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Colisão entre Liberdade de Expressão e Direitos da Personalidade. Critérios de Ponderação. Interpretação Constitucionalmente adequada do Código Civil e da Lei de Imprensa Luís Roberto Barroso 1* Sumário: Introdução: Colocação do problema. Parte I : Alguns aspectos da moderna interpretação constitucional. I. A interpretação jurídic a tradicional. II. A nova interpretação constitucional: 1. O fenômeno da colisão de direitos fundamentais 2. A técnica da ponderação. Parte II: A liberdade de informação e expressão e os direitos da personalidade: ponderação de bens e valores constitucionais. III. A questão sob a ótica constitucional: 1. Direitos constitucionais da personalidade. 2. Liberdades constitucionais de informação e de expressão e a liberdade de imprensa. 3. Parâmetros constitucionais para a ponderação na hipótese de colisão. IV. A questão sob a ótica infraconstitucional. Parâmetros criados pelo legislador para a ponderação na hipótese de colisão: 1. Interpretação constitucionalmente adequada do art. 21, § 2º da Lei de Imprensa (Lei nº 5.250/67). 2. Interpretação constitucionalmente adequada do art. 20 do novo Código Civil. V. Solução da ponderação na hipótese em estudo. Conclusões. Introdução COLOCAÇÃO DO PROBLEMA O estudo que se segue tem por objeto a análise da legitimidade da exibição, independentemente de autorização dos eventuais envolvidos, de programas ou matérias jornalísticas nos quais (i) sejam citados os nomes ou divulgada a imagem de pessoas relacionadas com o evento noticiado ou (ii) sejam relatados e encenados eventos c riminais de grande repercussão ocorridos no passado. Como intuitivamente se constata, está em jogo a disputa, inevitável em um estado democrático de direito, entre a liberdade de expressão e de informação, de um lado, e os denominados direitos da personalidade, de outro lado, em tal categoria compreendidos os direitos à honra, à imagem e à vida privada. Cuidase de determinar se as pessoas retratadas, seus parentes ou herdeiros, podem impedir a exibição de tais programas ou pretender receber indenizações por terem sido neles referidos. O equacionamento do problema e a apresentação da solução constitucionalmente adequada dependem da discussão de algumas das teses centrais relacionadas com a nova interpretação constitucional: colisão de direitos fundamentais, ponderação de valores, discricionariedade judicial e teoria da argumentação. Após a exposição dos conceitos essenciais na matéria e definição dos elementos relevantes de ponderação, a questão se torna surpreendentemente simples. Vejase a análise que se segue. Parte I ALGUNS ASPECTOS DA MODERNA INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL I. A INTERPRETA ÇÃ O JURÍDICA TRA DICIONA L Um típico operador jurídico formado na tradição romanogermânica, c omo é o caso brasileiro, diante de um problema que lhe caiba resolver, adotará uma linha de raciocínio semelhante à que se descreve a seguir. Após examinar a situação de fato que lhe foi trazida, irá identificar no ordenamento positivo a norma que deverá reger aquela hipótese. Em seguida, procederá a um tipo de raciocínio lógico, de natureza silogística, no qual a norma será a premissa maior, os fatos serão a premissa menor e a conclusão será a conseqüência do enquadramento dos fatos à norma. Esse método tradicional de aplicação do direito, pelo qual se realiza a subsunção dos fatos à norma e pronunciase uma conclusão, denominase método subsuntivo.

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Artigo de Luís Roberto Barroso que contém presente em seu conteúdo temas como liberdade de expressão e direitos de personalidade e possíveis conflitos

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  • Coliso entre Liberdade de Expresso e Direitos da Personalidade.CritriosdePonderao.InterpretaoConstitucionalmenteadequadadoCdigoCiviledaLeideImprensa

    LusRobertoBarroso1*

    Sumrio: Introduo: Colocao do problema. Parte I: Alguns aspectos da modernainterpretao constitucional. I. A interpretao jurdica tradicional. II. A nova interpretaoconstitucional: 1. O fenmeno da coliso de direitos fundamentais 2. A tcnica da ponderao.ParteII:A liberdade de informao e expresso e os direitos da personalidade: ponderao debens e valores constitucionais. III. A questo sob a tica constitucional: 1. Direitosconstitucionaisdapersonalidade.2.Liberdadesconstitucionaisdeinformaoedeexpressoealiberdade de imprensa. 3. Parmetros constitucionais para a ponderao na hiptese de coliso.IV. A questo sob a tica infraconstitucional. Parmetros criados pelo legislador para aponderaonahiptesedecoliso:1.Interpretaoconstitucionalmenteadequadadoart.21,2daLeide Imprensa(Lein5.250/67).2. Interpretaoconstitucionalmenteadequadadoart.20donovoCdigoCivil.V.Soluodaponderaonahipteseemestudo.Concluses.

    Introduo

    CO LO CAO DO PRO BLEMA

    Oestudoqueseseguetemporobjetoaanlisedalegitimidadedaexibio,independentementede autorizao dos eventuais envolvidos, de programas ou matrias jornalsticas nos quais (i)sejamcitadososnomesoudivulgadaa imagemdepessoasrelacionadascomoeventonoticiadoou (ii) sejam relatados e encenados eventos criminais de grande repercusso ocorridos nopassado.

    Como intuitivamentese constata,estem jogoadisputa, inevitvelemumestadodemocrticodedireito,entrealiberdadedeexpressoedeinformao,deumlado,eosdenominadosdireitosdapersonalidade,deoutrolado,emtalcategoriacompreendidososdireitoshonra,imagemevida privada. Cuidase de determinar se as pessoas retratadas, seus parentes ou herdeiros,podem impedir a exibio de tais programas ou pretender receber indenizaes por terem sidonelesreferidos.

    O equacionamento do problema e a apresentao da soluo constitucionalmente adequadadependem da discusso de algumas das teses centrais relacionadas com a nova interpretaoconstitucional:colisodedireitosfundamentais,ponderaodevalores,discricionariedadejudicialeteoriadaargumentao.Apsaexposiodosconceitosessenciaisnamatriaedefiniodoselementosrelevantesdeponderao,aquestosetornasurpreendentementesimples.

    Vejaseaanlisequesesegue.

    ParteI

    ALGUNSA SPECTO SDA MODERNA INTERPRETA O CONSTITUC IO NA L

    I.AINTERPRETAOJURDICATRADICIONAL

    Um tpico operador jurdico formado na tradio romanogermnica, como o caso brasileiro,diantedeumproblemaque lhecaibaresolver,adotaruma linhaderaciocniosemelhantequese descreve a seguir. Aps examinar a situao de fato que lhe foi trazida, ir identificar noordenamentopositivoanormaquedeverregeraquelahiptese.Emseguida,procederaumtipoderaciocniolgico,denaturezasilogstica,noqualanormaserapremissamaior,osfatosseroapremissamenoreaconclusoseraconseqnciadoenquadramentodosfatosnorma.Essemtodotradicionaldeaplicaododireito,peloqualserealizaasubsunodosfatosnormaepronunciaseumaconcluso,denominasemtodosubsuntivo.

  • Essemododeraciocniojurdicoutiliza,comopremissadeseudesenvolvimento,umtipodenormajurdicaqueseidentificacomoregra.Regrassonormasqueespecificamacondutaaserseguidaporseusdestinatrios.Opapeldo intrprete,aoapliclas,envolveumaoperaorelativamentesimples de verificao da ocorrncia do fato constante do seu relato e de declarao daconseqncia jurdica correspondente. Por exemplo: a aposentadoria compulsria do servidorpblico se d aos setenta anos (regra) Jos, serventurio da Justia, completou setenta anos(fato) Jos passar automaticamente para a inatividade (concluso). A interpretao jurdicatradicional,portanto,temcomoprincipalinstrumentodetrabalhoafiguranormativadaregra.

    Aatividadedeinterpretaodescritaacimautilizasedeumconjuntotradicionaldeelementosdeinterpretao, de longa data identificados como gramatical, histrico, sistemtico e teleolgico.Soelesinstrumentosquevopermitiraointrpreteemgeral,eaojuizemparticular,arevelaodocontedo,sentidoealcancedanorma.ODireito,arespostaparaoproblema,jvmcontidosnotextoda lei. Interpretardescobriressasoluopreviamenteconcebidapelo legislador.Maisainda: o ordenamento traz em si uma soluo adequada para a questo. O intrprete, comoconseqncia, no faz escolhas prprias, mas revela a que j se contm na norma. O juizdesempenhaumafunotcnicadeconhecimento,enoumpapeldecriaododireito.

    A interpretao jurdica tradicional,portanto,desenvolveseporummtodosubsuntivo, fundadoemummodelode regras,que reservaao intrpreteumpapelestritamente tcnicode revelaodosentidodeumDireitointegralmentecontidonanormalegislada.

    II.ANOVAINTERPRETAOCONSTITUCIONAL

    Aidiadeumanovainterpretaoconstitucionalligaseaodesenvolvimentodealgumasfrmulasoriginais de realizao da vontade da Constituio. No importa em desprezo ou abandono domtodoclssicoosubsuntivo,fundadonaaplicaoderegrasnemdoselementostradicionaisdahermenutica:gramatical,histrico, sistemticoe teleolgico.Aocontrrio, continuamelesadesempenhar um papel relevante na busca de sentido das normas e na soluo de casosconcretos.Relevante,masnemsempresuficiente.

    Mesmo no quadro da dogmtica jurdica tradicional, j haviam sido sistematizados diversosprincpios especficos de interpretao constitucional, aptos a superar as limitaes dainterpretao jurdica convencional, concebida sobretudo em funo da legislaoinfraconstitucional, e mais especialmente do direito civil2. A grande virada na interpretaoconstitucional se deu a partir da difuso de uma constatao que, alm de singela, sequer eraoriginal:noverdadeiraacrenadequeasnormasjurdicasemgeraleasconstitucionaisemparticulartragamsempreemsiumsentidonico,objetivo,vlidoparatodasassituaessobreas quais incidem. E que, assim, caberia ao intrprete uma atividade de mera revelao docontedoprexistentenanorma,semdesempenharqualquerpapelcriativonasuaconcretizao.

    De fato, a tcnica legislativa, ao longo do sculo XX, passou a utilizarse, crescentemente, declusulas abertas ou conceitos indeterminados, como dano moral, justa indenizao, ordempblica,melhor interesse domenor, boaf. Por essa frmula, o ordenamento jurdico passou atransferirpartedacompetnciadecisriadolegisladorparaointrprete.Aleiforneceparmetros,massomenteluzdocasoconcreto,doselementossubjetivoseobjetivosaelerelacionados,talcomoapreendidospeloaplicadordoDireito,serpossveladeterminaodavontadelegal.Ojuiz,portanto,passouaexercerumafunoclaramenteintegradoradanorma,complementandoacomsuaprpriavalorao.

    Na seqncia histrica, sobreveio a ascenso dos princpios, cuja carga axiolgica e dimensotica conquistaram, finalmente, eficcia jurdica e aplicabilidade direta e imediata. Princpios eregraspassamadesfrutardomesmostatusdenormajurdica,semembargodeseremdistintosnocontedo, na estrutura normativa e na aplicao. Regras so, normalmente, relatos objetivos,descritivos de determinadas condutas e aplicveis a um conjunto delimitado de situaes.Ocorrendoahipteseprevistanoseu relato,a regradeve incidir,pelomecanismo tradicionaldasubsuno:enquadramseosfatosnaprevisoabstrataeproduzseumaconcluso.Aaplicaodeumaregraseoperanamodalidadetudoounada:ouelaregulaamatriaemsuainteirezaoudescumprida.Nahiptesedoconflitoentreduasregras,sumaservlidaeirprevalecer3.

  • Princpios, por sua vez, expressam valores a serem preservados ou fins pblicos a seremrealizados. Designam, portanto, estados ideais"4, sem especificar a conduta a ser seguida. Aatividadedointrpreteaquisermaiscomplexa,poisaelecaberdefiniraaoatomar.Emais:em uma ordem democrtica, princpios freqentemente entram em tenso dialtica, apontandodireesdiversas.Poressarazo,suaaplicaodeversedarmedianteponderao:ointrpreteir aferir o peso de cada um, vista das circunstncias, fazendo concesses recprocas. Suaaplicao,portanto,nosernoesquematudoounada,masgraduadavistadascircunstnciasrepresentadasporoutrasnormasouporsituaesdefato5.

    Comasmesmascaractersticasnormativasdosprincpiosnaverdade,comoumaconcretizaodoprincpiodadignidadedapessoahumana colocamseboapartedosdireitos fundamentais,cuja proteo foi alada ao centro dos sistemas jurdicos contemporneos. Princpios e direitosprevistos na Constituio entram muitas vezes em linha de coliso, por abrigarem valorescontrapostos e igualmente relevantes, como por exemplo: livre iniciativa e proteo doconsumidor,direitodepropriedadeefunosocialdapropriedade,seguranapblicaeliberdadesindividuais, direitos da personalidade e liberdade de expresso. O que caracteriza esse tipo desituao jurdicaaausnciadeumasoluoem teseparaoconflito, fornecidaabstratamentepelasnormasaplicveis.

    Vejase,ento:naaplicaodosprincpios,ointrpreteirdeterminar,inconcreto,quaissoascondutas aptas a realizlos adequadamente. Nos casos de coliso de princpios ou de direitosfundamentais, caber a ele fazer as valoraes adequadas, de modo a preservar o mximo decada um dos valores em conflito, realizando escolhas acerca de qual interesse devercircunstancialmente prevalecer. Um intrprete que verifica a legitimidade de condutasalternativas, que faz valoraes e escolhas, no desempenha apenas uma funo deconhecimento. Com maior ou menor intensidade, de acordo com o caso, ele exerce suadiscricionariedade.Paraquenosejamarbitrrias,suasdecises,maisdoquenunca,deveroserracionaleargumentativamentefundamentadas.

    Amodernainterpretaoconstitucionaldiferenciasedatradicionalemrazodealgunsfatores:anorma, como relato puramente abstrato, j no desfruta de primazia o problema, a questotpicaaserresolvidapassaafornecerelementosparasuasoluoopapeldointrpretedeixadeserdepuraaplicaodanormapreexistenteepassaaincluirumaparceladecriaodoDireitodocasoconcreto.E,comotcnicaderaciocnioededeciso,aponderaopassaaconvivercomasubsuno.Paraqueselegitimemsuasescolhas,ointrpreteterdeservirsedoselementosdateoria da argumentao, para convencer os destinatrios do seu trabalho de que produziu asoluo constitucionalmenteadequadaparaaquestoque lhe foi submetida.Por sua relevnciaparaoestudo,ostpicosseguintesocupamsedeformaespecficadosfenmenosdacolisodosdireitosfundamentaisedaponderaocomotcnicadedecisojurdica.

    1.Ofenmenodacolisodedireitosfundamentais6

    Os critrios tradicionais de soluo de conflitos normativos hierrquico, temporal eespecializao(v.supra,nota3)nosoaptos,comoregrageral,paraasoluodecolisesentrenormasconstitucionais,especialmenteasqueveiculamdireitosfundamentais.Taiscolises,todavia,surgeminexoravelmentenodireitoconstitucionalcontemporneo,porrazesnumerosas.Duasdelassodestacadasaseguir: (i)acomplexidadeeopluralismodassociedadesmodernaslevam ao abrigo da Constituio valores e interesses diversos, que eventualmente entram emchoque e (ii) sendo os direitos fundamentais expressos, freqentemente, sob a forma deprincpios, sujeitamse, como j exposto (v. supra), concorrncia com outros princpios e aplicabilidadenolimitedopossvel,vistadecircunstnciasfticasejurdicas.

    Comosabido,porforadoprincpiodaunidadedaConstituioinexistehierarquiajurdicaentrenormas constitucionais. certoquealgunsautores tmadmitidoa existnciadeumahierarquiaaxiolgica, pela qual determinadas normas influenciariam o sentido e alcance de outras,independentementedeumasuperioridade formal.Aqui, todavia,estaquestonosepe.queosdireitosfundamentaisentresinoapenastmomesmostatusjurdicocomotambmocupamomesmopatamaraxiolgico7.Nocasobrasileiro,desfrutamtodosdacondiodeclusulasptreas(CF,art.60,4,IV).

  • A circunstncia que se acaba de destacar produz algumas conseqncias relevantes noequacionamento das colises de direitos fundamentais. A primeira delas intuitiva: se no hentre eles hierarquia de qualquer sorte, no possvel estabelecer uma regra abstrata epermanente de preferncia de um sobre o outro. A soluo de episdios de conflito dever serapurada diante do caso concreto. Em funo das particularidades do caso que se poderosubmeterosdireitosenvolvidosaumprocessodeponderaopeloqual,pormeiodecompressesrecprocas,sejapossvelchegaraumasoluoadequada.

    A segunda implicao relevante do reconhecimento de identidade hierrquica entre os direitosfundamentais diz respeito atuao do Poder Legislativo diante das colises de direitos dessanatureza.Nemsempresingelaademarcaodoespao legtimodeatuaoda lei namatria,semconfrontarsecomaConstituio.Noparticular,halgumassituaesdiversasaconsiderar.HcasosemqueaConstituioautorizaexpressamentea restriodeumdireito fundamental8.Alis, mesmo nas hipteses em que no h referncia direta, a doutrina majoritria admite aatuao do legislador, com base na idia de que existem limites imanentes aos direitosfundamentais9. Pois bem: em uma ou outra hiptese, ao disciplinar o exerccio de determinadodireito,aleipoderestarevitandocolises.

    Situaodiversasecoloca,porm,quandoolegisladorprocuraarbitrardiretamentecolisesentredireitos.Comoseafirmouacima,umaregraqueestabeleaumaprefernciaabstratadeumdireitofundamentalsobreoutronoservlidapordesrespeitarodireitopreteridodeformapermanentee violar a unidade da Constituio. O legislador, portanto, dever limitarse a estabelecerparmetros gerais, diretrizes a serem consideradas pelo intrprete, sem privlo, todavia, dosopesamentodoselementosdocasoconcretoedojuzodeeqidadequelhecabefazer.Mesmonas hipteses em que se admita como legtimo que o legislador formule uma soluo especficaparaoconflitopotencialdedireitosfundamentais,suavalidadeemtesenoafastaapossibilidadedequesevenhaareconhecersuainadequaoemconcreto.

    Um exemplo, respaldado em diversos precedentes judiciais, ilustrar o argumento. Como deconhecimento geral, existem inmeras leis que disciplinam ou restringem a concesso de tutelaantecipada ou de medidas cautelares em processos judiciais. A postulao de uma dessasprovidncias, initio litis,desencadeiaumacolisodedireitos fundamentais,assimidentificada:deumlado,odireitoaodevidoprocessolegaldoqualdecorreriaquesomenteapsoprocedimentoadequado,cominstruoecontraditrio,seriapossvelqueumadecisojudicialproduzisseefeitossobreaparte e, deoutro, odireitodeacessoao Judicirio, noqual est implcita aprestaojurisdicionaleficaz:deveseimpedirqueumaameaaadireitoseconvertaemumalesoefetiva.Pois bem: a legislao no apenas estabelece requisitos especficos para esse tipo de tutela(fumus boni iuris e periculum in mora), como impe, em muitos casos, restries suaconcesso,emrazodoobjetodopedidooudosujeitoemfacedequemsefazorequerimento.

    Nadaobstante, o entendimentoqueprevaleceodequea lei nopode impor soluo rgidaeabstrataparaestacoliso,assimcomoparaquaisqueroutras.Eaindaquandoasoluopropostaencontre respaldo constitucional e seja em tese vlida, isso no impedir o julgador, diante docaso concreto, de se afastar da frmula legal se ela produzir uma situao indesejada pelaConstituio.Hum interessante julgadodoSupremoTribunalFederal sobreo tema10. Em aodireta de inconstitucionalidade, pleiteavase a declarao de inconstitucionalidade da MedidaProvisria n 173/90, por afronta ao princpio do acesso justia e/ou da inafastabilidade docontrolejudicial.queelavedavaaconcessodeliminaremmandadosdeseguranaeemaesordinriasecautelaresdecorrentesdeumconjuntodedezoutrasmedidasprovisrias,bemcomoproibiaaexecuodassentenasproferidasemtaisaesantesdeseutrnsitoemjulgado.

    No julgamento da ao direta de inconstitucionalidade, o Supremo Tribunal Federal julgouimprocedenteopedido.Valedizer:considerouconstitucionalemteseavedao.Nadaobstante,o acrdo fez a ressalva de que tal pronunciamento no impedia o juiz do caso concreto deconceder a liminar, se em relao situao que lhe competisse julgar no fosse razovel aaplicao da norma proibitiva11. O raciocnio subjacente o de que uma norma pode serconstitucionalemteseeinconstitucionalemconcreto,vistadascircunstnciasdefatosobreasquaisdeverincidir.

    Antes de prosseguir, cabe resumir o que foi exposto neste tpico. A coliso de direitos

  • fundamentaisumfenmenocontemporneoe,salvoindicaoexpressadaprpriaConstituio,nopossvelarbitraresseconflitodeformaabstrata,permanenteeinteiramentedissociadadascaractersticas do caso concreto. O legislador no est impedido de tentar proceder a essearbitramento,mas suas decises estaro sujeitas a umduplo controle de constitucionalidade: oque se processa em tese, tendo em conta apenas os enunciados normativos envolvidos, e, emseguida, a um outro, desenvolvido diante do caso concreto e do resultado que a incidncia danormaproduznahiptese.Detodasorte,aponderaoseratcnicaempregadapeloaplicadortantonaausnciadeparmetroslegislativosdesoluocomodiantedeles,paraaverificaodesua adequao ao caso. O tpico seguinte, portanto, dedica algumas notas ao tema daponderao.

    2.Atcnicadaponderao12

    Comoregistradoacima,durantemuitotempoasubsunofoianicafrmulaparacompreenderaaplicaododireito,asaber:premissamaioranorma incidindosobreapremissamenorosfatos e produzindo como conseqncia a aplicao do contedo da norma ao caso concreto.Comojseviu,essaespciederaciocniocontinuaaserfundamentalparaadinmicadodireito.Mais recentemente, porm, a dogmtica jurdica deuse conta de que a subsuno tem limites,no sendo por si s suficiente para lidar com situaes que, em decorrncia da expanso dosprincpios,socadavezmaisfreqentes.Nodifcildemonstrareilustraroargumento.

    Imaginese uma hiptese em quemais de uma norma possa incidir sobre omesmo conjunto defatos vrias premissasmaiores, portanto, para apenas uma premissamenor , como no casoaquiemexamedaoposioentreliberdadedeimprensaedeexpresso,deumlado,eosdireitoshonra, imagem, intimidadeevidaprivada,deoutro.Comoseconstatasingelamente,asnormasenvolvidas tutelamvaloresdistintoseapontamsoluesdiversasecontraditriasparaaquesto.Nasualgicaunidirecional(premissamaiorpremissamenor),asoluosubsuntivaparaesse problema somente poderia trabalhar com uma das normas, o que importaria na escolha deuma nica premissa maior, descartandose as demais. Tal frmula, todavia, no seriaconstitucionalmenteadequada:como jsesublinhou,oprincpiodaunidadedaConstituionoadmitequeointrpretesimplesmenteopteporumanormaedesprezeoutratambmaplicvelemtese,comosehouvessehierarquiaentreelas.Comoconseqncia,ainterpretaoconstitucionalviusenacontingnciadedesenvolvertcnicascapazesdelidarcomofatodequeaConstituioumdocumentodialticoque tutelavalorese interessespotencialmenteconflitantesequeprincpiosnelaconsagradosentram,freqentemente,emrotadecoliso.

    Adificuldadedescritajfoiamplamentepercebidapeladoutrinapacficoquecasoscomoessesno so resolvidos por uma subsuno simples. Ser preciso um raciocnio de estrutura diversa,maiscomplexo,capazdetrabalharmultidirecionalmente,produzindoaregraconcretaquevairegera hiptese a partir de uma sntese dos distintos elementos normativos incidentes sobre aqueleconjuntodefatos.Dealgumaforma,cadaumdesseselementosdeverserconsideradonamedidadesuaimportnciaepertinnciaparaocasoconcreto,demodoque,nasoluofinal,talqualemum quadro bem pintado, as diferentes cores possam ser percebidas, embora alguma(s) dela(s)venha(m) a se destacar sobre as demais. Esse , de maneira geral, o objetivo daquilo que seconvencionoudenominartcnicadaponderao.

    A ponderao consiste, portanto, em uma tcnica de deciso jurdica13 aplicvel a casosdifceis14, em relao aos quais a subsuno se mostrou insuficiente, sobretudo quando umasituao concreta d ensejo aplicao de normas demesma hierarquia que indicam soluesdiferenciadas15.Aestruturainternadoraciocnioponderativoaindanobemconhecida,emboraestejasempreassociadasnoesdifusasdebalanceamentoesopesamentodeinteresses,bens,valores ou normas. A importncia que o tema ganhou no cotidiano da atividade jurisdicional,entretanto, tem levado a doutrina a estudlomais cuidadosamente16. De forma simplificada, possveldescreveraponderaocomoumprocessoemtrsetapas,relatadasaseguir.

    Naprimeiraetapa,cabeao intrpretedetectarnosistemaasnormasrelevantesparaasoluodocaso,identificandoeventuaisconflitosentreelas.Comoseviu,aexistnciadessaespciedeconflito insupervel pela subsuno o ambiente prprio de trabalho da ponderao17.Assinalesequenormanoseconfundecomdispositivo:porvezesumanormaseroresultadodaconjugao de mais de um dispositivo. Por seu turno, um dispositivo isoladamente considerado

  • podenoconterumanormaou,aorevs,abrigarmaisdeuma18.Aindanesteestgio,osdiversosfundamentos normativos (isto : as diversas premissas maiores pertinentes) so agrupados emfunodasoluoqueestejamsugerindo:aquelesqueindicamamesmasoluodevemformarumconjunto de argumentos. O propsito desse agrupamento facilitar o trabalho posterior decomparaoentreoselementosnormativosemjogo.

    Nasegundaetapa,cabeexaminarosfatos,ascircunstnciasconcretasdocasoesuainteraocomoselementosnormativos.Comosesabe,osfatoseasconseqnciasprticasdaincidnciadanormatmassumidoimportnciaespecialnamodernainterpretaoconstitucional.Emboraosprincpioseregrastenham,emtese,umaexistnciaautnoma,nomundoabstratodosenunciadosnormativos, no momento em que entram em contato com as situaes concretas que seucontedo sepreencherde real sentido.Assim,oexamedos fatoseos reflexos sobreelesdasnormas identificadas na primeira fase podero apontar commaior clareza o papel de cada umadelaseaextensodesuainfluncia.

    At aqui, na verdade, nada foi solucionado e nem sequer hmaior novidade. Identificao dasnormasaplicveisecompreensodos fatos relevantes fazempartede todoequalquerprocessointerpretativo, sejam os casos fceis ou difceis. na terceira etapa que a ponderao irsingularizarse,emoposiosubsuno.Relembrese,comojassentado,queosprincpios,porsuaestruturaenatureza,eobservadosdeterminados limites,podemseraplicadoscommaioroumenor intensidade, vista de circunstncias jurdicas ou fticas, sem que isso afete suavalidade19.Poisbem:nessa fasedecisria,osdiferentesgruposdenormasea repercussodosfatosdocasoconcretoseroexaminadosdeformaconjunta,demodoaapurarospesosaserematribudos aos diversos elementos em disputa e, portanto, o grupo de normas a preponderar nocaso.Osparmetrosconstrudosnaprimeiraetapadeveroserempregadosaquieadaptados,senecessrio,sparticularidadesdocasoconcreto.

    Emseguida,precisoaindadecidirquointensamenteessegrupodenormaseasoluoporeleindicada deve prevalecer em detrimento dos demais, isto : sendo possvel graduar aintensidade da soluo escolhida, cabe ainda decidir qual deve ser o grau apropriado em que asoluo deve ser aplicada. Todo esse processo intelectual tem como fio condutor o princpioinstrumentaldaproporcionalidadeourazoabilidade20.

    Assentadas as premissas tericas imprescindveis, passase, a seguir, segunda parte desseestudo.Nela,oroteiroacimaapresentadoseraplicadoaoconflitoespecficoentre liberdadedeinformao e expresso e direitos da personalidade. Em primeiro lugar, sero examinadas asnormasconstitucionaispertinenteseconstrudososparmetrospossveisnamatria.Emseguida,sero investigadas as normas infraconstitucionais que igualmente pretendem repercutir sobre ahiptese, tendoemconta,naturalmente,suacompatibilidadecomos termosconstitucionais.Emseguida,seroconsideradosospossveisfatosrelevantesparaseapurar,ento,asoluodessamodalidadedeconflito.

    ParteII

    A LIBERDADE DE INFO RMAO E EXPRESSO E OS DIREITO S DA PERSONA LIDADE: PONDERAO DE BENS EV A LO RESCONSTITUC IO NA IS

    III.AQUESTOSOBATICACONSTITUCIONAL

    1.Direitosconstitucionaisdapersonalidade

    Oreconhecimentodosdireitosdapersonalidadecomodireitosautnomos21,dequetodoindivduo titular22, generalizouse aps a Segunda Guerra Mundial e a doutrina descreveos hoje comoemanaesdaprpriadignidadehumana, funcionandocomoatributos inerentese indispensveisaoserhumano."23Duascaractersticasdosdireitosdapersonalidademerecemregistro.Aprimeiradelas que tais direitos, atribudos a todo ser humano24 e reconhecidos pelos textosconstitucionaismodernosemgeral,sooponveisatodaacoletividadeetambmaoEstado25.Asegunda caracterstica peculiar dos direitos da personalidade consiste em que nem sempre sua

  • violaoproduzumprejuzoquetenharepercusseseconmicasoupatrimoniais26,oqueensejarformas variadas de reparao, como o direito de resposta, a divulgao de desmentidos decarter geral e/ou a indenizao pelo dano nopatrimonial (ou moral, como se convencionoudenominar).

    Umaclassificaoquesetornoucorrentenadoutrinaaqueseparaosdireitosdapersonalidadeemdoisgrupos: (i) direitos integridade fsica, englobandoodireito vida, odireito aoprpriocorpo e o direito ao cadver e (ii) direitos integridademoral, rubrica na qual se inserem osdireitoshonra,liberdade,vidaprivada,intimidade,imagem,aonomeeodireitomoraldoautor, dentre outros. Neste estudo, interessam mais diretamente alguns direitos do segundogrupo,emespecialosdireitosvidaprivada,intimidade,honraeimagem.AConstituiode1988 abrigou essas idias, proclamando a centralidade da dignidade da pessoa humana ededicandodispositivosexpressostuteladapersonalidade,dentreosquaispossveldestacarosseguintes:

    Art.5(...)

    Vasseguradoodireitoderesposta,proporcionalaoagravo,almdaindenizaopordanomaterial,moralouimagem

    (...)

    X so inviolveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,assegurado o direito a indenizao pelo danomaterial oumoral decorrente de suaviolao

    De forma simples, os direitos intimidade e vida privada protegem as pessoas na suaindividualidade e resguardam o direito de estar s27. A intimidade e a vida privada so esferasdiversas28compreendidasemumconceitomaisamplo:odedireitodeprivacidade.Deledecorreoreconhecimentodaexistncia,navidadaspessoas,deespaosquedevemserpreservadosdacuriosidadealheia,porenvolveremomododeserdecadaum,assuasparticularidades.Aestoincludososfatosordinrios,ocorridosgeralmentenombitododomiclioouemlocaisreservados,como hbitos, atitudes, comentrios, escolhas pessoais, vida familiar, relaes afetivas. Comoregrageral,nohaverinteressepblicoemteracessoaessetipodeinformao.

    Aindanocampododireitodeprivacidade,adoutrinaea jurisprudnciacostumam identificarumelementodecisivonadeterminaodaintensidadedesuaproteo:ograudeexposiopblicadapessoa,emrazodeseucargoouatividade,ouatmesmodealgumacircunstnciaeventual.Aprivacidadede indivduosdevidapblicapolticos,atletas,artistassujeitaseaparmetrodeaferiomenosrgidodoqueosdevidaestritamenteprivada.Issodecorre,naturalmente,danecessidadedeautoexposio,depromoopessoaloudointeressepbliconatransparnciadedeterminadas condutas. Por vezes, a notoriedade advm de uma fatalidade ou de umacircunstncia negativa, como estar envolvido em um acidente ou ter cometido um crime.Remarquese bem: o direito de privacidade existe em relao a todas as pessoas e deve serprotegido.Masombitodoquesedeve interditarcuriosidadedopblicomenornocasodaspessoaspblicas29.

    Tambm se entende que no h ofensa privacidade isto , quer intimidade, quer vidaprivada se o fato divulgado, sobretudo pormeios de comunicao demassa, j ingressou nodomniopblico,podeserconhecidoporoutra formaregulardeobtenode informaoouseadivulgaolimitaseareproduzirinformaoantesdifundida30.Nessecaso,nosecogitadeleso privacidade nem tampouco ao direito de imagem (v. supra). Confirase, nesse sentido, aseguinteementadeacrdo, relatadopeloDesembargador JosCarlosBarbosaMoreira, noqualse discutia se pea teatral que retratava a vida de determinados personagens histricos (OlgaBenrioeLuizCarlosPrestes)violavasuaintimidade:

    Verificada a inexistncia de ofensa honra, tampouco se reconhece violao daprivacidade, uma vez que os fatosmostrados so do conhecimento geral, ou pelomenosacessveisatodososinteressados,poroutrosmeiosnoexcepcionais,comoaleituradelivroparacujaredaoministrarainformaesoprpriotitulardodireito

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  • quesealegalesado."31

    Ahonraigualmenteumdireitodapersonalidadeprevistoconstitucionalmente.Poreleseprocuraprotegeradignidadepessoaldoindivduo,suareputaodiantedesiprprioedomeiosocialnoqualestinserido32.Deformageral,alegislao,adoutrinaeajurisprudnciaestabelecemqueodireito honra limitado pela circunstncia de ser verdadeiro o fato imputado ao indivduo33nessa hiptese, no se poderia opor a honra pessoal verdade. Excepcionalmente, porm, adoutrinaadmite(ealegislaodealgunspasesautoriza34)quese impeaadivulgaodefatosverdadeirosmasdetratoresdahonra individual:oquesedenominadesegredodadesonra"35.Os fatos que comportam essa exceo envolvem, de forma geral, circunstncias de carterpuramente privado, sem repercusso sobre o meio social, de tal modo que de forma muitoevidentenoexistaqualquerinteressepbliconasuadivulgao36.

    Paraosfinsrelevantesaopresenteestudo,importanteregistrarqueoconflitopotencialentreaproteohonradosacusadoseadivulgaodefatoscriminososoudeprocedimentoscriminais(no momento de sua apurao ou posteriormente) tem sido examinado com freqncia peladoutrina e jurisprudncia. E, a propsito, existe amplo consensono sentidodequeh interessepbliconadivulgaodetaisfatos,sendoinoponvelaelaodireitodoacusadohonra37.Vejamse alguns dos elementos que conduzem a essa concluso: (i) a circunstncia de os fatoscriminososdivulgadosseremverdadeiroseainformaoacercadeleshaversidoobtidalicitamente(mesmoporqueoprocessoumprocedimentopblico)afastapor si saalegaodeofensahonra (ii) no se aplica a exceo do segredo da desonra porque fatos criminosos, por suaprprianatureza, repercutemsobre terceiros(naverdade,sobre todaasociedade),e tantonodizem respeito exclusivamente esfera ntima da pessoa que so considerados criminosos (iii)ademais,ho interessepblicoespecficonaprevenogeral prpriadoDireitoPenal, isto, adivulgao de que a lei penal est sendo aplicada tem a funo de servir de desestmulo aospotenciaisinfratores38.

    oportuno, neste passo, fazer umbreve registro sobre o famoso e controvertido caso Lebach,julgado em 1973 pelo Tribunal Constitucional Federal alemo. Em linhas gerais, tratavase dedecidirseumcanaldetelevisopoderiaexibirdocumentriosobreumhomicdioquehaviaabaladoa opinio pblica alem alguns anos antes, conhecido como o assassinato de soldados deLebach.Aquestofoisuscitadaporumdoscondenados,entoemfasefinaldecumprimentodepena, sob o fundamento de que a veiculao do programa atingiria a sua honra e, sobretudo,configurariasrioobstculoaoseuprocessode ressocializao.Aprimeira instnciaeo tribunalrevisor negaram o pedido de liminar formulado pelo autor, que pretendia obstar a exibio. Ofundamentoadotado foiodequeoenvolvimentono fatodelituosoo tornaraumpersonagemdahistria alem recente, o que conferia divulgao do episdio interesse pblico inegvel,prevalenteinclusivesobrealegtimapretensoderessocializao.

    Diantedisso,oautorinterpsrecursoconstitucional(Verfassungsbeschwerde)peranteoTribunalConstitucional, alegando, em sntese, violao aoprincpio dadignidadedapessoahumana, queabrigariaemseucontedoodireitoreinserosocial.Apsprocederoitivaderepresentantesdo canal de televiso interessado, da comunidade editorial alem, de especialistas nos diversosramos do conhecimento pertinentes, do Governo Federal e do Estado da Federao onde ocondenado haveria de se reintegrar, o Tribunal reformou o entendimento dos juzos anteriores,concedendoaliminarparaimpediraveiculaodoprograma,casohouvessemenoexpressaaointeressado.

    Adeciso controvertidanaprpriaAlemanhaedificilmente seria compatvel, em tese, comasopes veiculadas pelo poder constituinte originrio de 1988. Tambm do ponto de vista dostraos do caso concreto, que acabaram por determinar a deciso do Tribunal Constitucional, ocasoLebachnoservedeparadigmaparaestetipodeconflito,dadasasgrandesespecificidadesqueocercaram,sobretudoacoincidnciatemporalentreainiciativadeexibiododocumentrioe a soltura de um dos apenados. De parte isto, o temor ao precedente da interdio prvia veiculao de fatos ou programas no assombra o imaginrio poltico alemo com a intensidadequeocorrenoBrasil.

    Odireito imagem protege a representao fsica do corpo humano ou de qualquer de suas

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  • partes,ouaindadetraoscaractersticosdapessoapelosquaiselapossaser reconhecida39. Areproduoda imagemdepende,emregra,deautorizaodo titular.Nesse sentido,a imagemobjeto de um direito autnomo, embora sua violao venha associada, com freqncia, deoutros direitos da personalidade, sobretudo a honra. Notese, porm, que a circunstncia de jserpblicoofatodivulgadojuntamentecomaimagemafastaaalegaodeofensahonraouintimidade,masnointerferecomodireitodeimagem,queservioladoacadavezqueocorreremnovasdivulgaesdamesmareproduo40.Adoutrinaeajurisprudncia,tantonoBrasilcomonoexterior,registramalgunslimitesaodireitodeimagem41.Atosjudiciais,inclusivejulgamentos,sopblicosviaderegra(art.93,IXdaConstituioFederal42),oqueafastaaalegaodelesoimagem captada nessas circunstncias. Igualmente, a difuso de conhecimento histrico,cientficoedainformaojornalsticaconstituemlimitesaessedireito43.

    Com as notas acima procurouse delinear os traos gerais dos direitos da personalidade maisrelevantes para a hiptese de conflito em exame. A seguir, ser feito um estudo semelhanteacerca das liberdades de expresso e de informao, bem como da chamada liberdade deimprensa.

    2.Liberdadesconstitucionaisdeinformaoedeexpressoealiberdadedeimprensa.

    A doutrina brasileira distingue as liberdades de informao e de expresso44, registrando que aprimeiradizrespeitoaodireitoindividualdecomunicarlivrementefatos45eaodireitodifusodeserdeles informado a liberdade de expresso, por seu turno, destinase a tutelar o direito deexternar idias, opinies, juzos de valor, em suma, qualquer manifestao do pensamentohumano. Sem embargo, de reconhecimento geral que a comunicao de fatos nunca umaatividade completamente neutra: at mesmo na seleo dos fatos a serem divulgados h umainterfernciadocomponentepessoal46.Damesmaforma,aexpressoartsticamuitasvezestemporbaseacontecimentos reais.Talvezpor issoodireitonorteamericano47, oConvnio EuropeudeDireitosHumanos(art.10.1)eaDeclaraoUniversaldosDireitosdoHomem(art.1948)tratemasduasliberdadesdeformaconjunta.

    foradedvidaquea liberdade de informao se insere na liberdade de expresso em sentidoamplo49,masadistinoparecetilporcontadeuminegvelinteresseprtico,relacionadocomos diferentes requisitos exigveis de cada uma das modalidades e suas possveis limitaes. Ainformaonopodeprescindirdaverdadeaindaqueumaverdadesubjetivaeapenaspossvel(o ponto ser desenvolvido adiante) pela circunstncia de que isso que as pessoaslegitimamente supem estar conhecendo ao buscla. Decerto, no se cogita desse requisitoquando se cuida demanifestaes da liberdade de expresso50. De qualquer forma, a distinodevepautarseporumcritriodeprevalncia:haverexercciododireitodeinformaoquandoafinalidade da manifestao for a comunicao de fatos noticiveis, cuja caracterizao vairepousarsobretudonocritriodasuaveracidade51.

    Almdasexpressesliberdadedeinformaoedeexpresso,haindaumaterceiralocuoquesetornoutradicionalnoestudodotemaequeigualmentetemassentoconstitucional:aliberdadede imprensa.Aexpressodesignaa liberdadereconhecida(naverdade,conquistadaao longodotempo)aosmeiosdecomunicaoemgeral(noapenasimpressos,comootermopoderiasugerir)decomunicaremfatoseidias,envolvendo,dessemodo,tantoaliberdadedeinformaocomoadeexpresso.

    Se de um lado, portanto, as liberdades de informao e expresso manifestam um carterindividual,enessesentidofuncionamcomomeiosparaodesenvolvimentodapersonalidade,essasmesmasliberdadesatendemaoinegvelinteressepblicodalivrecirculaodeidias,corolrioebase de funcionamento do regime democrtico, tendo portanto uma dimenso eminentementecoletiva52,sobretudoquandoseestejadiantedeummeiodecomunicaosocialoudemassa.Adivulgao de fatos relacionados com a atuao do Poder Pblico ganha ainda importnciaespecialemumregimerepublicano,noqualosagentespblicospraticamatosemnomedopovoeaeledevemsatisfaes.Apublicidadedosatosdosagentespblicos,queatuampordelegaodopovo,anicaformadecontrollos.

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  • Naverdade, tanto emsuamanifestao individual, comoespecialmentena coletiva, entendesequeasliberdadesdeinformaoedeexpressoservemdefundamentoparaoexercciodeoutrasliberdades53, o que justifica uma posio de preferncia preferred position em relao aosdireitos fundamentais individualmenteconsiderados.Talposio,consagradaoriginariamentepelaSuprema Corte americana, tem sido reconhecida pela jurisprudncia do Tribunal Constitucionalespanhol54 e pela do Tribunal Constitucional Federal alemo55. Dela deve resultar a absolutaexcepcionalidadedaproibioprviadepublicaes,reservandoseessamedidaaosraroscasosemqueno seja possvel a composioposterior dodanoqueeventualmente seja causadoaosdireitosdapersonalidade56.Aopopelacomposioposterior tema inegvelvantagemdenosacrificartotalmentenenhumdosvaloresenvolvidos,realizandoaidiadeponderao57.

    A Constituio de 1988 traz diversas normas sobre o tema das liberdades de informao, deexpresso e de imprensa. Sobre as duas primeiras, de forma geral, podem ser destacados osseguintesdispositivos:

    Art.5.(...)

    IVlivreamanifestaodopensamento,sendovedadooanonimato

    (...)

    Vasseguradoodireitoderesposta,proporcionalaoagravo,almdaindenizaopordanomaterial,moral,ouimagem

    (...)

    IX livre a expresso da atividade intelectual, artstica, cientfica ou decomunicao,independentementedecensuraoulicena

    (...)

    XIVasseguradoatodosoacesso informaoeresguardadoosigiloda fonte,quandonecessrioaoexerccioprofissional

    Paratratardosmeiosdecomunicaosocialedaliberdadedeimprensa,aConstituioempregouartigoprprio,queconferequelestratamentoprivilegiado,nosseguintestermos:

    Art. 220. Amanifestao do pensamento, a criao, a expresso e a informao,sobqualquerforma,processoouveculonosofreroqualquerrestrio,observadoodispostonestaConstituio.

    1Nenhumaleiconterdispositivoquepossaconstituirembaraoplenaliberdadede informao jornalstica emqualquer veculo de comunicao social, observado odispostonoart.5,IV,V,X,XIIIeXIV.

    2vedadatodaequalquercensuradenaturezapoltica,ideolgicaeartstica."58

    Comoseobservadas transcries,achamada liberdadede imprensa(naverdade,dosmeiosdecomunicao)recebeuumtratamentoespecficonoart.220.Hquemsustente,alis,queo1do artigo, ao afirmar que Nenhuma lei conter dispositivo que possa constituir embarao...,restringe a ponderao ao julgamento dos casos concretos, afastando a possibilidade de olegisladorarealizaremabstrato59.Segundoseusdefensores,atesenoimportariaanegaodaexistncia de limites imanentes60, mas tosomente afirmaria que a parte inicial do pargrafoprobearestriolegislativa,delegandoessatarefaintegralmenteaorgojudicirioencarregadoda apreciao dos conflitos concretos individualizados. Ao exercer essa funo, o rgojurisdicional estaria ele sim adstrito s hipteses de limitao enumeradas na parte final dodispositivo(incisosIV,V,X,XIIIeXIVdoart.5daprpriaConstituio)61.

    Independentemente da tese que se acaba de registrar, evidente que tanto a liberdade de

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  • informao, como a de expresso, e bem assim a liberdade de imprensa, no so direitosabsolutos,encontrandolimitesnaprpriaConstituio.possvellembrardosprpriosdireitosdapersonalidade j referidos,comoahonra,a intimidade,avidaprivadaea imagem(arts.5,Xe220, 1), a segurana da sociedade e do Estado (art. 5, XIII), a proteo da infncia e daadolescncia(art.21,XVI62)nocasoespecficoderdio,televisoeoutrosmeioseletrnicosdecomunicaosocial,oart.221trazumalistadeprincpiosquedevemorientarsuaprogramao.

    Alm desses limites explcitos na Constituio, h outros que podem ser, com facilidade,considerados imanentes.Emrelao liberdadede informao, jsedestacouqueadivulgaodefatosreais,aindaquandodesagradveisoumesmopenososparadeterminado(s)indivduo(s)63, o que a caracteriza. Da circunstncia de destinarse a dar cincia da realidade, decorre aexignciadaverdadeumrequisitointerno,maisdoqueumlimite64,jquesseestardiantede informao, digna de proteo nesses termos, quando ele estiver presente65. Lembrese,porm,queaverdadeaquinocorresponde,nempoderiacorresponder,aumconceitoabsoluto.

    Defato,nomundoatual,noqual seexigequea informaocircule cadavezmais rapidamente,seriaimpossvelpretenderqueapenasverdadesincontestveisfossemdivulgadaspelamdia66.Emmuitos casos, isso seria o mesmo que inviabilizar a liberdade de informao, sobretudo deinformao jornalstica,marcadapor juzosdeverossimilhanaeprobabilidade.Assim,o requisitoda verdade deve ser compreendido do ponto de vista subjetivo, equiparandose diligncia doinformado67,aquemincumbeapurardeformasriaosfatosquepretendetornarpblicos68.

    Falaseaindadeumlimitegenricosliberdadesdeinformaoedeexpressoqueconsistirianointeressepblico69.preciso,noentanto,certocuidadocomessaespciedeclusulagenricaque, historicamente, tem sido empregada, com grande dissimulao, para a prtica de variadasformas de arbtrio no cerceamento das liberdades individuais, na imposio de censura e dediscursos oficiais de matizes variados. Mesmo porque, vale lembrar que o pleno exerccio dasliberdadesde informaoedeexpressoconstituium interessepblicoemsimesmo,adespeitodoseventuaiscontedosqueveiculem.Otemavaleumanotaespecfica.

    Quando se faz referncia necessidade de se atender ao requisito do interesse pblico noexerccioda liberdadede informaoedeexpresso,naverdadeseest cuidandodocontedoveiculadopeloagente.Isto:procurasefazerumjuzodevalorsobreointeressenadivulgaodedeterminadainformaooudedeterminadaopinio.Ocorre,porm,quehuminteressepblicodamaiorrelevncianoprprioinstrumentoemsi,isto,naprprialiberdade,independentementedequalquercontedo.Nocustalembrarquesobreessaliberdadequerepousaoconhecimentodoscidadosacercadoqueocorresuavolta70sobreessa liberdade,aomenosemEstadosplurais,quesedeveconstruiraconfiananasinstituiesenademocracia.OEstadoquecensurao programa televisivo de m qualidade pode, com o mesmo instrumental, censurar matriasjornalsticasinconvenientes"71,semqueopblicoexeraqualquercontrolesobreofiltroquelheimposto.

    A concluso a que se chega, portanto, a de que o interesse pblico na divulgao deinformaesreiterandosearessalvasobreoconceitojpressuporasatisfaodorequisitodaverdade subjetiva presumido. A superao dessa presuno, por algum outro interesse,pblico ou privado, somente poder ocorrer, legitimamente, nas situaeslimite,excepcionalssimas,dequaserupturadosistema.Comoregrageral,noseadmitiralimitaodeliberdadedeexpressoedeinformao,tendoseemcontaajmencionadapreferredpositiondequeessasgarantiasgozam.

    Umltimoaspectodoconflitopotencialentreasliberdadesdeinformaoedeexpressoeseuslimitesenvolvenoasnormasemoposio,masasmodalidadesdisponveisderestrio,maisoumenos intensas, de tais liberdades.Como referido inicialmente, aponderaodeverdecidir noapenasqualbemconstitucionaldevepreponderarnocasoconcreto,mastambmemquemedidaouintensidadeeledevepreponderar.Arestriomaisradical,sempreexcepcionalenoprevistaexplicitamente pelo constituinte em nenhum ponto do texto de 1988, a proibio prvia dapublicaooudivulgaodofatooudaopinio.Essaumamodalidadederestrioqueeliminaaliberdadedeinformaoe/oudeexpresso.Emseguida,aprpriaConstituioadmiteaexistnciade crimesdeopinio (art.53,acontrario sensu), bemcomoa responsabilizao civil pordanos

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  • materiaisoumorais(art.5,VeX),ouseja:oexerccioabusivodas liberdadesde informaoedeexpressopoderocasionararesponsabilizaociviloumesmocriminal.Porfim,aConstituiopreviuaindaodireitoderesposta(art.5,V)comomecanismodesano.

    3.Parmetrosconstitucionaisparaaponderaonahiptesedecoliso

    Apartirdasnotas tericasestabelecidasnotpicoanterior,possveldesenvolverumconjuntode parmetros que se destinam amapear o caminho a ser percorrido pelo intrprete, diante docaso concreto.Soelementosquedevemser consideradosnaponderaoentre a liberdadedeexpresso e informao (especialmente esta ltima, pois a quemais diretamente interessa aoestudo),deumlado,eosdireitoshonra,intimidade,vidaprivadaeimagem,deoutro.Osparmetrosapuradosataquiseguemenunciadosabaixo.

    A)Averacidadedofato

    A informao que goza de proteo constitucional a informao verdadeira. A divulgaodeliberada de uma notcia falsa, em detrimento do direito da personalidade de outrem, noconstituidireitofundamentaldoemissor.Osveculosdecomunicaotmodeverdeapurar,comboafedentrodecritriosderazoabilidade,acorreodofatoaoqualdaropublicidade.bemdever,noentanto,quenosetratadeumaverdadeobjetiva,massubjetiva,subordinadaaumjuzodeplausibilidadeeaopontodeobservaodequemadivulga.Parahaverresponsabilidade,necessriohaverclaranegligncianaapuraodofatooudolonadifusodafalsidade.

    B)Licitudedomeioempregadonaobtenodainformao

    O conhecimento acerca do fato que se pretende divulgar tem de ter sido obtido por meiosadmitidospelodireito.AConstituio,damesmaformaquevedaautilizao,emjuzo,deprovasobtidas por meios ilcitos, tambm interdita a divulgao de notcias s quais se teve acessomediantecometimentodeumcrime.Seafontedanotciafez,e.g.,umainterceptaotelefnicaclandestina, invadiu domiclio, violou o segredo de justia em um processo de famlia ou obteveuma informao mediante tortura ou grave ameaa, sua divulgao no ser legtima. Noteseainda que a circunstncia de a informao estar disponvel em arquivos pblicos ou poder serobtida por meios regulares e lcitos tornaa pblica e, portanto, presumese que a divulgaodesse tipo de informao no afeta a intimidade, a vida privada, a honra ou a imagem dosenvolvidos72.

    C)Personalidadepblicaouestritamenteprivadadapessoaobjetodanotcia

    Aspessoasqueocupamcargospblicostmoseudireitodeprivacidadetuteladoemintensidademaisbranda.Ocontroledopodergovernamentaleaprevenocontraacensuraampliamograulegtimodeingerncianaesferapessoaldacondutadosagentespblicos.Omesmovaleparaaspessoas notrias, como artistas, atletas, modelos e pessoas do mundo do entretenimento.Evidentemente, menor proteo no significa supresso do direito. J as pessoas que no tmvidapblicaounotoriedadedesfrutamdeumatutelamaisampladesuaprivacidade73.

    D)Localdofato

    Osfatosocorridosemlocalreservadotmproteomaisampladoqueosacontecidosemlocaispblicos.Eventosocorridosnointeriordodomicliodeumapessoa,comoregra,nosopassveisde divulgao contra a vontade dos envolvidos.Mas se ocorreremna rua, empraa pblica oumesmo em lugar de acesso ao pblico, como um restaurante ou o saguo de um hotel, emprincpiosserofatosnoticiveis.

    E)Naturezadofato

    H fatos que so notcia, independentemente dos personagens envolvidos. Acontecimentos danatureza(tremorde terra,enchente),acidentes (automobilstico, incndio,desabamento),assimcomocrimesemgeral74,sopassveisdedivulgaoporseuevidenteinteressejornalstico,aindaquandoexponhamaintimidade,ahonraouaimagemdepessoasnelesenvolvidos.

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  • F)Existnciadeinteressepbliconadivulgaoemtese

    O interesse pblico na divulgao de qualquer fato verdadeiro se presume, como regra geral. Asociedademodernagravitaemtornodanotcia,dainformao,doconhecimentoedeidias.Sualivrecirculao,portanto,daessnciadosistemademocrticoedomodelodesociedadeabertae pluralista que se pretende preservar e ampliar. Caber ao interessado na no divulgaodemonstrarque,emdeterminadahiptese,existeuminteresseprivadoexcepcionalquesobrepujaointeressepblicoresidentenaprprialiberdadedeexpressoedeinformao75.

    G)Existnciade interessepbliconadivulgaodefatosrelacionadoscomaatuaodergospblicos

    Emumregimerepublicano,aregraquetodaaatuaodoPoderPblico,emqualquerdesuasesferas, seja pblica, o que inclui naturalmente a prestao jurisdicional. A publicidade, como corrente, omecanismo pelo qual ser possvel ao povo controlar a atuao dos agentes queafinal praticam atos em seu nome. O art. 5, XXXIII, como referido, assegura como direito detodos o acesso a informaes produzidas no mbito de rgos pblicos, salvo se o sigilo forindispensvelseguranadasociedadeedoEstado.

    H) Preferncia por sanes a posteriori, que no envolvam a proibio prvia dadivulgao

    O uso abusivo da liberdade de expresso e de informao pode ser reparado por mecanismosdiversos,queincluemaretificao,aretratao,odireitoderespostaearesponsabilizao,civiloupenaleainterdiodadivulgao.Somenteemhiptesesextremassedeverutilizaraltimapossibilidade. Nas questes envolvendo honra e imagem, por exemplo, como regra geral serpossvel obter reparao satisfatria aps a divulgao, pelo desmentido por retificao,retrataooudireitoderespostaeporeventualreparaododano,quandosejaocaso.Jnoscasosdeviolaodaprivacidade(intimidadeouvidaprivada),asimplesdivulgaopodercausaromaldeummodoirreparvel.Vejaseadiferena.Nocasodeviolaohonra:seaimputaodeumcrimeaumapessoa se revelar falsa, odesmentido cabalminimizara sua conseqncia.Masnocasodaintimidade,sesedivulgarqueocasalseseparoupordisfunosexualdeumdoscnjugeshiptesequeemprincpioenvolvefatoquenopoderiasertornadopbliconohreparaocapazdedesfazerefetivamenteomalcausado.

    IV.AQUESTOSOBATICAINFRACONSTITUCIONAL.PARMETROSCRIADOSPELOLEGISLADORPARAAPONDERAONAHIPTESEDECOLISO

    Encerrado o exame da questo sob a tica constitucional, cabe agora verificar se h normasinfraconstitucionaisquepostulamaplicaoaocaso.Arespostaafirmativa.Comosesabe,eagrande quantidade de obras publicadas sobre o assunto d conta76, a coliso ou a aparentecolisoentreas liberdadesde informaoedeexpressoeosdireitoshonra, intimidadeeimagem so relativamente freqentes, a maior parte das vezes envolvendo os meios decomunicao. No de surpreender, portanto, que o legislador fosse atrado pela idia de criarsolues gerais para o tema. Relembrese, no entanto, como j assinalado, que uma lei quepretendaarbitrarumacolisodedireitosfundamentaisdeformargidaeabstrataenfrentardoisbices principais e interligados a unidade daConstituio e a ausncia de hierarquia entre osdireitos , que levam mesma conseqncia: a ausncia de fundamento de validade para aprefernciaatribudaaumdireitoemdetrimentodeoutroemcartergeralepermanente.

    Em particular, no que diz respeito liberdade de informao reconhecida aos meios decomunicao,oespaoreservadoaolegisladorsofreaindaarestriocategricado1doart.220dequeNenhumaleiconterdispositivoquepossaconstituirembaraoplenaliberdadedeinformao jornalstica (...) observado o disposto no art. 5, IV, V, X, XIII e XIV. Comoconsignadoanteriormente,hquemdefendaa tesedequeadisposio transcrita simplesmenteprobeaatuaodolegisladornamatria(v.supra).Mesmoqueassimnoseentenda,certo,no entanto, que os limites impostos lei no que diz respeito disciplina da coliso de direitosfundamentaisemgeralaplicasecolisodosdireitosemquesto.

    Pois bem. Duas normas existentes hoje no ordenamento procuram arbitrar a coliso entre as

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  • liberdadesdeinformaoeexpressoeosdireitoshonra,intimidadeeimagem:oart.21daLeideImprensa(Lein5.250,de09.02.67)eoart.20donovoCdigoCivil.Cabeagoraexaminarseu sentido e alcance, bem como sua compatibilidade com o exposto sobre os parmetrosconstitucionaisquedevemorientarasoluodessaespciedecoliso.

    1.Interpretaoconstitucionalmenteadequadadoart.21,2daLeideImprensa(Lein5.250/1967)

    ALein5.250/1967,conhecidacomoLeideImprensa,dedicaumaseointeira(arts.12a28)aotratamento Dos Abusos no Exerccio da Liberdade de Manifestao do Pensamento eInformao.Noprecisotecermaiorescomentriossobreascircunstnciashistricasemquea norma foi editada em plena ditadura militar , mesmo porque a prpria leitura do texto jrevela sua inspirao. Apenas como exemplo, vale registrar que seu art. 16 considera crime,sujeito a deteno por at 6meses, publicar fatos verdadeiros truncados ou deturpados, queprovoquem: I perturbao da ordem pblica ou alarma social II desconfiana no sistemabancrioouabalodecrditode instituio financeiraoudequalquerempresa,pessoa fsicaoujurdica III prejuzo ao crdito daUnio, doEstado, doDistrito Federal oudoMunicpio IV sensvel perturbao na cotao das mercadorias e dos ttulos imobilirios no mercadofinanceiro. O art. 17, por sua vez, considera abusiva a manifestao de pensamento e deinformao que ofenda a moral pblica e os bons costumes, sujeitando o infrator a pena dedeteno de 3 (trs)meses a 1 (um) ano, emulta de 1 (um) a 20 (vinte) salriosmnimos daregio.

    Poisbem.Noroldecondutasabusivasfoiincludooart.21,quetemaseguinteredao:

    Art.21Difamaralgum,imputandolhefatoofensivosuareputao:

    Pena: Deteno de 3 (trs) a 18 (dezoito)meses, emulta de 2 (dois) a 10 (dez)salriosmnimosdaregio.

    1exceodaverdadesomenteseadmite:

    a)seocrimecometidocontrafuncionriopblico,emrazodasfunesoucontrargoouentidadequeexerafunesdeautoridadepblica

    b)seoofendidopermiteaprova.

    2 Constitui crime de difamao a publicao ou transmisso, salvo semotivadapor interessepblico,de fatodelituoso,seoofendido j tivercumpridopenaaquetenhasidocondenadoemvirtudedele.

    O exame da norma transcrita suscita dois problemas de ordem constitucional, um geral,relacionadocomocaput,eumespecfico,envolvendoo2.Deacordocomocaputdo artigotranscrito, constituiria crime de difamao (salvo nos casos em que se admite a exceo daverdade)imputarfatoverdadeiroaalgum,casotalfatosejaofensivoreputaodoindivduo.Algunsexemplosajudamnacompreensodadificuldadequeaaplicaododispositivoacarreta:jornalista que denunciasse fatos verdadeiros, obtidos licitamente, mas ofensivos, e.g., reputao de candidatos a algum cargo pblico, cometeria crime de difamao77 o mesmoocorrendo com a divulgao por um reprter de prticas antiticas de empresrios oudesportistas.

    Aespciederestriocontidanocaput,comosev,dedifcilcompatibilizaocomumEstadopluraledemocrticojquesadmitiriaadivulgaodefatosquepromovessemalouvaodosindivduos78 , por interferirem com as liberdades de imprensa, de crtica em geral e deinvestigao jornalstica, especialmente protegidas pela Constituio de 1988. Ainda quando sepudesse admitir a validade desse dispositivo, ele s poderia ser aplicado quando se detectasseapenasodolodedifamar,estandototalmenteausenteointeressepblico.Certo,todavia,queointeressepblicosempresepresumenadivulgaodeumfatoverdadeiro.

    Esta , igualmente, a questo em jogo com relao ao 2 do mesmo artigo, ao pretender

  • tipificarapublicaooutransmissodefatodelituoso,seoofendidojtivercumpridopenaaquetenha sido condenado em virtude dele. Aqui, a excludente representada pelo interesse pblicovemexpressamenteconsignada.Aessepropsito,impemseduasobservaes.Aprimeiraadeque, conforme jsublinhado,aConstituiode1988consagraas liberdadesde informaoedeexpresso(aquiespecificamentedeinformao)comovaliosasemsimesmas,independentementedo contedo que veiculem, por serem garantias essenciais para a manuteno do status deliberdade,dademocraciaedopluralismo.

    Asegundaadequenessahipteseado2doart.21daLein5.250/67,adivulgaoserefere a fatos verdadeiros, assim reconhecidos pelos rgos judiciais competentes. E mais: oconhecimentosobreelespodeserobtidoporvialcita,jqueasinformaesconstamderegistrospblicos.Portanto,vistadetodosesseselementospapeldaliberdadedeexpresso,verdadedos fatos e licitudedosmeios, o interessepbliconadivulgao sepresume.Demodoqueaclusula excludente constante do dispositivo constitui a regra, sendo que a presuno delegitimidade da divulgao somente ceder em hipteses muito excepcionais, devidamentecomprovadas, aptas a afastar o interesse pblico. Leitura diversa levaria no recepo dodispositivopelaordemconstitucionalde1988.

    Em suma: tanto no caso do caputdo art. 21 como no do seu 2, a presena do interessepbliconadivulgaodefatosnoticiveisexcluirocrime.Talinteressepresumido,spodendoserafastadomediantedemonstraoexpressadesuaausnciaedodolodedifamar.

    2.Interpretaoconstitucionalmenteadequadadoart.20donovoCdigoCivil.

    OnovoCdigoCivilabriuumcaptuloespecialparatratardosdireitosdapersonalidade(arts.11a21) e, ao fazlo, procurou prescrever uma frmula capaz de solucionar os possveis conflitosentreessesdireitoseasliberdadesdeinformaoedeexpresso.Estaaorigemdoart.20,quetemaseguintedico:

    Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessrias administrao da justia ou manutenodaordempblica, a divulgaode escritos, a transmissodapalavra,ouapublicao,aexposioouautilizaodaimagemdeumapessoapoderoserproibidas, a seu requerimento e sem prejuzo da indenizao que couber, se lheatingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a finscomerciais.

    A interpretaomais evidentedodispositivoproduza seguinte concluso:pode ser proibida, arequerimentodointeressado,autilizaodaimagemdealgumouadivulgaodefatossobreapessoa, em circunstncias capazes de lhe atingir a honra, a boa fama ou a respeitabilidade,inclusiveparafinsjornalsticos(jqueanormanodistingue).Asexceesaopreceitoso:(i)aautorizao da pessoa envolvida ou a circunstncia de a exibio ser necessria para (ii) aadministraodajustiaou(iii)amanutenodaordempblica.Ouseja:podeserproibidotudoo que no tenha sido autorizado e no seja necessrio administrao da justia ou manutenodaordempblica.Nasualeituramaisbvia,anormanoresisteaumsoprodebomdireito.Impemse,assim,algumasobservaes.

    Emprimeirolugar,odispositivotranscritoempregadoisestranhosconceitosadministraodajustia e manuteno da ordem pblica , que no constam do texto constitucional e soamplamente imprecisosedifusos.Queespciede informaoou imagemdeumapessoapoderiasernecessriaadministraodajustia?Fatosrelacionadosacondutasilcitas,naesferacvelecriminal, talvez. E quanto manuteno da ordem pblica? Tratase de conceito ainda maisindefinido.Adivulgaodefotosdecriminososprocuradospelapolciapoderiaenquadrarsenesseparmetro,etalvezatmesmona idiadeadministraodajustia.Detodasorte,afragilidadeconstitucional desses conceitos pode ser facilmente percebidamediante umexerccio simples: oteste de sua incidncia sobre diversas hipteses capaz de produzir resultados inteiramenteincompatveiscomaConstituio.

    SuponhasequeumaaltaautoridadedaRepblicasejaatingidaporumovoarremessadoporummanifestante e reaja com um insulto preconceituoso. A divulgao do episdio certamente trazuma exposio negativa de sua imagem. O evento, por sua vez, nada tem a ver com aadministraodajustiaoucomamanutenodaordempblica.Perguntase:compatvelcom

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  • aConstituioimpediradivulgaodessefato?Pareceevidentequeno.Imaginese,agora,queumjornalistaapurequedeterminadogovernadordeEstadoera,atpoucoantesdaposse,scioemumaempresadefachada,acusadade lavagemdedinheiro.Tampoucoaquipareceria legtimoproibir a divulgao da notcia, independentemente de prvia autorizao ou de qualquerrepercusso sobre a administrao da justia ou a ordem pblica. Considerese um exemploinverso.Umservidorpblicosuspeitodaprticadeatodeimprobidade.Aautoridadequeconduza investigao decide publicar uma foto do investigadona imprensa, solicitando a todos os quetenhamalgumainformaorelevantepara incriminloquesedirijamadeterminadarepartio.Aprovidnciapoderiaatsertilparaaadministraodajustia,mastalcondutacertamentenoseafiguralegtimaluzdaConstituio.

    Como se v, os critrios empregados pelo Cdigo Civil no encontram qualquer amparoconstitucionale,naprtica,acabamporcorrespondervelhaclusulado interessepblico,quejserviuatantosregimesarbitrrios.interessantenotar,alis,queemboraonovoCdigocontepoucomaisdeumanodeexistncia,essedispositivofoiconcebidoentreofimdadcadade60eoinciodadcadade70,poisjconstavadoAnteprojetodeCdigoCivilde197279.Oambientenoqualnasceuprovavelmenteexplicaainadequaodafilosofiaaelesubjacentebemcomodosconceitosutilizados.

    Na verdade, ainda h pouqussimomaterial doutrinrio produzido sobre o referido art. 20, o queno impediu Luis Gustavo Grandinetti Castanho de Carvalho de condenar o dispositivo comoinconstitucional,nosseguintestermos:

    Oartigo 20 do novoCdigoCivil, que representa umaponderao de interesses por parte dolegislador, desarrazoado, porque valora bens constitucionais de modo contrrio aos valoressubjacentes Constituio. A opo do legislador, tomada de modo apriorstico edesconsiderandoobemconstitucionaldaliberdadedeinformao,podeedeveserafastadapelainterpretaoconstitucional."80

    Defato,asleiturasmaisevidentesdoart.20donovoCdigoolevamaumconfrontodiretocomaConstituio:as liberdadesdeexpressoede informaosoporeleesvaziadasconsagraseuma invlida precedncia abstrata de outros direitos fundamentais sobre as liberdades emquestoeassupostasvlvulasdeescapeparaessaregrageraldeprefernciasoclusulasqueno repercutem qualquer disposio constitucional. Nada obstante essa primeira viso, parecepossvel adotar uma interpretao conforme a Constituio81 do dispositivo, capaz de evitar adeclaraoformaldeinconstitucionalidadedeseutexto.Confiraseoargumento.

    A interpretao que se entende possvel extrair do art. 20 referido j no limite de suaspotencialidadessemnticas,bemdeverpodeserdescritanosseguintestermos:odispositivoveio tornar possvel o mecanismo da proibio prvia de divulgaes (at ento sem qualquerprevisonormativaexplcita)queconstitui,noentanto,providnciainteiramenteexcepcional.Seuemprego s ser admitido quando seja possvel afastar, por motivo grave e insupervel, apresunoconstitucionaldeinteressepblicoquesempreacompanhaaliberdadedeinformaoedeexpresso,especialmentequandoatribudaaosmeiosdecomunicao

    Ouseja:aocontrriodoquepoderiapareceremumaprimeiraleitura,adivulgaodeinformaesverdadeiraseobtidaslicitamentesempresepresumenecessriaaobomfuncionamentodaordempblica e apenas em casos excepcionais, que caber ao intrprete definir diante de fatos reaisinquestionveis, que sepoderproibila. Essaparece ser a nica formade fazer o art. 20doCdigo Civil conviver com o sistema constitucional caso no se entenda o dispositivo dessaforma,nopoderelesubsistirvalidamente.

    V.SOLUODAPONDERAONAHIPTESEEMESTUDO

    Antesdeaplicaraotipodecolisoobjetodesteestudooconjuntodeargumentosdoutrinriosenormativosque sevemdeexpor, no sepodedeixarde localizar a teoria jurdicano tempo,noespaoenahistria,semoqueelaperderiaboapartedeseusentido.Comosesabe,ahistriada liberdade de expresso e de informao, no Brasil, uma histria acidentada. Convive comgolpes, contragolpes, sucessivas quebras da legalidade e pelo menos duas ditaduras de longadurao: a do Estado Novo, entre 1937 e 1945, e o Regime Militar, de 1964 a 1985. Desde o

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  • Imprio,arepressomanifestaodopensamentoelegeualvosdiversos,dareligiosartes.AsrazesinvocadaseramsempredeEstado:segurananacional,ordempblica,bonscostumes.Osmotivosreais,comoregra,apenasespelhavamumsentidoautoritrioeintolerantedopoder.

    Durante diferentes perodos, houve temas proibidos, ideologias banidas, pessoas malditas. Nojornalismo impresso, o vazio das matrias censuradas era preenchido com receitas de bolo epoesiasdeCames.Nateleviso,programaseramproibidosoumutilados.Censuravamsemsicas,peas,livrosenovelas.OBalletBolshoifoiproibidodeapresentarsenoBrasil,sobaalegaodeconstituir propaganda comunista. Um surto de meningite teve sua divulgao vedada porcontrastarcomaimagemquesequeriadivulgardopas.

    Em fases diferentes da experincia brasileira, a vida foi vivida nas entrelinhas, nas sutilezas, naclandestinidade.Ainterdiocompulsriadaliberdadedeexpressoedeinformao,porqualquervia, evoca episdios de memria triste e dificilmente pode ser vista com naturalidade ouindiferena. claro que uma ordem judicial, precedida de devido processo legal, no umasituaoequiparadadapresenade censoresdaPolcia Federalnas redaesenosestdios.Mashriscosanlogos.Eopassadomuitorecenteparanoassombrar.

    Feita a digresso, e retornando ao ponto, cabe examinar as duas situaes descritas no inciodesteestudo,queenvolvemalegitimidadeounodaexibio,independentementedeautorizaodoseventuaisenvolvidos,deprogramasoumatriasjornalsticasnosquais:(i)sejacitadoonomeoudivulgadaaimagemdepessoasrelacionadascomoeventonoticiadoou(ii)sejamrelatadoseencenadoseventoscriminaisdegranderepercussoocorridosnopassado.

    Examineseemprimeirolugarasegundacircunstncia,maisespecficaquantoaosfatos,quedizrespeito divulgaode eventos e procedimentos criminais degrande repercussoocorridosnopassado.Ora, todososparmetros listadosno tpico III.3. indicama legitimidadeconstitucionaldadivulgaodessesfatos.

    om efeito, tratase em primeiro lugar de fatos verdadeiros, no apenas do ponto de vistasubjetivocomotambm,emalgunsdoscasos,comaobjetividadedecorrentededecisesjudiciaistransitadasemjulgado.Ademais,oconhecimentodos fatos foiobtidopormeiolcito, pois foramnoticiados nos veculos de imprensa da poca, assim como constam de registros policiais ejudiciais. As pessoas envolvidas tornaramse personalidades pblicas, em razo da notoriedadeque o seu envolvimento com os fatos lhes deu. Crimes so fatos noticiveis pornatureza, nopodendo ser tratados como questes estritamente privadas. E, por fim, h evidente interessepbliconasuadivulgao,inclusivecomofatorinibidordetransgressesfuturas.

    Quanto aos fatos noticiveis em geral, amesma presunomilita com intensidade aindamaior.Aqui,nose trataapenasda liberdadedeveicularnovamente fatospassados, jconhecidosdopblico ou histricos, mas de informar propriamente, isto , de levar ao conhecimento dapopulao eventos contemporneos ou em curso. Pretender que programas ou matriasjornalsticas apenas possam exibir imagens ou fazer referncia a pessoas mediante prviaautorizao dos interessados corresponde a inviabilizar de forma drstica a liberdade deinformaooudeexpresso.Aforaaimpossibilidadefsicadetalprovidncia,bastariaaoindivduoque est sendo alvo de crticas ou investigaes negar a suposta autorizao e assim tornarimpossvelaojornalistaexerceroseuofcioeaomeiodecomunicaodesempenharoseupapelinstitucional.

    A regra, portanto, em sede de divulgao jornalstica, a de que no h necessidade de seobter autorizao prvia dos indivduos envolvidos em algum fato noticivel (verdadeirosubjetivamenteetendofontelcita)equevenhamaterseusnomese/ouimagensdivulgadosdealgumaforma.Eventuaisabusose.g.negligncianaapuraooumalcianadivulgaoestarosujeitos a sanesaposteriori, como j assinalado.Mas como regra, no ser cabvel qualquertipo de reparao pela divulgao de fatos verdadeiros, cujo conhecimento acerca de suaocorrnciatenhasidoobtidopormeiolcito,presumindose,emnomedaliberdadedeexpressoedeinformao,ointeressepbliconalivrecirculaodenotciaseidias.

    Concluses

  • Aofinaldessaexposio,quesefezinevitavelmenteanaltica,possvelcompendiarasprincipaisidiasdesenvolvidasnasproposiesseguintes:

    1.Acolisodeprincpiosconstitucionaisoudedireitosfundamentaisnoseresolvemedianteoempregodoscritriostradicionaisdesoluodeconflitosdenormas,comoo hierrquico, o temporal e o da especializao. Em tais hipteses, o intrprete constitucionalprecisarsocorrersedatcnicadaponderaodenormas,valoresouinteresses,porviadaqualdever fazer concesses recprocas entre as pretenses em disputa, preservando o mximopossvel do contedo de cada uma. Em situaes extremas, precisar escolher qual direito irprevalecer e qual ser circunstancialmente sacrificado, devendo fundamentar racionalmente aadequaoconstitucionaldesuadeciso.

    2.Osdireitosdapersonalidade,tidoscomoemanaodadignidadedapessoa humana, conquistaram autonomia cientfica e normativa, so oponveis a todos ecomportamreparaoindependentementedesuarepercussopatrimonial(danomoral).correntea classificao que os divide em direitos (i) integridade fsica e (ii) integridade moral. Aproteo da integridademoral, que a que diz respeito discusso aqui desenvolvida, tem noBrasilstatusconstitucional,materializandosenosdireitos intimidade,vidaprivada,honraeimagemdaspessoas.

    3.Aliberdadedeinformaodizrespeitoaodireitoindividualdecomunicarlivremente fatos e ao direito difuso de ser deles informado. A liberdade de expresso tutela odireito de externar idias, opinies, juzos de valor e manifestaes do pensamento em geral.Tantoemsuadimensoindividualcomo,especialmente,nacoletiva,entendesequeasliberdadesdeinformaoedeexpressoservemdefundamentoparaoexercciodeoutrasliberdades,oquejustifica sua posio de preferncia em tese (embora no de superioridade) em relao aosdireitosindividualmenteconsiderados.

    4.Nacolisoentrealiberdadedeinformaoedeexpresso,deumlado,e os direitos da personalidade, de outro, destacamse como elementos de ponderao: averacidade do fato, a licitude domeio empregado na obteno da informao, a personalidadepblicaouestritamenteprivadadapessoaobjetodanotcia,olocaldofato,anaturezadofato,aexistnciadeinteressepbliconadivulgao,especialmentequandoofatodecorradaatuaodergosouentidadespblicas,eaprefernciapormedidasquenoenvolvamaproibioprviadadivulgao. Tais parmetros servem de guia para o intrprete no exame das circunstncias docasoconcretoepermitemcertaobjetividadessuasescolhas.

    5. O legislador infraconstitucionalpodeatuarnosentidodeofereceralternativas de soluo e balizamentos para a ponderao nos casos de conflito de direitosfundamentais.Todavia,porforadoprincpiodaunidadedaConstituio,nopoderdeterminar,em abstrato, a prevalncia de um direito sobre o outro, retirando do intrprete a competnciaparaverificar,inconcreto,asoluoconstitucionalmenteadequadaparaoproblema.

    6.O2doart.21daLein5.250/67(LeideImprensa)eoart.20doNovo Cdigo Civil devem ser interpretados conforme a Constituio para que possam subsistirvalidamente.quedesualiteralidaderesultariaumainadmissvelprecednciageraldosdireitosdapersonalidadesobreasliberdadesdeinformaoedeexpresso.Emambososcasos,apresunodointeressepbliconalivrecirculaodenotciasedeidiasimpedeocerceamentodaliberdadedeinformaoedeexpresso,amenosqueapresunopossaserexcepcionalmenteafastadavistadocasoconcreto,mediantecomprovaocabaldeumasituaocontraposta,merecedorademaiorproteo.

    7.legtimaaexibio,independentementedeautorizaodoseventuaisenvolvidos,deprogramasoumatriasjornalsticasnasquais:(i)sejamcitadososnomesoudivulgadaaimagemdepessoasrelacionadascomoeventonoticiadoou(ii)sejamrelatadoseencenadoseventoscriminaisdegranderepercussoocorridosnopassado,equetenhammobilizadoaopiniopblica.Presentesoselementosdeponderaoaquiestudados,noseadmitir:(a)aproibiodadivulgao,(b)atipificaodaveiculaodamatriaoudoprogramacomodifamaoe(c)apretensodeindenizaoporviolaodosdireitosdapersonalidade.

  • 1TrabalhodesenvolvidocomacolaboraodeAnaPauladeBarcellos.2V. Lus Roberto Barroso, Interpretaoe aplicao da Constituio, 2003. Os princpios especficos e instrumentais interpretao constitucional so os da supremacia, presuno de constitucionalidade, interpretao conforme aConstituio,unidade,razoabilidadeproporcionalidadeeefetividade.3V Lus Roberto Barroso, Fundamentos tericos e filosficos do novo direito constitucional brasileiro, in Temas dedireito constitucional, t. II, p. 32: ODireito, como se sabe, um sistema de normas harmonicamente articuladas.Uma situao no pode ser regida simultaneamente por duas disposies legais que se contraponham. Parasolucionar essas hipteses de conflito de leis, o ordenamento jurdico se serve de trs critrios tradicionais: o dahierarquiapeloqualaleisuperiorprevalecesobreainferior,ocronolgicoondealeiposteriorprevalecesobreaanterioreodaespecializaoemquealeiespecficaprevalecesobrealeigeral.Estescritrios,todavia,nosoadequadosouplenamente satisfatriosquandoa coliso sedentrenormas constitucionais, especialmente entreprincpiosconstitucionais,categorianaqualdevemsersituadososconflitosentredireitosfundamentais.4Humbertovila,Teoriadosprincpios(dadefinioaplicaodosprincpiosjurdicos),2003.5RobertAlexy,Teoriade losderechosfundamentales,1997,p.86:Princpiossonormasqueordenamquealgosejarealizadonamaiormedidapossvel,dentrodaspossibilidades jurdicasereaisexistentes.Por isso,somandadosdeotimizao,caracterizadospelofatodequepodemsercumpridosemdiferentesgrausequeamedidadevidadeseucumprimentonosdependedaspossibilidades reais,mas tambmdas jurdicas.Ombitodo juridicamentepossveldeterminadopelosprincpioseregrasopostas.(traduolivre).6Hvastomaterialsobreoassunto,tantonadoutrinabrasileiraquantonodireitocomparado.Arespeitodacolisode direitos fundamentais em geral, v. Wilson Antnio Steinmetz, Coliso de direitos fundamentais e princpio daproporcionalidade, 2001 Daniel Sarmento, A ponderao de interesses na Constituio Federal, 2000 Ricardo LoboTorres,Daponderaodeinteressesaoprincpiodaponderao,inUrbanoZilles(coord.),MiguelReale.EstudosemHomenagemaseus90anos,2000.Sobreatemticaespecficadacolisoentrealiberdadedeexpressoemsentidoamploeoutrosdireitos fundamentais, sobretudoosdireitoshonra, intimidade,vidaprivadae imagem,v.Edilsom Pereira de Souza,Colisode direitos fundamentais. A honra, a intimidade, a vida privada e a imagem versus aliberdadedeexpressoede informao,2000LusGustavoGrandinettiCastanhodeCarvalho,Direitode informaoeliberdade de expresso, 1999 Mnica Neves Aguiar da Silva Castro, Honra, imagem, vida privada e intimidade, emcoliso com outros direitos, 2002 Porfirio Barroso e Mara del Mar Lpez Tavalera, La libertad de expresion y suslimitacionesconstitucionales,1998AntonioFayosGard,Derechoa la intimidadymediosdecomunicacin,2000MiguelngelAlegreMartnez,Elderechoalapropiaimagen,1997SidneyCesarSilvaGuerra,Aliberdadedeimprensaeodireitoimagem,1999PedroFredericoCaldas,Vidaprivada,liberdadedeimprensaedanomoral,1997.7Edilsom Pereira de Farias,Colisodedireitos. A honra, a intimidade, a vida privada e a imagem versus a liberdade deexpressoede informao,p.120:Sucedequenohhierarquiaentreosdireitos fundamentais.Estes,quandoseencontram em oposio entre si, no se resolve a coliso suprimindo um em favor do outro. Ambos os direitosprotegemadignidadedapessoahumanaemerecemserpreservadosomximopossvelnasoluodacoliso.8E.g.,CF,art.5: XII inviolvel o sigilo da correspondncia e das comunicaes telegrficas, de dados e dascomunicaestelefnicas,salvo,noltimocaso,porordemjudicial,nashiptesesenaformaquealeiestabelecerparafinsdeinvestigaocriminalouinstruoprocessualpenaleXIII livreoexercciodequalquertrabalho,ofcioouprofisso,atendidasasqualificaesprofissionaisquealeiestabelecer.9Parapartedosautoresque tratamdo tema, ao regulamentar o exerccio do direito o legislador poder explicitarlimitesimanentes,independentementedeexpressaprevisoconstitucional.V.WilsonAntnioSteinmetz,Colisodedireitos fundamentais e princpio da proporcionalidade, 2001, pp. 601: Em outros termos, a restrio de direitosfundamentaisoperadapelolegisladorordinrio,antecipandoseafuturosconflitos(conflitosempotencial),podeserjustificada invocandosea teoriados limites imanenteso legisladorpoderargumentarque,emborano tenhamsidoprescritosnemdiretanemindiretamentepelolegisladorconstituinte,oslimitesqueestfixandosolegtimos,porqueimanentesaosistemadedireitosfundamentaiseConstituiocomoumtodo.10STF,DJ29.06.90,ADInMC223DF,Rel.Min.PauloBrossard.11STF,DJ29.06.90,ADInMC223DF,Rel.Min.PauloBrossard:Generalidade,diversidadeeimprecisodelimitesdombitodevedaode liminardaMP173,que,se lhepodemvir, a final, a comprometeravalidade,dificultamdemarcar, em tese, no juzo de delibao sobre o pedido de sua suspenso cautelar, at onde so razoveis asproibiesnelaimpostas,enquantocontenoaoabusodopodercautelar,eondeseinicia,inversamente,oabusodaslimitaeseaconseqenteafrontaplenitudedajurisdioeaoPoderJudicirio.Indeferimentodasuspensoliminar daMP 173, que no prejudica, segundo o relator do acrdo, o exame judicial em cada caso concreto daconstitucionalidade, includa a razoabilidade, da aplicao da norma proibitiva da liminar. Consideraes, emdiversosvotos,dosriscosdasuspensocautelardamedidaimpugnada.V.apropsito,obemfundamentadovotodoMin.SeplvedaPertence,aderindoaorelator,doqualsetranscrevebrevepassagem:Oquevejo,aqui,emboraentendendo no ser de bom aviso, naquela medida de discricionariedade que h na grave deciso a tomar, dasuspenso cautelar, em tese, que a simbiose institucional a que me referi, dos dois sistemas de controle da

  • constitucionalidadedalei,permitenodeixaraodesamparoningumqueprecisedemedidaliminaremcasoondesegundoaspremissasque tenteidesenvolveremelhordoqueeudesenvolveramosMinistrosPauloBrossardeCelsodeMello a vedaoda liminar, porquedesarrazoada, porque incompatvel com o art. 5, XXXV, por queofensivadombitodejurisdiodoPoderJudicirio,semostrainconstitucional.Assim, creio que a soluo estar no manejo do sistema difuso, porque nele, em cada caso concreto, nenhumamedida provisria pode subtrair ao juiz da causa um exame da constitucionalidade, inclusive sob o prisma darazoabilidade, das restries impostas ao seu poder cautelar, para, se entender abusiva essa restrio, se aentender inconstitucional,concedera liminar,deixandodedaraplicao,nocasoconcreto,medidaprovisria,namedidaemque,emrelaoquelecaso,ajulgueinconstitucional,porqueabusiva(fls.12).12Ronald Dworkin, Taking rights seriously, 1997 Robert Alexy, Teoria de los derechos fundamentales, 1997 e osseguintes textos mimeografados: Coliso e ponderao como problema fundamental da dogmtica dos direitosfundamentais(1998)eConstitutionalrights,balancing,andrationality (2002)(textosgentilmentecedidosporMargaridaLacombeCamargo)Karl Larenz,Metodologiada cinciadodireito,1997DanielSarmento,Aponderaode interessesna Constituio Federal, 2000 Ricardo Lobo Torres, Da ponderao de interesses ao princpio da ponderao, inUrbano Zilles (coord.), Miguel Reale. Estudos em homenagem a seus 90 anos, 2000, p. 643 e ss. Aaron Barak,Foreword: a judge on judging: the role of a Supreme Court in a Democracy,Harvard Law Review 116/1 (2002)MarcosMaselliGouva,Ocontrolejudicialdasomissesadministrativas,2003Humbertovila,Teoriadosprincpios (dadefinioaplicaodosprincpiosjurdicos),2003.13JosMariaRodrguezdeSantiago,Laponderacindebieneseinteresesenelderechoadministrativo,2000.14Doinglshardcases,aexpresso identificasituaesparaasquaisnohuma formulaosimpleseobjetivaaser colhida no ordenamento, sendo necessria a atuao subjetiva do intrprete e a realizao de escolhas, comeventualempregodediscricionariedade.15Aponderaotambmtemsidoempregadaemoutrascircunstncias,comonadefiniodocontedode conceitosjurdicosindeterminados(adefiniodoquesejamosvaloresticosesociaisdapessoaedafamlia,referidosnoart.221,IV,daConstituio,envolverporcertoumraciocniodotipoponderativo)ounaaplicaodaeqidadeacasos concretos,emboraesteltimo caso possa ser reconduzido a um confronto de princpios, j que a eqidadetemcomofundamentonormativoespecficooprincpioconstitucionaldajustia.16RicardoLoboTorres, Da ponderao de interesses ao princpio da ponderao, inUrbanoZilles (coord.), MiguelReale.Estudosemhomenagemaseus90anos,2000,p.643ess..17Porvezes,oconflitoseestabelecemaisclaramenteentre interessesopostos,quandoentoserprecisoverificarse esses interesses podem ser reconduzidos a normas jurdicas (as quais, por sua vez, podem ter comofundamentoregrase/ouprincpios,explcitosouimplcitos).18Sobreotema,v.Humbertovila,Teoriadosprincpios(dadefinioaplicaodosprincpiosjurdicos),2003,p.13.19Essa estrutura em geral no se repete com as regras, de modo que a ponderao destas ser um fenmenomuitomaiscomplexoeexcepcional.20Neste sentido, v. Fbio Corra Souza de Oliveira, Por uma teoria dos princpios. O princpio constitucional darazoabilidade,2003, p. 219: Os princpios somandados de otimizao. Por isto ametodologia pertinente a daponderaodevaloresnormativos.Elaacontece soba lgicadosvalores,queoutra coisano senoa lgica dorazovel, conformepropostanesteestudo.Nestaesteira, queAlexyassevera: La leydeponderacinno formulaotracosaqueelprincipiode laproporcionalidad.Ocritrioda razoabilidade fornecea (justa)medidapelaqual seotimizam os princpios em jogo. Como sustenta Canotilho, o que se almeja uma ponderao de bensracionalmente controlada. Na jurisprudncia, o STF tem aplicado reiteradamente o princpio da razoabilidade.Confirase,exemplificativamente, o seguinte trecho de acrdo: A clusula do devido processo legal objeto de

    expressa proclamao pelo art. 5o, LIV, da Constituio deve ser entendida, na abrangncia de sua nooconceitual, no s sob o aspecto meramente formal, que impe restries de carter ritual atuao do PoderPblico,mas,sobretudo,emsuadimensomaterial,queatuacomodecisivoobstculoediodeatoslegislativosdecontedoarbitrrio.Aessnciadosubstantivedueprocessof law residenanecessidadedeprotegerosdireitoseas liberdades das pessoas contra qualquer modalidade de legislao que se revele opressiva ou destituda donecessrio coeficiente de razoabilidade. Isso significa, dentro da perspectiva da extenso da teoria do desvio depoder ao plano das atividades legislativas do Estado, que este no dispe da competncia para legislarilimitadamente, de forma imoderada e irresponsvel, gerando, com o seu comportamento institucional, situaesnormativas de absoluta distoro e, at mesmo, de subverso dos fins que regem o desempenho da funoestatal.(STF,DJ27.04.01,ADInMC1.0638,Rel.Min.CelsodeMello).21Sobre a discusso acerca da existncia autnoma dos direitos da personalidade, v. Pietro Perlingieri, Perfis dodireitocivil,1997,p.155.22PietroPerlingieri,Lapersonalitumananellordenamentogiuridico,apudGustavoTepedino, A tuteladapersonalidadeno ordenamento civilconstitucional brasileiro, in Temas de direito civil, 2001, p. 42: O direito da personalidadenasce imediatamentee contextualmente comapessoa (direitos inatos).Estsediantedoprincpioda igualdade:todos nascem com a mesma titularidade e com as mesmas situaes jurdicas subjetivas (...) A personalidade

  • comportaimediatatitularidadederelaespersonalssimas.23Gustavo Tepedino, A tutela da personalidade no ordenamento civilconstitucional brasileiro, in Temas de direitocivil,2001,p.33.24MnicaNevesAguiardaSilvaCastro,Honra,imagem,vidaprivadaeintimidade,emcolisocomoutrosdireitos,2002,p.67: Identificados como inatos, no sentido de que no necessria a prtica de ato de aquisio, posto queinerentesaohomem,bastandoonascimentocomvidaparaquepassemaexistir,osdireitodapersonalidadevmsendoreconhecidosigualmenteaosnascituros.25Miguel ngel Alegre Martnez, El derecho a la propia imagen, 1997, p. 140: Es de notar, adems, que losdestinatariosdeessedebergenricosontodaslaspersonas.Elrespetoalosderechosfundamentales,traduccindelrespeto a la dignidad de la persona, corresponde a todos, precisamente porque los derechos que deben serrespetadossonpatrimoniodetodos,yelnorespetoalosmismosporpartedecualquieraprivaralotrodeldisfrutedesusderechos,exigidoporsudignidad.26V.GustavoTepedino,Atuteladapersonalidadenoordenamentocivilconstitucionalbrasileiro,inTemasdedireitocivil,2001,p.33ess..27OartigoTherighttoprivacy,deSamuelD.WarreneLouisD.Brandeis,publicadonaHarvardLawReviewem1890,marcaoinciodaconstruodogmticadessesdireitos.28Aintimidadecorrespondeaumcrculomais restritode fatos relacionadosexclusivamenteao indivduo,aopassoqueavidaprivadaidentificaumespaomaisamplodesuasrelaessociais.Aproteodeumaeoutra,portanto,variadeintensidade.Sobreotema,v.EdilsomPereiradeFarias,Colisodedireitosahonra,aintimidadeeaimagemversus a liberdade de expresso e de informao, 2000, p. 140 e ss. e Antonio Fayos Gard,Derecho a la intimidad ymediosdecomunicacin,p.25ess..29V.PedroFredericoCaldas,Vidaprivada,liberdadedeimprensaedanomoral,1997,p.99ess.eMiguelAngelAlegreMartnez,Elderechoalapropiaimagen,1997,p.120ess.30V. Luis Gustavo Grandinetti Castanho de Carvalho, Direito de informao e liberdade de expresso, 1999, p. 230:AntonioScalise, depois de examinar a jurisprudncia italiana, concluiuquea informao jornalstica legtima sepreencher trs requisitos: o interesse social da notcia, a verdade do fato narrado e a continncia da narrao.Finalmente, continente a narrativa quando a exposio do fato e sua valorizao no integramos extremos deumaagressomoral,masexpressodeumaharmnica fusododadoobjetivodepercepoedopensamentodequemrecebe,almdeumjustotemperamentodomomentohistricoedomomentocrticodanotcia.31TJRJ,DO03.04.89,Ap.1988.001.03920,Rel.Des.BarbosaMoreira.32Nas palavras de Adriano de Cupis (Os direitos da personalidade,1961, apud Edilsom Pereira de Farias, Coliso dedireitosahonra,a intimidadeea imagemversusa liberdadedeexpressoede informao,2000,p.134), citadopelamaioriadosautores:adignidadepessoalrefletidanaconsideraodosoutrosenosentimentodaprpriapessoa.33Fazse desde logo o registro de que, sobretudo quando se trata dos meios de comunicao, a verdade emquesto no corresponde a uma verdade absoluta, muitas vezes impossvel de apurar, e sim a uma verdadesubjetiva,plausveloufundamentada.Aestepontoseretornarnoprximocaptulo.34NaInglaterra,oRehabilitationofOffendersActprobeadivulgaodeinformaesobtidaspormeiosilcitossobreocometimentodecrimes,quandooscondenados j tenhamsido reabilitados,bemcomoadivulgaodas referidasinformaes por pessoas que as tenham obtido em virtude do cargo ou funo pblica que ocupem. No h,contudo, nenhum bice divulgao de material obtido atravs de meios regulares no ilcitos , no que seincluemosregistrospblicos.Sobreotema,v.AntonioFayosGard,Derechoa la intimidadymediosdecomunicacin,2000,pp.32930.35V.EdilsomPereiradeFarias,Colisodedireitosahonra,aintimidadeeaimagemversusaliberdadedeexpressoedeinformao,2000,p.136.36Ssepodeafastaraexceodaverdadenocasodeimputaodefatorelativoexclusivamenteintimidade.Nooqueocorre,porbvio,emrelaoprticadeumcrime,quenose inclui sequernavidaprivada, sendoumacontecimento de repercusso social por natureza. Nesse sentido, tratando especificamente da configurao dedifamaopeloTribunalConstitucionalespanhol.V.PabloSalvadorCoderch(org.),Elmercadodelasideas,1990,pp.1667:Laexceptioveritatisnoseadmiteenmateriade intimidadmas,enelmarcodeunaconcepcin factualdelhonor,nohayraznpararechazarsualegacinensedededifamacin.37AntonioFayosGard,Derechoalaintimidadymediosdecomunicacin,2000,p.67:Asimismohayinterspblicoentodoslossupuestosenqueunapersonaesacusadaojuzgadaporalgndelito:haysentenciasque loadmitenencaso de abuso sexual demenores, violaciones, secuestros, homicidios, etc., aceptndose incluso la existencia delPublicconcernencasosenquelapersonahasidoabsueltaoyahatranscurridomuchotiempodesde lacondena.Oautormencionacasosdajurisprudncianorteamericana.AltimahiptesejulgamentosemquehouveabsolviooucujacondenaodatademuitotempoexemplificadacomocasoWasserv.SanDiegoUnion,Cal.App.1987,191Cal.App.3d1455,236Cal.Rptr.772,775777.38Sobreotema,vejasearespeitadaeatualdoutrinadeClausRoxin(DerechoPenalpartegeneral,tomoI,1997,p.

  • 90): La teoria preventiva general tiene tambin hoy en diamucha influencia como teoria de la pena. Posee unaciertaevidenciadepsicologiadelprofanoy se justificaasimismopor la consideracinde lapsicologiaprofundadequemuchaspersonassolocontienensusimpulsosantijuridicoscuandovenqueaquelquesepermitesusatisfaccinpor meios extralegales no consigue xito con ello, sino que sufre graves inconvenientes. Na doutrina nacional,confirase omagistrio de Heleno Fragoso, Liesdedireitopenal, 1989, p. 276: Preveno geral a intimidaoque se supe alcanar atravs da ameaa da pena e de sua efetiva imposio, atemorizando os possveisinfratores.39MnicaNevesAguiardaSilvaCastro,Honra,imagem,vidaprivadaeintimidade,emcolisocomoutrosdireitos,2002,p.17:Compreendesenesseconceito,noapenasosemblantedoindivduo,maspartesdistintasdoseucorpo,suaprpriavoz,enfim,quaisquersinaispessoaisdenaturezafsicapelosquaispossaserelareconhecida.40EdilsomPereiradeFarias,Colisodedireitosahonra,a intimidadeea imagemversusa liberdadedeexpressoedeinformao,2000,p.150.41MiguelngelAlegreMartnez(Elderechoalapropiaimagen,1997,p.125)listaalgumashiptesesinteressantesdelimitaolegtimaaodireitodeimagem:fotografiastiradasporradareseletrnicosdetrnsitoe imagenscaptadasporcmerasdesegurana,inclusiveasinstaladasnasruaseespaospblicos.42CF,art.93,IX:TodososjulgamentosdosrgosdoPoderJudicirioseropblicos,e fundamentadas todasasdecises,sobpenadenulidade,podendoalei,seointeressepblicooexigir,limitarapresena,emdeterminadosatos,sprpriasparteseaseusadvogados,ousomenteaestes43OCallaghan, Libertad de expresin y sus lmites: honor, intimidad e imagen, apudMiguel ngel Alegre Martnez, Elderecho a la propia imagen, 1997, p. 124: En efecto, consecuencia de ello es que las imgenes que se capten,publiquenotransmitandeunprocesonoentranenelderechoalaimagendelosinteresados,loscualesnopodrnejercersobrelasmismaselaspectopositivoy,especialmente,elnegativo,queformasucontenido.MiguelngelAlegre Martnez, Elderecho a la propia imagen, 1997, p. 127: Otra causa de justificacin introducida con carctergeneralporelartculo8.1de laLeyOrgnica1/1982,eselpredominiode un intershistrico, cientficoo culturalrelevante. Paraquepuedaconsiderarse justificada la informacin, por tanto, hade revelar imgenesqueaportendatosimportantesparaelconocimientodeunhecho,acontecimientoopoca,osupongaunaaportacinimportanteen el mbito de la cultura o de la investigacin. Luis Gustavo Grandinetti Castanho de Carvalho (Liberdade deinformao e o direito difuso informao verdadeira, 1994, p. 38) menciona ainda os seguintes permissivos geraisencontradosnaLeiOrgnicadeProteoCivil, tambmdaEspanha:(i) imagensdepessoaspblicascaptadasematospblicosoulugaresabertosaopblico(ii)caricaturasdepessoaspblicas(iii)acontecimentospblicos.44LusGustavoGrandinettiCastanhodeCarvalho,Direitodeinformaoeliberdadedeexpresso,1999,p.25:Porissoimportantesistematizar,deumlado,odireitodeinformao,e,deoutro,a liberdadedeexpresso.Noprimeiroestapenasadivulgaodefatos,dados,qualidades,objetivamenteapuradas.Nosegundoestalivreexpressodo pensamento por qualquermeio, seja a criao artstica ou literria, que inclui o cinema, o teatro, a novela, afico literria, as artes plsticas, a msica, at mesmo a opinio publicada em jornal ou em qualquer outroveculo.45PorfirioBarrosoeMaradelMarLpezTalavera,Lalibertaddeexpresiny sus limitaciones constitucionales,1998,p.49: La libertadde informacin se ejercea travsde la difusindehechos. Pero no todos los hechos pueden serobjetodelalibertaddeinformacin,sinosloaquellosquetienentrascendenciapblica:hechosnoticiables.46TribunalConstitucionalEspanhol,Sentencian.6.21ene.Fundamento Jurdicon.5,apudMnicaNevesAguiardaSilva Castro, Honra, imagem, vida privada e intimidade, em coliso com outros direitos, 2002, p. 106: (...) acomunicao de fatos ou de notcias no se d nunca em um estado quimicamente puro e compreende, quasesempre,algumelementovalorativoou,ditodeoutromodo,umavocaoformaodeumaopinio.47Nadoutrinaamericana,v.,dentreoutros,LaurenceTribe,Constitutionallaw,1988,p.785es.eNowak,RotundaeYoung,ConstitutionalLaw,1986,p.829es.48Todooindivduotemdireitoliberdadedeopinioedeexpresso,oqueimplicaodireitodenoserinquietadopelas suasopinies e o de procurar, receber e difundir, sem considerao de fronteiras, informaes e idias porqualquermeiodeexpresso.OConvnioEuropeudeDireitosHumanospraticamenteidntico.49PorfirioBarrosoeMaradelMarLpesTalavera,Lalibertaddeexpresiny sus limitaciones constitucionales,1998,p.50:Estaconfiguracinautnomadeambosderechosnopuedeoscurecerelhechodequelalibertaddeinformacinesmaterialylgicamenteunafacetadelalibertaddeexpresin.(...)Laconstruccindogmticadeambosderechostiene idnticosfundamentos,odichoenotraspalabras,que las lneasdoctrinalesqueseelaboranenbeneficiodelagarantadelalibertaddeexpresinsonaplicables,conescasasacomodaciones,alalibertaddeinformacin.50LuisGustavoGrandinettiCastanhodeCarvalho,Direitode informaoe liberdadedeexpresso,1999,p.24: Todososdoutrinadorescitados,mesmoosque,emmaioria,adotamumadisciplinacomumentreexpressoeinformao,deparamsecom,pelomenos,umadistinoimportanteentreosdoisinstitutos:averacidadeeaimparcialidadedainformao. E , justamente, em razo dessa distino fundamental que se