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O sistema de ensino básico na Finlândia 1 Marcelo Henrique Bezerra Ramos Jeannette Filomeno Pouchain Ramos 2 A Finlândia, país do norte da Europa além de muito conhecida por suas grandes bandas de Heavy Metal, também figura nas páginas dos veículos da mídia internacional por seu sistema educacional tido como exemplar. Antes de qualquer consideração sobre a educação vale a pena uma breve contextualização sobre o país e sua história. A Finlândia é o sétimo país da Europa em território, fica no extremo norte deste continente fazendo fronteira com a Noruega, Estônia, Suécia e Rússia, sendo muito influenciada principalmente por estas duas últimas. País de pequena população, 5,1 milhões totalizando uma densidade demográfica de 17 habitantes por quilômetro quadrado. Como já dizemos, o país ainda tem fortes marcas da Rússia e da Suécia, principalmente por já ter sido incorporado ao território do império sueco, logo após virando grão-ducado autônomo da Rússia Czarista, só alcançando sua emancipação com a Revolução Russa de 1917. Desde então, a Finlândia figura naquilo que a democracia capitalista rotula como país exemplar, sempre se manteve com “neutralidade” nos conflitos militares, mesmo compondo hoje a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Se até a II guerra mundial o país era quase que totalmente agrário, após esta há uma explosão industrial no país que coloca hoje ele como o principal no ramo da indústria de telefones móveis e redes de comunicação, alta tecnologia em geral. Pois bem, então o que coloca a Finlândia como um dos países com o sistema educacional mais eficiente do mundo? A princípio, a sua estruturação formal não se distingue por exemplo, dos demais países europeus, o que na avaliação dos especialista é o grande diferencial do sistema educacional é a eficiência, eficiência esta que só é alcançada através da alta quantidade investimentos públicos na educação, chegando a configurar e quase 13% do PIB do País, fazendo com o que o estado tenha quase 100% dos investimentos em educação no país. Em traços gerais, o sistema educativo finlandês agrupa a escolaridade obrigatória, o ensino secundário geral e profissional, o ensino superior e a educação de adultos. A escolaridade obrigatória consiste num programa educacional de 9 anos para todas as crianças em idade escolar 1 Artigo apresentado na disciplina de Estrutura e funcionamento do ensino fundamental e médio do Curso de Letras da Universidade Estadual do Ceará, semestre 2010.1. 2 Professora do Curso de Pedagogia da UECE, [email protected]

Artigo ed..o sistema-de-ensino-básico-na-finlandia

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O sistema de ensino básico na Finlândia1

Marcelo Henrique Bezerra Ramos

Jeannette Filomeno Pouchain Ramos2

A Finlândia, país do norte da Europa além de muito conhecida por suas grandes bandas de

Heavy Metal, também figura nas páginas dos veículos da mídia internacional por seu sistema

educacional tido como exemplar.

Antes de qualquer consideração sobre a educação vale a pena uma breve contextualização

sobre o país e sua história. A Finlândia é o sétimo país da Europa em território, fica no extremo

norte deste continente fazendo fronteira com a Noruega, Estônia, Suécia e Rússia, sendo muito

influenciada principalmente por estas duas últimas. País de pequena população, 5,1 milhões

totalizando uma densidade demográfica de 17 habitantes por quilômetro quadrado.

Como já dizemos, o país ainda tem fortes marcas da Rússia e da Suécia, principalmente por

já ter sido incorporado ao território do império sueco, logo após virando grão-ducado autônomo da

Rússia Czarista, só alcançando sua emancipação com a Revolução Russa de 1917. Desde então, a

Finlândia figura naquilo que a democracia capitalista rotula como país exemplar, sempre se

manteve com “neutralidade” nos conflitos militares, mesmo compondo hoje a Organização do

Tratado do Atlântico Norte (OTAN).

Se até a II guerra mundial o país era quase que totalmente agrário, após esta há uma

explosão industrial no país que coloca hoje ele como o principal no ramo da indústria de telefones

móveis e redes de comunicação, alta tecnologia em geral.

Pois bem, então o que coloca a Finlândia como um dos países com o sistema educacional

mais eficiente do mundo?

A princípio, a sua estruturação formal não se distingue por exemplo, dos demais países

europeus, o que na avaliação dos especialista é o grande diferencial do sistema educacional é a

eficiência, eficiência esta que só é alcançada através da alta quantidade investimentos públicos na

educação, chegando a configurar e quase 13% do PIB do País, fazendo com o que o estado tenha

quase 100% dos investimentos em educação no país.

Em traços gerais, o sistema educativo finlandês agrupa a escolaridade obrigatória, o ensino

secundário geral e profissional, o ensino superior e a educação de adultos. A escolaridade

obrigatória consiste num programa educacional de 9 anos para todas as crianças em idade escolar

1 Artigo apresentado na disciplina de Estrutura e funcionamento do ensino fundamental e médio do Curso de Letras da

Universidade Estadual do Ceará, semestre 2010.1. 2 Professora do Curso de Pedagogia da UECE, [email protected]

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que tem o seu início aos sete anos. O ensino secundário está dividido entre as escolas secundárias

gerais (três anos , que terminam com a realização de um exame) e as escolas profissionais (três

anos, que conferem qualificações profissionais básicas).

Lá o estado estabelece através do Quadro Nacional de Educação 75% dos currículos

escolares deixando 25% para os colégios, que tem participação ativa dos estudantes e pais nas

decisões. Dentro destes currículos há atividades que são colocadas no sentido de valorizar as

atividades comuns da vida e que têm sido desprezadas pela educação formal mundo afora, essas

atividades vão desde a jardinagem, passando pelo cuidado com os animais, até a aprendizagem da

reciclagem do lixo. Uma das características do sistema educativo finlandês é a aposta cada vez

maior na educação ao longo da vida. Todas as universidades finlandesas têm neste momento um

centro de formação contínua, que gere cursos de formação profissional, e universidades abertas.

Outro fator importante na alta qualidade de ensino na Finlândia é a importância que dão a

formação dos docentes, quase todos os professores do pais tem mestrado, qualificando-se em áreas

específicas e recebendo uma ótima remuneração por isso. Eles mantêm uma carga horária de 37

horas semanais, sendo que nem todas elas são voltadas para o ensino, sendo respeitados os

planejamentos de aula e outras atividades, como a correção de provas. Em termos de avaliações a

Finlândia não se diferencia muito dos demais países, os testes são elaborados pelos próprios

professores, sendo que o país também participa dos sistema internacional de avaliação produzido

pela OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, o PISA - Programa

para a Avaliação de Estudantes Internacionais. O diferencial é a perspectiva tomada a partir do

resultado obtido por estas avaliações. Ao contrário dos demais sistemas educacionais, o sistema

finlandês visa estimular aqueles que apresentarem problemas com o aprendizado, isso se demostra

quando o estado fornece reforço escolar para 2 em cada 10 estudantes do ensino básico.

Quanto a formulação das políticas educacionais é o Parlamento finlandês que aprova as leis

relativas ao sistema de ensino e decide sobre os princípios gerais da política de educação. O

Governo e o Ministério da Educação estão encarregados de implementar estes princípios ao nível

central. Em todas as questões que digam respeito à escolaridade obrigatória, ao ensino secundário,

às instituições de formação profissional e à educação de adultos, o Ministério é aconselhado pelo

Conselho Nacional de Educação.

Quanto ao controle social do sistema educacional ele é feito basicamente pelos pais através

dos conselhos de pais nas escolas, que tem uma importância fundametal no desenvolvimento e

gerenciamento das escolas públicas. Em contraponta à isso não há movimentos sociais organizados

que tenham uma atuação firme na fiscalização e proposição das políticas educacionais.

Graças a esse sistema educacional é grande a quantidade de estudantes dos mais variados

país do mundo que dão entrada em pedidos nas embaixadas finlandesas para terem oportunidade em

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escolas do sistema educacional finlandês. Essa internacionalização gera a demanda do ensino de

várias línguas estrangeiras com ensino obrigatório, de fato, isto não pode deixar de acontecer

quando um país com uma das línguas menos faladas da Europa pensa em apostar seriamente na

internacionalização da sua educação. O fenômeno da internacionalização reforçou a necessidade de

se apostar no desenvolvimento do ensino do inglês em todos os níveis de ensino. Existe a

possibilidade de, ao nível do ensino superior, se frequentarem cursos totalmente leccionados em

Inglês, ainda que estes requeiram um bom conhecimento de finlandês e sueco. Em muitos cursos o

conhecimento destas línguas é mesmo uma condição de ingresso para todos os candidatos. Mesmo

os estudantes estrangeiros são obrigados a frequentar cursos de finlandês (ou sueco) para apoiar os

seus estudos. No que diz respeito aos doutoramentos, eles podem na maior parte dos casos ser

realizados com sucesso em inglês.

Enfim, cabe a problematização sobre que base econômica se sustenta esse louvável sistema

educacional. A Finlândia como a maior parte dos sistemas capitalistas tem um sistemas de empresas

privadas muito bem sustentadas dentro de uma perspectiva multinacional, boa parte da lucratividade

das empresas finlandesas que são as grandes responsáveis pelo alta quantidade de impostos

arrecadados pelo governo e consequentemente sustentam uma capacidade fenomenal de

investimentos na educação, enfim, essas empresas sustentam a maior parte da sua lucratividade em

uma relação de exploração de estados nacionais subdesenvolvidos a partir de uma divisão

internacional do trabalho desigual e injusta, a educação de extrema qualidade visualizada na

Finlândia jamais será possível na maior parte dos países explorados pelas empresas finlandesas

dentro de uma perspectiva de produção capitalista, base fundamental que sustenta o estado

finlândes. Eis a grande contradição, esta educação que é utopia na maior parte dos países só é

possível porque na extrema maioria das nações isso nunca será possível.