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ArqViva, Ed02, 2012

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Há algo de podre no reino

da Dinamarca. E eles se

orgulham disso. Todos

os dias, 40% de todo o

lixo produzido na capital

Copenhague é transformado em biogás e

bioetanol, combustíveis que abastecem a

rede de aquecimento central da cidade e

permitem que seus habitantes espantem o

frio com a consciência limpa. Por ano, mais

de 800 mil toneladas de material orgânico

‒ como sobras de madeira e palha ‒ são

processadas com essa finalidade. Até 2025,

esse número será ainda maior. A construção

de uma nova usina de biomassa, com

maior capacidade de produção, é um dos

projetos de sustentabilidade que fazem

parte do Plano de Ação Climática CPH

2025, programa lançado recentemente

pelo governo dinamarquês e que pretende

fazer de Copenhague a primeira capital

carbono zero do mundo.

Condições para isso não faltam. A cidade

 já é considerada a Capital Verde da União

Europeia, segundo estudos desenvolvidos

pela Siemens, em 2009, e pelas Nações Unidas,

em 2011. A vocação para a sustentabilidade

pode ser confirmada antes mesmo de se

pisar em solo nórdico. Da janela do avião,

vê-se dezenas de turbinas eólicas fincadas

mar adentro, a poucos quilômetros da costa.

Esses gigantes brancos são responsáveis por

20% da energia consumida no país.

Toda essa consciência ecológica, claro,

não surgiu à toa. Nos anos 70, a crise do

petróleo implodiu os sonhos de crescimento

da Dinamarca, obrigando essa que é uma

das mais antigas monarquias do mundo

a buscar fontes alternativas de energia

e novos modelos de desenvolvimento.

Eficientes e criativos, os dinamarqueses

logo perceberam que a natureza poderia

ser a sua maior aliada e passaram a ado tar

políticas de incentivo ao uso da bicicleta

como meio de transporte, remodelando

as ruas e liberando a população do jugo

dos combustíveis fósseis. Foi nessa época

também que um grupo de hippies formou

a comunidade anarquista de Christiania,

uma área de 34 hectares repleta de casas

ecoeficientes, hortas orgânicas e ideais de

subsistência.

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 Projeto da nova usina de biomassa

 Amager Slope, do escritório de

arquitetura BIG: montanha arti cial vai

transformar lixo em energia.

Uma nova Copenhague

A partir dos anos 90, projetos derevitalização urbanística modificaram mais

uma vez a vida por lá e criaram novos bairros,

como o Orestad, que é considerado o primeiro

marco urbanístico dessa nova Copenhague.

Um concurso público lançado em 1994

escolheu um projeto finlandês, do escritório

Arkki, para planejar o crescimento de uma

área de 310 hectares na região sul que estava

deserta. A ideia era criar um centro comercial

e residencial que oferecesse novos conceitos

de estilo de vida e moradia, onde a natureza

pudesse ser inserida num contexto urbano.

A proposta do escritório vencedor foi criar

uma região na qual os prédios altos fossem

cercados por áreas verdes e os terrenos

que ainda estivessem vagos ocupados por

equipamentos públicos temporários, como

canchas de esportes, parquinhos ou praças.

Para os canais que cortam a região elesimaginaram um aproveitamento inteligente,

transformando-os em espaços de lazer e, ao

mesmo tempo, reservatórios pluviais.

A posição geográfica também deveria

reforçar os laços da capital com Malmo, na

Suécia, finalmente conectadas pela construção

de uma ponte de 16 quilômetros entre os

dois países, a mais longa estrutura desse

tipo na Europa.

Em 2000, os primeiros edifícios foram

inaugurados e hoje o distrito concentra

empresas, corporações, duas universidades

e a rede de comunicação nacional Danish

Broadcasting. Pelo menos 7 mil pessoas

vivem ali e outras 10 mil trabalham na região.

Nos próximos vinte anos, estima-se que os

residentes cheguem a 20 mil e a população

flutuante entre 60 e 80 mil.

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O telhado da usina de biomassa

 servirá como área de lazer e pista de patinação.

 Durante o inverno, a falsa montanha se

transformará em estação de esqui.

Rumo ao carbono zeroA proposta do programa CPH 2025 é ousada: reduzir 20%das emissões de dióxido de carbono até 2015 e garantir queaté o prazo final toda a energia venha de fontes limpas

Das 50 ações previstas para zerar a cota de emissão, 44 já estão

em andamento. O resultado é que pelos próximos treze anos

a cidade parecerá um grande canteiro de obras. Entre as medidas mais

importantes, está a instalação de 100 novas turbinas eólicas, o que au-

mentará em 50% a contribuição dos ventos para a eficiência energéti-

ca. O lixo responderá por outra importante fatia das reduções.

A nova usina de biomassa Amager Slope, na região de Orestad,

terá capacidade 20% maior que a planta atual. Mesmo obtendo a

energia de um processo de incineração do material orgânico, ela

emitirá entre 50 e 60 mil toneladas de dióxido de carbono a me-

nos na atmosfera, graças a sistemas especiais de filtragem. De suas

chaminés, círculos de fumaça limpa serão expelidos em intervalos

determinados de tempo. O que mais chama a atenção nesse proje-

to, porém, é a sua face externa. Concebida pelo escritório dinamar-

quês Bjarke Ingels Group (BIG) como uma espécie de montanha

artificial, 90 metros acima do solo, ela funcionará como um parque

aberto. Enquanto suas laterais farão o papel de jardins verticais, 

o telhado será transformado em uma pista de esqui.

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O governo dinamarquês lançourecentemente um plano de

ação climática para

reduzir aemissão de CO2 na capital. 

Um dos projetos previstos é aconstrução de uma nova usina

de biomassaque transforma o lixo gerado pelos

habitantes em combustível.

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CAPITAL DAS BIKES

Congestionamento de ciclistas:

diariamente mais de 35 mil pessoas

cruzam a cidade sobre duas rodas.

Vista da calçada, a hora do rush em Copenhague é um

espetáculo interessante. Nos horários de pico, nada menos

que 35 mil ciclistas cruzam as ciclovias centrais em direção a suas

casas, escola ou trabalho. Ao todo, 55% da população da cidade se

locomove assim, sobre duas rodas, percorrendo inacreditáveis 1,2

milhão de quilômetros todos os dias.

Mas quando são considerados os moradores das cidades vizinhas

e da região metropolitana, esse número cai para 37% de usuários. É

por isso que campanhas de incentivo ao uso das magrelas como meiode transporte jamais saem da pauta de prioridades da prefeitura: a

meta é transformar 50% da população da Grande Copenhague em

ciclistas ativos na próxima década.

Para isso, os 350 quilômetros de ciclofaixas e 40 quilômetros de

estradas cicláveis existentes serão expandidos em mais cem, garantindo

assim a integração com os bairros mais distantes e também com

outros municípios num raio de 50 quilômetros da capital. Quatro

novas pontes para ciclistas e pedestres serão construídas sobre

o canal que separa as regiões leste e oeste, facilitando a vida de

quem vai do centro histórico para a moderna região das docas em

Christianshavn. A sinalização exclusiva para ciclistas será melhorada,

com a sincronização de semáforos em favor de quem pedala. Comoeliminar os carros é impossível, nós vamos promover soluções cada

vez melhores para os ciclistas, criando verdadeiras autopistas, afirma,

animado, o diretor-executivo do projeto climático, Jorgen Abildgaard.

Com tudo isso, fica fácil entender por que Copenhague foi eleita

cinco vezes seguidas como a mais bike friendly do mundo pela União

Internacional dos Ciclistas. Recebendo hordas de urbanistas ávidos

para estudar seu modelo de transporte, a cidade deu até origem ao

verbo copenhagenizer , que em inglês significa estimular e viabilizar

o uso de bicicletas.

A bicicleta é o meiode transporte de 55% 

da população da cidade.1,2 milhão de quilômetros é quantoos copenhaguenses pedalam por dia

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Os prédios residenciais exibem a mistura

tão desejada e incentivada no Plano Diretor

de unir forma e função à arte. Diversos deles

foram premiados e alguns já são considerados

referências da arquitetura moderna, como

a Universidade IT, o residencial 8Tallet e o

 VM Mountain.

O recém-inaugurado Bella Sky Comwell,

projetado pelo escritório 3XN para abrigar o maior

hotel da Escandinávia, por exemplo, reúne 812

quartos em duas torres de 23 andares cada, sem

que nenhuma das janelas tenha vista obstruída.

Como um casal dançando, cada uma das torres

se projeta em direções opostas, criando nessa

figura escultural uma abertura que assegura a

vista, a ventilação e a boa iluminação interna,

apesar da proximidade entre elas.

Na residência universitária Tietgen Hall, dos

arquitetos Lundgaard & Tranberg, 360 estúdios

foram agrupados em cinco andares, num prédio

de forma circular que se integra perfeitamente à

paisagem verde recortada por canais. Inspirado

nas edificações chinesas tulou, caracterizadas

pela forma de arena que estimula o senso de

coletividade, todas as unidades têm vista para

os canais ou para o pátio interno, onde está a

área de convívio social e jardim.

Do outro lado da cidade, o bairro de

Nordhavn deve seguir o mesmo caminho.

A área industrial e portuária é alvo do maior

projeto de desenvolvimento metropolitano em

andamento em toda a Escandinávia. A proposta,

tão visionária quanto a de Orestad, é criar uma

espécie de comunidade sustentável do futuro.

As casas serão projetadas para emitir o menor

índice de CO² possível. Serão abertos canais e

píeres, além de passarelas sobre as águas para

colocar a população em contato com a natureza

e incentivar os passeios a pé e de bicicleta.

 Projeto dos arquitetos do escritório

 Lundgaard & Tranberg oferece vista

 privilegiada para os canais de Copenhague ou

 para o jardim cultivado no pátio interno.

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ANFITRIÃEXEMPLARMesmo sem saber, os turistas que visitam

Copenhague também colaboram com

as políticas ambientais. Atualmente, 63% de todos

os quartos de hotel são verdes. Ou seja, exibem

certificados de sustentabilidade indicando que oestabelecimento reaproveita água, usa fontes de

energia limpa e servem alimentos sem agrotóxicos.

A alimentação orgânica, aliás, é assunto de estado

por lá. Pelo menos 68% de todos os alimentos e bebidas

servidos nas escolas e instituições públicas têm selo

verde. Pelas ruas, essa política também é evidente.

Restaurantes, cafés e até mesmo barraquinhas de

cachorro-quente exibem orgulhosos seus menus à

base de ingredientes frescos e livres de pesticidas.

O BIOMIO é um dos mais aficionados entre

eles. Instalado na antiga região dos açougues e

abatedouros, Vesterbro, o restaurante garante que

é 100% orgânico. Por lá, desde alimentos, bebidas

e produtos de limpeza, passando pelo tecido usado

na confecção dos uniformes, até a t inta das paredes,

tudo é biodegradável e tem origem certificada.

O restaurante BioMio é um espelho

da nova Copenhague: instalado

no antigo bairro dos abatedouros

(Kødbyen), oferece alimentos orgânicos

em um ambiente irretocável.

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 TURISMO ARQUITETÔNICO

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Black DiamondInaugurada em 1999, essa extensão

da Biblioteca Real desenhada pelos

arquitetos Schmidt, Hammer e Lassen

recebeu esse nome graças à sua

fachada de vidro preto que reflete a

água do mar e a faz brilhar.

The Royal DanishPlayhouse

Concebido pelos arquitetos

Lundgaard e Tranberg, o prédio

serve ao teatro e complementa

o complexo da Opera House, em

frente. Seu projeto foi premiado pela

RIBA European Award, em 2008.

Endereços imperdíveis para quem quer conhecer o melhor da arquitetura local

The Danish Design CentreOutro projeto de Henning Larsen,

inaugurado em 2000, é um centro de

apoio e pesquisa ao design que reúne

exposições imperdíveis de grandes

nomes da história, como Verner

Panton, ou novidades, como novos

materiais e suas aplicações.

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The Opera House

Também à beira do canal central, a estrutura imaginada pelo

arquiteto Henning Larsen soma 41 mil metros quadrados, parte deles

subterrâneos. Sua fachada combina mármore, calcário e vidro e seu

interior conta com obras de artistas nórdicos, como Olafur Eliasson.

ITU BuildingO prédio é um dos símbolos do

novo bairro de Orestad. Com 19 mil

metros quadrados e cinco andares, é

banhado por luz natural graças a sua

configuração em H.

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The VM HousesEsse conjunto residencial, construído

em Orestad pelo grupo Bjarke Ingels,

realmente parece uma montanha habitada.

Seus 10 andares escalonados reúnem 80

unidades, todas com jardins particulares.

Radisson Blu

Royal HotelDesenhado por Arne

Jacobsen, em 1960, o hotel

é uma espécie de Meca para

os amantes do design. Foi

para decorar os seus salões,

quartos e hall que o arquiteto

criou as poltronas Egg e Swan.

8TalletTambém em Orestad, esse complexo

residencial do escritório BIG foi premiado

como melhor projeto de moradia pelo Festival

Mundial de Arquitetura, em 2011.

Danish Centre of ArchitectureInstalado num antigo casarão na região das docas,

em Christianshavn, reúne exposições e um acervo

de toda a história da arquitetura dinamarquesa.

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Cultura e qualidade de vidaA revitalização da cidade trouxe tam-

bém novas atrações culturais em zonas

antes abandonadas. A Biblioteca Real The

Black Diamond ganhou um moderno pré-

dio no porto central. O nome faz referência

à fachada de vidros pretos. No interior do

prédio está a maior coleção de gravuras e

fotografias históricas do país, com cerca de

200 mil peças, além de áreas de lazer, cafés

e restaurante. A poucos passos de distância,

outras duas construções de tirar o fôlego: a

Playhouse (casa da Companhia de Teatro

Real Dinamarquesa) e a Opera (que abriga

as companhias de balé e ópera do país).

Até as águas frias do mar Báltico, que

banham a capital e correm por seus canais,

passaram por um processo de despolu-

ição. Antes contaminado por resíduos das

indústrias instaladas às suas margens e por

boa parte do antigo esgoto da cidade, o

porto foi revitalizado em 2002, quando

todo o sistema foi modernizado. Hoje, os

600 mil moradores da região podem se

orgulhar de ter uma praia limpa, com vida

marinha e própria para banho. Piscinas

foram construídas no principal canal, que

corta a cidade ao meio e curiosamente é

chamado pelos copenhaguenses de porto.

Amager, Islands Brygge e Copencabana

(um trocadilho com o nome da famosa

praia brasileira) reúnem áreas de lazer,

areia, cadeiras e toda a estrutura necessária

para quem deseja nadar, compondo uma

das principais opções de lazer no verão. As águas limpas (e geladas)

do mar Báltico enchem cinco piscinas

na “praia” de Islands Brygge.

A partir dos anos 90, projetos

de revitalização urbanística transformaram a cidade e

criaram novos bairros, como o Orestad,que é considerado o primeiro marco

urbanístico da nova Copenhague.

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