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luizamoretti
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10/11/13 arquitextos 148.00 brasil/portugal: Arquitecturas e cidades devoradas entre Portugal e o Brasil | vitruvius
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Arquitecturas e cidades devoradas entre
Portugal e o Brasil
Paula Andr
Raul Lino (1879-1974)
Em abril de 1935, o jornal brasileiro A Noite anuncia que o arquiteto portugus
Raul Lino estava a caminho do Brasil, atendendo ao honroso convite do colega
brasileiro Sr. Morales de los Rios, em nome do Instituto Central dos Architectos
do Brasil, da Sociedade Brasileira de Bellas Artes, do Instituto Paulista de
Architectos e do Instituto Histrico de Ouro Preto (1). Na entrevista concedida
no seu atelier de Lisboa, Raul Lino refere que pensa permanecer no Brasil cerca
de dois meses e meio, fazendo algumas conferncias acerca dos problemas da
arquitetura.
Raul Lino que considerava que a arquitetura deveria ser expresso da cultura de
um povo, salienta que vista de exemplos teceria algumas consideraes sobre o
assunto e diria qual a orientao que a arquitetura deveria tomar, considerando
que essa orientao era particularmente interessante no caso do Brasil.
Indagado sobre os temas dessas conferncias destaca: A que me interessa mais
levou annos e annos a preparar. De h muito estava latente no meu espirito, e
vou procurar dar-lhe forma. Eu vejo as coisas plasticamente. E o meu trabalho
consiste em procurar torna-las comunicveis. O thema della : O espirito da
arquitetura. A segunda sobre As casas portuguesas do sc. XVIII, tema que deve
interessar muito ao Brasil, por ser essa justamente a poca em que ali floresceu
mais a architectura histrica. A terceira ser muito diferente, mas interessa-me
muito, por eu ter estado em contacto com os respectivos servios oficiais: As
casas econmicas.
O jornal A Noite, que dias antes j tinha publicado uma notcia dessa futura
visita de Raul Lino (2) considerando a obra de Raul Lino simultaneamente
clssica e moderna e tendo a melhor expresso espiritual do bom gosto, ir
de forma sistemtica, ao longo da sua estadia no Brasil,divulgar o seu percurso e
enunciando as suas conferencias. A 17 de maio era comunicada a passagem de
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Raul Lino pelo Recife a bordo do Cuyab e anunciada a sua conferncia sobre o
seu interesse pelo Brasil e sobre o movimento artstico de Portugal. Segundo
Raul Lino, grandes obras estavam sendo realizadas. Salientando que o governo
tem provocado forte desenvolvimento dos meios artsticos, sobretudo nos
domnios da architectura, escultura, pintura e decorao, nos grandes edifcios
pblicos. A situao geral do paiz satisfatria e, conquanto o estado preconize
sob o regime totalitrio o nacionalismo das artes, os artistas conservam,
todavia, a liberdade de concepo (3). A 20 de maio noticiada a sua chegada
ao porto da Bahia e o seu percurso pela cidade (4) e a 21 de maio a chegada ao
Rio de Janeiro, num desembarque muito concorrido, mostrando-se Raul Lino
encantado com os panoramas da Guanabara (5).
A notcia da sua chegada ao Rio de Janeiro tambm publicada no jornal
portugus Dirio de Lisboa, com fotografia da chegada do casal, sendo descrito
no artigo o itinerrio previsto e as palestras que tencionava proferir (6). No Rio
de Janeiro, Raul Lino realiza, a 30 de maio, na Escola de Bellas Artes, a
conferncia O espirito na architectura (7). Segundo A Noite, o professor Raul
Lino de modo brilhante e interessantssimo prendeu a ateno dos presentes
durante duas horas, finalizando a palestra discorrendo sobre a architectura do
Brasil, que pela natureza incomparvel e pelo seu passado glorioso, era uma
fonte inexorvel de bellas inspiraes para conduzir nos seus moldes uma nova
escola de arte architectonica original prpria e genuinamente original (8).
Em junho, A Noite dava notcia da conferncia Casas Portuguezas do Sc. XVIII
(9) no Gabinete Portugus de Leitura (10) e do seu passeio martimo na Bahia da
Guanabara terminando com a visita s instalaes da hospedaria de Imigrantes
da Ilha das Flores do Departamento Nacional de Povoamento (11). Raul Lino
partiria dias depois para So Paulo onde realizaria trs conferncias, no
intervalo das quais realizaria visitas e excurses (12). No final da sua estadia em
So Paulo, regressaria ao Rio de Janeiro e depois de alguns dias de repouso,
partiria para Minas Gerais. Raul Lino seria esperado em Belo Horizonte
procedente de Juiz de Fora a 14 de julho, sendo considerado pelo prefeito Sr.
Negro de Lima, hspede da Municipalidade, a permanecendo cinco dias e
proferindo trs conferncias, seguindo depois para a cidades de Sabar,
Marianna e Ouro Preto, onde igualmente sua palavra seria ouvida (13). O jornal
Diario Portugues publicaria ainda imagens da conferncia Casas Econmicas que
Raul Lino proferiu no Gabinete Portugus de Leitura no dia em que partiria para
Lisboa, destacando, no artigo, a distinta assistncia, presidida pelo Sr. Consul
Geral de Portugal, Dr. Francisco de Paula Brito, o Presidente do Conselho
Federal de Engenharia e Arquitetura, prof. Morales de los Rios; e o Presidente do
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Instituto de Arquitetos do Brasil (14). De acordo com o articulista, Raul Lino
tinha manifestado a sua grande satisfao por poder contribuir para o
embelezamento da vida dos modestos obreiros na nossa civilizao havendo
sido chamado como arquiteto consultor para a Repartio da Construo de
Casas Econmicas (15).
Raul Lino, Alado do Pavilho do Brasil, 1939, Exposio do Mundo Portugus
(1940), Belm, Lisboa
Coleco Digitalizada, Raul Lino, RLDA 417.11 [FCG, Biblioteca de Arte, Esplio
de Arquitectura]
Finalmente, a 20 de agosto, A Noite anunciava que o governo brasileiro tinha
conferido a Raul Lino o oficialato da Ordem Nacional do Cruzeiro (16) e que o
arquiteto regressaria a Lisboa no vila Star (17). J em Lisboa, Raul Lino
concedeu uma entrevista revista Bandarra e interrogado acerca das
influncias que sofreu a architettura brasileira, refere que notava trs
influncias: a modernista colonial, a portugueza antiga e a norte americana.
Esta ltima, segundo Lino, inspira-se nos arquitetos da California e do Novo
Mxico que souberam explorar a tradio espanhola deste paiz. Os brasileiros
deixaram-se levar por esta corrente mas limitam-se de preferncia a seguir-lhes
o exemplo. A primeira influencia do modernismo internacional. No tem no
Brasil nenhum carter especial. Alm destas trs correntes principais preciso
reconhecer que os brasileiros imitam as casas mexicanas e italianas, sobretudo
em So Paulo. No encontraram ainda um estylo brasileiro (18). Considerando
ainda que os arquitetos brasileiros no tinham necessidade de adoptar motivos
portugueses. Podiam inspirar-se nas florestas, que tm o carcter do paiz. Em
janeiro de 1938, o Jornal A Noite d notcia que Raul Lino tinha publicado
Auriverde Jornada (19) com o registro minucioso e cativante da viagem ao
Brasil (20). Nesta obra publicada a comunicao lida por Raul Lino Academia
Nacional de Bellas Artes de Lisboa, depois do regresso do Brasil, com o ttulo
Primeiras Impresses, onde d particular destaque influncia no Brasil da
portentosa Natureza que se reflecte em muitas revelaes da actividade
nacional lembrando que no fundo do bandeirismo est o serto,
sublinhando a atraco incessante que ele exercia nos colonos de S. Paulo de
Piratininga ou nos do litoral e salientando que na Histria do Brasil o serto
era assim um tanto como foi para o nosso passado de descobridores a
imensidade do mar (21). Referindo que a maioria dos templos e conventos que
existem no Brasil data do sc. XVIII, considerava que eram todos tam nossos no
estilo e na matria, que em muito pouco se distinguiam da obra
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metropolitana, no deixando de chamar a ateno que no houve no Brasil o
que se deu na colonizao portuguesa da ndia, onde a existncia de uma antiga
civilizao com sua arquitetura distinta, influenciou de maneira interessante a
obra dos nossos construtores e decoradores (22).
Raul Lino, Perspectiva do Pavilho do Brasil, 1939, Exposio do Mundo
Portugus (1940), Belm, Lisboa
Coleco Digitalizada, Raul Lino, RLA 417 [FCG, Biblioteca de Arte, Esplio de
Arquitectura]
Ainda nestas Primeiras Impresses refere que, objetivamente, Ouro Preto dava a
impresso de qualquer grande povoado da regio portuguesa da Beira Baixa que
houvesse nascido no sculo XVIII e que nas terras de Minas Gerais o que
predominava por muito era a maneira genuinamente portuguesa, na
arquitetura; na decorao interior; nos azulejos (23). Comentando o panorama
arquitetnico do gnero funcional, utilitrio, materialista, cosmopolita,
interrogava-se como se poderia harmonizar no Brasil sem cuidada e trabalhosa
adaptao, o estilo gerado numa Europa ferida pela mais sangrenta das guerras e
que se debate na agrura de variadas e gravssimas questes sociais! (24).
Afirma-se curioso por conhecer o arquiteto Lcio Costa (25), declarando que o
procedimento moderno de Lcio Costa para alguns era tido por acto de
apostasia, para outros como lgica transfigurao dos seus ideais (26) e que
este colega brasileiro: no quer ouvir falar de tradio; isto parece querer
confundir tradio morfolgica na obra dos arquitetos com tradio espiritual na
obra dos homens, e observa que ns europeus estaramos fartos de uma herana
que nos oprime () No que eu no concordava por fim era com o conformismo
do meu esclarecido colega quanto evoluo da tcnica construtiva, sombra
da evoluo social, ambas condicionadas pela mquina () Ficamos secos de
tanto racionalismo! (27). Raul Lino tem uma relao e um entendimento
conciliador dos conceitos de tradio e modernismo: No existe hoje lugar
para a estilstica. Actualmente em Arquitetura s h verdadeiramente dois
estilos bem extremados o que procura a continuidade, ou tradicional, e o que
cultiva a descontinuidade e se diz modernista. () continuidade ou maneira
tradicional no significa sujeio a qualquer estilo histrico ou sequer
reminiscente de passadas pocas. () o tradicional, que tambm pode e devia
ser sempre moderno, o que se ajusta espontnea e instintivamente a certas
noes, menos raciocinadas que sentimentais, fundadas ou inspiradas na
Natureza e que esto na base de toda a actividade artstica (28).No devemos
esquecer, tal como bem chama a ateno William Bittar, que nos incios do sc.
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XX, nas Amricas, "ser moderno era ser nacionalista, ou por mais paradoxal que
parea, ser moderno era ser tradicional" (29).
Raul Lino, pormenor do Pavilho do Brasil, 1940, Exposio do Mundo Portugus
(1940), Belm, Lisboa
Coleco Digitalizada, Raul Lino, RLDA 417.22 [FCG, Biblioteca de Arte, Esplio
de Arquitectura]
Em novembro de 1939, o jornal A Noite anuncia a representao brasileira na
exposio dos centenrios portugueses, publicando o projecto do pavilho do
Brasil da lavra de Raul Lino (30). Este arquiteto realiza o Pavilho do Brasil para
a Exposio do Mundo Portugus em 1940 em colaborao com Roberto Lacombe,
que desenhara os interiores, feitos no Rio de Janeiro, e Flvio Barbosa, como
arquiteto-adjunto, considerado por Margarida Acciaiuoli um dos melhores
trabalhos de equipa de toda a Exposio. No seu interior os visitantes podiam
observar um diorama luminoso do Rio de Janeiro que dava uma ideia da
grandiosidade da cidade, talvez relembrando a construo na Praa XV de
Novembro do Rio de Janeiro, da rotunda do Pintor Victor Meireles, que exibia o
Panorama de 360 do Rio de Janeiro destinado Exposio de Bruxelas de 1888.
Na inaugurao do Pavilho do Brasil da Exposio do Mundo Portugus de 1940
(31), o comissrio brasileiro alude ao "adro de uma igreja barroca" sublinhando
que "o grande momento indestrutvel que a civilizao ocidental erguera a
Portugal, (era) o prprio Brasil vivo, que (continuava), em essncia, a ser
portugus" (32). O pavilho de Raul Lino revela "um notvel trabalho de
estilizao decorativa cujas sugestes, de enormes troncos de palmeiras
sulcados de ns, imprimiam uma evidente originalidade, sem perder o lado
monumental que a ocasio suscitava" (33), e que consideramos assumir a
expresso de uma arquitetura moderna enraizada na tradio.
Lcio Costa (1902-1998)
Em 1923, o jornal A Noite dava notcia que o Instituto Brasileiro de Architectos
sob suggesto do Sr. Jos Marianno Filho tinha aberto um concurso com o fito
de estimular o interesse pela architectura da poca colonial acrescentado que
o concurso oferecia dous prmios aquele que apresentasse o melhor sof para
jardim em estylo verdadeiramente a sc. XVIII, e aquele que fizesse dentro das
regras e dos gostos da architectura colonial, um porto de casa nobre (34). O
jornal informava que Lucio Costa tinha tirado os dous prmios (primeiro
premio do sof e segundo premio do porto) tendo apresentado trabalhos
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cheios de gosto artstico, sem perder porm o cunho caracterstico dos trabalhos
coloniaes e elogiando o cuidado nos materiaes que eles empregavam, como
calcareos de Lioz, ferro batido, telhas de canal, azulejos, objectos de cermica,
etc (35).
Jos Marianno Filho, defensor acrrimo da Arte Brasileira e professor de Lcio
Costa, na sua luta contra os estilos de conserva do academismo francs,
apelava a uma arquitetura materna (36) e procurava agitar a opinio pblica
em favor do velho estilo brasileiro (37). Em defesa de uma arquitetura de cunho
tradicional, invocava a reposio do esprito arquitetnico do passado dentro
do ambiente social (38) no tempo em que vivia, promovendo, atravs do
Instituto Central de Arquitetos e da Sociedade Brasileira de Belas-Artes, da qual era
presidente, uma srie de concursos em torno do tema da casa brasileira, que
contribuiriam para a sua nomeao de Director da Escola de Belas Artes (39).
Marianno Filho considerava que os primeiros concursos que tinha promovido
tinham demonstrado sociedade que os artistas brasileiros ignoravam,
naquela poca, os fatos elementares da evoluo arquitetnica nacional (40).
Marianno Filho, lamentando a inexistncia de uma cadeira de cultura artstica
e histrica dedicada arte nacional (41) e constatando a ignorncia dos
arquitetos sados da Escola de Belas-Artes em matria de arte nacional, e ainda
interrogando-se de como se poderiam os alunos informar, se na prpria escola
no existia uma cadeira de cultura artstica e histrica dedicada arte
nacional (42), ir promover uma srie de viagens de documentao s cidades
histricas de Minas Gerais (43). O principal objetivo dessas viagens era constituir
um dossi sobre a arquitetura brasileira, um catlogo confivel com o qual os
arquitetos brasileiros pudessem contar na elaborao de seus projetos (44).
Para Ouro-Preto enviado Nestor Figueiredo, Nero de Sampaio faz
levantamentos em So Joo DelRey e Congonhas do Campo, e Lcio Costa parte
para Diamantina. Ser o prprio Marianno Filho a referir que tinha quebrado a
calmaria reinante nos arraiais arquitetnicos, ao ter comeado a agitar a
opinio pblica em favor do velho estilo brasileiro, uma vez que os prprios
arquitetos sados da Escola de Belas Artes, entorpecidos pelos estilos de
conserva do academismo francs, no sabiam como responder ao seu apelo. Por
outro lado, apelava igualmente, para a adequao da arquitetura ao clima. Essa
chamada de ateno para a adequao ao clima, fica claramente evidenciada na
crtica feroz que Marianno Filho elaborou aos projectos de Escolas do arquiteto
Enas Silva, que adjectivava de estilo arquitetnico caixa dgua(45). Mas se
Marianno Filho, nesse envio dos alunos para Minas Gerais, buscava a
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sistematizao do repertrio da arquitetura neocolonial, a verdade que foi na
viagem por Minas que Lcio Costa encontrou os fundamentos da arquitetura
moderna.
Igreja no Porto, norte de Portugal
Foto Abilio Guerra
Lcio Costa de regresso do seu itinerrio revelador por Minas Gerais, de regresso
da lio da arquitetura pela prpria arquitetura que recebera em Diamantina,
Sabar, Ouro-Preto e Mariana, relata que encontrou um estilo inteiramente
diverso desse colonial de estufa, colonial de laboratrio que, nesses ltimos
anos, surgiu e ao qual, infelizmente, j est habituado o povo, aponto de
classificar o verdadeiro colonial de inovao. Em relao aos telhados descreve
os beirais fortemente balanceados, tratados em madeira com caibros aparentes
e perfilados, considerando que esses detalhes convenientemente
documentados, muito concorreriam para melhor definir a arquitetura brasileira
(46). Para Lcio Costa era necessrio conciliar os vestgios de uma poca
passada com o raffinement da vida moderna, sendo essa, na sua opinio a
principal tarefa do arquiteto (47). Respondendo insistente procura de um
estilo nacional, Lcio Costa salientava que no devia existir a preocupao de
se fazer um estilo nacional, por considerar que o estilo viria por si, alertando
para a importncia da simplicidade e da sinceridade, em pequenas frases
panfletrias: Sejamos simples. Sejamos sinceros. Evitemos a mentira (48). A
denncia da insinceridade construtiva como causa da decadncia da arquitetura
era evidente ao relembrar que o Parthenon, Reims, Sta. Sophia era tudo
construo, era tudo honesto, onde as colunas efectivamente suportavam, os
arcos realmente trabalhavam, isto , nada mentia (49), considerando, em
contraponto, que a arquitetura brasileira estava transformada em mera
cenografia. Lcio Costa considerava por isso que os alunos da Escola Nacional de
Belas Artes deviam conhecer perfeitamente a arquitetura brasileira da poca
colonial aprendendo as boas lies que essa arquitetura podia dar, lies de
simplicidade perfeita, e lies de adaptao ao meio e funo (50).
A reviso no suposto estilo neocolonial passava precisamente por um olhar
renovado sobre a arquitetura vernacular, que ultrapassaria a superficialidade e a
falsidade dos historicismos e construiria os fundamentos da arquitetura
moderna como uma arquitetura verdadeira. Para tal seria necessrio dar uma
particular ateno s condies climatricas, ao uso racional dos materiais e
lgica dos sistemas construtivos, condies essncias para a produo de uma
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arquitetura verdadeira. A resposta contempornea encontrava-se afinal na lio
da tradio, encontrava-se enraizada nas invariantes da arquitetura popular,
traduzida numa srie de desenhos que Lcio Costa registrava nas suas viagens.
Lcio Costa, em Documentao necessria (1937), considerava que a arquitetura
popular apresentava em Portugal interesse maior que a erudita. Segundo o
arquiteto, era nas aldeias portuguesas, nas construes rurais que se encontrava
a justeza das propores, no deixando de referir que na viagem da prpria
arquitetura para o Brasil e na sua implantao feita pelos antigos mestres e
pedreiros incultos na sua adaptao ao meio, essa arquitetura foi perdendo
um pouco daquela carrure tipicamente portuguesa, o que por outro lado foi
compensado em contexto brasileiro, com a diminuio ou mesmo eliminao de
certos maneirismos preciosos e um tanto arrebitados que se encontravam na
metrpole (51).
Segundo Lcio Costa, o estudo da arquitetura popular portuguesa permitiria aos
arquitetos modernos brasileiros usarem-no como material de novas pesquisas
e como lio de uma experincia de mais de trezentos anos (52). Esse estudo
que consideramos ser um apelo realizao de um inqurito arquitetura
portuguesa, devia segundo Lcio Costa recuar aos vestgios da habitao (erudita
e popular) do sc. XVII, sem esquecer por fim, a casa mnima, como dizemos
agora, a do colono, de todas elas a nica que ainda continua viva em todo o
pas (53). No podemos deixar de relacionar esta chamada de ateno de Lcio
Costa para a necessidade de realizar um estudo que documentasse a arquitetura
popular portuguesa, intitulada Documentao necessria, com o artigo Uma
iniciativa necessria do arquiteto portugus Keil do Amaral, publicado em 1947
na revista Arquitetura, em que apelava realizao de um inqurito cientfico
arquitetura regional portuguesa, destacando a necessidade de efetuar uma
recolha e classificao de elementos peculiares arquitetura portuguesa nas
diferentes regies do Pas com vista publicao de um livro, larga e
criteriosamente documentado (54).
Em 1955, Keil do Amaral viria a coordenar o Inqurito Arquitetura Regional
Portuguesa (55), publicado em 1961 com o ttulo Arquitetura Popular em Portugal
(56). Lcio Costa considerava que nessa pesquisa arquitetura popular
portuguesa, alm dos sistemas e modos de construo, deveriam ser tambm
estudadas as diferentes solues de planta e como variavam de uma regio a
outra (57), procurando assim a lgica construtiva subjacente a cada regio.
Alfred Agache (1875-1959)
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Em 1928, o jornal Dirio de Notcias anunciava que o Rio de Janeiro ia mudar a
sua fisionomia, referindo a visita do Presidente Washington Lus ao atelier do
urbanista francs Alfred Agache para examinar os planos de remodelao do Rio
de Janeiro (58). Em 1933, em Portugal, sob a alada do Presidente do Conselho
Oliveira Salazar, o ministro das Obras Pblicas eng Duarte Pacheco,
considerando que o Plano de Urbanizao e expanso da Cidade de Lisboa era o
mais importante de todos os problemas citadinos, convida o arquiteto urbanista
francs Donat-Alfred Agache a elaborar um plano de urbanizao desde o
Terreiro do Pao at Cascais (59), que resultaria no Plano de Expanso da Regio
Oeste de Lisboa. Duarte Pacheco toma conhecimento do trabalho de Agache para
o Rio de Janeiro, particularmente com o Plano para cidade do Rio de Janeiro
elaborado entre 1928 e 1930. Este Plano vai tornar-se objeto de ateno
particular, saindo da esfera dos especialistas e claramente entrando no domnio
pblico.
O reconhecimento da importncia do trabalho de Alfred Agache no Rio de
Janeiro surge tambm expresso numa notcia publicada no Dirio de Lisboa, em
que este apresentado como o famoso criador da moderna Rio de Janeiro (60).
O articulista solicitava a Agache que revelasse um pouco do seu parecer acerca
das possibilidades de construir uma grande via de automobilismo dando eco da
querena turstica de alguns portugueses amigos da maior valorizao
lisbonense (61). Na entrevista Agache refere que passava por Lisboa nas suas
idas ao Brasil, aproveitando para visitar a capital. Desta vez demorava-se um
pouco mais com o fim de examinar a parte que existe entre Lisboa e Cascais
(62). Tendo percorrido a regio, considerava que era difcil encarar o caso da
extenso, pura e simplesmente sem considerar o trecho da cidade em que ela
principia e que era mesmo na ligao da linda cidade-satlite com a capital
que residiam os principais factores da obra a planear e a harmonizar (63).
Segundo notcia publicada no Dirio de Lisboa, Agache refere que j tinha
passado por Lisboa pelo menos 18 vezes nas suas idas ao Brasil; e cada uma das
demoras do paquete, no porto, aproveitava para visitar a capital, como turista
(64). Interrogado sobre o valor urbanstico da margem direita do Tejo em
comparao com o da famosa Avenida marginal do Rio de Janeiro, Agache
salienta: Actualmente estamos ainda longe de poder estabelecer bem esse
paralelo. Devo porm declarar-lhe que h possibilidades de conseguir aqui
resultados anlogos aos que se obtiveram na primeira cidade brasileira. A futura
avenida portuguesa, sem ser semelhante do Rio, adaptar-se- perfeitamente
grandiosidade da Costa do Sol, mesmo com certas particularidades valiosas que
na fluminense no existem. Basta reparar-se em que a extenso da de c - 30 Km
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uma condio maravilhosa. O que motivava Agache nesta sua travessia do
Atlntico, era estudar, de visu, os elementos para a criao de uma cidade de
repouso e de prazer, a 8 Km de distncia do centro de So Paulo (65).
Poucos dias depois desta notcia, o mesmo jornal divulgava a futura ao de
Agache na construo do bairro satlite de Santo Amaro, em So Paulo. Agache
refere que tinha assistido s necessidades de Minas Gerais, Portalegre,
Pernambuco e Rio de Janeiro. Ultimamente em Setembro de 1932 fui
chamado a So Paulo para estudar o arranjo nos arrabaldes do seu sector oeste,
de uma zona particular, sita ao longo do lago artificial construdo pela Sociedade
Light and Power. A urbanizao da nova Santo-Amaro, a Cidade-Satlite de
So Paulo divide-se em 4 partes. Quando efectuar a minha conferncia sobre
urbanismo em geral, na Sociedade Nacional de Belas Artes, terei ocasio de
mostrar algumas fotografias da regio do lago, junto do qual surgir a planeada
cidade-satlite (66).
Da sua conferncia na Sociedade Nacional de Belas Artes, onde tinha tambm a
sua sede o Sindicato Nacional dos Arquitetos Portugueses, no temos notcia,
mas mais uma vez a ao de Agache no Rio de Janeiro surge como argumento
decisivo para a necessria reforma de Lisboa: Era agora uma ocasio nica de
enterrar de vez o fantasma do mau gosto, entregando Lisboa a esse homem, que
fez do Rio de Janeiro colonial e imperial uma cidade do sculo XX, cheia de cor,
de graa, de luz e de movimento onde o estrangeiro se refastela regalado,
cercado de todas as comodidades que um homem civilizado pode reclamar.
Alfredo Agache, no Rio, como em muitas outras urbes de aqum e de alm
Atlntico, ps mo em tudo, mo sbia e experiente: viao, roteiro, esgotos,
arborizao e jardinagem, obras de saneamento, construes pblicas e
privadas, docas e portos que sei eu? Por isso o Brasil o requere de novo, para
orientar e dirigir a construo dessa cidade maravilhosa, foco de recreio e prazer,
que vai ser a Santo Amaro paulistana(67).
Wladimir Alves de Souza (1908-1994)
No mbito de uma viagem de estudo Europa, em 1949, o arquiteto Wladimir
Alves de Sousa, que acompanhava um grupo de estudantes brasileiros, finalistas
da Faculdade Nacional de Arquitetura da Universidade do Brasil, realizou uma
conferncia sobre Arquitetura Brasileira em Lisboa no Instituto Superior
Tcnico. Seria igualmente inaugurada uma exposio de arquitetura brasileira
no salo nobre do mesmo Instituto, em que se apresentou a arquitetura
moderna brasileira atravs de fotografias, desenhos e maquetas, num conjunto
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de 85 trabalhos, dos quais cerca de 80% estavam construdos ou em vias de
construo. Completava-se essa mostra com a colocao disposio do pblico
de uma coleo de revistas e publicaes para consulta.
O Jornal O Primeiro de Janeiro de Fevereiro de 1949 informava que o Professor
Wladimir Alves de Sousa partiu depois para a cidade do Porto, onde proferiu, no
salo nobre da Escola de Belas Artes dessa cidade, uma comunicao
subordinada ao tema: A Arquitetura Brasileira em face das Arquiteturas
Contemporneas. Estiveram presentes para alm do director da Escola de Belas
Artes do Porto Professor Joaquim Lopes, o sr. Cnsul do Brasil no Porto e o
Presidente da Cmara da cidade, para alm de muitos arquitetos, engenheiros e
estudantes. De acordo com a notcia de O Primeiro de Janeiro orador fluente e
experimentado preleccionador, expondo com clareza e argumentando
criteriosamente o professor Wladimir Alves de Sousa valorizou a sua preleco
com uma vasta projeco luminosa de diapositivos de um vasto conjunto de
obras, de modo a permitir caracterizar a moderna arquitetura brasileira,
particularizando determinados pormenores. Tudo de modo a fundamentar a
afirmao que a Arquitetura , essencialmente, uma arte destinada a definir
margem de qualquer improvisao, uma expresso fidedigna e sempre oportuna
do meio social duma determinada poca, integrada nos seus ambientes
topogrfico, climtico e social (68), e que uma das razes fundamentais da
arquitetura brasileira era tipicamente portuguesa. De modo surpreendente, o
arquiteto Alves de Sousa estabeleceu ainda um caprichoso mas elucidativo
confronto entre os estilos do mosteiro de Alcobaa e do edifcio do Ministrio da
Educao, no Rio de Janeiro, considerando que ambos nas respectivas pocas de
construo obedeceram a rigorosas exigncias funcionais.
Segundo Wladimir Alves de Sousa os arquitetos contemporneos so
intransigentes defensores da tradio em arte, buscando apenas actualiza-la,
num harmonioso e til equilbrio do passado e do presente, conforme as
exigncias do meio e o condicionalismo dum progresso sempre renovador,
chegando mesmo a desenhar o perfil arquitetnico duma antiga residncia
colonial brasileira, de traa bem portuguesa, considerando que, de acordo com
os cnones da arquitetura contempornea, se poderia integrar num ambiente
moderno, sem curiosamente perder o seu bsico sentido original.
Seguidamente exibiu um documentrio das projees luminosas de diversos
edifcios da moderna arquitetura brasileira, nomeadamente das cidades do Rio
de Janeiro, So Paulo e Belo Horizonte, referindo-se em particular a Lcio
Costa, Oscar Niemeyer, Roberto Burle Marx, Vilanova Artigas e Jorge Machado
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Moreira. Particularmente interessante foi o destaque que o arquiteto Wladimir
Alves de Sousa deu prestantssima colaborao de modernos pintores e
escultores que tm valorizado muitas dessas obras, no seu aspecto decorativo e
artstico dispensando particulares louvores a Portinari que como pintor de
fecunda inspirao e de assombroso talento, se dedicou tambm ao culto
tradicional dos paneaux de artsticos azulejos, como os que decoram o edifcio
carioca do Ministrio da Educao e o escandaloso monumento arquitetnico
da igreja matriz da Pampulha, em Belo Horizonte (69). Os estudantes
visitariam a praia de Ofir e as cidades de Viana do Castelo, Braga e Guimares.
Partiriam depois para Madrid e seguiriam em misso de estudo para Roma e para
Paris onde exibiriam tambm o documentrio da exposio de Arquitetura que
tinham apresentado em Lisboa.
Consideraes finais
Os jornais dirios no especializados em arquitetura so fonte profcua sobre o
conhecimento das viagens de arquitetos, sobre os itinerrios do olhar dos
arquitetos que devoram arquiteturas e cidades portuguesas a brasileiras e sobre
os elos de continuidade e/ou ruptura com a tradio e a modernidade. Ao longo
da histria da arquitetura encontramos momentos em que a cultura
arquitetnica elimina o suprfluo, elimina as formas artificiais, apoiando-se
numa arquitetura cuja expresso advm da qualidade dos materiais, da perfeita
execuo e da razo funcional/estrutural, que adota a soluo mais simples/mais
sensata. H uma fundamentao arquitetnica da arquitetura, uma esttica que
determina e coloca em evidncia a verdade ou a sinceridade construtiva. No
confronto histrico, construo versus decorao, a arquitetura cisterciense
revela-se como primeira superao das ordens arquitetnicas e afirma a
construo como paradigma, por isso, uma lio atemporal, susceptvel de ser
comparada com a arquitetura moderna.
notas
NE
Este artigo faz parte do nmero especial da revista Arquitextos, comemorativo do
Ano de Portugal no Brasil e do Ano do Brasil em Portugal, conforme
Resoluo do Conselho de Ministros n. 7/2012, que menciona que Portugal e
o Brasil acordaram, por ocasio da X Cimeira, na realizao, em 2012, em
conjunto e simultneo, do Ano de Portugal no Brasil e do Ano do Brasil em
Portugal, iniciativas concebidas como oportunidades para actualizar as imagens
recprocas, promover as culturas e as economias de ambos os pases e estreitar
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os vnculos entre as sociedades civis. Dirio da Repblica, 1 srie, n 10, 13
jan. 2012, p. 133 .
1
Acrescentando que lhe seriam prestadas diversas homenagens pelo Conselho
Federal de Engenharia e Architectura, pelo Conselho Regional de Engenharia e
Architectura e pela Escola de Bellas Artes. In Expresso da cultura de um povo.
Raul Lino em entrevista Noite analysa o significado da architectura histrica.
Vem ao Brasil o grande architecto de Portugal. A Noite, 12 abr. 1935.
2
Um grande artista portuguez. O architecto Raul Lino visitar o Brasil. A Noite, 02
abr. 1934.
3
Raul Lino no Brasil. O notvel architecto portuguez fala Noite em Recife. Seu
interesse pelo nosso paiz. Impresses sobre o movimento artstico em Portugal.
A Noite, 17 maio 1935.
4
Raul Lino na Bahia, Recepo feita ao grande architecto portuguez. A Noite, 20
maio 1935.
5Chegou Raul Lino. O conhecido architecto portuguez teve um desembarque
concorrido. A Noite, 21 maio 1935.
6Noticias do Brasil. Raul Lino foi recebido no Rio com as mais inequvocas
manifestaes de apreo. Dirio de Lisboa, 14 jun. 1935. J em abril o mesmo
jornal anunciava que Raul Lino iria ao Brasil, publicando uma entrevista com o
arquiteto: Um grande artista portugus. O arquiteto Raul Lino fala-nos da sua
viagem ao Brasil onde vai fazer algumas conferencias. Dirio de Lisboa, 08 abr.
1935.
7
O espirito na architectura. este o thema da conferencia de Raul Lino. A Noite,
30 maio 1935.
8
A conferencia de Raul Lino. Alcanou grande xito a dissertao do conhecido
architecto portuguez. A Noite, 31 maio 1935.
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9
Casas portuguezas do sc. XVIII. A nova conferencia de Raul Lino. A Noite, 05
jun. 1935.
10
Raul Lino falar amanh no Gabinete Portugus de Leitura. A Noite, 03 jun.
1935.
11
Raul Lino. Percorreu os lindos recantos da Guanabara e visitou a ilha das Flores.
A Noite, 10/06/1935.
12
Dia 27 ir a Santos e far uma conferencia sobre Solares de Portugal. Dia 28
tero lugar as visitas a So Vicente e Guaraj. Dia 29 dar-se- a volta para So
Paulo e dessa cidade para o Rio. In Segue hoje para So Paulo o architecto
portuguez Raul Lino. A Noite, 19 jun. 1935.
13
Cames ser perpetuado no corao de Minas. Raul Lino o artista que talhar o
bronze, esperado nesta capital. A Noite, 12 jul. 1935.
14
Prof. Ral Lino. O ilustre arquiteto dissertou sbre Casas Econmicas. Como o
Estado portugus resolveu o problema. Dirio Portugues, 31 ago. 1935.
15
Idem, ibidem.
16
Regressou a Lisboa o ilustre architecto portuguez Raul Lino. O Governo
Brasileiro conferiu-lhe o oficialato da Ordem Nacional do Cruzeiro. A Noite, 20
ago. 1935, 5 edio.
17
Raul Lino. O ilustre architecto portuguez regressa hoje a Lisboa pelo vila Star.
A Noite, 20 ago. 1935.
18
As tendncias da architectura no Brasil. Raul Lino faz a respeito declaraes em
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Lisboa. A Noite, 07 out. 1935.
19
LINO, Raul. Auriverde jornada recordaes de uma viagem ao Brasil. Lisboa, Ed.
Valentim de Carvalho, 1937.
20
Auri-verde jornada. A Noite, 15 jan. 1938.
21
LINO, Raul. Op. cit., p. 131-132.
22
Idem, ibidem, p. 138.
23
Idem, ibidem, p. 146.
24
Idem, ibidem, p. 152.
25
O seu amigo Jos Cortez organizaria um almoo no Jockey Club do Rio de
Janeiro, para lhe apresentar dois colegas brasileiros, ngelo Bruhns e Lcio
Costa. A respeito do seu colega Lcio Costa diz Raul Lino: Tem na sua calma
sorridente qualquer coisa de um filsofo ingls, a-pesar-do seu tipo meridional.
De mediana estatura, so bem brasileiros seus olhos profundos e a sua tez
morena; mas a cabeleira escorrida e o pequeno bigode rolio parecem falar-nos
de uma disciplina adquirida nas brumas do Norte. In LINO, Raul. Op. cit., p. 91.
O seu amigo Edwin Hime organizaria tambm no Jockey Club um encontro de
Lino com os seus antigos companheiros do colgio em Inglaterra: Cox, Lynch e
Morrissy. Nessa estadia no Rio de Janeiro Lino revela que num encontro casual
com Paulo Prado no Palace Hotel e trocando impresses sobre Ea de Queiroz,
este lhe teria comunicado que existia em S. Paulo um quadrinho pintado pelo
autor do Primo Baslio.
26
LINO, Raul. Op. cit., 1937, p. 91.
27
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Idem, ibidem, p. 95-97.
28
LINO, Raul. Afinidades e analogias. Dirio de Notcias, 12 jan. 1953.
29
BITTAR, William. Formao da arquitetura moderna no Brasil (1920-1940).
Moderno e Nacional. 6 Seminrio DOCOMOMO Brasil. Niteri, Novembro, 2005
.
30
A representao brasileira na exposio dos centenrios portugueses. Projecto
Pavilho Brasileiro no futuro grandioso certmen. A Noite, 21 nov. 1939.
31
A partir da ideia lanada em 1929 pelo embaixador Alberto de Oliveira em 1938
publicada na primeira pgina no jornal Dirio de Notcias a Nota Oficiosa da
Presidncia do Conselho anunciando as festas nacionais grandiosas e de
repercusso internacional comemorativas do duplo centenrio da Fundao e
Restaurao de Portugal. Cottinelli Telmo seria o arquiteto-chefe da Exposio
do Mundo Portugus realizada em 1940 na Zona Marginal de Belm.
32
ACCIAIUOLI, Margarida. Exposies do Estado Novo 1934-1940. Lisboa, Livros
Horizonte, 1998, p. 184-188.
33
Idem, ibidem, p. 187.
34
Os Premios do Concurso da Sociedade Brasileira de Architectos. A Noite, 27 fev.
1923.
35
Idem, ibidem.
36
Este era um dos pontos do Declogo do arquiteto brasileiro, de 1923.
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37
MARIANNO FILHO, Jos. margem do problema arquitetnico nacional. Rio de
Janeiro, Grfica C. Mendes Jnior, 1943, p. 7.
38
SANTOS, Paulo. Presena de Lucio Costa arquitetura contempornea do Brasil.
Manuscrito indito, Arquivo Paulo Santos, Pao Imperial do Rio de Janeiro,
1962, p. 12.
39
Jos Marianno Filho proporia criar novas disciplinas tais como Estaturia,
Histria da Arte Brasileira e Filosofia da Arte, no vindo no entanto a ser
aprovada a sua proposta, e o seu mandato terminaria em maio de 1927.
40
MARIANNO FILHO, Jos. Op. cit.,p. 7.
41
PINHEIRO, Maria Lcia Bressan. A Histria da Arquitetura Brasileira e a
Preservao do Patrimnio Cultural, Revista CPC, So Paulo, v.1, n.1, nov.
2005/abr. 2006, p. 59-60.
42
MARIANNO FILHO, Jos. Op. cit., p. 7.
43
Na Escola Politcnica de So Paulo o engenheiro-arquiteto Alexandre
Albuquerque, professor das cadeiras de Histria da Arquitetura, Esttica e Estilos,
entre 1921 e 1925 promove excurses tcnicas com os seus alunos, destinadas
a cidades como Itanham, Ouro Preto, Tiradentes e Congonhas do Campo,
sempre que permitiram as verbas destinadas a exerccios prticos em nossos
escassos oramentos escolares. Nas excurses, os alunos eram incentivados a
fazer desenhos e levantamentos in loco de edifcios importantes, parte dos quais
foi mais tarde publicado no Boletim do Instituto de Engenharia (n. 63, agosto
1930, p. 59-62), in PINHEIRO, Maria Lcia Bressan. A histria da arquitetura
brasileira e a preservao do patrimnio cultural, Revista CPC, So Paulo, v. 1, n.
1, nov. 2005/abr. 2006, p.57. Segundo Alexandre Albuquerque para estimar o
colonial preciso conhec-lo. necessrio viajar e longamente meditar em
frente de cada monumento. Quem j viajou pelas nossas cidades coloniais,
quem conhece Ouro Preto, Mariana, Congonhas, So Joo del Rey, Tiradentes,
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para citar apenas algumas, sabe distinguir a arte portuguesa aclimatada, da que
floresceu no velho mundo, in ALBUQUERQUE, Alexandre. Aleijadinho e arte
colonial. Boletim do Instituto de Engenharia, n. 63, ago. 1930, p. 59-61. Em 1926
o jornal O Estado de So Paulo realiza um inqurito arquitetura colonial e
publica entrevistas realizadas a defensores do movimento neocolonial.
44
Em Portugal partindo da ideia inicial do Presidente da Academia Nacional de
Belas Artes o Ministrio da Educao cria em 1936 as Misses Estticas de Frias
que eram organizadas pela Academia Nacional de Belas Artes. No prembulo do
diploma da sua criao so definidos os objetivos: integrar a Arte num unitrio
e activo programa de educao nacional () dotar a formao dos artistas e
estudantes portugueses de Artes Plsticas [Pintura, Escultura e Arquitetura] com
o conhecimento esttico da Nao, nos seus valores naturais e monumentais, de
que so to ricas as nossas provncias, ao mesmo tempo que se contribuir para
a realizao do respectivo cadastro, inventrio e classificao, in Decreto-Lei n
26 957, do Ministrio da Educao, Dirio do Governo, I Srie, n 202 de 28 de
agosto, p.1039. Para alm do trabalho de atelier os estagirios/estudantes
realizavam visitas de estudo, elaboravam registros e eram organizadas
conferncias; em novembro e dezembro era realizada a exposio final dos
trabalhos acompanhada da publicao de um catlogo.
MARIANNO FILHO, Jos. Op. cit.,p. 83.
46
Consideraes sobre o nosso gosto e estilo. A Noite, 18 jun. 1924.
47
Idem, ibidem.
48
Idem, ibidem.
49
O novo diretor da Escola de Belas Artes e as directrizes de uma reforma. O Globo,
29 dez. 1930.
50
Idem, ibidem.
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51
COSTA, Lcio. Documentao necessria (1937). In XAVIER, Alberto; CANEZ,
Anna Paula (org). Lcio Costa: sbre arquitetura. Porto Alegre, UniRitter, 2007, p.
86-87.
52
Idem, ibidem.
53
COSTA, Lcio. Op. cit., 1937, p. 89.
54
AMARAL, Keildo. Uma iniciativa necessria. Arquitetura: Revista de Arte e
Construo, Ano XX, 2. srie, n. 14, Lisboa, abr. 1947, p. 12-13.
55
O Decreto-lei n. 40.349 de 19 de Outubro do Ministrio das Obras Pblicas
presidido por Arantes e Oliveira, estipula o subsdio at ao montante de
500.000$00 destinado a cobrir os encargos com a investigao sistemtica dos
elementos arquitetnicos tradicionais das diversas regies do pas; afirmando
que a arquitetura popular contm em si uma lio viva e evidente valor prtico
para o desejado aportuguesamento da arquitetura moderna no nosso pas; o
pas dividido em 6 zonas, cada uma coberta por um chefe da equipa e por 2
outros arquitetos mais jovens; zona 1: Fernando Tvora, Rui Pimentel e
Antnio Meneres (Minho, Douro Litoral e Beira Litoral); zona 2: Lixa Filgueiras,
Arnaldo Arajo e Carvalho Dias (Trs-os-Montes e o Alto Douro); zona 3: Keil
do Amaral, Huertas Lobo e Joo Malato (as Beias); zona 4: Nuno Teotnio
Pereira, Pinto de Freitas e Silva Dias (Estremadura, Ribatejo e Beira Litoral);
zona 5: Frederico George, Azevedo Gomes e Mata Antunes (Alentejo); zona 6:
Pires Martins, Celestino de Castro e Fernando Torres (Algarve e Alentejo
Litoral). Em 1953 na Escola de Belas Artes do Porto, Fernando Tvora orienta o
Ensaio de Inqurito s expresses e tcnicas tradicionais portuguesas no mbito da
criao de um Centro de Estudos de Arquitetura e Urbanismo na Escola de Belas
Artes do Porto, in FERNANDES, Eduardo Jorge Cabral dos Santos. A escolha do
Porto: contributos para a actualizao de uma ideia de Escola. Braga, Universidade
do Minho, 2010. Tese de doutorado, p.185. Fernando Tvora, Octvio Lixa
Filgueiras e Alfredo Viana de Lima participam no X CIAM dedicado ao tema do
Habitat, realizado em Agosto de 1956 em Dubrovnik, apresentando um estudo-
proposta de uma comunidade rural de Trs-os-Montes, com a comunicao
Habitat Rural Nouvelle Communaut Agricole.
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56
Arquitetura Popular em Portugal. Lisboa, Associao dos Arquitetos Portugueses,
1980, p. XX.
57
COSTA, Lcio. Op. cit., 1937, p. 90.
58
ainda referido que o espao do antigo Morro do Castelo ser aproveitado para
a construo de grandes edifcios modernos e amplas praas ajardinadas, com
iluminao adequada, que faa salientar, de noite, a perspectiva dos 'arranha-
cus'. Na Ponta do Calabouo ser construdo um edifcio para Panteo
Nacional, e completar-se- a beleza do local com jardins. O Saco da Glria
ser terraplanado, para a construo duma praa monumental, que se chamar
Entrada do Brasil e se destinar a recepo de hspedes ilustres, a paradas,
etc, in O Rio de Janeiro vai mudar a sua fisionomia. Dirio de Notcias, 16 nov.
1928.E o jornal O Sculo publicava-se: Rio de Janeiro, 13 esperado
brevemente o arquiteto francs Alfredo Agache, que volta ao Rio para prosseguir
a execuo dos planos de embelezamento da capital federal.Por um telegrama de
Paris, sabe-se que o embaixador Dr. Sousa Dantas lhe ofereceu um almoo de
despedida, in Pelo Brasil. O Embelezamento do Rio de Janeiro. O Sculo, 14
ago. 1928.
59
Um Plano de realizaes. Todos os desempregados vo ter trabalho dentro de
pouco tempo, diz-nos o ministro das obras pblicas. Dirio de Lisboa, 24 fev.
1933.
60
Idem, ibidem.
61Idem, ibidem.
62Idem, ibidem.
63Idem, ibidem.
64Idem, ibidem.
65Idem, ibidem.
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1. http://dre.pt/pdf1sdip/2012/01/01000/0013300135.pdf
2. http://www.docomomo.org.br/seminario%206%20pdfs/William%20Bittar.pdf
66
Ideias modernas acerca de urbanismo. S. Paulo e a sua futura cidade satlite. O
grande urbanista Agache fala-nos da sua nova criao. Dirio de Lisboa, 26 jul.
1933, p. 7.
67
A visita de Agache. Podia aproveitar-se para pensar a srio na modernizao
urbanstica de Lisboa. Dirio de Lisboa, 29 jul. 1933, p. 3.
68
Os estudantes brasileiros de arquitetura que visitam hoje Viana do Castelo,
Braga e Guimares chegaram ontem a esta cidade, tendo o chefe dessa misso
cultural proferido, na Escola de Belas Artes do Porto, uma preleco magistral. O
Primeiro de Janeiro, 25 fev. 1949, p. 2.
69
Idem, ibidem.
sobre a autora
Paula Andr doutora em arquitetura e Urbanismo; Professora Auxiliar do
Departamento de Arquitetura e Urbanismo do ISCTE-IUL; Docente no Mestrado
Integrado em Arquitetura; Docente no Mestrado em Histria Moderna e
Contempornea; especialidade em Cidades e Patrimnio; Docente no Mestrado
em Gesto e Estudos da Cultura. Membro Efectivo do Centro de Estudos sobre a
Mudana Socioeconmica e o Territrio (DINAMIA-CET); membro da equipa do
Laboratrio de Habitao (LAB HAB; ISCTE-IUL); membro da Direco do Centro
de Estudos Urbanos (CEURBAN); membro da Rede Portuguesa de Morfologia
Urbana (PNUM), membro da Associao Portuguesa de Historiadores da Arte
(APHA) e membro do International Council on Monuments and Sites (ICOMOS
Portugal).
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