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7/25/2019 Arquivo - Senado-vol1 http://slidepdf.com/reader/full/arquivo-senado-vol1 1/65 S O Senado na História do Brasil Volume 1

Arquivo - Senado-vol1

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    SO Senado na Histria do Brasil

    Volume 1

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    De segunda a sexta-feira, a verso

    impressa do Jornal do Senado

    distribuda gratuitamente em

    diferentes pontos do Congresso

    Nacional, da Rodoviria do Plano

    Piloto e do Aeroporto de Braslia. Asnotcias publicadas permitem aos

    cidados conhecer em detalhes

    os trabalhos desempenhados

    pelos senadores diariamente, tanto

    no Plenrio quanto nas vrias

    comisses.

    O Jornal do Senado, que

    comeou a circular em maio de

    1995, soma-se ao Portal de Notcias,

    TV Senado e Rdio Senado para

    compor os veculos de comunicao

    que contribuem para tornar a Casa

    um exemplo de transparncia no

    poder pblico.

    OJORNAL DO SENADO

    O Jornal do Senadotambm

    pode ser lido na internet:

    www.senado.leg.br/jornal

    O ARQUIVO S

    A seoArquivo S, publicada pelo

    Jornal do Senadodesde 2014, revela um

    pouco da riqueza dos documentos hist-

    ricos que esto sob a guarda do Arquivo

    do Senado. A cada ms, um episdio da

    histria do Brasil escolhido para ser nar-rado a partir dos pronunciamentos e dos

    projetos de lei dos senadores da poca.

    Por meio dessas reportagens, percebe-se

    que o Senado sempre foi protagonista da

    histria nacional.

    A seoArquivo S, resultado de uma

    parceria entre o Jornal do Senadoe o Ar-

    quivo do Senado, publicada na primeira

    segunda-feira de cada ms e vem acom-

    panhada de vdeos do Portal de Notcias

    e de programas da Rdio Senado.

    OArquivo Stambm pode

    ser lido na internet:

    www12.senado.leg.br/jornal/arquivo-s

    Personagens da capa (em sentido horrio):

    Getlio Vargas, Jos Sarney, Pel, Joo Figueiredo, duque de Caxias,

    kaiser Guilherme II, dom Pedro II, Deodoro da Fonseca,

    Tancredo Neves, Juscelino Kubitschek, Solano Lpez e Ruy Barbosa

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    S

    O Senado na Histria do Brasil

    Volume 1

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    R W

    B B

    O Senado na Histria do Brasil

    S

    Volume 1

    SENADO FEDERAL

    Mesa

    Binio 20152016

    Senador Renan Calheiros

    PRESIDENTE

    Senador Jorge Viana

    PRIMEIRO-VICE-PRESIDENTE

    Senador Romero Juc

    SEGUNDO-VICE-PRESIDENTE

    Senador Vicentinho AlvesPRIMEIRO-SECRETRIO

    Senador Zeze Perrella

    SEGUNDO-SECRETRIO

    Senador Gladson Cameli

    TERCEIRO-SECRETRIO

    Senadora ngela Portela

    QUARTA-SECRETRIA

    SUPLENTES DE SECRETRIO

    Senador Srgio Peteco

    Senador Joo Alberto Souza

    Senador Elmano Frrer

    Senador Douglas Cintra

    ___________________

    Ilana rombka

    DIRETORA-GERAL

    Luiz Fernando Bandeira

    SECRETRIO-GERAL DA MESA

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    A histria do Brasil passa, h quase dois sculos, pelo Senado, primei-

    ramente Senado do Imprio, depois Senado Federal.

    Reuniu-se o Senado a 5 de maio de 1826, sob a presidncia do Mar-

    qus de Santo Amaro, composto por 50 senadores nomeados pelo impera-

    dor. No havia, naquele tempo, homens com qualquer experincia parla-

    mentar. Apenas alguns dos senadores haviam vindo da Constituinte, onde,

    como deputados, traziam a alma impregnada das mais generosas ideias.

    Havia o desejo e a noo do Parlamento. Mas ningum sabia o que era um

    Parlamento.

    Apesar de um ou outro foco de resistncia na Independncia e, mais

    tarde, de revoltas e revolues, esta nao foi feita sob a gide do poder

    poltico, que a sntese de todos os poderes. Fomos feitos atravs da cons-

    truo de instituies que nasceram na Cmara e no Senado.

    Capistrano de Abreu, um de nossos maiores historiadores, teve aoportunidade de fixar bem isso quando disse que duas instituies foram

    responsveis pela unidade nacional, pela construo deste grande pas,

    mantendo a sua unidade: o Poder Moderador do imperador e vamos

    pensar como h dois sculos, e no como hoje e a vitaliciedade do Se-

    nado, que para ns parece um absurdo. Ambos tinham como base o pen-

    samento de Benjamin Constant, que dizia que essa era a casa da dura-

    o, onde existia a ideia da perenidade, da estabilidade. Foram justamente

    o Senado e o Poder Moderador que conseguiram, ao longo do Imprio,

    construir a unidade nacional. Foram esses dois instrumentos que identifi-

    camos, hoje e ao longo da nossa histria, como to importantes.

    O Senado ajudou a construir o Brasil

    Prefcio

    Jos Sarneyex-presidente da Repblicae ex-presidente do Senado

    SECRETARIA DE COMUNICAO SOCIAL

    Diretora:Virgnia Malheiros Galvez

    Diretora-adjunta: Edna de Souza Carvalho

    Diretora de Jornalismo:Ester Monteiro

    SECRETARIA AGNCIA E JORNAL DO SENADO

    Diretor:Ricardo Icassatti Hermano

    Diretor-adjunto:Flvio Faria

    Servio de Arte:Bruno Bazlio

    Coordenao de Cobertura: Rodrigo Chia

    Servio de Reportagem: Sheyla Assuno

    Servio de Fotografia:Leonardo Alves S

    Coordenao de Edio: Silvio BurleServio de Portal de Notcias: Mikhail Lopes

    JORNAL DO SENADO

    Editor-chefe: Marcio Maturana

    Edio e reviso: Cintia Sasse, Fernanda Vidigal,

    Juliana Rebelo, Juliana Steck, Pedro Pincer,

    Ricardo Westin e atiana Beltro

    Diagramao: Beto Alvim, Ronaldo Alves

    e Wesley Moura

    Pesquisa de fotos: Braz Flix

    Tratamento de imagem: Afonso Celso F. A. Oliveira

    e Roberto Suguino

    Arte:Cssio S. Costa, Claudio Portella, Diego Jimenez

    e Priscilla Paz

    EQUIPE DE MU LTIMDIA

    Edio:James Gama, Maurcio Muller

    e Andr Fontenelle

    Imagens:Adriano Kakazu e adeu Sposito

    Finalizao: Bernardo Ururahy

    SECRETARIA DE GESTO DE INFORMAO

    E DOCUMENTAO

    Diretor:Mrcio Sampaio Leo Marques

    Coordenao de Arquivo:Wnis de Almeida Batista

    Servio de Arquivo Histrico:Rosa Maria Gonalves

    Vasconcelos

    Arquivista: Betnia dos Santos GuedesEstagirios: Bruno Alves Dourado Pereira

    e Leonardo Pereira dos Santos

    Colaborao: Jefferson Dalmoro (Rdio Senado),

    Biblioteca do Senado, Servio de Pesquisa e

    Atendimento ao Usurio e Servio de Pesquisa

    Legislativa

    Expediente

    Westin, Ricardo.

    Arquivo S / Ricardo Westin, textos ; Bruno Bazlio, ilustraes.

    Braslia : Senado Federal, 2015.

    121 p. : il. (O Senado na histria do Brasil ; v. 1)

    Reportagens publicadas em 2014 e 2015 pelo Jornal do Senado

    com base no acervo do Arquivo do Senado Federal.

    1. Brasil. Congresso Nacional. Senado Federal, histria. 2. Poder

    legislativo, histria, Brasil. I. tulo. II. Srie

    CDD 328.8109

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    O Parlamento , em cada lugar, um reflexo da sua poltica. Um reflexo

    que se faz nos homens e nas transformaes. O Senado Federal tem, ento,

    essa grande posio na histria poltica brasileira. Grandes nomes por ele

    passaram. Quase todos os grandes polticos brasileiros nele estiveram. O

    outro reflexo do pas na poltica no campo das transformaes, das ideias

    transformadas em atos que conduzem evoluo da prpria sociedade.

    Muitas vezes, ns nos esquecemos do que foi a construo poltica do Bra-

    sil, das ideias que fizeram este pas. Ao longo do tempo, as ideias civilistas,

    os ideais democrticos e os ideais de liberdade construdos no deixaram

    frutificar as ideias ditatoriais. Fazem parte da alma e do povo brasileiro.

    Por meio de qu? Por meio da pregao dos homens pblicos que tivemos.

    O Congresso, como expresso do liberalismo, ao longo do tempo, so-

    freu as modificaes da poltica.

    O velho Senado funcionava como um freio conservador, no sentido

    no exclusivamente partidrio do termo, ao mpeto da Cmara temporria.

    O Senado a Casa da Federao. Desde o princpio do pas, falava-se

    em Federao. O Imprio era um Estado unitrio. Os imprios sempre fo-

    ram Estados unitrios. Dizia-se que isso era essencial unidade nacional.

    Mas essa ideia comeou a crescer. E Ruy Barbosa se tornou o grande patro-

    no da ideia do federalismo, junto com Joaquim Nabuco. De tal modo que

    ele, que fora monarquista e ainda no havia aberto o ideal para ser republi-

    cano, dizia: Faamos o federalismo com monarquia ou sem monarquia.

    O advento da Repblica redefiniu a funo do Senado. Formalmen-

    te, como instituio, no houve modificao essencial em sua estrutura e

    prerrogativas. Politicamente, porm, e do ponto de vista doutrinrio, seu

    peso cresceu de ponto. O Senado tornou-se o guarda da Federao. Nele serepresentam paritariamente os interesses permanentes dos estados. am-

    bm era assim no Imprio. Mas a Monarquia, forma centralizada de Esta-

    do, impunha a prevalncia da corte sobre as provncias, dando ao Senado a

    funo de um conselho privilegiado, que, apesar de ter altura poltica, no

    desempenhava essencialmente funes polticas.

    Ao longo do tempo acabou-se o Senado antigo, da poca do discur-

    so. O Poder Legislativo passou por profundas modificaes. Porm, a nos-

    talgia dos tempos gloriosos no deve jamais obscurecer a importncia do

    Congresso nos nossos dias e, principalmente, do Senado.

    O nosso Congresso pode orgulhar-se de ser parte importante da vida

    brasileira, e o pas nasceu dentro dele, com seus defeitos e suas virtudes.

    A instituio parlamentar, hoje, um patrimnio do pas, do seu estilo de

    vida, do seu destino poltico.

    A verdade que sem Parlamento no h democracia, sem democracia

    no h liberdade e sem liberdade o homem apenas uma aspirao de en-

    gordar. Para indcios de que vivemos uma poca de transio h sintomas

    de restaurao.

    Hoje o Parlamento brasileiro tem uma singular particularidade. Seus

    debates tm a fiscalizao diria, o acompanhamento imediato, em tempo

    real, de todos. As decises so abertas e delas participa a opinio pblica

    mobilizada e atenta, engajada e apaixonada, sem necessitar da saturao do

    tempo. As reunies so televisionadas pelos nossos rgos de comunicao

    interna, que passam a ter uma importncia nunca pensada. As televises

    privadas so obrigadas a seguir o nosso ritmo para no perder audincia.

    Os fatos imediatamente so construdos e as evidncias se realizam diante

    de todos.

    A ideia do Parlamento, da representatividade, , sem dvida, o cora-

    o da democracia. Desde a primeira vez em que se falou em democracia,

    desde o discurso de Pricles aos mortos da Guerra do Peloponeso, at hoje,

    podem dizer tudo do Parlamento, mas no se descobriu instituio melhor

    para se exercer o processo democrtico. Churchill dizia que a democracia

    muito ruim, mas no temos nada melhor.

    No Parlamento o Brasil foi criado, a Federao foi formada pelo tra-

    balho dos polticos brasileiros. No Parlamento encontram-se todas as so-

    lues dos nossos problemas, pois ele o lugar em que o povo pode ques-

    tionar tudo, inclusive o prprio Parlamento.O Congresso Nacional a instituio do povo. Com a simples fora

    das palavras e das ideias, a nao existe, vive e representada. Quando o

    Parlamento se fecha, baixa o silncio sobre todos os direitos, porque o povo

    no tem aquela expresso da Casa qual recorre a fim de reivindicar seus

    direitos e formar sua conscincia.

    Finalmente, a grandeza da instituio legislativa a sua essncia. Nin-

    gum descobriu at hoje outra que a substitusse. Quanto aos homens, se-

    nadores, eles passam. Mas a soma de todos menor que a instituio.

    A glria legislativa feita de lampejos, de instantes, de momentos fu-

    gidios. Da vaidade de um discurso, de um parecer, de uma emenda, de

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    uma lei, de um momento de brilho que, em seguida, sepultado nos anais.

    Mas a instituio sempre um sol. Quando ele se apaga ou sua luz

    esmaece, a escurido ou a penumbra cai sobre os povos.

    E hoje, quando o Brasil cresceu, desenvolveu-se, tornou-se o pas que

    , ns s temos o Senado como expresso da unidade nacional, porque

    aqui, falando em nome de todos os estados, ns somos todos iguais: trs re-

    presentantes de cada estado. No h diferenas. O centro-sul, por exemplo,

    tem a hegemonia poltica, tem a hegemonia econmica, tem a hegemonia

    de recursos humanos. O nico ponto de coeso o Senado Federal, no

    qual esto representantes iguais de cada um dos estados. Nele se defende o

    menor estado que seja. Nele o senador defende uma lei na qual seu estado

    no pode ser prejudicado; isso assegura a unidade nacional.

    Por quatro vezes exerci a Presidncia do Senado Federal sob o com-

    promisso de sempre modernizar a Casa. Foi um desafio em que contei com

    o apoio do corpo de funcionrios que reputo dos melhores do Brasil e

    com a dedicao de senadoras e senadores.

    Ao corrigir os problemas de divulgao de nossas atividades, tarefa

    essencial para a publicidade, que um postulado que vem da Constituio

    de 1824 (artigo 70), senti a necessidade de modernizar o nosso contato com

    a sociedade. Criamos ento, em respeito transparncia e para a cidada-

    nia, a V Senado, pioneira na transmisso da atividade parlamentar. Com

    ela o prprio comportamento dos senadores se modificou, com aumento

    significativo de suas participaes em Plenrio e comisses, tambm co-

    bertas por nossos ser vios de V. Mas o mais importante que o cidado

    pode acompanhar, continuamente, o essencial do debate parlamentar, com

    a exposio dos assuntos de interesse dos estados e da Federao pelos se-nadores, com a discusso e votao de resolues, projetos de lei, medidas

    provisrias, emendas constitucionais.

    A partir dessa tomada de posio, prosseguimos na busca contnua

    de transparncia dos trabalhos legislativos e das prprias atividades-meio

    da Casa. Assim, criamos o complexo de meios da Secretaria de Comu-

    nicao Social Jornal, V, Rdio, Agncia, revista Em Discusso!, Al

    Senado, DataSenado, programa de visitao, servio de Publicidade, Portal

    de Notcias , que atende a milhes de brasileiros. A V Senado e a Rdio

    Senado funcionam 24 horas por dia. H uma intensa e frtil interlocuo

    com a sociedade.

    O Jornal do Senadopublica, desde 2014, uma seo mensal, o Ar-

    quivo S, com reportagens sobre a histria do Brasil que, reunidas, so aqui

    apresentadas. Elas utilizam os arquivos do Senado Federal para mostrar os

    principais acontecimentos dos ltimos 190 anos.

    As reportagens, feitas por Ricardo Westin, resgatam o acervo do Ar-

    quivo do Senado e trazem a anlise de historiadores e o testemunho de

    contemporneos dos acontecimentos.

    A memria das instituies preservada no apenas para fins formais

    e tcnicos, mas, sobretudo, para servir de referncia para o presente e o fu-

    turo. Sem ela no poderamos saber como os acontecimentos se passaram,

    suas causas e consequncias. Divulg-la , assim, tarefa essencial.

    Arquivo S O Senado na histria do Brasil uma contribuio im-

    portante ao acesso da populao matria armazenada em nossos arqui-

    vos e participao do Senado Federal nos principais momentos da for-

    mao de nosso pas.

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    Sumrio

    Introduo

    Imprio - Falas do trono - 1823 a 1889

    Imprio - Guerra do Paraguai - 1864 a 1870

    Repblica da Espada - Criao da bandeira nacional - 1889

    Repblica do Caf com Leite - 1 eleio presidencial direta - 1894

    Repblica do Caf com Leite - 1 Guerra Mundial - 1914 a 1918

    Repblica do Caf com Leite - Palcio Monroe - 1925 a 1976

    Repblica de 46 - Fundao da Petrobras - 1953

    Repblica de 46 - Suicdio de Getlio Vargas - 1954

    Repblica de 46 - 1 ttulo do Brasil em Copa do Mundo - 1958

    Repblica de 46 - Mudana da capital para Braslia - 1960

    Nova Repblica - Morte de Tancredo Neves - 1985

    Uma viagem pela memria do Senado e do Brasil

    Discursos do imperador iam da abolio ao tombo da imperatriz

    150 anos depois, guerra ainda ferida aberta no Paraguai

    Bandeira nacional enfrentou resistncias at ser aceita

    No fim do sculo 19, pouco eleitor e muito candidato

    Senador foi crucial para entrada do Brasil na 1 Guerra

    Que fim levou o Palcio Monroe?

    Criao da Petrobras rachou o Senado em 1953

    Senado ficou perplexo ante suicdio de Getlio, em 54

    Senadores vibraram na conquista da 1 Copa

    Oposio fez campanha contra mudana para Braslia

    Em 1985, a madrugada mais longa da Repblica

    Pgina

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    Desde 2014, o Jornal do Senadopublica uma seo mensal com basenos documentos antigos e de valorincalculvel que esto guardados no

    Arquivo da Casa e ajudam contar osprincipais episdios da histria do pas

    Uma viagempela memriado Senado e

    do Brasil

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    uando os primeiros senadores do Brasil tomaram posse, em

    1826, eles t iveram de fazer um juramento pblico aos Santos

    Evangelhos, no Pao do Senado, no Rio de Janeiro. Cada um

    deles prometeu ser leal ao imperador e manter a religio

    catlica apostlica romana.

    Escrito h dois sculos, com caneta tinteiro, o documento original

    contendo o juramento dos senadores do Imprio um dos inmeros pa-

    pis de valor incalculvel que esto sob a guarda do Arquivo do Senado,

    em Braslia. Est entre os documentos mais antigos do acervo.

    Em 2014, o Jornal do Senadocriou uma seo mensal que explora

    a riqueza histrica desses papis. A seo Arquivo S publicada sempre

    na primeira segunda-feira de cada ms, com reportagens que apresentam

    documentos importantes que esto guardados no Arquivo do Senado e

    ajudam a compreender a histria do Brasil.

    O acervo est protegido em salas com controle de temperatura e umi-

    dade, de modo a impedir a proliferao de fungos que, com o passar do

    tempo, danificam os papis. So documentos to delicados que s podem

    ser tocados com luvas.

    O Arquivo do Senado preserva o pronunciamento que dom Pedro I

    fez na abertura dos trabalhos do Senado e da Cmara dos Deputados, numa

    cerimnia na manh de 6 de maio de 1826, um sbado, no Pao do Senado.

    No discurso, ele disse que sentira pesar em 1823 ao dissolver a Assembleia

    Nacional Constituinte.

    A Assembleia foi criada com o objetivo de redigir a primeira Consti-

    tuio do Brasil, um ano aps a Independncia. No anteprojeto em gesta-

    o, porm, os constituintes dariam ao imperador menos poderes do que

    ele esperava. Dom Pedro I reagiu ordenando s tropas que invadissem a

    Assembleia. O episdio entrou para a histria como Noite da Agonia. Ele,

    ento, formou uma comisso com gente de sua confiana para propor um

    texto constitucional exatamente a seu gosto prevendo, ao lado do Exe-

    cutivo, do Judicirio e do Legislativo, o Poder Moderador, que garantia

    poderes absolutos ao monarca.

    O Poder Legislativo, que havia sido extinto em 1823, aps poucos

    meses de existncia, s voltaria a nascer naquele sbado de 1826, quando

    o imperador fez o discurso no Senado. Explica Antonio Barbosa, con-

    sultor legislativo aposentado do Senado e historiador da Universidade de

    Braslia (UnB):

    No de se estranhar que dom Pedro I tenha dito que havia dis-

    solvido a Assembleia com pesar. O discurso poltico sempre foi assim. O

    imperador participava da instalao do Poder Legislativo e, naturalmente,

    falou tudo o que pde em louvor ao Legislativo. Ele se penitenciou de ter

    fechado a Assembleia, mas no de ter feito uma Constituio do seu jeito.A penitncia nada mais foi do que uma retrica do jogo poltico.

    Entre os documentos mais valiosos guardados no Arquivo do Sena-

    do, est a Lei urea, de libertao dos escravos, assinada em 1888 pela

    princesa Isabel. ambm esto nas salas climatizadas do Arquivo os pro-

    jetos de lei que tramitaram nestes quase 200 anos de histria da Casa, as

    atas de reunies dos senadores e os relatrios produzidos pelas comisses

    parlamentares de inqurito (CPIs).

    Se todos os papis do Arquivo fossem enfileirados, como numa estan-

    te de livros, eles se estenderiam por 16 quilmetros seis vezes a exten-

    so da Avenida Paulista, quatro vezes a da Praia da Copacabana ou toda aFuncionria do Arquivo do Senado mostra documentos do Imprio: enfileirados comolivros numa estante, acervo completo cobriria seis vezes a extenso da Avenida Paulista

    Q

    LIADEPAULA/AGNCIASENADO

    1514

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    extenso do Plano Piloto de Bra-

    slia. Em cada ms, a seo Ar-

    quivo Strata de um episdio his-

    trico diferente.

    Wnis de Almeida Batis-

    ta, coordenador do Arquivo do

    Senado, diz que os documentos

    arquivados servem tanto ao Se-

    nado quanto histria:

    Os documentos que

    guardamos so produzidos como

    parte das atividades legislativas e

    administrativas do Senado. Com

    o passar do tempo, eles acabam

    se transformando em retratos

    histricos do Senado e, mais do

    que isso, do Brasil.

    De acordo com Jorge Vivar,

    coordenador do curso de Arqui-

    vologia da Universidade Federal

    do Rio Grande do Sul (UFRGS),

    arquivos como o do Senado, alm

    de preservarem a memria do

    pas, so agentes proativos de ci-

    dadania:

    Com as recentes Comisses da Verdade, que se debruaram sobrea ditadura militar, os arquivos ganharam uma importncia imensa. Por

    meio dos papis que eles guardam, a sociedade pde conhecer a verdade e

    fazer justia.

    Documento histrico do Arquivo do Senado que contm ojuramento de posse dos primeiros s enadores, e m 1826

    Um senador do Imprio pintado peloartista francs Jean-Baptiste Debret

    H muitas diferenas entre o Senado do Imprio e o de hoje. Cabia ao

    imperador decidir qual dos trs mais votados em cada provncia se tornaria

    senador (a eleio agora direta). Os senadores s eram substitudos quan-

    do renunciavam ou morriam (hoje h mandato, de oito anos).

    Para tornar-se senador, o poltico precisava ter pelo menos 40 anos

    (atualmente so 35 anos) e comprovar no mnimo 800 mil ris de renda anu-

    al (a exigncia de renda foi extinta). O juramento de posse tambm era dis-

    tinto. Os primeiros senadores, segundo um documento da poca guardado

    no Arquivo do Senado, diziam o seguinte: Juro aos Santos Evangelhos cum-

    prir fielmente as obrigaes de senador, manter a religio catlica apostlica

    romana, a integridade do Imprio, observar e fazer observar a sua Constitui-

    o Poltica, ser leal ao imperador e promover o bem geral da nao.

    Hoje, no h referncia a religio. Explica o historiador Antonio Bar-

    bosa, da Universidade de Braslia (UnB):

    O catolicismo era a religio oficial do Brasil. O Estado no era lai-

    co. Para ocupar cargos pblicos, votar e ser votado, o cidado tinha que ser

    catlico. Como comparao, o que ocorre hoje no Ir. O pas se chama

    Repblica Islmica do Ir. O Brasil s deixou de ter religio oficial ao se

    tornar Repblica.

    REPRODUO

    ARQUIVODOSENADO

    O Senado ontem e hoje

    Oua udio da Agncia Senado: http://bit.ly/AntonioBarbosa

    1716

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    Com discursos solenes, chamados de falas dotrono, os imperadores Pedro I e Pedro II e osregentes abriam e encerravam o ano de trabalhodos senadores e deputados. Os papis originaisesto no Senado e foram tombados pela Unesco

    Discursos doimperador iamda abolioao tombo daimperatriz

    1918

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    O imperador dom Pedro II retratado na falado trono pelo pintor Pedro Amrico: coroa, cetro,manto e mura de penas de papo de tucano

    Sempre no primeiro dia do ano legislativo, o presidente da Repbli-

    ca cumpre o dever imposto pela Constituio e envia ao Congres-

    so Nacional a mensagem presidencial. rata-se do documento em

    que o governo faz um balano do ano que se encerrou e enumera

    as prioridades do pas para o ano que se inicia.

    O ritual mais antigo do que se imagina. Foi dom Pedro I quem o

    inaugurou, dois sculos atrs, em 1823. O documento se chamava fala do

    trono. Hoje, o presidente da Repblica apenas remete a mensagem ao Po-

    der Legislativo. No perodo imperial, o monarca comparecia ao Palcio

    Conde dos Arcos, a sede do Senado, no Rio, e proferia a fala do trono

    numa concorrida cerimnia, deixando claro o que esperava dos senadores

    e deputados naquele ano.

    Na abertura dos trabalhos legislativos de 1826, por exemplo, dom Pe-

    dro I pediu aos parlamentares:

    Deve merecer-vos sumo cuidado a educao da mocidade de am-

    bos os sexos.

    O Brasil oferecia escola apenas para os meninos. A palavra do impe-

    rador foi decisiva. No ano seguinte, o Senado e a Cmara aprovaram uma

    lei determinando que se instalassem escolas de primeiras letras para me-

    ninas nas cidades mais populosas.

    Dom Pedro II herdou a tradio das falas do trono. Em 1853, ele apre-

    sentou outra prioridade:

    Recomendo-vos a criao de um banco, solidamente constitudo,

    que d atividade e expanso s operaes do comrcio e indstria.

    Naquele momento, apenas bancos privados operavam no Imprio. O

    Banco do Brasil, fundado por dom Joo VI em 1808, no suportara as pol-pudas retiradas feitas pela corte portuguesa antes do regresso para Lisboa

    e acabara indo bancarrota em 1829. Faltava um banco estatal. Passados

    dois meses da fala do trono, os senadores e deputados avalizaram a criao

    do segundo Banco do Brasil, o mesmo que existe at hoje.

    Nos nove anos entre a abdicao de dom Pedro I e a subida de dom

    Pedro II, os pronunciamentos foram proferidos pelos regentes, entre eles o

    padre Feij. Nas ocasies em que o segundo monarca esteve fora do Brasil,

    a misso de falar aos parlamentares coube princesa Isabel. Os discursos

    invariavelmente comeavam com o vocativo augustos e dignssimos se-

    nhores representantes da nao.

    Pouco antes da queda da

    Monarquia, as folhas lidas pelos

    imperadores e regentes foram

    encadernadas num volume ni-

    co. Hoje amarelada pelo tempo,

    a verso original do livro Falas

    do rono est sob a guarda do

    Arquivo do Senado, em Braslia,

    protegida numa sala com con-

    trole de temperatura e umidade.

    A Unesco (brao da Orga-

    nizao das Naes Unidas para

    a educao, a cincia e a cultu-

    ra) reconheceu em 2014 o valor

    histrico do livro Falas do rono

    e o incluiu na lista brasileira do

    Programa Memria do Mundo.

    S entram na lista docu-

    mentos e arquivos que sejam

    nicos ou raros, tenham grande

    significado social, meream ser

    difundidos e exijam cuidados de conservao para no se perderem.

    No Brasil, a Unesco tambm reconhece, por exemplo, o dirio das

    viagens de dom Pedro II, o acervo documental da Guerra do Paraguai e os

    arquivos de Machado de Assis.

    O Programa Memria do Mundo repetido em vrios pases. Na Ale-manha, a Unesco tombou a Bbliade Gutenberg. Em Portugal, a carta de

    Pero Vaz de Caminha narrando a descoberta do Brasil.

    A leitura das falas do trono leva a uma viagem panormica pelas qua-

    se sete dcadas do Brasil monrquico. Alm das prioridades para o ano,

    o soberano falava da situao interna do Imprio e das relaes com ou-

    tros pases. Em 1826, dom Pedro I citou a guerra pela provncia Cisplatina

    (atual Uruguai):

    A provncia Cisplatina a nica que no est em sossego, pois

    homens ingratos e que muito deviam ao Brasil contra ele se levantaram e

    hoje se acham apoiados pelo governo de Buenos Aires, atualmente em luta

    REPRODUO

    2120

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    14/65

    contra ns. A honra nacional exige que se sustente a provncia Cisplatina,

    pois est jurada a integridade do Imprio.

    Em 1831, dom Pedro I abdicou e voltou para Portugal. O prncipe

    dom Pedro II, um menino de apenas 5 anos, no poderia ser coroado. Ins-

    talou-se, ento, um governo de regentes, que conduziria o Imprio at a

    maioridade. Na primeira fala do trono no perodo, os trs regentes pro-

    visrios frisaram o fato de Pedro II ser brasileiro, e no portugus como

    Pedro I, o que permitiria a consolidao da Independncia:

    No foi s solene esse dia [o da aclamao de Pedro II]. Ele se fez

    tambm memorvel pelo contentamento geral e demonstraes no equvo-

    cas do intenso amor e respeito com que o povo sada o seu novo monarca,

    ainda infante, genuno brasileiro e sagrado objeto da sua patritica venerao.

    Na dcada dos regentes, as falas do trono abordaram as rebelies que

    incendiavam o pas. A Cabanagem, no Gro-Par, e a Guerra dos Farrapos,

    no Rio Grande do Sul, foram citadas pelo padre Feij em 1836. De acordo

    com ele, o vulco da anarquia ameaava devorar o Imprio:

    Do Par, faltam notcias modernas. Por bem ou por mal, ser a

    cidade de Belm arrancada s feras que a dominam. A sedio [insurrei-

    o] de Porto Alegre foi to rpida que em poucos dias compreendeu a

    provncia inteira. O governo tem deixado entrever aos sediciosos que, no

    caso de contumcia [insistncia], por em movimento todos os recursos

    para sujeit-los obedincia.

    As convulses do perodo acabaram forando a antecipao da maio-

    ridade de dom Pedro II. Apostava-se na figura do jovem monarca como

    capaz de pacificar o Imprio. Em vez dos 18 anos, ele assumiu o poder aos

    14, em 1840. Dom Pedro II fez seu primeiro pronunciamento aos senado-

    Dom Pedro l assinava as falas do trono identificando-se s como imperador, sem o nome

    ARQUIVO

    DOSENADO

    res e deputados no final daquele ano as falas do trono eram proferidas

    tambm no encerramento do ano legislativo.

    A resoluo, por vs tomada e aplaudida pelos meus fiis sdi-

    tos em todo o Imprio, de apressar a poca de minha maioridade, confio,

    senhores, que produzir os mais salutares efeitos para a causa pblica

    disse ele.

    A Guerra do Paraguai foi o tema dominante nas falas do trono entre

    1865 e 1870. Em 1866, dom Pedro II comemorava o avano das tropas

    aliadas sobre o solo paraguaio:

    Deploro profundamente as vidas preciosas sacrificadas nesta guer-

    ra, mas indizvel meu orgulho contemplando o herosmo que acompanha

    o nome brasileiro e a glria que imortaliza a memria de tantos bravos. As

    bandeiras aliadas j tremulam no territrio inimigo. Espero ver em pouco

    tempo terminada a guerra.

    A previso no se confirmou. A Guerra do Paraguai ainda se arrasta-

    ria por mais quatro anos.

    A gradual eliminao da escravido, o tema mais sensvel da Monar-

    quia, apareceu em diversas falas do trono. Chama a ateno o uso dos eu-

    femismos. Diante dos parlamentares, dom Pedro II se referia aos negros

    como elemento servil.

    O elemento servil no Imprio no pode deixar de merecer opor-

    tunamente a vossa considerao, provendo-se de modo que, respeitada a

    propriedade atual e sem abalo profundo em nossa primeira indstria, a

    agricultura, sejam atendidos os altos interesses que se ligam emancipao

    afirmou ele em 1867.

    O excessivo cuidado com as palavras tem explicao. Os ouvintes dafala do trono senadores, deputados, ministros e nobres eram, em

    grande parte, latifundirios, a quem no interessava a emancipao do

    elemento servil. Dom Pedro II no podia atropelar a classe social que dava

    sustentao ao Imprio. Os parlamentares aprovariam a Lei do Ventre Li-

    vre s em 1871. A Lei dos Sexagenrios, em 1885. A Lei urea, em 1888.

    O termo fala do trono no apenas metafrico. O imperador lia o

    discurso de um trono posicionado com destaque no Palcio Conde dos

    Arcos. Era uma das poucas ocasies em que dom Pedro II se paramentava

    com a coroa, o cetro, o manto e a mura feita de penas de papo de tucano.

    Havia todo um cerimonial. Uma delegao de senadores e deputados

    2322

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    ARQUIVO

    DOSENADO

    recepcionava o monarca na porta do palcio. A famlia imperial era aco-

    modada num camarote direita do trono. Ao contrrio de outros rituais,

    como o beija-mo, que acabaram sendo abandonados com o passar das

    dcadas, a fala do trono resistiu at o fim do Imprio.

    De acordo com Marcos Magalhes, historiador e consultor legislativo

    do Senado, o ritual das falas do trono foi importante na consolidao do

    Brasil, recm-emancipado, como nao:

    Para se consolidar, uma nao precisa ser construda tambm no

    imaginrio coletivo. As imagens e os rituais, como as falas do trono, so

    fundamentais nesse processo.

    At mesmo episdios hoje menores da histria surgiam nas falas do

    trono. Em 1875, dom Pedro II comentou a Revolta do Quebra-Quilos, em

    quatro provncias do Nordeste. O Imprio havia adotado o sistema mtrico,

    mas parte da populao se recusou a abandonar as incontveis e ultrapassa-

    das medidas usadas desde a Colnia, como a braa, a lgua, o gro e a ona.

    Bandos sediciosos, em geral movidos por fanatismo religioso e

    preconceitos contra a prtica do sistema mtrico, assaltaram as povoaes,

    destruindo os arquivos de algumas reparties pblicas e os padres dos

    novos pesos e medidas. Felizmente, sufocou-se de pronto o movimento

    criminoso.

    De acordo com o historiador da Universidade Federal do Paran

    (UFPR) Juarez Jos uchinski dos Anjos, autor de um estudo sobre as ques-

    tes educacionais nas falas do trono, o tom dos pronunciamentos deixa

    transparecer que os dois monarcas tinham temperamentos quase opostos:

    Dom Pedro I, que conduziu a Independncia do Brasil e enfrentou

    muita oposio, tinha um esprito centralizador e autoritrio. Dom PedroII, que chegou ao poder em meio a revoltas e agitaes polticas, mostrava-

    se apaziguador e conciliador.

    Isso fica claro na reao dos imperadores s crticas. Em 1829, dom

    Pedro I queixou-se aos parlamentares do excesso de liberdade de imprensa

    no Imprio e pediu que se reprimissem os abusos dos jornais. Dom Pe-

    dro II, ao contrrio, sabia conviver com a imprensa hostil. Eram frequentes

    nas pginas da Revista Ilustrada charges mostrando o monarca senil, de-

    sinteressado da poltica e manipulado por seus conselheiros. Nem sequer

    as falas do trono escapavam da pena zombeteira da revista.

    Pelas falas do trono, percebe-se a paixo que o segundo imperador

    nutria pelas novidades tecnolgicas. Em 1872, anunciou que seria instala-

    do um cabo telegrfico submarino conectando o Brasil Europa. Ele cha-

    mou o telgrafo de to maravilhoso instrumento da atividade do nosso

    sculo. Em 1873, comentou a participao brasileira na Exposio Uni-

    versal de Viena, onde o Imprio exibiu seus adiantamentos e a riqueza

    do territrio.

    Sempre que havia notcias na famlia imperial, elas eram anunciadas

    nas falas do trono. Em 1826, a imperatriz Leopoldina morreu. Dom Pedro

    I disse que uma dor veemente se apoderara de seu imperial corao.

    Quatro anos depois, ele comunicaria aos parlamentares que havia acabado

    de se casar com sua segunda mulher, a serenssima princesa dona Am-

    lia. Em 1845, nasceu o primeiro filho de dom Pedro II, dom Afonso. O

    imperador anunciou:

    Este primeiro fruto com que o cu abenoou o meu imperial tla-

    mo [casamento], enchendo de delcias o meu corao, j como pai, j como

    monarca, satisfez igualmente os ardentes votos de toda a nao brasileira,

    que me ama e sinceramente deseja a perpetuidade da dinastia do fundador

    do Imprio.O prncipe dom Afonso, porm, morreria com apenas 2 anos de ida-

    de. Em 1847, o imperador deu a notcia aos parlamentares afirmando que

    seu paternal corao estava ulcerado.

    ARQUIVO

    DOSENADO

    A assinatura delicada da princesa contrasta com a letra firme do pai e do avA assinatura de Pedro II numa fala do trono: defensor perptuo do Brasil

    2524

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    REPRODUO

    Charges da Revista Ilustrada: a fala do trono redigida pelos ministros pedom Pedro II em situao embaraosa; Isabel pede a aprovao da Lei urea;ministro l discurso no lugar da princesa; e a religio como tema recorrente do monarca

    No final de 1885, a imperatriz eresa Cristina levou um tombo e que-

    brou um brao. Na abertura dos trabalhos do ano seguinte, dom Pedro

    II avisou que ela j se achava, felizmente, restabelecida e agradeceu os

    testemunhos de afeto.

    As referncias a Deus eram constantes. Em 1850, o imperador afir-

    mou que uma febre epidmica se espalhava pelo litoral e pediu divina

    misericrdia que livrasse para sempre do Brasil semelhante flagelo. Em

    1860, ele disse que a grave seca que castigava parte das provncias do Norte

    como se chamava o Nordeste vinha diminuindo graas providn-

    cia divina.

    O historiador Mauro Henrique Miranda de Alcntara, professor do

    Instituto Federal de Rondnia, fez um estudo sobre as referncias escra-

    vido nas falas do trono. De acordo com ele, ainda h nesses pronuncia-

    mentos farta e inexplorada matria-prima espera dos pesquisadores:

    Os historiadores que se dedicam ao Imprio sempre recorrem s

    falas do trono para buscar informaes sobre pontos muito especficos,

    como a abolio da escravido. Por um lado, h questes recorrentes nos

    pronunciamentos que ainda no foram esmiuadas, como as epidemias e

    as secas. Por outro lado, falta uma pesquisa mais ampla, que esquadrinhe

    todo o conjunto das falas do trono.

    Assista a vdeo da Agncia Senado: http://bitly.com/falasdotrono

    Oua reportagem da Rdio Senado: http://bit.ly/radio_falas

    2726

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    150 anos depois,guerra ainda ferida abertano Paraguai

    No pas, ditador Solano Lpez, que deuincio ao conflito contra Brasil, Argentinae Uruguai, adorado como heri nacional.Segundo historiadores, imagem deturpada

    foi criada pelas ditaduras militares que sesucederam em Assuno no sculo 20

    2928

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    Pintura de Victor Meirelles retrata a Batalha do Riachuelo, um dos embates decisivos da Guerra do Paraguai

    ta. O Paraguai cultivava estreitas relaes com

    o Uruguai, pois o comrcio exterior paraguaio

    dependia do porto de Montevidu, mas manti-

    nha um p atrs em relao ao Brasil e Argen-

    tina, vistos como expansionistas.

    O frgil equilbrio se rompe em outu-

    bro de 1864, quando o Brasil invade o Uru-

    guai para intervir numa guerra civil local. O

    Paraguai protesta, temendo perder o aliado.

    Como dom Pedro II ignora as reclamaes, o

    mariscaltoma duas medidas radicais. Em no-

    vembro, confisca o navio brasileiro Marqus

    de Olinda, que navegava pelo Rio Paraguai, na

    altura de Assuno, rumo a Cuiab. Em dezembro, manda suas tropas ata-

    carem a provncia de Mato Grosso. A guerra est declarada.

    No Uruguai, a guerra civil termina com a queda do governo pr-Para-

    guai. A Argentina se v envolvida no jogo em abril de 1865, aps tropas pa-

    raguaias invadirem a provncia de Corrientes. Em maio, o Brasil, a Argenti-

    na e o Uruguai formam a rplice Aliana, com o intuito de derrubar Solano

    Lpez. No Paraguai, o conflito chamado de Guerra da rplice Aliana.

    O mariscalchega a obter vitrias no incio, mas logo passa a colecio-

    nar apenas derrotas. No final, ele se v obrigado a convocar at crianas e

    ancios s armas.

    Documentos guardados no Arquivo do Senado, em Braslia, mostram

    que os senadores do Imprio descreviam Solano Lpez como tirano e o

    comparavam a Napoleo Bonaparte, o imperador francs que tentou do-minar a Europa.

    Numa sesso em 1868, um senador leu um documento em que o pa-

    raguaio aparecia como marechal Lpez. Houve risos. Os senadores sa-

    biam que ele fora alado por decreto ao degrau mais alto da hierarquia

    militar. Preferiam cham-lo de general Lpez.

    Em janeiro de 1869, as tropas brasileiras ocupam Assuno. Em mar-

    o de 1870, Solano Lpez descoberto nas montanhas do norte do pas e

    morto na Batalha de Cerro Cor.

    erminado o conflito, a lembrana que os paraguaios, traumatizados,

    guardaram de Solano Lpez foi a do dspota que arrastou o pas para uma

    Para os paraguaios , no existe heri maior do que Francisco Sola-

    no Lpez, o ditador que h 150 anos invadiu o Brasil e deflagrou

    a Guerra do Paraguai (18641870). As deferncias se espalham

    pelo pas. Solano Lpez d nome a cidade, rodovia, ruas, praas,

    hospitais, colgios.

    A principal via de Assuno a Avenida Mariscal Lpez (mariscal

    o termo em espanhol para marechal). As homenagens vo de academia de

    tae-kwon-do a parque de diverses, de shopping center a time de futebol.

    O rosto do ditador aparece na moeda de mil guaranis. Faz sucesso

    entre os adolescentes uma camiseta que, numa licena histrica, retrata o

    mariscale Che Guevara lado a lado.

    Solano Lpez se transformou numa religio cvica resume He-

    rib Caballero Campos, historiador da Universidade Nacional de Assuno

    e autor do livro El Pas Ocupado(sem edio em portugus).

    um culto contraditrio. A herana de Solano Lpez foram a derro-

    ta e a humilhao. O pas ficou em runas, e pedaos do territrio foram

    perdidos para os pases vencedores. Estima-se que 75% da populao pa-

    raguaia tenha morrido nos cinco anos do conflito, seja no front, seja por

    fome e doenas. A Guerra do Paraguai o conflito mais sangrento j visto

    na Amrica Latina.

    A guerra derivou das tenses diplomticas na regio do Rio da Pra-

    REPRODUO

    URUGUAI

    ARGENTINA

    BRASILBOLVIA

    Assuno

    Humait

    CerroCor

    PARAGUAI

    reasperdidasaps aguerra

    3130

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    O mariscalSolano Lpez aparece comoheri em selo dos correios do Paraguai

    guerra catastrfica. A imagem oposta seria idealizada mais tarde, pelos di-

    tadores que se sucederam em Assuno ao longo do sculo 20. O mariscal

    passou a ser incensado como um bravo lder que lutou por anos para de-

    fender os compatriotas e no final deu a prpria vida em sacrifcio.

    Era a ditadura moderna buscando se legitimar por meio da ditadu-

    ra do passado. O ditador do momento se apresentava como a continuidade

    da luta de Solano Lpez pela soberania do Paraguai explica Tomas

    Whigham, historiador da Universidade da Gergia (EUA) e autor de La

    Guerra de la riple Alianza(sem edio em portugus).

    Em 1936, a ditadura do coronel Rafael Franco inaugurou o Panteo

    Nacional dos Heris e nele abrigou os restos mortais do mariscal. Em 1978,

    o general Alfredo Stroessner patrocinou as filmagens do pico Cerro Cor,

    que cristaliza a imagem de mrtir. O cartaz promocional anuncia uma

    histria de amor, coragem e sacrifcio. O filme exibido at hoje na V.

    A mesma viso romantizada chegou ao Brasil e Argentina nos anos

    1960. Argumentava-se que a guerra fora tramada por Londres, que supos-

    tamente no estava gostando de ver o Paraguai se industrializar sem de-

    pender das manufaturas inglesas. A rplice Aliana teria sido usada como

    marionete da Inglaterra.

    A verso foi ensinada nas salas de aula brasileiras e argentinas at

    os anos 1990, quando os historiadores enfim se deram conta de que ela

    no passava de fico. Primeiro, o Paraguai no tinha nenhuma indstria

    relevante. Depois, se a Inglaterra queria transformar o pas em mercado

    consumidor, no fazia sentido incitar uma

    guerra que dizimaria a populao. Por

    fim, as relaes diplomticas entre o Brasile a Inglaterra estavam rompidas quando

    a guerra estourou, por causa da chamada

    Questo Christie.

    Hoje se entende que essa interpreta-

    o era uma forma sutil de atacar as dita-

    duras que, apoiadas pelos Estados Unidos,

    governaram o Brasil e a Argentina nos anos

    1960 e 1970. Por um lado, atingia-se o im-

    perialismo o ingls e o americano. Por

    outro, criticavam-se os militares tanto

    os que destroaram o Paraguai quanto os que haviam tomado o poder em

    Braslia e Buenos Aires.

    O Paraguai se tornou um pas democrtico em 1989, com a queda de

    Stroessner. No entanto, o culto a Solano Lpez permanece. Uma explicao

    o fato de os horrores do conflito estarem at hoje presentes na memria

    coletiva, como uma ferida no cicatrizada. A existncia de um heri, ainda

    que irreal, serve de alento.

    Outra explicao o fato de no ter havido liberdade acadmica du-

    rante os 35 anos da ditadura Stroessner. Professores e pesquisadores que

    questionaram a verso oficial da histria chegaram a ser presos e exilados.

    Os alunos paraguaios sabem de cor o nome das batalhas. provvel

    que conheam mais que os brasileiros o conde dEu o marido da prince-

    sa Isabel foi comandante das tropas do Imprio. Entre as datas oficiais do

    Solano Lpez retratado como viloem caricaturada revista A VidaFluminense, em 1869

    REPRODUO

    REP

    RODUO

    3332

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    20/65

    Em julho de 1870, o duque

    de Caxias, senador vitalcio pelo

    Partido Conservador desde 1845,

    subiu tribuna do Senado para

    fazer uma prestao de contas de

    seu trabalho como comandante

    das tropas aliadas na recm-con-

    cluda Guerra do Paraguai.

    Na prtica, tratou-se mais

    de uma resposta s inmeras acu-

    saes feitas pelos senadores do

    Partido Liberal enquanto ele este-

    ve na guerra. Os adversrios cri-

    ticaram, por exemplo, a lentido

    com que os soldados tomaram a

    Fortaleza de Humait e ocuparam

    Assuno. Caxias disse:

    Senhores, no h nada

    mais fcil do que criticar operaes e indicar planos mais vantajosos de-

    pois de os fatos estarem consumados, de longe e com sangue frio. Mas o

    mesmo no acontece a quem se acha no teatro das operaes, caminhando

    nas trevas, em um pas inteiramente desconhecido e inado de dificuldades

    naturais.No pronunciamento, Caxias lembrou que no existiam mapas do Pa-

    raguai nem pessoas de confiana que conhecessem os acidentes geogrfi-

    cos do pas:

    preciso que os nobres senadores se convenam de que a Guerra

    do Paraguai, desde o seu comeo, foi feita s apalpadelas. S se conhecia o

    terreno que se pisava. Era preciso ir fazendo reconhecimentos e explora-

    es para poder dar um passo.

    Caxias era um militar brilhante, clebre por sufocar movimentos re-

    voltosos como a Balaiada, no Maranho, e a Revoluo Farroupilha, no Rio

    Grande do Sul. Quando foi convocado para comandar as tropas na Guerra

    Conito foi feito s apalpadelas,

    armou Caxias no Senado

    Caxias: senador atuou na guerra

    pas, esto o Dia dos Heris Nacionais, 1 de maro, quando Solano Lpez

    foi morto, e o Dia das Crianas, 16 de agosto, quando centenas de meninos

    soldados morreram na Batalha de Acosta u.

    Em 2014, um grupo de deputados do Paraguai apresentou um projeto de

    lei que, sendo aprovado, agregar mais uma data cvica ao calendrio: o Dia de

    Luto Nacional pelo Genocdio do Povo Paraguaio, em 12 de agosto, quando se

    travou a Batalha de Piribebuy.

    O ponto mais conhecido da batalha o incndio de um hospital para-

    guaio que resultou na morte dos que estavam internados. De acordo com

    a verso paraguaia, o conde dEu ordenou o atentado. Para historiadores

    brasileiros, as chamas foram provocadas pelas fascas das armas e se espa-

    lharam pelas paredes de madeira do hospital.Afirma o deputado Ricardo Gonzlez, um dos autores do projeto de lei:

    Os paraguaios gostam de refletir sobre o passado. O mariscalL-

    pez e a Guerra da rplice Aliana so temas onipresentes.

    Na avaliao do historiador Ricardo Salles, autor de Guerra do Pa-

    raguai escravido e cidadania na formao do Exrcito (editora Paz e

    erra), a populao paraguaia foi, sim, aniquilada, mas no se pode falar

    em genocdio:

    Ainda que tenham ocorrido degolas, fuzilamentos e outras bar-

    baridades, o Brasil no atacou o Paraguai com o objetivo de exterminar a

    populao. Foi uma guerra. E as mortes no podem ser creditadas integral-

    mente ao Brasil. No final, Solano Lpez recrutava qualquer um que tivesse

    entre 12 e 60 anos. Pessoas morreram de fome porque soldados dos dois

    lados confiscaram o gado e a colheita.

    O historiador Francisco Doratioto, autor deMaldita Guerra novahistria da Guerra do Paraguai(Companhia das Letras), diz que absurdo

    ver Solano Lpez como heri:

    Ele sacrificou um pas inteiro inutilmente. O heri foi o povo para-

    guaio, que acreditou na histria de que a independncia do pas era amea-

    ada pelo Brasil e pela Argentina. O paraguaio atendeu convocao para

    pegar em armas e lutou bravamente, mas pagou um preo alto demais.

    GOUPIL

    3534

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    do Paraguai, em 1866, era marqus. O ttulo de duque seria dado por dom

    Pedro II em 1869.

    O senador foi chamado para os campos de batalha porque o coman-

    do anterior dava mostras de que no conseguiria vencer Solano Lpez.

    No discurso no Senado, Caxias disse que encontrou as tropas num estado

    lamentvel. Elas estavam divididas em dois corpos completamente dife-

    rentes, inclusive com soldos, critrios de promoo e uniformes prprios.

    Segundo ele, pareciam pertencer a naes diferentes.

    O comandante resolveu o problema da falta de cavalos para os solda-

    dos e providenciou lugares seguros para se trancafiarem os prisioneiros de

    guerra. Antes, contou ele no Senado, os detidos eram simplesmente man-

    tidos no meio do campo, cercados de sentinelas. Com a guerra em curso,

    Caxias fez uma reforma no Exrcito.

    Aps a tomada de Assuno, na virada de 1868 para 1869, Caxias,

    com a sade debilitada, retirou-se da guerra.

    Naquele momento, os militares cotados para a misso ocupavam pos-

    tos polticos. Se dom Pedro II escolhesse um liberal, provocaria a ira dos

    conservadores e vice-versa.

    O imperador acabou optando pelo conde dEu, marido da princesa

    Isabel, por ser uma figura politicamente neutra. Nascido na Frana, ele

    havia adquirido experincia militar em campos de batalha no Marrocos,

    antes de se mudar para o Brasil.

    Bisneto de Solano Lpez pede

    ao Brasil que devolva canhoMiguel Solano Lpez um dos bisnetos de Francisco Solano Lpez,

    o presidente paraguaio na poca da guerra. De acordo com ele, para que

    as feridas se cicatrizem no Paraguai, o Brasil precisa devolver um canho

    que foi levado como trofu de guerra e atualmente est exposto no Museu

    Histrico Nacional, no Rio de Janeiro. A arma conhecida como canho

    cristo, por ter sido feita com o metal dos sinos das igrejas de Assuno.

    O Itamaraty, porm, afirma que no h negociao em curso sobre o

    assunto ou pedido oficial por parte do governo do Paraguai.

    Miguel Solano Lpez o embaixador do Paraguai em Londres. Na

    entrevista ao Jornal do Senado, ele fez questo de frisar que falava no

    como diplomata, mas como descendente do personagem mais famoso da

    histria do Paraguai. A seguir, trechos da entrevista:

    Considero a expresso Guerra do Paraguai ofensiva, porque d a en-

    tender que foi o Paraguai que provocou o conflito. Prefiro chamar o con-

    flito de Guerra da rplice Aliana. O paraguaio se sente ofendido at o

    fundo da alma quando se insiste em dizer que ele foi o culpado e que os

    aliados foram inocentes. O conflito foi provocado pelo Brasil.

    Francisco Solano Lpez era um homem de paz, tanto que sempre

    buscou assegurar a independncia do Uruguai. O Paraguai enfrentava pro-

    blemas para usar o porto de Buenos Aires. Por isso, o acesso ao porto de

    Montevidu era questo de vida ou morte. O Paraguai tinha um acordo

    com o Brasil pelo qual ambos se tornaram garantidores da independnciado Uruguai. Em 1864, com a revoluo, subiu ao poder em Montevidu

    um governo apoiado pela Argentina. O Brasil, porm, negou-se a garantir

    a independncia uruguaia. ento que surge a situao de guerra entre

    Brasil e Paraguai.

    A guerra no foi favorvel ao Paraguai, mas os paraguaios veem o

    duque de Caxias com profundo respeito, porque ele era um homem inte-

    gramente militar. Quando as tropas aliadas tomam Assuno, Caxias con-

    sidera a guerra terminada. Para dom Pedro II, porm, a guerra s acabaria

    com a morte de Francisco Solano Lpez. ento que chega o conde dEu,

    que comandou as tropas no ltimo ano da guerra. Foi nesse ano que o

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    O canho, hoje no Rio, foi feito com metal de igrejas de Assuno

    Paraguai foi completa-

    mente destroado.

    Quando me per-

    guntam por que os

    paraguaios conhecem

    mais a guerra que bra-

    sileiros, argentinos e

    uruguaios, a resposta

    simples: o Paraguai

    nunca conseguiu se

    recuperar completa-

    mente de toda aquela

    destruio. Compare com a 2 Guerra Mundial. Os aliados, logo depois,

    fizeram um esforo para recuperar os pases derrotados. A Alemanha e o

    Japo ressurgiram em poucos anos. No caso do Paraguai, mesmo passados

    150 anos, isso nunca aconteceu.

    O Uruguai e a Argentina j deram passos importantes em direo

    reconciliao. Em Montevidu, existe uma esttua de Francisco Solano

    Lpez a cavalo. O presidente argentino Juan Domingo Pern devolveu rel-

    quias ao Paraguai. Recentemente, Cristina Kirchner batizou um regimento

    do Exrcito argentino com o nome de Francisco Solano Lpez.

    O Brasil, no governo de Joo Figueiredo, restituiu a espada que So-

    lano Lpez tinha na mo no momento de sua morte. Mas falta entregar o

    canho cristo, que, dos trofus de guerra, o mais caro aos paraguaios.

    Quando isso ocorrer, no tenho dvidas de que as cicatrizes no Paraguai

    se cicatrizaro. A iniciativa da reconciliao deve partir do Brasil, que foi ovencedor, no do Paraguai.

    Assista a vdeo da Agncia Senado: http://bit.ly/GuerraParaguai

    Oua reportagem da Rdio Senado: http://bit.ly/radio_guerradoparaguai

    DIVULGAO/MUSEUHISTRICO

    NACIONAL

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    Ao longo das primeiras dcadas da Repblica, vriosprojetos de lei tentaram desfigurar o modelo atual dabandeira, feito em 1889. Principal crtica era aos dizeresOrdem e Progresso, lema da Igreja Positivista

    Bandeira nacionalenfrentouresistncias

    at ser aceita

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    Em junho e julho de 2014, a bandeira verde e amarela se mul-

    tiplicava pelo Brasil. Era plena Copa do Mundo e ela surgia

    nos muros, nos carros, nas roupas, nas janelas das casas. Pou-

    cas imagens conseguem ser to fortes a ponto de mexer com a

    emoo dos brasileiros. Nem sempre foi assim. A bandeira, criada no final

    do sculo 19, levou dcadas at cair de vez no gosto do pas.

    Em 19 de novembro de 1889, quatro dias aps o golpe que enterrou a

    Monarquia, o presidente Deodoro da Fonseca assinava um decreto com a

    descrio da sucessora da bandeira imperial. por isso que o Dia da Ban-

    deira se festeja em 19 de novembro. O modelo era praticamente idntico

    ao atual. Em vez das 27 estrelas de hoje, havia 21 o nmero dos estados

    de ento mais a capital do pas.

    Documentos guardados no Arquivo do Senado, em Braslia, mostram

    que as crticas no tardaram. Em dezembro de 1890, um ms aps a aber-

    tura do Congresso Constituinte, encarregado de aprovar a primeira Cons-

    tituio da Repblica, o deputado Francisco Coelho Duarte Badar (MG)

    subiu tribuna para queixar-se:

    Na bandeira se encontra um atentado contra as nossas tradies.

    Criminosamente lanaram nela um dstico que no quadra com as nossas

    ideias, que pertence a uma seita absurda.

    Badar se referia aos dizeres Ordem e progresso. rata-se da mxi-

    ma do positivismo, mistura francesa de religio com filosofia bastante em

    voga entre os militares que destronaram dom Pedro II. Para o deputado,

    era inadmissvel a meno seita:

    Essa provocao tem impedido que o povo brasileiro, desde as pri-

    meiras at as ltimas camadas, corra a abraar a bandeira.Desde ento, apareceram vrios projetos de lei querendo redesenhar

    a bandeira, quase todos apagando a legenda. Argumentava-se at que os

    embaixadores brasileiros passavam vergonha no exterior, pois eram insis-

    tentemente questionados se o positivismo havia virado a religio do pas

    com a Repblica, na realidade, o Estado tornou-se laico e o catolicismo

    perdeu o status oficial.

    o antinacional divisa impopulariza a Repblica. uma provoca-

    o aos cristos, quase unanimidade da populao do Brasil criticou

    o senador Coelho Rodrigues (PI) em 1896, ao apresentar uma proposta

    que trocava Ordem e progresso por Lei e liberdade. Nenhum projeto do

    tipo, porm, conseguiu prosperar.

    Segundo o consultor legislativo do Senado Joanisval Gonalves, es-

    pecialista em relaes exteriores, a bandeira s comearia a vencer as re-

    sistncias em 1922, quando os festejos do centenrio da Independncia

    despertaram uma onda de patriotismo.

    A bandeira precisou de tanto tempo para ser aceita porque a pr-

    pria Repblica no era consenso. O regime foi implantado sem o respaldo

    da populao. Ao longo das primeiras dcadas, havia muita gente desejan-

    do a volta da Monarquia explica.Alberto Santos Dumont, o criador do avio, pregava a restaurao.

    Ele, que era prximo da famlia imperial, voava com uma simples flmula

    verde e amarela atada a suas invenes, e no com a bandeira republicana.

    O modelo atual , na realidade, uma adaptao da bandeira do Imp-

    rio, que havia sido desenhada por dom Pedro I em 1822, logo depois da In-

    dependncia. No lugar do crculo azul, repousava o braso da Monarquia.

    O verde e o amarelo no foram uma escolha aleatria nem tinham o

    ingnuo objetivo de representar as matas e o ouro. O verde remete ao pr-

    prio dom Pedro I a cor da famlia Bragana, que reinava em Portugal.

    O amarelo, sua primeira mulher, a austraca Leopoldina a cor da

    O quadro Ptria, pintado por Pedro Bruno em 1919, mostra mulheres costurando a bandeira do Brasil

    REPRODUO

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    As bandeirassempre tiveram

    verde e amarelo: ade 1822, desenhada

    por dom Pedro I;a provisria da

    Repblica, que foicopiada dos EUA

    e s durou quatrodias; e a atual

    dinastia de Habsburgo, que governava a ustria. O losango, alm disso,

    a figura geomtrica tradicionalmente feminina. De qualquer forma, o im-

    perador no rechaava a verso que enaltecia as riquezas naturais do pas.

    Em 15 de novembro de 1889, proclamada a Repblica, os novos do-

    nos do poder correram para eliminar os smbolos do Imprio. A bandeira

    escolhida no mesmo dia foi uma imitao dos Estados Unidos, porm ver-

    de e amarela. Ela viajou hasteada no navio que levou dom Pedro II para o

    exlio. Ante a averso generalizada, resistiu s quatro dias.

    Uma gigantesca bandeira nacional pende continuamente no mastro

    da Praa dos rs Poderes, em Braslia. Feita de nilon paraquedas, ela tem

    20 metros de comprimento e 14 metros de altura. So 280 metros quadra-

    dos. Desde 2000, uma empresa de Cascavel (PR) confecciona a bandeira,

    que trocada todo ms. Diz Srgio omasetto, proprietrio da fbrica:

    Grande parte das bandeiras tem o preto e o vermelho, que indicam

    que o pas enfrentou guerra. A nossa no. O verde e o amarelo formam

    uma combinao singular, que torna a nossa bandeira bela, emocionante

    e inconfundvel.

    Os dois rascunhos da bandeira brasileira, desenhados logo aps o golpe de 1889,descobertos na Igreja Positivista, no Rio de Janeiro, em 2014

    Dois papis histricos de valor inestimvel foram descobertos em

    2014 no Rio. So os rascunhos que deram origem bandeira do Brasil,

    riscados em novembro de 1889, aps a Proclamao da Repblica, pelo

    engenheiro Raimundo eixeira Mendes.

    Em ambos os papis se veem a esfera, as estrelas e os dizeres Ordem

    e progresso. O primeiro um papel milimetrado que permitiu a eixeira

    Mendes posicionar e dimensionar cada estrela com preciso. O segundo

    um papel vegetal onde esto os traos definitivos.

    Os desenhos estavam na centenria Igreja Positivista, no bairro da

    Glria, esquecidos dentro de uma caixa. Foram descobertos por acaso,

    quando se limpavam os armrios do ltimo presidente da igreja, que mor-

    rera semanas antes. No final de 2014, os papis estavam nas mos de res-

    tauradores. A ideia era depois exp-los ao pblico.

    Encontramos um tesouro que pertence a todos os brasileiros

    afirma o atual presidente da Igreja Positivista, Alexandre Martins.

    O material estava na igreja porque o positivismo exercia forte influ-

    ncia sobre os republicanos brasileiros do final do sculo 19. Criado pelo

    francs Auguste Comte, o positivismo usa a cincia para explicar o mundo.

    Hoje ultrapassada, essa viso era vanguardista para a poca.

    Esquecidos 125 anos, desenhos

    originais so encontrados

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    Na 1 eleio direta para presidente daRepblica, em 1894, os analfabetos e asmulheres no votaram. Lista com resultado

    final da votao trouxe 205 nomes

    No fm do sculo 19,

    pouco eleitore muito candidato

    Foi o positivista Benjamin Constant, ministro da Guerra do novo

    regime, que aprovou o desenho de eixeira Mendes, tambm positivista.

    Amor, ordem e progresso formavam o trip da religio.

    Os desenhos recm-descobertos serviram de base para uma pintura a

    leo, tambm de 1889, do artista Dcio Villares, outro seguidor da igreja.

    Foi o molde para que as costureiras confeccionassem as primeiras ban-

    deiras. A pintura ficou exposta na Igreja Positivista at 2010, quando foi

    roubada. Parte do telhado havia desabado, o que permitiu a entrada dos

    ladres. A Polcia Federal e a Interpol foram acionadas, mas a obra at 2015

    no havia sido recuperada.

    Pintura a leo feita por Dcio Villares em 1889: molde da primeirabandeira foi roubado em 2010 e at hoje no foi encontrado

    Assista a vdeo da Agncia Senado: http://bit.ly/arquivoSbandeira

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    Em 1894, os brasileiros tiveram a primeira experincia de ir s

    urnas para escolher o presidente. Quem compara aquela hist-

    rica eleio com as votaes de hoje, porm, no mximo divisa

    uma vaga semelhana. A comear pelos candidatos. Na primei-

    ra eleio presidencial direta, a lista com o resultado elencou nada menos

    que 205 nomes.

    O vencedor foi Prudente de Moraes, mas os documentos da votao

    que esto guardados no Arquivo do Senado, em Braslia revelam que

    os eleitores tambm fizeram escolhas esdrxulas.

    No final da longa lista, surge uma multido de desconhecidos. Dos

    205 presidenciveis, 116 tiveram um voto s. Machado de Assis decifrou

    o estranho fenmeno. Numa crnica, o escritor atribuiu a existncia de

    tantos lanterninhas annimos a votantes que usaram a urna para singela-

    mente homenagear os amigos.

    As leis eleitorais eram frouxas em 1894. No era necessrio filiar-se a

    partido nem oficializar candidatura. O eleitor tinha liberdade para escrever

    qualquer nome na cdula, inclusive o dele prprio ou o de um cidado que

    no fosse candidato.

    Ganharam votos at os prncipes Pedro de Alcntara e Augusto de

    Saxe-Coburgo-Gotha. Foram votos desperdiados: eles eram netos de dom

    Pedro II e haviam sido expulsos do pas com a famlia imperial em 1889.

    Parte do eleitorado queria o visconde de Ouro Preto na Presidncia da

    Repblica. Como ex-primeiro-ministro do Imprio, ele tampouco obteria

    autorizao para tomar posse.

    Floriano Peixoto, o presidente de ento, ficou em 16 lugar. Foi outro

    caso curioso: a Constituio de 1891 era categrica ao proibir a reeleio.Na prtica, Prudente foi aclamado dos 351 mil votos totais, obteve

    291 mil. Afonso Pena, o segundo colocado, em momento nenhum repre-

    sentou perigo amealhou apenas 38 mil votos.

    Logo abaixo apareceram figuras como Cesrio Alvim, bisav mineiro

    do msico Chico Buarque, e Silveira Martins, piv acidental da queda da

    Monarquia. Ruy Barbosa recebeu votos em todas as eleies at morrer, em

    1923, embora s tenha concorrido oficialmente duas vezes.

    Segundo o cientista poltico Jairo Nicolau, autor de Histria do Voto

    no Brasil(Jorge Zahar Editor), a vitria foi arrasadora porque a poltica era

    um jogo de cartas marcadas. Nem sequer era preciso fazer campanha. Nos

    primeiros 40 anos da Repblica, a oposio nunca venceu.

    As elites ditavam quem seria o presidente. As eleies eram apenas

    uma forma de referendar uma deciso poltica j tomada, e no o momen-

    to em que a populao efetivamente escolhia seus governantes.

    O eleitorado era irrisrio. Numa populao de 14,3 milhes de pes-

    soas, s 800 mil estavam habilitadas a votar (5,6%). Hoje, mais de 70% dos

    brasileiros podem ir s urnas. O direito era negado a mulheres, analfabe-

    tos, mendigos, soldados rasos e religiosos sujeitos a voto de obedincia. O

    eleitor devia ter ao menos 21 anos. Eram restries brutais. As mulheres

    respondiam por metade da populao. Os negros, recm-beneficiados pelaLei urea, eram quase todos iletrados. Mesmo entre os brancos, poucos

    liam e escreviam naquele Brasil rural.

    Walter Costa Porto, ex-ministro do ribunal Superior Eleitoral (SE)

    e autor deA Mentirosa Urna (Martins Fontes), ressalta que a Constituio

    de 1891 no vedava o voto feminino explicitamente:

    No precisava estar escrito. Era um tempo em que a mulher no

    tinha direito nem liberdade. Primeiro, ela era subordinada ao pai. Depois,

    ao marido. Quando ficava viva, ao filho mais velho.

    Para piorar, a absteno era altssima. Mais da metade dos eleitores

    inscritos no apareceu para votar em 1894. O voto no era obrigatrio.

    Floriano, que deixava o poder, e Prudente, o eleito, na Revista Ilustradaem 1894:em nome dos brasileiros, o semanrio joga-lhes um punhado de flores

    REPRODUO

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    As elites dispunham de dois instrumentos para vencer. O primeiro

    eram as fraudes. Entre as artimanhas, estavam depositar cdulas extras nas

    urnas e adulterar as atas com as apuraes. O segundo era o Congresso,

    que organizava as eleies federais. Os senadores e deputados tinham o

    poder de coroar os aliados e barrar os inimigos. A logstica das votaes

    agora cabe Justia Eleitoral, fora da influncia poltica.

    Diz a historiadora Dulce Pandolfi, da Fundao Getulio Vargas:

    Enquanto em outros pases a Repblica era associada a eleio,

    partidos, interesse pblico e imparcialidade da lei, aqui era identificada

    com fraude, corrupo, interesse particular e ausncia do povo. A Repbli-

    ca fora implantada para acabar com os vcios do Imprio, mas, pelo menos

    nas primeiras dcadas, fracassou.

    Em crnica, Machado mostra

    que absteno foi elevada

    Leia, a seguir, a crnica publicada por Machado de Assis na Gazetade Notcias, do Rio, em 4 de maro de 1894, sobre a primeira eleio:

    Quando eu cheguei seo onde tinha de votar, achei trs mesriose cinco eleitores. Os eleitores falavam do tempo. Contavam os maiores

    veres que temos tido; um deles opinava que o vero, em si mesmo, noera mau, mas que as febres que o tornavam detestvel. A quanto noia a amarela? Chegaram mais trs eleitores, depois um, depois sete, que,pelo ar, pareciam da mesma casa. Os minutos iam com aquele vagar docostume quando a gente est com pressa. Mais trs eleitores. Nove horase meia. Os conhecidos faziam roda. [...]

    Nove e trs quartos. rinta e cinco eleitores. Alguns almoados. Osalmoados interpretavam o regulamento eleitoral diferentemente dosque o no eram. Da algumas conversaes particulares a meia-voz, di-zendo uns que a chamada devia comear s dez horas em ponto, outrosque antes.

    Meus senhores, vai comear a chamada disse o presidente da

    mesa.

    Eram dez horas menos um minuto. Havia quarenta e sete eleitores.Abriram-se as urnas, que foram mostradas aos eleitores, a fim de que eles

    vissem que no havia nada dentro. Os cinco mesrios j estavam senta-dos, com os livros, papis e penas. O presidente fez esta advertncia:

    Previno aos senhores eleitores que as cdulas que contiverem no-mes riscados e substitudos no sero apuradas; disposio da lei nova.

    Quis protestar contra a lei nova. Pareceu-me (e ainda me parece)opressiva da liberdade eleitoral. Pois eu escolho um nome para presi-dente da Repblica, suponhamos; ou senador, ou deputado que seja; emcaminho, ao descer do bonde, acho que o nome no to bom como ooutro, e no posso entrar numa loja, abrir a cdula e trocar o voto? Noposso tambm ceder a um amigo que me diga que a nossa amizade cres-cer se eu preferir o Bernardo ao Bernardino? Que ento liberdade? o verso do poeta: E o que escrevo uma vez nunca mais borro? Peloamor de Deus! al liberdade puro despotismo, e o mais absurdo dos

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    despotismos, porque faz de mim mesmo o dspota. Obriga-me a novotar, ou a votar s dez e meia em pessoa que, pouco depois das dez, jme parecia insuficiente. No que eu tivesse de alterar as minhas cdu-las; mas defendo um princpio.

    inha comeado a chamada e prosseguia lentamente para no darlugar a reclamaes. Nove dcimos dos eleitores no respondiam por istoou por aquilo.

    Antnio Jos Pereira chamava o mesrio. Est na Europa dizia um eleitor, explicando o silncio. Pncio Pilatos! Morreu, senhor; est no Credo.Um eleitor, brasileiro naturalizado, francs de nascimento, disse-me

    ao ouvido: Por que no se pe aqui a lei francesa? Na Frana, para cada elei-

    o h diplomas novos com o dia da eleio marcado, de maneira que sserve para esse. Se fizssemos isto, no chamaramos o senhor Pereira,que desde 1889 vive em Paris, 28 bis, rua Breda, nem o procurador daJudeia, pela razo de que eles no teriam vindo tirar o diploma, oito diasantes. Compreendeis?

    Compreendi; mas h tambm abstenes. No haveria absteno de votos. Os abstencionistas no teriam

    diplomas.A chamada ia coxeando. Cada nome, como de regra, era repetido,

    com certo intervalo, e eu estava trs quarteires adiante. Queixei-me dis-to ao ex-francs, que me disse:

    Mas, senhor, tambm este mtodo de chamar pelos nomes de-susado.

    Como ento? Chama-se pelas cores? Pelas alturas? Pelos nme-ros das casas?

    No, senhor; abre-se o escrutnio por certo nmero de horas; oseleitores vo chegando, votando e saindo.

    Srio? Srio. No creio que nos Estados Unidos da Amrica...Outro eleitor, brasileiro naturalizado, norte-americano de nasci-

    mento, acudiu logo que l era a mesma coisa.

    A mesma coisa, senhor. No se esquea que o time is moneyinveno nossa. No seramos ns que iramos perder uma infinidade detempo a ouvir nomes. O eleitor entra, vota, retira-se e vai comprar umacasa, ou vend-la. s vezes mais, vai casar-se.

    Sem querer saber do resultado da eleio? Perdo, o resultado h de ser-lhe dito em altos brados na rua ou

    em grandes cartazes levados por homens pagos para isso. J tem acon-tecido a um noivo estar dizendo noiva que a ama, que a adora, e serinterrompido por um pregoeiro que anuncia a eleio do presidente daRepblica. O noivo, que viveu dois meses em meetings, bradando contraos republicanos, se democrata, ou contra os democratas, se republica-no, solta um hurrahcordial e repete que a ama, que a adora...

    Padre Diogo Antnio Feij! prosseguia o mesrio.Pausa. Padre Diogo Antnio Feij!Pausa.Eu gemia em silncio. Consultei o relgio; faltavam sete minutos

    para as onze, e ainda no comeara o meu quarteiro. Quis espairecer,levantei-me, fui at a porta, onde achei dois eleitores, fumando e falandode moas bonitas. Conhecia-os; eram do meu quarteiro. Um era o far-macutico Xisto, outro um jovem mdico, formado h um ano, o doutorZzimo. Feliz idade!, pensei comigo; as moas fazem passar o tempo; eda talvez j tenham almoado...

    Enfim, comeou o meu quarteiro; respirei, mas respirei cedo, por-que a lista era quase toda composta de abstencionistas, e os nomes dos

    ausentes ou mortos gastam mais tempo, pela necessidade de esperar queos donos apaream. Outra demora: cinco eleitores fizeram a toilettedascdulas boca da urna, quero dizer que ali mesmo que as fecharam,passando a cola pela lngua, alisando o papel com vagar, com amor, qua-se que por pirraa. Para quem guarda Deus as paralisias repentinas? Ascongestes cerebrais? As simples clicas? No me pareciam homens quepusessem os princpios acima de uma pontada aguda. Mas Deus gran-de! Chegou a minha vez. Votei e corri a almoar. Relevem a vulgaridadeda ao. artufo, neste ponto, emendaria o seu prprio autor:

    Ah ! Pour tre lecteur, je nen suis pas moins homme[Ah! Um eleitor,mas nem por isso menos homem].

    5352

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    udo indicava que a sesso do Congresso transcorreria em paz. Cabia

    aos senadores e deputados apenas oficializar a vitria de Prudente de Mo-

    raes, dono de avassaladores 83% dos votos na primeira eleio presidencial

    direta do Brasil. A sesso, porm, acaba se transformando numa das mais

    caticas daquele incio de Repblica. No centro da confuso est o deputa-

    do Flavio Arajo (BA), de 31 anos. Ele sobe tribuna e, para espanto geral,

    pede que a eleio seja anulada.

    Enquanto o jovem deputado fala, os demais parlamentares, exaltados,

    rechaam o colega aos gritos. O senador Ubaldino do Amaral (PR), que pre-

    side a sesso, aciona a campainha diversas vezes, na tentativa de restaurar

    a ordem. A sesso corre no Palcio Conde dos Arcos, a sede do Senado, no

    Rio de Janeiro. Prudente de Moraes (SP) senador, mas no est presente.

    Para Arajo, a eleio deveria ser anulada por trs motivos. Em pri-

    meiro lugar, o Sul do pas no votou. Rio Grande do Sul, Santa Catarina e

    Paran foram impedidos de ir s urnas por causa do estado de stio impos-

    to em reao Revoluo Federalista.

    O resultado que o primeiro magistrado eleito por sufrgio direto, o

    honrado doutor Prudente de Moraes, vir a ocupar a alta posio sem o pres-

    tgio popular necessrio para afrontar a crise que atravessa a ptria diz.

    Em segundo lugar, outros quatro estados (So Paulo, Rio de Janeiro,

    Pernambuco e Paraba) e o Distrito Federal (cidade do Rio) votaram aps

    um estado de stio que s acabou na vspera da eleio. A causa foi a Re-

    volta da Armada. Ele argumenta: No estado de stio, estiveram suspensas a liberdade de imprensa e

    as garantias constitucionais dos cidados. No houve meio de os divergen-

    tes da opinio vencedora exercerem o seu direito. Como que os ilustres

    congressistas entendem que houve liberdade para concurso de todas as

    opinies s urnas?

    Em terceiro lugar, o deputado cita a absteno. O voto facultativo.

    O Brasil conta 800 mil eleitores, mas s 351 mil votaram. A cidade do Rio,

    como comparao, tem nesse momento 522 mil habitantes. Ele atribui a

    ausncia s fraudes, frequentes na poca, o que teria levado muitos a crer

    que o jogo j estava decidido.

    Deputado v falha na votao e

    tenta anular vitria de Prudente

    Fonte: Anais do Congresso Nacional

    P M

    A P

    C A

    R B

    A C

    L S

    S M

    O resultado da votaoDos 351 mil votos totais, Prudente recebeu 291 mile elegeu-se presidente em 1894

    82,9%dos votos

    senador de SP quando vence a eleio para ser o 3 presidente do Bra-sil e o 1 escolhido pelo voto direto. Foi deputado provincial e deputadogeral no Imprio e governador na Repblica.

    10,9% o governador de MG e mais tarde seria o 6 presidente do pas. Mor-reu em pleno mandato presidencial, em 1909, por causa de uma pneu-monia. Suas origens eram monrquicas foi ministro de dom Pedro II.

    1% senador de MG. No Imprio, foi governador do RJ. Na Repblica,governador de MG, ministro do Interior e prefeito do Rio. Seu descen-dente mais famoso o bisneto Chico Buarque.

    1% senador da BA. Polivalente, jurista, advogado e diplomata. Foi de-putado e ministro. Mais tarde, ajudaria a criar a Academia Brasileirade Letras. Enquanto viveu, at 1923, recebeu votos em todas as eleiespresidenciais.

    1% o prefeito de Salvador. No Imprio, governou SP e BA. Ocupando esteltimo posto quando Pedro II foi deposto, ele organizou uma reaodos baianos imposio da Repblica.

    0,6%Governa o PA. Em 1891, foi o nico governador que se ops a Deodoroquando o presidente dissolveu o Congresso. Entre 1904 e 1905, senador

    do DF, passou dez meses preso por insuflar militares contra a vacinaocompulsria no Rio.

    0,4%Ex-governador do RS, inimigo de Deodoro desde que disputaramuma mulher. Deodoro, em 1889, pretendia s derrubar o gabinete do

    visconde de Ouro Preto, mas decidiu ir mais longe e acabar com a Mo-narquia ao ouvir que dom Pedro II daria o gabinete a Silveira Martins.

    0,7%O

    Mais 198 nomes foram votados.

    1,5% V

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    Prudente de Moraes passou quatro anos extenuantes na Presidncia

    da Repblica. As turbulncias comearam antes mesmo da posse, em 1894.

    Sado de Piracicaba (SP), ele no encontrou recepo nenhuma ao desem-

    barcar do trem no Rio. Foi o primeiro sinal de que o presidente Floriano

    Peixoto no estava feliz por entregar o poder.

    As hostilidades continuaram. Floriano no quis receb-lo para tratar

    da transio, alegando falta de horrio na agenda. No dia da posse, o pre-

    sidente no enviou carruagem oficial ao hotel onde o sucessor se hospeda-

    va. Prudente teve de alugar uma carroa s pressas para chegar ao Palcio

    Conde dos Arcos, a sede do Senado.

    Aps o juramento, o novo presidente rumou para o Itamaraty, o pa-

    lcio presidencial, mas achou o prdio s moscas aberto, sujo e sem

    funcionrios. Floriano no estava, pois se negara a transmitir-lhe o cargo.

    Foi pirraa resume o jornalista J. Natale Netto, autor de Floria-

    no, o Marechal Implacvel(Novo Sculo).

    O marechal Floriano no viu com bons olhos a chegada dos civis ao

    poder. Afinal, foram os militares que em 1889 proclamaram a Repblica.

    Prudente tinha um currculo respeitvel. Havia sido governador de

    So Paulo e, como senador, presidido a Assembleia Nacional Constituin-

    te. Na primeira eleio presidencial, indireta, em 1891, ficara em segundo

    lugar os parlamentares deram vitria ao marechal Deodoro da Fonseca,

    que meses depois renunciaria e seria sucedido por Floriano, seu vice.

    Em 1894, o Sul se ensanguentava na Revoluo Federalista. Em 1896,explodia a Guerra de Canudos, na Bahia. No primeiro conflito, Prudente

    costurou o acordo de paz. No segundo, massacrou os revoltosos.

    Prudente no conseguiu grandes feitos econmicos ou sociais. Sua

    proeza foi pacificar o pas. Com ele, encerrou-se a transio da Monarquia

    para a Repblica e o novo regime se consolidou de vez explica a historia-

    dora Renata Gava, diretora do Museu Prudente de Moraes, de Piracicaba.

    O presidente tinha um inimigo insuspeito. Era Manoel Victorino, seu

    prprio vice. Em 1896, Prudente teve que se afastar do cargo por causa

    de uma cirurgia nos rins. Victorino assumiu o poder e foi tomado pela

    ideia de no devolver o cargo. rocou ministros e transferiu a Presidncia

    Prudente: birra do antecessor,

    trama do vice e at atentadoFlavio Arajo, ento, apresenta uma emenda determinando que se

    anule a eleio de maro e se convoque outra para setembro, garantidas

    as liberdades a todo o territrio da Repblica. A confusa sesso se d em

    junho de 1894.

    Sua Excelncia [Prudente], um dos prceres da Repblica, deveria

    ser o primeiro a apelar para a opinio calma e sensata, independente e livre

    do pas e viria a conquistar no cento e tantos mil [102 mil votos dos estados

    que no tiveram estado de stio], mas a quase unanimidade de votos diz.

    Um dos mais enfurecidos o deputado Nilo Peanha (RJ), mais tarde

    o stimo presidente do pas. Ele corta o orador e esbraveja:

    A eleio foi to livre que oposicionistas lograram triunfar [nas

    eleies para o Senado e a Cmara, simultneas eleio presidencial].

    Os jornais informam que o Senado virou palco de uma tempestade

    e classificam a emenda do deputado de infelicssima.

    At os taqugrafos, acostumados a tomar nota em meio a sesses aca-

    loradas, ficam desnorteados. As pginas dos Anais do Congresso trazem

    expresses vagas como um senhor deputado (quando os taqugrafos no

    conseguiram apontar o autor de uma fala) e muitos apartes (quando no

    entenderam o que os parlamentares disseram).

    Arajo, numa tentativa extrema de convencer os colegas, chega a de-

    clarar que a ditadura melhor que a democracia sem apoio popular:

    Sou democrata, mas, nas circunstncias atuais, prefiro um gover-

    no forte a um governo fraco. S um governo forte, honesto, sensato pode

    salvar a dignidade nacional. O atual [o de Floriano Peixoto] j tem dado

    provas de que o , coisa que no pode conseguir um governo fraco, sem

    prestgio, sem apoio da opinio nacional [o de Prudente de Moraes].Ante os ataques incessantes, Flavio Arajo finalmente se d por ven-

    cido e abre mo de sua emenda. Sem esconder o ressentimento, avisa:

    Espero que no futuro no tenha de recordar aos ilustres congressis-

    tas, que me acolheram to pouco generosamente, as minhas previses quan-

    to aos perigos que corre a Repblica e quanto sorte dos governos que no

    se apoiam no sufrgio da opinio e nas simpatias do corao de um povo.

    nimos apaziguados, o parecer que reconhece a eleio de Prudente

    aprovado. Ningum vota contra. Num editorial sobre o histrico dia, o

    jornal Gazeta de Notciasse queixa de que faltou pompa ou aparatosa

    solenidade sesso do Congresso.

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    Prudenteem chargede 1895:presidente quenunca cai nascovas abertaspelos inimigos

    do Itamaraty para o Catete. Ciente da trama, Prudente, que se tratava em

    erespolis (RJ), decidiu voltar de surpresa e Victorino, sem tempo para

    reagir, no teve opo seno entregar a cadeira presidencial.

    Em 1897, Prudente enfrentou a ltima turbulncia. Durante uma ce-

    rimnia, um soldado encostou uma pistola em seu peito. O presidente foi

    rpido e, com a cartola, conseguiu afastar a arma. O soldado, ento, sacou

    uma espada e matou o ministro da Guerra, marechal Carlos Machado Bit-

    tencourt. Prudente saiu ileso. Victorino foi processado como mandante do

    atentado. Ante a falta de provas, o vice acabou sendo inocentado.

    Assista a vdeo da Agncia Senado: http://bit.ly/eleicoes1894

    Oua reportagem da Rdio Senado: http://bit.ly/radio_1aeleicao1894

    REPRODUO

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    Ruy Barbosa foi conselheiro dopresidente Wenceslau Braz e usou

    talento retrico para convencer colegasdo Senado a aprovar a entrada doBrasil no conflito, que foi travado

    na Europa entre 1914 e 1918

    Senador foi crucialpara entrada doBrasil na 1 Guerra

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    Documentos guardados no Arquivo do Senado lanam luzes sobre

    um episdio esquecido da histria: a participao do Brasil na 1

    Guerra Mundial, travada um sculo atrs, entre 1914 e 1918. Os

    registros mostram que as opinies de Ruy Barbosa (18491923),

    senador na poca, foram cruciais para que o Brasil decidisse declarar guerra

    aos imprios centrais e enviar homens e navios para a Europa.

    enho sido acusado de estar pregando a guerra no continente ameri-

    cano em paz discursa Ruy Barbosa (PRL-BA) em maio de 1917, no Pal-

    cio Conde dos Arcos, a sede do Senado, no Rio. No, senhores senadores,

    no preguei at hoje a guerra. A guerra no matria de arbtrio, deliberao

    ou escolha, mas uma situao criada pela Alemanha, que, envolvendo todos

    os pases neutros na mesma situao dos beligerantes na guerra naval, no

    deixa aos neutros outro caminho seno o de aceitar a guerra que ela declara.

    A Alemanha era um dos imprios centrais, ao lado do Imprio Aus-

    tro-Hngaro e do Imprio urco-Otomano. Esse grupo estava em guerra

    contra os chamados aliados Reino Unido, Frana, Rssia e, mais tarde,

    Estados Unidos.

    Quando a guerra deflagrada, o Brasil opta pela neutralidade. A situ-

    ao muda depois que submarinos alemes torpedeiam navios comerciais

    brasileiros. Inconformado, o senador Ruy Barbosa insiste que o pas no

    pode tolerar a ofensiva do enxame de submarinos:

    A Alemanha arroga a si o direito estupendo, inominvel e infernal

    de matar indistintamente, como carga nos navios que destroem, os seus ca-

    pites, os seus tripulantes e os seus passageiros. ilgico, absurdo sustentar

    a neutralidade brasileira. Quando uma nao chega ao extremo, misria de

    no ter meios de se defender, de ser obrigada a tolerar em silncio absolutoe resignao ilimitada todos os atos contra o seu direito, a sua honra e a sua

    existncia, essa nao perdeu o direito de existir.

    A gota dgua o torpedeamento do navio Macau, em outubro de 1917,

    na costa espanhola. Antes de a embarcao ir a pique, dois tripulantes foram

    capturados como prisioneiros de guerra. Dias depois, o governo brasileiro

    finalmente declara guerra.

    Ruy Barbosa tem papel decisivo. Por um lado, um dos mais influentes

    conselheiros do presidente Wenceslau Braz. Antes de tomar a resoluo, o

    mandatrio se rene com o senador. Por outro lado, Ruy Barbosa combina

    seus conhecimentos de direito internacional com seu poder retrico para

    convencer os colegas

    do Senado a aprovar

    no mesmo dia a decla-

    rao de guerra pro-

    posta pelo presidente

    da Repblica.

    No obstante

    a nossa relativa pe-

    quenez, a nossa no-

    tria ausncia de re-

    cursos, [ao aprovar o

    estado de guerra] daremos o passo mais grave, mais extraordinrio dos anais

    do Parlamento brasileiro. O mundo nos comear a olhar como nao capaz

    de virtudes e herosmos.

    Ruy Barbosa uma das figuras brasileiras mais admiradas de todos os

    tempos. Alm de senador, foi advogado, jurista, jornalista, diplomata, mi-

    nistro, deputado, ensasta e at presidente da Academia Brasileira de Letras

    (ABL). Foi ministro da Fazenda logo no primeiro governo da Repblica. A

    passagem pelo Senado foi longeva, de 1890 a 1921. Candidatou-se duas vezes

    Presidncia da Repblica, sem sucesso.

    Ele representou o Brasil na Conferncia de Pa