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1 IDENTIFICAÇÃO Nome: Igreja Matriz de Nossa Senhora da Boa Viagem Designação: Igreja da Paróquia de Nossa Senhora da Boa Viagem Localização: Praça Dom Silvério, Boa Viagem – Itabirito/MG Propriedade: Arquidiocese de Mariana Proteção Legal: Tombamento Municipal pelo Decreto nº3376, de 10 de Dezembro de 1999. 2 HISTÓRICO SUMÁRIO No século XVIII, entre 1706 e 1709, o Capitão-Mor Luiz de Figueiredo Monterroyo e o piloto Francisco Homem Del Rey chegaram a Itabirito em busca de ouro e trouxeram o Retábulo da Nau Nossa Senhora da Boa Viagem, sua embarcação que havia sido abandonada no Porto do Rio de Janeiro. No fundo da depressão do terreno, junto ao qual se ergue hoje o monte onde se iniciou a cidade de Itabirito, encontraram ouro e fizeram nesse alto de colina, uma Ermida que foi a Capela Curada e depois Paróquia, sendo substituída a Imagem do retábulo por outra, de madeira, já na Matriz definitiva. O culto a Nossa Senhora da Boa Viagem tem a sua origem em Itaubira, hoje Itabirito, desde o ano de 1709, sendo essa devoção não apenas reconhecida pelas autoridades religiosas locais e arquidiocesanas, mas também pelo próprio Vaticano, pois em 15 de agosto de 1980, por ordem do Papa João Paulo I,

ARQUITETURA TRADICIONAL BRASILEIRA

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1 IDENTIFICAÇÃO

Nome: Igreja Matriz de Nossa Senhora da Boa Viagem

Designação: Igreja da Paróquia de Nossa Senhora da Boa Viagem

Localização: Praça Dom Silvério, Boa Viagem – Itabirito/MG

Propriedade: Arquidiocese de Mariana

Proteção Legal: Tombamento Municipal pelo Decreto nº3376, de 10 de Dezembro de 1999.

2 HISTÓRICO SUMÁRIO

No século XVIII, entre 1706 e 1709, o Capitão-Mor Luiz de Figueiredo Monterroyo e

o piloto Francisco Homem Del Rey chegaram a Itabirito em busca de ouro e trouxeram o

Retábulo da Nau Nossa Senhora da Boa Viagem, sua embarcação que havia sido abandonada

no Porto do Rio de Janeiro. No fundo da depressão do terreno, junto ao qual se ergue hoje o

monte onde se iniciou a cidade de Itabirito, encontraram ouro e fizeram nesse alto de colina,

uma Ermida que foi a Capela Curada e depois Paróquia, sendo substituída a Imagem do

retábulo por outra, de madeira, já na Matriz definitiva.

O culto a Nossa Senhora da Boa Viagem tem a sua origem em Itaubira, hoje Itabirito,

desde o ano de 1709, sendo essa devoção não apenas reconhecida pelas autoridades religiosas

locais e arquidiocesanas, mas também pelo próprio Vaticano, pois em 15 de agosto de 1980,

por ordem do Papa João Paulo I, ela fora coroada Rainha e Padroeira da cidade e do

município de Itabirito.

3 ANÁLISE ARQUITETÔNICA

É a edificação mais antiga de Itabirito e uma das principais referências religiosas,

patrimoniais e culturais dos habitantes da cidade. Em seu interior é possível encontrar

belíssimos altares entalhados e folheados a ouro no estilo Rococó. Além das expressivas

pinturas, possui uma sequência de quadros no forro da nave principal, representando as frases

da Ave-Maria - possivelmente o único exemplar no mundo. No altar principal, observa-se a

imagem de Nossa Senhora da Boa Viagem, padroeira de Itabirito, trazida pelos portugueses

no início da colonização de Minas Gerais. O acesso principal se faz por modesta escadaria

cimentada. É composta por nave única, coro e torres laterais de seção quadrada.

Posteriormente, recebeu dois cômodos na lateral direita, entre o corpo da torre e a capela

lateral, formando o batistério e um depósito que vem trabalhando como contraforte da parede

da nave, que teve sua estrutura comprometida com o abatimento do aterro na lateral leste.

Ocupando toda a largura da Igreja, na parte posterior, foi executado outro anexo, onde se

instalou a nova sacristia e um depósito no pavimento superior. Ainda na fachada posterior,

criou-se pequeno apêndice, para a instalação sanitária.

3.1 SISTEMA CONSTRUTIVO

A primeira etapa construtiva é toda em alvenaria de pedra com forros e pisos tabuados.

Os anexos são em tijolos cerâmicos, com forros em laje, piso cimentado e ladrilho hidráulico.

As molduras dos vãos, os cunhais da torre e a escadaria que dá acesso ao coro são em

cantaria.

Figura 1 - Piso e forro tabuados

Figura 2 - Piso dos anexos em ladrilho hidráulico

3.2 COBERTURA

A cobertura é em duas águas no corpo da nave e da capela-mor, estendendo sobre o

pavimento superior do anexo da sacristia. A dos corredores laterais e anexos é em uma água.

A cobertura possui beiral estreito em beiraseveira. As torres têm cobertura, cimalhas e

coruchéu em pedra.

Figura 3 - Cobertura principal em duas águas

Figura 4 - Beiral estreito em beiraseveira

Figura 5 - Torre com coruchéu em pedra e cimalha

3.3 FACHADAS

O frontispício conserva a disposição típica dos templos mineiros: o corpo central com

porta principal e duas janelas-sacada de coro, ladeado por torres e encimado pela empena

arrematada com pedestal e cruz em pedra, com óculo curvilíneo. A marcação é feita

horizontalmente por cimalha de perfil curvilíneo em cantaria; verticalmente tem-se cunhais e

pilastras em massa e sobre base em pedra. Nas torres, os cunhais toscanos, molduras de vãos e

cimalhas são em pedra, encimados por pináculos. Na fachada lateral direita, no corpo

correspondente ao partido original, os vãos se dispõem com afastamentos irregulares.

Observam-se as duas primeiras janelas com largura menor que as demais. Nos anexos, a

tipologia das esquadrias foi mantida. Na lateral esquerda, a porta original de acesso à nave e à

capela se mantém.

Figura 6 - Fachada frontal

Figura 7 - Fachada lateral direita

Figura 8 - Fachada lateral esquerda

3.4 ELEMENTOS DE ACABAMENTO E INTERIOR

Sua rica decoração interna mostra o apogeu econômico na época de sua construção. A

nave tem quatro retábulos, dois púlpitos com douramentos, pinturas e dossel. O arco-cruzeiro,

com talha em alto relevo, tem douramentos e painéis com paisagens. A pintura do forro da

nave é do século passado. No coro, o forro tem três painéis com pintura decorativa,

separando-se da nave com lambrequins de madeira. Os balaústres são em madeira torneada,

não recebendo pintura. Na capela-mor o forro apainelado tem pintura decorativa. O altar-mor

é também da primeira fase do barroco mineiro e o camarim tem pintura monocromática.

Figura 9 – Nave

Figura 10 - Arco-cruzeiro

Figura 11 - Forro da nave

Figura 12 - Lambrequins separando o forro do coro e o da capela-mor

Figura 13 - Balaústres de madeira torneada

Figura 14 – Forro da capela-mor

4 IDENTIFICAÇÃO

Nome: Casa Fernão Dias

Designação: Casa de passagem do bandeirante Fernão Dias Paes

Localização: Quintas do Sumidouro – Pedro Leopoldo – MG

Propriedade: IEPHA

Proteção Legal: Tombada pelo decreto nº17.729, de 27 de Janeiro de 1976.

5 HISTÓRICO

Segundo documentos do Arquivo Público Mineiro, os bandeirantes paulistas chegaram

a Pedro Leopoldo seguindo as ordens de Fernão Dias Paes. Em 21 de junho de 1674, Fernão

Dias atravessa o Vale do Paraíba, a Serra da Mantiqueira, Sumidouro, entre outros, e percorre

incansavelmente os locais para pouso, em busca de ouro e pedras preciosas. Como não

encontrou nada, voltou para o Sumidouro onde fundou um arraial. Construiu uma casa e uma

capela exclusivamente para passagem e pouso durante o período de implantação do arraial, e

ali ficou à espera de um auxílio, sendo a Quinta do Sumidouro sua ultima jornada, pois ali

veio a falecer.

6 ANÁLISE ARQUITETÔNICA

A Casa de Fernão Dias é uma casa típica do período colonial brasileiro, sem ostentar

grandes detalhes arquitetônicos, como as casas dos grandes barões do café. Mantêm a tradição

das estruturas ricas em madeira de lei, com portas e janelas amplas, porém é uma casa de um

só pavimento, com pouco entalhamento em madeira, afinal era uma casa de passagem.

Podemos supor que não se dispunha de muita mão de obra para concretizar tais detalhes.

No período colonial as casas geralmente possuíam em seus telhados cimalhas

ricamente trabalhadas, o fim dos caibros também entalhado em forma de peito de pombo,

entre outros. Quanto maiores os detalhes, mais rica era a família que ali vivia. Porém na Casa

de Fernão Dias encontramos elementos básicos do período.

6.1 SISTEMA CONSTRUTIVO

A Casa Fernão Dias utiliza a fundação plana, sendo o soco em pedras Lagoa Santa,

típicas da região. Possui pilares (esteios), frechais e baldrames em madeiras maciças,

principalmente aroeira, também encontrada em grande escala na época.

Como se vê na imagem abaixo, a estrutura baseava-se em madeiras intertravadas,

fincadas na terra, sendo que a parte inferior das peças era mantida na forma natural dos

troncos formando assim os “nabos”, que davam maior sustentação ao imóvel. Enchiam-se

estes porões, nos vãos entre as madeiras, com pedra, para dar acabamento e fechamento, o que

aqui chamamos de “soco”.

Figura 1 - Detalhamento da estrutura

Na casa Fernão Dias, encontramos um sistema misto, “pau a pique” e “adobe”: tratam-

se possivelmente de intervenções prováveis em épocas distintas. Sendo o fechamento original

em “pau a pique”.

Como se vê nas imagens abaixo se fincavam as varas de bambu nas madeiras das

extremidades (pilares), amarrando estas varas entre si, em forma de grades, e depois enchiam

estes vãos com barro, apertando bem até que se fizesse a consistência de parede. Dá-se a este

sistema o nome pau a pique pois picavam-se os esteios para fincar e travar as varas para

construir as paredes.

Figura 2 - Detalhamento estrutura

Completamente restaurada, a casa teve sua estrutura de adobe e pau a pique

demonstrada em quadro na parede conforme as características originais da época. Atrás da

casa foi construído um anexo, onde funcionam áreas de apoio administrativo atualmente.

Figura 3 - Parede da Casa com pau-a-pique à mostra

6.2 COBERTURA

O telhado utilizado na Casa Fernão Dias é um telhado colonial simples, em duas

águas, com tesoura francesa e telha colonial tipo capa e bica, produzida artesanalmente. No

acabamento, feito com “cachorros”, coloca-se uma madeira no beiral, ao invés do telhado

passar com os caibros diretos pelas frechas. Assim, há um pequeno desvio no beiral chamado

“galbo”, que dá um acabamento diferenciado.

Figura 4 - Telha colonial

Figura 5 - Detalhes tesouras francesas.

Figura 6 – Telhado em duas águas

Figura 7 – Estrutura do cachorro

Figura 8 – Acabamento do telhado com cachorros no beiral e acabamento dos caibros do

tipo peito de pombo

Figura 9 - O mesmo acabamento é usado nas construções hoje em dia

6.3 FACHADAS

As fachadas frontal e posterior se dispõem de forma horizontal, sendo elas maiores

que as fachadas laterais. Há três janelas do mesmo tamanho e proporção na parte frontal. Na

parte lateral elas possuem tamanhos e formatos diferentes ente elas e em relação às janelas

frontais. As janelas são de peitoril, com suas características básicas (vergas, ombreiras,

peitoril e soleiras). Por ser uma casa simples, elas tinham as molduras feitas de madeira, sem

muitos detalhes. As mesmas são típicas de casas feitas de adobe e pau a pique. Apesar de não

serem grandes, a casa possui boa iluminação devido a grande quantidade de janelas.

As portas eram simples, com os mesmos detalhes das janelas e não possuíam

almofadas.

Figura 10 - Fachada frontal

Figura 11 – Fachada lateral direita

Figura 12 - Fachada posterior

6.4 ELEMENTOS DE ACABAMENTO E INTERIOR

O forro utilizado é do tipo esteira, com cimalha em madeira e acabamento tipo quina

viva, sem maiores detalhes. O piso do local já foi descaracterizado, embora hoje ainda

encontremos assoalho em madeira, como pode ser observado na Figura 13. Geralmente no

período colonial, utilizava-se um engradamento em madeira, fixado nos baldrames, e sobre

ele fixavam-se às tábuas, que viriam a formar o assoalho da residência.

As esquadrias coloniais são em madeira maciça, abauladas na parte superior com

folhas em tabuado, e acabamento tipo saia e blusa, (um fixado sobre o outro, sendo o mesmo

sistema utilizado em forração de madeira em outras construções da mesma época). O próprio

marco das portas e janelas faz o acabamento, como se fosse um alisar, e ultrapassa a soleira

das portas e janelas. Uma característica importante das esquadrias do período colonial são as

portas, geralmente bem mais altas do que os 2,10m utilizados atualmente. E as janelas

geralmente baixas, o que é chamado de porta-janela, mas na Casa Fernão Dias, as janelas são

comuns, por ser uma habitação rural.

Figura 13 – Detalhes do forro de esteira e do chão de madeira

Figura 14 - Marcos dos quartos

REFERÊNCIAS

CULTURAL, Patrimônio. Igreja Matriz de Nossa Senhora da Boa Viagem. Disponível em:

<http://itabirito.mg.gov.br/patrimoniocultural/?page_id=94> Acesso em: 27 abr. 2013.

CULTURAL, Itabirito. Igreja Nossa Sra. Da Boa Viagem. Disponível em:

<http://www.itabiritocultural.com.br/site/patrimonios.php> Acesso em: 27 abr. 2013.

FIORILLO, Miguel Angelo. Fundamentos Históricos da Paróquia de Nossa Senhora da

Boa Viagem, Belo Horizonte: Editora O Lutador, 1996. 202 p.

VASCONCELLOS, Sylvio de. Arquitetura no Brasil: sistemas construtivos, Belo

Horizonte: Rona Editora, 1979. 186 p.

PEREIRA, Sandra Mara. Biblioteca comunitária Quinta do Sumidouro. Disponível em:

<http://www.letras.ufmg.br/atelaeotexto/bibliotecascomunitarias_associadas_quintadosumido

uro.html> Acesso em: 30 abr. 2013.