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1 Síntese das Artes e cultura urbana. Relações entre arte, arquitetura e cidade. Autor: Fernanda Fernandes Formação : arquiteta, doutora em história pela FFLCH-USP, atualmente é professora de história da arquitetura na FAUUSP e desenvolve pesquisa sobre arquitetura moderna com ênfase na relação arte e arquitetura. Endereço: Rua Batatais 523, AP.112 01423010 – São Paulo - SP Fone/fax: (11) 38856382 e-mail: [email protected]

Arte e industria

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Arte e industria, trata da relação da modernidade nas artes e a questão da industrialização

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    Sntese das Artes e cultura urbana. Relaes entre arte, arquitetura e cidade.

    Autor: Fernanda Fernandes

    Formao : arquiteta, doutora em histria pela FFLCH-USP, atualmente professora de histria da arquitetura na FAUUSP e desenvolve pesquisa sobre arquitetura moderna com

    nfase na relao arte e arquitetura.

    Endereo: Rua Batatais 523, AP.112 01423010 So Paulo - SP Fone/fax: (11) 38856382

    e-mail: [email protected]

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    Sntese das Artes e cultura urbana. Relaes entre arte, arquitetura e cidade.

    Resumo

    O Congresso da AICA de 1959 pode ser considerado o ltimo momento em que um grupo significativo de intelectuais se detm sobre o tema da sntese das artes que aglutinou, num momento de dvidas e incertezas em relao s tendncias racionalistas da Europa do entre-guerras, os esforos de crtica e reflexo voltados para a busca de novas solues para os problemas da arquitetura e da cidade. Debate que se inicia durante a segunda guerra mundial acaba por estabelecer conexes entre sntese das artes, monumentalidade e centro cvico, propondo novas diretrizes para a cultura arquitetnica, visando humanizao do espao urbano em contraposio a um estreito funcionalismo.

    A inteno deste trabalho refletir sobre este debate a partir dos argumentos colocados por alguns dos participantes do Congresso de 1959, como Bruno Zevi, Alberto Sartoris e Meyer Schapiro, focalizando especialmente os espaos pblicos, como lugares que possibilitam associaes e permitem vnculos de pertencimento dos habitantes com o lugar. Nesse sentido a noo de monumento como marco de referncia urbana, recuperada por Giedion, Sert e Leger em texto de 1943, seria o elemento responsvel por possibilitar o dilogo entre arte, arquitetura e vida urbana, j que a nova monumentalidade cvica proposta com base na colaborao entre pintores, escultores, arquitetos e urbanistas.

    Esta relao entre centro cvico e sntese das artes j tinha sido estabelecida pelo VIII CIAM de 1951, que se voltava para o tema do corao da cidade e enfatizava a relao entre espao pblico e obra de arte. O centro cvico era visto, portanto, como local privilegiado da cidade, pois abrigaria as obras de arte, os monumentos e os edifcios pblicos, constituindo-se em espao representativo de uma dada comunidade.

    Estas proposies do CIAM, que repercutem nas falas dos participantes do Congresso de 1959, antecipam muitos dos temas que ocupam a ateno do campo arquitetnico nas dcadas seguintes, voltado para a reflexo sobre a condio do homem frente nova dimenso da vida urbana e as possibilidades de organizao social do seu espao de vida.

    Palavra chave: sntese das artes, monumentalidade, centro cvico.

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    Sntese das Artes e cultura urbana. Relaes entre arte, arquitetura e cidade.

    O Congresso da AICA de 1959 pode ser considerado o ltimo momento em que um grupo significativo de intelectuais se detm sobre o tema da sntese das artes que aglutinou, num momento de dvidas e incertezas em relao s tendncias racionalistas da Europa do entre-guerras, os esforos de crtica e reflexo voltados para a busca de novas solues para os problemas da arquitetura e da cidade. Nas falas de alguns dos participantes do Congresso de 1959 so retomadas idias e conceitos que a partir da segunda guerra e estendendo-se pela dcada de 1950 estiveram na pauta dos diversos congressos realizados no perodo, inclusive dos Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna realizados no ps-guerra, que enfrentaram novos temas, como centro cvico, espao pblico e arte pblica.

    Os argumentos colocados por Bruno Zevi, Alberto Sartoris e Meyer Schapiro, durante o congresso de 1959, retomam aspectos especficos da polmica sobre a sntese das artes, que foi marcada por vrios enfoques, durante o sculo XX. As trs personalidades escolhidas para funcionar como base ou pretexto para anlise distinguem-se pelas diferentes formaes, resultando em abordagens especficas. Dentre elas, a que se mantm mais constante durante a primeira metade do sculo XX o da unidade entre as artes, que retomado pelo historiador e crtico da arte Meyer Schapiro que alm de assinalar sua matriz prpria do sculo XIX, aproxima-a da noo de estilo.

    Schapiro acrescenta que se a unidade entre as arte foi possvel em situaes de uniformidade de intenes, ou seja, em pequenas comunidades homogneas, talvez esta inteno j no possa se concretizar na situao contempornea, j que esta caracterizada pela divergncia de opinies e pela pluralidade de aspectos. Observa que a sociedade contempornea marcada pela dimenso tecnolgica e econmica se caracteriza pela crescente especializao do conhecimento que conduz a transformao constante da vida humana no sentido do isolamento e da profissionalizao. Desta forma coloca o primeiro questionamento sobre a pertinncia da retomada do tema da sntese das artes ao findar da dcada de 19501.

    Meyer Shapiro identifica que a pintura e a escultura so raras nos projetos dos arquitetos modernos e assinala como possveis causas uma reao contra a esfera monumental e simblica da arte do sculo XIX e tambm a restaurao da tradio monumental pelos estados totalitrios hostis arte moderna. Admite tambm como elemento definidor dessa ausncia a prpria esttica da arquitetura moderna, definida por processos e elementos bsicos que buscam alcanar a conciso das formas estruturais.

    1 Meyer Schapiro A pintura e a escultura no contexto urbanstico e arquitetnico. Comunicao apresentada na

    sesso temtica Artes Plsticas, So Paulo 21 de setembro de 1959, in Anais do Congresso Internacional Extraordinrio de Crticos de Arte. Braslia So Paulo Rio de Janeiro, 17 a 25 de setembro de 1959, p.78

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    A seguir o crtico coloca novas indagaes - porque em diferentes momentos histricos o tema da sntese das artes retomado? Afinal a que ela se contrape, ou melhor, o que procura resgatar. ainda Schapiro quem fornece algumas pistas. Observa que o tema da sntese das artes se repetiu de forma constante como qualidade da arte atravs dos sculos XIX e XX, colocando-se muitas vezes como crtica sociedade moderna exatamente por nela constatar uma falta de unidade e ordem, ou ainda como julgamento do carter de nossa sociedade e assim se posicionando a partir de elementos exteriores ao campo da arte, na tentativa de dar nova forma a nossa vida e no apenas nossa arte.

    A aproximao entre arte e vida, assinalada por Schapiro, o aspecto central da moderna concepo de sntese das artes proposta pelas vanguardas artsticas do incio do sculo XX, como o neoplasticismo, o construtivismo russo e a Bauhaus, que a partir de sua dimenso utpica buscam transcender as separaes entre pintura, escultura e arquitetura.

    Na Bauhaus, considerada como cmara de decantao das vanguardas europias, a unidade das artes ser forjada a partir do ideal de uma grande obra coletiva, transformadora dos modos da arte e da organizao social a ela correlata. No manifesto de fundao da Bauhaus, a adeso obra de arte total (gesamtkunstwerk) direciona um trabalho conjunto em que a arquitetura exerce papel fundamental como smbolo de uma espiritualidade nova e universal, a partir da qual se d a reunificao das disciplinas artsticas erguidas como grande construo. A cooperao entre as artes proposta a partir do canteiro, onde arquitetos, escultores e pintores trabalhariam em conjunto com marceneiros, pedreiros, carpinteiros para a criao de uma obra coletiva, que toma como modelo a catedral, como a imagem renovada de catedral do futuro, catedral do socialismo e assim propondo a unidade entre arte e poltica2.

    Frente s destruies causadas pela I Guerra Mundial, as propostas da Bauhaus tm por finalidade a transformao da arte e da vida social. Trata-se da recuperao de um idealizado canteiro medieval e de um trabalho participativo moldado pela colaborao dos diferentes fazeres artsticos que se do em consonncia com os desejos da comunidade revelando a nostalgia de passadas comunidades harmnicas irremediavelmente desfeitas pelas mudanas trazidas pela civilizao industrial, que tambm promove a guerra. O desconforto se revela na mudana de paradigma mquina tomada como modelo e diretriz pelo racionalismo das duas primeiras dcadas do sculo se sobrepe a catedral, como smbolo unificador, num momento de inflexo dos valores sociais em que so retomadas as vozes de um humanismo que titubeia frente nascente sociedade de massa.

    2 Walter Gropius Discorso agli studenti del Bauhaus (1919),in De Benedetti, Mara/Pracchi, Attilio (org) Antologia dell

    architettura moderna. Testi, manifesti, utopia. Bologna, Zanichelli Editore, 1988, pp. 541-42.

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    De raiz romntica, referida msica e pera na concepo de Richard Wagner3, a obra de arte total vai manter estreitas relaes com o teatro no aspecto de concepo conjunta da obra, com a participao de diferentes linhagens artsticas e tambm na relao da encenao com o espectador e de maneira ampliada do indivduo com a sociedade4. Esta relao entre arte e vida tambm se expressa na Arts & Crafts de William Morris, responsvel pela ampliao do conceito de arquitetura, e propondo uma arte que se estendesse a todas as esferas da sociedade, fazendo parte dos objetos de uso quotidiano e do ambiente da vida, desta forma o movimento busca na revalorizao do artesanato um caminho de crtica civilizao industrial e ao alienante trabalho na indstria.

    A sntese das artes encontrar os seus principais proponentes em territrio francs, no crculo de arquitetos e artistas que gravitam na esfera de Le Corbusier como Fernand Lger e Andre Bloc. O pintor Fernand Lger um entusiasta da relao arte e arquitetura e prope o colorismo e os murais como forma de tornar a arte acessvel s pessoas da rua e tambm atribu cor a capacidade de transformar os cinzentos bairros industriais das grandes cidades, tornando-os mais agradveis e propiciando um ambiente adequado para vida de seus habitantes5. Os murais na arquitetura e o uso da cor, com todas as potencialidades que lhe so conferidas a partir dos estudos de seus efeitos no espao e no psiquismo humano, passam a identificar a soluo mais usual de sntese das artes, na relao entre arte, arquitetura e ambiente urbano.

    Na prpria obra arquitetnica de Le Corbusier se revela sua paulatina adeso sntese das artes, em que sua atividade como pintor alimenta a prpria concepo espacial e tambm nela se insere atravs de painis e elementos esculturais realizadas pelo prprio arquiteto. A reflexo sobre a sntese das artes tambm aparece nos textos sucessivos do arquiteto, que enquanto esclarecem sobre os princpios norteadores da moderna arquitetura da civilizao da mquina tambm elegem a sntese das artes maiores, como qualificadora dessa mesma arquitetura6. A proximidade entre Le Corbusier e Leger, possibilita que este ltimo participe do IV Congresso CIAM (1933), quando apresenta seu texto A parede, o arquiteto, o pintor, para a platia de arquitetos que participa do congresso que ir definir os princpios da Carta de Atenas, expondo suas reflexes sobre o uso da cor na arquitetura e propondo o trabalho conjunto de arquitetos e pintores Em 1936 o debate sobre a colaborao entre as artes ganha novo impulso em Paris com a criao da associao Unio para a Arte, por iniciativa de Andr Bloc que desde os anos trinta dirigia a revista Larchitecture d Aujourdhui, que se torna um dos 3 Richard Wagner A Obra de Arte do Futuro. Lisboa, Antgona, 2003.

    4 O tema tratado por Filiberto Menna em seu livro Profezia di una Societ Esttica. Roma, Officina Edizioni, 1983.

    5 Fernand Leger desenvolve o tema nos seguintes textos A arquitetura moderna e a cor ou a criao de um novo

    espao vital/ Um novo espao para a arquitetura, publicados em Fernand Lger Funes da Pintura, Lisboa-So Paulo, Bertrand/Difel, s/d, pp.99-103 e 123-25.

    6 Ver principalmente os textos de Le Corbusier - A Arquitetura e as Belas-Artes (1936), in Revista do Patrimnio

    Histrico e Artstico Nacional n.19, 1984, p.53-68. e Canteiro de Sntese das Artes Maiores (1952), in Ceclia Rodrigues dos Santos et al. Le Corbusier e o Brasil. So Paulo, Tessela / Projeto Editora, 1987, p.239-241.

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    principais veculos de divulgao dos debates e da produo da sntese das artes. Na dcada de 1950, Andr Bloc ir constituir o Groupe Espace, responsvel por constantes pesquisas pictricas e esculturais de integrao com a arquitetura.

    Com a aproximao da II Guerra Mundial o centro do debate ir se deslocar para Nova York, onde se refugiam vrios artistas e arquitetos europeus, entre eles Fernand Leger que ali entra em contato com Sigfried Giedion e Joseph Luis Sert, pertencentes ao crculo de Le Corbusier e ao CIAM7. A partir desse encontro ser elaborado o manifesto Nove Pontos sobre a Monumentalidade - que se tornar paradigmtico para as posteriores discusses que acontecem ao findar da II Guerra ainda no mbito dos CIAM, que retomam suas atividades em 1947, tendo como presidente J.L. Sert e como secretrio S.Giedion.

    Os Nove Pontos iro retomar o conceito de monumento, considerado como elemento de representao dos ideais sociais de um povo e fator integrador da conscincia coletiva e fundamentais na tarefa proposta para o ps-guerra de abordar os aspectos da vida cvica e coletiva da cidade. Os meios para atingir a nova monumentalidade cvica se dariam a partir da colaborao entre paisagistas, pintores, escultores, arquitetos e urbanistas. Nesse sentido a noo de monumento como marco de referncia urbana seria o elemento responsvel por possibilitar o dilogo entre arte, arquitetura e vida urbana, focada nos espaos pblicos como lugares de encontros da coletividade. No ps-guerra, esses valores ligados a noo de pertencimento a um lugar e de coeso de um dado grupo sero estendidos dimenso dos centros cvicos, estabelecendo a relao entre espaos urbanos e vida social, onde a arte pblica aparece como fator de humanizao desses espaos.

    O manifesto foi publicado apenas quinze anos mais tarde no livro de Giedion Architecture, you and me.8 Contudo os textos especficos de Giedion e Sert, que serviram de base ao manifesto, respectivamente The need for a new monumentality e The human scale in city planning9 foram publicados em 1944 numa coletnea organizada por Paul Zucker. Em seu texto, Sert defende a primazia de um centro urbano com caractersticas cvicas e culturais, propondo que os planos das cidades deveriam ser orgnicos e centralizados a partir de uma hierarquia de relaes desde a unidade residencial, at o bairro e a cidade, aglutinadas em relao ao centro cvico, considerado como quinta funo em relao s quatro funes anteriormente propostas pela Carta de Atenas. Assim, a sntese das artes articulada ao urbanismo do CIAM contribui para a incluso desta quinta funo cvica.

    7 O ambiente cultural americano do perodo e a insero dos artistas e arquitetos europeus em Nova York, assim

    como a situao e referncias para a elaborao do manifesto Nove Pontos sobre a Monumentalidade, redigidos por Leger, Giedion e Sert so narrados minuciosamente por Joan Ockman no seu texto Los Aos de la guerra: Nueva York, Nueva Monumentalidad, publicado em Xavier Costa e Guido Hartray (editores) Sert. Arquitecto en Nueva York. Barcelona, Museu dArt Contemporani, 1997, pp.23-45.

    8 Para a elaborao deste trabalho foi usado o texto publicado em Sigfried Giedion Arquitectura y Comunidad. Buenos

    Aires, Ediciones Nueva Visin, 1963, p.51-53.

    9 Jos luis Sert The Human Scale in City Planning, publicado em Paul Zucker(org) New architecture and city planning:

    a symposium. New York, Philosophical Library, 1944, p.392-412.

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    O tema ser recorrente nos CIAM do ps-guerra Bridgwater (1947), Bergamo (1949), Hoddesdon (1951), neste ltimo a idia de centro cvico se orienta para a metfora do corao da cidade, que revelava a preocupao de Sert e Giedion com a humanizao frente ao acentuado funcionalismo das realizaes urbansticas e arquitetnicas do entre guerras. Neste sentido, o corao da cidade proposto como local da espontaneidade, da diversidade, e da vida social cotidiana.

    O texto de Sert, que abre o VIII CIAM de 195110 retoma o conceito de polis que na sua origem no apenas um conjunto de habitaes, mas sim o lugar que possibilita a reunio dos cidados, enquanto dotado de espaos destinados s funes pblicas. sobre as caractersticas desses espaos, que Sert desenvolve a maior parte de suas reflexes, tomando inicialmente como referncia as praas italianas, por serem historicamente espaos que propiciaram a sociabilidade urbana. Para a caracterizao dos centros cvicos, os estudos se estendem do campo urbanstico ao arquitetnico, observando os aspectos da arquitetura moderna que deveriam ser utilizados nos edifcios pblicos, elementos centrais na constituio dos centros cvicos.

    Apoiando-se na idia - a necessidade do suprfluo to velha como a humanidade11, Sert questiona a tendncia racionalista da arquitetura da dcada de 1920, que tinha como inteno essencial exprimir a pura funo prtica. Como alternativa prope uma arquitetura mais completa em que a cor, a natureza dos materiais e os valores plsticos desempenham um importante papel. Acrescenta ainda que a colaborao entre as artes fator fundamental que alimenta a expresso plstica da arquitetura e dos grupos de edifcios pblicos e dos espaos livres que constituem o corao da cidade. O tema da integrao das artes maiores proposta por Le Corbusier se torna tema fundamental na constituio dos centros cvicos para a comunidade, evocando uma arte pblica, acessvel a todos ... para suscitar o interesse visual do pblico, que lhe traga prazer, entenda o seu significado e a julgue12. Assim, a sntese das artes conflui para a dimenso urbana. A exposio de Alberto Sartoris durante o Congresso de 1959 ir recolocar esse aspecto da discusso a partir do centro cvico, mostrando que o debate tinha se estendido at o final da dcada de 1950, embora revelasse sinais evidentes de desgaste, pois na sua fala pouco acrescenta s formulaes anteriormente feitas pelos CIAM. Assim, Sartoris identifica o centro cvico como ncleo vital da cidade nova, que abrigaria os monumentos, os edifcios pblicos e as obras de artes, tornadas elementos cotidianos da vida urbana. Assinala a esfera urbana como dimenso onde aparece interligadas a arte e a arquitetura e tambm os aspectos da tcnica, da economia e da sociologia, todas

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    J.L.Sert Centri per la vita della comunit, in E.N.Rogers; J.L.Sert; J.Tyrwhitt Il cuore della citt. Per una vita pi umana delle comunit. Congressi Internazionali de Architettura Moderna. Milano, Hoepli Editore, 1954, p.3-16.

    11 J.L.Sert Centri per la vita della comunit, op.cit. p. 14

    12 J.L. Sert Centri per La vita della comunit, op.cit p.16

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    confluindo na concepo do fenmeno urbano, funcionando o urbanismo como elemento aglutinador das diferentes instncias envolvidas13.

    O historiador da arquitetura italiana Bruno Zevi ir se manifestar indicando como problema central da poca contempornea o cisma entre grandes progressos tecnolgicos e as necessidades interiores do ser humano. O avano da civilizao mecanicista tinha sido objeto de constantes reflexes, sobre a condio do homem na situao metropolitana e neste aspecto, a sntese das artes tinha sido explorada como elemento promotor de identificao e prazer esttico contribuindo para a humanizao do espao urbano, tornando-o favorvel vida coletiva. Zevi esclarece que a dinmica das estruturas urbanas foi sempre garantida, ao longo da histria, pela consonncia ou pela identidade das concepes urbansticas e arquitetnicas, constituindo um todo orgnico e favorvel vida do homem. Contudo, se mostra descrente em adotar a sntese das artes como fator que contribusse para uma nova configurao urbana, pois acredita que as experincias avanadas nesse sentido se mostraram insatisfatrias, demarcando o esgotamento da proposta. 14

    Ao contrrio de Zevi, vrios participantes do congresso se posicionam favoravelmente sntese das artes. o caso de Andr Bloc, que tinha se dedicado ao tema atravs de constantes experincias, na elaborao de obras e na constituio de associaes. Durante o congresso de 1959, Bloc ir relembrar os resultados positivos de trabalhos elaborados em conjuntos por arquitetos, pintores e escultores, entre eles obras significativas da arquitetura moderna brasileira como a Igreja da Pampulha de Oscar Niemeyer e o Conjunto Residencial de Pedregulho, projeto de Afonso Eduardo Reidy. A arquitetura moderna realizada no Brasil devedora das formulaes propostas por Le Corbusier em relao sntese das artes e neste sentido importante identificar os vrios aspectos que convergem para esse conceito. Atravs das vrias inflexes tomadas pelo tema da sntese das artes possvel colher as contradies e dificuldades do projeto moderno, que no se detendo na pura racionalidade e funcionalismo a que muitas vezes reduzido revela a sua interna complexidade.

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    Alberto Sartoris A Colocao dos monumentos pblicos na cidade nova . Comunicao apresentada na sesso temtica Arquitetura, Braslia, 19 de setembro de 1959, in Anais do Congresso Internacional Extraordinrio de Crticos de Arte. Braslia So Paulo Rio de Janeiro, 17 a 25 de setembro de 1959, p.53-57

    14 Bruno Zevi Da dinmica das estruturas urbansticas.Comunicao apresentada na sesso Urbanismo , Braslia, 18

    de setembro de 1959, in Anais do Congresso Internacional Extraordinrio de Crticos de Arte. Braslia-So Paulo- Rio de Janeiro, 17 a 25 de setembro de 1959.

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    Referncias Bibliogrficas

    ANAIS do Congresso Internacional Extraordinrio de Crticos de Arte. Braslia - So Paulo - Rio de Janeiro, 17 a 25 de setembro de 1959.

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