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JORNALISMO DIGITAL E PÓS-MODERNIDADE: UMA ANÁLISE DO JORNAL ÚLTIMO SEGUNDO Cleide Luciane Antoniutti 1 Vanessa Fernandes Santana 2 RESUMO O presente artigo aborda o tema do jornalismo digital no contexto das transformações ocorridas na sociedade pós-moderna. Refletindo sobre a incorporação de novas tecnologias e o surgimento da Internet na sociedade, novos ambientes sociais se criam, alterando de maneira significativa o ritmo e relações da sociedade. A Internet se transforma num importante meio de comunicação e informação para sociedade, absorvendo o jornalismo digital, em que o leitor exerce um papel mais ativo e participativo no processo da informação. A partir de uma discussão teórica sobre pós-modernidade, jornalismo e Internet, observa-se que novos formatos de jornalismo vão sendo incorporados à sociedade. Nesse contexto, pretende-se refletir sobre como o jornalismo digital se desenvolve e se caracteriza como um produto da pós- modernidade. Para se chegar ao resultado dessa pesquisa, utiliza-se o jornal digital Último Segundo como objeto de análise, que busca caracterizá-lo a partir da estrutura e linguagem da Internet. Palavras-chaves: Pós-Modernidade, Internet, Jornalismo Digital, Último Segundo ABSTRAT This abstract addresses the issue of digital journalism in the context of the changes in the post-modernity society. Reflecting about the incorporation of new technologies and the rise of Internet, new social environments have been created, changing in a significant way the rhythm and relation of the society. The Internet became an important means of communication and information for society, consuming the digital journalism, where the reader has a more active and participatory role in the process of information. From a theoretical discussion on post-modernity, journalism and Internet, it is observed that new formats of journalism are being incorporated into the society. In this context, it is intended to reflect on how the digital journalism is developed and is characterized as a product of post-modernity. To reach the result of that search, the digital newspaper used as object of analyses was “Último Segundo”, that search characterize it from the structure and language of the Internet. Key-Words: Post-modernity, Internet, Digital Journalism, Último Segundo 1 Jornalista, mestre em Sociologia Política (UFPR), especialista em Marketing (FESP), professora de Novas Tecnologias em Jornalismo (UP) e Análise Crítica de Páginas na Web na Pós-Graduação (IBPEX) 2 Jornalista (UP), Editora chefe do portal POP e coordenadora de marketing do Paraná Online

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resumo abstrat 1 Jornalista, mestre em Sociologia Política (UFPR), especialista em Marketing (FESP), professora de Novas Tecnologias em Jornalismo (UP) e Análise Crítica de Páginas na Web na Pós-Graduação (IBPEX) 2 Jornalista (UP), Editora chefe do portal POP e coordenadora de marketing do Paraná Online introDução JornALiSmo DigitAL e póS-moDerniDADe: umA AnáLiSe Do JornAL ÚLtimo SegunDo 98 | ComuniCAÇÃo - reFLeXÕeS, eXperiÊnCiAS, enSino

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Jornalismo Digital e pós-moDerniDaDe: uma análise Do Jornal Último segunDo

Cleide Luciane Antoniutti1

Vanessa Fernandes Santana2

resumoO presente artigo aborda o tema do jornalismo digital no contexto das

transformações ocorridas na sociedade pós-moderna. Refletindo sobre a incorporação de novas tecnologias e o surgimento da Internet na sociedade, novos ambientes sociais se criam, alterando de maneira significativa o ritmo e relações da sociedade. A Internet se transforma num importante meio de comunicação e informação para sociedade, absorvendo o jornalismo digital, em que o leitor exerce um papel mais ativo e participativo no processo da informação. A partir de uma discussão teórica sobre pós-modernidade, jornalismo e Internet, observa-se que novos formatos de jornalismo vão sendo incorporados à sociedade. Nesse contexto, pretende-se refletir sobre como o jornalismo digital se desenvolve e se caracteriza como um produto da pós-modernidade. Para se chegar ao resultado dessa pesquisa, utiliza-se o jornal digital Último Segundo como objeto de análise, que busca caracterizá-lo a partir da estrutura e linguagem da Internet.Palavras-chaves: Pós-Modernidade, Internet, Jornalismo Digital, Último Segundo

abstratThis abstract addresses the issue of digital journalism in the context of the

changes in the post-modernity society. Reflecting about the incorporation of new technologies and the rise of Internet, new social environments have been created, changing in a significant way the rhythm and relation of the society. The Internet became an important means of communication and information for society, consuming the digital journalism, where the reader has a more active and participatory role in the process of information. From a theoretical discussion on post-modernity, journalism and Internet, it is observed that new formats of journalism are being incorporated into the society. In this context, it is intended to reflect on how the digital journalism is developed and is characterized as a product of post-modernity. To reach the result of that search, the digital newspaper used as object of analyses was “Último Segundo”, that search characterize it from the structure and language of the Internet.Key-Words: Post-modernity, Internet, Digital Journalism, Último Segundo

1 Jornalista, mestre em Sociologia Política (UFPR), especialista em Marketing (FESP), professora de Novas Tecnologias em Jornalismo (UP) e Análise Crítica de Páginas na Web na Pós-Graduação (IBPEX)2 Jornalista (UP), Editora chefe do portal POP e coordenadora de marketing do Paraná Online

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introDuçãoAs diversas mudanças políticas, econômicas e tecnológicas que ocorreram na

pós-modernidade criaram novos ambientes sociais e aceleraram o ritmo de vida da sociedade contemporânea. Essas transformações possibilitaram o aparecimento de novas tecnologias, que foram introduzidas nos campos de relacionamento humano, mudando definitivamente o modo de interagir das pessoas. Entre as principais descobertas está a Internet, que se tornou rapidamente num importante instrumento de comunicação e de difusão de informação. Ela teve sua funcionalidade ampliada com a ascensão das tecnologias digitais, como os satélites e as redes sem fio.

Com a expansão e inserção dessas novas tecnologias, a Internet tornou-se um importante espaço para o aparecimento de um novo conceito de jornalismo. Novos formatos de jornalismo foram se configurando, eis que surge então o jornalismo digital. A partir de 1995 presencia-se a chegada de vários grupos brasileiros de comunicação na web. Mesmo de forma um tanto experimental, outros meios começaram a ocupar e se formatar no espaço da rede. Esse foi o caso do jornal digital Último Segundo (1999), pertencente ao portal do IG, que foi o primeiro jornal brasileiro feito diretamente para a Internet. Além da sua importância histórica, o jornal, por ser direcionado somente para a web, é um importante objeto de análise para as discussões em torno da linguagem e estrutura. Os dados observados durante a pesquisa apontam que o jornal, apesar de ser voltado somente para a Internet, não apresenta todas as características de linguagem e estrutura de um veículo digital. Para dar sustentação ao resultado da pesquisa, o artigo apresenta uma pequena discussão teórica, abordando os temas como: pós-modernidade, internet e jornalismo.

pós-moDerniDaDeA sociedade pós-moderna se solidificou dentro de um acelerado processo de

mudanças econômicas, políticas, tecnológicas e sociais. O período que se inicia em 1950 deu continuidade ao turbilhão de transformações que vinham com a modernidade desde o século XV. Na modernidade, importantes fatos ocorreram de maneira simultânea e modificaram por completo o modo como as pessoas viviam em sociedade.

Segundo Marshall Berman (1986), um dos exemplos foi a industrialização do sistema de produção que forçou milhões de pessoas a saírem de sua localidade para tentar trabalho nas cidades. A população presenciou a passagem de um quadro social imóvel – no qual se tinha apenas a idéia de cultura local e sociedade estática – para um quadro totalmente contrário, com noções de cultura global e sociedade do progresso.

A pós-modernidade deu seqüência a essas transformações e introduziu ao dia-a-dia das pessoas uma nova leva de artefatos tecnológicos, o que, conseqüentemente, proporcionou mais mudanças sociais, surgindo a partir daí um novo conceito para representar a comunicação entre a sociedade, a chamada Sociedade da Informação.

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Jornalismo na pós-moDerniDaDeO jornalismo, figura máxima da comunicação social, de acordo com Bernardo

Kucinski (2005), segue atualmente com sua linha comercial iniciada no final do século XIX. Para ele, a atual revolução tecnológica, conseqüentemente a Sociedade da Informação também, fragmenta o espaço midiático com grande intensidade. O jornalismo de caráter especializado e personalizado, e até mesmo as próprias editorias básicas, assumiram ideologias da pós-modernidade, focando principalmente no indivíduo, deixando em segundo plano os assuntos que são de interesse coletivo. Isso ocorre devido ao abandono das meta-narrativas e a apropriação dos diversos discursos comunicacionais. Não é mais necessária a utilização de uma linguagem ampla e elaborada, pois o indivíduo tende a se interessar somente pelos assuntos que lhe convêm. Nesse caso, o objetivismo e o pragmatismo se tornam mais relevantes.

Na Internet, mais do que em outros meios, se materializa hoje o paradoxo ético criado pela falência de valores surgidos no iluminismo e não preenchidos pela ética da pós-modernidade. (...) Costumes gerados na operação da Internet, tais como sexo virtual, a cópia e apropriação da produção intelectual alheia, sugerem que o hábito Internet seja comparado com uma ética da ausência de padrões dominantes, ou, eventualmente, da celebração individual. A Internet, paradoxalmente, é o espaço em que melhor se manifesta o fenômeno da fragmentação ética de nossos tempos. (KUCINSKI, 2005, p. 86).

O jornalismo pós-moderno busca produzir notícias em massa com atualizações constantes; dessa maneira, transforma em descartável tudo o que não estiver “acontecendo agora”. Essa enorme produção de informações acaba por abastecer os princípios fracos da pós-modernidade transferidos aos indivíduos por meio de sua conformidade vazia. Tudo muda muito rápido, não dando tempo de se solidificar na estrutura social. (BAUMAN, 2001, p. 29).

Outra importante característica do jornalismo pós-moderno são as freqüentes fusões das empresas de comunicação. Num processo de fusões e aquisições, companhias se tornaram globais e o controle da mídia ficou restrito a uma parcela ínfima de representantes. A concentração do poder de mercado e reinado de grupos familiares na mídia se intensificou no começo dos anos 90.

O número de corporações midiáticas está se reduzindo, a tal ponto que é possível contá-las nos dedos das mãos. Se nos meados dos anos 80 do século passado essas transnacionais eram cerca de meia centena, em 1993 tinham-se reduzido a 27 e no final de 2000 eram apenas sete: Disney, Time Warner, Sony, News Corporation, Viacom, Vivendi-Universal e Bertelsmann. Todas elas provém de países ricos: EUA, Europa e Japão. (BURCH; LEON; TAMAYO apud COSTA, 2005, p. 180).

Kucinski (2005) é favorável à idéia de que, na era da informação, as empresas de comunicação, num processo de megafusões, formam conglomerados comandados por capitais financeiros cada vez mais autônomos e extraterritoriais.

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Isso resulta em mais uma particularidade da pós-modernidade dentro do âmbito jornalístico, a chamada perda de autoria. Como atualmente vários veículos pertencem à mesma empresa de comunicação, fica difícil para o indivíduo identificar características exclusivas na notícia ou mídia que está utilizando. Isso ocorre devido ao fenômeno da massificação da informação.

Jornalismo na internetO jornalismo se uniu à Internet pela primeira vez no final dos anos 80, mais

especificamente nos Estados Unidos. Conforme explica Pollyana Ferrari (2006), a maior parte dos sites jornalísticos surgiu apenas como reprodutores do conteúdo publicado nos meios impressos. E somente na etapa posterior foi que começaram a surgir veículos interativos e personalizados.

No Brasil o primeiro site a reproduzir conteúdo jornalístico foi o Jornal do Brasil criado em 1995. Logo em seguida, o jornal O Globo colocou na rede sua versão para web, seguido pela Agência Estado. Uma verdadeira corrida tecnológica. Todos os meios queriam estar conectados com o mundo. Foi o chamado boom da Internet no Brasil.

Esse aparecimento dos jornais digitais só se tornou possível após a criação dos navegadores da Internet, os browsers, pois, antes disso, era quase impossível localizar qualquer informação na rede mundial de computadores. Pois o sistema tinha uma visualização ruim e baixa funcionalidade. Cláudia Quadros (2002) ressalta que os jornalistas buscavam uma linguagem apropriada e um esquema adequado para disponibilizar seus conteúdos na web.

Já Pinho (2003) divide o período de evolução do conteúdo jornalístico na Internet em três gerações. Na 1ª geração de sites era privilegiado apenas o conteúdo e não a forma, era feita apenas uma reprodução dos jornais impressos. A 2ª geração foi moldada de acordo com a introdução da linguagem HTML (HyperText Markup Language), própria para escrever páginas de documentos na web. Ela permitiu o uso de ícones, imagens de fundo, botões, tabelas e gráficos. Durante a 3ª geração, o conteúdo volta a ter um local de destaque e, de acordo com o autor, a preocupação está tanto na funcionalidade quanto na beleza do site.

Surge o chamado jornalismo dentro da Internet. O objeto de análise desta pesquisa, o jornal digital Último Segundo, foi o primeiro no Brasil feito exclusivamente para a Internet. Criado em novembro de 1999, tinha por objetivo servir de página principal para o portal iG.

Diversos autores utilizam terminologias diferentes para definir o conceito de jornalismo praticado na web; ciberjornalismo, webjornalismo, jornalismo on-line e jornalismo digital. Para Pollyana Ferrari (2006), todo profissional que trabalha com a transposição das mídias – que traduzem as notícias da linguagem impressa para web – são classificados como jornalistas on-line. Diferente do jornalismo digital que, por sua vez, abriga os noticiários, sites e produtos criados exclusivamente para web. Essa diferenciação não é feita por Kucinski (2005). Ele não levanta tal questão e utiliza

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como padrão o termo jornalismo on-line. Para ele, o jornalismo on-line não se distingue muito do serviço das agências de notícias. Mas a freqüência com que as notícias são atualizadas se transforma em um dos aspectos mais marcantes da nova mídia. “Fatos vão sendo narrados continuamente, em textos curtos e poucos acabados, à medida que vão acontecendo, e não depois que aconteceram”. (KUCINSKI, 2005, p. 77).

Pinho (2003) classifica o conteúdo jornalístico dentro dos sites em quatro tipos principais:

Estático: É qualquer informação que não está sujeita a mudança, ou pode sofrer uma atualização esporádica e eventual.

Dinâmico: Está presente na seção de últimas notícias.Funcional: É dado principalmente por menus e barras de navegação.Interativo: Estimula a interação com os usuários.Já para Kucinski (2005), o jornalismo on-line possui três fortes características

gerais. A primeira pode ser definida como o público-alvo. O principal público do jornalismo on-line são especuladores e as instituições financeiras, justamente por causa do capitalismo de acumulação flexível. Fato que condiciona a segunda característica, a velocidade. Informar, contextualizar e interpretar, tudo isso deve ocorrer na web antes dos outros veículos. Dessa maneira, as informações são transmitidas por partes e com atualizações contínuas, o tempo real da notícia narra cada acontecimento no momento em que está ocorrendo.

E, por último, a terceira característica exclusiva do jornalismo on-line: a funcionalidade que o veículo tem em relação aos outros meios de comunicação. Enquanto as agências de notícias divulgam seu material como sendo resultado final de um acontecimento, fazendo pequenas alterações durante o tempo de exposição do texto como destaque; a web é utilizada como pauta para os outros veículos, justamente por seu caráter de agilidade e rapidez na divulgação de um fato.

No que se refere à linguagem utilizada na Internet é importante ressaltar que as características peculiares ao meio possibilitam a utilização de diversos formatos, assim como o recurso de hipertexto. A mídia digital pode abrigar diferentes meios comunicacionais em um único suporte tecnológico. A prática jornalística na web exige uma nova arquitetura da informação baseada na linguagem hipertextual e multimídia.

É importante destacar que, para desempenhar uma função eficaz, a Internet necessita de clareza e facilidade em seu processo de comunicação. Para atingir tal objetivo, foi e ainda é desenvolvida uma linguagem própria e exclusiva para ela. A inserção de conteúdo jornalístico levou para a web uma nova significação, além de ampliar em escala mundial suas funcionalidades.

Portanto, a comunicação realizada dentro da mídia digital exige um novo modelo narrativo. A linguagem foi adaptando-se ao meio, para não perder sua funcionalidade. Os termos mais freqüentes para conceituar a linguagem na Internet são: hipertexto e hipermídia ou multimídia.

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Para conceituar e caracterizar a estrutura do jornalismo digital utiliza-se o termo: Arquitetura da Informação. A teorização e conceituação desses termos estão presentes da análise do jornal digital Último Segundo

análise: Jornal Digital Último segunDoO Último Segundo foi o primeiro jornal em português a ser elaborado

exclusivamente para a Internet no Brasil. Criado em novembro de 1999, para ser a página principal do portal iG, foi ao ar primeiramente sem divulgação. Sua aparição pública ocorreu no lançamento do provedor iG, em janeiro de 2000. O jornal pertence ao Internet Group, composto pelo portal iG, Ibest e Br Turbo.

A equipe que produz o jornal segue uma estrutura hierárquica da mesma maneira que nas redações tradicionais: são aproximadamente 30 pessoas entre diretor de jornalismo, editores, redator-chefe, redatores, chefe de reportagem, repórteres, tradutores, colunistas e free-lancers.

Para definir o quadro de matérias diárias, ocorrem reuniões de pautas e os jornalistas recebem uma pré-pauta via e-mail, referente aos assuntos que podem ser destaques na edição daquele dia. As matérias são atualizadas constantemente. A redação trabalha 24 horas e, por esse motivo, não existe um horário de fechamento.

Os serviços oferecidos pelo jornal são:Radiojornalismo: Link externo que conecta ao serviço de radiojornalismo do

portal iG.US Informa: Consiste no envio direto de notícias para o usuário, no local e

formato que ele escolher, podendo ser pacotes customizados com os assuntos por ele selecionados.

Boletim de Notícias: É um programa de newsletter, no qual as notícias do site são enviadas por e-mail para o usuário cadastrado.

Último Segundo Flash: Um dispositivo localizado na área de trabalho do computador que mostra as manchetes em tempo real.

Podcasting: Sistema há anos utilizado na Internet coloca à disposição do usuário trechos de músicas, narrações, sons avulsos, entrevistas, notícias, ou, de acordo com o editor de música do portal uol, Antonio Farinaci (2005), tudo isso junto.

A arquitetura da informação das páginas principais de cada editoria é composta por uma manchete, uma foto do lado esquerdo superior, não necessariamente ligada à manchete, e as principais notícias do dia do lado direito. A tela abaixo se divide entre a seção de Opinião e a de Multimídia. Na outra tela, Manchetes do dia, seguida de Mais lidas e Últimas Notícias. No final da página, encontram-se os Links patrocinados.

O jornal Último Segundo trabalha em parceria com vários veículos de diferentes editorias, como: Gazeta Esportiva, BBC Brasil, NY Times, Jornal de debates, Clima tempo, Observatório, Portal Exame, Congresso em Foco, etc. Além de parcerias regionais com agências de notícias.

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Os elementos interativos da página são: Busca, Blog, Notícias Relacionadas, Imprimir, Enviar por e-mail, Comentar, Corrigir, Minha Notícia, Fale Conosco, RSS3.

Fonte: Retirado do Jornal Último Segundo do dia 03/09/07

Das características identificadas como pertencentes à pós-modernidade, foram escolhidas como as mais representativas para esta pesquisa: fragmentação, indústrias de serviços, cultura de massa, status e consumo, múltiplas formas de discurso e conglomerados empresariais.

Fragmentação Para o jornalista Bernardo Kucinski (2005), “A Internet, paradoxalmente, é o

espaço em que melhor se manifesta o fenômeno da fragmentação ética de nossos tempos”. (2005, p. 86). Com os recursos de interatividade e hipertextualidade, a internet aproxima ainda mais o usuário de seus objetivos.

No caso do Último Segundo isso está presente nas 10 editorias oferecidas: Brasil, Mundo, Esporte, Ciência, Mundo Virtual, Cultura, Educação, Economia, Opinião-Blog e Fale com Políticos4.

3 Really Simple Syndication, centralizador de informação que envia mensagens de assuntos previamente selecionados pelo usuário.4 O site foi analisado de 30/03/2007 a 19/09/2007

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Fonte: Retirado do Jornal Último Segundo do dia 19/09/07

A diversificação de assuntos e de públicos diversos demonstra a facilidade e a mobilidade que o veículo tem de se adaptar ao meio social. Suas diversas editorias e parcerias deixam clara a tentativa de atender a todos os gostos e públicos diferenciados.

inDÚstria De serviçosObserva-se na análise que o jornalismo digital dedica um importante espaço

para a indústria de serviços. Na página de economia do Último Segundo, existe um local específico de serviços ofertados pelo jornal que se subdivide em duas questões relacionadas à economia: bancos e empregos. Na primeira são trabalhadas dúvidas freqüentes com relação a fechamento de conta e compras on-line; já na segunda, é oferecido ao internauta a agenda de concursos e informações básicas sobre o sistema de banco de horas.

Fonte: Retirado do Jornal Último Segundo do dia 19/09/07

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Também na editoria de Ciência do jornal, existe a ferramenta de auxílio na busca por serviços especializados. São elas: Encontre o hospital mais próximo e Encontre seu medicamento. Ambos são serviços de pesquisa on-line.

Dentro do Último Segundo, além dos serviços ofertados para ajudar o usuário, como serviços de informações e buscas, existem também aqueles relacionados diretamente à prática jornalística principalmente na forma como as informações são oferecidas ao internauta, como é o caso do Radiojornalismo que leva o usuário à rádio exclusiva do portal iG; US Informa, sistema de envio de notícias em diversos formatos: Boletim de Notícias programa básico de newsletter; Último Segundo Flash, dispositivo instalado no computador que mostra as manchetes do site; e Podcasting, sistema de notícias divulgadas em áudio.

Fonte: Retirado do Jornal Último Segundo do dia 19/09/07

“O jornalista de um veículo digital assume e agrega muitas funções similares a um gerente de produto, que precisa cuidar, planejar, viabilizar financeiramente e até manter vivo o produto em questão”. (FERRARI, 2006, p. 62). Isso é o que ocorre na página do Último Segundo; os serviços são organizados de maneira estratégica dentro do site, além de muito bem identificados. Tudo o que é serviço de publicidade está identificado como tal.

Cultura De míDiaTodos os produtos da sociedade pós-moderna são produzidos para terem um

curto período de vida útil. Dessa maneira, a circulação no mercado permanece rápida e constante. O mesmo ocorre no jornalismo digital. Devido ao enorme fluxo de informações, as notícias se tornam velhas rapidamente e a mídia acaba por descartar aquilo que não for tido como novo. O próprio nome do objeto de análise desta pesquisa, o jornal digital Último Segundo, já remete à agilidade e instantaneidade, características observadas no site, uma vez que as notícias do jornal são atualizadas constantemente,

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menos de cinco minutos entre uma atualização e outra. Isso faz com que sua redação trabalhe 24 horas por dia5. Com tanta informação disponível na Internet, é preciso ser seletivo.

Outra questão importante a ser tratada em relação à cultura de massa é a da referencialização. Nos meios de comunicação, o interesse pelas celebridades e sobre a vida particular das figuras públicas é muito freqüente. Dentro da Internet, existem vários sites especializados em distribuir notícias sobre celebridades. Mesmo nos jornais digitais, esse tipo de informação pode ser encontrado com facilidade. No caso do Último Segundo, na página da editoria de cultura, entre as notícias sobre filmes e estréias da semana, encontram-se notícias relacionadas a famosos e suas vidas particulares.

Para Bauman (2001), é comum na pós-modernidade que as pessoas demonstrem um interesse significativo com relação à vida dos outros indivíduos, o que acaba gerando uma inversão entre os conceitos de público e privado. “O ‘público’ é colonizado pelo ‘privado’, o interesse público é reduzido à curiosidade sobre as vidas privadas de figuras públicas” (BAUMAN, 2001, p. 46).

Dessa maneira, percebe-se que também no jornal Último Segundo essa é uma característica comum, já que todos os dias durante a pesquisa, em sua página de cultura ou até mesmo na página principal, ao menos duas manchetes dizem respeitos a pessoas famosas.

Status e Consumo também fazem parte da cultura de mídia, mas tornou-se necessário para esta pesquisa descrevê-los separadamente.

status e Consumo As produções seriadas do sistema capitalista serviam para abastecer a grande

demanda de mercado. De acordo com o filósofo Hebert Marcuse (1989), a sociedade passou a produzir em grande medida para suprir as necessidades materiais e mesmo culturais do homem. (1989, p. 277).

Tanto status quanto consumo permanecem até os dias de hoje como valores-chave na sociedade pós-moderna, inclusive no setor de comunicação, tendo em vista que a própria cultura de mídia é difusora árdua desses valores.

No objeto de análise desta pesquisa, essa característica pode ser observada em links associativos: Links Patrocinados e Shopping. O primeiro trata-se de empresas anunciantes que fazem sua propaganda na capa e nas editorias Brasil, Blogs – Opinião, Cultura, Educação e Ciência e Saúde. O segundo é publicidade, são ofertas de produtos eletrônicos que aparecem nas editorias: Mundo, Economia, Mundo Virtual e Multimídia.

A repetição, característica máxima da cultura de massa, se faz presente também nos anúncios do Último Segundo. Ela ocorre de forma objetiva e direta, não ficando implícita nas manchetes, textos ou fotos. Fica muito claro o que é propaganda e o que não é. Se há uma câmera digital oferecida no link Shopping, fica evidente que aquilo 5 Retirado do site www.ultimosegundo.com.br

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se trata de um produto e nada tem a ver com o conteúdo da página. A própria palavra shopping já remete a compras.

Fonte: Retirado do Jornal Último Segundo do dia 03/09/07

Isso ocorre porque os anúncios atualmente são muito mais direcionados. A sociedade, para o autor, está na fase do consumo personalizado, que tenta a sedução pelo indivíduo. (2005. p. 10). Negroponte (1995) se mostra um visionário, pois, ainda na fase de desenvolvimento da Internet, já previa. “Se você está atrás de um carro novo, poderá assistir a comerciais de carros a semana inteira. Ademais, as fábricas de automóveis podem embutir informações local, regional e nacional”. (1995, p. 172). Se o internauta navega pela editoria Mundo Virtual do Último Segundo, ao menos um dos produtos do item Shopping será direcionado a ele; é o sistema de identificação que faz com que o indivíduo preste atenção ao marketing de determinado produto e efetue a compra.

mÚltiplos DisCursosNa Internet a fusão de meios comunicacionais, gera diversas formas discursivas

e ocorre por meio da multimídia. “Desde o final da década de 1980, vivenciamos a popularização da palavra multimídia, tecnologia que engloba som, imagem e movimento e que ficou conhecida pelos CD-ROMs, capazes de reunir enciclopédias inteiras em um único disco óptico”. (FERRARI, 2006, p. 42).

A multimídia aplicada à Internet permite ao usuário ter a mesma informação veiculada de diversas maneiras, texto, áudio, imagem e animação. Pinho (2003) acredita que a Internet reúne características de todas as outras mídias e junto ao jornalismo revolucionou o modo de distribuição das notícias.

No Último Segundo são identificados como elementos multimídia o serviço de Podcasting – notícias veiculadas por áudio, US Multimídia, com galeria de fotos e vídeos, e o iG Celular – serviço de envio de notícias via telefonia móvel. Todos esses elementos apresentam a versatilidade da linguagem dentro da Internet e demonstram a variedade discursiva pós-moderna.

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Fonte: Retirado do Jornal Último Segundo dia 03/09/07

ConglomeraDos empresariaisO Último Segundo faz parte do chamado Internet Group, composto pelo iG, iBest

e Br Turbo, grupo pertencente à empresa especialista em telefonia Brasil Telecom. O portal iG apresenta diversas manchetes contendo links externos para o Último

Segundo. De acordo com Pollyana Ferrari (2006), esse tipo de situação faz com que o internauta receba e absorva a mesma fonte de informação apenas com roupagem diferente. Por esse motivo, as fusões representam mais uma característica da pós-modernidade, que é a perda de autoria. As notícias não são mais exclusivas, muito pelo contrário, elas são em determinados casos exatamente as mesmas, o que gera uma uniformização do conteúdo jornalístico.

estrutura e linguagemNesta fase da análise do jornal Último Segundo, destacam-se as características da

linguagem e da arquitetura da informação, utilizando conceitos de vários autores.

HipertextoPierre Lévy define a hipertextualidade como uma tendência à inderterminação,

pois abriga uma mistura entre as funções de leitura e escrita. O hipertexto opera a

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virtualização do texto, ou seja, o texto se torna real a partir do momento em que está sendo utilizado. Para o autor, a função do hipertexto imita o raciocínio humano; uma palavra faz o indivíduo pensar em outra coisa, que lembra uma terceira e assim sucessivamente. “Funcionalmente, um hipertexto é um tipo de programa para a organização de conhecimentos ou dados, a aquisição de informações e a comunicação”. (LÉVY, 1995, p. 33).

A hipertextualidade abre muitas possibilidades ao internauta, pois permite a ele fazer seu próprio caminho dentro da página de um site. André Manta (2002) divide o hipertexto em quatro subcritérios que são descritos e analisados no jornal digital.

Descentralidade: capacidade de descentralizar a leitura daquela página. Extratextualidade: possibilita a complementação do assunto com textos de

outros sites. Intertextualidade: complementa a leitura com textos do próprio site. Intratextualidade: links dentro do próprio texto que contém informações

adicionais. No jornal Último Segundo, são utilizados três destes subcritérios: Intertextualidade,

Intratextualidade e Extratextualidade. Como elemento de intertextualidade, aparece a seção intitulada Notícias Relacionadas. Nela, são abordadas diferentes matérias do site, que estão interligadas com o tema principal. Outro aspecto de intertextualidade se localiza no final da notícia com o link Leia mais sobre, serviço que busca todas as informações sobre o assunto já publicadas no site. É como uma biblioteca digital, no qual o usuário pode realizar a busca que mais lhe convém, por nome, data, localidade etc.

Já a extratextualidade aparece com um link sempre no final da notícia. Esse recurso é ainda pouco utilizado pelo jornal. De 50 notícias avaliadas no dia 16/09/2007 apenas sete apresentavam esse elemento.

Algumas das notícias do Último Segundo apresentam links dentro da matéria que complementam a informação do texto, o que caracteriza a intratextualidade.

HipermíDia ou multimíDia A linguagem hipertextual abriu espaço para a inserção de outros tipos de mídia

num mesmo espaço. Pollyana Ferrari (2006) chama isso de hipermídia; ela acredita que a junção de vários recursos veio a partir das tecnologias multimídias dos anos 80, esse recurso ficou conhecido pelos CD-ROMs capazes de reunir enciclopédias inteiras em um único disco.

No Último Segundo, os elementos multimídia são encontrados nas mais diversas formas em quase todas as notícias. São galeria de imagens, notícias em áudio, podcasting, gráficos e vídeos.

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arquitetura Da inFormaçãoA arquitetura da Informação tem o objetivo de organizar padrões para uma melhor

navegação dos usuários. Como a Internet é um emaranhado de informações que são atualizadas constantemente, tornou-se necessária a criação de padrões para facilitar a navegação dentro da interface.

No jornalismo a distribuição e organização das informações são determinadas pelas peculiaridades da Internet. Para a análise do objeto usam-se as terminologias de Pinho (2003): interatividade, fisiologia, instantaneidade, dirigibilidade, qualificação, custos de produção e de veiculação, pessoalidade, acessibilidade e receptor ativo.

interativiDaDeA gama de possibilidades que um usuário encontra na web liga a palavra

interatividade direta à tecnologia digital. Para Pierre Lévy (1999), o termo ressalta a participação ativa do beneficiado numa transação de informação.

O diferencial da Internet está no fato de sua interatividade ser mais visível, podendo ocorrer nos fóruns de discussão, através do correio eletrônico, chats, blogs, newsletters, enquetes e até mesmo o simples ato de imprimir uma notícia ou recomendar para um amigo já é uma forma de interagir com o meio. Essas medidas proporcionam um caráter personificado, quebrando o padrão e a estrutura tradicional. (PINHO, 2003, p. 59, 78 e 145).

O jornal Último Segundo trabalha com algumas formas de interatividade, pois apresenta a possibilidade de o internauta enviar as notícias por e-mail, imprimir e até mesmo comentar as matérias.

Fonte: Retirado do Jornal Último Segundo do dia 18/09/07

Outros elementos interativos que também fazem parte da página: newsletters, blogs, busca, minha notícias – feito exclusivamente por internautas, fale conosco e Fale com Políticos. Esta última é uma das editorias do jornal e permite ao usuário encaminhar perguntas e comentários a representantes públicos; o mesmo serviço possibilita acompanhar o ranking dos políticos que mais receberam perguntas e os que mais responderam, separando por categoria: presidente, governador, senador e deputado federal.

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Fisiologia Recomenda-se que os textos para a Internet sejam escritos em no máximo três

blocos de informação (Pinho, 2003). Porém, o que se percebe que os textos das notícias do Último Segundo, como no exemplo da página abaixo, são muitas vezes inadequados, ou são muito curtos, com apenas um bloco ou muito longos, com até 12 blocos.

Fonte: Retirado do Jornal Último Segundo dia 17/09/07

CustomizaçãoOs diversos sites existentes na rede vivem em constante disputa pela atenção

do usuário. Avalia-se que atualmente existam mais de 1175688 endereços de sites, somente no Brasil6. Com o intuito de manter o usuário o máximo de tempo possível em suas páginas, os gerenciadores de conteúdo passaram a estudar cada movimento do internauta e apostaram na customização ou personalização dentro do site. Segundo Pollyana Ferrari (2006), o leitor se torna escritor quando reconfigura a informação de acordo com suas preferências e hábitos de leitura.

No site do Último Segundo, é utilizado um recurso chamado RSS – Really Simple Syndication que nada mais é do que um centralizador de informação. O usuário seleciona os assuntos que mais lhe interessam e começa a receber apenas notícias relacionadas a ele. Na página do Portal iG7, a definição é a seguinte: “RSS é receber mensagem direto na tela do seu computador (ou celular) quando um de seus sites preferidos publica novidade. Publicou, tá no seu computador”. Isso mostra como a tendência da Internet é personalizar cada vez mais a forma como as notícias são divulgadas ao usuário. 6 Retirado do site http://www.cetic.br/dominios/index.htm Acesso em: 17 set. 20077 Retirado do site http://www.ig.com.br/rss/ Acesso em: 17 set. 2007

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usabiliDaDeDe acordo com Pinho (2003), um site com uma boa arquitetura da informação

deverá fornecer ao usuário o que ele está buscando em no máximo três cliques. O conteúdo também deverá ser mais objetivo, seguindo duas regras básicas: 1.ª) Deve-se colocar a conclusão no começo e 2.ª) escrever apenas 25% do texto em relação ao que é normalmente escrito no papel. (PINHO, 2003, p. 135 e 142).

O site do Último Segundo apresenta aspectos positivos e negativos de usabilidade, assim como vários outros produtos da Internet. Não se optou para esta pesquisa por realizar questionários para avaliar o grau de usabilidade do jornal, mas apenas por analisá-lo com base nos autores que escrevem sobre o assunto. Seguindo as regras de usabilidade de Pinho (2003), o site não se classifica bem nessa área. Como são dois os elementos necessários, segundo o autor, pode-se dizer que o jornal só cumpre com 50% sua usabilidade. A primeira das regras diz que a conclusão do texto deve estar no começo. Isso pode ser constatado em todas as notícias do site. Já a segunda regra diz que os textos devem ter apenas 25% do tamanho do que é publicado no jornal impresso. Isso não é verificado na maioria das matérias, como já foi constatado no item Fisiologia do meio: ou as notícias são curtas demasiadamente, ou são extremamente longas.

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ConClusõesÉ importante destacar que os avanços na área de comunicação não ocorreram

por acaso. Tudo foi, e ainda é, condicionado por fatores externos, como a política e a economia, por exemplo. A pós-modernidade se mostrou um período propício a grandes mudanças, uma delas foi a Revolução Tecnológica que impulsionou avanços incalculáveis nas áreas de comunicação. A Internet é fruto desse período e representa, com suas peculiaridades, as características da sociedade pós-moderna. Por essa razão, o estudo sobre essa mídia é tão importante para o jornalismo, uma vez que o jornalismo digital ocupa cada vez mais espaço entre as mídias de comunicação. O jornalismo digital muda não somente a forma de produção da notícia, mas as relações sociais, porque proporciona ao internauta condições especiais de interações.

A análise do jornal digital Último Segundo demonstra que, por mais que o produto seja uma conseqüência da pós-modernidade e tenha sido desenvolvido exclusivamente para a Internet, muitas características desse meio ainda não estão sendo exploradas. Porém, as características principais da Internet, como a hipertextualidade, hipermídia e interatividade, são bem utilizadas pelo jornal. Fazer jornalismo digital sem explorar todos os recursos do hiperlink seria como fazer jornal de papel e remeter o leitor à enciclopédia sempre que precisasse consultar uma base de dados. O acesso amplo e facilitado ao hipertexto ( que inclui links e sites interessantes sobre o assunto tratado) estimulará a interatividade do internauta que poderá emitir constante feedback, enquanto navega, através de e-mails para os jornalistas, para as fontes citadas, para outros usuários, inclusive redirecionando a mensagem ou utilizando chat-room. Dessa forma, conclui-se que o mundo de possibilidades da Internet não está aí para ser ignorado, mas para ser conhecido, aprendido, utilizado, dominado. No caso deste trabalho, buscou-se conhecer o potencial da rede no que se refere ao jornalismo digital. Aprofundar estudos sobre essa nova realidade significa tentar compreender os novos paradigmas presentes no mundo da produção, emissão e recepção do discurso jornalístico.

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reFerênCias

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro:Jorge Zahar, 2001.BERMAN, Marshall.Tudo que é sólido se desmancha no ar. São Paulo: Companhia das Letras, 1986.Castells, Manuel. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 2006.COSTA, Caio Túlio. Modernidade líquida. Revista USP, n. 66, p 178-197, junho/agosto 2005. FERRARI, Pollyana. Jornalismo digital. São Paulo: Contexto, 2006.HABERMAS, Jürgen. A crise de legitimação no capitalismo tardio. Rio de Janeiro: Edições Tempo Brasileiro, 1999. KUCINSKI, Bernardo. Jornalismo na era virtual. São Paulo: Editora UNESP, 2005.MANTA, André. Guia do Jornalismo na Internet. Salvador, 1997. Disponível em: http//facom.ufba.br/pesq/cyber/manta/guia Acesso em: 25 set. 2007 MARCUSE, Herbert. O homem unidimensional. A ideologia da sociedade industrial. Rio de Janeiro: Zahar, 1989.NEGROPONTE, Nicholas. A vida digital. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. PIERRE, Lévy. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999.Pinho, J. B. Jornalismo na Internet. São Paulo: Summus, 2003.QUADROS, Cláudia Irene de. Jornalismo na Internet: Conveniência, informação e Interação. Trabalho apresentado no Congresso Brasileiro das Ciências da Comunicação, Campo Grande/MS, setembro 2001. São Paulo, Intercom/Portcom: Intercom, 2001. Disponível em: http://reposcom.portcom.intercom.org.br/dspace/bittream/1904/4375/1/NP2QUADROS.pdf. Acesso em 14 fev. 2007 às 12:50