Upload
phamhanh
View
219
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO
O(S) USO(S) DE DOCUMENTOS DE ARQUIVO NA SALA DE AULA
Giovana de Cássia Ramos Fanelli
Questão Indígena
Indígenas e as bandeiras militares: encontros e desencontros durante a expansão ao
sul do Brasil no final do século XVIII
2o Semestre/ 2013
São Paulo
1
Tema: Questão Indígena
Título: Indígenas e asbandeiras militares: encontros e desencontros durante a
expansão ao sul do Brasil no final do século XVIII.
Justificativa:
Com a assinatura dos Tratados de Madri (1750) e de Santo Ildefonso (1777),
Portugal e Espanha buscavam por fim as disputas territoriais sobre as terras da
América. Assim, o reconhecimento e ocupação eram fundamentais para a efetivação
do direito a posse da terra. A partir de São Paulo, vão se organizar diversas expedições
militares e civisrumo a região sul do Brasil, em que ocorrerá diversos encontros entre o
colonizador e os diversos grupos indígenas.
Desse modo, a escolha do tema se insere tanto na busca por entender como o
Brasil foi ocupado e os motivos que nortearam essa ocupação no final do século XVIII e
como ocorreram os encontros e desencontros entre os diversos habitantes da região
do interior do Paraná: o sertão de Tibagi.
Através da análise de diversos documentos como vídeo e mapas,
eprincipalmente o uso defragmentos de documentos presentes nos Documentos
Interessantes para a Históriae Costumes de São Paulo (vol.IV) procuraremos tanto
aproximar o educando da realidade histórica estudada, como estabelecer reflexões
sobre o encontro com os indígenas e o colonizadorno passado e na atualidade.
Objetivos:
A realização dessa SD objetiva:
• Que através da leitura de mapas os educandos percebam como os territórios
indígenas foram sendo ocupados pelo colonizador branco e para quais
objetivos;
• Que as estratégias de dominação sobre o nativo nem sempre se davam de
modo violento e agressivo;
• Que os nativos, ao perceber os objetivos do colonizador,buscavam estratégias
para a defesa do seu povo e de sua terra;
2
• Que os alunos consigam refletir que ainda hoje as terras indígenas são palco de
disputas entre fazendeiros, empresas madeireiras e até mesmo o Estado;
• Estabelecimento de comparação presente-passado.
Componente Curricular:
O tema se insere na disciplina de História, como parte do conteúdo de Brasil Colonial e
subtema “Expansão do Território”.
Ano (série):
A atividade destina-se aos educandos do 8o ano/7a série do Ensino Fundamental II.
Tempo Previsto:
O tempo previsto para a realização desta atividade é de sete aulas.
Desenvolvimento e conteúdo das atividades
1a aula
Na aula inicial da SD, os alunos assistirão ao curta-metragem intitulado Pajerama, de
2008, dirigido por Leonardo Cardaval. Duração 9min.Disponível em:
http://www.youtube.com/watch?v=BFzv0UhHcS0
O objetivo fundamental desse vídeo é provocar uma reflexão sobre como o modo de
vida Ocidental tem pressionado, transformado e até extinguido o modo de vida das
comunidades indígenas. Além disso, outras questões serão refletidas com os alunos
através de um debate para a melhor compreensão do que foi assistido, tomando
curta-metragem como documento:
1) Que lugar parece habitar o protagonista do vídeo? Por quê?
2) Que atividade o protagonista estava realizando no vídeo?
3) O que começou a impedi-lo de realizar essa atividade?
3
4) O vídeo dá a entender que o ambiente em que o protagonista vive pode ser
totalmente destruído? Como?
5) É possível, em nossa sociedade, convivermos com o progresso sem destruir a
natureza? De que forma?
6) Na opinião de vocês, no quê o diretor se baseou para contar essa história?
7) Há alguma parte do vídeo que não foi entendida?
8) Esse curta-metragem é a verdade ou representa a verdade?
2ae 3aaulas
O objetivo dessas aulas é fazer os alunos perceberem como o processo de ocupação
do que é hoje o Brasil foi ocorrendo, quem foram os principais agentes, e que
atividades econômicas vão sendo desenvolvidas em áreas que pertenciam a uma
grande diversidade de comunidades indígenas. Assim, dispostos em duplas, os alunos
receberão uma cópia de quatro mapas1 diferentes, a saber: mapa 1Entrada e
Bandeiras; mapa 2 Expansão Colonial; mapa 3 A Economia Brasileira no Século XVIII e
mapa 4 Definições das Fronteiras Brasileiras.Para facilitar a leitura dos mapas, os
mesmosserão projetados com o auxílio de um data show.
Responderão às seguintes perguntas:
1)Observando o mapa 1 e 2, responda:
a) Os colonos de origem portuguesa respeitavam o Tratado de Tordesilhas? Sobre quais
terras estavam avançando?
b) Em busca do quê esses colonos passaram a expandir o território?
c) Observando o mapa 2, qual o principal ponto de partida das expedições que
expandiram as terras portuguesas? Como ficaram conhecidas essas expedições?
2)Sobre os mapas 3 e 4, responda:
a) A partir da expansão colonial, áreas desconhecidas foram cedendo lugar a que tipos de
atividades econômicas?
1 Vide anexo 1.
4
b) As áreas indígenas na região sul, foram sendo ocupadas preferencialmente por qual
atividade econômica?
c) O mapa 4, que representa o século XVIII, mostra que o Tratado de Tordesilhas havia
sido substituído. Que atividade realizada pelos colonos contribuiu para isso?
d) Desde o início da colonização, a fundação de vilas, cidades, a realização de várias
atividades econômicas estavam avançando e modificando a vida de quais sociedades?
Isso tem algo a ver com o curta-metragem assistido na aula anterior?
4aaula
Nessa aula, seráretomado com os educandos as atividades expansionistas do Brasil
colonial, agora focando a região sul do atual Brasil. Deverá ser contextualizado o
interesse da Coroa portuguesa na região, que era muito propícia à agricultura e criação
de gado. A mando do rei de Portugal D. José I, o governador da capitania de São Paulo
mandou uma série de expedições civis e militares para o reconhecimento da região,
com o objetivo de expandir o território, disputado também por espanhóis. Essas
expedições iriam encontrar-se com os diversos habitantes nativos, entre eles os índios
kaingang.
Na sequência, os alunos serão questionados sobre o que entendem por sertão para
que percebam que esse termo não significa apenas a região da caatinga do sertão
nordestino, mas poderia ser qualquer região desconhecida pelos portugueses.
Novamente,dispostos em duplas, será encaminhada uma cópia do textoO Sertão de
Tibagi – exploração e conquista nas terras do Paraná2para leitura e reflexão conjunta
com o professor. Após, responderão a um pequeno roteiro de perguntas:
1) Por que espanhóis e portugueses disputavam a região do Tibagi?
2) Para tentar por um fim aos conflitos entre portugueses e espanhóis, o que o texto
sugere que foi feito em 1750?
3) A região do Tibagi era desocupada? Quem habitava essas terras?
2 Vide anexo 2.
5
5a aula
Nesta aula, será encaminhada a leitura fragmento do documento Relação do primeiro,
encontro q.e tivemos com os índios do Certão do Tibagy nos Campos de Varapoava aos
16 e 17 de Dezembro de 17713.
Novamente dispostos em duplas, será encaminhada uma cópia do fragmento do
documento para leitura e reflexão conjunta com o professor. Após, responderão a um
pequeno roteiro de perguntas:
1) Sobre a estrutura do documento:
a) Qual é a data desse documento?
b) Quem é o autor desse documento?
c) Para quem o autor está escrevendo? Qual a finalidade do documento?
d) A forma escrita desse documento é diferente da que utilizamos atualmente? Justifique
sua resposta citando uma parte do texto.
2) Sobre o que trata o documento:
a) Qual foi a reação do índio ao ver os exploradores?
b) Como o capitão impede que houvesse qualquer tipo de conflito?
6aaula
Retomando oralmente as conclusões a que chegaram as duplas sobre o primeiro
documento da expedição ao Tibagi, os alunos receberão cópias dodocumento2Anno
17724. Depois da leitura e explicação sobre possíveis dúvidas ou partes
incompreendidas do documento, os alunos serão dispostos em grupos de quatro
alunos por tratar-se de um fragmento maior e por isso mesmo, carregar uma maior
complexidade. Deverão responder o roteiro abaixo:
1) Sobre a estrutura do documento, qual é a sua data e local?
2) Qual a finalidade do documento?
3) Como no doc. 1, houve trocas de presentes? O que os exploradores ofertaram?
E os indígenas?
4) Qual foi a reação dos exploradores ao verem as mulheres índias?
3 Vide anexo 3.
4Idem.
6
5) Os indígenas perceberam qual era o objetivo dos exploradores? Qual foi a
estratégia criada por eles?
6) A partir dessa estratégia, os exploradores mudam a visão que tinham dos
kaingangs? Explique.
7) Os exploradores decidem partir. Isso nos leva a uma reflexão: os indígenas
aceitaram passivamente a presença do branco em suas terras? Explique.
8) Ainda hoje, as comunidades indígenas sofrem com invasões de suas terras.
Levando em consideração o que já discutimos em sala de aula, quem são os
maiores interessados em adquirir as terras indígenas?
7aAula
Para finalizar a SD, novamente dispostos em duplas, os alunos irão reescrever o
documento 2, mas sob a ótica dos indígenas kaingang. Antes de iniciar essa atividade,
oralmente os alunos refletirão sobre os seguintes questionamentos:
1) É possível ter mais de uma versão sobre um mesmo acontecimento?
2) O lado que se está numa determinada situação vai influenciar o modo
comonarrar o que se passou?
3) Se um indígena recontasse esse fato, como ele justificaria o fato de ter atacado
os exploradores?
O objetivo dessa atividade é justamente fazer os educandos compreenderem que os
documentos são carregados de intencionalidade, que captam os modos de ser, estar,
pensar, sentir daquele que escreveu e que esse sujeito histórico ocupa um
determinado lugar naquela sociedade e por isso, representa determinados interesses.
Bibliografia
BRITO, Eleonora Zicari Costa de O campo historiográfico - entre orealismo eas representações,
Universitas FACE – História, Brasília, v. 1, n. 1, p. 9-24, 20. Disponível
em:http://www.publicacoesacademicas.uniceub.br/index.php/face/article/view/593/3
88
Acesso em 27/10/13.
7
CAIMI, Flávia Eloisa Fontes históricas na sala de aula: uma possibilidade de produção
de conhecimento histórico escolar?, Anos 90, Porto Alegre, v. 15, n. 28, p.129-150, dez.
2008. Disponível em: http://seer.ufrgs.br/anos90/article/view/7963/4751 Acesso em
27/10/13.
DICIONÁRIO BRASILIANA USP. Disponível em: http://www.brasiliana.usp.br/pt-
br/dicionario/tipo/todos Acesso em 27/10/13.
DOCUMENTOS INTERESSANTES Para a História e Costumes de São Paulo Diversos, São
Paulo: Archivo do Estado de S. Paulo, vol. IV, 1896. Disponível em:
http://www.delphos.biblioteca.unesp.br/bd/bfr/or/10.5016_10-ORDCISP-01-
04_volume_04/#/5/zoomed Acesso em 27/10/13.
KARNAL, Leandro (org) História na sala de aula – conceitos, práticas e propostas, São
Paulo: Contexto, 2004.
LAVILLE, Christian A guerra das narrativas: debates e ilusões em torno do ensino de
História, Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 19, nº 38, p. 125-138. 1999.
Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbh/v19n38/0999.pdf Acesso em 27/10/13.
NAPOLITANO, Marcos Como usar o cinema em sala de aula, São Paulo: Contexto, 2003.
PICANÇO, J. de L., MESQUITA, M. J. O Sertão do Tibagi, os diamantes e o mapa de
Angelo Pedroso Leme (1755), Anais do I Simpósio Brasileiro de Cartografia Histórica,
Paraty, 2011. Disponível em:
https://www.ufmg.br/rededemuseus/crch/simposio/PICANCO_JEFFERSON_E_MESQUI
TA_MARIA_JOSE.pdfAcesso em 05/11/2013.
RODRIGUES, Maria R. O uso de documentos históricos em sala de aula. Escola da Vila.
200?. Disponível em: http://www.escoladavila.com.br/refle_pedag/maria_cs.pdf
8
TAKATUZI, Tatiana Águas batismais e santos óleos: uma trajetória histórica do
aldeamento de Atalaia, Tese de Mestrado, UNICAMP, 2005. Disponível
em:http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=vtls000374021Acesso
em 23/10/2013.
9
Anexo 1
Mapa 1: Entradas e Bandeiras
Fonte: FERREIRA, A. C.,IVANO, R. A conquista doSertão, São Paulo:Atual, 2002, p. 22.
10
Mapa 2: Expansão da conquista colonial
Fonte: CAMPOS, F.,DOLHNIKOFF, M. Atlas História do Brasil, São Paulo: Scipione, 1998, p. 17.
11
Mapa 3: A economia brasileira no século XVIII
Fonte: CAMPOS, F., DOLHNIKOFF, M. Atlas História do Brasil, São Paulo: Scipione, 1998, p. 15.
12
Mapa 4: Definições das Fronteiras Brasileiras
Fonte: VICENTINO, C.,DORIGO, G. História Para o Ensino Médio, São Paulo: Scipione, 2000, p. 229.
13
Anexo 2
O Sertão de Tibagi∗∗∗∗ – exploração e conquista nas terras do Paraná.
Texto didático elaborado pela professora Giovana Fanelli
Durante o período colonial, a região do Tibagi era utilizada como rota que ligava o
Paraguai ao Peru e foi muito disputada tanto por espanhóis como por portugueses que
buscavam conseguir mão-de-obra indígena e encontrar metais preciosos. Nos séculos
XVII e XVIII,esse lugar conviveu com presença das reduções indígenas – aldeamentos
jesuítas para a catequização de indígenas, e sofreu constantemente com ataques de
paulistas.
Com a descoberta de ouro e diamantes em meados de 1750, as expedições militares
que partiam de São Paulo tornaram-se mais constantes. Paralelamente, Portugal e
Espanha negociavam novo acordo de limites de território entre suas colônias. É dessa
época o Tratado de Madri que desenharia os limites do Brasil, relativamente próximo
ao que conhecemos hoje.
Terras férteis, boa para cultivo e criação de gado e a expectativa de extração de
riquezas minerais fez com que o governador da capitania de São Paulo, D. Luiz Antonio
de Souza Botelho Mourão∗∗ recebesse ordens da Coroa portuguesa para expandir as terras
da colônia em direção ao sul.
Entre os anos de 1769 e 1775, muitas bandeiras militares saíram de São Paulo com o
objetivo de explorar a região sul da colônia e tomar posse efetiva das terras para
Portugal. Isso mobilizou uma infinidade de pessoas que se arriscaram nos sertões,
deixaram suas famílias, enfrentaram fome, doenças e o medo do desconhecido.
Por outro lado, havia os ancestrais daquelas terras que já habitavam há muito tempo e
logo perceberam o que significava a presença do colonizador. Os kaingangstiveram
que criar várias estratégias para lutar pela posse de suas terras e para manter seu
modo de viver. Essas comunidades ofereceram forte resistência à ocupação, chegando
mesmo a expulsar a bandeira de Affonso Botelho Sampaio e Sousa no vale do Iguaçu. É
sobre a bandeira realizada por esse fidalgo português, entre os anos de 1771 e 1772,
que analisaremosos documentos históricos a seguir.
∗ Região do oeste doParaná. ∗∗Governou a capitania durante dez anos, entre 1765 e 1775.
14
Anexo 3
Doc. 1 – Relação do primeiro, encontro q.etivemos
com os índios do Certão do Tibagy nos Campos de
Varapoava aos 16 e 17 de Dezembro de 1771.
(...) o Cap.m Carneiro e mais exploradores dando m.tas salvas (...) Contarão, que havendo marchado pouco mais de hûaLegoa, encontrado hû rancho queimado, e mais adiante em hû Lago hûIndio com sinco filhos tirando pinhoens, que vendo-os arrebatadam.efugirão, e (...) fazendo Logo ao longe sinais depás batendo as palmas com oq.e parou o Indiosobresaltado, em extremo aSustadodoque logo o tirarão dando-lhe o Tenente hûbarrete de pizão encarnado, no que duvidou pegar o Indio, mas deitando-o de sima do Cavallo o apanhou antes que chegasse a terra ficando alegre, e muito mais q.do o mesmo Tenente despiohûaximana de baeta cor derrosaq.elevava vestida, e lhe deo, q.eficando muito contente pegou nella, abraçou muito mais alegre (...) Diogo Boeno e outro Camarada deo outro lenço, e abraçarão mto aos pequenos mostrando-lhe muito agrado, com que o Pay ficou muito satisfeito dando abraço atodos, e praticando por acenos p.rSelhenão entender a lingoa, dizendo-lhe donde estavamosaranxadosprmeteu de vir no dia seguinte (...) com mais companheiros. Os nossos Camaradas q.etinham hido a cassa no matto Ouvindo nelle o estrondos das Salvas entendendo estavamos atacados do gentio acudirão atoda apreça, mas certificados daquele felis encontro Soavisarão com alegria o pesar da perda da cassada (...). In DOCUMENTOS INTERESSANTES Para A História E Costumes De São Paulo, p.86/87. Disponível em: http://www.delphos.biblioteca.unesp.br/bd/bfr/or/10.5016_10-ORDCISP-01-04_volume_04/#/91/zoomed
Vocabulário: Aranxados: estabelecido, hospedado. Arrebatadam.e: (arrebatadamente) ir para longe e repentinamente. Barrete de pisão encarnado: chapéu de pano vermelho. Cap.m: Capitão Gentio: pagão, idólatra, que não é civilizado. Pay: pai. Pesar: sentimento ou dor interior, mágoa, desgosto. Ximana de baeta: capa de lã.
Quem foi Afonso de Botelho
Sampaio e Sousa, autor do
documento:
Era um fidalgo português
quechegou a São Paulo em 1765,
como Ajudante de Ordens do
Governador da Capitania de São
Paulo.
D. Luiz Antonio de Souza
Botelho Mourão, o governador
de capitania de São Paulo, era
seu tio, e sob suas ordens, foi
responsável por organizar
grandes expedições aos sertões
oeste do atual estado do Paraná,
que abrangiam desde os Campos
Gerais até o rio Paraná.
Fonte: TAKATUZI, Tatiana Águas Batismais e Santos Óleos:Uma Trajetória Históricado Aldeamento De Atalaia, Tese de Mestrado, UNICAMP, 2005, p. 15. Disponível em: http://www.bibliotecadigital.u
nicamp.br/document/?code=vt
ls000374021Acesso em
23/10/2013
15
Doc. 2- Anno de 1772
(...) Aos 8 [de janeiro] Logo demanhã Se dispôs Sua Sr.aair ver o citio aonde formava
tenção dar principio a fortalesa(...) seviohû grande lote de Indios (...)mais de sento e
sincoentaIndios, e p.rq.emarchavão apressados direitos ao porto julgamos vinhão como
tinhão prometido. (...) Vinhão tocando suas gaitas em tacoaras (...) forão dos
nossosalguns recebelos com migo, com o mesmo carinho e agrado chegarão ao nosso
quartel (...) vinhão algumas mulheres, foram logo vestidas, e preparadas de saias (...)
Contas missangas, brincos, espelhos, e muitas mais cousas, aos homens tangas de xitas
riscadas (...) trouxerão milho verde, q.eoffertavão e na mesma forma bollos de milho
tão ascorosos, q.e só o desejo de os agradar tirava o horror de os aSeitar (...) todos hião
convidando-os (...) em passar o rio com elles cada hûp.r sua vez Manoel Pinto, José
Pinto, Vicente Domingues (...) todos a pé, e sem armas (...). O Cap.m Carneiro, q.eia a
Cavallo (...) continuava para onde elles o guiavão, acompanhado-o sempre um grande
numero de gentio, mas como ficava alto pôde ver a hû dos Camaradas morto no xam e
conhecer a traição, dissimulou, e tanto q.e pôde ganhar alguma distancia deu de
esporas ao Cavallo e a toda carreira pôde ganhar hû passo pela banda debaixo,
estando todo o alto coberto de Indios, correndo venceu a escapar-lhe com a
afellicidade com lhe não acertaram com as infinitas frexas (...).
(...) Deus que conhecia o nosso interior, gosto edesejo, qe tínhamos da redução
daqueles bárbaros (...) q.e se fasião tão domésticos, e familiares, e com tanta maldade
qe se observou depois serem os bollosqe deram envenenados p.rqehû único cão que
comeo deles logo morreo.
(...)
A 11 de janeiro partimos com as cautelas possíveis p.a evitar os assaltos q.epoderíamos
ter, principal.ese nos tivessem tomado a entrada do matto: Deosq.e nos Livrou de
tantos perigos, nos Livrou tãobem deste, dando-nos felis viagem(...).
Hé o que se passou na entrada e descobrimento dos Campos de Vorapoava com o
Gentio da Nação Choelan.
Curiytyba, 31 de Janeyro de 1772.”
In DOCUMENTOS INTERESSANTES Para A História E Costumes De São Paulo, p.102,103,104,105 e 107. Disponível em: http://www.delphos.biblioteca.unesp.br/bd/bfr/or/10.5016_10-ORDCISP-01-04_volume_04/#/91/zoomed
Vocabulário Ascoroso: que causa asco, nojo, repugnância. Fortalesa: (fortaleza)fortificação, praça de guerra, castelo, forte. Tacoaras: (taquara -dotupi takuára) nome vulgar das diversas espécies de bambu. Xam: chão.