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Arquivos simbidor 2011

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10º SIMBIDOR

Cibele Andrucioli de Mattos PimentaGeana Paula Kurita

Claudio Fernandes Corrêa

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Simbidor – Arquivos do 10º Simpósio Brasileiro e Encontro Internacional sobre Dor

Copyright© 2011, Cibele Andrucioli de Mattos Pimenta, Claudio Fernandes Corrêa, Geana Paula Kurita

Produzido por:Solução e Marketing Editora e Publicidade Ltda.

Rua das Prímulas, 21 – Mirandóplis04052-090 – São Paulo – SP

Telefones: (11) 5070-4899e-mail: soluçã[email protected]

Proibida a reprodução parcial ou total desta obra, por qualquer meio ou sistema, sem o prévio consentimento dos editores.

Impresso no Brasil2011

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

SIMBIDOR – Simpósio Brasileiro e EncontroInternacional sobre Dor (10.: 2011: São Paulo)

10º SIMBIDOR: arquivos 2011 / [editores] Cibele Andrucioli de Mattos Pimenta, Geana Paula Kurita, Claudio Fernandes Corrêa. – São Paulo : Solução e Marketing, 2011.

Vários autores.

1. Dor 2. Dor – Diagnóstico e tratamento 3. Dor – Congressos I. Pimenta, Cibele Andrucioli de Mattos. II. Kurita, Geana Paula. III. Corrêa, Claudio Fernandes. IV. Título.

ISSN 2175-8794

11-10518 CDD-6106.047206

Índices para catálogo sistemático:

1. Congressos : Dor : Sintomatologia : Medicina616.047206

2. Dor : Sintomatologia : Medicina : Congressos616.047206

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Apresentação

Caros congressistas e leitores,

É com muita satisfação que apresentamos a 10ª edição de Arquivos do SIMBIDOR.

O SIMBIDOR mantém a tradição de editar Arquivos a cada versão, visando facilitar a disseminação de informações e criar memória sobre o pensamento dos profissionais brasileiros na área de dor.

Os Arquivos promovem coletânea de temas atuais e relevantes para o tratamento da dor e cuidados paliativos. Dados atualizados e questões polêmicas e desafiadoras sobre genética, métodos de avaliação, novos fármacos e modalidades de tratamento, entre outros, foram incluídos neste volume, originários de quase uma centena de palestras apresenta-das no 10º SIMBIDOR 2011.

Este volume contém também os resumos de estudos produzidos em nosso meio, que refletem o grau de desenvolvimento do conhecimento brasileiro na área de dor aguda e crônica.

Agradecemos a dedicação dos palestrantes e autores dos resumos, que forneceram o material essencial para a elaboração deste volume, e também aos patrocinadores que viabilizaram a sua produção.

Desejamos que todos desfrutem da leitura, divulguem e apliquem no seu trabalho o conhecimento adquirido.

Cordialmente,

CibeleGeana

Claudio

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EditoresArquivos 10º SIMBIDOR

PRESIDENTECibele Andrucioli de Mattos PimentaEnfermeira. Doutora e Livre-Docente em Enfermagem pela Universidade de São Paulo. Professora Titular do Departamento de Enfermagem Médico-Cirúrgica da Escola de Enfermagem da USP.

Geana Paula KuritaEnfermeira. Doutora em Enfermagem. Pós-doutoranda pela Universidade de São Paulo. Research Fellow do Hospital da Universidade de Copenhague-Rigshospitalet. Consultora em Enfermagem.

Claudio Fernandes CorrêaMédico Neurocirurgião. Mestre em Neurocirurgia e Doutor em Medicina pela Universidade Federal de São Paulo - Escola Paulista de Medicina. Co-ordenador do Centro de Dor e Neurocirurgia Funcional do Hospital Nove de Julho - SP.

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Comissões

PRESIDENTE DO 10º SIMBIDORClaudio Fernandes Corrêa

COMISSÃO EXECUTIVAAntônio Cezar Ribeiro GalvãoCibele Andrucioli de Mattos PimentaClaudio Fernandes CorrêaDirce Maria Navas PerissinottiJosé Oswaldo de Oliveira Jr.Milton Kasunori ShibataRicardo CaponeroValberto de Oliveira Cavalcante

COMISSÃO CIENTÍFICAAlexandre Novick FranciscoAntônio Cezar Ribeiro GalvãoAntonio Sérgio GuimarãesCibele Andrucioli de Mattos PimentaClaudio Fernandes CorrêaDaniel Benzecry da AlmeidaDirce Maria Navas PerissinottiFabiana GotoGeana Paula KuritaJosé Oswaldo de Oliveira Jr.Marina de Góes SalvettiPatrick Raymond Nicolas Andre G. StumpRicardo CaponeroValberto de Oliveira Cavalcante

COMISSÃO DE DOCUMENTAÇÃOCibele Andrucioli de Mattos Pimenta Claudio Fernandes CorrêaGeana Paula Kurita

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COMISSÃO TEMAS LIVRESAntônio Cezar Ribeiro GalvãoAntonio Sérgio GuimarãesDirce Maria Navas PerissinottiRicardo Caponero

COMISSÃO SESSÃO PARA LEIGOSCibele Andrucioli de Mattos Pimenta Dirce Maria Navas PerissinottiFabiana GotoMarina de Goés Salvetti

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Patrocinadores

PlatinaCristália Produtos Químicos Farmacêuticos Ltda.União Química Farmacêutica Nacional S.A.

DiamanteEli Lilly do Brasil Ltda.Hospital Nove de Julho S.A.Surgical Line Comércio de Produtos Hospitalares Ltda.Zodiac Produtos Farmacêuticos S.A.

OuroDabasons Importação Exportação e Comércio Ltda.Medsintese Importação Exportação e Comércio Ltda.Orthoneuro Comércio de Produtos Médicos Ltda.St Jude Medical Brasil Ltda.

ExpositoresÂmbito EditoresCLS Livraria e Distribuidora de Livros Ltda.Hospira Produtos Hospitalares Ltda.Janssen-Cilag Farmacêutica Ltda.JV Medic Comércio de Produtos Hospitalares Ltda.Laboratórios Pfizer Ltda.Micromar Indústria e Comércio Ltda.Neurociências Com. e Loc. de Prod. Médicos Ltda.

ApoioElekta Latin AmericaMedtronic Comercial Ltda.Vortex Medical Distrib. e Imp. de Prod. Médicos Ltda.

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Sumário

1. FISIOPATOLOGIA DA DOR

The Role of Non-Neural (Glial) Cells in Acute and Chronic Craniofacial Pain ________ 23

Barry J. Sessle

Central Mechanisms Involved in Craniofacial Pain and their Clinical Correlates _______ 25

Barry J. Sessle

Anatomia e Fisiologia dos Sistemas Nociceptivos e Moduladores de Dor ____________ 27

Onofre Alves Neto

Bases Moleculares da Dor Neuropática _______________________________________ 30

Camila Squarzoni Dale

Modulação pelo Componente Simpático da Dor na Articulação Temporomandibular ___ 32

Cláudia Herrera Tambeli, Nádia Cristina Fávaro Moreira

Componente Simpático Periférico da Dor Inflamatória da ATM ____________________ 34

Luciane Lacerda Franco Rocha Rodrigues

Aspectos Clínicos e Histológicos das Miopatias ________________________________ 35

Edmar Zanoteli

Genética e Dor Neuropática: O que sabemos? __________________________________ 37

José Geraldo Speciali

Envolvimento da Articulação Temporomandibular pelas Doenças Reumáticas na Infância _____39

Liete M. L. Figueiredo Zwir

Capsulite Adesiva de Ombro e Sacroileíte: Abordagem Biomorfológica Globalista e Mecanicista

na Etiologia das Lesões Musculoesqueléticas a partir de Cadeias Musculares _________ 42

Hélio Sardas

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2. AVALIAÇÃO E EPIDEMIOLOGIA DA DOR

Epidemiologia e Conceituação da Dor Aguda e Crônica __________________________ 47

Érica Brandão de Moraes Vieira

Dor com Características Neuropáticas na População Geral ________________________ 50

Érica Brandão de Moraes Vieira

Avaliação da Dor Neuropática do Câncer em Ensaios Clínicos: Revisão da Literatura ____ 52

Geana Paula Kurita, Angelika Ulrich, Troels Staehelin Jensen, Mads Werner, Per Sjøgren

Dor Neuropática Diabética _________________________________________________ 56

Rogério Adas Ayres de Oliveira

Questionários de Autorrelato para Avaliação da Dor Neuropática ___________________ 59

Janaina Vall

Testes Sensoriais na Dor Neuropática _________________________________________ 62

Silvia Regina Dowgan Tesseroli de Siqueira

Novos Instrumentos na Investigação Clínica das Neuropatias de Fibras Finas.

Dor Neuropática e Implicações nos Guidelines Atuais para Diagnóstico _____________ 64

Osvaldo J. M. Nascimento

Quinto Sinal Vital nos Serviços Emergenciais: O que mudou? _____________________ 66

Fabiana Aparecida Garcia

Diagnóstico Diferencial e Classificação das Cefaleias ____________________________ 68

Antonio Cezar Ribeiro Galvão

Anamnese em Cefaleia para o Clínico ________________________________________ 71

Getúlio Daré Rabello

3. ASPECTOS SOCIAIS E PSÍQUICOS DA DOR E DE SEU TRATAMENTO

Enfoque Psicanalítico do Sofrimento Humano __________________________________ 77

Lazslo Antonio Ávila

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Estresse e Dor: Intervenções Atuais __________________________________________ 79

Marcelo Feijó de Mello

Estresse Pós-traumático e Dor: Pacientes Agudos e Crônicos ______________________ 80

Dirce Maria Navas Perissinotti, Thauana D. S. T. Oliveira, Marcelo Feijó de Mello

Memória do Sofrimento: Efeitos na Dor Fantasma ______________________________ 82

Patrícia Mattos, Dirce Maria Navas Perissinotti, Marcelo Feijó de Mello

Catastrofização na Dor Crônica _____________________________________________ 85

Jamir Sardá Jr.

A Autoeficácia e o Medo e Evitação da Dor na Dor Crônica _______________________ 87

Marina de Góes Salvetti, Cibele Andrucioli de Mattos Pimenta

A Psicossomática e a Multidimensionalidade do Fenômeno da Dor _________________ 90

Manoel Rosas dos Reis Junior

Sofrimento e suas Funções para o Homem _____________________________________ 91

Sergio Gomes da Silva

Câncer de Mama - Tratamentos e Feminilidade _________________________________ 93

Sara Mota Borges Bottino

Adição a Opioides: Dinâmica Psicológica e Psicossocial _________________________ 95

Eliana Araújo Nogueira do Vale

A Discriminação Racial no Controle da Dor ___________________________________ 98

Maria Clara Giório Dutra Kreling, Cibele Andrucioli de Mattos Pimenta

A Perícia Médica em Dor _________________________________________________ 100

José Oswaldo de Oliveira Jr.

TISS −Troca de Informações em Saúde Suplementar ___________________________ 105

Rogério Vidal de Lima

Habeas Data e o Doente Oncológico ________________________________________ 106

José Guilherme Weinstock, José Oswaldo de Oliveira Jr.

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Tabelas de Códigos de Procedimentos (TUSS, AMB e outras) ____________________ 109

Pedro Antonio Pierro Neto, José Oswaldo de Oliveira Jr., Romulo Alberto Silva Marques

4. NEUROMODULAÇÃO, PSIQUIATRIA, NEUROCIRURGIA FUNCIONAL

E ESTEREOTAXIA

Doença Oncológica ______________________________________________________ 113

Daniel Benzecry de Almeida

Procedimentos Percutâneos Ablativos (Síndrome Pós-Laminectomia) ______________ 115

Daniel Benzecry de Almeida

Radiocirurgia Extracraniana: Aplicações da Radiocirurgia em Doenças da Coluna Vertebral __116

Leonardo Frighetto

O Epiléptico Recém-Operado em Ambiente de Terapia Intensiva __________________ 118

Miguel Giudicissi Filho, Jean Gonçalves de Oliveira

Cirurgia Psiquiátrica _____________________________________________________ 119

Luiz Fernando Martins

Nucleotratotomia Trigeminal (Pontina, Bulbar e Medular Cervical) ________________ 121

José Oswaldo de Oliveira Jr.

Tratamento Neurocirúrgico da Dor __________________________________________ 123

José Oswaldo de Oliveira Jr.

Deep Brain Stimulation for Dystonia ________________________________________ 129

Soledad Navarro, David Grabli, Bernard Pidoux, Philippe Cornu

Surgical Treatment of OCD: STN-Deep Brain Stimulation _______________________ 130

Soledad Navarro, Bernard Pidoux, Luc Mallet, Philippe Cornu

Rizotomia Dorsal Selectiva para el Manejo de la Espasticidad − Introducción ________ 131

Beatriz Mantese

Anestesia em Eletroconvulsoterapia _________________________________________ 133

Caio Alexandre de Souza Poca Pereira

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5. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO DA DOR - NOVIDADES E QUESTÕES

POLÊMICAS

Dor Neuropática Orofacial: Diagnóstico e Conduta _____________________________ 137

Deusvenir de Souza Carvalho

Dor Neuropática Periférica Metabólica: Desafios no Diagnóstico e na Conduta Terapêutica ___139

Osvaldo J. M. Nascimento

Enxaqueca: Quadro Clínico e Tratamento ____________________________________ 141

Deusvenir de Souza Carvalho

Diagnóstico e Tratamento Conservador da Lombalgia ___________________________ 143

Hélio Sardas

Abordagem da Dor no Câncer _____________________________________________ 145

Luís Gustavo Baaklini

Opções em Analgesia na Criança com Câncer _________________________________ 147

Sandra Caíres Serrano, José Oswaldo de Oliveira Jr.

Ziconotide e Canabinoides – Lições Aprendidas e o Momento Atual _______________ 151

Durval Campos Kraychete, Maiara Ferreira de Souza

Uso da Lidocaína Venosa na Terapia da Dor: Farmacologia e Indicações ____________ 153

Durval Campos Kraychete, Maiara Ferreira de Souza

Cetamina em Dor Aguda e Crônica _________________________________________ 155

João Batista Santos Garcia

Novos Analgésicos para Tratamento da Dor Aguda: Nefopam, Tapendadol, e outros ___ 157

Marcos Aristoteles Borges

Sistemas de Liberação Prolongada de Analgésicos: As Inovações Farmacotécnicas

e suas Vantagens em Relação às Apresentações Antigas _________________________ 160

Carla Ceres Villas Miranda

Αlfa 2-agonistas em Dor __________________________________________________ 162

Durval Campos Kraychete

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Canabinoides: Evidências e Controvérsias no Tratamento da Dor Neuropática _______ 165

Durval Campos Kraychete, Maiara Ferreira de Souza

Relevância Clínica da Imunossupressão Induzida por Opioides ___________________ 167

Angela Maria Sousa

Injeção Epidural na Dor Lombar e nas Radiculopatias: Como, o quê, quando e se? ____ 168

Anderson de Albuquerque Seixas, José Oswaldo de Oliveira Jr., Rômulo Alberto Silva

Marques, Pedro Antonio Pierro Neto

Os Trâmites da Pesquisa de Novos Fármacos no Brasil __________________________ 171

Sandra Caíres Serrano

Critérios Diagnósticos Atuais e Novo FIQ ____________________________________ 173

José Eduardo Martinez

Tabelar Honorários Médicos: Histórico, Visão Crítica e Sucedâneos _______________ 175

Sergio Listik

6. TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO DA DOR - MEIOS FÍSICOS,

SOCIAIS E PSÍQUICOS

Papel dos Exercícios na Dor da Osteoporose Baseada em Evidência _______________ 179

Pérola Grinberg Plapler

Dor no Membro Inferior − Papel Antálgico dos Exercícios Baseado em Evidências ___ 182

Júlia Maria D`Andréa Greve

Acupuntura: Consensos e Controvérsias _____________________________________ 183

João Bosco Guerreiro da Silva

Exposição ao Vivo e Atividade Gradual no Manejo da Dor Crônica: Revisão Sistemática __ 185

Geana Paula Kurita, Marina de Góes Salvetti, Elaine S. Longo, Cibele Andrucioli de

Mattos Pimenta

Programa Psicoeducativo Como Proposta de Trabalho em Dor ____________________ 188

Fabiana Goto

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Programas de Controle da Dor Crônica ______________________________________ 190

Marina de Góes Salvetti

A Eficácia da Terapia Cognitivo-Comportamental em Pacientes com Dor Crônica ____ 192

Martha Moreira Cavalcante Castro

Tratamento Psicológico na Dor Aguda _______________________________________ 196

Dirce Maria Navas Perissinotti, Irimar Paula Posso

Técnicas de Apoio Psicológico que o Clínico Pode Utilizar ______________________ 198

Jamir Sardá Jr.

Métodos Alternativos no Tratamento das Cefaleias _____________________________ 200

José Geraldo Speciali

Tratamento Psicodinâmico/Neuropsicanalítico da Dor __________________________ 203

Yusaku Soussumi

O Papel da Psicologia na Abordagem e Controle da Dor _________________________ 205

Eliana Nogueira do Vale

7. DOR OROFACIAL

Avaliação do Sistema Estomatognático em Pacientes com Distrofia Miotônica de Steinert __ 209

Antonio Sérgio Guimarães

Disfunção Temporomandibular e Dor Orofacial em Pacientes com Necessidades Especiais _ 214

Adriana de Oliveira Lira Ortega

PRISM − Instrumento para Avaliação do Impacto da DTM na Vida do Paciente ______ 217

Monique Lalue Sanches

Avaliação Multicêntrica - Disfunção Temporomandibular (DTM) e Dor na Cabeça ____ 218

Carmen Paz S. Hoyuela, Gilson Tadao Enoki Kihara, Vera Lúcia Mestre Rosa, Yolanda M.

A. Camargo, Marcos Yasuda, José Artur Pupo, Pedro Costa Ferreira, Ivan Sanchez Toro,

Raquel Barbosa, Antonio Sérgio Guimarães

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8. CUIDADOS PALIATIVOS

Avaliação Física: Aspectos Essenciais em Cuidados Paliativos ____________________ 223

Elge Werneck Araújo Júnior, Ricardo Caponero

Aspectos Emocionais: O que investigar, como fazer e registrar em Cuidados Paliativos _ 225

Ana Georgia Cavalcanti de Melo

Identificação e Mensuração de Sintomas: O que investigar, como fazer e registrar_____ 229

Rosmari Wittmann-Vieira

Cuidados Paliativos em Oncologia: Medicina Antroposófica e Homeopatia no

Controle de Sintomas ____________________________________________________ 232

Nilo E. Gardin

Aspectos Psicossociais em Cuidados Paliativos: Avaliação e Intervenção. Todos os

profissionais avaliam necessidades psicossociais e dão suporte?

O quê e como compartilhar ________________________________________________ 235

Rita de Cassia Macieira

O Que Envolve Dar Suporte Emocional e Como Fazê-lo ________________________ 236

Ana Catarina Araújo Elias

Discussão de Caso Clínico em Cuidados Paliativos _____________________________ 239

Vera Anita Bifulco

Nutrição em Cuidados Paliativos ___________________________________________ 240

Lia Kanae Okita Buschinelli

O Encantamento Através das Palavras – Um Instrumento Terapêutico para

uma Hospitalização Mais Humana __________________________________________ 242

Dora Estevez

8. TEMAS LIVRES ____________________________________________________ 244

ÍNDICE DE AUTORES _________________________________________________ 278

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Fisiopatologia da dor

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23Fisiopatologia da dor

The Role of Non-Neural (Glial) Cells in Acute and Chronic Craniofacial PainBARRY J. SESSLE

MDS, PhD, DSc (h.c.), FRSC, FCAHS. Professor and Canada Research Chair, Faculties of Dentistry and Medicine, and Centre for the Study of Pain, University of Toronto – Toronto, Canada.

The craniofacial region is principally innervated by branches of the trigeminal nerve that have their cell bodies of in the tri-geminal ganglion (which is analogous to the dorsal root ganglia of the spinal somatosensory system). From the ganglion the af-ferents project into the brainstem, and mainly terminate in the trigeminal brainstem sensory nuclear complex that comprises the main sensory nucleus and the trigeminal spinal tract nucleus. The latter has 3 subnuclei, and the subnucleus caudalis (which is often termed the medullary dorsal horn) because of its many similarities with the spinal dorsal horn), has been especially im-plicated on the basis of anatomical, immunocytochemical, elec-trophysiological, behavioural and clinical findings. For exam-ple, small-diameter nociceptive afferents release neuropeptides (e.g., substance P) as well as ATP and excitatory amino acids such as glutamate which excite caudalis nociceptive neurons (nociceptive-specific, NS; and wide dynamic range, WDR) that predominate in the superficial and deep laminae of the MDH. These 2 types of pain-transmission neurons process and relay nociceptive afferent information into CNS pathways projecting to higher brain centers (e.g., thalamus) or to local (brainstem) centres such as those involved in craniofacial skeletal muscle and autonomic reflex responses to noxious craniofacial stimuli.

These afferents and neurons and CNS pathways have been implicated in the processes underlying acute craniofacial pain as well as in the pathogenesis of chronic craniofacial pain con-ditions. These processes include ectopic impulses generated in damaged trigeminal primary afferents, peripheral sensiti-sation of trigeminal primary afferents, central sensitisation of central nociceptive neurons, changes in CNS segmental and descending inhibitory and facilitatory influences on trigeminal nociceptive transmission, and phenotypic changes in trigemi-nal afferents and central nociceptive neurons. Much attention has recently focussed on central sensitisation as an important element of acute and chronic pain conditions. For example, ap-

plication to the rat molar tooth pulp, muscle or TMJ of algesic substances such as mustard oil (MO), capsaicin, and glutamate can induce nociceptive sensorimotor behaviour associated with neuroplastic changes in the mechanoreceptive field and response properties of both WDR and NS caudalis neurons. These neuroplastic changes reflect neuronal hyperexcitability (ie, central sensitisation), and analogous but more prolonged hyperexcitability also occurs in trigeminal neuropathic models and chronic inflammatory models associated with persistent nociceptive behaviour. The central sensitisation is dependent on several receptors (e.g., NMDAR; P2XR) and intracellular signaling mechanisms in the caudalis neurons.

In addition to the importance of these neuronal processes in the peripheral and central mechanisms involved in the ini-tiation and persistence of craniofacial pain, recent studies have provided evidence that non-neural cells, particularly glia, may represent novel modulatory processes in nociceptive conduc-tion and transmission. Glia are abundant in the CNS and include several different subtypes such as astroglia (or astrocytes), mi-croglia, and oligodendrocytes, each with distinct functions; so-called satellite glial cells are also abundant in somatosensory sensory ganglia such as the trigeminal ganglion. For many years it has been known that glia nourish neurons and augment their function, maintain the chemical environment around neurons and protect and assist in their repair and regeneration following injury, inflammation or infection. Glia do not generate electri-cal impulses but they can release several neurotransmitters and growth factors. These chemical mediators can affect the activity of neurons or influence other cells such as glia and cells of the immune system to assist in the repair and regeneration. In ad-dition to these chemical mediators, glia can communicate with each other via gap junctions and calcium waves. But it is now becoming clear that glia also play an important role in the patho-genesis of pain conditions. There is now evidence that satellite

The author’s own research studies are supported by NIH grant DE04786 and CIHR grants MT-4918, MOP 82831 and 167458.Conflicts of interest statement: The author has also received a research grant from Pfizer Canada, serves on the Neuropathic Pain grant review committee of Pfizer Canada, and also serves on the Cymbalta National Pain Advisory board of Lilly Canada.

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glial cells in the spinal dorsal root and trigeminal ganglia may be involved in some peripheral processes producing pain, and that glial cells, especially microglia and astroglia, in the CNS play a critical role in the processes underlying acute and chronic pain states (e.g., sensitisation).

This review will summarize some of the findings, especial-ly from my own research group, that point to the crucial role that glia play in central nociceptive processing in the trigemi-nal system. This research has focussed on the involvement of glia in subnucleus caudalis in view of the crucial role that caudalis plays in craniofacial pain. The research studies have used a variety of acute or chronic animal pain models, includ-ing peripheral injection of different types of algesic chemicals, receptor agonists or mediators, as welll as inflammation of craniofacial tissues and injury of trigeminal afferent nerves. These studies have revealed the involvement of different neu-ron-glial mechanisms depending on the individual model. For example, reactive astroglia or microglia identified by immu-nocytochemical markers have been found in caudalis as early as 1 hour after induction of an acute tooth pulp inflammation (eg, induced by MO application to the pulp) and within 1 day after induction of trigeminal chronic inflammation or nerve in-jury. Furthermore, electrophysiological recordings made from single caudalis nociceptive neurons in these acute or chronic craniofacial pain models have shown clear evidence of glial involvement in the caudalis central sensitisation (eg enhanced mechanorecepive field and evoked neuronal responses, de-creased activation threshold) that accompanies the nociceptive behaviour in these animal models . Both the development and

the maintenance of the trigeminal central sensitisation and no-ciceptive behaviour can be completely blocked by applying to caudalis antagonists of either astroglia or microglia or of the gap junctions through which the glia communicate. It is espe-cially noteworthy that these effects of the glial inhibitors do not affect the neuronal baseline nociceptive properties but are limited to their hyperexcitable state. There is also some evi-dence that although astroglia and microglia are both involved in each of the inflammatory and neuropathic pain models, they may make different contributions in the initiation and main-tenance of the pathophysiological processes, thus resulting in their early or late involvement in a particular model.Thus, glia are important, critical players in both acute and chron-ic inflammatory and neuropathic craniofacial pain conditions. Also importantly, they may offer new targets for management of these conditions, although clinical analgesic drug develop-ment needs to take account of all the potential glial and neuronal interactions and factors involved.

SELECTED REFERENCES

Chiang CY, Dostrovsky JO, Iwata K, Sessle BJ. Role of glia in orofacial pain. The Neuroscientist 2011; 17: 303-320.

Sessle B.J. Acute and chronic craniofacial pain: brainstem mechanisms of nociceptive transmission and neuroplasti-city, and their clinical correlates. Crit Rev Oral Biol Med 2000;11:57-91.

Sessle BJ, Lavigne G, Lund JP, Dubner R. (eds.), Orofacial Pain: from basic science to clinical management, 2. ed., Chicago,IL: Quintessence, 2008. 250 p.

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25Fisiopatologia da dor

Central Mechanisms Involved in Craniofacial Pain and their Clinical CorrelatesBARRY J. SESSLE

MDS, PhD, DSc (h.c.), FRSC, FCAHS. Professor and Canada Research Chair, Faculties of Dentistry and Medicine, and Centre for the Study of Pain, University of Toronto – Toronto, Canada.

It is important to note that pain is a complex, multidimension-al experience encompassing perceptual, cognitive, motivational and emotional factors, and carries heavy socioeconomic costs to the pain patient and to society as a whole. The craniofacial region is the site of some of the most common acute and chronic pain conditions in the body. These include many acute pain states arising for example from an acute trauma or inflammation (e.g., pulpitis, mucositis) for which standard treatment approaches are usually successful. However, for most chronic craniofacial pain conditions, the processes underlying their aetiology and patho-genesis are poorly understood. As a consequence of this, plus the complex, multidimensional nature of pain, they can present a diagnostic and management challenge to the clinician. It is also noteworthy that while there are a variety of treatments currently used for the different chronic craniofacial pain conditions, only a limited evidence basis exists for most and many are not very effective. Nonetheless, insights into craniofacial pain processes have been gained from recent studies in laboratory animals and humans. Thus, our clinical understanding of these pain states is improving. This presentation will review recent advances in our knowledge of the mechanisms involved in craniofacial pain, es-pecially those involving the central nervous system (CNS), and also will point out their clinical implications.

It is now known that injury or inflammation of craniofacial tissues can activate not only some of the numerous sensory (af-ferent) nerve fibres ending in the tissues, but also may induce an increased excitability of these “nociceptive” afferents. This pe-ripheral sensitisation is important in the increased pain sensitiv-ity (e.g., hyperalgesia, allodynia) that can be detected clinically at a peripheral injury or inflammation site (e.g., as in myositis, arthritis and pulpitis). Several chemicals, including some that are normally associated with actions within the CNS (e.g., excit-atory amino acids, opioids), are involved in producing or modi-fying peripheral sensitisation. Sex differences have also been

documented in some of these peripheral processes. Mechanisms involving non-neural cells (e.g. satellite glial cells in the tri-geminal ganglion; immune cells in peripheral tissues such as the tooth pulp) may also modulate nociceptive afferent excitability.

The craniofacial nociceptive afferents project via the trigem-inal ganglion to the brainstem and their signals activate noci-ceptive neurons first in the brainstem and then in higher brain centres in the CNS, and can thereby result in the expression of pain. Some of these trigeminal nociceptive neurons (nocicepti-(nocicepti-ve-specific, NS; and wide dynamic range, WDR) respond exclu-respond exclu-sively to cutaneous or mucosal sensory inputs and have prop-erties suggesting they are critical brainstem elements involved in our ability to localize an acute superficial craniofacial pain and to sense its intensity and duration. Interestingly, however, many of the trigeminal nociceptive neurons receive convergent inputs not only from cutaneous or mucosal afferents but also from afferents supplying deep craniofacial tissues (e.g. temporo-mandibular joint, muscle, tooth pulp) or even from other cranial nerve afferents and cervical spinal afferents, and have properties indicating their critical role in the sensing of deep pain and in craniofacial pain referral.

A variety of modulatory influences can affect trigeminal nociceptive transmission in the CNS. These include hormonal influences reflected in sex differences in some of the receptive field or response properties of caudalis nociceptive neurons. There are also influences initiated by stimulation of periph-eral tissues and others involving neural circuits and processes intrinsic to the CNS. One such influence is the prolonged in-crease in excitability of the nociceptive neurons in the CNS that can occur as a result of injury of inflammation of cranio-facial tissues. This central sensitisation is thought to be an im-portant process contributing to the hyperalgesia and allodynia (see above) that characterises pain resulting from a peripheral injury or inflammation. Furthermore, the development and

The author’s own research studies are supported by NIH grant DE04786 and CIHR grants MT-4918, MOP 82831 and 167458.Conflicts of interest statement: The author has also received a research grant from Pfizer Canada, serves on the Neuropathic Pain grant review committee of Pfizer Canada, and also serves on the Cymbalta National Pain Advisory board of Lilly Canada.

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maintenance of a central sensitisation state is considered to un-derlie the manifestation of most chronic pain conditions. Cen-tral sensitisation is manifested at the neuronal level in an en-hanced mechanoreceptive field and evoked neuronal responses and a decreased activation threshold of nociceptive neurons, and reflects a neuroplasticity of nociceptive pathways in the CNS. A number of brain chemicals such as those operating through NMDA, neurokinin, purinergic, opioid, GABA and 5-HT receptor mechanisms have been shown to contribute to or modulate nociceptive transmission as well as these central neuroplastic changes induced by peripheral injury or inflam-mation. These changes may also be influenced by other factors (e.g. genetic, environmental) as well as non-neural (e.g. glial) cells (discussed in my September 29 presentation). It is also noteworthy that central sensitisation, at least in subnucleus caudalis, normally seems to be reversible, and a major research focus, and challenge, in the pain field, is to determine which factors and processes lead to its maintenance and thereby a chronic pain state.

There are several clinical implications of this recent knowl-edge about the mechanisms of craniofacial pain. Examples in-clude the following. (i) Several drugs commonly used clini-cally to relieve craniofacial pain may exert their analgesic action by interfering with some of the peripheral mechanisms. (ii) The sex differences documented in some of the peripheral and CNS processes may account at least in part for the sex differences in the prevalence of a number of craniofacial pain states. (iii) The features of the hyperexcitability that are char-acteristic of peripheral and central sensitisation can explain the pain spread, allodynia and hyperalgesia that are evident in many acute and chronic craniofacial pain conditions; the ex-tensive convergence of afferent inputs to most caudalis noci-ceptive neurons is likely another factor involved in pain spread and referral. (iv) Some of the central modulatory mechanisms that have been documented may be involved in the changes in psychological state (e.g., related to anxiety, stress, depres-

sion, etc) that may enhance the expression of pain and com-plicate the clinical management of the patient, whereas others may contribute to the efficacy of a number of centrally act-ing drugs and other analgesic approaches used for pain relief in Dentistry. (v) The findings of central sensitisation indicate that the CNS substrates for pain do not represent immutable processes and “hard-wired” connections but rather that they are “plastic” and can be influenced by events in peripheral tis-sues and changes in the modulatory systems within the brain. (vi) Reducing peripheral sensitisation and nociceptive afferent inputs into the brainstem (e.g., by a local anaesthetic block or appropriate post-operative pain management) may reduce the likelihood for central sensitisation to develop or be maintained and for chronic pain to develop. (vii) Since nearly all centrally acting pain-relieving drugs have been developed to target neu-ral processes, the recent findings that non-neural (glial) cells may influence some of the nociceptive mechanisms provide new targets for novel approaches to control pain. (viii) Further knowledge of the cellular and molecular mechanisms involved in peripheral and central sensitisation offer the prospect of new therapeutic approaches to manage pain through the ad-ministration of pharmacological agents and other therapeutic procedures that mimic or influence these peripheral- or cen-tral-acting chemical processes. Targeting specific genetic and environmental factors that influence these mechanisms may also have therapeutic potential.

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* Não há conflito de interesses.

Anatomia e Fisiologia dos Sistemas Nociceptivos e Moduladores de Dor*

ONOFRE ALVES NETOAnestesiologista, TSA-SBA. Área de Atuação em Dor. Doutor. Professor Adjunto de Anestesia da Universidade Federal de

Goiás. Membro do “Developing Countries Working Group” da IASP. Diretor Científico, Vice-Presidente e Presidente da Socie-dade Brasileira para o Estudo da Dor – SBED.

INTRODUÇÃO

Como fenômeno dinâmico, a dor é conceituada pela IASP como “uma experiência sensitiva e emocional desagradável de-corrente ou descrita em termos de lesões teciduais reais ou po-tenciais”, identificando-se seu caráter de subjetividade.

Habitualmente classificada como aguda e crônica, a dor aguda tem um valor biológico fundamental, essencial para a manutenção da vida, consistindo em alerta para a possibilidade de uma lesão tecidual vir a se instalar ou já estar instalada no organismo, produ-zindo reações de defesa, fuga ou remoção do agente causal. Já a dor crônica não tem essa importância biológica, constituindo-se por reações musculoesqueléticas e psicocomportamentais que induzem incapacidade e repercussões desfavoráveis a quem a sente.(1)

O sistema somatossensitivo pode ser dividido em quatro mo-dalidades: toque, propriocepção, temperatura e nocicepção, com seus receptores, fibras e vias de transmissão próprios, ideia in-troduzida já por Descartes,(2) reformulada por Frey,(3) que propôs receptores específicos para o tato, quente, frio e para a dor.

Assim fibras nervosas são classificadas de acordo com suas características físicas e sua velocidade de condução, sendo:

la espinhal e enviam projeções aferentes aos centros superiores. Grande proporção desses aferentes fazem uma segunda sinapse nos núcleos medial e lateral do tálamo, que, subsequentemente, fazem sinapse com um neurônio terciário. Esses neurônios ter-ciários do tálamo enviam aferentes ao córtex somatossensitivo primário e secundário do SNC, onde a qualidade do estímulo do-loroso, como localização, duração e intensidade, é estabelecida.(4)

Uma lesão que causa um risco potencial ao organismo ati-va terminações nervosas livres que respondem a essa estimula-ção nociceptiva. A maioria desses nociceptores são polimodais, respondendo a diferentes modalidades de estímulo, sejam eles mecânicos, térmicos ou químicos.(5) Um estímulo nociceptivo inicia uma cascata de eventos, liberando moléculas inflamató-rias, produzindo a hiperalgesia periférica. Essas moléculas se originam de células sanguíneas (mastócitos, polimorfonucleares e plaquetas), produzindo bradicininas, prostaglandinas, histami-na, serotonina e trifosfato de adenosina e de células do sistema imunológico, que irão produzir interleucinas, interferons e fator de necrose tecidual.(6) A substância P e o peptídio relacionado ao gene da calcitonina, que atuam como neurotransmissores no

Característica A b A d C

Diâmetro 6 a 12 µm Mielinizada 1 a 5 µm Mielinizada0,2 a 1,5 µm

Não mielinizadaVelocidade de condução 35 a 75 m/s 5 a 30 m/s 0,5 a 2 m/s

Estímulo Toque superficial, PropriocepçãoTemperatura Nocicepção

(mecânica, térmica)Nocicepção

(mecânica, térmica e química)

DA NOCICEPÇÃO À DOR

Uma boa maneira de se entender a fisiologia da dor é acompa-nhar as vias do sinal nociceptivo da periferia para o SNC. Assim, estímulos nociceptivos mecânicos, químicos ou térmicos ativam nociceptores periféricos, que conduzem o sinal nociceptivo ao neurônio nociceptivo primário para o corno dorsal da medula, onde faz sinapse com um neurônio secundário, no trato espino-talâmico (lateral) e espinorreticular (medial), que cruzam a medu-

SNC, são também liberados na periferia, onde atuam como fa-tores proinflamatórios, favorecendo a inflamação neurogênica. Existe uma classe de nociceptores silenciosos que apenas serão ativados quando sensibilizados num processo inflamatório. A ativação inflamatória das fibras C contém nociceptores silencio-sos que contribuem para a hiperalgesia. Existe uma boa corre-lação entre a frequência de descarga desses nociceptores com a intensidade da percepção da dor.

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HIPERALGESIA PRIMÁRIA

Lesões teciduais liberam substâncias pronociceptivas, como K, prostaglandinas, histamina e bradicininas, além de provocar uma resposta imunológica. Esses fatores inflamatórios e imuno-lógicos sensibilizarão os receptores nociceptivos dos neurônios lesados e vizinhos. A hiperalgesia primária que se segue à libera-ção desses fatores pode ser medida como diminuição do limiar à dor no local da lesão. Mecanismos envolvidos nesta hiperalgesia primária são: sensibilização dos nociceptores, expansão do cam-po de recepção desses estímulos e perda da inibição central na zona central.(5)

Fibras aferentes que se originam na periferia são: Ab, Ad e C, com as características acima descritas. As fibras Ab são principalmente envolvidas na condução do estímulo não-nociceptivo como vibração, movimentação e toque superficial. Já as fibras Ad representam a maioria das fibras mielinizadas, diferenciadas em dois subtipos: mecanono-ciceptores, que respondem preferencialmente ao estímulo mecânico doloroso intenso, e fibras polimodais, que respon-dem ao estímulo mecânico, térmico e químico. As menores e amielínicas fibras C representam cerca de ¾ do estímulo sensitivo aferente, responsável pela sensação difusa da dor, devido a sua baixa velocidade de condução. A fibra C também é envolvida na sensação de prurido.

HIPERALGESIA SECUNDÁRIA

Hiperalgesia secundária é um fenômeno que se refere à sen-sibilização que ocorre no SNC.(8) Estímulos contínuos transmi-tidos pelas fibras C produzirão uma sensibilização central, alte-rando as respostas dos neurônios secundários, o que resultará no aumento da sensação de “queimação”, fenômeno descrito como Wind-up.(9) Essa estimulação central, no nível medular, pode durar apenas alguns minutos, mas pode persistir por horas ou dias. A ativação prolongada dos receptores N-metil-D-aspartato (NMDA) induzirá a transcrição de genes como c-fos, c-jun, resultando na sensibilização dos nociceptores. Essa plasticidade neuronal do neurônio secundário resultará na resposta hiperal-gésica e alodínica que pode persistir mesmo após o término da lesão. Acredita-se que um plano de tratamento precoce e agres-sivo dessa hipersensibilização possa ajudar na prevenção do de-senvolvimento da dor crônica.

IMPLICAÇÕES CLÍNICAS DA PERDA DA INIBIÇÃO

DA MEDULA ESPINHAL

Não se pode perder de vista a importância da atividade dos interneurônios inibitórios na medula espinhal, reduzindo a ativi-

dade nociceptiva pré e pós-sinapse. Vários neurotransmissores estão implicados como a glicina, a adenosina e a encefalina, mas é o GABA (g-ácido-aminobutírico) que parece ser o principal agente na redução do sinal nociceptivo. Lesões nervosas peri-féricas que reduzam o potencial GABAérgico inibitório podem ser importantes na dor neurogênica. O GABA, potente neuro-transmissor inibitório, em condições normais vai hiperpolarizar o neurônio pós-sináptico. No entanto, após lesão nervosa, a ele-vação da colecistocinina, o transportador do K e Cl, normalmen-te encontrado em baixos níveis no animal intacto, vai alterar as propriedades da membrana para um ponto em que a liberação do GABA produzirá a despolarização do neurônio, alterando a função inibitória para excitatória.(10)

A importância de se entender esses mecanismos dinâmicos da interação dos neurotransmissores inibitórios e excitatórios é na hi-peralgesia provocada pelos opioides. Como analgésicos clássicos, em algumas situações, os opioides podem induzir uma hiperalge-sia. Várias tentativas são feitas para justificar esse comportamento paradoxal dos opioides, incluindo a sensibilização dos receptores pronociceptivos pela ativação do NMDA e dos receptores da cole-cistocininas e o bloqueio dos mecanismos inibitórios endógenos.

O PAPEL DA GLIA NA TRANSMISSÃO DA DOR

Todo o esforço da ciência em estudar as implicações da transmissão dos mecanismos da dor foi focado nos neurônios, mas atualmente, começa-se a pensar que as células da glia não somente dão suporte e proteção aos neurônios, mas também têm importante papel nos processos do SNC, incluindo a trans-missão da dor.(11) Astrócitos e microglia são ligados ao desen-volvimento e manutenção do processo doloroso, especialmente em modelos de dor neuropática. Em condições normais, as cé-lulas da glia parecem não ter importância na dor, sem nenhum ou com poucos efeitos na sua condução. Entretanto, após le-são, a microglia começa a ficar reativa e sua ativação no corno dorsal da medula é concomitante com o desenvolvimento da dor neuropática.(12) Certamente estudos mais conclusivos virão para clarear essa percepção da glia na condução e manutenção do fenômeno doloroso.

MECANISMOS MODULATÓRIOS

Já que a dor é um fenômeno dinâmico, o sinal nociceptivo será modulado em vários níveis do SNC antes de a dor ser total-mente percebida. Devido a essa plasticidade, a percepção da dor dependerá de diferentes fatores. A modulação se inicia na peri-feria e envolve várias estruturas do SNC, incluindo mecanismos excitatórios e inibitórios centrais, o sistema nervoso autônomo e

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estruturas do córtex cerebral responsáveis pelos aspectos emo-cionais e cognitivos da dor. O desenvolvimento e a manutenção da dor crônica dependerão de vários fatores, como atividade per-sistente de aferentes nociceptivos, redução da inibição endógena ou aumento da excitação endógena.(13)

CONCLUSÃO

As bases neurofisiológicas do fenômeno da dor são com-plexas e as tentativas de se explicar os mecanismos de de-senvolvimento e manutenção da dor são cada vez mais estu-dados, atualmente, sempre se procurando a terapêutica para a dor. Embora se conheçam alguns mecanismos comuns a todos, sabe-se que cada indivíduo vai responder diferente-mente à dor, como resultado das diferenças genéticas e do meio ambiente, o que deve estar na cabeça de todos os en-volvidos no estudo e tratamento da dor. Esforço na busca de se entender melhor os mecanismos inibitórios e a redução da hiperatividade das respostas nociceptivas é o debate atual na neurofisiologia da dor, como objetivo final.

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Bases Moleculares da Dor NeuropáticaCAMILA SQUARZONI DALE

Mestre em Ciências pela Universidade de São Paulo. Doutora em Patologia pela Universidade de São Paulo. Pós-Doutora em Farmacologia pela Universidade Paul Sabatier. Pesquisadora do Laboratório de Neuromodulação e Dor Experimental do

Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Sírio-Libanês.

A dor crônica é uma patologia de difícil tratamento e um sério problema na sociedade moderna. A prevalência de dor vem aumen-tando em decorrência dos novos hábitos de vida, do aumento da expectativa de vida e do prolongamento da sobrevida dos doentes com afecções clínicas crônicas ou incapacitantes. A IASP (Inter-national Association for the Study of Pain) define a dor como uma “experiência sensorial e emocional desagradável, associada a dano presente ou potencial, ou descrita em termos de tal dano”. Uma das funções vitais do sistema nervoso é prover informações sobre a ocorrência ou perigo de injúria. A sensação de dor, pela sua natu-reza inerente, contribui para essa função. A dor não é homogênea, e compreende três categorias: fisiológica, inflamatória e neuropática. É uma função do Sistema Nervoso formada de alguns componen-tes: discriminativo, afetivo-motivacional, cognitivo e locomotor.(20)

A dor fisiológica ou aguda tem função de alerta e é um sinal característico dos mecanismos de proteção do organismo contra dano tecidual.(10) A dor inflamatória é gerada pela estimulação ines-pecífica da inervação sensitiva e pela ação de mediadores químicos liberados durante o processo inflamatório.(22) Já a dor neuropática se distingue da dor aguda principalmente devido à existência de plasticidade neuronal no processo de percepção de dor, sendo resultante de lesões no sistema nervoso periférico, medula espinal e/ou encéfalo, as quais induzem sensibilização central e periférica. Por ser persistente, a dor neuropática resulta em alto custo para o indivíduo e para a sociedade, sendo, portanto, um grande problema de saúde pública. A dor neuropática é uma das razões mais frequen-tes das consultas médicas,(26) tendo uma prevalência que varia de 7% a 40%.(2,25) Os custos sociais atribuídos à dor e suas consequên-ên-cias são elevados. Nos Estados Unidos, aproximadamente US$ 89 bilhões são gastos anualmente para o tratamento, compensações trabalhistas e litígios envolvendo doentes com dor neuropática.(15) O tratamento da dor neuropática é frequentemente ineficaz, devido à complexidade dos mecanismos envolvidos.

A dor neuropática, seja ela persistente ou crônica, é em geral caracterizada por dor espontânea em queimação, acompanhada de alodínia (dor em resposta a estímulos não lesivos) e hiperal-gesia (dor exagerada em resposta a estímulos lesivos).(18) Esses fenômenos surgem como resultado da ocorrência de alterações

patológicas no Sistema Nervoso Periférico (SNP) e na medula espinhal, as quais incluem a presença de focos ectópicos nas fi-bras nervosas periféricas lesadas, que mantém os impulsos afe-ém os impulsos afe-m os impulsos afe-rentes para o Sistema Nervoso Central (SNC).(9,14)

A entrada de impulsos ectópicos ou de alta intensidade e fre-quência promove a liberação de neurotransmissores excitatórios na medula espinal, como a substância P e o glutamato, sensibilizando os neurônios do corno dorsal da medula espinal (CDME).(9,14) A dor neuropática produz uma série de mudanças na via somatossensória, que consistem em alterações na despo-larização e na liberação de neurotransmissores e reorganização das sinapses. Tais alterações envolvem a participação de dife-rentes mediadores algogênicos que contribuem para a diminui-ção do limiar de dor e aumento da resposta a pequenos estímu-los, ou seja, para a sensibilização periférica.(12,32)

Fibras mielinizadas largas, do tipo Ab, normalmente envolvidas na transmissão dos impulsos não nocivos, são as que apresentam maior quantidade de impulsos ectópicos na vigência de lesão nervosa periférica. Estas fibras enviam projeções colaterais para o CDME, fato que, associado à sensibilização central, na vigência de lesão ner-vosa periférica, contribui para o desenvolvimento da dor espontânea, de alodinia e de hiperalgesia.(9) Essas sensações podem ser induzidas por estímulos térmicos (calor ou frio) e mecânicos.(17,4) Durante esse fenômeno, a sensibilização dos feixes nervosos sensitivos ascenden-tes torna-os suscetíveis à estimulação por mecanoceptores (fibras Ab), além dos nociceptores.(6,32) Para que o fenômeno de alodinia se desenvolva, algumas mudanças ocorrem ao longo de toda a via noci-ceptiva, tais como a reorganização central das vias aferentes e a perda dos mecanismos inibitórios. As lesões periféricas das fibras C dimi-nuem a liberação de GABA pelos neurônios inibitórios espinhais, o que contribui para a perda dos mecanismos inibitórios de controle da dor. Além disso, há diminuição da liberação de serotonina e noradre-nalina pelos neurônios inibitórios descendentes.(6,32)

O tratamento da dor neuropática em humanos é, frequente-mente, ineficaz, principalmente devido ao inadequado entendi-mento dos mecanismos celulares e moleculares envolvidos no desenvolvimento e manutenção desse tipo de dor.(11,1,21) As op-ções terapêuticas para o controle da dor neuropática têm aumen-

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tado nos últimos anos,(13) entretanto a resposta dos pacientes com dor neuropática para muitos dos tratamentos não é satisfatória.

Entre as terapias existentes para o tratamento da dor neuropá-tica, a grande maioria visa bloquear a neurotransmissão, o que em geral limita sua efetividade uma vez que uma série de mediadores inflamatórios continua a ativar os neurônios nociceptivos, con-tribuindo para a hipersensibilidade dolorosa. Nesse sentido, tem sido demonstrada, em doenças e lesões do sistema nervoso que resultam em dor neuropática, a presença de mediadores inflama-tórios na medula espinhal. Entre esses mediadores, podemos citar algumas citocinas inflamatórias como interleucina 1-beta (IL-1β), interleucina-6 (IL-6) e fator de necrose tumoral-alfa (TNF-α), que são produzidas principalmente por células não-neuronais, como as células da glia, na medula espinhal(5,31) e possuem papel impor-tante no desenvolvimento da dor neuropática. Considerando-se o papel de células da glia no desenvolvimento e manutenção da dor neuropática, foi demonstrado que tanto a ativação de microglia quanto de astrócitos é observada na medula espinhal após injú-rias dos SNC e SNP.(29,30) A ativação de células da glia também é observada em modelos inflamatórios, de pós-trauma,(23,19,18) em desordens centrais desmielinizantes e no diabetes mellitus.(7,27,31) Ainda é demonstrado que as células da glia presentes na medula possuem papel importante na facilitação da dor e que inibidores gliais são capazes de modificar a resposta dolorosa.(28,8,24,16)

Os tratamentos utilizados atualmente para a dor neuropática in-cluem antidepressivos tricíclicos, anticonvulsivantes, administração sistêmica de anestésicos locais, agentes tópicos, analgésicos narcóti-cos e não narcóticos, antirrítmicos e lesões neurocirúrgicas.(13,3,21)

Os antidepressivos e antiepiléticos são os fármacos mais eficientes para o tratamento da dor neuropática, sendo que os antidepressivos atuam aumentando a norepinefrina e a serotoni-na nas vias descendentes da medula, enquanto os antiepiléticos modulam a transmissão dos impulsos nervosos durante a sen-sibilização periférica da dor neuropática.(6) Uma variedade de tratamentos farmacológicos tem sido proposta para controle da dor neuropática, porém, até o momento, nenhum deles responde de maneira satisfatória. Dessa maneira, o aprimoramento tera-pêutico em tais condições dolorosas se faz necessário.

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* Financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Não há conflito de interesses.

Modulação pelo Componente Simpático da Dor na Articulação Temporomandibular*

CLÁUDIA HERRERA TAMBELI1 ● NÁDIA CRISTINA FÁVARO MOREIRA2

1Doutora em Odontologia pela Unicamp. Pós-doutorado pela University of California − San Francisco, Livre-docente da Faculdade de Odontologia de Piracicaba − Unicamp. Departamento de Fisiologia e Biofísica, Instituto de Biologia, Unicamp –

Campinas − São Paulo, Brasil.2Cirurgiã-dentista, Especialista em Implantodontia e Mestre em Odontologia pela Faculdade de Odontologia de Piracicaba – Unicamp. Departamento de Fisiologia, Faculdade de Odontologia de Piracicaba, Unicamp, Piracicaba − São Paulo, Brasil.

As disfunções temporomandibulares (DTM) são condições dolorosas que afetam mais de 12% da população, com maior prevalência, severidade e duração no sexo feminino.(6) Essas condições envolvem a articulação temporomandibular (ATM) e os músculos mastigatórios e resultam principalmente de trauma agudo, desarranjos internos ou artrites, comumente associadas à inflamação aguda ou crônica.(1)

Drogas anti-inflamatórias não esteroidais (AINEs) são frequen-temente utilizadas no controle de dores inflamatórias. No entanto, muitos pacientes podem apresentar intolerância ao tratamento pro-longado com AINEs e nem todos os pacientes com dor inflamatória na ATM respondem aos efeitos de tais medicamentos.(13)

Sabe-se que a dor inflamatória possui um componente sim-pático(8) que pode predominar em casos com menor sensibili-dade aos anti-inflamatórios não esteroidais. Dados publicados recentemente(10) demonstram que a inibição da enzima catecol--o-metil-transferase (COMT) induz hiperalgesia mecânica e tér-mica na pata de ratos semelhante à induzida pela administração do agente inflamatório carragenina. Esse efeito induzido pela inibição da COMT foi bloqueado pela administração conjunta de antagonista de receptor adrenérgico β2 e β3, mas não de β1, indicando o envolvimento dos adrenoceptores β2 e β3 em esta-dos hiperalgésicos. Posteriormente, estudos demonstraram que aminas simpatomiméticas são liberadas no local da lesão articu-lar, onde contribuem com o desenvolvimento de hiperalgesia na ATM de ratos através da ativação de adrenoceptores β2 localiza-dos nessa região, mas não de adrenoceptores β1.(12)

Clinicamente, a utilização de β-bloqueadores no tratamento da dor na ATM é um alvo em potencial, uma vez que a ATM possui rica inervação simpática,(7) e a modulação da dor por esta via contribuiria para o tratamento de pacientes que apresentam dor inflamatória nessa região e que não respondem bem ao uso

dos AINEs.(13) Já foi demonstrada, por exemplo, a participação de adrenoceptores β1 e/ou β2 na diminuição do número de sítios dolorosos pelo corpo de mulheres com fibromialgia ou DTM a partir da administração endovenosa de β-bloqueador não seleti-vo propranolol.(9) No entanto, ainda não se sabe se o bloqueio de adrenoceptores β1, 2 ou 3 na região da ATM reduz especifica-mente a dor nessa região.

Os β-bloqueadores já são vastamente utilizados no trata-mento da enxaqueca. Considerando que a enxaqueca e a dor da ATM apresentam algumas características em comum (tanto a enxaqueca(11) quanto a dor da ATM(6) apresentam maior preva-lência, severidade e duração em mulheres, durante o período re-produtivo), sugere-se que essas duas condições dolorosas sejam moduladas por fatores hormonais. A literatura vem propondo também uma modulação sexual do efeito analgésico de algu-mas drogas,(5) como o que pode ser observado em animais ex-perimentais, nos quais a administração sistêmica dos agonistas dos receptores opioides capa induzem um efeito antinociceptivo significativamente maior em fêmeas quando comparadas com machos.(2) Com relação à dor na ATM, a administração local do agonista do receptor opioide capa U50488 demonstrou que fê-meas são mais sensíveis ao efeito antinociceptivo,(4) enquanto o mesmo não ocorre com administração de morfina nessa região, que induz um efeito antinociceptivo maior em machos.(3)

Portanto, neste estudo investigamos se β-adrenoceptores mo-dulam a nocicepção induzida por formalina na ATM de ratos. Também foram avaliadas diferenças sexuais através da compa-ração das respostas comportamentais entre fêmeas em diferentes fases do ciclo estral e machos. Co-administração dos antagonistas seletivos de adrenoceptores β1, β2 e β3, Atenolol, ICI 118.551 e SR59230A respectivamente, com concentrações equinociceptivas de formalina, reduziu significativamente a nocicepção na ATM in-

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duzida por formalina de forma dose-dependente em machos e em fêmeas em proestro e diestro. No entanto, a menor dose de Ateno-lol (6µg) ou ICI 118.551 (0,3µg) diminuiu significativamente as respostas nociceptivas em fêmeas, mas não em machos. As-sim, pode-se concluir que β-adrenoceptores modulam a dor na região da ATM em ambos: machos e fêmeas. Entretanto, a res-posta nociceptiva induzida por formalina é significativamente mais responsiva aos antagonistas de adrenoceptores beta 1 e 2 em fêmeas do que em machos. Portanto, os dados apresentados sustentam o relevante potencial clínico da analgesia mediada pelos β-bloqueadores no tratamento da dor na ATM. Além disso, o dimorfismo sexual observado sugere que doses dos medicamentos β-bloqueadores devem ser diferenciadas entre homens e mulheres para obtenção do efeito analgésico mais eficiente entre os sexos.

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12. Rodrigues LL, Oliveira MC, Pelegrini-da-Silva A, de Arruda Veiga MC, Parada CA, Tambeli CH. Peripheral sympathe-tic component of the temporomandibular joint inflammatory pain in rats. J Pain 2006 7 (12):929-36.

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* Este estudo foi subsidiado pela CAPES. Não há conflito de interesses.

Componente Simpático Periférico da Dor Inflamatória da ATM*LUCIANE LACERDA FRANCO ROCHA RODRIGUES

Doutora em Odontologia na Área de Fisiologia Oral – Unicamp. Laboratório de Dor Orofacial da Faculdade de Odontologia de Piracicaba. Grupo de Pesquisa em DTM/DOF Centro de Pesquisas São Leopoldo Mandic.

Considerando que a ATM recebe uma rica inervação simpá-tica, o objetivo deste estudo foi investigar o papel das aminas simpatomiméticas na hiperalgesia da ATM induzida pela car-ragenina, além de validar a natureza inflamatória do modelo de hiperalgesia quimicamente induzida pela carragenina na ATM de ratos. Uma pequena dose de 5-hydroxytriptamina (5-HT; 75µg), que induz resposta comportamental nociceptiva míni-ma, foi aplicada na região da ATM de ratos 1 hora após a inje-ção de carragenina (C; 100µg), para detectar a sensibilização induzida pela carragenina na região da ATM, que foi avaliada pela soma das respostas nociceptivas comportamentais, como coçar a região orofacial e levantar a cabeça. O bloqueio da sín-tese de prostaglandinas pela indometacina sistêmica (2,5mg/kg) ou local (10µg) antes do início da inflamação pela carrage-nina diminuiu significativamente a hiperalgesia da ATM. A de-pleção das aminas simpatomiméticas pela guanetidina (30mg/kg por três dias consecutivos antes da injeção de carragenina

na ATM) ou a co-aplicação de antagonistas dos adrenoceptores beta (propranolol nas doses de 0,25 e 2,25µg), assim como os antagonistas dos adrenoceptores beta 2 (ICI 118,551 nas do-ses de 0,05 e 0,1 µg) com carragenina (C; 100 µg), reduziram significativamente a hiperalgesia na ATM. A co-aplicação de antagonistas dos adrenoceptores beta1 (atenolol nas doses de 6, 18, 54 ou 162µg) não afetou as respostas comportamentais induzidas pela carragenina (C; 100 µg). Indometacina local, propranolol e ICI 118,551 não tiveram efeito quando injeta-dos na ATM contralateral, o que indica uma participação pe-riférica das prostaglandinas e das aminas simpatomiméticas nesta hiperalgesia. Esses resultados sugerem que as aminas simpatomiméticas são liberadas no local da injúria onde elas contribuem para a hiperalgesia inflamatória na ATM através dos adrenoceptores beta 2, indicando que estes são possíveis alvos para o desenvolvimento de novas drogas analgésicas no controle da dor da ATM.

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* Não há conflito de interesses.

Aspectos Clínicos e Histológicos das Miopatias*EDMAR ZANOTELI

Doutor em Medicina pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).Pós-doutorado no St Jude Children’s Research Hospital – Memphis, TN – USA.

Departamento de Neurologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

As doenças musculares compõem um grupo extremamente amplo de doenças que afetam o tecido muscular. São doenças geneticamente determinadas ou adquiridas durante a vida. Algu-mas formas são congênitas (com início já no período gestacio-nal) e outras iniciam as manifestações durante a vida. Algumas formas de miopatias são autolimitadas e transitórias, durando apenas enquanto há um evento sistêmico causal ou, por exem-plo, um efeito tóxico medicamentoso. Uma forma aguda de miopatia é a necrose muscular maciça, situação conhecida como rabdomiólise, que pode levar ao óbito por insuficiência renal. Essas situações agudas ou subagudas estão associadas também a quadros infecciosos virais e isquêmicos. O tecido muscular pode ser envolvido por processo inflamatório, sendo as duas princi-pais formas conhecidas como polimiosite e dermatomiosite. As duas formas são causadas por processo autoimune direcionado contra o tecido muscular, no primeiro caso, e contra o capilar, no segundo caso, produzindo fraqueza muscular progressiva. O tra-tamento em geral é bem-sucedido com imunossupressão. Várias formas de doenças sistêmicas podem afetar o tecido muscular, tais como as endocrinopatias (tireoidopatias), colagenoses (vas-culites), neoplasias (síndrome paraneoplásica), infecções (HIV), entre outras. Nesta apresentação serão abordadas mais especifi-camente as miopatias de causa genética.

As miopatias geneticamente determinadas classificam-se em quatro grandes divisões que são as distrofias musculares, oca-sionadas pela deficiência hereditária de proteínas específicas do tecido muscular, as miopatias congênitas, as síndromes miotôni-cas e as miopatias metabólicas, todas podendo apresentar formas congênitas com manifestações evidentes já no período neonatal ou no primeiro ano de vida, formas de início na infância e for-mas de início em adultos.

As distrofias musculares formam um grupo de doenças ca-racterizadas clinicamente por fraqueza muscular progressiva, com grande variação quanto à intensidade do comprometimento motor e a época do início das manifestações. São doenças oca-sionadas por mutações em genes responsáveis pela codificação

de proteínas específicas do tecido muscular, podendo ser trans-mitidas por herança autossômica ou ligada ao cromossomo X. Os principais tipos de distrofias musculares progressivas são as distrofinopatias e as distrofias musculares de cinturas. As dis-trofinopatias são causadas por mutações no gene localizado na posição Xp21, responsável pela codificação da distrofina, uma grande proteína citoesquelética localizada junto ao sarcolema, a qual apresenta a propriedade de manter a integridade da mem-brana. Tal deficiência resulta em uma membrana muscular ins-tável e com limitações para manter a homeostase intracelular, causando deterioração contínua das fibras (necrose muscular), até o momento em que a capacidade de regeneração torna-se insuficiente e, então, o tecido muscular começa a ser substituído por gordura e tecido conjuntivo, produzindo fraqueza muscu-lar progressiva. Quando há uma deficiência total da distrofina a doença é chamada de distrofia muscular de Duchenne (DMD), e quando há apenas uma redução no peso molecular ou na quan-tidade da distrofina (déficit parcial), a doença é chamada de dis-trofia muscular de Becker (DMB).

As distrofias musculares de cinturas ou Limb-Girdle Mus-cular Dystrophies (LGMD) formam um grupo de miopatias de caráter progressivo com grande variabilidade clínica e genética e que apresentam fraqueza muscular de predomínio nas por-ções proximais dos membros (cinturas pélvica e escapular). As LGMD classificam-se conforme a deficiência proteica específi-ca. As formas de herança autossômica dominante constituem o tipo 1 (LGMD1) e as formas autossômicas recessivas, o tipo 2 (LGMD2). No grupo LGMD2, as formas mais comuns são cau-sadas pela deficiência das proteínas calpaína (LGMD2A), FKRP (LGMD2I), disferlina (LGMD2B) e sarcoglicanas (alfa, beta, gama e delta) (LGMD2C-F). Outras formas incluem as causadas por mutações nos genes das proteínas teletonina (LGMD2G), TRIM32 (LGMD2H), fukutina (LGMD2I), anoctamina-5 (LG-MD2L) e titina (LGMDJ).

Outras formas de distrofia muscular incluem as distrofias de Emery-Dreifuss (ED), a distrofia facioescapuloumeral (FSH) e

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a distrofia miotônica de Steinert (DS). A ED é caracterizada por contraturas articulares de início precoce, especialmente dos tor-nozelos, tendões de aquiles e da coluna vertebral, com limitação para o movimento de flexão do pescoço. A maioria dos pacientes apresenta cardiomiopatia e defeitos da condução atrioventricu-lar, os quais exigem implante de marca-passo cardíaco até os 20 anos de idade. Na maioria dos casos a herança é recessiva ligada ao cromossomo X com deficiência da emerina. Em outros casos a herança é autossômica dominante com deficiência da lamina A/C. A FSH é uma doença de herança autossômica dominante, causada pela deleção de um pequeno fragmento de DNA no bra-ço longo do cromossomo 4 (4q). Clinicamente, caracteriza-se pelo envolvimento preferencial da musculatura da cintura esca-pular, da face e dos músculos umerais (bíceps e tríceps). A DM é uma doença de herança autossômica dominante caracterizada por miotonia, fraqueza muscular de predomínio nas porções dis-tais dos membros e manifestações sistêmicas (catarata, endo-crinopatias, cardiopatias). A DM é causada por uma repetição expandida do trinucleotídio (CTG)n na região 3’ não traduzida do gene da miotonina-quinase. Outra forma de DM está associa-da com expansão do CCTG no íntron 1 do gene ZNF9, sendo chamada de DM tipo 2.

As distrofias musculares congênitas (DMC) compõem um grupo de miopatias caracterizadas por comprometimento mus-cular notado já no primeiro ano de vida e com o tecido muscu-lar com aspecto distrófico. Quase a metade dos casos é causada por mutações no gene da cadeia α2 da laminina-2 (merosina),

uma importante proteína da matriz extracelular. Outras formas de DMC são causadas pela deficiência genética de diversas pro-teínas, tais como o colágeno VI (forma de Ullrich), selenopro-teína-N1 (forma com espinha rígida), lamina A/C, α7-integrina, fukutina-relacionada (DMC1C), fukutina (doença de Fukuya-ma), O-manose β-1,2-N-acetilglucosamiltransferase (doença músculo-olho-cérebro) e O-mannosyltransferase-1 (doença de Walker-Warburg).

As miopatias congênitas estruturais formam um grupo de doenças em que as manifestações são notadas precocemente nos primeiros anos de vida e com o musculoesquelético mostrando alterações estruturais características, e que por isso são classifi-cadas conforme a anormalidade estrutural observada nas fibras musculares pelo exame de biopsia muscular. Atualmente estão catalogados mais de 30 tipos e as mais frequentes são as mio-patias centronuclear, miotubular, nemalínica, desproporção de fibras, central-core e multi-core.

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37Fisiopatologia da dor

Genética e Dor Neuropática: O que sabemos?JOSÉ GERALDO SPECIALI

Professor Associado de Neurologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – SP. Coordenador do Serviço de Cefaleias e Algias Craniofaciais do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto −SP.

Dor, que aflige até 20% da população, constitui um desafio no seu tratamento e na compreensão dos seus mecanismos nos sistemas nervosos central e periférico (SNC e SNP). Terminações sensitivas na preferia se especializam para receber informações que indicam lesão tecidual e essa informação é transmitida para o SNC, alertando-o – sendo, portanto, de um mecanismo de alerta.

Estudos que envolvem mecanismos genéticos identificaram al-guns fatos da natureza molecular de transdutores da sensibilidade dolorosa, dos mecanismos de regulação da informação, bem como o envolvimento do sistema imunológico no carreamento dessas in-formações para projeções centrais. No encéfalo essas informações são processadas e essa tarefa envolve o SNC como um todo. Meca-nismos centrais da dor ainda estão pouco compreendidos.

No homem, estudos genéticos em gêmeos uni e bivitelíneos e estudos de mutações gênicas descobertas em pacientes com in-sensibilidade congênita à dor têm sido os marcos iniciais para o estudo do conjunto das anormalidades moleculares relacionadas à regulação dos sistemas envolvidos com a percepção doloro-sa. Como consequência dessas descobertas, novas drogas que atuariam na base molecular da dor seriam desenvolvidas.

Variações substanciais na sensibilidade à dor aguda ou crônica e na susceptibilidade de desenvolvimento de dor crônica neuropá-tica ocorrem em humanos e animais.(1) Por exemplo, um estímu-lo não doloroso quando mais intenso (calor) pode desencadear, numa população, informações de não-dor ou dor excruciante, a pior dor imaginável. Podemos identificar fatores psicológicos, sociais, raciais e religiosos para tamanha variação, mas fatores individuais (genéticos) também estão envolvidos.(1) Hipersensibi-lidade à transformação de dor aguda em dor neuropática crônica pode reduzir muito a qualidade de vida dos sofredores.(2)

Essas variações naturais na propriedade de sentir dor resul-tam, portanto, de uma combinação de influências ambientais e genéticas que atuam nos sistemas sensíveis à dor. Um confun-didor dos fatores genéticos é o menor limiar de dor em adultos que sofreram exposição à dor ou maus tratos em períodos pre-coces do seu desenvolvimento. Isso ocorre também em animais. Eventos dolorosos perinatais, como circuncisão sem anestesia e prematuridade, têm sido relacionados com maior sensibilidade à dor quando adultos.(3)

Admite-se que insensibilidade congênita à dor e as variações individuais quanto à percepção à dor, não explicáveis por fatores ambientais, podem ser interpretadas como tendo base genética.(4,5) Diferenças relacionadas ao gênero quanto à percepção da dor reforçam essa ideia.

Um estudo inicial sobre a influência genética em um pro-ência genética em um pro-ncia genética em um pro-blema é a análise de prevalência do problema em gêmeos unizigóticos e não-unizigóticos, complementada pela prevalên-a pela prevalên-cia do problema em gêmeos monozigóticos que foram criados por uma mesma família e por famílias diferentes. Essa técnica permite inferir a influência genética e separá-la da influência ambiental. Nos estudos da dor, os resultados obtidos através dessa análise são conflitantes.(6,7,8)

Geneticistas estudaram recentemente caso de uma criança paquistanesa e de seus familiares, que tinham total ou parcial insensibilidade à dor, e descobriram um gene muito importan-te para a percepção dolorosa. A pesquisa foi desenvolvida sob a liderança de C. Geoffrey Woods, de Cambridge, Institute for Medical Research, na Inglaterra.(9) O defeito genético inativa um gene que é crítico para a percepção da dor. Foi descoberto que os sintomas dessa família se deviam a um defeito de um gene que atua num canal de sódio (Na) − N9A ou SCN9A, um dos onze genes que atuam na inicialização dos sinais nociceptivos da pe-riferia. Eles abrem os canais de sódio nas membranas das célu-las nervosas relacionadas à nocicepção. A eritromelalgia, uma doença caracterizada por intensa e insuportável sensação de dor provocada por mínimos estímulos de calor, também é causada por mutação no gene SCN9A gene. Nesse caso, o distúrbio gêni-co, em vez de suprimir a dor, a torna insuportável.(10)

Estudos da insensibilidade congênita à dor mostraram ainda que a alteração dupla nos pares de alelos leva à ausência de per-cepção dolorosa, enquanto a mutação em um dos pares leva à diminuição da sensibilidade à dor.

Três mutações distintas em sódio − canal N9A (SCN9A), gene que codifica a subunidade alfa do canal (Nav1.7) de só-dio voltagem dependente − resultam na incapacidade de sentir dor e apresentam um padrão autossômico recessivo de herança.(11)

A modulação genética da dor muitas vezes depende da pró-

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pria doença. Assim sendo, doenças hereditárias podem ter sin-tomas dolorosos específicos a ela e relacionados com as mu-tações genéticas que as causaram. Por exemplo, as migrâneas hemiplégicas familiares, consequência de alterações gênicas do cromossoma 19, têm crises de cefaleia migranosa como um dos seus sintomas. Várias doenças humanas hereditárias (cardiomio-patia, neuropatia, surdez, neuropatias hereditárias) têm também, como um de seus sintomas, dor específica da doença, mesmo aquelas que têm mutações de genes mitocondriais.(11)

O foco das pesquisas, no momento, é analisar as pequenas dife-renças no SCN9A e determinar quais dessas variações estão envol-vidas com a ausência ou diminuição da percepção dolorosa. De um total de 27 sutis variações genéticas, conhecidas como polimorfis-mos de nucleotídeo único (SNPs) do SCN9A, um SNP foi encon-trado em 10% dos participantes do estudo, mas essas porcentagens eram maiores nos que tinham maior sensibilidade à dor.(12)

Um primeiro estudo baseado em terapia gênica para o trata-mento da dor foi realizado por Fink et al.(13) Pacientes obtiveram redução não-significativa da dor refratária de câncer após a inje-ção, na pele sobre a qual a dor era referida, de NP2, que codifica a preproencefalina (PENK). A NP2 é obtida pela replicação inativa-da do vírus do herpes (HSV). Embora os resultados tenham sido inferiores aos esperados, as pesquisas nessa linha irão continuar.

A captação dos genes PENK pelos neurônios-alvo dos gân-glios da raiz dorsal leva à produção de preproencefalina, uma proteína precursora de opioide, que é clivada produzindo opio-ide endógeno, que inibe a sinalização de dor para os neurônios do corno anterior da medula.

Outros estudos com polimorfismos de nucleotídeo único (SNPs) registrados na literatura ilustram as dificuldades iniciais do uso da genética na dor. Vários resultados são conflitantes. Um estudo ini-cial, baseado em 29 participantes, sugeria que um polimorfismo de nucleotídeo único (SNP) do gene da catecol-O-metil-transferase (COMT), que induz a mudança de um aminoácido no condon 158 de valina para o metionina (COMT val158met), significativamente aumentava as respostas da dor experimental.(14) Tais resultados, no entanto, não foram replicados por outros estudos.(13)

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39Fisiopatologia da dor

Envolvimento da Articulação Temporomandibular pelas Doenças Reumáticas na Infância*

LIETE M. L. FIGUEIREDO ZWIREspecialista em Odontopediatria – USP. Especialista em Disfunção Temporomandibular e Dor Orofacial – Unifesp. Mestre em

Ciências da Saúde − Unifesp.

A articulação temporomandibular (ATM), como qualquer outra articulação sinovial, pode estar acometida nas doenças reumáticas. Ela pode estar afetada tanto uni quanto bilateral-mente, de forma precoce ou tardia durante o curso da doença, podendo inclusive ser a primeira articulação envolvida.(7,10,19)

Nem todas as crianças com artrite na ATM apresentam sinais clínicos da doença nessa articulação, fazendo com que a execu-ção somente do exame clínico não seja adequada na detecção da degeneração da cabeça da mandíbula na Artrite Idiopática Juve-nil (AIJ). Infelizmente, a detecção precoce de alterações ósseas e de tecidos moles inerentes ao envolvimento da ATM antes do desenvolvimento de deformidades é difícil de se obter.(18)

Diferentemente de outras articulações diartrodiais, a lâmina de crescimento mandibular, seu principal centro de crescimento nos sentidos vertical e sagital, está localizada na cabeça da man-díbula, logo abaixo da camada de fibrocartilagem, tornando-a particularmente vulnerável às alterações inflamatórias.(16)

A destruição dessa fibrocartilagem pelo processo inflama-tório pode levar a limitações significativas no crescimento e desenvolvimento da mandíbula. Considerando-se que a maior parte do crescimento mandibular ocorre na primeira década de vida, as alterações na lâmina de crescimento durante essa fase terão grande impacto sobre a estrutura mandibular.(13)

A ATM tem sido rotulada como “a articulação esquecida” em Reumatopediatria,(2) por causa da dificuldade de se aplicar a definição clínica de artrite(13) nessa localização.(2,14)

O termo Artrite Idiopática Juvenil compreende um grupo he-terogêneo de doenças caracterizado por artrite em pelo menos uma articulação, com um mínimo de seis semanas de duração e início até 16 anos de idade.(13)

É a doença reumática mais comum na infância, com uma prevalência relatada de 0,07-4,01 a cada 1.000 crianças e inci-dência anual de 0,008 a 0,226 a cada 1.000 crianças.(9)

Pacientes com AIJ e envolvimento da ATM apresentam mais assimetria mandibular do que os pacientes sem esse en-volvimento. Além das alterações esqueléticas da face, a artrite

na ATM pode também levar a dificuldades na mastigação, pro-blemas de saúde bucal (cáries, por exemplo), complicações na intubação em procedimentos cirúrgicos e alterações estéticas.(20)

Apesar dessas morbidades, a artrite na ATM continua sendo uma das condições menos diagnosticadas e tratadas na AIJ. A ausência de sintomatologia e as dificuldades inerentes ao exame dessa articulação levam, geralmente, a um atraso no diagnóstico, o que permite que ocorra uma progressão do dano inflamatório na cabeça da mandíbula em fase de crescimento.(1)

A prevalência relatada desse envolvimento varia de 17 a 87%, dependendo da população investigada, dos subtipos da doença e do método de imagem utilizado para o diagnóstico.(3,6,12,15,17) Al-guns autores associam esse envolvimento com o início precoce, com a longa duração da doença e com o subtipo poliarticular.(8) As alterações ósseas da ATM que acompanham a AIJ variam de pequenas erosões ósseas a completa destruição da cabeça da mandíbula. Esse envolvimento parece ser assimétrico nos está-gios precoces, mas as alterações tendem a tornar-se simétricas conforme a doença evolui.(8) Geralmente, a morfologia facial característica desses pacientes está associada à destruição da ca-beça da mandíbula.(11,16)

A artrite da ATM pode resultar em crescimento mandibular diminuído e subsequente alteração na oclusão dental, podendo afetar o crescimento craniofacial como um todo.(6,11) Pacientes com AIJ podem apresentam hipoplasia mandibular com microg-natia, limitação na amplitude do movimento de abertura bucal e dor durante o movimento mandibular.(17)

A sintomatologia não é confiável na detecção do envolvi-mento da ATM em crianças com AIJ, pois nem dor nem inchaço estão presentes na maioria dos casos, o que pode ser devido a mecanismos protetores e, deste modo, resultar em comprometi-mento da função mastigatória.(4)

Os sinais clínicos que podem estar associados à inflamação na ATM incluem dor nas excursões mandibulares, movimento de abertura bucal assimétrico, crepitação e ausência de movi-mento de translação mandibular.(19)

* Não há conflito de interesses.

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Segundo alguns autores os piores resultados clínicos são en-contrados em pacientes com a doença na forma sistêmica ou po-liarticular, anticorpo antinuclear (ANA) positivo e naqueles com a amplitude de movimento de abertura mandibular diminuída.(5)

A avaliação através da imagem é, há muito tempo, um méto-do útil na detecção de comprometimento articular em pacientes com artrite. A prevalência relatada de alterações radiográficas na ATM de pacientes com AIJ varia de 17 a 63%.(6,8,18) Essa varia-ção reflete as diferenças entre os tipos de técnica radiográfica utilizados, os padrões de avaliação de cada examinador, assim como os critérios na seleção dos pacientes.

Os sinais radiográficos de alterações na ATM em pacientes com AIJ, observados através de radiografia panorâmica, variam de pequenas erosões ósseas à completa destruição da cabeça da mandíbula.(8) Estudos utilizando tomografia computadorizada (TC) e imagem de ressonância magnética (IRM) mostram acha-dos semelhantes.(5,6,18) Alguns autores associam a gravidade das lesões na cabeça da mandíbula à alta atividade da doença.(17)

As radiografias convencionais da região da ATM são difíceis de interpretar por causa da sobreposição de estruturas ósseas. A TC, apesar de fornecer excelente detalhamento ósseo, envol-ve uma exposição significativa à radiação e falha na avaliação das alterações do disco e dos tecidos moles. O envolvimento do disco pode ser visualizado através de artrografia, mas este é um procedimento invasivo e raramente utilizado em crianças.(18)

A IRM com injeção de gadolíneo é, atualmente, o padrão-ou-ro para o diagnóstico de inflamação na ATM.(6) Diferentemente da radiografia convencional, esse tipo de imagem pode ser utili-zado na detecção de alterações inflamatórias precoces, tais como proliferação sinovial e efusão que precedem o desenvolvimento da destruição cartilagínea e erosões ósseas.(7)

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41Fisiopatologia da dor

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Capsulite Adesiva de Ombro e Sacroileíte:Abordagem Biomorfológica Globalista e Mecanicista na Etiologia das

Lesões Musculoesqueléticas a partir de Cadeias MuscularesHÉLIO SARDAS

Médico ortopedista formado pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e Diretor da Clínica Ortopédica Hélio Sardas.

A utilização de bloqueios anestésicos em afecções arti-culares distintas − capsulites adesivas e sacroileítes − leva a questionamentos quanto à convivência destas ou à foca-lização de cada uma como entidades patológicas isoladas, ambas ocasionando algias agudas ou crônicas.

A nosso ver, o diagnóstico focal isolado conduz a diag-nósticos rotulados incompletos e de etiologia não compre-ensível. O contexto da visão corporal ampla é tecnicamente visualizado com abordagem mecânica e nos leva a outras “desordens” funcionais concomitantes. Em nossa experi-ência profissional, 92% de todos os pacientes apresentam alterações musculoesqueléticas múltiplas e – acreditamos − com as mesmas etiologias. Nas capsulites adesivas a etiologia é desconhecida.

Trabalhos recentes tentam relacionar, sem sucesso, al-gumas delas com diabetes, hipotireoidismo, mecânica e outras. No caso das sacroileítes acontece a mesma inde-finição etiopatogênica, de modo a relacioná-la com artrite reumatoide, gota, mecânica e outras.

A única certeza, nesta e em outras afecções, é a li-mitação mecânica funcional, independentemente da sua etiologia.

Nossa abordagem é globalista e baseada em Desarmo-nias Mecânicas Múltiplas Corporais. A origem desta abor-dagem globalista e multifocal veio da verificação clínica de que biomorfologias específicas eram concomitantes às afecções musculoesqueléticas sempre semelhantes. E estes processos eram sempre recidivantes, devido a tra-tamentos paliativos, como medicamentosos, fisioterapia convencional e mesmo procedimentos cirúrgicos falhos.

Se verificarmos os métodos de reabilitação ditos pos-turais, inseridos em nosso arsenal terapêutico, todos base-ados no conceito de cadeias musculares (GDS)1, veremos a estreita relação desses conceitos com a maioria das le-

sões ortopédicas, quase sempre crônicas e, eventualmente, agudas.

Nossa experiência profissional é de 13 anos, adotando esta abordagem globalista e mecânica com aproximada-mente 6 mil pacientes, evidentemente não só nas afecções aqui discutidas. Portanto, a referência desta abordagem é a Biomorfologia Genética Individual e as Exacerbações das “Deformidades” Pessoais, ocasionando as mais va-riadas lesões acrescidas daquelas relacionadas aos hábitos de vida pessoal e das intercorrências múltiplas em nossa rigidez corporal.

Excetuando-se os tumores e os traumas diretos, pode-mos relacionar os processos como sendo de etiologia: in-fecciosa, inflamatória, autoimune, metabólica, degenerati-va, dismórfica (congênita ou adquirida).

Estabelecemos como protocolo os processos: − sistêmico ou metabólico;− mecânicos: mecanoestruturais e mecanoposturais.Constatamos que todas as alterações sistêmicas ou

metabólicas transformam-se em lesões mecânicas funcio-nalmente. Estabelecemos a pélvis como centro corporal e como referência para o diagnóstico e para a terapêutica, como exemplificado abaixo nos esquemas: Cadeias Mus-culares Anteriores (AM) e Cadeias Musculares Posteriores (PM), conforme Figuras 1A e 1B (AM), 2A e 2B (PM), respectivamente.

− Cadeias Musculares Anteriores (AM) caracterizam--se sempre por exacerbações de retroversão pélvica, acom-panhadas de: encurtamentos proximais de cadeias cervi-cotorácicas e cervicotoracobraquiais, rotação interna dos membros superiores, fixação diafragmática, encurtamento de abdominais, encurtamento de cadeia popliteopatelar, encurtamento de isquiotibiais, alongamento toracolombos-sacral, alongamento de aparelho extensor da coxa.

1 Denis-Struyf, G. Cadeias musculares e articulares: o método GDS. São Paulo: Sammus, 1995.

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43Fisiopatologia da dor

Figura 1A Figura 1BFiguras 1A e 1B. Prevalência de Cadeias Muscula-res Anteriores (AM) no nível pélvico com Referên-cia Esquelética (Retroversão Pélvica)

− Cadeias Musculares Posteriores (PM) caracterizam-se por exacerbação de anteversão pélvica, acompanhadas de: hiperlordose cervical, cifose compensatória alta, hiperlor-dose lombar, encurtamento de cadeias lombossacrais e pel-vitrocantéricas, encurtamento de coxofemorais e aparelho extensor, encurtamento popliteopatelar.

Computadorizada (TC) – Ressonância Magnética (RM) – Eletroneuromiografia (ENM) – Cintilografia, dentro da especificidade da lesão.

O que observamos sempre, tanto nas capsulites adesivas e nas sacroileítes, como nas mais variadas afecções, foi a de-sarmonia mecânica de vários segmentos simultaneamente.

O diagnóstico, dentro do conceito global, determina so-mente dois tipos etiológicos de lesões, a saber:

• lesões por encurtamento de cadeias musculares com referência esquelética, sempre insercionais ou ente-sopáticas;

• lesões por alongamento ineficiente de cadeias mus- lesões por alongamento ineficiente de cadeias mus-culares com referência esquelética entesomiopáticas ou musculares.

Em nossa concepção, os processos degenerativos arti-culares se incluem em ambos os processos.

Desse modo, o fundamento de todo o processo tera-pêutico é: estabilização sistêmica ou metabólica das etio-logias, correção ou atenuação de alterações estruturais, desconstrução corporal das prevalências musculoesquelé-ticas e reconstrução de musculatura profunda de cadeias musculares alongadas ineficientes e fixação musculoes-quelética.

Nas desconstruções utilizamos, inicialmente, Reeducação Postural Global (RPG)1. O método foi otimizado, buscando--se não a reeducação postural e sim a correção corporal.

Nas reconstruções utilizamos, inicialmente, o méto-do Iso-Stretching2. O método foi modificado e otimizado dentro do conceito de cadeias musculares.

Este programa abrangente foi rotulado, por nós, de Re-organização Mecânica Corporal Global.

Quanto aos bloqueios anestésicos de capsulites adesi-vas, utilizamos bloqueios (infiltrações), com frequência, na fase aguda (sinovite) e nas lesões crônicas.

Nas lesões agudas procedemos com analgesia e mani-pulação suave da rigidez articular e miorrelaxante periarti-cular. Nas lesões subagudas e crônicas atuamos com anal-gesia e ruptura de estruturas cicatriciais capsulares.

Nos bloqueios intra-articulares procedemos com manipulação cuidadosa para o início da reabilitação de desconstrução global, realizando bloqueios de Xilocaína 2% sem vasoconstritor – 4 ml e corticoides – 1 ml.

Na posição ortostática o bloqueio é sempre intra-arti-

1 De Philippe Souchard.2 De Bernerd Redondo.

Figura 2A Figura 2B Figuras 2A e 2B. Prevalência de Cadeias Muscu-lares Posteriores (PM) no nível pélvico com Refe-rência Esquelética (Antiversão Pélvica)

A avaliação radiológica é usada para diagnóstico em duas categorias: global e focal.

− Global: é solicitado raio X de coluna dorsolombar e de bacia. Panorâmica em ortostase, com e sem contração pélvica − A-P + P, e Escanometria. (Observação: em oito anos utilizaram-se os mesmos parâmetros radiológicos e os laudos foram efetuados pelo mesmo profissional.)

− Focal: diagnóstico pela queixa focal ou regional é feito por meio de: Ultrassonografia (US) – Tomografia

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cular pela amplitude da analgesia, com frequência de 2 a 3 aplicações, com espaçamento de 3 dias.

Há anos não utilizamos manipulação sob narcose. Em nenhum caso foi indicada manipulação cirúrgica.

Nas sacroileítes utilizamos igualmente bloqueios anes-tésicos, com frequência.

Nos quadros agudos utilizamos miorrelaxantes e anti--inflamatórios não esteroides por 4 dias, proporcionando a redução do processo inflamatório de partes moles inser-cionais periarticulares e articular. Eventualmente fazemos bloqueios imediatos nas afecções crônicas

Na posição decúbito ventral, procedemos com pon-tualização do quadro doloroso mais intenso, indepen-dentemente se na porção sindesmófita ou sinovial. Aplicamos xilocaína 2% sem vasoconstritor – 4 ml e corticoides – 1 ml.

Não utilizamos corticoides nos grupos de exceção: dia-betes tipo I; insulino-dependentes; cardiopatias E, hiper-tensão arterial grave.

A nosso ver, independentemente da etiologia, metabóli-ca ou sistêmica, é imperiosa a compensação ou estabiliza-ção da doença quando diagnosticada.

A constatação da limitação mecânica não só regional como corporal ampla nos dá uma abordagem de cadeias prevalentes ou cadeias ineficientes, com lesões bem defi-

nidas em ambas as situações.O diagnóstico sistêmico estrutural global e mecano-

postural possibilita uma reabilitação dirigida globalista, desconstrutiva, somente viável com sinergismo de cadeias musculares.

Os bloqueios anestésicos, quase que invariavelmente, se tornam necessários para a analgesia, principalmente das entesopatias (encurtamentos de cadeias musculares), e per-mitem a mobilização analítica e globalista do paciente.

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Avaliação e epidemiologia da dor

2

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47Avaliação e epidemiologia da dor

Epidemiologia e Conceituação da Dor Aguda e Crônica*

ÉRICA BRANDÃO DE MORAES VIEIRAMestre em Ciências da Saúde pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Pesquisadora e colaboradora da Liga Acadêmica

de Dor da UFMA. Enfermeira do Núcleo de Educação Permanente da Secretaria Municipal de Saúde − MA.

INTRODUÇÃO

A dor é uma experiência vivenciada por quase todos os seres humanos, pois constitui um instrumento de proteção que pos-sibilita a detecção de estímulos físicos e químicos nocivos. A Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP) define dor como uma experiência sensorial e emocional desagradável associada a dano potencial ou descrita em tais termos. É com-preendida como um fenômeno multifatorial: lesão tecidual, as-pectos emocionais, socioculturais e ambientais são fatores que compõem o fenômeno.(15)

CONCEITUAÇÃO DE DOR AGUDA E CRÔNICA

Quanto à duração, a dor pode ser aguda ou crônica. A dor aguda tem início recente e está associada a uma lesão específica. Já a dor crônica é uma dor constante ou intermitente que persiste por certo período de tempo e não pode ser atribuída a uma causa específica. A dor crônica não representa somente um sintoma, mas se caracteriza por um estado patológico bem definido, isto é, uma disfunção do sistema somatossensorial que persiste além da solução do seu processo etiológico.(12)

Ainda não há um critério definido para o tempo de início da dor crônica. Alguns estudos utilizam como critério para a dor crônica uma dor com duração acima de três meses,(2,6) outros, a partir de seis meses de duração.(4,22)

EPIDEMIOLOGIA

No mundo, a dor crônica tem sido associada ao sexo femini-no. Pesquisas mostram que quando homens e mulheres sofrem da mesma condição dolorosa, as mulheres reportam maior fre-quência, intensidade e duração da dor. A relação entre sexo e dor não é simples, e muitos estudos tentam descobrir o porquê das diferenças na percepção da dor entre os sexos. Algumas evidên-cias sugerem que mecanismos endógenos e exógenos na modu-lação da dor variam entre homens e mulheres. Do ponto de vista psicossocial as diferenças na percepção da dor são muitas vezes atribuídas aos efeitos dos papéis sexuais estereotipados. Partin-

do de uma perspectiva mais biológica, os fatores hormonais são diferentes entre os sexos e influenciam na percepção da dor em homens e mulheres.(10,22)

Vários estudos encontraram que o aumento da dor crônica tam-bém está relacionado ao avanço da idade.(6,17) Isso possivelmente ocorre em decorrência também do aparecimento de doenças e agra-vos não transmissíveis, fato que ocasiona o aumento da dor. A dor crônica também tem ocorrido com menor frequência entre as pessoas com maior grau de instrução,(7,16,21) e também entre os solteiros.(14,21,27)

Na tabela 1 (página segunte) os estudos foram organizados por continente e estão em ordem cronológica. Observa-se que variações de prevalência são encontradas nos diversos países, e refletem dife-renças entre as populações estudadas, critérios para definição da dor crônica e forma metodológica da pesquisa.(14)

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* Não há conflito de interesses.

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Continente Local de estudo População AmostraPrevalência de

dor crônicaAno

Europa

Espanha(6) Geral 5.000 23,4% 2002

Reino Unido(26) Geral 5.752 29% (região dorsal) 2003

Noruega(19) Geral 1.912 24,4% 2004

Europa (15 países)(4) Geral 46.394 19% 2006

Reino Unido(23) Geral 6.000 48% 2006

Catalunha(16) Idosos 592 73,5% 2007

Dinamarca(21) Geral 5.552 20,2% 2008

França(3) Geral 30.155 31,7% 2008

Suécia(13) Geral 826 46% 2010

Ásia

Taiwan(28) Idosos 219 42% 2006

Nepal(1) Geral 1.730 50% 2007

Israel(18) Geral 3.738 46% 2008

Hong Kong(27) Geral 5.001 35% 2011

África

Nigéria(11) Geral 2.143 16,4% (região dorsal) 2007

Oceania

Austrália(2) Geral 17.54320% mulheres e17,1% homens

2001

Sul da Austrália(7) Geral 2.973 17,9% 2010

América do Norte

Canadá(17) Geral 2.012 29% 2002

Olmsted (EUA)(25) Geral 5.897 64,4% 2008

EUA(14) Geral 27.035 30,7% 2010

América do Sul

Rio Grande do Sul (Brasil)(20) Geral 3.182 4,2% (região dorsal) 2004

Londrina (Brasil)(8) Idosos 529 51,4% 2007

Salvador (Brasil)(22) Geral 2.297 41,4% 2008

São Paulo (Brasil)(9) Geral 2.401 28,7% 2009

Colômbia(5) Geral 1.008 31% 2009

São Luís (Brasil)(24) Geral 1.597 42% 2011

Tabela 1. Distribuição dos estudos epidemiológicos em dor crônica

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49Avaliação e epidemiologia da dor

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23. Torrance N, Smith B, Bennett M, Lee A. The epidemiology of chronic pain of predominantly neuropathic origin. Results from a general population survey. J Pain 2006;7(4):281-289.

24. Vieira EBM. Prevalência, carecterísticas e fatores associados à dor crônica com e sem característica neuropática em São Luís, Brasil. Dissertação de mestrado. Universidade Federal do Maranhão, 2011.

25. Watkins E, Wollan P, Melton Lr, Yawn B. A population in pain: report from the Olmsted County health study. Pain Med 2008;9(2):166-174.

26. Webb R, Brammah T, Lunt M, Urwin M, Allison T, Sym-mons D. Prevalence and predictors of intense, chronic, and disabling neck and back pain in the UK general population. Spine (Phila Pa 1976) 2003;28(11):1195-1202.

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* O presente estudo contou com o apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico do Estado do Maranhão (FAPEMA) e CNPq. Não há conflito de interesses.

Dor com Características Neuropáticas na População Geral*ÉRICA BRANDÃO DE MORAES VIEIRA

Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Pesquisadora e colaboradora da Liga Acadêmica de Dor da UFMA. Enfermeira do Núcleo de Educação Permanente da Secretaria Municipal de Saúde (MA).

INTRODUÇÃO

A dor neuropática é definida como uma dor que surge em con-sequência de uma lesão ou doença afetando o sistema somatossen-sorial.(7,14) É uma das mais incapacitantes(4) e tem difícil diagnóstico devido às condições clínicas associadas a uma grande variedade de lesões nervosas centrais ou periféricas, e também diferentes formas de manifestação.(10,17) Grande parte se torna crônica, e está entre as mais desafiadoras em relação ao tratamento.(4)

Em 2008, um sistema de classificação propôs dividir a dor neuropática em possível, provável e definitiva. O grau possível leva em consideração a distribuição da dor e uma história su-gestiva de lesão, portanto só pode ser considerado como uma hipótese. A classificação provável e definitiva requer evidências confirmatórias através de um teste sensorial e/ou exame neuro-lógico. Esse sistema de classificação proposto tem sido utilizado para fins clínicos e de pesquisa.(14)

Até pouco tempo, a compreensão mais profunda deste tipo de dor era dificultada pela falta de estudos epidemiológicos, de-vido à ausência de instrumentos apropriados e fáceis de serem utilizados para identificar as características neuropáticas na po-pulação.(12,14) Recentemente questionários foram desenvolvidos baseados na identificação das sensações dolorosas da dor com características neuropáticas,(1,2,15,18) o que propiciou o desenvol-vimento de alguns estudos populacionais,(4,6,8,12,13,18) e também estudos com pacientes hospitalizados.(5,9)

DOR COM CARACTERÍSTICAS NEUROPÁTICAS NA POPULAÇÃO

GERAL

O primeiro estudo populacional foi realizado no Reino Unido com a utilização do questionário S-LANSS (Leeds Assessment of Neuropathic Symptoms and Signs score), e encontrou uma prevalência de dor com características neuropáticas de 8%.(12) Em 2005, um grupo francês desenvolveu um questionário para o diagnóstico da DCCN, chamado DN4 (Douleur Neuropathique 4 questions), que se destacou pela sua praticidade, podendo ser utilizado tanto por especialistas como por não especialistas na

prática clínica, e também em estudos epidemiológicos.(1-3) O pri-meiro estudo populacional com a aplicação desse questionário ocorreu em 2008, na França(4) e posteriormente foi utilizado no Canadá em 2009.(13) A dor com características neuropáticas, nes-ses estudos, foi estimada em 7% a 8% da população.

DOR COM CARACTERÍSTICAS NEUROPÁTICAS NO BRASIL

No Brasil, a recente validação do questionário DN4(11) tor-nou viável o desenvolvimento de um estudo base populacional, o primeiro da América do Sul e o terceiro do mundo a utilizar esse questionário na população.(16)

Esse estudo transversal foi realizado com o objetivo de esti-mar a prevalência de dor crônica com e sem características neuro-páticas na população de São Luís (MA, Brasil); identificar fatores associados à dor crônica; verificar diferenças nas características da dor crônica com e sem característica neuropática, influência na vida diária, uso de medicamentos e serviços de saúde.

Entrevistas foram realizadas com 1.597 pessoas maiores de 18 anos selecionadas por amostragem probabilística do tipo con-glomerado, em dois estágios. Considerou-se um nível de con-fiança de 95% e precisão relativa em torno da estimativa de 3%. Um questionário com perguntas sobre perfil socioeconômico, hábitos de vida, obesidade central e questões específicas para dor crônica, além do questionário DN4, foi aplicado. O escore total ≥ 4 do questionário DN4 definiu dor crônica com caracte-rísticas neuropáticas.

A prevalência de dor crônica com características neuropáti-cas foi 10%. Utilizou-se regressão de Poisson para análise dos fatores de risco. Sexo feminino e aumento da idade estiveram associados ao aumento da prevalência de DC (p < 0,001), e es-colaridade elevada à diminuição da prevalência de DC.(16)

As sensações dolorosas mais relatadas foram formigamen-to (80,25%), alfinetada/agulhada (87,90%) e adormecimento (80,25%). A região cefálica (36%) e membros inferiores (51%) foram os locais mais referidos pelas pessoas com e sem caracte-rística neuropática, respectivamente.(16)

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51Avaliação e epidemiologia da dor

A maioria das pessoas sentiam dor por tempo que variou de 6 meses a 4 anos (51,63%), com frequência diária (44,97%). A intensidade dolorosa, os impedimentos ocasionados pela dor e o sentimento de tristeza foram mais prevalentes nas pessoas que tinham dor crônica com característica neuropática (p < 0,001). A percepção do estado de saúde foi regular para a maioria das pessoas (44,67%). Grande parte ainda não sabia a causa da dor (50,89%), 64,09% utilizavam medicamentos, e apenas 6,95% consultaram um especialista em dor. A insatisfação atingiu 68,20% da população.(16)

A dor crônica com características neuropáticas ainda é pou-co estudada e, especificamente em São Luís, é um problema de saúde pública com elevada prevalência e grande influência na vida diária das pessoas. A realização de estudos populacionais deve ser incentivada, pois é através deles que políticas de pre-venção e controle podem ser implementadas.

REFERÊNCIAS

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1 Bolsista Capes 2009 e Fapesp 2009-2010. Não há conflito de interesses.

Avaliação da Dor Neuropática do Câncer em Ensaios Clínicos: Revisão da Literatura*

GEANA PAULA KURITA1 ● ANGELIKA ULRICH2 ● TROELS STAEHELIN JENSEN3 ● MADS WERNER4 ● PER SJØGREN5

1 Doutora em Enfermagem. Seção de Tratamento da Dor Aguda e Medicina Paliativa, Centro Multidisciplinar de Dor, Rigshospi-talet − Copenhague, Dinamarca. Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo − São Paulo, Brasil.

2 Médica. Clínica de Dor, Hospital Municipal de Vejle − Vejle, Dinamarca.3 Doutor em Medicina. Centro de Pesquisa em Dor, Hospital da Universidade de Aarhus − Aarhus, Dinamarca.

4 Doutor em Medicina. Centro Multidisciplinar de Dor, Rigshospital − Copenhague, Dinamarca.5 Doutor em Medicina. Seção de Tratamento da Dor Aguda e Medicina Paliativa, Rigshospitalet − Copenhague, Dinamarca.

INTRODUÇÃO

Pacientes com câncer e dor neuropática não são incomuns. Estima-se que a prevalência de dor neuropática de origem oncológica é entre 40% e 80%(4,9,16) e pode ter como causa di-reta o próprio tumor (92,5%), a quimioterapia, a radioterapia e o tratamento cirúrgico (20,8%).(4,17) Dor neuropática é um dos maiores problemas no controle da dor oncológica. Pela sua complexidade e o seu adequado alívio com consequente melhora da qualidade de vida é um grande desafio para os profissionais de saúde.

Na última década a dor neuropática tem sido investigada sob diversos ângulos e, consequentemente, sua definição, clas-sificação e avaliação estão sendo criticadas pela falta de es-pecificidade e precisão no diagnóstico.(18) Recentemente, uma nova definição para dor neuropática foi apresentada pelo Spe-cial Interest Group on Neuropathic Pain (International Asso-ciation for the Study of Pain).(10) A definição coloca que a “dor neuropática é a dor resultante como consequência direta de uma lesão ou doença afetando o sistema somatossensório”.(10) Junto a essa definição, recomendações e orientações sobre a avalia-ção da dor neuropática foram revistas. Assim como a European Federation of Neurological Societies,(6) o grupo concluiu que a história, o exame clínico, instrumentos e questionários de ava-liação são úteis e necessários para indicar a existência de dor neuropática.(6)

Considerando-se a alta frequência da dor neuropática ad-vinda do câncer e a importância de sua avaliação para a defi-nição do diagnóstico e tratamento, o objetivo deste estudo de revisão sistemática foi identificar os critérios utilizados para

diagnóstico e avaliação da dor neuropática em doentes com câncer avançado em ensaios clínicos controlados e randomiza-dos (ECR) sobre o tratamento farmacológico da dor.

MÉTODO

As bases de dados PubMed, Embase e Cochrane Central Re-gister of Controlled Trials foram consultadas em outubro e novem-bro de 2010. A pergunta de pesquisa foi “Como é diagnosticada/avaliada a dor neuropática em doentes com câncer avançado em ECR sobre intervenções farmacológicas?”. A estratégia de busca foi baseada nas recomendações do Oxford Centre for Evidence--based Medicine(14) e incluíram termos MESH (Medical Subject Headings) e palavras livres relacionadas a câncer, dor, dor neuro-pática, cuidados paliativos e tratamento farmacológico. As buscas foram limitadas a seres humanos e à língua inglesa.

Critérios de inclusão: pacientes com câncer avançado; dor neuropática crônica relacionada à doença oncológica; ECR no qual o desfecho primário foi o efeito da intervenção com anal-gésico oral, subcutâneo, intravenoso ou transdérmico; e língua inglesa. Critérios de exclusão: estudos sobre dor neuropática aguda relacionada ao tratamento antineoplásico recente e devido exclusivamente a infecções; estudos de revisão; e investigações publicadas somente como resumo.

Os estudos foram analisados de acordo com o nível de evi-dência e grau de recomendação proposto pelo Oxford Centre for Evidence-based Medicine,(15) considerando-se desenho, rando-mização, similaridade entre grupos antes do tratamento, equiva-lência de tratamento (excluindo-se a intervenção), cegamento e perdas no seguimento.

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53Avaliação e epidemiologia da dor

Também analisou-se a definição de dor neuropática utilizada, instrumentos de avaliação, descritores da dor, exame sensorial e achados paraclínicos. Além disso, os estudos foram classifica-dos pelo sistema proposto por Treede et al,(18) no qual a presença de dor neuropática baseia-se em quatro critérios:

1. Dor com distribuição distinta e plausível neuroana tomi-camente (exame sensorial).

2. História sugestiva de uma lesão relevante ou doença que afete o sistema somatossensório periférico ou central (evidência de doença ou dano neural).

3. Demonstração de distribuição distinta e plausível neu-roanatomicamente por pelo menos um teste confirmatório (exame clínico com demonstração de sinais neurológicos, sinais sensoriais positivos ou negativos, que suportem a pre-sença de uma lesão ou doença consistente com a distribuição da dor). Alguns testes podem ter duplo propósito: determinar a distribuição da dor (critério 3) e documentar uma lesão rele-vante (critério 4). Testes confirmatórios sugeridos: questioná-rios, teste sensorial quantitativo, eletrofisiológico, biópsias, neuroimagem, etc.

4. Demonstração da lesão ou doença relevante por pelo menos um teste confirmatório (ex.: acidente vascular cerebral confirmado por ressonância magnética ou tomografia com-putadorizada, compressão de nervo confirmada por meio de cirurgia ou exame radiológico, diabetes ou esclerose múltipla confirmada por teste laboratorial ou neuropatia confirmada por biópsia de nervo).

Interpretação dos critérios: pacientes que apresentam todos os quatro critérios têm definitivamente dor neuropática; pacien-tes que apresentam os critérios 1, 2 mais 3 ou 4 têm provável dor neuropática; e os pacientes com critério 1 e 2 sem evidência de 3 ou 4 têm possível dor neuropática.

RESULTADOS

A busca resultou em 500 resumos de artigos (PubMed=69, Embase=326 e Cochrane=105). Os artigos relevantes foram se-lecionados de cada base e os duplicados foram excluídos. Nove artigos publicados entre 1992 e 2010 preencheram os critérios de inclusão e constituíram esta revisão.

Características dos estudos Intervenção farmacológica: amitriptilina, gabapentina,

ketamina, lidocaína, naproxeno e tramadol. Resultados in-dicando efeito positivo da intervenção foram reportados em seis artigos.(1,2,5,7,11,12)

Quatro estudos com desenho cruzado, duplo cego e place-bo controlado,(3,8,12,13) um estudo cruzado e duplo cego,(7) dois du-

plo cego e placebo controlado com grupos paralelos(5) e pacientes pareados,(2) e dois ensaios abertos com grupos paralelos.(1,11)

Com base nas características metodológicas, todos os estudos foram classificados como nível de evidência 2b e grau de recomendação 2B, o que significa evidência de consistência moderada (Tabela 1).

Avaliação da dor neuropática Definições operacionais da dor neuropática foram obser-

vadas em oito estudos,(1,2,3,5,7,8,11,13) dos quais seis associaram dor à existência de dano ao nervo.(1,2,3,5,7,11)

Hiperalgesia e alodinia foram as características mais fre-quentes,(1,2,3,5,8,11,13) assim como os descritores “queimação” (bur-ning)(1,2,3,5,11,13) e “tiro” (shooting).(1,5,11)

Outros achados como alteração motora e autonômica foram descritos em dois estudos(2,13) (Tabela 1). Em cinco estudos os doentes foram classificados como

tendo definitivamente dor neuropática(2,5,7,8,11), em dois como provável(3,13), em outros dois como possível dor neuropática(1,12) (Tabela 1). A avaliação da dor antes e após intervenção foi feita por

meio de medidas da intensidade da dor (escala visual analógica ou escala numérica) em todos os estudos; exame neurológico em dois estudos,(5,8) testes sensoriais específicos em dois estu-dos,(2,11) anotações sobre os episódios de dor em um,(1) e achados paraclínicos em um(2) (Tabela 1).

CONSIDERAÇÕES

Nesta revisão, nove estudos foram selecionados e classifi-cados como evidência de consistência e grau de recomendação moderados. Entretanto, os estudos diferiram quanto à definição e classificação da dor neuropática. As definições variaram pro-vavelmente devido à grande diferença no intervalo de tempo de publicação dos estudos. Em relação à classificação proposta por Treede et al,(18) em quatro estudos os pacientes foram iden-tificados com dor neuropática definitivamente, enquanto cinco foram prováveis ou possíveis casos de dor neuropática. Distúr-bios de sensibilidade, descritores de dor, disfunção sensorio-motora e outros sinais e sintomas foram reportados de forma esparsa nos estudos (Tabela 1). Somente em quatro dos nove estudos a dor neuropática foi avaliada por meio de exames sen-sorial e paraclínicos antes e após a intervenção.(2,5,8,11) Nenhum dos estudos utilizou instrumentos específicos para avaliação da dor neuropática.

Adotando-se os critérios para diagnóstico da dor neuropáti-ca propostos por Treede et al.(18) e o Special Interest Group on Neuropathic Pain(10) como regra geral, os achados desta revisão

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N AutorNível

e grau evidência

Diagnóstico/avaliação dor neuropática

Presença de dor

neuropáticaExame

Instrumento de avaliação

Critério 1Distribuição

neuroanatômica

Critério 2História lesão/

doença

Critério 3Distrib. neuro-

anat.teste

confirmatório

Critério 4Lesão/doença

teste confir-matório

1. Ellemann et al.(8) 2b/B Sim Sim Sim - definidaexame

neurológico provável

EVA

2. Bruera et al.(3) 2b/B Sim Sim - Sim(10/11) provável - EVA

3. Mercadante et al.(12) 2b/B Sim(1) Sim(1) - - possível - EN

4. Mercadante et al.(13) 2b/B Sim Sim Sim - provável - EN

5. Dellemijn et al.(7) 2b/B Sim Sim Sim Sim definida -

ENEscala de

alívio com 6 pontos

6. Caraceni et al.(5) 2b/B Sim(2) Sim Sim Sim definidaexame

neurológico/sensório

EN

7. Arbaiza et al.(2) 2b/B Sim(2) Sim Sim Sim definida

Testes de neurocondução

sensorial e motora

EN

8. Keskinbora et al.(11) 2b/B Sim(2) Sim Sim Sim definidaPresença/ ausência

de alodiniaEN

9. Arai et al.(1) 2b/B Sim Sim - - possível -EN

episódios de dor

- = não mencionado; EVA = escala visual analógica; EN = escala numérica(1) Não especificado, referido como exame clínico.(2) Não específicado, mas se critérios 3 e 4 são referidos, considerou-se implícito o critério 1.

Tabela 1. Síntese das características dos estudos

indicam a necessidade de melhorar a avaliação e diagnóstico da dor neuropática relacionada ao câncer em ensaios clínicos futu-ros. Colaboração entre diferentes centros para otimizar o tama-nho da amostra e protocolo padronizado que inclua questionários desenvolvidos para avaliação da dor neuropática são desejáveis.

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Dor Neuropática DiabéticaROGÉRIO ADAS AYRES DE OLIVEIRA

Neurologista. Mestre em Medicina pela Universidade de São Paulo. Membro da Equipe Neurológica e Coordenador Médico do Grupo de Dor do Hospital Santa Catarina – São Paulo.

INTRODUÇÃO

O diabetes mellitus (DM) constitui a principal causa de neuropatias periféricas nos países desenvolvidos. Estima-se que cerca de um em cada três diabéticos seja portador de al-guma neuropatia periférica. O risco de desenvolvimento de neuropatias sintomáticas em diabéticos sem sinais ou sintomas neurológicos por ocasião do diagnóstico de DM é estimado en-tre 4-10% nos primeiros 5 anos e até 15% em 25 anos. Estudos em diabéticos do tipo 2 demonstraram incidência de neuropa-tia diabética (ND) em 8,3% por ocasião do diagnóstico e até 41,9% com o seguimento de 10 anos.

A ND relaciona-se com o mau controle glicêmico, com a hipoinsulinemia, com a duração da doença, idade, estatura e fa-tores associados, como a dislipidemia, o consumo de álcool e o tabagismo, entre outros fatores de risco para doença cardio-vascular. Em diabéticos do tipo I a neuropatia diabética mostra algum predomínio no sexo masculino. A ND relaciona-se com maior morbidade e mortalidade no paciente diabético; é fator preditor de lesões cutâneas nos membros e do pé diabético.

A ND se expressa predominantemente por déficits sensitivos e/ou autonômicos e que comumente cursam com dores neuropá-ticas crônicas, refratárias e de difícil manuseio clínico. Estudos epidemiológicos mostram que a dor neuropática ou a neuropa-tia diabética dolorosa está presente em 8 a 26% dos diabéticos e pode constituir fator de grande sofrimento e de comprometi-mento da qualidade de vida às suas vítimas. Dada a importância epidemiológica do DM, do impacto psicossocial e econômico na população, a ND e a dor neuropática constituem importante problema de saúde pública.

O objetivo principal desta apresentação é a discussão das op-ções terapêuticas para o controle sintomático na ND, após breve caracterização dos seus aspectos clínicos, patogênicos e de po-tenciais terapêuticas específicas.

ASPECTOS CLÍNICOS E DIAGNÓSTICOS

A ND manifesta-se por um conjunto de disfunções neuroló-gicas, de expressão clínica ou subclínica, ocorrentes na evolução da DM e na ausência de outro fator patogênico demonstrável.

O diagnóstico da ND é centrado nos sintomas e sinais suges-tivos de déficits sensitivos, autonômicos e motores indicativos de lesão ou lesões no sistema nervoso periférico que podem ser confirmados por estudos eletrofisiológicos. A presença de sinto-mas positivos da sensibilidade como as parestesias, disestesias, a alodínia (percepção de dor a estímulos não nocivos, como tato, frio e calor, por exemplo) e a hiperpatia (somação temporal de estímulos dolorosos repetitivos levando a resposta álgica inten-sa) são frequentes na neuropatia diabética dolorosa.

A polineuropatia distal simétrica (PDS) é a mais comum apresentação da ND: representa três quartos dos casos. Clas-sicamente expressa por comprometimento predominantemente sensitivo distal com déficits “em bota e luva”, apresenta comu-mente manifestações disautonômicas, bem como pequenos dé-ficits motores nos músculos distais dos membros inferiores. Os sintomas costumam instalar-se insidiosamente a partir dos dedos dos pés e projetam-se para porções proximais dos membros in-feriores e dos membros superiores. Na ausência de intervenções, o caráter é crônico e progressivo.

O termo neuropatia hiperglicêmica tem sido utilizado para descrever sintomas sensitivos em diabéticos com mau controle glicêmico, rapidamente reversíveis com a terapêutica e a melho-ra do controle metabólico.

Observam-se agulhamentos e déficit na percepção doloro-sa e na percepção térmica, veiculadas respectivamente pelas fibras Aδ e fibras C. O envolvimento de fibras grossas (Aβ) compromete tato profundo, pressão, artrestesia e sensibilidade vibratória, podendo levar a ataxia de marcha nos casos mais severos. Os déficits da sensibilidade profunda, vibratória e ar-trestésica, predispõem a alterações neurovegetativas e tróficas nas articulações, e representam fator determinante na patogê-nese do pé diabético.

As neuropatias autonômicas diabéticas são encontradas nos DM de longa duração e são causa de hipotensão, síncopes, gas-troparesia, diarreia, constipação, disfunção vesical, disfunção sexual, arritmias e morte súbita.

As variadas neuropatias periféricas associadas ao DM po-dem ser classificadas em síndromes clínicas distintas, cada qual com apresentação e curso clínico específico, como as polineu-

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ropatias rapidamente reversíveis com o controle glicêmico, as polineuropatias simétricas persistentes e neuropatias focais ou multifocais. Em geral, observam-se combinações de diferentes expressões clínicas na ND, como na classificação seguinte:

TERAPÊUTICA DA NEUROPATIA DIABÉTICA

A terapêutica da ND baseia-se no controle glicêmico, no su-pracitado tratamento específico baseado na patogênese, no trata-mento sintomático da dor e dos fenômenos disautonômicos e no controle de complicações e dos fatores de risco cardiovascular.

NEUROPATIA DOLOROSA DIABÉTICA – TRATAMENTO SINTOMÁTICO

A dor neuropática relacionada a DM pode levar a gran-de sofrimento, comprometendo de forma severa a qualidade vida. Os transtornos psicocomportamentais, como os estados depressivos e ansiosos, bem como a insônia, são também co-mumente encontrados.

Muitos pacientes não respondem a uma estratégia única de medicação. Os antidepressivos e os anticonvulsivantes são as principais drogas para o controle da ND dolorosa.

Os antidepressivos tricíclicos (ADT) atuam aumentando a atividade das vias monoaminérgicas e encefalinérgica no siste-ma nervoso central, por meio de bloqueio inespecífico da re-captação da serotonina e noradrenalina, bloqueio dos canais de sódio, entre outros mecanismos. Além do efeito analgésico, também atuam controlando os sintomas depressivos e a ansie-dade, comuns neste grupo de pacientes. Por seu efeito sedativo, os ADT auxiliam na regulação do sono. Os anticonvulsivantes, por sua vez, estabilizam as membranas neuronais por meio do bloqueio dos canais de sódio (como carbamazepina, oxcarbaze-pina, topiramato e lamotrigina) e ou dos canais de cálcio. Alguns têm ação antiglutamatérgica (como lamotrigina e topiramato), outros aumentam a atividade gabaérgica no SNC (valproato de sódio, clonazepan) ou apresentam mecanismo modulador sobre transmissão glutamatérgica (Gabapentina e pregabalina; atuam sobre unidade α2δ dos canais de cálcio).

Os inibidores seletivos de recaptação da noradrenalina e se-rotonina (ISRNS), como a duloxetina e a venlafaxina, também apresentam eficácia antiálgica e menor perfil de efeitos adversos e são mais bem tolerados principalmente na população idosa, nos portadores de comorbidades e sob polifarmácia. Além disso, podem ser mais eficazes no controle dos quadros depressivos do que os ADT, dentro da faixa de dose tolerável pelos pacientes.

A amitriptilina, a clomipramina, a imipramina e a nortripti-lina são os ADT disponíveis no mercado brasileiro, apresentam como vantagem adicional o baixo custo, em comparação com os ISRNS e os anticonvulsivantes de nova geração. Variam em re-lação às ações sedativas (mais proeminentes com a amitriptilina e clomipramina), antidepressivas (imipramina e amitriptilina), ansiolíticas (clomipramina, amitriptilina) e analgésicas propria-mente ditas (amitriptilina, clomipramina, nortriptilina). Efeitos

Polineuropatias simétricas− Polineuropatia distal sensitiva ou sensitivo-motora

− Neuropatia de fibras finas

− Neuropatia autonômica

− Neuropatia de fibras grossas

Neuropatias assimétricas− Neuropatia craniana (simples ou múltipla)

− Neuropatia de tronco (radiculopatia torácica)

− Mononeuropatia apendicular (simples ou múltipla)

− Radiculoplexopatia lombossacral (neuropatia assimétrica proximal motora)

− Encarceramento

Combinações− Polirradiculoneuropatia

− Caquexia neuropática diabética

− Outras

PATOGÊNESE E TERAPÊUTICAS ESPECÍFICAS

Estudos experimentais revelam multiplicidade de fatores etiopatogênicos na ND. As mononeuropatias cranianas ou apen-diculares podem relacionar-se com a doença oclusiva de peque-nos vasos e alterações hemorreológicas do estado hiperglicêmi-co. Além de fenômenos isquêmicos, as neuropatias assimétricas podem também recrutar mecanismos inflamatórios.

As neuropatias simétricas no DM são hipoteticamente rela-cionadas a variados fatores, como a depleção do mioinositol, ativação da via dos polióis por meio da aldose redutase, gerando acúmulo de sorbitol e frutose nas terminações nervosas e glica-ção de proteínas estruturais. Outros processos, como o aumento do estresse oxidativo derivado da auto-oxidação da glicose e a hiperativação da proteína quinase C parecem exercer papel em modelos experimentais de ND.

A terapêutica específica para a ND baseada na patogênese vem descobrindo novos agentes. O ácido α-lipoico mostrou efi-cácia em ensaios experimentais e clínicos, e encontra-se dispo-nível para comercialização em alguns países. Os inibidores da aldose redutase, embora tenham demonstrado resultados pro-missores em estudos preliminares e em alguns ensaios clínicos, carecem de eficácia definitiva segundo estudos meta-analíticos.

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colaterais limitam a utilização dos ADT no tratamento da DCE. São comuns a sonolência excessiva, as tonturas e as ações an-ticolinérgicas como a sialosquese (boca seca), a retenção uriná-ria, o aumento da pressão intraocular, os bloqueios de condução cardíaca. Devem ser utilizados com cautela na população geriá-trica, portadores de prostatismo, cardiopatas e hepatopatas. São contraindicados em portadores de glaucoma de ângulo agudo e em portadores de bloqueios atrioventriculares.

Segue relação dos fármacos mais comumente empregados:

Fármacos utilizados na neuropatia diabética dolorosaAD tricíclicos nível evid. dose/dia NNT

Amitriptilina 2 10-150mg 2.1

Nortriptilina 2 10-150mg 1.2

Clomipramina n.a. 10-150 2.1

ISRNSVenlafaxina n.a. 75-225mg 4.5

Duloxetina 2 60-120mg 5.3

AnticonvulsivantesCarbamazepina 2 200-600mg 3.3

Gabapentina 2 900-3600mg 3.7-4.0

Pregabalina 2 300-600mg 4.2-5.9

OpioidesTramadol 2 50-400mg 3.4

Oxicodona 2 20-120mg n.a.

Metadona 2 10-20mg n.a.

TópicosCasaicina 0,025% 2 n.a. 8.1

Alguns autores propõem tratamento específico orientado se-gundo determinados sintomas e mecanismos da dor neuropática. Assim, a ocorrência de algias paroxísticas costuma responder melhor aos anticonvulsivantes. A alodínia mostra-se particular-mente responsiva a gabapentina e a pregabalina. Dores contínu-as e em queimor respondem bem aos ADT e opioides. Embora

apresente reconhecidas limitações, esta abordagem pode ajudar a selecionar melhor os fármacos no contexto clínico.

O tratamento dos transtornos do humor e a melhora do pa-drão de sono devem ser levados em conta ao se escolher a tera-pêutica da dor neuropática.

Em suma, em nosso meio, os ADT, a gabapentina e a carba-mazepina são opções eficazes no tratamento da ND dolorosa, respeitadas as tolerabilidades individuais, as características da síndrome álgica e o perfil clínico do paciente. Os opioides (tra-madol e oxicodona) podem ser opção interessante na presença de síndromes dolorosas associadas, como as afecções do apare-lho locomotor, comumente encontradas, e podem ser utilizados em associação com outros agentes. Novos agentes como a du-loxetina e a pregabalina constituem opções terapêuticas eficazes no tratamento da ND dolorosa em pacientes selecionados. O tra-tamento tópico com capsaicina 0,025% pode ser opção interes-sante em portadores de algias de distribuição corporal restrita.

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Questionários de Autorrelato para Avaliação da Dor Neuropática*JANAINA VALL

Enfermeira. Doutora em Ciências Médicas. Coordenadora Docente da Liga sem Dor de Curitiba. Professora da Faculdade Evangélica do Paraná.

Devido à subjetividade do fenômeno doloroso é difícil para os profissionais da área da saúde avaliá-la de forma adequada, e mais ainda padronizar essa avaliação. Isso porque cada in-divíduo sente a dor de uma maneira diferente, de acordo com seu limiar de dor específico e com suas experiências anteriores, como bem enfatiza a International Association for Study of Pain – IASP. No entanto, o primeiro passo para alcançar uma razoá-vel avaliação, que consiga fornecer suporte para um tratamento adequado, visto que a função primordial da avaliação é subsidiar esse tratamento, é justamente não buscar “avaliar a dor”, mas “avaliar a pessoa com dor”, pois é o indivíduo que sente o des-conforto que lhe afeta toda a dinâmica de vida pessoal e social, seja nos aspectos físicos, psíquicos ou espirituais. O segundo passo é diferenciar mensuração de avaliação. A mensuração ve-rifica apenas um aspecto do processo de dor (por exemplo, sua intensidade), já a avaliação checa todo um contexto envolvido na dor sentida pelo indivíduo, desde sua localização, intensidade e qualidade até sua interferência nas atividades de vida diária e nas suas emoções, por exemplo.

Há casos em que apenas mensurar é o suficiente, como nas dores agudas, principalmente as pós-operatórias. No entanto, nas dores crônicas o ideal é avaliar, a fim de encontrar causas e con-sequências da dor, em busca de melhora da qualidade de vida. Neste contexto, a dor neuropática é caracterizada por uma lesão no sistema nervoso, seja central ou periférico, e, embora possa ser aguda, sua característica tende a prevalecer por mais tempo, tornando-a crônica, na maioria dos casos. Segundo Hochman,(1) atualmente não se pode considerar a dor neuropática como uma condição rara, visto que ela está presente em muitos casos de dor crônica. Por isso é de grande importância que o paciente com dor neuropática seja avaliado de forma completa e também específica, pois é comum encontrar pacientes sendo tratados de forma inade-quada para uma dor não caracterizada como neuropática, quando ela o é. Isso ocorre porque a maioria dos profissionais, infeliz-mente, trata a dor com base em sinais e sintomas e não em meca-nismos da dor, o que seria mais adequado, visto que o mecanismo de uma dor neuropática é diferente do mecanismo de uma dor

nociceptiva ou psicogênica − embora eles possam estar presentes ao mesmo tempo. Daí a importância de uma avaliação segura, embasada cientificamente e com olhar clínico apurado. Para uma adequada avaliação são necessários a realização de uma detalhada anamnese, um bom exame físico e neurológico e exames comple-mentares, quando necessário. Dentro da anamnese, o profissional tem a opção de escolher instrumentos de avaliação da dor que envolve questionários, escalas, inventários e outros. Alguns são aplicados na forma de entrevista pelo profissional e outros por au-torregistro. Os questionários de autorregistro são essenciais, pois conseguem captar muito da subjetividade dolorosa, visto que a resposta vem direto do paciente, de suas percepções, sensações e emoções. Segundo Silva,(2) as autoavaliações são usadas de vá-rias formas e frequentemente envolvem a estimulação através de alguma escala métrica. Embora haja controvérsia sobre a validade dos dados obtidos através de autoavaliações, visto que o nível de dor registrado pelos pacientes muitas vezes não é compatível com seus próprios registros de incapacidade física, estes não devem cair em desuso, mas, sim, ser utilizados com critério e segundo cada situação. O fato esperado, em que o grau de incapacidade fí-sica seja proporcional à severidade da dor e quando ambos não se relacionam dessa maneira, faz com que os profissionais argumen-tem que o autorregistro da dor do paciente é exagerado e portan-to inválido, raciocínio nem sempre correto. Vale ressaltar que as medidas de autorregistro se baseiam na habilidade de uma pessoa se comunicar sobre sua dor e por isso não devem ser aplicados em pessoas com dificuldade em se comunicar ou com alterações cognitivas, em crianças, ou em pessoas com demais necessidades especiais (nesses casos, a avaliação ideal é mediante observação comportamental e dos demais sinais vitais, principalmente nas do-res agudas). É importante lembrar também que os questionários de autoavaliação devem ser devidamente validados e traduzidos para a língua em que serão aplicados, para que possam ter os cri-térios de validade e fidedignidade. Para dor neuropática, especifi-camente, não há uma gama tão grande de opções de questionários de autorrelato. Um dos mais utilizados, que pode identificar a dor neuropática, mas também é usado universalmente para todos os

* Não há conflito de interesses.

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tipos de dores, são os descritores de McGill – QDM. Segundo Pi-menta,(3) ele é considerado o melhor instrumento para avaliar qua-litativamente a dor e é o mais utilizado para caracterizar e discer-nir os componentes afetivo, sensitivo e avaliativo da dor, quando se pretende obter informações qualitativas e quantitativas a partir das descrições verbais. Além disso, é considerado um instrumento universal e foi traduzido para o português por Pimenta e Teixeira em 1996. Ele costuma ser bem aceito pelos pacientes que, muitas vezes, por si só, não encontram palavras para descrever sua dor. O QDM avalia três dimensões da dor: sensorial-discriminativa, mo-tivacional-afetiva e cognitiva-avaliativa, através de 78 descritores das qualidades sensoriais da dor e das emoções correspondentes. É possível identificar descritores relacionados à dor neuropática, sendo os mais comuns as sensações de choque e queimação.(4) Se-gundo Resende,(5) este último predomina. Seus escores variam até o máximo de 78 pontos, conforme escolha dos descritores, sendo mais altos conforme aumenta a gravidade do fenômeno doloroso. A Escala Multidimensional de Dor – Emador – também é muito utilizada, pode ser usada como parâmetro para indicação de dor neuropática e foi traduzida em 2010 para o português, por Sousa(6) e colaboradores. Um questionário específico para dor neuropática é o DN4, traduzido para o português em 2008 por Ferreira e Tei-xeira(7) e identifica a presença de dor neuropática (Figura 1). Ele consiste em 10 itens subdivididos em duas partes. A primeira avalia os aspectos sensitivos da dor neuropática e inclui sete palavras para caracterizar a dor, e é preenchida a partir das entrevistas com o pa-ciente. A segunda parte avalia alguns sinais sugestivos de lesão neu-ropática e deve ser preenchida a partir do exame físico do paciente. Cada item é avaliado de modo binário: “sim” e “não”. O escore “1” é atribuído para cada item positivo e o “0” para cada item negati-vo. O escore total é calculado com a soma dos 10 itens, sendo que escores acima de “4” caracterizam a presença de dor neuropática.(8,9) Existe também o Leeds Assessment of Neuropathic Symptoms and Signs – LANSS, publicado por Bennett(10) em 2001, no entanto ainda sem tradução para o português. Existe ainda a versão em es-panhol, publicada em 2006 por Pérez.(11) Essa escala parte do mes-mo princípio do DN4 e questiona sensações comuns nos casos de dor neuropática, bem como sintomas de alodínia e limiar ao toque. Seu escore vai a um máximo de 24 pontos, sendo um valor igual ou maior que 12 indicativo de que mecanismos neuropáticos estejam contribuindo para a dor do paciente. Segundo El Sissi,(12) esta escala possibilita diferenciar mecanismos nociceptivos de neuropáticos e melhorar o tratamento da dor. Para dor neuropática, as escalas de mensuração da intensidade da dor também são amplamente válidas e muito utilizadas, entre elas a Escala Visual Analógica e Numérica. Também os instrumentos correlatos para avaliar outras condições

associadas à dor crônica devem ser utilizados, principalmente os que avaliam depressão, incapacidade funcional e qualidade de vida. Os questionários de autorrelato para dor neuropática são essenciais na clínica e contribuem muito para que os pacientes com esse tipo de dor sejam bem identificados quanto aos mecanismos nela en-volvidos, para que possam ter um manejo adequado e, mesmo sem alcançar a cura em muitos casos, possam ter uma melhora significa-tiva de sua qualidade de vida.

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Figura 1. Questionário de Dor Neuropática – DN4

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Testes Sensoriais na Dor Neuropática*SILVIA REGINA DOWGAN TESSEROLI DE SIQUEIRA

Professora Doutora do Curso de Gerontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP. Livre-Docente pela FMUSP. Diretora Científica do Comitê de Dor Orofacial da Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor. Membro da Equipe de Dor

Orofacial do Hospital das Clínicas da FMUSP.EACH – USP (Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo).

A dor crônica é bastante prevalente na população mundial em geral, acometendo de 9% a 63,5% dos adultos e idosos (Von Korff et al., 1988; Nickel e Raspe, 2001; Watkins et al., 2008). No Brasil, cerca de 7% dos indivíduos com mais de 40 anos entrevistados em São Paulo e Salvador apresentavam características de dor neuropática, mais comum em mulheres e de causa principalmente traumática (Teixeira et al., 1999). En-tre as mais frequentes, encontram-se a neuralgia idiopática do trigêmeo (NIT), a neuralgia pós-herpética (NPH), a neuropatia diabética (ND), neuropatia secundária ao câncer, neuropatias traumáticas, mielopatias, e outras (Siqueira e Teixeira, 2001).

As dores neuropáticas caracterizam-se pela presença mar-cante de fenômenos neuroplásticos, que também se manifes-tam na cronificação da dor, e caracterizam a sensibilização secundária. Eles são responsáveis por fenônemos de alodínia, espalhamento e referência de dor a outras regiões, e promo-vem alterações na rede sináptica como um todo, inclusive en-tre áreas cognitivas e emocionais (Sessle, 2000). É importante salientar que, quando a dor neuropática é facial, muitas vezes há sobreposição com síndromes dolorosas musculoesqueléticas, em particular as disfunções temporomandibulares, e também odontalgias, e assim o diagnóstico diferencial se faz necessário (Siqueira et al., 2007; Fabri et al., 2009).

Entre as ferramentas utilizadas na avaliação da dor neu-ropática, atualmente se fazem necessários os testes sensiti-vos quantitativos, já que anormalidades sensoriais fazem parte dos critérios de diagnóstico da dor neuropática (Geber et al., 2009). Nas últimas décadas, foram desenvolvidas metodologias de testes sensitivos quantitativos com o intuito de avaliar a sensibilidade de forma quantitativa em huma-uantitativa em huma-nos, o que tem contribuído para a elucidação dos mecanismos envolvidos no processamento sensitivo, inclusive orofacial (Eliav et al., 2004; Pigg et al., 2009). Na avaliação neuropáti-

ca trigeminal, devem-se considerar sensações especiais como a gustação, olfação, audição e visão (Sherrington, 1947; Siqueira, 2011).

Há cada vez mais evidências de anormalidades sensitivas em doenças que são consideradas idiopáticas como a NIT (Si-queira et al., 2006a; Siviero et al., 2010), a Síndrome da Ar-dência Bucal (SAB) (Siviero et al., 2011a), a dor facial atípica e a odontalgia atípica (Lang et al., 2005; Forssell et al., 2007), e foram encontradas anormalidades além do território de dor em doenças como a NPH (Alvarez et al., 2007; Siviero et al., 2011b). Muitas anormalidades sensitivas (inclusive gustativas e olfativas) e motoras mastigatórias podem ocorrer devido à neurocirurgia (Teixeira, 1984; Sanchez-Juan e Combarros, 2001; Siqueira et al., 2006a; Siqueira et al., 2006b; Siqueira et al., 2007; Shiau et al., 2008). Esses achados serviram de base para alguns dos princípios fisiopatológicos, como no caso da SAB, em que se acredita que ocorra uma desinibição do siste-ma trigeminal através de anormalidades gustativas (Grushka et al., 2006), ou ainda que haja lesão neuropática trigeminal primária, gerando anormalidades gustativas e olfativas (Sivie-ro et al., 2011a). Pacientes com ND, quando avaliados quanto às suas características de sensibilidade somestésica trigeminal, apresentaram anormalidades subclínicas que se associaram à hemoglobina glicada (Arap et al., 2010). Outras condições que apresentam anormalidades sensitivas são a fibromialgia, a Sín-drome de Wallemberg e a paralisia facial (Siqueira e Teixeira, 2001; Siqueira, 2011). Na neuropatia traumática, os achados sensitivos são comuns e bem reportados (List et al., 2008; Sar-della et al., 2009).

Com a idade, ocorre um aumento nos limiares somestési-cos, gustativos e olfativos (Heckmann e Lang, 2007). Também observou-se, além das diferenças etárias, diferenças sexuais nos limiares sensitivos (da Silva et al., 2011).

*Os estudos aqui descritos receberam financiamento da Fapesp – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (2007/04156-4; 2008/05078-0; 2009/08697-5; 2009/13239-6) Não há conflitos de interesse.

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REFERÊNCIAS

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4. Eliav E, Gracely RH, Nahlieli O, Benoliel R. Quantitative sen-sory testing in trigeminal nerve damage assessment. J Orofac Pain 2004;18:339-344.

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26. Siviero M, Alvarez FK, Okada M, Teixeira MJ, Siqueira JTT, Siqueira SRDT. Facial sensibility of patients with trigeminal neu-ralgias. Clin Neurol Neurosurg, 2011(b). In press.

27. Teixeira MJ. A lesão por radiofrequência e a descompressão neurovascular para o tratamento da neuralgia do trigêmeo [dis-sertação]. São Paulo: Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo; 1984.

28. Teixeira MJ, Marcon RM, Rocha RO, Figueiro JB. Epidemiolo-gia clínica da dor. Rev Med. 1999;78:36-54.

29. Von Korff M, Dworkin SF, Le Resche L, Kruger A. An epidemio-logic comparison of pain complaints. Pain 1988;32(2):173-83.

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Novos Instrumentos na Investigação Clínica das Neuropatias de Fibras Finas.

Dor Neuropática e Implicações nos Guidelines Atuais para DiagnósticoOSVALDO J. M. NASCIMENTO

Professor Titular de Neurologia. Coordenador de Pós-Gradução e Pesquisa em Neurologia/Neurociências, Neuropatias Periféricas/Dor Neuropática.

Universidade Federal Fluminense – UFF− Rio de Janeiro.

As neuropatias periféricas de fibras finas (NPFF) constituem a modalidade mais frequente na prática clínica. Habitualmen-te, essas neuropatias se apresentam com sintomas dolorosos (dor neuropática) distribuídos nos segmentos distais dos mem-bros, principalmente dos inferiores. A NPFF pode ser definida como resultado de lesão de fibras nervosas finas mielinizadas e/ou amielínicas. As NPFF incluem o comprometimento de fi-bras nervosas no nível das raízes e dos gânglios. Sensação de queimação, choques e agulhadas são as queixas mais frequen-tes, caracterizando dor neuropática (DN). O exame neurológico quase sempre mostra redução da sensibilidade termoalgésica, ou anestesia, nas áreas envolvidas, refletindo o comprometimento de fibras nervosas finas aferentes. Ao lado de sinais aferentes transitam eferentes autonômicos simpático e parassimpático.

As melhores ferramentas para avaliar a NPFF / DN, com-preendendo o estado da arte, são uma boa história clínica e um cuidadoso exame neurológico. Em segundo lugar, aparecem os métodos eletrofisiológicos e, em terceiro lugar, a imagem e os exames histológicos. A maioria desses métodos foi desenvolvida ou apareceu muito recentemente, razão de não serem eles total-mente conhecidos ou facilmente encontrados – e, muitas vezes, são complexos ou altamente dispendiosos. Em 2009, revisão das orientações para avaliação da DN propostas pela Federação Eu-ropeia de Sociedades Neurológicas (EFNS), com base em traba-lhos publicados no período de 2004-2009 e de acordo com a clas-sificação dos métodos para procedimentos diagnósticos da EFNS reforçou as recomendações anteriormente propostas (Cruccu G et al. Eur J Neurol, 2010). Essas recomendações consideraram que, entre os testes laboratoriais, os potenciais evocados a laser (LEPs) são a melhor ferramenta para avaliar disfunção de fibras A delta e a biópsia de pele para avaliar neuropatias com perda distal de fibras nervosas amielínicas. No entanto, esses dois métodos, respectiva-mente, neurofisiológico e morfológico, requerem aparelhos e pro-fissionais muito especializados, principalmente o primeiro.

O objetivo deste relato é chamar a atenção para os novos métodos laboratoriais para estudos clínicos de NPFF / DN que

não sejam invasivos como os LEPs e a biópsia da pele, e sejam facilmente reprodutíveis e menos dispendiosos.

Potenciais evocados ao contato pelo calor (CHEPS) ofere-cem uma abordagem objetiva ao avaliar as respostas cerebrais a estímulos térmicos, mediados por fibras A delta, com eletrodos dispostos sobre o couro cabeludo (em CZ, por exemplo). Os po-tenciais obtidos pelo CHEPS com os eletrodos de captação dis-postos sobre o couro cabeludo são o resultado da promediação de vários estímulos térmicos exercidos sobre a pele. Iniciamos, recentemente, a utilização desse método em nosso país e estamos em fase de normatização envolvendo centros nos Estados Unidos (Mayo Clinic), Londres e Barcelona. Esse método permite estu-dar o comprometimento de fibras finas sem a participação subje-tiva do paciente, como acontece com os demais métodos, como os testes quantitativos de sensibilidade (QST). Em pacientes com DN com denervação da pele, com perda de fibras nervosas intraepidérmicas (IENF), as amplitudes dos potenciais obtidos com CHEPS estavam reduzidas, e essa redução foi correlacio-nada com a densidade das IENF, das amplitudes dos potenciais sensitivos de nervo sural e dos potenciais de ação compostos de nervo fibular, em modelo de regressão linear simples. Outro mé-todo que passamos a utilizar, com primazia em nosso meio, é a microscopia confocal da córnea (CCM), que também é uma téc-nica não invasiva e com excelente reprodutibilidade clínica, que pode ser usada para detectar danos precoces ou graves em fibras nervosas finas na córnea, em várias doenças, incluindo, a neuro-patia diabética. Um método, também utilizando a microscopia confocal, é aquele que observa, em vez da córnea, os corpúsculos de Meissner (CMs), receptores de sensações de tato e pressão exercidos sobre a pele glabra. Os CMs podem ser visualizados e quantificados em controles e nos casos de NPFF/DN. A micros-copia confocal tem potencial para detecção não invasiva e moni-toramento da denervação ou reinervação de fibras nervosas finas. Mudança confiável e reconhecível, ou perdas, podem ser detecta-das usando essa ferramenta. Estudos de normatização para essas novas ferramentas estão em curso em nosso e em outros grupos.

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CONCLUSÃO

A necessidade de exames complementares mais confiáveis para reforçar os resultados do exame clínico e neurológico é uma preocupação na prática clínica e nos ensaios clínicos en-volvendo casos de NPFF / DN. A nossa experiência, embora ainda inicial, com esses métodos nos faz considerar que as recomendações de 2010 propostas pela EFNS precisam ser revistas, incluindo esses novos métodos que não são invasi-vos como os recomendados. Podemos concluir que o CHEPS e a CCM são ferramentas muito úteis no estudo de casos de NPFF/DN.

REFERÊNCIAS

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Cruccu G, Sommer C, Anand P, et al. EFNS guidelines on neu-ropathic pain assessment: revised 2009. Eur J Neurol 2010, Aug;17:1010-8.

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Quinto Sinal Vital nos Serviços Emergenciais: O que mudou?FABIANA APARECIDA GARCIA

Vice-presidente do Grupo de Aprimoramento e Capacitação em Dor do Hospital Nove de Julho. Integrante do IV Curso de Exten-são – Avaliação e tratamento interdisciplinar da dor pelo Centro de Dor do Hospital das Clínicas da FMUSP. Enfermeira respon-

sável pelo Centro de Dor e Neurocirurgia Funcional do Hospital Nove de Julho.

A dor continua sendo um dos motivos mais comuns da busca por atendimento médico(1) e sua avaliação e tratamento devem integrar a rotina da equipe que assiste a esses pacientes, nos di-ferentes níveis de assistência à saúde.(2) É definida pela Socie-dade Internacional para o Estudo da Dor como uma experiência sensitiva e emocional desagradável associada a lesão tecidual ou descrita em tais termos.(3)

Além de causar repercussões orgânicas, a dor leva a prejuí-zos psíquicos, sociais e econômicos, resultando em quadros de-pressivos, angústia, alteração da memória e da capacidade de concentração, perdas das atividades de lazer, problemas de rela-cionamento interpessoal, além de problemas econômicos devido ao aumento das despesas por uso do sistema de saúde.(2)

A Agência Americana de Pesquisa e Qualidade em Saúde Pública e a Sociedade Americana de Dor estabeleceram, no ano 2000, que a dor deve ser mensurada e registrada com a mesma responsabilidade e seriedade que a pressão arterial, frequência cardíaca, frequência respiratória e temperatura, sendo então denominada “quinto sinal vital”.(1)

É importante ressaltar que a avaliação da dor como quinto sinal vital tem como principal objetivo o efetivo controle da dor, de modo que está além da simples identificação e quantificação.(4)

A equipe de enfermagem, por estar mais próxima do pa-ciente, é que realiza a identificação, avaliação e notificação da dor, bem como programa a terapêutica farmacológica indicada, e, partindo desse pressuposto, é responsável por organizar seu gerenciamento; (5) no entanto, publicações que contemplam a gestão do processo de manejo dor são escassos.(1) Desta forma, deparamos com a falta de êxito na avaliação da dor, o que, con-sequentemente, resulta no seu inadequado controle.(6)

A literatura dispõe de uma série de escalas destinadas à ava-liação da dor.(7) Os objetivos que circundam a adoção de uma escala para mensuração da dor são: padronização do método de avaliação, registro de sua evolução e estimulação de atitudes mais ativas para o seu tratamento.(8)

No processo álgico são desencadeadas respostas fisiológi-cas (alterações neurovegetativas) e respostas comportamentais

(subjetivas) que devem ser conhecidas pelos profissionais que prestam atendimento a esses pacientes.(2)

A avaliação da dor nos serviços de emergência é considerada de grande importância no atendimento aos pacientes com dor, no entanto, devido à subjetividade do fenômeno, frequentemente há dificuldade em sua avaliação, além da complexidade dos fatores que a acompanham, como o tratamento da dor sem análise basal ou causal desse sintoma, e a falta de capacitação dos profissio-nais para tratá-la.(2)

Estudos mostram que até 70% dos pacientes com score de dor de 1 a 4 não recebem qualquer medicação para a dor no pronto-socorro.(9)

Um estudo multicêntrico realizado em 20 hospitais dos Es-tados Unidos e do Canadá avaliou o estado das práticas em gestão da dor nos serviços de emergência. Participaram 842 pacientes, com idade igual ou maior de 8 anos, os quais relata-vam score de dor de 4 ou superior, numa escala de 11 pontos. Os dados foram obtidos por meio de entrevistas e análise de prontuários que mostraram que 83% dos pacientes foram ava-liados quanto à sua dor que, em média, foi intensa, no entanto, reavaliações eram quase inexistentes. Somente 60% dos pa-cientes receberam analgesia após longos atrasos, constituindo uma mediana de 90 minutos. Dos pacientes que não receberam analgésicos, 42% gostariam de recebê-los; no entanto, somente 31% manifestaram isso.(10)

A educação dos profissionais se faz relevante para o reconhe-cimento da importância em identificar a dor, adequar o tratamen-to e estimular os pacientes a relatarem suas queixas.(8)

Estudos e publicações que contemplam analgesia e dor são vastos, contudo, os trabalhos acerca do tema “avaliação da dor como quinto sinal vital nos serviços de emergência são escas-sos”, servindo, assim, como sugestão de novos desenvolvimen-tos pertinentes. Os poucos estudos denotam a subavaliação e subtratamento da dor neste setor devido a vários fatores que en-globam: a falta de protocolos institucionais, a falta de capacita-ção da equipe de saúde, a subjetividade e a complexidade da dor atribuída aos diversos fatores a ela relacionados. No entanto, é inquestionável que esse sintoma deve ser identificado, avaliado

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e registrado de forma sistemática e tratado adequadamente pela equipe multidisciplinar.

REFERÊNCIAS

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9. Stalnikowicz R, Mahamid R, Kaspi S, Brezis M. Undertreat-ment of acute pain in the emergency department: a challenge. International Journal for Quality in Health Car 2005; volume 17, Number 2. p. 173.

10. Todd KH, Ducharme J, Choiniere M, Crandall CS, Fosnocht DE, Homel P, Tanabe P; PEMI Study Group. Pain in the emergency department: results of the pain and emergency medicine initiative (PEMI) multicenter study. J Pain. 2007 Jun; 8 (6) :460-6. Epub 2007 Feb 15. Epub 2007 15 fev.

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Diagnóstico Diferencial e Classificação das CefaleiasANTONIO CEZAR RIBEIRO GALVÃO

Clínica Neurológica do HC-FMUSP. Centro de Dor do Hospital Nove de Julho.

As dores de cabeça constituem uma experiência incômoda que inevitavelmente atingirá todo ser humano em determi-nada fase da sua vida. Estima-se que 90 a 95% da humani-dade sofrerão de pelo menos uma cefaleia debilitante na sua existência e a dor de cabeça é talvez a queixa mais comum na prática médica. Estudos epidemiológicos demonstram que 76% das mulheres e 57% dos homens sofrem de ao menos uma cefaleia significante por mês, e que a prevalência de dor de cabeça em crianças aumenta de 39% na idade de 6 anos a 70% aos 15 anos. Muitos desses indivíduos sentem dor em tal intensidade e frequência que a sua vida normal é afetada com prejuízos pessoais, psicológicos e custos econômicos consideráveis. Estima-se em 1 milhão de dias de falta à es-cola e cerca de 150 milhões de dias de trabalho perdidos ao ano atribuídos a dor de cabeça nos Estados Unidos; a perda de produtividade anual estimada é de 6,5 a 17,2 bilhões de dólares. Cerca de 30% dos enxaquecosos sofrem de prejuízos funcionais regulares e periódicos pelas crises (American Mi-graine Study), porém a despeito desse impacto social marcan-te, observou-se que 60 a 70% dos portadores de enxaqueca não são diagnosticados apropriadamente.

As cefaleias são classificadas genericamente em primá-rias e secundárias. As primárias se caracterizam pela ausência de uma causa orgânica consistentemente identificada e pela normalidade dos exames subsidiários usados em Neurolo-gia (TC, RNM, EEG, LCR). A cefaleia é, então, a própria doença, causada por disfunções neurofisiológicas e/ou neu-roquímicas, e a grande maioria dos casos se enquadra neste perfil. Nas cefaleias secundárias a dor de cabeça nada mais é que um sintoma de uma variedade de etiologias orgânicas, existindo quase 300 causas descritas. A diferenciação inicial entre os dois grupos é o objetivo primordial a ser alcançado na avaliação dos pacientes.

AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA DO PACIENTE COM CEFALEIA

Uma história detalhada, minuciosa e compreensível é, de longe, o dado mais importante para o estabelecimento do diagnóstico numa condição de cefaleia. Os pacientes devem ser especificamente interrogados sobre o padrão de dor de cabeça que experimentam, inclusive se apresentam padrões

múltiplos. Os seguintes aspectos devem ser delineados:1. Tempo de início da cefaleia.2. Circunstâncias, horário e velocidade de início.3. Intensidade e caráter da dor.4. Duração do ataque individual.5. Localização e irradiação da dor.6. Frequência dos ataques.7. Sintomas neurológicos e físicos que precedem e/ou

acompanham o quadro.8. Variações sazonais.9. Progressão dos sintomas e da sua frequência.10. Fatores de desencadeamento e piora.11. Medidas de alívio.12. Tratamentos atuais e prévios / falhos ou efetivos.13. Evidência de abuso de analgésicos e cafeína.14. História familiar de cefaleia.15. Correlação com o sono.16. Profissão.17. Problemas emocionais.18. Impacto na vida social e profissional.A distinção entre uma cefaleia primária e aquelas de

causas mais sérias pode ser suspeitada já na anamnese do paciente. Do ponto de vista temporal podem ser definidos quatro padrões básicos de cefaleia:

1. Aguda emergente.2. Aguda recorrente.3. Crônica progressiva.4. Crônica não progressiva.O padrão agudo emergente e o crônico progressivo são

mais sugestivos de cefaleia secundária; o agudo recorrente e o crônico não progressivo indicam etiologia primária, mas isso não é uma regra absoluta.

Qualquer anormalidade exige a requisição de exames subsidiários para excluir secundarismo. Há exceções: por exemplo, sinais neurológicos podem ser vistos algumas vezes na Enxaqueca com aura e a síndrome de Horner é encontrada com frequência na Cefaleia em salvas. Especial atenção deve ser dada a alguns aspectos do exame físico, como a palpação/percussão de crânio, mandíbulas, pescoço, cavidade oral, ou-vidos e seios da face, assim como o exame do fundo de olho,

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acuidade visual e sinais de trauma. A avaliação dos dentes, inclusive com bloqueios diagnósticos, pode ser necessária em alguns casos. Outros bloqueios anestésicos de estruturas, como o nervo occipital maior e o supraorbitário, os ramos facetários de C2 e C3, o gânglio esfenopalatino, o processo estiloide e o ligamento estilomandibular, podem ser de alto valor para o diagnóstico.

O exame subsidiário ideal sem dúvida é a RNM, que se mostra superior à TC tanto para o crânio como para o pescoço e a coluna cervical. O exame do LCR pode ser fundamental para a avaliação de processos com alterações da pressão in-tracraniana, sangramentos e doenças infecciosas, inflamató-rias ou com infiltração do SNC. Já o EEG tem valor limitado.

CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE CEFALEIAS

Em 2004 a Sociedade Internacional de Cefaleia (Interna-tional Headache Society) apresentou uma nova classificação que define 14 grupos, sendo que os quatro primeiros consti-tuem as cefaleias primárias, os grupos de 5 a 14 constituem as secundárias, incluindo-se aí as Neuralgias e dores craniofa-ciais. Esquematicamente catalogamos abaixo estas entidades:

1. ENXAQUECA OU MIGRÂNEA 1.1. Enxaqueca sem aura 1.2. Enxaqueca com aura 1.2.1. Aura típica com cefaleia enxaquecosa 1.2.2. Aura típica com cefaleia não enxaquecosa 1.2.3. Aura típica sem cefaleia 1.2.4. Enxaqueca hemiplégica familiar 1.2.5. Enxaqueca hemiplégica esporádica 1.2.6. Enxaqueca basilar 1.3. Síndromes periódicas da infância precursoras da enxaqueca 1.3.1. Vômitos cíclicos da infância 1.3.2. Enxaqueca abdominal 1.3.3. Vertigem paroxística benigna da infância 1.4. Enxaqueca retiniana 1.5. Enxaqueca complicada 1.5.1. Enxaqueca crônica 1.5.2. Estado enxaquecoso (Status migrainosus) 1.5.3. Aura persistente sem infarto 1.5.4. Infarto enxaquecoso 1.5.5. Crise epiléptica desencadeada por enxaqueca 1.6. Enxaqueca provável2. CEFALEIA TIPO TENSIONAL (CTT) 2.1. Cefaleia tensional episódica infrequente 2.1.1. Associada à dolorimento pericraniano

2.1.2. Não associada à dolorimento pericraniano 2.2. Cefaleia tensional episódica frequente (2.2.1 e 2.2.2) 2.3. Cefaleia tensional crônica (2.3.1 e 2.3.2) 2.4. Cefaleia tensional provável3. CEFALEIAS TRIGÊMINO-AUTONÔMICAS (CTAs) 3.1. Cefaleia em salvas 3.1.1. Cefaleia em salvas episódica 3.1.2. Cefaleia em salvas crônica 3.2. Hemicrania paroxística 3.2.1. Hemicrania paroxística episódica 3.2.2. Hemicrania paroxística crônica (HPC) 3.3. Cefaleia súbita, unilateral, neuralgiforme com hiperemia conjuntival e lacrimejamento (SUNCT) 3.4. Cefaleia trigêmino-autonômica provável4. OUTRAS CEFALEIAS PRIMÁRIAS 4.1. Cefaleia primária em facadas 4.2. Cefaleia primária da tosse 4.3. Cefaleia primária do esforço físico 4.4. Cefaleia primária associada à atividade sexual 4.5. Cefaleia hípnica 4.6. Cefaleia em trovoada primária 4.7. Hemicrania contínua 4.8. Cefaleia persistente e diária desde o início (CPDI)5. CEFALEIA ATRIBUÍDA A TRAUMA CRANIANO

E/OU CERVICAL 5.1. Cefaleia pós-traumática aguda 5.2. Cefaleia pós-traumática crônica 5.3 e 5.4. Cefaleia por lesão em chicotada (aguda e crônica) 5.7. Cefaleia pós-craniotomia6. CEFALEIA POR DOENÇA VASCULAR CRANIANA

OU CERVICAL 6.2.2. Cefaleia por hemorragia subaracnoidea 6.4.1. Cefaleia por arterite de células gigantes

(arterite temporal) 6.5.1. Cefaleia por dissecção arterial 6.7.1. Arteriopatia cerebral autossômica dominante

com infartos subcorticais e leucoencefalo- patia (CADASIL)

7. CEFALEIA POR TRANSTORNO INTRACRANIANO NÃO VASCULAR

7.1.3. Cefaleia por hipertensão liquórica por hidrocefalia

7.2. Cefaleia por hipotensão liquórica 7.4. Cefaleia por neoplasia intracraniana8. CEFALEIA POR USO DE SUBSTÂNCIAS OU PELA

SUPRESSÃO

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8.1.4. Cefaleia induzida pelo álcool 8.1.5.1. Cefaleia induzida por glutamato

de sódio 8.2. Cefaleia por uso excessivo de medicamentos

analgésicos 8.4.1. Cefaleia por interrupção do uso de cafeína9. CEFALEIA ATRIBUÍDA À INFECÇÃO 9.1. Cefaleia por infecção intracraniana 9.2. Cefaleia por infecção sistêmica10. CEFALEIA POR TRANSTORNO DA HOMEOSTASE 10.1.3. Cefaleia da apneia do sono 10.2. Cefaleia da diálise 10.3. Cefaleia atribuída à hipertensão arterial11. CEFALEIA OU DOR FACIAL POR TRANSTORNOS

DO CRÂNIO, PESCOÇO, SEIOS DA FACE, DENTES, BOCA E OUTRAS ESTRUTURAS FACIAIS E CRANIANAS

11.2.1. Cefaleia cervicogênica 11.5. Cefaleia por rinossinusite 11.7. Cefaleia ou dor facial por transtorno da articulação

temporomandibular12. CEFALEIA ATRIBUÍDA A TRANSTORNO

PSIQUIÁTRICO13. NEURALGIAS CRANIANAS E CAUSAS

CENTRAIS DE DOR FACIAL 13.1. Neuralgia do trigêmeo 13.1.1. Neuralgia clássica do trigêmeo 13.1.2. Neuralgia sintomática do trigêmeo 13.2. Neuralgia do glossofaríngeo 13.3. Neuralgia do intermédio 13.4. Neuralgia do laríngeo superior 13.6. Neuralgia do supraorbitário 13.8. Neuralgia do occipital 13.11. Cefaleia por estímulo frio 13.12.2. Neuralgia pós-herpética 13.17. Enxaqueca oftalmoplégica

13.18.1. Anestesia dolorosa facial 13.18.2. Dor central pós-AVC 13.18.4. Dor facial persistente idiopática 13.18.5. Síndrome da ardência bucal14. OUTRAS CEFALEIAS, NEURALGIAS CRANIANAS

E DOR FACIAL CENTRAL OU PRIMÁRIAAlém desses tipos de cefaleia catalogados na classificação, a

International Headache Society comenta em apêndice outros ti-pos de dores de cabeça não contemplados nos 14 grupos, como:

1. Enxaqueca associada à menstruação2. Hemiplegia alternante da infância3. Cefaleia de curta duração, unilateral, neuralgiforme

com sintomas autonômicos (SUNA)4. Síndromes raras combinadas com CTAs: síndrome

cluster-migraine, síndrome cluster-tic5. Carotidinia6. Cefaleia numular

REFERÊNCIAS

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2. Silberstein SD, Lipton RB, Goadsby PJ. Headache in Clinical Practice. Oxford: Isis Medical Media, 1998.

3. Speciali JG, Silva WF. Cefaleias. São Paulo: Lemos Editorial, 2002.

4. Silva WF. Diagnóstico das cefaleias. São Paulo: Lemos Editorial, 2003.

5. Evans RW (ed.). Secondary Headache Disorders. Neurologic Clinics vol. 22, n. 1. Elsevier, 2004.

6. Evans RW (ed.). Migraine and other Primary Headaches. Neurologic Clinics vol. 27, n. 2. Elsevier, 2009.

7. Galvão ACR, Teixeira MJ. Cefaleias e algias craniofaciais. In: Teixeira MJ (ed.) Dor: Contexto interdisciplinar. Curitiba: Editora Maio, 2002.

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71Avaliação e epidemiologia da dor

Anamnese em Cefaleia para o ClínicoGETÚLIO DARÉ RABELLO

Doutor em Neurologia pela FMUSP. Médico neurologista do Hospital Samaritano de São Paulo.

A cefaleia é uma das mais frequentes queixas dos pacientes que procuram serviços de neurologia e procuraremos, sucin-tamente, expor a experiência e a conduta por nós adotada nos últimos anos.

DEFINIÇÃO E PREVALÊNCIA

A IASP − International Association for Study of Pain − define dor como uma experiência sensorial e emocional de-sagradável que é associada ou descrita em termos de lesões teciduais.

O termo cefaleia aplica-se a todo processo doloroso referi-do no segmento cefálico, o qual pode originar-se em qualquer das estruturas faciais ou cranianas, e mesmo em estruturas pró-ximas ou distantes, através dos mecanismos das chamadas do-res referidas (cefaleia cervicogênica, dor facial associada com neoplasias pulmonares).

CLASSIFICAÇÃO DAS CEFALEIAS

Após 3 anos de intensos esforços envolvendo praticamente 100 especialistas internacionais, constituindo um comitê cria-do pela International Headache Society, em 1988 foi publicado um documento que formou as bases da classificação das cefa-leias. Em 2004, essa classificação foi um pouco modificada e constitui as bases vigentes atuais.

UTILIZAÇÃO DA CLASSIFICAÇÃO DA IHS DE 2004

NO DIAGNÓSTICO EM CEFALEIA

Existem algumas regras gerais:1. O paciente pode ter mais de um tipo de cefaleia, sendo

que todas devem ser diagnosticadas, de acordo com a impor-tância indicada pelo paciente.

2. Para a obtenção do diagnóstico, todos os itens devem ser observados.

3. A dor é classificada pela sua intensidade em: leve (não interfere com atividades), moderada (interfere com atividades) e grave (incapacita para atividades).

4. Existem 13 grupos gerais de cefaleia, sendo que do gru-po 1 ao 4 temos as cefaleias primárias, do 5 ao 12 as secundá-rias e o grupo 13 inclui as formas não classificáveis.

I − CEFALEIAS PRIMÁRIAS1. Enxaqueca2. Cefaleia tipo tensão3. Cefaleia em salvas e outras cefalalgias trigêmino- autonômicas4. Miscelânea, sem alterações estruturais 4.1 - Cefaleia em pontadas idiopática 4.2 - Cefaleia benigna da tosse 4.3 - Cefaleia benigna do exercício 4.4 - Cefaleia associada com a atividade sexual 4.5 - Cefaleia hípnica 4.6 - Cefaleia em trovoada primária (“thunderclap”) 4.7 - Hemicrania contínua 4.8 - Cefaleia persistente e diária desde o inícioII − CEFALEIAS SECUNDÁRIAS “Cefaleias-sintoma”5. Cefaleia associada com trauma craniano e/ou cervical6. Cefaleia associada com doenças vasculares7. Cefaleia associada com doenças intracranianas não vasculares e não infecciosas8. Cefaleia associada com substâncias ou sua retirada9. Cefaleia associada com infecção10. Cefaleia associada com distúrbio da homeostase11. Cefaleia ou dor facial associada com várias estruturas12. Cefaleia atribuída a patologias psiquiátricasIII − NEURALGIAS CRANIANAS, DOR FACIAL PRIMÁRIA E CENTRAL, OUTRAS DORES DE CABEÇA13. Neuralgias cranianas, dor de tronco nervoso e deaferentação14. Outras cefaleias, neuralgias cranianas, dor facial primária ou central

ABORDAGEM DO PACIENTE COM CEFALEIA

Ao atendermos um paciente com cefaleia, temos de ten-tar fazer um diagnóstico etiológico, propor uma investigação diagnóstica e frequentemente iniciar uma terapêutica, já que a dor é sintoma extremamente desagradável e incapacitante.

Sabemos que a dor é experiência sensorial desagradável, que sempre associamos à lesão tecidual. Assim, dor no tórax já nos leva a pensar em patologia coronária. Dor em epigástrio nos faz pensar em patologia gástrica, como úlcera ou tumor.

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Da mesma maneira, o paciente acometido de cefaleia está pre-ocupado quanto à possibilidade de ser patologia grave e com risco de vida (tumor, aneurisma).

AVALIAÇÃO DO PACIENTE

Devemos tentar tirar uma história a mais completa possí-vel, procurando analisar os elementos fundamentais de uma síndrome álgica:

− Tipo de dor− Localização da dor− Intensidade: utilizamos dois critérios. Num deles solici-

tamos para o paciente quantificar sua dor de 0 a 10, sendo 0 ausência de dor e 10 a dor mais intensa que ele imagina. No ou-tro, pedimos que classifique a dor em leve (dor que não interfe-re), moderada (dor que interfere) e intensa (dor que incapacita)

− Irradiação− Duração− Periodicidade− Ritmo− Fenômenos acompanhantes− Fatores de melhora− Fatores de piora− Fatores desencadeantesPosteriormente devemos fazer um exame clínico o mais

completo possível, com especial atenção à:− Pressão arterial− Temperatura− Palpação de cabeça à procura de pontos dolorosos e

com deformações que possam nos sugerir hematoma, tumor, abscesso

− Ausculta da cabeça, que deve ser feita em todo o crânio e nos olhos (com a campânula do estetoscópio). A presença de sopro pode sugerir MAV, tumor altamente vascularizado, fístula arteriovenosa, estenose arterial

− Percussão de cabeça, que pode mostrar áreas de hipersen-sibilidade, indicando processo subjacente (por exemplo, dor viva à percussão de região suprajacente a empiema subdural)

− Palpação e ausculta de carótidas e vertebrais− Palpação de artérias temporais superficiais, à procura de

um espessamento dessa artéria, diminuição de pulso e inflama-ção, sugestivos de arterite temporal

− Palpação dos globos oculares, dolorosa no glaucoma− Palpação cuidadosa de musculatura: facial, mastigatória

(extra e intrabucal), periorbitária, temporal, cervical, trapézio, já que causa importante de cefaleia é patologia miofascial cra-niana e cervical

− Percussão dos seios da face, dolorosa nas sinusopatias inflamatórias

− Abertura e fechamento da boca, examinando a cavidade oral, faríngea, e analisando a articulação temporomandibular

− Otoscopia, afastando otites− Percussão da região mastoidea, afastando mastoidites.Posteriormente fazemos um exame neurológico minucio-

so, no qual iremos procurar algum indício de déficit de fun-ção neurológica. Devemos realizar obrigatoriamente no exame neurológico:

− Fundo de olho− Pesquisa de sinais meníngeosCom isso procuraremos determinar o sítio lesional que está

determinando a cefaleia e se estamos diante de cefaleia primá-ria ou secundária.

Algumas observações são necessárias nesta avaliação inicial:1. O padrão da cefaleia pode nos dar pistas sobre a etiologia?

Como é enfatizado por Lance e Rothner, o padrão tempo-ral é extremamente importante no diagnóstico diferencial das cefaleias. Assim:

− CEFALEIA AGUDA EMERGENTE − Pode ser o pri-meiro ataque de enxaqueca, mas meningite ou hemorragia su-baracnoidea precisam ser excluídas. Assim, cefaleia tipo en-xaqueca como manifestação de malformação arteriovenosa é rara, geralmente a cefaleia assumindo características atípicas. Meningite viral pode produzir sintomas semelhantes aos da en-xaqueca e o problema se complica se considerarmos que têm sido descritos casos de enxaqueca com pleocitose no LCR.

Cefaleia aguda emergente Hemorragia subaracnoidea Encefalite Meningite Sindrome pós traumática/pós-concussional Reação à pressão Infecção sistêmica Sinusite Neurite óptica Glaucoma Primeiro ataque de enxaqueca− CEFALEIA AGUDA RECORRENTE − Ocorre periodi-

camente e geralmente se deve à enxaqueca. Quando o mesmo tipo de cefaleia ocorre mais de uma vez, 80% delas são enxa-queca, cefaleia tipo tensão ou combinação de ambas. Tumores cerebrais podem se apresentar com cefaleia que é paroxísti-ca e não associada com nenhum sinal focal ou sintomas de hipertensão intracraniana, por meses. Crianças com cefaleia

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precisam ser observadas por tempo suficiente para estabelecer que elas têm crescimento normal e desenvolvimento motor e intelectual também normais, já que alterações na capacidade cognitiva podem ser o primeiro sinal de um tumor.

Cefaleia aguda recorrente Enxaqueca Cefaleia em salvas (rara em crianças) Tic doloroso (raro em crianças) Hemorragia subaracnoidea Doença vascular cerebral isquêmica Hidrocefalia intermitente Feocromocitoma− CEFALEIA CRÔNICA PROGRESSIVA − Geralmente

significa sério problema neurológico. O pseudotumor cerebral pode se apresentar sem papiledema e mimetizar enxaqueca ou cefaleia tipo tensão.

Cefaleia progressiva (dias ou semanas) Hematoma subdural Tumor Abscesso cerebral Pseudotumor cerebral Arterite temporal (no idoso)− CEFALEIA CRÔNICA NÃO PROGRESSIVA − Pode ser

relacionada ao uso crônico de analgésicos, pseudotumor cere-bral ou problema psicológico subjacente.

Cefaleia crônica diária (meses ou anos) Tumor Problema oftalmológico? Espondilose cervical? Estados psiquiátricos Cefaleia tipo tensão Uso abusivo de analgésicos Pseudotumor cerebral

2. Quando devemos partir para investigação radiológica e la-boratorial em pacientes com cefaleia?

Nossa conduta em relação a investigação tem sido:− História não sugestiva de cefaleia primária.− Paciente com história sugestiva de enxaqueca, porém

aspectos não usuais.− Alterações no exame clínico e/ou neurológico.− Cefaleia de início agudo, recente, e de forte intensidade.− Mudança de característica de cefaleia crônica.− Cefaleia de esforço: nesse caso, a dor de cabeça é espe-

cificamente desencadeada pelo esforço físico (atividade física, tosse, atividade sexual). Embora a imensa maioria das cefaleias chamadas de esforço sejam primárias, existe uma porcentagem

de pacientes que apresentam patologias estruturais associadas (MAV, patologias da transição occipitocervical, hidrocefalia), que necessitam ser afastadas.

− Cefaleia com componente facial de dor. Qualquer tipo de cefaleia em que, associado ao componente craniano, exista um componente facial, independentemente de tratar-se de compo-nente neurálgico ou não, tem merecido de nossa parte uma in-vestigação no sentido de afastar patologia estrutural.

− Cefaleia associada à infecção pelo vírus HIV. A eclosão da epidemia da Síndrome de Imunodeficiência Adquirida tem levado ao estudo da cefaleia nesta situação. Devido ao grande número de complicações infecciosas e tumorais para o lado do SNC nesta situação, pacientes HIV+ que apresentem cefaleia têm merecido investigação exaustiva antes de serem conside-rados portadores de cefaleia primária.

− Pacientes portadores de cefaleia em salvas têm mere-cido investigação sistemática; isto porque existem patolo-gias de região selar ou parasselar que determinam quadros clínicos absolutamente superponíveis, e que são descritos na literatura médica como neuralgia paratrigeminal de Raeder, que consideramos como praticamente uma cefaleia em salvas “sintomática”.

− Pacientes com início recente de cefaleia noturna têm de ser pesquisados. Embora isto não seja incomum no contexto da enxaqueca, tumor cerebral, glaucoma, cefaleia em salvas devem ser excluídos.

− Pacientes portadores de componente miofascial impor-tante como gênese da cefaleia − que nos obriga à solicitação de: TCC de crânio, RX-coluna cervical (frente, perfil em fle-xão e extensão, oblíquas), provas de atividade inflamatória, hemograma, T3-T4-TSH, colesterol e frações, triglicérides, provas para colagenose (FAN, célula LE, Fator reumatoide, complemento), eletroforese de proteínas.

− Cefaleia com início após os 50 anos.− Estado enxaquecoso resistente à medicação.

3. Existe um exame de imagem mais eficiente?A investigação necessária para portador de cefaleia vai

depender da hipótese diagnóstica formulada. Assim, se o pa-ciente tiver como suspeita uma arterite temporal, um exame de velocidade de hemossedimentação e a dosagem da proteí-na C reativa são mais eficientes que uma ressonância nuclear magnética. No caso de suspeita de meningite, evidentemente o líquor é o exame de eleição. Na hipótese de estarmos diante de paciente no qual não conseguimos definir claramente uma hipótese diagnóstica, a ressonância nuclear magnética é o exa-me mais sensível, pois consegue “enxergar” áreas parcamente

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estudadas pela tomografia computadorizada de crânio (região selar, transição occipitocervical, grandes seios venosos).4. Realizada investigação de um tipo de cefaleia, o achado de alterações nos exames subsidiários determina definitivamente o diagnóstico no paciente?

Como cefaleia é patologia extremamente comum, temos de fazer uma correlação clinicolaboratorial em todos os pacientes, pois muitas vezes aparecem alterações nos exames subsidiá-rios que não se relacionam ao quadro clínico. Essa situação é extremamente comum. Assim, temos visto muitos pacientes portadores de enxaqueca, pelo fato de apresentarem um espes-samente da mucosa dos seios paranasais, serem tratados erro-neamente como portadores de sinusopatia. Mesmo pacientes com tomografia cerebral computadorizada, mostrando às vezes alterações que não se relacionam com o quadro, têm sido ob-servados. Assim, o fato de observarmos calcificações intracra-nianas em paciente com cefaleia não significa que a cefaleia seja devida, por exemplo, a neurocisticercose.

BIBLIOGRAFIA

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Campbell JK, Caselli RJ. Headache and other craniofacial pain. In: Bradley WG, Daroff RB, Fenichel GM, Marsden CD (ed.), Neurology in Clinical Practice. Butterworth--Heinemann. 1.ed, 1991, vol. 2, 1507-1548.

Rabello GD. Estudo transversal em uma população hospitalar: fatores constitucionais e ambientais relacionados à enxa-queca. São Paulo, 2000. 127 p. Tese (Doutorado) – Facul-dade de Medicina da Universidade de São Paulo.

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Aspectos sociais e psíquicos da dor e de seu tratamento

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77Aspectos sociais e psíquicos da dor e de seu tratamento

Enfoque Psicanalítico do Sofrimento Humano*LAZSLO ANTONIO ÁVILA

Doutor em Psicologia Clínica – USP. Pós-doutorado pela University of Cambridge – UK. Professor Livre Docente do Departamento de Psiquiatria e Psicologia Médica da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto.

A dor e o sofrimento são temas de enorme interesse humano e, portanto, temas inerentemente psicanalíticos. Freud gostava de citar a famosa frase latina: “Nada do que é humano me é alheio”. Já Bion costumava dizer que se algo não se parece com a vida real, não é psicanalítico. A dor é um fenômeno eminente-mente subjetivo, de grande impacto sobre o funcionamento psí-quico e sobre o conjunto da vida pessoal e repercute de diferen-tes maneiras também sobre o entorno do indivíduo que padece.

O sofrimento e a dor podem ser discriminados: a dor se deve à vulnerabilidade física do corpo e o sofrimento é causado pe-los conflitos psíquicos. Outra maneira de discriminá-los é con-siderar que a dor pode ser objetivada, relacionada a patologias e lesões, enquanto o sofrimento é mais amplo, podendo designar processos absolutamente não materiais, abstratos e simbólicos, como, por exemplo, sofrer por amor ou por frustração.

Outro ponto importante a considerar é que existem dores fí-sicas e dores psíquicas, de ordem mental ou emocional. A psica-nálise se ocupou predominantemente das dores psíquicas, mas sempre houve espaço e preocupação com as dores que atingem a esfera somática. Freud pesquisou dores corporais desde seus estudos inaugurais e foi seguido por Groddeck, Ferenczi, Balint, Alexander e outros mais contemporâneos, investigando psica-naliticamente o corpo como palco e roteiro para o sofrimento humano. Embora o foco da psicanálise fosse o âmbito psíquico, a maioria dos autores psicanalíticos manifestou preocupação em buscar articular a mente ao corpo, como dimensões distintas, mas inseparáveis da existência.

A dualidade cartesiana que separou a res cogitans da res extensa ainda não foi superada pela ciência contemporânea, e a psicossomática psicanalítica tem ocupado linha de frente na produção de novos paradigmas que superem essa dicotomia. É necessário desenvolver instrumentos conceituais e técnicos que permitam a emergência de paradigma mais complexo, onde psíquico e somático possam ser considerados de forma mais integrativa.

Dor e sofrimento são expressões inelutáveis dos seres vivos,

portadores de uma vida frágil, que deve ser devolvida à Natu-reza. Além da inarredável morte, há os acidentes e as doenças, fonte de angústia e de cuidados por toda a vida. Associadas aos traumas físicos, decorrem as limitações, as perdas de função, etc., além das dores físicas. Associados aos traumas psíquicos, decorrem os sintomas mentais, as conversões, as angústias, os prejuízos múltiplos à qualidade de vida e a dor emocional.

Analisaremos neste trabalho algumas das dimensões do so-frimento a partir do ponto de vista da psicanálise. Começare-mos pelas dores orgânicas. As dores do corpo ocorrem devido a mensagens nociceptivas que atingem o sistema nervoso cen-tral, provindas do interior ou da superfície do corpo. Porém, essas dores devem ser percebidas e decodificadas pelo cérebro e, portanto, são um fenômeno da consciência. A mente deve discriminar dores físicas de dores mentais e emocionais. Ambas são experiências subjetivas que se manifestam no plano mental como sensações e sentimentos. A dor é uma emoção dolorosa. Seja de origem física ou psíquica, a dor é uma representação psíquica da lesão física ou do impacto emocional de alguma experiência vivida.

A dor física é um dos sinais que acompanham as lesões tissulares e as agressões que sofre um organismo. Acompanha inúmeros processos degenerativos e perturbações associadas a incontáveis doenças. Contudo, a dor não tem marcadores biológicos, não pode ser vista ou registrada nos aparelhos de raios X, de ressonância magnética, de ultrassonografia e outros recursos de imagem. A dor é, sobretudo, um fato subjetivo, uma experiência, um relato. Esse aspecto subjetivo da dor tor-na problemáticos inúmeros casos de sofrimento somático, para os quais não se encontram achados objetivos. Incluem-se aqui os transtornos somatoformes, os conversivos, as dores psico-gênicas, e inúmeros quadros que, em geral, recebem o rótulo de “sintomas médicos inexplicados”.

Quanto ao domínio psíquico, constata-se que a saúde e a doença determinam a investigação da pessoa enquanto totalida-de psicossocial. O indivíduo que adoece é sempre mais do que

* Este trabalho não recebeu qualquer forma de subsídio ou financiamento. Não há conflito de interesses.

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um organismo doente, ele é um sujeito psicológico, inserido na cultura, imerso nas estruturas sociais da família e do trabalho.

Quando abordamos as dores psíquicas, um enorme con-junto de situações se vincula ao sofrimento: a perda afetiva, o luto, a angústia, o medo da morte, a culpa, o arrependimento, o medo, a raiva, o desespero, o ciúme, a inveja, a destrutividade, a ignorância, a decepção, a frustração, o amor não correspondido, a perda da saúde, etc. Esse domínio é inesgotável.

O aparelho psíquico é encarregado de mediar a interação do indivíduo com os meios − interno e externo. O ego deve atender a três senhores: o Id, território das pulsões, a realidade externa e o superego, internalização das normas sociais. É tarefa do ego manter a integridade do psiquismo, e o faz com seus diversos recursos de manejo da realidade externa, através da motilidade, do pensamento e demais funções psíquicas, e com seu mane-jo das demandas internas, com o recurso da repressão e demais mecanismos de defesa e elaboração psíquica. Freud conceituou a existência de um mecanismo de paraexcitação, que protegeria o ego de ser inundado pelos estímulos dos meios interno e ex-terno, e asseguraria as condições de equilibração do aparelho psíquico. Considerou a dor física como um estímulo excessivo que provém do corpo, mas que é tomado pela mente como se fosse proveniente do exterior. Ao atingir o aparelho psíquico, a dor funciona como se fosse uma pulsão: Freud a chama de uma pseudopulsão, uma força de pressão contínua sobre o psiquis-mo, demandando dele alguma solução.

E o que faz o ego? O ego do sujeito que está padecendo de dor orgânica procura se retirar do mundo. Interrrompe o seu interesse pelas coisas do ambiente externo, e volta-se exclusi-vamente para seu próprio sofrimento. Freud afirma que o ego retira seu investimento libidinal dos seus objetos e não mais ama enquanto sofre. Desse modo, a quantidade de catexia que estava vinculada ao mundo pode se tornar disponível para o ego tentar se autocurar.

A psicanálise busca articular o processo interno da mente de perceber a dor e reagir através da modificação da economia psíquica. O ego necessita mobilizar todos seus recursos para re-parar a membrana de paraexcitações que foi rompida e tentar, a todo custo, conter a onda de energia psíquica não processada que é a dor física. O primeiro movimento do ego é retirar energia, ou catexia, das coisas externas, e mesmo dos objetos de amor, para ter essa energia disponível para regenerar sua estrutura, re-cuperar a integridade psíquica. É por isso que nas pessoas do-

entes e sofridas surgem momentos regressivos, a pessoa se isola e se volta para si própria, e busca ser confortada e auxiliada. É como se, na dor e na doença, necessitássemos recuperar aquelas formas de cuidado de que dispúnhamos na infância, quando uma mãe protetora e atenta aliviava nossas dores físicas e buscava tranquilizar nossas apreensões.

Para o psiquismo se trata de buscar recuperar, tão logo seja possível, sua condição de autonomia e bom desempenho cor-poral e psíquico. Todo o auxílio que possa conduzir a essa re-cuperação é desejável. As formas físicas do cuidado se somam às atenções e cuidados de reorganização psíquica. Mas às ve-zes a dor física não é simplesmente decorrência de doenças or-gânicas e/ou de acidentes ou traumas. A psicanálise nasceu a partir das descobertas freudianas dos mecanismos da histeria. Subjacentes aos sintomas histéricos, sejam estes a angústia ou os sintomas somáticos, existem causas inconscientes. O esclare-cimento da gênese dos sintomas histéricos permitiu entender os disfarces que as “dores da alma” podem assumir, inclusive esse esplêndido disfarce que são as “dores do corpo”.

A teorização psicanalítica revela o mecanismo oculto de transformação, que faz com que aparentes doenças possam ser de fato compreendidas como conversões: sofrimentos deriva-dos de conflitos psíquicos insuportáveis são reprimidos, e no inconsciente se transformam em afetos desvinculados de suas representações. Esses afetos são a força energética que atingirá o corpo, e atuando sobre as inervações substituirá a dor psíquica por somatizações. Esses distúrbios do corpo, histéricos, têm sido redenominados como transtornos somatoformes, manifestações dolorosas sem substrato orgânico.

Observe-se a importância dessas concepções para o mane-jo integrado do paciente que sofre. Uma dor nunca é apenas o que representa no presente. A dor reatualiza a história do sujeito, rememorando seus traumas mais primitivos: o trauma do nasci-mento, o desamparo vivido na primeira infância e todos os ou-tros traumatismos físicos e psíquicos vivenciados. O sofrimento psíquico acompanha a dor física. Dores não devem ser apenas “tratadas”, devem ser “compreendidas”. O reconhecimento de sua dimensão psíquica aumenta em muito a complexidade da tarefa terapêutica, demonstrando o quanto uma perspectiva mul-tidisciplinar pode beneficiar os pacientes. Em verdade, podería-mos dizer que a dor representa um plano onde a complexidade das experiências humanas se materializa, e onde a cooperação de “corações e mentes” se faz mais necessária.

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Estresse e Dor: Intervenções AtuaisMARCELO FEIJÓ DE MELLO

Professor Adjunto do Departamento de Psiquiatria. Pós-Doutor em Neurociências Brown University – EUA. Doutor em Psiquia-tria pelo Hospital do Servidor Público Estadual e pela Unifesp. Escola Paulista de Medicina – Unifesp.

O autor fará uma revisão breve sobre o estado da arte dos achados neurobiológicos sobre a dor crônica e sobre corre-latos de quadros psiquiátricos depressivos e ansiosos e suas equivalências. Fará ainda breve exposição que mostra que esses quadros psiquiátricos e a dor crônica têm em comum a presença de história de traumas infantis entre os acometi-dos. Todos os achados levam à consideração da dor crônica como um quadro psiquiátrico. A partir dessa premissa, pro-põe uma abordagem(1) psicoterápica para a dor crônica.(2-4)

BIBLIOGRAFIA

1. Mello MFM, Mari JJ; Bacaltchuk J. A systematic re-

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Estresse Pós-traumático e Dor: Pacientes Agudos e CrônicosDIRCE MARIA NAVAS PERISSINOTTI1* ● THAUANA D. S. T. OLIVEIRA2* ● MARCELO FEIJÓ DE MELLO3

1Psicóloga. Pós-Doutorado Departamento de Psiquiatria da Escola Paulista de Medicina – Unifesp. Doutorado e Mestrado Departamento de Neurologia – FMUSP.

2Aluna de Graduação em Medicina – Unifesp.3Professor Adjunto Departamento de Psiquiatria – Unifesp. Coordenador do Prove.

O desenvolvimento de patologia dolorosa implica várias comorbidades psicopatológicas, sendo o estresse âmago pri-mordial do desenrolar de uma variedade de situações clínicas. A dor, sob a ótica psíquica, é expressão de sofrimento não uni-camente relacionada ao acometimento lesional, mas à tessitura da expressão de todo o sofrimento humano, físico e psíquico. Dor, nocicepção, percepção dolorosa e comportamento dolo-roso caracterizam-se como diferentes formas ou dimensões de um único fenômeno: sofrimento do organismo humano.

A clínica do doente com dor, quase sempre, ocupa-se com a reabilitação de aspectos funcionais gerais, em que critérios relacionados à intensidade de dor servem de parâmetro para a condição de melhora clínica, porém critérios psicológicos(1) relacionados à saúde mental geral devem ser considerados no manejo desses doentes.

Inúmeras queixas dolorosas em clínicas de dor surgem em decorrência de situações decorrentes envolvendo vítimas de violência em que a incidência de quadros de transtorno de estresse pós-traumático é bastante frequente.

Como elemento facilitador do desenvolvimento e croni-ficação de transtornos dolorosos alguns autores alegam que condições traumáticas como a violência pregressa, infantil, ou mesmo atual, estariam identificadas como agente crucial que imprimiria direção no desenrolar da situação psíquica de doente com dor.

O Brasil desafiado por diversas questões socioeconômico--culturais, em 2007, foi considerado o país com maior preva-lência de mortalidade por causas externas em todo o mundo.

A exposição à violência vivida ou testemunhada foi clara-mente identificada na literatura especializada como um even-to estressor importante associado com transtornos mentais.

Vítimas de violência, independentemente de sua modali-dade, teriam 15 vezes mais chances de desenvolver quadros psicopatológicos, e o mais frequente seria o transtorno de es-tresse pós-traumático (TEPT).

Muito se preconiza sobre doentes com dor crônica: fato-res relacionados a abuso na infância, ou mesmo situações vi-venciais traumáticas favoreceriam que esses indivíduos, por se encontrarem em condições de estresse propício ao desen-volvimento de dor ou percepção dolorosa, estejam marcados mais indelevelmente por tais transtornos.

Assim, nos interessamos por averiguar, em população com diagnóstico de TEPT, como o fenômeno doloroso era relatado, segundo critérios obtidos pela aplicação de questionário de qualidade de vida SF-36 de Spitzer, entre outros instrumentos especializados utilizados no Prove/Unifesp (Programa de Atendimento à Vítima de Violên-cia). Estudamos 267 protocolos de vítimas de violência de diferentes etiologias, sendo 116 com diagnóstico de TEPT e 151 sem diagnóstico psiquiátrico. O número de anos de estudo da população foi acima de 9 anos para 79,7%. A média do escore de dor da amostra total foi 58,2 (dp +/-29,50). Em indivíduos com TEPT e dor os escores foram de 41 (dp +/-17,03), ou seja, índices semelhantes aos de indivíduos com patologia dolorosa grave, como dor neuro-pática e fibromialgia.

No evento, discutiremos os dados mais significativos e suas implicações psicológicas.

Observamos que aspectos como dor, gênero, emoção, saúde mental apresentaram comportamento estatístico signi-ficativo. Os protocolos estudados revelaram que doentes com TEPT mostraram que a queixa de dor é bastante frequente tanto em incidência como em intensidade. Porém, nessa po-pulação, as queixas relacionadas a ansiedade e hiperreativi-dade somática trouxeram maior desconforto aos doentes do que as queixas de dor propriamente dita.

Pretendemos, também, analisar, entre outras questões, o perfil psicológico diante dos dados desta pesquisa, comparan-do-a a estudos nos quais a queixa principal de dor é motivo de busca por tratamento.

* Fonte financiadora CAPES – Projeto REUNI.

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Um dado, entre os que nos chamaram a atenção, foi que na população estudada as respostas obtidas através da aplicação de instrumento especializado para o estudo de presença de abuso sexual atual ou precoce não obtiveram índices estatísti-cos significativos que nos permitissem afirmar que indivíduos com TEPT e dor associam presença de abuso sexual atual ou precoce, contrariando alguns dados da literatura.

REFERÊNCIA

1. Silva FCP, Oliveira Jr JO, Perissinotti DMN, Sousa AM, Posso IP, Ashmawi HA. Controle da dor em paciente com transtorno de estresse pós-traumático. In: 3º Copa − Con-gresso Paulista de Anestesiologia, 2006, São Paulo. São Paulo Medical Journal. São Paulo: Zeppelini Editorial, 2006. v. 124. p. 48.

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Memória do Sofrimento: Efeitos na Dor Fantasma*PATRÍCIA MATTOS1 ● DIRCE MARIA NAVAS PERISSINOTTI2 ● MARCELO FEIJÓ DE MELLO3

1Médica Psiquiatra.2Psicóloga. Mestrado e Doutorado Departamento de Neurologia − FMUSP e Pós-Doutorado pelo Departamento de

Psiquiatria − Unifesp (Prove).3Professor Adjunto do Departamento de Psiquiatria da Unifesp (Prove).

Instituição: Programa de Atendimento e Pesquisa em Violência (Prove). Universidade Federal de São Paulo – Unifesp.

INTRODUÇÃO

Falar que “recordar é viver” geralmente se aplica uma ex-periência agradável, a qual desejamos repetir. Quanto ao so-frimento, procuramos alguém que nos diga que “vai passar” e, se possível, esquecer. Ainda existem aqueles que “fazem do limão uma limonada” e vão recompondo sua existência, reconstruindo a melhor história possível de si mesmos.

No entanto, a memória do sofrimento pode ser tão persis-tente e intrusiva que inunda o presente do indivíduo. E ele, ao invés de dono da própria história, acaba refém de uma memó-ria circunscrita e coagulada num passado de dor.

Aqui apresentamos o caso de um dos pacientes do Am-bulatório do Prove (Unifesp), ilustrando a complexidade do manejo clínico em quadro de dor crônica em decorrência de amputação traumática associada ao transtorno de estresse pós-traumático (TEPT).

CASO

O senhor DFB tem 45 anos, primeiro grau incomple-to, é católico, casado, operário, nascido em Pernambuco e procedente de São Paulo, e iniciou tratamento no Prove em novembro de 2008.

DFB sofreu grave acidente de trabalho em 1999, numa máquina corta-aço, quando suas luvas se prenderam e ele per-deu os dedos da mão esquerda. Evita falar sobre isso, pois depois disso sua vida virou um pesadelo triste. Não queria mais sair de casa; chorava e passava o dia todo no quarto. Passou por quatro cirurgias na mão e não considera que teve qualquer melhora. Também não foi aceito de volta ao traba-lho. Tentou trabalhar como porteiro/vigia. Sentia-se muito irritado pensando em que uma solução seria “matar gente” na tentativa de acabar com seu sofrimento; entregou à polícia sua arma “para não correr risco”. Sentia muitos choques, aba-

los musculares e dores na mão amputada, que se irradiavam ao longo do membro. Passou quase 90 dias “trancado” em casa e foi encaminhado ao psiquiatra.

Ao chegar ao Prove já fazia tratamento havia 5 meses com paroxetina 40mg/dia, carbamazepina 400mg/dia e amitripti-lina 50mg/dia e participava do grupo de Terapia Comunitária próximo de sua casa. Dormia melhor e não pensava mais em matar. Porém, os “choques” ainda o faziam lembrar muito do acidente. “Como se fosse agora mesmo, acontecendo de novo”, sentia toda a dor da amputação.

Em janeiro de 2009, DFB retorna muito impaciente e into-lerante. Não aceita brincadeirinhas. Pensamento marcado por ideias de morte sem ideação suicida, centrado nas revivescên-cias do trauma. Sinais de hiperexcitação e baixa tolerância aos estímulos externos. Aumentamos a paroxetina para 60mg/dia. Dois meses depois, o paciente vem com insônia inicial e irritação com piora da dor. Mantém hiperexcitação, sem idea-ção de morte. Ajustamos a amitriptilina para 75mg/dia.

Após mais dois meses ele relata que ainda “fica muito as-sustado”; pensamentos maus (sobre o acidente) lhe giram na cabeça e tem a impressão de estar morto. Relata “crise de formigueiro” no corpo, com muita sudorese (molha a camisa) e sensação de morte. O apetite aumentou. Discurso otimista com melhora geral do humor. Pede para dormir mais e sentir menos dor. Foi-lhe indicada nova cirurgia, porém, não acre-dita em mais nada que lhe resolva a dor. Ajustamos a amitrip-tilina para 100mg/dia.

Em agosto de 2009, sente-se “cheio de cacos de vidro por dentro”, e a cabeça “desbagunçou” novamente. Subme-te-se à cirurgia, mas promete que não haverá próxima. Não dorme mais, pensa em morrer ou “matar gente”. Só pensa em vingança. As pessoas de casa estão avisadas para não acordá-lo bruscamente porque fica agressivo e joga obje-

* Não há conflito de interesses.

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83Aspectos sociais e psíquicos da dor e de seu tratamento

tos. Reclama que faz um tratamento inútil para dor e que só estraga seu fígado (alteração das enzimas hepáticas). Sus-pendemos gradativamente carbamazepina e introduzimos risperidona 1mg/dia.

No mês seguinte, a dor na mão “não diminuiu em nada”, mas sente um grande alívio na cabeça. As lembranças dimi-nuíram em frequência, mas ainda são muito intensas e des-gastantes. Melhora importante da irritabilidade: faz piadas, gracejos e trocadilhos ao modo nordestino. Discurso menos centrado nas queixas de dor e nas ideias de vingança e deses-perança. Deixamos com paroxetina 60mg/dia, amitriptilina 75mg/dia e risperidona 2mg/dia.

Em outubro de 2009, está melhor, comendo “como um bezerro desmamado” e dormindo bem. Lembra muito do aci-dente: o dia, a hora e os minutos, tudo. “Os choques e a dor não me deixam esquecer”, diz. Reduzimos a amitriptilina para 50mg/dia (boca muito seca), mantendo o restante. Em dezembro, o paciente retorna bastante estável. Ajustamos a amitriptilina para 25mg/dia.

Em março de 2010 começa a visitar uma comadre que cuida de crianças; brinca com elas e se distrai. “Se a mão pinica, não mexe só com o corpo, volta tudo à cabeça e tem a impressão de que está se acidentando naquela mesma hora”. Apresenta dislipidemia. Orientamos atividade física e reedu-cação alimentar.

Retorna após 2 meses, falando de muito bem-estar. Redu-ziu refrigerantes e frituras e está comendo frutas e verduras. Ficou surpreso ao sentir a alegria – “é a primeira vez depois de muito tempo”. Procura sair e se divertir. A dor persiste. Em julho de 2010, introduzimos pregabalina 150mg/dia.

Retorna em outubro de 2010. Há muito tempo não conse-guia se sentir feliz. Viajou e conseguiu aproveitar a viagem. Acha que os choques reduziram “em 99%” com a pregabalina − a dor persiste. Conseguiu falar sobre temas variados, inclu-sive projetos futuros.

Em dezembro houve um tiroteio no bairro, que o impres-sionou. Teve dor de cabeça, “formigueiro” no corpo, sudore-se e palpitação. Pergunta se é menopausa de homem. Adicio-namos clonazepam 0,25mg para os momentos de crise.

Em fevereiro de 2011 teve raras crises paroxísticas de ansiedade. Está comendo menos pão e mais frutas; quer se cuidar. Fala da família divertidamente, com prazer. Ainda se queixa de dor. Associamos ao tratamento farmacológico a técnica de biofeedback, visando o manejo de funções psicofi-siológicas e melhor controle dos sintomas somáticos.

Dois meses depois vem estável. “Não tenho nada para re-

clamar hoje”. Não teve mais choques e decidiu conviver com a dor “para não poder se esquecer”.

DISCUSSÃO

A amputação traumática trouxe ao paciente DFB prejuízos funcionais limitantes da perda dos dedos, perda do trabalho, o TEPT sobreposto a depressão grave com ideias de morte e desesperança associado à dor crônica no coto residual. Essas condições clínicas se reforçam num esquema de manutenção mútua, levando a modificações funcionais cerebrais no longo prazo envolvendo alterações nos sistemas de corticotrofinas e catecolaminas com falhas no processo de habituação, resul-tando na persistência de certas respostas a certos estímulos.(1)

Raros estudos abordam aspectos psicológicos de pacien-tes amputados.(2) Um deles destacou maior vulnerabilidade ao estresse emocional em pacientes com amputações traumáti-cas e do membro superior.(3) Outro estudo relatou que 44% de pacientes amputados eram “casos psiquiátricos” e 67% deles tinham sintomas de TEPT com associação significativa entre altos escores de TEPT e dor no coto residual.(4)

O paciente foi submetido a 5 cirurgias, sem resultados satisfatórios, e apresentou melhora com paroxetina 60mg, risperidona 2mg, pregabalina 150mg e clonazepam 0,25mg. Também apresentou alterações das enzimas hepáticas e disli-pidemia. Gradativamente obteve melhora do humor, da quali-dade do sono e do isolamento. As revivescências traumáticas diminuíram em frequência e intensidade, bem como hiperex-citação e as crises de ansiedade paroxísticas. Dez anos depois do trauma, relata a primeira sensação de alegria e melhora significativa das parestesias. Apesar disso, a dor persistiu.

Entre poucos estudos publicados com intervenção não far-macológica existem aqueles que apoiam a hipótese de que pacientes com TEPT têm alta reatividade psicofisiológica.(6) Elegemos a técnica de biofeedback por possibilitar aprendiza-gem por associação de sensações e desenvolvimento de novos padrões de resposta. Ela permite que o indivíduo participe ati-vamente e modifique, diminua ou mesmo elimine, ainda que momentaneamente, a ativação de sintomas somáticos, rom-pendo o círculo vicioso do TEP- estresse-tensão-percepção.

A conjugação tratamento psicofarmacoterápico e técnica de biofeedback resultou em melhora significativa da qualidade de vida desse paciente. A dor segue presente, não mais como um fantasma – tem outro significado. O efeito de significação não provém do objeto da representação, mas das relações entre as representações.(6) Existe um novo rearranjo no psiquismo de D que possibilita sua adaptação a novos modos de sobrevida.

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85Aspectos sociais e psíquicos da dor e de seu tratamento

Catastrofização na Dor Crônica*JAMIR SARDÁ JR.

Psicólogo. MSc. PhD. Universidade do Vale do Itajaí – Univali. Associação Catarinense de Estudos da Dor – ACED. Singular Clínica de Dor.

Existem diversos modelos e evidências da existência de uma relação dinâmica entre mudanças biológicas − estado psicológico − contexto social.(1-6) Esses fatores têm papéis distintos na dor crônica, incapacidade e desajuste emocio-nal. Entre os diversos fatores psicossociais, diversos estu-dos têm apontado que pensamentos catastróficos parecem ser um dos mais importantes preditores de incapacidade fí-sica,(7,8) estresse,(2) intensidade da dor e respostas inadequa-das a tratamentos(9,10) e depressão.(5)

Pensamentos catastróficos podem ser definidos como processos mentais direcionados a uma exagerada orientação negativa com relação a um estímulo nocivo.(8) Independen-temente do diagnóstico médico ou da extensão de danos físi-cos, fatores avaliativos tais como pensamentos catastróficos influenciam na habilidade de lidar com a dor e determinam o quanto incapacitada a pessoa se torna ou permanece in-capacitada, uma vez que mediam a percepção da dor e as respostas ao quadro álgico.(1,2) A presença de pensamentos catastróficos em níveis importantes parece contribuir não só para uma maior atenção ao estímulo nociceptivo, bem como para o aumento de afetos negativos em torno da experiência dolorosa. Em função disso vários programas desenvolvi-dos para o tratamento de pacientes com dores crônicas têm incluído a abordagem de pensamentos catastróficos como um importante passo para a reabilitação de pacientes com dor.(11,12) Dada a importância dessas crenças, diversos ins-trumentos têm sido desenvolvidos para avaliar pensamentos catastróficos, a saber: Escala de Catastrofização do Ques-tionário de Estratégias de Enfrentamento – CSQ;(13) Escala de Catastrofização sobre Dor – PCS(14) e a Escala de Ca-tastrofização da Escala de Autoafirmações Relacionadas a Dor – PRSS.(15,16)

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12. Vlaeyen JWS, Morley S. Cognitive-Behavioral Treatments for Chronic Pain. What Works for Whom? Clinical Journal of Pain2005;21(1):1-8.

* Não há conflito de interesses.

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13. Geisser ME, Robinson ME, Henson CD. The Coping Strategies Questionnaire and chronic pain adjustment: A conceptual and empirical reanalysis. Clinical Journal of Pain 1994;10:98-106.

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15. Flor H, Behle DJ, Birbaumer N. Assessment of pain-related cognitions in chronic pain patients. Behaviour Research and Therapy 1993;31(1):63-73.

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87Aspectos sociais e psíquicos da dor e de seu tratamento

A Autoeficácia e o Medo e Evitação da Dor na Dor Crônica*MARINA DE GÓES SALVETTI1 ● CIBELE ANDRUCIOLI DE MATTOS PIMENTA2

1Enfermeira, Doutora em Enfermagem na Saúde do Adulto, Medicina Preventiva – Unimed São Roque, bolsista CNPq, Escola de Enfermagem da USP.

2Enfermeira, Professora Doutora, Titular do Departamento de Enfermagem Médico-Cirúrgica da Escola de Enfermagem da USP.

As crenças são fatores cognitivos ou ideias consideradas ver-dades absolutas.(5) São noções preexistentes sobre a natureza da realidade e influenciam a percepção individual, dos outros e do ambiente.(7) O interesse em estudar fatores cognitivos relacio-nados à experiência de dor advém do fato de que as crenças são fatores modificáveis e têm mostrado influenciar a funcionalida-de e as respostas ao tratamento, em pacientes com dor crônica.

As crenças relacionadas à dor influenciam a avaliação que o doente faz da experiência dolorosa, o significado que é atribuído à dor e os comportamentos subsequentes. As crenças se desen-volvem ao longo da vida e parecem estar associadas a dimensões específicas de ajustamento à experiência dolorosa.(11,24)

Entre as crenças relacionadas à dor crônica, algumas mere-cem destaque: a crença de autoeficácia e a crença de medo e evitação da dor. Autoeficácia é a crença na habilidade pessoal de desempenhar com sucesso determinadas tarefas ou de apresen-tar determinados comportamentos para produzir um resultado desejável. Ela determina quais comportamentos serão iniciados, quanto esforço será despendido e por quanto tempo o esforço será mantido frente a obstáculos e experiências aversivas.(3)

A autoeficácia refere-se à crença de ser capaz de superar de-safios por meio de ações adaptativas. Um indivíduo com auto-eficácia elevada tem uma visão otimista sobre sua capacidade pessoal de lidar com o estresse, é mais motivado e persistente, mesmo enfrentando situações difíceis.(4,19)

A autoeficácia parece desempenhar um papel particularmente importante na percepção e ajustamento à dor e subsequente inca-pacidade. A modificação de comportamento, quase sempre ne-cessária nos casos de dor crônica, é facilitada pelo senso pessoal de controle.(19) Pessoas que acreditam poder aliviar seu sofrimen-to pessoal tenderão a mobilizar todas as habilidades de controle da dor aprendidas e serão persistentes nesses esforços.(24)

Para alguns autores a autoeficácia é uma variável importante para a ocorrência e gravidade da incapacidade em pacientes com dor crônica,(1,2) para outros a crença de autoeficácia é um media-

dor da relação entre medo, intensidade da dor e incapacidade.(8,28)

A contribuição da crença de autoeficácia para a incapacidade foi analisada em estudo que comparou uma amostra brasileira e uma amostra australiana de pacientes com dor crônica. Os resul-tados sugeriram que embora variáveis demográficas e relaciona-das à dor contribuam para a incapacidade, as crenças de autoe-ficácia contribuíram de modo significativo para a incapacidade nas duas amostras.(18)

A crença de medo e evitação da dor também tem mostrado relevância em estudos que exploraram a determinação da inca-pacidade em pacientes com dor crônica. O medo é uma conse-quência natural da dor e a evitação de atividades provocada pelo medo da dor é razoável na dor aguda, mas é um impedimento para a recuperação da dor crônica. Não está claro, no entanto, por que o medo que ocorre na fase aguda se extingue para alguns e se torna um fator crônico para outros. Uma hipótese possível é que diferenças individuais prévias modulem esse processo.(24)

Muitos estudos tratam do medo relacionado à dor como um fator importante na determinação da incapacidade entre doentes com dor crônica. Vlaeyen e Linton(26) desenvolveram o Modelo de Medo e Evitação, que explica por que apenas uma parcela dos indivíduos que apresentam dor lombar aguda desenvolvem dor lombar crônica e incapacidade.(14)

Segundo o Modelo de medo e evitação da dor, a maneira como a dor é interpretada pode levar quem a percebe a dois ca-minhos: se a dor é percebida como algo não ameaçador o indi-víduo tende a manter suas atividades habituais e recuperar-se mais facilmente. Por outro lado, quando a dor é interpretada de maneira catastrófica, as interpretações disfuncionais levam ao medo relacionado à dor e comportamentos de evitação de mo-vimentos e hipervigilância da dor, que podem ser adaptativos no estágio agudo, mas quando a dor perdura, podem ter como consequência a incapacidade, o desuso de estruturas corporais e redução de tolerância à dor, o que poderá agravar o problema.(14)

Há pesquisas indicando que o medo da dor é mais incapa-

* Não há conflito de interesses.

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citante do que a dor em si(6,8,27,22,23) e outras em que o medo não se mostrou um preditor significativo da incapacidade.(13,14,20) Há estudos mostrando que a intensidade da dor e o medo levam à incapacidade relacionada à dor.(9,10,15,16,21,24)

Segundo Kovacs,(12) as crenças de medo e evitação da dor não explicam o grau de incapacidade nos pacientes com dor aguda, mas predizem a cronificação da dor. Observa-se, por-tanto, a importância das crenças no manejo da dor crônica e na determinação da incapacidade.

Estudo transversal que buscou identificar os principais fato-res relacionados à incapacidade em adultos com dor lombar crô-nica (n=215) mostrou que os indivíduos com autoeficácia baixa apresentaram chance 113% maior de ter incapacidade do que os que apresentaram autoeficácia elevada. Os indivíduos com elevado medo e evitação da dor apresentaram chance de incapa-cidade 41% maior do que os demais, e para os indivíduos com dor intensa a chance de ter incapacidade foi 30% maior quando comparada a indivíduos com dor leve a moderada. A análise da correlação entre as crenças de autoeficácia e medo e evitação da dor evidenciou correlação negativa significativa entre elas (r= −0,592; p<0,001), ou seja, quanto maior a autoeficácia, menor o medo e evitação da dor.(17)

Conclui-se, portanto, que as crenças de autoeficácia e medo e evitação da dor têm impacto importante no manejo da dor crô-nica. Programas de tratamento que visem controlar a dor crônica e reduzir o risco de incapacidade devem incluir a identificação e a modificação de crenças disfuncionais.

REFERÊNCIAS

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3. Bandura A. Self-Efficacy: Toward a unifying theory of be-havioral change. Psychological Review 1977; 84:191-215.

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10. Heuts PHTG, Vlaeyen JWS, Roelofs J, Bie RA, Aretz K, van Weel C, van Schayck OCP. Pain-related fear and daily func-tioning in patients with osteoarthritis. Pain 2004; 110:228-35.

11. Jensen MP, Turner JA, Romano JM, Lawler BK. Relation-ship of pain-specific beliefs to chronic pain adjustment. Pain 1994; 57:301-309.

12. Kovacs, FM; Abraira, V; Zamora, J; Fernández, C. The tran-sition from acute to subacute and chronic low back pain: a study based on determinants of quality of life and prediction of chronic disability. Spine 2005a; 30(15): 1786-1792.

13. Kovacs FM, Muriel A, Abraira V, Medina JM, Sanchez MDC, Olabe J. The influence of fear avoidance beliefs on disability and quality of life is sparse in Spanish low back pain patients. Spine 2005b; 30(22): E676-E682.

14. Leeuw M, Goossens MEJB, Linton SJ, Crombez G, Boers-ma K, Vlaeyen JWS. The fear-avoidance model of musculo-skeletal pain: current state of scientific evidence. Journal of Behavioral Medicine 2007; 30(1):77-94.

15. Mannion AF, Junge A, Taimela S, Muntener M, Lorenzo K, Dvorak J. Active therapy for chronic low back pain: part 3. Factors influencing self-rated disability and its change fol-lowing therapy. Spine 2001; 26(8): 920-29.

16. Peters ML, Vlaeyen JWS, Weber WEJ. The joint contribu-tion of physical pathology, pain-related fear and catastroph-izing to chronic back pain disability. Pain 2005; 113:45-50.

17. Salvetti MG. Incapacidade em pessoas com dor lombar crô-nica: prevalência e fatores associados. Tese de Doutorado. Escola de Enfermagem da USP, São Paulo, 2010. p. 122.

18. Sardá JJ, Nicholas MK, Asghari A, Pimenta CAM. The con-tribution of self-efficacy and depression to disability and work status in chronic pain patients: A comparison between Australian and Brazilian samples. European Journal of Pain 2009;13:180-195.

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89Aspectos sociais e psíquicos da dor e de seu tratamento

19. Schwarzer, R; Fuchs, R. Self-efficacy and Health Behav-iors. p. 163-195. In: Conner, M; Norman, P. Predicting health behavior: research and practice with social cognition models; 2001.

20. Sieben JM, Vlaeyen JWS, Portegijs PJM, Verbunt JA, Riet-Rutgers S van, Kester ADM, Von Korff M, Arntz A, Knottnerus JA. A longitudinal study on the predictive valid-ity of the fear-avoidance model in low back pain. Pain 2005; 117:162-70.

21. Sorbi MJ, Peters ML, Kruise DA, Maas CJ, Kerssens JJ, Ver-haak PFM, Bensing JM. Electronic momentary assessement in chronic pain II: pain and psychological pain responses as predictors of pain disability. Clinical Journal of Pain 2006; 22(1): 67-81.

22. Storheim K, Brox JI, Holm I, Bo K. Predictors of return to work in patients sick listed for sub-acute low back pain: a 12 month follow-up study. Journal of Rehabilitation Medicine 2005; 37:365-371.

23. Swinkels-Meewisse IEJ, Roelofs J, Verbeek ALM, Oosten-dorp RAB, Vlaeyen JWS. Fear-avoidance beliefs, disability

and participation in workers and nonworkers with acute low back pain. Clinical Journal of Pain 2006; 22(1):45-54.

24. Turk DC, Okifuji A. Psychological factors in chronic pain: evolution and revolution. Journal of Consulting and Clinical Psychology 2002; 70(3):678-90.

25. Turner JA, Franklin G, Fulton-Kehoe D, Sheppard L, Wick-izer TM, Wu R, Gluck JV, Egan K. Worker recovery expecta-tions and fear-avoidance predict work disability in a popula-tion-based workers compensation back pain sample. Spine 2006; 31(6): 682-689.

26. Vlaeyen JWS, Linton SJ. Fear avoidance and its conse-quences in chronic musculoskeletal pain: a state of the art. Pain 2000; 85:317-32.

27. Waddell G. The back pain revolution. Edinburg: Churchill Livingstone, 1998.

28. Woby SR, Roach NK, Urmston M, Watson PJ. The relation between cognitive factors and levels of pain and disability in chronic low back pain patients presenting for physioterapy. European Journal of pain 2007; 11:869-877.

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A Psicossomática e a Multidimensionalidade do Fenômeno da DorMANOEL ROSAS DOS REIS JUNIOR

Mestrando em Saúde Coletiva – Faculdade de Odontologia de Piracicaba, Unicamp. Especialização em Psicologia Clínica − Stress do trabalhador – PUCC – Campinas (MSC-profissional). Psicólogo pela Universidade Metodista de Piracicaba, Unimep.

Filiado à Universidade Estadual de Campinas – Faculdade de Odontologia de Piracicaba.

O número de textos e publicações tratando do tema Psi-cossomatização é bastante elevado. Na última década, toda sorte de revisões e análises sistemáticas buscavam explicar a relação da dor orofacial e sua interface com o processo psicológico, o que acaba por tornar inevitável um mergulho mais profundo na personalidade humana. Um dos principais caminhos para adentrar esse processo psicodinâmico da dor−emoção é a porta dos mecanismos de defesa inicialmente ad-vindos da psicanálise. Embora hoje possamos, via recursos digitais de imagem (RMS), registrar os caminhos do pensa-mento, ainda estamos muito longe de compreender essa rela-ção completamente, a ponto de mudar os multissistemas que compõem o fenômeno da dor. Nesta discussão pretende-se discorrer sobre os fundamentos com base nos fundamentos da psicologia analítica envolvidos na dinâmica do AXIS II (fator psicossocial da DTM), focando nos recursos instrumentais va-lidados e disponíveis para auxiliar o cirurgião-dentista no pro-cesso de avaliação de seu paciente diante do fenômeno da dor.

REFERÊNCIAS

Bracher, ESB; Pietrobon, R; Eluf-Neto, J. Cross-cultural ad-aptation and validation of a Brazilian Portuguese version of the chronic pain grade. Quality of Life Research 2010; 19, 847-852.

Corricini D et al. Cefaleias refratárias ao tratamento conven-cional – Abordagem psiquiátrica. Revista Simbidor 2000; 1: 23-33.

Dworkin SF, LeResche L. Research diagnostic criteria for temporomandibular disorders: review, criteria, examina-tions and specifications, critique. J Craniomand Disord. 1992;6(4):301-55.

Dworkin SF, Turner JA, Mancl L, Wilson L, Massoth D, Hug-gins KH, LeResche L, Truelove E. A randomized clinical trial of a tailored comprehensive care treatment program for temporomandibular disorders. J Orofac Pain 2002; 16: 259-276.

Genco RJ, Ho AW, Grossi SG, Dunford RG, Tedesco LA. Re-lationship of stress distress and inadequate coping behav-iors to periodontal disease. J. Periodontol 1999;70:711-23.

Grossi SG, Zambon JJ, Ho AW, Koch G, Dunfort RG, Machtei EE et al. Assessment of risk for periodontal disease. I. Risk indicators for attachment loss. J Periodontol 1994; 65:260-7.

Moss ME, Beck JD, Kaplan BH, Offenbacher S, Weintraub JA, Koch GG et al. Exploratory case control analysis of psychosocial factors and adult periodontitis. J. Periodon-J. Periodon-tol 1996; 67:1060-9.

Pimenta CAM, Teixeira MJ. Pesquisa em dor – Algumas re-flexões. Revista Simbidor 2000; 1: 8-16.

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91Aspectos sociais e psíquicos da dor e de seu tratamento

Sofrimento e suas Funções para o Homem*SERGIO GOMES DA SILVA

Psicanalista. Doutorando em Psicologia Clínica – PUC-RJ. Divisão de Psicologia Aplicada – IP/UFRJ.

Existe algo de humano na dor e no sofrimento e esse estatuto insofismável é engendrado pela nossa capacidade de significá-la e representá-la. A dor pode ser considerada uma das formas mais elementares de o organismo humano se defender e, quando ela aparece, significa que há algo que precisa de maior atenção e cuidado. Mas quando falamos de dor e sofrimento, como pode-ríamos classificá-los nos seus mais variados tipos?

No que compete à dor, ela se coaduna através da enxaqueca, dor de cabeça, artrite, artrose, fibromialgia, gota, dor muscular crônica, reumatismo, dor de dente, otite, apendicite, cálculo re-nal, cólica, dor das parturientes, sem contar as dores provocadas por acidentes, tais como queimaduras, fraturas ou perfuração corporal. Cada uma dessas dores é acompanhada de uma sinto-matologia própria que precisa ser desvendada. Por conseguinte, o sofrimento que acompanha essas dores também é específico e pode ser causado por alguma lesão ao organismo humano. Mas é preciso que se diga que a intensidade da dor e do sofrimento varia de indivíduo para indivíduo.

Não é a toa que a International Association for the Study of Pain (Associação Internacional para o Estudo da Dor), com sede em Seattle, nos Estados Unidos, publica mensalmente, desde o ano de 1975, um periódico denominado Pain (dor, em inglês) com as mais recentes descobertas sobre o tema, os novos me-dicamentos produzidos pela indústria farmacêutica e as mais recentes tecnologias médicas para identificação do que provoca o sofrimento causado pela dor. Para essa Associação, dor é uma experiência sensorial e emocional desagradável associada a uma lesão tissular existente ou potencial, ou descrita em termos que significam tal lesão.(1) No entanto, é fundamental que se afirme de imediato que há algo no organismo humano que habita na dor.(2) Sem ela, nossa existência estaria ameaçada posto que a dor e o sofrimento nos dão a nossa dimensão subjetiva: nas-cemos pela dor e pelo sofrimento e muitas vezes é através da dor e do sofrimento que chegamos ao fim da vida. É pela dor e pelo sofrimento também que dimensionamos nossa relação com o outro e com o ambiente que nos rodeia e faz a interconexão

entre o nosso estado fisiológico e psíquico. Posto isto, podemos afirmar que o ser humano necessita da dor e do sofrimento para situá-lo na sua própria história e trajetória de vida.

Tomemos o exemplo das dores reumáticas ou da artrose, ou seja, uma destruição progressiva dos tecidos que compõem a articulação e permitem nossa mobilidade. Quando chegamos a certa idade, que pode ser diferente de homens para mulheres, de ocidentais para orientais, de região para região e até mesmo de país para país com suas respectivas condições de vida, à medida que o organismo humano envelhece a artrose se instala em prati-camente mais de cem por cento da população mundial com mais de oitenta anos. Assim, a dor lembra constantemente ao psiquis-mo que o organismo está velho e não suporta certos movimentos outrora praticados na juventude. Se a mente não envelhece, o mesmo não se pode dizer do corpo com as mazelas fisiológicas que a velhice traz consigo.(2)

É preciso lembrar, porém, que tanto a dor quanto o sofrimento precisam ser distintos: há autores que afirmam que há dores físicas e psíquicas ou somáticas. Da minha parte, não vejo diferença entre uma dor que se constitui física e outra que se constitui psíquica. De igual modo, não consigo distinguir um sofrimento físico de um sofrimento psíquico, visto que ambos se afetam mutuamente.(3,4)

Não há cisão − nem física nem metafísica − entre a mente ou o cérebro e o corpo. Não há um abismo que separa o psíquico do somático. Não há sujeito no mundo que não altere o seu estado psíquico quando padece de uma dor orgânica, nem muito me-nos há sujeito que não tenha estados alterados na sua fisiologia quando sofre de uma dor psíquica.

Tomemos dois outros exemplos: nosso humor, nossa paci-ência e nossa irritação se tornam uma constante quando sofre-mos de uma dor de dente, uma apendicite, uma enxaqueca ou um cálculo renal; consequentemente, nossas taxas hormonais ficam muito debilitadas quando sofremos a perda de um amor ou de um ente querido.(5)

A dor e o sofrimento psíquicos são únicos na história de vida

* Não há conflito de interesses.

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de cada ser humano, posto que são sentimentos e sensações de difícil dimensionamento e que escapa à nossa razão. Nesse sen-tido, a dor física ou psíquica é sempre fenômeno limite para a nossa própria subjetividade.

Se a dor altera nossa estado de humor e se torna o último afeto ou a última muralha a ser ultrapassada entre a loucura e a morte, o sofrimento designará uma perturbação global, uma emoção maldefinida e, portanto, psíquica e corporal, provocan-do uma excitação violenta em nosso organismo.(5)

É a partir dessas considerações que pensamos em analisar o sofrimento e suas funções para o homem.

REFERÊNCIAS

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3. Coblence F. La vie d’âme – Psychê est corporelle, n’en sait rien. In: Revue Française de Psychanalyse, p. 1285-1356.

4. Costa R. A superação da dor. In: Isto É, n. 2173, jul. 2011.5. Nasio J-D. O livro da dor e do amor. Rio de Janeiro:

Zahar, 1997.

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93Aspectos sociais e psíquicos da dor e de seu tratamento

Câncer de Mama - Tratamentos e Feminilidade*SARA MOTA BORGES BOTTINO

Doutora em Medicina pelo Departamento de Medicina Preventiva da Universidade de São Paulo. Médica assistente da Universidade Federal de São Paulo – Unifesp. Psiquiatra e Psicoterapeuta.

Universidade Federal de São Paulo. Departamento de Psiquiatria − Psiquiatra do Programa de Atendimento a Vítimas de Violência − Prove

Os seios femininos sempre exerceram fascínio e foram cele-brados como fonte de atração sexual e interesse erótico. Além da identificação dos seios com a feminilidade, a amamentação pro-move um senso de admiração e estima das mulheres em relação a si mesmas, e aos seus pares.

O câncer de mama e seus tratamentos podem ter um impacto negativo no funcionamento sexual e na qualidade de vida de mu-lheres em uma fase em que o sexo é extremamente importante nas suas vidas. Mulheres com câncer de mama deparam com vários estressores: medo da morte, dos tratamentos invasivos (mastectomia), dos efeitos colaterais da quimioterapia e radiote-rapia e suas repercussões na sexualidade e fertilidade. Estresse social, sofrimento psicológico e suporte psicossocial influen-ciam a reação de ajustamento, a experiência com o tratamento e a adesão aos tratamentos (Bottino e Litvoc, 2009).(1)

A disfunção sexual em sobreviventes de câncer de mama é uma das causas mais comuns dos sintomas de estresse e sofri-mento nessa população. Problemas sexuais como falta de inte-resse sexual, incapacidade de relaxar e de se satisfazer durante a relação sexual, dificuldade para ficar excitada e para obter o orgasmo podem ser decorrentes dos efeitos colaterais da qui-mioterapia adjuvante como a fadiga, ondas de calor e secura vaginal (Thors et al., 2001).(7) Os problemas sexuais também podem ser efeitos colaterais adversos de longo prazo. As on-das de calor representam um problema significativo para as mulheres tratadas com quimioterapia para o câncer de mama. As ondas de calor são frequentemente acompanhadas de pro-blemas emocionais, sintomas depressivos e fadiga mental, que interferem na qualidade do sono e pioram a saúde física. Os Inibidores Seletivos da Recaptação de Serotonina (ISRS), além de melhorarem as ondas de calor, melhoram a fadiga, as altera-ções de sono e os sintomas depressivos das mulheres com cân-cer de mama tratadas com quimioterapia. A escolha do ISRS deve ser criteriosa, devido às interações desses antidepressivos com o tratamento hormonal utilizado na prevenção das recor-rências do câncer de mama, principalmente o tamoxifeno (Bot-tino S et al., 2009).(2)

A cirurgia de reconstrução mamária tem sido amplamen-te considerada como responsável por benefícios psicológicos, como melhora na qualidade de vida e imagem corporal das mu-lheres mastectomizadas. Entretanto, a maioria avalia as mulhe-res após a realização da cirurgia. Mulheres que escolhem recons-trução imediata podem estar com funcionamento emocional e comportamental comprometidos, porque estão lidando com um diagnóstico recente de câncer de mama. Mulheres que procuram reconstrução imediata, comparadas com as que esperam, estão mais estressadas com os efeitos da mastectomia na sua feminili-dade e sexualidade. Mulheres que procuram a reconstrução tar-dia e que tiveram que lidar com câncer de mama e mastectomia podem também estar experimentando estresse psicológico grave (Kunkel et al 2006).(4) Os resultados indicam que a reconstrução mamária não é uma panaceia para as consequências emocionais e psicológicas da mastectomia.

Outro aspecto importante é a avaliação dos aspectos de-mográficos, suporte social, além do impacto do diagnóstico de câncer na morbidade psíquica, que podem influenciar a tomada de decisão do médico a respeito do tipo de cirurgia indicada, e a concordância dessa decisão com a paciente. Em que extensão as preferências do paciente foram consideradas na indicação e decisão da cirurgia e o papel da concordância entre a visão do médico e da paciente no processo de tomar decisões? Em que extensão as variáveis sociodemográficas e psicossociais têm impacto nas preferências da paciente na tomada de decisão? Quais os efeitos psíquicos da mastectomia e da reconstrução imediata ou tardia na imagem corporal e qualidade de vida das mulheres com câncer de mama? Que fatores predizem a ima-gem corporal e a qualidade de vida após a cirurgia e o quanto as mulheres estão satisfeitas com as decisões que fizeram a respeito da própria cirurgia, com os resultados dessa cirurgia e com a provisão de cuidados são questões importantes a serem consideradas pelos profissionais envolvidos no cuidado e ava-liação das mulheres com câncer de mama (Kanz et al., 2004; Noyan MA et al., 2006).(3,5)

Os profissionais que trabalham com pacientes com cân-

* Não há conflito de interesses.

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cer de mama devem conversar com as pacientes sobre as dificuldades sexuais e aplicar avaliações abrangentes (com-pletas), além de orientar e auxiliar no manejo dessas difi-culdades. Os profissionais devem estar atentos a todos es-ses fatores para poder avaliar a “satisfação com a cirurgia e bem-estar”, antes de assumir que a reconstrução mamária imediata confere benefícios psicológicos comparados com a reconstrução tardia e com a mastectomia sem reconstrução. Os resultados da cirurgia estética devem ser avaliados tanto em termos de mudanças objetivas como psicológicos, por-que as expectativas dos pacientes são principalmente psico-lógicas ou psicossociais.

REFERÊNCIAS

1. Bottino, SMB & Júlio Litvoc: Bottino S & Litvoc J. Preva-lência e impacto do Transtorno do Estresse Pós-Traumático na qualidade de vida das mulheres recém-diagnosticadas com câncer de mama. Tese de doutorado. Faculdade de Me-

dicina da Universidade de São Paulo, 2009.2. Bottino SMB; Fraguas R; Gattaz WF. Depressão em pacien-

tes com câncer. Revista de Psiquiatria Clínica, 2009.3. Kanz, 2004. Patient-Physician Concordance: Preferences,

Perceptions, and Factors Influencing the Breast Cancer Sur-gical Decision. Journal of Clinical Oncology.

4. Kunkel EJ, Chen EI. Psychiatric aspects of women with breast cancer. Psychiatr Clin North Am. 2003 Sep; 26 (3): 713-24.

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6. Stein KD, Jacobsen PB, Hann DM, Greenberg H, Lyman G. Impact of hot flashes on quality of life among postmenopau-sal women being treated for breast cancer. J Pain Symptom Manage. 2000 Jun;19(6):436-45.

7. Thors CL, Broeckel JA, Jacobsen PB. Sexual functioning in bre-ast cancer survivors. Cancer Control. 2001 Sep-Oct;8(5):442-8.

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95Aspectos sociais e psíquicos da dor e de seu tratamento

Adição a Opioides: Dinâmica Psicológica e Psicossocial*ELIANA ARAÚJO NOGUEIRA DO VALE

Mestre em Psicologia − Departamento de Psicologia da Universidade de São Paulo. Membro do Grupo de Controle da Dor − Anestesiologia, do Instituto Central do Hospital das Clínicas, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Membro da International Society of Neuropsychoanalysis. Pós-graduação em Psiquiatria e Psicologia Médica − Universidade Federal de São

Paulo (Unifesp) – Escola Paulista de Medicina.

INTRODUÇÃO

O uso de substâncias psicoativas pode ocorrer por prescrição médica, ou ilegalmente, por uso recreativo, abusivo ou por adi-ção, sendo influenciado por variáveis culturais e sociológicas.(5)

A adição a uma substância é classificada como doença crôni-ca, e caracteriza-se por alterações fisiológicas e neurobiológicas duradouras, bem como por um conjunto de sintomas cognitivos e comportamentais, com autoadministração repetida que leva à tolerância, abstinência e uso compulsivo da substância.(11) Isso ocorreria em detrimento das demais atividades, mesmo com o conhecimento do usuário de que essa prática traz prejuízos sig-nificativos à vida familiar, social e profissional.(7) Adição e abuso de drogas estão relacionados ainda a comportamento sexual de risco e eventual contaminação por Aids.(9)

BRASIL: PREVALÊNCIA NO USO DE OPIOIDES

Estatisticamente, o consumo e abuso de opioides seria maior em países ricos do que naqueles com renda de moderada a baixa.(4) No Brasil, há prevalência muito menor no uso de opioides do que nos Estados Unidos,(3) onde os níveis de consumo e adição constituem importante problema de saúde pública.

Segundo levantamento do Governo brasileiro, realizado em 2005, com ampla amostragem nacional, as estimativas para con-sumo de analgésicos opiáceos na população de 12 a 65 anos são de 1,6% na vida, 0,23% no último ano, e 0,06% no último mês, havendo prevalência do uso por mulheres em relação aos homens, e prevalência nas regiões norte e nordeste do país em relação às demais. Entre os analgésicos opiáceos mais consumidos estão o xarope de codeína (Tilex − 0,88%), a dolantina (0,11%) e a morfi-na (0,05%), não sendo estatisticamente significativo o número de dependentes; finalmente, o registro de uso de heroína é de 0,1% na vida.(4) O abuso de opioides prescritos no Brasil está concentra-do nos ambientes hospitalares, inclusive por parte de profissionais médicos; e na Clínica da Dor, em que os analgésicos opioides têm

papel essencial. Antes usados exclusivamente em oncologia, seu uso foi ampliado para o controle da dor pós-operatória, e de dores agudas e crônicas. É possível que, com o aumento no uso, a adi-ção também venha a constituir um problema de saúde pública em nosso país. A despeito do baixo consumo atual, há preocupação por parte de profissionais com o impacto da síndrome de depen-dência sobre os índices de mortalidade e morbidade.(2)

PSICONEUROBIOLOGIA DA ADIÇÃO

O mecanismo neurobiológico responsável pelas sensações de prazer no consumo de drogas estaria relacionado à ativa-ção dos circuitos neurais do sistema de recompensa cerebral (área tegmentar ventral, núcleo acumbente, lócus cerúleo, córtex pré-frontal).(14)

Há evidências de que o consumo crônico de drogas leva a alterações persistentes no nível molecular e celular, incluindo mudanças na transcrição genética, no processamento do RNA e de proteínas, e nos mecanismos sinápticos.(19) Em roedores, ob-servou-se que o uso prolongado de cocaína levava a uma perda permanente da depressão de longa potenciação na plasticidade neural do núcleo acumbente.(11)

Apesar da produção de sensações prazerosas, a adição não se desenvolve em todos os usuários; isso ocorreria principalmente naqueles que apresentam perfil de risco.(21)

PERFIL DE RISCO PARA ADIÇÃO A OPIOIDES

Embora haja controvérsias no que diz respeito à especifici-dade ou não de fatores genéticos e ambientais no uso/abuso de drogas,(12) foram observados, na literatura, os seguintes fatores de risco para adição a opioides:1. Fatores genéticos diversos associados à impulsividade, com-

portamentos de risco e resposta ao estresse;(13,16)

2. Fatores familiares: estudos com gêmeos dizigóticos e mono-zigóticos; e com parentes próximos;(12)

* Não houve subsídios ou patrocínios. Não há conflito de interesses.

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3. Comorbidades psiquiátricas / transtornos de personalida-de, com especificidade para Transtorno de Personalidade Antissocial, Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperati-vidade, Transtorno Obsessivo-Compulsivo, Esquizofrenia, Depressão;(22)

4. Abuso sexual e maus-tratos na pré-adolescência, possivel-mente pelo desenvolvimento de Síndrome de Estresse Pós--Traumático;(6)

5. Associação a lugares/grupos sociais que fazem uso de drogas;(22)

6. Outros tipos de adição (codependência): álcool, tabagis mo, cocaína;(21)

7. Facilidade de acesso;(3)

8. Pessoas em situação de risco social: classe socioeconômica baixa, sem-tetos, pessoas com residência precária;(20)

9. Rota preferencial de administração por injeção;(15)

10. Sexo feminino;(10)

11. Variáveis psiconeurais: impulsividade causada por baixa ati-vação do córtex pré-frontal.(1,8)

Estudos pré-clínicos indicam que estressores sociais (se-paração materna, estresse por derrota e por subordinação) predispõem roedores ao consumo de drogas, inclusive opio-ides; no entanto, esses aspectos foram pouco estudados em modelos humanos.(18)

CONCLUSÃO

O perfil de risco acima foi levantado a partir de dados não--brasileiros. Embora a adição a opiáceos ainda seja incipiente no Brasil, seria desejável obter dados a partir dessa realidade, principalmente com foco na Clínica da Dor e em ambientes hos-pitalares. Uma linha de pesquisa promissora seria a investigação dos estressores sociais em modelos humanos.

REFERÊNCIAS

1. Acton GS. Measurement of impulsivity and a hierarchical model of personality traits: implications for substance use. Subst Use & Misuse. 38:67-83, 2003.

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3. Bollinger LC et al. Under the counter. The diversion and abuse of controlled prescription drugs in the US. The National Cen-ter on Addiction and Substance Abuse at Columbia University (CASA). USA, Jul 2005, 214 p. Disponível online em <www.drogas.org/portaldrogas>.

4. Carlini EA et al. II Levantamento domiciliar sobre o uso de drogas psicotrópicas no Brasil: estudo envolvendo as 108

maiores cidades do país. 2005. Senad/Unifesp. <http://obid.senad.gov.br>.

5. Castro FG, Alarcón EH. Integrating cultural variables into drug abuse: prevention and treatment with racial/ethnic mi-norities. J Drug Issues. 0022-0426/02/03, 783-810, 2002.

6. Conroy ED et al. Child maltreatment as a risk factor for opioid dependence: comparison of family characteristics and type and severity of child maltreatment with a matched control group. Child Abuse and Neglect: The Intl J, 33(6):343-52, Jun 2009.

7. DSM-IV: Diagnostic and Statistical Manual of Mental Dis-orders, 4.ed., American Psychiatric Association, Washington DC, 2004. Disponível online em português do Brasil em: <www.psicosite.com.br/cla/DSM-IV.htm>.

8. Everitt BJ et al. The orbital prefrontal cortex and drug addic-tion in laboratory animals and humans. Ann N.Y. Acad. Sci. 1121:576-97, 2007.

9. Freedman MS et al. Associations between substance use, sex-ual risk taking and HIV treatment adherence among homeless people living with HIV. AIDS Care: Psych and Socio-Med As-pects of AIDS/HIV. 29(6):692-700, 2009.

10. Jamison RN et al. Gender differences in risk factors for aber-rant prescription opioid use. J Pain, 11(4):312-20, Apr 2010.

11. Kasenetz F et al. Transition to addiction is associated with a persistent impairment in synaptic plasticity. Science. 328(5986):1709-12, 2010.

12. Kendler KS et al. Childhood sexual abuse and adult psychiatric and substance use disorders in women: an epidemiological and co-twin control analysis. Arch Gen Psych, 57(10):953-9, 2000.

13. Kreek MJ et al. Genetic influences on impulsivity, risk tak-ing, stress responsivity and vulnerability to drug abuse and addiction.

14. Kosten, TR & George TP. The neurobiology of opioid depen-dence: implications for treatment. Sci Pract Perspect, 1(1):13-20, Jul 2002.

15. Kumar R & Dhawan A. Reasons for transition and reverse transition in patients with heroin dependence. Indian J Psych. 44(1)19-23, 2002.

16. Lachman HM et al. Genomewide suggestive linkage of opioid dependence to chromosome 14q. Hum Mol Genet. 164:1327-34, 2007.

17. Manchikanti L et al. Psychological factors as predictors of opioid abuse and illicit drug use in chronic pain patients. J Opioid Management, 3(2):89-100, March/Apr 2007.

18. Miczek KA et al. Social stress, therapeutics and drug abuse: preclinical models of escalated and depressed intake. Pharma-col Ther.120(2):102-28, Nov 2008.

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97Aspectos sociais e psíquicos da dor e de seu tratamento

19. Nestler EJ. Molecular basis of long-term plasticity underlying addiction. Nature Reviews Neuroscience. 2:119-128, Feb 2001.

20. Scherbaum N, Specka M. Factors influencing the course of opiate addiction. Int J Methods Psych Res. 17(1): S39-44, Jun 2008.

21. Sullivan M & Ferrell B. Ethical challenges in the management of chronic nonmalignant pain: negotiating through the cloud of doubt. J Pain, 6(1):1, Jan, 2005.

22. Webster L & Dove B. Avoiding opioid abuse while managing pain. MN, USA, Sunrise River Press, 202 p.

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A Discriminação Racial no Controle da DorMARIA CLARA GIÓRIO DUTRA KRELING1 ● CIBELE ANDRUCIOLI DE MATTOS PIMENTA2

1Mestre em Enfermagem. Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermagem na Saúde do Adulto da Escola de Enfermagem da USP. Docente do Departamento de Enfermagem da UEL.

2Professora Titular da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo.

INTRODUÇÃO

A dor é uma experiência que traz prejuízos que variam em forma e magnitude. Seu alívio deve ser considerado um direito de quem a sente e um dever de quem a assiste; no entanto, nem sempre isso ocorre de forma satisfatória. O tratamento inadequa-do da dor pode ser atribuído a fatores relacionados ao sistema de saúde, ao cuidador e ao paciente.

Entre minorias raciais e étnicas há descrição de variabili-dade na qualidade do manejo da dor e isso pode ter profun-das implicações sobre o estado de saúde e qualidade de vida. Se decisões do tratamento são influenciadas por raça, renda, educação e fatores socioculturais, elas são injustificáveis e precisam ser eliminadas.(8)

A vulnerabilidade de determinadas raças e etnias pode ser agravada pela subjetividade da dor, cuja expressão depende de quem a sente. Pesquisas sobre o tema apresentam indícios de que há discriminação no tratamento da dor, o que justifica explo-rar este tema, visando identificar evidências de discriminação de natureza racial/étnica no tratamento da dor.

METODOLOGIA

As bases eletrônicas pesquisadas foram: Pubmed/Medline, Literatura Latino-Americana em Ciências da Saúde (LILACS), Scientific Eletronic Library Online (SciELO), Cochrane, EM-BASE.com, SCOPUS e psycINFO. Foram usados os descritores padronizados no MESH e DeCs: pain−dor and race−raça or eth-nic−etnia, and analgesia−analgesia. Para refinar a busca, a essas combinações foram acrescidos os termos: prejudice, discrimi-nation, disparaties and prescriptions drug. Não estabelecemos data-limite para as publicações, com a finalidade de adquirirmos um número máximo de artigos relacionados ao tema.

Os critérios de inclusão dos artigos foram: estudos de na-tureza quantitativa com adultos e que analisavam a interfe-rência da raça/etnia do paciente na tomada de decisão para o controle da dor.

Os aspectos analisados foram: data de publicação, país de origem do estudo, objetivos e desenho do estudo, raças estuda-das, tipos de dores, desfechos e principais resultados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Dos 3.216 estudos encontrados, 50 atenderam aos critérios de inclusão e, destes, um foi realizado na Austrália, outro na Noruega e os demais nos Estados Unidos; 13 foram publicados na década de 1990 e 27 nos anos de 2000 a 2009. A influência da raça e etnia sobre o controle da dor parece ser uma preocupação relativamente recente.(3) Durante a década de 1990, nos Estados Unidos, várias organizações profissionais tais como a Organiza-ção Mundial da Saúde, a Agência de Cuidado à Política e Pes-quisa da Saúde, a Sociedade Americana da Dor e a Sociedade de Enfermagem em Oncologia realizaram grandes esforços para direcionar discussões sobre o tema.(4)

Dos estudos analisados, os desenhos metodológicos fo-ram predominantemente transversais (31/50), seguidos pelos de coorte (19/50).

Foram encontradas 25 diferentes composições de grupos raciais/étnicos. Em 29 estudos observou-se que raça e etnia fo-ram utilizadas e analisadas indistintamente. Apenas um estudo apresentou uma classificação de forma a distinguir raça e etnia, incluindo negros e brancos na categoria “raça” e hispânicos na categoria “etnia”, porém nas análises foram comparados indis-tintamente.(6) Raça pode ser definida como cada uma das gran-des subdivisões da espécie humana que, supostamente, constitui uma unidade relativamente separada e distinta, com característi-cas biológicas e organizações genéticas próprias. A classificação mais básica e difundida é a das três grandes subdivisões: cauca-soide (raça branca), negroide (raça negra) e mongoloide (raça amarela). Etnia pode ser definida como população ou grupo so-cial que apresenta relativa homogeneidade cultural e linguística, compartilhando história e origens comuns.(5)

Verificou-se também que para uma mesma raça são utiliza-das terminologias diferentes como negros e americanos africa-nos. Quanto ao termo “hispânico”, o Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos, em 2002, relatou que os termos “hispânicos e latinos” são referidos pelos pesquisadores para os descenden-tes de espanhóis, que podem ser de Cuba, México, Porto Rico, América do Sul ou Central ou outras culturas espanholas.(3) Ressalta-se também que os autores não justificam suas escolhas,

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não apresentam nenhum critério preestabelecido ou se orientam por uma classificação padronizada baseada em literatura. Apesar disso, é um equívoco concluir que, por não se tratar de clas-sificações científicas mas construídas e reforçadas por normas sociais, a raça e a etnia sejam artificiais ou irreais e destituídas de valor na pesquisa.(9)

As dores analisadas na maioria dos estudos foram fraturas, dor crônica em geral, dor oncológica e dor no pós-operatório. Os estudos apresentaram vários desfechos como prescrição de anal-gésicos, acesso do paciente ao tratamento, indicação de exames, diferença entre a estimativa de intensidade de dor do médico e o relato do paciente.

A discriminação racial no controle da dor foi relatada em 74% dos estudos. Dos estudos que analisaram a raça negra juntamente com outras raças/etnias (n=43), 24 apresentaram como resultados a discriminação racial para negros (55,81%). Hispânicos foram comparados com outras raças/etnias em 30 estudos e a discriminação para essa etnia foi encontrada em 16 deles (53,33%).

Significado e comportamento frente à dor podem estar associados a normas culturais e a percepção e comunicação podem ser prejudicadas quando as etnias do profissional de saúde e do paciente são diferentes. O estereótipo étnico tam-bém pode interferir na capacidade do profissional de saúde em avaliar a dor de forma confiável. Portanto, por uma variedade de razões, profissionais apresentam risco de subvalorizar a dor de pacientes de outras culturas.(10)

Ainda que diferenças no tratamento da dor baseadas em raça e etnia sejam tema de interesse crescente na literatura e pesqui-sas em dor, há pouca evidência para explicar por que essas di-ferenças existem.(7) Possíveis explicações incluem racismo dos cuidadores em saúde, língua e barreira cultural, que dificultam a comunicação, fatores socioeconômicos que afetam pacientes de minoria étnica e lacunas no entendimento de como avaliar a dor de forma confiável. Enquanto esses aspectos não estiverem mais claros, será difícil elaborar estratégias para eliminar diferenças étnicas e raciais no tratamento da dor.(1)

Pesquisas sobre instrumentos de avaliação da dor sensíveis cultural e linguisticamente e estudos sobre gênero, fatores eco-nômicos, língua, aculturação, qualidade de cuidado nas minorias raciais e étnicas são necessárias.(7)

Autores sugerem que uma das iniciativas para diminuir a discriminação racial no manejo da dor possa ser a implantação de protocolos de atendimento a pacientes com dor nos serviços de saúde.(2) Outro aspecto importante a ser considerado é a ne-cessidade de discussões que permitam a expressão e análise de

preconceitos que possam influir na assistência prestada, durante a formação do profissional de saúde e durante toda a vida pro-fissional.

CONCLUSÃO

A discriminação racial foi identificada em 74% dos estudos, sendo que a raça negra foi a mais discriminada, seguida pelos hispânicos. Há evidência de que o comportamento de cuidadores contribui para discriminações étnicas/raciais no tratamento da dor nos Estados Unidos, pois 96% dos estudos foram realizados naquele país. Os resultados apresentados apontam para a ne-cessidade da realização de pesquisas sobre este tema em outros países além dos Estados Unidos e a importância da reflexão so-bre a influência de diferenças culturais na prestação do cuidado durante a formação de recursos humanos em saúde.

REFERÊNCIAS

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9. Laguardia J. O uso da variável “Raça” na Pesquisa em Saú-de. Rev. Saúde Coletiva 2004 14(2):197-234.

10. Todd KH, Vallerand AH. The Unequal Burden of Pain: Con-Todd KH, Vallerand AH. The Unequal Burden of Pain: Con-fronting Racial and Ethnic Disparaties in Pain. Pain Medi-cine 2003 4(3): 277-294.

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A Perícia Médica em DorJOSÉ OSWALDO DE OLIVEIRA JR.

Titular e Chefe do Departamento de Terapia Antálgica, Cirurgia Funcional e Cuidados Paliativos da Escola de Cancerologia da Fundação Antonio Prudente.

CONCEITUAÇÃO

A perícia é a capacidade teórica e prática para empregar, com talento, determinado campo do conhecimento. Uma de suas principais características é a reprodutibilidade.(1,2,3) Uma perícia bem feita sempre alcança os mesmos resultados.

A falsa perícia é diferente da imperícia. A falsa é a afirmação contra a verdade, assim como a negação ou mesmo a omissão dela. A imperícia é a ignorância, a falta do conhecimento técnico e/ou científico, a inabilitação específica para a prática de deter-minado ato.(2,3) Ambas são enquadradas pelo nosso Código Penal.

A perícia médica é, em sentido amplo, todo e qualquer ato propedêutico ou exame, feito por médico, com a finalidade de colaborar com as autoridades administrativas, policiais ou judi-ciárias na formação de juízo a que estão obrigadas.(1,2)

O atestado médico se constitui em declaração sucinta das consequências de um fato médico que implicam providências administrativas, judiciárias ou oficiosas, relacionadas com o ob-jeto de avaliação: o referido como doente.

A confecção de documentos médico-legais como o atestado relacionado à dor é uma das mais difíceis atividades dentro do campo da perícia médica.

A auditoria é uma atividade profissional da área médica (e também de enfermagem) que analisa, controla e autoriza os procedimentos médicos para fins de diagnose e condutas tera-pêuticas, propostas e/ou realizadas, respeitando-se a autonomia profissional e preceitos éticos, que ditam as ações e relações hu-manas e sociais. Sua existência, necessidades e objetivos são plenamente reconhecidos pela legislação e pelos códigos de éti-ca das profissões da área de saúde.(8)

O PERITO

Armando Cânger Rodrigues, meu saudoso professor e orien-tador, advogava que o perito médico deveria zelar pela sua imagem perante os seus pares e perante toda a sociedade. Con-siderava que justiça e honestidade deveriam permear toda sua vida. A probidade deve incluir todos os seus parceiros em laços interpessoais, comerciais e empregatícios. Os documentos por ele produzidos deveriam ser claros, precisos e sem prolixidade.

Genival Veloso de França, outro baluarte da medicina legal,

em seu “decálogo ético do perito” também deu ênfase à condu-ta e à imagem do perito, e sentenciou que este deveria: evitar conclusões intuitivas e precipitadas; comunicar-se de modo re-sumido e em tom sério; agir com modéstia e sem vaidade; man-ter o sigilo exigido; ter autoridade para ser acreditado; ser livre para agir com isenção; não aceitar a intromissão de ninguém; ser honesto e ter vida pessoal correta; ter coragem para tomar as decisões necessárias; e ser competente para ser respeitado.(2)

A atividade do perito deve ser pautada no encontro da ver-dade e não do resultado pecuniário de seus atos, mesmo que não lhe sejam primários e beneficiem seu empregador.(10)

A DIFERENÇA ENTRE O MÉDICO PERITO E O MÉDICO ASSISTENTE

No primeiro capítulo (que trata dos princípios fundamentais) do novo Código de Ética Médica, promulgado em 2010, encon-tramos explicitamente que a medicina é uma profissão a serviço da saúde do ser humano e da coletividade e deverá ser exercida sem discriminação de nenhuma natureza.(4) Nesta mesma linha, também expressa que o alvo de toda a atenção do médico é a saúde do ser humano, em benefício da qual deverá agir com o máximo de zelo e o melhor de sua capacidade profissional.(4) Fica difícil admitir que o perito contratado por um seguro mé-dico, um seguro de saúde, um convênio médico, um plano de saúde, uma cooperativa médica, ou mesmo por setor do sistema de seguridade e/ou previdência social exerça sempre sua função em prol de um ser humano especial: o nosso doente.

No mesmo capítulo, o novo código de ética explicita que o médico guardará absoluto respeito pelo ser humano e atuará sempre em seu benefício. Jamais utilizará seus conhecimentos para causar sofrimento físico ou moral, para o extermínio do ser humano ou para permitir e acobertar tentativa contra sua dignidade e integridade.(4)

A principal diferença entre o médico assistente e o perito é o comprometimento prioritário para com o melhor resultado das consequências de seus atos. Apenas para o médico assistente o melhor resultado é aquele que beneficia sempre o doente.

A missão declarada de um perito do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) pode ser a decisão sobre a conces-são ou manutenção de um benefício ao segurado. O médico,

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neste caso, quando assume o papel de perito, afasta-se do ato médico presumido (infelizmente, o ato médico carece de uma regulamentação plena, e as fronteiras do charlatanismo per-sistem no Brasil sem os balizamentos necessários), examina e conclui tecnicamente a respeito do benefício em pauta.

Nos treinamentos ministrados nos cursos de educação con-tinuada do INSS aos seus peritos, fica tácito o objetivo a ser alcançado nas perícias de benefícios: embasar pelo ato pericial a revisão da concessão de benefícios, e, quando possível, seu cancelamento. O número alcançado de cancelamentos é festeja-do. Embora, a priori, todos os peritos que julgaram, no passa-do, justo e de direito o benefício concedido, mereçam respeito e credibilidade; as revisões parecem duvidar deste aforismo, e da motivação daqueles peritos naquele momento.

O novo código, recém-publicado, determina que o traba-lho médico não pode ser explorado por terceiros com obje-tivos de lucro, finalidade política ou religiosa.(4) O trabalho do perito médico contratado por uma seguradora qualquer ou mesmo por uma entidade governamental, pode trazer benefí-cios pecuniários. Os referidos benefícios nos parecem lucros advindos do trabalho médico...

Os peritos do INSS são funcionários públicos e devem obedi-ência aos ditames hierárquicos de seus cargos. Os peritos foram contratados pelo fato de serem médicos e, destarte, já regidos pelo código de ética médica e pelo juramento de Hipócrates. Os objetivos da perícia são passíveis de contestação sobre a existên-cia de conflito de interesses não declarados.

Outro princípio fundamental adotado pelo novo código de ética reza que a medicina não pode, em nenhuma circunstância ou forma, ser exercida como comércio.(4) Fica difícil, fato que ocorreu em passado recente, assistir em propagandas televi-sivas a participação de um colega médico, que se intitulava dono de um dos planos de saúde com abrangência nacional e membro do poder legislativo − o médico explorando médicos e podendo exercer poder persuasivo do cargo político sobre a normatização da prática médica. Nenhum conselheiro federal ou estadual considerou a possibilidade de infração ética. O car-go político talvez lhe concedesse impunidade perante os Con-selhos Federal e Regionais de Medicina, ou a atitude descrita não fosse considerada antiética.

Perícias de auditores médicos, de empresas intermediárias da profissão médica, são alvos frequentes e, na maioria das vezes, merecidos de contestações pela classe médica.

Os peritos judiciais estão sujeitos à disciplina judiciária, sen-do considerados auxiliares da Justiça em virtude da necessida-de, apresentada pelo juiz, de solucionar questões que exigem

conhecimentos específicos em determinadas matérias de difícil elucidação. À perícia médica judicial pode ser atribuída função de natureza pública, implicando a consideração de que os docu-mentos assinados pelo perito presumem fé pública, assumindo presunção jure et jure, e somente podem ser contraditados quan-do de provas incontroversas.(2)

O ALVO DA PERÍCIA

Dor é antes de tudo queixa.(6,7) Não há melhor maneira de se entender o desconforto doloroso do que ouvir atentamente o próprio autorrelato de quem o sofre. Mesmo assim, sabemos que a subjetividade da matéria sempre nos reserva dificuldades. Sempre que lançamos mão de interpretações ou parâmetros indiretos na avaliação da dor estamos nos afastando de seu real significado e mensuração.(9)

O processo doloroso contempla modulação desde a transdu-ção dos estímulos periféricos, a transmissão pela rede neural e até sua percepção consciente. A modulação pode ser intensa o bastante para o indivíduo sentir dor a partir da ausência de es-tímulos dolorosos, ou não sentir desconforto algum a partir de estimulação dolorosa vigorosa.(6)

Na algologia, mais que em qualquer outra área de atuação, somos totalmente dependentes das informações prestadas pelo doente. Nenhum exame complementar, mesmo aquele mais moderno e sofisticado, pode concordar ou discordar com as alegações do doente, sem dar margem a dúvidas.

Exames como os termométricos realizados com instru-mentos de última geração, ou as imagens obtidas pela res-sonância magnética funcional ou pelo mapeamento de pósi-trons, não conseguem discernir a presença real de dor de uma alegação falsa de dor.

Os valores percentuais encontrados para resultados falso--positivos de exames complementares chegam apenas a metade dos casos.

A clínica é sempre soberana e os exames subsidiários, obvia-mente, como o próprio nome sugere, são complementares.(9) Não deixam, no entanto, de ser úteis para a composição do laudo e esclarecimento de dúvidas surgidas durante o processo pericial.

O ATESTADO MÉDICO SOBRE A DOR

Toda queixa é manifestação de pensamentos, é comporta-mento, é relatório, é testemunho...

Um atestado médico de dor seria, em suma, um aval médi-co sobre um testemunho, sobre uma queixa ou uma experiência de outra pessoa: o doente. Não somos − e, no nosso momen-to de desenvolvimento científico e tecnológico, ninguém é −

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competentes para elaborar, dentro de nossos preceitos éticos, um atestado de dor.

Nosso atestado avalizaria o testemunho de um evento do qual nós não teríamos conhecimento direto, não sentiríamos o que o doente sente ou diz sentir. Assim sendo, a dor é uma quei-xa, e o que sempre se julga é a credibilidade de quem a diz sentir.

O atestado que se atém ao fenômeno doloroso não deve ser, mas pode ser, elaborado, caso o médico decida fazê-lo, declaran-do o que o doente refere sentir, não simplesmente o que ele sente.

Quanto aos diagnósticos contidos no atestado médico, estes devem ser adjetivados como hipotéticos ou como compatíveis com os demais elementos que fazem parte do conteúdo do ates-tado. Sempre que possível devemos nos ater aos diagnósticos que contenham menor presunção de nossa parte.

As conclusões periciais, reforçando ou negando a presença do fenômeno doloroso, tal qual ele é referido, geralmente se ba-seiam em outros elementos encontrados e interpretados. O perito denuncia a falta de credibilidade do queixoso flagrando uma in-verdade ou um fingimento; ou uma ou mais discrepâncias entre a queixa dolorosa e o exame do referido doente (quando este concorda com o exame por um perito) e de seus documentos.

A impossibilidade da obtenção de prova irrefutável contra ou a favor da dor alegada é substituída pelo encontro de elementos que induzem ao descrédito do queixoso.

Um doente que refere dores em um membro inferior que o impedem de encostar a planta do pé no chão, que deambula ape-nas quando faz uso de muletas, cujos sapatos em uso demons-tram, à inspeção, desgaste simétrico de suas solas, pode ter sua credibilidade contestada. O bom senso é crucial pois, mesmo assim, o doente pode sentir dores, mas não na intensidade e nas limitações alegadas. Pode sentir as dores alegadas, porém pode ter mentido sobre a impossibilidade de encostar seu pé no chão...

O denodo do simulador em reforçar uma queixa dolorosa demonstrado na manutenção de uma falsa postura, no decorrer de anos e anos, pode desenvolver mudanças crônicas persisten-tes como encurtamento de tendões, limitações nos movimentos articulares, alterações vasculares entre outras. O exame físico desses doentes pode detectar elementos orgânicos relacionados ou não com a queixa original de dor. A presença da dor e da dis-tinção deste nexo será uma das difíceis incumbências do perito.

O corolário de elementos produzidos pelo simulador, com o intuito de reforçar a queixa dolorosa primariamente falsa, pode causar dor, mesmo de modo agudo.

Quando o perito conclui que a alegação de dor se trata de uma queixa falsa, nem sempre o queixoso pode ser agraciado com um título de sanidade.

Um elemento complicador da avaliação criteriosa sobre a dor é a possibilidade de o “simulador” (flagrado na perícia) ser portador de grave transtorno de personalidade.

A síndrome de Munshausen acomete os chamados doentes itinerantes, que produzem (portanto, simulam) intrigantes sinais, sintomas e/ou queixas (incluindo as dolorosas) sem o interesse precípuo de obter vantagens, exceto a de se passar por doente. Quando diagnosticados corretamente, mudam de local de atendi-mento para reiniciar o tratamento da doença factoide (daí a sino-nímia de doentes itinerantes) e reproduzir a situação que precedia o esclarecimento. Esses doentes diferem diametralmente dos si-muladores que possuem ganhos secundários. Enquanto os “iti-nerantes” são casos de psiquiatria os outros são casos de polícia.

Serviços que não fornecem habitualmente atestados sobre dor afastam os usuários com ganhos secundários, possibilitam abertura de maior número de vagas para o atendimento de por-tadores de dores oncológicas ou não oncológicas. Os doentes atendidos nesses serviços têm maior aderência e melhor respos-ta ao tratamento proposto e, sobretudo, trazem maior satisfação aos profissionais responsáveis.

Os laudos periciais judiciais no assunto dor são fundamentados em bases técnicas e científicas, e devem professar imparcialidade. Distinção deve ser feita aos assistentes técnicos dos advogados das partes envolvidas em litígio médico legal, que sabidamente adotam atitudes parciais em prol da parte contratante, contrapondo-se ao perito do juiz que se mantém na lisura da imparcialidade.

Os documentos elaborados, frutos da perícia médica, devem respeitar o sigilo profissional.(5) Mesmo quando utilizados para obter a liberação de procedimentos (como exames e cirurgias para tratamento de dor) das operadoras de planos de saúde, o doente deve consentir com o fornecimento dos dados requisitados.(5) As operadoras são entidades despersonalizadas e não devem ser o endereço para entrega dos dados obtidos. O fornecimento deve ser feito ao representante das operadoras que, por dever de ofí-cio, zele pelo sigilo médico: o perito médico auditor.

Consideramos extremamente controverso o preenchimento e encaminhamento de fichas padronizadas (TISS) pelos planos de saúde com dados sigilosos dos nossos doentes.

A PERÍCIA EM AUDITORIA MÉDICA DE DOR

Os auditores devem estar atentos aos seus limites, clara-mente definidos nos respectivos códigos de ética (tanto médico como de enfermagem), e embasados em normas técnicas pró-prias e pareceres de sociedades científicas.(8)

Nos planos e seguros de saúde o médico pode atuar como pe-

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rito, orientador (interpretando normas acordadas nos contratos), ordenador (conhecendo os direitos e deveres para autorização de procedimentos a serem realizados), fiscalizador (verificando a finalidade e a indicação dos procedimentos), controlador (evi-tando desperdício e mantendo a qualidade da assistência, como também respeitando os direitos do doente).

Existem outras colocações para a atuação da auditoria mé-dica classificando-a como preventiva, corretiva e gerencial, po-rém exercendo sempre a mesma função de perícia, operacional e avaliação do serviço de saúde.(8)

Na análise de contas médicas, a atuação da auditoria está voltada para verificação de códigos solicitados, autorizados ou não, corrigindo eventuais distorções, evitando cobrança incorreta e a consequente glosa.

O auditor tem como atribuição subsidiar os setores de aná-lise com informações relevantes para o correto pagamento das contas além de ser um elemento de ligação entre os usuários e a empresa patrocinadora do evento.(8) A auditoria torna a parte técnica mais ágil e dá o necessário suporte administrativo.

A auditoria em seus diversos níveis de atuação deve conside-rar a elevação dos padrões técnicos e a melhoria das condições hospitalares.

O auditor em qualquer área de atuação pode contribuir para a empresa pública ou privada, no sentido de promover e manter a saúde do usuário; no entanto, muitas vezes a preocupação se concentra em promover e manter a saúde financeira de seu em-pregador. A boa saúde do empregador está intimamente relacio-nada com o bom prognóstico, a longo prazo, de seu emprego.

A perícia na auditoria médica é amplamente utilizada em ór-gãos públicos e privados e em si não é antiética.(8) O exame do paciente, desde que este o permita, pode ser feito com o objetivo de verificação dos serviços a serem prestados ou já prestados.

O cuidado ético a ser tomado, tanto por médicos prestado-res de serviços quanto pelos auditores, é o de não transformar o paciente em objeto de interesse ou vítima de divergências entre médicos e operadoras de planos de saúde. Na prática, as diver-gências atuais elegeram para contendores os planos de saúde e seus segurados ou usuários. Os médicos assistentes figuram como terceiros interessados.

Tanto o prestador de serviços quanto o auditor devem buscar sempre o benefício do paciente, alvo de toda a atenção médica. Sempre haverá como resolver conflitos médicos ou financeiros posteriormente, sem a presença do doente. A solicitação, por parte do perito, do envio de exames subsidiários ou de relatórios médicos pode dirimir a maior parte das dúvidas existentes.(8)

Quanto à auditoria de contas médicas, o auditor deve ter o cui-

dado de preservar o prontuário médico de suas observações. Ano-tações poderão ser feitas na folha de faturamento ou nos impres-sos da contratante de serviços, mas nunca no prontuário médico.

O perito médico auditor deve pressupor que todos os presta-dores são honestos e não que todos são fraudulentos em poten-cial. Os prestadores de serviços devem respeitar o papel do mé-dico auditor e entender a auditoria médica como um mecanismo natural de controle para o bom funcionamento do sistema. No entanto, nem sempre parecem merecer este respeito pleiteado.

Voltando aos ensinamentos do Professor Dr. Armando Cân-ger Rodrigues, já citado anteriormente, o respeito do perito é conquistado pela competência e pela idoneidade demonstrada pelos seus próprios atos passados, e também pelo passado das empresas representadas por ele.

A tática disseminada entre operadoras de planos de saúde, cooperativa médica e/ou seguros médicos, de não protocola-rem solicitações de autorizações de procedimentos denigre a empresa e, por contaminação de relação, seu representante médico: o perito auditor.

Os administradores das operadoras parecem utilizar com grande competência a burocracia para separar o doente do con-junto de seus direitos. São useiros e vezeiros em negar solicita-ções completas, legíveis e subscritas com assinatura e carimbo do médico com identificação do profissional e seu número no Conselho Regional de seu estado, fornecendo apenas a negativa verbal. São piores, mais desonestos que seriam os documentos de negativa apócrifos; mas nem esses são fornecidos. Os peritos auditores não se apresentam, e, funcionam como orientadores fantasmas das decisões técnicas das operadoras. Contrariam as disposições do novo Código de Ética Médica que obriga o contato, se não o pessoal, o escrito.

Os auditores não devem confundir os papéis que são encon-tradiços na perícia judicial: o de perito e o de auxiliar técnico, e evitar a tomada de atitudes parciais a favor de seus contratantes. Devem estudar a matéria em pauta (dor) com afinco, para não per-der a credibilidade necessária para o bom desempenho da perícia.

A solicitação de exames complementares que comprovem a existência da dor alegada pelo referido como doente demonstra grande incompetência, e pode significar a perda do respeito do especialista em dor pela figura do perito auditor.

O HOSPITAL E A PERÍCIA MÉDICA

O administrador hospitalar tem como os dois maiores te-mores o leito vazio e a falta de pagamento por serviços já prestados. Os contratos realizados em que o hospital é a parte credenciada (terceirizada) pelas tomadoras de serviços médi-

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cos (operadoras de planos e institutos de assistência médica, públicos ou privados), em geral, vendem o trabalho médico por preço vil.

Raramente, os valores de consultas médicas (de generalistas ou de especialistas), os valores de visitas aos internados, e os ho-norários médicos referentes a procedimentos (de diagnose e de tratamento) são levados ao conhecimento público. Quando reve-lados, os valores dos honorários médicos surpreendem até aos do-entes e acompanhantes mais humildes, pela sua insignificância.

O relacionamento entre os médicos auditores e os assisten-tes foi corroído pelo descontentamento dos médicos assistentes com a atuação dos peritos médicos auditores, pelas restrições injustas à realização de exames sofisticados ou de procedimen-tos minimamente invasivos que inserem utilização de equipa-mentos mais modernos, materiais descartáveis e um número crescente de órteses e próteses (muitas onerosas, de origem estrangeira e sobretaxadas), e pelos mecanismos escusos de que lançam mão as operadoras com o objetivo declarado do aumento de seus lucros.

A deterioração da relação entre os médicos (assistente e pe-rito auditor) pode prejudicar economicamente o hospital com a redução das liberações prévias e com o aumento do número de glosas. Mesmo os pequenos convênios ou aqueles que passam por dificuldades de caixa conseguem exercer pressão de nego-ciações. As grandes dívidas dos convênios exercem pressão so-bre os hospitais credores que veem, no impasse de negociações e a possibilidade de ruptura entre as partes envolvidas, o perigo da consolidação do calote e do prejuízo.

Os hospitais não negociaram o trabalho médico por valores ainda menores (parece não haver patamar abaixo do atual), não reduziram os custos de uma diária simples ou em ambiente de terapia intensiva, nem reduziram a margem de lucro dos me-dicamentos. Os hospitais investiram, sim, na auditoria interna, com aumento de salários, reciclagens com melhor preparo, e com novas contratações; e os auditores hospitalares por sua vez adicionaram às suas incumbências as de amenizarem os atritos entre os médicos que defendem os interesses das operadoras e os que defendem sempre seus doentes: os médicos assistentes.

CONCLUSÕES

No mundo inteiro, o fenômeno doloroso encerra ainda mui-tas dúvidas e fronteiras do conhecimento ainda inexploradas. Muito temos que aprender sobre esse assunto. A perícia médica deve se render a esta realidade e cultivar bastante a cautela e a humildade(10) em relação às conclusões periciais sobre o assunto dor. A ética deve ser cultivada entre todos os peritos e nortear os relacionamentos com os colegas médicos assistentes.

BIBLIOGRAFIA

1. Alcantara HR. Deontologia e Diceologia Médica. São Pau-lo: Organização Andrei Editora, 1979.

2. Alcantara HR, França GV, Vanrell JP, Galvão LCC, Martin CCS. Perícia Médica Judicial. 2.ed. Rio de Janeiro: Gua-nabara Koogan, 2006. Alves ES. Medicina Legal e Deonto-logia. Curitiba: Santacruz, 1967.

3. Almeida Jr. A & Costa Jr. JBO. Lições de Medicina Legal 17. ed. Companhia Editora Nacional, 1981.

4. Conselho Federal de Medicina, Resolução nº 1.931 de 2009, entrada em vigor com retificação (seção I, p.173) em 13 abr 2010.

5. Lippmann E. Manual dos direitos do médico. Segmento Farma Editores Ltda., 2008.

6. Oliveira Jr JO. Dor oncológica. In: Brentani MM, Coelho FRG, Iyeyasu H, Kowlski LP (eds.). Bases da Oncologia. 543-599, Lemar Editora, 1998.

7. Oliveira Jr JO. Dor oncológica. Acta Oncol Bras, 14:11-5, 1994.

8. Paes PPL & Maia JR. Manual de Contas Médicas. CML - 4ª RM / 4ª DE Hospital Geral de Juiz de Fora (H Mil 1ª CL / 1920).

9. Turk DC, Melzack R (eds.). Handbook of Pain Assessment. New York: Guilford Press. 1992.

10. Vanrell JP. Manual de Medicina Legal. 2. ed. Leme: LED – Editora de Direito, 2004.

11. Oliveira Jr JO. A perícia médica do fenômeno doloroso. Prática Médica.

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TISS −Troca de Informações em Saúde Suplementar*ROGÉRIO VIDAL DE LIMA

Médico Ortopedista especialista em doenças da coluna. Membro da SBOT (Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia). Membro da Sociedade Brasileira de Coluna. International Afiliate Member of American Academy Orthopedic Surgeon.

Filiado à Ortodor.

O formulário TISS foi criado para haver uma interoperabi-lidade com sistemas de informação em saúde com base em nor-mas nacionais e internacionais visando melhoria na qualidade de atendimento, racionalização de custos e otimização de recursos existentes

O padrão TISS foi estabelecido, desde 2007, como obrigatório para troca de informações em saúde suplementar referente à troca de informações administrativas e de atenção à saúde entre opera-doras de plano de saúde privados, prestadores de serviço, benefi-ciários desses planos e a ANS (Agência Nacional de Saúde).

Porém, segundo o Código de Ética Médica, o sigilo mé-dico quanto às informações do paciente deve ser respeitado, devendo estas restringir-se apenas ao prontuário.

No preenchimento da guia TISS, é obrigatória a colocação do Diagnóstico e CID (Código Internacional de Doença) para a liberação de qualquer tipo de exame e/ou procedimento na área de saúde − do mais simples às cirurgias mais complexas. Caso nesse campo não seja colocado NADA, é liberado pela opera-dora independentemente da gravidade da doença ou urgência no procedimento ou cirurgia.

Como nosso CRM permite esta obrigatoriedade por parte das operadoras de saúde contradizendo o código de ética?

BIBLIOGRAFIA

Agência Nacional de SaúdeConselho Regional de Medicina

* Não há conflito de interesses.

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Habeas Data e o Doente Oncológico*JOSÉ GUILHERME WEINSTOCK1 ● JOSÉ OSWALDO DE OLIVEIRA JR.2

1Psicólogo. Psicólogo do Grupo Especializado em Dor da Neurocirurgia do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo e da Central da Dor do Hospital Antonio Cândido Camargo.

2Titular e Chefe do Departamento de Terapia Antálgica, Cirurgia Funcional e Cuidados Paliativos da Escola de Cancerologia Celestino Bourroul, e da Central da Dor do Hospital Antonio Cândido Camargo da Fundação Antonio Prudente de São Paulo.

CONCEITUAÇÃO E IMPLICAÇÕES LEGAIS

Habeas data é expressão latina em sua origem e significa, no sentido literal da palavra, “pegue a informação”, que as-segura o direito e a garantia do acesso de uma pessoa a infor-mações sobre ela, de tudo que constar em registro ou banco de dados de entidades governamentais ou de caráter público, tendo como fundamentos legais o Art. 5º da Constituição Fe-deral e a Lei nº 9.507/97, no seu art. 7, que concede o habeas data para assegurar o conhecimento de informações e para ratificar dados.(1,2)

O habeas data foi inserido no quinto artigo da Constitui-ção Federal de 1988. A inclusão desse instituto constitucio-nal na nossa Carta Magna foi de sugestão do Professor José Afonso da Silva na Comissão Provisória de Estudos Consti-tucionais, e, posteriormente, foi formalizada a proposta pelo então Senador Mario Covas, que ficou como seu autor legis-lativo, e sancionada da mesma maneira pelo então Presidente Fernando Henrique Cardoso.(1,2)

O habeas data é concedido para proteger o direito líquido e certo do impetrante em ter conhecimento de informações e registro relativos a sua pessoa. O habeas data é considerado remédio constitucional, uma das garantias constitucionais, ou seja, um dos instrumentos postos à disposição dos indivíduos e cidadãos para provocar a intervenção das autoridades com-petentes, visando sanar ilegalidades ou abuso de poder.(2)

Ao invés do termo “remédio constitucional” a literatura jurídica admite o pouco palatável anglicismo na sinonímia da palavra writ, oriunda do direito americano, cuja tradução exa-ta é “ordem judicial”, e que no direito brasileiro corresponde ao já consagrado “Mandato”.(1)

Ensina Diva Prestes Marcondes Malerbi que “toda vez que os registros contiverem informações relativas à pessoa do impetrante, isto é, relativas à sua intimidade, à sua vida priva-da, à sua honra e à sua imagem, tanto o órgão público como o órgão privado têm o dever indeclinável de prestá-las, já que a Constituição garante serem invioláveis esses bens tutelados pelo inc. X, do art. 5º, não comportando restrição alguma”.(3)

O DOENTE ONCOLÓGICO E SEU DIREITO DE SABER TUDO SOBRE

SUA SAÚDE OU A FALTA DELA

O conhecimento das possibilidades de diagnóstico e da gravidade de sua situação é de fundamental importância, e constitui direito inviolável dos acometidos por uma doença grave como o câncer, muitas vezes incurável e que pode ter como desfecho a morte.

Durante muitos anos os médicos adotaram uma postura paternal e protetora, que lhes permitia decidir não apenas so-bre a investigação diagnóstica, o tratamento a ser realizado, e o que disso tudo seria informado aos doentes.

Os médicos detinham as funções de sensores e filtros das informações que poderiam ou não chegar aos seus doentes.

Muitos familiares e amigos, com o mesmo instinto prote-tor, também adotavam a mesma postura. Ainda hoje, somos interpelados antes do contato pessoal com o doente, pelos seus protetores leigos, que nos pedem para que não lhe forne-çamos os dados sobre sua doença oncológica.(4)

Sob a luz da lei brasileira, o doente tem pleno poder de posse sobre as informações sobre sua saúde que por dever de ofício estejam a cargo de seu médico. Ele pode ou não libe-rar ao médico a liberdade de compartilhar essas informações com seus familiares ou amigos. O doente pode, inclusive, de-cidir o que ele próprio quer saber sobre sua saúde.

COMUNICANDO AS MÁS NOTÍCIAS

Má notícia é definida como qualquer informação que en-volva uma mudança drástica na perspectiva de futuro em um sentido negativo.(5)

Sempre a comunicação de uma má notícia não é tarefa fácil, tampouco agradável, ainda mais se feita de forma equi-vocada, precipitada ou num momento inoportuno.

O ato de comunicação também pode afetar o profissional de forma semelhante, pelo medo de ser considerado culpado, o medo da falha terapêutica ou mesmo da sensação de impotên-cia e de fracasso. A grande complexidade dos aspectos emo-cionais associados é a causa que induz a maioria dos profis-

* Não há conflito de interesses.

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sionais a tentar evitar essa missão, optando pela solução mais fácil, porém ainda condenável, do distanciamento e omissão.(6)

Regra geral, cabe sempre ao médico essa tarefa conside-rada ingrata, principalmente quando já se estabeleceu uma relação de confiança. Fatores de recomendação de que seja através dele o conhecimento dessas informações incluem o fato de ter ele conhecimento prévio do diagnóstico e suas consequências, e de ser capacitado para elaborar o desenvol-vimento clínico adotando estratégias de tratamento.(6)

O atendimento multidisciplinar e multiprofissional ao do-ente com câncer tem facilitado muito essa tarefa. As contri-buições dos assistentes sociais e dos psicólogos das equipes são verdadeiramente fundamentais.

COMO REALIZAR A COMUNICAÇÃO DE MÁS NOTÍCIAS

Excepcionalmente o doente não deve receber todas as in-formações sobre sua afecção. O primeiro passo é determinar um pacto de diálogo com o doente. Ele precisa saber que seu médico lhe fornecerá sempre a verdade como resposta a qual-quer indagação sua. Necessita também estar totalmente cons-ciente de que poderá ter a liberdade de escolher as perguntas das quais se interesse realmente pelas respostas. Sobretudo deve escolher entre a possibilidade ou não de seu médico compartilhar informações sobre sua saúde ou falta dela com outros, fundamentalmente decidir se pode arguir seu médico em sua presença. O perfil de sua curiosidade pode muito bem não ser congruente com a dos outros.

Não devemos levar em consideração para qualquer doente terminal somente a condição de morrer bem, mas também o quanto é importante viver bem dentro das suas possibilidades e dentro dos seus significados. Assim podemos interferir di-retamente para ajudar a diminuir tanto seus temores como seu isolamento, e permitir que faça a utilização dos seus recursos e de sua capacidade de enfrentamento.(6)

O papel do médico que assiste o doente é não alterar o enfrentamento, mas reforçar essas defesas naturais que são saudáveis e adaptadas e, assim, fazer que os comportamentos nocivos e quaisquer outros prejuízos sejam minimizados.

O que geralmente acontece é que a curiosidade do doente pa-rece respeitar limites que lhe permitam continuar vivo, com seu planejamento de futuro e, não raramente, existe a possibilidade de ele se tornar impermeável, surdo e até mesmo iletrado, às informações que potencialmente o impeçam de assim se manter.

Ao doente é outorgada a possibilidade de preservar uma esperança de prognóstico favorável, desde que o tratamento e a investigação não sejam negligenciados.

Quando comparamos grupos de doentes para os quais uma má noticia é comunicada com outros em que houve sonegação dessas informações, encontramos menos danos àqueles que foram informados.(9,10,11)

Muitas vezes, mesmo com a omissão da informação, os profissionais assistentes acreditam que o desconhecimento da sua condição pode não estar, de fato, acontecendo. Na maio-ria dessas situações os doentes têm a percepção de que sua doença não está evoluindo da forma como eles gostariam.

COMUNICANDO E AMENIZANDO O IMPACTO

Dever do médico é zelar pela saúde de seu doente, o que significa também preocupar-se pelos impactos causados pela comunicação de más notícias referentes à doença oncológica a ele mesmo.

Devemos, sempre, levar em conta se o paciente está pronto para escutar uma má noticia e o quanto ele dese-ja saber. As más notícias devem, sempre que possível, ser dadas pessoalmente, sem que haja interrupções e o médico deve ter tempo disponível para os esclarecimentos necessá-rios para aliviar a tensão. Caso deseje, o paciente pode estar acompanhado.

A avaliação do estado emocional e psicológico do paciente pode auxiliar na escolha do momento e do conteúdo apropriado para a comunicação.

O médico deve utilizar uma linguagem clara e simples, não usando termos técnicos herméticos, que podem dificultar o entendimento.

Devemos ser realistas e procurar diminuir a tendência a minimizar o problema, mas, da mesma forma, não deixar de evidenciar esperança.(12)

Não existem palavras corretas para se dizer.(6,7,8)

Se após as informações o doente conclui por uma forma diferente da realidade do problema, ele não consegue imagi-nar a gravidade do caso e entra no que se chama período de transição. Essa fase pode levar algum tempo, dependendo da resposta de cada um. Nesta etapa, o mais importante é deixar evidente para o paciente que ele não está só.(6)

Após o recebimento da notícia, medo e desgosto são as reações mais comumente expressadas e, muitas vezes, são direcionados contra o médico. Este deve se manter tranqui-lo, aceitando como comuns tais reações emocionais nessas circunstâncias.(6)

O doente pode reagir permanecendo em silêncio ou come-çando a chorar. Neste caso, devemos respeitar e, de maneira nenhuma, inibir.

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O objetivo é tentar assegurar a continuidade dos cuidados e tratamento.

Apesar de comunicarmos de uma maneira clara e objetiva, devemos lembrar que ninguém consegue reter toda a infor-mação que lhe é passada. Para que o doente consiga reter a maior parte da informação que lhe é passada, devemos inse-rir as informações mais importantes no início ou no fim da informação, porque o que é dito no meio frequentemente é esquecido pelos pacientes.(8)

CONCLUSÃO

Apesar de os profissionais da saúde, na comunicação da má noticia, respeitarem os princípios éticos, muitas vezes desconhecem a lei que dá ao doente o direito total de posse sobre as informações referentes à sua saúde.

As informações só devem ser reveladas a outros (incluin-do familiares e amigos) com o consentimento do doente. Quando os familiares e amigos sabem e o doente desconhe-ce informações sobre sua saúde, ou falta dela, existe uma situação de ilegitimidade.

Aqueles que negam o fornecimento das informações que possuem sobre um indivíduo incorrem em infração de natureza legal.

A conspiração do silêncio solicitada muitas vezes pelos familiares ou amigos dos doentes é crime.

REFERÊNCIAS

1. Meirelles HL. Mandado de Segurança. 27. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2004”.

2. Moraes A. Direito Constitucional. 15. ed. Editora Atlas, 2006.

3. Malerbi DPM. Arguições de inconstitucionalidade. 1993.4. Oliveira Jr JO. Dor oncológica. Acta Oncol Bras

1994;14:11-5.5. Buckman R, How to break bad news – a guide for health

care professionals. London: PanBooks, 1994.6. Sancho MG, Como dar las malas noticias en medicina.

Madrid: Arán ediciones AS, 1998.7. Noll RB; Gartstein MA; Vannatta K; Correll J; Bukowski

WM; Davies WH. Social, emotional, and behavioral func-tioning of children with cancer. Pediatrics, 103:1,71-8, 1999.

8. Weisman AD, Worden JW. The existential plight in can-cer: significance of the first 100 days. International Jour-International Jour-nal of Psychiatry in Medicine 7(1):1-15, 1976.

9. Henriksson MM, Isometsa ET, Hietanen PS, et al. Men-tal disorders in cancer suicides. Journal Disorders 36(1-2):11-20, 1995.

10. Massie MJ, Holland JC. The cancer patient with pain: psychiatric complications and their management. Medical Clinics of North America 71(2):243-258, 1987.

11. Massie MJ, Shakin EJ: Management of Depression and Anxiety in Cancer Patients. In: Breitbart W, Holland JC (eds.). Psychiatric Aspects of Symptom Management in Cancer Patients. Washington, DC: American Psychiatric Press, 1993, p. 470-491.

12. Meyer TJ, Mark MM. Effects of psychosocial interventions with adult cancer patients: a meta-analysis of randomized experiments. Health Psychology 14(2): 101-108, 1995.

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Tabelas de Códigos de Procedimentos (TUSS, AMB e outras)*PEDRO ANTONIO PIERRO NETO2 ● JOSÉ OSWALDO DE OLIVEIRA JR.1 ● ROMULO ALBERTO

SILVA MARQUES2

1Neurocirurgião, docente responsável e diretor do Departamento de Terapia Antálgica, Cirurgia Funcional e Cuidados Paliati-vos da Escola de Cancerologia da Fundação Antônio Prudente de São Paulo.

2Neurocirurgião, aprimorando em terapêutica antálgica, cirurgia funcional e cuidados paliativos da Escola de Cancerologia “Celestino Bourroul” da Fundação “Antônio Prudente” de São Paulo.

O tratamento da dor nos parece um direito de todos e um dever do médico que tem na saúde e no bem-estar de seu doente o objetivo da profissão. Os procedimentos para alívio da dor são codificados em diversas tabelas e seu conhecimento por parte dos profissionais de saúde pode ser fundamental para a realização deles. Para melhor entendimento de formação de tabela de códigos médicos, devemos nos remeter à formação das entidades que se constituem em fonte para as tabelas vigentes: Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e Associação Médica Brasileira (AMB).

AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR (ANS)

A ANS é uma agência reguladora, vinculada ao Ministério da Saúde, que visa promover o equilíbrio nas relações entre todas as partes interessadas na saúde suplementar (paciente, médicos e operadoras de saúde).

A missão institucional da ANS é promover a defesa do in-teresse público na assistência suplementar à saúde e regular as operadoras setoriais (relação com prestadores e consumido-res) e contribuir para o desenvolvimento das ações de saúde no País, conforme estabelecido na lei 9.961 do ano 2000.

A legislação do setor de saúde suplementar é concentrada em duas leis principais: a de número 9.656, do ano de 1998, que regulamenta o setor de planos de saúde, e a lei 9.961, de 2000, que cria a ANS.

ROL DE PROCEDIMENTOS

A ANS determina a lista de consultas, atendimentos, exa-mes e tratamentos com cobertura obrigatória nos planos de saúde. Esta lista denomina-se Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde (RPES), e é a referência mínima obrigatória de co-bertura. A última versão do rol de procedimentos para planos efetuados a partir de 1999 entrou em vigor em junho de 2010.

ASSOCIAÇÃO MÉDICA BRASILEIRA (AMB)

Fundada em 26 de janeiro de 1951, a AMB é uma socie-dade sem fins lucrativos, cuja missão é defender a dignidade profissional do médico e a assistência de qualidade à saúde

da população brasileira. Atua no aprimoramento científico e valorização do profissional médico, fiscaliza abertura e funcio-namento de faculdades de medicina.

Conforme comentários proferidos pelo neurocirurgião Sér-gio Listik sobre esta matéria no primeiro Curso sobre Dor Es-pinhal no XI Congresso de Cirurgia Espinhal, a inspiração que levou a AMB a propor e posteriormente adotar uma tabela de honorários médicos foi o perene e básico desejo da categoria médica em manter seu exercício profissional como essencial-mente liberal e alicerçado na livre escolha por parte dos doentes.

Com o objetivo de tabelar honorários médicos de alguma for-ma, o então Departamento Nacional de Previdência Social (DNPS), em 1962, solicitou à Associação Paulista de Medicina valores para uma tabela de honorários médicos e outros serviços, com a qual pudesse remunerar adequadamente os profissionais que atendessem aos seus segurados. Assim foi criada a primeira tabela do DNPS.

Para que se estabelecesse uma relação entre diferentes ser-viços médicos (em nosso país de dimensões continentais), que permitisse uma proporcionalidade de fácil manuseio, tornou-se necessária a adoção de um índice ideal e constante. Surgiu, então, a US (Unidade de Serviço), que após vários estudos teve seu valor fixado em um vigésimo do maior salário mínimo decretado pelo Estado de São Paulo. A primeira US valia, em 1962, Cr$100,00.

Após confecções de diversas tabelas que se sucederam à esta primeira, mais uma vez, a AMB trabalhou em âmbito na-cional junto ao Congresso para aprovação da unificação dos códigos de procedimentos médicos (lei 39/2007 na confecção CBHPM, hoje TUSS).

CLASSIFICAÇÃO BRASILEIRA DE HIERARQUIZAÇÃO DE PROCEDI-

MENTOS MÉDICOS (CBHPM)

A CBHPM é o ordenamento dos métodos e procedimentos existentes tanto no campo terapêutico quanto diagnóstico, es-tabelecendo portes de acordo com a complexidade, tecnologia e técnicas envolvidas em cada ato.

A CBHPM foi elaborada com base em rigorosos estudos de-

* Não houve neste trabalho subsídios e patrocínios, de qualquer natureza. Não há conflito de interesses.

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senvolvidos pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da Universidade de São Paulo (FIPE) e pelas entidades médi-cas do País, alcançando seu principal objetivo, qual seja, disci-plinar o rol de procedimentos, incorporando ainda os recentes avanços tecnológicos, que ampliam a qualidade de atendimento dispensado ao paciente.

O lançamento oficial da CBHPM ocorreu em Vitória, no Espírito Santo, no dia 15 de julho de 2003. A 5a edição foi lançada em 2008. Após 2010 não será mais lançada por edição e sim por ano.

TROCA DE INFORMAÇÃO EM SAÚDE SUPLEMENTAR (TISS)

A ANS estabeleceu um padrão para TISS para registro e intercâmbio de dados entre operadoras de planos privados de assistência à saúde e prestadores de serviços de saúde.

O tema reveste-se de grande importância para o setor, tendo em vista que alguns segmentos do mercado já haviam iniciado estudos com o intuito de estabelecer a padronização da infor-mação trocada entre operadoras e prestadores, já que o pre-enchimento de grande variedade de formulários utilizada por cada operadora e os demorados mecanismos para obtenção de autorizações de determinados procedimentos exigem intensa dedicação burocrática dos prestadores de serviços.

Além disso, a lentidão dos processos administrativos no atendimento dos beneficiários, assim como as possibilidades de erros e as dificuldades de comparação de dados são con-sequências notoriamente associadas ao excesso de papéis e à ausência de sistemas de informação unificados e ágeis.

A grande controvérsia e inicial óbice ao uso desta troca de informações, que é fundamentalmente prestada pelo médico assistente, residiu na confidencialidade profissional.

As informações deveriam ser trocadas entre profissionais que comungam solidários com o dever do sigilo médico. Mes-mo assim, após um curto período (alguns meses) os conselhos regionais de medicina e de odontologia não consideraram a adoção da TISS danosa aos preceitos éticos...

A interpelação do médico pelas operadoras deveria ser feita ape-nas pelo representante médico, devidamente identificado e regular-mente matriculado no Conselho Regional de Medicina. À revelia da lei, funcionários das operadoras constrangem os médicos assistentes sem se identificar, solicitando dados sigilosos de seus doentes.

A controvérsia deflagrada pela adoção da TISS será tema de outra palestra neste Simbidor.

TERMINOLOGIA UNIFICADA EM SAÚDE SUPLEMENTAR (TUSS)

Em vigor desde 13/11/2010 no mercado de planos de

saúde, como resultado de sua grande fragmentação, sempre coexistiram múltiplas terminologias (tabelas), criadas por operadoras e prestadores para solução de problemas locais. O gerenciamento, o mapeamento e o controle de versões dessas tabelas mostram-se aquém do necessário para um am-biente de intercâmbio eletrônico de dados e comprometem a interoperabilidade entre os diversos sistemas de informação. Durante o processo de implementação do padrão para TISS tornou-se evidente a necessidade de adoção de uma termino-logia clínica comum a todos os atores do mercado (hospitais, médicos, laboratórios, etc.).

A Instrução Normativa número 38 determinou que as ope-radoras de plano privado de assistência à saúde e os presta-dores de serviços de saúde deverão obrigatoriamente adotar a TUSS para codificação de procedimentos médicos.

A TUSS é resultado do trabalho conjunto feito pela equi-pe técnica da Associação Médica Brasileira (AMB) e da ANS, com os integrantes do Comitê de Padronização das Informa-ções em Saúde Suplementar (COPISS). Este grupo definiu, por consenso, que a terminologia a ser utilizada como base para construção dos procedimentos médicos da TUSS seria a Clas-sificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos (CBHPM), gerenciada pela AMB.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A tabela de procedimentos contemplados pelo Siste-ma Único de Saúde é diferente tanto da tabela da AMB, da TUSS, como do rol da ANS. No SUS, a tabela também recebe o nome de “tabela unificada de procedimentos, medicamentos e insumos estratégicos do SUS”. Embora Nossa “Constitui-ção Cidadã”, promulgada em 1988, saliente de modo inso-fismável a imparcialidade no trato dos direitos individuais, o próprio governo peca em não “unificar” as tabelas, e, manter um tratamento diferente para pessoas que deveriam ser trata-das como iguais.

BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA

1. Seixas AA, Oliveira Jr JO. Intervencionismo e Operadoras. In: Oliveira Jr. JO (ed.). Apostila do I Curso sobre Dor Es-pinhal. Botelho R. XI Congresso de Cirurgia Espinhal. São Paulo – abril 2011.

2. Listik S. Tabelar honorários médicos: um histórico, visão críticas e suscedâneos. In: Oliveira Jr. JO (ed.). Apostila do I Curso sobre Dor Espinhal. Botelho R. XI Congresso de Cirurgia Espinhal. São Paulo – abril 2011.

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Doença Oncológica*DANIEL BENZECRY DE ALMEIDA

Mestre em Neurocirurgia pela Unifesp − Escola Paulista de Medicina. Neurocirurgião – Instituto de Neurologia de Curitiba (INC) – Curitiba − Paraná. Chefe do Serviço de Tratamento da Dor do INC – Curitiba – Paraná.

As neoplasias são cada vez mais frequentes em nossa socie-dade. Deve-se esse fato ao envelhecimento progressivo da po-pulação, ao maior controle de outras doenças crônicas, à maior sobrevida oferecida aos pacientes com tumores malignos e à maior exposição a fatores de risco ambientais. Acredita-se que mais de 12 milhões de casos de neoplasias malignas ocorram todo o ano no mundo, com pelo menos 7 milhões de mortes diretamente relacionadas a essa causa.(1) Entre os tumores mais comuns, cita-se em especial a neoplasia de mama em mulheres e de pulmão em homens.

Uma parte significante dos pacientes com neoplasias malig-nas cursam com dores. Acredita-se que pelo menos um terço desses pacientes apresente dor significativa, sendo que nos es-tágios avançados a experiência de dor ocorre em cerca de dois terços deles.

A manutenção de dor nesses pacientes não é inevitável e a ciência atual oferece recursos eficazes para diminuir esse sofri-mento na grande maioria dos casos. São necessárias, no entanto, a constante educação e a prática clínica, associadas a políticas de humanização do tratamento com o objetivo de aprimorar os benefícios dessas estratégias de tratamento.(2)

Os medicamentos são importantes no controle álgico, em especial o uso de opioides fracos ou fortes, associados frequen-temente a outros analgésicos ou adjuvantes. Mesmo assim, é muito comum a ocorrência de tratamentos pouco eficazes.(3)

Os procedimentos intervencionistas são indicados nos pa-cientes em que a terapêutica conservadora não obteve alívio significativo, fato decorrente tanto do fato de o analgésico não exercer adequada ação ou de efeitos colaterais intoleráveis.

Os procedimentos neurocirúrgicos podem ser divididos em: 1) Bloqueios nervosos; 2) Técnicas ablativas; 3) Implante de sis-temas de infusão intratecal e 4) Implante de sistemas de estimu-lação elétrica de estruturas nervosas.

Os bloqueios anestésicos são úteis para o alívio temporário da dor, assim como na identificação de sua origem e de prever a resposta com os bloqueios neurolíticos. Os agentes neurolíticos

são usados em situações especiais, devendo ser utilizados por equipe treinada. Na prática clínica, os mais comuns são o fenol e o álcool absoluto.

Bloqueios neurolíticos de nervos são úteis quando limitados ao território de um nervo específico, como ocorre, por exemplo, nas lesões de apenas uma costela, com bloqueio seletivo do ner-vo intercostal.

Os bloqueios simpáticos são comumente utilizados em pa-cientes oncológicos. Cita-se o bloqueio neurolítico de gânglio celíaco (útil em dores viscerais de abdômen superior); neurólise de gânglio hipogástrico superior (dores da região pélvica) e neu-rólise do gânglio ímpar (dores perineais).

Outra forma de ablação pode ser obtida com termocoagula-ção por radiofrequência, que mais comumente é usada nas dores faciais em território de um ou mais ramos do trigêmeo.

Outros procedimentos ablativos podem ser usados em situa-ções especiais. A cordotomia percutânea ou a céu aberto consiste na interrupção do trato espinotalâmico lateral, que é a principal via de transmissão dos impulsos dolorosos. Geralmente é feita no nível C2 e é restrita aos pacientes com dores unilaterais com baixa expectativa de vida.

As mielotomias podem ser úteis em dores viscerais, mas seu emprego tem sido cada vez menor. Da mesma forma, a ablação de outras estruturas medulares, talâmicas e em tronco cerebral é raramente utilizada nos dias atuais.

Os sistemas de infusão intratecal, popularmente conheci-dos como bombas de morfina, são equipamentos que infun-dem doses baixas de opioides (geralmente morfina) no espa-ço raquiano, permitindo um controle adequado da dor numa grande parcela dos casos. Os sistemas podem ter seu aciona-mento por gás, por membranas elastoméricas ou por sistemas eletrônicos. São indicados em dores difusas, em pacientes com expectativa de vida alta. Em nosso meio, são limitados em virtude de seu alto custo.

Os sistemas de estimulação elétrica de estruturas nervosas são comumente usados em pacientes não oncológicos, ativando

* O autor não recebeu nenhum patrocínio ou subsídio no desenvolvimento deste estudo. Não há conflito de interesses.

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sistemas de modulação no nível espinal ou cerebral. Nos pacien-tes portadores de neoplasias, tais sistemas têm pouca utilização.

REFERÊNCIAS

1. Ferlay J, Shin HR, Bray F, Forman D, Mathers CD, Parkin D. GLOBOCAN 2008, Cancer Incidence and Mortality World-wide: IARC CancerBase No. 10. Lyon, France: International

Agency for Research on Cancer; Year. Available at: <http://globocan.iarc.fr>. 2010.

2. World Health Organization. Cancer Pain Relief, 2.ed. Ge-neva: World Health Organization 1996.[1].

3. Deandrea S et al. Prevalence of undertreatment in can-cer pain. A review of published literature. Ann Oncol 2008;19(12):1985-91.

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Procedimentos Percutâneos Ablativos (Síndrome Pós-Laminectomia)*

DANIEL BENZECRY DE ALMEIDAMestre em Neurocirurgia pela Unifesp − Escola Paulista de Medicina. Neurocirurgião – Instituto de Neurologia de Curitiba

(INC) − Curitiba, Paraná. Chefe do Serviço de Tratamento da Dor do INC – Curitiba, Paraná.

Diversas causas podem estar relacionadas com a persistência de dor após uma cirurgia de coluna. Entre elas, vale citar: a) Erro de indicação; b) Cirurgia no nível errado; c) Descompres-são insuficiente das estruturas neurais; d) Lesões iatrogênicas de raízes nervosas e dura; e) Instabilidade; f) Espondilodiscites; g) Fibrose peridural; h) Síndrome dolorosa miofascial persistente; i) Síndrome facetária.

Em primeiro lugar, é imprescindível um exame clínico e neurológico adequado. Dessa maneira, procura-se encontrar os fatores relacionados à(s) causa(s) da dor. Comumente existe uma associação de diversos fatores, sendo que, idealmente, to-dos eles devem ser tratados.

O tratamento da síndrome pós-laminectomia é, na maioria das vezes, inicialmente conservador, sendo fundamental um programa de reabilitação. O uso de medicamentos analgésicos e adjuvantes, incluindo antidepressivos, é comum na prática dos especialistas em dor. Uma avaliação psicológica é importante, sendo bem conhecida a associação entre distúrbios na esfera psí-quica e persistência de dor.

O tratamento com procedimentos invasivos faz parte do ar-senal nestes casos, e deve ser feito baseando-se nas causas da persistência da dor. Inclui bloqueios espinais e de raízes nervo-sas, procedimentos percutâneos neuromoduladores (tais como a radiofrequência pulsada) e ablativos; o implante de sistema de estimulação medular e o implante de sistema de infusão de fármacos.

Talvez o mais comum dos procedimentos ablativos nos pa-cientes com síndrome pós-laminectomia seja a desnervação per-cutânea de facetas, na qual é feita a ablação dos ramos mediais dos dorsais lombares em um ou mais níveis. O conhecimento da anatomia é fundamental para a compreeensão da técnica do pro-cedimento. É indicada nos pacientes com lombalgia mecânica de origem facetária.(1)

As facetas articulares correspondem às articulações poste-

riores das vértebras e a dor facetária geralmente é relacionada a doença degenerativa. Clinicamente, a dor facetária manifesta-se por dor restrita ou predominando na região lombar, relacionada aos movimentos do tronco, geralmente com melhora significa-tiva com o repouso. Ao exame físico, a dor caracteristicamente piora com a hiperextensão do tronco.(2)

Os procedimentos ablativos do disco intervertebral têm sido usados com resultados diversos. São indicados em pacientes com dor discogênica, nos quais o tratamento conservador não trouxe melhora significativa. O disco a ser tratado geralmente manifesta alterações degenerativas visíveis aos exames de ima-gem por ressonância magnética como hiperintensidade de sinal às aquisições em T2 (Black disc). A injeção de contraste no es-paço discal suspeito (discografia) deve reproduzir os sintomas do paciente.(3)

O objetivo maior das ablações no disco seria a retirada do material discal patológico e desnaturação das terminações ner-vosas do ânulo fibroso, indo em direção ao núcleo pulposo. Os mais comuns são o IDET, a nucleoplastia e a biacuplastia.(4,5)

REFERÊNCIAS

1. Gauci C. Radiofrequency neurotomy for chronic lumbar fac-et pain − interpreting the evidence. Pain Pract. 10(3): p. 261; author reply 261-2.

2. O’Neill C, Owens DK. Lumbar facet joint pain: time to hit the reset button. Spine J 2009;9(8):619-22.

3. Rowles JS. Lumbar discography: a tool for understanding spinal pain. AANA J 2005;73(3):173-5.

4. Fluke MM. The treatment of lumbar spine pain syndromes diagnosed by discography: lumbar arthrodesis. Spine (Phila Pa 1976) 1995;20(4):501-4.

5. Mirzai H, et al. The results of nucleoplasty in patients with lumbar herniated disc: a prospective clinical study of 52 con-secutive patients. Spine J 2007;7(1):88-92; discussion 92-3.

* O autor não recebeu nenhum patrocínio ou subsídio no desenvolvimento deste estudo. Não há conflito de interesses.

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Radiocirurgia Extracraniana: Aplicações da Radiocirurgia em Doenças da Coluna Vertebral*

LEONARDO FRIGHETTOEx-Fellow, Serviço de Neurocirurgia Funcional e Radiocirurgia − Universidade da Califórnia Los Angeles (UCLA).

Neurocirurgião. Serviço de Radiocirurgia Estereotáxica − Hospital Moinhos de Vento − Porto Alegre-RS.

A radiocirurgia estereotáxica (SRS) é uma técnica consagra-da no manejo de diversas patologias intracranianas. O sucesso obtido no manejo dessas patologias motivou diversos avanços técnicos e o crescimento de suas indicações. Contudo, sua apli-cação em patologias extracranianas sofreu diversas limitações no que se refere à precisão no tratamento em dose única e sua reprodutibilidade no tratamento com radioterapia estereotáxica fracionada (SRT). Isso levou ao desenvolvimento de sistemas de frames extracranianos ou implante de marcadores ósseos que serviam como fiduciais. Entre os primeiros sistemas de radioci-rurgia para a coluna vertebral com frames, destacaram-se os de Blomgreen & Lax (1995)(1) e Lohr & Debus (1999),(5) além do sistema baseado em implantes de fiduciais descrito por Hamil-ton(4) em 1995.

A necessidade de aplicação de altas doses de radiação fo-calizada na coluna vertebral surgiu em função do aumento da sobrevida relacionada aos avanços na terapia contra o câncer. Além disso, em se tratando de doença metastática, a dor e a presença de déficits motores afetam diretamente a qualidade de vida do paciente, sendo esses critérios importantes na decisão de oferecer tratamentos paliativos para a doença. A utilização da radioterapia convencional sempre foi limitada na baixa to-lerância medular à radiação e na baixa precisão com irradiação de segmentos extensos da coluna vertebral. Em função disso, o conceito de utilização da SRS com doses elevadas de radiação restrita ao volume de tratamento, proporcionando um maior su-cesso no controle tumoral com redução das doses para a medula, tornou-se muito atrativo em patologias malignas dessa região. Soma-se o fato da redução da necessidade de procedimentos ci-rúrgicos em pacientes debilitados, com tempo de vida limitado, sujeitos a alto índice de complicações e com esperado declínio em sua qualidade de vida.

O desenvolvimento da radiocirurgia proporcionou a incorpo-ração de importantes avanços, incluindo os colimadores de mi-cromultilâminas, a capacidade de fracionamento estereotáxico e os sistemas de radiocirurgia sem frame. Assim, a possiblidade de aplicação de SRS para a coluna vertebral ganhou grande impul-

so na última década, com a utilização dos aceleradores lineares (LINACS) de alta precisão e também de equipamentos especí-ficos como a Cyberknife. Utilizando essa tecnologia, Murphy & Adler (2000)(6) publicaram sua experiência inicial com pacientes submetidos a SRS para a coluna vertebral e pâncreas com uma precisão relatada em torno de 1 a 1,2 mm, com doses para a me-dula mantidas abaixo de 800 cGy (centigrays).

Utilizando a técnica de LINACS dedicados a radiocirur-gia associados a um sistema de posicionamento guiado por câmeras e refletores infravermelhos (Exac-Trac, Brainlab AG, Heimstetten, Alemanha), Ryu et al. (2003)(7) descreveram as aplicações do sistema e a precisão do posicionamento entre 1.36± 0.11 mm. O fato de não ser necessário o implante de fi-duciais para a precisão do referido sistema foi uma das grandes vantagens dessa tecnologia.

Uma crescente experiência foi documentada na literatura, com um maior tempo de seguimento, utilização de doses pro-gressivamente mais elevadas para a medula e com um aumento no tratamento de patologias benignas (De Salles et al.,(2) 2004).

Gerszten et al.(3) (2007) publicaram a primeira grande ca-suística da literatura incluindo 500 pacientes tratados com ra-diocirurgia para metástases de coluna vertebral utilizando a Cy-berknife. Os resultados foram bastante significativos após um seguimento mediano de 21 meses (3-53 meses). O sucesso no controle tumoral foi de 88%, sem evidências de mielopatia agu-da ou subaguda.

A radiocirurgia também mostrou-se bastante eficaz no mane-jo da dor relacionada a metástases de coluna vertebral. Na série de Ryu et al.(8) (2008), o controle do quadro doloroso foi obtido em 84% dos pacientes tratados, com uma duração média do con-trole da dor de 13,3 meses.

Controvérsias ainda persitem na literatura, relacionadas a dose e a tolerância medular em uma única dose, sendo ainda necessários mais estudos para a determinação da tolerância me-dular à radiação.

Até o presente momento, a radiocirurgia estereotáxica para a coluna vertebral tem como principais vantagens a possiblidade

* Não há conflito de interesses.

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de abreviar a necessidade de cirurgias extensas, evitar a irra-diação de amplos seguimentos de coluna vertebral, preservando inclusive a reserva de medula óssea. Além disso, o tratamento pode ser completado em um único dia, de forma minimamente invasiva, o que é importante em pacientes com expectativa de vida limitada.

A SRS pode ser utilizada como técnica de resgate em pacientes para os quais não se apresenta mais indicação de radioterapia convencional ou cirurgia. Os resultados favorá-veis da aplicação desta técnica proporcionaram sua aplica-ção também como tratamento inicial em casos selecionados (doença oligometastática). Essa evolução foi muito similar ao ocorrido no manejo das metástases cerebrais nas últimas décadas.

Concluindo, os sistemas atualmente disponíveis de posi-cionamento esterotáxico mostraram-se eficazes no tratamento radiocirúrgico de lesões da coluna vertebral. Os resultados pu-blicados na literatura mostraram melhora clínica tanto no que se refere ao controle da dor como na função motora. A técnica proporciona resultados semelhantes aos cirúrgicos e, além disso, possibilita o tratamento de pacientes anteriormente não tratados por nenhum outro método.

REFERÊNCIAS

1. Blomgreen H, Lax I, Naslund I, et al. Stereotactic high dose

fraction radiation therapy of extracranial tumors using an ac-celerator. Clinical experience of the first thirty-one patients. Acta Oncol 1995;34(5):547-63.

2. DeSalles AA, Pedroso AG, Medin P: Spinal lesions treated with Novalis shaped beam intensity-modulated radiosurgery and stereotactic radiotherapy. J Neurosurgery 2004, Suppl 3:435-40.

3. Gerszten PC, Burton SA, Ozhasoglu C, et al. Radiosurgery for spinal metastases: clinical experience in 500 cases from a single institution.

4. Hamilton AJ, Lulu BA, Fosmire H, et al. Preliminary clinical experience with linear accelerator-based spinal stereotactic radiosurgery. Neurosurgery 1995, 36(2):311-9.

5. Lohr F, Debus J, Frank C, et al. Noninvasive patient fixation for extracranial stereotactic radiotherapy. Int J Radiat Oncol Biol Phys 1999, 45(2):521-7.

6. Murphy MJ, Adler JR Jr, Bodduluri M, et al. Image-guided radiosurgery for the spine and pancreas. Comput Aided Surg 2000, 5(4):278-88.

7. Ryu S, Fang Yin F, Rock J, et al. Image-guided and intensity-modulated radiosurgery for patients with spinal metastasis. Cancer 2003, 97(8):2013-8.

8. Ryu S, Jin R, Jin JY, et al. Pain control by image-guided radiosurgery for solitary spinal metastasis. J Pain Symptom Manage 2008, 35(3):292-8.

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O Epiléptico Recém-Operado em Ambiente de Terapia Intensiva*MIGUEL GIUDICISSI FILHO1 ● JEAN GONÇALVES DE OLIVEIRA2

1Título de Especialista em Neurocirurgia pela Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN). Título de Especialista em Terapia Intensiva pela Associação Brasileira de Medicina Intensiva (AMIB).

2Mestre em Neurocirurgia pela Unifesp. Doutor em Neurocirurgia pela USP.Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo (ambos).

Aproximadamente 1% da população apresenta epilepsia e em torno de 10% em algum momento apresentará crise convulsiva.

Crise convulsiva é a segunda mais comum complicação neurológica em terapia intensiva. Dos pacientes admitidos em UTI, 12% apresentam eventos neurológicos e, destes, 28,1% são crises convulsivas; portanto, em um universo simulado de 100 pacientes, 12 apresentam eventos neurológicos e, destes, aproxi-madamente 4 terão crises convulsivas.

É importante salientar que convulsão tônico-clônica gene ralizada representa 90% e que convulsão subclínica é bastante frequente, podendo atingir até 34% (Clin. Neurophysiol. 1993; 10; 445-75).

As crises convulsivas na UTI podem ser divididas entre:1. crise convulsiva sem história prévia de epilepsia;2. crise convulsiva com história prévia de epilepsia;3. estado de mal epiléptico.O estado de mal epiléptico é definido como crises convul-

sivas por mais de 20 minutos (alguns preferem 30) ou crises repetidas sem retornar ao estado mental normal entre as crises.

Estado de mal epiléptico é uma verdadeira emergência médi-ca, com uma mortalidade acima de 15%.

As drogas de escolha para tratar estado de mal epiléptico são os benzodiazepínicos.

As crises convulsivas sem história prévia de epilepsia geralmen-te estão associadas a situação médica que predispõe a crise, como diabetes, por exemplo: o uso de insulina pode ser o responsável por crises, visto que a não-utilização de algum tipo de nutrição ainda utilizando insulina acarreta, com frequência, hipoglicemia.

Outra situação bastante frequente para crise convulsiva sem história prévia de epilepsia é o uso de drogas ou álcool.

Outra, ainda, é a presença de TCE recente.Além da hipoglicemia, outras alterações metabólicas que ge-

ralmente levam a crise convulsiva sem história prévia de epilepsia são: hiperglicemia, hiponatremia, hipocalcemia e hipomagnesemia.

O uso ou overdose de algumas drogas também podem ser res-ponsáveis por crise convulsiva sem história prévia de epilepsia:

− Penicilinas;− Β lactâmicos (Imipenem/Cilastatina);

− Cefepime (estes antibióticos apresentam um risco de apro-ximadamente 0,5%);

− Isoniazida (com um risco entre 1 e 3%);− Metronidazol.− alguns antidepressivos tricíclicos e Bupropiona (com risco

entre 1 e 4%).Nas crises convulsivas desencadeadas por efeito colateral de

medicação o uso da fenitoína não é o mais indicado, e deverão ser utilizados benzodiazepínicos, barbitúricos ou propofol.

Outra causa para essa situação são encefalopatias hipóxico--isquêmicas.

Quando as crises convulsivas ocorrem em pacientes epilépti-cos, devemos fazer um screem e algumas perguntas podem aju-dar na identificação das crises:

1. Tem história de epilepsia?2. Qual a frequência das crises?3. A crise é típica?4. Alguém da família ou amigo pode dar informação sobre o

uso de medicação?5. Parou de usar?A UTI é definitivamente um lugar perigoso para o epiléptico

e alguns fatores concorrem para isso:1. O médico não prescreve a droga antiepiléptica de uso crônico.2. Alterações no funcionamento gastrointestinal.3. Paciente em dieta zero e a droga antiepiléptica não tem

apresentação venosa.4. Utilização de drogas que interagem com a droga antiepi-

léptica, alterando seu nível sérico.5. Paciente crítico com múltiplos órgãos comprometidos

com potenciais etiologias para disfunções cerebrais.6. Drogas que diminuem o limiar convulsivo.O “Gold Standard” no tratamento desses pacientes é in-

terromper a atividade, e o uso de benzodiazepínicos são as drogas de primeira escolha, pois penetram rapidamente a bar-reira hematoencefálica e a ação agonista GABA pode inter-romper essa atividade. Quanto a prevenir a recorrência, feni-toína e fenobarbital são as drogas de escolha em nosso meio. *Não há conflito de interesses.

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*Não há conflito de interesses.

Cirurgia Psiquiátrica*LUIZ FERNANDO MARTINS

Doutor em Neurocirurgia pela Universidade de Berlim (Alemanha). Ex-Presidente da SLANFE. Ex-Presidente da Sociedade Brasileira de Estereotaxia.

Diretor Técnico do Instituto de Neurologia de Goiânia-GO.

Os transtornos psicocomportamentais ainda representam re-levante problema médico-social. Não obstante o crescente pro-gresso de medicações especializadas, 20% de pacientes ainda são refratários ao controle medicamentoso − motivo suficiente para o tratamento neurocirúrgico complementar.

O interesse atual pela cirurgia dos transtornos psiquiátricos de difícil controle está relacionado à precisa localização anatômica das áreas cerebrais envolvidas, o conhecimento fisiopatológico e bioquímico dessas alterações, a viabilidade de diagnóstico por métodos de ressonância magnética funcional e pet-scanning, o constante desenvolvimento de técnicas estereotáxicas ablativas e de neuromodulação, determinações ético-legais de indicações e a participação dos psiquiatras.

Preceitos, estigmas e questões éticas controversas – muitas vezes sem base acadêmica – foram substituídos por estudos de avaliação pós-operatórios rigorosos, definindo os casos cirurgi-camente tratáveis.

Entende-se por cirurgia psiquiátrica o procedimento mul-tidisciplinar que presume o conhecimento de estruturas anatô-micas envolvidas em seu mecanismo. Basicamente, o sistema límbico, dos gânglios basais, estruturas frontobasais, hipotalâ-micas e do tronco cerebral estão envolvidas no surgimento de alterações comportamentais.

As estruturas frontobasais do complexo orbitofrontotalâ-mico, colinérgicas, se iniciam na substância inonimada de Rei-chert, atravessando a porção anterior da cápsula interna, núcleo acumbens e núcleos talâmicos mesiais e anteriores. O sistema estriatotalamofrontal completa a alça frontobasal. Esse sistema é mantido pela presença de substâncias de inervação dopami-nérgica, equilíbrio mantido por bioquímica excitatória também de catecolaminas, dopaminas e testosteronas, e inibitórias como 5ht e gaba. Alterações desse complexo estrutural e bioquímico, envolvendo gânglios basais, giro cíngulo anterior, são responsá-veis, principalmente, por sintomas obsessivo-compulsivos e da depressão. A interrupção dessa circuitaria permitiria o retorno funcional dessas sintomatologias.

Estruturas mesiais do sistema límbico temporal, principal-

mente da amígdala medial e suas conexões através da estria terminal, porção posteromedial do hipotálamo, apresentam um contigente simpaticomimético relevante, presente nas alterações da agressividade imotivada. Esses alvos são indutores de rea-ções típicas de agressividade, como aumento da pressão arterial, da frequência cardíaca, e alterações pupilares, quando estimula-dos. São alvos neurocirúrgicos para o controle de transtornos da agressividade, presentes nas epilepsias, transtornos da persona-lidade e oligofrenia erética.

O hipotálamo ventrolateral participa no controle dos fenô-menos de saciedade e fome, através de complexo sistema de comunicação vagoneural, desde o intestino delgado, conduzido pelo mecanismo de incretinas. Os transtornos alimentares são reconhecidos como tendo sua fisiopatologia dependendo do equilíbrio de funções de estruturas hipotalâmicas ventrolaterais e ventromediais.

Conhecimentos atuais permitem definir regiões abordadas cirurgicamente em transtornos psiquiátricos refratários; a de-pressão envolvendo áreas anteriores do giro cíngulo, porção an-terior da cápsula interna e núcleo acumbens; mesmos alvos para o transtorno obsessivo-compulsivo; regiões mesiais da amígda-la temporal e do hipotálamo posteromedial para transtornos da agressividade imotivada (intermittent behavior disorder).

Critérios multidisciplinares são essenciais para a seleção dos casos cirúrgicos e seguem conceitos conjuntos baseados em estudos multicêntricos, mundialmente sugeridos. São fun-damentais o diagnóstico sindrômico conforme o DSM IV, resistência medicamentosa e tratamentos associados por um período de 5 anos, resposta cirúrgica do sintoma refratário e consentimento informado.

As contraindicações presumem internação hospitalar invo-luntária (exceção de oligofrênicos e imputáveis), ausência de síndrome orgânica cerebral, transtornos do pensamento e da personalidade antissocial. Questionáveis e controversos são os limites de idade. Da mesma forma o uso de álcool e drogadição, porquanto experiências atuais sugerem indicação cirúrgica tam-bém para esses casos.

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As cirurgias psiquiátricas têm sido regulamentadas por nor-mas específicas, necessárias para sua realização, sendo funda-mentais a presença de equipe multidisciplinar e centro especiali-zado de neurocirurgia funcional e estereotaxia.

Método estereotáxico para cirurgias psiquiátricas são re-alizados com auxílio de cálculos informatizados, com fusão de imagens, efetiva participação de físicos médicos e neuror-radiologista na fase inicial. O procedimento neurocirúrgico é acompanhado por controles radiológicos e neurofisiológicos peroperatórios. A abordagem das estruturas selecionadas pode ser realizada por ablação − radiofrequência e radiocirurgia es-tereotáxica – ou pelo implante de neuroestimuladores cerebrais – neuromodulação. Cada procedimento envolve suas vantagens e desvantagens, com a escolha dependendo da disponibilidade de cada sistema e experiência do neurocirurgião.

Os resultados operatórios dependem da escolha de cada caso,

critérios utilizados, técnica envolvida e métodos de avaliação. De uma forma geral, os resultados atingem 85% de respostas favoráveis dentro de critérios multicêntricos.

As complicações variam conforme os alvos atingidos, va-riando de alterações da memória recente, transtornos do equilí-brio, da fala e motoras.

O crescente interesse pelas cirurgias psiquiátricas justifica novas perspectivas desenvolvidas por estudos funcionais da res-sonância magnética, pet-scanning de localização cerebral das áreas envolvidas, a especificidade anatômica, possível laterali-zação dos alvos, técnicas neuromodulatórias acessíveis e méto-dos de nanotecnologia.

As cirurgias estereotáxicas dos transtornos psiquiátricos fazem parte do arsenal neurocirúrgico convencional moderno e estão dis-tantes dos preconceitos abandonados pelos conhecimentos atuais de localização, surgimento e controle desses sintomas e patologias.

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Nucleotratotomia Trigeminal (Pontina, Bulbar e Medular Cervical)*JOSÉ OSWALDO DE OLIVEIRA JR.

Titular e Chefe do Departamento de Terapia Antálgica, Cirurgia Funcional e Cuidados Paliativos da Escola de Cancerologia Celestino Bourroul e da Central da Dor do Hospital Antonio Cândido Camargo, da Fundação Antonio Prudente de São Paulo.

INTRODUÇÃO

Estudos fisiológicos comparativos mostram que mesmo os mais primitivos organismos têm informações a respeito de for-ças do meio ambiente, sendo capazes de distinguir entre um meio agressivo, um indiferente e um receptivo. A sensação dolorosa certamente contribui de modo fundamental para distingui-los.(1)

A região cefálica é a sede das estruturas mais complexas do sistema nervoso central e a face representa sua porção de explo-ração inicial e primária do meio externo. A sensibilidade cranio-facial, em particular a dolorosa, é crítica para a sobrevivência do indivíduo, e maneira mais abrangente, filogeneticamente, da própria espécie.(1)

O número elevado de nociceptores da região cefálica, aliado à disposição anatomofuncional dos núcleos espinal e sensitivo principal do trigêmeo, coclear, comissural, do trato solitário, vestibular, e da porção superior da medula espinal cervical, tor-na a dor facial um dos sintomas mais comumente encontrados na prática médica.

Dores faciais crônicas refratárias constituem desafio de difícil resolução. Vários procedimentos farmacológicos e não farmacológicos são utilizados com efetividade variável. Entre os procedimentos não farmacológicos destacam-se os cirúrgi-cos ablativos, que são aqueles que, não respeitando a integrida-de do sistema nervoso, produzem deliberadamente lesões para interromper ou modular o tráfego e a modulação das informa-ções dolorosas.

Buscando o alívio de dores faciais refratárias, um dos alvos escolhidos para ablação foi o núcleo e o trato trigeminal, que se distribui longitudinalmente desde a ponte, passando pelo bulbo e atingindo a medula cervical.

NOÇÕES DE NEUROANATOMIA FUNCIONAL

Com exceção do território inervado pelos primeiros pares espinais cervicais, a sensibilidade somática geral da cabeça pe-netra no tronco encefálico pelos nervos V, VII, IX e X. O nervo considerado de maior importância deles é o quinto (V) ou tri-

gêmeo. Em comparação com os demais, o território sensitivo coberto pelo trigêmeo é imensamente maior. Didaticamente as vias trigeminais são divididas em exteroceptiva e propriocepti-va. No estudo da dor, embora para os incautos a atenção recaia prioritariamente na via exteroceptiva, sabemos que ela é sede da redução populacional dos neurônios com axônios mais delgados e pouco ou não mielinizados na maioria dos casos de desaferen-tação. Nas dores paroxísticas, os impulsos deflagradores pare-cem trafegar pela via proprioceptiva.

Os receptores dolorosos constituem a ponta dos prolonga-mentos distais dos neurônios pseudo-unipolares que se agru-pam no gânglio de Gasser, também chamado de semilunar ou trigeminal. O gânglio geniculado reúne os corpos celulares da sensibilidade veiculada pelo sétimo nervo craniano (facial). O mesmo ocorre, respectivamente, com os gânglios superiores do glossofaríngeo (IX) e superior do vago (X).

O complexo nuclear trigeminal abriga neurônios de segun-da ordem das vias dolorosa, térmica e do trato grosseiro. Esses neurônios recebem os prolongamentos proximais (centrais) dos neurônios de todos os gânglios citados.

Os prolongamentos centrais do quinto nervo craniano (tri-gêmeo) podem teminar no núcleo sensitivo principal, no nú-cleo do trato espinal ou ainda bifurcar em ramos para cada um desses núcleos.

Enquanto os impulsos de tato discriminativo (epicrítico) pa-recem terminar preferencialmente no núcleo sensitivo principal; os de dor e temperatura parecem exclusivamente terminar no núcleo do trato espinal do trigêmeo; e os que se bifurcam trans-mitem preferencialmente tato protopático e pressão.

NUCLEOTRATOTOMIA BULBAR DO TRIGÊMEO

As lesões que envolvem o complexo nuclear trigeminal tanto quanto o trato lateral medular têm sido efetuadas para o trata-mento da dor facial refratária, principalmente de origem central.

A nucleotratotomia é indicada para o tratamento de dores faciais secundárias ao comprometimento (infeccioso, tumoral, isquêmi-

* Não houve neste trabalho subsídios e patrocínios, de qualquer natureza. Não há conflito de interesses.

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co...) da região pontina, anestesia dolorosa, neuralgia pós-herpética, disestesia dolorosa trigeminal iatrogênica (pós-neurotomia/rizoto-mia), entre outros tipos de dor que não respondem aos procedimen-tos que atuam sobre alvos situados nas vias periféricas.

As dores faciais de predomínio neuropático atípico do tipo central parecem ser fruto da hiperatividade neuronal nuclear se-cundario a desaferentação.

Cirurgias envolvendo o complexo nuclear e o trato espinal trigeminais para o alívio das dores faciais são realizadas desde o final de 1938, quando Sjoqvist documentou sua primeira tra-totomia trigeminal.(2) Durante os anos que se seguiram, a lesão ganhou o método estereotáxico e a abordagem por punção per-cutânea do espaço atlanto-occipital.

O método percutâneo a mão livre chegou a ser utilizado em 1971.(3) O procedimento era realizado com o doente em posi-ção ventral sob radioscopia contrastada da região de transição occipito-cervical.(3)

Kanpolat e colaboradores, em 1989, introduziram a tomogra-fia computadorizada como exame de imagem de orientação.(4)

A lesão do núcleo é restrita, nodular e de pequenas dimen-sões, proporcionando uma redução do total da atividade nuclear. A mesma lesão atinge o trato trigeminal, interrompendo com-pletamente o tráfego da informação dolorosa e térmica, preser-vando a sensibilidade tátil, cujas fibras continuam a terminar em grande parte do núcleo sensitivo principal.

LESÕES DAS ZONAS DE ENTRADA DAS RAÍZES DORSAIS

DO NÚCLEO CAUDAL DO TRIGÊMEO

Um procedimento ablativo adotado na terapêutica de dores neuropáticas é a lesão da substância gelatinosa e a tratotomia de Lissauer correspondente à lesão da zona de entrada das raízes dorsais (DREZ). Na primeira metade da década de 1970 Sin-dou, com o microbisturi bipolar, e depois Nashold, com eletrodo de radiofrequência, descreveram a destruição focal dessa região medular para o tratamento de dores neuropáticas. Nessa cirur-gia, a população de células hiperativas após desaferentação por lesões variadas (herpéticas, actínicas, quimiotóxicas, metabóli-cas, cirúrgicas, e outras) é reduzida drasticamente.

A citoarquitetura, as respostas fisiológicas, e a filogenética da porção caudal do complexo nuclear trigeminal guardam gran-de analogia com o encontrado na coluna posterior da substância cinzenta medular. No segmento cefálico, a nucleotratotomia tri-

geminal na porção medular cervical do complexo nuclear cor-responde à lesão da zona de entrada e é empregada para trata-mento de dores neuropáticas do território dos nervos trigêmeo, glossofaríngeo, vago, Wrisberg, e das raízes cervicais altas. Esse procedimento é indicado para alívio de dores resultantes de avul-são de plexo braquial ou sacral, paraplegia, herpes zoster, câncer e dor do membro fantasma. Nesse procedimento as lesões são multipontuais, com lesões intervaladas a cada 1,5-2 mm.

A NUCLEOTRATOTOMIA TRIGEMINAL PONTINA

A nucleotratotomia trigeminal pontina foi descrita por Hi-tchcock & Teixeira em 1987. Na época, a lesão foi feita por radiofrequência, guiada por ventriculografia, através de técnica estereotáxica.

O doente era operado na posição sentada. O acesso era feito com trepanação suboccipital parassagital também marcada por estereotaxia. O alvo final era escolhido após mapeamento fisio-lógico com a cooperação do doente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As nucleotratotomias constituem opções ainda válidas no tratamento de dores faciais de difícil controle. Na última década, passaram a ser realizadas a céu aberto, pelo risco de sangramen-to ou de vasoespasmo por lesão indesejada da artéria cerebelar posteroinferior, que a partir do óbex emoldura lateralmente as bordas inferiores de ambos os hemisférios cerebelares. Recente-mente, a introdução da visão endoscópica reacendeu nos neuro-cirurgiões funcionais o interesse pelos procedimentos percutâ-neos por método estereotáxico.

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA

1. Oliveira Jr JO. Algias craniofaciais. In: Nitrini R. Condutas em Neurologia 1089/1990;38:139-142.

2. Sjövist O. Studies on pain conduction in the trigeminal nerve: contribution to surgical treatment of facial pain. Acta Psychiatr Scand Suppl 17:1-139,1938.

3. Hosobuchi Y, Rutkin B. Descending trigeminal tractotomy: neurophysiological approach. Arch Neurol 25:115-125,1971.

4. Kanpolat Y, Deda H, Akiar S, et al. CT-guided trigeminal tractotomy. Acta Neurochirurg (Wien) 100:112-114,1989.

5. Hitchcock E & Teixeira MJ. Pontin stereotactic surgery and facial nociception. Neurol Res 9:113-117,1987.

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Tratamento Neurocirúrgico da Dor*JOSÉ OSWALDO DE OLIVEIRA JR.

Titular e Chefe do Departamento de Terapia Antálgica, Cirurgia Funcional e Cuidados Paliativos da Escola de Cancerologia Celestino Bourroul e da Central da Dor do Hospital Antonio Cândido Camargo, da Fundação Antonio Prudente de São Paulo.

O tratamento neurocirúrgico que tem como objetivo aliviar um quadro doloroso pode ser etiológico (tratando a dor através da eliminação da causa) ou sintomático (aliviando o sintoma sem interferir diretamente com a causa dele).

A neurocirurgia contempla uma infinidade de medidas tera-pêuticas que culminam em analgesia, e a título de exemplo po-demos citar a resolução de cefaleias pelo controle da hipertensão intracraniana (removendo neoplasias e hematomas, realizando derivações liquóricas...), a melhora de lombociatalgias e cervi-cobraquialgias (removendo hérnias discais, tumores intrarraqui-dianos...), entre outros.

O escopo deste texto é o de informar, a um conjunto hetero-gêneo, multidisciplinar e multiprofissional de congressistas des-ta versão do Simbidor, noções de procedimentos invasivos para o controle de uma sensação complexa, desagradável e deletéria, que é a dor.

MÉTODOS ABLATIVOS

O tratamento neurocirúrgico pela interrupção das vias no-ciceptivas deve ser realizado quando a dor é causada, predomi-nantemente, por excesso de estimulação nóxica. Trata-se de um método ablativo e, como tal, acarreta mudanças significativas no sistema nervoso locorregional e a distância.

No passado, a indicação da interrupção cirúrgica das vias dolorosas somente era concretizada quando a dor persistia de-pois de esgotadas as medidas conservadoras de tratamento. Atualmente, dado um diagnóstico adequado da dor que aflige o doente, é possível selecionar, na maioria dos casos, o melhor tratamento clínico ou cirúrgico com base em dados confiáveis de revisão, ou seja, com base em evidências.

A interrupção neurocirúrgica das vias nóxicas pode ser feita em qualquer nível do sistema nervoso central ou peri-férico. A cirurgia poderá ser realizada a céu aberto ou de ma-neira percutânea.

Os procedimentos percutâneos são mais simples, seguros e precisos, de baixo custo operacional, não se associam com as complicações inerentes aos convencionais; mas, às vezes, por

necessitarem da cooperação do doente durante o tempo parcial ou total de sua realização, trocam o traumatismo tissular do mé-todo a céu aberto e inconsciente pelo traumatismo psicoafetivo do percutâneo e cooperante.

Para minimizar o sofrimento da lucidez durante as cirurgias percutâneas são administradas drogas que causam amnésia an-terógrada e retrógada, e cada vez mais se enriquecem os proce-dimentos com dados neurofisiológicos e neurorradiológicos de maneira a reduzir o tempo de participação do doente.

A interrupção das vias pode ser obtida com a lesão química de agentes neurolíticos, térmica de dispositivos de criocoagu-lação ou termocoagulação por radiofrequência, isquêmica por compressão mecânica, e ainda actínicas com a combinação de métodos estereotáxicos e de radioterapia multicolimada.

Estudos neurorradiológicos desde radiografias simples, ra-dioscopia, tomografia computadorizada e, mais modernamente, a ressonância magnética podem ser usados no pré, trans e pós--operatório desses procedimentos.

As neurotomias mais realizadas para o tratamento das dores do segmento cefálico são as trigeminais. O gânglio de Gasser é atingido através da punção do buraco oval. Controle radiológi-co e neurofisiológico com microestimulação motora e sensitiva (este último com a colaboração do paciente, que aponta a área do seu rosto estimulada) conseguem identificar o local de contato da ponta ativa com a estrutura nervosa. Após esse mapeamento, relocação do eletrodo é efetuada quando necessária, e então se procede à lesão desejada. As lesões nos doentes portadores de câncer costumam ser mais extensas para evitar recidiva do qua-dro doloroso.

Nos doentes com neuralgias típicas e sem etiologias identifi-cáveis, a escolha pode recair sobre a lesão isquêmica provocada pela insuflação de balões no interior do gânglio de Gasser. A lesão não consegue ser seletiva quanto ao território de inervação trige-minal, porém consegue poupar os neurônios mais mielinizados, reduzindo seletivamente a aferência dolorosa. A seletividade fun-cional se deve à melhor performance metabólica das células que utilizam a transmissão saltatória, em comparação com as que não

* Não houve neste trabalho subsídios e patrocínios, de qualquer natureza. Não há conflito de interesses.

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possuem o envoltório de mielina e gastam mais energia se tornan-do mais suscetíveis à isquemia. A estimulação mecânica associa-da a isquemia provocada atinge com maior intensidade as fibras e as células neuronais que servem para o tráfego de informações dolorosas pelo maior consumo energético delas.

Ainda no segmento craniocervical podem ser realizadas le-sões do nervo glossofaríngeo, vago, grande occipital, e dos ra-mos recorrentes posteriores das raízes cervicais.

As chamadas “rizotomias” na maioria das vezes são neuroto-mias (espinais ou cranianas) e podem ser realizadas em todos os níveis da coluna, obtendo-se contato de maneira percutânea com os forames de conjugação, ou ainda por punção do espaço suba-racnoideo por via posterior ou lateral, alcançando a raiz (termo adequado nestas condições) desejada dentro do estojo ósseo.

As dores cervicais, torácicas ou lombares secundárias ao comprometimento predominante das articulações zigoapofi-sárias (também conhecidas como dores facetárias) podem ser aliviadas pela neurotomia dos ramos recorrentes posteriores das “raízes” (nervos espinais) correspondentes. As lesões podem ser efetuadas pela radiofrequência ou pela injeção de agentes neurolíticos (fenol), sendo que estes últimos associam-se com períodos de analgesia mais efêmeros.

Rizotomias e ganglionectomiasAs rizotomias clássicas e as ganglionectomias parecem ser

eficazes para resolução de alodínea, porém raramente alcançam mais de 45% de alívio completo em dores de predomínio neuro-pático quando o seguimento é superior a oito semanas.

Alguns doentes portadores de dores oncológicas podem ser adequadamente tratados pela realização de rizotomias. Uma grande limitação para a indicação deste método cirúrgico abla-tivo de obtenção de analgesia é a magnitude da área comprome-tida e incluída na queixa dolorosa. Quando as áreas dolorosas são restritas, as rizotomias podem ser efetuadas com sucesso. O porte cirúrgico das rizotomias é dependente do número de raízes necessárias para uma analgesia. Infelizmente, o doente pode não reunir capacidade clínica para ser submetido a tal tratamento.

A rizotomia dorsal das primeiras quatro raízes cervicais (in-cluindo C1, quando presente) pode ser adjuvante de neurotomias dos nervos cranianos (V, VII, IX e X) quando é necessária a analgesia para dores secundárias a tumores profundos e extensos do segmento cefálico.

No tratamento das dores oncológicas cefálicas, as rizotomias cervicais podem também ser associadas a outros procedimentos, dentre os quais destacamos a tratotomia trigeminal, a nucleoto-mia trigeminal, e as reticulotomias (mesencefálica e pontina).

As dores refratárias decorrentes de comprometimento neoplási-co cervical baixo e da região torácica alta podem ser tratadas com as rizotomias cervicais nos casos em que esse envolvimento fica restri-to em áreas pequenas, ou ainda naqueles em que o processo invade o plexo braquial e torna o membro superior sem função útil. Na primeira situação, uma cirurgia mais econômica, com maior preser-vação das estruturas neurais, pode ser efetiva, enquanto na segunda situação lesões mais extensas, necessárias para uma boa analgesia, podem ser efetuadas sem agravamento do quadro neurológico.

Encontramos, com certa frequência, portadores de tumores de Pancoast-Tobias com comprometimento do plexo braquial que podem ter alívio do quadro doloroso com rizotomias dorsais múltiplas, desde lesões de C8 a T4 ou C4 a T1 (nos casos de lesões menores) até de C4 a T4 (nos casos de lesões maiores).

Foerster reportou sua experiência com a obtenção de alívio doloroso através de rizotomias que resultaram a perda sensorial completa do membro superior homolateral, que, no entanto, pre-servava sua função motora.

Doentes oncológicos que padecem de dor decorrente do comprometimento da parede torácica, pleura ou peritônio po-dem ficar livres desse desconforto pelas rizotomias dorsais múl-tiplas, desde que incluam dois níveis acima e dois abaixo dos territórios acometidos. A extensão do território a ser privado de inervação pelo procedimento é fundamental para o seu êxito, e às vezes constitui a sua principal contraindicação.

As rizotomias bilaterais para controle das dores pélvicas de origem oncológica podem ser eficazes e associadas à baixa mor-bidade nos casos em que a invasão sacra é caudal o suficiente para que as lesões necessárias preservem as raízes responsáveis pelo controle esfincteriano. Nos doentes com dores unilaterais as raízes lesadas podem ser mais craniais (S2 ou mesmo S3), uma vez que a preservação de uma das raízes de um dos lados a cada nível é compatível com função esfincteriana adequada.

A eletroneuroestimulação associada a cistometria pode ser de grande auxílio durante as rizotomias sacrais múltiplas. Após o isolamento adequado, a identificação e a quantificação da le-são realizada podem ser avaliadas. A estimulação de S2 produz contração vesical máxima e valores pressóricos elevados, a de S3 uma contração e pressão moderadas, enquanto S1 ou S4 ocasio-nam discreta ou nenhuma resposta.

TRATOTOMIAS

As tratotomias são cirurgias que interrompem vias de nocicepção e trazem alívio a áreas extensas do corpo. No segmento cefálico, a tratotomia trigeminal interrompe o trato descendente do nervo trigêmeo na face posterolateral do bulbo.

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As cordotomias são tratotomias que interrompem a transmissão de informações nóxicas no trato espinotalâmico lateral, e tratam as dores dimidiadas de qualquer tipo e origem, com exceção, talvez, das psicalgias.

As mielotomias medianas interrompem as fibras provenien-tes dos cornos posteriores que cruzam a linha média em direção aos tratos espinotalâmicos, produzindo analgesia bilateral, simé-trica, e, dependendo do nível realizado, suspensa.

Outro procedimento considerado tratotomia é a micromie-lotomia transversal (também chamada de mielotomia puntata), utilizada para tratamento das dores abdominais (principalmente as viscerais refratárias às simpatectomias químicas).

A reticulotomia rostral mesencefálica é indicada nos qua-dros dolorosos secundários às neoplasias do segmento cefálico e de membros superiores, uni ou bilateralmente. Disautono-mias dolorosas, relacionadas ou não às patologias oncológicas, como as da síndrome dolorosa regional complexa I e II, são aliviadas com este procedimento. A lesão é realizada através de método estereotáxico através da identificação das estrutu-ras por exames de imagens. Modernamente, a ventriculografia foi abandonada, dando lugar à tomografia computadorizada e à ressonância magnética.

Alguns doentes são portadores de dores neuropáticas se-cundárias a lesão ou disfunção do sistema nervoso central ou periférico. Essas dores diferem tanto clínica como fisiopatologi-camente daquelas decorrentes de aumento de nocicepção, e em geral se associam a perda parcial ou completa da sensibilidade.

Os procedimentos ablativos, não raramente, estão relaciona-dos com a gênese e mesmo o agravamento do desconforto. Uma lesão no sistema nervoso acarreta alterações locorregionais e a distância, podendo evoluir após um período de latência para um desconforto neuropático.

Um procedimento ablativo adotado na terapêutica de do-res neuropáticas é a nucleotratomia de Lissauer e lesão da substância gelatinosa também conhecida como lesão da zona de entrada das raízes dorsais (DREZ). Nessa cirurgia as célu-las hiperativas, após desaferentação por lesões variadas (her-péticas, actínicas, quimiotóxicas, metabólicas, cirúrgicas, e outras), são destruídas por radiofrequência ou microbipolar. A abordagem é feita através de laminectomia sob anestesia geral sem o uso de curares, com neuroestimulação e controle radiológico transoperatório.

No segmento cefálico a tratotomia trigeminal corresponde à lesão da zona de entrada e é empregada para tratamento de dores neuropáticas do território dos nervos trigêmeo, glossofaríngeo, vago, Wrisberg, e das raízes cervicais altas.

NUCLEOTOMIAS

A abordagem estereotáxica e destruição seletiva de núcleos cerebrais profundos como talamotomias de núcleos inespecíficos (incluindo pulvinarotomia), assim como de estruturas córtico--subcorticais inicialmente adotadas como alvos para tratamento de transtornos psiquiátricos (cingulotomia anterior) podem ser úteis para o controle de síndromes dolorosas específicas. A pre-ferência recai novamente nas dores em amplos territórios rela-cionadas ao câncer ou às doenças psiquiátricas.

O seguimento a longo prazo desses doentes portadores de dores neuropáticas foi possível apenas nas últimas décadas, com o aumento do tempo de sobrevida, e nos ensinou que a recidiva das dores era inexorável e acontecia com latência variável de semanas a anos.

A tendência cirúrgica para o tratamento de dores de qualquer etiologia, oncológica ou não, é a de evitar os métodos ablativos, pois em muitas ocasiões estaremos substituindo uma dor por ou-tra, tão ou mais desagradável.

O desenvolvimento de meios que inibem, porém não destro-em de maneira definitiva a estrutura neural, foi uma resposta ao anseio de preservar o sistema nervoso e evitar as dores neuropá-ticas iatrogênicas.

MÉTODOS NÃO ABLATIVOS

A eletroneuromodulação ou neuroestimulação é um dos mais importantes métodos de obtenção de analgesia, não des-trutiva, cujos eventuais efeitos colaterais podem ser abolidos por redução ou suspensão da estimulação. Sua eficácia está di-retamente relacionada com a seleção dos doentes, dos materiais empregados e das técnicas adotadas.

A neuroestimulação pode, em muitos casos, ter sido o úl-timo recurso no tratamento de síndromes dolorosas, de difícil controle nestas últimas décadas. O fato de constituir terapêutica não ablativa já é por si só argumento de peso a colocá-la prio-ritariamente em relação a outros procedimentos utilizados para esse mister.

A simplicidade e a atual disponibilidade de aparelhos de ta-manho reduzido com controles diversificados e completos trou-xeram conforto e eficácia aos métodos de neuroestimulação.

A neuroestimulação transcutânea é utilizada com o auxílio de eletrodos maleáveis, aderentes e ligados a geradores através de extensões de comprimentos variados; ou de eletrodos rígidos, fixos ao aparelho estimulador. Meios ionizantes podem otimizar o contato de ambos os eletrodos mencionados.

A estimulação do sistema nervoso periférico foi baseada na teoria de comporta. Os primeiros trabalhos datam de 1967, e

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reportam estimulação elétrica dos nervos periféricos com eletró-dios implantados, observando alívio da dor por tempo prolonga-do. Este procedimento inibe neurônios que, da medula espinal, se projetam nas estruturas suprassegmentares, bloqueia a ativi-dade espontânea dos neuromas de amputação e a condução dos potenciais de ação das fibras nervosas de diferentes calibres do SNP e ativa circuitos inibitórios centrais. A estimulação elétri-ca do sistema nervoso periférico está indicada em casos de dor mononeuropática. Não há conclusão definitiva quanto à eficácia da neuroestimulação periférica quando se avalia o nível de evi-dência que dá suporte às classes de recomendação.

A neuroestimulação das colunas dorsais da medula espinal é realizada através de eletrodos epidurais implantados tanto de maneira percutânea como por microlaminectomias. Em geral, os procedimentos de implantação podem ser realizados sob anestesia local, peridural ou geral. Há nível B de evidência na síndrome pós-laminectomia e nível de evidência altamente positiva na sín-drome complexa de dor regional tipo II, lesão de nervo periférico, neuralgia pós-herpética, dor do membro fantasma e lesão parcial da medula espinal; porém ainda requer um estudo comparativo mais convincente para a recomendação nestas condições.

A neuroestimulação cerebral profunda é obtida pela implan-tação de eletrodos delicados através de técnica estereotáxica. A identificação dos alvos desejados é feita por ventriculografia e/ou tomografia computadorizada e/ou ressonância magnética.

Quando as dores são de predomínio de desaferentação, os sítios escolhidos como alvo são os somatossensoriais (cortiça cerebral motora, tálamo específico e cápsula interna), enquan-to nos doentes com dores predominantemente por aumento de nocicepção os alvos são os opiáceos (regiões periventricular e periaquedutal).

Modernamente o córtex motor foi alvo escolhido no trata-mento de dores por desaferentação, com resultados ainda preli-minares. A estimulação cortical proporciona melhora imediata em considerável número de casos de dor neuropática. A recor-rência ocorre em 30% dos doentes. A melhora da dor por desa-ferentação está relacionada, provavelmente, com a supressão da atividade talâmica pelos neurônios da área motora. Atinge, atu-almente, nível C de evidência (dois estudos em classe III e 15-20 convergem para classe IV) em dor central ou periférica facial, após um período de teste com estimulação realizada através de gerador de pulsos externo; conforme o resultado obtido, o doen-te é submetido a outro procedimento: internalização definitiva do sistema ou retirada dele.

A neuroestimulação foi proposta de maneira consistente, nos últimos anos, também para o tratamento das dores no doente

oncológico. Os principais entraves para esta indicação eram o prognóstico da doença de base, em particular o tempo esperado de sobrevida, e a relação custo-benefício. Nos últimos anos as dores neuropáticas, que sabidamente não respondem adequada-mente aos opiáceos, começaram a assolar os sobreviventes das medidas específicas do tratamento oncológico, incentivando o uso da neuroestimulação somatossensitiva.

O aumento do tempo de sobrevida requereu melhora equipa-rável a esse aumento na qualidade dela, e concebeu a difusão da neuroestimulação de sítios opiáceos para as dores decorrentes de excesso de nocicepção.

Nesta última década, essa tendência teve parcial reversão com o uso de sistemas implantáveis para liberação de fármacos anal-gésicos (em geral opiáceos) no sistema nervoso central (intraven-tricular, cisternal e subarcnoideo lombar), associadamente às difi-culdades da formação de profissionais habilitados em estereotaxia.

No doente canceroso, o implante de sistemas de adminis-tração de opiáceos no sistema nervoso central é outro método neurocirúrgico de tratamento da dor oncológica.

As bombas possuem um reservatório de drogas que variam de 12 a 50 ml de volume. Podem ser acionadas mecanicamen-te, através de pressão permanente da expansão de gases, e por bombeamento eletrônico computadorizado e telemetricamente comandado. Podem liberar as drogas no espaço subaracnoideo, cisternal e intraventricular. A liberação epidural, embora segura quanto a infecções, tem desvantagens como a necessidade de maior dosagem de fármaco, entupimentos frequentes, e desloca-mentos frequentes do cateter.

Doentes com dores difusas, persistentes, acometendo partes moles, às vezes com características itinerantes associadas a fa-diga crônica, insônia e traços de ansiedade e depressão, começa-ram a receber o diagnóstico de fibromialgia a partir de 1990. Na-queles sem afecções que pudessem ser responsabilizadas como causadoras dessa síndrome, ela recebeu a classificação de primá-ria. Recebendo o diagnóstico de fibromialgia, foram agrupados em um mesmo balaio de doentes com diferenças perceptíveis. As respostas terapêuticas eram diferentes: alguns respondiam a analgésicos anti-inflamatórios não hormonais, outros a opiáce-os, outros a antidepressivos, outros eram simplesmente refratá-rios a toda e qualquer terapia. O grupo que respondia, pelo me-nos parcialmente, aos opiáceos recebeu de alguns especialistas a indicação de implantação de sistemas de liberação de drogas no sistema nervoso central.

Os neurocirurgiões, em especial os que se dedicam à neu-rocirurgia funcional, não só abordam o doente que sofre de dor através das cirurgias acima descritas, como também atu-

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am ambulatorialmente no atendimento individualizado dele e de sua família.

A ação é mais completa e eficaz quando feita em equipes multiprofissionais, em que a participação não se restringe à in-terdisciplinaridade e atinge as demais profissões relacionadas aos cuidados prestados aos sofredores.

MÉTODOS RECENTES

Radiofrequência pulsátilA aplicação de radiofrequência convencional ou contínua é

um dos métodos ablativos mais adotados em todo mundo.Quando se aplica a corrente de radiofrequência, não só se

consegue pelo atrito eletromecânico um aumento de temperatura ao redor do eletrodo como também se submete o tecido adjacen-te a um campo elétrico.

O aumento de temperatura é proporcional à distância da pon-ta ativa do eletrodo, ocasionando curvas de isotermia com tem-peraturas decrescentes a partir da superfície dessa ponta.

As temperaturas acima de 44ºC ficam associadas a lesões que, quando deliberadamente provocadas, podem aliviar qua-dros dolorosos variados como mencionamos anteriormente.

No final dos anos 1990 foi aventada a hipótese de que parte dos efeitos obtidos na aplicação da radiofrequência seriam se-cundários ao campo elétrico gerado.

O campo “eletromagnético” pode ser expresso como um conjunto de vetores de distribuição tridimensional a partir de um polo em direção a outro. Na natureza encontramos dois exem-plos de campos de vetores tridimensionais: o campo gravitacio-nal da Terra e o campo magnético de um ímã.

A distribuição do campo elétrico é completamente diferente dos efeitos térmicos da aplicação da radiofrequência. A direção e a magnitude do campo são muito dependentes da forma e do calibre da ponta ativa do eletrodo utilizado.

A densidade das cargas elétricas é inversamente proporcio-nal ao calibre do condutor, e no caso dos eletrodos cilíndricos (comumente empregados), inversamente ao raio. O campo ema-nado na superfície da extensão da parte ativa do eletrodo é rela-tivamente fraco enquanto, se a ponta (a extremidade distal) for aguda (fina, com o corte axial tendendo a um cume puntiforme), o campo tenderá a valores extremamente elevados.

O campo elétrico causa a polarização das partículas cir-cunjacentes, especialmente aquelas postadas à frente da pon-ta do eletrodo.

Quando se aplica um campo elétrico não uniforme, com pe-ríodos cíclicos de interrupção (frequência de pulso de aplicação de campo induzido por corrente com frequência alta de base),

as partículas ionizadas ficam sujeitas a transferência de energia e aos micromovimentos secundários às mudanças de orientação na presença e na ausência do campo.

As forças aplicadas nas partículas pela aplicação da radiofre-quência pulsátil são chamadas de forças dieletroforéticas e são, em resumo, as responsáveis pelos efeitos biológicos da radiofre-quência pulsátil.

A radiofrequência pulsátil não constitui uma forma ablativa de tratamento, embora cause a expressão de C-fos nas lâminas 1 e 2 de Rexed e de outros genes ainda não completamente identificados.

Desde as primeiras publicações registradas em 1996, não tar-dou muito até o aparecimento no mercado de equipamentos que proporcionavam a geração de radiofrequência chamada pulsá-til, em que a corrente aplicada era interrompida ciclicamente de modo a impedir o aumento da temperatura e seu efeito ablativo.

Em pouco mais de meia década a radiofrequência pulsátil tornou-se um dos métodos mais utilizados na terapia interven-cionista da dor. Não veio para substituir a radiofrequência con-vencional e sim para somar opções terapêuticas a um elenco maior de indicações, em especial nos alvos de maior risco para desaferentação iatrogênica.

OzonioterapiaO ozônio é uma variedade do elemento oxigênio que, em vez

de dois átomos, contém três (O3). A origem do nome ozônio vem do grego ozein, que significa odor (cheiro), e este fato se deve à identificação olfativa do gás. O primeiro a descrever este gás foi Schönbein, em 1940, na Universidade da Basileia, na Suíça, como potente agente oxidante, instável e capaz de interagir com uma variedade de sistemas biológicos.

A molécula do ozônio, triatômica (O3), é formada a par-tir da diatômica (O2) com consumo muito grande de energia. A molécula do ozônio é instável pelo seu grau de entropia. O aquecimento do O3 leva a uma grande redução de sua meia-vida, enquanto o esfriamento tem o efeito contrário.

O efeito oxidante do O3 é potente a ponto de exercer ativi-dade antimicrobiana e até mesmo esterilizante, dependendo da concentração aplicada.

O O3 é um gás de ocorrência natural em nosso planeta. Na estratosfera a concentração é elevada, enquanto na troposfera é baixa. Nas altitudes maiores o O2 é transformado em O3 pelos raios ultravioleta. A degradação do O3 nas camadas mais bai-xas da atmosfera é facilitada em grande parte pela temperatura mais alta. Se a concentração do O3 no nível do mar fosse igual à encontrada na estratosfera a vida, tal como a conhecemos, seria praticamente abolida da Terra.

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O efeito tóxico do ozônio por sua grande capacidade reativa oxidante o tornaria um agente gasoso do tipo ablativo; no en-tanto, seu uso médico mais corriqueiro é como modulador, em especial como sinalizador oxidante.

O desequilíbrio bioquímico entre elementos oxidantes e an-tioxidantes pode ocorrer mesmo quando o arsenal antioxidante e o substrato antioxidante estão em níveis compatíveis com a normalidade. A aplicação local e/ou sistêmica do ozônio permite que mensageiros secundários, os chamados ozonídeos, sinalizem e induzam respostas antioxidantes. Tais respostas antioxidantes transcendem em magnitude várias vezes à provocação oxidante, e respondem pelos efeitos biológicos terapêuticos do ozônio.

Os efeitos anti-infecciosos e anti-inflamatórios são conheci-dos há mais de meio século, com várias publicações atestando o benefício oferecido pela ozonioterapia médica nestas áreas. Mais recentemente, os trabalhos científicos apontam também para os efeitos não apenas sintomáticos, demonstrando repara-ção, resolução etiológica de diversas afecções, com redução da intensidade e abrangência das sequelas.

No campo da terapia antálgica, a ozonioterapia médica ga-nhou visibilidade com a publicação de trabalhos multicêntricos que versavam sobre o tratamento de hérnias discais contidas e que incluíram mais de seis mil doentes.

Os procedimentos realizados em ozonioterapia referendados pela Associação Brasileira de Ozonioterapia e pelas suas con-gêneres italiana e alemã são classificados como minimamente invasivos e não ablativos.

Ao contrário do que se propala, no Brasil, a ozonioterapia médica não está proibida, e sim restrita ao uso sob circunstân-cias de pesquisa, sempre obedecendo protocolos que devem incluir um consentimento livre e esclarecido que, por sua vez, deve ser documentado de modo formal no prontuário do doente.

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA

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129Neuromodulação, psiquiatria, neurocirurgia funcional e estereotaxia

Deep Brain Stimulation for DystoniaSOLEDAD NAVARRO1 ● DAVID GRABLI2 ● BERNARD PIDOUX3 ● PHILIPPE CORNU1

1 Department of Neurosurgery.2Department of Neurology.

3Department of Neurophysiology.Hôpital Pitié-Salpêtrière − Paris, France.

Dystonia is a syndrome characterized by prolonged muscle contractions that cause sustained twisting movements and abnor-mal posturing of body parts,(3) and that responds poorly to medical treatment. Patients with severe and generalized forms of dystonia have been treated by pallidotomy(12) with variable and unstable responses,(7) and unacceptable adverse effects, including speech difficulties and cognitive disturbances.(4) In contrast, Deep Brain Stimulation (DBS) in the internal part of Globus Pallidus (GPi) is a reversible procedure that can reduce both motor symptoms and disability with low morbidity in infants and adults patients.(1,2,5,6)

The topographic classification recognizes three forms of Dystonia: Focal Dystonia (one segment), Segmental Dystonia (two adjacent segments), and Generalized Dystonia (at least one upper/lower limb + trunk).

Based on etiology, dystonia is classified in two groups: Primary Dystonia: dystonia with no identified causes, presented usually as “Mobile” dystonia, without involvement of bulbar muscles, other neurological deficits, and brain lesions. This group includes genetic Dystonia, as DYT1. GPi stimulation in these cases results in a sus-tained decrease in the severity of dystonia and functional disability and improve the Quality of Life (QoL), without affecting cognition or mood.(10,11) Secondary Dystonia: factors known to cause general-ized dystonia are: 1. Neonatal hypoxic ischaemic encephalopathy in term or near-term infants, presented as disabling movement dis-orders (dystonia-choreoathetosis/Cerebral Palsy), with little or no impairment of cognitive function. 2. Neurometabolic disorders: as Gangliosidosis (GM1-3g, selective GM1 ganglioside accumulation in the striatum) resulting in severe disability and life-threatening complications. 3. Other identified causes are stroke, brain trauma, encephalitis, drug reaction and inflammatory disease. Secondary dystonia is usually presented as fixed posture, with complex syn-dromes (cognitive decline, parkinsonism…), progressive neurolog-ical disease or static brain lesion. Deep brain stimulation is debated, but some encouraging results have been reported.(9)

We report our experience on targeting/surgical methods and electrophysiological findings, and discuss the results of GPi-DBS for adults dystonia patients, including primary and second-ary dystonia, with focal or generalized forms.

We comment the French Multicenter SPIDY-1(10,11) and SPIDY-2(9) studies of Bilateral Pallidal Deep Brain Stimulation, and which could be the new target for Dystonia (SPIDY-3 study).

We also report the functional benefit of Subthalamic stimula-tion after loss of efficacy of pallidal Stimulation in a GM1-3g pa-tient,(8) and the surprising results of GPi-DBS in Meige syndrome.

BIBLIOGRAPHY1. Benabid AL, Benazzouz A, Hoffmann D, Limousin P, Krack P,

Pollak P. Long-term electrical inhibition of deep brain targets in movement disorders. Mov Disord 1998;13:Suppl 3:119-25.

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8. Roze E, Navarro S, Cornu P, Welter ML, Vidailhet M. Deep brain stimulation of the globus pallidus for generalized dys-tonia in GM1 Type 3 gangliosidosis: technical case report. Neurosurgery 2006;59(6):E1340; discussion E1340.

9. Marie Vidailhet, Jerome Yelnik, Christelle Lagrange, and French SPIDY-2 Study Group. Bilateral pallidal deep brain stimulation for the treatment of patients with dystonia-choreoathetosis cerebral palsy: a prospective pilot study. Lancet Neurol 2009;8(8):709-17.

10. Vidailhet M, Vercueil L, Houeto JL, and French SPIDY-1 Study Group. Bilateral, pallidal, deep-brain stimulation in primary generalised dystonia: a prospective 3-year follow-up study. Lancet Neurol 2007;6:223-29.

11. Vidailhet M, Vercueil L, Houeto JL, and French SPIDY-1 Study Group. Bilateral deep-brain stimulation of the globus pallidus in primary generalized dystonia. N Engl J Med 2005;352:459–67.

12. Vitek JL, Zhang J, Evatt M, et al. GPI pallidotomy for dys-Vitek JL, Zhang J, Evatt M, et al. GPI pallidotomy for dys-tonia: clinical outcome and neuronal activity. Adv Neurol 1998;78:211-9.

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Surgical Treatment of OCD: STN-Deep Brain StimulationSOLEDAD NAVARRO1 ● BERNARD PIDOUX2 ● LUC MALLET3 ● PHILIPPE CORNU1

1Department of Neurosurgery.2Department of Neurophysiology.

3Department of Psychiatry − Hôpital Pitié-Salpêtrière − Paris, France.

Obsessive-Compulsive Disorder (OCD) is a relatively com-mon chronic psychiatric illness (that affects about 2% of the general population). Even under the best medical treatment, some patients remain severely disabled. These severe forms of (treatment-refractory) OCD have been treated in the past by ablative neurosurgical techniques. More recently, Deep Brain Stimulation (DBS) has been proposed as a therapeutic option.(2) Different parts of the orbito-fronto-striato-thalamo-cortical cir-cuit, including the ventral striatum, internal capsule, nucleus accumbens and thalamic inferior peduncle have been targeted for stimulation as described in several reports with variable but promising long-term results.

The studies of DBS in Parkinson’s disease have highlighted the putative role of the Subthalamic Nucleus (STN) in behav-ioural integration and efficacy in reducing repetitive behaviours, anxiety, and OCD. (1,3,4) These results combined with the long-term effects of stimulation of STN and the ability to target small, well-defined structures (MRI, electrophysiology) with the vali-dated procedures led us to propose the STN as a target for the treatment treatment-refractory OCD.

Based on postoperative radiological analyse of therapeutic contacts of Parkinsonian patients with improved OCD symp-toms,(4) that were located more medially than the expected intra-subthalamic “classical target”: we defined the OCD-NST target: 2 mm anterior to and 1 mm medial to target used in Parkinsonian patients, at the boundary of the associative and limbic territories of the subthalamic nucleus.

We comment the French Multicenter Study of bilateral STN stimulation in severe refractory-treatment OCD,(2) our local ex-

perience in OCD-STN radiological and electrophysiological tar-geting, surgical methods and results.

BIBLIOGRAPHY

1. Fontaine D, Mattei V, Borg M, von Langsdorff D, Magnie MN, Chanalet S, Robert P, Paquis P. Effect of subthalamic nucleus stimulation on obsessive-compulsive disorder in a patient with Parkinson disease. Case report. J Neurosurg 2004;100(6):1084-6.

2. Mallet L, Polosan M, Jaafari N, Baup N, Welter ML, Fon-Mallet L, Polosan M, Jaafari N, Baup N, Welter ML, Fon-taine D, du Montcel ST, Yelnik J, Chéreau I, Arbus C, Raoul S, Aouizerate B, Damier P, Chabardès S, Czernecki V, Ard-ouin C, Krebs MO, Bardinet E, Chaynes P, Burbaud P, Cornu P, Derost P, Bougerol T, Bataille B, Mattei V, Dormont D, Devaux B, Vérin M, Houeto JL, Pollak P, Benabid AL, Agid Y, Krack P, Millet B, Pelissolo A; STOC Study Group. Sub-thalamic nucleus stimulation in severe obsessive-compulsive disorder. N Engl J Med 2008;359(20):2121-34. Erratum in: N Engl J Med 2009;361(10):1027.

3. Mallet L, Schüpbach M, N‘Diaye K, Remy P, Bardinet E, Czernecki V, Welter ML, Pelissolo A, Ruberg M, Agid Y, Yelnik J. Stimulation of subterritories of the subthalamic nucleus reveals its role in the integration of the emotional and motor aspects of behavior. Proc Natl Acad Sci USA 2007;104(25):10661-6.

4. Mallet L, Mesnage V, Houeto JL, Pelissolo A, Yelnik J, Behar C, Gargiulo M, Welter ML, Bonnet AM, Pillon B, Cornu P, Dormont D, Pidoux B, Allilaire JF, Agid Y. Com-pulsions, Parkinson‘s disease, and stimulation. Lancet 2002;360(9342):1302-4.

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131Neuromodulação, psiquiatria, neurocirurgia funcional e estereotaxia

Rizotomia Dorsal Selectiva para el Manejo de la Espasticidad − Introducción*BEATRIZ MANTESE

Miembro titular del Colegio Argentino de Neurocirujanos. Master en Neurocirugia de la Universidad de Bs. As. Docente Adscripta de la Universidad de Buenos Aires − Argentina.

Hospital Juan P. Garrahan e Instituto Fleni − Buenos Aires − Argentina

En 1976 Víctor Aldo Fasano neurocirujano italiano, elaboró unos criterios electrofisiológicos para seleccionar las radicelas que participaban en la activación de los circuitos responsables de la espasticidad.

Para estudiar este fenómeno DeCandia en 1967 estimuló las aferencias del reflejo monosináptico con frecuencias cre-cientes de 0,3 a 30 Hz. Registró en la motóneurona alfa con electrodos intracelulares, que la frecuencia de la descarga de la motoneurona se correspondía con la del estímulo desde 0,3 hasta 15 Hz.

Fasano, pensaba que en la espasticidad estaban alterados los mecanismos de inhibición presináptica sobre la motoneu-rona mediados por interneuronas, también se encontrarían al-teradas las respuestas a la estimulación repetitiva y este criterio se podría aplicar para seleccionar las radicelas a lesionar y por lo tanto realizar la rizotomía con criterios neurofisiológico, esta técnica neuroquirúrgica es la que se denominó rizotomía dorsal selectiva funcional.

Con esta técnica se logró un alivio de la espasticidad de los miembros inferiores en el 71 % de los casos, con una recidiva menor de un 10 %. En más del 30 % se observó mejoría en la fonación y la deglución. En los casos en los que la espasticidad se asociaba a distonia los resultados fueron regulares porque so-lamente disminuyó el tono muscular.

En 1982 el doctor Warwick J. Peacock modificó la técnica qui-rúrgica de Fasano realizando una laminéctomia desde L1 a S2 y exponiendo la cauda equina a fin de identificar más fácilmente el nivel de cada raíz en el foramen a la salida del saco dural.

Los resultados fueron muy buenos. La rizotomía dorsal se-lectiva funcional fue la técnica neuroquirúrgica de elección en la parálisis cerebral de tipo espástico.

INDICACIONES DE LA RDS Y SELECCIÓN DE PACIENTES

Los mejores resultados se obtienen con los niños PC con di-plejía espástica capaces de caminar.

También se obtienen beneficios en pacientes con afectación motora más severa.

Los objetivos en cada grupo de pacientes son los siguientes:1. En los niños que caminan sin ayuda el objetivo es mejorar

el tono y la estética.2. En los niños que necesitan apoyo para caminar la meta es

disminuir la dependencia de los aparatos.3. En los niños gateadores el propósito es pasarlos al grupo

de deambulación asistida, disminuir la hipertonía y mejorar la postura.

4. En los niños tetraparéticos gateadores reptantes el objetivo es facilitar su cuidado y mejorar la estabilidad.

CONTRAINDICACIONES DE LA RDS

1. Formas diskinetica − ataxica − hipotónica2. Contacturas ya establecidas y deformidades articulares

irreductibles.3. Escoliosis severa o artrodesis lumbar4. Niños que no sigan el programa de rehabilitación o que

sus padres no esten dispuestos a colaborar.

MATERIAL Y MÉTODO

Las cirugías se realizaron en el Hospital J. P. Garrahan y en otros establecimientos privados, FLENI y Centro de Espastici-dad, Nuestra Señora de la Dulce Espera.

Fueron operados 126 pacientes.El 59 % varones y el 41% mujeres. En el período de tiempo

de agosto -2005 hasta mayo-2011.En nuestro grupo en 56 pacientes utilizamos la técnica de

Jorge Lazareff; la rizotomía dorsal selectiva limitada de L4-S1, con una edad promedio de 9 años (4-17).

Se efectuó una evaluación neurológica exhaustiva preoperato-ria, tipo de espasticidad, fuerza de cada grupo muscular y la exten-sión de su motilidad, a fin de descartar contracturas y anquilosis.

Las distintas etiologías fueron: ECNE; ( HIV); (Médula An-clada); tumor medular.

El compromiso motor principal, fue la diplejía espástica.

*No hay conflicto de intereses.

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Se valoró el cuádriceps, la capacidad del mismo para adoptar la posición de rodillas, rodilla en tierra y bipedestación.

En nuestra población utilizamos pruebas terapeúticas como inyección intratecal de baclofeno, o de botox en algunos grupos musculares.

Las radiografías de columna mostraron si hay escoliosis.La R.N.M. de cerebro y medula evidenció las lesiones periven-

triculares (leucomalacia), características en los niños paralíticos ce-rebrales. También se pueden ver otras lesiones asociadas isquémi-cas, o enfermedades de depósito en los núcleos basales por ejemplo.

El EMG preoperatorio descarta otras patologías y la URO-DINAMIA nos permite saber que tipo de vejiga tiene el pacien-te, por ejemplo la hipertónica y además que porcentaje de fibras de S2 debemos neuromodular en la cirugía|.

TECNICA QUIRURGICA

Realizamos una laminotomía L1 –S1 para poder reponer las láminas. Apertura de la duramadre exponiendo el cono medular y la cauda equina. A continuación se disecan las raíces posterio-res separándolas de las anteriores a nivel del foramen. En caso de duda se puede localizar S1 estimulando su raíz anterior que produce flexión plantar del pie, si lo que se estimula es S2 se produce además flexión del dedo gordo.

La raíz anterior es más delgada y redondeada que la posterior y produce contracciones musculares con un umbral menor de 0,5 miliamper. Se disecan las raíces posteriores desde L1a S1 entre 4 y 15 radicelas con disectores estimuladores.

Cada radicela se estimula con corriente constante con los disectores separados un cm, se incrementa la intensidad de es-timulación hasta el umbral de contracción. A continuación con esa intensidad umbral se estimula 50 Hz durante 1 segundo re-gistrando durante 3 segundos el EMG.

Se considerara respuesta normal a la contracción sostenida breve en el músculo estimulado. La respuesta dudosa es cuando se contraen los músculos de segmentos adyacentes al nivel es-timulado. Como respuesta anormal la respuesta sostenida con postdescarga y difusión a grupos musculares distantes o contra-laterales al segmento estimulado. La sección de las radicelas es del 50 % al 70 %.

RESULTADOS

Todos los niños tratados con la RDS disminuyeron la espas-ticidad de los miembros inferiores y mejoran la marcha, la fona-ción y la deglución.

Los resultados sobre la espasticidad tanto de miembros infe-riores como superiores es permanente.

Los costos son cuatro veces más elevados con la Infusión Intratecal con Bomba de Baclofeno que con la RDS.

Los objetivos del tratamiento son: 1) mejorar la función ; 2) ayudar en el cuidado y el manejo del paciente; 3) prevenir las contracturas y deformidades; 4) disminuir los espasmos muscu-lares dolorosos.

Las indicaciones de tratamiento de la espasticidad dependen de la edad del paciente, de la extensión del cuadro y del grado según la escala de Ashworth.

En los casos con espasticidad focal que afecte solo a algu-nos grupos musculares el tratamiento de elección es la toxina botulínica. En los casos con espasticidad más difusa se utilizará infusión intratecal.

Además antes de indicar un procedimiento neuromodulativo como la rizotomía hay que esperar que el niño tenga 4 años para permitir una mejoría neurológica. En los pacientes a los que se les efectuaron cirugías ortopédicas no tendremos muy buenos resultados.

La decisión entre el tratamiento con RDS o con ITB esta dado por las características de cada caso. La RDS tiene un efecto permanente y definitivo por lo cual es de elección en los casos en que la espasticidad afecte fundamentalmente los miembros inferiores.

En casos con cuadriparesia, tanto la RDS como la ITB tienen efecto sobre la espasticidad de miembros inferiores pero cuando se asocia a distonia la indicación es la bomba de infusión de baclofeno.

CONCLUSIÓN

El manejo del niño espástico es muy complejo y no existe un manejo universal por lo cual se requiere la actividad coordinada de un equipo multidisciplinario integrado por médicos fisiatras, kinesiólogos, neurólogos, cirujanos ortopédicos y neurocirujanos.

Este equipo debe elaborar un plan de tratamiento individua-lizado para cada uno de los pacientes.

BIBLIOGRAFIA

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133Neuromodulação, psiquiatria, neurocirurgia funcional e estereotaxia

Anestesia em Eletroconvulsoterapia*CAIO ALEXANDRE DE SOUZA POCA PEREIRA

Médico anestesiologista assistente do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo − FMUSP.

ELETROCONVULSOTERAPIA E EFEITOS FISIOLÓGICOS

O objetivo da eletroconvulsoterapia (ECT) é desencadear uma convulsão generalizada terapêutica, através da aplicação de eletrodos cutâneos no crânio, uni ou bilateralmente, pelos quais é transmitida uma corrente elétrica com variáveis de onda predeterminadas como padrão, amplitude e duração. A corrente elétrica aplicada gera inicialmente contrações nos músculos faciais e se atingido o limiar convulsivo há a ma-nifestação da crise. A atividade convulsiva é inicialmente ca-racterizada por uma descarga parassimpática resultando em sialorreia, bradicardia, bloqueio cardíaco ou até assistolia de duração superior a 6 segundos. Nem todos os pacientes apre-sentam a fase vagotônica. Segue-se após uma descarga adre-nérgica importante manifestada por taquicardia e hipertensão por vezes severa (PAS > 200 mmHg). Pode haver arritmias, alterações de onda T e prolongamento do intervalo QT. Como resultado, pode-se esperar alterações transientes como au-mento da perfusão cerebral, da pressão intracraniana, da pres-são intraocular, da pressão intragástrica, do débito cardíaco e do consumo miocárdico e cerebral de oxigênio. Juntamente com os efeitos cardiocirculatórios, há uma violenta contração muscular autolimitada, que deve ser evitada.

AVALIAÇÃO PRÉ-ANESTÉSICA

A avaliação clínica pré-anestésica é de suma importância para minimizar os riscos e prever as possíveis complicações do procedimento, dado o status clínico de cada paciente. Deve contar com a história clínica geral com especial aten-ção às comorbidades cardíacas (IAM prévio, ICC, hiper-tensão sem controle adequado) e neurológicas (lesão intra-craniana em expansão, hipertensão intracraniana, acidente vascular recente). É prudente solicitar avaliação cardiológi-ca, caso o paciente seja portador de marca-passo. Deve-se ter atenção ao uso de medicações que podem interagir com as drogas comumente usadas na anestesia (inibidores da MAO, antidepressivos tricíclicos, entre outros). É também prudente evitar pré-medicações sedativas como benzodiaze-

pínicos, pois aumentam o limiar convulsivo, dificultando o desencadear da crise.

MONITORIZAÇÃO

A monitorização básica inclui cardioscopia (DII ou DII + V5) em tórax anterior, pressão arterial não invasiva e oxime-tria de pulso. Devemos contar com manguito de pressão ma-nual como garrote para monitorização de atividade convulsiva motora, preferencialmente em uma das pernas ou no antebraço contralateral ao da venóclise.

PREPARO PARA O PROCEDIMENTO

Inicia-se teste de funcionamento do aparelho de anestesia e demais materiais, como laringoscópio e lâminas antes do proce-dimento, assim como mantém-se o aspirador de secreções mon-tado. Instala-se venóclise em membro superior com cateter de calibre 22G ou 20G para a infusão das medicações. Os membros superiores deverão ser contidos às braçadeiras e o tronco preso com faixa de contenção.

INDUÇÃO ANESTÉSICA E MANUTENÇÃO DA ANESTESIA

Inicialmente, administra-se pré-medicação com atropina 0,5 a 1,0 mg, a fim de evitar possível bradicardia e sialorreia. Procede-se à pré-oxigenação com O2 100% por 2 a 3 minu-tos sob máscara facial. A hipnose é feita com propofol 1,0 a 2,0 mg/kg ou etomidato 0,1 a 0,2 mg/kg em bolo. A esco-lha entre etomidato ou propofol deve levar em conta o tempo de convulsão desejado, visto que o etomidado configura-se como agente pró-convulsivante e mantém a crise por mais tempo, comparado ao propofol. A partir de então, mantém-se ventilação manual sob máscara. Nesse momento, o anestesio-logista deve comunicar a equipe para que o manguito manual seja insuflado no membro escolhido. A função do manguito é impedir que o relaxante neuromuscular chegue ao membro garroteado, promovendo assim parâmetro motor de início e término da crise convulsiva após relaxamento do restante do corpo. Procede-se ao relaxamento muscular com succinilcoli-

* Não há conflito de interesses.

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na 0,5 a 1,0 mg/kg e aplicação da corrente elétrica assim que cessar a fasciculação característica. Mantém-se ventilação manual durante o episódio convulsivo até o término da crise. Procede-se à aspiração de vias aéreas com cânula adequada e manutenção da monitorização de parâmetros hemodinâmicos no período pós-ictal imediato até que haja estabilidade e re-torno à ventilação espontânea adequada.

CONSIDERAÇÕES PÓS-ANESTÉSICAS

Após o procedimento, o paciente permanece em sala de recu-peração pós-anestésica com monitorização básica até adequada recuperação. Nesse período, os pacientes podem experimentar diversos sintomas; entre os mais comuns, destacam-se desorien-tação que se recupera após poucos minutos a aproximadamente meia hora, amnésia retrógrada e anterógrada, agitação psicomo-tora, que pode ser manejada com baixas doses de benzodiazepí-nicos (midazolam 1,0 a 2,0 mg IV) ou haloperidol 2,5 a 5,0 mg IV e cefaleia responsiva a analgésicos comuns. O procedimento

pode ser realizado tanto em regime hospitalar quanto ambula-torial, dependendo a escolha do status clínico do paciente e do consenso entre as equipes médicas envolvidas.

REFERÊNCIAS

1. Ding Z, White PF. Anesthesia for eletroconvulsive therapy. Anesth Analg 94:1351-1364, 2002.

2. Newfield P, Cottrell JE. Handbook of Neuroanesthesia. 3.ed. Lippincott, Willians & Wilkins, 1999.

3. Moreno RA, Soares MBM, Moreno DH, Lafer B, Pricoli V. Eletroconvulsoterapia em pacientes bipolares resistentes. Rev Psiq Clin 25(1): 50-53, 1998.

4. Stoelting RK (ed.): Pharmacology and Physiology in Anesthetic Practice. 4.ed. Lippicott-Raven, Philadelphia.

5. Stoelting RK (ed.). Drugs used for psychopharmacology therapy. p. 357-376.

6. Reed AP, Yudkowitz FS. Clinical cases in anesthesia, 2005. p. 105-108.

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Tratamento farmacológico da dor - Novidades e questões polêmicas

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137Tratamento farmacológico da dor - Novidades e questões polêmicas

Dor Neuropática Orofacial: Diagnóstico e Conduta*DEUSVENIR DE SOUZA CARVALHO

Médico Especialista em Neurologia, Professor de Neurologia Clínica, Chefe do Setor de Investigação e Tratamento das Cefaleias (SITC), Escola Paulista de Medicina (EPM) − Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Dores orofaciais odontológicas são oriundas de doenças ou distúrbios funcionais que envolvem o aparelho mastigatório, particularmente a cavidade oral, dentes, maxilares, articulação temporomandibular (ATM) e os músculos da mastigação. Essas estruturas albergam as causas mais comuns das dores orofaciais (American Academy of Orofacial Pain, 1996) e também estão relacionadas aos itens 11 e 13 da Classificação Internacional de Cefaleias (ICHD-II, 2004).

Dor facial define-se como uma dor que ocorre abaixo da li-nha orbitomedial, acima do pescoço e anteriormente aos pavi-lhões auriculares, podendo ser primária ou secundária, atribuída a distúrbio de crânio, pescoço, olhos, ouvidos, nariz, seios da face, dentes, boca ou outras estruturas faciais ou cranianas. As-sim como nas cefaleias, a etiologia e a patogênese dos diversos tipos de dores faciais ainda são pouco compreendidas, o que ge-ralmente dificulta o diagnóstico e o manuseio dessas condições. Isso é especialmente verdadeiro quando a dor não responde ao tratamento convencional, apesar dos esforços bem-intenciona-dos da equipe de saúde.

Em dor neuropática orofacial serão incluídas: neuralgia do trigêmeo (NT), dor facial persistente idiopática (DFPI), síndro-me da ardência bucal (SAB) e dor pós-cirúrgica orofacial per-sistente (DPOP).

O diagnóstico da neuralgia trigeminal é essencialmente clíni-co. Os critérios diagnósticos propostos pela ICHD-II, 2004 são:

A. crises paroxísticas de dor que duram de uma fração de segundo a 2 minutos, afetando uma ou mais divisões do nervo trigêmeo e preenchendo os critérios B e C.

B. dor com pelo menos uma das seguintes características:1. intensa, aguda, superficial ou em pontada;2. desencadeada por fatores ou áreas-gatilhos.

C. crises estereotipadas para cada paciente.D. Se não houver evidência clínica de déficit neurológico e a

dor não for atribuída a outro distúrbio, exceto à compressão da raiz trigeminal por vasos tortuosos e aberrantes, tem-se o diag-nóstico de neuralgia clássica do trigêmeo.

Para o diagnóstico de neuralgia trigeminal sintomática, uma lesão causal, que não seja a compressão vascular, deve ser de-monstrada por investigação apropriada e/ou exploração da fossa posterior. Nesse caso, pode haver alteração da sensibilidade nos territórios de distribuição dos ramos do nervo trigêmeo.

O tratamento medicamentoso da neuralgia do trigêmeo foi o objeto de diversas revisões sistemáticas de Cochrane e de outros autores. Apesar de o pequeno número de ensaios clíni-cos disponíveis sobre o assunto gerar evidências fracas em sua maioria, a evidência atual mostra que a carbamazepina (200 a 1.200 mg/dia) ainda é a droga de escolha. Se a carbamazepina é efetiva no controle da neuralgia, mas o paciente apresenta efeitos adversos intoleráveis de natureza não alérgica, a oxcar-bazepina (600 a 1.800 mg/dia) é uma alternativa. A oxcarbaze-pina é uma pró-droga da carbamazepina que geralmente é mais bem tolerada, mas devido ao risco de reação alérgica cruzada entre elas ser de cerca de 25%, outras drogas devem ser con-sideradas em caso de reação alérgica à carbamazepina. Nesse caso, a droga de segunda linha com maior nível de evidência atualmente é o baclofeno (40 a 80 mg/dia). Além dessa, outras medicações podem ser utilizadas, como a gabapentina, a feni-toína, o clonazepam, o valproato e o divalproato. A associação de lamotrigina na dose de 400 mg/dia aumenta a eficácia do tratamento. Se a carbamazepina não é efetiva no controle da dor, além da possibilidade de ser adicionada uma segunda dro-ga ou de a medicação ser trocada, uma revisão do diagnóstico deve ser realizada antes da confirmação de falha no tratamento medicamentoso. Nesse caso, as opções cirúrgicas devem ser consideradas. Existem dois tipos de procedimentos cirúrgicos disponíveis: a descompressão microvascular, em que a fossa posterior é explorada e o vaso que exerce a compressão e a raiz nervosa do trigêmeo são separados, e os tratamentos ablativos, que lesam o trigêmeo de maneiras diferentes. A escolha do tipo de procedimento a ser realizado depende, sobretudo, do risco cirúrgico para o paciente. A descompressão microvascular ofe-rece a maior chance de alívio da dor em longo prazo, com risco

* Trabalho não patrocinado/subsidiado. Possíveis conflitos de interesse por cursos, palestras e protocolos de pesquisa clínica, realizados ou em andamento: Ache, Allergan, GlaxoSmithKline, Mantecorp, Nicomed, Novartis, Sanofi-Aventis, Shering, Wyeth.

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de morte de aproximadamente 0,5%, enquanto os procedimen-tos ablativos são menos efetivos em longo prazo, com risco de morte muito menor.

A dor facial persistente idiopática (DFPI), antigamente de-nominada dor facial atípica ou dor atípica da face, não apresenta as características de uma dor craniana típica nem alterações no exame clínico e na investigação complementar, sendo, portanto, um diagnóstico de exclusão.

Os critérios propostos pela ICHD-II, 2004 são:A. dor na face presente diariamente e persistindo a maior

parte do dia, preenchendo os critérios B e C;B. dor restrita, no início, a uma área limitada de uma hemifa-

ce, profunda e mal-localizada;C. dor não associada à perda sensitiva ou a outros sinais fí-

sicos;D. as investigações, incluindo radiografias da face e mandí-

bula, não demonstram qualquer anormalidade relevante.

TRATAMENTO

Os antidepressivos tricíclicos representam a primeira opção de tratamento para DFPI. Há eficácia independentemente do efeito antidepressivo, isto é, boa resposta em doses baixas, eficá-cia em pacientes sem problemas psiquiátricos, ação analgésica antes do efeito antidepressivo, etc. A dose da amitriptilina varia de 25 a 100 mg em dose única na hora de dormir, devendo durar vários meses. Os AINE podem ser usados por um período cur-to, em caso de exacerbação ou início recente. Não há indicação para tratamento cirúrgico. Auxílio psiquiátrico e psicoterapêuti-co pode ser necessário.

A síndrome da ardência bucal é uma sensação de queimação intra-oral para a qual não se encontra uma causa médica ou den-tária. Pode ser diagnosticada pelos critérios da ICHD-II, 2004 quando:

A. houver dor na boca, presente diariamente e persistindo a maior parte do dia;

B. a mucosa oral for de aparência normal;C. doenças locais e sistêmicas forem excluídas.

O tratamento inclui antifúngicos, anti-histamínicos, an-tibacterianos, analgésicos, reposição vitamínica, mineral e hormonal, benzodiazepínicos, antidepressivos tricíclicos e gabaérgicos. O clonazepam mostrou-se eficaz em casos com menos de dois anos de história (Woda et al., 1998) e estudos experimentais realçam a importância dos fármacos agonistas do GABA no tratamento da ardência bucal. Capsaicina, me-dicação tópica e antidepressivos tricíclicos são considerados medidas úteis no tratamento da ardência bucal. A hidratação contínua da boca é imprescindível quando há hipossalivação ou xerostomia.

DOR PÓS-CIRÚRGICA OROFACIAL PERSISTENTE

Frequentemente é de origem neuropática, entretanto não é rapidamente reconhecida pelos cirurgiões. Muitas vezes é acom-panhada de parestesia de lábios, embora possa ocorrer indepen-dentemente dessa condição.

O tratamento, em geral, é o mesmo utilizado para o trata-mento das dores neuropáticas, ou seja: antidepressivos tricícli-cos, anticonvulsivantes e, eventualmente, opioides (metadona).

REFERÊNCIAS

1. de Souza Carvalho D. Cefaleia e dor facial. In: Schor N (ed.). Guias de Medicina Ambulatorial e Hospitalar da Unifesp--EPM. Neurologia. Barueri: Manole, 2011. p 165-245.

2. Headache Classification Subcommittee of the Internatio-nal Headache Society. The International Classification of Headache Disorders: 2.ed. Cephalalgia. 2004;24(Suppl 1):9-160.

3. Siqueira JTT. Dor orofacial. [citado em 25 de julho de 2011]. Disponível em: <http://www.dor.org.br/profissionais/pdf/fasc_dor_orofacial.pdf>.

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139Tratamento farmacológico da dor - Novidades e questões polêmicas

Dor Neuropática Periférica Metabólica: Desafios no Diagnóstico e na Conduta Terapêutica

OSVALDO J. M. NASCIMENTOProfessor Titular de Neurologia Universidade Federal Fluminense – UFF, Rio de Janeiro.

Coordenador de Pós-Graduação e Pesquisa em Neurologia/Neurociências.

Causas metabólicas devem ser consideradas no diagnóstico de dor neuropática. A grande maioria se apresenta com carac-terísticas de neuropatias de fibras finas, ou seja, predominando sintomas dolorosos com preservação dos reflexos profundos e da sensibilidade proprioceptiva. Nesse grupo de neuropatias, são re-lacionadas as adquiridas, como a diabética, a urêmica, as devidas a deficiências vitamínicas, a hipoglicêmica, a do hipotireoidismo. Outras são decorrentes de condições metabólicas determinadas por herança mendeliana, como, por exemplo, as porfirias. As doenças lisossomais de acúmulo, como a deficiência da enzima a-galactosidase (doença de Fabry) também se encontram nesse grupo. Vê-se, portanto, que existe uma gama significativa de do-enças metabólicas, implicando na necessidade de boa formação médica para o reconhecimento diagnóstico e experiência no con-trole metabólico e da dor neuropática. Na grande maioria dessas condições, deparamos com duas fases fisiopatológicas distintas na evolução clínica: uma inicial, quando apenas alterações da bomba de sódio-potássio ocorrem, como acontece no pré-diabetes, ou nas descompensações glicêmicas agudas, acarretando despolarização das fibras nervosas finas e/ ou amielínicas, promovendo intensa dor; uma progressiva, acarretando perda de fibras nervosas e apa-recimento de brotamentos axonais (sproutings) que se perpetuam pela existência do paciente, como ocorre na polineuropatia sensi-tiva dolorosa diabética. Nessa última, embora se faça o adequa-do controle glicêmico, a necessidade de tratamento da dor neu-ropática se impõe pela vida afora. Principalmente nesses casos, ter conhecimento na administração de fármacos para o controle da dor, incluindo seus paraefeitos, se faz da maior importância. Nesse grupo, fármacos para o controle da dor neuropática são os rotineiramente utilizados, tais como os antidepressivos (p. ex.: tri-cíclicos, duais, como a duloxetina) e os anticonvulsivantes (p. ex.: gabapentina, pregabalina, lamotrigina).

Assim, as doenças metabólicas e seu principal sintoma de apresentação clínica, a dor neuropática, constituem um grande desafio para o diagnóstico e conduta terapêutica, ainda mais que muitas podem se apresentar associadamente. A seguir considera-mos alguns aspectos diagnósticos e terapêuticos de neuropatias do grupo das metabólicas.

PORFIRIA Conhece-se por porfiria um grupo de sete doenças heredi-

tárias raras, sendo cinco hepáticas e duas de natureza eritropoi-ética. Atualmente, além das formas hereditárias são também reconhecidas formas adquiridas. Todas estão associadas com a superprodução de porfirinas e seus precursores. Estes são ex-cretados na urina que passa a apresentar coloração vermelha ou púrpura-brilhante nas crises porfirínicas. Três das porfirias, resultantes do metabolismo hepático do heme são relacionadas a neuropatias periféricas dolorosas: porfiria aguda intermitente, porfiria variegata e coproporfiria hereditária. Essas porfirias são resultantes de deficiências enzimáticas específicas na cadeia de síntese do heme. O padrão de herança é autossômico dominante.

Cada porfiria é caracterizada por padrão específico de su-perprodução, acúmulo e excreção de substâncias intermediárias da síntese do heme. A neuropatia da porfiria tem uma complexa fisiopatogenia, porém o aumento do ALA está diretamente re-lacionada a neurotoxicidade. A disfunção da bomba de sódio--potássio da fibra nervosa, como em outras neuropatias metabó-licas, resulta na despolarização de membrana e dor neuropática. É uma doença grave, que ocorre em episódios agudos, muitas vezes induzidos por drogas, hormônios, ou fatores nutricionais. As anormalidades clínicas resultantes são caracterizadas pela tríade: dor abdominal, psicose e neuropatia periférica.

Ataque agudo de cólica abdominal, quase sempre combinada com constipação, vômitos, febre e leucocitose é o modo frequente de apresentação, durando cerca de dias ou meses, intermitente como regra. A dor abdominal é tão intensa que, nos casos não previamente diagnosticados, é frequente a história de laparotomia exploradora. As dores abdominais podem ser seguidas ou prece-didas por distúrbios mentais. História de instabilidade emocional, agitação, alucinações e delírios auxilia no diagnóstico.

UREMIA

Cerca de 65% dos pacientes com insuficiência renal crô-nica podem desenvolver neuropatia periférica, antes ou de-pois de diálise, sendo mais encontrada em indivíduos do sexo masculino. A síndrome do túnel do carpo é a mais encontrada

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entre as mononeuropatias associadas à uremia. A polineuro-patia manifesta-se por sintomas sensitivos positivos (dor) e motores, predominando nas porções distais dos membros, particularmente dos inferiores, e ocorre quando os níveis do clearence de creatinina estão abaixo de 10 ml/min. A progres-são costuma ser insidiosa e costuma acometer 60 à 100% dos pacientes em hemodiálise. A presença de cãibras e de síndro-me das pernas inquietas pode ser observada em expressivo número de casos. Pés queimantes e outras disestesias distais são referidos, levando a questionar-se quanto à participação de deficiência vitamínica. HIPOTIREOIDISMO

O hipotireoidismo tem sido incluído entre os distúrbios metabólicos. A neuropatia do hipotireoidismo envolve inicial-mente as fibras finas, apresentando-se com sintomas sensitivos, tais como disestesias dolorosas nas mãos e pés, ou com dores lancinantes nas extremidades. Cerca de 60% desses pacientes

apresentam alterações objetivas ao exame da sensibilidade, no-tadamente hipoestesia termoalgésica distal. As mononeuropatias também podem estar presentes, destacando-se a alta prevalência de síndrome do túnel do carpo.

DIABETES MELLITUS

Entre as doenças metabólicas o diabetes é a mais represen-tativa, concorrendo para grande desafio no diagnóstico e trata-mento de suas complicações. As neuropatias periféricas são as complicações mais frequentes e se manifestam por diferentes modalidades de apresentação clínica. São, na grande maioria, intensamente dolorosas. Na tabela 1 relacionamos as apresenta-ções clínicas da neuropatia diabética.

Consideramos importante que nos casos mais graves, quan-do complicações, tais como as autonômicas (mal perfurante, hi-potensão ortostática, etc.) e o comprometimento renal se fazem associar, há necessidade de expertise para uma conduta terapêu-tica adequada, incluíndo a do controle da dor neuropática.

Tabela 1. Classificação Clínica das Neuropatias Diabéticas (Adaptado de Nascimento 2004, modificado de Thomas, Boulton, Barohn)

I - Polineuropatias simétricas Condições relativamente estáveis: Polineuropatia sensitiva distal simétrica (PNSD) Variantes: aguda, grave PNSD no início do diabetes neuropatia pseudosiringomiélica neuropatia pseudotabética Neuropatias autonômicas Sintomas Episódicos (Transitórios): Neuropatia da caquexia diabética Neuropatia hiperglicêmica Neuropatia diabética tratamento-induzida ?Polineuropatia desmielinizante inflamatória crônica (CIDP-plus) Neuropatia hipoglicêmica ?DADS-I (diabetes?)II - Neuropatias Assimétricas/Focais e Multifocais

Radiculoplexopatia lombossacra diabética (RPLSD; Síndr. de Bruns-Garland, amiotrofia diabética, neuropatia proximal diabética)Radiculoplexoneuropatia cervicobraquialNeuropatias truncais (radiculopatia torácica/abdominal)Neuropatias cranianasMononeuropatias (mediano, ulnar, fibular, frênico)

REFERÊNCIAS

Eslamian F, et al. Electrophysiologic changes in patients with untreated primary hypothyroidism. J Clin Neurophysiol. 2011 Jun;28(3):323-8.

Krishnan AV, Kiernan MC . Uremic neuropathy: clinical fea-tures and new pathophysiological insights. Muscle Nerve. 2007 Mar;35(3):273-90.

Nascimento, OJM. Neuropatia Diabética: Diagnóstico e tratamen-to. In: Oliveira JEP e Milech A. Ed Atheneu, 183-197, 2004.

Pollard JD. Neuropathy in diseases of the thyroid and pitui-tary glands. In: Dyck PJ, Thomas PK. Peripheral neuro-pathy. 4. ed., Elsevier-Saunders (Philadelphia) 2005, p. 2039-2049.

Zochodne DW. Neuropathies associated renal failure, hepatic disorders, chronic respiratory disease, and critical illness. In: Dyck PJ, Thomas PK. Peripheral neuropathy. 4. ed., Else-vier-Saunders (Philadelphia) 2005, p. 2017-2037.

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141Tratamento farmacológico da dor - Novidades e questões polêmicas

Enxaqueca: Quadro Clínico e Tratamento*DEUSVENIR DE SOUZA CARVALHO

*Médico Especialista em Neurologia, Professor de Neurologia Clínica, Chefe do Setor de Investigação e Tratamento das Cefaleias (SITC), Escola Paulista de Medicina (EPM), Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Ao longo da vida dos adultos, a cefaleia ou dor de cabeça aco-mete mais de 90% da população do planeta, com discreto predo-mínio no sexo feminino e diminuindo acentuadamente após a sex-ta década. De forma genérica, as cefaleias mais prevalentes são aquelas secundárias a processos infecciosos e/ou inflamatórios, como, por exemplo, as viroses, que são quadros autolimitados e cujo tratamento, dependendo de cada caso, pode ser mais especí-fico, mais amplo. As formas primárias como as enxaquecas e as cefaleias do tipo tensionais são de alta importância por suas recor-rências e até mesmo por se tornarem crônicas, diárias ou quase diárias, por longos períodos de grande sofrimento.

Os pacientes em crise de enxaqueca são os que mais procu-ram as unidades de atendimento ambulatorial e de emergência.

A enxaqueca em adultos prevalece anualmente, nos países do ocidente, em 18% das mulheres e 6% dos homens, princi-palmente entre 30 e 50 anos. A prevalência média nas crianças e adolescentes é semelhante em ambos os sexos por volta de 10%, o que ocorre também acima dos 60 anos.

A Sociedade Internacional de Cefaleia (ICHD-II, 2004) classi-fica diversos tipos de enxaqueca, sendo dois os principais. Desses dois tipos, o mais comum (80% dos casos) é a enxaqueca sem aura (v. critérios diagnósticos), caracterizada por crises que duram de 4 a 72 horas, dor de cabeça de moderada a forte intensidade, unilateral, pulsátil, agravada por atividades e associada à náusea e/ou fotofonofobia. A enxaqueca com aura (menos de 20% dos casos) é caracterizada por sintomas neurológicos focais que se desenvolvem por 5 a 20 minutos e duram menos de 60 minutos, seguidos de dor de cabeça com perfil semelhante ao daquela sem aura. Em alguns casos podem faltar à cefaleia as características de enxaqueca, ou mesmo estarem ausentes (v. critérios diagnósticos).

CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS DAS ENXAQUECAS SEM E COM AURA

(ICHD-II, 2004)1.1. ENXAQUECA OU MIGRÂNEA SEM AURA

A. Pelo menos cinco ataques que preenchem os critérios B a D.

B. Cefaleia durando 4-72 horas (sem tratamento ou com trata-mento ineficaz).C. Cefaleia preenche ao menos duas das seguintes características:

1. localização unilateral2. caráter pulsátil3. intensidade moderada ou forte (incapacitante)4. exacerbada por ou levando o indivíduo a evitar atividades físicas rotineiras (p. ex., caminhar ou subir escada)

D. Durante cefaleia, pelo menos um dos seguintes itens:1. náusea e/ou vômitos2. fotofobia e fonofobia

E. Não atribuída a outro transtorno.

1.2. ENXAQUECA OU MIGRÂNEA COM AURA

A. Pelo menos duas crises preenchendo os critérios B a D.B. Aura consistindo em pelo menos um dos seguintes, mas ne-nhuma paresia:

a. Sintomas visuais completamente reversíveis incluindo características positivas (p.ex., luzes tremulantes, manchas ou linhas) e/ou características negativas (i.é., perda de visão)

b. Sintomas sensitivos completamente reversíveis, incluindo características positivas (i.é., formigamento) e/ou características negativas (i.é., dormência)

c. Disfasia completamente reversívelC. Pelo menos dois dos seguintes:

a. Sintomas visuais homônimos e/ou sintomas sensitivos unilaterais.

b. Pelo menos um sintoma de aura desenvolve-se gradual-mente em ≥ 5 minutos e/ou diferentes sintomas de aura ocorrem em sucessão em ≥ 5 minutos.

c. Cada sintoma dura ≥ 5 minutos e ≤ 60 minutos.D. Cefaleia preenchendo critérios de B a D para 1.1 Migrânea sem aura começa durante a aura ou a sucede com intervalo de até 60 minutosE. Não atribuída a outro transtorno.

* Trabalho não patrocinado/subsidiado. Possiveis conflitos de interesse por cursos, palestras e protocolos de pesquisa clínica, realizados ou em andamento: Ache, Allergan, GlaxoSmithKline, Mantecorp, Nicomed, Novartis, Sanofi-Aventis, Shering, Wyeth.

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TRATAMENTO PREVENTIVO E DAS CRISES DAS ENXAQUECASO melhor meio de se apreciar a eficácia de uma droga ou

procedimento no tratamento agudo ou profilático de cefaleia é obtido com estudo controlado com placebo e randomizado.

A eficácia de alívio parcial e total da dor de cabeça em duas horas, a manutenção da resposta em 24 horas, a utilização de medicação resgate, a avaliação dos eventos adversos (tolerabili-dade) e a comparação com placebo são parâmetros de consenso nas guidelines.

Além do tratamento farmacológico tanto para a crise como para a prevenção, são também muito importantes o uso de ca-lendário de dor, aspectos educacionais e orientações não medi-camentosas, tais como:

1. Manter ciclo regular de sono (higiene do sono)2. Atividade física regular3. Manter horário constante para as refeições4. Evitar fatores desencadeantes5. Alimentos que seguramente desencadeiam crises6. Limitar ingestão de cafeína (três cafés/dia)7. Limitar o uso de analgésicos (máximo dois dias/semana)8. Medidas controladoras do estresse9. Técnicas de relaxamentoA anotação no diário ou calendário da dor é um complemen-

to da anamnese muito enaltecido para caracterizar, diagnosticar e acompanhar melhor os sofredores de dor de cabeça.

TRATAMENTO DA CRISEUtilizando-se a escala debilitante funcional, os analgésicos

comuns como o paracetamol e a dipirona em adultos nas doses de um grama podem ser eficazes em dores leves e moderadas. Diversas formulações de associações de analgésicos podem me-lhorar a rapidez de ação, diminuir efeitos adversos e combater sintomas acompanhantes. Como a dor de cabeça nas crises de enxaqueca em geral é de intensidade moderada (interfere nas atividades) a forte (incapacitante), são quase sempre necessários os medicamentos mais eficazes que os analgésicos comuns. Os anti-inflamatórios não esteroidais (naproxeno, ibuprofeno, etc.) podem ser adequados para dores leves a moderadas, porém para dores incapacitantes podem ser pouco eficazes, o que leva à uti-lização de um número maior de doses. Em períodos curtos de até 10 dias podem ser seguros. O uso reiterado por meses tem levado à cefaleia rebote, advinda de uso excessivo e persistente.

TRATAMENTO PREVENTIVOPara o tratamento preventivo ou profilático, além daquelas

mesmas medidas não farmacológicas, temos diversas classes de

drogas, como os antidepressivos tricíclicos, betabloqueadores, bloqueadores de canais de cálcio e, modernamente, as drogas an-tiepilépticas neuromoduladoras, como o topiramato e o divalpro-ato, sendo que este último, na formulação de liberação controlada (ER), tem comprovada eficácia em dose única diária e em baixa dose e, consequentemente, melhor aderência e tolerabilidade. A posologia e o resultado do tratamento profilático devem ser revis-tos a cada 2 meses e monitorados com o diário das crises.

TRATAMENTO NA EMERGÊNCIANo atendimento de pacientes na emergência, tanto no perío-

do de desintoxicação do uso excessivo como para o alívio da cri-se aguda, bem como do estado enxaquecoso (crises com mais de 3 dias de duração), o profissional experiente pode se utilizar de neurolépticos como a clorpromazina ou o haloperidol endoveno-so em bolo e/ou em gotejamento, e o divalproato, recentemente disponível no Brasil para uso endovenoso, e cujo uso no exterior tem se mostrado de grande utilidade.

REFERÊNCIAS1. Dahlof CGH, Rolan P, Tfelt-Hansen P. Principles of clini-

cal pharmacology, randomized controlled clinical trials, and evidence-based medicine in headache. In: Olesen J, Goadsby PJ, Ramadan NM, Tfelt-Hansen P, Welch KMA (eds.). The Headaches. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins; 2006. p. 55-61.

2. de Souza Carvalho D. Cefaleia e dor facial. In: Schor N (ed.). Guias de Medicina Ambulatorial e Hospitalar da Uni-fesp-EPM. Neurologia. Barueri: Editora Manole, 2011. p. 165-245.

3. de Souza Carvalho D. Cefaleias. Rev Bras Med 2003; 60:238-260.

4. de Souza Carvalho D. Mental Care 2011; 5:10-12.5. Headache Classification Subcommittee of the Internatio-

nal Headache Society. The International Classification of Headache Disorders: 2.ed. Cephalalgia. 2004; 24(Suppl 1):9-160.

6. Sociedade Brasileira de Cefaleia. Comitê AD HOC. Reco-mendações para o tratamento da crise migranosa. Arq Neu-ro-Psiquiatr. 2000; 58(2A):371-89.

7. Sociedade Brasileira de Cefaleia. Recomendações para o tratamento profilático da migrânea: Consenso da Socie-dade Brasileira de Cefaleia. Arq Neuro-Psiquiatr. 2002; 60(1):159-69.

8. Speciali JG, Farias da Silva W (eds.). Cefaleias. São Paulo: Lemos Editorial; 2002. 493 p.

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143Tratamento farmacológico da dor - Novidades e questões polêmicas

Diagnóstico e Tratamento Conservador da LombalgiaHÉLIO SARDAS

Médico ortopedista. Formado pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Diretor da Clínica Ortopédica Hélio Sardas.

A abrangência do tema e a existência de mais de cem doenças da coluna vertebral deixam clara a exclusão de afecções de variadas etio-logias, eminentemente cirúrgicas, que não entraram em discussão.

A opção de casos limítrofes entre abordagens conservadora, cirúrgicas, minimamente invasivas e microinvasivas leva-nos sempre ao tratamento conservador, até onde é viável.

A nosso ver, o simplismo não cabe no tratamento conserva-dor das lombalgias, pela sua complexidade etiopatogênica e pela variedade de queixas clínicas longas e intensas.

Nossa abordagem é Biomorfológica Genética Globalista Cor-poral e Mecanicista, sempre baseada em Cadeias Musculares.

Nossa referencia é a pélvis, como centro corporal e suporte de nossa coluna vertebral. Todos os segmentos proximais e dis-tais apresentam inserções ligamentares e miotendíneas na pélvis.

O acréscimo de ação gravitacional, aliada à Biomorfologia Genética e aos hábitos de vida, levam a: Prevalência de Cadeias Musculares Anteriores (AM) −

(Retroversão Pélvica). Prevalência de Cadeias Musculares Posteriores (PM) –

(Anteversão Pélvica)A inspeção clínica é fundamental para determinar, ainda que

empiricamente, a biomorfologia. Se básculas laterorrotacionais, as-simetrias de cintura escapular e pélvica, escolioses aparentes, cifoses aparentes, dismetrias genu valgo ou varo, calcâneo valgo ou varo.

Não utilizamos o termo avaliação postural e sim mecano--estruturo-postural, pela complexidade de desarranjos.

Verificam-se Cadeias Musculares Prevalentes (agônicas) e Cadeias Musculares Ineficientes (antagônicas).

As alterações clínicas da coluna vertebral são múltiplas e in-dividuais, e temos de entendê-las sob o ponto de vista funcional. A rigidez esquelética é fundamental nesse entendimento.

Anteriorizações cefálicas, alterações de oclusão ortodôntica, cifóticos com e sem rigidez de cintura escapular, rigidez tora-colombar e lombossacral, rigidez pélvica com e sem báscula anteroposterior e lateral, rotação interna dos ombros, flexão de cotovelos, flexão de joelhos, valgo ou varo de joelhos e calcâ-neo, rotação externa de membros inferiores.

A avaliação é feita com e sem contração pélvica em ortosta-se, passiva e ativamente.

Existem múltiplas variações corporais com essa manobra, tanto nas Cadeias Musculares Anteriores (AM) quanto nas Ca-deias Musculares Posteriores (PM).

A avaliação em contração pélvica, ortostase, membros supe-riores alinhados ao tronco, face ventral dos membros superiores em direção frontal, extensão dos punhos e cotovelos.

O adequado de normalidade é de extensão dos punhos a 90° com manutenção de trinta segundos nessa angulação.

ÂNGULO COXOFEMORAL (ACF)

Contração pélvica, ortostase, flexão de tronco, retificação da coluna.

O ideal é que se obtenham ângulos < 90”.Testes de panturrilha com contração pélvica. Verificação de

amplitude alcançada. Limitações presentes nas AM e PM.As duas últimas manobras são fundamentais nos PM.Portanto, são importantes para o diagnóstico sistêmico ou

metabólico, as avaliações: FOCAL

MECÂNICO ESTRUTURAL GLOBAL

MECANOPOSTURALDado que, no diagnóstico sistêmico ou metabólico, tomamos

conhecimento da doença de base. Mecanoestrutural global e mecanopostural Procedemos com raio X de coluna dorsolombar e de bacia pa-

norâmica em ortostase, anteroposterior e de perfil, com e sem con-tração pélvica, associada a escanometria de membros inferiores.

Os resultados são extremamente individuais e diversificados, com caracterização funcional de dismetrias, básculas, alteração de angulações escolióticas, cifóticas, lordóticas, mostrando alte-rações biomecânicas multifocais.

Essa abordagem nos possibilita a interpretação mecânica de cada lesão ou sintoma. Assim, alterações metabólicas ou sistê-micas + alterações mecanoestruturais + alterações mecanopos-turais = diagnóstico + interpretação de lesão.

As lombalgias podem ser agudas e crônicas. No primeiro epi-sódio das agudas, é feito tratamento convencional medicamentoso com miorrelaxantes e anti-inflamatórios não esteroides ou analgési-

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cos, por quatro ou cinco dias. Em quadros intensos, são realizadas infiltrações imediatas. Em quadros difusos, notamos a circunscrição do ponto doloroso, quase sempre ligamentar ou entesopático. Com menos frequência, entesomiopáticos (região dorsal).

Acrescenta-se reabilitação sintomática com analgesia.Em nosso serviço, com a atenuação álgica, introduzimos

alongamentos posturais precoces.Nas lombalgias crônicas, seguem-se os mesmos princípios

conceituais: estabilização sistêmica de doença diagnosticada; correção ou atenuação de dismorfias, viáveis; desconstrução corporal esquelética − simetricidade, flexibilização, alinhamen-tos de cadeias, funcionalidade.

Qualquer tentativa de desconstrução da coluna vertebral sem destruir os demais desarranjos mecânicos de cadeias é absoluta-mente inviável, a nosso ver.

Iniciamos o tratamento realizando alongamentos posturais > 30 segundos, indo à fase de microrrupturas, com contração pélvica, sempre que possível.

A desconstrução inicia-se com o método de Reeducação Pos-tural Global (RPG)(1). Método ativo postural globalista.

Com o decorrer do tempo, com a finalidade desconstrutiva não sendo atingida, foram feitas modificações: fixação pélvica, aumento do tempo de alongamentos, aumento do número de ca-deias musculares envolvidas, mudança de exercícios posturais de alongamento e frequência.

Naqueles pacientes em que se consegue essa flexibilização esquelética, é viável irmos à fase de reconstrução.

Na reconstrução usamos como método inicial o Iso-Stre-tching,(2) com modificações posteriores, com fixação pélvica (quando possível), otimização do uso de cadeias sinérgicas, fre-quência, utilização diversa de aparelhos.

Os objetivos são a fixação muscular com novos comprimen-tos, pós-alongados, a formação de musculatura profunda de fi-bras de contração lenta (função aeróbia) e o reequilíbrio funcio-nal definitivo.

O programa denomina-se Reorganização Mecânica Corporal Global.

O que nos parece claro é que em qualquer afecção, principal-mente nas lombalgias, a visão focalizada de um segmento não nos levará ao conjunto de alterações anatomofuncionais quase sempre presentes.

O exame mais amplo nos leva à complexidade de alterações morfológicas estruturais ou “posturais”.

O uso de tratamentos com métodos ditos posturais, na reali-dade baseados no conceito de cadeias musculares, é fragmento de um contexto mais amplo.

Cada método tem sua especificidade e seu objetivo. Nenhum de-les, sem uma visão médica e de interpretação, é definitivo ou curati-vo. Uns são simplesmente desconstrutores, sem atingir a reconstru-ção; outros funcionam inversamente. Precisamos saber utilizá-los em cada paciente especificamente, sob o risco de incremento das lesões.

Em nossa visão as afecções, que não tumorais ou traumáti-cas diretas em cada segmento corporal, especialmente na coluna vertebral, são frutos de hiper-solicitações mecânicas anárquicas. Cabe a nós interpretá-las.

Entendemos que somente metodologias abrangentes e glo-balistas são eficientes na desconstrução de desarranjos múltiplos sinergicamente.

A rotina de exame constante é que nos permite interpretações adequadas.

O preparo e o treinamento de fisioterapeutas, sempre “cadeís-tas” (especializadas em cadeias musculares), é impositivo para o tratamento e interpretação com visão ortopédica.

Visam-se conceitos, o que permite o tratamento ortopédico e de reabilitação funcional nas lombalgias, sem recidivas.

A correção corporal e, a nosso ver, não a reeducação postu-ral, é que nos permite o uso funcional de cada estrutura.

Acreditamos que o aprendizado de sentar, dormir, e outros hábitos de vida, é desnecessário quando temos um corpo prepa-rado funcionalmente para as funções que nos propomos a fazer. Nas lombalgias e em outras afecções habituais, laborativas ou esportivas.

REFERÊNCIAS

Abreu AV, Mello AP, Trovão GS, Fontenelle CRC. Avaliação clínico-radiográfica da mobilidade da lordose lombar. Revis-ta Brasileira de Ortopedia. Out 2007.

Vialle LR, Vialle EM, Henao JES, Giraldo G. Hérnia Discal Lombar. Revista Brasileira de Ortopedia. 2010;45(1): 17-22.

Cecin HA. Sinal de Cecin (Sinal “X”): um aprimoramento no diagnóstico de compressão radicular por hérnias discais lom-bares. Revista Brasileira de Reumatologia. 2010; 50(1).

Almeida DB, Mattei TA, Sória MG, Prandini MN, Leal AG, Mila-no JB, et al. Dor lombar associada à vértebra de transição lom-bossacra: dificuldades no diagnóstico e manejo da síndrome de Bertolotti. Arquivos de Neuro-Psiquiatria. 2009; 67(2)a.

1 De Philippe Souchard.2 De Bernerd Redondo.

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145Tratamento farmacológico da dor - Novidades e questões polêmicas

Abordagem da Dor no Câncer*LUÍS GUSTAVO BAAKLINI

Docente do Ambulatório de Dor Oncológica / Faculdade de Medicina de Marília. Anestesiologista do Hospital Nove de Julho − São Paulo. Faculdade de Medicina de Marília – Famema.

Todas as pessoas em algum momento da vida terão dor, independentemente da causa.(2) A dor tem uma alta prevalên-cia entre os pacientes com câncer, podendo alcançar cerca de 90% dos doentes em estágio avançado.(3) Entretanto, segun-do revisão sistemática de van den Beuken-van Everdigen,(13) a prevalência da dor nesses pacientes apresenta-se menor (64%) que a dos relatos anteriores. É o sintoma mais comum e temido entre os pacientes oncológicos,(3,6) sendo muito frequente em pacientes terminais.(12)

O uso correto da escada analgésica da Organização Mun-dial de Saúde (OMS) promove alívio da dor em cerca de 90% dos doentes com câncer.(7) Na década de 1980, a OMS, reconhe-cendo a dor como um problema de saúde pública, lançou uma monografia (Cancer Pain Relief) direcionada ao avanço no ma-nuseio da dor oncológica.(6) Nos últimos 25 anos, mesmo com a evolução da escada analgésica da OMS e difusão de outros guidelines, os pacientes com câncer continuam sendo subtrata-dos para a dor.(6,13)

Multifatorial, a dor oncológica é resultado da invasão ou compressão tumoral em quase 70% dos pacientes. O próprio tratamento do câncer pode produzir plexopatias e neuropatias, induzidas pelos quimioterápicos e pela radioterapia, o que cor-responde a um quarto das causas.(3) A intensidade da dor é subje-tiva, porém necessita de avaliação quantitativa para o seu diag-nóstico e tratamento. As diversas escalas utilizadas para aferir a intensidade da dor propiciam uma melhor avaliação quando associadas. A classificação da dor é avaliada em relação ao tem-po, intensidade, características e localização.(2)

Existem instrumentos que servem para investigar a presença e graduar o subtratamento. Segundo Cleeland,(4) o Índice de Ma-nuseio da Dor (Pain Management Index) ou PMI é um método validado, que calcula a adequação do tratamento da dor baseado no guia da OMS, levando em conta a intensidade da dor e a po-tência (degrau) dos analgésicos utilizados.

Existem cinco recomendações da OMS sobre o correto uso de analgésicos para tornar o tratamento efetivo, não somen-te em pacientes oncológicos, como também no tratamento da

dor aguda e crônica não oncológica: 1) administração oral dos analgésicos, sempre que possível; 2) analgésicos usados em horários regulares; 3) analgésicos prescritos de acordo com a intensidade da dor, após avaliação das escalas de dor; 4) as do-ses das medicações que combatem a dor devem ser individuali-zadas; 5) pacientes e familiares precisam receber informações detalhadas sobre o uso dos analgésicos para melhor adesão ao tratamento.(14)

O uso da escada analgésica é simples, efetivo e relativamen-te seguro, e sua correta aplicação depende do conhecimento dos efeitos colaterais e interações medicamentosas dos opioides e adjuvantes.(6) Entretanto, esse uso tem sido alvo de críticas e des-confianças devido à falta de dados e evidências científicas que apoiem a aplicação dos três degraus da escada, além das limita-ções metodológicas dos diversos estudos que validam a escada analgésica da OMS.(7)

O preconceito de pacientes e familiares em relação ao uso de opioides, a falta de conhecimento dos profissionais de saúde no manuseio dos analgésicos e o receio do aparecimento dos efeitos colaterais são alguns dos fatores que contribuem para a má adesão ao tratamento e as prescrições inadequadas.(8) Apesar dessas barreiras, a escada analgésica da OMS continua sendo o sustentáculo para o tratamento adequado na dor do câncer,(3,5,10) com chances de sucesso de até 90%, segundo Jadad.(7) Por mais melhorias que possam ser feitas nesse guia, seu uso correto ain-da promove controle adequado da dor, por longos períodos, na maioria dos pacientes com câncer avançado, devendo ser en-corajada sua disseminação entre os profissionais de saúde para elevar o padrão de tratamento, antes da introdução de terapias sem comprovação científica.(10)

Uma minoria dos pacientes que utilizam morfina por via oral não obtém sucesso no tratamento, e quando isso ocorre é devido aos efeitos colaterais e/ou à analgesia inadequada.(10) É o opioide mais frequentemente usado no tratamento da dor no câncer, sen-do o opioide de escolha da OMS, amplamente conhecido entre os médicos, com diversas apresentações e formulações.(1,11) Ape-sar de nenhum estudo demonstrar claramente a superioridade de

* Não há conflito de interesses.

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um opioide sobre o outro, a morfina continua sendo referência no manuseio da dor oncológica.(1) Segundo McNicol,(9) a combi-nação de opioides fracos com analgésicos comuns tem benefício discreto em relação ao uso de qualquer um deles separadamente.

Uma rápida titulação dos opioides, com doses frequentes e intervalos apropriados, é a melhor maneira para promover alívio adequado da dor aguda. A bomba de Analgesia Controlada pelo Paciente (Patient Controlled Analgesia), PCA, facilita o alcance desse objetivo. Mesmo com infusão contínua de opioides, pode haver dor episódica ou transitória; neste caso, doses-resgates são fundamentais para o controle do quadro álgico.(12)

A troca ou rotação de opioides auxilia no controle da dor e na diminuição dos efeitos adversos. A dose ideal de cada opioide deve sempre ser almejada e específica para cada paciente, com maior cautela durante a conversão de altas doses. A realização de uma terapia individualizada continua sendo a chave para um melhor tratamento, minimizando o aparecimento de efeitos co-laterais e ampliando o poder analgésico dos opioides.(1,11)

Para maximizar o tratamento da dor oncológica, devemos utilizar uma abordagem multidisciplinar, com médicos, psicólo-gos, enfermeiros, fisioterapeutas e outros profissionais da saúde, tendo como objetivo, também, a melhora da qualidade de vida e a diminuição do sofrimento dos pacientes com câncer.(3) Um profundo conhecimento da farmacologia dos analgésicos e de terapias alternativas, somado à experiência clínica, é garantia de sucesso no tratamento da dor no paciente com câncer10. Apesar das recomendações da OMS, a dor no câncer continua sendo um grave problema de saúde pública.(3,13)

REFERÊNCIAS

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2. Carvalho DS, Kowacs PA. Avaliação da intensidade de dor. Migrâneas cefaleias 2006; 9(4):164-168.

3. Christo PJ, Mazloomdoost D. Cancer pain and analgesia. Ann NY Acad Sci 2008; 1138:278-298.

4. Cleeland CS, Gonin R, Hatfield AK et al. Pain and its tre-atment in outpatients with metastatic cancer. N Engl J Med 1994; 330: 592-596.

5. Deandrea S, Montanari M, Moja L, Apolone G. Prevalence of undertreatment in cancer pain. A review of published lite-rature. Ann Oncol 2008; 19:1985-1991.

6. Ferreira KASL, Kimura M, Teixeira MJ. The WHO analge-sic ladder for cancer pain control, twenty years of use. How much pain relief does one get from using it? Support Care Cancer 2006; 14:1086-1093.

7. Jadad AR, Browman GP. The WHO analgesic ladder for can-cer pain management stepping up the quality of its evalua-tion. JAMA 1995; 274:1870-1873.

8. Maltoni M. Opioids, pain, and fear. Ann Oncol 2008;19:5-7.9. McNicol E, Strassels S, Goudas L, Lau J, Carr D (2004).

Nonsteroidal anti-inflammatory drugs, alone or combined with opioids, for cancer pain: a systematic review. J Clin Oncol 22:1975-1992.

10. Mercadante S. Management of cancer pain. Intern Emerg Med 2010; 5 (Suppl 1):S31-S35.

11. Mercadante S, Bruera E. Opioid switching: A systematic and critic review. Cancer Treatment Review 2006;32:304-315.

12. Moyniham TJ. Use of opioids in the treatment of severe pain in terminally ill patients – Dying should not be painful. Mayo Clin Proc 2003; 78:1397-1401.

13. van den Beuken-van Everdigen MHJ, de Rijike JM, Kessels AG, Schouten HC, van Kleef M, Patijin J. Prevalence of pain in patients with cancer: a systematic review of the past 40 years. Ann Oncol 2007;18:1437-1449.

14. Vargas-Schaffer G. Is the WHO analgesic ladder still valid? Twenty-four years of experience. Can Fam Physician 2010; 56:514-517.

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147Tratamento farmacológico da dor - Novidades e questões polêmicas

Opções em Analgesia na Criança com Câncer*SANDRA CAÍRES SERRANO1 ● JOSÉ OSWALDO DE OLIVEIRA JR.2

1Pediatra. Neuropediatra. Clínica de Dor e Cuidados Paliativos. Médica Titular e Responsável pelo Serviço de Cuidados Paliativos do Hospital A.C. Camargo − São Paulo.

2Neurocirurgião. Titular e Chefe do Departamento de Terapia Antálgica, Cirurgia Funcional e Cuidados Paliativos da Escola de Cancerologia da Fundação Antonio Prudente – São Paulo.

A dor é um problema médico complexo que pode afetar o bem-estar físico e emocional de crianças e adolescentes. Feliz-mente, nas últimas duas décadas observamos interesse crescente pelo tratamento da dor em crianças e adolescentes de forma ge-ral, especialmente em crianças com câncer. A melhora signifi-cativa na sobrevida conquistada nas últimas décadas se associa a melhor qualidade de vida, o que envolve melhor controle de sintomas durante o tratamento oncológico agressivo (que envol-ve quimioterapia, radioterapia e cirurgia com intenção curativa ou paliativa). O tratamento oncológico frequentemente signifi-ca ciclos repetidos de quimioterapia, que se associam a efeitos adversos dolorosos. Além disso, o grande número de procedi-mentos terapêuticos e diagnósticos invasivos a que crianças e adolescentes são submetidos durante o tratamento oncológico aumenta a incidência de dor nessa população.

Estudos em crianças mostram graves e indesejáveis conse-quências do controle inadequado da dor sobre os sistemas car-diopulmonar, metabólico, hormonal, além do aspecto emocional relacionado.(1,2) Segundo Collins et al., 86,8% das crianças inter-nadas e 75% das crianças atendidas ambulatorialmente relatam dor em intensidade de moderada a intensa.(3) Segundo a WHO, 70% das crianças com câncer têm dor intensa em algum momen-to de seu tratamento, sendo tal dor frequentemente não reconhe-cida ou não adequadamente tratada.(4)

De forma didática, podemos identificar as seguintes situa-ções nas crianças e adolescentes com câncer:

− dor relacionada ao câncer,− dor relacionada a procedimentos diagnósticos,− dor relacionada ao tratamento da doença oncológica,− outras etiologias dolorosas não relacionadas ao câncer,− estado doloroso associado a infecção, resultando de ambos

os fatores (câncer-relacionado e tratamento relacionado à imu-nodeficiência).

As dificuldades inerentes à avaliação da dor em crianças, principalmente nas faixas de menor idade, sugerem taxas su-bestimadas. A dor do câncer afeta de forma diferente crianças e adultos. Os tumores sólidos causam diretamente dor com maior

frequência, sendo comuns em adultos e raros na infância. As leucemias e linfomas acometem principalmente crianças e cau-sam diretamente menos dor, mas requerem procedimentos mais dolorosos para seu diagnóstico e tratamento (coleta de líquido cefalorraquidiano e biópsia/punção de medula óssea).

Cada criança deve ser avaliada de forma diferenciada, pois se trata de um indivíduo com características únicas de desen-volvimento. Conceitos de multidisciplinaridade no combate ao câncer tornam seu tratamento cada vez mais integrado, valori-zando-se o trabalho multiprofissional, e o encaminhamento pre-coce dessas crianças aos poucos centros especializados em dor infantil. Situações predisponentes à dor, como incisão cirúrgica, mucosite, neuropatia secundária a irradiação de plexo nervoso, ao uso de medicações como vincristina ou ciclosporina, dor do membro fantasma, dermatite e/ou necrose cutânea secundária a irradiação ou extravasamento de quimioterápico, alterações ós-seas secundárias ao uso de corticosteroides (especialmente em coluna vertebral e quadril), cefaleia prolongada pós punção lom-bar e/ou quimioterapia intratecal, além de gastrite secundária a vômitos prolongados associados ou não a dano em mucosa de causa medicamentosa não devem ser subestimadas.

O fortalecimento de vínculos entre médicos, pacientes e fa-miliares é essencial ao tratamento, pois tanto a criança quanto seus familiares e cuidadores podem rejeitar ou dificultar o trata-mento oncológico pela antecipação e expectativa do sofrimento. A criança deve ser ao máximo protegida da experiência dolorosa relacionada a procedimentos diagnósticos, através de sedação, ou mesmo de técnicas anestésicas compatíveis com a complexi-dade do procedimento a ser realizado, preservando sempre seu bem-estar físico e mental.

O MANEJO DA DOR ONCOLÓGICA NA CRIANÇA

O manejo da dor relacionada ao câncer poder ser considera-do em três diretrizes básicas.(7,8)

I) Buscar o controle adequado da dor, ao mesmo tempo que se realiza a investigação diagnóstica, alivia a ansiedade e o medo relacionados ao não controle da dor e do sofrimento.

* Não há conflito de interesses.

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II) Instituir planejamento específico para o controle da dor. Considerar a efetividade do tratamento oncológico, uma vez que a regressão tumoral poderá resultar em alívio da dor. Considerar as circunstâncias clínicas nas quais o tratamento oncológico efetivo (ou parcialmente efetivo) não acarretará controle da dor. Opções visando o controle da dor através de intervenções como, por exemplo, radioterapia em múltiplos campos com metástases ósseas dolorosas disseminadas ou ci-rurgia exploratória em uma criança com doença refratária ma-ligna progressiva poderá ocasionar manejo subótimo da dor, além de riscos desnecessários à criança.III) Avaliação contínua da criança: reavaliações frequentes são necessárias no contexto de doença crônica e dinâmica (conside-rar condições clínicas, a escolha do tipo de tratamento instituído e a antecipação ou mesmo observação da eficácia/toxicidade do tratamento). Valorizar o comportamento da criança que vive a doença oncológica (regressão e/ou alterações comportamentais), alterações do sono dos pais, irritabilidade, medo, ansiedade, ab-senteísmo escolar, isolamento, alterações da imagem corporal, e perda da autoestima.

FARMACOTERAPIA ANTÁLGICA

Em 1982, a Organização Mundial de Saúde (OMS) reuniu um grupo de especialistas em Milão, com o objetivo de estabele-cer diretrizes para o manejo da dor oncológica. Assim, foram es-tabelecidas normas internacionalmente difundidas e aceitas para seu tratamento, enfatizando a administração oral de analgésicos em horários fixos regidos pela farmacocinética e a potência das drogas, sempre privilegiando o indivíduo – e que se tornou co-nhecida como a “Escada Analgésica” da OMS.(10,11,12,13)

Em 1993, a OMS, em conjunto com a International Associa-tion for the Study of Pain (IASP), organizou uma conferência in-ternacional sobre dor no câncer e cuidados paliativos em crianças, em virtude da necessidade de maior ênfase nos cuidados desta população. Em 1998 é publicado pela OMS, em colaboração com a IASP, o manual Cancer Pain Relief and Palliative Care in Children, com o objetivo de difundir diretrizes específicas para o controle da dor e outros sintomas angustiantes nesta população. A OMS considera que a Escada Analgésica deverá ser instituída na criança sempre que a dor se apresentar como afecção crônica, sem previsão de resolução precoce. Na criança com câncer, as orientações da OMS buscam organizar a assistência, relacionando o tratamento antitumoral (baseado em quimioterapia, radiotera-pia, e cirurgia) ao uso de politerapia analgésica e de abordagens não farmacológicas para controle da dor (através de técnicas de medicina física, relaxamento, hipnoterapia, etc.).(6)

O primeiro degrau da Escada Analgésica propõe que anal-gésicos simples e anti-inflamatórios não hormonais sejam uti-lizados na dor de intensidade leve. Estes podem ser associados ou não aos “adjuvantes da dor”, fármacos que implementam a eficácia analgésica e/ou tratam outros sintomas que eventual-mente exacerbam a dor (ex.: antidepressivos, fenotiazínicos, an-tieméticos, protetores gástricos, etc.), podendo ser utilizados em qualquer momento do tratamento. A analgesia obtida com o uso de anti-inflamatórios pode ser rápida, enquanto a proveniente dos adjuvantes pode tardar até três semanas após o início do uso, motivo pelo qual, a princípio, se costuma respeitar esse período antes de realizar modificações no esquema analgésico.

O segundo degrau da Escada Analgésica é atingido em caso de persistência ou aumento na intensidade da dor. Neste caso, deve-se adicionar ao esquema prévio um analgésico opioide fra-co, como codeína ou tramadol. Havendo persistência ou aumen-to na intensidade da dor, o terceiro degrau da Escada Analgésica é atingido, substituindo-se o analgésico opioide fraco por um analgésico opioide forte.

O paracetamol é um dos analgésicos simples de escolha na criança, com bom perfil de segurança, e dose recomendada de 10-15 mg/kg via oral a cada 6 horas. O Paracetamol é bem to-lerado em todas as faixas etárias pediátricas, embora existam relatos de possível hepato e nefrotoxicidade. O Ibuprofeno na dose de 5-10 mg/kg via oral a cada 6-8 horas e o Naproxeno na dose de 5 mg/kg, via oral a cada 8-12 horas também são usados na criança. Essas medicações apresentam atividade anti-infla-matória, mas também possuem efeitos adversos gastrointestinais e hematológicos.

Entre os derivados da pirazolona, atenção especial deve ser dada à dipirona (“Metamizol”), em função de suas comprovadas ações analgésica, antipirética, antiespasmódica e anti-inflamató-ria leve, na dose de 10-12 mg/kg via oral a cada 6 horas. A po-tente ação analgésica da dipirona é reforçada por duas proprie-dades valiosas: é facilmente solúvel em água, permitindo uso in-jetável, e possui excelente margem de segurança. A dipirona tem excelente ação antiespasmódica; estudos demonstram que doses terapêuticas de dipirona aplicadas por via parenteral exercem efeito relaxante (antiespasmódico) sobre a musculatura lisa do trato urinário inferior e das vias biliares.(9) Segundo estimativas do Estudo Internacional de Agranulócitos e Anemia Aplástica,(9) a incidência de agranulocitose depois de dose única de dipirona é de cerca de 1:1 milhão por ano, baseando-se nas observações de 23 milhões de pessoas em todo o mundo, durante vários anos.

Os chamados adjuvantes ou coadjuvantes da dor incluem diversas classes medicamentosas, entre as quais destacamos os

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antidepressivos tricíclicos, os neurolépticos e os anticonvulsi-vantes. Os antidepressivos tricíclicos atuam através da modifi-cação da reabsorção pré-sináptica de aminas das vias analgési-cas, tornando-as ativas nas fendas sinápticas por mais tempo, incrementando a função precípua (serotoninérgica, dopaminér-gica,…). A dose oral recomendada para a amitriptilina (droga padrão) na criança é de 0,2 a 0,5 mg/kg de peso corpóreo. Os efeitos colaterais dos antidepressivos tricíclicos ocorrem em função da ação anticolinérgica (confusão mental, aumento da pressão ocular, taquiarritmias, sialosquese, xerostomia, xerof-talmia, obstipação intestinal, entre outros). Já os neurolépticos, além de excelentes antieméticos, possuem efeitos analgésicos direto e indireto. Os neurolépticos são sedativos límbicos, o que pode resultar em hipo ou assimbolia da dor, diminuindo seu caráter afetivo, ou seja, de seu sofrimento agregado. A dose de seu fármaco padrão, a clorpromazina, é de 0,1 a 0,5 mg/kg a cada 6 horas.

As crises de dor intensa relacionada aos quadros neurálgi-cos são refratárias aos analgésicos comuns, anti-inflamatórios e opioides, contudo podem ser controladas pelo uso de anti-convulsivantes. Além disso, os anticonvulsivantes podem ser os substitutos de escolha para os antidepressivos em função de seu perfil mais favorável quanto aos efeitos colaterais. Entre os mais utilizados, destacamos a carbamazepina (dose inicial: 2 mg/kg via oral a cada 12 horas, observando cuidados espe-ciais nos casos de comprometimento da medula óssea: risco de mielotoxicidade adicional e hiponatremia), a oxcarbazepina (dose inicial: 3 mg/kg via oral a cada 12 horas), a gabapentina (dose inicial: 1,5 a 3 mg/kg via oral a cada 6 ou 8 horas), a difenil-hidantoína (dose inicial: 2,5 a 5 mg/kg a cada 12 horas; observar risco de disfunção de vias cerebelares, hiperplasia gengival, hirsutismo, etc.). Além desses, são importantes adju-vantes no controle da dor oncológica os psicoestimulantes, os anti-histamínicos e os sedativos.

A codeína e o tramadol são os chamados analgésicos opioi-des fracos. Na criança, entretanto, apenas a codeína mereceu a recomendação tácita por parte da OMS. É recomendado iniciar o seu uso com dose de 0,5-1 mg/kg via oral, a cada 3-4 horas nas crianças maiores de 6 meses de idade.(5)

Analgésicos opioides fortes são necessários para o alívio da dor oncológica intensa. São medicações efetivas e de fácil ma-nuseio na maioria das crianças, podendo ser utilizados isolada-mente ou em combinação com analgésicos não opioides e/ou drogas adjuvantes, dependendo da origem da dor. A morfina per-manece como “padrão ouro” no tratamento da dor oncológica; é rapidamente absorvida por via oral, mas apresenta baixa biodis-

ponibilidade (20 a 30%) em função do grande efeito de primeira passagem hepática. A morfina apresenta pico plasmático com grande variação interindividual (30-90 minutos após a ingestão, em adultos), sendo droga de excreção predominantemente renal. Na criança, sua dose inicial recomendada é de 0,15-0,3 mg/kg via oral, a cada 4 horas, titulada individualmente até que a dor seja aliviada. A farmacocinética da morfina varia em função da idade e características do metabolismo das crianças em função de sua faixa etária.(14) Em lactentes, opioides deverão ser admi-nistrados em ambientes que possibilitem a observação contínua e intervenção imediata em caso de depressão respiratória. Na impossibilidade da administração oral de morfina, sua infusão contínua intravenosa (IV) é iniciada com dose de 0,03 mg/kg por hora. De forma alternativa, doses intermitentes de 0,05- 0,1 mg/kg podem ser administradas a cada 2-4 horas através de um acesso subcutâneo ou endovenoso.(5)

A metadona é um opioide forte sintético de ação longa que pode ser utilizado na criança; contudo, seu uso exige ajuste e acompanhamento mais rigoroso da dose, em função de suas características de acúmulo e seu potencial para toxicidade. A dose oral inicial recomendada é de 0,2 mg/kg, mas o intervalo de dose efetivo pode variar de 4 a 12 horas. Caso ocorra so-nolência ou respiração superficial, a metadona deverá ser sus-pensa até que a criança esteja desperta e com normalização do padrão respiratório, e só então a administração deverá ser retomada em até 50% da dose anterior. A alcalinização da uri-na reduz a excreção de metadona, fato importante em alguns esquemas quimioterápicos.(5)

O fentanil é um opioide sintético 80 a 100 vezes mais potente que a morfina, sendo atualmente o único opioide disponível na apresentação transdérmica no Brasil, a qual prescinde da absor-ção gastrointestinal e da necessidade de manutenção de uma via injetável. Seus adesivos têm doses fixas de 25, 50 e 100 micro-gramas/hora, os quais possibilitam a liberação contínua da droga por 72 horas, com período de latência inicial para analgesia de 4 horas. O fentanil transdérmico não deve ser utilizado inicial-mente em crianças que nunca receberam opioide (“virgens de opioide”), ou em situações em que a dose total de opioide neces-sária para o controle da dor ainda não foi estabelecida.

No Brasil, encontra-se disponível a Oxicodona de Libera-ção Controlada, um analgésico opioide forte para uso a cada 12 horas. Os comprimidos de Oxicodona de Liberação Controlada não podem ser rompidos, o que torna seu uso restrito a crianças maiores e adultos jovens que consigam engolir o comprimido. A administração inicial recomendada (para crianças virgens de tratamento com opioides) é de 0,6-0,8 mg/kg a cada 12 horas.

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CONCLUSÃO

Na prática clínica são frequentes as situações em que a dor interfere na qualidade de vida e na recuperação das crianças situações em que paciente, família e equipe médica lutam contra o tempo, pois cada dia de descontrole de dor é uma pequena per-da diante do avanço da doença, gerando angústias, incertezas, isolamento e medo. A humanização da Medicina exige cada vez mais a busca por opções medicamentosas confortáveis, com efi-cácia e segurança. O avanço do conhecimento da fisiopatologia da dor crônica, da farmacologia e das consequências futuras da dor crônica sobre a personalidade em formação das crianças que sobrevivem ao câncer mostram a importância cada vez maior do controle da dor em oncologia pediátrica.

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Ziconotide e Canabinoides – Lições Aprendidas e o Momento AtualDURVAL CAMPOS KRAYCHETE1 ● MAIARA FERREIRA DE SOUZA2

1Professor Adjunto de Anestesiologia − Universidade Federal da Bahia. Coordenador do Ambulatório de Dor – Universidade Federal da Bahia. Diretor científico da Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor – SBED.

2Estudante de Medicina. Membro da Liga Acadêmica para o Estudo da Dor – LAED – Universidade Federal da Bahia.

Inúmeros estudos têm sido realizados nas últimas décadas no intuito de comprovar a eficácia e segurança de diversos agentes na terapêutica da dor, de modo que acarretem poucas reações adversas.

O ziconotide (C102H172N36O32S7),(3) analgésico não opioide

para uso intratecal,(19) é um análogo sintético do ω-conopeptídeo, componente do veneno do caramujo marinho Conus Magus, que utiliza essa substância para imobilizar suas presas.(3,9) Esse peptí-deo se liga com alta afinidade a canais de cálcio tipo N voltagem--dependentes (NVSCCs),(9) abundantes nas camadas superficiais

(lâminas de Rexed I e II) do corno dorsal da medula espinhal.(17) Os NVSCCs regulam o influxo de cálcio induzido pela despolari-zação neuronal e, dessa forma, todos os fenômenos subsequentes que sejam dependentes desse íon.(2) O bloqueio de canais de cál-cio tipo N induzido pelo ziconotide inibe, portanto, a liberação de neurotransmissores excitatórios dos terminais de neurônios afe-rentes primários,(16) produzindo efeito antinociceptivo.(11,12)

A administração intratecal (IT) do ziconotide é comumente utilizada na terapia da dor crônica moderada a intensa,(19) sendo bastante útil para pacientes intolerantes ou refratários a fárma-cos IT comuns, como a morfina.(13) A eficácia do ziconotide por essa via já foi demonstrada em alguns estudos preliminares rea-lizados em animais com dor aguda, persistente e neuropática.(17) Embora essa substância tenha sido aprovada nos Estados Unidos apenas para a monoterapia intratecal,(19) é frequentemente utili-zada, na prática clínica, em associação com outros fármacos (a exemplo da morfina, hidromorfona, clonidina, ou baclofeno).(19,9) Apesar de ser um analgésico de amplo espectro,(18) o ziconotide tem uma estreita janela terapêutica, em função dos seus efeitos adversos.(16) Parece ser particularmente efetiva em promover o alívio da dor em condições de dor neuropática intensa e síndro-me complexa regional.(20) No entanto, é apropriada apenas para pacientes que não sejam candidatos ideais ao uso de opioides, visto que também provoca efeitos adversos como náusea, vô-mito, confusão, hipotensão postural, marcha anormal, retenção urinária, nistagmo, sonolência, torpor, vertigem, fraqueza, pro-blemas visuais e elevação da creatina cinase sérica.(17)

Por outro lado, a Cannabis sativa é uma planta arbustiva que foi largamente utilizada ao longo da história para fins diversos,

como fabricação de papel e tecidos, entretanto, seu uso como droga recreativa é um fato.(10)

Os canabinoides endógenos são de uma família de lipí-deos bioativos capazes de ativar os receptores canabinoides, modulando a transmissão neural. Apesar de estarem presentes em pequenas quantidades no cérebro e outros tecidos, parti-cipam da regulação de várias funções cerebrais, incluindo a percepção da dor.(5,10,14) Compostos similares exógenos, sejam de origem natural ou sintética, reproduzem os mesmos efeitos.(10) Os canabinoides inibem a hiperalgesia e a alodinia induzidas pela dor neuropática, através de mecanismos específicos re-lacionados aos receptores CB1 e CB2.(14) Os receptores CB2, localizados principalmente em células do sistema imune, re-duzem a liberação de substâncias inflamatórias nas proximi-dades de neurônios nociceptivos.(10) Além disso, são capazes de estimular indiretamente a liberação de opioides endógenos. Os receptores CB1, cuja localização é pré-sináptica, inibem a atividade elétrica neuronal e a liberação de neurotransmissores nas terminações dos axônios.(15) Os receptores canabinoides e opioides possuem propriedades semelhantes quanto à transdu-ção de sinais.(4) Evidências de estudos moleculares e de sinali-zação celular sugerem que os sistemas canabinoide e opioide podem interagir sinergicamente para melhorar a analgesia.(8) Apesar de o efeito analgésico do canabinoide estar bem des-crito em animais de experimentação,(5,10,14) os dados relativos a estudos em humanos ainda são escassos. Os existentes su-gerem que o canabinoide pode ser uma opção no tratamento de pacientes com dor crônica não maligna,(6) mas não com dor nociceptiva aguda.(7) Estudos pré-clínicos indicam que agonistas de receptores CB2 podem ser considerados auxi-liares no tratamento da dor referente ao câncer, no sentido de reduzir os efeitos colaterais dos opioides. Tais agonistas parecem ser uma alternativa efetiva para o tratamento desses pacientes, sendo provável que aqueles que interagem tanto com receptores CB1 como com CB2 tenham vantagem tera-pêutica sobre os agonistas seletivos.(5,8)

Por outro lado, a Cannabis fumada seria eficaz no alívio da dor neuropática associada ao HIV, de modo semelhante aos me-dicamentos orais.(1)

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153Tratamento farmacológico da dor - Novidades e questões polêmicas

Uso da Lidocaína Venosa na Terapia da Dor: Farmacologia e IndicaçõesDURVAL CAMPOS KRAYCHETE1 ● MAIARA FERREIRA DE SOUZA2

1Professor Adjunto de Anestesiologia − Universidade Federal da Bahia. Coordenador do Ambulatório de Dor – Universidade Federal da Bahia. Diretor científico da Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor – SBED.

2Estudante de Medicina. Membro da Liga Acadêmica para o Estudo da Dor – LAED – Universidade Federal da Bahia.

A complexidade dos mecanismos fisiopatológicos que ex-plicam o início e a manutenção da dor dificulta, muitas ve-zes, a avaliação, o diagnóstico e o tratamento das síndromes dolorosas, que podem apresentar componentes inflamatórios, neuropáticos ou mistos. Desse modo, diversas são as classes de medicamentos utilizados no tratamento de pacientes com dor crônica na tentativa de reduzir a intensidade da dor e melhorar a qualidade de vida. Entre os anestésicos locais, a lidocaína [2-(dietilamino)-N-(2,6dimetilfenil) acetamida], uma base fra-ca com propriedades antiarrítmicas,(5) tem sido empregada para alívio da dor aguda e crônica.

A lidocaína altera a condutância transmembrana de cátions, principalmente do sódio, do potássio e do cálcio, tanto nos neurônios como nos miócitos.(5) Os canais de sódio voltagem--dependente constituem seus alvos clássicos e a afinidade do fármaco pelo canal é maior quando este se encontra aberto (ati-vado ou inativo).(5) Assim, o grau de bloqueio varia conforme a frequência da estimulação neuronal.(5,10) No entanto, outros mecanismos também estão envolvidos na analgesia proporcio-nada pela lidocaína, como a interação, seja direta ou indireta, com diferentes receptores e vias de transmissão nociceptiva, a exemplo do aumento da liberação de acetilcolina no líquor e ação em receptores muscarínicos (M3 pré-sináptico), ação em receptores de glicina ou da ação antagonista em receptores NMDA (N-metil D-aspartato).(8)

A ação da lidocaína por via venosa, então, é periférica e cen-tral, e os mecanismos, como dito anteriormente, são diversos. Sabe-se que os neuromas formados em locais de lesão de nervos periféricos possuem um acúmulo anormal de canais de sódio, o que deve ser um grande contribuinte da dor intensa produzi-da por tais lesões.(2) A hiperalgesia central, por outro lado, está relacionada a canais de sódio localizados nas terminações dos mecanorreceptores na medula espinhal e no gânglio da raiz dor-sal.(2) Os subtipos de canais de sódio em que a lidocaína parece atuar na dor são: 1) Nav 1,8 e 1,9 nos neurônios periféricos sen-sitivos; 2) Nav 1,7 nos neurônios sensitivos e do sistema nervo-so simpático; 3) Nav 1,3 nos neurônios periféricos lesados.(8,12) O bloqueio desses canais de sódio causa inibição da atividade neuronal espontânea e evocada, bem como a redução da hipe-

ratividade neuronal e da sensibilização central. Ocorre, assim, diminuição da dor espontânea, da disestesia, da hiperalgesia me-cânica e da alodinia mecânica.(2,8,12)

Além das ações anestésicas e antiarrítmicas, estas bem esta-belecidas, a lidocaína por via venosa também possui proprieda-des anti-inflamatórias significativas, pois, no local da lesão, pode reduzir a adesividade, a motilidade e a migração dos polimorfo-nucleares; inibir a liberação de citocinas, leucotrienos, histami-na e prostaglandinas; diminuir a produção e liberação de óxido nítrico, radicais livres e enzimas lisossomais; e alterar a tradução de sinal após ativação de receptores acoplados a PG.(6,7,8,12) Tam-bém pode ocorrer redução da liberação de substância P, de neu-rocininas, de aminoácidos excitatórios, de adenosina trifosfato (ATP) e tromboxano A2, ação glicinérgica inibitória ou aumento da liberação de opioides endógenos explicando a ação analgé-sica no nível do sistema nervoso central e periférico.(14) Além disso, a lidocaína, dependendo da dose utilizada, pode reduzir a lesão celular induzida por citocinas através de mecanismos en-volvendo canais de potássio mitocondriais sensíveis a ATP.(12)

Alguns autores sugerem que a concentração alvo entre 1 e 3 mcg.ml-1 ou menor que 5 mcg.ml-1 atenua a dor sem interferir na condução nervosa normal e com menor incidência de efeitos colaterais.(7,12) A dose média de lidocaína administrada na maio-ria dos estudos foi de 2 a 5 mg.kg-1, com níveis séricos variando de 2,94 ±0,31 mg, embora efeitos colaterais indesejáveis possam acontecer na faixa de 1,56 ± 0,61 μg.ml-1.(7) Outros estudos clí-nicos evidenciaram analgesia com 2 mg.kg-1 (administrado em 1 hora) de lidocaína e constataram que não há uma relação linear entre as concentrações plasmáticas ou no líquor do fármaco e o início ou a duração da analgesia.(8,12) O início de ação é, em média, entre 15 e 30 minutos após administração, com alívio da dor, que vai além do tempo de ação desse fármaco, podendo durar dias ou semanas.(12) A lidocaína por via venosa pode cau-sar sonolência, tontura, gosto metálico, cefaleia, visão borrada, parestesia, disartria, euforia, náusea, zumbido, moleza, tremor, agitação, convulsão, aumento do intervalo PR e alargamento QRS no eletrocardiograma e parada cardíaca.(5,9,10) Esses efeitos se instalam gradativamente e, ao mínimo sinal de intoxicação, o fármaco deve ser suspenso, estando o paciente monitorado

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e oxigenado.(9) A lidocaína é contraindicada em pacientes com arritmia, hipersensibilidade ao anestésico local, insuficiência cardíaca e coronariopatia.(5,10) Deve haver cautela para seu uso nas insuficiências hepática e renal, na bradicardia sinusal e no bloqueio incompleto de ramo esquerdo.(5,10)

A lidocaína por via venosa está indicada no alívio da dor neuropática periférica(11,13) e central,(4) no tratamento da fibro-mialgia(15) e da dor orofacial(1) e como adjuvante na dor de cân-cer(3) e de pós-operatório(12) e na esclerodermia.(7) Apesar de o controle da dor crônica ser difícil, muitos esforços vêm sendo direcionados para o desenvolvimento de fármacos eficazes na diminuição da intensidade da dor nesses pacientes e para pro-porcionar períodos mais longos de analgesia.

REFERÊNCIAS

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155Tratamento farmacológico da dor - Novidades e questões polêmicas

Cetamina em Dor Aguda e Crônica*

JOÃO BATISTA SANTOS GARCIAProfessor Adjunto Doutor da Disciplina de Anestesiologia, Dor e Cuidados Paliativos da Universidade Federal do Maranhão −

UFMA. Responsável pelo Serviço de Dor do Hospital Universitário da UFMA e do Instituto Maranhense de Oncologia.Presidente da Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor (SBED) 2011-2012.

A cetamina é um agente anestésico com propriedades anal-gésicas, de ação rápida, depressora do sistema nervoso central, que promove um efeito dissociativo, o qual pode provocar aluci-nações. É uma arilcicloalquilamina que se apresenta como uma mistura racêmica de dois isômeros opticamente ativos, os quais possuem propriedades farmacológicas diferentes. A cetamina S(+), o isômero levógiro, é em média duas vezes mais potente e apresenta um melhor índice terapêutico do que a cetamina R(-), o seu isô-mero dextrogiro.(15,20) É administrada tanto em anestesia pediátrica como em adultos e em idosos. É também frequentemente utilizada em anestesia veterinária.(15,20)

.O interesse pelas propriedades far-macológicas da cetamina e de suas várias formas de utilização é crescente, como na analgesia pós-operatória, no tratamento da dor crônica de origem somática e/ou visceral, e em doenças específi-cas como fibromialgia,(1,9,17) isso por causa de seu efeito antagonis-ta dos receptores N-metil-D-aspartato (NMDA).

Para haver ativação de receptores NMDA é necessária a remo-ção de Mg++ que bloqueia o canal no receptor. Esse bloqueio é removido por despolarização que ocorre com a ligação de taquici-ninas aos receptores. Com a abertura dos canais, resulta a despo-larização maciça, com entrada de Ca++ para dentro da célula.(17)

O aumento da concentração de Ca++ desencadeia uma cas-cata de eventos dentro da célula, responsável pela neuroplasti-cidade: translocação de proteinocinase, formação de NO (óxido nítrico) e expressão de genes como c-fos, c-jun, krox-24, jun-D, fos-B e outros. Produtos desses genes facilitam a producão de enzimas e neuropéptides e induzem alterações nas células. Me-canismos celulares múltiplos como ativação de receptores me-tabotrópicos para glutamato, ativação de canais de Ca++ (volta-gem-dependentes), óxido nítrico (NO), inibição de canais de K+ (voltagem ou Ca++ dependentes) e liberação de ácido aracdô-nico poderiam participar na plasticidade sináptica. O resultado é a amplificação e aumento da duração da resposta a estímulos, denominado wind up.(17) Os antagonistas de receptores NMDA, como a cetamina, podem ser usados para o tratamento da dor tendo como base fisiopatológica o exposto acima.

A cetamina pode ser administrada por diferentes vias: en-

dovenosa, intramuscular, oral, retal, intranasal, transdérmica, subcutânea e até intra-articular; no entanto, a via endovenosa é utilizada com mais frequência porque a concentração plasmática terapêutica é atingida mais rapidamente.(15,1,5) O uso da cetamina no neuroeixo tem sido realizado desde a década de 1970, com a administração da forma racêmica, com conservante, no espaço peridural.(16,18) Inicialmente, apareceram alguns casos sugestivos de comprometimento neuronal, o que levou à interrupção dos estudos em andamento; depois foi descoberto que a substância com potencial neurotóxico era o conservante (cloreto de benze-tônio e/ou clorabutanol) e não a cetamina racêmica em si.(16,18)

.

A avaliação do uso intratecal da cetamina racêmica, com conservante, em humanos, mostrou sinais de neurotoxicidade. Na verdade, o uso intratecal da cetamina racêmica, com e sem conservante, em humanos, sempre foi limitado por falta de in-formações consistentes quanto ao risco de toxicidade ao sistema nervoso central, tornando seu uso restrito aos casos de dor crôni-ca, em pacientes com câncer terminal e resistentes ao tratamento com opioides.(13,19) Trabalhos realizados em animais mostraram que a cetamina racêmica, sem preservativo, seria a mais indica-da para uso intratecal em seres humanos, pois o potencial neu-rotóxico por essa via também foi atribuído ao conservante.(2,7)

Após muitos anos, a cetamina apareceu na prática anestesio-lógica em sua formulação enantiômera levógira, oferecendo no-vas possibilidades, seja no controle da dor pós-operatória, seja na terapêutica dos processos dolorosos crônicos.(12,23) Os resulta-dos mostraram que a analgesia induzida pela cetamina S(+) no período pós-operatório, quando usada pela via endovenosa, foi eficaz, sendo que essa analgesia é dose-dependente e, quando as-sociada à morfina, apresentava resultados ainda mais animado-res.(10) Quanto ao uso intratecal da cetamina S(+), observou-se, no período transoperatório, redução na dose total do anestésico local utilizado e menor tempo de bloqueio motor.(11,14)

A utilização da forma levógira da cetamina pela via subarac-noidea é eficaz no tratamento da dor neuropática. O uso da ceta-mina S(+) pela via subaracnoidea foi relacionado a efeitos colate-rais menos intensos do que quando utilizada a cetamina racêmica

* Não há conflito de interesses.

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por essa mesma via, sem oferecer sinais de danos à medula.(21) Entretanto alterações histopatológicas importantes foram obser-vadas na medula espinhal de um paciente que recebeu cetamina S(+) sem conservantes pela via intratecal durante 28 dias para tra-tamento de dor oncológica. Esse foi o primeiro relato publicado de neurotoxicidade da cetamina S(+) em humanos.(22) Apesar da eficiência demonstrada, o uso da cetamina S(+) no espaço suba-racnoideo tem sido muito discutido, pois os resultados são con-traditórios em relação à toxicidade da substância, mesmo quando utilizada sem conservantes por essa via.(21)

Há estudos com a cetamina pelas vias intra-articular(5) em dor pós-operatória, com resultados promissores. As vias oral e transdérmica no tratamento da dor crônica têm se mostrado inte-ressantes,(3,8) porém necessitamos de mais trabalhos e evidências para sua recomendação na prática clínica.

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157Tratamento farmacológico da dor - Novidades e questões polêmicas

Novos Analgésicos para Tratamento da Dor Aguda: Nefopam, Tapendadol, e outros*

MARCOS ARISTOTELES BORGESMestre em Anestesiologia – Unesp. Especialista no Tratamento da Dor − SBA/AMB.

Faculdade de Medicina de Botucatu – Unesp.

NEFOPAM

O nefopam não é exatamente um fármaco novo, pois já exis-te há quase 40 anos. Foi desenvolvido no início dos anos 1970 como um fármaco antidepressivo e também foi utilizado como miorrelaxante no tratamento da espasticidade. Sua propriedade analgésica foi logo reconhecida, mas ainda não é completamente conhecida. Sabe-se que sua ação envolve os mecanismos espi-nhal e supraespinhal, incluindo a inibição da recaptação de do-pamina, serotonina e noradrenalina. Pode ser administrado por via venosa, intramuscular e oral.

O nefopam é um análogo cíclico da difenidramina e sua es-trutura é similar à orfenadrina. Sua meia-vida plasmática é de 3 a 5 horas e o pico de concentração plasmática ocorre após 15-20 minutos da administração venosa. Possui metabolismo de primeira passagem e, após este, sua biodisponibilidade é de apenas 40%. Sofre extensa biotransformação hepática para des-metilnefopam (que parece ser biologicamente ativo) e N-óxido-nefopam. A ligação às proteínas é de 75%, e a principal via de eliminação é renal (87%).

O nefopam tem sido amplamente utilizado em diversos paí-ses para o tratamento da dor aguda e crônica (oncológica e não oncológica), apesar de em alguns casos não haver ensaios clíni-cos. As publicações sugerem que, no perioperatório, 20 mg de nefopam foram equipotentes a 6-12 mg de morfina, ou 50 mg de meperidina. Alguns autores também relataram um efeito poupa-dor de morfina de 30-50%.

Efeitos adversos relatados incluem sonolência, náuseas e vô-mitos, e sudorese. Efeitos adversos mais graves compreendem confusão e taquicardia. Diferentemente dos anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs), o nefopam não apresenta efeito na fun-ção plaquetária e, contrastando com os opioides, este fármaco não parece aumentar o risco de depressão respiratória. Seu uso excede o de analgésico e há diversos artigos onde tem sido uti-lizado para o tratamento de soluços e tremores pós-operatórios.

Com relação ao uso do nefopam para tratamento da dor agu-da, algumas considerações foram realizadas:(1)

1. Os resultados indicaram que o consumo de morfina dimi-

nuiu em quase 30%, porém esse dado deve ser analisado com cautela devido ao número de estudos e de doentes envolvidos. O efeito poupador do nefopam pareceu ser maior que o do parace-tamol, mas similar ao da cetamina e ao dos AINEs. A despeito desse achado, não se encontrou evidência da redução dos efeitos adversos relacionados à morfina.

2. Houve redução estatisticamente significativa na intensida-de da dor em repouso em 24 horas. Como com o efeito poupador, este fato deve ser visto com cautela, devido ao pequeno número de ensaios clínicos. Essa eficácia foi considerada clinicamente relevante e novamente foi mais importante quando se comparou com o paracetamol, e similar à proporcionada pela cetamina e AINEs. A dor ao movimento, talvez a meta mais relevante neste contexto, foi relatada em apenas um estudo.

Com relação aos efeitos adversos, o nefopam demonstrou ser bem tolerado no geral. A incidência de sudorese aumentou com o uso de nefopam (1 em cada 13). A incidência de taquicardia também foi mais significante com o seu uso (1 em cada 7), o que é indesejável em doentes com função cardíaca limitada.

Concluindo-se, existe evidência de que o nefopam possa ser um adjuvante útil na terapia multimodal no pós-operatório. Mais pesquisas são necessárias a fim de se determinar sua dose-resposta, posologia, via mais adequada para o uso, assim como definir o per-fil dos efeitos adversos. A intensidade da dor deve ser quantificada em repouso, ao tossir e à movimentação. Também são importantes estudos em grupos específicos como a população pediátrica.

TAPENTADOL

Tapentadol é um novo analgésico oral de ação central apro-vado em novembro de 2008 pelo Food and Drug Administration para o tratamento da dor de moderada a forte intensidade. Seu mecanismo de ação envolve tanto a ativação do receptor mu--opioide quanto a inibição de recaptação da noradrenalina (apresenta também ação em outros sítios como inibição da recaptação da serotonina, mas em menor grau). Pode ser uti-lizado no tratamento tanto da dor aguda quanto da crônica em maiores de 18 anos.(2,3)

* Não há conflito de interesses.

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O tapentadol foi administrado por diversas vias (intraperi-tonial, venosa, oral, intracerebroventricular ou subaracnoidea) e demonstrou atividade analgésica (antinociceptiva, anti-hipe-ralgésica ou antialodínica) em diversos modelos animais de dor aguda nociceptiva, inflamatória persistente, visceral, mono e polineuropática.(2)

A potência do tapentadol situa-se entre a da morfina e a do tramadol na maioria dos modelos experimentais em animais de dor aguda e crônica. É rapidamente absorvido pela via oral, mas possui baixa biodisponibilidade (cerca de 30% em jejum e 40% após alimentação), devido ao extenso metabolismo de primeira passagem. O estado de equilíbrio das concentrações séricas foi alcançado após 24 horas, quando se administrou o fármaco em intervalos de 6/6 horas. O tempo médio para se alcançar o pico plasmático foi de 1,45 horas.(2) Tapentadol é metabolizado por glucoronidação a metabólitos inativos (97%), sendo seu princi-pal metabólito o tapentadol O-glicuronídeo. O tapentadol e seus metabólitos são excretados na sua maior parte pelo rim (95% em 24 horas).(2,3)

Sua eficácia analgésica in vivo foi avaliada em doentes submetidos a cirurgias ortopédicas (bunionectomia) e no trata-mento da dor musculoesquelética (lombalgia). Nesses estudos apresentou eficácia analgésica superior à do placebo e eficácia analgésica dose-dependente em relação à oxicodona. A princi-pal deficiência nos estudos sobre dor pós-operatória foi avaliar apenas a dor em repouso; não houve menção de seu impacto na dor a movimentação. Essa lacuna, assim como outros pontos obscuros, demanda a realização de mais ensaios clínicos para se avaliar melhor a eficácia analgésica do tapentadol.(2,3)

Seus principais efeitos adversos (náusea, vômitos, consti-pação, tonturas, sonolência cefaleia e prurido) são consistentes com os apresentados por outros fármacos analgésicos mu-opioi-des de ação central. Os estudos avaliaram a incidência de efeitos adversos em até 90 dias de tratamento e, portanto, estudos de prazo mais longo são necessários a fim de se estabelecer a segu-rança desse fármaco no tratamento da dor crônica.

As doses recomendadas são de 50, 75 ou 100 mg a cada 4-6 horas, dependendo da intensidade da dor. A despeito disso a se-gunda dose pode ser administrada 1 hora após, se não for obtido adequado alívio da dor após a primeira. Pode ser administrado junto com as refeições ou em jejum. Doses diárias maiores que 700 mg no primeiro dia ou 600 mg nos dias subsequentes não foram estudadas e, portanto, não são recomendadas.

É contraindicado em pacientes com função pulmonar seria-mente prejudicada, em indivíduos em uso de inibidores da mo-noamino oxidase (ou que tenham usado há menos de 14 dias)

e também em doentes com suspeita de íleo paralítico. Não há necessidade de ajuste de dose em doentes com função renal ou hepática pouco prejudicada. Nos casos em que essas insufici-ências são moderadas, o uso deve ser cauteloso. Devido à falta de estudos não é recomendado administrar tapentadol a doentes com insuficiência renal ou hepática grave. Em indivíduos ido-sos, recomenda-se iniciar o tratamento com doses mais baixas.

PREGABALINA

A pregabalina é estruturalmente análoga ao neurotransmissor inibitório ácido gama aminobutírico, mas funcionalmente não exerce o mesmo papel dele. Ela se liga à subunidade α-2-δ dos canais de cálcio voltagem dependente, diminuindo a liberação de vários neurotransmissores excitatórios, e bloqueia o desen-volvimento de sensibilização central. Possui propriedades anti--hiperalgésicas, anticonvulsivantes e ansiolíticas similares às da gabapentina, mas tem um perfil farmacocinético mais favorável, incluindo absorção independentemente da dose. Estudos em animais demonstraram que a pregabalina possui potência anti-convulsivante três a 10 vezes maior que a gabapentina e duas a quatro vezes maior potência analgésica no tratamento da dor neuropática. Nos últimos anos a pregabalina foi introduzida como um adjuvante para a analgesia multimodal pós-operatória.

Em metanálise recente(4) demonstrou-se que a administração perioperatória de pregabalina não reduziu a intensidade da dor nas primeiras 24 horas, apesar de se encontrarem diferenças sig-nificativas nos estudos individualmente. No entanto, o consumo de opioides foi significativamente reduzido pela pregabalina nas primeiras 24 horas, o que sugere um efeito poupador de opioides semelhante à gabapentina. A pregabalina reduziu a incidência de vômitos pós-operatórios, mas esteve associada a maior incidên-cia de distúrbios visuais após a cirurgia.

A incidência de vômitos no pós-operatório foi significativa-mente menor com a utilização de pregabalina. Isso pode estar relacionado com a diminuição do uso de opioides após cirurgia e a consequente redução de opioides relacionados com efeitos adversos. A incidência de distúrbios visuais, no entanto, foi sig-nificativamente maior no grupo de pregabalina. Havia também mais pacientes com sedação, tonturas e dor de cabeça no grupo da pregabalina, embora sem diferenças significativas estatistica-mente. Esses efeitos colaterais são bem conhecidos e têm sido relatados em vários ensaios clínicos de dor crônica. Os efeitos colaterais também podem influenciar o uso de opioides, pois é possível que os pacientes mais sedados no grupo pregabalina tenham usado menos opioides.

Algumas das limitações dessa metanálise foram a grande varia-

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159Tratamento farmacológico da dor - Novidades e questões polêmicas

bilidade entre os estudos (tipo da cirurgia, posologia da pregabalina, técnica anestésica) e o uso de outros adjuvantes analgésicos no tra-tamento da dor pós-operatória. Novos estudos devem investigar a eficácia analgésica da pregabalina em cirurgias de maior porte e seu efeito na redução da incidência de dor crônica pós-cirúrgica.

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Sistemas de Liberação Prolongada de Analgésicos: As Inovações Farmacotécnicas e suas Vantagens em Relação às Apresentações Antigas*

CARLA CERES VILLAS MIRANDAMédica Neurocirurgiã formada pela Universidade Federal Fluminense, com Área de atuação em Dor e Neurocirurgia Funcional

− Hospital Municipal José de Carvalho Florence – São José dos Campos – SP.

INTRODUÇÃO

A Medicina tem um desafio antigo, que é dispor de drogas, para tratamentos e profilaxias, que sejam eficazes, seguras e com os me-nores efeitos adversos. Nas últimas décadas, a indústria farmacêuti-ca sofreu grande impacto, com a tecnologia para novas formulações de fármacos, que aos poucos vem atingindo esse objetivo.

Atualmente dispõe-se de drogas de liberação prolongada, também denominadas cronogramadas, controladas ou sustenta-das. O advento desses fármacos trouxe benefícios tão importan-tes, que deixa no esquecimento as suas possíveis desvantagens. Do mesmo modo que a ciência pesquisou, descobriu e criou medicações para fins e patologias específicas, o estudo de suas formas de administração tornou-se de grande motivação para a indústria farmacêutica. A chamada nanotecnologia vem trazen-do seus avanços, não só em áreas distantes da medicina; e é a grande responsável por todas essas inovações farmacológicas.

NANOTECNOLOGIA E NANOBIOTECNOLOGIA

Nanotecnologia é a tecnologia que se utiliza de materiais funcionais, dispositivos e sistemas, através do controle da maté-ria, na escala de nanômetro (1 milionésimo do milímetro, ou 1 bilionésimo do metro), ou seja, de estruturas moleculares. Nano é o prefixo grego que significa “anão”. A nanobiotecnologia combina a nanotecnologia com a biomedicina, que é a base para todas as formulações de drogas que serão tratadas a seguir.

A partir desse conceito, cresceu a confecção de novas formas, para administrar os fármacos, procurando maior eficácia e melhor potencialidade. Foram assim desenvolvidas maneiras de encapsula-mento dos fármacos como meio de fazer veicular a substância ativa pelo organismo, podendo liberá-la no local certo e com tempo deter-minado de horas, dias, semanas ou meses. Esse encapsulamento pode ser feito de diferentes formas, como veremos adiante, de modo que as nanopartículas podem circular no trato gastrointestinal, liberando o ativo gradativamente e em alvos específicos. Esse sistema pode ser usado na administração oral, por inalação, pela pele (adesivos, patchs), por injeções com agulhas ou ainda sem agulhas, o Powderjet (tecnologia semelhante à das impressoras de jato de tinta).

As nanopartículas, na liberação controlada de fármacos, existem então em três tipos de estruturas diferentes: 1) Matrizes poliméricas − Sistemas monolíticos ou multiparticulados (nano-esferas): a droga está totalmente dispersa ou dissolvida homoge-neamente na matriz, a qual é geralmente um polímero; 2) Siste-mas reservatórios (nanocápsulas): são sistemas de reservatórios, identificando-se um núcleo sólido ou líquido, com a substância envolvida por uma membrana, polimérica, isolando o núcleo do meio externo; 3) Bombas osmóticas: utilizam-se de pressão os-mótica para liberar o fármaco, existindo um núcleo, que pode ser comprimido, cápsula gelatinosa (dura ou mole), revestida por uma membrana semipermeável que contém um orifício feito a laser.

FUNCIONAMENTO DOS SISTEMAS DE LIBERAÇÃO PROLONGADA

1. Como vimos, os medicamentos necessitam de um veícu-lo para serem administrados e o desenvolvimento de matrizes poliméricas, biodegradáveis, ou seja, que degradam in vivo, em fragmentos menores, que podem ser excretadas pelo corpo, di-minuem a toxicidade, não havendo, consequentemente, resposta inflamatória.

1a − Matriz insolúvel – a água presente nos fluidos do trato gastrointestinal penetra na forma farmacêutica (FF), dissolven-do o fármaco. São formados canais na estrutura da matriz, e o fármaco então é liberado gradualmente por difusão.

1b − Matriz hidrofílica − a água presente no trato gastroin-testinal penetra na superfície da FF, hidrata o polímero, que intu-mesce e forma uma camada gelificada. O fármaco nessa camada dissolve e se difunde a partir da matriz ou é liberado quando ela sofre erosão. Quando a camada gelificada eclode, expõe a super-fície da forma farmacêutica novamente, e o processo se repete.

2. Sistema de reservatório: a água penetra na FF e dissolve o fármaco, o qual se difunde através da membrana de revestimen-to presente na superfície desta.

3. Bomba osmótica-push-pull − a água penetra na FF por osmose, desintegra o núcleo e intumesce o polímero hidrofílico. A expansão da camada osmótica (polímero hidrofílico) promove a liberação do fármaco através do orifício de revestimento.

* Não há conflito de interesses.

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VANTAGENS DOS SISTEMAS DE LIBERAÇÃO PROLONGADA DE ANALGÉSICOS

Antes de falarmos das vantagens dos sistemas de liberação prolongada, é preciso recordar como funcionam os sistemas convencionais.

Os fármacos analgésicos, para agirem naquilo que lhes foi pro-posto, necessitam que seu composto ativo atinja o alvo esperado. Assim, foram criadas diversas formas de veículos para administra-ção de drogas analgésicas: comprimidos, cápsulas, xaropes (oral), líquidos (injetáveis), géis, etc. As formas de liberação convencio-nais de fármacos analgésicos, quando administradas, são liberadas rapidamente, atingindo um nível plasmático a partir do qual o efeito desejado é atingido. De acordo com cada droga, será alcançado um pico máximo de concentração, após minutos ou horas, que então decrescerá, havendo retorno da dor. O objetivo básico dos sistemas de liberação sustentada é poder manter por maior tempo o efeito terapêutico da droga com os menores efeitos lesivos.

Os medicamentos de liberação controlada, ou drug delivery systems, proporcionam:

1- Maior eficácia terapêutica: mantêm os níveis séricos plas-máticos por tempo mais prolongado, reduzindo as oscilações na concentração sanguínea.

2- Menor reação inflamatória local (gastrorresistentes), com maior segurança.

3- Direcionamento a alvos específicos, com menos efeitos adversos.

4- Menor número de doses com melhor aderência do pacien-te ao tratamento.

5- Menor risco de dose dumping: a probabilidade de libera-ção rápida do fármaco, com absorção de dose maior que a espe-rada por algum defeito no revestimento do produto, é pequena, pois ele está dividido em muitas subunidades, sendo quase im-possível que o defeito esteja em todas elas.

6- Melhor esvaziamento gástrico: a biodisponibilidade de fármacos de liberação prolongada não depende do tempo de esvaziamento gástrico porque esses sistemas multiparticulados têm o trânsito do estômago para o delgado mais bem programa-do, pois as subunidades passam sem dificuldade pelo piloro, sem retenção no estômago.

7- Possibilidade do uso de substâncias incompatíveis, numa mesma forma farmacêutica, pois são utilizadas subunidades de cada um dos fármacos, não havendo contato entre elas.

8- Diversas vantagens tecnológicas, com maior facilidade de confecção do produto.

CONCLUSÃOA classe de fármacos mais estudada nos últimos tempos talvez

seja a de analgésicos, pois sabe-se que a dor é a queixa que mais

leva o paciente a procurar atendimento. Inúmeros laboratórios lançam novidades nesse campo da liberação prolongada, sendo os opioides e Aines as inovações mais recentes lançadas no mercado. Já se dispõe de analgésicos opioides com liberação controlada a cada 12 horas, como a morfina e a oxicodona; de 24 horas, como a hidromorfona; patchs de fentanila com 72 horas, patchs de bu-prenorfina recém-lançados no Brasil com duração de 7 dias, etc. Ainda assim, o Brasil tem a necessidade de importar vários desses medicamentos, caminhando lentamente para a sua produção, jun-to com laboratórios estrangeiros.

Em relação aos fármacos de liberação prolongada, cabe tam-bém aqui avaliarmos suas desvantagens, que seriam principal-mente a interrupção rápida do tratamento quando há efeitos adver-sos importantes, intoxicação, principalmente nas formas orais; o alto custo dos estudos, pois é necessário avaliar a variação dessas medicações de acordo com cada caso, e variações de indivíduo para indivíduo, pela idade, presença de outras patologias que in-terfiram na farmacodinâmica e farmacocinética da medicação; e o alto custo para desenvolver materiais biodegradáveis.

O Brasil vem alcançando, nos últimos anos, certa posição, ainda que discreta, no meio internacional, pois mostra-se um mercado promissor na indústria farmacêutica da pesquisa.

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farmacêuticas e sistemas de liberação de fármacos. 6.ed. São Paulo: Premier, 2000. 568 p.

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Αlfa 2-agonistas em DorDURVAL CAMPOS KRAYCHETE

Professor Adjunto de Anestesiologia − Universidade Federal da Bahia. Coordenador do Ambulatório de Dor – Universidade Federal da Bahia. Diretor científico da Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor – SBED.

Os alfa 2-agonistas como a xilazina, a clonidina, a romi-fidina, a detomidina, a medetomidina e a dexmedetomidina são fármacos que possuem ação seletiva agonista pré e pós- pré e pós--sináptica em receptores α2 no sistema nervoso central (nas terminações nervosas do aferente primário, no corno dorsal da medula espinhal e no tronco cerebral). Esses agentes es-tão indicados no tratamento da dor aguda, mais como adju-vante do que como um fármaco isolado, e não há evidência do seu emprego no alívio da dor crônica.(10) O efeito analgésico é decorrente da inibição da adenilciclase e de canais de cálcio voltagem dependente e do aumento do tempo de abertura de canais de potássio. Isso provoca a supressão da liberação de neurotransmissores excitatórios e da excitação neuronal em áreas do sistema nervoso central relacionadas à percepção da dor.(5) Há, também, interação com vias colinérgicas, visto que a administração subaracnoidea de clonidina aumenta a concen-tração de acetilcolina em carneiros e em humanos.(3) A seleti-vidade α2 /α1 é de 160 para xilazina, de 220 para clonidina, de 260 para a detomidina e 1620 para medetomidina e dexmede-tomidina. Assim, cada um desses fármacos deve ser utilizado com cautela, dependendo da situação clínica, pois também in-duzem a alterações fisiológicas e comportamentais (Tabela 1)

em diversos subtipos de receptores (α2A, 2B e 2C),(7,9) como sedação excessiva e ataxia. Além disso, promovem hipnose e neuroproteção, assim como modulam a liberação de adrenalina da adrenal, o humor e a atividade locomotora. A estimulação de receptores α-2 adrenérgicos pós-sinápticos no tronco cere-bral e na coluna intermediolateral da medula espinhal provoca hipotensão arterial e bradicardia. A sedação é decorrente da ativação desses receptores no locus cerúleos.(7,9) Do ponto de vista cardiovascular, ocorre aumento inicial da pressão arte-rial (ação pós-sináptica em receptores α2-B) seguido de redu-áptica em receptores α2-B) seguido de redu-) seguido de redu-ção da frequência cardíaca, da resistência vascular sistêmica (ação pré-sináptica em receptores α2-C) de uma queda do dé-bito cardíaco, da frequência respiratória e da PaO2.

(11) Esses efeitos estão relacionados a dose e a concentração plasmática. Os α2-agonistas, quando administrados em doses equivalen-tes, possuem pequenos volumes de distribuição (0,5 a 1,6 L/kg) e meia-vida (MV) em torno de 1,5 horas. O efeito analgé-sico ocorre aproximadamente com 30 minutos, com duração em média de 45 minutos.(12) Em relação ao uso por via espi-nhal,(4) a clonidina é rapidamente absorvida do espaço peri-dural para o líquor e para a circulação sistêmica. A potência da clonidina por via intratecal é seis vezes maior que a por

Tabela 1. Efeitos fisiológicos da ação de α2-agonistas em vários subtipos de receptores

Tipo de receptor Ação

α2 pré-sináptico

Inibição da liberação de adrenalina e noradrenalina

Vasodilatação (α2A e 2C)

Redução da motilidade gastrintestinal (α2A)

Gastroproteção (α2B)

Inibição da liberação de substância P

α2 pós-sináptico

Sedação (α2A)

Analgesia (α2A e 2B e 2C)

Alteração de comportamento (α2C)

Vasoconstrição (α2B)

Inibição da liberação de insulina (α2A e 2C)

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via peridural para inibir a dor aguda e duas vezes maior para suprimir a hiperalgesia mecânica. Existe forte correlação entre concentração de clonidina no líquor e analgesia, entretanto o mesmo não acontece para clonidina plasmática.(12) A concen-tração de clonidina no líquor, que provoca 95% de analgesia após aplicação de estímulo nocivo na extremidade inferior, é de 130 mcg/ml. A administração de clonidina como fármaco único em doses de 450 mcg por via espinhal não leva a analge-sia cirúrgica e quando promove analgesia para pós-operatório de parto ou cesárea provoca, nessas doses, hipotensão arterial e sedação.(4,12) Na prática clínica, a clonidina é utilizada com anestésicos locais, com ação sinérgica e aditiva, intensificando o bloqueio sensorial e motor em torno de 1 hora. Doses por via subaracnoidea entre 75 a 225 mcg (média de 146 mcg) são efe-tivas quando associadas a anestésico local (13,75 a 15 mg de bupivacaína). Os efeitos hemodinâmicos da clonidina iniciam com 30 minutos, chegam ao máximo com 1 a 2 horas, e duram aproximadamente 8 horas após injeção única. Doses por via subaracnoidea entre 15 e 45 mcg produzem analgesia sem al-terações hemodinâmicas.(4,12) A potência analgésica e a eficácia máxima decorrente da administração de clonidina por via es-pinhal (peridural ou raquianestesia) dependem da etiologia da dor que se pretende tratar. A morfina associada a clonidina por via espinhal também provoca ação sinérgica e aditiva e parece modular a tolerância aguda após infusão contínua de opioide, atuando em receptores NMDA (N-metil-D-aspartato).(5) A adição de 4,5 mcg/ml de clonidina a 0,625 mg/ml de bupivacaína e a 2 mcg/ml de fentanil por via peridural para analgesia de parto é eficaz. Para analgesia pós-operatória a administração peridural de 9 mg/hora de bupivacaína associada a 20 mcg/hora de fentanil e 5 mcg/hora de clonidina parece satisfatória. Deve-se reduzir a quantidade de fentanil por fator de 4. Infusões de 20 mcg/hora de clonidina por via peridural para pós-operatório de cirurgias abdominais ou torácicas pode provocar hipotensão arterial que necessita de vasopressor. Em infusões por via peridural lom-bar, a clonidina pode reduzir a necessidade de anestésico local, reduzindo o bloqueio motor.(4) A dexmetedomidina, apesar de mais lipofílica e de possuir maior afinidade por receptores α-2 adrenérgico, provoca mais hipotensão arterial e não oferece maior vantagem sobre a clonidina.(6) Por outro lado, não existe relato de depressão respiratória ou bloqueio motor com esses fármacos. Em relação ao uso por outras vias, a injeção intra--articular de α2-agonistas promove analgesia através da ação em receptores α2A, inibindo a liberação de noradrenalina no local, estimulando a liberação de encefalinas e por efeito dire-to anestésico local no aferente primário de fibras A- δ e C.(1,13)

Os estudos dos α2-agonistas em anestesia regional foram mais utilizados com clonidina para bloqueio do plexo braquial pela via axilar e interescalênica, do nervo ciático e femoral e do pé. A clonidina melhorou a qualidade e a duração da analgesia quando se utilizou anestésico local de curta duração (lidocaí-na).(2,13) A associação com anestésicos locais de longa duração foi benéfica em alguns estudos.(8) Também a clonidina pode reduzir a dose e a concentração de anestésico local em infusões contínuas via cateter. Esse efeito aditivo ao anestésico local pode ser explicado pela ação direta no nervo e no sistema ner-voso central, ou pelo efeito vasoconstritor que permite maior ação do anestésico local.(2)

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Canabinoides: Evidências e Controvérsias no Tratamento da Dor NeuropáticaDURVAL CAMPOS KRAYCHETE1 ● MAIARA FERREIRA DE SOUZA2

1Professor Adjunto de Anestesiologia − Universidade Federal da Bahia. Coordenador do Ambulatório de Dor – Universidade Federal da Bahia. Diretor científico da Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor – SBED.

2Estudante de Medicina. Membro da Liga Acadêmica para o Estudo da Dor – LAED – Universidade Federal da Bahia.

Os canabinoides, apesar de utilizados há milhares de anos, apenas recentemente têm sido criticamente avaliados em ensaios clínicos.(16) Alguns estudos constataram que essas substâncias são seguras e eficazes no alívio da dor neuropática, embora ain-da seja necessário examinar a ação dos canabinoides em popula-ções homogêneas.(1,9) É importante também enfatizar que a utili-zação dos canabinoides é limitada por seus efeitos psicoativos.(17) Trabalhos realizados com modelos murinos demonstraram que a inibição da hiperalgesia e da alodinia ocorre, provavelmente, através da ativação de receptores CB1(CB1R), CB2 (CB2R)(12)

e os moduladores do metabolismo endocanabinoide.(4) Por outro lado, os efeitos colaterais mediados pelo receptor CB1 (CB1R) poderiam ser evitados por meio de agonistas CB1R com pene-tração limitada no SNC.(17)

Em relação à cannabis fumada, poucos ensaios aleatórios foram realizados até o momento.(3) Um breve estudo em 50 pa-cientes com neuropatia associada ao HIV evidenciou resultados positivos na redução da hiperalgesia e da intensidade da dor, que foi de 30% (vs 15% no placebo). Isso quando o período de tratamento foi de apenas 5 dias.(1,9) Em outro estudo semelhante, a cannabis foi associada a uma diminuição dos escores de dor de intensa para leve a moderada quando fumada quatro vezes ao dia por 5 dias consecutivos durante o tratamento em dois momen-tos distintos, separados por intervalo de 2 semanas.(6) Apesar das evidências de sua eficácia, permanece extremamente imprová-vel a aprovação da cannabis bruta como medicamento de pres-crição pela FDA.(14)

Na França, dois estudos realizados com dronabinol oral (THC, comercializado em forma sintética como Marinol®)(13) para dor neuropática crônica em sete(2) e oito indivíduos, respec-tivamente, não houve benefício significativo na dor ou outros parâmetros, mas resultaram em efeitos adversos, exigindo, por várias vezes, a interrupção do experimento com doses médias entre 15 e 17 mg de THC. Nabilona é um análogo dimetil-heptil sintético de THC que apresenta maior potência e meia-vida pro-longada.(8) Embora desenvolvida primeiramente para outros fins, há relatos de efeitos analgésicos desse fármaco em casos de dor neuropática, sendo a disforia e a sedação efeitos adversos fre-quentes.(11)

Outro análogo dimetil-heptil sintético, o ácido ajulêmico, foi empregado em 21 indivíduos durante um ensaio clínico rando-mizado fase II, com melhora da dor neuropática periférica.(7) O grau de comprometimento psíquico associado a esse agente, no entanto, ainda é desconhecido.(5)

O Sativex®, spray bucal derivado de cannabis, que combina basicamente um agonista parcial CB1 (THC) com um modula-dor do sistema canabinoide (CBD), é um produto farmacêutico altamente padronizado que foi aprovado pela Health Canada em 2005 para o tratamento da dor neuropática central decorrente da esclerose múltipla.(15) A eficácia do Sativex® no alívio da dor já foi comprovada em alguns ensaios clínicos, incluindo a neuro-patia periférica.(10)

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167Tratamento farmacológico da dor - Novidades e questões polêmicas

Relevância Clínica da Imunossupressão Induzida por OpioidesANGELA MARIA SOUSA

Mestre em Farmacologia pela USP. Doutora em Anestesiologia pela USP. Título Superior em Anestesiologia pela SBA. Certificado de Atuação na Área de Dor AMB.

Afiliada ao Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, Instituto Central do Hospital das Clínicas-FMUSP.

O efeito imunossupressor, bem como imunomodulador, da morfina é conhecido há mais de um século. Pesquisas recentes em biologia molecular, incluindo experimentos com clonagem de receptores e estudos em animais desenvolvidos especialmen-te para não expressar receptores opioides, favorecem a difusão e o esclarecimento sobre a importância do fato. Existe um sig-nificativo número de publicações médicas que documentam os efeitos adversos da imunossupressão induzida por morfina e discussão sobre a potencial utilidade clínica imunossupresso-

ra. Estudos in vivo e in vitro relatam efeito anti-inflamatório, antifibrótico, antitumoral, cárdio e renoprotetor. Por outro lado, outros estudos relatam efeitos adversos da imunossupressão por opioides em favorecer a disseminação tumoral em animais. Mais recentemente, recorrência tumoral em determinados tipos de câncer é bastante discutida na literatura. O objetivo da palestra é discutir os aspectos clínicos mais relevantes no que concerne à imunomodulação opioide em relação à recorrência tumoral em animais e humanos.

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Injeção Epidural na Dor Lombar e nas Radiculopatias:Como, o quê, quando e se?*

ANDERSON DE ALBUQUERQUE SEIXAS1 ● JOSÉ OSWALDO DE OLIVEIRA JR.2 ● RÔMULO ALBERTO SILVA MARQUES3 ● PEDRO ANTONIO PIERRO NETO3

1Neurocirurgião do Hospital Estadual de Sumaré da Unicamp.2Neurocirurgião. Docente Responsável e Diretor do Departamento de Terapia Antálgica, Cirurgia Funcional e Cuidados

Paliativos da Escola de Cancerologia da Fundação Antônio Prudente de São Paulo.3Neurocirurgião. Aprimorando em terapêutica antálgica, cirurgia funcional e cuidados paliativos da Escola de Cancerologia

“Celestino Bourroul” da Fundação “Antônio Prudente” de São Paulo.

INTRODUÇÃO

A dor lombar, com ou sem ciática, constitui uma das mais comuns queixas do ser humano, assim como um dos principais motivos de afastamento do trabalho e incapacidade.

Os tratamentos não medicamentosos através de procedimen-tos cirúrgicos, fisioterápicos, de reabilitação e o uso de medi-cações sistêmicas na maioria das vezes são suficientes para o controle das dores lombares e das radiculopatias. Naqueles em que todos esses tratamentos não são suficientes para um controle da dor de forma satisfatória, ou quando opções mais invasivas devam ser proteladas ou evitadas, o uso de medicações epidurais pode ser considerado.

Desde 1952, a via espinal para administração de fármacos é opção comum de tratamento de dor lombar, faz parte de estraté-gia terapêutica não cirúrgica para o alívio da dor, e é integrante de programa de reabilitação.

Seus efeitos são temporários nos casos crônicos, oferecendo alívio de uma semana até um ano. Nos casos agudos episódicos proporciona grande benefício para o doente. O alívio da dor ofe-rece possibilidades para progressão nos programas de exercício, com reabilitação e alongamento.

As injeções de corticosteroide podem ser repetidas duas ou três vezes no período de um ano e, entre elas, os intervalos suge-ridos estão entre duas a quatro semanas.

As primeiras descrições da utilização da via espinal para in-jeção de medicamentos vem de 1885, por L. Corning. Em 1898, o cirurgião alemão Karl Gustav Bier conseguiu analgesia de 45 minutos com 3 ml de cocaína a 0,5% injetados no espaço suba-racnoideo.(5) Em 1901, Cathelin propôs que o espaço peridural seria menos perigoso para evitar punção direta na medula, in-jetando os medicamentos sobre as raízes raquianas, onde atua-riam.(2) Com o passar dos anos, várias substâncias foram descri-

tas para o alívio da dor através da punção do neuroeixo. Entre as mais utilizadas, destacam-se os opioides, os corticosteroides e os anestésicos locais.

MECANISMOS DE AÇÃO

O bloqueio da duplicação do RNAm de inúmeras enzimas realizado pelo efeito catabólico dos corticosteroides reduz a catalização de diversas reações químicas em nosso organismo. Uma das consequências é a redução de mediadores da resposta inflamatória nos sítios habituais. O resultado é a rarefação deles na região epidural. Mesmo em situações em que os exames de imagem sugerem que o estímulo preponderante seja mecânico/compressivo, o componente flogístico sempre está presente, por via bioquímica primária (material proveniente do núcleo pulpo-so) ou indiretamente.

PROCEDIMENTO DE INJEÇÃO EPIDURAL

A estrutura hospitalar pode ser variável. O exame pode ser feito em hospitais, hospital-dia ou clínica.

A equipe deve ser multidisciplinar, e dela devem fazer parte anestesiologista, neurologista, fisiatra, cirurgião, preparo do pa-ciente; mesa radiotransparente colocada na posição neutra reduz migração gravitacional da medicação

TÉCNICA

O paciente deve ser posicionado em decúbito lateral ou sen-tado e com o dorso flexionado. Realiza-se a antissepsia da região dorsal. Pode-se realizar uma infiltração da pele e tecido subcu-tâneo com anestésico local para diminuir a dor da punção. Os locais comumente utilizados para punção são os espaços entre os processos espinhosos de L5L4 ou L4L3, podendo, ainda, ser realizada entre L3L2 ou em qualquer outro espaço interverte-

* Não houve neste trabalho subsídios e patrocínios, de qualquer natureza. Não há conflito de interesses.

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bral, em alguns casos. A agulha comumente utilizada é do tipo Tuohy, com diâmetro entre 16 e 18G. A agulha deve atravessar pele, subcutâneo, ligamento supraespinhoso, ligamento inte-respinhoso e ligamento amarelo. O correto posicionamento do espaço é percebido pela perda de resistência após a agulha ultra-passar o ligamento amarelo. Essa perda de resistência pode ser percebida com a utilização de uma seringa de vidro contendo ar ou solução fisiológica. Outra técnica de confirmação do espaço epidural é observar uma gota pendente na ponta da agulha con-tendo solução fisiológica. Essa gota é aspirada quando a agulha atinge o espaço epidural. Após o posicionamento da agulha, um teste com lidocaína com vasoconstritor pode ser realizado para a certificação do local e para evitar a injeção de substâncias para o espaço subaracnoideo ou intravenoso. A punção pode ser re-alizada uma ou várias vezes, para o controle da dor. Podem ser utilizados cateteres epidurais com a introdução por 3 a 6 centí-metros e saída após a tunelização, para uso de injeções contínu-as ou intermitentes. Com o advento dos filtros de bactérias, os cateteres puderam ser usados por um período mais prolongado e com menor risco de infecção para o paciente. Se o tratamento com injeção de substâncias no espaço epidural mostrar um bom resultado para o controle da dor, a cirurgia para colocação de bombas de injeção de medicamentos deve considerada. A téc-nica de injeção de substâncias como corticosteroides no espaço epidural pela via transforaminal pode apresentar benefícios, pois permite a aplicação próxima à raiz acometida.

INDICAÇÕES

Para melhor resultado do controle álgico com injeções epi-durais na dor lombar e nas radiculopatias, uma boa seleção de pacientes faz-se necessária. É preciso uma avaliação clínica e de exames subsidiários para se tentar entender as causas da dor refratária, de preferência por uma equipe multidisciplinar. Veri-ficar se outras alternativas de tratamento clínico e/ou cirúrgico fracassaram. Avaliar se o paciente apresenta controle da dor com medicações, mas apresenta efeitos adversos que não permitam a manutenção do tratamento.

O agente a ser utilizado pode ser único ou em combinação. O quadro clínico e a causa da dor podem ajudar na escolha, como por exemplo o uso de baclofeno em pacientes com espasticidades.

O bloqueio-teste com uso de cateteres por alguns dias, com controle ou não da infusão pelo paciente, ajuda a decidir se siste-mas implantáveis devem ser utilizados devido ao seu alto custo.

CONTRAINDICAÇÕES

As contraindicações absolutas da realização de bloqueios-

-testes ou bloqueios terapêuticos são a recusa do paciente, infec-ção no sítio de punção e distúrbio de coagulação.(3)

COMPLICAÇÕES

As complicações podem ocorrer em relação à punção ou decorrentes do agente empregado, e entre elas podemos citar: punção dural e cefaleia pós-punção dural, infiltração do espaço subdural ou subaracnoideo, ganho de peso com retenção de sal e água, desconforto local, exacerbação da dor radicular duran-te a infiltração, reação vasovagal à agulha, cefaleias transitórias durante a infiltração, rubor facial ou eritema generalizado ou ambos, reação alérgica ou pseudoalérgica, síndrome de Cushing e supressão do eixo hipotalâmico-hipofisário-adrenal, infecção, meningite química aguda e lipomatose epidural,(1) dorsalgia, le-são neurológica, hematoma epidural, perda auditiva transitória, retenção urinária, náuseas, vômitos, constipação, sonolência, prurido, depressão respiratória, aumento da dor localizada, ce-faleia não relacionada com a posição, rubor facial, ansiedade, sonolência, febre na noite da injeção, hiperglicemia, queda tran-sitória da imunidade, úlceras estomacais, necrose avascular da costela, cataratas, entre outras.

INJEÇÃO DE ESTEROIDES EPIDURAIS POR VIA TRANSFORAMINAL

Nos últimos anos vem perdendo popularidade devido à se-gurança do método interlaminar e à ocorrência de complicações neurológicas graves (sangramento do diencéfalo e do tronco ce-rebral, acidente vascular cerebelar maciço, edema occipital, e dois casos de síndrome da artéria espinal anterior).

Os mecanismos propostos para as complicações decorrentes da injeção de esteroides epidurais por via transforaminal são: injeção direta na artéria vertebral; erro de posicionamento da agulha, oclusão microvascular embólica, a natureza dos esteroi-des (particulados), neurotoxicidade ao radiocontraste, injeção na artéria vertebral, vasoespasmo das artérias radiculares, conteúdo injetado e contato com a agulha.

RESULTADOS

A taxa de sucesso é maior que 50% utilizando confirmação do local de injeção da medicação por fluoroscopia contrastada.

O método é mais eficaz na dor radicular que nas axiais. Nas hérnias discais lombares há melhora de 80% contra o grupo com uso de placebo: 48%.

Aumento da capacidade de deambulação e de ficar em pé.Quanto a eficácia das injeções, está comprovado para bene-

fícios de curto prazo. Menos convincentes para benefícios de longo termo. A maioria dos estudos revela alívio maior que 50%,

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porém falta de padronização dos trabalhos (em muitos não há possibilidade de realização de fluoroscopia para confirmar a lo-calização do medicamento).

CONCLUSÃO

A injeção de substâncias no espaço epidural para controle da dor lombar e das radiculopatias tem sido descrita há vários anos. As técnicas e as complicações envolvidas nesse procedimento são frequentemente mencionadas. Qual a substância a injetar no espaço epidural pode ser avaliada pelo quadro clínico do pa-ciente, assim como a causa, o tipo da dor e a resposta a medica-ções sistêmicas. Quando e se deve ser indicada a via peridural, pode ser o fator de sucesso do controle álgico. Os pacientes que permanecem com dor lombar ou radicular intensa, após falha no tratamento clínico e/ou cirúrgico, podem ser candidatos a injeção de substâncias no espaço epidural. Uma avaliação mé-dica e comportamental multidisciplinar ajuda a selecionar esses pacientes. O bloqueio-teste ou diagnóstico pode contribuir na decisão sobre a colocação de sistemas implantáveis de liberação de substâncias no espaço epidural.

REFERÊNCIAS

1. Bruns A, Furtado R, Natour J. Infiltração epidural de corticos-teroide. Sinopse de Reumatologia Ed jun 04 a 6 N2:47-49.

2. Cocicov AF, Cocicov HLF, Silva MBG, Skare TL. Uso de corticosteroides por via peridural nas síndromes dolorosas lombares. Rev Bras Anestesiol 2004;54:129-141.

3. Minson FP, Fukushima FB. Bloqueios-testes X Bloqueios terapêuticos. In: Pimenta CAM, Kurita GP, Galvão ACR, Corrêa CF (eds.). Simbidor – Arquivos do 8º Simpósio Bra-sileiro e encontro Internacional sobre Dor. São Paulo: Office Editora, 2007. p. 97-99.

4. Silva JF, Melo JR, Mendes TCBS. Bloqueios nervosos es-pinais. In: Neto OA, Costa CMC, Siqueira JTT, Teixeira MJ (eds.). Dor princípios e prática. Porto Alegre: Artmed, 2009. p. 1182-93.

5. Vale NB. Centenário da raquianestesia cirúrgica. Res Bras Anestesiol 1998;6:507-520.

6. Abram SE, O’Connor TC: Complications associated with epidural steroid injections. Reg Anesth 1996;21:149-162.

7. Botwin KP, Castellanos R, Rao S, Hanna AF, Torres-Ramos FM, Gruber RD, Bouchlas CG, Fuoco GS. Complications of fluoroscopically guided interlaminar cervical epidural injec-tions. Arch Phys Med Rehabil 2003;84:627-633.

8. Hodges SD, Castleberg RL, Miller T, Ward R, Thornburg C. Cervical epidural steroid injection with intrinsic spinal cord damage. Two case reports. Spine 1998;23:2137-2142; dis-cussion 2141-2142.

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Os Trâmites da Pesquisa de Novos Fármacos no Brasil*SANDRA CAÍRES SERRANO

Pediatra. Neuropediatra. Clínica de Dor e Cuidados Paliativos. Médica Titular e Responsável pelo Serviço de Cuidados Paliati-vos do Hospital A.C. Camargo − São Paulo.

O desenvolvimento de um novo medicamento é um proces-so longo, trabalhoso e de alto custo. Em geral, a cada 10.000 moléculas identificadas com potencial terapêutico, mil chegam à fase de investigação pré-clínica, das quais cerca de 10 serão estudadas em humanos e apenas uma delas chegará ao mercado, após aprovação e registro para uso terapêutico. Esse processo tem duração de 10 a 12 anos e custo superior a 300 milhões de dólares.(1)

O estudo clínico é considerado o método mais poderoso de investigação científica em seres humanos, capaz de estabelecer e comparar a eficácia dos tratamentos medicamentosos. A Pesquisa Clínica é uma forma de estudo sistemática que segue métodos científicos aplicáveis aos seres humanos, chamados voluntários ou “sujeitos da pesquisa”. Os sujeitos de pesquisa podem ser sa-dios ou não, dependendo da fase e características da pesquisa. A Resolução do Conselho Nacional de Saúde (CNS) n° 196 de 10 de outubro de 1996 (RDC 196/96) é clara: pesquisa envolvendo seres humanos é aquela que, individual ou coletivamente, envolve o ser humano, de forma direta ou indireta, em sua totalidade ou partes dele, incluindo o manejo de informações ou materiais(2).

No Brasil, a pesquisa clínica foi regulamentada a partir da publicação da RDC 196/96, que aborda aspectos éticos da pes-quisa em seres humanos. Esta resolução define requisitos para pesquisa clínica de produtos para a saúde usando seres humanos, e estabelece a necessidade de aprovação por um CEP local e determina a criação da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), ligada ao CNS, que tem, entre outras funções, coor-denar e supervisionar os CEPs.

Há várias formas de fazer uma pesquisa clínica. A pesquisa clínica realizada com medicamentos tem como objetivo básico verificar os efeitos, segurança e tolerância, relacionar os efeitos adversos, além de analisar a absorção, distribuição, metabolis-mo e excreção dos princípios ativos, a fim de que se estabeleçam a eficácia e segurança do produto.

O CEP (Comitê de Ética em Pesquisa) é um órgão institucio-nal que tem a responsabilidade primária pelas decisões éticas em pesquisa, protegendo a integridade e os direitos dos sujeitos de

pesquisa e zelando pelo desenvolvimento da pesquisa dentro de padrões éticos. De acordo com a RDC 196/96, os CEPs devem ser compostos por um mínimo de 7 membros voluntários com diferentes formações profissionais. Os CEPs devem ter aprova-ção da CONEP (Comissão Nacional de Ética em Pesquisa) para seu funcionamento.

Protocolos de pesquisa envolvendo áreas temáticas especiais são analisados pelo CEP e depois pela CONEP, sendo facultativo aos Comitês de Ética em Pesquisa submeter qualquer outro estudo que não se enquadre nestas situações, desde que exista justificativa para tal. São consideradas áreas temáticas especiais: genética hu-mana, reprodução humana, fármacos, medicamentos, vacinas, tes-tes diagnósticos novos (fases I, II e III) ou não registrados no país (ainda que em fase IV), pesquisa referente ao uso com modalidades, indicações, doses ou vias de administração diferente daquelas esta-belecidas, incluindo seu uso em combinações; equipamentos, insu-mos, e dispositivos para a saúde novos, ou não registrados no país; novos procedimentos ainda não consagrados na literatura; popula-ções indígenas; projetos que envolvam aspectos de biossegurança; pesquisas coordenadas do exterior ou com participação estrangei-ra e pesquisas que envolvam remessa de material biológico para o exterior; projetos que, a critério do CEP, devidamente justificados, sejam julgados merecedores de análise pela CONEP.(3)

A CONEP é um órgão de controle social, criado pela Re-solução 196/96 para analisar e acompanhar os aspectos éticos das pesquisas em seres humanos, desenvolver regulamentação sobre a proteção dos sujeitos de pesquisa e constituir uma ins-tância final de recursos para qualquer das partes interessadas. A CONEP analisa cerca de 10% dos estudos avaliados pelos CEPs, especialmente os relacionados as áreas temáticas espe-ciais. A avaliação de protocolos de ensaios clínicos na ANVISA é feita através da Gerência de Medicamentos Novos, Pesquisa e Ensaios Clínicos (GEPEC), subordinada à Gerência-Geral de Medicamentos (GGMED) - que, por sua vez, também avalia es-tudos com produtos para saúde. A partir da Resolução 219/04 a ANVISA passou a avaliar os protocolos de pesquisa sob aspec-to metodológico e ao adequado encaminhamento de questões

* Não há conflito de interesses.

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pertinentes para avaliação futura do registro dos produtos em investigação. Verificam-se também o delineamento do estudo, objetivos, desfechos, critérios de inclusão e exclusão, cálculo do tamanho da amostra e adequação dos testes estatísticos propos-tos no protocolo.(5)

O processo de desenvolvimento de um novo medicamento é bastante complexo e se divide em cinco fases: fase pré--clínica (envolve ensaios in vitro e em animais de experimen-tação) e quatro fases clínicas posteriores que envolverão o ser humano. Os ensaios sobre novos tratamentos são classifica-dos de acordo com a fase de desenvolvimento,(4) na seguinte progressão ordenada:• Etapa pré-clínica: experimentos em animais: Toda nova molécula identificada em experimentações in vitro como de pos-sível potencial terapêutico deverá ser aplicada em animais antes da utilização em humanos. É nesta fase que se busca obter o perfil preliminar de informações sobre atividade farmacológica e segurança da nova molécula em pesquisa. Em alguns casos é possível até mesmo realizar testes de efetividade de novos agen-tes terapêuticos utilizando modelos experimentais de patologias. Na fase pré-clínica, mais de 90% das substâncias estudadas são descartadas pelos mais variados motivos, como, por exemplo, alta toxicidade para uso em humanos, ou atividade farmacológi-ca e/ou terapêutica insatisfatória.• Fase I. A fase I é de extrema importância, pois se adminis-tram novos princípios ativos ou formulações de drogas pela pri-meira vez em seres humanos. Normalmente, esta fase da pesquisa é realizada com voluntários sadios, mas em situações específicas pode envolver indivíduos com patologias específicas. O objetivo principal de estudo fase I é estabelecer a segurança e tolerabilida-de do produto em um sujeito saudável, além de avaliar parâmetros farmacocinéticos, biodisponibilidade, dose e regime posológico da nova droga em estudo. Estudos fase I utilizam pequeno número de voluntários, em média 20 a 100 indivíduos.• Fase II. A fase II (também chamada de Pesquisa Terapêuti-ca Piloto) tem como objetivo principal determinar a segurança e a eficácia terapêutica do princípio ativo em curto prazo, pela primeira vez, em voluntários afetados por determinada doença ou condição patológica em estudo. Nesta fase o número de vo-luntários ainda é limitado (em média de 100 a 300 indivíduos), buscando-se avaliar o intervalo mais apropriado entre as doses e os regimes de administração. É importante disponibilizar as relações dose-resposta de forma a obter dados confiáveis para o planejamento de estudo fase III.• Fase III. A fase III (também chamada de Pesquisa Terapêu-tica Ampliada) consiste de estudo de grupos com grande número

de voluntários portadores da enfermidade ou condição patológica para o qual o novo produto pretende ser aplicado. O objetivo bási-co desta fase de estudo é a análise dos riscos e benefícios da droga em estudo, a curto e longo prazo, e estudar eventos adversos mais frequentes, interações com outras drogas, fatores modificadores do efeito, etc. Apenas após a conclusão dos estudos fase III é que os novos medicamentos obtêm aprovação para uso comercial. Nesta fase, grande número de indivíduos é estudado, uma vez que a amostra deve ter tamanho suficiente para testar a hipótese de que o tratamento melhora a condição-alvo ou reduz o risco de doença. Nesta fase estudam-se em média 300 a 1.000 voluntários.• Fase IV. Também conhecida como Pesquisa Pós-Comercia-lização. Nesta fase de pesquisa pós-comercialização, o número de indivíduos em observação com o uso da droga não necessita ser especificado, podendo ultrapassar 10.000 voluntários.

A condução de qualquer pesquisa exige um protocolo de pes-quisa bem desenhado, descrevendo o planejamento do estudo. Os estudos mais aceitos para avaliação de esquemas medica-mentosos são estudos duplo-cegos, comparativos, grupos para-lelos e duplo-cego cruzado.

Antes de iniciar qualquer pesquisa clínica no Brasil, é funda-mental que os investigadores estejam cientes da complexidade do processo regulatório envolvido. O processo regulatório brasileiro é fundamentado na condução ética dos ensaios clínicos, protegen-do os sujeitos de pesquisa. A regulação brasileira sobre pesquisa clínica - o conjunto de resoluções do Conselho Nacional de Saú-de(6) - é considerada avançada sob o aspecto bioético, em nível de igualdade com as regulamentações dos países doprimeiro mundo.

REFERÊNCIAS

1. Lousana G, Accetturi C. Pesquisa Clinica no Brasil. Ed. Re-vinter, 2002. p. 2.

2. Nishioka SA. Regulação da Pesquisa Clínica no Bra-sil: passado, presente e futuro. Prática Hospitalar, 2006;VIII(48):17-26.

3. Lousana G, Accetturi C. Pesquisa Clínica no Brasil. Ed. Re-vinter, 2002. p. 3.

4. Hulley S, Cummings RS, et al. Delineando a Pesquisa Clíni-ca. 2. ed. Ed. Artmed. p. 196.

5. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Manual de Boas Práticas em Biodisponibilidade Bioequivalência. Vol. I. Bra-sília: Anvisa, 2002. 71 p.

6. Comissão Nacional de Ética em Pesquisa. Regimento Inter-no. Disponível em <http://conselho.saude.gov.br/comissao/eticapesq.htm>. Acesso: 20 set. 2007.

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Critérios Diagnósticos Atuais e Novo FIQ*JOSÉ EDUARDO MARTINEZ

Professor Titular do Departamento de Medicina da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Doutor em Reumatologia pela Unifesp.

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

A fibromialgia é uma síndrome clínica caracterizada por dor musculoesquelética difusa, frequentemente acompanhada de fa-diga, distúrbios do sono, distúrbios cognitivos e outros distúr-bios somáticos.(11)

QUADRO CLÍNICO

Há o predomínio do sexo feminino e etnia branca. A idade de início varia dos 12 aos 55 anos. Os sintomas incluem dor musculoesquelética difusa, distúrbios do sono, fadiga, rigidez matinal, sensação de edema e parestesias. Associa-se com outras síndromes funcionais, tais como a depressão, ansiedade, cefaleia e a síndrome do intestino irritável.(3,7,8,10)

Quanto ao exame físico, a única alteração característica é a hi-persensibilidade dolorosa a dígito − pressão em áreas musculares circunscritas e específicas. Em relação aos exames subsidiários (laboratoriais, radiológicos, cintilográficos e outros), eles carac-terizam-se pela quase ausência de anormalidade nessa síndrome.

FISIOPATOLOGIA

A fisiopatologia da fibromialgia baseia-se numa anormalida-de da percepção dolorosa decorrente de sensibilização central. Essa teoria está amplamente amparada pela literatura e clinica-mente se apresenta com dor difusa espontânea, hiperalgesia e alodínia. As explicações fisiopatológicas ainda se completam com evidências de resposta anormal ao estresse e desautono-mia. As relações fisiológicas e fisiopatológicas entre os sistemas nervoso somático e autônomo, endócrino (Eixo Hipotálamo Hi-pofisiário Adrenal) e mesmo o imunológico explicam a comple-xidade de sua sintomatologia.(4)

CRITÉRIOS DE CLASSIFICAÇÃO, DIAGNÓSTICO E GRAVIDADE

A necessidade de uniformização da inclusão de pacientes em trabalhos científicos, e mesmo para auxiliar no diagnóstico de ca-sos individuais, motivou alguns autores a proporem critérios de classificação ou diagnóstico. As várias publicações nesse sentido eram concordes em relação aos sintomas centrais, porém varia-vam em relação aos sintomas acompanhantes e quanto ao número

de pontos dolorosos. Até que, em 1990, o CAR, tentando uma uni-formização, publicou trabalho(6) de seu Comitê Multicêntrico para Classificação da Fibromialgia, chefiado por Wolfe, estabelecendo critérios para classificação, que são os seguintes:

1) História de dor difusa: presente em todas as regiões do aparelho locomotor, incluindo o componente axial.

2) Dor em 11 de 18 pontos dolorosos a serem pesquisados: occipitais, coluna cervical, trapézios, supraespinhais, 2º espaços intercostais, epicôndilos laterais, glúteos, grande trocânteres e interlinha medial dos joelhos.

Devem ser considerados pacientes com fibromialgia aqueles que preencherem ambos os critérios por um período mínimo de três meses. A presença de outra doença associada não exclui o diagnóstico.

A simplicidade desse grupo de critérios facilita o diagnós-tico das pacientes, porém não fornece uma boa caracterização para a síndrome. As críticas aos Critérios de Classificação levaram o CAR a aprovar um grupo de critérios preliminares para diagnóstico e acompanhamento da FM. Esses critérios recentemente publicados são compostos de dois índices: Ín-dice de Dor Generalizada (IDG) e o Índice de Gravidade dos Sintomas (IGS). O IDG é calculado pela soma de 19 áreas corpóreas possíveis referidas como doloridas pelos pacientes. O IGS é composto por avaliação com escores de 0 a 3 dos sintomas fadiga, sono não restaurador, distúrbios cognitivos e distúrbios somáticos.(9)

Considera-se o diagnóstico de fibromialgia quando as três condições abaixo forem satisfeitas:

1. IDG >/= 7 e EGS >/= 5 ou IDG 3 - 6 e EGS >/= 9.2. Os sintomas estiverem presentes em um nível semelhante

nos 3 últimos meses.3. O paciente não tem outra doença que explique a dor.Esses critérios ainda são considerados preliminares porque têm

que ser validados pelo uso na prática diária. Eles não substituem os Critérios de Classificação e podem ser usados de forma com-plementar. A decisão de não usar a contagem dos pontos dolorosos vem da constatação de que na prática eles são pouco utilizados.

* Conflitos de interesses – Palestras para os laboratórios Pfizer, Merck Sharp Dohme e Lilly.

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QUESTIONÁRIO DE IMPACTO DA FIBROMIALGIA (FIQ)

Em 1991, Burckhardt et al. publicaram estudo sobre o desenvolvimento de um questionário específico para avaliar o impacto da fibromialgia na QV com o objetivo de utilizá--lo para estadiamento e mesmo acompanhamento clínico.(2) Além das propriedades de validade e reprodutibilidade, esse instrumento se mostrou sensível às variações clínicas ao longo do tempo.

O FIQ é composto de questões relacionadas à influência da fibromialgia nas atividades do dia a dia, nas atividades profis-sionais e questões relacionadas à intensidade dos principais sin-tomas. Seu escore pode variar de 0 a 100, onde 0 é ausência de impacto e 100 o maior impacto possível.

O FIQ vinha sendo utilizado desde 1993 com resultados con-fiáveis em nossa população, tanto em estudos clínicos como na prática diária, apesar de não ter sido submetido a uma avaliação formal com vistas à validação para a população brasileira. Em 2006, foi publicada sua validação para o Brasil.(5)

Em 2009, Bennet et al. publicaram uma revisão do FIQ para aperfeiçoar sua aplicabilidade.(1) Essa versão ainda está sendo validada no Brasil.

CONCLUSÃO

A fibromialgia é uma das principais causas de impacto na qualidade de vida entre pacientes com dor musculoesquelética crônica. O diagnóstico é exclusivamente clínico. O diagnóstico deve ser baseado em uma anamnese e exame físico detalhado. Os critérios de classificação devem ser utilizados para inclusão em trabalhos científicos. Os novos critérios diagnósticos podem auxiliar na prática clínica e ser usados adicionalmente para o acompanhamento dos pacientes.

REFERÊNCIAS

1. Bennet RM, Friend R, Jones KD, Ward R, Han B, Ross RL. The revised Fibromyalgia Impact Questionnaire (FIQR): validation and psychometric properties. Arthritis Res Ther.

2009;11:R120.2. Burckhardt CS, Clark SR, Bennett RM: The fibromyalgia

impact questionnaire: Development and validation. J Rheu-matol. 1991;18:728-33.

3. Clarck S, Campbell SM, Forehand ME; Tindall EA, Bennet RM. Clinical characteristics of fibrositis. Arthritis Rheum. 1985;28:132-7.

4. Jensen KB, Kosek E, Petzke F, Carville S, Fransson P, Mar-cus H, et al. Evidence of dysfunctional pain inhibition in Fi-bromyalgia reflected in rACC during provoked pain. Pain. 2009;144(1-2):95-100.

5. Marques AP, Santos AMB, Assumpção A, Matsutani LA, Lage LV, Pereira CB. Validação da versão brasileira do Fi-bromyalgia Impact Questionnaire (FIQ). Rev Bras Reuma-tol. 2006;46(1):24-31.

6. Multicenter Criteria Committee. The American College of Rheumatology 1990 Criteria for Classification of Fibromial-gia. Arthritis Rheum. 1990;33:169-72.

7. Smythe, HA. Incarnations of fibromyalgia. J Rheumatol. 2005; 32:1422.

8. Smythe HA, Moldofsky H. Two contribuitions to unders-tanding of the “fibrositis” syndrome. Bull Rheum Dis. 1977;28:928-31.

9. Wolfe F, Clauw DJ, Fitzcharles MJ, Goldenberg DL, Katz RS, Mease P Russell AS, Russell IJ, Winfield JB, Yunus MB. The American College of Rheumatology Prelimi-nary Diagnostic Criteria for Fibromyalgia and Measu-rement of Symptom Severity. Arthritis Care & Research 2010;62:600-10.

10. Wolfe F, Hawley DJ, Cathey MA, Caro X, Russel, JJ. Fibro-sitis: symptom frequency and criteria for diagnosis. J Rheu-matol.1985;12:1159-63.

11. Yunus MB, Masi AB, Calabro, JJ, Miller, KA, Feigenbaum SL. Primary fibromyalgia (fibrositis): clinical study of 50 pa-tients with matched normal controls. Semin Arthritis Rheum. 1981;11:151-71.

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175Tratamento farmacológico da dor - Novidades e questões polêmicas

Tabelar Honorários Médicos: Histórico, Visão Crítica e SucedâneosSERGIO LISTIK

Neurocirurgião do Hospital E. Zerbini, SUS − São Paulo – SP.

Por mais inverossímil que possa parecer, o leitmotiv que inspi-rou a Associação Médica Brasileira a propor e posteriormente adotar uma tabela de honorários médicos foi o perene e básico desejo da categoria médica de manter seu exercício profissional como essencialmente liberal e alicerçado na livre escolha por par-te dos então chamados pacientes, hoje cognominados, pelos mo-dernosos gestores em saúde, de clientes. Assim, esta questão de tabelar honorários médicos de alguma forma concebeu-se porque o então Departamento Nacional de Previdência Social − DNPS, em 1962, solicitou à Associação Paulista de Medicina valores para uma tabela de honorários médicos e outros serviços, com a qual pudesse remunerar adequadamente os profissionais que aten-dessem os seus segurados. Para que se estabelecesse uma relação entre diferentes serviços médicos (em nosso país de dimensões continentais), que permitisse uma proporcionalidade de fácil ma-nuseio, tornou-se necessária a adoção de um índice ideal e cons-tante. Surgiu, então, a Unidade de Serviço (US), que após vários estudos teve seu valor fixado em um vigésimo do maior salário mínimo decretado pelo Estado de São Paulo. A primeira US valia, em 1962, Cr$ 100,00. Em reunião realizada na APM em fevereiro de 1967, a Subcomissão de Honorários Médicos decidiu elaborar uma tabela. Assim, a primeira tabela de Honorários Médicos, for-mulada por entidade associativa dos próprios médicos e que su-postamente representava o desejo de toda a classe, foi publicada em abril de 1967, com entrada em vigor a partir de 1º de maio. Assentava-se, desta forma, o ideário de que os atos médicos have-riam de ter uma tabela de honorários a norteá-los. Isso nascera na boa intenção de que, havendo esse index, os pacientes (hoje, clientes) poderiam procurar, por livre escolha, seus médicos, e seu seguro lhes ressarcir de acordo. A livre escolha se preservaria, pensavam as associações, sendo esta a boa intenção. Como sabe-mos e testemunhamos neste caso, de boas intenções pode-se so-frer, e muito. A simples preservação da livre escolha jamais asse-guraria o caráter liberal da profissão médica, pois os honorários passariam a ser pactuados por intermediação. Além disso, a tabe-la, elaborada como index mínimo, passou, pouco tempo depois, a ser usada como indexador máximo e, mais recentemente, a ser questionada como cartelização. A ilharga disto, é bom citar relatos ouvidos dos mais antigos (a chamada história falada) acerca do

enviesado nascer deste primeiro códex. Aconteceu, diziam, de tudo. Associações de especialidades, então presididas por colegas que se julgavam acima dessas coisas mundanas, pouco se dedica-ram à precificação de seus procedimentos, ou mesmo de sua codi-ficação. Por não atuarem, em suas práticas diárias, por tabelas, a estas não quiseram se dedicar, à época (afinal, as entidades asso-ciativas médicas, então, tinham caráter praticamente científico, sendo presididas pelos expoentes das especialidades, com grande clínica privada, todos). Igualmente, por não se dedicarem a certos procedimentos que seus concorrentes imediatos dominavam, co-dificaram-nos propositalmente a menor, para espezinhá-los. Bem, os anos se passaram, e agora todos estamos no mesmo barco. A partir do ano de sua criação, 1967, por intermédio de sua Comis-são de Honorários Médicos, a Associação Médica Brasileira revi-sou periodicamente sua tabela, resultando em novas edições da Tabela de Honorários Médicos: 1970, 1974, 1976, 1978, 1983. Em 1978 foi criado o Coeficiente de Honorários Médicos (CH). O novo índice adotado pela AMB conviveu pacificamente com a US, criada pela Previdência Social. O valor do primeiro CH, esta-belecido pela Assembleia dos Delegados da AMB, foi de Cr$ 6,50. “Oh, que bons tempos!”, diriam alguns, mais velhos. Coisa nenhuma, a meu ver. Pavimentava-se, apenas, a estrada ao nosso cotidiano apocalíptico. Esta “convivência pacífica” da tabelas INPS, depois INSS-INAMPS, que evoluiu para SUDS e depois SUS, evanesceu-se na passagem dos anos 1970/1980, pois a assis-tência previdenciária ficou sem fundos para acumular a assistên-cia médica, dela por fim apartando-se. Herdou, o novo gestor, ca-pitaneado pelo Ministério da Saúde, modelo no qual tudo se pro-mete, constitucionalmente, mas quase nada se paga, factualmente, e que faliu com Hospitais, Misericórdias, afastou prestadores e praticamente arrasou, por bom tempo, os cuidados públicos à saú-de, que ficaram à mercê dos hospitais-escola, até que governos estaduais, de alguns estados como São Paulo, por exemplo, con-seguissem construir rede hospitalar mais ampla. Nisso é que deu o “preservar a livre escolha”. Entretanto, a tendência a tornar esta-tal o atendimento médico também não vem dando muito certo, pois muitos dos equipamentos recém-inaugurados pelos governos têm sido entregues à administração de assim chamadas “O.S.”, e fundações, sob o argumento que administrariam melhor que o

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próprio governo. Nelas se incluem entidades que em seu nasce-douro nem lidavam com assistência médica e outras, até já tradi-cionais neste mister. Na década de 1980 foram publicadas ainda outras duas edições da Tabela de Honorários Médicos: 1987 e 1988. As revisões eram uma necessidade lógica, pois além de sur-girem cotidianamente novos procedimentos médicos (clínicos, cirúrgicos e diagnósticos), a inflação − e, em nosso caso, o período de hiperinflação − corroeu e desorganizou os coeficientes econô-micos todos. Em janeiro de 1990, uma nova Tabela de Honorários Médicos foi lançada. Essa edição foi a que melhor aceitação obte-ve junto às empresas contratantes (como se o seu aceite fosse a finalidade do elaborar tabelas pelas associações médicas...). No entanto, os planos econômicos lançados pelos (des)governos de então travaram sua implantação. Tais planos, recorde-se, eram to-dos economicamente heterodoxos, da lavra alucinante, interven-cionista e autoritária de políticos despreparados e equipes econô-micas que jamais haviam saído dos muros acadêmicos. Apren-diam a raspar a barba nos rostos alheios. Em junho de 1996 foram declaradas extintas todas as edições das tabelas de honorários an-teriores publicadas pela AMB, bem como o seu multiplicador, o Coeficiente de Honorários (CH). Assim declaradas, foram, mas, porteira aberta e – desculpem − com o Capeta solto, todos os in-termediadores de direito privado continuaram a nelas se embasar, como se o Universo estivesse estacionado em 1990. E mais, ofe-recendo não mais coeficientes multiplicadores, mas sim frações de coeficientes antes praticados, com o aceite de vetustos protago-nistas do meio médico, em escambo pelo assim chamado “enca-minhamento preferencial”. Desse modo, às favas com os escrúpu-los e a tal da livre-escolha, surgiram os denominados “pacotes”, aceitos até mesmo por professores titulados, bem como por dire-tores associativos de defesa profissional. O movimento associati-vo decidiu, após estudos, modificar os critérios de codificação, contratando para isso, com alto investimento, fundações tradicio-nais de estudos econômicos, especializadas no cálculo de índices monetários, seus coeficientes e reajustes, alicerçando-os em todos os insumos, fatores de risco, tempo de capacitação, enfim tudo que influencie de alguma forma a atividade fim − em nosso caso, os procedimentos médicos. Em 2003, a AMB publicou a Classifi-cação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos/CBHPM, 1ª edição. Essa publicação representou um novo concei-to em tabela de honorários médicos: recebeu novo título, e os pro-cedimentos, anteriormente distribuídos por especialidade médica, foram ordenados por região anatômica. Foi adotado um novo sis-tema de codificação, a valoração dos procedimentos passou a ser expressa em portes e, por fim, foi incluída uma coluna de custos operacionais, sobretudo para o SADT. Vigência agosto/2003 a se-

tembro/2003. Nos anos de 2003-2005 e, por último, em 2008, essa classificação foi sucessivamente atualizada. Entretanto, todas es-sas tabelas e classificações mais recentes jamais tiveram impacto prático e objetivo, pois jamais foram aceitas por operadoras, con-vênios, seguros e hospitais. Foram, inclusive, questionadas por esses intermediadores junto ao CADE − Conselho de Defesa da Atividade Econômica, órgão do Ministério da Justiça, acusadas de promover a cartelização do atendimento médico.

Pois é isso mesmo: ao se permitir a intromissão de segu-radoras, convênios e outros agenciadores na prestação dos serviços médicos, cometeu-se o pecado original. No atávico e sagrado binômio médico−paciente, ainda ensinado nas facul-dades, ninguém poderia meter o bico, falando claro. Com a in-tromissão iniciada, julgaram as entidades médicas que, ao criar um código mínimo de remuneração, protegeriam o exercício profissional e suas características. Por certo, ao se normatizar o que seria o “mínimo ético” (seja lá o que isso queira dizer), ninguém mais pagaria senão esse mínimo. Além disso, não houve entendimento (porque não era conveniente, claro!) das autoridades econômicas do período hiperinflacionário, de que tais índices precisavam ser atualizados de acordo com o corro-er da moeda. Assim, tudo aumentava todo dia, menos os “ime-xíveis” honorários médicos pagos pelos intermediários, muito bem representados nos altos escalões dos poderes constituídos. Da tabela SUS e seus antecessores nem se fale – pois, sem fun-dos, o sistema paga por cirurgias menos do que um borracheiro nos cobra para tratar de um pneu furado... Na outra vertente, tudo se resume também em uma questão de mercado. Diante da profana abundância de escolas médicas e, posteriormen-te, de serviços marginais a oferecer especializações (até sob o cobertor de algumas associações), o mercado médico viu--se inundado por número até exagerado, pela má distribuição, de prestadores de serviço. Na luta pela sobrevivência (instin-to natural de todo ser vivo) faz-se de (quase) tudo: oferece-se trabalho por pouco; aceitam-se “pacotes” e “pacotinhos”. Que contratante pagará tabelas atualizadas se no mercado há quem custe bem menos?

O mundo mudou, e muito. Os costumes, da mesma forma. A ética profissional também muda, pois é reflexo do seu tempo. Todavia, não é possível admitir o status quo, pois aquilo a que assistimos no cotidiano é tão flagrantemente equivocado que vai cair, por bem ou por mal. Por falar nisso, há uma pergunta que não pode calar: se a tabela praticada (a de 90) é irrisória; se há quem pague e quem receba menos que essa tabela; se os repas-ses são feitos com 60 a 90 dias de atraso, isto quando não há glosas, então, afinal, do que está vivendo a classe médica?

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Papel dos Exercícios na Dor da Osteoporose Baseada em Evidência*PÉROLA GRINBERG PLAPLER

Médica Fisiatra. Diretora da Divisão de Medicina Física do IOT-HC-FMUSP. Mestre e Doutora em Medicina pela USP.

Apesar de se dizer que osteoporose é uma doença silenciosa, vemos na prática clínica que isso pode não ser uma verdade.

Existem dois tipos de dor. A primeira é uma dor localizada, de intensidade variável, causada por microfraturas, por fraturas ou pela compressão de estruturas nervosas ou miofasciais. A ci-fose postural pode comprimir estruturas na região anterior do tórax e tensionar as estruturas posteriores, levando a um quadro de dor. A neoarticulação formada pela última costela com a asa do ilíaco, em pessoas que perderam muita altura ou que estão muito curvadas, também é causa de dor importante em indiví-duos quando em pé ou sentados, melhorando com o decúbito horizontal que diminui a pressão nessa região.

De fato, não é a osteoporose que dói, mas o aumento da reab-sorção do osso pelo osteoclasto. Vemos isso em várias situações, como, por exemplo, no hiperparatireoidismo primário, nos tu-mores e metástases ósseas, na osteomalácia causada por doença celíaca(1) nas distrofias (síndrome da dor complexa regional), na doença de Paget e na displasia fibrosa.(2) Uma vez reequilibrado este metabolismo, mesmo que o paciente tenha massa óssea bai-xa, não costumamos ouvir queixas de dor. Medicamentos como os bisfosfonatos, calcitonina, mitramicina e nitrato de gálio, to-dos com diferentes ações na inibição dos osteoclastos, são capa-zes de diminuir o quadro de dor.

Os osteoclastos degradam os minerais ósseos pela secreção de prótons, como a H+ATPase, acidificando o meio em que se encontra. Acidose é uma conhecida causa de dor. Recentemente foram identificadas duas classes de sensores ao ácido: a ASICs (acid-sensing ion channels) e a TRPV1(transient receptor po-tential channel vanilloid subfamily member 1). Esses sensores foram encontrados expressos nos neurônios sensitivos que iner-vam os ossos.(3) ASICs e TRPV1 emitem sinais de dor quando ativados por ácido. Nagae e cols. concluíram que o microam-biente ácido criado pela reabsorção óssea pelos osteoclastos ati-va esses canais, causando dor óssea.

O conceito de interação entre o sistema nervoso e o sistema musculoesquelético encontra suporte nas seguintes condições:

atrofia de Sudeck, na síndrome da dor complexa regional, na ossificação heterotópica em pacientes com lesão nervosa central e na neuropatia diabética de Charcot.

O primeiro registro desta interrelação foi feito por Charles Estienne, em Paris, no ano de 1545, através de um entalhe em madeira. Seu diagrama mostrava os nervos entrando e saindo de ossos do esqueleto humano. Muitos anos depois, Reginald Co-oper publicou, em seus achados de microscopia eletrônica, que o osso cortical é densamente inervado. No ano seguinte, Calvo e Fortez-Vila diferenciaram as fibras mielinizadas e as não mie-linizadas, associadas com vasos arteriais e venosos. Em 1986 Hohmann e col. reportaram a presença de fibras simpáticas den-tro dos ossos, pelo método de imuno-histoquímica.(4)

A noção de que os ossos eram inervados apenas na região do periósteo vem sendo modificada com estudos recentes.(4) Os nervos são encontrados no periósteo e acompanham os vasos nos espaços perivasculares dos canais de Harversianos. São es-pecialmente densos próximos a regiões dos ossos mais meta-bolicamente ativas, como nas epífises e metáfises das fises em crescimento. Algumas substâncias mostram contato direto com esta conexão. Entre elas, citamos o glutamato, a CRGP (calcito-nin gene-related protein), substância P, PIV (peptídeo intestinal vasoativo) e catecolaminas.

Na tabela da página seguinte, traduzida do trabalho de Jones e col.,(4) vemos os neurotransmissores encontrados nos ossos e sua ação.

Algumas situações clínicas mostram a relação que existe entre o sistema nervoso e o esqueleto ósseo. Pacientes hemi-plégicos podem perder massa óssea em ambos os hemicorpos, mesmo que haja sobrecarga de um dos lados. Pacientes que so-freram lesão medular desenvolvem osteoporose abaixo da lesão de forma muito acentuada nos primeiros meses, estabilizando-se a partir do sexto mês. A calcificação heterotópica é muito co-mum em pacientes com lesão nervosa central, prévia. Pacientes com lesão medular ou hemiplegia, apresentam formação de ca-los exuberantes na consolidação das fraturas.

São muito poucos os trabalhos que abordam a atividade física

*Declaro ter recebido honorários por apresentação, conferência ou palestra, ou financiamento para realização de pesquisa, ou honorários para consultoria, das se-guintes empresas: Eli-Lilly, EMS, GSK, MSD, Novartis, Sanofi-Aventis, Servier.

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em relação à dor. Alguns trabalhos são capazes de mostrar a me-lhora na qualidade de vida com a atividade física, como neste ran-domizado e controlado que investigou o efeito da realização de 6 meses de exercícios feitos em casa, em pacientes com osteoporose e com pelo menos uma fratura prévia de coluna. Os exercícios foram realizados durante 1 hora, 3 vezes por semana, podendo fracionar os exercícios em mais de uma vez ao longo do dia. As atividades incluíam alongamentos, exercícios de fortalecimento e aeróbicos. Os indivíduos que fizeram atividade física tiveram melhora na qualidade de vida quando comparados com os que continuaram sua vida ativa, porém sem exercícios. Os campos em que houve diferença foram os de sintomas, emoção e lazer.(5)

Na fase aguda, após a fratura da coluna poderá haver uma inibição reflexa da musculatura extensora, por causa da dor, pre-valecendo a força e a ação dos músculos flexores. Para alívio dessa dor pode ser indicado fazer exercícios isométricos dos músculos paraespinhais. Essa dor crônica pode ser consequência direta das fraturas ou pode resultar de deformidades posturais como a hipercifose, com alongamentos exagerados de ligamen-tos dessa região. Apesar de o mecanismo pelo qual os exercícios diminuem as dores não estar totalmente compreendido, existe alguma evidência que sustenta a indicação de exercícios de for-talecimento da musculatura posterior para analgesia. O recruta-mento de músculos dorsais pode diminuir a cifose, melhorando a dinâmica postural e, com isso, diminuindo a dor, melhorando a mobilidade e a qualidade de vida dos pacientes. Os exercícios para melhora da força devem focar nos músculos dorsais, evi-tando o fortalecimento dos músculos flexores e, dessa forma, diminuindo as futuras fraturas de coluna.(6)

A atividade física tem uma influência direta sobre a forma-

ção de massa óssea. Os ossos contêm uma rede de canalículos adaptados para facilitar a passagem de grande quantidade de fluido transcortical intersticial. Esse fluido se origina de va-sos na cavidade intramedular e é drenado radialmente através do osso cortical por uma pressão de gradiente entre os vasos endosteais e a drenagem linfática na superfície periostal. Sob forças compressivas ou quando o osso se curva suavemente, são criados gradientes de pressão que drenam o fluido de áreas de compressão para áreas de tensão acelerando o fluido a taxas da ordem de 6 milissegundos. Exercícios de alto impacto como cor-rida e salto aumentam rapidamente esse fluxo. Os movimentos intermitentes levam à oscilação desse fluxo, estimulando ain-da mais sua passagem.(7) O osso responde a forças mecânicas, como demonstrado em um estudo com animais. A remoção dos músculos resultou em rápida perda óssea que pode ser recupe-rada com forças de compressão. O osso responde melhor a altas cargas com baixa frequência do que a baixas cargas com maior frequência. O exercício intermitente é sempre melhor do que o exercício contínuo. Repouso absoluto no leito leva a uma perda muito rápida da massa óssea. No entanto, o simples fato de se movimentar para ir ao banheiro é suficiente para prevenir a per-da acelerada.(8)

Existem quatro tipos básicos de células no esqueleto: células de revestimento, osteoblastos, osteoclastos e osteócitos, sendo que estes últimos se encontram na matriz óssea. Localizam-se dentro de lacunas e formam uma rede dentro dos ossos, que se conecta através de suas terminações ou processos dendríticos. Essas terminações são estimuladas pelo fluxo de fluido, que se movimenta pelas diferenças de pressão. Portanto, mais uma vez aqui, os exercícios são os grandes responsáveis pelo estímulo à

Neurotransmissores Receptores Mecanismo intermediário Ação

Glutamato NMDA Canais de íon éremodelação óssea

CGRP(calcitonin gene-related peptide)

CGRP-R1CGRP-R2 écAMP é formação óssea

ê reabsorção óssea

Substância P Neurocinina-1 écAMP é formação ósseaé reabsorção óssea

PIV(peptídeo intestinal vasoativo) PIV-1R éOPG

éIL-6

é formação óssea?ê formação osteoclastoéreabsorção osteoclasto?

Catecolaminas β-2,alfa-1 receptores adrenérgicos

écAMPéPGE-2

é formação ósseaé reabsorção óssea

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formação de massa óssea. Quanto mais exercício, maior forma-ção de massa óssea e menos chances de ter dor por aumento de reabsorção.

REFERÊNCIAS

1. Rabelink NM, Westgeest HM, Bravenboer N, Jacobs MAJM, Lipse P. Bone pain and extremely low bone mineral density due to severe vitamin D deficiency in celiac disease. Arch Osteoporos.

2. Nagae M, Hiraga T, Wakabayashi H, Wang L, Iwata K, Yo-neda T. Osteoclasts play a part in pain due to the inflamma-tion adjacent to bone. Bone. 2006;39(5):1107-15.

3. Mach D, Rogers S, Sabino M, Luger N, Schwei M, Pomonis J. Origins of skeletal pain: sensory and sympathetic innerva-tion of the mouse femur. Neuroscience. 2002;113:155-66.

4. Jones K, Mollano A, Morcuende J, Cooper R, Saltzman C.

Bone and brain: a review of neural, hormonal, and muscu-loskeletal connections. Iowa Orthop J 2004:123-32.

5. Papaioannou A, J.D. A, K. W, Ferko N, Parkinson W, Cook RJ, et al. Efficacy of home-based exercise for improving quality of life among elderly women with symptomatic osteoporosis-related vertebral fractures. Osteoporos Int. 2003;14:677-82.

6. Francis RM, Aspray TJ, Hide G, Sutcliffe AM, Wilkinson P. Back pain in osteoporotic vertebral fractures. Osteoporos Int 2008;19:895-903.

7. Kwon RY, Meays DR, Meilan AS, Kardos NL, Frangos JA. Osteocyte-Independent Mechanotransduction of Interstitial Fluid Flow 2010.

8. Lanyon LE. Modulation of bone loss during calcium insu-fficiency by controlled dynamic loading. Calcif Tissue Int. 1986;38(4):209-16.

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Dor no Membro Inferior − Papel Antálgico dos Exercícios Baseado em EvidênciasJÚLIA MARIA D’ANDRÉA GREVE

Médica Fisiatra. Professora associada − FMUSP – SP.

Os benefícios dos exercícios são reconhecidos desde Hipó-crates (460 AC), que afirmava que “todas as partes do corpo têm uma função; quando usadas com moderação e exercitadas no trabalho, tornam-se saudáveis, bem desenvolvidas e envelhecem mais devagar”.

O sistema musculoesquelético é o órgão efetor dos movi-mentos e, portanto, sedentarismo causa perda funcional, doença e dor. O Departamento Saúde dos EUA (1998) recomendava, para promoção da saúde e envelhecimento saudável: cuidados dentais / medicamentos, prevenção trauma / álcool / fumo, saúde mental, nutrição e exercícios. A OMS (2001) refere que a ativi-dade física previne doenças, diminui incapacidades e melhora a qualidade de vida.

A atividade física concorre para melhorar as aptidões físicas: força, potência, flexibilidade, condição cardiorrespiratória, agi-lidade, que estão diretamente ligadas à realização de exercícios que sejam capazes de promover mudanças no status funcional da pessoa.

A etiopatogenia das síndromes dolorosas de origem muscu-loesquelética está relacionada com as alterações morfológicas estruturais, com as doenças degenerativas, processos inflamató-rios, sobrecargas mecânicas, alterações do sistema supressor de dor e condições psicológicas, e a atividade física pode modular a intensidade da sensação dolorosa pelos estímulos neuro-hu-morais, melhora das condições funcionais locais e sistêmicas e diminuição das sobrecargas, melhorando a mobilidade, indepen-dência, capacidades funcionais e qualidade de vida e dor.

O envelhecimento biológico e as consequentes alterações fi-siológicas, metabólicas e musculares, semelhantes às encontra-das na síndrome do imobilismo, é associado com dor. As perdas musculares e ósseas estão ligadas ao nível de atividade física

dos pacientes e são prevenidas com a atividade física. Cento e vinte e um trabalhos (6.700 idosos) que fizeram treinamento re-sisitido (2-3 vezes/semana) mostraram ganho de força muscular e de desempenho funcional, maior independência e melhora da dor, sem efeitos adversos consideráveis, desde que os exercícios fossem prescritos.(1) O American College of Sports Medicine (ACSM) recomenda 30 minutos de exercícios moderados de 4-7 dias/semana para melhora da sintomatologia dolorosa de doen-ças crônicas (DRE/OA). Estudo feito com 26 triatletas mostrou que a cessação do treinamento durante uma semana causou o aparecimento de sintomas típícos de fibromialgia na maioria dos incluídos.(2)

Estudos realizados no Laboratório de Estudos do Movimen-to IOT-HCFMUSP mostram que a capacidade de realização de exercícios e a evolução do programa de treinamento dos idosos é igual à dos jovens e que há melhora da dor e funcionalidade em todos os pacientes, mesmo naqueles com osteoartrose de jo-elhos. A atividade física em pacientes e idosos é uma ação tera-pêutica pouco explorada na sua potencialidade, pois traz resulta-dos muito significativos na reabilitação de pacientes, desde que os exercícios sejam prescritos de forma adequada.

REFERÊNCIA

1. Liu CJ, Latham NK. Progressive resistance strength training for improving physical function in older adults. Cochrane Database of Systematic Reviews 2009, Issue 3. Art. No. CD002759. DOI: 0.1002/14651858.CD002759.2. Zeller L, Abu-Shakra M, Weitzman D, Buskila D. The effect of exer-cise cessation on non-articular tenderness measures and qua-lity of life in well-trained athletes. Isr Med Assoc J. 2011 Jan;13(1):44-7. PubMed PMID: 21446236.

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Acupuntura: Consensos e Controvérsias*JOÃO BOSCO GUERREIRO DA SILVA

Doutor em Ciências pela Unifesp. Professor Adjunto da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto. Diretor do Colégio Médico Brasileiro de Acupuntura.

A acupuntura tem uma história multimilenar no Oriente e de apenas pouco mais de 40 anos no Ocidente. Desde as primeiras pesquisas com animais de Han(1-3) até as mais recentes envolven-do Ressonância Magnética Funcional, muito do seu mecanismo de ação tem sido decifrado.(4-6)

Ela apresenta potente efeito analgésico,(7) anti-inflamatório,(8) relaxante muscular,(9) indutor da imunidade,(10) além de propiciar o equilíbrio de vários parâmetros funcionais.(11-13)

Apesar desse potencial, vemo-la ser constantemente taxada de placebo, por seus resultados não convencerem devidamente aos cânones da Medicina Baseada em Evidências.

O grande problema aparece ao se tentar verificar a especifici-dade dos estímulos e/ou os sítios de estimulação em determina-das patologias, na maioria das vezes ligadas a quadros dolorosos. A maior parte das pesquisas parte de uma lógica esquizofrênica que tenta misturar no mesmo contexto o que de mais moderno existe na metodologia com uma doutrina de conhecimentos em-píricos que, embora consagrados pela tradição e pelo uso, apre-sentam lacunas importantes e podem ser questionados por sua desatualização.

Embora os estudos experimentais demonstrem claramente os efeitos da acupuntura, boa parte dos estudos clínicos randomiza-dos que se propõem a estudar a eficácia da acupuntura contra o placebo costumam ser inconclusivos. A grande questão é o con-trole. Até hoje não se achou um procedimento falso que possa mimetizar a ação da acupuntura de maneira suficiente a masca-rar terapeutas e pacientes e ser completamente inócuo.

Se considerarmos eficácia como sinônimo de superioridade do tratamento em relação ao placebo em Estudos Clínicos Ran-domizados, veremos que muitos deles têm posto em dúvida a diferença entre a acupuntura verdadeira e a assim chamada acu-puntura “falsa”, usada como placebo.

Esse tipo de conclusão, presente em trabalhos importantes publicados nos últimos anos,(14-16) leva o leitor a uma dificulda-de de interpretação. Mais do que uma negação da eficácia da acupuntura, esses trabalhos talvez mostrem a inadequação do placebo nesse tipo de estudo clínico, pois é muito difícil – se não

praticamente impossível nessa situação − definir o que é placebo ou, ainda, acupuntura “falsa”. Esse tipo de agulhamento “fal-so” pode estimular uma resposta fisiológica e produzir efeitos analgésicos inespecíficos através do Sistema Inibitório Difuso Descendente.(17,18)

Por outro lado, muitas vezes são usadas como pontos “fal-sos” determinadas regiões do corpo, geralmente perto dos pon-tos “verdadeiros”, obedecendo-se a essa doutrina tradicional, que orienta que determinados sítios são “pontos de acupuntura” e outros são “não-pontos”, totalmente inócuos. Não podemos nos esquecer de que a acupuntura é uma técnica de neuromo-dulação periférica, que age estimulando terminações nervosas livres e que, tirando-se cabelos e unhas, toda e qualquer parte da pele pode se portar como um ponto de acupuntura, com maior ou menor efeito. Portanto, quando um estudo é desenhado para a comparação com uma técnica que mimetize a acupuntura, com agulhamento, o resultado torna-se polêmico.

Entretanto, sempre que pesquisada em estudos pragmáticos, isto é, comparada a outros tratamentos, ou a lista de espera, a acupuntura demonstrou a sua efetividade.

Quer seja comparada a lista de espera,(15) ou como terapia adjuvante,(14) ou, ainda, comparada a medicamentos(19) ou ao melhor tratamento disponível,(16, 20) a acupuntura mostrou-se su-perior ou pelo menos equivalente,(21) demonstrando a sua impor-tância como terapia de controle da dor.

REFERÊNCIAS

1. Han JS, Terenius L. Neurochemical basis of acupuncture analgesia. Annu Rev Pharmacol Toxicol. 1982;22:193-220. Review.

2. Han JS, Xie GX, Zhou ZF, Folkesson R, Terenius L. Acu-Han JS, Xie GX, Zhou ZF, Folkesson R, Terenius L. Acu-puncture mechanisms in rabbits studied with microinjection of antibodies against beta-endorphin, enkephalin and subs-tance P. Neuropharmacology. 1984 Jan;23(1):1-5.

3. Han JS, Xie GX. Dynorphin: important mediator for electro-Han JS, Xie GX. Dynorphin: important mediator for electro-acupuncture analgesia in the spinal cord of the rabbit. Pain. 1984 Apr;18(4):367-76.

* Não há conflito de interesses.

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4. Napadow V, Dhond R, Park K, Kim J, Makris N, Kwong KK, Harris RE, Purdon PL, Kettner N, Hui KK. Time--variant fMRI activity in the brainstem and higher struc-tures in response to acupuncture. Neuroimage. 2009 Aug 1;47(1):289-301.

5. Hui KK, Marina O, Claunch JD, Nixon EE, Fang J, Liu J, Li M, Napadow V, Vangel M, Makris N, Chan ST, Kwong KK, Rosen BR. Acupuncture mobilizes the brain’s default mode and its anti-correlated network in healthy subjects. Brain Res. 2009 Sep 1;1287:84-103.

6. Hui KK, Napadow V, Liu J, Li M, Marina O, Nixon EE, Claunch JD, LaCount L, Sporko T, Kwong KK. Monitoring acupuncture effects on human brain by FMRI. J Vis Exp. 2010 Apr 8;(38).

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11. Nishijo K, Mori H, Yosikawa K, Yazawa K. Decrease heart rate by acupuncture stimulation in humans via facilitation of cardiac vagal activity and suppression of cardiac sympathe-tic nerve. Neurosci Lett 1997;227:165-8.

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18. Le Bars D, Dickenson AH, Besson JM. Diffuse noxious inhi-Le Bars D, Dickenson AH, Besson JM. Diffuse noxious inhi-bitory controls (DNIC). I. Effects on dorsal horn convergent neurons in the rat. Pain 1979; 6: 283-304.

19. Zaringhalam J, Manaheji H, Rastqar A, Zaringhalam M. Re-Zaringhalam J, Manaheji H, Rastqar A, Zaringhalam M. Re-duction of chronic non-specific low back pain: A randomised controlled clinical trial on acupuncture and baclofen. Chine-se Medicine 2010; 5:15.

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21. Kittang G, Melvaer T, Baerheim A. [Acupuncture contra antiphlogistics in acute lumbago] Tidsskr Nor Laegeforen 2001; 121:1207-10.

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185Tratamento não farmacológico da dor - Meios físicos, sociais e psíquicos

Exposição ao Vivo e Atividade Gradual no Manejo da Dor Crônica: Revisão Sistemática

GEANA PAULA KURITA1 ● MARINA DE GÓES SALVETTI2 ● ELAINE S. LONGO3 ● CIBELE ANDRUCIOLI DE MATTOS PIMENTA4

1Doutora em Enfermagem. Rigshospitalet − Hospital da Universidade de Copenhague.2Doutora em Enfermagem. Medicina Preventiva − Unimed São Roque.

3Enfermeira. Instituto do Câncer do Estado de São Paulo.4Doutora em Enfermagem e Professora. Titular − Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo.

INTRODUÇÃO

A Exposição ao Vivo (EV) e as Atividades Graduais (AG) são intervenções pautadas no Modelo Comportamental Cogni-tivo que visam reduzir, entre outras crenças e comportamentos disfuncionais, a incapacidade em doentes com dor crônica.

Aspectos cognitivos, emocionais e sociais, tanto quanto os físicos e ambientais, influem no desenvolvimento da incapaci-dade,(3,6,7,8) pois estão envolvidos na interpretação da dor. Essa interpretação, quando catastrófica, causa medo relacionado ao movimento/dor, comportamentos de evitação e hipervigilância da movimentação que podem resultar em cronificação da dor, desuso de estruturas corporais, redução de tolerância à dor e, consequentemente, incapacidade.(11) EV e AG têm como obje-tivo modificar crenças e comportamentos relacionados a esses fatores que levam à incapacidade.

EV visa a melhora da funcionalidade pela redução da percep-ção de que algumas atividades são nocivas. Estabelece-se uma hierarquia pessoal de atividades que eliciam medo através da organização em ordem crescente do que o próprio paciente julga ser prejudicial e causador da dor. A seguir, os pacientes são ex-postos gradualmente às atividades identificadas para que possam testar e analisar a validade de suas crenças sobre as consequên-cias prejudiciais e construir crenças novas e mais adaptativas.(4)

AG visa a melhora da capacidade funcional, por meio do aumento gradual de atividades físicas e reforço positivo a com-portamentos e atividades saudáveis. As metas são definidas levando-se em conta as atividades funcionais mais importantes limitadas pela dor. É estabelecido esquema de tratamento em que as atividades devem ser realizadas até 70%-80% do limite de tolerância e, então, gradualmente aumentadas.

O uso recente dessas intervenções parece bastante promissor no tratamento de doentes com lombalgia e para explorar melhor as vantagens dessas intervenções desenvolveu-se esta revisão de

literatura com o objetivo de analisar as evidências sobre os efei-tos das intervenções Exposição ao Vivo e Atividades Graduais sobre a crença de medo e evitação da dor e incapacidade em pacientes com lombalgia crônica.

MÉTODO

Pergunta de pesquisa: “Quais os efeitos das intervenções Exposição ao Vivo e Atividade Gradual sobre a incapacidade, medo e evitação da dor em pacientes com lombalgia crônica?”

Estratégia de busca: Termos controlados (MESH/DeCS) e não controlados (palavras-chave de artigos relacionados ao as-sunto) referentes à dor lombar, incapacidade, medo e evitação da dor.

Bases de dados: Cinahl, Embase, Cochrane, Psycinfo, Pub-Med e Lilacs.

Período: As buscas foram realizadas em fevereiro de 2008 e revistas em fevereiro de 2010, sem limite de tempo.

Critérios de inclusão: Estudos controlados, intervenção Ex-posição ao Vivo ou Atividade Gradual, amostra composta por adultos com dor lombar crônica e escritos em língua portuguesa, inglesa ou espanhola.

Critérios de exclusão: Estudos de revisão e relatos de caso.Análise: Os estudos foram classificados de acordo com o ní-

vel de evidência e grau de recomendação, sugeridos pelo Oxford Centre for Evidence-Based Medicine,(5) no qual os melhores es-tudos recebem classificação A (grau de recomendação) e 1a (ní-vel de evidência), decrescendo até D (grau de recomendação) e 5 (nível de evidência) para estudos de menor consistência.

RESULTADOS

As buscas recuperaram 758 artigos. Desses, seis estudos fo-ram selecionados.(1,2,4,9,10,12)

Os estudos foram classificados em três ensaios clínicos contro-

1 Bolsista CAPES 2009 e FAPESP 2009-2010.2 Bolsista CNPq 2010-2011.

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lados e randomizados,(1,4,12) nível de evidência 2b e grau de reco-mendação B, e três estudos com desenho experimental do tipo caso único cruzado (single-case crossover experimental design),(2,9,10) nível de evidência 4 e grau de recomendação C (Tabela 1).

Os estudos diferiram quanto aos aspectos metodológicos (composição e número das amostras, randomização, cegamento, perdas, análise por intenção e instrumentos utilizados).

Um ensaio clínico randomizado mostrou que a intervenção

Tabela 1. Principais características e resultados dos estudos que analisaram as intervenções Exposição ao Vivo (EV) e Atividades Graduais

(AG) sobre a Crença de Medo e Evitação da Dor e Incapacidade

Estudo Amostra Resultados Evidência

Leeuw et al., 2008(4)

Ensaio clínico randomizado

EV=30

AG=29

Entre grupos de tratamento: não houve diferenças.Intenção de tratamento: EV teve mudanças da crença de medo e evitação da dor (p<0,001) e na catastrofização frente à dor (p<0,01).

B, 2b

Bliokas et al., 2007(1)

Ensaio clínico randomizado

EV + tratamento ultidisciplinar (TM)=58

TM=44 Lista de espera=41

Entre grupos de tratamento: não houve diferenças.Comparação com lista de espera: não houve efeito significativo do tratamento na incapacidade.

B, 2b

Woods et al., 2007(12)

Ensaio clínico randomizado

EV=15

AG=13

Lista de espera=16

Comparação pré e pós-tratamento: sem diferenças na incapacidade (p=0,101), em todos os grupos.Comparação entre grupos após tratamento: EV foi melhor para medo de movimento (p=0,027) medo e evitação da dor (p=0,027). Comparação pós-tratamento com lista de espera: EV foi melhor para medo de movimento e re-lesão (p=0,002), medo e evitação da dor (p=0,008). Não houve diferenças entre AG e lista de espera. Comparação com lista de espera: EV melhorou o medo de movimento e reinjúria (p=0,011), medo e evitação da dor (p=0,020) e catastrofização à dor (p=0,01). Não houve diferenças para AG. Seguimento 4 semanas: melhoras se mantiveram para EV (p<0,01).

B, 2b

de Jong et al., 2005(2)

Caso único com design experimental

EV=3

AG=3

Entre grupos de tratamento: EV foi superior para melhora do medo da dor, medo de movimento, catastrofização, incapacidade e desempenho de atividades diárias. Análises de tempo seriadas: EV foi superior para reduzir a catastrofização (p=0,016) e medo da dor (p=0,016).

C, 4

Vlaeyen et al., 2002(10)

Caso único com design experimental cruzado

EV/AG=3

AG/EV=3

Análises antes e após tratamento: apenas EV diminuiu o medo relacionado à dor e incapacidade Análises de tempo seriadas: melhora do medo de movimento (p<0,05), medo da dor (p<0,001), catastrofização à dor (p<0,001), intensidade da dor (p<0,05), independente da sequência do tratamento. Todas as melhoras permaneceram no seguimento de um ano.

C,4

Vlaeyen et al., 2001(9)

Caso único com design experimental cruzado

EV/AG=4

AG/EV=4

Comparação por gráficos sugere que o medo relacionado à dor é reduzido somente pela EV. Resultados similares foram encontrados para as variáveis medo da dor e catastrofização. Melhora da incapacidade após EV foi observada. Análises de tempo seriadas confirmam os achados p<0,05).

C, 4

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187Tratamento não farmacológico da dor - Meios físicos, sociais e psíquicos

EV não teve efeito significativo quando comparada à AG,(4) mas observou-se melhora nas crenças de medo e evitação da dor e ca-tastrofização na comparação com grupo sem intervenção (grau de recomendação B). Outro estudo demonstrou que Exposição ao Vivo adicionada a programa multidisciplinar para controle da dor tem os mesmos efeitos do programa multidisciplinar sozinho.(1) Nos demais estudos observaram-se melhora da intensidade da dor,(2,10,12) da autoeficácia,(12) do medo e ou evitação da dor,(9,10) da catastrofi-zação,(9,10) da incapacidade,(2) do desempenho de atividades diárias(2) e da vigilância à dor.(2) As melhoras observadas se mantiveram no seguimento do tratamento de 4 semanas a 1 ano(2,10,12) (1 estudo com grau de recomendação B e dois estudos com grau C) (Tabela 1).

Observou-se que a Exposição ao Vivo resultou em melhora do medo e evitação da dor em cinco estudos.(2,4,9,10,12) Adicional-mente, a Exposição ao Vivo melhorou também a catastrofização frente à dor, em quatro estudos.(2,4,9,10) Três estudos concluíram por análise individual de pacientes em que houve melhora da incapacidade com o uso de Exposição ao Vivo.(2,9,10)

CONSIDERAÇÕES

Ambas as intervenções estudadas nesta revisão, tratamento de Exposição ao Vivo e tratamento de Atividades Graduais, visam à restauração da funcionalidade e diminuição das limitações utilizan-do técnicas de terapia cognitiva (experimentos comportamentais) ou princípios de condicionamento operante (reforço positivo).

Poucos estudos sobre os efeitos das intervenções EV e AG foram identificados e observou-se que os níveis de evidência dividem-se entre moderado e fraco grau de recomendação (B e C). Os estudos com melhor desenho (ensaio clínico controlado e randomizado(4,12)), que comparam as duas intervenções antes e após tratamento, apresentaram resultados divergentes, mas tive-ram resultados semelhantes na análise por intenção de tratamento, que demonstrou que EV tem efeitos positivos quando comparado a nenhuma intervenção, o que não ocorreu com AG. Um terceiro estudo que comparou tratamento multidisciplinar com tratamen-to multidisciplinar e EV demonstrou que EV pode não ter efeito superior a tratamento multidisciplinar bem elaborado.(1) Tais dife-renças nos resultados dos ensaios podem ter ocorrido pelas dife-renças em componentes variados do método de pesquisa.

As evidências sobre os efeitos das intervenções EV e AG são poucas, divergentes e o método dos estudos precisa ser aper-feiçoado. Apesar das limitações apontadas, os estudos de maior nível de evidência e grau de recomendação (2b, B) favorecem a recomendação do uso de EV para redução do medo e evitação da dor em pacientes com lombalgia crônica. Maior investigação sobre o tema é necessária.

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3. Kovacs FM, Muriel A, Abraira V, Medina JM, Sanchez MDC, Olabe J. The influence of fear avoidance beliefs on disability and quality of life is sparse in Spanish low back pain patients. Spine 2005b; 30(22): 676-82.

4. Leeuw M, Goossens MEJB, Breukelen GJPV, de Jong JR, Heuts PHTG, Smeets RJEM, Köke AJA, Vlaeyen JWS. Ex-posure in vivo versus operant graded activity in chronic low back pain patients: results of a randomized controlled trial. Pain 2008; 138(1):192-207.

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6. Salkovskis PM. Somatic Problems, In: Hawton K, Salko-vskis PM, Kirk J, Clark DM. Cognitive Behaviour Therapy for Psychiatric Problems – A Pratical Guide. Oxford, 1989.

7. Salvetti MG, Pimenta CAM. Incapacidade relacionada à dor crônica e evitação e medo da dor. Arquivos do 8º Simbidor. São Paulo: Office Editora, 2007. p.142-145.

8. Strine, TW; Hootman, JM; Chapman, DP; Okoro CA; Balluz, L. Health-related quality of life, health risk behaviors and disability among adults with pain-related activity difficulty. American Journal Public Health 2005; 95(11):2042-8.

9. Vlaeyen JWS, de Jong J, Geilen M, Heuts PHTG, van Breu-kelen G. Graded exposure in vivo in the treatment of pain--related fear: a replicated single-case experimental design in four patients with chronic low back pain. Behaviour Resear-ch and Therapy 2001; 39:151-66.

10. Vlaeyen JWS, de Jong J, Geilen M, Heuts PHTG, van Breu-kelen GV. The treatment of fear of movement/(re)injury in chronic low back pain: further evidence on the effectiveness of exposure in vivo. Clin J Pain 2002; 18(4):251-61.

11. Vlaeyen JWS, Linton SJ. Fear-avoidance and its consequen-ces in chronic musculosketal pain: a state of the art. Pain. 2000;85:317-332.

12. Woods MP, Asmundson GJG. Evaluating the efficacy of graded in vivo exposure for the treatment of fear in patients with chronic back pain: A randomized controlled trial. Pain 2008;136:271-80.

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Programa Psicoeducativo Como Proposta de Trabalho em DorFABIANA GOTO

Psicóloga especialista em Dor pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Membro do CEINP – Centro de Estudos e Investigações em Neuropsicanálise. Psicóloga do Centro do Dor e Neurocirurgia Funcional do

Hospital Nove de Julho.

O paciente, frequentemente, durante sua consulta com o médico, não tem a oportunidade de tirar todas as suas dúvidas, conversar sobre sua insegurança e seus medos referentes ao tra-tamento, aos sintomas ou à própria doença. Por uma série de motivos, ele pode voltar para casa com várias questões que po-dem ter como consequência uma pobre adesão ao tratamento e, desse modo, um prognóstico ruim para sua doença.

Popularmente, a dor é vista como um sintoma, e não como a doença em si. Esse pensamento, se não esclarecido, leva a pes-soa que tem o diagnóstico de dor crônica a uma série de questio-namentos, culpa e vergonha de sua incapacidade, não-aceitação do diagnóstico, falta de credibilidade por parte da família e co-legas de trabalho.

A sintomatologia crônica traz uma desordem do cotidiano das pessoas, porquanto acontece perda da esperança de melho-ra, invalidez, imagem corporal alterada e queda da autoestima.(1) Assim, o tratamento da dor crônica deve ter como objetivo a melhora da qualidade de vida do paciente, que engloba a acei-tação do convívio com as limitações que lhe são impostas, sua capacidade de superação, a descoberta de energias, capacidades e potencialidades de acordo com sua doença.(2)

O ensino ganha grande importância para uma mudança de ati-tudes e crenças do paciente em relação ao gerenciamento da dor.

O grupo psicoeducativo é uma modalidade de interven-ção que tem por objetivo esclarecer, orientar e informar sobre as características clínicas da doença, bem como suas conse-quências físicas e psicológicas. Demonstra resultados favo-ráveis em relação ao conhecimento da patologia, à expressão de angústias e ansiedades, às mudanças de atitudes a partir das considerações das crenças existentes e ao autocuidado como produto da responsabilidade desenvolvida no proces-so, possibilitando maior adesão ao tratamento e prevenção de recaída.(3,4)

O Hospital Nove de Julho realiza, há quatro anos, a Campa-nha Viva Sem Dor, em alinhamento com a campanha mundial da IASP – International Association for the Study of Pain − de ca-ráter educativo, direcionada a pacientes e profissionais da saúde. A equipe de psicologia do hospital atua em um grupo de apoio psicológico a pacientes portadores de dor e seus cuidadores e fa-

miliares. Trata-se de um grupo psicoeducativo aberto, gratuito, com frequência mensal, duração de uma hora e meia, e em cada encontro é abordado um tema específico ligado ao cotidiano do paciente com dor.

Os pacientes preencheram o IAD – Inventário de Atitudes frente à Dor − e uma escala visual numérica de dor. Quase todos os encontros foram finalizados com um treino de relaxamento, após discussão sobre o tema exposto.

Ao analisar os resultados dos dados obtidos nos últimos três anos, verificamos que 67,3% dos pacientes sentiram que a an-siedade aumenta sua dor, e 74,5% relataram que a depressão aumentou a dor sentida. Uma forte ligação entre as emoções e a intensidade de dor foi vista como verdadeira por 61,8% das pessoas. Assim como a ansiedade e a depressão, o estresse teve papel importante na dor: 65,5% das pessoas acreditaram que ele faz a dor aumentar.

Os resultados confirmaram que a dor não deve ser vista so-mente do ponto de vista físico, mas como ela é sentida na alma, aspectos psicológicos têm grande influência na sua intensidade.

Verificamos uma excelente aceitação do grupo por parte das pessoas que puderam vivenciar um menor sentimento de isola-mento em sua dor, e maior facilidade na troca de experiências. Várias pessoas relataram diminuição da dor ao final do encontro, com relação ao momento em que chegaram para o grupo, pois foi um lugar onde puderam se abrir, falar sobre sua dor e em que foram acolhidas e compreendidas sem julgamentos.

Devido ao resultado ter demonstrado a inegável influência de aspectos psicológicos na dor, podemos dizer que o tratamento ideal para a dor é multidisciplinar − deve seguir integrado ao tra-tamento medicamentoso, o tratamento psicoterápico, fisioterápi-co e ocupacional. No modelo biopsicossocial, a dor é vista como um padrão comportamental psicofisiológico, interativo, que não pode ser separado em componentes físicos e psicossociais in-dependentes e distintos.(5) E neste tratamento multiprofissional e biopsicossocial a psicoeducação tem papel primordial para o resultado esperado na dor crônica.

REFERÊNCIAS

1. Lira GV, Nations MK, Catrib AMF. Cronicidade e cuidados

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189Tratamento não farmacológico da dor - Meios físicos, sociais e psíquicos

de saúde: o que a antropologia da saúde tem a nos ensinar? Enferm. 2004;13(1):147-155.

2. Alonso J, Ferrer M, Gandek B, Ware JE Jr, Aaronson NK, Mosconi P, Rasmussen NK, Bullinger M, Fukuhara S, Ka-asa S, Leplège A, IQOLA Project Group. Health-related quality of life associated with chronic conditions in eight countries: results from the International Quality of life Assessment (IQOLA) Project. Quality of Life Research 2004;13:283-298.

3. Uehara T, Kawashima Y, Goto M, Tasaki S, Someya T. Psychoeducation for the families of patients with eating di-

sorders and changes in expressed emotion: a preliminary stu-dy. Comprehensive Psychiatry 2001;42(2):132-138.

4. Benute GRG, Santos NO, Santos RMR, Rondon FC, Quay-le J, Lucia MCS. A importância do psicólogo na criação e implantação dos programas educativos e de preven-ção em saúde. Revista Brasileira de Educação Médica 2001;25(1):49-53.

5. Turk DC, Monarch ES. Biopsychosocial perspective on chronic pain. In: Turk DC, Gatchel RJ (eds.). Psychological approaches to pain management: a practitioner’s handbook. New York: Guilford, 2002.

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Programas de Controle da Dor CrônicaMARINA DE GÓES SALVETTI

Enfermeira. Doutora em Enfermagem na Saúde do Adulto, Medicina Preventiva – Unimed São Roque − SP. Bolsista CNPq. Escola de Enfermagem da USP.

Programas de controle da dor crônica têm sido desenvolvi-dos com o objetivo de produzir alívio da dor, reduzir sintomas depressivos, melhorar a funcionalidade e a qualidade de vida de pessoas com dor crônica. Os programas podem ter diferentes abordagens e geralmente são realizados em grupo, com equipes multidisciplinares. As principais abordagens para o tratamento da dor crônica são: terapia cognitivo-comportamental, medita-ção (mindfulness), terapia de aceitação, exposição ao vivo, ativi-dade gradual, entre outras.

A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) é a abordagem de manejo da dor mais utilizada, sendo considerada a base de muitos programas de controle da dor. Essas intervenções in-fluenciam cognições e comportamentos e são muito variadas, mas em geral incluem educação sobre dor, estímulo à autocon-fiança, treino de estratégias de coping, controle do estresse, re-estruturação cognitiva, distração, resolução de problemas, mo-dificação de comportamentos dolorosos, aumento da atividade física, estabelecimento de metas e ritmo para as atividades.(7)

Muitos programas de controle da dor têm enfoque psico-educativo, ou seja, fornecem informações sobre a dor e seu tratamento, além de trabalhar os aspectos cognitivos e emo-cionais, como as crenças e emoções relacionadas à experiência de dor crônica. Informações sobre a natureza da dor e o curso da doença, planos de tratamento e procedimentos terapêuticos são essenciais para os pacientes.(7) Os benefícios da educação sobre dor estão relacionados à melhora nas habilidades de au-tocontrole da dor.(7)

Diversos autores investigam as relações entre os aspectos cognitivos e os resultados do tratamento em pacientes com dor crônica. Estudo que buscou determinar se mudanças nos proces-sos cognitivos estariam relacionadas à melhora obtida com um programa multidisciplinar de controle da dor crônica mostrou que reduções na catastrofização e nas crenças sobre sérias con-sequências da dor foram as mais fortemente associadas com me-lhora na funcionalidade física, enquanto reduções na vigilância à dor e nas representações emocionais da dor foram os melho-res preditores da melhora na funcionalidade mental. Os autores concluíram que intervenções multidisciplinares que focam espe-cificamente os processos cognitivos melhoram os efeitos do tra-

tamento de pacientes com dor crônica e reduzem a incapacidade relacionada à dor.(6)

Pesquisadores canadenses desenvolveram um programa psicoeducativo para tratamento da dor cardíaca crônica, ba-seado no Programa de Autocontrole de Doenças Crônicas da Universidade de Stanford. Esse tratamento foi realizado em períodos de 6 semanas, com uma sessão semanal de duas ho-ras de duração. O objetivo do Programa foi melhorar a quali-dade de vida relacionada à saúde, aumentando as habilidades de autocontrole da angina. O Programa utilizou estratégias para melhorar a autoeficácia, técnicas de resolução de proble-mas, técnicas de relaxamento, técnicas de controle do estres-se, controle das respostas emocionais à dor cardíaca, entre outras. Os autores concluíram que o Programa foi efetivo na melhora da funcionalidade, da saúde geral, dos sintomas de angina e da autoeficácia.(5)

Estudo que avaliou os efeitos de um programa cognitivo--comportamental de autocontrole da dor realizado por enfer-meiras mostrou que os participantes apresentaram melhora sig-nificativa na autoeficácia, na intensidade da dor, nos sintomas depressivos, além de redução da incapacidade relacionada à dor.(8) O programa foi realizado em 10 encontros semanais e utilizou a exploração do estilo de vida para que os pacientes pudessem desenvolver novas habilidades e fazer mudanças na vida para reduzir os sintomas, as visitas ao médico e para melhorar a au-toeficácia.(8)

Ensaio clínico randomizado com análise de custo-efetivida-de, que analisou um tratamento cognitivo-comportamental em grupo para dor lombar no atendimento primário à saúde, mos-trou que a intervenção cognitivo-comportamental teve efeito si-milar ao da massagem, de exercícios, acupuntura e tratamentos posturais, com um custo de menos da metade dessas interven-ções. Além disso, os autores observaram que o efeito se manteve após um ano para pacientes com dor lombar subaguda e crôni-ca.(3) Vale ressaltar que as mudanças observadas nas crenças de medo e evitação e autoeficácia confirmaram a hipótese de que construtos psicológicos são mediadores importantes da melhora em longo prazo da incapacidade relacionada à dor.(3)

Estudo desenvolvido na Suécia, que comparou uma inter-

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191Tratamento não farmacológico da dor - Meios físicos, sociais e psíquicos

venção cognitivo-comportamental com intervenção educativa para pacientes com dor na coluna, concluiu que a intervenção cognitivo-comportamental diminuiu o risco desenvolver incapa-cidade. Os achados confirmaram a importância de intervenções precoces para prevenção de problemas crônicos.(4)

Há ainda pesquisas mostrando que os programas multidisci-plinares com abordagem cognitivo-comportamental têm resulta-dos similares ou melhores que cirurgias da coluna para pacientes com lombalgia crônica.

Revisão da literatura que teve como objetivo desenvolver recomendações baseadas em evidência sobre o uso de métodos diagnósticos, terapias, cirurgias e reabilitação interdisciplinar concluiu que a reabilitação interdisciplinar com ênfase cogni-tivo-comportamental é similar à cirurgia de fusão da coluna e deve ser considerada como a opção de tratamento para dor lombar persistente e incapacitante que não responde aos trata-mentos usuais.(1)

Outro estudo de revisão que avaliou os benefícios e danos de métodos cirúrgicos de tratamento da dor lombar crônica mos-trou que em três estudos a cirurgia não foi superior a reabilitação intensiva com ênfase cognitivo-comportamental.(2)

Conclui-se, portanto, que os programas multidisciplinares com enfoque cognitivo-comportamental para tratamento da dor crônica são relativamente baratos, têm mostrado ótimos resul-tados e podem ser implementados até mesmo em serviços de saúde primários. Assim, deve-se ampliar a utilização dessa abor-dagem no tratamento de pacientes com dor crônica.

REFERÊNCIAS

1. Chou R, Loeser JD, Owens DK, Rosenquist RW, Atlas SJ, Baisden J, et al. Interventional Therapies, surgery, and Inter-

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4. Linton SJ, Andersson T. Can chronic disability be preven-ted? A randomized trial of a cognitive-behavioral interven-tion and two forms of information for patients with spinal pain. Spine 2000;25(21):2825-2831.

5. McGillion MH, Watt-Watson J, Stevens B, LeFort SM, Coyte P, Graham A. Journal of Pain and Symptom Manage-ment 2008;36(2):126-138.

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7. Richardson C, Adams N, Poole H. Psychological approaches for the nursing management of chronic pain: part 2. Journal of Clinical Nursing 2006;15:1196-1202.

8. Wells-Federman C, Arnstein P, Caudill M. Nurse-led pain management program: effect on self-efficcay, pain intensity, pain related disability, and depressive symptoms in chronic pain patients. Pain Management Nursing 2002;3(4):131-140.

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A Eficácia da Terapia Cognitivo-Comportamental em Pacientes com Dor Crônica*MARTHA MOREIRA CAVALCANTE CASTRO

Doutora em Medicina e Saúde pela Universidade Federal da Bahia. Professora da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública e da Universidade Federal da Bahia.

Coordenadora do Serviço de Psicologia do Ambulatário da Dor − UFBA.

A dor crônica é definida como experiência sensorial e emotiva desagradável, associada ou descrita em termos de lesões teciduais.(1)

A dor, por seu caráter subjetivo, pode ser compreendida de forma diferente em cada indivíduo, conforme sua faixa etária, gênero, contexto cultural e experiências prévias do quadro ál-gico. Provoca respostas ansiosas porque funciona como sistema de alerta, desencadeando reações de luta e fuga. Acredita-se que, quando persistente, promove respostas depressivas, pois o sofri-mento do indivíduo evolui com ausência de melhora do quadro doloroso, gerando sentimento de desesperança e medo.(2)

Além da presença das comorbidades psiquiátricas em pa-cientes com dor crônica, estes indivíduos necessitam de trata-mento contínuo, por longo período, e por isso apresentam mais alterações na qualidade de vida (QV). Há o relato que, quanto maior a intensidade da dor, menor a percepção de controle do indivíduo acerca da sua vida.(3)

As crenças de que alguém se encontra em estado de adoeci-

mento sério e incapacitante e que a dor resulta na má adaptação do indivíduo, têm encontrado na prática da Terapia Cognitivo--Comportamental (TCC) uma perspectiva da compreensão dos aspectos cognitivos, sociais e comportamentais.(4)

A TCC no tratamento da dor crônica busca auxiliar os pa-cientes a se tornarem capazes de avaliar o impacto que pensa-mentos negativos de dor e sentimentos provocam na manuten-ção de comportamentos inadequados, encorajando-os a mante-rem a orientação para solucionar problemas e a desenvolverem recursos para aprenderem a lidar com a cronicidade da dor.

Dessa forma, os pacientes são orientados a reconhecer as conexões nas respostas de cognição, humor e comportamento, juntamente com suas consequências e, finalmente, são encora-jados a expandir os ganhos da clínica para além dela.(5) O obje-tivo deste trabalho foi comparar a eficácia da terapia cognitivo--comportamental em grupo com tratamentos não psicoterápicos disponíveis em pacientes com dor crônica (Figura 1).

Figura 1. Ensaio clínico randomizado com dois grupos paralelos

146 pacientes avaliados

95 pacientes randomizados

Excluídos 51 pacientes sem os critérios de inclusão.

TCC − 48 pacientesCompletaram (n = 48)

Controle − 47 pacientesRetiraram TCLE (n = 2)Completaram (n =45)

Perda de 2 pacientes Mudança de residência (1) Transferência para outro ambulatório de dor (1)

Follow-up após 1 ano46 pacientes

Follow-up após 1 ano41 pacientes

Perda de 4 pacientes Não foram localizados (3) Recusa da reavaliação (1)

* Este trabalho é o resultado da tese de doutorado financiada com Bolsa CAPES. Não há conflitos de interesses.

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193Tratamento não farmacológico da dor - Meios físicos, sociais e psíquicos

Foram avaliados 48 pacientes no grupo de intervenção com TCC e 45 no grupo-controle. As informações relativas a idade, gênero, estado civil, ocupação e tempo que cursa com dor encontram--se na Tabela 1. Os resultados demonstram que houve mais mu-

lheres no grupo tratado, mais pacientes sem ocupação alocados no grupo-controle. As demais variáveis (idade, estado civil e tempo com dor) mostraram-se semelhantes em ambos os gru-pos. A Tabela 2 mostra que não houve redução significante do

Tabela 1. Dados sociodemográficos e características da dor nos pacientes, de acordo com o grupo de tratamento antes da intervenção

Características TCC(n = 48)

Controle(n = 45) P

Idade 45,9±8.1 48,7±14,3 0,255

Gênero feminino 48,0 (100,0%) 35,0 (77,8%) 0,002

Estado civil

com companheiro 28,0 (58,3%) 26,0 (57,8) 0,957

sem companheiro 20,0 (41,7%) 19,0 (42,2%)

Ocupaçãosem ocupaçãoem exercício

37,0 (77,1%) 42,0 (93,4%) 0,0411,0 (22,9%) 3,0 (6,7%)

Tempo que cursa com dor

até 2 anos2 a 5 anos5 a 10 anos> 10 anos

3,0 (6,3%)16,0 (33,3%)11,0 (22,9%)18,0 (37,5%)

9,0 (20,0%)15,0 (33,3%)7,0 (15,6%)14,0 (31,1%)

0,228

Tabela 2. Resultado das escalas EVA, HAD e SF-36 antes e após 10 semanas de intervenção, de acordo com o grupo de tratamento

ANTES DA INTERVENÇÃO 10 SEMANAS APÓS A INTERVENÇÃO

Características TCC(n = 48)

Controle(n = 45) p TCC

(n = 48)Controle(n = 45) P

EVA 6,92±2,11 6,38±1,75 0,185 5,7±1,7 5,3±1,1 0,090

HAD

Ansiedade 40,0(83,3%) 37,0(82,2%) 0,887 28,0 (58,3%) 32,0(71,1%) 0,198

Depressão 33,0(68,8%) 30,0(66,6%) 0,830 17,0(35,4%) 26,0(57,8%) 0,031

SF-36Capacidade funcional 28,6±15,0 28,8±22,1 0,336 36,7±20,4 32,9±18,7 0,457

Limitações físicas 14,6±24,9 11,9±21,2 0,497 22,4±20,1 13,5±19,0 0,012

Dor 25,1±16,0 32,3±16,5 0,034 33,8±16,0 33,1±18,1 0,935 Estado geral de

saúde 36,0±19,6 30,0±16,1 0,244 42,2±21,8 33,1±18,2 0,045

Vitalidade 29,9±19,8 28,1±17,3 0,754 35,0±19,9 28,2±18,5 0,091

Aspectos sociais 39,5±21,0 36,7±21,4 0,552 50,0±22,8 44,7±18,1 0,224Limitações emocionais 22,0±28,9 12,2±23,6 0,059 31,8±30,1 20,7±29,3 0,025

Saúde mental 43,0±20,0 40,3±19,9 0,514 49,2±19,5 44,2±21,2 0,216

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Tabela 3. Comparação da EVA, HAD e SF-36 ao término do tratamento e um ano após concluir o tratamento com TCC

ESCALAS Final(n = 46)

1 ano após(n = 46) p

EVA 5,7±1,7 4,9±2,4 < 0,004HAD

Ansiedade 28,0 (58,3%) 15,0 (32,6%) 0,003Depressão 17,0 (35,4%) 1,0 (2.2%) 0,001

SF-36Capacidade funcional 36,7±20,4 47,4±19,7 < 0,001Limitações físicasMd(AIQ)

22,3±20,124,5 (0,0-25,0)

24,0±21,825,0 (0,0-32,5) 0,227

DOR 33,8±16,0 33,6±16,0 0,655Estado geral de saúde 42,2±21,8 43,9±21,5 0,082Vitalidade 35,0±19,9 43,2±21,4 ˂ 0,001Aspectos sociais 50,0±22,8 60,2±19,3 ˂ 0,001Limitações emocionaisMd(AIQ)Saúde mental

31,8±30,933,0(2,5-43,8)

49,0±19,9

31,8±30,731,5(0,0-50,0)

52,3±19,7

0,124

0,095

nível de dor e dos sintomas ansiosos. Por outro lado, no grupo TCC, houve significante redução dos escores de depressão pela HAD em relação ao grupo controle (p = 0,03). Quanto à QV, as dimensões estado geral da saúde, limitações físicas e emocionais revelaram melhores resultados nos pacientes submetidos à TCC do que nos controles. Após um ano do término das intervenções, as avaliações mostraram melhora significativa dos escores da EVA, dos sintomas da HAD e dos itens capacidade funcional, vitalidade e aspectos sociais da SF-36 nos pacientes submetidos à TCC. Entretanto, a melhora dos domínios limitações físicas, dor, estado geral de saúde e limitações emocionais não se man-tiveram. Os dados sociodemográficos foram compatíveis com aqueles encontrados na literatura quanto a faixa etária e estado civil.(6;7;8) Os parâmetros basais referentes a dor, sintomas ansio-sos e depressivos, bem como qualidade de vida mostraram-se semelhantes em ambos os grupos. O paciente com dor crônica apresenta fisiopatologia específica para o quadro álgico, sendo ainda vulnerável a estímulos ambientais que geram comporta-mentos e cognições disfuncionais. Isso faz com que o estímulo e a resposta do processamento cognitivo seletivo falhem na rea-lidade pessoal do indivíduo, o que corrobora para a manutenção de seu quadro álgico.(9) Neste estudo, os pacientes do grupo TCC e controle, antes da intervenção, apresentavam dor intensa, sin-tomas ansiosos e depressivos e em todos os itens da SF-36 esco-res abaixo de 50%. Os itens mais críticos eram aqueles relativos às limitações físicas e emocionais. O adoecimento crônico, a ne-cessidade de tratamento contínuo e a presença de comorbidades são fatores relevantes na determinação da qualidade de vida da

população. Neste estudo, todos os domínios da SF-36 aumen-taram nos pacientes do grupo de TCC, em comparação com os do grupo controle (P< 0,05). No entanto, os resultados obtidos ainda se mostram abaixo da média esperada, confirmando alguns trabalhos que utilizaram esta escala e demonstraram que pacientes com dor crônica apresentam baixa qualidade de vida.(10,11) O gru-po-controle apresentou diminuição do nível de dor pelo EVA, do nível de ansiedade pela HAD e discreto aumento dos escores da SF-36 na comparação entre os valores basais e os desfechos. Os pacientes submetidos à TCC, apresentaram certa diminuição do nível de dor de intensa para moderada, diminuição dos sintomas ansiosos pela HAD (provavelmente como resultado das técnicas de relaxamento e autocontrole enfatizadas na maior parte das sessões do grupo terapêutico) e aumento dos escores dos itens da SF-36, sendo esses resultados semelhantes aos da literatura.(7,12)

Quanto ao escore de depressão pela HAD, não houve alteração a partir da intervenção feita, o que corrobora com a premissa de que sintomas depressivos são a principal comorbidade em pacientes com dor crônica.(13,14) Após um ano, os resultados mos-traram que, nos pacientes submetidos à TCC, os escores de dor pela EVA, os sintomas ansiosos e depressivos e os itens da esca-la SF-36 (exceto Dor e Limitação Emocional) melhoraram. Os itens da escala de qualidade de vida que não sofreram alterações foram aqueles relacionados ao caráter crônico e limitante da dor e, como esse grupo não obteve nenhum reforço da terapia nesse período, os escores que já haviam aumentado desde o início do tratamento se mantiveram inalterados.

Conclusão: A TCC em grupo mostrou-se eficaz no trata-

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195Tratamento não farmacológico da dor - Meios físicos, sociais e psíquicos

mento da dor de pacientes com dor crônica; houve significan-te melhora dos sintomas ansiosos dos pacientes tratados com TCC; houve melhora significante de todos os domínios da SF-36 no grupo de TCC em comparação com o grupo controle. No follow-up, os pacientes de ambos os grupos melhoraram signi-ficantemente nos escores de dor pela EVA, nos itens da escala SF-36 e nos escores de ansiedade e depressão.

REFERÊNCIAS

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Tratamento Psicológico na Dor AgudaDIRCE MARIA NAVAS PERISSINOTTI1 ● IRIMAR PAULA POSSO2

1Psicóloga. Pesquisadora da Equipe de Controle da Dor do Departamento de Anestesiologia da FMUSP. Pós-Doutorado Departamento de Psiquiatria da Unifesp. Doutorado e Mestrado Departamento de Neurologia da FMUSP.

2Professor Titular do Departamento de Anestesiologia da FMUSP. Coordenador da Equipe de Controle da Dor do Departamento de Anestesiologia da FMUSP.

O tratamento da dor em condição aguda demanda, além do tratamento somático, alguns cuidados que usualmente não são discutidos na literatura.

A proporção entre a estimulação nociceptiva periférica e a presença ou intensidade da dor percebida pode não ser linear,(1) do mesmo modo que entre a presença e/ou intensidade da dor e as respostas dolorosas ou comportamentos doentios;(2) o que dificulta a avaliação e o controle da dor. Intervenções da área da saúde mental podem ser de grande contribuição na terapêutica, embora tenham pouco destaque.

A equipe de saúde mental tem como funções a reabilitação e a reintegração funcional do paciente, dos seus familiares e cui-dadores; a identificação e o tratamento dos fatores psicossociais, intrapsíquicos, relacionais, psiquiátricos e comportamentais que influenciem a natureza, a gravidade e a persistência da dor, do-ença de base, incapacidades, sofrimento e estresse; a contribui-ção para a modificação das formas de enfrentamento, redução dos comportamentos dolorosos e doentios e déficits funcionais.

OBJETIVOS DAS INTERVENÇÕES PSICOLÓGICAS AO DOENTE COM

DOR AGUDA

Visa basicamente o fornecimento de informações relaciona-das ao problema, à alteração das crenças e modificação dos com-portamentos disfuncionais, redução das evitações, das incapaci-dades e sofrimentos, alteração da percepção da dor, tratamento das descompensações mentais como a depressão e a ansiedade, modificação das fantasias e dos temores infundados, redução da agressividade, da hostilidade e dos conflitos do paciente com a equipe de saúde e sua família, ou com os acompanhantes signi-ficativos, redução do desconforto familiar, redução da possibili-dade de autoagressões e suicídio e das recidivas.(3)

As intervenções psicológicas são métodos não invasivos e representam risco mínimo ao doente, mas exigem seu envolvi-mento ativo. Preveem o estabelecimento formal e estruturado de contrato de trabalho. É do âmbito da avaliação psicológica verificar a presença de estressores e possíveis gatilhos desen-cadeadores de dor; avaliar a relevância dos fatores psicosso-ciais, intrapsíquicos, relacionais e comportamentais na origem, gravidade e na manutenção da dor, incapacidades e compor-

tamentos dolorosos e disfuncionais. Detectar a presença de dados relevantes da história biopsicossocial reconhecendo os reforçadores sociais mantenedores da dor e incapacidades, ve-rificar como a dor afeta a vida e identificar que fatores pesso-ais, do ambiente e culturais podem influenciar o significado que atribui à dor faz-se necessário, uma vez que o conteúdo idiossincrásico a ela atribuído corrobora para o incremento de inúmeras situações nefastas.

SOBRE O DIAGNÓSTICO PSICOLÓGICO

O diagnóstico de problema psicológico utiliza-se da dinâmi-ca e do funcionamento psíquico e não é condição necessária para o desenvolvimento de quadros psicopatológicos. Desta forma, a avaliação psicológica observa a função do grau da condição alterada da dinâmica e funcionamento psíquico.(4)

Segue lista de diagnósticos psicológicos destinada ao rastreio da população de doentes com dor,(5) estabelecida objetivando operacionalizar as condições psíquicas. No geral, opta-se pela condição que melhor retrata a situação vivencial do paciente.

1. Categorias psicológicas relacionadas a condições estruturais 1.1. Relacionadas às funções/processos mentais: 1.1.1. consciência 1.1.2. atenção 1.1.3. orientação auto/alo psíquica 1.1.4. memória 1.1.5. afetividade (humor) 1.1.6. inteligência 1.1.7. percepção 1.1.8. pensamento 1.1.9. vontade 1.2. Relacionadas à formação e dinâmica de personalidade: 1.2.1. Transtorno mental orgânico (demências) 1.2.2. Neurose 1.2.3. Psicose 1.2.4. Transtorno de personalidade e do comportamento (perversão) 1.2.5. Deficiência mental 1.2.6. Comportamentais das adições químicas psicoativas

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197Tratamento não farmacológico da dor - Meios físicos, sociais e psíquicos

2. Categorias psicológicas relacionadas a condições reativas: 2.1. Estados de/com: 2.1.1. angústia 2.1.2. ansiedade 2.1.3. estresse 2.1.4. depressão 2.1.5. repercussão nas funções/processos mentais 2.2. Dispositivos psicológicos adaptativos 2.2.1. ineficácia dos mecanismos de defesa do ego 2.2.2. conteúdos da fantasia sobrepondo-se aos do princípio de realidade 2.2.3. desrealização/despersonalização 2.2.4. problemas relativos à autoestima 2.2.5. ineficácia no manejo dos excessos de inputs de estímulos e dificuldade para conciliar as incon- gruências 2.3. Problemas relativos à adesão aos tratamentos (atuais e/ ou anteriores): 2.3.1. Abuso ou evitamento da medicação e/ou substân- cias psicoativas utilizadas no tratamento padrão 2.3.2. Evitamento das responsabilidades em casa, no trabalho, e/ou quanto ao tratamento 2.3.3. Excessiva preocupação com sintomas somáticos 2.3.4. Problemas na dinâmica familiar decorrentes do estado de doença. 2.3.6. Estrutura de raciocínio decorrente de restrição intelectiva favorecendo o rebaixamento do juízo crítico, além dos emocionais e afetivos.

Ao se cronificar a dor no geral evidenciam-se efeitos devasta-dores em diversas áreas da vida do paciente e dos acompanhantes significativos. Assim, avaliação e intervenções psicológicas pre-coces poderão indicar estratégias psicoterapêuticas que reduzem

disfunções, incapacidades e a própria percepção da dor. As pri-meiras focalizam os comportamentos desadaptativos e doentios e baseiam-se na premissa de que alterações desses comportamentos levam a alterações da experiência pessoal e da doença. Na prática, não há uma única modalidade psicoterápica útil, isoladamente.

É necessário entender o significado dos sintomas no contex-to em que ocorrem, ter grande tolerância com as atitudes nega-tivas; ter mais flexibilidade no uso dos métodos terapêuticos, rapidez em descobrir e aceitar as necessidades e objetivos dos doentes, disponibilidade para assumir o papel de guia ou con-selheiro, assumir papel mais ativo, em algumas eventualidades, abandonando o papel imparcial, e aceitar o uso de terapias com objetivos e tempo limitados.(6)

REFERÊNCIAS

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Técnicas de Apoio Psicológico que o Clínico Pode Utilizar*JAMIR SARDÁ JR.

Psicólogo. MSc. PhD. Universidade do Vale do Itajaí – Univali.Associação Catarinense de Estudos da Dor – ACED. Singular Clínica de Dor.

O presente trabalho não pretende capacitar o profissional clí-nico não psicólogo a realizar intervenções psicológicas, mas sim descrever alguns aspectos e pontos a serem focados num atendi-mento clínico, que podem contribuir para um atendimento mais efetivo do ponto de vista psicológico.

Dois assuntos principais passíveis de interferir no atendi-mento do paciente com dor são aspectos educacionais referen-tes à formação do profissional que trabalha com dor e aspectos referentes à comunicação entre paciente e médico. Segundo a IASP(1), o Core Curriculum da IASP (2005) tem por objetivo proporcionar diretrizes e informações recentes e consensuais para a formação profissional e o cuidado de pacientes, uma vez que a educação sobre dor e treinamento são fundamentais para o alívio da dor, incapacidade e sofrimento mental.

De maneira geral, a educação dos profissionais que atuam na área de dor, seja qual for a sua formação, deve incluir aspec-tos referentes a: 1) Anatomia e Fisiologia da Dor, 2) Aspectos farmacológicos e transmissão da dor, 3) Desenvolvimento de sistemas de dor, 4) Delineamento e descrição de resultados de estudos clínicos, 5) Modelos animais de dor e aspectos éticos da pesquisa com animais, 6) Padrões éticos no manejo e pes-quisa da dor, 7) Medidas de dor, 8) Placebo e dor, 9) Imagem, 10) Epidemiologia, 11) Aspectos psicológicos e sociais da dor, 12) Questões referentes a gênero e populações específicas e dor, 13) Aspectos psiquiátricos, 14) Medicina intervencionista, 15) Ma-nejo cirúrgico da dor, 16) Medicina física e reabilitação, 17) As-pectos ocupacionais, 18) Terapias complementares, 19) Quadros clínicos, 20) Dor em indivíduos com dificuldade de comunicação decorrente de déficits cognitivos, 21) Dor e abuso de substâncias.

Uma pesquisa recente, realizada pela IASP,(2) visando identi-ficar barreiras para uma boa prática em dor em países em desen-volvimento, identificou os seguintes aspectos: cerca de 50% dos entrevistados são anestesiologistas; menos da metade dos entrevistados tiveram treinamento para a dor na sua graduação; cerca de 90% dos respondentes acreditam que sua formação na graduação foi insuficiente; na América Latina, cerca de 68% dos entrevistados referem não ter formação adequada após o início da carreira profissional;

por outro lado cerca de 75% dos entrevistados refere que existem curso de especialização em dor; cerca de 50% dos respondentes preferem ser treinados em sua localidade; cerca de 96% dos respondentes descrevem que o tratamento da dor é inadequado em seu país; entrevistados descreveram que o número de especialistas e centros de dor são reduzidos; 81% dos entrevistados descrevem que há disponibilidade de opioides para pacientes com câncer, que corresponde à terceira patologia entre as mais tratadas por especialistas em dor; 91% dos prescritores prescrevem opioides a pacientes com dor não relacionada ao câncer; de acordo com os entrevistados, as maiores barreiras para o adequado manejo da dor são falta de educação dos profissionais (91%) e falta de políticas públicas (74%).

De maneira geral, segundo esse estudo, foram identificadas as seguintes barreiras para boas práticas de manejo da dor: deficiência de educação sobre dor; baixas prioridades para o tratamento da dor por agências go-vernamentais; restrição de disponibilidade de drogas resultante dos custos e baixa aderência dos pacientes (ex.: petidina); medo de adição a opioides.

Os passos necessários para superar essas deficiências são: mais ações educativas e mais horas de treinamento; implementação de estruturas clínicas; maior acesso a drogas; maior acesso a tratamento físico.

Além desses problemas, outra questão referente ao manejo da dor diz respeito à comunicação entre profissionais de saúde, em especial médicos e enfermeiras, e os pacientes.

Adiante serão descritos alguns aspectos importantes no pro-cesso de comunicação.(3)

A abordagem centrada no estabelecimento de objetivos a partir do paciente promovem melhor aderência ao tratamento.

* Não há conflito de interesses.

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Esse modelo de intervenção está baseado em três pontos e pre-tende tornar o paciente mais ativo no seu processo de melhora:

1. motivar a mudança a partir do aumento de conhecimento e habilidades;

2. permitir mudanças a partir de práticas;3. reforçar mudanças feitas.Por outro lado esse modelo reconhece que no processo de

transmissão de informação existe uma grande distância entre o que sabemos e o que praticamos. Embora esses problemas pos-sam ser decorrentes de uma má formação, aspecto abordado pelo Core Curriculum da IASP (2005), isso também pode ser decorrente de dificuldades no processo de comunicação.

Estes são alguns aspectos centrais no processo de comunicação:(4)

Auto-consciência: capacidade de se observar e reconhecer sentimentos e pensamentos. Capacidade de tomada de decisão: habilidade de examinar ações e identificar suas consequências. Administração de sentimentos: monitoramento e gerencia-mento de sentimentos. Manejo de estresse: apreender o valor de exercícios diversos para lidar com o estresse. Empatia: habilidade de entender o sentimento dos outros e apreciar as diferenças. Comunicação: falar de sentimentos de forma efetiva, tornan-do-se um bom ouvinte e questionador, distinguindo entre o que o outro faz e diz e suas reações e julgamentos sobre isto, enviando mensagens corretas em vez de sentimentos de culpa. Autoexposição: abertura, valorização da honestidade e con-fiança nas relações, identificando quando é seguro falar de seus sentimentos. Insight: compreensão clara da natureza íntima de uma coisa. Capacidade de identificar padrões emocionais e reações em si e nos outros. Autoaceitação: ter sentimentos de orgulho e se perceber po-sitivamente, reconhecendo seus pontos fortes e fracos. Responsabilidade pessoal: tomar responsabilidade reconhe-cendo as consequências de suas decisões e ações, aceitando seus sentimentos e estados emocionais, acompanhando seus pensa-mentos e comprometimentos. Assertividade: capacidade de expressar seus desejos e senti-mentos de forma adequada. Cooperação dinâmica grupal: saber quando e como liderar e quando seguir. Resolução de conflitos: habilidade de discordar dos outros e resolver problemas de forma efetiva.

Diversos aspectos descritos por Goleman(4) (1995) são carac-terísticas ou habilidades individuais importantes no processo de

comunicação, mas de natureza mais perceptiva. Outros elemen-tos, como autoexposição, responsabilidade pessoal, cooperação grupal e resolução de conflitos, dizem respeito a habilidades re-lacionais, e outros aspectos, como empatia, já implicam o outro sujeito presente na relação.

Além dos aspectos referentes à autoconsciência, Servan--Schreiber(5) (2004) enfatiza que quanto mais objetivos e espe-cíficos somos, maiores as chances de que a outra pessoa reaja às nossas palavras como uma tentativa legítima de se comunicar e não como uma forma de agressão. Frequentemente, as emoções presentes num processo de comunicação é que interferem nesse processo.

A seguir são descritos alguns princípios importantes no pro-cesso de comunicação segundo o modelo de Servan-Schreiber:(5)

Substituir o julgamento ou crítica por uma afirmação objetiva dos fatos. Evitar qualquer julgamento do outro enquanto estivermos concentrados em nossos sentimentos. Falar de si e não do outro.

Com base nos pressupostos aqui descritos, estima-se que a partir de uma formação adequada e do uso dessas técnicas de co-municação a relação entre os profissionais de saúde e o paciente será mais efetiva, promovendo maior participação do paciente no processo de restabelecimento de sua saúde.

Acredita-se que o profissional de saúde bem treinado deve estar apto para ter uma compreensão multidimensional da pes-soa que vive com dor, manter uma comunicação efetiva com essa pessoa e encaminhá-la a outros profissionais quando neces-sário. Pensamos que uma comunicação efetiva entre o médico e o paciente pode ter um papel importante para melhorar a eficácia de qualquer treinamento.

REFERÊNCIAS1. Charlton JE (ed.). Core Curriculum for Professional Educa-

tion in Pain. Seatle: IASP; 2005.2. Bond M, Mourin MA, Barros B, Breivik H, Carr E, Chau-

dakshetrin P, et al. Education and training for pain manage-ment in developing countries. Seatle: International Associa-tion for the Study of Pain, 2007.

3. Livengood JM. Pain Education: Molding the Trainee-Patient Dialogue. Pain: Clinical Updates2004;XII(3).

4. Goleman D. Emotional Intelligence. New York: Bantam Books; 1995.

5. Servan-Schreiber D. Curar o estresse a ansiedade e a de-pressão sem medicamentos nem psicanálise. São Paulo: Sá Editora, 2004.

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Métodos Alternativos no Tratamento das CefaleiasJOSÉ GERALDO SPECIALI

Professor Associado de Neurologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – SP. Coordenador do Serviço de Cefaleias e Algias Craniofaciais do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto – SP.

O efeito placebo dos tratamentos profiláticos e da crise de mi-grânea é marcadamente alto chegando a até 40% em alguns estu-dos duplo-cegos e aleatorizados. Esse efeito placebo tão elevado faz com que qualquer procedimento possa melhorar um quadro de cefaleia grave, o que pode dar a impressão errônea de que a inter-venção tenha sido a responsável pela melhora do quadro clínico. A Sociedade Internacional das Cefaleias apresenta no seu site as linhas mestras de como conduzir testes terapêuticos para novas drogas ou procedimentos nesse campo da Medicina.

As indicações de tratamentos não farmacológicos e da me-dicina complementar ou alternativa para a migrânea englobam terapias que não são aceitas pela medicina convencional por fal-ta de provas definitivas da sua eficácia, mas são aceitas por pro-fissionais que têm experiência nessas formas de abordagens.(1)

Entre as drogas comprovadamente eficazes, os agonistas se-letivos da serotonina do tipo sumatriptano revolucionaram o tra-tamento da migrânea e mudaram dramaticamente a vida de mi-lhões de pessoas. No entanto, mesmo esses medicamentos não funcionam em pelo menos 30% dos pacientes e podem causar efeitos colaterais desagradáveis em outros, tornando inutilizável um contingente não desprezível de usuários.

Por causa disso, muitos pacientes têm tentado terapias não con-vencionais para a migrânea, mas infelizmente o fazem sem a ajuda de um especialista, pois poucos médicos se interessam em estudar essas formas de tratamento. A rejeição de tratamentos complemen-tares por especialistas pode ser interpretada pelos pacientes como uma atitude arrogante, e assim o profissional pode perder a opor-tunidade de ajudar quem o procura para essa finalidade e facilitar a ação de oportunistas sem a menor formação na especialidade. É im-portante que os especialistas em dor/cefaleia se familiarizem com as abordagens complementares mais populares.(1,7)

A seguir está uma breve descrição das terapias complementares que podem ter alguma base científica apoiando o seu uso, ou que sejam métodos aceitos por um grande número de especialistas.

ACUPUNTURA

A acupuntura recentemente recebeu um impulso em sua po-pularidade, devido a um parecer favorável emitido pelo NIH (National Institute of Health) dos Estados Unidos. Esse parecer

aponta a acupuntura como sendo eficaz para náuseas e dor aguda dentária, mas sua eficácia em condições dolorosas, incluindo as cefaleias, necessita de estudos adicionais.

Numerosos estudos em animais indicam que dois mecanis-mos de ação estão envolvidos na analgesia induzida pela acu-puntura.(10) Um é mediado por endorfina, sendo revertido pela naloxona, enquanto o segundo é mediado pela serotonina e não é revertido pela naloxona. Os dois tipos diferentes de analgesia podem ser induzidos por diferentes frequências de estimulação elétrica. Baixa frequência (1 a 4 Hz) induz analgesia revertida pela naloxona e elevada frequência (10 a 100 Hz) induz analge-sia que não é revertida pela naloxona.

Apenas cerca de 70% dos seres humanos e animais respon-dem à acupuntura.(6) Pacientes com dores de cabeça crônicas que não responderam à acupuntura tinham níveis baixos de endorfi-na.(2) É muito difícil realizar estudos duplo-cegos de acupuntura, pois a comparação entre a inserção da agulha com a não-inser-ção desmascara a cegueira do paciente e, por outro lado, a in-serção de agulhas em pontos não padronizados pela acupuntura tradicional também provoca algum grau de analgesia.

Em conclusão, apesar da falta de prova definitiva da sua eficácia, a acupuntura tem clinicamente potencial significativo para ajudar alguns pacientes com dores de cabeça.

TÉCNICAS MENTE-CORPO

Biofeedback é outra modalidade de terapia cuja prova defini-tiva de eficácia será dificilmente obtida. O biofeedback é utiliza-do pela maioria das clínicas de dor de cabeça, o que não prova sua eficácia mas sugere fortemente que um grande número de pacientes se beneficia dele. O objetivo do feedback é combinar modificação de comportamento com controle de estresse e ma-nejo de seus efeitos psicofisiológicos.

Um típico curso de biofeedback consiste de sessões de 30 a 45 minutos semanais por 8 a 10 semanas. Aprender a controlar as funções fisiológicas, como a temperatura, pode ser posterga-do para depois de aprender a relaxar os músculos esqueléticos. Esse relaxamento dos músculos é obtido através de relaxamento progressivo, visualização e técnicas de respiração. Mais impor-tante, porém, é a prática diária dessas técnicas.

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É necessário esforço consciente nas primeiras semanas de trei-namento mas, gradualmente, o relaxamento torna-se um hábito subconsciente. Essa técnica permite que muitos pacientes reduzam a tensão em todo o corpo, o que resulta em menos dores de cabeça.

As crianças são especialmente hábeis em biofeedback. Elas, muitas vezes, podem aprender não só como impedir dores de ca-beça em quatro ou cinco sessões, mas às vezes elas também po-dem aprender como parar a dor de cabeça assim que ela começa.

O biofeedback é apenas um dos muitos métodos de relaxa-mento e controle de estresse, e todos esses métodos podem ser igualmente eficazes se forem rigorosamente condicionados. A vantagem do biofeedback é ser uma técnica que fornece uma es-trutura para o paciente e um terapeuta que atua como um treinador.

TERAPIA NUTRICIONAL

Abordagens dietéticas para o tratamento da migrânea são amplamente defendidas, mas com pouca base científica, colo-cando-as na categoria de métodos complementares.

Alimentos que contenham tiramina podem desencadear migrâ-neas em indivíduos suscetíveis, assim como pular refeições e alguns aditivos alimentares e substitutivos do açúcar. Alguns relatos de pa-cientes informam que se pode melhorar as dores de cabeça com a eliminação, de suas dietas, de produtos contendo trigo, açúcar ou leite, mas a utilidade dessas dietas não tem comprovação científica. Embora não se tenha prova científica, é possível que mudanças na dieta possam funcionar. Se os pacientes são tão esperançosos, não há nenhuma razão para desencorajá-los de tentar mudanças na die-ta, que são geralmente seguras e de baixo custo.

Vegetarianismo estrito e outras dietas incomuns podem levar a deficiência de vitaminas e outros nutrientes, o que piora as dores de cabeça e causa outros problemas.

MAGNÉSIO

Magnésio é um elemento vital que desempenha um impor-tante papel na patogênese da migrânea. Muitos estudos têm mos-trado níveis baixos de magnésio no soro e tecidos de pacientes com migrânea. Num estudo realizado em 40 pacientes consecu-tivos com migrânea aguda, 21 tiveram alívio bom e sustentado de suas dores de cabeça quando foi dada uma infusão intraveno-sa de 1 grama de sulfato de magnésio.(9) Dos que responderam ao tratamento, 86 % tinham níveis baixos de magnésio ionizado no soro. Dos não que responderam, apenas 16% tinham valo-res baixos. Resultados semelhantes foram obtidos em pacientes com cefaleia em salvas.(8) Nestes, uma correlação entre resposta clínica e níveis de magnésio no soro também foi encontrada.

Suplementação oral de magnésio foi tentada como terapia

profilática para migrânea em três ensaios de duplo-cego. Dois dos três ensaios tiveram resultados positivos(3,11) e um negati-vo.(12) Não tem sido estudada a absorção dos diversos sais de magnésio, mas óxido de magnésio, diglicinato de magnésio e cloreto de magnésio de liberação lenta parecem funcionar para alguns pacientes quando usados na dose diária de 400 a 600 mg. Pacientes que têm níveis de magnésio ionizado baixo são mais suscetíveis de se beneficiar da suplementação de magnésio.

RIBOFLAVINA

Foi relatado que a riboflavina ou vitamina B-2 é superior ao placebo no alívio de cefaleias.(13) O efeito máximo foi alcançado após três meses de uso diário de 400 mg de riboflavina. O estudo envolveu apenas 55 pacientes, mas os resultados encorajam o uso desta vitamina, pois ela é isenta de efeitos adversos, sendo potencialmente eficaz.

FITOTERÁPICOS

Matricária é o fitoterápico mais bem estudado através de ensaios duplo-cegos.(14) A maioria dos ensaios mostrou que matricária, quando tomada diariamente como tratamento profi-lático para migrânea, tende a ser melhor que o placebo. Sendo bastante segura e podendo ajudar alguns pacientes, a matricá-ria pode ser indicada aos pacientes interessados em remédios à base de plantas.

Guaraná também tem sido usado para alívio da dor de cabe-ça. Ele é bem tolerado e pode ter algumas propriedades analgési-cas, por causa do seu alto teor de cafeína. No entanto, o consumo de cafeína diária pode despertar um fenômeno de rebote, que é uma das principais causas de dores de cabeça frequentes e re-fratárias. Guaraná e todos os outros alimentos que contenham cafeína devem ser utilizados com parcimônia em pacientes com dores de cabeça frequentes.

Relatos sugerem que ingestão de gengibre, gingko, valeriana pode ajudar alguns pacientes com dores de cabeça.

AROMATERAPIA

Aromaterapia não parece ser uma alternativa válida para a profilaxia da migrânea, considerando que alguns aromas podem ser desencadeantes de crises. Há estudos isolados demonstran-do a utilidade de extrato de hortelã-pimenta, que usado como compressas em voluntários saudáveis, aumenta o limiar da dor e tem efeito musculorrelaxante local, enquanto o eucalipto tem efeito calmante e relaxante, melhorando a cognição.(5) Outro es-tudo feito com óleo de hortelã-pimenta para cefaleia tensional mostrou resultados positivos.(4)

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Esses estudos dão alguma base científica ao uso de uma va-riedade de produtos tópicos no tratamento de dores de cabeça.

HOMEOPATIA

Não há estudos que suportam a indicação de homeopatia no tratamento da migrânea. Talvez se possa aceitar a homeopatia como um placebo com grande probabilidade de induzir bons re-sultados nos pacientes que acreditam na sua eficácia.

ABORDAGENS FÍSICAS

O exercício aeróbio regular e frequente não foi estudado atra-vés de pesquisas metodologicamente corretas, mas é frequente-mente indicado como aditivo aos tratamentos medicamentosos. Há poucas dúvidas de que ele ofereça alívio eficaz de qualquer tensão e essa constatação explica a aceitabilidade da prescrição de exercícios físicos nos migranosos. Outros tratamentos sem fundamento científico indicados são a aplicação de calor e frio, massagens e muitas outras técnicas similares. Como essas abor-dagens físicas são seguras e acessíveis, não se deve desencorajar os pacientes de experimentá-las.

REFERÊNCIAS

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2. Fachinetti F. Nappi G, Savoldi F, Genazzi AR. Primary he-adaches: Reduced circulating b-lipotropin and b-endorphine levels with impaired reactivity to acupuncture. Cephalalgia 1981;1:95-103.

3. Facchinetti F., Sances G., Borella P., Genazzani A.R., Nappi G. Magnesium prophylaxis of menstrual migraine: effects on intracellular magnesium. Headache 1991;31:298-301.

4. Gobel H, Heinze A, Dworschak M, et al. Oleum menthae piperitae significantly reduces the symptoms of tension-type headache and its efficacy does not differ from that of aceta-

minophen. In: Headache Treatment: Trial Methodology and New Drugs. Olesen J. and Tfelt-Hansen P. (eds.). Philadel-phia: Lippincott-Raven, 1997. 169-174.

5. Gobel H, Schmidt G, Soyka D. Effect of peppermint and eucalyptus oil preparations on neurophysiological and ex-perimental algesimetric headache parameters. Cephalalgia 1994;14:228-34.

6. Han JS, Terenius L. Neurochemical basis of acupuncture analgesia. Ann Rev Pharmacol Toxicol 1982;22:193-220.

7. Mauskop A., Abrams-Brill M. The headache alternative: A neurologist’s guide to drug-free relief. New York, NY: Dell Publishing; 1997.

8. Mauskop A, Altura BT, Cracco RQ, Altura BM: Intravenous magnesium sulfate relieves migraine attacks in patients with low serum ionized magnesium levels: a pilot study. Clin Science 1995;89:633-636.

9. Mauskop A, Altura BT, Cracco RQ, Altura BM. Intrave-nous magnesium sulfate relieves cluster headaches in pa-tients with low serum ionized magnesium levels. Headache 1995;35:597-600.

10. Pomeranz B. Scientific basis of acupuncture. In: Stux G, Pome-ranz B. Acupuncture. New York, NY Springer-Verlag, 1987.

11. Peikert A, Wilimzig C, Kohne-Volland R. Prophylaxis of migraine with oral magnesium: results from a prospective, multi-center, placebo-controlled and double-blind randomi-zed study. Cephalalgia 1996;16:257-263.

12. Pfaffenrath V, Wessely P, Meyer C, et al. Magnesium in the prophylaxis of migraine. A double-blind, placebo-controlled study. Cephalalgia 1996;16:436-440.

13. Schoenen J, Jacquy J, Lenaerts M. Effectiveness of high-dose riboflavin in migraine prophylaxis. Neurology 1998;50:466-470.

14. Vogler BK, Pittler MH, Ernst E. Feverfew as a preventive treatment for migraine: a systematic review. Cephalalgia 1998;18:704-708.

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Tratamento Psicodinâmico/Neuropsicanalítico da DorYUSAKU SOUSSUMI

Psicanalista. Membro Efetivo da IPA − Associação Internacional de Psicanálise. Docente do Instituto de Ensino de Psicanálise Durval Marcondes – SBPSP. Membro Fundador da Sociedade Internacional de Neuropsicanálise. Filiado à Sociedade Brasileira

de Psicanálise de São Paulo.

Toda vez que deparo com uma proposta de tratamento da dor, quer seja no campo da medicina, quer seja no campo psico-lógico, não posso evitar de averiguar se o proponente caracteri-zou definitoriamente a natureza do fenômeno da dor, sua origem e dinâmica, para que possa compreender e acompanhar de onde e como está sendo feita a intervenção.

É fundamental esclarecer que, pessoalmente, parto do refe-rencial de que dor é afeto. E afeto é uma expressão do estado corporal, o estado em que se encontra o meio interno do orga-nismo, como foi concebido por Claude-Bernard, um balizador sensitivo que vai ser capturado pelo próprio organismo para se autorregular. A dor está essencialmente ligada à sinalização de alerta para o próprio organismo, no sentido de que um estado de desequilíbrio extremamente ameaçador à vida, um processo ou estado destruidor, lesivo, está ocorrendo na sua intimidade, que necessita de cuidados e reparos, para restaurar e restabelecer o estado de equilíbrio perdido.

A abordagem da dor, entretanto, pode ser realizada sem levar em conta sua função fundamental ligada ao Instinto de Sobre-vivência, considerando-a, antes, uma consequência indesejável, um sintoma decorrente do quadro da moléstia ou do estado mór-bido que afetava o indivíduo. Desse ponto de vista, a terapêutica da dor voltava-se para a busca de sua eliminação ou da elimi-nação do estado que a provocava, visto que a presença da dor agravava e dificultava a recuperação e a cura das estruturas do-entes. Dominante o conceito de cura, as pesquisas da dor ficaram restritas à identificação de suas causas e à busca de elementos terapêuticos, como os medicamentos, capazes de eliminá-la.

A dor é uma das afecções mais antigas do homem, e os mé-dicos, em especial, tiveram de manejá-la orientados pela busca de um recurso eficaz para sua eliminação. No entanto, todos os que militam na medicina assistem, na atualidade, a uma reali-dade implacável: a extrema resistência da dor às mais diversas tentativas de abordagem curativa.

Na realidade, podemos dizer que o único medicamento ple-namente eficaz para combater a dor foi a morfina, embora já na Antiguidade se tivesse constatado o efeito secundário da adição.

Poucos se intrigaram com o fato, sequer cogitando a possibi-lidade de que a resistência à eliminação da dor pudesse decorrer

das características próprias do fenômeno, de forças naturais que lhe são intrínsecas: o corpo se nega a eliminar a capacidade de sentir dor, resultado de um sistema neurobiológico íntegro e pre-sente, em decorrência de sua função de alerta para o organismo, justamente um dos aspectos pelos quais o instinto de sobrevi-vência pode se expressar.

Do meu ponto de vista, a dicotomia mente/corpo − na verda-de, a impossibilidade de ter uma visão dinamicamente integrada mente/corpo − tem sido a responsável pela quase total ausência de uma leitura do funcionamento da dor que não seja a que está linear e oficialmente estabelecida, baseada em alguma investiga-ção consagrada pelas autoridades científicas. Assim, ainda não conseguimos nos desvencilhar da concepção do corpo-máquina, engendrada no século XIX, que pode ser desmontado em cada uma de suas partes constituintes (sendo a mente uma delas), cada qual com suas funções específicas, para facilitar o conhe-cimento, sem necessidade de remontar ao todo para compreen-der a dinâmica de funcionamento da unidade. Numa perspectiva como essa, como conceber que a dor, que tanto nos molesta e prejudica outras tantas funções quando está presente porque nos perturba com insistência, pode ter essas características em virtu-de de sua função de alerta afetivo, ligado diretamente ao instinto de sobrevivência? Não faz sentido.

A pretensa condição de aprofundamento do conhecimento promovida por essa abordagem fragmentada, que reivindicava para si o mérito da apreensão da riqueza de detalhes do objeto estudado, revelou-se uma falácia, já que lhe escapava um aspec-to crucial do que é caracteristicamente vivo: a dinâmica rede de interrelações e mútuas influências que permeia o funcionamento da unidade enquanto sistema e sistema complexo, que não se reduz à soma da dinâmica de funcionamento das partes, mas a ultrapassa para engendrar uma individualidade que só se explica em virtude dessa rede de relações e mútuas influências, porque se trata do domínio da complexidade. Cada investigador de uma parte específica se comportava como se sua verdade fosse so-berana. Sem que houvesse a possibilidade de se conectar com as demais partes, ou com o todo, muitos pensadores, filósofos, cientistas perderam a capacidade de apreender o todo com as partes integradas. Não se deram conta de que a realidade dinâ-

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mica da parte, examinada esta de forma isolada, deixava de ser apreendida, revelando um mecanismo artificial de funcionamen-to que não correspondia à realidade. Partes assim apreendidas não se encaixavam para compor o todo e, quando o faziam em virtude de grande esforço teórico, o resultado falseava a reali-dade, que emerge naturalmente, sem interferência da ação e do saber humanos.

Por não poder pensar o ser humano como uma totalidade inte-grada mente/corpo, mas sempre sob o prisma ou do corpóreo, do somático, de um lado, ou do mental, do psíquico, de outro, o pensa-dor do Homem, seja o filósofo, o sociólogo, o psicólogo, o médico, o educador, nunca pode ver o Homem na sua dinâmica total e real. E, além disso, buscando identificar, em cada parte, características e funções similares às de outras, numa abordagem preconceituosa, muitas das formas de funcionamento específicas das partes deixa-vam de ser consideradas, como, por exemplo, a capacidade inerente ao corpo de poder, através de mecanismos peculiares (biomolecula-res), agir de forma inteligente, mostrando uma faceta de consciên-cia somente admissível ao mental e ao psíquico.

Do meu ponto de vista, na civilização ocidental, essa bus-ca do conhecimento organizado segundo padrões criados pelo Homem começa já com os gregos, que, a partir de Aristóteles, buscam entender a natureza impondo-lhe normas e regras para torná-la organizada. No entanto, houve um momento em que o Homem procurou apreender a organização que existia na natu-reza a partir da observação, adequando o próprio funcionamento e organização a esse referencial. Era dada ao Homem a possibi-lidade de conhecer continuamente, nas mais diversas situações, as transformações que se processavam na natureza, segundo o seu próprio fluxo. A realidade mostrava-se incontrolável e im-previsível, e os fenômenos ocorriam ao acaso, de forma caótica.

É principalmente a partir de Aristóteles que os pensadores

gregos tentam estabelecer uma lógica que revela o plano perfeito da realidade, da natureza. Estabelece-se a primazia do pensa-mento apolíneo, do qual vai derivar toda a sabedoria do mundo ocidental e o conhecimento científico, lastreado na premissa da exatidão, da previsibilidade, da causalidade linear e da ausência de ambiguidade. O mundo é fragmentado em partes constituin-tes, que se contrapõem e contradizem, mas, para evitar a ambi-guidade e eliminar a contradição, trabalha-se com a lógica do terceiro excluído, que garante que não existe um terceiro termo T que seja ao mesmo tempo A e não-A.

Muito antes de Aristóteles, no entanto, Ésquilo já celebrava em Os Persas a dor, que nasce do corpo, e por isso é opaca, como o mais universal dos sentimentos e a mais universal das linguagens, um universal da cultura, a única dimensão que torna iguais os homens e permite identificar o outro com a essência de nós mesmos, a única dimensão que permite a um grego ver um persa como igual e não como diferente. Mas com uma condição: desde que seja no teatro. A igualdade entre os homens instaurada pela dor só pode acontecer no teatro porque é só no teatro que a dor do outro pode ser vivenciada como a minha dor. Fora dele, posso até compreender a dor do outro, mas quanto a sentir, só em pequeníssima escala.

Talvez hoje a questão da dor do outro nos assalte de outra maneira, se é que ainda tem alguma repercussão numa socieda-de líquida como a nossa. Um dono que acompanha seu cão até o último suspiro, e vice-versa. Quanto a ser um universal, de pleno acordo. A dor é transcultural, é um afeto, emerge do cor-po, é vivenciada na carne de cada um como linguagem univer-sal, e por isso pode ser comunicada entre espécies. Pelo menos houve um tempo em que podia porque fazia sentido... E nós, profissionais da saúde, como a manejamos: compreendendo-a ou vivenciando-a?

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205Tratamento não farmacológico da dor - Meios físicos, sociais e psíquicos

O Papel da Psicologia na Abordagem e Controle da Dor*ELIANA NOGUEIRA DO VALE

Mestre em Psicologia: Departamento de Psicologia da Universidade de São Paulo. Membro da Equipe de Controle da Dor − Anestesiologia, do Instituto Central do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Membro da International Society of Neuropsychoanalysis. Pós-graduação em Psiquiatria e Psicologia Médica: Universidade Federal de

São Paulo (Unifesp) – Escola Paulista de Medicina.

INTRODUÇÃO

Durante a maior parte do século XX a psicologia manteve como referência teórica uma concepção de imaterialidade dos fenômenos psicológicos, numa dicotomia mente−corpo. Em al-gumas abordagens que se pretenderam mais científicas e objeti-vas, conceitos como fenômenos psicológicos, aspectos emocio-nais, ou mente foram deixados de lado.(9)

No entanto, principalmente desde a Década do Cérebro nos Estados Unidos, iniciada em janeiro de 2000,(4) ocorreu um notá-vel avanço neurocientífico na compreensão do cérebro humano. Tal avanço tem possibilitado a criação de novos paradigmas das relações entre estruturas neurais e hormonais, dinâmicas psíqui-cas conscientes e inconscientes, e manifestações comportamen-tais. Após breve apresentação do histórico científico da psicolo-gia da dor, abordaremos o tema deste trabalho com ênfase nos aspectos neurocientíficos.

DOR E PSIQUISMO NOS SÉCULOS XX E XXI

Desde o final da década de 1970 a possível comorbidade entre quadros dolorosos e síndromes psiquiátricas, tais como alexitimia e transtornos de somatização, tem sido considerada (Crown, 1978). Entretanto, apenas a partir de 1988 a literatu-ra mencionará estudos epidemiológicos sobre a psicologia da dor com metodologia científica, maiores amostras e representa-tividade populacional, bem como a utilização de instrumentos psicológicos na avaliação de dor, personalidade, humor e perfil psiquiátrico (Franz ETA l, 1988; Ornduff et Gatchel et al., 1995; Fishbain et al., 1997).(18) Em 1998, foi publicada uma obra se-minal sobre sistemas emocionais básicos em modelos animais e humanos, de autoria do neurocientista Jaak Panksepp, lançando nova luz sobre fenômenos psíquicos e dolorosos.(14)

No século XXI, os estudos sobre fenômenos psicológicos e dor abordaram novos aspectos, entre os quais: relação entre dor, atividades profissionais e satisfação no trabalho (Hoogen-doom, 2000); relação entre quadros dolorosos, escores funcio-nais mais baixos, e escores psicopatológicos anormais (Carra-gee, 2001); diferenciação entre dor psicogênica e orgânica, com

levantamento de um perfil psicogênico (Von Plessen & Schultz--Venrath, 2003); influência de crenças, estilo de enfrentamen-to e tendência a “catastrofizar” a dor como sinais prognósticos de desfechos positivos e negativos ao tratamento (Campbell & Edwards, 2009); dor e variáveis familiares e genéticas (Kreek et al., 2005).(18) Na vertente neurocientífica, encontraremos tra-balhos que exploram relações entre aspectos sociais, neurais, cognitivos, afetivos e inflamatórios da dor (v., p. ex., referências 5, 6, 8, 17).

ESTRESSORES SOCIAIS

Estudos com modelos animais sugerem que a separação precoce entre o filhote e a mãe, o isolamento social e o en-frentamento e subjugação por um animal mais forte seriam importantes estressores sociais,(12) e o contato social, uma necessidade crítica em mamíferos.(14) Em modelos humanos, a necessidade de laços sociais constituiria uma motivação es-sencial,(1) e a exclusão social, ou mesmo sua possibilidade, real ou imaginária, causaria ansiedade,(5) passível de elevar os níveis de hormônios do estresse, especialmente em sujeitos mais vulneráveis.(2)

DOR NOCICEPTIVA E DOR SOCIAL

Vários estudos recentes com modelo humano que utilizaram neuroimagens verificaram a ativação de estruturas cerebrais co-muns tanto na dor nociceptiva quanto na dor social.

Num deles observou-se que a emergência tanto de um tipo de dor quanto de outro estariam ligadas à ativação de uma mes-ma circuitaria neural, localizada no córtex cingulado dorsal anterior (CCDA). Uma hipótese a explicar essa superposição seria a de que, por uma facilitação evolutiva, a dor social tives-se “pegado uma carona” nos circuitos neurais já existentes da dor física. Sendo os laços sociais humanos essenciais à sobre-vivência, a dor social possuiria valor evolutivo análogo ao da dor física, evocando os mesmos sinais de alerta em casos de perda ou ameaça de ruptura social (materna, amorosa, sexual, com o grupo social).(5)

* Não houve subsídios ou patrocínios para este estudo. Não há conflito de interesses.

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Em outro estudo, os correlatos neurais de respostas de empatia estavam positivamente relacionados a comporta-mento pró-social espontâneo diante de sujeitos em exclusão social.(11)

Um terceiro estudo verificou que a rejeição social e a dor física compartilhavam das mesmas representações somatos-sensoriais.(8)

Finalmente, as respostas à rejeição social mostraram-se asso-ciadas a respostas imunológicas inflamatórias (fator de necrose tumoral e interleucina 6), sugerindo que os estressores sociais poderiam favorecer a vulnerabilidade a quadros de saúde com componentes inflamatórios.(17)

Em complementação aos dados sobre ativação do CCDA, verificou-se ainda que seres humanos em situação de exclusão social exibiram forte ativação do córtex pré-frontal ventral direi-to (CPFVD) concomitante a relatos menos intensos de sofrimen-to, sugerindo que o CPFVD teria papel importante na regulação cortical do afeto negativo.(5)

PARA CONCLUIR

Os desenvolvimentos das neurociências possibilitam uma investigação mais ampla e complexa dos fenômenos dolorosos e seu tratamento. Alguns bons exemplos se seguem: estudos so-bre estressores sociais e dor social; a investigação do sistema dos neurônios-espelho(15) no desenvolvimento da empatia humana,(10) possibilidade a que Ramachandran chamou de “o grande salto para frente” na evolução humana,(16) poderia nortear uma nova abordagem das síndromes dolorosas e seu tratamento; com suas originais caixas com espelhos para tratar dores nos membros--fantasmas, esse autor demonstrou que certos tipos de dor crônica podem ser “desaprendidos”(10). Nicolelis nos lembra ainda que a perpetuação de certas dores decorre de que estas acabam por se incorporar ao mapa somatossensorial da pessoa,(13) o que pode sugerir a possibilidade de recategorização delas pelo cérebro. Fi-nalizando, pesquisas sobre plasticidade neural poderão ampliar o conhecimento sobre o impacto de desregulações neuroendócrinas precoces e em períodos críticos, e seu impacto na percepção da dor e na propensão ao desenvolvimento de síndromes dolorosas.(7)

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Avaliação do Sistema Estomatognático em Pacientes com Distrofia Miotônica de Steinert*

ANTONIO SÉRGIO GUIMARÃESProfessor Afiliado do Departamento de Morfologia e Genética – EPM − Unifesp. Coordenador do Programa de Mestrado em

Disfunção Temporomandibular e Dor Orofacial do Centro de Pesquisas Odontológicas São Leopoldo Mandic − Campinas – SP.Centro de Pesquisas Odontológicas São Leopoldo Mandic − Campinas − SP.

A distrofia miotônica de Steinert (DMS), reconhecida por Steinert (1909) e por Batten e Gibb (1909), é uma patologia multissistêmica, sendo a forma mais comum de distrofia mus-cular do adulto, com uma incidência estimada em 1 em cada 8.000 indivíduos (Harper, 1989a, b). A herança é autossômica dominante, e a idade de início pode variar desde o nascimento (distrofia miotônica congênita) até após 60 anos de idade, com quadro clínico extremamente variável. O mecanismo molecular e o gene responsável pela DMS foram determinados em 1992, sendo a doença causada por uma expansão de trinucleotídeos na região 3’ não traduzida do cromossomo 19q13.3 (Harley et al, 1992; Buxton et al, 1992; Aslanidis et al, 1992).

Uma das características facilmente observada nessa distro-fia é o dismorfismo facial caracterizado por face alongada e comprometimento dos músculos temporal e masseter (Thayer, Crenshaw, 1966; Gazit et al, 1987; Kiliaridis et al, 1989; Pe-narrocha et al, 1990; Bakke et al, 1990; Kiliaridis et al, 1995; Kiliaridis, Katsaros, 1998). No entanto, são raros os estudos que analisam esses músculos da mastigação e a maioria das afirma-tivas a respeito na literatura são baseadas em relatos de casos (Thayer, Crenshaw, 1966; Petri III, Stump, 1977; Friedman et al, 1980; Bakke et al, 1990) ou estudos com casuística limitada (Gold, 1966; Muller, Punt-van Manen, 1982; Streib, Sun, 1983; Kiliaridis et al, 1995; Ödman, Kiliaridis, 1996; Zanoteli et al, 2002), que não permitem tirar conclusões sobre as manifesta-ções do comprometimento dos músculos da mastigação e articu-lação temporomandibular (ATM) nos portadores dessa distrofia.

Afirma-se que a fraqueza e a perda de volume dos múscu-los da mastigação são fatores que contribuem para o fenótipo facial neste grupo de pacientes (Harper, 1989a, b). Sabe-se que o fenótipo facial depende do grau de comprometimento dos músculos da mastigação do indivíduo e também da fase de crescimento e desenvolvimento do indivíduo. A compreensão desses dois componentes é de particular interesse aos ortodon-tistas, pois muitos dos tratamentos instituídos tentam controlar

o crescimento e desenvolvimento facial vertical, de difícil exe-cução e questionável se os pacientes com DMS com manifes-tações precoces já apresentarem comprometimento dos múscu-los da mastigação. Uma avaliação prévia do comprometimento muscular, como grau de atrofia e infiltração gordurosa nesse grupo de pacientes, é de vital importância para a determinação de uma mecânica ortodôntica eficaz no controle do crescimen-to e desenvolvimento vertical da face. Investigações com a fi-nalidade de se quantificar e qualificar o comprometimento dos músculos da mastigação poderão fornecer os parâmetros na in-dicação de um tratamento corretivo estético funcional oclusal e os parâmetros preditivos de eficácia no controle do padrão vertical de crescimento da face.

O fenômeno miotônico, a dificuldade no relaxamento mus-cular, é uma característica comum nesse grupo de pacientes, que poderia justificar as alterações atribuídas ao deslocamento da ATM nos pacientes com DMS. Este fenômeno poderia se ma-nifestar nos diferentes grupos musculares da mastigação, oca-sionando o travamento da boca em posição aberta ou fechada e eventualmente justificar a dificuldade também na fala.

Deslocamentos recorrentes da mandíbula com travamento com a boca aberta, frequentemente relatados neste grupo des-ses pacientes (Harper, 1989a, b) poderiam estar associados à presença do fenômeno miotônico.

O estudo do acometimento quantitativo da musculatura da mastigação, o reconhecimento do fenômeno miotônico nessa musculatura e a influência desses aspectos na estática e/ou dinâ-mica da ATM justifica-se para melhor compreensão da compo-sição da estrutura facial, dos mecanismos envolvidos na dificul-dade funcional mandibular, na abertura e fechamento da boca, que influenciam notadamente no processo da mastigação e da fala. O estudo aqui proposto tem também a sua importância pelo ineditismo, pois são raros os relatos na literatura nesta área e ausentes com esta abordagem integrada de análise da estrutura e da função do sistema da mastigação.

* Não há conflito de interesses.

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Disfunção Temporomandibular e Dor Orofacial em Pacientes com Necessidades Especiais*

ADRIANA DE OLIVEIRA LIRA ORTEGAPós-doutoranda em Patologia Bucal – FOUSP. Doutora em Ciências Odontológicas – FOUSP. Mestre em Morfologia aplicada à

Disfunção Temporomandibular e Dor Orofacial – Unifesp.Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo – FOUSP.

Ao contrário do que acontecia há alguns anos, atualmente os indivíduos com necessidades especiais têm sido alvo de di-versas pesquisas, uma vez que existe, no mundo moderno, uma preocupação crescente no sentido da melhoria da qualidade de vida das pessoas. Sendo assim, não é difícil entender por que essa vertente científica está sendo cada dia mais valorizada, e a investigação da disfunção temporomandibular e da dor orofacial (DTM/DOF) em pacientes com necessidades especiais (PNE) tem aumentado no meio acadêmico.

Na literatura disponível, é possível encontrar pesquisas rela-cionando DTM/DOF em todos os grupos de PNE. No entanto, é interessante observar que, nessa área, a maior parte das pesqui-sas disponíveis investiga sinais clínicos e não inclui avaliação de dor nos seus questionários.(13) Essa particularidade se deve ao fato de várias condições clínicas virem acompanhadas da falta de capacidade de comunicação própria de indivíduos que exi-bem déficits cognitivos.

Como muitas condições dos PNE determinam prejuízos in-telectuais, a investigação de dor se torna muito difícil, principal-mente tendo em vista que a DOF proveniente da DTM é de ca-ráter crônico. Nas dores agudas, comportamentos e certos sinais autonômicos podem ser identificados pelo profissional sem que o indivíduo necessite verbalizar, o que facilita sua identificação.(10) Aumento da pressão arterial, frequência respiratória e miose pu-pilar são sinalizadores de sensações dolorosas agudas. Mesmo assim, essa avaliação ainda é muito subjetiva.(18)

No entanto, a investigação de dor crônica sem o relato do indivíduo é muito difícil. Alguns indivíduos exibem alteração de humor, com mudanças nos padrões de sono/vigília e apetite. Nem sempre, porém, esses indicadores estão relacionados com dor orofacial crônica; podem também significar outras condi-ções sistêmicas e psicológicas, bem como dores e desconforto em outras partes do corpo. Alguns quadros de origem psicoló-gica como ansiedade e depressão, por exemplo, também podem apresentar sintomatologias semelhantes agindo como fatores confundidores.(4) Sendo assim, não se pode determinar com

precisão a frequência de DTM associada com DOF nos PNE acometidos do ponto de vista cognitivo. Porém, mesmo excluin-do a investigação da sintomatologia dolorosa nas metodologias empregadas, as pesquisas que se detiveram em sinais clínicos apontam uma frequência maior desses indícios nas amostras de PNE. Os sinais clínicos investigados para determinar frequência de DTM são os citados por Carlsson, Magnusson, Guimarães(5) na sua definição de DTM: além da presença da DOF, os indiví-duos com DTM também podem apresentar função irregular da mandíbula e som articular.

Em muitas doenças, é comum observar alterações teciduais, tanto do ponto de vista funcional como do histológico, e essa situação também pode envolver os músculos da mastigação, bem como outras estruturas articulares.(15,16). Uma das condições clínicas mais representativas dessa afirmação é a artrogripose múltipla congênita, em que a alteração tecidual muscular pode desencadear o alongamento do processo coronoide, impedindo assim a abertura bucal.(8) Outras afecções também podem ser in-cluídas nessa condição, como a síndrome de Moebius, fibroma-tose hialina juvenil e espondilite anquilosante.(1,20)

Indivíduos com alterações sistêmicas, como prolapso da val-va mitral e os afetados pela síndrome de Marfan também são referidos na literatura como mais susceptíveis a desenvolver algum tipo de DTM.(3,19,21) Além disso, a frequência de sinais clínicos de DTM se encontra aumentada em grupos de pacientes acometidos por quadros de paralisia cerebral, quando compara-dos com indivíduos normorreativos.(13,17) A paralisia cerebral é uma condição que merece especial atenção, visto que é respon-sável pela maioria dos pacientes que frequentam centros espe-cializados em atendimento de pacientes especiais. No entanto, o profissional deve sempre estar atento a todos os quadros de com-plicações neurológicas, visto que muitos deles estão associados a desordens de movimento.

Diante de situações clínicas que exibem desordens de mo-vimento, é importante lembrar que a causa mais importante no desenvolvimento da DTM são os movimentos mandibulares

* Não há conflito de interesses.

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parafuncionais que sobrecarregam de forma acentuada as estru-turas estomatognáticas, e estes são observados com frequência em PNE.(7,11,12) De modo geral, a motricidade oral fica alterada em decorrência de condições neurológicas adversas, com con-sequente prejuízo para a funcionalidade dos músculos da mas-tigação.(14) No entanto, é importante ressaltar que movimentos mandibulares involuntários nesse tipo de paciente nem sempre podem ser considerados bruxismo.

As alterações de movimento dos músculos da mastigação podem ser chamadas de “desordens motoras orofaciais”. Esse termo abrange situações de hipo ou hiperatividade muscular, que podem ser classificadas em quatro categorias: bruxismo, distonia oromandibular, discinesia orofacial e distonia indu-zida por drogas.(6)

Essa classificação é baseada na etiopatogenia e característi-cas clínicas de cada tipo. A distonia oromandibular é caracteri-zada por movimentos involuntários, repetitivos, com contração muscular sustentada, resultando em postura anormal das estru-turas. Já a discinesia orofacial apresenta movimentos excessi-vamente repetitivos e estereotipados. Drogas ilegais e alguns fármacos medicamentosos podem induzir o quadro chamado distonia induzida por drogas. Essa alteração motora também poderia ser classificada como uma reação sindrômica extrapi-ramidal inespecífica.(6) Outros autores definem como bruxismo iatrogênico aquele secundário ao uso de fármacos e que deve ser considerado uma desordem distinta do bruxismo de etiologia idiopática,(9) e que reforça o envolvimento dos adrenérgicos e serotoninérgicos do sistema nervoso central (SNC).(2)

É importante ressaltar que, clinicamente, existe uma similari-dade entre o bruxismo e movimentos orais estereotipados obser-vados em certas desordens, como síndrome de Rett, discinesias orofaciais espontâneas e distonia oromandibular. Suspeita-se que a hiperfunção do sistema dopaminérgico seja responsável pela maioria dessas desordens.(7)

Diante do exposto, pode-se considerar que os PNE são indi-víduos que precisam de atenção especial dos clínicos para que indícios clínicos de DTM/DOF sejam investigados de forma mais meticulosa.

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217Dor orofacial

PRISM − Instrumento para Avaliação do Impacto da DTM na Vida do PacienteMONIQUE LALUE SANCHES

Preceptora do Ambulatório de Disfunção Temporomandibular e Dor Orofacial da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo − Hospital São Paulo – EPM-Unifesp/HSP. Professora titular de Escultura e Oclusão da Universidade

Santa Cecília – Unisanta – Santos − SP.

O impacto da doença em um indivíduo é complexo. Evi-dências empíricas da prática clínica diária demonstram que esse impacto varia consideravelmente de um indivíduo para outro.(4) Pelo fato de a disfunção temporomandibular (DTM) ser considerada uma doença multifatorial, acredita-se que uma série de fatores neurofisiológicos e psicológicos podem influenciar na predisposição, início ou perpetuação da condi-ção de dor facial, que é um dos sintomas mais frequentes na DTM.(5) Assim, deve ser realizada uma avaliação dos fatores biopsicossociais durante a anamnese. Para um controle biop-sicossocial ideal, o profissional deve entender não somente dos sintomas do paciente, mas também, e de igual importân-cia, do impacto desses sintomas no indivíduo, pois uma das chaves da condição de saúde na prática clínica e na pesquisa é a importância que o indivíduo dá à sua doença na vida diária.(2) Se existem outros aspectos da vida que são mais importan-tes para o indivíduo do que a sua doença, esses parecem con-trolar o impacto da doença.(2) Para isso, foi desenvolvido um gráfico de medida de fácil compreensão e rápida aplicação, denominado PRISM (Pictorial Representation of Illness and Self Measure) (Figura 1), que utiliza uma técnica de visuali-zação não verbal para medir o limiar de sofrimento percebido pelo paciente em relação a sua doença.(3) Esse instrumento foi tradu-zido e validado para o português.(1) Foram rea lizadas análises das

correlações dos valores do PRISM com os valores de vários instrumentos que estão relacionados com os possíveis sinto-mas de DTM, como: escala visual analógica para dor (EVA), escala visual numérica para dor (EVN), questionário de perfil de impacto da saúde oral (OHIP-14),(6) escala de impacto de fadiga modificada (MFIS-5), pictograma de fadiga e o índice hospitalar de ansiedade e depressão (HAD). Apesar de nem to-das as correlações terem sido significantes, a correlação entre os resultados do PRISM e os obtidos pelo questionário OHIP-14 nas dimensões de dor física e desconforto psicológico foi analisada por meio do teste de correlação de Spearman, com o seguinte resultado: dor física rs=0,6182 (p<0,0001)* e des-conforto psicológico rs=-0,4805 (p<0,0001)*. Isso evidencia a presença da dor e do fator psicossocial altamente comprome-tidos nos indivíduos com DTM e proporciona uma representa-ção quantitativa de um aspecto da experiência do paciente em relação à doença, que é normalmente crucial para o tratamento.

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...VOCÊ

Figura 1. PRISM – Lápis e papel

Representação pictórica da doença e automedida (PRISM)Instruções:Imagine que o quadro acima representa sua vida como está neste momento. O círculo no canto inferior direito representa você. Por favor, marque uma cruz (“X”) dentro do quadro, indicando onde a dor está localizada na sua vida. Por exemplo, se a dor é muito importante na sua vida, a cruz deve estar mais próxima do círculo do que se a dor for menos importante para você.

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Avaliação MulticêntricaDisfunção Temporomandibular (DTM) e Dor na Cabeça

CARMEN PAZ S. HOYUELA1 ● GILSON TADAO ENOKI KIHARA1 ● VERA LÚCIA MESTRE ROSA1 ● YOLANDA M. A. CAMARGO2 ● MARCOS YASUDA2 ● JOSÉ ARTUR PUPO2 ● PEDRO COSTA FERREIRA3 ● IVAN SANCHEZ

TORO3 ● RAQUEL BARBOSA3 ● ANTONIO SÉRGIO GUIMARÃES1,2,3

1Ambulatório de Disfunção Temporomandibular e Dor Orofacial da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo − Hospital São Paulo − Unifesp − HSP − São Paulo – Brasil.

2Disciplina de Disfunção Temporomandibular e Dor Orofacial do Centro de Pesquisas Odontológicas São Leopoldo Mandic − Campinas – Brasil.

3Serviço de Disfunção Temporomandibular e Dor Orofacial do Hospital São João da Universidade do Porto − Porto – Portugal.

Cefaleia é definida como “qualquer dor manifestada no segmento cefálico”.(9) De acordo com a Sociedade Internacio-nal de Cefaleia (IHS), as cefaleias podem se dividir em Primá-rias, Secundárias ou Neuralgias Cranianas.(1)

A cefaleia do tipo tensional (CTT) é a forma mais comum de dor de cabeça e, devido à sua alta prevalência na população em geral, vem sendo amplamente estudada. Sabe-se que, pelo fato de ter sido classificada a partir de um diagnóstico presumi-velmente simples, apresenta a desvantagem de ser confundida com outros tipos de cefaleia que apresentam critérios de diag-nóstico semelhantes, como é o caso da migrânea.(5,6)

Disfunção temporomandibular (DTM) refere-se a um gru-po de condições clínicas que envolvem a articulação tempo-romandibular (ATM) e tecidos relacionados, que podem se manifestar como dor na região da ATM, limitação dos movi-mentos mandibulares, e sons articulares como estalido e crepi-tação durante os movimentos mandibulares.(2,8) Alterações nos órgãos dentários, nos maxilares, nos músculos da mastigação e na ATM podem originar diferentes tipos de dores na cabeça.

Muitas vezes durante a palpação de regiões predefinidas do segmento cefálico, para diagnosticar DTM de acordo com o critério de diagnóstico estandardizado e validado Research Diagnostic Criteria for Temporomandibular Disorder (RDC/TMD),(3) há referência de dor para outras regiões que não as palpadas. A dor referida, proveniente da palpação dos pontos--gatilho na face e no pescoço, é frequentemente sentida em forma de cefaleia.(5) Ainda existem controvérsias nos diagnós-ticos tanto da CTT como da dor miofascial, que podem gerar alguns erros de diagnóstico, levando ao sub ou ao sobretra-tamento dessas condições. Evidências recentes estão modifi-cando os conhecimentos prévios sobre a interrelação entre os músculos e a CTT, sugerindo um forte papel dos pontos-gati-

lho musculares e sua dor referida na origem da dor de cabeça.(4-7) Por esse motivo, o objetivo deste estudo foi avaliar a frequência de queixa de dor na cabeça em pacientes diagnosticados com DTM muscular pelo RDC/TMD, suas características clínicas e o resultado do controle destes a partir do emprego de tera-pias conservadoras.

Foi realizado um estudo retrospectivo colaborativo mul-ticêntrico de análise de prontuários clínicos entre os serviços de disfunção temporomandibular e dor orofacial da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo − Hospital São Paulo, Unifesp/HSP − São Paulo − Brasil; do Hospital São João da Universidade do Porto − Porto − Portu-gal, e do Centro de Pesquisas Odontológicas São Leopoldo Mandic − Campinas − Brasil. Nesse estudo foram analisados 700 prontuários, obtidos sequencialmente, de pacientes aten-didos em cada um dos centros. Os dados observados foram: gênero, idade, profissão, grau de instrução, queixa principal, tempo da dor, tratamentos prévios, limitações, padrão de abertura bucal, medidas da amplitude bucal, sons articulares, hábitos parafuncionais, dor referida, diagnóstico, duração do tratamento e condição final.

O tratamento instituído nos prontuários baseou-se em téc-nicas conservadoras que compreenderam: terapia cognitivo--comportamental, exercícios terapêuticos de relaxamento, alongamento e coordenação, terapia de calor com bolsas tér-micas, aplicação de transeletroneuroestimulação (TENS), agu-lhamento seco nas áreas álgicas (ponto-gatilho miofascial) e placa de mordida estabilizadora, quando indicada.

Os resultados mostraram que aproximadamente 30% dos pacientes que apresentaram diagnóstico de dor miofascial pelo critério do RDC/TMD têm dor na cabeça (regiões frontal, tem-poroparietal, posterior da cabeça e calvária). Ao analisar esses

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pacientes, a relação entre homens e mulheres foi de aproxima-damente 1:5, com uma idade média de 44 anos. Mais da metade desses indivíduos (54%) são trabalhadores em tempo integral, sendo o restante compreendido por estudantes, aposentados e, principalmente, donas de casa (36%). Oitenta e cinco por cento dos indivíduos têm, no máximo, o ensino médio.

Na queixa principal, além da presença de dor na cabeça e nas regiões dos músculos da mastigação, metade dos pacientes (52%) apresentaram dor na região cervical e 34% apresenta-ram dor em outra área do corpo que não o segmento cefálico. Essa dor tem um tempo médio de duração de 38 meses e 50% dos pacientes já se submeteram a algum tratamento prévio para essa dor, sendo os mais frequentes com neurologista, otorrino-laringologista, e a colocação de algum tipo de placa oclusal. Em geral, os pacientes não deixaram de realizar suas rotinas diárias por causa da dor, mas alguns evitaram comer alimentos mais consistentes e outros chegaram a faltar ao trabalho por causa da dor. Quase um terço dos pacientes não apresentou ne-nhum hábito como bruxismo diurno ou noturno e parafunção.

O padrão de abertura bucal reto ocorreu em 46% dos pa-cientes e o restante dos pacientes foi distribuído, de maneira uniforme, entre os outros padrões. Durante a abertura ativa da boca sem presença de dor, quase metade dos pacientes apresentaram limitação de abertura (<40mm). Já na abertura ativa máxima da boca e na abertura passiva forçada da boca, praticamente a totalidade dos pacientes apresentaram abertu-ra maior que 40 mm, que está de acordo com o diagnóstico de dor miofascial em 100% dos pacientes cujos prontuários foram analisados. A dor referida esteve presente em mais de 80% dos pacientes.

Quanto ao resultado do tratamento conservador instituído, o tempo médio de tratamento foi de quatro meses e meio. Um pouco mais de um quarto (27%) dos pacientes obtiveram alta. No entanto, dos três quartos restantes, quase dois terços (64%) abandonaram o tratamento, mas apresentaram significante me-lhora constatada pela diminuição dos valores, em mais de dois pontos, da escala verbal numérica, que varia de 0 a 10, aplicada em cada consulta para quantificar a presença de dor.

Com base nesses resultados pode-se concluir que a presen-ça de dor na cabeça em indivíduos com diagnóstico de disfun-ção temporomandibular é de aproximadamente trinta por cento e que sua remissão é conseguida, em 75% dos casos, apenas

com a utilização de tratamentos conservadores. Vale também salientar que, pelas informações obtidas, os profissionais res-ponsáveis pelo diagnóstico e tratamento das dores na cabeça devem abrir mão de um atendimento multidisciplinar para o correto diagnóstico e, consequentemente, o sucesso do trata-mento, objetivando o bem-estar do paciente.

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Cuidados paliativos8

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Avaliação Física: Aspectos Essenciais em Cuidados PaliativosELGE WERNECK ARAÚJO JÚNIOR1 ● RICARDO CAPONERO2

1Oncologista Clínico da Clínica de Oncologia Médica de São Paulo e do Hospital Professor Edmundo Vasconcelos – São Paulo – SP.

2Oncologista Clínico da Clínica de Oncologia Médica de São Paulo.

O tratamento oncológico, vem, nas últimas décadas, em crescimento importante. O desenvolvimento de novas drogas, entre as quais se destacam o surgimento e a afirmação da tera-pia alvo-específica,(1) as novas modalidades radioterápicas, com tratamentos progressivamente menos tóxicos(2) e a ampliação do arsenal cirúrgico,(3) com procedimentos cada vez menos invasi-vos, têm mudado o curso do câncer, permitindo um panorama de aumento da chance de cura(4) e de maior sobrevida em várias patologias,(5) com menor morbidade relacionada ao tratamento. Amplia, assim, a perspectiva de vida dos pacientes oncológicos. Embora essas conclusões sejam bastante claras, a mortalidade permanece muito alta,(6) e o aumento de sobrevida traz aos pa-cientes um tempo maior de convívio com a doença, com con-sequentes intercorrências e sintomas a ela relacionados. Dessa forma, a necessidade de melhores terapêuticas suportivas esti-mulou o desenvolvimento de adequadas abordagens antiálgicas, nutricionais, psicológicas, entre outras.

Publicado em 2004, o Manual Norte-Americano de Condu-tas Práticas em Cuidados Paliativos visa uniformizar essa aten-ção aos pacientes, reafirmando a necessidade da multidisciplina-ridade, do seu início precoce e de sua integralidade, oferecendo ao doente todos os cuidados necessários para seu bem-estar, sem abrir mão do tratamento oncológico específico.(7) Definido como o conjunto de ações médicas, de enfermagem, de aconselhamen-to entre outros, oferecido ao paciente e a seus familiares median-te uma doença potencialmente grave, o cuidado paliativo define o processo de hospitalização como uma de suas etapas, porém em fases mais avançadas da doença, em que a debilidade clínica do enfermo j� não mais permite que seus cuidados sejam realiza- j� não mais permite que seus cuidados sejam realiza-que seus cuidados sejam realiza-dos ambulatorialmente. Concordante com outras publicações,(8) o consenso sugere que o cuidado paliativo deve começar no início do tratamento oncológico, independentemente do estádio clínico da doença. Esse tratamento suportivo precoce associado à quimioterapia paliativa em neoplasia pulmonar avançada, por exemplo, não só oferece melhor qualidade de vida ao paciente como também aumenta a sobrevida em relação àqueles que ti-verem cuidados paliativos apenas em seus estádios mais avan-çados e sintom�ticos.(8) A partir dessas publicações, sugere-se o

início precoce do tratamento paliativo, não o interrompendo até o término do tratamento oncológico ou o óbito do paciente.

A avaliação periódica do paciente, com a compreensão do quadro clínico e a sua evolução, é fundamental na manutenção ou interrupção do tratamento oncológico específico. Um dos critérios mais aplicados como fator preditor de resposta à terapêutica proposta e, consequentemente, à sobrevida do paciente é a sua funcionalida-de, isto é, a sua capacidade de realizar atividades básicas.(9) A perda da capacidade funcional, com a necessidade de auxílio inclusive para as próprias necessidades b�sicas, não só reduz de forma sig-nificativa a qualidade de vida como também aumenta o risco de doenças oportunistas, tais como infecções, trombose venosa pro-funda, desnutrição, etc. Duas escalas largamente utilizadas, basea-das exclusivamente na avaliação física do paciente, analisam essa questão e servem como parâmetro para definição do tratamento a ser proposto. A escala do grupo ECOG(10) e a de performance de Karnofsky,(11) apesar de pontuarem de forma diferente, avaliam critérios bastante semelhantes.

Grau ECOG

0Completamente ativo; capaz de realizar todas as suas

atividades sem restrição.

1Restrição a atividades físicas rigorosas; é capaz de

trabalhos leves e de natureza sedentária.

2Capaz de realizar todos os autocuidados, mas incapaz de realizar qualquer atividade de trabalho; em pé aproximada-

mente 50% das horas em que está acordado.

3Capaz de realizar somente autocuidados limitados; confina-do ao leito ou cadeira mais de 50% das horas em que está

acordado.

4Completamente incapaz de realizar autocuidados básicos;

totalmente confinado à cadeira ou ao leito.

5 Morto.

ECOG PERFORMANCE STATUS*

Apesar de possibilitarem análises errôneas do estado de al-guns pacientes − uma vez que, levando em conta a funcionalida-de e a independência destes, pode atribuir uma condição ruim a um doente com déficit motor exclusivo porém com ótimo estado

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geral −, essas escalas são bastante sensíveis para a interpretação e uniformidade da população em geral, principalmente para a análise de estudos clínicos. Além disso, como já visto, a capa-cidade funcional parece ser um dos fatores mais importantes na decisão terapêutica de um paciente. Dados sugerem que pacien-tes que permanecem mais de 50% do tempo acamados, isto é, classificados pela escala ECOG no nível �, não apresentam be- nível �, não apresentam be-�, não apresentam be-nefício ao serem submetidos à quimioterapia paliativa.(12)

H� outros achados na an�lise clínica do paciente que são im-portantes, tais como desidratação, desnutrição, nível de cons-ciência, etc. Embora eles sejam também decisivos no contexto clínico, suas características de incidência habitualmente agudas associadas à possível correção do quadro os tornam secund�rios em relação à escala de estado funcional, que traduz com mais confiabilidade o estado crônico do paciente.

Dessa forma, atribui-se à análise funcional grande importân-cia perante a decisão de tratar ou não o paciente, uma vez que, analisando o enfermo como um todo, retrata com propriedade o seu atual estado clínico e seu prognóstico.

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Capaz de realizar suas atividades,sem cuidados especiais.

100 Sem sinais ou queixas; sem evidência de doença.

90 Mínimos sinais ou sintomas, capaz de realizar suas atividades com esforço.

80 Sinais ou sintomas maiores; ainda realiza atividades com esforço.

Incapaz de trabalhar. Necessita de cuidados ocasionais.

70 Cuida de si mesmo, não é capaz de trabalhar.

60 Requer assistência ocasional.

50 Necessita assistência frequente e cuidados médicos consideráveis.

Incapaz de cuidar de si próprio, precisa de assistência institucional.

40 Necessita cuidados médicos especiais.

30 Extremamente incapacitado, necessita de hospitalização, mas sem iminência de morte.

20 Muito doente, necessita internação para suporte.

10 Moribundo; morte iminente.

0 Morto

KARNOFSKY PERFORMANCE STATUS - Escala de classificação (%)

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225Cuidados paliativos

Aspectos EmocionaisO que investigar, como fazer e registrar em Cuidados Paliativos

ANA GEORGIA CAVALCANTI DE MELOPsicóloga Clínica especializada em oncologia em cuidados paliativos. Fundadora e Membro da Comissão Consultora da

Associação Brasileira de Cuidados Paliativos.

Os pacientes acometidos por doenças crônicas, principal-mente câncer, frequentemente apresentam mais de um sintoma. É importante que seja realizada uma avaliação adequada e con-trolada sobre a evolução dos sintomas mais frequentes.

A avaliação do paciente deve ser individualizada, principal-mente, em cuidados paliativos, estando o paciente em estado terminal ou não, para que sejam atendidas também as necessi-dades dos familiares e cuidadores e para que o planejamento de intervenções seja adequado e eficaz. Para tanto, devemos iniciar a assistência com a realização de um exame físico adequado, investigando os sinais e sintomas associados à doença (dispneia, fadiga, n�usea e vômito, constipação e outros), avaliar o nível de consciência do paciente e quais fatores influenciam na melhora ou piora dos sintomas físicos, visando o melhor manejo dos sin-tomas e respostas ao tratamento.

Quanto às condições psicossociais, é necess�rio avaliar a maneira pela qual o paciente recebe o diagnóstico e lida com esse primeiro momento. É importante observar quais recursos psíquicos e aspectos culturais estão envolvidos, idade, tipo e localização do tumor, est�gio da doença, qual é o papel do pa-ciente no núcleo familiar e social, como são os relacionamentos afetivos, que tipo de cuidados recebe em casa. Deve-se levar em conta também as preocupações espirituais, o desespero, a culpa, o perdão e a aceitação do paciente e de seus familiares durante o processo do adoecer, pois todos esses fatores influenciarão o modo pelo qual esse paciente enfrentará seu tratamento.

Durante o processo de enfrentamento, desde o diagnóstico até a morte e o luto, devem ser oferecidos apoio integral e con-tínuo, através de uma ação clara e comunicação eficiente entre o paciente, a equipe e os familiares. Também devem ser identifica-dos os fatores de risco entre os familiares, avaliando a situação e a potencial reação de luto patológico

Além disso, é primordial oferecer os cuidados básicos de supor-te para manter a dignidade da vida: cuidados com alimentação, hi-dratação, higiene e mudanças de decúbito para conforto do paciente são parte dos cuidados essenciais para promover o seu bem-estar.

Os sintomas e a evolução, fruto de discussões claras e ob-jetivas entre o médico, a equipe e a família sobre diagnóstico,

prognóstico e risco de óbito, devem ser observados e regis-trados, avaliando as necessidades de suporte e garantindo o conforto necessário.

A consistência da informação dada por todos os membros da equipe para o paciente e seus familiares é a base de todo o pro-cesso, pois através dessa comunicação clara e consensual vir� a confiança para que sejam tomadas todas as decisões do paciente ou seu respons�vel legal com relação aos tratamentos.

É importante, então, avaliarmos o paciente como um todo: seus sintomas físicos, psicológicos, sociais e espirituais, quais recursos psíquicos de enfrentamento da doença, bem como o nível de esperança do paciente e seus familiares em relação aos tratamentos.

A esperança é um conceito importante no enfrentamento dos tratamentos, é um conceito multidimensional e um instrumento eficaz para enfrentar o sofrimento, fortalecendo a adesão ao tra-tamento. Pela dificuldade encontrada em medi-la, a abordagem da esperança tem sido confiada à intuição e à sensibilidade dos profissionais, que devem ter o ingrediente b�sico da compaixão. Sem a escuta ativa e a compaixão, o profissional dificilmente ir� ao encontro das reais necessidades do paciente. Muitos estudos têm sido realizados para a construção de instrumentos eficazes e validados para medir a esperança diante do sofrimento, apesar de terem sido observados pela intuição e sensibilidade dos pro-fissionais, pois através desses instrumentos de avaliação pode-mos escolher o que é mais adequado para cada paciente.

Estudos apontam que alguns elementos de complexidade são associados à situação emocional, como: adaptação à doen-ça, preocupações espirituais, desespero, culpa, perdão, aceitação frente ao sofrimento, presença de ansiedade, depressão, culpa, medo e alterações de comportamento e nas relações sociais.

O nível de angústia (distress) também é atribuído a muitos significados e sentimentos desagrad�veis ou emoções que po-dem causar problemas durante o diagnóstico e tratamento. O paciente se sente triste, sem energia, com medo, culpado, ansio-so, em pânico, desencorajado, deprimido, com incertezas, e isso afeta vários âmbitos da sua vida, seus sentimentos, pensamen-tos, comportamento e a interação com o outro.

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Durante o curso da doença pode haver v�rios impactos psi-cológicos. A doença nos remete a pensar sobre a nossa vulnera-bilidade e a perda de controle sobre a vida do outro. Não só a imagem corporal sofre modificações, mas também a percepção de si mesmo.

A angústia psicológica surge quando uma pessoa não é ca-paz de atender às próprias expectativas, não é capaz de alcançar uma meta que lhe é importante, ou não é capaz de manter rela-cionamentos significativos. A angústia psicológica pode ser ma-nifestada através da ansiedade ou depressão, podendo estas ser vivenciadas em diferentes graus: leves, moderadas ou intensas.

Os pacientes necessitam conversar sobre seus sentimentos, mas os que apresentam sintomas moderados e severos neces-sitam da assistência de um profissional de saúde mental. Aque-les com maior risco de depressão são os pacientes com doença avançada, história de distúrbios psicológicos ou alcoolismo, ele-vada incapacidade física, dor não controlada, doenças paralelas que causam sintomas depressivos e falta de suporte social.

São inúmeras as questões que podem surgir com o paciente em processo de morte e seus familiares. Alguns autores sugerem o uso de checklists padronizados para a avaliação de sintomas ou instrumentos de avaliação psicossocial em cuidados paliati-vos. São instrumentos de f�cil manuseio, permitem avaliação frequente e documentação de sintomas físicos e psicológicos.

A avaliação, em cuidados paliativos, deve ser sempre global, investigando fatores cognitivos, emocionais, comportamentais, sociais e espirituais, obviamente, além dos sintomas físicos.

Ao selecionar um instrumento de avaliação psicométrica mais adequado, é necessário considerar sua qualidade e sua ade-quação às demandas do trabalho, em termos de tempo, espaço e limitações do paciente em responder.

Alguns instrumentos j� são utilizados internacionalmente e um ponto primordial est� em sua adaptação transcultural.

Algumas escalas j� estão adaptadas para a população brasi-leira e podem ser utilizadas por profissionais em cuidados palia-tivos, mas sempre considerando a especificidade de cada caso, visando o benefício do paciente.

V�rios instrumentos são utilizados, como:− Mini International Neuropsychiatric Interview (MINI)

Versão 5.0 (Sheehan DV, Lecrubier Y, Sheehan KH, Amorim P, Janavs J, Weiller E, et al. The Mini International Neurop-sychiatric Interview (MINI): the development and validation of a structured diagnostic psychiatric interview for DSM-IV and ICD-10. J. Clin. Psichiatry, 1998;59:22-��, um modelo de en-trevista estruturada.

− Miniexame do Estado Mental (MEEM), elaborado por

Folstein; permite a avaliação de funções cognitivas e o rastrea-mento de quadros demenciais.

− Invent�rio de Ansiedade Beck (do inglês Beck Anxiety In-ventory, BAI), uma escala de autorrelato, que mede a intensida-de de sintomas de ansiedade.

− Invent�rio de Depressão Beck (do inglês Beck Depression Inventory, BDI), escala composta por itens descritivos de atitu-des e sintomas, de autorrelato.

− Escala de Desesperança Beck (do inglês Beck Hopelessness Scale, BHS), escala com itens descritivos de atitudes, sintomas, de autorrelato.

− Invent�rio Beck de Ideação Suicida (Beck Scale for Sui-cide Ideation, BSI), o sujeito opta pela sentença que melhor representa como ele tem se sentido na última semana.

− Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão (HADS), avalia os sintomas de ansiedade e depressão em pacientes em hospitais não psiqui�tricos.

− Escala para Avaliação de Depressão de Hamilton (HAM--D) (do inglês Hamilton Depression Rating Scale), avalia a gravidade dos sintomas depressivos.

− Escala para Avaliação de Depressão de Hamilton, versão de 7 itens-HAM-D7 (do inglês Hamilton Depression Rating Scale), avalia a gravidade dos sintomas depressivos, com 10 itens a menos.

− Escala para Avaliação de Ansiedade de Hamilton-HAM-A (do inglês Hamilton Anxiety Rating Scale), avalia a gravidade dos sintomas de ansiedade.

− Question�rio de Saúde Geral de Goldberg-QSG (do inglês The Detection of Psychiatric Illness by Questionary), avalia a saúde mental e procura identificar a severidade dos distrúrbios psiquiátricos menores.

− Invent�rio de Expressão da Ansiedade como Estado e Traço-STAXI (do inglês State-Trait Anger), oferece medidas da experiência e da expressão da ansiedade.

− Escala Fatorial de Socialização (EFS), avalia a socialização, associada à qualidade das relações interpessoais típicas.

− Escala Fatorial de Ajustamento Emocional (EFN), Invent�-rio de Fobia Social (do inglês Social Phobia Inventory − SPIN), avalia sintomas relacionados à fobia social nas últimas semanas.

− Mini-invent�rio de Fobia Social (Mini SPIN), versão reduzida do SPIN, Question�rio de Ansiedade Cardíaca (do inglês Cardiac Anxiety Questionnaire − CAQ), avalia a intensidade cardíaca.

− Invent�rio de Sintomas de Estresse de Lipp (ISSL), avalia o estresse para sujeitos acima de 15 anos e adultos.

− Death Anxiety Scale, mensura atitudes diante da morte e acerca do morrer.

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227Cuidados paliativos

− Chronic Pain Self-Efficacy Scale (CPSS), avalia a autoefi-c�cia relacionada à percepção da dor.

− Escala de Desejo de Aceitação Social de Marlowe & Crowne, mensura o desejo de aceitação social.

− Instrumentos de Medida do Sentimento de Impotência para Pacientes Adultos, avalia a capacidade de realizar compor-tamento, a percepção da capacidade de tomar decisões.

− Escala de Esperança de Herth (do inglês Herth Hope Index − HHI), avalia o construto esperança.

− Stroke Specific Quality of Life Scale (SSQOL), avalia a qualidade de vida para pacientes de acidente vascular encefálico.

− Medical Outcomes Short-Form Health Survey (SF-�6), avalia tanto fatores físicos quanto emocionais, dirigido para as últimas 4 semanas.

− Instrumento de Avaliação de Qualidade de Vida da Orga-nização Mundial de Saúde (WHOQOL-BREF), avalia aspectos multidimensionais da qualidade de vida.

− WHOQOL-100, avalia seis domínios com melhores pro-priedades psicométricas.

− WHOQOL-HIV, instrumento dirigido para pacientes com HIV.

− WHOQOL-OLD, avalia a qualidade de vida de pacientes idosos.

− WHOQOL-SRPB, avalia a espiritualidade, religiosidade e crenças pessoais.

− Escala de Rastreamento Populacional para Depressão (do inglês Center for Epidemiologic Studies on Depression-CES--D), identifica sintomas de depressão em adultos, sendo dividi-dos em humor, comportamento e percepção.

− Invent�rio de Estratégias de Coping (do inglês Ways of Coping Inventory − WCI), avalia ações e pensamentos que po-dem ser utilizados para lidar com situações estressantes.

− Impact of Event Scale, avalia o estresse subjetivo relacio-nados a evento de vida.

Esses instrumentos de avaliação psicométrica são apenas alguns entre muitos não citados, utilizados em outras culturas.

A avaliação das v�rias dimensões dos pacientes em cuida-dos paliativos é necess�ria, envolvendo uma visão global do paciente. Para tanto, é importante que a equipe multidisciplinar trabalhe em harmonia e veja o paciente e sua família de manei-ra individual e integral. Todos os esforços da equipe devem ser para oferecer cuidados contínuos e integrais, levando em conta os aspectos individuais dos pacientes e de seus familiares.

O psicólogo é o profissional que identifica e participa do questionamento do paciente frente a um diagnóstico que ameaça a sua vida, transforma a sua rotina e acompanha as decisões du-

rante todo o processo de enfrentamento da doença, até a morte e no processo de luto, junto aos familiares e cuidadores.

V�rias intervenções psicológicas têm sido efetivas em cuida-dos paliativos, como: terapias de grupo − porque reforçam o es-clarecimento de dúvidas e preocupações, promovendo o enfren-tamento ativo; terapia cognitivo-comportamental, direcionada para a identificação de distorções relacionadas com a doença, re-colocando pensamentos disfuncionais e prejudiciais; terapias in-dividuais breve e de suporte, cujo objetivo principal é estabelecer mecanismos de enfrentamento adaptativos, minimizando reações adversas (medo, vergonha, baixa autoestima); terapia dinâmica, que tem como foco principal o significado da doença, da perda, a interrupção das relações pessoais e o prejuízo da competência e autonomia; e técnicas como biofeedback, imagens, hipnose e meditação, úteis para o alívio da dor e diminuição da ansiedade.

Além do controle da dor e do alívio de sintomas em diferen-tes patologias, o foco maior é identificar a maneira de enfrenta-mento de cada paciente e oferecer conforto, dignidade e, acima de tudo, um significado para esse processo. Cada vida encontra seu sentido e nós, profissionais de saúde, temos a oportunidade de compartilhar esse momento íntimo e único da vida de cada ser humano que encontramos.

Muitas pesquisas sobre instrumentos de avaliação e sobre melhores abordagens devem ser estudadas, mas atualmente já podemos oferecer uma assistência digna, se houver formação, capacitação, comprometimento e compaixão por parte de quem cuida. Sempre que estivermos “medindo” algo, o que é total-mente necessário para uma melhor assistência, devemos lembrar que estamos avaliando aspectos subjetivos e que o foco sempre será oferecer o maior conforto e bem-estar ao paciente, seus fa-miliares e cuidadores.

CONCLUSÃO

As intervenções psicológicas devem ser consideradas com outras abordagens psicossociais, devem incluir intervenções de âmbito social, incluindo a família, amigos, equipe de saúde e cuidadores, assistência através da informação, compreensão, gerenciamento e integração das intervenções, para que possam levar ao encontro do significado da própria existência.

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229Cuidados paliativos

Identificação e Mensuração de Sintomas: O que investigar, como fazer e registrar*

ROSMARI WITTMANN-VIEIRAMestre em Ciências Médicas pela UFRGS. Enfermeira Chefe do Núcleo de Cuidados Paliativos e da Unidade Cirúrgica de

Cuidados Mínimos Pós-operatórios do Hospital de Clínicas de Porto Alegre – RS.

Os cuidados paliativos têm por objetivo o alívio da dor e do sofrimento, proporcionando bem-estar e qualidade de vida ao pa-ciente e seus familiares na fase final da vida. Por isso a OMS(17) sugere que seja identificado precocemente tratando a dor e outros problemas físicos, psicossociais e espirituais que os acometem, com o objetivo de prevenir e aliviar o sofrimento, facilitando o tratamento dos sintomas e promovendo a manutenção da qualida-de de vida do paciente e de sua família durante todo esse percurso.

Neste momento, o enfoque terapêutico é voltado para a qualidade de vida, o controle dos sintomas do doente e o alí-vio do sofrimento humano integrado pelo caráter interdisci-plinar dos cuidados paliativos.(10)

Os principais sinais e sintomas apresentados pelos pacien-tes em Cuidados Paliativos são: dor, constipação; n�useas e vômitos; inapetência; dispneia; e fadiga.

DOR

Dor é definida pela Sociedade Internacional para o Estudo da Dor como uma experiência sensitiva emocional desagradável relacionada à lesão tecidual ou descrita em tais termos.(9) Sua percepção é individual e não deve ser desvalorizada. Segundo Pasin,(13) “acreditar na verbalização da dor sentida e referida é o primeiro passo para mudanças comportamentais do profis-sional frente ao paciente com dor”.

A avaliação da dor deve aparecer na folha de registros intensivos da enfermagem, como o 5º sinal vital e nas evolu-ções di�rias do paciente realizadas pela enfermeira. Também é necess�rio registrar a localização da dor no corpo, a des-crição da dor e os fatores que fazem com que a dor piore ou melhore, informados pelo paciente.

Para avaliar a dimensão da intensidade da dor, foram de-senvolvidas escalas unidimensionais de autorrelato:

− Escala Numérica Verbal (ENV): É dada, por quem sente a dor, uma nota de zero (0) a dez (10), sendo o zero (0) a ine-xistência de dor e 10 a dor insuport�vel. Registra-se o valor atribuído. Pode ser utilizada em crianças e adultos, desde que tenham noção da ordem numérica crescente.

− Escala Categórica Verbal (ECV): São utilizados descri-tores verbais para a avaliação da dor entre adultos e crianças que se comunicam verbalmente. São atribuídos valores nu-méricos para cada descritor, registrando-se o valor numérico correspondente: Sem dor (0), Dor leve (1-�), Dor moderada (4-6), Dor intensa (7-9) e Dor insuportável (10).

− Escala An�loga Visual (EAV): Uma linha reta de 10 cen-tímetros é mostrada ao paciente para que este aponte qual é o ponto em que está sua dor, sendo zero (0) sem dor e dez (10), dor insuport�vel, na extremidade oposta. Registra-se o valor atribuído correspondente. A escala é usada para adultos e crianças a partir dos sete anos. Elas indicam a presença da dor sem avaliar as outras dimensões, como a psicológica, a social e a espiritual.

Após a avaliação da dor como 5º sinal vital, aplica-se o re-sultado na escada analgésica proposta pela OMS,(6) indicando qual a melhor analgesia a ser utilizada. A escada orienta o uso sequencial de drogas no tratamento da dor.

Também existem pr�ticas complementares como: distra-ção; relaxamento; imaginação; respiração; aplicação de frio ou calor local, e massagem de conforto. (8)

CONSTIPAÇÃO

Segundo o INCA, a constipação é verificada quando o in-tervalo entre as evacuações é maior que três dias, ou quando estas ocorrem menos frequentemente que o habitual do pa-ciente, e pode estar presente em aproximadamente 40% dos casos de câncer avançado, sendo prevalente em 90% dos pa-cientes que usam opioides.(5) A constipação representa causa importante de desconforto, comprometendo a qualidade de vida desses pacientes.

A ABCP publicou um estudo que definiu “a constipação intestinal induzida por opioides como sendo caracterizada por evacuações dificultosas ou dolorosas associadas a eva-cuações infrequentes e fezes endurecidas e/ou em pequena quantidade, frequentemente associadas à distensão abdomi-nal, redução dos ruídos hidroaéreos, dor abdominal à palpa-

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ção, presença de fezes endurecidas ou fecaloma ao toque retal e/ou exame radiológico compatível com o quadro, em pacien-tes cujo h�bito intestinal anteriormente não apresentava tais alterações, ou que apresentem piora dos sintomas após início dos opioides, e nos quais tenham sido descartadas outras cau-sas potencialmente associadas à disfunção.”(2)

NÁUSEAS E VÔMITOS

É fundamental que o profissional de saúde questione es-pecificamente os sintomas no momento da avaliação, pois o paciente com n�usea crônica pode não se queixar. Saxby descreve os vômitos como facilmente identificados e, assim, diagnosticados e tratados.(14,3)

Ambos são comuns entre os pacientes em cuidados palia-tivos, porém de difícil controle, sendo necessário, frequente-mente, intercalar mais de uma medicação propiciando que o paciente sempre tenha algo para receber, e minimizando seu desconforto. (5,16)

INAPETÊNCIA

Em geral, nos últimos dias de vida, os pacientes passam a não ter fome, mesmo os que não apresentam n�useas e vômi-tos. Às vezes, o paciente pede algo diferente para comer ou beber, porém mal coloca o alimento na boca já está saciado. Os profissionais devem auxiliar os familiares no entendimen-to desse processo de proximidade da morte, minimizando a ansiedade associada a essa situação.(5)

FADIGA

A fadiga é uma sensação de cansaço que não é aliviada após o emprego das estratégias usuais para restauração da energia, interferindo na capacidade da pessoa em desempenhar suas atividades.(12)

O doente descreve a fadiga como desmotivação, sensação de fraqueza, tristeza, dificuldade de concentração, cansaço, falta de energia, entre outros. Em pacientes em cuidados pa-liativos, a prevalência varia entre 75% e 99%, sendo mais intensa à medida que a morte se aproxima.(7)

O INCA(5) cita como fatores desencadeantes: período pós--quimioterapia e radioterapia, uso de corticoides, distúrbios metabólicos, sangramento, sedação, sepse, depressão, des-nutrição, medicamentos, entre outros. O nosso objetivo, ao atendermos o paciente com fadiga, é manter a capacidade funcional que ele tem e minimizar as perdas desnecessárias de energia.(11)

Após constatar a fadiga deve-se investigar as causas,

fatores que aumentam ou diminuem, propor o tratamento e reavaliar periodicamente. Descansar durante o dia é muito importante, porém saber distribuir isso em intervalos curtos é necessário para evitar a troca do dia pela noite.(1)

DISPNEIA

A dispneia é definida como uma sensação desconfort�vel de falta de ar.(4) Ela “prejudica a memória e limita as atividades da vida di�ria: habilidade para caminhar, subir escadas, tomar banho, dormir e repousar, alimentar-se e concentrar-se”.(15)

Segundo o INCA,(5) a intensidade da dispneia pode não estar diretamente relacionada à severidade do quadro clínico. Por ser um sintoma subjetivo, ela ocorre em aproximadamen-te 60 a 70% dos pacientes com câncer avançado. Inicialmente é necess�rio definir as causas da dispneia e trat�-las, o que poderá aliviar o desconforto.

CONCLUSÃO

Estas avaliações e seus registros têm como objetivos: 1) melhorar a qualidade do cuidado; 2) tornar a dor visível aos profissionais da saúde; �) ter registros sistem�ticos do pa-ciente; 4) instituir tratamento apropriado; 5) proporcionar aos profissionais da saúde conhecimentos que estabeleçam uma comunicação e linguagem entendida por todos: profissionais, pacientes e familiares; 6) avaliar a efic�cia do tratamento rea-lizado.

REFERÊNCIAS

1. ABCP. Consenso Brasileiro de Fadiga. Rev Bras de Cui-dados Paliativos 2010;�(2) Supl. 1.

2. ABCP. Consenso Brasileiro de Constipação Intestinal In-duzida por Opioides. Rev. Bras. de Cuidados Paliativos 2009;2(�) Supl. 1.

3. ABCP. Consenso Brasileiro de N�useas e Vômitos em Cuidados Paliativos. Rev. Bras. de Cuidados Paliativos 2011;�(�) Supl. 2.

4. American Thoracic Society. Dyspnea. Mechanisms, as-sessment and management: a Consensus Statement. Am J Respir Crit Care Med 1999; 159:�21-40. Disponível em: <www.atsjournals.org>. Acesso em abr. 2009.

5. Brasil. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer. Cuidados Paliativos Oncológicos: controle de sintomas. Rio de Janeiro: INCA, 2001.

6. Brasil. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer. Cuidados Paliativos Oncológicos: controle da dor. Rio de Janeiro: INCA, 2001.

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7. Jenkins CA et al. Demographic, symptom, and medication profiles of cancer patients seen by a palliative care consult team in a tertiary referral hospital. J Pain Symptom Mana-ge 2000; 19(�):174-84.

8. McCaffery M, Pasero C. Pain clinical manual. St Louis: Mosby, 1999.

9. Merskey H, Bogduk N (ed.). Classification of Chronic Pain. Seattle: International Association for the Study of Pain; 1994. Disponível em: <http://www.iasp-pain.org/terms-p.html>. Acesso em maio 2009.

10. Moser A, Soares AMM. Bioética: do consenso ao bom senso. Rio de Janeiro: Ed. Vozes, 2006. 190 p.

11. Mota DDCF, Pimenta CAM. Fadiga em pacientes com câncer avançado: conceito, avaliação e intervenção. Rev Bras Canc 2002;48(4):577-8�.

12. Mota DD, Pimenta CA. Controle da fadiga. In Pimenta CA, Motta DD, Cruz DA. Dor e cuidados paliativos. São Paulo: Manole, 2006.

13. Pasin S, Flores G. Atenção à pessoa com dor. In: Leite, Maria Madalena Janu�rio. PROTENF − Programa de atua lização para técnicos de enfermagem. Porto Alegre: Artmed/Panamericana, 2008. p. 6�-92.

14. Saxby C et al. How should we measure emesis in palliati-ve care? Palliative Medicine, 21(5):�69-8�, 2007.

15. Silva YB, Silva J. Controle da Dispneia. In Pimenta CA, Motta DD, Cruz DA. Dor e cuidados paliativos. São Pau-lo: Manole, 2006.

16. Vieira WR. Atuação do técnico em enfermagem frente ao paciente com cuidados paliativos. In: Leite, Maria Mada-lena Janu�rio. PROTENF − Programa de atualização para técnicos de enfermagem. Porto Alegre:, Artmed/Paname-ricana, 2009. p. 101-127.

17. World Health Organization. World Cancer Report, 2008. [Internet]. France: International Agency for Research on Cancer. 2009. 512 p. Disponível em: <http://www.iarc.fr/en/publications/pdfs-online/wcr/2008/index.php>. Acesso em: 17 fev 2010.

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Cuidados Paliativos em Oncologia:Medicina Antroposófica e Homeopatia no Controle de Sintomas*

NILO E. GARDINTítulo de especialista em Clínica Médica e Hematologia. Pós-graduação em Homeopatia e em Medicina Antroposófica.

Associação Brasileira de Medicina Antroposófica.

INTRODUÇÃO

Medicinas complementares são sistemas médicos carac-terizados como não integrantes do modelo médico conven-cional alop�tico pelo fato de se basearem em explicações de ação diferentes daquelas adotadas por esse sistema.

Estima-se que as medicinas tradicionais e complemen-tares (medicina tradicional chinesa, ayurveda, fitomedici-na, homeopatia etc.) atendam a dois terços da população da Terra, restando um terço que é atendido pela medicina alo-p�tica ou convencional. Isso ocorre porque boa parcela da população sequer tem acesso regular ao que a Organização Mundial de Saúde (OMS) classifica como drogas essen-ciais. De acordo com a OMS, as razões mais comumente reportadas para o uso das medicinas complementares estão ligadas ao fato de que elas são mais disponíveis, mais pró-ximas da ideologia das pessoas, e menos paternalistas que a medicina alopática.(1)

Tais pr�ticas não pretendem excluir o uso de terapias con-vencionais, mas conseguem reduzir o uso de antidepressivos, ansiolíticos, antibióticos e anti-inflamatórios. Estas são pre-missas da OMS, que recomenda aos médicos uso criterioso de tais medicamentos, devido ao seu grande potencial de efei-tos adversos à saúde.

Aproximadamente 85% dos pacientes oncológicos utilizam terapias complementares.(2,3) Entre as principais, estão homeo-patia, fitomedicina, acupuntura e medicina antroposófica.

Segundo o Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos, as razões que levam alguém a associar tratamento complementar ao convencional oncológico são: tentar reduzir efeitos adversos do tratamento do câncer (n�useas/vômitos, dor, fadiga), diminuir estresse e preocupações, sentir que est� fazendo algo a mais para se ajudar, e tentar tratar ou curar seu câncer.(4) Quem busca tratamento complementar para o câncer geralmente tem nível educacional mais alto e postura mais ativa nas decisões.(5)

O preconceito de que as terapias complementares afas-tam o paciente do tratamento oncológico convencional não se

fundamenta em evidências.(6) Ao contr�rio, os pacientes são estimulados a também manterem esse tratamento.

O termo “medicina integrativa” foi criado h� pouco mais de dez anos para designar a combinação do tratamento con-vencional e tratamentos complementares, com a ideia do cui-dado integral à saúde.

Reviso aqui a aplicação nos cuidados paliativos oncológi-cos de duas medicinas complementares no âmbito integrati-vo: homeopatia e medicina antroposófica.

HOMEOPATIA

Homeopatia é um sistema médico baseado no uso de me-dicamentos diluídos e agitados sucessivamente (em doses mí-nimas), na experimentação no homem sadio, e no princípio da similitude.

As bases teóricas da homeopatia estão fundamentadas no vitalismo: a ideia da força vital que organiza os fenômenos fisiológicos. A doença decorre primariamente da alteração de tal força, portanto o tratamento causal homeop�tico implica es-timular a força vital através do uso de medicamentos dinamiza-dos. Ao vitalismo se opõe o mecanicismo materialista, origina-do no positivismo, que atualmente domina o mundo científico.

No Brasil, desde 1980 o Conselho Federal de Medicina reconhece a homeopatia como especialidade médica.

HOMEOPATIA PARA TRATAMENTO COMPLEMENTAR DO CÂNCER

Medicamentos homeopáticos muito raramente causam efeitos adversos importantes ou interações com medicamen-tos convencionais.

O tratamento homeopático pode reduzir ansiedade, melho-rar a disposição geral e restituir qualidade de vida. Seu uso na terapia paliativa do câncer pode trazer benefícios. Como toda medicina de base vitalista, a homeopatia individualiza seu tra-tamento de acordo com o paciente. Isso muitas vezes dificulta avaliar sua efic�cia nos modelos de estudos mais aceitos.

Thompson & Reilly(7) trataram cem pacientes referidos para terapia complementar do câncer com medicamentos ho-

* Não h� conflito de interesses.

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meopáticos individualizados, com o intuito de reduzir sinto-mas, melhorar humor e qualidade de vida. As queixas mais frequentes foram artralgia, fadiga e fogacho. Houve melhora no escore de fadiga (p=0,002), ansiedade (p=0,01), depres-são (p=0,0�) e fogachos (p=0,04). Para 75% dos pacientes, a abordagem foi útil ou muito útil para seus sintomas.

PARA MUCOSITE

Oberbaum et al.(8) conduziram estudo duplo-cego, randomi-zado e controlado por placebo, com 32 pacientes submetidos a transplante de medula óssea, que usaram Traumeel S**(1), um medicamento homeop�tico (no Brasil classificado como anti--homotóxico), para enxágue bucal. Cinco pacientes (33%) no grupo Traumeel S, contra um (7%) no grupo placebo não de-senvolveram estomatite. Os sintomas de estomatite pioraram em sete pacientes (47%) do grupo Traumel S contra 14 (9�%) no grupo placebo. A área média sob escore da curva de estoma-tite foi de 10,4 para Traumeel S e 24,� para placebo (p<0,01).

MEDICINA ANTROPOSÓFICA

A medicina antroposófica tem suas origens no início do sé-culo passado na Europa, fruto do trabalho conjunto da médica holandesa Ita Wegman e do filósofo social austríaco Rudolf Steiner, criador da antroposofia. Esta filosofia também origi-nou a pedagogia Waldorf, agricultura biodinâmica, arquite-tura orgânica, entre outras áreas do conhecimento humano.

Segundo o Ministério da Saúde do Brasil, “a medicina antroposófica apresenta-se como uma abordagem médico--terapêutica complementar, de base vitalista, cujo modelo de atenção est� organizado de maneira transdisciplinar, buscan-do a integralidade do cuidado em saúde. Entre os recursos te-rapêuticos da medicina antroposófica, destacam-se: a utiliza-ção de aplicações externas (banhos/compressas), massagens, movimentos rítmicos, terapia artística e uso de medicamentos naturais (fitoter�picos ou dinamizados). (...) Utilizam-se re-cursos que estimulam os mecanismos naturais de prevenção de agravos e recuperação da saúde, com ênfase na escuta aco-lhedora, no desenvolvimento do vínculo terapêutico e na inte-gração do ser humano com o meio ambiente e a sociedade”.(9)

No Brasil, os medicamentos antroposóficos foram reconheci-dos em 2007 pela Agência Nacional de Vigilância Sanit�ria, como categoria específica dentro dos medicamentos dinamizados, ao lado dos medicamentos homeopáticos e anti-homotóxicos.

MEDICINA ANTROPOSÓFICA E QUALIDADE DE VIDA DE PACIEN-

TES COM CÂNCER

O extrato de Viscum album é o principal medicamento an-troposófico usado no câncer, geralmente por via subcutânea.

Na Alemanha, o medicamento citostático mais prescrito ambulatorialmente para câncer é metotrexate. A seguir vêm Iscador e Helixor, duas apresentações comerciais do Viscum album.(10)

Kienle e Kiene(11) publicaram revisão sistem�tica de es-tudos clínicos sobre o uso de Viscum album na qualidade de vida de pacientes oncológicos. Identificaram-se �6 estudos dos quais 26 controlados e randomizados. Em 32 estudos houve benefício do medicamento na qualidade de vida; três não apresentaram diferença; um não reportou resultado. A melhora foi demonstrada principalmente em relação à fadiga, sono, exaustão, n�usea, vômito, apetite, ansiedade, habilida-de para trabalhar, superação (coping), bem-estar emocional e funcional em geral.

Carlsson et al.(12) estudaram a percepção de qualidade de vida e satisfação em dois grupos de mulheres com câncer de mama (n=120), tratadas com terapias antroposóficas (medica-mentos antroposóficos incluindo Viscum album, dieta, arte te-rapia, eurritmia, massagem terapêutica e hidroterapia – todas prescritas por médico) adicionadas ao tratamento convencio-nal ou apenas terapia convencional. Os dados da admissão, após um e cinco anos, foram analisados. Para o grupo que recebeu tratamento antroposófico adicional houve melhora estatisticamente significante em quatro escalas funcionais (função emocional, cognitiva, social e qualidade de vida glo-bal) e em quatro escalas de sintomas (fadiga, n�useas/vômi-tos, dor e dispneia).

Em hospital antroposófico suíço, Heusser et al.(13) observa-ram a influência do tratamento paliativo na qualidade de vida de 144 pacientes com câncer avançado. O tratamento incluía medicamentos de suporte (preferencialmente antroposóficos), euritmia (terapia pelo movimento), psicoterapia, arte terapia em grupo, dieta e repouso adequado. Melhora na qualidade de vida foi vista nas vinte dimensões pesquisadas após tratamen-to, doze das quais estatisticamente significantes.

ARTE TERAPIA ANTROPOSÓFICA

Stähle(14) conduziu estudo prospectivo sobre a influência da terapia artística (pintura) em vários sintomas psicofísicos

**Composição: Arnica D2, Calendula D2, Belladonna D4, Aconitum D3, Bellis perennis D2, Hypericum perforatum D2, Echinacea angustifolia D2, Echinacea purpurea D2, Hepar sulfuris D8, Symphytum D8, Chamomilla D3, Achillea millefolium D3, Mercurius solubilis D8.

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de pacientes com câncer. O grupo-controle era constituído por pacientes que se consideraram in�beis ou não dispostos a pintar. As sessões de arte terapia ocorriam duas vezes por semana no grupo de intervenção. Após três meses, o grupo que recebeu arte terapia (n=21) melhorou significantemente a qualidade de vida, função emocional e social, bem-estar físico, fadiga e dor. O grupo controle (n=24) apresentou de-terioração da qualidade de vida, funcionalidade emocional, social, cansaço, insônia e perda de apetite.

REFERÊNCIAS

1. Organização Mundial de Saúde. Legal Status of Traditio-nal Medicine and Complementary/Alternative Medicine: A Worldwide Review, 2001. Disponível em: <http://whqli-bdoc.who.int/hq/2001/WHO_EDM_TRM_2001.2.pdf> Acesso em: 2 maio 2008.

2. Doan BD. Alternative and Complementary Therapies. In: Holland JC. Psycho-oncology. New York: Oxford. 1998. p. 817-827.

3. Richardson MA, Sanders T, Palmer JL, Greisinger A, Singletary SE. Complementary/Alternative Medici-ne Use in a Comprehensive Cancer Center and the Im-plications for Oncology. Journal of Clinical Oncology 2000;18(1�):2505-14.

4. National Cancer Institute, Questions and Answers about Complementary and Alternative Medicine in Cancer Tre-atment, 2005. Disponível em: <http://www.cancer.gov>. Acesso em: 2 maio 2008.

5. Moschèn R, Kemmler G, Schweigkofler H, Holzner B, Dünser M, Richter R, Fleischhacker WW, Sperner-Un-terweger B. Use of Alternative/Complementary Therapy in Breast Cancer Patients − a psychological perspective. Support Care Cancer 2001;9(4):267-74.

6. Söllner W, Maislinger S, DeVries A, Steixner E, Rum-pold G, Lukas P. Use of complementary and alternative medicine by cancer patients is not associated with per-

ceived distress or poor compliance with standard treat-ment but with active coping behavior: a survey. Cancer. 2000;89(4):87�-80.

7. Thompson EA, Reillly D. The homeopathic approach to symptom control in the cancer patient: a prospective ob-servational study. Palliat Med 2002;16(�):227-��.

8. Oberbaum M, Yaniv I, Ben Gal Y, et al. A randomized, controlled clinical trial of the homeopathic medication Traumeel S in the treatment of chemotherapy-induced stomatitis in children undergoing stem cell transplanta-tion. Cancer 2001;92(�):684-90.

9. Ministério da Saúde, Portaria 1600 de 2006. Disponível em: http://www.saude.mg.gov.br/atos_normativos/legis-lacao-sanitaria/estabelecimentos-de-saude/terapias-alter-nativas/Portaria_1600.pdf. Acesso em: 9 jul. 2011.

10. Schwabe U, Paffrath D. Arzneiverordnungs-Report 2007. Berlin Heidelberg: Springer Verlag, 2008.

11. Kienle GS, Kiene H. Influence of Viscum album L (Eu-ropean Mistletoe) Extracts on Quality of Life in Cancer Patients: A Systematic Review of Controlled Clinical Stu-dies. Integrative Cancer Therapies 2010;9(2) 142-57.

12. Carlsson M, Arman M, Backman M, Flatters U, Hatschek T, Hamrin E. A Five-year Follow-up of Quality of Life in Women with Breast Cancer in Anthroposophic and Con-ventional Care. Evid Based Complement Alternat Med 2006;�(4):52�-�1.

13. Heusser P, Braun SB, Bertschy M, Burkhard R, Ziegler R, Helwig S, van Wegberg B, Cerny T. Palliative In-Pa-tient Cancer Treatment in an Anthroposophic Hospital: II. Quality of Life during and after Stationary Treatment, and Subjective Treatment Benefits. Forsch Komplementarmed 2006;1�(�):156-66.

14. Stähle S. Pilotstudie zur Evaluation gestaltungstherapeu-tischer Intervention bei hämatologisch-onkologischen Erkrankungen [dissertation]. Ulm, Germany: Universität Ulm; 2001.

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Aspectos Psicossociais em Cuidados Paliativos: Avaliação e Intervenção.Todos os profissionais avaliam necessidades psicossociais e dão suporte?

O quê e como compartilhar*RITA DE CASSIA MACIEIRA

Psico-Oncologista com Certificado de Distinção em Conhecimentos pela Sociedade Brasileira de Psico-Oncologia. Mestre em Saúde Materno-Infantil pela Faculdade de Medicina da Universidade de Santo Amaro. Presidente da Sociedade Brasileira de

Psico-Oncologia (2008-2010).

Cuidar dos aspectos psicossociais da unidade de cuidados paciente/família desde o momento do diagnóstico até a reabili-tação do paciente ou a fase terminal da doença e morte exigir� da equipe multiprofissional um entendimento maior do adoeci-mento enquanto um processo dinâmico. Durante esse proces-so, tanto o paciente quanto seus familiares e a equipe cuidadora passam por diferentes fases, com necessidades diversas, o que tornar� indispens�vel diferentes intervenções para suprir a nova demanda. O que nos leva a concluir que cuidar é uma operação extremamente complexa.

Na história da evolução dos cuidados, houve um tempo em que os cuidados a serem ofertados deveriam contemplar a integralidade do ser adoentado e a doença era vista como um desequilíbrio (Macieira, 2001)(1) na relação do doente consi-go mesmo, nas suas relações sociais ou seu meio e com a sua parte divina e espiritual. No entanto, o grande volume de infor-mações trazidas pelos avanços científicos nas �reas de saúde, principalmente a partir do século XX, criou a necessidade de especializações profissionais e, com isso, a fragmentação dos conhecimentos. O conhecimento segmentado, formador de an-gústia profissional, tornou imprescindível a criação de equipes multiprofissionais de forma a não perder de vista a totalidade e a multidimensionalidade do ser cuidado. A evolução contínua impõe, a seguir, o que conhecemos atualmente pelo nome de transdisciplinaridade.

Como consequência desses inegáveis progressos, a transdisciplinaridade é, nos dias de hoje, uma prática ne-cess�ria. Entretanto, surgiram novas questões: quem cuida do quê? quem avalia e quem dá suporte? qual deve ser a formação adequada do profissional? onde est� o limite de

atuação de cada profissional? como atender à complexidade que é o existir humano?

Para responder a essas perguntas, entendemos transdisci-plinaridade como a atuação de um conjunto de profissionais de saúde, que compreendem a realidade, congregam e elaboram os diversos saberes específicos, desenvolvem propostas de atuação integrada, implementam programas interdisciplinares e atuam de forma transdisciplinar (Veit e cols., 2009).(2)

A transdisciplinaridade oportuniza a discussão dos casos, revisão de condutas e objetivos, possibilita o respeito às dife-rentes perspectivas, favorece o contato e a comunicação e serve ao propósito de apoio e troca entre os membros da equipe. Além disso, a transdisciplinaridade (Veit e cols., 2009)(2) favorece a tomada de decisões pautadas no conhecimento e na ética, após discuti-las entre as disciplinas e os profissionais de uma equi-pe, a flexibilidade para reconhecer valores, direitos e realidades diferentes, o respeito à diversidade de saberes e o trabalho com indivíduos (outros profissionais, pacientes e familiares) com ca-racterísticas pessoais e singularidades.

REFERÊNCIAS

1. Macieira RC. O sentido da vida na experiência de morte. São Paulo: Ed. Casa do Psicólogo, 2001.

2. Veit MT (org.) Transdisciplinaridade em Oncologia: cami-nhos para um atendimento integrado. Realização: ABRALE – Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia. Coorde-nação das seções: Celia Roseli Duarte Redó, Karin S� Fer-nandes, Marcia Maria Alves de Carvalho Stephan, Marilia Bense Othero, Rita de C�ssia Macieira e Vicente Augusto de Carvalho. São Paulo: HR Gr�fica e Editora, 2009.

* Não h� conflito de interesses.

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* Não h� conflito de interesses. Prêmio Crist�lia Simbidor, 2005.

O Que Envolve Dar Suporte Emocional e Como Fazê-lo*ANA CATARINA ARAÚJO ELIAS

Psicóloga. Doutora em Ciências Médicas − Unicamp.Professora Titular e Coordenadora Auxiliar do Curso de Psicologia noturno − Campus Chácara Santo Antônio −

Universidade Paulista (Unip).

INTRODUÇÃO

Através de pesquisas(1-8) uma nova intervenção terapêutica denominada RIME (Relaxamento, Imagens Mentais e Espiritua-lidade), que consiste na integração das técnicas de Relaxamento Mental e Visualização de Imagens Mentais com os elementos que constituem a questão da Espiritualidade, foi desenvolvida com o objetivo de ressignificar a Dor Simbólica da Morte (Dor Psíquica e Dor Espiritual) de crianças e adolescentes(1) e de adul-tos(2-8) que apresentassem a continuidade da vida ameaçada.

Os referenciais teóricos para o desenvolvimento da RIME foram as referências sobre o significado e a dimensão da Es-piritualidade, o fenômeno das Experiências de Quase-Morte (EQM), as necessidades espirituais de doentes terminais, os so-nhos e as vivências de natureza espiritual relacionados à Fase Terminal e o modelo desenvolvido para indução e aplicação do Relaxamento e da Visualização de Imagens Mentais.

A aplicação da RIME é orientada, em resumo, pela metodo-logia a seguir descrita.

A primeira tarefa do profissional é ouvir o paciente, com-preender, através das suas verbalizações, os aspectos simbólicos que orientam sobre a Dor Psíquica/Espiritual desse doente. Se no início da aplicação da RIME o doente não estiver mais se comunicando, deve-se levantar os dados através dos familiares, cuidadores e/ou equipe de saúde.

Em seguida, os elementos da Dor Psíquica/Espiritual, descri-tos pelo paciente predominantemente através da linguagem ló-gica e compreendidos pelo profissional através da interpretação simbólica, devem ser condensados (no sentido psicanalítico do termo) em um padrão de imagens, representados pelos elemen-tos simbólicos a seguir relacionados, que devem sempre induzir o paciente a emoções e sentimentos positivos. A palavra sentir deve ser utilizada com frequência na orientação da RIME.

O processo de Visualização de Imagens, com os elementos abaixo descritos, deve ser precedido da técnica de Relaxamento Mental, estimulada através de respiração lenta e profunda.

Cenário de base: Paisagens belas e reconfortantes devem ser escolhidas por cada paciente. Um �lbum contendo imagens com paisagens belas, reconfortantes e com cores claras deve ser oferecido para que ele escolha os cenários do seu agrado, que o tranquilizem.

Lembranças de vivências felizes anteriores com o objetivo de focar o pensamento do paciente, por dissociação, em uma época que represente paz, alegria, felicidade, conforto, proteção, etc.

Túnel ou caminho luminoso e seres de luz: A imagem do tú-nel ou caminho luminoso dourado eIou azul e/ou prateado, e os seres de luz que irradiam amor incondicional, amparo, conforto, introduzidos no cenário de base sugerido para o paciente visuali-zar estão fundamentados nos relatos dos pacientes que passaram por uma EQM e voltaram a viver. É importante frisar que a ima-gem dos Seres Espirituais de Luz deve estar relacionada ao ente espiritual em que o paciente acredita e confia.

Símbolos de transformação, que podem ser representados na abordagem junguiana por �gua, �rvore com frutos, vegetação, trigo, cevada, devem ser introduzidos no cenário de base.

Imagens simbólicas diversas, específicas da Dor Psíquica/Espiritual de cada paciente, devem ser sugeridas pelo terapeuta.

Afirmações para o paciente integrar-se com a beleza do Uni-verso, da Natureza, de modo a orientar o pensamento do pa-ciente para aspectos positivos e belos, visto que, enquanto ser espiritual, ele faz parte do Universo.

Afirmações para o paciente observar sua própria beleza in-terior, suas qualidades. Com esta sugestão direta, objetivamos focar o paciente nos aspectos positivos de sua personalidade e da vida que viveu.

Afirmações sobre aspectos do pós-morte relatados pelos pa-cientes que vivenciaram uma EQM.

Filmes e histórias com conteúdos que sejam pertinentes à história de vida dos pacientes, às suas principais angústias, me-dos, conflitos, relacionados à Dor Psíquica/Espiritual durante a experiência do morrer, podem ser oferecidos com o objetivo de,

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enquanto metáforas, produzirem insights para a ressignificação do sofrimento.

OBJETIVO

Discutir a natureza da Dor Psíquica/Espiritual em pacientes portadores de câncer no estágio fora de possibilidades de cura, e a experiência de ressignificação dessa dor, manifestada pelos doentes, durante a aplicação da intervenção RIME.

SUJEITO E MÉTODOS

Foram atendidos onze pacientes em estado terminal de cân-cer, tratados em hospitais públicos das cidades de Campinas, São Paulo e Piracicaba. Os atendimentos foram supervisiona-dos pela autora principal e realizados por seis profissionais de saúde (uma enfermeira, uma médica, três psicólogos e uma te-rapeuta alternativa voluntária), que participaram do Programa de Treinamento da RIME. Esses profissionais foram seleciona-dos por convite e eram, todos eles, experientes e/ou estudiosos na área de Cuidados Paliativos. Os métodos utilizados foram o qualitativo e o quantitativo. A base teórica qualitativa foi fun-damentada na pesquisa fenomenológica empírica, que é defini-da, em geral, como um estudo do vivido e seus significados, e os resultados qualitativos foram analisados através do método An�lise do Conteúdo, ramificado na An�lise Tem�tica. A an�-lise quantitativa teve como base o método descritivo e como instrumento a Escala Visual Analógica (EVA) com expressões faciais coloridas.

RESULTADOS

Diante da iminência da morte os aspectos da Dor Espiritu-al − medo da morte, medo do pós-morte, ideias e concepções negativas em relação ao sentido da vida e à Espiritualidade, e culpas diante de Deus − mostraram maior relevância e prevalên-cia frente à Dor Psíquica, representada pelo medo do sofrimento e humor depressivo. Observou-se que o medo do sofrimento é parte do medo da morte e o humor depressivo está relaciona-do às ideias e concepções negativas em relação ao sentido da vida e à espiritualidade. Foram encontradas seis categorias e onze subcategorias da Dor Espiritual, ressignificadas através da Intervenção RIME, a seguir descritas.

1. Medo da morte por negação da gravidade do quadro clínico. (n=5)

− Dificuldade em aceitar o diagnóstico e os cuidados clínicos.− Apego ao mundo concreto e material.2. Medo da morte por percepção da gravidade do quadro

clínico. (n=5)

− Preocupação importante com o sofrimento físico.− Expressões não-verbais de tensão, medo e pavor.− Exacerbação dos sintomas clínicos.3. Medo do pós-morte por vivências ou sonhos espirituais

negativos. (n=2)− Visualização de imagens apavorantes ou muito assustadoras.4. Medo do pós-morte pelo sentimento de desintegração, de

inexistir, de ser afetivamente esquecido. (n=5)− Estado de alerta exacerbado.− Angústia de separação. − Dúvidas sobre o Amor Divino.5. Ideias e concepções negativas em relação ao senti-

do da vida pela ausência desse sentido e sentimento de vazio existencial. (n=4)

− Experiências anteriores negativas, de ordem afetiva ou produtiva.

6. Ideias e concepções negativas em relação à espiritualida-de por experiências de abandono afetivo, projetadas nos seres espirituais. (n=2)

− Dificuldade de transcendência e de confiar na espirituali-dade.

Foram calculadas as medianas e médias por doente e o nú-mero de sessões em que houve melhora de “bem-estar”. Obser-vou-se diferença estatisticamente significativa (p<0,0001).

CONCLUSÕES

A an�lise qualitativa e quantitativa da ressignificação da Dor Espiritual dos doentes terminais sugeriu que a intervenção RIME promoveu qualidade de vida no processo de morrer, as-sim como mais serenidade e dignidade diante da morte.

Foram observados como aspectos mais relevantes da Dor Es-piritual o medo da morte e o medo do pós-morte.

Em relação às limitações desta pesquisa observou-se que o desenho do estudo não permitiu a utilização de grupo controle para que os resultados da RIME fossem comparados com os re-sultados de outras intervenções. A segunda limitação referiu-se ao tamanho da amostra, pois os resultados, embora tenham sido significativos e colhidos dentro de rigorosa metodologia acadê-mica, não podem ser generalizados. Novos estudos estão sendo desenvolvidos para que essas limitações sejam trabalhadas.

REFERÊNCIAS

1. Elias ACA. Ressignificação da Dor Simbólica da Morte:

Relaxamento Mental, Imagens Mentais e Espiritualida-

de. Psicologia: Ciência e Profissão 2003; 23(1):92–7.2. Elias ACA. Relaxamento Mental, Imagens Mentais e Espiritu-Elias ACA. Relaxamento Mental, Imagens Mentais e Espiritu-

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alidade na ressignificação da Dor Simbólica da Morte da Pa-cientes Terminais. [dissertação]. Campinas (SP): Faculdade de Ciências Médicas/Unicamp; 2001.

3. Elias ACA, Giglio JS. Intervenção Psicoterapêutica na �rea de Cuidados Paliativos para ressignificar a Dor Simbólica da Mor-te de Pacientes Terminais através de Relaxamento Mental, Ima-gens e Espiritualidade. Rev Psiquiatr Clín. 2002; 29(�):116-29.

4. Elias ACA, Giglio JS. Sonhos e Vivências de Natureza Espiritu-Elias ACA, Giglio JS. Sonhos e Vivências de Natureza Espiritu-al relacionados à Fase Terminal. Mudanças – Psicol Saúde 2002 janeiro-junho; 10(1):72-92.

5. Elias ACA. Programa de Treinamento sobre a Intervenção Terapêutica Relaxamento, Imagens Mentais e Espiritualidade (RIME) para ressignificar a Dor Espiritual de Pacientes Termi-nais. [tese]. Campinas (SP): Faculdade de Ciências Médicas/Unicamp; 2005.

6. Elias ACA, Giglio JS, Mattos Pimenta CA, El-Dash LG. Thera-Elias ACA, Giglio JS, Mattos Pimenta CA, El-Dash LG. Thera-peutical intervention, relaxation, mental images, and spirituality (RIME) for spiritual pain in terminal patients. A training pro-gram. ScientificWorld Journal 2006; 6:2158-69.

7. Elias ACA, Giglio JS, Pimenta CAM, El-Dash LG. Programa de Treinamento sobre a Intervenção Terapêutica Relaxamento, Imagens Mentais e Espiritualidade (RIME) para ressignificar a Dor Espiritual de Pacientes Terminais. Rev Psiquiatr Clín (São Paulo) 2007; �4(1):60-72.

8. Elias ACA, Giglio JS, Pimenta CAM. Analysis of the Nature of Spiritual Pain in Terminal Patients and the resignification process through the Relaxation, Mental Images and Spiritua-lity (RIME) Intervention. Rev Latino-Am. Enfermagem 2008; 16(6): 959-965.

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Discussão de Caso Clínico em Cuidados Paliativos*VERA ANITA BIFULCO

Coordenadora do Serviço de Psico-Oncologia do Instituto Paulista de Cancerologia e da Clínica Sainte-Marie. Mestre em Educação e Saúde pelo CEDESS/Unifesp. Psicóloga do Serviço de Cuidados Paliativos − Unifesp (2002/2006). Diretora da

SBPO (2008/2010).Instituto Paulista de Cancerologia

O agravamento de uma doença pode trazer v�rios so-frimentos de ordem não só física, mas emocional, social e espiritual que, no seu conjunto, tornam a vida mais difícil com extremas limitações (Saunders, 1991(3)). O declínio fí-sico pode ser acompanhado de sofrimentos em outras esfe-ras da vida cotidiana tais como medo do isolamento, de ficar sozinho, tristeza do que j� não se é mais, perda de papéis, dos planos de vida que foram abandonados, perda de pesso-as mais próximas, medo da dependência, medo da morte e medo de sofrer pelas agruras do prolongamento de outros ou novos tratamentos, estresse físico e emocional. A “perda de si” vivida durante o processo de adoecimento propicia que se trabalhe o luto antecipatório, ou seja, o luto (perda irreversí-vel) que ocorre antes da morte física. Devemos lembrar que o luto antecipatório é vivido tanto pelo paciente com relação à família quanto pela família com relação ao paciente. Não é somente uma perda de pessoas queridas, mas de tudo quanto se amealhou durante a vida e dos planos que serão interrom-pidos, independentemente de sua vontade.

O paciente, por sua vez, nunca perde a esperança. Até o último minuto de vida conserva a esperança de um milagre que o traga novamente à vida primeira com a restauração de sua saúde plena.

Em qualquer est�gio da doença, ela dever� ser vista como uma possibilidade de mudança, reconduzindo e reconstruindo o modo de cada um estar na vida. Talvez o câncer ainda seja a única doença que traz imbuída em seu diagnóstico a possibi-lidade de morte e, dessa forma, faz o paciente ter consciência de seu caráter de ser mortal, pensar no que fez com sua vida

e o que ainda pode fazer com o tempo de vida restante, inde-pendentemente da certeza da duração desse tempo.

Atitudes que devem ser preservadas no atendimento ao paciente em CP, segundo Kóvacs:(2)

• escuta ativa − atender as necessidades emocionais nos mais diferentes aspectos presentes no contexto de morte;

• ter um espaço e a quem poder verbalizar emoções;• facilitar a expressão de sentimentos;• nunca destituir o poder de decisão do paciente;• aceitar os limites impostos pela doença;• possibilitar a concretização de metas – “questões

pendentes”;• não julgar nem criticar – acolher;• viabilizar um tempo de despedida em que o doente

tenha a oportunidade para dizer: “desculpe”, “obrigado”, “te amo” e “adeus”.

REFERÊNCIAS

1. Bifulco VA. Psico-oncologia: apoio emocional para o pa-ciente, a família e a equipe no enfrentamento do câncer. In: Bifulco VA, Bigal ABB, Fernandes Jr HJ (eds.). Cân-cer: uma visão multiprofissional. Barueri: Manole, 2010. p. 231-243.

2. Kóvacs MJ. A morte no contexto dos cuidados paliativos. In: Cremesp – Conselho Regional de Medicina do Esta-do de São Paulo. Cuidado Paliativo. São Paulo: Cremesp, 2008. p. 547-557.

3. Saunders C. Hospice and palliative care: an interdiscipli-nary approach. Londres: Edward Arnold, 1991.

* Não h� conflito de interesses.

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Nutrição em Cuidados Paliativos*LIA KANAE OKITA BUSCHINELLI

Nutricionista graduada pela Universidade de São Paulo, com especialização em Oncologia pelo Hospital Israelita Albert Einstein – São Paulo − SP. Nutricionista do Instituto Paulista de Cancerologia.

A alimentação é regida por simbolismos que resgatam memó-rias e lembranças associadas ao tempo e aos alimentos. Através deles se concretizam aspectos da vida social, cultural, religiosa e pessoal, que fazem das experiências culinárias momentos de prazer e bem estar.(5) A medicina paliativa remete a uma filosofia de cuidados, voltada para pacientes cujas doenças não possuem recurso de cura, valorizando a vida, e considerando a morte como um processo natural, sem abreviá-la ou prolongá-la.(1,4)

Considerando esses dois conceitos apresentados, acredita-se que o simbolismo da alimentação é fator chave para ser traba-lhado pelo nutricionista que atua em cuidados paliativos, pois muitas vezes o alimento é uma das únicas fontes de prazer que o paciente possui e, portanto, a dietoterapia convencional não se aplica a algumas dessas situações.

Pacientes com demência, por exemplo, têm limitações funcionais e cognitivas severas por um longo período de tem-po antes da morte, como a disfagia, levando à baixa ingestão alimentar, perda de peso e episódios recorrentes de pneumonia aspirativa, da mesma forma que a redução de ingestão alimen-tar pode ocorrer em função do próprio avanço da doença, em estágios terminais.(7) Quando essas dificuldades acontecem, os profissionais de saúde e a família muitas vezes se sentem obri-gados a decidir sobre a continuação da alimentação via oral, ou pelo uso de alimentação via sonda nasoenteral ou gastrostomia, o que nem sempre traz benefícios ao paciente.(7) Sampson et al.(8) concluíram que o uso de nutrição enteral por sonda, quando comparados à tentativas de alimentar o paciente por via oral, não aumentou a sobrevida de pacientes com demência avançada.

Uma revisão sistem�tica da Cochrane(3) analisou o efeito de hidratação assistida em pacientes em cuidados paliativos na sua qualidade de vida e tempo de sobrevida, e verificou que não h� dados suficientes para fazer nenhum tipo de recomendação para a pr�tica clínica com relação ao uso desse recurso para esse pa-ciente. Apesar disso, alguns estudos analisados sugerem possí-veis benefícios na sedação e contração muscular involunt�ria, porém h� riscos na piora dos sintomas relacionados à retenção hídrica (efusão pleural, edema periférico e ascite). Assim, os au-tores sugerem que a decisão clínica depende do custo-benefício

percebido pela equipe que assiste o paciente.(3)

O nutricionista deve lembrar que a função social da refeição é bastante importante, que as pessoas não comem somente para se alimentar, mas também para visitar pais ou amigos e viven-ciar com eles um prazer compartilhado.(6) Assim, cabe ao profis-sional orientar a família do paciente a incluí-lo nos momentos de refeição sempre que possível e, caso esteja em ambiente hospi-talar ou instituição similar, garantir que o momento da refeição, se existir, seja feito de forma confortável, tranquila e prazerosa.

Os princípios da bioética − beneficência, não-maleficência, autonomia e justiça − devem ser aplicados a todo e qualquer paciente, porém naqueles em cuidados paliativos eles se tornam mais presentes. O princípio da autonomia garante ao paciente o direito de questionar seu tratamento e assegurar que o plano de cuidado esteja em conformidade com seu desejo,(1) o que não ne-cessariamente representa o desejo da equipe que o assiste. Con-tudo, a escuta atenta do paciente e seus familiares é fundamental na filosofia dos cuidados paliativos,(4) portanto cabe à equipe o desafio de atender às necessidades clínicas e médicas do pacien-te dentro das demandas e restrições por ele impostas.

Shega(9) comenta tipos de intervenções que podem ser fei-tas na equipe de assistência, incluindo uma série de seminários para profissionais da saúde (médicos, enfermeiros, assistentes sociais, nutricionistas e psicólogos) que estão envolvidos na decisão do uso de terapia enteral por sonda, e a utilização de uma nova abordagem com os pacientes e família. Sugere-se uma espécie de serviço especializado na conversa e troca de ideias, para que pacientes e familiares, em face de uma decisão sobre o uso de sonda, possam receber informações e conselhos sobre os riscos a curto e a longo prazo e o custo-benefício do proce-dimento. Essa intervenção foi associada com uma redução de 50% no uso de nutrição enteral por sonda, o que não resultou em diferenças na mortalidade. O autor sugere que esse tipo de abordagem, utilizando a conversa como foco, não est� associada com a racionalização ou a limitação do cuidado, mas com o ofe-recimento de decisões mais bem tomadas e informadas.(9)

Palecek et al.(7) sugerem o uso do Comfort Feeding Only para pacientes com demência avançada que apresentam difi-

* Não h� conflito de interesses.

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culdades de deglutição, em vez da nutrição enteral por son-da ou qualquer outro meio artificial. Os autores defendem a alimentação via oral assistida, em que o paciente recebe alimento dentro do seu limite de estresse, sendo cessada ao apresentar engasgos, náuseas, e outros sintomas que mostrem desconforto. Mesmo que isso não melhore ou mesmo piore o seu estado nutricional, deve-se entender que esse tipo de es-tratégia é utilizado somente em casos onde o aporte nutricio-nal j� não é determinante na sobrevida ou melhora do estado clínico, sendo utilizada somente como medida de conforto. Para isso, é essencial que esta abordagem seja acordada entre todos os membros da equipe assistencial, a família e, princi-palmente do paciente, enquanto ele ainda for capaz de decidir a sua própria vontade.(7)

Brauner,(2) concordando com Palecek et al.,(7) sugere ainda que o Comfort Feeding Only deveria também ser considerado não só para pacientes terminais, mas para todos, levando em conta um equilíbrio entre os riscos e benefícios, e não somente uma conduta mecânica de prescrição de terapias nutricionais ba-seadas em algoritmos e modelos fechados.(2)

Em resumo, o trabalho do nutricionista numa equipe de cuidados paliativos perpassa por elementos anteriores ao co-nhecimento técnico. Em primeiro lugar, o próprio profissio-nal precisa avaliar o seu conceito de morte, buscando aceitá-la com naturalidade, caso contr�rio encontrar� dificuldades ao lidar com ela. Em segundo lugar, é preciso que o profissional flexibilize os conceitos formais de nutrição obtidos ao longo de sua formação, uma vez que a conduta nutricional em cui-dados paliativos nem sempre objetiva a recuperação do estado nutricional ou o aporte de nutrientes dentro das necessidades calculadas, mas a qualidade de vida do paciente, respeitando a sua vontade, mesmo que isso signifique concordar com refei-ções ricas em gorduras saturadas, açúcares e sódio, ou até mes-

mo o jejum. Qualquer que seja a conduta nutricional, ela deve ser baseada na comunicação adequada entre os profissionais da equipe, e o paciente e sua família.

REFERÊNCIAS

1. Benarroz MO de, Faillace GBD, Barbosa LA. Bioética e nu-Bioética e nu-trição em cuidados paliativos oncológicos em adultos. Cad. Saúde Pública. 2009;25(9):1875-82.

2. Brauner DJ. Reconsidering default medicine. J Am Geriatr Soc. 2010;58:599-601.

�. Good P, Cavenagh J, Mather M, Ravenscroft P. Medically assisted hydration for adult palliative care patients. Cochrane Database Syst Rev. 2008, Issue 2. Art. No. CD00627�.

4. Marinho S, Ar�n M. As pr�ticas de cuidado e a normaliza-ção das condutas: algumas considerações sobre a gestão so-ciomédica da “boa morte” em cuidados paliativos. Interface (Botucatu). 2011;15(�6):7-20.

5. Melo DA. Nutrição: cuidado paliativo. Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo). 2008. p. 81-2.

6. Montanari M, Flandrin JL. Hoje e amanhã. In: Montanari M, Flandrin JL. História da alimentação. São Paulo: Estação Liberdade, 1998.

7. Palecek EJ, Teno JM, Casarett DJ, Hanson LC, Rhodes RL, Mitchell SL. Comfort feeding only: a proposal to bring clarity to decision-making regarding difficulty with eating for persons with advanced dementia. J Am Geriatr Soc. 2010;58(�):580-84.

8. Sampson EL, Candy B, Jones L. Enteral tube feeding for older people with advanced dementia. Cochrane Database Syst Rev 2009:CD007209.

9. Shega JW. Informed decision-making surrounding the use of chronic enteral nutrition: let’s talk the talk. South Med J. 2010;10�(2):109-110.

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O Encantamento Através das Palavras – Um Instrumento Terapêutico para uma Hospitalização Mais Humana

DORA ESTEVEZLicenciada em Pedagogia, com habilitação em Educação Infantil, Magistério dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental e

Administração Escolar – Centro Universitário Salesiano de São Paulo.

O “Era uma vez...” produz um encanto nas pessoas. Ao ou-virmos essa frase, a emoção reaparece. São histórias eternas na imaginação de crianças e adultos. A história aquieta, prende a atenção, informa, socializa e educa.

O enfermo hospitalizado, principalmente se tratando da criança e do adolescente, passa por uma experiência dolorosa de privação de saúde e de liberdade, vivida pela dor física e pelo desequilíbrio emocional.

As histórias, como ingrediente da fantasia, auxiliam a crian-ça a organizar suas percepções e a vivenciar e resolver emoções que lhe parecem complexas e de difícil compreensão.

Para Bettleheim (1980, apud Aguiar, 2001), “os contos de fadas dão à infância a certeza de que os problemas existem, mas podem ser resolvidos”.

Através de experiência própria, foi possível comprovar que são muitos os benefícios que uma história proporciona às crianças hos-pitalizadas. Ao ouvirem uma história, elas se esquecem da doença, sentem-se aliviadas, alegres, confiantes e, acima de tudo, amadas. Benefícios esses que fazem com que a criança colabore com os pro-cedimentos e o tratamento, muitas vezes sofridos e dolorosos.

As histórias alimentam não só a imaginação, mas principal-mente nossas almas.

Fascinada pelo universo das histórias infantis, desenvolvi, para o curso de Pedagogia do Centro Universit�rio Salesiano de São Paulo, o trabalho de conclusão de curso “Contadores de histórias – Os m�gicos das palavras”. A pesquisa teve como foco caracterizar a importância do contador de histórias como ele-mento motivador e formador na construção do h�bito e do prazer pela leitura.

Desde 2004, realizo trabalho voluntário como contadora de histórias em instituições hospitalares pela Associação Viva e Deixe Viver, atualmente no Hospital Sírio-Libanês e, tam-bém, narrações de histórias profissionalmente em diversos setores.

REFERÊNCIA

Aguiar, Vera Teixeira de, et al. Era uma vez... na escola: forman-do educadores para formar leitores. Belo Horizonte: Formato Editorial, 2001.

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Temas livres9

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N Título Data Painel Pág.370 EFEITOS DE UM PROGRAMA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL NO CONTROLE DA DOR CRÔNICA 29.09.11 1 246

379 ESCALA NUMÉRICA E ESCALA DE FACES NA MEDIDA DA DOR CRÔNICA AUTORREFERIDA POR IDOSOS NÃO INSTITUCIONALIZADOS 29.09.11 3 249

382 PERCEPÇÃO DOS DESCRITORES DE DOR CRÔNICA NO PROCESSO DE ENVELHECIMENTO 29.09.11 4 250

383 TRATAMENTO DE CEFALEIA CRÔNICA POR TRANSTORNO DE ESTRESSE PÓS-TRAUMÁTICO E ABUSO DE ANALGÉSICOS EM ADOLESCENTE. RELATO DE CASO 29.09.11 5 251

384 INIBIDOR DA GUANILATO CICLASE SOLÚVEL REVERTE A ANALGESIA PROMOVIDA POR DOADOR DE ÓXIDO NÍTRICO DE APLICAÇÃO TÓPICA 29.09.11 6 251

385 NEVRALGIA DO TRIGÊMEO: MODELO EXPERIMENTAL E APLICAÇÕES 29.09.11 7 252387 AVALIAÇÃO DE ASPECTOS QUANTITATIVOS E QUALITATIVOS DA DOR NA FIBROMIALGIA 29.09.11 8 253391 CARACTERIZAÇÃO DA DOR CRÔNICA EM PACIENTES DIAGNOSTICADOS COM HANSENÍASE 29.09.11 9 254392 DOR MIOFASCIAL NA HANSENÍASE 29.09.11 10 255397 POTENCIAIS INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS NA TERAPÊUTICA ANALGÉSICA DE IDOSOS 29.09.11 11 256

401 FUNÇÃO COGNITIVA EM DOENTES COM DOR CRÔNICA EM TRATAMENTO COM OPIOIDES: CARACTERÍSTICAS E FATORES ASSOCIADOS 29.09.11 12 258

404 ANALGESIA EM MULHERES NO PÓS-OPERATÓRIO DE CIRURGIA PLÁSTICA 29.09.11 13 260405 DOR E QUALIDADE DE VIDA EM FIBROMIÁLGICOS 29.09.11 14 260407 PCA DOMICILIAR: REALIDADE OU FICÇÃO? 29.09.11 15 261434 TRATAMENTO MULTIMODAL DE DOR CRÔNICA TORÁCICA 29.09.11 16 274435 DEPRESSÃO RESPIRATÓRIA APÓS ANALGESIA PARA EMBOLIZAÇÃO DE MIOMA UTERINO 29.09.11 17 274

436 BLOQUEIO ACIDENTAL NO NEUROEIXO EM TENTATIVA DE BLOQUEIO DE GÂNGLIO. ESTRELADO - RELATO DE CASO 29.09.11 18 275

437 DOR CRÔNICA FACIAL APÓS CIRÚRGIA PLÁSTICA 29.09.11 19 275394 SÍNDROME DE EAGLE: DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO 29.09.11 20 255

427 AVALIAÇÃO DA OCORRÊNCIA CONCOMITANTE DE DOR REFERIDA E DOR FORA DA REGIÃO OROFACIAL EM INDIVÍDUOS COM DISFUNÇÃO TEMPOROMANDIBULAR 29.09.11 21 270

440 ESTUDO DO LIMIAR DE DOR À PRESSÃO E DA FORÇA DE MORDIDA EM MULHERES COM E SEM DISFUNÇÃO TEMPOROMANDIBULAR 29.09.11 22 277

N Título Data Painel Pág.386 A LINGUAGEM DA DOR CRÔNICA DO CÂNCER 30.09.11 1 252

388 A MULTIDIMENSIONALIDADE DA DOR NO ENSINO DE ENFERMAGEM EM ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR ÀS VÍTIMAS DE TRAUMA 30.09.11 2 253

406 PARTICULARIDADES NO TRATAMENTO DA DOR AGUDA PÓS-OPERATÓRIA EM HOSPITAL ONCOLÓGICO 30.09.11 3 260

410 A CRIANÇA E O ADOLESCENTE COM EXPERIÊNCIA ONCOLÓGICA: PERCEPÇÃO DE DOR 30.09.11 4 262

411INTERVENÇÕES NÃO FARMACOLÓGICAS NO CONTROLE DA DOR DO RECÉM-NASCIDO: CONHECIMENTOS E PRÁTICAS DOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM NO USO DA SUCÇÃO NÃO NUTRITIVA DURANTE A PUNÇÃO DE CALCÂNEO

30.09.11 5 262

415 CARACTERIZAÇÃO DA DOR IDENTIFICADA DURANTE CONSULTAS DE ENFERMAGEM EM UM AMBULATÓRIO DE DOR CRÔNICA EM SÃO LUÍS – MA 30.09.11 6 264

416 INFLUÊNCIA DA DOR CRÔNICA NAS NECESSIDADES HUMANAS BÁSICAS EM PACIENTES ATENDIDOS DURANTE CONSULTA DE ENFERMAGEM 30.09.11 7 265

418 RESPOSTAS MULTIDIMENSIONAIS NA AVALIAÇÃO DA DOR EM RECÉM-NASCIDOS PREMATUROS SUBMETIDOS A PUNÇÕES VENOSAS PERIFÉRICAS NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA NEONATAL 30.09.11 8 266

422 IMPLANTAÇÃO DO SEGUIMENTO FARMACOTERAPÊUTICO EM UM SERVIÇO ESPECIALIZADO EM DOR 30.09.11 9 268425 A DOR ONCOLÓGICA NO AMBULATÓRIO DE CUIDADOS PALIATIVOS 30.09.11 10 269

428 REGISTROS DE DOR EM PACIENTES ATENDIDOS NOS CENÁRIOS DE EMERGÊNCIA: SUBSÍDIOS PARA A MELHORIA DA QUALIDADE DA AVALIAÇÃO DE ENFERMAGEM 30.09.11 11 271

429 CONCEPÇÕES DE ACADÊMICAS DE ENFERMAGEM ACERCA DA RELAÇÃO ENTRE PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM E PACIENTES EM TRATAMENTO HEMODIALÍTICO. RELATO DE CASO 30.09.11 12 271

430 CARACTERIZAÇÃO DE CRIANÇAS, ADOLESCENTES E ADULTOS JOVENS COM CÂNCER NA FASE FINAL DE VIDA: RELATO DE UM AMBULATÓRIO DE CUIDADOS PALIATIVOS PEDIÁTRICOS 30.09.11 13 272

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245Temas livres

431 DOR ONCOLÓGICA DE DIFÍCIL CONTROLE EM PACIENTE COM RECIDIVA DE CARCINOMA EPIDERMOIDE DE VULVA-POSSIBILIDADE DE TRATAMENTO INTERVENCIONISTA 30.09.11 14 272

432 ASSOCIAÇÃO DO CHÁ DE SENE E LACTULOSE NO TRATAMENTO DA CONSTIPAÇÃO INTESTINAL EM PACIENTES ONCOLÓGICOS EM USO CRÔNICO DE OPIOIDES 30.09.11 15 273

433 USO DA HIDROMORFONA DE LIBERAÇÃO LENTA EM SUBSTITUIÇÃO A MORFINA POR VIA ORAL NO TRATAMENTO DA DOR CRÔNICA DE ORIGEM NEOPLÁSICA 30.09.11 16 273

399 AUTOMEDICAÇÃO EM IDOSOS COM DOR AUTORREFERIDA EM GOIÂNIA - GO 30.09.11 17 257

417 AVALIAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA E PESQUISA DE DOR EM PACIENTES INTERNADOS EM UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO 30.09.11 18 265

419ASSOCIAÇÃO ENTRE SINAIS, SINTOMAS E EXAME DE IMAGEM DE RESSONÂNCIA MAGNÉTICA (IRM) NA ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR (ATM) DE PACIENTES COM ARTRITE IDIOPÁTICA JUVENIL (AIJ)

30.09.11 19 266

423 PRESENÇA DE DOR FORA DA REGIÃO OROFACIAL EM INDIVÍDUOS COM DISFUNÇÃO TEMPOROMANDIBULAR 30.09.11 20 269

424 TRADUÇÃO E VALIDAÇÃO DE UM INSTRUMENTO VISUAL (PRISM) PARA AVALIAR DOR E SOFRIMENTO EM INDIVÍDUOS COM DISFUNÇÃO TEMPOROMANDIBULAR 30.09.11 21 269

426 FREQUÊNCIA E LOCALIZAÇÃO DA DOR REFERIDA EM INDIVÍDUOS COM DISFUNÇÃO TEMPOROMANDIBULAR E FIBROMIALGIA CONCOMITANTE 30.09.11 22 270

374 TRATAMENTO DA LOMBALGIA COM TRAMADOL/PARACETAMOL: SÉRIE DE CASOS 30.09.11 23 248

N Título Data Painel Pág.369 PERFIL DO PACIENTE COM DOR CRÔNICA ATENDIDO EM UM AMBULATÓRIO DE DOR DA CIDADE DE CURITIBA 01.10.11 1 246

371 ANTAGONIZAÇÃO OPIOIDÉRGICA NEUTRALIZA A ANTINOCICEPÇÃO MODULADA PELA ESTIMULAÇÃO ELÉTRICA NERVOSA TRANSCUTÂNEA DE BAIXA FREQUÊNCIA 01.10.11 2 246

372 SOMATIZAÇÃO DA ANALGESIA INDUZIDA PELA ESTIMULAÇÃO ELÉTRICA NERVOSA TRANSCUTÂNEA DE ALTA FREQUÊNCIA EM RATOS PRÉ-TRATADOS COM CLORIDRATO DE NALOXONA 01.10.11 3 247

377 PREVALÊNCIA, LOCALIZAÇÃO E INTENSIDADE DE DOR CRÔNICA AUTORRELATADA POR IDOSOS DA REGIÃO CENTRO-OESTE DO BRASIL 01.10.11 4 248

378 PERFIL DOS ANALGÉSICOS UTILIZADOS POR IDOSOS DA REGIÃO CENTRO-OESTE DO BRASIL 01.10.11 5 249380 AVALIAÇÃO DA INCAPACIDADE POR LOMBALGIA ATRAVÉS DO QUESTIONÁRIO DE OWESTRY 01.10.11 6 250

381 ASSOCIAÇÃO DA ACUPUNTURA E FISIOTERAPIA MANUAL COMO TRATAMENTO CLÍNICO PARA PACIENTES COM INDICAÇÃO CIRÚRGICA DA COLUNA VERTEBRAL 01.10.11 7 250

389 TRATAMENTO MULTIDISCIPLINAR CONSERVADOR DE LOMBALGIA CRÔNICA ASSOCIADA A DIAGNÓSTICO DE ESTENOSE DE CANAL LOMBAR: RELATO DE CASO 01.10.11 8 254

390 DOR LEGAL É TRATAR: DIVULGAÇÃO DOS RESULTADOS DE UMA CAMPANHA DE PREVENÇÃO DA DOR E QUALIDADE DE VIDA 01.10.11 9 254

402BLOQUEIO ANALGÉSICO PERIDURAL LOMBAR PARA TRATAMENTO DE LOMBOCIATALGIA DISCOGÊNICA: ESTUDO CLÍNICO COMPARATIVO ENTRE METILPREDNISOLONA E METILPREDNISOLONA ASSOCIADA À LEVOBUPIVACAÍNA

01.10.11 10 259

403 INCIDÊNCIA DE DOR EM MULHERES NO PÓS-OPERATÓRIO DE CIRURGIA PLÁSTICA 01.10.11 11 259409 IMPLANTAÇÃO DA CONSULTA DE ENFERMAGEM EM UM AMBULATÓRIO DE DOR CRÔNICA EM SÃO LUÍS – MA 01.10.11 12 261412 AUTOPERCEPÇÃO DE SAÚDE DE IDOSOS COM DOR CRÔNICA NÃO INSTITUCIONALIZADOS DE GOIÂNIA-GO 01.10.11 13 263

413 INFLUÊNCIA DO PROGRAMA ESCOLA DE COLUNA DO HCPA NA DOR NAS COSTAS, NA QUALIDADE DE VIDA E NA CAPACIDADE FUNCIONAL DOS SEUS PARTICIPANTES 01.10.11 14 263

420 ASSOCIAÇÃO ENTRE DOR CRÔNICA E UTILIZAÇÃO DE SERVIÇOS DE SAÚDE ENTRE IDOSOS: ESTUDO POPULACIONAL - SABE 01.10.11 15 267

421 CARACTERIZAÇÃO DA DOR CRÔNICA EM IDOSOS DA COMUNIDADE: ESTUDO POPULACIONAL SABE - BRASIL 01.10.11 16 267439 ADESÃO DOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM À AVALIAÇÃO SISTEMATIZADA DA DOR 01.10.11 17 276

438 PADRONIZAÇÃO DE UM NOVO MODELO EXPERIMENTAL PARA ESTUDO DA DOR NEUROPÁTICA: LESÃO DO NERVO PLANTAR MEDIAL EM CAMUNDONGOS 01.10.11 18 276

395 PROJÉTIL ALOJADO NA ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR 01.10.11 19 256

398 EFEITO DA FOTOBIOMODULAÇÃO À LASER SOBRE A INTENSIDADE DA DOR E O LIMIAR DE DOR À PRESSÃO DOS MÚSCULOS MASTIGATÓRIOS EM PACIENTES COM DISFUNÇÃO TEMPOROMANDIBULAR 01.10.11 20 257

400AVALIAÇÃO DA EFICÁCIA EM CURTO PRAZO DO USO DE PLACAS ESTABILIZADORAS OCLUSAIS DE COBERTURA TOTAL E DISPOSITIVOS NTI (NOCICEPTIVE TRIGEMINAL INHIBITORY SPLINT) NO TRATAMENTO DA DOR MIOFASCIAL

01.10.11 21 258

414 PROJÉTIL ALOJADO NO MÚSCULO PTERIGOIDEO LATERAL 01.10.11 22 264

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TL 369. Perfil do Paciente com Dor Crônica Atendido em um Ambulatório de Dor da Cidade de Curitiba

Janaina Vall, Anderson Cipriano, Daniel Benzecry de Almeida (Liga sem Dor; Instituto de Neurologia de Curitiba)

Objetivo: Identificar o perfil dos pacientes com dor crônica que procuram atendimento num ambulatório de dor na cidade de Curitiba. População: 111 pacientes portadores de dor crônica. Resultados: Prevalência do sexo feminino (67,6%), entre 40 a 49 anos (32,4%), com ensino superior completo (32%). Apesar da dor, a maioria dos pacientes continua trabalhando (63,1%). Entre as dores crônicas, a mais prevalente é a lombalgia (21,1%), seguida de dor em membros inferiores (15,8%), cervicalgia (13,2%), membros superiores (12,3%), dor generalizada (9,6%), cefaleia (7,0%) e dor orofacial (5,3%). Conclusão: A dor crônica é um problema de saúde pública e por isso os pesquisadores devem dar mais atenção aos estudos epidemiológicos na área. Entre as dores, a lombalgia é uma das mais comuns e a prevalência na população feminina predomina, o que exige um manejo adequado nesses casos.

TL 370. Efeitos de um Programa Cognitivo-Comportamental no Controle da Dor Crônica

Marina de Góes Salvetti, Patrícia de Moura Vernalha, Andréa Cobelo, Carmen Ilca de Almeida Vianna, Luciana C. Campos Costa, Renata G. L. Galegari, Liliam A. Kimura, Maria de Fátima Malaquias (Escola de Enfermagem da USP;

Medicina Preventiva − Unimed São Roque)

Objetivo: Avaliar os efeitos de um programa cognitivo-comportamental na intensidade da dor, incapacidade e sintomas depressivos de pacientes com dor crônica. População: Pacientes com dor crônica de diferentes etiologias (fibromialgia, dor lombar, dor cervical, entre outras) com idade média de 50 anos, escolaridade média de 9,8 anos e duração média da dor de 6,8 anos. Resultados: No período de maio de 2010 a maio de 2011 foram atendidos 6 grupos de pacientes, totalizando 133 pacientes. Entre os pacientes que iniciaram o Programa, 85 (64,0%) concluíram com mais de 60% de presença. A avaliação dos pacientes que concluíram o programa mostrou que a intensidade média da dor era de 7,5 (escala de 0 a 10) antes do Programa e foi reduzida para 4,9 depois do Programa (redução 34,7%). O escore médio de sintomas depressivos era de 14,7 (escala de 0 a 63) antes do Programa e foi reduzido para 8,9 após o Programa (redução de 39,5%). O grau de incapacidade média era de 32,7% antes do programa (escala de 0 a 100%) e foi reduzido para 24,2% no final do Programa (redução de 26%). A avaliação do seguimento mostrou que os pacientes que concluíram o Programa mantiveram os resultados obtidos em um período médio de 6 meses. Conclusão: O programa cognitivo-comportamental para o controle da dor crônica foi efetivo na redução da inten-sidade da dor, no controle dos sintomas depressivos e na redução da incapacidade relacionada à dor. Esses efeitos se refletem em melhor qualidade de vida e redução de custos relacionados à saúde.

TL 371. Antagonização Opioidérgica Neutraliza a Antinocicepção Modulada pela Estimulação Elétrica Nervosa Transcutânea de Baixa Frequência

Thais Cristina Teixeira Gonçalves, Thiago Henrique Ferreira Vasconcellos, Caio Henrique Ferreira, Célio Marcos dos Reis Ferreira, Dulcinéa Gonçalves Teixeira, Juliana Almeida da Silva, Norberto Cysne Coimbra, Renato Leonardo de Freitas, Débora

Vieira (Centro Universitário de Patos de Minas; Universidade de São Paulo)

Objetivo: Analisar a participação do sistema opioidérgico na modulação da analgesia induzida pela TENS de baixa frequência (10 Hz)

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aplicada na cauda de ratos machos Wistar após tratamento agudo com antagonista opioidérgico naloxona por via intraperitoneal (i.p.). A análise foi registrada através de medidas nociceptivas de latência de retirada da cauda (LRC). População: Os animais foram distribuídos aleatoriamente e mantidos em quatro grupos de nove (n=9) por caixa: o grupo controle foi tratado com salina fisiológica 0,9% 0,75ml/100g e 10Hz; o grupo experimental recebeu tratamento com antagonista opioidérgico cloridrato de naloxona 3mg/kg e 10Hz; e os grupos pla-cebos foram tratados com salina fisiológica 0,9% 0,75ml/100g e TENS simulada e naloxona 3mg/kg e TENS simulada. Após o período de habituação, no dia zero do experimento, foram medidas três latências de retirada de cauda basais (LB1, LB2 e LB3) no teste de retirada da cauda, tomadas em intervalos de cinco minutos. Após 24 horas, procedeu-se com o pré-tratamento dos animais com salina ou com naloxona diluída em salina. Dez minutos após a administração das drogas, realizou-se a aplicação de TENS de 10Hz ou TENS simulada durante 30 minutos. As LRC foram redeterminadas por uma hora e meia, com intervalo de 5 minutos. Resultados: No pré-tratamento com salina seguido pela aplicação da TENS de baixa frequência houve elevação dos limiares nociceptivos na janela temporal compreendida entre 0 e 90 minutos, o que foi revertido no nível basal a antinocicepção induzida pela eletroestimulação de 10Hz após o pré-tratamento com antagonista opioidérgico não seletivo, cloridrato de naloxona, [F(3,32) variando de 3,13 a 11,67; p < 0,05]. Conclusão: Esses resulta-dos corroboram o envolvimento de receptores opioidérgicos na modulação da antinocicepção causada pela TENS de 10Hz. Contribuem, também, para o aperfeiçoamento do uso da TENS de baixa frequência para os tratamentos de dor crônica.

TL 372. Somatização da Analgesia Induzida pela Estimulação Elétrica Nervosa Transcutânea de Alta Frequência em Ratos Pré-Tratados com

Cloridrato de NaloxonaThais Cristina Teixeira Gonçalves, Thiago Henrique Ferreira Vasconcellos, Rafael Rodrigues de Souza, Célio Marcos dos Reis Ferreira, Dulcinéa Gonçalves Teixeira, Norberto Cysne Coimbra, Ricardo de Oliveira, Rithiele Cristina de Oliveira,

Débora Vieira (Centro Universitário de Patos de Minas; Universidade de São Paulo)

Objetivo: Analisar a participação do sistema opioidérgico na modulação da analgesia induzida pela TENS de alta frequência (150 Hz) aplicada na cauda de ratos machos Wistar após tratamento agudo com antagonista opioidérgico naloxona por via intra--peritoneal (i.p.). A análise foi registrada através de medidas nociceptivas de latência de retirada da cauda (LRC). População: Os animais foram distribuídos aleatoriamente e mantidos em quatro grupos de nove (n=9) por caixa: o grupo controle foi tratado com salina fisiológica 0,9% 0,75ml/100gr e 150Hz; o grupo experimental recebeu tratamento com antagonista opioidérgico cloridrato de naloxona 3mg/kg e 150Hz; e, os grupos placebos foram tratados com salina fisiológica 0,9% 0,75ml/100gr e TENS simulada e naloxona 3mg/kg e TENS simulada. Após o período de habituação, no dia zero do experimento, foram medidas três latências de retirada de cauda basais (LB1, LB2 e LB3) no teste de retirada da cauda, tomadas em intervalos de cinco minutos. Após 24 horas, procedeu-se com o pré-tratamento dos animais com salina ou com naloxona diluída em salina. Dez minutos após a administração das drogas, realizou-se a aplicação de TENS de 150Hz ou TENS simulada durante 30 minutos. As LRC foram redeterminadas por uma hora e meia, com intervalo de 5 minutos. Foram usados 36 ratos albinos, da linhagem Wistar (Rattus norvegicus, Rodentia, Muridae), machos, pesando entre 200 a 300g, fornecidos pelo Biotério do Centro Universitário de Patos de Minas (Unipam). Os animais foram mantidos em quatro grupos de nove ratos por caixa (n=9) em sala climatizada a 24°C±1°C, com ciclo claro/escuro de 12 horas. Tiveram livre acesso a comida e água durante os períodos de habitação e experimental. A manutenção dos animais e todos os procedimentos experimentais obedeceram às normas nacionais que regulam o uso de animais em laboratórios. Resultados: Obteve-se elevação dos limiares nociceptivos na janela temporal compreendida entre 0 e 90 minutos após a aplicação da TENS de 150Hz nos grupos pré-tratados com salina, e uma somatização maior aos limiares nociceptivos nos grupos pré-tratados com clori-drato de naloxona seguido da estimulação elétrica de mais alta frequência [F(3,32) variando de 3,37 a 13,43; p < 0,05]. Conclusão: Esses resultados sugerem a participação de vias neurais alternativas a opioidérgica na modulação analgésica induzida pela TENS de 150Hz. Assim, também, sugestionam a efetividade antagônica colinesterásica muscarínica desenvolvida pelo fármaco cloridrato de naloxona na ausência de hipnoanalgésicos opioides na analgesia causada pela TENS de 150Hz.

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TL 374. Tratamento da Lombalgia com Tramadol/Paracetamol: Série de CasosJosé Nilson Fortaleza Araújo, Caio Prado Siqueira Campos; Khadija Neide Alexandrino Regin, Leandro de Melo Pontes,

Fernando Santiago Lima Verde (Instituto Doutor José Frota; Universidade Federal do Ceará)

Objetivo: A dor lombar crônica é um problema de saúde pública, é a maior causa de comprometimento de atividades em adultos com menos de 45 anos e a segunda causa em adultos de 45 a 65 anos, levando a grandes prejuízos físicos, sociais e econômicos. O trabalho tem como objetivo descrever a resposta terapêutica de três pacientes portadores de dor lombar crônica de forte intensidade, tratados por via oral com a associação de cloridrato de tramadol 37,5 mg e paracetamol 325 mg, a cada oito horas. População: Foram escolhidos pacientes com dor lombar crônica refratária a tratamentos anteriores atendidos em ambulatório especializado em hospital terciário. Foram utilizadas para a avaliação a escala numérica de dor graduada de zero a dez, na qual zero significa ausência de dor e dez significa dor de máxima intensidade e a escala de faces de Wong Baker, que consiste em seis mímicas faciais ordenadas de forma crescente em nível de intensidade da dor, atribuídos os valores 0, 2, 4, 6, 8 ou 10 para a dor de acordo com a face correspondente à escolha do paciente para retratar a sua dor. As avaliações foram feitas antes do início do tratamento, no dia 15 e 30 após o início do tratamento. Resultados: Os três pacientes obtiveram melhora da disfunção causada pela dor lombar crônica, segundo os escores de avaliação de dor, que se seguem: Primeiro paciente – 7 antes do início do tratamento, 2 após avaliação de 15 dias e 2 após avaliação de 30 dias utilizando a escala numérica de dor e, utilizando a escala de face de Wong Baker, 8-2-2 nos respectivos dias de avaliação; Segundo paciente – 8-3-3 nos respectivos dias de avaliação utilizando a escala numérica de dor e, utilizando a escala de faces de Wong Baker, 8-4-4; Terceiro paciente – 8-5-4, utilizando a escala numérica de dor e, utilizando a escala de faces de Wong Baker, 8-2-2. O tratamento foi bem tolerado em todos os casos, havendo relato de sonolência na primeira semana nos pacientes 2 e 3 e tontura no primeiro dia no paciente 3. Todos os pacientes relataram melhora na capacidade de realizar atividades diárias. Conclusão: A associação de cloridrato de tramadol 37,5 mg e paracetamol 325 mg confirmou-se segura e de boa tolerância como em outros usos descritos na literatura. Foi eficaz em diminuir os escores de avaliação de dor em todos os pacientes, aumentar a capacidade de realizar atividades diárias e melhora da qualidade de vida dos pacientes.

TL 377. Prevalência, Localização e Intensidade de Dor Crônica Autorrelatada por Idosos da Região Centro-Oeste do Brasil

Charlise Fortunato Pedroso, Layz Alves Ferreira Sousa, Ana Paula da Costa Pessoa, Patrícia Pereira de Vasconcelos, Lilian Varanda Pereira (Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás)

Objetivo: Estimar a prevalência de dor crônica autorrelatada em idosos de Goiânia − GO, e investigar a localização e intensidade dessa experiência. População: A população alvo constituiu-se de indivíduos com 60 anos ou mais, idade estabelecida para o idoso no Brasil (Lei nº 8.842, de 4 de janeiro de 1996), não institucionalizados, de Goiânia − GO. Uma amostra probabilística foi tomada para este estudo, constituindo-se de 934 idosos. O cálculo foi feito por meio do programa Epi Info 6.0, considerando uma frequência esperada de 30% para a variável de desfecho, com um nível de confiança de 95%, nível de significância 5% e erro aceitável de 10%. Resultados: Dos 934 idosos, 62,2% eram mulheres e 37,8% homens, com média de 71,6 anos; dp=8,5. A prevalência de dor crônica em geral foi de 51,1%, com maior ocorrência na faixa etária de 60-74 anos (64,5%). Localizou-se com maior frequência nos mem-bros inferiores (63,1%), espinha lombar (57,2%) e ombros/membros superiores (41,7%). A média dos escores de intensidade de dor foi de 6,45; dp=2,47, sendo referida como a pior possível por 12,8% dos idosos, forte por 42,6%, moderada por 37,7% e leve por 10,9%. Conclusão: A prevalência de dor crônica entre os idosos da região centro-oeste do Brasil é alta e semelhante a alguns estudos realizados em nosso país. Afeta prevalentemente os jovens idosos, tem intensidade de moderada a forte e acomete frequentemente os membros inferiores, a espinha lombar, os ombros/membros superiores, locais que podem comprometer a capacidade funcional e a qualidade de vida dessa população.

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TL 378. Perfil dos Analgésicos Utilizados por Idosos da Região Centro-Oeste do Brasil

Lígia Vanessa Silva Cruz Duarte, Layz Alves Ferreira Souza, Ana Paula da Costa Pessoa, Charlise Fortunato Pedroso, Lilian Varanda Pereira. (Faculdade de Enfermagem/Universidade Federal de Goiás-UFG; Programa de Pós-graduação

em Enfermagem UFG)

Objetivo: Traçar o perfil da terapêutica analgésica farmacológica utilizada por idosos não institucionalizados de Goiânia − GO. População: Participaram do estudo 934 idosos maiores de 60 anos, não institucionalizados e residentes no município de Goiânia − GO, sendo 581 (64,3%) do sexo feminino e 353 (37,7%) do sexo masculino. Destes, 544 (58,2%) relataram sentir alguma dor nos últimos três meses, e 328 (50,5%) relataram fazer uso de medicamentos para dor, sendo elegíveis para esse trabalho. Os dados foram coletados, compilados e analisados pelo programa SPSS 15.0. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética da UFG (Protocolo 050/09). Resultados: Entre idosos, 219 (66,7%) usavam analgésicos simples, 51 (15,5%) AINES, 5 (1,5%) opioides, 6 (1,8%) adjuvantes e 18 (5,4%) outros medicamentos. O paracetamol foi o analgésico simples mais utili-zado (18,2%; n=60), seguido pela dipirona (12,8%; n=42). Entre os AINES, a maior frequência foi para o diclofenaco de sódio (8,5%; n=28). Apenas 111 idosos (33,84%) utilizavam medicamentos com prescrição médica. Os gerontes com idades entre 60 e 70 anos foram os que mais se medicaram (48,4%; n=159). Conclusão: Os idosos utilizam a terapêutica analgésica far-macológica para alívio da dor, frequentemente com analgésicos simples (dipirona, paracetamol) e os AINES (diclofenaco de sódio), sendo que a faixa etária entre 60 e 70 anos é a mais medicalizada para alívio da dor, e a maior parte dos medicamentos utilizados não teve prescrição médica. Ademais, é preciso ressaltar orientações entre os idosos com foco no consumo racional dos medicamentos utilizados na analgesia, a fim de prevenir efeitos adversos à saúde do idoso.

TL 379. Escala Numérica e Escala de Faces na Medida da Dor Crônica Autorreferida por Idosos Não Institucionalizados

Ana Paula da Costa Pessoa, Layz Alves Fereira Souza, Charlise Fortunato Pedroso, Adélia Yaeko Kyosen Nakatani; Lílian Varanda Pereira (Universidade Federal de Goiás)

Objetivo: Mensurar a intensidade da dor crônica autorreferida por meio de duas escalas ordinais de medida e identificar a escala preferida pelos idosos não institucionalizados de Goiânia − GO. População: A população-alvo constituiu-se de pessoas com 60 anos ou mais (idade estabelecida para o idoso no Brasil, de acordo com a Lei nº 8.842 de 4 de janeiro de 1996), não institucionalizados, de Goiânia − GO. O cálculo de uma amostra probabilística foi feito por meio do programa Epi Info 6.0, considerando uma frequência esperada de 30% para a variável de desfecho, com um nível de confiança de 95%, nível de significância 5% e erro aceitável de 10%, constituindo-se de 934 idosos. Resultados: A média de idade foi de 71,57 anos; (dp=8,3) com predomínio de idosos na classe econômica “miseráveis” (41,7%) e de aposentados (64,5%). Comprometimento cognitivo foi identificado em 34,8% (escore MEEM < 24), contudo, 94,3% conseguiram realizar a tarefa de medida por meio da EN (M=7,0; dp=2,23) apontando dor “moderada-forte” e 94,5% por meio da EF (54,1% escolherem as 3ª, 4ª e 5ª faces). A preferência foi pela EN (55,2%) associada significativamente (p=0,005) com as variáveis idade e gênero. Conclusão: Os resultados permitiram concluir que a intensidade da dor crônica entre os idosos de Goiânia − GO é moderada-forte e os idosos são capazes de julgar a intensidade de dor por meio da Escala Numérica e de Faces. A Escala Numérica foi a preferida pelos idosos mais jovens (60-79 anos) e pelos homens e a Escala de Faces pelos mais idosos (80-89 anos) e mulheres (p=≤0,015). Não houve associação significativa entre habilidade cognitiva, escolaridade e classe econô-mica. Estudos desta natureza são importantes, pois contribuem com a mensuração acurada da dor em idosos e apropriação das escalas mais adequadas para essa população.

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TL 380. Avaliação da Incapacidade por Lombalgia através do Questionário de Owestry

Dalton Dallemule, Tânia Cristina Buzeto, Marcio Spessotto, Margarete Silva Augusto, Ronaldo Kalaf, Luciane Patricia Amaral (Santa Helena Assistência Médica)

Objetivo: O objetivo deste trabalho é descrever os resultados do grupo de dor interdisciplinar do ambulatório da Santa Helena Assistência Médica através do tratamento com acupuntura e laserterapia. População: Foram analisados os pacientes encaminhados pelo ambulatório de patologias da coluna vertebral ao grupo de dor que realizaram acupuntura e laserterapia no período de março de 2010 a junho de 2011. O instrumento utilizado para avaliar o grau de incapacidade foi o questionário de Incapacidade lombar de Owestry no início e ao término do programa de tratamento, composto de 8 sessões de acupuntura e laserterapia. Resultados: Foram atendidos 147 pacientes. Após o tratamento houve redução importante na incapacidade grave, passando de 31% para apenas 3% dos pacientes, sendo que 79% passaram a apresentar incapacidade mínima. Conclusão: Nossos resultados demonstram que a realização de Acupuntura e Laserterapia permitiu redução importante na incapacidade funcional por lombalgia.

TL 381. Associação da Acupuntura e Fisioterapia Manual como Tratamento Clínico para Pacientes com Indicação Cirúrgica da Coluna VertebralTânia Cristina Buzeto, Dalton Dallemule, Marcio Spessotto, Margarete Silva Augusto, Luciane Patricia Amaral,

Ronaldo Kalaf, Amanda Rossi, Thais Acosta (Santa Helena Assistência Médica)

Objetivo: O objetivo deste trabalho é descrever os resultados do Grupo Ambulatorial de Dor da Santa Helena Saúde. População: Foram analisados os pacientes encaminhados pelo ambulatório de patologias da coluna vertebral, acompanhados no grupo de março de 2008 a junho de 2011, que realizaram acupuntura e fisioterapia manual. Para avaliar o grau de dor foi utilizada a escala visual analógica (EVA) antes e após cada sessão. Foram realizadas em média 8 sessões de acupuntura e fisioterapia. Resultados: Foram acompanhados um total de 538 pacientes. No início do tratamento 58% apresentavam dor intensa, 26% dor moderada e apenas 15% dor leve. Ao término do tratamento, 60% não apresentavam dor, 20% apresentavam dor de leve intensidade e 6,5% (35 pacientes) evoluíram para tratamento cirúrgico. Conclusão: Nossos resultados demonstram que a realização de Acupuntura e Fisioterapia Ma-nual permitiu redução importante na intensidade da dor dos pacientes que previamente receberam indicação cirúrgica.

TL 382. Percepção dos Descritores de Dor Crônica no Processo de Envelhecimento

Andresa K. Amaral Plá Pelegrin, Elis Ângela A. da Costa Lippi, Débora Fernanda Amaral Pedrosa, Fátima Ap. Emm Faleiros Sousa; Hilze Benigno O. Moura Siqueira (Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo)

Objetivo: Avaliar a percepção dos descritores de dor crônica no processo de envelhecimento. População: Participaram do estudo 46 idosos de ambos os sexos, com queixas de dor crônica, com condições físicas e/ou cognitivas e que residiam em duas Instituições de Longa Permanência no município de Ribeirão Preto −SP. Resultados: A análise do conteúdo resultou no ranking de posições dos descritores de dor crônica. A EMADOR revelou que nos métodos de estimação de categorias os descritores de dor foram: dolorosa, desconfortável, prejudicial, insuportável, angustiante, cruel, assustadora, persistente, deprimente e desas-trosa. Já na ordenação de postos: desastrosa, deprimente, assustadora, persistente, angustiante, cruel, prejudicial, insuportável, desconfortável e dolorosa. Conclusão: Os descritores de dor foram percebidos como um instrumento de avaliação significativo

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no processo de envelhecimento. Referir-se à dor como desconfortável, cruel, angustiante e dolorosa corrobora com a ideia de que os aspectos subjetivos estejam associados a doenças. A percepção dolorosa do idoso envolve a multidimensionalidade da dor, contemplando as dimensões física, psicológica, cognitiva e social.

TL 383. Tratamento de Cefaleia Crônica por Transtorno de Estresse Pós-Traumático e Abuso de Analgésicos em Adolescente. Relato de CasoNubia Verçosa, Giselane Salamonde, João Marcelo Corrêa Marques, Camila Santos Spiller, Bruno Tedeschi, Daniel Musse

Gomes, Ricardo Caetano Medeiros, Bruno Wance de Souza, Mariana Soares da Rocha (Departamento de Cirurgia - Universidade Federal do Rio de Janeiro)

Objetivo: O objetivo deste trabalho foi avaliar o tratamento da cefaleia mista em uma adolescente após ter sofrido um trauma psicológico e usar de forma abusiva analgésicos orais. População: Paciente ♀, adolescente (12 anos), com cefaleia parieto-occipital após invasão de sua casa por um assaltante armado. O seu tratamento foi realizado no Ambulatório de Dor do IPPMG da UFRJ, com participação dos alunos do PInC. A cefaleia piorava em ambientes extradomiciliares, porém, ela sentia alívio da dor após a utilização de analgésicos. Esses sintomas repetiam-se, no mínimo, três vezes por semana. Iniciou-se o tratamento com antidepressivos tricí-clicos (amitriptilina) e diário de cefaleia. Resultados: A paciente foi acompanhada no ambulatório de Dor do Instituto de Pediatria e Puericultura Martagão Gesteira, semanalmente, durante 2 anos com amitriptilina com dose inicial de 12,5 mg/dia até 25 mg/dia. Concomitantemente foram suspensos os analgésicos utilizados e a melhora dos sintomas foi registrada no diário de cefaleia. Após esse tratamento, a paciente teve alívio total da dor e pode retornar às suas atividades normais, sem medo e sem transtornos mentais. Teve alta do ambulatório sem medicação. Conclusão: O uso de antidepressivos em pacientes com dor crônica, tipo cefaleia, é com-provadamente uma alternativa segura para alívio da dor em pacientes adolescentes.

TL 384. Inibidor da Guanilato Ciclase Solúvel Reverte a Analgesia Promovida por Doador de Óxido Nítrico de Aplicação Tópica

Rafael Vercelino, Thiago Mattar Cunha, Fernando de Queiroz Cunha, Sergio H. Ferreira, Marcelo Ganzarolli de Oliveira (Universidade Estadual de Campinas, Universidade de São Paulo)

Objetivo: Comparar o efeito analgésico da aplicação tópica de hidrogel incorporado com o nitrosotiol S-nitrosoglutationa (GSNO), um doador de óxido nítrico, e a implicação do inibidor seletivo da guanilato ciclase (ODQ) em dois modelos experimentais de hiperalgesia inflamatória. População: Ratos Wistar, machos, com peso médio de 250 g, foram submetidos a injeção intraplantar de carragenina (100 µg/pata) ou prostaglandina (10 ng/pata) no volume de 0,1 mL, para instalação da hiperalgesia inflamatória. Hi-drogel Pluronic F-127 contendo GSNO 150 mM foi aplicado topicamente na pata em conjunto ou duas horas após. A quantificação da hipernocicepção foi realizada através do método de Randall e Selitto modificado. Utilizou-se ANOVA e teste de Student-New-man-Keuls, sendo significativo p < 0,05. Resultados: Observamos redução significativa da hipernocicepção no modelo de carrage-nina (18,4±1,1) com aplicação de GSNO conjunta (10,6±1,0) e duas horas após (9,7±0,4) à administração do agente inflamatório. No modelo de prostaglandina, observou-se redução significativa da hipernocicepção somente com a aplicação de GSNO conjunta à administração do agente inflamatório (16,7±0,4) vs. (9,7±1,6). O ODQ reverteu o efeito analgésico da GSNO nos modelos de carra-genina (15,7±1,1) e prostaglandina (16,3±0,7). Conclusão: O hidrogel F-127 incorporado com GSNO 150 mM mostrou eficácia na redução da hipernocicepção nos modelos de hiperalgesia inflamatória induzida por carragenina e prostaglandina, quando aplicado topicamente em conjunto com o agente inflamatório. Somente no modelo de carragenina a GSNO foi capaz reduzir a hipernocicep-

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ção quando aplicada duas horas após a administração do agente inflamatório. Nos dois modelos o ODQ inibiu o efeito analgésico da GSNO, evidenciando que possivelmente o mecanismo antinociceptivo é dependente da ação doadora de óxido nítrico da GSNO. Esses resultados demonstram que a GSNO apresenta um potencial analgésico promissor no tratamento da hiperalgesia inflamatória.

TL 385. Nevralgia do Trigêmeo: Modelo Experimental e AplicaçõesAlexandre Penido de Oliveira, Carolina Souza Andrade Lício, José Maurício Siqueira, André Ricardo Massensini, Márcio Flávio

Dutra Moraes, Washington Luiz Tafuri, Rosa Maria Esteves Arantes, Camila Megale de Almeida-Leite (Departamento de Morfologia, Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Minas Gerais; Departamento de Ciências Biológicas,

Instituto de Ciências Exatas e Biológicas, Universidade Federal de Ouro Preto; Departamento de Fisiologia e Biofísica, Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Minas Gerais; Departamento de Patologia Geral, Instituto de Ciências

Biológicas, Universidade Federal de Minas Gerais)

Objetivo: Este trabalho visa investigar, em modelo experimental de nevralgia do trigêmeo, as alterações morfológicas que se correlacionem ao desenvolvimento da dor ao longo do tempo, assim como demonstrar as aplicabilidades do modelo como ferra-menta no estudo da dor neuropática trigeminal. População: Ratos Wistar machos adultos obtidos do Centro de Bioterismo do ICB/UFMG foram submetidos à colocação de ligaduras em torno do nervo infraorbitário para reprodução do modelo experimental de nevralgia do trigêmeo. O comportamento espontâneo e evocado à estimulação mecânica foi avaliado para detecção das alterações comportamentais indicativas de dor neuropática. Após 3, 6, 9 e 15 dias de pós-operatório, os nervos trigêmeos foram obtidos e pro-cessados para microscopia óptica ou eletrônica. Resultados: Os animais apresentaram hiperresponsividade aos filamentos de von Frey, sugerindo o desenvolvimento de alodínia mecânica. As alterações morfológicas observadas no nervo trigêmeo incluem axônios lesados e vacuolizados e perda completa da arquitetura tecidual. Além disso, os nervos apresentaram desmielinização e degeneração das bainhas de mielina. Análise morfométrica revelou maior celularidade, o que pode ocorrer como resultado da resposta proliferati-va das células da glia à lesão nervosa. Conclusão: As alterações morfológicas aqui observadas revelam comprometimento estrutural importante dos fascículos nervosos, axônios e bainhas de mielina, e podem fundamentar alterações comportamentais presentes. Uma vez que a desmielinização está relacionada à dor neuropática e é observada neste modelo experimental, fica clara a sua contribuição como ferramenta no estudo mais aprofundado dos mecanismos e processos celulares envolvidos na dor neuropática trigeminal. [Su-porte Financeiro: Fapemig (PROBIC2008/2009 e CDS-APQ-00489-09)]

TL 386. A Linguagem da Dor Crônica do CâncerElis Angela A. da Costa Lippi, Andresa K. Amaral Plá Pelegrin, Hilze Benigno O. Moura Siqueira, Rodrigo Ramon Falconi

Gomez, Nádia Ap. Rossi (Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo)

Objetivo: Avaliar a linguagem da dor crônica advinda de diferentes tipos de cânceres, através da identificação dos 10 descritores de dor crônica que compõem a Escala Multidimensional de Avaliação da Dor (EMADOR) de maior atribuição conforme a percepção da amostra. População: Indivíduos de ambos os sexos, maiores de 18 anos, com diagnóstico de câncer de mama, de próstata e de sistema digestivo, atendidos no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, e que se queixavam de dor há mais de 3 meses. A amostra foi composta por 45 homens com câncer de próstata, 45 mulheres com câncer de mama (amostra de conveniência) e 60 indivíduos de ambos os sexos com câncer de sistema digestivo. Resultados: Dos 150 participantes, 40,7% relataram dor antes do diagnóstico da doença, 55,4% que a dor era intermitente e 52,7% tinham 1 sítio de dor. Maiores escores de dor (7,58 ± 2,59) foram observados nos participantes com câncer digestivo. Nos descritores de maior atribuição, 5 estavam presentes nas 3 amostras: “dolorosa”, “desconfortável”, “chata”, “desagradável” e “incômoda”,

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que foi o mais atribuído em dois grupos. Na dimensão dos descritores, 50% eram afetivos, 26,6% cognitivos e 23,3% sensi-tivos. Conclusão: Concluímos que, mesmo sendo a dor oncológica um fenômeno considerado individual, multidimensional, com comprometimento em diversos domínios da vida, a sua linguagem apresenta semelhança independentemente do sítio do tumor e do gênero. A dimensão afetiva da dor que predominou na percepção dos clientes é frequentemente negligenciada nas avaliações clínicas. Enfatizamos a necessidade de que questões envolvendo a religiosidade e a espiritualidade dos clientes com dor oncológica devam ser mais bem exploradas para o manejo da dor espiritual.

TL 387. Avaliação de Aspectos Quantitativos e Qualitativos da Dor na FibromialgiaSimone Saltareli; Débora Fernanda Amaral Pedrosa; Lucas Félix de Oliveira; Márcia Marques dos Santos Félix,

Rodrigo Ramon Falconi Gomez, Talita de Cássia R. da Silva, Fátima Ap. Emm Faleiros Sousa (Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo)

Objetivo: Avaliar a percepção da dor na fibromialgia por meio de técnica metodológica quantitativa e qualitativa. População: Trinta indivíduos, provenientes de Ribeirão Preto e região, com diagnóstico de fibromialgia, que realizaram o processo diagnóstico em hospital público de Ribeirão Preto. Resultados: A análise de conteúdo resultou nas categorias diagnóstico, motivações, doença, sentimentos, pensamentos e repercussões na qualidade de vida. O EMADOR revelou os descritores de dor de maior atribuição: incômoda, que espalha, latejante e desconfortável, e os de menor atribuição: desgra-çada, demoníaca, maldita e aterrorizante. Os instrumentos mostraram tendência sensorial-discriminativa na caracterização da dor e revelam a importância do papel da família e do profissional de saúde no manejo da dor. Conclusão: Percebeu-se a necessidade de estimular a percepção e a expressão das clientes com relação à dor, abarcando sua multidimensionalidade, e que o manejo da dor deve ser realizado levando-se em conta a tríade equipe de saúde–cliente–família, em face da com-plexidade do fenômeno.

TL 388. A Multidimensionalidade da Dor no Ensino de Enfermagem em Atendimento Pré-Hospitalar às Vítimas de Trauma

Flávia Alves Ribeiro, Vanessa Lapa Silva, Maria do Carmo Querido Avelar (Universidade de Mogi das Cruzes; Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo)

Objetivo: Compreender a visão dos docentes enfermeiros de um Curso de Graduação de Enfermagem sobre a multi-dimensionalidade da dor no ensino do atendimento pré-hospitalar às vítimas de trauma. População: Foram entrevistados todos os dez enfermeiros docentes de uma Instituição de Ensino Superior localizada no município de Mogi das Cruzes − SP que lecionaram no ano de 2010 disciplinas que abordavam aspectos relacionados à dor aguda das vítimas de trauma e que aceitaram participar mediante assinatura do Termo de Consentimento. Resultados: Os docentes enfermeiros expres-saram como foco do ensino da dor no APH o uso de métodos e instrumentos de mensuração disponíveis para pacientes conscientes e inconscientes e, uma vez diagnosticado, o quinto sinal vital é gerenciado, prioritariamente, por meio de intervenções não farmacológicas, tendo em vista que a situação de trauma tem como potencial consequência associada à dor a ansiedade. Conclusão: A visão dos enfermeiros docentes se relaciona à priorização dos cuidados complementares em relação à terapia medicamentosa. O cuidado é precedido por avaliação intermediada pelo uso de instrumentos de mensuração disponíveis. Dessa constatação emerge a necessidade de serem elaboradas propostas de ensino de assistência que tenham como foco a associação das estratégias de tratamento farmacológicas e não farmacológicas, tendo em vista a multidimensionalidade da dor.

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TL 389. Tratamento Multidisciplinar Conservador de Lombalgia Crônica Associada a Diagnóstico de Estenose de Canal Lombar: Relato de Caso

Cristiane Arruda, Artur Padão Gosling, Alexandre Castro do Amaral (Centro Multidisciplinar da Dor)

Objetivo: Relatar um caso clínico de lombalgia crônica com diagnóstico de estenose de canal lombar, considerando o tratamento multidisciplinar conservador, bem como as estratégias utilizadas e seus resultados. População: Paciente feminina, 73 anos, apo-sentada, apresentava lombalgia constante com irradiação para os glúteos de forma incapacitante e progressiva há 1 ano. A dor era intensa ao ficar de pé e caminhar, necessitando sentar-se para o alívio imediato. O exame de ressonância magnética era compatível com diagnóstico de estenose de canal vertebral a partir de L4. No exame físico apresentava importante restrição de movimentos lombares, lasegué positivo e pontos-gatilhos ativos que reproduziam sua dor. Resultados: Foi proposto um programa de tratamento multidisciplinar associando técnicas de fisioterapia para liberação miofascial em pontos-gatilhos, fortalecimento muscular e orienta-ções com as medicações topiramato, baclofeno e nortriptilina. Após 5 meses, houve melhora da capacidade funcional lombar e alívio da dor. Foi solicitado novo exame de ressonância magnética, o qual se manteve idêntico ao anterior. As medicações foram retiradas e a paciente consegue caminhar sem aumento dos sintomas. Conclusão: O relato de caso mostra que o tratamento multidisciplinar conservador pode ser uma opção terapêutica para o controle da dor e o aumento da capacidade funcional lombar. A lombalgia crônica possui múltiplos fatores que podem não ter relação direta com o diagnóstico por imagem.

TL 390. Dor Legal é Tratar: Divulgação dos Resultados de uma Campanha de Prevenção da Dor e Qualidade de Vida

Ana Carolina Mascarenhas, Cristiane Arruda, Artur Padão Gosling, Patricia Diógenes Suassuna, Alexandre Castro do Amaral (Centro Multidisciplinar da Dor)

Objetivo: Divulgar, informar e esclarecer dúvidas à população sobre a prevenção, tratamento multidisciplinar da dor, hábitos sau-dáveis e qualidade de vida. População: Indivíduos com idade acima de 18 anos, que transitavam no Aterro do Flamengo no Rio de Janeiro na manhã do dia do evento, foram convidados a participar das atividades. Profissionais da área de saúde previamente treinados aplicaram um questionário elaborado com perguntas sobre dor, hábitos e qualidade de vida. Durante a campanha também foram ofere-cidos vídeos e jogos como estratégias de educação em dor. Resultados: Foram entrevistadas 304 pessoas, das quais 74% eram do sexo feminino. A idade média foi de 62,34 entre 18 e 86 anos. Cerca de 60% procuravam ajuda médica por dor, 33% faziam automedicação, 81% conseguiam concluir tratamentos para a dor, 76% retornavam ao médico quando o tratamento não tinha sucesso, 42% acreditavam que tinham boa postura, 61% dormiam bem, 81% tinham boa alimentação, 71% praticavam exercícios regulares, 78% cuidavam da saúde e 62% tinham mudanças no humor quando sentiam dor. Conclusão: A falta de conhecimento sobre a forma correta de tratamento, dúvidas sobre hábitos e qualidade de vida foram os fatores de maior destaque nesta campanha. Portanto, sugerimos a realização de mais intervenções na população, com atividades educativas e informativas sobre a dor e o impacto nos hábitos e qualidade de vida.

TL 391. Caracterização da Dor Crônica em Pacientes Diagnosticados com Hanseníase

Artur Padão Gosling, Licia Margarida Vilhena Saadi, Maria Kátia Gomes, Antonio José Ledo Alves Cunha (Universidade Federal do Rio de Janeiro − Hospital Universitário Clementino Fraga Filho)

Objetivo: Descrever as características das diversas dimensões da dor crônica. População: 27 pacientes diagnostica-

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dos com hanseníase e com sintomas dolorosos por mais de 6 meses após o tratamento com a poliquimioterapia. Todos os pacientes foram referidos de um ambulatório terciário e faziam uso excessivo de corticoesteroides. Foram investigadas as variáveis demográficas, clínicas e diagnósticas, nervos acometidos, mensuração da dor e questionários específicos sobre dor, qualidade de vida, participação em atividades e condições emocionais. Resultados: 51,85% eram do sexo feminino, idade média de 45 anos, tempo médio de diagnóstico de 8 anos e de dor em 6,7 anos, intensidade média 5,9 na Escala Visual Analógica. Comprometimento do nervo ulnar em 59,26%, localização da dor nas áreas do nervo fibular em 74,07%, o descritor mais frequente foi queimação em 48,14%. Questionário Dor Neuropática 4 teve média 6,3, SF-36 apresentou zero para limitação física e os Inventários Beck de Depressão e Ansiedade com valores médios de 20 e 24 respectivamente. Conclusão: O estudo evidencia a alta severidade da dor e com características crônicas nesses pacientes, provocando restrições na participação das atividades, com grande impacto na qualidade de vida e afetando dimensões físicas, emocionais e sociais.

TL 392. Dor Miofascial na HanseníaseArtur Padão Gosling, Licia Margarida Vilhena Saadi, Maria Kátia Gomes, Antonio José Ledo Alves Cunha

(Universidade Federal do Rio de Janeiro − Hospital Universitário Clementino Fraga Filho)

Objetivo: Identificar a presença de pontos-gatilhos miofasciais em músculos que provocam dor referida para área de inervação cutânea dos principais nervos comprometidos pela hanseníase e que reproduzem a dor do paciente. População: 27 pacientes diagnosticados com hanseníase e com sintomas dolorosos por mais de 6 meses após o tratamento com a poliquimioterapia. Todos os pacientes foram referidos de um ambulatório terciário. Os pontos-gatilhos foram avaliados utilizando-se o Algômetro de Pressão Wagner 10Kg x 100Gr. Foram considerados apenas os pontos que reproduziam exatamente a dor. Resultados: O ponto-gatilho dos músculos extensor curto do hálux, abdutor do hálux e 1º interósseo dorsal reproduziram a dor para a área de inervação cutânea do nervo fibular comum em 18,52% para cada ponto, sendo que não são inervados por esse nervo. Na área de inervação cutânea do nervo ulnar, o ponto-gatilho nos músculos trí-ceps braquial e no extensor longo dos dedos reproduziu a dor em 40,74% e 37,04% respectivamente, não sendo esses músculos inervados pelo ulnar. Conclusão: Foram encontrados pontos-gatilhos que reproduziram exatamente a dor dos pacientes, principalmente em músculos não inervados pelos nervos comprometidos. A dor miofascial deve ser conside-rada nos pacientes diagnosticados com hanseníase e que apresentem dor há mais de 6 meses após o tratamento com a poliquimioterapia.

TL 394. Síndrome de Eagle: Diagnóstico e TratamentoEduardo Grossmann, Thiago Kreutz Grossmann, João C. Silva (Centro de Dor e Deformidade Orofacial; UFCSPA; Ulbra)

Objetivo: Descrever a Síndrome de Eagle com as suas características e tratamento. População: Paciente do sexo femi-nino, 44 anos, procurou atendimento devido a uma dor pré-auricular à direita, do tipo choque elétrico, de grau 8 pela escala analógica-visual (EAV), com sensação de corpo estranho na faringe e disfagia. Sua dor aumentava ao girar o pescoço para a direita e ao deglutir. Foi realizado exame físico, no qual houve exacerbação dos sintomas à palpação da fossa tonsilar. Na ra-diografia panorâmica e na tomografia computadorizada, em corte frontal, constatou-se o alongamento do processo estiloide do lado direito. Resultados: Realizou-se uma abordagem cirúrgica na região cervical, sob anestesia geral, com acesso extrabucal, com desinserção dos três músculos e dos dois ligamentos pertencentes a esse osso, promovendo a remoção de parte do proces-so estiloide e preservando-se sua base junto ao osso temporal. Foi realizada hemostasia, sutura plano a plano e fechamento da pele. No pós-operatório imediato a dor desapareceu (EAV= zero). Decorridos 64 meses, a paciente permanece assintomática.

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Conclusão: O tratamento de eleição na síndrome de Eagle é o cirúrgico, com remoção do processo estiloide e, quando mine-ralizado, do ligamento estilo-hióideo.

TL 395. Projétil Alojado na Articulação TemporomandibularEduardo Grossmann, Thiago Kreutz Grossmann, João C. Silva (Centro de Dor e Deformidade Orofacial; UFCSPA; Ulbra)

Objetivo: Relatar um raro caso de projétil alojado na articulação temporomandibular. População: Paciente do sexo femini-no, 18 anos, procurou serviço especializado 72 horas após ser ferida por bala perdida. Durante a anamnese, relatou dor de grau 5 pela escala analógica-visual (EAV), na região da articulação temporomandibular direita, e dificuldade para abrir e fechar a boca. Ao exame físico, observou-se lesão pérfuro-contusa em região zigomática direita e abertura máxima da boca de 29,30 mm. A paciente não apresentava comprometimento sensorial ou motor. Ao exame tomográfico, em corte coronal, foi possível observar a presença de um projétil localizado acima da cabeça da mandíbula, junto à ATM direita. Resultados: Com base nos sinais, sintomas e exame de imagem, foi proposta cirurgia para remoção da bala com acesso endaural, sob anestesia geral, com entubação nasotraqueal. Incisou-se a pele e o tecido conjuntivo subcutâneo, indo em direção aos planos profundos, com a re-moção do projétil, alojado no compartimento supradiscal da articulação temporomandibular. Foi realizada hemostasia, sutura plano a plano e fechamento da pele. O pós-operatório transcorreu sem intercorrências e a paciente foi submetida a fisioterapia duas vezes por semana durante 3 meses, com ultrassom 1,5 w/cm2 associada a espátulas de madeira, compressa quente e exer-cícios de alongamento passivo de abertura, fechamento e lateralidade da mandíbula. Em consulta de reavaliação, 17 meses após a cirurgia, a abertura de boca era de 41,04 mm e a paciente apresentava-se assintomática (EAV= zero). Conclusão: Nos casos em que o projétil esteja alojado na articulação temporomandibular e produza limitação da função e dor, o tratamento de eleição é o cirúrgico, com remoção do projétil, associado à fisioterapia.

TL 397. Potenciais Interações Medicamentosas na Terapêutica Analgésica de Idosos

Layz Alves Ferreira Souza, Ligia Vanessa Cruz Duarte, Ana Paula da Costa Pessoa, Charlise Fortunato Pedroso, Lilian Varanda Pereira (Programa de Pós-graduação em Enfermagem UFG, Faculdade de Enfermagem da UFG)

Objetivo: Investigar as potenciais interações medicamentosas entre os anti-inflamatórios não-esteroidais (AINES) e os anti-hipertensivos, anticoagulantes e diuréticos e entre paracetamol e anticonvulsivantes em idosos não institucionalizados de Goiânia − GO que tratam farmacologicamente sua dor. População: Participaram do estudo 934 idosos maiores de 60 anos, não institucionalizados e residentes no município de Goiânia − GO, sendo 581 (64,3%) do sexo feminino e 353 (37,7%) do sexo masculino. Destes, 544 (58,2%) relataram sentir alguma dor nos últimos três meses, e 328 (50,5%) relataram fazer uso de me-dicamentos para dor, sendo elegíveis para este estudo. Resultados: 72 idosos (21,95%) tinham uma das potenciais interações medicamentosas avaliadas. A potencial interação entre AINES e anti-hipertensivos ocorreu em 36 (10,9%) idosos, 12 (3,65%) utilizavam AINES e anticoagulantes, e 12 (3,65%) usavam AINES e diuréticos e 33 (10,06%) medicavam-se com paracetamol e anticonvulsivantes. Entre as potenciais interações medicamentosas analisadas, 40 (12,19%) estavam associadas a medica-mentos utilizados na prática de polifarmácia. Conclusão: Os idosos estão expostos a interações medicamentosas potenciais entre os analgésicos utilizados e outros medicamentos que, considerando ainda a prática de polifarmácia, os expõe a riscos de reações adversas e sofrimento adicional.

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TL 398. Efeito da Fotobiomodulação a Laser sobre a Intensidade da Dor e o Limiar de Dor à Pressão dos Músculos Mastigatórios em Pacientes

com Disfunção TemporomandibularAndré Luís Porporatti, Mila Leite de Moraes Maia, Paulo César Rodrigues Conti, Yuri Martins Costa, Maria Amália Gonzaga

Ribeiro, Luiz Guilherme Maia, Leonardo Rigoldi Bonjardim (Universidade de São Paulo, Universidade Federal de Sergipe; Universidade Tiradentes)

Objetivo: Verificar o efeito do laser de baixa potência sobre a intensidade da dor e o limiar de dor à pressão (LDP) nas regiões dolorosas dos músculos masseter e temporal em pacientes com Disfunção Temporomandibular (DTM). População: A amostra constou de 12 sujeitos com diagnóstico prévio de DTM segundo os critérios do Research Diagnostic Criteria. Foi utilizado o laser terapêutico Odontológico Photon Laser III, diodo semicondutor AsGaAl (808 nm, 100 mw, 70 J/cm² com tempo de aplicação por ponto de 19 seg., área do spot de 0,028cm² e área do feixe laser de 0,04cm²). O laser foi aplicado de modo contínuo através da técnica pontual nas regiões dolorosas dos músculos masseter e temporal, 2 vezes por semana durante 4 semanas. Resultados: Foi verificada uma redução estatisticamente significativa na intensidade da dor em todas as sessões, com exceção da primeira. Após a décima sessão e trinta dias após foi observada uma redução de aproximadamente 70% e 60%, respectivamente. Adicionalmente, foi observado um aumento significativo do limiar de dor a pressão nos mús-culos masseter e temporal anterior ao final do tratamento (Masseter-16%; Temporal-15%) e após trinta dias (Masseter-16%; Temporal-10%). Conclusão: Pode-se concluir que a terapia a laser foi efetiva em reduzir a intensidade da dor, bem como aumentar limiar de dor a pressão de músculos mastigatórios em pacientes com disfunção temporomandibular. Apesar do pequeno número de sujeitos avaliados, pode ser sugerido um efeito laser como adjuvante no tratamento da dor decorrente das DTMs.

TL 399. Automedicação em Idosos com Dor Autorreferida, em Goiânia − GOLayz Alves Ferreira Souza, Ana Paula da Costa Pessoa, Ligia Vanessa Cruz Duarte, Adélia Yaeko Kiossen Nakatani, Lilian

Varanda Pereira (Programa de Pós-graduação em Enfermagem − UFG; Faculdade de Enfermagem da UFG)

Objetivo: Estimar a prevalência de AM para alívio da dor, entre idosos não institucionalizados, e identificar os fármacos utilizados e a fonte geradora dessa prática. População: Este trabalho está aninhado ao estudo “Situação de Saúde da população Idosa de Goiânia − GO”, que teve a participação de 934 idosos maiores de 60 anos, não institucionalizados e residentes no município de Goiânia, sendo 581 (64,3%) do sexo feminino e 353 (37,7%) do sexo masculino. Destes, 544 (58,2%) relataram sentir alguma dor nos últimos três meses, sendo elegíveis para este trabalho. Resultados: A prevalência de AM foi de 40,2% (217). Dipirona (35,22%) e paracetamol (32,3%) (p < 0,001) foram os mais utilizados; 12,9% usavam AINES (principalmente diclofenaco de sódio). Os idosos praticaram AM “por conta própria” (64,1%), por meio de “receitas médicas antigas” (16,1%), “por indicação de familiares” (9,2%), “por indicação de balconista de farmácia” (5,5%) e “por indicação de amigo ou vizinho” (5,1%). p < 0,05 entre AM e escolaridade, cefaleia e dor em MMII e lombar. Conclusão: A prevalência de AM nessa população é semelhante à observada em outros estudos brasileiros. Os idosos automedicam-se, o que inviabiliza a AM como forma de autocuidado. Os fármacos mais utilizados foram os analgésicos simples e AINEs, frequentemente livres de prescrição médica. Aponta-se o consumo irracional desses medicamentos como causa de efeitos adversos desastrosos à saúde do idoso. Associa--se o fato de o tratamento paliativo da dor poder retardar a elucidação do diagnóstico e o tratamento adequado, contribuindo no processo de cronificação da dor.

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TL 400. Avaliação da Eficácia em Curto Prazo do Uso de Placas Estabilizadoras Oclusais de Cobertura Total e Dispositivos NTI (Nociceptive

Trigeminal Inhibitory Splint) no Tratamento da Dor MiofascialYuri Martins Costa, Eloisa Nassar de Alencar, Ana Sílvia da Mota Corrêa, Paulo César Rodrigues Conti, Leonardo

Rigoldi Bonjardim, André Luis Porporatt (Faculdade de Odontologia de Bauru; Universidade de São Paulo; Universidade Federal de Sergipe)

Objetivo: Verificar a eficácia do tratamento por meio de aparelhos oclusais na melhora dos sinais e sintomas da dor mio-fascial (DMF). População: Os sujeitos foram selecionados de uma população de pacientes que apresentavam dor facial e procuraram a clínica de Dor Orofacial da Faculdade de Odontologia de Bauru. Foram obtidos 3 grupos: grupo I, 21 sujeitos (placa oclusal de cobertura total), grupo II, 16 sujeitos, (NTI) e grupo III, 14 sujeitos (controle). O tratamento foi de 3 meses e englobava aconselhamento e mudança comportamental. Foram medidos EAV, LDP do masseter e temporal e efeitos colaterais do uso dos dispositivos. Resultados: A média da EAV para o grupo I foi: 6,15 (avaliação inicial), 2,06 (após 14 dias), 1,11 (após 48 dias) e 1,39 (após 3 meses). Na mesma ordem, o grupo II obteve 5,33, 3,14, 2,32 e 1,86 e 5,74, 3,40, 3,38 e 2,45 para o grupo III. A média de abertura bucal inicial e final no grupo I foi de 40,90 e 43,41, no grupo II foi de 39,56 e 41,3 e no grupo III foi de 42,28 e 39,88 mm. A média do LDP inicial e final no grupo I foi de 1,92 e 2,03, no grupo II foi de 1,74 e 1,73 e no grupo III foi de 1,88 e 1,83 N. Conclusão: Os três grupos apresentaram melhora nos sinais e sintomas de DMF, sugerindo que o tratamento com aparelhos oclusais e técnicas de aconselhamento e mudanças comportamentais parece ser benéfico ao paciente. No entanto, o uso de aparelhos oclusais parece levar a uma melhora mais rápida. O tratamento por meio das placas estabilizadoras oclusais parece ser mais seguro e efetivo e os dispositivos NTI necessitam de mais estudos em longo prazo para confirmar sua eficácia, assim como a ausência de efeitos adversos.

TL 401. Função Cognitiva em Doentes com Dor Crônica em Tratamento com Opioides: Características e Fatores Associados

Geana Paula Kurita, Cibele Andrucioli de Mattos Pimenta, Patrícia Emília Braga, Liv Frich, Peter La Couer, Mette Maria Jørgensen, Per Rotbøll Nielsen, Jette Højsted, Per Sjøgren (Hospital Nacional – Hospital da Universidade de Copenhague; Escola de

Enfermagem da Universidade de São Paulo; Programa Nacional de Pós-Doutoramento CAPES)

Objetivo: Analisar a função cognitiva de doentes com dor crônica não oncológica em tratamento com opioides e fatores associa-dos ao desempenho cognitivo. População: Amostra de conveniência composta de 49 doentes ambulatoriais atendidos em serviço di-namarquês. Avaliação por meio dos testes cognitivos Tempo de Reação Contínua, Teste de Digitação, Extensão de Dígitos, Teste de Trilhas B e Miniexame do Estado Mental. Dados sociodemográficos, características da dor e tratamento, depressão, ansiedade, horas de sono e sensação de descanso foram coletados. Correlações e análises uni e multivariadas foram realizadas. Resultados: 51% do sexo feminino, idade 50,5 anos (DP=11,9), escolaridade 11,7 anos (DP=3,2). Intensidade da dor=6,0 (DP=2,3), e dose equivalente em morfina oral=252 mg/d (DP=216,2). Os pacientes tiveram desempenho lento no Teste de Trilhas B (média 107,6s, DP=61,0, ponto de corte=91s), mas foram adequados nos demais testes. Pior desempenho foi associado ao sexo feminino, idade avançada, baixa renda/escolaridade/dose de opioide, ansiedade, depressão, cansaço e sono inferior a 5h (p < 0.05). Conclusão: Pacientes com dor crônica não oncológica apresentaram desempenho cognitivo associado a fatores sociodemográficos, tratamento, humor, cansaço e sono. Objetivando enriquecer o conhecimento na área e aprimorar a prática clínica, estudos longitudinais e validação de instrumen-tos cognitivos estão em desenvolvimento.

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TL 402. Bloqueio Analgésico Peridural Lombar para Tratamento de Lombociatalgia Discogênica: Estudo Clínico Comparativo entre

Metilprednisolona e Metilprednisolona Associada à LevobupivacaínaOrlando Carlos Gomes Colhado, Fátima Ap. Emm Faleiros (Universidade Estadual de Maringá − UEM; Universidade de São

Paulo −USP)

Objetivo: Comparar a eficácia de duas soluções diferentes – metilprednisolona com soro fisiológico e metilprednisolona com levobupivacaína – injetadas no espaço peridural para tratar lombociatalgia devido a hérnia discal lombar. População: Inicialmente foram avaliados e diagnosticados 69 participantes que manifestavam dor lombar baixa irradiada para membro inferior corresponden-te (radicular devido a hérnia discal), dos quais foram selecionados 60 participantes, com idades entre 18 e 65 anos, de ambos os se-xos, ASA I e II. Resultados: Metodologia: Os indivíduos foram submetidos à técnica analgésica peridural lombar interlaminar para tratamento de lombociatalgia sem controle radioscópico, divididos em dois grupos: G-M (metilprednisolona + solução fisiológica a 0,9%) e G-M + L (metilprednisolona + levobupivacaína + solução fisiológica a 0,9%), ambos em um volume de 10 ml. O diagnóstico se baseou na história, no exame físico e em exame por imagem (ressonância magnética nuclear). O trabalho foi conduzido de forma duplo-encoberta, com seleção aleatória dos participantes. Foi aplicada a Escala Analógica Visual (EAV) para a definição da melhor resposta terapêutica ao alívio da dor em relação aos dois grupos estudados em um total de dois bloqueios, um a cada 15 dias. Para análise estatística foi utilizado o modelo linear de efeitos mistos (efeitos aleatórios e fixos), aplicado na análise de dados quando as respostas de um mesmo indivíduo estão agrupadas e a suposição de independência entre as observações em um mesmo grupo não se mostra adequada ao nível de 5% de significância. O ajuste do modelo foi feito por meio do procedimento PROC MIXED do software SAS® 9.0. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Santa Casa de Maringá, conforme parecer da Comissão de Ética Médica. Resultado: Dos 69 indivíduos avaliados e selecionados para participar do estudo, três foram encami-nhados imediatamente após o primeiro bloqueio para cirurgia descompressiva, dois do grupo G-M e um do grupo G-M + L, por não terem apresentado resposta terapêutica ao primeiro bloqueio, e seis desistiram do segundo bloqueio – três afirmaram estar bem e não necessitar de um segundo bloqueio e três alegaram outros motivos, sendo que os 60 participantes avaliados neste trabalho foram os que completaram o tratamento. Houve redução mais significativa da intensidade da dor para o grupo metilprednisolona + levo-bupivacaína, inclusive no tempo para sua instalação, porém sem significância estatística. Conclusão: Conclui-se que, embora um dos grupos tenha recebido o anestésico local levobupivacaína na solução peridural e que tal fato tenha conferido a esse grupo maior rapidez no início da analgesia, isso não significou alívio mais significativo da dor no momento da alta hospitalar, segundo análise estatística, e como a medicação de uso comum nas duas soluções foi metilprednisolona, talvez isso explique a ação analgésica das duas soluções. Conclui-se, igualmente, que o bloqueio analgésico peridural interlaminar é efetivo no tratamento da lombociatalgia decorrente de hérnia discal.

TL 403. Incidência de Dor em Mulheres no Pós-Operatório de Cirurgia PlásticaHelena Harumi Sasaki, Ana Paula Silva, Marcia Carla Morete, Fabiola Peixoto Minson (Hospital Israelita Albert Einstein)

Objetivo: O presente estudo teve como objetivos verificar a incidência da dor em mulheres submetidas a cirurgia plástica e identificar o tratamento utilizado diante da presença de dor no pós-operatório. População: A amostra foi composta por 359 pacientes submetidas a cirurgia estética como lipoaspiração, abdominoplastia, rinoplastia e prótese de mama, em uma instituição particular do município de São Paulo. Resultados: Apenas 35% das pacientes tiveram presença de dor, sendo 23% dor de leve intensidade, 52% dor de moderada intensidade, 10% que relataram dor intensa e 10% que relataram duas intensidades diferentes de dor. Das pacientes que relataram dor, 100% tinham analgésicos prescritos, sendo que 93% tinham analgésicos prescritos em regime de horário, 86% tinham analgésicos prescritos em regime “se necessário” e desses 64% utilizaram a medicação que estava prescrita em regime “se

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necessário”. Conclusão: A maioria das pacientes não relatou dor no período pós-operatório imediato; porém, das pacientes que tiveram dor, 52% relataram dor de moderada intensidade e 10% relataram dois tipos de intensidade diferentes de dor. Todas tinham analgésicos prescritos.

TL 404. Analgesia em Mulheres no Pós-Operatório de Cirurgia PlásticaHelena Harumi Sasaki, Ana Paula Silva, Márcia Carla Morete, Fabíola Peixoto Minson, Márcia Wanderley de Moraes

(Hospital Israelita Albert Einstein)

Objetivo: Identificar os analgésicos prescritos para tratamento do quadro álgico em mulheres submetidas a cirurgia plástica. Popu-lação: A amostra foi composta por 359 pacientes submetidas a cirurgia estética de lipoaspiração, abdominoplastia, rinoplastia e prótese de mama, em instituição particular do município de São Paulo. Resultados: Os analgésicos prescritos foram: dipirona 73%; paraceta-mol/codeína 35%; cetorolaco 31%; cetoprofeno 19%; tramadol 16%; dipirona/prometazina/adifenina 13,5%; meperidina 12%; morfina 12%; paracetamol 9%; tenoxican 5% e oxicodona 4%. Conclusão: É muito importante na analgesia pós-operatória o uso da escada analgésica de dor, respeitando a história do paciente, fatores relacionados e de risco, assim como o tipo de cirurgia realizada.

TL 405. Dor e Qualidade de Vida em FibromiálgicosMárcia Marques dos Santos Felix, Lucas Felix de Oliveira, Simone Saltareli, Sônia Beatriz Felix Ribeiro,

Talita de C. Raminelli da Silva, Márcia de O. S. S. Garbi, Fátima Ap. Emm Faleiros Sousa (Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo)

Objetivo: Avaliar o impacto da dor na qualidade de vida de indivíduos fibromiálgicos, comparados com indivíduos saudáveis. População: Participaram 56 mulheres, sendo 28 com diagnóstico de fibromialgia, procedentes de um ambulatório de dor de uma Uni-versidade Federal do interior de Minas Gerais, constituindo o Grupo Teste e 28 mulheres saudáveis (pareadas por idade, sexo e classe social), que constituíram o Grupo Controle. Resultados: A avaliação pela Escala Numérica de Dor mostrou que as fibromiálgicas tiveram índices mais elevados de dor, piorando a sua qualidade de vida, comparada com a das mulheres saudáveis. As mulheres com fibromialgia apresentaram maior limitação funcional nas atividades cotidianas, maior limitação física relacionada com o trabalho, maior impacto de aspectos psicológicos (ansiedade e depressão) no bem-estar, menor vitalidade, menor integração na sociedade e pior bem--estar psicológico. Conclusão: A fibromialgia afeta de forma significativa a qualidade de vida e aumenta o grau de desamparo das pa-cientes, devendo estas receber abordagem global e não somente em relação à queixa de dor, considerando ser psicossomática. A atenção de forma multidisciplinar pode amenizar o impacto individual, familiar e social da fibromialgia na vida dessas pacientes.

TL 406. Particularidades no Tratamento da Dor Aguda Pós-Operatória em Hospital Oncológico

Léia Alessandra Pinto Yamada, Angela Maria Sousa, Danielli Boer Costa, Silvia Maria Machado Tahamtani, Thais Khouri Vannetti, Tiago Alves Rodrigues, Claudia Marques Simoes, Heloisa Kraynik da Silva, Fabiana Tomie Chino

(Instituto do Câncer do Estado de São Paulo)

Objetivo: Relatar a experiência do Centro Multidisciplinar de Tratamento da Dor do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, no atendimento aos pacientes em pós-operatório desde o primeiro PO até o momento da alta do grupo de dor. População: Estudo

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transversal, retrospectivo da avaliação da dor e de efeitos adversos no 1ºPO em pacientes submetidos a cirurgias oncológicas de médio e grande porte realizadas no Instituto do Câncer no período de abril a julho de 2011. Foram atendidos, pelo Grupo de Dor, 945 pacientes submetidos a cirurgias oncológicas (47% homens e 53% mulheres), das quais 155 de pequeno porte (16,4%), 535 de porte moderado (56,6%) e 253 de grande porte (26,7%), gerando um total de 1.536 atendimentos. Resultados: A permanência mé-dia no grupo foi de 3 dias, totalizando 1.536 atendimentos. Tipo de analgesia predominante: analgesia sistêmica (62%), seguida de PCA epidural (30%) e PCA ev (28%). Efeitos adversos: náuseas 24,8%, vômitos 15,1%, prurido 8,8%. Dor intensa esteve presente em 10% da população geral e 20,23% nos usuários crônicos de opioides. Antieméticos prescritos em 62,5%, mais frequentemente ondanstrona seguida de metoclopramida. Conclusão: A analgesia pós-operatória e prevenção de efeitos adversos deve ser planejada desde a avaliação pré-anestésica e instalação de dispositivos de analgesia controlada pelo paciente deve ser realizada nas situações indicadas. A população oncológica apresenta como particularidade principal o uso prévio de analgésicos opioides em 8,8% dos pa-cientes operados. A incidência de dor intensa nesta população foi duas vezes maior que na população geral.

TL 407. PCA Domiciliar: Realidade ou Ficção?Danielli Boer Costa, Angela Maria Sousa, Tiago Alves Rodrigues, Fatima Iared, Silvia Maria Machado Tahamtani,

Thais Khouri Vanetti, Heloísa Kraynik da Silva, Léia Alessandra Pinto Yamada, Fabiana Tomie Chino (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo)

Objetivo: Demonstrar a possibilidade do uso terapêutico da bomba de analgesia controlada pelo paciente (PCA) com diag-nóstico de Dor Total em ambiente domiciliar. População: Homem, 45 anos, depressão grave desde os 18 anos, usuário crônico de opioides por CEC de boca metastático há 4 anos. Tratado com cirurgia, quimio e radioterapia há 2 anos, metástase pulmonar invadindo mediastino, realizada lobectomia e quimioterapia, evoluiu com progressão da doença. Consulta com Grupo de Dor, em junho de 2011, queixa álgica: dor lombar intensa irradiada para MIE, CT: massa pulmonar bilateral, tumoração costal, infiltração em rim e parede abdominal direitos. Em uso de morfina, dipirona, cetoprofeno, gabapentina. Internado por dor e iniciada rota-ção de opioides. Resultados: Instalado PCA peridural, alívio completo da dor. Após uma semana de radioterapia, sem redução tumoral, optou-se por cuidados paliativos. Apresentou piora da dor. Reintroduzido PCA, alívio importante. Quadro psicológico: fragilidade emocional, personalidade dependente, dificulta retirada do cateter peridural. Contraindica-se cordotomia pela atual condição psíquica. Recebe alta hospitalar com PCA. Acompanhamento diário telefônico e retorno semanal para cuidados com PCA. Dor controlada, melhora dos sintomas psíquicos, feita cordotomia. Alta hospitalar com dor controlada. Conclusão: PCA domiciliar pode ser viável quando: paciente e familiares são orientados, há fácil acesso ao hospital e à equipe e a infraestrutura hospitalar é adequada. O caso descreve uma situação de dor total controlada por dispositivo de PCA, utilizado como meio de proporcionar ao paciente segurança em relação ao controle álgico e possibilitando o restabelecimento da função familiar e social, necessário para o sucesso da intervenção definitiva para o tratamento da dor.

TL 409. Implantação da Consulta de Enfermagem em um Ambulatório de Dor Crônica em São Luís – MA

Érica Brandão de Moraes Vieira, João Batista Santos Garcia, Rayanne Luiza T. Mualem Araújo, Mayane de Melo Bezerra, Nayra Souza da Silva, Gláucia Marcelle Souza de Jesus, Albina Karoline Diniz Souza, Anderson Cardoso Baldez França

(Universidade Federal do Maranhão)

Objetivo: Este artigo tem como objetivo descrever a experiência vivenciada na implantação da consulta de enfermagem no ambulató-rio de dor crônica do Hospital Universitário Presidente Dutra da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). População: Trata-se de um

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relato de experiência vivenciada no ano de 2011. A consulta de enfermagem foi implantada em maio de 2011. Foi elaborado um formulário baseado na classificação da NANDA (Taxonomia II). O formulário da primeira consulta foi subdividido em: histórico de enfermagem, em que são realizadas a entrevista e o exame físico; diagnóstico de enfermagem; e intervenções de enfermagem. Para as consultas de retornos, foi elaborado outro formulário para avaliação dos resultados obtidos. Resultados: As consultas de enfermagem estão sendo realizadas se-manalmente, às segundas-feiras, por alunos de enfermagem da Liga Acadêmica de Dor (LAD) sob a supervisão de um enfermeiro mestre e um enfermeiro pós-graduando, que são colaboradores da Liga Acadêmica de Dor. Atualmente quase 100 pacientes já foram beneficiados. Durante a consulta os alunos identificam diagnósticos de enfermagem, selecionam as intervenções de enfermagem e avaliam os resultados obtidos. Conclusão: A consulta de enfermagem no ambulatório de dor crônica tem contribuído para o ensino, pesquisa e assistência, por apresentar uma experiência inovadora de integração, que agrega mestre, pós-graduando e graduandos de enfermagem, todos com uma meta em comum, que é a prestação da assistência de enfermagem ao paciente com dor crônica. Através do contato com os pacientes com dor crônica, os acadêmicos são estimulados à resolução de problemas através da investigação científica. Assim, estes têm sido estimulados a realizar seus trabalhos de conclusão de curso e outras pesquisas com problemáticas vivenciadas no ambulatório.

TL 410. A Criança e o Adolescente com Experiência Oncológica: Percepção de Dor

Hilze Benigno O. Moura Siqueira, Elis Angela A. da Costa Lippi, Andressa K. Amaral Pla Pelegrin, Rodrigo Ramon Falconi Gomez, Talita C. Raminelli da Silva, Fátima A. E. Faleiros Sousa (Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo)

Objetivo: O estudo objetivou compreender a percepção de dor na experiência de crianças e adolescentes com câncer por meio da Es-cala Multidimensional de Avaliação de Dor (EMADOR) de Faleiros Sousa. População: Participaram 30 crianças e adolescentes, de ambos os sexos, que estavam em tratamento oncológico no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto − SP. Utilizaram-se os indicadores sociode-mográficos e o EMADOR. A tarefa consistiu em atribuírem uma nota de zero a dez aos 50 descritores de dor crônica ou de dor aguda. O método psicofísico de estimação de categorias foi usado para analisar os dados obtidos. Resultados: A dor foi percebida por 66,6% do sexo feminino, com idade média de 11 anos e meio. A maioria, 96,6%, cursava ensino fundamental (incompleto) e era da religião católica, 70%. O tempo médio de diagnóstico e de tratamento foi de 2 anos. A dor crônica foi apontada por 16 dos participantes, com os descritores mais atribuídos: chata, desagradável, intensa, prejudicial, insuportável. Os restantes atribuíram significadamente a dor aguda aos descritores: chata, dolorosa, desagradável, clara, desconfortável. Conclusão: Crianças/adolescentes puderam expressar a maior e a menor atribuição álgica, percebendo os descritores de dor “chata” e “desagradável” como os mais atribuídos no instrumento EMADOR na dor aguda/crô-nica. Isso pode apresentar a dimensionalidade afetiva e cognitiva na experiência dolorosa em oncologia. A investigação permitiu mostrar, ainda, o uso da Escala Multidimensional de Dor como instrumento de avaliação significativo e fidedigno no processo de desenvolvimento infanto-juvenil, abrindo possibilidades para um melhor manejo na área de dor oncológica pediátrica.

TL 411. Intervenções Não Farmacológicas no Controle da Dor do Recém-Nascido: Conhecimentos e Práticas dos Profissionais de Enfermagem

no Uso da Sucção Não Nutritiva durante a Punção de CalcâneoLarissa Távora Mello, Marialda Moreira Christoffel, Cecília Maria Izidoro Pinto, Ana Luiza Dorneles da Silveira

(Universidade Federal do Rio de Janeiro; Hospital Getúlio Vargas)

Objetivo: Analisar conhecimentos e práticas dos profissionais de enfermagem no uso da sucção nutritiva e não nutritiva como medida não farmacológica para aliviar a dor do neonato durante a punção de calcâneo na unidade neonatal. População: Constituiu-

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-se de 22 profissionais de enfermagem. Destes, 9 enfermeiros, 7 técnicos de enfermagem e 6 auxiliares. Trata-se de um estudo descritivo, exploratório, realizado em uma unidade neonatal no município do Rio de Janeiro. Os dados foram coletados no período de janeiro a março de 2009, através de questionário com 24 questões fechadas e 4 abertas. Autorização CEP/SMS–RJ /No 262/08. Utilizou-se de estatística descritiva e frequência simples para apresentação dos dados. Resultados: Das práticas identificadas utili-zam para alívio da dor: sucção não nutritiva com dedo mínimo enluvado; luva preenchida com algodão; dedo mínimo sem luva para sucção e luva preenchida com algodão e gotas de glicose oral a 25%. Mas apenas 9% (2) dos profissionais de enfermagem utilizam sucção nutritiva/amamentação na punção de calcâneo. 41,0% (09) referem que o recém-nascido diminui o ritmo de sucção com o passar do tempo. Todos reconhecem os benefícios fisiológicos para os neonatos. Conclusão: O alívio da dor na punção de calcâneo é potencializado principalmente pela sucção não nutritiva. No estudo evidenciou-se que a prática é reconhecida pela equipe como benéfica para a melhoria das condições fisiológicas dos neonatos, mas ainda é subutilizada na prática clínica. Estudos de intervenção, treinamento em serviço e sensibilização da equipe podem colaborar para efetivar estas práticas no contexto das UTIs neonatais.

TL 412. Autopercepção de Saúde de Idosos com Dor Crônica Não Institucionalizados de Goiânia − GO

Ana Paula da Costa Pessoa, Lilian Varanda Pereira, Layz Alves Ferreira Souza, Charlise Fortunato Pedroso, Adélia Yaeko Kyosen Nakatani (Universidade Federal de Goiás)

Objetivo: Investigar a autopercepção de saúde de idosos com dor crônica, não institucionalizados, de Goiânia − GO. Popula-ção: A população alvo constituiu-se de pessoas com 60 anos ou mais (idade estabelecida para o idoso no Brasil, de acordo com a Lei nº 8.842, de 4 de janeiro de 1996), não institucionalizadas, de Goiânia − GO. O cálculo da amostra probabilística foi feito por meio do programa Epi Info 6.0, com uma frequência esperada de 30%, nível de confiança de 95%, nível de significância 5% e erro aceitável de 10%. Os cálculos foram realizados considerando a população de idosos de Goiânia, totalizando 934 idosos. Resultados: Entre os 910 idosos que autoavaliaram sua saúde, 477 referiram dor crônica (338 mulheres e 139 homens; média de idade 71,7 anos (Dp=8,3); 34,8% com MEEM < 24). Entre eles, 5,7%, 27,7%, 48,8%, 11,9% e 3,4% julgaram sua saúde como ótima, boa, regular, ruim e péssima, respectivamente. Houve associação significativa entre ausência de dor e saúde ótima (p=0,0001); maior intensidade de dor e saúde péssima (p=0,0001); presença de dor e relato de saúde pior do que a de outras pessoas da mesma idade. Conclusão: A maioria dos idosos com dor crônica percebe sua saúde como regular e julgam-na como sendo pior do que a de outras pessoas com a mesma idade. Ter dor de intensidade elevada leva os idosos a julgarem sua saúde como péssima. A escolaridade interfere na autopercepção de saúde e os idosos sem dor julgam ser mais saudáveis que outras pessoas da mesma idade.

TL 413. Influência do Programa Escola de Coluna do HCPA na Dor nas Costas, na Qualidade de Vida e na Capacidade Funcional dos Seus Participantes

Cíntia D. Fonseca, Rosane M. Nery, Marcio R. Martini, Maurice Zanini, Cristiane R. Vidor, Antônio Cardoso dos Santos (Hospital de Clínicas de Porto Alegre)

Objetivo: Avaliar a influência do Programa Escola de Coluna de um Hospital Universitário na ocorrência de dor nas costas, na qualidade de vida e na capacidade funcional de um grupo de participantes. População: Foram avaliados 14 indivíduos com média de idade de 57 anos, sendo 12 do sexo feminino. O programa Escola de Coluna foi composto de 8 aulas − 2 teóricas e 6 práticas − com exercícios. Os dados foram coletados através de questionários sobre ocorrência de dor, Escala Visual Analógica de Dor, SF-36 e Questionário Rolland-Morris, aplicados no primeiro dia do Programa e novamente após decorrido um mês do seu término. Para

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análise estatística foi utilizado o SPSS 18.0, Teste de Wilcoxon. Resultados: Os resultados apontaram diminuição no número de participantes com dor nas costas (p=0,008). Em relação ao local da dor, diminuiu a ocorrência de dor na região dorsal (p=0,017). Sobre a frequência semanal de dor, esta reduziu também na região dorsal (p=0,040). Houve diferença significativa na qualidade de vida, no domínio Aspectos Sociais (p=0,046). Conclusão: Não houve diferença significativa na capacidade funcional. Os resultados indicaram que a ocorrência de dor nas costas diminuiu entre os participantes da Escola de Coluna e houve melhora na qualidade de vida, no domínio Aspectos Sociais.

TL 414. Projétil Alojado no Músculo Pterigoideo LateralEduardo Grossmann, Thiago Kreutz Grossmann, João C. Silva (Centro de Dor e Deformidade Orofacial; Ulbra)

Objetivo: Relatar um caso de um projétil alojado no músculo pterigoideo lateral. População: Paciente do sexo masculino, 18 anos, procurou serviço especializado 24 horas após ser acometido por ferimento por bala perdida. Durante a anamnese relatou dor de grau 7, pela escala analógica-visual (EAV), na região da articulação temporomandibular direita e dificuldade para abrir a boca. Ao exame físico, observou-se lesão pérfuro-contusa em região zigomática direita e uma distância interincisal de 21 mm. O paciente não apresentava comprometimento sensorial ou motor. Ao exame radiográfico inicial, foi possível observar a presença de um projétil localizado junto à fossa infratemporal à frente da cabeça mandibular direita. Resultados: Baseados nos sinais, sintomas e exame de imagem, foi proposta cirurgia para remoção da bala com acesso preauricular com extensão temporal sob anestesia geral com entu-bação nasotraqueal. Incisou-se a pele e tecido celular subcutâneo, indo em direção à fáscia temporal superficial, arco zigomático, fossa infratemporal e músculo pterigoideo lateral, onde se encontrou o projétil alojado entre as duas cabeças desse músculo. Foram realizados hemostasia, sutura plano a plano e fechamento da pele. O pós-operatório transcorreu sem intercorrências e o paciente foi encaminhado à fisioterapia duas vezes por semana por um período 3 meses. Foi avaliado durante a primeira semana, 1º mês, 6º, 12º, 18º e 24º mês. Em uma nova consulta de reavaliação, 20 anos após a cirurgia, a abertura de boca é de 41 mm e o paciente apresenta--se assintomático sem dor (EAV= zero), sem desvio e ou deflecção da mandíbula. Conclusão: Num caso em que um projétil esteja alojado em estruturas adjacentes à articulação temporomandibular e produza limitação da função e dor, pode-se indicar cirurgia associada à fisioterapia.

TL 415. Caracterização da Dor Identificada Durante Consultas de Enfermagem em um Ambulatório de Dor Crônica em São Luís – MA

Érica Brandão de Moraes Vieira, Rayanne Luiza T. Mualem Araújo, Sara Costa Serra, Ildely Niedja Araújo Costa, Nayra Souza da Silva, Gláucia Marcelle Souza de Jesus, Albina Karoline Diniz Souza, Anderson Cardoso Baldez França, Mayane de Melo

Bezerra (Universidade Federal do Maranhão).

Objetivo: Identificar tempo de dor, localização e características dolorosas durante as consultas de Enfermagem realizados no ambulatório de dor crônica. População: O presente trabalho foi desenvolvido no Ambulatório de Dor Crônica da Universidade Fe-deral do Maranhão. A amostra de conveniência constituiu-se de 30 pacientes com dor crônica cadastrados no ambulatório. A coleta de dados foi realizada uma vez por semana, por estudantes de graduação sob supervisão de enfermeiros, todos integrantes da Liga Acadêmica de Dor. Resultados: A amostra foi de 28 pacientes, sendo 57,14% mulheres e 42,86% homens. Destes, 53,57% relataram dor por um período maior ou igual a 5 anos. A região com maior prevalência de dor foi a dorsal (46,43%). No momento da consulta e no pior momento de dor, a dor foi classificada como intensa (46,43%). Pontada (85,71%), queimação e formigamento (50%) fo-ram as características mais relatadas. O alívio da dor ocorreu pelo uso de medicação em 21,43% e a piora, devido a atividade física/movimento (46,43%). Conclusão: Este estudo é importante para identificar o perfil do paciente atendido no ambulatório de dor

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crônica. Através deste estudo pretende-se planejar melhorias na assistência, capacitando profissionais, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida desses pacientes, uma vez que a dor crônica pode ser incapacitante e aumenta as chances de desenvolvimento de quadros de ansiedade e depressão.

TL 416. Influência da Dor Crônica nas Necessidades Humanas Básicas em Pacientes Atendidos Durante Consulta de Enfermagem

Érica Brandão de Moraes Vieira, Rayanne Luiza T. Mualem Araújo, Sara Costa Serra, Mayane de Melo Bezerra, Nayra Souza da Silva, Gláucia Marcelle Souza de Jesus, Albina Karoline Diniz Souza, Anderson Cardoso Baldez França, João Batista Santos

Garcia (Universidade Federal do Maranhão)

Objetivo: Identificar as necessidades humanas básicas afetadas (padrão do sono, alimentação, eliminações e atividade sexual) em pacientes com diagnóstico de dor crônica atendidos em um ambulatório de dor crônica. População: Estudo transversal, realizado no Ambulatório de Dor Crônica da Universidade Federal do Maranhão. A coleta de dados ocorreu durante a consulta de enfermagem no período de seis meses. Para a coleta de dados utilizou-se um instrumento elaborado pelo grupo para a detecção de necessidades humanas básicas afetadas. Os dados foram tabulados em frequências e analisados no programa STATA 10.0. Resultados: O sexo feminino correspondeu a 57% da amostra, e a dor foi considerada intensa por 46,4%. Quanto às horas de sono a média relatada era em torno de 6 horas, em que 50% dos investigados referiram acordar indispostos e 78,6% afirmaram ter interrupção do sono pela dor. Após início do tratamento para dor houve aumento de peso com média de 2,25 kg. A atividade sexual estava prejudicada pela dor em 21,4%. Cerca de 20% relataram apresentar constipação após tratamento medicamentoso. Conclusão: Na população em estudo, foi possível identificar alterações das necessidades humanas em pacientes com dor crônica. Ressalta-se a presença de alteração do padrão de sono e repouso, e eliminação, com frequentes relatos de constipação intestinal, e ganho ponderal. O conhecimento das necessidades humanas básicas afetadas em pacientes com dor crônica contribui para o estabelecimento de planos de cuidados dire-cionados para melhor assistir o paciente com dor, revertendo ou minimizando o seu impacto.

TL 417. Avaliação Epidemiológica e Pesquisa de Dor em Pacientes Internados em um Hospital Universitário

Claudia Soares Alves, André Gasparini, Esthefânia Garcia de Almeida, Paula Cíntia dos Santos Vieira, Pâmela Falbo, Sonia Beatriz Felix Ribeiro (Universidade Federal do Triângulo Mineiro)

Objetivo: Descrever o perfil epidemiológico de pacientes internados em um hospital universitário e avaliação de dor nas últimas 24 horas. População: População composta de 71 pacientes do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Triângulo Mineiro, Uberaba − MG. Critérios de inclusão: estar internado há mais de 24 horas em uma das enfermarias ou Pronto-Socorro, ser capaz de se comunicar e não apresentar nenhuma alteração do nível ou conteúdo de consciência, concordar em participar do estudo assinando termo de consentimento esclarecido, e maioridade civil. Resultados: Dor em 45% da população. Predominam brancos e pardos, masculino, casados, ensino fundamental incompleto, sedentários, que nunca fumaram ou usaram drogas. A maioria tem religião, é praticante, e predominam católicos. A maioria dos pacientes com dor ainda trabalha. Causa da hospitalização em 25%. Característi-cas mais prevalentes sobre dor: MMII e cabeça, fincada e queimação, END 9% severa e 56% moderada, analgesia só se necessário 56%. Satisfação dos pacientes maior que 90%. Conclusão: A dor é altamente prevalente no ambiente hospitalar, apesar de ter sido o motivo de internação para apenas 1/4 dos pacientes. Ainda persiste o regime sob demanda de analgesia e apesar de 1/3 dos pacientes apresentarem dor com característica neuropática, não houve prescrição de drogas adjuvantes. Há necessidade de melhor monitora-mento da dor e orientação sobre seu manejo para os profissionais de saúde.

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TL 418. Respostas Multidimensionais na Avaliação da Dor em Recém-Nascidos Prematuros Submetidos a Punções Venosas Periféricas

na Unidade de Terapia Intensiva NeonatalAna Luiza Dorneles da Silveira, Marialda Moreira Christoffel, Cecília Maria Izidoro Pinto, Livia de Souza Camara

(Universidade Federal do Rio de Janeiro)

Objetivo: Mensurar a dor do recém-nascido prematuro submetido a punções venosas periféricas com cateter sobre agulha para terapia intravenosa e comparar as respostas multidimensionais à dor que os recém-nascidos prematuros apresentam em três momen-tos diferentes ao longo dos primeiros 15 dias de internação. População: Trata-se de um estudo de coorte prospectivo em uma unida-de de tratamento intensivo neonatal (UTIN) do município do Rio de Janeiro. A amostra de conveniência foi de 39 prematuros, divi-didos em dois grupos: Grupo punção (29) e Grupo Fralda/controle (10) em três momentos em intervalos de até 15 dias. Foi utilizado o teste estatístico do qui-quadrado com correção de Yates e probabilidade exata de Fisher. Adotou-se o nível de significância de 5% de probabilidade para os grupos comparados (p≤0,050). Resultados: Utilizando a escala NIPS, 58,6% dos RNPTs do GP apresenta-ram escore de dor no primeiro momento, 86,2% no segundo e 92% no terceiro. No GF, a escala NIPS mostrou que os escores de dor no procedimento foram decrescentes, 20% no primeiro momento, 10% no segundo e nenhum no terceiro, e significância estatística nos três momentos de avaliação p=0,039, p=0,000 e p=0,000 e no suporte ventilatório nos três momentos de observação; p=0,000, p=0,014 e p=0,001 e na punção venosa no primeiro momento (p=0,05). Conclusão: Concluiu-se que a dor nos RNPTs (GP) sub-metidos a punções venosas periféricas com cateter sobre agulha é maior do que a dos recém-nascidos prematuros que não estão submetidos a esse tipo de dispositivo, porém a exposição do GF a outros procedimentos dolorosos que não foram foco deste estudo e ao cuidado de rotina na UTIN evidenciaram escores de dor leve na escala PIPP, sugerindo aumento de sensibilidade à dor prova-velmente de uma constante manipulação durante a internação. O alívio da dor exige identificar, minimizar seu impacto na condição clínica e suas consequências emocionais, comportamentais e de aprendizagem, garantindo um desenvolvimento seguro do RNPT.

TL 419. Associação entre Sinais, Sintomas e Exame de Imagem de Ressonância Magnética (IRM) na Articulação Temporomandibular (ATM)

de Pacientes com Artrite Idiopática Juvenil (AIJ)Liete Figueiredo M. L. Zwir, Soraia Ale Souza, Maria Teresa Terreri, Antonio Sérgio Guimarães, Artur Fernandes,

Maria Odete Esteves Hilário (Universidade Federal de São Paulo)

Objetivo: Associar os achados do exame clínico e de IRM, considerado o padrão-ouro no diagnóstico de alterações inflamatórias precoces na ATM, com o intuito de determinar se algum desses achados pode estar associado à presença do quadro inflamatório intra-articular. População: A amostra foi constituída por 75 pacientes (50 meninas) consecutivos atendidos no ambulatório de reu-matologia pediátrica e que preenchiam os critérios do ILAR para AIJ. A idade média no início da doença foi 6,0 anos (1-14), com tempo médio de duração da doença de 5,8 anos (0,6-17) e idade média na época da avaliação de 12,4 anos (5-19). Trinta e quatro deles apresentavam a doença ativa, 20 em remissão com medicação e 21 em remissão sem medicação. Resultados: Em relação à presença de realce sinovial na ressonância magnética, não houve associação positiva com os sintomas (p=0,46). Entretanto, em re-lação aos sinais houve associação estatisticamente significante com a presença de limitação na amplitude do movimento de abertura bucal (p= 0,01), mas não com dor à palpação do polo lateral (p=0,14), nem com a presença de crepitação (p=1,0). Conclusão: A ATM deve sempre ser avaliada em pacientes com AIJ, pois seu envolvimento pode acontecer de forma silenciosa. Pacientes que apresentem limitação na amplitude do movimento de abertura bucal devem ser cuidadosamente avaliados em relação à presença do envolvimento dessa articulação pela AIJ.

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TL 420. Associação entre Dor Crônica e Utilização de Serviços de Saúde entre Idosos: Estudo Populacional − SABE

Mara Solange Gomes Dellaroza, Cibele Andrucioli de Mattos Pimenta, Patrícia Emilia Braga, Yeda Ap. de O. Duarte, Maria Lúcia Lebrão (Universidade Estadual de Londrina; Universidade de São Paulo)

Objetivo: Avaliar a ocorrência de dor crônica e associação com a utilização de serviços de saúde em idosos residentes na co-munidade. População: Método: estudo epidemiológico, com amostra censitária e corte transversal. Variáveis: independentes: ca-racterísticas da dor crônica com duração há mais de um ano, sociodemográficas, morbidades, dependência nas atividades básicas e instrumentais de vida diária e mobilidade. As características da dor analisadas foram duração, frequência de episódios, intensidade, local e sua interferência em atividades de vida diária e no trabalho. Variável dependente: utilização de serviços de saúde, que incluiu: utilização de serviços de saúde ambulatorial (mais de 4 consultas/ano) e/ou no mínimo uma internação no último ano, considera-da permanência no hospital por mais de 24 horas. População: A amostra populacional foi estimada a partir dos idosos com mais de 60 anos residentes na área urbana de São Paulo visando garantir a representação segundo estratos definidos por sexo e idade. Foram incluídos nas análises somente os idosos sem déficit cognitivo. Coleta de dados e análises: Os dados foram coletados por entrevista domiciliar, com pesquisadores treinados. Utilizado programa Stata 11.0 para análises estatísticas. Na análise univariada para verificação da relação entre uso de serviços e as variáveis independentes, foi utilizado o teste de associação de RaoScott, sendo considerado significativo p < 0,05. Para análise múltipla as razões de prevalência foram obtidas pela regressão múltipla de Cox (com variância robusta). O projeto SABE recebeu aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, conforme of. COEP/83/06. Resultados: A prevalência de dor com duração de mais de um ano foi de 26,9% [IC95%: 22,8 – 31,1]. O número populacional de idosos representados pelos 340 que referiram dor há pelo menos um ano é 260.784. Já a prevalência de utilização de serviços de saúde, ou seja, idosos com mais de 4 consultas no último ano e/ou ao menos uma internação, foi de 48,6% [IC95%: 43,8 – 53,4]. Na análise univariada entre os idosos com dor há mais de um ano a maior prevalência de utili-zação de serviços de saúde associou-se a maior intensidade da dor (p=0,013), presença de asma (p=0,005) e moderada interferência da dor no trabalho (0,047). Maior duração da dor foi fator proteção a utilização dos serviços (p=0,002). Após análise mutlivariada, a chance de utilização de serviço de saúde para um idoso com dor há mais de dois anos foi 33% menor comparada ao idoso com dor de um a dois anos de duração (p=0,002). Idosos com dor intensa apresentaram 55% mais chance de utilização dos serviços do que os com dor fraca ou moderada (p=0,003). Os que sofriam de interferência moderada da dor no trabalho tinham 52% a mais de chance de procurar um serviço de saúde, quando comparados aos idosos que não apresentavam interferência (p=0,015). As outras variáveis analisadas não mantiveram associação estatisticamente significativa com uso de serviço de saúde. Conclusão: Dores com duração de mais de 2 anos são fator de proteção para o uso de serviços, enquanto dores intensas e que interferem moderadamente no trabalho constituem-se num fator de risco para maior utilização de serviços de saúde.

TL 421. Caracterização da Dor Crônica em Idosos da Comunidade: Estudo Populacional SABE − Brasil

Mara Solange Gomes Dellaroza, Cibele Andrucioli de Mattos Pimenta, Patrícia Emilia Braga, Yeda Ap. de O. Duarte, Maria Lúcia Lebrão (Universidade Estadual de Londrina; Universidade de São Paulo)

Objetivo: Caracterizar idosos residentes da comunidade portadores de dor crônica. Identificar as características da dor crônica que mais incomodam idosos residentes na comunidade. População: Método: estudo epidemiológico, com amostra cen-sitária e corte transversal. População: Amostra populacional foi estimada a partir dos idosos com mais de 60 anos residentes na área urbana de São Paulo, visando garantir a representação segundo estratos definidos por sexo e idade. Foram incluídos nas análises os idosos sem déficit cognitivo. Foram considerados idosos portadores de dor crônica os que relataram dor com

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duração igual ou maior de seis meses. Coleta de dados e análises: Os dados foram coletados por entrevista domiciliar, com pesquisadores treinados. Foi utilizado programa Stata 11.0 para análises estatísticas. O projeto SABE recebeu aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, conforme of. COEP/83/06. Variáveis: características da dor crônica com duração de mais de 6 meses, comorbidades autorreferidas, características sociodemográ-ficas, grau de dependência nas atividades básicas e instrumentais de vida diária e mobilidade. As características da dor ana-lisadas foram duração, frequência de episódios, intensidade, local e interferência em atividades de vida diária e no trabalho. Resultados: Conforme desenho amostral os 1.271 idosos incluídos neste estudo correspondem a 969.560 idosos residentes na cidade de São Paulo, ou seja, 99,7% da população de idosos em 2000; e 72,4% da população de 1.339.138 idosos do último censo (2010). Prevalência de dor com duração de mais de 6 meses foi 29,7% (IC 25,4 -33,9), a frequência de dor há mais de um ano nesses idosos foi de 78,4%. A dor foi mais frequente em mulheres (p < 0,007), esteve associada a maior dependência nas atividades da vida diária e a pior mobilidade (p < 0,0001) quando comparada com idosos sem dor crônica. As comor-bidades com maior frequência entre os idosos com dor crônica comparados aos idosos sem dor foram: doenças pulmonares obstrutivas (asma, enfisema, bronquite), problemas cardíacos, artrite ou reumatismo, osteoporose, incontinência urinária e fecal e problemas psiquiátricos. Entre os locais de dores referidos, foi realizada a caracterização da dor que mais incomoda-va o idoso. Entre a dor que mais incomodava, os locais mais frequentes foram região lombar (25,4%) e membros inferiores (21,9%). A intensidade foi moderada em 45,8% e intensa para 46% dos idosos com dor. Em 49,6% dos idosos com dor, a dor que mais incomodava ocorria quase todos dos dias. Houve associação com significância estatística entre intensidade da dor e renda familiar. Entre os idosos que viviam com uma renda familiar igual ou superior a 3 salários mínimos, 37% relataram dor fraca/média/moderada e 17% referiram dor forte/intensa, enquanto entre os idosos com renda de até um salário mínimo a dor fraca/média/moderada ocorreu em 20,95% e a dor intensa em 42,7% (p=0,005). Conclusão: Primeiro estudo populacional com idosos da cidade de São Paulo no qual se observou que a dor crônica é um fenômeno frequente entre idosos da comunidade e está associada a diversas morbidades, interferindo negativamente na independência e mobilidade desses idosos. Quadro álgico mais intenso teve associação com menor renda familiar.

TL 422. Implantação do Seguimento Farmacoterapêutico em um Serviço Especializado em Dor

Pâmela Rodrigues Pedroso, Isabela Laudares Marques, Márcio Curi Rondinelli, Waleska de Castro Sampaio, Rosa Mendes, Jamila F. Miranda dos Santos, Juliane de Macedo Antunes, Thaís Mello Francisco, Maria Fernanda M. Ferrari

(Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia)

Objetivo: Identificar os Problemas Relacionados a Medicamentos (PRM) e Resultados Negativos associados a Medica-mentos (RNM) dos pacientes atendidos no ambulatório da Clínica da Dor do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (INTO); monitorar resultados encontrados e buscar maior adesão ao tratamento proposto. População: Pacientes atendidos no ambulatório da Clínica da Dor que aguardam procedimentos de caráter traumatológico-ortopédico, assim como aqueles em período pós-operatório. Resultados: Identificação dos PRM e RNM e da avaliação da dor e suas influências; avaliação da me-lhor opção de tratamento através do levantamento dos medicamentos mais comumente envolvidos com os PRM; promoção do uso racional de medicamentos. Conclusão: A necessidade da implantação do Seguimento Farmacoterapêutico foi identificada durante a consulta ambulatorial e na dispensação de medicamentos, onde foram observadas queixas dos pacientes relacionadas à não efetividade do tratamento e às reações desagradáveis que surgem após a utilização dos medicamentos. O Serviço da Clí-nica da Dor tenta buscar, com este seguimento, alcançar os objetivos propostos no estudo, de forma a oferecer uma assistência integral e sistematizada ao usuário.

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TL 423. Presença de Dor Fora da Região Orofacial em Indivíduos com Disfunção Temporomandibular

Monique Lalue Sanches, Yara Juliano, Neil Ferreira Novo, Liete M. L. Figueiredo Zwir, Carmen P. S. Hoyuela, Vera Lucia Mestre Rosa, Eduardo Cotecchia Ribeiro, Antonio Sérgio Guimarães (Universidade Federal de São Paulo – Unifesp; Unisa)

Objetivo: Avaliar em pacientes com disfunção temporomandibular (DTM) a frequência da presença de dor além da região orofacial. População: Foi realizado um estudo retrospectivo observacional em 563 prontuários de pacientes do ambulatório de disfunção tempo-romandibular e dor orofacial da EPM/Unifesp, que apresentavam DTM de acordo com o RDC/TMD. Foram analisadas as frequências com que ocorre dor fora da região orofacial por meio da análise dos desenhos do corpo e da cabeça, em que o paciente marca os locais onde tem dor. Também foi analisado o perfil da amostra quanto ao gênero, idade e outros fatores característicos na DTM. Resultados: A razão entre homens e mulheres foi de 1:4,73 com uma idade média de 40 anos. Os desenhos do corpo foram divididos em quadrantes (Q1 a Q4) por uma cruz cuja linha horizontal passa pela região da cintura e a linha vertical no plano sagital mediano. Também foram analisadas dores na região axial (A) e cervical (C). Q1 refere-se à área sup. Dir, Q2 sup. Esq, Q3 inf. Esq e Q4 inf. Dir. A frequência da dor foi Q1-148(26,3%), Q2-139(24,7%), Q3-91(16,1%), Q4-92(16,3%), A-110(19,5%) e C-470(83,5%). Conclusão: Observou-se que aproximadamente 25% dos pacientes com DTM e dor na região orofacial também apresentam dor nas áreas acima da cintura (Q1 e Q2), corroborando com os estudos que abordam a plasticidade neurológica frente a estímulos nociceptivos persistentes. Já a alta frequência de dor cervical (83,5%) ocorre provavelmente pela convergência dos estímulos nociceptivos no subnúcleo caudal do nervo trigêmeo.

TL 424. Tradução e Validação de um Instrumento Visual (PRISM) para Avaliar Dor e Sofrimento em Indivíduos com Disfunção Temporomandibular

Monique Lalue Sanches, Gilson Tadao Enoki Kihara, Yara Juliano, Neil Ferreira Novo, Eduardo Cotecchia Ribeiro, Antonio Sérgio Guimarães (Universidade Federal de São Paulo − Unifesp; Unisa)

Objetivo: Foi realizada a tradução e validação de um instrumento não verbal, de fácil utilização e rápida aplicação, para avaliar o limiar de sofrimento percebido pelo paciente em relação à disfunção temporomandibular (DTM). População: O instrumento visual PRISM, que avalia o sofrimento percebido pelo paciente em relação à DTM, e o questionário OHIP-14 de qualidade de vida foram aplicados previamente em 81 indivíduos que compareceram ao ambulatório de DTM e dor orofacial da EPM-Unifesp/HSP e que posteriormente foram diagnosticados com DTM pelos critérios do RCD/TMD. Esses pacientes também quantificaram a queixa de dor por meio das escalas visual analógica (EVA) e visual numérica (EVN). Resultados: O teste de correlação de Spearman se mos-trou significante para EVA X PRISM rs=0,60 e EVN X PRISM rs=0,57 (p < 0,0001). O teste de concordância Kappa e discordância de Mc Nemar apresentaram resultados significantes na comparação dos valores do PRISM com os do OHIP-14 kw=0,29 z=3,03 (p < 0,0001) e X2=29,13 (p < 0,0001). A análise de variância de Friedman mostrou que as dimensões de dor física e desconforto psicoló-gico do OHIP-14 são as mais significantemente comprometidas X2=175,76 (p < 0,0001). Conclusão: Com base nos resultados obti-dos pode-se observar que a presença de dor e sofrimento está altamente comprometida nos pacientes com DTM e que o instrumento PRISM, apesar de dor e sofrimento não serem sinônimos, consegue evidenciar que a dor contribui no agravamento do sofrimento.

TL 425. A Dor Oncológica no Ambulatório de Cuidados PaliativosRodolfo Moraes Silva, André Luís Porporatti, Yuri Martins Costa (Santa Casa de Franca e Hospital do Câncer de Franca (SP);

Faculdade de Odontologia de Bauru - Universidade de São Paulo)

Objetivo: Avaliar o perfil da dor e tratamento adotado em pacientes oncológicos encaminhados ao ambulatório de cuidados

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paliativos de um hospital público do interior de São Paulo. População: Pacientes do SUS portadores de neoplasias avançadas, fora de possibilidades terapêuticas, encaminhados ao ambulatório de cuidados paliativos de um hospital oncológico do interior do estado de São Paulo. Foram estudados 36 casos, sendo 15 mulheres e 21 homens com idade média de 66 anos. As neoplasias mais comuns acometiam o trato digestivo (47%) e orogenital (28%). Resultados: Dor intensa foi reportada por 63,8% dos pacientes. Medicação “se necessário” era usada por 66% do total e 91% de todos referiam controle inadequado da dor. Dos pacientes com dor intensa, ape-nas 26% usavam opioides fortes e 34% usavam apenas dipirona se necessário. 96% relatavam piora progressiva da dor. No retorno, 75% dos pacientes melhoraram com o ajuste de acordo com a escada analgésica da OMS. Nos pacientes com dor intensa a melhora foi de 74%. Em média a dor regrediu 3 pontos na EVA. Conclusão: A dor, apesar de muito frequente no câncer avançado, ainda é subtratada. A morfina ainda é droga subutilizada. A adoção da escada analgésica da ONU é medida simples e eficaz no controle da dor em cuidados paliativos.

TL 426. Frequência e Localização da Dor Referida em Indivíduos com Disfunção Temporomandibular e Fibromialgia Concomitante

Monique Lalue Sanches, Eduardo Cotecchia Ribeiro, Carmen P. S. Hoyuela, Liete M. L. Figueiredo Zwir, Vera Lucia Mestre Rosa, Yara Juliano, Neil Ferreira Novo, Antonio Sérgio Guimarães (Universidade Federal de São Paulo − Unifesp; Unisa)

Objetivo: O objetivo deste estudo foi mostrar, em pacientes com disfunção temporomandibular (DTM) e fibromialgia (FM) concomitante, a frequência de dor referida, as áreas palpadas que apresentam grande ocorrência de dor referida e as regiões mais frequentes para onde a dor referida se direciona. População: Foram levantados 79 prontuários de pacientes do Ambulatório de DTM e Dor Orofacial da EPM-Unifesp/HSP, que apresentavam DTM e FM concomitante. O diagnóstico de DTM foi feito de acordo com o critério RDC/TMD e o de FM foi feito por um reumatologista de acordo com os critérios de classificação da ACR. Os pacientes foram submetidos ao exame de palpação, de acordo com o RDC/TMD. Também foram palpadas as regiões dos músculos trapézio e esternocleidomastoideo e a região suboccipital direita e esquerda. Resultados: Do total de 79 indivíduos, 44 (55,7%) apresentaram dor referida. Os músculos que mais geraram dor referida quando palpados e as regiões que mais sofreram referência de dor, em ordem numérica descrescente de ocorrência, foram, respectivamente: masseter 34 (77,3%), temporal 25 (56,8%) e esternocleido-mastoideo 17 (38,6%), e regiões facial lateral 37 (84,1%), cervicais posterior e lateral 36 (81,8%) e temporoparietal 24 (54,5%). Conclusão: Pela alta incidência de dor referida proveniente da palpação, principalmente de músculo da mastigação em indivíduos com DTM e FM concomitante, é aconselhável que no exame reumatológico dos pacientes com FM seja incluída a busca de pontos de dolorimento na região temporomandibular.

TL 427. Avaliação da Ocorrência Concomitante de Dor Referida e Dor Fora da Região Orofacial em Indivíduos com Disfunção Temporomandibular

Monique Lalue Sanches, Eduardo Cotecchia Ribeiro, Vera Lucia Mestre Rosa, Carmen P. S. Hoyuela, Liete M. L. Figueiredo Zwir, Yara Juliano, Neil Ferreira Novo, Antonio Sérgio Guimarães (Universidade Federal de São Paulo − Unifesp; Unisa)

Objetivo: Mostrar a frequência com que o indivíduo diagnosticado com disfunção temporomandibular (DTM) apresenta si-multaneamente dor referida e dor fora da região orofacial. População: Foi realizado um estudo retrospectivo obervacional, em que foram analisados 498 prontuários de pacientes do ambulatório de DTM e Dor Orofacial da EPM – Unifesp/HSP, que apresentavam DTM classificada pelo critério de RDC/TMD quanto à presença de dor referida e dor fora da região orofacial simultaneamente. Resultados: Dos 498 prontuários analisados, 295 (59,23%) pacientes apresentaram dor referida na palpação de acordo com o RDC/

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TMD, sendo 262 do gênero feminino e 33 do gênero masculino, em uma razão homem:mulher igual a 1:10 e com idade média de 40 anos. Dos 295 pacientes, 272 (92,20%) apresentaram, além da queixa de dor na face, dor fora da região orofacial. Conclusão: Isso mostra que uma enorme proporção de pacientes com DTM apresentam dor referida juntamente com dor fora da região orofacial, o que vem comprovar a necessidade de uma equipe multidisciplinar para o atendimento desses pacientes.

TL 428. Registros de Dor em Pacientes Atendidos nos Cenários de Emergência: Subsídios para a Melhoria da Qualidade da Avaliação de Enfermagem

Anna Brunet de Figueiredo Monte, Cecília Maria Izidoro Pinto (Universidade Federal do Rio de Janeiro)

Objetivo: Identificar registros de dor no atendimento realizado nas unidades de emergência, com base nas evoluções encontradas nos prontuários/fichas de atendimento dos pacientes nessas unidades. População: Trata-se de estudo retrospectivo, utilizando análi-se de prontuários de pacientes atendidos na unidade de emergência. Foram analisados 25 prontuários buscando a evolução da equipe de enfermagem sobre a dor durante o atendimento inicial e nas 24 horas seguintes. Utilizou-se nesta fase preliminar a estatística descritiva. A coleta envolve dois cenários hospitalares, estadual e municipal, no Rio de Janeiro. Elaborou-se um instrumento para coleta de dados nos prontuários. Resultados: Os resultados apontam para um registro inicial precário de dados ainda na admissão na emergência. Cerca de 70% dos registros de dor identificados apontavam unicamente a presença de dor; 22% acrescentavam dados como local e padrão temporal da dor; 80% não apresentavam registros após a administração de medicamentos; 10% apresentavam os registros de dor apenas 12 horas depois da avaliação inicial na sala de emergência. Conclusão: A qualidade dos registros mostrou--se insuficiente diante da magnitude dos atendimentos. Os registros de dor realizados pela enfermagem limitam-se em apontar a presença ou não de dor e sua intensidade. No estudo ainda em andamento, observa-se que são poucas as descrições acerca do acom-panhamento dos tratamentos ministrados na emergência, embora na admissão a dor tenha sido apontada como sintoma que levou grande parte dos pacientes ao atendimento.

TL 429. Concepções de Acadêmicas de Enfermagem acerca da Relação entre Profissionais de Enfermagem e Pacientes em Tratamento Hemodialítico.

Relato de CasoKelen Fabiana da Silva, Diana Baumgart, Elisiane do Nascimento da Rocha, Tatiane Angélica Phelipini Borges,

Valquiria Acosta Catarina Carpes (Universidade Federal do Pampa)

Objetivo: O trabalho teve como objetivo conhecer a relação paciente e profissionais de enfermagem através de vivências em uma Clínica Renal, com a realização de uma reflexão acerca do papel desses profissionais na sala de hemodiálise. População: Participa-ram do estudo oito portadores de Doença Renal Crônica (DRC), usuários de uma Clínica Renal, em tratamento hemodialítico num período superior a sete anos, no estado do Rio Grande do Sul; e quatro técnicos de enfermagem e uma enfermeira, integrantes da equipe de Enfermagem da referida clínica. Resultados: Com o passar do tempo, pelo tempo de convivência consequente ao tempo de tratamento, os profissionais de enfermagem acabam estabelecendo um vínculo afetivo com os pacientes que ali se encontram, assim como os próprios pacientes entre eles, o que propicia ao ambiente do tratamento ser mais agradável. Pode-se perceber que a sessão de hemodiálise torna-se um momento para que a equipe de enfermagem interaja com o indivíduo renal crônico auxiliando-o em suas necessidades emocionais. Conclusão: O trabalho possibilitou a compreensão de que o cuidado de enfermagem em ambiente de terapia hemodialítica não pode ser reduzido a um rim doente, mas sim em ver o indivíduo de um modo holístico. Neste contexto, o profissional deve estabelecer um diálogo com os pacientes, ultrapassando o formalismo habitual de informações científicas, e dar

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a oportunidade para a expressão dos sentimentos a respeito das limitações impostas pela doença e pelos tratamentos. Portanto, para a excelência na assistência do enfermeiro aos portadores de DRC, é necessário, além da competência técnica e fundamentação cien-tífica, ter sensibilidade para considerar os sentimentos e as necessidades emocionais desses indivíduos.

TL 430. Caracterização de Crianças, Adolescentes e Adultos Jovens com Câncer na Fase Final de Vida: Relato de um Ambulatório de Cuidados

Paliativos PediátricosDaniela Bonfietti Rodrigues, Carlota Vitoria Blassioli, Carla Gonçalves Rodrigues (IOP-Graacc/Unifesp)

Objetivo: Caracterizar os pacientes atendidos no Ambulatório de Cuidados Paliativos Pediátricos que estavam na fase final de vida. População (ou fonte de dados): os dados foram coletados dos prontuários de pacientes atendidos no Ambulatório de Cuidados Paliati-vos Pediátricos, no período de janeiro de 2010 a julho de 2011. Resultados: No período analisado, foram acompanhados 21 pacientes na fase final de vida, que faleceram por progressão da doença, sendo que, destes, 11 (52,4%) eram do sexo masculino. Os principais diagnósticos dos pacientes foram tumores do sistema nervoso central (42,8%), osteossarcoma (14,3%), rabdomiossarcoma (9,7%) e neuroblastoma (9,7%), entre outros (23,5%). 38,1% estavam na faixa etária de 3 a 6 anos, 19% entre 13 e 17 anos, 19% acima de 18 anos, 14,3% de 7 a 12 anos e 9,6% eram menores de 3 anos. O tempo médio de acompanhamento dos pacientes no Ambulatório de Cuidados Paliativos foi de 70 dias, sendo que o maior período foi de 300 dias e o menor de 20 dias. Os sintomas físicos mais prevalentes foram: dor, sonolência, paresia de membros inferiores e superiores, dispneia, constipação, convulsão, anorexia e cansaço. Desses sinto-mas, 66,7% dos pacientes apresentaram dor, 57,1% sonolência, 38% paresia, 38% dispneia, 23,8% constipação, 19% convulsão, 19% anorexia e 19% cansaço. Os sintomas psicológicos mais prevalentes foram medo, ansiedade e tristeza. Cabe ressaltar que esses sintomas foram relatados pelos pacientes e/ou seus cuidadores, e foram registrados no prontuário. Dezesseis pacientes (76,2%) apresentaram três ou mais sintomas durante a fase final de vida. Com relação ao local de óbito, 15 pacientes faleceram no hospital onde foi realizado todo o tratamento, 4 retornaram à sua cidade de origem e faleceram em casa e 2 faleceram em outra instituição pois retornaram à sua cidade de origem e precisaram de internação na fase final de vida para controle dos sintomas apresentados. O acompanhamento pela equipe multiprofissional do Ambulatório de Cuidados Paliativos aos 6 pacientes que retornam à sua cidade de origem foi realizado por meio de telefonemas, tanto para o paciente e familiares quanto para a equipe de saúde dos hospitais locais. Conclusão: Com a caracterização das crianças, adolescentes e adultos jovens com câncer atendidas no Ambulatório de Cuidados Paliativos Pediátricos foi possível conhecer a frequência dos sintomas apresentados no final de vida e as decisões tomadas por eles com relação ao local onde querem permanecer e ser cuidados nessa fase da doença. Esses sintomas necessitam de avaliação, intervenção e controle adequados, pois causam muito sofrimento físico e emocional, e isso só é possível com uma equipe multiprofissional que possa acompanhá-los frequentemente, inde-pendentemente de esse acompanhamento ser realizado no hospital, em domicílio ou por telefonemas. Essa caracterização dos pacientes também proporcionou à equipe multiprofissional do Ambulatório de Cuidados Paliativos rever, aprimorar e criar estratégias de ava-liação e intervenção, mesmo à distância, dos sintomas prevalentes no final de vida, a fim de aliviar esses sintomas, oferecer conforto e proporcionar qualidade de vida aos pacientes e suas famílias.

TL 431. Dor Oncológica de Difícil Controle em Paciente com Recidiva de Carcinoma Epidermoide de Vulva − Possibilidade de Tratamento Intervencionista

Telma Silveira Gonçalves, George Miguel Goes Freire, Luciana Figueroa, Izabela Cavalcante (Hospital IGESP)

Objetivo: Discutir até onde ser invasivo em paciente paliativo. População: Paciente oncológico, submetida a vulvectomia

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radical por carcinoma epidermoide há 5 anos. Evoluiu com recidiva da neoplasia há um ano. Fez RT/QT, sem resposta clínica. Lesão inoperável, segundo oncocirurgiã. Resultados: Aumento da dor perineal com aumento progressivo de morfina. Chegou ao PS com mucosa vaginal exposta e lesão actínica associada, EVN de 10. Internada devido a dor. Iniciada metadona 40mg/d, gaba 600mg/d, dipirona 2g 4x/d, morfina 3mg IV resgate, 2/2h. Dia seguinte com EVN de 4, porém dor incidental durante micção com EVN de 10. Conversado sobre derivação cirúrgica, tipo cistostomia, com Urologia e família, que se mostraram contrários. Discutidas também condutas invasivas para tratamento da dor. Conclusão: Em 1985 registraram-se cinco milhões de mortes devidas a doença oncológica. Estima-se que em 2015 esse número suba para nove milhões. 70-80% experimentarão dor de moderada a intensa. Apesar das evidências mostrarem que em 80% dos pacientes é possível controle completo com analgésicos orais, 20% não respondem à terapêutica instituída via oral, necessitando de tratamento intervencionista. A questão é: até onde podemos ser invasivos, sem causar mais desconforto em paciente já tão sofrido. Uma analgesia peridural contínua ou bloqueio de hipogástrico superior poderiam ser benéficos para alívio da dor desta paciente. O tratamento intervencionista de dor acompanha os degraus da escada e é sempre uma opção.

TL 432. Associação do Chá de Sene e Lactulose no Tratamento da Constipa-ção Intestinal em Pacientes Oncológicos em Uso Crônico de Opioides

Shirley Burburan (Instituto Nacional de Câncer)

Objetivo: Avaliar a eficácia e a tolerabilidade do chá de sene combinado com a lactulose no tratamento da constipa-ção intestinal em pacientes com câncer avançado e em uso crônico de opioides. População: Trinta pacientes oncológicos em uso de opioides, entre outras medicações constipantes, e que preenchiam critérios diagnósticos para constipação in-testinal, foram divididos em dois grupos. Quinze pacientes receberam somente dieta laxativa e outros quinze receberam, além da dieta laxativa, uma infusão de sene (Cassia angustifolia), 1g/200ml de água com xarope de lactulose 20g/30ml em dose única diária. Resultados: No grupo sene-lactulose, 73% dos pacientes relataram melhora na consistência das fezes e no número de evacuações, que ocorreram após 2 (2 ± 0,39) dias contra 6 (6,3 ± 1,38) dias no grupo que recebeu somente dieta laxativa, sendo a diferença significativa entre os grupos (p < 0,001). Em 7% dos pacientes a ocorrência de flatulência obrigou a suspensão do chá de sene-lactulose. Nenhum outro efeito colateral foi observado e a tolerabilidade foi considerada boa por todos os outros pacientes. Conclusão: A administração da combinação do chá de sene com a lactulose em dose única diária mostrou-se eficaz no tratamento da constipação intestinal na população estudada, sendo bem tolerada pelos pacientes.

TL 433. Uso da Hidromorfona de Liberação Lenta em Substituição a Morfina por Via Oral no Tratamento da Dor Crônica de Origem Neoplásica

Izabel Carolina P. Rocha Lima, Gabriela Rocha Lauretti, Raquel de Oliveira, Selma W. Rodrigues, Luciana Moraes (Clínica de Dor do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP)

Objetivo: O objetivo do estudo foi descrever os efeitos sobre o controle da dor neoplásica, frequência de efeitos cola-terais e satisfação do paciente após a substituição da morfina pela HIDROMORFONA OROS* (liberação osmótica Push--Pull), durante o período de 30 dias. População: Após consentimento formal, 10 pacientes entre 18 e 70 anos, com dor oncológica, foram acompanhados por 30 dias na CTD-FMRP-USP, onde a morfina oral foi substituída pela HIDROMOR-FONA OROS*. As avaliações da dor foram feitas através da Escala Visual Numérica (EVN) e Questionário de McGill.

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Satisfação do paciente com a terapia, além da incidência de efeitos colaterais. Resultados: As doses de morfina variaram entre 80 e 220 mg/dia e as de HIDROMORFONA entre 16 e 64 mg/dia. Quanto aos valores da Escala Visual Numérica (EVN), no início o valor da mediana foi 7,8, no término do estudo, este valor da mediana foi 4,45. De 10% satisfeitos com o tratamento com a morfina, passaram a 40% com o uso da HIDROMORFONA; dos insatisfeitos com o tratamento, passaram de 40% para 20% ao final. Quanto ao Questionário de McGill, observamos que houve uma redução em 70% dos pacientes, nos valores de pontuação, ao final da análise, o que sugere uma melhora no desconforto que reflete a dor referida pelo paciente. Houve redução da incidência dos Efeitos Colaterais boca seca, retenção urinária, vômitos e queda da libido ao final do estudo. Conclusão: A HIDROMORFONA de liberação lenta parece ser uma opção analgésica segura e eficaz para o controle da dor crônica de origem neoplásica. Porém, estudos precisam confirmar os benefícios da substituição da morfina pela HIDROMORFONA.

TL 434. Tratamento Multimodal de Dor Crônica TorácicaGeorge Miguel Góes Freire, Telma Silveira Gonçalves, Tania Moretto, Núbia Viebig Araujo, Luciano Martinez (Hospital IGESP)

Objetivo: Apresentar os benefícios da analgesia multimodal e da importância de as instituições de saúde contarem com uma equipe de controle de dor hospitalar. População: JOS, masculino, 60 anos, DM, HAS tabagista. Dor em região subcostal esquerda, intensa, há 2 anos. Fez uso de vários analgésicos irregularmente, inclusive opioides potentes, sem controle álgico satisfatório. Após internação a Equipe de Controle da Dor é chamada para avaliação. Iniciado tratamento para dor com meta-dona 30 mg/dia, gabapentina 600 mg/dia e amitriptilina 25 mg/dia e clorpromazina 4% 9 mg/dia. Resultados: Paciente no dia seguinte estava bem sem dor, EVN=0 e sem efeitos colaterais. Passou a colaborar com seu tratamento, submeteu-se a biópsia de pleura para elucidação diagnóstica. Estava deambulando e teve alta hospitalar para continuar seu tratamento e investigação diagnóstica ambulatorial. Conclusão: A grande demanda de pacientes com dor de difícil controle internados nos hospitais exi-ge que haja uma equipe de controle de dor de prontidão que venha a aliviar o sofrimento desses pacientes enquanto se atua no diagnóstico e tratamento da doença de base. O uso de analgesia multimodal além do controle adequado de dor leva à redução de custos hospitalares pela alta mais precoce, possibilitando o tratamento ambulatorial.

TL 435. Depressão Respiratória após Analgesia para Embolização de Mioma Uterino

George Miguel Góes Freire, Diego Marcelo May, Irimar de Paula Posso, Telma Silveira Gonçalves, Mara Lucia Oliveira (Hospital Israelita Albert Einstein; Hospital das Clínicas HCFMUSP)

Objetivo: Valorizar a história de sensibilidade a fármacos e individualizar doses de medicamentos. População: MSC, sub-metida a embolização de mioma uterino sob raquianestesia com morfina 200 mcg. Recebeu oxicodona de liberação prolongada (Oxycontin), 20 mg, 1h antes do procedimento. Após cerca de 2 horas de recuperação, passou a ficar sonolenta e só mantinha saturação periférica de oxigênio adequada com oxigênio por cateter nasal. Administrado flumazenil, sem sucesso, e depois na-loxone, quando teve rápido despertar com queixa de dor, porém vindo a ficar em seguida sonolenta. Resultados: Foi transferida para UTI pelo risco de depressão respiratória. Solicitados exames de rotina; função tireoidiana, hepática e renal. No dia seguinte, paciente mais desperta tem alta da UTI sem ter havido nenhuma intercorrência e é encaminhada para enfermaria, onde recebe alta hospitalar no dia seguinte. Conclusão: Valorizar a história de sensibilidade a fármacos. Observar efeitos colaterais da morfina IT. Depressão respiratória rara (dose < 500mcg). Identificação do polimorfismo genético ajuda a modular a dose do opioide. Descar-tar a possibilidade de erro de administração.

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TL 436. Bloqueio Acidental no Neuroeixo em Tentativa de Bloqueio de Gânglio Estrelado. Relato de Caso

Gustavo Rodrigues Costa Lages, Raquel de Oliveira, Gabriela Rocha Lauretti, Roberta Lilian Ferreira Pereira, Christiane Begoti Soriano, Max Naves, Breno Augusto Albuquerque, Ana Beatriz Furtado, Flávia Marques Naves, Juliana Brandi Carneiro (Clínica

de Tratamento da Dor do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo)

Objetivo: Descrever um relato de caso de uma complicação de bloqueio do gânglio estrelado revisando a técnica, complicações associadas e meios para diminuir a incidência de complicação e sua gravidade. População: Relato de um caso. Resultados: Paciente do sexo feminino, 68 anos, com história de acidente automobilístico com fratura de C3 e C4 há 15 anos e queda da própria altura com traumatismo cranioencefálico (TCE) há 8 anos, sendo submetida a craniotomia. Evoluiu com dor crônica e paresia importante nos quatro membros, sobretudo no membro superior esquerdo (MSE) e sensação de frio no dimídio esquerdo. Foi encaminhada à clínica de dor com diagnóstico de dor central. Tratamento iniciado com amitriptilina, carbamazepina, tramadol e indicado bloqueio epidural sacral, plexo braquial (técnica de Winnie) e gânglio estrelado (BGE). Após a realização do BGE seguindo a técnica de White com injeção lenta de 60 mg de lidocaína 1% sem vasoconstritor associada a 15 mcg de clonidina em aspirações intermitentes e sem retorno de líquor ou sangue. Aproximadamente 1 minuto após o término da injeção, a paciente apresentou-se ansiosa, cons-ciente, confusa, afônica e com apneia. Imediatamente, foi oferecido oxigênio por ventilação por pressão positiva. Monitorizada com oxímetro de pulso, ECG e PAMNI. Observou-se hipotensão (PA = 75 X 38 mmHg) e bradicardia (FC = 52). Iniciada expansão volê-mica com cristaloide (total = 1600 ml de SF) e infusões intermitentes de efedrina EV. Mantendo consciência preservada, foi sedada com 3 mg de midazolam. Quarenta minutos após o incidente, reassumiu a ventilação e em seguida acordou. Transferida para SRPA, consciente, hemodinamicamente estável e com bom padrão respiratório. Recebeu alta hospitalar algumas horas mais tarde. O BGE é uma técnica valiosa com propósito diagnóstico, terapêutico e prognóstico. A síndrome pós-traumática às vezes se apresenta com edema, alteração de temperatura (frio), cianose e sudorese do membro; o bloqueio do gânglio estrelado está bem indicado. A técnica consiste no posicionamento da agulha anterior à junção do corpo de C7 com seu processo transverso. Quando guiado por radioscopia ou ultrassom (US) é possível usar menores volumes e diminuir as complicações. O efeito adverso mais comum após BGE é a sín-drome de Horner. As complicações mais comuns são relacionadas com a dispersão anestésica. Aspiração negativa não exclui injeção intratecal ou intravascular. O bloqueio do nervo laríngeo é comum, apresentando rouquidão e dificuldade para deglutir. Lesões da pleura e da artéria vertebral são comuns com essa técnica. As complicações graves desse bloqueio são convulsão induzida por inje-ção intravascular e depressão respiratória por injeção intraespinhal. Dificuldade respiratória e necessidade de ventilação mecânica são observadas tanto após injeção epidural como intratecal. Em nossa paciente, a apneia seguida imediatamente após a realização do BGE nos faz acreditar em punção intratecal. Outra evidência foi a queda da pressão arterial inicial e intensa. A preservação da consciência e ausência de convulsão afasta injeção intravascular. Com a presença de monitorização e carrinho de urgência presente, toda a complicação obeservada foi revertida sem sequela. Conclusão: Todo procedimento invasivo em clínica de dor tem o poten-cial para complicações, necessitando às vezes de tratamento emergencial. É essencial o treinamento da equipe no tratamento dessas complicações, além de adequado material e estrutura para esse atendimento na clínica de dor. O cumprimento dessas premissas nos permitiu um rápido atendimento à paciente após um bloqueio acidental alto do neuroeixo seguido de parada respiratória e choque, com boa recuperação e sem sequelas.

TL 437. Dor Crônica Facial após Cirurgia PlásticaRaquel de Oliveira, Christiane Begoti Soriano, Gustavo Rodrigues Costa Lages, Roberta Lilian Ferreira Pereira, Gabriela Rocha Lauretti, Juliana Brandi Carneiro, Max Naves, Ana Beatriz Furtado, Flávia Marques Naves, Breno Augusto Albuquerque (Clínica

de Tratamento da Dor do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo)

Objetivo: Relatar um caso de desenvolvimento de dor crônica facial tipo neuropática após intervenção cirúrgica plástica correti-

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va. População: Relato de caso em paciente do sexo masculino, 83 anos, com queixa de dor facial há 2 anos pós cirurgia plástica para ressecção de carcinoma em lábio superior e face. Já havia realizado outras intervenções anteriores para exerese de outras lesões sem intercorrência. Após último procedimento, iniciou quadro clínico de dor diária e contínua em lábio superior esquerdo, tipo latejante e sensação de choques paroxísticos, dificultando a movimentação da boca para deglutição e mastigação, o que ocasionou perda de peso. Ao exame físico, evidenciou-se cicatriz em lábio superior esquerdo com desvio da rima bucal e presença de alodínia impor-tante. Com o diagnóstico de nevralgia pós-cirúrgica, foi agendado bloqueio do nervo infraorbitário e maxilar esquerdo, infiltração local da cicatriz cirúrgica e ministrados amitriptilina 25 mg, cloridrato de tramadol 50 mg, 12/12 horas. Resultados: Houve uma redução de 20% da dor com o uso de medicação. Após a realização de dois bloqueios de nervos, com Duodecadron® 5 mg, clonidina 30 mcg, lidocaína 30 mg, o paciente apresentou melhora de 90% da dor, permanecendo apenas na região entre os lábios superior e inferior, sendo complementado com bloqueio do nervo mentoniano, obtendo alívio completo da dor. O paciente permaneceu usando amitriptilina 25 mg e, em caso de dor, tramadol 50 mg. Conclusão: Diversas intervenções cirúrgicas estão associadas ao desenvol-vimento de dor crônica do tipo neuropática, por lesão direta ou indireta do nervo, por sucção, isquemia ou compressão por fibrose. O tratamento adequado da dor durante a operação e no período pós-operatório pode reduzir a incidência de síndromes dolorosas crônicas. O uso de medicamentos antidepresssivos e anticonvulsivantes, anti-inflamatórios não esteroides, analgésicos opioides e bloqueios de nervos são descritos como terapêutica da dor neuropática. Neste paciente, o bloqueio de nervo associado à amitriptilina apresentou um resultado excelente.

TL 438. Padronização de um Novo Modelo Experimental para Estudo da Dor Neuropática: Lesão do Nervo Plantar Medial em Camundongos

Thiago Mattar Cunha, Morena Brazil Sant´Anna, Guilherme Rabelo de Souza, Tiago Bozzo, Fernando de Queiroz Cunha, Sergio Henrique Ferreira (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto USP)

Objetivo: O objetivo deste trabalho foi desenvolver e padronizar um novo modelo de neuropatia periférica pela ligação do nervo plantar medial (NPM) em camundongos. População: Métodos – Foi realizada uma incisão no tornozelo de camundongos (C57/Bl6 20-25g), seguida da ligadura do NPM com fio de sutura catgut. Realizamos o teste de desempenho baseado na atividade motora, utilizando o teste de Rota-Rod. A diminuição do limiar de resposta nociceptiva foi avaliada utilizando-se os filamentos de von Frey. Resultados: A cirurgia de LNPM reduziu o limiar nociceptivo mecânico dos animais até o 25º dia após, sem prejuízo na atividade motora. O tratamento com AINES ou morfina reduz parcialmente a hipernocicepção induzida pela LNPM nos primeiros dias após a lesão, mas não produz efeito em tempos mais tardios (14 dias após a cirurgia). Por outro lado, o tratamento dos animais com gaba-pentina promove redução da hipernocicepção mecânica tanto na fase inicial quanto em um período mais tardio da neuropatia. Con-clusão: Nossos resultados sugerem que a LNPM apresenta características sensoriais e farmacológicas semelhantes às da neuropatia humana, sugerindo que este modelo possa ser usado para o entendimento dessa condição dolorosa.

TL 439. Adesão dos Profissionais de Enfermagem à Avaliação Sistematizada da DorDayse Maioli Garcia, Helen Maria Benito Scapolan Petrolino, Ivana Lúcia Correa Pimentel de Siqueira

(Hospital Sírio-Libanês − SP)

Objetivo: Analisar a adesão dos profissionais de enfermagem à avaliação sistematizada da dor segundo diretrizes estabelecidas na Política de Gerenciamento da Dor. População: 1.246 prontuários de pacientes internados há mais de 24 horas e pacientes em aten-dimento ambulatorial para procedimentos diagnósticos e terapêuticos no período de janeiro a junho de 2011. Resultados: Os itens escolha da escala, avaliação junto com os sinais vitais e registro dos dados estão acima da meta estipulada de 90% e a reavaliação da

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dor após condutas farmacológicas e/ou não farmacológicas está em 75%; a porcentagem de pacientes com dor por unidade foi 58% no Pronto-Atendimento; 13% na UTI adulto; nas unidades cirúrgicas, entre 35% e 27%; na oncologia, 33% e 22%, e nas unidades de pacientes crônicos entre 12% a 2%. Conclusão: A sistematização da avaliação de dor na instituição está incorporada à prática clínica diária. O monitoramento do desempenho de cada unidade favorece identificar a adequação e a abrangência da avaliação da dor. A reavaliação da dor direciona atenção para o planejamento de medidas de educação, reorientação e a implementação de melhorias. O percentual de pacientes identificados com dor e o reconhecimento dessa condição nas diferentes unidades dentro da instituição nos fazem refletir sobre o reconhecimento desse sintoma em alguns grupos específicos de pacientes.

TL 440. Estudo do Limiar de Dor à Pressão e da Força de Mordida em Mulheres com e sem Disfunção Temporomandibular

Wanderley Jordão Junior, Fausto Bérzin, Antonio Sérgio Guimarães (Unicamp; Faculdade de Odontologia de Piracicaba; Unifesp)

Objetivo: Medir e comparar os valores da força de mordida na contração voluntária máxima (CVM) e o limiar de dor à pressão (LDP) no músculo masseter e na região anterior do músculo temporal (ambos bilateralmente) em mulheres com e sem disfunção temporomandibular (DTM). População: 39 voluntárias com idade entre 18 e 45 anos, com dentição completa até os segundos mola-res, sendo 20 com DTM de acordo com o RDC/TMD, classificação no subgrupo I – Dor Mofascial, e 19 sem DTM. A diferença do grupo controle foi não apresentar DTM de acordo com o mesmo critério diagnóstico. A amostra constituiu-se de alunas de graduação e pós-graduação de duas universidades. Foram realizadas três coletas consecutivas com intervalo de 30 s entre elas. Resultados: Todos os valores p foram altamente significativos na Análise de Variância da Algometria para o efeito de grupo. Os valores dos Limites de Confiança (LC) estão bastante dissociados e o grupo DTM apresentou menor LDP em todos os músculos. O valor p foi significativo para o efeito de grupo na análise da força produzida na CVM, ratificado por um pequeno intervalo de sobreposição dos valores dos LC para o efeito de grupo. Conclusão: 1) Sujeitos sem DTM apresentam maior valor da força de mordida na CVM do que sujeitos com DTM. 2) Sujeitos com DTM apresentam menor limiar de dor à pressão do que sujeitos sem DTM, tanto nas regiões anteriores dos músculos temporais como nos músculos masseteres.

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Índice de AutoresAcosta, T. - 250Albuquerque, B. A. - 275Alencar, E. N. - 258Almeida-Leite, C. M. - 252Almeida, D. B. - 113, 115, 246Almeida, E. G. - 265Alves Neto, O. - 27Alves, C. S. - 265Amaral, A. C. - 254Amaral, L. P. - 250Antunes, J. M. - 268Arantes, R. M. E. - 252Araújo Júnior, E. W. - 223Araújo, J. N. F. - 248Araujo, N. V. - 274Araújo, R. L. T. M. - 261, 264, 265Arruda, C. - 254Augusto, M. S. - 250Avelar , M. C. Q. - 253Ávila, L. A. - 77Baaklini, L. G. - 145Barbosa, R. - 218Baumgart, D. - 271Bérzin, F. - 277Bezerra, M. M. - 261, 264, 265Bifulco, V. A. - 239Blassioli, C. V. - 272Bonjardim, L. R. - 257, 258Borges, M. A. - 157Borges, T. A. P. - 271Bottino, S. M. B. - 93Bozzo, T. - 276Braga, P. E. - 258, 267Burburan, S. - 273Buschinelli, L. K. O. - 240Buzeto, T. C. - 250Camara, L. S. - 266Camargo, Y. M. A. - 218Campos, C. P. S. - 248Caponero, R. - 223Carneiro, J. B. - 275Carpes, V. A. C. - 271Carvalho, D. S. - 137, 141Castro, M. M. C. - 192Cavalcante, I. - 272Chino, F. T. - 260, 261Christoffel, M. M. - 262, 266Cipriano, A. - 246

Cobelo, A. - 246Coimbra, N. C. - 246, 247Colhado, O. C. G. - 259Conti, P. C. R. - 257, 258Cornu, P. - 129, 130Corrêa, A. S. M. - 258Costa, D. B. - 260, 261Costa, I. N. A. - 264Costa, L. C. C. - 246Costa, Y. M. - 257, 258, 269Cunha, A. J. L. A. - 254, 255Cunha, F. Q. - 251, 276Cunha, T. M. - 251, 276Dale, C. S. - 30Dallemule, D. - 250Dellaroza, M. S. G. - 267Duarte, L. V. S. C. - 249, 256, 257Duarte, Y. A. O. - 267Elias, A. C. A. - 236Estevez, D. - 242Falbo, P. - 265Felix, M. M. S. - 253, 260Fernandes, A. - 266Ferrari, M. F. M. - 268Ferreira, C. H. - 246Ferreira, C. M. R. - 246, 247Ferreira, P. C. - 218Ferreira, S. H. - 251, 276Figueroa, L. - 272Fonseca, C. D. - 263França, A. C. B. - 261, 264, 265Francisco, T. M. - 268Freire, G. M. G. - 272, 274Freitas, R. L. - 246Frich, L. - 258Frighetto, L. - 116Furtado, A. B. - 275Galegari, R. G. L. - 246Galvão, A. C. R. - 68Garbi, M. O. S. S. - 260Garcia, D. M. - 276Garcia, F. A. - 66Garcia, J. B. S. - 155, 261, 265Gardin, N. E. - 232Gasparini, A. - 265Giudicissi Filho, M. - 118Gomes, D. M. - 251Gomes, M. K. - 254, 255

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Gomez, N. A. R. - 252Gomez, R. R. F. - 252, 253, 262Gonçalves, T. S. - 272, 274Gonçalves,T. C. T. - 246, 247Gosling, A. P. - 254, 255Goto, F. - 188Grabli, D. - 129Greve, J. M. A. - 182Grossmann, E. - 255, 256, 264Grossmann, T. K. - 255, 256, 264Guimarães, A. S. - 209, 218, 266, 269, 270, 277Hilário, M. O. E. - 266Højsted, J. - 258Hoyuela, C. P. S. - 218, 269, 270Iared, F. - 261Jensen, T. S. - 52Jesus, G. M. S. - 261, 264, 265Jordão Junior, W. - 277Jørgensen, M. M. - 258Juliano, Y. - 269, 270Kalaf, R. - 250Kihara, G. T. E. - 218, 269Kimura, L. A. - 246Kraychete, D. C. - 151, 153, 162, 165Kreling, M. C. G. D. - 98Kurita, G. P. - 52, 185, 258La Couer, P. - 258Lages, G. R. C. - 275Lauretti, G. R. - 273, 275Lebrão, M. L. - 267Lício, C. S. A. - 252Lima, I. C. P. R. - 273Lima, R. V. - 105Lippi, E. A. A. C. - 251, 252, 262Listik, S. - 175Longo, E. S. - 185Macieira, R. C. - 235Maia, L. G. - 257Maia, M. L. M. - 257Malaquias, M. F. - 246Mallet, L. - 130Mantese, B. - 131Marques, I. L. - 268Marques, J. M. C. - 251Marques, R. A. S. - 109, 168Martinez, J. E. - 173Martinez, L. - 274Martini, M. R. - 263Martins, L. F. - 119Mascarenhas, A. C. - 254Massensini, A. R. - 252Mattos, P. - 82

May, D. M. - 274Medeiros, R. C. - 251Mello, L. T. - 262Mello, M. F. - 79, 80, 82Melo, A. G. C. - 225Mendes, R. - 268Minson, F. P. - 259, 260Miranda, C. C. V. - 160Monte, A. B. F. - 271Moraes, L. - 273Moraes, M. F. D. - 252Moraes, M. W. - 260Moreira, N. C. F. - 32Morete, M. C. - 259, 260Moretto, T. - 274Nakatani, A. Y. K. - 257, 249, 263Nascimento, O. J. M. - 64, 139Navarro, S. - 129, 130Naves, F. M. - 275Naves, M. - 275Nery, R. M. - 263Nielsen, P. R. - 258Novo, N. F. - 269, 270Oliveira Jr., J. O. - 100, 106, 109, 121, 123,

147, 168Oliveira, A. P. - 252Oliveira, J. G. - 118Oliveira, L. F. - 253, 260Oliveira, M. G. - 251Oliveira, M. L. - 274Oliveira, R. - 247Oliveira, R. A. A. - 56Oliveira, R. C. - 247Oliveira, R. - 273, 275Oliveira, T. D. S. T. - 80Ortega, A. O. L. - 214Pedrosa, D. F. A. - 251, 253Pedroso, C. F. - 248, 249, 256, 263Pedroso, P. R. - 268Pelegrin, A. K. A. P. - 251, 252, 262Pereira, C. A. S. P. - 133Pereira, L. V. - 248, 249, 256, 257, 263Pereira, R. L. F. - 275Perissinotti, D. M. N. - 80, 82, 196Pessoa, A. P. C. - 248, 249, 256, 257, 263Petrolino, H. M. B. S. - 276Pidoux, B. - 129, 130Pierro Neto, P. A. - 109, 168Pimenta, C. A. M. - 87, 98, 185, 258, 267Pinto, C. M. I. - 262, 266, 271Plapler, P. G. - 179Pontes, L. M. - 248

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Porporatti, A. L. - 257, 258, 269Posso, I. P. - 196, 274Pupo, J. A. - 218Rabello, G. D. - 71Regin, K. N. A. - 248Reis Junior, M. R. - 90Ribeiro, E. C. - 269, 270Ribeiro, F. A. - 253Ribeiro, M. A. G. - 257Ribeiro, S. B. F. - 260, 265Rocha, E. N. - 271Rocha, M. S. - 251Rodrigues, C. G. - 272Rodrigues, D. B. - 272Rodrigues, L. L. F. R. - 34Rodrigues, S. W. - 273Rodrigues, T. A. - 260, 261Rondinelli, M. C. - 268Rosa, V. L. M. - 218, 269, 270Rossi, N. A. - 252Rossi, A. B. - 275Saadi, L. M. V. - 254, 255Salamonde, G. - 251Saltareli, S. - 253, 260Salvetti, M. G. - 87, 185, 190, 246Sampaio, W. C. - 268Sanches, M. L. - 217, 269, 270Sant´Anna, M. B. - 276Santos, A. C. - 263Santos, J. F. M. - 268Sardá Jr., J. - 85, 198Sardas, H. - 42, 143Sasaki, H. H. - 259, 260Seixas, A. A. - 168Serra, S. C. - 264, 265Serrano, S. C. - 147, 171Sessle, B. J. - 23, 25Silva, A. P. - 259, 260Silva, H. K. - 260, 261Silva, J. A. - 246Silva, J. B. G. - 183Silva, J. C. - 255, 256, 264Silva, K. F. - 271Silva, N. S. - 261, 264, 265Silva, R. M. - 269Silva, S. G. - 91Silva, T. C. R. - 253, 260, 262Silva, V. L. - 253Silveira, A. L. D. - 262, 266Simoes, C. M. - 260Siqueira, H. B. O. M. - 250, 252, 262Siqueira, I. L. C. P. - 276

Siqueira, J. M - 252Siqueira, S. R. D. T. - 62Sjøgren, P. - 52, 258Soriano, C. B. - 275Sousa, A. M. - 167, 260, 261Sousa, F. A. E. F. - 251, 253, 259, 260, 262Soussumi, Y. - 203Souza, A. K. D. - 261, 264, 265Souza, B. W. - 251Souza, G. R. - 276Souza, L. A. F. - 248, 249, 256, 257, 263Souza, M. F. - 151, 153, 165Souza, R. R. - 247Souza, S. A. - 266Speciali, J. G. - 37, 200Spessotto, M. - 250Spiller, C. S. - 251Suassuna, P. D. - 254Tafuri, W. L. - 252Tahamtani, S. M. M. - 260, 261Tambeli, C. H. - 32Tedeschi, B. - 251Teixeira, D. G. - 246, 247Terreri, M. T. - 266Toro, I. S. - 218Ulrich, A. - 52Vale, E. N. - 95, 205Vall, J. - 59, 246Vannetti, T. K. - 260, 261Vasconcellos, T. H. F. - 246, 247Vasconcelos, P. P. - 248Vercelino, R. - 251Verçosa, N. - 251Verde, F. S. L. - 248Vernalha, P. M. - 246Vianna, C. I. A. - 246Vidor, C. R. - 263Vieira, D. - 246, 247Vieira, É. B. M. - 47, 50, 261, 264, 265Vieira, P. C. S. - 265Weinstock, J. G. - 106Werner, M. - 52Wittmann-Vieira, R. - 229Yamada, L. A. P. - 260, 261Yasuda, M. - 218Zanini, M. - 263Zanoteli, E. - 35Zwir, L. M. L. F. - 39, 266, 269, 270

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ARPADOL – Harpagophytum procumbens 400 mg Extrato seco 5%. FORMA FARMACÊUTICA, VIA DE ADMINISTRAÇÃO E APRESENTAÇÕES: USO ORAL. Comprimidos revestidos gastrorresistentes de 400 mg. Caixas com 30 comprimidos. USO ADULTO. COMPOSIÇÃO: Cada comprimido revestido gastrorresistente contém: 400 mg; Harpagophytum procumbens extrato seco 5%... 400 mg; Excipientes* qsp... 1 cpr; *Excipientes: Celulose microcristalina, polivinilpirrolidona, croscarmelose sódica, estearato de magnésio, dióxido de silício coloidal, hidroxipropilmetilcelulose, polietilenoglicol, óxido de ferro amarelo e dióxido de titânio. Correspondência em marcador: 400 mg de Harpagophytum procumbens extrato seco 5% corresponde a 20 mg de harpagosídeo. Indicações: O medicamento Arpadol, extrato seco de Harpagophytum procumbens, está indicado como antiinflamatório e analgésico para quadros reumáticos tais como artrites e artroses, assim como lombalgias, mialgias e demais quadros ósteo-mio-articulares. Contraindicações: Nos casos de hipersensibilidade ao Harpagophytum procumbens ou aos componentes da formulação do produto. O medicamento não deve ser usado em pacientes que apresentam úlceras gástricas e duodenais, intestino irritável e litíase vesicular. Posologia: O produto ARPADOL é apresentado na forma de comprimidos revestidos gastrorresistentes de 400 mg. ARPADOL deve ser ingerido depois das refeições e a via de administração proposta é a via oral, com o auxílio de quantidade suficiente de líquido. Adultos: A posologia recomendada de extrato seco de Harpagophytum procumbens 400 mg (com 5% de harpagosídeo) é de um comprimido três vezes ao dia. Advertências: Pacientes portadores de doenças cardíacas e que fazem uso de terapias hipo/hipertensivas devem ter cuidado com a ingestão de doses excessivas devido a possível cardioatividade. Pacientes com obstrução nas vias biliares devem ter aconselhamento médico. Pacientes diabéticos, apesar de não haver relatos específicos na literatura científica, devem evitar o seu uso devido a uma possível ação hipoglicemiante. Portanto, doses excessivas podem interferir com terapias cardíacas ou antidiabéticas. Gravidez: Devido a evidências de atividade ocitócica em animais, o medicamento não deve ser utilizado durante a gravidez e lactação sem acompanhamento médico. Também está contra indicado para gestantes, visto que pode estimular as contrações uterinas. Amamentação: O médico deve avaliar o risco/benefício do uso de ARPADOL. Não se sabe se a droga é excretada no leite materno. Interações medicamentosas: Possíveis interações com drogas antiarrítmicas e anti-hipertensivas não devem ser excluídas. Podem ocorrer também interações com drogas antidiabéticas, por causa do seu efeito hipoglicemiante. Devido à citação de que o Harpagophytum procumbens pode aumentar a acidez estomacal, existe a possibilidade da diminuição da efetividade de antiácidos, inibidores da bomba de prótons e bloqueadores H2; púrpura foi relatada em um paciente com administração conjunta de warfarina e Harpagophytum procumbens, sugerindo potencialização do efeito anticoagulante e remetendo a avaliação cuidadosa dessa associação e mesmo ajuste de dose da warfarina. Reações Adversas: Riscos a saúde e efeitos colaterais nas doses terapêuticas não têm sido relatados com frequência. Efeitos adversos como diarreia, dores abdominais, vômito, flatulência, perda do paladar, dor de cabeça frontal, dispepsia e zumbidos foram relatados em poucos casos. Um estudo demonstrou que o efeito adverso mais comum foi a diarreia, que diminui espontaneamente após o 2-3º dia de tratamento. VENDA SOB PRESCRIÇÃO MÉDICA. Reg. MS nº1.0118.0606. APSEN FARMACÊUTICA S/A.

Contraindicações: Nos casos de hipersensibilidade ao Harpagophytum procumbens ou aos componentes da formulação do produto. O medicamento não deve ser usado em pacientes que apresentam úlceras gástricas e duodenais, intestino irritável e litíase vesicular. Interações medicamentosas: Possíveis interações com drogas antiarrítmicas e anti-hipertensivas não devem ser excluídas. Podem ocorrer também interações com drogas antidiabéticas, por causa do seu efeito hipoglicemiante.

Referências Bibliográficas: 1. Chantre P, Cappelaere A, Leblan D, et al. Efficacy and tolerance of Harpagophytum procumbens versus diacerhein in treatment of osteoarthritis Phytomedicine 2000 7(3): 177-83. 2. Jang MH, Lim S, Han SM, et al. Harpagophytum procumbens suppresses lipopolysaccharide-stimulated expressions of cyclooxygenase-2 and inducible nitric oxide synthase in fibroblast cell line L929, J Pharmacol Sci 2003; 93: 367-71. 3. Loew D, Möllerfeld J, Schrödter A, et al. Investigations on the pharmacokinetic properties of Harpagophytum extracts ad their effects on eicosanoid biosynthesis in vitro e ex vitro. Clin Pharmacol Ther 2001; 69: 356-64. 4. Fiebich BL, Heinrich m, Hiller KO, Kammerer N. Inhibition of TnF-alpha syntesis inLPS-stimulated primary human monocytes by Harpagophytum extract. Phytomedicine 2001; 8: 28-30. 5. Chrubasik S, Fiebich B, Black A, Pollak S. Treating low back pain with an extract of Harpagophytum that inhibits cytokine release. Eur J Anaesthesiol 2002 a; 19:209. 6. Huang TH, Tran VH, Duke RK et al. Harpagoside suppresses lipopolysaccharide-induced iNOS and COX-2 expression through inhibition of NF-kB activation. Journal of Ethnopharmacology 2006; 104: 149-55. 7. Kaszkin M, Beck KF, Koch E et al. Downregulation of iNOS expression in rat mesangial cells by special extracts of Harpagophytum procumbens derives from harpagoside-dependent and independent effects. Phytomedicine 2004; 11: 585-595. 8. Schulze-Tanzil G, Hansen C, Shakibaei M. Effect of a Harpagophytum procumbens DC extract on matrix metalloproteinases in human chondrocytes in vitro. Arzneim Forsch Drug Res 2004; 54(4): 213-20. 9. Chrubasik JE, Faller-Marquardt M, Chrubasik S Potential molecular basis of the chondroprotective effect of Harpagophytum procumbens Phytomedicine 2006 13: 598-600. 10. Lequesne M, Brandt K, Menkes C et al. Guidelines for testing slow acting drugs in osteoarthritis. J Rheum 1994;21 (41) :65-73. 11. Leblan D, Chantre P, Fournié B Harpagophytum procumbens in the treatment of knee and hip osteoarthritis. Four-month results of a prospective, multicenter, double-blind trial versus diacerhein Joint Bone Spine 2000 67: 462-7. 12. Brendler T, Gruenwald J, Ulbricht C, Basch E Devil s Claw (Harpagophytum procumbens DC): an evidence-based systematic review by the Natural Standard Research Collaboration Journal of Herbal Pharmacotherapy 2006 6(1): 89-126. 13. Chrubasik JE, Roufogalis BD, Chrubasik S Evidence of effectiveness of Herbal Antiinflammatory drugs in the treatment of painful Osteoarthritis and chronic low back pain Phytotherapy Research 2007 21: 675-83. 14. Stewart KM, Cole D The commercial harvest of devil s claw (Harpagophytum spp.) in southern Africa: The devil s in the details Journal of Ethnopharmacology 2005 100: 225-36. 15. Chrubasik S, Künzel O, Thanner J, et al. A 1-year follow-up after a pilot study with Doloteffin® for low back pain. Phytomedicine 2005; 12:1-9. 16. Chrubasik S, Chrubasik C, Künzel O, Black A Patient-perceived benefit during one year of treatment with Doloteffin®. Phytomedicine 2007; 14:371-6. 17. Gagnier JJ, Chrubasik S, Manheimer E Harpagophytum procumbens for osteoarthritis and low back pain: A systematic review. BMC Complementary and Alternative Medicine 2004 4(13): 1-10. 18. Chrubasik S, Eisenberg E Treatment of rheumatic pain with kampo medicine in Europe. Part 1. Harpagophytum procumbens The Pain Clinic 1999 11(3): 171-8. 19. Grant L, McBean DE, Fyfe L, Warnock AM A review of the biological and potential therapeutic actions of Harpagophytum procumbens Phytotherapy Research 2007 21: 199-209. 20. Warnock M, McBean D, Suter A, et al. Effectiveness and safety of Devil s Claw tablets in patients with general Rheumatic Disorders Phytotherapy Research 2007 21: 1228-33. 21. Chrubasik S, Model A, Black A, Pollak S A randomized double-blind pilot study comparing Doloteffin® and Vioxx® in the treatment of low back pain Rheumatology 2003; 42: 141-8. 22. Chrubasik S, Thanner J, Künzel O, et al. Comparison of outcome measures during treatment with the proprietary Harpagophytum procumbens extract Doloteffin® in patients with pain in the lower back, knee or hip Phytomedicine 2002; 9: 181-94.

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