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1 ARTE, OBJETO ARTÍSTICO, DOCUMENTO E INFORMAÇÃO EM MUSEUS Lena Vania Ribeiro Pinheiro Professora/pesquisadora do Programa de Pós-Graduação de Ciência da Informação, IBICT/CNPq, ECO/UFRJ 1. INTRODUÇÃO As questões discutidas neste trabalho têm sua origem nas atividades acadêmicas de ensino e pesquisa: a primeira, ministrando aulas de História da Arte e de Comunicação e Arte e, a segunda, coordenando o Projeto Lygia Clark, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, com o apoio do CNPq-Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Essas atividade foram reforçadas e abriram caminho para outras discussões, quando do planejamento e implantação do sistema/rede IARA- Informação em Arte e Atividade Culturais, na FUNARTE-Fundação Nacional de Arte. Os desdobramentos dessas experiências culminaram, em 1995, com a formalização de uma nova linha de pesquisa no Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, da UFRJ-Universidade Federal do Rio de Janeiro e IBICT-Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia que, por sua vez, se estendeu até outra instituição de ensino, a UNI-RIO, Universidade do Rio de Janeiro, com a orientação de dissertação sob esse enfoque, no Mestrado de Memória Social e Documento, entitulada Acervos artísticos: proposta de um modelo estrutural para pesquisas em Artes Plásticas 1 . 2. DOCUMENTO E INFORMAÇÃO EM MUSEUS DE ARTE A história da documentação e informação em museus não pode ser dissociada das bibliotecas de Arte, daí as abordarmos, para uma melhor compreensão do processo de documentação em museu como um todo. No exterior, a documentação em museus é reconhecidamente relevante, tanto que, entre os comitês do ICOM destaca-se o CIDOC -Comitê de Documentação e, na Europa e nos Estados Unidos, desenvolvem-se projetos cuja contribuição é inquestionável. A Fundação J. Paul Getty desponta por seu pioneirismo na automação e na articulação de Informação e História da Arte, com a criação do Programa de Informação em História da Arte (AHIP), tendo como principal objetivo a implantação de um sistema de informação integrado, como apoio à pesquisa em História da Arte 2 . Na verdade, documentação e informação eram áreas de domínio das bibliotecas, nas quais a visão de disseminação (serviços e produtos de informação) e de acesso está mais presente, em função da atividade de pesquisa de seus usuários e como uma decorrência dos avanços científicos e tecnológicos, principalmente após a segunda Grande Guerra e a conseqüente avalanche de informações. As bibliotecas, na sua evolução, transformaram-se em centros de documentação/informação e, com as modernas tecnologias estruturam-se em sistemas ou redes, daí a passagem do enfoque de armazenamento e preservação para o de disseminação da informação. Mas as bibliotecas de arte não eram muito conhecidas, existiam para uso de museus e poucos estudantes, estando longe de ser consideradas como um novo campo para “bibliotecários treinados” e o sucesso de qualquer dessas bibliotecas era individual. 3 Embora essa afirmativa de Jane Wright date de 1908, o descompasso entre unidades de informação de Ciências Básicas e Aplicadas e de Artes e Humanidades ainda permanece, principalmente nos países não desenvolvidos. Esse problema reflete a visão parcial e fragmentada de

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ARTE, OBJETO ARTÍSTICO, DOCUMENTO E INFORMAÇÃO EM MUSEUS Lena Vania Ribeiro Pinheiro Professora/pesquisadora do Programa de Pós-Graduação de Ciência da Informação, IBICT/CNPq, ECO/UFRJ

1. INTRODUÇÃO As questões discutidas neste trabalho têm sua origem nas atividades acadêmicas de ensino e pesquisa: a primeira, ministrando aulas de História da Arte e de Comunicação e Arte e, a segunda, coordenando o Projeto Lygia Clark, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, com o apoio do CNPq-Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Essas atividade foram reforçadas e abriram caminho para outras discussões, quando do planejamento e implantação do sistema/rede IARA- Informação em Arte e Atividade Culturais, na FUNARTE-Fundação Nacional de Arte. Os desdobramentos dessas experiências culminaram, em 1995, com a formalização de uma nova linha de pesquisa no Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, da UFRJ-Universidade Federal do Rio de Janeiro e IBICT-Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia que, por sua vez, se estendeu até outra instituição de ensino, a UNI-RIO, Universidade do Rio de Janeiro, com a orientação de dissertação sob esse enfoque, no Mestrado de Memória Social e Documento, entitulada Acervos artísticos: proposta de um modelo estrutural para pesquisas em Artes Plásticas 1. 2. DOCUMENTO E INFORMAÇÃO EM MUSEUS DE ARTE A história da documentação e informação em museus não pode ser dissociada das bibliotecas de Arte, daí as abordarmos, para uma melhor compreensão do processo de documentação em museu como um todo. No exterior, a documentação em museus é reconhecidamente relevante, tanto que, entre os comitês do ICOM destaca-se o CIDOC -Comitê de Documentação e, na Europa e nos Estados Unidos, desenvolvem-se projetos cuja contribuição é inquestionável. A Fundação J. Paul Getty desponta por seu pioneirismo na automação e na articulação de Informação e História da Arte, com a criação do Programa de Informação em História da Arte (AHIP), tendo como principal objetivo a implantação de um sistema de informação integrado, como apoio à pesquisa em História da Arte 2. Na verdade, documentação e informação eram áreas de domínio das bibliotecas, nas quais a visão de disseminação (serviços e produtos de informação) e de acesso está mais presente, em função da atividade de pesquisa de seus usuários e como uma decorrência dos avanços científicos e tecnológicos, principalmente após a segunda Grande Guerra e a conseqüente avalanche de informações. As bibliotecas, na sua evolução, transformaram-se em centros de documentação/informação e, com as modernas tecnologias estruturam-se em sistemas ou redes, daí a passagem do enfoque de armazenamento e preservação para o de disseminação da informação. Mas as bibliotecas de arte não eram muito conhecidas, existiam para uso de museus e poucos estudantes, estando longe de ser consideradas como um novo campo para “bibliotecários treinados” e o sucesso de qualquer dessas bibliotecas era individual.3 Embora essa afirmativa de Jane Wright date de 1908, o descompasso entre unidades de informação de Ciências Básicas e Aplicadas e de Artes e Humanidades ainda permanece, principalmente nos países não desenvolvidos. Esse problema reflete a visão parcial e fragmentada de

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desenvolvimento, que exclui ou não privilegia, nesse processo, Arte, Ciências Sociais e Humanas. Devemos ressaltar os esforços da UNESCO nas políticas de informação, em abordar, de forma integrada, como elos de uma mesma cadeia, as Ciências, no seu sentido mais amplo. As bibliotecas de arte são amplamente estudadas na publicação ”Art libraries and information services: development, organization and management”4, em tópicos que vão desde as bibliotecas de Arte como centros de informação, automação, coleção, recursos visuais, formatos, serviços e pessoal, até os sistemas integrados locais, na sua interface com bases de dados nacionais e internacionais, potencializando o acesso ao documento em âmbito mundial. A emergência dos computadores e da automação em organismos de informação pode ser considerada um fator de aproximação, integração e articulação, notadamente de bibliotecas, museus e arquivos, pelas exigências de sistemas integrados ou redes e a necessidade de metodologias, formatos, técnicas e tecnologias de processamento com essa finalidade e visando a proporcionar um amplo intercâmbio de dados, daí a importância de vocabulários controlados e tesausos, entre outros instrumentos, por mais avançadas que sejam as novas tecnologias. Leonard WILL5 compara a missão de bibliotecas e museus e distingue os propósitos dos museus, mais administrativos do que de recuperação da informação, pela não exploração do objeto de museu como fonte de informação, daí a ausência de catálogos públicos padronizados, recurso amplamento utilizado em bibliotecas. Enquanto no exterior os principais museus posicionam-se na vanguarda das atividades de documentação e informação, no Brasil estão ainda em estágio inicial de organização e automação de acervos, com poucos exemplos nesse campo. 2.1 Iniciativas brasileiras de documentação e informação em museus A situação da documentação e informação em museus, no Brasil, tem características próprias de um país no qual memória, patrimônio, identidade cultural e preservação se inserem de forma muito frágil nas políticas públicas culturais. SCHEINER6, ao traçar um amplo panorama dos museus no Brasil, assinala, em sua trajetória, os grandes marcos e identifica as principais dificuldades abordando, inclusive, problemas de formação dos museólogos. O alto índice de analfabetismo e as grandes lacunas na educação da sociedade brasileira são agravantes e limitam ou restringem a freqüência aos museus e o acesso às informações neles existentes. Consequentemente, os museus brasileiros, por longos anos, vêm enfrentando crises, inclusive de manutenção, e avanços isolados não chegam a reverter o quadro geral. Para FERREZ e BIANCHINI7 , a Museologia brasileira tem investido pouco no museu como sistema de informação que potencialize o conteúdo informacional dos objetos museológicos e os aspectos de recuperação e disseminação da informação, ou melhor, o objeto de museu como fonte de informação. A visão de sistema de informação emerge da automação e dela decorre todo o instrumental para recuperação e disseminação da informação. A iniciativa pioneira de automação de acervos de Arte, no Brasil,é do Projeto Portinari, que engloba toda a produção artística do grande artista plástico brasileiro, trabalho independente e sob a liderança de seu filho, portanto, não vinculado a museu. No entanto, essa experiência não tem sido registrada em trabalhos publicados em revistas ou apresentados em congressos da área, o que limita o seu conhecimento por outros profissionais empenhados em projetos de automação. Em São Paulo, o Instituto Cultural Itaú produz bancos de dados da pintura brasileira dos século XIX e XX e de memória fotográfica da cidade de São Paulo, também fora do âmbito de

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museus e dentro de uma “nova”entidade, o instituto/centro cultural, que proliferou no Brasil a partir da década de 80. Nos museus brasileiros, são tardios os projetos de automação, pois surgem no final dos anos 80 e contam com recursos extra-orçamentários, como é o caso do SIMBA-Sistema de Informação do Acervo do MNBA-Museu Nacional de Belas Artes e o Projeto Lygia Clark, no MAM- Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. O primeiro é desenvolvido com apoio da Fundação Vitae e, o segundo, do CNPq, órgãos de fomento que mantêm equipes através de bolsas de pesquisa e financiamnto de infra-estrutura computacional. O apoio decisivo e louvável dessas instituições pode, no entanto, trazer um novo problema: a descontinuidade dos trabalhos após o encerramento do financiamento, por insuficiência ou não capacitação em processos automatizados dos recursos humanos de museus. Em trabalho apresentado ao CIDOC, em 1994, FERREZ et al 8 enfatizam o papel do MNBA, por representar “um autêntico panorama do desenvolvimento da arte brasileira, durante o século XIX”, ao mesmo tempo em que identificam problemas de documentação/informação, como o tratamento técnico variável em cada coleção do Museu, com a adoção de catálogos separados e ausência de vocabulário controlado. O Projeto surge, então, com o objetivo de transformar o MNBA “em genuíno e efetivo sistema de recuperação da Informação”, e tem enfrentado dificuldades em chegar a um sistema adequado. Diferentemente do SIMBA, que abrange toda a coleção do MNBA, o Projeto Lygia Clark9, como o próprio nome indica, é direcionado apenas à coleção dessa artista plástica, reunindo documentos de biblioteca, arquivo e museu e tendo como objetivo principal o “levantamento e organização do acervo especializado da artista, nos campos entrecruzados da Arte e da terapia psicológica, para evitar a sua dispersão, promover o seu conhecimento e divulgar novas fontes de pesquisa sobre a artista, o concretismo e a arte brasileira”. Portanto, o Projeto Lygia Clark trabalhou apenas com uma pequena parcela do acervo do MAM, estava voltado mais para a pesquisa propriamente dita e a sua automação foi uma consequência natural de sua evolução, com a produção de três bases de dados: bibliográficos, factuais (exposições) e artísticos (obras de arte). Ambos os projetos apresentam como pontos positivos a produção e publicação de trabalhos de pesquisa, relatos de experiências e metodologias para o registro de arte, inclusive em eventos nacionais e estrangeiros. Finalmente, uma iniciativa também recente, de 1993, o Pojeto IARA- Informação em Arte e Atividades Culturais,10, 11 da FUNARTE-Fundação Nacional de Arte, cuja atuação envolve artes plásticas e gráficas, artes cênicas, cinema, música, fotografia, dança, folclore e arte popular, ópera e circo, tendo como objetivo maior “implantar um sistema nacional de informações culturais e artísticas para coordenar, organizar, articular e disseminar dados, como instrumento de apoio e estímulo ao desenvolvimentos de programas, projetos e atividades no campo da Cultura e Arte”. Este Projeto encontra-se, atualmente, em fase de migração de dados para o novo sistema (RISC), implantação de redes locais e entrada na INTERNET. Não podemos deixar de destacar, ainda na FUNARTE, o Museu do Folclore Edson Carneiro, no qual as informações já estão automatizadas, constituindo bases de dados bibliográficos e de acervo museológico de Arte e Cultura Popular (Folclore), para registro de peças. Nesse Museu, a atividade de pesquisa fundamenta as ações dos demais setores. 3. DOCUMENTAÇÃO, INFORMAÇÃO E PROCESSO DE ARTE EM MUSEUS A documentação em museus origina-se do processo criativo da Arte, da mesma forma que bibliotecas e centros de informação, em geral, lidam com “produtos” da Ciência e Tecnologia, sejam dados, documentos ou informações. Já o objeto de trabalho dos museus são as obras de arte e todo e qualquer documento ou informação a elas relacionado.

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Para a organização/estruturação, processamento técnico, recuperação e disseminação de informação em Arte é essencial a compreensão do processo de criação artística, em si mesmo, e a capacidade de representar e interpretar a obra de arte, no tempo e espaço, tarefa árdua pela amplitude, complexidade e níveis de abstração inerentes à Arte, daí a exigêcia de equipes multidisciplinares, basicamente formadas por profissionais de informação (museólogos, bibliotecários, arquivistas, técnicos e cientistas da informação), historiadores da Arte e analistas de sistemas. A representação e, sobretudo, a interpretação de uma obra artística implica a sua inserção temporal e espacial, conforme foi dito, na sociedade da qual é oriunda.Estão em jogo conhecimentos, habilidades, técnicas e experiências diferenciadas, e múltiplos agentes que interferem nesse processo: artistas, críticos, historiadores da arte, pesquisadores, museólogos, galeristas, “marchands”, leiloeiros, colecionadores particulares e institucionais, editores de Arte e livreiros1. E a tecnologia evidencia-se não apenas como uma ferramenta fundamental, mas como fator de aproximação desses agentes que, reunidos, trazem constribuições particulares dos seus saberes, na concepção de sistemas de informação adequados às singularidades do documento ou obra de Arte. Para o entendimento da complexidade que permeia a obra de arte é importante introduzir o pensamento de Walter Benjamim12 acerca das técnicas de reprodução, até para dimensionar alguns do fatores intervenientes na sua representação e interpretação. Ele parte da constatação de que “por princípio mesmo, a obra de arte foi sempre suscetível de reprodução. Aquilo que alguns homens haviam feito, outros podiam refazer”. Essas técnicas, das quais são precursoras a fundição e a impressão, vão gradativamente se multiplicando: “Com o século XX as técnicas de reprodução atingiram um nível tal que, de agora em diante, elas não somente poder-se-ão aplicar a todas a obras do passado e modificar de maneira muito profunda seus modos de influência, mas também poder-se-ão impor elas próprias como formas originais de arte”. Essas técnicas, de acordo com Benjamim, se de um lado permitem a aproximação da obra com o espectador e ouvinte, por outro levam à perda do “hic et nunc” da obra de arte, isto é, “ a unicidade de sua presença no próprio lugar onde ela se encontra”. Outras noções introduzidas pelo autor em relação à obra de arte são autenticidade, aura e tradição, entre outros. As técnicas de reprodução da obra de arte “...desprendem o objeto reproduzido do domínio da tradição. Multiplicando os exemplares, elas substituem um acontecimento que só se reproduziu uma vez por um fenômeno de massa”. Considerando a ascensão da mídia como um quarto poder e a hegemonia dos computadores, com seus bancos de imagem e de som, a reprodutibilidade da obra de arte exige dos sistemas de informação a integração e inter-relação das informaões, de tal forma que possa representar a memória de cada obra artística, reunindo as suas múltiplas formas e faces e refazendo toda a sua história. Representação e interpretação são ações indissociáveis, portanto, uma vez que uma depende da outra. A representação, segundo LINDSAY13 constitui-se de uma análise empírica (título, data, tamanho, artista) e da descrição pré-iconográfica, análise iconográfica e interpretação iconológica. Assim, as exigências interpretativas estão fortemente alicerçadas na História da Arte. Estudando outros autores, LINDSAY reúne quatro abordagens através das quais o conhecimento de História da Arte desenvolve-se: - “de forma e estilo”, para “identificação e definição de estilos artísticos”14; -”connaisseurship”, ou “estudo da personalidade artística de um artista individual ou de um grupo ou escola de artistas, conforme revelado em seus trabalhos’14; -- iconográfica, “estudo da essência do assunto ou significado em arte”15; e - da “história social da Arte, que interpreta um trabalho de Arte em termos das condições sociais da sua criação e sobre as fontes que a arte tem em comum com outras atividades da sociedade”14.

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O artigo de LINDSAY faz parte de um fascículo especial de Library Trends, intitulado ”Articulando objetos de Arte e Informação em Arte” que, de certa forma, abre perspectivas para estudos nessa área. Recentemente, em 1994, formalizou-se, nos Estados Unidos, a iniciativa nacional para que as áreas de Humanidades e Arte, nas infovias (“information highways”), “...ganhem voz no planejamento e desenvolvimento da infra-estrutura nacional de informação. Este é o plano mais divulgado para um sistema nacional de telecomunicações”.16 O relatório, no entanto, não pode ser utilizado sem a autorização das instituições patrocinadoras (The Getty Art History Information Program-AHIP, The American Council of Learned Societies e The Coalition for Networked Information) e, por sua importância é mencionado neste trabalho, apenas como informação. 4. PILARES DA DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÃO EM ARTE O trabalho de documentação e informação em museus está forte e profundamente assentado em cinco pilares: - a implementação de pesquisas de Informação em Arte ou Informação Estética e o funcionamento de núcleos de pesquisa em museus, como geradores de conhecimento; - a articulação interna dos diferentes setores de museus, isto é, bibliotecas ou centros de informação, arquivos, exposições, reserva técnica e outros; - formação mais consistente e adequada dos museólogos, privilegiando a interdisciplinaridade da área, quer seja por disciplinas com esse cunho, quer seja pela abordagem interdisciplinar dos próprios cursos; - a atuação de equipes multidisciplinares nas bibliotecas, centros de informação, arquivos e demais setores, pela natureza do trabalho em museus; e - implantação de sistemas de informação integrados e redes de comunicação, inclusive via INTERNET. Na pesquisa de informação em Arte são estudados os fundamentos teóricos e a natureza da representação da informação em Arte, assim como a diversidade documental, com suas singularidades, as questões da Arte e as características do modelo de sistema de informação artística. A informação estética abrange o conteúdo informacional do objeto de arte, documento em seu sentido mais amplo, oriundo de múltiplas manifestações e produções artísticas. O núcleo de pesquisa é o motor propulsor da organização de acervos, pois o seu trabalho repousa e é desenvolvido a partir de dados, documentos e informações do acervo cuja plena utilização pressupõe a sua organização e fácil recuperação. Os grupos de pesquisa devem, por sua vez, ser multidisciplinares, o que possibilita a análise das obras de arte sob múltiplos olhares: da História da Arte, da Sociologia da Arte, da Estética, entre outros campos. O segundo pilar, a articulação interna dos setores do museus, é a base para a concretização do quinto pilar, ou seja, o processo de automação, sob a forma de sistema de informação integrado. Bibliotecas e centros de documentação arquivos, reserva técnica e demais setores alimentam-se mutuamente, num ciclo de informação autofágico, pois cada um desses setores necessita de informações dos demais e possui documentos ou objetos que guardam estreita relação entre si. Um trabalho articulado que privilegie o intercâmbio de informações, certamente contribuirá para análise, representação e interpretação de obras artísticas mais ricas e completas. O terceiro pilar diz respeito à formação profissional que hoje, no Brasil, está em crise, como a educação em geral. Algumas universidades estão em processo de mudanças curriculares, entre as quais a UNI-RIO, na qual o Curso de Museologia passa por transformações que visam a sua adequação e formação menos pulverizada e mais consistente. Tanto que a Uni-Rio17 empreendeu, no final de 1995, um trabalho visando à constituição de um

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núcleo interdisciplinar para Museologia, Biblioteconomia e Arquivologia, de forma a estabelecer pontos de contato disciplinares e até profissionais. A atuação de equipes inter e multidisciplinares em bibliotecas, centros de informação, arquivos, núcleos de pesquisa e demais setores de museus também contribuirá para minimizar as lacunas de formação profissional das áreas envolvidas na documentação, ampliará os horizontes profissionais, pela troca de conhecimentos e de experiência. No caso específico do Brasil, onde a formação de profissionais de informação se dá em nível de graduação, diferentemente dos Estados Unidos e outros países, equipes com tal formação desempenharão um papel vital nas atividades de museus. O último pilar é de caráter tecnológico, mas não menos importante, e refere-se à implantação de sistemas de informação integrados e a inserção de acervos de museus em redes de comunicação, via INTERNET. 5. BIBLIOGRAFIA 1. LIMA, Diana F. C. Acervos artísticos: proposta de um modelo estrutural para pesquisas em

Artes Plásticas. Rio de Janeiro: UNI-RIO, 1995. Dissertação de mestrado (Memória Social e Documento)

2. ALLEN, Nancy S. The Museum Prototype Project of the J. Paul Getty Art History and Information Program: a view from the library. Library Trends, v. 37, n.2,p.175-193, Fall 1988.

3. WRIGHT, Jane. Plea of the Art librarian. Public Libraries, 348-49,1908. apud BACKLAND, Caroline.Foreword. In: Art libraries and information services: development, organization and management. Orlando, Academic Press, 1986. p.xi-xiii

4. ART LIBRARIES AND INFORMATION SERVICES: development, organization and management. Orlando: Academic Press, 1986. 343p.

5. WILL, Leonard. Museum objects as sources of information. Managing Information, v.l, n.1, p.32-34, Jan.1994.

6. SCHEINER, Tereza C. Sociedade, cultura, patrimônio e museus num país chamado Brasil. Apontamentos, Memória e Cultura: Revista do Mestrado em Administração de Centros Culturais, v.4, n.1, p.14-34. jan./jun. 1994.

7 FERREZ, Helena D. , BIANCHINI, Maria Helena S. Thesaurus para acervos museológicos. Rio de Janeiro. Fundação Nacional Pró-Memória, Coordenadoria Geral de Acervos Museológicos, 1987. 2v.

8. FERREZ, Helena D. et al. A brazilian experience in museum automation: the National Museum of Fine Arts. 1994 Joint Annual Meeting. Automating Museums in the Americas and Beyond, august 28- september 3. Sourcebook. Washington, International Council of Museums, Documentation Committee, Museum Computer Network, 1994. p.39-49

9. PINHEIRO, Lena Vania R. et al. Proyecto Lygia Clark: experiencia brasileña en automatización de acervo de Arte. Informatica 94. Congreso Internacional de Informática en la Cultura, Habana, Cuba, febrero 1994.

10. PINHEIRO, Lena Vania R. IARA- Information on Art and Cultural Activities: the system planning and implementation within the Brazilian context of information. 1994 Joint Annual Meeting Automation Museums in the Americas and beyond. Sourcebook. Washington, ICOM/CIDOC,Museum Computer Network, 1994. p.186-192.

11. PINHEIRO, Lena Vania R., VIRUEZ, Guilma, DIAS, Mauro. Sistema de Informação erm Arte e Atividades Culturais (IARA): aspectos políticos, institucionais, técnicos e tecnológicos. Ciência da Informação, v.23, n.3, p.327-334, set./dez. 1994.

12. BENJAMIM, Walter.A obra de Arte no tempo de suas técnicas de reprodução. In: Sociologia da Arte, IV. Rio de Janeiro, Zahar, 1969. p.15-47.

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13. LINDSAY, Kenneth C. Computer input form for Art works: problems and possibilities apud MARKEY, Karen. Access to iconographical research collection. Library Trends, v.37, n.,2, p.154-74, Fall 1988.

14. ACKERMAN, James S., CARPENTER, Rhys. Art and Archeology. Englewood Cliffs, N.J., Prentice Hall, 1963 apud MARKEY, Karen, opus cit p.155

15 PANOFSKY, Erwin. Studies in the visual Arts. reprint apud MARKEY, Karen opus cit p. 155 16.HUMANITIES AND ARTS ON THE INFORMATION highways: a profile. Summer 1994.

Draft. 17. PINHEIRO, Lena Vania R. Em busca de um caminho interdisciplinar: proposta de núcleo

teórico e prático de disciplinas comuns aos cursos de Biblioteconomia, Museologia e Arquivologia. Rio de Janeiro, UNI-RIO,1995. 28 p. Pré-publicação.