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Por Luiz DelloreProfessor de Direito Processual do Mackenzie, EPD, IEDI e IOB/Marcato Siga Dellore no Twitter Como se percebe ao longo das colunas aqui no Jota, o NCPC traz inovações (como o IRDR , tratado por Andre Roque) e ressurreições (como a monitória , em texto de Fernando Gajardoni e Zulmar Duarte). Mas, ao mesmo tempo, existem meras repetições (o “museu de grandes novidades bem apontado por Marcelo Machado) e verdadeiras relíquias (como a menção a telegrama e radiograma, conforme minha coluna anterior). Para tratar de uma inovação no NCPC – mas não no sistema processual –, vou utilizar termo típico do “disco de vinil” (que, apesar de ser uma tecnologia antiga, passa por uma espécie de ressurreição – algo que se vê no novo Código): lado A e lado B. Para os leitores que conhecem apenas CD ou MP3, vale esclarecer que, no LP (long play) de vinil, normalmente as principais músicas estava do lado A, ao passo que as menos conhecidas (ou mais obscuras) estavam do lado B. Por isso, muitas vezes apenas se ouviu (ou se ouviu muito mais) apenas o lado A. Falemos desses dois lados da regulamentação da justiça gratuita no NCPC. Na coluna de hoje, falarei do “lado A”, ou seja, os pontos que, para mim, parecem boas escolhas do legislador em relação à justiça gratuita. Na próxima coluna (após as colunas dos demais autores), tratarei do “lado B” – as escolhas que não foram as melhores (na minha visão, por certo). Assim, retomo um tema a respeito do qual costumo me dedicar [1]. Portanto, dentre os pontos fortes do NCPC a respeito da justiça gratuita, destaco o seguinte:

Artgo Sobre Novo Cpc 2015

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O Novo Código de Processo Civil, uma análise critica.

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Page 1: Artgo Sobre Novo Cpc 2015

Por Luiz DelloreProfessor de Direito Processual do Mackenzie, EPD, IEDI e IOB/MarcatoSiga Dellore no Twitter

Como se percebe ao longo das colunas aqui no Jota, o NCPC traz inovações (como o IRDR, tratado por

Andre Roque) e ressurreições (como a monitória, em texto de Fernando Gajardoni e Zulmar Duarte).

Mas, ao mesmo tempo, existem meras repetições (o “museu de grandes novidades” bem apontado por

Marcelo Machado) e verdadeiras relíquias (como a menção a telegrama e radiograma, conforme minha

coluna anterior).

Para tratar de uma inovação no NCPC – mas não no sistema processual –, vou utilizar termo típico do

“disco de vinil” (que, apesar de ser uma tecnologia antiga, passa por uma espécie de ressurreição – algo

que se vê no novo Código): lado A e lado B. Para os leitores que conhecem apenas CD ou MP3, vale

esclarecer que, no LP (long play) de vinil, normalmente as principais músicas estava do lado A, ao passo

que as menos conhecidas (ou mais obscuras) estavam do lado B. Por isso, muitas vezes apenas se ouviu

(ou se ouviu muito mais) apenas o lado A.

Falemos desses dois lados da regulamentação da justiça gratuita no NCPC.

Na coluna de hoje, falarei do “lado A”, ou seja, os pontos que, para mim, parecem boas escolhas do

legislador em relação à justiça gratuita. Na próxima coluna (após as colunas dos demais autores), tratarei

do “lado B” – as escolhas que não foram as melhores (na minha visão, por certo). Assim, retomo um

tema a respeito do qual costumo me dedicar [1].

Portanto, dentre os pontos fortes do NCPC a respeito da justiça gratuita, destaco o seguinte:

1) Tratamento da justiça gratuita no próprio Código.

A gratuidade de justiça não é tratada no CPC/73, mas na L. 1.060/50.

Conveniente que um tema dessa relevância não fique apartado do corpo do CPC, especialmente para fins

de melhor sistematização da matéria (harmonização com o todo do sistema processual).

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Porém, vale destacar que a L. 1.060/1950 não foi totalmente revogada. Conforme art. 1.072, III do

NCPC, ficam revogados “os arts. 2º, 3º, 4º,caput e §§ 1º a 3º, 6º, 7º, 11, 12 e 17 da Lei nº 1.060, de 5 de

fevereiro de 1950”).

Além disso, se tudo regulado no próprio Código, é certo que facilita a assimilação das regras por todos os

atores do processo.

Nesse sentido, por exemplo, a condenação do beneficiário da gratuidade, quando vencido na demanda,

no ônus da sucumbência. Apesar de expressamente prevista no art. 12 da L. 1.060/1950, muitos juízes

não aplicavam a regra. Quiçá por desconhecimento, já que não constava do CPC. Com a presença da

regra no art. 98, § 4º, espera-se que deixem de existir tais decisões.

2) Terminologia utilizada:

No cotidiano forense é comum a utilização inadequada dos termos relacionados à gratuidade. A L.

1.060/50, em alguns momentos, trata da gratuidade e da assistência judiciária como sinônimos.

O NCPC, ao tratar do tema adequadamente, apenas pelo nome “gratuidade de justiça”, afasta a atecnia

legislativa.

Augusto Tavares Rosa Marcacini [2] foi dos primeiros a bem diferenciar os conceitos de assistência

jurídica [3] (orientação ao hipossuficiente, em juízo ou fora dele – CF, art. 5º, LXXIV, assistência

judiciária (serviço de postulação em juízo, principalmente, mas não só, exercido pela Defensoria Pública)

e justiça gratuita (isenção do recolhimento de custas e despesas processuais).

O NCPC regula apenas a justiça gratuita. Mas, com o nome tecnicamente correto, pode permitir que, aos

poucos, deixe se ser utilizado o termo assistência judiciária de forma inadequada.

3) Forma de requerer a gratuidade:

Explicitando e facilitando como pode ser feito o requerimento de gratuidade, o art. 99 do NCPC permite

requerer a justiça gratuita: (i) na petição inicial, (ii) na contestação; (iii) na petição de ingresso de

terceiro, (iv) no recurso e (v) por simples petição.

Está justificada a hipótese (v) porque a parte pode, inicialmente, não necessitar da gratuidade, mas,

durante o processo, em primeiro grau e antes do recurso, ter necessidade do benefício.

Portanto, ampla liberdade no momento de se requerer (como já se reconhece hoje), mas isso previsto em

lei para afastar qualquer discussão a respeito disso.

4) Forma de impugnar a gratuidade:

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Temos, aqui, sensível alteração. No sistema ainda vigente, a impugnação à justiça gratuita é autuada em

apartado, e há uma peça específica para isso.

Agora, essa impugnação será nos próprios autos, inexistindo peça própria para isso. Ou seja, conforme a

petição que a parte tiver de apresentar, em seu bojo, será aberto um tópico para impugnar a gratuidade

deferida pelo juiz. Boa simplificação e afasta a necessidade de mais um incidente processual.

E isso ocorrerá: (i) na contestação, se a gratuidade for deferida ao autor; (ii) na réplica, se a justiça

gratuita for deferida ao réu; (iii) nas contrarrazões, se a gratuidade da justiça for deferida no recurso; ou

(iv) por simples petição, se a gratuidade for deferida em outro momento processual.

5) Especificação de quais despesas estão abrangidas pela gratuidade:

Um dos assuntos que gera algumas discussões atualmente, considerando a omissão da L. 1.060/50, é a

abrangência da justiça gratuita.

Para evitar esse debate, o NCPC traz um longo rol de despesas inseridas na gratuidade de justiça. O § 1º

do art. 98 tem nove incisos, que enfrentam as principais despesas e custas envolvidas em processo

judicial. Tanto de situações que sempre estiveram incluídas no conceito de justiça gratuita (como custas),

passando por temas polêmicos (perícia e despesas com cartórios extrajudiciais) até novidades (“outros

exames”, além do DNA).

Em síntese, estão abrangidas pela gratuidade, não sendo o caso de pagamento por quem é beneficiário da

justiça gratuita:

I –custas judiciais;

II – despesas com correio;

III – despesas com publicação na imprensa oficial (dispensada a publicação em outros meios de

comunicação);

IV – indenização devida à testemunha (dia de trabalho da testemunha, que se ausenta para ir à audiência);

V – custo do exame de DNA (já previsto na lei) e de “outros exames considerados essenciais” (novidade

– que poderá ser realizado por hospital público, nos termos do art. 95, § 3º);

VI – honorários de advogado, perito, intérprete ou tradutor;

VII – custo com a elaboração de memória de cálculo, quando necessário para a fase satisfativa;

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VIII – depósitos devidos “para interposição de recurso, propositura de ação e para a prática de outros atos

processuais inerentes ao exercício da ampla defesa e do contraditório” (dispositivo que acaba sendo

residual, para afastar a necessidade de pagamento de e não incluída nos incisos anteriores).

IX –emolumentos devidos a cartórios extrajudiciais (notários ou registradores) para atos cartoriais

necessários à efetivação de decisão judicial [4].

Isso evita debates, recursos, discussões laterais, pois o legislador já define o que está coberto pela

gratuidade.

6) Permissão para o juiz indeferir a gratuidade requerida pela parte, mas não de plano.

Apesar da previsão legal de presunção relativa de necessidade (art. 99, § 2º), o NCPC expressamente

permite ao juiz indeferir a gratuidade, “se houver nos autos elementos que evidenciem a falta dos

pressupostos legais para a concessão da gratuidade” (art. 99, § 1º).

Mas, para evitar prejudicar a parte, o juiz somente poderá indeferir o pedido após a comprovação

documental de fazer jus à gratuidade.

Parece-me uma solução bem lógica, que pode evitar abusos.

Se a situação de penúria financeira é patente, a gratuidade será deferida. Se o magistrado tem dúvidas,

deve determinar a produção de provas – mas não de plano indeferir (exemplo concreto da cooperação do

art. 6º). Simples e prático.

Isso pode minorar situações de flagrante abuso no uso da gratuidade, em que a parte utiliza a justiça

gratuita como uma forma de “litigar sem risco”, sem nada ter de pagar.

Essa possibilidade de indeferimento pelo juiz é criticada por alguns [5], mas também já encontra apoio

na doutrina [6].

7) Expressa previsão de possibilidade de justiça gratuita para a parte patrocinada por advogado

particular.

Reforçando a distinção entre assistência judiciária e justiça gratuita, o NCPC permite expressamente a

concessão de justiça gratuita para a parte tiver como patrono advogado particular (art. 99, § 3º).

Ainda que já seja a posição majoritária atualmente, vez ou outra há decisão judicial em sentido inverso.

Assim, com a previsão legal, espera-se que o debate se finde.

8) Definição quanto ao recurso cabível a respeito da decisão que aprecia a gratuidade.

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À luz da L. 1.060/50 e do CPC/73, o assunto é polêmico e incongruente. Apesar de a decisão que aprecia

a impugnação ser interlocutória, a firme jurisprudência do STJ [7] reconhece ser cabível a apelação,

considerando o art. 17 da L. 1.060/50 [8].

O art. 101 do NCPC resolve o problema, existindo 3 possíveis situações:

(i) se o juiz indeferir a gratuidade, cabe agravo de instrumento;

(ii) se a impugnação à justiça gratuita for acolhida, cabe agravo de instrumento;

(iii) se o juiz decidir a gratuidade na sentença, cabe apelação.

Ou seja: se interlocutória, cabe agravo de instrumento; se sentença, cabe apelação.  Exatamente como

deveria ser no CPC/73 [9].

9) Previsão quanto ao pagamento de multas pelo beneficiário da justiça gratuita.

Tal qual já exposto no item 6, muitas vezes, infelizmente, a parte (e seu patrono) utilizam a justiça

gratuita para uma “aventura” judicial, em que se pode pleitear sem pagar nada.

Nesse contexto, em boa hora prevê o NCPC que, se houver condenação ao beneficiário da justiça gratuita

ao pagamento de multas (como a por litigância de má-fé), a multa é devida e deverá ser paga, ao final –

sem qualquer ressalva quanto à mudança de condição financeira da parte (art. 98, § 4º).

Além disso, se houver má-fé, haverá a condenação ao pagamento de até 10 vezes o valor das despesas

devidas a título de multa, em favor da Fazenda Pública (art. 100, p. u.).

Portanto, são inovações que facilitam o acesso à justiça, simplificam o procedimento, buscam evitar

abuso dos requerentes da gratuidade e, especialmente, pretendem obstar debates laterais e incidentes,

para que se possa focar na discussão do mérito. Elogios ao legislador por essas regras.

Mas, como dito, não temos apenas o “lado A”. Há outras previsões que, creio, trarão dificuldades para o

cotidiano forense (gerando, especialmente, as indesejadas discussões laterais). Mas isso é o “lado B” da

gratuidade, e será tratado na próxima coluna (lado que, infelizmente, também terá de “tocado e ouvido”

no dia a dia forense).

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* Mestre e doutor em Direito Processual pela USP. Mestre em Direito Constitucional pela PUC/SP.

Professor de Direito Processual do Mackenzie, EPD, IEDI e IOB/Marcato e professor convidado de

outros cursos em todo o Brasil. Advogado concursado da Caixa Econômica Federal. Ex-assessor de

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Ministro do STJ. Membro da Comissão de Direito Processual Civil da OAB/SP, do IBDP (Instituto

Brasileiro de Direito Processual) e diretor do CEAPRO (Centro de Estudos Avançados de Processo).

[1] – Desde os tempos de estágio no Departamento Jurídico do XI de Agosto (assistência jurídica à

população carente prestada pelos alunos da Faculdade de Direito da USP) trato do assunto.

Recentemente, foi publicado artigo na Revista de Processo, em coautoria com a amiga processualista

Fernanda Tartuce, em que analisamos diversos aspectos relativos à justiça gratuita no NCPC – inclusive

sob distintos ângulos de vista (DELLORE, Luiz; TARTUCE, Fernanda. Gratuidade da justiça no novo

CPC. Revista de Processo, v. 236, p. 305-324, out.2014).

[2] –  MARCACINI, Augusto Tavares Rosa. Assistência Jurídica, Assistência Judiciária e Justiça

Gratuita. Rio de Janeiro: Forense, 1996.

[3] – Há quem, como Zulmar Duarte, prefira o termo orientação jurídica, termo também constante da

Constituição (art. 134).

[4] –  Temos aqui uma dificuldade prevista no § 8º, típico caso do “lado B”, mas que exatamente por isso

fica para a próxima coluna.

[5] – Por exemplo, por Fernanda Tartuce, inclusive no artigo mencionado na nota 1.

[6] –  Nesse sentido, Antonio Carvalho Filho (Gratuidade judicial, sua presunção, sua comprovação e o

novo CPC, em http://emporiododireito.com.br/gratuidade-judicial-sua-presuncao-sua-comprovacao-e-o-

novo-cpc-por-antonio-carvalho/, acesso em 5/3/15).

[7] – Desde o REsp 7.641/SP, 4.ª T., j. 01.10.1991, rel. Min. Athos Carneiro, DJ 11.11.1991, p. 16150.

[8] –  Sustento o cabimento de agravo (DELLORE, Luiz. Do recurso cabível das decisões referentes à

gratuidade da justiça (L. 1060/50). In: Nery Jr, Nelson; Wambier, Teresa Arruda Alvim. (Org.). Aspectos

polêmicos e atuais dos recursos cíveis. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006, v. 9, p. 316-346), mas a

posição não encontra eco na jurisprudência.

[9] – Exatamente como propunham, para o sistema ora vigente, dois especialistas no tema

(MARCACINI, Augusto Tavares Rosa; RODRIGUES, Walter Piva . Proposta de Alteração da Lei de

Assistência Judiciária. Revista da Faculdade de Direito. Universidade de São Paulo, v. 93, p. 393-413,

1998).

 

As verbas de sucumbência e a gratuidade da justiça no Novo CPC – nº 06

NOVO CPC REVISTA PROLEGIS SLIDER  8 de março de 2015 Clovis Brasil Pereira 3

Page 7: Artgo Sobre Novo Cpc 2015

*Clovis Brasil Pereira

SUMÁRIO:  1. Introdução.    2. Das despesas do processo.  3. Dos honorários advocatícios.  4. A

natureza alimentar dos honorários advocatícios.  5. A gratuidade da justiça e as verbas de sucumbência.   

6. Conclusão.

No processo judicial, se constituem em ônus das partes, prover  todas as despesas necessárias para

realização dos atos processuais, antecipando-lhes o pagamento, desde o início até sentença final ou, na

execução, até a plena satisfação do direito reconhecido no título judicial (art. 82).

Ao final do processo,  além das despesas e multas processuais que der causa, caberá à parte vencida,

pagar também  os honorários advocatícios que forem fixados na sentença judicial, em benefício do

advogado do vencedor (art. 85), constituindo-se esses encargos nas verbas de sucumbência.

Das despesas do processo

Segundo o art. 84, as despesas abrangem as custas dos atos do processo, a indenização de viagem, a

remuneração do assistente técnico e a diária de testemunha.

Quanto ao pagamento das despesas com a perícia, que são geralmente de valor significativo, cada parte

adiantará a remuneração do assistente técnico que houver indicado, sendo a do perito adiantada pela parte

que houver requerido a perícia, ou rateada quando a perícia for determinada de ofício ou requerida por

ambas as partes, conforme a previsão do art. 95.

Quanto ao compartilhamento das despesas processuais,  o Novo CPC estatui que se cada litigante for, em

parte, vencedor e vencido, serão proporcionalmente distribuídas entre eles as despesas (art. 86), e se  um

litigante sucumbir em parte mínima do pedido, o outro responderá, por inteiro, pelas despesas e pelos

honorários (parágrafo único).

Na hipótese de litisconsórcio, ativo ou passivo,  os vencidos respondem proporcionalmente pelas

despesas e pelos honorários (art. 87), devendo o juiz na sentença distribuir entre eles, de forma expressa,

a responsabilidade proporcional pelo pagamento das verbas processuais devidas, respondendo todos

solidariamente pelo pagamento de tais despesas bem como dos honorários advocatícios fixados pelo juiz.

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Nos  procedimentos de jurisdição voluntária, onde não há litigiosidade, e sim interessados,  as despesas

serão adiantadas pelo requerente e rateadas entre os interessados, conforme art. 88, o mesmo ocorrendo

nos  juízos divisórios, tais como ação de divisão e demarcação de terras particulares, em que não

havendo litígio, os interessados pagarão as despesas proporcionalmente a seus quinhões (art. 89).

Dos honorários advocatícios

O Novo CPC trás destaque para a previsão dos honorários advocatícios, que guardam relação direta com

as verbas de sucumbência, e que tem regulamento expresso no artigos 85, incisos e parágrafos.

O estatuto processual prevê a incidência de honorários  advocatícios na reconvenção, no cumprimento de

sentença, provisório ou definitivo, na execução, resistida ou não, e nos recursos interpostos,

cumulativamente, sendo esta uma inovação que veio eliminar eventuais dúvidas na interpretação legal e

na construção da jurisprudência, e serão fixados no patamar entre o mínimo de dez e o máximo de vinte

por cento sobre o valor da condenação, do proveito econômico obtido ou, não sendo possível mensurá-lo,

sobre o valor atualizado da causa.

O percentual dos honorários, conforme a previsão do artigo 85, § 2º, será fixado pelo juiz, levando em

conta:

I – o grau de zelo do profissional;

II – o lugar de prestação do serviço;

III – a natureza e a importância da causa;

IV – o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu serviço.

Outra importante conquista dos advogados foi alcançada no Novo CPC, com a previsão  de forma clara a

incidência dos honorários nas  causas em que a Fazenda Pública for parte, cabendo ao juiz, levando em

conta os critérios estabelecidos nos incisos I a IV do § 2º, fixá-los nos seguintes percentuais:

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I – mínimo de dez e máximo de vinte por cento sobre o valor da condenação ou do proveito econômico

obtido até 200 (duzentos) salários-mínimos;

II – mínimo de oito e máximo de dez por cento sobre o valor da condenação ou do proveito econômico

obtido acima de 200 (duzentos) salários-mínimos até 2.000 (dois mil) salários-mínimos;

III – mínimo de cinco e máximo de oito por cento sobre o valor da condenação ou do proveito

econômico obtido acima de 2.000 (dois mil) salários-mínimos até 20.000 (vinte mil) salários-mínimos;

IV – mínimo de três e máximo de cinco por cento sobre o valor da condenação ou do proveito econômico

obtido acima de 20.000 (vinte mil) salários-mínimos até 100.000 (cem mil) salários-mínimos;

V – mínimo de um e máximo de três por cento sobre o valor da condenação ou do proveito econômico

obtido acima de 100.000 (cem mil) salários-mínimos.

Será considerado o valor do salário-mínimo vigente, a data da prolação da sentença líquida, ou a que

estiver em vigor na data da decisão da liquidação, conforme § 4º, inc. IV,  sendo que não havendo

condenação principal ou não sendo possível mensurar o proveito econômico obtido, a condenação em

honorários dar-se-á sobre o valor atualizado da causa conforme previsto no § 3º.

No cálculo dos honorários devidos quando das condenação contra a Fazenda Pública,  ou o benefício

econômico obtido pelo vencedor ou o valor da causa for superior ao valor previsto no inciso I do § 3º, a

fixação do percentual de honorários deve observar a faixa inicial e, naquilo que a exceder, a faixa

subsequente, e assim sucessivamente, aplicando-se tais limites e critérios, independentemente de qual

seja o conteúdo da decisão, inclusive aos casos de improcedência ou de sentença sem resolução de

mérito.

 Nas causas em que for inestimável ou irrisório o proveito econômico ou, ainda, quando o valor da causa

for muito baixo, o juiz fixará o valor dos honorários por apreciação equitativa, conforme prevê o § 8º.

Outras previsões no Novo CPC, quanto aos honorários advocatícios merecem destaque a saber:

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1. a) Na ação de indenização por ato ilícito contra pessoa, o percentual de honorários incidirá sobre a

soma das prestações vencidas acrescida de 12 (doze) prestações vincendas (§ 9º);

2. b) Nos casos de perda do objeto da ação, os honorários serão devidos por quem deu causa ao

processo (§ 10).

3. c) O tribunal, ao julgar recurso, majorará os honorários fixados anteriormente levando em conta o

trabalho adicional realizado em grau recursal, sendo vedado ao tribunal, no cômputo geral da

fixação de honorários devidos ao advogado do vencedor, ultrapassar os respectivos limites

estabelecidos nos §§ 2º e 3º para a fase de conhecimento do processo (§ 11), observando-se que os

honorários advocatícios  são cumuláveis com multas e outras sanções processuais, previstas

expressamente no Novo CPC.

4. d) As verbas de sucumbência arbitradas em embargos à execução rejeitados ou julgados

improcedentes e em fase de cumprimento de sentença serão acrescidas no valor do débito

principal, para todos os efeitos legais (§ 13).

A natureza alimentar dos honorários advocatícios

Clareando entendimento dúbio da doutrina e jurisprudência pátria, que ora decidiam num, ora noutro

sentido, pelo novo estatuto processual, os honorários constituem direito do advogado e têm natureza

alimentar, com os mesmos privilégios dos créditos oriundos da legislação do trabalho, sendo vedada a

compensação em caso de sucumbência parcial, conforme a previsão expressa no § 14, do artigo 85.

 Os honorários serão devidos quando o advogado atuar em causa própria (§ 17), e na hipótese de que a

sentença transitada em julgado seja omissa quanto ao direito aos honorários ou ao seu valor, será cabível

ação autônoma para sua definição e cobrança (§ 18).

O  Novo CPC trás ainda a previsão de honorários de sucumbência para os advogados públicos, nos

termos da lei, necessitando neste caso de legislação complementar, quando inexistente, para

regulamentar sua distribuição.

Page 11: Artgo Sobre Novo Cpc 2015

Por fim, conforme previsto no art. 96, o valor das sanções impostas ao litigante de má-fé, que compõe as

verbas de sucumbência, reverterá em benefício da parte contrária, e o valor das sanções impostas aos

serventuários pertencerá ao Estado ou à União.

A gratuidade da justiça e as verbas de sucumbência

Para dar efetividade ao princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional, previsto no artigo 5º,

inciso XXXV, da Constituição Federal, que proíbe a lei de excluir da apreciação do Poder Judiciário

lesão ou ameaça a direito, a Carta Constitucional garante a todos o acesso à justiça,  para postular e

defender os seus interesses, assegurando a gratuidade da justiça, a todos os destinatários da norma

constitucional que não tenham condições de arcar com o pagamento das custas, despesas processuais e

honorários advocatícios, sem prejuízo do sustento próprio e de sua família.

Tal garantia vem esculpida na Lei Maior, que assevera:

“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros

e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à

segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

……..

Inciso LXXIV – o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem

insuficiência de recursos.”

Tal possibilidade já está sedimentada desde a edição da Lei 1060/50, que disciplina a forma

procedimental para sua concessão.

A assistência judiciária gratuita, converte-se, em um dos principais instrumentos para se garantir o acesso

igualitário à justiça àqueles que comprovem insuficiência de recursos.

José Afonso, da Silva, em seu livro Curso de Direito Constitucional Positivo, p. 222-223, Editora

Malheiros, 1998. assevera que:

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“… formalmente, a igualdade perante a Justiça está assegurada pela Constituição, desde a garantia de

acessibilidade a ela (art. 5º, XXXV). Mas realmente essa igualdade não existe, pois está bem claro hoje,

que tratar como igual a sujeitos que econômica e socialmente estão em desvantagem, não é outra coisa

senão uma ulterior forma de desigualdade e de injustiça. Os pobres têm acesso muito precário à Justiça.

Carecem de recursos para contratar bons advogados. O patrocínio gratuito se revelou de alarmante

deficiência. A Constituição tomou, a esse propósito, providência que pode concorrer para a eficácia do

dispositivo, segundo o qual o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que

comprovarem insuficiência de recursos (art.5º, LXXIV).”

O Novo CPC, no art. 98, por sua vez, assegura à pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com

insuficiência de recursos para pagar as custas, as despesas processuais e os honorários advocatícios,

direito à gratuidade da justiça, na forma da lei, compreendendo conforme seu parágrafo § 1º, o rol de

despesas e custas processuais elencadas nos incisos I a IX, tais como: taxas ou as custas judiciais, os

selos postais, indenização devida à testemunha que, quando empregada, receberá do empregador salário

integral, como se em serviço estivesse, as despesas com a realização de exame de código genético –

DNA e de outros exames considerados essenciais,  os honorários do advogado e do perito e a

remuneração do intérprete ou do tradutor nomeado para apresentação de versão em português de

documento redigido em língua estrangeira.

Prevê inclusive despesas extrajudiciais, com os emolumentos devidos a notários ou registradores em

decorrência da prática de registro, averbação ou qualquer outro ato notarial necessário à efetivação de

decisão judicial ou à continuidade de processo judicial no qual o benefício tenha sido concedido, dentre

outras despesas.

Por sua vez, concedida a gratuidade, esta não afasta a responsabilidade do beneficiário pelas despesas

processuais e pelos honorários advocatícios decorrentes de sua sucumbência, ficando tal

responsabilidade, em condição suspensiva de exigibilidade, podendo ser executadas até os 5 (cinco) anos

subsequentes ao trânsito em julgado da decisão que as certificou, desde que o credor demonstre  que

deixou de existir a situação de insuficiência de recursos que justificou a concessão de gratuidade.

Passado esse prazo, tais obrigações do beneficiário, se extinguem, conforme a previsão dos parágrafos 2º

e 3º do art. 98.

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É importante ressaltar quanto a gratuidade da justiça, que presume-se verdadeira a alegação de

insuficiência deduzida exclusivamente por pessoa natural, e que a assistência do requerente por advogado

particular não impede a concessão de gratuidade da justiça, conduta que alguns juízes, sob a égide do

CPC vigente, insistem em negar, sob a singela argumentação, que se tem advogado patrocinando o

jurisdicionado pobre, é sinal que o mesmo pode arcar com as despesas judiciais,  não sendo reconhecido

pobre na acepção jurídica do termo.

Conclusão

O Novo Código de Processo Civil, quanto às verbas de sucumbência e fixação de honorários

advocatícios, representa um avanço para o exercício profissional da advocacia, notadamente ao fixar

regras para os honorários devidos pela Fazenda Pública, prevendo honorários na fase recursal, uma vez

que o aumento da atividade jurisdicional, ensejará melhor remuneração aos profissionais, e ainda, por

considerar os que os honorários advocatícios têm natureza alimentar, com os mesmos privilégios dos

créditos oriundos da legislação do trabalho, sendo vedada a compensação em caso de sucumbência

parcial, um avanço que pode ser festejado pela classe dos advogados.

SOBRE O AUTOR

Clovis Brasil Pereira

Advogado; Mestre em Direito; Especialista em Processo Civil; Coordenador Pedagógico da Comissão de

Cultura e Eventos da OAB/Guarulhos; Diretor da ESA, Unidade Guarulhos; Professor Universitário;

Coordenador Pedagógico da Pós-Graduação em Direito Processual Civil da FIG – UNIMESP;

Palestrante convidado do Departamento Cultural da OAB/SP; Editor responsável do site jurídico

www.prolegis.com.br; autor de diversos artigos jurídicos e do livro “O Cotidiano e o Direito”.

DIREITO DO CIDADÃO

Novo CPC não é conclusivo sobre as regras para gratuidade

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31 de outubro de 2013, 8h31

Por   André Luis Melo

As medidas mais  importantes para se reduzir a quantidade e abusos no processo não estão sendo

aprofundadas no novo Código de Processo Civil. Entre elas, está a conceituação de custas, taxas,

despesas e emolumentos, bem como “gratuidade” da justiça ou dispensa. Caso contrário, continuará a

prática atual de se ajuizar ações judiciais sem necessidade.

O texto proposto para o novo CPC se preocupa muito com questões recursais, mas nada inova nesta

necessidade de triagem do abuso de ajuizamento de ações com banalização da gratuidade, o que

beneficia até empresas como bancos, telefônicas, sendo que o texto ajuizado na Câmara dos Deputados

foi piorado em relação ao do Senado, apesar de ter esmiuçado mais o tema.

A rigor, não faz sentido que a questão dos honorários advocatícios seja tratada juntamente com  custas e

despesas, pois são verbas de natureza bem distintas, sendo que a disposição no texto proposto pode

aumentar ainda mais a confusão sobre o tema. A diferença entre custa e despesa é importantíssima para

questões como execução fiscal. Por exemplo,  as despesas de correio são custas ou despesas? No segundo

caso, têm que ser pagas adiantadamente pela Fazenda Pública. Logo, estes detalhes precisam ser mais

discutidos,  não podendo ser misturado como se faz na proposta do art. 82 ao 97, no

link http://s.conjur.com.br/dl/emenda-aglutinativa-texto-cpc.pdf

Outro ponto preocupante é a seção IV, que trata da “gratuidade da justiça”, mas não tem mudanças em

relação à Lei 1.060, de 1950. Nada muda de relevante, ou seja, jogaram uma cal no problema estrutural e

clarearam alguns pontos a possibilidade de requerimento da gratuidade por advogado particular, a

decisão judicial sendo mera condição suspensiva do pagamento e outros detalhes, mas as mera

declaração genérica viola frontalmente a Constituição, pois esta exige a comprovação da carência para

fins de gratuidade.

A rigor, o título é impróprio, pois não se trata de “gratuidade”, mas apenas dispensa do adiantamento,

pois ao final a Fazenda Pública e a parte contrária vencedora têm o prazo de cinco anos para provar que o

perdedor beneficiado tem condição de pagar.

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O texto também esclarece que a “gratuidade” beneficia apenas quem requereu e pode ser requerido até na

contestação, mas isto não inova em nada, pois sempre foi assim, embora não escrito na lei.

No art. 105, na seção “Dos procuradores”, o texto passa a exigir poderes especiais na procuração para

que o advogado possa assinar a declaração de pobreza em nome do cliente.

Continuando no velho modelo, o “novo” CPC apenas exige uma “declaração” de pobreza, e também não

esclarece prazo para o juiz enviar a certidão de custas não pagas à Fazenda Pública, mesmo em caso de

“gratuidade”, pois a Fazenda tem o prazo de cinco anos para cobrar, logo não pode o juiz arquivar o

processo sem comunicar à Fazenda Pública acerca do débito que prescreve em cinco anos. O texto prevê

gratuidade de justiça para pessoas jurídicas apenas  mediante comprovação.

Ao não se exigir a comprovação da carência para pessoas físicas, o texto acaba por beneficiar pessoas

com condição de pagar as despesas processuais e prejudica os pobres. Quando a Constituição fala na

necessidade de comprovação da carência econômica para fins  “assistência jurídica gratuita”, este termo

abrange o processo judicial e não apenas o serviço jurídico em si.

Porém, outro aspecto grave é que o texto permite a “gratuidade parcial”, sendo que a Constituição

Federal fala em “integral”.

Quanto à Defensoria, estará regulada no art. 184 a 186 do novo CPC, podendo atender aos necessitados -

não se exigirá a comprovação, nem se esclarece o que é “necessitado”. Além disso, também fará a

promoção dos direitos humanos, mas não esclarece se esta atuação ocorrerá sob a forma de assistência

jurídica ou como substituta processual (fiscal). Também não define  se o defensor é advogado, ou não, o

que pode implicar em processo judicial sem advogado, apesar de o art. 134 da Constituição estabelecer

que o defensor público exerce a advocacia, logo é advogado.

Outra falha do texto é não prever expressamente que a Fazenda Pública, o Ministério Público ou a parte

contrária podem contestar o pedido de “gratuidade” de justiça. Nem criminaliza pedidos abusivos, pois a

jurisprudência alega que falta um tipo penal específico.

No texto sobre “gratuidade da justiça” parece que houve pouco interesse em realmente atender ao pobre,

e mais em atender aos interesses das corporações, uma vez que questões simples como definir que se

considera pobre quem está inscrito em programas sociais dos governos federal e estadual não constam da

proposta legislativa.

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Considerando a relevância do tema, urge um debate sobre o texto proposto no sentido de definir à lei

futura o seguinte:

Da Gratuidade da Justiça:

         Art. 98 A gratuidade da justiça consiste na dispensa dos adiantamentos das custas, despesas,

taxas e emolumentos, os quais serão cobrados do perdedor da demanda, se beneficiado com a

dispensa, sendo intimado nos autos para pagamento, e se não o fizer, serão os mesmos remetidos

à Fazenda Pública para cobrança nos cinco anos seguintes sob pena de prescrição.

         §1º No tocante aos honorários de sucumbência cabe ao advogado do vencedor cobrar os

mesmos da parte perdedora, se beneficiada com justiça gratuita, no prazo de até cinco anos a

contar do trânsito em julgado, provando que o devedor tem condições de pagar o débito.

         §2º Na sentença, mesmo em caso de gratuidade, o juiz ao deve ao final do processo deve

fixar os honorários de sucumbência e determinar após o trânsito em julgado que a Contadoria

calcule custas, taxas, despesas e emolumentos.

         §3º Se a parte vencedora adiantou despesas, poderá cobrar as mesmas do vencido, mesmo

se beneficiário da justiça gratuita.

         §4º A finalidade da gratuidade da justiça é apenas permitir o acesso ao Judiciário.

         §5º A gratuidade poderá ser requerida por advogado particular, e deve o juiz fixar o valor

dos honorários de sucumbência ao final.

         Art. 99:  O requerente de gratuidade deverá assinar declaração de pobreza informando a

renda mensal familiar, o grau de escolaridade e a profissão, cometendo crime de falsidade

ideológica, se informar dados falsos.

         §1º. Os Municípios, ONGs e outros setores poderão prestar serviço de assistência jurídica

os pobres, inclusive o Sistema único de Assistência Social.

         §2º A assistência jurídica dá-se na forma de representação processual, sendo necessária a

procuração mesmo em se tratando de órgão público prestando o serviço.

         §3º Presume-se carente economicamente quem estiver inscrito em programa social do

governo federal ou estadual.

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         Art. 100. O carente poderá reclamar diretamente ao juiz solicitando que substitua  o seu 

assistente jurídica e nomeie outro, ainda que dativo, podendo o carente indicar ao juiz quem

prefere da lista de dativos.

         Art. 101. A Fazenda Pública, o Ministério Público e a parte contrária podem  impugnar nos

próprios autos a gratuidade concedida, cabendo agravo de instrumento da decisão judicial.

Art. 82-A  Fica definido o seguinte:

         - custas:

         - despesas processuais:

         - taxa, a qual não pode ter a mesma base de cálculo das custas e das despesas:

         - emolumentos:

         Art. 82-B: Caracteriza dano moral coletivo a hipótese de pessoas jurídicas que abusam do

direito de ação, notadamente na condição de rés habituais.

As alterações propostas permitem uma visão de assistência jurídica que atenda os interesses dos

realmente os carentes, em vez de um sistema que atenda apenas aos interesses corporativos de setores

que prestam o serviço, além disso permite a cobrança dos débitos ao final do processo, sem violar o

direito de acesso. http://www.conjur.com.br/ www.prolegis.com.br

ARTIGOS

O BENEFICIÁRIO DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA NO NOVO CPC

C O M P A R T I L H E :

  

Por Ticiano Alves e SilvaO caput do art. 98 do NCPC dispõe sobre aqueles que podem ser beneficiários da justiça gratuita: “Art. 98. A pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com insuficiência de recursos para pagar as custas, as despesas processuais e os honorários advocatícios tem direito à gratuidade da justiça, na forma da lei”.

Qualquer um que seja parte – demandante ou demandada – pode usufruir do benefício da justiça gratuita e bem assim o terceiro, após a intervenção, quando, então, assume a qualidade de parte.

Embora a lei se refira à “pessoa”, parece intuitivo que também os entes despersonalizados, que possuem apenas personalidade no plano processual, podem gozar da gratuidade da justiça. A negativa, neste caso,

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se admitida, atingiria, em última análise, o direito fundamental à justiça gratuita das próprias pessoas vinculadas a esses entes.

Conforme o art. 98, tanto a pessoa natural como a pessoa jurídica têm direito à justiça gratuita, sejam estas brasileiras ou estrangeiras.

A interpretação literal do parágrafo único do art. 2º. da Lei n. 1.060/50 conduz ao entendimento de que as pessoas jurídicas não podem usufruir do benefício da gratuidade, uma vez que considera necessitado “todo aquele cuja situação econômica não lhe permita pagar as custas do processo e os honorários de advogado, sem prejuízo do sustento próprio ou da família”.

Ao aludir à incapacidade de sustento próprio ou da família, o texto pode levar ao entendimento de que apenas as pessoas naturais podem ser beneficiárias da justiça gratuita; afinal, só elas podem compor uma família.

É verdade que, já à luz da Lei n. 1.060/50, a doutrina e a jurisprudência são unânimes quanto à possibilidade de concessão da justiça gratuita às pessoas jurídicas, que, apesar de não terem família, podem, perfeitamente, não ter condições de arcar com as despesas do processo sem prejuízo de sua manutenção.

Ocorre que a redação do NCPC, ao requisitar “insuficiência de recursos”, é mais clara, trazendo, pois, segurança na aplicação do instituto e prevenindo discussões desnecessárias.

Ainda sobre a gratuidade a que tem direito a pessoa jurídica, o NCPC dispõe que “presume-se verdadeira a alegação de insuficiência deduzida exclusivamente por pessoa natural”.

Assim, à pessoa natural basta a mera alegação de insuficiência de recursos, sendo desnecessária a produção de provas da hipossuficiência financeira. A alegação presume-se verdadeira, admitindo-se, contudo, que cesse por prova em contrário produzida pela parte adversa ou em razão de investigação feita de ofício pelo juiz.

Por sua vez, a pessoa jurídica deve comprovar a insuficiência de recursos para fazer jus à gratuidade da justiça, sendo irrelevante possuir finalidade lucrativa ou não. Vale dizer, tanto as pessoas jurídicas com fins lucrativos como as pessoas jurídicas sem fins lucrativos devem demonstrar a insuficiência de recursos para usufruir o benefício da justiça gratuita.

Assim, para as pessoas jurídicas, não se tem a presunção relativa de veracidade da alegação; deve o interessado, pois, alegar e provar a insuficiência de recursos.

Nesse sentido, o NCPC incorpora a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Superior Tribunal de Justiça (STJ) sobre o tema. Especificamente, a Súmula, n. 481, do STJ, permanece plenamente em vigor.

Além disso, o art. 98 do NCPC estende o benefício da gratuidade aos estrangeiros, enquanto o caput do art. 5º da CF/88 o faz apenas para os estrangeiros residentes, em relação à generalidade dos direitos fundamentais. Não há aí, evidentemente, nenhum vício de inconstitucionalidade, por aparente contrariedade entre o ato normativo infraconstitucional e a CF/88.

Independentemente de qualquer reciprocidade em favor de brasileiros, os estrangeiros, inclusive os apátridas, residentes ou não, mesmo que em trânsito pelo território nacional, titularizam direito fundamentais, especialmente aqueles de índole processual, como o direito à justiça gratuita.

Como visto acima, a Constituição dispõe sobre o conteúdo irredutível do direito à justiça gratuita, autorizando o legislador infraconstitucional, obviamente, em nome da máxima efetividade do direito, a ampliar o âmbito de proteção, de modo a resultar em maior tutela à situação jurídica da pessoa.

Sem prejuízo desse argumento, o direito à justiça gratuita, assim como os demais direitos fundamentais processuais, possui nítida função instrumental, servindo à tutela dos demais direitos (materiais ou

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processuais) em juízo, o que inviabilizaria, acaso negados, qualquer tipo de proteção judicial ao estrangeiro.

Cumpre observar, ainda, com fundamento no §6º. do art. 99 do NCPC (correspondente, em parte, ao art. 10 da Lei n. 1.060/50), que o direito ao benefício da gratuidade judiciária é personalíssimo, porque personalíssima é a insuficiência de recursos que autoriza sua concessão.

Logo, o fato jurídico morte extingue o benefício, com efeitos ex nunc.

Diante disso, a justiça gratuita concedida a uma parte não se estende ao litisconsorte, que pode, obviamente, possuir condições financeiras suficientes para pagar as despesas do processo.

Por força de iguais razões, ao sucessor do beneficiário também não se estende o benefício antes deferido ao sucedido.

É claro que, satisfeito o requisito legal, litisconsortes e sucessores poderão pessoalmente gozar da justiça gratuita.

Volto ao tema da gratuidade da justiça em breve, em estudo mais aprofundado, que terei o prazer de divulgar para vocês.

Ticiano Alves e Silva é Mestrando em Direito Processual (UERJ). Especialista em Direito Processual Civil (UNIDERP-LFG-IBDP). Membro do Instituto Brasileiro de Direito Processual. Editor do Portal Processual. Procurador do Estado (AM). Advogado. http://portalprocessual.com/

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