro de um sistema de aproveitamento de energia hidraacuteulica para movimentar

os equipamentos e ferramentas destinadas a produccedilatildeo e de fornos de fundiccedilatildeo

Aleacutem disso a dataccedilatildeo do material ceracircmico (vasilhames e telhas) indica que as

atividades de exploraccedilatildeo do mineacuterio tiveram iniacutecio no seacuteculo XVI

Palavras-Chaves Arqueologia Histoacuterica Floresta Nacional de Ipanema Teacutecnica

de produccedilatildeo de ferro Colonial Sitio Afonso Sardinha morro de Araccediloiaba Iperoacute-

SP

15

ABSTRACT This Thesis has the goal to analyze archaeological research and artifacts

found in Afonso Sardinha Archaeological site located on Mount Araccediloiaba Iperoacute

Satildeo Paulo

The analysis result leads to the conclusion that the area corresponds to iron

mining field with the presence of Iron Factory evidence a system that makes use

of hydraulic power to move the equipment and tools used in the production and

small ovens to melt iron Besides the ceramic date (pots and tiles) indicates that

mineral digging activities began in the 16th century

Key words History Archeology Ipanema National Forest Colonial Iron

Production Technique Archeological Site Afonso Sardinha Mount Araccediloiaba

Iperoacute-SP

16

INTRODUCcedilAtildeO

A presente Tese busca analisar sob o ponto de vista da Arqueologia

Histoacuterica os resultados da pesquisa arqueoloacutegica desenvolvida pela pesquisadora

e arqueoacuteloga Margarida Davina Andreatta entre os anos de 1983 a 1989 na aacuterea

do siacutetio arqueoloacutegico Afonso Sardinha localizado no morro de Araccediloiaba

municiacutepio de Iperoacute a cerca de quinze quilocircmetros da cidade de Sorocaba Satildeo

Paulo

Os estudos desenvolvidos consideraram apenas os fatos relacionados agrave

exploraccedilatildeo e fabricaccedilatildeo do ferro no morro de Araccediloiaba desde finais do seacuteculo

XVI ateacute o seacuteculo XVIII portanto antes da instalaccedilatildeo do Estabelecimento

Montaniacutestico de Extraccedilatildeo de Ferro das Minas de Sorocaba em 1810 e mais tarde

com a denominaccedilatildeo de Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema

O resultado final do trabalho do levantamento de campo formou um

conjunto vasto e consolidado em textos de Diaacuterios de Campo escritos pela

pesquisadora correspondecircncias levantamentos topograacuteficos planos de

escavaccedilatildeo croquis e desenhos geomeacutetricos de plantas das ruiacutenas croquis de

cortes estratigraacuteficos e de reconhecimento das escavaccedilotildees Inventaacuterio de Peccedilas e

fotografias tudo devidamente registrado em relatoacuterios da pesquisa arqueoloacutegica

17

Os artefatos coletados durante as investigaccedilotildees de campo foram

acondicionados em caixas devidamente protegidas e identificadas e depositadas

nas dependecircncias do Museu do Centro de Visitantes da FLONA de Ipanema

Foram desenvolvidos trabalhos de reconhecimento e anaacutelise detalhada dos

registros arqueoloacutegicos que resultaram da pesquisa de campo e em seguida

interpretadas as informaccedilotildees anteriormente consolidadas com base nos

conhecimentos da Arqueologia Histoacuterica e Histoacuteria da Teacutecnica e da Ciecircncia

Na elaboraccedilatildeo da siacutentese interpretativa foi necessaacuterio valer-se de

instrumentos disponiacuteveis em outras aacutereas do conhecimento tais como Geologia

Mineralogia Metalurgia Engenharia dentre outras aacutereas

Tambeacutem foram elaborados exames visuais e catalograacuteficos visando a

dataccedilatildeo relativa assim como foram encaminhadas amostras de ceracircmica as

quais foram submetidas a testes de dataccedilatildeo absoluta com base em ensaios de

Termoluminescecircncia pelo Laboratoacuterio de Vidros e Dataccedilatildeo da Faculdade de

Tecnologia de Satildeo Paulo - FATEC

Por outro lado amostras de resiacuteduos de fundiccedilatildeo (escoacuterias) foram

ensaiadas em laboratoacuterio para anaacutelise quiacutemica-mineraloacutegica no Departamento de

Mineralogia e Geotectocircnica GMG do Instituto de Geociecircncias da Universidade de

Satildeo Paulo

No Capiacutetulo 1 O Siacutetio Afonso Sardinha questotildees da Arqueologia Histoacuterica

optamos por colocar uma siacutentese dos achados arqueoloacutegicos no Sitio Afonso

Sardinha sendo que com base nas informaccedilotildees disponiacuteveis foram expostas as

questotildees da Arqueologia Histoacuterica que resultaram das investigaccedilotildees de campo e

de laboratoacuterio assim como das pesquisas bibliograacuteficas

No Capitulo 2 A Teacutecnica de Produccedilatildeo de Ferro no periacuteodo entre os

seacuteculos XVI ao XVIII foram analisadas e discutidas as questotildees conceituais da

18

teacutecnica e da tecnologia relacionadas a metalurgia no periacuteodo de interesse desta

Tese compreendido entre os seacuteculos XVI e XVIII Para compreensatildeo dos

processos de produccedilatildeo de ferro foram apresentadas descriccedilotildees dos

procedimentos de fabricaccedilatildeo bem como ilustraccedilotildees das ferramentas

equipamentos e maacutequinas em uso naquele estaacutegio do conhecimento teacutecnico

O Capiacutetulo 3 Histoacuterico da Mineraccedilatildeo no Brasil Colonial trata de uma

avaliaccedilatildeo da historiografia disponiacutevel sobre as atividades de mineraccedilatildeo no Brasil

e particularmente para o caso da entatildeo Capitania de Satildeo Vicente merecendo

esclarecer que parte destas obras foi produzida na primeira metade do seacuteculo XX

Aleacutem disso foram consultados documentos do Arquivo Municipal de Satildeo Paulo

do Arquivo do Estado de Satildeo Paulo e Biblioteca e Arquivo do Museu Histoacuterico

Sorocabano

No Capiacutetulo 4 O Sitio Afonso Sardinha apresenta-se a localizaccedilatildeo

geograacutefica as caracteriacutesticas geoloacutegicas e geomorfoloacutegicas do morro de

Araccediloiaba a vegetaccedilatildeo a hidrografia recursos minerais com destaque especial

para a presenccedila da Magnetita Finalmente oferece-se um contexto sucinto a

respeito da ocupaccedilatildeo colonial e a presenccedila de naturalistas viajantes inclusive

Saint Hilaire em 1919

No Capiacutetulo 5 Investigaccedilotildees Arqueoloacutegicas as evidencias de uma Faacutebrica

de Ferro com base em todos os dados que resultaram da pesquisa de campo

foram desenvolvidos trabalhos sendo que num primeiro momento relacionados

ao reconhecimento e anaacutelise detalhada dos registros arqueoloacutegicos fornecidos

pela pesquisa acima mencionada

No uacuteltimo Capiacutetulo de nuacutemero 6 Interpretaccedilotildees dos dados arqueoloacutegicos

buscou-se elaborar uma interpretaccedilatildeo das informaccedilotildees consolidadas nos

documentos produzidos a partir dos conhecimentos da Arqueologia Histoacuterica e

Histoacuteria da Teacutecnica e da Ciecircncia

19

CAPIacuteTULO 1

O SIacuteTIO AFONSO SARDINHA QUESTOtildeES DA ARQUEOLOGIA HISTOacuteRICA O presente Capiacutetulo tem por objetivo indicar um conjunto de questotildees que

deveratildeo ser analisadas no decorrer da elaboraccedilatildeo desta Tese as quais

emanaram dos resultados alcanccedilados pelas pesquisas arqueoloacutegicas realizadas

no siacutetio Afonso Sardinha pela pesquisadora e arqueoacuteloga Margarida Davina

Andreatta

Para melhor compreensatildeo dos fatos que fazem parte do contexto do

presente trabalho tendo em vista a identificaccedilatildeo daquelas questotildees satildeo

apresentados a) uma avaliaccedilatildeo dos dados bibliograacuteficos que tratam de assuntos

relacionados ao siacutetio arqueoloacutegico b) um histoacuterico da descoberta das ruiacutenas c)

consideraccedilotildees sobre a metodologia utilizada d) uma descriccedilatildeo geral resumida

das pesquisas arqueoloacutegicas realizadas

11 Contexto do presente trabalho 111 Avaliaccedilatildeo dos dados bibliograacuteficos

As primeiras notiacutecias relacionadas agraves minas de ferro do Morro de

Araccediloiaba e com os trabalhos de fundiccedilatildeo daquele mineacuterio foram dadas por

Pedro Taques de Almeida Paes Leme (1714-1777) Aleacutem de sua obra mais

conhecida a Nobiliarquia Paulistana Histoacuterica e Genealoacutegica escreveu a Histoacuteria

da Capitania de Satildeo Vicente e um compecircndio sobre a exploraccedilatildeo e a legislaccedilatildeo

mineira intitulado Noticia das Minas de Satildeo Paulo e dos Sertotildees da mesma

Capitania

20

Neste uacuteltimo trabalho escrito na segunda metade do seacuteculo XVIII afirmou

ter sido o bandeirante Afonso Sardinha e seu filho mameluco do mesmo nome

ldquoos que tiveram a gloacuteria de descobrir ouro de lavagem nas Serras de

Jaramimbaba e do Jaraguaacute em Satildeo Paulo na de Votoruna em Parnaiacuteba e na

Biraccediloiaba no Sertatildeo do Rio Sorocaba ouro prata e ferro pelos anos de 1597rdquo

(TAQUES 1954 p 112) Em Notiacutecias Genealoacutegicas citado por Nicolau de

Campos Vergueiro PedroTaques completa aquela informaccedilatildeo indicando que

Afonso Sardinha havia construiacutedo uma faacutebrica e dois fornos de ferro em

Biraccediloiaba e que havia doado um dessas Faacutebricas agrave D Francisco de Souza

quando ldquoem pessoa passou a Biraccediloiaba no ano de 1600rdquo (VERGUEIRO 1978

p6)

Taques escreveu suas obras dentro de um contexto em que os trabalhos

historiograacuteficos buscaram dar um enfoque positivo a participaccedilatildeo bandeirante na

histoacuteria de Satildeo Paulo e ao mesmo tempo contrapor todas as outras narrativas

que haviam sido escritas nos seacuteculos anteriores sobretudo pelos Jesuiacutetas

Assim firmou para que Afonso Sardinha e seu filho passassem para a Histoacuteria

como tendo sido os descobridores daquelas minas e os pioneiros na fabricaccedilatildeo

do ferro no Morro de Araccediloiaba

Entre os veiacuteculos de divulgaccedilatildeo dessa historiografia estaacute o Instituto

Histoacuterico e Geograacutefico de Satildeo Paulo e do Brasil (sediado na cidade do Rio de

Janeiro) sendo este uacuteltimo responsaacutevel pela divulgaccedilatildeo das obras de Pedro

Taques1 Por outro lado aquelas afirmativas foram reforccediladas pelo

1 Os Institutos Histoacutericos e Geograacuteficos foram junto com os Museus brasileiros os primeiros e mais importantes espaccedilos que existiam no seacuteculo XIX para a pesquisa de humanidades e para a ciecircncia em geral no Brasil O Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Satildeo Paulo seraacute uma instacircncia de produccedilatildeo a afirmar uma suposta especificidade paulista elaborar tradiccedilotildees do estado ndash atraveacutes de biografias de seus vultos estudos sobre o passado da proviacutencia etc Nesse sentido eacute tambeacutem uma historiografia com teor ciacutevico paulista sobretudo mas que buscava afirmar a prevalecircncia de Satildeo Paulo perante a naccedilatildeo como um todo releitura da figura do bandeirante no sentido de elevaacute-lo agrave condiccedilatildeo de construtor da naccedilatildeo ROMANCINI Richard Inventando tradiccedilotildees os historiadores e a pesquisa inicial sobre o jornalismo II Encontro Nacional da Rede Alfredo de Carvalho Florianoacutepolis de 15 a 17 de abril de 2004 Disponiacutevel em lthttpwwwjornalismoufscbrredealcarcdgrupos20de20trabalho20de20historia20da20midiahistoria20dos20jornalismotrabalhos_selecionadosrichard_romancinidocgt Acesso em 060706

21

desaparecimento de total ou significativa parcela dos documentos que

constituiacuteram as fontes pesquisadas por aquele autor tais como os arquivos do

Primeiro Cartoacuterio dos Oacuterfatildeos de Satildeo Paulo os da Provedoria da Real Fazenda e

os da Cacircmara da Vila de Satildeo Paulo2

Aleacutem disso uma significativa parcela dos trabalhos publicados entre os

seacuteculos XIX e XX sobre as atividades metaluacutergicas desenvolvidas no morro de

Araccediloiaba estavam voltados para as anaacutelises sobre os aspectos da geografia

historia mineralogia botacircnica e geologia a partir da implantaccedilatildeo da Real Faacutebrica

de Ferro de Ipanema fundada em 1810 3 Quanto aos periacuteodos anteriores a fonte

de informaccedilatildeo sempre foi a obra de Pedro Taques a qual foi amplamente

difundida com a publicaccedilatildeo da obra de Azevedo Marques intitulada

Apontamentos histoacutericos geograacuteficos bibliograacuteficos e estatiacutesticos da proviacutencia de

Satildeo Paulo em 1879

A construccedilatildeo da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema estaacute inserida no acircmbito

da implementaccedilatildeo de poliacuteticas voltadas para favorecer a transferecircncia para a

colocircnia de todo o aparelho institucional do reino a partir da chegada de D Joatildeo VI

a cidade do Rio de Janeiro4 Entre os projetos estava a implantaccedilatildeo e

desenvolvimento da siderurgia no Brasil a partir da exploraccedilatildeo das jazidas de

ferro jaacute conhecidas como as do Morro de Araccediloiaba na Proviacutencia de Satildeo Paulo e

das jazidas de ferro de Minas Gerais localizadas nos atuais municiacutepios de

Congonhas do Campo e Gaspar5

2 Os arquivos da Provedoria foram destruiacutedos por uma enchente do Tamanduateiacute em 1929 Dos outros arquivos restam apenas poucos exemplares e que estatildeo incompleto como o das Atas da Cacircmara da Vila de Satildeo Paulo RODRIGUES Leda Maria Pereira As Minas de ferro em Araccediloiba (Satildeo Paulo Seacuteculos XVI-XVII-XVIII) Annais do III Simpoacutesio dos Professores Universitaacuterios de Histoacuteria Franca 1966 p 171 3 A Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema inicia suas atividades a partir da promulgaccedilatildeo da Carta Reacutegia de 4 de dezembro de 1810 Esta carta conteacutem instruccedilotildees para o funcionamento de uma faacutebrica de ferro em Sorocaba Em 1895 encerra definitivamente as suas atividades Ver bibliografia 4 Com a presenccedila de D Joatildeo VI foi promulgada em 1808 a abertura dos portos para o comeacutercio e um alvaraacute que revogava o Decreto de D Maria I de 1785 referente a proibiccedilatildeo da abertura de faacutebricas e manufaturas no estado do Brasil e Domiacutenios Ultramarinos 5 As minas de ferro de Gaspar Soares deram origem a Real Faacutebrica de Ferro de Gaspar Soares cuja direccedilatildeo foi dada ao Intendente Manuel Ferreira da Cacircmara Em 1811 tambeacutem para o Brasil o teacutecnico alematildeo Gotthelft Von Feldner com a incumbecircncia de examinar as minas receacutem

22

Para dar andamento agravequeles projetos foram trazidos para o Brasil o

mineralogista alematildeo Friederich Ludwig Wilhelm Varnhagen (1782-1842) e

Wilhelm-Ludwig Von Eschwege (1777-1835) ambos funcionaacuterios da Coroa

Portuguesa6 Eschwege foi enviado para Minas Gerais para inspecionar as

jazidas e minas de ferro e criar com outros acionistas a companhia sideruacutergica

Faacutebrica Patrioacutetica do Prata de Congonhas do Campo que comeccedilou a funcionar

em fins de 1811 e Varnhagen para o Morro de Araccediloiaba7

Apoacutes observaccedilotildees mineraloacutegicas realizadas por Varnhagen em

Araccediloiaba A partir dos resultados daquelas observaccedilotildees ficou determinado que

Sorocaba era o local mais apropriado para a construccedilatildeo de uma siderurgia pois

ldquoa mina existente dentro de sua circunscriccedilatildeo eacute muito rica em metal de ferro e

conta na sua proximidade com extensas matas as quais haacute muitos anos mandou

reservar e que forneceratildeo o indispensaacutevel combustiacutevelrdquo(FRAGA 1968 p 66)

Assim em 1810 foi fundado o Estabelecimento Montaniacutestico de Extraccedilatildeo de Ferro

das Minas de Sorocaba denominado posteriormente de Real Faacutebrica de Ferro de

Ipanema

A aacuterea escolhida para aquele novo empreendimento estava localizada junto

ao rio Ipanema que daiacute retira aquela denominaccedilatildeo deixando para traz a histoacuteria

da metalurgia que havia sido desenvolvida durante dois seacuteculos no interior Morro

de Araccediloiaba no vale das Furnas onde estaacute localizado o Siacutetio Arqueoloacutegico

Afonso Sardinha

Os primeiros trabalhos sobre a Real Faacutebrica privilegiavam as anaacutelises

voltadas para a mineralogia e as teacutecnicas de fundiccedilatildeo Quanto a este uacuteltimo

descobertas de carvatildeo do rio Pardo no Rio Grande do Sul Cf FIGUEIROA Silvia As ciecircncias Geoloacutegicas no Brasil uma Histoacuteria Social e Institucional 1875-1934 Satildeo Paulo Hicitec 1997 p 63-65 6 Varnhagen e Eschwege voltaram para Portugal em 1822 7 Varnhagen esteve em Araccediloiaba acompanhado por Martim Francisco de Andrada Martim Francisco Ribeiro de Andrada Inspetor de Minas e Matas da Capitania de Satildeo Paulo

23

aspecto destacam o emprego do alto forno da fabricaccedilatildeo do carvatildeo e o emprego

de fundentes bem como criacuteticas relacionadas agrave produccedilatildeo e qualidade do ferro8

Entre as obras mais gerais sobre aquele empreendimento publicadas no

seacuteculo XIX estatildeo os trabalhos de Antonio da Costa Pinto Silva (1852) Nicolau de

Campos Vergueiro (1843) Frederico Augusto Pereira de Moraes (1858) M Alves

de Arauacutejo (1882) Francisco de Assis Moura (1888) J Ewbank da Cacircmara (1875)

Leandro Dupreacute (1885) Baratildeo Homem de Mello (1888) Manuel Eufraacutezio de

Azevedo Marques (1879) Carlos Conrado de Niemeyer (1879) Frederico

Augusto Pereira de Moraes (1858)

Sobre a mineralogia e a geologia estatildeo os de Joseacute Bonifaacutecio de Andrada e

Silva (1820 1846) Martim Francisco Ribeiro de Andrada (1828 1846 1855) F

Schimidt (1853) e Wilhelm L Von Eschwege (1833) e Orville Adalbert Derby

(1891 e 1895 1909) Derby foi o descobridor em 1891 da apatita mineral que foi

amplamente explorado para a fabricaccedilatildeo de adubos a partir de 1927 Naquele

mesmo seacuteculo foram realizadas as primeiras anaacutelises da magnetita de Ipanema

pela Escola de Minas de Ouro Preto9 as quais tiveram como resultado a

identificaccedilatildeo do titacircnio como componente daquele mineacuterio

Dessa forma foi possiacutevel entender a dificuldade teacutecnica que enfrentaram

todos os diretores de Ipanema em produzir um ferro de boa qualidade pois a

magnetita aleacutem de sua exagerada densidade apresentava-se impregnada de

ocircxido de Titacircnio ldquofatores que contribuem de forma decisiva para dificultar sua

reduccedilatildeo mesmo em altos fornosrdquo (FRAGA 1968 p 86) Entre as pesquisas

realizadas por essa Escola estatildeo os trabalhos de Paul Ferrand (1885) e Leandro

Dupreacute (1885) Joatildeo Pandiaacute Caloacutegeras (1893 1895 19041828) e Ferdinando

Gautier responsaacutevel em 1891 pela identificaccedilatildeo da presenccedila de foacutesforo no

mineacuterio elemento tambeacutem nocivo para a produccedilatildeo do ferro Ainda no seacuteculo XIX

8 Fundentes satildeo materiais que quando mesclados com o carvatildeo vegetal dentro do forno facilitam a fundiccedilatildeo dos mineacuterios no caso de mineacuterios de ferro Em Ipanema eram utilizados como fundentes os dioritos tambeacutem chamada ldquopedra verde (do alematildeo grunstein) 9 A Escola de Minas de Ouro Preto foi inaugurada em 1876 Destinava-se a formar profissionais para a mineraccedilatildeo

24

estatildeo os relatos elaborados pelo naturalista viajantes como Saint Hilaire Von

Martius e Zaluar

No seacuteculo XX os trabalhos relacionados com aquele empreendimento

foram desenvolvidos em duas linhas de investigaccedilatildeo o da histoacuteria econocircmica e

da social Nesta uacuteltima as anaacutelises privilegiaram as abordagens sobre o processo

de trabalho e mais para o final daquele seacuteculo para as questotildees sobre o meio

ambiente como os aspectos da ecologia florestal recursos hiacutedricos gestatildeo

ambiental e do turismo ecoloacutegico

Os trabalhos historiograacuteficos daquele seacuteculo pouco acrescentaram aos

aspectos relacionados com a implantaccedilatildeo dos primeiros empreendimentos

metaluacutergicos anteriores agrave construccedilatildeo da Real Faacutebrica10 Contudo trecircs trabalhos

podem ser destacados pelas contribuiccedilotildees seja pela releitura de documentos

ainda existentes como foi o caso dos estudos realizados por Maacuterio Neme seja

pelos trabalhos de pesquisa documental elaborados tanto por Leda Maria Pereira

Rodrigues quanto por Estefania Knotz Canguccedilu Fraga

No primeiro caso Maacuterio Neme apresenta em seu livro Notas de Revisatildeo da

Histoacuteria de Satildeo Paulo uma reavaliaccedilatildeo das obras de Pedro Taques bem como

de outros autores que tratam da histoacuteria de Satildeo Paulo ateacute o momento da 10 Entre as obras direcionadas a um contexto geral brasileiro estatildeo Sylvio Froes Abreu (19371962) Afranio do Amaral (1946) Renato Frota de Azevedo (1955) Tanus Jorge Bastini (1957) Vicente Licinio Cardoso (1924) Sobrinho Costa e Silva (1953) Alpheu Diniz Gonccedilalves (1937) R Hermanns (1958) R N Jafet (1957) Theodor Knecht (1931) Viktor Leinz (1942) Clodomiro de Liveira (1914) Niacutecia Vilela Luz (1961) Manuel Moreira Machado (1919) Roberval Germano Medeiros (1947) Geraldo Magella Pires de Melo (1957) Geraldo Dutra Moraes (1943) Almiro de Lima (1929) Matias Gonccedilalves de Oliveira Roxo (1937) Edmundo de Macedo Soares (1953) Gilberto Freyre (1988) Francisco Adolpho de Varnhagen (1956) Joseacute Epitaacutecio Passos Guimaratildees (1981) Francisco Magalhatildees Gomes (1983) Francisco de Assis Barbosa (1958) Francisco de Assis Carvalho Franco (1928) Silvia Figueroa (1997) Roseli Santaella Stella (2000) Para anaacutelises direcionadas ao Estado de Satildeo Paulo estatildeo as de Paulo R Pestana (1928) Luis Flores de Moraes (1930) Afonso Taunay (1931) Benedito Lima de Toledo (1966) Maacuterio Neme (1959) Seacutergio Buarque de Holanda (1960 1966) Ernani da Silva Bruno (1953) Jesuiacuteno Feliciacutessimo Juacutenior (1969) Washington Luis (1956) Gabriel Pedro Moacyr (1935) E aqueles relacionados agrave histoacuteria local da Real Faacutebrica estatildeo o de Joseacute Monteiro Salazar (1982) Astor Franccedila Azevedo (1959) Luiz de Almeida Castanho (1937 1939 1958) Jaime Benedito de Arauacutejo (1939) Ezequiel Freire (1953) Emanuel Soares Veiga Garcia (1954) Joatildeo Lourenccedilo Rodrigues (1953) Otaacutevio Tarquiacutenio de Souza (1946) Heacutelio Vianna (1969) Andreacute Davino (1965) Guido Ranzani (1965) Miriam Escobar (1982) Theodoro Knecht (1930) Helmut Born (1989) Lenharo S L R (1996) Antonio Maciel Botelho Machado (1998) e Jaime Rodrigues (1998) Aluiacutezio de Almeida (2002)

25

publicaccedilatildeo da obra em 1959 confrontando as afirmaccedilotildees dos autores com base

nos documentos disponiacuteveis naquele momento A obra segundo o autor fora

escrita com base em pesquisa documental realizada por ele durante duas

deacutecadas tendo concluiacutedo que ldquofirmamo-nos na convicccedilatildeo mais absoluta de que a

crocircnica de nossa formaccedilatildeo e evoluccedilatildeo estaacute a exigir ampla revisatildeo quer em

mateacuteria de fatos e acontecimentos na sua ocorrecircncia e significaccedilatildeo imediata e

futura e no que toca a dados datas e nomes quer em mateacuteria de interpretaccedilatildeordquo

(NEME1959 p11)

Ao final deste trabalho Neme conclui que os dados oferecidos por Pedro

Taques a respeito da construccedilatildeo de uma Faacutebrica de ferro por Afonso Sardinha no

Morro de Araccediloiaba natildeo passou de uma faacutebula criada por aquele autor sendo

que a uacutenica Faacutebrica de ferro que de fato existiu no iniacutecio do seacuteculo XVII foi a de

Santo Amaro

No segundo trabalho a ser considerado trata-se de um artigo publicado em

1966 pela historiadora Leda Maria Pereira Rodrigues intitulado As Minas de ferro

em Araccediloiaba (Satildeo Paulo Seacuteculos XVI-XVII-XVIII) onde a autora afirma que ldquoos

primoacuterdios de nossa Histoacuteria fazem surgir duacutevidas difiacuteceis de serem esclarecidas

pois haacute falta de documentos coesos que provem incontestavelmente a veracidade

de certas afirmaccedilotildeesrdquo Neste mesmo trabalho ela conclui que ateacute a instalaccedilatildeo da

Real Faacutebrica em 1810 todos os empreendimentos anteriores constituiacuteram numa

ldquoseacuterie de tentativas frustrasrdquo A autora demonstra que pelo menos dois

empreendimentos foram efetivamente implementados naquele local o de Luiz

Lopes de Carvalho por volta de 1690 e o de Domingos Pereira Ferreira em 1875

(RODRIGUES 1966 p246-249)

Em 1968 Estefania Knotz Canguccedilu Fraga sob a orientaccedilatildeo da historiadora

Leda Maria Pereira Rodrigues seguindo as discussotildees iniciadas pela autora

acima mencionada desenvolveu uma tese na aacuterea de Histoacuteria do Brasil com o

titulo Subsiacutedios para o estudo da Histoacuteria da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema

(1779-1822) Neste trabalho analisou especialmente o empreendimento de

26

Domingos Pereira Ferreira como tambeacutem as primeiras deacutecadas de

funcionamento da Real Faacutebrica sob a direccedilatildeo de Hedberg (1810-1814) e

Varnhagen (1814-1822) A autora depois de enumerar as possiacuteveis causas que

teriam levado ao que atribui ser um ldquoinsucessordquo econocircmico daqueles

empreendimentos conclui que

mesmo que a faacutebrica de ferro de Araccediloiaba (como

primitivamente era denominado o local) natildeo possa oferecer

ao pesquisador nada aleacutem de constantes provas de seu

insucesso ainda assim o propoacutesito que o anima natildeo deve

esmorecer Afinal o que seria da Historia se soacute merecessem

registro os eventos vitoriosos Quantas derrotas natildeo

levaram as vitoacuterias Porque entatildeo omiti-las se fazem parte

integrante da mesma Porque esquececirc-la se refletem uma

circunstancia real mesmo que nela se insinue uma ou mais

ldquoforccedilas obstrutivasrdquo que consagram ao fracasso tudo o que

nela se condiciona mas que nem por isso obstam uma ou

vaacuterias tentativas de superaccedilatildeo Eacute sabido que a dualidade de

forccedilas impele a civilizaccedilatildeo E mais que a tanta gloacuteria existe

na derrota quanto na vitoacuteria quando supotildeem luta E poderaacute

algueacutem negar que Ipanema natildeo foi um glorioso campo de

luta (FRAGA 1966 p 109)

112 Histoacuterico das descobertas das ruiacutenas O Siacutetio Arqueoloacutegico Histoacuterico Afonso Sardinha foi assim denominado por

ter sido Afonso Sardinha bandeirante e seu filho mameluco11 Afonso Sardinha o

moccedilo apontados por Pedro Taques e pela historiografia como os provaacuteveis

11 Filho de pai branco e matildee indiacutegena No caso dos mamelucos os pais reconheciam publicamente a paternidade e os filhos gozavam da liberdade plena e aproximavam-se agrave identidade portuguesa Essa denominaccedilatildeo cai em desuso no seacuteculo XVIII e eacute substituiacuteda pelo termo bastardo que passava a designar qualquer pessoa com ascendecircncia indiacutegena (MONTEIRO 1994 p 167)

27

descobridores e construtores dos primeiros fornos de fundiccedilatildeo naquele local em

finais do seacuteculo XVI

No ano de 1977 Joseacute Monteiro Salazar pesquisador estudioso da histoacuteria

regional e particularmente da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema acompanhado

pelos engenheiros agrocircnomos Nerzon Nogueira de Barros e Dinchiti Sinzato e

pelo fotoacutegrafo Venedavel Acosta encontrou as ruiacutenas de um possiacutevel Faacutebrica de

ferro que atribuiu ser aquele construiacutedo por Afonso Sardinha em finais do seacuteculo

XVI (SALAZAR 1997156-159) Tal avaliaccedilatildeo decorria do fato de que aquela

regiatildeo teria sido uma aacuterea de provaacutevel exploraccedilatildeo mineral do ferro que

remontaria aos primoacuterdios da colonizaccedilatildeo de Satildeo Vicente conforme apontavam a

historiografia disponiacutevel sobre aquela Capitania

28

Fig 1 MAPA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA FLONA ndash Floresta Nacional de Ipanema Escala 1250 000 CENEA- Centro Nacional de Engenharia Agriacutecola 1985

29

Fig 2 MAPA DE LOCALIZACcedilAtildeO DO SIacuteTIO AFONSO SARDINHA Folheto IBAMA sem data e sem escala

30

Fig 3 DESENHO ESQUEMAacuteTICO DE LOCALIZACcedilAtildeO DA FAacuteBRICA DE FERRO Salazar (1997 p80)

Fig 4 MARGARIDA DAVINA ANDREATTA E JOSEacute MONTEIRO SALAZAR Aspecto do Siacutetio em 1983

31

Fig 5 MARGARIDA DAVINA ANDREATTA E JOSEacute MONTEIRO SALAZAR Iniacutecio das pesquisas no Siacutetio Afonso Sardinha 1983 As ruiacutenas foram localizadas no interior do vale das Furnas onde estaacute o

ribeiratildeo do Ferro que nasce e cruza o Morro de Araccediloiaba desaguando no rio

Ipanema o qual por sua vez eacute um afluente pela margem esquerda do rio

Sorocaba

Este ribeiratildeo

() nasce no Monte do Chapeacuteu e corre primeiro do norte para o

sul e depois de passar pelo Vale das Furnas torce bruscamente

e muda radicalmente de direccedilatildeo fazendo uma grande curva e

passando a correr do sul para o norte indo desaguar afinal no

Ipanema (SALAZAR 1997 p 02)

Foi numa das curvas do ribeiratildeo do Ferro que aquelas ruiacutenas foram

localizadas As estruturas ali descobertas se cercavam de condiccedilotildees fisiograacuteficas

favoraacuteveis para viabilizar a atividade de produccedilatildeo do ferro devido a proximidade

32

das jazidas do mineacuterio existecircncia de matas abundantes assim como de uma

hidrografia favoraacutevel para o aproveitamento da forccedila motriz das aacuteguas

A primeira constataccedilatildeo da existecircncia de uma estrutura por eles encontrada

foi uma fileira de pedras bem conservadas que identificaram ldquocomo canal

certamente para o desvio do rio a fim de mover os martinetesrdquo Descobriram uma

muralha que atribuiacuteram ser uma parede de forja (SALAZAR 1997 p159-160)

113 Consideraccedilotildees sobre a metodologia O termo arqueologia histoacuterica surge nos Estados Unidos nas deacutecadas de

1960 para designar o estudo da cultura material dos europeus no mundo Esse

termo passou a ser oficialmente adotado em 1967 tendo em vista regulamentar a

nomenclatura para designar as pesquisas arqueoloacutegicas em siacutetios histoacutericos que

estavam sendo desenvolvidas nos Estados Unidos Ateacute entatildeo eram utilizados

para identificar aqueles trabalhos arqueoloacutegicos uma nomenclatura diversificada

como arqueologia colonial arqueologia da historia arqueologia de siacutetios

histoacutericos entre outros

Naquela mesma deacutecada a arqueologia histoacuterica passa a ser uma

disciplina valendo-se da aplicaccedilatildeo de meacutetodos de escavaccedilatildeo jaacute consagrados

pela arqueologia preacute-historica e das abordagens teoacuterico-metoloacutegicas voltadas

para a interpretaccedilatildeo dos registros arqueoloacutegicos As ferramentas teoacutericas

metodoloacutegicas apresentadas pela arqueologia foram sendo revisadas e

aprimoradas de modo a contribuir com as anaacutelises destinadas a interpretar as

culturas preteacuteritas

Outra questatildeo diz respeito agrave compreensatildeo do papel da Arqueologia

Histoacuterica aplicada agraves pesquisas desenvolvidas na Ameacuterica tendo em vista a

visatildeo desenvolvida por Charles Orser Jr segundo o qual cabe a esta disciplina

investigar fundamentalmente os ldquo() aspectos mateacuterias em termos histoacutericos

33

culturais e sociais concretos dos efeitos do mercantilismo e do capitalismo que

foi trazido da Europa em fins do seacuteculo XV e que continua em accedilatildeo ainda hojerdquo

(ORSER 1992 p 23)

Posteriormente Orser trouxe novas contribuiccedilotildees a aquela conceituaccedilatildeo

ao formular a Teoria de Rede segundo a qual as pesquisas em Arqueologia

deveriam levar em consideraccedilatildeo a questatildeo das ldquointerligaccedilotildees globaisrdquo

demonstrando a ldquoorigem e os desenvolvimentos ulteriores da globalizaccedilatildeo da

modernizaccedilatildeo e da expansatildeo colonialistardquo criados por ldquoagentes conscientes do

colonialismo do eurocentrismo e da modernidaderdquo que proporcionaram a

criaccedilatildeo de uma ldquoseacuterie de elos complexos e multidimensionais que uniam

diversos povos ao redor do mundordquo (ORSER 1999 p 87)

No que se referem agrave interpretaccedilatildeo dos registros arqueoloacutegicos as

pesquisas em arqueologia histoacuterica empregam teorias e meacutetodos que foram

sendo desenvolvidos por meio da aplicaccedilatildeo de meacutetodos de abordagens como o

Histoacuterico-Culturalismo (foi amplamente difundida entre os arqueoacutelogos

brasileiros) New Archaeology ou Arqueologia Processual e Poacutes-

processualismo e suas derivaccedilotildees Cada meacutetodo privilegiou uma escala

apropriada de anaacutelise para o ldquoHistoacuterico Culturalismo foi o siacutetio para o

Processualismo a regiatildeo e para o Poacutes-Processualismo passou a ser o

indiviacuteduordquo (LIMA 2000 p 2)

No Brasil a formaccedilatildeo da primeira geraccedilatildeo de arqueoacutelogos na deacutecada de

1970 foi orientada por duas correntes teoacutericas A americana representada pelos

arqueoacutelogos Clifford Evans (1920-1981) e Betty Meggers coordenadores do

Programa Nacional de Pesquisas Arqueoloacutegicas (Pronapa) criado na deacutecada

de 1960 E a Francesa representada por Joseph e Annette Emperaire Da

escola francesa destacamos as pesquisas realizadas pelo grupo do Centre

National de la Recherche Scientifique que trabalharam em Minas Gerais

Paranaacute Satildeo Paulo e no Piauiacute em convenio com o Museu Paulista da

Universidade de Satildeo Paulo e a Universidade do Piauiacute com o objetivo de

34

proporcionar as primeiras dataccedilotildees para as obras rupestres e sua inserccedilatildeo no

contexto cultural preacute-histoacuterico (PROUS 1992 p17)

A partir da pesquisas do grupo Franco-Brasileiro foram fornecidas as

primeiras dataccedilotildees radiocarbono a introduccedilatildeo de teacutecnicas e meacutetodos mais

refinados de decapagem e a realizaccedilatildeo de escavaccedilotildees sistemaacuteticas no Brasil

Aleacutem da influecircncia teoacuterica-metodologica o convecircnio entre aquele grupo

representado por Joseph e Annette Laming Emperaire e o Centre National de

la Recherche Scientifique proporcionou a formaccedilatildeo de arqueoacutelogos e de

especializaccedilotildees na Franccedila Entre os anos de 1960-1980 o legado francecircs

permanecia em duas Instituiccedilotildees de Satildeo Paulo o Museu de Preacute-Histoacuteria

(atualmente incorporado ao MAE) e Museu Paulista da Universidade de Satildeo

Paulo e em Minas Gerais no Museu de Histoacuteria Natural da Universidade

Federal de Minas Gerais

A partir da deacutecada de 1960 as pesquisas relacionadas ao campo da

arqueologia histoacuterica foram conduzidas particularmente por arqueoacutelogos preacute-

historiadores que passaram a desenvolver pesquisas em Siacutetios Histoacutericos

Num primeiro momento aquelas pesquisas arqueoloacutegicas foram marcadas

pelas teorias do meacutetodo histoacuterico-culturalista privilegiando monumentos como

igrejas conventos missotildees jesuiacuteticas fortificaccedilotildees solares entre outros

encorajadas pelos oacutergatildeos de preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico e cultural e

pela receacutem-criada Lei 3924 de 26 de julho de 1961 atraveacutes da qual os

monumentos arqueoloacutegicos e preacute-histoacutericos passaram a serem considerados

como patrimocircnio da Uniatildeo (ANDRADE 1993 FUNARI 1998 RUBINO 1996)

Ateacute a deacutecada de 80 as pesquisas ainda seguiam aquela linha de

investigaccedilatildeo privilegiando pesquisas em monumentos Contudo jaacute havia

perspectivas de novas abordagens de pesquisa notadamente voltadas para

os segmentos sociais desfavorecidos de registros possibilitando ldquorecuperar

memoacuterias sociais reinterpretar a Histoacuteria Oficial resgatar elementos e praacuteticas

da vida cotidiana sobre os quais normalmente natildeo se escreverdquo

35

Proporcionando a arqueologia histoacuterica investigar uma diversificada temaacutetica

transformando em Siacutetios Histoacutericos quilombos unidades domeacutesticas becos

urbanos senzalas tecnologias de produccedilatildeo de materiais e povoados etc

(ANDRADE 1993 p 228)

Neste contexto se inserem as pesquisas em arqueoloacutegica histoacuterica

desenvolvida na cidade de Satildeo Paulo O Programa de Arqueologia Histoacuterica no

Municiacutepio de Satildeo Paulo foi coordenado por Margarida Davina Andreatta do

Museu Paulista da Universidade de Satildeo Paulo em colaboraccedilatildeo com o

Departamento do Patrimocircnio Histoacuterico da Secretaria Municipal de Cultural A

pesquisa realizada a partir de prospecccedilotildees e escavaccedilotildees sistemaacuteticas em

ldquoCasas Bandeiristasrdquo e locais puacuteblicos e privados do municiacutepio como becos

ruas praccedilas quintais lixotildees logradouros etc Entre os anos de 1979 e 1981

foram realizadas pesquisas arqueoloacutegicas no Municiacutepio de Satildeo Paulo nos

Siacutetios Mirim em Ermilindo Matarazzo Sitio de Morrinhos no Jardim Satildeo Bento

Casa do Grito no Parque da Independecircncia ndash Ipiranga Beco do Pinto Bairro

da Seacute Casa n 1 do Paacutetio do Coleacutegio e Casa do Tatuapeacute e no bairro do

Tatuapeacute (ANDREATTA 19812 1986a 1986b) Em 1983 Margarida Davina

Andreatta iniciou as pesquisas arqueoloacutegicas na Fazenda Ipanema ndash Iperoacute

Satildeo Paulo atualmente um aacuterea de proteccedilatildeo ambiental FLONA 12

Durante o desenvolvimento dessa pesquisa foram realizadas

escavaccedilotildees e prospecccedilotildees em uma aacuterea extensa daquela Fazenda incluindo

todas as edificaccedilotildees que pertenceram a Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema

(1810-1895)13 e as ruiacutenas existentes no Vale das Furnas junto do ribeiratildeo do

Ferro e interior do Morro de Araccediloiaba Nesta uacuteltima aacuterea denominada Siacutetio

Afonso Sardinha foi evidenciado estruturas de um Faacutebrica de Ferro e Fornos 12 As edificaccedilotildees da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema foram tombadas pelo Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional em 1964 O Siacutetio Arqueoloacutegico Afonso Sardinha foi registrado tambeacutem no IPHAN em 1997 por Margarida Davina Andreatta Ver Detalhes de Siacutetios Arqueoloacutegicos Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrportalmontaDetalheSitioArqueologicodoid=SP00236gt Acesso em 09mar 2004 13 Foram realizadas pesquisas arqueoloacutegicas nas aacutereas dos altos fornos fornos de carvatildeo edifiacutecio de armas brancas Praccedila Afonso Sardinha entre outros dependecircncias pertencentes a Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema

36

de Fundiccedilatildeo e uma diversificada tipologia de materiais os quais compotildee os

documentos arqueoloacutegicos que foram registrados no Inventaacuterio de Peccedilas

relacionadas a pesquisa (exemplos em anexo)

Da pesquisa no Sitio Afonso Sardinha foram produzidos um significativo

conjunto documental formado por inuacutemeras tipologias de documentos de

arquivo que formam o Fundo Sitio Afonso Sardinha A partir dessa

documentaccedilatildeo foi possiacutevel acompanhar o processo de desenvolvimento

daquela pesquisa e tambeacutem contextualizar os documentos arqueoloacutegicos

permitindo assim a realizaccedilatildeo de interpretaccedilotildees quanto sua dataccedilatildeo e

significado Nas palavras de Hodder ldquoa partir del momento em que se conoce

el contexto de um objeto este ya no es completamente mudordquo (HODDER

1994 18)

Os documentos do Fundo Siacutetio Afonso Sardinha satildeo compostos por

diaacuterios de campo relatoacuterios de pesquisa planos de escavaccedilatildeo fotografias

correspondecircncias e tambeacutem por uma coleccedilatildeo formada por documentos de

apoio a pesquisa como plantas topograacuteficas planoaltimeacutetricas bibliografia

histoacuterica e teacutecnica sobre mineraccedilatildeo e fundiccedilatildeo de ferro no Brasil nos primeiros

trecircs seacuteculos de colonizaccedilatildeo

A pesquisa realizada a partir da bibliografia encontrada no Fundo Afonso

Sardinha apontou caminhos de investigaccedilatildeo que direcionaram para uma

bibliografia teacutecnica e histoacuterica sobre a teacutecnica da produccedilatildeo de ferro

desenvolvida na Europa especialmente na Espanha entre os seacuteculos XVI-

XVIII Aleacutem disso foi agregada aquela investigaccedilatildeo um conjunto de

documentos de cunho oficial escritos pelos empreendedores daquela

produccedilatildeo e oacutergatildeos administrativos coloniais como a Cacircmara da Vila de Satildeo

Paulo

Assim os documentos pertencentes ao Fundo Afonso Sardinha

documentos textuais oficiais e documentos arqueoloacutegicos ndash permitiram

37

interpretar que a aacuterea do Siacutetio corresponde a um campo de trabalho de

produccedilatildeo de ferro e que as atividades de mineraccedilatildeo e fundiccedilatildeo estavam

distribuiacutedas por uma aacuterea extensa com forte influencia dos modelos de ferrarias

de aacutegua que haviam no periacuteodo pesquisado na regiatildeo basca da Espanha

Assim as possibilidades dadas pela arqueologia histoacuterica de permitir a

utilizaccedilatildeo tanto de documentos arqueoloacutegicos (artefatos) e textuais na

realizaccedilatildeo da pesquisa e produccedilatildeo do conhecimento eacute tambeacutem uma das

principais tensotildees que norteiam as questotildees teoacutericas-metodoloacutegicas da

arqueologia histoacuterica Para tanto autores como Anders Andreacuten ao considerar

que o problema da arqueologia histoacuterica eacute o encontro entre a cultura material e

a escrita indica tambeacutem que a arqueologia histoacuterica natildeo pode ignorar as

disciplinas que tratam do homem como eacute o caso da Histoacuteria da Antropologia

ou da Filologia propondo que a metodologia em arqueologia histoacuterica deve

estabelecer ldquodialogue between artifact and text that is unique in relation to

prehistoric archeology as well as historyrdquo (ANDREacuteN 1998 p 177)

114 Descriccedilatildeo geral das pesquisas arqueoloacutegicas realizadas Entre os anos de 1983 ndash 1989 as ruiacutenas encontradas por Joseacute Monteiro

Salazar (1982) foram objeto de uma pesquisa arqueoloacutegica iniciada pelo

Protocolo de Intenccedilotildees entre o Museu Paulista da Universidade de Satildeo Paulo e o

CENEA ndash Centro Nacional de Engenharia Agriacutecola - oacutergatildeo autocircnomo do Ministeacuterio

da Agricultura ao qual a Fazenda Ipanema estava ligado A pesquisa foi

coordenada pela arqueoacuteloga Margarida Davina Andreatta do Museu Paulista da

Universidade de Satildeo Paulo14

14 A Fazenda Ipanema pertenceu ao CENEA Centro Nacional de Engenharia Agriacutecola oacutergatildeo autocircnomo do Ministeacuterio da Agricultura ateacute a extinccedilatildeo desse Centro em 1990 eacutepoca em que foram exploradas as minas de Apatita para a fabricaccedilatildeo de adubos A pesquisa arqueoloacutegica nesta aacuterea foi coordenada pela pesquisadora e arqueoacuteloga Profa Dra Margarida Davina Andreatta tendo como assistente o pesquisador da Historia regional Joseacute Monteiro Salazar aleacutem de estagiaacuterios da Universidade de Satildeo Paulo e voluntaacuterios

38

Fig 6 MARGARIDA DAVINA ANDREATTA E EQUIPE EM REUNIAtildeO COM A DIRETORIA DA FLORESTA NACIONAL DE IPANEMA 1984

Fig 7 ASPECTO DA FAacuteBRICA DE FERRO em 1987

39

Fig 8 Planta da aacuterea do Sitio Afonso Sardinha aacutereas A1 e A2

40

As pesquisas arqueoloacutegicas desenvolvidas no sitio Afonso Sardinha

evidenciaram a existecircncia de um campo de produccedilatildeo de ferro localizado na

margem esquerda do ribeiratildeo do ferro o qual se mostrou formadas por duas

aacutereas identificadas durante aqueles trabalhos como aacuterea A1 e aacuterea A2

mostradas no Mapa da Figura 8

A aacuterea A1 situada no setor norte do campo apresentou ruiacutenas de uma

edificaccedilatildeo relativamente maior de produccedilatildeo de ferro composto por quatro setores

identificados como Forno (setor A) Forja (setor B) espaccedilo entre a Forja e o Canal

(setor C) e Canal (setor D) espaccedilo sul da estrutura (setor E)

Nessa aacuterea A1 a pesquisa arqueoloacutegica possibilitou as seguintes principais

evidecircncias

(i) ocorrecircncias de escoacuterias de forma disseminada e tambeacutem na forma de

um amontoado junto a parede externa (sul) da Forja

(ii) ocorrecircncias de telhas na aacuterea ao sul das paredes dos setores BC e D

(iii) ocorrecircncias de cravo e lacircminas de metal tambeacutem na aacuterea sul da

estrutura

(iv) ocorrecircncia de ceracircmica neo-brasileira nos setores da forja (B) e do

Forno (A)

(v) ocorrecircncia de faianccedila portuguesa nos setores da Forja (B) e do Forno

(A)

(vi) ocorrecircncia de vidro na parte norte do Forno (setor A) parte externa da

Forja (setor B) e tambeacutem um fragmento no setor E (parte sul da estrutura)

41

(vii) ocorrecircncia de metal na parte interna e externa da Forja (B) na aacuterea E

parte interna da aacuterea (C) e face oeste do Canal (D)

(viii) evidecircncias de esteios nas laterais do Canal (D)

Fig 9 Detalhe da aacuterea A 1 ndash Sitio Afonso Sardinha

42

Fig 10 VISTA GERAL DA AacuteREA A 1 ndash Sitio Afonso Sardinha 1987

Fig 11 VISTA GERAL DA AacuteREA A 2 ndash Siacutetio Afonso Sardinha 1987 Na aacuterea A2 mostrada na figura 12 as pesquisas arqueoloacutegicas

evidenciaram a existecircncia de duas subaacutereas sendo uma denominada de A2-B e a

43

outra de D constituiacuteda de parte de um muro de pedras cuja estrutura natildeo foi

possiacutevel identificar

Fig 12 DETALHE DA AacuteREA A 2 ndash Sitio Afonso Sardinha Na aacuterea A2-B (Morrote) foram observadas as seguintes evidecircncias

(i) ocorrecircncia de dois fornos soterrados sob um Morrote na aacuterea

designada como A2-B

(ii) ocorrecircncia de tijolos telhas e mureta de pedra

44

Na aacuterea D da figura 12 foram observados

(i) mureta de estrutura natildeo identificada

(ii) ocorrecircncia de duas estruturas circulares de natureza natildeo

identificada

(iii) ocorrecircncias de ceracircmicas telhas e tijolos

(iv) Ao sul da aacuterea A2-B observou-se a existecircncia de um muro de

pedra interpretado como sendo parte de um canal tendo ao seu lado duas

estruturas circulares com diacircmetro de 15 m (Figura 13 e 14)

Fig 13 PLANTA MORROTE ndash AacuteREA A2-B 1987

45

Fig 14 MORROTE COM EVIDENCIAS DE ldquoFORNOrdquo AacuteREA A2

46

12 Principais questotildees a serem abordadas no decorrer da Tese Os estudos histoacutericos disponiacuteveis acima apresentados bem como os

resultados das pesquisas arqueoloacutegicas realizadas conforme descritas nos itens

anteriores permitem relacionar um conjunto de questotildees que consideramos

importantes para esclarecimento do processo de instalaccedilatildeo da Faacutebrica de ferro

em Araccediloiaba (Sitio Afonso Sardinha) no periacuteodo compreendido entre o final do

seacuteculo XVI ao seacuteculo XVIII que antecedeu a instalaccedilatildeo da Real Faacutebrica de Ferro

de Ipanema em 1810

Tais questotildees podem ser resumidas conforme seguem

I - Avaliaccedilatildeo dos vestiacutegios arqueoloacutegicos das atividades relacionadas agrave mineraccedilatildeo

e agrave produccedilatildeo de ferro a partir do final do seacuteculo XVI e anteriormente agrave instalaccedilatildeo

da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema em 1810

II - Investigaccedilatildeo das possiacuteveis teacutecnicas de produccedilatildeo e meacutetodos de fundiccedilatildeo de

ferro empregadas em Araccediloiaba no periacuteodo de analise desta tese

III - Caracterizaccedilatildeo de modelos de fornos de fundiccedilatildeo e processos industriais

encontrados na aacuterea do sitio arqueoloacutegico

IV ndash Avaliaccedilatildeo das possiacuteveis causas teacutecnicas e cientiacuteficas relacionadas agraves

dificuldades de produccedilatildeo e de qualidade do ferro produzido em Araccediloiaba

47

CAPITULO 2

A TECNICA DE PRODUCcedilAtildeO DE FERRO NO PERIODO ENTRE OS SEacuteCULOS

XVI AO XVIII

21 Consideraccedilotildees sobre Teacutecnica e Tecnologia

Uma das primeiras questotildees para conceituar Teacutecnica refere-se agraves anaacutelises

que permitem diferenciaacute-la do conceito moderno de Tecnologia Ruy Gama (1986

p 19) ao analisar essa questatildeo a partir de autores de liacutengua inglesa observa que

o conceito de tecnologia aparece ldquoora como simplesmente sinocircnimo de teacutecnica ou

de conjunto de teacutecnicas alarga-se as vezes para incluir o produto material das

teacutecnicas e outras vezes menos frequumlentes eacute usada como sinocircnimo de saber

associado as teacutecnicas ou como estudo das teacutecnicasrdquo

A partir de 1930 a preocupaccedilatildeo com a Histoacuteria da Teacutecnica vem se

difundido sobretudo por meio das anaacutelises iniciadas por autores franceses como

Marc Bloch Lefevre de Noeumlttes e Lucien Febvre e ingleses como Abbott Payson

Lynn White Jr e Lewis Munford que a transformaram numa ldquonova disciplinardquo

historiograacutefica 15

No Brasil a primeira discussatildeo sobre essa temaacutetica foi apresentada em

1985 com a publicaccedilatildeo do livro Histoacuteria da Teacutecnica e da Tecnologia organizado

por Ruy Gama Este trabalho eacute formado por uma coletacircnea de textos claacutessicos e

de outros produzidos por autores estrangeiros e brasileiros sobre a Histoacuteria da

Teacutecnica da Tecnologia e da Ciecircncia Entre os textos escritos por autores

brasileiros destacam-se os trabalhos de Fernando Luis Lobo Barbosa Carneiro e

de Julio R Katinsky

15 Os Textos em que estes autores discutem o conceito de Teacutecnica e Tecnologia foram publicados no livro Historia da Teacutecnica e da Tecnologia organizado por Ruy Gama (1985)

48

No texto escrito por esse uacuteltimo autor estaacute um Glossaacuterio dos Carpinteiros

de Moinho onde o autor apresenta os resultados de uma pesquisa que fez sobre

os moinhos hidrauacutelicos no Brasil cuja utilizaccedilatildeo eacute bastante frequumlente nas aacutereas

rurais dos Estados de Satildeo Paulo e Sul de Minas Aleacutem disso oferece um

glossaacuterio de termos empregados ldquobasicamente na construccedilatildeo de monjolos

prensas de mandioca engenhocas de accediluacutecar e moinhos hidrauacutelicos de gratildeos

estes uacuteltimos geralmente preparados para produzir quirera ou fubaacuterdquo (KATINSKY1985 p 216)

Aleacutem desses textos a Coletacircnea traz dois artigos do economista alematildeo

Johann Beckmann (1729-1811) considerado ldquoo pai da Tecnologiardquo por haver

firmado aquele conceito em fins do seacuteculo XVIII e instituiacutedo a disciplina de

Tecnologia no ensino da Universidade de Goumlttingen16 Em 1777 publica a obra

Instruccedilatildeo sobre Tecnologia em que firmava o seu conceito de Tecnologia como

ldquoconhecimento dos ofiacutecios faacutebricas e manufaturas especialmente daquelas que

tem contacto estrito com a agricultura a administraccedilatildeo puacuteblica e as ciecircncias

cameraliacutesticasrdquo (GAMA 1985 p6) Na introduccedilatildeo dessa mesma obra Beckmann

escrevia que

A histoacuteria das artes pode dedicar-se a enumeraccedilotildees das

invenccedilotildees ao progresso e ao curso habitual de uma arte ou de

um trabalho manual mas eacute a tecnologia que explica de maneira

completa clara e ordenada todos os trabalhos assim como seus

fundamentos e suas consequumlecircncias (BECKMANN Apud GAMA

1985 p6)

Serge Moscovici em Essai sur lrsquohistorie humaine de la Nature referindo-se

a Beckmann afirma que este autor conscientemente ldquoforja o termo tecnologia

para designar a disciplina que descreve e ordena os ofiacutecios e as induacutestrias

existentesrdquo (MOSCOVICI apud GAMA 1985 p 8)

16 Goumlttingen era uma das mais conhecidas universidades da Europa agrave qual se vinculavam muitos estadistas e funcionaacuterios administrativos da Alemanha

49

Para Beckmann e outros autores de seu tempo a Tecnologia estava

intimamente ligada agrave escola e basicamente agrave uniatildeo dos ldquosaacutebiosrdquo com os

ldquofabricantesrdquo que dominavam o conhecimento teacutecnico numa eacutepoca em que este

mesmo conhecimento comeccedilava a ser objeto de investigaccedilatildeo de academias e

universidades as quais tinham como objetivo a formulaccedilatildeo de uma linguagem

tecnoloacutegica por intermeacutedio da codificaccedilatildeo de conceitos Ressaltamos ainda que

as propostas de Beckmann e esse novo olhar paras as teacutecnicas estavam

voltadas para o atendimento de demandas sociais surgidas com a Revoluccedilatildeo

Industrial

Se a Tecnologia tem a funccedilatildeo de explicar como afirma Beckmann ela

tambeacutem teve seu tempo de formulaccedilatildeo Segundo Ruy Gama o nascimento do

conceito de Tecnologia pode ser situado historicamente no decorrer da Idade

Moderna sendo difundido a partir do seacuteculo XVII Para este autor tal conceito foi

construiacutedo

pari passu ao desenvolvimento do capitalismo e agrave substituiccedilatildeo do

modo de produccedilatildeo feudalcoorporativo e do sistema de

transmissatildeo do conhecimento apoiado na aprendizagem pelo

emprego do trabalho assalariado e pelo sistema escolarizado do

conhecimento (GAMA 1986 p30)

Dessa forma ateacute pelo menos antes do advento da ldquoRevoluccedilatildeo da Ciecircnciardquo

(1789-1848) especialmente pelas descobertas proporcionadas pela Quiacutemica 17

todos os processos de produccedilatildeo eram realizados a partir de conhecimentos

ldquopraacuteticosrdquo e que natildeo eram e natildeo poderiam ser explicados cientificamente Assim

trabalhavam os carpinteiros camponeses mineiros e fundidores de metais e

outros artesatildeos da Idade Meacutedia associando engenhosidade experiecircncia e

habilidade manual ou em outras palavras centrados no ldquomais rude empirismordquo

(USHER 1994 p 465)

17 A Quiacutemica entre todas as ciecircncias ldquofoi a mais iacutentima e imediatamente ligada agrave praacutetica industrial ndash a Revoluccedilatildeo Industrial - especialmente integrada aos processos de tingimento de tecidos e branqueamento da industria tecircxtilrdquo ( HOBSBAWM 1979 p305)

50

Para Milton Vargas a Tecnologia soacute pode ter vigecircncia depois do

estabelecimento da Ciecircncia Moderna 18

principalmente pelo fato de essa cultura ser um saber que apesar

de teoacuterico deve necessariamente ser verificado pela experiecircncia

cientiacutefica Esse aspecto experimental e portanto empiacuterico da

Ciecircncia moderna proveacutem da ideacuteia renascentista de que tudo

aquilo que fora realizado pela tradiccedilatildeo teacutecnica poderia secirc-lo

tambeacutem pela teoria e metodologia cientiacuteficas o que

evidentemente aproxima o saber teoacuterico-cientiacutefico do fazer

empiacuterico da teacutecnica (VARGAS 1994 p 16)

22 O conceito de Teacutecnica Originaacuterio da Greacutecia Claacutessica o conceito de Teacutecnica estava inserindo num

tipo de ldquosaber-fazerrdquo associado a mitos como o de Hefestos (Vulcano para os

romanos) ndash o ferreiro - senhor do fogo e da forja que segundo aquela mitologia

havia revelado o segredo desta Teacutecnica aos homens Desta perspectiva

mitoloacutegica o conceito de Teacutecnica transformou-se num outro tipo saber-fazer o da

ldquotechneacuterdquo um conhecimento empiacuterico que somente pode ser obtido atraveacutes do

aprendizado baseado na experiecircncia ou entatildeo a partir dos ensinamentos

transmitidos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo

Neste sentido a Techneacute natildeo eacute uma habilidade qualquer ldquomas uma

habilidade que segue certas regras por isso techneacute significa tambeacutem ofiacutecio

pressupotildee a existecircncia de um substrato um saber e um conhecimento na

18 Para Hobsbawm o progresso da ciecircncia natildeo pode ser entendido como um simples ldquoavanccedilo linear cada estaacutegio determinando a soluccedilatildeo de problemas anteriormente impliacutecitos nele e por sua vez colocando novos problemas Estes avanccedilos tambeacutem procedem pela descoberta de novos problemas de novas maneiras de enfocar os antigos de novas maneiras de enfrentar e solucionar velhos problemas de campos de investigaccedilatildeo inteiramente novos de novos instrumentos praacuteticos e teoacutericos de investigaccedilatildeordquo (HOBSBAWM 1979 p 302)

51

execuccedilatildeo de uma atividaderdquo (NADAL 2000 p 18) Esta forma de saber baseada

na loacutegica prolongou-se atraveacutes da Idade Meacutedia e chegou aos nossos dias com o

tiacutetulo de Teacutecnicas Natildeo satildeo teorias satildeo conhecimentos que tanto podem ser

adquiridos pela praacutetica como pelo estudo de tratados teacutecnicos

Entre os seacuteculos XVI e XVII a Ciecircncia ao romper com a tradiccedilatildeo

escolaacutestica19 avanccedila para o caminho da experimentaccedilatildeo com a valorizaccedilatildeo das

artes (teacutecnica) as quais jaacute vinham se transformando em objeto de preocupaccedilatildeo e

de estudo desde a Baixa Idade Meacutedia e o Renascimento ateacute chegar agrave constituiccedilatildeo

da Ciecircncia Moderna (DANTAS 2004)

Contraposta ao pensamento grego e medieval em que a

contemplaccedilatildeo das verdades era a meta do conhecimento sabe-se

que a partir do Renascimento haacute uma valorizaccedilatildeo do

conhecimento praacutetico bem como uma mudanccedila no estatuto do

conhecimento teacutecnico Haacute uma expectativa de intervenccedilatildeo e de

controle da natureza e correlativamente um reconhecimento da

teacutecnica isto eacute das atividades inventos e construccedilotildees dos

praacuteticos engenheiros e artesatildeos Daiacute se falar em uma nova forma

de saber e uma nova figura de douto Haacute no entanto uma seacuterie de

dificuldades para estabelecer as razotildees do surgimento dessa

dimensatildeo ativa e o papel que ocupa no nascimento da ciecircncia

moderna (OLIVEIRA1997 p )

No seacuteculo XV esse movimento de valorizaccedilatildeo do trabalho teacutecnico dos

artesatildeos ligado agrave experimentaccedilatildeo foi amplamente difundido pela divulgaccedilatildeo

daqueles conhecimentos atraveacutes de publicaccedilotildees A partir de 1630 surgiram os

Tratados Teacutecnicos Manuais20 como tambeacutem dicionaacuterios e enciclopeacutedias que se

dedicavam ao levantamento da terminologia das diversas artes das

nomenclaturas teacutecnicas e da descriccedilatildeo dos processos e dos meacutetodos das artes

19 Escolaacutestica movimento cultural e filosoacutefico medieval baseado em grande parte em comentaacuterios da obra do filoacutesofo grego Aristoacuteteles e de cunho puramente contemplativo 20 Na arquitetura por exemplo o estabelecimento desta praacutetica permitiu a difusatildeo das teorias e desenhos imaginados pelos arquitetos renascentistas findando assim a necessidade de construir e realizar obras para exemplificar as ideacuteias arquitetocircnicas

52

mecacircnicas as quais acabaram por solapar o domiacutenio das corporaccedilotildees de ofiacutecios 21 (BARGALLOacute 1955 p47)

A publicaccedilatildeo dos manuais teacutecnicos teraacute uma importacircncia decisiva

na padronizaccedilatildeo de unidades de medida e de representaccedilatildeo O

esforccedilo por se fazer compreender sem a equivocidade do discurso

do senso comum e sem o hermetismo do discurso maacutegico-

religioso reservado aos iniciados eacute uma forma decisiva de

objetivaccedilatildeo da comunicaccedilatildeo que muito embora seja fundamental

ao empreendimento da ciecircncia nasce como uma necessidade do

desenvolvimento da teacutecnica As exigecircncias da precisatildeo aparecem

na representaccedilatildeo (desenhos graacuteficos etc) e na linguagem

daquele tipo de saber - as artes mecacircnicas - em seus manuais de

modelos de construccedilatildeo nas descriccedilotildees dos aspectos e

proporccedilotildees dos corpos ou no detalhamento do fabrico e do uso de

instrumentos e artefatos Natildeo eacute difiacutecil ver que esse interesse na

divulgaccedilatildeo de conhecimentos potencializado pelo aparecimento

da imprensa tornava necessaacuteria a padronizaccedilatildeo da divulgaccedilatildeo

com uma linguagem mais objetiva e medidas mais precisas

(OLIVEIRA 1997)

Entre os Tratados Teacutecnicos publicados estaacute a obra De pictura (1435)

considerado o primeiro estudo cientiacutefico da perspectiva pelo italiano Leone

Batista Alberti arquiteto literato e escultor (1404-1472) Para Alberti os artistas

deveriam aprender com todos os outros artesatildeos E o caminho para esse

aprendizado segundo ele consistia em conseguir com os proacuteprios artesatildeos os

21 Dos seacuteculos II (dC) ao XV as Artes estavam classificadas em Artes Liberais e Artes Mecacircnicas As Liberais (assim chamadas por serem consideradas dignas do homem livre) estavam associadas agrave Gramaacutetica Retoacuterica Astronomia Loacutegica Aritmeacutetica Muacutesica Quanto agraves Artes Mecacircnicas organizadas nas aacutereas urbanas eram consideradas menos honrosas mais proacuteprias do trabalhador manualservil como Medicina Arquitetura Agricultura Pintura Escultura Olaria Carpintaria Ferraria Cantaria Ofiacutecio de pedreiros etc As corporaccedilotildees de ofiacutecios ateacute entatildeo responsaacuteveis pelo treinamento dos artesatildeos e pelos segredos dos ofiacutecios (os misteacuterios dos misteres) tinham o sistema de aprendizado baseado na transmissatildeo dos conhecimentos teacutecnicos na praacutetica das oficinas ndash o aprender fazendo ndash que encaminhava o aprendiz na sua carreira passando pela categoria de oficial e finalmente pela de mestre isso quando conviesse agrave corporaccedilatildeo ter mais mestre vale dizer mais oficinas no mercado

53

saberes natildeo divulgados ou secretos dos ofiacutecios Para isso orientava os artistas

para frequumlentar as oficinas e outros lugares de trabalho e fazerem perguntas aos

ferreiros pedreiros construtores de barcos e ateacute aos sapateiros Deveriam

tambeacutem frequumlentemente fingir ignoracircncia para descobrir em que o conhecimento

dos outros excedia aos seus (GAMA 1983 p 284-85)

Esse novo caminho da Ciecircncia o da experimentaccedilatildeo encontra no

pensamento do Filoacutesofo inglecircs Francis Bacon (1561-1626) uma de suas

expressotildees teoacutericas Considerado o fundador da ciecircncia experimental moderna

foi tambeacutem o criador do meacutetodo cientiacutefico baseado na observaccedilatildeo e

experimentaccedilatildeo (empirismo) que permitiram o avanccedilo das teacutecnicas que

transformaram a vida do homem campesino e mineiro do seacuteculo XVII (GAMA

1983 p34)

Em linhas gerais Bacon ldquorejeitou a separaccedilatildeo e a oposiccedilatildeo vigentes nas

filosofias tradicionais entre teoria e praacutetica entre loacutegica e operaccedilotildees reais entre

verdade e utilidaderdquo (GAMA 1983 p 33)

Interpretou essas oposiccedilotildees como oriundas das condiccedilotildees

histoacutericas e sociais bem determinadas que valorizavam a

contemplaccedilatildeo ndash a verdade em sua pureza ndash e que desprezavam

tudo o que fosse ligado agraves atividades praacuteticas e materiais Por

tudo isso preocupou-se em realccedilar tanto quanto fosse necessaacuterio

a importacircncia dos fatores materiais no desenvolvimento da

filosofia e da cultura E a partir daiacute sustenta a identidade entre

verdade e utilidade teoria e atividade operativa conhecer e fazer

e afirma que qualquer separaccedilatildeo e contraposiccedilatildeo entre esses

termos cria obstaacuteculos intransponiacuteveis de resultados efetivos e

eficientes (GAMA1983 p33-34)

54

23 A valorizaccedilatildeo do conhecimento teacutecnico e a ciecircncia experimental moderna Com o nascimento da Ciecircncia Experimental a teacutecnica artesanal e os

procedimentos teacutecnicos ligados agraves Artes Mecacircnicas passaram a ser os meios que

permitiriam o progresso da ciecircncia e o avanccedilo do saber

Joan Luis Vives (1492-1540) filoacutesofo e preceptor da corte inglesa assim

como o italiano Leone Alberti defendia que o homem culto natildeo devia

envergonhar-se de entrar nas oficinas e perguntar aos artesatildeos pelas teacutecnicas

que empregavam em suas artes Vives em sua obra De Tradendis Disciplinis

convidava os estudiosos europeus a prestar grande atenccedilatildeo aos problemas

teacutecnicos relativos agrave construccedilatildeo das maacutequinas agrave agricultura agrave tecelagem agrave

navegaccedilatildeo Advertia ainda que devessem deitar os olhos sobre o trabalho dos

artesatildeos para tentar saber onde e como essas artes foram inventadas buscadas

desenvolvidas conservadas e como aplicaacute-las Dessa forma segundo Vives

(1531 apud ROSSI 1989 p 24) o homem venceria seu tradicional desdeacutem por

aquilo que considerava como conhecimento vulgar o dos artesatildeos22

Nota-se tambeacutem que esse movimento o de valorizaccedilatildeo do saber teacutecnico

nasce no acircmbito das Academias e Associaccedilotildees vinculadas a esta nova

perspectiva de Ciecircncia e natildeo nas Universidades que permaneceram ateacute finais do

seacuteculo XVIII com poucas alteraccedilotildees metodoloacutegicas Entre os novos centros de

conhecimento estavam a Academia dei Lincei en Roma (1603) a Accademia del

Cimento en Florenccedila (1657) a Royal Society de Londres (1660) a Acadeacutemie des

Sciences de Paris (1666) aleacutem de Escolas Artesanais entatildeo criadas que

conjugavam na Ciecircncia Empiacuterica a alianccedila entre o saber (ciecircncia) e o fazer

22 Dentro desta mesma perspectiva devem ser acrescentar as obras do jaacute citado Francis Bacon Harvey Galileu e Boyle que valorizavam a experimentaccedilatildeo e a observaccedilatildeo da natureza reformulando as concepccedilotildees cientiacuteficas e reconhecendo a importacircncia das teacutecnicas e da praacutetica para a Ciecircncia

55

(teacutecnica) Na Espanha por exemplo cria-se uma escola de mineiros exercitados

em teacutecnicas sobretudo nas teacutecnicas metaluacutergicas 23

Assim podemos afirmar que naquele momento entrar no mundo do

conhecimento teacutecnico representava entrar no mundo das corporaccedilotildees de ofiacutecios

desvendando os segredos por meio da apropriaccedilatildeo do saber teacutecnico e da

linguagem utilizada pelos artesatildeos para a realizaccedilatildeo de seus ofiacutecios Para Ruy

Gama A que parece o domiacutenio dos segredos da linguagem dos artesatildeos

foi a porta pela qual se entrou no domiacutenio dos proacuteprios segredos

dos ofiacutecios Dentre os misteacuterios dos misteres a linguagem foi a

primeira a ser desvendada decifrada e jogada na rua pelas portas

e janelas arrombadas das oficinas ndash numa espeacutecie de accedilatildeo de

despejo ndash para ser vista por todo mundo (GAMA 1986 p 48)

Nas escolas artesanais surge a Tecnologia como disciplina curricular A

institucionalizaccedilatildeo deste saber permitiu que aqueles conhecimentos teacutecnicos

fossem reunidos estruturados e sistematizados e dessa forma transmitidos a um

nuacutemero cada vez maior de pessoas (GAMA 1994 p 54)

2 4 A Tecnologia como sinocircnimo de Teacutecnica

Apesar de toda a diferenciaccedilatildeo jaacute feita entre os conceitos de Teacutecnica e

Tecnologia estes termos satildeo frequumlentemente utilizados como sinocircnimos Autores

da liacutengua ingleses natildeo fazem esta distinccedilatildeo pois consideram entre outros

aspectos que a Histoacuteria da Teacutecnica e a Histoacuteria da Tecnologia apresentam seus

campos embaralhados e sua periodizaccedilatildeo extremamente difiacutecil de definir Lynn

White Jr historiador econocircmico e medievalista americano por exemplo afirma

que a Tecnologia natildeo conhece fronteiras cronoloacutegicas e geograacuteficas pois entende

Tecnologia como o ldquoconjunto de todas as Teacutecnicasrdquo e ldquoas maneiras pelas quais as

56

pessoas fazem coisasrdquo (GAMA 1985 p 14) Mas segundo Ruy Gama esta

definiccedilatildeo natildeo permite nem o estabelecimento de uma fronteira histoacuterico-

cronoloacutegica e nem geograacutefica para situar o ldquonascimentordquo do conceito jaacute que Lynn

o emprega como sinocircnimo de Histoacuteria do Trabalho e dessa forma permite

empregar o termo Tecnologia para todas as realizaccedilotildees e obras materiais dos

povos (GAMA 1985 p 14-15)

Essa concepccedilatildeo de Tecnologia como sinocircnimo de Teacutecnica desenvolve-se

num contexto em que entre outros aspectos a Arqueologia e a Histoacuteria

passavam por reformulaccedilotildees conceituais A Arqueologia passava a revelar nos

anos 40 do seacuteculo XX novos documentos materiais relacionados a civilizaccedilotildees da

Ameacuterica preacute-colombiana que supunha-se natildeo conheciam a escrita (pesquisas

atuais comeccedilam a demonstrar que a conheciam) e tampouco a roda elementos

considerados naquele periacuteodo indicadores para qualificar o niacutevel de progresso

teacutecnico de uma determinada sociedade que poderia ser considerada como

ldquoavanccediladardquo ou ldquoatrasadardquo Essas descobertas levaram a uma reavaliaccedilatildeo nas

ideacuteias de progresso e civilizaccedilatildeo e na forma de olhar outras sociedades deixando

de centrar as anaacutelises somente no ldquoeixo tradicional etnocecircntrico europeurdquo (GAMA

1985 p 14-15)

Quanto agrave Histoacuteria o nascimento de uma nova escola historiograacutefica a

Histoacuteria Nova surgida na Franccedila na primeira metade do seacuteculo XX daacute um novo

enfoque teoacuterico-metodoloacutegico agrave pesquisa histoacuterica voltada para a anaacutelise do

cotidiano Esta nova tendecircncia amplia a noccedilatildeo de documento aproximando a

Histoacuteria das demais Ciecircncias Humanas entre elas a Arqueologia possibilitando

nos anos 60 do seacuteculo XX uma ldquoverdadeira Revoluccedilatildeo Documentalrdquo que permitiu

nas anaacutelises historiograacuteficas a incorporaccedilatildeo dos documentos natildeo-escritos -

cultura material ndash viabilizando o estudo das sociedades que natildeo possuiacuteam a

escrita para registrar sua Histoacuteria

Para a divulgaccedilatildeo desse novo conceito de documento Lucien Febvre

idealizou no periacuteodo entre as duas primeiras guerras uma revista de Histoacuteria que

57

seria fundada mais tarde em parceria com Marc Bloch com o nome de Annales

drsquoHistorie Economique et Sociale os ldquoAnnalesrdquo Para Febvre ao analisar o

trabalho do historiador a partir da noccedilatildeo ampliada de documento afirma que

A Historia faz-se com documentos escritos sem duacutevida Quando

estes existem Mas pode fazer-se deve fazer-se sem documentos

escritos quando natildeo existem Com tudo o que a habilidade do

historiador lhe permite utilizar para fabricar o seu mel na falta das

flores habituais Logo com palavras signos paisagens e telhas

Com as formas do campo e ervas daninhas Com os eclipses da

lua e a atrelagem dos cavalos de tiro Com os exames de pedras

feitos pelos geoacutelogos e com a anaacutelise de metais feitas pelos

quiacutemicos Numa palavra com tudo o que pertencente ao homem

depende do homem serve ao homem exprime o homem

demonstra a presenccedila a actividade os gostos e as maneiras de

ser do homem

Toda uma parte e sem duacutevida a mais apaixonante do nosso

trabalho de historiadores natildeo consistiraacute num esforccedilo constante

para fazer falar as coisas mudas para fazecirc-las dizer o que elas

por si proacuteprias natildeo dizem sobre os homens sobre as sociedades

que as produziram e para constituir finalmente entre elas aquela

vasta rede de solidariedade e de entre-ajuda que supre a

ausecircncia do documento escritordquo (FEBVRE 1953 p 428 apud

GOFF 1984 p 98)

Para conceituar Teacutecnica e Tecnologia recorremos tambeacutem ao Dicionaacuterio

das Ciecircncias Sociais de Alain Birou segundo o qual Teacutecnica significa

O conjunto de regras praacuteticas para fazer coisas determinadas

envolvendo a habilidade do executor e transmitidas verbalmente

por exemplo no uso das matildeos dos instrumentos e ferramentas e

das maacutequinas Alarga-se frequumlentemente o conceito para nele

incluir o conjunto dos processos de uma ciecircncia arte ou ofiacutecio

para obtenccedilatildeo de um resultado determinado com o melhor

rendimento possiacutevel (GAMA 1986 p 30)

58

Para este mesmo dicionaacuterio Tecnologia eacute

O estudo e conhecimento cientiacutefico das operaccedilotildees teacutecnicas ou da

teacutecnica Compreende o estudo sistemaacutetico dos instrumentos das

ferramentas e das maacutequinas empregadas nos diversos ramos da

teacutecnica dos gestos de trabalho e dos custos dos materiais e da

energia empregada A tecnologia implica na aplicaccedilatildeo dos meacutetodos

das ciecircncias fiacutesicas e naturais e como assinala Alan Birou tambeacutem

na comunicaccedilatildeo desses conhecimentos pelo ensino teacutecnico

(GAMA 1986 p 30)

Diante dessas consideraccedilotildees sobre Teacutecnica e Tecnologia salientamos

que neste trabalho pretendemos a partir da Arqueologia Histoacuterica contribuir

para a Histoacuteria da Teacutecnica no periacuteodo colonial brasileiro especialmente no que

diz respeito agraves teacutecnicas relacionadas agrave mineraccedilatildeo e agrave metalurgia

No periacuteodo analisado entre os seacuteculos XVI e XVIII todos os trabalhos

relacionados agravequelas atividades estavam baseados no puro empirismo no saber-

fazer e nas experiecircncias praacuteticas daqueles trabalhadores que sabiam realizar as

operaccedilotildees de fundiccedilatildeo de forma praacutetica mas natildeo tinham instrumentos para

explicaacute-los Somente com o advento da Ciecircncia Moderna especialmente com a

Revoluccedilatildeo Cientiacutefica eacute que aqueles mineiros e fundidores puderam compreender

as operaccedilotildees produtivas que realizavam

Assim assumimos a periodizaccedilatildeo proposta por Ruy Gama ao considerar

Teacutecnica e Tecnologia como categorias distintas e portanto que a Histoacuteria da

Teacutecnica natildeo coincide com a Histoacuteria da Tecnologia

59

25 A teacutecnica de produccedilatildeo do ferro no periacuteodo entre os seacuteculo XVI ao XVIII

Los antiguos herrreros descubrieron que si martillaban

repetidamente y recalentaban una y otra vez en fuego de carboacuten

un trozo de mineral de hierro al rojo obteniacutean un metal

extremamente fuerte y duro ndash hierro forjado (CARDWELL 1994

p 33)

Antes do conhecimento dos metais eram aproveitadas ldquotreze diferentes

espeacutecies minerais todas do grupo natildeo-metaacutelicos denominadas calcedocircnia (chert

e siacutelex) quartzo cristal de rocha jaspe serpentina pirita calcita ametista

fluorita esteatita acircmbar e obsidianardquo (GUIMARAtildeES1981p22) A estes minerais

natildeo metaacutelicos pode-se acrescentar a utilizaccedilatildeo de ldquopigmentos minerais usados

para ornamentos e pintura constituiacutedos de argila e oacutexidos metaacutelicos coloridos

embora alguns objetos feitos especialmente de cobre tenham sido encontrados e

datados de aproximadamente 9000 aC (GUIMARAtildeES 1981 p 22)

Atribui-se o iniacutecio do aproveitamento dos mineacuterios para a extraccedilatildeo de

metais entre os anos de 6000 a 5000 aC Admite-se que o cobre teria sido o

primeiro metal produzido pelo homem depois o bronze (uma liga metaacutelica de

estanho e cobre) Na mesma eacutepoca tambeacutem se passou a utilizar o chumbo e por

uacuteltimo o ferro Na chamada ldquoIdade do Ferrordquo houve tambeacutem a difusatildeo da

fabricaccedilatildeo do vidro e do mercuacuterio

Pesquisas arqueoloacutegicas em aacutereas mineiras da Europa tem possibilitado

revisotildees do conhecimento relacionado a natureza das mateacuterias-primas

empregadas na extraccedilatildeo do ferro Tradicionalmente sustentava-se a ideacuteia de que

a mateacuteria-prima com que se confeccionavam os primeiros objetos de ferro teria

origem em meteoritos Esta teoria se aplicava particularmente aos objetos

fabricados com ferro rico em niacutequel Atualmente pesquisas na aacuterea da

paleometalurgia demonstram que a origem de associaccedilotildees do ferro com outros

60

metais ocorre em razatildeo da composiccedilatildeo quiacutemica natural dos minerais utilizados

para a produccedilatildeo destes materiais (FAUS 2000 p 27)

O ferro como alguns outros metais natildeo eacute encontrado na natureza em

forma pura sendo que nestas condiccedilotildees encontra-se sempre combinado com

outros elementos formando oacutexidos carbonatos silicatos e sulfatos Para a

produccedilatildeo do ferro satildeo utilizados mineacuterios sobretudo os oacutexidos tais como a

hematita (Fe2O3) e a magnetita (Fe3O4) 24 Outros mineacuterios de menor importacircncia

para a produccedilatildeo tambeacutem contecircm ferro tais como a Siderita (FeCO3) Limonita

(Fe3O4) Pirita (FeS2) e a (Cromita FeOCr2O3) ( LABOURIAU 1928 p 95-110)

Os termos ldquomineralrdquo ldquomineacuteriordquo e ldquometalrdquo precisam ser esclarecidos para que

se possa compreender a forma da produccedilatildeo do ferro

Mineral eacute uma substacircncia formada em resultado da interaccedilatildeo de

processos geoloacutegicos em ambientes geoloacutegicos naturais Os minerais variam na

sua composiccedilatildeo desde elementos quiacutemicos em estado puro ou quase puro e

sais simples a silicatos complexos com milhares de formas conhecidas

(LABOURIAU 1928 p 95-96)

Mineacuterio eacute toda substacircncia natural da qual se possa fazer a extraccedilatildeo de

algum metal (como a hematita e a magnetita) Assim um mineacuterio eacute sempre uma

substacircncia mineral Entretanto nem todo mineral eacute mineacuterio pois alguns minerais

natildeo permitem a extraccedilatildeo de metais como exemplo pode-se citar a pirita (sulfeto

de ferro) um mineral que eacute aproveitado para a fabricaccedilatildeo do aacutecido sulfuacuterico mas

que natildeo permite a extraccedilatildeo do metal nele contido (o ferro) Por conseguinte a

perita eacute um mineral uacutetil mas natildeo eacute um mineacuterio (LABOURIAU 1928 p 95-96)

Metal cada um de um grande grupo de substancias simples obtidas a

partir de mineacuterios

24 A magnetita eacute assim denominada devido ao seu magnetismo natural eacute um mineral de cor preta acinzentada ou avermelhada com brilho metaacutelico de formula quiacutemica (Fe3O4)

61

Para a extraccedilatildeo do ferro dos seus mineacuterios (geralmente oacutexidos feacuterricos

como a hematita) foram desenvolvidas desde a Antiguumlidade teacutecnicas de fundiccedilatildeo

destes materiais por reduccedilatildeo que utilizavam carvatildeo de madeira como redutor

Entretanto variava de uma regiatildeo para outra o tipo do forno e forma de colocaccedilatildeo

do mineacuterio e do carvatildeo no seu interior

Elena Faus referindo ao caso da tradiccedilatildeo basca defende que ateacute o seacuteculo

XIX os avanccedilos dos meacutetodos de fundiccedilatildeo do ferro tecircm decorrido independentes

da investigaccedilatildeo cientiacutefica Para esta autora esses avanccedilos teacutecnicos foram

realizados por ldquouma multitud anoacutenima de individuos de talento formados a la

sombra del teller protagoniza la Historia de la Tecnologia Son analfabetos y no

han conocido ninguacuten tipo de ensentildeanzardquo (FAUS 2000 p 51) O aprimoramento

da teacutecnica de fundiccedilatildeo podia entatildeo ser considerado como uma sucessatildeo de

ldquoinventosrdquo de artesatildeos que na determinaccedilatildeo em resolver as dificuldades que

surgiam inventaram teacutecnicas de fundiccedilatildeo a partir de experiecircncias praacuteticas pelo

uacutenico meacutetodo que conheciam o da praacutexis do ensaio e erro (FAUS 2000 p51)

Toda a produccedilatildeo do ferro estava fundamentada em conhecimentos

teacutecnicos baseados na praacutetica e que eram conhecimentos secretos restritos aos

membros da respectiva corporaccedilatildeo de ofiacutecio Ateacute a ldquorevoluccedilatildeo da Quiacutemicardquo no

seacuteculo XVIII natildeo havia nenhum conhecimento que pudesse explicar de forma

cientiacutefica o processo em que ocorria a reduccedilatildeo do mineacuterio em metal Soacute a partir

daiacute foi possiacutevel por exemplo explicar a atuaccedilatildeo de um elemento o Carbono

obtido pela queima do carvatildeo vegetal no processo produtivo do ferro Na Franccedila

em 1722 o cientista Reneacute Reacuteaumur concluiu que a diferenccedila entre as distintas

qualidades do ferro e do accedilo resultava da incorporaccedilatildeo de uma substacircncia

material Em 1786 na Sueacutecia os matemaacuteticos Vandermonde e Berthollet e o

quiacutemico Monge confirmaram esta hipoacutetese e identificaram o elemento o

Carbono o mesmo procedente da queima do carvatildeo de madeira utilizado desde

a antiguidade na fabricaccedilatildeo (FAUS 2000 p 21-22)

62

Com o aprimoramento da teacutecnica de fabricaccedilatildeo do ferro descobriu-se

tambeacutem a forma de se produzir accedilo sendo que sua difusatildeo promoveu a

emergecircncia de instrumentos e ferramentas completamente novas dando prestiacutegio

a todos aqueles que dominavam a teacutecnica dos metais Dessa forma o ferro e

depois o accedilo foi empregado na fabricaccedilatildeo de uma diversificada variedade de

instrumentos que anteriormente eram confeccionados com madeira ou pedra

transformando assim a metalurgia em uma teacutecnica extremamente estrateacutegica

Para Donald Cardwel

la metalurgiacutea hizo posibles instrumentos y herramientas completamente nuevos ndash y anteriormente inimaginables - La

importancia fundamental de la metalurgiacutea y el prestigio de los

trabajadores expertos en el metal quedan confirmados como

sentildealaba Samuel Smiles por la frecuencia del apellido Smith

(lsquoHerrerorsquo) Ademaacutes la palabra Smith es de origen noacuterdico o

germacircnico lo cual da una clave para entender la localizacioacuten de

los primitivos centros del trabajo del metal en el occidente

europeo (CARDWEL 1994 p 34 grifo nosso)

A crescente demanda de objetos e utensiacutelios feitos de ferro proporcionou o

aprimoramento das teacutecnicas de fundiccedilatildeo como tambeacutem da especializaccedilatildeo

daquele trabalho

Na Espanha por exemplo os espaccedilos destinados a produccedilatildeo de ferro

foram se especializando Um desses espaccedilos era denominado de ferrarias

maiores que se especializaram na fundiccedilatildeo dos mineacuterios para a obtenccedilatildeo de

metal e outras denominadas de ferrarias menores dedicavam-se aacute manufatura

desse metal ou seja transformando-o em barras ou laminas para fabricar entre

outros produtos instrumentos e acessoacuterios agriacutecolas (ferraduras) armas

(espadas) e materiais construtivos (cravos) etc ( FERNANDEZ p 5)

63

Desde o iniacutecio da metalurgia tem-se buscado tambeacutem a maneira pela qual

os fornos pudessem alcanccedilar temperaturas cada vez elevadas pois para que se

possa retirar o ferro do mineacuterio de forma que fosse possiacutevel o aproveitamento de

todo metal nele existente a temperatura do forno deve se elevar aleacutem de 1535ordmC

ponto de fusatildeo daquele metal

Contudo os primeiros fornos empregados para a reduccedilatildeo com a utilizaccedilatildeo

de carvatildeo vegetal alcanccedilavam apenas temperaturas que variavam entre 1200ordmC

e 1300ordmC insuficientes para a fusatildeo completa e portanto o ferro obtido com

aquela temperatura natildeo era retirado do forno em estado liacutequido e sim em estado

pastoso A essa temperatura (12001300ordm C) o mineacuterio de ferro transformava-se

em uma ldquomassa esponjosardquo repleta de impurezas (escoacuterias que ainda

apresentavam uma significativa quantidade de ferro na sua composiccedilatildeo) Essa

massa era entatildeo colocada sobre uma bigorna e por meio de martelamento

manual ou mecacircnico retiravam-se as escoacuterias que ainda permaneciam grudadas

naquela massa compactando-a e dando forma ao metal

Labouriau ao explicar a accedilatildeo do carvatildeo vegetal durante o processo de

reduccedilatildeo explica que o carvatildeo vegetal em contato com o oxigecircnio da atmosfera

queima produzindo calor formando o gaacutes carbocircnico (CO e CO2) Esse CO2 entatildeo

ao reagir com uma parte do carvatildeo passa para CO e que esse CO juntamente

com uma parte do carvatildeo retira o oxigecircnio do mineacuterio e fica o ferro ligado a um

pouco de Carbonordquo (LABOURIAU 1928 p 146)

Essa teacutecnica de produccedilatildeo de ferro ficou conhecida como ldquoprocesso Diretordquo

ou ldquomeacutetodo de reduccedilatildeo diretardquo e o ferro produzido era o ldquoferro docerdquo Ateacute o seacuteculo

XV com o aparecimento do alto-forno esta era a uacutenica teacutecnica conhecida e

empregada na produccedilatildeo daquele metal No alto-forno o ferro atingia

temperaturas mais elevadas possibilitando uma maior absorccedilatildeo de carbono do

carvatildeo vegetal transformando-se em gusa (ferro-gusa ou ferro fundido) que saiacutea

64

do forno no estado liquido incandescente25 No seacuteculo XVI o alto forno foi

aperfeiccediloado na Alemanha e na Aacuteustria com o aparecimento do Stueckofen (alto-

forno) construiacutedos de alvenaria

Com a utilizaccedilatildeo do alto-forno e com a obtenccedilatildeo do ferro em sua forma

liacutequida foram possiacuteveis as produccedilotildees de armas de fogo balas de canhatildeo sinos

de igreja e mais tarde a fabricaccedilatildeo de adornos para as residecircncias tais como

grades enfim produtos que puderam ser produzidos a partir do ferro liacutequido

deitado em moldes

26 Fornos de fundiccedilatildeo de ferro Segundo Jordi Maluquer Motes no iniacutecio da metalurgia utilizavam-se

pequenos fornos (fornos baixos) para extraccedilatildeo do metal (ferro) os quais natildeo

eram mais que uma cavidade ciliacutendica escavada no terreno ou em uma rocha

Contudo a forma e o tamanho dos fornos foram mudando ao longo do tempo e

de simples cavidades escavadas no chatildeo os fornos comeccedilaram a ganhar ao

redor daquele ciacuterculo paredes de argila refrataacuteria o que permitia fazer fornadas

maiores aumentando assim a produccedilatildeo Contudo todos eles ateacute o advento do

alto-forno produziam por meio da reduccedilatildeo direta o ferro em estado pastoso O

produto (ferro) que ficava no interior do forno apoacutes a fundiccedilatildeo do mineacuterio era

chamado de massa de ferro patildeo de ferro ou lupa (MALUQUER DE MOTES

1983 p21)

25 No Brasil o alto-forno foi construiacutedo apenas no iniacutecio do seacuteculo XIX na Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema quando este estabelecimento estava sob a direccedilatildeo de Hedberg

65

Fig 15 CORTE ESQUEMAacuteTICO DE UM FORNO DE FUNDICcedilAtildeO ndash Forno

baixo26 Natildeo haacute descriccedilotildees detalhadas acerca desses fornos primitivos mas

vestiacutegios encontrados em vaacuterias partes da Europa como em Illasheim

(Alemanha) indicam que estes fornos apresentavam uma planta circular No

centro da Europa outros fornos construiacutedos pelos Celtas tambeacutem apresentavam

reduzidas dimensotildees Os fornos Celtas tinham em meacutedia 35 a 50 cm de

diacircmetro com uma profundidade de 45 a 50 cm Sobre uma base levantavam o

forno propriamente dito construiacutedo por uma parede ciliacutendrica de argila medindo

entre 60 a 100cm Os Celtas chegaram a desenvolver teacutecnicas eficientes de

aceramento (conversatildeo do ferro em accedilo) como por exemplo na Suiacuteccedila onde a

produccedilatildeo de espadas ganhou fama por sua resistecircncia (FAUS 2000 p 32-34)

Fornos ruacutesticos tambeacutem foram encontrados em Bengala Aacutefrica

denominados de fornos africanos ou fornos iacutendios Eram fornos ciliacutendricos e

confeccionados em areia ferruginosa mal amassada sustentada por uma

armadura de bambu Tinham dimensotildees de 090m de altura com um diacircmetro de

030m A base do forno era furada em vaacuterios lugares e colocava-se um fole em

cada uma das aberturas exceto na grade da frente (orifiacutecio pelo qual eram

26 Disponiacutevel em La Farga Rossel lthttpwwwfargarosseladcaslafarga21434htmgt

66

retiradas as escoacuterias) o que dava em geral um total de sete foles por forno

(FAUS 2000 p 50)

Fig 16 MAQUETE FORNO CELTA ndash forno baixo27

Durante o periacuteodo de dominaccedilatildeo romana Roma passou a controlar toda a

exploraccedilatildeo do ouro prata e ferro produzidos em seu impeacuterio Para a produccedilatildeo

desse uacuteltimo metal empregavam teacutecnicas de fundiccedilatildeo utilizando-se dos

chamados fornos romanos As ferrarias romanas eram constituiacutedas de ldquoum

montatildeo de fornosrdquo construiacutedos com barro e palha (RODRIGUES 1964 p11)

27 Disponiacutevel em Exposition 2000 ans de meacutetallurgie en Nivernais des Gaulois agrave Ariane ltjprostclubfravgexpo2003htmlgt

67

Fig 17 FORNO ROMANO RODRIGUES (1964 p 12)

Neste mesmo periacuteodo homens bascos dos redutos resistentes agrave

dominaccedilatildeo romana continuaram a produzir o ferro por meacutetodos de fundiccedilatildeo que

haviam aprendido com seus ancestrais utilizando os chamados ldquofornos de ventordquo

os quais podem ser relacionados agrave primeira fase da elaboraccedilatildeo do ferro As

instalaccedilotildees que utilizavam esses fornos passaram a ser conhecida como ferrarias

secas de montanha de vento Habitualmente os fornos dessas ferrarias eram

construiacutedos em aacutereas montanhosas em pontos elevados a fim de aproveitar a

forccedila dos ventos para ativar a combustatildeo do carvatildeo vegetal (FAUS 2000 p 47)

68

Fig 18 Fornos de vento ou de lupa28

Fig 19 FORNOS DE LUPA OU DE VENTO corte esquemaacutetico

28 Disponiacutevel em La Farga Rossel lthttpwwwfargarosseladcaslafarga21434htmgt

69

Para Jordi Maluquer de Motes a maior dificuldade de operaccedilatildeo da

combustatildeo era o controle das temperaturas do forno sendo que o grande

segredo para a utilizaccedilatildeo desses fornos de vento era a adequada posiccedilatildeo em que

este era instalado e tambeacutem a correta utilizaccedilatildeo dos meios artificiais empregados

na ativaccedilatildeo da combustatildeo do carvatildeo vegetal tal como o emprego de foles

manuais feitos de peles de animais Esse procedimento requeria um esforccedilo

bastante grande de trabalho humano natildeo apenas no acionamento do fole como

tambeacutem para as operaccedilotildees de martelamento da massa de ferro que se formava

no interior do forno (MALUQUER DE MOTES 1983 p 21)

Por utilizarem esta teacutecnica de reduccedilatildeo as ferrarias de vento geralmente

ficavam instaladas em regiotildees distantes dos povoados o que tambeacutem levava um

significativo nuacutemero de fundidores e mineiros a passar parte de suas vidas

distantes daqueles povoados Esse distanciamento suscitou ateacute mesmo o

surgimento de mitos e faacutebulas conforme aponta Elena Faus (2000) que

enriqueceram a cultura popular europeacuteia em especial a cultura basca

Las maravailhas del arte de aquellos seres ton solo por ellos

conocidos les hizo mecedores de leyendas Muchas de ellas les

han sobrevivido y han pasado a integrar el bagaje mitoloacutegico de la

cultura vasca

El velo de magia que enturbiaba la figura de los ferrones se

time en ocasiones de un cierto cariz de condena religiosa Se les

identifica con los lsquogentilesrsquo reacios a la evangelizacioacuten o con el

proprio demonio (lsquosentildeor de los bosquesrsquo o lsquobasejaunrsquo) en persona

(FAUS 2000 p 47)

Outros tipos de fornos de vento ou de montanha foram encontrados na

Ameacuterica Espanhola Em Potosi na atual Boliacutevia os indiacutegenas utilizavam um tipo

de forno para a fabricaccedilatildeo da prata denominado de ldquoforno de guairardquo Estes

fornos mesmo apoacutes a conquista espanhola em Potosiacute foram aproveitados para a

produccedilatildeo daquele metal (BARGALLOacute 1955 p 91)

70

Fig 20 FORNO DE GUAIRA ndash utilizado em Potosi Boliacutevia29

Aleacutem desses fornos de montanha que utilizavam a corrente de ar da

proacutepria atmosfera para acionar a combustatildeo do carvatildeo havia tambeacutem outros

tipos de fornos de fundiccedilatildeo acionados com o emprego de foles manuais Esses

fornos ficaram conhecidos por vaacuterias denominaccedilotildees e podiam ser construiacutedos de

formas e tamanhos diferentes Contudo todos eles apresentavam as mesmas

caracteriacutesticas teacutecnicas eram fornos baixos acionados por foles manuais e que

produziam o ferro utilizando o meacutetodo direto de fundiccedilatildeo Entre esses fornos

destacam os fornos de cuba de lupa de manga e castelhanos (BARGALLOacute

1955 p 91)

29Proyecto Arqueoloacutegico Porco-Potosi Disponiacutevel httplamarcolostateedu~mvanburespanish20participantshtm

71

Fig 21 Forno de Fundiccedilatildeo xilogravura de George Agriacutecola seacutec XVI30

Fig 22 Forno de Fundiccedilatildeo xilogravura de George Agriacutecola seacutec XVI31

30 Disponiacutevel em lttechnologyinfominecomdrmbook11htmgt Acesso em 17nov06

72

Tratados Teacutecnicos publicados no seacuteculo XVI como o De re metallica de

George Agriacutecola oferecerem descriccedilotildees e desenhos atraveacutes dos quais eacute possiacutevel

conhecer algumas formas daqueles fornos A partir de algumas gravuras ali

publicadas eacute possiacutevel identificar que os mesmos habitualmente eram construiacutedos

sobre uma base quadrada e eram utilizados na produccedilatildeo muitos metais como o

cobre o ouro prata e tambeacutem o ferro Esses fornos registrados por Agriacutecola

eram especialmente destinados para a fundiccedilatildeo de minerais em pedra Na

Ameacuterica Espanhola receberam o nome de ldquofornos castelhanosrdquo

Um outro autor a abordar esse tema foi Aacutelvaro Alonso Barba No seu

tratado Arte de los Metales afirmava que os fornos castelhanos eram utilizados

tambeacutem em outras partes do mundo A descriccedilatildeo que faz Barba do uso desses

fornos no Peru eacute por si soacute bastante didaacutetica para compreender o seu

funcionamento

Llaman en este reyno hornos castellanos a los que en las otras

trecircs partes del mundo han sido usados y comunes para la

fabricacioacuten de toda suerte de metales De ellos solos trata el

Agriacutecola para este efecto y es una la faacutebrica de todos y no

difieren en mas que en se mayores o menores y tener la boca

por onde el metal fundido sale oacute abierta siempre oacute cerrada a

ratos como se diraacute adelante Levaacutentense estos hornos a

perpendiculo en forma de um pilar quadrado algo maacutes largo que

anchos por lo hueco Tienen de alto algunos una vara otros casi

dos y otros menos seguacuten la grandeza de los fuelles con que

huviere de fundirse y la facilidad oacute dureza de los metales

requiere Por la parte de atraacutes en una ventanilla que para esto se

dexa en la pared algo levantada del suelo se afixa el alchrebiz en

que han de estar los cantildeones de fuelle puesto con advertencia

31 Disponiacutevel em httpwwwbizkaianetkulturakirol_gazteriaFTPGazteriapaginadedesplegablePrimitivas_instalacionespdfgt Acesso em 17nov06

73

de que no assome oacute passe aacute lo hueco del horno porque las

escorias que sobre eacutel cayeren helaacutendose con el ayre del sopro

no lo paten oacute impidan El suelo del horno se hace de dos partes

de carbon molido y una de tierra buena bien apretado con pisoacuten

Assientase pendiente azia la parte delantera donde tendraacute un

agujero por onde corra el metal fundido y salgan las escorias aacute

una hordilla que junto aacute el estaraacute bien caliente con carbones

encendidos con a llama del horno y aire del fuelle que sale por el

dicho agujero

Otros hacen estos hornos redondos mas anchos de arriba

que de abajo y son menores para lo que se pretende con que se

tenga advertecircncia que siempre este a perpendiculo la parede se

pone el fuelle porque el metal fundido o las escorias no caygan

sobre la boca del alchrebiz y la tanpenrdquo (BARBA 1640 Apud

BARGALLOacute 1955 p 93)

Entre os seacuteculos XII e XVI a teacutecnica de fundiccedilatildeo do ferro experimentou um

notaacutevel impulso em razatildeo da demanda por derivados de ferro incrementada tanto

pelas guerras que necessitavam de ferragens para as montarias apetrechos

defensivos para os soldados e armas mortiacuteferas como por instrumentos para a

agricultura Tambeacutem para a construccedilatildeo das grandes catedrais era necessaacuterio

ferro para as armaccedilotildees metaacutelicas cravos ferramentas entre outros (FAUS 2000

p52)

Para atender a estas demandas era necessaacuterio que se produzisse a maior

quantidade possiacutevel de ferro e os fornos baixos que eram anteriormente

utilizados natildeo atendiam aqueles objetivos Para tanto natildeo apenas os fornos

foram tomando outras formas como tambeacutem houve uma mecanizaccedilatildeo por meio

da utilizaccedilatildeo da energia hidraacuteulica (rodas drsquo aacutegua verticais) e da trompa hidraacuteulica

no processo produtivo tornando obsoletas as ferrarias que utilizavam a forccedila

humana e animal para a produccedilatildeo

A importacircncia da mecanizaccedilatildeo na produccedilatildeo do ferro com o uso da roda

hidraacuteulica e da trompa foi tanta que para alguns autores pode-se consideraacute-la

74

como uma autecircntica revoluccedilatildeo tecnoloacutegica (MALUQUER DE MOTES 1984 p 21-

24)

A aplicaccedilatildeo desse mecanismo (roda drsquoaacutegua) ao processo produtivo fez

com que as ferrarias que anteriormente ficavam concentradas no alto de

montanhas fossem trasladadas para as margens de rios buscando a energia

hidraacuteulica capaz de acionar primeiramente dos foles possibilitando a construccedilatildeo

de fornos de maiores dimensotildees e dessa maneira a produccedilatildeo do ferro em maior

escala

Depois dos foles a roda drsquoaacutegua foi utilizada para a mecanizaccedilatildeo do

acionamento dos malhos (grandes martelos responsaacuteveis por liberarem as

escoacuterias das massas de ferro dando-lhes formas que pudessem ser

comercializaacuteveis como o ferro em barra) A funccedilatildeo da trompa era a mesma dos

foles isto eacute insulflar ar ao interior do forno para que a combustatildeo alcanccedilasse

uma temperatura elevada A trompa era um engenhoso sistema de insuflar ar e

tambeacutem o elemento mais caracteriacutestico do procedimento conhecido como da

ldquofarga catalatilderdquo ou forno catalatildeo

O primeiro emprego da roda drsquoaacutegua vertical na produccedilatildeo de ferro foi

introduzido na regiatildeo correspondente aos Pirineus Catalatildees Neste local

desenvolveu-se uma instalaccedilatildeo destinada a produzir ferro denominado de

ldquofaacutebriques ou faacutebreguesrdquo que depois passou a ser conhecida como ldquofarguesrdquo ou

ldquofargardquo (o termo era usado tanto para descrever os lugares onde era obtido o ferro

como seu processamento) A partir do seacuteculo XIV o emprego da roda foi

difundido na regiatildeo basca ndash Espanha favorecida pelos trecircs elementos

fundamentais necessaacuterios para a sua instalaccedilatildeo a geografia da regiatildeo formada

por um territoacuterio montanhoso com a presenccedila de um significativo nuacutemero de rios

as jazidas de ferro e a floresta que fornecia o carvatildeo vegetal o uacutenico combustiacutevel

utilizado naquele processo ateacute o seacuteculo XVIII32

32 Com a Revoluccedilatildeo Industrial do seacuteculo XVIII passaram a utilizar como combustiacutevel o carvatildeo coque

75

Na Catalunha junto com o desenvolvimento das ldquofargasrdquo aprimoraram-se

tanto as teacutecnicas relacionadas agrave construccedilatildeo dos fornos como ao seu sistema de

funcionamento que ficou famoso no mundo todo como procedimento da ldquoforja

Catalatilderdquo ou ldquoprocedimento catalatildeordquo (MOLERA BARRUECO1983 p11)

A forja Catalatilde ou forno catalatildeo foi um sistema intermediaacuterio entre os fornos

baixo e os altos fornos utilizados atualmente Essa teacutecnica dominou todo o

processo de obtenccedilatildeo do ferro e accedilo durante a Idade Meacutedia espalhando-se para

a Alemanha Aacuteustria Inglaterra Franccedila e Itaacutelia Desde a Idade Meacutedia ateacute finais do

seacuteculo XIX esses paiacuteses entre outros conseguiam produzir ferro mediante aquele

sistema conhecido universalmente como ldquoprocedimento Catalatildeordquo

O periacuteodo aacuteureo do emprego da forja catalatilde se daacute entre os seacuteculos XVII e

XVIII devido sobretudo agrave introduccedilatildeo de um outro mecanismo em substituiccedilatildeo

aos foles acionados pela roda hidraacuteulica a ldquotrompa de aacuteguardquo (sistema empregado

par injetar ar no forno) Desenvolvido na Itaacutelia este novo equipamento se difunde

pelas regiotildees dos Pirineus da peniacutensula Ibeacuterica e foi assimilado pelas

manufaturas catalatildes ateacute o ponto de integraacute-las como uma das caracteriacutesticas do

meacutetodo que leva o nome de ldquofarga catalanardquo ou forno catalatildeo Jaacute nas ferrarias

bascas a trompa de aacutegua natildeo foi amplamente difundida prevalecendo a

utilizaccedilatildeo de rodas drsquoaacutegua para o acionamento de foles e do malho ( MALUQUER

DE MOTES 1983 p 23)

76

Fig 23 ARRANJO DE ldquoFARGA CATALANArdquo OBSERVAR USO DE RODA DrsquoAacuteGUA PARA ACIONAMENTO DO MALHO E A PRESENCcedilA DA TROMPA HIDRAacuteULICA JUNTO AO FORNO33

33 Folheto Museu de Ripoll sd

77

No interior das ldquofargas catalanasrdquo o forno era a parte mais importante Os

fornos de fundiccedilatildeo catalatildees diferentemente dos fornos de vento tinham uma

forma tronco-cocircnica isto eacute ldquouma forma de um tronco de piracircmide invertidardquo

(MALUQUER DE MOTES 1983 p 22) O forno era construiacutedo de pedras

refrataacuterias revestidas em parte de peccedilas de ferro com trecircs paredes planas e

uma convexa esta uacuteltima destinada a facilitar a extraccedilatildeo do produto final (massa)

A parede onde era colocada a ldquotoverardquo (entrada do fole) era oposta agrave convexa e

esta era feita de ferro numa inclinaccedilatildeo de 35o a 45o Em uma das paredes

laterais havia um buraco que deixava passar as escoacuterias liacutequidas

(MOLERABARRUECO1983 p13)

Fig 24 ELEMENTOS QUE COMPOtildeEM A OFICINA DA ldquoFARGA CATALANArdquo Observa- se a presenccedila do forno de fundiccedilatildeo e do malhos acionados por roda drsquoaacutegua34

34 Caderno de Apoio para visitante do Museu de Ripoll ndash Catalunha Espanha sd

78

Um outro aprimoramento teacutecnico do meacutetodo catalatildeo foi a forma como

passaram a carregar o forno Deixando para traacutes o meacutetodo anteriormente

conhecido que consistia em carregar o forno em camadas horizontais superpostas

com carvatildeo vegetal e mineacuterio os catalatildees passaram a carregar o forno por meio

de duas camadas verticais justapostas De um lado do forno (aquele em que

estava instalado o fole) era colocado o combustiacutevel (carvatildeo) de tal maneira que o

oacutexido de carbono que se desprendia da queima era forccedilado a atravessar a coluna

do mineacuterio (que estava disposta em uma outra coluna localizada junto agrave parede

oposta agrave do fole)

A produccedilatildeo do ferro ainda se realizava por meio do meacutetodo de produccedilatildeo

direta Sendo assim ainda se mantinha o processo de martelamento da massa de

ferro por meio do malho (que tambeacutem ficava instalado dentro daquele

estabelecimento) para a obtenccedilatildeo do produto final O meacutetodo catalatildeo natildeo apenas

melhorou a qualidade do produto final mas tambeacutem proporcionou o aumento da

produccedilatildeo

27 Tratados Teacutecnicos de Metalurgia

Entre os seacuteculos XV e XVI arquitetos engenheiros meacutedicos e artesatildeos e

outros publicaram inuacutemeros tratados voltados para os ofiacutecios mecacircnicos ou ldquoArtes

Mecacircnicasrdquo Essa literatura eacute extraordinariamente rica em Tratados de caraacuteter

teacutecnico que podem ser considerados autecircnticos manuais e representaram uma

contribuiccedilatildeo decisiva entre o saber cientiacutefico e saber teacutecnico-artesanal os quais

tiveram um grande efeito no nascimento da cooperaccedilatildeo entre cientistas e teacutecnicos

e entre ciecircncia e induacutestria (ROSSI 1989 p 30)

79

Entre as obras de caraacuteter teacutecnico publicadas naquele periacuteodo destacam-

se os escritos de Brunelleschi Ghiberti Peiro della Francesca Leonardo Cellini

Paolo Lomazzo o trabalho sobre as maacutequinas de guerra de

Konrad Keyser (1366-1405) os tratados teacutecnicos de Fontana

(1420) e Mariano (1438) as obras sobre arquitetura de Leon

Batista Alberti Filarete Francesco di Giorgio Martini Palladio o

livro sobre maquinas militares de Valturio da Rimini (publicado em

1472 reeditado em Verona em 1482 e 1483 em Bolonha em

1483 em Veneza em 1493 e nada menos que quatro vezes em

Paris entre 1532 e 1555) os dois tratados de Duumlrer sobre a

geometria descritivas e as fortificaccedilotildees (1525 e 1527) a

Pirotechnia de Biringuccio (1540) depois reeditada em duas

ediccedilotildees latinas trecircs francesas e quatro italianas) a obra de

baliacutestica de Nicolograve Tartaglia (1537) os dois tratados de

engenharia mineral de Georg Agriacutecola (1546-1556) o Teatro di

macchine de Besson (1569 depois traduzido para o francecircs e o

espanhol) os Mechanicorum libri de Guidobaldo Del Monte

(1577) as Diverse et artificiose macchine de Agostinho Ramelli

(1588) os trecircs livros sobre mecacircnica de Simon Stevin (1586

traduzido do flamengo para o francecircs em 1634) a obra sobre

fortificaccedilotildees de Lorini (1597) os trabalhos de arte da navegaccedilatildeo

de Willian Barlowe (1597) Thomas Harriot (1594) e Robert Hucs

(1599) (ROSSI 1989 p30-31)

Entre os tratados relacionados com a metalurgia e a mineraccedilatildeo

destacamos a De La Pirotechinia considerado o primeiro livro impresso dedicado

agrave metalurgia foi escrito pelo italiano Vannoccio Biringuccio (ca 1480-1539) e

publicado pela primeira vez em 1540 Adepto do empirismo Birunguccio

escreveu esse tratado baseado nas observaccedilotildees diretas do ofiacutecio que havia

adquirido durante as vaacuterias visitas que fez a Alemanha35 onde se destacava o

desenvolvimento de teacutecnicas de exploraccedilatildeo de minas de prata e tambeacutem de

35 Biringuccio visitou a Alemanha em 1516 e entre 1526 e 1529

80

equipamentos que possibilitavam a construccedilatildeo de tuacuteneis e galerias para a

exploraccedilatildeo do subsolo36

Embora tivesse sido publicado na Alemanha no iniacutecio do seacuteculo XVI de

forma anocircnima um conjunto de manuais teacutecnicos sobre o ensaio de metais a

obra de Biringuccio era mais ambiciosa explicava como descobrirem minerais e

veios a maneira de separar o ouro e a prata as teacutecnicas de ensaio e as

propriedades do cobre o zinco e outros metais Analisava aleacutem disso as

propriedades do mercuacuterio do enxofre do antimocircnio e de outros elementos

utilizados no processo de extraccedilatildeo do ouro e prata como tambeacutem os meacutetodos de

obtenccedilatildeo do accedilo aleacutem de apresentar ilustraccedilotildees sobre fundiccedilotildees de canhotildees e

sinos a fabricaccedilatildeo de objetos piroteacutecnicos e algumas poucas informaccedilotildees sobre

mineraccedilatildeo geologia e mineralogia (CARDWELL 1994 p 76)

Um outro tratado importante foi escrito pelo alematildeo Georg Bauer (1494-

1555) conhecido pela forma latina de seu nome como Georgius Agriacutecola Depois

de estudar em Leipzig Bolonha e Veneza foi em 1527 exercer a profissatildeo de

meacutedico em Joachimstal na Boemia a maior aacuterea mineira na eacutepoca Agricola

passou a maior parte de sua vida estudando mineralogia e geologia entre 1546 e

1556 escreveu dois tratados destacando a mineraccedilatildeo e a siderurgia

Em 1546 publicou dois tratados sistemaacuteticos de geologia e mineralogia a

De ortu et causis subterraneorum e a De natura fossilium os quais lhe conferiram

a designaccedilatildeo de ldquoPai da Mineralogiardquo37 O seu trabalho mais importante e de

maior divulgaccedilatildeo foi publicado em 1556 com o tiacutetulo de De Re Metallica - A Arte

dos Metais - o qual serviu como obra teacutecnica de mineraccedilatildeo durante quase dois

seacuteculos seguintes aquela primeira publicaccedilatildeo

36 A Alemanha havia desenvolvido importantes teacutecnicas de mineraccedilatildeo que foram intensificadas pelo contiacutenuo intercacircmbio de experiecircncias com a Hungria e a Sueacutecia 37 Georgius Bauer Agricola (1494-1555) cientista alematildeo considerado o fundador da mineralogia Foi um dos primeiros cientistas que baseou suas teorias na observaccedilatildeo em vez da especulaccedilatildeo Antes dele podemos destacar Alberto Magno (1193-1280) conhecido como Preacute-Tecnoacutelogo escreveu a obra De mineralibus que constitui natildeo somente uma histoacuteria dos mineralogia como tambeacutem uma descriccedilatildeo dos metais

81

O conteuacutedo do livro De Re Metallica estava baseado no estudo das coisas

materiais realizado por meio da observaccedilatildeo descriccedilatildeo sistemaacutetica analiacutetica e

meticulosa da natureza A transcriccedilatildeo dessas observaccedilotildees natildeo requeria apenas a

confecccedilatildeo de textos descritivos mas tambeacutem de ilustraccedilotildees com as quais

procuravam traduzir os conhecimentos obtidos pela observaccedilatildeo em imagens

graacuteficas as mais compreensiacuteveis possiacuteveis (ROSSI 1989 p 52)

Agriacutecola ao escrever a introduccedilatildeo desse tratado esclarecia ao leitor como

havia concebido a sua obra e as dificuldades que enfrentou para concluiacute-la

Diz ele Grandiacutessima fadiga e solicitude realmente aqui coloquei e ainda

algumas boas despesas porque natildeo escrevi simplesmente os

veios os instrumentos os canais as maacutequinas e as fornalhas

mas ainda agraves minhas expensas assalariei os pintores para fazer

seus retratos naturais a fim de que as coisas natildeo conhecidas que

satildeo apresentadas com palavras natildeo tragam real dificuldade agraves

pessoas de hoje ou de tempos vindouros (ROSSI 1989 p 51)

Os retratos naturais referidos por Agriacutecola eram as xilogravuras que

ilustravam as suas obras A partir dessas imagens era possiacutevel visualizar com

exatidatildeo de detalhes as dimensotildees sobre equipamentos instrumentos e teacutecnicas

empregadas na prospecccedilatildeo no processo de fundiccedilatildeo e orientaccedilotildees sobre o uso

da energia hidraacuteulica nas operaccedilotildees mineiras enfim as ilustraccedilotildees traziam

detalhes sobre praticamente todas as etapas das operaccedilotildees mineiras isto eacute

prospecccedilatildeo administraccedilatildeo beneficiamento e transporte de mineacuterios 38

Na segunda parte daquele mesmo livro o autor dedica-se ao ensaio e

tratamento dos minerais Como Biringuccio Agricola mostrava criacutetica e desprezo

pelo trabalho realizado pelos alquimistas Uma de suas criacuteticas referia-se ao

38Agricola demonstra neste Tratado o funcionamento de sete tipos diferentes de bombas de succcedilatildeo incluindo uma bomba muacuteltipla acionada por uma grande roda hidraacuteulica e uma bomba combinada de succcedilatildeo e impelente (bomba impelente bomba que eleva a aacutegua por meio de pressatildeo exercida sobre o liacutequido)

82

meacutetodo empregado por estes na busca de metais enterrados O uso da

radiestesia por meio do emprego de uma vara ou forquilha feita com galhos de

aacutervores era considerado por Bauer apenas uma arte da adivinhaccedilatildeo derivada da

magia antiga e que somente poderia ser e era utilizada por mineiros simples e

ordinaacuterios

A Ameacuterica Espanhola foi tambeacutem palco para a produccedilatildeo do conhecimento

relacionado agrave metalurgia Em 1640 Aacutelvaro Alonso Barba padre em Potosiacute e que

havia aperfeiccediloado o meacutetodo de amalgamaccedilatildeo39 desenvolvido por Bartolomeacute de

Medina (Beneficio de Patio)40 publicou a partir de experiecircncias proacuteprias com a

produccedilatildeo de prata naquele local o livro Arte de los Metales O livro de Barba foi o

primeiro trabalho em que se registrou o processo de amalgamaccedilatildeo por mercuacuterio

que ficou conhecido como ldquomeacutetodo de cazo y cocimientordquo (realizado por meio do

calor dentro de reservatoacuterio de cobre) Este livro foi o primeiro trabalho em que se

registraram as regras para beneficiamento de ouro e prata com a utilizaccedilatildeo do

mercuacuterio

39 Amalgamaccedilatildeo Operaccedilatildeo que consiste em ligar o mercuacuterio a outro metal ou separar o ouro e a prata da ganga por meio do mercuacuterio 40 O ldquobenefiacutecio de paacutetiordquo foi assim denominado pois toda a operaccedilatildeo de produccedilatildeo de prata era realizada em um paacutetio Consistia basicamente em mesclar a Mena (metal) moiacuteda e uacutemida com sal comum e mercuacuterio Esse meacutetodo era menos custoso que aqueles que eram utilizados e seu uso se prolongou ateacute o seacuteculo XIX

83

CAPITULO 3

HISTOacuteRICO DA MINERACcedilAtildeO NO BRASIL NO PERIacuteODO COLONIAL A Histoacuteria das primeiras expediccedilotildees no Brasil mostra que desde o inicio do

seacuteculo XVI jaacute havia uma preocupaccedilatildeo permanente aleacutem do reconhecimento do

novo territoacuterio na busca de metais e pedras preciosas que eram produtos de alto

valor econocircmico e poliacutetico aleacutem do interesse estrateacutegico

Durante os primeiros trinta anos de colonizaccedilatildeo do Brasil Portugal estava

voltado para a exploraccedilatildeo dos produtos da Aacutefrica e Iacutendia inclusive de metais

sendo que esta experiecircncia se reflete nas primeiras expediccedilotildees quando se

constata a preocupaccedilatildeo com a descoberta de metais nobres (ouro e prata)

conforme se demonstra nos itens que seguem

Embora a busca por metais fosse uma constante as exploraccedilotildees durante

a primeira metade do seacuteculo XVI resultaram a descoberta de produtos vegetais

(pau-brasil) e animais exoacuteticos (araras e papagaios) 41

Somente com a descoberta da prata na serra de Potosi em 1545 pelos

espanhoacuteis ficou comprovada a existecircncia de metais nobres no novo continente

31 As primeiras expediccedilotildees mariacutetimas a busca de metais nobres A primeira expediccedilatildeo portuguesa destinada ao reconhecimento do litoral do

Brasil partiu de Lisboa entre os anos 1501-02 sob o comando de Gonccedilalo Coelho

e pelo florentino Ameacuterico Vespuacutecio (cosmoacutegrafo contratado pela Coroa

Portuguesa) Apoacutes terem passado pelos atuais estados do Rio Grande do Norte

Bahia e Rio de Janeiro os navios desembarcaram em janeiro de 1502 numa ilha 41 O pau-brasil era extraiacutedo no litoral compreendido desde o atual Estado do Rio Grande do Norte ao Rio de Janeiro

84

que denominaram Cananeacuteia42 Este local tornou-se na primeira metade do seacuteculo

XVI importante posto avanccedilado responsaacutevel pelo abastecimento de

embarcaccedilotildees que mais tarde passaram a rumar para o sul do continente com o

objetivo de reconhecimento e busca de riquezas minerais

Em 1514 Portugal enviou uma outra expediccedilatildeo ao sul desta vez chefiada

por Joatildeo de Lisboa e Estevatildeo Frois financiada D Nuno Manuel e Cristoacutevatildeo de

Haro em cujo trajeto estava Cananeacuteia e a Ilha de Satildeo Francisco do Sul (Santa

Catarina) Esta expediccedilatildeo descobriu o estuaacuterio do rio que denominaram de Rio da

Prata Os resultados dessa expediccedilatildeo foram informaccedilotildees dadas pelos nativos

(Charruas) sobre a existecircncia de uma ldquoSerra de Pratardquo fato que deve ter

impulsionado o envio da expediccedilatildeo espanhola para o sul de Cananeacuteia em 1515

chefiada por Juan Diaz de Soacutelis (VIANNA 1972 p 54)

Entre 1521 e 1526 Aleixo Garcia junto com outros remanescentes da

expediccedilatildeo de Soacutelis e mais iacutendios guaranis partiram da Costa dos Patos (Santa

Catarina) indo aleacutem do rio paraguay e do Chaco obtendo riquezas perdidas na

viagem de regresso (VIANNA 1972 p 214)

Em 1530 parte de Lisboa a expediccedilatildeo de Martim Afonso de Souza uma

das mais importantes expediccedilotildees portuguesas Tinha como objetivos expulsar do

litoral os franceses que traficavam pau-brasil reconhecer a extensatildeo da costa

pertencente a Portugal promover a ocupaccedilatildeo do territoacuterio criando fortificaccedilotildees

em pontos de interesse estrateacutegico e especialmente explorar o rio da Prata 43

42 Cananeacuteia era local de fronteira entre as terras de Portugal e Espanha estabelecida pelo Tratado de Tordesilhas (1494) 43 A expediccedilatildeo de Martim Afonso se diferenciou das anteriores pelo fato de ter D Joatildeo III investido estes comandantes de poderes especiais aplicados sobretudo em Satildeo Vicente Entre eles permitia-se a Martim Afonso distribuir terras em sesmarias criar instrumentos juriacutedicos que permitiram o registro de propriedades atraveacutes da instalaccedilatildeo dos tabelionatos e a elevaccedilatildeo de povoados para a condiccedilatildeo de vilas o que possibilitou a instalaccedilatildeo de um processo colonizador na regiatildeo Sobre a expediccedilatildeo ver VIANNA Helio Historia do Brasil Satildeo Paulo Melhoramentos 1970 p56-61

85

Um dos fatos importantes resultantes da vinda dessas expediccedilotildees foi a

integraccedilatildeo do Porto de Satildeo Vicente44 juntamente com Cananeacuteia na rota de

navegaccedilatildeo para o sul do continente Estes portos serviam para abastecer as

embarcaccedilotildees e ali era possiacutevel contratar os ldquoliacutenguasrdquo 45

Em 1532 quando Martim Afonso chegou a Satildeo Vicente encontrou um

nuacutecleo formado por portugueses espanhoacuteis indiacutegenas Essa localidade tambeacutem

jaacute era conhecida como a porta de entrada para o sertatildeo e o caminho natural para

se ir agrave Serra da Prata atraveacutes dos Peabirus (ver item abaixo)

32 O Peabiru uma trilha para o Sertatildeo Tendo em vista a importacircncia da existecircncia de caminhos indiacutegenas

denominados Peabirus como facilitadores da interligaccedilatildeo da Vila de Satildeo Paulo

(Campos de Piratininga) com a regiatildeo onde se localiza o morro de Araccediloiaba

entendemos ser importante discorrer a respeito destas vias

A respeito desse sistema de caminhos escreveu Adolpho Pinto em 1902

() havia estradas extensas construiacutedas pelo gentio comunicando

vaacuterios pontos do litoral com o mais longiacutenquo interior do paiz

podendo-se mesmo dizer que figurava como tronco desse primitivo

sistema de viaccedilatildeo geral uma grande estrada pondo em ligaccedilatildeo as

tribus da naccedilatildeo Guarany da bacia do Paraguay com a tribu dos 44Satildeo Vicente segundo Washington Luiacutes ldquojaacute era um porto conhecido com lugar marcado nos rudimentares mapas da eacutepoca uma espeacutecie de pequena feitoria portuguesa de iniciativa particular visitada de esquadras para o trafico de escravos se forneciam viveres agrave navegaccedilatildeo de longo curso se construiacuteam bergantins e se contratavam liacutenguas da terrardquo LUIZ Washington Na Capitania de Satildeo Vicente Satildeo Paulo Livraria Martins Editora1956 p47 A povoaccedilatildeo de Satildeo Vicente foi elevada agrave condiccedilatildeo de Vila em 1532 com a instalaccedilatildeo de oacutergatildeos administrativos e poliacuteticos como a Cacircmara e Cadeia transformando-a no primeiro nuacutecleo de colonizaccedilatildeo portuguesa do litoral 45 Os liacutenguas eram aqueles versados na liacutengua indiacutegena O Tupi era falado em Satildeo Paulo ateacute meados do seacuteculo XVIII Segundo John Monteiro ldquoo domiacutenio da liacutengua geral ou qualquer outra liacutengua indiacutegena era consideraacutevel uma respeitaacutevel especializaccedilatildeo e a fluecircncia numa dessas liacutenguas limitava-se apenas aos maiores sertanistasrdquo MONTEIRO John Negros da Terra iacutendios e bandeirantes nas origens de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Companhia das Letras 1994 p164

86

Patos do litoral de Santa Catarina com os Carijoacutes de Iguape e

Cananeacuteia e com as tribus de Piratininga e do litoral proacuteximo

(GONCcedilALVES 1998 p8)

Em Satildeo Vicente o Peabiru constituiacutea o acesso obrigatoacuterio que do mar

seguia para os sertotildees do Planalto de Piratininga Construiacutedo de acordo com a

teacutecnica e a tradiccedilatildeo indiacutegena seguia os espigotildees dos morros de modo a evitar

terrenos iacutengremes embora em alguns trechos fossem inevitaacuteveis as encostas

com fortes declividades ((GONCcedilALVES 1998 p6 )

A partir do Planalto de Piratininga seguindo para o interior rumo ao Oeste

o caminho que levava ateacute a regiatildeo das minas de ferro era um Peabiru cuja trilha

contornava os morros do Apotribu no municiacutepio de Itu e alcanccedilava o morro de

Araccediloiaba no atual municiacutepio de Iperoacute interior de Satildeo Paulo

87

Fig 24 Peabiru (Tronco) Passando por Sorocaba (Galdino 2002 p182)

88

Fig 25 Mapa de Pasquale Petrone (GONCcedilALVES1998 p42)

89

33 O descobrimento da prata em Potosi

Em 1545 a Espanha anunciou o descobrimento na regiatildeo denominada de

Alto Peru (atualmente territoacuterio boliviano) de uma montanha denominada de

Potosi com 600 metros de altura onde ocorria uma importante jazida de prata

Diferentemente do que acreditavam portugueses e espanhoacuteis Potosi natildeo estava

localizada nem nas proximidades do rio da Prata nem na regiatildeo sul do continente

onde esperavam descobrir aquela lendaacuteria riqueza

Sergio Buarque de Holanda (1959 p 58) ao discorrer sobre aquela

descoberta escreve ldquotamanho era o prestiacutegio de Potosi que em pouco tempo a

velha atraccedilatildeo do ouro parece suceder facilmente a da pratardquo O ldquofeiticcedilo do Perurdquo

desencadeou um novo direcionamento da poliacutetica portuguesa com um maior

interesse da Coroa Portuguesa nos negoacutecios do Brasil e particularmente na

Capitania de Satildeo Vicente

Para dar maior incremento ao povoamento do interior foi instituiacutedo o

sistema de distribuiccedilatildeo de terras (Sesmarias) Uma dessas sesmarias foi doada a

Afonso Sardinha bandeirante que se destacou na atividade mineradora e

tambeacutem na vida poliacutetica da Vila de Satildeo Paulo na comercializaccedilatildeo com a regiatildeo

do Rio da Prata como proprietaacuterio de engenho de accediluacutecar traficante de escravos

africanos investidor financiador e produtor de ferro Foi um dos financiadores da

instalaccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro que comeccedila a funcionar em 1607 46

Acreditava-se que o ldquoCerro de Potosirdquo natildeo ficava muito longe das terras da

Coroa Portuguesa sendo este um dos motivos que impulsionavam as ldquopessoas a

continuarem as buscas em direccedilatildeo do Oeste apesar dos repetidos

desapontamentosrdquo (BOXER 2002 p 45)

46 Afonso Sardinha recebeu suas terras de sesmarias no lugar denominado de Ubataacute abrangendo o atual Butantatilde que eacute o Ubataacute citado por Pedro Taques ou Ibatata Batata ou Ibitatatilde em documentos municipais seiscentistas e setecentistas HOLANDA Sergio Buarque de Caminhos e Fronteiras 1957 p 188

90

Um dos caminhos Peabiru que partindo de Satildeo Vicente demandava o

Potosi passava pela Vila de Satildeo Paulo e seguindo a direccedilatildeo Oeste contornava o

morro de Araccediloiaba onde em finais do seacuteculo XVI iniciou-se a produccedilatildeo de ferro

seguindo para a regiatildeo do Guairaacute (atual Estado do Paranaacute) ateacute alcanccedilar as terras

castelhanas

Pode-se dizer que a esperanccedila de encontrar minas de prata um Potosi em

terras de Satildeo Vicente persistiu ateacute o iniacutecio do seacuteculo XVIII quando de fato

foram encontradas minas de ouro pelos paulistas na regiatildeo dos atuais Estados de

Minas Gerais Mato Grosso e Goiaacutes 47

34 A busca de metais nobres na Capitania de Satildeo Vicente

Desde meados do seacuteculo XVI jaacute corriam notiacutecias sobre a possiacutevel

existecircncia de riquezas minerais no interior da Capitania Joseacute de Anchieta em

carta escrita em Satildeo Paulo de Piratininga em 1554 dava as primeiras

informaccedilotildees sobre as descobertas de minas de ouro prata e ferro48 Neste

mesmo ano o jesuiacuteta Pero Correa tambeacutem destacava a descoberta de mina de

ferro proacutexima daquele local 49

47 As minas de ouro localizadas pelos paulistas foram disputadas tambeacutem por portugueses e baianos e todos reivindicavam aquela descoberta Essa disputa culminou na chamada Guerra dos Emboabas na qual os paulistas foram derrotados As descobertas das minas de Mato Grosso e Goiaacutes marcaram o iniacutecio das monccedilotildees expediccedilotildees fluviais regulares que faziam a comunicaccedilatildeo entre Satildeo Paulo e Cuiabaacute O ouro encontrado onde hoje se ergue a cidade de Cuiabaacute foi achado por escravos do sorocabano Miguel Sutil em 1722 Sobre as Monccedilotildees ver HOLANDA Sergio Buarque de Monccedilotildees Rio de Janeiro Casa do estudante do Brasil 1945 48 Ver Carta do quadrimestre de maio a setembro de 1554 dirigida por Joseacute de Anchieta a Santo Ignaacutecio de Loyola Roma In Minhas Cartas por Joseacute de Anchieta Publicaccedilatildeo 450 anos p 153 49 Carta do Irmatildeo Pero Correa escrita a um padre do Brasil In CARTAS Avulsas 1550-1568Azpilculta Navarro e outros Belo Horizonte Itatiaia Satildeo Paulo Edusp 1988 p 163-165

91

A respeito da pesquisa mineral na Capitania de Satildeo Vicente Heacutelio Vianna

escreve que com a intenccedilatildeo de investigar a existecircncia daquelas riquezas

ldquo() mandou o governo portuguecircs em 1559 um mineiro praacutetico

Luis Martins Por ordem do Governador Men de Saacute no ano

seguinte em Satildeo Vicente partiu ele para indeterminados pontos

do interior em uma leva organizada e dirigida por Braacutes Cubas

Regressando este a Santos em 1562 com algumas amostras de

metais e pedras que enviou ao Reino fez com que no mesmo

ano o mineiro voltasse as suas pesquisas Natildeo muito longe

ainda em terras vicentinas em Jaraguaacute talvez em Caatiba hoje

Bacaetava encontrou afinal o desejado ouro Explorou-o

inicialmente o proacuteprio Braz Cubas depois associado ao Capitatildeo

Mor Jerocircnimo Leitatildeordquo (VIANNA 1972 p 215)

35 D Francisco de Souza a organizaccedilatildeo da exploraccedilatildeo mineral De 1598 eacute a primeira referencia a ldquocertos lsquomontes de Sabaroasonrsquo de

onde um mameluco teria extraido amostras de metal que levadas a Bahia ao

Governador D Francisco de Sousa determinaram a vinda deste a Satildeo Vicenterdquo (VIANNA 1972 p 215)

D Francisco de Sousa Seacutetimo Governador Geral do Brasil (1591-1602) e

a partir de 1606 Governador das Minas das Capitanias do Sul 50 promoveu e

organizou vaacuterias expediccedilotildees ao sertatildeo destinadas a descobrir e explorar minas de

ouro e prata e outros metais Tais atividades eram apresentadas como parte de

50 As Capitanias do Sul correspondiam agraves Capitanias do Espiacuterito Santo Rio de Janeiro e Satildeo Vicente

92

seu projeto de desenvolvimento no qual tambeacutem estava inserido o setor de

agricultura e induacutestria sustentado com base no trabalho indiacutegena 51

A sua maior contribuiccedilatildeo decorre do fato de ter exercido o cargo de

Governador das Minas e de ter se fixado na Capitania de Satildeo Vicente mais

especificamente na Vila de Satildeo Paulo de onde provinham as notiacutecias da

existecircncia de minas de ouro prata e ferro

D Francisco veio para Satildeo Paulo munido de poderes que lhe permitiam

distribuir mercecircs agravequeles que tivessem trabalhado na exploraccedilatildeo das minas

Conforme o Regimento que jaacute vigorava no Peru e nas Iacutendias de Castela o

explorador haveria de aplicar seus proacuteprios recursos na busca e exploraccedilatildeo das

jazidas A contrapartida que poderia ser dada pelo Rei estava no fornecimento

de algumas comodidades e mercecircs (STELLA 2000 p 119)

Atraveacutes de Alvaraacutes D Francisco podia nomear uma quantidade

determinada de pessoas com tiacutetulos de nobreza Estas atribuiccedilotildees fizeram com

que muitos moradores da Vila de Satildeo Paulo despendessem de seus proacuteprios

recursos materiais e de indiacutegenas para organizar expediccedilotildees em buscas daqueles

metais

Em 1599 D Francisco esteve no morro de Araccediloiaba para verificar a

autenticidade e a natureza daquela mina que diziam ter ferro ouro e prata Para

viajar ateacute aquele local enfrentando toda a sorte de perigos D Francisco precisou

solicitar ajuda dos moradores de Satildeo Paulo 52

51 Quando no Cargo de Governador Geral Francisco de Souza conduzido pela esperanccedila de encontrar na regiatildeo das cabeceiras do rio Satildeo Francisco a lendaacuteria Sabarabuccediluacute (uma serra de prata e esmeraldas) organizou em 1596 trecircs entradas ao sertatildeo com saiacutedas da Bahia Espiacuterito Santo e Satildeo Paulo respectivamente A vertente paulista foi chefiada por Joatildeo Pereira de Sousa Botafogo e contava com 25 colonos e seus respectivos iacutendios A maioria desta expediccedilatildeo regressou a Satildeo Paulo ldquosatisfeita com os tupinambaacutes que haviam capturado no vale do Paraiacutebardquo MONTEIROJohn Negros da Terra iacutendios e bandeirantes nas origens de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Companhia das Letras 1994 p 58-68 52 PEREIRA Antonio Batista Carta a Paulo Duarte apud Donato Hernani Sumeacute e Peabiru misteacuterios maiores do seacuteculo da descoberta SP ediccedilotildees GRD 1997 p91

93

Aracy Amaral ao analisar a gestatildeo de D Francisco de Sousa como

Governador das Minas das Capitanias do Sul opina que esse administrador

() representa o veiacuteculo que transportou para Satildeo Paulo uma

experiecircncia uma mentalidade que Castela desde haacute muito

desenvolvia no Meacutexico e no Peru As concessotildees e privileacutegios que

obteve do Rei faziam parte de uma legislaccedilatildeo empregada com

sucesso naqueles domiacutenios Essa nova mentalidade estava

intimamente relacionada com os negoacutecios da mineraccedilatildeo e esse jaacute

chamado de ldquoeldorado-maniacuteacordquo que foi D Francisco tambeacutem

denominado por Taunay de ldquopropulsor dos paulistasrdquo seguia sem

duacutevida a diretriz apontada pelos Felipes (AMARAL 1981 p 13)

Apoacutes a Restauraccedilatildeo Portuguesa em 1640 as buscas pelo ouro e pela

prata permaneceram assim como as concessotildees de mercecircs para aqueles que

descobrissem minas ou incentivassem outros a descobri-las Para Ilana Blaj isso

tudo era ldquoum universo de honra de siacutembolos de dignidade e de prestiacutegio que a

elite perseguia e que a Coroa concedia estreitando ainda mais os laccedilos de

vassalagem no interior do Impeacuteriordquo Sintetizando a autora afirma que ldquoescravos

terra dignidade honrarias e prestiacutegio constituiacuteram os fundamentos da sociedade

colonial brasileirardquo (BLAJ 2002 p 322-338)

Em 1611 D Francisco de Sousa falece na mais extrema pobreza O

mesmo destino que tiveram outros que laacute apostaram na metalurgia Frei Vicente

do Salvador contemporacircneo de D Francisco descrevendo a situaccedilatildeo afirmou

que

() estando tatildeo pobre que affirmou um padre da Companhia que

se achava com elle a sua morte que nem uma vela tinha para lhe

metterem na matildeo si a natildeo mandara levar do seu convento mas

quereria deusalumia-lo em aquelle tenebroso transe por outras

muitas que ainda levado deante de muitas esmolas e obras de

piedade que sempre fez (FRANCO 1929 p 135)

94

36 Teacutecnicos e praacuteticos na mineraccedilatildeo e metalurgia Na Vila de Satildeo Paulo e tambeacutem no Sertatildeo as forjas de ferreiro se

instalaram desde cedo As atividades desses ferreiros se concentravam na

fabricaccedilatildeo de ferramentas como foices machados cravos e anzoacuteis utilizando

ferro em barra ou em lingotes trazido da Europa que eram aqui refundidos em

fornos de forja

Em 1553 Manoel da Noacutebrega noticia a presenccedila de ldquotendas de ferreirordquo

como um dos instrumentos levados nas expediccedilotildees ao Sertatildeo (NEME 1959

p158) Em 1584 trabalhavam em Satildeo Paulo trecircs ferreiros (HOLANDA 1957

p186)

Gilberto Freyre em seu trabalho Ferro e Civilizaccedilatildeo no Brasil (1988 p249-

251) destaca como conhecedor do trabalho com o ferro natildeo somente o colono

portuguecircs como tambeacutem os padres da Companhia de Jesus Para esse autor

ambos haviam iniciado seus saberes com ibeacutericos os quais haviam desenvolvido

as ldquoferreriacuteasrdquo os ldquohornosrdquo e aperfeiccediloado as teacutecnicas de fundiccedilatildeo com o ldquohorno

catalaacutenrdquo Entre os conhecedores de metalurgia estava o jesuiacuteta Joseacute de Anchieta

o qual como jaacute destacamos havia informado em 1554 a existecircncia de mineacuterios

nobres e do ferro nas imediaccedilotildees de Satildeo Paulo 53

Diferentemente do que ocorreu nas colocircnias espanholas da Ameacuterica os

indiacutegenas que aqui foram encontrados natildeo tinham conhecimento metaluacutergico e

portanto natildeo utilizavam nenhuma teacutecnica de fundiccedilatildeo que pudesse ser adaptada

aos interesses do colonizador

Quanto ao conhecimento e a exploraccedilatildeo do mineacuterio e produccedilatildeo do ferro as

teacutecnicas necessaacuterias eram totalmente desconhecidas no Novo Mundo Sendo

53 Joseacute de Anchieta era descendente de bascos seus pais eram de Guipuacutezcoa Proviacutencia do Paiacutes Basco BARBOSA Francisco de Assis Dom Joatildeo VI e a Siderurgia no Brasil Rio de JaneiroBiblioteca do Exercito 1958 p 26

95

assim podemos afirmar que essa teacutecnica foi totalmente trazida pelos europeus

em especial pelos espanhoacuteis

Logo apoacutes a Uniatildeo Ibeacuterica (1580-1640) foi encaminhada para as terras das

colocircnias da Ameacuterica a armada de Diego Flores Valdeacutes 54 A passagem de Valdeacutes

em Satildeo Vicente em 1583 revela o interesse pelas riquezas minerais na regiatildeo

sendo que por este motivo solicita agrave Coroa a vinda de teacutecnicos e especialistas em

minas para dar iniacutecio agrave exploraccedilatildeo das jazidas descobertas Ao mesmo tempo

alerta sobre a necessidade de fortificar Satildeo Vicente pois alegava que ldquohay

camino abierto por tierra que va al Rio de La Plata y al Paraguay y a Sancta Feerdquo

(GONZALEZ 2002 p 46)

Alguns autores atribuem a presenccedila do praacutetico Clemente Aacutelvares nas

expediccedilotildees de Sardinha e seu filho55 Em 1606 Clemente Aacutelvares afirmava que

estava haacute quatorze anos dedicando-se ao descobrimento de minas de ouro e

para isso utilizara seus proacuteprios recursos Ao registrar as minas que ele afirmava

ter descoberto no Jaraguaacute Parnayba e Ybituruna para natildeo perder os direitos

sobre elas afirmava que natildeo entendia de metalurgia ldquosenatildeo por notiacuteciardquo e que

natildeo era um oficial fundidor ou ensaiador 56

Os mineiros vindos do reino foram trazidos por D Francisco de Sousa com

a funccedilatildeo de verificar a autenticidade e a natureza das minas descobertas no

Brasil e nas imediaccedilotildees da Vila de Satildeo Paulo Os homens que acompanharam

em 1591 em sua vinda ao Brasil foram o castelhano Agostinho de Souto Maior

(que havia trabalhado anteriormente em Monomotapa ndash Moccedilambique colocircnia

portuguesa que possuiacutea minas e a metalurgia do ferro e do ouro) o qual foi

nomeado para o cargo de provedor das minas do Brasil Christovam o qual era

54 A armada de Diego Flores Valdeacutes foi enviada para o Estreito de Magalhatildees para iniciar a sua ocupaccedilatildeo e povoamento com a finalidade de estabelecer uma defesa das terras do Impeacuterio Espanhol onde jaacute se havia iniciado a exploraccedilatildeo das minas de prata de Potosi 55 Clemente Aacutelvares paulista mineiro praacutetico e sertanista Em 1634 ainda estava se dedicando agrave busca pelo descobrimento de minas Faleceu em 1641 56 Ver Registro de minas de Clemente Aacutelvares em 16 de dezembro de 1606 ATAS DA CAMARA DA VILA DE SAtildeO PAULO vol II Satildeo PauloA Cacircmara 1917 p 171-173

96

lapidaacuterio de esmeraldas e Joatildeo Correa para seria nomeado feitor das minas de

ferro 57

Para Satildeo Paulo enviados por Francisco de Sousa vieram os mineiros

Gaspar Gomes Moalho Miguel Pinheiro Zurara e o fundidor Domingos Rodrigues

Em 1592 Jacques de Oalte mineiro alematildeo o engenheiro tambeacutem alematildeo

Giraldo Betink o cirugiatildeo Joseacute Serratildeo o mestre fundidor flamengo Corneacutelio de

Arzatildeo e o engenheiro e arquiteto-mor florentino Baccio de Filicaya tambeacutem

mineiro de ouro o qual recebeu de D Francisco de Souza o cargo de engenheiro-

mor Felicaya restaurou e construiu algumas fortalezas e trabalhou durante cinco

anos no descobrimento de minas Aparece registrado no Rio de Janeiro em 1596

como arquiteto fortificador (TAUNAY 2003 p409)

Destaca-se tambeacutem ainda na gestatildeo de D Francisco a presenccedila do

mineiro castelhano Manoel Joatildeo Branco (ou Morales) que foi enviado em

companhia de um outro mineiro de prata ao morro de Araccediloiaba para examinaacute-la

Este mineiro acabou por confirmar que aquela Serra era ldquoriquiacutessima de yerrordquo58

37 A Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro

No iniacutecio do seacuteculo XVII as jazidas de ferro que haviam sido identificadas

nas imediaccedilotildees da Vila de Satildeo Paulo comeccedilaram a ser beneficiadas por Diogo de

Quadros atraveacutes da construccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro a qual

comeccedilou a funcionar em 1607 A Ferraria de Santo Amaro foi redescoberta em

1967 por Jesuiacuteno Felicissiacutemo Juacutenior e documentada nas ediccedilotildees de 5 e 6 de

janeiro deste mesmo ano no jornal Diaacuterio de Satildeo Paulo por Manoel Rodrigues

Ferreira ( FELICIacuteSSIMO1969 p14)

57 No mesmo ano em que D Francisco de Souza veio para o Brasil para assumir o cargo de Governador Geral tambeacutem retornava da Espanha Gabriel Soares de Souza o qual se dedicou agrave busca de minas autor de Tratado Descritivo do Brasil de 1587 58 Ver Carta de Manuel Joatildeo Branco Morales a D Felipe IVCORTESAtildeOJaime Jesuiacutetas e Bandeirantes no Guairaacute Rio de Janeiro Biblioteca Nacional 1951 p 182

97

Esta Faacutebrica foi construiacutedo na freguesia de Santo Amaro pela sociedade

formada em 1609 entre Diogo de Quadros juntamente com Francisco Lopes

Pinto e D Antonio de Souza filho de D Francisco de Sousa

Para dar andamento a esse projeto Diogo de Quadros obteve em 1604

de D Felipe III o cargo de provedor das minas da Capitania de Satildeo Vicente e a

concessatildeo de montar e explorar fundiccedilotildees de ferro no Brasil (NEME 1959

p353)

Segundo informaccedilotildees oferecidas por Wilhelm Ludwig Von Eschwege

(1777-1855) a Faacutebrica de Santo Amaro foi construiacuteda agrave beira de um pequeno

ribeiratildeo afluente do rio Pinheiros navegaacutevel a uma distacircncia de duas leacuteguas SE

de Satildeo Paulo Para Eschwege ldquoa situaccedilatildeo dessa pequena faacutebrica era

conveniente porque as margens dos rios proacuteximos estatildeo cobertas de matas

cerradas podendo o carvatildeo ser transportado por via fluvial e mesmo o produto

manufaturado que por essa via podiam ser levados ateacute a serra do Cubatatildeo e

para o interior ateacute o Tietecircrdquo (ESCHWEGE 1944 p336)

Aleacutem desse aspecto a Faacutebrica contava com apoio da Coroa recebendo

dos almoxarifados de Satildeo Vicente Bahia e Rio de Janeiro todas as ferramentas

de ferro que estavam disponiacuteveis e poderiam ser aproveitadas para o trabalho de

fundiccedilatildeo daquele metal Das ferramentas entregues para Diogo de Quadros em

1605 foram arrolados

dous malhos q podiatildeo pesar pouco mais ou menos entre ambos

trecircs quintais e por quintal a razatildeo de trecircs mil reis mais duas

argolas grandes da mesma ferramenta q podiatildeo pezar pouco

mais ou menos trecircs quintaes ao mesmo preccedilo mais duas Cafras

(bigornas) que podiam pezar outros quintaes ao mesmo preccedilo

mais duas chapas pequenas q cada hua pezava duas arrobas no

mesmo preccedilo mais duas chapas grandes q cada hua podia

pezar pouco mais ou menos hum quintal cada hua as quaes

todas juntas podem pezar pouco mais ou menos doze quintais

98

que a razatildeo dos ditos traacutes mil reis por quintal fazem a soma de

36$000 rs 59

Os indiacutecios da presenccedila e utilizaccedilatildeo da roda para fins de produccedilatildeo nesta

Faacutebrica satildeo tambeacutem reforccedilados pelas observaccedilotildees feitas por Eschwege em seu

livro Pluto Brasiliensis onde afirmava que ainda se podia ver ldquoa vala da roda o

lugar da oficina os restos de um accedilude assim como um monte de pesada escoacuteria

de ferrordquo ((ESCHWEGE 1944 p336)

Essas mesmas informaccedilotildees podem ser observadas em um levantamento

topograacutefico realizado em princiacutepios do seacuteculo XIX pelo topoacutegrafo portuguecircs

Rufino Joseacute Felizardo e Costa segundo tenente do Real Corpo de Engenheiros

Rufino provavelmente veio ao Brasil como membro do grupo de engenheiros

militares que constituiacuteram em meados do seacuteculo XVIII as ldquoMissotildees

Demarcatoacuterias destinadas a dar cumprimento aos Tratados de Limites relativos agraves

terras da Ameacuterica celebrados entre Portugal e Espanhardquo 60

O levantamento topograacutefico em questatildeo intitulado ldquoprospecto das ruiacutenas

da antiga faacutebrica de ferro de Santo Amarordquo apresenta uma planta dessa faacutebrica jaacute

em ruiacutenas e sua localizaccedilatildeo proacutexima aos rios ldquodos Pinheirosrdquo e Santo Amaro aleacutem

dos terrenos no seu entorno onde se observa a presenccedila de matas minas de

ferro e canais de derivaccedilatildeo de aacuteguas daqueles rios em direccedilatildeo ao edifiacutecio

confirmando as observaccedilotildees feitas por Eschwege que observou inclusive a

existecircncia da ldquovala da rodardquo (HOLANDA 1957 p188-189)

59Ver Provisatildeo passada por Diogo Botelho a Diogo de Quadros 1605 CLETTO Marcelino Pereira A respeito da Capitania de Satildeo Paulo Sua decadecircncia e modo de restabelececirc-la Santos 25 de outubro de 1782 Annaes da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro vol XXI Rio de Janeiro Typografia Leuzinger 1900 60 TOLEDO Benedito Lima de A Accedilatildeo dos Engenheiros Militares na Ordenaccedilatildeo do Espaccedilo Urbano no Brasil Lisboa 2000 lthttpurbaniscteptRevistanumero4artigosartigo_08htmgt Aceso em 16 de maio de 2006 Os tratados mencionados por Toledo satildeo o Tratado de Madri (1750) e do segundo o Tratado de Santo Ildefonso (1777)

99

Fig 27 Prospecto das ruiacutenas da antiga Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro Rufino Joseacute Felizardo seacutec XIX (HOLANDA1957)

38 A Faacutebrica de Ferro do morro de Araccediloiaba os empreendedores

Afonso Sardinha foi personagem importante na atividade de mineraccedilatildeo do

ouro e do ferro no periacuteodo compreendido entre a segunda metade do seacuteculo XVI

e inicio do seacuteculo XVII sendo um dos primeiros empreendedores da exploraccedilatildeo e

produccedilatildeo de ferro no morro de Araccediloiaba Foi tambeacutem um dos financiadores do

empreendimento da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro Em 1601 recebeu de

Francisco de Souza um regimento que permitia o acesso agraves minas jaacute descobertas

e a descobrir61 Ressalte-se que essa mesma provisatildeo natildeo permitia a ele

ldquoentabularrdquo as minas encontradas as quais deveriam ser trabalhadas somente

apoacutes inspeccedilatildeo feita por mineiros vindos do Reino

61 Ver Regimento do Capitatildeo Diogo Gonccedilalves Laccedilo que lhe deu o Senhor Governador Dom Francisco de Souza DERBY Orville A As Bandeiras paulistas de 1601 a 1604 Revista do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Satildeo Paulo vol VII Satildeo Paulo Typ Do Diaacuterio Official 1903 p 403

100

Joseacute Monteiro Salazar citando Pedro Taques e outros historiadores

aponta o ano de 1597 para o inicio das atividades da exploraccedilatildeo e fabricaccedilatildeo do

ferro em Araccediloiaba sendo que o empreendimento esteve em atividade ateacute o ano

de 1611 coincidindo com o ano da morte de D Francisco de Sousa

Somente em 1684 surge uma segunda tentativa de exploraccedilatildeo das minas

de Araccediloiaba financiada pela Coroa Portuguesa Para tanto foi enviado agravequele

local o Frei Pedro de Sousa com a finalidade de pesquisar a existecircncia de prata

nas jazidas que estava sendo explorada por Luiz Lopes de Carvalho o qual

contava com matildeo de obra indiacutegena

Entretanto apoacutes ter retirado algumas amostras do mineacuterio na jazida elas

foram ensaiadas poreacutem natildeo foi encontrada a prata motivo pelo qual foi

ordenada pelo Conselho Ultramarino a suspensatildeo daquelas pesquisas

(RODRIGUES 1966 p202)

Na sequumlecircncia o empreendedor Luiz Lopes de Carvalho que administrava

aquela mina retomou a exploraccedilatildeo do mineacuterio de ferro cuja existecircncia jaacute era

comprovada para cuja atividade obteve licenccedila concedida pela Coroa Para

realizar as obras necessaacuterias para o seu empreendimento foi obrigado a

hipotecar em 1681 todas as suas propriedades na Vila do Vimieiro em Portugal

(RODRIGUES 1966 p 214-217)

Em carta escrita no Rio de Janeiro em 1692 ao Rei de Portugal noticiava o

fracasso de seu empreendimento com o esgotamento dos recursos financeiros

Assim descreve

penetrei os Sertotildees mais ragozos so habitado de feras padecendo

as inclemecircncias qe experimentatildeo os q com zello e amor da paacutetria

lhe querem descubrir nossos Thezouros Todas estas calamidades

101

padeci por que haverem persuadido e ter achado alguns Roteiros62

q insinuavatildeo partes e serr[dilacerado] aonde em algum tempo se

achavatildeo Signais evidentes de minas de prata e esmeraldas E por

me esgotar o Cabedal proacuteprio e nam achar q me animasse com

algum socorro vim a entender q e Deus nosso Sr Tem guardado

essa fortuna pa outro q mais lho mereccedila Nestas entradas ao

Sertatildeo fui dar com a dictas Serras de Birasuaiava aonde estatildeo as

minas de ferro que na calidade e fertilidade desse groseiro metal

excede a todos asqe por haver no descuberto (RODRIGUES

1966 p217-219)

Naquele mesmo documento Luiz Lopes de Carvalho discorre sobre as

dificuldades teacutecnicas e materiais que havia enfrentado e destaca que para a

continuidade daqueles trabalhos faltara-lhe a matildeo de obra indiacutegena e um mestre

em fundiccedilatildeo que sugere deveria ser de Figueiroacute (Portugal) Biscaia (Espanha)

Alemanha ou Sueacutecia Aleacutem disso indicava que os fornos de fundiccedilatildeo que ali

deveriam ser instalados fossem do mesmo tipo empregado nas ferrarias de

Figueiroacute em Portugal (RODRIGUES 1966 p217-220)

Nova tentativa de exploraccedilatildeo daquela mina de ferro deveu-se ao portuguecircs

Domingos Pereira Ferreira em 1763 o qual organizou em Lisboa uma companhia

por accedilotildees para a construccedilatildeo de uma faacutebrica de ferro em Araccediloiaba 63 Para

viabilizar esse empreendimento recebeu uma concessatildeo de Sesmarias localizada

junto a mina de ferro para explorar a madeira necessaacuteria agrave fundiccedilatildeo 64

62 Esses roteiros - ou ldquomapas do tesourordquo - parecem ter sido frequumlentes na histoacuteria da mineraccedilatildeo colonial Haacute indicaccedilotildees de roteiros elaborados por Gabriel Soares de Souza para as minas de Sabarabassuacute 63 Foram soacutecios de Pereira Ferreira Matheus Lourenccedilo de Carvalho Caoitatildeo-mor Manoel de Oliveira Cardozo Antonio Lopes de Azevedo Capitatildeo Jacinto Jose de Abreu Silveacuterio Thomaz de Oliva Doacuteria Joatildeo Fritz Gerald (este natildeo participou da Sociedade por ser estrangeiro ndash inglecircs) e o Sargento Mor Antonio Francisco de Andrade Traslado da Escritura de Contrato da Sociedade e Companhia que Fazem Domingos Pereira Ferreira (RODRIGUES 1966 p 228-238) 64 Carta de Sesmaria a Domingos Ferreira Pereira e seus soacutecios de um morro cito termo da Vila de Sorocaba para dele se extraiacuterem lenha para a Faacutebrica de caldear o ferro que ali se pretende erigir por ordem de S Magestade (1767) Arquivo do Estado de Satildeo Paulo Sesmaria Patente e Provisatildeo Livro n17 p 125 v

102

Em dezembro de 1765 o Capitatildeo-General de Satildeo Paulo encaminhava ao

Conde de Oeiras amostra do ferro que Domingos Ferreira Pereira extraiacutera e

caldeara nas serras de Araccediloiaba Neste mesmo ano chegou a receber

encomendas de Diogo Lobo da Silva Capitatildeo General de Minas Gerais para a

fabricaccedilatildeo de armamentos tais como balas bombas e granadas aleacutem de

municcedilotildees Contudo esses armamentos natildeo chegaram a serem fabricados

Para viabilizar a produccedilatildeo do ferro trouxe de Portugal o mestre fundidor

Joatildeo de Oliveira Figueiredo poreacutem este decidiu abandonar aquele local com a

intenccedilatildeo de se mudar para Angola em 1767 Contudo quando jaacute se encontrava

no Rio de Janeiro foi preso e trazido de volta para Araccediloiaba sob a justificativa de

que ldquosem ele natildeo se poderiam por em praacutetica as experiecircnciasrdquo (CALOacuteGENAS

1904 p37)

O relatoacuterio encaminhado no ano de 1768 por Luiz Antonio de Souza ao

Conde de Oeiras em Portugal informava que o empreendimento de Pereira

Ferreira mostrava dificuldades em conseguir produzir um ferro de boa qualidade

mesmo tendo sido realizado por diversas vezes experiecircncias com o material pois

ldquonatildeo era possiacutevel acertar a caldeaccedilatildeo do ferro nem fazecirc-lo igual as primeiras

amostrasrdquo 65

Pereira Ferreira permanece naquela atividade durante dez anos sendo que

depois desse tempo vendeu a propriedade a Vitoriano Joseacute Sentena morador de

Viamatildeo Este empreendedor tambeacutem natildeo obteve sucesso nesta atividade

culminando por abandonaacute-la quatro anos apoacutes o seu iniacutecio (RODRIGUES 1966

p205-210)

No ano de 1784 Claacuteudio de Madureira Calheiros capitatildeo-mor da vila de

Sorocaba encaminha uma peticcedilatildeo a Martinho de Mello e Castro para explorar

aquelas jazidas Contudo esse projeto natildeo foi aprovado (RODRIGUES 1966 p

212) 65 ver Carta de Luiz Antonio de Souza ao Conde de Oeiras Satildeo Paulo 3 janeiro de 1768 In Dossiecirc Ipanema Arquivo do Museu Quinzinho de Barros ndash Sorocaba-SP

103

Em 1788 com aquele mesmo objetivo foi encaminhada a Bernardo Joseacute

de Lorena uma peticcedilatildeo onde o capitatildeo-mor de Sorocaba Claacuteudio da Cunha Oeiras

e o de Itu Vicente da Costa Taques Goacuteis e Aranha pela qual solicitavam

autorizaccedilatildeo para explorar e fabricar o ferro em Araccediloiaba Tambeacutem solicitavam a

vinda do Reino de ldquoum mestre inteiramente perito naquela arterdquo Juntaram agrave

peticcedilatildeo uma amostra de barra de ferro que diziam terem obtido naquele local

Este projeto tambeacutem natildeo foi viabilizado (RODRIGUES 1966 p212)

39 A Real Faacutebrica de Ferro de Satildeo Joatildeo do Ipanema

Jaacute no final do seacuteculo XVIII destaca-se a vinda do ldquoquiacutemicordquo Joatildeo Manso

Pereira Diretor Geral das Minas para examinar as jazidas de ferro do morro de

Araccediloiaba e acompanhar os trabalhos de demarcaccedilatildeo dos terrenos nos quais

iriam ser instaladas as edificaccedilotildees da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema

Tambeacutem realizou alguns ensaios com aquele mineacuterio mediante a construccedilatildeo de

um alto forno acionado com um fole manual

A esse respeito relata Eschwege (1944 p340) que conheceu Joatildeo Manso

Pereira que durante a primeira experiecircncia para a fundiccedilatildeo do ferro muitas

pessoas das vizinhanccedilas foram atraiacutedas para o local poreacutem ao final do teste

nenhum ferro foi produzido Manso entatildeo fugiu do local e os convidados tiveram

que voltar para as suas casas Eschwege lembrava que Manso ao recordar

aquele fato ldquoria-se gostosamente de toda aquela histoacuteria tendo chegado agrave

conclusatildeo de que para fabricar ferro em grande escala natildeo bastavam

conhecimentos de quiacutemicardquo

Em 1802 Manso Pereira natildeo havia apresentado nenhum resultado

satisfatoacuterio e foi destituiacutedo do cargo assumindo em seu lugar Francisco Ribeiro

de Andrade (FRAGA 1968 p 33-48)

104

Segundo o Governador D Rodrigo de Souza Coutinho Joatildeo Manso

Pereira

longe de ser hum verdadeiro chimico natildeo era senatildeo hum

Alquimista que debaixo de certos misteacuterios pretendia inculcar-se

sem ter os necessaacuterios conhecimentos para Inspector e dirigir a

mesma obra tendo toda a esperanccedila que entre os artistas que

pedia que viesse algum que soubesse tractar a referida Mina e

desta sorte colher o Laurel de que os outro se fazia digno

(FRAGA1966 p46)

No iniacutecio do seacuteculo XIX Martim Francisco Ribeiro de Andrada escolhe a

regiatildeo junto ao ribeiratildeo Ipanema para sediar as futuras instalaccedilotildees da faacutebrica de

ferro que estavam autorizadas em 1799 a Joatildeo Manso Pereira Atraveacutes de um

contrato realizado em Estocolmo em 1810 entre Dom Joaquim Lobo de

Saldanha ministro portuguecircs em Londres e o sueco Carlos Gustavo Hedberg

foram iniciados os trabalhos para a construccedilatildeo da Real Faacutebrica de Ferro de

Ipanema

Fig 28 Vista da Faacutebrica de Ferro de Ipanema 1827 Acervo Projeto Arqueologia Histoacuterica Museu Paulista-USP

105

Fig 29 Vista Geral da Faacutebrica de Ferro e Ipanema seacuteculo XIX

Fig 30 Altos fornos geminados construiacutedos por Varnhagem 1818

106

Fig 31 Alto forno construiacutedo pelo Cel Mursa 1888

Em 1815 Frederico Guilherme Varnhagen assume o cargo de Diretor da

Real Faacutebrica e em 1818 constroacutei dois altos-fornos para a produccedilatildeo de ferro

gusa os primeiros do Brasil Joaquim de Souza Mursa Diretor de Ipanema entre

1865-1890 construiu outro alto-forno e natildeo chegou a funcionar Em 1895 jaacute no

periacuteodo republicano Prudente de Moraes decreta a desativaccedilatildeo de Ipanema

Em 1929 tiveram iniacutecio experiecircncias para o aproveitamento da apatita

jazida descoberta em 1890 por DacuteOrville Derby Esse mineacuterio foi explorado ateacute

1944 por uma firma particular para a produccedilatildeo do superfosfato Mas jaacute em 1937

o acervo e aacuterea ocupada pela antiga Faacutebrica de Ferro passaram ao Ministeacuterio da

Agricultura que em 1947 instalou ali a Estaccedilatildeo Experimental do Trigo

107

Uma quarta fase da histoacuteria de Ipanema comeccedilou logo no iniacutecio dos anos

50 quando foi estabelecido o Plano Nacional da Induacutestria de Tratores e instituiacuteda

a obrigatoriedade de ensaios para tratores maacutequinas e ferramentas agriacutecolas

importados ou fabricadas no Brasil Ao mesmo tempo seguiram as atividades de

produccedilatildeo de sementes O estabelecimento passou a denominar-se CENTRI -

Centro Nacional de Ensaios e Treinamento Rural de Ipanema

A partir de 1975 foi criado o CENEA ndash Centro Nacional de Engenharia

Agriacutecola junto ao qual foi realizado em 1983 o convecircnio com o Museu Paulista-

Universidade de Satildeo Paulo para a realizaccedilatildeo da pesquisa arqueoloacutegica Em 1992

passou a integrar uma das aacutereas de conservaccedilatildeo e proteccedilatildeo ambiental do IBAMA

com a denominaccedilatildeo de FLONA ndash Floreta Nacional de Ipanema O Siacutetio Afonso

Sardinha foi registrado no IPHAN pela Professora Doutora Margarida Davina

Andreatta em 1997

108

Fig 32 ROTEIRO HISTORICO DA MINERACcedilAtildeO E METALURGIA PAULISTA

109

CAPIacuteTULO 4

O SIacuteTIO AFONSO SARDINHA 41- Localizaccedilatildeo O vale das Furnas eacute uma aacuterea privilegiada por sua geografia devido agrave

presenccedila do mineacuterio de ferro em suas cabeceiras e de uma diversificada

quantidade de rochas dentre elas o arenito que foi utilizado como material de

construccedilatildeo na forma de blocos para paredes e fornos Destaca-se a rede

hidrograacutefica que apresenta dois rios importantes como o Ipanema e o Sarapuhy

que contornam o morro de Araccediloiaba indo desaguar no rio Sorocaba A bacia do

ribeiratildeo do Ferro ocupa uma aacuterea importante dentro do morro de Araccediloiaba

porque eacute ela que drena a regiatildeo onde afloram os minerais de ferro sendo que a

topografia acidentada do seu leito possibilitou a implantaccedilatildeo de estruturas de

aproveitamento hidraacuteulico A regiatildeo apresentava significativa aacuterea coberta de

matas as quais foram transformadas desde finais do seacuteculo XVI em carvatildeo

vegetal o uacutenico combustiacutevel utilizado para a produccedilatildeo de ferro ateacute finais do

seacuteculo XIX

O morro de Araccediloiaba eacute conhecido tambeacutem pela denominaccedilatildeo de morro do

Ipanema toponiacutemico indiacutegena de Ypanema ndash Y= rio aacutegua + panema = sem valor

ou ainda aproximadamente sem peixes significando assim ldquorio sem valorrdquo ou

ldquorio sem peixesrdquo A denominaccedilatildeo Araccediloiaba (ldquoo lugar que esconde o Solrdquo)

aparece desde o seacuteculo XVI em documentos datados com variantes como

Arraraccediloiaba Byraccediloiaba Ibyraccediloiaba Guaccediloiava (SALAZAR 1997 p17)

Ocupa uma aacuterea isolada no interior de uma extensa bacia sedimentar que os

geomorfoacutelogos denominam de ldquoDepressatildeo Perifeacuterica Paulistardquo pertencente agrave

Bacia do Paranaacute Esta aacuterea constitui um ldquohorst docircmicordquo em razatildeo do seu formato

110

arredondado que lembra estruturas de coberturas do tipo domos (DAVINO 1975

p130)

Do ponto de vista geoloacutegico o morro eacute uma formaccedilatildeo montanhosa

resultante de ldquofenocircmenos de intrusotildees de rochas alcalinas que ocorreram

associadas agraves atividades tectocircnicas do Arco de Ponta Grossa no periacuteodo

denominado Cretaacuteceo Inferiorrdquo66 contemporacircneo do vulcanismo basaacuteltico na

regiatildeo Sudeste ndash Sul do Brasil A intrusatildeo magmaacutetica de Ipanema ocupa aacuterea

aproximadamente circular de nove quilocircmetros quadrados Sua maior altitude estaacute

em 970 metros sendo que dele ldquoeacute possiacutevel observar um dos trechos do vale do

Meacutedio - Tietecirc como tambeacutem trecircs importantes unidades de relevo do Estado de

Satildeo Paulo a Depressatildeo Perifeacuterica o Planalto Atlacircntico e as Cuestas Arenito ndash

Basaacutelticas no caso a Serra do Botucatu (CARPI JR 2002 p1)

Estaacute situado no centro-sul da Depressatildeo Perifeacuterica Paulista na Latitude

sul 23ordm25rsquo 23ordm17rsquo Longitude 47ordm35rsquo WGr 47ordm40rsquo WGr no municiacutepio de Iperoacute-

SP entre Sorocaba e Boituva a cerca de 125 km da Cidade de Satildeo Paulo

Encontra-se ainda dentro de uma aacuterea de proteccedilatildeo ambiental com 506973

hectares pertencente ao FLONA Ipanema Floresta Nacional de Ipanema do

IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

Renovaacuteveis) criada em 1992 para preservar e conservar um dos maiores

fragmentos de Mata Atlacircntica do Estado de Satildeo Paulo bem como aacutereas de

66 ldquoDuas medidas efetuadas no Laboratoacuterio de Geocronologia da USP segundo o meacutetodo do potaacutessio-argocircnico indicaram para as rochas alcalinas de Ipanema idade cretaacutecea inferior Estas determinaccedilotildees foram feitas em biotita contidas em shonkinitos-poacutertirosrdquo (DAVINO1975)

111

cerrado vaacuterzea e os ecossistemas associados67

67 A FLONA ndash Floresta Nacional de Ipanema possui plantas e fauna de grande representatividade tendo catalogado mais de 200 espeacutecies de aves 52 de mamiacuteferos 18 de anfiacutebios 15 de reacutepteis e 35 de peixes que totalizam 216 da riqueza do estado de Satildeo Paulo Caracteriacutesticas do relevo Ateacute 600 metros ndash vaacuterzea dos principais rios como Ipanema e Verde de declives suaves Acima de 875 metros ndash topo do Morro Araccediloiaba geralmente com platocircs e declives suavesmedianos De 600 a 725 metros ndash base das serras de declives acentuados (medianos) com nascentes de rios principalmente os intermitentes De 725 a 875 metros ndash proacuteximo ao topo de declives acentuados com rios encaixados entre as vertentes como o Ribeiratildeo do Ferro Hidrografia Integra a bacia hidrograacutefica do rio SorocabaMeacutedio Tietecirc classificada como UGRHI No 10 com sub-bacias dos rios Ipanema e Verde e ribeirotildees Iperoacute e do Ferro Clima O Troacutepico de Capricoacuternio passa pela parte sul da Floresta Nacional de Ipanema caracterizando uma zona de transiccedilatildeo de tropical para temperada Segundo Koeppen apresenta condiccedilotildees climaacuteticas tipo Cfa ndash subtropical quente constantemente uacutemido com inverno menos seco - ao sul limitando com Cwa ndash subtropical quente com inverno mais seco - ao norte Uso do solo 2800 hectares ndash floresta estacional semidecidual em estaacutegio de regeneraccedilatildeo do inicial ao tardio 29515 hectares ndash capoeira alta (grototildees) e cerrado 24293 hectares ndash capoeira baixa 250 hectares ndash vaacuterzea accediludes e represas 22150 hectares ndash reflorestamento com espeacutecies de raacutepido crescimento e nativas 121016 hectares ndash assentamentos rurais 50 hectares ndash sede administrativa vilas residenciais e siacutetios histoacuterico-culturais Ver Floresta Nacional (FLONA) de Ipanema NACIONAL Disponiacutevel em lthttpwwwibamagovbrspindexphpid_menu=191gt acesso em 22mar06

112

Fig 32 MAPA GEOLOacuteGICO DO MORRO DE ARACcedilOIABA (SEM ESCALA) Mapa Geoloacutegico do Estado Satildeo Paulo ndashIPT

113

Fig 33 BLOCO DIAGRAMA DA REGIAtildeO DA SERRA DE ARACcedilOIABA Interpretaccedilatildeo baseada em dados geoloacutegicos e geofiacutesicos por Andreacute Davino (DAVINO 1975 p140)

114

Fig 35 MORRO DE ARACcedilOIABA (AO FUNDO VISTA DA DEPRESSAtildeO

PERIFEacuteRICA) - I

FIG 36 MORRO DE ARACcedilOIABA (VISTA DA DEPRESSAtildeO PERIFEacuteRICA) - II

115

Aziz Nacib AbSaber ao analisar o morro de Araccediloiaba dos pontos de vista

geoloacutegico e geomoacuterfoloacutegico considera que

Geomorfologicamente eacute um acidente de grande exceccedilatildeo

emergente no meio de terras baixas colinosas que se estendem por

mais de 12 mil km2

Geologicamente eacute a consequumlecircncia de um vulcanismo hipoabissal

tardio anterior aos processos denudacionais que criaram a

Depressatildeo Perifeacuterica Paulista Filogeograficamente eacute um

componente de um mosaico de ecossistemas sub-regionais que

comporta cerrados e matas-galerias (vegetaccedilatildeo ciliar) matinhas

diferenciadas e descontiacutenuas nas paredes sub-rochosas do morro

Existem tambeacutem eventuais poreacutem altamente significativos relictos

de cactos mandacarus nas vertentes rochosas do morro Esse fato

associado ao que jaacute se conhece da regiatildeo de Itu e Salto permite

reconstituir a histoacuteria vegetacional da regiatildeo No passado ela

abrigou caatingas hoje relegadas a pequenos redutos de

cactaacuteceas na forma de rupestres-biomas logo seguidos por

cerradotildees e cerrados recortados por florestas-galerias biodiversas

E por fim grandes matas tropicais nos morros de solos vermelhos

argilo-arenosos das serranias de Satildeo Roque e Jundiaiacute As florestas

eliminaram importantes trechos de cerrado mas natildeo foram capazes

de expulsar os minirredutos de cactaacuteceas na serra do Jardim em

Vinhedo e Valinhos nos altos do Japi na serra de Satildeo Francisco

em Votorantim em Salto e Itu e no front rochoso das cuestas de

Botucatu e agora nos receacutem-identificados mandacarus dos morro

de Araccediloiaba e Ipanema

Para entender essa eacutepoca caracterizada por intrusotildees

hipoabissais desfeitas em sills - massas tabulares de rocha iacutegnea

que penetraram entre camadas de rocha mais antiga - nas

soerguidas camadas de arenitos da formaccedilatildeo de Itarareacute (originada

no Carboniacutefero Superior) haacute que visualizar o fato de que o atual

morro da Depressatildeo Perifeacuterica comportava centenas de metros de

espessura que se estendiam ateacute o embasamento de rochas

cristalinas As intrusotildees que perfuraram localmente o pacote de

116

rochas da borda da Bacia Sedimentar do Paranaacute foram

provavelmente as mais tardias em relaccedilatildeo ao vulcanismo que

precedeu os mega processos de separaccedilatildeo da Aacutefrica e Brasil Ao

que tudo indica primeiramente aconteceram os derrames

basaacutelticos e as intrusotildees hipoabissais de diabaacutesios (rochas

magmaacuteticas cristalinas) A seguir nos milhotildees de anos decorridos

entre o Triaacutessico Superior o Juraacutessico e o Cretaacuteceo Superior -

atraveacutes de bolsotildees magmaacuteticos descontiacutenuos e residuais -

aconteceram as penetraccedilotildees de sienitos em forma de ring dykes

(diques anelares) de Itatiaia da atual ilha de Satildeo Sebastiatildeo

Caxambu e alhures Tudo acontecendo antes que a tectocircnica

quebraacutevel aparecesse no embasamento cristalino do Brasil de

Sudeste Ou seja antes dos falhamentos que criaram a serra do

Mar a ilha de Satildeo Sebastiatildeo e a Mantiqueira Por fim um resiacuteduo

magmaacutetico de grande exceccedilatildeo teria interpenetrado a borda antiga

da Bacia do Paranaacute gerando a pequena aacuterea core que mais tarde

viria a ser o morro de AraccediloiabaIpanema com seus ankaratritos

impregnados de magnetita Um fato que de resto respondeu pelo

histoacuterico episoacutedio da experiecircncia industrial da Fazenda

Ipanema(ABSAacuteBER 2006 p1)

42 A Vegetaccedilatildeo

Quanto agrave vegetaccedilatildeo original o morro de Araccediloiaba tem um histoacuterico de

perturbaccedilotildees sofridas por intervenccedilotildees antroacutepicas iniciadas no final do seacuteculo XVI

Essas perturbaccedilotildees foram causadas pela retirada de mineacuterio madeiras calcaacuterio

apatita aleacutem de focos de incecircndio entre outros processos

Para a exploraccedilatildeo do mineacuterio era necessaacuteria a devastaccedilatildeo das matas que

cresciam sobre a jazida Segundo a descriccedilatildeo de Domingos Pereira Ferreira que

chegou no local em 1765 para dar iniacutecio a um projeto de Faacutebrica de Ferro aquele

117

Morro era como ldquoum Cubatatildeo de Matos e de Cerra Altardquo e somente era possiacutevel

ver uma pedra levando ldquoadeante fousse e machadordquo68

A devastaccedilatildeo das matas tambeacutem esteve ligada ao tipo de combustiacutevel que

era utilizado nos fornos de reduccedilatildeo (fornos baixos) 69 e depois nos de fundiccedilatildeo

(altos fornos)70 O combustiacutevel para a produccedilatildeo de ferro sempre foi o carvatildeo

vegetal71 o qual era fabricado a partir de uma variedade de madeiras existente na

proacutepria mata entre elas os chamados ldquopaus reaisrdquo as madeiras de lei como a

peroba jequitibaacutes e cedros cujos registros de extraccedilatildeo eacute encontrado ateacute o iniacutecio

do seacuteculo XIX 72

Mesmo sofrendo exploraccedilatildeo e desmatamento ainda hoje a Floreta

Nacional de Ipanema constitui-se num dos poucos redutos florestais do interior

paulista e tambeacutem eacute a maior detentora da biodiversidade regional Espeacutecies

vegetais como timburi ararib lixeira jangada do campo canela paineira figueira

branca e peroba satildeo encontrados em percurso assim como animais de haacutebitos

68 Encontramos uma coacutepia da Carta de Domingos Pereira Ferreira agrave Morgado de Mateus escrita em Sorocaba 30 de novembro de 1765 na Coleccedilatildeo Faacutebrica de Ferro de Ipanema entre todas as coacutepias que foram doadas por Joseacute Monteiro Salazar ao Arquivo Histoacuterico Sorocabano 69Nos fornos baixos o carvatildeo vegetal era colocado em camadas alternadas com o mineacuterio calcinado e triturado que com o auxiacutelio de foles manuais ou mecacircnicos realizavam a reduccedilatildeo e natildeo a fundiccedilatildeo do mineacuterio de ferro resultando numa ldquoesponja de ferrordquo ou ldquopatildeo de ferrordquo que posteriormente era novamente trabalhada nos fornos de forja e nos malhos (FAUS 2000) 70 Estes fornos que chegam a fundir o mineacuterio de ferro foram introduzidos em Ipanema no iniacutecio do seacuteculo XIX O produto derivado do alto forno eacute o ferro em estado liacutequido (ferro gusa) (FRAGA 1968 p 87) 71 Joseacute Bonifaacutecio de Andrada e Silva ao visitar a Faacutebrica de Ipanema em 1820 descreve o meacutetodo de fabricaccedilatildeo de carvatildeo ldquoO carvatildeo he todo misturado sem separaccedilatildeo do proacuteprio para as forjas do refino he mal feito e apagado comumente com agoa em vez de ser abafado com terra principalmente arenosa que he a melhor da qui vem que sahe mais pesado do que deveria ser contra a fabrica e a favor do carvoeiro reduz-se muito a poacute nos armazeacutens com prejuiacutezo da mesma Faacutebrica e o peior he que nas forjas de refino esfarela-se logo e se reduz a cinza sem dar o devido calor O carvatildeo que fazem de maneira mole he mais leve e arde mais e da madeira dura he pelo contrario O methodo de fazer carvatildeo he o seguinte pegatildeo em toda a lenha misturada e arrumatildeo em pilha deitadas que tem 40 palmos em quatro como a figura de um telhado com beiradas estas tem 6 palmos de alto e o espigatildeo 12 leva a quaimar cada piulha 30 ate 34 dias e mais e da cada pilha de 700 a 900 arrobas de carvatildeordquo (FRAGA 1968 p 86) 72 Joseacute Bonifaacutecio de Andrada e Silva em suas Memoacuterias Econocircmicas sobre a Faacutebrica de Ferro de Ipanema faz criacuteticas agrave construccedilatildeo dos Altos Fornos de Varnhagen e tambeacutem agrave preparaccedilatildeo do mineral e do combustiacutevel utilizado como ldquocavacos de perobardquo (MENON 1992 p144)

118

florestais destacando-se o jaguarundi o gambaacute o irara o tapiti o matildeo-pelada o

quati o jacupemba o chupa-dente o pica-pau de topete vermelho o tangaraacute

danccedilarino o sabiaacute coleira a jararaca a cascavel e o lagarto teiuacute 73

43 Rios e ribeirotildees

Dois rios circundam aquele morro o rio Ipanema e o Sarapuhy afluentes

do rio Sorocaba Na parte central daquele Morro surgem alguns riachos sendo o

mais importante deles o Ribeiratildeo do Ferro anteriormente denominado de Ribeiratildeo

das Furnas (afluente do Rio Ipanema) que nasce no Monte ou Pico do Chapeacuteu e

forma o Vale das Furnas com ocorrecircncia de cascatas e piscinas naturais Eacute

tambeacutem naquele Vale e em uma das curvas do Ribeiratildeo do Ferro que estaacute

situado o Siacutetio Arqueoloacutegico Histoacuterico Afonso Sardinha objeto de anaacutelise dessa

Tese

O Ribeiratildeo do Ferro ao descer o morro de Araccediloiaba apresenta

desniacuteveis de ateacute 500 metros com a presenccedila de alguns trechos encachoeirados

caracteriacutestica essa que proporcionou a execuccedilatildeo de projetos de aproveitamento

hidraacuteulico como a construccedilatildeo de obras de represamento canal de derivaccedilatildeo e

vala transformando as aacuteguas daquele ribeiratildeo em forccedila motriz aplicada ao

funcionamento dos equipamentos e ferramentas utilizadas no processo produtivo

da produccedilatildeo de ferro

73 Ver Fazenda Ipanema Disponiacutevel em lthttpfazendaipanemaiperospgovbrhistoriaphpgt

119

44 A magnetita o mineacuterio do morro de Araccediloiaba

Segundo Andreacute Davino a importacircncia do morro de Araccediloiaba do ponto de

vista geoloacutegico

deriva do fato de conter umas das muitas ocorrecircncias de rochas

alcalinas do Brasil As concentraccedilotildees de magnetita e apatita

[descobertas no final do seacuteculo XIX] nessas rochas despertaram

desde longa data especial interesse sobre a aacuterea O contorno da

intrusatildeo alcalina situa-se na parte central da Serra e estaacute contido

inteiramente dentro dos limites da Fazenda Federal de Ipanema

(DAVINO 1975 p130)

O mineacuterio de ferro encontrado no morro de Araccediloiaba eacute a Magnetita

um imatilde natural com propriedade magneacutetica de atrair objetos feitos de ferro ou

outros metais Essa propriedade do mineacuterio possivelmente facilitou o encontro

daquela jazida pelos sertanistas que por laacute passaram em meados do seacuteculo XVI

A magnetita eacute um mineacuterio do grupo das espinelas formado por oacutexido

magneacutetico de ferro (Fe3O4) composto por 724 de Fe (ferro) Eacute frequumlente a

existecircncia de cristais bem desenvolvidos pertencentes ao sistema cuacutebico

geralmente em forma de octaedros ou de dodecaedros Eacute abundante formando

as suas jazidas verdadeiras montanhas em massas granulares ou compactasA

composiccedilatildeo da magnetita eacute de oacutexido de feacuterrico (Fe2O3) 65 oacutexido ferroso (Fe O)

25 siacutelica (SiO2) 10 e traccedilos de aacutecido fosfoacuterico (P2O5) (FRAGA 1968 p149)

No Brasil encontram-se jazidas de magnetita nas regiotildees que

compreendem desde o Sudeste da Bahia ateacute o Leste do Paranaacute e Nordeste de

Santa Catarina Contudo sempre se apresentam impregnado de Titacircnio (Ti O2)

em proporccedilotildees que variam desde 04 ateacute 16 A exagerada densidade74 dessa

magnetita concorre para tornaacute-la inaproveitaacutevel para a reduccedilatildeo mesmo nos altos 74 A densidade eacute medida na proporccedilatildeo quilograma por metro cuacutebico kg m-3

120

fornos a coque a menos que sofra preacutevio e demorado tratamento ou que seja

misturada a mineacuterios menos densos (e portanto algo impuro) tais como a canga

a Hematita e outros De outro lado o oacutexido de titacircnio que a impregna dificulta

quando natildeo impede inteiramente a transformaccedilatildeo em gusa ou em esponja

(AMARAL 1946 p 264-266 Apud FRAGA 1968 p32) No morro de Araccediloiaba as

jazidas de Magnetita encontram-se na ldquoforma de depoacutesitos aluviais e

concentraccedilotildees in situ a poucas dezenas de metros de profundidaderdquo (DAVINO1975 p129)

Fig 37 MINEacuteRIO DE FERRO MAGNETITA

Embora no final do seacuteculo XIX os conhecimentos cientiacuteficos da Quiacutemica e

da aacuterea da metalurgia jaacute estivessem avanccedilados a composiccedilatildeo da Magnetita do

morro de Araccediloiaba impregnada de oacutexido de Titacircnio natildeo era conhecida75 A

carecircncia de conhecimento cientiacutefico sobre as propriedades quiacutemicas dessa

magnetita foi a principal causa dos trecircs seacuteculos de tentativas de se produzir ferro

naquele local e das inuacutemeras criacuteticas que eram feitas aos fundidores e

administradores 76 Sendo assim podemos indicar que essa realidade teacutecnica foi

determinante para que natildeo se produzisse em Ipanema desde finais do seacuteculo

XVI ferro de boa qualidade Estephania Fraga indica que

75 O titacircnio foi descoberto em 1791 por Willian Gregor mas soacute se tornou bem conhecido apoacutes os estudos de Wohler em 1857 e Peterson em 1887 76 Orville Derby no final do seacuteculo XIX presidia a comissatildeo de estudos geoloacutegicos da Proviacutencia de Satildeo Paulo e pesquisou a apatita de Ipanema

121

a dificuldade em fundir o mineacuterio de Ipanema ndash a magnetita ndash

provinha da composiccedilatildeo especiacutefica do mesmo pois aleacutem de sua

exagerada densidade apresenta-se impregnada de oacutexido de

Titacircnio fatores que contribuem de forma decisiva para dificultar

sua reduccedilatildeo mesmo em altos fornos (FRAGA 1968 p86)

A dificuldade de produzir um ferro de boa qualidade jaacute era sentida desde o

seacuteculo XVIII quando Domingos Pereira Ferreira apostou na construccedilatildeo de uma

Faacutebrica de Ferro naquele local Embora tenha construiacutedo diversos tipos de fornos

e empregado diferentes modos de fundiccedilatildeo natildeo havia conseguido um bom

resultado No seacuteculo XIX essa mesma dificuldade permaneceu nos trabalhos de

fundiccedilatildeo e na produccedilatildeo de ferro da Real Faacutebrica de Ipanema fundada em 1810

O desconhecimento das propriedades daquela magnetita apenas

descoberta na segunda metade do seacuteculo XIX quando a Real Faacutebrica de Ferro jaacute

estava em plena decadecircncia77 tambeacutem estava na origem das acirradas

discussotildees teacutecnicas entre Friederich Ludwig Wilhelm Varnhagen mineralogista

alematildeo e Carl Gustav Hedberg sueco e primeiro diretor de Ipanema (1811-

1814) sobre as vantagens do alto-forno proposto por Vanhagen em relaccedilatildeo aos

quatro fornos azuis Blauofen fornos de reduccedilatildeo direta inicialmente instalados

em Ipanema78

O diretor sueco foi substituiacutedo por Ludwig Wilhelm Varnhagen em 1815

que construiu dois Altos Fornos de aproximadamente 8 metros de altura cada

um Com estes fornos conseguiu produzir o ferro gusa em sua forma liacutequida

tendo moldado com a primeira corrida desse ferro trecircs cruzes sendo uma delas

ldquolevada em procissatildeo ateacute o ponto alto da montanha de Araccediloiabardquo onde

atualmente permanece Contudo Varnhagen natildeo produziu o ferro esperado e

77 Naquele periacuteodo nem o Estado nem a Real Faacutebrica possuiacuteam laboratoacuterios de anaacutelise que pudessem fazer ensaios do mineacuterio combustiacutevel e fundentes empregados na produccedilatildeo A primeira escola formadora de profissionais na aacuterea de mineraccedilatildeo foi a Escola de Minas de Ouro Preto fundada em 1875 (FRAGA 1968 p140) 78 Von Varnhagen havia dirigido a faacutebrica de ferro de Figueiroacute dos Vinhos em Portugal e foi enviado a Ipanema com a finalidade de projetar a construccedilatildeo de uma grande faacutebrica de ferro que afinal foi construiacuteda por Hedberg (FRAGA 1968 p 71-79)

122

essa dificuldade tambeacutem natildeo foi compreendida por Eschwege79 que estava na

direccedilatildeo de uma outra faacutebrica de ferro em Congonhas do Campo a qual produzia

ferro a partir de um outro mineacuterio a hematita que facilmente pode ser trabalhada

para a produccedilatildeo do ferro80 A partir de 1821 estes fornos altos jaacute estavam em

decadecircncia

Contudo parece que apenas Joseacute Bonifaacutecio de Andrada e Silva quando

esteve examinando as minas de ferro daquele Morro percebeu que

o problema capital de Ipanema liga-se ao mineacuterio de ferro ali

existente ldquoo ferro magneacuteticordquo de difiacutecil fusatildeo embora natildeo

pudesse conhecer ainda a composiccedilatildeo do mesmo (presenccedila de

Titacircnio que como eacute sabido foi descoberto apenas a partir da

segunda metade do seacuteculo XIX) considerando (com base nos

conhecimentos do gecircnero que visitou na Europa) que a soluccedilatildeo

estaria em aumentar a altura dos pequenos fornos (FRAGA 1968

p149)

Em 1878 foi a vez de Joaquim Antonio de Souza Mursa construir um Alto

Forno e quando a Faacutebrica fechou em 1895 este ainda natildeo havia sido utilizado

79 Ludwig von Eschwege depois de ter trabalhado em Portugal o baratildeo de Eschwege seguiu em 1810 para o Brasil a convite do priacutencipe regente D Joatildeo para reanimar a decadente mineraccedilatildeo de ouro e para trabalhar na nascente induacutestria sideruacutergica Em 1821 inicia em Congonhas do Campo Minas Gerais os trabalhos de construccedilatildeo de uma faacutebrica de ferro denominada de Patrioacutetica empreendimento privado sob a forma de sociedade por accedilotildees Em 1811 a siderurgia de Eschwege jaacute produzia em escala industrial Eschwege eacute o autor de Pluto Brasiliensis primeira obra cientiacutefica escrita sobre a geologia brasileira publicada primeiramente na Europa em 1833 (FIGUEIROA 1977 63-67) 80 As hematitas satildeo mineacuterios de ferro constituiacutedos por oacutexido feacuterrico (Fe2O3) contendo ateacute 70 de ferro(Fe) Seu aspecto varia consideravelmente pode se apresentar cristalizado em massas compactas ou em massas terrosas Satildeo utilizadas na produccedilatildeo de ferro sob duas formas principais a) hematita vermelha e b) hematita parda Dados sobre a composiccedilatildeo quiacutemica da hematita fornecidos pela Dra Heacutelegravene Nasson Storch (FRAGA 1968 p149)

123

45 Fatores fisiograacuteficos da ocupaccedilatildeo europeacuteia

A ocupaccedilatildeo das aacutereas interiores da Capitania de Satildeo Vicente no iniacutecio da

colonizaccedilatildeo foi caracterizada particularmente por expediccedilotildees de apresamento de

iacutendios Este movimento pioneiro na ocupaccedilatildeo das aacutereas interiores do continente

e era facilitado pela existecircncia de caminhos indiacutegenas os Peabirus

No caso da ocupaccedilatildeo da regiatildeo onde estaacute localizado o morro de

Araccediloiaba o acesso era facilitado pela presenccedila de importante caminho que ligava

a vila de Satildeo Paulo de Piratininga agraves terras de Guairaacute e regiotildees do Alto Peru

(atual Boliacutevia) Com a descoberta da prata do Potosi intensificaram-se as buscas

de metais nobres inclusive com incentivos da Coroa portuguesa com ajuda de

mineradores preparados para a identificaccedilatildeo de mineacuterios especialmente a prata e

o ouro As expediccedilotildees em busca daquelas riquezas foram estimuladas apoacutes a

chegada de D Francisco de Sousa que ocupou a governadoria Geral do Brasil no

periacuteodo de 1591 a 1601

Foi neste contexto que ocorreram as primeiras tentativas de exploraccedilatildeo do

ferro das minas de Araccediloiaba Dificilmente pode-se precisar a data em que se deu

o encontro do morro de Araccediloiaba pelos europeus mas certamente a sua

descoberta foi facilitada pela presenccedila dos Peabirus

Provavelmente o aspecto estrateacutegico e o encontro de traccedilos de prata junto

ao mineacuterio de ferro de Araccediloiaba tenham sido fatores que levaram D Francisco a

conceder sesmarias e dar iniacutecio ao povoamento colonial da regiatildeo Para tanto

ldquoplantou o pelourinhordquo no interior do Morro tendo como padroeira Nossa Senhora

do Monte Serrat Esta povoaccedilatildeo natildeo prosperou tendo sua populaccedilatildeo se

deslocado em 1611 ndash o mesmo ano da morte de D Francisco de Sousa - para o

Itavuvu local que recebeu a denominaccedilatildeo de Satildeo Felipe Somente mais tarde no

decorrer de 1661 houve a fundaccedilatildeo da Vila de Sorocaba (ALMEIDA 2002 p 11-

20)

124

Apesar da sua localizaccedilatildeo distante cerca de trinta leacuteguas de distacircncia do

litoral e isolada dos mercados consumidores o interesse da exploraccedilatildeo do ferro de

Araccediloiaba se explica pelo valor estrateacutegico desse metal que poderia ser utilizado

como mercadoria contando com mercado certo a proacutepria Capitania de Satildeo

Vicente e a regiatildeo do rio da Prata Por outro lado o ferro era um metal de grande

interesse para a Metroacutepole que contava com pequenas jazidas

Mais tarde jaacute no iniacutecio do seacuteculo XVIII havia um mercado promissor

representado regionalmente pelo avanccedilo da agricultura de cana-de-accediluacutecar e

tambeacutem pela exploraccedilatildeo das minas de ouro de Cuiabaacute e Minas Gerais81 A esse

respeito escreve em 1782 Marcelino Pereira Cleto

Ainda que as minas de ferro e accedilo estatildeo em terras de Sertatildeo e na

distancia de trinta legoas da Marinha com tudo o sitio he haacutebil

para o bom consumo destes gecircneros porqto por Sorocaba he o

caminho para Coritiba Minas de Pernampanema e outras terras

mais distantes da Capitania de Satildeo Paulo por Itu Va proacutexima he

o caminho por onde se dirige todo o negocio que vai para

Cuiabaacute por esta capitania e tambeacutem perto das das minas se

encaminha a estrada de Goiases Se os Negociantes do Cuiabaacute e

Goiases achassem no caminho ou perto delle este dous gecircneros

[ferro e accedilo] ainda pelo mesmo preccedilo qrsquo elles se vendem no Rio

de Janeiro e os de S Paulo o tivessem na sua proacutepria Capitania

certamte natildeo iratildeo busca-los ao Rio de Janeiro com despesa e

risco e bastaria ser seguro este consumo para ser uacutetil cuidar-se

nas das minas

Quanto mais em distancia como de seis leacutegoas das minas

passa o rio Teateacute navegaacutevel de canoa e unicamemte com o

embaraccedilo de algum ou alguns Saltos ou Cachoeiras neste rio

entra um pouco distancia de S Paulo outro chamado dos

Pinheiros neste o rio Grande neste o rio Pequeno qrsquo fica junto agrave

81 No seacuteculo XVIII a agricultura da cana-de-accediluacutecar foi significativa na regiatildeo denominada de ldquoquadrilaacutetero do accediluacutecarrdquo formada pelas localidades de Sorocaba Piracicaba Mogi-Guaccedilu e Jundiaiacute destacando-se duas aacutereas Itu e Campinas Para este tema ver PETRONE Maria Thereza S A lavoura canavieira em Satildeo Paulo Satildeo Paulo Difusatildeo Europeacuteia do livro 1968

125

Serra qrsquo cobre a Va de Santos do rio pequeno a santos seratildeo

sette legoas trecircs por terra maacutes caminho mto aacutespero E as quatro

por hum rio qrsquo em todas as partes admitte navegaccedilatildeo daquelles

rios vecirc-se qrsquo era pequena a distancia em qrsquo se precisava

condusir por terra estes dous gecircneros ateacute ao Porto da Va de

Santos e daqui dar-lhes extraccedilatildeo para mais Portos da Ameacuterica

(CLETO 1899 p p 210)

Embora natildeo haja estudos especiacuteficos sobre o trabalho indiacutegena na

produccedilatildeo do ferro dos empreendimentos metaluacutergicos instalados no morro de

Araccediloiaba os documentos escritos indicam que ateacute meados do seacuteculo XVIII a

produccedilatildeo do ferro em Araccediloiaba foi realizada com o trabalho de indiacutegenas que

eram levados para aquela atividade pelos exploradores 82 Dessa forma

exploraram aquelas minas Afonso Sardinha e Francisco de Souza (seacuteculo XVI e

XVII) Luiz Lopes de Carvalho (seacuteculo XVII) Domingos Pereira Ferreira (seacuteculo

XVIII) e depois a Real Faacutebrica de Ferro de Satildeo Joatildeo do Ipanema Neste uacuteltimo

empreendimento os iacutendios foram trazidos das aldeias de Itapecerica MrsquoBoy

Carapicuiacuteba Barueri e Itapevi Em 1815 trabalhavam nessa faacutebrica 16 iacutendios aleacutem

de escravos africanos Em 1834 a Real Faacutebrica de Ferro comeccedilou a receber

africanos livres em 1837 trabalhavam naquele estabelecimento 121 escravos (68

homens 24 mulheres e 29 crioulos) e 48 africanos livres (30 homens e 18

mulheres)83

Nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XIX o morro de Araccediloiaba passou a

integrar as rotas de muitos naturalistas geoacutegrafos mineralogistas botacircnicos e

geoacutelogos como Von Martius Martim Francisco de Andrada Auguste Saint Hilaire

o Baratildeo Eschewege Theodoro Knecht e Leandro Dupreacute que fizeram daquele

82 Conforme estabelecia a legislaccedilatildeo mineira compilada pelo Coacutedigo Filipino a exploraccedilatildeo de qualquer mineacuterio era realizada com os recursos do proacuteprio descobridor pagando os direitos dos quintos ao eraacuterio reacutegio Cf Ord L 2ordm ndash Tits 26 e 28 par 16 acolhendo a Ord Manuelina do L 2ordm Tt34 e seus paraacutegrafos Ver RODRIGUES (1966 p 182) 83 Sobre o trabalho indiacutegena na Real Faacutebrica de Ferro de Ypanema ver MENON Og A Real Fabrica de Ferro de Satildeo Joatildeo do Ipanema e seu mundo 1811-1835 Dissertaccedilatildeo (mestrado) Satildeo Paulo PUCSP 1992 p 84-90 Sobre o trabalho dos africanos livres em Ipanema ver RODRIGUES Jaime Ferro trabalho e Confliro os Africanos livres na Faacutebrica de Ipenema Historia Social n 45 Campinas IFCH-Unicamp 29-42 199798

126

local um laboratoacuterio a ceacuteu aberto para pesquisas cientiacuteficas aleacutem de terem

deixado dessas experiecircncias relatos preciosos que ajudam a compor aquela

histoacuteria como atesta o relato do naturalista Saint-Hilaire que esteve em Ipanema

em 1819 Diz ele

Encontrei em Ipanema um zoologista o Sr Natterer membro da

comissatildeo cientiacutefica que o imperador da Aacuteustria havia enviado ao

Brasil para recolher amostras de espeacutecimes diversos do pais

Fazia um ano que se achava instalado nas proximidades das

forjas tendo jaacute formado uma vasta coleccedilatildeo de paacutessaros Era

impossiacutevel natildeo admirar a beleza dessa coleccedilatildeo Natildeo se via uma

uacutenica ave cujas penas tivessem sido coladas ou que apresentasse

a menor mancha de sangue

Encontrei tambeacutem em Ipanema um jovem prussiano Sellow

o primeiro naturalista a chegar no Brasil depois de firmada a paz

Tinha feito anteriormente estaacutegio no Jardim Botacircnico de Paris a

fim de aperfeiccediloar os seus conhecimentos e vivia agora de uma

pensatildeo que lhe dava o ilustre e generoso Humboldt o qual fazia

crer ao rapaz que ele estava sendo pago pela administraccedilatildeo do

Jardim Sellow dedicava-se as suas pesquisas com um zelo e

uma energia sem par (SAINT-HILAIRE 1972 p194-195)

127

CAPIacuteTULO 5

INVESTIGACcedilOtildeES ARQUEOLOacuteGICAS AS EVIDENCIAS DE UMA FAacuteBRICA DE FERRO 84

O trabalho da pesquisa arqueoloacutegica se estendeu por um periacuteodo de 8

anos (1983-1989) e ficou registrado em documentos de Diaacuterios de Campo

escritos pela pesquisadora Margarida Davina Andreatta assim como em

correspondecircncias levantamentos topograacuteficos planos de escavaccedilatildeo croquis e

desenhos geomeacutetricos de plantas das ruiacutenas croquis de cortes estratigraacuteficos e

de reconhecimento das escavaccedilotildees Inventaacuterio de Peccedilas e fotografias tudo

devidamente registrado em relatoacuterios da pesquisa arqueoloacutegica (ver Planta Geral

da Aacuterea Anexo 9 e o mapeamento das escavaccedilotildees Anexo 10)

Os artefatos coletados durante as investigaccedilotildees de campo foram

acondicionados em caixas devidamente protegidas e identificadas e guardados

nas dependecircncias do Museu do Centro de Visitantes da FLONA de Ipanema

Por ocasiatildeo da primeira visita realizada no Siacutetio Afonso Sardinha em 09 de

maio de 1983 a pesquisadora observou que as ruiacutenas existentes estavam

cobertas por ldquopequenos arbustos cipoacutes gramiacuteneas deposiccedilatildeo de folhas e raiacutezes

secasrdquo as quais encobriam os blocos de pedra que formariam as paredes de uma

edificaccedilatildeo (ANDREATTA 1983 p7) O siacutetio apresentava sinais de alteraccedilotildees

causadas pela accedilatildeo de erosatildeo pelas aacuteguas da chuva bem como pela accedilatildeo

antroacutepica possivelmente pescadores e caccediladores que usavam aquele local como

acampamentos temporaacuterios para suas atividades observando-se ainda sinais de

frequumlentes incecircndios na mata existente em seu entorno

84 Para acompanhar as discussotildees deste Capiacutetulo consultar o Anexo 9 Planta Geral do Siacutetio Afonso Sardinha

128

Fig 38 LIMPEZA DO SIacuteTIO AFONSO SARDINHA 1984

Fig 39 EQUIPE DE TRABALHO SITIO AFONSO SARDINHA 1988

Para iniciar a pesquisa arqueoloacutegica foi necessaacuterio remover a vegetaccedilatildeo

que recobria as ruiacutenas mencionadas de modo a possibilitar as primeiras

observaccedilotildees e mediccedilotildees das paredes e da aacuterea do seu entorno Desta forma jaacute

no iniacutecio das investigaccedilotildees iniciais em maio de 1983 jaacute haviam sido

129

evidenciados embora ainda natildeo totalmente identificados os espaccedilos

possivelmente destinados agrave produccedilatildeo de ferro e os locais proacuteprios para o

aproveitamento da forccedila motriz hidraacuteulica necessaacuteria agravequelas atividades

51 Estruturas hidraacuteulicas para a produccedilatildeo da forccedila motriz

O trabalho de reconhecimento da aacuterea identificou um conjunto de

estruturas identificadas como pertencente a um sistema hidraacuteulico destinado a

produccedilatildeo da forccedila motriz o qual compreendia diversas partes o canal de

derivaccedilatildeo das aacuteguas (vestiacutegios de canaleta) a vala destinada ao alojamento da

roda hidraacuteulica e o trecho do canal de restituiccedilatildeo das aacuteguas ao ribeiratildeo Tais

dispositivos se localizam em aacuterea externa poreacutem adjacente ao edifiacutecio principal

de produccedilatildeo de ferro

Natildeo foi possiacutevel localizar a estrutura do barramento responsaacutevel pelo

desvio das aacuteguas do ribeiratildeo do Ferro para o canal de derivaccedilatildeo

511 O Canal de Derivaccedilatildeo A existecircncia do canal de derivaccedilatildeo foi evidenciada no ano de 1987 quando

foram realizados os trabalhos de decapagem para escavaccedilatildeo da aacuterea Sul da aacuterea

A (forno externo) conforme registrado no Diaacuterio de Campo no dia 02 de julho de

1987 onde de se indica que ldquoevidenciou uma canaleta que se prolonga para o

interior da ferradura que apareceu apoacutes a limpeza da vegetaccedilatildeo do entorno da

mesmardquo Outra evidecircncia da existecircncia do canal na regiatildeo ao Sul da aacuterea A (forno

externo) foi a constataccedilatildeo da ocorrecircncia de fluxo de aacutegua em direccedilatildeo ao Forno 1

(aacuterea A1) fenocircmeno que se observava toda a vez que chovia Este fato mostra

130

que deveria existir um possiacutevel canal interceptador de aacuteguas de chuvas

direcionando a correnteza em direccedilatildeo ao forno (Anexo 9 e Figura 75)

A evidecircncia encontrada revelava que o Canal de Derivaccedilatildeo havia sido

construiacutedo com a finalidade de obter um aproveitamento da corrente de aacutegua do

ribeiratildeo do Ferro contornando a face sul da edificaccedilatildeo ateacute encontrar o muro da

entrada da vala da roda drsquoaacutegua em um ponto onde o terreno se encontra agrave cota

520m medida pelo levantamento planialtimeacutetrico realizado na aacuterea Sendo assim

esse canal de desvio de aacuteguas deve partir do ribeiratildeo do Ferro numa posiccedilatildeo com

cota evidentemente superior a 520m (Figura 75)

No final do Canal de Derivaccedilatildeo no ponto correspondente a entrada da vala

(aacuterea E) foi encontrada durante as pesquisas uma quantidade significativa de

blocos de rocha arenito de tamanhos regulares amontoados e natildeo-alinhados os

quais testemunhavam que naquele local deveria haver uma estrutura de conexatildeo

entre o canal de derivaccedilatildeo e a vala As dimensotildees desses blocos apresentando

uma certa regularidade de formas satildeo tambeacutem um forte indiacutecio de que eles foram

cortados com a finalidade de proporcionar um entrosamento na construccedilatildeo da

parede (Anexo 13)

As pesquisas mostraram a existecircncia de trecircs grupos de blocos com

dimensotildees regulares As Tabelas abaixo apresentam as dimensotildees observadas

nos blocos de arenito acima mencionados

Tabela 1 Dimensotildees dos blocos de maior dimensatildeo ( em centiacutemetros - cm)

COMPRIMENTO LARGURA ESPESSURA

43 30 18

43 27 15

26 20 16

131

COMPRIMENTO LARGURA ESPESSURA

20 11 8

18 09 9

18 14 6

Tabela 2 Dimensotildees dos blocos de media dimensatildeo ( em centiacutemetros ndash cm)

COMPRIMENTO LARGURA ESPESSURA

10 6 6

10 5 6

11 7 35

Tabela 3 Dimensotildees dos blocos de menor dimensatildeo ( em centiacutemetros ndash cm)

Fig 40 VISTA GERAL DA AacuteREA E 1988

132

512 A Vala da Roda

Nas ruiacutenas encontradas da Faacutebrica de Ferro a existecircncia de estruturas

destinadas a utilizaccedilatildeo da energia hidraacuteulica eacute evidenciada pela presenccedila de

estruturas que caracterizam o controle das aacuteguas Em sequumlecircncia ao Canal de

Derivaccedilatildeo mencionado no item anterior observa-se a existecircncia da vala para o

alojamento da roda drsquoaacutegua indicada na planta baixa (Anexo 9) identificada como

ldquoCanal (D)rdquo conforme registrado no Diaacuterio de Campo da pesquisadora Margarida

Davina Andreatta em maio de 1983

A vala encontrada apresenta 19 metros de comprimento tendo ambas as

paredes cerca de 15 metros de largura e vatildeo livre entre as paredes com cerca de

225 m A uma distacircncia da ordem de 37 metros da margem do ribeiratildeo do Ferro

a parede da lateral direita apresenta um alargamento e por conseguinte ocorre

um estreitamento do vatildeo da vala passando a contar com apenas 1 (um) metro de

largura na saiacuteda

A vala encontrada no Siacutetio Afonso Sardinha apresentava o seu piso com

plano de declividade em direccedilatildeo ao ribeiratildeo do Ferro sendo que na parte mais

alta a cota do piso eacute de 453 m acima do niacutevel do ribeiratildeo enquanto que a

extremidade inferior da vala alcanccedila 041m acima do mesmo niacutevel portanto

mostrando forte inclinaccedilatildeo para facilitar a restituiccedilatildeo da aacutegua ao ribeiratildeo

A posiccedilatildeo do plano de declividade da vala mostra que na extremidade de

saiacuteda do canal formou forte desniacutevel em relaccedilatildeo ao piso da Faacutebrica sendo que no

ponto meacutedio o niacutevel da vala seria igual a 230 m (Figura 41)

133

Fig 41 Dimensotildees da Vala da roda e localizaccedilatildeo das evidecircncias de

esteios

134

Fig 42 VALA DA RODA HIDRAacuteULICA 1987 - I

Fig 43 VALA DA RODA HIDRAacuteULICA 1987 - II

135

5121 Evidecircncias de esteios

Em novembro de 1984 foram evidenciados trecircs pares de esteios nas

laterais externas das paredes da vala permitindo supor que as mesmas

funcionavam como pilares para alguma cobertura sobre a vala (ANDREATTA

1984 p 37)

As evidecircncias de esteios encontrados possuem formas circulares e

quadrangulares tendo os lados medidas semelhantes As evidecircncias localizadas

no lado leste apresentavam respectivamente 040 cm X 040 cm 045 cm X 045

cm e 045 cm X 040 cm Jaacute as evidencias encontradas no lado oeste as medidas

encontradas eram 050 X 055 cm e 050 X 050 cm Aleacutem disso apresentavam

espaccedilamentos semelhantes entre si da ordem de quatro metros e meio

Fig 44 EVIDENCIAS DE ESTEIOS vala da roda 1987

136

Fig 45 DETALHE DOS ESTEIOS

Fig 46 DETALHE DE UM ESTEIO

137

52 A Faacutebrica de Ferro os espaccedilos de produccedilatildeo 521 Area ldquoCrdquo

O relevo do terreno nesta aacuterea mostra irregularidade sendo que na

extremidade sul junto agrave parede limite a superfiacutecie do terreno apresenta uma

parte plana com cota mais elevada tendo sido medido pela topografia o niacutevel

448 enquanto que na porccedilatildeo central aparece um segundo platocirc com cota do

terreno igual a 343 e na extremidade norte junto ao ribeiratildeo do Ferro a cota

medida foi 0 85m ( ver figura 47)

As pesquisas nesta aacuterea ldquoCrdquo foram realizadas agrave partir de novembro de

1986 para a verificaccedilatildeo da estratigrafia com a abertura de 2 trincheiras na

extremidade norte e uma na parte central as quais tiveram as seguintes

caracteriacutesticas geomeacutetricas (comprimento X largura X profundidade) T1 4m X

065m X 080m T2 170m X 070m X 080m T3 140m X 065m X 095m

(ANDREATTA1984 p 5)

O resultado dos estudos estratigraacuteficos e de decapagem mostraram a

existecircncia unicamente de telhas e cravos aleacutem de alguns poucos fragmentos de

ceracircmica

138

Fig 47 ndash Topografia do Terreno da Aacuterea C (Seta indicaccedilatildeo das Trincheiras)

139

Fig 48 Vista Geral da Aacuterea C 1987

522 A Aacuterea B (ldquoForjardquo) Diferentemente do espaccedilo ldquoCrdquo analisado no item anterior a aacuterea

denominada ldquoBrdquo no desenho da planta baixa (anexo 9) apresentou importante

quantidade de materiais arqueoloacutegicos tais como metais liacuteticos ceracircmicas louccedila

e resiacuteduos de fundiccedilatildeo (escoacuterias)

No inicio das exploraccedilotildees do local no decorrer do ano de 1983 foram

observadas evidecircncias de paredes inclusive com amontoados de blocos de

arenito que mostravam possiacuteveis sinais de alteraccedilotildees construtivas

No ano seguinte orientado pela descoberta dos blocos acima

mencionados os quais foram caracterizados como possiacuteveis materiais de

construccedilatildeo a pesquisa arqueoloacutegica foi programada prevendo inicialmente a

140

remoccedilatildeo da vegetaccedilatildeo existente no espaccedilo assinalado ldquoBrdquo seguida da

decapagem do terreno

As pesquisas iniciais permitiram identificar a existecircncia da base de paredes

de uma antiga estrutura A partir desta descoberta foi possiacutevel reconstruir ldquoem

superposiccedilatildeo aos blocos de arenito da parede original da forjardquo 85 Tais blocos de

arenitos conforme foi possiacutevel constatar eram os mesmos materiais de

construccedilatildeo dos setores ldquoCrdquo e ldquoDrdquo

Fig 49 RECONSTITUICcedilAtildeO DAS PAREDES DA AacuteREA B 1984

85 Comunicaccedilatildeo Interna ao CENEA por Margarida Davina Andreatta Iperoacute 05dez1984

141

Fig 50 EVIDENCIAS DAS PAREDES DA AacuteREA B 1984 -

Fig 51 PAREDE DA AacuteREA B RECONSTITUIacuteDA 1984 - I

142

Fig 52 PAREDES DA AacuteREA B RECONSTITUIacuteDA 1984 - II

Durante a realizaccedilatildeo da pesquisa arqueoloacutegica com escavaccedilotildees nesta

aacuterea foi possiacutevel evidenciar a ocorrecircncia de significativa quantidade de peccedilas de

metais (ver Tabela Metais) tais como lacircminas plaquetas e cravos

aparentemente indicando a atividade de transformaccedilatildeo do ferro em peccedilas de

utilitaacuterios Tambeacutem foram encontrados liacuteticos fragmentos de telhas faianccedila de

origem portuguesa e ceracircmicas de produccedilatildeo regional ou local (neo-brasileira)

possivelmente ldquopara fins utilitaacuterios do grupo que habitou o localrdquo 86

86 Relatoacuterio de Atividades Periacuteodo 19-31 maio 1986 p 8

143

Fig 53 DECAPAGEM AacuteREA B 1984

Quanto ao piso arqueoloacutegico da aacuterea ldquoBrdquo observou-se que ele estava

situado entre 10 e 30 cm acima do solo original sendo constituiacutedo ldquode blocos de

arenito de diferentes tamanhos irregulares e cobertos por uma camada de terra

com huacutemus e raiacutezes tronco de aacutervores e a terra eacute latossolo (cor avermelhada) o

mesmo que se encontra entre os blocos de arenito nas paredes parece que

serviu como argamassa para assentar os blocos entre si e levantar a parederdquo

conforme descriccedilatildeo apresentada no Diaacuterio de Campo da pesquisadora Margarida

Davina Andreatta (ANDREATTA 1984 p 42) Notou-se tambeacutem que os blocos e

placas de arenito estavam ldquodispostos horizontalmente de maneira que indicavam

que a superfiacutecie do piso deveria ter sido nivelada com argila a fim de facilitar a

circulaccedilatildeo do homemrdquo (ANDREATTA 1984 p 42)

144

TABELA METAIS

CATEGORIAS NUacuteMERO DE FRAGMENTOS

Cravos 33

Plaquetas 06

Barras de ferro 02

Escoacuterias 03

Mineacuterios 03

ANDREATTA Inventaacuterio de Peccedilas 1983-1987

No interior do local da aacuterea ldquoBrdquo (ldquoforja) foram coletadas duas peccedilas

arqueoloacutegicas compreendendo dois fragmentos de ceracircmica com formato de

vasilhame para cozimento as quais foram encaminhadas para o laboratoacuterio da

FATEC ndash Faculdade de Tecnologia de Satildeo Paulo com o objetivo de obter a

dataccedilatildeo absoluta pelo meacutetodo da termoluminescecircnciardquo Este meacutetodo eacute aplicado

para o caso de materiais que apresentam quartzo em sua composiccedilatildeo tais como

ceracircmica vidros solos louccedilas faianccedilas etc

Uma dessas peccedilas era constituiacuteda de metade de um vasilhame de

pequenas dimensotildees de ceracircmica decorada com a presenccedila de apecircndice (alccedilas)

identificada conforme classificaccedilatildeo arqueoloacutegica como de produccedilatildeo local ou

regional (neo-brasileira) O exame visual dessa peccedila mostra a existecircncia de um

apecircndice (alccedila) que identifica a influencia do europeu na fabricaccedilatildeo daquele

objeto permitindo deduzir que o local teria sido um siacutetio de contato (entre o

indiacutegena e o europeu)

O resultado do ensaio de dataccedilatildeo absoluta dessa peccedila arqueoloacutegica pelo

meacutetodo da termoluminescecircncia apontou a idade de 520 +- 75 anos permitindo

avaliar a data da fabricaccedilatildeo entre 1411 a 1561 conforme Certificado da FATEC

datado de 21 de junho de 2006 (Relatoacuterio de Ensaio ndash Anexo 1) Levando em

conta os dados apresentados pela pesquisa histoacuterica para aquele local pode-se

145

supor que a data mais provaacutevel da fabricaccedilatildeo da peccedila seja em meados do seacuteculo

XVI eacutepoca em jaacute ocorria presenccedila do explorador europeu (Figuras 54 55 56)

Fig 53 VASILHAME CERAcircMICA ndash 0106 - SEacuteCULO XVI -I Idade de 520 +- 75 anos

Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema

Fig 54 VASILHAME CERAcircMICA ndash 0106 - AacuteREA B SEacuteCULO XVI - II

Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema

146

Fig 55 VASILHAME CERAcircMICA ndash 0106 - AacuteREA B SEacuteCULO XVI - III

Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema

Descriccedilatildeo Nuacutemero de Registro 0106

Niacutevel 015 m de profundidade

Laacutebio arredondado

Borda extrovertida inclinada externa

Diacircmetro de boca 014 m

Acircngulo da parede 115ordm

Vasilhame simeacutetrico profundo inflectido de boca ampliada e com

apecircndices lisos em forma de rolete com evidencias de pressatildeo na extremidade

para fixaccedilatildeo

Apresenta as seguintes decoraccedilotildees inciso na posiccedilatildeo vertical com 015m

de comprimento (em grupo de 3 incisos) distanciando cada grupo em 001m

dispostos em duas fileiras sendo a primeira proacutexima al laacutebio e a segunda junto a

altura do apecircndice

147

O bojo eacute liso e a sua base escovada e apresenta marcas de fuligem na

parte externa e sinais de desgaste por atrito na parte interna da base do

vasilhame

O outro vasilhame ceracircmico encontrado na aacuterea B identificada como de

procedecircncia local ou regional (neo-brasileira) apresenta caracteriacutesticas

semelhantes e tambeacutem a mesma dataccedilatildeo do vasilhame de ceracircmica

anteriormente descrito (Figura 57 58) Este artefato foi encontrado a 030 cm da

superfiacutecie e foi em parte reconstituiacutedo e levado para o exame de dataccedilatildeo pelo

processo de termoluminscecircncia ao Laboratoacuterio de Vidros e Dataccedilatildeo da Faculdade

de Tecnologia de Satildeo Paulo - FATEC O resultado do ensaio apontou a idade de

540 +- 75 anos correspondendo a possiacuteveis datas de fabricaccedilatildeo daquele artefato

entre 1391 e 1541 sendo esta uacuteltima data a mais provaacutevel(Relatoacuterio de Ensaio

Anexo 1)

Fig 57 VASILHAME CERAcircMICO ndash 0122 - AacuteREA B SEacuteCULO XVI - I Idade de 540 +- 75 anos

Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema

148

Fig 58 VASILHAME CERAcircMICO ndash 0122 - AacuteREA B SEacuteCULO XVI - II Idade de 540 +- 75 anos

Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema Descriccedilatildeo Nuacutemero de registro 0122

Niacutevel 030 m de profundidade

Tipo de laacutebio arredondado

Tipo de borda extrovertida inclinada externa

Diacircmetro da boca 028m

Acircngulo da parede 110ordm

Fragmento de vasilhame simeacutetrico de contorno inflectido com as seguintes

decoraccedilotildees parede lisa com engobo branco parede externa com banho de

engobo branco com uma linha incisa paralela a 001m do laacutebio Entre esta

primeira decoraccedilatildeo e o bojo haacute decoraccedilatildeo escovada com inclinaccedilatildeo

Na borda haacute ainda um apecircndice convexo com sinais de fixaccedilatildeo e nas

extemidades haacute pressatildeo de fixaccedilatildeo Entre a borda e o bojo apresenta decoraccedilatildeo

regulada contornando o vasilhame O bojo tambeacutem apresenta decoraccedilatildeo

escovada quase horizontal

149

Uma terceira peccedila encontrada no interior da aacuterea ldquoBrdquo eacute uma faianccedila

decorada de origem portuguesa e formada por fragmentos de louccedila de uso

domeacutestico a qual tambeacutem foi submetida a uma dataccedilatildeo relativa mediante

comparaccedilatildeo feita com auxilio de cataacutelogo (Itineraacuterio da Faianccedila do Porto e Gaia

publicaccedilatildeo do Museu Nacional de Soares dos Reis sem data) Os fragmentos

foram localizados em parte no interior da aacuterea ldquoBrdquo e outra parte na aacuterea externa

dessa mesma aacuterea sendo este uacuteltimo junto a um vestiacutegio de estrutura do forno 1

aacuterea A1 (Figura 59)

O exame visual sobre a faianccedila reconstituiacuteda a partir de cinco fragmentos

separados permitiu reconhecer com base no documento acima mencionado que

aquela peccedila era um utensiacutelio portuguecircs de uso domeacutestico a qual pode ser

descrita como ldquotiacutepicas tijelas malegueiras decoradas no fundo e na orla com

filetes concecircntricos azul [] que apresentam temas decorativos recorrentes

dentro das faianccedilas conhecidas para a segunda metade do seacuteculo XVII (GOMES

BOLTELLO p148)

Conforme parecer sobre a mesma faianccedila acima descrita apresentado por

Paulo Dordio arqueoacutelogo pesquisador da Casa do Infante Porto ndash Portugal em

28 de abril de 2004 aquela peccedila de faianccedila apresenta uma ldquodecoraccedilatildeo simples

que exibe com toques de pincel espaccedilados junto ao bordo filetes simples

resultando ciacuterculos concecircntricos e espiral no fundo tudo em azul aponta para

uma cronologia que se centraraacute no seacuteculo XVIIrdquo 87

87 Parecer sobre a faianccedila encontrada no Siacutetio Afonso Sardinha feita por Paulo Dordio arqueoacutelogo pesquisador da Casa do Infante Porto ndash Portugal em 28 abr 2004

150

Fig 59 FAIANCcedilA - AacuteREA B [SEacuteC XVII]

Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema

53 Area E Sul da Faacutebrica de Ferro

A pesquisa arqueoloacutegica realizada na aacuterea E Sul externa da Faacutebrica de

Ferro revelou a existecircncia de amontoados de resiacuteduos de fundiccedilatildeo da magnetita

conhecidos como escoacuteria os quais se distribuem por uma ampla aacuterea do terreno

identificada como escorial sendo que num local adjacente agrave face sul da estrutura

denominada aacuterea ldquoB se apresenta maior concentraccedilatildeo (ver anexo 9)

Uma amostra desse material foi encaminhada para anaacutelise no

Departamento de Mineralogia e Geotectocircnica GMG do Instituto de Geociecircncias

da Universidade de Satildeo Paulo aos cuidados de Daniel Atencio Professor

Associado daquele Departamento o qual constatou ser aquela amostra ldquo[]

provavelmente restos de fundiccedilatildeo Trata-se de wuumlstita (FeO) mais ferro (Fe)

Esses materiais satildeo muito raros como minerais mas comuns em fundiccedilotildeesrdquo88

88 Anaacutelise elaborada por Daniel Atencio Professor Associado do Departamento de Mineralogia e Geotectocircnica GMG IGUSP e enviado por e-mail no dia 21 set 2005

151

Como indica este parecer a amostra se constituiacutea de uma escoacuteria ldquoresto

de fundiccedilatildeordquo contendo wuumlstita (FeO) e ferro caracterizando desta forma o material

do escorial citado

Fig 60 ESCOacuteRIA RESTOS DE FUNDICcedilAtildeO AacuteREA E

Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema

Observe-se que a presenccedila do metal de ferro impregnado nessa escoacuteria

era resultante da teacutecnica de fundiccedilatildeo para fabricaccedilatildeo do ferro empregada no

Brasil ateacute o iniacutecio do seacuteculo XIX Com a introduccedilatildeo do processo de altos-fornos no

Brasil foi possiacutevel melhorar o aproveitamento do mineacuterio de ferro durante o

processo de fundiccedilatildeo

Nesta mesma aacuterea E foi encontrada uma grande quantidade de telhas

localizadas na parte externa das aacutereas ldquoBrdquo e ldquoCrdquo anteriormente descritas Foram

coletadas 930 fragmentos de telhas as quais foram localizadas ao longo de uma

faixa do terreno com largura da ordem de 060 e 080 cm paralelamente a parede

sul das aacutereas ldquoBrdquo e ldquoCrdquo sugerindo corresponder a mesma posiccedilatildeo sob um ldquobeiral

do telheiro que cobria as respectivas aacutereasrdquo (ANDREATTA 1987 p36v) (Anexo

15)

152

As telhas encontradas permitem afirmar que no local havia uma cobertura

sendo que os trabalhos de dataccedilatildeo sobre um exemplar de telha (Figura 61)

executado pelo meacutetodo de termoluminescecircncia pelo Laboratoacuterio de Vidros e

Dataccedilatildeo da Faculdade de Tecnologia de Satildeo Paulo ndash FATEC acusou uma

dataccedilatildeo (em anos) de 280 +- 40 o que equivale a afirmar que aquele fragmento

foi fabricado entre os anos de 1686 a 1766 periacuteodo correspondente a pelo

menos dois projetos de Faacutebrica de Ferro para aquele local o de Luiz Lopes de

Carvalho e o de Domingos Pereira Ferreira sendo que este uacuteltimo empreendedor

esteve ali estabelecido durante um periacuteodo de no miacutenimo 12 anos (Relatoacuterio de

Ensaio Anexo 1)

A partir dos exames dos fragmentos das telhas encontradas tendo por

base o tipo de pasta coloraccedilatildeo e decoraccedilatildeo foi possiacutevel identificar seis grupos

distintos daquele material conforme a tabela de classificaccedilatildeo abaixo

(ANDREATTA 1987 p21)

Classificaccedilatildeo Caracteriacutestica

Tipo I Branca com riscos (podem ter sentido

longitudinal transversal em X ou em cruz) -

Predominante

Tipo II Branca lisa

Tipo III Vermelha lisa

Tipo IV Marron lisa

Tipo V Vermelha marcadas com granulaccedilatildeo grosseira

Tipo VI Vermelha lisa e com granulaccedilatildeo grosseira

(ANDREATTA 1987 p22)

Quanto a decoraccedilatildeo foram identificados quatro tipos de motivos conforme

os itens descritos abaixo

153

Tipo 1 - linhas digitais horizontais formados por duas linhas relativamente finas

(10 cm) paralelas e orientadas de uma extremidade a outra da telha A natureza

dessas linhas indica que foram confeccionadas em alguns casos por meio da

utilizaccedilatildeo de dedos (indicador e meacutedio)

Tipo 2 - linhas digitais associadas neste caso a decoraccedilatildeo eacute composta por uma

uacutenica linha com a largura de 03 a 05 cm traccedilada na posiccedilatildeo horizontal associada

a uma outra decoraccedilatildeo de forma semicircular

Tipo 3 - linhas digitais paralelas e inclinadas a decoraccedilatildeo apresenta linhas de 10

cm inclinadas e entrelaccediladas

Tipo 4 - linhas digitais inclinadas apresentam linhas com 10 a 15 cm

154

Fig 61 TELHA (AacuteREA E) ndash SEacuteCULO XVIII Idade 280 +- 40 (tn 255 cm) Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema

155

Fig 62 TELHA (AacuteREA E) (tn30 cm) Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema

Fig 63 TELHA AacuteREA E (tn 33 cm) Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema

156

531 Fornos de fundiccedilatildeo na aacuterea externa da Faacutebrica (Aacuterea A1) Na aacuterea externa agrave Faacutebrica de Ferro localizada em diversas posiccedilotildees ao sul

e leste da edificaccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro inclusive na aacuterea aqui denominada de

escorial a pesquisa arqueoloacutegica mostrou a existecircncia de pequenos fornos de

fundiccedilatildeo do tipo ldquofornos baixosrdquo (Anexo 9)

Nessa mesma aacuterea junto ao local denominado ldquoArdquo foi identificado um dos

fornos de fundiccedilatildeo o qual foi denominado de ldquoforno1rdquo da aacuterea A1 junto ao qual

foram encontrados diversos materiais arqueoloacutegicos fragmento de ceracircmicas um

material liacutetico identificado como ldquoraspadorrdquo uma garrafa de greacutes fragmentos de

faianccedila portuguesa e telhas As evidecircncias de ceracircmicas encontradas nessa aacuterea

constituem artefatos relacionados ao grupo social de ocupaccedilatildeo colonial

Fig 64 RASPADOR PLANO-CONVEXO AacuteREA E

157

Fig 65 GARRAFA GRES AacuteREA A FORNO-1

Tambeacutem foi localizado um afloramento de rocha nas proximidades da

Faacutebrica margem esquerda do ribeiratildeo do Ferro o qual apresentava marcas de

uso possivelmente para afiar ferramentas (ANDREATTA 1983 p 18)

5311 Forno de Fundiccedilatildeo 1

O Forno 1 era do tipo conhecido como ldquoforno baixordquo sendo o uacutenico

encontrado junto a Faacutebrica de Ferro Entretanto dois outros fornos baixos foram

localizados em um local mais distante (da ordem de 50m) e denominado aacuterea A2

da referida Faacutebrica possivelmente fazendo parte de um outro conjunto de

produccedilatildeo de ferro (Anexo 9)

Os trabalhos de reconhecimento arqueoloacutegico mostraram que o Forno 1

(aacuterea A1) foi construiacutedo sobre uma base retangular com blocos de arenito sendo

158

que duas paredes foram erguidas tambeacutem com blocos de arenito (lados Norte e

Oeste ) enquanto que as duas outras faces foram encaixadas no proacuteprio terreno

rochoso do afloramento de arenito (lados Sul e Leste) aproveitando o relevo

inclinado no local

Uma descriccedilatildeo relacionada ao Forno 1 (aacuterea A1) feita pela pesquisadora e

arqueoacuteloga Margarida Davina Andreatta informa que

uma parte da ldquoconcavidaderdquo (lado Leste) eacute o proacuteprio afloramento

de arenito e o lado Sul tambeacutem enquanto que os lados Norte e

Oeste satildeo revestidos de blocos de arenito e no centro haacute

pequenos blocos tambeacutem de arenito que provavelmente rolaram

da superfiacutecie do proacuteprio muro de pedras da forja (ANDREATTA

1986 p9)

Os dados da pesquisa arqueoloacutegica mostraram ainda que o Forno 1 (aacuterea

A1) apresentava em planta as seguintes dimensotildees comprimento 340m (norte-

sul) largura 260m (leste ndash oeste) e profundidade de 085m (Andreatta 1986

p10)

Fig 66 DECAPAGEM FORNO1 AacuteREA A1 1987

159

Fig 67 VESTIacuteGIOS DO FORNO DE FUNDICcedilAtildeO1- (AacuteREA A1)89

532 Fornos de fundiccedilatildeo da Aacuterea A2 A pesquisa arqueoloacutegica mostrou vestiacutegios de dois outros fornos de

fundiccedilatildeo localizados subjacentes a um morrote denominado B nesta aacuterea A2 a

qual dista cerca de 50 metros ao Sul do local da aacuterea A1 onde existe uma ruiacutena

da Faacutebrica de Ferro O morrote B (ver Figuras 13 e 68) apresentava dimensotildees

de 1280 metros de comprimento por 250m de largura e 135 m altura Aleacutem do

forno de fundiccedilatildeo foram encontrados tijolos telhas e fragmentos de ceracircmica

(ANDREATTA 1987 p65-66) ( Anexo 9)

89 Ver em Pesquisas arqueoloacutegica prosseguem em Ipanema Jornal Cruzeiro do Sul Sorocaba 19 de marccedilo de 1987p 1

160

Fig 68 MORROTE E FORNOS 1 E 2 ndash AREA A2

161

Fig 69 CROQUI AacuteREA A 2 MORROTE B ndash FORNOS 1 E 2 Desenho de Maacutercia Gutierrez Escala 120

162

5321 Forno de fundiccedilatildeo 1 (aacuterea A2) O forno de fundiccedilatildeo 1 da aacuterea A2 caracteriza-se tambeacutem como do tipo

baixo Durante a pesquisa arqueoloacutegica esta evidecircncia se apresentou como o

forno de fundiccedilatildeo mais bem conservado dentre aqueles encontrados Este forno

tem a forma circular com 070 m de diacircmetro interno e 100 m de diacircmetro

externo com 030 m de profundidade A estrutura apresenta na base um vatildeo de

015 m que corresponde agrave abertura atraveacutes da qual se fazia a ldquocorrida das

escoacuteriasrdquo (Figuras 70 e 71)

A parede circular do Forno 1 (aacuterea A2) eacute ldquo assentada diretamente sobre o

solo e eacute constituiacuteda por tijolos e fragmentos de telhas e argamassa com argila do

proacuteprio solo originalrdquo (ANDREATTA 1987 p65-66) Junto ao vatildeo existente no

piso do forno foi feito um pequeno corte (025 m X 025 m X 010 m) para

evidenciar com maior precisatildeo a funccedilatildeo que teria aquela abertura em relaccedilatildeo agrave

estrutura do forno de fundiccedilatildeo

Com base nas investigaccedilotildees arqueoloacutegicas desenvolvidas foi possiacutevel

evidenciar a existecircncia de uma camada de 002 m de ldquosolo compactado e

queimado e com maior resistecircncia em relaccedilatildeo do restante do solo original abaixo

dele e do entornordquo( (ANDREATTA 1987 p65-66) comprovando que de fato

aquela abertura correspondia ao orifiacutecio responsaacutevel pela drenagem das escoacuterias

Esta abertura era comum a todos os fornos de fundiccedilatildeo do tipo forno baixo com

emprego do meacutetodo direto

163

Fig 70 VESTIacuteGIOS DE FORNO DE FUNDICcedilAtildeO 1- AacuteREA A2 1988

164

Fig 71 CROQUI DO FORNO 1 AacuteREA A2 (1987) Desenho de Marcia Gutierrez

165

5322 Forno de fundiccedilatildeo 2 (aacuterea A2)

O vestiacutegio arqueoloacutegico do Forno 2 foi encontrado a 045 m de

profundidade correspondendo a um forno do tipo baixo apresentando forma

circular construiacutedo com a utilizaccedilatildeo de telhas e ldquotijolosrdquo os quais eram materiais

diferentes daqueles encontrados em outras evidecircncias de fornos neste Sitio Esta

constataccedilatildeo denota que natildeo havia uma regra determinada para a construccedilatildeo de

fornos no que se refere agrave utilizaccedilatildeo de materiais de construccedilatildeo podendo haver

alternativas de uso de outros materiais conforme a disponibilidade de materiais

no local (Figuras 72 73 e 74)

Os registros do trabalho arqueoloacutegico permitiram evidenciar que o Forno 2

apresentava as seguintes dimensotildeesldquodiacircmetro de 110 m com uma borda de 28

cm de largura com a presenccedila de fragmentos de telhas tijolos e argamassa

(latossolo vermelho)rdquo ldquoDo interior do forno foram retiradas telhas (fragmentos)

em quantidade e tijolos e barro cozido com grande presenccedila de mineacuterio de ferrordquo

(ANDREATTA 1987 p65-66)

Quanto ao barro cozido (argila) encontrado no interior desse forno teria

sido provavelmente resto de um revestimento interno jaacute que o material do qual

ele foi construiacutedo (telhas e tijolos) estava disposto de forma bastante irregular A

utilizaccedilatildeo da argila como revestimento nos fornos de fundiccedilatildeo era muito comum

dando um efeito refrataacuterio ao forno fazendo com que natildeo fosse desperdiccedilada a

temperatura elevada que era proporcionada pela combustatildeo do carvatildeo vegetal no

interior do forno e necessaacuteria para separar o metal de ferro do mineacuterio no caso a

Magnetita

166

Fig 72 FORNO DE FUNDICcedilAtildeO 2 ndash AacuteREA A2 1988

Fig 73 FORNO DE FUNDICcedilAtildeO 2 ndash AacuteREA A2 1988

167

Fig 74 FORNO DE FUNDICcedilAtildeO 2 ndash AacuteREA A2 1988

168

CAPITULO 6

INTERPRETACcedilOtildeES DOS DADOS ARQUEOLOacuteGICOS

No Capiacutetulo 5 foram apresentados os resultados da pesquisa arqueoloacutegica

desenvolvida no Siacutetio Afonso Sardinha que envolveram trabalhos de

reconhecimento de campo segundo planos de escavaccedilatildeo coleta de artefatos

levantamentos planialtimeacutetricos e elaboraccedilatildeo de croquis tudo devidamente

registrado no Diaacuterio de Campo da arqueoacuteloga Margarida Davina Andreatta

No presente Capiacutetulo apresentam-se os resultados das anaacutelises detalhadas

dos registros arqueoloacutegicos que resultaram da pesquisa de campo e em seguida

interpretadas as informaccedilotildees anteriormente consolidadas com base nos

conhecimentos da Arqueologia Histoacuterica e Histoacuteria da Teacutecnica e da Ciecircncia

Na elaboraccedilatildeo da siacutentese interpretativa foi necessaacuterio em

complementaccedilatildeo valer-se de instrumentos disponiacuteveis em outras aacutereas do

conhecimento tais como Geologia Mineralogia Metalurgia Engenharia Civil

dentre outras aacutereas

Nesta fase dos estudos arqueoloacutegicos foram elaborados exames visuais e

catalograacuteficos visando a dataccedilatildeo relativa inclusive com o envio de imagem para

fins de comprovaccedilatildeo para Paulo Dordio arqueoacutelogo pesquisador da Casa do

Infante Porto ndash Portugal

Tambeacutem encaminhadas trecircs amostras de ceracircmica de utensiacutelios e telhas

as quais foram submetidas a testes de dataccedilatildeo absoluta com base em ensaios

de Termoluminescecircncia pelo Laboratoacuterio de Vidros e Dataccedilatildeo da Faculdade de

Tecnologia de Satildeo Paulo ndash FATEC sob a coordenaccedilatildeo da Professora Doutora

Sonia H Tatumi (Relatoacuterio de Ensaio Anexo 1)

169

Por outro lado amostras de resiacuteduos de fundiccedilatildeo (escoacuterias) foram

submetidas a anaacutelise quiacutemica-mineraloacutegica no laboratoacuterio do Departamento de

Mineralogia e Geotectocircnica ndash GMG Instituto de Geociecircncias da Universidade de

Satildeo Paulo sob a responsabilidade do pesquisador e Professor Associado Daniel

Atencio

61 Avaliaccedilatildeo das caracteriacutesticas do Arranjo das Estruturas Ao analisarmos o conjunto das estruturas arqueoloacutegicas entatildeo

descobertas considerando o contexto relacionado agrave produccedilatildeo do ferro na Europa

entre os seacuteculos XVI ao XVIII e levando em conta os conhecimentos que emanam

da Histoacuteria Colonial do Brasil e da Histoacuteria da Teacutecnica eacute possiacutevel estabelecer

muitas semelhanccedilas entre os arranjos das ldquoferrariacuteas de aacuteguardquo destinadas a

produccedilatildeo de ferro na Espanha (Paiacutes Basco) e os vestiacutegios descobertos no vale

das Furnas (Sitio Arqueoloacutegico Afonso Sardinha)

Um dos aspectos mais importantes que demonstram tal semelhanccedila entre

as ldquoferreriacuteas de aacuteguardquo e a Faacutebrica do Vale das Furnas refere-se agrave localizaccedilatildeo das

estruturas numa posiccedilatildeo de curva do ribeiratildeo do Ferro de onde era possiacutevel

captar e desviar as aacuteguas mediante a construccedilatildeo de um sistema hidraacuteulico

formado pelas seguintes unidades (a) Dique para represamento do ribeiratildeo (b)

Canal de Derivaccedilatildeo para desvio das aacuteguas (c) Estrutura de Vala com alojamento

de roda drsquoaacutegua e (d) Canal de restituiccedilatildeo das aacuteguas para o ribeiratildeo do Ferro

Tambeacutem chamam a atenccedilatildeo a arquitetura da principal estrutura construiacuteda

localizada na aacuterea A1 a qual mostra diversos recintos com a divisatildeo

caracteriacutestica das ldquoferreriacuteasrdquo encontradas na Espanha nos seacuteculos XVI assim

como as dimensotildees da edificaccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro construiacuteda numa aacuterea

retangular com 13m de largura por 16 m de comprimento No caso das ldquoferreriacuteasrdquo

170

bascas as edificaccedilotildees satildeo igualmente retangulares com as dimensotildees de 12 m de

largura por 17 metros de comprimento

Vale tambeacutem mencionar que arranjo semelhante pode ser observado no

caso da edificaccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro que entrou em operaccedilatildeo

em 1607 (ver fig 27)

Observa-se tambeacutem o emprego da alvenaria de pedra - teacutecnica construtiva

introduzida no Brasil pelos primeiros colonizadores como no caso da construccedilatildeo

da Casa da Torre de Garcia DrsquoAvila (ano de 1549) na Praia do Forte atual

municiacutepio de Mata de Satildeo Joatildeo Litoral Norte da Bahia (HOLANDA 2002)

Essa mesma teacutecnica exceto pequenas variaccedilotildees respeitavam as tradiccedilotildees

ibeacutericas tendo sido empregada no Brasil tambeacutem para construccedilotildees de

residecircncias edifiacutecios puacuteblicos igrejas e fortificaccedilotildees principalmente no litoral As

paredes feitas de pedra eram entatildeo revestidas com argamassa de areia e cal

obtido pela queima de cascas de ostras encontradas em depoacutesitos no litoral

Nota-se conforme registros das Atas da Cacircmara da Vila de Satildeo Paulo para o ano

de 1609 que essa mesma teacutecnica que se utilizava da cal como argamassa

tambeacutem foi utilizada na construccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro (1607)

(NEME 1959 p 348)

62 As ldquoferreriacuteasrdquo de aacutegua na Peniacutensula Ibeacuterica

Na Europa e principalmente na Espanha as ldquoferreriacuteas de aguardquo se

expandiram a partir do seacuteculo XIV90 Assim eram chamados os edifiacutecios

destinados ao trabalho de fundiccedilatildeo do ferro que utilizavam a forccedila motriz

hidraacuteulica para acionar os foles dos fornos de fundiccedilatildeo e os malhos

90 Ruta de las Minas y Ferreriacuteas Desde las primitivas instalaciones hasta el siglo XVIII Disponiacutevel em lthttpwwwbizkaianetkulturakirol_gazteriaFTPGazteriapaginadedesplegablesPrimitivas_instalcionespdfgt Acesso em 30 mar 05

171

Essas ldquoferreriacuteas de aacuteguardquo para viabilizar o seu funcionamento exigiam

certas condiccedilotildees fisiograacuteficas cujos componentes essenciais satildeo a presenccedila do

mineacuterio de ferro nas proximidades madeiras para produccedilatildeo de carvatildeo e cursos

drsquoagua com corredeiras e volume de aacuteguas suficientes para a geraccedilatildeo de forccedila

motriz

Hubo dos tipos de ferreriacuteas de agua las que se valiacutean del caudal

de los rios que funcionaban todo el antildeo y las que dependiacutean de

arroyos que no entraban em funcionamiento hasta las

temporadas de otontildeo e invierno cuando la lluviacuteas incrementaban

el caudal de los regatos y la fuerza del agua Estas uacutetimas no

llegaron a ser consideradas como autenticas ferreriacuteas de agua

Em Biskaia se disignaba a las primeras como ldquode rio caudalrdquo y a

las segundas como ldquoregaterasrdquo Tambieacuten em Gipuzkoa se

diferenciaban unas de otras com los nombres de ldquozeharrolakrdquo y

ldquoagorrolakrdquo respectivamente

Para aprovechar la fuerza del agua era imprescidible que la

ferreriacutea estuviesse construiacuteda em el lugar adecuado Debiacutea estar

situada em la curva de um rio em um lugar em el que fuese faacutecil

desviar el agua de su curso natural a traveacutes de um sistema de

canales y anteparas para que despueacutes de hacer rotar la rueda

hidaulica pudiesse volver a su cauce naturalCuando no era

posible conseguir esta situacioacuten se recurriacutea a crear um sistema

artificial de presas que contuviesen el agua em um niacutevel maacutes

elevado de forma que para mover las ruedas hidraacuteulicas bastaba

com dejar caer la aacutegua sobre ellas 91

91 Ruta de las Minas y Ferreriacuteas Desde las primitivas instalaciones hasta el siglo XVIII Disponiacutevel em lthttpwwwbizkaianetkulturakirol_gazteriaFTPGazteriapaginadedesplegablesPrimitivas_instalcionespdfgt

172

Fig 75 ASPECTO DE UMA ldquoFERRERIacuteA DE AGUArdquo SEacuteCULO XVII92

92 Felipe III visita la ferreriacutea de Yarza en Beasain (Guipuacutezcoa) en 02 noviembre de 1615

173

As plantas das ldquoferreriacuteas de aacuteguardquo encontradas na regiatildeo basca da

Espanha obedeciam a um arranjo de planta retangular medindo em meacutedia 12 X

17 metros com cobertura de duas aacuteguas sendo que suas dependecircncias e

instalaccedilotildees geralmente compreendiam duas estruturas baacutesicas para a produccedilatildeo

de ferro o sistema hidraacuteulico ao qual jaacute se fez referecircncia e o edifiacutecio de

produccedilatildeo

A construccedilatildeo desse edifiacutecio principal era executada por construtores

especializados em teacutecnicas de edificaccedilotildees em alvenaria de pedra bem como na

instalaccedilatildeo de sistemas hidraacuteulicos exigindo a participaccedilatildeo de carpinteiros os

quais seriam os responsaacuteveis pela construccedilatildeo da roda drsquoaacutegua dos eixos da caixa

de aacutegua e das estruturas para o telhado 93

Para a operaccedilatildeo das ldquoferreriacuteasrdquo era necessaacuterio contar com pessoal teacutecnico

com conhecimentos tanto em mineraccedilatildeo quanto na fundiccedilatildeo bem como no

manejo dos dispositivos de utilizaccedilatildeo da energia das aacuteguas dos rios atraveacutes do

sistema hidraacuteulico

Este edifiacutecio destinado a produccedilatildeo abrigava diversos compartimentos

sendo o maior deles reservado agrave oficina a qual deveria se localizar ao lado da

Vala onde estava instalada a roda drsquoaacutegua que acionavam os eixos responsaacuteveis

pela movimentaccedilatildeo do malho e foles

O espaccedilo destinado agrave oficina era organizado de modo a levar em conta

duas unidades fundamentais de produccedilatildeo do ferro o forno de fundiccedilatildeo e o malho

A disposiccedilatildeo desses equipamentos no interior da oficina natildeo era aleatoacuteria uma

vez que a teacutecnica empregada para a fabricaccedilatildeo do ferro exigia que aqueles

Disponivel em lthttpwwweuskomediaorgeuskomediaSAunandigt Acesso em 20 marccedilo 2005 93 FERNANDEZA C La construccioacuten del hierro ndashmazos y ferreriacuteas Escuela Universitaacuteria de Arquitectos tecnicos de la Corunatilde Disponiacutevel em wwwguillenderohancomEXPOGRImzos-memoriahtm Acesso em 07mar06

174

equipamentos estivessem posicionados nas proximidades tendo em vista o fato

de os trabalhos serem complementares

Aleacutem da oficina o edifiacutecio principal deveria abrigar depoacutesitos de mateacuteria-

prima como carvatildeo vegetal e mineacuterio de ferro jaacute calcinado (tostado) e uma aacuterea

comum de descanso

Fig 76 SISTEMA DE ldquoPUJOacuteN TUERTOrdquo foles e malho satildeo acionados com o emprego de uma uacutenica roda hidraacuteulica94

94 Ruta de las Minas y Ferreriacuteas Desde las primitivas instalaciones hasta el siglo XVIII Disponivel emhttpwwwbizkaianetKulturaKirol_gazteriaFTPGazteriapaginadedesplegablePrimitivas_instalacionespdf Acesso em 17 novembro de 2006

175

Fig 77 TRABALHO DE EXTRACcedilAtildeO DA MASSA DE FERRO 63 Sistema hidraacuteulico produccedilatildeo da forccedila motriz 631 Dique de represamento do ribeiratildeo do Ferro

As investigaccedilotildees de campo natildeo possibilitaram localizar o Dique de

represamento do ribeiratildeo do Ferro possivelmente em razatildeo da fragilidade dessas

estruturas diante da forccedila das aacuteguas

Entretanto vale registrar o testemunho de Luiz Lopes de Carvalho o qual

em carta dirigida ao Rei de Portugal em maio de 1692 afirmava que

por experiecircncia que fiz pelas minhas matildeos pois fabricando um

Engenho muito limitado por natildeo ter posses que mais tirava todos

os dias este rendimento de um quintal de ferro de duas pedras

176

poreacutem soacute cinco dias continuei nesta oficina em razatildeo de ir uma

cheia e como pela pobreza afabriquei com pouca fortaleza se

arruinou ficando incapaz de poder continuar na faacutebrica95

632 Canal de Derivaccedilatildeo das aacuteguas

As condiccedilotildees de erosatildeo na aacuterea do possiacutevel traccedilado tambeacutem natildeo

permitiram localizar a estrutura do dique responsaacutevel pelo desvio das aacuteguas no

ribeiratildeo do Ferro bem como localizar a comporta responsaacutevel pelo controle do

acesso de aacuteguas em direccedilatildeo ao canal

Deve-se ressaltar que a estrutura do dique eacute necessaacuteria para a elevaccedilatildeo

do niacutevel da aacutegua do ribeiratildeo para o desvio enquanto que a comporta permitiria

regular a vazatildeo em direccedilatildeo ao Canal de Derivaccedilatildeo A aacutegua conduzida atraveacutes do

deste Canal de derivaccedilatildeo impulsionada pela gravidade alcanccedilaria a entrada da

Vala sendo em seguida recolhida em um depoacutesito posicionado sobre aquela

estrutura

A Figura 78 mostra um possiacutevel traccedilado do referido canal sendo que no

desenho o iniacutecio do canal foi posicionado num ponto do ribeiratildeo acima da cota

583m conforme o levantamento planialtimeacutetrico executado na aacuterea do Siacutetio

Arqueoloacutegico Afonso Sardinha96

95 Carta enviada por Luiz Lopes de Carvalho ao Rei de Portugal datada de maio de 1692 RODRIGUES Leda Maria Pereira As minas de ferro em Biraccediloiaba ndash Satildeo Paulo seacuteculos XVI XVII XVIII Anais do III Simpoacutesio dos Professores Universitaacuterios de Histoacuteria Franca 1966 p 218 96 Planta Planialtimeacutetrica Siacutetio Arqueoloacutegico Histoacuterico Afonso Sardinha Escala 1200 CENEA sd

177

Fig 78 TRACcedilADO ESQUEMAacuteTICO DO CANAL DE DERIVACcedilAtildeO

633 Vala da roda A finalidade da estrutura da Vala eacute a de abrigar a roda drsquoaacutegua dispositivo

necessaacuterio para transformar a energia hidraacuteulica em energia mecacircnica para

movimentar os equipamentos e ferramentas da Faacutebrica de Ferro

A Vala da roda foi construiacuteda com paredes de blocos de pedras de modo a

permitir o fluxo da correnteza e ao mesmo tempo proteger o terreno contra as

erosotildees impedindo as infiltraccedilotildees das aacuteguas para o interior das dependecircncias da

Edificaccedilatildeo Principal

O fato de natildeo terem sido encontrados fragmentos de telhas no interior da

Vala quando foram realizadas as pesquisas arqueoloacutegicas parecem indicar que

178

os esteios natildeo serviam para sustentar telhado Por outro lado a Histoacuteria da

Teacutecnica mostra que outras instalaccedilotildees da mesma eacutepoca destinadas a produccedilatildeo

da energia hidraacuteulica tambeacutem natildeo apresentavam telhado na aacuterea da Vala

Sendo assim sobram duas hipoacuteteses para explicar a existecircncia daqueles

esteios A primeira hipoacutetese eacute que tais esteios serviriam para sustentar uma calha

de madeira com uma extensatildeo da ordem de 12 metros responsaacutevel pela

conduccedilatildeo e descarga da aacutegua diretamente sobre as paacutes da roda valendo-se de

um dispositivo denominado empejeiro ou pejador que servia para o controle da

quantidade de aacutegua descarregada sobre a roda (KATINSKY 1985 p 230)

Outra possibilidade eacute que os esteios sustentavam um reservatoacuterio de aacutegua

- o ldquobanzaordquo - responsaacutevel pelo repouso do liacutequido de modo a garantir a sua

descarga controlada sobre as paacutes da roda conforme os projetos comumente

encontrados nas construccedilotildees das ldquoferreriacuteas de aguardquo da regiatildeo Basca - Espanha

(Figura 79)

A laje de pedra do fundo da Vala mostra forte declividade da Vala sendo

que na extremidade superior (coincidente com o ponto de interligaccedilatildeo com o

Canal de Derivaccedilatildeo) a cota eacute igual a 453 enquanto que na extremidade inferior

junto a margem do ribeiratildeo do Ferro a cota do terreno eacute igual a 041 Sendo

assim o desniacutevel total eacute de 412 metros na extensatildeo total da Vala igual a 19

metros ou seja cerca de 20

Outra observaccedilatildeo importante eacute que o niacutevel do fundo da Vala no ponto

meacutedio da sua extensatildeo seria igual a 230 m mostrando nesta posiccedilatildeo desniacutevel de

cerca de 2 metros abaixo do provaacutevel niacutevel da Faacutebrica (cota aproximada 450 m)

revelando a possibilidade de alojamento da roda drsquoaacutegua a partir desta mesma

posiccedilatildeo

O desenho do arranjo do sistema hidraacuteulico encontrado no Sitio Sardinha

mostra semelhanccedilas claras com o arranjo que caracterizam as ferreriacuteas bascas

179

O exame do conjunto das estruturas mostram que a construccedilatildeo tirou partido da

declividade do terreno para aproveitamento da forccedila da gravidade aplicada ao

processo da produccedilatildeo do ferro

634 A Caixa de Aacutegua - ldquoBanzaordquo O ldquobanzaordquo era uma caixa de aacutegua com volume adequado para garantir o

repouso da aacutegua instalado acima do niacutevel da Vala em uma posiccedilatildeo diretamente

sobre a roda A instalaccedilatildeo dessas caixas tinha por objetivo garantir uma altura da

queda drsquoaacutegua necessaacuteria para impulsionar a roda e ao mesmo tempo armazenar

um volume de aacutegua adequado para direcionar o jato diretamente sobre as paacutes

da roda com uma pressatildeo constante de modo a resultar o movimento uniforme

para a rotaccedilatildeo da roda

Os rdquobanzaosrdquo mais ruacutesticos e antigos eram feitos de madeira material que

criava vaacuterios problemas de manutenccedilatildeo fato que levou agrave substituiccedilatildeo desse

material a partir do seacuteculo XVIII por alvenaria de pedra

O acionamento da roda se dava por meio de uma espeacutecie de vara

localizada no interior da Faacutebrica a qual permitia regular a quantidade de aacutegua

descarregada sobre a roda Elena Faus descreve esse funcionamento da

seguinte forma

El paso del aacutegua a la rueda se abre o cierra por meacutedio de

tanpones o ldquochimbosrdquo Cuando los operaacuterios los abren salta y

golpea directamente las palas de la rueda instalada debajo

provocando su giro Con el fin de evitar peacuterdidas de liacutequido y

maximizar su rendimiento se antildeade un canal ldquoguzur-askardquo que lo

conduce directamente sobre la rueda Posteriormente se evacua

por un aliviadero la ldquoonda-askardquo (FAUS 2000 p 63)

180

Contudo mesmo apostando na hipoacutetese de que haveria um ldquobanzaordquo

acima da Vala encontrada torna-se difiacutecil estabelecer a sua dimensatildeo e volume

Mas as evidecircncias encontradas sugerem que esta caixa de aacutegua deveria ter no

maacuteximo 12 metros de comprimento (medidos a partir do inicio do canal ateacute o

uacuteltimo vestiacutegio de esteio) por aproximadamente 225 m (largura da vala)

restando indefinida a medida da altura da caixa

Fig 79 SOLUCcedilAtildeO EM ldquoBANZAOrdquo DE MADEIRA ndash DEPOacuteSITO DE AacuteGUA97

97 LAS FERRERIacuteAS DE AGUA DE ASTURIAS Disponivel em ltwwwbelmontedemirandanetfraguaindexhtmgt Acesso em 20jun05

181

635 A roda hidraacuteulica

Em 1983 quando foram iniciadas as pesquisas arqueoloacutegicas no Siacutetio

Afonso Sardinha a Vala destinada agrave instalaccedilatildeo da roda drsquoaacutegua jaacute havia sido

identificada Contudo eacute somente em 1986 que as pesquisas se concentraram na

aacuterea daquela Vala Graccedilas ao fato de esta estrutura ter permanecido enterrada a

mesma ficou preservada possibilitando avaliar a sua funccedilatildeo e o fato de que o

local deveria ter sido destinado agrave instalaccedilatildeo de uma roda hidraacuteulica vertical com

eixo horizontal (Figura 79)

A utilizaccedilatildeo da roda drsquoaacutegua para os trabalhos metaluacutergicos natildeo era

novidade para os empreendimentos dessa natureza pois a teacutecnica aplicada para

a construccedilatildeo desse tipo de Faacutebrica jaacute era bastante difundida entre os artesatildeos da

Idade Meacutedia os quais buscaram adaptar as ferramentas utilizadas no trabalho da

produccedilatildeo de ferro (por exemplo foles e malhos) de modo a permitir a sua

movimentaccedilatildeo atraveacutes da forccedila obtida das rodas drsquoaacutegua

Em 1104 os ldquomoinhos para bater o ferrordquo jaacute eram encontrados nos Pirineus

espanhoacuteis Gille os descreve da seguinte forma

as forjas que anteriormente eram acionadas a braccedilos e que

itinerantes deslocavam-se agrave procura dos fornos-baixos a

procura de mateacuteria prima e do combustiacutevel a partir de entatildeo se

estabelecem permanentemente ao longo dos rios (GILLE Apud

GAMA 1985 p 133)

Entre os seacuteculos XIV e XV surgiram no paiacutes basco adaptaccedilotildees da roda

hidraacuteulica para acionar os ldquosoprantesrdquo - os foles - (instrumentos utilizados para

insuflar oxigecircnio para dentro dos fornos) possibilitando intensificar a combustatildeo

do carvatildeo vegetal de modo a elevar a temperatura no interior do forno No paiacutes

basco o martelo hidraacuteulico jaacute havia sido incorporado agravequela atividade desde o

seacuteculo XV em Gipuzkoa e desde o seacuteculo XVI em Biskaia ambas localizadas na

182

regiatildeo basca Em 1531 operavam em ambas as regiotildees cerca de 200

estabelecimentos utilizando essa teacutecnica (FAUS 2000 p 60)

Fig 80 ldquoLOCALIZACcedilAtildeOrdquo DO MALHO E DA RODA HIDRAUacuteLICA (INTERPRETACcedilAtildeO) (Desenho Agnaldo Zequini)

183

6 4 A Faacutebrica de Ferro os espaccedilos de produccedilatildeo

O local onde se encontra instalada a Faacutebrica de Ferro do Sitio Arqueoloacutegico

Afonso Sardinha oferece todas as condiccedilotildees fisiograacuteficas favoraacuteveis para a

instalaccedilatildeo daquele empreendimento De fato o conjunto se encontra

praticamente na aacuterea das jazidas de mineacuterios de ferro junto a um ribeiratildeo com

quantidade de aacuteguas satisfatoacuterias para o caso de produccedilatildeo do ferro relativamente

pequena como deveria ser o caso da instalaccedilatildeo existente no morro de Araccediloiaba

Outro fator decisivo para a produccedilatildeo de ferro era a presenccedila de matas com

abundacircncia de madeiras A esse respeito segundo uma descriccedilatildeo do Vale das

Furnas apresentada no decorrer de 1692 por Luiz Lopes de Carvalho (um dos

que investiram na construccedilatildeo de Faacutebrica de Ferro naquele local) o mesmo

lastimava o fato de ter que reduzir os ldquodensos arvoredos em que se achatildeo paos

Reais e madeirasrdquo em carvatildeo o uacutenico combustiacutevel utilizado nos processos de

fundiccedilatildeo de ferro (RODRIGUES 1963 p 203)

O mesmo Luiz Lopes de Carvalho testemunhava naquele mesmo ano que

aquele morro estava coberto ldquode mineral de ferro de meuda aacuterea athe pedras de

des a Robas e mui dilatadas betas [veios] Profundas Largas e Compridasrdquo

esclarecendo que o mineacuterio ao ser submetido ao processo de reduccedilatildeo tinha um

rendimento de dois para um ldquoa cada douz quintais de pedra se tira hum de ferrordquo

(RODRIGUES 1966 p 204)

641 A Oficina da Faacutebrica de Ferro

A planta da Faacutebrica de Ferro encontrada com dimensotildees de 13m X 16m

permite identificar as provaacuteveis posiccedilotildees de cada uma das unidades de produccedilatildeo

184

necessaacuterias agrave fabricaccedilatildeo do ferro quais sejam o espaccedilo destinado a oficina e a

forja

No caso da construccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro do Sitio Afonso Sardinha eacute

possiacutevel identificar a aacuterea destinada a oficina onde deveriam ficar instalados os

equipamentos do forno de fundiccedilatildeo e foles e do malho Nessa planta a aacuterea estaacute

identificada pelas letras C e F (Anexo 9)

Fig81 FAacuteBRICA DE FERRO DO SITIO AFONSO SARDINHA ARRANJO DOS EQUIPAMENTOS (Interpretaccedilatildeo) (Desenho Agnaldo Zequini)

185

Fig 82 FAacuteBRICA DE FERRO PLANTA BAIXA (Interpretaccedilatildeo) (Desenho Agnaldo Zequini)

Contudo entre os anos de 1986-1987 quando foram aprofundadas

as pesquisas arqueoloacutegicas naquelas aacutereas por meio de decapagem e abertura

de trincheiras natildeo foram encontrados vestiacutegios materiais que permitissem

identificar os locais dentro da oficina onde estariam instalados os fornos e o

malho como tambeacutem nenhum resiacuteduo testemunho da produccedilatildeo de ferro

Diante dessa constataccedilatildeo podemos levantar pelo menos duas hipoacuteteses

de interpretaccedilatildeo Uma delas estaacute relacionada agrave proacutepria natureza daquele siacutetio o

qual ao longo dos seacuteculos sofreu vaacuterias intervenccedilotildees antroacutepicas que poderiam

186

provocar algumas perturbaccedilotildees no registro arqueoloacutegico colaborando dessa

forma para o desaparecimento das evidecircncias

A segunda hipoacutetese decorre do fato de que os exames das condiccedilotildees de

superfiacutecie do terreno na parte da edificaccedilatildeo identificada como ldquoCrdquo (Oficina)

apresentam indiacutecios de antigas erosotildees decorrentes da presenccedila do ribeiratildeo do

Ferro Tal interpretaccedilatildeo permitia concluir que as enchentes do ribeiratildeo do Ferro

seriam responsaacuteveis pela pequena quantidade de artefatos arqueoloacutegicos

naquela aacuterea (Figura 81)

A figura abaixo apresenta um corte do terreno na provaacutevel aacuterea da Oficina

mostrando irregularidade na superfiacutecie do piso possivelmente decorrente de

erosotildees junto a margem do ribeiratildeo do Ferro provocadas pelas enchentes

187

Fig 83 INDICACcedilAtildeO DA POSSIacuteVEL AacuteREA ERODIDA PELAS ENCHENTES ndash AREA C ndash (Interpretaccedilatildeo) (Desenho Agnaldo Zequini)

188

6411 O Malho O malho era um instrumento imprescindiacutevel para o processo de produccedilatildeo

do ferro pelo denominado meacutetodo direto Essa ferramenta possuiacutea um longo

braccedilo de madeira que media cerca de trecircs a quatro metros de comprimento e

funcionava como alavanca com apoio intermediaacuterio Uma das extremidades do

braccedilo dessa alavanca funcionava como um martelo e apresentava na

extremidade uma cabeccedila de ferro ndash o malho ndash que dava o nome ao equipamento

Em outra extremidade havia um dispositivo que permitia transformar o movimento

de rotaccedilatildeo da roda em deslocamento vertical oscilante do braccedilo permitindo

assim que o malho golpeasse a ldquobola de ferrordquo que ficava apoiada em uma

bigorna

Ao golpear a ldquobola de ferrordquo denominaccedilatildeo dada ao produto retirado do

interior do forno de fundiccedilatildeo esta operaccedilatildeo perseguia trecircs objetivos importantes

eliminar as escoacuterias que ainda permaneciam aderidas a bola de ferro compactar

aquela massa e finalmente dar forma de barra ou lingote que era o produto final

para a comercializaccedilatildeo

A operaccedilatildeo desse martelo com funcionamento hidraacuteulico eacute descrito em um

texto informativo publicado pela Universidade de Oviedo-Espanha sem menccedilatildeo

de autor e ano de publicaccedilatildeo

La rueda hidraulica movida por el impulso del agua le comunica al

eje o aacuterbol un movimiento rotatoacuterio de este agraverbol sobresalen unos

dientes a modo de levas concretamente cuatro situados a 90ordm los

manobreiros quem en su giro percuten sobre el extremo del

mango del martillo la dendala en su movimiento oscilante el

yunque o incre esta golpeo se repite cuatro veces por cada giro

completa de la rueda 98

98 Ingenios hidraulicos histoacutericos molinos batanes y ferreriacuteas Universidad de Oviedo ndashEspana Disponiacutevel e em lthttpwww1unioviesasturiasferreriasgt Acesso em 17 jun 04

189

O movimento do malho era produzido mediante a transmissatildeo de forccedila

originada atraveacutes do eixo de uma roda hidraacuteulica especifica para esta tarefa Um

segundo tipo de sistema de acionamento utilizava uma uacutenica roda hidrauacutelica para

movimentaccedilatildeo do braccedilo do malho e ao mesmo tempo pelo acionamento dos

foles Este uacuteltimo sistema era conhecido como ldquopujoacuten tuertordquo e era o sistema mais

comumente empregado nas ferrariacuteas bascas99

No Brasil a utilizaccedilatildeo dessa ferramenta para a produccedilatildeo de ferro eacute

encontrada em documentos relacionados agrave construccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro de

Santo Amaro no iniacutecio do seacuteculo XVII Em 1605 para instalaccedilatildeo dessa Faacutebrica

foram entregues pela Administraccedilatildeo Espanhola agrave Diogo de Quadros ldquo2 malhos

que podiam pesar pouco mais ou menos entre ambos 3 quintais mais duas

argolas grandes da mesma ferramentardquo (RODRIGUES 1963 p 190)

Possivelmente foi entregue a Diogo de Quadros apenas a ldquocabeccedila de ferrordquo

(o malho propriamente dito) enquanto que as demais peccedilas da estrutura pelo

fato de serem confeccionadas inteiramente com madeira poderia ter sido

fabricada no Brasil

No caso da Faacutebrica de Ferro do Siacutetio Afonso Sardinha dispotildeem-se apenas

de documentos escritos que registram a presenccedila desse equipamento conforme

a carta escrita no ano de 1768 por D Luiz Antonio de Souza Governador da

Capitania de Satildeo Paulo dirigida ao Conde de Oeiras atraveacutes da qual apresenta

informaccedilotildees sobre a Faacutebrica de Ferro que havia sido construiacuteda por Domingos

Pereira Ferreira e seus soacutecios

Nesse documento D Luiz afirmava que aquele empreendimento era uma

das atividades que estava dando maior preocupaccedilatildeo em sua gestatildeo explicando

que

99 Binganaria no sistema de pujoacuten tuerto a Binganaria corresponde agrave viga de transmissatildeo entre a roda hidraacuteulica e os foles

190

se tem trabalhado desde aquele tempo [1760] ateacute o presente

em grandes dispecircndios dos acionistas em fazer fornos

grandes e pequenos por diferentes modos safras [bigorna

de ferreiro] martelos malhos rodas e engenhos para os

mover e tudo o necessaacuterio (RODRIGUES 1966 p 190)

Uma outra notiacutecia relacionada a essa mesma Faacutebrica ficou registrada em

outra documentaccedilatildeo datada de 1770 atraveacutes da qual Jacinto Joseacute de Abreu um

dos soacutecios de Domingos Pereira Ferreira dava conta de que o andamento dos

trabalhos lhe estava causando o ldquomaior desgostordquo pelo fato de ter quebrado o

malho ldquoque tanto dispecircndio e trabalho custourdquo A reclamaccedilatildeo expressada por

Jacinto Joseacute de Abreu pode ser compreendida natildeo somente pelo prejuiacutezo

financeiro decorrente da perda direta da peccedila como tambeacutem pelo prejuiacutezo

decorrente da consequumlente paralisaccedilatildeo da produccedilatildeo do ferro

6412 ndash O Forno de Fundiccedilatildeo e Foles As pesquisas arqueoloacutegicas no Siacutetio Afonso Sardinha natildeo lograram

identificar vestiacutegios materiais de fornos de fundiccedilatildeo no interior da aacuterea

reconhecida como sendo a Oficina da Faacutebrica Tendo em vista o arranjo e a

extensatildeo do espaccedilo levantado pelas pesquisas de campo bem como as teacutecnicas

de fundiccedilatildeo de ferro disponiacuteveis de acordo com os estudos da histoacuteria da teacutecnica

para o periacuteodo que interessa ao presente trabalho entendemos que eacute correto

afirmar que o forno de fundiccedilatildeo ali empregado deveria ser do tipo ldquoforno baixordquo

De qualquer forma natildeo eacute possiacutevel afirmar que o meacutetodo de fundiccedilatildeo

utilizado no interior da Faacutebrica de Ferro corresponda ao que eacute conhecido como

ldquomeacutetodo catalatildeordquo ou ldquoforno catalatildeordquo uma vez que as pesquisas arqueoloacutegicas e

tambeacutem as documentais natildeo conseguiram encontrar qualquer dado a respeito do

modelo do forno de fundiccedilatildeo ali utilizado nem qualquer informaccedilatildeo a respeito do

processo de extraccedilatildeo do ferro na operaccedilatildeo de fundiccedilatildeo

191

De fato o forno catalatildeo se diferenciava dos demais fornos baixo por

apresentar uma forma que lembrava o de uma piracircmide invertida com trecircs

paredes planas e uma convexa confeccionadas com pedras refrataacuterias

(GARCIA sd p7) O que tambeacutem caracterizava o forno catalatildeo era o

procedimento de colocaccedilatildeo do carvatildeo e do mineacuterio no interior do forno para

extraccedilatildeo do metal Pere Molera I Sola (1982 p 208) ao analisar o procedimento

direto de obtenccedilatildeo do ferro pelo meacutetodo catalatildeo assinala que este meacutetodo

apresentava a peculiaridade de empregar a teacutecnica de ldquotrompa de aacuteguardquo para

promover a injeccedilatildeo do ar para dentro do forno Entretanto alguns fornos

reconhecidos como do tipo catalatildeo tambeacutem empregavam a teacutecnica de foles

movidos por roda drsquoaacutegua com aquele objetivo

O mesmo autor esclarece que o forno catalatildeo era

sin duda elemento maacutes importante consistia en una cavidad de

forma trocopiramidal invertida cuyas dimensiones de la base

mayor estaban en torno a los 60 por 50 cm La altura era de unos

80 cm Dentro de la nave industrial el horno estaba situado junto

a una pared principal denominada lsquopiec del focrsquo (pie del fuego)

todas las paredes del horno presentaban superficies planas

menos lsquolrsquoore o contraventrsquo (contraviento) que para facilitar la

extraccioacuten del producto reducido ofreciacutea una superficie convexa

y estaban parcialmente recubiertas con planchas de acero La

pared del horno adosada al lsquopiec del focrsquo y opuesta a lsquolrsquoorersquo se

denominaba lsquoles porguesrsquo (las cribas) y estaba atravesada por la

tobera que inyectaba aire al horno Entre ambas las paredes

estaba el lsquolleteirolrsquo (rebosadero) pared agujereada para faciclitar

la eliminacioacuten de la escoria liquida frente a la cual se encontraba

la lsquocavarsquo pared de piedra sin revistir y ligeramente inclinada

(SOLA 1982 p 208-209)

A operaccedilatildeo de fundiccedilatildeo eacute descrita pelo mesmo autor conforme segue

192

La operacioacuten de reduccioacuten de la mena concentrada se iniciaba

cubriendo el fono del horno con polvo de carboacuten vegetal Se le

prendia fuego Una vez caliente el horno se antildeadia una capa de

trozos de caroacuten de mayor tamantildeo E inmediatamente se

superponia una plancha de acero en al centro del horno paralela

a las lsquoporguesrsquo Ello permitiacutea situar una capa vertical de carboacuten en

al lado de la tobera y una capa de mineral al otro lado de la

plancha Se quitaba luego la plancha y se cubriacutea la parte superior

del mineral con una capa de pequentildeos trozos de carboacuten huacutemedo

y escorias al objeto de que la superficie externa quedase de

forma esfeacuterica y concentrase las llamas Se insuflaba aire por las

toberas y a la hora y media se alcanzaban ya temperaturas

superiores o los 1200 grados C Durante tres o cuatro horas

consecutivas se iba antildeadiendo mineral y carboacuten al tiempo que

por el ldquolletirolrdquo se eliminaba la escoria liquida Si la escoria era

densa lo que evidenciaba un alto contenido en hierro se volviacutea a

introducir en el horno La operacioacuten terminaba cuando en el fondo

del horno se formaba una bola irregular de unos 100 kilogramos

de peso de hierro o acero dulce con inclusiones de escoria y

poros el lsquomasserrsquo (zamarra) En se momento empezaba la

operacioacuten maacutes espectacular de la fraga la saca el lsquomasserrsquo del

horno y transportarlo hasta el martinete lo que requeriacutea el

concurso de todo el personalrdquo (SOLA 1982 p 211-212)

193

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

1- A partir das evidecircncias arqueoloacutegicas levantadas pela pesquisadora Margarida

Davina Andreatta no Siacutetio Afonso Sardinha foram elaboradas anaacutelises e em

seguida as interpretaccedilotildees com base nos conhecimentos da Arqueologia Histoacuterica

e da Histoacuteria da Teacutecnica relacionadas a produccedilatildeo de ferro Tais estudos

permitiram comprovar que aquela aacuterea arqueoloacutegica corresponde a um campo de

exploraccedilatildeo e produccedilatildeo de ferro desde a segunda metade do seacuteculo XVI

2- As ruiacutenas da edificaccedilatildeo principal identificadas como ldquoBrdquo (Forja) e ldquoCrdquo (Oficina)

tratam-se de aacutereas de produccedilatildeo de uma Faacutebrica de Ferro O espaccedilo identificado

como ldquoDrdquo corresponde a uma vala de acomodaccedilatildeo da roda drsquoaacutegua responsaacutevel

pela produccedilatildeo da forccedila de origem hidraacuteulica necessaacuteria para movimentar os

equipamentos e ferramentas da fabricaccedilatildeo ( Anexo 9)

3- Os exames das condiccedilotildees de superfiacutecie do terreno na parte da edificaccedilatildeo

identificada como ldquoCrdquo (Oficina) apresentam indiacutecios de antigas erosotildees

decorrentes da presenccedila do ribeiratildeo do Ferro sendo que esta interpretaccedilatildeo

permite concluir que os fenocircmenos apontados foram os responsaacuteveis pela

ausecircncia de artefatos arqueoloacutegicos naquela aacuterea

4- Os exames dos vestiacutegios dos fornos de fundiccedilatildeo encontrados nas aacutereas A e

A2-B externa do edifiacutecio principal da fabricaccedilatildeo de ferro indicam que satildeo do tipo

baixo provavelmente insulflados a fole de matildeo natildeo sendo possiacutevel afirmar que

seriam fornos do tipo catalatildeo

5- As ruiacutenas da Faacutebrica de Ferro indicam que as mesmas tratam de instalaccedilotildees

de modelo de produccedilatildeo industrial inclusive com divisatildeo de tarefas em aacutereas

distintas uso de energia hidraacuteulica transformada em forccedila mecacircnica para

194

movimentaccedilatildeo das ferramentas e para insuflaccedilatildeo do ar para queima do carvatildeo

nos fornos de fundiccedilatildeo

6- As dataccedilotildees absolutas e tambeacutem as relativas realizadas indicaram que naquele

local houve uma sobreposiccedilatildeo de distintos empreendimentos para a produccedilatildeo do

ferro desde o final do seacuteculo XVI e ao longo do seacuteculo XVIII

7- A causa mais provaacutevel do insucesso econocircmico de todas as tentativas de

produccedilatildeo de ferro em Araccediloiaba se relaciona a mineralogia da magnetita e

associaccedilotildees com outras substancias minerais as quais eram nocivas agrave qualidade

do produto metaluacutergico Neste caso vale ressaltar a presenccedila prejudicial

principalmente do titacircnio e do foacutesforo cujas presenccedilas eram desconhecidas pelos

exploradores

8- A planta da edificaccedilatildeo principal (aacutereas ldquoBrdquo ldquoCrdquo e ldquoDrdquo e ldquoFrdquo) evidenciada se

ajusta aos arranjos de espaccedilo produtivo de ferro tiacutepicos de modelos encontrados

naquele mesmo periacuteodo nas aacutereas de mineraccedilatildeo da Peniacutensula Ibeacuterica

notadamente aquele desenvolvido na regiatildeo basca (Anexo 9)

195

BIBLIOGRAFIA E ARQUIVOS PESQUISADOS

ARQUIVOS Arquivo da Cidade de Satildeo Paulo Arquivo do Estado de Satildeo Paulo Arquivo do Museu Histoacuterico Sorocabano Arquivo Municipal da Cidade de Itu Documentaccedilatildeo do Museu Paulista -USP Instituto de Estudos Brasileiros ndash USP Museu Republicano Convenccedilatildeo de ItuMPUSP Projeto Arqueologia Histoacuterica ndash Museu Paulista USP Todas as fotografias croquis e plantas relacionadas a pesquisa arqueoloacutegica realizada no Siacutetio Afonso Sardinha entre os anos de 1983-1989 e que estatildeo inseridas nesta tese foram reproduzidas a partir deste acervo BIBLIOGRAFIA ABSAacuteBER Aziz Nacib Morro de Ipanema conhecimentos Scientific American Brasil Ediccedilatildeo Nordm 52 - setembro de 2006 Disponiacutevel em lthttpwww2uolcombrsciamconteudoeditorialeditorial_36Htmlgt Acesso em 14mar06 ARAUJO M Alves Faacutebrica de Ferro de Satildeo Joatildeo de Ipanema Auxiliador da Industria Nacional n50 Rio de Janeiro1882 ABREU Joatildeo Capistrano de Capiacutetulos de histoacuteria colonial (1500-1800) amp Os caminhos antigos e o povoamento do Brasil Brasiacutelia Editocircra Universidade de Brasiacutelia 1963 ALBUQUERQUE Gislene Batista RODRIGUES Ricardo Ribeiro A vegetaccedilatildeo do Morro de Araccediloiaba Floresta Nacional de Ipanema (SP) Scientia Florestalis n58 p 145-159 dez 2000 Disponiacutevel em lt wwwipefbrpublicacoesscientianr58cap11pdfgt

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GLOSSAacuteRIO

Banzao de madeira BANZAO Denominaccedilatildeo que era dada na regiatildeo basca ndash Espanha para depoacutesitos de aacutegua que eram instalados sobre as rodas drsquoaacutegua e de onde era despejado jato de aacutegua sobre as paacutes daquela roda fazendo-a girar Na estrutura identificada por essa pesquisa as evidencias pressupotildee a utilizaccedilatildeo desse equipamento

BIGORNA Ferramenta feito por um bloco de pedra ou metal utilizado como suporte para martelar sobre o ferro

215

CABECcedilA DE MALHO Peccedila metaacutelica que eacute afixada em uma das extremidades da ferramenta que leva esse nome

ESCOacuteRIA ldquorestos de fundiccedilatildeordquo um sub-produto da fundiccedilatildeo de mineacuterio para purificar metais No caso das teacutecnicas de fundiccedilatildeo utilizadas ateacute o seacuteculo XIX no Brasil as escoacuterias produzidas apoacutes o processo de fundiccedilatildeo apresentavam uma grande quantidade de ferro (metal) em sua composiccedilatildeo O que vale dizer que os fornos utilizados para aquela atividades natildeo alcanccedilavam as temperaturas acima de para proporcionar maior aproveitamento do mineacuterio empregado

Ferreriacutea de Bolunburu es un conjunto ferro molinero que desde el siglo XVII

FERRERIacuteA Edifico que abrigava as ferramentas e equipamentos para a produccedilatildeo do ferro O sistema de produccedilatildeo empregado nas ferrariacuteas denominado de meacutetodo direto de produccedilatildeo consistia em ldquocozinharrdquo o mineacuterio de ferro em fornos baixo usando como combustiacutevel o carvatildeo vegetal Apoacutes ldquocozidordquo o ferro se transformava em uma esponja de ferro que era levada para ser trabalhada sobre

216

uma bigorna e golpeada pelo malho Este trabalho servia para compactar a massa liberar as escoacuterias e dar forma FERRO O ferro (do latim ferrum) eacute um elemento quiacutemico siacutembolo Fe de nuacutemero atocircmico 26

Foles acionados por forccedila humana seacuteculo XVI FOLES Equipamento utilizado para insuflar ar para dentro do forno promovendo assim a combustatildeo do carvatildeo Podiam ser acionados manualmente ou por utilizaccedilatildeo de roda drsquoaacutegua

Forno baixo com a utilizaccedilatildeo de fole manual FORNO BAIXO Espaccedilo normalmente de pequenas dimensotildees onde se realizava a reduccedilatildeo (extraccedilatildeo do metal ndashferro ndash do mineacuterio) e de Havia vaacuterias denominaccedilotildees para esse tipo de forno como fornos de vento fornos castelhanos fornos catalatildees forno de manga etc Estes fornos dada a sua dimensatildeo e os instrumentos de insuflaccedilatildeo do ar utilizado natildeo permitiam a fundiccedilatildeo do mineacuterio Nos fornos baixos acima referidos a disposiccedilatildeo do carvatildeo vegetal e dos pedaccedilos de mineacuterios no interior do forno eram feitos em camadas superpostas e horizontais

217

Forno Catalatildeo e Trompa Hidrauacutelica FORNO CATALAtildeO O forno catalatildeo eacute assim denominado por ter sido uma teacutecnica desenvolvida nos Pirineus catalatildees A teacutecnica catalatilde ou meacutetodo catalatildeo de fundiccedilatildeo possuem alguns elementos que o caracterizam como 1- a forma de construccedilatildeo do forno que lembra uma lareira tendo o seu formato interno feito de forma de uma piracircmide invertida 2- disposiccedilatildeo interna do carvatildeo e dos pedaccedilos de mineacuterios dentro do forno os quais eram colocados de lados opostos e paralelos 3- utilizaccedilatildeo da trompa hidraacuteulica para insuflar oxigecircnio para a combustatildeo do carvatildeo esse sistema foi desenvolvido na regiatildeo da atual Itaacutelia e utilizado em grande escala nas faacutebricas de ferro da Catalunha Na regiatildeo Basca foram utilizados foles de grandes dimensotildees acoplados a roda drsquoaacutegua FORNO DE FUNDICcedilAtildeO Espaccedilo onde se daacute a reduccedilatildeo do mineacuterio No periacuteodo estudado a reduccedilatildeo ou fundiccedilatildeo era proporcionada pela queima proporcionada pela insuflaccedilatildeo de oxigecircnio por meio de foles manuais do carvatildeo vegetal que era colocada dentro desses fornos junto com pedaccedilos de mineacuterio FORJA Fornalha de que se servem os ferreiros e outros artiacutefices para incandescer os metais para serem trabalhados numa bigorna Do francecircs forge e do Latin fabrica Tambeacutem pode designar o trabalho realizado pelo ferreiro por meio do fogo e do martelo para dar forma aos metais

HEMATITA mineral de foacutermula oacutexido de ferro III (Fe2O3) um dos diversos oacutexidos de ferro

218

MAGNETITA mineral magneacutetico formado pelos oacutexidos de ferro II e III ( FeO Fe2O3) cuja foacutermula quiacutemica eacute Fe3O4

MALHO Daacute se o nome de malho a peccedila metaacutelica que estaacute afixada em uma das extremidades do martinete o qual por conseguinte daacute o nome ao equipamento METAL elemento quiacutemico Satildeo metais os metais bem conhecidos satildeo alumiacutenio cobre ouro ferro prata titacircnio uracircnio e zinco MINERAL Substacircncia natural MINEacuteRIO mineral que conteacutem um metal na sua composiccedilatildeo quiacutemica Todo o mineacuterio eacute mineral OFICINA Ou Farga (em catalatildeo) espaccedilo em que estatildeo assentados o forno e o malho equipamentos destinados a produccedilatildeo de ferro MARTINETE Instrumento usado para golpear os metais incandescentes na forja para dar-lhes a forma desejada Tambeacutem pode designar um malho movido por roda drsquoagua METALURGIA Teacutecnica de obtenccedilatildeo dos metais No periacuteodo pesquisado a teacutecnica era conhecida como meacutetodo direto

219

OacuteXIDOS Combinaccedilatildeo do oxigecircnio com outros elementos No nosso caso com ferro

TROMPA Mecanismo que aproveita a forccedila da caiacuteda da aacutegua para gerar um fluxo contiacutenuo em direccedilatildeo do forno Era um elemento caracteriacutestico do forno catalatildeo

220

ANEXOS

221

222

223

  • FAacuteVERO Oriana Aparecida NUCCI Joatildeo Carlos De BIASI Maacuterio Mapeamento da vegetaccedilatildeo e usos das terras da Floresta Nacional de Ipanema IperoacuteSP

4

AGRADECIMENTOS

Durante a primeira visita ao Siacutetio Arqueoloacutegico Afonso Sardinha da Floresta

Nacional de Ipanema em Iperoacute Satildeo Paulo no ano de 2003 tive oportunidade de

conhecer o objeto de estudo desta Tese as evidecircncias da Faacutebrica de Ferro com a

sua respectiva vala da roda e os inuacutemeros artefatos que haviam sido recolhidos

durante as escavaccedilotildees Naquela oportunidade fui gentilmente recebida pela Sra

Janette Gutierrez a quem deixo meus agradecimentos extensivo aquela

Instituiccedilatildeo

Recebi ainda no transcorrer do meu trabalho importantes informaccedilotildees das

Sras Vivian Cristiane Fernandes e Nair Tanabe Tomiyama ambas do Nuacutecleo de

Arqueologia da Universidade Braz Cubas assim como das Sras Socircnia Paes do

Museu Histoacuterico Sorocabano e Marizia Tonelli

Agradeccedilo tambeacutem ao Sr Joseacute Monteiro Salazar o qual gentilmente me

recebeu em sua residecircncia em Boituva SP um apaixonado pela Historia de

Ipanema o qual contou fatos de grande interessante sobre a descoberta das

ruiacutenas assuntos que incorporei na minha Tese

Em marccedilo deste mesmo ano apresentei minha qualificaccedilatildeo oportunidade

em que recebi valiosas sugestotildees das Professoras Doutoras Heloiacutesa Maria

Silveira Barbuy e Elaine Farias Veloso Hirata a quem agradeccedilo

Finalmente eacute com admiraccedilatildeo e especial carinho que agradeccedilo a minha

orientadora a Professora Doutora Margarida Davina Andreatta com quem tive a

oportunidade de discutir longamente os conceitos e detalhes deste meu trabalho

Os seus conhecimentos e a responsabilidade com que conduziu a orientaccedilatildeo

foram fundamentais para a elaboraccedilatildeo desta Tese assim como para minha

proacutepria formaccedilatildeo em Arqueologia em especial na Arqueologia Histoacuterica

5

SUMAacuteRIO

Iacutendice 06 Iacutendice das Figuras 10 Resumo 14 Abstract 15 Introduccedilatildeo 16 Capiacutetulo I 19 Capiacutetulo II 47 Capiacutetulo III 83 Capiacutetulo IV 109 Capitulo V 126 Capitulo VI 167 Consideraccedilotildees finais 193 Bibliografia 195 Glossaacuterio 214 Anexos 220

6

IacuteNDICE INTRODUCcedilAtildeO 15 CAPIacuteTULO 1 O SIacuteTIO AFONSO SARDINHA QUESTOtildeES DA ARQUEOLOGIA HISTOacuteRICA 11 Contexto do presente trabalho 19

111 Avaliaccedilatildeo dos dados bibliograacuteficos 19 112 Histoacuterico das descobertas das ruiacutenas 26 113 Consideraccedilotildees sobre a metodologia 32

114 Descriccedilatildeo geral das pesquisas arqueoloacutegicas realizadas 37

12 Principais questotildees a serem abordadas no decorrer da Tese 46

CAPITULO 2 A TECNICA DE PRODUCcedilAtildeO DE FERRO NO PERIODO ENTRE OS SEacuteCULOS XVI AO XVIII 21 Consideraccedilotildees sobre Teacutecnica e Tecnologia 47 22 O conceito de Teacutecnica 50 23 A valorizaccedilatildeo do conhecimento teacutecnico e a ciecircncia

experimental moderna 53 2 4 A Tecnologia como sinocircnimo de Teacutecnica 55

25 A Teacutecnica de produccedilatildeo do ferro 59

26 Fornos de fundiccedilatildeo de ferro 64

27 Tratados Teacutecnicos de Metalurgia 78

CAPITULO 3 HISTOacuteRICO DA MINERACcedilAtildeO NO BRASIL COLONIAL 31 As primeiras expediccedilotildees mariacutetimas a busca dos metais nobres 83 32 O Peabiru uma trilha para o Sertatildeo 85 33 O descobrimento da prata em Potosi 88 34 A busca de metais nobres na Capitania de Satildeo Vicente 90 35 D Francisco de Sousa a organizaccedilatildeo da exploraccedilatildeo mineral 91

7

36 Teacutecnicos e praacuteticos na mineraccedilatildeo e metalurgia 94 37 A Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro 96

38 A Faacutebrica de Ferro do morro de Araccediloiaba os empreendedores 99 39 A Real Faacutebrica de Ferro de Satildeo Joatildeo do Ipanema 103 CAPIacuteTULO 4 O SIacuteTIO AFONSO SARDINHA 41 Localizaccedilatildeo 109 42 A vegetaccedilatildeo 116 43 Rios e ribeirotildees

44 A magnetita o mineacuterio do morro de Araccediloiaba 119

45 Fatores fisiograacuteficos da ocupaccedilatildeo europeacuteia 123

CAPIacuteTULO 5 INVESTIGACcedilOtildeES ARQUEOLOacuteGICAS AS EVIDENCIAS DE UMA FAacuteBRICA DE FERRO 126

51 Estruturas hidraacuteulicas para a produccedilatildeo da forccedila motriz 129

511 O Canal de Derivaccedilatildeo 129

512 A Vala da Roda 132

5121 Evidecircncias de esteios 134 52 A Faacutebrica de Ferro os espaccedilos de produccedilatildeo 137 521 Area ldquoCrdquo 137 522 A Aacuterea B (ldquoForjardquo) 139

53 Area E Sul da Faacutebrica de Ferro 150 531 Fornos de fundiccedilatildeo na aacuterea externa da Faacutebrica (Aacuterea A1) 155 531 Forno de Fundiccedilatildeo 1 157 532 Fornos de fundiccedilatildeo da Aacuterea A2 159 5321 Forno de fundiccedilatildeo 1 (aacuterea A2) 161 5322 Forno de fundiccedilatildeo 2 (aacuterea A2) 165

CAPITULO 6 INTERPRETACcedilOtildeES DOS DADOS ARQUEOLOacuteGICOS 61 Avaliaccedilatildeo das caracteriacutesticas do Arranjo das Estruturas 167 62 As ldquoferreriacuteasrdquo de aacutegua na Peniacutensula Ibeacuterica 170 63 Sistema hidraacuteulico produccedilatildeo da forccedila motriz 175

8

631 Dique de represamento do ribeiratildeo do Ferro 175 632 Canal de Derivaccedilatildeo das aacuteguas 176 633 Vala da roda 177 634 A Caixa de Aacutegua - ldquoBanzaordquo 179 635 A roda hidraacuteulica 180 6 4 A Faacutebrica de Ferro os espaccedilos de produccedilatildeo 183

641 A Oficina da Faacutebrica de Ferro 183 6411 O Malho 188 6412 Fornos de fundiccedilatildeo e foles 190 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 193 BIBLIOGRAFIA 195 GLOSSAacuteRIO 214 ANEXOS 220 1 Relatoacuterio de Ensaio ndash Laboratoacuterio de Vidros e Dataccedilatildeo ndash FATEC 2 Inventaacuterio de Peccedilas Ceracircmica 3 Inventario de Peccedilas Liacutetico 4 Inventaacuterio de Peccedilas Louccedilas 5 Inventaacuterio de Peccedilas Telhas 6 Inventaacuterio de Peccedilas Metal 7 Tratado da Arte de ensaiar e fundir cobre ferro e accedilo Ano de 1691 8 Aranzel ou Roteiro de haveres de oiro e pedras preciosas Ano de 1696 9 Planta Geral da aacuterea pesquisada Siacutetio Afonso Sardinha (Mapa 1) 10 Mapeamento das aacutereas de decapagem e escavaccedilatildeo ( Mapa 2) 11 Aacuterea E - Concentraccedilatildeo de lacircminas de metal (Mapa 3)

9

12 Aacuterea E - Concentraccedilatildeo de escoacuterias (Mapa 4) 13 Aacuterea E - Concentraccedilatildeo de blocos de arenito (Mapa 5) 14 Aacuterea E ndash Concentraccedilatildeo de cravos de metal (Mapa 6) 15 Aacuterea E - Concentraccedilatildeo de telhas (Mapa 7)

10

INDICE DAS FIGURAS

1 Mapa de localizaccedilatildeo da FLONA ndash Ipanema 2 Mapa de localizaccedilatildeo do Siacutetio Afonso Sardinha 3 Desenho esquemaacutetico da localizaccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro 4 Aspecto do Siacutetio Afonso Sardinha 1983 5 Iniacutecio das pesquisas arqueoloacutegicas no Siacutetio Afonso Sardinha 1983 6 Reuniatildeo de trabalhos 1984 7 Aspecto da Faacutebrica de ferro em 1987 8 Planta do Siacutetio Afonso Sardinha aacutereas A1 e A2 9 Planta da aacuterea A1 10 Vista Geral da aacuterea A1 11 Vista Geral da aacuterea A2 12 Planta da aacuterea A2B detalhe 13 Planta do morrote A2B 14 Aacuterea A2 morrote e evidencias de fornos de fundiccedilatildeo 15 Corte esquemaacutetico de um forno baixo 16 Maquete de forno de fundiccedilatildeo (Celta) 17 Forno de fundiccedilatildeo (romano) 18 Fornos de fundiccedilatildeo de lupa ou de vento 19 Corte esquemaacutetico de fornos de fundiccedilatildeo de lupa ou de vento 20 Fornos de fundiccedilatildeo de Guaira (Potosi)

11

21 Fornos de fundiccedilatildeo seacuteculo XVI 22 Fornos de Fundiccedilatildeo seacuteculo XVI 23 Arranjo funcional de uma Faacutebrica de Ferro 24 Elementos que compotildeem uma ldquoFarga Catalanrdquo 25 Traccedilado do Peabiru (Tronco de Satildeo Vicente) 26 Mapa do Peabiru feito por Pasquale Petrone 27 Prospecto das ruiacutenas da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro 28 Vista Geral da Faacutebrica de Ferro de Ipanema 1827 29 Vista Geral da Faacutebrica de Ferro de Ipanema seacuteculo XIX 30 Altos fornos geminados construiacutedos por Varnhagem 1818 31 Alto forno construiacutedo pelo Cel Mursa 1888 32 Roteiro Histoacuterico da Mineraccedilatildeo e metalurgia paulista 33 Mapa Geoloacutegico do Morro de Araccediloiaba 34 Bloco diagrama da regiatildeo da Serra de Araccediloiaba 35 Vista geral do morro de Araccediloiaba I 36 Vista geral do morro de Araccediloiaba II 37 Magnetita 38 Limpeza do Siacutetio Afonso Sardinha 1984 39 Equipe de trabalho 1988 40 Vista geral da aacuterea E 1988 41 Dimensotildees da Vala da roda e localizaccedilatildeo da evidecircncias de esteios 42 Vala da roda hidraacuteulica 1987 - I 43 Vala da roda hidraacuteulica 1987 ndash II 44 Evidecircncias de esteios

12

45 Detalhe da evidecircncia de esteios 46 Detalhe de um esteio 47 Topografia do terreno da aacuterea C 48 Vista geral da aacuterea C 1987 49 Reconstituiccedilatildeo das paredes da aacuterea B 1984 50 Evidecircncias de paredes da aacuterea B 1984 51 Parede reconstituiacuteda da aacuterea B 1984 - I 52 Parede reconstituiacuteda da aacuterea B 1984 - II 53 Parede reconstituiacuteda da aacuterea B 1984 - III 54 Vasilhame de ceracircmica (0106) aacuterea B seacuteculo XVI - I 55 Vasilhame de ceracircmica (0106) aacuterea B seacuteculo XVI - II 56 Vasilhame de ceracircmica (0106) aacuterea B seacuteculo XVI ndash III 57 Vasilhame de ceracircmica (0122) aacuterea B seacuteculo XVI ndash I 58 Vasilhame de ceracircmica (0122) aacuterea B seacuteculo XVI ndash II 59 ldquoTijelardquo faianccedila [seacuteculo XVII] 60 Escoacuteria ndash restos de fundiccedilatildeo aacuterea E 61 Telha (0115) aacuterea E seacuteculo XVIII 62 Telha aacuterea E 63 Telha aacuterea E 64 Raspador plano convexo aacuterea E 65 Garrafa de greacutes aacuterea A ndash forno1 66 Decapagem aacuterea A forno 1 67 Vestiacutegios do forno de fundiccedilatildeo 1 aacuterea A1 68 Morrote e vestiacutegios de fornos de fundiccedilatildeo aacuterea A2

13

69 Croqui da aacuterea A2 morrote B 70 Vestiacutegios do forno de fundiccedilatildeo 1 aacuterea A2 71 Croqui do forno de fundiccedilatildeo 1 aacuterea A2 72 Vestiacutegios do forno de fundiccedilatildeo 2 aacuterea A2 - I 73 Vestiacutegios do forno de fundiccedilatildeo 2 aacuterea A2 ndash II 74 Vestiacutegios do forno de fundiccedilatildeo 2 aacuterea A2 ndash III 75 Aspecto de uma ldquoferreriacutea de aacuteguardquo seacuteculo XVII 76 Sistema de ldquopujoacuten tuortordquo 77 Trabalho de extraccedilatildeo da ldquobola de ferrordquo ou ldquomassa de ferro 78 Traccedilado esquemaacutetico do Canal de Derivaccedilatildeo aacuterea A1 (Interpretaccedilatildeo) 79 rdquo Depoacutesito de aacutegua soluccedilatildeo ldquoBanzaordquo 80 localizaccedilatildeo do malho e da roda hidraacuteulica (Interpretaccedilatildeo) 81 Faacutebrica de Ferro do Siacutetio Afonso Sardinha arranjo dos equipamentos (interpretaccedilatildeo) 82 Faacutebrica de Ferro Planta baixa (interpretaccedilatildeo) 83 Faacutebrica de Ferro aacuterea erodida (Interpretaccedilatildeo)

14

RESUMO

Esta Tese tem como objetivo analisar a pesquisa arqueoloacutegica e os

artefatos coletados no Sitio Arqueoloacutegico Afonso Sardinha localizado no morro de

Araccediloiaba Iperoacute - Satildeo Paulo

O resultado da anaacutelise permitiu concluir que a aacuterea corresponde a um

campo de mineraccedilatildeo de ferro com a presenccedila de evidecircncias de uma Faacutebrica de

Ferro de um sistema de aproveitamento de energia hidraacuteulica para movimentar

os equipamentos e ferramentas destinadas a produccedilatildeo e de fornos de fundiccedilatildeo

Aleacutem disso a dataccedilatildeo do material ceracircmico (vasilhames e telhas) indica que as

atividades de exploraccedilatildeo do mineacuterio tiveram iniacutecio no seacuteculo XVI

Palavras-Chaves Arqueologia Histoacuterica Floresta Nacional de Ipanema Teacutecnica

de produccedilatildeo de ferro Colonial Sitio Afonso Sardinha morro de Araccediloiaba Iperoacute-

SP

15

ABSTRACT This Thesis has the goal to analyze archaeological research and artifacts

found in Afonso Sardinha Archaeological site located on Mount Araccediloiaba Iperoacute

Satildeo Paulo

The analysis result leads to the conclusion that the area corresponds to iron

mining field with the presence of Iron Factory evidence a system that makes use

of hydraulic power to move the equipment and tools used in the production and

small ovens to melt iron Besides the ceramic date (pots and tiles) indicates that

mineral digging activities began in the 16th century

Key words History Archeology Ipanema National Forest Colonial Iron

Production Technique Archeological Site Afonso Sardinha Mount Araccediloiaba

Iperoacute-SP

16

INTRODUCcedilAtildeO

A presente Tese busca analisar sob o ponto de vista da Arqueologia

Histoacuterica os resultados da pesquisa arqueoloacutegica desenvolvida pela pesquisadora

e arqueoacuteloga Margarida Davina Andreatta entre os anos de 1983 a 1989 na aacuterea

do siacutetio arqueoloacutegico Afonso Sardinha localizado no morro de Araccediloiaba

municiacutepio de Iperoacute a cerca de quinze quilocircmetros da cidade de Sorocaba Satildeo

Paulo

Os estudos desenvolvidos consideraram apenas os fatos relacionados agrave

exploraccedilatildeo e fabricaccedilatildeo do ferro no morro de Araccediloiaba desde finais do seacuteculo

XVI ateacute o seacuteculo XVIII portanto antes da instalaccedilatildeo do Estabelecimento

Montaniacutestico de Extraccedilatildeo de Ferro das Minas de Sorocaba em 1810 e mais tarde

com a denominaccedilatildeo de Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema

O resultado final do trabalho do levantamento de campo formou um

conjunto vasto e consolidado em textos de Diaacuterios de Campo escritos pela

pesquisadora correspondecircncias levantamentos topograacuteficos planos de

escavaccedilatildeo croquis e desenhos geomeacutetricos de plantas das ruiacutenas croquis de

cortes estratigraacuteficos e de reconhecimento das escavaccedilotildees Inventaacuterio de Peccedilas e

fotografias tudo devidamente registrado em relatoacuterios da pesquisa arqueoloacutegica

17

Os artefatos coletados durante as investigaccedilotildees de campo foram

acondicionados em caixas devidamente protegidas e identificadas e depositadas

nas dependecircncias do Museu do Centro de Visitantes da FLONA de Ipanema

Foram desenvolvidos trabalhos de reconhecimento e anaacutelise detalhada dos

registros arqueoloacutegicos que resultaram da pesquisa de campo e em seguida

interpretadas as informaccedilotildees anteriormente consolidadas com base nos

conhecimentos da Arqueologia Histoacuterica e Histoacuteria da Teacutecnica e da Ciecircncia

Na elaboraccedilatildeo da siacutentese interpretativa foi necessaacuterio valer-se de

instrumentos disponiacuteveis em outras aacutereas do conhecimento tais como Geologia

Mineralogia Metalurgia Engenharia dentre outras aacutereas

Tambeacutem foram elaborados exames visuais e catalograacuteficos visando a

dataccedilatildeo relativa assim como foram encaminhadas amostras de ceracircmica as

quais foram submetidas a testes de dataccedilatildeo absoluta com base em ensaios de

Termoluminescecircncia pelo Laboratoacuterio de Vidros e Dataccedilatildeo da Faculdade de

Tecnologia de Satildeo Paulo - FATEC

Por outro lado amostras de resiacuteduos de fundiccedilatildeo (escoacuterias) foram

ensaiadas em laboratoacuterio para anaacutelise quiacutemica-mineraloacutegica no Departamento de

Mineralogia e Geotectocircnica GMG do Instituto de Geociecircncias da Universidade de

Satildeo Paulo

No Capiacutetulo 1 O Siacutetio Afonso Sardinha questotildees da Arqueologia Histoacuterica

optamos por colocar uma siacutentese dos achados arqueoloacutegicos no Sitio Afonso

Sardinha sendo que com base nas informaccedilotildees disponiacuteveis foram expostas as

questotildees da Arqueologia Histoacuterica que resultaram das investigaccedilotildees de campo e

de laboratoacuterio assim como das pesquisas bibliograacuteficas

No Capitulo 2 A Teacutecnica de Produccedilatildeo de Ferro no periacuteodo entre os

seacuteculos XVI ao XVIII foram analisadas e discutidas as questotildees conceituais da

18

teacutecnica e da tecnologia relacionadas a metalurgia no periacuteodo de interesse desta

Tese compreendido entre os seacuteculos XVI e XVIII Para compreensatildeo dos

processos de produccedilatildeo de ferro foram apresentadas descriccedilotildees dos

procedimentos de fabricaccedilatildeo bem como ilustraccedilotildees das ferramentas

equipamentos e maacutequinas em uso naquele estaacutegio do conhecimento teacutecnico

O Capiacutetulo 3 Histoacuterico da Mineraccedilatildeo no Brasil Colonial trata de uma

avaliaccedilatildeo da historiografia disponiacutevel sobre as atividades de mineraccedilatildeo no Brasil

e particularmente para o caso da entatildeo Capitania de Satildeo Vicente merecendo

esclarecer que parte destas obras foi produzida na primeira metade do seacuteculo XX

Aleacutem disso foram consultados documentos do Arquivo Municipal de Satildeo Paulo

do Arquivo do Estado de Satildeo Paulo e Biblioteca e Arquivo do Museu Histoacuterico

Sorocabano

No Capiacutetulo 4 O Sitio Afonso Sardinha apresenta-se a localizaccedilatildeo

geograacutefica as caracteriacutesticas geoloacutegicas e geomorfoloacutegicas do morro de

Araccediloiaba a vegetaccedilatildeo a hidrografia recursos minerais com destaque especial

para a presenccedila da Magnetita Finalmente oferece-se um contexto sucinto a

respeito da ocupaccedilatildeo colonial e a presenccedila de naturalistas viajantes inclusive

Saint Hilaire em 1919

No Capiacutetulo 5 Investigaccedilotildees Arqueoloacutegicas as evidencias de uma Faacutebrica

de Ferro com base em todos os dados que resultaram da pesquisa de campo

foram desenvolvidos trabalhos sendo que num primeiro momento relacionados

ao reconhecimento e anaacutelise detalhada dos registros arqueoloacutegicos fornecidos

pela pesquisa acima mencionada

No uacuteltimo Capiacutetulo de nuacutemero 6 Interpretaccedilotildees dos dados arqueoloacutegicos

buscou-se elaborar uma interpretaccedilatildeo das informaccedilotildees consolidadas nos

documentos produzidos a partir dos conhecimentos da Arqueologia Histoacuterica e

Histoacuteria da Teacutecnica e da Ciecircncia

19

CAPIacuteTULO 1

O SIacuteTIO AFONSO SARDINHA QUESTOtildeES DA ARQUEOLOGIA HISTOacuteRICA O presente Capiacutetulo tem por objetivo indicar um conjunto de questotildees que

deveratildeo ser analisadas no decorrer da elaboraccedilatildeo desta Tese as quais

emanaram dos resultados alcanccedilados pelas pesquisas arqueoloacutegicas realizadas

no siacutetio Afonso Sardinha pela pesquisadora e arqueoacuteloga Margarida Davina

Andreatta

Para melhor compreensatildeo dos fatos que fazem parte do contexto do

presente trabalho tendo em vista a identificaccedilatildeo daquelas questotildees satildeo

apresentados a) uma avaliaccedilatildeo dos dados bibliograacuteficos que tratam de assuntos

relacionados ao siacutetio arqueoloacutegico b) um histoacuterico da descoberta das ruiacutenas c)

consideraccedilotildees sobre a metodologia utilizada d) uma descriccedilatildeo geral resumida

das pesquisas arqueoloacutegicas realizadas

11 Contexto do presente trabalho 111 Avaliaccedilatildeo dos dados bibliograacuteficos

As primeiras notiacutecias relacionadas agraves minas de ferro do Morro de

Araccediloiaba e com os trabalhos de fundiccedilatildeo daquele mineacuterio foram dadas por

Pedro Taques de Almeida Paes Leme (1714-1777) Aleacutem de sua obra mais

conhecida a Nobiliarquia Paulistana Histoacuterica e Genealoacutegica escreveu a Histoacuteria

da Capitania de Satildeo Vicente e um compecircndio sobre a exploraccedilatildeo e a legislaccedilatildeo

mineira intitulado Noticia das Minas de Satildeo Paulo e dos Sertotildees da mesma

Capitania

20

Neste uacuteltimo trabalho escrito na segunda metade do seacuteculo XVIII afirmou

ter sido o bandeirante Afonso Sardinha e seu filho mameluco do mesmo nome

ldquoos que tiveram a gloacuteria de descobrir ouro de lavagem nas Serras de

Jaramimbaba e do Jaraguaacute em Satildeo Paulo na de Votoruna em Parnaiacuteba e na

Biraccediloiaba no Sertatildeo do Rio Sorocaba ouro prata e ferro pelos anos de 1597rdquo

(TAQUES 1954 p 112) Em Notiacutecias Genealoacutegicas citado por Nicolau de

Campos Vergueiro PedroTaques completa aquela informaccedilatildeo indicando que

Afonso Sardinha havia construiacutedo uma faacutebrica e dois fornos de ferro em

Biraccediloiaba e que havia doado um dessas Faacutebricas agrave D Francisco de Souza

quando ldquoem pessoa passou a Biraccediloiaba no ano de 1600rdquo (VERGUEIRO 1978

p6)

Taques escreveu suas obras dentro de um contexto em que os trabalhos

historiograacuteficos buscaram dar um enfoque positivo a participaccedilatildeo bandeirante na

histoacuteria de Satildeo Paulo e ao mesmo tempo contrapor todas as outras narrativas

que haviam sido escritas nos seacuteculos anteriores sobretudo pelos Jesuiacutetas

Assim firmou para que Afonso Sardinha e seu filho passassem para a Histoacuteria

como tendo sido os descobridores daquelas minas e os pioneiros na fabricaccedilatildeo

do ferro no Morro de Araccediloiaba

Entre os veiacuteculos de divulgaccedilatildeo dessa historiografia estaacute o Instituto

Histoacuterico e Geograacutefico de Satildeo Paulo e do Brasil (sediado na cidade do Rio de

Janeiro) sendo este uacuteltimo responsaacutevel pela divulgaccedilatildeo das obras de Pedro

Taques1 Por outro lado aquelas afirmativas foram reforccediladas pelo

1 Os Institutos Histoacutericos e Geograacuteficos foram junto com os Museus brasileiros os primeiros e mais importantes espaccedilos que existiam no seacuteculo XIX para a pesquisa de humanidades e para a ciecircncia em geral no Brasil O Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Satildeo Paulo seraacute uma instacircncia de produccedilatildeo a afirmar uma suposta especificidade paulista elaborar tradiccedilotildees do estado ndash atraveacutes de biografias de seus vultos estudos sobre o passado da proviacutencia etc Nesse sentido eacute tambeacutem uma historiografia com teor ciacutevico paulista sobretudo mas que buscava afirmar a prevalecircncia de Satildeo Paulo perante a naccedilatildeo como um todo releitura da figura do bandeirante no sentido de elevaacute-lo agrave condiccedilatildeo de construtor da naccedilatildeo ROMANCINI Richard Inventando tradiccedilotildees os historiadores e a pesquisa inicial sobre o jornalismo II Encontro Nacional da Rede Alfredo de Carvalho Florianoacutepolis de 15 a 17 de abril de 2004 Disponiacutevel em lthttpwwwjornalismoufscbrredealcarcdgrupos20de20trabalho20de20historia20da20midiahistoria20dos20jornalismotrabalhos_selecionadosrichard_romancinidocgt Acesso em 060706

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desaparecimento de total ou significativa parcela dos documentos que

constituiacuteram as fontes pesquisadas por aquele autor tais como os arquivos do

Primeiro Cartoacuterio dos Oacuterfatildeos de Satildeo Paulo os da Provedoria da Real Fazenda e

os da Cacircmara da Vila de Satildeo Paulo2

Aleacutem disso uma significativa parcela dos trabalhos publicados entre os

seacuteculos XIX e XX sobre as atividades metaluacutergicas desenvolvidas no morro de

Araccediloiaba estavam voltados para as anaacutelises sobre os aspectos da geografia

historia mineralogia botacircnica e geologia a partir da implantaccedilatildeo da Real Faacutebrica

de Ferro de Ipanema fundada em 1810 3 Quanto aos periacuteodos anteriores a fonte

de informaccedilatildeo sempre foi a obra de Pedro Taques a qual foi amplamente

difundida com a publicaccedilatildeo da obra de Azevedo Marques intitulada

Apontamentos histoacutericos geograacuteficos bibliograacuteficos e estatiacutesticos da proviacutencia de

Satildeo Paulo em 1879

A construccedilatildeo da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema estaacute inserida no acircmbito

da implementaccedilatildeo de poliacuteticas voltadas para favorecer a transferecircncia para a

colocircnia de todo o aparelho institucional do reino a partir da chegada de D Joatildeo VI

a cidade do Rio de Janeiro4 Entre os projetos estava a implantaccedilatildeo e

desenvolvimento da siderurgia no Brasil a partir da exploraccedilatildeo das jazidas de

ferro jaacute conhecidas como as do Morro de Araccediloiaba na Proviacutencia de Satildeo Paulo e

das jazidas de ferro de Minas Gerais localizadas nos atuais municiacutepios de

Congonhas do Campo e Gaspar5

2 Os arquivos da Provedoria foram destruiacutedos por uma enchente do Tamanduateiacute em 1929 Dos outros arquivos restam apenas poucos exemplares e que estatildeo incompleto como o das Atas da Cacircmara da Vila de Satildeo Paulo RODRIGUES Leda Maria Pereira As Minas de ferro em Araccediloiba (Satildeo Paulo Seacuteculos XVI-XVII-XVIII) Annais do III Simpoacutesio dos Professores Universitaacuterios de Histoacuteria Franca 1966 p 171 3 A Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema inicia suas atividades a partir da promulgaccedilatildeo da Carta Reacutegia de 4 de dezembro de 1810 Esta carta conteacutem instruccedilotildees para o funcionamento de uma faacutebrica de ferro em Sorocaba Em 1895 encerra definitivamente as suas atividades Ver bibliografia 4 Com a presenccedila de D Joatildeo VI foi promulgada em 1808 a abertura dos portos para o comeacutercio e um alvaraacute que revogava o Decreto de D Maria I de 1785 referente a proibiccedilatildeo da abertura de faacutebricas e manufaturas no estado do Brasil e Domiacutenios Ultramarinos 5 As minas de ferro de Gaspar Soares deram origem a Real Faacutebrica de Ferro de Gaspar Soares cuja direccedilatildeo foi dada ao Intendente Manuel Ferreira da Cacircmara Em 1811 tambeacutem para o Brasil o teacutecnico alematildeo Gotthelft Von Feldner com a incumbecircncia de examinar as minas receacutem

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Para dar andamento agravequeles projetos foram trazidos para o Brasil o

mineralogista alematildeo Friederich Ludwig Wilhelm Varnhagen (1782-1842) e

Wilhelm-Ludwig Von Eschwege (1777-1835) ambos funcionaacuterios da Coroa

Portuguesa6 Eschwege foi enviado para Minas Gerais para inspecionar as

jazidas e minas de ferro e criar com outros acionistas a companhia sideruacutergica

Faacutebrica Patrioacutetica do Prata de Congonhas do Campo que comeccedilou a funcionar

em fins de 1811 e Varnhagen para o Morro de Araccediloiaba7

Apoacutes observaccedilotildees mineraloacutegicas realizadas por Varnhagen em

Araccediloiaba A partir dos resultados daquelas observaccedilotildees ficou determinado que

Sorocaba era o local mais apropriado para a construccedilatildeo de uma siderurgia pois

ldquoa mina existente dentro de sua circunscriccedilatildeo eacute muito rica em metal de ferro e

conta na sua proximidade com extensas matas as quais haacute muitos anos mandou

reservar e que forneceratildeo o indispensaacutevel combustiacutevelrdquo(FRAGA 1968 p 66)

Assim em 1810 foi fundado o Estabelecimento Montaniacutestico de Extraccedilatildeo de Ferro

das Minas de Sorocaba denominado posteriormente de Real Faacutebrica de Ferro de

Ipanema

A aacuterea escolhida para aquele novo empreendimento estava localizada junto

ao rio Ipanema que daiacute retira aquela denominaccedilatildeo deixando para traz a histoacuteria

da metalurgia que havia sido desenvolvida durante dois seacuteculos no interior Morro

de Araccediloiaba no vale das Furnas onde estaacute localizado o Siacutetio Arqueoloacutegico

Afonso Sardinha

Os primeiros trabalhos sobre a Real Faacutebrica privilegiavam as anaacutelises

voltadas para a mineralogia e as teacutecnicas de fundiccedilatildeo Quanto a este uacuteltimo

descobertas de carvatildeo do rio Pardo no Rio Grande do Sul Cf FIGUEIROA Silvia As ciecircncias Geoloacutegicas no Brasil uma Histoacuteria Social e Institucional 1875-1934 Satildeo Paulo Hicitec 1997 p 63-65 6 Varnhagen e Eschwege voltaram para Portugal em 1822 7 Varnhagen esteve em Araccediloiaba acompanhado por Martim Francisco de Andrada Martim Francisco Ribeiro de Andrada Inspetor de Minas e Matas da Capitania de Satildeo Paulo

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aspecto destacam o emprego do alto forno da fabricaccedilatildeo do carvatildeo e o emprego

de fundentes bem como criacuteticas relacionadas agrave produccedilatildeo e qualidade do ferro8

Entre as obras mais gerais sobre aquele empreendimento publicadas no

seacuteculo XIX estatildeo os trabalhos de Antonio da Costa Pinto Silva (1852) Nicolau de

Campos Vergueiro (1843) Frederico Augusto Pereira de Moraes (1858) M Alves

de Arauacutejo (1882) Francisco de Assis Moura (1888) J Ewbank da Cacircmara (1875)

Leandro Dupreacute (1885) Baratildeo Homem de Mello (1888) Manuel Eufraacutezio de

Azevedo Marques (1879) Carlos Conrado de Niemeyer (1879) Frederico

Augusto Pereira de Moraes (1858)

Sobre a mineralogia e a geologia estatildeo os de Joseacute Bonifaacutecio de Andrada e

Silva (1820 1846) Martim Francisco Ribeiro de Andrada (1828 1846 1855) F

Schimidt (1853) e Wilhelm L Von Eschwege (1833) e Orville Adalbert Derby

(1891 e 1895 1909) Derby foi o descobridor em 1891 da apatita mineral que foi

amplamente explorado para a fabricaccedilatildeo de adubos a partir de 1927 Naquele

mesmo seacuteculo foram realizadas as primeiras anaacutelises da magnetita de Ipanema

pela Escola de Minas de Ouro Preto9 as quais tiveram como resultado a

identificaccedilatildeo do titacircnio como componente daquele mineacuterio

Dessa forma foi possiacutevel entender a dificuldade teacutecnica que enfrentaram

todos os diretores de Ipanema em produzir um ferro de boa qualidade pois a

magnetita aleacutem de sua exagerada densidade apresentava-se impregnada de

ocircxido de Titacircnio ldquofatores que contribuem de forma decisiva para dificultar sua

reduccedilatildeo mesmo em altos fornosrdquo (FRAGA 1968 p 86) Entre as pesquisas

realizadas por essa Escola estatildeo os trabalhos de Paul Ferrand (1885) e Leandro

Dupreacute (1885) Joatildeo Pandiaacute Caloacutegeras (1893 1895 19041828) e Ferdinando

Gautier responsaacutevel em 1891 pela identificaccedilatildeo da presenccedila de foacutesforo no

mineacuterio elemento tambeacutem nocivo para a produccedilatildeo do ferro Ainda no seacuteculo XIX

8 Fundentes satildeo materiais que quando mesclados com o carvatildeo vegetal dentro do forno facilitam a fundiccedilatildeo dos mineacuterios no caso de mineacuterios de ferro Em Ipanema eram utilizados como fundentes os dioritos tambeacutem chamada ldquopedra verde (do alematildeo grunstein) 9 A Escola de Minas de Ouro Preto foi inaugurada em 1876 Destinava-se a formar profissionais para a mineraccedilatildeo

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estatildeo os relatos elaborados pelo naturalista viajantes como Saint Hilaire Von

Martius e Zaluar

No seacuteculo XX os trabalhos relacionados com aquele empreendimento

foram desenvolvidos em duas linhas de investigaccedilatildeo o da histoacuteria econocircmica e

da social Nesta uacuteltima as anaacutelises privilegiaram as abordagens sobre o processo

de trabalho e mais para o final daquele seacuteculo para as questotildees sobre o meio

ambiente como os aspectos da ecologia florestal recursos hiacutedricos gestatildeo

ambiental e do turismo ecoloacutegico

Os trabalhos historiograacuteficos daquele seacuteculo pouco acrescentaram aos

aspectos relacionados com a implantaccedilatildeo dos primeiros empreendimentos

metaluacutergicos anteriores agrave construccedilatildeo da Real Faacutebrica10 Contudo trecircs trabalhos

podem ser destacados pelas contribuiccedilotildees seja pela releitura de documentos

ainda existentes como foi o caso dos estudos realizados por Maacuterio Neme seja

pelos trabalhos de pesquisa documental elaborados tanto por Leda Maria Pereira

Rodrigues quanto por Estefania Knotz Canguccedilu Fraga

No primeiro caso Maacuterio Neme apresenta em seu livro Notas de Revisatildeo da

Histoacuteria de Satildeo Paulo uma reavaliaccedilatildeo das obras de Pedro Taques bem como

de outros autores que tratam da histoacuteria de Satildeo Paulo ateacute o momento da 10 Entre as obras direcionadas a um contexto geral brasileiro estatildeo Sylvio Froes Abreu (19371962) Afranio do Amaral (1946) Renato Frota de Azevedo (1955) Tanus Jorge Bastini (1957) Vicente Licinio Cardoso (1924) Sobrinho Costa e Silva (1953) Alpheu Diniz Gonccedilalves (1937) R Hermanns (1958) R N Jafet (1957) Theodor Knecht (1931) Viktor Leinz (1942) Clodomiro de Liveira (1914) Niacutecia Vilela Luz (1961) Manuel Moreira Machado (1919) Roberval Germano Medeiros (1947) Geraldo Magella Pires de Melo (1957) Geraldo Dutra Moraes (1943) Almiro de Lima (1929) Matias Gonccedilalves de Oliveira Roxo (1937) Edmundo de Macedo Soares (1953) Gilberto Freyre (1988) Francisco Adolpho de Varnhagen (1956) Joseacute Epitaacutecio Passos Guimaratildees (1981) Francisco Magalhatildees Gomes (1983) Francisco de Assis Barbosa (1958) Francisco de Assis Carvalho Franco (1928) Silvia Figueroa (1997) Roseli Santaella Stella (2000) Para anaacutelises direcionadas ao Estado de Satildeo Paulo estatildeo as de Paulo R Pestana (1928) Luis Flores de Moraes (1930) Afonso Taunay (1931) Benedito Lima de Toledo (1966) Maacuterio Neme (1959) Seacutergio Buarque de Holanda (1960 1966) Ernani da Silva Bruno (1953) Jesuiacuteno Feliciacutessimo Juacutenior (1969) Washington Luis (1956) Gabriel Pedro Moacyr (1935) E aqueles relacionados agrave histoacuteria local da Real Faacutebrica estatildeo o de Joseacute Monteiro Salazar (1982) Astor Franccedila Azevedo (1959) Luiz de Almeida Castanho (1937 1939 1958) Jaime Benedito de Arauacutejo (1939) Ezequiel Freire (1953) Emanuel Soares Veiga Garcia (1954) Joatildeo Lourenccedilo Rodrigues (1953) Otaacutevio Tarquiacutenio de Souza (1946) Heacutelio Vianna (1969) Andreacute Davino (1965) Guido Ranzani (1965) Miriam Escobar (1982) Theodoro Knecht (1930) Helmut Born (1989) Lenharo S L R (1996) Antonio Maciel Botelho Machado (1998) e Jaime Rodrigues (1998) Aluiacutezio de Almeida (2002)

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publicaccedilatildeo da obra em 1959 confrontando as afirmaccedilotildees dos autores com base

nos documentos disponiacuteveis naquele momento A obra segundo o autor fora

escrita com base em pesquisa documental realizada por ele durante duas

deacutecadas tendo concluiacutedo que ldquofirmamo-nos na convicccedilatildeo mais absoluta de que a

crocircnica de nossa formaccedilatildeo e evoluccedilatildeo estaacute a exigir ampla revisatildeo quer em

mateacuteria de fatos e acontecimentos na sua ocorrecircncia e significaccedilatildeo imediata e

futura e no que toca a dados datas e nomes quer em mateacuteria de interpretaccedilatildeordquo

(NEME1959 p11)

Ao final deste trabalho Neme conclui que os dados oferecidos por Pedro

Taques a respeito da construccedilatildeo de uma Faacutebrica de ferro por Afonso Sardinha no

Morro de Araccediloiaba natildeo passou de uma faacutebula criada por aquele autor sendo

que a uacutenica Faacutebrica de ferro que de fato existiu no iniacutecio do seacuteculo XVII foi a de

Santo Amaro

No segundo trabalho a ser considerado trata-se de um artigo publicado em

1966 pela historiadora Leda Maria Pereira Rodrigues intitulado As Minas de ferro

em Araccediloiaba (Satildeo Paulo Seacuteculos XVI-XVII-XVIII) onde a autora afirma que ldquoos

primoacuterdios de nossa Histoacuteria fazem surgir duacutevidas difiacuteceis de serem esclarecidas

pois haacute falta de documentos coesos que provem incontestavelmente a veracidade

de certas afirmaccedilotildeesrdquo Neste mesmo trabalho ela conclui que ateacute a instalaccedilatildeo da

Real Faacutebrica em 1810 todos os empreendimentos anteriores constituiacuteram numa

ldquoseacuterie de tentativas frustrasrdquo A autora demonstra que pelo menos dois

empreendimentos foram efetivamente implementados naquele local o de Luiz

Lopes de Carvalho por volta de 1690 e o de Domingos Pereira Ferreira em 1875

(RODRIGUES 1966 p246-249)

Em 1968 Estefania Knotz Canguccedilu Fraga sob a orientaccedilatildeo da historiadora

Leda Maria Pereira Rodrigues seguindo as discussotildees iniciadas pela autora

acima mencionada desenvolveu uma tese na aacuterea de Histoacuteria do Brasil com o

titulo Subsiacutedios para o estudo da Histoacuteria da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema

(1779-1822) Neste trabalho analisou especialmente o empreendimento de

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Domingos Pereira Ferreira como tambeacutem as primeiras deacutecadas de

funcionamento da Real Faacutebrica sob a direccedilatildeo de Hedberg (1810-1814) e

Varnhagen (1814-1822) A autora depois de enumerar as possiacuteveis causas que

teriam levado ao que atribui ser um ldquoinsucessordquo econocircmico daqueles

empreendimentos conclui que

mesmo que a faacutebrica de ferro de Araccediloiaba (como

primitivamente era denominado o local) natildeo possa oferecer

ao pesquisador nada aleacutem de constantes provas de seu

insucesso ainda assim o propoacutesito que o anima natildeo deve

esmorecer Afinal o que seria da Historia se soacute merecessem

registro os eventos vitoriosos Quantas derrotas natildeo

levaram as vitoacuterias Porque entatildeo omiti-las se fazem parte

integrante da mesma Porque esquececirc-la se refletem uma

circunstancia real mesmo que nela se insinue uma ou mais

ldquoforccedilas obstrutivasrdquo que consagram ao fracasso tudo o que

nela se condiciona mas que nem por isso obstam uma ou

vaacuterias tentativas de superaccedilatildeo Eacute sabido que a dualidade de

forccedilas impele a civilizaccedilatildeo E mais que a tanta gloacuteria existe

na derrota quanto na vitoacuteria quando supotildeem luta E poderaacute

algueacutem negar que Ipanema natildeo foi um glorioso campo de

luta (FRAGA 1966 p 109)

112 Histoacuterico das descobertas das ruiacutenas O Siacutetio Arqueoloacutegico Histoacuterico Afonso Sardinha foi assim denominado por

ter sido Afonso Sardinha bandeirante e seu filho mameluco11 Afonso Sardinha o

moccedilo apontados por Pedro Taques e pela historiografia como os provaacuteveis

11 Filho de pai branco e matildee indiacutegena No caso dos mamelucos os pais reconheciam publicamente a paternidade e os filhos gozavam da liberdade plena e aproximavam-se agrave identidade portuguesa Essa denominaccedilatildeo cai em desuso no seacuteculo XVIII e eacute substituiacuteda pelo termo bastardo que passava a designar qualquer pessoa com ascendecircncia indiacutegena (MONTEIRO 1994 p 167)

27

descobridores e construtores dos primeiros fornos de fundiccedilatildeo naquele local em

finais do seacuteculo XVI

No ano de 1977 Joseacute Monteiro Salazar pesquisador estudioso da histoacuteria

regional e particularmente da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema acompanhado

pelos engenheiros agrocircnomos Nerzon Nogueira de Barros e Dinchiti Sinzato e

pelo fotoacutegrafo Venedavel Acosta encontrou as ruiacutenas de um possiacutevel Faacutebrica de

ferro que atribuiu ser aquele construiacutedo por Afonso Sardinha em finais do seacuteculo

XVI (SALAZAR 1997156-159) Tal avaliaccedilatildeo decorria do fato de que aquela

regiatildeo teria sido uma aacuterea de provaacutevel exploraccedilatildeo mineral do ferro que

remontaria aos primoacuterdios da colonizaccedilatildeo de Satildeo Vicente conforme apontavam a

historiografia disponiacutevel sobre aquela Capitania

28

Fig 1 MAPA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA FLONA ndash Floresta Nacional de Ipanema Escala 1250 000 CENEA- Centro Nacional de Engenharia Agriacutecola 1985

29

Fig 2 MAPA DE LOCALIZACcedilAtildeO DO SIacuteTIO AFONSO SARDINHA Folheto IBAMA sem data e sem escala

30

Fig 3 DESENHO ESQUEMAacuteTICO DE LOCALIZACcedilAtildeO DA FAacuteBRICA DE FERRO Salazar (1997 p80)

Fig 4 MARGARIDA DAVINA ANDREATTA E JOSEacute MONTEIRO SALAZAR Aspecto do Siacutetio em 1983

31

Fig 5 MARGARIDA DAVINA ANDREATTA E JOSEacute MONTEIRO SALAZAR Iniacutecio das pesquisas no Siacutetio Afonso Sardinha 1983 As ruiacutenas foram localizadas no interior do vale das Furnas onde estaacute o

ribeiratildeo do Ferro que nasce e cruza o Morro de Araccediloiaba desaguando no rio

Ipanema o qual por sua vez eacute um afluente pela margem esquerda do rio

Sorocaba

Este ribeiratildeo

() nasce no Monte do Chapeacuteu e corre primeiro do norte para o

sul e depois de passar pelo Vale das Furnas torce bruscamente

e muda radicalmente de direccedilatildeo fazendo uma grande curva e

passando a correr do sul para o norte indo desaguar afinal no

Ipanema (SALAZAR 1997 p 02)

Foi numa das curvas do ribeiratildeo do Ferro que aquelas ruiacutenas foram

localizadas As estruturas ali descobertas se cercavam de condiccedilotildees fisiograacuteficas

favoraacuteveis para viabilizar a atividade de produccedilatildeo do ferro devido a proximidade

32

das jazidas do mineacuterio existecircncia de matas abundantes assim como de uma

hidrografia favoraacutevel para o aproveitamento da forccedila motriz das aacuteguas

A primeira constataccedilatildeo da existecircncia de uma estrutura por eles encontrada

foi uma fileira de pedras bem conservadas que identificaram ldquocomo canal

certamente para o desvio do rio a fim de mover os martinetesrdquo Descobriram uma

muralha que atribuiacuteram ser uma parede de forja (SALAZAR 1997 p159-160)

113 Consideraccedilotildees sobre a metodologia O termo arqueologia histoacuterica surge nos Estados Unidos nas deacutecadas de

1960 para designar o estudo da cultura material dos europeus no mundo Esse

termo passou a ser oficialmente adotado em 1967 tendo em vista regulamentar a

nomenclatura para designar as pesquisas arqueoloacutegicas em siacutetios histoacutericos que

estavam sendo desenvolvidas nos Estados Unidos Ateacute entatildeo eram utilizados

para identificar aqueles trabalhos arqueoloacutegicos uma nomenclatura diversificada

como arqueologia colonial arqueologia da historia arqueologia de siacutetios

histoacutericos entre outros

Naquela mesma deacutecada a arqueologia histoacuterica passa a ser uma

disciplina valendo-se da aplicaccedilatildeo de meacutetodos de escavaccedilatildeo jaacute consagrados

pela arqueologia preacute-historica e das abordagens teoacuterico-metoloacutegicas voltadas

para a interpretaccedilatildeo dos registros arqueoloacutegicos As ferramentas teoacutericas

metodoloacutegicas apresentadas pela arqueologia foram sendo revisadas e

aprimoradas de modo a contribuir com as anaacutelises destinadas a interpretar as

culturas preteacuteritas

Outra questatildeo diz respeito agrave compreensatildeo do papel da Arqueologia

Histoacuterica aplicada agraves pesquisas desenvolvidas na Ameacuterica tendo em vista a

visatildeo desenvolvida por Charles Orser Jr segundo o qual cabe a esta disciplina

investigar fundamentalmente os ldquo() aspectos mateacuterias em termos histoacutericos

33

culturais e sociais concretos dos efeitos do mercantilismo e do capitalismo que

foi trazido da Europa em fins do seacuteculo XV e que continua em accedilatildeo ainda hojerdquo

(ORSER 1992 p 23)

Posteriormente Orser trouxe novas contribuiccedilotildees a aquela conceituaccedilatildeo

ao formular a Teoria de Rede segundo a qual as pesquisas em Arqueologia

deveriam levar em consideraccedilatildeo a questatildeo das ldquointerligaccedilotildees globaisrdquo

demonstrando a ldquoorigem e os desenvolvimentos ulteriores da globalizaccedilatildeo da

modernizaccedilatildeo e da expansatildeo colonialistardquo criados por ldquoagentes conscientes do

colonialismo do eurocentrismo e da modernidaderdquo que proporcionaram a

criaccedilatildeo de uma ldquoseacuterie de elos complexos e multidimensionais que uniam

diversos povos ao redor do mundordquo (ORSER 1999 p 87)

No que se referem agrave interpretaccedilatildeo dos registros arqueoloacutegicos as

pesquisas em arqueologia histoacuterica empregam teorias e meacutetodos que foram

sendo desenvolvidos por meio da aplicaccedilatildeo de meacutetodos de abordagens como o

Histoacuterico-Culturalismo (foi amplamente difundida entre os arqueoacutelogos

brasileiros) New Archaeology ou Arqueologia Processual e Poacutes-

processualismo e suas derivaccedilotildees Cada meacutetodo privilegiou uma escala

apropriada de anaacutelise para o ldquoHistoacuterico Culturalismo foi o siacutetio para o

Processualismo a regiatildeo e para o Poacutes-Processualismo passou a ser o

indiviacuteduordquo (LIMA 2000 p 2)

No Brasil a formaccedilatildeo da primeira geraccedilatildeo de arqueoacutelogos na deacutecada de

1970 foi orientada por duas correntes teoacutericas A americana representada pelos

arqueoacutelogos Clifford Evans (1920-1981) e Betty Meggers coordenadores do

Programa Nacional de Pesquisas Arqueoloacutegicas (Pronapa) criado na deacutecada

de 1960 E a Francesa representada por Joseph e Annette Emperaire Da

escola francesa destacamos as pesquisas realizadas pelo grupo do Centre

National de la Recherche Scientifique que trabalharam em Minas Gerais

Paranaacute Satildeo Paulo e no Piauiacute em convenio com o Museu Paulista da

Universidade de Satildeo Paulo e a Universidade do Piauiacute com o objetivo de

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proporcionar as primeiras dataccedilotildees para as obras rupestres e sua inserccedilatildeo no

contexto cultural preacute-histoacuterico (PROUS 1992 p17)

A partir da pesquisas do grupo Franco-Brasileiro foram fornecidas as

primeiras dataccedilotildees radiocarbono a introduccedilatildeo de teacutecnicas e meacutetodos mais

refinados de decapagem e a realizaccedilatildeo de escavaccedilotildees sistemaacuteticas no Brasil

Aleacutem da influecircncia teoacuterica-metodologica o convecircnio entre aquele grupo

representado por Joseph e Annette Laming Emperaire e o Centre National de

la Recherche Scientifique proporcionou a formaccedilatildeo de arqueoacutelogos e de

especializaccedilotildees na Franccedila Entre os anos de 1960-1980 o legado francecircs

permanecia em duas Instituiccedilotildees de Satildeo Paulo o Museu de Preacute-Histoacuteria

(atualmente incorporado ao MAE) e Museu Paulista da Universidade de Satildeo

Paulo e em Minas Gerais no Museu de Histoacuteria Natural da Universidade

Federal de Minas Gerais

A partir da deacutecada de 1960 as pesquisas relacionadas ao campo da

arqueologia histoacuterica foram conduzidas particularmente por arqueoacutelogos preacute-

historiadores que passaram a desenvolver pesquisas em Siacutetios Histoacutericos

Num primeiro momento aquelas pesquisas arqueoloacutegicas foram marcadas

pelas teorias do meacutetodo histoacuterico-culturalista privilegiando monumentos como

igrejas conventos missotildees jesuiacuteticas fortificaccedilotildees solares entre outros

encorajadas pelos oacutergatildeos de preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico e cultural e

pela receacutem-criada Lei 3924 de 26 de julho de 1961 atraveacutes da qual os

monumentos arqueoloacutegicos e preacute-histoacutericos passaram a serem considerados

como patrimocircnio da Uniatildeo (ANDRADE 1993 FUNARI 1998 RUBINO 1996)

Ateacute a deacutecada de 80 as pesquisas ainda seguiam aquela linha de

investigaccedilatildeo privilegiando pesquisas em monumentos Contudo jaacute havia

perspectivas de novas abordagens de pesquisa notadamente voltadas para

os segmentos sociais desfavorecidos de registros possibilitando ldquorecuperar

memoacuterias sociais reinterpretar a Histoacuteria Oficial resgatar elementos e praacuteticas

da vida cotidiana sobre os quais normalmente natildeo se escreverdquo

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Proporcionando a arqueologia histoacuterica investigar uma diversificada temaacutetica

transformando em Siacutetios Histoacutericos quilombos unidades domeacutesticas becos

urbanos senzalas tecnologias de produccedilatildeo de materiais e povoados etc

(ANDRADE 1993 p 228)

Neste contexto se inserem as pesquisas em arqueoloacutegica histoacuterica

desenvolvida na cidade de Satildeo Paulo O Programa de Arqueologia Histoacuterica no

Municiacutepio de Satildeo Paulo foi coordenado por Margarida Davina Andreatta do

Museu Paulista da Universidade de Satildeo Paulo em colaboraccedilatildeo com o

Departamento do Patrimocircnio Histoacuterico da Secretaria Municipal de Cultural A

pesquisa realizada a partir de prospecccedilotildees e escavaccedilotildees sistemaacuteticas em

ldquoCasas Bandeiristasrdquo e locais puacuteblicos e privados do municiacutepio como becos

ruas praccedilas quintais lixotildees logradouros etc Entre os anos de 1979 e 1981

foram realizadas pesquisas arqueoloacutegicas no Municiacutepio de Satildeo Paulo nos

Siacutetios Mirim em Ermilindo Matarazzo Sitio de Morrinhos no Jardim Satildeo Bento

Casa do Grito no Parque da Independecircncia ndash Ipiranga Beco do Pinto Bairro

da Seacute Casa n 1 do Paacutetio do Coleacutegio e Casa do Tatuapeacute e no bairro do

Tatuapeacute (ANDREATTA 19812 1986a 1986b) Em 1983 Margarida Davina

Andreatta iniciou as pesquisas arqueoloacutegicas na Fazenda Ipanema ndash Iperoacute

Satildeo Paulo atualmente um aacuterea de proteccedilatildeo ambiental FLONA 12

Durante o desenvolvimento dessa pesquisa foram realizadas

escavaccedilotildees e prospecccedilotildees em uma aacuterea extensa daquela Fazenda incluindo

todas as edificaccedilotildees que pertenceram a Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema

(1810-1895)13 e as ruiacutenas existentes no Vale das Furnas junto do ribeiratildeo do

Ferro e interior do Morro de Araccediloiaba Nesta uacuteltima aacuterea denominada Siacutetio

Afonso Sardinha foi evidenciado estruturas de um Faacutebrica de Ferro e Fornos 12 As edificaccedilotildees da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema foram tombadas pelo Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional em 1964 O Siacutetio Arqueoloacutegico Afonso Sardinha foi registrado tambeacutem no IPHAN em 1997 por Margarida Davina Andreatta Ver Detalhes de Siacutetios Arqueoloacutegicos Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrportalmontaDetalheSitioArqueologicodoid=SP00236gt Acesso em 09mar 2004 13 Foram realizadas pesquisas arqueoloacutegicas nas aacutereas dos altos fornos fornos de carvatildeo edifiacutecio de armas brancas Praccedila Afonso Sardinha entre outros dependecircncias pertencentes a Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema

36

de Fundiccedilatildeo e uma diversificada tipologia de materiais os quais compotildee os

documentos arqueoloacutegicos que foram registrados no Inventaacuterio de Peccedilas

relacionadas a pesquisa (exemplos em anexo)

Da pesquisa no Sitio Afonso Sardinha foram produzidos um significativo

conjunto documental formado por inuacutemeras tipologias de documentos de

arquivo que formam o Fundo Sitio Afonso Sardinha A partir dessa

documentaccedilatildeo foi possiacutevel acompanhar o processo de desenvolvimento

daquela pesquisa e tambeacutem contextualizar os documentos arqueoloacutegicos

permitindo assim a realizaccedilatildeo de interpretaccedilotildees quanto sua dataccedilatildeo e

significado Nas palavras de Hodder ldquoa partir del momento em que se conoce

el contexto de um objeto este ya no es completamente mudordquo (HODDER

1994 18)

Os documentos do Fundo Siacutetio Afonso Sardinha satildeo compostos por

diaacuterios de campo relatoacuterios de pesquisa planos de escavaccedilatildeo fotografias

correspondecircncias e tambeacutem por uma coleccedilatildeo formada por documentos de

apoio a pesquisa como plantas topograacuteficas planoaltimeacutetricas bibliografia

histoacuterica e teacutecnica sobre mineraccedilatildeo e fundiccedilatildeo de ferro no Brasil nos primeiros

trecircs seacuteculos de colonizaccedilatildeo

A pesquisa realizada a partir da bibliografia encontrada no Fundo Afonso

Sardinha apontou caminhos de investigaccedilatildeo que direcionaram para uma

bibliografia teacutecnica e histoacuterica sobre a teacutecnica da produccedilatildeo de ferro

desenvolvida na Europa especialmente na Espanha entre os seacuteculos XVI-

XVIII Aleacutem disso foi agregada aquela investigaccedilatildeo um conjunto de

documentos de cunho oficial escritos pelos empreendedores daquela

produccedilatildeo e oacutergatildeos administrativos coloniais como a Cacircmara da Vila de Satildeo

Paulo

Assim os documentos pertencentes ao Fundo Afonso Sardinha

documentos textuais oficiais e documentos arqueoloacutegicos ndash permitiram

37

interpretar que a aacuterea do Siacutetio corresponde a um campo de trabalho de

produccedilatildeo de ferro e que as atividades de mineraccedilatildeo e fundiccedilatildeo estavam

distribuiacutedas por uma aacuterea extensa com forte influencia dos modelos de ferrarias

de aacutegua que haviam no periacuteodo pesquisado na regiatildeo basca da Espanha

Assim as possibilidades dadas pela arqueologia histoacuterica de permitir a

utilizaccedilatildeo tanto de documentos arqueoloacutegicos (artefatos) e textuais na

realizaccedilatildeo da pesquisa e produccedilatildeo do conhecimento eacute tambeacutem uma das

principais tensotildees que norteiam as questotildees teoacutericas-metodoloacutegicas da

arqueologia histoacuterica Para tanto autores como Anders Andreacuten ao considerar

que o problema da arqueologia histoacuterica eacute o encontro entre a cultura material e

a escrita indica tambeacutem que a arqueologia histoacuterica natildeo pode ignorar as

disciplinas que tratam do homem como eacute o caso da Histoacuteria da Antropologia

ou da Filologia propondo que a metodologia em arqueologia histoacuterica deve

estabelecer ldquodialogue between artifact and text that is unique in relation to

prehistoric archeology as well as historyrdquo (ANDREacuteN 1998 p 177)

114 Descriccedilatildeo geral das pesquisas arqueoloacutegicas realizadas Entre os anos de 1983 ndash 1989 as ruiacutenas encontradas por Joseacute Monteiro

Salazar (1982) foram objeto de uma pesquisa arqueoloacutegica iniciada pelo

Protocolo de Intenccedilotildees entre o Museu Paulista da Universidade de Satildeo Paulo e o

CENEA ndash Centro Nacional de Engenharia Agriacutecola - oacutergatildeo autocircnomo do Ministeacuterio

da Agricultura ao qual a Fazenda Ipanema estava ligado A pesquisa foi

coordenada pela arqueoacuteloga Margarida Davina Andreatta do Museu Paulista da

Universidade de Satildeo Paulo14

14 A Fazenda Ipanema pertenceu ao CENEA Centro Nacional de Engenharia Agriacutecola oacutergatildeo autocircnomo do Ministeacuterio da Agricultura ateacute a extinccedilatildeo desse Centro em 1990 eacutepoca em que foram exploradas as minas de Apatita para a fabricaccedilatildeo de adubos A pesquisa arqueoloacutegica nesta aacuterea foi coordenada pela pesquisadora e arqueoacuteloga Profa Dra Margarida Davina Andreatta tendo como assistente o pesquisador da Historia regional Joseacute Monteiro Salazar aleacutem de estagiaacuterios da Universidade de Satildeo Paulo e voluntaacuterios

38

Fig 6 MARGARIDA DAVINA ANDREATTA E EQUIPE EM REUNIAtildeO COM A DIRETORIA DA FLORESTA NACIONAL DE IPANEMA 1984

Fig 7 ASPECTO DA FAacuteBRICA DE FERRO em 1987

39

Fig 8 Planta da aacuterea do Sitio Afonso Sardinha aacutereas A1 e A2

40

As pesquisas arqueoloacutegicas desenvolvidas no sitio Afonso Sardinha

evidenciaram a existecircncia de um campo de produccedilatildeo de ferro localizado na

margem esquerda do ribeiratildeo do ferro o qual se mostrou formadas por duas

aacutereas identificadas durante aqueles trabalhos como aacuterea A1 e aacuterea A2

mostradas no Mapa da Figura 8

A aacuterea A1 situada no setor norte do campo apresentou ruiacutenas de uma

edificaccedilatildeo relativamente maior de produccedilatildeo de ferro composto por quatro setores

identificados como Forno (setor A) Forja (setor B) espaccedilo entre a Forja e o Canal

(setor C) e Canal (setor D) espaccedilo sul da estrutura (setor E)

Nessa aacuterea A1 a pesquisa arqueoloacutegica possibilitou as seguintes principais

evidecircncias

(i) ocorrecircncias de escoacuterias de forma disseminada e tambeacutem na forma de

um amontoado junto a parede externa (sul) da Forja

(ii) ocorrecircncias de telhas na aacuterea ao sul das paredes dos setores BC e D

(iii) ocorrecircncias de cravo e lacircminas de metal tambeacutem na aacuterea sul da

estrutura

(iv) ocorrecircncia de ceracircmica neo-brasileira nos setores da forja (B) e do

Forno (A)

(v) ocorrecircncia de faianccedila portuguesa nos setores da Forja (B) e do Forno

(A)

(vi) ocorrecircncia de vidro na parte norte do Forno (setor A) parte externa da

Forja (setor B) e tambeacutem um fragmento no setor E (parte sul da estrutura)

41

(vii) ocorrecircncia de metal na parte interna e externa da Forja (B) na aacuterea E

parte interna da aacuterea (C) e face oeste do Canal (D)

(viii) evidecircncias de esteios nas laterais do Canal (D)

Fig 9 Detalhe da aacuterea A 1 ndash Sitio Afonso Sardinha

42

Fig 10 VISTA GERAL DA AacuteREA A 1 ndash Sitio Afonso Sardinha 1987

Fig 11 VISTA GERAL DA AacuteREA A 2 ndash Siacutetio Afonso Sardinha 1987 Na aacuterea A2 mostrada na figura 12 as pesquisas arqueoloacutegicas

evidenciaram a existecircncia de duas subaacutereas sendo uma denominada de A2-B e a

43

outra de D constituiacuteda de parte de um muro de pedras cuja estrutura natildeo foi

possiacutevel identificar

Fig 12 DETALHE DA AacuteREA A 2 ndash Sitio Afonso Sardinha Na aacuterea A2-B (Morrote) foram observadas as seguintes evidecircncias

(i) ocorrecircncia de dois fornos soterrados sob um Morrote na aacuterea

designada como A2-B

(ii) ocorrecircncia de tijolos telhas e mureta de pedra

44

Na aacuterea D da figura 12 foram observados

(i) mureta de estrutura natildeo identificada

(ii) ocorrecircncia de duas estruturas circulares de natureza natildeo

identificada

(iii) ocorrecircncias de ceracircmicas telhas e tijolos

(iv) Ao sul da aacuterea A2-B observou-se a existecircncia de um muro de

pedra interpretado como sendo parte de um canal tendo ao seu lado duas

estruturas circulares com diacircmetro de 15 m (Figura 13 e 14)

Fig 13 PLANTA MORROTE ndash AacuteREA A2-B 1987

45

Fig 14 MORROTE COM EVIDENCIAS DE ldquoFORNOrdquo AacuteREA A2

46

12 Principais questotildees a serem abordadas no decorrer da Tese Os estudos histoacutericos disponiacuteveis acima apresentados bem como os

resultados das pesquisas arqueoloacutegicas realizadas conforme descritas nos itens

anteriores permitem relacionar um conjunto de questotildees que consideramos

importantes para esclarecimento do processo de instalaccedilatildeo da Faacutebrica de ferro

em Araccediloiaba (Sitio Afonso Sardinha) no periacuteodo compreendido entre o final do

seacuteculo XVI ao seacuteculo XVIII que antecedeu a instalaccedilatildeo da Real Faacutebrica de Ferro

de Ipanema em 1810

Tais questotildees podem ser resumidas conforme seguem

I - Avaliaccedilatildeo dos vestiacutegios arqueoloacutegicos das atividades relacionadas agrave mineraccedilatildeo

e agrave produccedilatildeo de ferro a partir do final do seacuteculo XVI e anteriormente agrave instalaccedilatildeo

da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema em 1810

II - Investigaccedilatildeo das possiacuteveis teacutecnicas de produccedilatildeo e meacutetodos de fundiccedilatildeo de

ferro empregadas em Araccediloiaba no periacuteodo de analise desta tese

III - Caracterizaccedilatildeo de modelos de fornos de fundiccedilatildeo e processos industriais

encontrados na aacuterea do sitio arqueoloacutegico

IV ndash Avaliaccedilatildeo das possiacuteveis causas teacutecnicas e cientiacuteficas relacionadas agraves

dificuldades de produccedilatildeo e de qualidade do ferro produzido em Araccediloiaba

47

CAPITULO 2

A TECNICA DE PRODUCcedilAtildeO DE FERRO NO PERIODO ENTRE OS SEacuteCULOS

XVI AO XVIII

21 Consideraccedilotildees sobre Teacutecnica e Tecnologia

Uma das primeiras questotildees para conceituar Teacutecnica refere-se agraves anaacutelises

que permitem diferenciaacute-la do conceito moderno de Tecnologia Ruy Gama (1986

p 19) ao analisar essa questatildeo a partir de autores de liacutengua inglesa observa que

o conceito de tecnologia aparece ldquoora como simplesmente sinocircnimo de teacutecnica ou

de conjunto de teacutecnicas alarga-se as vezes para incluir o produto material das

teacutecnicas e outras vezes menos frequumlentes eacute usada como sinocircnimo de saber

associado as teacutecnicas ou como estudo das teacutecnicasrdquo

A partir de 1930 a preocupaccedilatildeo com a Histoacuteria da Teacutecnica vem se

difundido sobretudo por meio das anaacutelises iniciadas por autores franceses como

Marc Bloch Lefevre de Noeumlttes e Lucien Febvre e ingleses como Abbott Payson

Lynn White Jr e Lewis Munford que a transformaram numa ldquonova disciplinardquo

historiograacutefica 15

No Brasil a primeira discussatildeo sobre essa temaacutetica foi apresentada em

1985 com a publicaccedilatildeo do livro Histoacuteria da Teacutecnica e da Tecnologia organizado

por Ruy Gama Este trabalho eacute formado por uma coletacircnea de textos claacutessicos e

de outros produzidos por autores estrangeiros e brasileiros sobre a Histoacuteria da

Teacutecnica da Tecnologia e da Ciecircncia Entre os textos escritos por autores

brasileiros destacam-se os trabalhos de Fernando Luis Lobo Barbosa Carneiro e

de Julio R Katinsky

15 Os Textos em que estes autores discutem o conceito de Teacutecnica e Tecnologia foram publicados no livro Historia da Teacutecnica e da Tecnologia organizado por Ruy Gama (1985)

48

No texto escrito por esse uacuteltimo autor estaacute um Glossaacuterio dos Carpinteiros

de Moinho onde o autor apresenta os resultados de uma pesquisa que fez sobre

os moinhos hidrauacutelicos no Brasil cuja utilizaccedilatildeo eacute bastante frequumlente nas aacutereas

rurais dos Estados de Satildeo Paulo e Sul de Minas Aleacutem disso oferece um

glossaacuterio de termos empregados ldquobasicamente na construccedilatildeo de monjolos

prensas de mandioca engenhocas de accediluacutecar e moinhos hidrauacutelicos de gratildeos

estes uacuteltimos geralmente preparados para produzir quirera ou fubaacuterdquo (KATINSKY1985 p 216)

Aleacutem desses textos a Coletacircnea traz dois artigos do economista alematildeo

Johann Beckmann (1729-1811) considerado ldquoo pai da Tecnologiardquo por haver

firmado aquele conceito em fins do seacuteculo XVIII e instituiacutedo a disciplina de

Tecnologia no ensino da Universidade de Goumlttingen16 Em 1777 publica a obra

Instruccedilatildeo sobre Tecnologia em que firmava o seu conceito de Tecnologia como

ldquoconhecimento dos ofiacutecios faacutebricas e manufaturas especialmente daquelas que

tem contacto estrito com a agricultura a administraccedilatildeo puacuteblica e as ciecircncias

cameraliacutesticasrdquo (GAMA 1985 p6) Na introduccedilatildeo dessa mesma obra Beckmann

escrevia que

A histoacuteria das artes pode dedicar-se a enumeraccedilotildees das

invenccedilotildees ao progresso e ao curso habitual de uma arte ou de

um trabalho manual mas eacute a tecnologia que explica de maneira

completa clara e ordenada todos os trabalhos assim como seus

fundamentos e suas consequumlecircncias (BECKMANN Apud GAMA

1985 p6)

Serge Moscovici em Essai sur lrsquohistorie humaine de la Nature referindo-se

a Beckmann afirma que este autor conscientemente ldquoforja o termo tecnologia

para designar a disciplina que descreve e ordena os ofiacutecios e as induacutestrias

existentesrdquo (MOSCOVICI apud GAMA 1985 p 8)

16 Goumlttingen era uma das mais conhecidas universidades da Europa agrave qual se vinculavam muitos estadistas e funcionaacuterios administrativos da Alemanha

49

Para Beckmann e outros autores de seu tempo a Tecnologia estava

intimamente ligada agrave escola e basicamente agrave uniatildeo dos ldquosaacutebiosrdquo com os

ldquofabricantesrdquo que dominavam o conhecimento teacutecnico numa eacutepoca em que este

mesmo conhecimento comeccedilava a ser objeto de investigaccedilatildeo de academias e

universidades as quais tinham como objetivo a formulaccedilatildeo de uma linguagem

tecnoloacutegica por intermeacutedio da codificaccedilatildeo de conceitos Ressaltamos ainda que

as propostas de Beckmann e esse novo olhar paras as teacutecnicas estavam

voltadas para o atendimento de demandas sociais surgidas com a Revoluccedilatildeo

Industrial

Se a Tecnologia tem a funccedilatildeo de explicar como afirma Beckmann ela

tambeacutem teve seu tempo de formulaccedilatildeo Segundo Ruy Gama o nascimento do

conceito de Tecnologia pode ser situado historicamente no decorrer da Idade

Moderna sendo difundido a partir do seacuteculo XVII Para este autor tal conceito foi

construiacutedo

pari passu ao desenvolvimento do capitalismo e agrave substituiccedilatildeo do

modo de produccedilatildeo feudalcoorporativo e do sistema de

transmissatildeo do conhecimento apoiado na aprendizagem pelo

emprego do trabalho assalariado e pelo sistema escolarizado do

conhecimento (GAMA 1986 p30)

Dessa forma ateacute pelo menos antes do advento da ldquoRevoluccedilatildeo da Ciecircnciardquo

(1789-1848) especialmente pelas descobertas proporcionadas pela Quiacutemica 17

todos os processos de produccedilatildeo eram realizados a partir de conhecimentos

ldquopraacuteticosrdquo e que natildeo eram e natildeo poderiam ser explicados cientificamente Assim

trabalhavam os carpinteiros camponeses mineiros e fundidores de metais e

outros artesatildeos da Idade Meacutedia associando engenhosidade experiecircncia e

habilidade manual ou em outras palavras centrados no ldquomais rude empirismordquo

(USHER 1994 p 465)

17 A Quiacutemica entre todas as ciecircncias ldquofoi a mais iacutentima e imediatamente ligada agrave praacutetica industrial ndash a Revoluccedilatildeo Industrial - especialmente integrada aos processos de tingimento de tecidos e branqueamento da industria tecircxtilrdquo ( HOBSBAWM 1979 p305)

50

Para Milton Vargas a Tecnologia soacute pode ter vigecircncia depois do

estabelecimento da Ciecircncia Moderna 18

principalmente pelo fato de essa cultura ser um saber que apesar

de teoacuterico deve necessariamente ser verificado pela experiecircncia

cientiacutefica Esse aspecto experimental e portanto empiacuterico da

Ciecircncia moderna proveacutem da ideacuteia renascentista de que tudo

aquilo que fora realizado pela tradiccedilatildeo teacutecnica poderia secirc-lo

tambeacutem pela teoria e metodologia cientiacuteficas o que

evidentemente aproxima o saber teoacuterico-cientiacutefico do fazer

empiacuterico da teacutecnica (VARGAS 1994 p 16)

22 O conceito de Teacutecnica Originaacuterio da Greacutecia Claacutessica o conceito de Teacutecnica estava inserindo num

tipo de ldquosaber-fazerrdquo associado a mitos como o de Hefestos (Vulcano para os

romanos) ndash o ferreiro - senhor do fogo e da forja que segundo aquela mitologia

havia revelado o segredo desta Teacutecnica aos homens Desta perspectiva

mitoloacutegica o conceito de Teacutecnica transformou-se num outro tipo saber-fazer o da

ldquotechneacuterdquo um conhecimento empiacuterico que somente pode ser obtido atraveacutes do

aprendizado baseado na experiecircncia ou entatildeo a partir dos ensinamentos

transmitidos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo

Neste sentido a Techneacute natildeo eacute uma habilidade qualquer ldquomas uma

habilidade que segue certas regras por isso techneacute significa tambeacutem ofiacutecio

pressupotildee a existecircncia de um substrato um saber e um conhecimento na

18 Para Hobsbawm o progresso da ciecircncia natildeo pode ser entendido como um simples ldquoavanccedilo linear cada estaacutegio determinando a soluccedilatildeo de problemas anteriormente impliacutecitos nele e por sua vez colocando novos problemas Estes avanccedilos tambeacutem procedem pela descoberta de novos problemas de novas maneiras de enfocar os antigos de novas maneiras de enfrentar e solucionar velhos problemas de campos de investigaccedilatildeo inteiramente novos de novos instrumentos praacuteticos e teoacutericos de investigaccedilatildeordquo (HOBSBAWM 1979 p 302)

51

execuccedilatildeo de uma atividaderdquo (NADAL 2000 p 18) Esta forma de saber baseada

na loacutegica prolongou-se atraveacutes da Idade Meacutedia e chegou aos nossos dias com o

tiacutetulo de Teacutecnicas Natildeo satildeo teorias satildeo conhecimentos que tanto podem ser

adquiridos pela praacutetica como pelo estudo de tratados teacutecnicos

Entre os seacuteculos XVI e XVII a Ciecircncia ao romper com a tradiccedilatildeo

escolaacutestica19 avanccedila para o caminho da experimentaccedilatildeo com a valorizaccedilatildeo das

artes (teacutecnica) as quais jaacute vinham se transformando em objeto de preocupaccedilatildeo e

de estudo desde a Baixa Idade Meacutedia e o Renascimento ateacute chegar agrave constituiccedilatildeo

da Ciecircncia Moderna (DANTAS 2004)

Contraposta ao pensamento grego e medieval em que a

contemplaccedilatildeo das verdades era a meta do conhecimento sabe-se

que a partir do Renascimento haacute uma valorizaccedilatildeo do

conhecimento praacutetico bem como uma mudanccedila no estatuto do

conhecimento teacutecnico Haacute uma expectativa de intervenccedilatildeo e de

controle da natureza e correlativamente um reconhecimento da

teacutecnica isto eacute das atividades inventos e construccedilotildees dos

praacuteticos engenheiros e artesatildeos Daiacute se falar em uma nova forma

de saber e uma nova figura de douto Haacute no entanto uma seacuterie de

dificuldades para estabelecer as razotildees do surgimento dessa

dimensatildeo ativa e o papel que ocupa no nascimento da ciecircncia

moderna (OLIVEIRA1997 p )

No seacuteculo XV esse movimento de valorizaccedilatildeo do trabalho teacutecnico dos

artesatildeos ligado agrave experimentaccedilatildeo foi amplamente difundido pela divulgaccedilatildeo

daqueles conhecimentos atraveacutes de publicaccedilotildees A partir de 1630 surgiram os

Tratados Teacutecnicos Manuais20 como tambeacutem dicionaacuterios e enciclopeacutedias que se

dedicavam ao levantamento da terminologia das diversas artes das

nomenclaturas teacutecnicas e da descriccedilatildeo dos processos e dos meacutetodos das artes

19 Escolaacutestica movimento cultural e filosoacutefico medieval baseado em grande parte em comentaacuterios da obra do filoacutesofo grego Aristoacuteteles e de cunho puramente contemplativo 20 Na arquitetura por exemplo o estabelecimento desta praacutetica permitiu a difusatildeo das teorias e desenhos imaginados pelos arquitetos renascentistas findando assim a necessidade de construir e realizar obras para exemplificar as ideacuteias arquitetocircnicas

52

mecacircnicas as quais acabaram por solapar o domiacutenio das corporaccedilotildees de ofiacutecios 21 (BARGALLOacute 1955 p47)

A publicaccedilatildeo dos manuais teacutecnicos teraacute uma importacircncia decisiva

na padronizaccedilatildeo de unidades de medida e de representaccedilatildeo O

esforccedilo por se fazer compreender sem a equivocidade do discurso

do senso comum e sem o hermetismo do discurso maacutegico-

religioso reservado aos iniciados eacute uma forma decisiva de

objetivaccedilatildeo da comunicaccedilatildeo que muito embora seja fundamental

ao empreendimento da ciecircncia nasce como uma necessidade do

desenvolvimento da teacutecnica As exigecircncias da precisatildeo aparecem

na representaccedilatildeo (desenhos graacuteficos etc) e na linguagem

daquele tipo de saber - as artes mecacircnicas - em seus manuais de

modelos de construccedilatildeo nas descriccedilotildees dos aspectos e

proporccedilotildees dos corpos ou no detalhamento do fabrico e do uso de

instrumentos e artefatos Natildeo eacute difiacutecil ver que esse interesse na

divulgaccedilatildeo de conhecimentos potencializado pelo aparecimento

da imprensa tornava necessaacuteria a padronizaccedilatildeo da divulgaccedilatildeo

com uma linguagem mais objetiva e medidas mais precisas

(OLIVEIRA 1997)

Entre os Tratados Teacutecnicos publicados estaacute a obra De pictura (1435)

considerado o primeiro estudo cientiacutefico da perspectiva pelo italiano Leone

Batista Alberti arquiteto literato e escultor (1404-1472) Para Alberti os artistas

deveriam aprender com todos os outros artesatildeos E o caminho para esse

aprendizado segundo ele consistia em conseguir com os proacuteprios artesatildeos os

21 Dos seacuteculos II (dC) ao XV as Artes estavam classificadas em Artes Liberais e Artes Mecacircnicas As Liberais (assim chamadas por serem consideradas dignas do homem livre) estavam associadas agrave Gramaacutetica Retoacuterica Astronomia Loacutegica Aritmeacutetica Muacutesica Quanto agraves Artes Mecacircnicas organizadas nas aacutereas urbanas eram consideradas menos honrosas mais proacuteprias do trabalhador manualservil como Medicina Arquitetura Agricultura Pintura Escultura Olaria Carpintaria Ferraria Cantaria Ofiacutecio de pedreiros etc As corporaccedilotildees de ofiacutecios ateacute entatildeo responsaacuteveis pelo treinamento dos artesatildeos e pelos segredos dos ofiacutecios (os misteacuterios dos misteres) tinham o sistema de aprendizado baseado na transmissatildeo dos conhecimentos teacutecnicos na praacutetica das oficinas ndash o aprender fazendo ndash que encaminhava o aprendiz na sua carreira passando pela categoria de oficial e finalmente pela de mestre isso quando conviesse agrave corporaccedilatildeo ter mais mestre vale dizer mais oficinas no mercado

53

saberes natildeo divulgados ou secretos dos ofiacutecios Para isso orientava os artistas

para frequumlentar as oficinas e outros lugares de trabalho e fazerem perguntas aos

ferreiros pedreiros construtores de barcos e ateacute aos sapateiros Deveriam

tambeacutem frequumlentemente fingir ignoracircncia para descobrir em que o conhecimento

dos outros excedia aos seus (GAMA 1983 p 284-85)

Esse novo caminho da Ciecircncia o da experimentaccedilatildeo encontra no

pensamento do Filoacutesofo inglecircs Francis Bacon (1561-1626) uma de suas

expressotildees teoacutericas Considerado o fundador da ciecircncia experimental moderna

foi tambeacutem o criador do meacutetodo cientiacutefico baseado na observaccedilatildeo e

experimentaccedilatildeo (empirismo) que permitiram o avanccedilo das teacutecnicas que

transformaram a vida do homem campesino e mineiro do seacuteculo XVII (GAMA

1983 p34)

Em linhas gerais Bacon ldquorejeitou a separaccedilatildeo e a oposiccedilatildeo vigentes nas

filosofias tradicionais entre teoria e praacutetica entre loacutegica e operaccedilotildees reais entre

verdade e utilidaderdquo (GAMA 1983 p 33)

Interpretou essas oposiccedilotildees como oriundas das condiccedilotildees

histoacutericas e sociais bem determinadas que valorizavam a

contemplaccedilatildeo ndash a verdade em sua pureza ndash e que desprezavam

tudo o que fosse ligado agraves atividades praacuteticas e materiais Por

tudo isso preocupou-se em realccedilar tanto quanto fosse necessaacuterio

a importacircncia dos fatores materiais no desenvolvimento da

filosofia e da cultura E a partir daiacute sustenta a identidade entre

verdade e utilidade teoria e atividade operativa conhecer e fazer

e afirma que qualquer separaccedilatildeo e contraposiccedilatildeo entre esses

termos cria obstaacuteculos intransponiacuteveis de resultados efetivos e

eficientes (GAMA1983 p33-34)

54

23 A valorizaccedilatildeo do conhecimento teacutecnico e a ciecircncia experimental moderna Com o nascimento da Ciecircncia Experimental a teacutecnica artesanal e os

procedimentos teacutecnicos ligados agraves Artes Mecacircnicas passaram a ser os meios que

permitiriam o progresso da ciecircncia e o avanccedilo do saber

Joan Luis Vives (1492-1540) filoacutesofo e preceptor da corte inglesa assim

como o italiano Leone Alberti defendia que o homem culto natildeo devia

envergonhar-se de entrar nas oficinas e perguntar aos artesatildeos pelas teacutecnicas

que empregavam em suas artes Vives em sua obra De Tradendis Disciplinis

convidava os estudiosos europeus a prestar grande atenccedilatildeo aos problemas

teacutecnicos relativos agrave construccedilatildeo das maacutequinas agrave agricultura agrave tecelagem agrave

navegaccedilatildeo Advertia ainda que devessem deitar os olhos sobre o trabalho dos

artesatildeos para tentar saber onde e como essas artes foram inventadas buscadas

desenvolvidas conservadas e como aplicaacute-las Dessa forma segundo Vives

(1531 apud ROSSI 1989 p 24) o homem venceria seu tradicional desdeacutem por

aquilo que considerava como conhecimento vulgar o dos artesatildeos22

Nota-se tambeacutem que esse movimento o de valorizaccedilatildeo do saber teacutecnico

nasce no acircmbito das Academias e Associaccedilotildees vinculadas a esta nova

perspectiva de Ciecircncia e natildeo nas Universidades que permaneceram ateacute finais do

seacuteculo XVIII com poucas alteraccedilotildees metodoloacutegicas Entre os novos centros de

conhecimento estavam a Academia dei Lincei en Roma (1603) a Accademia del

Cimento en Florenccedila (1657) a Royal Society de Londres (1660) a Acadeacutemie des

Sciences de Paris (1666) aleacutem de Escolas Artesanais entatildeo criadas que

conjugavam na Ciecircncia Empiacuterica a alianccedila entre o saber (ciecircncia) e o fazer

22 Dentro desta mesma perspectiva devem ser acrescentar as obras do jaacute citado Francis Bacon Harvey Galileu e Boyle que valorizavam a experimentaccedilatildeo e a observaccedilatildeo da natureza reformulando as concepccedilotildees cientiacuteficas e reconhecendo a importacircncia das teacutecnicas e da praacutetica para a Ciecircncia

55

(teacutecnica) Na Espanha por exemplo cria-se uma escola de mineiros exercitados

em teacutecnicas sobretudo nas teacutecnicas metaluacutergicas 23

Assim podemos afirmar que naquele momento entrar no mundo do

conhecimento teacutecnico representava entrar no mundo das corporaccedilotildees de ofiacutecios

desvendando os segredos por meio da apropriaccedilatildeo do saber teacutecnico e da

linguagem utilizada pelos artesatildeos para a realizaccedilatildeo de seus ofiacutecios Para Ruy

Gama A que parece o domiacutenio dos segredos da linguagem dos artesatildeos

foi a porta pela qual se entrou no domiacutenio dos proacuteprios segredos

dos ofiacutecios Dentre os misteacuterios dos misteres a linguagem foi a

primeira a ser desvendada decifrada e jogada na rua pelas portas

e janelas arrombadas das oficinas ndash numa espeacutecie de accedilatildeo de

despejo ndash para ser vista por todo mundo (GAMA 1986 p 48)

Nas escolas artesanais surge a Tecnologia como disciplina curricular A

institucionalizaccedilatildeo deste saber permitiu que aqueles conhecimentos teacutecnicos

fossem reunidos estruturados e sistematizados e dessa forma transmitidos a um

nuacutemero cada vez maior de pessoas (GAMA 1994 p 54)

2 4 A Tecnologia como sinocircnimo de Teacutecnica

Apesar de toda a diferenciaccedilatildeo jaacute feita entre os conceitos de Teacutecnica e

Tecnologia estes termos satildeo frequumlentemente utilizados como sinocircnimos Autores

da liacutengua ingleses natildeo fazem esta distinccedilatildeo pois consideram entre outros

aspectos que a Histoacuteria da Teacutecnica e a Histoacuteria da Tecnologia apresentam seus

campos embaralhados e sua periodizaccedilatildeo extremamente difiacutecil de definir Lynn

White Jr historiador econocircmico e medievalista americano por exemplo afirma

que a Tecnologia natildeo conhece fronteiras cronoloacutegicas e geograacuteficas pois entende

Tecnologia como o ldquoconjunto de todas as Teacutecnicasrdquo e ldquoas maneiras pelas quais as

56

pessoas fazem coisasrdquo (GAMA 1985 p 14) Mas segundo Ruy Gama esta

definiccedilatildeo natildeo permite nem o estabelecimento de uma fronteira histoacuterico-

cronoloacutegica e nem geograacutefica para situar o ldquonascimentordquo do conceito jaacute que Lynn

o emprega como sinocircnimo de Histoacuteria do Trabalho e dessa forma permite

empregar o termo Tecnologia para todas as realizaccedilotildees e obras materiais dos

povos (GAMA 1985 p 14-15)

Essa concepccedilatildeo de Tecnologia como sinocircnimo de Teacutecnica desenvolve-se

num contexto em que entre outros aspectos a Arqueologia e a Histoacuteria

passavam por reformulaccedilotildees conceituais A Arqueologia passava a revelar nos

anos 40 do seacuteculo XX novos documentos materiais relacionados a civilizaccedilotildees da

Ameacuterica preacute-colombiana que supunha-se natildeo conheciam a escrita (pesquisas

atuais comeccedilam a demonstrar que a conheciam) e tampouco a roda elementos

considerados naquele periacuteodo indicadores para qualificar o niacutevel de progresso

teacutecnico de uma determinada sociedade que poderia ser considerada como

ldquoavanccediladardquo ou ldquoatrasadardquo Essas descobertas levaram a uma reavaliaccedilatildeo nas

ideacuteias de progresso e civilizaccedilatildeo e na forma de olhar outras sociedades deixando

de centrar as anaacutelises somente no ldquoeixo tradicional etnocecircntrico europeurdquo (GAMA

1985 p 14-15)

Quanto agrave Histoacuteria o nascimento de uma nova escola historiograacutefica a

Histoacuteria Nova surgida na Franccedila na primeira metade do seacuteculo XX daacute um novo

enfoque teoacuterico-metodoloacutegico agrave pesquisa histoacuterica voltada para a anaacutelise do

cotidiano Esta nova tendecircncia amplia a noccedilatildeo de documento aproximando a

Histoacuteria das demais Ciecircncias Humanas entre elas a Arqueologia possibilitando

nos anos 60 do seacuteculo XX uma ldquoverdadeira Revoluccedilatildeo Documentalrdquo que permitiu

nas anaacutelises historiograacuteficas a incorporaccedilatildeo dos documentos natildeo-escritos -

cultura material ndash viabilizando o estudo das sociedades que natildeo possuiacuteam a

escrita para registrar sua Histoacuteria

Para a divulgaccedilatildeo desse novo conceito de documento Lucien Febvre

idealizou no periacuteodo entre as duas primeiras guerras uma revista de Histoacuteria que

57

seria fundada mais tarde em parceria com Marc Bloch com o nome de Annales

drsquoHistorie Economique et Sociale os ldquoAnnalesrdquo Para Febvre ao analisar o

trabalho do historiador a partir da noccedilatildeo ampliada de documento afirma que

A Historia faz-se com documentos escritos sem duacutevida Quando

estes existem Mas pode fazer-se deve fazer-se sem documentos

escritos quando natildeo existem Com tudo o que a habilidade do

historiador lhe permite utilizar para fabricar o seu mel na falta das

flores habituais Logo com palavras signos paisagens e telhas

Com as formas do campo e ervas daninhas Com os eclipses da

lua e a atrelagem dos cavalos de tiro Com os exames de pedras

feitos pelos geoacutelogos e com a anaacutelise de metais feitas pelos

quiacutemicos Numa palavra com tudo o que pertencente ao homem

depende do homem serve ao homem exprime o homem

demonstra a presenccedila a actividade os gostos e as maneiras de

ser do homem

Toda uma parte e sem duacutevida a mais apaixonante do nosso

trabalho de historiadores natildeo consistiraacute num esforccedilo constante

para fazer falar as coisas mudas para fazecirc-las dizer o que elas

por si proacuteprias natildeo dizem sobre os homens sobre as sociedades

que as produziram e para constituir finalmente entre elas aquela

vasta rede de solidariedade e de entre-ajuda que supre a

ausecircncia do documento escritordquo (FEBVRE 1953 p 428 apud

GOFF 1984 p 98)

Para conceituar Teacutecnica e Tecnologia recorremos tambeacutem ao Dicionaacuterio

das Ciecircncias Sociais de Alain Birou segundo o qual Teacutecnica significa

O conjunto de regras praacuteticas para fazer coisas determinadas

envolvendo a habilidade do executor e transmitidas verbalmente

por exemplo no uso das matildeos dos instrumentos e ferramentas e

das maacutequinas Alarga-se frequumlentemente o conceito para nele

incluir o conjunto dos processos de uma ciecircncia arte ou ofiacutecio

para obtenccedilatildeo de um resultado determinado com o melhor

rendimento possiacutevel (GAMA 1986 p 30)

58

Para este mesmo dicionaacuterio Tecnologia eacute

O estudo e conhecimento cientiacutefico das operaccedilotildees teacutecnicas ou da

teacutecnica Compreende o estudo sistemaacutetico dos instrumentos das

ferramentas e das maacutequinas empregadas nos diversos ramos da

teacutecnica dos gestos de trabalho e dos custos dos materiais e da

energia empregada A tecnologia implica na aplicaccedilatildeo dos meacutetodos

das ciecircncias fiacutesicas e naturais e como assinala Alan Birou tambeacutem

na comunicaccedilatildeo desses conhecimentos pelo ensino teacutecnico

(GAMA 1986 p 30)

Diante dessas consideraccedilotildees sobre Teacutecnica e Tecnologia salientamos

que neste trabalho pretendemos a partir da Arqueologia Histoacuterica contribuir

para a Histoacuteria da Teacutecnica no periacuteodo colonial brasileiro especialmente no que

diz respeito agraves teacutecnicas relacionadas agrave mineraccedilatildeo e agrave metalurgia

No periacuteodo analisado entre os seacuteculos XVI e XVIII todos os trabalhos

relacionados agravequelas atividades estavam baseados no puro empirismo no saber-

fazer e nas experiecircncias praacuteticas daqueles trabalhadores que sabiam realizar as

operaccedilotildees de fundiccedilatildeo de forma praacutetica mas natildeo tinham instrumentos para

explicaacute-los Somente com o advento da Ciecircncia Moderna especialmente com a

Revoluccedilatildeo Cientiacutefica eacute que aqueles mineiros e fundidores puderam compreender

as operaccedilotildees produtivas que realizavam

Assim assumimos a periodizaccedilatildeo proposta por Ruy Gama ao considerar

Teacutecnica e Tecnologia como categorias distintas e portanto que a Histoacuteria da

Teacutecnica natildeo coincide com a Histoacuteria da Tecnologia

59

25 A teacutecnica de produccedilatildeo do ferro no periacuteodo entre os seacuteculo XVI ao XVIII

Los antiguos herrreros descubrieron que si martillaban

repetidamente y recalentaban una y otra vez en fuego de carboacuten

un trozo de mineral de hierro al rojo obteniacutean un metal

extremamente fuerte y duro ndash hierro forjado (CARDWELL 1994

p 33)

Antes do conhecimento dos metais eram aproveitadas ldquotreze diferentes

espeacutecies minerais todas do grupo natildeo-metaacutelicos denominadas calcedocircnia (chert

e siacutelex) quartzo cristal de rocha jaspe serpentina pirita calcita ametista

fluorita esteatita acircmbar e obsidianardquo (GUIMARAtildeES1981p22) A estes minerais

natildeo metaacutelicos pode-se acrescentar a utilizaccedilatildeo de ldquopigmentos minerais usados

para ornamentos e pintura constituiacutedos de argila e oacutexidos metaacutelicos coloridos

embora alguns objetos feitos especialmente de cobre tenham sido encontrados e

datados de aproximadamente 9000 aC (GUIMARAtildeES 1981 p 22)

Atribui-se o iniacutecio do aproveitamento dos mineacuterios para a extraccedilatildeo de

metais entre os anos de 6000 a 5000 aC Admite-se que o cobre teria sido o

primeiro metal produzido pelo homem depois o bronze (uma liga metaacutelica de

estanho e cobre) Na mesma eacutepoca tambeacutem se passou a utilizar o chumbo e por

uacuteltimo o ferro Na chamada ldquoIdade do Ferrordquo houve tambeacutem a difusatildeo da

fabricaccedilatildeo do vidro e do mercuacuterio

Pesquisas arqueoloacutegicas em aacutereas mineiras da Europa tem possibilitado

revisotildees do conhecimento relacionado a natureza das mateacuterias-primas

empregadas na extraccedilatildeo do ferro Tradicionalmente sustentava-se a ideacuteia de que

a mateacuteria-prima com que se confeccionavam os primeiros objetos de ferro teria

origem em meteoritos Esta teoria se aplicava particularmente aos objetos

fabricados com ferro rico em niacutequel Atualmente pesquisas na aacuterea da

paleometalurgia demonstram que a origem de associaccedilotildees do ferro com outros

60

metais ocorre em razatildeo da composiccedilatildeo quiacutemica natural dos minerais utilizados

para a produccedilatildeo destes materiais (FAUS 2000 p 27)

O ferro como alguns outros metais natildeo eacute encontrado na natureza em

forma pura sendo que nestas condiccedilotildees encontra-se sempre combinado com

outros elementos formando oacutexidos carbonatos silicatos e sulfatos Para a

produccedilatildeo do ferro satildeo utilizados mineacuterios sobretudo os oacutexidos tais como a

hematita (Fe2O3) e a magnetita (Fe3O4) 24 Outros mineacuterios de menor importacircncia

para a produccedilatildeo tambeacutem contecircm ferro tais como a Siderita (FeCO3) Limonita

(Fe3O4) Pirita (FeS2) e a (Cromita FeOCr2O3) ( LABOURIAU 1928 p 95-110)

Os termos ldquomineralrdquo ldquomineacuteriordquo e ldquometalrdquo precisam ser esclarecidos para que

se possa compreender a forma da produccedilatildeo do ferro

Mineral eacute uma substacircncia formada em resultado da interaccedilatildeo de

processos geoloacutegicos em ambientes geoloacutegicos naturais Os minerais variam na

sua composiccedilatildeo desde elementos quiacutemicos em estado puro ou quase puro e

sais simples a silicatos complexos com milhares de formas conhecidas

(LABOURIAU 1928 p 95-96)

Mineacuterio eacute toda substacircncia natural da qual se possa fazer a extraccedilatildeo de

algum metal (como a hematita e a magnetita) Assim um mineacuterio eacute sempre uma

substacircncia mineral Entretanto nem todo mineral eacute mineacuterio pois alguns minerais

natildeo permitem a extraccedilatildeo de metais como exemplo pode-se citar a pirita (sulfeto

de ferro) um mineral que eacute aproveitado para a fabricaccedilatildeo do aacutecido sulfuacuterico mas

que natildeo permite a extraccedilatildeo do metal nele contido (o ferro) Por conseguinte a

perita eacute um mineral uacutetil mas natildeo eacute um mineacuterio (LABOURIAU 1928 p 95-96)

Metal cada um de um grande grupo de substancias simples obtidas a

partir de mineacuterios

24 A magnetita eacute assim denominada devido ao seu magnetismo natural eacute um mineral de cor preta acinzentada ou avermelhada com brilho metaacutelico de formula quiacutemica (Fe3O4)

61

Para a extraccedilatildeo do ferro dos seus mineacuterios (geralmente oacutexidos feacuterricos

como a hematita) foram desenvolvidas desde a Antiguumlidade teacutecnicas de fundiccedilatildeo

destes materiais por reduccedilatildeo que utilizavam carvatildeo de madeira como redutor

Entretanto variava de uma regiatildeo para outra o tipo do forno e forma de colocaccedilatildeo

do mineacuterio e do carvatildeo no seu interior

Elena Faus referindo ao caso da tradiccedilatildeo basca defende que ateacute o seacuteculo

XIX os avanccedilos dos meacutetodos de fundiccedilatildeo do ferro tecircm decorrido independentes

da investigaccedilatildeo cientiacutefica Para esta autora esses avanccedilos teacutecnicos foram

realizados por ldquouma multitud anoacutenima de individuos de talento formados a la

sombra del teller protagoniza la Historia de la Tecnologia Son analfabetos y no

han conocido ninguacuten tipo de ensentildeanzardquo (FAUS 2000 p 51) O aprimoramento

da teacutecnica de fundiccedilatildeo podia entatildeo ser considerado como uma sucessatildeo de

ldquoinventosrdquo de artesatildeos que na determinaccedilatildeo em resolver as dificuldades que

surgiam inventaram teacutecnicas de fundiccedilatildeo a partir de experiecircncias praacuteticas pelo

uacutenico meacutetodo que conheciam o da praacutexis do ensaio e erro (FAUS 2000 p51)

Toda a produccedilatildeo do ferro estava fundamentada em conhecimentos

teacutecnicos baseados na praacutetica e que eram conhecimentos secretos restritos aos

membros da respectiva corporaccedilatildeo de ofiacutecio Ateacute a ldquorevoluccedilatildeo da Quiacutemicardquo no

seacuteculo XVIII natildeo havia nenhum conhecimento que pudesse explicar de forma

cientiacutefica o processo em que ocorria a reduccedilatildeo do mineacuterio em metal Soacute a partir

daiacute foi possiacutevel por exemplo explicar a atuaccedilatildeo de um elemento o Carbono

obtido pela queima do carvatildeo vegetal no processo produtivo do ferro Na Franccedila

em 1722 o cientista Reneacute Reacuteaumur concluiu que a diferenccedila entre as distintas

qualidades do ferro e do accedilo resultava da incorporaccedilatildeo de uma substacircncia

material Em 1786 na Sueacutecia os matemaacuteticos Vandermonde e Berthollet e o

quiacutemico Monge confirmaram esta hipoacutetese e identificaram o elemento o

Carbono o mesmo procedente da queima do carvatildeo de madeira utilizado desde

a antiguidade na fabricaccedilatildeo (FAUS 2000 p 21-22)

62

Com o aprimoramento da teacutecnica de fabricaccedilatildeo do ferro descobriu-se

tambeacutem a forma de se produzir accedilo sendo que sua difusatildeo promoveu a

emergecircncia de instrumentos e ferramentas completamente novas dando prestiacutegio

a todos aqueles que dominavam a teacutecnica dos metais Dessa forma o ferro e

depois o accedilo foi empregado na fabricaccedilatildeo de uma diversificada variedade de

instrumentos que anteriormente eram confeccionados com madeira ou pedra

transformando assim a metalurgia em uma teacutecnica extremamente estrateacutegica

Para Donald Cardwel

la metalurgiacutea hizo posibles instrumentos y herramientas completamente nuevos ndash y anteriormente inimaginables - La

importancia fundamental de la metalurgiacutea y el prestigio de los

trabajadores expertos en el metal quedan confirmados como

sentildealaba Samuel Smiles por la frecuencia del apellido Smith

(lsquoHerrerorsquo) Ademaacutes la palabra Smith es de origen noacuterdico o

germacircnico lo cual da una clave para entender la localizacioacuten de

los primitivos centros del trabajo del metal en el occidente

europeo (CARDWEL 1994 p 34 grifo nosso)

A crescente demanda de objetos e utensiacutelios feitos de ferro proporcionou o

aprimoramento das teacutecnicas de fundiccedilatildeo como tambeacutem da especializaccedilatildeo

daquele trabalho

Na Espanha por exemplo os espaccedilos destinados a produccedilatildeo de ferro

foram se especializando Um desses espaccedilos era denominado de ferrarias

maiores que se especializaram na fundiccedilatildeo dos mineacuterios para a obtenccedilatildeo de

metal e outras denominadas de ferrarias menores dedicavam-se aacute manufatura

desse metal ou seja transformando-o em barras ou laminas para fabricar entre

outros produtos instrumentos e acessoacuterios agriacutecolas (ferraduras) armas

(espadas) e materiais construtivos (cravos) etc ( FERNANDEZ p 5)

63

Desde o iniacutecio da metalurgia tem-se buscado tambeacutem a maneira pela qual

os fornos pudessem alcanccedilar temperaturas cada vez elevadas pois para que se

possa retirar o ferro do mineacuterio de forma que fosse possiacutevel o aproveitamento de

todo metal nele existente a temperatura do forno deve se elevar aleacutem de 1535ordmC

ponto de fusatildeo daquele metal

Contudo os primeiros fornos empregados para a reduccedilatildeo com a utilizaccedilatildeo

de carvatildeo vegetal alcanccedilavam apenas temperaturas que variavam entre 1200ordmC

e 1300ordmC insuficientes para a fusatildeo completa e portanto o ferro obtido com

aquela temperatura natildeo era retirado do forno em estado liacutequido e sim em estado

pastoso A essa temperatura (12001300ordm C) o mineacuterio de ferro transformava-se

em uma ldquomassa esponjosardquo repleta de impurezas (escoacuterias que ainda

apresentavam uma significativa quantidade de ferro na sua composiccedilatildeo) Essa

massa era entatildeo colocada sobre uma bigorna e por meio de martelamento

manual ou mecacircnico retiravam-se as escoacuterias que ainda permaneciam grudadas

naquela massa compactando-a e dando forma ao metal

Labouriau ao explicar a accedilatildeo do carvatildeo vegetal durante o processo de

reduccedilatildeo explica que o carvatildeo vegetal em contato com o oxigecircnio da atmosfera

queima produzindo calor formando o gaacutes carbocircnico (CO e CO2) Esse CO2 entatildeo

ao reagir com uma parte do carvatildeo passa para CO e que esse CO juntamente

com uma parte do carvatildeo retira o oxigecircnio do mineacuterio e fica o ferro ligado a um

pouco de Carbonordquo (LABOURIAU 1928 p 146)

Essa teacutecnica de produccedilatildeo de ferro ficou conhecida como ldquoprocesso Diretordquo

ou ldquomeacutetodo de reduccedilatildeo diretardquo e o ferro produzido era o ldquoferro docerdquo Ateacute o seacuteculo

XV com o aparecimento do alto-forno esta era a uacutenica teacutecnica conhecida e

empregada na produccedilatildeo daquele metal No alto-forno o ferro atingia

temperaturas mais elevadas possibilitando uma maior absorccedilatildeo de carbono do

carvatildeo vegetal transformando-se em gusa (ferro-gusa ou ferro fundido) que saiacutea

64

do forno no estado liquido incandescente25 No seacuteculo XVI o alto forno foi

aperfeiccediloado na Alemanha e na Aacuteustria com o aparecimento do Stueckofen (alto-

forno) construiacutedos de alvenaria

Com a utilizaccedilatildeo do alto-forno e com a obtenccedilatildeo do ferro em sua forma

liacutequida foram possiacuteveis as produccedilotildees de armas de fogo balas de canhatildeo sinos

de igreja e mais tarde a fabricaccedilatildeo de adornos para as residecircncias tais como

grades enfim produtos que puderam ser produzidos a partir do ferro liacutequido

deitado em moldes

26 Fornos de fundiccedilatildeo de ferro Segundo Jordi Maluquer Motes no iniacutecio da metalurgia utilizavam-se

pequenos fornos (fornos baixos) para extraccedilatildeo do metal (ferro) os quais natildeo

eram mais que uma cavidade ciliacutendica escavada no terreno ou em uma rocha

Contudo a forma e o tamanho dos fornos foram mudando ao longo do tempo e

de simples cavidades escavadas no chatildeo os fornos comeccedilaram a ganhar ao

redor daquele ciacuterculo paredes de argila refrataacuteria o que permitia fazer fornadas

maiores aumentando assim a produccedilatildeo Contudo todos eles ateacute o advento do

alto-forno produziam por meio da reduccedilatildeo direta o ferro em estado pastoso O

produto (ferro) que ficava no interior do forno apoacutes a fundiccedilatildeo do mineacuterio era

chamado de massa de ferro patildeo de ferro ou lupa (MALUQUER DE MOTES

1983 p21)

25 No Brasil o alto-forno foi construiacutedo apenas no iniacutecio do seacuteculo XIX na Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema quando este estabelecimento estava sob a direccedilatildeo de Hedberg

65

Fig 15 CORTE ESQUEMAacuteTICO DE UM FORNO DE FUNDICcedilAtildeO ndash Forno

baixo26 Natildeo haacute descriccedilotildees detalhadas acerca desses fornos primitivos mas

vestiacutegios encontrados em vaacuterias partes da Europa como em Illasheim

(Alemanha) indicam que estes fornos apresentavam uma planta circular No

centro da Europa outros fornos construiacutedos pelos Celtas tambeacutem apresentavam

reduzidas dimensotildees Os fornos Celtas tinham em meacutedia 35 a 50 cm de

diacircmetro com uma profundidade de 45 a 50 cm Sobre uma base levantavam o

forno propriamente dito construiacutedo por uma parede ciliacutendrica de argila medindo

entre 60 a 100cm Os Celtas chegaram a desenvolver teacutecnicas eficientes de

aceramento (conversatildeo do ferro em accedilo) como por exemplo na Suiacuteccedila onde a

produccedilatildeo de espadas ganhou fama por sua resistecircncia (FAUS 2000 p 32-34)

Fornos ruacutesticos tambeacutem foram encontrados em Bengala Aacutefrica

denominados de fornos africanos ou fornos iacutendios Eram fornos ciliacutendricos e

confeccionados em areia ferruginosa mal amassada sustentada por uma

armadura de bambu Tinham dimensotildees de 090m de altura com um diacircmetro de

030m A base do forno era furada em vaacuterios lugares e colocava-se um fole em

cada uma das aberturas exceto na grade da frente (orifiacutecio pelo qual eram

26 Disponiacutevel em La Farga Rossel lthttpwwwfargarosseladcaslafarga21434htmgt

66

retiradas as escoacuterias) o que dava em geral um total de sete foles por forno

(FAUS 2000 p 50)

Fig 16 MAQUETE FORNO CELTA ndash forno baixo27

Durante o periacuteodo de dominaccedilatildeo romana Roma passou a controlar toda a

exploraccedilatildeo do ouro prata e ferro produzidos em seu impeacuterio Para a produccedilatildeo

desse uacuteltimo metal empregavam teacutecnicas de fundiccedilatildeo utilizando-se dos

chamados fornos romanos As ferrarias romanas eram constituiacutedas de ldquoum

montatildeo de fornosrdquo construiacutedos com barro e palha (RODRIGUES 1964 p11)

27 Disponiacutevel em Exposition 2000 ans de meacutetallurgie en Nivernais des Gaulois agrave Ariane ltjprostclubfravgexpo2003htmlgt

67

Fig 17 FORNO ROMANO RODRIGUES (1964 p 12)

Neste mesmo periacuteodo homens bascos dos redutos resistentes agrave

dominaccedilatildeo romana continuaram a produzir o ferro por meacutetodos de fundiccedilatildeo que

haviam aprendido com seus ancestrais utilizando os chamados ldquofornos de ventordquo

os quais podem ser relacionados agrave primeira fase da elaboraccedilatildeo do ferro As

instalaccedilotildees que utilizavam esses fornos passaram a ser conhecida como ferrarias

secas de montanha de vento Habitualmente os fornos dessas ferrarias eram

construiacutedos em aacutereas montanhosas em pontos elevados a fim de aproveitar a

forccedila dos ventos para ativar a combustatildeo do carvatildeo vegetal (FAUS 2000 p 47)

68

Fig 18 Fornos de vento ou de lupa28

Fig 19 FORNOS DE LUPA OU DE VENTO corte esquemaacutetico

28 Disponiacutevel em La Farga Rossel lthttpwwwfargarosseladcaslafarga21434htmgt

69

Para Jordi Maluquer de Motes a maior dificuldade de operaccedilatildeo da

combustatildeo era o controle das temperaturas do forno sendo que o grande

segredo para a utilizaccedilatildeo desses fornos de vento era a adequada posiccedilatildeo em que

este era instalado e tambeacutem a correta utilizaccedilatildeo dos meios artificiais empregados

na ativaccedilatildeo da combustatildeo do carvatildeo vegetal tal como o emprego de foles

manuais feitos de peles de animais Esse procedimento requeria um esforccedilo

bastante grande de trabalho humano natildeo apenas no acionamento do fole como

tambeacutem para as operaccedilotildees de martelamento da massa de ferro que se formava

no interior do forno (MALUQUER DE MOTES 1983 p 21)

Por utilizarem esta teacutecnica de reduccedilatildeo as ferrarias de vento geralmente

ficavam instaladas em regiotildees distantes dos povoados o que tambeacutem levava um

significativo nuacutemero de fundidores e mineiros a passar parte de suas vidas

distantes daqueles povoados Esse distanciamento suscitou ateacute mesmo o

surgimento de mitos e faacutebulas conforme aponta Elena Faus (2000) que

enriqueceram a cultura popular europeacuteia em especial a cultura basca

Las maravailhas del arte de aquellos seres ton solo por ellos

conocidos les hizo mecedores de leyendas Muchas de ellas les

han sobrevivido y han pasado a integrar el bagaje mitoloacutegico de la

cultura vasca

El velo de magia que enturbiaba la figura de los ferrones se

time en ocasiones de un cierto cariz de condena religiosa Se les

identifica con los lsquogentilesrsquo reacios a la evangelizacioacuten o con el

proprio demonio (lsquosentildeor de los bosquesrsquo o lsquobasejaunrsquo) en persona

(FAUS 2000 p 47)

Outros tipos de fornos de vento ou de montanha foram encontrados na

Ameacuterica Espanhola Em Potosi na atual Boliacutevia os indiacutegenas utilizavam um tipo

de forno para a fabricaccedilatildeo da prata denominado de ldquoforno de guairardquo Estes

fornos mesmo apoacutes a conquista espanhola em Potosiacute foram aproveitados para a

produccedilatildeo daquele metal (BARGALLOacute 1955 p 91)

70

Fig 20 FORNO DE GUAIRA ndash utilizado em Potosi Boliacutevia29

Aleacutem desses fornos de montanha que utilizavam a corrente de ar da

proacutepria atmosfera para acionar a combustatildeo do carvatildeo havia tambeacutem outros

tipos de fornos de fundiccedilatildeo acionados com o emprego de foles manuais Esses

fornos ficaram conhecidos por vaacuterias denominaccedilotildees e podiam ser construiacutedos de

formas e tamanhos diferentes Contudo todos eles apresentavam as mesmas

caracteriacutesticas teacutecnicas eram fornos baixos acionados por foles manuais e que

produziam o ferro utilizando o meacutetodo direto de fundiccedilatildeo Entre esses fornos

destacam os fornos de cuba de lupa de manga e castelhanos (BARGALLOacute

1955 p 91)

29Proyecto Arqueoloacutegico Porco-Potosi Disponiacutevel httplamarcolostateedu~mvanburespanish20participantshtm

71

Fig 21 Forno de Fundiccedilatildeo xilogravura de George Agriacutecola seacutec XVI30

Fig 22 Forno de Fundiccedilatildeo xilogravura de George Agriacutecola seacutec XVI31

30 Disponiacutevel em lttechnologyinfominecomdrmbook11htmgt Acesso em 17nov06

72

Tratados Teacutecnicos publicados no seacuteculo XVI como o De re metallica de

George Agriacutecola oferecerem descriccedilotildees e desenhos atraveacutes dos quais eacute possiacutevel

conhecer algumas formas daqueles fornos A partir de algumas gravuras ali

publicadas eacute possiacutevel identificar que os mesmos habitualmente eram construiacutedos

sobre uma base quadrada e eram utilizados na produccedilatildeo muitos metais como o

cobre o ouro prata e tambeacutem o ferro Esses fornos registrados por Agriacutecola

eram especialmente destinados para a fundiccedilatildeo de minerais em pedra Na

Ameacuterica Espanhola receberam o nome de ldquofornos castelhanosrdquo

Um outro autor a abordar esse tema foi Aacutelvaro Alonso Barba No seu

tratado Arte de los Metales afirmava que os fornos castelhanos eram utilizados

tambeacutem em outras partes do mundo A descriccedilatildeo que faz Barba do uso desses

fornos no Peru eacute por si soacute bastante didaacutetica para compreender o seu

funcionamento

Llaman en este reyno hornos castellanos a los que en las otras

trecircs partes del mundo han sido usados y comunes para la

fabricacioacuten de toda suerte de metales De ellos solos trata el

Agriacutecola para este efecto y es una la faacutebrica de todos y no

difieren en mas que en se mayores o menores y tener la boca

por onde el metal fundido sale oacute abierta siempre oacute cerrada a

ratos como se diraacute adelante Levaacutentense estos hornos a

perpendiculo en forma de um pilar quadrado algo maacutes largo que

anchos por lo hueco Tienen de alto algunos una vara otros casi

dos y otros menos seguacuten la grandeza de los fuelles con que

huviere de fundirse y la facilidad oacute dureza de los metales

requiere Por la parte de atraacutes en una ventanilla que para esto se

dexa en la pared algo levantada del suelo se afixa el alchrebiz en

que han de estar los cantildeones de fuelle puesto con advertencia

31 Disponiacutevel em httpwwwbizkaianetkulturakirol_gazteriaFTPGazteriapaginadedesplegablePrimitivas_instalacionespdfgt Acesso em 17nov06

73

de que no assome oacute passe aacute lo hueco del horno porque las

escorias que sobre eacutel cayeren helaacutendose con el ayre del sopro

no lo paten oacute impidan El suelo del horno se hace de dos partes

de carbon molido y una de tierra buena bien apretado con pisoacuten

Assientase pendiente azia la parte delantera donde tendraacute un

agujero por onde corra el metal fundido y salgan las escorias aacute

una hordilla que junto aacute el estaraacute bien caliente con carbones

encendidos con a llama del horno y aire del fuelle que sale por el

dicho agujero

Otros hacen estos hornos redondos mas anchos de arriba

que de abajo y son menores para lo que se pretende con que se

tenga advertecircncia que siempre este a perpendiculo la parede se

pone el fuelle porque el metal fundido o las escorias no caygan

sobre la boca del alchrebiz y la tanpenrdquo (BARBA 1640 Apud

BARGALLOacute 1955 p 93)

Entre os seacuteculos XII e XVI a teacutecnica de fundiccedilatildeo do ferro experimentou um

notaacutevel impulso em razatildeo da demanda por derivados de ferro incrementada tanto

pelas guerras que necessitavam de ferragens para as montarias apetrechos

defensivos para os soldados e armas mortiacuteferas como por instrumentos para a

agricultura Tambeacutem para a construccedilatildeo das grandes catedrais era necessaacuterio

ferro para as armaccedilotildees metaacutelicas cravos ferramentas entre outros (FAUS 2000

p52)

Para atender a estas demandas era necessaacuterio que se produzisse a maior

quantidade possiacutevel de ferro e os fornos baixos que eram anteriormente

utilizados natildeo atendiam aqueles objetivos Para tanto natildeo apenas os fornos

foram tomando outras formas como tambeacutem houve uma mecanizaccedilatildeo por meio

da utilizaccedilatildeo da energia hidraacuteulica (rodas drsquo aacutegua verticais) e da trompa hidraacuteulica

no processo produtivo tornando obsoletas as ferrarias que utilizavam a forccedila

humana e animal para a produccedilatildeo

A importacircncia da mecanizaccedilatildeo na produccedilatildeo do ferro com o uso da roda

hidraacuteulica e da trompa foi tanta que para alguns autores pode-se consideraacute-la

74

como uma autecircntica revoluccedilatildeo tecnoloacutegica (MALUQUER DE MOTES 1984 p 21-

24)

A aplicaccedilatildeo desse mecanismo (roda drsquoaacutegua) ao processo produtivo fez

com que as ferrarias que anteriormente ficavam concentradas no alto de

montanhas fossem trasladadas para as margens de rios buscando a energia

hidraacuteulica capaz de acionar primeiramente dos foles possibilitando a construccedilatildeo

de fornos de maiores dimensotildees e dessa maneira a produccedilatildeo do ferro em maior

escala

Depois dos foles a roda drsquoaacutegua foi utilizada para a mecanizaccedilatildeo do

acionamento dos malhos (grandes martelos responsaacuteveis por liberarem as

escoacuterias das massas de ferro dando-lhes formas que pudessem ser

comercializaacuteveis como o ferro em barra) A funccedilatildeo da trompa era a mesma dos

foles isto eacute insulflar ar ao interior do forno para que a combustatildeo alcanccedilasse

uma temperatura elevada A trompa era um engenhoso sistema de insuflar ar e

tambeacutem o elemento mais caracteriacutestico do procedimento conhecido como da

ldquofarga catalatilderdquo ou forno catalatildeo

O primeiro emprego da roda drsquoaacutegua vertical na produccedilatildeo de ferro foi

introduzido na regiatildeo correspondente aos Pirineus Catalatildees Neste local

desenvolveu-se uma instalaccedilatildeo destinada a produzir ferro denominado de

ldquofaacutebriques ou faacutebreguesrdquo que depois passou a ser conhecida como ldquofarguesrdquo ou

ldquofargardquo (o termo era usado tanto para descrever os lugares onde era obtido o ferro

como seu processamento) A partir do seacuteculo XIV o emprego da roda foi

difundido na regiatildeo basca ndash Espanha favorecida pelos trecircs elementos

fundamentais necessaacuterios para a sua instalaccedilatildeo a geografia da regiatildeo formada

por um territoacuterio montanhoso com a presenccedila de um significativo nuacutemero de rios

as jazidas de ferro e a floresta que fornecia o carvatildeo vegetal o uacutenico combustiacutevel

utilizado naquele processo ateacute o seacuteculo XVIII32

32 Com a Revoluccedilatildeo Industrial do seacuteculo XVIII passaram a utilizar como combustiacutevel o carvatildeo coque

75

Na Catalunha junto com o desenvolvimento das ldquofargasrdquo aprimoraram-se

tanto as teacutecnicas relacionadas agrave construccedilatildeo dos fornos como ao seu sistema de

funcionamento que ficou famoso no mundo todo como procedimento da ldquoforja

Catalatilderdquo ou ldquoprocedimento catalatildeordquo (MOLERA BARRUECO1983 p11)

A forja Catalatilde ou forno catalatildeo foi um sistema intermediaacuterio entre os fornos

baixo e os altos fornos utilizados atualmente Essa teacutecnica dominou todo o

processo de obtenccedilatildeo do ferro e accedilo durante a Idade Meacutedia espalhando-se para

a Alemanha Aacuteustria Inglaterra Franccedila e Itaacutelia Desde a Idade Meacutedia ateacute finais do

seacuteculo XIX esses paiacuteses entre outros conseguiam produzir ferro mediante aquele

sistema conhecido universalmente como ldquoprocedimento Catalatildeordquo

O periacuteodo aacuteureo do emprego da forja catalatilde se daacute entre os seacuteculos XVII e

XVIII devido sobretudo agrave introduccedilatildeo de um outro mecanismo em substituiccedilatildeo

aos foles acionados pela roda hidraacuteulica a ldquotrompa de aacuteguardquo (sistema empregado

par injetar ar no forno) Desenvolvido na Itaacutelia este novo equipamento se difunde

pelas regiotildees dos Pirineus da peniacutensula Ibeacuterica e foi assimilado pelas

manufaturas catalatildes ateacute o ponto de integraacute-las como uma das caracteriacutesticas do

meacutetodo que leva o nome de ldquofarga catalanardquo ou forno catalatildeo Jaacute nas ferrarias

bascas a trompa de aacutegua natildeo foi amplamente difundida prevalecendo a

utilizaccedilatildeo de rodas drsquoaacutegua para o acionamento de foles e do malho ( MALUQUER

DE MOTES 1983 p 23)

76

Fig 23 ARRANJO DE ldquoFARGA CATALANArdquo OBSERVAR USO DE RODA DrsquoAacuteGUA PARA ACIONAMENTO DO MALHO E A PRESENCcedilA DA TROMPA HIDRAacuteULICA JUNTO AO FORNO33

33 Folheto Museu de Ripoll sd

77

No interior das ldquofargas catalanasrdquo o forno era a parte mais importante Os

fornos de fundiccedilatildeo catalatildees diferentemente dos fornos de vento tinham uma

forma tronco-cocircnica isto eacute ldquouma forma de um tronco de piracircmide invertidardquo

(MALUQUER DE MOTES 1983 p 22) O forno era construiacutedo de pedras

refrataacuterias revestidas em parte de peccedilas de ferro com trecircs paredes planas e

uma convexa esta uacuteltima destinada a facilitar a extraccedilatildeo do produto final (massa)

A parede onde era colocada a ldquotoverardquo (entrada do fole) era oposta agrave convexa e

esta era feita de ferro numa inclinaccedilatildeo de 35o a 45o Em uma das paredes

laterais havia um buraco que deixava passar as escoacuterias liacutequidas

(MOLERABARRUECO1983 p13)

Fig 24 ELEMENTOS QUE COMPOtildeEM A OFICINA DA ldquoFARGA CATALANArdquo Observa- se a presenccedila do forno de fundiccedilatildeo e do malhos acionados por roda drsquoaacutegua34

34 Caderno de Apoio para visitante do Museu de Ripoll ndash Catalunha Espanha sd

78

Um outro aprimoramento teacutecnico do meacutetodo catalatildeo foi a forma como

passaram a carregar o forno Deixando para traacutes o meacutetodo anteriormente

conhecido que consistia em carregar o forno em camadas horizontais superpostas

com carvatildeo vegetal e mineacuterio os catalatildees passaram a carregar o forno por meio

de duas camadas verticais justapostas De um lado do forno (aquele em que

estava instalado o fole) era colocado o combustiacutevel (carvatildeo) de tal maneira que o

oacutexido de carbono que se desprendia da queima era forccedilado a atravessar a coluna

do mineacuterio (que estava disposta em uma outra coluna localizada junto agrave parede

oposta agrave do fole)

A produccedilatildeo do ferro ainda se realizava por meio do meacutetodo de produccedilatildeo

direta Sendo assim ainda se mantinha o processo de martelamento da massa de

ferro por meio do malho (que tambeacutem ficava instalado dentro daquele

estabelecimento) para a obtenccedilatildeo do produto final O meacutetodo catalatildeo natildeo apenas

melhorou a qualidade do produto final mas tambeacutem proporcionou o aumento da

produccedilatildeo

27 Tratados Teacutecnicos de Metalurgia

Entre os seacuteculos XV e XVI arquitetos engenheiros meacutedicos e artesatildeos e

outros publicaram inuacutemeros tratados voltados para os ofiacutecios mecacircnicos ou ldquoArtes

Mecacircnicasrdquo Essa literatura eacute extraordinariamente rica em Tratados de caraacuteter

teacutecnico que podem ser considerados autecircnticos manuais e representaram uma

contribuiccedilatildeo decisiva entre o saber cientiacutefico e saber teacutecnico-artesanal os quais

tiveram um grande efeito no nascimento da cooperaccedilatildeo entre cientistas e teacutecnicos

e entre ciecircncia e induacutestria (ROSSI 1989 p 30)

79

Entre as obras de caraacuteter teacutecnico publicadas naquele periacuteodo destacam-

se os escritos de Brunelleschi Ghiberti Peiro della Francesca Leonardo Cellini

Paolo Lomazzo o trabalho sobre as maacutequinas de guerra de

Konrad Keyser (1366-1405) os tratados teacutecnicos de Fontana

(1420) e Mariano (1438) as obras sobre arquitetura de Leon

Batista Alberti Filarete Francesco di Giorgio Martini Palladio o

livro sobre maquinas militares de Valturio da Rimini (publicado em

1472 reeditado em Verona em 1482 e 1483 em Bolonha em

1483 em Veneza em 1493 e nada menos que quatro vezes em

Paris entre 1532 e 1555) os dois tratados de Duumlrer sobre a

geometria descritivas e as fortificaccedilotildees (1525 e 1527) a

Pirotechnia de Biringuccio (1540) depois reeditada em duas

ediccedilotildees latinas trecircs francesas e quatro italianas) a obra de

baliacutestica de Nicolograve Tartaglia (1537) os dois tratados de

engenharia mineral de Georg Agriacutecola (1546-1556) o Teatro di

macchine de Besson (1569 depois traduzido para o francecircs e o

espanhol) os Mechanicorum libri de Guidobaldo Del Monte

(1577) as Diverse et artificiose macchine de Agostinho Ramelli

(1588) os trecircs livros sobre mecacircnica de Simon Stevin (1586

traduzido do flamengo para o francecircs em 1634) a obra sobre

fortificaccedilotildees de Lorini (1597) os trabalhos de arte da navegaccedilatildeo

de Willian Barlowe (1597) Thomas Harriot (1594) e Robert Hucs

(1599) (ROSSI 1989 p30-31)

Entre os tratados relacionados com a metalurgia e a mineraccedilatildeo

destacamos a De La Pirotechinia considerado o primeiro livro impresso dedicado

agrave metalurgia foi escrito pelo italiano Vannoccio Biringuccio (ca 1480-1539) e

publicado pela primeira vez em 1540 Adepto do empirismo Birunguccio

escreveu esse tratado baseado nas observaccedilotildees diretas do ofiacutecio que havia

adquirido durante as vaacuterias visitas que fez a Alemanha35 onde se destacava o

desenvolvimento de teacutecnicas de exploraccedilatildeo de minas de prata e tambeacutem de

35 Biringuccio visitou a Alemanha em 1516 e entre 1526 e 1529

80

equipamentos que possibilitavam a construccedilatildeo de tuacuteneis e galerias para a

exploraccedilatildeo do subsolo36

Embora tivesse sido publicado na Alemanha no iniacutecio do seacuteculo XVI de

forma anocircnima um conjunto de manuais teacutecnicos sobre o ensaio de metais a

obra de Biringuccio era mais ambiciosa explicava como descobrirem minerais e

veios a maneira de separar o ouro e a prata as teacutecnicas de ensaio e as

propriedades do cobre o zinco e outros metais Analisava aleacutem disso as

propriedades do mercuacuterio do enxofre do antimocircnio e de outros elementos

utilizados no processo de extraccedilatildeo do ouro e prata como tambeacutem os meacutetodos de

obtenccedilatildeo do accedilo aleacutem de apresentar ilustraccedilotildees sobre fundiccedilotildees de canhotildees e

sinos a fabricaccedilatildeo de objetos piroteacutecnicos e algumas poucas informaccedilotildees sobre

mineraccedilatildeo geologia e mineralogia (CARDWELL 1994 p 76)

Um outro tratado importante foi escrito pelo alematildeo Georg Bauer (1494-

1555) conhecido pela forma latina de seu nome como Georgius Agriacutecola Depois

de estudar em Leipzig Bolonha e Veneza foi em 1527 exercer a profissatildeo de

meacutedico em Joachimstal na Boemia a maior aacuterea mineira na eacutepoca Agricola

passou a maior parte de sua vida estudando mineralogia e geologia entre 1546 e

1556 escreveu dois tratados destacando a mineraccedilatildeo e a siderurgia

Em 1546 publicou dois tratados sistemaacuteticos de geologia e mineralogia a

De ortu et causis subterraneorum e a De natura fossilium os quais lhe conferiram

a designaccedilatildeo de ldquoPai da Mineralogiardquo37 O seu trabalho mais importante e de

maior divulgaccedilatildeo foi publicado em 1556 com o tiacutetulo de De Re Metallica - A Arte

dos Metais - o qual serviu como obra teacutecnica de mineraccedilatildeo durante quase dois

seacuteculos seguintes aquela primeira publicaccedilatildeo

36 A Alemanha havia desenvolvido importantes teacutecnicas de mineraccedilatildeo que foram intensificadas pelo contiacutenuo intercacircmbio de experiecircncias com a Hungria e a Sueacutecia 37 Georgius Bauer Agricola (1494-1555) cientista alematildeo considerado o fundador da mineralogia Foi um dos primeiros cientistas que baseou suas teorias na observaccedilatildeo em vez da especulaccedilatildeo Antes dele podemos destacar Alberto Magno (1193-1280) conhecido como Preacute-Tecnoacutelogo escreveu a obra De mineralibus que constitui natildeo somente uma histoacuteria dos mineralogia como tambeacutem uma descriccedilatildeo dos metais

81

O conteuacutedo do livro De Re Metallica estava baseado no estudo das coisas

materiais realizado por meio da observaccedilatildeo descriccedilatildeo sistemaacutetica analiacutetica e

meticulosa da natureza A transcriccedilatildeo dessas observaccedilotildees natildeo requeria apenas a

confecccedilatildeo de textos descritivos mas tambeacutem de ilustraccedilotildees com as quais

procuravam traduzir os conhecimentos obtidos pela observaccedilatildeo em imagens

graacuteficas as mais compreensiacuteveis possiacuteveis (ROSSI 1989 p 52)

Agriacutecola ao escrever a introduccedilatildeo desse tratado esclarecia ao leitor como

havia concebido a sua obra e as dificuldades que enfrentou para concluiacute-la

Diz ele Grandiacutessima fadiga e solicitude realmente aqui coloquei e ainda

algumas boas despesas porque natildeo escrevi simplesmente os

veios os instrumentos os canais as maacutequinas e as fornalhas

mas ainda agraves minhas expensas assalariei os pintores para fazer

seus retratos naturais a fim de que as coisas natildeo conhecidas que

satildeo apresentadas com palavras natildeo tragam real dificuldade agraves

pessoas de hoje ou de tempos vindouros (ROSSI 1989 p 51)

Os retratos naturais referidos por Agriacutecola eram as xilogravuras que

ilustravam as suas obras A partir dessas imagens era possiacutevel visualizar com

exatidatildeo de detalhes as dimensotildees sobre equipamentos instrumentos e teacutecnicas

empregadas na prospecccedilatildeo no processo de fundiccedilatildeo e orientaccedilotildees sobre o uso

da energia hidraacuteulica nas operaccedilotildees mineiras enfim as ilustraccedilotildees traziam

detalhes sobre praticamente todas as etapas das operaccedilotildees mineiras isto eacute

prospecccedilatildeo administraccedilatildeo beneficiamento e transporte de mineacuterios 38

Na segunda parte daquele mesmo livro o autor dedica-se ao ensaio e

tratamento dos minerais Como Biringuccio Agricola mostrava criacutetica e desprezo

pelo trabalho realizado pelos alquimistas Uma de suas criacuteticas referia-se ao

38Agricola demonstra neste Tratado o funcionamento de sete tipos diferentes de bombas de succcedilatildeo incluindo uma bomba muacuteltipla acionada por uma grande roda hidraacuteulica e uma bomba combinada de succcedilatildeo e impelente (bomba impelente bomba que eleva a aacutegua por meio de pressatildeo exercida sobre o liacutequido)

82

meacutetodo empregado por estes na busca de metais enterrados O uso da

radiestesia por meio do emprego de uma vara ou forquilha feita com galhos de

aacutervores era considerado por Bauer apenas uma arte da adivinhaccedilatildeo derivada da

magia antiga e que somente poderia ser e era utilizada por mineiros simples e

ordinaacuterios

A Ameacuterica Espanhola foi tambeacutem palco para a produccedilatildeo do conhecimento

relacionado agrave metalurgia Em 1640 Aacutelvaro Alonso Barba padre em Potosiacute e que

havia aperfeiccediloado o meacutetodo de amalgamaccedilatildeo39 desenvolvido por Bartolomeacute de

Medina (Beneficio de Patio)40 publicou a partir de experiecircncias proacuteprias com a

produccedilatildeo de prata naquele local o livro Arte de los Metales O livro de Barba foi o

primeiro trabalho em que se registrou o processo de amalgamaccedilatildeo por mercuacuterio

que ficou conhecido como ldquomeacutetodo de cazo y cocimientordquo (realizado por meio do

calor dentro de reservatoacuterio de cobre) Este livro foi o primeiro trabalho em que se

registraram as regras para beneficiamento de ouro e prata com a utilizaccedilatildeo do

mercuacuterio

39 Amalgamaccedilatildeo Operaccedilatildeo que consiste em ligar o mercuacuterio a outro metal ou separar o ouro e a prata da ganga por meio do mercuacuterio 40 O ldquobenefiacutecio de paacutetiordquo foi assim denominado pois toda a operaccedilatildeo de produccedilatildeo de prata era realizada em um paacutetio Consistia basicamente em mesclar a Mena (metal) moiacuteda e uacutemida com sal comum e mercuacuterio Esse meacutetodo era menos custoso que aqueles que eram utilizados e seu uso se prolongou ateacute o seacuteculo XIX

83

CAPITULO 3

HISTOacuteRICO DA MINERACcedilAtildeO NO BRASIL NO PERIacuteODO COLONIAL A Histoacuteria das primeiras expediccedilotildees no Brasil mostra que desde o inicio do

seacuteculo XVI jaacute havia uma preocupaccedilatildeo permanente aleacutem do reconhecimento do

novo territoacuterio na busca de metais e pedras preciosas que eram produtos de alto

valor econocircmico e poliacutetico aleacutem do interesse estrateacutegico

Durante os primeiros trinta anos de colonizaccedilatildeo do Brasil Portugal estava

voltado para a exploraccedilatildeo dos produtos da Aacutefrica e Iacutendia inclusive de metais

sendo que esta experiecircncia se reflete nas primeiras expediccedilotildees quando se

constata a preocupaccedilatildeo com a descoberta de metais nobres (ouro e prata)

conforme se demonstra nos itens que seguem

Embora a busca por metais fosse uma constante as exploraccedilotildees durante

a primeira metade do seacuteculo XVI resultaram a descoberta de produtos vegetais

(pau-brasil) e animais exoacuteticos (araras e papagaios) 41

Somente com a descoberta da prata na serra de Potosi em 1545 pelos

espanhoacuteis ficou comprovada a existecircncia de metais nobres no novo continente

31 As primeiras expediccedilotildees mariacutetimas a busca de metais nobres A primeira expediccedilatildeo portuguesa destinada ao reconhecimento do litoral do

Brasil partiu de Lisboa entre os anos 1501-02 sob o comando de Gonccedilalo Coelho

e pelo florentino Ameacuterico Vespuacutecio (cosmoacutegrafo contratado pela Coroa

Portuguesa) Apoacutes terem passado pelos atuais estados do Rio Grande do Norte

Bahia e Rio de Janeiro os navios desembarcaram em janeiro de 1502 numa ilha 41 O pau-brasil era extraiacutedo no litoral compreendido desde o atual Estado do Rio Grande do Norte ao Rio de Janeiro

84

que denominaram Cananeacuteia42 Este local tornou-se na primeira metade do seacuteculo

XVI importante posto avanccedilado responsaacutevel pelo abastecimento de

embarcaccedilotildees que mais tarde passaram a rumar para o sul do continente com o

objetivo de reconhecimento e busca de riquezas minerais

Em 1514 Portugal enviou uma outra expediccedilatildeo ao sul desta vez chefiada

por Joatildeo de Lisboa e Estevatildeo Frois financiada D Nuno Manuel e Cristoacutevatildeo de

Haro em cujo trajeto estava Cananeacuteia e a Ilha de Satildeo Francisco do Sul (Santa

Catarina) Esta expediccedilatildeo descobriu o estuaacuterio do rio que denominaram de Rio da

Prata Os resultados dessa expediccedilatildeo foram informaccedilotildees dadas pelos nativos

(Charruas) sobre a existecircncia de uma ldquoSerra de Pratardquo fato que deve ter

impulsionado o envio da expediccedilatildeo espanhola para o sul de Cananeacuteia em 1515

chefiada por Juan Diaz de Soacutelis (VIANNA 1972 p 54)

Entre 1521 e 1526 Aleixo Garcia junto com outros remanescentes da

expediccedilatildeo de Soacutelis e mais iacutendios guaranis partiram da Costa dos Patos (Santa

Catarina) indo aleacutem do rio paraguay e do Chaco obtendo riquezas perdidas na

viagem de regresso (VIANNA 1972 p 214)

Em 1530 parte de Lisboa a expediccedilatildeo de Martim Afonso de Souza uma

das mais importantes expediccedilotildees portuguesas Tinha como objetivos expulsar do

litoral os franceses que traficavam pau-brasil reconhecer a extensatildeo da costa

pertencente a Portugal promover a ocupaccedilatildeo do territoacuterio criando fortificaccedilotildees

em pontos de interesse estrateacutegico e especialmente explorar o rio da Prata 43

42 Cananeacuteia era local de fronteira entre as terras de Portugal e Espanha estabelecida pelo Tratado de Tordesilhas (1494) 43 A expediccedilatildeo de Martim Afonso se diferenciou das anteriores pelo fato de ter D Joatildeo III investido estes comandantes de poderes especiais aplicados sobretudo em Satildeo Vicente Entre eles permitia-se a Martim Afonso distribuir terras em sesmarias criar instrumentos juriacutedicos que permitiram o registro de propriedades atraveacutes da instalaccedilatildeo dos tabelionatos e a elevaccedilatildeo de povoados para a condiccedilatildeo de vilas o que possibilitou a instalaccedilatildeo de um processo colonizador na regiatildeo Sobre a expediccedilatildeo ver VIANNA Helio Historia do Brasil Satildeo Paulo Melhoramentos 1970 p56-61

85

Um dos fatos importantes resultantes da vinda dessas expediccedilotildees foi a

integraccedilatildeo do Porto de Satildeo Vicente44 juntamente com Cananeacuteia na rota de

navegaccedilatildeo para o sul do continente Estes portos serviam para abastecer as

embarcaccedilotildees e ali era possiacutevel contratar os ldquoliacutenguasrdquo 45

Em 1532 quando Martim Afonso chegou a Satildeo Vicente encontrou um

nuacutecleo formado por portugueses espanhoacuteis indiacutegenas Essa localidade tambeacutem

jaacute era conhecida como a porta de entrada para o sertatildeo e o caminho natural para

se ir agrave Serra da Prata atraveacutes dos Peabirus (ver item abaixo)

32 O Peabiru uma trilha para o Sertatildeo Tendo em vista a importacircncia da existecircncia de caminhos indiacutegenas

denominados Peabirus como facilitadores da interligaccedilatildeo da Vila de Satildeo Paulo

(Campos de Piratininga) com a regiatildeo onde se localiza o morro de Araccediloiaba

entendemos ser importante discorrer a respeito destas vias

A respeito desse sistema de caminhos escreveu Adolpho Pinto em 1902

() havia estradas extensas construiacutedas pelo gentio comunicando

vaacuterios pontos do litoral com o mais longiacutenquo interior do paiz

podendo-se mesmo dizer que figurava como tronco desse primitivo

sistema de viaccedilatildeo geral uma grande estrada pondo em ligaccedilatildeo as

tribus da naccedilatildeo Guarany da bacia do Paraguay com a tribu dos 44Satildeo Vicente segundo Washington Luiacutes ldquojaacute era um porto conhecido com lugar marcado nos rudimentares mapas da eacutepoca uma espeacutecie de pequena feitoria portuguesa de iniciativa particular visitada de esquadras para o trafico de escravos se forneciam viveres agrave navegaccedilatildeo de longo curso se construiacuteam bergantins e se contratavam liacutenguas da terrardquo LUIZ Washington Na Capitania de Satildeo Vicente Satildeo Paulo Livraria Martins Editora1956 p47 A povoaccedilatildeo de Satildeo Vicente foi elevada agrave condiccedilatildeo de Vila em 1532 com a instalaccedilatildeo de oacutergatildeos administrativos e poliacuteticos como a Cacircmara e Cadeia transformando-a no primeiro nuacutecleo de colonizaccedilatildeo portuguesa do litoral 45 Os liacutenguas eram aqueles versados na liacutengua indiacutegena O Tupi era falado em Satildeo Paulo ateacute meados do seacuteculo XVIII Segundo John Monteiro ldquoo domiacutenio da liacutengua geral ou qualquer outra liacutengua indiacutegena era consideraacutevel uma respeitaacutevel especializaccedilatildeo e a fluecircncia numa dessas liacutenguas limitava-se apenas aos maiores sertanistasrdquo MONTEIRO John Negros da Terra iacutendios e bandeirantes nas origens de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Companhia das Letras 1994 p164

86

Patos do litoral de Santa Catarina com os Carijoacutes de Iguape e

Cananeacuteia e com as tribus de Piratininga e do litoral proacuteximo

(GONCcedilALVES 1998 p8)

Em Satildeo Vicente o Peabiru constituiacutea o acesso obrigatoacuterio que do mar

seguia para os sertotildees do Planalto de Piratininga Construiacutedo de acordo com a

teacutecnica e a tradiccedilatildeo indiacutegena seguia os espigotildees dos morros de modo a evitar

terrenos iacutengremes embora em alguns trechos fossem inevitaacuteveis as encostas

com fortes declividades ((GONCcedilALVES 1998 p6 )

A partir do Planalto de Piratininga seguindo para o interior rumo ao Oeste

o caminho que levava ateacute a regiatildeo das minas de ferro era um Peabiru cuja trilha

contornava os morros do Apotribu no municiacutepio de Itu e alcanccedilava o morro de

Araccediloiaba no atual municiacutepio de Iperoacute interior de Satildeo Paulo

87

Fig 24 Peabiru (Tronco) Passando por Sorocaba (Galdino 2002 p182)

88

Fig 25 Mapa de Pasquale Petrone (GONCcedilALVES1998 p42)

89

33 O descobrimento da prata em Potosi

Em 1545 a Espanha anunciou o descobrimento na regiatildeo denominada de

Alto Peru (atualmente territoacuterio boliviano) de uma montanha denominada de

Potosi com 600 metros de altura onde ocorria uma importante jazida de prata

Diferentemente do que acreditavam portugueses e espanhoacuteis Potosi natildeo estava

localizada nem nas proximidades do rio da Prata nem na regiatildeo sul do continente

onde esperavam descobrir aquela lendaacuteria riqueza

Sergio Buarque de Holanda (1959 p 58) ao discorrer sobre aquela

descoberta escreve ldquotamanho era o prestiacutegio de Potosi que em pouco tempo a

velha atraccedilatildeo do ouro parece suceder facilmente a da pratardquo O ldquofeiticcedilo do Perurdquo

desencadeou um novo direcionamento da poliacutetica portuguesa com um maior

interesse da Coroa Portuguesa nos negoacutecios do Brasil e particularmente na

Capitania de Satildeo Vicente

Para dar maior incremento ao povoamento do interior foi instituiacutedo o

sistema de distribuiccedilatildeo de terras (Sesmarias) Uma dessas sesmarias foi doada a

Afonso Sardinha bandeirante que se destacou na atividade mineradora e

tambeacutem na vida poliacutetica da Vila de Satildeo Paulo na comercializaccedilatildeo com a regiatildeo

do Rio da Prata como proprietaacuterio de engenho de accediluacutecar traficante de escravos

africanos investidor financiador e produtor de ferro Foi um dos financiadores da

instalaccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro que comeccedila a funcionar em 1607 46

Acreditava-se que o ldquoCerro de Potosirdquo natildeo ficava muito longe das terras da

Coroa Portuguesa sendo este um dos motivos que impulsionavam as ldquopessoas a

continuarem as buscas em direccedilatildeo do Oeste apesar dos repetidos

desapontamentosrdquo (BOXER 2002 p 45)

46 Afonso Sardinha recebeu suas terras de sesmarias no lugar denominado de Ubataacute abrangendo o atual Butantatilde que eacute o Ubataacute citado por Pedro Taques ou Ibatata Batata ou Ibitatatilde em documentos municipais seiscentistas e setecentistas HOLANDA Sergio Buarque de Caminhos e Fronteiras 1957 p 188

90

Um dos caminhos Peabiru que partindo de Satildeo Vicente demandava o

Potosi passava pela Vila de Satildeo Paulo e seguindo a direccedilatildeo Oeste contornava o

morro de Araccediloiaba onde em finais do seacuteculo XVI iniciou-se a produccedilatildeo de ferro

seguindo para a regiatildeo do Guairaacute (atual Estado do Paranaacute) ateacute alcanccedilar as terras

castelhanas

Pode-se dizer que a esperanccedila de encontrar minas de prata um Potosi em

terras de Satildeo Vicente persistiu ateacute o iniacutecio do seacuteculo XVIII quando de fato

foram encontradas minas de ouro pelos paulistas na regiatildeo dos atuais Estados de

Minas Gerais Mato Grosso e Goiaacutes 47

34 A busca de metais nobres na Capitania de Satildeo Vicente

Desde meados do seacuteculo XVI jaacute corriam notiacutecias sobre a possiacutevel

existecircncia de riquezas minerais no interior da Capitania Joseacute de Anchieta em

carta escrita em Satildeo Paulo de Piratininga em 1554 dava as primeiras

informaccedilotildees sobre as descobertas de minas de ouro prata e ferro48 Neste

mesmo ano o jesuiacuteta Pero Correa tambeacutem destacava a descoberta de mina de

ferro proacutexima daquele local 49

47 As minas de ouro localizadas pelos paulistas foram disputadas tambeacutem por portugueses e baianos e todos reivindicavam aquela descoberta Essa disputa culminou na chamada Guerra dos Emboabas na qual os paulistas foram derrotados As descobertas das minas de Mato Grosso e Goiaacutes marcaram o iniacutecio das monccedilotildees expediccedilotildees fluviais regulares que faziam a comunicaccedilatildeo entre Satildeo Paulo e Cuiabaacute O ouro encontrado onde hoje se ergue a cidade de Cuiabaacute foi achado por escravos do sorocabano Miguel Sutil em 1722 Sobre as Monccedilotildees ver HOLANDA Sergio Buarque de Monccedilotildees Rio de Janeiro Casa do estudante do Brasil 1945 48 Ver Carta do quadrimestre de maio a setembro de 1554 dirigida por Joseacute de Anchieta a Santo Ignaacutecio de Loyola Roma In Minhas Cartas por Joseacute de Anchieta Publicaccedilatildeo 450 anos p 153 49 Carta do Irmatildeo Pero Correa escrita a um padre do Brasil In CARTAS Avulsas 1550-1568Azpilculta Navarro e outros Belo Horizonte Itatiaia Satildeo Paulo Edusp 1988 p 163-165

91

A respeito da pesquisa mineral na Capitania de Satildeo Vicente Heacutelio Vianna

escreve que com a intenccedilatildeo de investigar a existecircncia daquelas riquezas

ldquo() mandou o governo portuguecircs em 1559 um mineiro praacutetico

Luis Martins Por ordem do Governador Men de Saacute no ano

seguinte em Satildeo Vicente partiu ele para indeterminados pontos

do interior em uma leva organizada e dirigida por Braacutes Cubas

Regressando este a Santos em 1562 com algumas amostras de

metais e pedras que enviou ao Reino fez com que no mesmo

ano o mineiro voltasse as suas pesquisas Natildeo muito longe

ainda em terras vicentinas em Jaraguaacute talvez em Caatiba hoje

Bacaetava encontrou afinal o desejado ouro Explorou-o

inicialmente o proacuteprio Braz Cubas depois associado ao Capitatildeo

Mor Jerocircnimo Leitatildeordquo (VIANNA 1972 p 215)

35 D Francisco de Souza a organizaccedilatildeo da exploraccedilatildeo mineral De 1598 eacute a primeira referencia a ldquocertos lsquomontes de Sabaroasonrsquo de

onde um mameluco teria extraido amostras de metal que levadas a Bahia ao

Governador D Francisco de Sousa determinaram a vinda deste a Satildeo Vicenterdquo (VIANNA 1972 p 215)

D Francisco de Sousa Seacutetimo Governador Geral do Brasil (1591-1602) e

a partir de 1606 Governador das Minas das Capitanias do Sul 50 promoveu e

organizou vaacuterias expediccedilotildees ao sertatildeo destinadas a descobrir e explorar minas de

ouro e prata e outros metais Tais atividades eram apresentadas como parte de

50 As Capitanias do Sul correspondiam agraves Capitanias do Espiacuterito Santo Rio de Janeiro e Satildeo Vicente

92

seu projeto de desenvolvimento no qual tambeacutem estava inserido o setor de

agricultura e induacutestria sustentado com base no trabalho indiacutegena 51

A sua maior contribuiccedilatildeo decorre do fato de ter exercido o cargo de

Governador das Minas e de ter se fixado na Capitania de Satildeo Vicente mais

especificamente na Vila de Satildeo Paulo de onde provinham as notiacutecias da

existecircncia de minas de ouro prata e ferro

D Francisco veio para Satildeo Paulo munido de poderes que lhe permitiam

distribuir mercecircs agravequeles que tivessem trabalhado na exploraccedilatildeo das minas

Conforme o Regimento que jaacute vigorava no Peru e nas Iacutendias de Castela o

explorador haveria de aplicar seus proacuteprios recursos na busca e exploraccedilatildeo das

jazidas A contrapartida que poderia ser dada pelo Rei estava no fornecimento

de algumas comodidades e mercecircs (STELLA 2000 p 119)

Atraveacutes de Alvaraacutes D Francisco podia nomear uma quantidade

determinada de pessoas com tiacutetulos de nobreza Estas atribuiccedilotildees fizeram com

que muitos moradores da Vila de Satildeo Paulo despendessem de seus proacuteprios

recursos materiais e de indiacutegenas para organizar expediccedilotildees em buscas daqueles

metais

Em 1599 D Francisco esteve no morro de Araccediloiaba para verificar a

autenticidade e a natureza daquela mina que diziam ter ferro ouro e prata Para

viajar ateacute aquele local enfrentando toda a sorte de perigos D Francisco precisou

solicitar ajuda dos moradores de Satildeo Paulo 52

51 Quando no Cargo de Governador Geral Francisco de Souza conduzido pela esperanccedila de encontrar na regiatildeo das cabeceiras do rio Satildeo Francisco a lendaacuteria Sabarabuccediluacute (uma serra de prata e esmeraldas) organizou em 1596 trecircs entradas ao sertatildeo com saiacutedas da Bahia Espiacuterito Santo e Satildeo Paulo respectivamente A vertente paulista foi chefiada por Joatildeo Pereira de Sousa Botafogo e contava com 25 colonos e seus respectivos iacutendios A maioria desta expediccedilatildeo regressou a Satildeo Paulo ldquosatisfeita com os tupinambaacutes que haviam capturado no vale do Paraiacutebardquo MONTEIROJohn Negros da Terra iacutendios e bandeirantes nas origens de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Companhia das Letras 1994 p 58-68 52 PEREIRA Antonio Batista Carta a Paulo Duarte apud Donato Hernani Sumeacute e Peabiru misteacuterios maiores do seacuteculo da descoberta SP ediccedilotildees GRD 1997 p91

93

Aracy Amaral ao analisar a gestatildeo de D Francisco de Sousa como

Governador das Minas das Capitanias do Sul opina que esse administrador

() representa o veiacuteculo que transportou para Satildeo Paulo uma

experiecircncia uma mentalidade que Castela desde haacute muito

desenvolvia no Meacutexico e no Peru As concessotildees e privileacutegios que

obteve do Rei faziam parte de uma legislaccedilatildeo empregada com

sucesso naqueles domiacutenios Essa nova mentalidade estava

intimamente relacionada com os negoacutecios da mineraccedilatildeo e esse jaacute

chamado de ldquoeldorado-maniacuteacordquo que foi D Francisco tambeacutem

denominado por Taunay de ldquopropulsor dos paulistasrdquo seguia sem

duacutevida a diretriz apontada pelos Felipes (AMARAL 1981 p 13)

Apoacutes a Restauraccedilatildeo Portuguesa em 1640 as buscas pelo ouro e pela

prata permaneceram assim como as concessotildees de mercecircs para aqueles que

descobrissem minas ou incentivassem outros a descobri-las Para Ilana Blaj isso

tudo era ldquoum universo de honra de siacutembolos de dignidade e de prestiacutegio que a

elite perseguia e que a Coroa concedia estreitando ainda mais os laccedilos de

vassalagem no interior do Impeacuteriordquo Sintetizando a autora afirma que ldquoescravos

terra dignidade honrarias e prestiacutegio constituiacuteram os fundamentos da sociedade

colonial brasileirardquo (BLAJ 2002 p 322-338)

Em 1611 D Francisco de Sousa falece na mais extrema pobreza O

mesmo destino que tiveram outros que laacute apostaram na metalurgia Frei Vicente

do Salvador contemporacircneo de D Francisco descrevendo a situaccedilatildeo afirmou

que

() estando tatildeo pobre que affirmou um padre da Companhia que

se achava com elle a sua morte que nem uma vela tinha para lhe

metterem na matildeo si a natildeo mandara levar do seu convento mas

quereria deusalumia-lo em aquelle tenebroso transe por outras

muitas que ainda levado deante de muitas esmolas e obras de

piedade que sempre fez (FRANCO 1929 p 135)

94

36 Teacutecnicos e praacuteticos na mineraccedilatildeo e metalurgia Na Vila de Satildeo Paulo e tambeacutem no Sertatildeo as forjas de ferreiro se

instalaram desde cedo As atividades desses ferreiros se concentravam na

fabricaccedilatildeo de ferramentas como foices machados cravos e anzoacuteis utilizando

ferro em barra ou em lingotes trazido da Europa que eram aqui refundidos em

fornos de forja

Em 1553 Manoel da Noacutebrega noticia a presenccedila de ldquotendas de ferreirordquo

como um dos instrumentos levados nas expediccedilotildees ao Sertatildeo (NEME 1959

p158) Em 1584 trabalhavam em Satildeo Paulo trecircs ferreiros (HOLANDA 1957

p186)

Gilberto Freyre em seu trabalho Ferro e Civilizaccedilatildeo no Brasil (1988 p249-

251) destaca como conhecedor do trabalho com o ferro natildeo somente o colono

portuguecircs como tambeacutem os padres da Companhia de Jesus Para esse autor

ambos haviam iniciado seus saberes com ibeacutericos os quais haviam desenvolvido

as ldquoferreriacuteasrdquo os ldquohornosrdquo e aperfeiccediloado as teacutecnicas de fundiccedilatildeo com o ldquohorno

catalaacutenrdquo Entre os conhecedores de metalurgia estava o jesuiacuteta Joseacute de Anchieta

o qual como jaacute destacamos havia informado em 1554 a existecircncia de mineacuterios

nobres e do ferro nas imediaccedilotildees de Satildeo Paulo 53

Diferentemente do que ocorreu nas colocircnias espanholas da Ameacuterica os

indiacutegenas que aqui foram encontrados natildeo tinham conhecimento metaluacutergico e

portanto natildeo utilizavam nenhuma teacutecnica de fundiccedilatildeo que pudesse ser adaptada

aos interesses do colonizador

Quanto ao conhecimento e a exploraccedilatildeo do mineacuterio e produccedilatildeo do ferro as

teacutecnicas necessaacuterias eram totalmente desconhecidas no Novo Mundo Sendo

53 Joseacute de Anchieta era descendente de bascos seus pais eram de Guipuacutezcoa Proviacutencia do Paiacutes Basco BARBOSA Francisco de Assis Dom Joatildeo VI e a Siderurgia no Brasil Rio de JaneiroBiblioteca do Exercito 1958 p 26

95

assim podemos afirmar que essa teacutecnica foi totalmente trazida pelos europeus

em especial pelos espanhoacuteis

Logo apoacutes a Uniatildeo Ibeacuterica (1580-1640) foi encaminhada para as terras das

colocircnias da Ameacuterica a armada de Diego Flores Valdeacutes 54 A passagem de Valdeacutes

em Satildeo Vicente em 1583 revela o interesse pelas riquezas minerais na regiatildeo

sendo que por este motivo solicita agrave Coroa a vinda de teacutecnicos e especialistas em

minas para dar iniacutecio agrave exploraccedilatildeo das jazidas descobertas Ao mesmo tempo

alerta sobre a necessidade de fortificar Satildeo Vicente pois alegava que ldquohay

camino abierto por tierra que va al Rio de La Plata y al Paraguay y a Sancta Feerdquo

(GONZALEZ 2002 p 46)

Alguns autores atribuem a presenccedila do praacutetico Clemente Aacutelvares nas

expediccedilotildees de Sardinha e seu filho55 Em 1606 Clemente Aacutelvares afirmava que

estava haacute quatorze anos dedicando-se ao descobrimento de minas de ouro e

para isso utilizara seus proacuteprios recursos Ao registrar as minas que ele afirmava

ter descoberto no Jaraguaacute Parnayba e Ybituruna para natildeo perder os direitos

sobre elas afirmava que natildeo entendia de metalurgia ldquosenatildeo por notiacuteciardquo e que

natildeo era um oficial fundidor ou ensaiador 56

Os mineiros vindos do reino foram trazidos por D Francisco de Sousa com

a funccedilatildeo de verificar a autenticidade e a natureza das minas descobertas no

Brasil e nas imediaccedilotildees da Vila de Satildeo Paulo Os homens que acompanharam

em 1591 em sua vinda ao Brasil foram o castelhano Agostinho de Souto Maior

(que havia trabalhado anteriormente em Monomotapa ndash Moccedilambique colocircnia

portuguesa que possuiacutea minas e a metalurgia do ferro e do ouro) o qual foi

nomeado para o cargo de provedor das minas do Brasil Christovam o qual era

54 A armada de Diego Flores Valdeacutes foi enviada para o Estreito de Magalhatildees para iniciar a sua ocupaccedilatildeo e povoamento com a finalidade de estabelecer uma defesa das terras do Impeacuterio Espanhol onde jaacute se havia iniciado a exploraccedilatildeo das minas de prata de Potosi 55 Clemente Aacutelvares paulista mineiro praacutetico e sertanista Em 1634 ainda estava se dedicando agrave busca pelo descobrimento de minas Faleceu em 1641 56 Ver Registro de minas de Clemente Aacutelvares em 16 de dezembro de 1606 ATAS DA CAMARA DA VILA DE SAtildeO PAULO vol II Satildeo PauloA Cacircmara 1917 p 171-173

96

lapidaacuterio de esmeraldas e Joatildeo Correa para seria nomeado feitor das minas de

ferro 57

Para Satildeo Paulo enviados por Francisco de Sousa vieram os mineiros

Gaspar Gomes Moalho Miguel Pinheiro Zurara e o fundidor Domingos Rodrigues

Em 1592 Jacques de Oalte mineiro alematildeo o engenheiro tambeacutem alematildeo

Giraldo Betink o cirugiatildeo Joseacute Serratildeo o mestre fundidor flamengo Corneacutelio de

Arzatildeo e o engenheiro e arquiteto-mor florentino Baccio de Filicaya tambeacutem

mineiro de ouro o qual recebeu de D Francisco de Souza o cargo de engenheiro-

mor Felicaya restaurou e construiu algumas fortalezas e trabalhou durante cinco

anos no descobrimento de minas Aparece registrado no Rio de Janeiro em 1596

como arquiteto fortificador (TAUNAY 2003 p409)

Destaca-se tambeacutem ainda na gestatildeo de D Francisco a presenccedila do

mineiro castelhano Manoel Joatildeo Branco (ou Morales) que foi enviado em

companhia de um outro mineiro de prata ao morro de Araccediloiaba para examinaacute-la

Este mineiro acabou por confirmar que aquela Serra era ldquoriquiacutessima de yerrordquo58

37 A Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro

No iniacutecio do seacuteculo XVII as jazidas de ferro que haviam sido identificadas

nas imediaccedilotildees da Vila de Satildeo Paulo comeccedilaram a ser beneficiadas por Diogo de

Quadros atraveacutes da construccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro a qual

comeccedilou a funcionar em 1607 A Ferraria de Santo Amaro foi redescoberta em

1967 por Jesuiacuteno Felicissiacutemo Juacutenior e documentada nas ediccedilotildees de 5 e 6 de

janeiro deste mesmo ano no jornal Diaacuterio de Satildeo Paulo por Manoel Rodrigues

Ferreira ( FELICIacuteSSIMO1969 p14)

57 No mesmo ano em que D Francisco de Souza veio para o Brasil para assumir o cargo de Governador Geral tambeacutem retornava da Espanha Gabriel Soares de Souza o qual se dedicou agrave busca de minas autor de Tratado Descritivo do Brasil de 1587 58 Ver Carta de Manuel Joatildeo Branco Morales a D Felipe IVCORTESAtildeOJaime Jesuiacutetas e Bandeirantes no Guairaacute Rio de Janeiro Biblioteca Nacional 1951 p 182

97

Esta Faacutebrica foi construiacutedo na freguesia de Santo Amaro pela sociedade

formada em 1609 entre Diogo de Quadros juntamente com Francisco Lopes

Pinto e D Antonio de Souza filho de D Francisco de Sousa

Para dar andamento a esse projeto Diogo de Quadros obteve em 1604

de D Felipe III o cargo de provedor das minas da Capitania de Satildeo Vicente e a

concessatildeo de montar e explorar fundiccedilotildees de ferro no Brasil (NEME 1959

p353)

Segundo informaccedilotildees oferecidas por Wilhelm Ludwig Von Eschwege

(1777-1855) a Faacutebrica de Santo Amaro foi construiacuteda agrave beira de um pequeno

ribeiratildeo afluente do rio Pinheiros navegaacutevel a uma distacircncia de duas leacuteguas SE

de Satildeo Paulo Para Eschwege ldquoa situaccedilatildeo dessa pequena faacutebrica era

conveniente porque as margens dos rios proacuteximos estatildeo cobertas de matas

cerradas podendo o carvatildeo ser transportado por via fluvial e mesmo o produto

manufaturado que por essa via podiam ser levados ateacute a serra do Cubatatildeo e

para o interior ateacute o Tietecircrdquo (ESCHWEGE 1944 p336)

Aleacutem desse aspecto a Faacutebrica contava com apoio da Coroa recebendo

dos almoxarifados de Satildeo Vicente Bahia e Rio de Janeiro todas as ferramentas

de ferro que estavam disponiacuteveis e poderiam ser aproveitadas para o trabalho de

fundiccedilatildeo daquele metal Das ferramentas entregues para Diogo de Quadros em

1605 foram arrolados

dous malhos q podiatildeo pesar pouco mais ou menos entre ambos

trecircs quintais e por quintal a razatildeo de trecircs mil reis mais duas

argolas grandes da mesma ferramenta q podiatildeo pezar pouco

mais ou menos trecircs quintaes ao mesmo preccedilo mais duas Cafras

(bigornas) que podiam pezar outros quintaes ao mesmo preccedilo

mais duas chapas pequenas q cada hua pezava duas arrobas no

mesmo preccedilo mais duas chapas grandes q cada hua podia

pezar pouco mais ou menos hum quintal cada hua as quaes

todas juntas podem pezar pouco mais ou menos doze quintais

98

que a razatildeo dos ditos traacutes mil reis por quintal fazem a soma de

36$000 rs 59

Os indiacutecios da presenccedila e utilizaccedilatildeo da roda para fins de produccedilatildeo nesta

Faacutebrica satildeo tambeacutem reforccedilados pelas observaccedilotildees feitas por Eschwege em seu

livro Pluto Brasiliensis onde afirmava que ainda se podia ver ldquoa vala da roda o

lugar da oficina os restos de um accedilude assim como um monte de pesada escoacuteria

de ferrordquo ((ESCHWEGE 1944 p336)

Essas mesmas informaccedilotildees podem ser observadas em um levantamento

topograacutefico realizado em princiacutepios do seacuteculo XIX pelo topoacutegrafo portuguecircs

Rufino Joseacute Felizardo e Costa segundo tenente do Real Corpo de Engenheiros

Rufino provavelmente veio ao Brasil como membro do grupo de engenheiros

militares que constituiacuteram em meados do seacuteculo XVIII as ldquoMissotildees

Demarcatoacuterias destinadas a dar cumprimento aos Tratados de Limites relativos agraves

terras da Ameacuterica celebrados entre Portugal e Espanhardquo 60

O levantamento topograacutefico em questatildeo intitulado ldquoprospecto das ruiacutenas

da antiga faacutebrica de ferro de Santo Amarordquo apresenta uma planta dessa faacutebrica jaacute

em ruiacutenas e sua localizaccedilatildeo proacutexima aos rios ldquodos Pinheirosrdquo e Santo Amaro aleacutem

dos terrenos no seu entorno onde se observa a presenccedila de matas minas de

ferro e canais de derivaccedilatildeo de aacuteguas daqueles rios em direccedilatildeo ao edifiacutecio

confirmando as observaccedilotildees feitas por Eschwege que observou inclusive a

existecircncia da ldquovala da rodardquo (HOLANDA 1957 p188-189)

59Ver Provisatildeo passada por Diogo Botelho a Diogo de Quadros 1605 CLETTO Marcelino Pereira A respeito da Capitania de Satildeo Paulo Sua decadecircncia e modo de restabelececirc-la Santos 25 de outubro de 1782 Annaes da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro vol XXI Rio de Janeiro Typografia Leuzinger 1900 60 TOLEDO Benedito Lima de A Accedilatildeo dos Engenheiros Militares na Ordenaccedilatildeo do Espaccedilo Urbano no Brasil Lisboa 2000 lthttpurbaniscteptRevistanumero4artigosartigo_08htmgt Aceso em 16 de maio de 2006 Os tratados mencionados por Toledo satildeo o Tratado de Madri (1750) e do segundo o Tratado de Santo Ildefonso (1777)

99

Fig 27 Prospecto das ruiacutenas da antiga Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro Rufino Joseacute Felizardo seacutec XIX (HOLANDA1957)

38 A Faacutebrica de Ferro do morro de Araccediloiaba os empreendedores

Afonso Sardinha foi personagem importante na atividade de mineraccedilatildeo do

ouro e do ferro no periacuteodo compreendido entre a segunda metade do seacuteculo XVI

e inicio do seacuteculo XVII sendo um dos primeiros empreendedores da exploraccedilatildeo e

produccedilatildeo de ferro no morro de Araccediloiaba Foi tambeacutem um dos financiadores do

empreendimento da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro Em 1601 recebeu de

Francisco de Souza um regimento que permitia o acesso agraves minas jaacute descobertas

e a descobrir61 Ressalte-se que essa mesma provisatildeo natildeo permitia a ele

ldquoentabularrdquo as minas encontradas as quais deveriam ser trabalhadas somente

apoacutes inspeccedilatildeo feita por mineiros vindos do Reino

61 Ver Regimento do Capitatildeo Diogo Gonccedilalves Laccedilo que lhe deu o Senhor Governador Dom Francisco de Souza DERBY Orville A As Bandeiras paulistas de 1601 a 1604 Revista do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Satildeo Paulo vol VII Satildeo Paulo Typ Do Diaacuterio Official 1903 p 403

100

Joseacute Monteiro Salazar citando Pedro Taques e outros historiadores

aponta o ano de 1597 para o inicio das atividades da exploraccedilatildeo e fabricaccedilatildeo do

ferro em Araccediloiaba sendo que o empreendimento esteve em atividade ateacute o ano

de 1611 coincidindo com o ano da morte de D Francisco de Sousa

Somente em 1684 surge uma segunda tentativa de exploraccedilatildeo das minas

de Araccediloiaba financiada pela Coroa Portuguesa Para tanto foi enviado agravequele

local o Frei Pedro de Sousa com a finalidade de pesquisar a existecircncia de prata

nas jazidas que estava sendo explorada por Luiz Lopes de Carvalho o qual

contava com matildeo de obra indiacutegena

Entretanto apoacutes ter retirado algumas amostras do mineacuterio na jazida elas

foram ensaiadas poreacutem natildeo foi encontrada a prata motivo pelo qual foi

ordenada pelo Conselho Ultramarino a suspensatildeo daquelas pesquisas

(RODRIGUES 1966 p202)

Na sequumlecircncia o empreendedor Luiz Lopes de Carvalho que administrava

aquela mina retomou a exploraccedilatildeo do mineacuterio de ferro cuja existecircncia jaacute era

comprovada para cuja atividade obteve licenccedila concedida pela Coroa Para

realizar as obras necessaacuterias para o seu empreendimento foi obrigado a

hipotecar em 1681 todas as suas propriedades na Vila do Vimieiro em Portugal

(RODRIGUES 1966 p 214-217)

Em carta escrita no Rio de Janeiro em 1692 ao Rei de Portugal noticiava o

fracasso de seu empreendimento com o esgotamento dos recursos financeiros

Assim descreve

penetrei os Sertotildees mais ragozos so habitado de feras padecendo

as inclemecircncias qe experimentatildeo os q com zello e amor da paacutetria

lhe querem descubrir nossos Thezouros Todas estas calamidades

101

padeci por que haverem persuadido e ter achado alguns Roteiros62

q insinuavatildeo partes e serr[dilacerado] aonde em algum tempo se

achavatildeo Signais evidentes de minas de prata e esmeraldas E por

me esgotar o Cabedal proacuteprio e nam achar q me animasse com

algum socorro vim a entender q e Deus nosso Sr Tem guardado

essa fortuna pa outro q mais lho mereccedila Nestas entradas ao

Sertatildeo fui dar com a dictas Serras de Birasuaiava aonde estatildeo as

minas de ferro que na calidade e fertilidade desse groseiro metal

excede a todos asqe por haver no descuberto (RODRIGUES

1966 p217-219)

Naquele mesmo documento Luiz Lopes de Carvalho discorre sobre as

dificuldades teacutecnicas e materiais que havia enfrentado e destaca que para a

continuidade daqueles trabalhos faltara-lhe a matildeo de obra indiacutegena e um mestre

em fundiccedilatildeo que sugere deveria ser de Figueiroacute (Portugal) Biscaia (Espanha)

Alemanha ou Sueacutecia Aleacutem disso indicava que os fornos de fundiccedilatildeo que ali

deveriam ser instalados fossem do mesmo tipo empregado nas ferrarias de

Figueiroacute em Portugal (RODRIGUES 1966 p217-220)

Nova tentativa de exploraccedilatildeo daquela mina de ferro deveu-se ao portuguecircs

Domingos Pereira Ferreira em 1763 o qual organizou em Lisboa uma companhia

por accedilotildees para a construccedilatildeo de uma faacutebrica de ferro em Araccediloiaba 63 Para

viabilizar esse empreendimento recebeu uma concessatildeo de Sesmarias localizada

junto a mina de ferro para explorar a madeira necessaacuteria agrave fundiccedilatildeo 64

62 Esses roteiros - ou ldquomapas do tesourordquo - parecem ter sido frequumlentes na histoacuteria da mineraccedilatildeo colonial Haacute indicaccedilotildees de roteiros elaborados por Gabriel Soares de Souza para as minas de Sabarabassuacute 63 Foram soacutecios de Pereira Ferreira Matheus Lourenccedilo de Carvalho Caoitatildeo-mor Manoel de Oliveira Cardozo Antonio Lopes de Azevedo Capitatildeo Jacinto Jose de Abreu Silveacuterio Thomaz de Oliva Doacuteria Joatildeo Fritz Gerald (este natildeo participou da Sociedade por ser estrangeiro ndash inglecircs) e o Sargento Mor Antonio Francisco de Andrade Traslado da Escritura de Contrato da Sociedade e Companhia que Fazem Domingos Pereira Ferreira (RODRIGUES 1966 p 228-238) 64 Carta de Sesmaria a Domingos Ferreira Pereira e seus soacutecios de um morro cito termo da Vila de Sorocaba para dele se extraiacuterem lenha para a Faacutebrica de caldear o ferro que ali se pretende erigir por ordem de S Magestade (1767) Arquivo do Estado de Satildeo Paulo Sesmaria Patente e Provisatildeo Livro n17 p 125 v

102

Em dezembro de 1765 o Capitatildeo-General de Satildeo Paulo encaminhava ao

Conde de Oeiras amostra do ferro que Domingos Ferreira Pereira extraiacutera e

caldeara nas serras de Araccediloiaba Neste mesmo ano chegou a receber

encomendas de Diogo Lobo da Silva Capitatildeo General de Minas Gerais para a

fabricaccedilatildeo de armamentos tais como balas bombas e granadas aleacutem de

municcedilotildees Contudo esses armamentos natildeo chegaram a serem fabricados

Para viabilizar a produccedilatildeo do ferro trouxe de Portugal o mestre fundidor

Joatildeo de Oliveira Figueiredo poreacutem este decidiu abandonar aquele local com a

intenccedilatildeo de se mudar para Angola em 1767 Contudo quando jaacute se encontrava

no Rio de Janeiro foi preso e trazido de volta para Araccediloiaba sob a justificativa de

que ldquosem ele natildeo se poderiam por em praacutetica as experiecircnciasrdquo (CALOacuteGENAS

1904 p37)

O relatoacuterio encaminhado no ano de 1768 por Luiz Antonio de Souza ao

Conde de Oeiras em Portugal informava que o empreendimento de Pereira

Ferreira mostrava dificuldades em conseguir produzir um ferro de boa qualidade

mesmo tendo sido realizado por diversas vezes experiecircncias com o material pois

ldquonatildeo era possiacutevel acertar a caldeaccedilatildeo do ferro nem fazecirc-lo igual as primeiras

amostrasrdquo 65

Pereira Ferreira permanece naquela atividade durante dez anos sendo que

depois desse tempo vendeu a propriedade a Vitoriano Joseacute Sentena morador de

Viamatildeo Este empreendedor tambeacutem natildeo obteve sucesso nesta atividade

culminando por abandonaacute-la quatro anos apoacutes o seu iniacutecio (RODRIGUES 1966

p205-210)

No ano de 1784 Claacuteudio de Madureira Calheiros capitatildeo-mor da vila de

Sorocaba encaminha uma peticcedilatildeo a Martinho de Mello e Castro para explorar

aquelas jazidas Contudo esse projeto natildeo foi aprovado (RODRIGUES 1966 p

212) 65 ver Carta de Luiz Antonio de Souza ao Conde de Oeiras Satildeo Paulo 3 janeiro de 1768 In Dossiecirc Ipanema Arquivo do Museu Quinzinho de Barros ndash Sorocaba-SP

103

Em 1788 com aquele mesmo objetivo foi encaminhada a Bernardo Joseacute

de Lorena uma peticcedilatildeo onde o capitatildeo-mor de Sorocaba Claacuteudio da Cunha Oeiras

e o de Itu Vicente da Costa Taques Goacuteis e Aranha pela qual solicitavam

autorizaccedilatildeo para explorar e fabricar o ferro em Araccediloiaba Tambeacutem solicitavam a

vinda do Reino de ldquoum mestre inteiramente perito naquela arterdquo Juntaram agrave

peticcedilatildeo uma amostra de barra de ferro que diziam terem obtido naquele local

Este projeto tambeacutem natildeo foi viabilizado (RODRIGUES 1966 p212)

39 A Real Faacutebrica de Ferro de Satildeo Joatildeo do Ipanema

Jaacute no final do seacuteculo XVIII destaca-se a vinda do ldquoquiacutemicordquo Joatildeo Manso

Pereira Diretor Geral das Minas para examinar as jazidas de ferro do morro de

Araccediloiaba e acompanhar os trabalhos de demarcaccedilatildeo dos terrenos nos quais

iriam ser instaladas as edificaccedilotildees da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema

Tambeacutem realizou alguns ensaios com aquele mineacuterio mediante a construccedilatildeo de

um alto forno acionado com um fole manual

A esse respeito relata Eschwege (1944 p340) que conheceu Joatildeo Manso

Pereira que durante a primeira experiecircncia para a fundiccedilatildeo do ferro muitas

pessoas das vizinhanccedilas foram atraiacutedas para o local poreacutem ao final do teste

nenhum ferro foi produzido Manso entatildeo fugiu do local e os convidados tiveram

que voltar para as suas casas Eschwege lembrava que Manso ao recordar

aquele fato ldquoria-se gostosamente de toda aquela histoacuteria tendo chegado agrave

conclusatildeo de que para fabricar ferro em grande escala natildeo bastavam

conhecimentos de quiacutemicardquo

Em 1802 Manso Pereira natildeo havia apresentado nenhum resultado

satisfatoacuterio e foi destituiacutedo do cargo assumindo em seu lugar Francisco Ribeiro

de Andrade (FRAGA 1968 p 33-48)

104

Segundo o Governador D Rodrigo de Souza Coutinho Joatildeo Manso

Pereira

longe de ser hum verdadeiro chimico natildeo era senatildeo hum

Alquimista que debaixo de certos misteacuterios pretendia inculcar-se

sem ter os necessaacuterios conhecimentos para Inspector e dirigir a

mesma obra tendo toda a esperanccedila que entre os artistas que

pedia que viesse algum que soubesse tractar a referida Mina e

desta sorte colher o Laurel de que os outro se fazia digno

(FRAGA1966 p46)

No iniacutecio do seacuteculo XIX Martim Francisco Ribeiro de Andrada escolhe a

regiatildeo junto ao ribeiratildeo Ipanema para sediar as futuras instalaccedilotildees da faacutebrica de

ferro que estavam autorizadas em 1799 a Joatildeo Manso Pereira Atraveacutes de um

contrato realizado em Estocolmo em 1810 entre Dom Joaquim Lobo de

Saldanha ministro portuguecircs em Londres e o sueco Carlos Gustavo Hedberg

foram iniciados os trabalhos para a construccedilatildeo da Real Faacutebrica de Ferro de

Ipanema

Fig 28 Vista da Faacutebrica de Ferro de Ipanema 1827 Acervo Projeto Arqueologia Histoacuterica Museu Paulista-USP

105

Fig 29 Vista Geral da Faacutebrica de Ferro e Ipanema seacuteculo XIX

Fig 30 Altos fornos geminados construiacutedos por Varnhagem 1818

106

Fig 31 Alto forno construiacutedo pelo Cel Mursa 1888

Em 1815 Frederico Guilherme Varnhagen assume o cargo de Diretor da

Real Faacutebrica e em 1818 constroacutei dois altos-fornos para a produccedilatildeo de ferro

gusa os primeiros do Brasil Joaquim de Souza Mursa Diretor de Ipanema entre

1865-1890 construiu outro alto-forno e natildeo chegou a funcionar Em 1895 jaacute no

periacuteodo republicano Prudente de Moraes decreta a desativaccedilatildeo de Ipanema

Em 1929 tiveram iniacutecio experiecircncias para o aproveitamento da apatita

jazida descoberta em 1890 por DacuteOrville Derby Esse mineacuterio foi explorado ateacute

1944 por uma firma particular para a produccedilatildeo do superfosfato Mas jaacute em 1937

o acervo e aacuterea ocupada pela antiga Faacutebrica de Ferro passaram ao Ministeacuterio da

Agricultura que em 1947 instalou ali a Estaccedilatildeo Experimental do Trigo

107

Uma quarta fase da histoacuteria de Ipanema comeccedilou logo no iniacutecio dos anos

50 quando foi estabelecido o Plano Nacional da Induacutestria de Tratores e instituiacuteda

a obrigatoriedade de ensaios para tratores maacutequinas e ferramentas agriacutecolas

importados ou fabricadas no Brasil Ao mesmo tempo seguiram as atividades de

produccedilatildeo de sementes O estabelecimento passou a denominar-se CENTRI -

Centro Nacional de Ensaios e Treinamento Rural de Ipanema

A partir de 1975 foi criado o CENEA ndash Centro Nacional de Engenharia

Agriacutecola junto ao qual foi realizado em 1983 o convecircnio com o Museu Paulista-

Universidade de Satildeo Paulo para a realizaccedilatildeo da pesquisa arqueoloacutegica Em 1992

passou a integrar uma das aacutereas de conservaccedilatildeo e proteccedilatildeo ambiental do IBAMA

com a denominaccedilatildeo de FLONA ndash Floreta Nacional de Ipanema O Siacutetio Afonso

Sardinha foi registrado no IPHAN pela Professora Doutora Margarida Davina

Andreatta em 1997

108

Fig 32 ROTEIRO HISTORICO DA MINERACcedilAtildeO E METALURGIA PAULISTA

109

CAPIacuteTULO 4

O SIacuteTIO AFONSO SARDINHA 41- Localizaccedilatildeo O vale das Furnas eacute uma aacuterea privilegiada por sua geografia devido agrave

presenccedila do mineacuterio de ferro em suas cabeceiras e de uma diversificada

quantidade de rochas dentre elas o arenito que foi utilizado como material de

construccedilatildeo na forma de blocos para paredes e fornos Destaca-se a rede

hidrograacutefica que apresenta dois rios importantes como o Ipanema e o Sarapuhy

que contornam o morro de Araccediloiaba indo desaguar no rio Sorocaba A bacia do

ribeiratildeo do Ferro ocupa uma aacuterea importante dentro do morro de Araccediloiaba

porque eacute ela que drena a regiatildeo onde afloram os minerais de ferro sendo que a

topografia acidentada do seu leito possibilitou a implantaccedilatildeo de estruturas de

aproveitamento hidraacuteulico A regiatildeo apresentava significativa aacuterea coberta de

matas as quais foram transformadas desde finais do seacuteculo XVI em carvatildeo

vegetal o uacutenico combustiacutevel utilizado para a produccedilatildeo de ferro ateacute finais do

seacuteculo XIX

O morro de Araccediloiaba eacute conhecido tambeacutem pela denominaccedilatildeo de morro do

Ipanema toponiacutemico indiacutegena de Ypanema ndash Y= rio aacutegua + panema = sem valor

ou ainda aproximadamente sem peixes significando assim ldquorio sem valorrdquo ou

ldquorio sem peixesrdquo A denominaccedilatildeo Araccediloiaba (ldquoo lugar que esconde o Solrdquo)

aparece desde o seacuteculo XVI em documentos datados com variantes como

Arraraccediloiaba Byraccediloiaba Ibyraccediloiaba Guaccediloiava (SALAZAR 1997 p17)

Ocupa uma aacuterea isolada no interior de uma extensa bacia sedimentar que os

geomorfoacutelogos denominam de ldquoDepressatildeo Perifeacuterica Paulistardquo pertencente agrave

Bacia do Paranaacute Esta aacuterea constitui um ldquohorst docircmicordquo em razatildeo do seu formato

110

arredondado que lembra estruturas de coberturas do tipo domos (DAVINO 1975

p130)

Do ponto de vista geoloacutegico o morro eacute uma formaccedilatildeo montanhosa

resultante de ldquofenocircmenos de intrusotildees de rochas alcalinas que ocorreram

associadas agraves atividades tectocircnicas do Arco de Ponta Grossa no periacuteodo

denominado Cretaacuteceo Inferiorrdquo66 contemporacircneo do vulcanismo basaacuteltico na

regiatildeo Sudeste ndash Sul do Brasil A intrusatildeo magmaacutetica de Ipanema ocupa aacuterea

aproximadamente circular de nove quilocircmetros quadrados Sua maior altitude estaacute

em 970 metros sendo que dele ldquoeacute possiacutevel observar um dos trechos do vale do

Meacutedio - Tietecirc como tambeacutem trecircs importantes unidades de relevo do Estado de

Satildeo Paulo a Depressatildeo Perifeacuterica o Planalto Atlacircntico e as Cuestas Arenito ndash

Basaacutelticas no caso a Serra do Botucatu (CARPI JR 2002 p1)

Estaacute situado no centro-sul da Depressatildeo Perifeacuterica Paulista na Latitude

sul 23ordm25rsquo 23ordm17rsquo Longitude 47ordm35rsquo WGr 47ordm40rsquo WGr no municiacutepio de Iperoacute-

SP entre Sorocaba e Boituva a cerca de 125 km da Cidade de Satildeo Paulo

Encontra-se ainda dentro de uma aacuterea de proteccedilatildeo ambiental com 506973

hectares pertencente ao FLONA Ipanema Floresta Nacional de Ipanema do

IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

Renovaacuteveis) criada em 1992 para preservar e conservar um dos maiores

fragmentos de Mata Atlacircntica do Estado de Satildeo Paulo bem como aacutereas de

66 ldquoDuas medidas efetuadas no Laboratoacuterio de Geocronologia da USP segundo o meacutetodo do potaacutessio-argocircnico indicaram para as rochas alcalinas de Ipanema idade cretaacutecea inferior Estas determinaccedilotildees foram feitas em biotita contidas em shonkinitos-poacutertirosrdquo (DAVINO1975)

111

cerrado vaacuterzea e os ecossistemas associados67

67 A FLONA ndash Floresta Nacional de Ipanema possui plantas e fauna de grande representatividade tendo catalogado mais de 200 espeacutecies de aves 52 de mamiacuteferos 18 de anfiacutebios 15 de reacutepteis e 35 de peixes que totalizam 216 da riqueza do estado de Satildeo Paulo Caracteriacutesticas do relevo Ateacute 600 metros ndash vaacuterzea dos principais rios como Ipanema e Verde de declives suaves Acima de 875 metros ndash topo do Morro Araccediloiaba geralmente com platocircs e declives suavesmedianos De 600 a 725 metros ndash base das serras de declives acentuados (medianos) com nascentes de rios principalmente os intermitentes De 725 a 875 metros ndash proacuteximo ao topo de declives acentuados com rios encaixados entre as vertentes como o Ribeiratildeo do Ferro Hidrografia Integra a bacia hidrograacutefica do rio SorocabaMeacutedio Tietecirc classificada como UGRHI No 10 com sub-bacias dos rios Ipanema e Verde e ribeirotildees Iperoacute e do Ferro Clima O Troacutepico de Capricoacuternio passa pela parte sul da Floresta Nacional de Ipanema caracterizando uma zona de transiccedilatildeo de tropical para temperada Segundo Koeppen apresenta condiccedilotildees climaacuteticas tipo Cfa ndash subtropical quente constantemente uacutemido com inverno menos seco - ao sul limitando com Cwa ndash subtropical quente com inverno mais seco - ao norte Uso do solo 2800 hectares ndash floresta estacional semidecidual em estaacutegio de regeneraccedilatildeo do inicial ao tardio 29515 hectares ndash capoeira alta (grototildees) e cerrado 24293 hectares ndash capoeira baixa 250 hectares ndash vaacuterzea accediludes e represas 22150 hectares ndash reflorestamento com espeacutecies de raacutepido crescimento e nativas 121016 hectares ndash assentamentos rurais 50 hectares ndash sede administrativa vilas residenciais e siacutetios histoacuterico-culturais Ver Floresta Nacional (FLONA) de Ipanema NACIONAL Disponiacutevel em lthttpwwwibamagovbrspindexphpid_menu=191gt acesso em 22mar06

112

Fig 32 MAPA GEOLOacuteGICO DO MORRO DE ARACcedilOIABA (SEM ESCALA) Mapa Geoloacutegico do Estado Satildeo Paulo ndashIPT

113

Fig 33 BLOCO DIAGRAMA DA REGIAtildeO DA SERRA DE ARACcedilOIABA Interpretaccedilatildeo baseada em dados geoloacutegicos e geofiacutesicos por Andreacute Davino (DAVINO 1975 p140)

114

Fig 35 MORRO DE ARACcedilOIABA (AO FUNDO VISTA DA DEPRESSAtildeO

PERIFEacuteRICA) - I

FIG 36 MORRO DE ARACcedilOIABA (VISTA DA DEPRESSAtildeO PERIFEacuteRICA) - II

115

Aziz Nacib AbSaber ao analisar o morro de Araccediloiaba dos pontos de vista

geoloacutegico e geomoacuterfoloacutegico considera que

Geomorfologicamente eacute um acidente de grande exceccedilatildeo

emergente no meio de terras baixas colinosas que se estendem por

mais de 12 mil km2

Geologicamente eacute a consequumlecircncia de um vulcanismo hipoabissal

tardio anterior aos processos denudacionais que criaram a

Depressatildeo Perifeacuterica Paulista Filogeograficamente eacute um

componente de um mosaico de ecossistemas sub-regionais que

comporta cerrados e matas-galerias (vegetaccedilatildeo ciliar) matinhas

diferenciadas e descontiacutenuas nas paredes sub-rochosas do morro

Existem tambeacutem eventuais poreacutem altamente significativos relictos

de cactos mandacarus nas vertentes rochosas do morro Esse fato

associado ao que jaacute se conhece da regiatildeo de Itu e Salto permite

reconstituir a histoacuteria vegetacional da regiatildeo No passado ela

abrigou caatingas hoje relegadas a pequenos redutos de

cactaacuteceas na forma de rupestres-biomas logo seguidos por

cerradotildees e cerrados recortados por florestas-galerias biodiversas

E por fim grandes matas tropicais nos morros de solos vermelhos

argilo-arenosos das serranias de Satildeo Roque e Jundiaiacute As florestas

eliminaram importantes trechos de cerrado mas natildeo foram capazes

de expulsar os minirredutos de cactaacuteceas na serra do Jardim em

Vinhedo e Valinhos nos altos do Japi na serra de Satildeo Francisco

em Votorantim em Salto e Itu e no front rochoso das cuestas de

Botucatu e agora nos receacutem-identificados mandacarus dos morro

de Araccediloiaba e Ipanema

Para entender essa eacutepoca caracterizada por intrusotildees

hipoabissais desfeitas em sills - massas tabulares de rocha iacutegnea

que penetraram entre camadas de rocha mais antiga - nas

soerguidas camadas de arenitos da formaccedilatildeo de Itarareacute (originada

no Carboniacutefero Superior) haacute que visualizar o fato de que o atual

morro da Depressatildeo Perifeacuterica comportava centenas de metros de

espessura que se estendiam ateacute o embasamento de rochas

cristalinas As intrusotildees que perfuraram localmente o pacote de

116

rochas da borda da Bacia Sedimentar do Paranaacute foram

provavelmente as mais tardias em relaccedilatildeo ao vulcanismo que

precedeu os mega processos de separaccedilatildeo da Aacutefrica e Brasil Ao

que tudo indica primeiramente aconteceram os derrames

basaacutelticos e as intrusotildees hipoabissais de diabaacutesios (rochas

magmaacuteticas cristalinas) A seguir nos milhotildees de anos decorridos

entre o Triaacutessico Superior o Juraacutessico e o Cretaacuteceo Superior -

atraveacutes de bolsotildees magmaacuteticos descontiacutenuos e residuais -

aconteceram as penetraccedilotildees de sienitos em forma de ring dykes

(diques anelares) de Itatiaia da atual ilha de Satildeo Sebastiatildeo

Caxambu e alhures Tudo acontecendo antes que a tectocircnica

quebraacutevel aparecesse no embasamento cristalino do Brasil de

Sudeste Ou seja antes dos falhamentos que criaram a serra do

Mar a ilha de Satildeo Sebastiatildeo e a Mantiqueira Por fim um resiacuteduo

magmaacutetico de grande exceccedilatildeo teria interpenetrado a borda antiga

da Bacia do Paranaacute gerando a pequena aacuterea core que mais tarde

viria a ser o morro de AraccediloiabaIpanema com seus ankaratritos

impregnados de magnetita Um fato que de resto respondeu pelo

histoacuterico episoacutedio da experiecircncia industrial da Fazenda

Ipanema(ABSAacuteBER 2006 p1)

42 A Vegetaccedilatildeo

Quanto agrave vegetaccedilatildeo original o morro de Araccediloiaba tem um histoacuterico de

perturbaccedilotildees sofridas por intervenccedilotildees antroacutepicas iniciadas no final do seacuteculo XVI

Essas perturbaccedilotildees foram causadas pela retirada de mineacuterio madeiras calcaacuterio

apatita aleacutem de focos de incecircndio entre outros processos

Para a exploraccedilatildeo do mineacuterio era necessaacuteria a devastaccedilatildeo das matas que

cresciam sobre a jazida Segundo a descriccedilatildeo de Domingos Pereira Ferreira que

chegou no local em 1765 para dar iniacutecio a um projeto de Faacutebrica de Ferro aquele

117

Morro era como ldquoum Cubatatildeo de Matos e de Cerra Altardquo e somente era possiacutevel

ver uma pedra levando ldquoadeante fousse e machadordquo68

A devastaccedilatildeo das matas tambeacutem esteve ligada ao tipo de combustiacutevel que

era utilizado nos fornos de reduccedilatildeo (fornos baixos) 69 e depois nos de fundiccedilatildeo

(altos fornos)70 O combustiacutevel para a produccedilatildeo de ferro sempre foi o carvatildeo

vegetal71 o qual era fabricado a partir de uma variedade de madeiras existente na

proacutepria mata entre elas os chamados ldquopaus reaisrdquo as madeiras de lei como a

peroba jequitibaacutes e cedros cujos registros de extraccedilatildeo eacute encontrado ateacute o iniacutecio

do seacuteculo XIX 72

Mesmo sofrendo exploraccedilatildeo e desmatamento ainda hoje a Floreta

Nacional de Ipanema constitui-se num dos poucos redutos florestais do interior

paulista e tambeacutem eacute a maior detentora da biodiversidade regional Espeacutecies

vegetais como timburi ararib lixeira jangada do campo canela paineira figueira

branca e peroba satildeo encontrados em percurso assim como animais de haacutebitos

68 Encontramos uma coacutepia da Carta de Domingos Pereira Ferreira agrave Morgado de Mateus escrita em Sorocaba 30 de novembro de 1765 na Coleccedilatildeo Faacutebrica de Ferro de Ipanema entre todas as coacutepias que foram doadas por Joseacute Monteiro Salazar ao Arquivo Histoacuterico Sorocabano 69Nos fornos baixos o carvatildeo vegetal era colocado em camadas alternadas com o mineacuterio calcinado e triturado que com o auxiacutelio de foles manuais ou mecacircnicos realizavam a reduccedilatildeo e natildeo a fundiccedilatildeo do mineacuterio de ferro resultando numa ldquoesponja de ferrordquo ou ldquopatildeo de ferrordquo que posteriormente era novamente trabalhada nos fornos de forja e nos malhos (FAUS 2000) 70 Estes fornos que chegam a fundir o mineacuterio de ferro foram introduzidos em Ipanema no iniacutecio do seacuteculo XIX O produto derivado do alto forno eacute o ferro em estado liacutequido (ferro gusa) (FRAGA 1968 p 87) 71 Joseacute Bonifaacutecio de Andrada e Silva ao visitar a Faacutebrica de Ipanema em 1820 descreve o meacutetodo de fabricaccedilatildeo de carvatildeo ldquoO carvatildeo he todo misturado sem separaccedilatildeo do proacuteprio para as forjas do refino he mal feito e apagado comumente com agoa em vez de ser abafado com terra principalmente arenosa que he a melhor da qui vem que sahe mais pesado do que deveria ser contra a fabrica e a favor do carvoeiro reduz-se muito a poacute nos armazeacutens com prejuiacutezo da mesma Faacutebrica e o peior he que nas forjas de refino esfarela-se logo e se reduz a cinza sem dar o devido calor O carvatildeo que fazem de maneira mole he mais leve e arde mais e da madeira dura he pelo contrario O methodo de fazer carvatildeo he o seguinte pegatildeo em toda a lenha misturada e arrumatildeo em pilha deitadas que tem 40 palmos em quatro como a figura de um telhado com beiradas estas tem 6 palmos de alto e o espigatildeo 12 leva a quaimar cada piulha 30 ate 34 dias e mais e da cada pilha de 700 a 900 arrobas de carvatildeordquo (FRAGA 1968 p 86) 72 Joseacute Bonifaacutecio de Andrada e Silva em suas Memoacuterias Econocircmicas sobre a Faacutebrica de Ferro de Ipanema faz criacuteticas agrave construccedilatildeo dos Altos Fornos de Varnhagen e tambeacutem agrave preparaccedilatildeo do mineral e do combustiacutevel utilizado como ldquocavacos de perobardquo (MENON 1992 p144)

118

florestais destacando-se o jaguarundi o gambaacute o irara o tapiti o matildeo-pelada o

quati o jacupemba o chupa-dente o pica-pau de topete vermelho o tangaraacute

danccedilarino o sabiaacute coleira a jararaca a cascavel e o lagarto teiuacute 73

43 Rios e ribeirotildees

Dois rios circundam aquele morro o rio Ipanema e o Sarapuhy afluentes

do rio Sorocaba Na parte central daquele Morro surgem alguns riachos sendo o

mais importante deles o Ribeiratildeo do Ferro anteriormente denominado de Ribeiratildeo

das Furnas (afluente do Rio Ipanema) que nasce no Monte ou Pico do Chapeacuteu e

forma o Vale das Furnas com ocorrecircncia de cascatas e piscinas naturais Eacute

tambeacutem naquele Vale e em uma das curvas do Ribeiratildeo do Ferro que estaacute

situado o Siacutetio Arqueoloacutegico Histoacuterico Afonso Sardinha objeto de anaacutelise dessa

Tese

O Ribeiratildeo do Ferro ao descer o morro de Araccediloiaba apresenta

desniacuteveis de ateacute 500 metros com a presenccedila de alguns trechos encachoeirados

caracteriacutestica essa que proporcionou a execuccedilatildeo de projetos de aproveitamento

hidraacuteulico como a construccedilatildeo de obras de represamento canal de derivaccedilatildeo e

vala transformando as aacuteguas daquele ribeiratildeo em forccedila motriz aplicada ao

funcionamento dos equipamentos e ferramentas utilizadas no processo produtivo

da produccedilatildeo de ferro

73 Ver Fazenda Ipanema Disponiacutevel em lthttpfazendaipanemaiperospgovbrhistoriaphpgt

119

44 A magnetita o mineacuterio do morro de Araccediloiaba

Segundo Andreacute Davino a importacircncia do morro de Araccediloiaba do ponto de

vista geoloacutegico

deriva do fato de conter umas das muitas ocorrecircncias de rochas

alcalinas do Brasil As concentraccedilotildees de magnetita e apatita

[descobertas no final do seacuteculo XIX] nessas rochas despertaram

desde longa data especial interesse sobre a aacuterea O contorno da

intrusatildeo alcalina situa-se na parte central da Serra e estaacute contido

inteiramente dentro dos limites da Fazenda Federal de Ipanema

(DAVINO 1975 p130)

O mineacuterio de ferro encontrado no morro de Araccediloiaba eacute a Magnetita

um imatilde natural com propriedade magneacutetica de atrair objetos feitos de ferro ou

outros metais Essa propriedade do mineacuterio possivelmente facilitou o encontro

daquela jazida pelos sertanistas que por laacute passaram em meados do seacuteculo XVI

A magnetita eacute um mineacuterio do grupo das espinelas formado por oacutexido

magneacutetico de ferro (Fe3O4) composto por 724 de Fe (ferro) Eacute frequumlente a

existecircncia de cristais bem desenvolvidos pertencentes ao sistema cuacutebico

geralmente em forma de octaedros ou de dodecaedros Eacute abundante formando

as suas jazidas verdadeiras montanhas em massas granulares ou compactasA

composiccedilatildeo da magnetita eacute de oacutexido de feacuterrico (Fe2O3) 65 oacutexido ferroso (Fe O)

25 siacutelica (SiO2) 10 e traccedilos de aacutecido fosfoacuterico (P2O5) (FRAGA 1968 p149)

No Brasil encontram-se jazidas de magnetita nas regiotildees que

compreendem desde o Sudeste da Bahia ateacute o Leste do Paranaacute e Nordeste de

Santa Catarina Contudo sempre se apresentam impregnado de Titacircnio (Ti O2)

em proporccedilotildees que variam desde 04 ateacute 16 A exagerada densidade74 dessa

magnetita concorre para tornaacute-la inaproveitaacutevel para a reduccedilatildeo mesmo nos altos 74 A densidade eacute medida na proporccedilatildeo quilograma por metro cuacutebico kg m-3

120

fornos a coque a menos que sofra preacutevio e demorado tratamento ou que seja

misturada a mineacuterios menos densos (e portanto algo impuro) tais como a canga

a Hematita e outros De outro lado o oacutexido de titacircnio que a impregna dificulta

quando natildeo impede inteiramente a transformaccedilatildeo em gusa ou em esponja

(AMARAL 1946 p 264-266 Apud FRAGA 1968 p32) No morro de Araccediloiaba as

jazidas de Magnetita encontram-se na ldquoforma de depoacutesitos aluviais e

concentraccedilotildees in situ a poucas dezenas de metros de profundidaderdquo (DAVINO1975 p129)

Fig 37 MINEacuteRIO DE FERRO MAGNETITA

Embora no final do seacuteculo XIX os conhecimentos cientiacuteficos da Quiacutemica e

da aacuterea da metalurgia jaacute estivessem avanccedilados a composiccedilatildeo da Magnetita do

morro de Araccediloiaba impregnada de oacutexido de Titacircnio natildeo era conhecida75 A

carecircncia de conhecimento cientiacutefico sobre as propriedades quiacutemicas dessa

magnetita foi a principal causa dos trecircs seacuteculos de tentativas de se produzir ferro

naquele local e das inuacutemeras criacuteticas que eram feitas aos fundidores e

administradores 76 Sendo assim podemos indicar que essa realidade teacutecnica foi

determinante para que natildeo se produzisse em Ipanema desde finais do seacuteculo

XVI ferro de boa qualidade Estephania Fraga indica que

75 O titacircnio foi descoberto em 1791 por Willian Gregor mas soacute se tornou bem conhecido apoacutes os estudos de Wohler em 1857 e Peterson em 1887 76 Orville Derby no final do seacuteculo XIX presidia a comissatildeo de estudos geoloacutegicos da Proviacutencia de Satildeo Paulo e pesquisou a apatita de Ipanema

121

a dificuldade em fundir o mineacuterio de Ipanema ndash a magnetita ndash

provinha da composiccedilatildeo especiacutefica do mesmo pois aleacutem de sua

exagerada densidade apresenta-se impregnada de oacutexido de

Titacircnio fatores que contribuem de forma decisiva para dificultar

sua reduccedilatildeo mesmo em altos fornos (FRAGA 1968 p86)

A dificuldade de produzir um ferro de boa qualidade jaacute era sentida desde o

seacuteculo XVIII quando Domingos Pereira Ferreira apostou na construccedilatildeo de uma

Faacutebrica de Ferro naquele local Embora tenha construiacutedo diversos tipos de fornos

e empregado diferentes modos de fundiccedilatildeo natildeo havia conseguido um bom

resultado No seacuteculo XIX essa mesma dificuldade permaneceu nos trabalhos de

fundiccedilatildeo e na produccedilatildeo de ferro da Real Faacutebrica de Ipanema fundada em 1810

O desconhecimento das propriedades daquela magnetita apenas

descoberta na segunda metade do seacuteculo XIX quando a Real Faacutebrica de Ferro jaacute

estava em plena decadecircncia77 tambeacutem estava na origem das acirradas

discussotildees teacutecnicas entre Friederich Ludwig Wilhelm Varnhagen mineralogista

alematildeo e Carl Gustav Hedberg sueco e primeiro diretor de Ipanema (1811-

1814) sobre as vantagens do alto-forno proposto por Vanhagen em relaccedilatildeo aos

quatro fornos azuis Blauofen fornos de reduccedilatildeo direta inicialmente instalados

em Ipanema78

O diretor sueco foi substituiacutedo por Ludwig Wilhelm Varnhagen em 1815

que construiu dois Altos Fornos de aproximadamente 8 metros de altura cada

um Com estes fornos conseguiu produzir o ferro gusa em sua forma liacutequida

tendo moldado com a primeira corrida desse ferro trecircs cruzes sendo uma delas

ldquolevada em procissatildeo ateacute o ponto alto da montanha de Araccediloiabardquo onde

atualmente permanece Contudo Varnhagen natildeo produziu o ferro esperado e

77 Naquele periacuteodo nem o Estado nem a Real Faacutebrica possuiacuteam laboratoacuterios de anaacutelise que pudessem fazer ensaios do mineacuterio combustiacutevel e fundentes empregados na produccedilatildeo A primeira escola formadora de profissionais na aacuterea de mineraccedilatildeo foi a Escola de Minas de Ouro Preto fundada em 1875 (FRAGA 1968 p140) 78 Von Varnhagen havia dirigido a faacutebrica de ferro de Figueiroacute dos Vinhos em Portugal e foi enviado a Ipanema com a finalidade de projetar a construccedilatildeo de uma grande faacutebrica de ferro que afinal foi construiacuteda por Hedberg (FRAGA 1968 p 71-79)

122

essa dificuldade tambeacutem natildeo foi compreendida por Eschwege79 que estava na

direccedilatildeo de uma outra faacutebrica de ferro em Congonhas do Campo a qual produzia

ferro a partir de um outro mineacuterio a hematita que facilmente pode ser trabalhada

para a produccedilatildeo do ferro80 A partir de 1821 estes fornos altos jaacute estavam em

decadecircncia

Contudo parece que apenas Joseacute Bonifaacutecio de Andrada e Silva quando

esteve examinando as minas de ferro daquele Morro percebeu que

o problema capital de Ipanema liga-se ao mineacuterio de ferro ali

existente ldquoo ferro magneacuteticordquo de difiacutecil fusatildeo embora natildeo

pudesse conhecer ainda a composiccedilatildeo do mesmo (presenccedila de

Titacircnio que como eacute sabido foi descoberto apenas a partir da

segunda metade do seacuteculo XIX) considerando (com base nos

conhecimentos do gecircnero que visitou na Europa) que a soluccedilatildeo

estaria em aumentar a altura dos pequenos fornos (FRAGA 1968

p149)

Em 1878 foi a vez de Joaquim Antonio de Souza Mursa construir um Alto

Forno e quando a Faacutebrica fechou em 1895 este ainda natildeo havia sido utilizado

79 Ludwig von Eschwege depois de ter trabalhado em Portugal o baratildeo de Eschwege seguiu em 1810 para o Brasil a convite do priacutencipe regente D Joatildeo para reanimar a decadente mineraccedilatildeo de ouro e para trabalhar na nascente induacutestria sideruacutergica Em 1821 inicia em Congonhas do Campo Minas Gerais os trabalhos de construccedilatildeo de uma faacutebrica de ferro denominada de Patrioacutetica empreendimento privado sob a forma de sociedade por accedilotildees Em 1811 a siderurgia de Eschwege jaacute produzia em escala industrial Eschwege eacute o autor de Pluto Brasiliensis primeira obra cientiacutefica escrita sobre a geologia brasileira publicada primeiramente na Europa em 1833 (FIGUEIROA 1977 63-67) 80 As hematitas satildeo mineacuterios de ferro constituiacutedos por oacutexido feacuterrico (Fe2O3) contendo ateacute 70 de ferro(Fe) Seu aspecto varia consideravelmente pode se apresentar cristalizado em massas compactas ou em massas terrosas Satildeo utilizadas na produccedilatildeo de ferro sob duas formas principais a) hematita vermelha e b) hematita parda Dados sobre a composiccedilatildeo quiacutemica da hematita fornecidos pela Dra Heacutelegravene Nasson Storch (FRAGA 1968 p149)

123

45 Fatores fisiograacuteficos da ocupaccedilatildeo europeacuteia

A ocupaccedilatildeo das aacutereas interiores da Capitania de Satildeo Vicente no iniacutecio da

colonizaccedilatildeo foi caracterizada particularmente por expediccedilotildees de apresamento de

iacutendios Este movimento pioneiro na ocupaccedilatildeo das aacutereas interiores do continente

e era facilitado pela existecircncia de caminhos indiacutegenas os Peabirus

No caso da ocupaccedilatildeo da regiatildeo onde estaacute localizado o morro de

Araccediloiaba o acesso era facilitado pela presenccedila de importante caminho que ligava

a vila de Satildeo Paulo de Piratininga agraves terras de Guairaacute e regiotildees do Alto Peru

(atual Boliacutevia) Com a descoberta da prata do Potosi intensificaram-se as buscas

de metais nobres inclusive com incentivos da Coroa portuguesa com ajuda de

mineradores preparados para a identificaccedilatildeo de mineacuterios especialmente a prata e

o ouro As expediccedilotildees em busca daquelas riquezas foram estimuladas apoacutes a

chegada de D Francisco de Sousa que ocupou a governadoria Geral do Brasil no

periacuteodo de 1591 a 1601

Foi neste contexto que ocorreram as primeiras tentativas de exploraccedilatildeo do

ferro das minas de Araccediloiaba Dificilmente pode-se precisar a data em que se deu

o encontro do morro de Araccediloiaba pelos europeus mas certamente a sua

descoberta foi facilitada pela presenccedila dos Peabirus

Provavelmente o aspecto estrateacutegico e o encontro de traccedilos de prata junto

ao mineacuterio de ferro de Araccediloiaba tenham sido fatores que levaram D Francisco a

conceder sesmarias e dar iniacutecio ao povoamento colonial da regiatildeo Para tanto

ldquoplantou o pelourinhordquo no interior do Morro tendo como padroeira Nossa Senhora

do Monte Serrat Esta povoaccedilatildeo natildeo prosperou tendo sua populaccedilatildeo se

deslocado em 1611 ndash o mesmo ano da morte de D Francisco de Sousa - para o

Itavuvu local que recebeu a denominaccedilatildeo de Satildeo Felipe Somente mais tarde no

decorrer de 1661 houve a fundaccedilatildeo da Vila de Sorocaba (ALMEIDA 2002 p 11-

20)

124

Apesar da sua localizaccedilatildeo distante cerca de trinta leacuteguas de distacircncia do

litoral e isolada dos mercados consumidores o interesse da exploraccedilatildeo do ferro de

Araccediloiaba se explica pelo valor estrateacutegico desse metal que poderia ser utilizado

como mercadoria contando com mercado certo a proacutepria Capitania de Satildeo

Vicente e a regiatildeo do rio da Prata Por outro lado o ferro era um metal de grande

interesse para a Metroacutepole que contava com pequenas jazidas

Mais tarde jaacute no iniacutecio do seacuteculo XVIII havia um mercado promissor

representado regionalmente pelo avanccedilo da agricultura de cana-de-accediluacutecar e

tambeacutem pela exploraccedilatildeo das minas de ouro de Cuiabaacute e Minas Gerais81 A esse

respeito escreve em 1782 Marcelino Pereira Cleto

Ainda que as minas de ferro e accedilo estatildeo em terras de Sertatildeo e na

distancia de trinta legoas da Marinha com tudo o sitio he haacutebil

para o bom consumo destes gecircneros porqto por Sorocaba he o

caminho para Coritiba Minas de Pernampanema e outras terras

mais distantes da Capitania de Satildeo Paulo por Itu Va proacutexima he

o caminho por onde se dirige todo o negocio que vai para

Cuiabaacute por esta capitania e tambeacutem perto das das minas se

encaminha a estrada de Goiases Se os Negociantes do Cuiabaacute e

Goiases achassem no caminho ou perto delle este dous gecircneros

[ferro e accedilo] ainda pelo mesmo preccedilo qrsquo elles se vendem no Rio

de Janeiro e os de S Paulo o tivessem na sua proacutepria Capitania

certamte natildeo iratildeo busca-los ao Rio de Janeiro com despesa e

risco e bastaria ser seguro este consumo para ser uacutetil cuidar-se

nas das minas

Quanto mais em distancia como de seis leacutegoas das minas

passa o rio Teateacute navegaacutevel de canoa e unicamemte com o

embaraccedilo de algum ou alguns Saltos ou Cachoeiras neste rio

entra um pouco distancia de S Paulo outro chamado dos

Pinheiros neste o rio Grande neste o rio Pequeno qrsquo fica junto agrave

81 No seacuteculo XVIII a agricultura da cana-de-accediluacutecar foi significativa na regiatildeo denominada de ldquoquadrilaacutetero do accediluacutecarrdquo formada pelas localidades de Sorocaba Piracicaba Mogi-Guaccedilu e Jundiaiacute destacando-se duas aacutereas Itu e Campinas Para este tema ver PETRONE Maria Thereza S A lavoura canavieira em Satildeo Paulo Satildeo Paulo Difusatildeo Europeacuteia do livro 1968

125

Serra qrsquo cobre a Va de Santos do rio pequeno a santos seratildeo

sette legoas trecircs por terra maacutes caminho mto aacutespero E as quatro

por hum rio qrsquo em todas as partes admitte navegaccedilatildeo daquelles

rios vecirc-se qrsquo era pequena a distancia em qrsquo se precisava

condusir por terra estes dous gecircneros ateacute ao Porto da Va de

Santos e daqui dar-lhes extraccedilatildeo para mais Portos da Ameacuterica

(CLETO 1899 p p 210)

Embora natildeo haja estudos especiacuteficos sobre o trabalho indiacutegena na

produccedilatildeo do ferro dos empreendimentos metaluacutergicos instalados no morro de

Araccediloiaba os documentos escritos indicam que ateacute meados do seacuteculo XVIII a

produccedilatildeo do ferro em Araccediloiaba foi realizada com o trabalho de indiacutegenas que

eram levados para aquela atividade pelos exploradores 82 Dessa forma

exploraram aquelas minas Afonso Sardinha e Francisco de Souza (seacuteculo XVI e

XVII) Luiz Lopes de Carvalho (seacuteculo XVII) Domingos Pereira Ferreira (seacuteculo

XVIII) e depois a Real Faacutebrica de Ferro de Satildeo Joatildeo do Ipanema Neste uacuteltimo

empreendimento os iacutendios foram trazidos das aldeias de Itapecerica MrsquoBoy

Carapicuiacuteba Barueri e Itapevi Em 1815 trabalhavam nessa faacutebrica 16 iacutendios aleacutem

de escravos africanos Em 1834 a Real Faacutebrica de Ferro comeccedilou a receber

africanos livres em 1837 trabalhavam naquele estabelecimento 121 escravos (68

homens 24 mulheres e 29 crioulos) e 48 africanos livres (30 homens e 18

mulheres)83

Nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XIX o morro de Araccediloiaba passou a

integrar as rotas de muitos naturalistas geoacutegrafos mineralogistas botacircnicos e

geoacutelogos como Von Martius Martim Francisco de Andrada Auguste Saint Hilaire

o Baratildeo Eschewege Theodoro Knecht e Leandro Dupreacute que fizeram daquele

82 Conforme estabelecia a legislaccedilatildeo mineira compilada pelo Coacutedigo Filipino a exploraccedilatildeo de qualquer mineacuterio era realizada com os recursos do proacuteprio descobridor pagando os direitos dos quintos ao eraacuterio reacutegio Cf Ord L 2ordm ndash Tits 26 e 28 par 16 acolhendo a Ord Manuelina do L 2ordm Tt34 e seus paraacutegrafos Ver RODRIGUES (1966 p 182) 83 Sobre o trabalho indiacutegena na Real Faacutebrica de Ferro de Ypanema ver MENON Og A Real Fabrica de Ferro de Satildeo Joatildeo do Ipanema e seu mundo 1811-1835 Dissertaccedilatildeo (mestrado) Satildeo Paulo PUCSP 1992 p 84-90 Sobre o trabalho dos africanos livres em Ipanema ver RODRIGUES Jaime Ferro trabalho e Confliro os Africanos livres na Faacutebrica de Ipenema Historia Social n 45 Campinas IFCH-Unicamp 29-42 199798

126

local um laboratoacuterio a ceacuteu aberto para pesquisas cientiacuteficas aleacutem de terem

deixado dessas experiecircncias relatos preciosos que ajudam a compor aquela

histoacuteria como atesta o relato do naturalista Saint-Hilaire que esteve em Ipanema

em 1819 Diz ele

Encontrei em Ipanema um zoologista o Sr Natterer membro da

comissatildeo cientiacutefica que o imperador da Aacuteustria havia enviado ao

Brasil para recolher amostras de espeacutecimes diversos do pais

Fazia um ano que se achava instalado nas proximidades das

forjas tendo jaacute formado uma vasta coleccedilatildeo de paacutessaros Era

impossiacutevel natildeo admirar a beleza dessa coleccedilatildeo Natildeo se via uma

uacutenica ave cujas penas tivessem sido coladas ou que apresentasse

a menor mancha de sangue

Encontrei tambeacutem em Ipanema um jovem prussiano Sellow

o primeiro naturalista a chegar no Brasil depois de firmada a paz

Tinha feito anteriormente estaacutegio no Jardim Botacircnico de Paris a

fim de aperfeiccediloar os seus conhecimentos e vivia agora de uma

pensatildeo que lhe dava o ilustre e generoso Humboldt o qual fazia

crer ao rapaz que ele estava sendo pago pela administraccedilatildeo do

Jardim Sellow dedicava-se as suas pesquisas com um zelo e

uma energia sem par (SAINT-HILAIRE 1972 p194-195)

127

CAPIacuteTULO 5

INVESTIGACcedilOtildeES ARQUEOLOacuteGICAS AS EVIDENCIAS DE UMA FAacuteBRICA DE FERRO 84

O trabalho da pesquisa arqueoloacutegica se estendeu por um periacuteodo de 8

anos (1983-1989) e ficou registrado em documentos de Diaacuterios de Campo

escritos pela pesquisadora Margarida Davina Andreatta assim como em

correspondecircncias levantamentos topograacuteficos planos de escavaccedilatildeo croquis e

desenhos geomeacutetricos de plantas das ruiacutenas croquis de cortes estratigraacuteficos e

de reconhecimento das escavaccedilotildees Inventaacuterio de Peccedilas e fotografias tudo

devidamente registrado em relatoacuterios da pesquisa arqueoloacutegica (ver Planta Geral

da Aacuterea Anexo 9 e o mapeamento das escavaccedilotildees Anexo 10)

Os artefatos coletados durante as investigaccedilotildees de campo foram

acondicionados em caixas devidamente protegidas e identificadas e guardados

nas dependecircncias do Museu do Centro de Visitantes da FLONA de Ipanema

Por ocasiatildeo da primeira visita realizada no Siacutetio Afonso Sardinha em 09 de

maio de 1983 a pesquisadora observou que as ruiacutenas existentes estavam

cobertas por ldquopequenos arbustos cipoacutes gramiacuteneas deposiccedilatildeo de folhas e raiacutezes

secasrdquo as quais encobriam os blocos de pedra que formariam as paredes de uma

edificaccedilatildeo (ANDREATTA 1983 p7) O siacutetio apresentava sinais de alteraccedilotildees

causadas pela accedilatildeo de erosatildeo pelas aacuteguas da chuva bem como pela accedilatildeo

antroacutepica possivelmente pescadores e caccediladores que usavam aquele local como

acampamentos temporaacuterios para suas atividades observando-se ainda sinais de

frequumlentes incecircndios na mata existente em seu entorno

84 Para acompanhar as discussotildees deste Capiacutetulo consultar o Anexo 9 Planta Geral do Siacutetio Afonso Sardinha

128

Fig 38 LIMPEZA DO SIacuteTIO AFONSO SARDINHA 1984

Fig 39 EQUIPE DE TRABALHO SITIO AFONSO SARDINHA 1988

Para iniciar a pesquisa arqueoloacutegica foi necessaacuterio remover a vegetaccedilatildeo

que recobria as ruiacutenas mencionadas de modo a possibilitar as primeiras

observaccedilotildees e mediccedilotildees das paredes e da aacuterea do seu entorno Desta forma jaacute

no iniacutecio das investigaccedilotildees iniciais em maio de 1983 jaacute haviam sido

129

evidenciados embora ainda natildeo totalmente identificados os espaccedilos

possivelmente destinados agrave produccedilatildeo de ferro e os locais proacuteprios para o

aproveitamento da forccedila motriz hidraacuteulica necessaacuteria agravequelas atividades

51 Estruturas hidraacuteulicas para a produccedilatildeo da forccedila motriz

O trabalho de reconhecimento da aacuterea identificou um conjunto de

estruturas identificadas como pertencente a um sistema hidraacuteulico destinado a

produccedilatildeo da forccedila motriz o qual compreendia diversas partes o canal de

derivaccedilatildeo das aacuteguas (vestiacutegios de canaleta) a vala destinada ao alojamento da

roda hidraacuteulica e o trecho do canal de restituiccedilatildeo das aacuteguas ao ribeiratildeo Tais

dispositivos se localizam em aacuterea externa poreacutem adjacente ao edifiacutecio principal

de produccedilatildeo de ferro

Natildeo foi possiacutevel localizar a estrutura do barramento responsaacutevel pelo

desvio das aacuteguas do ribeiratildeo do Ferro para o canal de derivaccedilatildeo

511 O Canal de Derivaccedilatildeo A existecircncia do canal de derivaccedilatildeo foi evidenciada no ano de 1987 quando

foram realizados os trabalhos de decapagem para escavaccedilatildeo da aacuterea Sul da aacuterea

A (forno externo) conforme registrado no Diaacuterio de Campo no dia 02 de julho de

1987 onde de se indica que ldquoevidenciou uma canaleta que se prolonga para o

interior da ferradura que apareceu apoacutes a limpeza da vegetaccedilatildeo do entorno da

mesmardquo Outra evidecircncia da existecircncia do canal na regiatildeo ao Sul da aacuterea A (forno

externo) foi a constataccedilatildeo da ocorrecircncia de fluxo de aacutegua em direccedilatildeo ao Forno 1

(aacuterea A1) fenocircmeno que se observava toda a vez que chovia Este fato mostra

130

que deveria existir um possiacutevel canal interceptador de aacuteguas de chuvas

direcionando a correnteza em direccedilatildeo ao forno (Anexo 9 e Figura 75)

A evidecircncia encontrada revelava que o Canal de Derivaccedilatildeo havia sido

construiacutedo com a finalidade de obter um aproveitamento da corrente de aacutegua do

ribeiratildeo do Ferro contornando a face sul da edificaccedilatildeo ateacute encontrar o muro da

entrada da vala da roda drsquoaacutegua em um ponto onde o terreno se encontra agrave cota

520m medida pelo levantamento planialtimeacutetrico realizado na aacuterea Sendo assim

esse canal de desvio de aacuteguas deve partir do ribeiratildeo do Ferro numa posiccedilatildeo com

cota evidentemente superior a 520m (Figura 75)

No final do Canal de Derivaccedilatildeo no ponto correspondente a entrada da vala

(aacuterea E) foi encontrada durante as pesquisas uma quantidade significativa de

blocos de rocha arenito de tamanhos regulares amontoados e natildeo-alinhados os

quais testemunhavam que naquele local deveria haver uma estrutura de conexatildeo

entre o canal de derivaccedilatildeo e a vala As dimensotildees desses blocos apresentando

uma certa regularidade de formas satildeo tambeacutem um forte indiacutecio de que eles foram

cortados com a finalidade de proporcionar um entrosamento na construccedilatildeo da

parede (Anexo 13)

As pesquisas mostraram a existecircncia de trecircs grupos de blocos com

dimensotildees regulares As Tabelas abaixo apresentam as dimensotildees observadas

nos blocos de arenito acima mencionados

Tabela 1 Dimensotildees dos blocos de maior dimensatildeo ( em centiacutemetros - cm)

COMPRIMENTO LARGURA ESPESSURA

43 30 18

43 27 15

26 20 16

131

COMPRIMENTO LARGURA ESPESSURA

20 11 8

18 09 9

18 14 6

Tabela 2 Dimensotildees dos blocos de media dimensatildeo ( em centiacutemetros ndash cm)

COMPRIMENTO LARGURA ESPESSURA

10 6 6

10 5 6

11 7 35

Tabela 3 Dimensotildees dos blocos de menor dimensatildeo ( em centiacutemetros ndash cm)

Fig 40 VISTA GERAL DA AacuteREA E 1988

132

512 A Vala da Roda

Nas ruiacutenas encontradas da Faacutebrica de Ferro a existecircncia de estruturas

destinadas a utilizaccedilatildeo da energia hidraacuteulica eacute evidenciada pela presenccedila de

estruturas que caracterizam o controle das aacuteguas Em sequumlecircncia ao Canal de

Derivaccedilatildeo mencionado no item anterior observa-se a existecircncia da vala para o

alojamento da roda drsquoaacutegua indicada na planta baixa (Anexo 9) identificada como

ldquoCanal (D)rdquo conforme registrado no Diaacuterio de Campo da pesquisadora Margarida

Davina Andreatta em maio de 1983

A vala encontrada apresenta 19 metros de comprimento tendo ambas as

paredes cerca de 15 metros de largura e vatildeo livre entre as paredes com cerca de

225 m A uma distacircncia da ordem de 37 metros da margem do ribeiratildeo do Ferro

a parede da lateral direita apresenta um alargamento e por conseguinte ocorre

um estreitamento do vatildeo da vala passando a contar com apenas 1 (um) metro de

largura na saiacuteda

A vala encontrada no Siacutetio Afonso Sardinha apresentava o seu piso com

plano de declividade em direccedilatildeo ao ribeiratildeo do Ferro sendo que na parte mais

alta a cota do piso eacute de 453 m acima do niacutevel do ribeiratildeo enquanto que a

extremidade inferior da vala alcanccedila 041m acima do mesmo niacutevel portanto

mostrando forte inclinaccedilatildeo para facilitar a restituiccedilatildeo da aacutegua ao ribeiratildeo

A posiccedilatildeo do plano de declividade da vala mostra que na extremidade de

saiacuteda do canal formou forte desniacutevel em relaccedilatildeo ao piso da Faacutebrica sendo que no

ponto meacutedio o niacutevel da vala seria igual a 230 m (Figura 41)

133

Fig 41 Dimensotildees da Vala da roda e localizaccedilatildeo das evidecircncias de

esteios

134

Fig 42 VALA DA RODA HIDRAacuteULICA 1987 - I

Fig 43 VALA DA RODA HIDRAacuteULICA 1987 - II

135

5121 Evidecircncias de esteios

Em novembro de 1984 foram evidenciados trecircs pares de esteios nas

laterais externas das paredes da vala permitindo supor que as mesmas

funcionavam como pilares para alguma cobertura sobre a vala (ANDREATTA

1984 p 37)

As evidecircncias de esteios encontrados possuem formas circulares e

quadrangulares tendo os lados medidas semelhantes As evidecircncias localizadas

no lado leste apresentavam respectivamente 040 cm X 040 cm 045 cm X 045

cm e 045 cm X 040 cm Jaacute as evidencias encontradas no lado oeste as medidas

encontradas eram 050 X 055 cm e 050 X 050 cm Aleacutem disso apresentavam

espaccedilamentos semelhantes entre si da ordem de quatro metros e meio

Fig 44 EVIDENCIAS DE ESTEIOS vala da roda 1987

136

Fig 45 DETALHE DOS ESTEIOS

Fig 46 DETALHE DE UM ESTEIO

137

52 A Faacutebrica de Ferro os espaccedilos de produccedilatildeo 521 Area ldquoCrdquo

O relevo do terreno nesta aacuterea mostra irregularidade sendo que na

extremidade sul junto agrave parede limite a superfiacutecie do terreno apresenta uma

parte plana com cota mais elevada tendo sido medido pela topografia o niacutevel

448 enquanto que na porccedilatildeo central aparece um segundo platocirc com cota do

terreno igual a 343 e na extremidade norte junto ao ribeiratildeo do Ferro a cota

medida foi 0 85m ( ver figura 47)

As pesquisas nesta aacuterea ldquoCrdquo foram realizadas agrave partir de novembro de

1986 para a verificaccedilatildeo da estratigrafia com a abertura de 2 trincheiras na

extremidade norte e uma na parte central as quais tiveram as seguintes

caracteriacutesticas geomeacutetricas (comprimento X largura X profundidade) T1 4m X

065m X 080m T2 170m X 070m X 080m T3 140m X 065m X 095m

(ANDREATTA1984 p 5)

O resultado dos estudos estratigraacuteficos e de decapagem mostraram a

existecircncia unicamente de telhas e cravos aleacutem de alguns poucos fragmentos de

ceracircmica

138

Fig 47 ndash Topografia do Terreno da Aacuterea C (Seta indicaccedilatildeo das Trincheiras)

139

Fig 48 Vista Geral da Aacuterea C 1987

522 A Aacuterea B (ldquoForjardquo) Diferentemente do espaccedilo ldquoCrdquo analisado no item anterior a aacuterea

denominada ldquoBrdquo no desenho da planta baixa (anexo 9) apresentou importante

quantidade de materiais arqueoloacutegicos tais como metais liacuteticos ceracircmicas louccedila

e resiacuteduos de fundiccedilatildeo (escoacuterias)

No inicio das exploraccedilotildees do local no decorrer do ano de 1983 foram

observadas evidecircncias de paredes inclusive com amontoados de blocos de

arenito que mostravam possiacuteveis sinais de alteraccedilotildees construtivas

No ano seguinte orientado pela descoberta dos blocos acima

mencionados os quais foram caracterizados como possiacuteveis materiais de

construccedilatildeo a pesquisa arqueoloacutegica foi programada prevendo inicialmente a

140

remoccedilatildeo da vegetaccedilatildeo existente no espaccedilo assinalado ldquoBrdquo seguida da

decapagem do terreno

As pesquisas iniciais permitiram identificar a existecircncia da base de paredes

de uma antiga estrutura A partir desta descoberta foi possiacutevel reconstruir ldquoem

superposiccedilatildeo aos blocos de arenito da parede original da forjardquo 85 Tais blocos de

arenitos conforme foi possiacutevel constatar eram os mesmos materiais de

construccedilatildeo dos setores ldquoCrdquo e ldquoDrdquo

Fig 49 RECONSTITUICcedilAtildeO DAS PAREDES DA AacuteREA B 1984

85 Comunicaccedilatildeo Interna ao CENEA por Margarida Davina Andreatta Iperoacute 05dez1984

141

Fig 50 EVIDENCIAS DAS PAREDES DA AacuteREA B 1984 -

Fig 51 PAREDE DA AacuteREA B RECONSTITUIacuteDA 1984 - I

142

Fig 52 PAREDES DA AacuteREA B RECONSTITUIacuteDA 1984 - II

Durante a realizaccedilatildeo da pesquisa arqueoloacutegica com escavaccedilotildees nesta

aacuterea foi possiacutevel evidenciar a ocorrecircncia de significativa quantidade de peccedilas de

metais (ver Tabela Metais) tais como lacircminas plaquetas e cravos

aparentemente indicando a atividade de transformaccedilatildeo do ferro em peccedilas de

utilitaacuterios Tambeacutem foram encontrados liacuteticos fragmentos de telhas faianccedila de

origem portuguesa e ceracircmicas de produccedilatildeo regional ou local (neo-brasileira)

possivelmente ldquopara fins utilitaacuterios do grupo que habitou o localrdquo 86

86 Relatoacuterio de Atividades Periacuteodo 19-31 maio 1986 p 8

143

Fig 53 DECAPAGEM AacuteREA B 1984

Quanto ao piso arqueoloacutegico da aacuterea ldquoBrdquo observou-se que ele estava

situado entre 10 e 30 cm acima do solo original sendo constituiacutedo ldquode blocos de

arenito de diferentes tamanhos irregulares e cobertos por uma camada de terra

com huacutemus e raiacutezes tronco de aacutervores e a terra eacute latossolo (cor avermelhada) o

mesmo que se encontra entre os blocos de arenito nas paredes parece que

serviu como argamassa para assentar os blocos entre si e levantar a parederdquo

conforme descriccedilatildeo apresentada no Diaacuterio de Campo da pesquisadora Margarida

Davina Andreatta (ANDREATTA 1984 p 42) Notou-se tambeacutem que os blocos e

placas de arenito estavam ldquodispostos horizontalmente de maneira que indicavam

que a superfiacutecie do piso deveria ter sido nivelada com argila a fim de facilitar a

circulaccedilatildeo do homemrdquo (ANDREATTA 1984 p 42)

144

TABELA METAIS

CATEGORIAS NUacuteMERO DE FRAGMENTOS

Cravos 33

Plaquetas 06

Barras de ferro 02

Escoacuterias 03

Mineacuterios 03

ANDREATTA Inventaacuterio de Peccedilas 1983-1987

No interior do local da aacuterea ldquoBrdquo (ldquoforja) foram coletadas duas peccedilas

arqueoloacutegicas compreendendo dois fragmentos de ceracircmica com formato de

vasilhame para cozimento as quais foram encaminhadas para o laboratoacuterio da

FATEC ndash Faculdade de Tecnologia de Satildeo Paulo com o objetivo de obter a

dataccedilatildeo absoluta pelo meacutetodo da termoluminescecircnciardquo Este meacutetodo eacute aplicado

para o caso de materiais que apresentam quartzo em sua composiccedilatildeo tais como

ceracircmica vidros solos louccedilas faianccedilas etc

Uma dessas peccedilas era constituiacuteda de metade de um vasilhame de

pequenas dimensotildees de ceracircmica decorada com a presenccedila de apecircndice (alccedilas)

identificada conforme classificaccedilatildeo arqueoloacutegica como de produccedilatildeo local ou

regional (neo-brasileira) O exame visual dessa peccedila mostra a existecircncia de um

apecircndice (alccedila) que identifica a influencia do europeu na fabricaccedilatildeo daquele

objeto permitindo deduzir que o local teria sido um siacutetio de contato (entre o

indiacutegena e o europeu)

O resultado do ensaio de dataccedilatildeo absoluta dessa peccedila arqueoloacutegica pelo

meacutetodo da termoluminescecircncia apontou a idade de 520 +- 75 anos permitindo

avaliar a data da fabricaccedilatildeo entre 1411 a 1561 conforme Certificado da FATEC

datado de 21 de junho de 2006 (Relatoacuterio de Ensaio ndash Anexo 1) Levando em

conta os dados apresentados pela pesquisa histoacuterica para aquele local pode-se

145

supor que a data mais provaacutevel da fabricaccedilatildeo da peccedila seja em meados do seacuteculo

XVI eacutepoca em jaacute ocorria presenccedila do explorador europeu (Figuras 54 55 56)

Fig 53 VASILHAME CERAcircMICA ndash 0106 - SEacuteCULO XVI -I Idade de 520 +- 75 anos

Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema

Fig 54 VASILHAME CERAcircMICA ndash 0106 - AacuteREA B SEacuteCULO XVI - II

Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema

146

Fig 55 VASILHAME CERAcircMICA ndash 0106 - AacuteREA B SEacuteCULO XVI - III

Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema

Descriccedilatildeo Nuacutemero de Registro 0106

Niacutevel 015 m de profundidade

Laacutebio arredondado

Borda extrovertida inclinada externa

Diacircmetro de boca 014 m

Acircngulo da parede 115ordm

Vasilhame simeacutetrico profundo inflectido de boca ampliada e com

apecircndices lisos em forma de rolete com evidencias de pressatildeo na extremidade

para fixaccedilatildeo

Apresenta as seguintes decoraccedilotildees inciso na posiccedilatildeo vertical com 015m

de comprimento (em grupo de 3 incisos) distanciando cada grupo em 001m

dispostos em duas fileiras sendo a primeira proacutexima al laacutebio e a segunda junto a

altura do apecircndice

147

O bojo eacute liso e a sua base escovada e apresenta marcas de fuligem na

parte externa e sinais de desgaste por atrito na parte interna da base do

vasilhame

O outro vasilhame ceracircmico encontrado na aacuterea B identificada como de

procedecircncia local ou regional (neo-brasileira) apresenta caracteriacutesticas

semelhantes e tambeacutem a mesma dataccedilatildeo do vasilhame de ceracircmica

anteriormente descrito (Figura 57 58) Este artefato foi encontrado a 030 cm da

superfiacutecie e foi em parte reconstituiacutedo e levado para o exame de dataccedilatildeo pelo

processo de termoluminscecircncia ao Laboratoacuterio de Vidros e Dataccedilatildeo da Faculdade

de Tecnologia de Satildeo Paulo - FATEC O resultado do ensaio apontou a idade de

540 +- 75 anos correspondendo a possiacuteveis datas de fabricaccedilatildeo daquele artefato

entre 1391 e 1541 sendo esta uacuteltima data a mais provaacutevel(Relatoacuterio de Ensaio

Anexo 1)

Fig 57 VASILHAME CERAcircMICO ndash 0122 - AacuteREA B SEacuteCULO XVI - I Idade de 540 +- 75 anos

Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema

148

Fig 58 VASILHAME CERAcircMICO ndash 0122 - AacuteREA B SEacuteCULO XVI - II Idade de 540 +- 75 anos

Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema Descriccedilatildeo Nuacutemero de registro 0122

Niacutevel 030 m de profundidade

Tipo de laacutebio arredondado

Tipo de borda extrovertida inclinada externa

Diacircmetro da boca 028m

Acircngulo da parede 110ordm

Fragmento de vasilhame simeacutetrico de contorno inflectido com as seguintes

decoraccedilotildees parede lisa com engobo branco parede externa com banho de

engobo branco com uma linha incisa paralela a 001m do laacutebio Entre esta

primeira decoraccedilatildeo e o bojo haacute decoraccedilatildeo escovada com inclinaccedilatildeo

Na borda haacute ainda um apecircndice convexo com sinais de fixaccedilatildeo e nas

extemidades haacute pressatildeo de fixaccedilatildeo Entre a borda e o bojo apresenta decoraccedilatildeo

regulada contornando o vasilhame O bojo tambeacutem apresenta decoraccedilatildeo

escovada quase horizontal

149

Uma terceira peccedila encontrada no interior da aacuterea ldquoBrdquo eacute uma faianccedila

decorada de origem portuguesa e formada por fragmentos de louccedila de uso

domeacutestico a qual tambeacutem foi submetida a uma dataccedilatildeo relativa mediante

comparaccedilatildeo feita com auxilio de cataacutelogo (Itineraacuterio da Faianccedila do Porto e Gaia

publicaccedilatildeo do Museu Nacional de Soares dos Reis sem data) Os fragmentos

foram localizados em parte no interior da aacuterea ldquoBrdquo e outra parte na aacuterea externa

dessa mesma aacuterea sendo este uacuteltimo junto a um vestiacutegio de estrutura do forno 1

aacuterea A1 (Figura 59)

O exame visual sobre a faianccedila reconstituiacuteda a partir de cinco fragmentos

separados permitiu reconhecer com base no documento acima mencionado que

aquela peccedila era um utensiacutelio portuguecircs de uso domeacutestico a qual pode ser

descrita como ldquotiacutepicas tijelas malegueiras decoradas no fundo e na orla com

filetes concecircntricos azul [] que apresentam temas decorativos recorrentes

dentro das faianccedilas conhecidas para a segunda metade do seacuteculo XVII (GOMES

BOLTELLO p148)

Conforme parecer sobre a mesma faianccedila acima descrita apresentado por

Paulo Dordio arqueoacutelogo pesquisador da Casa do Infante Porto ndash Portugal em

28 de abril de 2004 aquela peccedila de faianccedila apresenta uma ldquodecoraccedilatildeo simples

que exibe com toques de pincel espaccedilados junto ao bordo filetes simples

resultando ciacuterculos concecircntricos e espiral no fundo tudo em azul aponta para

uma cronologia que se centraraacute no seacuteculo XVIIrdquo 87

87 Parecer sobre a faianccedila encontrada no Siacutetio Afonso Sardinha feita por Paulo Dordio arqueoacutelogo pesquisador da Casa do Infante Porto ndash Portugal em 28 abr 2004

150

Fig 59 FAIANCcedilA - AacuteREA B [SEacuteC XVII]

Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema

53 Area E Sul da Faacutebrica de Ferro

A pesquisa arqueoloacutegica realizada na aacuterea E Sul externa da Faacutebrica de

Ferro revelou a existecircncia de amontoados de resiacuteduos de fundiccedilatildeo da magnetita

conhecidos como escoacuteria os quais se distribuem por uma ampla aacuterea do terreno

identificada como escorial sendo que num local adjacente agrave face sul da estrutura

denominada aacuterea ldquoB se apresenta maior concentraccedilatildeo (ver anexo 9)

Uma amostra desse material foi encaminhada para anaacutelise no

Departamento de Mineralogia e Geotectocircnica GMG do Instituto de Geociecircncias

da Universidade de Satildeo Paulo aos cuidados de Daniel Atencio Professor

Associado daquele Departamento o qual constatou ser aquela amostra ldquo[]

provavelmente restos de fundiccedilatildeo Trata-se de wuumlstita (FeO) mais ferro (Fe)

Esses materiais satildeo muito raros como minerais mas comuns em fundiccedilotildeesrdquo88

88 Anaacutelise elaborada por Daniel Atencio Professor Associado do Departamento de Mineralogia e Geotectocircnica GMG IGUSP e enviado por e-mail no dia 21 set 2005

151

Como indica este parecer a amostra se constituiacutea de uma escoacuteria ldquoresto

de fundiccedilatildeordquo contendo wuumlstita (FeO) e ferro caracterizando desta forma o material

do escorial citado

Fig 60 ESCOacuteRIA RESTOS DE FUNDICcedilAtildeO AacuteREA E

Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema

Observe-se que a presenccedila do metal de ferro impregnado nessa escoacuteria

era resultante da teacutecnica de fundiccedilatildeo para fabricaccedilatildeo do ferro empregada no

Brasil ateacute o iniacutecio do seacuteculo XIX Com a introduccedilatildeo do processo de altos-fornos no

Brasil foi possiacutevel melhorar o aproveitamento do mineacuterio de ferro durante o

processo de fundiccedilatildeo

Nesta mesma aacuterea E foi encontrada uma grande quantidade de telhas

localizadas na parte externa das aacutereas ldquoBrdquo e ldquoCrdquo anteriormente descritas Foram

coletadas 930 fragmentos de telhas as quais foram localizadas ao longo de uma

faixa do terreno com largura da ordem de 060 e 080 cm paralelamente a parede

sul das aacutereas ldquoBrdquo e ldquoCrdquo sugerindo corresponder a mesma posiccedilatildeo sob um ldquobeiral

do telheiro que cobria as respectivas aacutereasrdquo (ANDREATTA 1987 p36v) (Anexo

15)

152

As telhas encontradas permitem afirmar que no local havia uma cobertura

sendo que os trabalhos de dataccedilatildeo sobre um exemplar de telha (Figura 61)

executado pelo meacutetodo de termoluminescecircncia pelo Laboratoacuterio de Vidros e

Dataccedilatildeo da Faculdade de Tecnologia de Satildeo Paulo ndash FATEC acusou uma

dataccedilatildeo (em anos) de 280 +- 40 o que equivale a afirmar que aquele fragmento

foi fabricado entre os anos de 1686 a 1766 periacuteodo correspondente a pelo

menos dois projetos de Faacutebrica de Ferro para aquele local o de Luiz Lopes de

Carvalho e o de Domingos Pereira Ferreira sendo que este uacuteltimo empreendedor

esteve ali estabelecido durante um periacuteodo de no miacutenimo 12 anos (Relatoacuterio de

Ensaio Anexo 1)

A partir dos exames dos fragmentos das telhas encontradas tendo por

base o tipo de pasta coloraccedilatildeo e decoraccedilatildeo foi possiacutevel identificar seis grupos

distintos daquele material conforme a tabela de classificaccedilatildeo abaixo

(ANDREATTA 1987 p21)

Classificaccedilatildeo Caracteriacutestica

Tipo I Branca com riscos (podem ter sentido

longitudinal transversal em X ou em cruz) -

Predominante

Tipo II Branca lisa

Tipo III Vermelha lisa

Tipo IV Marron lisa

Tipo V Vermelha marcadas com granulaccedilatildeo grosseira

Tipo VI Vermelha lisa e com granulaccedilatildeo grosseira

(ANDREATTA 1987 p22)

Quanto a decoraccedilatildeo foram identificados quatro tipos de motivos conforme

os itens descritos abaixo

153

Tipo 1 - linhas digitais horizontais formados por duas linhas relativamente finas

(10 cm) paralelas e orientadas de uma extremidade a outra da telha A natureza

dessas linhas indica que foram confeccionadas em alguns casos por meio da

utilizaccedilatildeo de dedos (indicador e meacutedio)

Tipo 2 - linhas digitais associadas neste caso a decoraccedilatildeo eacute composta por uma

uacutenica linha com a largura de 03 a 05 cm traccedilada na posiccedilatildeo horizontal associada

a uma outra decoraccedilatildeo de forma semicircular

Tipo 3 - linhas digitais paralelas e inclinadas a decoraccedilatildeo apresenta linhas de 10

cm inclinadas e entrelaccediladas

Tipo 4 - linhas digitais inclinadas apresentam linhas com 10 a 15 cm

154

Fig 61 TELHA (AacuteREA E) ndash SEacuteCULO XVIII Idade 280 +- 40 (tn 255 cm) Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema

155

Fig 62 TELHA (AacuteREA E) (tn30 cm) Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema

Fig 63 TELHA AacuteREA E (tn 33 cm) Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema

156

531 Fornos de fundiccedilatildeo na aacuterea externa da Faacutebrica (Aacuterea A1) Na aacuterea externa agrave Faacutebrica de Ferro localizada em diversas posiccedilotildees ao sul

e leste da edificaccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro inclusive na aacuterea aqui denominada de

escorial a pesquisa arqueoloacutegica mostrou a existecircncia de pequenos fornos de

fundiccedilatildeo do tipo ldquofornos baixosrdquo (Anexo 9)

Nessa mesma aacuterea junto ao local denominado ldquoArdquo foi identificado um dos

fornos de fundiccedilatildeo o qual foi denominado de ldquoforno1rdquo da aacuterea A1 junto ao qual

foram encontrados diversos materiais arqueoloacutegicos fragmento de ceracircmicas um

material liacutetico identificado como ldquoraspadorrdquo uma garrafa de greacutes fragmentos de

faianccedila portuguesa e telhas As evidecircncias de ceracircmicas encontradas nessa aacuterea

constituem artefatos relacionados ao grupo social de ocupaccedilatildeo colonial

Fig 64 RASPADOR PLANO-CONVEXO AacuteREA E

157

Fig 65 GARRAFA GRES AacuteREA A FORNO-1

Tambeacutem foi localizado um afloramento de rocha nas proximidades da

Faacutebrica margem esquerda do ribeiratildeo do Ferro o qual apresentava marcas de

uso possivelmente para afiar ferramentas (ANDREATTA 1983 p 18)

5311 Forno de Fundiccedilatildeo 1

O Forno 1 era do tipo conhecido como ldquoforno baixordquo sendo o uacutenico

encontrado junto a Faacutebrica de Ferro Entretanto dois outros fornos baixos foram

localizados em um local mais distante (da ordem de 50m) e denominado aacuterea A2

da referida Faacutebrica possivelmente fazendo parte de um outro conjunto de

produccedilatildeo de ferro (Anexo 9)

Os trabalhos de reconhecimento arqueoloacutegico mostraram que o Forno 1

(aacuterea A1) foi construiacutedo sobre uma base retangular com blocos de arenito sendo

158

que duas paredes foram erguidas tambeacutem com blocos de arenito (lados Norte e

Oeste ) enquanto que as duas outras faces foram encaixadas no proacuteprio terreno

rochoso do afloramento de arenito (lados Sul e Leste) aproveitando o relevo

inclinado no local

Uma descriccedilatildeo relacionada ao Forno 1 (aacuterea A1) feita pela pesquisadora e

arqueoacuteloga Margarida Davina Andreatta informa que

uma parte da ldquoconcavidaderdquo (lado Leste) eacute o proacuteprio afloramento

de arenito e o lado Sul tambeacutem enquanto que os lados Norte e

Oeste satildeo revestidos de blocos de arenito e no centro haacute

pequenos blocos tambeacutem de arenito que provavelmente rolaram

da superfiacutecie do proacuteprio muro de pedras da forja (ANDREATTA

1986 p9)

Os dados da pesquisa arqueoloacutegica mostraram ainda que o Forno 1 (aacuterea

A1) apresentava em planta as seguintes dimensotildees comprimento 340m (norte-

sul) largura 260m (leste ndash oeste) e profundidade de 085m (Andreatta 1986

p10)

Fig 66 DECAPAGEM FORNO1 AacuteREA A1 1987

159

Fig 67 VESTIacuteGIOS DO FORNO DE FUNDICcedilAtildeO1- (AacuteREA A1)89

532 Fornos de fundiccedilatildeo da Aacuterea A2 A pesquisa arqueoloacutegica mostrou vestiacutegios de dois outros fornos de

fundiccedilatildeo localizados subjacentes a um morrote denominado B nesta aacuterea A2 a

qual dista cerca de 50 metros ao Sul do local da aacuterea A1 onde existe uma ruiacutena

da Faacutebrica de Ferro O morrote B (ver Figuras 13 e 68) apresentava dimensotildees

de 1280 metros de comprimento por 250m de largura e 135 m altura Aleacutem do

forno de fundiccedilatildeo foram encontrados tijolos telhas e fragmentos de ceracircmica

(ANDREATTA 1987 p65-66) ( Anexo 9)

89 Ver em Pesquisas arqueoloacutegica prosseguem em Ipanema Jornal Cruzeiro do Sul Sorocaba 19 de marccedilo de 1987p 1

160

Fig 68 MORROTE E FORNOS 1 E 2 ndash AREA A2

161

Fig 69 CROQUI AacuteREA A 2 MORROTE B ndash FORNOS 1 E 2 Desenho de Maacutercia Gutierrez Escala 120

162

5321 Forno de fundiccedilatildeo 1 (aacuterea A2) O forno de fundiccedilatildeo 1 da aacuterea A2 caracteriza-se tambeacutem como do tipo

baixo Durante a pesquisa arqueoloacutegica esta evidecircncia se apresentou como o

forno de fundiccedilatildeo mais bem conservado dentre aqueles encontrados Este forno

tem a forma circular com 070 m de diacircmetro interno e 100 m de diacircmetro

externo com 030 m de profundidade A estrutura apresenta na base um vatildeo de

015 m que corresponde agrave abertura atraveacutes da qual se fazia a ldquocorrida das

escoacuteriasrdquo (Figuras 70 e 71)

A parede circular do Forno 1 (aacuterea A2) eacute ldquo assentada diretamente sobre o

solo e eacute constituiacuteda por tijolos e fragmentos de telhas e argamassa com argila do

proacuteprio solo originalrdquo (ANDREATTA 1987 p65-66) Junto ao vatildeo existente no

piso do forno foi feito um pequeno corte (025 m X 025 m X 010 m) para

evidenciar com maior precisatildeo a funccedilatildeo que teria aquela abertura em relaccedilatildeo agrave

estrutura do forno de fundiccedilatildeo

Com base nas investigaccedilotildees arqueoloacutegicas desenvolvidas foi possiacutevel

evidenciar a existecircncia de uma camada de 002 m de ldquosolo compactado e

queimado e com maior resistecircncia em relaccedilatildeo do restante do solo original abaixo

dele e do entornordquo( (ANDREATTA 1987 p65-66) comprovando que de fato

aquela abertura correspondia ao orifiacutecio responsaacutevel pela drenagem das escoacuterias

Esta abertura era comum a todos os fornos de fundiccedilatildeo do tipo forno baixo com

emprego do meacutetodo direto

163

Fig 70 VESTIacuteGIOS DE FORNO DE FUNDICcedilAtildeO 1- AacuteREA A2 1988

164

Fig 71 CROQUI DO FORNO 1 AacuteREA A2 (1987) Desenho de Marcia Gutierrez

165

5322 Forno de fundiccedilatildeo 2 (aacuterea A2)

O vestiacutegio arqueoloacutegico do Forno 2 foi encontrado a 045 m de

profundidade correspondendo a um forno do tipo baixo apresentando forma

circular construiacutedo com a utilizaccedilatildeo de telhas e ldquotijolosrdquo os quais eram materiais

diferentes daqueles encontrados em outras evidecircncias de fornos neste Sitio Esta

constataccedilatildeo denota que natildeo havia uma regra determinada para a construccedilatildeo de

fornos no que se refere agrave utilizaccedilatildeo de materiais de construccedilatildeo podendo haver

alternativas de uso de outros materiais conforme a disponibilidade de materiais

no local (Figuras 72 73 e 74)

Os registros do trabalho arqueoloacutegico permitiram evidenciar que o Forno 2

apresentava as seguintes dimensotildeesldquodiacircmetro de 110 m com uma borda de 28

cm de largura com a presenccedila de fragmentos de telhas tijolos e argamassa

(latossolo vermelho)rdquo ldquoDo interior do forno foram retiradas telhas (fragmentos)

em quantidade e tijolos e barro cozido com grande presenccedila de mineacuterio de ferrordquo

(ANDREATTA 1987 p65-66)

Quanto ao barro cozido (argila) encontrado no interior desse forno teria

sido provavelmente resto de um revestimento interno jaacute que o material do qual

ele foi construiacutedo (telhas e tijolos) estava disposto de forma bastante irregular A

utilizaccedilatildeo da argila como revestimento nos fornos de fundiccedilatildeo era muito comum

dando um efeito refrataacuterio ao forno fazendo com que natildeo fosse desperdiccedilada a

temperatura elevada que era proporcionada pela combustatildeo do carvatildeo vegetal no

interior do forno e necessaacuteria para separar o metal de ferro do mineacuterio no caso a

Magnetita

166

Fig 72 FORNO DE FUNDICcedilAtildeO 2 ndash AacuteREA A2 1988

Fig 73 FORNO DE FUNDICcedilAtildeO 2 ndash AacuteREA A2 1988

167

Fig 74 FORNO DE FUNDICcedilAtildeO 2 ndash AacuteREA A2 1988

168

CAPITULO 6

INTERPRETACcedilOtildeES DOS DADOS ARQUEOLOacuteGICOS

No Capiacutetulo 5 foram apresentados os resultados da pesquisa arqueoloacutegica

desenvolvida no Siacutetio Afonso Sardinha que envolveram trabalhos de

reconhecimento de campo segundo planos de escavaccedilatildeo coleta de artefatos

levantamentos planialtimeacutetricos e elaboraccedilatildeo de croquis tudo devidamente

registrado no Diaacuterio de Campo da arqueoacuteloga Margarida Davina Andreatta

No presente Capiacutetulo apresentam-se os resultados das anaacutelises detalhadas

dos registros arqueoloacutegicos que resultaram da pesquisa de campo e em seguida

interpretadas as informaccedilotildees anteriormente consolidadas com base nos

conhecimentos da Arqueologia Histoacuterica e Histoacuteria da Teacutecnica e da Ciecircncia

Na elaboraccedilatildeo da siacutentese interpretativa foi necessaacuterio em

complementaccedilatildeo valer-se de instrumentos disponiacuteveis em outras aacutereas do

conhecimento tais como Geologia Mineralogia Metalurgia Engenharia Civil

dentre outras aacutereas

Nesta fase dos estudos arqueoloacutegicos foram elaborados exames visuais e

catalograacuteficos visando a dataccedilatildeo relativa inclusive com o envio de imagem para

fins de comprovaccedilatildeo para Paulo Dordio arqueoacutelogo pesquisador da Casa do

Infante Porto ndash Portugal

Tambeacutem encaminhadas trecircs amostras de ceracircmica de utensiacutelios e telhas

as quais foram submetidas a testes de dataccedilatildeo absoluta com base em ensaios

de Termoluminescecircncia pelo Laboratoacuterio de Vidros e Dataccedilatildeo da Faculdade de

Tecnologia de Satildeo Paulo ndash FATEC sob a coordenaccedilatildeo da Professora Doutora

Sonia H Tatumi (Relatoacuterio de Ensaio Anexo 1)

169

Por outro lado amostras de resiacuteduos de fundiccedilatildeo (escoacuterias) foram

submetidas a anaacutelise quiacutemica-mineraloacutegica no laboratoacuterio do Departamento de

Mineralogia e Geotectocircnica ndash GMG Instituto de Geociecircncias da Universidade de

Satildeo Paulo sob a responsabilidade do pesquisador e Professor Associado Daniel

Atencio

61 Avaliaccedilatildeo das caracteriacutesticas do Arranjo das Estruturas Ao analisarmos o conjunto das estruturas arqueoloacutegicas entatildeo

descobertas considerando o contexto relacionado agrave produccedilatildeo do ferro na Europa

entre os seacuteculos XVI ao XVIII e levando em conta os conhecimentos que emanam

da Histoacuteria Colonial do Brasil e da Histoacuteria da Teacutecnica eacute possiacutevel estabelecer

muitas semelhanccedilas entre os arranjos das ldquoferrariacuteas de aacuteguardquo destinadas a

produccedilatildeo de ferro na Espanha (Paiacutes Basco) e os vestiacutegios descobertos no vale

das Furnas (Sitio Arqueoloacutegico Afonso Sardinha)

Um dos aspectos mais importantes que demonstram tal semelhanccedila entre

as ldquoferreriacuteas de aacuteguardquo e a Faacutebrica do Vale das Furnas refere-se agrave localizaccedilatildeo das

estruturas numa posiccedilatildeo de curva do ribeiratildeo do Ferro de onde era possiacutevel

captar e desviar as aacuteguas mediante a construccedilatildeo de um sistema hidraacuteulico

formado pelas seguintes unidades (a) Dique para represamento do ribeiratildeo (b)

Canal de Derivaccedilatildeo para desvio das aacuteguas (c) Estrutura de Vala com alojamento

de roda drsquoaacutegua e (d) Canal de restituiccedilatildeo das aacuteguas para o ribeiratildeo do Ferro

Tambeacutem chamam a atenccedilatildeo a arquitetura da principal estrutura construiacuteda

localizada na aacuterea A1 a qual mostra diversos recintos com a divisatildeo

caracteriacutestica das ldquoferreriacuteasrdquo encontradas na Espanha nos seacuteculos XVI assim

como as dimensotildees da edificaccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro construiacuteda numa aacuterea

retangular com 13m de largura por 16 m de comprimento No caso das ldquoferreriacuteasrdquo

170

bascas as edificaccedilotildees satildeo igualmente retangulares com as dimensotildees de 12 m de

largura por 17 metros de comprimento

Vale tambeacutem mencionar que arranjo semelhante pode ser observado no

caso da edificaccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro que entrou em operaccedilatildeo

em 1607 (ver fig 27)

Observa-se tambeacutem o emprego da alvenaria de pedra - teacutecnica construtiva

introduzida no Brasil pelos primeiros colonizadores como no caso da construccedilatildeo

da Casa da Torre de Garcia DrsquoAvila (ano de 1549) na Praia do Forte atual

municiacutepio de Mata de Satildeo Joatildeo Litoral Norte da Bahia (HOLANDA 2002)

Essa mesma teacutecnica exceto pequenas variaccedilotildees respeitavam as tradiccedilotildees

ibeacutericas tendo sido empregada no Brasil tambeacutem para construccedilotildees de

residecircncias edifiacutecios puacuteblicos igrejas e fortificaccedilotildees principalmente no litoral As

paredes feitas de pedra eram entatildeo revestidas com argamassa de areia e cal

obtido pela queima de cascas de ostras encontradas em depoacutesitos no litoral

Nota-se conforme registros das Atas da Cacircmara da Vila de Satildeo Paulo para o ano

de 1609 que essa mesma teacutecnica que se utilizava da cal como argamassa

tambeacutem foi utilizada na construccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro (1607)

(NEME 1959 p 348)

62 As ldquoferreriacuteasrdquo de aacutegua na Peniacutensula Ibeacuterica

Na Europa e principalmente na Espanha as ldquoferreriacuteas de aguardquo se

expandiram a partir do seacuteculo XIV90 Assim eram chamados os edifiacutecios

destinados ao trabalho de fundiccedilatildeo do ferro que utilizavam a forccedila motriz

hidraacuteulica para acionar os foles dos fornos de fundiccedilatildeo e os malhos

90 Ruta de las Minas y Ferreriacuteas Desde las primitivas instalaciones hasta el siglo XVIII Disponiacutevel em lthttpwwwbizkaianetkulturakirol_gazteriaFTPGazteriapaginadedesplegablesPrimitivas_instalcionespdfgt Acesso em 30 mar 05

171

Essas ldquoferreriacuteas de aacuteguardquo para viabilizar o seu funcionamento exigiam

certas condiccedilotildees fisiograacuteficas cujos componentes essenciais satildeo a presenccedila do

mineacuterio de ferro nas proximidades madeiras para produccedilatildeo de carvatildeo e cursos

drsquoagua com corredeiras e volume de aacuteguas suficientes para a geraccedilatildeo de forccedila

motriz

Hubo dos tipos de ferreriacuteas de agua las que se valiacutean del caudal

de los rios que funcionaban todo el antildeo y las que dependiacutean de

arroyos que no entraban em funcionamiento hasta las

temporadas de otontildeo e invierno cuando la lluviacuteas incrementaban

el caudal de los regatos y la fuerza del agua Estas uacutetimas no

llegaron a ser consideradas como autenticas ferreriacuteas de agua

Em Biskaia se disignaba a las primeras como ldquode rio caudalrdquo y a

las segundas como ldquoregaterasrdquo Tambieacuten em Gipuzkoa se

diferenciaban unas de otras com los nombres de ldquozeharrolakrdquo y

ldquoagorrolakrdquo respectivamente

Para aprovechar la fuerza del agua era imprescidible que la

ferreriacutea estuviesse construiacuteda em el lugar adecuado Debiacutea estar

situada em la curva de um rio em um lugar em el que fuese faacutecil

desviar el agua de su curso natural a traveacutes de um sistema de

canales y anteparas para que despueacutes de hacer rotar la rueda

hidaulica pudiesse volver a su cauce naturalCuando no era

posible conseguir esta situacioacuten se recurriacutea a crear um sistema

artificial de presas que contuviesen el agua em um niacutevel maacutes

elevado de forma que para mover las ruedas hidraacuteulicas bastaba

com dejar caer la aacutegua sobre ellas 91

91 Ruta de las Minas y Ferreriacuteas Desde las primitivas instalaciones hasta el siglo XVIII Disponiacutevel em lthttpwwwbizkaianetkulturakirol_gazteriaFTPGazteriapaginadedesplegablesPrimitivas_instalcionespdfgt

172

Fig 75 ASPECTO DE UMA ldquoFERRERIacuteA DE AGUArdquo SEacuteCULO XVII92

92 Felipe III visita la ferreriacutea de Yarza en Beasain (Guipuacutezcoa) en 02 noviembre de 1615

173

As plantas das ldquoferreriacuteas de aacuteguardquo encontradas na regiatildeo basca da

Espanha obedeciam a um arranjo de planta retangular medindo em meacutedia 12 X

17 metros com cobertura de duas aacuteguas sendo que suas dependecircncias e

instalaccedilotildees geralmente compreendiam duas estruturas baacutesicas para a produccedilatildeo

de ferro o sistema hidraacuteulico ao qual jaacute se fez referecircncia e o edifiacutecio de

produccedilatildeo

A construccedilatildeo desse edifiacutecio principal era executada por construtores

especializados em teacutecnicas de edificaccedilotildees em alvenaria de pedra bem como na

instalaccedilatildeo de sistemas hidraacuteulicos exigindo a participaccedilatildeo de carpinteiros os

quais seriam os responsaacuteveis pela construccedilatildeo da roda drsquoaacutegua dos eixos da caixa

de aacutegua e das estruturas para o telhado 93

Para a operaccedilatildeo das ldquoferreriacuteasrdquo era necessaacuterio contar com pessoal teacutecnico

com conhecimentos tanto em mineraccedilatildeo quanto na fundiccedilatildeo bem como no

manejo dos dispositivos de utilizaccedilatildeo da energia das aacuteguas dos rios atraveacutes do

sistema hidraacuteulico

Este edifiacutecio destinado a produccedilatildeo abrigava diversos compartimentos

sendo o maior deles reservado agrave oficina a qual deveria se localizar ao lado da

Vala onde estava instalada a roda drsquoaacutegua que acionavam os eixos responsaacuteveis

pela movimentaccedilatildeo do malho e foles

O espaccedilo destinado agrave oficina era organizado de modo a levar em conta

duas unidades fundamentais de produccedilatildeo do ferro o forno de fundiccedilatildeo e o malho

A disposiccedilatildeo desses equipamentos no interior da oficina natildeo era aleatoacuteria uma

vez que a teacutecnica empregada para a fabricaccedilatildeo do ferro exigia que aqueles

Disponivel em lthttpwwweuskomediaorgeuskomediaSAunandigt Acesso em 20 marccedilo 2005 93 FERNANDEZA C La construccioacuten del hierro ndashmazos y ferreriacuteas Escuela Universitaacuteria de Arquitectos tecnicos de la Corunatilde Disponiacutevel em wwwguillenderohancomEXPOGRImzos-memoriahtm Acesso em 07mar06

174

equipamentos estivessem posicionados nas proximidades tendo em vista o fato

de os trabalhos serem complementares

Aleacutem da oficina o edifiacutecio principal deveria abrigar depoacutesitos de mateacuteria-

prima como carvatildeo vegetal e mineacuterio de ferro jaacute calcinado (tostado) e uma aacuterea

comum de descanso

Fig 76 SISTEMA DE ldquoPUJOacuteN TUERTOrdquo foles e malho satildeo acionados com o emprego de uma uacutenica roda hidraacuteulica94

94 Ruta de las Minas y Ferreriacuteas Desde las primitivas instalaciones hasta el siglo XVIII Disponivel emhttpwwwbizkaianetKulturaKirol_gazteriaFTPGazteriapaginadedesplegablePrimitivas_instalacionespdf Acesso em 17 novembro de 2006

175

Fig 77 TRABALHO DE EXTRACcedilAtildeO DA MASSA DE FERRO 63 Sistema hidraacuteulico produccedilatildeo da forccedila motriz 631 Dique de represamento do ribeiratildeo do Ferro

As investigaccedilotildees de campo natildeo possibilitaram localizar o Dique de

represamento do ribeiratildeo do Ferro possivelmente em razatildeo da fragilidade dessas

estruturas diante da forccedila das aacuteguas

Entretanto vale registrar o testemunho de Luiz Lopes de Carvalho o qual

em carta dirigida ao Rei de Portugal em maio de 1692 afirmava que

por experiecircncia que fiz pelas minhas matildeos pois fabricando um

Engenho muito limitado por natildeo ter posses que mais tirava todos

os dias este rendimento de um quintal de ferro de duas pedras

176

poreacutem soacute cinco dias continuei nesta oficina em razatildeo de ir uma

cheia e como pela pobreza afabriquei com pouca fortaleza se

arruinou ficando incapaz de poder continuar na faacutebrica95

632 Canal de Derivaccedilatildeo das aacuteguas

As condiccedilotildees de erosatildeo na aacuterea do possiacutevel traccedilado tambeacutem natildeo

permitiram localizar a estrutura do dique responsaacutevel pelo desvio das aacuteguas no

ribeiratildeo do Ferro bem como localizar a comporta responsaacutevel pelo controle do

acesso de aacuteguas em direccedilatildeo ao canal

Deve-se ressaltar que a estrutura do dique eacute necessaacuteria para a elevaccedilatildeo

do niacutevel da aacutegua do ribeiratildeo para o desvio enquanto que a comporta permitiria

regular a vazatildeo em direccedilatildeo ao Canal de Derivaccedilatildeo A aacutegua conduzida atraveacutes do

deste Canal de derivaccedilatildeo impulsionada pela gravidade alcanccedilaria a entrada da

Vala sendo em seguida recolhida em um depoacutesito posicionado sobre aquela

estrutura

A Figura 78 mostra um possiacutevel traccedilado do referido canal sendo que no

desenho o iniacutecio do canal foi posicionado num ponto do ribeiratildeo acima da cota

583m conforme o levantamento planialtimeacutetrico executado na aacuterea do Siacutetio

Arqueoloacutegico Afonso Sardinha96

95 Carta enviada por Luiz Lopes de Carvalho ao Rei de Portugal datada de maio de 1692 RODRIGUES Leda Maria Pereira As minas de ferro em Biraccediloiaba ndash Satildeo Paulo seacuteculos XVI XVII XVIII Anais do III Simpoacutesio dos Professores Universitaacuterios de Histoacuteria Franca 1966 p 218 96 Planta Planialtimeacutetrica Siacutetio Arqueoloacutegico Histoacuterico Afonso Sardinha Escala 1200 CENEA sd

177

Fig 78 TRACcedilADO ESQUEMAacuteTICO DO CANAL DE DERIVACcedilAtildeO

633 Vala da roda A finalidade da estrutura da Vala eacute a de abrigar a roda drsquoaacutegua dispositivo

necessaacuterio para transformar a energia hidraacuteulica em energia mecacircnica para

movimentar os equipamentos e ferramentas da Faacutebrica de Ferro

A Vala da roda foi construiacuteda com paredes de blocos de pedras de modo a

permitir o fluxo da correnteza e ao mesmo tempo proteger o terreno contra as

erosotildees impedindo as infiltraccedilotildees das aacuteguas para o interior das dependecircncias da

Edificaccedilatildeo Principal

O fato de natildeo terem sido encontrados fragmentos de telhas no interior da

Vala quando foram realizadas as pesquisas arqueoloacutegicas parecem indicar que

178

os esteios natildeo serviam para sustentar telhado Por outro lado a Histoacuteria da

Teacutecnica mostra que outras instalaccedilotildees da mesma eacutepoca destinadas a produccedilatildeo

da energia hidraacuteulica tambeacutem natildeo apresentavam telhado na aacuterea da Vala

Sendo assim sobram duas hipoacuteteses para explicar a existecircncia daqueles

esteios A primeira hipoacutetese eacute que tais esteios serviriam para sustentar uma calha

de madeira com uma extensatildeo da ordem de 12 metros responsaacutevel pela

conduccedilatildeo e descarga da aacutegua diretamente sobre as paacutes da roda valendo-se de

um dispositivo denominado empejeiro ou pejador que servia para o controle da

quantidade de aacutegua descarregada sobre a roda (KATINSKY 1985 p 230)

Outra possibilidade eacute que os esteios sustentavam um reservatoacuterio de aacutegua

- o ldquobanzaordquo - responsaacutevel pelo repouso do liacutequido de modo a garantir a sua

descarga controlada sobre as paacutes da roda conforme os projetos comumente

encontrados nas construccedilotildees das ldquoferreriacuteas de aguardquo da regiatildeo Basca - Espanha

(Figura 79)

A laje de pedra do fundo da Vala mostra forte declividade da Vala sendo

que na extremidade superior (coincidente com o ponto de interligaccedilatildeo com o

Canal de Derivaccedilatildeo) a cota eacute igual a 453 enquanto que na extremidade inferior

junto a margem do ribeiratildeo do Ferro a cota do terreno eacute igual a 041 Sendo

assim o desniacutevel total eacute de 412 metros na extensatildeo total da Vala igual a 19

metros ou seja cerca de 20

Outra observaccedilatildeo importante eacute que o niacutevel do fundo da Vala no ponto

meacutedio da sua extensatildeo seria igual a 230 m mostrando nesta posiccedilatildeo desniacutevel de

cerca de 2 metros abaixo do provaacutevel niacutevel da Faacutebrica (cota aproximada 450 m)

revelando a possibilidade de alojamento da roda drsquoaacutegua a partir desta mesma

posiccedilatildeo

O desenho do arranjo do sistema hidraacuteulico encontrado no Sitio Sardinha

mostra semelhanccedilas claras com o arranjo que caracterizam as ferreriacuteas bascas

179

O exame do conjunto das estruturas mostram que a construccedilatildeo tirou partido da

declividade do terreno para aproveitamento da forccedila da gravidade aplicada ao

processo da produccedilatildeo do ferro

634 A Caixa de Aacutegua - ldquoBanzaordquo O ldquobanzaordquo era uma caixa de aacutegua com volume adequado para garantir o

repouso da aacutegua instalado acima do niacutevel da Vala em uma posiccedilatildeo diretamente

sobre a roda A instalaccedilatildeo dessas caixas tinha por objetivo garantir uma altura da

queda drsquoaacutegua necessaacuteria para impulsionar a roda e ao mesmo tempo armazenar

um volume de aacutegua adequado para direcionar o jato diretamente sobre as paacutes

da roda com uma pressatildeo constante de modo a resultar o movimento uniforme

para a rotaccedilatildeo da roda

Os rdquobanzaosrdquo mais ruacutesticos e antigos eram feitos de madeira material que

criava vaacuterios problemas de manutenccedilatildeo fato que levou agrave substituiccedilatildeo desse

material a partir do seacuteculo XVIII por alvenaria de pedra

O acionamento da roda se dava por meio de uma espeacutecie de vara

localizada no interior da Faacutebrica a qual permitia regular a quantidade de aacutegua

descarregada sobre a roda Elena Faus descreve esse funcionamento da

seguinte forma

El paso del aacutegua a la rueda se abre o cierra por meacutedio de

tanpones o ldquochimbosrdquo Cuando los operaacuterios los abren salta y

golpea directamente las palas de la rueda instalada debajo

provocando su giro Con el fin de evitar peacuterdidas de liacutequido y

maximizar su rendimiento se antildeade un canal ldquoguzur-askardquo que lo

conduce directamente sobre la rueda Posteriormente se evacua

por un aliviadero la ldquoonda-askardquo (FAUS 2000 p 63)

180

Contudo mesmo apostando na hipoacutetese de que haveria um ldquobanzaordquo

acima da Vala encontrada torna-se difiacutecil estabelecer a sua dimensatildeo e volume

Mas as evidecircncias encontradas sugerem que esta caixa de aacutegua deveria ter no

maacuteximo 12 metros de comprimento (medidos a partir do inicio do canal ateacute o

uacuteltimo vestiacutegio de esteio) por aproximadamente 225 m (largura da vala)

restando indefinida a medida da altura da caixa

Fig 79 SOLUCcedilAtildeO EM ldquoBANZAOrdquo DE MADEIRA ndash DEPOacuteSITO DE AacuteGUA97

97 LAS FERRERIacuteAS DE AGUA DE ASTURIAS Disponivel em ltwwwbelmontedemirandanetfraguaindexhtmgt Acesso em 20jun05

181

635 A roda hidraacuteulica

Em 1983 quando foram iniciadas as pesquisas arqueoloacutegicas no Siacutetio

Afonso Sardinha a Vala destinada agrave instalaccedilatildeo da roda drsquoaacutegua jaacute havia sido

identificada Contudo eacute somente em 1986 que as pesquisas se concentraram na

aacuterea daquela Vala Graccedilas ao fato de esta estrutura ter permanecido enterrada a

mesma ficou preservada possibilitando avaliar a sua funccedilatildeo e o fato de que o

local deveria ter sido destinado agrave instalaccedilatildeo de uma roda hidraacuteulica vertical com

eixo horizontal (Figura 79)

A utilizaccedilatildeo da roda drsquoaacutegua para os trabalhos metaluacutergicos natildeo era

novidade para os empreendimentos dessa natureza pois a teacutecnica aplicada para

a construccedilatildeo desse tipo de Faacutebrica jaacute era bastante difundida entre os artesatildeos da

Idade Meacutedia os quais buscaram adaptar as ferramentas utilizadas no trabalho da

produccedilatildeo de ferro (por exemplo foles e malhos) de modo a permitir a sua

movimentaccedilatildeo atraveacutes da forccedila obtida das rodas drsquoaacutegua

Em 1104 os ldquomoinhos para bater o ferrordquo jaacute eram encontrados nos Pirineus

espanhoacuteis Gille os descreve da seguinte forma

as forjas que anteriormente eram acionadas a braccedilos e que

itinerantes deslocavam-se agrave procura dos fornos-baixos a

procura de mateacuteria prima e do combustiacutevel a partir de entatildeo se

estabelecem permanentemente ao longo dos rios (GILLE Apud

GAMA 1985 p 133)

Entre os seacuteculos XIV e XV surgiram no paiacutes basco adaptaccedilotildees da roda

hidraacuteulica para acionar os ldquosoprantesrdquo - os foles - (instrumentos utilizados para

insuflar oxigecircnio para dentro dos fornos) possibilitando intensificar a combustatildeo

do carvatildeo vegetal de modo a elevar a temperatura no interior do forno No paiacutes

basco o martelo hidraacuteulico jaacute havia sido incorporado agravequela atividade desde o

seacuteculo XV em Gipuzkoa e desde o seacuteculo XVI em Biskaia ambas localizadas na

182

regiatildeo basca Em 1531 operavam em ambas as regiotildees cerca de 200

estabelecimentos utilizando essa teacutecnica (FAUS 2000 p 60)

Fig 80 ldquoLOCALIZACcedilAtildeOrdquo DO MALHO E DA RODA HIDRAUacuteLICA (INTERPRETACcedilAtildeO) (Desenho Agnaldo Zequini)

183

6 4 A Faacutebrica de Ferro os espaccedilos de produccedilatildeo

O local onde se encontra instalada a Faacutebrica de Ferro do Sitio Arqueoloacutegico

Afonso Sardinha oferece todas as condiccedilotildees fisiograacuteficas favoraacuteveis para a

instalaccedilatildeo daquele empreendimento De fato o conjunto se encontra

praticamente na aacuterea das jazidas de mineacuterios de ferro junto a um ribeiratildeo com

quantidade de aacuteguas satisfatoacuterias para o caso de produccedilatildeo do ferro relativamente

pequena como deveria ser o caso da instalaccedilatildeo existente no morro de Araccediloiaba

Outro fator decisivo para a produccedilatildeo de ferro era a presenccedila de matas com

abundacircncia de madeiras A esse respeito segundo uma descriccedilatildeo do Vale das

Furnas apresentada no decorrer de 1692 por Luiz Lopes de Carvalho (um dos

que investiram na construccedilatildeo de Faacutebrica de Ferro naquele local) o mesmo

lastimava o fato de ter que reduzir os ldquodensos arvoredos em que se achatildeo paos

Reais e madeirasrdquo em carvatildeo o uacutenico combustiacutevel utilizado nos processos de

fundiccedilatildeo de ferro (RODRIGUES 1963 p 203)

O mesmo Luiz Lopes de Carvalho testemunhava naquele mesmo ano que

aquele morro estava coberto ldquode mineral de ferro de meuda aacuterea athe pedras de

des a Robas e mui dilatadas betas [veios] Profundas Largas e Compridasrdquo

esclarecendo que o mineacuterio ao ser submetido ao processo de reduccedilatildeo tinha um

rendimento de dois para um ldquoa cada douz quintais de pedra se tira hum de ferrordquo

(RODRIGUES 1966 p 204)

641 A Oficina da Faacutebrica de Ferro

A planta da Faacutebrica de Ferro encontrada com dimensotildees de 13m X 16m

permite identificar as provaacuteveis posiccedilotildees de cada uma das unidades de produccedilatildeo

184

necessaacuterias agrave fabricaccedilatildeo do ferro quais sejam o espaccedilo destinado a oficina e a

forja

No caso da construccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro do Sitio Afonso Sardinha eacute

possiacutevel identificar a aacuterea destinada a oficina onde deveriam ficar instalados os

equipamentos do forno de fundiccedilatildeo e foles e do malho Nessa planta a aacuterea estaacute

identificada pelas letras C e F (Anexo 9)

Fig81 FAacuteBRICA DE FERRO DO SITIO AFONSO SARDINHA ARRANJO DOS EQUIPAMENTOS (Interpretaccedilatildeo) (Desenho Agnaldo Zequini)

185

Fig 82 FAacuteBRICA DE FERRO PLANTA BAIXA (Interpretaccedilatildeo) (Desenho Agnaldo Zequini)

Contudo entre os anos de 1986-1987 quando foram aprofundadas

as pesquisas arqueoloacutegicas naquelas aacutereas por meio de decapagem e abertura

de trincheiras natildeo foram encontrados vestiacutegios materiais que permitissem

identificar os locais dentro da oficina onde estariam instalados os fornos e o

malho como tambeacutem nenhum resiacuteduo testemunho da produccedilatildeo de ferro

Diante dessa constataccedilatildeo podemos levantar pelo menos duas hipoacuteteses

de interpretaccedilatildeo Uma delas estaacute relacionada agrave proacutepria natureza daquele siacutetio o

qual ao longo dos seacuteculos sofreu vaacuterias intervenccedilotildees antroacutepicas que poderiam

186

provocar algumas perturbaccedilotildees no registro arqueoloacutegico colaborando dessa

forma para o desaparecimento das evidecircncias

A segunda hipoacutetese decorre do fato de que os exames das condiccedilotildees de

superfiacutecie do terreno na parte da edificaccedilatildeo identificada como ldquoCrdquo (Oficina)

apresentam indiacutecios de antigas erosotildees decorrentes da presenccedila do ribeiratildeo do

Ferro Tal interpretaccedilatildeo permitia concluir que as enchentes do ribeiratildeo do Ferro

seriam responsaacuteveis pela pequena quantidade de artefatos arqueoloacutegicos

naquela aacuterea (Figura 81)

A figura abaixo apresenta um corte do terreno na provaacutevel aacuterea da Oficina

mostrando irregularidade na superfiacutecie do piso possivelmente decorrente de

erosotildees junto a margem do ribeiratildeo do Ferro provocadas pelas enchentes

187

Fig 83 INDICACcedilAtildeO DA POSSIacuteVEL AacuteREA ERODIDA PELAS ENCHENTES ndash AREA C ndash (Interpretaccedilatildeo) (Desenho Agnaldo Zequini)

188

6411 O Malho O malho era um instrumento imprescindiacutevel para o processo de produccedilatildeo

do ferro pelo denominado meacutetodo direto Essa ferramenta possuiacutea um longo

braccedilo de madeira que media cerca de trecircs a quatro metros de comprimento e

funcionava como alavanca com apoio intermediaacuterio Uma das extremidades do

braccedilo dessa alavanca funcionava como um martelo e apresentava na

extremidade uma cabeccedila de ferro ndash o malho ndash que dava o nome ao equipamento

Em outra extremidade havia um dispositivo que permitia transformar o movimento

de rotaccedilatildeo da roda em deslocamento vertical oscilante do braccedilo permitindo

assim que o malho golpeasse a ldquobola de ferrordquo que ficava apoiada em uma

bigorna

Ao golpear a ldquobola de ferrordquo denominaccedilatildeo dada ao produto retirado do

interior do forno de fundiccedilatildeo esta operaccedilatildeo perseguia trecircs objetivos importantes

eliminar as escoacuterias que ainda permaneciam aderidas a bola de ferro compactar

aquela massa e finalmente dar forma de barra ou lingote que era o produto final

para a comercializaccedilatildeo

A operaccedilatildeo desse martelo com funcionamento hidraacuteulico eacute descrito em um

texto informativo publicado pela Universidade de Oviedo-Espanha sem menccedilatildeo

de autor e ano de publicaccedilatildeo

La rueda hidraulica movida por el impulso del agua le comunica al

eje o aacuterbol un movimiento rotatoacuterio de este agraverbol sobresalen unos

dientes a modo de levas concretamente cuatro situados a 90ordm los

manobreiros quem en su giro percuten sobre el extremo del

mango del martillo la dendala en su movimiento oscilante el

yunque o incre esta golpeo se repite cuatro veces por cada giro

completa de la rueda 98

98 Ingenios hidraulicos histoacutericos molinos batanes y ferreriacuteas Universidad de Oviedo ndashEspana Disponiacutevel e em lthttpwww1unioviesasturiasferreriasgt Acesso em 17 jun 04

189

O movimento do malho era produzido mediante a transmissatildeo de forccedila

originada atraveacutes do eixo de uma roda hidraacuteulica especifica para esta tarefa Um

segundo tipo de sistema de acionamento utilizava uma uacutenica roda hidrauacutelica para

movimentaccedilatildeo do braccedilo do malho e ao mesmo tempo pelo acionamento dos

foles Este uacuteltimo sistema era conhecido como ldquopujoacuten tuertordquo e era o sistema mais

comumente empregado nas ferrariacuteas bascas99

No Brasil a utilizaccedilatildeo dessa ferramenta para a produccedilatildeo de ferro eacute

encontrada em documentos relacionados agrave construccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro de

Santo Amaro no iniacutecio do seacuteculo XVII Em 1605 para instalaccedilatildeo dessa Faacutebrica

foram entregues pela Administraccedilatildeo Espanhola agrave Diogo de Quadros ldquo2 malhos

que podiam pesar pouco mais ou menos entre ambos 3 quintais mais duas

argolas grandes da mesma ferramentardquo (RODRIGUES 1963 p 190)

Possivelmente foi entregue a Diogo de Quadros apenas a ldquocabeccedila de ferrordquo

(o malho propriamente dito) enquanto que as demais peccedilas da estrutura pelo

fato de serem confeccionadas inteiramente com madeira poderia ter sido

fabricada no Brasil

No caso da Faacutebrica de Ferro do Siacutetio Afonso Sardinha dispotildeem-se apenas

de documentos escritos que registram a presenccedila desse equipamento conforme

a carta escrita no ano de 1768 por D Luiz Antonio de Souza Governador da

Capitania de Satildeo Paulo dirigida ao Conde de Oeiras atraveacutes da qual apresenta

informaccedilotildees sobre a Faacutebrica de Ferro que havia sido construiacuteda por Domingos

Pereira Ferreira e seus soacutecios

Nesse documento D Luiz afirmava que aquele empreendimento era uma

das atividades que estava dando maior preocupaccedilatildeo em sua gestatildeo explicando

que

99 Binganaria no sistema de pujoacuten tuerto a Binganaria corresponde agrave viga de transmissatildeo entre a roda hidraacuteulica e os foles

190

se tem trabalhado desde aquele tempo [1760] ateacute o presente

em grandes dispecircndios dos acionistas em fazer fornos

grandes e pequenos por diferentes modos safras [bigorna

de ferreiro] martelos malhos rodas e engenhos para os

mover e tudo o necessaacuterio (RODRIGUES 1966 p 190)

Uma outra notiacutecia relacionada a essa mesma Faacutebrica ficou registrada em

outra documentaccedilatildeo datada de 1770 atraveacutes da qual Jacinto Joseacute de Abreu um

dos soacutecios de Domingos Pereira Ferreira dava conta de que o andamento dos

trabalhos lhe estava causando o ldquomaior desgostordquo pelo fato de ter quebrado o

malho ldquoque tanto dispecircndio e trabalho custourdquo A reclamaccedilatildeo expressada por

Jacinto Joseacute de Abreu pode ser compreendida natildeo somente pelo prejuiacutezo

financeiro decorrente da perda direta da peccedila como tambeacutem pelo prejuiacutezo

decorrente da consequumlente paralisaccedilatildeo da produccedilatildeo do ferro

6412 ndash O Forno de Fundiccedilatildeo e Foles As pesquisas arqueoloacutegicas no Siacutetio Afonso Sardinha natildeo lograram

identificar vestiacutegios materiais de fornos de fundiccedilatildeo no interior da aacuterea

reconhecida como sendo a Oficina da Faacutebrica Tendo em vista o arranjo e a

extensatildeo do espaccedilo levantado pelas pesquisas de campo bem como as teacutecnicas

de fundiccedilatildeo de ferro disponiacuteveis de acordo com os estudos da histoacuteria da teacutecnica

para o periacuteodo que interessa ao presente trabalho entendemos que eacute correto

afirmar que o forno de fundiccedilatildeo ali empregado deveria ser do tipo ldquoforno baixordquo

De qualquer forma natildeo eacute possiacutevel afirmar que o meacutetodo de fundiccedilatildeo

utilizado no interior da Faacutebrica de Ferro corresponda ao que eacute conhecido como

ldquomeacutetodo catalatildeordquo ou ldquoforno catalatildeordquo uma vez que as pesquisas arqueoloacutegicas e

tambeacutem as documentais natildeo conseguiram encontrar qualquer dado a respeito do

modelo do forno de fundiccedilatildeo ali utilizado nem qualquer informaccedilatildeo a respeito do

processo de extraccedilatildeo do ferro na operaccedilatildeo de fundiccedilatildeo

191

De fato o forno catalatildeo se diferenciava dos demais fornos baixo por

apresentar uma forma que lembrava o de uma piracircmide invertida com trecircs

paredes planas e uma convexa confeccionadas com pedras refrataacuterias

(GARCIA sd p7) O que tambeacutem caracterizava o forno catalatildeo era o

procedimento de colocaccedilatildeo do carvatildeo e do mineacuterio no interior do forno para

extraccedilatildeo do metal Pere Molera I Sola (1982 p 208) ao analisar o procedimento

direto de obtenccedilatildeo do ferro pelo meacutetodo catalatildeo assinala que este meacutetodo

apresentava a peculiaridade de empregar a teacutecnica de ldquotrompa de aacuteguardquo para

promover a injeccedilatildeo do ar para dentro do forno Entretanto alguns fornos

reconhecidos como do tipo catalatildeo tambeacutem empregavam a teacutecnica de foles

movidos por roda drsquoaacutegua com aquele objetivo

O mesmo autor esclarece que o forno catalatildeo era

sin duda elemento maacutes importante consistia en una cavidad de

forma trocopiramidal invertida cuyas dimensiones de la base

mayor estaban en torno a los 60 por 50 cm La altura era de unos

80 cm Dentro de la nave industrial el horno estaba situado junto

a una pared principal denominada lsquopiec del focrsquo (pie del fuego)

todas las paredes del horno presentaban superficies planas

menos lsquolrsquoore o contraventrsquo (contraviento) que para facilitar la

extraccioacuten del producto reducido ofreciacutea una superficie convexa

y estaban parcialmente recubiertas con planchas de acero La

pared del horno adosada al lsquopiec del focrsquo y opuesta a lsquolrsquoorersquo se

denominaba lsquoles porguesrsquo (las cribas) y estaba atravesada por la

tobera que inyectaba aire al horno Entre ambas las paredes

estaba el lsquolleteirolrsquo (rebosadero) pared agujereada para faciclitar

la eliminacioacuten de la escoria liquida frente a la cual se encontraba

la lsquocavarsquo pared de piedra sin revistir y ligeramente inclinada

(SOLA 1982 p 208-209)

A operaccedilatildeo de fundiccedilatildeo eacute descrita pelo mesmo autor conforme segue

192

La operacioacuten de reduccioacuten de la mena concentrada se iniciaba

cubriendo el fono del horno con polvo de carboacuten vegetal Se le

prendia fuego Una vez caliente el horno se antildeadia una capa de

trozos de caroacuten de mayor tamantildeo E inmediatamente se

superponia una plancha de acero en al centro del horno paralela

a las lsquoporguesrsquo Ello permitiacutea situar una capa vertical de carboacuten en

al lado de la tobera y una capa de mineral al otro lado de la

plancha Se quitaba luego la plancha y se cubriacutea la parte superior

del mineral con una capa de pequentildeos trozos de carboacuten huacutemedo

y escorias al objeto de que la superficie externa quedase de

forma esfeacuterica y concentrase las llamas Se insuflaba aire por las

toberas y a la hora y media se alcanzaban ya temperaturas

superiores o los 1200 grados C Durante tres o cuatro horas

consecutivas se iba antildeadiendo mineral y carboacuten al tiempo que

por el ldquolletirolrdquo se eliminaba la escoria liquida Si la escoria era

densa lo que evidenciaba un alto contenido en hierro se volviacutea a

introducir en el horno La operacioacuten terminaba cuando en el fondo

del horno se formaba una bola irregular de unos 100 kilogramos

de peso de hierro o acero dulce con inclusiones de escoria y

poros el lsquomasserrsquo (zamarra) En se momento empezaba la

operacioacuten maacutes espectacular de la fraga la saca el lsquomasserrsquo del

horno y transportarlo hasta el martinete lo que requeriacutea el

concurso de todo el personalrdquo (SOLA 1982 p 211-212)

193

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

1- A partir das evidecircncias arqueoloacutegicas levantadas pela pesquisadora Margarida

Davina Andreatta no Siacutetio Afonso Sardinha foram elaboradas anaacutelises e em

seguida as interpretaccedilotildees com base nos conhecimentos da Arqueologia Histoacuterica

e da Histoacuteria da Teacutecnica relacionadas a produccedilatildeo de ferro Tais estudos

permitiram comprovar que aquela aacuterea arqueoloacutegica corresponde a um campo de

exploraccedilatildeo e produccedilatildeo de ferro desde a segunda metade do seacuteculo XVI

2- As ruiacutenas da edificaccedilatildeo principal identificadas como ldquoBrdquo (Forja) e ldquoCrdquo (Oficina)

tratam-se de aacutereas de produccedilatildeo de uma Faacutebrica de Ferro O espaccedilo identificado

como ldquoDrdquo corresponde a uma vala de acomodaccedilatildeo da roda drsquoaacutegua responsaacutevel

pela produccedilatildeo da forccedila de origem hidraacuteulica necessaacuteria para movimentar os

equipamentos e ferramentas da fabricaccedilatildeo ( Anexo 9)

3- Os exames das condiccedilotildees de superfiacutecie do terreno na parte da edificaccedilatildeo

identificada como ldquoCrdquo (Oficina) apresentam indiacutecios de antigas erosotildees

decorrentes da presenccedila do ribeiratildeo do Ferro sendo que esta interpretaccedilatildeo

permite concluir que os fenocircmenos apontados foram os responsaacuteveis pela

ausecircncia de artefatos arqueoloacutegicos naquela aacuterea

4- Os exames dos vestiacutegios dos fornos de fundiccedilatildeo encontrados nas aacutereas A e

A2-B externa do edifiacutecio principal da fabricaccedilatildeo de ferro indicam que satildeo do tipo

baixo provavelmente insulflados a fole de matildeo natildeo sendo possiacutevel afirmar que

seriam fornos do tipo catalatildeo

5- As ruiacutenas da Faacutebrica de Ferro indicam que as mesmas tratam de instalaccedilotildees

de modelo de produccedilatildeo industrial inclusive com divisatildeo de tarefas em aacutereas

distintas uso de energia hidraacuteulica transformada em forccedila mecacircnica para

194

movimentaccedilatildeo das ferramentas e para insuflaccedilatildeo do ar para queima do carvatildeo

nos fornos de fundiccedilatildeo

6- As dataccedilotildees absolutas e tambeacutem as relativas realizadas indicaram que naquele

local houve uma sobreposiccedilatildeo de distintos empreendimentos para a produccedilatildeo do

ferro desde o final do seacuteculo XVI e ao longo do seacuteculo XVIII

7- A causa mais provaacutevel do insucesso econocircmico de todas as tentativas de

produccedilatildeo de ferro em Araccediloiaba se relaciona a mineralogia da magnetita e

associaccedilotildees com outras substancias minerais as quais eram nocivas agrave qualidade

do produto metaluacutergico Neste caso vale ressaltar a presenccedila prejudicial

principalmente do titacircnio e do foacutesforo cujas presenccedilas eram desconhecidas pelos

exploradores

8- A planta da edificaccedilatildeo principal (aacutereas ldquoBrdquo ldquoCrdquo e ldquoDrdquo e ldquoFrdquo) evidenciada se

ajusta aos arranjos de espaccedilo produtivo de ferro tiacutepicos de modelos encontrados

naquele mesmo periacuteodo nas aacutereas de mineraccedilatildeo da Peniacutensula Ibeacuterica

notadamente aquele desenvolvido na regiatildeo basca (Anexo 9)

195

BIBLIOGRAFIA E ARQUIVOS PESQUISADOS

ARQUIVOS Arquivo da Cidade de Satildeo Paulo Arquivo do Estado de Satildeo Paulo Arquivo do Museu Histoacuterico Sorocabano Arquivo Municipal da Cidade de Itu Documentaccedilatildeo do Museu Paulista -USP Instituto de Estudos Brasileiros ndash USP Museu Republicano Convenccedilatildeo de ItuMPUSP Projeto Arqueologia Histoacuterica ndash Museu Paulista USP Todas as fotografias croquis e plantas relacionadas a pesquisa arqueoloacutegica realizada no Siacutetio Afonso Sardinha entre os anos de 1983-1989 e que estatildeo inseridas nesta tese foram reproduzidas a partir deste acervo BIBLIOGRAFIA ABSAacuteBER Aziz Nacib Morro de Ipanema conhecimentos Scientific American Brasil Ediccedilatildeo Nordm 52 - setembro de 2006 Disponiacutevel em lthttpwww2uolcombrsciamconteudoeditorialeditorial_36Htmlgt Acesso em 14mar06 ARAUJO M Alves Faacutebrica de Ferro de Satildeo Joatildeo de Ipanema Auxiliador da Industria Nacional n50 Rio de Janeiro1882 ABREU Joatildeo Capistrano de Capiacutetulos de histoacuteria colonial (1500-1800) amp Os caminhos antigos e o povoamento do Brasil Brasiacutelia Editocircra Universidade de Brasiacutelia 1963 ALBUQUERQUE Gislene Batista RODRIGUES Ricardo Ribeiro A vegetaccedilatildeo do Morro de Araccediloiaba Floresta Nacional de Ipanema (SP) Scientia Florestalis n58 p 145-159 dez 2000 Disponiacutevel em lt wwwipefbrpublicacoesscientianr58cap11pdfgt

ALBUQUERQUE G B Floresta Nacional de Ipanema Caracterizaccedilatildeo da Vegetaccedilatildeo em Dois Trechos Distintos do Morro de Araccediloiaba Iperoacute (SP) 1999 186p Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Ciecircncias Florestais) ndash ESALQUSP Piracicaba

196

AMARAL Aracy A Hispanidade em Satildeo Paulo da casa rural agrave Capela de Santo Antocircnio Satildeo Paulo Livraria Nobel 1981 ALMEIDA Aluisio de Sorocaba 3 seacuteculos de Histoacuteria Itu-SP editora Ottoni 2002 _____ Histoacuteria de Sorocaba Sorocaba Graacutefica Guarani1951 _____ Faacutebrica de Ferro do Ipanema (cronologia) Revista do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Sorocaba n3 SorocabaO Instituto 1958 _____ O Ipanema em 1813 faacutebrica de ferro Satildeo Joatildeo de Ipanema Revista do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Satildeo Paulo Satildeo Paulo O Instituto n 36 p 151-165 1939 ANCHIETA Joseacute de Minhas cartas Satildeo PauloAssociaccedilatildeo Comercial de Satildeo Paulo Melhoramentos 198- ANDRADA Martim Francisco Ribeiro de Jornaes de viagens pela Capitania de Satildeo Paulo Revista do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico e Ethnographico do Brasil Rio de Janeiro Typografia Universal de H Laemmert amp C 1882 _____ Satildeo Joatildeo do Ypanema descriccedilatildeo do morro do mineral de ferro sua riqueza methodo usado na antiga fabricaccedilatildeo seus defeitos Revista do Instituto Histoacuterico Geograacutefico Brasileiro Rio de Janeiro Imprensa Nacional n18 p 244-253 1855 ANDREacuteN Anders Between Artifacts na Texts New York Plenum Press 1998 ANDREATTA Margarida Arqueologia Histoacuteria e a Mineraccedilatildeo de Ipanema Satildeo Paulo Coloacutequio de Histoacuteria e Teoria do conhecimento geograacutefico Campinas Unicamp 1988 _____ Diaacuterio de Campo 1983-1989 Projeto Arqueologia Histoacuterica Museu PaulistaUSP _____ Arqueologia Histoacuterica no municiacutepio de Satildeo Paulo Revista do Museu Paulista vol XXVIII p 174-176 198121986a _____ Arqueologia Histoacuterica ndash cidade de Satildeo Paulo Arqueologia Revista do centro de Estudos e Pesquisas Arqueoloacutegicas vol5 p 113-115 _____ Casa do Grito ndash Ipiranga Programa de Arqueologia Histoacuterica no municiacutepio de Satildeo Paulo Revista do Arquivo Municipal n 197 p153-172 1986b _____ Cientistas aproveitam escavaccedilotildees no vale do Anhangabauacute para recolher objetos antigos [Entrevista] Estado de Satildeo Paulo Satildeo Paulo p22 20 maio 1990

197

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GLOSSAacuteRIO

Banzao de madeira BANZAO Denominaccedilatildeo que era dada na regiatildeo basca ndash Espanha para depoacutesitos de aacutegua que eram instalados sobre as rodas drsquoaacutegua e de onde era despejado jato de aacutegua sobre as paacutes daquela roda fazendo-a girar Na estrutura identificada por essa pesquisa as evidencias pressupotildee a utilizaccedilatildeo desse equipamento

BIGORNA Ferramenta feito por um bloco de pedra ou metal utilizado como suporte para martelar sobre o ferro

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CABECcedilA DE MALHO Peccedila metaacutelica que eacute afixada em uma das extremidades da ferramenta que leva esse nome

ESCOacuteRIA ldquorestos de fundiccedilatildeordquo um sub-produto da fundiccedilatildeo de mineacuterio para purificar metais No caso das teacutecnicas de fundiccedilatildeo utilizadas ateacute o seacuteculo XIX no Brasil as escoacuterias produzidas apoacutes o processo de fundiccedilatildeo apresentavam uma grande quantidade de ferro (metal) em sua composiccedilatildeo O que vale dizer que os fornos utilizados para aquela atividades natildeo alcanccedilavam as temperaturas acima de para proporcionar maior aproveitamento do mineacuterio empregado

Ferreriacutea de Bolunburu es un conjunto ferro molinero que desde el siglo XVII

FERRERIacuteA Edifico que abrigava as ferramentas e equipamentos para a produccedilatildeo do ferro O sistema de produccedilatildeo empregado nas ferrariacuteas denominado de meacutetodo direto de produccedilatildeo consistia em ldquocozinharrdquo o mineacuterio de ferro em fornos baixo usando como combustiacutevel o carvatildeo vegetal Apoacutes ldquocozidordquo o ferro se transformava em uma esponja de ferro que era levada para ser trabalhada sobre

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uma bigorna e golpeada pelo malho Este trabalho servia para compactar a massa liberar as escoacuterias e dar forma FERRO O ferro (do latim ferrum) eacute um elemento quiacutemico siacutembolo Fe de nuacutemero atocircmico 26

Foles acionados por forccedila humana seacuteculo XVI FOLES Equipamento utilizado para insuflar ar para dentro do forno promovendo assim a combustatildeo do carvatildeo Podiam ser acionados manualmente ou por utilizaccedilatildeo de roda drsquoaacutegua

Forno baixo com a utilizaccedilatildeo de fole manual FORNO BAIXO Espaccedilo normalmente de pequenas dimensotildees onde se realizava a reduccedilatildeo (extraccedilatildeo do metal ndashferro ndash do mineacuterio) e de Havia vaacuterias denominaccedilotildees para esse tipo de forno como fornos de vento fornos castelhanos fornos catalatildees forno de manga etc Estes fornos dada a sua dimensatildeo e os instrumentos de insuflaccedilatildeo do ar utilizado natildeo permitiam a fundiccedilatildeo do mineacuterio Nos fornos baixos acima referidos a disposiccedilatildeo do carvatildeo vegetal e dos pedaccedilos de mineacuterios no interior do forno eram feitos em camadas superpostas e horizontais

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Forno Catalatildeo e Trompa Hidrauacutelica FORNO CATALAtildeO O forno catalatildeo eacute assim denominado por ter sido uma teacutecnica desenvolvida nos Pirineus catalatildees A teacutecnica catalatilde ou meacutetodo catalatildeo de fundiccedilatildeo possuem alguns elementos que o caracterizam como 1- a forma de construccedilatildeo do forno que lembra uma lareira tendo o seu formato interno feito de forma de uma piracircmide invertida 2- disposiccedilatildeo interna do carvatildeo e dos pedaccedilos de mineacuterios dentro do forno os quais eram colocados de lados opostos e paralelos 3- utilizaccedilatildeo da trompa hidraacuteulica para insuflar oxigecircnio para a combustatildeo do carvatildeo esse sistema foi desenvolvido na regiatildeo da atual Itaacutelia e utilizado em grande escala nas faacutebricas de ferro da Catalunha Na regiatildeo Basca foram utilizados foles de grandes dimensotildees acoplados a roda drsquoaacutegua FORNO DE FUNDICcedilAtildeO Espaccedilo onde se daacute a reduccedilatildeo do mineacuterio No periacuteodo estudado a reduccedilatildeo ou fundiccedilatildeo era proporcionada pela queima proporcionada pela insuflaccedilatildeo de oxigecircnio por meio de foles manuais do carvatildeo vegetal que era colocada dentro desses fornos junto com pedaccedilos de mineacuterio FORJA Fornalha de que se servem os ferreiros e outros artiacutefices para incandescer os metais para serem trabalhados numa bigorna Do francecircs forge e do Latin fabrica Tambeacutem pode designar o trabalho realizado pelo ferreiro por meio do fogo e do martelo para dar forma aos metais

HEMATITA mineral de foacutermula oacutexido de ferro III (Fe2O3) um dos diversos oacutexidos de ferro

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MAGNETITA mineral magneacutetico formado pelos oacutexidos de ferro II e III ( FeO Fe2O3) cuja foacutermula quiacutemica eacute Fe3O4

MALHO Daacute se o nome de malho a peccedila metaacutelica que estaacute afixada em uma das extremidades do martinete o qual por conseguinte daacute o nome ao equipamento METAL elemento quiacutemico Satildeo metais os metais bem conhecidos satildeo alumiacutenio cobre ouro ferro prata titacircnio uracircnio e zinco MINERAL Substacircncia natural MINEacuteRIO mineral que conteacutem um metal na sua composiccedilatildeo quiacutemica Todo o mineacuterio eacute mineral OFICINA Ou Farga (em catalatildeo) espaccedilo em que estatildeo assentados o forno e o malho equipamentos destinados a produccedilatildeo de ferro MARTINETE Instrumento usado para golpear os metais incandescentes na forja para dar-lhes a forma desejada Tambeacutem pode designar um malho movido por roda drsquoagua METALURGIA Teacutecnica de obtenccedilatildeo dos metais No periacuteodo pesquisado a teacutecnica era conhecida como meacutetodo direto

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OacuteXIDOS Combinaccedilatildeo do oxigecircnio com outros elementos No nosso caso com ferro

TROMPA Mecanismo que aproveita a forccedila da caiacuteda da aacutegua para gerar um fluxo contiacutenuo em direccedilatildeo do forno Era um elemento caracteriacutestico do forno catalatildeo

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ANEXOS

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  • FAacuteVERO Oriana Aparecida NUCCI Joatildeo Carlos De BIASI Maacuterio Mapeamento da vegetaccedilatildeo e usos das terras da Floresta Nacional de Ipanema IperoacuteSP

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SUMAacuteRIO

Iacutendice 06 Iacutendice das Figuras 10 Resumo 14 Abstract 15 Introduccedilatildeo 16 Capiacutetulo I 19 Capiacutetulo II 47 Capiacutetulo III 83 Capiacutetulo IV 109 Capitulo V 126 Capitulo VI 167 Consideraccedilotildees finais 193 Bibliografia 195 Glossaacuterio 214 Anexos 220

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IacuteNDICE INTRODUCcedilAtildeO 15 CAPIacuteTULO 1 O SIacuteTIO AFONSO SARDINHA QUESTOtildeES DA ARQUEOLOGIA HISTOacuteRICA 11 Contexto do presente trabalho 19

111 Avaliaccedilatildeo dos dados bibliograacuteficos 19 112 Histoacuterico das descobertas das ruiacutenas 26 113 Consideraccedilotildees sobre a metodologia 32

114 Descriccedilatildeo geral das pesquisas arqueoloacutegicas realizadas 37

12 Principais questotildees a serem abordadas no decorrer da Tese 46

CAPITULO 2 A TECNICA DE PRODUCcedilAtildeO DE FERRO NO PERIODO ENTRE OS SEacuteCULOS XVI AO XVIII 21 Consideraccedilotildees sobre Teacutecnica e Tecnologia 47 22 O conceito de Teacutecnica 50 23 A valorizaccedilatildeo do conhecimento teacutecnico e a ciecircncia

experimental moderna 53 2 4 A Tecnologia como sinocircnimo de Teacutecnica 55

25 A Teacutecnica de produccedilatildeo do ferro 59

26 Fornos de fundiccedilatildeo de ferro 64

27 Tratados Teacutecnicos de Metalurgia 78

CAPITULO 3 HISTOacuteRICO DA MINERACcedilAtildeO NO BRASIL COLONIAL 31 As primeiras expediccedilotildees mariacutetimas a busca dos metais nobres 83 32 O Peabiru uma trilha para o Sertatildeo 85 33 O descobrimento da prata em Potosi 88 34 A busca de metais nobres na Capitania de Satildeo Vicente 90 35 D Francisco de Sousa a organizaccedilatildeo da exploraccedilatildeo mineral 91

7

36 Teacutecnicos e praacuteticos na mineraccedilatildeo e metalurgia 94 37 A Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro 96

38 A Faacutebrica de Ferro do morro de Araccediloiaba os empreendedores 99 39 A Real Faacutebrica de Ferro de Satildeo Joatildeo do Ipanema 103 CAPIacuteTULO 4 O SIacuteTIO AFONSO SARDINHA 41 Localizaccedilatildeo 109 42 A vegetaccedilatildeo 116 43 Rios e ribeirotildees

44 A magnetita o mineacuterio do morro de Araccediloiaba 119

45 Fatores fisiograacuteficos da ocupaccedilatildeo europeacuteia 123

CAPIacuteTULO 5 INVESTIGACcedilOtildeES ARQUEOLOacuteGICAS AS EVIDENCIAS DE UMA FAacuteBRICA DE FERRO 126

51 Estruturas hidraacuteulicas para a produccedilatildeo da forccedila motriz 129

511 O Canal de Derivaccedilatildeo 129

512 A Vala da Roda 132

5121 Evidecircncias de esteios 134 52 A Faacutebrica de Ferro os espaccedilos de produccedilatildeo 137 521 Area ldquoCrdquo 137 522 A Aacuterea B (ldquoForjardquo) 139

53 Area E Sul da Faacutebrica de Ferro 150 531 Fornos de fundiccedilatildeo na aacuterea externa da Faacutebrica (Aacuterea A1) 155 531 Forno de Fundiccedilatildeo 1 157 532 Fornos de fundiccedilatildeo da Aacuterea A2 159 5321 Forno de fundiccedilatildeo 1 (aacuterea A2) 161 5322 Forno de fundiccedilatildeo 2 (aacuterea A2) 165

CAPITULO 6 INTERPRETACcedilOtildeES DOS DADOS ARQUEOLOacuteGICOS 61 Avaliaccedilatildeo das caracteriacutesticas do Arranjo das Estruturas 167 62 As ldquoferreriacuteasrdquo de aacutegua na Peniacutensula Ibeacuterica 170 63 Sistema hidraacuteulico produccedilatildeo da forccedila motriz 175

8

631 Dique de represamento do ribeiratildeo do Ferro 175 632 Canal de Derivaccedilatildeo das aacuteguas 176 633 Vala da roda 177 634 A Caixa de Aacutegua - ldquoBanzaordquo 179 635 A roda hidraacuteulica 180 6 4 A Faacutebrica de Ferro os espaccedilos de produccedilatildeo 183

641 A Oficina da Faacutebrica de Ferro 183 6411 O Malho 188 6412 Fornos de fundiccedilatildeo e foles 190 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 193 BIBLIOGRAFIA 195 GLOSSAacuteRIO 214 ANEXOS 220 1 Relatoacuterio de Ensaio ndash Laboratoacuterio de Vidros e Dataccedilatildeo ndash FATEC 2 Inventaacuterio de Peccedilas Ceracircmica 3 Inventario de Peccedilas Liacutetico 4 Inventaacuterio de Peccedilas Louccedilas 5 Inventaacuterio de Peccedilas Telhas 6 Inventaacuterio de Peccedilas Metal 7 Tratado da Arte de ensaiar e fundir cobre ferro e accedilo Ano de 1691 8 Aranzel ou Roteiro de haveres de oiro e pedras preciosas Ano de 1696 9 Planta Geral da aacuterea pesquisada Siacutetio Afonso Sardinha (Mapa 1) 10 Mapeamento das aacutereas de decapagem e escavaccedilatildeo ( Mapa 2) 11 Aacuterea E - Concentraccedilatildeo de lacircminas de metal (Mapa 3)

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12 Aacuterea E - Concentraccedilatildeo de escoacuterias (Mapa 4) 13 Aacuterea E - Concentraccedilatildeo de blocos de arenito (Mapa 5) 14 Aacuterea E ndash Concentraccedilatildeo de cravos de metal (Mapa 6) 15 Aacuterea E - Concentraccedilatildeo de telhas (Mapa 7)

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INDICE DAS FIGURAS

1 Mapa de localizaccedilatildeo da FLONA ndash Ipanema 2 Mapa de localizaccedilatildeo do Siacutetio Afonso Sardinha 3 Desenho esquemaacutetico da localizaccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro 4 Aspecto do Siacutetio Afonso Sardinha 1983 5 Iniacutecio das pesquisas arqueoloacutegicas no Siacutetio Afonso Sardinha 1983 6 Reuniatildeo de trabalhos 1984 7 Aspecto da Faacutebrica de ferro em 1987 8 Planta do Siacutetio Afonso Sardinha aacutereas A1 e A2 9 Planta da aacuterea A1 10 Vista Geral da aacuterea A1 11 Vista Geral da aacuterea A2 12 Planta da aacuterea A2B detalhe 13 Planta do morrote A2B 14 Aacuterea A2 morrote e evidencias de fornos de fundiccedilatildeo 15 Corte esquemaacutetico de um forno baixo 16 Maquete de forno de fundiccedilatildeo (Celta) 17 Forno de fundiccedilatildeo (romano) 18 Fornos de fundiccedilatildeo de lupa ou de vento 19 Corte esquemaacutetico de fornos de fundiccedilatildeo de lupa ou de vento 20 Fornos de fundiccedilatildeo de Guaira (Potosi)

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21 Fornos de fundiccedilatildeo seacuteculo XVI 22 Fornos de Fundiccedilatildeo seacuteculo XVI 23 Arranjo funcional de uma Faacutebrica de Ferro 24 Elementos que compotildeem uma ldquoFarga Catalanrdquo 25 Traccedilado do Peabiru (Tronco de Satildeo Vicente) 26 Mapa do Peabiru feito por Pasquale Petrone 27 Prospecto das ruiacutenas da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro 28 Vista Geral da Faacutebrica de Ferro de Ipanema 1827 29 Vista Geral da Faacutebrica de Ferro de Ipanema seacuteculo XIX 30 Altos fornos geminados construiacutedos por Varnhagem 1818 31 Alto forno construiacutedo pelo Cel Mursa 1888 32 Roteiro Histoacuterico da Mineraccedilatildeo e metalurgia paulista 33 Mapa Geoloacutegico do Morro de Araccediloiaba 34 Bloco diagrama da regiatildeo da Serra de Araccediloiaba 35 Vista geral do morro de Araccediloiaba I 36 Vista geral do morro de Araccediloiaba II 37 Magnetita 38 Limpeza do Siacutetio Afonso Sardinha 1984 39 Equipe de trabalho 1988 40 Vista geral da aacuterea E 1988 41 Dimensotildees da Vala da roda e localizaccedilatildeo da evidecircncias de esteios 42 Vala da roda hidraacuteulica 1987 - I 43 Vala da roda hidraacuteulica 1987 ndash II 44 Evidecircncias de esteios

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45 Detalhe da evidecircncia de esteios 46 Detalhe de um esteio 47 Topografia do terreno da aacuterea C 48 Vista geral da aacuterea C 1987 49 Reconstituiccedilatildeo das paredes da aacuterea B 1984 50 Evidecircncias de paredes da aacuterea B 1984 51 Parede reconstituiacuteda da aacuterea B 1984 - I 52 Parede reconstituiacuteda da aacuterea B 1984 - II 53 Parede reconstituiacuteda da aacuterea B 1984 - III 54 Vasilhame de ceracircmica (0106) aacuterea B seacuteculo XVI - I 55 Vasilhame de ceracircmica (0106) aacuterea B seacuteculo XVI - II 56 Vasilhame de ceracircmica (0106) aacuterea B seacuteculo XVI ndash III 57 Vasilhame de ceracircmica (0122) aacuterea B seacuteculo XVI ndash I 58 Vasilhame de ceracircmica (0122) aacuterea B seacuteculo XVI ndash II 59 ldquoTijelardquo faianccedila [seacuteculo XVII] 60 Escoacuteria ndash restos de fundiccedilatildeo aacuterea E 61 Telha (0115) aacuterea E seacuteculo XVIII 62 Telha aacuterea E 63 Telha aacuterea E 64 Raspador plano convexo aacuterea E 65 Garrafa de greacutes aacuterea A ndash forno1 66 Decapagem aacuterea A forno 1 67 Vestiacutegios do forno de fundiccedilatildeo 1 aacuterea A1 68 Morrote e vestiacutegios de fornos de fundiccedilatildeo aacuterea A2

13

69 Croqui da aacuterea A2 morrote B 70 Vestiacutegios do forno de fundiccedilatildeo 1 aacuterea A2 71 Croqui do forno de fundiccedilatildeo 1 aacuterea A2 72 Vestiacutegios do forno de fundiccedilatildeo 2 aacuterea A2 - I 73 Vestiacutegios do forno de fundiccedilatildeo 2 aacuterea A2 ndash II 74 Vestiacutegios do forno de fundiccedilatildeo 2 aacuterea A2 ndash III 75 Aspecto de uma ldquoferreriacutea de aacuteguardquo seacuteculo XVII 76 Sistema de ldquopujoacuten tuortordquo 77 Trabalho de extraccedilatildeo da ldquobola de ferrordquo ou ldquomassa de ferro 78 Traccedilado esquemaacutetico do Canal de Derivaccedilatildeo aacuterea A1 (Interpretaccedilatildeo) 79 rdquo Depoacutesito de aacutegua soluccedilatildeo ldquoBanzaordquo 80 localizaccedilatildeo do malho e da roda hidraacuteulica (Interpretaccedilatildeo) 81 Faacutebrica de Ferro do Siacutetio Afonso Sardinha arranjo dos equipamentos (interpretaccedilatildeo) 82 Faacutebrica de Ferro Planta baixa (interpretaccedilatildeo) 83 Faacutebrica de Ferro aacuterea erodida (Interpretaccedilatildeo)

14

RESUMO

Esta Tese tem como objetivo analisar a pesquisa arqueoloacutegica e os

artefatos coletados no Sitio Arqueoloacutegico Afonso Sardinha localizado no morro de

Araccediloiaba Iperoacute - Satildeo Paulo

O resultado da anaacutelise permitiu concluir que a aacuterea corresponde a um

campo de mineraccedilatildeo de ferro com a presenccedila de evidecircncias de uma Faacutebrica de

Ferro de um sistema de aproveitamento de energia hidraacuteulica para movimentar

os equipamentos e ferramentas destinadas a produccedilatildeo e de fornos de fundiccedilatildeo

Aleacutem disso a dataccedilatildeo do material ceracircmico (vasilhames e telhas) indica que as

atividades de exploraccedilatildeo do mineacuterio tiveram iniacutecio no seacuteculo XVI

Palavras-Chaves Arqueologia Histoacuterica Floresta Nacional de Ipanema Teacutecnica

de produccedilatildeo de ferro Colonial Sitio Afonso Sardinha morro de Araccediloiaba Iperoacute-

SP

15

ABSTRACT This Thesis has the goal to analyze archaeological research and artifacts

found in Afonso Sardinha Archaeological site located on Mount Araccediloiaba Iperoacute

Satildeo Paulo

The analysis result leads to the conclusion that the area corresponds to iron

mining field with the presence of Iron Factory evidence a system that makes use

of hydraulic power to move the equipment and tools used in the production and

small ovens to melt iron Besides the ceramic date (pots and tiles) indicates that

mineral digging activities began in the 16th century

Key words History Archeology Ipanema National Forest Colonial Iron

Production Technique Archeological Site Afonso Sardinha Mount Araccediloiaba

Iperoacute-SP

16

INTRODUCcedilAtildeO

A presente Tese busca analisar sob o ponto de vista da Arqueologia

Histoacuterica os resultados da pesquisa arqueoloacutegica desenvolvida pela pesquisadora

e arqueoacuteloga Margarida Davina Andreatta entre os anos de 1983 a 1989 na aacuterea

do siacutetio arqueoloacutegico Afonso Sardinha localizado no morro de Araccediloiaba

municiacutepio de Iperoacute a cerca de quinze quilocircmetros da cidade de Sorocaba Satildeo

Paulo

Os estudos desenvolvidos consideraram apenas os fatos relacionados agrave

exploraccedilatildeo e fabricaccedilatildeo do ferro no morro de Araccediloiaba desde finais do seacuteculo

XVI ateacute o seacuteculo XVIII portanto antes da instalaccedilatildeo do Estabelecimento

Montaniacutestico de Extraccedilatildeo de Ferro das Minas de Sorocaba em 1810 e mais tarde

com a denominaccedilatildeo de Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema

O resultado final do trabalho do levantamento de campo formou um

conjunto vasto e consolidado em textos de Diaacuterios de Campo escritos pela

pesquisadora correspondecircncias levantamentos topograacuteficos planos de

escavaccedilatildeo croquis e desenhos geomeacutetricos de plantas das ruiacutenas croquis de

cortes estratigraacuteficos e de reconhecimento das escavaccedilotildees Inventaacuterio de Peccedilas e

fotografias tudo devidamente registrado em relatoacuterios da pesquisa arqueoloacutegica

17

Os artefatos coletados durante as investigaccedilotildees de campo foram

acondicionados em caixas devidamente protegidas e identificadas e depositadas

nas dependecircncias do Museu do Centro de Visitantes da FLONA de Ipanema

Foram desenvolvidos trabalhos de reconhecimento e anaacutelise detalhada dos

registros arqueoloacutegicos que resultaram da pesquisa de campo e em seguida

interpretadas as informaccedilotildees anteriormente consolidadas com base nos

conhecimentos da Arqueologia Histoacuterica e Histoacuteria da Teacutecnica e da Ciecircncia

Na elaboraccedilatildeo da siacutentese interpretativa foi necessaacuterio valer-se de

instrumentos disponiacuteveis em outras aacutereas do conhecimento tais como Geologia

Mineralogia Metalurgia Engenharia dentre outras aacutereas

Tambeacutem foram elaborados exames visuais e catalograacuteficos visando a

dataccedilatildeo relativa assim como foram encaminhadas amostras de ceracircmica as

quais foram submetidas a testes de dataccedilatildeo absoluta com base em ensaios de

Termoluminescecircncia pelo Laboratoacuterio de Vidros e Dataccedilatildeo da Faculdade de

Tecnologia de Satildeo Paulo - FATEC

Por outro lado amostras de resiacuteduos de fundiccedilatildeo (escoacuterias) foram

ensaiadas em laboratoacuterio para anaacutelise quiacutemica-mineraloacutegica no Departamento de

Mineralogia e Geotectocircnica GMG do Instituto de Geociecircncias da Universidade de

Satildeo Paulo

No Capiacutetulo 1 O Siacutetio Afonso Sardinha questotildees da Arqueologia Histoacuterica

optamos por colocar uma siacutentese dos achados arqueoloacutegicos no Sitio Afonso

Sardinha sendo que com base nas informaccedilotildees disponiacuteveis foram expostas as

questotildees da Arqueologia Histoacuterica que resultaram das investigaccedilotildees de campo e

de laboratoacuterio assim como das pesquisas bibliograacuteficas

No Capitulo 2 A Teacutecnica de Produccedilatildeo de Ferro no periacuteodo entre os

seacuteculos XVI ao XVIII foram analisadas e discutidas as questotildees conceituais da

18

teacutecnica e da tecnologia relacionadas a metalurgia no periacuteodo de interesse desta

Tese compreendido entre os seacuteculos XVI e XVIII Para compreensatildeo dos

processos de produccedilatildeo de ferro foram apresentadas descriccedilotildees dos

procedimentos de fabricaccedilatildeo bem como ilustraccedilotildees das ferramentas

equipamentos e maacutequinas em uso naquele estaacutegio do conhecimento teacutecnico

O Capiacutetulo 3 Histoacuterico da Mineraccedilatildeo no Brasil Colonial trata de uma

avaliaccedilatildeo da historiografia disponiacutevel sobre as atividades de mineraccedilatildeo no Brasil

e particularmente para o caso da entatildeo Capitania de Satildeo Vicente merecendo

esclarecer que parte destas obras foi produzida na primeira metade do seacuteculo XX

Aleacutem disso foram consultados documentos do Arquivo Municipal de Satildeo Paulo

do Arquivo do Estado de Satildeo Paulo e Biblioteca e Arquivo do Museu Histoacuterico

Sorocabano

No Capiacutetulo 4 O Sitio Afonso Sardinha apresenta-se a localizaccedilatildeo

geograacutefica as caracteriacutesticas geoloacutegicas e geomorfoloacutegicas do morro de

Araccediloiaba a vegetaccedilatildeo a hidrografia recursos minerais com destaque especial

para a presenccedila da Magnetita Finalmente oferece-se um contexto sucinto a

respeito da ocupaccedilatildeo colonial e a presenccedila de naturalistas viajantes inclusive

Saint Hilaire em 1919

No Capiacutetulo 5 Investigaccedilotildees Arqueoloacutegicas as evidencias de uma Faacutebrica

de Ferro com base em todos os dados que resultaram da pesquisa de campo

foram desenvolvidos trabalhos sendo que num primeiro momento relacionados

ao reconhecimento e anaacutelise detalhada dos registros arqueoloacutegicos fornecidos

pela pesquisa acima mencionada

No uacuteltimo Capiacutetulo de nuacutemero 6 Interpretaccedilotildees dos dados arqueoloacutegicos

buscou-se elaborar uma interpretaccedilatildeo das informaccedilotildees consolidadas nos

documentos produzidos a partir dos conhecimentos da Arqueologia Histoacuterica e

Histoacuteria da Teacutecnica e da Ciecircncia

19

CAPIacuteTULO 1

O SIacuteTIO AFONSO SARDINHA QUESTOtildeES DA ARQUEOLOGIA HISTOacuteRICA O presente Capiacutetulo tem por objetivo indicar um conjunto de questotildees que

deveratildeo ser analisadas no decorrer da elaboraccedilatildeo desta Tese as quais

emanaram dos resultados alcanccedilados pelas pesquisas arqueoloacutegicas realizadas

no siacutetio Afonso Sardinha pela pesquisadora e arqueoacuteloga Margarida Davina

Andreatta

Para melhor compreensatildeo dos fatos que fazem parte do contexto do

presente trabalho tendo em vista a identificaccedilatildeo daquelas questotildees satildeo

apresentados a) uma avaliaccedilatildeo dos dados bibliograacuteficos que tratam de assuntos

relacionados ao siacutetio arqueoloacutegico b) um histoacuterico da descoberta das ruiacutenas c)

consideraccedilotildees sobre a metodologia utilizada d) uma descriccedilatildeo geral resumida

das pesquisas arqueoloacutegicas realizadas

11 Contexto do presente trabalho 111 Avaliaccedilatildeo dos dados bibliograacuteficos

As primeiras notiacutecias relacionadas agraves minas de ferro do Morro de

Araccediloiaba e com os trabalhos de fundiccedilatildeo daquele mineacuterio foram dadas por

Pedro Taques de Almeida Paes Leme (1714-1777) Aleacutem de sua obra mais

conhecida a Nobiliarquia Paulistana Histoacuterica e Genealoacutegica escreveu a Histoacuteria

da Capitania de Satildeo Vicente e um compecircndio sobre a exploraccedilatildeo e a legislaccedilatildeo

mineira intitulado Noticia das Minas de Satildeo Paulo e dos Sertotildees da mesma

Capitania

20

Neste uacuteltimo trabalho escrito na segunda metade do seacuteculo XVIII afirmou

ter sido o bandeirante Afonso Sardinha e seu filho mameluco do mesmo nome

ldquoos que tiveram a gloacuteria de descobrir ouro de lavagem nas Serras de

Jaramimbaba e do Jaraguaacute em Satildeo Paulo na de Votoruna em Parnaiacuteba e na

Biraccediloiaba no Sertatildeo do Rio Sorocaba ouro prata e ferro pelos anos de 1597rdquo

(TAQUES 1954 p 112) Em Notiacutecias Genealoacutegicas citado por Nicolau de

Campos Vergueiro PedroTaques completa aquela informaccedilatildeo indicando que

Afonso Sardinha havia construiacutedo uma faacutebrica e dois fornos de ferro em

Biraccediloiaba e que havia doado um dessas Faacutebricas agrave D Francisco de Souza

quando ldquoem pessoa passou a Biraccediloiaba no ano de 1600rdquo (VERGUEIRO 1978

p6)

Taques escreveu suas obras dentro de um contexto em que os trabalhos

historiograacuteficos buscaram dar um enfoque positivo a participaccedilatildeo bandeirante na

histoacuteria de Satildeo Paulo e ao mesmo tempo contrapor todas as outras narrativas

que haviam sido escritas nos seacuteculos anteriores sobretudo pelos Jesuiacutetas

Assim firmou para que Afonso Sardinha e seu filho passassem para a Histoacuteria

como tendo sido os descobridores daquelas minas e os pioneiros na fabricaccedilatildeo

do ferro no Morro de Araccediloiaba

Entre os veiacuteculos de divulgaccedilatildeo dessa historiografia estaacute o Instituto

Histoacuterico e Geograacutefico de Satildeo Paulo e do Brasil (sediado na cidade do Rio de

Janeiro) sendo este uacuteltimo responsaacutevel pela divulgaccedilatildeo das obras de Pedro

Taques1 Por outro lado aquelas afirmativas foram reforccediladas pelo

1 Os Institutos Histoacutericos e Geograacuteficos foram junto com os Museus brasileiros os primeiros e mais importantes espaccedilos que existiam no seacuteculo XIX para a pesquisa de humanidades e para a ciecircncia em geral no Brasil O Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Satildeo Paulo seraacute uma instacircncia de produccedilatildeo a afirmar uma suposta especificidade paulista elaborar tradiccedilotildees do estado ndash atraveacutes de biografias de seus vultos estudos sobre o passado da proviacutencia etc Nesse sentido eacute tambeacutem uma historiografia com teor ciacutevico paulista sobretudo mas que buscava afirmar a prevalecircncia de Satildeo Paulo perante a naccedilatildeo como um todo releitura da figura do bandeirante no sentido de elevaacute-lo agrave condiccedilatildeo de construtor da naccedilatildeo ROMANCINI Richard Inventando tradiccedilotildees os historiadores e a pesquisa inicial sobre o jornalismo II Encontro Nacional da Rede Alfredo de Carvalho Florianoacutepolis de 15 a 17 de abril de 2004 Disponiacutevel em lthttpwwwjornalismoufscbrredealcarcdgrupos20de20trabalho20de20historia20da20midiahistoria20dos20jornalismotrabalhos_selecionadosrichard_romancinidocgt Acesso em 060706

21

desaparecimento de total ou significativa parcela dos documentos que

constituiacuteram as fontes pesquisadas por aquele autor tais como os arquivos do

Primeiro Cartoacuterio dos Oacuterfatildeos de Satildeo Paulo os da Provedoria da Real Fazenda e

os da Cacircmara da Vila de Satildeo Paulo2

Aleacutem disso uma significativa parcela dos trabalhos publicados entre os

seacuteculos XIX e XX sobre as atividades metaluacutergicas desenvolvidas no morro de

Araccediloiaba estavam voltados para as anaacutelises sobre os aspectos da geografia

historia mineralogia botacircnica e geologia a partir da implantaccedilatildeo da Real Faacutebrica

de Ferro de Ipanema fundada em 1810 3 Quanto aos periacuteodos anteriores a fonte

de informaccedilatildeo sempre foi a obra de Pedro Taques a qual foi amplamente

difundida com a publicaccedilatildeo da obra de Azevedo Marques intitulada

Apontamentos histoacutericos geograacuteficos bibliograacuteficos e estatiacutesticos da proviacutencia de

Satildeo Paulo em 1879

A construccedilatildeo da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema estaacute inserida no acircmbito

da implementaccedilatildeo de poliacuteticas voltadas para favorecer a transferecircncia para a

colocircnia de todo o aparelho institucional do reino a partir da chegada de D Joatildeo VI

a cidade do Rio de Janeiro4 Entre os projetos estava a implantaccedilatildeo e

desenvolvimento da siderurgia no Brasil a partir da exploraccedilatildeo das jazidas de

ferro jaacute conhecidas como as do Morro de Araccediloiaba na Proviacutencia de Satildeo Paulo e

das jazidas de ferro de Minas Gerais localizadas nos atuais municiacutepios de

Congonhas do Campo e Gaspar5

2 Os arquivos da Provedoria foram destruiacutedos por uma enchente do Tamanduateiacute em 1929 Dos outros arquivos restam apenas poucos exemplares e que estatildeo incompleto como o das Atas da Cacircmara da Vila de Satildeo Paulo RODRIGUES Leda Maria Pereira As Minas de ferro em Araccediloiba (Satildeo Paulo Seacuteculos XVI-XVII-XVIII) Annais do III Simpoacutesio dos Professores Universitaacuterios de Histoacuteria Franca 1966 p 171 3 A Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema inicia suas atividades a partir da promulgaccedilatildeo da Carta Reacutegia de 4 de dezembro de 1810 Esta carta conteacutem instruccedilotildees para o funcionamento de uma faacutebrica de ferro em Sorocaba Em 1895 encerra definitivamente as suas atividades Ver bibliografia 4 Com a presenccedila de D Joatildeo VI foi promulgada em 1808 a abertura dos portos para o comeacutercio e um alvaraacute que revogava o Decreto de D Maria I de 1785 referente a proibiccedilatildeo da abertura de faacutebricas e manufaturas no estado do Brasil e Domiacutenios Ultramarinos 5 As minas de ferro de Gaspar Soares deram origem a Real Faacutebrica de Ferro de Gaspar Soares cuja direccedilatildeo foi dada ao Intendente Manuel Ferreira da Cacircmara Em 1811 tambeacutem para o Brasil o teacutecnico alematildeo Gotthelft Von Feldner com a incumbecircncia de examinar as minas receacutem

22

Para dar andamento agravequeles projetos foram trazidos para o Brasil o

mineralogista alematildeo Friederich Ludwig Wilhelm Varnhagen (1782-1842) e

Wilhelm-Ludwig Von Eschwege (1777-1835) ambos funcionaacuterios da Coroa

Portuguesa6 Eschwege foi enviado para Minas Gerais para inspecionar as

jazidas e minas de ferro e criar com outros acionistas a companhia sideruacutergica

Faacutebrica Patrioacutetica do Prata de Congonhas do Campo que comeccedilou a funcionar

em fins de 1811 e Varnhagen para o Morro de Araccediloiaba7

Apoacutes observaccedilotildees mineraloacutegicas realizadas por Varnhagen em

Araccediloiaba A partir dos resultados daquelas observaccedilotildees ficou determinado que

Sorocaba era o local mais apropriado para a construccedilatildeo de uma siderurgia pois

ldquoa mina existente dentro de sua circunscriccedilatildeo eacute muito rica em metal de ferro e

conta na sua proximidade com extensas matas as quais haacute muitos anos mandou

reservar e que forneceratildeo o indispensaacutevel combustiacutevelrdquo(FRAGA 1968 p 66)

Assim em 1810 foi fundado o Estabelecimento Montaniacutestico de Extraccedilatildeo de Ferro

das Minas de Sorocaba denominado posteriormente de Real Faacutebrica de Ferro de

Ipanema

A aacuterea escolhida para aquele novo empreendimento estava localizada junto

ao rio Ipanema que daiacute retira aquela denominaccedilatildeo deixando para traz a histoacuteria

da metalurgia que havia sido desenvolvida durante dois seacuteculos no interior Morro

de Araccediloiaba no vale das Furnas onde estaacute localizado o Siacutetio Arqueoloacutegico

Afonso Sardinha

Os primeiros trabalhos sobre a Real Faacutebrica privilegiavam as anaacutelises

voltadas para a mineralogia e as teacutecnicas de fundiccedilatildeo Quanto a este uacuteltimo

descobertas de carvatildeo do rio Pardo no Rio Grande do Sul Cf FIGUEIROA Silvia As ciecircncias Geoloacutegicas no Brasil uma Histoacuteria Social e Institucional 1875-1934 Satildeo Paulo Hicitec 1997 p 63-65 6 Varnhagen e Eschwege voltaram para Portugal em 1822 7 Varnhagen esteve em Araccediloiaba acompanhado por Martim Francisco de Andrada Martim Francisco Ribeiro de Andrada Inspetor de Minas e Matas da Capitania de Satildeo Paulo

23

aspecto destacam o emprego do alto forno da fabricaccedilatildeo do carvatildeo e o emprego

de fundentes bem como criacuteticas relacionadas agrave produccedilatildeo e qualidade do ferro8

Entre as obras mais gerais sobre aquele empreendimento publicadas no

seacuteculo XIX estatildeo os trabalhos de Antonio da Costa Pinto Silva (1852) Nicolau de

Campos Vergueiro (1843) Frederico Augusto Pereira de Moraes (1858) M Alves

de Arauacutejo (1882) Francisco de Assis Moura (1888) J Ewbank da Cacircmara (1875)

Leandro Dupreacute (1885) Baratildeo Homem de Mello (1888) Manuel Eufraacutezio de

Azevedo Marques (1879) Carlos Conrado de Niemeyer (1879) Frederico

Augusto Pereira de Moraes (1858)

Sobre a mineralogia e a geologia estatildeo os de Joseacute Bonifaacutecio de Andrada e

Silva (1820 1846) Martim Francisco Ribeiro de Andrada (1828 1846 1855) F

Schimidt (1853) e Wilhelm L Von Eschwege (1833) e Orville Adalbert Derby

(1891 e 1895 1909) Derby foi o descobridor em 1891 da apatita mineral que foi

amplamente explorado para a fabricaccedilatildeo de adubos a partir de 1927 Naquele

mesmo seacuteculo foram realizadas as primeiras anaacutelises da magnetita de Ipanema

pela Escola de Minas de Ouro Preto9 as quais tiveram como resultado a

identificaccedilatildeo do titacircnio como componente daquele mineacuterio

Dessa forma foi possiacutevel entender a dificuldade teacutecnica que enfrentaram

todos os diretores de Ipanema em produzir um ferro de boa qualidade pois a

magnetita aleacutem de sua exagerada densidade apresentava-se impregnada de

ocircxido de Titacircnio ldquofatores que contribuem de forma decisiva para dificultar sua

reduccedilatildeo mesmo em altos fornosrdquo (FRAGA 1968 p 86) Entre as pesquisas

realizadas por essa Escola estatildeo os trabalhos de Paul Ferrand (1885) e Leandro

Dupreacute (1885) Joatildeo Pandiaacute Caloacutegeras (1893 1895 19041828) e Ferdinando

Gautier responsaacutevel em 1891 pela identificaccedilatildeo da presenccedila de foacutesforo no

mineacuterio elemento tambeacutem nocivo para a produccedilatildeo do ferro Ainda no seacuteculo XIX

8 Fundentes satildeo materiais que quando mesclados com o carvatildeo vegetal dentro do forno facilitam a fundiccedilatildeo dos mineacuterios no caso de mineacuterios de ferro Em Ipanema eram utilizados como fundentes os dioritos tambeacutem chamada ldquopedra verde (do alematildeo grunstein) 9 A Escola de Minas de Ouro Preto foi inaugurada em 1876 Destinava-se a formar profissionais para a mineraccedilatildeo

24

estatildeo os relatos elaborados pelo naturalista viajantes como Saint Hilaire Von

Martius e Zaluar

No seacuteculo XX os trabalhos relacionados com aquele empreendimento

foram desenvolvidos em duas linhas de investigaccedilatildeo o da histoacuteria econocircmica e

da social Nesta uacuteltima as anaacutelises privilegiaram as abordagens sobre o processo

de trabalho e mais para o final daquele seacuteculo para as questotildees sobre o meio

ambiente como os aspectos da ecologia florestal recursos hiacutedricos gestatildeo

ambiental e do turismo ecoloacutegico

Os trabalhos historiograacuteficos daquele seacuteculo pouco acrescentaram aos

aspectos relacionados com a implantaccedilatildeo dos primeiros empreendimentos

metaluacutergicos anteriores agrave construccedilatildeo da Real Faacutebrica10 Contudo trecircs trabalhos

podem ser destacados pelas contribuiccedilotildees seja pela releitura de documentos

ainda existentes como foi o caso dos estudos realizados por Maacuterio Neme seja

pelos trabalhos de pesquisa documental elaborados tanto por Leda Maria Pereira

Rodrigues quanto por Estefania Knotz Canguccedilu Fraga

No primeiro caso Maacuterio Neme apresenta em seu livro Notas de Revisatildeo da

Histoacuteria de Satildeo Paulo uma reavaliaccedilatildeo das obras de Pedro Taques bem como

de outros autores que tratam da histoacuteria de Satildeo Paulo ateacute o momento da 10 Entre as obras direcionadas a um contexto geral brasileiro estatildeo Sylvio Froes Abreu (19371962) Afranio do Amaral (1946) Renato Frota de Azevedo (1955) Tanus Jorge Bastini (1957) Vicente Licinio Cardoso (1924) Sobrinho Costa e Silva (1953) Alpheu Diniz Gonccedilalves (1937) R Hermanns (1958) R N Jafet (1957) Theodor Knecht (1931) Viktor Leinz (1942) Clodomiro de Liveira (1914) Niacutecia Vilela Luz (1961) Manuel Moreira Machado (1919) Roberval Germano Medeiros (1947) Geraldo Magella Pires de Melo (1957) Geraldo Dutra Moraes (1943) Almiro de Lima (1929) Matias Gonccedilalves de Oliveira Roxo (1937) Edmundo de Macedo Soares (1953) Gilberto Freyre (1988) Francisco Adolpho de Varnhagen (1956) Joseacute Epitaacutecio Passos Guimaratildees (1981) Francisco Magalhatildees Gomes (1983) Francisco de Assis Barbosa (1958) Francisco de Assis Carvalho Franco (1928) Silvia Figueroa (1997) Roseli Santaella Stella (2000) Para anaacutelises direcionadas ao Estado de Satildeo Paulo estatildeo as de Paulo R Pestana (1928) Luis Flores de Moraes (1930) Afonso Taunay (1931) Benedito Lima de Toledo (1966) Maacuterio Neme (1959) Seacutergio Buarque de Holanda (1960 1966) Ernani da Silva Bruno (1953) Jesuiacuteno Feliciacutessimo Juacutenior (1969) Washington Luis (1956) Gabriel Pedro Moacyr (1935) E aqueles relacionados agrave histoacuteria local da Real Faacutebrica estatildeo o de Joseacute Monteiro Salazar (1982) Astor Franccedila Azevedo (1959) Luiz de Almeida Castanho (1937 1939 1958) Jaime Benedito de Arauacutejo (1939) Ezequiel Freire (1953) Emanuel Soares Veiga Garcia (1954) Joatildeo Lourenccedilo Rodrigues (1953) Otaacutevio Tarquiacutenio de Souza (1946) Heacutelio Vianna (1969) Andreacute Davino (1965) Guido Ranzani (1965) Miriam Escobar (1982) Theodoro Knecht (1930) Helmut Born (1989) Lenharo S L R (1996) Antonio Maciel Botelho Machado (1998) e Jaime Rodrigues (1998) Aluiacutezio de Almeida (2002)

25

publicaccedilatildeo da obra em 1959 confrontando as afirmaccedilotildees dos autores com base

nos documentos disponiacuteveis naquele momento A obra segundo o autor fora

escrita com base em pesquisa documental realizada por ele durante duas

deacutecadas tendo concluiacutedo que ldquofirmamo-nos na convicccedilatildeo mais absoluta de que a

crocircnica de nossa formaccedilatildeo e evoluccedilatildeo estaacute a exigir ampla revisatildeo quer em

mateacuteria de fatos e acontecimentos na sua ocorrecircncia e significaccedilatildeo imediata e

futura e no que toca a dados datas e nomes quer em mateacuteria de interpretaccedilatildeordquo

(NEME1959 p11)

Ao final deste trabalho Neme conclui que os dados oferecidos por Pedro

Taques a respeito da construccedilatildeo de uma Faacutebrica de ferro por Afonso Sardinha no

Morro de Araccediloiaba natildeo passou de uma faacutebula criada por aquele autor sendo

que a uacutenica Faacutebrica de ferro que de fato existiu no iniacutecio do seacuteculo XVII foi a de

Santo Amaro

No segundo trabalho a ser considerado trata-se de um artigo publicado em

1966 pela historiadora Leda Maria Pereira Rodrigues intitulado As Minas de ferro

em Araccediloiaba (Satildeo Paulo Seacuteculos XVI-XVII-XVIII) onde a autora afirma que ldquoos

primoacuterdios de nossa Histoacuteria fazem surgir duacutevidas difiacuteceis de serem esclarecidas

pois haacute falta de documentos coesos que provem incontestavelmente a veracidade

de certas afirmaccedilotildeesrdquo Neste mesmo trabalho ela conclui que ateacute a instalaccedilatildeo da

Real Faacutebrica em 1810 todos os empreendimentos anteriores constituiacuteram numa

ldquoseacuterie de tentativas frustrasrdquo A autora demonstra que pelo menos dois

empreendimentos foram efetivamente implementados naquele local o de Luiz

Lopes de Carvalho por volta de 1690 e o de Domingos Pereira Ferreira em 1875

(RODRIGUES 1966 p246-249)

Em 1968 Estefania Knotz Canguccedilu Fraga sob a orientaccedilatildeo da historiadora

Leda Maria Pereira Rodrigues seguindo as discussotildees iniciadas pela autora

acima mencionada desenvolveu uma tese na aacuterea de Histoacuteria do Brasil com o

titulo Subsiacutedios para o estudo da Histoacuteria da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema

(1779-1822) Neste trabalho analisou especialmente o empreendimento de

26

Domingos Pereira Ferreira como tambeacutem as primeiras deacutecadas de

funcionamento da Real Faacutebrica sob a direccedilatildeo de Hedberg (1810-1814) e

Varnhagen (1814-1822) A autora depois de enumerar as possiacuteveis causas que

teriam levado ao que atribui ser um ldquoinsucessordquo econocircmico daqueles

empreendimentos conclui que

mesmo que a faacutebrica de ferro de Araccediloiaba (como

primitivamente era denominado o local) natildeo possa oferecer

ao pesquisador nada aleacutem de constantes provas de seu

insucesso ainda assim o propoacutesito que o anima natildeo deve

esmorecer Afinal o que seria da Historia se soacute merecessem

registro os eventos vitoriosos Quantas derrotas natildeo

levaram as vitoacuterias Porque entatildeo omiti-las se fazem parte

integrante da mesma Porque esquececirc-la se refletem uma

circunstancia real mesmo que nela se insinue uma ou mais

ldquoforccedilas obstrutivasrdquo que consagram ao fracasso tudo o que

nela se condiciona mas que nem por isso obstam uma ou

vaacuterias tentativas de superaccedilatildeo Eacute sabido que a dualidade de

forccedilas impele a civilizaccedilatildeo E mais que a tanta gloacuteria existe

na derrota quanto na vitoacuteria quando supotildeem luta E poderaacute

algueacutem negar que Ipanema natildeo foi um glorioso campo de

luta (FRAGA 1966 p 109)

112 Histoacuterico das descobertas das ruiacutenas O Siacutetio Arqueoloacutegico Histoacuterico Afonso Sardinha foi assim denominado por

ter sido Afonso Sardinha bandeirante e seu filho mameluco11 Afonso Sardinha o

moccedilo apontados por Pedro Taques e pela historiografia como os provaacuteveis

11 Filho de pai branco e matildee indiacutegena No caso dos mamelucos os pais reconheciam publicamente a paternidade e os filhos gozavam da liberdade plena e aproximavam-se agrave identidade portuguesa Essa denominaccedilatildeo cai em desuso no seacuteculo XVIII e eacute substituiacuteda pelo termo bastardo que passava a designar qualquer pessoa com ascendecircncia indiacutegena (MONTEIRO 1994 p 167)

27

descobridores e construtores dos primeiros fornos de fundiccedilatildeo naquele local em

finais do seacuteculo XVI

No ano de 1977 Joseacute Monteiro Salazar pesquisador estudioso da histoacuteria

regional e particularmente da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema acompanhado

pelos engenheiros agrocircnomos Nerzon Nogueira de Barros e Dinchiti Sinzato e

pelo fotoacutegrafo Venedavel Acosta encontrou as ruiacutenas de um possiacutevel Faacutebrica de

ferro que atribuiu ser aquele construiacutedo por Afonso Sardinha em finais do seacuteculo

XVI (SALAZAR 1997156-159) Tal avaliaccedilatildeo decorria do fato de que aquela

regiatildeo teria sido uma aacuterea de provaacutevel exploraccedilatildeo mineral do ferro que

remontaria aos primoacuterdios da colonizaccedilatildeo de Satildeo Vicente conforme apontavam a

historiografia disponiacutevel sobre aquela Capitania

28

Fig 1 MAPA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA FLONA ndash Floresta Nacional de Ipanema Escala 1250 000 CENEA- Centro Nacional de Engenharia Agriacutecola 1985

29

Fig 2 MAPA DE LOCALIZACcedilAtildeO DO SIacuteTIO AFONSO SARDINHA Folheto IBAMA sem data e sem escala

30

Fig 3 DESENHO ESQUEMAacuteTICO DE LOCALIZACcedilAtildeO DA FAacuteBRICA DE FERRO Salazar (1997 p80)

Fig 4 MARGARIDA DAVINA ANDREATTA E JOSEacute MONTEIRO SALAZAR Aspecto do Siacutetio em 1983

31

Fig 5 MARGARIDA DAVINA ANDREATTA E JOSEacute MONTEIRO SALAZAR Iniacutecio das pesquisas no Siacutetio Afonso Sardinha 1983 As ruiacutenas foram localizadas no interior do vale das Furnas onde estaacute o

ribeiratildeo do Ferro que nasce e cruza o Morro de Araccediloiaba desaguando no rio

Ipanema o qual por sua vez eacute um afluente pela margem esquerda do rio

Sorocaba

Este ribeiratildeo

() nasce no Monte do Chapeacuteu e corre primeiro do norte para o

sul e depois de passar pelo Vale das Furnas torce bruscamente

e muda radicalmente de direccedilatildeo fazendo uma grande curva e

passando a correr do sul para o norte indo desaguar afinal no

Ipanema (SALAZAR 1997 p 02)

Foi numa das curvas do ribeiratildeo do Ferro que aquelas ruiacutenas foram

localizadas As estruturas ali descobertas se cercavam de condiccedilotildees fisiograacuteficas

favoraacuteveis para viabilizar a atividade de produccedilatildeo do ferro devido a proximidade

32

das jazidas do mineacuterio existecircncia de matas abundantes assim como de uma

hidrografia favoraacutevel para o aproveitamento da forccedila motriz das aacuteguas

A primeira constataccedilatildeo da existecircncia de uma estrutura por eles encontrada

foi uma fileira de pedras bem conservadas que identificaram ldquocomo canal

certamente para o desvio do rio a fim de mover os martinetesrdquo Descobriram uma

muralha que atribuiacuteram ser uma parede de forja (SALAZAR 1997 p159-160)

113 Consideraccedilotildees sobre a metodologia O termo arqueologia histoacuterica surge nos Estados Unidos nas deacutecadas de

1960 para designar o estudo da cultura material dos europeus no mundo Esse

termo passou a ser oficialmente adotado em 1967 tendo em vista regulamentar a

nomenclatura para designar as pesquisas arqueoloacutegicas em siacutetios histoacutericos que

estavam sendo desenvolvidas nos Estados Unidos Ateacute entatildeo eram utilizados

para identificar aqueles trabalhos arqueoloacutegicos uma nomenclatura diversificada

como arqueologia colonial arqueologia da historia arqueologia de siacutetios

histoacutericos entre outros

Naquela mesma deacutecada a arqueologia histoacuterica passa a ser uma

disciplina valendo-se da aplicaccedilatildeo de meacutetodos de escavaccedilatildeo jaacute consagrados

pela arqueologia preacute-historica e das abordagens teoacuterico-metoloacutegicas voltadas

para a interpretaccedilatildeo dos registros arqueoloacutegicos As ferramentas teoacutericas

metodoloacutegicas apresentadas pela arqueologia foram sendo revisadas e

aprimoradas de modo a contribuir com as anaacutelises destinadas a interpretar as

culturas preteacuteritas

Outra questatildeo diz respeito agrave compreensatildeo do papel da Arqueologia

Histoacuterica aplicada agraves pesquisas desenvolvidas na Ameacuterica tendo em vista a

visatildeo desenvolvida por Charles Orser Jr segundo o qual cabe a esta disciplina

investigar fundamentalmente os ldquo() aspectos mateacuterias em termos histoacutericos

33

culturais e sociais concretos dos efeitos do mercantilismo e do capitalismo que

foi trazido da Europa em fins do seacuteculo XV e que continua em accedilatildeo ainda hojerdquo

(ORSER 1992 p 23)

Posteriormente Orser trouxe novas contribuiccedilotildees a aquela conceituaccedilatildeo

ao formular a Teoria de Rede segundo a qual as pesquisas em Arqueologia

deveriam levar em consideraccedilatildeo a questatildeo das ldquointerligaccedilotildees globaisrdquo

demonstrando a ldquoorigem e os desenvolvimentos ulteriores da globalizaccedilatildeo da

modernizaccedilatildeo e da expansatildeo colonialistardquo criados por ldquoagentes conscientes do

colonialismo do eurocentrismo e da modernidaderdquo que proporcionaram a

criaccedilatildeo de uma ldquoseacuterie de elos complexos e multidimensionais que uniam

diversos povos ao redor do mundordquo (ORSER 1999 p 87)

No que se referem agrave interpretaccedilatildeo dos registros arqueoloacutegicos as

pesquisas em arqueologia histoacuterica empregam teorias e meacutetodos que foram

sendo desenvolvidos por meio da aplicaccedilatildeo de meacutetodos de abordagens como o

Histoacuterico-Culturalismo (foi amplamente difundida entre os arqueoacutelogos

brasileiros) New Archaeology ou Arqueologia Processual e Poacutes-

processualismo e suas derivaccedilotildees Cada meacutetodo privilegiou uma escala

apropriada de anaacutelise para o ldquoHistoacuterico Culturalismo foi o siacutetio para o

Processualismo a regiatildeo e para o Poacutes-Processualismo passou a ser o

indiviacuteduordquo (LIMA 2000 p 2)

No Brasil a formaccedilatildeo da primeira geraccedilatildeo de arqueoacutelogos na deacutecada de

1970 foi orientada por duas correntes teoacutericas A americana representada pelos

arqueoacutelogos Clifford Evans (1920-1981) e Betty Meggers coordenadores do

Programa Nacional de Pesquisas Arqueoloacutegicas (Pronapa) criado na deacutecada

de 1960 E a Francesa representada por Joseph e Annette Emperaire Da

escola francesa destacamos as pesquisas realizadas pelo grupo do Centre

National de la Recherche Scientifique que trabalharam em Minas Gerais

Paranaacute Satildeo Paulo e no Piauiacute em convenio com o Museu Paulista da

Universidade de Satildeo Paulo e a Universidade do Piauiacute com o objetivo de

34

proporcionar as primeiras dataccedilotildees para as obras rupestres e sua inserccedilatildeo no

contexto cultural preacute-histoacuterico (PROUS 1992 p17)

A partir da pesquisas do grupo Franco-Brasileiro foram fornecidas as

primeiras dataccedilotildees radiocarbono a introduccedilatildeo de teacutecnicas e meacutetodos mais

refinados de decapagem e a realizaccedilatildeo de escavaccedilotildees sistemaacuteticas no Brasil

Aleacutem da influecircncia teoacuterica-metodologica o convecircnio entre aquele grupo

representado por Joseph e Annette Laming Emperaire e o Centre National de

la Recherche Scientifique proporcionou a formaccedilatildeo de arqueoacutelogos e de

especializaccedilotildees na Franccedila Entre os anos de 1960-1980 o legado francecircs

permanecia em duas Instituiccedilotildees de Satildeo Paulo o Museu de Preacute-Histoacuteria

(atualmente incorporado ao MAE) e Museu Paulista da Universidade de Satildeo

Paulo e em Minas Gerais no Museu de Histoacuteria Natural da Universidade

Federal de Minas Gerais

A partir da deacutecada de 1960 as pesquisas relacionadas ao campo da

arqueologia histoacuterica foram conduzidas particularmente por arqueoacutelogos preacute-

historiadores que passaram a desenvolver pesquisas em Siacutetios Histoacutericos

Num primeiro momento aquelas pesquisas arqueoloacutegicas foram marcadas

pelas teorias do meacutetodo histoacuterico-culturalista privilegiando monumentos como

igrejas conventos missotildees jesuiacuteticas fortificaccedilotildees solares entre outros

encorajadas pelos oacutergatildeos de preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico e cultural e

pela receacutem-criada Lei 3924 de 26 de julho de 1961 atraveacutes da qual os

monumentos arqueoloacutegicos e preacute-histoacutericos passaram a serem considerados

como patrimocircnio da Uniatildeo (ANDRADE 1993 FUNARI 1998 RUBINO 1996)

Ateacute a deacutecada de 80 as pesquisas ainda seguiam aquela linha de

investigaccedilatildeo privilegiando pesquisas em monumentos Contudo jaacute havia

perspectivas de novas abordagens de pesquisa notadamente voltadas para

os segmentos sociais desfavorecidos de registros possibilitando ldquorecuperar

memoacuterias sociais reinterpretar a Histoacuteria Oficial resgatar elementos e praacuteticas

da vida cotidiana sobre os quais normalmente natildeo se escreverdquo

35

Proporcionando a arqueologia histoacuterica investigar uma diversificada temaacutetica

transformando em Siacutetios Histoacutericos quilombos unidades domeacutesticas becos

urbanos senzalas tecnologias de produccedilatildeo de materiais e povoados etc

(ANDRADE 1993 p 228)

Neste contexto se inserem as pesquisas em arqueoloacutegica histoacuterica

desenvolvida na cidade de Satildeo Paulo O Programa de Arqueologia Histoacuterica no

Municiacutepio de Satildeo Paulo foi coordenado por Margarida Davina Andreatta do

Museu Paulista da Universidade de Satildeo Paulo em colaboraccedilatildeo com o

Departamento do Patrimocircnio Histoacuterico da Secretaria Municipal de Cultural A

pesquisa realizada a partir de prospecccedilotildees e escavaccedilotildees sistemaacuteticas em

ldquoCasas Bandeiristasrdquo e locais puacuteblicos e privados do municiacutepio como becos

ruas praccedilas quintais lixotildees logradouros etc Entre os anos de 1979 e 1981

foram realizadas pesquisas arqueoloacutegicas no Municiacutepio de Satildeo Paulo nos

Siacutetios Mirim em Ermilindo Matarazzo Sitio de Morrinhos no Jardim Satildeo Bento

Casa do Grito no Parque da Independecircncia ndash Ipiranga Beco do Pinto Bairro

da Seacute Casa n 1 do Paacutetio do Coleacutegio e Casa do Tatuapeacute e no bairro do

Tatuapeacute (ANDREATTA 19812 1986a 1986b) Em 1983 Margarida Davina

Andreatta iniciou as pesquisas arqueoloacutegicas na Fazenda Ipanema ndash Iperoacute

Satildeo Paulo atualmente um aacuterea de proteccedilatildeo ambiental FLONA 12

Durante o desenvolvimento dessa pesquisa foram realizadas

escavaccedilotildees e prospecccedilotildees em uma aacuterea extensa daquela Fazenda incluindo

todas as edificaccedilotildees que pertenceram a Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema

(1810-1895)13 e as ruiacutenas existentes no Vale das Furnas junto do ribeiratildeo do

Ferro e interior do Morro de Araccediloiaba Nesta uacuteltima aacuterea denominada Siacutetio

Afonso Sardinha foi evidenciado estruturas de um Faacutebrica de Ferro e Fornos 12 As edificaccedilotildees da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema foram tombadas pelo Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional em 1964 O Siacutetio Arqueoloacutegico Afonso Sardinha foi registrado tambeacutem no IPHAN em 1997 por Margarida Davina Andreatta Ver Detalhes de Siacutetios Arqueoloacutegicos Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrportalmontaDetalheSitioArqueologicodoid=SP00236gt Acesso em 09mar 2004 13 Foram realizadas pesquisas arqueoloacutegicas nas aacutereas dos altos fornos fornos de carvatildeo edifiacutecio de armas brancas Praccedila Afonso Sardinha entre outros dependecircncias pertencentes a Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema

36

de Fundiccedilatildeo e uma diversificada tipologia de materiais os quais compotildee os

documentos arqueoloacutegicos que foram registrados no Inventaacuterio de Peccedilas

relacionadas a pesquisa (exemplos em anexo)

Da pesquisa no Sitio Afonso Sardinha foram produzidos um significativo

conjunto documental formado por inuacutemeras tipologias de documentos de

arquivo que formam o Fundo Sitio Afonso Sardinha A partir dessa

documentaccedilatildeo foi possiacutevel acompanhar o processo de desenvolvimento

daquela pesquisa e tambeacutem contextualizar os documentos arqueoloacutegicos

permitindo assim a realizaccedilatildeo de interpretaccedilotildees quanto sua dataccedilatildeo e

significado Nas palavras de Hodder ldquoa partir del momento em que se conoce

el contexto de um objeto este ya no es completamente mudordquo (HODDER

1994 18)

Os documentos do Fundo Siacutetio Afonso Sardinha satildeo compostos por

diaacuterios de campo relatoacuterios de pesquisa planos de escavaccedilatildeo fotografias

correspondecircncias e tambeacutem por uma coleccedilatildeo formada por documentos de

apoio a pesquisa como plantas topograacuteficas planoaltimeacutetricas bibliografia

histoacuterica e teacutecnica sobre mineraccedilatildeo e fundiccedilatildeo de ferro no Brasil nos primeiros

trecircs seacuteculos de colonizaccedilatildeo

A pesquisa realizada a partir da bibliografia encontrada no Fundo Afonso

Sardinha apontou caminhos de investigaccedilatildeo que direcionaram para uma

bibliografia teacutecnica e histoacuterica sobre a teacutecnica da produccedilatildeo de ferro

desenvolvida na Europa especialmente na Espanha entre os seacuteculos XVI-

XVIII Aleacutem disso foi agregada aquela investigaccedilatildeo um conjunto de

documentos de cunho oficial escritos pelos empreendedores daquela

produccedilatildeo e oacutergatildeos administrativos coloniais como a Cacircmara da Vila de Satildeo

Paulo

Assim os documentos pertencentes ao Fundo Afonso Sardinha

documentos textuais oficiais e documentos arqueoloacutegicos ndash permitiram

37

interpretar que a aacuterea do Siacutetio corresponde a um campo de trabalho de

produccedilatildeo de ferro e que as atividades de mineraccedilatildeo e fundiccedilatildeo estavam

distribuiacutedas por uma aacuterea extensa com forte influencia dos modelos de ferrarias

de aacutegua que haviam no periacuteodo pesquisado na regiatildeo basca da Espanha

Assim as possibilidades dadas pela arqueologia histoacuterica de permitir a

utilizaccedilatildeo tanto de documentos arqueoloacutegicos (artefatos) e textuais na

realizaccedilatildeo da pesquisa e produccedilatildeo do conhecimento eacute tambeacutem uma das

principais tensotildees que norteiam as questotildees teoacutericas-metodoloacutegicas da

arqueologia histoacuterica Para tanto autores como Anders Andreacuten ao considerar

que o problema da arqueologia histoacuterica eacute o encontro entre a cultura material e

a escrita indica tambeacutem que a arqueologia histoacuterica natildeo pode ignorar as

disciplinas que tratam do homem como eacute o caso da Histoacuteria da Antropologia

ou da Filologia propondo que a metodologia em arqueologia histoacuterica deve

estabelecer ldquodialogue between artifact and text that is unique in relation to

prehistoric archeology as well as historyrdquo (ANDREacuteN 1998 p 177)

114 Descriccedilatildeo geral das pesquisas arqueoloacutegicas realizadas Entre os anos de 1983 ndash 1989 as ruiacutenas encontradas por Joseacute Monteiro

Salazar (1982) foram objeto de uma pesquisa arqueoloacutegica iniciada pelo

Protocolo de Intenccedilotildees entre o Museu Paulista da Universidade de Satildeo Paulo e o

CENEA ndash Centro Nacional de Engenharia Agriacutecola - oacutergatildeo autocircnomo do Ministeacuterio

da Agricultura ao qual a Fazenda Ipanema estava ligado A pesquisa foi

coordenada pela arqueoacuteloga Margarida Davina Andreatta do Museu Paulista da

Universidade de Satildeo Paulo14

14 A Fazenda Ipanema pertenceu ao CENEA Centro Nacional de Engenharia Agriacutecola oacutergatildeo autocircnomo do Ministeacuterio da Agricultura ateacute a extinccedilatildeo desse Centro em 1990 eacutepoca em que foram exploradas as minas de Apatita para a fabricaccedilatildeo de adubos A pesquisa arqueoloacutegica nesta aacuterea foi coordenada pela pesquisadora e arqueoacuteloga Profa Dra Margarida Davina Andreatta tendo como assistente o pesquisador da Historia regional Joseacute Monteiro Salazar aleacutem de estagiaacuterios da Universidade de Satildeo Paulo e voluntaacuterios

38

Fig 6 MARGARIDA DAVINA ANDREATTA E EQUIPE EM REUNIAtildeO COM A DIRETORIA DA FLORESTA NACIONAL DE IPANEMA 1984

Fig 7 ASPECTO DA FAacuteBRICA DE FERRO em 1987

39

Fig 8 Planta da aacuterea do Sitio Afonso Sardinha aacutereas A1 e A2

40

As pesquisas arqueoloacutegicas desenvolvidas no sitio Afonso Sardinha

evidenciaram a existecircncia de um campo de produccedilatildeo de ferro localizado na

margem esquerda do ribeiratildeo do ferro o qual se mostrou formadas por duas

aacutereas identificadas durante aqueles trabalhos como aacuterea A1 e aacuterea A2

mostradas no Mapa da Figura 8

A aacuterea A1 situada no setor norte do campo apresentou ruiacutenas de uma

edificaccedilatildeo relativamente maior de produccedilatildeo de ferro composto por quatro setores

identificados como Forno (setor A) Forja (setor B) espaccedilo entre a Forja e o Canal

(setor C) e Canal (setor D) espaccedilo sul da estrutura (setor E)

Nessa aacuterea A1 a pesquisa arqueoloacutegica possibilitou as seguintes principais

evidecircncias

(i) ocorrecircncias de escoacuterias de forma disseminada e tambeacutem na forma de

um amontoado junto a parede externa (sul) da Forja

(ii) ocorrecircncias de telhas na aacuterea ao sul das paredes dos setores BC e D

(iii) ocorrecircncias de cravo e lacircminas de metal tambeacutem na aacuterea sul da

estrutura

(iv) ocorrecircncia de ceracircmica neo-brasileira nos setores da forja (B) e do

Forno (A)

(v) ocorrecircncia de faianccedila portuguesa nos setores da Forja (B) e do Forno

(A)

(vi) ocorrecircncia de vidro na parte norte do Forno (setor A) parte externa da

Forja (setor B) e tambeacutem um fragmento no setor E (parte sul da estrutura)

41

(vii) ocorrecircncia de metal na parte interna e externa da Forja (B) na aacuterea E

parte interna da aacuterea (C) e face oeste do Canal (D)

(viii) evidecircncias de esteios nas laterais do Canal (D)

Fig 9 Detalhe da aacuterea A 1 ndash Sitio Afonso Sardinha

42

Fig 10 VISTA GERAL DA AacuteREA A 1 ndash Sitio Afonso Sardinha 1987

Fig 11 VISTA GERAL DA AacuteREA A 2 ndash Siacutetio Afonso Sardinha 1987 Na aacuterea A2 mostrada na figura 12 as pesquisas arqueoloacutegicas

evidenciaram a existecircncia de duas subaacutereas sendo uma denominada de A2-B e a

43

outra de D constituiacuteda de parte de um muro de pedras cuja estrutura natildeo foi

possiacutevel identificar

Fig 12 DETALHE DA AacuteREA A 2 ndash Sitio Afonso Sardinha Na aacuterea A2-B (Morrote) foram observadas as seguintes evidecircncias

(i) ocorrecircncia de dois fornos soterrados sob um Morrote na aacuterea

designada como A2-B

(ii) ocorrecircncia de tijolos telhas e mureta de pedra

44

Na aacuterea D da figura 12 foram observados

(i) mureta de estrutura natildeo identificada

(ii) ocorrecircncia de duas estruturas circulares de natureza natildeo

identificada

(iii) ocorrecircncias de ceracircmicas telhas e tijolos

(iv) Ao sul da aacuterea A2-B observou-se a existecircncia de um muro de

pedra interpretado como sendo parte de um canal tendo ao seu lado duas

estruturas circulares com diacircmetro de 15 m (Figura 13 e 14)

Fig 13 PLANTA MORROTE ndash AacuteREA A2-B 1987

45

Fig 14 MORROTE COM EVIDENCIAS DE ldquoFORNOrdquo AacuteREA A2

46

12 Principais questotildees a serem abordadas no decorrer da Tese Os estudos histoacutericos disponiacuteveis acima apresentados bem como os

resultados das pesquisas arqueoloacutegicas realizadas conforme descritas nos itens

anteriores permitem relacionar um conjunto de questotildees que consideramos

importantes para esclarecimento do processo de instalaccedilatildeo da Faacutebrica de ferro

em Araccediloiaba (Sitio Afonso Sardinha) no periacuteodo compreendido entre o final do

seacuteculo XVI ao seacuteculo XVIII que antecedeu a instalaccedilatildeo da Real Faacutebrica de Ferro

de Ipanema em 1810

Tais questotildees podem ser resumidas conforme seguem

I - Avaliaccedilatildeo dos vestiacutegios arqueoloacutegicos das atividades relacionadas agrave mineraccedilatildeo

e agrave produccedilatildeo de ferro a partir do final do seacuteculo XVI e anteriormente agrave instalaccedilatildeo

da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema em 1810

II - Investigaccedilatildeo das possiacuteveis teacutecnicas de produccedilatildeo e meacutetodos de fundiccedilatildeo de

ferro empregadas em Araccediloiaba no periacuteodo de analise desta tese

III - Caracterizaccedilatildeo de modelos de fornos de fundiccedilatildeo e processos industriais

encontrados na aacuterea do sitio arqueoloacutegico

IV ndash Avaliaccedilatildeo das possiacuteveis causas teacutecnicas e cientiacuteficas relacionadas agraves

dificuldades de produccedilatildeo e de qualidade do ferro produzido em Araccediloiaba

47

CAPITULO 2

A TECNICA DE PRODUCcedilAtildeO DE FERRO NO PERIODO ENTRE OS SEacuteCULOS

XVI AO XVIII

21 Consideraccedilotildees sobre Teacutecnica e Tecnologia

Uma das primeiras questotildees para conceituar Teacutecnica refere-se agraves anaacutelises

que permitem diferenciaacute-la do conceito moderno de Tecnologia Ruy Gama (1986

p 19) ao analisar essa questatildeo a partir de autores de liacutengua inglesa observa que

o conceito de tecnologia aparece ldquoora como simplesmente sinocircnimo de teacutecnica ou

de conjunto de teacutecnicas alarga-se as vezes para incluir o produto material das

teacutecnicas e outras vezes menos frequumlentes eacute usada como sinocircnimo de saber

associado as teacutecnicas ou como estudo das teacutecnicasrdquo

A partir de 1930 a preocupaccedilatildeo com a Histoacuteria da Teacutecnica vem se

difundido sobretudo por meio das anaacutelises iniciadas por autores franceses como

Marc Bloch Lefevre de Noeumlttes e Lucien Febvre e ingleses como Abbott Payson

Lynn White Jr e Lewis Munford que a transformaram numa ldquonova disciplinardquo

historiograacutefica 15

No Brasil a primeira discussatildeo sobre essa temaacutetica foi apresentada em

1985 com a publicaccedilatildeo do livro Histoacuteria da Teacutecnica e da Tecnologia organizado

por Ruy Gama Este trabalho eacute formado por uma coletacircnea de textos claacutessicos e

de outros produzidos por autores estrangeiros e brasileiros sobre a Histoacuteria da

Teacutecnica da Tecnologia e da Ciecircncia Entre os textos escritos por autores

brasileiros destacam-se os trabalhos de Fernando Luis Lobo Barbosa Carneiro e

de Julio R Katinsky

15 Os Textos em que estes autores discutem o conceito de Teacutecnica e Tecnologia foram publicados no livro Historia da Teacutecnica e da Tecnologia organizado por Ruy Gama (1985)

48

No texto escrito por esse uacuteltimo autor estaacute um Glossaacuterio dos Carpinteiros

de Moinho onde o autor apresenta os resultados de uma pesquisa que fez sobre

os moinhos hidrauacutelicos no Brasil cuja utilizaccedilatildeo eacute bastante frequumlente nas aacutereas

rurais dos Estados de Satildeo Paulo e Sul de Minas Aleacutem disso oferece um

glossaacuterio de termos empregados ldquobasicamente na construccedilatildeo de monjolos

prensas de mandioca engenhocas de accediluacutecar e moinhos hidrauacutelicos de gratildeos

estes uacuteltimos geralmente preparados para produzir quirera ou fubaacuterdquo (KATINSKY1985 p 216)

Aleacutem desses textos a Coletacircnea traz dois artigos do economista alematildeo

Johann Beckmann (1729-1811) considerado ldquoo pai da Tecnologiardquo por haver

firmado aquele conceito em fins do seacuteculo XVIII e instituiacutedo a disciplina de

Tecnologia no ensino da Universidade de Goumlttingen16 Em 1777 publica a obra

Instruccedilatildeo sobre Tecnologia em que firmava o seu conceito de Tecnologia como

ldquoconhecimento dos ofiacutecios faacutebricas e manufaturas especialmente daquelas que

tem contacto estrito com a agricultura a administraccedilatildeo puacuteblica e as ciecircncias

cameraliacutesticasrdquo (GAMA 1985 p6) Na introduccedilatildeo dessa mesma obra Beckmann

escrevia que

A histoacuteria das artes pode dedicar-se a enumeraccedilotildees das

invenccedilotildees ao progresso e ao curso habitual de uma arte ou de

um trabalho manual mas eacute a tecnologia que explica de maneira

completa clara e ordenada todos os trabalhos assim como seus

fundamentos e suas consequumlecircncias (BECKMANN Apud GAMA

1985 p6)

Serge Moscovici em Essai sur lrsquohistorie humaine de la Nature referindo-se

a Beckmann afirma que este autor conscientemente ldquoforja o termo tecnologia

para designar a disciplina que descreve e ordena os ofiacutecios e as induacutestrias

existentesrdquo (MOSCOVICI apud GAMA 1985 p 8)

16 Goumlttingen era uma das mais conhecidas universidades da Europa agrave qual se vinculavam muitos estadistas e funcionaacuterios administrativos da Alemanha

49

Para Beckmann e outros autores de seu tempo a Tecnologia estava

intimamente ligada agrave escola e basicamente agrave uniatildeo dos ldquosaacutebiosrdquo com os

ldquofabricantesrdquo que dominavam o conhecimento teacutecnico numa eacutepoca em que este

mesmo conhecimento comeccedilava a ser objeto de investigaccedilatildeo de academias e

universidades as quais tinham como objetivo a formulaccedilatildeo de uma linguagem

tecnoloacutegica por intermeacutedio da codificaccedilatildeo de conceitos Ressaltamos ainda que

as propostas de Beckmann e esse novo olhar paras as teacutecnicas estavam

voltadas para o atendimento de demandas sociais surgidas com a Revoluccedilatildeo

Industrial

Se a Tecnologia tem a funccedilatildeo de explicar como afirma Beckmann ela

tambeacutem teve seu tempo de formulaccedilatildeo Segundo Ruy Gama o nascimento do

conceito de Tecnologia pode ser situado historicamente no decorrer da Idade

Moderna sendo difundido a partir do seacuteculo XVII Para este autor tal conceito foi

construiacutedo

pari passu ao desenvolvimento do capitalismo e agrave substituiccedilatildeo do

modo de produccedilatildeo feudalcoorporativo e do sistema de

transmissatildeo do conhecimento apoiado na aprendizagem pelo

emprego do trabalho assalariado e pelo sistema escolarizado do

conhecimento (GAMA 1986 p30)

Dessa forma ateacute pelo menos antes do advento da ldquoRevoluccedilatildeo da Ciecircnciardquo

(1789-1848) especialmente pelas descobertas proporcionadas pela Quiacutemica 17

todos os processos de produccedilatildeo eram realizados a partir de conhecimentos

ldquopraacuteticosrdquo e que natildeo eram e natildeo poderiam ser explicados cientificamente Assim

trabalhavam os carpinteiros camponeses mineiros e fundidores de metais e

outros artesatildeos da Idade Meacutedia associando engenhosidade experiecircncia e

habilidade manual ou em outras palavras centrados no ldquomais rude empirismordquo

(USHER 1994 p 465)

17 A Quiacutemica entre todas as ciecircncias ldquofoi a mais iacutentima e imediatamente ligada agrave praacutetica industrial ndash a Revoluccedilatildeo Industrial - especialmente integrada aos processos de tingimento de tecidos e branqueamento da industria tecircxtilrdquo ( HOBSBAWM 1979 p305)

50

Para Milton Vargas a Tecnologia soacute pode ter vigecircncia depois do

estabelecimento da Ciecircncia Moderna 18

principalmente pelo fato de essa cultura ser um saber que apesar

de teoacuterico deve necessariamente ser verificado pela experiecircncia

cientiacutefica Esse aspecto experimental e portanto empiacuterico da

Ciecircncia moderna proveacutem da ideacuteia renascentista de que tudo

aquilo que fora realizado pela tradiccedilatildeo teacutecnica poderia secirc-lo

tambeacutem pela teoria e metodologia cientiacuteficas o que

evidentemente aproxima o saber teoacuterico-cientiacutefico do fazer

empiacuterico da teacutecnica (VARGAS 1994 p 16)

22 O conceito de Teacutecnica Originaacuterio da Greacutecia Claacutessica o conceito de Teacutecnica estava inserindo num

tipo de ldquosaber-fazerrdquo associado a mitos como o de Hefestos (Vulcano para os

romanos) ndash o ferreiro - senhor do fogo e da forja que segundo aquela mitologia

havia revelado o segredo desta Teacutecnica aos homens Desta perspectiva

mitoloacutegica o conceito de Teacutecnica transformou-se num outro tipo saber-fazer o da

ldquotechneacuterdquo um conhecimento empiacuterico que somente pode ser obtido atraveacutes do

aprendizado baseado na experiecircncia ou entatildeo a partir dos ensinamentos

transmitidos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo

Neste sentido a Techneacute natildeo eacute uma habilidade qualquer ldquomas uma

habilidade que segue certas regras por isso techneacute significa tambeacutem ofiacutecio

pressupotildee a existecircncia de um substrato um saber e um conhecimento na

18 Para Hobsbawm o progresso da ciecircncia natildeo pode ser entendido como um simples ldquoavanccedilo linear cada estaacutegio determinando a soluccedilatildeo de problemas anteriormente impliacutecitos nele e por sua vez colocando novos problemas Estes avanccedilos tambeacutem procedem pela descoberta de novos problemas de novas maneiras de enfocar os antigos de novas maneiras de enfrentar e solucionar velhos problemas de campos de investigaccedilatildeo inteiramente novos de novos instrumentos praacuteticos e teoacutericos de investigaccedilatildeordquo (HOBSBAWM 1979 p 302)

51

execuccedilatildeo de uma atividaderdquo (NADAL 2000 p 18) Esta forma de saber baseada

na loacutegica prolongou-se atraveacutes da Idade Meacutedia e chegou aos nossos dias com o

tiacutetulo de Teacutecnicas Natildeo satildeo teorias satildeo conhecimentos que tanto podem ser

adquiridos pela praacutetica como pelo estudo de tratados teacutecnicos

Entre os seacuteculos XVI e XVII a Ciecircncia ao romper com a tradiccedilatildeo

escolaacutestica19 avanccedila para o caminho da experimentaccedilatildeo com a valorizaccedilatildeo das

artes (teacutecnica) as quais jaacute vinham se transformando em objeto de preocupaccedilatildeo e

de estudo desde a Baixa Idade Meacutedia e o Renascimento ateacute chegar agrave constituiccedilatildeo

da Ciecircncia Moderna (DANTAS 2004)

Contraposta ao pensamento grego e medieval em que a

contemplaccedilatildeo das verdades era a meta do conhecimento sabe-se

que a partir do Renascimento haacute uma valorizaccedilatildeo do

conhecimento praacutetico bem como uma mudanccedila no estatuto do

conhecimento teacutecnico Haacute uma expectativa de intervenccedilatildeo e de

controle da natureza e correlativamente um reconhecimento da

teacutecnica isto eacute das atividades inventos e construccedilotildees dos

praacuteticos engenheiros e artesatildeos Daiacute se falar em uma nova forma

de saber e uma nova figura de douto Haacute no entanto uma seacuterie de

dificuldades para estabelecer as razotildees do surgimento dessa

dimensatildeo ativa e o papel que ocupa no nascimento da ciecircncia

moderna (OLIVEIRA1997 p )

No seacuteculo XV esse movimento de valorizaccedilatildeo do trabalho teacutecnico dos

artesatildeos ligado agrave experimentaccedilatildeo foi amplamente difundido pela divulgaccedilatildeo

daqueles conhecimentos atraveacutes de publicaccedilotildees A partir de 1630 surgiram os

Tratados Teacutecnicos Manuais20 como tambeacutem dicionaacuterios e enciclopeacutedias que se

dedicavam ao levantamento da terminologia das diversas artes das

nomenclaturas teacutecnicas e da descriccedilatildeo dos processos e dos meacutetodos das artes

19 Escolaacutestica movimento cultural e filosoacutefico medieval baseado em grande parte em comentaacuterios da obra do filoacutesofo grego Aristoacuteteles e de cunho puramente contemplativo 20 Na arquitetura por exemplo o estabelecimento desta praacutetica permitiu a difusatildeo das teorias e desenhos imaginados pelos arquitetos renascentistas findando assim a necessidade de construir e realizar obras para exemplificar as ideacuteias arquitetocircnicas

52

mecacircnicas as quais acabaram por solapar o domiacutenio das corporaccedilotildees de ofiacutecios 21 (BARGALLOacute 1955 p47)

A publicaccedilatildeo dos manuais teacutecnicos teraacute uma importacircncia decisiva

na padronizaccedilatildeo de unidades de medida e de representaccedilatildeo O

esforccedilo por se fazer compreender sem a equivocidade do discurso

do senso comum e sem o hermetismo do discurso maacutegico-

religioso reservado aos iniciados eacute uma forma decisiva de

objetivaccedilatildeo da comunicaccedilatildeo que muito embora seja fundamental

ao empreendimento da ciecircncia nasce como uma necessidade do

desenvolvimento da teacutecnica As exigecircncias da precisatildeo aparecem

na representaccedilatildeo (desenhos graacuteficos etc) e na linguagem

daquele tipo de saber - as artes mecacircnicas - em seus manuais de

modelos de construccedilatildeo nas descriccedilotildees dos aspectos e

proporccedilotildees dos corpos ou no detalhamento do fabrico e do uso de

instrumentos e artefatos Natildeo eacute difiacutecil ver que esse interesse na

divulgaccedilatildeo de conhecimentos potencializado pelo aparecimento

da imprensa tornava necessaacuteria a padronizaccedilatildeo da divulgaccedilatildeo

com uma linguagem mais objetiva e medidas mais precisas

(OLIVEIRA 1997)

Entre os Tratados Teacutecnicos publicados estaacute a obra De pictura (1435)

considerado o primeiro estudo cientiacutefico da perspectiva pelo italiano Leone

Batista Alberti arquiteto literato e escultor (1404-1472) Para Alberti os artistas

deveriam aprender com todos os outros artesatildeos E o caminho para esse

aprendizado segundo ele consistia em conseguir com os proacuteprios artesatildeos os

21 Dos seacuteculos II (dC) ao XV as Artes estavam classificadas em Artes Liberais e Artes Mecacircnicas As Liberais (assim chamadas por serem consideradas dignas do homem livre) estavam associadas agrave Gramaacutetica Retoacuterica Astronomia Loacutegica Aritmeacutetica Muacutesica Quanto agraves Artes Mecacircnicas organizadas nas aacutereas urbanas eram consideradas menos honrosas mais proacuteprias do trabalhador manualservil como Medicina Arquitetura Agricultura Pintura Escultura Olaria Carpintaria Ferraria Cantaria Ofiacutecio de pedreiros etc As corporaccedilotildees de ofiacutecios ateacute entatildeo responsaacuteveis pelo treinamento dos artesatildeos e pelos segredos dos ofiacutecios (os misteacuterios dos misteres) tinham o sistema de aprendizado baseado na transmissatildeo dos conhecimentos teacutecnicos na praacutetica das oficinas ndash o aprender fazendo ndash que encaminhava o aprendiz na sua carreira passando pela categoria de oficial e finalmente pela de mestre isso quando conviesse agrave corporaccedilatildeo ter mais mestre vale dizer mais oficinas no mercado

53

saberes natildeo divulgados ou secretos dos ofiacutecios Para isso orientava os artistas

para frequumlentar as oficinas e outros lugares de trabalho e fazerem perguntas aos

ferreiros pedreiros construtores de barcos e ateacute aos sapateiros Deveriam

tambeacutem frequumlentemente fingir ignoracircncia para descobrir em que o conhecimento

dos outros excedia aos seus (GAMA 1983 p 284-85)

Esse novo caminho da Ciecircncia o da experimentaccedilatildeo encontra no

pensamento do Filoacutesofo inglecircs Francis Bacon (1561-1626) uma de suas

expressotildees teoacutericas Considerado o fundador da ciecircncia experimental moderna

foi tambeacutem o criador do meacutetodo cientiacutefico baseado na observaccedilatildeo e

experimentaccedilatildeo (empirismo) que permitiram o avanccedilo das teacutecnicas que

transformaram a vida do homem campesino e mineiro do seacuteculo XVII (GAMA

1983 p34)

Em linhas gerais Bacon ldquorejeitou a separaccedilatildeo e a oposiccedilatildeo vigentes nas

filosofias tradicionais entre teoria e praacutetica entre loacutegica e operaccedilotildees reais entre

verdade e utilidaderdquo (GAMA 1983 p 33)

Interpretou essas oposiccedilotildees como oriundas das condiccedilotildees

histoacutericas e sociais bem determinadas que valorizavam a

contemplaccedilatildeo ndash a verdade em sua pureza ndash e que desprezavam

tudo o que fosse ligado agraves atividades praacuteticas e materiais Por

tudo isso preocupou-se em realccedilar tanto quanto fosse necessaacuterio

a importacircncia dos fatores materiais no desenvolvimento da

filosofia e da cultura E a partir daiacute sustenta a identidade entre

verdade e utilidade teoria e atividade operativa conhecer e fazer

e afirma que qualquer separaccedilatildeo e contraposiccedilatildeo entre esses

termos cria obstaacuteculos intransponiacuteveis de resultados efetivos e

eficientes (GAMA1983 p33-34)

54

23 A valorizaccedilatildeo do conhecimento teacutecnico e a ciecircncia experimental moderna Com o nascimento da Ciecircncia Experimental a teacutecnica artesanal e os

procedimentos teacutecnicos ligados agraves Artes Mecacircnicas passaram a ser os meios que

permitiriam o progresso da ciecircncia e o avanccedilo do saber

Joan Luis Vives (1492-1540) filoacutesofo e preceptor da corte inglesa assim

como o italiano Leone Alberti defendia que o homem culto natildeo devia

envergonhar-se de entrar nas oficinas e perguntar aos artesatildeos pelas teacutecnicas

que empregavam em suas artes Vives em sua obra De Tradendis Disciplinis

convidava os estudiosos europeus a prestar grande atenccedilatildeo aos problemas

teacutecnicos relativos agrave construccedilatildeo das maacutequinas agrave agricultura agrave tecelagem agrave

navegaccedilatildeo Advertia ainda que devessem deitar os olhos sobre o trabalho dos

artesatildeos para tentar saber onde e como essas artes foram inventadas buscadas

desenvolvidas conservadas e como aplicaacute-las Dessa forma segundo Vives

(1531 apud ROSSI 1989 p 24) o homem venceria seu tradicional desdeacutem por

aquilo que considerava como conhecimento vulgar o dos artesatildeos22

Nota-se tambeacutem que esse movimento o de valorizaccedilatildeo do saber teacutecnico

nasce no acircmbito das Academias e Associaccedilotildees vinculadas a esta nova

perspectiva de Ciecircncia e natildeo nas Universidades que permaneceram ateacute finais do

seacuteculo XVIII com poucas alteraccedilotildees metodoloacutegicas Entre os novos centros de

conhecimento estavam a Academia dei Lincei en Roma (1603) a Accademia del

Cimento en Florenccedila (1657) a Royal Society de Londres (1660) a Acadeacutemie des

Sciences de Paris (1666) aleacutem de Escolas Artesanais entatildeo criadas que

conjugavam na Ciecircncia Empiacuterica a alianccedila entre o saber (ciecircncia) e o fazer

22 Dentro desta mesma perspectiva devem ser acrescentar as obras do jaacute citado Francis Bacon Harvey Galileu e Boyle que valorizavam a experimentaccedilatildeo e a observaccedilatildeo da natureza reformulando as concepccedilotildees cientiacuteficas e reconhecendo a importacircncia das teacutecnicas e da praacutetica para a Ciecircncia

55

(teacutecnica) Na Espanha por exemplo cria-se uma escola de mineiros exercitados

em teacutecnicas sobretudo nas teacutecnicas metaluacutergicas 23

Assim podemos afirmar que naquele momento entrar no mundo do

conhecimento teacutecnico representava entrar no mundo das corporaccedilotildees de ofiacutecios

desvendando os segredos por meio da apropriaccedilatildeo do saber teacutecnico e da

linguagem utilizada pelos artesatildeos para a realizaccedilatildeo de seus ofiacutecios Para Ruy

Gama A que parece o domiacutenio dos segredos da linguagem dos artesatildeos

foi a porta pela qual se entrou no domiacutenio dos proacuteprios segredos

dos ofiacutecios Dentre os misteacuterios dos misteres a linguagem foi a

primeira a ser desvendada decifrada e jogada na rua pelas portas

e janelas arrombadas das oficinas ndash numa espeacutecie de accedilatildeo de

despejo ndash para ser vista por todo mundo (GAMA 1986 p 48)

Nas escolas artesanais surge a Tecnologia como disciplina curricular A

institucionalizaccedilatildeo deste saber permitiu que aqueles conhecimentos teacutecnicos

fossem reunidos estruturados e sistematizados e dessa forma transmitidos a um

nuacutemero cada vez maior de pessoas (GAMA 1994 p 54)

2 4 A Tecnologia como sinocircnimo de Teacutecnica

Apesar de toda a diferenciaccedilatildeo jaacute feita entre os conceitos de Teacutecnica e

Tecnologia estes termos satildeo frequumlentemente utilizados como sinocircnimos Autores

da liacutengua ingleses natildeo fazem esta distinccedilatildeo pois consideram entre outros

aspectos que a Histoacuteria da Teacutecnica e a Histoacuteria da Tecnologia apresentam seus

campos embaralhados e sua periodizaccedilatildeo extremamente difiacutecil de definir Lynn

White Jr historiador econocircmico e medievalista americano por exemplo afirma

que a Tecnologia natildeo conhece fronteiras cronoloacutegicas e geograacuteficas pois entende

Tecnologia como o ldquoconjunto de todas as Teacutecnicasrdquo e ldquoas maneiras pelas quais as

56

pessoas fazem coisasrdquo (GAMA 1985 p 14) Mas segundo Ruy Gama esta

definiccedilatildeo natildeo permite nem o estabelecimento de uma fronteira histoacuterico-

cronoloacutegica e nem geograacutefica para situar o ldquonascimentordquo do conceito jaacute que Lynn

o emprega como sinocircnimo de Histoacuteria do Trabalho e dessa forma permite

empregar o termo Tecnologia para todas as realizaccedilotildees e obras materiais dos

povos (GAMA 1985 p 14-15)

Essa concepccedilatildeo de Tecnologia como sinocircnimo de Teacutecnica desenvolve-se

num contexto em que entre outros aspectos a Arqueologia e a Histoacuteria

passavam por reformulaccedilotildees conceituais A Arqueologia passava a revelar nos

anos 40 do seacuteculo XX novos documentos materiais relacionados a civilizaccedilotildees da

Ameacuterica preacute-colombiana que supunha-se natildeo conheciam a escrita (pesquisas

atuais comeccedilam a demonstrar que a conheciam) e tampouco a roda elementos

considerados naquele periacuteodo indicadores para qualificar o niacutevel de progresso

teacutecnico de uma determinada sociedade que poderia ser considerada como

ldquoavanccediladardquo ou ldquoatrasadardquo Essas descobertas levaram a uma reavaliaccedilatildeo nas

ideacuteias de progresso e civilizaccedilatildeo e na forma de olhar outras sociedades deixando

de centrar as anaacutelises somente no ldquoeixo tradicional etnocecircntrico europeurdquo (GAMA

1985 p 14-15)

Quanto agrave Histoacuteria o nascimento de uma nova escola historiograacutefica a

Histoacuteria Nova surgida na Franccedila na primeira metade do seacuteculo XX daacute um novo

enfoque teoacuterico-metodoloacutegico agrave pesquisa histoacuterica voltada para a anaacutelise do

cotidiano Esta nova tendecircncia amplia a noccedilatildeo de documento aproximando a

Histoacuteria das demais Ciecircncias Humanas entre elas a Arqueologia possibilitando

nos anos 60 do seacuteculo XX uma ldquoverdadeira Revoluccedilatildeo Documentalrdquo que permitiu

nas anaacutelises historiograacuteficas a incorporaccedilatildeo dos documentos natildeo-escritos -

cultura material ndash viabilizando o estudo das sociedades que natildeo possuiacuteam a

escrita para registrar sua Histoacuteria

Para a divulgaccedilatildeo desse novo conceito de documento Lucien Febvre

idealizou no periacuteodo entre as duas primeiras guerras uma revista de Histoacuteria que

57

seria fundada mais tarde em parceria com Marc Bloch com o nome de Annales

drsquoHistorie Economique et Sociale os ldquoAnnalesrdquo Para Febvre ao analisar o

trabalho do historiador a partir da noccedilatildeo ampliada de documento afirma que

A Historia faz-se com documentos escritos sem duacutevida Quando

estes existem Mas pode fazer-se deve fazer-se sem documentos

escritos quando natildeo existem Com tudo o que a habilidade do

historiador lhe permite utilizar para fabricar o seu mel na falta das

flores habituais Logo com palavras signos paisagens e telhas

Com as formas do campo e ervas daninhas Com os eclipses da

lua e a atrelagem dos cavalos de tiro Com os exames de pedras

feitos pelos geoacutelogos e com a anaacutelise de metais feitas pelos

quiacutemicos Numa palavra com tudo o que pertencente ao homem

depende do homem serve ao homem exprime o homem

demonstra a presenccedila a actividade os gostos e as maneiras de

ser do homem

Toda uma parte e sem duacutevida a mais apaixonante do nosso

trabalho de historiadores natildeo consistiraacute num esforccedilo constante

para fazer falar as coisas mudas para fazecirc-las dizer o que elas

por si proacuteprias natildeo dizem sobre os homens sobre as sociedades

que as produziram e para constituir finalmente entre elas aquela

vasta rede de solidariedade e de entre-ajuda que supre a

ausecircncia do documento escritordquo (FEBVRE 1953 p 428 apud

GOFF 1984 p 98)

Para conceituar Teacutecnica e Tecnologia recorremos tambeacutem ao Dicionaacuterio

das Ciecircncias Sociais de Alain Birou segundo o qual Teacutecnica significa

O conjunto de regras praacuteticas para fazer coisas determinadas

envolvendo a habilidade do executor e transmitidas verbalmente

por exemplo no uso das matildeos dos instrumentos e ferramentas e

das maacutequinas Alarga-se frequumlentemente o conceito para nele

incluir o conjunto dos processos de uma ciecircncia arte ou ofiacutecio

para obtenccedilatildeo de um resultado determinado com o melhor

rendimento possiacutevel (GAMA 1986 p 30)

58

Para este mesmo dicionaacuterio Tecnologia eacute

O estudo e conhecimento cientiacutefico das operaccedilotildees teacutecnicas ou da

teacutecnica Compreende o estudo sistemaacutetico dos instrumentos das

ferramentas e das maacutequinas empregadas nos diversos ramos da

teacutecnica dos gestos de trabalho e dos custos dos materiais e da

energia empregada A tecnologia implica na aplicaccedilatildeo dos meacutetodos

das ciecircncias fiacutesicas e naturais e como assinala Alan Birou tambeacutem

na comunicaccedilatildeo desses conhecimentos pelo ensino teacutecnico

(GAMA 1986 p 30)

Diante dessas consideraccedilotildees sobre Teacutecnica e Tecnologia salientamos

que neste trabalho pretendemos a partir da Arqueologia Histoacuterica contribuir

para a Histoacuteria da Teacutecnica no periacuteodo colonial brasileiro especialmente no que

diz respeito agraves teacutecnicas relacionadas agrave mineraccedilatildeo e agrave metalurgia

No periacuteodo analisado entre os seacuteculos XVI e XVIII todos os trabalhos

relacionados agravequelas atividades estavam baseados no puro empirismo no saber-

fazer e nas experiecircncias praacuteticas daqueles trabalhadores que sabiam realizar as

operaccedilotildees de fundiccedilatildeo de forma praacutetica mas natildeo tinham instrumentos para

explicaacute-los Somente com o advento da Ciecircncia Moderna especialmente com a

Revoluccedilatildeo Cientiacutefica eacute que aqueles mineiros e fundidores puderam compreender

as operaccedilotildees produtivas que realizavam

Assim assumimos a periodizaccedilatildeo proposta por Ruy Gama ao considerar

Teacutecnica e Tecnologia como categorias distintas e portanto que a Histoacuteria da

Teacutecnica natildeo coincide com a Histoacuteria da Tecnologia

59

25 A teacutecnica de produccedilatildeo do ferro no periacuteodo entre os seacuteculo XVI ao XVIII

Los antiguos herrreros descubrieron que si martillaban

repetidamente y recalentaban una y otra vez en fuego de carboacuten

un trozo de mineral de hierro al rojo obteniacutean un metal

extremamente fuerte y duro ndash hierro forjado (CARDWELL 1994

p 33)

Antes do conhecimento dos metais eram aproveitadas ldquotreze diferentes

espeacutecies minerais todas do grupo natildeo-metaacutelicos denominadas calcedocircnia (chert

e siacutelex) quartzo cristal de rocha jaspe serpentina pirita calcita ametista

fluorita esteatita acircmbar e obsidianardquo (GUIMARAtildeES1981p22) A estes minerais

natildeo metaacutelicos pode-se acrescentar a utilizaccedilatildeo de ldquopigmentos minerais usados

para ornamentos e pintura constituiacutedos de argila e oacutexidos metaacutelicos coloridos

embora alguns objetos feitos especialmente de cobre tenham sido encontrados e

datados de aproximadamente 9000 aC (GUIMARAtildeES 1981 p 22)

Atribui-se o iniacutecio do aproveitamento dos mineacuterios para a extraccedilatildeo de

metais entre os anos de 6000 a 5000 aC Admite-se que o cobre teria sido o

primeiro metal produzido pelo homem depois o bronze (uma liga metaacutelica de

estanho e cobre) Na mesma eacutepoca tambeacutem se passou a utilizar o chumbo e por

uacuteltimo o ferro Na chamada ldquoIdade do Ferrordquo houve tambeacutem a difusatildeo da

fabricaccedilatildeo do vidro e do mercuacuterio

Pesquisas arqueoloacutegicas em aacutereas mineiras da Europa tem possibilitado

revisotildees do conhecimento relacionado a natureza das mateacuterias-primas

empregadas na extraccedilatildeo do ferro Tradicionalmente sustentava-se a ideacuteia de que

a mateacuteria-prima com que se confeccionavam os primeiros objetos de ferro teria

origem em meteoritos Esta teoria se aplicava particularmente aos objetos

fabricados com ferro rico em niacutequel Atualmente pesquisas na aacuterea da

paleometalurgia demonstram que a origem de associaccedilotildees do ferro com outros

60

metais ocorre em razatildeo da composiccedilatildeo quiacutemica natural dos minerais utilizados

para a produccedilatildeo destes materiais (FAUS 2000 p 27)

O ferro como alguns outros metais natildeo eacute encontrado na natureza em

forma pura sendo que nestas condiccedilotildees encontra-se sempre combinado com

outros elementos formando oacutexidos carbonatos silicatos e sulfatos Para a

produccedilatildeo do ferro satildeo utilizados mineacuterios sobretudo os oacutexidos tais como a

hematita (Fe2O3) e a magnetita (Fe3O4) 24 Outros mineacuterios de menor importacircncia

para a produccedilatildeo tambeacutem contecircm ferro tais como a Siderita (FeCO3) Limonita

(Fe3O4) Pirita (FeS2) e a (Cromita FeOCr2O3) ( LABOURIAU 1928 p 95-110)

Os termos ldquomineralrdquo ldquomineacuteriordquo e ldquometalrdquo precisam ser esclarecidos para que

se possa compreender a forma da produccedilatildeo do ferro

Mineral eacute uma substacircncia formada em resultado da interaccedilatildeo de

processos geoloacutegicos em ambientes geoloacutegicos naturais Os minerais variam na

sua composiccedilatildeo desde elementos quiacutemicos em estado puro ou quase puro e

sais simples a silicatos complexos com milhares de formas conhecidas

(LABOURIAU 1928 p 95-96)

Mineacuterio eacute toda substacircncia natural da qual se possa fazer a extraccedilatildeo de

algum metal (como a hematita e a magnetita) Assim um mineacuterio eacute sempre uma

substacircncia mineral Entretanto nem todo mineral eacute mineacuterio pois alguns minerais

natildeo permitem a extraccedilatildeo de metais como exemplo pode-se citar a pirita (sulfeto

de ferro) um mineral que eacute aproveitado para a fabricaccedilatildeo do aacutecido sulfuacuterico mas

que natildeo permite a extraccedilatildeo do metal nele contido (o ferro) Por conseguinte a

perita eacute um mineral uacutetil mas natildeo eacute um mineacuterio (LABOURIAU 1928 p 95-96)

Metal cada um de um grande grupo de substancias simples obtidas a

partir de mineacuterios

24 A magnetita eacute assim denominada devido ao seu magnetismo natural eacute um mineral de cor preta acinzentada ou avermelhada com brilho metaacutelico de formula quiacutemica (Fe3O4)

61

Para a extraccedilatildeo do ferro dos seus mineacuterios (geralmente oacutexidos feacuterricos

como a hematita) foram desenvolvidas desde a Antiguumlidade teacutecnicas de fundiccedilatildeo

destes materiais por reduccedilatildeo que utilizavam carvatildeo de madeira como redutor

Entretanto variava de uma regiatildeo para outra o tipo do forno e forma de colocaccedilatildeo

do mineacuterio e do carvatildeo no seu interior

Elena Faus referindo ao caso da tradiccedilatildeo basca defende que ateacute o seacuteculo

XIX os avanccedilos dos meacutetodos de fundiccedilatildeo do ferro tecircm decorrido independentes

da investigaccedilatildeo cientiacutefica Para esta autora esses avanccedilos teacutecnicos foram

realizados por ldquouma multitud anoacutenima de individuos de talento formados a la

sombra del teller protagoniza la Historia de la Tecnologia Son analfabetos y no

han conocido ninguacuten tipo de ensentildeanzardquo (FAUS 2000 p 51) O aprimoramento

da teacutecnica de fundiccedilatildeo podia entatildeo ser considerado como uma sucessatildeo de

ldquoinventosrdquo de artesatildeos que na determinaccedilatildeo em resolver as dificuldades que

surgiam inventaram teacutecnicas de fundiccedilatildeo a partir de experiecircncias praacuteticas pelo

uacutenico meacutetodo que conheciam o da praacutexis do ensaio e erro (FAUS 2000 p51)

Toda a produccedilatildeo do ferro estava fundamentada em conhecimentos

teacutecnicos baseados na praacutetica e que eram conhecimentos secretos restritos aos

membros da respectiva corporaccedilatildeo de ofiacutecio Ateacute a ldquorevoluccedilatildeo da Quiacutemicardquo no

seacuteculo XVIII natildeo havia nenhum conhecimento que pudesse explicar de forma

cientiacutefica o processo em que ocorria a reduccedilatildeo do mineacuterio em metal Soacute a partir

daiacute foi possiacutevel por exemplo explicar a atuaccedilatildeo de um elemento o Carbono

obtido pela queima do carvatildeo vegetal no processo produtivo do ferro Na Franccedila

em 1722 o cientista Reneacute Reacuteaumur concluiu que a diferenccedila entre as distintas

qualidades do ferro e do accedilo resultava da incorporaccedilatildeo de uma substacircncia

material Em 1786 na Sueacutecia os matemaacuteticos Vandermonde e Berthollet e o

quiacutemico Monge confirmaram esta hipoacutetese e identificaram o elemento o

Carbono o mesmo procedente da queima do carvatildeo de madeira utilizado desde

a antiguidade na fabricaccedilatildeo (FAUS 2000 p 21-22)

62

Com o aprimoramento da teacutecnica de fabricaccedilatildeo do ferro descobriu-se

tambeacutem a forma de se produzir accedilo sendo que sua difusatildeo promoveu a

emergecircncia de instrumentos e ferramentas completamente novas dando prestiacutegio

a todos aqueles que dominavam a teacutecnica dos metais Dessa forma o ferro e

depois o accedilo foi empregado na fabricaccedilatildeo de uma diversificada variedade de

instrumentos que anteriormente eram confeccionados com madeira ou pedra

transformando assim a metalurgia em uma teacutecnica extremamente estrateacutegica

Para Donald Cardwel

la metalurgiacutea hizo posibles instrumentos y herramientas completamente nuevos ndash y anteriormente inimaginables - La

importancia fundamental de la metalurgiacutea y el prestigio de los

trabajadores expertos en el metal quedan confirmados como

sentildealaba Samuel Smiles por la frecuencia del apellido Smith

(lsquoHerrerorsquo) Ademaacutes la palabra Smith es de origen noacuterdico o

germacircnico lo cual da una clave para entender la localizacioacuten de

los primitivos centros del trabajo del metal en el occidente

europeo (CARDWEL 1994 p 34 grifo nosso)

A crescente demanda de objetos e utensiacutelios feitos de ferro proporcionou o

aprimoramento das teacutecnicas de fundiccedilatildeo como tambeacutem da especializaccedilatildeo

daquele trabalho

Na Espanha por exemplo os espaccedilos destinados a produccedilatildeo de ferro

foram se especializando Um desses espaccedilos era denominado de ferrarias

maiores que se especializaram na fundiccedilatildeo dos mineacuterios para a obtenccedilatildeo de

metal e outras denominadas de ferrarias menores dedicavam-se aacute manufatura

desse metal ou seja transformando-o em barras ou laminas para fabricar entre

outros produtos instrumentos e acessoacuterios agriacutecolas (ferraduras) armas

(espadas) e materiais construtivos (cravos) etc ( FERNANDEZ p 5)

63

Desde o iniacutecio da metalurgia tem-se buscado tambeacutem a maneira pela qual

os fornos pudessem alcanccedilar temperaturas cada vez elevadas pois para que se

possa retirar o ferro do mineacuterio de forma que fosse possiacutevel o aproveitamento de

todo metal nele existente a temperatura do forno deve se elevar aleacutem de 1535ordmC

ponto de fusatildeo daquele metal

Contudo os primeiros fornos empregados para a reduccedilatildeo com a utilizaccedilatildeo

de carvatildeo vegetal alcanccedilavam apenas temperaturas que variavam entre 1200ordmC

e 1300ordmC insuficientes para a fusatildeo completa e portanto o ferro obtido com

aquela temperatura natildeo era retirado do forno em estado liacutequido e sim em estado

pastoso A essa temperatura (12001300ordm C) o mineacuterio de ferro transformava-se

em uma ldquomassa esponjosardquo repleta de impurezas (escoacuterias que ainda

apresentavam uma significativa quantidade de ferro na sua composiccedilatildeo) Essa

massa era entatildeo colocada sobre uma bigorna e por meio de martelamento

manual ou mecacircnico retiravam-se as escoacuterias que ainda permaneciam grudadas

naquela massa compactando-a e dando forma ao metal

Labouriau ao explicar a accedilatildeo do carvatildeo vegetal durante o processo de

reduccedilatildeo explica que o carvatildeo vegetal em contato com o oxigecircnio da atmosfera

queima produzindo calor formando o gaacutes carbocircnico (CO e CO2) Esse CO2 entatildeo

ao reagir com uma parte do carvatildeo passa para CO e que esse CO juntamente

com uma parte do carvatildeo retira o oxigecircnio do mineacuterio e fica o ferro ligado a um

pouco de Carbonordquo (LABOURIAU 1928 p 146)

Essa teacutecnica de produccedilatildeo de ferro ficou conhecida como ldquoprocesso Diretordquo

ou ldquomeacutetodo de reduccedilatildeo diretardquo e o ferro produzido era o ldquoferro docerdquo Ateacute o seacuteculo

XV com o aparecimento do alto-forno esta era a uacutenica teacutecnica conhecida e

empregada na produccedilatildeo daquele metal No alto-forno o ferro atingia

temperaturas mais elevadas possibilitando uma maior absorccedilatildeo de carbono do

carvatildeo vegetal transformando-se em gusa (ferro-gusa ou ferro fundido) que saiacutea

64

do forno no estado liquido incandescente25 No seacuteculo XVI o alto forno foi

aperfeiccediloado na Alemanha e na Aacuteustria com o aparecimento do Stueckofen (alto-

forno) construiacutedos de alvenaria

Com a utilizaccedilatildeo do alto-forno e com a obtenccedilatildeo do ferro em sua forma

liacutequida foram possiacuteveis as produccedilotildees de armas de fogo balas de canhatildeo sinos

de igreja e mais tarde a fabricaccedilatildeo de adornos para as residecircncias tais como

grades enfim produtos que puderam ser produzidos a partir do ferro liacutequido

deitado em moldes

26 Fornos de fundiccedilatildeo de ferro Segundo Jordi Maluquer Motes no iniacutecio da metalurgia utilizavam-se

pequenos fornos (fornos baixos) para extraccedilatildeo do metal (ferro) os quais natildeo

eram mais que uma cavidade ciliacutendica escavada no terreno ou em uma rocha

Contudo a forma e o tamanho dos fornos foram mudando ao longo do tempo e

de simples cavidades escavadas no chatildeo os fornos comeccedilaram a ganhar ao

redor daquele ciacuterculo paredes de argila refrataacuteria o que permitia fazer fornadas

maiores aumentando assim a produccedilatildeo Contudo todos eles ateacute o advento do

alto-forno produziam por meio da reduccedilatildeo direta o ferro em estado pastoso O

produto (ferro) que ficava no interior do forno apoacutes a fundiccedilatildeo do mineacuterio era

chamado de massa de ferro patildeo de ferro ou lupa (MALUQUER DE MOTES

1983 p21)

25 No Brasil o alto-forno foi construiacutedo apenas no iniacutecio do seacuteculo XIX na Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema quando este estabelecimento estava sob a direccedilatildeo de Hedberg

65

Fig 15 CORTE ESQUEMAacuteTICO DE UM FORNO DE FUNDICcedilAtildeO ndash Forno

baixo26 Natildeo haacute descriccedilotildees detalhadas acerca desses fornos primitivos mas

vestiacutegios encontrados em vaacuterias partes da Europa como em Illasheim

(Alemanha) indicam que estes fornos apresentavam uma planta circular No

centro da Europa outros fornos construiacutedos pelos Celtas tambeacutem apresentavam

reduzidas dimensotildees Os fornos Celtas tinham em meacutedia 35 a 50 cm de

diacircmetro com uma profundidade de 45 a 50 cm Sobre uma base levantavam o

forno propriamente dito construiacutedo por uma parede ciliacutendrica de argila medindo

entre 60 a 100cm Os Celtas chegaram a desenvolver teacutecnicas eficientes de

aceramento (conversatildeo do ferro em accedilo) como por exemplo na Suiacuteccedila onde a

produccedilatildeo de espadas ganhou fama por sua resistecircncia (FAUS 2000 p 32-34)

Fornos ruacutesticos tambeacutem foram encontrados em Bengala Aacutefrica

denominados de fornos africanos ou fornos iacutendios Eram fornos ciliacutendricos e

confeccionados em areia ferruginosa mal amassada sustentada por uma

armadura de bambu Tinham dimensotildees de 090m de altura com um diacircmetro de

030m A base do forno era furada em vaacuterios lugares e colocava-se um fole em

cada uma das aberturas exceto na grade da frente (orifiacutecio pelo qual eram

26 Disponiacutevel em La Farga Rossel lthttpwwwfargarosseladcaslafarga21434htmgt

66

retiradas as escoacuterias) o que dava em geral um total de sete foles por forno

(FAUS 2000 p 50)

Fig 16 MAQUETE FORNO CELTA ndash forno baixo27

Durante o periacuteodo de dominaccedilatildeo romana Roma passou a controlar toda a

exploraccedilatildeo do ouro prata e ferro produzidos em seu impeacuterio Para a produccedilatildeo

desse uacuteltimo metal empregavam teacutecnicas de fundiccedilatildeo utilizando-se dos

chamados fornos romanos As ferrarias romanas eram constituiacutedas de ldquoum

montatildeo de fornosrdquo construiacutedos com barro e palha (RODRIGUES 1964 p11)

27 Disponiacutevel em Exposition 2000 ans de meacutetallurgie en Nivernais des Gaulois agrave Ariane ltjprostclubfravgexpo2003htmlgt

67

Fig 17 FORNO ROMANO RODRIGUES (1964 p 12)

Neste mesmo periacuteodo homens bascos dos redutos resistentes agrave

dominaccedilatildeo romana continuaram a produzir o ferro por meacutetodos de fundiccedilatildeo que

haviam aprendido com seus ancestrais utilizando os chamados ldquofornos de ventordquo

os quais podem ser relacionados agrave primeira fase da elaboraccedilatildeo do ferro As

instalaccedilotildees que utilizavam esses fornos passaram a ser conhecida como ferrarias

secas de montanha de vento Habitualmente os fornos dessas ferrarias eram

construiacutedos em aacutereas montanhosas em pontos elevados a fim de aproveitar a

forccedila dos ventos para ativar a combustatildeo do carvatildeo vegetal (FAUS 2000 p 47)

68

Fig 18 Fornos de vento ou de lupa28

Fig 19 FORNOS DE LUPA OU DE VENTO corte esquemaacutetico

28 Disponiacutevel em La Farga Rossel lthttpwwwfargarosseladcaslafarga21434htmgt

69

Para Jordi Maluquer de Motes a maior dificuldade de operaccedilatildeo da

combustatildeo era o controle das temperaturas do forno sendo que o grande

segredo para a utilizaccedilatildeo desses fornos de vento era a adequada posiccedilatildeo em que

este era instalado e tambeacutem a correta utilizaccedilatildeo dos meios artificiais empregados

na ativaccedilatildeo da combustatildeo do carvatildeo vegetal tal como o emprego de foles

manuais feitos de peles de animais Esse procedimento requeria um esforccedilo

bastante grande de trabalho humano natildeo apenas no acionamento do fole como

tambeacutem para as operaccedilotildees de martelamento da massa de ferro que se formava

no interior do forno (MALUQUER DE MOTES 1983 p 21)

Por utilizarem esta teacutecnica de reduccedilatildeo as ferrarias de vento geralmente

ficavam instaladas em regiotildees distantes dos povoados o que tambeacutem levava um

significativo nuacutemero de fundidores e mineiros a passar parte de suas vidas

distantes daqueles povoados Esse distanciamento suscitou ateacute mesmo o

surgimento de mitos e faacutebulas conforme aponta Elena Faus (2000) que

enriqueceram a cultura popular europeacuteia em especial a cultura basca

Las maravailhas del arte de aquellos seres ton solo por ellos

conocidos les hizo mecedores de leyendas Muchas de ellas les

han sobrevivido y han pasado a integrar el bagaje mitoloacutegico de la

cultura vasca

El velo de magia que enturbiaba la figura de los ferrones se

time en ocasiones de un cierto cariz de condena religiosa Se les

identifica con los lsquogentilesrsquo reacios a la evangelizacioacuten o con el

proprio demonio (lsquosentildeor de los bosquesrsquo o lsquobasejaunrsquo) en persona

(FAUS 2000 p 47)

Outros tipos de fornos de vento ou de montanha foram encontrados na

Ameacuterica Espanhola Em Potosi na atual Boliacutevia os indiacutegenas utilizavam um tipo

de forno para a fabricaccedilatildeo da prata denominado de ldquoforno de guairardquo Estes

fornos mesmo apoacutes a conquista espanhola em Potosiacute foram aproveitados para a

produccedilatildeo daquele metal (BARGALLOacute 1955 p 91)

70

Fig 20 FORNO DE GUAIRA ndash utilizado em Potosi Boliacutevia29

Aleacutem desses fornos de montanha que utilizavam a corrente de ar da

proacutepria atmosfera para acionar a combustatildeo do carvatildeo havia tambeacutem outros

tipos de fornos de fundiccedilatildeo acionados com o emprego de foles manuais Esses

fornos ficaram conhecidos por vaacuterias denominaccedilotildees e podiam ser construiacutedos de

formas e tamanhos diferentes Contudo todos eles apresentavam as mesmas

caracteriacutesticas teacutecnicas eram fornos baixos acionados por foles manuais e que

produziam o ferro utilizando o meacutetodo direto de fundiccedilatildeo Entre esses fornos

destacam os fornos de cuba de lupa de manga e castelhanos (BARGALLOacute

1955 p 91)

29Proyecto Arqueoloacutegico Porco-Potosi Disponiacutevel httplamarcolostateedu~mvanburespanish20participantshtm

71

Fig 21 Forno de Fundiccedilatildeo xilogravura de George Agriacutecola seacutec XVI30

Fig 22 Forno de Fundiccedilatildeo xilogravura de George Agriacutecola seacutec XVI31

30 Disponiacutevel em lttechnologyinfominecomdrmbook11htmgt Acesso em 17nov06

72

Tratados Teacutecnicos publicados no seacuteculo XVI como o De re metallica de

George Agriacutecola oferecerem descriccedilotildees e desenhos atraveacutes dos quais eacute possiacutevel

conhecer algumas formas daqueles fornos A partir de algumas gravuras ali

publicadas eacute possiacutevel identificar que os mesmos habitualmente eram construiacutedos

sobre uma base quadrada e eram utilizados na produccedilatildeo muitos metais como o

cobre o ouro prata e tambeacutem o ferro Esses fornos registrados por Agriacutecola

eram especialmente destinados para a fundiccedilatildeo de minerais em pedra Na

Ameacuterica Espanhola receberam o nome de ldquofornos castelhanosrdquo

Um outro autor a abordar esse tema foi Aacutelvaro Alonso Barba No seu

tratado Arte de los Metales afirmava que os fornos castelhanos eram utilizados

tambeacutem em outras partes do mundo A descriccedilatildeo que faz Barba do uso desses

fornos no Peru eacute por si soacute bastante didaacutetica para compreender o seu

funcionamento

Llaman en este reyno hornos castellanos a los que en las otras

trecircs partes del mundo han sido usados y comunes para la

fabricacioacuten de toda suerte de metales De ellos solos trata el

Agriacutecola para este efecto y es una la faacutebrica de todos y no

difieren en mas que en se mayores o menores y tener la boca

por onde el metal fundido sale oacute abierta siempre oacute cerrada a

ratos como se diraacute adelante Levaacutentense estos hornos a

perpendiculo en forma de um pilar quadrado algo maacutes largo que

anchos por lo hueco Tienen de alto algunos una vara otros casi

dos y otros menos seguacuten la grandeza de los fuelles con que

huviere de fundirse y la facilidad oacute dureza de los metales

requiere Por la parte de atraacutes en una ventanilla que para esto se

dexa en la pared algo levantada del suelo se afixa el alchrebiz en

que han de estar los cantildeones de fuelle puesto con advertencia

31 Disponiacutevel em httpwwwbizkaianetkulturakirol_gazteriaFTPGazteriapaginadedesplegablePrimitivas_instalacionespdfgt Acesso em 17nov06

73

de que no assome oacute passe aacute lo hueco del horno porque las

escorias que sobre eacutel cayeren helaacutendose con el ayre del sopro

no lo paten oacute impidan El suelo del horno se hace de dos partes

de carbon molido y una de tierra buena bien apretado con pisoacuten

Assientase pendiente azia la parte delantera donde tendraacute un

agujero por onde corra el metal fundido y salgan las escorias aacute

una hordilla que junto aacute el estaraacute bien caliente con carbones

encendidos con a llama del horno y aire del fuelle que sale por el

dicho agujero

Otros hacen estos hornos redondos mas anchos de arriba

que de abajo y son menores para lo que se pretende con que se

tenga advertecircncia que siempre este a perpendiculo la parede se

pone el fuelle porque el metal fundido o las escorias no caygan

sobre la boca del alchrebiz y la tanpenrdquo (BARBA 1640 Apud

BARGALLOacute 1955 p 93)

Entre os seacuteculos XII e XVI a teacutecnica de fundiccedilatildeo do ferro experimentou um

notaacutevel impulso em razatildeo da demanda por derivados de ferro incrementada tanto

pelas guerras que necessitavam de ferragens para as montarias apetrechos

defensivos para os soldados e armas mortiacuteferas como por instrumentos para a

agricultura Tambeacutem para a construccedilatildeo das grandes catedrais era necessaacuterio

ferro para as armaccedilotildees metaacutelicas cravos ferramentas entre outros (FAUS 2000

p52)

Para atender a estas demandas era necessaacuterio que se produzisse a maior

quantidade possiacutevel de ferro e os fornos baixos que eram anteriormente

utilizados natildeo atendiam aqueles objetivos Para tanto natildeo apenas os fornos

foram tomando outras formas como tambeacutem houve uma mecanizaccedilatildeo por meio

da utilizaccedilatildeo da energia hidraacuteulica (rodas drsquo aacutegua verticais) e da trompa hidraacuteulica

no processo produtivo tornando obsoletas as ferrarias que utilizavam a forccedila

humana e animal para a produccedilatildeo

A importacircncia da mecanizaccedilatildeo na produccedilatildeo do ferro com o uso da roda

hidraacuteulica e da trompa foi tanta que para alguns autores pode-se consideraacute-la

74

como uma autecircntica revoluccedilatildeo tecnoloacutegica (MALUQUER DE MOTES 1984 p 21-

24)

A aplicaccedilatildeo desse mecanismo (roda drsquoaacutegua) ao processo produtivo fez

com que as ferrarias que anteriormente ficavam concentradas no alto de

montanhas fossem trasladadas para as margens de rios buscando a energia

hidraacuteulica capaz de acionar primeiramente dos foles possibilitando a construccedilatildeo

de fornos de maiores dimensotildees e dessa maneira a produccedilatildeo do ferro em maior

escala

Depois dos foles a roda drsquoaacutegua foi utilizada para a mecanizaccedilatildeo do

acionamento dos malhos (grandes martelos responsaacuteveis por liberarem as

escoacuterias das massas de ferro dando-lhes formas que pudessem ser

comercializaacuteveis como o ferro em barra) A funccedilatildeo da trompa era a mesma dos

foles isto eacute insulflar ar ao interior do forno para que a combustatildeo alcanccedilasse

uma temperatura elevada A trompa era um engenhoso sistema de insuflar ar e

tambeacutem o elemento mais caracteriacutestico do procedimento conhecido como da

ldquofarga catalatilderdquo ou forno catalatildeo

O primeiro emprego da roda drsquoaacutegua vertical na produccedilatildeo de ferro foi

introduzido na regiatildeo correspondente aos Pirineus Catalatildees Neste local

desenvolveu-se uma instalaccedilatildeo destinada a produzir ferro denominado de

ldquofaacutebriques ou faacutebreguesrdquo que depois passou a ser conhecida como ldquofarguesrdquo ou

ldquofargardquo (o termo era usado tanto para descrever os lugares onde era obtido o ferro

como seu processamento) A partir do seacuteculo XIV o emprego da roda foi

difundido na regiatildeo basca ndash Espanha favorecida pelos trecircs elementos

fundamentais necessaacuterios para a sua instalaccedilatildeo a geografia da regiatildeo formada

por um territoacuterio montanhoso com a presenccedila de um significativo nuacutemero de rios

as jazidas de ferro e a floresta que fornecia o carvatildeo vegetal o uacutenico combustiacutevel

utilizado naquele processo ateacute o seacuteculo XVIII32

32 Com a Revoluccedilatildeo Industrial do seacuteculo XVIII passaram a utilizar como combustiacutevel o carvatildeo coque

75

Na Catalunha junto com o desenvolvimento das ldquofargasrdquo aprimoraram-se

tanto as teacutecnicas relacionadas agrave construccedilatildeo dos fornos como ao seu sistema de

funcionamento que ficou famoso no mundo todo como procedimento da ldquoforja

Catalatilderdquo ou ldquoprocedimento catalatildeordquo (MOLERA BARRUECO1983 p11)

A forja Catalatilde ou forno catalatildeo foi um sistema intermediaacuterio entre os fornos

baixo e os altos fornos utilizados atualmente Essa teacutecnica dominou todo o

processo de obtenccedilatildeo do ferro e accedilo durante a Idade Meacutedia espalhando-se para

a Alemanha Aacuteustria Inglaterra Franccedila e Itaacutelia Desde a Idade Meacutedia ateacute finais do

seacuteculo XIX esses paiacuteses entre outros conseguiam produzir ferro mediante aquele

sistema conhecido universalmente como ldquoprocedimento Catalatildeordquo

O periacuteodo aacuteureo do emprego da forja catalatilde se daacute entre os seacuteculos XVII e

XVIII devido sobretudo agrave introduccedilatildeo de um outro mecanismo em substituiccedilatildeo

aos foles acionados pela roda hidraacuteulica a ldquotrompa de aacuteguardquo (sistema empregado

par injetar ar no forno) Desenvolvido na Itaacutelia este novo equipamento se difunde

pelas regiotildees dos Pirineus da peniacutensula Ibeacuterica e foi assimilado pelas

manufaturas catalatildes ateacute o ponto de integraacute-las como uma das caracteriacutesticas do

meacutetodo que leva o nome de ldquofarga catalanardquo ou forno catalatildeo Jaacute nas ferrarias

bascas a trompa de aacutegua natildeo foi amplamente difundida prevalecendo a

utilizaccedilatildeo de rodas drsquoaacutegua para o acionamento de foles e do malho ( MALUQUER

DE MOTES 1983 p 23)

76

Fig 23 ARRANJO DE ldquoFARGA CATALANArdquo OBSERVAR USO DE RODA DrsquoAacuteGUA PARA ACIONAMENTO DO MALHO E A PRESENCcedilA DA TROMPA HIDRAacuteULICA JUNTO AO FORNO33

33 Folheto Museu de Ripoll sd

77

No interior das ldquofargas catalanasrdquo o forno era a parte mais importante Os

fornos de fundiccedilatildeo catalatildees diferentemente dos fornos de vento tinham uma

forma tronco-cocircnica isto eacute ldquouma forma de um tronco de piracircmide invertidardquo

(MALUQUER DE MOTES 1983 p 22) O forno era construiacutedo de pedras

refrataacuterias revestidas em parte de peccedilas de ferro com trecircs paredes planas e

uma convexa esta uacuteltima destinada a facilitar a extraccedilatildeo do produto final (massa)

A parede onde era colocada a ldquotoverardquo (entrada do fole) era oposta agrave convexa e

esta era feita de ferro numa inclinaccedilatildeo de 35o a 45o Em uma das paredes

laterais havia um buraco que deixava passar as escoacuterias liacutequidas

(MOLERABARRUECO1983 p13)

Fig 24 ELEMENTOS QUE COMPOtildeEM A OFICINA DA ldquoFARGA CATALANArdquo Observa- se a presenccedila do forno de fundiccedilatildeo e do malhos acionados por roda drsquoaacutegua34

34 Caderno de Apoio para visitante do Museu de Ripoll ndash Catalunha Espanha sd

78

Um outro aprimoramento teacutecnico do meacutetodo catalatildeo foi a forma como

passaram a carregar o forno Deixando para traacutes o meacutetodo anteriormente

conhecido que consistia em carregar o forno em camadas horizontais superpostas

com carvatildeo vegetal e mineacuterio os catalatildees passaram a carregar o forno por meio

de duas camadas verticais justapostas De um lado do forno (aquele em que

estava instalado o fole) era colocado o combustiacutevel (carvatildeo) de tal maneira que o

oacutexido de carbono que se desprendia da queima era forccedilado a atravessar a coluna

do mineacuterio (que estava disposta em uma outra coluna localizada junto agrave parede

oposta agrave do fole)

A produccedilatildeo do ferro ainda se realizava por meio do meacutetodo de produccedilatildeo

direta Sendo assim ainda se mantinha o processo de martelamento da massa de

ferro por meio do malho (que tambeacutem ficava instalado dentro daquele

estabelecimento) para a obtenccedilatildeo do produto final O meacutetodo catalatildeo natildeo apenas

melhorou a qualidade do produto final mas tambeacutem proporcionou o aumento da

produccedilatildeo

27 Tratados Teacutecnicos de Metalurgia

Entre os seacuteculos XV e XVI arquitetos engenheiros meacutedicos e artesatildeos e

outros publicaram inuacutemeros tratados voltados para os ofiacutecios mecacircnicos ou ldquoArtes

Mecacircnicasrdquo Essa literatura eacute extraordinariamente rica em Tratados de caraacuteter

teacutecnico que podem ser considerados autecircnticos manuais e representaram uma

contribuiccedilatildeo decisiva entre o saber cientiacutefico e saber teacutecnico-artesanal os quais

tiveram um grande efeito no nascimento da cooperaccedilatildeo entre cientistas e teacutecnicos

e entre ciecircncia e induacutestria (ROSSI 1989 p 30)

79

Entre as obras de caraacuteter teacutecnico publicadas naquele periacuteodo destacam-

se os escritos de Brunelleschi Ghiberti Peiro della Francesca Leonardo Cellini

Paolo Lomazzo o trabalho sobre as maacutequinas de guerra de

Konrad Keyser (1366-1405) os tratados teacutecnicos de Fontana

(1420) e Mariano (1438) as obras sobre arquitetura de Leon

Batista Alberti Filarete Francesco di Giorgio Martini Palladio o

livro sobre maquinas militares de Valturio da Rimini (publicado em

1472 reeditado em Verona em 1482 e 1483 em Bolonha em

1483 em Veneza em 1493 e nada menos que quatro vezes em

Paris entre 1532 e 1555) os dois tratados de Duumlrer sobre a

geometria descritivas e as fortificaccedilotildees (1525 e 1527) a

Pirotechnia de Biringuccio (1540) depois reeditada em duas

ediccedilotildees latinas trecircs francesas e quatro italianas) a obra de

baliacutestica de Nicolograve Tartaglia (1537) os dois tratados de

engenharia mineral de Georg Agriacutecola (1546-1556) o Teatro di

macchine de Besson (1569 depois traduzido para o francecircs e o

espanhol) os Mechanicorum libri de Guidobaldo Del Monte

(1577) as Diverse et artificiose macchine de Agostinho Ramelli

(1588) os trecircs livros sobre mecacircnica de Simon Stevin (1586

traduzido do flamengo para o francecircs em 1634) a obra sobre

fortificaccedilotildees de Lorini (1597) os trabalhos de arte da navegaccedilatildeo

de Willian Barlowe (1597) Thomas Harriot (1594) e Robert Hucs

(1599) (ROSSI 1989 p30-31)

Entre os tratados relacionados com a metalurgia e a mineraccedilatildeo

destacamos a De La Pirotechinia considerado o primeiro livro impresso dedicado

agrave metalurgia foi escrito pelo italiano Vannoccio Biringuccio (ca 1480-1539) e

publicado pela primeira vez em 1540 Adepto do empirismo Birunguccio

escreveu esse tratado baseado nas observaccedilotildees diretas do ofiacutecio que havia

adquirido durante as vaacuterias visitas que fez a Alemanha35 onde se destacava o

desenvolvimento de teacutecnicas de exploraccedilatildeo de minas de prata e tambeacutem de

35 Biringuccio visitou a Alemanha em 1516 e entre 1526 e 1529

80

equipamentos que possibilitavam a construccedilatildeo de tuacuteneis e galerias para a

exploraccedilatildeo do subsolo36

Embora tivesse sido publicado na Alemanha no iniacutecio do seacuteculo XVI de

forma anocircnima um conjunto de manuais teacutecnicos sobre o ensaio de metais a

obra de Biringuccio era mais ambiciosa explicava como descobrirem minerais e

veios a maneira de separar o ouro e a prata as teacutecnicas de ensaio e as

propriedades do cobre o zinco e outros metais Analisava aleacutem disso as

propriedades do mercuacuterio do enxofre do antimocircnio e de outros elementos

utilizados no processo de extraccedilatildeo do ouro e prata como tambeacutem os meacutetodos de

obtenccedilatildeo do accedilo aleacutem de apresentar ilustraccedilotildees sobre fundiccedilotildees de canhotildees e

sinos a fabricaccedilatildeo de objetos piroteacutecnicos e algumas poucas informaccedilotildees sobre

mineraccedilatildeo geologia e mineralogia (CARDWELL 1994 p 76)

Um outro tratado importante foi escrito pelo alematildeo Georg Bauer (1494-

1555) conhecido pela forma latina de seu nome como Georgius Agriacutecola Depois

de estudar em Leipzig Bolonha e Veneza foi em 1527 exercer a profissatildeo de

meacutedico em Joachimstal na Boemia a maior aacuterea mineira na eacutepoca Agricola

passou a maior parte de sua vida estudando mineralogia e geologia entre 1546 e

1556 escreveu dois tratados destacando a mineraccedilatildeo e a siderurgia

Em 1546 publicou dois tratados sistemaacuteticos de geologia e mineralogia a

De ortu et causis subterraneorum e a De natura fossilium os quais lhe conferiram

a designaccedilatildeo de ldquoPai da Mineralogiardquo37 O seu trabalho mais importante e de

maior divulgaccedilatildeo foi publicado em 1556 com o tiacutetulo de De Re Metallica - A Arte

dos Metais - o qual serviu como obra teacutecnica de mineraccedilatildeo durante quase dois

seacuteculos seguintes aquela primeira publicaccedilatildeo

36 A Alemanha havia desenvolvido importantes teacutecnicas de mineraccedilatildeo que foram intensificadas pelo contiacutenuo intercacircmbio de experiecircncias com a Hungria e a Sueacutecia 37 Georgius Bauer Agricola (1494-1555) cientista alematildeo considerado o fundador da mineralogia Foi um dos primeiros cientistas que baseou suas teorias na observaccedilatildeo em vez da especulaccedilatildeo Antes dele podemos destacar Alberto Magno (1193-1280) conhecido como Preacute-Tecnoacutelogo escreveu a obra De mineralibus que constitui natildeo somente uma histoacuteria dos mineralogia como tambeacutem uma descriccedilatildeo dos metais

81

O conteuacutedo do livro De Re Metallica estava baseado no estudo das coisas

materiais realizado por meio da observaccedilatildeo descriccedilatildeo sistemaacutetica analiacutetica e

meticulosa da natureza A transcriccedilatildeo dessas observaccedilotildees natildeo requeria apenas a

confecccedilatildeo de textos descritivos mas tambeacutem de ilustraccedilotildees com as quais

procuravam traduzir os conhecimentos obtidos pela observaccedilatildeo em imagens

graacuteficas as mais compreensiacuteveis possiacuteveis (ROSSI 1989 p 52)

Agriacutecola ao escrever a introduccedilatildeo desse tratado esclarecia ao leitor como

havia concebido a sua obra e as dificuldades que enfrentou para concluiacute-la

Diz ele Grandiacutessima fadiga e solicitude realmente aqui coloquei e ainda

algumas boas despesas porque natildeo escrevi simplesmente os

veios os instrumentos os canais as maacutequinas e as fornalhas

mas ainda agraves minhas expensas assalariei os pintores para fazer

seus retratos naturais a fim de que as coisas natildeo conhecidas que

satildeo apresentadas com palavras natildeo tragam real dificuldade agraves

pessoas de hoje ou de tempos vindouros (ROSSI 1989 p 51)

Os retratos naturais referidos por Agriacutecola eram as xilogravuras que

ilustravam as suas obras A partir dessas imagens era possiacutevel visualizar com

exatidatildeo de detalhes as dimensotildees sobre equipamentos instrumentos e teacutecnicas

empregadas na prospecccedilatildeo no processo de fundiccedilatildeo e orientaccedilotildees sobre o uso

da energia hidraacuteulica nas operaccedilotildees mineiras enfim as ilustraccedilotildees traziam

detalhes sobre praticamente todas as etapas das operaccedilotildees mineiras isto eacute

prospecccedilatildeo administraccedilatildeo beneficiamento e transporte de mineacuterios 38

Na segunda parte daquele mesmo livro o autor dedica-se ao ensaio e

tratamento dos minerais Como Biringuccio Agricola mostrava criacutetica e desprezo

pelo trabalho realizado pelos alquimistas Uma de suas criacuteticas referia-se ao

38Agricola demonstra neste Tratado o funcionamento de sete tipos diferentes de bombas de succcedilatildeo incluindo uma bomba muacuteltipla acionada por uma grande roda hidraacuteulica e uma bomba combinada de succcedilatildeo e impelente (bomba impelente bomba que eleva a aacutegua por meio de pressatildeo exercida sobre o liacutequido)

82

meacutetodo empregado por estes na busca de metais enterrados O uso da

radiestesia por meio do emprego de uma vara ou forquilha feita com galhos de

aacutervores era considerado por Bauer apenas uma arte da adivinhaccedilatildeo derivada da

magia antiga e que somente poderia ser e era utilizada por mineiros simples e

ordinaacuterios

A Ameacuterica Espanhola foi tambeacutem palco para a produccedilatildeo do conhecimento

relacionado agrave metalurgia Em 1640 Aacutelvaro Alonso Barba padre em Potosiacute e que

havia aperfeiccediloado o meacutetodo de amalgamaccedilatildeo39 desenvolvido por Bartolomeacute de

Medina (Beneficio de Patio)40 publicou a partir de experiecircncias proacuteprias com a

produccedilatildeo de prata naquele local o livro Arte de los Metales O livro de Barba foi o

primeiro trabalho em que se registrou o processo de amalgamaccedilatildeo por mercuacuterio

que ficou conhecido como ldquomeacutetodo de cazo y cocimientordquo (realizado por meio do

calor dentro de reservatoacuterio de cobre) Este livro foi o primeiro trabalho em que se

registraram as regras para beneficiamento de ouro e prata com a utilizaccedilatildeo do

mercuacuterio

39 Amalgamaccedilatildeo Operaccedilatildeo que consiste em ligar o mercuacuterio a outro metal ou separar o ouro e a prata da ganga por meio do mercuacuterio 40 O ldquobenefiacutecio de paacutetiordquo foi assim denominado pois toda a operaccedilatildeo de produccedilatildeo de prata era realizada em um paacutetio Consistia basicamente em mesclar a Mena (metal) moiacuteda e uacutemida com sal comum e mercuacuterio Esse meacutetodo era menos custoso que aqueles que eram utilizados e seu uso se prolongou ateacute o seacuteculo XIX

83

CAPITULO 3

HISTOacuteRICO DA MINERACcedilAtildeO NO BRASIL NO PERIacuteODO COLONIAL A Histoacuteria das primeiras expediccedilotildees no Brasil mostra que desde o inicio do

seacuteculo XVI jaacute havia uma preocupaccedilatildeo permanente aleacutem do reconhecimento do

novo territoacuterio na busca de metais e pedras preciosas que eram produtos de alto

valor econocircmico e poliacutetico aleacutem do interesse estrateacutegico

Durante os primeiros trinta anos de colonizaccedilatildeo do Brasil Portugal estava

voltado para a exploraccedilatildeo dos produtos da Aacutefrica e Iacutendia inclusive de metais

sendo que esta experiecircncia se reflete nas primeiras expediccedilotildees quando se

constata a preocupaccedilatildeo com a descoberta de metais nobres (ouro e prata)

conforme se demonstra nos itens que seguem

Embora a busca por metais fosse uma constante as exploraccedilotildees durante

a primeira metade do seacuteculo XVI resultaram a descoberta de produtos vegetais

(pau-brasil) e animais exoacuteticos (araras e papagaios) 41

Somente com a descoberta da prata na serra de Potosi em 1545 pelos

espanhoacuteis ficou comprovada a existecircncia de metais nobres no novo continente

31 As primeiras expediccedilotildees mariacutetimas a busca de metais nobres A primeira expediccedilatildeo portuguesa destinada ao reconhecimento do litoral do

Brasil partiu de Lisboa entre os anos 1501-02 sob o comando de Gonccedilalo Coelho

e pelo florentino Ameacuterico Vespuacutecio (cosmoacutegrafo contratado pela Coroa

Portuguesa) Apoacutes terem passado pelos atuais estados do Rio Grande do Norte

Bahia e Rio de Janeiro os navios desembarcaram em janeiro de 1502 numa ilha 41 O pau-brasil era extraiacutedo no litoral compreendido desde o atual Estado do Rio Grande do Norte ao Rio de Janeiro

84

que denominaram Cananeacuteia42 Este local tornou-se na primeira metade do seacuteculo

XVI importante posto avanccedilado responsaacutevel pelo abastecimento de

embarcaccedilotildees que mais tarde passaram a rumar para o sul do continente com o

objetivo de reconhecimento e busca de riquezas minerais

Em 1514 Portugal enviou uma outra expediccedilatildeo ao sul desta vez chefiada

por Joatildeo de Lisboa e Estevatildeo Frois financiada D Nuno Manuel e Cristoacutevatildeo de

Haro em cujo trajeto estava Cananeacuteia e a Ilha de Satildeo Francisco do Sul (Santa

Catarina) Esta expediccedilatildeo descobriu o estuaacuterio do rio que denominaram de Rio da

Prata Os resultados dessa expediccedilatildeo foram informaccedilotildees dadas pelos nativos

(Charruas) sobre a existecircncia de uma ldquoSerra de Pratardquo fato que deve ter

impulsionado o envio da expediccedilatildeo espanhola para o sul de Cananeacuteia em 1515

chefiada por Juan Diaz de Soacutelis (VIANNA 1972 p 54)

Entre 1521 e 1526 Aleixo Garcia junto com outros remanescentes da

expediccedilatildeo de Soacutelis e mais iacutendios guaranis partiram da Costa dos Patos (Santa

Catarina) indo aleacutem do rio paraguay e do Chaco obtendo riquezas perdidas na

viagem de regresso (VIANNA 1972 p 214)

Em 1530 parte de Lisboa a expediccedilatildeo de Martim Afonso de Souza uma

das mais importantes expediccedilotildees portuguesas Tinha como objetivos expulsar do

litoral os franceses que traficavam pau-brasil reconhecer a extensatildeo da costa

pertencente a Portugal promover a ocupaccedilatildeo do territoacuterio criando fortificaccedilotildees

em pontos de interesse estrateacutegico e especialmente explorar o rio da Prata 43

42 Cananeacuteia era local de fronteira entre as terras de Portugal e Espanha estabelecida pelo Tratado de Tordesilhas (1494) 43 A expediccedilatildeo de Martim Afonso se diferenciou das anteriores pelo fato de ter D Joatildeo III investido estes comandantes de poderes especiais aplicados sobretudo em Satildeo Vicente Entre eles permitia-se a Martim Afonso distribuir terras em sesmarias criar instrumentos juriacutedicos que permitiram o registro de propriedades atraveacutes da instalaccedilatildeo dos tabelionatos e a elevaccedilatildeo de povoados para a condiccedilatildeo de vilas o que possibilitou a instalaccedilatildeo de um processo colonizador na regiatildeo Sobre a expediccedilatildeo ver VIANNA Helio Historia do Brasil Satildeo Paulo Melhoramentos 1970 p56-61

85

Um dos fatos importantes resultantes da vinda dessas expediccedilotildees foi a

integraccedilatildeo do Porto de Satildeo Vicente44 juntamente com Cananeacuteia na rota de

navegaccedilatildeo para o sul do continente Estes portos serviam para abastecer as

embarcaccedilotildees e ali era possiacutevel contratar os ldquoliacutenguasrdquo 45

Em 1532 quando Martim Afonso chegou a Satildeo Vicente encontrou um

nuacutecleo formado por portugueses espanhoacuteis indiacutegenas Essa localidade tambeacutem

jaacute era conhecida como a porta de entrada para o sertatildeo e o caminho natural para

se ir agrave Serra da Prata atraveacutes dos Peabirus (ver item abaixo)

32 O Peabiru uma trilha para o Sertatildeo Tendo em vista a importacircncia da existecircncia de caminhos indiacutegenas

denominados Peabirus como facilitadores da interligaccedilatildeo da Vila de Satildeo Paulo

(Campos de Piratininga) com a regiatildeo onde se localiza o morro de Araccediloiaba

entendemos ser importante discorrer a respeito destas vias

A respeito desse sistema de caminhos escreveu Adolpho Pinto em 1902

() havia estradas extensas construiacutedas pelo gentio comunicando

vaacuterios pontos do litoral com o mais longiacutenquo interior do paiz

podendo-se mesmo dizer que figurava como tronco desse primitivo

sistema de viaccedilatildeo geral uma grande estrada pondo em ligaccedilatildeo as

tribus da naccedilatildeo Guarany da bacia do Paraguay com a tribu dos 44Satildeo Vicente segundo Washington Luiacutes ldquojaacute era um porto conhecido com lugar marcado nos rudimentares mapas da eacutepoca uma espeacutecie de pequena feitoria portuguesa de iniciativa particular visitada de esquadras para o trafico de escravos se forneciam viveres agrave navegaccedilatildeo de longo curso se construiacuteam bergantins e se contratavam liacutenguas da terrardquo LUIZ Washington Na Capitania de Satildeo Vicente Satildeo Paulo Livraria Martins Editora1956 p47 A povoaccedilatildeo de Satildeo Vicente foi elevada agrave condiccedilatildeo de Vila em 1532 com a instalaccedilatildeo de oacutergatildeos administrativos e poliacuteticos como a Cacircmara e Cadeia transformando-a no primeiro nuacutecleo de colonizaccedilatildeo portuguesa do litoral 45 Os liacutenguas eram aqueles versados na liacutengua indiacutegena O Tupi era falado em Satildeo Paulo ateacute meados do seacuteculo XVIII Segundo John Monteiro ldquoo domiacutenio da liacutengua geral ou qualquer outra liacutengua indiacutegena era consideraacutevel uma respeitaacutevel especializaccedilatildeo e a fluecircncia numa dessas liacutenguas limitava-se apenas aos maiores sertanistasrdquo MONTEIRO John Negros da Terra iacutendios e bandeirantes nas origens de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Companhia das Letras 1994 p164

86

Patos do litoral de Santa Catarina com os Carijoacutes de Iguape e

Cananeacuteia e com as tribus de Piratininga e do litoral proacuteximo

(GONCcedilALVES 1998 p8)

Em Satildeo Vicente o Peabiru constituiacutea o acesso obrigatoacuterio que do mar

seguia para os sertotildees do Planalto de Piratininga Construiacutedo de acordo com a

teacutecnica e a tradiccedilatildeo indiacutegena seguia os espigotildees dos morros de modo a evitar

terrenos iacutengremes embora em alguns trechos fossem inevitaacuteveis as encostas

com fortes declividades ((GONCcedilALVES 1998 p6 )

A partir do Planalto de Piratininga seguindo para o interior rumo ao Oeste

o caminho que levava ateacute a regiatildeo das minas de ferro era um Peabiru cuja trilha

contornava os morros do Apotribu no municiacutepio de Itu e alcanccedilava o morro de

Araccediloiaba no atual municiacutepio de Iperoacute interior de Satildeo Paulo

87

Fig 24 Peabiru (Tronco) Passando por Sorocaba (Galdino 2002 p182)

88

Fig 25 Mapa de Pasquale Petrone (GONCcedilALVES1998 p42)

89

33 O descobrimento da prata em Potosi

Em 1545 a Espanha anunciou o descobrimento na regiatildeo denominada de

Alto Peru (atualmente territoacuterio boliviano) de uma montanha denominada de

Potosi com 600 metros de altura onde ocorria uma importante jazida de prata

Diferentemente do que acreditavam portugueses e espanhoacuteis Potosi natildeo estava

localizada nem nas proximidades do rio da Prata nem na regiatildeo sul do continente

onde esperavam descobrir aquela lendaacuteria riqueza

Sergio Buarque de Holanda (1959 p 58) ao discorrer sobre aquela

descoberta escreve ldquotamanho era o prestiacutegio de Potosi que em pouco tempo a

velha atraccedilatildeo do ouro parece suceder facilmente a da pratardquo O ldquofeiticcedilo do Perurdquo

desencadeou um novo direcionamento da poliacutetica portuguesa com um maior

interesse da Coroa Portuguesa nos negoacutecios do Brasil e particularmente na

Capitania de Satildeo Vicente

Para dar maior incremento ao povoamento do interior foi instituiacutedo o

sistema de distribuiccedilatildeo de terras (Sesmarias) Uma dessas sesmarias foi doada a

Afonso Sardinha bandeirante que se destacou na atividade mineradora e

tambeacutem na vida poliacutetica da Vila de Satildeo Paulo na comercializaccedilatildeo com a regiatildeo

do Rio da Prata como proprietaacuterio de engenho de accediluacutecar traficante de escravos

africanos investidor financiador e produtor de ferro Foi um dos financiadores da

instalaccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro que comeccedila a funcionar em 1607 46

Acreditava-se que o ldquoCerro de Potosirdquo natildeo ficava muito longe das terras da

Coroa Portuguesa sendo este um dos motivos que impulsionavam as ldquopessoas a

continuarem as buscas em direccedilatildeo do Oeste apesar dos repetidos

desapontamentosrdquo (BOXER 2002 p 45)

46 Afonso Sardinha recebeu suas terras de sesmarias no lugar denominado de Ubataacute abrangendo o atual Butantatilde que eacute o Ubataacute citado por Pedro Taques ou Ibatata Batata ou Ibitatatilde em documentos municipais seiscentistas e setecentistas HOLANDA Sergio Buarque de Caminhos e Fronteiras 1957 p 188

90

Um dos caminhos Peabiru que partindo de Satildeo Vicente demandava o

Potosi passava pela Vila de Satildeo Paulo e seguindo a direccedilatildeo Oeste contornava o

morro de Araccediloiaba onde em finais do seacuteculo XVI iniciou-se a produccedilatildeo de ferro

seguindo para a regiatildeo do Guairaacute (atual Estado do Paranaacute) ateacute alcanccedilar as terras

castelhanas

Pode-se dizer que a esperanccedila de encontrar minas de prata um Potosi em

terras de Satildeo Vicente persistiu ateacute o iniacutecio do seacuteculo XVIII quando de fato

foram encontradas minas de ouro pelos paulistas na regiatildeo dos atuais Estados de

Minas Gerais Mato Grosso e Goiaacutes 47

34 A busca de metais nobres na Capitania de Satildeo Vicente

Desde meados do seacuteculo XVI jaacute corriam notiacutecias sobre a possiacutevel

existecircncia de riquezas minerais no interior da Capitania Joseacute de Anchieta em

carta escrita em Satildeo Paulo de Piratininga em 1554 dava as primeiras

informaccedilotildees sobre as descobertas de minas de ouro prata e ferro48 Neste

mesmo ano o jesuiacuteta Pero Correa tambeacutem destacava a descoberta de mina de

ferro proacutexima daquele local 49

47 As minas de ouro localizadas pelos paulistas foram disputadas tambeacutem por portugueses e baianos e todos reivindicavam aquela descoberta Essa disputa culminou na chamada Guerra dos Emboabas na qual os paulistas foram derrotados As descobertas das minas de Mato Grosso e Goiaacutes marcaram o iniacutecio das monccedilotildees expediccedilotildees fluviais regulares que faziam a comunicaccedilatildeo entre Satildeo Paulo e Cuiabaacute O ouro encontrado onde hoje se ergue a cidade de Cuiabaacute foi achado por escravos do sorocabano Miguel Sutil em 1722 Sobre as Monccedilotildees ver HOLANDA Sergio Buarque de Monccedilotildees Rio de Janeiro Casa do estudante do Brasil 1945 48 Ver Carta do quadrimestre de maio a setembro de 1554 dirigida por Joseacute de Anchieta a Santo Ignaacutecio de Loyola Roma In Minhas Cartas por Joseacute de Anchieta Publicaccedilatildeo 450 anos p 153 49 Carta do Irmatildeo Pero Correa escrita a um padre do Brasil In CARTAS Avulsas 1550-1568Azpilculta Navarro e outros Belo Horizonte Itatiaia Satildeo Paulo Edusp 1988 p 163-165

91

A respeito da pesquisa mineral na Capitania de Satildeo Vicente Heacutelio Vianna

escreve que com a intenccedilatildeo de investigar a existecircncia daquelas riquezas

ldquo() mandou o governo portuguecircs em 1559 um mineiro praacutetico

Luis Martins Por ordem do Governador Men de Saacute no ano

seguinte em Satildeo Vicente partiu ele para indeterminados pontos

do interior em uma leva organizada e dirigida por Braacutes Cubas

Regressando este a Santos em 1562 com algumas amostras de

metais e pedras que enviou ao Reino fez com que no mesmo

ano o mineiro voltasse as suas pesquisas Natildeo muito longe

ainda em terras vicentinas em Jaraguaacute talvez em Caatiba hoje

Bacaetava encontrou afinal o desejado ouro Explorou-o

inicialmente o proacuteprio Braz Cubas depois associado ao Capitatildeo

Mor Jerocircnimo Leitatildeordquo (VIANNA 1972 p 215)

35 D Francisco de Souza a organizaccedilatildeo da exploraccedilatildeo mineral De 1598 eacute a primeira referencia a ldquocertos lsquomontes de Sabaroasonrsquo de

onde um mameluco teria extraido amostras de metal que levadas a Bahia ao

Governador D Francisco de Sousa determinaram a vinda deste a Satildeo Vicenterdquo (VIANNA 1972 p 215)

D Francisco de Sousa Seacutetimo Governador Geral do Brasil (1591-1602) e

a partir de 1606 Governador das Minas das Capitanias do Sul 50 promoveu e

organizou vaacuterias expediccedilotildees ao sertatildeo destinadas a descobrir e explorar minas de

ouro e prata e outros metais Tais atividades eram apresentadas como parte de

50 As Capitanias do Sul correspondiam agraves Capitanias do Espiacuterito Santo Rio de Janeiro e Satildeo Vicente

92

seu projeto de desenvolvimento no qual tambeacutem estava inserido o setor de

agricultura e induacutestria sustentado com base no trabalho indiacutegena 51

A sua maior contribuiccedilatildeo decorre do fato de ter exercido o cargo de

Governador das Minas e de ter se fixado na Capitania de Satildeo Vicente mais

especificamente na Vila de Satildeo Paulo de onde provinham as notiacutecias da

existecircncia de minas de ouro prata e ferro

D Francisco veio para Satildeo Paulo munido de poderes que lhe permitiam

distribuir mercecircs agravequeles que tivessem trabalhado na exploraccedilatildeo das minas

Conforme o Regimento que jaacute vigorava no Peru e nas Iacutendias de Castela o

explorador haveria de aplicar seus proacuteprios recursos na busca e exploraccedilatildeo das

jazidas A contrapartida que poderia ser dada pelo Rei estava no fornecimento

de algumas comodidades e mercecircs (STELLA 2000 p 119)

Atraveacutes de Alvaraacutes D Francisco podia nomear uma quantidade

determinada de pessoas com tiacutetulos de nobreza Estas atribuiccedilotildees fizeram com

que muitos moradores da Vila de Satildeo Paulo despendessem de seus proacuteprios

recursos materiais e de indiacutegenas para organizar expediccedilotildees em buscas daqueles

metais

Em 1599 D Francisco esteve no morro de Araccediloiaba para verificar a

autenticidade e a natureza daquela mina que diziam ter ferro ouro e prata Para

viajar ateacute aquele local enfrentando toda a sorte de perigos D Francisco precisou

solicitar ajuda dos moradores de Satildeo Paulo 52

51 Quando no Cargo de Governador Geral Francisco de Souza conduzido pela esperanccedila de encontrar na regiatildeo das cabeceiras do rio Satildeo Francisco a lendaacuteria Sabarabuccediluacute (uma serra de prata e esmeraldas) organizou em 1596 trecircs entradas ao sertatildeo com saiacutedas da Bahia Espiacuterito Santo e Satildeo Paulo respectivamente A vertente paulista foi chefiada por Joatildeo Pereira de Sousa Botafogo e contava com 25 colonos e seus respectivos iacutendios A maioria desta expediccedilatildeo regressou a Satildeo Paulo ldquosatisfeita com os tupinambaacutes que haviam capturado no vale do Paraiacutebardquo MONTEIROJohn Negros da Terra iacutendios e bandeirantes nas origens de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Companhia das Letras 1994 p 58-68 52 PEREIRA Antonio Batista Carta a Paulo Duarte apud Donato Hernani Sumeacute e Peabiru misteacuterios maiores do seacuteculo da descoberta SP ediccedilotildees GRD 1997 p91

93

Aracy Amaral ao analisar a gestatildeo de D Francisco de Sousa como

Governador das Minas das Capitanias do Sul opina que esse administrador

() representa o veiacuteculo que transportou para Satildeo Paulo uma

experiecircncia uma mentalidade que Castela desde haacute muito

desenvolvia no Meacutexico e no Peru As concessotildees e privileacutegios que

obteve do Rei faziam parte de uma legislaccedilatildeo empregada com

sucesso naqueles domiacutenios Essa nova mentalidade estava

intimamente relacionada com os negoacutecios da mineraccedilatildeo e esse jaacute

chamado de ldquoeldorado-maniacuteacordquo que foi D Francisco tambeacutem

denominado por Taunay de ldquopropulsor dos paulistasrdquo seguia sem

duacutevida a diretriz apontada pelos Felipes (AMARAL 1981 p 13)

Apoacutes a Restauraccedilatildeo Portuguesa em 1640 as buscas pelo ouro e pela

prata permaneceram assim como as concessotildees de mercecircs para aqueles que

descobrissem minas ou incentivassem outros a descobri-las Para Ilana Blaj isso

tudo era ldquoum universo de honra de siacutembolos de dignidade e de prestiacutegio que a

elite perseguia e que a Coroa concedia estreitando ainda mais os laccedilos de

vassalagem no interior do Impeacuteriordquo Sintetizando a autora afirma que ldquoescravos

terra dignidade honrarias e prestiacutegio constituiacuteram os fundamentos da sociedade

colonial brasileirardquo (BLAJ 2002 p 322-338)

Em 1611 D Francisco de Sousa falece na mais extrema pobreza O

mesmo destino que tiveram outros que laacute apostaram na metalurgia Frei Vicente

do Salvador contemporacircneo de D Francisco descrevendo a situaccedilatildeo afirmou

que

() estando tatildeo pobre que affirmou um padre da Companhia que

se achava com elle a sua morte que nem uma vela tinha para lhe

metterem na matildeo si a natildeo mandara levar do seu convento mas

quereria deusalumia-lo em aquelle tenebroso transe por outras

muitas que ainda levado deante de muitas esmolas e obras de

piedade que sempre fez (FRANCO 1929 p 135)

94

36 Teacutecnicos e praacuteticos na mineraccedilatildeo e metalurgia Na Vila de Satildeo Paulo e tambeacutem no Sertatildeo as forjas de ferreiro se

instalaram desde cedo As atividades desses ferreiros se concentravam na

fabricaccedilatildeo de ferramentas como foices machados cravos e anzoacuteis utilizando

ferro em barra ou em lingotes trazido da Europa que eram aqui refundidos em

fornos de forja

Em 1553 Manoel da Noacutebrega noticia a presenccedila de ldquotendas de ferreirordquo

como um dos instrumentos levados nas expediccedilotildees ao Sertatildeo (NEME 1959

p158) Em 1584 trabalhavam em Satildeo Paulo trecircs ferreiros (HOLANDA 1957

p186)

Gilberto Freyre em seu trabalho Ferro e Civilizaccedilatildeo no Brasil (1988 p249-

251) destaca como conhecedor do trabalho com o ferro natildeo somente o colono

portuguecircs como tambeacutem os padres da Companhia de Jesus Para esse autor

ambos haviam iniciado seus saberes com ibeacutericos os quais haviam desenvolvido

as ldquoferreriacuteasrdquo os ldquohornosrdquo e aperfeiccediloado as teacutecnicas de fundiccedilatildeo com o ldquohorno

catalaacutenrdquo Entre os conhecedores de metalurgia estava o jesuiacuteta Joseacute de Anchieta

o qual como jaacute destacamos havia informado em 1554 a existecircncia de mineacuterios

nobres e do ferro nas imediaccedilotildees de Satildeo Paulo 53

Diferentemente do que ocorreu nas colocircnias espanholas da Ameacuterica os

indiacutegenas que aqui foram encontrados natildeo tinham conhecimento metaluacutergico e

portanto natildeo utilizavam nenhuma teacutecnica de fundiccedilatildeo que pudesse ser adaptada

aos interesses do colonizador

Quanto ao conhecimento e a exploraccedilatildeo do mineacuterio e produccedilatildeo do ferro as

teacutecnicas necessaacuterias eram totalmente desconhecidas no Novo Mundo Sendo

53 Joseacute de Anchieta era descendente de bascos seus pais eram de Guipuacutezcoa Proviacutencia do Paiacutes Basco BARBOSA Francisco de Assis Dom Joatildeo VI e a Siderurgia no Brasil Rio de JaneiroBiblioteca do Exercito 1958 p 26

95

assim podemos afirmar que essa teacutecnica foi totalmente trazida pelos europeus

em especial pelos espanhoacuteis

Logo apoacutes a Uniatildeo Ibeacuterica (1580-1640) foi encaminhada para as terras das

colocircnias da Ameacuterica a armada de Diego Flores Valdeacutes 54 A passagem de Valdeacutes

em Satildeo Vicente em 1583 revela o interesse pelas riquezas minerais na regiatildeo

sendo que por este motivo solicita agrave Coroa a vinda de teacutecnicos e especialistas em

minas para dar iniacutecio agrave exploraccedilatildeo das jazidas descobertas Ao mesmo tempo

alerta sobre a necessidade de fortificar Satildeo Vicente pois alegava que ldquohay

camino abierto por tierra que va al Rio de La Plata y al Paraguay y a Sancta Feerdquo

(GONZALEZ 2002 p 46)

Alguns autores atribuem a presenccedila do praacutetico Clemente Aacutelvares nas

expediccedilotildees de Sardinha e seu filho55 Em 1606 Clemente Aacutelvares afirmava que

estava haacute quatorze anos dedicando-se ao descobrimento de minas de ouro e

para isso utilizara seus proacuteprios recursos Ao registrar as minas que ele afirmava

ter descoberto no Jaraguaacute Parnayba e Ybituruna para natildeo perder os direitos

sobre elas afirmava que natildeo entendia de metalurgia ldquosenatildeo por notiacuteciardquo e que

natildeo era um oficial fundidor ou ensaiador 56

Os mineiros vindos do reino foram trazidos por D Francisco de Sousa com

a funccedilatildeo de verificar a autenticidade e a natureza das minas descobertas no

Brasil e nas imediaccedilotildees da Vila de Satildeo Paulo Os homens que acompanharam

em 1591 em sua vinda ao Brasil foram o castelhano Agostinho de Souto Maior

(que havia trabalhado anteriormente em Monomotapa ndash Moccedilambique colocircnia

portuguesa que possuiacutea minas e a metalurgia do ferro e do ouro) o qual foi

nomeado para o cargo de provedor das minas do Brasil Christovam o qual era

54 A armada de Diego Flores Valdeacutes foi enviada para o Estreito de Magalhatildees para iniciar a sua ocupaccedilatildeo e povoamento com a finalidade de estabelecer uma defesa das terras do Impeacuterio Espanhol onde jaacute se havia iniciado a exploraccedilatildeo das minas de prata de Potosi 55 Clemente Aacutelvares paulista mineiro praacutetico e sertanista Em 1634 ainda estava se dedicando agrave busca pelo descobrimento de minas Faleceu em 1641 56 Ver Registro de minas de Clemente Aacutelvares em 16 de dezembro de 1606 ATAS DA CAMARA DA VILA DE SAtildeO PAULO vol II Satildeo PauloA Cacircmara 1917 p 171-173

96

lapidaacuterio de esmeraldas e Joatildeo Correa para seria nomeado feitor das minas de

ferro 57

Para Satildeo Paulo enviados por Francisco de Sousa vieram os mineiros

Gaspar Gomes Moalho Miguel Pinheiro Zurara e o fundidor Domingos Rodrigues

Em 1592 Jacques de Oalte mineiro alematildeo o engenheiro tambeacutem alematildeo

Giraldo Betink o cirugiatildeo Joseacute Serratildeo o mestre fundidor flamengo Corneacutelio de

Arzatildeo e o engenheiro e arquiteto-mor florentino Baccio de Filicaya tambeacutem

mineiro de ouro o qual recebeu de D Francisco de Souza o cargo de engenheiro-

mor Felicaya restaurou e construiu algumas fortalezas e trabalhou durante cinco

anos no descobrimento de minas Aparece registrado no Rio de Janeiro em 1596

como arquiteto fortificador (TAUNAY 2003 p409)

Destaca-se tambeacutem ainda na gestatildeo de D Francisco a presenccedila do

mineiro castelhano Manoel Joatildeo Branco (ou Morales) que foi enviado em

companhia de um outro mineiro de prata ao morro de Araccediloiaba para examinaacute-la

Este mineiro acabou por confirmar que aquela Serra era ldquoriquiacutessima de yerrordquo58

37 A Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro

No iniacutecio do seacuteculo XVII as jazidas de ferro que haviam sido identificadas

nas imediaccedilotildees da Vila de Satildeo Paulo comeccedilaram a ser beneficiadas por Diogo de

Quadros atraveacutes da construccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro a qual

comeccedilou a funcionar em 1607 A Ferraria de Santo Amaro foi redescoberta em

1967 por Jesuiacuteno Felicissiacutemo Juacutenior e documentada nas ediccedilotildees de 5 e 6 de

janeiro deste mesmo ano no jornal Diaacuterio de Satildeo Paulo por Manoel Rodrigues

Ferreira ( FELICIacuteSSIMO1969 p14)

57 No mesmo ano em que D Francisco de Souza veio para o Brasil para assumir o cargo de Governador Geral tambeacutem retornava da Espanha Gabriel Soares de Souza o qual se dedicou agrave busca de minas autor de Tratado Descritivo do Brasil de 1587 58 Ver Carta de Manuel Joatildeo Branco Morales a D Felipe IVCORTESAtildeOJaime Jesuiacutetas e Bandeirantes no Guairaacute Rio de Janeiro Biblioteca Nacional 1951 p 182

97

Esta Faacutebrica foi construiacutedo na freguesia de Santo Amaro pela sociedade

formada em 1609 entre Diogo de Quadros juntamente com Francisco Lopes

Pinto e D Antonio de Souza filho de D Francisco de Sousa

Para dar andamento a esse projeto Diogo de Quadros obteve em 1604

de D Felipe III o cargo de provedor das minas da Capitania de Satildeo Vicente e a

concessatildeo de montar e explorar fundiccedilotildees de ferro no Brasil (NEME 1959

p353)

Segundo informaccedilotildees oferecidas por Wilhelm Ludwig Von Eschwege

(1777-1855) a Faacutebrica de Santo Amaro foi construiacuteda agrave beira de um pequeno

ribeiratildeo afluente do rio Pinheiros navegaacutevel a uma distacircncia de duas leacuteguas SE

de Satildeo Paulo Para Eschwege ldquoa situaccedilatildeo dessa pequena faacutebrica era

conveniente porque as margens dos rios proacuteximos estatildeo cobertas de matas

cerradas podendo o carvatildeo ser transportado por via fluvial e mesmo o produto

manufaturado que por essa via podiam ser levados ateacute a serra do Cubatatildeo e

para o interior ateacute o Tietecircrdquo (ESCHWEGE 1944 p336)

Aleacutem desse aspecto a Faacutebrica contava com apoio da Coroa recebendo

dos almoxarifados de Satildeo Vicente Bahia e Rio de Janeiro todas as ferramentas

de ferro que estavam disponiacuteveis e poderiam ser aproveitadas para o trabalho de

fundiccedilatildeo daquele metal Das ferramentas entregues para Diogo de Quadros em

1605 foram arrolados

dous malhos q podiatildeo pesar pouco mais ou menos entre ambos

trecircs quintais e por quintal a razatildeo de trecircs mil reis mais duas

argolas grandes da mesma ferramenta q podiatildeo pezar pouco

mais ou menos trecircs quintaes ao mesmo preccedilo mais duas Cafras

(bigornas) que podiam pezar outros quintaes ao mesmo preccedilo

mais duas chapas pequenas q cada hua pezava duas arrobas no

mesmo preccedilo mais duas chapas grandes q cada hua podia

pezar pouco mais ou menos hum quintal cada hua as quaes

todas juntas podem pezar pouco mais ou menos doze quintais

98

que a razatildeo dos ditos traacutes mil reis por quintal fazem a soma de

36$000 rs 59

Os indiacutecios da presenccedila e utilizaccedilatildeo da roda para fins de produccedilatildeo nesta

Faacutebrica satildeo tambeacutem reforccedilados pelas observaccedilotildees feitas por Eschwege em seu

livro Pluto Brasiliensis onde afirmava que ainda se podia ver ldquoa vala da roda o

lugar da oficina os restos de um accedilude assim como um monte de pesada escoacuteria

de ferrordquo ((ESCHWEGE 1944 p336)

Essas mesmas informaccedilotildees podem ser observadas em um levantamento

topograacutefico realizado em princiacutepios do seacuteculo XIX pelo topoacutegrafo portuguecircs

Rufino Joseacute Felizardo e Costa segundo tenente do Real Corpo de Engenheiros

Rufino provavelmente veio ao Brasil como membro do grupo de engenheiros

militares que constituiacuteram em meados do seacuteculo XVIII as ldquoMissotildees

Demarcatoacuterias destinadas a dar cumprimento aos Tratados de Limites relativos agraves

terras da Ameacuterica celebrados entre Portugal e Espanhardquo 60

O levantamento topograacutefico em questatildeo intitulado ldquoprospecto das ruiacutenas

da antiga faacutebrica de ferro de Santo Amarordquo apresenta uma planta dessa faacutebrica jaacute

em ruiacutenas e sua localizaccedilatildeo proacutexima aos rios ldquodos Pinheirosrdquo e Santo Amaro aleacutem

dos terrenos no seu entorno onde se observa a presenccedila de matas minas de

ferro e canais de derivaccedilatildeo de aacuteguas daqueles rios em direccedilatildeo ao edifiacutecio

confirmando as observaccedilotildees feitas por Eschwege que observou inclusive a

existecircncia da ldquovala da rodardquo (HOLANDA 1957 p188-189)

59Ver Provisatildeo passada por Diogo Botelho a Diogo de Quadros 1605 CLETTO Marcelino Pereira A respeito da Capitania de Satildeo Paulo Sua decadecircncia e modo de restabelececirc-la Santos 25 de outubro de 1782 Annaes da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro vol XXI Rio de Janeiro Typografia Leuzinger 1900 60 TOLEDO Benedito Lima de A Accedilatildeo dos Engenheiros Militares na Ordenaccedilatildeo do Espaccedilo Urbano no Brasil Lisboa 2000 lthttpurbaniscteptRevistanumero4artigosartigo_08htmgt Aceso em 16 de maio de 2006 Os tratados mencionados por Toledo satildeo o Tratado de Madri (1750) e do segundo o Tratado de Santo Ildefonso (1777)

99

Fig 27 Prospecto das ruiacutenas da antiga Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro Rufino Joseacute Felizardo seacutec XIX (HOLANDA1957)

38 A Faacutebrica de Ferro do morro de Araccediloiaba os empreendedores

Afonso Sardinha foi personagem importante na atividade de mineraccedilatildeo do

ouro e do ferro no periacuteodo compreendido entre a segunda metade do seacuteculo XVI

e inicio do seacuteculo XVII sendo um dos primeiros empreendedores da exploraccedilatildeo e

produccedilatildeo de ferro no morro de Araccediloiaba Foi tambeacutem um dos financiadores do

empreendimento da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro Em 1601 recebeu de

Francisco de Souza um regimento que permitia o acesso agraves minas jaacute descobertas

e a descobrir61 Ressalte-se que essa mesma provisatildeo natildeo permitia a ele

ldquoentabularrdquo as minas encontradas as quais deveriam ser trabalhadas somente

apoacutes inspeccedilatildeo feita por mineiros vindos do Reino

61 Ver Regimento do Capitatildeo Diogo Gonccedilalves Laccedilo que lhe deu o Senhor Governador Dom Francisco de Souza DERBY Orville A As Bandeiras paulistas de 1601 a 1604 Revista do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Satildeo Paulo vol VII Satildeo Paulo Typ Do Diaacuterio Official 1903 p 403

100

Joseacute Monteiro Salazar citando Pedro Taques e outros historiadores

aponta o ano de 1597 para o inicio das atividades da exploraccedilatildeo e fabricaccedilatildeo do

ferro em Araccediloiaba sendo que o empreendimento esteve em atividade ateacute o ano

de 1611 coincidindo com o ano da morte de D Francisco de Sousa

Somente em 1684 surge uma segunda tentativa de exploraccedilatildeo das minas

de Araccediloiaba financiada pela Coroa Portuguesa Para tanto foi enviado agravequele

local o Frei Pedro de Sousa com a finalidade de pesquisar a existecircncia de prata

nas jazidas que estava sendo explorada por Luiz Lopes de Carvalho o qual

contava com matildeo de obra indiacutegena

Entretanto apoacutes ter retirado algumas amostras do mineacuterio na jazida elas

foram ensaiadas poreacutem natildeo foi encontrada a prata motivo pelo qual foi

ordenada pelo Conselho Ultramarino a suspensatildeo daquelas pesquisas

(RODRIGUES 1966 p202)

Na sequumlecircncia o empreendedor Luiz Lopes de Carvalho que administrava

aquela mina retomou a exploraccedilatildeo do mineacuterio de ferro cuja existecircncia jaacute era

comprovada para cuja atividade obteve licenccedila concedida pela Coroa Para

realizar as obras necessaacuterias para o seu empreendimento foi obrigado a

hipotecar em 1681 todas as suas propriedades na Vila do Vimieiro em Portugal

(RODRIGUES 1966 p 214-217)

Em carta escrita no Rio de Janeiro em 1692 ao Rei de Portugal noticiava o

fracasso de seu empreendimento com o esgotamento dos recursos financeiros

Assim descreve

penetrei os Sertotildees mais ragozos so habitado de feras padecendo

as inclemecircncias qe experimentatildeo os q com zello e amor da paacutetria

lhe querem descubrir nossos Thezouros Todas estas calamidades

101

padeci por que haverem persuadido e ter achado alguns Roteiros62

q insinuavatildeo partes e serr[dilacerado] aonde em algum tempo se

achavatildeo Signais evidentes de minas de prata e esmeraldas E por

me esgotar o Cabedal proacuteprio e nam achar q me animasse com

algum socorro vim a entender q e Deus nosso Sr Tem guardado

essa fortuna pa outro q mais lho mereccedila Nestas entradas ao

Sertatildeo fui dar com a dictas Serras de Birasuaiava aonde estatildeo as

minas de ferro que na calidade e fertilidade desse groseiro metal

excede a todos asqe por haver no descuberto (RODRIGUES

1966 p217-219)

Naquele mesmo documento Luiz Lopes de Carvalho discorre sobre as

dificuldades teacutecnicas e materiais que havia enfrentado e destaca que para a

continuidade daqueles trabalhos faltara-lhe a matildeo de obra indiacutegena e um mestre

em fundiccedilatildeo que sugere deveria ser de Figueiroacute (Portugal) Biscaia (Espanha)

Alemanha ou Sueacutecia Aleacutem disso indicava que os fornos de fundiccedilatildeo que ali

deveriam ser instalados fossem do mesmo tipo empregado nas ferrarias de

Figueiroacute em Portugal (RODRIGUES 1966 p217-220)

Nova tentativa de exploraccedilatildeo daquela mina de ferro deveu-se ao portuguecircs

Domingos Pereira Ferreira em 1763 o qual organizou em Lisboa uma companhia

por accedilotildees para a construccedilatildeo de uma faacutebrica de ferro em Araccediloiaba 63 Para

viabilizar esse empreendimento recebeu uma concessatildeo de Sesmarias localizada

junto a mina de ferro para explorar a madeira necessaacuteria agrave fundiccedilatildeo 64

62 Esses roteiros - ou ldquomapas do tesourordquo - parecem ter sido frequumlentes na histoacuteria da mineraccedilatildeo colonial Haacute indicaccedilotildees de roteiros elaborados por Gabriel Soares de Souza para as minas de Sabarabassuacute 63 Foram soacutecios de Pereira Ferreira Matheus Lourenccedilo de Carvalho Caoitatildeo-mor Manoel de Oliveira Cardozo Antonio Lopes de Azevedo Capitatildeo Jacinto Jose de Abreu Silveacuterio Thomaz de Oliva Doacuteria Joatildeo Fritz Gerald (este natildeo participou da Sociedade por ser estrangeiro ndash inglecircs) e o Sargento Mor Antonio Francisco de Andrade Traslado da Escritura de Contrato da Sociedade e Companhia que Fazem Domingos Pereira Ferreira (RODRIGUES 1966 p 228-238) 64 Carta de Sesmaria a Domingos Ferreira Pereira e seus soacutecios de um morro cito termo da Vila de Sorocaba para dele se extraiacuterem lenha para a Faacutebrica de caldear o ferro que ali se pretende erigir por ordem de S Magestade (1767) Arquivo do Estado de Satildeo Paulo Sesmaria Patente e Provisatildeo Livro n17 p 125 v

102

Em dezembro de 1765 o Capitatildeo-General de Satildeo Paulo encaminhava ao

Conde de Oeiras amostra do ferro que Domingos Ferreira Pereira extraiacutera e

caldeara nas serras de Araccediloiaba Neste mesmo ano chegou a receber

encomendas de Diogo Lobo da Silva Capitatildeo General de Minas Gerais para a

fabricaccedilatildeo de armamentos tais como balas bombas e granadas aleacutem de

municcedilotildees Contudo esses armamentos natildeo chegaram a serem fabricados

Para viabilizar a produccedilatildeo do ferro trouxe de Portugal o mestre fundidor

Joatildeo de Oliveira Figueiredo poreacutem este decidiu abandonar aquele local com a

intenccedilatildeo de se mudar para Angola em 1767 Contudo quando jaacute se encontrava

no Rio de Janeiro foi preso e trazido de volta para Araccediloiaba sob a justificativa de

que ldquosem ele natildeo se poderiam por em praacutetica as experiecircnciasrdquo (CALOacuteGENAS

1904 p37)

O relatoacuterio encaminhado no ano de 1768 por Luiz Antonio de Souza ao

Conde de Oeiras em Portugal informava que o empreendimento de Pereira

Ferreira mostrava dificuldades em conseguir produzir um ferro de boa qualidade

mesmo tendo sido realizado por diversas vezes experiecircncias com o material pois

ldquonatildeo era possiacutevel acertar a caldeaccedilatildeo do ferro nem fazecirc-lo igual as primeiras

amostrasrdquo 65

Pereira Ferreira permanece naquela atividade durante dez anos sendo que

depois desse tempo vendeu a propriedade a Vitoriano Joseacute Sentena morador de

Viamatildeo Este empreendedor tambeacutem natildeo obteve sucesso nesta atividade

culminando por abandonaacute-la quatro anos apoacutes o seu iniacutecio (RODRIGUES 1966

p205-210)

No ano de 1784 Claacuteudio de Madureira Calheiros capitatildeo-mor da vila de

Sorocaba encaminha uma peticcedilatildeo a Martinho de Mello e Castro para explorar

aquelas jazidas Contudo esse projeto natildeo foi aprovado (RODRIGUES 1966 p

212) 65 ver Carta de Luiz Antonio de Souza ao Conde de Oeiras Satildeo Paulo 3 janeiro de 1768 In Dossiecirc Ipanema Arquivo do Museu Quinzinho de Barros ndash Sorocaba-SP

103

Em 1788 com aquele mesmo objetivo foi encaminhada a Bernardo Joseacute

de Lorena uma peticcedilatildeo onde o capitatildeo-mor de Sorocaba Claacuteudio da Cunha Oeiras

e o de Itu Vicente da Costa Taques Goacuteis e Aranha pela qual solicitavam

autorizaccedilatildeo para explorar e fabricar o ferro em Araccediloiaba Tambeacutem solicitavam a

vinda do Reino de ldquoum mestre inteiramente perito naquela arterdquo Juntaram agrave

peticcedilatildeo uma amostra de barra de ferro que diziam terem obtido naquele local

Este projeto tambeacutem natildeo foi viabilizado (RODRIGUES 1966 p212)

39 A Real Faacutebrica de Ferro de Satildeo Joatildeo do Ipanema

Jaacute no final do seacuteculo XVIII destaca-se a vinda do ldquoquiacutemicordquo Joatildeo Manso

Pereira Diretor Geral das Minas para examinar as jazidas de ferro do morro de

Araccediloiaba e acompanhar os trabalhos de demarcaccedilatildeo dos terrenos nos quais

iriam ser instaladas as edificaccedilotildees da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema

Tambeacutem realizou alguns ensaios com aquele mineacuterio mediante a construccedilatildeo de

um alto forno acionado com um fole manual

A esse respeito relata Eschwege (1944 p340) que conheceu Joatildeo Manso

Pereira que durante a primeira experiecircncia para a fundiccedilatildeo do ferro muitas

pessoas das vizinhanccedilas foram atraiacutedas para o local poreacutem ao final do teste

nenhum ferro foi produzido Manso entatildeo fugiu do local e os convidados tiveram

que voltar para as suas casas Eschwege lembrava que Manso ao recordar

aquele fato ldquoria-se gostosamente de toda aquela histoacuteria tendo chegado agrave

conclusatildeo de que para fabricar ferro em grande escala natildeo bastavam

conhecimentos de quiacutemicardquo

Em 1802 Manso Pereira natildeo havia apresentado nenhum resultado

satisfatoacuterio e foi destituiacutedo do cargo assumindo em seu lugar Francisco Ribeiro

de Andrade (FRAGA 1968 p 33-48)

104

Segundo o Governador D Rodrigo de Souza Coutinho Joatildeo Manso

Pereira

longe de ser hum verdadeiro chimico natildeo era senatildeo hum

Alquimista que debaixo de certos misteacuterios pretendia inculcar-se

sem ter os necessaacuterios conhecimentos para Inspector e dirigir a

mesma obra tendo toda a esperanccedila que entre os artistas que

pedia que viesse algum que soubesse tractar a referida Mina e

desta sorte colher o Laurel de que os outro se fazia digno

(FRAGA1966 p46)

No iniacutecio do seacuteculo XIX Martim Francisco Ribeiro de Andrada escolhe a

regiatildeo junto ao ribeiratildeo Ipanema para sediar as futuras instalaccedilotildees da faacutebrica de

ferro que estavam autorizadas em 1799 a Joatildeo Manso Pereira Atraveacutes de um

contrato realizado em Estocolmo em 1810 entre Dom Joaquim Lobo de

Saldanha ministro portuguecircs em Londres e o sueco Carlos Gustavo Hedberg

foram iniciados os trabalhos para a construccedilatildeo da Real Faacutebrica de Ferro de

Ipanema

Fig 28 Vista da Faacutebrica de Ferro de Ipanema 1827 Acervo Projeto Arqueologia Histoacuterica Museu Paulista-USP

105

Fig 29 Vista Geral da Faacutebrica de Ferro e Ipanema seacuteculo XIX

Fig 30 Altos fornos geminados construiacutedos por Varnhagem 1818

106

Fig 31 Alto forno construiacutedo pelo Cel Mursa 1888

Em 1815 Frederico Guilherme Varnhagen assume o cargo de Diretor da

Real Faacutebrica e em 1818 constroacutei dois altos-fornos para a produccedilatildeo de ferro

gusa os primeiros do Brasil Joaquim de Souza Mursa Diretor de Ipanema entre

1865-1890 construiu outro alto-forno e natildeo chegou a funcionar Em 1895 jaacute no

periacuteodo republicano Prudente de Moraes decreta a desativaccedilatildeo de Ipanema

Em 1929 tiveram iniacutecio experiecircncias para o aproveitamento da apatita

jazida descoberta em 1890 por DacuteOrville Derby Esse mineacuterio foi explorado ateacute

1944 por uma firma particular para a produccedilatildeo do superfosfato Mas jaacute em 1937

o acervo e aacuterea ocupada pela antiga Faacutebrica de Ferro passaram ao Ministeacuterio da

Agricultura que em 1947 instalou ali a Estaccedilatildeo Experimental do Trigo

107

Uma quarta fase da histoacuteria de Ipanema comeccedilou logo no iniacutecio dos anos

50 quando foi estabelecido o Plano Nacional da Induacutestria de Tratores e instituiacuteda

a obrigatoriedade de ensaios para tratores maacutequinas e ferramentas agriacutecolas

importados ou fabricadas no Brasil Ao mesmo tempo seguiram as atividades de

produccedilatildeo de sementes O estabelecimento passou a denominar-se CENTRI -

Centro Nacional de Ensaios e Treinamento Rural de Ipanema

A partir de 1975 foi criado o CENEA ndash Centro Nacional de Engenharia

Agriacutecola junto ao qual foi realizado em 1983 o convecircnio com o Museu Paulista-

Universidade de Satildeo Paulo para a realizaccedilatildeo da pesquisa arqueoloacutegica Em 1992

passou a integrar uma das aacutereas de conservaccedilatildeo e proteccedilatildeo ambiental do IBAMA

com a denominaccedilatildeo de FLONA ndash Floreta Nacional de Ipanema O Siacutetio Afonso

Sardinha foi registrado no IPHAN pela Professora Doutora Margarida Davina

Andreatta em 1997

108

Fig 32 ROTEIRO HISTORICO DA MINERACcedilAtildeO E METALURGIA PAULISTA

109

CAPIacuteTULO 4

O SIacuteTIO AFONSO SARDINHA 41- Localizaccedilatildeo O vale das Furnas eacute uma aacuterea privilegiada por sua geografia devido agrave

presenccedila do mineacuterio de ferro em suas cabeceiras e de uma diversificada

quantidade de rochas dentre elas o arenito que foi utilizado como material de

construccedilatildeo na forma de blocos para paredes e fornos Destaca-se a rede

hidrograacutefica que apresenta dois rios importantes como o Ipanema e o Sarapuhy

que contornam o morro de Araccediloiaba indo desaguar no rio Sorocaba A bacia do

ribeiratildeo do Ferro ocupa uma aacuterea importante dentro do morro de Araccediloiaba

porque eacute ela que drena a regiatildeo onde afloram os minerais de ferro sendo que a

topografia acidentada do seu leito possibilitou a implantaccedilatildeo de estruturas de

aproveitamento hidraacuteulico A regiatildeo apresentava significativa aacuterea coberta de

matas as quais foram transformadas desde finais do seacuteculo XVI em carvatildeo

vegetal o uacutenico combustiacutevel utilizado para a produccedilatildeo de ferro ateacute finais do

seacuteculo XIX

O morro de Araccediloiaba eacute conhecido tambeacutem pela denominaccedilatildeo de morro do

Ipanema toponiacutemico indiacutegena de Ypanema ndash Y= rio aacutegua + panema = sem valor

ou ainda aproximadamente sem peixes significando assim ldquorio sem valorrdquo ou

ldquorio sem peixesrdquo A denominaccedilatildeo Araccediloiaba (ldquoo lugar que esconde o Solrdquo)

aparece desde o seacuteculo XVI em documentos datados com variantes como

Arraraccediloiaba Byraccediloiaba Ibyraccediloiaba Guaccediloiava (SALAZAR 1997 p17)

Ocupa uma aacuterea isolada no interior de uma extensa bacia sedimentar que os

geomorfoacutelogos denominam de ldquoDepressatildeo Perifeacuterica Paulistardquo pertencente agrave

Bacia do Paranaacute Esta aacuterea constitui um ldquohorst docircmicordquo em razatildeo do seu formato

110

arredondado que lembra estruturas de coberturas do tipo domos (DAVINO 1975

p130)

Do ponto de vista geoloacutegico o morro eacute uma formaccedilatildeo montanhosa

resultante de ldquofenocircmenos de intrusotildees de rochas alcalinas que ocorreram

associadas agraves atividades tectocircnicas do Arco de Ponta Grossa no periacuteodo

denominado Cretaacuteceo Inferiorrdquo66 contemporacircneo do vulcanismo basaacuteltico na

regiatildeo Sudeste ndash Sul do Brasil A intrusatildeo magmaacutetica de Ipanema ocupa aacuterea

aproximadamente circular de nove quilocircmetros quadrados Sua maior altitude estaacute

em 970 metros sendo que dele ldquoeacute possiacutevel observar um dos trechos do vale do

Meacutedio - Tietecirc como tambeacutem trecircs importantes unidades de relevo do Estado de

Satildeo Paulo a Depressatildeo Perifeacuterica o Planalto Atlacircntico e as Cuestas Arenito ndash

Basaacutelticas no caso a Serra do Botucatu (CARPI JR 2002 p1)

Estaacute situado no centro-sul da Depressatildeo Perifeacuterica Paulista na Latitude

sul 23ordm25rsquo 23ordm17rsquo Longitude 47ordm35rsquo WGr 47ordm40rsquo WGr no municiacutepio de Iperoacute-

SP entre Sorocaba e Boituva a cerca de 125 km da Cidade de Satildeo Paulo

Encontra-se ainda dentro de uma aacuterea de proteccedilatildeo ambiental com 506973

hectares pertencente ao FLONA Ipanema Floresta Nacional de Ipanema do

IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

Renovaacuteveis) criada em 1992 para preservar e conservar um dos maiores

fragmentos de Mata Atlacircntica do Estado de Satildeo Paulo bem como aacutereas de

66 ldquoDuas medidas efetuadas no Laboratoacuterio de Geocronologia da USP segundo o meacutetodo do potaacutessio-argocircnico indicaram para as rochas alcalinas de Ipanema idade cretaacutecea inferior Estas determinaccedilotildees foram feitas em biotita contidas em shonkinitos-poacutertirosrdquo (DAVINO1975)

111

cerrado vaacuterzea e os ecossistemas associados67

67 A FLONA ndash Floresta Nacional de Ipanema possui plantas e fauna de grande representatividade tendo catalogado mais de 200 espeacutecies de aves 52 de mamiacuteferos 18 de anfiacutebios 15 de reacutepteis e 35 de peixes que totalizam 216 da riqueza do estado de Satildeo Paulo Caracteriacutesticas do relevo Ateacute 600 metros ndash vaacuterzea dos principais rios como Ipanema e Verde de declives suaves Acima de 875 metros ndash topo do Morro Araccediloiaba geralmente com platocircs e declives suavesmedianos De 600 a 725 metros ndash base das serras de declives acentuados (medianos) com nascentes de rios principalmente os intermitentes De 725 a 875 metros ndash proacuteximo ao topo de declives acentuados com rios encaixados entre as vertentes como o Ribeiratildeo do Ferro Hidrografia Integra a bacia hidrograacutefica do rio SorocabaMeacutedio Tietecirc classificada como UGRHI No 10 com sub-bacias dos rios Ipanema e Verde e ribeirotildees Iperoacute e do Ferro Clima O Troacutepico de Capricoacuternio passa pela parte sul da Floresta Nacional de Ipanema caracterizando uma zona de transiccedilatildeo de tropical para temperada Segundo Koeppen apresenta condiccedilotildees climaacuteticas tipo Cfa ndash subtropical quente constantemente uacutemido com inverno menos seco - ao sul limitando com Cwa ndash subtropical quente com inverno mais seco - ao norte Uso do solo 2800 hectares ndash floresta estacional semidecidual em estaacutegio de regeneraccedilatildeo do inicial ao tardio 29515 hectares ndash capoeira alta (grototildees) e cerrado 24293 hectares ndash capoeira baixa 250 hectares ndash vaacuterzea accediludes e represas 22150 hectares ndash reflorestamento com espeacutecies de raacutepido crescimento e nativas 121016 hectares ndash assentamentos rurais 50 hectares ndash sede administrativa vilas residenciais e siacutetios histoacuterico-culturais Ver Floresta Nacional (FLONA) de Ipanema NACIONAL Disponiacutevel em lthttpwwwibamagovbrspindexphpid_menu=191gt acesso em 22mar06

112

Fig 32 MAPA GEOLOacuteGICO DO MORRO DE ARACcedilOIABA (SEM ESCALA) Mapa Geoloacutegico do Estado Satildeo Paulo ndashIPT

113

Fig 33 BLOCO DIAGRAMA DA REGIAtildeO DA SERRA DE ARACcedilOIABA Interpretaccedilatildeo baseada em dados geoloacutegicos e geofiacutesicos por Andreacute Davino (DAVINO 1975 p140)

114

Fig 35 MORRO DE ARACcedilOIABA (AO FUNDO VISTA DA DEPRESSAtildeO

PERIFEacuteRICA) - I

FIG 36 MORRO DE ARACcedilOIABA (VISTA DA DEPRESSAtildeO PERIFEacuteRICA) - II

115

Aziz Nacib AbSaber ao analisar o morro de Araccediloiaba dos pontos de vista

geoloacutegico e geomoacuterfoloacutegico considera que

Geomorfologicamente eacute um acidente de grande exceccedilatildeo

emergente no meio de terras baixas colinosas que se estendem por

mais de 12 mil km2

Geologicamente eacute a consequumlecircncia de um vulcanismo hipoabissal

tardio anterior aos processos denudacionais que criaram a

Depressatildeo Perifeacuterica Paulista Filogeograficamente eacute um

componente de um mosaico de ecossistemas sub-regionais que

comporta cerrados e matas-galerias (vegetaccedilatildeo ciliar) matinhas

diferenciadas e descontiacutenuas nas paredes sub-rochosas do morro

Existem tambeacutem eventuais poreacutem altamente significativos relictos

de cactos mandacarus nas vertentes rochosas do morro Esse fato

associado ao que jaacute se conhece da regiatildeo de Itu e Salto permite

reconstituir a histoacuteria vegetacional da regiatildeo No passado ela

abrigou caatingas hoje relegadas a pequenos redutos de

cactaacuteceas na forma de rupestres-biomas logo seguidos por

cerradotildees e cerrados recortados por florestas-galerias biodiversas

E por fim grandes matas tropicais nos morros de solos vermelhos

argilo-arenosos das serranias de Satildeo Roque e Jundiaiacute As florestas

eliminaram importantes trechos de cerrado mas natildeo foram capazes

de expulsar os minirredutos de cactaacuteceas na serra do Jardim em

Vinhedo e Valinhos nos altos do Japi na serra de Satildeo Francisco

em Votorantim em Salto e Itu e no front rochoso das cuestas de

Botucatu e agora nos receacutem-identificados mandacarus dos morro

de Araccediloiaba e Ipanema

Para entender essa eacutepoca caracterizada por intrusotildees

hipoabissais desfeitas em sills - massas tabulares de rocha iacutegnea

que penetraram entre camadas de rocha mais antiga - nas

soerguidas camadas de arenitos da formaccedilatildeo de Itarareacute (originada

no Carboniacutefero Superior) haacute que visualizar o fato de que o atual

morro da Depressatildeo Perifeacuterica comportava centenas de metros de

espessura que se estendiam ateacute o embasamento de rochas

cristalinas As intrusotildees que perfuraram localmente o pacote de

116

rochas da borda da Bacia Sedimentar do Paranaacute foram

provavelmente as mais tardias em relaccedilatildeo ao vulcanismo que

precedeu os mega processos de separaccedilatildeo da Aacutefrica e Brasil Ao

que tudo indica primeiramente aconteceram os derrames

basaacutelticos e as intrusotildees hipoabissais de diabaacutesios (rochas

magmaacuteticas cristalinas) A seguir nos milhotildees de anos decorridos

entre o Triaacutessico Superior o Juraacutessico e o Cretaacuteceo Superior -

atraveacutes de bolsotildees magmaacuteticos descontiacutenuos e residuais -

aconteceram as penetraccedilotildees de sienitos em forma de ring dykes

(diques anelares) de Itatiaia da atual ilha de Satildeo Sebastiatildeo

Caxambu e alhures Tudo acontecendo antes que a tectocircnica

quebraacutevel aparecesse no embasamento cristalino do Brasil de

Sudeste Ou seja antes dos falhamentos que criaram a serra do

Mar a ilha de Satildeo Sebastiatildeo e a Mantiqueira Por fim um resiacuteduo

magmaacutetico de grande exceccedilatildeo teria interpenetrado a borda antiga

da Bacia do Paranaacute gerando a pequena aacuterea core que mais tarde

viria a ser o morro de AraccediloiabaIpanema com seus ankaratritos

impregnados de magnetita Um fato que de resto respondeu pelo

histoacuterico episoacutedio da experiecircncia industrial da Fazenda

Ipanema(ABSAacuteBER 2006 p1)

42 A Vegetaccedilatildeo

Quanto agrave vegetaccedilatildeo original o morro de Araccediloiaba tem um histoacuterico de

perturbaccedilotildees sofridas por intervenccedilotildees antroacutepicas iniciadas no final do seacuteculo XVI

Essas perturbaccedilotildees foram causadas pela retirada de mineacuterio madeiras calcaacuterio

apatita aleacutem de focos de incecircndio entre outros processos

Para a exploraccedilatildeo do mineacuterio era necessaacuteria a devastaccedilatildeo das matas que

cresciam sobre a jazida Segundo a descriccedilatildeo de Domingos Pereira Ferreira que

chegou no local em 1765 para dar iniacutecio a um projeto de Faacutebrica de Ferro aquele

117

Morro era como ldquoum Cubatatildeo de Matos e de Cerra Altardquo e somente era possiacutevel

ver uma pedra levando ldquoadeante fousse e machadordquo68

A devastaccedilatildeo das matas tambeacutem esteve ligada ao tipo de combustiacutevel que

era utilizado nos fornos de reduccedilatildeo (fornos baixos) 69 e depois nos de fundiccedilatildeo

(altos fornos)70 O combustiacutevel para a produccedilatildeo de ferro sempre foi o carvatildeo

vegetal71 o qual era fabricado a partir de uma variedade de madeiras existente na

proacutepria mata entre elas os chamados ldquopaus reaisrdquo as madeiras de lei como a

peroba jequitibaacutes e cedros cujos registros de extraccedilatildeo eacute encontrado ateacute o iniacutecio

do seacuteculo XIX 72

Mesmo sofrendo exploraccedilatildeo e desmatamento ainda hoje a Floreta

Nacional de Ipanema constitui-se num dos poucos redutos florestais do interior

paulista e tambeacutem eacute a maior detentora da biodiversidade regional Espeacutecies

vegetais como timburi ararib lixeira jangada do campo canela paineira figueira

branca e peroba satildeo encontrados em percurso assim como animais de haacutebitos

68 Encontramos uma coacutepia da Carta de Domingos Pereira Ferreira agrave Morgado de Mateus escrita em Sorocaba 30 de novembro de 1765 na Coleccedilatildeo Faacutebrica de Ferro de Ipanema entre todas as coacutepias que foram doadas por Joseacute Monteiro Salazar ao Arquivo Histoacuterico Sorocabano 69Nos fornos baixos o carvatildeo vegetal era colocado em camadas alternadas com o mineacuterio calcinado e triturado que com o auxiacutelio de foles manuais ou mecacircnicos realizavam a reduccedilatildeo e natildeo a fundiccedilatildeo do mineacuterio de ferro resultando numa ldquoesponja de ferrordquo ou ldquopatildeo de ferrordquo que posteriormente era novamente trabalhada nos fornos de forja e nos malhos (FAUS 2000) 70 Estes fornos que chegam a fundir o mineacuterio de ferro foram introduzidos em Ipanema no iniacutecio do seacuteculo XIX O produto derivado do alto forno eacute o ferro em estado liacutequido (ferro gusa) (FRAGA 1968 p 87) 71 Joseacute Bonifaacutecio de Andrada e Silva ao visitar a Faacutebrica de Ipanema em 1820 descreve o meacutetodo de fabricaccedilatildeo de carvatildeo ldquoO carvatildeo he todo misturado sem separaccedilatildeo do proacuteprio para as forjas do refino he mal feito e apagado comumente com agoa em vez de ser abafado com terra principalmente arenosa que he a melhor da qui vem que sahe mais pesado do que deveria ser contra a fabrica e a favor do carvoeiro reduz-se muito a poacute nos armazeacutens com prejuiacutezo da mesma Faacutebrica e o peior he que nas forjas de refino esfarela-se logo e se reduz a cinza sem dar o devido calor O carvatildeo que fazem de maneira mole he mais leve e arde mais e da madeira dura he pelo contrario O methodo de fazer carvatildeo he o seguinte pegatildeo em toda a lenha misturada e arrumatildeo em pilha deitadas que tem 40 palmos em quatro como a figura de um telhado com beiradas estas tem 6 palmos de alto e o espigatildeo 12 leva a quaimar cada piulha 30 ate 34 dias e mais e da cada pilha de 700 a 900 arrobas de carvatildeordquo (FRAGA 1968 p 86) 72 Joseacute Bonifaacutecio de Andrada e Silva em suas Memoacuterias Econocircmicas sobre a Faacutebrica de Ferro de Ipanema faz criacuteticas agrave construccedilatildeo dos Altos Fornos de Varnhagen e tambeacutem agrave preparaccedilatildeo do mineral e do combustiacutevel utilizado como ldquocavacos de perobardquo (MENON 1992 p144)

118

florestais destacando-se o jaguarundi o gambaacute o irara o tapiti o matildeo-pelada o

quati o jacupemba o chupa-dente o pica-pau de topete vermelho o tangaraacute

danccedilarino o sabiaacute coleira a jararaca a cascavel e o lagarto teiuacute 73

43 Rios e ribeirotildees

Dois rios circundam aquele morro o rio Ipanema e o Sarapuhy afluentes

do rio Sorocaba Na parte central daquele Morro surgem alguns riachos sendo o

mais importante deles o Ribeiratildeo do Ferro anteriormente denominado de Ribeiratildeo

das Furnas (afluente do Rio Ipanema) que nasce no Monte ou Pico do Chapeacuteu e

forma o Vale das Furnas com ocorrecircncia de cascatas e piscinas naturais Eacute

tambeacutem naquele Vale e em uma das curvas do Ribeiratildeo do Ferro que estaacute

situado o Siacutetio Arqueoloacutegico Histoacuterico Afonso Sardinha objeto de anaacutelise dessa

Tese

O Ribeiratildeo do Ferro ao descer o morro de Araccediloiaba apresenta

desniacuteveis de ateacute 500 metros com a presenccedila de alguns trechos encachoeirados

caracteriacutestica essa que proporcionou a execuccedilatildeo de projetos de aproveitamento

hidraacuteulico como a construccedilatildeo de obras de represamento canal de derivaccedilatildeo e

vala transformando as aacuteguas daquele ribeiratildeo em forccedila motriz aplicada ao

funcionamento dos equipamentos e ferramentas utilizadas no processo produtivo

da produccedilatildeo de ferro

73 Ver Fazenda Ipanema Disponiacutevel em lthttpfazendaipanemaiperospgovbrhistoriaphpgt

119

44 A magnetita o mineacuterio do morro de Araccediloiaba

Segundo Andreacute Davino a importacircncia do morro de Araccediloiaba do ponto de

vista geoloacutegico

deriva do fato de conter umas das muitas ocorrecircncias de rochas

alcalinas do Brasil As concentraccedilotildees de magnetita e apatita

[descobertas no final do seacuteculo XIX] nessas rochas despertaram

desde longa data especial interesse sobre a aacuterea O contorno da

intrusatildeo alcalina situa-se na parte central da Serra e estaacute contido

inteiramente dentro dos limites da Fazenda Federal de Ipanema

(DAVINO 1975 p130)

O mineacuterio de ferro encontrado no morro de Araccediloiaba eacute a Magnetita

um imatilde natural com propriedade magneacutetica de atrair objetos feitos de ferro ou

outros metais Essa propriedade do mineacuterio possivelmente facilitou o encontro

daquela jazida pelos sertanistas que por laacute passaram em meados do seacuteculo XVI

A magnetita eacute um mineacuterio do grupo das espinelas formado por oacutexido

magneacutetico de ferro (Fe3O4) composto por 724 de Fe (ferro) Eacute frequumlente a

existecircncia de cristais bem desenvolvidos pertencentes ao sistema cuacutebico

geralmente em forma de octaedros ou de dodecaedros Eacute abundante formando

as suas jazidas verdadeiras montanhas em massas granulares ou compactasA

composiccedilatildeo da magnetita eacute de oacutexido de feacuterrico (Fe2O3) 65 oacutexido ferroso (Fe O)

25 siacutelica (SiO2) 10 e traccedilos de aacutecido fosfoacuterico (P2O5) (FRAGA 1968 p149)

No Brasil encontram-se jazidas de magnetita nas regiotildees que

compreendem desde o Sudeste da Bahia ateacute o Leste do Paranaacute e Nordeste de

Santa Catarina Contudo sempre se apresentam impregnado de Titacircnio (Ti O2)

em proporccedilotildees que variam desde 04 ateacute 16 A exagerada densidade74 dessa

magnetita concorre para tornaacute-la inaproveitaacutevel para a reduccedilatildeo mesmo nos altos 74 A densidade eacute medida na proporccedilatildeo quilograma por metro cuacutebico kg m-3

120

fornos a coque a menos que sofra preacutevio e demorado tratamento ou que seja

misturada a mineacuterios menos densos (e portanto algo impuro) tais como a canga

a Hematita e outros De outro lado o oacutexido de titacircnio que a impregna dificulta

quando natildeo impede inteiramente a transformaccedilatildeo em gusa ou em esponja

(AMARAL 1946 p 264-266 Apud FRAGA 1968 p32) No morro de Araccediloiaba as

jazidas de Magnetita encontram-se na ldquoforma de depoacutesitos aluviais e

concentraccedilotildees in situ a poucas dezenas de metros de profundidaderdquo (DAVINO1975 p129)

Fig 37 MINEacuteRIO DE FERRO MAGNETITA

Embora no final do seacuteculo XIX os conhecimentos cientiacuteficos da Quiacutemica e

da aacuterea da metalurgia jaacute estivessem avanccedilados a composiccedilatildeo da Magnetita do

morro de Araccediloiaba impregnada de oacutexido de Titacircnio natildeo era conhecida75 A

carecircncia de conhecimento cientiacutefico sobre as propriedades quiacutemicas dessa

magnetita foi a principal causa dos trecircs seacuteculos de tentativas de se produzir ferro

naquele local e das inuacutemeras criacuteticas que eram feitas aos fundidores e

administradores 76 Sendo assim podemos indicar que essa realidade teacutecnica foi

determinante para que natildeo se produzisse em Ipanema desde finais do seacuteculo

XVI ferro de boa qualidade Estephania Fraga indica que

75 O titacircnio foi descoberto em 1791 por Willian Gregor mas soacute se tornou bem conhecido apoacutes os estudos de Wohler em 1857 e Peterson em 1887 76 Orville Derby no final do seacuteculo XIX presidia a comissatildeo de estudos geoloacutegicos da Proviacutencia de Satildeo Paulo e pesquisou a apatita de Ipanema

121

a dificuldade em fundir o mineacuterio de Ipanema ndash a magnetita ndash

provinha da composiccedilatildeo especiacutefica do mesmo pois aleacutem de sua

exagerada densidade apresenta-se impregnada de oacutexido de

Titacircnio fatores que contribuem de forma decisiva para dificultar

sua reduccedilatildeo mesmo em altos fornos (FRAGA 1968 p86)

A dificuldade de produzir um ferro de boa qualidade jaacute era sentida desde o

seacuteculo XVIII quando Domingos Pereira Ferreira apostou na construccedilatildeo de uma

Faacutebrica de Ferro naquele local Embora tenha construiacutedo diversos tipos de fornos

e empregado diferentes modos de fundiccedilatildeo natildeo havia conseguido um bom

resultado No seacuteculo XIX essa mesma dificuldade permaneceu nos trabalhos de

fundiccedilatildeo e na produccedilatildeo de ferro da Real Faacutebrica de Ipanema fundada em 1810

O desconhecimento das propriedades daquela magnetita apenas

descoberta na segunda metade do seacuteculo XIX quando a Real Faacutebrica de Ferro jaacute

estava em plena decadecircncia77 tambeacutem estava na origem das acirradas

discussotildees teacutecnicas entre Friederich Ludwig Wilhelm Varnhagen mineralogista

alematildeo e Carl Gustav Hedberg sueco e primeiro diretor de Ipanema (1811-

1814) sobre as vantagens do alto-forno proposto por Vanhagen em relaccedilatildeo aos

quatro fornos azuis Blauofen fornos de reduccedilatildeo direta inicialmente instalados

em Ipanema78

O diretor sueco foi substituiacutedo por Ludwig Wilhelm Varnhagen em 1815

que construiu dois Altos Fornos de aproximadamente 8 metros de altura cada

um Com estes fornos conseguiu produzir o ferro gusa em sua forma liacutequida

tendo moldado com a primeira corrida desse ferro trecircs cruzes sendo uma delas

ldquolevada em procissatildeo ateacute o ponto alto da montanha de Araccediloiabardquo onde

atualmente permanece Contudo Varnhagen natildeo produziu o ferro esperado e

77 Naquele periacuteodo nem o Estado nem a Real Faacutebrica possuiacuteam laboratoacuterios de anaacutelise que pudessem fazer ensaios do mineacuterio combustiacutevel e fundentes empregados na produccedilatildeo A primeira escola formadora de profissionais na aacuterea de mineraccedilatildeo foi a Escola de Minas de Ouro Preto fundada em 1875 (FRAGA 1968 p140) 78 Von Varnhagen havia dirigido a faacutebrica de ferro de Figueiroacute dos Vinhos em Portugal e foi enviado a Ipanema com a finalidade de projetar a construccedilatildeo de uma grande faacutebrica de ferro que afinal foi construiacuteda por Hedberg (FRAGA 1968 p 71-79)

122

essa dificuldade tambeacutem natildeo foi compreendida por Eschwege79 que estava na

direccedilatildeo de uma outra faacutebrica de ferro em Congonhas do Campo a qual produzia

ferro a partir de um outro mineacuterio a hematita que facilmente pode ser trabalhada

para a produccedilatildeo do ferro80 A partir de 1821 estes fornos altos jaacute estavam em

decadecircncia

Contudo parece que apenas Joseacute Bonifaacutecio de Andrada e Silva quando

esteve examinando as minas de ferro daquele Morro percebeu que

o problema capital de Ipanema liga-se ao mineacuterio de ferro ali

existente ldquoo ferro magneacuteticordquo de difiacutecil fusatildeo embora natildeo

pudesse conhecer ainda a composiccedilatildeo do mesmo (presenccedila de

Titacircnio que como eacute sabido foi descoberto apenas a partir da

segunda metade do seacuteculo XIX) considerando (com base nos

conhecimentos do gecircnero que visitou na Europa) que a soluccedilatildeo

estaria em aumentar a altura dos pequenos fornos (FRAGA 1968

p149)

Em 1878 foi a vez de Joaquim Antonio de Souza Mursa construir um Alto

Forno e quando a Faacutebrica fechou em 1895 este ainda natildeo havia sido utilizado

79 Ludwig von Eschwege depois de ter trabalhado em Portugal o baratildeo de Eschwege seguiu em 1810 para o Brasil a convite do priacutencipe regente D Joatildeo para reanimar a decadente mineraccedilatildeo de ouro e para trabalhar na nascente induacutestria sideruacutergica Em 1821 inicia em Congonhas do Campo Minas Gerais os trabalhos de construccedilatildeo de uma faacutebrica de ferro denominada de Patrioacutetica empreendimento privado sob a forma de sociedade por accedilotildees Em 1811 a siderurgia de Eschwege jaacute produzia em escala industrial Eschwege eacute o autor de Pluto Brasiliensis primeira obra cientiacutefica escrita sobre a geologia brasileira publicada primeiramente na Europa em 1833 (FIGUEIROA 1977 63-67) 80 As hematitas satildeo mineacuterios de ferro constituiacutedos por oacutexido feacuterrico (Fe2O3) contendo ateacute 70 de ferro(Fe) Seu aspecto varia consideravelmente pode se apresentar cristalizado em massas compactas ou em massas terrosas Satildeo utilizadas na produccedilatildeo de ferro sob duas formas principais a) hematita vermelha e b) hematita parda Dados sobre a composiccedilatildeo quiacutemica da hematita fornecidos pela Dra Heacutelegravene Nasson Storch (FRAGA 1968 p149)

123

45 Fatores fisiograacuteficos da ocupaccedilatildeo europeacuteia

A ocupaccedilatildeo das aacutereas interiores da Capitania de Satildeo Vicente no iniacutecio da

colonizaccedilatildeo foi caracterizada particularmente por expediccedilotildees de apresamento de

iacutendios Este movimento pioneiro na ocupaccedilatildeo das aacutereas interiores do continente

e era facilitado pela existecircncia de caminhos indiacutegenas os Peabirus

No caso da ocupaccedilatildeo da regiatildeo onde estaacute localizado o morro de

Araccediloiaba o acesso era facilitado pela presenccedila de importante caminho que ligava

a vila de Satildeo Paulo de Piratininga agraves terras de Guairaacute e regiotildees do Alto Peru

(atual Boliacutevia) Com a descoberta da prata do Potosi intensificaram-se as buscas

de metais nobres inclusive com incentivos da Coroa portuguesa com ajuda de

mineradores preparados para a identificaccedilatildeo de mineacuterios especialmente a prata e

o ouro As expediccedilotildees em busca daquelas riquezas foram estimuladas apoacutes a

chegada de D Francisco de Sousa que ocupou a governadoria Geral do Brasil no

periacuteodo de 1591 a 1601

Foi neste contexto que ocorreram as primeiras tentativas de exploraccedilatildeo do

ferro das minas de Araccediloiaba Dificilmente pode-se precisar a data em que se deu

o encontro do morro de Araccediloiaba pelos europeus mas certamente a sua

descoberta foi facilitada pela presenccedila dos Peabirus

Provavelmente o aspecto estrateacutegico e o encontro de traccedilos de prata junto

ao mineacuterio de ferro de Araccediloiaba tenham sido fatores que levaram D Francisco a

conceder sesmarias e dar iniacutecio ao povoamento colonial da regiatildeo Para tanto

ldquoplantou o pelourinhordquo no interior do Morro tendo como padroeira Nossa Senhora

do Monte Serrat Esta povoaccedilatildeo natildeo prosperou tendo sua populaccedilatildeo se

deslocado em 1611 ndash o mesmo ano da morte de D Francisco de Sousa - para o

Itavuvu local que recebeu a denominaccedilatildeo de Satildeo Felipe Somente mais tarde no

decorrer de 1661 houve a fundaccedilatildeo da Vila de Sorocaba (ALMEIDA 2002 p 11-

20)

124

Apesar da sua localizaccedilatildeo distante cerca de trinta leacuteguas de distacircncia do

litoral e isolada dos mercados consumidores o interesse da exploraccedilatildeo do ferro de

Araccediloiaba se explica pelo valor estrateacutegico desse metal que poderia ser utilizado

como mercadoria contando com mercado certo a proacutepria Capitania de Satildeo

Vicente e a regiatildeo do rio da Prata Por outro lado o ferro era um metal de grande

interesse para a Metroacutepole que contava com pequenas jazidas

Mais tarde jaacute no iniacutecio do seacuteculo XVIII havia um mercado promissor

representado regionalmente pelo avanccedilo da agricultura de cana-de-accediluacutecar e

tambeacutem pela exploraccedilatildeo das minas de ouro de Cuiabaacute e Minas Gerais81 A esse

respeito escreve em 1782 Marcelino Pereira Cleto

Ainda que as minas de ferro e accedilo estatildeo em terras de Sertatildeo e na

distancia de trinta legoas da Marinha com tudo o sitio he haacutebil

para o bom consumo destes gecircneros porqto por Sorocaba he o

caminho para Coritiba Minas de Pernampanema e outras terras

mais distantes da Capitania de Satildeo Paulo por Itu Va proacutexima he

o caminho por onde se dirige todo o negocio que vai para

Cuiabaacute por esta capitania e tambeacutem perto das das minas se

encaminha a estrada de Goiases Se os Negociantes do Cuiabaacute e

Goiases achassem no caminho ou perto delle este dous gecircneros

[ferro e accedilo] ainda pelo mesmo preccedilo qrsquo elles se vendem no Rio

de Janeiro e os de S Paulo o tivessem na sua proacutepria Capitania

certamte natildeo iratildeo busca-los ao Rio de Janeiro com despesa e

risco e bastaria ser seguro este consumo para ser uacutetil cuidar-se

nas das minas

Quanto mais em distancia como de seis leacutegoas das minas

passa o rio Teateacute navegaacutevel de canoa e unicamemte com o

embaraccedilo de algum ou alguns Saltos ou Cachoeiras neste rio

entra um pouco distancia de S Paulo outro chamado dos

Pinheiros neste o rio Grande neste o rio Pequeno qrsquo fica junto agrave

81 No seacuteculo XVIII a agricultura da cana-de-accediluacutecar foi significativa na regiatildeo denominada de ldquoquadrilaacutetero do accediluacutecarrdquo formada pelas localidades de Sorocaba Piracicaba Mogi-Guaccedilu e Jundiaiacute destacando-se duas aacutereas Itu e Campinas Para este tema ver PETRONE Maria Thereza S A lavoura canavieira em Satildeo Paulo Satildeo Paulo Difusatildeo Europeacuteia do livro 1968

125

Serra qrsquo cobre a Va de Santos do rio pequeno a santos seratildeo

sette legoas trecircs por terra maacutes caminho mto aacutespero E as quatro

por hum rio qrsquo em todas as partes admitte navegaccedilatildeo daquelles

rios vecirc-se qrsquo era pequena a distancia em qrsquo se precisava

condusir por terra estes dous gecircneros ateacute ao Porto da Va de

Santos e daqui dar-lhes extraccedilatildeo para mais Portos da Ameacuterica

(CLETO 1899 p p 210)

Embora natildeo haja estudos especiacuteficos sobre o trabalho indiacutegena na

produccedilatildeo do ferro dos empreendimentos metaluacutergicos instalados no morro de

Araccediloiaba os documentos escritos indicam que ateacute meados do seacuteculo XVIII a

produccedilatildeo do ferro em Araccediloiaba foi realizada com o trabalho de indiacutegenas que

eram levados para aquela atividade pelos exploradores 82 Dessa forma

exploraram aquelas minas Afonso Sardinha e Francisco de Souza (seacuteculo XVI e

XVII) Luiz Lopes de Carvalho (seacuteculo XVII) Domingos Pereira Ferreira (seacuteculo

XVIII) e depois a Real Faacutebrica de Ferro de Satildeo Joatildeo do Ipanema Neste uacuteltimo

empreendimento os iacutendios foram trazidos das aldeias de Itapecerica MrsquoBoy

Carapicuiacuteba Barueri e Itapevi Em 1815 trabalhavam nessa faacutebrica 16 iacutendios aleacutem

de escravos africanos Em 1834 a Real Faacutebrica de Ferro comeccedilou a receber

africanos livres em 1837 trabalhavam naquele estabelecimento 121 escravos (68

homens 24 mulheres e 29 crioulos) e 48 africanos livres (30 homens e 18

mulheres)83

Nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XIX o morro de Araccediloiaba passou a

integrar as rotas de muitos naturalistas geoacutegrafos mineralogistas botacircnicos e

geoacutelogos como Von Martius Martim Francisco de Andrada Auguste Saint Hilaire

o Baratildeo Eschewege Theodoro Knecht e Leandro Dupreacute que fizeram daquele

82 Conforme estabelecia a legislaccedilatildeo mineira compilada pelo Coacutedigo Filipino a exploraccedilatildeo de qualquer mineacuterio era realizada com os recursos do proacuteprio descobridor pagando os direitos dos quintos ao eraacuterio reacutegio Cf Ord L 2ordm ndash Tits 26 e 28 par 16 acolhendo a Ord Manuelina do L 2ordm Tt34 e seus paraacutegrafos Ver RODRIGUES (1966 p 182) 83 Sobre o trabalho indiacutegena na Real Faacutebrica de Ferro de Ypanema ver MENON Og A Real Fabrica de Ferro de Satildeo Joatildeo do Ipanema e seu mundo 1811-1835 Dissertaccedilatildeo (mestrado) Satildeo Paulo PUCSP 1992 p 84-90 Sobre o trabalho dos africanos livres em Ipanema ver RODRIGUES Jaime Ferro trabalho e Confliro os Africanos livres na Faacutebrica de Ipenema Historia Social n 45 Campinas IFCH-Unicamp 29-42 199798

126

local um laboratoacuterio a ceacuteu aberto para pesquisas cientiacuteficas aleacutem de terem

deixado dessas experiecircncias relatos preciosos que ajudam a compor aquela

histoacuteria como atesta o relato do naturalista Saint-Hilaire que esteve em Ipanema

em 1819 Diz ele

Encontrei em Ipanema um zoologista o Sr Natterer membro da

comissatildeo cientiacutefica que o imperador da Aacuteustria havia enviado ao

Brasil para recolher amostras de espeacutecimes diversos do pais

Fazia um ano que se achava instalado nas proximidades das

forjas tendo jaacute formado uma vasta coleccedilatildeo de paacutessaros Era

impossiacutevel natildeo admirar a beleza dessa coleccedilatildeo Natildeo se via uma

uacutenica ave cujas penas tivessem sido coladas ou que apresentasse

a menor mancha de sangue

Encontrei tambeacutem em Ipanema um jovem prussiano Sellow

o primeiro naturalista a chegar no Brasil depois de firmada a paz

Tinha feito anteriormente estaacutegio no Jardim Botacircnico de Paris a

fim de aperfeiccediloar os seus conhecimentos e vivia agora de uma

pensatildeo que lhe dava o ilustre e generoso Humboldt o qual fazia

crer ao rapaz que ele estava sendo pago pela administraccedilatildeo do

Jardim Sellow dedicava-se as suas pesquisas com um zelo e

uma energia sem par (SAINT-HILAIRE 1972 p194-195)

127

CAPIacuteTULO 5

INVESTIGACcedilOtildeES ARQUEOLOacuteGICAS AS EVIDENCIAS DE UMA FAacuteBRICA DE FERRO 84

O trabalho da pesquisa arqueoloacutegica se estendeu por um periacuteodo de 8

anos (1983-1989) e ficou registrado em documentos de Diaacuterios de Campo

escritos pela pesquisadora Margarida Davina Andreatta assim como em

correspondecircncias levantamentos topograacuteficos planos de escavaccedilatildeo croquis e

desenhos geomeacutetricos de plantas das ruiacutenas croquis de cortes estratigraacuteficos e

de reconhecimento das escavaccedilotildees Inventaacuterio de Peccedilas e fotografias tudo

devidamente registrado em relatoacuterios da pesquisa arqueoloacutegica (ver Planta Geral

da Aacuterea Anexo 9 e o mapeamento das escavaccedilotildees Anexo 10)

Os artefatos coletados durante as investigaccedilotildees de campo foram

acondicionados em caixas devidamente protegidas e identificadas e guardados

nas dependecircncias do Museu do Centro de Visitantes da FLONA de Ipanema

Por ocasiatildeo da primeira visita realizada no Siacutetio Afonso Sardinha em 09 de

maio de 1983 a pesquisadora observou que as ruiacutenas existentes estavam

cobertas por ldquopequenos arbustos cipoacutes gramiacuteneas deposiccedilatildeo de folhas e raiacutezes

secasrdquo as quais encobriam os blocos de pedra que formariam as paredes de uma

edificaccedilatildeo (ANDREATTA 1983 p7) O siacutetio apresentava sinais de alteraccedilotildees

causadas pela accedilatildeo de erosatildeo pelas aacuteguas da chuva bem como pela accedilatildeo

antroacutepica possivelmente pescadores e caccediladores que usavam aquele local como

acampamentos temporaacuterios para suas atividades observando-se ainda sinais de

frequumlentes incecircndios na mata existente em seu entorno

84 Para acompanhar as discussotildees deste Capiacutetulo consultar o Anexo 9 Planta Geral do Siacutetio Afonso Sardinha

128

Fig 38 LIMPEZA DO SIacuteTIO AFONSO SARDINHA 1984

Fig 39 EQUIPE DE TRABALHO SITIO AFONSO SARDINHA 1988

Para iniciar a pesquisa arqueoloacutegica foi necessaacuterio remover a vegetaccedilatildeo

que recobria as ruiacutenas mencionadas de modo a possibilitar as primeiras

observaccedilotildees e mediccedilotildees das paredes e da aacuterea do seu entorno Desta forma jaacute

no iniacutecio das investigaccedilotildees iniciais em maio de 1983 jaacute haviam sido

129

evidenciados embora ainda natildeo totalmente identificados os espaccedilos

possivelmente destinados agrave produccedilatildeo de ferro e os locais proacuteprios para o

aproveitamento da forccedila motriz hidraacuteulica necessaacuteria agravequelas atividades

51 Estruturas hidraacuteulicas para a produccedilatildeo da forccedila motriz

O trabalho de reconhecimento da aacuterea identificou um conjunto de

estruturas identificadas como pertencente a um sistema hidraacuteulico destinado a

produccedilatildeo da forccedila motriz o qual compreendia diversas partes o canal de

derivaccedilatildeo das aacuteguas (vestiacutegios de canaleta) a vala destinada ao alojamento da

roda hidraacuteulica e o trecho do canal de restituiccedilatildeo das aacuteguas ao ribeiratildeo Tais

dispositivos se localizam em aacuterea externa poreacutem adjacente ao edifiacutecio principal

de produccedilatildeo de ferro

Natildeo foi possiacutevel localizar a estrutura do barramento responsaacutevel pelo

desvio das aacuteguas do ribeiratildeo do Ferro para o canal de derivaccedilatildeo

511 O Canal de Derivaccedilatildeo A existecircncia do canal de derivaccedilatildeo foi evidenciada no ano de 1987 quando

foram realizados os trabalhos de decapagem para escavaccedilatildeo da aacuterea Sul da aacuterea

A (forno externo) conforme registrado no Diaacuterio de Campo no dia 02 de julho de

1987 onde de se indica que ldquoevidenciou uma canaleta que se prolonga para o

interior da ferradura que apareceu apoacutes a limpeza da vegetaccedilatildeo do entorno da

mesmardquo Outra evidecircncia da existecircncia do canal na regiatildeo ao Sul da aacuterea A (forno

externo) foi a constataccedilatildeo da ocorrecircncia de fluxo de aacutegua em direccedilatildeo ao Forno 1

(aacuterea A1) fenocircmeno que se observava toda a vez que chovia Este fato mostra

130

que deveria existir um possiacutevel canal interceptador de aacuteguas de chuvas

direcionando a correnteza em direccedilatildeo ao forno (Anexo 9 e Figura 75)

A evidecircncia encontrada revelava que o Canal de Derivaccedilatildeo havia sido

construiacutedo com a finalidade de obter um aproveitamento da corrente de aacutegua do

ribeiratildeo do Ferro contornando a face sul da edificaccedilatildeo ateacute encontrar o muro da

entrada da vala da roda drsquoaacutegua em um ponto onde o terreno se encontra agrave cota

520m medida pelo levantamento planialtimeacutetrico realizado na aacuterea Sendo assim

esse canal de desvio de aacuteguas deve partir do ribeiratildeo do Ferro numa posiccedilatildeo com

cota evidentemente superior a 520m (Figura 75)

No final do Canal de Derivaccedilatildeo no ponto correspondente a entrada da vala

(aacuterea E) foi encontrada durante as pesquisas uma quantidade significativa de

blocos de rocha arenito de tamanhos regulares amontoados e natildeo-alinhados os

quais testemunhavam que naquele local deveria haver uma estrutura de conexatildeo

entre o canal de derivaccedilatildeo e a vala As dimensotildees desses blocos apresentando

uma certa regularidade de formas satildeo tambeacutem um forte indiacutecio de que eles foram

cortados com a finalidade de proporcionar um entrosamento na construccedilatildeo da

parede (Anexo 13)

As pesquisas mostraram a existecircncia de trecircs grupos de blocos com

dimensotildees regulares As Tabelas abaixo apresentam as dimensotildees observadas

nos blocos de arenito acima mencionados

Tabela 1 Dimensotildees dos blocos de maior dimensatildeo ( em centiacutemetros - cm)

COMPRIMENTO LARGURA ESPESSURA

43 30 18

43 27 15

26 20 16

131

COMPRIMENTO LARGURA ESPESSURA

20 11 8

18 09 9

18 14 6

Tabela 2 Dimensotildees dos blocos de media dimensatildeo ( em centiacutemetros ndash cm)

COMPRIMENTO LARGURA ESPESSURA

10 6 6

10 5 6

11 7 35

Tabela 3 Dimensotildees dos blocos de menor dimensatildeo ( em centiacutemetros ndash cm)

Fig 40 VISTA GERAL DA AacuteREA E 1988

132

512 A Vala da Roda

Nas ruiacutenas encontradas da Faacutebrica de Ferro a existecircncia de estruturas

destinadas a utilizaccedilatildeo da energia hidraacuteulica eacute evidenciada pela presenccedila de

estruturas que caracterizam o controle das aacuteguas Em sequumlecircncia ao Canal de

Derivaccedilatildeo mencionado no item anterior observa-se a existecircncia da vala para o

alojamento da roda drsquoaacutegua indicada na planta baixa (Anexo 9) identificada como

ldquoCanal (D)rdquo conforme registrado no Diaacuterio de Campo da pesquisadora Margarida

Davina Andreatta em maio de 1983

A vala encontrada apresenta 19 metros de comprimento tendo ambas as

paredes cerca de 15 metros de largura e vatildeo livre entre as paredes com cerca de

225 m A uma distacircncia da ordem de 37 metros da margem do ribeiratildeo do Ferro

a parede da lateral direita apresenta um alargamento e por conseguinte ocorre

um estreitamento do vatildeo da vala passando a contar com apenas 1 (um) metro de

largura na saiacuteda

A vala encontrada no Siacutetio Afonso Sardinha apresentava o seu piso com

plano de declividade em direccedilatildeo ao ribeiratildeo do Ferro sendo que na parte mais

alta a cota do piso eacute de 453 m acima do niacutevel do ribeiratildeo enquanto que a

extremidade inferior da vala alcanccedila 041m acima do mesmo niacutevel portanto

mostrando forte inclinaccedilatildeo para facilitar a restituiccedilatildeo da aacutegua ao ribeiratildeo

A posiccedilatildeo do plano de declividade da vala mostra que na extremidade de

saiacuteda do canal formou forte desniacutevel em relaccedilatildeo ao piso da Faacutebrica sendo que no

ponto meacutedio o niacutevel da vala seria igual a 230 m (Figura 41)

133

Fig 41 Dimensotildees da Vala da roda e localizaccedilatildeo das evidecircncias de

esteios

134

Fig 42 VALA DA RODA HIDRAacuteULICA 1987 - I

Fig 43 VALA DA RODA HIDRAacuteULICA 1987 - II

135

5121 Evidecircncias de esteios

Em novembro de 1984 foram evidenciados trecircs pares de esteios nas

laterais externas das paredes da vala permitindo supor que as mesmas

funcionavam como pilares para alguma cobertura sobre a vala (ANDREATTA

1984 p 37)

As evidecircncias de esteios encontrados possuem formas circulares e

quadrangulares tendo os lados medidas semelhantes As evidecircncias localizadas

no lado leste apresentavam respectivamente 040 cm X 040 cm 045 cm X 045

cm e 045 cm X 040 cm Jaacute as evidencias encontradas no lado oeste as medidas

encontradas eram 050 X 055 cm e 050 X 050 cm Aleacutem disso apresentavam

espaccedilamentos semelhantes entre si da ordem de quatro metros e meio

Fig 44 EVIDENCIAS DE ESTEIOS vala da roda 1987

136

Fig 45 DETALHE DOS ESTEIOS

Fig 46 DETALHE DE UM ESTEIO

137

52 A Faacutebrica de Ferro os espaccedilos de produccedilatildeo 521 Area ldquoCrdquo

O relevo do terreno nesta aacuterea mostra irregularidade sendo que na

extremidade sul junto agrave parede limite a superfiacutecie do terreno apresenta uma

parte plana com cota mais elevada tendo sido medido pela topografia o niacutevel

448 enquanto que na porccedilatildeo central aparece um segundo platocirc com cota do

terreno igual a 343 e na extremidade norte junto ao ribeiratildeo do Ferro a cota

medida foi 0 85m ( ver figura 47)

As pesquisas nesta aacuterea ldquoCrdquo foram realizadas agrave partir de novembro de

1986 para a verificaccedilatildeo da estratigrafia com a abertura de 2 trincheiras na

extremidade norte e uma na parte central as quais tiveram as seguintes

caracteriacutesticas geomeacutetricas (comprimento X largura X profundidade) T1 4m X

065m X 080m T2 170m X 070m X 080m T3 140m X 065m X 095m

(ANDREATTA1984 p 5)

O resultado dos estudos estratigraacuteficos e de decapagem mostraram a

existecircncia unicamente de telhas e cravos aleacutem de alguns poucos fragmentos de

ceracircmica

138

Fig 47 ndash Topografia do Terreno da Aacuterea C (Seta indicaccedilatildeo das Trincheiras)

139

Fig 48 Vista Geral da Aacuterea C 1987

522 A Aacuterea B (ldquoForjardquo) Diferentemente do espaccedilo ldquoCrdquo analisado no item anterior a aacuterea

denominada ldquoBrdquo no desenho da planta baixa (anexo 9) apresentou importante

quantidade de materiais arqueoloacutegicos tais como metais liacuteticos ceracircmicas louccedila

e resiacuteduos de fundiccedilatildeo (escoacuterias)

No inicio das exploraccedilotildees do local no decorrer do ano de 1983 foram

observadas evidecircncias de paredes inclusive com amontoados de blocos de

arenito que mostravam possiacuteveis sinais de alteraccedilotildees construtivas

No ano seguinte orientado pela descoberta dos blocos acima

mencionados os quais foram caracterizados como possiacuteveis materiais de

construccedilatildeo a pesquisa arqueoloacutegica foi programada prevendo inicialmente a

140

remoccedilatildeo da vegetaccedilatildeo existente no espaccedilo assinalado ldquoBrdquo seguida da

decapagem do terreno

As pesquisas iniciais permitiram identificar a existecircncia da base de paredes

de uma antiga estrutura A partir desta descoberta foi possiacutevel reconstruir ldquoem

superposiccedilatildeo aos blocos de arenito da parede original da forjardquo 85 Tais blocos de

arenitos conforme foi possiacutevel constatar eram os mesmos materiais de

construccedilatildeo dos setores ldquoCrdquo e ldquoDrdquo

Fig 49 RECONSTITUICcedilAtildeO DAS PAREDES DA AacuteREA B 1984

85 Comunicaccedilatildeo Interna ao CENEA por Margarida Davina Andreatta Iperoacute 05dez1984

141

Fig 50 EVIDENCIAS DAS PAREDES DA AacuteREA B 1984 -

Fig 51 PAREDE DA AacuteREA B RECONSTITUIacuteDA 1984 - I

142

Fig 52 PAREDES DA AacuteREA B RECONSTITUIacuteDA 1984 - II

Durante a realizaccedilatildeo da pesquisa arqueoloacutegica com escavaccedilotildees nesta

aacuterea foi possiacutevel evidenciar a ocorrecircncia de significativa quantidade de peccedilas de

metais (ver Tabela Metais) tais como lacircminas plaquetas e cravos

aparentemente indicando a atividade de transformaccedilatildeo do ferro em peccedilas de

utilitaacuterios Tambeacutem foram encontrados liacuteticos fragmentos de telhas faianccedila de

origem portuguesa e ceracircmicas de produccedilatildeo regional ou local (neo-brasileira)

possivelmente ldquopara fins utilitaacuterios do grupo que habitou o localrdquo 86

86 Relatoacuterio de Atividades Periacuteodo 19-31 maio 1986 p 8

143

Fig 53 DECAPAGEM AacuteREA B 1984

Quanto ao piso arqueoloacutegico da aacuterea ldquoBrdquo observou-se que ele estava

situado entre 10 e 30 cm acima do solo original sendo constituiacutedo ldquode blocos de

arenito de diferentes tamanhos irregulares e cobertos por uma camada de terra

com huacutemus e raiacutezes tronco de aacutervores e a terra eacute latossolo (cor avermelhada) o

mesmo que se encontra entre os blocos de arenito nas paredes parece que

serviu como argamassa para assentar os blocos entre si e levantar a parederdquo

conforme descriccedilatildeo apresentada no Diaacuterio de Campo da pesquisadora Margarida

Davina Andreatta (ANDREATTA 1984 p 42) Notou-se tambeacutem que os blocos e

placas de arenito estavam ldquodispostos horizontalmente de maneira que indicavam

que a superfiacutecie do piso deveria ter sido nivelada com argila a fim de facilitar a

circulaccedilatildeo do homemrdquo (ANDREATTA 1984 p 42)

144

TABELA METAIS

CATEGORIAS NUacuteMERO DE FRAGMENTOS

Cravos 33

Plaquetas 06

Barras de ferro 02

Escoacuterias 03

Mineacuterios 03

ANDREATTA Inventaacuterio de Peccedilas 1983-1987

No interior do local da aacuterea ldquoBrdquo (ldquoforja) foram coletadas duas peccedilas

arqueoloacutegicas compreendendo dois fragmentos de ceracircmica com formato de

vasilhame para cozimento as quais foram encaminhadas para o laboratoacuterio da

FATEC ndash Faculdade de Tecnologia de Satildeo Paulo com o objetivo de obter a

dataccedilatildeo absoluta pelo meacutetodo da termoluminescecircnciardquo Este meacutetodo eacute aplicado

para o caso de materiais que apresentam quartzo em sua composiccedilatildeo tais como

ceracircmica vidros solos louccedilas faianccedilas etc

Uma dessas peccedilas era constituiacuteda de metade de um vasilhame de

pequenas dimensotildees de ceracircmica decorada com a presenccedila de apecircndice (alccedilas)

identificada conforme classificaccedilatildeo arqueoloacutegica como de produccedilatildeo local ou

regional (neo-brasileira) O exame visual dessa peccedila mostra a existecircncia de um

apecircndice (alccedila) que identifica a influencia do europeu na fabricaccedilatildeo daquele

objeto permitindo deduzir que o local teria sido um siacutetio de contato (entre o

indiacutegena e o europeu)

O resultado do ensaio de dataccedilatildeo absoluta dessa peccedila arqueoloacutegica pelo

meacutetodo da termoluminescecircncia apontou a idade de 520 +- 75 anos permitindo

avaliar a data da fabricaccedilatildeo entre 1411 a 1561 conforme Certificado da FATEC

datado de 21 de junho de 2006 (Relatoacuterio de Ensaio ndash Anexo 1) Levando em

conta os dados apresentados pela pesquisa histoacuterica para aquele local pode-se

145

supor que a data mais provaacutevel da fabricaccedilatildeo da peccedila seja em meados do seacuteculo

XVI eacutepoca em jaacute ocorria presenccedila do explorador europeu (Figuras 54 55 56)

Fig 53 VASILHAME CERAcircMICA ndash 0106 - SEacuteCULO XVI -I Idade de 520 +- 75 anos

Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema

Fig 54 VASILHAME CERAcircMICA ndash 0106 - AacuteREA B SEacuteCULO XVI - II

Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema

146

Fig 55 VASILHAME CERAcircMICA ndash 0106 - AacuteREA B SEacuteCULO XVI - III

Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema

Descriccedilatildeo Nuacutemero de Registro 0106

Niacutevel 015 m de profundidade

Laacutebio arredondado

Borda extrovertida inclinada externa

Diacircmetro de boca 014 m

Acircngulo da parede 115ordm

Vasilhame simeacutetrico profundo inflectido de boca ampliada e com

apecircndices lisos em forma de rolete com evidencias de pressatildeo na extremidade

para fixaccedilatildeo

Apresenta as seguintes decoraccedilotildees inciso na posiccedilatildeo vertical com 015m

de comprimento (em grupo de 3 incisos) distanciando cada grupo em 001m

dispostos em duas fileiras sendo a primeira proacutexima al laacutebio e a segunda junto a

altura do apecircndice

147

O bojo eacute liso e a sua base escovada e apresenta marcas de fuligem na

parte externa e sinais de desgaste por atrito na parte interna da base do

vasilhame

O outro vasilhame ceracircmico encontrado na aacuterea B identificada como de

procedecircncia local ou regional (neo-brasileira) apresenta caracteriacutesticas

semelhantes e tambeacutem a mesma dataccedilatildeo do vasilhame de ceracircmica

anteriormente descrito (Figura 57 58) Este artefato foi encontrado a 030 cm da

superfiacutecie e foi em parte reconstituiacutedo e levado para o exame de dataccedilatildeo pelo

processo de termoluminscecircncia ao Laboratoacuterio de Vidros e Dataccedilatildeo da Faculdade

de Tecnologia de Satildeo Paulo - FATEC O resultado do ensaio apontou a idade de

540 +- 75 anos correspondendo a possiacuteveis datas de fabricaccedilatildeo daquele artefato

entre 1391 e 1541 sendo esta uacuteltima data a mais provaacutevel(Relatoacuterio de Ensaio

Anexo 1)

Fig 57 VASILHAME CERAcircMICO ndash 0122 - AacuteREA B SEacuteCULO XVI - I Idade de 540 +- 75 anos

Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema

148

Fig 58 VASILHAME CERAcircMICO ndash 0122 - AacuteREA B SEacuteCULO XVI - II Idade de 540 +- 75 anos

Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema Descriccedilatildeo Nuacutemero de registro 0122

Niacutevel 030 m de profundidade

Tipo de laacutebio arredondado

Tipo de borda extrovertida inclinada externa

Diacircmetro da boca 028m

Acircngulo da parede 110ordm

Fragmento de vasilhame simeacutetrico de contorno inflectido com as seguintes

decoraccedilotildees parede lisa com engobo branco parede externa com banho de

engobo branco com uma linha incisa paralela a 001m do laacutebio Entre esta

primeira decoraccedilatildeo e o bojo haacute decoraccedilatildeo escovada com inclinaccedilatildeo

Na borda haacute ainda um apecircndice convexo com sinais de fixaccedilatildeo e nas

extemidades haacute pressatildeo de fixaccedilatildeo Entre a borda e o bojo apresenta decoraccedilatildeo

regulada contornando o vasilhame O bojo tambeacutem apresenta decoraccedilatildeo

escovada quase horizontal

149

Uma terceira peccedila encontrada no interior da aacuterea ldquoBrdquo eacute uma faianccedila

decorada de origem portuguesa e formada por fragmentos de louccedila de uso

domeacutestico a qual tambeacutem foi submetida a uma dataccedilatildeo relativa mediante

comparaccedilatildeo feita com auxilio de cataacutelogo (Itineraacuterio da Faianccedila do Porto e Gaia

publicaccedilatildeo do Museu Nacional de Soares dos Reis sem data) Os fragmentos

foram localizados em parte no interior da aacuterea ldquoBrdquo e outra parte na aacuterea externa

dessa mesma aacuterea sendo este uacuteltimo junto a um vestiacutegio de estrutura do forno 1

aacuterea A1 (Figura 59)

O exame visual sobre a faianccedila reconstituiacuteda a partir de cinco fragmentos

separados permitiu reconhecer com base no documento acima mencionado que

aquela peccedila era um utensiacutelio portuguecircs de uso domeacutestico a qual pode ser

descrita como ldquotiacutepicas tijelas malegueiras decoradas no fundo e na orla com

filetes concecircntricos azul [] que apresentam temas decorativos recorrentes

dentro das faianccedilas conhecidas para a segunda metade do seacuteculo XVII (GOMES

BOLTELLO p148)

Conforme parecer sobre a mesma faianccedila acima descrita apresentado por

Paulo Dordio arqueoacutelogo pesquisador da Casa do Infante Porto ndash Portugal em

28 de abril de 2004 aquela peccedila de faianccedila apresenta uma ldquodecoraccedilatildeo simples

que exibe com toques de pincel espaccedilados junto ao bordo filetes simples

resultando ciacuterculos concecircntricos e espiral no fundo tudo em azul aponta para

uma cronologia que se centraraacute no seacuteculo XVIIrdquo 87

87 Parecer sobre a faianccedila encontrada no Siacutetio Afonso Sardinha feita por Paulo Dordio arqueoacutelogo pesquisador da Casa do Infante Porto ndash Portugal em 28 abr 2004

150

Fig 59 FAIANCcedilA - AacuteREA B [SEacuteC XVII]

Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema

53 Area E Sul da Faacutebrica de Ferro

A pesquisa arqueoloacutegica realizada na aacuterea E Sul externa da Faacutebrica de

Ferro revelou a existecircncia de amontoados de resiacuteduos de fundiccedilatildeo da magnetita

conhecidos como escoacuteria os quais se distribuem por uma ampla aacuterea do terreno

identificada como escorial sendo que num local adjacente agrave face sul da estrutura

denominada aacuterea ldquoB se apresenta maior concentraccedilatildeo (ver anexo 9)

Uma amostra desse material foi encaminhada para anaacutelise no

Departamento de Mineralogia e Geotectocircnica GMG do Instituto de Geociecircncias

da Universidade de Satildeo Paulo aos cuidados de Daniel Atencio Professor

Associado daquele Departamento o qual constatou ser aquela amostra ldquo[]

provavelmente restos de fundiccedilatildeo Trata-se de wuumlstita (FeO) mais ferro (Fe)

Esses materiais satildeo muito raros como minerais mas comuns em fundiccedilotildeesrdquo88

88 Anaacutelise elaborada por Daniel Atencio Professor Associado do Departamento de Mineralogia e Geotectocircnica GMG IGUSP e enviado por e-mail no dia 21 set 2005

151

Como indica este parecer a amostra se constituiacutea de uma escoacuteria ldquoresto

de fundiccedilatildeordquo contendo wuumlstita (FeO) e ferro caracterizando desta forma o material

do escorial citado

Fig 60 ESCOacuteRIA RESTOS DE FUNDICcedilAtildeO AacuteREA E

Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema

Observe-se que a presenccedila do metal de ferro impregnado nessa escoacuteria

era resultante da teacutecnica de fundiccedilatildeo para fabricaccedilatildeo do ferro empregada no

Brasil ateacute o iniacutecio do seacuteculo XIX Com a introduccedilatildeo do processo de altos-fornos no

Brasil foi possiacutevel melhorar o aproveitamento do mineacuterio de ferro durante o

processo de fundiccedilatildeo

Nesta mesma aacuterea E foi encontrada uma grande quantidade de telhas

localizadas na parte externa das aacutereas ldquoBrdquo e ldquoCrdquo anteriormente descritas Foram

coletadas 930 fragmentos de telhas as quais foram localizadas ao longo de uma

faixa do terreno com largura da ordem de 060 e 080 cm paralelamente a parede

sul das aacutereas ldquoBrdquo e ldquoCrdquo sugerindo corresponder a mesma posiccedilatildeo sob um ldquobeiral

do telheiro que cobria as respectivas aacutereasrdquo (ANDREATTA 1987 p36v) (Anexo

15)

152

As telhas encontradas permitem afirmar que no local havia uma cobertura

sendo que os trabalhos de dataccedilatildeo sobre um exemplar de telha (Figura 61)

executado pelo meacutetodo de termoluminescecircncia pelo Laboratoacuterio de Vidros e

Dataccedilatildeo da Faculdade de Tecnologia de Satildeo Paulo ndash FATEC acusou uma

dataccedilatildeo (em anos) de 280 +- 40 o que equivale a afirmar que aquele fragmento

foi fabricado entre os anos de 1686 a 1766 periacuteodo correspondente a pelo

menos dois projetos de Faacutebrica de Ferro para aquele local o de Luiz Lopes de

Carvalho e o de Domingos Pereira Ferreira sendo que este uacuteltimo empreendedor

esteve ali estabelecido durante um periacuteodo de no miacutenimo 12 anos (Relatoacuterio de

Ensaio Anexo 1)

A partir dos exames dos fragmentos das telhas encontradas tendo por

base o tipo de pasta coloraccedilatildeo e decoraccedilatildeo foi possiacutevel identificar seis grupos

distintos daquele material conforme a tabela de classificaccedilatildeo abaixo

(ANDREATTA 1987 p21)

Classificaccedilatildeo Caracteriacutestica

Tipo I Branca com riscos (podem ter sentido

longitudinal transversal em X ou em cruz) -

Predominante

Tipo II Branca lisa

Tipo III Vermelha lisa

Tipo IV Marron lisa

Tipo V Vermelha marcadas com granulaccedilatildeo grosseira

Tipo VI Vermelha lisa e com granulaccedilatildeo grosseira

(ANDREATTA 1987 p22)

Quanto a decoraccedilatildeo foram identificados quatro tipos de motivos conforme

os itens descritos abaixo

153

Tipo 1 - linhas digitais horizontais formados por duas linhas relativamente finas

(10 cm) paralelas e orientadas de uma extremidade a outra da telha A natureza

dessas linhas indica que foram confeccionadas em alguns casos por meio da

utilizaccedilatildeo de dedos (indicador e meacutedio)

Tipo 2 - linhas digitais associadas neste caso a decoraccedilatildeo eacute composta por uma

uacutenica linha com a largura de 03 a 05 cm traccedilada na posiccedilatildeo horizontal associada

a uma outra decoraccedilatildeo de forma semicircular

Tipo 3 - linhas digitais paralelas e inclinadas a decoraccedilatildeo apresenta linhas de 10

cm inclinadas e entrelaccediladas

Tipo 4 - linhas digitais inclinadas apresentam linhas com 10 a 15 cm

154

Fig 61 TELHA (AacuteREA E) ndash SEacuteCULO XVIII Idade 280 +- 40 (tn 255 cm) Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema

155

Fig 62 TELHA (AacuteREA E) (tn30 cm) Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema

Fig 63 TELHA AacuteREA E (tn 33 cm) Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema

156

531 Fornos de fundiccedilatildeo na aacuterea externa da Faacutebrica (Aacuterea A1) Na aacuterea externa agrave Faacutebrica de Ferro localizada em diversas posiccedilotildees ao sul

e leste da edificaccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro inclusive na aacuterea aqui denominada de

escorial a pesquisa arqueoloacutegica mostrou a existecircncia de pequenos fornos de

fundiccedilatildeo do tipo ldquofornos baixosrdquo (Anexo 9)

Nessa mesma aacuterea junto ao local denominado ldquoArdquo foi identificado um dos

fornos de fundiccedilatildeo o qual foi denominado de ldquoforno1rdquo da aacuterea A1 junto ao qual

foram encontrados diversos materiais arqueoloacutegicos fragmento de ceracircmicas um

material liacutetico identificado como ldquoraspadorrdquo uma garrafa de greacutes fragmentos de

faianccedila portuguesa e telhas As evidecircncias de ceracircmicas encontradas nessa aacuterea

constituem artefatos relacionados ao grupo social de ocupaccedilatildeo colonial

Fig 64 RASPADOR PLANO-CONVEXO AacuteREA E

157

Fig 65 GARRAFA GRES AacuteREA A FORNO-1

Tambeacutem foi localizado um afloramento de rocha nas proximidades da

Faacutebrica margem esquerda do ribeiratildeo do Ferro o qual apresentava marcas de

uso possivelmente para afiar ferramentas (ANDREATTA 1983 p 18)

5311 Forno de Fundiccedilatildeo 1

O Forno 1 era do tipo conhecido como ldquoforno baixordquo sendo o uacutenico

encontrado junto a Faacutebrica de Ferro Entretanto dois outros fornos baixos foram

localizados em um local mais distante (da ordem de 50m) e denominado aacuterea A2

da referida Faacutebrica possivelmente fazendo parte de um outro conjunto de

produccedilatildeo de ferro (Anexo 9)

Os trabalhos de reconhecimento arqueoloacutegico mostraram que o Forno 1

(aacuterea A1) foi construiacutedo sobre uma base retangular com blocos de arenito sendo

158

que duas paredes foram erguidas tambeacutem com blocos de arenito (lados Norte e

Oeste ) enquanto que as duas outras faces foram encaixadas no proacuteprio terreno

rochoso do afloramento de arenito (lados Sul e Leste) aproveitando o relevo

inclinado no local

Uma descriccedilatildeo relacionada ao Forno 1 (aacuterea A1) feita pela pesquisadora e

arqueoacuteloga Margarida Davina Andreatta informa que

uma parte da ldquoconcavidaderdquo (lado Leste) eacute o proacuteprio afloramento

de arenito e o lado Sul tambeacutem enquanto que os lados Norte e

Oeste satildeo revestidos de blocos de arenito e no centro haacute

pequenos blocos tambeacutem de arenito que provavelmente rolaram

da superfiacutecie do proacuteprio muro de pedras da forja (ANDREATTA

1986 p9)

Os dados da pesquisa arqueoloacutegica mostraram ainda que o Forno 1 (aacuterea

A1) apresentava em planta as seguintes dimensotildees comprimento 340m (norte-

sul) largura 260m (leste ndash oeste) e profundidade de 085m (Andreatta 1986

p10)

Fig 66 DECAPAGEM FORNO1 AacuteREA A1 1987

159

Fig 67 VESTIacuteGIOS DO FORNO DE FUNDICcedilAtildeO1- (AacuteREA A1)89

532 Fornos de fundiccedilatildeo da Aacuterea A2 A pesquisa arqueoloacutegica mostrou vestiacutegios de dois outros fornos de

fundiccedilatildeo localizados subjacentes a um morrote denominado B nesta aacuterea A2 a

qual dista cerca de 50 metros ao Sul do local da aacuterea A1 onde existe uma ruiacutena

da Faacutebrica de Ferro O morrote B (ver Figuras 13 e 68) apresentava dimensotildees

de 1280 metros de comprimento por 250m de largura e 135 m altura Aleacutem do

forno de fundiccedilatildeo foram encontrados tijolos telhas e fragmentos de ceracircmica

(ANDREATTA 1987 p65-66) ( Anexo 9)

89 Ver em Pesquisas arqueoloacutegica prosseguem em Ipanema Jornal Cruzeiro do Sul Sorocaba 19 de marccedilo de 1987p 1

160

Fig 68 MORROTE E FORNOS 1 E 2 ndash AREA A2

161

Fig 69 CROQUI AacuteREA A 2 MORROTE B ndash FORNOS 1 E 2 Desenho de Maacutercia Gutierrez Escala 120

162

5321 Forno de fundiccedilatildeo 1 (aacuterea A2) O forno de fundiccedilatildeo 1 da aacuterea A2 caracteriza-se tambeacutem como do tipo

baixo Durante a pesquisa arqueoloacutegica esta evidecircncia se apresentou como o

forno de fundiccedilatildeo mais bem conservado dentre aqueles encontrados Este forno

tem a forma circular com 070 m de diacircmetro interno e 100 m de diacircmetro

externo com 030 m de profundidade A estrutura apresenta na base um vatildeo de

015 m que corresponde agrave abertura atraveacutes da qual se fazia a ldquocorrida das

escoacuteriasrdquo (Figuras 70 e 71)

A parede circular do Forno 1 (aacuterea A2) eacute ldquo assentada diretamente sobre o

solo e eacute constituiacuteda por tijolos e fragmentos de telhas e argamassa com argila do

proacuteprio solo originalrdquo (ANDREATTA 1987 p65-66) Junto ao vatildeo existente no

piso do forno foi feito um pequeno corte (025 m X 025 m X 010 m) para

evidenciar com maior precisatildeo a funccedilatildeo que teria aquela abertura em relaccedilatildeo agrave

estrutura do forno de fundiccedilatildeo

Com base nas investigaccedilotildees arqueoloacutegicas desenvolvidas foi possiacutevel

evidenciar a existecircncia de uma camada de 002 m de ldquosolo compactado e

queimado e com maior resistecircncia em relaccedilatildeo do restante do solo original abaixo

dele e do entornordquo( (ANDREATTA 1987 p65-66) comprovando que de fato

aquela abertura correspondia ao orifiacutecio responsaacutevel pela drenagem das escoacuterias

Esta abertura era comum a todos os fornos de fundiccedilatildeo do tipo forno baixo com

emprego do meacutetodo direto

163

Fig 70 VESTIacuteGIOS DE FORNO DE FUNDICcedilAtildeO 1- AacuteREA A2 1988

164

Fig 71 CROQUI DO FORNO 1 AacuteREA A2 (1987) Desenho de Marcia Gutierrez

165

5322 Forno de fundiccedilatildeo 2 (aacuterea A2)

O vestiacutegio arqueoloacutegico do Forno 2 foi encontrado a 045 m de

profundidade correspondendo a um forno do tipo baixo apresentando forma

circular construiacutedo com a utilizaccedilatildeo de telhas e ldquotijolosrdquo os quais eram materiais

diferentes daqueles encontrados em outras evidecircncias de fornos neste Sitio Esta

constataccedilatildeo denota que natildeo havia uma regra determinada para a construccedilatildeo de

fornos no que se refere agrave utilizaccedilatildeo de materiais de construccedilatildeo podendo haver

alternativas de uso de outros materiais conforme a disponibilidade de materiais

no local (Figuras 72 73 e 74)

Os registros do trabalho arqueoloacutegico permitiram evidenciar que o Forno 2

apresentava as seguintes dimensotildeesldquodiacircmetro de 110 m com uma borda de 28

cm de largura com a presenccedila de fragmentos de telhas tijolos e argamassa

(latossolo vermelho)rdquo ldquoDo interior do forno foram retiradas telhas (fragmentos)

em quantidade e tijolos e barro cozido com grande presenccedila de mineacuterio de ferrordquo

(ANDREATTA 1987 p65-66)

Quanto ao barro cozido (argila) encontrado no interior desse forno teria

sido provavelmente resto de um revestimento interno jaacute que o material do qual

ele foi construiacutedo (telhas e tijolos) estava disposto de forma bastante irregular A

utilizaccedilatildeo da argila como revestimento nos fornos de fundiccedilatildeo era muito comum

dando um efeito refrataacuterio ao forno fazendo com que natildeo fosse desperdiccedilada a

temperatura elevada que era proporcionada pela combustatildeo do carvatildeo vegetal no

interior do forno e necessaacuteria para separar o metal de ferro do mineacuterio no caso a

Magnetita

166

Fig 72 FORNO DE FUNDICcedilAtildeO 2 ndash AacuteREA A2 1988

Fig 73 FORNO DE FUNDICcedilAtildeO 2 ndash AacuteREA A2 1988

167

Fig 74 FORNO DE FUNDICcedilAtildeO 2 ndash AacuteREA A2 1988

168

CAPITULO 6

INTERPRETACcedilOtildeES DOS DADOS ARQUEOLOacuteGICOS

No Capiacutetulo 5 foram apresentados os resultados da pesquisa arqueoloacutegica

desenvolvida no Siacutetio Afonso Sardinha que envolveram trabalhos de

reconhecimento de campo segundo planos de escavaccedilatildeo coleta de artefatos

levantamentos planialtimeacutetricos e elaboraccedilatildeo de croquis tudo devidamente

registrado no Diaacuterio de Campo da arqueoacuteloga Margarida Davina Andreatta

No presente Capiacutetulo apresentam-se os resultados das anaacutelises detalhadas

dos registros arqueoloacutegicos que resultaram da pesquisa de campo e em seguida

interpretadas as informaccedilotildees anteriormente consolidadas com base nos

conhecimentos da Arqueologia Histoacuterica e Histoacuteria da Teacutecnica e da Ciecircncia

Na elaboraccedilatildeo da siacutentese interpretativa foi necessaacuterio em

complementaccedilatildeo valer-se de instrumentos disponiacuteveis em outras aacutereas do

conhecimento tais como Geologia Mineralogia Metalurgia Engenharia Civil

dentre outras aacutereas

Nesta fase dos estudos arqueoloacutegicos foram elaborados exames visuais e

catalograacuteficos visando a dataccedilatildeo relativa inclusive com o envio de imagem para

fins de comprovaccedilatildeo para Paulo Dordio arqueoacutelogo pesquisador da Casa do

Infante Porto ndash Portugal

Tambeacutem encaminhadas trecircs amostras de ceracircmica de utensiacutelios e telhas

as quais foram submetidas a testes de dataccedilatildeo absoluta com base em ensaios

de Termoluminescecircncia pelo Laboratoacuterio de Vidros e Dataccedilatildeo da Faculdade de

Tecnologia de Satildeo Paulo ndash FATEC sob a coordenaccedilatildeo da Professora Doutora

Sonia H Tatumi (Relatoacuterio de Ensaio Anexo 1)

169

Por outro lado amostras de resiacuteduos de fundiccedilatildeo (escoacuterias) foram

submetidas a anaacutelise quiacutemica-mineraloacutegica no laboratoacuterio do Departamento de

Mineralogia e Geotectocircnica ndash GMG Instituto de Geociecircncias da Universidade de

Satildeo Paulo sob a responsabilidade do pesquisador e Professor Associado Daniel

Atencio

61 Avaliaccedilatildeo das caracteriacutesticas do Arranjo das Estruturas Ao analisarmos o conjunto das estruturas arqueoloacutegicas entatildeo

descobertas considerando o contexto relacionado agrave produccedilatildeo do ferro na Europa

entre os seacuteculos XVI ao XVIII e levando em conta os conhecimentos que emanam

da Histoacuteria Colonial do Brasil e da Histoacuteria da Teacutecnica eacute possiacutevel estabelecer

muitas semelhanccedilas entre os arranjos das ldquoferrariacuteas de aacuteguardquo destinadas a

produccedilatildeo de ferro na Espanha (Paiacutes Basco) e os vestiacutegios descobertos no vale

das Furnas (Sitio Arqueoloacutegico Afonso Sardinha)

Um dos aspectos mais importantes que demonstram tal semelhanccedila entre

as ldquoferreriacuteas de aacuteguardquo e a Faacutebrica do Vale das Furnas refere-se agrave localizaccedilatildeo das

estruturas numa posiccedilatildeo de curva do ribeiratildeo do Ferro de onde era possiacutevel

captar e desviar as aacuteguas mediante a construccedilatildeo de um sistema hidraacuteulico

formado pelas seguintes unidades (a) Dique para represamento do ribeiratildeo (b)

Canal de Derivaccedilatildeo para desvio das aacuteguas (c) Estrutura de Vala com alojamento

de roda drsquoaacutegua e (d) Canal de restituiccedilatildeo das aacuteguas para o ribeiratildeo do Ferro

Tambeacutem chamam a atenccedilatildeo a arquitetura da principal estrutura construiacuteda

localizada na aacuterea A1 a qual mostra diversos recintos com a divisatildeo

caracteriacutestica das ldquoferreriacuteasrdquo encontradas na Espanha nos seacuteculos XVI assim

como as dimensotildees da edificaccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro construiacuteda numa aacuterea

retangular com 13m de largura por 16 m de comprimento No caso das ldquoferreriacuteasrdquo

170

bascas as edificaccedilotildees satildeo igualmente retangulares com as dimensotildees de 12 m de

largura por 17 metros de comprimento

Vale tambeacutem mencionar que arranjo semelhante pode ser observado no

caso da edificaccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro que entrou em operaccedilatildeo

em 1607 (ver fig 27)

Observa-se tambeacutem o emprego da alvenaria de pedra - teacutecnica construtiva

introduzida no Brasil pelos primeiros colonizadores como no caso da construccedilatildeo

da Casa da Torre de Garcia DrsquoAvila (ano de 1549) na Praia do Forte atual

municiacutepio de Mata de Satildeo Joatildeo Litoral Norte da Bahia (HOLANDA 2002)

Essa mesma teacutecnica exceto pequenas variaccedilotildees respeitavam as tradiccedilotildees

ibeacutericas tendo sido empregada no Brasil tambeacutem para construccedilotildees de

residecircncias edifiacutecios puacuteblicos igrejas e fortificaccedilotildees principalmente no litoral As

paredes feitas de pedra eram entatildeo revestidas com argamassa de areia e cal

obtido pela queima de cascas de ostras encontradas em depoacutesitos no litoral

Nota-se conforme registros das Atas da Cacircmara da Vila de Satildeo Paulo para o ano

de 1609 que essa mesma teacutecnica que se utilizava da cal como argamassa

tambeacutem foi utilizada na construccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro (1607)

(NEME 1959 p 348)

62 As ldquoferreriacuteasrdquo de aacutegua na Peniacutensula Ibeacuterica

Na Europa e principalmente na Espanha as ldquoferreriacuteas de aguardquo se

expandiram a partir do seacuteculo XIV90 Assim eram chamados os edifiacutecios

destinados ao trabalho de fundiccedilatildeo do ferro que utilizavam a forccedila motriz

hidraacuteulica para acionar os foles dos fornos de fundiccedilatildeo e os malhos

90 Ruta de las Minas y Ferreriacuteas Desde las primitivas instalaciones hasta el siglo XVIII Disponiacutevel em lthttpwwwbizkaianetkulturakirol_gazteriaFTPGazteriapaginadedesplegablesPrimitivas_instalcionespdfgt Acesso em 30 mar 05

171

Essas ldquoferreriacuteas de aacuteguardquo para viabilizar o seu funcionamento exigiam

certas condiccedilotildees fisiograacuteficas cujos componentes essenciais satildeo a presenccedila do

mineacuterio de ferro nas proximidades madeiras para produccedilatildeo de carvatildeo e cursos

drsquoagua com corredeiras e volume de aacuteguas suficientes para a geraccedilatildeo de forccedila

motriz

Hubo dos tipos de ferreriacuteas de agua las que se valiacutean del caudal

de los rios que funcionaban todo el antildeo y las que dependiacutean de

arroyos que no entraban em funcionamiento hasta las

temporadas de otontildeo e invierno cuando la lluviacuteas incrementaban

el caudal de los regatos y la fuerza del agua Estas uacutetimas no

llegaron a ser consideradas como autenticas ferreriacuteas de agua

Em Biskaia se disignaba a las primeras como ldquode rio caudalrdquo y a

las segundas como ldquoregaterasrdquo Tambieacuten em Gipuzkoa se

diferenciaban unas de otras com los nombres de ldquozeharrolakrdquo y

ldquoagorrolakrdquo respectivamente

Para aprovechar la fuerza del agua era imprescidible que la

ferreriacutea estuviesse construiacuteda em el lugar adecuado Debiacutea estar

situada em la curva de um rio em um lugar em el que fuese faacutecil

desviar el agua de su curso natural a traveacutes de um sistema de

canales y anteparas para que despueacutes de hacer rotar la rueda

hidaulica pudiesse volver a su cauce naturalCuando no era

posible conseguir esta situacioacuten se recurriacutea a crear um sistema

artificial de presas que contuviesen el agua em um niacutevel maacutes

elevado de forma que para mover las ruedas hidraacuteulicas bastaba

com dejar caer la aacutegua sobre ellas 91

91 Ruta de las Minas y Ferreriacuteas Desde las primitivas instalaciones hasta el siglo XVIII Disponiacutevel em lthttpwwwbizkaianetkulturakirol_gazteriaFTPGazteriapaginadedesplegablesPrimitivas_instalcionespdfgt

172

Fig 75 ASPECTO DE UMA ldquoFERRERIacuteA DE AGUArdquo SEacuteCULO XVII92

92 Felipe III visita la ferreriacutea de Yarza en Beasain (Guipuacutezcoa) en 02 noviembre de 1615

173

As plantas das ldquoferreriacuteas de aacuteguardquo encontradas na regiatildeo basca da

Espanha obedeciam a um arranjo de planta retangular medindo em meacutedia 12 X

17 metros com cobertura de duas aacuteguas sendo que suas dependecircncias e

instalaccedilotildees geralmente compreendiam duas estruturas baacutesicas para a produccedilatildeo

de ferro o sistema hidraacuteulico ao qual jaacute se fez referecircncia e o edifiacutecio de

produccedilatildeo

A construccedilatildeo desse edifiacutecio principal era executada por construtores

especializados em teacutecnicas de edificaccedilotildees em alvenaria de pedra bem como na

instalaccedilatildeo de sistemas hidraacuteulicos exigindo a participaccedilatildeo de carpinteiros os

quais seriam os responsaacuteveis pela construccedilatildeo da roda drsquoaacutegua dos eixos da caixa

de aacutegua e das estruturas para o telhado 93

Para a operaccedilatildeo das ldquoferreriacuteasrdquo era necessaacuterio contar com pessoal teacutecnico

com conhecimentos tanto em mineraccedilatildeo quanto na fundiccedilatildeo bem como no

manejo dos dispositivos de utilizaccedilatildeo da energia das aacuteguas dos rios atraveacutes do

sistema hidraacuteulico

Este edifiacutecio destinado a produccedilatildeo abrigava diversos compartimentos

sendo o maior deles reservado agrave oficina a qual deveria se localizar ao lado da

Vala onde estava instalada a roda drsquoaacutegua que acionavam os eixos responsaacuteveis

pela movimentaccedilatildeo do malho e foles

O espaccedilo destinado agrave oficina era organizado de modo a levar em conta

duas unidades fundamentais de produccedilatildeo do ferro o forno de fundiccedilatildeo e o malho

A disposiccedilatildeo desses equipamentos no interior da oficina natildeo era aleatoacuteria uma

vez que a teacutecnica empregada para a fabricaccedilatildeo do ferro exigia que aqueles

Disponivel em lthttpwwweuskomediaorgeuskomediaSAunandigt Acesso em 20 marccedilo 2005 93 FERNANDEZA C La construccioacuten del hierro ndashmazos y ferreriacuteas Escuela Universitaacuteria de Arquitectos tecnicos de la Corunatilde Disponiacutevel em wwwguillenderohancomEXPOGRImzos-memoriahtm Acesso em 07mar06

174

equipamentos estivessem posicionados nas proximidades tendo em vista o fato

de os trabalhos serem complementares

Aleacutem da oficina o edifiacutecio principal deveria abrigar depoacutesitos de mateacuteria-

prima como carvatildeo vegetal e mineacuterio de ferro jaacute calcinado (tostado) e uma aacuterea

comum de descanso

Fig 76 SISTEMA DE ldquoPUJOacuteN TUERTOrdquo foles e malho satildeo acionados com o emprego de uma uacutenica roda hidraacuteulica94

94 Ruta de las Minas y Ferreriacuteas Desde las primitivas instalaciones hasta el siglo XVIII Disponivel emhttpwwwbizkaianetKulturaKirol_gazteriaFTPGazteriapaginadedesplegablePrimitivas_instalacionespdf Acesso em 17 novembro de 2006

175

Fig 77 TRABALHO DE EXTRACcedilAtildeO DA MASSA DE FERRO 63 Sistema hidraacuteulico produccedilatildeo da forccedila motriz 631 Dique de represamento do ribeiratildeo do Ferro

As investigaccedilotildees de campo natildeo possibilitaram localizar o Dique de

represamento do ribeiratildeo do Ferro possivelmente em razatildeo da fragilidade dessas

estruturas diante da forccedila das aacuteguas

Entretanto vale registrar o testemunho de Luiz Lopes de Carvalho o qual

em carta dirigida ao Rei de Portugal em maio de 1692 afirmava que

por experiecircncia que fiz pelas minhas matildeos pois fabricando um

Engenho muito limitado por natildeo ter posses que mais tirava todos

os dias este rendimento de um quintal de ferro de duas pedras

176

poreacutem soacute cinco dias continuei nesta oficina em razatildeo de ir uma

cheia e como pela pobreza afabriquei com pouca fortaleza se

arruinou ficando incapaz de poder continuar na faacutebrica95

632 Canal de Derivaccedilatildeo das aacuteguas

As condiccedilotildees de erosatildeo na aacuterea do possiacutevel traccedilado tambeacutem natildeo

permitiram localizar a estrutura do dique responsaacutevel pelo desvio das aacuteguas no

ribeiratildeo do Ferro bem como localizar a comporta responsaacutevel pelo controle do

acesso de aacuteguas em direccedilatildeo ao canal

Deve-se ressaltar que a estrutura do dique eacute necessaacuteria para a elevaccedilatildeo

do niacutevel da aacutegua do ribeiratildeo para o desvio enquanto que a comporta permitiria

regular a vazatildeo em direccedilatildeo ao Canal de Derivaccedilatildeo A aacutegua conduzida atraveacutes do

deste Canal de derivaccedilatildeo impulsionada pela gravidade alcanccedilaria a entrada da

Vala sendo em seguida recolhida em um depoacutesito posicionado sobre aquela

estrutura

A Figura 78 mostra um possiacutevel traccedilado do referido canal sendo que no

desenho o iniacutecio do canal foi posicionado num ponto do ribeiratildeo acima da cota

583m conforme o levantamento planialtimeacutetrico executado na aacuterea do Siacutetio

Arqueoloacutegico Afonso Sardinha96

95 Carta enviada por Luiz Lopes de Carvalho ao Rei de Portugal datada de maio de 1692 RODRIGUES Leda Maria Pereira As minas de ferro em Biraccediloiaba ndash Satildeo Paulo seacuteculos XVI XVII XVIII Anais do III Simpoacutesio dos Professores Universitaacuterios de Histoacuteria Franca 1966 p 218 96 Planta Planialtimeacutetrica Siacutetio Arqueoloacutegico Histoacuterico Afonso Sardinha Escala 1200 CENEA sd

177

Fig 78 TRACcedilADO ESQUEMAacuteTICO DO CANAL DE DERIVACcedilAtildeO

633 Vala da roda A finalidade da estrutura da Vala eacute a de abrigar a roda drsquoaacutegua dispositivo

necessaacuterio para transformar a energia hidraacuteulica em energia mecacircnica para

movimentar os equipamentos e ferramentas da Faacutebrica de Ferro

A Vala da roda foi construiacuteda com paredes de blocos de pedras de modo a

permitir o fluxo da correnteza e ao mesmo tempo proteger o terreno contra as

erosotildees impedindo as infiltraccedilotildees das aacuteguas para o interior das dependecircncias da

Edificaccedilatildeo Principal

O fato de natildeo terem sido encontrados fragmentos de telhas no interior da

Vala quando foram realizadas as pesquisas arqueoloacutegicas parecem indicar que

178

os esteios natildeo serviam para sustentar telhado Por outro lado a Histoacuteria da

Teacutecnica mostra que outras instalaccedilotildees da mesma eacutepoca destinadas a produccedilatildeo

da energia hidraacuteulica tambeacutem natildeo apresentavam telhado na aacuterea da Vala

Sendo assim sobram duas hipoacuteteses para explicar a existecircncia daqueles

esteios A primeira hipoacutetese eacute que tais esteios serviriam para sustentar uma calha

de madeira com uma extensatildeo da ordem de 12 metros responsaacutevel pela

conduccedilatildeo e descarga da aacutegua diretamente sobre as paacutes da roda valendo-se de

um dispositivo denominado empejeiro ou pejador que servia para o controle da

quantidade de aacutegua descarregada sobre a roda (KATINSKY 1985 p 230)

Outra possibilidade eacute que os esteios sustentavam um reservatoacuterio de aacutegua

- o ldquobanzaordquo - responsaacutevel pelo repouso do liacutequido de modo a garantir a sua

descarga controlada sobre as paacutes da roda conforme os projetos comumente

encontrados nas construccedilotildees das ldquoferreriacuteas de aguardquo da regiatildeo Basca - Espanha

(Figura 79)

A laje de pedra do fundo da Vala mostra forte declividade da Vala sendo

que na extremidade superior (coincidente com o ponto de interligaccedilatildeo com o

Canal de Derivaccedilatildeo) a cota eacute igual a 453 enquanto que na extremidade inferior

junto a margem do ribeiratildeo do Ferro a cota do terreno eacute igual a 041 Sendo

assim o desniacutevel total eacute de 412 metros na extensatildeo total da Vala igual a 19

metros ou seja cerca de 20

Outra observaccedilatildeo importante eacute que o niacutevel do fundo da Vala no ponto

meacutedio da sua extensatildeo seria igual a 230 m mostrando nesta posiccedilatildeo desniacutevel de

cerca de 2 metros abaixo do provaacutevel niacutevel da Faacutebrica (cota aproximada 450 m)

revelando a possibilidade de alojamento da roda drsquoaacutegua a partir desta mesma

posiccedilatildeo

O desenho do arranjo do sistema hidraacuteulico encontrado no Sitio Sardinha

mostra semelhanccedilas claras com o arranjo que caracterizam as ferreriacuteas bascas

179

O exame do conjunto das estruturas mostram que a construccedilatildeo tirou partido da

declividade do terreno para aproveitamento da forccedila da gravidade aplicada ao

processo da produccedilatildeo do ferro

634 A Caixa de Aacutegua - ldquoBanzaordquo O ldquobanzaordquo era uma caixa de aacutegua com volume adequado para garantir o

repouso da aacutegua instalado acima do niacutevel da Vala em uma posiccedilatildeo diretamente

sobre a roda A instalaccedilatildeo dessas caixas tinha por objetivo garantir uma altura da

queda drsquoaacutegua necessaacuteria para impulsionar a roda e ao mesmo tempo armazenar

um volume de aacutegua adequado para direcionar o jato diretamente sobre as paacutes

da roda com uma pressatildeo constante de modo a resultar o movimento uniforme

para a rotaccedilatildeo da roda

Os rdquobanzaosrdquo mais ruacutesticos e antigos eram feitos de madeira material que

criava vaacuterios problemas de manutenccedilatildeo fato que levou agrave substituiccedilatildeo desse

material a partir do seacuteculo XVIII por alvenaria de pedra

O acionamento da roda se dava por meio de uma espeacutecie de vara

localizada no interior da Faacutebrica a qual permitia regular a quantidade de aacutegua

descarregada sobre a roda Elena Faus descreve esse funcionamento da

seguinte forma

El paso del aacutegua a la rueda se abre o cierra por meacutedio de

tanpones o ldquochimbosrdquo Cuando los operaacuterios los abren salta y

golpea directamente las palas de la rueda instalada debajo

provocando su giro Con el fin de evitar peacuterdidas de liacutequido y

maximizar su rendimiento se antildeade un canal ldquoguzur-askardquo que lo

conduce directamente sobre la rueda Posteriormente se evacua

por un aliviadero la ldquoonda-askardquo (FAUS 2000 p 63)

180

Contudo mesmo apostando na hipoacutetese de que haveria um ldquobanzaordquo

acima da Vala encontrada torna-se difiacutecil estabelecer a sua dimensatildeo e volume

Mas as evidecircncias encontradas sugerem que esta caixa de aacutegua deveria ter no

maacuteximo 12 metros de comprimento (medidos a partir do inicio do canal ateacute o

uacuteltimo vestiacutegio de esteio) por aproximadamente 225 m (largura da vala)

restando indefinida a medida da altura da caixa

Fig 79 SOLUCcedilAtildeO EM ldquoBANZAOrdquo DE MADEIRA ndash DEPOacuteSITO DE AacuteGUA97

97 LAS FERRERIacuteAS DE AGUA DE ASTURIAS Disponivel em ltwwwbelmontedemirandanetfraguaindexhtmgt Acesso em 20jun05

181

635 A roda hidraacuteulica

Em 1983 quando foram iniciadas as pesquisas arqueoloacutegicas no Siacutetio

Afonso Sardinha a Vala destinada agrave instalaccedilatildeo da roda drsquoaacutegua jaacute havia sido

identificada Contudo eacute somente em 1986 que as pesquisas se concentraram na

aacuterea daquela Vala Graccedilas ao fato de esta estrutura ter permanecido enterrada a

mesma ficou preservada possibilitando avaliar a sua funccedilatildeo e o fato de que o

local deveria ter sido destinado agrave instalaccedilatildeo de uma roda hidraacuteulica vertical com

eixo horizontal (Figura 79)

A utilizaccedilatildeo da roda drsquoaacutegua para os trabalhos metaluacutergicos natildeo era

novidade para os empreendimentos dessa natureza pois a teacutecnica aplicada para

a construccedilatildeo desse tipo de Faacutebrica jaacute era bastante difundida entre os artesatildeos da

Idade Meacutedia os quais buscaram adaptar as ferramentas utilizadas no trabalho da

produccedilatildeo de ferro (por exemplo foles e malhos) de modo a permitir a sua

movimentaccedilatildeo atraveacutes da forccedila obtida das rodas drsquoaacutegua

Em 1104 os ldquomoinhos para bater o ferrordquo jaacute eram encontrados nos Pirineus

espanhoacuteis Gille os descreve da seguinte forma

as forjas que anteriormente eram acionadas a braccedilos e que

itinerantes deslocavam-se agrave procura dos fornos-baixos a

procura de mateacuteria prima e do combustiacutevel a partir de entatildeo se

estabelecem permanentemente ao longo dos rios (GILLE Apud

GAMA 1985 p 133)

Entre os seacuteculos XIV e XV surgiram no paiacutes basco adaptaccedilotildees da roda

hidraacuteulica para acionar os ldquosoprantesrdquo - os foles - (instrumentos utilizados para

insuflar oxigecircnio para dentro dos fornos) possibilitando intensificar a combustatildeo

do carvatildeo vegetal de modo a elevar a temperatura no interior do forno No paiacutes

basco o martelo hidraacuteulico jaacute havia sido incorporado agravequela atividade desde o

seacuteculo XV em Gipuzkoa e desde o seacuteculo XVI em Biskaia ambas localizadas na

182

regiatildeo basca Em 1531 operavam em ambas as regiotildees cerca de 200

estabelecimentos utilizando essa teacutecnica (FAUS 2000 p 60)

Fig 80 ldquoLOCALIZACcedilAtildeOrdquo DO MALHO E DA RODA HIDRAUacuteLICA (INTERPRETACcedilAtildeO) (Desenho Agnaldo Zequini)

183

6 4 A Faacutebrica de Ferro os espaccedilos de produccedilatildeo

O local onde se encontra instalada a Faacutebrica de Ferro do Sitio Arqueoloacutegico

Afonso Sardinha oferece todas as condiccedilotildees fisiograacuteficas favoraacuteveis para a

instalaccedilatildeo daquele empreendimento De fato o conjunto se encontra

praticamente na aacuterea das jazidas de mineacuterios de ferro junto a um ribeiratildeo com

quantidade de aacuteguas satisfatoacuterias para o caso de produccedilatildeo do ferro relativamente

pequena como deveria ser o caso da instalaccedilatildeo existente no morro de Araccediloiaba

Outro fator decisivo para a produccedilatildeo de ferro era a presenccedila de matas com

abundacircncia de madeiras A esse respeito segundo uma descriccedilatildeo do Vale das

Furnas apresentada no decorrer de 1692 por Luiz Lopes de Carvalho (um dos

que investiram na construccedilatildeo de Faacutebrica de Ferro naquele local) o mesmo

lastimava o fato de ter que reduzir os ldquodensos arvoredos em que se achatildeo paos

Reais e madeirasrdquo em carvatildeo o uacutenico combustiacutevel utilizado nos processos de

fundiccedilatildeo de ferro (RODRIGUES 1963 p 203)

O mesmo Luiz Lopes de Carvalho testemunhava naquele mesmo ano que

aquele morro estava coberto ldquode mineral de ferro de meuda aacuterea athe pedras de

des a Robas e mui dilatadas betas [veios] Profundas Largas e Compridasrdquo

esclarecendo que o mineacuterio ao ser submetido ao processo de reduccedilatildeo tinha um

rendimento de dois para um ldquoa cada douz quintais de pedra se tira hum de ferrordquo

(RODRIGUES 1966 p 204)

641 A Oficina da Faacutebrica de Ferro

A planta da Faacutebrica de Ferro encontrada com dimensotildees de 13m X 16m

permite identificar as provaacuteveis posiccedilotildees de cada uma das unidades de produccedilatildeo

184

necessaacuterias agrave fabricaccedilatildeo do ferro quais sejam o espaccedilo destinado a oficina e a

forja

No caso da construccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro do Sitio Afonso Sardinha eacute

possiacutevel identificar a aacuterea destinada a oficina onde deveriam ficar instalados os

equipamentos do forno de fundiccedilatildeo e foles e do malho Nessa planta a aacuterea estaacute

identificada pelas letras C e F (Anexo 9)

Fig81 FAacuteBRICA DE FERRO DO SITIO AFONSO SARDINHA ARRANJO DOS EQUIPAMENTOS (Interpretaccedilatildeo) (Desenho Agnaldo Zequini)

185

Fig 82 FAacuteBRICA DE FERRO PLANTA BAIXA (Interpretaccedilatildeo) (Desenho Agnaldo Zequini)

Contudo entre os anos de 1986-1987 quando foram aprofundadas

as pesquisas arqueoloacutegicas naquelas aacutereas por meio de decapagem e abertura

de trincheiras natildeo foram encontrados vestiacutegios materiais que permitissem

identificar os locais dentro da oficina onde estariam instalados os fornos e o

malho como tambeacutem nenhum resiacuteduo testemunho da produccedilatildeo de ferro

Diante dessa constataccedilatildeo podemos levantar pelo menos duas hipoacuteteses

de interpretaccedilatildeo Uma delas estaacute relacionada agrave proacutepria natureza daquele siacutetio o

qual ao longo dos seacuteculos sofreu vaacuterias intervenccedilotildees antroacutepicas que poderiam

186

provocar algumas perturbaccedilotildees no registro arqueoloacutegico colaborando dessa

forma para o desaparecimento das evidecircncias

A segunda hipoacutetese decorre do fato de que os exames das condiccedilotildees de

superfiacutecie do terreno na parte da edificaccedilatildeo identificada como ldquoCrdquo (Oficina)

apresentam indiacutecios de antigas erosotildees decorrentes da presenccedila do ribeiratildeo do

Ferro Tal interpretaccedilatildeo permitia concluir que as enchentes do ribeiratildeo do Ferro

seriam responsaacuteveis pela pequena quantidade de artefatos arqueoloacutegicos

naquela aacuterea (Figura 81)

A figura abaixo apresenta um corte do terreno na provaacutevel aacuterea da Oficina

mostrando irregularidade na superfiacutecie do piso possivelmente decorrente de

erosotildees junto a margem do ribeiratildeo do Ferro provocadas pelas enchentes

187

Fig 83 INDICACcedilAtildeO DA POSSIacuteVEL AacuteREA ERODIDA PELAS ENCHENTES ndash AREA C ndash (Interpretaccedilatildeo) (Desenho Agnaldo Zequini)

188

6411 O Malho O malho era um instrumento imprescindiacutevel para o processo de produccedilatildeo

do ferro pelo denominado meacutetodo direto Essa ferramenta possuiacutea um longo

braccedilo de madeira que media cerca de trecircs a quatro metros de comprimento e

funcionava como alavanca com apoio intermediaacuterio Uma das extremidades do

braccedilo dessa alavanca funcionava como um martelo e apresentava na

extremidade uma cabeccedila de ferro ndash o malho ndash que dava o nome ao equipamento

Em outra extremidade havia um dispositivo que permitia transformar o movimento

de rotaccedilatildeo da roda em deslocamento vertical oscilante do braccedilo permitindo

assim que o malho golpeasse a ldquobola de ferrordquo que ficava apoiada em uma

bigorna

Ao golpear a ldquobola de ferrordquo denominaccedilatildeo dada ao produto retirado do

interior do forno de fundiccedilatildeo esta operaccedilatildeo perseguia trecircs objetivos importantes

eliminar as escoacuterias que ainda permaneciam aderidas a bola de ferro compactar

aquela massa e finalmente dar forma de barra ou lingote que era o produto final

para a comercializaccedilatildeo

A operaccedilatildeo desse martelo com funcionamento hidraacuteulico eacute descrito em um

texto informativo publicado pela Universidade de Oviedo-Espanha sem menccedilatildeo

de autor e ano de publicaccedilatildeo

La rueda hidraulica movida por el impulso del agua le comunica al

eje o aacuterbol un movimiento rotatoacuterio de este agraverbol sobresalen unos

dientes a modo de levas concretamente cuatro situados a 90ordm los

manobreiros quem en su giro percuten sobre el extremo del

mango del martillo la dendala en su movimiento oscilante el

yunque o incre esta golpeo se repite cuatro veces por cada giro

completa de la rueda 98

98 Ingenios hidraulicos histoacutericos molinos batanes y ferreriacuteas Universidad de Oviedo ndashEspana Disponiacutevel e em lthttpwww1unioviesasturiasferreriasgt Acesso em 17 jun 04

189

O movimento do malho era produzido mediante a transmissatildeo de forccedila

originada atraveacutes do eixo de uma roda hidraacuteulica especifica para esta tarefa Um

segundo tipo de sistema de acionamento utilizava uma uacutenica roda hidrauacutelica para

movimentaccedilatildeo do braccedilo do malho e ao mesmo tempo pelo acionamento dos

foles Este uacuteltimo sistema era conhecido como ldquopujoacuten tuertordquo e era o sistema mais

comumente empregado nas ferrariacuteas bascas99

No Brasil a utilizaccedilatildeo dessa ferramenta para a produccedilatildeo de ferro eacute

encontrada em documentos relacionados agrave construccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro de

Santo Amaro no iniacutecio do seacuteculo XVII Em 1605 para instalaccedilatildeo dessa Faacutebrica

foram entregues pela Administraccedilatildeo Espanhola agrave Diogo de Quadros ldquo2 malhos

que podiam pesar pouco mais ou menos entre ambos 3 quintais mais duas

argolas grandes da mesma ferramentardquo (RODRIGUES 1963 p 190)

Possivelmente foi entregue a Diogo de Quadros apenas a ldquocabeccedila de ferrordquo

(o malho propriamente dito) enquanto que as demais peccedilas da estrutura pelo

fato de serem confeccionadas inteiramente com madeira poderia ter sido

fabricada no Brasil

No caso da Faacutebrica de Ferro do Siacutetio Afonso Sardinha dispotildeem-se apenas

de documentos escritos que registram a presenccedila desse equipamento conforme

a carta escrita no ano de 1768 por D Luiz Antonio de Souza Governador da

Capitania de Satildeo Paulo dirigida ao Conde de Oeiras atraveacutes da qual apresenta

informaccedilotildees sobre a Faacutebrica de Ferro que havia sido construiacuteda por Domingos

Pereira Ferreira e seus soacutecios

Nesse documento D Luiz afirmava que aquele empreendimento era uma

das atividades que estava dando maior preocupaccedilatildeo em sua gestatildeo explicando

que

99 Binganaria no sistema de pujoacuten tuerto a Binganaria corresponde agrave viga de transmissatildeo entre a roda hidraacuteulica e os foles

190

se tem trabalhado desde aquele tempo [1760] ateacute o presente

em grandes dispecircndios dos acionistas em fazer fornos

grandes e pequenos por diferentes modos safras [bigorna

de ferreiro] martelos malhos rodas e engenhos para os

mover e tudo o necessaacuterio (RODRIGUES 1966 p 190)

Uma outra notiacutecia relacionada a essa mesma Faacutebrica ficou registrada em

outra documentaccedilatildeo datada de 1770 atraveacutes da qual Jacinto Joseacute de Abreu um

dos soacutecios de Domingos Pereira Ferreira dava conta de que o andamento dos

trabalhos lhe estava causando o ldquomaior desgostordquo pelo fato de ter quebrado o

malho ldquoque tanto dispecircndio e trabalho custourdquo A reclamaccedilatildeo expressada por

Jacinto Joseacute de Abreu pode ser compreendida natildeo somente pelo prejuiacutezo

financeiro decorrente da perda direta da peccedila como tambeacutem pelo prejuiacutezo

decorrente da consequumlente paralisaccedilatildeo da produccedilatildeo do ferro

6412 ndash O Forno de Fundiccedilatildeo e Foles As pesquisas arqueoloacutegicas no Siacutetio Afonso Sardinha natildeo lograram

identificar vestiacutegios materiais de fornos de fundiccedilatildeo no interior da aacuterea

reconhecida como sendo a Oficina da Faacutebrica Tendo em vista o arranjo e a

extensatildeo do espaccedilo levantado pelas pesquisas de campo bem como as teacutecnicas

de fundiccedilatildeo de ferro disponiacuteveis de acordo com os estudos da histoacuteria da teacutecnica

para o periacuteodo que interessa ao presente trabalho entendemos que eacute correto

afirmar que o forno de fundiccedilatildeo ali empregado deveria ser do tipo ldquoforno baixordquo

De qualquer forma natildeo eacute possiacutevel afirmar que o meacutetodo de fundiccedilatildeo

utilizado no interior da Faacutebrica de Ferro corresponda ao que eacute conhecido como

ldquomeacutetodo catalatildeordquo ou ldquoforno catalatildeordquo uma vez que as pesquisas arqueoloacutegicas e

tambeacutem as documentais natildeo conseguiram encontrar qualquer dado a respeito do

modelo do forno de fundiccedilatildeo ali utilizado nem qualquer informaccedilatildeo a respeito do

processo de extraccedilatildeo do ferro na operaccedilatildeo de fundiccedilatildeo

191

De fato o forno catalatildeo se diferenciava dos demais fornos baixo por

apresentar uma forma que lembrava o de uma piracircmide invertida com trecircs

paredes planas e uma convexa confeccionadas com pedras refrataacuterias

(GARCIA sd p7) O que tambeacutem caracterizava o forno catalatildeo era o

procedimento de colocaccedilatildeo do carvatildeo e do mineacuterio no interior do forno para

extraccedilatildeo do metal Pere Molera I Sola (1982 p 208) ao analisar o procedimento

direto de obtenccedilatildeo do ferro pelo meacutetodo catalatildeo assinala que este meacutetodo

apresentava a peculiaridade de empregar a teacutecnica de ldquotrompa de aacuteguardquo para

promover a injeccedilatildeo do ar para dentro do forno Entretanto alguns fornos

reconhecidos como do tipo catalatildeo tambeacutem empregavam a teacutecnica de foles

movidos por roda drsquoaacutegua com aquele objetivo

O mesmo autor esclarece que o forno catalatildeo era

sin duda elemento maacutes importante consistia en una cavidad de

forma trocopiramidal invertida cuyas dimensiones de la base

mayor estaban en torno a los 60 por 50 cm La altura era de unos

80 cm Dentro de la nave industrial el horno estaba situado junto

a una pared principal denominada lsquopiec del focrsquo (pie del fuego)

todas las paredes del horno presentaban superficies planas

menos lsquolrsquoore o contraventrsquo (contraviento) que para facilitar la

extraccioacuten del producto reducido ofreciacutea una superficie convexa

y estaban parcialmente recubiertas con planchas de acero La

pared del horno adosada al lsquopiec del focrsquo y opuesta a lsquolrsquoorersquo se

denominaba lsquoles porguesrsquo (las cribas) y estaba atravesada por la

tobera que inyectaba aire al horno Entre ambas las paredes

estaba el lsquolleteirolrsquo (rebosadero) pared agujereada para faciclitar

la eliminacioacuten de la escoria liquida frente a la cual se encontraba

la lsquocavarsquo pared de piedra sin revistir y ligeramente inclinada

(SOLA 1982 p 208-209)

A operaccedilatildeo de fundiccedilatildeo eacute descrita pelo mesmo autor conforme segue

192

La operacioacuten de reduccioacuten de la mena concentrada se iniciaba

cubriendo el fono del horno con polvo de carboacuten vegetal Se le

prendia fuego Una vez caliente el horno se antildeadia una capa de

trozos de caroacuten de mayor tamantildeo E inmediatamente se

superponia una plancha de acero en al centro del horno paralela

a las lsquoporguesrsquo Ello permitiacutea situar una capa vertical de carboacuten en

al lado de la tobera y una capa de mineral al otro lado de la

plancha Se quitaba luego la plancha y se cubriacutea la parte superior

del mineral con una capa de pequentildeos trozos de carboacuten huacutemedo

y escorias al objeto de que la superficie externa quedase de

forma esfeacuterica y concentrase las llamas Se insuflaba aire por las

toberas y a la hora y media se alcanzaban ya temperaturas

superiores o los 1200 grados C Durante tres o cuatro horas

consecutivas se iba antildeadiendo mineral y carboacuten al tiempo que

por el ldquolletirolrdquo se eliminaba la escoria liquida Si la escoria era

densa lo que evidenciaba un alto contenido en hierro se volviacutea a

introducir en el horno La operacioacuten terminaba cuando en el fondo

del horno se formaba una bola irregular de unos 100 kilogramos

de peso de hierro o acero dulce con inclusiones de escoria y

poros el lsquomasserrsquo (zamarra) En se momento empezaba la

operacioacuten maacutes espectacular de la fraga la saca el lsquomasserrsquo del

horno y transportarlo hasta el martinete lo que requeriacutea el

concurso de todo el personalrdquo (SOLA 1982 p 211-212)

193

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

1- A partir das evidecircncias arqueoloacutegicas levantadas pela pesquisadora Margarida

Davina Andreatta no Siacutetio Afonso Sardinha foram elaboradas anaacutelises e em

seguida as interpretaccedilotildees com base nos conhecimentos da Arqueologia Histoacuterica

e da Histoacuteria da Teacutecnica relacionadas a produccedilatildeo de ferro Tais estudos

permitiram comprovar que aquela aacuterea arqueoloacutegica corresponde a um campo de

exploraccedilatildeo e produccedilatildeo de ferro desde a segunda metade do seacuteculo XVI

2- As ruiacutenas da edificaccedilatildeo principal identificadas como ldquoBrdquo (Forja) e ldquoCrdquo (Oficina)

tratam-se de aacutereas de produccedilatildeo de uma Faacutebrica de Ferro O espaccedilo identificado

como ldquoDrdquo corresponde a uma vala de acomodaccedilatildeo da roda drsquoaacutegua responsaacutevel

pela produccedilatildeo da forccedila de origem hidraacuteulica necessaacuteria para movimentar os

equipamentos e ferramentas da fabricaccedilatildeo ( Anexo 9)

3- Os exames das condiccedilotildees de superfiacutecie do terreno na parte da edificaccedilatildeo

identificada como ldquoCrdquo (Oficina) apresentam indiacutecios de antigas erosotildees

decorrentes da presenccedila do ribeiratildeo do Ferro sendo que esta interpretaccedilatildeo

permite concluir que os fenocircmenos apontados foram os responsaacuteveis pela

ausecircncia de artefatos arqueoloacutegicos naquela aacuterea

4- Os exames dos vestiacutegios dos fornos de fundiccedilatildeo encontrados nas aacutereas A e

A2-B externa do edifiacutecio principal da fabricaccedilatildeo de ferro indicam que satildeo do tipo

baixo provavelmente insulflados a fole de matildeo natildeo sendo possiacutevel afirmar que

seriam fornos do tipo catalatildeo

5- As ruiacutenas da Faacutebrica de Ferro indicam que as mesmas tratam de instalaccedilotildees

de modelo de produccedilatildeo industrial inclusive com divisatildeo de tarefas em aacutereas

distintas uso de energia hidraacuteulica transformada em forccedila mecacircnica para

194

movimentaccedilatildeo das ferramentas e para insuflaccedilatildeo do ar para queima do carvatildeo

nos fornos de fundiccedilatildeo

6- As dataccedilotildees absolutas e tambeacutem as relativas realizadas indicaram que naquele

local houve uma sobreposiccedilatildeo de distintos empreendimentos para a produccedilatildeo do

ferro desde o final do seacuteculo XVI e ao longo do seacuteculo XVIII

7- A causa mais provaacutevel do insucesso econocircmico de todas as tentativas de

produccedilatildeo de ferro em Araccediloiaba se relaciona a mineralogia da magnetita e

associaccedilotildees com outras substancias minerais as quais eram nocivas agrave qualidade

do produto metaluacutergico Neste caso vale ressaltar a presenccedila prejudicial

principalmente do titacircnio e do foacutesforo cujas presenccedilas eram desconhecidas pelos

exploradores

8- A planta da edificaccedilatildeo principal (aacutereas ldquoBrdquo ldquoCrdquo e ldquoDrdquo e ldquoFrdquo) evidenciada se

ajusta aos arranjos de espaccedilo produtivo de ferro tiacutepicos de modelos encontrados

naquele mesmo periacuteodo nas aacutereas de mineraccedilatildeo da Peniacutensula Ibeacuterica

notadamente aquele desenvolvido na regiatildeo basca (Anexo 9)

195

BIBLIOGRAFIA E ARQUIVOS PESQUISADOS

ARQUIVOS Arquivo da Cidade de Satildeo Paulo Arquivo do Estado de Satildeo Paulo Arquivo do Museu Histoacuterico Sorocabano Arquivo Municipal da Cidade de Itu Documentaccedilatildeo do Museu Paulista -USP Instituto de Estudos Brasileiros ndash USP Museu Republicano Convenccedilatildeo de ItuMPUSP Projeto Arqueologia Histoacuterica ndash Museu Paulista USP Todas as fotografias croquis e plantas relacionadas a pesquisa arqueoloacutegica realizada no Siacutetio Afonso Sardinha entre os anos de 1983-1989 e que estatildeo inseridas nesta tese foram reproduzidas a partir deste acervo BIBLIOGRAFIA ABSAacuteBER Aziz Nacib Morro de Ipanema conhecimentos Scientific American Brasil Ediccedilatildeo Nordm 52 - setembro de 2006 Disponiacutevel em lthttpwww2uolcombrsciamconteudoeditorialeditorial_36Htmlgt Acesso em 14mar06 ARAUJO M Alves Faacutebrica de Ferro de Satildeo Joatildeo de Ipanema Auxiliador da Industria Nacional n50 Rio de Janeiro1882 ABREU Joatildeo Capistrano de Capiacutetulos de histoacuteria colonial (1500-1800) amp Os caminhos antigos e o povoamento do Brasil Brasiacutelia Editocircra Universidade de Brasiacutelia 1963 ALBUQUERQUE Gislene Batista RODRIGUES Ricardo Ribeiro A vegetaccedilatildeo do Morro de Araccediloiaba Floresta Nacional de Ipanema (SP) Scientia Florestalis n58 p 145-159 dez 2000 Disponiacutevel em lt wwwipefbrpublicacoesscientianr58cap11pdfgt

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GLOSSAacuteRIO

Banzao de madeira BANZAO Denominaccedilatildeo que era dada na regiatildeo basca ndash Espanha para depoacutesitos de aacutegua que eram instalados sobre as rodas drsquoaacutegua e de onde era despejado jato de aacutegua sobre as paacutes daquela roda fazendo-a girar Na estrutura identificada por essa pesquisa as evidencias pressupotildee a utilizaccedilatildeo desse equipamento

BIGORNA Ferramenta feito por um bloco de pedra ou metal utilizado como suporte para martelar sobre o ferro

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CABECcedilA DE MALHO Peccedila metaacutelica que eacute afixada em uma das extremidades da ferramenta que leva esse nome

ESCOacuteRIA ldquorestos de fundiccedilatildeordquo um sub-produto da fundiccedilatildeo de mineacuterio para purificar metais No caso das teacutecnicas de fundiccedilatildeo utilizadas ateacute o seacuteculo XIX no Brasil as escoacuterias produzidas apoacutes o processo de fundiccedilatildeo apresentavam uma grande quantidade de ferro (metal) em sua composiccedilatildeo O que vale dizer que os fornos utilizados para aquela atividades natildeo alcanccedilavam as temperaturas acima de para proporcionar maior aproveitamento do mineacuterio empregado

Ferreriacutea de Bolunburu es un conjunto ferro molinero que desde el siglo XVII

FERRERIacuteA Edifico que abrigava as ferramentas e equipamentos para a produccedilatildeo do ferro O sistema de produccedilatildeo empregado nas ferrariacuteas denominado de meacutetodo direto de produccedilatildeo consistia em ldquocozinharrdquo o mineacuterio de ferro em fornos baixo usando como combustiacutevel o carvatildeo vegetal Apoacutes ldquocozidordquo o ferro se transformava em uma esponja de ferro que era levada para ser trabalhada sobre

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uma bigorna e golpeada pelo malho Este trabalho servia para compactar a massa liberar as escoacuterias e dar forma FERRO O ferro (do latim ferrum) eacute um elemento quiacutemico siacutembolo Fe de nuacutemero atocircmico 26

Foles acionados por forccedila humana seacuteculo XVI FOLES Equipamento utilizado para insuflar ar para dentro do forno promovendo assim a combustatildeo do carvatildeo Podiam ser acionados manualmente ou por utilizaccedilatildeo de roda drsquoaacutegua

Forno baixo com a utilizaccedilatildeo de fole manual FORNO BAIXO Espaccedilo normalmente de pequenas dimensotildees onde se realizava a reduccedilatildeo (extraccedilatildeo do metal ndashferro ndash do mineacuterio) e de Havia vaacuterias denominaccedilotildees para esse tipo de forno como fornos de vento fornos castelhanos fornos catalatildees forno de manga etc Estes fornos dada a sua dimensatildeo e os instrumentos de insuflaccedilatildeo do ar utilizado natildeo permitiam a fundiccedilatildeo do mineacuterio Nos fornos baixos acima referidos a disposiccedilatildeo do carvatildeo vegetal e dos pedaccedilos de mineacuterios no interior do forno eram feitos em camadas superpostas e horizontais

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Forno Catalatildeo e Trompa Hidrauacutelica FORNO CATALAtildeO O forno catalatildeo eacute assim denominado por ter sido uma teacutecnica desenvolvida nos Pirineus catalatildees A teacutecnica catalatilde ou meacutetodo catalatildeo de fundiccedilatildeo possuem alguns elementos que o caracterizam como 1- a forma de construccedilatildeo do forno que lembra uma lareira tendo o seu formato interno feito de forma de uma piracircmide invertida 2- disposiccedilatildeo interna do carvatildeo e dos pedaccedilos de mineacuterios dentro do forno os quais eram colocados de lados opostos e paralelos 3- utilizaccedilatildeo da trompa hidraacuteulica para insuflar oxigecircnio para a combustatildeo do carvatildeo esse sistema foi desenvolvido na regiatildeo da atual Itaacutelia e utilizado em grande escala nas faacutebricas de ferro da Catalunha Na regiatildeo Basca foram utilizados foles de grandes dimensotildees acoplados a roda drsquoaacutegua FORNO DE FUNDICcedilAtildeO Espaccedilo onde se daacute a reduccedilatildeo do mineacuterio No periacuteodo estudado a reduccedilatildeo ou fundiccedilatildeo era proporcionada pela queima proporcionada pela insuflaccedilatildeo de oxigecircnio por meio de foles manuais do carvatildeo vegetal que era colocada dentro desses fornos junto com pedaccedilos de mineacuterio FORJA Fornalha de que se servem os ferreiros e outros artiacutefices para incandescer os metais para serem trabalhados numa bigorna Do francecircs forge e do Latin fabrica Tambeacutem pode designar o trabalho realizado pelo ferreiro por meio do fogo e do martelo para dar forma aos metais

HEMATITA mineral de foacutermula oacutexido de ferro III (Fe2O3) um dos diversos oacutexidos de ferro

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MAGNETITA mineral magneacutetico formado pelos oacutexidos de ferro II e III ( FeO Fe2O3) cuja foacutermula quiacutemica eacute Fe3O4

MALHO Daacute se o nome de malho a peccedila metaacutelica que estaacute afixada em uma das extremidades do martinete o qual por conseguinte daacute o nome ao equipamento METAL elemento quiacutemico Satildeo metais os metais bem conhecidos satildeo alumiacutenio cobre ouro ferro prata titacircnio uracircnio e zinco MINERAL Substacircncia natural MINEacuteRIO mineral que conteacutem um metal na sua composiccedilatildeo quiacutemica Todo o mineacuterio eacute mineral OFICINA Ou Farga (em catalatildeo) espaccedilo em que estatildeo assentados o forno e o malho equipamentos destinados a produccedilatildeo de ferro MARTINETE Instrumento usado para golpear os metais incandescentes na forja para dar-lhes a forma desejada Tambeacutem pode designar um malho movido por roda drsquoagua METALURGIA Teacutecnica de obtenccedilatildeo dos metais No periacuteodo pesquisado a teacutecnica era conhecida como meacutetodo direto

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OacuteXIDOS Combinaccedilatildeo do oxigecircnio com outros elementos No nosso caso com ferro

TROMPA Mecanismo que aproveita a forccedila da caiacuteda da aacutegua para gerar um fluxo contiacutenuo em direccedilatildeo do forno Era um elemento caracteriacutestico do forno catalatildeo

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ANEXOS

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  • FAacuteVERO Oriana Aparecida NUCCI Joatildeo Carlos De BIASI Maacuterio Mapeamento da vegetaccedilatildeo e usos das terras da Floresta Nacional de Ipanema IperoacuteSP

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IacuteNDICE INTRODUCcedilAtildeO 15 CAPIacuteTULO 1 O SIacuteTIO AFONSO SARDINHA QUESTOtildeES DA ARQUEOLOGIA HISTOacuteRICA 11 Contexto do presente trabalho 19

111 Avaliaccedilatildeo dos dados bibliograacuteficos 19 112 Histoacuterico das descobertas das ruiacutenas 26 113 Consideraccedilotildees sobre a metodologia 32

114 Descriccedilatildeo geral das pesquisas arqueoloacutegicas realizadas 37

12 Principais questotildees a serem abordadas no decorrer da Tese 46

CAPITULO 2 A TECNICA DE PRODUCcedilAtildeO DE FERRO NO PERIODO ENTRE OS SEacuteCULOS XVI AO XVIII 21 Consideraccedilotildees sobre Teacutecnica e Tecnologia 47 22 O conceito de Teacutecnica 50 23 A valorizaccedilatildeo do conhecimento teacutecnico e a ciecircncia

experimental moderna 53 2 4 A Tecnologia como sinocircnimo de Teacutecnica 55

25 A Teacutecnica de produccedilatildeo do ferro 59

26 Fornos de fundiccedilatildeo de ferro 64

27 Tratados Teacutecnicos de Metalurgia 78

CAPITULO 3 HISTOacuteRICO DA MINERACcedilAtildeO NO BRASIL COLONIAL 31 As primeiras expediccedilotildees mariacutetimas a busca dos metais nobres 83 32 O Peabiru uma trilha para o Sertatildeo 85 33 O descobrimento da prata em Potosi 88 34 A busca de metais nobres na Capitania de Satildeo Vicente 90 35 D Francisco de Sousa a organizaccedilatildeo da exploraccedilatildeo mineral 91

7

36 Teacutecnicos e praacuteticos na mineraccedilatildeo e metalurgia 94 37 A Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro 96

38 A Faacutebrica de Ferro do morro de Araccediloiaba os empreendedores 99 39 A Real Faacutebrica de Ferro de Satildeo Joatildeo do Ipanema 103 CAPIacuteTULO 4 O SIacuteTIO AFONSO SARDINHA 41 Localizaccedilatildeo 109 42 A vegetaccedilatildeo 116 43 Rios e ribeirotildees

44 A magnetita o mineacuterio do morro de Araccediloiaba 119

45 Fatores fisiograacuteficos da ocupaccedilatildeo europeacuteia 123

CAPIacuteTULO 5 INVESTIGACcedilOtildeES ARQUEOLOacuteGICAS AS EVIDENCIAS DE UMA FAacuteBRICA DE FERRO 126

51 Estruturas hidraacuteulicas para a produccedilatildeo da forccedila motriz 129

511 O Canal de Derivaccedilatildeo 129

512 A Vala da Roda 132

5121 Evidecircncias de esteios 134 52 A Faacutebrica de Ferro os espaccedilos de produccedilatildeo 137 521 Area ldquoCrdquo 137 522 A Aacuterea B (ldquoForjardquo) 139

53 Area E Sul da Faacutebrica de Ferro 150 531 Fornos de fundiccedilatildeo na aacuterea externa da Faacutebrica (Aacuterea A1) 155 531 Forno de Fundiccedilatildeo 1 157 532 Fornos de fundiccedilatildeo da Aacuterea A2 159 5321 Forno de fundiccedilatildeo 1 (aacuterea A2) 161 5322 Forno de fundiccedilatildeo 2 (aacuterea A2) 165

CAPITULO 6 INTERPRETACcedilOtildeES DOS DADOS ARQUEOLOacuteGICOS 61 Avaliaccedilatildeo das caracteriacutesticas do Arranjo das Estruturas 167 62 As ldquoferreriacuteasrdquo de aacutegua na Peniacutensula Ibeacuterica 170 63 Sistema hidraacuteulico produccedilatildeo da forccedila motriz 175

8

631 Dique de represamento do ribeiratildeo do Ferro 175 632 Canal de Derivaccedilatildeo das aacuteguas 176 633 Vala da roda 177 634 A Caixa de Aacutegua - ldquoBanzaordquo 179 635 A roda hidraacuteulica 180 6 4 A Faacutebrica de Ferro os espaccedilos de produccedilatildeo 183

641 A Oficina da Faacutebrica de Ferro 183 6411 O Malho 188 6412 Fornos de fundiccedilatildeo e foles 190 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 193 BIBLIOGRAFIA 195 GLOSSAacuteRIO 214 ANEXOS 220 1 Relatoacuterio de Ensaio ndash Laboratoacuterio de Vidros e Dataccedilatildeo ndash FATEC 2 Inventaacuterio de Peccedilas Ceracircmica 3 Inventario de Peccedilas Liacutetico 4 Inventaacuterio de Peccedilas Louccedilas 5 Inventaacuterio de Peccedilas Telhas 6 Inventaacuterio de Peccedilas Metal 7 Tratado da Arte de ensaiar e fundir cobre ferro e accedilo Ano de 1691 8 Aranzel ou Roteiro de haveres de oiro e pedras preciosas Ano de 1696 9 Planta Geral da aacuterea pesquisada Siacutetio Afonso Sardinha (Mapa 1) 10 Mapeamento das aacutereas de decapagem e escavaccedilatildeo ( Mapa 2) 11 Aacuterea E - Concentraccedilatildeo de lacircminas de metal (Mapa 3)

9

12 Aacuterea E - Concentraccedilatildeo de escoacuterias (Mapa 4) 13 Aacuterea E - Concentraccedilatildeo de blocos de arenito (Mapa 5) 14 Aacuterea E ndash Concentraccedilatildeo de cravos de metal (Mapa 6) 15 Aacuterea E - Concentraccedilatildeo de telhas (Mapa 7)

10

INDICE DAS FIGURAS

1 Mapa de localizaccedilatildeo da FLONA ndash Ipanema 2 Mapa de localizaccedilatildeo do Siacutetio Afonso Sardinha 3 Desenho esquemaacutetico da localizaccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro 4 Aspecto do Siacutetio Afonso Sardinha 1983 5 Iniacutecio das pesquisas arqueoloacutegicas no Siacutetio Afonso Sardinha 1983 6 Reuniatildeo de trabalhos 1984 7 Aspecto da Faacutebrica de ferro em 1987 8 Planta do Siacutetio Afonso Sardinha aacutereas A1 e A2 9 Planta da aacuterea A1 10 Vista Geral da aacuterea A1 11 Vista Geral da aacuterea A2 12 Planta da aacuterea A2B detalhe 13 Planta do morrote A2B 14 Aacuterea A2 morrote e evidencias de fornos de fundiccedilatildeo 15 Corte esquemaacutetico de um forno baixo 16 Maquete de forno de fundiccedilatildeo (Celta) 17 Forno de fundiccedilatildeo (romano) 18 Fornos de fundiccedilatildeo de lupa ou de vento 19 Corte esquemaacutetico de fornos de fundiccedilatildeo de lupa ou de vento 20 Fornos de fundiccedilatildeo de Guaira (Potosi)

11

21 Fornos de fundiccedilatildeo seacuteculo XVI 22 Fornos de Fundiccedilatildeo seacuteculo XVI 23 Arranjo funcional de uma Faacutebrica de Ferro 24 Elementos que compotildeem uma ldquoFarga Catalanrdquo 25 Traccedilado do Peabiru (Tronco de Satildeo Vicente) 26 Mapa do Peabiru feito por Pasquale Petrone 27 Prospecto das ruiacutenas da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro 28 Vista Geral da Faacutebrica de Ferro de Ipanema 1827 29 Vista Geral da Faacutebrica de Ferro de Ipanema seacuteculo XIX 30 Altos fornos geminados construiacutedos por Varnhagem 1818 31 Alto forno construiacutedo pelo Cel Mursa 1888 32 Roteiro Histoacuterico da Mineraccedilatildeo e metalurgia paulista 33 Mapa Geoloacutegico do Morro de Araccediloiaba 34 Bloco diagrama da regiatildeo da Serra de Araccediloiaba 35 Vista geral do morro de Araccediloiaba I 36 Vista geral do morro de Araccediloiaba II 37 Magnetita 38 Limpeza do Siacutetio Afonso Sardinha 1984 39 Equipe de trabalho 1988 40 Vista geral da aacuterea E 1988 41 Dimensotildees da Vala da roda e localizaccedilatildeo da evidecircncias de esteios 42 Vala da roda hidraacuteulica 1987 - I 43 Vala da roda hidraacuteulica 1987 ndash II 44 Evidecircncias de esteios

12

45 Detalhe da evidecircncia de esteios 46 Detalhe de um esteio 47 Topografia do terreno da aacuterea C 48 Vista geral da aacuterea C 1987 49 Reconstituiccedilatildeo das paredes da aacuterea B 1984 50 Evidecircncias de paredes da aacuterea B 1984 51 Parede reconstituiacuteda da aacuterea B 1984 - I 52 Parede reconstituiacuteda da aacuterea B 1984 - II 53 Parede reconstituiacuteda da aacuterea B 1984 - III 54 Vasilhame de ceracircmica (0106) aacuterea B seacuteculo XVI - I 55 Vasilhame de ceracircmica (0106) aacuterea B seacuteculo XVI - II 56 Vasilhame de ceracircmica (0106) aacuterea B seacuteculo XVI ndash III 57 Vasilhame de ceracircmica (0122) aacuterea B seacuteculo XVI ndash I 58 Vasilhame de ceracircmica (0122) aacuterea B seacuteculo XVI ndash II 59 ldquoTijelardquo faianccedila [seacuteculo XVII] 60 Escoacuteria ndash restos de fundiccedilatildeo aacuterea E 61 Telha (0115) aacuterea E seacuteculo XVIII 62 Telha aacuterea E 63 Telha aacuterea E 64 Raspador plano convexo aacuterea E 65 Garrafa de greacutes aacuterea A ndash forno1 66 Decapagem aacuterea A forno 1 67 Vestiacutegios do forno de fundiccedilatildeo 1 aacuterea A1 68 Morrote e vestiacutegios de fornos de fundiccedilatildeo aacuterea A2

13

69 Croqui da aacuterea A2 morrote B 70 Vestiacutegios do forno de fundiccedilatildeo 1 aacuterea A2 71 Croqui do forno de fundiccedilatildeo 1 aacuterea A2 72 Vestiacutegios do forno de fundiccedilatildeo 2 aacuterea A2 - I 73 Vestiacutegios do forno de fundiccedilatildeo 2 aacuterea A2 ndash II 74 Vestiacutegios do forno de fundiccedilatildeo 2 aacuterea A2 ndash III 75 Aspecto de uma ldquoferreriacutea de aacuteguardquo seacuteculo XVII 76 Sistema de ldquopujoacuten tuortordquo 77 Trabalho de extraccedilatildeo da ldquobola de ferrordquo ou ldquomassa de ferro 78 Traccedilado esquemaacutetico do Canal de Derivaccedilatildeo aacuterea A1 (Interpretaccedilatildeo) 79 rdquo Depoacutesito de aacutegua soluccedilatildeo ldquoBanzaordquo 80 localizaccedilatildeo do malho e da roda hidraacuteulica (Interpretaccedilatildeo) 81 Faacutebrica de Ferro do Siacutetio Afonso Sardinha arranjo dos equipamentos (interpretaccedilatildeo) 82 Faacutebrica de Ferro Planta baixa (interpretaccedilatildeo) 83 Faacutebrica de Ferro aacuterea erodida (Interpretaccedilatildeo)

14

RESUMO

Esta Tese tem como objetivo analisar a pesquisa arqueoloacutegica e os

artefatos coletados no Sitio Arqueoloacutegico Afonso Sardinha localizado no morro de

Araccediloiaba Iperoacute - Satildeo Paulo

O resultado da anaacutelise permitiu concluir que a aacuterea corresponde a um

campo de mineraccedilatildeo de ferro com a presenccedila de evidecircncias de uma Faacutebrica de

Ferro de um sistema de aproveitamento de energia hidraacuteulica para movimentar

os equipamentos e ferramentas destinadas a produccedilatildeo e de fornos de fundiccedilatildeo

Aleacutem disso a dataccedilatildeo do material ceracircmico (vasilhames e telhas) indica que as

atividades de exploraccedilatildeo do mineacuterio tiveram iniacutecio no seacuteculo XVI

Palavras-Chaves Arqueologia Histoacuterica Floresta Nacional de Ipanema Teacutecnica

de produccedilatildeo de ferro Colonial Sitio Afonso Sardinha morro de Araccediloiaba Iperoacute-

SP

15

ABSTRACT This Thesis has the goal to analyze archaeological research and artifacts

found in Afonso Sardinha Archaeological site located on Mount Araccediloiaba Iperoacute

Satildeo Paulo

The analysis result leads to the conclusion that the area corresponds to iron

mining field with the presence of Iron Factory evidence a system that makes use

of hydraulic power to move the equipment and tools used in the production and

small ovens to melt iron Besides the ceramic date (pots and tiles) indicates that

mineral digging activities began in the 16th century

Key words History Archeology Ipanema National Forest Colonial Iron

Production Technique Archeological Site Afonso Sardinha Mount Araccediloiaba

Iperoacute-SP

16

INTRODUCcedilAtildeO

A presente Tese busca analisar sob o ponto de vista da Arqueologia

Histoacuterica os resultados da pesquisa arqueoloacutegica desenvolvida pela pesquisadora

e arqueoacuteloga Margarida Davina Andreatta entre os anos de 1983 a 1989 na aacuterea

do siacutetio arqueoloacutegico Afonso Sardinha localizado no morro de Araccediloiaba

municiacutepio de Iperoacute a cerca de quinze quilocircmetros da cidade de Sorocaba Satildeo

Paulo

Os estudos desenvolvidos consideraram apenas os fatos relacionados agrave

exploraccedilatildeo e fabricaccedilatildeo do ferro no morro de Araccediloiaba desde finais do seacuteculo

XVI ateacute o seacuteculo XVIII portanto antes da instalaccedilatildeo do Estabelecimento

Montaniacutestico de Extraccedilatildeo de Ferro das Minas de Sorocaba em 1810 e mais tarde

com a denominaccedilatildeo de Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema

O resultado final do trabalho do levantamento de campo formou um

conjunto vasto e consolidado em textos de Diaacuterios de Campo escritos pela

pesquisadora correspondecircncias levantamentos topograacuteficos planos de

escavaccedilatildeo croquis e desenhos geomeacutetricos de plantas das ruiacutenas croquis de

cortes estratigraacuteficos e de reconhecimento das escavaccedilotildees Inventaacuterio de Peccedilas e

fotografias tudo devidamente registrado em relatoacuterios da pesquisa arqueoloacutegica

17

Os artefatos coletados durante as investigaccedilotildees de campo foram

acondicionados em caixas devidamente protegidas e identificadas e depositadas

nas dependecircncias do Museu do Centro de Visitantes da FLONA de Ipanema

Foram desenvolvidos trabalhos de reconhecimento e anaacutelise detalhada dos

registros arqueoloacutegicos que resultaram da pesquisa de campo e em seguida

interpretadas as informaccedilotildees anteriormente consolidadas com base nos

conhecimentos da Arqueologia Histoacuterica e Histoacuteria da Teacutecnica e da Ciecircncia

Na elaboraccedilatildeo da siacutentese interpretativa foi necessaacuterio valer-se de

instrumentos disponiacuteveis em outras aacutereas do conhecimento tais como Geologia

Mineralogia Metalurgia Engenharia dentre outras aacutereas

Tambeacutem foram elaborados exames visuais e catalograacuteficos visando a

dataccedilatildeo relativa assim como foram encaminhadas amostras de ceracircmica as

quais foram submetidas a testes de dataccedilatildeo absoluta com base em ensaios de

Termoluminescecircncia pelo Laboratoacuterio de Vidros e Dataccedilatildeo da Faculdade de

Tecnologia de Satildeo Paulo - FATEC

Por outro lado amostras de resiacuteduos de fundiccedilatildeo (escoacuterias) foram

ensaiadas em laboratoacuterio para anaacutelise quiacutemica-mineraloacutegica no Departamento de

Mineralogia e Geotectocircnica GMG do Instituto de Geociecircncias da Universidade de

Satildeo Paulo

No Capiacutetulo 1 O Siacutetio Afonso Sardinha questotildees da Arqueologia Histoacuterica

optamos por colocar uma siacutentese dos achados arqueoloacutegicos no Sitio Afonso

Sardinha sendo que com base nas informaccedilotildees disponiacuteveis foram expostas as

questotildees da Arqueologia Histoacuterica que resultaram das investigaccedilotildees de campo e

de laboratoacuterio assim como das pesquisas bibliograacuteficas

No Capitulo 2 A Teacutecnica de Produccedilatildeo de Ferro no periacuteodo entre os

seacuteculos XVI ao XVIII foram analisadas e discutidas as questotildees conceituais da

18

teacutecnica e da tecnologia relacionadas a metalurgia no periacuteodo de interesse desta

Tese compreendido entre os seacuteculos XVI e XVIII Para compreensatildeo dos

processos de produccedilatildeo de ferro foram apresentadas descriccedilotildees dos

procedimentos de fabricaccedilatildeo bem como ilustraccedilotildees das ferramentas

equipamentos e maacutequinas em uso naquele estaacutegio do conhecimento teacutecnico

O Capiacutetulo 3 Histoacuterico da Mineraccedilatildeo no Brasil Colonial trata de uma

avaliaccedilatildeo da historiografia disponiacutevel sobre as atividades de mineraccedilatildeo no Brasil

e particularmente para o caso da entatildeo Capitania de Satildeo Vicente merecendo

esclarecer que parte destas obras foi produzida na primeira metade do seacuteculo XX

Aleacutem disso foram consultados documentos do Arquivo Municipal de Satildeo Paulo

do Arquivo do Estado de Satildeo Paulo e Biblioteca e Arquivo do Museu Histoacuterico

Sorocabano

No Capiacutetulo 4 O Sitio Afonso Sardinha apresenta-se a localizaccedilatildeo

geograacutefica as caracteriacutesticas geoloacutegicas e geomorfoloacutegicas do morro de

Araccediloiaba a vegetaccedilatildeo a hidrografia recursos minerais com destaque especial

para a presenccedila da Magnetita Finalmente oferece-se um contexto sucinto a

respeito da ocupaccedilatildeo colonial e a presenccedila de naturalistas viajantes inclusive

Saint Hilaire em 1919

No Capiacutetulo 5 Investigaccedilotildees Arqueoloacutegicas as evidencias de uma Faacutebrica

de Ferro com base em todos os dados que resultaram da pesquisa de campo

foram desenvolvidos trabalhos sendo que num primeiro momento relacionados

ao reconhecimento e anaacutelise detalhada dos registros arqueoloacutegicos fornecidos

pela pesquisa acima mencionada

No uacuteltimo Capiacutetulo de nuacutemero 6 Interpretaccedilotildees dos dados arqueoloacutegicos

buscou-se elaborar uma interpretaccedilatildeo das informaccedilotildees consolidadas nos

documentos produzidos a partir dos conhecimentos da Arqueologia Histoacuterica e

Histoacuteria da Teacutecnica e da Ciecircncia

19

CAPIacuteTULO 1

O SIacuteTIO AFONSO SARDINHA QUESTOtildeES DA ARQUEOLOGIA HISTOacuteRICA O presente Capiacutetulo tem por objetivo indicar um conjunto de questotildees que

deveratildeo ser analisadas no decorrer da elaboraccedilatildeo desta Tese as quais

emanaram dos resultados alcanccedilados pelas pesquisas arqueoloacutegicas realizadas

no siacutetio Afonso Sardinha pela pesquisadora e arqueoacuteloga Margarida Davina

Andreatta

Para melhor compreensatildeo dos fatos que fazem parte do contexto do

presente trabalho tendo em vista a identificaccedilatildeo daquelas questotildees satildeo

apresentados a) uma avaliaccedilatildeo dos dados bibliograacuteficos que tratam de assuntos

relacionados ao siacutetio arqueoloacutegico b) um histoacuterico da descoberta das ruiacutenas c)

consideraccedilotildees sobre a metodologia utilizada d) uma descriccedilatildeo geral resumida

das pesquisas arqueoloacutegicas realizadas

11 Contexto do presente trabalho 111 Avaliaccedilatildeo dos dados bibliograacuteficos

As primeiras notiacutecias relacionadas agraves minas de ferro do Morro de

Araccediloiaba e com os trabalhos de fundiccedilatildeo daquele mineacuterio foram dadas por

Pedro Taques de Almeida Paes Leme (1714-1777) Aleacutem de sua obra mais

conhecida a Nobiliarquia Paulistana Histoacuterica e Genealoacutegica escreveu a Histoacuteria

da Capitania de Satildeo Vicente e um compecircndio sobre a exploraccedilatildeo e a legislaccedilatildeo

mineira intitulado Noticia das Minas de Satildeo Paulo e dos Sertotildees da mesma

Capitania

20

Neste uacuteltimo trabalho escrito na segunda metade do seacuteculo XVIII afirmou

ter sido o bandeirante Afonso Sardinha e seu filho mameluco do mesmo nome

ldquoos que tiveram a gloacuteria de descobrir ouro de lavagem nas Serras de

Jaramimbaba e do Jaraguaacute em Satildeo Paulo na de Votoruna em Parnaiacuteba e na

Biraccediloiaba no Sertatildeo do Rio Sorocaba ouro prata e ferro pelos anos de 1597rdquo

(TAQUES 1954 p 112) Em Notiacutecias Genealoacutegicas citado por Nicolau de

Campos Vergueiro PedroTaques completa aquela informaccedilatildeo indicando que

Afonso Sardinha havia construiacutedo uma faacutebrica e dois fornos de ferro em

Biraccediloiaba e que havia doado um dessas Faacutebricas agrave D Francisco de Souza

quando ldquoem pessoa passou a Biraccediloiaba no ano de 1600rdquo (VERGUEIRO 1978

p6)

Taques escreveu suas obras dentro de um contexto em que os trabalhos

historiograacuteficos buscaram dar um enfoque positivo a participaccedilatildeo bandeirante na

histoacuteria de Satildeo Paulo e ao mesmo tempo contrapor todas as outras narrativas

que haviam sido escritas nos seacuteculos anteriores sobretudo pelos Jesuiacutetas

Assim firmou para que Afonso Sardinha e seu filho passassem para a Histoacuteria

como tendo sido os descobridores daquelas minas e os pioneiros na fabricaccedilatildeo

do ferro no Morro de Araccediloiaba

Entre os veiacuteculos de divulgaccedilatildeo dessa historiografia estaacute o Instituto

Histoacuterico e Geograacutefico de Satildeo Paulo e do Brasil (sediado na cidade do Rio de

Janeiro) sendo este uacuteltimo responsaacutevel pela divulgaccedilatildeo das obras de Pedro

Taques1 Por outro lado aquelas afirmativas foram reforccediladas pelo

1 Os Institutos Histoacutericos e Geograacuteficos foram junto com os Museus brasileiros os primeiros e mais importantes espaccedilos que existiam no seacuteculo XIX para a pesquisa de humanidades e para a ciecircncia em geral no Brasil O Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Satildeo Paulo seraacute uma instacircncia de produccedilatildeo a afirmar uma suposta especificidade paulista elaborar tradiccedilotildees do estado ndash atraveacutes de biografias de seus vultos estudos sobre o passado da proviacutencia etc Nesse sentido eacute tambeacutem uma historiografia com teor ciacutevico paulista sobretudo mas que buscava afirmar a prevalecircncia de Satildeo Paulo perante a naccedilatildeo como um todo releitura da figura do bandeirante no sentido de elevaacute-lo agrave condiccedilatildeo de construtor da naccedilatildeo ROMANCINI Richard Inventando tradiccedilotildees os historiadores e a pesquisa inicial sobre o jornalismo II Encontro Nacional da Rede Alfredo de Carvalho Florianoacutepolis de 15 a 17 de abril de 2004 Disponiacutevel em lthttpwwwjornalismoufscbrredealcarcdgrupos20de20trabalho20de20historia20da20midiahistoria20dos20jornalismotrabalhos_selecionadosrichard_romancinidocgt Acesso em 060706

21

desaparecimento de total ou significativa parcela dos documentos que

constituiacuteram as fontes pesquisadas por aquele autor tais como os arquivos do

Primeiro Cartoacuterio dos Oacuterfatildeos de Satildeo Paulo os da Provedoria da Real Fazenda e

os da Cacircmara da Vila de Satildeo Paulo2

Aleacutem disso uma significativa parcela dos trabalhos publicados entre os

seacuteculos XIX e XX sobre as atividades metaluacutergicas desenvolvidas no morro de

Araccediloiaba estavam voltados para as anaacutelises sobre os aspectos da geografia

historia mineralogia botacircnica e geologia a partir da implantaccedilatildeo da Real Faacutebrica

de Ferro de Ipanema fundada em 1810 3 Quanto aos periacuteodos anteriores a fonte

de informaccedilatildeo sempre foi a obra de Pedro Taques a qual foi amplamente

difundida com a publicaccedilatildeo da obra de Azevedo Marques intitulada

Apontamentos histoacutericos geograacuteficos bibliograacuteficos e estatiacutesticos da proviacutencia de

Satildeo Paulo em 1879

A construccedilatildeo da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema estaacute inserida no acircmbito

da implementaccedilatildeo de poliacuteticas voltadas para favorecer a transferecircncia para a

colocircnia de todo o aparelho institucional do reino a partir da chegada de D Joatildeo VI

a cidade do Rio de Janeiro4 Entre os projetos estava a implantaccedilatildeo e

desenvolvimento da siderurgia no Brasil a partir da exploraccedilatildeo das jazidas de

ferro jaacute conhecidas como as do Morro de Araccediloiaba na Proviacutencia de Satildeo Paulo e

das jazidas de ferro de Minas Gerais localizadas nos atuais municiacutepios de

Congonhas do Campo e Gaspar5

2 Os arquivos da Provedoria foram destruiacutedos por uma enchente do Tamanduateiacute em 1929 Dos outros arquivos restam apenas poucos exemplares e que estatildeo incompleto como o das Atas da Cacircmara da Vila de Satildeo Paulo RODRIGUES Leda Maria Pereira As Minas de ferro em Araccediloiba (Satildeo Paulo Seacuteculos XVI-XVII-XVIII) Annais do III Simpoacutesio dos Professores Universitaacuterios de Histoacuteria Franca 1966 p 171 3 A Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema inicia suas atividades a partir da promulgaccedilatildeo da Carta Reacutegia de 4 de dezembro de 1810 Esta carta conteacutem instruccedilotildees para o funcionamento de uma faacutebrica de ferro em Sorocaba Em 1895 encerra definitivamente as suas atividades Ver bibliografia 4 Com a presenccedila de D Joatildeo VI foi promulgada em 1808 a abertura dos portos para o comeacutercio e um alvaraacute que revogava o Decreto de D Maria I de 1785 referente a proibiccedilatildeo da abertura de faacutebricas e manufaturas no estado do Brasil e Domiacutenios Ultramarinos 5 As minas de ferro de Gaspar Soares deram origem a Real Faacutebrica de Ferro de Gaspar Soares cuja direccedilatildeo foi dada ao Intendente Manuel Ferreira da Cacircmara Em 1811 tambeacutem para o Brasil o teacutecnico alematildeo Gotthelft Von Feldner com a incumbecircncia de examinar as minas receacutem

22

Para dar andamento agravequeles projetos foram trazidos para o Brasil o

mineralogista alematildeo Friederich Ludwig Wilhelm Varnhagen (1782-1842) e

Wilhelm-Ludwig Von Eschwege (1777-1835) ambos funcionaacuterios da Coroa

Portuguesa6 Eschwege foi enviado para Minas Gerais para inspecionar as

jazidas e minas de ferro e criar com outros acionistas a companhia sideruacutergica

Faacutebrica Patrioacutetica do Prata de Congonhas do Campo que comeccedilou a funcionar

em fins de 1811 e Varnhagen para o Morro de Araccediloiaba7

Apoacutes observaccedilotildees mineraloacutegicas realizadas por Varnhagen em

Araccediloiaba A partir dos resultados daquelas observaccedilotildees ficou determinado que

Sorocaba era o local mais apropriado para a construccedilatildeo de uma siderurgia pois

ldquoa mina existente dentro de sua circunscriccedilatildeo eacute muito rica em metal de ferro e

conta na sua proximidade com extensas matas as quais haacute muitos anos mandou

reservar e que forneceratildeo o indispensaacutevel combustiacutevelrdquo(FRAGA 1968 p 66)

Assim em 1810 foi fundado o Estabelecimento Montaniacutestico de Extraccedilatildeo de Ferro

das Minas de Sorocaba denominado posteriormente de Real Faacutebrica de Ferro de

Ipanema

A aacuterea escolhida para aquele novo empreendimento estava localizada junto

ao rio Ipanema que daiacute retira aquela denominaccedilatildeo deixando para traz a histoacuteria

da metalurgia que havia sido desenvolvida durante dois seacuteculos no interior Morro

de Araccediloiaba no vale das Furnas onde estaacute localizado o Siacutetio Arqueoloacutegico

Afonso Sardinha

Os primeiros trabalhos sobre a Real Faacutebrica privilegiavam as anaacutelises

voltadas para a mineralogia e as teacutecnicas de fundiccedilatildeo Quanto a este uacuteltimo

descobertas de carvatildeo do rio Pardo no Rio Grande do Sul Cf FIGUEIROA Silvia As ciecircncias Geoloacutegicas no Brasil uma Histoacuteria Social e Institucional 1875-1934 Satildeo Paulo Hicitec 1997 p 63-65 6 Varnhagen e Eschwege voltaram para Portugal em 1822 7 Varnhagen esteve em Araccediloiaba acompanhado por Martim Francisco de Andrada Martim Francisco Ribeiro de Andrada Inspetor de Minas e Matas da Capitania de Satildeo Paulo

23

aspecto destacam o emprego do alto forno da fabricaccedilatildeo do carvatildeo e o emprego

de fundentes bem como criacuteticas relacionadas agrave produccedilatildeo e qualidade do ferro8

Entre as obras mais gerais sobre aquele empreendimento publicadas no

seacuteculo XIX estatildeo os trabalhos de Antonio da Costa Pinto Silva (1852) Nicolau de

Campos Vergueiro (1843) Frederico Augusto Pereira de Moraes (1858) M Alves

de Arauacutejo (1882) Francisco de Assis Moura (1888) J Ewbank da Cacircmara (1875)

Leandro Dupreacute (1885) Baratildeo Homem de Mello (1888) Manuel Eufraacutezio de

Azevedo Marques (1879) Carlos Conrado de Niemeyer (1879) Frederico

Augusto Pereira de Moraes (1858)

Sobre a mineralogia e a geologia estatildeo os de Joseacute Bonifaacutecio de Andrada e

Silva (1820 1846) Martim Francisco Ribeiro de Andrada (1828 1846 1855) F

Schimidt (1853) e Wilhelm L Von Eschwege (1833) e Orville Adalbert Derby

(1891 e 1895 1909) Derby foi o descobridor em 1891 da apatita mineral que foi

amplamente explorado para a fabricaccedilatildeo de adubos a partir de 1927 Naquele

mesmo seacuteculo foram realizadas as primeiras anaacutelises da magnetita de Ipanema

pela Escola de Minas de Ouro Preto9 as quais tiveram como resultado a

identificaccedilatildeo do titacircnio como componente daquele mineacuterio

Dessa forma foi possiacutevel entender a dificuldade teacutecnica que enfrentaram

todos os diretores de Ipanema em produzir um ferro de boa qualidade pois a

magnetita aleacutem de sua exagerada densidade apresentava-se impregnada de

ocircxido de Titacircnio ldquofatores que contribuem de forma decisiva para dificultar sua

reduccedilatildeo mesmo em altos fornosrdquo (FRAGA 1968 p 86) Entre as pesquisas

realizadas por essa Escola estatildeo os trabalhos de Paul Ferrand (1885) e Leandro

Dupreacute (1885) Joatildeo Pandiaacute Caloacutegeras (1893 1895 19041828) e Ferdinando

Gautier responsaacutevel em 1891 pela identificaccedilatildeo da presenccedila de foacutesforo no

mineacuterio elemento tambeacutem nocivo para a produccedilatildeo do ferro Ainda no seacuteculo XIX

8 Fundentes satildeo materiais que quando mesclados com o carvatildeo vegetal dentro do forno facilitam a fundiccedilatildeo dos mineacuterios no caso de mineacuterios de ferro Em Ipanema eram utilizados como fundentes os dioritos tambeacutem chamada ldquopedra verde (do alematildeo grunstein) 9 A Escola de Minas de Ouro Preto foi inaugurada em 1876 Destinava-se a formar profissionais para a mineraccedilatildeo

24

estatildeo os relatos elaborados pelo naturalista viajantes como Saint Hilaire Von

Martius e Zaluar

No seacuteculo XX os trabalhos relacionados com aquele empreendimento

foram desenvolvidos em duas linhas de investigaccedilatildeo o da histoacuteria econocircmica e

da social Nesta uacuteltima as anaacutelises privilegiaram as abordagens sobre o processo

de trabalho e mais para o final daquele seacuteculo para as questotildees sobre o meio

ambiente como os aspectos da ecologia florestal recursos hiacutedricos gestatildeo

ambiental e do turismo ecoloacutegico

Os trabalhos historiograacuteficos daquele seacuteculo pouco acrescentaram aos

aspectos relacionados com a implantaccedilatildeo dos primeiros empreendimentos

metaluacutergicos anteriores agrave construccedilatildeo da Real Faacutebrica10 Contudo trecircs trabalhos

podem ser destacados pelas contribuiccedilotildees seja pela releitura de documentos

ainda existentes como foi o caso dos estudos realizados por Maacuterio Neme seja

pelos trabalhos de pesquisa documental elaborados tanto por Leda Maria Pereira

Rodrigues quanto por Estefania Knotz Canguccedilu Fraga

No primeiro caso Maacuterio Neme apresenta em seu livro Notas de Revisatildeo da

Histoacuteria de Satildeo Paulo uma reavaliaccedilatildeo das obras de Pedro Taques bem como

de outros autores que tratam da histoacuteria de Satildeo Paulo ateacute o momento da 10 Entre as obras direcionadas a um contexto geral brasileiro estatildeo Sylvio Froes Abreu (19371962) Afranio do Amaral (1946) Renato Frota de Azevedo (1955) Tanus Jorge Bastini (1957) Vicente Licinio Cardoso (1924) Sobrinho Costa e Silva (1953) Alpheu Diniz Gonccedilalves (1937) R Hermanns (1958) R N Jafet (1957) Theodor Knecht (1931) Viktor Leinz (1942) Clodomiro de Liveira (1914) Niacutecia Vilela Luz (1961) Manuel Moreira Machado (1919) Roberval Germano Medeiros (1947) Geraldo Magella Pires de Melo (1957) Geraldo Dutra Moraes (1943) Almiro de Lima (1929) Matias Gonccedilalves de Oliveira Roxo (1937) Edmundo de Macedo Soares (1953) Gilberto Freyre (1988) Francisco Adolpho de Varnhagen (1956) Joseacute Epitaacutecio Passos Guimaratildees (1981) Francisco Magalhatildees Gomes (1983) Francisco de Assis Barbosa (1958) Francisco de Assis Carvalho Franco (1928) Silvia Figueroa (1997) Roseli Santaella Stella (2000) Para anaacutelises direcionadas ao Estado de Satildeo Paulo estatildeo as de Paulo R Pestana (1928) Luis Flores de Moraes (1930) Afonso Taunay (1931) Benedito Lima de Toledo (1966) Maacuterio Neme (1959) Seacutergio Buarque de Holanda (1960 1966) Ernani da Silva Bruno (1953) Jesuiacuteno Feliciacutessimo Juacutenior (1969) Washington Luis (1956) Gabriel Pedro Moacyr (1935) E aqueles relacionados agrave histoacuteria local da Real Faacutebrica estatildeo o de Joseacute Monteiro Salazar (1982) Astor Franccedila Azevedo (1959) Luiz de Almeida Castanho (1937 1939 1958) Jaime Benedito de Arauacutejo (1939) Ezequiel Freire (1953) Emanuel Soares Veiga Garcia (1954) Joatildeo Lourenccedilo Rodrigues (1953) Otaacutevio Tarquiacutenio de Souza (1946) Heacutelio Vianna (1969) Andreacute Davino (1965) Guido Ranzani (1965) Miriam Escobar (1982) Theodoro Knecht (1930) Helmut Born (1989) Lenharo S L R (1996) Antonio Maciel Botelho Machado (1998) e Jaime Rodrigues (1998) Aluiacutezio de Almeida (2002)

25

publicaccedilatildeo da obra em 1959 confrontando as afirmaccedilotildees dos autores com base

nos documentos disponiacuteveis naquele momento A obra segundo o autor fora

escrita com base em pesquisa documental realizada por ele durante duas

deacutecadas tendo concluiacutedo que ldquofirmamo-nos na convicccedilatildeo mais absoluta de que a

crocircnica de nossa formaccedilatildeo e evoluccedilatildeo estaacute a exigir ampla revisatildeo quer em

mateacuteria de fatos e acontecimentos na sua ocorrecircncia e significaccedilatildeo imediata e

futura e no que toca a dados datas e nomes quer em mateacuteria de interpretaccedilatildeordquo

(NEME1959 p11)

Ao final deste trabalho Neme conclui que os dados oferecidos por Pedro

Taques a respeito da construccedilatildeo de uma Faacutebrica de ferro por Afonso Sardinha no

Morro de Araccediloiaba natildeo passou de uma faacutebula criada por aquele autor sendo

que a uacutenica Faacutebrica de ferro que de fato existiu no iniacutecio do seacuteculo XVII foi a de

Santo Amaro

No segundo trabalho a ser considerado trata-se de um artigo publicado em

1966 pela historiadora Leda Maria Pereira Rodrigues intitulado As Minas de ferro

em Araccediloiaba (Satildeo Paulo Seacuteculos XVI-XVII-XVIII) onde a autora afirma que ldquoos

primoacuterdios de nossa Histoacuteria fazem surgir duacutevidas difiacuteceis de serem esclarecidas

pois haacute falta de documentos coesos que provem incontestavelmente a veracidade

de certas afirmaccedilotildeesrdquo Neste mesmo trabalho ela conclui que ateacute a instalaccedilatildeo da

Real Faacutebrica em 1810 todos os empreendimentos anteriores constituiacuteram numa

ldquoseacuterie de tentativas frustrasrdquo A autora demonstra que pelo menos dois

empreendimentos foram efetivamente implementados naquele local o de Luiz

Lopes de Carvalho por volta de 1690 e o de Domingos Pereira Ferreira em 1875

(RODRIGUES 1966 p246-249)

Em 1968 Estefania Knotz Canguccedilu Fraga sob a orientaccedilatildeo da historiadora

Leda Maria Pereira Rodrigues seguindo as discussotildees iniciadas pela autora

acima mencionada desenvolveu uma tese na aacuterea de Histoacuteria do Brasil com o

titulo Subsiacutedios para o estudo da Histoacuteria da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema

(1779-1822) Neste trabalho analisou especialmente o empreendimento de

26

Domingos Pereira Ferreira como tambeacutem as primeiras deacutecadas de

funcionamento da Real Faacutebrica sob a direccedilatildeo de Hedberg (1810-1814) e

Varnhagen (1814-1822) A autora depois de enumerar as possiacuteveis causas que

teriam levado ao que atribui ser um ldquoinsucessordquo econocircmico daqueles

empreendimentos conclui que

mesmo que a faacutebrica de ferro de Araccediloiaba (como

primitivamente era denominado o local) natildeo possa oferecer

ao pesquisador nada aleacutem de constantes provas de seu

insucesso ainda assim o propoacutesito que o anima natildeo deve

esmorecer Afinal o que seria da Historia se soacute merecessem

registro os eventos vitoriosos Quantas derrotas natildeo

levaram as vitoacuterias Porque entatildeo omiti-las se fazem parte

integrante da mesma Porque esquececirc-la se refletem uma

circunstancia real mesmo que nela se insinue uma ou mais

ldquoforccedilas obstrutivasrdquo que consagram ao fracasso tudo o que

nela se condiciona mas que nem por isso obstam uma ou

vaacuterias tentativas de superaccedilatildeo Eacute sabido que a dualidade de

forccedilas impele a civilizaccedilatildeo E mais que a tanta gloacuteria existe

na derrota quanto na vitoacuteria quando supotildeem luta E poderaacute

algueacutem negar que Ipanema natildeo foi um glorioso campo de

luta (FRAGA 1966 p 109)

112 Histoacuterico das descobertas das ruiacutenas O Siacutetio Arqueoloacutegico Histoacuterico Afonso Sardinha foi assim denominado por

ter sido Afonso Sardinha bandeirante e seu filho mameluco11 Afonso Sardinha o

moccedilo apontados por Pedro Taques e pela historiografia como os provaacuteveis

11 Filho de pai branco e matildee indiacutegena No caso dos mamelucos os pais reconheciam publicamente a paternidade e os filhos gozavam da liberdade plena e aproximavam-se agrave identidade portuguesa Essa denominaccedilatildeo cai em desuso no seacuteculo XVIII e eacute substituiacuteda pelo termo bastardo que passava a designar qualquer pessoa com ascendecircncia indiacutegena (MONTEIRO 1994 p 167)

27

descobridores e construtores dos primeiros fornos de fundiccedilatildeo naquele local em

finais do seacuteculo XVI

No ano de 1977 Joseacute Monteiro Salazar pesquisador estudioso da histoacuteria

regional e particularmente da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema acompanhado

pelos engenheiros agrocircnomos Nerzon Nogueira de Barros e Dinchiti Sinzato e

pelo fotoacutegrafo Venedavel Acosta encontrou as ruiacutenas de um possiacutevel Faacutebrica de

ferro que atribuiu ser aquele construiacutedo por Afonso Sardinha em finais do seacuteculo

XVI (SALAZAR 1997156-159) Tal avaliaccedilatildeo decorria do fato de que aquela

regiatildeo teria sido uma aacuterea de provaacutevel exploraccedilatildeo mineral do ferro que

remontaria aos primoacuterdios da colonizaccedilatildeo de Satildeo Vicente conforme apontavam a

historiografia disponiacutevel sobre aquela Capitania

28

Fig 1 MAPA DE LOCALIZACcedilAtildeO DA FLONA ndash Floresta Nacional de Ipanema Escala 1250 000 CENEA- Centro Nacional de Engenharia Agriacutecola 1985

29

Fig 2 MAPA DE LOCALIZACcedilAtildeO DO SIacuteTIO AFONSO SARDINHA Folheto IBAMA sem data e sem escala

30

Fig 3 DESENHO ESQUEMAacuteTICO DE LOCALIZACcedilAtildeO DA FAacuteBRICA DE FERRO Salazar (1997 p80)

Fig 4 MARGARIDA DAVINA ANDREATTA E JOSEacute MONTEIRO SALAZAR Aspecto do Siacutetio em 1983

31

Fig 5 MARGARIDA DAVINA ANDREATTA E JOSEacute MONTEIRO SALAZAR Iniacutecio das pesquisas no Siacutetio Afonso Sardinha 1983 As ruiacutenas foram localizadas no interior do vale das Furnas onde estaacute o

ribeiratildeo do Ferro que nasce e cruza o Morro de Araccediloiaba desaguando no rio

Ipanema o qual por sua vez eacute um afluente pela margem esquerda do rio

Sorocaba

Este ribeiratildeo

() nasce no Monte do Chapeacuteu e corre primeiro do norte para o

sul e depois de passar pelo Vale das Furnas torce bruscamente

e muda radicalmente de direccedilatildeo fazendo uma grande curva e

passando a correr do sul para o norte indo desaguar afinal no

Ipanema (SALAZAR 1997 p 02)

Foi numa das curvas do ribeiratildeo do Ferro que aquelas ruiacutenas foram

localizadas As estruturas ali descobertas se cercavam de condiccedilotildees fisiograacuteficas

favoraacuteveis para viabilizar a atividade de produccedilatildeo do ferro devido a proximidade

32

das jazidas do mineacuterio existecircncia de matas abundantes assim como de uma

hidrografia favoraacutevel para o aproveitamento da forccedila motriz das aacuteguas

A primeira constataccedilatildeo da existecircncia de uma estrutura por eles encontrada

foi uma fileira de pedras bem conservadas que identificaram ldquocomo canal

certamente para o desvio do rio a fim de mover os martinetesrdquo Descobriram uma

muralha que atribuiacuteram ser uma parede de forja (SALAZAR 1997 p159-160)

113 Consideraccedilotildees sobre a metodologia O termo arqueologia histoacuterica surge nos Estados Unidos nas deacutecadas de

1960 para designar o estudo da cultura material dos europeus no mundo Esse

termo passou a ser oficialmente adotado em 1967 tendo em vista regulamentar a

nomenclatura para designar as pesquisas arqueoloacutegicas em siacutetios histoacutericos que

estavam sendo desenvolvidas nos Estados Unidos Ateacute entatildeo eram utilizados

para identificar aqueles trabalhos arqueoloacutegicos uma nomenclatura diversificada

como arqueologia colonial arqueologia da historia arqueologia de siacutetios

histoacutericos entre outros

Naquela mesma deacutecada a arqueologia histoacuterica passa a ser uma

disciplina valendo-se da aplicaccedilatildeo de meacutetodos de escavaccedilatildeo jaacute consagrados

pela arqueologia preacute-historica e das abordagens teoacuterico-metoloacutegicas voltadas

para a interpretaccedilatildeo dos registros arqueoloacutegicos As ferramentas teoacutericas

metodoloacutegicas apresentadas pela arqueologia foram sendo revisadas e

aprimoradas de modo a contribuir com as anaacutelises destinadas a interpretar as

culturas preteacuteritas

Outra questatildeo diz respeito agrave compreensatildeo do papel da Arqueologia

Histoacuterica aplicada agraves pesquisas desenvolvidas na Ameacuterica tendo em vista a

visatildeo desenvolvida por Charles Orser Jr segundo o qual cabe a esta disciplina

investigar fundamentalmente os ldquo() aspectos mateacuterias em termos histoacutericos

33

culturais e sociais concretos dos efeitos do mercantilismo e do capitalismo que

foi trazido da Europa em fins do seacuteculo XV e que continua em accedilatildeo ainda hojerdquo

(ORSER 1992 p 23)

Posteriormente Orser trouxe novas contribuiccedilotildees a aquela conceituaccedilatildeo

ao formular a Teoria de Rede segundo a qual as pesquisas em Arqueologia

deveriam levar em consideraccedilatildeo a questatildeo das ldquointerligaccedilotildees globaisrdquo

demonstrando a ldquoorigem e os desenvolvimentos ulteriores da globalizaccedilatildeo da

modernizaccedilatildeo e da expansatildeo colonialistardquo criados por ldquoagentes conscientes do

colonialismo do eurocentrismo e da modernidaderdquo que proporcionaram a

criaccedilatildeo de uma ldquoseacuterie de elos complexos e multidimensionais que uniam

diversos povos ao redor do mundordquo (ORSER 1999 p 87)

No que se referem agrave interpretaccedilatildeo dos registros arqueoloacutegicos as

pesquisas em arqueologia histoacuterica empregam teorias e meacutetodos que foram

sendo desenvolvidos por meio da aplicaccedilatildeo de meacutetodos de abordagens como o

Histoacuterico-Culturalismo (foi amplamente difundida entre os arqueoacutelogos

brasileiros) New Archaeology ou Arqueologia Processual e Poacutes-

processualismo e suas derivaccedilotildees Cada meacutetodo privilegiou uma escala

apropriada de anaacutelise para o ldquoHistoacuterico Culturalismo foi o siacutetio para o

Processualismo a regiatildeo e para o Poacutes-Processualismo passou a ser o

indiviacuteduordquo (LIMA 2000 p 2)

No Brasil a formaccedilatildeo da primeira geraccedilatildeo de arqueoacutelogos na deacutecada de

1970 foi orientada por duas correntes teoacutericas A americana representada pelos

arqueoacutelogos Clifford Evans (1920-1981) e Betty Meggers coordenadores do

Programa Nacional de Pesquisas Arqueoloacutegicas (Pronapa) criado na deacutecada

de 1960 E a Francesa representada por Joseph e Annette Emperaire Da

escola francesa destacamos as pesquisas realizadas pelo grupo do Centre

National de la Recherche Scientifique que trabalharam em Minas Gerais

Paranaacute Satildeo Paulo e no Piauiacute em convenio com o Museu Paulista da

Universidade de Satildeo Paulo e a Universidade do Piauiacute com o objetivo de

34

proporcionar as primeiras dataccedilotildees para as obras rupestres e sua inserccedilatildeo no

contexto cultural preacute-histoacuterico (PROUS 1992 p17)

A partir da pesquisas do grupo Franco-Brasileiro foram fornecidas as

primeiras dataccedilotildees radiocarbono a introduccedilatildeo de teacutecnicas e meacutetodos mais

refinados de decapagem e a realizaccedilatildeo de escavaccedilotildees sistemaacuteticas no Brasil

Aleacutem da influecircncia teoacuterica-metodologica o convecircnio entre aquele grupo

representado por Joseph e Annette Laming Emperaire e o Centre National de

la Recherche Scientifique proporcionou a formaccedilatildeo de arqueoacutelogos e de

especializaccedilotildees na Franccedila Entre os anos de 1960-1980 o legado francecircs

permanecia em duas Instituiccedilotildees de Satildeo Paulo o Museu de Preacute-Histoacuteria

(atualmente incorporado ao MAE) e Museu Paulista da Universidade de Satildeo

Paulo e em Minas Gerais no Museu de Histoacuteria Natural da Universidade

Federal de Minas Gerais

A partir da deacutecada de 1960 as pesquisas relacionadas ao campo da

arqueologia histoacuterica foram conduzidas particularmente por arqueoacutelogos preacute-

historiadores que passaram a desenvolver pesquisas em Siacutetios Histoacutericos

Num primeiro momento aquelas pesquisas arqueoloacutegicas foram marcadas

pelas teorias do meacutetodo histoacuterico-culturalista privilegiando monumentos como

igrejas conventos missotildees jesuiacuteticas fortificaccedilotildees solares entre outros

encorajadas pelos oacutergatildeos de preservaccedilatildeo do patrimocircnio histoacuterico e cultural e

pela receacutem-criada Lei 3924 de 26 de julho de 1961 atraveacutes da qual os

monumentos arqueoloacutegicos e preacute-histoacutericos passaram a serem considerados

como patrimocircnio da Uniatildeo (ANDRADE 1993 FUNARI 1998 RUBINO 1996)

Ateacute a deacutecada de 80 as pesquisas ainda seguiam aquela linha de

investigaccedilatildeo privilegiando pesquisas em monumentos Contudo jaacute havia

perspectivas de novas abordagens de pesquisa notadamente voltadas para

os segmentos sociais desfavorecidos de registros possibilitando ldquorecuperar

memoacuterias sociais reinterpretar a Histoacuteria Oficial resgatar elementos e praacuteticas

da vida cotidiana sobre os quais normalmente natildeo se escreverdquo

35

Proporcionando a arqueologia histoacuterica investigar uma diversificada temaacutetica

transformando em Siacutetios Histoacutericos quilombos unidades domeacutesticas becos

urbanos senzalas tecnologias de produccedilatildeo de materiais e povoados etc

(ANDRADE 1993 p 228)

Neste contexto se inserem as pesquisas em arqueoloacutegica histoacuterica

desenvolvida na cidade de Satildeo Paulo O Programa de Arqueologia Histoacuterica no

Municiacutepio de Satildeo Paulo foi coordenado por Margarida Davina Andreatta do

Museu Paulista da Universidade de Satildeo Paulo em colaboraccedilatildeo com o

Departamento do Patrimocircnio Histoacuterico da Secretaria Municipal de Cultural A

pesquisa realizada a partir de prospecccedilotildees e escavaccedilotildees sistemaacuteticas em

ldquoCasas Bandeiristasrdquo e locais puacuteblicos e privados do municiacutepio como becos

ruas praccedilas quintais lixotildees logradouros etc Entre os anos de 1979 e 1981

foram realizadas pesquisas arqueoloacutegicas no Municiacutepio de Satildeo Paulo nos

Siacutetios Mirim em Ermilindo Matarazzo Sitio de Morrinhos no Jardim Satildeo Bento

Casa do Grito no Parque da Independecircncia ndash Ipiranga Beco do Pinto Bairro

da Seacute Casa n 1 do Paacutetio do Coleacutegio e Casa do Tatuapeacute e no bairro do

Tatuapeacute (ANDREATTA 19812 1986a 1986b) Em 1983 Margarida Davina

Andreatta iniciou as pesquisas arqueoloacutegicas na Fazenda Ipanema ndash Iperoacute

Satildeo Paulo atualmente um aacuterea de proteccedilatildeo ambiental FLONA 12

Durante o desenvolvimento dessa pesquisa foram realizadas

escavaccedilotildees e prospecccedilotildees em uma aacuterea extensa daquela Fazenda incluindo

todas as edificaccedilotildees que pertenceram a Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema

(1810-1895)13 e as ruiacutenas existentes no Vale das Furnas junto do ribeiratildeo do

Ferro e interior do Morro de Araccediloiaba Nesta uacuteltima aacuterea denominada Siacutetio

Afonso Sardinha foi evidenciado estruturas de um Faacutebrica de Ferro e Fornos 12 As edificaccedilotildees da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema foram tombadas pelo Instituto do Patrimocircnio Histoacuterico e Artiacutestico Nacional em 1964 O Siacutetio Arqueoloacutegico Afonso Sardinha foi registrado tambeacutem no IPHAN em 1997 por Margarida Davina Andreatta Ver Detalhes de Siacutetios Arqueoloacutegicos Disponiacutevel em lthttpportaliphangovbrportalmontaDetalheSitioArqueologicodoid=SP00236gt Acesso em 09mar 2004 13 Foram realizadas pesquisas arqueoloacutegicas nas aacutereas dos altos fornos fornos de carvatildeo edifiacutecio de armas brancas Praccedila Afonso Sardinha entre outros dependecircncias pertencentes a Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema

36

de Fundiccedilatildeo e uma diversificada tipologia de materiais os quais compotildee os

documentos arqueoloacutegicos que foram registrados no Inventaacuterio de Peccedilas

relacionadas a pesquisa (exemplos em anexo)

Da pesquisa no Sitio Afonso Sardinha foram produzidos um significativo

conjunto documental formado por inuacutemeras tipologias de documentos de

arquivo que formam o Fundo Sitio Afonso Sardinha A partir dessa

documentaccedilatildeo foi possiacutevel acompanhar o processo de desenvolvimento

daquela pesquisa e tambeacutem contextualizar os documentos arqueoloacutegicos

permitindo assim a realizaccedilatildeo de interpretaccedilotildees quanto sua dataccedilatildeo e

significado Nas palavras de Hodder ldquoa partir del momento em que se conoce

el contexto de um objeto este ya no es completamente mudordquo (HODDER

1994 18)

Os documentos do Fundo Siacutetio Afonso Sardinha satildeo compostos por

diaacuterios de campo relatoacuterios de pesquisa planos de escavaccedilatildeo fotografias

correspondecircncias e tambeacutem por uma coleccedilatildeo formada por documentos de

apoio a pesquisa como plantas topograacuteficas planoaltimeacutetricas bibliografia

histoacuterica e teacutecnica sobre mineraccedilatildeo e fundiccedilatildeo de ferro no Brasil nos primeiros

trecircs seacuteculos de colonizaccedilatildeo

A pesquisa realizada a partir da bibliografia encontrada no Fundo Afonso

Sardinha apontou caminhos de investigaccedilatildeo que direcionaram para uma

bibliografia teacutecnica e histoacuterica sobre a teacutecnica da produccedilatildeo de ferro

desenvolvida na Europa especialmente na Espanha entre os seacuteculos XVI-

XVIII Aleacutem disso foi agregada aquela investigaccedilatildeo um conjunto de

documentos de cunho oficial escritos pelos empreendedores daquela

produccedilatildeo e oacutergatildeos administrativos coloniais como a Cacircmara da Vila de Satildeo

Paulo

Assim os documentos pertencentes ao Fundo Afonso Sardinha

documentos textuais oficiais e documentos arqueoloacutegicos ndash permitiram

37

interpretar que a aacuterea do Siacutetio corresponde a um campo de trabalho de

produccedilatildeo de ferro e que as atividades de mineraccedilatildeo e fundiccedilatildeo estavam

distribuiacutedas por uma aacuterea extensa com forte influencia dos modelos de ferrarias

de aacutegua que haviam no periacuteodo pesquisado na regiatildeo basca da Espanha

Assim as possibilidades dadas pela arqueologia histoacuterica de permitir a

utilizaccedilatildeo tanto de documentos arqueoloacutegicos (artefatos) e textuais na

realizaccedilatildeo da pesquisa e produccedilatildeo do conhecimento eacute tambeacutem uma das

principais tensotildees que norteiam as questotildees teoacutericas-metodoloacutegicas da

arqueologia histoacuterica Para tanto autores como Anders Andreacuten ao considerar

que o problema da arqueologia histoacuterica eacute o encontro entre a cultura material e

a escrita indica tambeacutem que a arqueologia histoacuterica natildeo pode ignorar as

disciplinas que tratam do homem como eacute o caso da Histoacuteria da Antropologia

ou da Filologia propondo que a metodologia em arqueologia histoacuterica deve

estabelecer ldquodialogue between artifact and text that is unique in relation to

prehistoric archeology as well as historyrdquo (ANDREacuteN 1998 p 177)

114 Descriccedilatildeo geral das pesquisas arqueoloacutegicas realizadas Entre os anos de 1983 ndash 1989 as ruiacutenas encontradas por Joseacute Monteiro

Salazar (1982) foram objeto de uma pesquisa arqueoloacutegica iniciada pelo

Protocolo de Intenccedilotildees entre o Museu Paulista da Universidade de Satildeo Paulo e o

CENEA ndash Centro Nacional de Engenharia Agriacutecola - oacutergatildeo autocircnomo do Ministeacuterio

da Agricultura ao qual a Fazenda Ipanema estava ligado A pesquisa foi

coordenada pela arqueoacuteloga Margarida Davina Andreatta do Museu Paulista da

Universidade de Satildeo Paulo14

14 A Fazenda Ipanema pertenceu ao CENEA Centro Nacional de Engenharia Agriacutecola oacutergatildeo autocircnomo do Ministeacuterio da Agricultura ateacute a extinccedilatildeo desse Centro em 1990 eacutepoca em que foram exploradas as minas de Apatita para a fabricaccedilatildeo de adubos A pesquisa arqueoloacutegica nesta aacuterea foi coordenada pela pesquisadora e arqueoacuteloga Profa Dra Margarida Davina Andreatta tendo como assistente o pesquisador da Historia regional Joseacute Monteiro Salazar aleacutem de estagiaacuterios da Universidade de Satildeo Paulo e voluntaacuterios

38

Fig 6 MARGARIDA DAVINA ANDREATTA E EQUIPE EM REUNIAtildeO COM A DIRETORIA DA FLORESTA NACIONAL DE IPANEMA 1984

Fig 7 ASPECTO DA FAacuteBRICA DE FERRO em 1987

39

Fig 8 Planta da aacuterea do Sitio Afonso Sardinha aacutereas A1 e A2

40

As pesquisas arqueoloacutegicas desenvolvidas no sitio Afonso Sardinha

evidenciaram a existecircncia de um campo de produccedilatildeo de ferro localizado na

margem esquerda do ribeiratildeo do ferro o qual se mostrou formadas por duas

aacutereas identificadas durante aqueles trabalhos como aacuterea A1 e aacuterea A2

mostradas no Mapa da Figura 8

A aacuterea A1 situada no setor norte do campo apresentou ruiacutenas de uma

edificaccedilatildeo relativamente maior de produccedilatildeo de ferro composto por quatro setores

identificados como Forno (setor A) Forja (setor B) espaccedilo entre a Forja e o Canal

(setor C) e Canal (setor D) espaccedilo sul da estrutura (setor E)

Nessa aacuterea A1 a pesquisa arqueoloacutegica possibilitou as seguintes principais

evidecircncias

(i) ocorrecircncias de escoacuterias de forma disseminada e tambeacutem na forma de

um amontoado junto a parede externa (sul) da Forja

(ii) ocorrecircncias de telhas na aacuterea ao sul das paredes dos setores BC e D

(iii) ocorrecircncias de cravo e lacircminas de metal tambeacutem na aacuterea sul da

estrutura

(iv) ocorrecircncia de ceracircmica neo-brasileira nos setores da forja (B) e do

Forno (A)

(v) ocorrecircncia de faianccedila portuguesa nos setores da Forja (B) e do Forno

(A)

(vi) ocorrecircncia de vidro na parte norte do Forno (setor A) parte externa da

Forja (setor B) e tambeacutem um fragmento no setor E (parte sul da estrutura)

41

(vii) ocorrecircncia de metal na parte interna e externa da Forja (B) na aacuterea E

parte interna da aacuterea (C) e face oeste do Canal (D)

(viii) evidecircncias de esteios nas laterais do Canal (D)

Fig 9 Detalhe da aacuterea A 1 ndash Sitio Afonso Sardinha

42

Fig 10 VISTA GERAL DA AacuteREA A 1 ndash Sitio Afonso Sardinha 1987

Fig 11 VISTA GERAL DA AacuteREA A 2 ndash Siacutetio Afonso Sardinha 1987 Na aacuterea A2 mostrada na figura 12 as pesquisas arqueoloacutegicas

evidenciaram a existecircncia de duas subaacutereas sendo uma denominada de A2-B e a

43

outra de D constituiacuteda de parte de um muro de pedras cuja estrutura natildeo foi

possiacutevel identificar

Fig 12 DETALHE DA AacuteREA A 2 ndash Sitio Afonso Sardinha Na aacuterea A2-B (Morrote) foram observadas as seguintes evidecircncias

(i) ocorrecircncia de dois fornos soterrados sob um Morrote na aacuterea

designada como A2-B

(ii) ocorrecircncia de tijolos telhas e mureta de pedra

44

Na aacuterea D da figura 12 foram observados

(i) mureta de estrutura natildeo identificada

(ii) ocorrecircncia de duas estruturas circulares de natureza natildeo

identificada

(iii) ocorrecircncias de ceracircmicas telhas e tijolos

(iv) Ao sul da aacuterea A2-B observou-se a existecircncia de um muro de

pedra interpretado como sendo parte de um canal tendo ao seu lado duas

estruturas circulares com diacircmetro de 15 m (Figura 13 e 14)

Fig 13 PLANTA MORROTE ndash AacuteREA A2-B 1987

45

Fig 14 MORROTE COM EVIDENCIAS DE ldquoFORNOrdquo AacuteREA A2

46

12 Principais questotildees a serem abordadas no decorrer da Tese Os estudos histoacutericos disponiacuteveis acima apresentados bem como os

resultados das pesquisas arqueoloacutegicas realizadas conforme descritas nos itens

anteriores permitem relacionar um conjunto de questotildees que consideramos

importantes para esclarecimento do processo de instalaccedilatildeo da Faacutebrica de ferro

em Araccediloiaba (Sitio Afonso Sardinha) no periacuteodo compreendido entre o final do

seacuteculo XVI ao seacuteculo XVIII que antecedeu a instalaccedilatildeo da Real Faacutebrica de Ferro

de Ipanema em 1810

Tais questotildees podem ser resumidas conforme seguem

I - Avaliaccedilatildeo dos vestiacutegios arqueoloacutegicos das atividades relacionadas agrave mineraccedilatildeo

e agrave produccedilatildeo de ferro a partir do final do seacuteculo XVI e anteriormente agrave instalaccedilatildeo

da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema em 1810

II - Investigaccedilatildeo das possiacuteveis teacutecnicas de produccedilatildeo e meacutetodos de fundiccedilatildeo de

ferro empregadas em Araccediloiaba no periacuteodo de analise desta tese

III - Caracterizaccedilatildeo de modelos de fornos de fundiccedilatildeo e processos industriais

encontrados na aacuterea do sitio arqueoloacutegico

IV ndash Avaliaccedilatildeo das possiacuteveis causas teacutecnicas e cientiacuteficas relacionadas agraves

dificuldades de produccedilatildeo e de qualidade do ferro produzido em Araccediloiaba

47

CAPITULO 2

A TECNICA DE PRODUCcedilAtildeO DE FERRO NO PERIODO ENTRE OS SEacuteCULOS

XVI AO XVIII

21 Consideraccedilotildees sobre Teacutecnica e Tecnologia

Uma das primeiras questotildees para conceituar Teacutecnica refere-se agraves anaacutelises

que permitem diferenciaacute-la do conceito moderno de Tecnologia Ruy Gama (1986

p 19) ao analisar essa questatildeo a partir de autores de liacutengua inglesa observa que

o conceito de tecnologia aparece ldquoora como simplesmente sinocircnimo de teacutecnica ou

de conjunto de teacutecnicas alarga-se as vezes para incluir o produto material das

teacutecnicas e outras vezes menos frequumlentes eacute usada como sinocircnimo de saber

associado as teacutecnicas ou como estudo das teacutecnicasrdquo

A partir de 1930 a preocupaccedilatildeo com a Histoacuteria da Teacutecnica vem se

difundido sobretudo por meio das anaacutelises iniciadas por autores franceses como

Marc Bloch Lefevre de Noeumlttes e Lucien Febvre e ingleses como Abbott Payson

Lynn White Jr e Lewis Munford que a transformaram numa ldquonova disciplinardquo

historiograacutefica 15

No Brasil a primeira discussatildeo sobre essa temaacutetica foi apresentada em

1985 com a publicaccedilatildeo do livro Histoacuteria da Teacutecnica e da Tecnologia organizado

por Ruy Gama Este trabalho eacute formado por uma coletacircnea de textos claacutessicos e

de outros produzidos por autores estrangeiros e brasileiros sobre a Histoacuteria da

Teacutecnica da Tecnologia e da Ciecircncia Entre os textos escritos por autores

brasileiros destacam-se os trabalhos de Fernando Luis Lobo Barbosa Carneiro e

de Julio R Katinsky

15 Os Textos em que estes autores discutem o conceito de Teacutecnica e Tecnologia foram publicados no livro Historia da Teacutecnica e da Tecnologia organizado por Ruy Gama (1985)

48

No texto escrito por esse uacuteltimo autor estaacute um Glossaacuterio dos Carpinteiros

de Moinho onde o autor apresenta os resultados de uma pesquisa que fez sobre

os moinhos hidrauacutelicos no Brasil cuja utilizaccedilatildeo eacute bastante frequumlente nas aacutereas

rurais dos Estados de Satildeo Paulo e Sul de Minas Aleacutem disso oferece um

glossaacuterio de termos empregados ldquobasicamente na construccedilatildeo de monjolos

prensas de mandioca engenhocas de accediluacutecar e moinhos hidrauacutelicos de gratildeos

estes uacuteltimos geralmente preparados para produzir quirera ou fubaacuterdquo (KATINSKY1985 p 216)

Aleacutem desses textos a Coletacircnea traz dois artigos do economista alematildeo

Johann Beckmann (1729-1811) considerado ldquoo pai da Tecnologiardquo por haver

firmado aquele conceito em fins do seacuteculo XVIII e instituiacutedo a disciplina de

Tecnologia no ensino da Universidade de Goumlttingen16 Em 1777 publica a obra

Instruccedilatildeo sobre Tecnologia em que firmava o seu conceito de Tecnologia como

ldquoconhecimento dos ofiacutecios faacutebricas e manufaturas especialmente daquelas que

tem contacto estrito com a agricultura a administraccedilatildeo puacuteblica e as ciecircncias

cameraliacutesticasrdquo (GAMA 1985 p6) Na introduccedilatildeo dessa mesma obra Beckmann

escrevia que

A histoacuteria das artes pode dedicar-se a enumeraccedilotildees das

invenccedilotildees ao progresso e ao curso habitual de uma arte ou de

um trabalho manual mas eacute a tecnologia que explica de maneira

completa clara e ordenada todos os trabalhos assim como seus

fundamentos e suas consequumlecircncias (BECKMANN Apud GAMA

1985 p6)

Serge Moscovici em Essai sur lrsquohistorie humaine de la Nature referindo-se

a Beckmann afirma que este autor conscientemente ldquoforja o termo tecnologia

para designar a disciplina que descreve e ordena os ofiacutecios e as induacutestrias

existentesrdquo (MOSCOVICI apud GAMA 1985 p 8)

16 Goumlttingen era uma das mais conhecidas universidades da Europa agrave qual se vinculavam muitos estadistas e funcionaacuterios administrativos da Alemanha

49

Para Beckmann e outros autores de seu tempo a Tecnologia estava

intimamente ligada agrave escola e basicamente agrave uniatildeo dos ldquosaacutebiosrdquo com os

ldquofabricantesrdquo que dominavam o conhecimento teacutecnico numa eacutepoca em que este

mesmo conhecimento comeccedilava a ser objeto de investigaccedilatildeo de academias e

universidades as quais tinham como objetivo a formulaccedilatildeo de uma linguagem

tecnoloacutegica por intermeacutedio da codificaccedilatildeo de conceitos Ressaltamos ainda que

as propostas de Beckmann e esse novo olhar paras as teacutecnicas estavam

voltadas para o atendimento de demandas sociais surgidas com a Revoluccedilatildeo

Industrial

Se a Tecnologia tem a funccedilatildeo de explicar como afirma Beckmann ela

tambeacutem teve seu tempo de formulaccedilatildeo Segundo Ruy Gama o nascimento do

conceito de Tecnologia pode ser situado historicamente no decorrer da Idade

Moderna sendo difundido a partir do seacuteculo XVII Para este autor tal conceito foi

construiacutedo

pari passu ao desenvolvimento do capitalismo e agrave substituiccedilatildeo do

modo de produccedilatildeo feudalcoorporativo e do sistema de

transmissatildeo do conhecimento apoiado na aprendizagem pelo

emprego do trabalho assalariado e pelo sistema escolarizado do

conhecimento (GAMA 1986 p30)

Dessa forma ateacute pelo menos antes do advento da ldquoRevoluccedilatildeo da Ciecircnciardquo

(1789-1848) especialmente pelas descobertas proporcionadas pela Quiacutemica 17

todos os processos de produccedilatildeo eram realizados a partir de conhecimentos

ldquopraacuteticosrdquo e que natildeo eram e natildeo poderiam ser explicados cientificamente Assim

trabalhavam os carpinteiros camponeses mineiros e fundidores de metais e

outros artesatildeos da Idade Meacutedia associando engenhosidade experiecircncia e

habilidade manual ou em outras palavras centrados no ldquomais rude empirismordquo

(USHER 1994 p 465)

17 A Quiacutemica entre todas as ciecircncias ldquofoi a mais iacutentima e imediatamente ligada agrave praacutetica industrial ndash a Revoluccedilatildeo Industrial - especialmente integrada aos processos de tingimento de tecidos e branqueamento da industria tecircxtilrdquo ( HOBSBAWM 1979 p305)

50

Para Milton Vargas a Tecnologia soacute pode ter vigecircncia depois do

estabelecimento da Ciecircncia Moderna 18

principalmente pelo fato de essa cultura ser um saber que apesar

de teoacuterico deve necessariamente ser verificado pela experiecircncia

cientiacutefica Esse aspecto experimental e portanto empiacuterico da

Ciecircncia moderna proveacutem da ideacuteia renascentista de que tudo

aquilo que fora realizado pela tradiccedilatildeo teacutecnica poderia secirc-lo

tambeacutem pela teoria e metodologia cientiacuteficas o que

evidentemente aproxima o saber teoacuterico-cientiacutefico do fazer

empiacuterico da teacutecnica (VARGAS 1994 p 16)

22 O conceito de Teacutecnica Originaacuterio da Greacutecia Claacutessica o conceito de Teacutecnica estava inserindo num

tipo de ldquosaber-fazerrdquo associado a mitos como o de Hefestos (Vulcano para os

romanos) ndash o ferreiro - senhor do fogo e da forja que segundo aquela mitologia

havia revelado o segredo desta Teacutecnica aos homens Desta perspectiva

mitoloacutegica o conceito de Teacutecnica transformou-se num outro tipo saber-fazer o da

ldquotechneacuterdquo um conhecimento empiacuterico que somente pode ser obtido atraveacutes do

aprendizado baseado na experiecircncia ou entatildeo a partir dos ensinamentos

transmitidos de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo

Neste sentido a Techneacute natildeo eacute uma habilidade qualquer ldquomas uma

habilidade que segue certas regras por isso techneacute significa tambeacutem ofiacutecio

pressupotildee a existecircncia de um substrato um saber e um conhecimento na

18 Para Hobsbawm o progresso da ciecircncia natildeo pode ser entendido como um simples ldquoavanccedilo linear cada estaacutegio determinando a soluccedilatildeo de problemas anteriormente impliacutecitos nele e por sua vez colocando novos problemas Estes avanccedilos tambeacutem procedem pela descoberta de novos problemas de novas maneiras de enfocar os antigos de novas maneiras de enfrentar e solucionar velhos problemas de campos de investigaccedilatildeo inteiramente novos de novos instrumentos praacuteticos e teoacutericos de investigaccedilatildeordquo (HOBSBAWM 1979 p 302)

51

execuccedilatildeo de uma atividaderdquo (NADAL 2000 p 18) Esta forma de saber baseada

na loacutegica prolongou-se atraveacutes da Idade Meacutedia e chegou aos nossos dias com o

tiacutetulo de Teacutecnicas Natildeo satildeo teorias satildeo conhecimentos que tanto podem ser

adquiridos pela praacutetica como pelo estudo de tratados teacutecnicos

Entre os seacuteculos XVI e XVII a Ciecircncia ao romper com a tradiccedilatildeo

escolaacutestica19 avanccedila para o caminho da experimentaccedilatildeo com a valorizaccedilatildeo das

artes (teacutecnica) as quais jaacute vinham se transformando em objeto de preocupaccedilatildeo e

de estudo desde a Baixa Idade Meacutedia e o Renascimento ateacute chegar agrave constituiccedilatildeo

da Ciecircncia Moderna (DANTAS 2004)

Contraposta ao pensamento grego e medieval em que a

contemplaccedilatildeo das verdades era a meta do conhecimento sabe-se

que a partir do Renascimento haacute uma valorizaccedilatildeo do

conhecimento praacutetico bem como uma mudanccedila no estatuto do

conhecimento teacutecnico Haacute uma expectativa de intervenccedilatildeo e de

controle da natureza e correlativamente um reconhecimento da

teacutecnica isto eacute das atividades inventos e construccedilotildees dos

praacuteticos engenheiros e artesatildeos Daiacute se falar em uma nova forma

de saber e uma nova figura de douto Haacute no entanto uma seacuterie de

dificuldades para estabelecer as razotildees do surgimento dessa

dimensatildeo ativa e o papel que ocupa no nascimento da ciecircncia

moderna (OLIVEIRA1997 p )

No seacuteculo XV esse movimento de valorizaccedilatildeo do trabalho teacutecnico dos

artesatildeos ligado agrave experimentaccedilatildeo foi amplamente difundido pela divulgaccedilatildeo

daqueles conhecimentos atraveacutes de publicaccedilotildees A partir de 1630 surgiram os

Tratados Teacutecnicos Manuais20 como tambeacutem dicionaacuterios e enciclopeacutedias que se

dedicavam ao levantamento da terminologia das diversas artes das

nomenclaturas teacutecnicas e da descriccedilatildeo dos processos e dos meacutetodos das artes

19 Escolaacutestica movimento cultural e filosoacutefico medieval baseado em grande parte em comentaacuterios da obra do filoacutesofo grego Aristoacuteteles e de cunho puramente contemplativo 20 Na arquitetura por exemplo o estabelecimento desta praacutetica permitiu a difusatildeo das teorias e desenhos imaginados pelos arquitetos renascentistas findando assim a necessidade de construir e realizar obras para exemplificar as ideacuteias arquitetocircnicas

52

mecacircnicas as quais acabaram por solapar o domiacutenio das corporaccedilotildees de ofiacutecios 21 (BARGALLOacute 1955 p47)

A publicaccedilatildeo dos manuais teacutecnicos teraacute uma importacircncia decisiva

na padronizaccedilatildeo de unidades de medida e de representaccedilatildeo O

esforccedilo por se fazer compreender sem a equivocidade do discurso

do senso comum e sem o hermetismo do discurso maacutegico-

religioso reservado aos iniciados eacute uma forma decisiva de

objetivaccedilatildeo da comunicaccedilatildeo que muito embora seja fundamental

ao empreendimento da ciecircncia nasce como uma necessidade do

desenvolvimento da teacutecnica As exigecircncias da precisatildeo aparecem

na representaccedilatildeo (desenhos graacuteficos etc) e na linguagem

daquele tipo de saber - as artes mecacircnicas - em seus manuais de

modelos de construccedilatildeo nas descriccedilotildees dos aspectos e

proporccedilotildees dos corpos ou no detalhamento do fabrico e do uso de

instrumentos e artefatos Natildeo eacute difiacutecil ver que esse interesse na

divulgaccedilatildeo de conhecimentos potencializado pelo aparecimento

da imprensa tornava necessaacuteria a padronizaccedilatildeo da divulgaccedilatildeo

com uma linguagem mais objetiva e medidas mais precisas

(OLIVEIRA 1997)

Entre os Tratados Teacutecnicos publicados estaacute a obra De pictura (1435)

considerado o primeiro estudo cientiacutefico da perspectiva pelo italiano Leone

Batista Alberti arquiteto literato e escultor (1404-1472) Para Alberti os artistas

deveriam aprender com todos os outros artesatildeos E o caminho para esse

aprendizado segundo ele consistia em conseguir com os proacuteprios artesatildeos os

21 Dos seacuteculos II (dC) ao XV as Artes estavam classificadas em Artes Liberais e Artes Mecacircnicas As Liberais (assim chamadas por serem consideradas dignas do homem livre) estavam associadas agrave Gramaacutetica Retoacuterica Astronomia Loacutegica Aritmeacutetica Muacutesica Quanto agraves Artes Mecacircnicas organizadas nas aacutereas urbanas eram consideradas menos honrosas mais proacuteprias do trabalhador manualservil como Medicina Arquitetura Agricultura Pintura Escultura Olaria Carpintaria Ferraria Cantaria Ofiacutecio de pedreiros etc As corporaccedilotildees de ofiacutecios ateacute entatildeo responsaacuteveis pelo treinamento dos artesatildeos e pelos segredos dos ofiacutecios (os misteacuterios dos misteres) tinham o sistema de aprendizado baseado na transmissatildeo dos conhecimentos teacutecnicos na praacutetica das oficinas ndash o aprender fazendo ndash que encaminhava o aprendiz na sua carreira passando pela categoria de oficial e finalmente pela de mestre isso quando conviesse agrave corporaccedilatildeo ter mais mestre vale dizer mais oficinas no mercado

53

saberes natildeo divulgados ou secretos dos ofiacutecios Para isso orientava os artistas

para frequumlentar as oficinas e outros lugares de trabalho e fazerem perguntas aos

ferreiros pedreiros construtores de barcos e ateacute aos sapateiros Deveriam

tambeacutem frequumlentemente fingir ignoracircncia para descobrir em que o conhecimento

dos outros excedia aos seus (GAMA 1983 p 284-85)

Esse novo caminho da Ciecircncia o da experimentaccedilatildeo encontra no

pensamento do Filoacutesofo inglecircs Francis Bacon (1561-1626) uma de suas

expressotildees teoacutericas Considerado o fundador da ciecircncia experimental moderna

foi tambeacutem o criador do meacutetodo cientiacutefico baseado na observaccedilatildeo e

experimentaccedilatildeo (empirismo) que permitiram o avanccedilo das teacutecnicas que

transformaram a vida do homem campesino e mineiro do seacuteculo XVII (GAMA

1983 p34)

Em linhas gerais Bacon ldquorejeitou a separaccedilatildeo e a oposiccedilatildeo vigentes nas

filosofias tradicionais entre teoria e praacutetica entre loacutegica e operaccedilotildees reais entre

verdade e utilidaderdquo (GAMA 1983 p 33)

Interpretou essas oposiccedilotildees como oriundas das condiccedilotildees

histoacutericas e sociais bem determinadas que valorizavam a

contemplaccedilatildeo ndash a verdade em sua pureza ndash e que desprezavam

tudo o que fosse ligado agraves atividades praacuteticas e materiais Por

tudo isso preocupou-se em realccedilar tanto quanto fosse necessaacuterio

a importacircncia dos fatores materiais no desenvolvimento da

filosofia e da cultura E a partir daiacute sustenta a identidade entre

verdade e utilidade teoria e atividade operativa conhecer e fazer

e afirma que qualquer separaccedilatildeo e contraposiccedilatildeo entre esses

termos cria obstaacuteculos intransponiacuteveis de resultados efetivos e

eficientes (GAMA1983 p33-34)

54

23 A valorizaccedilatildeo do conhecimento teacutecnico e a ciecircncia experimental moderna Com o nascimento da Ciecircncia Experimental a teacutecnica artesanal e os

procedimentos teacutecnicos ligados agraves Artes Mecacircnicas passaram a ser os meios que

permitiriam o progresso da ciecircncia e o avanccedilo do saber

Joan Luis Vives (1492-1540) filoacutesofo e preceptor da corte inglesa assim

como o italiano Leone Alberti defendia que o homem culto natildeo devia

envergonhar-se de entrar nas oficinas e perguntar aos artesatildeos pelas teacutecnicas

que empregavam em suas artes Vives em sua obra De Tradendis Disciplinis

convidava os estudiosos europeus a prestar grande atenccedilatildeo aos problemas

teacutecnicos relativos agrave construccedilatildeo das maacutequinas agrave agricultura agrave tecelagem agrave

navegaccedilatildeo Advertia ainda que devessem deitar os olhos sobre o trabalho dos

artesatildeos para tentar saber onde e como essas artes foram inventadas buscadas

desenvolvidas conservadas e como aplicaacute-las Dessa forma segundo Vives

(1531 apud ROSSI 1989 p 24) o homem venceria seu tradicional desdeacutem por

aquilo que considerava como conhecimento vulgar o dos artesatildeos22

Nota-se tambeacutem que esse movimento o de valorizaccedilatildeo do saber teacutecnico

nasce no acircmbito das Academias e Associaccedilotildees vinculadas a esta nova

perspectiva de Ciecircncia e natildeo nas Universidades que permaneceram ateacute finais do

seacuteculo XVIII com poucas alteraccedilotildees metodoloacutegicas Entre os novos centros de

conhecimento estavam a Academia dei Lincei en Roma (1603) a Accademia del

Cimento en Florenccedila (1657) a Royal Society de Londres (1660) a Acadeacutemie des

Sciences de Paris (1666) aleacutem de Escolas Artesanais entatildeo criadas que

conjugavam na Ciecircncia Empiacuterica a alianccedila entre o saber (ciecircncia) e o fazer

22 Dentro desta mesma perspectiva devem ser acrescentar as obras do jaacute citado Francis Bacon Harvey Galileu e Boyle que valorizavam a experimentaccedilatildeo e a observaccedilatildeo da natureza reformulando as concepccedilotildees cientiacuteficas e reconhecendo a importacircncia das teacutecnicas e da praacutetica para a Ciecircncia

55

(teacutecnica) Na Espanha por exemplo cria-se uma escola de mineiros exercitados

em teacutecnicas sobretudo nas teacutecnicas metaluacutergicas 23

Assim podemos afirmar que naquele momento entrar no mundo do

conhecimento teacutecnico representava entrar no mundo das corporaccedilotildees de ofiacutecios

desvendando os segredos por meio da apropriaccedilatildeo do saber teacutecnico e da

linguagem utilizada pelos artesatildeos para a realizaccedilatildeo de seus ofiacutecios Para Ruy

Gama A que parece o domiacutenio dos segredos da linguagem dos artesatildeos

foi a porta pela qual se entrou no domiacutenio dos proacuteprios segredos

dos ofiacutecios Dentre os misteacuterios dos misteres a linguagem foi a

primeira a ser desvendada decifrada e jogada na rua pelas portas

e janelas arrombadas das oficinas ndash numa espeacutecie de accedilatildeo de

despejo ndash para ser vista por todo mundo (GAMA 1986 p 48)

Nas escolas artesanais surge a Tecnologia como disciplina curricular A

institucionalizaccedilatildeo deste saber permitiu que aqueles conhecimentos teacutecnicos

fossem reunidos estruturados e sistematizados e dessa forma transmitidos a um

nuacutemero cada vez maior de pessoas (GAMA 1994 p 54)

2 4 A Tecnologia como sinocircnimo de Teacutecnica

Apesar de toda a diferenciaccedilatildeo jaacute feita entre os conceitos de Teacutecnica e

Tecnologia estes termos satildeo frequumlentemente utilizados como sinocircnimos Autores

da liacutengua ingleses natildeo fazem esta distinccedilatildeo pois consideram entre outros

aspectos que a Histoacuteria da Teacutecnica e a Histoacuteria da Tecnologia apresentam seus

campos embaralhados e sua periodizaccedilatildeo extremamente difiacutecil de definir Lynn

White Jr historiador econocircmico e medievalista americano por exemplo afirma

que a Tecnologia natildeo conhece fronteiras cronoloacutegicas e geograacuteficas pois entende

Tecnologia como o ldquoconjunto de todas as Teacutecnicasrdquo e ldquoas maneiras pelas quais as

56

pessoas fazem coisasrdquo (GAMA 1985 p 14) Mas segundo Ruy Gama esta

definiccedilatildeo natildeo permite nem o estabelecimento de uma fronteira histoacuterico-

cronoloacutegica e nem geograacutefica para situar o ldquonascimentordquo do conceito jaacute que Lynn

o emprega como sinocircnimo de Histoacuteria do Trabalho e dessa forma permite

empregar o termo Tecnologia para todas as realizaccedilotildees e obras materiais dos

povos (GAMA 1985 p 14-15)

Essa concepccedilatildeo de Tecnologia como sinocircnimo de Teacutecnica desenvolve-se

num contexto em que entre outros aspectos a Arqueologia e a Histoacuteria

passavam por reformulaccedilotildees conceituais A Arqueologia passava a revelar nos

anos 40 do seacuteculo XX novos documentos materiais relacionados a civilizaccedilotildees da

Ameacuterica preacute-colombiana que supunha-se natildeo conheciam a escrita (pesquisas

atuais comeccedilam a demonstrar que a conheciam) e tampouco a roda elementos

considerados naquele periacuteodo indicadores para qualificar o niacutevel de progresso

teacutecnico de uma determinada sociedade que poderia ser considerada como

ldquoavanccediladardquo ou ldquoatrasadardquo Essas descobertas levaram a uma reavaliaccedilatildeo nas

ideacuteias de progresso e civilizaccedilatildeo e na forma de olhar outras sociedades deixando

de centrar as anaacutelises somente no ldquoeixo tradicional etnocecircntrico europeurdquo (GAMA

1985 p 14-15)

Quanto agrave Histoacuteria o nascimento de uma nova escola historiograacutefica a

Histoacuteria Nova surgida na Franccedila na primeira metade do seacuteculo XX daacute um novo

enfoque teoacuterico-metodoloacutegico agrave pesquisa histoacuterica voltada para a anaacutelise do

cotidiano Esta nova tendecircncia amplia a noccedilatildeo de documento aproximando a

Histoacuteria das demais Ciecircncias Humanas entre elas a Arqueologia possibilitando

nos anos 60 do seacuteculo XX uma ldquoverdadeira Revoluccedilatildeo Documentalrdquo que permitiu

nas anaacutelises historiograacuteficas a incorporaccedilatildeo dos documentos natildeo-escritos -

cultura material ndash viabilizando o estudo das sociedades que natildeo possuiacuteam a

escrita para registrar sua Histoacuteria

Para a divulgaccedilatildeo desse novo conceito de documento Lucien Febvre

idealizou no periacuteodo entre as duas primeiras guerras uma revista de Histoacuteria que

57

seria fundada mais tarde em parceria com Marc Bloch com o nome de Annales

drsquoHistorie Economique et Sociale os ldquoAnnalesrdquo Para Febvre ao analisar o

trabalho do historiador a partir da noccedilatildeo ampliada de documento afirma que

A Historia faz-se com documentos escritos sem duacutevida Quando

estes existem Mas pode fazer-se deve fazer-se sem documentos

escritos quando natildeo existem Com tudo o que a habilidade do

historiador lhe permite utilizar para fabricar o seu mel na falta das

flores habituais Logo com palavras signos paisagens e telhas

Com as formas do campo e ervas daninhas Com os eclipses da

lua e a atrelagem dos cavalos de tiro Com os exames de pedras

feitos pelos geoacutelogos e com a anaacutelise de metais feitas pelos

quiacutemicos Numa palavra com tudo o que pertencente ao homem

depende do homem serve ao homem exprime o homem

demonstra a presenccedila a actividade os gostos e as maneiras de

ser do homem

Toda uma parte e sem duacutevida a mais apaixonante do nosso

trabalho de historiadores natildeo consistiraacute num esforccedilo constante

para fazer falar as coisas mudas para fazecirc-las dizer o que elas

por si proacuteprias natildeo dizem sobre os homens sobre as sociedades

que as produziram e para constituir finalmente entre elas aquela

vasta rede de solidariedade e de entre-ajuda que supre a

ausecircncia do documento escritordquo (FEBVRE 1953 p 428 apud

GOFF 1984 p 98)

Para conceituar Teacutecnica e Tecnologia recorremos tambeacutem ao Dicionaacuterio

das Ciecircncias Sociais de Alain Birou segundo o qual Teacutecnica significa

O conjunto de regras praacuteticas para fazer coisas determinadas

envolvendo a habilidade do executor e transmitidas verbalmente

por exemplo no uso das matildeos dos instrumentos e ferramentas e

das maacutequinas Alarga-se frequumlentemente o conceito para nele

incluir o conjunto dos processos de uma ciecircncia arte ou ofiacutecio

para obtenccedilatildeo de um resultado determinado com o melhor

rendimento possiacutevel (GAMA 1986 p 30)

58

Para este mesmo dicionaacuterio Tecnologia eacute

O estudo e conhecimento cientiacutefico das operaccedilotildees teacutecnicas ou da

teacutecnica Compreende o estudo sistemaacutetico dos instrumentos das

ferramentas e das maacutequinas empregadas nos diversos ramos da

teacutecnica dos gestos de trabalho e dos custos dos materiais e da

energia empregada A tecnologia implica na aplicaccedilatildeo dos meacutetodos

das ciecircncias fiacutesicas e naturais e como assinala Alan Birou tambeacutem

na comunicaccedilatildeo desses conhecimentos pelo ensino teacutecnico

(GAMA 1986 p 30)

Diante dessas consideraccedilotildees sobre Teacutecnica e Tecnologia salientamos

que neste trabalho pretendemos a partir da Arqueologia Histoacuterica contribuir

para a Histoacuteria da Teacutecnica no periacuteodo colonial brasileiro especialmente no que

diz respeito agraves teacutecnicas relacionadas agrave mineraccedilatildeo e agrave metalurgia

No periacuteodo analisado entre os seacuteculos XVI e XVIII todos os trabalhos

relacionados agravequelas atividades estavam baseados no puro empirismo no saber-

fazer e nas experiecircncias praacuteticas daqueles trabalhadores que sabiam realizar as

operaccedilotildees de fundiccedilatildeo de forma praacutetica mas natildeo tinham instrumentos para

explicaacute-los Somente com o advento da Ciecircncia Moderna especialmente com a

Revoluccedilatildeo Cientiacutefica eacute que aqueles mineiros e fundidores puderam compreender

as operaccedilotildees produtivas que realizavam

Assim assumimos a periodizaccedilatildeo proposta por Ruy Gama ao considerar

Teacutecnica e Tecnologia como categorias distintas e portanto que a Histoacuteria da

Teacutecnica natildeo coincide com a Histoacuteria da Tecnologia

59

25 A teacutecnica de produccedilatildeo do ferro no periacuteodo entre os seacuteculo XVI ao XVIII

Los antiguos herrreros descubrieron que si martillaban

repetidamente y recalentaban una y otra vez en fuego de carboacuten

un trozo de mineral de hierro al rojo obteniacutean un metal

extremamente fuerte y duro ndash hierro forjado (CARDWELL 1994

p 33)

Antes do conhecimento dos metais eram aproveitadas ldquotreze diferentes

espeacutecies minerais todas do grupo natildeo-metaacutelicos denominadas calcedocircnia (chert

e siacutelex) quartzo cristal de rocha jaspe serpentina pirita calcita ametista

fluorita esteatita acircmbar e obsidianardquo (GUIMARAtildeES1981p22) A estes minerais

natildeo metaacutelicos pode-se acrescentar a utilizaccedilatildeo de ldquopigmentos minerais usados

para ornamentos e pintura constituiacutedos de argila e oacutexidos metaacutelicos coloridos

embora alguns objetos feitos especialmente de cobre tenham sido encontrados e

datados de aproximadamente 9000 aC (GUIMARAtildeES 1981 p 22)

Atribui-se o iniacutecio do aproveitamento dos mineacuterios para a extraccedilatildeo de

metais entre os anos de 6000 a 5000 aC Admite-se que o cobre teria sido o

primeiro metal produzido pelo homem depois o bronze (uma liga metaacutelica de

estanho e cobre) Na mesma eacutepoca tambeacutem se passou a utilizar o chumbo e por

uacuteltimo o ferro Na chamada ldquoIdade do Ferrordquo houve tambeacutem a difusatildeo da

fabricaccedilatildeo do vidro e do mercuacuterio

Pesquisas arqueoloacutegicas em aacutereas mineiras da Europa tem possibilitado

revisotildees do conhecimento relacionado a natureza das mateacuterias-primas

empregadas na extraccedilatildeo do ferro Tradicionalmente sustentava-se a ideacuteia de que

a mateacuteria-prima com que se confeccionavam os primeiros objetos de ferro teria

origem em meteoritos Esta teoria se aplicava particularmente aos objetos

fabricados com ferro rico em niacutequel Atualmente pesquisas na aacuterea da

paleometalurgia demonstram que a origem de associaccedilotildees do ferro com outros

60

metais ocorre em razatildeo da composiccedilatildeo quiacutemica natural dos minerais utilizados

para a produccedilatildeo destes materiais (FAUS 2000 p 27)

O ferro como alguns outros metais natildeo eacute encontrado na natureza em

forma pura sendo que nestas condiccedilotildees encontra-se sempre combinado com

outros elementos formando oacutexidos carbonatos silicatos e sulfatos Para a

produccedilatildeo do ferro satildeo utilizados mineacuterios sobretudo os oacutexidos tais como a

hematita (Fe2O3) e a magnetita (Fe3O4) 24 Outros mineacuterios de menor importacircncia

para a produccedilatildeo tambeacutem contecircm ferro tais como a Siderita (FeCO3) Limonita

(Fe3O4) Pirita (FeS2) e a (Cromita FeOCr2O3) ( LABOURIAU 1928 p 95-110)

Os termos ldquomineralrdquo ldquomineacuteriordquo e ldquometalrdquo precisam ser esclarecidos para que

se possa compreender a forma da produccedilatildeo do ferro

Mineral eacute uma substacircncia formada em resultado da interaccedilatildeo de

processos geoloacutegicos em ambientes geoloacutegicos naturais Os minerais variam na

sua composiccedilatildeo desde elementos quiacutemicos em estado puro ou quase puro e

sais simples a silicatos complexos com milhares de formas conhecidas

(LABOURIAU 1928 p 95-96)

Mineacuterio eacute toda substacircncia natural da qual se possa fazer a extraccedilatildeo de

algum metal (como a hematita e a magnetita) Assim um mineacuterio eacute sempre uma

substacircncia mineral Entretanto nem todo mineral eacute mineacuterio pois alguns minerais

natildeo permitem a extraccedilatildeo de metais como exemplo pode-se citar a pirita (sulfeto

de ferro) um mineral que eacute aproveitado para a fabricaccedilatildeo do aacutecido sulfuacuterico mas

que natildeo permite a extraccedilatildeo do metal nele contido (o ferro) Por conseguinte a

perita eacute um mineral uacutetil mas natildeo eacute um mineacuterio (LABOURIAU 1928 p 95-96)

Metal cada um de um grande grupo de substancias simples obtidas a

partir de mineacuterios

24 A magnetita eacute assim denominada devido ao seu magnetismo natural eacute um mineral de cor preta acinzentada ou avermelhada com brilho metaacutelico de formula quiacutemica (Fe3O4)

61

Para a extraccedilatildeo do ferro dos seus mineacuterios (geralmente oacutexidos feacuterricos

como a hematita) foram desenvolvidas desde a Antiguumlidade teacutecnicas de fundiccedilatildeo

destes materiais por reduccedilatildeo que utilizavam carvatildeo de madeira como redutor

Entretanto variava de uma regiatildeo para outra o tipo do forno e forma de colocaccedilatildeo

do mineacuterio e do carvatildeo no seu interior

Elena Faus referindo ao caso da tradiccedilatildeo basca defende que ateacute o seacuteculo

XIX os avanccedilos dos meacutetodos de fundiccedilatildeo do ferro tecircm decorrido independentes

da investigaccedilatildeo cientiacutefica Para esta autora esses avanccedilos teacutecnicos foram

realizados por ldquouma multitud anoacutenima de individuos de talento formados a la

sombra del teller protagoniza la Historia de la Tecnologia Son analfabetos y no

han conocido ninguacuten tipo de ensentildeanzardquo (FAUS 2000 p 51) O aprimoramento

da teacutecnica de fundiccedilatildeo podia entatildeo ser considerado como uma sucessatildeo de

ldquoinventosrdquo de artesatildeos que na determinaccedilatildeo em resolver as dificuldades que

surgiam inventaram teacutecnicas de fundiccedilatildeo a partir de experiecircncias praacuteticas pelo

uacutenico meacutetodo que conheciam o da praacutexis do ensaio e erro (FAUS 2000 p51)

Toda a produccedilatildeo do ferro estava fundamentada em conhecimentos

teacutecnicos baseados na praacutetica e que eram conhecimentos secretos restritos aos

membros da respectiva corporaccedilatildeo de ofiacutecio Ateacute a ldquorevoluccedilatildeo da Quiacutemicardquo no

seacuteculo XVIII natildeo havia nenhum conhecimento que pudesse explicar de forma

cientiacutefica o processo em que ocorria a reduccedilatildeo do mineacuterio em metal Soacute a partir

daiacute foi possiacutevel por exemplo explicar a atuaccedilatildeo de um elemento o Carbono

obtido pela queima do carvatildeo vegetal no processo produtivo do ferro Na Franccedila

em 1722 o cientista Reneacute Reacuteaumur concluiu que a diferenccedila entre as distintas

qualidades do ferro e do accedilo resultava da incorporaccedilatildeo de uma substacircncia

material Em 1786 na Sueacutecia os matemaacuteticos Vandermonde e Berthollet e o

quiacutemico Monge confirmaram esta hipoacutetese e identificaram o elemento o

Carbono o mesmo procedente da queima do carvatildeo de madeira utilizado desde

a antiguidade na fabricaccedilatildeo (FAUS 2000 p 21-22)

62

Com o aprimoramento da teacutecnica de fabricaccedilatildeo do ferro descobriu-se

tambeacutem a forma de se produzir accedilo sendo que sua difusatildeo promoveu a

emergecircncia de instrumentos e ferramentas completamente novas dando prestiacutegio

a todos aqueles que dominavam a teacutecnica dos metais Dessa forma o ferro e

depois o accedilo foi empregado na fabricaccedilatildeo de uma diversificada variedade de

instrumentos que anteriormente eram confeccionados com madeira ou pedra

transformando assim a metalurgia em uma teacutecnica extremamente estrateacutegica

Para Donald Cardwel

la metalurgiacutea hizo posibles instrumentos y herramientas completamente nuevos ndash y anteriormente inimaginables - La

importancia fundamental de la metalurgiacutea y el prestigio de los

trabajadores expertos en el metal quedan confirmados como

sentildealaba Samuel Smiles por la frecuencia del apellido Smith

(lsquoHerrerorsquo) Ademaacutes la palabra Smith es de origen noacuterdico o

germacircnico lo cual da una clave para entender la localizacioacuten de

los primitivos centros del trabajo del metal en el occidente

europeo (CARDWEL 1994 p 34 grifo nosso)

A crescente demanda de objetos e utensiacutelios feitos de ferro proporcionou o

aprimoramento das teacutecnicas de fundiccedilatildeo como tambeacutem da especializaccedilatildeo

daquele trabalho

Na Espanha por exemplo os espaccedilos destinados a produccedilatildeo de ferro

foram se especializando Um desses espaccedilos era denominado de ferrarias

maiores que se especializaram na fundiccedilatildeo dos mineacuterios para a obtenccedilatildeo de

metal e outras denominadas de ferrarias menores dedicavam-se aacute manufatura

desse metal ou seja transformando-o em barras ou laminas para fabricar entre

outros produtos instrumentos e acessoacuterios agriacutecolas (ferraduras) armas

(espadas) e materiais construtivos (cravos) etc ( FERNANDEZ p 5)

63

Desde o iniacutecio da metalurgia tem-se buscado tambeacutem a maneira pela qual

os fornos pudessem alcanccedilar temperaturas cada vez elevadas pois para que se

possa retirar o ferro do mineacuterio de forma que fosse possiacutevel o aproveitamento de

todo metal nele existente a temperatura do forno deve se elevar aleacutem de 1535ordmC

ponto de fusatildeo daquele metal

Contudo os primeiros fornos empregados para a reduccedilatildeo com a utilizaccedilatildeo

de carvatildeo vegetal alcanccedilavam apenas temperaturas que variavam entre 1200ordmC

e 1300ordmC insuficientes para a fusatildeo completa e portanto o ferro obtido com

aquela temperatura natildeo era retirado do forno em estado liacutequido e sim em estado

pastoso A essa temperatura (12001300ordm C) o mineacuterio de ferro transformava-se

em uma ldquomassa esponjosardquo repleta de impurezas (escoacuterias que ainda

apresentavam uma significativa quantidade de ferro na sua composiccedilatildeo) Essa

massa era entatildeo colocada sobre uma bigorna e por meio de martelamento

manual ou mecacircnico retiravam-se as escoacuterias que ainda permaneciam grudadas

naquela massa compactando-a e dando forma ao metal

Labouriau ao explicar a accedilatildeo do carvatildeo vegetal durante o processo de

reduccedilatildeo explica que o carvatildeo vegetal em contato com o oxigecircnio da atmosfera

queima produzindo calor formando o gaacutes carbocircnico (CO e CO2) Esse CO2 entatildeo

ao reagir com uma parte do carvatildeo passa para CO e que esse CO juntamente

com uma parte do carvatildeo retira o oxigecircnio do mineacuterio e fica o ferro ligado a um

pouco de Carbonordquo (LABOURIAU 1928 p 146)

Essa teacutecnica de produccedilatildeo de ferro ficou conhecida como ldquoprocesso Diretordquo

ou ldquomeacutetodo de reduccedilatildeo diretardquo e o ferro produzido era o ldquoferro docerdquo Ateacute o seacuteculo

XV com o aparecimento do alto-forno esta era a uacutenica teacutecnica conhecida e

empregada na produccedilatildeo daquele metal No alto-forno o ferro atingia

temperaturas mais elevadas possibilitando uma maior absorccedilatildeo de carbono do

carvatildeo vegetal transformando-se em gusa (ferro-gusa ou ferro fundido) que saiacutea

64

do forno no estado liquido incandescente25 No seacuteculo XVI o alto forno foi

aperfeiccediloado na Alemanha e na Aacuteustria com o aparecimento do Stueckofen (alto-

forno) construiacutedos de alvenaria

Com a utilizaccedilatildeo do alto-forno e com a obtenccedilatildeo do ferro em sua forma

liacutequida foram possiacuteveis as produccedilotildees de armas de fogo balas de canhatildeo sinos

de igreja e mais tarde a fabricaccedilatildeo de adornos para as residecircncias tais como

grades enfim produtos que puderam ser produzidos a partir do ferro liacutequido

deitado em moldes

26 Fornos de fundiccedilatildeo de ferro Segundo Jordi Maluquer Motes no iniacutecio da metalurgia utilizavam-se

pequenos fornos (fornos baixos) para extraccedilatildeo do metal (ferro) os quais natildeo

eram mais que uma cavidade ciliacutendica escavada no terreno ou em uma rocha

Contudo a forma e o tamanho dos fornos foram mudando ao longo do tempo e

de simples cavidades escavadas no chatildeo os fornos comeccedilaram a ganhar ao

redor daquele ciacuterculo paredes de argila refrataacuteria o que permitia fazer fornadas

maiores aumentando assim a produccedilatildeo Contudo todos eles ateacute o advento do

alto-forno produziam por meio da reduccedilatildeo direta o ferro em estado pastoso O

produto (ferro) que ficava no interior do forno apoacutes a fundiccedilatildeo do mineacuterio era

chamado de massa de ferro patildeo de ferro ou lupa (MALUQUER DE MOTES

1983 p21)

25 No Brasil o alto-forno foi construiacutedo apenas no iniacutecio do seacuteculo XIX na Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema quando este estabelecimento estava sob a direccedilatildeo de Hedberg

65

Fig 15 CORTE ESQUEMAacuteTICO DE UM FORNO DE FUNDICcedilAtildeO ndash Forno

baixo26 Natildeo haacute descriccedilotildees detalhadas acerca desses fornos primitivos mas

vestiacutegios encontrados em vaacuterias partes da Europa como em Illasheim

(Alemanha) indicam que estes fornos apresentavam uma planta circular No

centro da Europa outros fornos construiacutedos pelos Celtas tambeacutem apresentavam

reduzidas dimensotildees Os fornos Celtas tinham em meacutedia 35 a 50 cm de

diacircmetro com uma profundidade de 45 a 50 cm Sobre uma base levantavam o

forno propriamente dito construiacutedo por uma parede ciliacutendrica de argila medindo

entre 60 a 100cm Os Celtas chegaram a desenvolver teacutecnicas eficientes de

aceramento (conversatildeo do ferro em accedilo) como por exemplo na Suiacuteccedila onde a

produccedilatildeo de espadas ganhou fama por sua resistecircncia (FAUS 2000 p 32-34)

Fornos ruacutesticos tambeacutem foram encontrados em Bengala Aacutefrica

denominados de fornos africanos ou fornos iacutendios Eram fornos ciliacutendricos e

confeccionados em areia ferruginosa mal amassada sustentada por uma

armadura de bambu Tinham dimensotildees de 090m de altura com um diacircmetro de

030m A base do forno era furada em vaacuterios lugares e colocava-se um fole em

cada uma das aberturas exceto na grade da frente (orifiacutecio pelo qual eram

26 Disponiacutevel em La Farga Rossel lthttpwwwfargarosseladcaslafarga21434htmgt

66

retiradas as escoacuterias) o que dava em geral um total de sete foles por forno

(FAUS 2000 p 50)

Fig 16 MAQUETE FORNO CELTA ndash forno baixo27

Durante o periacuteodo de dominaccedilatildeo romana Roma passou a controlar toda a

exploraccedilatildeo do ouro prata e ferro produzidos em seu impeacuterio Para a produccedilatildeo

desse uacuteltimo metal empregavam teacutecnicas de fundiccedilatildeo utilizando-se dos

chamados fornos romanos As ferrarias romanas eram constituiacutedas de ldquoum

montatildeo de fornosrdquo construiacutedos com barro e palha (RODRIGUES 1964 p11)

27 Disponiacutevel em Exposition 2000 ans de meacutetallurgie en Nivernais des Gaulois agrave Ariane ltjprostclubfravgexpo2003htmlgt

67

Fig 17 FORNO ROMANO RODRIGUES (1964 p 12)

Neste mesmo periacuteodo homens bascos dos redutos resistentes agrave

dominaccedilatildeo romana continuaram a produzir o ferro por meacutetodos de fundiccedilatildeo que

haviam aprendido com seus ancestrais utilizando os chamados ldquofornos de ventordquo

os quais podem ser relacionados agrave primeira fase da elaboraccedilatildeo do ferro As

instalaccedilotildees que utilizavam esses fornos passaram a ser conhecida como ferrarias

secas de montanha de vento Habitualmente os fornos dessas ferrarias eram

construiacutedos em aacutereas montanhosas em pontos elevados a fim de aproveitar a

forccedila dos ventos para ativar a combustatildeo do carvatildeo vegetal (FAUS 2000 p 47)

68

Fig 18 Fornos de vento ou de lupa28

Fig 19 FORNOS DE LUPA OU DE VENTO corte esquemaacutetico

28 Disponiacutevel em La Farga Rossel lthttpwwwfargarosseladcaslafarga21434htmgt

69

Para Jordi Maluquer de Motes a maior dificuldade de operaccedilatildeo da

combustatildeo era o controle das temperaturas do forno sendo que o grande

segredo para a utilizaccedilatildeo desses fornos de vento era a adequada posiccedilatildeo em que

este era instalado e tambeacutem a correta utilizaccedilatildeo dos meios artificiais empregados

na ativaccedilatildeo da combustatildeo do carvatildeo vegetal tal como o emprego de foles

manuais feitos de peles de animais Esse procedimento requeria um esforccedilo

bastante grande de trabalho humano natildeo apenas no acionamento do fole como

tambeacutem para as operaccedilotildees de martelamento da massa de ferro que se formava

no interior do forno (MALUQUER DE MOTES 1983 p 21)

Por utilizarem esta teacutecnica de reduccedilatildeo as ferrarias de vento geralmente

ficavam instaladas em regiotildees distantes dos povoados o que tambeacutem levava um

significativo nuacutemero de fundidores e mineiros a passar parte de suas vidas

distantes daqueles povoados Esse distanciamento suscitou ateacute mesmo o

surgimento de mitos e faacutebulas conforme aponta Elena Faus (2000) que

enriqueceram a cultura popular europeacuteia em especial a cultura basca

Las maravailhas del arte de aquellos seres ton solo por ellos

conocidos les hizo mecedores de leyendas Muchas de ellas les

han sobrevivido y han pasado a integrar el bagaje mitoloacutegico de la

cultura vasca

El velo de magia que enturbiaba la figura de los ferrones se

time en ocasiones de un cierto cariz de condena religiosa Se les

identifica con los lsquogentilesrsquo reacios a la evangelizacioacuten o con el

proprio demonio (lsquosentildeor de los bosquesrsquo o lsquobasejaunrsquo) en persona

(FAUS 2000 p 47)

Outros tipos de fornos de vento ou de montanha foram encontrados na

Ameacuterica Espanhola Em Potosi na atual Boliacutevia os indiacutegenas utilizavam um tipo

de forno para a fabricaccedilatildeo da prata denominado de ldquoforno de guairardquo Estes

fornos mesmo apoacutes a conquista espanhola em Potosiacute foram aproveitados para a

produccedilatildeo daquele metal (BARGALLOacute 1955 p 91)

70

Fig 20 FORNO DE GUAIRA ndash utilizado em Potosi Boliacutevia29

Aleacutem desses fornos de montanha que utilizavam a corrente de ar da

proacutepria atmosfera para acionar a combustatildeo do carvatildeo havia tambeacutem outros

tipos de fornos de fundiccedilatildeo acionados com o emprego de foles manuais Esses

fornos ficaram conhecidos por vaacuterias denominaccedilotildees e podiam ser construiacutedos de

formas e tamanhos diferentes Contudo todos eles apresentavam as mesmas

caracteriacutesticas teacutecnicas eram fornos baixos acionados por foles manuais e que

produziam o ferro utilizando o meacutetodo direto de fundiccedilatildeo Entre esses fornos

destacam os fornos de cuba de lupa de manga e castelhanos (BARGALLOacute

1955 p 91)

29Proyecto Arqueoloacutegico Porco-Potosi Disponiacutevel httplamarcolostateedu~mvanburespanish20participantshtm

71

Fig 21 Forno de Fundiccedilatildeo xilogravura de George Agriacutecola seacutec XVI30

Fig 22 Forno de Fundiccedilatildeo xilogravura de George Agriacutecola seacutec XVI31

30 Disponiacutevel em lttechnologyinfominecomdrmbook11htmgt Acesso em 17nov06

72

Tratados Teacutecnicos publicados no seacuteculo XVI como o De re metallica de

George Agriacutecola oferecerem descriccedilotildees e desenhos atraveacutes dos quais eacute possiacutevel

conhecer algumas formas daqueles fornos A partir de algumas gravuras ali

publicadas eacute possiacutevel identificar que os mesmos habitualmente eram construiacutedos

sobre uma base quadrada e eram utilizados na produccedilatildeo muitos metais como o

cobre o ouro prata e tambeacutem o ferro Esses fornos registrados por Agriacutecola

eram especialmente destinados para a fundiccedilatildeo de minerais em pedra Na

Ameacuterica Espanhola receberam o nome de ldquofornos castelhanosrdquo

Um outro autor a abordar esse tema foi Aacutelvaro Alonso Barba No seu

tratado Arte de los Metales afirmava que os fornos castelhanos eram utilizados

tambeacutem em outras partes do mundo A descriccedilatildeo que faz Barba do uso desses

fornos no Peru eacute por si soacute bastante didaacutetica para compreender o seu

funcionamento

Llaman en este reyno hornos castellanos a los que en las otras

trecircs partes del mundo han sido usados y comunes para la

fabricacioacuten de toda suerte de metales De ellos solos trata el

Agriacutecola para este efecto y es una la faacutebrica de todos y no

difieren en mas que en se mayores o menores y tener la boca

por onde el metal fundido sale oacute abierta siempre oacute cerrada a

ratos como se diraacute adelante Levaacutentense estos hornos a

perpendiculo en forma de um pilar quadrado algo maacutes largo que

anchos por lo hueco Tienen de alto algunos una vara otros casi

dos y otros menos seguacuten la grandeza de los fuelles con que

huviere de fundirse y la facilidad oacute dureza de los metales

requiere Por la parte de atraacutes en una ventanilla que para esto se

dexa en la pared algo levantada del suelo se afixa el alchrebiz en

que han de estar los cantildeones de fuelle puesto con advertencia

31 Disponiacutevel em httpwwwbizkaianetkulturakirol_gazteriaFTPGazteriapaginadedesplegablePrimitivas_instalacionespdfgt Acesso em 17nov06

73

de que no assome oacute passe aacute lo hueco del horno porque las

escorias que sobre eacutel cayeren helaacutendose con el ayre del sopro

no lo paten oacute impidan El suelo del horno se hace de dos partes

de carbon molido y una de tierra buena bien apretado con pisoacuten

Assientase pendiente azia la parte delantera donde tendraacute un

agujero por onde corra el metal fundido y salgan las escorias aacute

una hordilla que junto aacute el estaraacute bien caliente con carbones

encendidos con a llama del horno y aire del fuelle que sale por el

dicho agujero

Otros hacen estos hornos redondos mas anchos de arriba

que de abajo y son menores para lo que se pretende con que se

tenga advertecircncia que siempre este a perpendiculo la parede se

pone el fuelle porque el metal fundido o las escorias no caygan

sobre la boca del alchrebiz y la tanpenrdquo (BARBA 1640 Apud

BARGALLOacute 1955 p 93)

Entre os seacuteculos XII e XVI a teacutecnica de fundiccedilatildeo do ferro experimentou um

notaacutevel impulso em razatildeo da demanda por derivados de ferro incrementada tanto

pelas guerras que necessitavam de ferragens para as montarias apetrechos

defensivos para os soldados e armas mortiacuteferas como por instrumentos para a

agricultura Tambeacutem para a construccedilatildeo das grandes catedrais era necessaacuterio

ferro para as armaccedilotildees metaacutelicas cravos ferramentas entre outros (FAUS 2000

p52)

Para atender a estas demandas era necessaacuterio que se produzisse a maior

quantidade possiacutevel de ferro e os fornos baixos que eram anteriormente

utilizados natildeo atendiam aqueles objetivos Para tanto natildeo apenas os fornos

foram tomando outras formas como tambeacutem houve uma mecanizaccedilatildeo por meio

da utilizaccedilatildeo da energia hidraacuteulica (rodas drsquo aacutegua verticais) e da trompa hidraacuteulica

no processo produtivo tornando obsoletas as ferrarias que utilizavam a forccedila

humana e animal para a produccedilatildeo

A importacircncia da mecanizaccedilatildeo na produccedilatildeo do ferro com o uso da roda

hidraacuteulica e da trompa foi tanta que para alguns autores pode-se consideraacute-la

74

como uma autecircntica revoluccedilatildeo tecnoloacutegica (MALUQUER DE MOTES 1984 p 21-

24)

A aplicaccedilatildeo desse mecanismo (roda drsquoaacutegua) ao processo produtivo fez

com que as ferrarias que anteriormente ficavam concentradas no alto de

montanhas fossem trasladadas para as margens de rios buscando a energia

hidraacuteulica capaz de acionar primeiramente dos foles possibilitando a construccedilatildeo

de fornos de maiores dimensotildees e dessa maneira a produccedilatildeo do ferro em maior

escala

Depois dos foles a roda drsquoaacutegua foi utilizada para a mecanizaccedilatildeo do

acionamento dos malhos (grandes martelos responsaacuteveis por liberarem as

escoacuterias das massas de ferro dando-lhes formas que pudessem ser

comercializaacuteveis como o ferro em barra) A funccedilatildeo da trompa era a mesma dos

foles isto eacute insulflar ar ao interior do forno para que a combustatildeo alcanccedilasse

uma temperatura elevada A trompa era um engenhoso sistema de insuflar ar e

tambeacutem o elemento mais caracteriacutestico do procedimento conhecido como da

ldquofarga catalatilderdquo ou forno catalatildeo

O primeiro emprego da roda drsquoaacutegua vertical na produccedilatildeo de ferro foi

introduzido na regiatildeo correspondente aos Pirineus Catalatildees Neste local

desenvolveu-se uma instalaccedilatildeo destinada a produzir ferro denominado de

ldquofaacutebriques ou faacutebreguesrdquo que depois passou a ser conhecida como ldquofarguesrdquo ou

ldquofargardquo (o termo era usado tanto para descrever os lugares onde era obtido o ferro

como seu processamento) A partir do seacuteculo XIV o emprego da roda foi

difundido na regiatildeo basca ndash Espanha favorecida pelos trecircs elementos

fundamentais necessaacuterios para a sua instalaccedilatildeo a geografia da regiatildeo formada

por um territoacuterio montanhoso com a presenccedila de um significativo nuacutemero de rios

as jazidas de ferro e a floresta que fornecia o carvatildeo vegetal o uacutenico combustiacutevel

utilizado naquele processo ateacute o seacuteculo XVIII32

32 Com a Revoluccedilatildeo Industrial do seacuteculo XVIII passaram a utilizar como combustiacutevel o carvatildeo coque

75

Na Catalunha junto com o desenvolvimento das ldquofargasrdquo aprimoraram-se

tanto as teacutecnicas relacionadas agrave construccedilatildeo dos fornos como ao seu sistema de

funcionamento que ficou famoso no mundo todo como procedimento da ldquoforja

Catalatilderdquo ou ldquoprocedimento catalatildeordquo (MOLERA BARRUECO1983 p11)

A forja Catalatilde ou forno catalatildeo foi um sistema intermediaacuterio entre os fornos

baixo e os altos fornos utilizados atualmente Essa teacutecnica dominou todo o

processo de obtenccedilatildeo do ferro e accedilo durante a Idade Meacutedia espalhando-se para

a Alemanha Aacuteustria Inglaterra Franccedila e Itaacutelia Desde a Idade Meacutedia ateacute finais do

seacuteculo XIX esses paiacuteses entre outros conseguiam produzir ferro mediante aquele

sistema conhecido universalmente como ldquoprocedimento Catalatildeordquo

O periacuteodo aacuteureo do emprego da forja catalatilde se daacute entre os seacuteculos XVII e

XVIII devido sobretudo agrave introduccedilatildeo de um outro mecanismo em substituiccedilatildeo

aos foles acionados pela roda hidraacuteulica a ldquotrompa de aacuteguardquo (sistema empregado

par injetar ar no forno) Desenvolvido na Itaacutelia este novo equipamento se difunde

pelas regiotildees dos Pirineus da peniacutensula Ibeacuterica e foi assimilado pelas

manufaturas catalatildes ateacute o ponto de integraacute-las como uma das caracteriacutesticas do

meacutetodo que leva o nome de ldquofarga catalanardquo ou forno catalatildeo Jaacute nas ferrarias

bascas a trompa de aacutegua natildeo foi amplamente difundida prevalecendo a

utilizaccedilatildeo de rodas drsquoaacutegua para o acionamento de foles e do malho ( MALUQUER

DE MOTES 1983 p 23)

76

Fig 23 ARRANJO DE ldquoFARGA CATALANArdquo OBSERVAR USO DE RODA DrsquoAacuteGUA PARA ACIONAMENTO DO MALHO E A PRESENCcedilA DA TROMPA HIDRAacuteULICA JUNTO AO FORNO33

33 Folheto Museu de Ripoll sd

77

No interior das ldquofargas catalanasrdquo o forno era a parte mais importante Os

fornos de fundiccedilatildeo catalatildees diferentemente dos fornos de vento tinham uma

forma tronco-cocircnica isto eacute ldquouma forma de um tronco de piracircmide invertidardquo

(MALUQUER DE MOTES 1983 p 22) O forno era construiacutedo de pedras

refrataacuterias revestidas em parte de peccedilas de ferro com trecircs paredes planas e

uma convexa esta uacuteltima destinada a facilitar a extraccedilatildeo do produto final (massa)

A parede onde era colocada a ldquotoverardquo (entrada do fole) era oposta agrave convexa e

esta era feita de ferro numa inclinaccedilatildeo de 35o a 45o Em uma das paredes

laterais havia um buraco que deixava passar as escoacuterias liacutequidas

(MOLERABARRUECO1983 p13)

Fig 24 ELEMENTOS QUE COMPOtildeEM A OFICINA DA ldquoFARGA CATALANArdquo Observa- se a presenccedila do forno de fundiccedilatildeo e do malhos acionados por roda drsquoaacutegua34

34 Caderno de Apoio para visitante do Museu de Ripoll ndash Catalunha Espanha sd

78

Um outro aprimoramento teacutecnico do meacutetodo catalatildeo foi a forma como

passaram a carregar o forno Deixando para traacutes o meacutetodo anteriormente

conhecido que consistia em carregar o forno em camadas horizontais superpostas

com carvatildeo vegetal e mineacuterio os catalatildees passaram a carregar o forno por meio

de duas camadas verticais justapostas De um lado do forno (aquele em que

estava instalado o fole) era colocado o combustiacutevel (carvatildeo) de tal maneira que o

oacutexido de carbono que se desprendia da queima era forccedilado a atravessar a coluna

do mineacuterio (que estava disposta em uma outra coluna localizada junto agrave parede

oposta agrave do fole)

A produccedilatildeo do ferro ainda se realizava por meio do meacutetodo de produccedilatildeo

direta Sendo assim ainda se mantinha o processo de martelamento da massa de

ferro por meio do malho (que tambeacutem ficava instalado dentro daquele

estabelecimento) para a obtenccedilatildeo do produto final O meacutetodo catalatildeo natildeo apenas

melhorou a qualidade do produto final mas tambeacutem proporcionou o aumento da

produccedilatildeo

27 Tratados Teacutecnicos de Metalurgia

Entre os seacuteculos XV e XVI arquitetos engenheiros meacutedicos e artesatildeos e

outros publicaram inuacutemeros tratados voltados para os ofiacutecios mecacircnicos ou ldquoArtes

Mecacircnicasrdquo Essa literatura eacute extraordinariamente rica em Tratados de caraacuteter

teacutecnico que podem ser considerados autecircnticos manuais e representaram uma

contribuiccedilatildeo decisiva entre o saber cientiacutefico e saber teacutecnico-artesanal os quais

tiveram um grande efeito no nascimento da cooperaccedilatildeo entre cientistas e teacutecnicos

e entre ciecircncia e induacutestria (ROSSI 1989 p 30)

79

Entre as obras de caraacuteter teacutecnico publicadas naquele periacuteodo destacam-

se os escritos de Brunelleschi Ghiberti Peiro della Francesca Leonardo Cellini

Paolo Lomazzo o trabalho sobre as maacutequinas de guerra de

Konrad Keyser (1366-1405) os tratados teacutecnicos de Fontana

(1420) e Mariano (1438) as obras sobre arquitetura de Leon

Batista Alberti Filarete Francesco di Giorgio Martini Palladio o

livro sobre maquinas militares de Valturio da Rimini (publicado em

1472 reeditado em Verona em 1482 e 1483 em Bolonha em

1483 em Veneza em 1493 e nada menos que quatro vezes em

Paris entre 1532 e 1555) os dois tratados de Duumlrer sobre a

geometria descritivas e as fortificaccedilotildees (1525 e 1527) a

Pirotechnia de Biringuccio (1540) depois reeditada em duas

ediccedilotildees latinas trecircs francesas e quatro italianas) a obra de

baliacutestica de Nicolograve Tartaglia (1537) os dois tratados de

engenharia mineral de Georg Agriacutecola (1546-1556) o Teatro di

macchine de Besson (1569 depois traduzido para o francecircs e o

espanhol) os Mechanicorum libri de Guidobaldo Del Monte

(1577) as Diverse et artificiose macchine de Agostinho Ramelli

(1588) os trecircs livros sobre mecacircnica de Simon Stevin (1586

traduzido do flamengo para o francecircs em 1634) a obra sobre

fortificaccedilotildees de Lorini (1597) os trabalhos de arte da navegaccedilatildeo

de Willian Barlowe (1597) Thomas Harriot (1594) e Robert Hucs

(1599) (ROSSI 1989 p30-31)

Entre os tratados relacionados com a metalurgia e a mineraccedilatildeo

destacamos a De La Pirotechinia considerado o primeiro livro impresso dedicado

agrave metalurgia foi escrito pelo italiano Vannoccio Biringuccio (ca 1480-1539) e

publicado pela primeira vez em 1540 Adepto do empirismo Birunguccio

escreveu esse tratado baseado nas observaccedilotildees diretas do ofiacutecio que havia

adquirido durante as vaacuterias visitas que fez a Alemanha35 onde se destacava o

desenvolvimento de teacutecnicas de exploraccedilatildeo de minas de prata e tambeacutem de

35 Biringuccio visitou a Alemanha em 1516 e entre 1526 e 1529

80

equipamentos que possibilitavam a construccedilatildeo de tuacuteneis e galerias para a

exploraccedilatildeo do subsolo36

Embora tivesse sido publicado na Alemanha no iniacutecio do seacuteculo XVI de

forma anocircnima um conjunto de manuais teacutecnicos sobre o ensaio de metais a

obra de Biringuccio era mais ambiciosa explicava como descobrirem minerais e

veios a maneira de separar o ouro e a prata as teacutecnicas de ensaio e as

propriedades do cobre o zinco e outros metais Analisava aleacutem disso as

propriedades do mercuacuterio do enxofre do antimocircnio e de outros elementos

utilizados no processo de extraccedilatildeo do ouro e prata como tambeacutem os meacutetodos de

obtenccedilatildeo do accedilo aleacutem de apresentar ilustraccedilotildees sobre fundiccedilotildees de canhotildees e

sinos a fabricaccedilatildeo de objetos piroteacutecnicos e algumas poucas informaccedilotildees sobre

mineraccedilatildeo geologia e mineralogia (CARDWELL 1994 p 76)

Um outro tratado importante foi escrito pelo alematildeo Georg Bauer (1494-

1555) conhecido pela forma latina de seu nome como Georgius Agriacutecola Depois

de estudar em Leipzig Bolonha e Veneza foi em 1527 exercer a profissatildeo de

meacutedico em Joachimstal na Boemia a maior aacuterea mineira na eacutepoca Agricola

passou a maior parte de sua vida estudando mineralogia e geologia entre 1546 e

1556 escreveu dois tratados destacando a mineraccedilatildeo e a siderurgia

Em 1546 publicou dois tratados sistemaacuteticos de geologia e mineralogia a

De ortu et causis subterraneorum e a De natura fossilium os quais lhe conferiram

a designaccedilatildeo de ldquoPai da Mineralogiardquo37 O seu trabalho mais importante e de

maior divulgaccedilatildeo foi publicado em 1556 com o tiacutetulo de De Re Metallica - A Arte

dos Metais - o qual serviu como obra teacutecnica de mineraccedilatildeo durante quase dois

seacuteculos seguintes aquela primeira publicaccedilatildeo

36 A Alemanha havia desenvolvido importantes teacutecnicas de mineraccedilatildeo que foram intensificadas pelo contiacutenuo intercacircmbio de experiecircncias com a Hungria e a Sueacutecia 37 Georgius Bauer Agricola (1494-1555) cientista alematildeo considerado o fundador da mineralogia Foi um dos primeiros cientistas que baseou suas teorias na observaccedilatildeo em vez da especulaccedilatildeo Antes dele podemos destacar Alberto Magno (1193-1280) conhecido como Preacute-Tecnoacutelogo escreveu a obra De mineralibus que constitui natildeo somente uma histoacuteria dos mineralogia como tambeacutem uma descriccedilatildeo dos metais

81

O conteuacutedo do livro De Re Metallica estava baseado no estudo das coisas

materiais realizado por meio da observaccedilatildeo descriccedilatildeo sistemaacutetica analiacutetica e

meticulosa da natureza A transcriccedilatildeo dessas observaccedilotildees natildeo requeria apenas a

confecccedilatildeo de textos descritivos mas tambeacutem de ilustraccedilotildees com as quais

procuravam traduzir os conhecimentos obtidos pela observaccedilatildeo em imagens

graacuteficas as mais compreensiacuteveis possiacuteveis (ROSSI 1989 p 52)

Agriacutecola ao escrever a introduccedilatildeo desse tratado esclarecia ao leitor como

havia concebido a sua obra e as dificuldades que enfrentou para concluiacute-la

Diz ele Grandiacutessima fadiga e solicitude realmente aqui coloquei e ainda

algumas boas despesas porque natildeo escrevi simplesmente os

veios os instrumentos os canais as maacutequinas e as fornalhas

mas ainda agraves minhas expensas assalariei os pintores para fazer

seus retratos naturais a fim de que as coisas natildeo conhecidas que

satildeo apresentadas com palavras natildeo tragam real dificuldade agraves

pessoas de hoje ou de tempos vindouros (ROSSI 1989 p 51)

Os retratos naturais referidos por Agriacutecola eram as xilogravuras que

ilustravam as suas obras A partir dessas imagens era possiacutevel visualizar com

exatidatildeo de detalhes as dimensotildees sobre equipamentos instrumentos e teacutecnicas

empregadas na prospecccedilatildeo no processo de fundiccedilatildeo e orientaccedilotildees sobre o uso

da energia hidraacuteulica nas operaccedilotildees mineiras enfim as ilustraccedilotildees traziam

detalhes sobre praticamente todas as etapas das operaccedilotildees mineiras isto eacute

prospecccedilatildeo administraccedilatildeo beneficiamento e transporte de mineacuterios 38

Na segunda parte daquele mesmo livro o autor dedica-se ao ensaio e

tratamento dos minerais Como Biringuccio Agricola mostrava criacutetica e desprezo

pelo trabalho realizado pelos alquimistas Uma de suas criacuteticas referia-se ao

38Agricola demonstra neste Tratado o funcionamento de sete tipos diferentes de bombas de succcedilatildeo incluindo uma bomba muacuteltipla acionada por uma grande roda hidraacuteulica e uma bomba combinada de succcedilatildeo e impelente (bomba impelente bomba que eleva a aacutegua por meio de pressatildeo exercida sobre o liacutequido)

82

meacutetodo empregado por estes na busca de metais enterrados O uso da

radiestesia por meio do emprego de uma vara ou forquilha feita com galhos de

aacutervores era considerado por Bauer apenas uma arte da adivinhaccedilatildeo derivada da

magia antiga e que somente poderia ser e era utilizada por mineiros simples e

ordinaacuterios

A Ameacuterica Espanhola foi tambeacutem palco para a produccedilatildeo do conhecimento

relacionado agrave metalurgia Em 1640 Aacutelvaro Alonso Barba padre em Potosiacute e que

havia aperfeiccediloado o meacutetodo de amalgamaccedilatildeo39 desenvolvido por Bartolomeacute de

Medina (Beneficio de Patio)40 publicou a partir de experiecircncias proacuteprias com a

produccedilatildeo de prata naquele local o livro Arte de los Metales O livro de Barba foi o

primeiro trabalho em que se registrou o processo de amalgamaccedilatildeo por mercuacuterio

que ficou conhecido como ldquomeacutetodo de cazo y cocimientordquo (realizado por meio do

calor dentro de reservatoacuterio de cobre) Este livro foi o primeiro trabalho em que se

registraram as regras para beneficiamento de ouro e prata com a utilizaccedilatildeo do

mercuacuterio

39 Amalgamaccedilatildeo Operaccedilatildeo que consiste em ligar o mercuacuterio a outro metal ou separar o ouro e a prata da ganga por meio do mercuacuterio 40 O ldquobenefiacutecio de paacutetiordquo foi assim denominado pois toda a operaccedilatildeo de produccedilatildeo de prata era realizada em um paacutetio Consistia basicamente em mesclar a Mena (metal) moiacuteda e uacutemida com sal comum e mercuacuterio Esse meacutetodo era menos custoso que aqueles que eram utilizados e seu uso se prolongou ateacute o seacuteculo XIX

83

CAPITULO 3

HISTOacuteRICO DA MINERACcedilAtildeO NO BRASIL NO PERIacuteODO COLONIAL A Histoacuteria das primeiras expediccedilotildees no Brasil mostra que desde o inicio do

seacuteculo XVI jaacute havia uma preocupaccedilatildeo permanente aleacutem do reconhecimento do

novo territoacuterio na busca de metais e pedras preciosas que eram produtos de alto

valor econocircmico e poliacutetico aleacutem do interesse estrateacutegico

Durante os primeiros trinta anos de colonizaccedilatildeo do Brasil Portugal estava

voltado para a exploraccedilatildeo dos produtos da Aacutefrica e Iacutendia inclusive de metais

sendo que esta experiecircncia se reflete nas primeiras expediccedilotildees quando se

constata a preocupaccedilatildeo com a descoberta de metais nobres (ouro e prata)

conforme se demonstra nos itens que seguem

Embora a busca por metais fosse uma constante as exploraccedilotildees durante

a primeira metade do seacuteculo XVI resultaram a descoberta de produtos vegetais

(pau-brasil) e animais exoacuteticos (araras e papagaios) 41

Somente com a descoberta da prata na serra de Potosi em 1545 pelos

espanhoacuteis ficou comprovada a existecircncia de metais nobres no novo continente

31 As primeiras expediccedilotildees mariacutetimas a busca de metais nobres A primeira expediccedilatildeo portuguesa destinada ao reconhecimento do litoral do

Brasil partiu de Lisboa entre os anos 1501-02 sob o comando de Gonccedilalo Coelho

e pelo florentino Ameacuterico Vespuacutecio (cosmoacutegrafo contratado pela Coroa

Portuguesa) Apoacutes terem passado pelos atuais estados do Rio Grande do Norte

Bahia e Rio de Janeiro os navios desembarcaram em janeiro de 1502 numa ilha 41 O pau-brasil era extraiacutedo no litoral compreendido desde o atual Estado do Rio Grande do Norte ao Rio de Janeiro

84

que denominaram Cananeacuteia42 Este local tornou-se na primeira metade do seacuteculo

XVI importante posto avanccedilado responsaacutevel pelo abastecimento de

embarcaccedilotildees que mais tarde passaram a rumar para o sul do continente com o

objetivo de reconhecimento e busca de riquezas minerais

Em 1514 Portugal enviou uma outra expediccedilatildeo ao sul desta vez chefiada

por Joatildeo de Lisboa e Estevatildeo Frois financiada D Nuno Manuel e Cristoacutevatildeo de

Haro em cujo trajeto estava Cananeacuteia e a Ilha de Satildeo Francisco do Sul (Santa

Catarina) Esta expediccedilatildeo descobriu o estuaacuterio do rio que denominaram de Rio da

Prata Os resultados dessa expediccedilatildeo foram informaccedilotildees dadas pelos nativos

(Charruas) sobre a existecircncia de uma ldquoSerra de Pratardquo fato que deve ter

impulsionado o envio da expediccedilatildeo espanhola para o sul de Cananeacuteia em 1515

chefiada por Juan Diaz de Soacutelis (VIANNA 1972 p 54)

Entre 1521 e 1526 Aleixo Garcia junto com outros remanescentes da

expediccedilatildeo de Soacutelis e mais iacutendios guaranis partiram da Costa dos Patos (Santa

Catarina) indo aleacutem do rio paraguay e do Chaco obtendo riquezas perdidas na

viagem de regresso (VIANNA 1972 p 214)

Em 1530 parte de Lisboa a expediccedilatildeo de Martim Afonso de Souza uma

das mais importantes expediccedilotildees portuguesas Tinha como objetivos expulsar do

litoral os franceses que traficavam pau-brasil reconhecer a extensatildeo da costa

pertencente a Portugal promover a ocupaccedilatildeo do territoacuterio criando fortificaccedilotildees

em pontos de interesse estrateacutegico e especialmente explorar o rio da Prata 43

42 Cananeacuteia era local de fronteira entre as terras de Portugal e Espanha estabelecida pelo Tratado de Tordesilhas (1494) 43 A expediccedilatildeo de Martim Afonso se diferenciou das anteriores pelo fato de ter D Joatildeo III investido estes comandantes de poderes especiais aplicados sobretudo em Satildeo Vicente Entre eles permitia-se a Martim Afonso distribuir terras em sesmarias criar instrumentos juriacutedicos que permitiram o registro de propriedades atraveacutes da instalaccedilatildeo dos tabelionatos e a elevaccedilatildeo de povoados para a condiccedilatildeo de vilas o que possibilitou a instalaccedilatildeo de um processo colonizador na regiatildeo Sobre a expediccedilatildeo ver VIANNA Helio Historia do Brasil Satildeo Paulo Melhoramentos 1970 p56-61

85

Um dos fatos importantes resultantes da vinda dessas expediccedilotildees foi a

integraccedilatildeo do Porto de Satildeo Vicente44 juntamente com Cananeacuteia na rota de

navegaccedilatildeo para o sul do continente Estes portos serviam para abastecer as

embarcaccedilotildees e ali era possiacutevel contratar os ldquoliacutenguasrdquo 45

Em 1532 quando Martim Afonso chegou a Satildeo Vicente encontrou um

nuacutecleo formado por portugueses espanhoacuteis indiacutegenas Essa localidade tambeacutem

jaacute era conhecida como a porta de entrada para o sertatildeo e o caminho natural para

se ir agrave Serra da Prata atraveacutes dos Peabirus (ver item abaixo)

32 O Peabiru uma trilha para o Sertatildeo Tendo em vista a importacircncia da existecircncia de caminhos indiacutegenas

denominados Peabirus como facilitadores da interligaccedilatildeo da Vila de Satildeo Paulo

(Campos de Piratininga) com a regiatildeo onde se localiza o morro de Araccediloiaba

entendemos ser importante discorrer a respeito destas vias

A respeito desse sistema de caminhos escreveu Adolpho Pinto em 1902

() havia estradas extensas construiacutedas pelo gentio comunicando

vaacuterios pontos do litoral com o mais longiacutenquo interior do paiz

podendo-se mesmo dizer que figurava como tronco desse primitivo

sistema de viaccedilatildeo geral uma grande estrada pondo em ligaccedilatildeo as

tribus da naccedilatildeo Guarany da bacia do Paraguay com a tribu dos 44Satildeo Vicente segundo Washington Luiacutes ldquojaacute era um porto conhecido com lugar marcado nos rudimentares mapas da eacutepoca uma espeacutecie de pequena feitoria portuguesa de iniciativa particular visitada de esquadras para o trafico de escravos se forneciam viveres agrave navegaccedilatildeo de longo curso se construiacuteam bergantins e se contratavam liacutenguas da terrardquo LUIZ Washington Na Capitania de Satildeo Vicente Satildeo Paulo Livraria Martins Editora1956 p47 A povoaccedilatildeo de Satildeo Vicente foi elevada agrave condiccedilatildeo de Vila em 1532 com a instalaccedilatildeo de oacutergatildeos administrativos e poliacuteticos como a Cacircmara e Cadeia transformando-a no primeiro nuacutecleo de colonizaccedilatildeo portuguesa do litoral 45 Os liacutenguas eram aqueles versados na liacutengua indiacutegena O Tupi era falado em Satildeo Paulo ateacute meados do seacuteculo XVIII Segundo John Monteiro ldquoo domiacutenio da liacutengua geral ou qualquer outra liacutengua indiacutegena era consideraacutevel uma respeitaacutevel especializaccedilatildeo e a fluecircncia numa dessas liacutenguas limitava-se apenas aos maiores sertanistasrdquo MONTEIRO John Negros da Terra iacutendios e bandeirantes nas origens de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Companhia das Letras 1994 p164

86

Patos do litoral de Santa Catarina com os Carijoacutes de Iguape e

Cananeacuteia e com as tribus de Piratininga e do litoral proacuteximo

(GONCcedilALVES 1998 p8)

Em Satildeo Vicente o Peabiru constituiacutea o acesso obrigatoacuterio que do mar

seguia para os sertotildees do Planalto de Piratininga Construiacutedo de acordo com a

teacutecnica e a tradiccedilatildeo indiacutegena seguia os espigotildees dos morros de modo a evitar

terrenos iacutengremes embora em alguns trechos fossem inevitaacuteveis as encostas

com fortes declividades ((GONCcedilALVES 1998 p6 )

A partir do Planalto de Piratininga seguindo para o interior rumo ao Oeste

o caminho que levava ateacute a regiatildeo das minas de ferro era um Peabiru cuja trilha

contornava os morros do Apotribu no municiacutepio de Itu e alcanccedilava o morro de

Araccediloiaba no atual municiacutepio de Iperoacute interior de Satildeo Paulo

87

Fig 24 Peabiru (Tronco) Passando por Sorocaba (Galdino 2002 p182)

88

Fig 25 Mapa de Pasquale Petrone (GONCcedilALVES1998 p42)

89

33 O descobrimento da prata em Potosi

Em 1545 a Espanha anunciou o descobrimento na regiatildeo denominada de

Alto Peru (atualmente territoacuterio boliviano) de uma montanha denominada de

Potosi com 600 metros de altura onde ocorria uma importante jazida de prata

Diferentemente do que acreditavam portugueses e espanhoacuteis Potosi natildeo estava

localizada nem nas proximidades do rio da Prata nem na regiatildeo sul do continente

onde esperavam descobrir aquela lendaacuteria riqueza

Sergio Buarque de Holanda (1959 p 58) ao discorrer sobre aquela

descoberta escreve ldquotamanho era o prestiacutegio de Potosi que em pouco tempo a

velha atraccedilatildeo do ouro parece suceder facilmente a da pratardquo O ldquofeiticcedilo do Perurdquo

desencadeou um novo direcionamento da poliacutetica portuguesa com um maior

interesse da Coroa Portuguesa nos negoacutecios do Brasil e particularmente na

Capitania de Satildeo Vicente

Para dar maior incremento ao povoamento do interior foi instituiacutedo o

sistema de distribuiccedilatildeo de terras (Sesmarias) Uma dessas sesmarias foi doada a

Afonso Sardinha bandeirante que se destacou na atividade mineradora e

tambeacutem na vida poliacutetica da Vila de Satildeo Paulo na comercializaccedilatildeo com a regiatildeo

do Rio da Prata como proprietaacuterio de engenho de accediluacutecar traficante de escravos

africanos investidor financiador e produtor de ferro Foi um dos financiadores da

instalaccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro que comeccedila a funcionar em 1607 46

Acreditava-se que o ldquoCerro de Potosirdquo natildeo ficava muito longe das terras da

Coroa Portuguesa sendo este um dos motivos que impulsionavam as ldquopessoas a

continuarem as buscas em direccedilatildeo do Oeste apesar dos repetidos

desapontamentosrdquo (BOXER 2002 p 45)

46 Afonso Sardinha recebeu suas terras de sesmarias no lugar denominado de Ubataacute abrangendo o atual Butantatilde que eacute o Ubataacute citado por Pedro Taques ou Ibatata Batata ou Ibitatatilde em documentos municipais seiscentistas e setecentistas HOLANDA Sergio Buarque de Caminhos e Fronteiras 1957 p 188

90

Um dos caminhos Peabiru que partindo de Satildeo Vicente demandava o

Potosi passava pela Vila de Satildeo Paulo e seguindo a direccedilatildeo Oeste contornava o

morro de Araccediloiaba onde em finais do seacuteculo XVI iniciou-se a produccedilatildeo de ferro

seguindo para a regiatildeo do Guairaacute (atual Estado do Paranaacute) ateacute alcanccedilar as terras

castelhanas

Pode-se dizer que a esperanccedila de encontrar minas de prata um Potosi em

terras de Satildeo Vicente persistiu ateacute o iniacutecio do seacuteculo XVIII quando de fato

foram encontradas minas de ouro pelos paulistas na regiatildeo dos atuais Estados de

Minas Gerais Mato Grosso e Goiaacutes 47

34 A busca de metais nobres na Capitania de Satildeo Vicente

Desde meados do seacuteculo XVI jaacute corriam notiacutecias sobre a possiacutevel

existecircncia de riquezas minerais no interior da Capitania Joseacute de Anchieta em

carta escrita em Satildeo Paulo de Piratininga em 1554 dava as primeiras

informaccedilotildees sobre as descobertas de minas de ouro prata e ferro48 Neste

mesmo ano o jesuiacuteta Pero Correa tambeacutem destacava a descoberta de mina de

ferro proacutexima daquele local 49

47 As minas de ouro localizadas pelos paulistas foram disputadas tambeacutem por portugueses e baianos e todos reivindicavam aquela descoberta Essa disputa culminou na chamada Guerra dos Emboabas na qual os paulistas foram derrotados As descobertas das minas de Mato Grosso e Goiaacutes marcaram o iniacutecio das monccedilotildees expediccedilotildees fluviais regulares que faziam a comunicaccedilatildeo entre Satildeo Paulo e Cuiabaacute O ouro encontrado onde hoje se ergue a cidade de Cuiabaacute foi achado por escravos do sorocabano Miguel Sutil em 1722 Sobre as Monccedilotildees ver HOLANDA Sergio Buarque de Monccedilotildees Rio de Janeiro Casa do estudante do Brasil 1945 48 Ver Carta do quadrimestre de maio a setembro de 1554 dirigida por Joseacute de Anchieta a Santo Ignaacutecio de Loyola Roma In Minhas Cartas por Joseacute de Anchieta Publicaccedilatildeo 450 anos p 153 49 Carta do Irmatildeo Pero Correa escrita a um padre do Brasil In CARTAS Avulsas 1550-1568Azpilculta Navarro e outros Belo Horizonte Itatiaia Satildeo Paulo Edusp 1988 p 163-165

91

A respeito da pesquisa mineral na Capitania de Satildeo Vicente Heacutelio Vianna

escreve que com a intenccedilatildeo de investigar a existecircncia daquelas riquezas

ldquo() mandou o governo portuguecircs em 1559 um mineiro praacutetico

Luis Martins Por ordem do Governador Men de Saacute no ano

seguinte em Satildeo Vicente partiu ele para indeterminados pontos

do interior em uma leva organizada e dirigida por Braacutes Cubas

Regressando este a Santos em 1562 com algumas amostras de

metais e pedras que enviou ao Reino fez com que no mesmo

ano o mineiro voltasse as suas pesquisas Natildeo muito longe

ainda em terras vicentinas em Jaraguaacute talvez em Caatiba hoje

Bacaetava encontrou afinal o desejado ouro Explorou-o

inicialmente o proacuteprio Braz Cubas depois associado ao Capitatildeo

Mor Jerocircnimo Leitatildeordquo (VIANNA 1972 p 215)

35 D Francisco de Souza a organizaccedilatildeo da exploraccedilatildeo mineral De 1598 eacute a primeira referencia a ldquocertos lsquomontes de Sabaroasonrsquo de

onde um mameluco teria extraido amostras de metal que levadas a Bahia ao

Governador D Francisco de Sousa determinaram a vinda deste a Satildeo Vicenterdquo (VIANNA 1972 p 215)

D Francisco de Sousa Seacutetimo Governador Geral do Brasil (1591-1602) e

a partir de 1606 Governador das Minas das Capitanias do Sul 50 promoveu e

organizou vaacuterias expediccedilotildees ao sertatildeo destinadas a descobrir e explorar minas de

ouro e prata e outros metais Tais atividades eram apresentadas como parte de

50 As Capitanias do Sul correspondiam agraves Capitanias do Espiacuterito Santo Rio de Janeiro e Satildeo Vicente

92

seu projeto de desenvolvimento no qual tambeacutem estava inserido o setor de

agricultura e induacutestria sustentado com base no trabalho indiacutegena 51

A sua maior contribuiccedilatildeo decorre do fato de ter exercido o cargo de

Governador das Minas e de ter se fixado na Capitania de Satildeo Vicente mais

especificamente na Vila de Satildeo Paulo de onde provinham as notiacutecias da

existecircncia de minas de ouro prata e ferro

D Francisco veio para Satildeo Paulo munido de poderes que lhe permitiam

distribuir mercecircs agravequeles que tivessem trabalhado na exploraccedilatildeo das minas

Conforme o Regimento que jaacute vigorava no Peru e nas Iacutendias de Castela o

explorador haveria de aplicar seus proacuteprios recursos na busca e exploraccedilatildeo das

jazidas A contrapartida que poderia ser dada pelo Rei estava no fornecimento

de algumas comodidades e mercecircs (STELLA 2000 p 119)

Atraveacutes de Alvaraacutes D Francisco podia nomear uma quantidade

determinada de pessoas com tiacutetulos de nobreza Estas atribuiccedilotildees fizeram com

que muitos moradores da Vila de Satildeo Paulo despendessem de seus proacuteprios

recursos materiais e de indiacutegenas para organizar expediccedilotildees em buscas daqueles

metais

Em 1599 D Francisco esteve no morro de Araccediloiaba para verificar a

autenticidade e a natureza daquela mina que diziam ter ferro ouro e prata Para

viajar ateacute aquele local enfrentando toda a sorte de perigos D Francisco precisou

solicitar ajuda dos moradores de Satildeo Paulo 52

51 Quando no Cargo de Governador Geral Francisco de Souza conduzido pela esperanccedila de encontrar na regiatildeo das cabeceiras do rio Satildeo Francisco a lendaacuteria Sabarabuccediluacute (uma serra de prata e esmeraldas) organizou em 1596 trecircs entradas ao sertatildeo com saiacutedas da Bahia Espiacuterito Santo e Satildeo Paulo respectivamente A vertente paulista foi chefiada por Joatildeo Pereira de Sousa Botafogo e contava com 25 colonos e seus respectivos iacutendios A maioria desta expediccedilatildeo regressou a Satildeo Paulo ldquosatisfeita com os tupinambaacutes que haviam capturado no vale do Paraiacutebardquo MONTEIROJohn Negros da Terra iacutendios e bandeirantes nas origens de Satildeo Paulo Satildeo Paulo Companhia das Letras 1994 p 58-68 52 PEREIRA Antonio Batista Carta a Paulo Duarte apud Donato Hernani Sumeacute e Peabiru misteacuterios maiores do seacuteculo da descoberta SP ediccedilotildees GRD 1997 p91

93

Aracy Amaral ao analisar a gestatildeo de D Francisco de Sousa como

Governador das Minas das Capitanias do Sul opina que esse administrador

() representa o veiacuteculo que transportou para Satildeo Paulo uma

experiecircncia uma mentalidade que Castela desde haacute muito

desenvolvia no Meacutexico e no Peru As concessotildees e privileacutegios que

obteve do Rei faziam parte de uma legislaccedilatildeo empregada com

sucesso naqueles domiacutenios Essa nova mentalidade estava

intimamente relacionada com os negoacutecios da mineraccedilatildeo e esse jaacute

chamado de ldquoeldorado-maniacuteacordquo que foi D Francisco tambeacutem

denominado por Taunay de ldquopropulsor dos paulistasrdquo seguia sem

duacutevida a diretriz apontada pelos Felipes (AMARAL 1981 p 13)

Apoacutes a Restauraccedilatildeo Portuguesa em 1640 as buscas pelo ouro e pela

prata permaneceram assim como as concessotildees de mercecircs para aqueles que

descobrissem minas ou incentivassem outros a descobri-las Para Ilana Blaj isso

tudo era ldquoum universo de honra de siacutembolos de dignidade e de prestiacutegio que a

elite perseguia e que a Coroa concedia estreitando ainda mais os laccedilos de

vassalagem no interior do Impeacuteriordquo Sintetizando a autora afirma que ldquoescravos

terra dignidade honrarias e prestiacutegio constituiacuteram os fundamentos da sociedade

colonial brasileirardquo (BLAJ 2002 p 322-338)

Em 1611 D Francisco de Sousa falece na mais extrema pobreza O

mesmo destino que tiveram outros que laacute apostaram na metalurgia Frei Vicente

do Salvador contemporacircneo de D Francisco descrevendo a situaccedilatildeo afirmou

que

() estando tatildeo pobre que affirmou um padre da Companhia que

se achava com elle a sua morte que nem uma vela tinha para lhe

metterem na matildeo si a natildeo mandara levar do seu convento mas

quereria deusalumia-lo em aquelle tenebroso transe por outras

muitas que ainda levado deante de muitas esmolas e obras de

piedade que sempre fez (FRANCO 1929 p 135)

94

36 Teacutecnicos e praacuteticos na mineraccedilatildeo e metalurgia Na Vila de Satildeo Paulo e tambeacutem no Sertatildeo as forjas de ferreiro se

instalaram desde cedo As atividades desses ferreiros se concentravam na

fabricaccedilatildeo de ferramentas como foices machados cravos e anzoacuteis utilizando

ferro em barra ou em lingotes trazido da Europa que eram aqui refundidos em

fornos de forja

Em 1553 Manoel da Noacutebrega noticia a presenccedila de ldquotendas de ferreirordquo

como um dos instrumentos levados nas expediccedilotildees ao Sertatildeo (NEME 1959

p158) Em 1584 trabalhavam em Satildeo Paulo trecircs ferreiros (HOLANDA 1957

p186)

Gilberto Freyre em seu trabalho Ferro e Civilizaccedilatildeo no Brasil (1988 p249-

251) destaca como conhecedor do trabalho com o ferro natildeo somente o colono

portuguecircs como tambeacutem os padres da Companhia de Jesus Para esse autor

ambos haviam iniciado seus saberes com ibeacutericos os quais haviam desenvolvido

as ldquoferreriacuteasrdquo os ldquohornosrdquo e aperfeiccediloado as teacutecnicas de fundiccedilatildeo com o ldquohorno

catalaacutenrdquo Entre os conhecedores de metalurgia estava o jesuiacuteta Joseacute de Anchieta

o qual como jaacute destacamos havia informado em 1554 a existecircncia de mineacuterios

nobres e do ferro nas imediaccedilotildees de Satildeo Paulo 53

Diferentemente do que ocorreu nas colocircnias espanholas da Ameacuterica os

indiacutegenas que aqui foram encontrados natildeo tinham conhecimento metaluacutergico e

portanto natildeo utilizavam nenhuma teacutecnica de fundiccedilatildeo que pudesse ser adaptada

aos interesses do colonizador

Quanto ao conhecimento e a exploraccedilatildeo do mineacuterio e produccedilatildeo do ferro as

teacutecnicas necessaacuterias eram totalmente desconhecidas no Novo Mundo Sendo

53 Joseacute de Anchieta era descendente de bascos seus pais eram de Guipuacutezcoa Proviacutencia do Paiacutes Basco BARBOSA Francisco de Assis Dom Joatildeo VI e a Siderurgia no Brasil Rio de JaneiroBiblioteca do Exercito 1958 p 26

95

assim podemos afirmar que essa teacutecnica foi totalmente trazida pelos europeus

em especial pelos espanhoacuteis

Logo apoacutes a Uniatildeo Ibeacuterica (1580-1640) foi encaminhada para as terras das

colocircnias da Ameacuterica a armada de Diego Flores Valdeacutes 54 A passagem de Valdeacutes

em Satildeo Vicente em 1583 revela o interesse pelas riquezas minerais na regiatildeo

sendo que por este motivo solicita agrave Coroa a vinda de teacutecnicos e especialistas em

minas para dar iniacutecio agrave exploraccedilatildeo das jazidas descobertas Ao mesmo tempo

alerta sobre a necessidade de fortificar Satildeo Vicente pois alegava que ldquohay

camino abierto por tierra que va al Rio de La Plata y al Paraguay y a Sancta Feerdquo

(GONZALEZ 2002 p 46)

Alguns autores atribuem a presenccedila do praacutetico Clemente Aacutelvares nas

expediccedilotildees de Sardinha e seu filho55 Em 1606 Clemente Aacutelvares afirmava que

estava haacute quatorze anos dedicando-se ao descobrimento de minas de ouro e

para isso utilizara seus proacuteprios recursos Ao registrar as minas que ele afirmava

ter descoberto no Jaraguaacute Parnayba e Ybituruna para natildeo perder os direitos

sobre elas afirmava que natildeo entendia de metalurgia ldquosenatildeo por notiacuteciardquo e que

natildeo era um oficial fundidor ou ensaiador 56

Os mineiros vindos do reino foram trazidos por D Francisco de Sousa com

a funccedilatildeo de verificar a autenticidade e a natureza das minas descobertas no

Brasil e nas imediaccedilotildees da Vila de Satildeo Paulo Os homens que acompanharam

em 1591 em sua vinda ao Brasil foram o castelhano Agostinho de Souto Maior

(que havia trabalhado anteriormente em Monomotapa ndash Moccedilambique colocircnia

portuguesa que possuiacutea minas e a metalurgia do ferro e do ouro) o qual foi

nomeado para o cargo de provedor das minas do Brasil Christovam o qual era

54 A armada de Diego Flores Valdeacutes foi enviada para o Estreito de Magalhatildees para iniciar a sua ocupaccedilatildeo e povoamento com a finalidade de estabelecer uma defesa das terras do Impeacuterio Espanhol onde jaacute se havia iniciado a exploraccedilatildeo das minas de prata de Potosi 55 Clemente Aacutelvares paulista mineiro praacutetico e sertanista Em 1634 ainda estava se dedicando agrave busca pelo descobrimento de minas Faleceu em 1641 56 Ver Registro de minas de Clemente Aacutelvares em 16 de dezembro de 1606 ATAS DA CAMARA DA VILA DE SAtildeO PAULO vol II Satildeo PauloA Cacircmara 1917 p 171-173

96

lapidaacuterio de esmeraldas e Joatildeo Correa para seria nomeado feitor das minas de

ferro 57

Para Satildeo Paulo enviados por Francisco de Sousa vieram os mineiros

Gaspar Gomes Moalho Miguel Pinheiro Zurara e o fundidor Domingos Rodrigues

Em 1592 Jacques de Oalte mineiro alematildeo o engenheiro tambeacutem alematildeo

Giraldo Betink o cirugiatildeo Joseacute Serratildeo o mestre fundidor flamengo Corneacutelio de

Arzatildeo e o engenheiro e arquiteto-mor florentino Baccio de Filicaya tambeacutem

mineiro de ouro o qual recebeu de D Francisco de Souza o cargo de engenheiro-

mor Felicaya restaurou e construiu algumas fortalezas e trabalhou durante cinco

anos no descobrimento de minas Aparece registrado no Rio de Janeiro em 1596

como arquiteto fortificador (TAUNAY 2003 p409)

Destaca-se tambeacutem ainda na gestatildeo de D Francisco a presenccedila do

mineiro castelhano Manoel Joatildeo Branco (ou Morales) que foi enviado em

companhia de um outro mineiro de prata ao morro de Araccediloiaba para examinaacute-la

Este mineiro acabou por confirmar que aquela Serra era ldquoriquiacutessima de yerrordquo58

37 A Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro

No iniacutecio do seacuteculo XVII as jazidas de ferro que haviam sido identificadas

nas imediaccedilotildees da Vila de Satildeo Paulo comeccedilaram a ser beneficiadas por Diogo de

Quadros atraveacutes da construccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro a qual

comeccedilou a funcionar em 1607 A Ferraria de Santo Amaro foi redescoberta em

1967 por Jesuiacuteno Felicissiacutemo Juacutenior e documentada nas ediccedilotildees de 5 e 6 de

janeiro deste mesmo ano no jornal Diaacuterio de Satildeo Paulo por Manoel Rodrigues

Ferreira ( FELICIacuteSSIMO1969 p14)

57 No mesmo ano em que D Francisco de Souza veio para o Brasil para assumir o cargo de Governador Geral tambeacutem retornava da Espanha Gabriel Soares de Souza o qual se dedicou agrave busca de minas autor de Tratado Descritivo do Brasil de 1587 58 Ver Carta de Manuel Joatildeo Branco Morales a D Felipe IVCORTESAtildeOJaime Jesuiacutetas e Bandeirantes no Guairaacute Rio de Janeiro Biblioteca Nacional 1951 p 182

97

Esta Faacutebrica foi construiacutedo na freguesia de Santo Amaro pela sociedade

formada em 1609 entre Diogo de Quadros juntamente com Francisco Lopes

Pinto e D Antonio de Souza filho de D Francisco de Sousa

Para dar andamento a esse projeto Diogo de Quadros obteve em 1604

de D Felipe III o cargo de provedor das minas da Capitania de Satildeo Vicente e a

concessatildeo de montar e explorar fundiccedilotildees de ferro no Brasil (NEME 1959

p353)

Segundo informaccedilotildees oferecidas por Wilhelm Ludwig Von Eschwege

(1777-1855) a Faacutebrica de Santo Amaro foi construiacuteda agrave beira de um pequeno

ribeiratildeo afluente do rio Pinheiros navegaacutevel a uma distacircncia de duas leacuteguas SE

de Satildeo Paulo Para Eschwege ldquoa situaccedilatildeo dessa pequena faacutebrica era

conveniente porque as margens dos rios proacuteximos estatildeo cobertas de matas

cerradas podendo o carvatildeo ser transportado por via fluvial e mesmo o produto

manufaturado que por essa via podiam ser levados ateacute a serra do Cubatatildeo e

para o interior ateacute o Tietecircrdquo (ESCHWEGE 1944 p336)

Aleacutem desse aspecto a Faacutebrica contava com apoio da Coroa recebendo

dos almoxarifados de Satildeo Vicente Bahia e Rio de Janeiro todas as ferramentas

de ferro que estavam disponiacuteveis e poderiam ser aproveitadas para o trabalho de

fundiccedilatildeo daquele metal Das ferramentas entregues para Diogo de Quadros em

1605 foram arrolados

dous malhos q podiatildeo pesar pouco mais ou menos entre ambos

trecircs quintais e por quintal a razatildeo de trecircs mil reis mais duas

argolas grandes da mesma ferramenta q podiatildeo pezar pouco

mais ou menos trecircs quintaes ao mesmo preccedilo mais duas Cafras

(bigornas) que podiam pezar outros quintaes ao mesmo preccedilo

mais duas chapas pequenas q cada hua pezava duas arrobas no

mesmo preccedilo mais duas chapas grandes q cada hua podia

pezar pouco mais ou menos hum quintal cada hua as quaes

todas juntas podem pezar pouco mais ou menos doze quintais

98

que a razatildeo dos ditos traacutes mil reis por quintal fazem a soma de

36$000 rs 59

Os indiacutecios da presenccedila e utilizaccedilatildeo da roda para fins de produccedilatildeo nesta

Faacutebrica satildeo tambeacutem reforccedilados pelas observaccedilotildees feitas por Eschwege em seu

livro Pluto Brasiliensis onde afirmava que ainda se podia ver ldquoa vala da roda o

lugar da oficina os restos de um accedilude assim como um monte de pesada escoacuteria

de ferrordquo ((ESCHWEGE 1944 p336)

Essas mesmas informaccedilotildees podem ser observadas em um levantamento

topograacutefico realizado em princiacutepios do seacuteculo XIX pelo topoacutegrafo portuguecircs

Rufino Joseacute Felizardo e Costa segundo tenente do Real Corpo de Engenheiros

Rufino provavelmente veio ao Brasil como membro do grupo de engenheiros

militares que constituiacuteram em meados do seacuteculo XVIII as ldquoMissotildees

Demarcatoacuterias destinadas a dar cumprimento aos Tratados de Limites relativos agraves

terras da Ameacuterica celebrados entre Portugal e Espanhardquo 60

O levantamento topograacutefico em questatildeo intitulado ldquoprospecto das ruiacutenas

da antiga faacutebrica de ferro de Santo Amarordquo apresenta uma planta dessa faacutebrica jaacute

em ruiacutenas e sua localizaccedilatildeo proacutexima aos rios ldquodos Pinheirosrdquo e Santo Amaro aleacutem

dos terrenos no seu entorno onde se observa a presenccedila de matas minas de

ferro e canais de derivaccedilatildeo de aacuteguas daqueles rios em direccedilatildeo ao edifiacutecio

confirmando as observaccedilotildees feitas por Eschwege que observou inclusive a

existecircncia da ldquovala da rodardquo (HOLANDA 1957 p188-189)

59Ver Provisatildeo passada por Diogo Botelho a Diogo de Quadros 1605 CLETTO Marcelino Pereira A respeito da Capitania de Satildeo Paulo Sua decadecircncia e modo de restabelececirc-la Santos 25 de outubro de 1782 Annaes da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro vol XXI Rio de Janeiro Typografia Leuzinger 1900 60 TOLEDO Benedito Lima de A Accedilatildeo dos Engenheiros Militares na Ordenaccedilatildeo do Espaccedilo Urbano no Brasil Lisboa 2000 lthttpurbaniscteptRevistanumero4artigosartigo_08htmgt Aceso em 16 de maio de 2006 Os tratados mencionados por Toledo satildeo o Tratado de Madri (1750) e do segundo o Tratado de Santo Ildefonso (1777)

99

Fig 27 Prospecto das ruiacutenas da antiga Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro Rufino Joseacute Felizardo seacutec XIX (HOLANDA1957)

38 A Faacutebrica de Ferro do morro de Araccediloiaba os empreendedores

Afonso Sardinha foi personagem importante na atividade de mineraccedilatildeo do

ouro e do ferro no periacuteodo compreendido entre a segunda metade do seacuteculo XVI

e inicio do seacuteculo XVII sendo um dos primeiros empreendedores da exploraccedilatildeo e

produccedilatildeo de ferro no morro de Araccediloiaba Foi tambeacutem um dos financiadores do

empreendimento da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro Em 1601 recebeu de

Francisco de Souza um regimento que permitia o acesso agraves minas jaacute descobertas

e a descobrir61 Ressalte-se que essa mesma provisatildeo natildeo permitia a ele

ldquoentabularrdquo as minas encontradas as quais deveriam ser trabalhadas somente

apoacutes inspeccedilatildeo feita por mineiros vindos do Reino

61 Ver Regimento do Capitatildeo Diogo Gonccedilalves Laccedilo que lhe deu o Senhor Governador Dom Francisco de Souza DERBY Orville A As Bandeiras paulistas de 1601 a 1604 Revista do Instituto Histoacuterico e Geograacutefico de Satildeo Paulo vol VII Satildeo Paulo Typ Do Diaacuterio Official 1903 p 403

100

Joseacute Monteiro Salazar citando Pedro Taques e outros historiadores

aponta o ano de 1597 para o inicio das atividades da exploraccedilatildeo e fabricaccedilatildeo do

ferro em Araccediloiaba sendo que o empreendimento esteve em atividade ateacute o ano

de 1611 coincidindo com o ano da morte de D Francisco de Sousa

Somente em 1684 surge uma segunda tentativa de exploraccedilatildeo das minas

de Araccediloiaba financiada pela Coroa Portuguesa Para tanto foi enviado agravequele

local o Frei Pedro de Sousa com a finalidade de pesquisar a existecircncia de prata

nas jazidas que estava sendo explorada por Luiz Lopes de Carvalho o qual

contava com matildeo de obra indiacutegena

Entretanto apoacutes ter retirado algumas amostras do mineacuterio na jazida elas

foram ensaiadas poreacutem natildeo foi encontrada a prata motivo pelo qual foi

ordenada pelo Conselho Ultramarino a suspensatildeo daquelas pesquisas

(RODRIGUES 1966 p202)

Na sequumlecircncia o empreendedor Luiz Lopes de Carvalho que administrava

aquela mina retomou a exploraccedilatildeo do mineacuterio de ferro cuja existecircncia jaacute era

comprovada para cuja atividade obteve licenccedila concedida pela Coroa Para

realizar as obras necessaacuterias para o seu empreendimento foi obrigado a

hipotecar em 1681 todas as suas propriedades na Vila do Vimieiro em Portugal

(RODRIGUES 1966 p 214-217)

Em carta escrita no Rio de Janeiro em 1692 ao Rei de Portugal noticiava o

fracasso de seu empreendimento com o esgotamento dos recursos financeiros

Assim descreve

penetrei os Sertotildees mais ragozos so habitado de feras padecendo

as inclemecircncias qe experimentatildeo os q com zello e amor da paacutetria

lhe querem descubrir nossos Thezouros Todas estas calamidades

101

padeci por que haverem persuadido e ter achado alguns Roteiros62

q insinuavatildeo partes e serr[dilacerado] aonde em algum tempo se

achavatildeo Signais evidentes de minas de prata e esmeraldas E por

me esgotar o Cabedal proacuteprio e nam achar q me animasse com

algum socorro vim a entender q e Deus nosso Sr Tem guardado

essa fortuna pa outro q mais lho mereccedila Nestas entradas ao

Sertatildeo fui dar com a dictas Serras de Birasuaiava aonde estatildeo as

minas de ferro que na calidade e fertilidade desse groseiro metal

excede a todos asqe por haver no descuberto (RODRIGUES

1966 p217-219)

Naquele mesmo documento Luiz Lopes de Carvalho discorre sobre as

dificuldades teacutecnicas e materiais que havia enfrentado e destaca que para a

continuidade daqueles trabalhos faltara-lhe a matildeo de obra indiacutegena e um mestre

em fundiccedilatildeo que sugere deveria ser de Figueiroacute (Portugal) Biscaia (Espanha)

Alemanha ou Sueacutecia Aleacutem disso indicava que os fornos de fundiccedilatildeo que ali

deveriam ser instalados fossem do mesmo tipo empregado nas ferrarias de

Figueiroacute em Portugal (RODRIGUES 1966 p217-220)

Nova tentativa de exploraccedilatildeo daquela mina de ferro deveu-se ao portuguecircs

Domingos Pereira Ferreira em 1763 o qual organizou em Lisboa uma companhia

por accedilotildees para a construccedilatildeo de uma faacutebrica de ferro em Araccediloiaba 63 Para

viabilizar esse empreendimento recebeu uma concessatildeo de Sesmarias localizada

junto a mina de ferro para explorar a madeira necessaacuteria agrave fundiccedilatildeo 64

62 Esses roteiros - ou ldquomapas do tesourordquo - parecem ter sido frequumlentes na histoacuteria da mineraccedilatildeo colonial Haacute indicaccedilotildees de roteiros elaborados por Gabriel Soares de Souza para as minas de Sabarabassuacute 63 Foram soacutecios de Pereira Ferreira Matheus Lourenccedilo de Carvalho Caoitatildeo-mor Manoel de Oliveira Cardozo Antonio Lopes de Azevedo Capitatildeo Jacinto Jose de Abreu Silveacuterio Thomaz de Oliva Doacuteria Joatildeo Fritz Gerald (este natildeo participou da Sociedade por ser estrangeiro ndash inglecircs) e o Sargento Mor Antonio Francisco de Andrade Traslado da Escritura de Contrato da Sociedade e Companhia que Fazem Domingos Pereira Ferreira (RODRIGUES 1966 p 228-238) 64 Carta de Sesmaria a Domingos Ferreira Pereira e seus soacutecios de um morro cito termo da Vila de Sorocaba para dele se extraiacuterem lenha para a Faacutebrica de caldear o ferro que ali se pretende erigir por ordem de S Magestade (1767) Arquivo do Estado de Satildeo Paulo Sesmaria Patente e Provisatildeo Livro n17 p 125 v

102

Em dezembro de 1765 o Capitatildeo-General de Satildeo Paulo encaminhava ao

Conde de Oeiras amostra do ferro que Domingos Ferreira Pereira extraiacutera e

caldeara nas serras de Araccediloiaba Neste mesmo ano chegou a receber

encomendas de Diogo Lobo da Silva Capitatildeo General de Minas Gerais para a

fabricaccedilatildeo de armamentos tais como balas bombas e granadas aleacutem de

municcedilotildees Contudo esses armamentos natildeo chegaram a serem fabricados

Para viabilizar a produccedilatildeo do ferro trouxe de Portugal o mestre fundidor

Joatildeo de Oliveira Figueiredo poreacutem este decidiu abandonar aquele local com a

intenccedilatildeo de se mudar para Angola em 1767 Contudo quando jaacute se encontrava

no Rio de Janeiro foi preso e trazido de volta para Araccediloiaba sob a justificativa de

que ldquosem ele natildeo se poderiam por em praacutetica as experiecircnciasrdquo (CALOacuteGENAS

1904 p37)

O relatoacuterio encaminhado no ano de 1768 por Luiz Antonio de Souza ao

Conde de Oeiras em Portugal informava que o empreendimento de Pereira

Ferreira mostrava dificuldades em conseguir produzir um ferro de boa qualidade

mesmo tendo sido realizado por diversas vezes experiecircncias com o material pois

ldquonatildeo era possiacutevel acertar a caldeaccedilatildeo do ferro nem fazecirc-lo igual as primeiras

amostrasrdquo 65

Pereira Ferreira permanece naquela atividade durante dez anos sendo que

depois desse tempo vendeu a propriedade a Vitoriano Joseacute Sentena morador de

Viamatildeo Este empreendedor tambeacutem natildeo obteve sucesso nesta atividade

culminando por abandonaacute-la quatro anos apoacutes o seu iniacutecio (RODRIGUES 1966

p205-210)

No ano de 1784 Claacuteudio de Madureira Calheiros capitatildeo-mor da vila de

Sorocaba encaminha uma peticcedilatildeo a Martinho de Mello e Castro para explorar

aquelas jazidas Contudo esse projeto natildeo foi aprovado (RODRIGUES 1966 p

212) 65 ver Carta de Luiz Antonio de Souza ao Conde de Oeiras Satildeo Paulo 3 janeiro de 1768 In Dossiecirc Ipanema Arquivo do Museu Quinzinho de Barros ndash Sorocaba-SP

103

Em 1788 com aquele mesmo objetivo foi encaminhada a Bernardo Joseacute

de Lorena uma peticcedilatildeo onde o capitatildeo-mor de Sorocaba Claacuteudio da Cunha Oeiras

e o de Itu Vicente da Costa Taques Goacuteis e Aranha pela qual solicitavam

autorizaccedilatildeo para explorar e fabricar o ferro em Araccediloiaba Tambeacutem solicitavam a

vinda do Reino de ldquoum mestre inteiramente perito naquela arterdquo Juntaram agrave

peticcedilatildeo uma amostra de barra de ferro que diziam terem obtido naquele local

Este projeto tambeacutem natildeo foi viabilizado (RODRIGUES 1966 p212)

39 A Real Faacutebrica de Ferro de Satildeo Joatildeo do Ipanema

Jaacute no final do seacuteculo XVIII destaca-se a vinda do ldquoquiacutemicordquo Joatildeo Manso

Pereira Diretor Geral das Minas para examinar as jazidas de ferro do morro de

Araccediloiaba e acompanhar os trabalhos de demarcaccedilatildeo dos terrenos nos quais

iriam ser instaladas as edificaccedilotildees da Real Faacutebrica de Ferro de Ipanema

Tambeacutem realizou alguns ensaios com aquele mineacuterio mediante a construccedilatildeo de

um alto forno acionado com um fole manual

A esse respeito relata Eschwege (1944 p340) que conheceu Joatildeo Manso

Pereira que durante a primeira experiecircncia para a fundiccedilatildeo do ferro muitas

pessoas das vizinhanccedilas foram atraiacutedas para o local poreacutem ao final do teste

nenhum ferro foi produzido Manso entatildeo fugiu do local e os convidados tiveram

que voltar para as suas casas Eschwege lembrava que Manso ao recordar

aquele fato ldquoria-se gostosamente de toda aquela histoacuteria tendo chegado agrave

conclusatildeo de que para fabricar ferro em grande escala natildeo bastavam

conhecimentos de quiacutemicardquo

Em 1802 Manso Pereira natildeo havia apresentado nenhum resultado

satisfatoacuterio e foi destituiacutedo do cargo assumindo em seu lugar Francisco Ribeiro

de Andrade (FRAGA 1968 p 33-48)

104

Segundo o Governador D Rodrigo de Souza Coutinho Joatildeo Manso

Pereira

longe de ser hum verdadeiro chimico natildeo era senatildeo hum

Alquimista que debaixo de certos misteacuterios pretendia inculcar-se

sem ter os necessaacuterios conhecimentos para Inspector e dirigir a

mesma obra tendo toda a esperanccedila que entre os artistas que

pedia que viesse algum que soubesse tractar a referida Mina e

desta sorte colher o Laurel de que os outro se fazia digno

(FRAGA1966 p46)

No iniacutecio do seacuteculo XIX Martim Francisco Ribeiro de Andrada escolhe a

regiatildeo junto ao ribeiratildeo Ipanema para sediar as futuras instalaccedilotildees da faacutebrica de

ferro que estavam autorizadas em 1799 a Joatildeo Manso Pereira Atraveacutes de um

contrato realizado em Estocolmo em 1810 entre Dom Joaquim Lobo de

Saldanha ministro portuguecircs em Londres e o sueco Carlos Gustavo Hedberg

foram iniciados os trabalhos para a construccedilatildeo da Real Faacutebrica de Ferro de

Ipanema

Fig 28 Vista da Faacutebrica de Ferro de Ipanema 1827 Acervo Projeto Arqueologia Histoacuterica Museu Paulista-USP

105

Fig 29 Vista Geral da Faacutebrica de Ferro e Ipanema seacuteculo XIX

Fig 30 Altos fornos geminados construiacutedos por Varnhagem 1818

106

Fig 31 Alto forno construiacutedo pelo Cel Mursa 1888

Em 1815 Frederico Guilherme Varnhagen assume o cargo de Diretor da

Real Faacutebrica e em 1818 constroacutei dois altos-fornos para a produccedilatildeo de ferro

gusa os primeiros do Brasil Joaquim de Souza Mursa Diretor de Ipanema entre

1865-1890 construiu outro alto-forno e natildeo chegou a funcionar Em 1895 jaacute no

periacuteodo republicano Prudente de Moraes decreta a desativaccedilatildeo de Ipanema

Em 1929 tiveram iniacutecio experiecircncias para o aproveitamento da apatita

jazida descoberta em 1890 por DacuteOrville Derby Esse mineacuterio foi explorado ateacute

1944 por uma firma particular para a produccedilatildeo do superfosfato Mas jaacute em 1937

o acervo e aacuterea ocupada pela antiga Faacutebrica de Ferro passaram ao Ministeacuterio da

Agricultura que em 1947 instalou ali a Estaccedilatildeo Experimental do Trigo

107

Uma quarta fase da histoacuteria de Ipanema comeccedilou logo no iniacutecio dos anos

50 quando foi estabelecido o Plano Nacional da Induacutestria de Tratores e instituiacuteda

a obrigatoriedade de ensaios para tratores maacutequinas e ferramentas agriacutecolas

importados ou fabricadas no Brasil Ao mesmo tempo seguiram as atividades de

produccedilatildeo de sementes O estabelecimento passou a denominar-se CENTRI -

Centro Nacional de Ensaios e Treinamento Rural de Ipanema

A partir de 1975 foi criado o CENEA ndash Centro Nacional de Engenharia

Agriacutecola junto ao qual foi realizado em 1983 o convecircnio com o Museu Paulista-

Universidade de Satildeo Paulo para a realizaccedilatildeo da pesquisa arqueoloacutegica Em 1992

passou a integrar uma das aacutereas de conservaccedilatildeo e proteccedilatildeo ambiental do IBAMA

com a denominaccedilatildeo de FLONA ndash Floreta Nacional de Ipanema O Siacutetio Afonso

Sardinha foi registrado no IPHAN pela Professora Doutora Margarida Davina

Andreatta em 1997

108

Fig 32 ROTEIRO HISTORICO DA MINERACcedilAtildeO E METALURGIA PAULISTA

109

CAPIacuteTULO 4

O SIacuteTIO AFONSO SARDINHA 41- Localizaccedilatildeo O vale das Furnas eacute uma aacuterea privilegiada por sua geografia devido agrave

presenccedila do mineacuterio de ferro em suas cabeceiras e de uma diversificada

quantidade de rochas dentre elas o arenito que foi utilizado como material de

construccedilatildeo na forma de blocos para paredes e fornos Destaca-se a rede

hidrograacutefica que apresenta dois rios importantes como o Ipanema e o Sarapuhy

que contornam o morro de Araccediloiaba indo desaguar no rio Sorocaba A bacia do

ribeiratildeo do Ferro ocupa uma aacuterea importante dentro do morro de Araccediloiaba

porque eacute ela que drena a regiatildeo onde afloram os minerais de ferro sendo que a

topografia acidentada do seu leito possibilitou a implantaccedilatildeo de estruturas de

aproveitamento hidraacuteulico A regiatildeo apresentava significativa aacuterea coberta de

matas as quais foram transformadas desde finais do seacuteculo XVI em carvatildeo

vegetal o uacutenico combustiacutevel utilizado para a produccedilatildeo de ferro ateacute finais do

seacuteculo XIX

O morro de Araccediloiaba eacute conhecido tambeacutem pela denominaccedilatildeo de morro do

Ipanema toponiacutemico indiacutegena de Ypanema ndash Y= rio aacutegua + panema = sem valor

ou ainda aproximadamente sem peixes significando assim ldquorio sem valorrdquo ou

ldquorio sem peixesrdquo A denominaccedilatildeo Araccediloiaba (ldquoo lugar que esconde o Solrdquo)

aparece desde o seacuteculo XVI em documentos datados com variantes como

Arraraccediloiaba Byraccediloiaba Ibyraccediloiaba Guaccediloiava (SALAZAR 1997 p17)

Ocupa uma aacuterea isolada no interior de uma extensa bacia sedimentar que os

geomorfoacutelogos denominam de ldquoDepressatildeo Perifeacuterica Paulistardquo pertencente agrave

Bacia do Paranaacute Esta aacuterea constitui um ldquohorst docircmicordquo em razatildeo do seu formato

110

arredondado que lembra estruturas de coberturas do tipo domos (DAVINO 1975

p130)

Do ponto de vista geoloacutegico o morro eacute uma formaccedilatildeo montanhosa

resultante de ldquofenocircmenos de intrusotildees de rochas alcalinas que ocorreram

associadas agraves atividades tectocircnicas do Arco de Ponta Grossa no periacuteodo

denominado Cretaacuteceo Inferiorrdquo66 contemporacircneo do vulcanismo basaacuteltico na

regiatildeo Sudeste ndash Sul do Brasil A intrusatildeo magmaacutetica de Ipanema ocupa aacuterea

aproximadamente circular de nove quilocircmetros quadrados Sua maior altitude estaacute

em 970 metros sendo que dele ldquoeacute possiacutevel observar um dos trechos do vale do

Meacutedio - Tietecirc como tambeacutem trecircs importantes unidades de relevo do Estado de

Satildeo Paulo a Depressatildeo Perifeacuterica o Planalto Atlacircntico e as Cuestas Arenito ndash

Basaacutelticas no caso a Serra do Botucatu (CARPI JR 2002 p1)

Estaacute situado no centro-sul da Depressatildeo Perifeacuterica Paulista na Latitude

sul 23ordm25rsquo 23ordm17rsquo Longitude 47ordm35rsquo WGr 47ordm40rsquo WGr no municiacutepio de Iperoacute-

SP entre Sorocaba e Boituva a cerca de 125 km da Cidade de Satildeo Paulo

Encontra-se ainda dentro de uma aacuterea de proteccedilatildeo ambiental com 506973

hectares pertencente ao FLONA Ipanema Floresta Nacional de Ipanema do

IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

Renovaacuteveis) criada em 1992 para preservar e conservar um dos maiores

fragmentos de Mata Atlacircntica do Estado de Satildeo Paulo bem como aacutereas de

66 ldquoDuas medidas efetuadas no Laboratoacuterio de Geocronologia da USP segundo o meacutetodo do potaacutessio-argocircnico indicaram para as rochas alcalinas de Ipanema idade cretaacutecea inferior Estas determinaccedilotildees foram feitas em biotita contidas em shonkinitos-poacutertirosrdquo (DAVINO1975)

111

cerrado vaacuterzea e os ecossistemas associados67

67 A FLONA ndash Floresta Nacional de Ipanema possui plantas e fauna de grande representatividade tendo catalogado mais de 200 espeacutecies de aves 52 de mamiacuteferos 18 de anfiacutebios 15 de reacutepteis e 35 de peixes que totalizam 216 da riqueza do estado de Satildeo Paulo Caracteriacutesticas do relevo Ateacute 600 metros ndash vaacuterzea dos principais rios como Ipanema e Verde de declives suaves Acima de 875 metros ndash topo do Morro Araccediloiaba geralmente com platocircs e declives suavesmedianos De 600 a 725 metros ndash base das serras de declives acentuados (medianos) com nascentes de rios principalmente os intermitentes De 725 a 875 metros ndash proacuteximo ao topo de declives acentuados com rios encaixados entre as vertentes como o Ribeiratildeo do Ferro Hidrografia Integra a bacia hidrograacutefica do rio SorocabaMeacutedio Tietecirc classificada como UGRHI No 10 com sub-bacias dos rios Ipanema e Verde e ribeirotildees Iperoacute e do Ferro Clima O Troacutepico de Capricoacuternio passa pela parte sul da Floresta Nacional de Ipanema caracterizando uma zona de transiccedilatildeo de tropical para temperada Segundo Koeppen apresenta condiccedilotildees climaacuteticas tipo Cfa ndash subtropical quente constantemente uacutemido com inverno menos seco - ao sul limitando com Cwa ndash subtropical quente com inverno mais seco - ao norte Uso do solo 2800 hectares ndash floresta estacional semidecidual em estaacutegio de regeneraccedilatildeo do inicial ao tardio 29515 hectares ndash capoeira alta (grototildees) e cerrado 24293 hectares ndash capoeira baixa 250 hectares ndash vaacuterzea accediludes e represas 22150 hectares ndash reflorestamento com espeacutecies de raacutepido crescimento e nativas 121016 hectares ndash assentamentos rurais 50 hectares ndash sede administrativa vilas residenciais e siacutetios histoacuterico-culturais Ver Floresta Nacional (FLONA) de Ipanema NACIONAL Disponiacutevel em lthttpwwwibamagovbrspindexphpid_menu=191gt acesso em 22mar06

112

Fig 32 MAPA GEOLOacuteGICO DO MORRO DE ARACcedilOIABA (SEM ESCALA) Mapa Geoloacutegico do Estado Satildeo Paulo ndashIPT

113

Fig 33 BLOCO DIAGRAMA DA REGIAtildeO DA SERRA DE ARACcedilOIABA Interpretaccedilatildeo baseada em dados geoloacutegicos e geofiacutesicos por Andreacute Davino (DAVINO 1975 p140)

114

Fig 35 MORRO DE ARACcedilOIABA (AO FUNDO VISTA DA DEPRESSAtildeO

PERIFEacuteRICA) - I

FIG 36 MORRO DE ARACcedilOIABA (VISTA DA DEPRESSAtildeO PERIFEacuteRICA) - II

115

Aziz Nacib AbSaber ao analisar o morro de Araccediloiaba dos pontos de vista

geoloacutegico e geomoacuterfoloacutegico considera que

Geomorfologicamente eacute um acidente de grande exceccedilatildeo

emergente no meio de terras baixas colinosas que se estendem por

mais de 12 mil km2

Geologicamente eacute a consequumlecircncia de um vulcanismo hipoabissal

tardio anterior aos processos denudacionais que criaram a

Depressatildeo Perifeacuterica Paulista Filogeograficamente eacute um

componente de um mosaico de ecossistemas sub-regionais que

comporta cerrados e matas-galerias (vegetaccedilatildeo ciliar) matinhas

diferenciadas e descontiacutenuas nas paredes sub-rochosas do morro

Existem tambeacutem eventuais poreacutem altamente significativos relictos

de cactos mandacarus nas vertentes rochosas do morro Esse fato

associado ao que jaacute se conhece da regiatildeo de Itu e Salto permite

reconstituir a histoacuteria vegetacional da regiatildeo No passado ela

abrigou caatingas hoje relegadas a pequenos redutos de

cactaacuteceas na forma de rupestres-biomas logo seguidos por

cerradotildees e cerrados recortados por florestas-galerias biodiversas

E por fim grandes matas tropicais nos morros de solos vermelhos

argilo-arenosos das serranias de Satildeo Roque e Jundiaiacute As florestas

eliminaram importantes trechos de cerrado mas natildeo foram capazes

de expulsar os minirredutos de cactaacuteceas na serra do Jardim em

Vinhedo e Valinhos nos altos do Japi na serra de Satildeo Francisco

em Votorantim em Salto e Itu e no front rochoso das cuestas de

Botucatu e agora nos receacutem-identificados mandacarus dos morro

de Araccediloiaba e Ipanema

Para entender essa eacutepoca caracterizada por intrusotildees

hipoabissais desfeitas em sills - massas tabulares de rocha iacutegnea

que penetraram entre camadas de rocha mais antiga - nas

soerguidas camadas de arenitos da formaccedilatildeo de Itarareacute (originada

no Carboniacutefero Superior) haacute que visualizar o fato de que o atual

morro da Depressatildeo Perifeacuterica comportava centenas de metros de

espessura que se estendiam ateacute o embasamento de rochas

cristalinas As intrusotildees que perfuraram localmente o pacote de

116

rochas da borda da Bacia Sedimentar do Paranaacute foram

provavelmente as mais tardias em relaccedilatildeo ao vulcanismo que

precedeu os mega processos de separaccedilatildeo da Aacutefrica e Brasil Ao

que tudo indica primeiramente aconteceram os derrames

basaacutelticos e as intrusotildees hipoabissais de diabaacutesios (rochas

magmaacuteticas cristalinas) A seguir nos milhotildees de anos decorridos

entre o Triaacutessico Superior o Juraacutessico e o Cretaacuteceo Superior -

atraveacutes de bolsotildees magmaacuteticos descontiacutenuos e residuais -

aconteceram as penetraccedilotildees de sienitos em forma de ring dykes

(diques anelares) de Itatiaia da atual ilha de Satildeo Sebastiatildeo

Caxambu e alhures Tudo acontecendo antes que a tectocircnica

quebraacutevel aparecesse no embasamento cristalino do Brasil de

Sudeste Ou seja antes dos falhamentos que criaram a serra do

Mar a ilha de Satildeo Sebastiatildeo e a Mantiqueira Por fim um resiacuteduo

magmaacutetico de grande exceccedilatildeo teria interpenetrado a borda antiga

da Bacia do Paranaacute gerando a pequena aacuterea core que mais tarde

viria a ser o morro de AraccediloiabaIpanema com seus ankaratritos

impregnados de magnetita Um fato que de resto respondeu pelo

histoacuterico episoacutedio da experiecircncia industrial da Fazenda

Ipanema(ABSAacuteBER 2006 p1)

42 A Vegetaccedilatildeo

Quanto agrave vegetaccedilatildeo original o morro de Araccediloiaba tem um histoacuterico de

perturbaccedilotildees sofridas por intervenccedilotildees antroacutepicas iniciadas no final do seacuteculo XVI

Essas perturbaccedilotildees foram causadas pela retirada de mineacuterio madeiras calcaacuterio

apatita aleacutem de focos de incecircndio entre outros processos

Para a exploraccedilatildeo do mineacuterio era necessaacuteria a devastaccedilatildeo das matas que

cresciam sobre a jazida Segundo a descriccedilatildeo de Domingos Pereira Ferreira que

chegou no local em 1765 para dar iniacutecio a um projeto de Faacutebrica de Ferro aquele

117

Morro era como ldquoum Cubatatildeo de Matos e de Cerra Altardquo e somente era possiacutevel

ver uma pedra levando ldquoadeante fousse e machadordquo68

A devastaccedilatildeo das matas tambeacutem esteve ligada ao tipo de combustiacutevel que

era utilizado nos fornos de reduccedilatildeo (fornos baixos) 69 e depois nos de fundiccedilatildeo

(altos fornos)70 O combustiacutevel para a produccedilatildeo de ferro sempre foi o carvatildeo

vegetal71 o qual era fabricado a partir de uma variedade de madeiras existente na

proacutepria mata entre elas os chamados ldquopaus reaisrdquo as madeiras de lei como a

peroba jequitibaacutes e cedros cujos registros de extraccedilatildeo eacute encontrado ateacute o iniacutecio

do seacuteculo XIX 72

Mesmo sofrendo exploraccedilatildeo e desmatamento ainda hoje a Floreta

Nacional de Ipanema constitui-se num dos poucos redutos florestais do interior

paulista e tambeacutem eacute a maior detentora da biodiversidade regional Espeacutecies

vegetais como timburi ararib lixeira jangada do campo canela paineira figueira

branca e peroba satildeo encontrados em percurso assim como animais de haacutebitos

68 Encontramos uma coacutepia da Carta de Domingos Pereira Ferreira agrave Morgado de Mateus escrita em Sorocaba 30 de novembro de 1765 na Coleccedilatildeo Faacutebrica de Ferro de Ipanema entre todas as coacutepias que foram doadas por Joseacute Monteiro Salazar ao Arquivo Histoacuterico Sorocabano 69Nos fornos baixos o carvatildeo vegetal era colocado em camadas alternadas com o mineacuterio calcinado e triturado que com o auxiacutelio de foles manuais ou mecacircnicos realizavam a reduccedilatildeo e natildeo a fundiccedilatildeo do mineacuterio de ferro resultando numa ldquoesponja de ferrordquo ou ldquopatildeo de ferrordquo que posteriormente era novamente trabalhada nos fornos de forja e nos malhos (FAUS 2000) 70 Estes fornos que chegam a fundir o mineacuterio de ferro foram introduzidos em Ipanema no iniacutecio do seacuteculo XIX O produto derivado do alto forno eacute o ferro em estado liacutequido (ferro gusa) (FRAGA 1968 p 87) 71 Joseacute Bonifaacutecio de Andrada e Silva ao visitar a Faacutebrica de Ipanema em 1820 descreve o meacutetodo de fabricaccedilatildeo de carvatildeo ldquoO carvatildeo he todo misturado sem separaccedilatildeo do proacuteprio para as forjas do refino he mal feito e apagado comumente com agoa em vez de ser abafado com terra principalmente arenosa que he a melhor da qui vem que sahe mais pesado do que deveria ser contra a fabrica e a favor do carvoeiro reduz-se muito a poacute nos armazeacutens com prejuiacutezo da mesma Faacutebrica e o peior he que nas forjas de refino esfarela-se logo e se reduz a cinza sem dar o devido calor O carvatildeo que fazem de maneira mole he mais leve e arde mais e da madeira dura he pelo contrario O methodo de fazer carvatildeo he o seguinte pegatildeo em toda a lenha misturada e arrumatildeo em pilha deitadas que tem 40 palmos em quatro como a figura de um telhado com beiradas estas tem 6 palmos de alto e o espigatildeo 12 leva a quaimar cada piulha 30 ate 34 dias e mais e da cada pilha de 700 a 900 arrobas de carvatildeordquo (FRAGA 1968 p 86) 72 Joseacute Bonifaacutecio de Andrada e Silva em suas Memoacuterias Econocircmicas sobre a Faacutebrica de Ferro de Ipanema faz criacuteticas agrave construccedilatildeo dos Altos Fornos de Varnhagen e tambeacutem agrave preparaccedilatildeo do mineral e do combustiacutevel utilizado como ldquocavacos de perobardquo (MENON 1992 p144)

118

florestais destacando-se o jaguarundi o gambaacute o irara o tapiti o matildeo-pelada o

quati o jacupemba o chupa-dente o pica-pau de topete vermelho o tangaraacute

danccedilarino o sabiaacute coleira a jararaca a cascavel e o lagarto teiuacute 73

43 Rios e ribeirotildees

Dois rios circundam aquele morro o rio Ipanema e o Sarapuhy afluentes

do rio Sorocaba Na parte central daquele Morro surgem alguns riachos sendo o

mais importante deles o Ribeiratildeo do Ferro anteriormente denominado de Ribeiratildeo

das Furnas (afluente do Rio Ipanema) que nasce no Monte ou Pico do Chapeacuteu e

forma o Vale das Furnas com ocorrecircncia de cascatas e piscinas naturais Eacute

tambeacutem naquele Vale e em uma das curvas do Ribeiratildeo do Ferro que estaacute

situado o Siacutetio Arqueoloacutegico Histoacuterico Afonso Sardinha objeto de anaacutelise dessa

Tese

O Ribeiratildeo do Ferro ao descer o morro de Araccediloiaba apresenta

desniacuteveis de ateacute 500 metros com a presenccedila de alguns trechos encachoeirados

caracteriacutestica essa que proporcionou a execuccedilatildeo de projetos de aproveitamento

hidraacuteulico como a construccedilatildeo de obras de represamento canal de derivaccedilatildeo e

vala transformando as aacuteguas daquele ribeiratildeo em forccedila motriz aplicada ao

funcionamento dos equipamentos e ferramentas utilizadas no processo produtivo

da produccedilatildeo de ferro

73 Ver Fazenda Ipanema Disponiacutevel em lthttpfazendaipanemaiperospgovbrhistoriaphpgt

119

44 A magnetita o mineacuterio do morro de Araccediloiaba

Segundo Andreacute Davino a importacircncia do morro de Araccediloiaba do ponto de

vista geoloacutegico

deriva do fato de conter umas das muitas ocorrecircncias de rochas

alcalinas do Brasil As concentraccedilotildees de magnetita e apatita

[descobertas no final do seacuteculo XIX] nessas rochas despertaram

desde longa data especial interesse sobre a aacuterea O contorno da

intrusatildeo alcalina situa-se na parte central da Serra e estaacute contido

inteiramente dentro dos limites da Fazenda Federal de Ipanema

(DAVINO 1975 p130)

O mineacuterio de ferro encontrado no morro de Araccediloiaba eacute a Magnetita

um imatilde natural com propriedade magneacutetica de atrair objetos feitos de ferro ou

outros metais Essa propriedade do mineacuterio possivelmente facilitou o encontro

daquela jazida pelos sertanistas que por laacute passaram em meados do seacuteculo XVI

A magnetita eacute um mineacuterio do grupo das espinelas formado por oacutexido

magneacutetico de ferro (Fe3O4) composto por 724 de Fe (ferro) Eacute frequumlente a

existecircncia de cristais bem desenvolvidos pertencentes ao sistema cuacutebico

geralmente em forma de octaedros ou de dodecaedros Eacute abundante formando

as suas jazidas verdadeiras montanhas em massas granulares ou compactasA

composiccedilatildeo da magnetita eacute de oacutexido de feacuterrico (Fe2O3) 65 oacutexido ferroso (Fe O)

25 siacutelica (SiO2) 10 e traccedilos de aacutecido fosfoacuterico (P2O5) (FRAGA 1968 p149)

No Brasil encontram-se jazidas de magnetita nas regiotildees que

compreendem desde o Sudeste da Bahia ateacute o Leste do Paranaacute e Nordeste de

Santa Catarina Contudo sempre se apresentam impregnado de Titacircnio (Ti O2)

em proporccedilotildees que variam desde 04 ateacute 16 A exagerada densidade74 dessa

magnetita concorre para tornaacute-la inaproveitaacutevel para a reduccedilatildeo mesmo nos altos 74 A densidade eacute medida na proporccedilatildeo quilograma por metro cuacutebico kg m-3

120

fornos a coque a menos que sofra preacutevio e demorado tratamento ou que seja

misturada a mineacuterios menos densos (e portanto algo impuro) tais como a canga

a Hematita e outros De outro lado o oacutexido de titacircnio que a impregna dificulta

quando natildeo impede inteiramente a transformaccedilatildeo em gusa ou em esponja

(AMARAL 1946 p 264-266 Apud FRAGA 1968 p32) No morro de Araccediloiaba as

jazidas de Magnetita encontram-se na ldquoforma de depoacutesitos aluviais e

concentraccedilotildees in situ a poucas dezenas de metros de profundidaderdquo (DAVINO1975 p129)

Fig 37 MINEacuteRIO DE FERRO MAGNETITA

Embora no final do seacuteculo XIX os conhecimentos cientiacuteficos da Quiacutemica e

da aacuterea da metalurgia jaacute estivessem avanccedilados a composiccedilatildeo da Magnetita do

morro de Araccediloiaba impregnada de oacutexido de Titacircnio natildeo era conhecida75 A

carecircncia de conhecimento cientiacutefico sobre as propriedades quiacutemicas dessa

magnetita foi a principal causa dos trecircs seacuteculos de tentativas de se produzir ferro

naquele local e das inuacutemeras criacuteticas que eram feitas aos fundidores e

administradores 76 Sendo assim podemos indicar que essa realidade teacutecnica foi

determinante para que natildeo se produzisse em Ipanema desde finais do seacuteculo

XVI ferro de boa qualidade Estephania Fraga indica que

75 O titacircnio foi descoberto em 1791 por Willian Gregor mas soacute se tornou bem conhecido apoacutes os estudos de Wohler em 1857 e Peterson em 1887 76 Orville Derby no final do seacuteculo XIX presidia a comissatildeo de estudos geoloacutegicos da Proviacutencia de Satildeo Paulo e pesquisou a apatita de Ipanema

121

a dificuldade em fundir o mineacuterio de Ipanema ndash a magnetita ndash

provinha da composiccedilatildeo especiacutefica do mesmo pois aleacutem de sua

exagerada densidade apresenta-se impregnada de oacutexido de

Titacircnio fatores que contribuem de forma decisiva para dificultar

sua reduccedilatildeo mesmo em altos fornos (FRAGA 1968 p86)

A dificuldade de produzir um ferro de boa qualidade jaacute era sentida desde o

seacuteculo XVIII quando Domingos Pereira Ferreira apostou na construccedilatildeo de uma

Faacutebrica de Ferro naquele local Embora tenha construiacutedo diversos tipos de fornos

e empregado diferentes modos de fundiccedilatildeo natildeo havia conseguido um bom

resultado No seacuteculo XIX essa mesma dificuldade permaneceu nos trabalhos de

fundiccedilatildeo e na produccedilatildeo de ferro da Real Faacutebrica de Ipanema fundada em 1810

O desconhecimento das propriedades daquela magnetita apenas

descoberta na segunda metade do seacuteculo XIX quando a Real Faacutebrica de Ferro jaacute

estava em plena decadecircncia77 tambeacutem estava na origem das acirradas

discussotildees teacutecnicas entre Friederich Ludwig Wilhelm Varnhagen mineralogista

alematildeo e Carl Gustav Hedberg sueco e primeiro diretor de Ipanema (1811-

1814) sobre as vantagens do alto-forno proposto por Vanhagen em relaccedilatildeo aos

quatro fornos azuis Blauofen fornos de reduccedilatildeo direta inicialmente instalados

em Ipanema78

O diretor sueco foi substituiacutedo por Ludwig Wilhelm Varnhagen em 1815

que construiu dois Altos Fornos de aproximadamente 8 metros de altura cada

um Com estes fornos conseguiu produzir o ferro gusa em sua forma liacutequida

tendo moldado com a primeira corrida desse ferro trecircs cruzes sendo uma delas

ldquolevada em procissatildeo ateacute o ponto alto da montanha de Araccediloiabardquo onde

atualmente permanece Contudo Varnhagen natildeo produziu o ferro esperado e

77 Naquele periacuteodo nem o Estado nem a Real Faacutebrica possuiacuteam laboratoacuterios de anaacutelise que pudessem fazer ensaios do mineacuterio combustiacutevel e fundentes empregados na produccedilatildeo A primeira escola formadora de profissionais na aacuterea de mineraccedilatildeo foi a Escola de Minas de Ouro Preto fundada em 1875 (FRAGA 1968 p140) 78 Von Varnhagen havia dirigido a faacutebrica de ferro de Figueiroacute dos Vinhos em Portugal e foi enviado a Ipanema com a finalidade de projetar a construccedilatildeo de uma grande faacutebrica de ferro que afinal foi construiacuteda por Hedberg (FRAGA 1968 p 71-79)

122

essa dificuldade tambeacutem natildeo foi compreendida por Eschwege79 que estava na

direccedilatildeo de uma outra faacutebrica de ferro em Congonhas do Campo a qual produzia

ferro a partir de um outro mineacuterio a hematita que facilmente pode ser trabalhada

para a produccedilatildeo do ferro80 A partir de 1821 estes fornos altos jaacute estavam em

decadecircncia

Contudo parece que apenas Joseacute Bonifaacutecio de Andrada e Silva quando

esteve examinando as minas de ferro daquele Morro percebeu que

o problema capital de Ipanema liga-se ao mineacuterio de ferro ali

existente ldquoo ferro magneacuteticordquo de difiacutecil fusatildeo embora natildeo

pudesse conhecer ainda a composiccedilatildeo do mesmo (presenccedila de

Titacircnio que como eacute sabido foi descoberto apenas a partir da

segunda metade do seacuteculo XIX) considerando (com base nos

conhecimentos do gecircnero que visitou na Europa) que a soluccedilatildeo

estaria em aumentar a altura dos pequenos fornos (FRAGA 1968

p149)

Em 1878 foi a vez de Joaquim Antonio de Souza Mursa construir um Alto

Forno e quando a Faacutebrica fechou em 1895 este ainda natildeo havia sido utilizado

79 Ludwig von Eschwege depois de ter trabalhado em Portugal o baratildeo de Eschwege seguiu em 1810 para o Brasil a convite do priacutencipe regente D Joatildeo para reanimar a decadente mineraccedilatildeo de ouro e para trabalhar na nascente induacutestria sideruacutergica Em 1821 inicia em Congonhas do Campo Minas Gerais os trabalhos de construccedilatildeo de uma faacutebrica de ferro denominada de Patrioacutetica empreendimento privado sob a forma de sociedade por accedilotildees Em 1811 a siderurgia de Eschwege jaacute produzia em escala industrial Eschwege eacute o autor de Pluto Brasiliensis primeira obra cientiacutefica escrita sobre a geologia brasileira publicada primeiramente na Europa em 1833 (FIGUEIROA 1977 63-67) 80 As hematitas satildeo mineacuterios de ferro constituiacutedos por oacutexido feacuterrico (Fe2O3) contendo ateacute 70 de ferro(Fe) Seu aspecto varia consideravelmente pode se apresentar cristalizado em massas compactas ou em massas terrosas Satildeo utilizadas na produccedilatildeo de ferro sob duas formas principais a) hematita vermelha e b) hematita parda Dados sobre a composiccedilatildeo quiacutemica da hematita fornecidos pela Dra Heacutelegravene Nasson Storch (FRAGA 1968 p149)

123

45 Fatores fisiograacuteficos da ocupaccedilatildeo europeacuteia

A ocupaccedilatildeo das aacutereas interiores da Capitania de Satildeo Vicente no iniacutecio da

colonizaccedilatildeo foi caracterizada particularmente por expediccedilotildees de apresamento de

iacutendios Este movimento pioneiro na ocupaccedilatildeo das aacutereas interiores do continente

e era facilitado pela existecircncia de caminhos indiacutegenas os Peabirus

No caso da ocupaccedilatildeo da regiatildeo onde estaacute localizado o morro de

Araccediloiaba o acesso era facilitado pela presenccedila de importante caminho que ligava

a vila de Satildeo Paulo de Piratininga agraves terras de Guairaacute e regiotildees do Alto Peru

(atual Boliacutevia) Com a descoberta da prata do Potosi intensificaram-se as buscas

de metais nobres inclusive com incentivos da Coroa portuguesa com ajuda de

mineradores preparados para a identificaccedilatildeo de mineacuterios especialmente a prata e

o ouro As expediccedilotildees em busca daquelas riquezas foram estimuladas apoacutes a

chegada de D Francisco de Sousa que ocupou a governadoria Geral do Brasil no

periacuteodo de 1591 a 1601

Foi neste contexto que ocorreram as primeiras tentativas de exploraccedilatildeo do

ferro das minas de Araccediloiaba Dificilmente pode-se precisar a data em que se deu

o encontro do morro de Araccediloiaba pelos europeus mas certamente a sua

descoberta foi facilitada pela presenccedila dos Peabirus

Provavelmente o aspecto estrateacutegico e o encontro de traccedilos de prata junto

ao mineacuterio de ferro de Araccediloiaba tenham sido fatores que levaram D Francisco a

conceder sesmarias e dar iniacutecio ao povoamento colonial da regiatildeo Para tanto

ldquoplantou o pelourinhordquo no interior do Morro tendo como padroeira Nossa Senhora

do Monte Serrat Esta povoaccedilatildeo natildeo prosperou tendo sua populaccedilatildeo se

deslocado em 1611 ndash o mesmo ano da morte de D Francisco de Sousa - para o

Itavuvu local que recebeu a denominaccedilatildeo de Satildeo Felipe Somente mais tarde no

decorrer de 1661 houve a fundaccedilatildeo da Vila de Sorocaba (ALMEIDA 2002 p 11-

20)

124

Apesar da sua localizaccedilatildeo distante cerca de trinta leacuteguas de distacircncia do

litoral e isolada dos mercados consumidores o interesse da exploraccedilatildeo do ferro de

Araccediloiaba se explica pelo valor estrateacutegico desse metal que poderia ser utilizado

como mercadoria contando com mercado certo a proacutepria Capitania de Satildeo

Vicente e a regiatildeo do rio da Prata Por outro lado o ferro era um metal de grande

interesse para a Metroacutepole que contava com pequenas jazidas

Mais tarde jaacute no iniacutecio do seacuteculo XVIII havia um mercado promissor

representado regionalmente pelo avanccedilo da agricultura de cana-de-accediluacutecar e

tambeacutem pela exploraccedilatildeo das minas de ouro de Cuiabaacute e Minas Gerais81 A esse

respeito escreve em 1782 Marcelino Pereira Cleto

Ainda que as minas de ferro e accedilo estatildeo em terras de Sertatildeo e na

distancia de trinta legoas da Marinha com tudo o sitio he haacutebil

para o bom consumo destes gecircneros porqto por Sorocaba he o

caminho para Coritiba Minas de Pernampanema e outras terras

mais distantes da Capitania de Satildeo Paulo por Itu Va proacutexima he

o caminho por onde se dirige todo o negocio que vai para

Cuiabaacute por esta capitania e tambeacutem perto das das minas se

encaminha a estrada de Goiases Se os Negociantes do Cuiabaacute e

Goiases achassem no caminho ou perto delle este dous gecircneros

[ferro e accedilo] ainda pelo mesmo preccedilo qrsquo elles se vendem no Rio

de Janeiro e os de S Paulo o tivessem na sua proacutepria Capitania

certamte natildeo iratildeo busca-los ao Rio de Janeiro com despesa e

risco e bastaria ser seguro este consumo para ser uacutetil cuidar-se

nas das minas

Quanto mais em distancia como de seis leacutegoas das minas

passa o rio Teateacute navegaacutevel de canoa e unicamemte com o

embaraccedilo de algum ou alguns Saltos ou Cachoeiras neste rio

entra um pouco distancia de S Paulo outro chamado dos

Pinheiros neste o rio Grande neste o rio Pequeno qrsquo fica junto agrave

81 No seacuteculo XVIII a agricultura da cana-de-accediluacutecar foi significativa na regiatildeo denominada de ldquoquadrilaacutetero do accediluacutecarrdquo formada pelas localidades de Sorocaba Piracicaba Mogi-Guaccedilu e Jundiaiacute destacando-se duas aacutereas Itu e Campinas Para este tema ver PETRONE Maria Thereza S A lavoura canavieira em Satildeo Paulo Satildeo Paulo Difusatildeo Europeacuteia do livro 1968

125

Serra qrsquo cobre a Va de Santos do rio pequeno a santos seratildeo

sette legoas trecircs por terra maacutes caminho mto aacutespero E as quatro

por hum rio qrsquo em todas as partes admitte navegaccedilatildeo daquelles

rios vecirc-se qrsquo era pequena a distancia em qrsquo se precisava

condusir por terra estes dous gecircneros ateacute ao Porto da Va de

Santos e daqui dar-lhes extraccedilatildeo para mais Portos da Ameacuterica

(CLETO 1899 p p 210)

Embora natildeo haja estudos especiacuteficos sobre o trabalho indiacutegena na

produccedilatildeo do ferro dos empreendimentos metaluacutergicos instalados no morro de

Araccediloiaba os documentos escritos indicam que ateacute meados do seacuteculo XVIII a

produccedilatildeo do ferro em Araccediloiaba foi realizada com o trabalho de indiacutegenas que

eram levados para aquela atividade pelos exploradores 82 Dessa forma

exploraram aquelas minas Afonso Sardinha e Francisco de Souza (seacuteculo XVI e

XVII) Luiz Lopes de Carvalho (seacuteculo XVII) Domingos Pereira Ferreira (seacuteculo

XVIII) e depois a Real Faacutebrica de Ferro de Satildeo Joatildeo do Ipanema Neste uacuteltimo

empreendimento os iacutendios foram trazidos das aldeias de Itapecerica MrsquoBoy

Carapicuiacuteba Barueri e Itapevi Em 1815 trabalhavam nessa faacutebrica 16 iacutendios aleacutem

de escravos africanos Em 1834 a Real Faacutebrica de Ferro comeccedilou a receber

africanos livres em 1837 trabalhavam naquele estabelecimento 121 escravos (68

homens 24 mulheres e 29 crioulos) e 48 africanos livres (30 homens e 18

mulheres)83

Nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XIX o morro de Araccediloiaba passou a

integrar as rotas de muitos naturalistas geoacutegrafos mineralogistas botacircnicos e

geoacutelogos como Von Martius Martim Francisco de Andrada Auguste Saint Hilaire

o Baratildeo Eschewege Theodoro Knecht e Leandro Dupreacute que fizeram daquele

82 Conforme estabelecia a legislaccedilatildeo mineira compilada pelo Coacutedigo Filipino a exploraccedilatildeo de qualquer mineacuterio era realizada com os recursos do proacuteprio descobridor pagando os direitos dos quintos ao eraacuterio reacutegio Cf Ord L 2ordm ndash Tits 26 e 28 par 16 acolhendo a Ord Manuelina do L 2ordm Tt34 e seus paraacutegrafos Ver RODRIGUES (1966 p 182) 83 Sobre o trabalho indiacutegena na Real Faacutebrica de Ferro de Ypanema ver MENON Og A Real Fabrica de Ferro de Satildeo Joatildeo do Ipanema e seu mundo 1811-1835 Dissertaccedilatildeo (mestrado) Satildeo Paulo PUCSP 1992 p 84-90 Sobre o trabalho dos africanos livres em Ipanema ver RODRIGUES Jaime Ferro trabalho e Confliro os Africanos livres na Faacutebrica de Ipenema Historia Social n 45 Campinas IFCH-Unicamp 29-42 199798

126

local um laboratoacuterio a ceacuteu aberto para pesquisas cientiacuteficas aleacutem de terem

deixado dessas experiecircncias relatos preciosos que ajudam a compor aquela

histoacuteria como atesta o relato do naturalista Saint-Hilaire que esteve em Ipanema

em 1819 Diz ele

Encontrei em Ipanema um zoologista o Sr Natterer membro da

comissatildeo cientiacutefica que o imperador da Aacuteustria havia enviado ao

Brasil para recolher amostras de espeacutecimes diversos do pais

Fazia um ano que se achava instalado nas proximidades das

forjas tendo jaacute formado uma vasta coleccedilatildeo de paacutessaros Era

impossiacutevel natildeo admirar a beleza dessa coleccedilatildeo Natildeo se via uma

uacutenica ave cujas penas tivessem sido coladas ou que apresentasse

a menor mancha de sangue

Encontrei tambeacutem em Ipanema um jovem prussiano Sellow

o primeiro naturalista a chegar no Brasil depois de firmada a paz

Tinha feito anteriormente estaacutegio no Jardim Botacircnico de Paris a

fim de aperfeiccediloar os seus conhecimentos e vivia agora de uma

pensatildeo que lhe dava o ilustre e generoso Humboldt o qual fazia

crer ao rapaz que ele estava sendo pago pela administraccedilatildeo do

Jardim Sellow dedicava-se as suas pesquisas com um zelo e

uma energia sem par (SAINT-HILAIRE 1972 p194-195)

127

CAPIacuteTULO 5

INVESTIGACcedilOtildeES ARQUEOLOacuteGICAS AS EVIDENCIAS DE UMA FAacuteBRICA DE FERRO 84

O trabalho da pesquisa arqueoloacutegica se estendeu por um periacuteodo de 8

anos (1983-1989) e ficou registrado em documentos de Diaacuterios de Campo

escritos pela pesquisadora Margarida Davina Andreatta assim como em

correspondecircncias levantamentos topograacuteficos planos de escavaccedilatildeo croquis e

desenhos geomeacutetricos de plantas das ruiacutenas croquis de cortes estratigraacuteficos e

de reconhecimento das escavaccedilotildees Inventaacuterio de Peccedilas e fotografias tudo

devidamente registrado em relatoacuterios da pesquisa arqueoloacutegica (ver Planta Geral

da Aacuterea Anexo 9 e o mapeamento das escavaccedilotildees Anexo 10)

Os artefatos coletados durante as investigaccedilotildees de campo foram

acondicionados em caixas devidamente protegidas e identificadas e guardados

nas dependecircncias do Museu do Centro de Visitantes da FLONA de Ipanema

Por ocasiatildeo da primeira visita realizada no Siacutetio Afonso Sardinha em 09 de

maio de 1983 a pesquisadora observou que as ruiacutenas existentes estavam

cobertas por ldquopequenos arbustos cipoacutes gramiacuteneas deposiccedilatildeo de folhas e raiacutezes

secasrdquo as quais encobriam os blocos de pedra que formariam as paredes de uma

edificaccedilatildeo (ANDREATTA 1983 p7) O siacutetio apresentava sinais de alteraccedilotildees

causadas pela accedilatildeo de erosatildeo pelas aacuteguas da chuva bem como pela accedilatildeo

antroacutepica possivelmente pescadores e caccediladores que usavam aquele local como

acampamentos temporaacuterios para suas atividades observando-se ainda sinais de

frequumlentes incecircndios na mata existente em seu entorno

84 Para acompanhar as discussotildees deste Capiacutetulo consultar o Anexo 9 Planta Geral do Siacutetio Afonso Sardinha

128

Fig 38 LIMPEZA DO SIacuteTIO AFONSO SARDINHA 1984

Fig 39 EQUIPE DE TRABALHO SITIO AFONSO SARDINHA 1988

Para iniciar a pesquisa arqueoloacutegica foi necessaacuterio remover a vegetaccedilatildeo

que recobria as ruiacutenas mencionadas de modo a possibilitar as primeiras

observaccedilotildees e mediccedilotildees das paredes e da aacuterea do seu entorno Desta forma jaacute

no iniacutecio das investigaccedilotildees iniciais em maio de 1983 jaacute haviam sido

129

evidenciados embora ainda natildeo totalmente identificados os espaccedilos

possivelmente destinados agrave produccedilatildeo de ferro e os locais proacuteprios para o

aproveitamento da forccedila motriz hidraacuteulica necessaacuteria agravequelas atividades

51 Estruturas hidraacuteulicas para a produccedilatildeo da forccedila motriz

O trabalho de reconhecimento da aacuterea identificou um conjunto de

estruturas identificadas como pertencente a um sistema hidraacuteulico destinado a

produccedilatildeo da forccedila motriz o qual compreendia diversas partes o canal de

derivaccedilatildeo das aacuteguas (vestiacutegios de canaleta) a vala destinada ao alojamento da

roda hidraacuteulica e o trecho do canal de restituiccedilatildeo das aacuteguas ao ribeiratildeo Tais

dispositivos se localizam em aacuterea externa poreacutem adjacente ao edifiacutecio principal

de produccedilatildeo de ferro

Natildeo foi possiacutevel localizar a estrutura do barramento responsaacutevel pelo

desvio das aacuteguas do ribeiratildeo do Ferro para o canal de derivaccedilatildeo

511 O Canal de Derivaccedilatildeo A existecircncia do canal de derivaccedilatildeo foi evidenciada no ano de 1987 quando

foram realizados os trabalhos de decapagem para escavaccedilatildeo da aacuterea Sul da aacuterea

A (forno externo) conforme registrado no Diaacuterio de Campo no dia 02 de julho de

1987 onde de se indica que ldquoevidenciou uma canaleta que se prolonga para o

interior da ferradura que apareceu apoacutes a limpeza da vegetaccedilatildeo do entorno da

mesmardquo Outra evidecircncia da existecircncia do canal na regiatildeo ao Sul da aacuterea A (forno

externo) foi a constataccedilatildeo da ocorrecircncia de fluxo de aacutegua em direccedilatildeo ao Forno 1

(aacuterea A1) fenocircmeno que se observava toda a vez que chovia Este fato mostra

130

que deveria existir um possiacutevel canal interceptador de aacuteguas de chuvas

direcionando a correnteza em direccedilatildeo ao forno (Anexo 9 e Figura 75)

A evidecircncia encontrada revelava que o Canal de Derivaccedilatildeo havia sido

construiacutedo com a finalidade de obter um aproveitamento da corrente de aacutegua do

ribeiratildeo do Ferro contornando a face sul da edificaccedilatildeo ateacute encontrar o muro da

entrada da vala da roda drsquoaacutegua em um ponto onde o terreno se encontra agrave cota

520m medida pelo levantamento planialtimeacutetrico realizado na aacuterea Sendo assim

esse canal de desvio de aacuteguas deve partir do ribeiratildeo do Ferro numa posiccedilatildeo com

cota evidentemente superior a 520m (Figura 75)

No final do Canal de Derivaccedilatildeo no ponto correspondente a entrada da vala

(aacuterea E) foi encontrada durante as pesquisas uma quantidade significativa de

blocos de rocha arenito de tamanhos regulares amontoados e natildeo-alinhados os

quais testemunhavam que naquele local deveria haver uma estrutura de conexatildeo

entre o canal de derivaccedilatildeo e a vala As dimensotildees desses blocos apresentando

uma certa regularidade de formas satildeo tambeacutem um forte indiacutecio de que eles foram

cortados com a finalidade de proporcionar um entrosamento na construccedilatildeo da

parede (Anexo 13)

As pesquisas mostraram a existecircncia de trecircs grupos de blocos com

dimensotildees regulares As Tabelas abaixo apresentam as dimensotildees observadas

nos blocos de arenito acima mencionados

Tabela 1 Dimensotildees dos blocos de maior dimensatildeo ( em centiacutemetros - cm)

COMPRIMENTO LARGURA ESPESSURA

43 30 18

43 27 15

26 20 16

131

COMPRIMENTO LARGURA ESPESSURA

20 11 8

18 09 9

18 14 6

Tabela 2 Dimensotildees dos blocos de media dimensatildeo ( em centiacutemetros ndash cm)

COMPRIMENTO LARGURA ESPESSURA

10 6 6

10 5 6

11 7 35

Tabela 3 Dimensotildees dos blocos de menor dimensatildeo ( em centiacutemetros ndash cm)

Fig 40 VISTA GERAL DA AacuteREA E 1988

132

512 A Vala da Roda

Nas ruiacutenas encontradas da Faacutebrica de Ferro a existecircncia de estruturas

destinadas a utilizaccedilatildeo da energia hidraacuteulica eacute evidenciada pela presenccedila de

estruturas que caracterizam o controle das aacuteguas Em sequumlecircncia ao Canal de

Derivaccedilatildeo mencionado no item anterior observa-se a existecircncia da vala para o

alojamento da roda drsquoaacutegua indicada na planta baixa (Anexo 9) identificada como

ldquoCanal (D)rdquo conforme registrado no Diaacuterio de Campo da pesquisadora Margarida

Davina Andreatta em maio de 1983

A vala encontrada apresenta 19 metros de comprimento tendo ambas as

paredes cerca de 15 metros de largura e vatildeo livre entre as paredes com cerca de

225 m A uma distacircncia da ordem de 37 metros da margem do ribeiratildeo do Ferro

a parede da lateral direita apresenta um alargamento e por conseguinte ocorre

um estreitamento do vatildeo da vala passando a contar com apenas 1 (um) metro de

largura na saiacuteda

A vala encontrada no Siacutetio Afonso Sardinha apresentava o seu piso com

plano de declividade em direccedilatildeo ao ribeiratildeo do Ferro sendo que na parte mais

alta a cota do piso eacute de 453 m acima do niacutevel do ribeiratildeo enquanto que a

extremidade inferior da vala alcanccedila 041m acima do mesmo niacutevel portanto

mostrando forte inclinaccedilatildeo para facilitar a restituiccedilatildeo da aacutegua ao ribeiratildeo

A posiccedilatildeo do plano de declividade da vala mostra que na extremidade de

saiacuteda do canal formou forte desniacutevel em relaccedilatildeo ao piso da Faacutebrica sendo que no

ponto meacutedio o niacutevel da vala seria igual a 230 m (Figura 41)

133

Fig 41 Dimensotildees da Vala da roda e localizaccedilatildeo das evidecircncias de

esteios

134

Fig 42 VALA DA RODA HIDRAacuteULICA 1987 - I

Fig 43 VALA DA RODA HIDRAacuteULICA 1987 - II

135

5121 Evidecircncias de esteios

Em novembro de 1984 foram evidenciados trecircs pares de esteios nas

laterais externas das paredes da vala permitindo supor que as mesmas

funcionavam como pilares para alguma cobertura sobre a vala (ANDREATTA

1984 p 37)

As evidecircncias de esteios encontrados possuem formas circulares e

quadrangulares tendo os lados medidas semelhantes As evidecircncias localizadas

no lado leste apresentavam respectivamente 040 cm X 040 cm 045 cm X 045

cm e 045 cm X 040 cm Jaacute as evidencias encontradas no lado oeste as medidas

encontradas eram 050 X 055 cm e 050 X 050 cm Aleacutem disso apresentavam

espaccedilamentos semelhantes entre si da ordem de quatro metros e meio

Fig 44 EVIDENCIAS DE ESTEIOS vala da roda 1987

136

Fig 45 DETALHE DOS ESTEIOS

Fig 46 DETALHE DE UM ESTEIO

137

52 A Faacutebrica de Ferro os espaccedilos de produccedilatildeo 521 Area ldquoCrdquo

O relevo do terreno nesta aacuterea mostra irregularidade sendo que na

extremidade sul junto agrave parede limite a superfiacutecie do terreno apresenta uma

parte plana com cota mais elevada tendo sido medido pela topografia o niacutevel

448 enquanto que na porccedilatildeo central aparece um segundo platocirc com cota do

terreno igual a 343 e na extremidade norte junto ao ribeiratildeo do Ferro a cota

medida foi 0 85m ( ver figura 47)

As pesquisas nesta aacuterea ldquoCrdquo foram realizadas agrave partir de novembro de

1986 para a verificaccedilatildeo da estratigrafia com a abertura de 2 trincheiras na

extremidade norte e uma na parte central as quais tiveram as seguintes

caracteriacutesticas geomeacutetricas (comprimento X largura X profundidade) T1 4m X

065m X 080m T2 170m X 070m X 080m T3 140m X 065m X 095m

(ANDREATTA1984 p 5)

O resultado dos estudos estratigraacuteficos e de decapagem mostraram a

existecircncia unicamente de telhas e cravos aleacutem de alguns poucos fragmentos de

ceracircmica

138

Fig 47 ndash Topografia do Terreno da Aacuterea C (Seta indicaccedilatildeo das Trincheiras)

139

Fig 48 Vista Geral da Aacuterea C 1987

522 A Aacuterea B (ldquoForjardquo) Diferentemente do espaccedilo ldquoCrdquo analisado no item anterior a aacuterea

denominada ldquoBrdquo no desenho da planta baixa (anexo 9) apresentou importante

quantidade de materiais arqueoloacutegicos tais como metais liacuteticos ceracircmicas louccedila

e resiacuteduos de fundiccedilatildeo (escoacuterias)

No inicio das exploraccedilotildees do local no decorrer do ano de 1983 foram

observadas evidecircncias de paredes inclusive com amontoados de blocos de

arenito que mostravam possiacuteveis sinais de alteraccedilotildees construtivas

No ano seguinte orientado pela descoberta dos blocos acima

mencionados os quais foram caracterizados como possiacuteveis materiais de

construccedilatildeo a pesquisa arqueoloacutegica foi programada prevendo inicialmente a

140

remoccedilatildeo da vegetaccedilatildeo existente no espaccedilo assinalado ldquoBrdquo seguida da

decapagem do terreno

As pesquisas iniciais permitiram identificar a existecircncia da base de paredes

de uma antiga estrutura A partir desta descoberta foi possiacutevel reconstruir ldquoem

superposiccedilatildeo aos blocos de arenito da parede original da forjardquo 85 Tais blocos de

arenitos conforme foi possiacutevel constatar eram os mesmos materiais de

construccedilatildeo dos setores ldquoCrdquo e ldquoDrdquo

Fig 49 RECONSTITUICcedilAtildeO DAS PAREDES DA AacuteREA B 1984

85 Comunicaccedilatildeo Interna ao CENEA por Margarida Davina Andreatta Iperoacute 05dez1984

141

Fig 50 EVIDENCIAS DAS PAREDES DA AacuteREA B 1984 -

Fig 51 PAREDE DA AacuteREA B RECONSTITUIacuteDA 1984 - I

142

Fig 52 PAREDES DA AacuteREA B RECONSTITUIacuteDA 1984 - II

Durante a realizaccedilatildeo da pesquisa arqueoloacutegica com escavaccedilotildees nesta

aacuterea foi possiacutevel evidenciar a ocorrecircncia de significativa quantidade de peccedilas de

metais (ver Tabela Metais) tais como lacircminas plaquetas e cravos

aparentemente indicando a atividade de transformaccedilatildeo do ferro em peccedilas de

utilitaacuterios Tambeacutem foram encontrados liacuteticos fragmentos de telhas faianccedila de

origem portuguesa e ceracircmicas de produccedilatildeo regional ou local (neo-brasileira)

possivelmente ldquopara fins utilitaacuterios do grupo que habitou o localrdquo 86

86 Relatoacuterio de Atividades Periacuteodo 19-31 maio 1986 p 8

143

Fig 53 DECAPAGEM AacuteREA B 1984

Quanto ao piso arqueoloacutegico da aacuterea ldquoBrdquo observou-se que ele estava

situado entre 10 e 30 cm acima do solo original sendo constituiacutedo ldquode blocos de

arenito de diferentes tamanhos irregulares e cobertos por uma camada de terra

com huacutemus e raiacutezes tronco de aacutervores e a terra eacute latossolo (cor avermelhada) o

mesmo que se encontra entre os blocos de arenito nas paredes parece que

serviu como argamassa para assentar os blocos entre si e levantar a parederdquo

conforme descriccedilatildeo apresentada no Diaacuterio de Campo da pesquisadora Margarida

Davina Andreatta (ANDREATTA 1984 p 42) Notou-se tambeacutem que os blocos e

placas de arenito estavam ldquodispostos horizontalmente de maneira que indicavam

que a superfiacutecie do piso deveria ter sido nivelada com argila a fim de facilitar a

circulaccedilatildeo do homemrdquo (ANDREATTA 1984 p 42)

144

TABELA METAIS

CATEGORIAS NUacuteMERO DE FRAGMENTOS

Cravos 33

Plaquetas 06

Barras de ferro 02

Escoacuterias 03

Mineacuterios 03

ANDREATTA Inventaacuterio de Peccedilas 1983-1987

No interior do local da aacuterea ldquoBrdquo (ldquoforja) foram coletadas duas peccedilas

arqueoloacutegicas compreendendo dois fragmentos de ceracircmica com formato de

vasilhame para cozimento as quais foram encaminhadas para o laboratoacuterio da

FATEC ndash Faculdade de Tecnologia de Satildeo Paulo com o objetivo de obter a

dataccedilatildeo absoluta pelo meacutetodo da termoluminescecircnciardquo Este meacutetodo eacute aplicado

para o caso de materiais que apresentam quartzo em sua composiccedilatildeo tais como

ceracircmica vidros solos louccedilas faianccedilas etc

Uma dessas peccedilas era constituiacuteda de metade de um vasilhame de

pequenas dimensotildees de ceracircmica decorada com a presenccedila de apecircndice (alccedilas)

identificada conforme classificaccedilatildeo arqueoloacutegica como de produccedilatildeo local ou

regional (neo-brasileira) O exame visual dessa peccedila mostra a existecircncia de um

apecircndice (alccedila) que identifica a influencia do europeu na fabricaccedilatildeo daquele

objeto permitindo deduzir que o local teria sido um siacutetio de contato (entre o

indiacutegena e o europeu)

O resultado do ensaio de dataccedilatildeo absoluta dessa peccedila arqueoloacutegica pelo

meacutetodo da termoluminescecircncia apontou a idade de 520 +- 75 anos permitindo

avaliar a data da fabricaccedilatildeo entre 1411 a 1561 conforme Certificado da FATEC

datado de 21 de junho de 2006 (Relatoacuterio de Ensaio ndash Anexo 1) Levando em

conta os dados apresentados pela pesquisa histoacuterica para aquele local pode-se

145

supor que a data mais provaacutevel da fabricaccedilatildeo da peccedila seja em meados do seacuteculo

XVI eacutepoca em jaacute ocorria presenccedila do explorador europeu (Figuras 54 55 56)

Fig 53 VASILHAME CERAcircMICA ndash 0106 - SEacuteCULO XVI -I Idade de 520 +- 75 anos

Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema

Fig 54 VASILHAME CERAcircMICA ndash 0106 - AacuteREA B SEacuteCULO XVI - II

Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema

146

Fig 55 VASILHAME CERAcircMICA ndash 0106 - AacuteREA B SEacuteCULO XVI - III

Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema

Descriccedilatildeo Nuacutemero de Registro 0106

Niacutevel 015 m de profundidade

Laacutebio arredondado

Borda extrovertida inclinada externa

Diacircmetro de boca 014 m

Acircngulo da parede 115ordm

Vasilhame simeacutetrico profundo inflectido de boca ampliada e com

apecircndices lisos em forma de rolete com evidencias de pressatildeo na extremidade

para fixaccedilatildeo

Apresenta as seguintes decoraccedilotildees inciso na posiccedilatildeo vertical com 015m

de comprimento (em grupo de 3 incisos) distanciando cada grupo em 001m

dispostos em duas fileiras sendo a primeira proacutexima al laacutebio e a segunda junto a

altura do apecircndice

147

O bojo eacute liso e a sua base escovada e apresenta marcas de fuligem na

parte externa e sinais de desgaste por atrito na parte interna da base do

vasilhame

O outro vasilhame ceracircmico encontrado na aacuterea B identificada como de

procedecircncia local ou regional (neo-brasileira) apresenta caracteriacutesticas

semelhantes e tambeacutem a mesma dataccedilatildeo do vasilhame de ceracircmica

anteriormente descrito (Figura 57 58) Este artefato foi encontrado a 030 cm da

superfiacutecie e foi em parte reconstituiacutedo e levado para o exame de dataccedilatildeo pelo

processo de termoluminscecircncia ao Laboratoacuterio de Vidros e Dataccedilatildeo da Faculdade

de Tecnologia de Satildeo Paulo - FATEC O resultado do ensaio apontou a idade de

540 +- 75 anos correspondendo a possiacuteveis datas de fabricaccedilatildeo daquele artefato

entre 1391 e 1541 sendo esta uacuteltima data a mais provaacutevel(Relatoacuterio de Ensaio

Anexo 1)

Fig 57 VASILHAME CERAcircMICO ndash 0122 - AacuteREA B SEacuteCULO XVI - I Idade de 540 +- 75 anos

Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema

148

Fig 58 VASILHAME CERAcircMICO ndash 0122 - AacuteREA B SEacuteCULO XVI - II Idade de 540 +- 75 anos

Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema Descriccedilatildeo Nuacutemero de registro 0122

Niacutevel 030 m de profundidade

Tipo de laacutebio arredondado

Tipo de borda extrovertida inclinada externa

Diacircmetro da boca 028m

Acircngulo da parede 110ordm

Fragmento de vasilhame simeacutetrico de contorno inflectido com as seguintes

decoraccedilotildees parede lisa com engobo branco parede externa com banho de

engobo branco com uma linha incisa paralela a 001m do laacutebio Entre esta

primeira decoraccedilatildeo e o bojo haacute decoraccedilatildeo escovada com inclinaccedilatildeo

Na borda haacute ainda um apecircndice convexo com sinais de fixaccedilatildeo e nas

extemidades haacute pressatildeo de fixaccedilatildeo Entre a borda e o bojo apresenta decoraccedilatildeo

regulada contornando o vasilhame O bojo tambeacutem apresenta decoraccedilatildeo

escovada quase horizontal

149

Uma terceira peccedila encontrada no interior da aacuterea ldquoBrdquo eacute uma faianccedila

decorada de origem portuguesa e formada por fragmentos de louccedila de uso

domeacutestico a qual tambeacutem foi submetida a uma dataccedilatildeo relativa mediante

comparaccedilatildeo feita com auxilio de cataacutelogo (Itineraacuterio da Faianccedila do Porto e Gaia

publicaccedilatildeo do Museu Nacional de Soares dos Reis sem data) Os fragmentos

foram localizados em parte no interior da aacuterea ldquoBrdquo e outra parte na aacuterea externa

dessa mesma aacuterea sendo este uacuteltimo junto a um vestiacutegio de estrutura do forno 1

aacuterea A1 (Figura 59)

O exame visual sobre a faianccedila reconstituiacuteda a partir de cinco fragmentos

separados permitiu reconhecer com base no documento acima mencionado que

aquela peccedila era um utensiacutelio portuguecircs de uso domeacutestico a qual pode ser

descrita como ldquotiacutepicas tijelas malegueiras decoradas no fundo e na orla com

filetes concecircntricos azul [] que apresentam temas decorativos recorrentes

dentro das faianccedilas conhecidas para a segunda metade do seacuteculo XVII (GOMES

BOLTELLO p148)

Conforme parecer sobre a mesma faianccedila acima descrita apresentado por

Paulo Dordio arqueoacutelogo pesquisador da Casa do Infante Porto ndash Portugal em

28 de abril de 2004 aquela peccedila de faianccedila apresenta uma ldquodecoraccedilatildeo simples

que exibe com toques de pincel espaccedilados junto ao bordo filetes simples

resultando ciacuterculos concecircntricos e espiral no fundo tudo em azul aponta para

uma cronologia que se centraraacute no seacuteculo XVIIrdquo 87

87 Parecer sobre a faianccedila encontrada no Siacutetio Afonso Sardinha feita por Paulo Dordio arqueoacutelogo pesquisador da Casa do Infante Porto ndash Portugal em 28 abr 2004

150

Fig 59 FAIANCcedilA - AacuteREA B [SEacuteC XVII]

Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema

53 Area E Sul da Faacutebrica de Ferro

A pesquisa arqueoloacutegica realizada na aacuterea E Sul externa da Faacutebrica de

Ferro revelou a existecircncia de amontoados de resiacuteduos de fundiccedilatildeo da magnetita

conhecidos como escoacuteria os quais se distribuem por uma ampla aacuterea do terreno

identificada como escorial sendo que num local adjacente agrave face sul da estrutura

denominada aacuterea ldquoB se apresenta maior concentraccedilatildeo (ver anexo 9)

Uma amostra desse material foi encaminhada para anaacutelise no

Departamento de Mineralogia e Geotectocircnica GMG do Instituto de Geociecircncias

da Universidade de Satildeo Paulo aos cuidados de Daniel Atencio Professor

Associado daquele Departamento o qual constatou ser aquela amostra ldquo[]

provavelmente restos de fundiccedilatildeo Trata-se de wuumlstita (FeO) mais ferro (Fe)

Esses materiais satildeo muito raros como minerais mas comuns em fundiccedilotildeesrdquo88

88 Anaacutelise elaborada por Daniel Atencio Professor Associado do Departamento de Mineralogia e Geotectocircnica GMG IGUSP e enviado por e-mail no dia 21 set 2005

151

Como indica este parecer a amostra se constituiacutea de uma escoacuteria ldquoresto

de fundiccedilatildeordquo contendo wuumlstita (FeO) e ferro caracterizando desta forma o material

do escorial citado

Fig 60 ESCOacuteRIA RESTOS DE FUNDICcedilAtildeO AacuteREA E

Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema

Observe-se que a presenccedila do metal de ferro impregnado nessa escoacuteria

era resultante da teacutecnica de fundiccedilatildeo para fabricaccedilatildeo do ferro empregada no

Brasil ateacute o iniacutecio do seacuteculo XIX Com a introduccedilatildeo do processo de altos-fornos no

Brasil foi possiacutevel melhorar o aproveitamento do mineacuterio de ferro durante o

processo de fundiccedilatildeo

Nesta mesma aacuterea E foi encontrada uma grande quantidade de telhas

localizadas na parte externa das aacutereas ldquoBrdquo e ldquoCrdquo anteriormente descritas Foram

coletadas 930 fragmentos de telhas as quais foram localizadas ao longo de uma

faixa do terreno com largura da ordem de 060 e 080 cm paralelamente a parede

sul das aacutereas ldquoBrdquo e ldquoCrdquo sugerindo corresponder a mesma posiccedilatildeo sob um ldquobeiral

do telheiro que cobria as respectivas aacutereasrdquo (ANDREATTA 1987 p36v) (Anexo

15)

152

As telhas encontradas permitem afirmar que no local havia uma cobertura

sendo que os trabalhos de dataccedilatildeo sobre um exemplar de telha (Figura 61)

executado pelo meacutetodo de termoluminescecircncia pelo Laboratoacuterio de Vidros e

Dataccedilatildeo da Faculdade de Tecnologia de Satildeo Paulo ndash FATEC acusou uma

dataccedilatildeo (em anos) de 280 +- 40 o que equivale a afirmar que aquele fragmento

foi fabricado entre os anos de 1686 a 1766 periacuteodo correspondente a pelo

menos dois projetos de Faacutebrica de Ferro para aquele local o de Luiz Lopes de

Carvalho e o de Domingos Pereira Ferreira sendo que este uacuteltimo empreendedor

esteve ali estabelecido durante um periacuteodo de no miacutenimo 12 anos (Relatoacuterio de

Ensaio Anexo 1)

A partir dos exames dos fragmentos das telhas encontradas tendo por

base o tipo de pasta coloraccedilatildeo e decoraccedilatildeo foi possiacutevel identificar seis grupos

distintos daquele material conforme a tabela de classificaccedilatildeo abaixo

(ANDREATTA 1987 p21)

Classificaccedilatildeo Caracteriacutestica

Tipo I Branca com riscos (podem ter sentido

longitudinal transversal em X ou em cruz) -

Predominante

Tipo II Branca lisa

Tipo III Vermelha lisa

Tipo IV Marron lisa

Tipo V Vermelha marcadas com granulaccedilatildeo grosseira

Tipo VI Vermelha lisa e com granulaccedilatildeo grosseira

(ANDREATTA 1987 p22)

Quanto a decoraccedilatildeo foram identificados quatro tipos de motivos conforme

os itens descritos abaixo

153

Tipo 1 - linhas digitais horizontais formados por duas linhas relativamente finas

(10 cm) paralelas e orientadas de uma extremidade a outra da telha A natureza

dessas linhas indica que foram confeccionadas em alguns casos por meio da

utilizaccedilatildeo de dedos (indicador e meacutedio)

Tipo 2 - linhas digitais associadas neste caso a decoraccedilatildeo eacute composta por uma

uacutenica linha com a largura de 03 a 05 cm traccedilada na posiccedilatildeo horizontal associada

a uma outra decoraccedilatildeo de forma semicircular

Tipo 3 - linhas digitais paralelas e inclinadas a decoraccedilatildeo apresenta linhas de 10

cm inclinadas e entrelaccediladas

Tipo 4 - linhas digitais inclinadas apresentam linhas com 10 a 15 cm

154

Fig 61 TELHA (AacuteREA E) ndash SEacuteCULO XVIII Idade 280 +- 40 (tn 255 cm) Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema

155

Fig 62 TELHA (AacuteREA E) (tn30 cm) Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema

Fig 63 TELHA AacuteREA E (tn 33 cm) Acervo FLONA Floresta Nacional de Ipanema

156

531 Fornos de fundiccedilatildeo na aacuterea externa da Faacutebrica (Aacuterea A1) Na aacuterea externa agrave Faacutebrica de Ferro localizada em diversas posiccedilotildees ao sul

e leste da edificaccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro inclusive na aacuterea aqui denominada de

escorial a pesquisa arqueoloacutegica mostrou a existecircncia de pequenos fornos de

fundiccedilatildeo do tipo ldquofornos baixosrdquo (Anexo 9)

Nessa mesma aacuterea junto ao local denominado ldquoArdquo foi identificado um dos

fornos de fundiccedilatildeo o qual foi denominado de ldquoforno1rdquo da aacuterea A1 junto ao qual

foram encontrados diversos materiais arqueoloacutegicos fragmento de ceracircmicas um

material liacutetico identificado como ldquoraspadorrdquo uma garrafa de greacutes fragmentos de

faianccedila portuguesa e telhas As evidecircncias de ceracircmicas encontradas nessa aacuterea

constituem artefatos relacionados ao grupo social de ocupaccedilatildeo colonial

Fig 64 RASPADOR PLANO-CONVEXO AacuteREA E

157

Fig 65 GARRAFA GRES AacuteREA A FORNO-1

Tambeacutem foi localizado um afloramento de rocha nas proximidades da

Faacutebrica margem esquerda do ribeiratildeo do Ferro o qual apresentava marcas de

uso possivelmente para afiar ferramentas (ANDREATTA 1983 p 18)

5311 Forno de Fundiccedilatildeo 1

O Forno 1 era do tipo conhecido como ldquoforno baixordquo sendo o uacutenico

encontrado junto a Faacutebrica de Ferro Entretanto dois outros fornos baixos foram

localizados em um local mais distante (da ordem de 50m) e denominado aacuterea A2

da referida Faacutebrica possivelmente fazendo parte de um outro conjunto de

produccedilatildeo de ferro (Anexo 9)

Os trabalhos de reconhecimento arqueoloacutegico mostraram que o Forno 1

(aacuterea A1) foi construiacutedo sobre uma base retangular com blocos de arenito sendo

158

que duas paredes foram erguidas tambeacutem com blocos de arenito (lados Norte e

Oeste ) enquanto que as duas outras faces foram encaixadas no proacuteprio terreno

rochoso do afloramento de arenito (lados Sul e Leste) aproveitando o relevo

inclinado no local

Uma descriccedilatildeo relacionada ao Forno 1 (aacuterea A1) feita pela pesquisadora e

arqueoacuteloga Margarida Davina Andreatta informa que

uma parte da ldquoconcavidaderdquo (lado Leste) eacute o proacuteprio afloramento

de arenito e o lado Sul tambeacutem enquanto que os lados Norte e

Oeste satildeo revestidos de blocos de arenito e no centro haacute

pequenos blocos tambeacutem de arenito que provavelmente rolaram

da superfiacutecie do proacuteprio muro de pedras da forja (ANDREATTA

1986 p9)

Os dados da pesquisa arqueoloacutegica mostraram ainda que o Forno 1 (aacuterea

A1) apresentava em planta as seguintes dimensotildees comprimento 340m (norte-

sul) largura 260m (leste ndash oeste) e profundidade de 085m (Andreatta 1986

p10)

Fig 66 DECAPAGEM FORNO1 AacuteREA A1 1987

159

Fig 67 VESTIacuteGIOS DO FORNO DE FUNDICcedilAtildeO1- (AacuteREA A1)89

532 Fornos de fundiccedilatildeo da Aacuterea A2 A pesquisa arqueoloacutegica mostrou vestiacutegios de dois outros fornos de

fundiccedilatildeo localizados subjacentes a um morrote denominado B nesta aacuterea A2 a

qual dista cerca de 50 metros ao Sul do local da aacuterea A1 onde existe uma ruiacutena

da Faacutebrica de Ferro O morrote B (ver Figuras 13 e 68) apresentava dimensotildees

de 1280 metros de comprimento por 250m de largura e 135 m altura Aleacutem do

forno de fundiccedilatildeo foram encontrados tijolos telhas e fragmentos de ceracircmica

(ANDREATTA 1987 p65-66) ( Anexo 9)

89 Ver em Pesquisas arqueoloacutegica prosseguem em Ipanema Jornal Cruzeiro do Sul Sorocaba 19 de marccedilo de 1987p 1

160

Fig 68 MORROTE E FORNOS 1 E 2 ndash AREA A2

161

Fig 69 CROQUI AacuteREA A 2 MORROTE B ndash FORNOS 1 E 2 Desenho de Maacutercia Gutierrez Escala 120

162

5321 Forno de fundiccedilatildeo 1 (aacuterea A2) O forno de fundiccedilatildeo 1 da aacuterea A2 caracteriza-se tambeacutem como do tipo

baixo Durante a pesquisa arqueoloacutegica esta evidecircncia se apresentou como o

forno de fundiccedilatildeo mais bem conservado dentre aqueles encontrados Este forno

tem a forma circular com 070 m de diacircmetro interno e 100 m de diacircmetro

externo com 030 m de profundidade A estrutura apresenta na base um vatildeo de

015 m que corresponde agrave abertura atraveacutes da qual se fazia a ldquocorrida das

escoacuteriasrdquo (Figuras 70 e 71)

A parede circular do Forno 1 (aacuterea A2) eacute ldquo assentada diretamente sobre o

solo e eacute constituiacuteda por tijolos e fragmentos de telhas e argamassa com argila do

proacuteprio solo originalrdquo (ANDREATTA 1987 p65-66) Junto ao vatildeo existente no

piso do forno foi feito um pequeno corte (025 m X 025 m X 010 m) para

evidenciar com maior precisatildeo a funccedilatildeo que teria aquela abertura em relaccedilatildeo agrave

estrutura do forno de fundiccedilatildeo

Com base nas investigaccedilotildees arqueoloacutegicas desenvolvidas foi possiacutevel

evidenciar a existecircncia de uma camada de 002 m de ldquosolo compactado e

queimado e com maior resistecircncia em relaccedilatildeo do restante do solo original abaixo

dele e do entornordquo( (ANDREATTA 1987 p65-66) comprovando que de fato

aquela abertura correspondia ao orifiacutecio responsaacutevel pela drenagem das escoacuterias

Esta abertura era comum a todos os fornos de fundiccedilatildeo do tipo forno baixo com

emprego do meacutetodo direto

163

Fig 70 VESTIacuteGIOS DE FORNO DE FUNDICcedilAtildeO 1- AacuteREA A2 1988

164

Fig 71 CROQUI DO FORNO 1 AacuteREA A2 (1987) Desenho de Marcia Gutierrez

165

5322 Forno de fundiccedilatildeo 2 (aacuterea A2)

O vestiacutegio arqueoloacutegico do Forno 2 foi encontrado a 045 m de

profundidade correspondendo a um forno do tipo baixo apresentando forma

circular construiacutedo com a utilizaccedilatildeo de telhas e ldquotijolosrdquo os quais eram materiais

diferentes daqueles encontrados em outras evidecircncias de fornos neste Sitio Esta

constataccedilatildeo denota que natildeo havia uma regra determinada para a construccedilatildeo de

fornos no que se refere agrave utilizaccedilatildeo de materiais de construccedilatildeo podendo haver

alternativas de uso de outros materiais conforme a disponibilidade de materiais

no local (Figuras 72 73 e 74)

Os registros do trabalho arqueoloacutegico permitiram evidenciar que o Forno 2

apresentava as seguintes dimensotildeesldquodiacircmetro de 110 m com uma borda de 28

cm de largura com a presenccedila de fragmentos de telhas tijolos e argamassa

(latossolo vermelho)rdquo ldquoDo interior do forno foram retiradas telhas (fragmentos)

em quantidade e tijolos e barro cozido com grande presenccedila de mineacuterio de ferrordquo

(ANDREATTA 1987 p65-66)

Quanto ao barro cozido (argila) encontrado no interior desse forno teria

sido provavelmente resto de um revestimento interno jaacute que o material do qual

ele foi construiacutedo (telhas e tijolos) estava disposto de forma bastante irregular A

utilizaccedilatildeo da argila como revestimento nos fornos de fundiccedilatildeo era muito comum

dando um efeito refrataacuterio ao forno fazendo com que natildeo fosse desperdiccedilada a

temperatura elevada que era proporcionada pela combustatildeo do carvatildeo vegetal no

interior do forno e necessaacuteria para separar o metal de ferro do mineacuterio no caso a

Magnetita

166

Fig 72 FORNO DE FUNDICcedilAtildeO 2 ndash AacuteREA A2 1988

Fig 73 FORNO DE FUNDICcedilAtildeO 2 ndash AacuteREA A2 1988

167

Fig 74 FORNO DE FUNDICcedilAtildeO 2 ndash AacuteREA A2 1988

168

CAPITULO 6

INTERPRETACcedilOtildeES DOS DADOS ARQUEOLOacuteGICOS

No Capiacutetulo 5 foram apresentados os resultados da pesquisa arqueoloacutegica

desenvolvida no Siacutetio Afonso Sardinha que envolveram trabalhos de

reconhecimento de campo segundo planos de escavaccedilatildeo coleta de artefatos

levantamentos planialtimeacutetricos e elaboraccedilatildeo de croquis tudo devidamente

registrado no Diaacuterio de Campo da arqueoacuteloga Margarida Davina Andreatta

No presente Capiacutetulo apresentam-se os resultados das anaacutelises detalhadas

dos registros arqueoloacutegicos que resultaram da pesquisa de campo e em seguida

interpretadas as informaccedilotildees anteriormente consolidadas com base nos

conhecimentos da Arqueologia Histoacuterica e Histoacuteria da Teacutecnica e da Ciecircncia

Na elaboraccedilatildeo da siacutentese interpretativa foi necessaacuterio em

complementaccedilatildeo valer-se de instrumentos disponiacuteveis em outras aacutereas do

conhecimento tais como Geologia Mineralogia Metalurgia Engenharia Civil

dentre outras aacutereas

Nesta fase dos estudos arqueoloacutegicos foram elaborados exames visuais e

catalograacuteficos visando a dataccedilatildeo relativa inclusive com o envio de imagem para

fins de comprovaccedilatildeo para Paulo Dordio arqueoacutelogo pesquisador da Casa do

Infante Porto ndash Portugal

Tambeacutem encaminhadas trecircs amostras de ceracircmica de utensiacutelios e telhas

as quais foram submetidas a testes de dataccedilatildeo absoluta com base em ensaios

de Termoluminescecircncia pelo Laboratoacuterio de Vidros e Dataccedilatildeo da Faculdade de

Tecnologia de Satildeo Paulo ndash FATEC sob a coordenaccedilatildeo da Professora Doutora

Sonia H Tatumi (Relatoacuterio de Ensaio Anexo 1)

169

Por outro lado amostras de resiacuteduos de fundiccedilatildeo (escoacuterias) foram

submetidas a anaacutelise quiacutemica-mineraloacutegica no laboratoacuterio do Departamento de

Mineralogia e Geotectocircnica ndash GMG Instituto de Geociecircncias da Universidade de

Satildeo Paulo sob a responsabilidade do pesquisador e Professor Associado Daniel

Atencio

61 Avaliaccedilatildeo das caracteriacutesticas do Arranjo das Estruturas Ao analisarmos o conjunto das estruturas arqueoloacutegicas entatildeo

descobertas considerando o contexto relacionado agrave produccedilatildeo do ferro na Europa

entre os seacuteculos XVI ao XVIII e levando em conta os conhecimentos que emanam

da Histoacuteria Colonial do Brasil e da Histoacuteria da Teacutecnica eacute possiacutevel estabelecer

muitas semelhanccedilas entre os arranjos das ldquoferrariacuteas de aacuteguardquo destinadas a

produccedilatildeo de ferro na Espanha (Paiacutes Basco) e os vestiacutegios descobertos no vale

das Furnas (Sitio Arqueoloacutegico Afonso Sardinha)

Um dos aspectos mais importantes que demonstram tal semelhanccedila entre

as ldquoferreriacuteas de aacuteguardquo e a Faacutebrica do Vale das Furnas refere-se agrave localizaccedilatildeo das

estruturas numa posiccedilatildeo de curva do ribeiratildeo do Ferro de onde era possiacutevel

captar e desviar as aacuteguas mediante a construccedilatildeo de um sistema hidraacuteulico

formado pelas seguintes unidades (a) Dique para represamento do ribeiratildeo (b)

Canal de Derivaccedilatildeo para desvio das aacuteguas (c) Estrutura de Vala com alojamento

de roda drsquoaacutegua e (d) Canal de restituiccedilatildeo das aacuteguas para o ribeiratildeo do Ferro

Tambeacutem chamam a atenccedilatildeo a arquitetura da principal estrutura construiacuteda

localizada na aacuterea A1 a qual mostra diversos recintos com a divisatildeo

caracteriacutestica das ldquoferreriacuteasrdquo encontradas na Espanha nos seacuteculos XVI assim

como as dimensotildees da edificaccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro construiacuteda numa aacuterea

retangular com 13m de largura por 16 m de comprimento No caso das ldquoferreriacuteasrdquo

170

bascas as edificaccedilotildees satildeo igualmente retangulares com as dimensotildees de 12 m de

largura por 17 metros de comprimento

Vale tambeacutem mencionar que arranjo semelhante pode ser observado no

caso da edificaccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro que entrou em operaccedilatildeo

em 1607 (ver fig 27)

Observa-se tambeacutem o emprego da alvenaria de pedra - teacutecnica construtiva

introduzida no Brasil pelos primeiros colonizadores como no caso da construccedilatildeo

da Casa da Torre de Garcia DrsquoAvila (ano de 1549) na Praia do Forte atual

municiacutepio de Mata de Satildeo Joatildeo Litoral Norte da Bahia (HOLANDA 2002)

Essa mesma teacutecnica exceto pequenas variaccedilotildees respeitavam as tradiccedilotildees

ibeacutericas tendo sido empregada no Brasil tambeacutem para construccedilotildees de

residecircncias edifiacutecios puacuteblicos igrejas e fortificaccedilotildees principalmente no litoral As

paredes feitas de pedra eram entatildeo revestidas com argamassa de areia e cal

obtido pela queima de cascas de ostras encontradas em depoacutesitos no litoral

Nota-se conforme registros das Atas da Cacircmara da Vila de Satildeo Paulo para o ano

de 1609 que essa mesma teacutecnica que se utilizava da cal como argamassa

tambeacutem foi utilizada na construccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro de Santo Amaro (1607)

(NEME 1959 p 348)

62 As ldquoferreriacuteasrdquo de aacutegua na Peniacutensula Ibeacuterica

Na Europa e principalmente na Espanha as ldquoferreriacuteas de aguardquo se

expandiram a partir do seacuteculo XIV90 Assim eram chamados os edifiacutecios

destinados ao trabalho de fundiccedilatildeo do ferro que utilizavam a forccedila motriz

hidraacuteulica para acionar os foles dos fornos de fundiccedilatildeo e os malhos

90 Ruta de las Minas y Ferreriacuteas Desde las primitivas instalaciones hasta el siglo XVIII Disponiacutevel em lthttpwwwbizkaianetkulturakirol_gazteriaFTPGazteriapaginadedesplegablesPrimitivas_instalcionespdfgt Acesso em 30 mar 05

171

Essas ldquoferreriacuteas de aacuteguardquo para viabilizar o seu funcionamento exigiam

certas condiccedilotildees fisiograacuteficas cujos componentes essenciais satildeo a presenccedila do

mineacuterio de ferro nas proximidades madeiras para produccedilatildeo de carvatildeo e cursos

drsquoagua com corredeiras e volume de aacuteguas suficientes para a geraccedilatildeo de forccedila

motriz

Hubo dos tipos de ferreriacuteas de agua las que se valiacutean del caudal

de los rios que funcionaban todo el antildeo y las que dependiacutean de

arroyos que no entraban em funcionamiento hasta las

temporadas de otontildeo e invierno cuando la lluviacuteas incrementaban

el caudal de los regatos y la fuerza del agua Estas uacutetimas no

llegaron a ser consideradas como autenticas ferreriacuteas de agua

Em Biskaia se disignaba a las primeras como ldquode rio caudalrdquo y a

las segundas como ldquoregaterasrdquo Tambieacuten em Gipuzkoa se

diferenciaban unas de otras com los nombres de ldquozeharrolakrdquo y

ldquoagorrolakrdquo respectivamente

Para aprovechar la fuerza del agua era imprescidible que la

ferreriacutea estuviesse construiacuteda em el lugar adecuado Debiacutea estar

situada em la curva de um rio em um lugar em el que fuese faacutecil

desviar el agua de su curso natural a traveacutes de um sistema de

canales y anteparas para que despueacutes de hacer rotar la rueda

hidaulica pudiesse volver a su cauce naturalCuando no era

posible conseguir esta situacioacuten se recurriacutea a crear um sistema

artificial de presas que contuviesen el agua em um niacutevel maacutes

elevado de forma que para mover las ruedas hidraacuteulicas bastaba

com dejar caer la aacutegua sobre ellas 91

91 Ruta de las Minas y Ferreriacuteas Desde las primitivas instalaciones hasta el siglo XVIII Disponiacutevel em lthttpwwwbizkaianetkulturakirol_gazteriaFTPGazteriapaginadedesplegablesPrimitivas_instalcionespdfgt

172

Fig 75 ASPECTO DE UMA ldquoFERRERIacuteA DE AGUArdquo SEacuteCULO XVII92

92 Felipe III visita la ferreriacutea de Yarza en Beasain (Guipuacutezcoa) en 02 noviembre de 1615

173

As plantas das ldquoferreriacuteas de aacuteguardquo encontradas na regiatildeo basca da

Espanha obedeciam a um arranjo de planta retangular medindo em meacutedia 12 X

17 metros com cobertura de duas aacuteguas sendo que suas dependecircncias e

instalaccedilotildees geralmente compreendiam duas estruturas baacutesicas para a produccedilatildeo

de ferro o sistema hidraacuteulico ao qual jaacute se fez referecircncia e o edifiacutecio de

produccedilatildeo

A construccedilatildeo desse edifiacutecio principal era executada por construtores

especializados em teacutecnicas de edificaccedilotildees em alvenaria de pedra bem como na

instalaccedilatildeo de sistemas hidraacuteulicos exigindo a participaccedilatildeo de carpinteiros os

quais seriam os responsaacuteveis pela construccedilatildeo da roda drsquoaacutegua dos eixos da caixa

de aacutegua e das estruturas para o telhado 93

Para a operaccedilatildeo das ldquoferreriacuteasrdquo era necessaacuterio contar com pessoal teacutecnico

com conhecimentos tanto em mineraccedilatildeo quanto na fundiccedilatildeo bem como no

manejo dos dispositivos de utilizaccedilatildeo da energia das aacuteguas dos rios atraveacutes do

sistema hidraacuteulico

Este edifiacutecio destinado a produccedilatildeo abrigava diversos compartimentos

sendo o maior deles reservado agrave oficina a qual deveria se localizar ao lado da

Vala onde estava instalada a roda drsquoaacutegua que acionavam os eixos responsaacuteveis

pela movimentaccedilatildeo do malho e foles

O espaccedilo destinado agrave oficina era organizado de modo a levar em conta

duas unidades fundamentais de produccedilatildeo do ferro o forno de fundiccedilatildeo e o malho

A disposiccedilatildeo desses equipamentos no interior da oficina natildeo era aleatoacuteria uma

vez que a teacutecnica empregada para a fabricaccedilatildeo do ferro exigia que aqueles

Disponivel em lthttpwwweuskomediaorgeuskomediaSAunandigt Acesso em 20 marccedilo 2005 93 FERNANDEZA C La construccioacuten del hierro ndashmazos y ferreriacuteas Escuela Universitaacuteria de Arquitectos tecnicos de la Corunatilde Disponiacutevel em wwwguillenderohancomEXPOGRImzos-memoriahtm Acesso em 07mar06

174

equipamentos estivessem posicionados nas proximidades tendo em vista o fato

de os trabalhos serem complementares

Aleacutem da oficina o edifiacutecio principal deveria abrigar depoacutesitos de mateacuteria-

prima como carvatildeo vegetal e mineacuterio de ferro jaacute calcinado (tostado) e uma aacuterea

comum de descanso

Fig 76 SISTEMA DE ldquoPUJOacuteN TUERTOrdquo foles e malho satildeo acionados com o emprego de uma uacutenica roda hidraacuteulica94

94 Ruta de las Minas y Ferreriacuteas Desde las primitivas instalaciones hasta el siglo XVIII Disponivel emhttpwwwbizkaianetKulturaKirol_gazteriaFTPGazteriapaginadedesplegablePrimitivas_instalacionespdf Acesso em 17 novembro de 2006

175

Fig 77 TRABALHO DE EXTRACcedilAtildeO DA MASSA DE FERRO 63 Sistema hidraacuteulico produccedilatildeo da forccedila motriz 631 Dique de represamento do ribeiratildeo do Ferro

As investigaccedilotildees de campo natildeo possibilitaram localizar o Dique de

represamento do ribeiratildeo do Ferro possivelmente em razatildeo da fragilidade dessas

estruturas diante da forccedila das aacuteguas

Entretanto vale registrar o testemunho de Luiz Lopes de Carvalho o qual

em carta dirigida ao Rei de Portugal em maio de 1692 afirmava que

por experiecircncia que fiz pelas minhas matildeos pois fabricando um

Engenho muito limitado por natildeo ter posses que mais tirava todos

os dias este rendimento de um quintal de ferro de duas pedras

176

poreacutem soacute cinco dias continuei nesta oficina em razatildeo de ir uma

cheia e como pela pobreza afabriquei com pouca fortaleza se

arruinou ficando incapaz de poder continuar na faacutebrica95

632 Canal de Derivaccedilatildeo das aacuteguas

As condiccedilotildees de erosatildeo na aacuterea do possiacutevel traccedilado tambeacutem natildeo

permitiram localizar a estrutura do dique responsaacutevel pelo desvio das aacuteguas no

ribeiratildeo do Ferro bem como localizar a comporta responsaacutevel pelo controle do

acesso de aacuteguas em direccedilatildeo ao canal

Deve-se ressaltar que a estrutura do dique eacute necessaacuteria para a elevaccedilatildeo

do niacutevel da aacutegua do ribeiratildeo para o desvio enquanto que a comporta permitiria

regular a vazatildeo em direccedilatildeo ao Canal de Derivaccedilatildeo A aacutegua conduzida atraveacutes do

deste Canal de derivaccedilatildeo impulsionada pela gravidade alcanccedilaria a entrada da

Vala sendo em seguida recolhida em um depoacutesito posicionado sobre aquela

estrutura

A Figura 78 mostra um possiacutevel traccedilado do referido canal sendo que no

desenho o iniacutecio do canal foi posicionado num ponto do ribeiratildeo acima da cota

583m conforme o levantamento planialtimeacutetrico executado na aacuterea do Siacutetio

Arqueoloacutegico Afonso Sardinha96

95 Carta enviada por Luiz Lopes de Carvalho ao Rei de Portugal datada de maio de 1692 RODRIGUES Leda Maria Pereira As minas de ferro em Biraccediloiaba ndash Satildeo Paulo seacuteculos XVI XVII XVIII Anais do III Simpoacutesio dos Professores Universitaacuterios de Histoacuteria Franca 1966 p 218 96 Planta Planialtimeacutetrica Siacutetio Arqueoloacutegico Histoacuterico Afonso Sardinha Escala 1200 CENEA sd

177

Fig 78 TRACcedilADO ESQUEMAacuteTICO DO CANAL DE DERIVACcedilAtildeO

633 Vala da roda A finalidade da estrutura da Vala eacute a de abrigar a roda drsquoaacutegua dispositivo

necessaacuterio para transformar a energia hidraacuteulica em energia mecacircnica para

movimentar os equipamentos e ferramentas da Faacutebrica de Ferro

A Vala da roda foi construiacuteda com paredes de blocos de pedras de modo a

permitir o fluxo da correnteza e ao mesmo tempo proteger o terreno contra as

erosotildees impedindo as infiltraccedilotildees das aacuteguas para o interior das dependecircncias da

Edificaccedilatildeo Principal

O fato de natildeo terem sido encontrados fragmentos de telhas no interior da

Vala quando foram realizadas as pesquisas arqueoloacutegicas parecem indicar que

178

os esteios natildeo serviam para sustentar telhado Por outro lado a Histoacuteria da

Teacutecnica mostra que outras instalaccedilotildees da mesma eacutepoca destinadas a produccedilatildeo

da energia hidraacuteulica tambeacutem natildeo apresentavam telhado na aacuterea da Vala

Sendo assim sobram duas hipoacuteteses para explicar a existecircncia daqueles

esteios A primeira hipoacutetese eacute que tais esteios serviriam para sustentar uma calha

de madeira com uma extensatildeo da ordem de 12 metros responsaacutevel pela

conduccedilatildeo e descarga da aacutegua diretamente sobre as paacutes da roda valendo-se de

um dispositivo denominado empejeiro ou pejador que servia para o controle da

quantidade de aacutegua descarregada sobre a roda (KATINSKY 1985 p 230)

Outra possibilidade eacute que os esteios sustentavam um reservatoacuterio de aacutegua

- o ldquobanzaordquo - responsaacutevel pelo repouso do liacutequido de modo a garantir a sua

descarga controlada sobre as paacutes da roda conforme os projetos comumente

encontrados nas construccedilotildees das ldquoferreriacuteas de aguardquo da regiatildeo Basca - Espanha

(Figura 79)

A laje de pedra do fundo da Vala mostra forte declividade da Vala sendo

que na extremidade superior (coincidente com o ponto de interligaccedilatildeo com o

Canal de Derivaccedilatildeo) a cota eacute igual a 453 enquanto que na extremidade inferior

junto a margem do ribeiratildeo do Ferro a cota do terreno eacute igual a 041 Sendo

assim o desniacutevel total eacute de 412 metros na extensatildeo total da Vala igual a 19

metros ou seja cerca de 20

Outra observaccedilatildeo importante eacute que o niacutevel do fundo da Vala no ponto

meacutedio da sua extensatildeo seria igual a 230 m mostrando nesta posiccedilatildeo desniacutevel de

cerca de 2 metros abaixo do provaacutevel niacutevel da Faacutebrica (cota aproximada 450 m)

revelando a possibilidade de alojamento da roda drsquoaacutegua a partir desta mesma

posiccedilatildeo

O desenho do arranjo do sistema hidraacuteulico encontrado no Sitio Sardinha

mostra semelhanccedilas claras com o arranjo que caracterizam as ferreriacuteas bascas

179

O exame do conjunto das estruturas mostram que a construccedilatildeo tirou partido da

declividade do terreno para aproveitamento da forccedila da gravidade aplicada ao

processo da produccedilatildeo do ferro

634 A Caixa de Aacutegua - ldquoBanzaordquo O ldquobanzaordquo era uma caixa de aacutegua com volume adequado para garantir o

repouso da aacutegua instalado acima do niacutevel da Vala em uma posiccedilatildeo diretamente

sobre a roda A instalaccedilatildeo dessas caixas tinha por objetivo garantir uma altura da

queda drsquoaacutegua necessaacuteria para impulsionar a roda e ao mesmo tempo armazenar

um volume de aacutegua adequado para direcionar o jato diretamente sobre as paacutes

da roda com uma pressatildeo constante de modo a resultar o movimento uniforme

para a rotaccedilatildeo da roda

Os rdquobanzaosrdquo mais ruacutesticos e antigos eram feitos de madeira material que

criava vaacuterios problemas de manutenccedilatildeo fato que levou agrave substituiccedilatildeo desse

material a partir do seacuteculo XVIII por alvenaria de pedra

O acionamento da roda se dava por meio de uma espeacutecie de vara

localizada no interior da Faacutebrica a qual permitia regular a quantidade de aacutegua

descarregada sobre a roda Elena Faus descreve esse funcionamento da

seguinte forma

El paso del aacutegua a la rueda se abre o cierra por meacutedio de

tanpones o ldquochimbosrdquo Cuando los operaacuterios los abren salta y

golpea directamente las palas de la rueda instalada debajo

provocando su giro Con el fin de evitar peacuterdidas de liacutequido y

maximizar su rendimiento se antildeade un canal ldquoguzur-askardquo que lo

conduce directamente sobre la rueda Posteriormente se evacua

por un aliviadero la ldquoonda-askardquo (FAUS 2000 p 63)

180

Contudo mesmo apostando na hipoacutetese de que haveria um ldquobanzaordquo

acima da Vala encontrada torna-se difiacutecil estabelecer a sua dimensatildeo e volume

Mas as evidecircncias encontradas sugerem que esta caixa de aacutegua deveria ter no

maacuteximo 12 metros de comprimento (medidos a partir do inicio do canal ateacute o

uacuteltimo vestiacutegio de esteio) por aproximadamente 225 m (largura da vala)

restando indefinida a medida da altura da caixa

Fig 79 SOLUCcedilAtildeO EM ldquoBANZAOrdquo DE MADEIRA ndash DEPOacuteSITO DE AacuteGUA97

97 LAS FERRERIacuteAS DE AGUA DE ASTURIAS Disponivel em ltwwwbelmontedemirandanetfraguaindexhtmgt Acesso em 20jun05

181

635 A roda hidraacuteulica

Em 1983 quando foram iniciadas as pesquisas arqueoloacutegicas no Siacutetio

Afonso Sardinha a Vala destinada agrave instalaccedilatildeo da roda drsquoaacutegua jaacute havia sido

identificada Contudo eacute somente em 1986 que as pesquisas se concentraram na

aacuterea daquela Vala Graccedilas ao fato de esta estrutura ter permanecido enterrada a

mesma ficou preservada possibilitando avaliar a sua funccedilatildeo e o fato de que o

local deveria ter sido destinado agrave instalaccedilatildeo de uma roda hidraacuteulica vertical com

eixo horizontal (Figura 79)

A utilizaccedilatildeo da roda drsquoaacutegua para os trabalhos metaluacutergicos natildeo era

novidade para os empreendimentos dessa natureza pois a teacutecnica aplicada para

a construccedilatildeo desse tipo de Faacutebrica jaacute era bastante difundida entre os artesatildeos da

Idade Meacutedia os quais buscaram adaptar as ferramentas utilizadas no trabalho da

produccedilatildeo de ferro (por exemplo foles e malhos) de modo a permitir a sua

movimentaccedilatildeo atraveacutes da forccedila obtida das rodas drsquoaacutegua

Em 1104 os ldquomoinhos para bater o ferrordquo jaacute eram encontrados nos Pirineus

espanhoacuteis Gille os descreve da seguinte forma

as forjas que anteriormente eram acionadas a braccedilos e que

itinerantes deslocavam-se agrave procura dos fornos-baixos a

procura de mateacuteria prima e do combustiacutevel a partir de entatildeo se

estabelecem permanentemente ao longo dos rios (GILLE Apud

GAMA 1985 p 133)

Entre os seacuteculos XIV e XV surgiram no paiacutes basco adaptaccedilotildees da roda

hidraacuteulica para acionar os ldquosoprantesrdquo - os foles - (instrumentos utilizados para

insuflar oxigecircnio para dentro dos fornos) possibilitando intensificar a combustatildeo

do carvatildeo vegetal de modo a elevar a temperatura no interior do forno No paiacutes

basco o martelo hidraacuteulico jaacute havia sido incorporado agravequela atividade desde o

seacuteculo XV em Gipuzkoa e desde o seacuteculo XVI em Biskaia ambas localizadas na

182

regiatildeo basca Em 1531 operavam em ambas as regiotildees cerca de 200

estabelecimentos utilizando essa teacutecnica (FAUS 2000 p 60)

Fig 80 ldquoLOCALIZACcedilAtildeOrdquo DO MALHO E DA RODA HIDRAUacuteLICA (INTERPRETACcedilAtildeO) (Desenho Agnaldo Zequini)

183

6 4 A Faacutebrica de Ferro os espaccedilos de produccedilatildeo

O local onde se encontra instalada a Faacutebrica de Ferro do Sitio Arqueoloacutegico

Afonso Sardinha oferece todas as condiccedilotildees fisiograacuteficas favoraacuteveis para a

instalaccedilatildeo daquele empreendimento De fato o conjunto se encontra

praticamente na aacuterea das jazidas de mineacuterios de ferro junto a um ribeiratildeo com

quantidade de aacuteguas satisfatoacuterias para o caso de produccedilatildeo do ferro relativamente

pequena como deveria ser o caso da instalaccedilatildeo existente no morro de Araccediloiaba

Outro fator decisivo para a produccedilatildeo de ferro era a presenccedila de matas com

abundacircncia de madeiras A esse respeito segundo uma descriccedilatildeo do Vale das

Furnas apresentada no decorrer de 1692 por Luiz Lopes de Carvalho (um dos

que investiram na construccedilatildeo de Faacutebrica de Ferro naquele local) o mesmo

lastimava o fato de ter que reduzir os ldquodensos arvoredos em que se achatildeo paos

Reais e madeirasrdquo em carvatildeo o uacutenico combustiacutevel utilizado nos processos de

fundiccedilatildeo de ferro (RODRIGUES 1963 p 203)

O mesmo Luiz Lopes de Carvalho testemunhava naquele mesmo ano que

aquele morro estava coberto ldquode mineral de ferro de meuda aacuterea athe pedras de

des a Robas e mui dilatadas betas [veios] Profundas Largas e Compridasrdquo

esclarecendo que o mineacuterio ao ser submetido ao processo de reduccedilatildeo tinha um

rendimento de dois para um ldquoa cada douz quintais de pedra se tira hum de ferrordquo

(RODRIGUES 1966 p 204)

641 A Oficina da Faacutebrica de Ferro

A planta da Faacutebrica de Ferro encontrada com dimensotildees de 13m X 16m

permite identificar as provaacuteveis posiccedilotildees de cada uma das unidades de produccedilatildeo

184

necessaacuterias agrave fabricaccedilatildeo do ferro quais sejam o espaccedilo destinado a oficina e a

forja

No caso da construccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro do Sitio Afonso Sardinha eacute

possiacutevel identificar a aacuterea destinada a oficina onde deveriam ficar instalados os

equipamentos do forno de fundiccedilatildeo e foles e do malho Nessa planta a aacuterea estaacute

identificada pelas letras C e F (Anexo 9)

Fig81 FAacuteBRICA DE FERRO DO SITIO AFONSO SARDINHA ARRANJO DOS EQUIPAMENTOS (Interpretaccedilatildeo) (Desenho Agnaldo Zequini)

185

Fig 82 FAacuteBRICA DE FERRO PLANTA BAIXA (Interpretaccedilatildeo) (Desenho Agnaldo Zequini)

Contudo entre os anos de 1986-1987 quando foram aprofundadas

as pesquisas arqueoloacutegicas naquelas aacutereas por meio de decapagem e abertura

de trincheiras natildeo foram encontrados vestiacutegios materiais que permitissem

identificar os locais dentro da oficina onde estariam instalados os fornos e o

malho como tambeacutem nenhum resiacuteduo testemunho da produccedilatildeo de ferro

Diante dessa constataccedilatildeo podemos levantar pelo menos duas hipoacuteteses

de interpretaccedilatildeo Uma delas estaacute relacionada agrave proacutepria natureza daquele siacutetio o

qual ao longo dos seacuteculos sofreu vaacuterias intervenccedilotildees antroacutepicas que poderiam

186

provocar algumas perturbaccedilotildees no registro arqueoloacutegico colaborando dessa

forma para o desaparecimento das evidecircncias

A segunda hipoacutetese decorre do fato de que os exames das condiccedilotildees de

superfiacutecie do terreno na parte da edificaccedilatildeo identificada como ldquoCrdquo (Oficina)

apresentam indiacutecios de antigas erosotildees decorrentes da presenccedila do ribeiratildeo do

Ferro Tal interpretaccedilatildeo permitia concluir que as enchentes do ribeiratildeo do Ferro

seriam responsaacuteveis pela pequena quantidade de artefatos arqueoloacutegicos

naquela aacuterea (Figura 81)

A figura abaixo apresenta um corte do terreno na provaacutevel aacuterea da Oficina

mostrando irregularidade na superfiacutecie do piso possivelmente decorrente de

erosotildees junto a margem do ribeiratildeo do Ferro provocadas pelas enchentes

187

Fig 83 INDICACcedilAtildeO DA POSSIacuteVEL AacuteREA ERODIDA PELAS ENCHENTES ndash AREA C ndash (Interpretaccedilatildeo) (Desenho Agnaldo Zequini)

188

6411 O Malho O malho era um instrumento imprescindiacutevel para o processo de produccedilatildeo

do ferro pelo denominado meacutetodo direto Essa ferramenta possuiacutea um longo

braccedilo de madeira que media cerca de trecircs a quatro metros de comprimento e

funcionava como alavanca com apoio intermediaacuterio Uma das extremidades do

braccedilo dessa alavanca funcionava como um martelo e apresentava na

extremidade uma cabeccedila de ferro ndash o malho ndash que dava o nome ao equipamento

Em outra extremidade havia um dispositivo que permitia transformar o movimento

de rotaccedilatildeo da roda em deslocamento vertical oscilante do braccedilo permitindo

assim que o malho golpeasse a ldquobola de ferrordquo que ficava apoiada em uma

bigorna

Ao golpear a ldquobola de ferrordquo denominaccedilatildeo dada ao produto retirado do

interior do forno de fundiccedilatildeo esta operaccedilatildeo perseguia trecircs objetivos importantes

eliminar as escoacuterias que ainda permaneciam aderidas a bola de ferro compactar

aquela massa e finalmente dar forma de barra ou lingote que era o produto final

para a comercializaccedilatildeo

A operaccedilatildeo desse martelo com funcionamento hidraacuteulico eacute descrito em um

texto informativo publicado pela Universidade de Oviedo-Espanha sem menccedilatildeo

de autor e ano de publicaccedilatildeo

La rueda hidraulica movida por el impulso del agua le comunica al

eje o aacuterbol un movimiento rotatoacuterio de este agraverbol sobresalen unos

dientes a modo de levas concretamente cuatro situados a 90ordm los

manobreiros quem en su giro percuten sobre el extremo del

mango del martillo la dendala en su movimiento oscilante el

yunque o incre esta golpeo se repite cuatro veces por cada giro

completa de la rueda 98

98 Ingenios hidraulicos histoacutericos molinos batanes y ferreriacuteas Universidad de Oviedo ndashEspana Disponiacutevel e em lthttpwww1unioviesasturiasferreriasgt Acesso em 17 jun 04

189

O movimento do malho era produzido mediante a transmissatildeo de forccedila

originada atraveacutes do eixo de uma roda hidraacuteulica especifica para esta tarefa Um

segundo tipo de sistema de acionamento utilizava uma uacutenica roda hidrauacutelica para

movimentaccedilatildeo do braccedilo do malho e ao mesmo tempo pelo acionamento dos

foles Este uacuteltimo sistema era conhecido como ldquopujoacuten tuertordquo e era o sistema mais

comumente empregado nas ferrariacuteas bascas99

No Brasil a utilizaccedilatildeo dessa ferramenta para a produccedilatildeo de ferro eacute

encontrada em documentos relacionados agrave construccedilatildeo da Faacutebrica de Ferro de

Santo Amaro no iniacutecio do seacuteculo XVII Em 1605 para instalaccedilatildeo dessa Faacutebrica

foram entregues pela Administraccedilatildeo Espanhola agrave Diogo de Quadros ldquo2 malhos

que podiam pesar pouco mais ou menos entre ambos 3 quintais mais duas

argolas grandes da mesma ferramentardquo (RODRIGUES 1963 p 190)

Possivelmente foi entregue a Diogo de Quadros apenas a ldquocabeccedila de ferrordquo

(o malho propriamente dito) enquanto que as demais peccedilas da estrutura pelo

fato de serem confeccionadas inteiramente com madeira poderia ter sido

fabricada no Brasil

No caso da Faacutebrica de Ferro do Siacutetio Afonso Sardinha dispotildeem-se apenas

de documentos escritos que registram a presenccedila desse equipamento conforme

a carta escrita no ano de 1768 por D Luiz Antonio de Souza Governador da

Capitania de Satildeo Paulo dirigida ao Conde de Oeiras atraveacutes da qual apresenta

informaccedilotildees sobre a Faacutebrica de Ferro que havia sido construiacuteda por Domingos

Pereira Ferreira e seus soacutecios

Nesse documento D Luiz afirmava que aquele empreendimento era uma

das atividades que estava dando maior preocupaccedilatildeo em sua gestatildeo explicando

que

99 Binganaria no sistema de pujoacuten tuerto a Binganaria corresponde agrave viga de transmissatildeo entre a roda hidraacuteulica e os foles

190

se tem trabalhado desde aquele tempo [1760] ateacute o presente

em grandes dispecircndios dos acionistas em fazer fornos

grandes e pequenos por diferentes modos safras [bigorna

de ferreiro] martelos malhos rodas e engenhos para os

mover e tudo o necessaacuterio (RODRIGUES 1966 p 190)

Uma outra notiacutecia relacionada a essa mesma Faacutebrica ficou registrada em

outra documentaccedilatildeo datada de 1770 atraveacutes da qual Jacinto Joseacute de Abreu um

dos soacutecios de Domingos Pereira Ferreira dava conta de que o andamento dos

trabalhos lhe estava causando o ldquomaior desgostordquo pelo fato de ter quebrado o

malho ldquoque tanto dispecircndio e trabalho custourdquo A reclamaccedilatildeo expressada por

Jacinto Joseacute de Abreu pode ser compreendida natildeo somente pelo prejuiacutezo

financeiro decorrente da perda direta da peccedila como tambeacutem pelo prejuiacutezo

decorrente da consequumlente paralisaccedilatildeo da produccedilatildeo do ferro

6412 ndash O Forno de Fundiccedilatildeo e Foles As pesquisas arqueoloacutegicas no Siacutetio Afonso Sardinha natildeo lograram

identificar vestiacutegios materiais de fornos de fundiccedilatildeo no interior da aacuterea

reconhecida como sendo a Oficina da Faacutebrica Tendo em vista o arranjo e a

extensatildeo do espaccedilo levantado pelas pesquisas de campo bem como as teacutecnicas

de fundiccedilatildeo de ferro disponiacuteveis de acordo com os estudos da histoacuteria da teacutecnica

para o periacuteodo que interessa ao presente trabalho entendemos que eacute correto

afirmar que o forno de fundiccedilatildeo ali empregado deveria ser do tipo ldquoforno baixordquo

De qualquer forma natildeo eacute possiacutevel afirmar que o meacutetodo de fundiccedilatildeo

utilizado no interior da Faacutebrica de Ferro corresponda ao que eacute conhecido como

ldquomeacutetodo catalatildeordquo ou ldquoforno catalatildeordquo uma vez que as pesquisas arqueoloacutegicas e

tambeacutem as documentais natildeo conseguiram encontrar qualquer dado a respeito do

modelo do forno de fundiccedilatildeo ali utilizado nem qualquer informaccedilatildeo a respeito do

processo de extraccedilatildeo do ferro na operaccedilatildeo de fundiccedilatildeo

191

De fato o forno catalatildeo se diferenciava dos demais fornos baixo por

apresentar uma forma que lembrava o de uma piracircmide invertida com trecircs

paredes planas e uma convexa confeccionadas com pedras refrataacuterias

(GARCIA sd p7) O que tambeacutem caracterizava o forno catalatildeo era o

procedimento de colocaccedilatildeo do carvatildeo e do mineacuterio no interior do forno para

extraccedilatildeo do metal Pere Molera I Sola (1982 p 208) ao analisar o procedimento

direto de obtenccedilatildeo do ferro pelo meacutetodo catalatildeo assinala que este meacutetodo

apresentava a peculiaridade de empregar a teacutecnica de ldquotrompa de aacuteguardquo para

promover a injeccedilatildeo do ar para dentro do forno Entretanto alguns fornos

reconhecidos como do tipo catalatildeo tambeacutem empregavam a teacutecnica de foles

movidos por roda drsquoaacutegua com aquele objetivo

O mesmo autor esclarece que o forno catalatildeo era

sin duda elemento maacutes importante consistia en una cavidad de

forma trocopiramidal invertida cuyas dimensiones de la base

mayor estaban en torno a los 60 por 50 cm La altura era de unos

80 cm Dentro de la nave industrial el horno estaba situado junto

a una pared principal denominada lsquopiec del focrsquo (pie del fuego)

todas las paredes del horno presentaban superficies planas

menos lsquolrsquoore o contraventrsquo (contraviento) que para facilitar la

extraccioacuten del producto reducido ofreciacutea una superficie convexa

y estaban parcialmente recubiertas con planchas de acero La

pared del horno adosada al lsquopiec del focrsquo y opuesta a lsquolrsquoorersquo se

denominaba lsquoles porguesrsquo (las cribas) y estaba atravesada por la

tobera que inyectaba aire al horno Entre ambas las paredes

estaba el lsquolleteirolrsquo (rebosadero) pared agujereada para faciclitar

la eliminacioacuten de la escoria liquida frente a la cual se encontraba

la lsquocavarsquo pared de piedra sin revistir y ligeramente inclinada

(SOLA 1982 p 208-209)

A operaccedilatildeo de fundiccedilatildeo eacute descrita pelo mesmo autor conforme segue

192

La operacioacuten de reduccioacuten de la mena concentrada se iniciaba

cubriendo el fono del horno con polvo de carboacuten vegetal Se le

prendia fuego Una vez caliente el horno se antildeadia una capa de

trozos de caroacuten de mayor tamantildeo E inmediatamente se

superponia una plancha de acero en al centro del horno paralela

a las lsquoporguesrsquo Ello permitiacutea situar una capa vertical de carboacuten en

al lado de la tobera y una capa de mineral al otro lado de la

plancha Se quitaba luego la plancha y se cubriacutea la parte superior

del mineral con una capa de pequentildeos trozos de carboacuten huacutemedo

y escorias al objeto de que la superficie externa quedase de

forma esfeacuterica y concentrase las llamas Se insuflaba aire por las

toberas y a la hora y media se alcanzaban ya temperaturas

superiores o los 1200 grados C Durante tres o cuatro horas

consecutivas se iba antildeadiendo mineral y carboacuten al tiempo que

por el ldquolletirolrdquo se eliminaba la escoria liquida Si la escoria era

densa lo que evidenciaba un alto contenido en hierro se volviacutea a

introducir en el horno La operacioacuten terminaba cuando en el fondo

del horno se formaba una bola irregular de unos 100 kilogramos

de peso de hierro o acero dulce con inclusiones de escoria y

poros el lsquomasserrsquo (zamarra) En se momento empezaba la

operacioacuten maacutes espectacular de la fraga la saca el lsquomasserrsquo del

horno y transportarlo hasta el martinete lo que requeriacutea el

concurso de todo el personalrdquo (SOLA 1982 p 211-212)

193

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

1- A partir das evidecircncias arqueoloacutegicas levantadas pela pesquisadora Margarida

Davina Andreatta no Siacutetio Afonso Sardinha foram elaboradas anaacutelises e em

seguida as interpretaccedilotildees com base nos conhecimentos da Arqueologia Histoacuterica

e da Histoacuteria da Teacutecnica relacionadas a produccedilatildeo de ferro Tais estudos

permitiram comprovar que aquela aacuterea arqueoloacutegica corresponde a um campo de

exploraccedilatildeo e produccedilatildeo de ferro desde a segunda metade do seacuteculo XVI

2- As ruiacutenas da edificaccedilatildeo principal identificadas como ldquoBrdquo (Forja) e ldquoCrdquo (Oficina)

tratam-se de aacutereas de produccedilatildeo de uma Faacutebrica de Ferro O espaccedilo identificado

como ldquoDrdquo corresponde a uma vala de acomodaccedilatildeo da roda drsquoaacutegua responsaacutevel

pela produccedilatildeo da forccedila de origem hidraacuteulica necessaacuteria para movimentar os

equipamentos e ferramentas da fabricaccedilatildeo ( Anexo 9)

3- Os exames das condiccedilotildees de superfiacutecie do terreno na parte da edificaccedilatildeo

identificada como ldquoCrdquo (Oficina) apresentam indiacutecios de antigas erosotildees

decorrentes da presenccedila do ribeiratildeo do Ferro sendo que esta interpretaccedilatildeo

permite concluir que os fenocircmenos apontados foram os responsaacuteveis pela

ausecircncia de artefatos arqueoloacutegicos naquela aacuterea

4- Os exames dos vestiacutegios dos fornos de fundiccedilatildeo encontrados nas aacutereas A e

A2-B externa do edifiacutecio principal da fabricaccedilatildeo de ferro indicam que satildeo do tipo

baixo provavelmente insulflados a fole de matildeo natildeo sendo possiacutevel afirmar que

seriam fornos do tipo catalatildeo

5- As ruiacutenas da Faacutebrica de Ferro indicam que as mesmas tratam de instalaccedilotildees

de modelo de produccedilatildeo industrial inclusive com divisatildeo de tarefas em aacutereas

distintas uso de energia hidraacuteulica transformada em forccedila mecacircnica para

194

movimentaccedilatildeo das ferramentas e para insuflaccedilatildeo do ar para queima do carvatildeo

nos fornos de fundiccedilatildeo

6- As dataccedilotildees absolutas e tambeacutem as relativas realizadas indicaram que naquele

local houve uma sobreposiccedilatildeo de distintos empreendimentos para a produccedilatildeo do

ferro desde o final do seacuteculo XVI e ao longo do seacuteculo XVIII

7- A causa mais provaacutevel do insucesso econocircmico de todas as tentativas de

produccedilatildeo de ferro em Araccediloiaba se relaciona a mineralogia da magnetita e

associaccedilotildees com outras substancias minerais as quais eram nocivas agrave qualidade

do produto metaluacutergico Neste caso vale ressaltar a presenccedila prejudicial

principalmente do titacircnio e do foacutesforo cujas presenccedilas eram desconhecidas pelos

exploradores

8- A planta da edificaccedilatildeo principal (aacutereas ldquoBrdquo ldquoCrdquo e ldquoDrdquo e ldquoFrdquo) evidenciada se

ajusta aos arranjos de espaccedilo produtivo de ferro tiacutepicos de modelos encontrados

naquele mesmo periacuteodo nas aacutereas de mineraccedilatildeo da Peniacutensula Ibeacuterica

notadamente aquele desenvolvido na regiatildeo basca (Anexo 9)

195

BIBLIOGRAFIA E ARQUIVOS PESQUISADOS

ARQUIVOS Arquivo da Cidade de Satildeo Paulo Arquivo do Estado de Satildeo Paulo Arquivo do Museu Histoacuterico Sorocabano Arquivo Municipal da Cidade de Itu Documentaccedilatildeo do Museu Paulista -USP Instituto de Estudos Brasileiros ndash USP Museu Republicano Convenccedilatildeo de ItuMPUSP Projeto Arqueologia Histoacuterica ndash Museu Paulista USP Todas as fotografias croquis e plantas relacionadas a pesquisa arqueoloacutegica realizada no Siacutetio Afonso Sardinha entre os anos de 1983-1989 e que estatildeo inseridas nesta tese foram reproduzidas a partir deste acervo BIBLIOGRAFIA ABSAacuteBER Aziz Nacib Morro de Ipanema conhecimentos Scientific American Brasil Ediccedilatildeo Nordm 52 - setembro de 2006 Disponiacutevel em lthttpwww2uolcombrsciamconteudoeditorialeditorial_36Htmlgt Acesso em 14mar06 ARAUJO M Alves Faacutebrica de Ferro de Satildeo Joatildeo de Ipanema Auxiliador da Industria Nacional n50 Rio de Janeiro1882 ABREU Joatildeo Capistrano de Capiacutetulos de histoacuteria colonial (1500-1800) amp Os caminhos antigos e o povoamento do Brasil Brasiacutelia Editocircra Universidade de Brasiacutelia 1963 ALBUQUERQUE Gislene Batista RODRIGUES Ricardo Ribeiro A vegetaccedilatildeo do Morro de Araccediloiaba Floresta Nacional de Ipanema (SP) Scientia Florestalis n58 p 145-159 dez 2000 Disponiacutevel em lt wwwipefbrpublicacoesscientianr58cap11pdfgt

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GLOSSAacuteRIO

Banzao de madeira BANZAO Denominaccedilatildeo que era dada na regiatildeo basca ndash Espanha para depoacutesitos de aacutegua que eram instalados sobre as rodas drsquoaacutegua e de onde era despejado jato de aacutegua sobre as paacutes daquela roda fazendo-a girar Na estrutura identificada por essa pesquisa as evidencias pressupotildee a utilizaccedilatildeo desse equipamento

BIGORNA Ferramenta feito por um bloco de pedra ou metal utilizado como suporte para martelar sobre o ferro

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CABECcedilA DE MALHO Peccedila metaacutelica que eacute afixada em uma das extremidades da ferramenta que leva esse nome

ESCOacuteRIA ldquorestos de fundiccedilatildeordquo um sub-produto da fundiccedilatildeo de mineacuterio para purificar metais No caso das teacutecnicas de fundiccedilatildeo utilizadas ateacute o seacuteculo XIX no Brasil as escoacuterias produzidas apoacutes o processo de fundiccedilatildeo apresentavam uma grande quantidade de ferro (metal) em sua composiccedilatildeo O que vale dizer que os fornos utilizados para aquela atividades natildeo alcanccedilavam as temperaturas acima de para proporcionar maior aproveitamento do mineacuterio empregado

Ferreriacutea de Bolunburu es un conjunto ferro molinero que desde el siglo XVII

FERRERIacuteA Edifico que abrigava as ferramentas e equipamentos para a produccedilatildeo do ferro O sistema de produccedilatildeo empregado nas ferrariacuteas denominado de meacutetodo direto de produccedilatildeo consistia em ldquocozinharrdquo o mineacuterio de ferro em fornos baixo usando como combustiacutevel o carvatildeo vegetal Apoacutes ldquocozidordquo o ferro se transformava em uma esponja de ferro que era levada para ser trabalhada sobre

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uma bigorna e golpeada pelo malho Este trabalho servia para compactar a massa liberar as escoacuterias e dar forma FERRO O ferro (do latim ferrum) eacute um elemento quiacutemico siacutembolo Fe de nuacutemero atocircmico 26

Foles acionados por forccedila humana seacuteculo XVI FOLES Equipamento utilizado para insuflar ar para dentro do forno promovendo assim a combustatildeo do carvatildeo Podiam ser acionados manualmente ou por utilizaccedilatildeo de roda drsquoaacutegua

Forno baixo com a utilizaccedilatildeo de fole manual FORNO BAIXO Espaccedilo normalmente de pequenas dimensotildees onde se realizava a reduccedilatildeo (extraccedilatildeo do metal ndashferro ndash do mineacuterio) e de Havia vaacuterias denominaccedilotildees para esse tipo de forno como fornos de vento fornos castelhanos fornos catalatildees forno de manga etc Estes fornos dada a sua dimensatildeo e os instrumentos de insuflaccedilatildeo do ar utilizado natildeo permitiam a fundiccedilatildeo do mineacuterio Nos fornos baixos acima referidos a disposiccedilatildeo do carvatildeo vegetal e dos pedaccedilos de mineacuterios no interior do forno eram feitos em camadas superpostas e horizontais

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Forno Catalatildeo e Trompa Hidrauacutelica FORNO CATALAtildeO O forno catalatildeo eacute assim denominado por ter sido uma teacutecnica desenvolvida nos Pirineus catalatildees A teacutecnica catalatilde ou meacutetodo catalatildeo de fundiccedilatildeo possuem alguns elementos que o caracterizam como 1- a forma de construccedilatildeo do forno que lembra uma lareira tendo o seu formato interno feito de forma de uma piracircmide invertida 2- disposiccedilatildeo interna do carvatildeo e dos pedaccedilos de mineacuterios dentro do forno os quais eram colocados de lados opostos e paralelos 3- utilizaccedilatildeo da trompa hidraacuteulica para insuflar oxigecircnio para a combustatildeo do carvatildeo esse sistema foi desenvolvido na regiatildeo da atual Itaacutelia e utilizado em grande escala nas faacutebricas de ferro da Catalunha Na regiatildeo Basca foram utilizados foles de grandes dimensotildees acoplados a roda drsquoaacutegua FORNO DE FUNDICcedilAtildeO Espaccedilo onde se daacute a reduccedilatildeo do mineacuterio No periacuteodo estudado a reduccedilatildeo ou fundiccedilatildeo era proporcionada pela queima proporcionada pela insuflaccedilatildeo de oxigecircnio por meio de foles manuais do carvatildeo vegetal que era colocada dentro desses fornos junto com pedaccedilos de mineacuterio FORJA Fornalha de que se servem os ferreiros e outros artiacutefices para incandescer os metais para serem trabalhados numa bigorna Do francecircs forge e do Latin fabrica Tambeacutem pode designar o trabalho realizado pelo ferreiro por meio do fogo e do martelo para dar forma aos metais

HEMATITA mineral de foacutermula oacutexido de ferro III (Fe2O3) um dos diversos oacutexidos de ferro

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MAGNETITA mineral magneacutetico formado pelos oacutexidos de ferro II e III ( FeO Fe2O3) cuja foacutermula quiacutemica eacute Fe3O4

MALHO Daacute se o nome de malho a peccedila metaacutelica que estaacute afixada em uma das extremidades do martinete o qual por conseguinte daacute o nome ao equipamento METAL elemento quiacutemico Satildeo metais os metais bem conhecidos satildeo alumiacutenio cobre ouro ferro prata titacircnio uracircnio e zinco MINERAL Substacircncia natural MINEacuteRIO mineral que conteacutem um metal na sua composiccedilatildeo quiacutemica Todo o mineacuterio eacute mineral OFICINA Ou Farga (em catalatildeo) espaccedilo em que estatildeo assentados o forno e o malho equipamentos destinados a produccedilatildeo de ferro MARTINETE Instrumento usado para golpear os metais incandescentes na forja para dar-lhes a forma desejada Tambeacutem pode designar um malho movido por roda drsquoagua METALURGIA Teacutecnica de obtenccedilatildeo dos metais No periacuteodo pesquisado a teacutecnica era conhecida como meacutetodo direto

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OacuteXIDOS Combinaccedilatildeo do oxigecircnio com outros elementos No nosso caso com ferro

TROMPA Mecanismo que aproveita a forccedila da caiacuteda da aacutegua para gerar um fluxo contiacutenuo em direccedilatildeo do forno Era um elemento caracteriacutestico do forno catalatildeo

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ANEXOS

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  • FAacuteVERO Oriana Aparecida NUCCI Joatildeo Carlos De BIASI Maacuterio Mapeamento da vegetaccedilatildeo e usos das terras da Floresta Nacional de Ipanema IperoacuteSP