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Fernando Pessoa

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  • Arquivo Pessoa http://arquivopessoa.net/textos/2452

    Bernardo Soares

    Sou um homem para quem o mundo exterior uma realidadeinterior.

    L. do D.

    Sou um homem para quem o mundo exterior uma realidade interior. Sintoisto no metafisicamente, mas com os sentidos usuais com que colhemos arealidade.

    Parecer a muitos que este meu dirio, feito para mim, artificial de mais.Mas de meu natural ser artificial. Com que hei-de eu entreter-me, depois,seno com escrever cuidadosamente estes apontamentos espirituais! De resto,no cuidadosamente os escrevo. , mesmo, sem cuidado limador que os agrupo.Penso naturalmente nesta minha linguagem requintada.

    A nossa frivolidade de ontem hoje uma saudade (constante) que me ri avida.

    H claustros na hora. Entardeceu nas esquivanas. Nos olhos azuis dostanques um ltimo desespero reflecte a morte do sol. Ns ramos tanta coisados parques antigos; de to voluptuoso modo estvamos incorporados napresena das esttuas, no talhado ingls das leas. Os vestidos, os espadins,as perruques, os meneios e os cortejos pertenciam tanto substncia de que onosso esprito era feito! Ns quem? O repuxo apenas, no jardim deserto, guaalada, onda j menos alta no seu acto triste de querer voar.

    s. d.

    Livro do Desassossego por Bernardo Soares. Vol.II. Fernando Pessoa. (Recolha e transcriodos textos de Maria Aliete Galhoz e Teresa Sobral Cunha. Prefcio e Organizao de Jacinto doPrado Coelho.) Lisboa: tica, 1982: 509.

    "Fase decadentista", segundo Antnio Quadros (org.) in Livro do Desassossego, por BernardoSoares, Vol I. Fernando Pessoa. Mem Martins: Europa-Amrica, 1986.

    Obra Aberta 2015-06-08 01:36