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71 71 Neste capítulo, serão apresentadas as principais características dos abrigos pesquisados pelo “Levantamento Nacional de Abrigos para Crianças e Adolescentes da Rede SAC”. Em abordagem descritiva, os itens a seguir têm o objetivo de destacar os aspectos que delineiam as principais características institucionais das entidades investigadas. Um retrato dos abrigos para crianças e adolescentes da Rede SAC: características institucionais, forma de organização e serviços ofertados CAPÍTULO 3 Enid Rocha Andrade da Silva e Simone Gueresi de Mello ARTE SOBRE FOTO DE JOSÉ VARELLA

ARTE SOBRE FOTO DE JOSÉ VARELLA - ipea.gov.br · 7373 3.1 TAMANHO E LOCALIZAÇÃO DO UNIVERSO PESQUISADO Como ilustrado no gráfico 1, a região Sudeste concentra quase metade …

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Neste capítulo, serão apresentadas as principais características

dos abrigos pesquisados pelo “Levantamento Nacional de Abrigos

para Crianças e Adolescentes da Rede SAC”. Em abordagem

descritiva, os itens a seguir têm o objetivo de destacar os aspectos

que delineiam as principais características institucionais das

entidades investigadas.

Um retrato dos abrigospara crianças e adolescentes da Rede SAC:

características institucionais, forma deorganização e serviços ofertados

CAPÍTULO 3

Enid Rocha Andrade da Silva e Simone Gueresi de Mello

ARTE

SO

BRE

FOTO

DE

JOSÉ

VAR

ELLA

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7373

3.1 TAMANHO E LOCALIZAÇÃODO UNIVERSO PESQUISADO

Como ilustrado no gráfico 1, a região Sudeste concentra quase metade dos

589 abrigos pesquisados (49,1%), seguida pela região Sul com 20,7% e pela

região Nordeste com 19,0%. As regiões Centro-Oeste e Norte são responsáveis

por menos de 12% do universo, sendo, respectivamente, 7,0% e 4,2% do total.1

1 Vale notar que a distribuição dos abrigos que responderam o questionário enviado é bastante semelhante àdistribuição das entidades cadastradas para receber recursos da Rede SAC (ver capítulo 1, item 1.2.2), o quegarante representatividade ao universo pesquisado.

GRÁFICO 01

Brasil: distribuição dos abrigos da Rede SAC, segundo grandes regiões

Fonte: IPEA/DISOC (2003). Levantamento Nacional de Abrigos para Crianças e Adolescentes da Rede SAC.

A distribuição das instituições pesquisadas entre as Unidades da Federação

mostra um número expressivamente maior de atendidos no estado de São Paulo,

que tem em seu território mais de 1/3 dos programas da Rede SAC/Abrigos

(34,1%). Os outros estados com maior número de abrigos são o Rio Grande do

Sul (9,8%), Rio de Janeiro (7,6%), Paraná (7,0%), Minas Gerais (6,8%) e Bahia

(6,3%). Individualmente, não alcançam sequer 10% dos programas de abrigo

investigados (tabela 2).

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TABELA 02

Brasil: distribuição dos abrigos da Rede SAC, segundo Unidades da Federação

Fonte: IPEA/DISOC (2003). Levantamento Nacional de Abrigos para Crianças e Adolescentes da Rede SAC.

Região

Norte

Nordeste

Sudeste

Sul

Centro-Oeste

BRASIL

UF

Acre

Amapá

Pará

Rondônia

Roraima

Alagoas

Bahia

Ceará

Maranhão

Paraíba

Pernambuco

Piauí

Rio Grande do Norte

Sergipe

Espírito Santo

Minas Gerais

Rio de Janeiro

São Paulo

Paraná

Rio Grande do Sul

Santa Catarina

Goiás

Mato Grosso

Mato Grosso do Sul

BRASIL

No de abrigos

1

3

3

17

1

7

37

14

11

9

11

1

10

12

3

40

45

201

41

58

23

4

14

23

589

Percentual

0,2%

0,5%

0,5%

2,9%

0,2%

1,2%

6,3%

2,4%

1,9%

1,5%

1,9%

0,2%

1,7%

2,0%

0,5%

6,8%

7,6%

34,1%

7,0%

9,8%

3,9%

0,7%

2,4%

3,9%

100,0%

3.2 NATUREZA INSTITUCIONAL DOS ABRIGOS

Entre os abrigos da Rede SAC pesquisados predominam as instituições

não-governamentais, que respondem por 68,3% do total, enquanto os abrigos

públicos representam apenas 30,0%, sendo 21,7% municipais e 8,3% estaduais

(gráfico 2). Essa maior parcela municipal das instituições de natureza pública

está em conformidade com o Estatuto da Criança e do Adolescente e com a

LOAS, que têm como diretriz a municipalização do atendimento para a população

infanto-juvenil.

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GRÁFICO 02

Brasil: distribuição dos abrigos da Rede SAC, segundo a natureza institucional

Fonte: IPEA/DISOC (2003). Levantamento Nacional de Abrigos para Crianças e Adolescentes da Rede SAC.

Às organizações não-governamentais, o estatuto reserva um papel estratégico

ao incluí-las no bojo da política de atendimento dos direitos da criança e do

adolescente. “A política de atendimento dos direitos da criança e do adolescente

far-se-á através de um conjunto articulado de ações governamentais e não-

governamentais, da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios.” 2

Mais adiante, no artigo 90, o ECA define que as entidades governamentais

e não-governamentais de atendimento são responsáveis pela manutenção das

próprias unidades, assim como pelo planejamento e execução de programas

socioeducativos e de proteção destinados a crianças e adolescentes.

Isso demonstra que as entidades não-governamentais são atores relevantes

na implementação das políticas de proteção especial à infância e à adolescência.

A predominância desse tipo de entidade na prestação de serviços de abrigo reforça

ainda mais a responsabilidade do poder público – federal, estadual e municipal –

no cumprimento de seu papel de coordenar um sistema, com vistas à efetiva

implementação de uma política de proteção especial conforme prevista no ECA,

bem como na garantia do apoio técnico e financeiro necessário às ações realizadas

pela sociedade civil.

2 Lei 8.069/90, Estatuto da Criança e do Adolescente, art. 86.

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As regiões brasileiras mostram algumas diferenças com relação à natureza

dos abrigos pesquisados, apresentada na tabela 3. Em primeiro lugar, destacam-

se as regiões Norte e Sul, nas quais o percentual de instituições não-governamentais

foge ao padrão do restante do Brasil: no Norte, 68% dos abrigos são públicos,

sendo 56% de gestão municipal. Já na região Sul, quase a metade (46,7%) é

governamental, com destaque para os municipais, que representam 36,9% do

total da região.

TABELA 03

Brasil/grandes regiões: distribuição dos abrigos da Rede SAC, segundo a naturezainstitucional (%)

Fonte: IPEA/DISOC (2003). Levantamento Nacional de Abrigos para Crianças e Adolescentes da Rede SAC.

Regiões brasileirasNatureza do abrigo

Não-governamental

Público municipal

Público estadual

ns/nr

Total

Norte

32,0

56,0

12,0

0,0

100,0

Nordeste

65,2

10,7

24,1

0,0

100,0

Sudeste

79,9

17,0

1,0

2,1

100,0

Sul

51,6

36,9

9,8

1,6

100,0

Centro-Oeste

65,9

19,5

9,8

4,9

100,0

BRASIL

68,3

21,7

8,3

1,7

100,0

No Nordeste, os abrigos públicos estaduais representam aproximadamente

1/4 das entidades pesquisadas na região (24,1%), ou seja, quase o triplo da média

nacional. Mantém-se aproximadamente a mesma proporção do total nacional

para as instituições não-governamentais, reduzindo-se à metade o percentual de

instituições públicas municipais (10,7%), o que pode indicar que as diretrizes de

municipalização da política de atendimento estão menos consolidadas nessa região.

No outro extremo, o Sudeste tem o menor percentual de abrigos estaduais:

apenas 1% das suas instituições. A região destaca-se, ainda, por ter a mais alta

participação das entidades não-governamentais, que respondem por 79,9% das

instituições pesquisadas.

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3.3 VINCULAÇÃO/ORIENTAÇÃO RELIGIOSA

De acordo com os dados levantados pela pesquisa, a grande maioria (67,2%)

dos abrigos possui vínculo ou orientação religiosa, sendo que, destes, mais de

60% seguem a religião católica. Outros 22,5% declararam ligação com crenças

evangélicas, enquanto 12,6% seguem a doutrina espírita, e 8,3% se declararam

ecumênicos (gráfico 3).

Não é surpreendente esse grande número de abrigos que disseram manter

algum vínculo ou orientação religiosa, uma vez que, no Brasil, os cuidados com

os órfãos e abandonados foram assumidos desde o final do século XVIIII pelas

irmandades e pelas Santas Casas de Misericórdia. Apenas no início do século XX

essa questão passou a ser uma preocupação de Estado, quando foram criados os

reformatórios ou institutos correcionais. Ainda assim, a ação estatal era mais

voltada para os “infratores” do que para os “carentes e abandonados”.3 Além

disso, as religiões costumam se envolver, em maior ou menor grau, em atividades

voluntárias, destacando-se as atividades assistenciais.

O gráfico 4 mostra que a predominância de vínculos/orientações religiosas

tem variação considerável entre as regiões brasileiras: enquanto 82,1% dos abrigos

3 CBIA/SP e IEE/PUC SP. Trabalhando Abrigos. Cadernos de Ação nº 3. São Paulo: março/1993

GRÁFICO 03

Brasil: distribuição dos abrigos da Rede SAC que possuem vinculação/orientaçãoreligiosa, segundo a crença

Fonte: IPEA/DISOC (2003). Levantamento Nacional de Abrigos para Crianças e Adolescentes da Rede SAC.

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A tabela 4 mostra que a predominância da vinculação/orientação católica

nos abrigos não se verifica com a mesma força em todas as regiões. O Norte, por

exemplo, tem o mesmo número de abrigos católicos e evangélicos (35,3% de

cada) e nenhuma instituição que declarou seguir orientação espírita. Interessante

notar que a orientação evangélica é maior em relação à média nacional também

nas regiões Sul e Centro-Oeste (29,3% e 32,3%, respectivamente). Já no Nordeste,

é expressiva a influência católica (68,5% dos abrigos com orientação religiosa), o

que eleva a participação dessa doutrina na média nacional, visto que é a única

região em que o percentual de abrigos com essa vinculação está acima da média.

GRÁFICO 04

Brasil/grandes regiões: distribuição dos abrigos da Rede SAC, segundo orientação/vinculação religiosa

Fonte: IPEA/DISOC(2003). Levantamento Nacional de Abrigos para Crianças e Adolescentes da Rede SAC

do Nordeste e 75,6% no Centro-Oeste afirmam manter alguma vinculação ou

orientação religiosa, no Sul essa parcela é de 47,5% (20 pontos percentuais abaixo

da média nacional). Nas regiões Norte (68,8%) e Sudeste (68,5%), a participação

das instituições com orientação/vinculação religiosa se aproxima da média para

o total do universo pesquisado no país.

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TABELA 04

Brasil/grandes regiões: distribuição dos abrigos da Rede SAC que possuemvinculação/orientação religiosa, segundo a crença

Fonte: IPEA/DISOC (2003). Levantamento Nacional de Abrigos para Crianças e Adolescentes da Rede SAC

Regiões brasileirasVinculação/orientação religiosa

Católica

Evangélica

Espírita

Ecumênica

Mais de uma

orientação/vinculação

Total

Norte

35,3%

35,3%

0,0%

11,8%

17,6%

100,0%

Nordeste

68,5%

8,7%

5,4%

8,7%

8,7%

100,0%

Sudeste

55,3%

16,1%

16,1%

8,5%

4,0%

100,0%

Sul

51,7%

29,3%

8,6%

6,9%

3,4%

100,0%

Centro-Oeste

51,6%

32,3%

9,7%

6,5%

0,0%

100,0%

BRASIL

56,7%

18,4%

11,3%

8,3%

5,3%

100,0%

3.4 TEMPO DE FUNCIONAMENTO

Mais da metade das instituições pesquisadas (58,6%) foi fundada depois de

1990 (gráfico 5). Esse ano, em função da promulgação do Estatuto da Criança e

do Adolescente, tornou-se um marco para a área da infância e da adolescência,

pois, desde então, o país passou a contar com o efetivo amparo legal para a

garantia dos direitos dessa parcela da população. Após a edição do ECA, todas

as instituições que já trabalhavam na área da atenção a crianças e adolescentes

deveriam iniciar um processo de mudanças em direção à adequação à nova

legislação. O norte das mudanças deveria ser a superação do enfoque

assistencialista, fortemente arraigado nos programas de atendimento, em direção

a modelos que contemplassem ações emancipatórias e que tivessem por base a

noção de cidadania contida no ECA, considerando crianças e adolescentes como

sujeitos de direitos.

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O fato de a maior parte dos abrigos pesquisados ter sido criada após a

promulgação do ECA não implica, necessariamente, a adequação à lei do

funcionamento dessas instituições. Como se sabe, o estatuto é considerado uma

legislação avançada até mesmo para os padrões internacionais. Sua disseminação

e aceitação, bem como o efetivo cumprimento de seus princípios, têm sido um

processo difícil, que, ao longo de mais de dez anos de existência, não foi totalmente

compreendido pela sociedade.

A esse respeito, é ilustrativo citar os resultados da primeira etapa do

“Levantamento Nacional” realizada junto aos dirigentes dos abrigos. Apesar de

o ECA ter sido promulgado há mais de uma década, metade desses dirigentes

não demonstrou total entendimento sobre o conteúdo da lei, ainda que 44,3% se

considerassem muito informados sobre o ECA; 48,8%, mais ou menos informados; e

5%, tenham admitido ser pouco ou nada informados.4

Ainda que a maioria dos abrigos pesquisados tenha sido criada depois de

1990, a tabela 5 mostra que, no grupo de abrigos criados antes da promulgação

do ECA, encontram-se instituições bastante antigas: três (0,5%) anteriores à década

de 1920, 23 (3,9%) que foram criadas entre 1920 e 1949, e 68 (11,5%) fundadas

entre os anos de 1950 e 1969. As diferenças regionais nesse quesito não são

expressivas: em todas as regiões, praticamente a metade das entidades de abrigo

foi fundada na década de 1990.

GRÁFICO 05

Brasil: distribuição dos abrigos da Rede SAC, segundo fundação posterior ouanterior a 1990

Fonte: IPEA/DISOC (2003). Levantamento Nacional de Abrigos para Crianças e Adolescentes da Rede SAC.

4 Ver capítulo 7.

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TABELA 05

Brasil/grandes regiões: distribuição dos abrigos da Rede SAC, segundo o ano defundação (%)

Fonte: IPEA/DISOC(2003). Levantamento Nacional de Abrigos para Crianças e Adolescentes da Rede SAC.

Regiões brasileirasFundação

Antes de 1920

Entre 1920 e 1949

Entre 1950 a 1969

Entre 1970 a 1989

Entre 1990 a 1999

A partir de 2000

Não respondeu

Total

Norte

0,0

0,0

0,0

16,0

52,0

8,0

24,0

100,0

Nordeste

0,9

3,6

7,1

22,3

50,9

4,5

10,7

100,0

Sudeste

0,3

5,5

15,2

21,8

45,0

6,6

5,5

100,0

Sul

0,0

1,6

9,8

23,0

50,0

7,4

8,2

100,0

Centro-Oeste

2,4

2,4

9,8

22,0

48,8

0,0

14,6

100,0

BRASIL

0,5

3,9

11,5

21,9

47,7

5,9

8,5

100,0

3.5 CAPACIDADE DE ATENDIMENTO E LOTAÇÃODOS ABRIGOS PESQUISADOS

De acordo com a tabela 6, no período de realização da pesquisa havia 19.373

crianças e adolescentes nos abrigos pesquisados. Além da população infanto-

juvenil, existiam nessas instituições 938 adultos e 174 idosos. Observa-se, ainda,

que foram encontrados abrigos com apenas duas crianças e adolescentes e outros

com até 450 abrigados.

TABELA 06

Brasil: lotação dos abrigos da Rede SAC*

Populaçãoatendida

Crianças e/ou adolescentes

Adultos

Idosos

Númeromínimo

2

1

1

Média

33,4

19,1

17,4

Númeromáximo

450

100

70

* Dados referentes ao período de realização do levantamento.

Fonte: IPEA/DISOC (2003). Levantamento Nacional de Abrigos para Crianças e Adolescentes da Rede SAC.

Total

19.373

938

174

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Nota-se, também, que a maioria dos abrigos (64,2%), na época do

levantamento, estava com a lotação abaixo da capacidade de atendimento, isto é,

o número de vagas disponíveis era superior ao total de crianças e adolescentes

que estava sendo atendido naquele momento. Outros 21,1% estavam operando

dentro da capacidade de atendimento, e apenas 12,2% declararam estar atendendo

uma quantidade de crianças e adolescentes superior à capacidade, ou seja, estavam

superlotados (gráfico 6).

GRÁFICO 06

Brasil: distribuição dos abrigos da Rede SAC, segundo a relação entre lotação ecapacidade de atendimento

Fonte: IPEA/DiISOC (2003). Levantamento Nacional de Abrigos para Crianças e Adolescentes da Rede SAC.

A lotação dos abrigos no período da pesquisa era semelhante em todas as

regiões brasileiras, destacando-se a região Norte, onde a parcela de abrigos

sublotados era de 88%, bem maior do que a média nacional. Por sua vez, as

regiões Sudeste e Sul do país concentravam a maior parte de abrigos com

superlotação, operando acima da própria capacidade – 18,0% e 15,2%,

respectivamente (tabela 7).

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8383

A situação encontrada, na qual a maior parte dos abrigos estava atendendo

um número menor de crianças em relação ao total de vagas disponíveis, pode ser

um reflexo do esforço das instituições com vistas à adequação ao ECA, que

recomenda o “atendimento personalizado e em pequenos grupos”.5 Embora o

estatuto não defina um número máximo para o atendimento de crianças e

adolescentes em abrigos, alguns estudos, bem como regulamentações estaduais

e/ou municipais, com o objetivo de orientar o reordenamento desse tipo de

instituição, recomendam que a capacidade máxima de vagas não ultrapasse 25

crianças e adolescentes por unidade.6 A partir desse número seria inviável oferecer

um atendimento singular e personalizado, conforme preconizado no ECA.

O gráfico 7 mostra que, apesar de ter sido encontrada a proporção

significativa de 4,1% dos abrigos com uma quantidade de crianças e adolescentes

superior a 100 (24 abrigos), mais da metade (56,7%) das instituições pesquisadas

obedecia à recomendação do atendimento em pequenos grupos, pois 23,1%

atendiam, no período de realização do levantamento, de duas a 12 crianças e

adolescentes, e 33,6% acolhiam entre 13 e 25.

5 Lei 8069/90, art. 92, parágrafo único, inc. III.

6 MINISTÉRIO DA PREVIDÊNCIA E ASSISTÊNCIA SOCIAL. Subsídios para ordenamento e financiamentodos serviços de abrigo. Brasília, 2000; CONSELHO MUNICIPAL DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DOADOLESCENTE. Política de abrigo para crianças e adolescentes do município do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro,setembro de 2001.

TABELA 07

Brasil/grandes regiões: distribuição dos abrigos da Rede SAC, segundo a relaçãoentre lotação e capacidade de atendimento (%)

Fonte: IPEA/DISOC (2003). Levantamento Nacional de Abrigos para Crianças e Adolescentes da Rede SAC.

Regiões brasileirasLotação do abrigo

Acima da capacidade

Dentro da capacidade

Abaixo da capacidade

Não respondeu

Total

Norte

0,0

8,0

88,0

4,0

100,0

Nordeste

2,7

28,6

65,2

3,6

100,0

Sudeste

15,2

20,4

62,3

2,1

100,0

Sul

18,0

18,0

63,1

0,8

100,0

Centro-Oeste

7,3

22,0

63,4

7,3

100,0

BRASIL

12,2

21,1

64,2

2,5

100,0

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GRÁFICO 07

Brasil: distribuição dos abrigos da Rede SAC, segundo o número de crianças eadolescentes atendidos no período na pesquisa

Fonte: IPEA/DISOC (2003). Levantamento Nacional de Abrigos para Crianças e Adolescentes da Rede SAC.

A tabela 8 mostra a distribuição dos abrigos pesquisados segundo o número

de crianças e adolescentes que estavam sendo atendidos no período de realização

do “Levantamento Nacional”, para cada uma das cinco regiões brasileiras. Em

primeiro lugar, observa-se que a região Norte é a que mais se sobressai no quesito

adequação ao atendimento em pequenos grupos, pois 92% de seus abrigos estavam

atendendo, no máximo, 25 crianças e adolescentes, sendo que 40% até 12, e 52%

entre 13 e 25 crianças e adolescentes.

Em segundo lugar, a região Nordeste possui a menor proporção de abrigos

atendendo pequenos grupos (38,4%), sendo 17,9% com no máximo 12 crianças

e adolescentes, e 20,5% na faixa de 13 a 25. A região Sudeste tem mais da metade

(56,4%) de seus abrigos pesquisados atendendo até 25 crianças e adolescentes,

proporção que é menor do que as encontradas nas regiões Sul e Centro-Oeste:

respectivamente, 66,4% e 58,5% de seus abrigos atendendo grupos de até 25.

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85853.6 EXCLUSIVIDADE E ESPECIALIDADE

NO ATENDIMENTO OFERECIDO

A permanência em programas de abrigo não deve se constituir em fator de

isolamento ou exclusão. As diretrizes para a garantia do direito à convivência

familiar e comunitária, direito fundamental estabelecido no ECA, tratam de vários

aspectos a serem considerados para que se evite o estigma social e o afastamento

de crianças e adolescentes da convivência com suas famílias e com as pessoas da

comunidade.

Por outro lado, o próprio estatuto determina como princípios do atendimento

em abrigos “evitar, sempre que possível, a transferência para outras entidades de

TABELA 08

Brasil/grandes regiões: distribuição dos abrigos da Rede SAC, segundo o número decrianças e adolescentes atendidos no período da pesquisa (%)

Regiões brasileirasNúmero de crianças eadolescentes

2 a 12

13 a 25

Subtotal até 25

26 a 50

51 a 75

76 a 100

101 a 200

201 a 500

Subtotal mais de 100

Não sabe/nãorespondeu

Total

Norte

40,0

52,0

92,0

8,0

0,0

0,0

0,0

0,0

0,0

0,0

100,0

Nordeste

17,9

20,5

38,4

25,0

15,2

8,9

7,1

2,7

9,8

2,7

100,0

Sudeste

19,4

37,0

56,4

29,4

7,6

2,8

2,1

0,3

2,5

1,4

100,0

Sul

32,0

34,4

66,4

23,8

4,9

2,5

1,6

0,0

1,6

0,8

100,0

Centro-Oeste

26,8

31,7

58,5

14,6

14,6

0,0

9,8

0,0

9,8

2,4

100,0

BRASIL

23,1

33,6

56,7

25,5

8,7

3,6

3,4

0,7

4,1

1,5

100,00

Fonte: IPEA/DISOC (2003). Levantamento Nacional de Abrigos para Crianças e Adolescentes da Rede SAC.

Por fim, cabe esclarecer que os 24 maiores abrigos em número de crianças

e adolescentes atendidos (mais de 100) assim se distribuíam: 11 abrigos no

Nordeste (9,8% do total da região), sete abrigos no Sudeste (2,5% do total da

região), quatro abrigos no Centro-Oeste (9,8% do total da região) e dois abrigos

no Sul (1,6% do total da região).

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86

7 Lei 8069/90, Estatuto da Criança e do Adolescente, art. 92, inc. VI.

8 Estatuto da Criança e do Adolescente, art. 92, inc.V.

9 Estatuto da Criança e do Adolescente, art. 92, inc. IV.

crianças e adolescentes abrigados”7 e “o não-desmembramento de grupos de

irmãos”.8 De fato, as transferências de uma instituição para outra, bem como a

separação de crianças e adolescentes de uma mesma família - ambas situações

causadoras de sofrimento e de rompimentos afetivos - com freqüência são deter-

minadas pelas restrições do atendimento oferecido pelos abrigos: limites máximos

e mínimos de idade, exclusividade no atendimento por sexo dos abrigados, não-

aceitação de determinadas características, entre outras.

É desejável que as instituições de abrigo destinadas à proteção da infância

e da adolescência atendam em caráter universal qualquer pessoa com menos de

18 anos que necessite desse serviço. As especificidades das crianças e dos

adolescentes deverão apenas orientar o atendimento personalizado e a própria

organização do abrigo, mas não limitar o acesso ou a permanência nessa ou

naquela instituição.

Nesse sentido, os programas de abrigo deveriam evitar especializações e

atendimentos exclusivos a determinadas parcelas da população infanto-juvenil,

como adotar faixas etárias muito estreitas, atender exclusivamente portadores de

necessidades especiais ou de HIV, entre outros exemplos. A atenção especializada,

quando necessária, deveria ser proporcionada por meio da articulação com outros

serviços públicos e, talvez, a partir de pequenas adaptações no espaço e na

organização do abrigo, como aconteceria em uma residência comum.

Do total de abrigos da Rede SAC, 62,3% fazem atendimento misto quanto

ao sexo da criança ou do adolescente abrigado, ou seja, desenvolvem atividades

em regime de co-educação, conforme recomendado pelo Estatuto da Criança e

do Adolescente.9 Outros 37,2% mantêm critérios restritivos ao abrigamento de

acordo com o sexo, sendo que 12,6% dos abrigos pesquisados atendem somente

meninas, e 24,6% são exclusivos para meninos (gráfico 9).

Entre as instituições que acolhem crianças e adolescentes de apenas um dos

sexos é surpreendente verificar, conforme indicam os dados da tabela 9, que

46,1% foram criadas após a promulgação do ECA, sem atender ao princípio da

co-educação. O acolhimento a ambos os sexos não só contribui para a construção

da identidade das crianças e dos adolescentes abrigados, como também facilita o

cumprimento do princípio de não-desmembramento de grupos de irmãos.

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8787

Com relação às diferenças regionais, na região Nordeste 57,2% das

instituições pesquisadas atendem apenas crianças e adolescentes de um dos sexos

(a média nacional é de 37,2%), sendo 38,4% exclusivamente masculino. Por sua

vez, as regiões Centro-Oeste (24,4%), Sul (27,0%) e Norte (28,0%) apresentam

os menores percentuais de abrigos exclusivos por sexo (tabela 10).

GRÁFICO 09

Brasil: distribuição dos abrigos da Rede SAC pelas características do atendimento,segundo sexo

Fonte: IPEA/DISOC (2003). Levantamento Nacional de Abrigos para Crianças e Adolescentes da Rede SAC.

TABELA 09

Brasil: distribuição dos abrigos não-mistos, segundo o ano de fundação

Fonte: IPEA/DISOC (2003). Levantamento Nacional de Abrigos para Crianças e Adolescentes da Rede SAC.

Ano de fundação

Antes de 1920

Entre 1920 e1949

Entre 1950 e 1969

Entre 1970 e 1989

Entre 1990 e 1999

Após 2000

Não respondeu

Total

No de abrigos não-mistos

2

14

30

52

88

13

20

219

Percentual

0,9%

6,4%

13,7%

23,7%

40,2%

5,9%

9,1%

100,0%

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88

TABELA 10

Brasil/grandes regiões: distribuição dos abrigos da Rede SAC pelas características doatendimento, segundo sexo (%)

Regiões brasileirasAtendimento

Não-misto

Apenas para meninos

Apenas para meninas

Misto

Não sabe/nãorespondeu

Total

Norte

28,0

20,0

8,0

72,0

0,0

100,0

Nordeste

57,2

38,4

18,8

42,9

0,0

100,0

Sudeste

36,3

22,5

13,8

63,0

0,7

100,0

Sul

27,0

21,3

5,7

72,1

0,8

100,0

Centro-Oeste

24,4

14,6

9,8

75,6

0,0

100,0

BRASIL

37,2

24,6

12,6

62,3

0,5

100,0

Fonte: IPEA/DISOC (2003). Levantamento Nacional de Abrigos para Crianças e Adolescentes da Rede SAC.

No que diz respeito à faixa etária de atendimento à infância e à adolescência

em abrigos, é recomendável que a organização dos programas que oferecem esse

tipo de serviço ocorra sob a forma do chamado “agrupamento vertical”, onde se

propicia o convívio entre crianças e adolescentes de diferentes faixas etárias.

Esse formato, além de facilitar o acolhimento de grupos de irmãos, permite a

convivência de meninos e meninas de várias idades e, conseqüentemente, em

várias etapas do desenvolvimento infanto-juvenil, o que favorece o estímulo mútuo

e o melhor aproveitamento das atividades educacionais. Os mais velhos estimulam

a independência e o desenvolvimento das crianças mais novas, assim como ocorre

em uma família com filhos em diferentes faixas etárias.10

Assim, quanto mais amplas forem as diferenças entre as idades máxima e

mínima no âmbito do agrupamento aceito pelo abrigo, maior flexibilidade terá o

programa para o atendimento aos princípios recomendados pelo ECA e para

oferecer um ambiente favorável ao desenvolvimento das crianças e dos

adolescentes. A tabela 11 mostra que a maior parte dos abrigos (62%) apresenta

uma diferença superior a 10 anos entre a maior e a menor idade de crianças e

adolescentes aceitos no programa. Trata-se de um intervalo suficientemente amplo

para permitir o acolhimento de irmãos e para proporcionar a convivência de

crianças e adolescentes em diferentes idades.

10 CBIA/SP e IEE/PUC SP. Trabalhando Abrigos. Cadernos de Ação nº 3. São Paulo: março/1993

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8989

A análise regional desse quesito mostra que o Centro-Oeste e o Sul se

destacam porque cerca de 70% dos abrigos dessas regiões têm intervalos etários

de atendimento superiores a 10 anos. Na região Sudeste, 62,3% dos abrigos

oferecem atendimento a crianças e adolescentes dessa forma. As regiões Norte

(56%) e Nordeste (50%) têm percentuais menores de abrigos com diferença

maior que 10 anos entre a idade máxima e a mínima. No entanto, vale ressaltar

que nessas duas regiões há maiores concentrações em faixas imediatamente

inferiores, com diferenças entre a maior e a menor idade do atendimento variando

de cinco a 10 anos.

TABELA 11

Brasil/grandes regiões: distribuição dos abrigos da Rede SAC pelas características doatendimento, segundo faixa etária (%)

Regiões brasileirasDiferença média entreidades máxima emínima

Até 2 anos

De 3 a 4 anos

De 5 a 7 anos

De 8 a 10 anos

Acima de 10 anos

Não sabe/nãorespondeu

Total

Norte

0,0

4,0

20,0

20,0

56,0

0,0

100,0

Nordeste

0,0

1,8

28,6

16,1

50,0

3,6

100,0

Sudeste

0,7

5,2

16,3

10,7

62,3

4,8

100,0

Sul

0,0

3,3

9,0

13,9

70,5

3,3

100,0

Centro-Oeste

2,4

2,4

19,5

2,4

70,7

2,4

100,0

BRASIL

0,5

3,9

17,5

12,2

62,0

3,9

100,0

Fonte: IPEA/DISOC (2003). Levantamento Nacional de Abrigos para Crianças e Adolescentes da Rede SAC.

No que se refere à exclusividade para a população infanto-juvenil, a maioria

dos abrigos pesquisados (91,2%) atende somente crianças e adolescentes. Apenas

6,8% (cerca de 40 abrigos) acolhem também adultos e idosos no mesmo espaço

institucional (gráfico 10). Entre esses últimos, encontram-se instituições que atendem,

por exemplo, pessoas portadoras de necessidades especiais e que aí estão desde a

infância. Há também nesse grupo um pequeno número de instituições que oferece

atenção a adolescentes grávidas ou a jovens mães, que são acolhidas juntamente

com seus bebês. Nesses casos, o público adulto informado por esses abrigos refere-

se às mães ou às gestantes maiores de 18 anos.

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90

Do total do universo pesquisado, 12,1% das instituições declararam possuir

atendimento especializado (gráfico 11). Como pode ser observado na tabela 12,

nesse grupo se destacam os abrigos para crianças e adolescentes em situação de

rua (52,1% das instituições com especialidade), os abrigos para portadores de

necessidades especiais (35,2%) e os abrigos para crianças e adolescentes com

doenças infecto-contagiosas (8,5%).

GRÁFICO 11

Brasil: distribuição dos abrigos da Rede SAC, segundo atendimento exclusivoespecializado

Fonte: IPEA/DISOC (2003). Levantamento Nacional de Abrigos para Crianças e Adolescentes da Rede SAC.

GRÁFICO 10

Brasil: distribuição dos abrigos da Rede SAC, segundo atendimento exclusivo paracrianças e adolescentes

Fonte: IPEA/DISOC (2003). Levantamento Nacional de Abrigos para Crianças e Adolescentes da Rede SAC.

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9191

A análise regional mostra que as regiões Norte e Nordeste apresentam maior

percentual de abrigos com atendimento especializado exclusivo do que o restante

do país: mais do que o triplo da região Sudeste e praticamente o dobro dos

percentuais das regiões Sul e Centro-Oeste. As regiões Norte e Sul têm a maioria

dos abrigos com especialidade direcionada para crianças e adolescentes em situação

de rua (83,3% e 60%, respectivamente), enquanto no Nordeste esse tipo de instituição

alcança 52%, e as direcionadas a portadores de necessidades especiais, 44%.

TABELA 12

Brasil/grandes regiões: distribuição dos abrigos da Rede SAC com atendimentoexclusivo, segundo especialidade (%)

Regiões brasileirasEspecialidade

Abrigos com atendimento exclusivo

Abrigo para crianças e adolescentesem situação de rua

Abrigo para portadores denecessidades especiais

Abrigo para crianças e adolescentescom doenças infecto-contagiosas

Abrigo para crianças e adolescentescom câncer

Outros tipos de especialidade

Não há exclusividade no atendimento

Não respondeu

Total

Norte

24,0

83,3

16,7

0,0

0,0

0,0

76,0

0,0

100,0

Nordeste

22,3

52,0

44,0

4,0

0,0

8,0

77,7

0,0

100,0

Sudeste

6,9

50,0

25,0

15,0

5,0

5,0

90,7

2,4

100,0

Sul

12,3

60,0

40,0

6,7

0,0

0,0

85,2

2,5

100,0

Centro-Oeste

12,2

0,0

40,0

20,0

0,0

40,0*

82,9

4,9

100,0

BRASIL

12,1

52,1

35,2

8,5

1,4

7,0

85,9

2,0

100,0

* 40% referentes a dois abrigos, entre cinco com exclusividade de atendimento na região Centro-Oeste, destinados (i) a vítimas deviolência e abuso sexual (residência-protegida) e (ii) a acolher meninas provenientes da zona rural, somente no período letivo.

Fonte: IPEA/DISOC (2003). Levantamento Nacional de Abrigos para Crianças e Adolescentes da Rede SAC.

Por outro lado, é importante registrar que, apesar de a grande maioria das

instituições pesquisadas (85,9%) ter declarado que atende toda e qualquer criança

ou adolescente que se encontre em situação de risco, sem distinção quanto ao

tipo de problema que culminou no abrigamento, apenas 12,6% das instituições

possuem instalações físicas adaptadas ao acesso de pessoas portadoras de

deficiências, o que indica que crianças e adolescentes com estas características,

na verdade, enfrentam restrições no acesso ou no atendimento nessas entidades.11

11 Registra-se, ainda, que houve entidades que optaram por explicitar algum tipo de restrição no atendimento,ainda que esse aspecto não fosse objeto de nenhuma das questões aplicadas. Ou seja, são abrigos que atendemqualquer criança e adolescente, “desde que não sejam portadores de necessidades especiais, infratores (sic) ou usuáriosde substâncias tóxicas” (grifo nosso), por exemplo.

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92

3.7 REGIME DE PERMANÊNCIA DE CRIANÇASE ADOLESCENTES NOS ABRIGOS

Entre os abrigos pesquisados, predomina o regime de permanência

continuada (78,4%), onde crianças e adolescentes ficam no abrigo o tempo todo,

fazendo da instituição seu local de moradia. Um número reduzido de abrigos

(5,8%) funciona em regime no qual as crianças ficam aos cuidados da instituição

durante a semana e nos fins-de-semana retornam a suas casas, onde convivem

com seus familiares. Há ainda um outro grupo de instituições que adota o regime

misto (12,2%), com as duas formas de atendimento citadas (tabela 13). A inserção

em um ou em outro regime depende, basicamente, das circunstâncias e dos motivos

que resultaram na necessidade de a criança permanecer no abrigo.

Com relação a este aspecto, as regiões Nordeste e Centro-Oeste se distinguem

das demais por apresentarem a maior proporção de abrigos que oferecem regimes

de permanência semanal e misto: no Nordeste, 12,5% e 21,4%, respectivamente;

no Centro-Oeste, 9,8% e 14,6%.

TABELA 13

Brasil/grandes regiões: distribuição dos abrigos da Rede SAC, segundo o regime depermanência (%)

Regiões brasileirasRegime de permanência

Crianças e/ou adolescentes ficam

no abrigo o tempo todo

(moram no abrigo)

Crianças e/ou adolescentes ficam no

abrigo durante a semana e vão para

casa nos fins-de-semana

Regime misto

Outro regime de permanência

Não respondeu

Total

Norte

88,0

4,0

0,0

8,0

0,0

100,0

Nordeste

61,6

12,5

21,4

2,7

1,8

100,0

Sudeste

84,1

3,1

10,0

0,7

2,1

100,0

Sul

82,0

4,9

10,7

0,8

1,6

100,0

Centro-Oeste

68,3

9,8

14,6

4,9

2,4

100,0

BRASIL

78,4

5,8

12,2

1,7

1,9

100,0

Fonte: IPEA/DISOC (2003). Levantamento Nacional de Abrigos para Crianças e Adolescentes da Rede SAC.

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9393

O regime de permanência praticado pelas instituições que oferecem

programas de abrigo é um aspecto importante a ser considerado na avaliação

desses serviços, pois sua flexibilidade pode ser um valioso instrumento para

incitar a convivência familiar das crianças e dos adolescentes abrigados. Um

regime de permanência não-rígido pode facilitar a transição entre a fase da

institucionalização e o retorno à família, que tem um tempo para se reorganizar

sem perder o contato com a criança ou com o adolescente.

Além disso, a flexibilidade do regime de permanência pode, em última

instância, fazer parte de uma política mais ampla de prevenção ao abandono,

uma vez que, na ausência ou insuficiência de políticas públicas que atendam a

outros tipos de demanda das famílias - como creches, escolas e centros de

atendimento diário –, as entidades que desenvolvem programas de abrigo podem

oferecer outras opções de apoio a pais e responsáveis que têm menor

disponibilidade para dar atenção a seus filhos, como, por exemplo, empregados

domésticos que necessitam morar durante a semana no local de trabalho.

Deve-se, aqui, mais uma vez, resgatar o abrigo, conforme sua definição no

ECA, como medida provisória utilizada para a proteção da própria criança ou do

adolescente. É uma pausa no convívio familiar durante a qual a família, o Estado

e a sociedade, supostamente, estarão ensejando esforços para que a convivência

familiar seja restabelecida o quanto antes. Dessa forma, a flexibilidade institucional

é importante para que se encontre a melhor opção em cada circunstância na qual

foi estabelecida a medida de abrigamento. Regimes de permanência flexíveis são

especialmente importantes nos casos de crianças e adolescentes que possuem

vínculos familiares e que têm chances de retorno à família de origem. Mesmo

nos casos em que o cumprimento da medida de proteção da criança ou do

adolescente foi motivado por grave enfermidade dos pais ou responsáveis, ou

por problemas de abuso sexual doméstico, por exemplo, a flexibilidade do regime

de permanência deve ser adotada conjuntamente com outras opções de convivência

familiar, como programas de famílias acolhedoras e incentivo à inserção na família

extensiva, assim consideradas as pessoas que não compõem a família nuclear de

origem (pai, mãe e irmãos pequenos), mas que têm relação de parentesco (irmãos

maiores, sobrinhos, primos, avós, tios, cunhados) ou que mantêm vínculo afetivo

com a criança ou o adolescente (padrinhos, agregados da família etc.).

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94

3.7.1 Os centros de atenção diária (CADs) como alternativa

No contexto da importância da flexibilidade no regime de permanência dos

programas de abrigo para a garantia do direito à convivência familiar de crianças

e adolescentes em situação de risco social ou pessoal, é importante destacar a

relevância da atuação das instituições que prestam atendimento diário para a

população infanto-juvenil, denominadas de centros de atenção diária - CADs, ainda

que, segundo a definição adotada nesta pesquisa, não sejam considerados abrigos.12

Entre as instituições pesquisadas pelo “Levantamento Nacional”, foram

encontrados 10 CADs para crianças e adolescentes. Os serviços oferecidos por

instituições dessa natureza têm influência direta na problemática do risco social

que leva centenas de crianças e adolescentes à institucionalização. Como se sabe,

apesar de o estatuto afirmar que a falta ou carência de recursos materiais não

constitui motivo suficiente para a perda ou destituição do pátrio poder,13 a realidade

é que muitas famílias abandonam seus filhos nos abrigos sob a alegação de

insuficiência de recursos para a própria sobrevivência e a de seus filhos.

Nesse contexto, os CADs são orientados por uma concepção preventiva e

compensatória de atendimento infanto-juvenil destinado às camadas de baixa

renda, que têm problemas de acesso a outros equipamentos públicos como creches

- para a população de zero a seis anos - e escolas ou centros de atendimento

integral - para as faixas etárias de sete a 12 anos e de 13 a 17 anos.

De fato, como se observa pelos dados da tabela 14, o motivo mais citado

para o ingresso das crianças e dos adolescentes nos CADs é a pobreza/carência

de recursos materiais da família ou do responsável (86,2% do total dos motivos

apontados por esses centros de atendimento). A magnitude desse indicador revela,

de forma contundente, a importância dessas instituições para as famílias de baixa

renda, uma vez que representam suporte para que mães, pais ou responsáveis

possam trabalhar fora de casa e, conseqüentemente, aumentar a renda da família,

diminuindo, assim, as causas de abandono de crianças e adolescentes em abrigos.

12 Essas instituições não estão contempladas nas demais análises realizadas neste trabalho.

13 Estatuto da Criança e do Adolescente, art. 23.

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9595

TABELA 14

Brasil: motivo de ingresso de crianças e adolescentes nos centros de atenção diária,segundo a freqüência

Motivos referidos

Carência de recursos materiais da família/responsável (pobreza)

Outros motivos

Sem informação sobre os motivos de ingresso

TOTAL

Freqüência

558

84

5

647

Percentual

86,2%

13,0%

0,8%

100,0%

Fonte: IPEA/DISOC (2003). Levantamento Nacional de Abrigos para Crianças e Adolescentes da Rede SAC.

3.8 OUTROS SERVIÇOS OFERECIDOS PELOS ABRIGOS

Também no âmbito da discussão sobre a inadequação e a carência de

programas públicos, voltados prioritariamente para a população de baixa renda,

que atendam às necessidades de acolhimento, educação e cuidado das crianças e

dos adolescentes, é oportuno registrar a atuação dos abrigos na busca do

atendimento de outras demandas da comunidade onde estão inseridos.

Com efeito, estudos brasileiros sobre creches - que são instituições que

guardam alguma similitude com os CADs - apontam forte relação entre esses

serviços e o incremento do trabalho feminino fora de casa, destacando que,

enquanto o modelo jardim-de-infância é voltado para as classes mais privilegiadas,

nas creches o atendimento é essencialmente dirigido para os pobres.14

14 BARRETO, Ângela Maria R.F. Políticas e Programas federais destinados à criança de zero a seis anos. IN: IPEA/BID. Relatório final da pesquisa Crianças de zero a seis anos: suas condições de vida e seu lugar nas políticaspúblicas. Brasília, dezembro de 2001. (não publicado)

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96

Fonte: IPEA/DISOC (2003). Levantamento Nacional de Abrigos para Crianças e Adolescentes da Rede SAC.

GRÁFICO 12

Brasil: distribuição dos abrigos da Rede SAC, segundo outros serviços oferecidos

Como ilustrado no gráfico 12, 66,2% dos abrigos pesquisados no Brasil

desenvolvem outros tipos de atividades para crianças e adolescentes da comuni-

dade, além do programa de abrigo, e 27,2% declararam que não oferecem outros

serviços. Das regiões brasileiras, o Norte e o Nordeste mantêm os maiores percen-

tuais de entidades que realizam outros programas para crianças e adolescentes:

80,0% e 73,2%, respectivamente. Por sua vez, o Sudeste (64,7%), o Sul (62,3%)

e o Centro-Oeste (61,9%) têm participações desse tipo de abrigo semelhantes à

média do país.

Entre os diversos serviços oferecidos destacaram-se, pela proporção dos

abrigos que os realizam: (i) atividades no turno complementar ao da escola para

crianças e adolescentes da comunidade (40,7% dos abrigos); (ii) apoio psicológico

e/ou social a famílias de crianças/adolescentes carentes (38,4%); (iii) cursos de

profissionalização (32,8%); (iv) escola (23,1%); (v) creche (21,6%); e (vi) pré-

escola (19,9%) (tabela 15).

Com relação às diferenças entre regiões, no Centro-Oeste grande parte dos

abrigos que oferecem outros serviços à comunidade desenvolve atividades