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Emergência MAIO / 2012 46 ARTIGO BETO SOARES/ESTÚDIO BOOM Independência funcional Estudo fundamenta os motivos para que os Corpos de Bombeiros conquistem a autonomia em relação à Polícia Militar olícia Militar e Bombeiro Militar. Embora ambas as profissões te- nham características muito simi- P lares no aspecto organizacional, em es- pecial no que tange à estética militar, basta uma rápida análise de seus perfis e comportamentos profissionais para que o leigo perceba que as semelhanças não avançam além da questão do uso de uniformes e do respeito às cadeias hierárquicas. Com fundamentos profissionais e doutrinas técnicas absolutamente dico- tômicas, as atividades de polícia e de bombeiro não podem nem mesmo ser chamadas de complementares, uma vez que não são interdependentes, ressalva- das as questões de investigação de si- nistros, e, mesmo nesta área, o vínculo não se dá com a Polícia Militar. Hoje, no Rio Grande do Sul, persiste severa dúvida junto ao público interno do Corpo de Bombeiros da Brigada Militar quanto à capacidade de respos- ta, desta que é entendida como mera especialidade de Polícia Militar, face aos sinistros de média e grande monta. Os aspectos de formação sociológi- ca, de legalidade, de cultura profissional e interação com as comunidades na pres- tação de serviços apontam para a ne- cessidade de que o Corpo de Bombei- ros disponha de independência em re- lação à instituição policial, de forma que possa cumprir a função social a que se destina sem a obrigatória inserção de elementos culturais estranhos a sua na- tureza fundamental, no caso elementos da cultura policial. Com base em uma visão ampla, fruto de extensa discussão interna com ofici- ais e praças da Brigada Militar de diver- sos postos e graduações, da discussão com civis de diferentes profissões e da vivência própria do autor em cenários diversos da estrutura organizacional dos Governos Federal, Estadual e Munici- pal, em variados níveis de interação, pro- cura-se elencar os quatro fatores funda- mentais que baseiam a necessidade de independência do Corpo de Bombeiros da instituição policial que o acolheu há 76 anos. O choque cultural tornou-se intenso, porém, vislumbra-se um adequado grau de maturidade institucional da Brigada Militar para que se construa a compre- ensão de que não se faz mais necessária na condução do Corpo de Bombeiros Militar, mas sim exatamente o contrá- rio, permitindo-lhe liberdade de mano- bra para que trilhe o caminho da inde- pendência institucional. Baseado na dissintonia existente en- tre as atribuições e missões constitucio- nais da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros Militar formularam-se as se- guintes questões norteadoras deste tra- balho: a Brigada Militar, para exercer suas missões constitucionais de polícia ostensiva e preservação da ordem pú- blica, necessita dispor de um Corpo de Bombeiros?; um Corpo de Bombeiros Militar, para exercer suas missões cons- titucionais de busca e salvamento, pre- venção e combate a incêndios e execu- ção de atividades de defesa civil, neces- sita estar inserido em uma instituição policial? Rodrigo da Silva Dutra – Maj QOEM e comandante da Es- cola de Bombeiros da Briga- da Militar de Porto Alegre/RS [email protected]

Artigo bombeiros

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Artigo sobre a Independência Institucional do Corpo de Bombeiros da Brigada Militar do Rio Grande do Sul.

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Independência funcional◗Estudo fundamenta os motivos para que os Corpos de Bombeirosconquistem a autonomia em relação à Polícia Militar

olícia Militar e Bombeiro Militar.Embora ambas as profissões te-nham características muito simi-P

lares no aspecto organizacional, em es-pecial no que tange à estética militar,basta uma rápida análise de seus perfise comportamentos profissionais paraque o leigo perceba que as semelhançasnão avançam além da questão do usode uniformes e do respeito às cadeiashierárquicas.

Com fundamentos profissionais edoutrinas técnicas absolutamente dico-tômicas, as atividades de polícia e debombeiro não podem nem mesmo serchamadas de complementares, uma vezque não são interdependentes, ressalva-das as questões de investigação de si-nistros, e, mesmo nesta área, o vínculonão se dá com a Polícia Militar.

Hoje, no Rio Grande do Sul, persistesevera dúvida junto ao público internodo Corpo de Bombeiros da BrigadaMilitar quanto à capacidade de respos-ta, desta que é entendida como meraespecialidade de Polícia Militar, face aossinistros de média e grande monta.

Os aspectos de formação sociológi-ca, de legalidade, de cultura profissionale interação com as comunidades na pres-tação de serviços apontam para a ne-cessidade de que o Corpo de Bombei-ros disponha de independência em re-lação à instituição policial, de forma quepossa cumprir a função social a que sedestina sem a obrigatória inserção deelementos culturais estranhos a sua na-tureza fundamental, no caso elementosda cultura policial.

Com base em uma visão ampla, frutode extensa discussão interna com ofici-ais e praças da Brigada Militar de diver-sos postos e graduações, da discussão

com civis de diferentes profissões e davivência própria do autor em cenáriosdiversos da estrutura organizacional dosGovernos Federal, Estadual e Munici-pal, em variados níveis de interação, pro-cura-se elencar os quatro fatores funda-mentais que baseiam a necessidade deindependência do Corpo de Bombeirosda instituição policial que o acolheu há76 anos.

O choque cultural tornou-se intenso,porém, vislumbra-se um adequado graude maturidade institucional da BrigadaMilitar para que se construa a compre-ensão de que não se faz mais necessáriana condução do Corpo de BombeirosMilitar, mas sim exatamente o contrá-rio, permitindo-lhe liberdade de mano-

bra para que trilhe o caminho da inde-pendência institucional.

Baseado na dissintonia existente en-tre as atribuições e missões constitucio-nais da Polícia Militar e do Corpo deBombeiros Militar formularam-se as se-guintes questões norteadoras deste tra-balho: a Brigada Militar, para exercersuas missões constitucionais de políciaostensiva e preservação da ordem pú-blica, necessita dispor de um Corpo deBombeiros?; um Corpo de BombeirosMilitar, para exercer suas missões cons-titucionais de busca e salvamento, pre-venção e combate a incêndios e execu-ção de atividades de defesa civil, neces-sita estar inserido em uma instituiçãopolicial?

Rodrigo da Silva Dutra – MajQOEM e comandante da Es-cola de Bombeiros da Briga-da Militar de Porto Alegre/[email protected]

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quatrocentos degredados. Chegaram,também, as primeiras instituições ofici-ais - um ouvidor-mor para a justiça, umprocurador para a fazenda e um capi-tão-mor-da-costa para a vigilância eguarda do litoral - e o Regimento d’ElRey (provável embrião das Forças Ar-madas). Constantemente, Tomé de Sou-za viajava aos núcleos populacionais emformação na colônia, a fim de realizarinspeções e adotar outras providências.Criou pelourinhos, cadeia, artilharia parafortins e adotou outras medidas com ointuito de garantir a segurança. Nesteperíodo, as forças armadas eram cons-tituídas de tropas de linha e ordenançase, a partir de 1750, das milícias.”

Observa-se, já aqui, que a vocação dasmilícias está diretamente vinculada à ga-rantia da lei e da ordem, o que é perfei-tamente compreensível em um cenáriode desbravamento e conquista de terrasinexploradas pelos portugueses, muitomais devido à qualidade dos coloniza-dores que compunham o contingente daprimeira leva.

Com a chegada da família imperial aoBrasil, em 1808, D. Pedro I cria o pri-meiro organismo de segurança públicado período do Império, conforme seobserva no site da Polícia Militar do Dis-trito Federal: “(...) Aos moldes da já exis-tente Guarda Real de Polícia, uma insti-tuição militar, em 13 de maio de 1809,D. João VI cria a Divisão Militar daGuarda Real de Polícia, primeiro núcleoda Polícia Militar do Distrito Federal,que tinha a missão de guardar e vigiar acidade do Rio de Janeiro. Esta divisãotambém foi chamada de Corpo de Qua-drilheiros. (...)”.

Contudo, na sequência, elucidamosque o momento e os motivos de imple-mentação do Corpo de Bombeiros daCorte não estão absolutamente em nadarelacionados à criação da Guarda Realde Polícia, mas ao contrário, decorremde um conjunto fático muito específico,os sucessivos incêndios do Teatro SãoJoão, no Rio de Janeiro, nos anos de 1851e 1856, levando Dom Pedro I a organi-zar o Corpo de Bombeiros Provisórioda Corte, conforme se observa na Apos-tila de Instrução Geral, do Capitão He-lio Guimarães Pereira: “(...) Em julho de1856, a exposição de motivos feita peloInspetor do Arsenal de Marinha dasCortes, o CMG Joaquim José Inácio,contida no Ofício de 26 de março de

1851, apesar de decorridos mais de cin-co anos, apresentava os primeiros sinaispositivos. Os fatos narrados naquele do-cumento provocaram do Ministério daJustiça a elaboração do Decreto Impe-rial nº 1.775, assinado por sua Majesta-de o Imperador Dom Pedro II e promul-gada a 02 de julho de 1856. Este Decre-to reuniu numa só Administração as di-versas Seções que até então existiampara o Serviço de Extinção de Incêndi-os, nos Arsenais de Marinha e Guerra,Repartição de Obras Públicas e Casa deCorreção, sendo, assim, criado e organi-zado o Corpo Provisório de Bombeirosda Corte sob a jurisdição do Ministérioda Justiça. (...)”.

Procura-se demonstrar, logo no iní-cio deste artigo, que a argumentaçãosobre a origem conjunta da Polícia Mili-tar e do Corpo de Bombeiros não se sus-tenta, mas ao contrário, fragiliza aindamais a defesa de uma atuação subordi-nada do Corpo de Bombeiros à PolíciaMilitar.

DISCUSSÃOA discussão sobre a independência

institucional do Corpo de BombeirosMilitar, embora seja fato consumado em23 Unidades Federativas do Brasil, sem-pre suscita a exemplificação de mode-los mundo afora, os quais, sob o enfoquesociológico, não nos parecem os maisadequados.

Embora a Sociologia tenha por esco-po a compreensão dos fenômenos so-ciais, Orson Camargo clarifica o temailustrando que “ela pode ser um tipo deconhecimento orientado no sentido dapromoção do melhor entendimento doshomens acerca de si mesmos, para al-cançar maiores patamares de liberdadepolítica e de bem-estar social”, ou seja,a finalidade do estudo sociológico deuma corporação é justamente o de com-preender o cenário no qual ela se “en-caixa” e pelo emprego de métodos es-tatísticos, da observação empírica e deuma neutralidade metodológica, buscaro alcance de maiores patamares de li-berdade política e de bem-estar social.“(...) A Sociologia é uma das CiênciasHumanas que tem como objetos de es-tudo a sociedade, a sua organização so-cial e os processos que interligam os in-divíduos em grupos, instituições e asso-ciações. Enquanto a Psicologia estudao indivíduo na sua singularidade, a So-

A fim de responder a estas questões,este trabalho tem como objetivo: clari-ficar o tema, buscando iluminar o assun-to por meio do estabelecimento de umavisão mais objetiva dos aspectos que a-pontam para a elementar necessidade dedesvinculação do Corpo de Bombeirosda Brigada Militar e pela oportunidadeda administração pública em levar o fei-to a termo.

Entre os objetivos mais específicos es-tão: identificar os aspectos de formaçãosociológica do Corpo de Bombeiros Mi-litar; identificar a legalidade inerente àestruturação do Corpo de BombeirosMilitar; identificar os aspectos culturaisque distanciam as atividades policiais dasatividades de bombeiros, tornando im-praticável a convivência de ambas sobadministração unificada em nível ins-titucional; identificar os problemas re-lacionados à qualidade na prestação dosserviços do Corpo de Bombeiros à co-munidade e sua relação com a depen-dência administrativa institucional daBrigada Militar; e proporcionar ao Co-mando-Geral da Brigada Militar umaferramenta de análise do cenário atualcom vistas a auxiliar no processo decisó-rio.

HISTÓRIAColhido pela Brigada Militar há 76

anos, o Corpo de Bombeiros que a com-põe, por razões muito mais históricas eculturais do que propriamente técnicas,organiza-se nos moldes da instituiçãopolicial militar por meio de batalhões,companhias e pelotões que, embora comnomenclatura diferenciada, representamos mesmos princípios básicos organiza-cionais das tropas de infantaria e de ca-valaria da qual são oriundas as políciasmilitares do Brasil.

Embora não faça parte dos currícu-los de nossa Academia de Polícia Mili-tar, se faz necessária a elucidação relati-va à história de formatação do Corpode Bombeiros no Brasil, com o intuitode lançar luz sobre o tema.

O embrião das Forças Armadas, doqual decorre a organização das PolíciasMilitares, pode ser melhor compreendi-do junto à citação do Museu da BrigadaMilitar do RS em: “(...) Tomé de Souza,governador e capitão-general das novasterras, chegou ao Brasil em janeiro de1549, trazendo pedreiros, carpinteiros,duzentos soldados, trezentos colonos e

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ciologia estuda os fenômenos sociais,compreendendo as diferentes formas deconstituição das sociedades e suas cul-turas. (...)”, diferencia Orson Camargo.

Ora, conforme se discorreu quandodas considerações preliminares deste ar-tigo, a formação do modelo de Corpode Bombeiros no Brasil não se encon-tra vinculada, sociologicamente, à for-matação da estrutura policial.

Os fatos sociais que provocaram a re-ação do Governo do Império nos anosde 1809 (criação da Guarda Real de Po-lícia) e de 1856 (criação do Corpo Provi-sório de Bombeiros da Corte) são abso-lutamente dissociados entre si, não en-sejando quaisquer justificativas para que,à época, fosse sequer cogitada sua uni-ficação corporativa ou mesmo adminis-tração unificada.

Ocorre que nos anos que sucederamo Império, em especial após o ano de1893 com a Revolução Federalista ocu-pando o sul do Brasil, e mais fortemen-te após a proclamação da República, noano de 1889, em grande parte do entãoterritório nacional passam a ser instala-dos Corpos de Bombeiros Militares, nosmoldes franceses, conforme se observano exemplo paranaense citado no por-tal do Corpo de Bombeiros de Casca-vel: “(...) O Corpo de Bombeiros esta-dual foi criado pelo presidente do Esta-do, Carlos Cavalcanti de Albuquerque,em 1912. A corporação foi concebidacom completa autonomia, nos moldesdos Sapeurs-Pompiers da França, os quaiseram militarizados e estruturados comoarma de Engenharia; e tinha por modeloo Corpo de Bombeiros do Distrito Fe-deral, do qual seguiu a estrutura, a orga-nização e o fardamento (...)”.

Em outros estados da Federação osCorpos de Bombeiros passam a ser uni-ficados com as instituições policiais exis-tentes à época, muito mais em razão deviver o país um período bélico do que emdecorrência da natureza das atividades.

O grande fato social que, no entanto,modifica drasticamente o cenário dosCorpos de Bombeiros no Brasil se dáquando, segundo consta no portal doCorpo de Bombeiros de Cascavel: “(...)Em 1934, objetivando reduzir o pode-rio das forças estaduais em todo Brasil,o Governo Vargas resolveu excluir osCorpos de Bombeiros do acordo firma-do em 1917 com os estados. No Paranáo efetivo do CB foi reduzido a uma com-

panhia e neste período passou por gran-des dificuldades, mantendo-se ativo gra-ças à persistência e abnegação de seusintegrantes. A corporação deixou de serconsiderada reserva do Exército e osoficiais para não perderem o status demilitar das forças armadas, foram trans-feridos para a Polícia Militar; passandoas funções de comando a serem exer-cidas, em caráter comissionado, pela PM(...)”.

Desta forma, exemplificamos na se-quência algumas incorporações dosCorpos de Bombeiros às forças polici-ais nos estados.

De acordo com o site do Corpo deBombeiros Militares de São Paulo, noano de 1900 “unem-se todas as forçaspoliciais em uma só ‘força pública’”.

Na Bahia, no ano de 1890, conformese observa no site da Polícia Militar daBahia: “(...) O Marechal Hermes da Fon-seca assumiu o governo em um climabastante tenso, inclusive pelo grandeincêndio ocorrido em 04 de março de1890 na zona comercial, que destruiuum quarteirão e a Ladeira do Taboão,deixando um saldo de 48 mortos e de-zenas de feridos. Procurou de imediatoacalmar os ânimos e consolidar as insti-tuições republicanas, tais como a ForçaPolicial (Polícia Militar) que, pelo De-creto datado de 16 de maio de 1890,promoveu uma grande reforma admi-nistrativa e criou a 11ª Companhia deCombate a Incêndios para substituir aentão Corporação de Bombeiros Volun-tários, que teve sua imagem bastantedesgastada pelo incêndio do Taboão.(...)”.

No Paraná, originalmente criado co-mo Corpo de Bombeiros Militar, a incor-poração se deu no ano de 1934.

Em Pernambuco, segundo portal doCorpo de Bombeiros Militares dePernambuco, no ano de 1922, confor-me “Ato nº 485 – dissolvia a então Com-panhia subsidiada pelas seguradoras,transformando-a numa Unidade Militarligada, a partir de 11 de junho daqueleano, à Força Pública do Estado”.

No Rio Grande do Sul, onde o Corpode Bombeiros de Porto Alegre foi es-truturado no ano de 1895, a incorpora-ção à Brigada Militar se deu a partir doano de 1935.

O que se demonstra com tal explana-ção é que os contextos sociais nos quaisse inseriram os modelos de segurança

pública empregados nas Unidades Fe-derativas do Brasil encontram pontos decontato em um passado voltado às con-tenções e contingenciamentos bélicos,frutos do período de formação culturaldo novo país.

Com a reforma constitucional de 1988muitas destas instituições tomariam no-vos rumos. O Corpo de Bombeiros Mi-litar seria uma delas.

NOVOS RUMOSPara avançar nesta construção se faz

necessária a elementar menção ao quepreconiza o Artigo 144 da ConstituiçãoFederal: “(...) Art. 144. A segurança pú-blica, dever do Estado, direito e respon-sabilidade de todos, é exercida para apreservação da ordem pública e da inco-lumidade das pessoas e do patrimônio,por meio dos seguintes órgãos: I - polí-cia federal; II - polícia rodoviária fede-ral; III - polícia ferroviária federal; IV -polícias civis; V - polícias militares ecorpos de bombeiros militares. (...)”.

A Constituinte definiu, em 1988, queas Polícias Militares e os Corpos deBombeiros Militares são órgãos distin-tos, tais como os demais órgãos quecompõem o sistema de segurança pú-blica nacional.

Grande parcela das Unidades Federa-tivas, ao alinharem suas ConstituiçõesEstaduais no ano de 1989, acolheramtal previsão do direito constitucional pá-trio, sendo que mesmo no Rio Grandedo Sul, embora não tenha havido a ele-mentar e necessária independência insti-tucional do Corpo de Bombeiros Mili-tar, evidencia-se a compreensão de queo Corpo de Bombeiros é uma instituiçãocontida no seio da Brigada Militar. Veja-mos pela Constituição do Estado do RioGrande do Sul, disponível no site da As-sembleia Legislativa do Estado: “(...) Art.130 - À Brigada Militar, através do Cor-po de Bombeiros, que a integra, com-pete a prevenção e combate de incêndi-os, as buscas e salvamento, e a execuçãode atividades de defesa civil. (...)”.

A prescrição do artigo 130 da Consti-tuição do Estado não poderia ser maisnítida ao definir que “À Brigada Militar,através do Corpo de Bombeiros, que aintegra,” identifica e reconhece que oEstado do Rio Grande do Sul dispõe deum Corpo de Bombeiros, porém, queeste está integrado à Brigada Militar.

A constatação e a confirmação de tal

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assertiva, se dá no momento em que olegislador no caput do Artigo 130 daConstituição do Estado do RS defineque há no Estado um Corpo de Bom-beiros Militar (e nem poderia ser dife-rente, pois assim determina a Constitui-ção Federal) e, contudo, manifesta queesta Corporação está integrada à Briga-da Militar.

De forma mais clara, se o texto cons-titucional estadual manifestasse no Ar-tigo 130 que à “Brigada Militar, atravésdo Corpo de Bombeiros que a inte-gra...”, ou seja, sem o aposto, neste casonão restariam dúvidas quanto à existên-cia de um Corpo de Bombeiros orgâni-co daquela Polícia Militar. Entretanto,não é assim que a Constituição do Esta-do do RS definiu o tema, mas sim emalinhamento com a Constituição Fede-ral, dispondo o Estado do RS de umCorpo de Bombeiros Militar que estáintegrado à Brigada Militar, o que, deper si, já justificaria imediatamente aautonomia administrativo-financeira doaludido Corpo, fato que não ocorre.

Esta é a prova cabal, em nossa análi-se, de que o Corpo de Bombeiros Mili-tar do Rio Grande do Sul não se enqua-dra, como preconiza nossa cultura de

repetição, como uma especialidade daBrigada Militar.

As atividades de Bombeiros Militaresnão são especialidades de Polícia.

As especialidades policiais são vincu-ladas ao exercício da polícia administra-tiva, às diferentes nuances e necessida-des do emprego policial tais como poli-ciamento rodoviário, ambiental, aéreo,montado, de fronteira e tantos quantossejam necessários.

O Corpo de Bombeiros, no entanto,é uma instituição distinta, aprisionadaem um modelo de gestão e de pensa-mento policial, o que fere frontalmente,além dos princípios sociológicos deformatação do ente público, o próprioespírito da Lei Magna.

Inobstante a discussão hermenêuticaque se faça sobre o Artigo 130 da Cons-tituição Estadual, o espírito da Lei no-vamente se apresenta quando, na mes-ma carta, o legislador indica que: “(...)Art. 46 - Os integrantes da Brigada Mi-litar, inclusive do Corpo de Bombeiros,são servidores públicos militares doEstado, regidos por estatuto próprio,estabelecido em lei complementar, ob-servado o seguinte (...)”.

Novamente, porém agora com muito

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mais força, o legislador indica que oCorpo de Bombeiros Militar está “inse-rido” na estrutura policial ao definir que“Os integrantes da Brigada Militar, in-clusive do Corpo de Bombeiros, são ser-vidores públicos militares do Estado”.

Ora, não haveria motivo para que aexpressão “inclusive do Corpo de Bom-beiros” fizesse parte do texto constitu-cional senão para ratificar que esta é umainstituição dentro de outra instituição,caso contrário não haveria motivo paratal inserção no caput do Artigo 46 daConstituição do Estado do Rio Grandedo Sul.

A legalidade, portanto, que fundamen-ta a necessária independência institucio-nal do Corpo de Bombeiros Militar seapresenta de forma robusta já no textoConstitucional Federal e, embora o Es-tado do Rio Grande do Sul tenha adota-do posição conservadora na manuten-ção do “status quo” vigente em relaçãoao Corpo de Bombeiros, mesmo no tex-to Constitucional Estadual o legisladordá provas inequívocas que se trata deuma Corporação “aprisionada” dentrode outra, o que nos remete à obrigatóriaanálise dos modelos culturais aplicáveisa ambas as Corporações.

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peito aos direitos humanos, o primortécnico no trato com armamentos, a vi-são policial sobre o fato social, entre ou-tros, fazem parte dos componentes vi-síveis que levam a Brigada Militar à com-posição de uma cultura corporativa decunho eminentemente voltado à segu-rança do Estado Democrático de Direi-to e de suas instituições e autoridadesconstituídas.

Trata, fundamentalmente, da garantiada lei e da ordem social por meio dasatividades de polícia ostensiva e da pró-pria preservação da ordem pública.

Sociologia, criminalística, armamentoe tiro, direito penal, processo penal, de-fesa pessoal, técnica policial, entre ou-tras, fazem parte do rol de conhecimen-tos que, de igual forma, suportam aconstrução do modelo cultural de polí-cia, o qual se manifesta na imagem quea sociedade acaba por representar rela-tiva à presença do policial como elemen-to de segurança contra a criminalidade,de forma um tanto geral.

Tomando-se por base os pressupos-tos de formação de tal modelo, temos,em anacronismo, o conjunto de ideias,conceitos e campos do conhecimentoque formam a cultura organizacional doCorpo de Bombeiros.

Conforme demonstrado no artigoDiscussão Sobre a Autonomia do Corpo deBombeiros da Brigada Militar – Análise deDados, apresentado ao Comando Geralda Brigada Militar no mês de julho de2011, a dissintonia existente entre a “vi-são policial” e a “visão de bombeiro”,sobre o mesmo fato social, acaba porser, muitas vezes, incompatível.

Combate a incêndios, prevenção con-tra sinistros, salvamento e resgate de pes-soas e animais, mergulho e Defesa Civilsão exemplos de áreas técnicas de com-petência exclusiva do Corpo de Bombei-ros as quais, em consequência, direcio-nam toda a construção cultural para ummodelo de emprego absolutamente di-verso do modelo cultural policial.

No Corpo de Bombeiros, diferente-mente da atividade policial, por exemplo,nem sempre o militar mais graduadoserá o chefe de uma guarnição. Emboraesta afirmação pareça ferir os estatutose regramentos da Brigada Militar, pare-cendo até mesmo absurda quando com-parada ao modelo cultural policial, elapassa a fazer sentido quando se observaque, no modelo cultural do Corpo de

NÍVEIS QUE COMPREENDEM A CULTURA ORGANIZACIONALNível de artefatos visíveisO ambiente construído da organização, arqui-

tetura, layout, a maneira de as pessoas se vesti-rem, padrões de comportamento visíveis, docu-mentos públicos: cartas, mapas.

Este nível de análise é muito enganador, por-que os dados são fáceis de obter, mas difíceis deinterpretar. É possível descrever como um grupoconstrói o seu ambiente e quais são os padrõesde comportamento discerníveis entre os seusmembros, mas frequentemente não se conseguecompreender a lógica subjacente ao comporta-mento do grupo.

Nível de valores que governam o comporta-mento das pessoas

Como estes são difíceis de observar diretamen-te para identificá-los, é preciso entrevistar os mem-bros-chave de uma organização ou realizar a aná-lise de conteúdo de documentos formais da orga-nização. Entretanto, diz o autor, ao identificar es-

tes valores, observa-se que eles geralmente re-presentam apenas os valores manifestos da cul-tura. Isto é, eles expressam o que as pessoas re-portam ser a razão do seu comportamento, o que,na maioria das vezes, são idealizações ou racio-nalizações. As razões subjacentes ao seu com-portamento permanecem, entretanto, escondidasou inconscientes.

Nível dos pressupostos inconscientesSão aqueles pressupostos que determinam

como os membros de um grupo percebem, pen-sam e sentem. Na medida em que certos valorescompartilhados pelo grupo conduzem a determi-nados comportamentos e estes comportamentosse mostram adequados para solucionar proble-mas, o valor é gradualmente transformado empressuposto inconsciente sobre como as coisasrealmente são. Na medida em que um pressupostovai se tornando cada vez mais assumido, vai pas-sando para o nível do inconsciente.

Fonte: A Influência da Cultura Organizacional nos Processos de Mudança, Antonio Augusto do Canto Mamede.

Conforme a definição léxica da línguaportuguesa, a partir do dicionário Mi-chaelis, cultura sob enfoque sociológicoé o “sistema de ideias, conhecimentos,técnicas e artefatos, de padrões de com-portamento e atitudes que caracterizauma determinada sociedade”.

Seria por demais singela a observaçãosobre os aspectos culturais se fossem a-penas baseados no conceito acadêmicodo que seja entendido como cultura ge-ral. É preciso avançar no tema e buscara compreensão sobre o que seja culturaorganizacional.

Segundo A M Francesco e B A Goldhá muitas diferenças entre cultura gerale organizacional. Primeiramente, culturaorganizacional é menos abrangente doque a geral; a escala de valores e de pre-missas básicas das organizações é maisestreita. Em segundo lugar, cultura orga-nizacional é mais autocontida do que ageral; filosofia gerencial, estratégia e me-tas proporcionam limites organizacio-nais mesmo que elementos da culturageral os influenciem.

Finalmente, cultura organizacional émais administrável do que cultura geral.

Os aspectos que distanciam as atividades policiais das de bombeiros,tornando impraticável a convivência sob uma administração unificada

Diferenças culturaisPor exemplo, a seleção, treinamento,socialização e estrutura de recompensaspara empregados restringe a variabilida-de de seus membros e constrói um con-junto abrangente de valores e normasque a administração pode controlar.

A cultura organizacional, portanto,decorre de elementos intrínsecos aocampo de atividade e de conhecimen-tos, obrigatoriamente necessários, quedeterminam o perfil de atuação de de-terminado setor ou atividade. AntônioAugusto do Canto Mamede cita no ar-tigo A Influência da Cultura Organizacionalnos Processos de Mudança que: “ (...) Segun-do Schein (1986), a cultura organizacio-nal, por sua vez, pode ser compreendi-da em níveis semelhantes, a saber” (vejabox Níveis que compreendem a culturaorganizacional).

Sob este enfoque teríamos como ele-mentos formadores da cultura PolicialMilitar todo um conjunto de componen-tes que decorrem, inicialmente, de sua o-rigem e função pública e, mais tardiamen-te, das adaptações ao contexto social.

O estudo da lei, a persecução crimi-nal, o patrulhamento ostensivo, o res-

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Bombeiros se preza pela especialidadetécnica em determinado campo do co-nhecimento. Assim sendo, fica claro queum 1º sargento especialista em Condu-ção e Operação de Viatura (COV) nãopoderá ser chefe de uma Guarnição deCombate a Incêndios quando da opera-ção propriamente dita, pois terá de con-trolar e suprir o fornecimento de águapara o sinistro.

Embora o exemplo pareça canhestro,traduz uma diferença fundamental so-bre a compreensão da relevância das es-pecialidades dentro do Corpo de Bom-beiros.

Não se afirma aqui que a atividade dePolícia Militar não respeite as especiali-dades de seus integrantes, muito pelocontrário, respeita, porém não há espaçopara que tal compreensão chegue até osníveis de execução dos serviços, pois aíreside uma questão cultural e não técnica.

Na qualidade de instituição PolicialMilitar, dispondo de 88% de seu efetivoprevisto destinado à atividade policial,não é nem mesmo razoável que a cultu-ra corporativa não seja, absolutamente,policial. Se assim não fosse, aí sim po-deria se ter uma crise de identidade coma atividade precípua da Brigada Militar.

O que se procura aqui demonstrar éque as atividades de polícia ostensiva ede bombeiros se apresentam como sefossem duas corporações distintas, comcampos de conhecimento e um arcabou-ço cultural, no que tange à execução dasatividades profissionais, absolutamentediferenciados e não conectados entre si.

O fato, porém, que decorre desta as-sertiva é que a convivência entre ambosos modelos acaba por ser incompatível,eis que não falam a mesma linguagemprofissional.

QUALIDADEComo observamos na apresentação

dos tópicos anteriores, há forte cone-xão entre as características organizacio-nais internas e o modelo de gestão em-pregado.

Muito embora a administração públi-ca busque atender aos anseios das comu-nidades com a prestação de serviços dequalidade, nem sempre isto é possível.

No caso do Corpo de Bombeiros aquestão se torna ainda mais severa faceao entendimento corporativo das suces-sivas administrações da Brigada Militarcomo ente policial, que realmente é.

1/6V ________

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1/12q MSR

O problema aqui se manifesta justa-mente por esta razão, ou seja, trata-sede dissonância originária, da própriaformatação cultural da Brigada Militar,policial por excelência.

Para uma melhor compreensão, veja-mos o que determina a ABNT (Associ-ação Brasileira de Normas Técnicas) -em matéria de entendimento de Siste-ma de Gestão de Qualidade: “(...) 0.1.Generalidades. Convém que a adoçãode um sistema de gestão da qualidadeseja uma decisão estratégica de uma or-ganização. O projeto e a implementaçãode um sistema de gestão da qualidadede uma organização são influenciadospor: a) seu ambiente organizacional,mudanças neste ambiente e os riscos as-sociados com este ambiente, b) suas ne-cessidades que se alteram, c) seus objeti-vos particulares, d) os produtos forneci-dos, e) os processos utilizados, f) seuporte e estrutura organizacional (...)”.

Evidencia-se a necessidade de que, pa-ra que haja qualidade nos serviços pres-tados ou na gestão dos processos, é ne-cessário que haja respeito ao ambien-te organizacional, às necessidades, aosobjetivos específicos, aos produtos, aosprocessos e ao porte organizacional.

Conforme demonstrado no trabalhoDiscussão Sobre a Autonomia do Corpo deBombeiros da Brigada Militar – Análise deDados, realizado em determinação à MDnº 2868/11-GCG/Sec Exec, a qualcompôs a Comissão de Estudos Estra-tégicos de Bombeiros, com a finalidadede levantar dados que possam subsidiara tomada de decisão face a um eventualprocesso de emancipação do Corpo deBombeiros da Brigada Militar, restaramcomprovadas dissonâncias que apontamdiretamente para a falha na qualidade daprestação de serviços do Corpo de Bom-beiros em razão do modelo de adminis-tração, como foco na visão policial, em-pregado genericamente pela BrigadaMilitar.

Naquele estudo, os autores compro-vam que o sistema de gestão de ingres-so, de formação e de progressão na car-reira das Praças (de Soldado a 1º Sargen-to) e de gestão de recursos humanos dosOficiais e de aplicação financeira de re-cursos de capital acabam por gerar des-compassos que se refletem na própriaprestação dos serviços públicos, redu-zindo as suas qualidades. Quando é rea-lizada a análise comparativa da preconi-

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Emergência MAIO / 201252

ARTIGO

zação da ABNT sobre as generalidadesvinculadas à gestão da qualidade e domodelo de gestão administrativa do CBno modelo inserido junto à PM, pode-se observar com mais clareza, confor-me vislumbra-se na Tabela 1.

Conforme se observa na composiçãodos dados da Tabela 1, não é factívelque uma corporação policial, que temdiferentes necessidades e objetivos emrelação a uma corporação não policial,possa realizar processos de gestão dasegunda sem prejuízos à qualidade dosserviços prestados, isto é elementar de-mais.

Não se busca aqui desqualificar os ser-viços prestados pelo Corpo de Bombei-ros, sob hipótese alguma, mas sim de-monstrar que, não fosse o modelo devisão e de gestão policial empregado ge-nericamente na administração da Briga-da Militar como um todo, os serviçosprestados pelo Corpo de Bombeiros po-deriam ir ao encontro do modelo degestão pela qualidade preconizado pelaAssociação Brasileira de Normas Téc-nicas, que traduz um parâmetro de acei-tação mundial.

O paradoxo desta análise é que a pró-pria administração da Brigada Militar,muitas vezes, acaba por perder o focode sua atividade primordial, que é a polí-cia ostensiva e a preservação da ordempública acabando por se deter em ques-tões para as quais não tem vocação, co-

mo o caso do Corpo de Bombeiros, per-dendo também possibilidades de avan-çar em matéria de qualidade nos serviçosprestados.

Não restam dúvidas que o modelo degestão policial não é aplicável à gestãode bombeiros. As diferenças, conformedemonstradas, nascem já na origem dosserviços e, a partir daí, somente vão seintensificando à medida em que a com-plexidade se apresenta, trazendo prejuí-zo a ambas atividades.

CONSIDERAÇÕESApós a análise dos dados colhidos e

interpretados junto à discussão teórica,bem como da série de consideraçõessobre a dinâmica de estruturação, de le-galidade, de funcionamento e de gestãoda Brigada Militar e do Corpo de Bom-beiros nos levam às seguintes respostasàs questões norteadoras elencadas: ABrigada Militar para exercer suas mis-sões constitucionais de polícia ostensi-va e preservação da ordem pública, ne-cessita dispor de um CB? A resposta énão; Um CB para exercer suas missõesconstitucionais de busca e salvamento,prevenção e combate a incêndios e exe-cução de atividades de defesa civil, ne-cessita estar inserido em uma institui-ção policial? A resposta é não.

Quanto às respostas aos objetivos ge-ral e específicos, entende-se que foramamplamente considerados quando da

fundamentação teórica, tendo sido obti-dos resultados satisfatórios quanto à elu-cidação a que se propunha este trabalho.

O trabalho não tem a intenção de es-gotar o assunto, mas sim de traçar umalinha geral, em consonância com asconstruções intelectuais que vêm sen-do lapidadas ao longo dos últimos seismeses por Oficiais e Praças da BrigadaMilitar, bem como por integrantes dasociedade civil que participam das dis-cussões além do mundo acadêmico.

Não se trata aqui sobre a forma decomposição de um Corpo de BombeirosMilitar no RS, mas sim das razões quefundamentam a necessidade de desvin-culação entre Polícia e Bombeiros.

A busca pela certeza sobre a melhoralternativa para a questão do CB do RSé o motivo desta construção, tendo si-dos tomados por base todos os movi-mentos anteriores de tentativa de “se-paração” dos Bombeiros da Brigada Mi-litar, expressão da qual se diverge porengendrar entendimento de quebra insti-tucional, de insubordinação e indiscipli-na, o que não se busca.

Trata-se, pois, da construção sobre acompreensão da necessidade de prover“Independência Institucional” ao CB daBrigada Militar, visando fortalecer a es-trutura de segurança de Estado, crian-do uma nova corporação, alinhada coma Constituição Federal e, portanto, tra-tando de um espectro muito mais amplodo que a mera e traumática, “separação”do Corpo de Bombeiros.

A elaboração e a condução da linhade pesquisa são fruto de um entendi-mento coletivo, diversas vezes realinha-do de militares e de civis que têm a con-vicção de que os modelos de gestão dePolícia e de Bombeiros são incompatí-veis, porém, que até então não haviamsido estudados de forma mais ampla emultidisciplinar no ambiente de quartel.

O Governo do Estado do Rio Gran-de do Sul dá mostras inequívocas datransparência com que lida com o tema,de sorte que não há outra conclusão quenão seja pela oportunidade de que sejalevada a termo a necessária e imediataindependência institucional e criação doCB do RS em alinhamento com demais23 estados.

Tabela 1

O projeto e a implementação de um sistema de gestão da qualidade de umaorganização são influenciados por:

NBR ISO 9001:2008 Polícia Militar Corpo de Bombeiros Militar

Quadro organizado pelo autor com base nos conceitos da NBR ISO 9001:2008 e da experiência de mais de duas décadas como Oficial de PolíciaMilitar, especialista em Bombeiros.

Seu ambiente organizacional, Frequente mutabilidade, pois as modalidades Mais estável, pois exige um rol pré-ajustado de atoresmudanças neste ambiente e de ação e de alcance da interpretação do que para a execução das atividades.Destarte, lida comos riscos associados com seja “preservação da ordem pública”decorrem valências mundialmente padronizadas, nãoeste ambiente; do ajuste da Lei, permitindo maior flexibilidade dependendo exclusivamente da interpretação legal

na composição da estrutura organizacional. para a atuação.

Suas necessidades que se Decorre do fato social e do trato com as Decorre do sinistro, da emergência física.alteram; comunidades sobre suas necessidades Não interfere no fato social, pois presta resposta

específicas, as quais estão em constante somente às demandas pontuais.processo de alteração. É força de reação.É força de ação.

Seus objetivos particulares; Preservar a ordem pública; Combater, prevenir e investigar sinistros;Executar a polícia ostensiva; Realizar buscas, salvamentos e resgates;

Executar ações de Defesa Civil.

Os processos utilizados; Policiamento ostensivo geral; Análise de projetos e vistoria de edificações;Policiamento ostensivo especializado; Ações de pronta-resposta a emergências de incêndio,Policiamento preventivo discreto. acidentes, incidentes e catástrofes naturais.

Seu porte e estrutura Estrutura administrativa e logística complexa; Estrutura administrativa e logística de médiaorganizacional; Estrutura operacional fracionada e setorizada; complexidade;

Grande porte organizacional, pois exige Estrutura operacional centralizada e multidisciplinar;muitas especializações em campos distintos Médio porte organizacional, pois ada prevenção e ação contra delitos. multidisciplinaridade das equipes de resposta faz

parte da cultura corporativa.

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