ARTETERAPIA, UM CAMINHO Por Ângela Philippini

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  • 8/9/2019 ARTETERAPIA, UM CAMINHO Por ngela Philippini

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    ARTETERAPIA, UM CAMINHO

    Por ngela Philippini

    Trabalho com Arteterapia h alguns anos e, neste tempo acompanhei processos de

    transformaes diversos, compartilhando o prazer de mltiplas descobertas.Prazer que pode vir da surpresa da mistura de cores e da gestao de imagens apartir de borres e manchas iniciais, comunicando afetos esquecidos ou nuncaexperimentados. Prazer de tocar o barro, que sob a presso, calor e trabalhos da mo,concretiza objetos e personagens. Prazer de ver o ritmo e a evoluo dos traos que, dagaratuja s formas mais elaboradas, representam emoes.

    Prazer de participar de pontes para aqueles que j no podem ou querem falar,pontes frgeis ou slidas, com fios, arames, madeira ou s vezes apenas sonhos...Prazer dever na metamorfose de velhas caixas, o surgimento de cofres, casas, castelos, configurandoproteo e abrigo de lembranas e desejos. Prazer de ver o nascimento de criaturasfantsticas aparecendo de repente, das dobras de um retalho ou das muitas sobras do lixodomstico. Prazer, enfim, de ver surgir o novo, a possibilidade, a promessa.

    No dia a dia, sou observadora participante e privilegiada da abertura de novoscanais de comunicao, que facilitam o acesso do inconsciente, atravs das mltiplasformas de expresso, da experimentao, criao, destruio e recriao de diferentesmateriais expressivos.

    bem verdade que no existem s prazeres. Algumas vezes h lacunas, reassombrias, e a jornada marcada por decepes, projetos desfeitos, desconforto frente construes de precrio equilbrio, tristeza por sucessivas tentativas abortadas de criao,cores e afetos de comunicao truncada, fechados no peito, explodindo depois em doresreais ou imaginadas, e sempre duramente sofridas. Outras vezes, hora de acompanhar oconfronto com imagens disformes e ameaadoras, emissrias de temores e perdas, de elosrompidos, de emoes reprimidas, ou simplesmente do novo, que no tem espao nem vezno velho arranjo das mesmices.

    H ento de relembrar Jung: A vida se d no equilbrio entre a alegria e a dor e cabe ao arteterapeuta ajudar o paciente a encontrar este equilbrio...e acreditar que otrabalho teraputico produtivo resulta de uma delicada construo artesanal, gestado naescolha adequada de materiais expressivos e de estratgias que favoream transformaes.Pois um processo arteteraputico bem sucedido depende da harmonia de um complexoconjunto de variveis, que facilitam a descoberta de si mesmo. E para isto necessrio noperder de vista que os processos de criao, apesar de singulares, so regidos por princpiosuniversais e arquetpicos, e que os materiais expressivos, como veculos da criao,possuem propriedades teraputicas que devem ser conhecidas e respeitadas.

    Deste modo, os recursos expressivos em Arteterapia podero permitir que fatos doinconsciente sejam simbolizados e configurados em imagens, que perpetuadas no tempo,possam conduzir conscincia informaes deste universo profundo. O smboloconfigurado em materialidade, leva compreenso, transformao, estruturao e expansode toda a personalidade do indivduo que cria.

    Na prtica diria como arteterapeuta e no encontro com outros terapeutasexpressivos, atravs de trabalhos de superviso e coordenao de cursos de formao e ps-graduao em arteterapia, encontro suporte e conforto na abordagem Junguiana.

  • 8/9/2019 ARTETERAPIA, UM CAMINHO Por ngela Philippini

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    bom poder seguir por trilhas registradas desde sempre na ancestralidade. Podercaminhar junto com aqueles que circunstancialmente esto pacientes, alunos oucompanheiros de equipe para descobrir o legado vivo de PANDORA a nossos dias: AESPERANA.

    A esperana de mudana, do nvel individual ao coletivo e, sobretudo, a esperana

    de melhores dias, que certamente viro, desde que construdos por todos ns...

    Referncias bibliogrficas:

    DALLEY, Tessa Art as therapie an introduction to the art as therapeutic technique Tavistock Publication London 1984

    JUNG, Carl G. O homem e seus smbolos Traduo de Maria Lcia Pinho EditoraNova Fronteira 1964

    Publicado originalmente no Volume I da Revista Imagens da Transformao 1994 Pomar

    ngela Philippini arteterapeuta, artista plstica, Mestre em Criatividade pelaUniversidade de Santiago de Compostela (Espanha), editora da coleo de Revistas deArteterapia Imagens da Transformao, autora do livro de arteterapia Cartografias daCoragem, organizadora do livro Arteterapia: Mtodos, Projetos e Processos,coordenadora da Ps-Graduao Lato Sensu em Arteterapia em convnio Pomar ISEPE.

    E-mail: pomar @alternex.com.br