3
Luciana Buchala Filosofia e História da Arte I – Prof.º João Ricardo Moderno O presente trabalho pretende discutir a relação entre arte e realidade discutida a partir do texto de Adorno, Engagement e da obra literária A nuvem candidata à Presidência”, de Carlos Nejar. Em seu Engagement, Adorno diz, com relação às obras de arte engajada e autônoma, que: Cada uma dessas duas alternativas nega, ao negar a outra, também a si própria: a arte engajada porque, como arte necessariamente distinta da realidade, abole essa distinção; a da arte pela arte porque, pela sua absolutização, nega também aquele relacionamento irrecorrível para com a realidade, que no processo dinâmico de sua independentização do real, entende-se como seu a priori polêmico. Quanto à arte engajada, Adorno via o risco de que a arte perdesse a sua autonomia e passasse a ser um instrumento de manipulação política, ou seja, temia que ela atingisse um nível de engajamento tal que caísse no funcionalismo. E para

arte

Embed Size (px)

DESCRIPTION

arte

Citation preview

Page 1: arte

Luciana BuchalaFilosofia e História da Arte I – Prof.º João Ricardo Moderno

O presente trabalho pretende discutir a relação entre arte e realidade discutida a partir do texto de Adorno, Engagement e da obra literária “A nuvem candidata à Presidência”, de Carlos Nejar.

Em seu Engagement, Adorno diz, com relação às obras de arte engajada e autônoma, que:

Cada uma dessas duas alternativas nega, ao negar a outra, também a si própria: a arte engajada porque, como arte necessariamente distinta da realidade, abole essa distinção; a da arte pela arte porque, pela sua absolutização, nega também aquele relacionamento irrecorrível para com a realidade, que no processo dinâmico de sua independentização do real, entende-se como seu a priori polêmico.

Quanto à arte engajada, Adorno via o risco de que a arte perdesse a sua autonomia e passasse a ser um instrumento de manipulação política, ou seja, temia que ela atingisse um nível de engajamento tal que caísse no funcionalismo. E para ele, a característica mais essencial da arte é a sua independência de qualquer função.

Entendemos que Carlos Nejar, em “A nuvem candidata à Presidência”, posiciona-se para além da dicotomia arte engajada/ arte autônoma ao recriar em termos ficcionais um momento histórico do Brasil.

Page 2: arte

No livro de Nejar, não é Dilma quem vence as eleições, mas a vitória será sempre da Nuvem, metáfora do povo brasileiro e seus sonhos. A Nuvem é a própria pureza dos sonhos de um povo.

Para Adorno, o artista deve sempre reconhecer que sua criação está até certo ponto implícita no sistema total de racionalidade de seu próprio tempo e, caso queira desafiar essa totalidade, terá de fazê-lo dentro do próprio processo criativo – e não apenas com respeito ao assunto, mas também à maneira com que o assunto é tratado. Esta crítica torna- se clara no ensaio Engagement,10 de 1962, no qual Adorno defende e elogia Beckett como um artista que, à semelhança de Kafka, explode por dentro a arte, em oposição a uma abordagem engajada (como a de Brecht e Sartre) que a subjuga de fora e, portanto, questiona os limites da arte apenas na aparência.

Em um mundo privado de sentido imanente, em cujo contexto o sujeito está deformado e esvaziado da capacidade reflexiva, Adorno afirma a necessidade de se elaborar formas significativas, que sejam ao mesmo tempo denúncia e mímesis desse estado de coisas.

Nesse sentido, em “A nuvem candidata à Presidência”, Carlos Nejar tece uma crítica à realidade brasileira exatamente a partir de dentro do próprio processo criativo de uma ficção, sem colocar sua arte à serviço de algum objetivo político previamente estabelecido. Sua mensagem é que o homem não pode desistir, tem que continuar seguindo o seu projeto, “Como o artista, que não consegue se expressar a não ser por meio da sua arte, mas que continua tentando, mesmo que suas tentativas estejam fadadas ao fracasso.”