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FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA TRABALHO FINAL DO 6º ANO MÉDICO COM VISTA À ATRIBUIÇÃO DO GRAU DE MESTRE NO ÂMBITO DO CICLO DE ESTUDOS DE MESTRADO INTEGRADO EM MEDICINA NELSON MANUEL FERNANDES MACHADO ESTRATIFICAÇÃO DO RISCO CARDIOVASCULAR PRÉ-TRANSPLANTE RENAL ARTIGO DE REVISÃO ÁREA CIENTÍFICA DE CARDIOLOGIA TRABALHO REALIZADO SOB A ORIENTAÇÃO DE: PROF. DOUTORA MARIA JOÃO VIDIGAL FERREIRA DRA JOANA SOFIA SILVA MOURA FERREIRA JANEIRO/2013

ARTIGO DE REVISÃO ÁREA CIENTÍFICA DE CARDIOLOGIA …§ão do risco... · show high positive predictive value for cardiovascular events in the general population. In these patients,

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FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA

TRABALHO FINAL DO 6º ANO MÉDICO COM VISTA À ATRIBUIÇÃO DO

GRAU DE MESTRE NO ÂMBITO DO CICLO DE ESTUDOS DE MESTRADO

INTEGRADO EM MEDICINA

NELSON MANUEL FERNANDES MACHADO

ESTRATIFICAÇÃO DO RISCO CARDIOVASCULAR

PRÉ-TRANSPLANTE RENAL

ARTIGO DE REVISÃO

ÁREA CIENTÍFICA DE CARDIOLOGIA

TRABALHO REALIZADO SOB A ORIENTAÇÃO DE:

PROF. DOUTORA MARIA JOÃO VIDIGAL FERREIRA

DRA JOANA SOFIA SILVA MOURA FERREIRA

JANEIRO/2013

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Índice

Índice ............................................................................................................................................. 2

Índice de abreviaturas ................................................................................................................... 4

Índice de Imagens e Tabelas ......................................................................................................... 6

Resumo .......................................................................................................................................... 7

Abstract ......................................................................................................................................... 9

Introdução ................................................................................................................................... 11

Material e métodos ..................................................................................................................... 16

Doença cardiovascular em doentes pré-transplante renal ......................................................... 18

Epidemiologia .......................................................................................................................... 19

Fisiopatologia .......................................................................................................................... 23

A. Doença Vascular ......................................................................................................... 24

B. Hipertrofia Ventricular Esquerda ................................................................................ 25

1. DM .............................................................................................................................. 26

2. Dislipidemia ................................................................................................................ 26

3. Pressão arterial ............................................................................................................ 27

4. Idade e Tabagismo ...................................................................................................... 27

5. Inflamação, disfunção endotelial e stress oxidativo .................................................... 28

6. Calcificação vascular ................................................................................................... 33

7. Homocisteinémia ......................................................................................................... 36

8. Anemia ........................................................................................................................ 36

9. Sistema Renina-Angiotensina-Aldosterona ................................................................ 38

10. Outros ...................................................................................................................... 38

Guidelines .................................................................................................................................... 40

Consenso 2012 AHA ................................................................................................................ 41

ACC/AHA 2007......................................................................................................................... 41

Conferência de Lisboa 2007 .................................................................................................... 42

NKF/KDOQI 2005 ..................................................................................................................... 43

Guidelines American Society of Transplantation 2001 ........................................................... 43

Testes de avaliação cardiovascular pré-transplante ................................................................... 44

Ecocardiografia ........................................................................................................................ 47

Doença valvular ................................................................................................................... 48

Hipertensão Pulmonar ........................................................................................................ 49

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Ecocardiograma de stress induzido por dobutamina (ESD) .................................................... 50

Cintigrafia de perfusão miocárdica ......................................................................................... 53

Comparação entre ESD e CPM .......................................................................................... 56

Eletrocardiograma em repouso e Prova de esforço ............................................................... 57

Angiografia Coronária ............................................................................................................. 59

Tomografia Computorizada com Score de cálcio .................................................................... 60

Biomarcadores ........................................................................................................................ 61

BNP e NT-pro-BNP ............................................................................................................. 61

Troponinas Cardíacas ......................................................................................................... 62

Ressonância Magnética ........................................................................................................... 64

Conclusão .................................................................................................................................... 66

Agradecimentos .......................................................................................................................... 70

Bibliografia .................................................................................................................................. 71

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Índice de abreviaturas

ACC – American College of Cardiology

ADMA – dimetil-arginina assimétrica

AHA – American Heart Association

AVC – acidente vascular cerebral

BNP – peptídeo natriurético cerebral

CPM – cintigrafia de perfusão miocárdica

cTnT – troponinas cardíacas

CV – cardiovasculares

DC – doença coronária

DCV – doença cardiovascular

DIC – doença isquémica coronária

DM – diabetes mellitus

DRC – doentes renais crónicos

DRET – doente renal em estádio terminal

EAM – enfarte agudo do miocárdio

ECD – exames complementares de diagnóstico

ECG – electrocardiograma

ESD – ecocardiografia de stress com dobutamina

FEVE – fração de ejeção do ventrículo esquerdo

FHS – Framingham Heart Study

HDL – high-density lipoprotein

HTA – hipertensão arterial

HVE – hipertrofia ventricular esquerda

IC – insuficiência cardíaca

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IR – insuficiência renal

LDL – low-density lipoprotein

MPO – mieloperoxidade

NAD(P)H – nicotinamida adenina dinucleotido reduzida

NT-proBNP – Fragmento N-terminal do próBNP

ON – óxido nítrico

PCR – proteína C-reativa

PMG – proteína matriz Gla

PMO – proteína morfogénicas ósseas

PSAP – pressão sistólica arterial pulmonar

SNS – sistema nervoso central

SON – sintetase do óxido nítrico

TC – tomografia computorizada

TFG – taxa de filtração glomerular

VLDL – very low-density lipoprotein

VPP – valor preditivo positivo

VPN – valor preditivo negativo

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Índice de Imagens e Tabelas

Figura 1 - Processo de aterosclerose acelerada nos doentes renais em estádio terminal. ........ 33

Figura 2 – Quadro-resumo. ......................................................................................................... 65

Tabela 1 – Risco cardiovascular de acordo com o estádio da doença renal crónica .................. 21

Tabela 2 – Estádios de doença renal crónica. ............................................................................. 24

Tabela 3 - Fatores de risco cardiovascular em doentes urémicos .............................................. 29

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Resumo

A doença cardiovascular é a principal causa de morbi-mortalidade nos doentes

portadores de transplante renal. Cerca de 40% dos transplantados sofre um evento

cardiovascular nos primeiros 10 anos após a cirurgia. A mortalidade de causa

cardiovascular representa 29,7% do total de mortes nos doentes transplantados com rim

funcionante.

A estratégia ideal para avaliar o risco cardiovascular dos doentes renais em estádio

terminal no período pré-operatório é controversa. As orientações clínicas atuais

destacam a importância de uma boa estratificação clínica tendo em conta os fatores de

risco e co-morbilidades apresentadas por estes doentes, no entanto, não estabelecem um

algoritmo que englobe conjuntamente fatores de risco e exames complementares de

diagnóstico. Neste contexto, para além dos fatores de risco cardiovascular tradicionais

existem alguns fatores como a presença de um estado de inflamação e stress oxidativo

crónico, a alteração do produto fosfo-cálcico, a hiperhomocisteinémia, o aumento da

atividade do sistema renina-angiotensina-aldosterona e a exposição a toxinas urémicas

que têm vindo a assumir um papel cada vez mais importante.

A sensibilidade e especificidade dos testes não invasivos em doentes renais crónicos são

significativamente inferiores às registadas para a população geral. Vários estudos

mostram que nos doentes renais crónicos a ecocardiografia de stress com dobutamina e

cintigrafia de perfusão miocárdica apresentam frequentemente sensibilidades e

especificidades baixas, apesar de exibirem um valor preditivo positivo elevado para

eventos cardiovasculares na população geral. A angiografia coronária é, nestes doentes,

o exame com maior capacidade preditiva de eventos cardiovasculares após o

transplante, com sensibilidade e especificidade de 86% e 65%, respetivamente. A sua

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utilização encontra-se reservada para doentes com elevado risco cardiovascular,

nomeadamente, doentes com angina instável, insuficiência cardíaca descompensada ou

fração de ejeção deprimida (<35%), arritmia ventricular, doença valvular e em

indivíduos com teste de stress positivo.

Esta revisão bibliográfica pretende descrever o papel da avaliação clínica de vários

fatores de risco cardiovasculares assim como de diversos exames complementares de

diagnóstico na avaliação cardiovascular dos doentes pré-transplante renal.

Palavras-chave: doença cardiovascular; transplante renal; fatores de risco

cardiovascular;

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Abstract

Cardiovascular disease is the leading cause of morbidity and mortality in renal

transplant recipient. About 40% of the transplanted patients will suffer a cardiovascular

event in the first 10 years after surgery. The cardiovascular mortality represents 29.7%

of all deaths in patients with functioning kidney transplants.

The optimal strategy for assessing cardiovascular risk in end-stage renal disease patients

in the preoperative period is controversial. The current clinical guidelines emphasize the

importance of good clinical stratification taking into account the risk factors and co-

morbidities presented by these patients, however, they don’t establish an algorithm that

include risk factors and diagnostic exams. In addition to traditional cardiovascular risk

factors, there are some factors such as the presence of a state of chronic inflammation

and oxidative stress, the change in phospho-calcium product, the

hyperhomocysteinaemia, increased activity of the renin-angiotensin-aldosterone system

and exposure to uremic toxins that have been increasingly important.

The sensitivity and specificity of noninvasive tests in chronic renal patients are

significantly lower than for the general population. Several studies in chronic kidney

disease patients show sensitivities and specificities often lower for the dobutamine

stress echocardiography and myocardial perfusion scintigraphy, despite these exams

show high positive predictive value for cardiovascular events in the general population.

In these patients, coronary angiography is the test with greater positive predictive value

for cardiovascular events after transplant, with sensitivity and specificity of 86% and

65%, respectively. Its use is reserved for patients at high cardiovascular risk, including

patients with unstable angina, decompensated heart failure or depressed ejection

fraction (<35%), ventricular arrhythmia, valvular disease and in those patients with a

positive stress test.

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This literature review aims to describe the role of the clinical evaluation of various

cardiovascular risk factors as well as several complementary diagnostic tests in

cardiovascular assessment of patient’s pre-transplant kidney.

Key-words: cardiovascular disease; renal transplantation; cardiovascular risk factors.

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Introdução

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A doença cardiovascular (DCV) é a principal causa de morte em doentes renais em

estádio terminal (DRET) e transplantados (1). Neste último grupo, 40% dos doentes

sofre um evento cardiovascular agudo nos primeiros 10 anos após o transplante (2).

Estudos recentes mostram que doentes renais crónicos (DRC) em estádios iniciais têm

uma baixa probabilidade de progressão para DRET, nomeadamente, nos estádios 2 e 3 a

progressão para DRET é de 1.1% e 1.3%, respetivamente. Contudo estes doentes

apresentam uma taxa de mortalidade cardiovascular que ascende aos 19.5% e 24.3%

respetivamente para o estádio 2 e 3 (3,4). De facto, tanto a proteinúria como a redução

da taxa de filtração glomerular (TFG) têm sido frequentemente associadas a um

aumento da morbi-mortalidade cardiovascular (5). Go et al. demonstraram que a

diminuição da TFG estava associada a um risco aumentado de morte ou episódios

cardiovasculares incluindo hospitalizações por doença coronária (DC), insuficiência

cardíaca (IC), acidente vascular cerebral (AVC) e doença vascular periférica (6). Esta

associação é de tal modo sólida que as Clinical Practice Guidelines For Chronic Kidney

Disease: Evaluation, Classification and Stratification consideram os DRC como

doentes de alto risco cardiovascular independentemente da estratificação de acordo com

os fatores de risco tradicionais (7).

O cenário agrava-se com a progressão da doença renal sendo que 38% dos DRET

morrem devido a causas cardiovasculares (1). Este é um valor cerca de 15 a 30 vezes

superior quando comparado com a população geral no mesmo grupo etário (8). Estes

números tornam-se ainda mais preocupantes quando a população em estudo é jovem,

nomeadamente em indivíduos com idades compreendidas entre os 25 e 34 anos, em que

a mortalidade de causa CV é 500 vezes maior do que para a população geral no mesmo

grupo etário (8).

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Nos doentes que iniciam terapêutica de substituição renal dialítica, a mortalidade

cardiovascular ascende aos 42%, sendo que a taxa de hospitalização por DCV atinge 1/3

dos doentes (1,9). Apesar de a DCV ser a principal causa de morte após o transplante, o

risco CV a longo prazo é menor em doentes transplantados do que em doentes a realizar

diálise cronicamente (10). A taxa de hospitalização por DCV é de 14,5% e 8,7%,

respetivamente, no primeiro e segundo ano após a realização do transplante renal sendo

que a mortalidade por DCV nos doentes com transplante funcionante atinge os 29,7%

(1).

É de conhecimento geral que os órgãos para transplante são um bem escasso em

medicina. Assim, e perante os dados acima descritos, torna-se evidente a necessidade de

uma avaliação cardiovascular cuidada dos doentes em lista de espera para transplante

renal, com o objetivo de diminuir a morbi-mortalidade no pós-transplante otimizando

deste modo a gestão dos recursos disponíveis. Contudo, não existe atualmente consenso

sobre quais os melhores métodos para estratificar o risco cardiovascular nestes doentes

(11). Sabe-se todavia que a avaliação clínica assume particular importância neste

contexto, especialmente a avaliação dos fatores de risco para DCV (12). Na população

geral os fatores de risco cardiovasculares têm sido estudados durante várias décadas,

nomeadamente, no estudo de coorte Framingham Heart Study (FHS) a partir do qual se

elaborou um score que permite estimar o risco futuro de uma pessoa desenvolver DCV.

Na base deste score estão os seguintes fatores de risco: idade, género, tensão arterial,

colesterol total, colesterol LDL (low-density lipoprotein), diabetes e hábitos tabágicos,

atualmente denominados fatores de risco cardiovasculares tradicionais (13). Kasiske et

al realizaram um estudo em 1124 pacientes transplantados renais que consistia na

aplicação do score de Framingham nestes doentes. Apesar dos resultados evidenciarem

que em DRET a maioria dos fatores de risco englobados no FHS também têm valor

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preditivo positivo na identificação da doença cardiovascular, verificou-se uma tendência

para que alguns destes fatores se apresentassem subvalorizados entre os doentes pré-

transplante renal (14). O caso mais flagrante de subvalorização dos fatores de risco foi a

presença de DM. Entre os doentes diabéticos do FHS o risco relativo de doença

isquémica coronária (DIC) foi de 1,53 e 1,82 para homens e mulheres respetivamente,

passando para 2,78 e 5,40 nos doentes diabéticos transplantados (14).

Consequentemente o uso do score de Framingham tem demonstrado ser incapaz de

prever a elevada taxa de mortalidade e a alta incidência de eventos cardiovasculares

nesta população (15). A hipótese de existirem outros fatores de risco para doença

cardiovascular que desempenhassem um papel preponderante nos doentes renais

crónicos ou fossem mesmo específicos desta população de doentes tem ganho adeptos.

Vários candidatos a fatores de risco foram sendo propostos desde há alguns anos

nomeadamente a função do rim transplantado, o stress oxidativo, a inflamação crónica,

a disfunção endotelial, a anemia, o grau de calcificação vascular, as alterações da

coagulação, a homocisteínémia, a ativação do sistema nervoso simpático, o

hipotiroidismo sub-clínico, a doença óssea urémica, o excesso de volume e toxinas

urémicas (3). Para além disso, está documentado que o tratamento imunossupressor a

que estes indivíduos estão sujeitos pode aumentar o risco cardiovascular por afetar a

pressão arterial (PA), os níveis de colesterol e glucose (16).

Existem atualmente várias guidelines que apontam para distintos modos na avaliação

dos doentes pré-transplante renal, tanto a nível de estratificação do risco clínico do

doente como na seleção dos exames complementares de diagnóstico (ECD) mais

adequados (11). De salientar que os DRET apresentam “condições metabólicas” que os

tornam ímpares e que promovem uma acuidade anómala aos ECD em comparação com

a população geral (17). Não existe aualmente consenso sobre quais deverão ser os

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exames de primeira linha nos DRET, sendo unânime, contudo, que o “Gold Standard” é

a angiografia coronária (12). Os testes não invasivos têm vindo a ganhar o seu espaço na

avaliação destes doentes, sendo a cintigrafia de perfusão miocárdica com dipiridamol ou

adenosina (18–22) e a ecocardiografia de stress com dobutamina (12,20,23) aqueles que

mais se têm destacado. Contudo, existe ainda um grupo de exames que também pode

assumir um papel importante neste contexto, como é o caso da ressonância magnética,

da angiografia cardíaca por Tomografia Computorizada (TC) (24), dos biomarcadores

cardíacos (11,25), entre outros.

Esta revisão bibliográfica pretende descrever o papel da avaliação clínica de vários

fatores de risco cardiovasculares e de diversos exames complementares de diagnóstico

na avaliação cardiovascular dos doentes pré-transplante renal.

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Material e métodos

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Foi efetuada uma pesquisa bibliográfica, entre junho de 2012 e novembro de 2012,

recorrendo à base de dados PubMed, disponível em

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed. As palavras-chave utilizadas numa primeira fase

foram: cardiovascular risk factors, pre-kidney transplant recipient assessement, chronic

kidney disease e cardiovascular evaluation.

A seleção dos artigos baseou-se na escolha de estudos dentro do âmbito do nosso

trabalho de revisão, tendo sido excluídos aqueles que, apesar de aparecerem no

resultado da pesquisa, não abordavam o tema sob o ponto de vista pretendido. Os

critérios de inclusão foram:

Estudos realizados entre os anos de 2003 e 2012;

Língua Portuguesa ou Inglesa;

Estudos de caso-controlo, estudos transversais, estudos longitudinais, ensaios

clínicos/estudos controlados e randomizados e revisões bibliográficas.

Posteriormente a esta primeira fase surgiu a necessidade de uma pesquisa bibliográfica

mais dirigida e específica para permitir esclarecer alguns pontos particulares do

trabalho.

Em alguns casos singulares fomos obrigados a recorrer a artigos anteriores a 2003 por

estes serem artigos únicos e com um grande valor entre a comunidade científica.

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Doença cardiovascular em doentes

pré-transplante renal

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Epidemiologia

A DRC é um problema de saúde pública Mundial e a sua incidência e prevalência tem

vindo a aumentar (1).

Hallan et al., num estudo com 65,604 doentes, expuseram que embora doentes renais

crónicos em estádios 2 e 3 tenham uma baixa probabilidade de progressão para DRET

eles apresentam um risco muito elevado de morte de causa cardiovascular precoce (26).

Mesmo com uma progressão diminuta de DRC para DRET, o registo destes últimos na

Medicare aumentou de aproximadamente 10,000 doentes em 1973 para 547,982

doentes a 31 de dezembro de 2008, apesar da sua incidência apresentar apenas pequenas

variações desde o ano 2000 (1).

Evidências de associação entre a diminuição da função renal e a presença de DCV terão

sido reconhecidas, primeiramente, em doentes a realizar diálise uma vez que nestes

indivíduos a incidência de DCV é extremamente elevada (9).

A DRC é um fator de risco cardiovascular independente que aumenta o risco de

aparecimento de DC (8). De acordo com o estádio da DRC existe um risco

cardiovascular associado que, no estádio terminal, pode ser de 20 a 1000 vezes superior

em relação à população geral (Tabela 1) (27). Levin et al também demonstraram uma

relação inversa entre a diminuição da função renal e o aparecimento de HVE. Neste

estudo para uma clearance de creatinina superior a 50 mL/min a associação com HVE

foi de 26,7% enquanto que para valores de clearance de creatinina inferiores a 25

mL/min este valor ascendia aos 45,2%. Com estes resultados podemos inferir que os

doentes com disfunção renal, inclusivamente em estádios iniciais, apresentam níveis

anormalmente aumentados de HVE (27).

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Numa população com mais de 65 anos, sem DRC a prevalência de insuficiência

cardíaca congestiva (ICC) e enfarte agudo do miocárdio (EAM) é de 7,4% e 2,3%

respetivamente, enquanto nos DRC este valor atinge os 32,1% no caso da ICC e os

9,7% no caso do EAM. Para além disso, também a doença arterial periférica e a doença

cerebrovascular estão aumentadas nos DRC (1). Entre os doentes que iniciam diálise,

40% apresentam doença coronária, sendo que 85% destes exibem alterações, quer

funcionais quer estruturais, do ventrículo esquerdo (28). A presença de DC sintomática

e de IC no início da diálise são fatores preditivos de morte precoce (9).

No estudo DMMS Wave 2 evidenciou-se que em doentes que iniciam diálise a

prevalência de DCI é de 40% nos EUA e a prevalência de IC é de 36,1%. A elevada

prevalência de DCV em doentes a iniciar diálise sugere que o período pré-diálise é um

estado de elevado risco CV (9). Parte deste risco deve-se às etiologias da DRET, uma

vez que a diabetes mellitus (DM) e a hipertensão arterial (HTA) representaram, em

2009, respetivamente 43.3% e 28.4% das mesmas (1). Foley RN et al. realizaram um

estudo ecocardiográfico em que se comparou doentes diabéticos a iniciar diálise com

doentes não diabéticos e demonstraram uma maior frequência de HVE (50% vs 38%),

de DCI sintomática (32% vs 18%), de IC (48% vs 24%) nos doentes diabéticos (9).

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Tabela 1 – Risco cardiovascular de acordo com o estádio da doença renal crónica

Estádio Risco Cardiovascular (odds ratio)

1 Dependente do grau de proteinúria

2 1.5

3 2 a 4

4 4 a 10

5 10 a 50

DRT 20 a 1000

O risco relativo vai aumentando com o agravamento da função renal. As grandes

amplitudes verificadas estão associadas à idade da população uma vez que quanto mais

jovem a população em estudo maior o risco relativo apresentado. Tabela adaptada de

Schiffrin EL, Lipman ML, Mann JFE. Chronic kidney disease: effects on the

cardiovascular system. Circulation 2007 Jul 3;116(1):85–97.

No ano de 2009, entre os pacientes a realizar diálise a taxa de mortalidade por causa

cardiovascular foi de 82,6 por 1000 pacientes/ano. A mortalidade cardiovascular nestes

doentes tem vindo a diminuir 2 a 6 % em cada ano desde 2001, sendo que atingiu o seu

pico em 1999 com 121,5 mortes por 1000 pacientes/ano. Este facto parece ser a

principal causa para uma diminuição da taxa de mortalidade total dos doentes a realizar

diálise que era, em 1999, de 237,8 por 1000 pacientes/ano e decaiu para 199,5 por 1000

pacientes/anos em 2009 (1). Embora a diálise tenha sido reconhecida como um fator de

risco para DCV, a taxa de mortalidade devido a DCV tem vindo a diminuir

progressivamente. Na população em diálise, a percentagem de óbitos por doença

cardíaca baixou de 45% em 1997-1999 para 39% em 2007-2009, enquanto a

mortalidade atribuível à doença cardiovascular diminuiu de 50% para 42%. A

percentagem de óbitos por EAM também diminuiu de 8,8%-5,1% (1).

Nos doentes transplantados com rim funcionante, a taxa de mortalidade de causa

cardiovascular tem vindo progressivamente a diminuir sendo que em 1998 encontrava-

se com 8,6 por 1000 pacientes/ano passando para 5,4 por 1000 pacientes/ano em 2009

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(1). Em transplantados renais, a doença cardiovascular é a principal causa de morte com

enxerto funcionante exibindo uma percentagem de 29,7%. De destacar também que no

primeiro ano após o transplante, a taxa de hospitalização por DCV é de 14,5% passando

no segundo ano para 8,7% (1). Um transplante renal não deixa de ser um estado de

insuficiência renal crónica e por isso os doentes transplantados apresentam um risco CV

elevado. Nos transplantados a presença de HVE atinge entre 50 e 70% dos pacientes, a

incidência de EAM é 3 a 5 vezes superior à verificada para a população geral e a DCI

desenvolve-se em 20% dos doentes (9).

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Fisiopatologia

A definição de DRC internacionalmente aceite (29) consiste:

A presença de lesão renal durante ≥3 meses, definida como alteração funcional

ou estrutural do rim, com ou sem diminuição da taxa de filtração glomerular

(TFG), que pode levar a diminuição da TFG manifestando-se por:

o Anomalias patológicas

o Outros marcadores de lesão renal, incluindo alterações na composição

sanguínea e urinária ou alterações em testes imagiológicos.

ou

A presença de uma diminuição da TFG para valores <60 mL/min/1.73 m2

durante ≥3 meses, com ou sem sinais de lesão renal.

A DRC é atualmente classificada em 5 estádios, baseados na TFG e na presença de

lesão renal (Tabela 2) (7). Como referido acima, a prevalência desta entidade clínica

aumentou de 3.3% até 8.5% entre os anos de 1998 e 2009 (1).

Apesar da crescente evidência de que a diminuição da função renal está associada, de

um modo independente, à morte por eventos cardiovasculares, o mecanismo

fisiopatológico que está subjacente a esta constatação epidemiológica ainda não foi

esclarecido. Assim continua a questionar-se se este facto é produto direto de alguma

toxina urémica específica ou se é resultado de uma combinação de alterações

metabólicas, celulares e hormonais (30).

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24

Tabela 2 – Estádios de doença renal crónica.

Estádio Descrição TFG (mL/min

por 1.73 m2)

1 Lesão renal com TFG normal ou >90 >90

2 Lesão renal com ligeira diminuição da TFG 60 a 89

3 Diminuição moderada da TFG 30 a 59

4 Diminuição severa da TFG 15 a 29

5 Falência renal <15 (ou diálise)

A doença renal crónica, quando baseada na TFG, é definida pela diminuição da taxa de

filtração glomerular para valores inferiores a 60 mL/min por 1.73 m2. Tabela adaptada de

National Kidney Foundation. K/DOQI Clinical Practice Guidelines for Chronic Kidney

Disease: Evaluation, Classification and Stratification. Am J Kidney Dis. 2002;39:1–266.

Nestes doentes as duas principais formas de apresentação clínica da doença

cardiovascular são a doença vascular, com envolvimento coronário, e a doença

miocárdica, especialmente a hipertrofia ventricular esquerda (HVE) (31).

A. Doença Vascular

Nos DRET a doença vascular manifesta-se por dois subtipos principais, aterosclerose e

calcificação vascular, que podem promover a remodelação vascular de grandes vasos

(32).

A calcificação vascular e valvular encontra-se associada à aterosclerose e à

arteriosclerose em DRET. A calcificação da camada íntima arterial e da área da placa é

característica da doença aterosclerótica e está associada a estenose luminal e isquémia

distal. Por outro lado, a calcificação da camada média arterial, também conhecida como

calcinose de Monckeberg, tem sido atribuída a uma hiperfosfatémia descontrolada e ao

aumento do produto fosfo-cálcico que provocam uma perda da compliance vascular por

endurecimento das artérias promovendo um aumento da velocidade e pressão do pulso e

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25

hipertensão sistémica (32). Em comparação com doentes não urémicos que apresentam

apenas calcificação da íntima os doentes renais apresentam ambos os tipos de

calcificação em que a calcificação da íntima é normalmente mais extensa e grave (33).

A calcinose da média promove uma maior incidência de HVE pela diminuição da

distensibilidade arterial e aumento do refluxo arterial levando consequentemente à

necessidade de um maior trabalho cardíaco. Para além disso, a arteriosclerose também

aumenta o risco de isquémia cardíaca pela diminuição da perfusão coronária

subendocárdica (32).

B. Hipertrofia Ventricular Esquerda

A HVE é outra das principais complicações em DRET. Foley et al. demonstraram que

74% dos doentes que iniciam diálise apresentam HVE (28). A HVE nestes doentes pode

ser concêntrica ou excêntrica sendo que não existe diferenças significativas na

prevalência destas (31). Existem numerosos e bem conhecidos fatores de risco

responsáveis pela HVE em DRET. Embora a patogénese da HVE em DRC seja

considerada multifatorial, a hipertensão, as alterações hidroeletrolíticas e a anemia são

identificadas como os fatores mais determinantes para o desenvolvimento de HVE em

DRC e DRET (34). Enquanto o aumento do volume extracelular é, normalmente, a

principal causa de HVE excêntrica, a hipertensão arterial e o aumento da pós-carga

assumem maior protagonismo como causas de HVE concêntrica. Nesta última, a

anemia, o hiperparatiroidismo e concentrações plasmáticas elevadas de angiotensina II

exacerbam frequentemente a sintomatologia (31). Entre os fatores de risco

hemodinâmicos, um aumento do endurecimento arterial tem sido frequentemente

associado com HVE, bem como a um aumento da mortalidade CV (34). A HVE surge

inicialmente como um fenómeno adaptativo para responder ao aumento de pressão e de

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26

volume, mas posteriormente revela-se um mecanismo maladaptativo conduzindo à

disfunção ventricular diastólica (35).

Os fatores de risco cardiovasculares apresentam-se como sendo preponderantes numa

avaliação clínica inicial e por isso serão abordados pormenorizadamente em seguida.

1. DM

A nefropatia diabética é a principal causa de doença renal terminal atingindo cerca de

40% dos DRET (1). O aparecimento de DM “de novo” num período de 3 anos após o

transplante é de 25% (36). Na tentativa de justificar esta incidência elevada de DM “de

novo” as duas causas apontadas foram o ganho ponderal e o uso de fármacos

imunossupressores, sendo que ambos aumentam a intolerância à glucose (36).

Hjelmesaeth et al estudaram 201 pacientes por um período de 3 meses após o

transplante. Neste estudo verificou-se que aqueles que apresentavam diabetes pré-

transplante ostentavam uma mortalidade 5 vezes superior em comparação com

indivíduos sem diabetes. Nos casos em que os pacientes desenvolveram diabetes “de

novo” identificou-se um risco 3 vezes superior de eventos cardíacos relevantes (37).

2. Dislipidemia

Os pacientes com insuficiência renal são mais suscetíveis de desenvolver uma

dislipidémia secundária com alterações quer a nível quantitativo quer qualitativo das

lipoproteínas séricas. As principais alterações lipídicas nestes doentes são: 1) níveis

elevados de partículas ricas em triglicerídeos, como o VLDL (very low-density

lipoprotein) e o IDL (intermediate-density lipoprotein); 2) níveis reduzidos de

colesterol HDL (high density lipoprotein); 3) aumento da prevalência das LDL

pequenas e densas; 4) níveis aumentados de lipoproteína (a) (38). Apesar da

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27

controvérsia, um número crescente de estudos tem vindo a provar que a dislipidémia é

um fator de risco independente para o desenvolvimento de doença aterosclerótica em

DRC (38). Enquanto Booth et al demonstraram uma associação entre os níveis elevados

de colesterol pré-transplante e a mortalidade total (39), Kasiske et al não encontraram

qualquer associação entre o colesterol total, HDL ou LDL e a mortalidade global em

doentes transplantados (14).

3. Pressão arterial

A pressão arterial é um importante fator de risco cardiovascular na população geral e

esta relação parece manter-se também em doentes transplantados renais. A pressão

arterial média tem sido associada a um aumento do risco cardiovascular em doentes

transplantados, sendo que para um aumento de 10 mm Hg o risco aumenta 25% (36).

Contudo, tal como acontece no caso da dislipidémia, Kasiske et al não encontraram

evidências que o risco apresentado pelos doentes pré-transplante esteja

significativamente mais elevado em relação à população geral (14).

4. Idade e Tabagismo

O risco atribuível à idade e consumo tabágico em doentes transplantados está

aumentado em comparação com a população geral.

Assim, Kasiske et al afirmam que doentes transplantados jovens, não diabéticos e não

fumadores apresentam um risco semelhante à população em geral (14).

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28

Nos DRET a alta prevalência de fatores de risco tradicionais contribui indubitavelmente

para uma aterosclerose acelerada e consequentemente uma taxa mais elevada de eventos

CV. Apesar de alguns dos fatores de risco tradicionais mencionados acima apresentarem

um risco acrescido em relação à população geral esta situação por si só não justifica o

incremento de mortalidade cardiovascular nos DRET. Estes doentes apresentam

algumas condições especiais que favorecem uma maior incidência de eventos CV. Nos

doentes urémicos, a morbi-mortalidade cardiovascular estão substancialmente

aumentadas em relação à população geral. Este facto levou à formulação da hipótese de

existir uma aterosclerose acelerada nestes doentes, tendo as várias alterações

metabólicas relacionadas com a urémia sido estudadas neste contexto (Tabela 3) (40).

5. Inflamação, disfunção endotelial e stress oxidativo

A doença aterosclerótica é atualmente considerada uma condição inflamatória (41).

Segundo a teoria de Ross, a disfunção endotelial é o mecanismo indutor da

aterosclerose. A agressão endotelial pode apresentar várias causas, nomeadamente,

causas metabólicas, físicas e infeciosas. Como manifestação desta disfunção, o

endotélio sintetiza e liberta moléculas adesivas e vasoativas, citocinas e fatores de

crescimento. Os macrófagos aderem posteriormente ao endotélio disfuncional,

migrando para o interior da parede arterial tornando-se assim o elemento chave na

formação e evolução da placa aterosclerótica (41).

A disfunção endotelial, afetando artérias de médio e pequeno calibre, está presente na

IRC. Estudos mostram que a disfunção endotelial microvascular a nível do rim leva a

uma progressão para doença renal crónica que irá agravar ainda mais a disfunção

endotelial e contribuir para a aceleração do processo de aterosclerose (27). O estudo de

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29

Hoorn et al mostrou que a disfunção endotelial contribui para uma maior mortalidade

cardiovascular mesmo em indivíduos com uma IR ligeira (42).

Fato

res

de

ris

co t

rad

icio

nai

s Idade

Sexo masculino

Diabetes

Hipertensão

Obesidade

Inactividade física

História familiar de DCV

Hábitos tabágicos

Elevação do colesterol LDL

Redução do colesterol HDL

Alterações da coagulabilidade

Menopausa

Stress psicossocial

Predisposição genética

Hipertrofia ventricular esquerda

Fato

res

de

ris

co r

elac

ion

ado

s co

m

a u

rem

ia

Excesso de volume

Anemia crónica

Albuminúria

Hiperhomocisteinémia

Hiperfosfatémia

Hipercalcémia

Aumento do produto cálcio x fosfato

Níveis elevados de paratohormona

Terapia com vitamina D

Calcificação cardiovascular e espessamento arterial

Inflamação crónica

Elevação da PCR

Stress Oxidativo

Malnutrição

Alteração do balanço oxido-nitrico – endotelina

Tempo de Diálise

Tabela 3 - Fatores de risco cardiovascular em doentes urémicos

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30

A IR causa mudanças nos componentes do plasma e na função e estrutura do endotélio

que funcionam a favor da lesão vascular desencadeando uma resposta inflamatória. Na

IRC, a diminuição da biodisponibilidade do óxido nítrico (ON) parece ser um dos

fatores envolvidos na promoção da disfunção endotelial, em larga medida, por um

aumento do stress oxidativo na parede vascular. O ON tem um valor protetor do sistema

cardiovascular porque inibe a proliferação das células da musculatura vascular, a

agregação plaquetar e a adesão de monócitos ao endotélio. A sintetase do óxido nítrico

(SON) pode ser inibida pela dimetil-arginina assimétrica (ADMA), um inibidor

competitivo da NOS, que é segregada em parte pelo rim (3). Em DRET, níveis

plasmáticos elevados de ADMA parecem estar associados a um aumento da mortalidade

de 52% e um risco de eventos cardiovasculares 34% mais elevado (43). A sua

concentração está aumentada em situações de disfunção endotelial e/ou redução da

produção de ON, particularmente na IR. Um aumento da ADMA condiciona um

aumento da resistência renovascular e induz hiperplasia da íntima que afeta pequenos e

grandes vasos sendo considerada um forte marcador de aterosclerose (27). Ravani et al

verificaram que em pacientes com DRC ligeira a grave, a ADMA apresenta uma relação

inversa com a TFG e é também um marcador de risco independente de progressão para

DRET e mortalidade (44).

Níveis elevados de marcadores inflamatórios têm sido identificados nos DRET, sendo

de destacar que 30 a 50% dos DRC têm uma elevação sérica dos níveis dos marcadores

inflamatórios como: proteína C-reativa (PCR), fibrinogénio, interleucina-6 (IL-6), fator

de necrose tumoral α (TNF-α), fator VIIc, fator VIIc, complexo plasmina-antiplasmina,

D-dímeros e moléculas de adesão (E-selectina, VCAM-1 e ICAM-1).(27,38)

Em doentes a realizar diálise, a PCR apresenta um forte valor preditivo de morte e

complicações cardiovasculares. De destacar que cerca de 30-50% dos DRET têm

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31

evidências de uma resposta inflamatória ativa com elevação dos níveis de PCR, acima

de 8-10 mg/L (45,46). O estado urémico está claramente associado a uma resposta

imunitária modificada. Neste estado um conjunto vasto de fatores é capaz de induzir a

libertação de citocinas pro-inflamatórias pelos monócitos/macrófagos originando assim

um estado inflamatório com uma resposta de fase aguda mantida (38).

As causas para o aumento de mediadores inflamatórios nestes doentes têm sido

atribuídas à redução da clearance de citocinas pró-inflamatórias, ao estado urémico, ao

stress oxidativo e à presença de outras co-morbilidades como: insuficiência cardíaca,

diabetes e doenças inflamatórias. Nos doentes que realizam hemodiálise, a exposição

repetida a membranas de diálise bioincompatíveis, a possível má qualidade

bacteriológica do fluido de diálise e a presença de corpos estranhos, como os cateteres,

em conjunto com infeções, contribuem para um permanente estado inflamatório, que

permite justificar a elevada taxa de mortalidade de causa CV nesta população específica

(35). Por esta razão, a duração da terapêutica de substituição dialítica é também

considerado um fator de risco importante a ter em conta (47). Os efeitos adversos da

terapêutica dialítica nos resultados pós-transplante são duração-dependentes. Um estudo

retrospetivo avaliou a sobrevivência dos transplantados renais aos 10 anos pós-cirurgia

tendo em conta a origem do órgão (dador vivo ou morto) e o tempo de diálise a que

foram sujeitos. No caso dos transplantes de dadores mortos a sobrevivência era de 69%

para aqueles que não realizaram diálise (ou períodos muito reduzidos) e de 39% para

aqueles que realizaram mais de 2 anos de diálise. No caso de dadores vivos a

sobrevivência para os que não realizaram diálise foi de 75% e nos que realizaram diálise

num período de tempo superior a 2 anos foi de 49% (47).

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32

Os baixos níveis de albumina, pré-albumina e transferrina evidenciados num número

elevado de DRC permitem deduzir que frequentemente estes doentes apresentam um

estado de malnutrição, que pode também desencadear a ativação de processos

inflamatórios (48). Para além desta situação, doenças como a DM e HTA que se

apresentam com carácter inflamatório crónico estão presentes frequentemente em DRC.

Os mecanismos de stress oxidativo em situações de urémia podem envolver a ativação

da oxidase da nicotinamida adenina dinucleotido reduzida (NAD(P)H), da xantina

oxidase, da sintetase de ON endotelial desacoplada, da mieloperoxidase (MLO) e das

oxidases mitocondriais (27). A NAD(P)H oxidase é provavelmente a principal fonte de

stress oxidativo a nível vascular sendo ativada principalmente pela angiotensina II mas

também por outros fatores. O aumento da produção de espécies reativas de oxigénio

(ROS) pela NOS endotelial desacoplada bem como a reduzida inativação de ROS pelos

sistemas anti-oxidantes, como a superóxido dismutase, também têm um papel

importante (27). A mieloperoxidase (MPO) está presente em neutrófilos e

monócitos/macrófagos, e tem sido encontrada em grau significativo em ateromas

humanos (49). A MPO ativa é libertada pela linha branca durante a hemodiálise e este

pode ser o mecanismo pelo qual a MPO tem um papel importante na lesão vascular em

indivíduos com DRET (27).

A figura 1 resume o modo como os fatores de risco promovem uma aterosclerose mais

acelerada nestes doentes.

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33

6. Calcificação vascular

Em DRC, com frequência, ocorre uma acelerada calcificação das placas ateroscleróticas

e doença valvular cardíaca. Em resultado da disfunção renal, a hiperfosfatémia mobiliza

o cálcio ósseo através da ação da paratohormona. Esta estimulação crónica das

paratiroides resulta num aumento destas levando a um estado de funcionamento

independente dos níveis de cálcio sanguíneos. Esta situação é agravada quando se

verifica também um défice nutricional de vitamina D (35). Um estudo recente

FR dependentes da Diálise

Bio-incompatibilidade Endotoxinas

Excesso de volume Infeções

Efeitos relacionados com a urémia

Oxidação do colesterol LDL

Radicais livres Hiperhomocisteinémia

Toxinas urémicas Anemia

Ativação do sistema RAA Alteração do PxCa

FR tradicionais HTA DM

Dislipidémia Hábitos tabágicos

Disfunção endotelial Libertação de citocinas pró-

inflamatórias Estimulação dos reagentes

de fase aguda

Resposta inflamatória sistémica

Aterosclerose acelerada

Figura 1 - Processo de aterosclerose acelerada nos doentes renais em estádio terminal.

Este esquema resume as relações existentes entre os fatores de risco tradicionais, os efeitos

provocados pela urémia e os fatores de risco dependentes da diálise. Estes três grupos distintos

promovem a disfunção endotelial e a libertação de citocinas pró-inflamatórias que asseguram

uma resposta inflamatória sistémica aumentada e consequentemente um meio favorável a

uma aterosclerose acelerada. Adaptado de Nusair MB, Rajpurohit N, Alpert MA: Chronic

Inflammation and Coronary Atherosclerosis in Patients with End-Stage Renal

Disease. Cardiorenal Med 2012;2:117-124.

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demonstrou que 40% dos DRC apresentavam calcificações coronárias em contraste com

os 13% exibidos pela população sem disfunção renal.(50) As calcificações podem ser

encontradas nas placas ateroscleróticas, na camada média arterial, células de músculo

liso e em válvulas cardíacas (27).

Os mecanismos envolvidos na calcificação vascular em DRC incluem a precipitação

passiva do cálcio e fosfato na presença de concentrações extracelulares excessivamente

elevadas, efeitos dos indutores de transformação osteogénica e formação de

hidroxiapatite e deficiência dos inibidores da calcificação (27,51).

A calcificação da artéria aorta associada a perda de elasticidade favorece o

aparecimento de HVE aumentando o risco CV nestes doentes (52). Um aumento do

fosfato sérico também está normalmente associado a um aumento do risco

cardiovascular por agravamento da calcificação vascular (53). A precipitação conjunta

do produto fosfo-cálcico aumentado pode promover a calcificação dos tecidos moles.

Níveis elevados de fosfato induzem uma diferenciação osteogénica das células de

músculo liso através da ativação de transportadores de sódio dependentes do fosfato que

posteriormente ativam a via Runx2/Cbfa1 (54).

Existe um tipo específico de calcificação vascular em doentes a realizar diálise

denominada calcifilaxia ou arteriopatia urémica calcificada que é caracterizada por

trombose e uma calcificação difusa da camada média das pequenas e médias artérias

que pode complicar com lesões ulceradas da pele. A calcifilaxia é o resultado de um

produto cálcio-fosfato elevado sem a presença de um processo osteogénico ativo (54).

Este é um processo raro, que afeta até 4% dos doentes a realizar hemodiálise,

tipicamente mulheres obesas e diabéticas. Está frequentemente associada a

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35

hiperparatiroidismo secundário, hipercalcémia, hiperfosfatémia, malnutrição e por vezes

em doentes a realizar terapêutica com varfarina ou hipercoagulabilidade (27).

Entre os inibidores de calcificação destacam-se a fetuin-A e a proteína matriz Gla

(PMG) (27). Níveis reduzidos da primeira têm sido associados a uma aumento da

calcificação vascular e um aumento da mortalidade cardiovascular (55). A PMG é

também um inibidor da calcificação e por isso quando se encontra em níveis elevados

parece proteger contra a calcificação coronária (27).

Osteoprotegerina regula a ativação dos osteoclastos. Os DRET apresentam níveis

elevados de osteoprotegerina, correlacionando-se com a calcificação vascular e

permitindo predizer a mortalidade em doentes a realizar hemodiálise, em particular

naqueles que apresentam níveis de PCR elevados (56).

A presença de níveis elevados de pirofosfato previne a formação de cristais de

hidroxiapatites e a calcificação. Em pacientes a realizar diálise ocorre frequentemente

uma diminuição do pirofosfato devido à sua remoção durante a diálise o que pode ser

mais um dos mecanismos que contribui para uma calcificação vascular acelerada em

doentes a realizar hemodiálise (57).

Algumas proteínas morfogénicas ósseas (PMO), nomeadamente PMO-2 e PMO-4, têm

efeitos importantes na calcificação vascular. De destacar a capacidade de indução da

diferenciação osteogénica das células de músculo liso vascular, a indução da apoptose,

inibição dos efeitos da MGP, aumento do stress oxidativo e agravamento da função

endotelial. O PMO-7, ao contrário das duas anteriores, protege contra a calcificação

vascular. A sua expressão a nível renal diminui com a progressão da doença renal o que

reduz a capacidade de inibição da calcificação. Níveis reduzidos deste promovem um

aumento do fosfato sérico, que adversamente afeta o produto fosfo-cálcico e induz

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36

alterações nas células vasculares de músculo liso com “metastização” da calcificação

(27).

A leptina, em resultado da sua menor eliminação renal, exibe níveis elevados que

induzem uma calcificação heterotópica devido à sua atuação nos recetores

hipotalâmicos provocando um aumento da atividade simpática que consequentemente

estimula os recetores B-adrenérgicos dos osteoblastos (58).

7. Homocisteinémia

A homocisteína é outro fator de risco que tem sido bastante estudado existindo vários

mecanismos plausíveis para que este aminoácido induza disfunção endotelial e doença

vascular. A hiperhomocisteinemia está associada a uma maior incidência de eventos

cardiovasculares em DRET e DRC (59). Apesar de a hiperhomocisteinemia ser

observada em 60-70% dos DRC e mais de 90% em DRET alguns estudos apontam para

que este não seja um fator de risco tão importante como a inflamação, stress oxidativo e

calcificação vascular (3). Contudo, o estudo de Heinz et al mostrou que um aumento de

5 mol/L do nível de homocisteína pode levar a um aumento da taxa de mortalidade em

doentes que não tomem ácido fólico (OR, 1.07) e também pode aumentar o risco de

DCV em DRET (OR, 1.09) (60). Shishehbor et al demonstraram que DRC com níveis

de homocisteína <10 µmol/L têm uma mortalidade semelhante aos que não têm doença

renal (61).

8. Anemia

A prevalência de anemia normocrómica e normocítica aumenta com a diminuição da

TFG. A anemia surge quando a clearance de creatinina é igual ou inferior a 30-40

mL/min sendo agravada com a progressão da doença (35). A patogénese desta

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37

enfermidade é multifactorial. Contudo, o défice em eritropoietina é apontado como o

fator mais preponderante. Para além deste, a deficiência de ferro e o processo de

hemodiálise parecem desempenhar também um papel importante (62).

A anemia é geralmente bem tolerada porque o organismo apresenta vários mecanismos

de compensação capazes de manter a oxigenação dos tecidos. Todavia, se esta não for

compensada pode apresentar consequências severas para vários órgãos e sistemas (35).

A anemia tem um impacto negativo não apenas na qualidade de vida mas também na

sobrevivência. Entre as várias alterações fisiológicas associadas com a anemia em

DRET as mais importantes são: o aumento do débito cardíaco, a cardiomegália, a HVE

e a insuficiência cardíaca congestiva (35). A presença de anemia é um dos principais

fatores promotores da HVE, sendo que estudos mostram uma regressão parcial da HVE

após a correção da anemia, sendo que esta é mais evidente quanto mais grave for a

anemia (63). De acordo com os dados do Study of Left Ventricular Dysfunction um

hematócrito reduzido e uma diminuição da TFG têm um efeito sinérgico na taxa de

mortalidade (35).

Pacientes com uma anemia severa (hematócrito (Hto) < 27%) têm uma mortalidade

total aumentada em mais de 60% em relação aos doentes com anemia moderada (Hto

entre 31% e 33%) (45).

Apesar das evidências que demonstram a estreita relação entre o risco cardiovascular e

os níveis reduzidos do Hto, estudos recentes mostram que uma correção deste para

níveis normais (42%) está associada a uma elevada mortalidade. Assim o alvo

recomendado nesta situação passa por uma manutenção do Hto de 33% a 36% (45).

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9. Sistema Renina-Angiotensina-Aldosterona

Na DRC a ativação do sistema renina-angiotensina ocorre de vários modos. A

angiotensina II estimula a NAD(P)H oxidase que provoca a formação de anião

superóxido contribuindo para a disfunção endotelial e remodelação e crescimento

vascular (27). Quando a angiotensina II atua através do recetor AT1 estimula a

formação de ROS, através da NAD(P)H oxidase e outros sistemas enzimáticos, que

promovem uma elevação dos mediadores inflamatórios (incluindo citocinas,

quemoquinas, moléculas adesivas e o inibidor do ativador do plasminogénio 1). Em

conjunto, todos estes mecanismos de ação da angiotensina II promovem a disfunção

endotelial, remodelação vascular e progressão para aterosclerose.(27)

10. Outros

O papel das adipocinas, adiponectina e visfatina ainda não está bem definido porque

apesar de se esperar que em indivíduos obesos a libertação de adipocinas pro-

aterogénicas agravasse o prognóstico, o que se evidenciou, em alguns estudos, foi

precisamente o contrário (3).

Outros factores que têm merecido a atenção como indicadores de prognóstico em DRC

são os marcadores cardíacos volume-dependentes. Em doentes a realizar diálise tanto os

níveis de terminal N do pró-peptídeo natriurético cerebral como a troponina T têm valor

preditivo positivo em relação aos eventos CV (3).

A hiperatividade simpática apresenta um papel importante na DRC associada a

hipertensão. A isquémia renal, níveis elevados de angiotensina II e supressão do óxido

nítrico cerebral contribuem para a estimulação da atividade simpática. Uma

hiperatividade simpática mantida leva ao desenvolvimento de HVE por mecanismos

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relacionados com o aumento da pressão arterial. De destacar que o SNS para além das

funções no sistema cardiovascular apresenta também um papel importante nos

mecanismos de controlo da resposta imune e inflamatória (35,45).

Uma boa estratificação clínica permite obter uma boa noção do risco apresentado pelos

doentes pré-transplante. De Lima et al mostrou que a estratificação pelos fatores de

risco apresentava uma sensibilidade, especificidade, valor preditivo positivo (VPP) e

valor preditivo negativo (VPN) de 61%, 66%, 59%, 69%, respetivamente, para predizer

a presença de doença coronária nestes doentes. Para além disso a capacidade de predizer

o aparecimento de eventos cardiovasculares pré-transplante também foi avaliada sendo

que esta estratégia apresentou uma sensibilidade, especificidade, VPP e VPN de 76%,

56%, 23% e 93%, respetivamente. Este estudo também demonstrou que uma boa

avaliação dos fatores de risco cardiovasculares tem um valor preditivo semelhante à

ESD e CPM (12).

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40

Guidelines

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41

Existe um conjunto de orientações que pretendem otimizar a avaliação do risco

cardiovascular em candidatos a transplante renal. O consenso científico realizado pela

American Heart Association (AHA) e pelo American College of Cardiology (ACC) em

2012 (11), as guidelines pré-operatórias de cirurgia não cardíaca de 2007 das

ACC/AHA (64), o consenso adquirido na conferência de Lisboa (65), as guidelines de

2005 da NKF/KDOQI (66) e as guidelines da American Society of Transplantation de

2001 (67) são as orientações com maior destaque na atualidade.

Consenso 2012 AHA

Estas orientações referem que a utilização de testes de stress não invasivos deve ser

equacionada em candidatos a transplante renal sem doença cardíaca, com base apenas

na presença de múltiplos fatores de risco para DC independentemente do estado

funcional do doente. Os fatores de risco considerados relevantes entre os candidatos a

transplante incluem: DM, doença cardiovascular prévia, >1 ano de diálise, HVE, idade

>60 anos, hábitos tabágicos, hipertensão e dislipidémia. O número específico de fatores

de risco a ser considerado ainda não está determinado mas pensa-se que 3 ou mais seja

um número razoável. Estas orientações referem ainda que apenas os doentes com

doença cardíaca estabelecida devem realizar uma avaliação inicial com o recurso a

angiografia coronária (11).

ACC/AHA 2007

As guidelines da ACC/AHA 2007 definem 4 patologias cardíacas que indicam risco

clínico major: síndromes coronárias instáveis, IC descompensada, arritmia significativa

e doença cardíaca valvular severa. A presença destas é indicação para a realização de

angiografia coronária. Na ausência destas, as guidelines supracitadas propõem uma

estratificação do risco tendo em conta a capacidade funcional dos doentes. Se o doente

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se apresenta com um estado funcional ≥ 4 METS (METS é a capacidade para subir um

lanço de escadas) e não apresenta patologia cardíaca conhecida este é classificado como

de baixo risco e não tem indicação para a realização de exames. Os pacientes

assintomáticos devem ser estratificados de acordo com a presença ou ausência de

marcadores de risco como: DCI, IC prévia, DM, IR e doença cerebrovascular. Em

doentes com baixo estado funcional (<4 METS) a presença de um destes fatores

aumenta a probabilidade de DC. Para evitar testar todos os doentes com baixo estado

funcional, a ACC/AHA recomenda a avaliação por testes de stress apenas naqueles com

um certo número de fatores de risco de acordo com o risco específico da cirurgia. Os

testes não invasivos devem ser realizados se 3 ou mais fatores de risco estiverem

presentes e podem ser considerados se existirem 1-2 fatores (64). A avaliação pré-

transplante tendo em conta apenas o estado funcional tem algumas limitações. Num

estudo com 204 candidatos a transplante renal sem doença cardíaca grave, 80% dos

indivíduos apresentaram ≥4METS não sendo, por isso, um fator discriminatório para

DC (68).

Conferência de Lisboa 2007

Estas orientações apontam para que testes não invasivos ou invasivos devam ser

considerados em doentes de alto risco com as seguintes condições: DM; Antecedentes

de DCV; >1 ano de diálise, HVE, idade >60 anos, hábitos tabágicos, hipertensão e

dislipidémia.(65) A utilização destas orientações parece apresentar uma maior

sensibilidade e especificidade em relação à proposta pela ACC/AHA (sensibilidade 94%

vs 77% e especificidade 33% vs 24%) (68).

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NKF/KDOQI 2005

Estas guidelines indicam que testes de stress não invasivos estão recomendados em:

todos os doentes com diabetes, todos os doentes com DC prévia, e em doentes não

diabéticos de alto risco (≥ 2 fatores de risco tradicionais; história de DCV; fração de

ejeção ventricular esquerda ≤ 40%).(66) Contudo, estudos atuais demonstram que não

se justifica a realização de um teste não invasivo a todos os doentes diabéticos.

Guidelines American Society of Transplantation 2001

A realização de um teste de stress não invasivo está indicado em pacientes de “alto

risco” definidos como: doentes com nefropatia diabética, doentes com antecedentes de

DIC ou doentes com ≥2 fatores de risco tradicionais. Estas guidelines alertam também

para a possibilidade de realizar uma angiografia coronária, com intuito de

revascularização pré-transplante, em doentes com teste de stress anormal (67).

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Testes de avaliação cardiovascular

pré-transplante

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O principal objetivo da avaliação pré-operatória é apurar a existência de doença

cardíaca. Esta avaliação deverá ser realizada numa fase inicial e novamente

imediatamente antes da transplantação para nos certificarmos que não houve alteração

da situação do doente.

Consideram-se doenças cardíacas graves ou instáveis as síndromes coronárias, a IC

descompensada, as arritmias significativas e a doença valvular severa. A presença de

pelo menos uma das patologias enunciadas está associada a elevadas taxas de morbi-

mortalidade cardiovascular e pode mesmo levar à prorrogação da cirurgia. A presença

de doenças cardíacas crónicas também tem indicação para uma investigação pré-

transplante, nomeadamente, a angina crónica limitativa, o EAM com <30 dias mas sem

sintomas de angina instável, a história de intervenção coronária percutânea (PCI) e/ou

bypass de artéria coronária (CABG), a IC, a doença valvular moderada ou cirurgia

valvular anterior e as arritmias.

Durante as décadas de 1970 a 1990 foram realizados estudos angiográficos que

identificaram uma alta proporção de doença coronária estenosante em doentes a realizar

diálise por longos períodos (11). Em estudos mais recentes, foi identificada DC

significativa em 53% duma amostra de 30 DRET, sem doença cardíaca prévia

conhecida. Neste estudo demonstrou-se também que 83% dos doentes com DM

apresentavam lesões coronárias obstruindo >50% das coronárias (69). Novos trabalhos

apontam que os doentes propostos para transplante renal apresentam taxas de doença

coronária entre os 42% e os 90%, sendo a prevalência mais alta em grupos classificados

como de “alto risco” pela utilização de critérios clínicos e critérios angiográficos de DC

mais abrangentes (12,70,71).

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A transplantação renal é normalmente considerada uma cirurgia de risco intermédio,

contudo, poucos estudos avaliam a utilidade dos marcadores clínicos de risco para

eventos cardíacos adversos major (MACE) no pós-operatório imediato e nos 30 dias

após a cirurgia. Num estudo retrospetivo com 2187 transplantados, Aalten et al.

identificaram associações independentes entre a idade, a nefropatia diabética, a

claudicação e os eventos cardíacos anteriores e o risco aumentado de eventos cardíacos

nos 3 primeiros meses após o transplante renal (72).

Em candidatos a transplante renal o FHS apresenta uma fraca/moderada capacidade

para predizer o acontecimento de eventos coronários a longo prazo. Num estudo que

englobou transplantados renais com transplantes funcionais ao fim de 1 ano, o score de

FHS apenas previu 59% dos eventos coronários (73). Um estudo prospetivo com 540

transplantados seguidos, em média, 4,7 anos permitiu encontrar que o rácio entre os

casos observados e os esperados segundo o score de FHS foi de 1.64 (15).

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Ecocardiografia

A NFK/KDOKI recomenda a realização de um ecocardiograma em repouso a todos os

doentes que iniciem diálise logo que estes se apresentem com o “peso seco” (idealmente

1 a 3 meses após o inicio de diálise) (66). Vários estudos têm demonstrado o valor

preditivo dos achados ecocardiográficos para eventos adversos em doentes a realizar

diálise, sendo que a realização do ecocardiograma apresenta-se com um grau de

recomendação forte (28,74). Nos dialisados, estudos demonstram a alta prevalência de

doenças estruturais cardíacas como HVE, valvulopatias e calcificação valvular que

estão associadas a IC como causa de morte (74). A realização da ecocardiografia é

recomendada uma vez que esta permite averiguar com elevado grau de certeza a

existência destas patologias.

Yamada et al. recorreram à realização de ecocardiografia para examinarem 1,254

doentes no primeiro mês de tratamento hemodialítico tendo identificado uma fração de

ejeção ventricular esquerda (FEVE)≤50% em 13,2% da população em estudo. A

diminuição da FEVE associa-se a um aumento da mortalidade de causa cardiovascular

chegando a atingir 9 vezes mais doentes (odds ratio 9.42) entre aqueles que se

apresentam com FEVE ≤30 em comparação com aqueles que têm FEVE≥60 (75).

Zoccali et al realizaram um estudo em 250 indivíduos a realizar hemodiálise e

verificaram que uma diminuição de 1% da FEVE se associava a um risco relativo de

1.04 para eventos cardiovasculares fatais ou não (76).

Num estudo com 485 pacientes com doença renal avançada foram incluídos como

preditores de mortalidade a FEVE em repouso e a presença de isquémia no

ecocardiograma de stress. A sobrevivência ao fim de 3 anos para doentes com um

ecocardiograma de stress normal foi superior a 70%, enquanto que para doentes com

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lesões fixas ou isquémicas em menos de 25% dos segmentos do ventrículo esquerdo foi

de 57%. Em doentes com lesões atingindo mais de 25% dos segmentos do ventrículo

esquerdo a sobrevivência ainda foi menor, situando-se nos 48% (77).

A evidência de que a FEVE tem valor preditivo na sobrevivência dos doentes a longo

prazo apoia a necessidade de tentar identificar causas de diminuição da FEVE

reversíveis, e se possível tratá-las antes do transplante.

A presença de HVE é um achado ecocardiográfico frequente em doentes a realizar

terapia de substituição renal atingindo 70% a 80% desta população.

A prevalência de insuficiência cardíaca na população geral encontra-se entre 1% e 5%

enquanto nos doentes a realizar diálise este número ascende aos 30% (74).

A introdução do ecocardiograma 3D permitiu uma determinação mais precisa da massa,

volumes e FEVE. Este método específico, na população geral, apresenta uma acuidade

superior ao modo M e bidimensional perdendo apenas para a ressonância magnética

cardíaca (78).

Doença valvular

As orientações para avaliação da doença valvular em candidatos a transplante renal é

idêntica à da população geral e encontra-se descrita em detalhe no 2008 Focused

Update Incorporated into the ACC/AHA 2006 Guidelines for the Management of

Patients With Valvular Heart Disease, contudo existem algumas especificidades às

quais é preciso estar atento nestes doentes.

A calcificação valvular, como vimos anteriormente, está aumentada nos DRET e por

isso estes são considerados um grupo de risco para uma estenose aórtica de progressão

rápida. A ecocardiografia permitiu identificar calcificação valvular em 50% dos doentes

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a realizar diálise contrastando com 5% a 10% detetados nos doentes com função renal

normal. Para além disso, nos doentes a realizar terapêutica de substituição renal a

prevalência de calcificações na aorta chega a atingir os 55% e a calcificação valvular

pode alcançar os 37.1% (74).

O ecocardiograma deve ser realizado em DRET com estenose aórtica pelo menos uma

vez por ano. No caso da estenose mitral a ecocardiografia deve ser realizada

imediatamente após a diálise, e com condições hemodinâmicas ótimas (frequência

cardíaca e pressão arterial), uma vez que, frequentemente a regurgitação mitral presente

é “funcional” (devido ao excesso de volume) e melhora após o transplante (11).

Hipertensão Pulmonar

A importância da hipertensão pulmonar (HTP) em doentes em lista de espera para

transplante renal ainda não é bem conhecida, no entanto, estudos sugerem que a

presença de HTP está associada a eventos adversos após o transplante.

Num estudo que englobou 215 candidatos a transplante verificou-se que a pressão

sistólica arterial pulmonar (PSAP) ≥50 mmHg está associada a um risco aumentado de

morte pós-transplante (OR, 3.75) sendo que a duração do tratamento de substituição

renal realizado pelo doente foi o fator de risco que melhor se relacionou com o aumento

da PSAP (79).

Apesar de serem necessários mais dados para confirmar estes achados é recomendada a

realização de um ecocardiograma em doentes a iniciar a diálise (nos 3 primeiros meses)

e no momento da realização do transplante (11).

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Ecocardiograma de stress induzido por dobutamina (ESD)

O ESD apresenta-se como um meio de diagnóstico importante na deteção e prognóstico

de doença cardíaca isquémica.

De Lima et al realizaram um estudo em candidatos a transplante renal sujeitando-os a

uma angiografia coronária, estratificação clínica e dois testes não invasivos, ESD e

CPM com tecnécio 99 MIBI e dipiridamol, seguindo posteriormente estes doentes por

um período médio de 26 meses. Os pacientes selecionados apresentavam pelo menos

um dos seguintes fatores de risco: idade >50 anos, DM, angina, antecedentes de EAM

ou AVC, disfunção do ventrículo esquerdo e aterosclerose extra-cardíaca. Na tentativa

de diagnosticar DC com estenose de 70% nestes doentes, a ESD apresentou uma

sensibilidade de 44%, uma especificidade de 87%, um VPP de 72% e um VPN de 68%

(12,80).

Herzog et al compararam o resultado do ESD e da angiografia coronária (AC) em 50

doentes pré-transplante renal para a deteção de estenoses >50%, >70% e >75%. Dos 50

doentes, 20 apresentaram positividade para isquémia induzida. A sensibilidade e

especificidade para estenoses ≥50% foram respetivamente 52% e 74% enquanto que

para estenoses ≥75% foram de 75% e 76%, respetivamente. Num seguimento a longo-

prazo (22.5 ± 10.1 meses) 20% dos doentes que apresentaram valores negativos para a

ESD e 55% dos que apresentaram uma ESD positivo sofreram eventos cardíacos (EAM,

revascularização miocárdica ou morte de causa cardíaca) o que evidencia que um

resultado positivo no ESD tem valor prognóstico nestes doentes (81).

Tita C. et al realizaram um estudo retrospetivo de 149 doentes em que efetuaram ESD

antes do transplante renal. Neste estudo foi possível concluir que a ESD apresentava

uma sensibilidade de 37.5%, uma especificidade de 95.3%, um VPP de 33.3% e um

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VPN de 96.1% para eventos cardíacos major no primeiro ano após o transplante renal.

A taxa de incidência de eventos no primeiro ano após o transplante foi de 4% para os

indivíduos com ESD negativo e de 30% nos indivíduos com ESD positivo. Tal como os

estudos anteriores já vinham demonstrando, podemos assim concluir que um ESD

positivo permite identificar indivíduos com elevado risco para eventos cardíacos

independentemente dos resultados da AC (82).

Qiangjun Cai et al demonstraram que a sensibilidade, especificidade, valor preditivo

positivo e negativo da ESD era de 88%, 62%, 65% e 87% respetivamente, para a

deteção de estenoses ≥70% (83).

Neste exame é importante destacar o seu elevado valor preditivo negativo o que é

especialmente adequado para a avaliação destes doentes. A associação de novas

técnicas, como o Doppler, pode melhorar a capacidade deste exame detetar DC num

único vaso, nomeadamente ao nível do território da circunflexa esquerda.

Este método tem vindo a tornar-se num dos métodos preferidos na avaliação dos

candidatos a transplante renal. Em primeiro lugar, a angiografia coronária (Gold

standard) para além de ser um exame invasivo e com o risco de desenvolvimento de

nefropatia de contraste é também um exame dispendioso. Em segundo lugar a utilização

da TC para “marcar o cálcio coronário” é também de utilidade limitada uma vez que

estes indivíduos apresentam uma extensa, prematura e rapidamente progressiva

calcificação coronária. Em terceiro lugar a ressonância magnética também se apresenta

como um método limitado para uma avaliação pré-transplante devido à possibilidade

dos DRET desenvolverem fibrose nefrogénica progressiva, secundária ao gadolíneo.

Em quarto lugar, a CPM apresentou em alguns estudos uma sensibilidade extremamente

inferior à registada pela ESD, sendo esta atribuída aos níveis elevados de adenosina nos

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DRET e uma resposta limitada aos vasodilatadores (dipiridamol e adenosina) em

doentes diabéticos, com HVE e com calcificações extensas. Contudo, o ESD não é

perfeito e também apresenta as suas limitações. As limitações da ESD passam pela

presença de HVE de base, muito frequente nesta população, resultando num volume

intracavitário reduzido durante o pico de stress provocado pela dobutamina o que pode

diminuir a acuidade na deteção de pequenos defeitos da parede. Neste contexto, a

hipertrofia concêntrica é a principal causa de falsos negativos da ESD. Outro fator que

induz falsos negativos é a incapacidade de atingir a frequência cardíaca máxima (toma

de fármacos, por exemplo bloqueadores beta) o que leva a uma menor capacidade de

deteção de DC. Por outro lado, a dobutamina pode, por vezes, levar a crises

hipertensivas graves e impedir a realização completa do teste de stress.

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Cintigrafia de perfusão miocárdica

A cintigrafia de perfusão miocárdica é frequentemente utilizada na estratificação do

risco cardiovascular na população geral (84). Contudo, em DRC a sua utilidade tem sido

questionada devido a uma reduzida sensibilidade nesta população específica (12,85).

Sete estudos avaliaram a sensibilidade e especificidade da cintigrafia de perfusão

miocárdica para deteção de doença coronária em DRET. A sensibilidade da cintigrafia

de perfusão miocárdica nestes doentes varia entre os 29%-92% e a especificidade

apresenta variações entre os 50%-88% (21).

Marwick et al realizaram um estudo em que testaram a sensibilidade da cintigrafia de

perfusão miocárdica com tálio-201 e dipiridamol para deteção de DC. Para isso

recorreram a dois grupos, um grupo controlo em que a cintigrafia apresentou uma

sensibilidade de 95% e um grupo de doentes a realizar diálise que apresentou uma

sensibilidade de 37% com uma especificidade modesta de 73% para a deteção de

estenoses de 50%. Boudreau et al reportaram uma sensibilidade de 86% e

especificidade de 72% para a cintigrafia com tálio-201 e dipiridamol para lesões com

redução do diâmetro coronário superiores a 70%. Vandenberg et al testaram a

cintigrafia definindo dois níveis distintos de diagnóstico, ou seja, estenoses >50% ou

estenoses >75%. Nos primeiros a sensibilidade foi de 53% e a especificidade de 73%

enquanto nos últimos a sensibilidade foi de 63% e a especificidade de 75% (80).

De Lima et al, em 2003, apresentaram um trabalho em que a sensibilidade do CPM para

identificar DC foi de 64% e a especificidade de 53% para estenoses superiores a 70%.

Neste trabalho De Lima tentou também identificar qual a eficácia deste teste para prever

a incidência de eventos cardíacos, assumindo que a prevalência dos eventos cardíacos

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era de 15%, e os resultados obtidos traduziram-se numa sensibilidade de 63% e

especificidade de 58% (12).

A baixa sensibilidade da cintigrafia de perfusão do miocárdio em DRC tem sido

atribuída a vários fatores. Os doentes com DRC têm níveis basais elevados de adenosina

o que resulta em níveis elevados de fluxo coronário mesmo em repouso. A cintigrafia de

perfusão miocárdica recorre ao dipiridamol (que aumenta os níveis de adenosina

endógena) ou adenosina como vasodilatadores de modo a induzir stress por diminuição

do fluxo de reserva coronário provocando, deste modo, a isquémia miocárdica.

Contudo, nos doentes com DRC o alto débito sanguíneo de reserva pode mascarar o

stress provocado pelos vasodilatadores comprometendo assim a sensibilidade da CPM

devido a uma menor heterogeneidade da marcação pelo radioisótopo que é a base para o

diagnóstico neste exame. A utilização de anti-anginosos também reduz a sensibilidade

da CPM por diminuírem a isquémia (80). Outras razões para a existência de tantos

falsos negativos incluem: a existência de lesão isquémica global, a presença de

colaterais que previnem o aparecimento de zonas heterogéneas do fluxo e a prevalência

elevada de HVE nestes indivíduos (21,86).

Apesar das limitações da CPM na população de doentes com DRC esta mostrou

recentemente fornecer informações importantes na abordagem pré-transplante renal.

Patel et al estudaram 600 pacientes que realizaram uma avaliação pré-transplante renal

sendo que 174 deles realizaram CPM. Nestes pacientes uma CPM patológica permitiu

prever o acontecimento de eventos adversos posteriores enquanto um resultado normal

no CPM associou-se a uma ausência de doença em 97% dos doentes num período de 42

meses. Assim, uma CPM negativa permite afirmar um prognóstico favorável a curto e

longo prazo com uma taxa de eventos cardíacos baixa. Pelo contrário, uma CPM

positiva apresenta-se com uma taxa de eventos cardíacos elevada sendo importante

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considerar uma medicação agressiva e/ou uma revascularização em casos de isquémia

severa (87).

Rabbat et al referem que em comparação com os indivíduos com testes normais aqueles

que apresentam evidência de isquémia induzida têm um risco 6 vezes superior de

apresentar um EAM e 4 vezes mais risco de morte de causa cardíaca. Em indivíduos que

exibem defeitos fixos verifica-se um aumento do risco de morte cardíaca (OR, 4.7)

apesar de não estar aumentado o risco de EAM (OR, 1.1) (88).

De Lima et al mostraram que embora o uso de CPM permita identificar pacientes com

alto risco de apresentarem DCV não oferece vantagens em relação à estratificação

clínica rigorosa. Os resultados apontam para que em indivíduos com baixo risco a

realização da CPM não traga benefícios (12).

Num estudo com 126 pacientes com DRET que realizaram uma cintigrafia de perfusão

com tecnécio-99m como parte integrante da avaliação pré-transplante dos doentes, a

presença de um defeito reversível apresentava um risco relativo de 3 para eventos

cardíacos pós-transplante e um risco de morte 2 vezes superior quando comparados com

os doentes com resultados normais (89).

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Comparação entre ESD e CPM

Nos doentes com insuficiência renal a sensibilidade e especificidade dos testes não-

invasivos para DC são insuficientes. Contudo, tanto a ESD como a CPM parecem

apresentar VPP e VPN elevados para eventos cardiovasculares.

Vários estudos têm sido realizados com o intuito de se perceber qual a sensibilidade e

especificidade dos vários exames não invasivos na identificação de lesões coronárias em

DRC no estádio 5 (11). Entre estes estudos, o ESD e a CPM têm sensibilidades que

variam entre os 44% a 89% e 29% a 92%, respetivamente, e especificidades entre 71%

a 94% e 67% a 89% respetivamente, para identificar uma ou mais estenoses coronárias

com >70% (11). Apesar das grandes variações na especificidade e sensibilidade para

estes dois exames, os resultados anormais para CPM e ESD têm sido associados a um

valor prognóstico para eventos cardíacos e mortalidade em DRET

(20,22,82,83,87,88,90).

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Eletrocardiograma em repouso e Prova de esforço

O ECG é um exame que segundo as guidelines deve ser realizado num período inferior

a 30 dias antes da cirurgia (64). Vários estudos demonstram que a realização pré-

operatória de um ECG de 12 derivações apresenta capacidade de predizer a ocorrência

de eventos adversos tanto na população geral como nos candidatos a transplante (11).

Sharma et al. mostraram que um ECG anormal foi encontrado em cerca de 46% dos

doentes com DRC, apresentando uma sensibilidade de 77% mas uma especificidade de

apenas 58% na deteção de DC severa (70). A alta prevalência de doenças do miocárdio

de base (principalmente HVE), DC, doença microvascular, arritmias e alterações

eletrolíticas nos DRET justificam o número de ECG’s alterados (70).

Abe et al realizaram um ECG de rotina a 221 doentes a realizar hemodiálise e

compararam esses resultados com os obtidos para DRC não dependes de diálise e

indivíduos saudáveis. A incidência de ECG anormais foi de 65% para o grupo a realizar

diálise, 41% para os DRC e apenas 5% para os doentes sem doença renal. Neste mesmo

estudo conseguiu-se apurar quais as principais alterações eletrocardiográficas que

afetam os doentes a realizar diálise: HVE (19%), alterações sugestivas de isquémia

(7.2%), contrações ventriculares prematuras (6.8%), alterações inespecíficas do

segmento ST-T (6%), fibrilação auricular (5.4%), alargamento da aurícula esquerda

(2.7%) e EAM antigo (1.4%) (91).

Uma análise isolada do ECG em pacientes submetidos a hemodiálise mostrou que a

presença de depressão do segmento ST durante as sessões foi um marcador da presença

de DC (92).

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A prova de esforço tem uma fraca acuidade de diagnóstico para DC em doentes com

DRET apresentando uma sensibilidade de 35% e uma especificidade de 64%, ou seja,

muito mais baixa do que na população sem doença renal. A prova de esforço encontra

as suas maiores limitações na reduzida capacidade física destes doentes e consequente

inabilidade de atingir a frequência cardíaca necessária mas também na existência de um

número significativo de alterações no ECG em repouso (70).

Outros autores não encontraram qualquer capacidade preditiva tanto no ECG em

repouso como na prova de esforço (85).

Apesar da existência de resultados inconsistentes nesta área, parece ser razoável a

realização de um ECG em todos os candidatos a transplante renal pelo seu baixo custo e

também pelo seu valor na estratificação global do risco quando se encontram ECG’s

anormais.

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Angiografia Coronária

A AC é considerada o meio complementar de diagnóstico Gold standard para o

diagnóstico de doença coronária em pacientes com e sem doença renal avançada (12).

De Lima et al demonstraram que a angiografia era o exame com melhor capacidade

preditiva para a ocorrência de eventos cardíacos em candidatos a transplante renal.

Neste estudo a angiografia coronária apresentava uma sensibilidade, especificidade,

VPP e VPN de 86%, 65%, 30% e 96%, respetivamente, para prever a ocorrência de

eventos cardíacos. Foi possível apurar também que cerca de 42% dos indivíduos

apresentavam, na avaliação pré-transplante, estenoses coronárias significativas (≥70%)

(12).

Atualmente considera-se que a realização deste exame deve ser ponderada em pacientes

a realizar diálise que apresentem um teste de stress positivo ou exibam sinais de doença

arterial coronária e que são candidatos a eventual tratamento de revascularização. As

principais razões para se preferir a realização de um teste não invasivo numa abordagem

inicial estão relacionadas com os riscos inerentes ao procedimento nomeadamente o

risco de desenvolver uma nefropatia de contraste e os custos elevados do procedimento.

A nefropatia de contraste é definida como um aumento da creatinina sérica superior a

25% após 48h da exposição ao contraste, podendo atingir um aumento de 50% em

doentes com nefropatia diabética (80).

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Tomografia Computorizada com Score de cálcio

A tomografia computorizada sem contraste para deteção e quantificação das

calcificações coronárias mostrou uma capacidade de predizer o risco cardiovascular

melhor do que o score de FHS em doentes assintomáticos e sem doença renal (93).

Apesar desta associação positiva entre um score de cálcio e a presença de doença

coronária na população geral, nos DRET esta parece ter algumas limitações devido à

elevada prevalência de deposição de cálcio nas artérias coronárias nestes doentes. Raggi

et al mostraram uma elevação do score de cálcio por TC em mais de 83% dos 205

doentes a realizar hemodiálise. Outros estudos mostraram em DRET uma maior

incidência de calcificações intra-coronárias do que em doentes sem doença renal.

Apesar de um estudo, em doentes a realizar diálise, demonstrar a capacidade da

quantificação do score de cálcio por TC em predizer a mortalidade de causa

cardiovascular a longo prazo, outros estudos demonstraram uma baixa correlação entre

o estudo por TC e a probabilidade de DC em pacientes com doença renal avançada. Este

achado pode refletir a alta prevalência e calcificação vascular da média em DRET em

comparação com a calcificação da camada íntima encontrada na população não-DRET.

A angiografia cardíaca por TC é um método altamente sensível para a avaliação de

doentes sintomáticos com uma baixa ou intermédia probabilidade para doença coronária

obstrutiva. No entanto, ainda não existem estudos sobre a sua capacidade de deteção de

lesões em DRET, sendo que a sua capacidade poderá ser limitada tendo em conta a alta

incidência de lesões ateroscleróticas calcificadas. Para além disso, a necessidade de

utilização de contraste iodado pode levar a lesão renal (24).

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Biomarcadores

As troponinas T e I, o peptídeo natriurético cerebral (BNP), o fragmento N-terminal do

peptídeo natriurético tipo pro-B (NT-pro-BNP), a PCR ultra sensível e a albumina

modificada por isquémia estão aumentadas nos portadores de DRET e têm a capacidade

para prever a mortalidade cardiovascular numa análise pré-transplante (94–97).

BNP e NT-pro-BNP

Os níveis de BNP e NT-pro-BNP encontram-se frequentemente elevados nesta

população devido a uma elevada prevalência de alterações estruturais e funcionais do

ventrículo esquerdo e isquémia miocárdica. A disfunção renal está também associada a

uma elevação dos níveis destes marcadores, sendo que esta é o maior viés na utilização

do BNP e NT-pro-BNP, sugerindo-se por isso uma interpretação destes valores à luz do

grau de insuficiência renal (98).

O estudo de Apple et al analisou os níveis de NT-pro-BNP em 399 doentes antes destes

iniciarem hemodiálise. Após um seguimento de 24 meses, a análise do terceiro quartil

permitiu verificar que este era capaz de predizer significativamente a mortalidade

cardiovascular (95). Outros estudos têm vindo a confirmar a capacidade de predizer

eventos cardiovasculares e a mortalidade do BNP e NT-pro-BNP. Um estudo recente

demonstrou que o nível de NT-pro BNP apresentava uma maior capacidade de predição

de disfunção cardíaca e mortalidade global e de causa cardiovascular relativamente aos

níveis de TnT (99).

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Troponinas Cardíacas

Dentro das aplicações dos níveis séricos das troponinas em candidatos a transplante

renal incluem-se a estratificação do risco numa abordagem inicial da doença, a

vigilância após a colocação em lista de espera e como uma referência caso surjam

sintomas de uma síndrome coronária aguda (11).

Uma elevação e queda rápida do nível das troponinas com sinais clínicos e sintomas

adequados são indicadores de DC aguda, no entanto, uma elevação persistente destas

sugere um stress cardíaco como, excesso de volume, hipertensão descontrolada ou

hipertrofia ventricular esquerda.

A elevação persistente da cTnT correlaciona-se com a mortalidade total e mortalidade

cardíaca em pacientes assintomáticos em diálise. Uma meta-análise de 28 estudos

demonstrou que uma concentração de cTnT>0.10ng/mL em pacientes com DRET

aumenta o risco de mortalidade para o dobro relativamente a DRET com baixos níveis

de cTnT (96).

Apesar do uso do doseamento das troponinas para estratificação do prognóstico da

mortalidade em doentes com DRC avançada já ter sido aceite por algumas entidades, o

seu uso na prática clínica ainda não é suportado pelas guidelines da NFK/KDOQI (11).

Sharma et al, em 2006, mostraram que uma elevação concomitante de cTnT>0.06

ng/mL e albumina modificada por isquémia >95kU/L em 144 potenciais transplantados

estava associada a um risco de mortalidade cardiovascular acrescido de 7 vezes num

período médio de 2.3 anos (97).

Hickson et al estudaram 644 candidatos a transplante renal definindo 4 níveis distintos

para a cTnT (<0.01, 0.01-0.03, 0.04-0.09 e >0.10 ng/mL) e verificaram que um aumento

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no nível das cTnT estava associado a um risco de mortalidade acrescido de 64%. Num

seguimento médio de 28 meses cada aumento de nível das cTnT estava associado a um

risco acrescido de 58% para MACE após o transplante (71).

Apesar destes estudos apontarem para uma boa capacidade das troponinas predizerem

eventos cardiovasculares existe a necessidade de se realizar mais estudos para que se

possam tirar conclusões mais adequadas.

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Ressonância Magnética

Esta técnica é atualmente o Gold standard para a análise de massa, volumes e função

cardíaca, além de detetar a presença e extensão de fibrose miocárdica. Em comparação

com a ecocardiografia esta é menos afetada pelas variações de volume após uma sessão

de hemodiálise. No entanto, a ampla utilização desta técnica é limitada por vários

fatores nomeadamente baixa disponibilidade, custos elevados, contraindicações formais

(claustrofobia e dispositivos cardíacos implantáveis) e pelo risco de fibrose nefrogénica

progressiva, secundária ao gadolíneo, em portadores de DRC avançada (78).

Em conclusão e tendo em conta todas as evidências expostas, apresentamos um

algoritmo baseado no exposto. (Figura 2).

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Figura 2 – Quadro-resumo.

Sem FR

Considerar se <3 FR

Avaliação cardíaca pré-transplante

História clínica e exame físico

• Angina instável • IC descompensada ou

baixa fração de ejeção <40%

• Arritmia ventricular • Doença valvular

Fatores de Risco (FR)

Idade >60 anos

História de angina

Antecedentes de EAM

FR tradicionais

Elevação da PCR

Aumento do PxCa

>1 ano de diálise

Alterações ECG

Angiografia

≥ 3 FR

Considerar também com 1-2 FR

<4 METS

ECG, ECO, DSE, CPM

Biomarcadores, RM, TCSC,

ACTC

Inconclusivo ou Positivo para isquémia ou baixa

fração de ejeção Negativo

Angiografia

Risco cardíaco

aceitável para

transplante

renal

Sim – Alto Risco

Não

ACC/AHA 2007

Status funcional

Risco Intermédio/

alto Baixo Risco

>4 METS

Obtido recorrendo a

ACC/AHA 2007, AHA

2012, C. Lisboa 2007

e resultados da

revisão realizada

Baseado nos dados

obtidos na pesquisa

bibliográfica.

?

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Conclusão

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Nesta revisão bibliográfica propusemo-nos a averiguar quais seriam as melhores

estratégias para estratificar o risco cardiovascular nos doentes pré-transplante renal.

Atualmente a estratificação clínica inicial de que são alvo os candidatos a transplante

renal baseia-se essencialmente nos fatores de risco tradicionais, o que se provou ser

ineficaz na avaliação pré-cirúrgica. O meio interno destes doentes é único, apresentando

um conjunto de fatores de risco cardiovasculares que não são frequentes na população

geral. Porém, não está disponível qualquer informação que recomende uma avaliação

cardiovascular baseada nos fatores de risco não tradicionais, nomeadamente a

hiperhomocisteinémia, o aumento do produto fosfo-cálcico, aumento da PCR, toxinas

urémicas e a duração do tratamento de substituição renal. Perante as evidências

descritas ao longo desta revisão bibliográfica recomenda-se a incorporação progressiva

de alguns destes fatores na avaliação pré-transplante desta população.

Baseando-nos nas evidências disponíveis, doentes com idade superior a 60 anos,

história de angina, antecedentes de EAM, diabetes e outros fatores de risco tradicionais

têm indicação para iniciar a sua avaliação por um teste não invasivo. Entre os testes não

invasivos habitualmente mais utilizados encontram-se a ESD e a CPM. A ESD parece

ser o teste não invasivo mais indicado a realizar numa primeira fase, uma vez que para

além de demonstrar uma maior sensibilidade, nos vários estudos realizados, detém a

possibilidade de avaliar também as cavidades cardíacas, as válvulas e a existência de

HVE. A CPM nestes doentes apresenta sensibilidades que variam entre 29%-92% e uma

especificidade entre 50%-88%. Estes resultados são em parte justificados por um

aumento dos níveis de adenosina. Em comparação com a ESD este exame demonstra

em vários estudos comparativos uma menor acuidade. Independentemente do tipo de

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teste de stress não invasivo é necessário atingir níveis de stress suficientemente

elevados para evitar falsos negativos.

No estudo pré-transplante renal, a execução de uma ecocardiografia é recomendada

devido à sua elevada capacidade de detetar patologias como HVE e valvulopatias. Para

além disso, uma diminuição da FEVE demonstrou ser um fator preditivo de eventos

cardiovasculares no período pós-transplante.

O ECG em repouso apresenta uma sensibilidade razoável para detetar alterações a nível

cardíaco. Contudo, vários autores não encontraram qualquer capacidade preditiva tanto

no ECG em repouso como na prova de esforço. Apesar da existência de resultados

divergentes nesta área, parece ser razoável a realização de um ECG em todos os

candidatos a transplante renal.

A revisão bibliográfica evidencia que as troponinas têm capacidade de predizer eventos

cardiovasculares no pós-transplante, existindo contudo, a necessidade de se realizar

mais estudos para que se possam tirar conclusões mais adequadas. Níveis elevados de

BNP e NT-pro-BNP parecem também ter uma boa capacidade para predizer DCV pré-

transplante. A sua utilização no processo de avaliação destes doentes parece justificar-

se, no entanto, é necessário um maior suporte científico com base em mais estudos

prospetivos.

Demonstrou-se uma associação positiva entre um score de cálcio determinado por

tomografia computorizada e a presença de doença coronária na população geral, porém,

nos DRET a TC tem algumas limitações devido à elevada prevalência de deposição de

cálcio nas artérias coronárias nestes doentes. A angiografia cardíaca por TC é um exame

altamente sensível para deteção de doença coronária obstrutiva, no entanto, a escassa

bibliografia do seu uso em DRET não permite tirar conclusões sobre a sua utilização.

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A ressonância magnética é um bom exame na população geral mas a necessidade de

administração de gadolíneo limita a sua utilização nos candidatos a transplante renal.

A angiografia coronária estará indicada apenas em situações de doença cardíaca ativa,

ou seja doentes de alto risco, e quando existir um teste de stress positivo. Contudo, a

sensibilidade insatisfatória dos testes não invasivos leva a que se pondere a realização

de uma angiografia em doentes com elevado número de fatores de risco apesar de um

teste de stress negativo. A realização desta faz-se unicamente com intuito terapêutico.

Pensamos que urge a necessidade de realizar estudos prospetivos bem estruturados para

identificarmos qual a melhor estratégia na estratificação do risco cardiovascular dos

doentes pré-transplante renal.

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Agradecimentos

Quero mencionar aqui algumas pessoas que contribuíram, de uma forma direta ou

indireta, para que este trabalho fosse concluído com sucesso. Agradeço assim:

À Professora Doutora Maria João pela orientação rigorosa e séria, pela disponibilidade e

prontidão para ajudar, pela crítica construtiva e pela simpatia que sempre apresentou ao

longo da elaboração deste trabalho.

À Dra Joana Moura, coorientadora desta tese, pelo trabalho incansável e o muito tempo

despendido na revisão deste trabalho e pelas críticas construtivas e sinceras.

À Vanessa Mendes pela ajuda na elaboração deste trabalho, pelo apoio permanente e

pela paciência demonstrada nos momentos difíceis.

Por último, mas não menos importante, à minha família, em particular aos meus Pais e

Irmão, pelo apoio incondicional e por me oferecerem todas as condições necessárias

para que este trabalho fosse possível.

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