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A AMPLIAÇÃO DA LIBERDADE ECONÔMICA SOB O ENFOQUE DA DEMOCRACIA. Ricardo Antonio Corrêa 1 Resumo O objetivo do artigo é verificar a existência de relação entre os conceitos de liberdade defendidos por Sen no livro Desenvolvimento como Liberdade, especificamente a concepção de liberdade como “facilidades econômicas”; e o livro de J. Vasconcelos intitulado Democracia Pura, a qual os ideais de participação política popular defendidos no livro podem potencializar os principais fatores atuantes no alcance do desenvolvimento e crescimento econômico dos países. Conclui- se, na análise deste artigo, ser a democracia participativa não o instrumento ideal para a adoção de atividades políticas sustentáveis, mas também importante facilitador para a superação do sistema econômico atual, cuja característica de dominação política e econômica é nociva a sociedade, sendo favorável a ação de psicopatas sociais. Palavras-chave Desenvolvimento 1. Democracia 2. Democracia Pura 3. Liberdade 4. Crescimento Econômico 5. Abstract The purpose of this article is to verify the relationship between the concepts of 1 Docente do Centro de Ciências Socias Aplicadas da UNIOESTE – Campus Foz do Iguaçu; Mestre do Programa de Pós-graduação em Ciências Econômicas da UEM. E-mail: [email protected] 1

ARTIGO Desenv. e Democracia - v.2..doc

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POLTICAS PBLICAS E TURISMO SUSTENTVEL EM FOZ DO IGUAU

A AMPLIAO DA LIBERDADE ECONMICA SOB O ENFOQUE DA DEMOCRACIA.Ricardo Antonio Corra

ResumoO objetivo do artigo verificar a existncia de relao entre os conceitos de liberdade defendidos por Sen no livro Desenvolvimento como Liberdade, especificamente a concepo de liberdade como facilidades econmicas; e o livro de J. Vasconcelos intitulado Democracia Pura, a qual os ideais de participao poltica popular defendidos no livro podem potencializar os principais fatores atuantes no alcance do desenvolvimento e crescimento econmico dos pases. Conclui-se, na anlise deste artigo, ser a democracia participativa no s o instrumento ideal para a adoo de atividades polticas sustentveis, mas tambm importante facilitador para a superao do sistema econmico atual, cuja caracterstica de dominao poltica e econmica nociva a sociedade, sendo favorvel a ao de psicopatas sociais. Palavras-chave

Desenvolvimento 1. Democracia 2. Democracia Pura 3. Liberdade 4. Crescimento Econmico 5.Abstract

The purpose of this article is to verify the relationship between the concepts of freedom advocated by Sen in his book Development as Freedom, specifically the concept of freedom as "economic facilities" and the book of J. Vasconcelos titled Pure Democracy, which the ideals of popular political participation espoused in the book may potentiate the main factors acting in the scope of development and economic growth of the countries. We conclude, in the analysis of this article, be participatory democracy not only the ideal instrument for the adoption of sustainable political activities, but also important enabler to overcome the current economic system, whose characteristic of political and economic domination is harmful to society, being favorable action of social psychopaths.Keywords

Development 1. Democracy 2. Pure Democracy 3. Freedom 4. Economic Growth 5.1IntroduoO objetivo deste trabalho estabelecer associao entre as ideias centrais dos autores Amartya Sen, autor do livro Desenvolvimento como Liberdade; e J. Vasconcelos, responsvel pelos escritos de Democracia Pura. Pretende-se, deste modo, expandir os elos estabelecidos por Sen entre os conceitos de desenvolvimento e liberdade, porm, adicionando os ideais da democracia pura defendidos por Vasconcelos.

O objetivo desta proposta trazer a discusso acadmica reflexes crticas sobre a aplicao prtica dos princpios da democracia pura tais quais agentes potencializadores das liberdades de escolhas dos indivduos. Estas liberdades, ao serem ampliadas, favorecem ao maior desenvolvimento da sociedade, pois, so os principais responsveis pela elevao da qualidade de vida e bem-estar geral da populao. O mtodo utlizado para construir este artigo, portanto, consiste na reviso bibliogrfica dos livros: Desenvolvimento como Liberdade, autoria de Amartya Sen; e Democracia Pura, autoria de J. Vasconcelos, cujo objetivo levantar as principais ideias presentes em cada obra, traando as relaes existentes entre estes pilares fundamentais, expondo assim, a viso opinativa deste autor sobre estes possveis vnculos. 2O Enfoque de Amatya Sen sobre DesenvolvimentoImporta, inicialmente, compreendermos o conceito de desenvolvimento para podemos estabelecer tais relaes as anlises crticas que este texto se prope a realizar. A concepo de desenvolvimento apresenta, em quase todas as anlises sociais-econmicas feitas, profunda relao com o conceito de crescimento econmico acompanhado de melhoria na qualidade de vida.Nas palavras de Vasconcellos e Garcia (1998, p. 205) desenvolvimento representa:

As alteraes da composio do produto e a alocao de recursos pelos diferentes setores da economia, de forma a melhorar os indicadores de bem-estar econmico e social (pobreza, desemprego, desigualdade, condies de sade, alimentao, educao e moradia).Segundo o conceito de desenvolvimento abordado por Sen (2000, p. 18), tal acepo ainda mais ampla, pois, requer a remoo das principais fontes de privao da liberdade, a saber: pobreza, tirania, carncia de oportunidades econmicas, destituio social sistemtica, negligncia dos servios pblicos e intolerncia ou interferncia excessiva de Estados repressivos. Sen (2000, p. 25) afirma ser essencial a existncia de sinergia entre os cinco tipos de liberdades, enumeradas por ele, a contribuir de modo direto ou indireto na ampliao da liberdade global dos indivduos, so elas: poltica; facilidades econmicas; oportunidades sociais; garantias de transparncia e segurana protetora. A interao destas liberdades instrumentais elencadas por Sen, deve ser profunda, para assim potencializar as condies de desenvolvimento da sociedade Liberdade no apenas o objetivo primordial do desenvolvimento, mas tambm seu principal meio (SEN, 2000, p. 55).

2.1Relao: rendas - capacidades individuaisO texto de Sen enftico ao associar o baixo nvel de renda como razo fundamental do analfabetismo, das ms condies de sade, fome e subnutrio; e inversamente, quanto a melhor educao e a sade, mais elevadas as rendas auferidas. Desde modo, deve-se enxergar a pobreza tal qual fator limitador das escolhas do indivduo, e portanto, fonte de privao e obstculo ao desenvolvimento das potencialidades bsicas do mesmo. Fatores expansores destas potencialidades: educao pblica de qualidade, servios de sade satisfatrios s necessidades da populao, e o desenvolvimento de imprensa livre e ativa; podem contribuir no s para a reduo das taxas de mortalidade, mas tambm para o crescimento econmico da prpria populao.Quanto mais acessvel for a educao bsica e os servios de sade as diferentes camadas sociais. O mesmo vale para a soluo de problemas oriundos das diferenas de gnero e de idade, maior ser a probabilidade de que mesmo os potencialmente pobres tenham maiores chances de superar a penria econmica que vivenciam.

Pessoas relativamente pobres apresentam forte tendncia de sofrerem a privao absoluta das prprias capacidades, independente do pas em que vivem, pois, mesmo nas naes mais abastadas economicamente, preciso mais renda para pagar por recursos materiais e humanos capazes de realizar o mesmo funcionamento social de Estados mais pobres.

Sen (2000, p. 61) lembra a existncia de profunda relao estatstica entre a renda per capita e a longevidade. Verifica-se nesta associao a intensidade do impacto do PIB sobre as rendas dos pobres, repercutindo nos gastos reduzidos em servios de sade o qual a presena compensatria do Estado torna-se impretervel.No tocante a educao, lembra o autor que a rpida disseminao da alfabetizao na histria dos pases hoje ricos baseou-se no baixo custo da educao pblica, representando o fundamento principal da gerao de importantes externalidades positivas para estas sociedades.Ressalta-se a importncia das polticas de transferncia de renda, muito embora consideradas pelo autor como de alcance limitado, no entanto, representam tentativas vlidas, de correo contra sintomas de intensa concentrao de renda. Tais polticas no podem serem refns da questo do dficit pblico, e de suas consequncias, por exemplo, a inflao, assim, a adoo de polticas radicais para o controle do mesmo dficit, acarretando o corte simples de todos os gastos sociais das quais o governo responsvel, pode resultar em prejuzos sociais muito elevados. Mais correto, seria o corte em atividades pblicas cujos fins so socialmente questionveis, por exemplo, o setor econmico representado pelas atividades blicas. Eis citao a seguir sintetizadora deste pensamento:

O comedimento financeiro deveria ser pesadelo dos militaristas, e no do professor primrio ou da enfermeira do hospital. um indcio do mundo desordenado em que vivemos o fato de o professor primrio e a enfermeira se sentirem mais ameaados pelo comedimento financeiro do que um general do exrcito (2000, p. 172).2.2Desigualdades de natureza ticaA questo tica na obra de Sen (2000, p. 118) tambm importante fator influenciador no s das escolhas do indivduo, mas tambm do modo de atendimento pblico aos diferentes estratos de determinada sociedade, por exemplo, no caso da tica social norte-americana, segundo o autor, plausvel ao Estado a opo de no oferecer auxlio a indigentes e aos pobres; esta viso dificilmente compartilhada pelos cidados dos pases europeus ocidentais, para quem a segurana social proporcinada pelo Estado promotor do bem-estar direito de todos. Paradoxalmente, a mesma tica social estado-unidense julga intolerveis os nveis de desemprego de dois dgitos comuns na Europa.

Pobreza e desemprego so para Sen fatores restringidores das liberdades, e portanto, de desenvolvimento, contudo, o peso de cada item depender da sociedade a ser estudada. Enquanto a resoluo do primeiro mais valorizada pelas sociedades europias, o desemprego reflete uma preocupao presente na populao dos EUA. Desde modo, pode-se concluir que as decises polticas tero orientao maior para uma ou outra questo, dependendo do tipo de clamores sociais presente em cada nao.A desigualdade de gnero tambm analisada atravs do conceito de mulheres faltantes, pois, segundo Sen (2000, p. 127) h excessiva mortalidade e taxas de sobrevivncia mais baixas para as mulheres em diferentes partes do mundo, muito embora h existncia de provas dos quais se corrobora a tese das mulheres e os fetos femininos serem mais resistentes, deste modo, a tendncia seria haver mais mulheres do que homens na fase adulta, contudo, muitos estudos estimam diferena substancial a favor dos homens, diferena esta bem maior do que aquela apontada no momento do nascimento.Sen (2000, p.129) alega ser a principal causa desta discrepncia a relativa negligncia com a sade e a nutrio feminina, especialmente durante a infncia. Na China, por exemplo, tal negligncia aumentou muito em anos recentes, particularmente aps a adoo de medidas voltadas ao controle familiar compulsrio (ex.: a poltica do filho nico), resultando no infanticdio feminino absurdo existente no pas, promovido principalmente pelo desejo do casal em que este nico filho seje homem.

Trata-se, neste caso, de restrio das liberdades individuais associadas aos valores ticos da populao resultando em prejuzo imensurvel a toda a populao. Como atestarmos a evoluo social, o desenvolvimento desta sociedade com tamanho crime sendo cometido? Nenhum crescimento econmico pode justificar esta violncia desmensurada.

Poltica mais inteligente e democrtica seria o estmulo intensivo na educao e alfabetizao das mulheres, aos quais, constatou-se em muitos pases, serem capazes de reduzirem as taxas de mortalidade das crianas, assim como a taxa de fecundidade das mulheres. Tal proposta, segundo Sen (2000, p.228) potencialmente capaz de influenciar, inclusive, na diminuio da criminalidade a longo prazo.Cita-se o exemplo de Kerala (SEN, 2000, p. 181), Estado indiano onde reformas sociais e educacionais decretadas no sculo XIX iniciaram um processo que resultou na transformao de Kerala numa das regies mais alfabetizadas e igualitrias da ndia. Os indicadores de desenvolvimento so semelhantes aos pases desenvolvidos, sendo tambm considerado ambientalmente mais sustentvel que a Europa e a Amrica do Norte. O nvel de alfabetizao de Kerala, sobretudo das mulheres, mais elevado do que o de qualquer provncia da China, e a taxa de fecundidade de 1,7; ou seja, inferior a da prpria China, que de 1,9.2.3Eficincia e equidadePor fim, segundo o autor de Desenvolvimento como Liberdade, preciso considerar, simultaneamente, a eficincia por meio da liberdade do mecanismo de mercado, de um lado, e, por outro, a gravidade dos problemas de desigualdade que a adoo deste mesmo mercado capaz de gerar.

O autor destaca o prprio mercado como potencialmente enganoso na forma em que aloca recursos, gerando grande desperdcio de capital e empreendimentos mal orientados ou mopes; responsabilizando-o pela ocorrncia de diversas externalidades negativas e desperdcio privado de recursos sociais, por exemplo, a poluio.

Contudo, o autor alerta que o dispndio pblico no garantia de atendimento satisfatrio daquelas necessidades de setores da populao alijados da participao do mercado. Alm do mais, a garantia destas capacidades bsicas via incentivos pblicos deve ser considerado em conjunto com a necessidade de estabilidade macroeconmica (SEN, 2000, p. 167).

O ideal, segundo Sen, a combinao do uso extensivo dos mercados, com o desenvolvimento de oportunidades sociais patrocinado pelo Estado, via o enfoque amplo, que aborde tambm outros tipos de liberdade, tais quais: direitos democrticos, transparncia e segurana social. Tal poltica se justifica devido a existncia de forte associao entre os setores pblico e privado, descrita pelo autor na seguinte citao:

H uma profunda complementaridade entre, de um lado, reduzir a atividade excessiva do Estado na administrao de um governo da licena e, de outro, remover a atividade insuficiente do Estado na contnua negligncia da educao elementar e outras oportunidades sociais (SEN, 2000, p. 152).2.4Democracia e desenvolvimentoSobre a anlise da democracia tal qual fator de ampliao e potencializao dos agentes desenvolvimentistas, Sen aborda a chamada tese de Lee, atribuda ao primeiro ministro de Cingapura, Lee Yuan Yew, ao qual prega que sistemas polticos mais autoritrios com negao de direitos civis e polticos bsicos possuem vantagens na promoo do desenvolvimento econmico (SEN, 2000, p. 30). Tal tese busca justificativa atravs dos exemplos do rpido crescimento econmico de pases sob regimes autoritrios no perodo estudado, por exemplo: Coria do Sul antes da democratizao, o Brasil sob a ditadura militar, e Cingapura no governo do ex-primeiro-ministro Lee Yuan Yew. Outra justificativa, segundo tal tese, que caso se pergunte a populao destes pases a opo de escolha entre liberdades polticas e a satisfao das necessidades econmicas, certamente, a preferncia recair sobre esta ltima.Amartya Sen ataca a tese de Lee, pois, afirma serem as liberdades polticas fundamentais na satisfao das necessidades econmicas. O no usufruto de direitos democrticos tolhem o crescimento e desenvolvimento econmico, alm do mais, nota-se a ocorrncia de fomes coletivas em pases nos quais a ditadura vigorou, constituindo forte indicativo da falsidade desta tese.

As fomes coletivas, afirma Sen (2000, 188), so frutos muito mais causados por alterao nos preos relativos a impactar alocao distributiva dos alimentos, do que propriamente de problemas na produo dos mesmos. A ocorrncia de fomes coletivas, segundo o autor, nunca marcou nenhum pas democrtico, por mais pobre que este seja.

Vide o caso da fome coletiva de Bengala, em 1943, o principal motivo foi a perda de poder aquisitivo de setores da populao, assim, a razo de troca entre o corte de cabelos e os alimentos bsicos, por exemplo, despencou em 70% ou mais, e os barbeiros foram economicamente arruinados, tal qual muitos outros profissionais do pas, mesmo havendo pouqussimo declnio geral na produo de alimentos ou na oferta agregada (SEN, 2000, p. 196).

A causa deata fome coletiva, portanto, foi a disparada do preo dos alimentos acompanhando o aumento do poder aquisitivo de grupos ocupacionais especficos, por exemplo, os militares durante a II Guerra Mundial, em consequncia, os outros grupos foram economicamente arruinados.

Amartya Sen tambm lembra a existncia de consenso a respeito das polticas teis para crescimento econmico, dentre os quais: a abertura competio externa, a participao no mercado mundial, os altos nveis de sade, a educao da populao, as reformas agrrias bem-sucedidas, os incentivos aos investimentos, e as exportaes industrializao. Nenhum desses itens incompatvel com a democracia ou dependente de regimes autoritrios.

O crescimento, lembra Sen, est mais ligado formao de ambiente econmico favorvel ao mesmo, e no a adoo de sistema poltico coersivo. Por sua vez, a formao destes ambientes depende da expanso das liberdades reais, as quais tm profunda associao com regimes polticos democrticos.

Reis e presidentes, burocratas e chefes, lderes e comandantes militares nunca so vtimas de fomers coletivasCom efeito, penso que uma imprensa livre e uma oposio poltica constituem o melhor sistema de alerta prvio que um pas ameaado por fomes coletivas pode ter (SEN, 2000, p. 210).A resposta do governo ao sofrimento do povo frequentemente depende da presso que este exerce sobre o prprio governo, assim, o exerccio de democracia ganha imenso vulto e importncia, e a vivncia das liberdades polticas e sociais tm intenso papel instrumental na construo do desenvolvimento.

Nota-se nas ideias de Sen o quanto a prpria populao precisa estar ciente da importncia de sua participao para a gerao de oportunidades, pois, s assim ser possvel superar o maior dos desafios para a adoo da democracia, faz-la funcionar a todos, inclusive, de modo efetivo aos cidados comuns do pas (SEN, 2000, p. 183).Este senso de responsabilidade importante para a prpria manuteno do desenvolvimento, pois, o indivduo na condio de cidado conscientiza-se da importncia em se ter mais liberdade, haja vista melhorar o potencial das pessoas para cuidar de si mesmas e, consequentemente, para influenciar o mundo. O aumento da participao poltica, e a absoro dos princpios democrticos, ao modo dos mesmos tornarem-se valor caro e valioso para cada cidado, constitui-se em incentivo poltico cujo alcance comparativamente muito maior aos resultados trazidos to s pela eficincia do mercado.

a liberdade fomentadora da segurana protetora, construda sobre a gide de governos democrticos, submissos ao princpio da liberdade de expresso, que assegura, por exemplo, a inexistncia de fomes coletivas nos pases democrticos. Sendo assim, segundo Sen (2000, p. 214), importa a sociedade priorizar os incentivos polticos democrticos, pois, por mais importantes que sejam outros incentivos, tais quais, por exemplo, os de natureza econmica, no so capazes de substituir os efeitos multiplicadores gerados por instrumentos como a participao democrtica e a liberdade de expresso.

3A democracia pura de J. VasconcelosNa obra Democracia Pura, autoria de J. Vasconcelos, (2007, p. 89), democracia no o governo da maioria, condio que assume patamar sobremaneira elevado, flexvel e amplo; com liberdade constante e em relao a tudo, opes e opinies abertas em geral e a todo o momento. A participao de todos deve ser ampla e igual, e cada assunto ou lei dever ter estudo prprio e autnomo para o benefcio desse povo.

A Democracia Representativa no pode ser considerada regime poltico portador desta liberdade constante e em relao a tudo, haja vista as restries inatas associadas ao prprio, por exemplo, o exerccio da vontade de grupos polticos em detrimento aos anseios do povo, seja pelo uso de partidos polticos ou do Senado, cuja origem dificulta o sucesso de aes populares na Assemblia Legislativa.

A seguir, apresenta-se breve histrico desta democracia participativa, traada pelo autor ao longo da existncia humana.

3.1Incio e declnio da democracia pura.Segundo J. Vasconcelos a anlise da histria poltca do homem parte do princpio de que o ser humano possui natureza essencialmente social. As primeiras comunidades de homindeos provavelmente no dispunham de castas ou hierarquias, e as tarefas eram espontaneamente realizadas conforme capacidades de cada indivduo (2007, p. 24).

A no presena de polticos profissionais, ou de pessoas detentoras de funo pblica que foram, de certo modo, ungidas por Deus, representavam a caracterstica dominante das sociedades primitivas

Vasconcelos (2007, p. 25) explica que tais sociedades regiam-se sob os seguintes princpios: sociabilidade, solidariedade, riqueza comunal, aprendizagem grupal e, ausncia de hierarquia ou distines sociais.

Contudo, prximo do fim da Pr-Histria, h cerca de 4 mil anos a.C., quase todas estas comunidades igualitrias estavam extintas devido a alteraes no comportamento individual, motivado por fatores tais quais o aumento populacional, as distines sociais e o surgimento de credos religiosos, trazendo profundas repercusses nas organizaes polticas-sociais das comunidades humanas (VASCONCELOS, 2007, p. 25).

Assiste-se ao progressivo surgimento dos Estados, criados inicialmente para proteger e prover as necessidades da populao afetada, entretanto, pouco a pouco estes foram se dissociando do objetivo principal, sendo colocados a servio dos interesses de castas privilegiadas. Tambm o surgimento da teocracia, isto , do governo de sumo sacerdote, representou o surgimento da desigualdade econmica e poltica. A legitimao do governo por meio da religio tornou-se cada vez mais comum ao longo das eras.

O fara egpcio, por exemplo, era considerado por seus sditos o deus-rei. Tambm os regimes monrquicos do perodo absolutista diziam que os reis eram ungidos por Deus (VASCONCELOS, 2007, p. 46).

Estes lderes, por sua vez, passaram gradualmente, ao longo de toda a histria, a impor sobre a sociedade pesadas taxas e impostos, alm de apresentarem governana burocrtica e corrupta, onerando demasiadamente os cidados com os custos desta ineficincia. O poder corrompe e enlouquece o homem, mas quem paga os custos desta insanidade a sociedade, como sabiamente diz o autor: Qualquer pessoa que detenha o Poder sem controle do povo, de modo indeterminado e ilimitado, isoladamente ou em grupelho, tende a assumir posies comportamentais que se aproximam de estados psicopatolgicos, extrapolando megalomania, supremacia racial, parania, ilusionismo, auto-endeusamento (VASCONCELOS, 2007, p. 53).O autor atribui a criao e manuteno do poder de governo a quase total extino do regime de democracia pura defendido por ele. Assiste-se expropriao de recursos do povo, bem como a dissipao dos mesmos com o nico objetivo de perpetuao do poder poltico, contudo, este poder, ao longo da histria, revelou-se auto-extinguvel, tendendo sempre prpria dissoluo, haja vista as conquistas de Alexandre O Grande, e do Imprio Romano, ao qual no resistiram ao tempo.

Portanto, segundo o autor, todo o esforo para a manuteno do poder autfago, com a dilapitao de recursos sociais transferidos para a satisfao imediata de indivduos com funo de poder, em detrimento das necessidades gerais, cujos resultados catastrficos deste atendimento somente sero vistos num horizonte de tempo maior. Eis a seguinte citao sintetizadora deste pensamento:O sentido da soberania fora deturpado: o povo, que era o elemento principal da sociedade, passara a ser objeto de exploraes e de sacrifcios. Sem dvida, inverteram-se os papis, e apenas os usurpadores passaram do seu jeito, egosta e incoerente a decidir sobre tudo. O povo, sujeito e objeto da soberania, transformara-se apenas em simples instrumento de trabalho e fonte de carne s inconsequentes e terrveis guerras declaradas pelos soberanos (VASCONCELOS, 2007, p. 49).3.2Mitos da democracia representativaConforme Vasconcelos (2007, p. 58 a 60) poucos locais no mundo conseguiram desenvolver processos cuja democracia de fato era predominante. Cita o autor o caso da Grcia durante o perodo dos sculos IV e III a.C. No qual o regime poltico apresentava alternncia de poder para todos os cargos pblicos de chefia (inclusive magistratura), liberdade e igualdade nas deliberaes, contudo, tal sistema ruiu com as invases macednias e romanas, sepultando definitivamente a democracia nesta sociedade.

Outra oportunidade histrica para a implantao da Democracia Pura neste planeta surgiu por conta da Revoluo Francesa, em 1789, influenciada por filsofos iluministas (VASCONCELOS, 2007, p. 62 a 63). A lei constitucional francesa de 1793 reconhecia o povo como fonte nica de todos os poderes, lhe entregando o exerccio desses poderes atravs de:

- Exerccio da soberania popular sem limites;

- sufrgio ou voto universal (homens e mulheres);

- eleies diretas, feitas por assemblias primrias que se reuniram sem convocao em pocas fixas e que fiscalizavam os atos de seus representantes;

- renovao anual de mandatos para os legisladores;

- magistratura sujeita a uma mobilidade extrema;- por fim, direito dos homens de se revoltarem contra o governo quando este violar os direitos do povo.

Mesmo promulgada, esta lei nunca foi implantada devido a represso militar dos exrcitos de reis e nobres estrangeiros a apoiar a aristocracia francesa. O resultado foi o surgimento de um sistema poltico copiado do parlamento ingls, com representao censitria, inclusive permitindo a renovao de mandatos e sem a ao direta do povo nas grandes decises da nao. Surge assim, a moderna Democracia Representativa.Vasconcelos (2007, p. 67) estabelece de modo claro os limites da democracia representativa frente ao alcance de resultados que a democracia pura pode obter. O conceito amplo de democracia disseminado pelos meios de comunicao , na viso do autor, no mnimo equivocado, pois, muitas das caratersticas a ele associadas, tais quais: existncia de eleies, partidos polticos, parlamentos e deciso pela maioria, no configuram o verdadeiro regime democrtico defendido pela filosofia da democracia pura.

Vide o caso dos partidos polticos, representantes apenas de faces isoladas da sociedade e sem balizamento moral para conduzir um pleito nacional de forma isenta e satisfatria. Na democracia representativa manda no governo o partido vencedor, cuja verdadeira motivao para alcanar o objetivo maior a posse de fluxos de capital decorrentes da funo pblica a qual iro ocupar aps a eleio.

O fato de existir eleio no por si mesmo princpio de democracia, no mximo, um mtodo auxiliar para se realizar escolhas de natureza democrticas (VASCONCELOS, 2007, p. 67). Alm do mais, nos pases de eleio proporcional, como o caso do Brasil, o voto do cidado poder estar sendo dirigido a outro candidato em quem ele jamais votaria. Vejamos o seguinte exemplo: o eleitor alienado que diz votar no humorista fulano, pois a maior parte far o mesmo, ocorre que devido a coligao de partidos e regras eleitorais contaminadas por segundas intenes, o carisma deste humorista pode obter expressiva quantidade de votos, o que ajudar a eleger sicrano, poltico do qual o prprio eleitor no deposita nenhuma confiana e em quem jamais votaria.

No regime democrtico representativo no facultado ao cidado se queixar das irregularidades e absurdos cometidos pelos detentores do Poder, pois, pessoa annima, com poucos recursos econmicos e sem nenhuma liderana de grupos sociais, nunca ser ouvido pelas instituies governamentais. Portanto, ocorre claro cerceamento de direito democrtico, e restrio das liberdades de escolha (VASCONCELOS, 2007, p. 75).Pode-se tambm criticar o regime representativo pelo o ponto de vista jurdico e tcnico desta mesma representao, pois, caso fosse realmente representante, o poltico teria de somente fazer o que o outorgante (o cidado eleitor) estabelecesse na procurao. Tecnicamente, no h como conciliar as diferentes vontades de cada eleitor, assim, o parlamentar , na realidade, representante de si mesmo em seu mandato, e no de seu partido e muito menos de seus eleitores, cujas pessoas, os prprios polticos na maioria das vezes desconhecem (VASCONCELOS, 2007, p. 80).

Por fim, Vasconcelos critica a suposta liberdade de imprensa existente na democracia representativa, pois, o cidado comum, por exemplo, no detm substancial quantia de recusos econmicos, assim, no tem qualquer facilidade para expor suas manifestaes de maneira pblica, sem restries. H tambm o fato das verbas pblicas de divulgao propagandstica do governo serem orientadas segundo interesses polticos, privilegiando grupos de comunicao favorveis ao governo, tornando-os, assim, cmplices de seus desmandos (VASCONCELOS, 2007, p. 87).3.3O conceito de democracia puraConforme Vasconcelos (2007, p. 97) Democracia Pura o governo no qual o povo efetivamente se autogoverna diretamente, sem falsos intermedirios. Neste regime, a sociedade participa efetivamente das aprovaes e composies de poder poltico, acolhendo cada questo, e apurando a tese mais favorvel prpria, seja pelo mtodo da votao, de modo simples, obtendo-se a maioria dos votos; ou atravs do mtodo da pontuao em matrias complexas nas quais se exige maior ponderao e parcimnia.

No representa a ditadura da maioria, pois, determinado membro pode votar certa matria coincidentemente com a maior parte dos votantes (maioria), contudo, j na deliberao seguinte, seu voto far parte da minoria votante. Significa assim, que as decises levam em conta o desejo da maioria, porm, esta no fixa, petrificada, cmplice de interesses escussos patrocinados por grupos majoritrios (VASCONCELOS, 2007, p. 89).

Atualmente, outro fato importante o desenvolvimento das tecnologias de informao, que permitem a determinado pas de grande populao processar quaisquer decises democrticos de forma rpida e segura, e sem presses resultantes das aglomeraes de pessoas.Tambm no conceito de Democraia Pura deve-se buscar a igualdade poltica de todos os cidados, ignorando-se a situao financeira ou fama das pessoas participantes. Vasconcelos (2007, p. 103) busca respeitar este princpio, assim, sintetiza muito bem as condies de restrio para as funes de poder existentes neste regime:

1. Alternncia de poder. Mximo de cinco anos sem reeleio.

2. Mandato para o servio pblico por prazo limitado.

3. Controle direto do povo sobre os rgos pblicos e os Poderes.

4. Uso de comisses especficas para controle dos cargos pblicos.

5. Preenchimento das cadeiras polticas pelos sistesmas de: auto-habilitao; sorteio; graduao e concurso.6. Dissoluo de toda comisso sorteada aps cumprida a tarefa para a qual se destinou sua formao.

Segundo o autor, o uso deste sistema democrtico participativo trar maior responsabilidade e cidadania para cada indivduo, fato este que corrobora as ideias de Sen vistas anteriormente, assim, a preocupao com o desenvolvimento social em sua totalidade ser muito maior, pois, qualquer indivduo que esteja apto poder ser convocado a ocupar a legislatura ou outro Conselho de importncia para a nao. O vnculo poltico e social estabelecido com a comunidade ser muito mais forte e intenso, haja vista a probabilidade de qualquer cidado ocupar funes pblicas, e poder dedicir sobre os desgnios de sua ptria. Eis argumento importante de Vasconcelos para corroborar esta posio:Um dia ele se v na participao decisria da nao, mas sabe que amanh, findo o seu mandato, estar normalmente fazendo parte do povo; do mesmo modo, tem conscincia de que aquele que o v agora poder amanh estar em seu lugar por um simples ato de escolha por sorteio, e assim todos comungam de respeito mtuo. Sabem que haver reflexos diretos das prprias aes sobre as suas pessoas, pois na maior parte da vida estaro ocupando cargos comuns (VASCONCELOS, 2007, p. 181).3.4Vnculos econmicos formados sob a gide da liberdadeNo conceito de desenvolvimento de Sen, visto anteriormente, as diferentes expresses de liberdade so interligadas, e cada uma influencia a outra, assim, o exerccio amplo da liberdade o principal meio para se atingir o desenvolvimento. Tal exerccio no realizado apenas individualmente, mas coletivamente, pois, deve se orientar pela busca em expandir a capacidade dos indivduos em prover no s a prpria existncia, mas tambm a da comunidade a qual est inserido.

As privaes da liberdade citadas por Sen representam claros indicadores de subdesenvolvimento, pois, a progressiva eliminao destas restries demonstra avanos sociais e econmicos evidentes de evoluo da sociedade.Praticamente todos os indicadores econmicos e sociais voltadas para a anlise do desenvolvimento (PIB Produto Interno Bruto, ndice de Gini, IDH ndice de Desenvolvimento Humano, e outros) mensuram, direta ou indiretamente, as conquistas ou deficincias materiais e humanas prprias do estudo das Cincias Sociais.Pobreza, carncia de oportunidades econmicas, destituio social sistemtica, negligncia dos servios pblicos ou interferncia excessiva de Estados repressivos, e tirania associada a intolerncia so fontes inibidoras das potencialidades cognitivas e, consequentemente, produtivas dos indivduos, pois, obinubilam o discernimento e o bom senso no momento de realizar as escolhas polticas prprias de cada cidado inserido em qualquer sociedade que seja.Sen afirma que o desenvolvimento apresenta vnculo profundo com o exerccio da liberdade, pois, o primeiro pode ser visto tal qual processo de expanso das liberdades reais que as pessoas desfrutam. A liberdade, como foi citado anteriormente, depende dos seguintes fatores: facilidades econmicas, oportunidades sociais, transparncia, segurana protetora e liberdade poltica. Importa perguntar se a Democracia Pura defendida por Vasconcelos capaz de proporcionar o instrumental de ferramentas necessrio para a realizao destes fatores, e a conquente superao dos gargalos do desenvolvimento expostos por Sen, haja vista a opinio deste pesquisador afirmar ser o exerccio da liberdade mediado por valores, os quais so influenciados por discusses pblicas e interaes sociais; afirmao esta fortemente associado aos princpios democrticos de Vasconcelos.

Tal resposta extensa, e transcende o espao deste artigo, assim, o foco recair apenas sobre a liberdade denominada por Sen de Facilidades Econmicas, pois, representa aquela mais intrinsicamente ligada a rea econmica, cuja capacidade dos princpios da democracia pura em proporcionar desenvolvimento pode ser mais questionada.

3.5Facilidades econmicasSo as oportunidades com as quais os indivduos tm para utilizar recursos econmicos para o propsito consumo, produo ou comrcio (troca). A citao a seguir descreve bem a relao desta liberdade com o crescimento econmico.

A principal e mais essencial causa da pobreza a privao da liberdade de troca. A liberdade de troca e de transao a principal parte e a mais essencial das liberdades que as pessoas tem razo para valorizar. A excluso econmica a privao da liberdade de participar do intercmbio econmico que determina, em ltima instncia, a vida socialA comunicao entre as pessoas ocorre mediada pelo consumo. Consumir uma forma de mostrar aos demais os prprios valores e estilo de vida. Consumir , tambm, uma forma de comunicao interpessoal. Assim, atualmente, a maior privao de liberdade, para todos os indivduos, no a privao da liberdade de produzir renda, e sim, a privao da liberdade de consumir a enorme oferta de mercadorias e servios. Em maior ou menor grau, quase todos somos escravos, privados da liberdade de consumir todos os benefcios da tecnologia e do progresso material. Em um ambiente de extrema oferta somos quase todos condenados a uma permanente carncia de consumo (BRAGA, 2010).Eis dois fatores fundamentais capazes de colocar em evidncia a existncia de Facilidades Econmicas (BRAGA, 2010):

- Acesso ao crdito e mecanismos de financiamento: ocupa posio fundamental nesta liberdade, pois, permite a cada cidado obter recursos materiais imediatos, e assim, ter tranquilidade para pensar no longo prazo.

- Liberdade de troca: o exerccio desta liberdade envolve diversos aspectos, por exemplo: cobrana no extorsiva de impostos, capacidade produtiva, liberdade comercial e organizao empresarial.

A falta desta liberdade, ou o no exerccio da mesma pode gerar transtornos psicolgicos ao indivduo cerceado. Para Braga (2010) a privao do consumo, oriunda da privao da liberdade de troca, leva os indivduos a sofrerem as seguintes conseqncias:

- Fragilizaes de natureza intraconsciencial, com a pessoal chegando a sofrer perda de autonomia, de autoconfiana, chegando mesmo a manifestar problemas de sade no s psicolgicos, mas, em certos casos, at mesmo somticos.

- Perda de iniciativa, da capacidade de associar-se, de investir, no s tornando-se isolado e frgil, mas comprometendo a prpria capacidade do desenvolvimento pessoal. Pensando de modo anlogo ao pensamento econmico clssico ao qual atribui vcios individuais serem capazes de gerar bem estar coletivo, neste caso, ocorre o oposto, pois, a psicopatologia individual contamina o grupo sabotando o desenvolvimento e a evoluo deste.3.6Democracia pura e liberdades econmicasVasconcelos afirma no existir falsos intermedirios no regime de Democracia Pura, assim, a sociedade participa ativamente do exerccio do poder poltico, portanto, cabe a ela fazer escolhas e decises a influenciar todos os cidados, seja individualmente, ou, seja coletivamente.

As decises de empreendimento de cada empresrio devero ponderar com muito mais parcimnia o desejo coletivo que emana da comunidade em questo. A atividade comercial de caa as baleias em guas internacionais, brbarie ainda existente nos dias atuais, no alcana apoio nem mesmo perante a populao japonesa, principal pas responsvel por esta prtica zoocida (greenpeace, 2008).Ruralistas polticos brasileiros, por exemplo, defensores de cdigo Florestal flexvel e conivente a explorao econmica no sustentvel, iriam se submeter a vontade popular, contrria a esta atividade (LOPES, 2011).O outro lado tambm produz resultados positivos, pois haver maior estmulo em produzir alimentos mais saudveis e adotar tecnologias limpas de produo, haja vista tratar-se da vontade majoritria da populao. Nota-se assim, sobre as questes ambientais, haver um sinergismo muito grande entre sustentabilidade e democracia pura.

O regime democrtico participativo estmula o indivduo a adotar aes empreendedoras mais favorveis sociedade, e tambm a si mesmo. H a construo ou fortalecimento dos laos de cooperao e de solidariedade com o objetivo de superar as maiores fontes de privao de liberdade. A democracia pura amplia imensamente a conscientizao coletiva de que o desenvolvimento no construdo sobre as bases da viso economicista e exclusivamente material.Caso revele-se verdadeira a opinio de Sen sobre a qual respostas do governo ao sofrimento do povo frequentemente dependem da presso que o prprio exerce sobre o poder pblico, novamente o regime democrtico puro tender a incentivar o uso de polticas sustentveis, haja vista suas aes colocarem na condio de principal beneficiado a prpria populao, sempre

Como poder existir fomes coletivas em pases que se pautam pelos princpios da liberdade participativa, se estas so provocadas por distrbios nos preos relativos? Tal sociedade jamais aceitar que ocorra, em seu ventre, setores sociais com poder econmico exacerbado capazes de orientar a produo e distribuio de recursos para o seu bel-prazer.

Tambm outras causas de privao das liberdades econmicas, por exemplo, insuficincia de moradia, servios de sade deficitrios e carentes de profissionais qualificados, sistema educacional frgil e inadequado, dentre outros, que repercutem fortemente na capacidade profissional de cada cidado iro estar subordinados a vontade popular.Apenas a anlise da questo educacional demonstra a importncia do processo poltico popular participativo nesta questo. Os ndices de desempenho educacional brasileiros, por exemplo, so pssimos. O Programa Internacional de Avaliao de Estudantes (PISA), atravs do parecer das avaliaes de 2012, relata que a pontuao do Brasil muito ruim para o pas que diz possuir a 7 economia do mundo, ocupando no ano de 2012 a 53 colocao. Nesta avaliao, confirmou-se a participao de 67 pases, 34 membros da OCDE e 33 pases/economias convidados (INEP, 2012).Escolhas populares a favor da educao so vitais para a resoluo imediata deste problema. Tal mecanismo decisrio eliminaria as interferncias nefastas das disputas polticas, haja vista a polmica proposta de reduo das taxas para alimentos da cesta bsica, apresentada pela oposio poltica brasileira atual, vetada pela atual presidente, mesmo neste perodo de iseno de IPI sobre diversos produtos eletro-eletrnicos para incentivar a economia, sob a justificativa da necessidade de criao de grupo de trabalho do governo para analisar os respectivos cortes de tributos sobre estes alimentos (GUERREIRO e SCHREIBER, 2012). Outras fontes de privao de liberdade devem ser enfrentadas dentro da prpria comunidade, com esta visando constantemente o aumento de capacidade dos seus membros, propiciando assim, o desenvolvimento conjunto do senso de responsabilidade, da solidariedade e tambm da cooperao com vistas a superar as restries materiais, e mesmo psicolgicas (exemplo, baixa estima pessoal) impostas pela pobreza.

O aumento das oportunidades sociais atravs da expanso de oferta dos servios de educao, sade e cultura amplia a sensao de segurana protetora advinda da atuao pblica, trazendo maior motivao e energia no exerccio das liberdades polticas, assim, processos democrticos puros so essenciais para a concentrao de recursos voltados a realizao destes servios.

Novamente, relembramos o pensamento de Sen (2000, p. 214) sobre o qual a necessidade da sociedade em priorizar os incentivos polticos democrticos muito mais importante do que outros incentivos, inclusive os de natureza econmica, devido aos multiplicadores gerados pelos instrumentos de participao democrtica e da garantia do exerccio da liberdade de expresso.

A absoro dos princpios democrticos pela moral de cada cidado torna suas aes cada vez mais valiosas a sociedade, assim, o alcance social transformador comparativamente muito maior do que o sistema proposto, to somente, pela lgica do mercado. Esta transformao pode trazer fortes impactos, inclusive, na estrutura social de todas as sociedades capitalistas a adotarem a democria pura, pois, a lgica fundamentada sobre a dominao do mercado ter seus alicerces no s abalados, mas completamente destrudos.

Os mercados econmicos so atualmente regidos por valores de competitividade exacerbada e elevado individualismo, enfoque este a prejudicar aes de cooperao e solidariedade dentro da sociedade. Trata-se da filosofia de dominao, cujos princpios embasam a competitividade voraz existente dentro do sistema capitalista atual, to bem explicada por Eisler na seguinte afirmao:

semelhana das crianas que dependem de pais abusivos, as pessoas que se encontram nos degraus inferiores da pirmide econmica dominadora muitas vezes tendem a se identificar com os que esto no controle. Eles reprimem a conscincia da verdadeira situao e at mesmo idealizam aqueles que os exploram e oprimem. Frequentemente, portanto, deparamos com pessoas pobres dando vazo sua frustrao e sua dor atacando minorias ou aqueles designados como inimigos pelos lderes polticos e religiosos (EISLER, p. 204).Tal sistema social propicia ao aparecimento de psicopatas em diversos setores da sociedade, especialmente o econmico e poltico, pois, segundo o Dr. Hugo Marietn, em entrevista dada a Rogrio Mendelski (2009), a maior parte dos polticos importantes so psicopatas, pois, querem estar prximos do poder, ou em terem condies sociais e materiais de obter mais poder.

evidente que o poder poltico muitas vezes se confunde com o poder econmico, desde modo, no surpresa a divulgao da revista Exame da notcia de que de que a classe profissional no qual h maior incidncia de psicopatas so os CEOs de grandes corporaes empresariais (ABRANTES, 2012).

Sugere-se assim, a existncia de forte influncia do sistema econmico dominador sobre a educao e a formao dos valores polticos da sociedade, e vice-versa, ou seja, um ciclo altamente vicioso que se retroalimenta.

4Consideraes finaisFica evidente atravs da anlise dos livros de Amartya Sem e J. Vasconcelos o profundo vnculo existente entre a democracia participativa e o desenvolvimento econmico. Quanto mais liberdade de escolha dada a populao de modo a interferir conscientemente, com justia e parcimnia sobre os destinos do prprio pas, maiores sero as chances de se obter crescimento econmico com justia social, e tambm, respeito ao meio ambiente.

Os valores de sade, educao, solidariedade, cooperao e responsabilidade social tendem a serem transmitidos no s entre os membros da prpria nao, mas tambm para os seus descendentes. a expanso da solidariedade intra e intergeraes que constituir as novas bases do desenvolvimento e crescimento econmico.

O compromisso da populao com a solidariedade social entre seus membros depender da aquisio da responsabilidade poltica para com o desenvolvimento da nao, fato este s almejado com o exerccio da democracia pura, nico regime poltico capaz de garantir o conceito amplo de liberdade defendido por Amartya Sen.5RefernciasABRANTES, Talita. As Carreiras com mais Profissionais Psicopatas. 2012. Disponvel em . Acesso em: 09 nov. 2012.

BRAGA, Roberto Silveira. Desenvolvimento como Liberdade. 2010. Disponvel em . Acesso em: 09 nov. 2012.

EISLER, Riane. A Verdadeira Riqueza das Naes. Traduo Cludia Gerpe Duarte. So Paulo: Cultrix, 2007.GREENPEACE. Pesquisa Mostra que Populao Japonesa Contra Caa de Baleias. 2008. Disponvel em . Acesso em: 09 nov. 2012.

GUERREIRO, Gabriela e SCHREIBER, Mariana. Dilma veta Desonerao de Produtos da Cesta Bsica Includa em MP. 2012. Disponvel em . Acesso em: 09 nov. 2012.

INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Ansio Teixeira. Programme for International Student Assessment - PISA. 2008. Disponvel em . Acesso em: 09 nov. 2012.

LOPES, Reinaldo Jos. Datafolha Indica que 80% Rejeitam Corte de Proteo a Matas. 2011. Disponvel em . Acesso em: 09 nov. 2012.

Mendelski, Rogrio. O Poltico Psicopata. 2009. Disponvel em . Acesso em: 09 nov. 2012.

SEN, Amartya. Desenvolvimento como liberdade. Traduo Laura Teixeira Motta. Reviso Tcnica Ricardo Doninelli Mendes. So Paulo: Companhia das Letras, 2000.

VASCONCELOS, J. Democracia Pura. So Paulo: Nobel, 2007.

VASCONCELOS, Marco Antonio; GARCIA, Manuel Enriquez. Fundamentos de economia. So Paulo: Saraiva, 1998.

Docente do Centro de Cincias Socias Aplicadas da UNIOESTE Campus Foz do Iguau; Mestre do Programa de Ps-graduao em Cincias Econmicas da UEM. E-mail: [email protected]

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