Arquitectura e Natureza, a sedução da salvação

Embed Size (px)

Citation preview

  • 8/7/2019 Arquitectura e Natureza, a seduo da salvao.

    1/39

    Faculdade de Arquitectura

    Universidade Tcnica de Lisboa

    A r q u i t e c t u r a e N a t u r e z a

    A s e d u o d a s a l v a o

    Filipe Humberto Torres Mesquita Borges de Macedo

    Artigo cientfico para a disciplina:

    Arquitecturas em trnsito,

    Arquitecturas efmeras e experimentais,

    do 1 ano do curso de Doutoramento em Arquitectura

    Docente: Professor Doutor Rui Barreiros Duarte

    Lisboa, FAUTL, Fevereiro, 2011

  • 8/7/2019 Arquitectura e Natureza, a seduo da salvao.

    2/39

    1

  • 8/7/2019 Arquitectura e Natureza, a seduo da salvao.

    3/39

    I

    Faculdade de Arquitectura

    Universidade Tcnica de Lisboa

    Ttulo do artigo: Arquitectura e Natureza, a seduo da salvao.

    Nome do Aluno: Filipe Humberto Torres Mesquita Borges de Macedo

    Professor Doutor Rui Duarte Barreiros

    Curso de Doutoramento em Arquitectura

    Data: Fevereiro de 2010

    ResumoA relao entre homem e natureza sofreu profundas alteraes ao longo da histria.

    Nos primrdios da humanidade, os caadores recolectores construam

    complementando o meio, sem o marcar. Com a passagem para a poca civilizacional

    e at meados do Sc. XX o homem concebeu o seu habitat por oposio natureza.

    Perante a actual crise ambiental, esse paradigma comea a alterar-se. Os mortais

    habitam medida que salvam a terra, tomando-se a palavra salvar em seu antigo

    sentido, . Salvar no diz apenas erradicar um perigo. Significa, na verdade: deixar

    alguma coisa livre em seu prprio vigor. (Heidegger, 1951).

    O homem comea a conceptualizar e a construir um novo paradigma com a natureza,

    onde a construo de habitats humanos regenere e complemente a natureza numa

    relao simbitica.

    Encontramos concretizaes exemplares do novo paradigma nas obras da Natural

    Architecture onde a poesia sensria da Land Art constri esse desejo.

    Encontramos, igualmente nas arquitecturas experimentais e efmeras passos na

    consolidao deste novo paradigma, que j tem repercusso em aspectos legislativos

    e marca a produo arquitectnica contempornea.

    Palavras-chave:

    Sustentabilidade, Arquitectura e natureza, Land Art, Biomimetismo, Habitar, Salvar.

  • 8/7/2019 Arquitectura e Natureza, a seduo da salvao.

    4/39

    II

  • 8/7/2019 Arquitectura e Natureza, a seduo da salvao.

    5/39

    III

    Faculdade de Arquitectura

    Universidade Tcnica de Lisboa

    Ttulo do artigo: Architecture and Nature, The seduction of salvation.

    Author: Filipe Humberto Torres Mesquita Borges de Macedo

    Date: February de 2010

    Abstract:

    The relationship between mankind and nature has undergone profound changes throughout

    history. In the early days of mankind, the hunter-gatherers built dwellings supplementing the

    natural habitats. With the transition to the era of civilization and until the mid-twentieth century

    man has designed their own habitat and dwellings, conceptualizing their essence as a

    counterpart of nature.

    Given the current environmental crisis, this paradigm begins to change the way weconceptualize our won dwellings.

    "Mortals dwell as saving the earth, taking the word to save his old sense .... Saving does not

    only eliminate a danger. It means, in effect, leave something free on their own force."

    (Heidegger,1951).

    The man begins to conceptualize and construct a new paradigm with nature, where the

    construction of human habitats regenerate and complement nature in a symbiotic relationship.

    Exemplary embodiments found in the works of the new paradigm of "Natural Architecture"

    where Land Art artists builds this desire out of a sensorial poetry.

    We can find also in experimental and ephemeral architectures steps in consolidating this

    new paradigm, where human dwellings will regenerate and complement nature. This paradigm

    is starting to impose himself in our mainstream architectures, either thru genuine will of

    architects and promoters to resolve the environmental crisis, or due to laws and regulations in

    which we can find this conceptual will.

    Key-words:

    Architecture and nature, Bio mimicry, Land Art, Living, Saving, Sustainability.

  • 8/7/2019 Arquitectura e Natureza, a seduo da salvao.

    6/39

    IV

  • 8/7/2019 Arquitectura e Natureza, a seduo da salvao.

    7/39

    V

    ndice

    ndice de ilustraes ............................................................................................. VII

    Arquitectura e Natureza, a seduo da salvao. ................................................. 1

    1-Civilizao e natureza, os paradigmas condio do homem no mundo. . 3

    1.1-A condio primordial, o homem subjugado. ......................................... 3

    1.2-A implementao do habitat humano, conquistando a natureza. .......... 3

    1.3-A salvao da natureza como salvao do habitat humano. ................. 7

    2-A natureza como Musa. ....................................................................................... 9

    2.1-A seduo da salvao. ............................................................................ 9

    2.2- O caminho da salvao. ......................................................................... 15

    2.3- A institucionalizao da salvao. ........................................................ 21

    3-Concluso. .......................................................................................................... 23

    Bibliografia. ........................................................................................................... 23

  • 8/7/2019 Arquitectura e Natureza, a seduo da salvao.

    8/39

    VI

  • 8/7/2019 Arquitectura e Natureza, a seduo da salvao.

    9/39

    VII

    ndice de ilustraes

    Ilustrao 1 A relao primordial entre o homem, ainda enquanto caador recolector, a natureza e omodo como essa relao se reflectia nas suas construes. ....................................................................... 2

    Ilustrao 2 A relao entre o homem, ser sedentrio e criador de civilizao e habitats, a natureza e omodo como essa relao se reflecte nas suas construes. ................................................................ ........ 4

    Ilustrao 3Conceptualizao da futura relao entre o homem, ser salvador de si prprio e de habitats,a natureza e o modo como essa relao se reflectir nas suas construes. .............................................. 6

    Ilustrao 4Guiliano Mauri, La Cattedrale Vegetale, Bergamo, Itlia, 2000-2009, ................................. 8

    Ilustrao 5 Sanfte Strukturen, Weidendom, Rostock, Alemanha, 2001 .................................................. 8

    Ilustrao 6Nils Udo, da esquerda para a direita; Root sculpture, Mxico, 1995; Water nest, 1995 ;Nest in red clay, Clemson College,USA, 2005................................................................ ........................... 10

    Ilustrao 7Gilles Bruni e Marc Babarit; The grenhouse and the shelter, Val di Sella, Itlia, 2005; Atunnel with nature, Langland, Dinamarca 1996............................................................... ........................... 10

    Ilustrao 8Patrick Dougherty, Around the corner, University of South Indiana, USA, 2003 ................. 12

    Ilustrao 9Chris Dury, Nos topos, Tree mountain shelter, Val di Sella, Itlia, 1994 ; ao centro CarbonSink, Joey-en-Josas, Frana, 2010 ..................................... .............................................................. ........ 12

    Ilustrao 10Estrutura molecular do ADN,; corte tipo; maqueta; planta de geral. Helix City, KishoKurokawa, 1961 .................................................................................................... ...................................... 14

    Ilustrao 11 As formas da natureza como inspirao formal e estrutural, Milwaukee Art Museum,

    Santiago Calatrava, 2001 ........................................................................................................................... 14

    Ilustrao 12Bed Zed, Londres, Reino Unido, Bill Dunster, 2001 ........................................................ ..... 16

    Ilustrao 13Eden Project, Cornualha, Reino Unido, Michael Pawlin, 2001 ............................................. 16

    Ilustrao 14Sahara Rainforest Project, Magreb, norte de Africa, Michael Pawlin, 2010 ......................... 18

    Ilustrao 15A Wall to Build, Magreb, Norte de Africa, Magnus Larsson, 2009 ........................................ 18

    Ilustrao 16Proposta de recuperao da estacaria de Veneza com protocelulas, Rachel Armstrong,2010 ........................................................ .............................................................. ...................................... 20

    Ilustrao 17Fab tree House; 50% Living House, EUA, Joachim Mitchel, 2006 ....................................... 20

    Ilustrao 18- Ciclo da agua, ciclo do carbono e o ciclo da floresta, (Division, 1999) ................................. 22

    Ilustrao 19- Diagrama do processo de avaliao ambiental LEED (Starrs, 2010)................................... 22

    Ilustrao 20- Gwanggyo, Coreia do Sul, MVRDV, 2008. ........................................................... ................ 24

    Ilustrao 21- Zira city Baku, Arzebaijo, BIG, Bjarke Ingels Group, 2008 ................................................. 24

  • 8/7/2019 Arquitectura e Natureza, a seduo da salvao.

    10/39

    VIII

  • 8/7/2019 Arquitectura e Natureza, a seduo da salvao.

    11/39

    1

    Faculdade de Arquitectura

    Universidade Tcnica de Lisboa

    A r q u i t e c t u r a e N a t u r e z a

    A s e d u o d a s a l v a o

    Filipe Humberto Torres Mesquita Borges de Macedo

    Artigo cientfico para a disciplina

    Arquitecturas em trnsito,

    Arquitecturas efmeras e experimentais,

    do 1 ano do curso de Doutoramento em Arquitectura

    Docente: Professor Doutor Rui Barreiros Duarte

    Lisboa, FAUTL, Fevereiro, 2011

  • 8/7/2019 Arquitectura e Natureza, a seduo da salvao.

    12/39

    2

    Ilustrao 1 A relao primordial entre o homem, ainda enquanto caador recolector, a natureza e o modocomo essa relao se reflectia nas suas construes.

  • 8/7/2019 Arquitectura e Natureza, a seduo da salvao.

    13/39

    3

    1-Civilizao e natureza, os paradigmas condio do homem no mundo.

    1.1-A condio primordial, o homem subjugado.

    No incio da humanidade, a populao humana era constituda por grupos de caadores

    recolectores. Estes grupos tinham com o meio natural que os rodeava uma relao

    umbilical. A natureza determinava os seus modos de vida e a sua prosperidade. A

    relao entre homem e natureza era marcada por uma profunda reverncia, a natureza

    assumia o papel de entidade sagrada suprema. Por sua vez os abrigos que os humanos

    habitavam tambm reflectiam esta simbiose com o meio.

    Estes abrigos ou resultavam do aproveitamento de acidentes geolgicos, como nasgrutas ou nas reentrncias em escarpas, ou ento eram construes de carcter

    precrio, como no caso das tendas ou das cabanas primrias. Raramente o habitar

    humano deixava vestgios significativos, quer pelo carcter nmada das populaes, quer

    pelas tecnologias usadas. Quando uma construo deixava de ser til, os seus

    elementos voltavam me natureza. Esta efemeridade reflectia a condio humana

    perante a magnitude da natureza, o homem estava a merc dos elementos e dos

    caprichos da natureza. Os temores que da resultaram iriam marcar o subconsciente

    biolgico da espcie e, como resultado, tivemos durante milnios uma dialctica

    civilizacional, que construiu o habitat humano com oposio ao habitat natural.

    1.2-A implementao do habitat humano, conquistando a natureza.

    Com a passagem do estado semi-selvagem, onde os primeiros humanos caadores

    recolectores retiravam a sua subsistncia da natureza, para o inicio do estdio

    civilizacional, cumpriu-se a necessidade de criar habitats artificiais onde a humanidadepudesse prosperar num meio menos agressivo. O avano civilizacional cresceu medida

    da capacidade humana de artificializar o meio natural, criando habitats onde as condies

    ambientais fossem as adequadas ao seu desenvolvimento.

    O primeiro passo consistiu na descoberta da agricultura, o que permitiu a sedentarizao

    da espcie. A nossa vida deixava de estar a merc dos elementos e das condicionantes

  • 8/7/2019 Arquitectura e Natureza, a seduo da salvao.

    14/39

    4

    Ilustrao 2 A relao entre o homem, ser sedentrio e criador de civilizao e habitats, a natureza e o

    modo como essa relao se reflecte nas suas construes.

  • 8/7/2019 Arquitectura e Natureza, a seduo da salvao.

    15/39

    5

    da natureza e a constante saga de percorrer os espaos naturais seguindo os recursos

    necessrios nossa subsistncia terminava.

    A sedentarizao conduziu-nos urbanizao, e este fenmeno tornou-se no fio condutor

    da histria da humanidade. As cidades, que criaram os seus modos de vida, economias,

    sistemas de valores, mitos, religies, sistemas polticos, etc., enfim, foram o alicerce dos

    diversos estdios civilizacionais que atravessaram a histria da humanidade e quepermitiram o seu sucesso.

    Desde desta altura, o desenvolvimento humano afirmou-se como um contraponto

    aparente desordem da natureza. Numerosos mitos assim o confirmam, desde a expulso

    de Ado e Eva dos jardins do Paraso, supremo castigo divino, passando por incontveis

    histrias infantis onde na floresta se desenrolam acontecimentos trgicos e inesperados,

    como Hansel e Gretel, o Capuchinho Vermelho, entre outras. Provavelmente um dos

    mais significativos livros que retratam esta angstia humana perante a natureza O

    Corao das Trevas de Joseph Conrad de onde retiramos este pequeno trecho que

    demonstra este temor intrnseco que o homem civilizado sentia perante natureza: Subir

    aquele rio era como regressar aos primrdios do mundo, quando a vegetao tomava

    conta da terra e o reinado era das rvores. Uma corrente deserta, um grande silncio,

    uma floresta impenetrvel. () Era o silncio de uma fora implacvel que acalentava

    propsitos inescrutveis. Olhava-nos com um ar vingativo.(Conrad, 1902).

    Estas mitologias reflectiam o receio humano perante a imensido da coisa selvagem.

    Consequentemente a anttese da civilizao era a coisa selvagem, a vida humana

    florescia no conforto da civilizao e perecia na imensido da floresta selvagem.

    Heidegger no Tempo e o Ser corrobora esta situao ao descrever o homem como uma

    clareira na floresta, como uma abertura de luz no seio da escurido do matagal, que

    permite o iluminar e o penetrar da luz. O homem ento, abertura no seio do ser, capaz

    de ilumin-lo, e ao mesmo tempo instaurador de uma compreenso do ser, constituindo-

    se em si mesmo e simultaneamente definindo-se com o tempo.

    Foi atravs da construo e da sua disciplina maior, a arquitectura, que esse objectivo, a

    construo de habitats humanos, que a civilizao e a humanidade se afirmaram e

    consubstanciaram. Na construo desses habitats o homem afirmou de modo

    permanente a sua artificialidade, e f-lo de molde a marcar os territrios que conquistava,

    alterando de forma permanente os habitats e ciclos da natureza. F-lo implementando a

    sua vontade de modo afirmativo. Quando, pelos mais diversos motivos,

  • 8/7/2019 Arquitectura e Natureza, a seduo da salvao.

    16/39

    6

    Ilustrao 3Conceptualizao da futura relao entre o homem, ser salvador de si prprio e de habitats, a

    natureza e o modo como essa relao se reflectir nas suas construes.

  • 8/7/2019 Arquitectura e Natureza, a seduo da salvao.

    17/39

    7

    as civilizaes desapareceriam, encontramos ainda numerosas runas, que como uma

    marca indelvel no territrio, deixavam memria de habitats perdidos.

    A histria e a humanidade cresceram nesses habitats artificiais, laboriosamente

    construdos pelos humanos, onde a ordem Humana foi sempre entendida como

    contraponto desordem natural. O mito que o habitat humano poderia ser coisaindependente da ordem natural imps-se no nosso imaginrio civilizacional.

    1.3-A salvao da natureza como salvao do habitat humano.

    Com o progressivo desenvolvimento da populao humana, a civilizao foi alargando o

    seu espao, vencendo definitivamente a batalha contra a natureza. De tal modo o homem

    teve sucesso nesta sua filosofia, que a coisa natural quase desapareceu. A exiguidade da

    natureza, causada pela expanso dos habitats humanos modificou as premissas iniciais.

    A relao primordial entre Homem e natureza altera-se, a natureza desaparece enquanto

    floresta mitolgica e reduzida a uma existncia quase residual.

    Este encurtamento dos espaos da natureza, com a consequente alterao dos seus

    ciclos e a exausto de recursos finitos do planeta, comearam a ser sentidos na nossa

    conscincia colectiva de modo notrio nas ltimas dcadas. Esta conjuntura, das

    alteraes ao ciclo do carbono e consequentes alteraes climticas, ao esgotamento

    das reservas de gua potvel, diminuio de bio massa e de habitats naturais, o fim

    das reservas de combustveis fosseis, entre outras, alcanaram o potencial deconstiturem uma situao irreversvel, onde para alm dos danos prpria natureza,

    seriam a espcie humana e o seu estdio civilizacional umas das suas principais vtimas.

    Simbolicamente as posies relativas entre o que eram habitats humanos e natureza

    alteraram-se. O espao civilizacional, entendido neste caso como o espao fsico onde a

    humanidade prosperava, inverte a sua posio face ao espao natural. De habitat raro e

    ameaado perante a imponncia da natureza, encontramos agora o paradigma inverso:

    o espao natural que tem de ser protegido e acarinhado pois a nossa receita civilizacionalquase extinguiu os espaos naturais.

    Em certa medida este novo paradigma retoma as reflexes de Heidegger na sua palestra

    Construir, Habitar, Pensar: Os mortais habitam medida que salvam a terra, tomando-

    se a palavra salvar em seu antigo sentido, . Salvar no diz apenas erradicar um perigo.

    Significa, na verdade: deixar alguma coisa livre em seu prprio vigor. (Heidegger, 1951),

    imperativo no s salvar a natureza para ela ser livre, mas salv-la para nos libertarmos

    e prosperarmos.

  • 8/7/2019 Arquitectura e Natureza, a seduo da salvao.

    18/39

    8

    Ilustrao 4 Guiliano Mauri, La Cattedrale Vegetale, Bergamo, Itlia, 2000-2009,

    Ilustrao 5 Sanfte Strukturen, Weidendom, Rostock, Alemanha, 2001

  • 8/7/2019 Arquitectura e Natureza, a seduo da salvao.

    19/39

    9

    2-A natureza como Musa.

    2.1-A seduo da salvao.

    A alterao da conscincia humana perante a natureza criou as bases para uma releitura

    da essncia dessa relao. Em parte essa releitura foi criada por vanguardas artsticas,

    que na sua conceptualizao do mundo, criaram um novo entendimento que a naturezaadquiriu na sua relao com a humanidade. Esta sacralidade, sustentada pelo

    conhecimento dos metabolismos complexos que encontramos na nossa biosfera e pela

    insatisfao generalizada da sociedade ps industrial, encontra-se materializada nas

    suas obras.

    Conceptualmente geradas por procuras intensas aliceraram-se, por um lado numa forte

    investigao na rea da cincias naturais, conducente a um melhor conhecimento dos

    mecanismos com que o planeta se rege e originando uma maior compreenso dos ciclosnaturais do planeta; por outro lado, auxiliadas pelo conhecimento dos efeitos e

    consequncias que a humanidade exerce sobre o planeta e consubstanciadas na procura

    de solues que ajudem a resolver a angstia existencial que tem marcado a sociedade

    ps industrial, tal como afirmou em 2009 Gilles Lipovetsky na conferncia O Ambiente na

    Encruzilhada,O trgico da nossa poca radica na dinmica da individualizao e em

    novas aspiraes de vida feliz; quanto mais se afirma a exigncia de felicidade privada,

    mais crescem, inevitavelmente, as insatisfaes e desiluses de todo o tipo.(Lipovetsky,

    2009).

    A viso contempornea de recuperar para a humanidade uma harmonia perdida,

    reinterpretando uma viso edlica do passado como experiencia humana, actual e

    sensria, procura, acima de tudo, relembrar-nos da importncia de recuperar uma

    harmonia perdida com o meio e com os seus ciclos. A sacralizao da raridade da

    natureza atinge assim premncia fulcral, logo contm as premissas geradoras da reflexo

    artstica. Estas obras, que na sua essncia enaltecem a importncia perdida da natureza

    na humanidade, geram trs vises distintas deste desenraizamento.

    Por um lado temos autores como Guiliano Mauri, que constri em Bergamo La Cattedrale

    Vegetale, recreando um espao sacro, que na sua essncia construtiva o oposto do

    arqutipo da catedral gtica de trs naves, basilar para a sua formalizao, mas que

    construtivamente, abraa a essncia desta nova relao entre o homem e a natureza.

    Respondendo ao mesmo programa, mas adoptando o arqutipo da baslica, encontramos

    a Weidendom em Rostock na Alemanha do colectivo Sanfte Strukturen, cuja obra tem

    sido caracterizado por uma utilizao intensiva da bio construo e de cpulasgeodsicas como na Arena Salix de Spreewald e no Auerworld Palace em Weimar, que

    constri um espao sacro onde tal como na Cattedrale Vegetale de Mauri, a

  • 8/7/2019 Arquitectura e Natureza, a seduo da salvao.

    20/39

    10

    Ilustrao 6 Nils Udo, da esquerda para a direita; Root sculpture, Mxico, 1995; Water nest, 1995 ; Nest

    in red clay, Clemson College,USA, 2005

    Ilustrao 7 Gilles Bruni e Marc Babarit; da esquerda para a direita; The grenhouse and the shelter, Val di

    Sella, Itlia, 2005; A tunnel with nature, Langland, Dinamarca 1996

  • 8/7/2019 Arquitectura e Natureza, a seduo da salvao.

    21/39

    11

    materialidade vegetal desenha um importante papel simblico na enunciao do novo

    paradigma.

    Nestes casos a eternidade da construo artificial substituda pela perenidade da

    rvore, ao espao imutvel de matria morta contraposta a mutabilidade de um espao

    sensvel aos ciclos da natureza, e o solo onde edificado, no esventrado comcaboucos e muros, o solo alimentado. Por fim neste espao sagrado que essa

    alterao de paradigma da relao entre homem e natureza sacralizada num apelo a

    uma redeno que salve o homem e a natureza.

    Em segundo lugar temos autores, como Nils Udo e as obras conjuntas de Gilles Bruni e

    Marc Babarit que nos levam a viver metforas que desafiam a nossa artificialidade e

    revelam a nossa ligao umbilical com a natureza. O ninho escala humana de Nils Udo

    apresenta-nos de modo sensrio a metfora do ninho como elemento natural potenciadorde vida, que apesar de criar um habitat protegido para a vida florescer, no compromete

    o habitat que o rodeia. No caso da obra Tunel with Nature de Gilles Bruni e Marc Babarit

    somos levado por um caminho coberto, misto de tnel e de prgola, onde somos

    confrontados com uma poesia sensria que nos revela uma natureza protectora. Ambas

    as obras propem, atravs das suas metforas, uma comunho com a coisa natural que

    a nossa sociedade ps industrial tinha eliminado da nossa vida quotidiana, apresentando

    essa comunho com a natureza como um caminho concreto para a felicidade.

    Por ltimo, temos autores como Patrick Dougherty e Chris Drury, que nas suas obras,

    nos desafiam a reflectir sobre o nosso paradigma arquitectnico clssico, deixando de

    construir com coisa inerte, no seu sentido literal e conceptual, adoptando o novo conceito

    da coisa construda, conceptualizando-a como ser vivo inserid0 numa realidade biolgica

    complexa e interdependente.

    Como afirma Alessandro Rocca, no seu livro Natural Architecture: The challenge is to

    represent, in contemporary terms, the ancient naturalistic idyll, pursued by filtering the

    beauty and authenticity of natural elements and landscapes through the culture andsensibility of our time and by agreeing to confront the simplest of sentiments belonging,

    alliance, complicity with the natural world, with the unshakeable complexity of the world as

    it appears to us today. (Rocca, 2007). 1

    1 "O desafio representar, em termos contemporneos, o antigo idlio naturalista, procurando a filtragem da

    beleza, da autenticidade dos elementos naturais e das paisagens atravs da cultura e da sensibilidade donosso tempo, concordando em enfrentar o mais simples dos sentimentos de pertena, de comunho ecumplicidade com o mundo natural, atravs da inabalvel complexidade do mundo como hoje se nosapresenta "- Traduo livre do autor

  • 8/7/2019 Arquitectura e Natureza, a seduo da salvao.

    22/39

    12

    Ilustrao 8Patrick Dougherty, Around the corner, University of South Indiana, USA, 2003

    Ilustrao 9 Chris Dury, Nos topos, Tree mountain shelter, Val di Sella, Itlia, 1994 ; ao centro Carbon

    Sink, Joey-en-Josas, Frana, 2010

  • 8/7/2019 Arquitectura e Natureza, a seduo da salvao.

    23/39

    13

    Uma das principais caractersticas destas obras sua capacidade provocatria. Esta

    provocao explora a relao intrnseca entre os sentidos do espectador quando

    confrontados com uma experincia sensorial. Nestas obras demonstra-se

    inequivocamente que a crise ambiental no se resume a um conjunto de circunstnciasclimatricas, energticas, de recursos ou de biodiversidade. Elas demonstram que a crise

    ambiental e econmica a ela adjacente, conforme referido pelo Dr. Dennis Meadows na

    palestra de atribuio do Japan Prize Awards de 2009 (Meadows, 2009), acompanhada

    por uma crise existencial na condio humana contempornea. Na condio de

    espectadores somos confrontados por construes que revelam aos nossos sentidos

    toda a carga potica e criadora do fenmeno natural, criando novas experiencias

    sensoriais que nos ajudam a compreender parte das origens da nossa insatisfao.

    Vivemos numa sociedade que promove valores de vida assentes numa artificialidade

    imposta, e a provocao suprema com que estas obras nos confrontam, reside na

    capacidade de nos demonstrarem fisicamente toda a brutalidade potica da natureza,

    relembrando-nos assim da verdadeira importncia do seu legado nas nossas vidas. No

    fundo estas obras constroem uma resposta significante, que encontra nas perdas

    provocadas pela progressiva artificializao das nossas vidas, uma das causas objectivas

    do estado de ansiedade que nos acompanha nestes dias de crise. Mais uma vez

    socorremo-nos das palavras de Alessandro Rocca: Natural architecture calls for theobserver, the user of the work, to take on the status of its inhabitant, however temporary,

    taking possession of the dwelling to perceive the work from inside, as a microcosm, a

    domestic enclosure ready to be occupied and experienced2 (Rocca, 2007).

    2"A Arquitectura Natural apela ao seu observador, o utilizador da obra, para assumir temporariamente oestatuto de seu habitante, tomando posse da habitao para a compreender de dentro, como nummicrocosmo, um recinto domstico pronto para ser ocupado e experimentado"- Traduo livre do autor

  • 8/7/2019 Arquitectura e Natureza, a seduo da salvao.

    24/39

    14

    Ilustrao 10 Da esquerda para a direita: Estrutura molecular do ADN,; corte tipo; maqueta; planta de geral.

    Helix City, Kisho Kurokawa, 1961

    Ilustrao 11 As formas da natureza como inspirao formal e estrutural, Milwaukee Art Museum, Santiago

    Calatrava, 2001

  • 8/7/2019 Arquitectura e Natureza, a seduo da salvao.

    25/39

    15

    2.2- O caminho da salvao.

    Parte da essncia do fenmeno artstico reside na sua insistente tentativa de superar o

    bvio, revelando novas verdades, utilizando a seduo e a provocao como estratgiasde percepo do real para criar nova leituras que nos levam a redescobrir a realidade de

    um outro modo. O fenmeno artstico per si uma reflexo profunda da condio

    humana, e dada a proximidade entre os fenmenos artstico e a arquitectura,

    naturalmente que a alterao do modo como a humanidade se relaciona com a natureza

    produziu reflexes na arquitectura que traduzem preocupaes semelhantes. Tanto mais

    que boa parte dos efeitos causadores da crise climtica advm do modo como edificamos

    o artificializado habitat humano.

    Assim sendo, o fenmeno artstico assume uma importncia redobrada para a criao de

    novos paradigmas arquitectnicos, pois notria a inspirao que as vanguardas

    arquitectnicas dele retiraram, no apenas a nvel formal, mas tambm ao nvel dos

    processos, mtodos e critrios das novas vises e reflexes que dele emanam. Autores

    com Montaner tm demonstrado o modo como o campo artstico tem influenciado a

    produo arquitectnica. Segundo Montaner: cada proposta do campo das artes ou do

    pensamento impulsionaria a arquitectura a investigar as suas prprias tradies

    arquitectnicas com o objectivo de fazer emergir novas formas enriquecedoras

    (Montaner, 1997).

    A emergncia destas novas formas enriquecedoras, que Montaner refere, tem sido

    primordialmente testada em modelos arquitectnicos experimentais. nesta arquitectura

    experimental que assistimos procura do novo paradigma que ir construir a relao

    entre homem e natureza. A consubstanciao desta pesquisa, ao contrrio das pesquisas

    que marcaram o modernismo, tem sido marcada por sucessivas abordagens.

    Podemos estabelecer que a vontade de alcanar este novo paradigma na relao entre o

    homem e a natureza tem sido objecto de uma abordagem progressiva por parte da

    arquitectura. Ao longo da poca recente, esta demanda foi conquistando sucessivas

    etapas, sendo que em cada destas sucessivas respostas, assistimos a um progressivo

    empenhamento na consolidao deste novo paradigma que a construo de habitats

    humanos que salvem homem e natureza.

  • 8/7/2019 Arquitectura e Natureza, a seduo da salvao.

    26/39

    16

    Ilustrao 12 Da esquerda para a direita; Esquema das caractersticas de sustentabilidade; alado sul,painis fotovoltaicos e chamins solares; vista de conjunto, Bed Zed, Londres, Reino Unido, Bill Dunster,

    2001

    Ilustrao 13 Da esquerda para a direita; Conceitos: bolhas de sabo, molculas de carbono, e gros de

    plen; Juno dos conceitos e adaptao ao terreno; vista geral; Eden Project, Cornualha, Reino Unido,

    Michael Pawlin, 2001

  • 8/7/2019 Arquitectura e Natureza, a seduo da salvao.

    27/39

  • 8/7/2019 Arquitectura e Natureza, a seduo da salvao.

    28/39

    18

    Ilustrao 14 Da esquerda para a direita; Esquema de estufa de dessalinizao; conjunto de estufas e

    centrais solares,Sahara Rainforest Project, Magreb, norte de Africa, Michael Pawlin, 2010

    Ilustrao 15 Da esquerda para a direita; Injeco de soluo bacteriana, Bacillus pasteurii, para

    consolidao das dunas, transformando a areia em arenito; remoo da areia excedente para criao de

    espao habitveis e reas agrcolas, A Wall to Build, Magreb, norte de Africa, Magnus Larsson, 2009

    http://www.ted.com/talks/lang/eng/magnus_larsson_turning_dunes_into_architecture.htmlhttp://www.ted.com/talks/lang/eng/magnus_larsson_turning_dunes_into_architecture.html
  • 8/7/2019 Arquitectura e Natureza, a seduo da salvao.

    29/39

    19

    meio de optimizar e regenerar os habitats, onde a construo replique os metabolismos

    naturais do stio, optimizando-os para a vivncia humana de um modo onde ambos

    encontrem uma relao simbitica. E atravs dessa relao simbitica, onde todos os

    parceiros prosperam, que a Perma-arquitectura procura materializar o novo paradigma

    humano, salvar-se a si e a natureza como um todo. Para o efeito s estratgias

    anteriores os arquitectos juntaram lies valiosas da ecologia e da biologia. O

    conhecimento das interaces que constroem os habitats, permitiu a arquitectos comoMichael Pawlin (Pawlyn, 2010), William McDonough (McDonough, 2005) e Magnus

    Larsson (Larsson, 2009), propor obras que propem a regenerao completa de faixas

    imensas de territrio. Destacamos as propostas de conteno do deserto do Sahara,

    onde Michael Pawlin prope, numa estratgia high-tech, uma rede de estufas que

    recolhem a gua do ar, aliadas a redes de painis foto voltaicos que fornecero energia

    para a irrigao, que permitiro conter a expanso do deserto atravs do aparecimento

    de uma barreira verde, consequncia do aumento de humidade perifrica associada ao

    funcionamento das estufas. Por sua vez Magnus Larsson, com uma estratgia low-tech,utiliza injeces de soluo bacteriana, Bacillus pasteurii, para consolidao das dunas,

    transformando a areia em arenito e removendo a areia excedente, o que permite a

    existncia de espaos habitveis e zonas de permacultura, alimentando as populaes,

    recuperando os habitats e contendo a expanso do deserto.

    Encontramos ainda uma terceira tendncia arquitectnica que preconiza uma resposta

    diferente, a bio construo. Os arquitectos que propem estas propostas visionrias,

    apresentam um novo paradigma construtivo, empregando primordialmente elementosbiolgicos na edificao dos seus projectos, ou seja, alterando radicalmente o paradigma

    do que a construo no seu sentido tradicional, abandonando as matrias inertes e

    utilizando a vida como bloco construtor primordial.

    A edificao, smbolo por excelncia do habitat artificializado e tradicionalmente

    compreendida como a anttese da coisa natural, adquire um novo significado: ela passa a

    ser compreendida como coisa natural que constri o habitat humano, construindo

    simbolicamente a redeno do ser humano perante a natureza.

    Esta tendncia pode ser observada atravs de duas atitudes diferentes, por um lado

    temos arquitectos que fazem uma abordagem a nvel matrico, utilizando micro

    organismos para construrem, controlando a sua distribuio de acordo com as

    necessidades do projecto, de modo a edificarem a construo. Depois de terminarem a

    sua tarefa construtiva, os elementos biolgicos morrem, deixando matria inerte

    construda. Durante o processo estes micro organismos retiram nutrientes e energia do

    meio envolvente, sais minerais, dixido de carbono, luz solar, etc, que processam

    construindo por norma elementos que reproduzem ou arenitos ou calcrios. No final a

    construo retira Co2 da atmosfera, no consome recursos e integra-se sem aparentes

    http://www.ted.com/talks/lang/eng/magnus_larsson_turning_dunes_into_architecture.htmlhttp://www.ted.com/talks/lang/eng/magnus_larsson_turning_dunes_into_architecture.html
  • 8/7/2019 Arquitectura e Natureza, a seduo da salvao.

    30/39

    20

    Ilustrao 16 Da esquerda para a direita; Protocelulas, organismos artificiais que processam Co2 e o

    transformam em calcrio; proposta de recuperao da estacaria de Veneza; instalao na Bienal de Veneza

    de com recipientes de protocelulas, Rachel Armstrong, 2010

    Ilustrao 17 Da esquerda para a direita; Conceito Fab tree House; esquema de crescimento das arvores e

    corte; projecto final 50% Living House, EUA, Joachim Mitchel, 2006

  • 8/7/2019 Arquitectura e Natureza, a seduo da salvao.

    31/39

    21

    distrbios, nos ciclos naturais da natureza. Contudo a edificao no deixa de ser coisa

    inerte. Particularmente activa nestas matrias tem estado a arquitecta Ginger Krieg

    Dosier (Dosier, 2010), que desenvolveu uma soluo que agrega areia utilizando ureia e

    uma soluo bacteriana para construir tijolos, retirando Co2 da atmosfera e no

    consumindo energia. Numa linha similar o arquitecto Madnus Larsson (Larsson, 2009)

    pretende consolidar partes de duna com outra soluo bacteriana, mas ainda mais radical

    a proposta da investigadora Rachel Armstrong (Armstrong, 2009), que desenvolveu

    proto-clulas artificialmente, uma espcie de quase vida artificial, que transforma Co2 em

    calcrio e desse modo pretende consolidar a estacaria da cidade de Veneza.

    Proposta mais radical tm outros arquitectos que propem que a coisa construda seja

    organismo vivo, organismo que cresa, que seja habitado e quando deixar de ser til,

    ento que morra naturalmente, integrando o ciclo da vida na natureza. Estas propostas

    assumem por vezes um carcter particularmente provocatrio: quando propem que umaedificao seja como um ser vivo do reino dos animais, com msculos, camada adiposa,

    pele, onde as aberturas se comportem como um esfncter, elas esto a quebrar tabus e

    lanar provocaes germinadoras de reflexes. Este reformular provocatrio do que

    construo e arquitectura, no s reproduz a nova relao com a natureza, afirma de um

    modo veemente a nova relao com a natureza e o seu papel na nossa vida, como por

    outro lado, se aproximam da reflexo artstica, sendo nesse sentido obras tese.

    Provavelmente as respostas e as questes mais complexas so apresentadas pelo

    Arquitecto Joachim Mitchel, onde a construo coisa viva levada ao limite do conceito:

    cultivar florestas ao longo de anos, formatando as rvores para depois as adaptar a

    construes humanas; conceber casa de protenas, feitas de msculos, pele e gordura.

    So propostas utpicas, mas no fundo, reflectem essa vontade de transformar o inerte

    construdo em coisa viva.

    2.3- A institucionalizao da salvao.

    A mudana de paradigma na relao entre o homem e a natureza tem reflexos

    institucionais. Governos e organismos internacionais tm procurado implementar modelos

    que repliquem o funcionamento dos ciclos da natureza, pois os ciclos da natureza, do

    ciclo da gua ao ciclo do carbono, assentam em sistemas fechados onde, em ltima

    analise, o desperdcio no existe.

    Esta estratgia de incorporao dos processos, ciclos e metabolismos da natureza tem

    proporcionado vrias respostas. Estes conhecimentos tm conduzido a sistemas de

    Anlise de Ciclo de Vida (ACV), mtodo Viiki na Noruega, Breeam no Reino

  • 8/7/2019 Arquitectura e Natureza, a seduo da salvao.

    32/39

    22

    Ilustrao 18- Ciclo da agua, ciclo do carbono e o ciclo da floresta, a maior parte dos naturais assentam em sistemafechados, onde a energia, os nutrientes, a agua e os demais intervenientes participam num equilbrio frgil.(Division, 1999)

    Ilustrao 19- Diagrama do processo de avaliao ambiental, Leed e Cradle to Cradle, processos de certificao ambientalpara edifcios, bairros e cidades. De notar a semelhana entre os diagramas e os ciclos naturais (Starrs, 2010).

  • 8/7/2019 Arquitectura e Natureza, a seduo da salvao.

    33/39

    23

    Unido, o LiderA desenvolvido pelo Instituto Superior Tcnico, o sistema Cradle to Cradle

    desenvolvido pelo Hamburger Umweltinstitut (Instituto do Ambiente de Hamburgo), LEED

    (U.S. Green Building Council), a norma ISO 14000 entre outros.

    Estes procedimentos procuram analisar todas as consequncias dos nossos processos

    construtivos, da extraco das matrias-primas energia consumida na sua

    transformao, emisses de CO2, grau de resduos, gastos de manuteno, capacidade

    de regenerao de habitats, quer fsica, quer socialmente, terminando na sua capacidade

    de voltarem a incorporar ciclos produtivos quando terminar a sua vida til. A sua

    finalidade uma cada vez maior eficincia das nossas necessidades construtivas de

    modo a atingir num futuro prximo a virtudes dos ciclos naturais, onde, conforme j

    vimos, imperam os processos circulares, onde os ciclos no terminam, onde o eterno

    retorno tem uma consubstanciao filosfica, econmica, social e poltica que procura

    mimetizar a grandiloquncia da natureza.

    Por outro lado, na prpria produo arquitectnica actual, a implementao dessesmodelos, quer seja por vida regulamentar, quer seja por via conceptual, comea

    serenamente a modificar o paradigma da arquitectura contempornea. Autores como

    Bjarke Ingels ou MRVD entre muitos outros comeam a produzir projectos em que a

    compreenso do objecto arquitectnico realizada complementando e regenerando o

    meio natural.

    3-Concluso.

    O actual cenrio econmico, ambiental e psicolgico da humanidade reflexo de uma

    grave crise que atravessa a humanidade transversalmente. No se trata apenas de uma

    crise de ambiental, mas todo um modo vida civilizacional que se encontra perante uma

    encruzilhada. Desde o final dos anos sessenta que assistimos uma procura intensa de

    um novo equilbrio civilizacional. A nossa relao com o planeta finito em que habitamos,

    e a plena compreenso desse facto tem-nos progressivamente aproximado de um novoparadigma nessa relao.

    A arte com a sua capacidade de reflectir o presente e project-lo para o futuro,

    desempenha um papel crucial, pois nas suas obras que podemos encontrar conceitos

    sensrios que nos apontam caminhos. A Natural Architecture provoca no espectador um

    intensa relao entre o construdo e a natureza, pois a harmonia assenta na possibilidade

    simbitica de salvar, no sentido heideggeriano, o homem e a natureza.

    Na arquitectura a alterao do paradigma secular, que opunha homem a natureza,

    comeou timidamente: ao incio era apenas a replicao formal da natureza, numa

    http://www.usgbc.org/Abouthttp://www.usgbc.org/About
  • 8/7/2019 Arquitectura e Natureza, a seduo da salvao.

    34/39

    24

    Ilustrao 20- Da esquerda para a direita; A inspirao biomimticas, o ninho de trmitas exterior e com os sistemasinterno de comunicao e ventilao; centro urbano auto-suficiente para 77 000 habitantes Gwanggyo, Coreia do Sul,MVRDV, 2008.

    Ilustrao 21-Da esquerda para a direita; Diagrama de sustentabilidade; Vistas do projecto urbano da cidade de Zira,inspirado na forma das montanhas do Azerbaijo, quer em termos formais, quer na recreao de ecossistemas e microclimas. Baku, Arzebaijo, BIG, Bjarke Ingels Group, 2008

  • 8/7/2019 Arquitectura e Natureza, a seduo da salvao.

    35/39

    25

    segunda fase passou a ser a replicao funcional da natureza, criando sistemas artificiais

    que mimetizassem os metabolismos naturais na artificialidade do edificado.

    Contudo, de pequenas experimentaes foram nascendo concepes que nos permitem

    descobrir conceitos arquitectnicos, que para alm da cpia da natureza, se empenham

    em criar arquitecturas e urbanismos regeneradores de habitats. Conceitos esses, que j

    evoluram de tal modo que em arquitecturas efmeras e experimentais, a coisa

    construda se torna ela prpria organismos vivo.

    No fundo, encontramo-nos perante uma redefinio do que a vanguarda arquitectnica.

    Hoje ela procura ultrapassar e complementar os aspectos formais e polticos do

    modernismo com uma viso ecolgica do homem e da natureza, entendidos como um

    todo a que a arquitectura deve responder, um pouco como Montaner escreve, A ecologia

    tambm nos fala da busca de uma nova modernidade onde os paradigmas se

    transformem, uma modernidade superada onde a arquitectura e o urbanismo tenham

    uma das maiores responsabilidades para superar os elementos mais destrutores e de

    domnio do racionalismo e da prpria modernidade (Montaner, 1997).

    Podemos ainda lembrar Heidegger, Ouvindo, porm, o que a linguagem diz na palavra

    Bauen (construir), podemos perceber trs coisas: 1. Bauen, construir propriamente

    habitar; 2. Wohnen, habitar o modo como os mortais so e esto sobre a terra; 3. Nosentido de habitar, construir desdobra-se em duas acepes: construir, entendido como

    cultivo e o crescimento e construir no sentido de edificar construes. (Heidegger, 1951),

    e um pouco esse entendimento do que habitar, que estas arquitecturas efmeras e

    experimentais apontaram e apontam o caminho do novo paradigma, o paradigma onde

    humanidade e natureza floresam em conjunto.

    Mais, toda esta reflexo comea paulatinamente a entrar na conceptualizao da

    produo arquitectnica mais corrente, quer seja por via da disseminao destes

    conceitos, onde humanidade e natureza so coisa una, quer seja por via regulamentar e

    poltica, pois os prprios poderes institudos, a encaram como elemento fundamental na

    sua prpria sobrevivncia.

    Tal proliferao e institucionalizao desta viso, deve-se em boa parte ao carcter

    reflectivo e provocatrio da arte e das arquitecturas experimentais, pois est na sua

    essncia ser inicio germinal das coisas que ho-de vir.

  • 8/7/2019 Arquitectura e Natureza, a seduo da salvao.

    36/39

    26

  • 8/7/2019 Arquitectura e Natureza, a seduo da salvao.

    37/39

    27

    Bibliografia

    ARMSTRONG, R. 2009. Architecture that repairs itself? In:SPREADING, T.-I. W. (ed.) Ted talks.Oxford, England.

    BRUNDTLAND, G. H. 1987. O nosso futuro comum. Comisso Mundial sobre Meio Ambiente eDesenvolvimento.

    CONRAD, J. 1902. O corao das trevas, Pblico, comunicao social S.A.

    DIVISION, U. N. P. 1999. The World at Six Billion.

    DOSIER, G. K. 2010. The better brick. metropolismag [Online]. Available:http://www.metropolismag.com/story/20100512/the-better-brick-2010-next-generation-winner [Accessed 12-01-2010].

    EOIN O COFAIGH, E. F., ANN MCNICHOLL, ROBERT ALCOCK, J. OWEN LEWIS, VELSAPELTONEN, ANTONELLA MARUCCO 1999. A Green Vitruvius. 1999 ed.: Ordem dos

    Arquitectos.FOSTER, N. 2007. Green Agenda. In:TALKS, T. (ed.) Digital Life Design. Munich.

    HEIDEGGER, M. Year. Construir, Habitar, Pensar. In: Vortge und Aufstze, 1951 Pfullingen,. G.Neske, conferncia pronunciada por ocasio da "Segunda Reunio de Darmastad".

    JOACHIM, M. 2010. Don't build your home, grow it! In:MINUTES, T. T. I. L. T. (ed.) TED- IdeiasWorth Spreading. Long Beach, california, USA: TED, ideas worth sreading.

    LARSSON, M. 2009. Cities past and future. TED Global 2009. 24-06-2009 ed.

    LIPOVETSKY, G. 2009. A felicidade na sociedade de hiperconsumo. In:GULBENKIAN, F. C. (ed.)O Ambiente na Encruzilhada, Por um futuro sustentvel. Lisboa.

    MCDONOUGH, W. 2005. cradle to cradle design. TED talks. TED, ideas worth Spreading.

    MEADOWS, D. L. 2009. Japan Pize Commemorative Lecture by Dr. Dennis L. Meadows: Learningto Live Within Limits.

    MEATTLE, K. 2009. how to grow fresh air. TED talks in less than 6 Minutes [Online]. Available:http://www.ted.com/talks/kamal_meattle_on_how_to_grow_your_own_fresh_air.html[Accessed 20-03-2010].

    MITCHELL, J. 2006. FAB TREE HAB. In:TERRAFORM (ed.).

    MOHR, C. 2010. Catherine Mohr builds green. In:TED TALKS, I. L. T. M. (ed.) TED, Ideas worthspreading.

    MONTANER, J. M. 1997. A Modernidade Revisitada, arquitectura e pensamento do sec. XX,Barcelona, Editorial Gustavo Gili.

    PAWLYN, M. 2010. Using nature's genius in architecture. In:TALKS, T. (ed.).

    ROCCA, A. 2007. Natural Architecture, Princeton Architectural Press.

    SAUER, B. 2008. Materializar la ecologia. Eco productos, en la arquitectura e el diseo. Barcelona:Ed Ignasi Prez Arnal.

    STARRS, M. 2010. LEED study map. London.

    Examined Life, Year. Directed by ZIZEK, S.

    (Meattle, 2009, Joachim, 2010, Larsson, 2009) (Brundtland, 1987) (Sauer, 2008)

    http://www.metropolismag.com/story/20100512/the-better-brick-2010-next-generation-winnerhttp://www.metropolismag.com/story/20100512/the-better-brick-2010-next-generation-winnerhttp://www.ted.com/talks/kamal_meattle_on_how_to_grow_your_own_fresh_air.htmlhttp://www.ted.com/talks/kamal_meattle_on_how_to_grow_your_own_fresh_air.htmlhttp://www.metropolismag.com/story/20100512/the-better-brick-2010-next-generation-winnerhttp://www.metropolismag.com/story/20100512/the-better-brick-2010-next-generation-winner
  • 8/7/2019 Arquitectura e Natureza, a seduo da salvao.

    38/39

    28

    (Zizek, 2009, Mohr, 2010) (Dosier, 2010) (Mitchell, 2006) (Eoin O Cofaigh, 1999)

  • 8/7/2019 Arquitectura e Natureza, a seduo da salvao.

    39/39