Arte Africana Mascaras

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ARTE AFRICANAEm lugar de negar-lhes a histria faramos melhor se ouvssemos as histrias que tm para contar. E quando o fizermos possvel que suas artes venham a ser, no as 'artes dos povos sem histria, mas sim as 'artes dos povos com outras histrias'. Sally PriceA frica desempenhou um importante papel na Histria da Humanidade, uma vez que, neste continente foram encontrados os primeiros vestgios do ser humano na terra. Atravs desta constatao fica evidente que as produes artsticas dos diversos povos africanos, uma das mais antigas do mundo. A arte africana possui caractersticas que lhes so peculiares. A obra aparece como um bem coletivo til e sagrado, no qual est inserido no cotidiano das pessoas que a produz; o belo deve ser apreciado por todos; e no por um grupo seleto, como acontece na sociedade ocidental. A arte ocidental uma criao individual, em que o artista tem que expressar toda sua individualidade para se destacar dos demais. As caractersticas to singulares da arte africana fizeram com que durante muito tempo ela fosse vista pelo ocidente como uma "arte inferior". No se considerou o fato de que a arte por ser produo humana, diversa. Os ocidentais analisavam a obra de arte africana dentro dos seus prprios parmetros, dentro da sua concepo do "belo universal".

MSCARAS AFRICANASAs Mscaras nas comunidades africanas, geralmente esto ligadas a rituais religiosos, de guerra, de fertilidade da terra e at mesmo de entretenimento, elas so criadas para serem vistas em movimento. Diferentemente das mscaras da sociedade ocidental, para as comunidades africanas toda a indumentria que cobre o corpo do mascarado considerada mscara; e geralmente so os homens quem danam mascarados. Quando esculpidas, as mscaras africanas no representam fielmente rostos humanos como em outras sociedades; e sim, nas suas representaes elas vo transcender o plano terreno, elas so produzidas de forma que se perceba a sua ligao com o sobrenatural, com o divino. Mas, para as mscaras alcanarem o seu significado aqui na terra, elas precisaro do corpo humano, o corpo desse ser que ir intermediar essa relao entre o mundo fsico e o no fsico. As mscaras africanas geralmente so esculpidas em madeira, a sua confeco passa por rituais desde a escolha de quem vai confeccion-la at o ritual de purificao pelo qual o escultor ir passar, para que possa a partir da, nascer uma nova mscara em substituio de outra. Quando essas mscaras esto expostas em algum museu, toda essa sacralidade no visvel aos olhos do pblico, as pessoas s podem observ-las enquanto escultura, mas, a esttica dessa escultura tem algo de diferente.

Mscaras Sociedade Geled:Dentre os vrios rituais em que so usadas as Mscaras Africanas, est o ritual da Sociedade Geled, sociedade esta, composta e presidida apenas por mulheres a partir dos quarenta anos. Os rituais dessa sociedade acontecem na regio que atualmente se encontra a Nigria, que uma regio yorub. A Sociedade Geled composta por mulheres acima da idade da menopausa. Elas so consideradas Iyami, nossas mes. Como tal so temidas como aje (feiticeiras). As pragas duma me so as mais temidas nas sociedades Yorub. O poder das mulheres mais velhas na Sociedade Yorub essencialmente ligado a menopausa. A menstruao concebida como o poder generativo da mulher. Nessa concepo, o sangue da menstruao leva todas as impurezas perigosas para fora da mulher. Quando a menstruao pra, esse sangue guardado dentro da mulher formando

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um reservatrio de poder antigerativo e anti-conceptivo, ou seja, o poder de destruir, jogar pragas e fazer feitios. A Sociedade Geled mais forte na regio Ketu que estende para os dois lados da fronteira entre o Benin e a Nigria. Portanto, a Sociedade Geled faz referncia ao poder feminino ancestral. Diferentemente da sociedade ocidental, tambm se percebe que a Mulher na sociedade africana tem papel de destaque, pois para essas comunidades, a mulher o ser que gera a vida. Sem o poder feminino que tem a mulher, sem o princpio de criao no brotam plantas, os animais no se reproduzem, a humanidade no tem continuidade. Logo, o princpio feminino o princpio da criao e preservao do mundo: sem a mulher no existe vida, devendo por isso a mulher ser reverenciada e neste culto Gldes temos representada a relao com a reverncia que os homens tm para com as mulheres, j que somente elas criam, transformam, modificam, as coisas. Devido ao temor, prestgio e respeito que as mulheres da Sociedade Geled possuem nas comunidades yorubanas, nos rituais em que so utilizadas as mscaras, quem danar mascarado sero os homens. evidente que no continente africano so diversos os rituais em que as Mscaras so utilizadas. Um dos fatos mais importante que atravs da estrutura poltica e dos rituais dos mascarados na Sociedade Gueled, fica explicito a importncia da mulher para as comunidades yorubs na frica. Trazendo esse aspecto para o contexto brasileiro, em que se instituiu uma sociedade patriarcal e crist que por sua vez, se tornou uma sociedade machista, fazendo com que em pleno sculo XXI o machismo ainda impere na sociedade brasileira, percebe-se que nas Comunidades Religiosas de Matriz Africana ainda se preserva o respeito e a admirao pela Mulher. So as mulheres que quase sempre presidem esses Terreiros, ainda so elas as responsveis pelos saberes e ensinamentos ancestrais; e a relao que elas estabelecem com os homens no uma relao de superioridade, mas, sim, de complementaridade entre os dois gneros. No Brasil no ir se encontrar rituais com mscaras idnticos aos do continente africano, mas pode-se perceber que h algumas releituras desses rituais, especialmente na Bahia com o Folguedo Zambiapunga da cidade de Nilo Peanha e o Candombl dos Egunguns na Ilha de Itaparica. Mesmo considerando que os povos que deram origem a essas duas manifestaes cultural e religiosa so de lugares diferentes da frica, h semelhanas entre ambas. As duas fazem rituais em homenagens aos seus antepassados e as pessoas que compem os rituais esto mascaradas. Fica explicito que essas manifestaes brasileiras, cada uma, com as suas peculiaridades, esto muito prximas dos rituais africanos em que so usadas as mscaras.Fonte de consulta: FERREIRA, Luzia Gomes. AS MSCARAS AFRICANAS E SUAS MLTIPLAS FACES. Anais Eletrnicos II Encontro Estadual de Histria ANPUH-BA: Historiador a que ser que se destina?: Dilemas e perspectivas na construo do conhecimento histrico. Feira de Santana: Universidade Estadual de Feira de Santana, 2004.

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