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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL ALTRAN DE OLIVEIRA REZENDE INCORPORAÇÃO DE BORRACHA DE PNEU EM MISTURAS ASFÁLTICAS : PROCESSO VIA ÚMIDA São Cristóvão – SE 2009

Artigo Engenharia Civil

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Page 1: Artigo Engenharia Civil

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL

ALTRAN DE OLIVEIRA REZENDE

INCORPORAÇÃO DE BORRACHA DE PNEU EM MISTURAS ASFÁLTICAS :

PROCESSO VIA ÚMIDA

São Cristóvão – SE

2009

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ii

ALTRAN DE OLIVEIRA REZENDE

INCORPORAÇÃO DE BORRACHA DE PNEU EM MISTURAS ASFÁLTICAS:

PROCESSO VIA ÚMIDA

Trabalho Acadêmico apresentado à Universidade Federal de Sergipe - UFS, para encerramento do componente curricular e conclusão da graduação em Engenharia Civil. Orientador: Msc. Joelson Hora Costa

São Cristóvão - SE 2009

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É concedida à Universidade Federal de Sergipe permissão para reproduzir cópias desta

monografia e emprestar ou vender tais cópias somente para propósitos acadêmicos e

científicos. O autor reserva outros direitos de publicação e nenhuma parte deste trabalho

acadêmico pode ser reproduzida sem a autorização por escrito do autor.

____________________________________

Assinatura

Rezende, Altran de Oliveira

INCORPORAÇÃO DE BORRACHA DE PNEU EM MISTURAS ASFÁLTICAS PROCESSO VIA ÚMIDA / Altran de Oliveira Rezende São Cristovão, 2009

50 p. Trabalho Acadêmico Orientado. Departamento de Engenharia Civil. Centro de Ciências Exatas e Tecnologia, Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão. 1. Engenharia Civil. I. Universidade Federal de Sergipe. CCET/DEC.

II. Título.

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ALTRAN DE OLIVEIRA REZENDE

INCORPORAÇÃO DE BORRACHA DE PNEU EM MISTURAS ASFÁLTICAS:

PROCESSO VIA ÚMIDA

Trabalho Acadêmico apresentado à Universidade Federal de Sergipe - UFS, para encerramento do componente curricular e conclusão da graduação em Engenharia Civil.

Aprovado em: _______ de _______________________ de ________.

BANCA EXAMINADORA:

__________________________________Nota_____ Msc. Joelson Hora Costa - UFS

(Orientador)

___________________________________Nota_____ Wnilton Ferreira Santos - UFS

(1º Examinador)

___________________________________Nota_____ Msc. Jorge Roberto Silveira - UFS

(2º Examinador)

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v

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, pelo dom da vida e por ter proporcionado a efetivação

desse trabalho.

Ao meu pai (in memorian) por ter sido meu exemplo de vida, minha fonte inspiradora

que me faz seguir em busca de meus objetivos.

A minha mãe, pela força que tem me dado e apoio nas horas difíceis que passamos

pelos caminhos da vida.

A minha namorada, Isabella, pelas horas que não pude estar ao seu lado e pelas

palavras de apoio e incentivo em seguir na efetivação desse trabalho.

Ao professor Joelson Hora Costa, orientador desse trabalho e professor do curso de

engenharia civil dessa instituição, pela orientação, esclarecimento e efetivação do trabalho.

Ao professor Ricardo de Aragão, coordenador da disciplina, que esteve durante todo o

período organizando e esclarecendo dúvidas sobre os trabalhos.

A todos que não relaciono aqui, amigos e parentes, mas que sempre estiveram ao meu

lado e torcem por mim.

Page 6: Artigo Engenharia Civil

vi

RESUMO

O uso de revestimentos asfálticos para pavimentação é a forma mais viável e mais

utilizada em todo o mundo para proporcionar conforto, acessibilidade e eficiência ao setor de

transportes. No entanto, o crescimento da frota de veículos trouxe consigo uma grande

quantidade de pneus jogados e dispostos inadequadamente quando estes não mais apresentam

condições de uso. Esse crescimento ainda traz solicitações de carregamentos cada vez maiores

sobre a estrutura do pavimento devido à modernidade desses novos veículos. Eliminar o

passivo ambiental e ainda obter melhorias técnicas quanto ao desempenho estrutural dos

pavimentos rodoviários tem sido alvo de pesquisas e estudos sobre a incorporação de pneu

inservível em misturas asfálticas. Esse trabalho traz uma abordagem de caráter teórico sobre a

utilização de asfaltos modificados com borracha de pneus inservíveis. Apresenta as técnicas

de incorporação da borracha às misturas focalizando no processo via úmida, possíveis

utilizações dessa mistura, benefícios adquiridos e faz uma avaliação baseada em pesquisa

prática, realizada em território nacional, sobre o comportamento dessa nova técnica ante as

ações práticas e aos ensaios de avaliação para utilização de asfalto-borracha. Essas avaliações

trouxeram resultados significativos para a utilização de asfalto-borracha em misturas asfálticas

do tipo densa e comprovam que a eliminação do passivo e a melhoria dos revestimentos

podem ser feita com sua utilização.

Palavras-chave: Asfalto-borracha; Passivo Ambiental; Avaliação

INCORPORAÇÃO DE BORRACHA DE PNEU EM MISTURAS ASFÁLTICAS -

PROCESSO VIA ÚMIDA

Autor: Altran de Oliveira Rezende:

Orientador: Ms. Joelson Hora Costa

Examinadores: Wnilton Ferreira Santos

Msc. Jorge Roberto Silveira

Page 7: Artigo Engenharia Civil

vii

SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS

LISTA DE TABELAS

1. INTRODUÇÃO...................................................................................................................... 1

1.1 OBJETIVOS......................................................................................................................... 2

1.2.1 OBJETIVO GERAL.......................................................................................................... 2

1.2.2 OBJETIVO ESPECÍFICO................................................................................................. 2

1.3 METODOLOGIA................................................................................................................. 2

2. PROBLEMA AMBIENTAL CAUSADO PELOS PNEUS INSERVIVÉIS........................ 3

2.1 RESOLUÇÃO 258/99 .......................................................................................................... 4

2.2 ALTERNATIVAS PARA MINIMIZAR O PROBLEMA .................................................. 5

2.3 REUTILIZAÇÃO PARA FINS DE PAVIMENTAÇÃO ASFÁLTICA ............................. 6

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA............................................................................................... 8

3.1 LIGANTE ASFÁLTICO...................................................................................................... 8

3.1.1 NOÇÕES GERAIS............................................................................................................ 8

3.1.2 CIMENTO ASFÁLTICO DE PETRÓLEO (CAP)........................................................... 9

3.1.3 ENSAIOS DE CARACTERIZAÇÃO DO LIGANTE ..................................................... 9

3.2 AGREGADOS ................................................................................................................... 10

3.2.1 NOÇÕES GERAIS.......................................................................................................... 10

3.2.2 MATERIAL DE ENCHIMENTO OU FÍLER................................................................ 12

3.2.3 CARACTERIZAÇÃO DOS AGREGADOS .................................................................. 12

3.3 MODIFICADORES DE LIGANTE................................................................................... 14

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viii

3.4 ENVELHECIMENTO DO ASFALTO.............................................................................. 14

3.4.1 ENVELHECIMENTO EM CURTO PRAZO................................................................. 15

3.4.2 ENVELHECIMENTO EM LONGO PRAZO ................................................................ 15

3.5 REVESTIMENTOS ASFÁLTICOS .................................................................................. 16

3.5.1 NOÇÕES GERAIS.......................................................................................................... 16

3.5.2 CONCRETO ASFÁLTICO (CA) ................................................................................... 17

3.5.3 CAMADA POROSA DE ATRITO................................................................................. 18

3.5.4 STONE MATRIX ASPHALT (SMA) ........................................................................... 18

3.5.5 GAP-GRADED ............................................................................................................... 19

3.5.6 CARACTERIZAÇÃO DAS MISTURAS ASFÁLTICAS ............................................. 19

3.5.6.1 ESTABILIDADE MARSHALL .................................................................................. 20

3.5.6.2 ENSAIO DE MÓDULO DE RESILIÊNCIA............................................................... 20

3.5.6.3 ENSAIO DE SIMULADOR DE TRÁFEGP ............................................................... 21

3.6 PRINCIPAIS DEFEITOS EM PAVIMENTOS................................................................. 21

3.6.1 DEFORMAÇÃO PERMANENTE ................................................................................. 21

3.6.2 TRINCAMENTO POR FADIGA ................................................................................... 22

4. INCORPORAÇÃO DE BORRACHA EM MISTURAS ASFÁLTICAS............................ 23

4.1 HISTÓRICO....................................................................................................................... 23

4.2 BORRACHA DE PNEU .................................................................................................... 23

4.3 PROCESSO DE REGENERAÇÃO DA BORRACHA..................................................... 24

4.4 PROCESSO DE INCORPORAÇÃO DE BORRACHA EM MISTURAS ASFÁLTICAS.................................................................................................................................................. 25

4.5 COMPATIBILIZAÇÃO ENTRE BORRACHA E CAP ................................................... 26

Page 9: Artigo Engenharia Civil

ix

4.6 ASFALTO-BORRACHA................................................................................................... 27

4.7 APLICAÇÃO DE ASFALTO-BORRACHA .................................................................... 27

4.8 VANTAGENS NA UTILIZAÇÃO DO ASFALTO-BORRACHA .................................. 30

4.8.1 VANTAGENS TÉCNICAS ............................................................................................ 30

4.8.2 VANTAGENS ECOLÓGICAS E SOCIAIS .................................................................. 30

4.9 UTILIZAÇÃO DE LIGANTES COMERCIAIS ............................................................... 31

4.9.1 CAPFLEX ....................................................................................................................... 32

4.9.2 ECOFLEX ....................................................................................................................... 32

5. ANÁLISE EXPERIMENTAL DE LIGANTE MODIFICADO .......................................... 33

5.1 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES............................................................................. 33

5.2 ANÁLISE DE MISTURA SOB DEFORMAÇÃO PERMANENTE ................................ 33

5.3 ANÁLISE DE RESISTÊNCIA A TRAÇÃO POR COMPRESSÃO DIAMETRAL........ 34

5.4 ANÁLISE DE ENVELHECIMENTO DOS LIGANTES ................................................. 35

5.5 RESULTADOS E DISCUSSÕES...................................................................................... 37

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................... 38

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 39

Page 10: Artigo Engenharia Civil

x

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 2.1: ESQUEMA REPRESENTATIVO DO CICLO DE VIDA DO PNEU............... 3

FIGURA 2.2: DISPOSIÇÃO DE PNEUS NO LEITO DO RIO TIETÊ ................................... 4

FIGURA 2.3: QUANTIDADE DE PNEUS USADOS EM TRECHO DE RODOVIA............ 7

FIGURA 3.1: ENVELHECIMENTO DO ASFALTO............................................................. 16

FIGURA 3.2: ANÁLISE GRANULOMETRICA DE CA, CPA E SMA................................ 19

FIGURA 4.1: ELEMENTOS CONSTITUINTES DE UM PNEU .......................................... 22

FIGURA 4.2: PROCESSOS DE INCORPORAÇÃO DE BORRACHA DE PNEUS ............ 24

FIGURA 4.3: SELANTE DE TRINCAS E JUNTAS.............................................................. 28

FIGURA 4.4: EXECUÇÃO DE UM SAM.............................................................................. 28

FIGURA 4.5: EXECUÇÃO DE UM SAMI............................................................................. 29

FIGURA 4.6: RECAPEAMENTO ASFÁLTICO COM ASFALTO-BORRACHA............... 29

Page 11: Artigo Engenharia Civil

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LISTA DE TABELAS

TABELA 5.2: PARÂMETROS DE DOSAGEM OBTIDOS APÓS ENSAIOS .................... 34

TABELA 5.3: PARÂMETROS DE DOSAGEM PELO MÉTODO MARSHALL ............... 35

TABELA 5.4: ANÁLISE DE RT E RTCD.............................................................................. 35

TABELA 5.5: ANÁLISE DE ENVELHECIMENTO DOS LIGANTES ............................... 36

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1. INTRODUÇÃO

O destino adequado dos resíduos gerados pela sociedade tem sido um dos maiores

problemas da atualidade. O desenvolvimento tecnológico trouxe consigo a criação de

materiais não degradáveis que, combinado com a explosão demográfica, resultou no problema

da disposição ambiental dos detritos (PATRIOTA 2004).

Os resíduos têm sido alvo de pesquisas e estudos a fim de encontrar destinação

adequada ou reaproveitá-los através do processo de reciclagem. Dentre os vários resíduos

existentes, os pneus de borracha utilizados para fins de transporte rodoviário merecem

especial atenção.

Esses são passivos ambientais que ocupam um espaço físico considerável, podem ser

causadores de incêndios, proliferação de doenças e contaminação de lençóis freáticos. Dentre

as alternativas para reaproveitamento destaca-se a incorporação dos mesmos em misturas

asfálticas de petróleo.

Essa solução além de eliminar o passivo quando inservível vem a melhorar a qualidade

técnica e a vida útil das estradas.

Este trabalho faz uma abordagem de forma teórica da eliminação dos pneus quando não

mais se prestam ao uso e analisar as melhorias advindas quando incorporados as misturas

asfálticas.

Faz-se aqui uma divisão do trabalho em cinco capítulos descritos a seguir.

Nesse primeiro, a apresentação do tema e as considerações de justificativa de escolha,

objetivos e metodologia utilizada.

No segundo Capítulo é apresentado o motivo pelo qual esse tema foi escolhido.

Identificação do problema, destinação e ciclo de vida do pneu, implicações e legislações

vigentes quanto à destinação, Resolução 258/99, e as formas de solucionar o problema com

ênfase na utilização desse resíduo para fins de pavimentação asfáltica.

No terceiro Capítulo é feita uma revisão bibliográfica, para que o leitor identifique e

compreenda os principais tópicos abordados e a ligação com o referido tema. Incluem-se ai

itens relacionados à pavimentação asfáltica, ligantes asfálticos, materiais incorporados as

misturas (agregados) e os problemas relacionados com esse tipo de pavimento.

O quarto Capítulo aprofunda o tema abordado com as possíveis utilizações, as vantagens

quanto ao uso dessa nova técnica, os processos de transformação da borracha em insumo da

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pavimentação, os fatores que influenciam no processo e a utilização do produto atualmente no

mercado brasileiro.

No quinto Capitulo uma análise prática baseada em ensaios elaborados por autores

consagrados no tema e identificação das mudanças obtidas após os ensaios assim como as

melhorias advindas da utilização desse novo tipo de mistura.

E por fim as considerações finais que justificam a utilização de asfalto-borracha e

propõe sugestões para futuras pesquisas com o tema abordado.

1.1 OBJETIVOS

1.2.1 Objetivo Geral

Este trabalho visou mostrar a possibilidade de reduzir um problema ambiental e ainda

reutilizá-lo através da incorporação em misturas asfálticas e adquirir melhorias técnicas e

sociais para fins de pavimentação rodoviária.

1.2.1 Objetivo Específico

Avaliar o comportamento de asfalto modificado pela adição de borracha através de

ensaios que caracterizam o produto e assim possibilitam o uso em aos asfaltos tradicionais.

1.3 METODOLOGIA

O trabalho se fundamentou em um levantamento bibliográfico em literaturas divulgadas

no meio acadêmico, apostilas, teses de mestrado, trabalhos científicos apresentados em

congressos nacionais, estudos e pesquisas feitas por empresas ligadas tema. Dentre essas, o

Grupo GRECA asfaltos, a BR Distribuidora e a RECIPAV Engenharia e Pavimentos.

Além desse levantamento bibliográfico cita-se também uma pesquisa elaborada pelo

Grupo GRECA Asfaltos com apresentação dos resultados dos ensaios elaborados para

caracterização do asfalto-borracha, assim como opiniões de outros autores em meio ao mesmo

tipo de pesquisa, e as conclusões advindas da referida pesquisa.

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3

2. PROBLEMA AMBIENTAL CAUSADO PELOS PNEUS INSERVIVÉIS

A descoberta da borracha foi fato de grande importância para o setor de transportes, e a

substituição das rodas de madeira e de ferro pelos pneumáticos trouxeram maior conforto,

flexibilidade e eficiência para o setor (ROCHA, 2008).

O sistema de transporte rodoviário, no Brasil, movimenta o país e é responsável por

aproximadamente 90% das cargas de produtos e outra grande percentagem pelo transporte de

passageiros. A dependência do setor atrai indústrias do ramo de pneus e o crescimento anual

dessas é representativo no contexto econômico do país (ROCHA, 2008).

Aliada a esse fato, surge o problema do impacto ambiental causado pela destinação dos

pneus quando não mais se prestam ao uso. Essa destinação ocorre em locais inadequados e de

forma incorreta. Por ser um material de pouca compressibilidade, degradação muito lenta e

susceptível a riscos de incêndio e proliferação de insetos e roedores, torna-se difícil dar

destinação adequada aos mesmos (MARTINS, 2004).

No Brasil, a ausência de dados sobre o destino de pneus inservíveis não permite

determinar com certeza o passivo ambiental. Uma estimativa baseada na frota de veículos

indica que são gerados mais de 44 milhões de carcaças de pneus anualmente e que existem

mais de 100 milhões de pneus abandonados em todo o país. O ciclo de vida de um pneu,

representado na Figura 2.1 dá idéia quanto à destinação do problema (BERTOLLO;

FERNANDES JR. e SCHALCH, 2002).

Figura 2.1 - Esquema Representativo do Ciclo de Vida do Pneu Fonte: COMLURB, 2002 apud Martins, 2004

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4

Da totalidade dos pneus de automóveis substituídos na rede de revendedores

autorizados, 20% são mantidos com o proprietário. Dos 80% coletados pelos sucateiros, 13%

voltam a pontos de revenda, 22% são reformados e 65% são descartados clandestinamente ou

incinerados ilegalmente (GRECA ASFALTOS, 2003).

A destinação final, quando não recuperados, é o descarte em locais públicos, rios, valas,

canais e lixões, ou queima para venda de componentes como o aço e ainda emitindo poluentes

ofensivos a camada de ozônio. A Figura 2.2 mostra a disposição de pneus às margens do Rio

Tietê.

As ações governamentais ainda não muito eficazes transferem o problema para as

futuras gerações. Necessita-se de maior controle quanto à destinação.

No Brasil, o Conselho Nacional do Meio Ambiente, CONAMA, através da resolução nº

258/1999, ainda não muito difundida, vem a ser instrumento de defesa ambiental que impõe

condições aos produtores e importadores de pneus quanto à destinação e a forma de destinar o

problema dos pneus inservíveis.

Figura 2.2 – Disposição de Pneus No Leito Do Rio Tietê - SP Fonte: ODA (2002)

2.1. RESOLUÇÃO 258/99

O conselho Nacional do Meio Ambiente, CONAMA, através da resolução nº. 258 de 26

de Agosto de 1999 determinam que as empresas fabricantes de pneus tenham que recolher e

dar destinação adequada quando os pneus se tornam inservíveis.

O artigo 1º torna evidente esse fato.

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5

“Art.1º: As empresas fabricantes e as importadoras de pneumáticos ficam obrigadas a

coletar e dar destinação final, ambientalmente adequada, aos pneus inservíveis existentes no

território nacional, na proporção definida nesta resolução relativamente às quantidades

fabricadas e/ou importadas.”

Além de recolher e destinar adequadamente determina-se também as quantidades

exigidas de acordo com o número de pneus fabricados e/ou importados pelos fabricantes e

prazos legais para inicio dessa resolução. Esse prazo, que se inicia em 2002 e vai até 2005,

visa também reduzir as quantidades já existentes e amenizar o passivo ambiental.

O artigo 3º esclarece prazos e os valores quantitativos a serem recolhidos na proporção

de pneus fabricados.

“Art.3º: A partir de 1º de Janeiro de 2002: para cada quatro pneus novos fabricados ou

importados, as empresas deverão dar destinação final a um pneu inservível.”

A partir de 1º de janeiro de 2003, para cada dois devera destinar um pneu inservível.

A partir de 1º de janeiro de 2004, a cada pneu novo fabricado ou importado deverá

destinar outro inservível e, a cada quatro pneus reformados destinar cinco inservíveis.

A partir de 1º de janeiro de 2005, a cada quatro pneus novos destinar cinco pneus

inservíveis e, para cada três reformados destinar quatro inservíveis.

A resolução ainda conta com fiscalização por parte do Instituto Brasileiro de Meio

Ambiente, IBAMA, sobre os fabricantes e esclarece as penalidades legais para punição do não

cumprimento da mesma, descrito nos demais artigos.

Torna-se evidente a necessidade de obter uma destinação adequada aos pneumáticos

inservíveis, através de processos de reciclagem e reaproveitamento de carcaças dos mesmos

2.2 ALTERNATIVAS PARA MINIMIZAR O PROBLEMA

Diante dos problemas quanto à destinação do passivo ambiental, na busca de soluções

viáveis economicamente para minimizar o impasse provocado pelos pneus, surge como

alternativa a reciclagem de carcaças e destinação adequada, quando inservíveis. A reciclagem

é, dentre outras, a forma mais conhecida e adotada mundialmente para reaproveitamento das

características oferecidas pelos pneus.

Existem muitas formas de reaproveitamento de pneus. As reciclagens, cujos processos

não mudam as composições químicas do material, são denominadas de reciclagens mecânicas,

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6

como é o caso da reforma. Enquanto que os processos que alteram as propriedades químicas

do pneu são intitulados de reciclagens químicas ou industriais, como a desvulcanização

(ANDRIETTA, 2002).

Reciclar consiste em reutilizar determinado rejeito de forma útil e economicamente

viável (MORILHA JR. e SCHALCH, 2002).

A reciclagem de pneus envolve um ciclo que compreende a coleta, o transporte, a

trituração e a separação de seus componentes (borracha, aço, náilon ou poliéster),

transformando sucatas em matérias primas para o mercado (BERTOLLO; FERNANDES JR.

e SCHALCH, 2002).

A reutilização de pneus pode ser feita de diferentes formas, dentre elas pode-se destacar:

Compostagem, contenção de erosão, reforço de aterros, recauchutagem ou fabricação de

pneus novos (remodelagem), combustível de forno para produção de cimento, cal, papel e

celulose, reprodução de organismos marinhos, equipamentos para playground e em alguns

esportes (ROCHA, 2008).

Segundo Rocha (2008), a utilização do pneu como combustível para fabricação de

cimento, cal e celulose, consome grande quantidade de carcaças. A recauchutagem apenas

prolonga a vida útil da borracha, mas não elimina o passivo quando inservível. E as outras

destinações consomem quantidades pequenas de pneus.

Surge ainda como alternativa à destinação de pneus, a pavimentação asfáltica, através da

incorporação da borracha às misturas asfálticas e ainda beneficiar as mesmas com melhorias

técnicas às características mecânicas e químicas das misturas (ROCHA, 2008).

2.3. REUTILIZAÇÃO PARA FINS DE PAVIMENTAÇÃO ASFÁLTICA

A utilização de pneu velho na pavimentação tem causado grande repercussão no cenário

mundial e é uma das formas mais adotadas nos Estados Unidos para reaproveitamento de

pneus. No Brasil, a ascensão dessa nova técnica ainda é muito recente e vários estudos e

pesquisas estão sendo feitos no sentido de avaliar o comportamento das misturas

incorporadoras e o desempenho prático em trechos de estradas do país.

Edel (2002) avaliou que a quantidade de pneus utilizados por unidade de distância para

uma estrada comum é de aproximadamente 4000 carcaças para um quilômetro. A Figura 2.3

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7

mostra a disposição de pneus usados em um trecho de rodovia e dá idéia da proporção de

consumo para sua utilização.

Apesar de já existirem diversas formas de reutilização de pneus usados, é importante

notar que, além da co-incineração para geração de energia, somente a pavimentação asfáltica

tem potencialidade para empregar uma quantidade expressiva de pneus (ROCHA, 2008).

Além de minimizar o passivo ambiental, a incorporação da borracha vem a modificar o

comportamento mecânico das misturas incorporadoras no sentido de melhorar o desempenho

de pavimentos que utilizam dessa técnica.

A adição de borracha vem dar a qualidade desejada para um bom desempenho das

misturas em rodovias de alto volume de tráfego. Para aumentar sua resistência ou, ainda,

alcançar elevadas características reológicas, os ligantes, ou cimentos asfálticos de petróleo,

denominados de CAP, podem ser modificados com a adição de borracha em pó de pneus

inservíveis (PINHEIRO, 2004).

Figura 2.3 – Quantidade de Pneus Usados em Trecho de Rodovia Fonte: EDEL (2002) apud Rocha (2008)

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8

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Ressalta-se nesse item do trabalho, um embasamento de fundo teórico para

entendimento e compressão do tema abordado, enfatizando nos principais tópicos que se

correlacionam ao tema.

3.1. LIGANTE ASFÁLTICO

3.1.1. Noções Gerais

O asfalto é um dos mais antigos materiais da natureza que é usado pelo homem. Estudos

arqueológicos revelaram seu emprego em épocas anteriores a nossa era. Na Mesopotâmia o

asfalto era usado como aglutinante em trabalhos de alvenaria e construção de estradas. Era

utilizado para impermeabilizações nos reservatórios de água e salas de banho, assim como,

pelos egípcios em trabalhos de mumificações. Citações bíblicas mostram o emprego do asfalto

na arca de Noé (IBP, 1999).

A utilização de asfaltos para fins de construção é verificada desde a antiguidade, quando

sua aplicação não tinha a pavimentação asfáltica como principal consumidor desse produto. O

Manual do Asfalto lista diversas aplicações desse material, em diversos setores e diferentes

utilizações.

Para fins de pavimentação asfáltica, a utilização é verificada desde o século XIX, na

França, Estados Unidos e Londres. Nesse período ainda não se utilizava o asfalto proveniente

da destilação do petróleo, e sim o asfalto natural proveniente de jazidas.

Os asfaltos são materiais aglutinantes de cor escura, constituídos por misturas

complexas de hidrocarbonetos não voláteis de elevada massa molecular (PATRIOTA, 2004).

Na composição do asfalto, os elementos mais presentes são Carbono e Hidrogênio, com uma

faixa de 93 a 99% dos mesmos. Além desses, fazem parte ainda enxofre, nitrogênio e

oxigênio.

O comportamento mecânico de uma mistura asfáltica depende, dentre outros fatores, do

ligante promover a coesão necessária. Além disso, o ligante também impermeabiliza o

pavimento, garantindo vedação eficaz contra a penetração de água proveniente tanto de

precipitações quanto ao subleito por ações capilares (SILVA, 1998).

O ligante asfáltico mais usado para fins de pavimentação é o cimento asfáltico de

petróleo, conhecido pela sigla CAP e originado da destilação do petróleo em refinarias.

Page 20: Artigo Engenharia Civil

9

Existem ainda os cimentos asfálticos naturais, CAN, encontrados em jazidas naturais, mas não

muito utilizados para fins de pavimentação.

3.1.2 Cimento Asfáltico de Petróleo (CAP)

Cimento asfáltico de petróleo é o asfalto obtido especialmente para apresentar as

qualidades e consistências próprias para uso direto na construção de pavimentos. Esses

materiais apresentam propriedades aglutinantes, envolvimento de agregados, e

impermeabilizantes, evita infiltração de água sobre a camada revestida e da capilaridade

oriunda das camadas inferiores da estrutura (PATRIOTA 2004).

As propriedades aglutinantes e impermeabilizantes dos CAP se devem a presença de

betume, que é a mistura de hidrocarbonetos pesados obtidos em estado natural ou por

processos físico-químicos.

Os cimentos asfálticos de petróleo têm o símbolo CAP que deve preceder às indicações

dos vários tipos, conforme viscosidade ou penetração. Para os classificados por penetração, a

nomenclatura do ligante é seguida de dois valores, CAP 30/40, por exemplo. Já para os

classificados pela viscosidade, a nomenclatura é seguida de um valor característico do ensaio,

CAP 20, por exemplo.

3.1.3 Ensaios de Caracterização do Ligante

Segundo Bernutti et al.(2007), as características dos ligantes estão associadas à

temperatura, e a mudança de estado físico altera sensivelmente o desempenho das misturas

asfálticas quando submetidas as ações solicitantes do tráfego.

È necessário obter parâmetros para aceitação do ligante asfáltico. Esses parâmetros são

representados pelos ensaios de caracterização do ligante. Existem vários ensaios de caráter

empírico que avaliam o comportamento e fornece valores que precisam ser enquadrados nas

normas exigíveis para utilização do ligante em misturas asfálticas.

Dentre os ensaios mais importantes destacam-se o ensaio de penetração e o ensaio de

viscosidade, que refletem a dureza e a resistência ao fluxo, respectivamente. Além desses,

fazem parte também, ensaios que tentam avaliar o desempenho do ligante ao longo do tempo.

Page 21: Artigo Engenharia Civil

10

Enquadram-se ai os ensaios de consistência, durabilidade, pureza e de segurança (BERNUCCI

et al., 2007).

No Brasil, esses ensaios são descritos em norma especifica através do Departamento

Nacional de Estradas e Rodagens, DNER, com o nome métodos de ensaio, ME.

O ensaio de penetração, representado pela norma DNER ME 003/99, mede a penetração

em décimos de milímetros, que uma agulha de massa padronizada (100g) penetra em uma

amostra de volume padronizado de cimento asfáltico, por 5 segundos, a temperatura de 25ºC.

A nomenclatura de cimento asfáltico de petróleo através da penetração é utilizada atualmente

em todo o país. (BERNUCCI et al.,2007).

O ensaio de viscosidade, norma DNER ME 004/94, mede a consistência do CAP por

resistência ao escoamento. A medida da viscosidade do ligante asfáltico tem grande

importância na determinação da consistência adequada que ele deve apresentar quando da

mistura com os agregados para proporcionar uma perfeita cobertura dos mesmos e quando de

sua aplicação no campo (BERNUCCI et al.,2007).

O ensaio de ponto de amolecimento determina a temperatura em que o ligante atinge a

condição de escoamento, quando aquecido. A normatização desse ensaio é descrita pela

Associação Brasileira de Normas Técnicas, ABNT, com nome NBR 6560/2000, e é de grande

importancia na verificação do CAP, já que a temperatura é fator influenciante na

caracterização e resistência das misturas asfálticas (BERNUCCI et al.,2007).

O ensaio de ductilidade é também uma medida empírica de determinar a flexibilidade do

material quanto ao alongamento. A idéia de adesividade e capacidade de revolvimento do

material betuminoso em relação ao agregado são representadas nesse ensaio através do valor

do alongamento sofrido pelo material, a temperatura de 25º, e sob uma força constante

aplicada no mesmo (BERNUCCI et al., 2007).

O ensaio de ponto de fulgor indica a temperatura que o ligante pode inflamar. Esse

ensaio permite que a temperatura da mistura não ultrapasse limites exigíveis para segurança

do processo (BERNUCCI et al.,2007).

3.2 AGREGADOS

3.2.1 Noções Gerais

Page 22: Artigo Engenharia Civil

11

Todos os revestimentos asfálticos constituem-se de associações de ligantes asfálticos, de

agregados e, em alguns casos, de produtos complementares. Essas associações, quando

executadas e aplicadas apropriadamente, devem originar estruturas duráveis em sua vida de

serviço (BERNUCCI et al.,2007).

Agregado é todo material inerte, resistente, usado nas misturas sob a forma de partículas

ou fragmentos graduados. A quantidade de agregado mineral em misturas asfálticas de

pavimentação é geralmente de 90 a 95% em peso e 75 a 85% em volume (INSTITUTO DO

ASFALTO, 2001).

A caracterização dos agregados requer conhecimento sob sua formação geológica e o

processo físico-químico ocorrido sobre os mesmos ao longo do tempo (BERNUCCI et al.,

2007). Segundo Mourão, essa verificação é difícil ser avaliada, visto que seu comportamento

nas misturas asfálticas depende da graduação, resistência, forma, composição mineralógica,

dentre outros.

A classificação dos agregados pode ser feita quanto a sua origem, quanto ao tamanho

das partículas e quanto à distribuição dos grãos (BERNUCCI et al., 2007).

No que diz respeito à origem, o agregado pode ser: natural, que são formações

geológicas ocorridas com a influência dos fatores climáticos e do tempo e encontradas em sua

formação granulométrica original; artificial, que são resíduos industriais ou fabricados

especificamente com o objetivo de alto desempenho, tais como escória de alto forno, argila

calcinada e argila expandida; e reciclado, que são provenientes de materiais reutilizados

oriundos dos processos de reciclagem (BERNUCCI et al., 2007).

Quanto ao tamanho das partículas, o Departamento Nacional de Infra-estrutura e

Transportes, DNIT, através da Especificação de Serviço ES 031/2004 distingue em: agregado

graúdo, material com dimensões maiores que 2,0mm e retido na peneira nº 10; agregado

miúdo, material com dimensões entre 0,075 e 2,0mm e que é retido na peneira nº 200, mas

que passa na peneira de abertura nº 10, tais como areias, pó de pedra, dentre outros; e material

de enchimento ou filer, material retido com percentagem maior que 65% na peneira nº 200

(BERNUCCI et al., 2007).

E por fim, quanto à distribuição granulométrica as graduações podem ser: densa ou bem

graduada, apresenta distribuição contínua e bem definida; aberta, apresenta distribuição

granulométrica contínua, mas com insuficiência de material fino (menor que 0,075); uniforme,

apresenta a maioria de suas partículas com tamanhos em uma faixa bastante estreita; e

descontínua, apresenta pequena porcentagem de agregados com tamanhos intermediários

(BERNUCCI et al., 2007).

Page 23: Artigo Engenharia Civil

12

A distribuição granulométrica é uma das características que mais influi no

comportamento dos revestimentos asfálticos. Em misturas asfálticas a distribuição

granulométrica do agregado influência quase todas as propriedades importantes incluindo

rigidez, estabilidade, durabilidade, permeabilidade, trabalhabilidade, resistência à fadiga e a

deformação permanente e resistência ao dano por umidade induzida (ROBERTS et al., 1996).

3.2.2 Material de Enchimento ou Fíler

Conforme mencionado, define-se filer como um material inerte em relação aos demais

componentes da mistura asfáltica, em que sua composição granulométrica apresenta

porcentagem maior que 65% passante na peneira de nº 200.

Segundo Motta e Leite (2000), a incorporação de fíler às misturas pode ser vista de duas

maneiras conforme descrição a seguir.

1) As partículas maiores são parte do agregado mineral e preencherão os vazios e

interstícios dos agregados graúdos, promovendo o contato pontual entre as partículas maiores,

conferindo maior resistência às misturas;

2) As partículas menores de fíler se misturam com o ligante asfáltico, aumentando sua

consistência, cimentando as partículas maiores, formando o que se chama de mástique.

Pode-se distinguir o fíler ativo, a parte mais fina que fica dispersa no asfalto, e o fíler

agregado, a parte menos fina que fica recoberta com uma película de asfalto. O fíler ativo vai

com o CAP formar um novo sistema, o sistema fíler-asfalto, que funciona como verdadeiro

ligante das partículas de agregado, sendo mais espesso que o CAP e apresentando melhor

adesividade se o fíler for de natureza eletropositiva tais como pó calcário, cal hidratada,

cimento portland, dentre outros (SANTANA, 1992).

3.2.3 Caracterização dos Agregados

Segundo Roberts et al. (1996), são as propriedades físicas dos agregados que

determinam principalmente a adequação para o uso em misturas asfálticas e em menor

extensão as propriedades químicas. As propriedades químicas podem afetar apenas a

adesividade do ligante ao agregado ou a compatibilidade com aditivos incorporados ao

ligante. Já as físicas podem afetar a resistência e a durabilidade.

Page 24: Artigo Engenharia Civil

13

Para aceitação do agregado é necessário a análise de determinadas características

próprias de cada tipo que é comum a região onde é adquirido.

Dentre as características exigidas pelo DNER para aceitação, enquadram-se: tamanho e

graduação, limpeza, resistência a abrasão, textura superficial, forma das partículas, absorção,

adesividade ao ligante asfáltico, sanidade e densidade especifica (BERNUCCI et al., 2007).

O tamanho e a graduação dependem do tipo de revestimento a ser feito como também da

espessura da camada a ser executada. Essa caracterização é descrita em norma especifica,

DNER ME083/98, e assegura a estabilidade do revestimento, como também relaciona o

entrosamento e a disposição das partículas de agregado (BERNUCCI et al., 2007).

A limpeza é verificada através do ensaio de equivalente de areia, norma DNER-ME

054/97, onde é descrito a proporção de impurezas do tipo argila ou pó em amostras de

agregados miúdos, e o limite de aceitação dessas impurezas (BERNUCCI et al., 2007).

A resistência à abrasão especificada na norma DNER ME 035/98, Abrasão Los Angeles,

avalia o desgaste sofrido pelo agregado sob ação do tráfego. O agregado é submetido à

degradação mecânica através de equipamento que simula a ação do tráfego e determina a

resistência ao desgaste (BERNUCCI et al., 2007).

A textura superficial influi na trabalhabilidade da mistura, adesividade, resistência ao

atrito e ao cisalhamento. Não há especificação que mede esse índice, apenas existem

procedimentos de avaliação indireta (BERNUCCI et al., 2007).

A forma das partículas é caracterizada pelo índice de forma, especificado na norma

DNER-ME 086/94. A angularidade dos agregados tem papel importante na resistência ao

cisalhamento e trabalhabilidade da mistura. O entrosamento das partículas também é

influenciado pela forma do agregado (BERNUCCI et al., 2007).

A absorção está ligada a porosidade dos agregados ao entrar em contato com o ligante

asfáltico. A relação entre a massa de água absorvida pelo agregado graúdo, após imersão, e a

massa inicial seca mede o grau de porosidade do mesmo. A norma DNER-ME 081/98

descreve os limites aceitáveis para uso do agregado na mistura (BERNUCCI et al., 2007).

Adesividade ao ligante é um critério importante de avaliação, descrito pela norma

DNER-ME 078/94, o agregado deve apresentar interação química com o ligante e pode não

servir a mistura se não apresentar tal qualidade (BERNUCCI et al., 2007).

Sanidade é a avaliação da resistência do agregado sob ação das intempéries, através de

ensaio do agregado com uma solução química, especificada na norma DNER-ME 089/94, e

determinação da perda de massa do agregado após a mistura (BERNUCCI et al., 2007).

Page 25: Artigo Engenharia Civil

14

3.3 MODIFICADORES DE LIGANTE

Os Cimentos Asfálticos de Petróleo (CAP) são úteis nas mais diversas aplicações, mas

em situações mais severas apresentam limitações. Nesses casos torna-se necessário modificar

as propriedades dos CAPs pela adição de polímeros. Estes produtos modificados apresentam

desempenho superior ao CAP tanto em baixas como em altas temperaturas (PETRÓBRAS,

2008).

A crescente demanda de solicitações de carregamento ao pavimento, provocada pelo

aumento do número de veículos e pelo aumento da carga por eixo em veículos pesados, vêm

obrigando uma qualidade superior das misturas e de seus constituintes, agregados e ligantes.

Os modificadores de ligante entram como um dos agentes mais importantes nessa melhora de

qualidade das misturas. Os principais defeitos dos pavimentos brasileiros são trincamento por

fadiga e deformação permanente e o comportamento viscoelástico do ligante é, em grande

parte, o controlador do desempenho de uma via, influenciando diretamente o surgimento

desses defeitos (PINHEIRO, 2004).

Os modificadores de ligantes mais usados atualmente em misturas asfálticas são os

polímeros. Esses apresentam características de flexibilidade e ajudam as misturas

incorporadoras a combater os esforços repetidos oriundos do tráfego, evitando que a camada

de revestimento possa chegar à ruptura por trincamento.

A classificação dos polímeros, segundo a PROBISA (1998), pode ser feita da seguinte

forma: Termorrígidos, Termoplásticos, Elastômeros ou Borrachas e Elastômeros

Termoplásticos. Dentre esses, os elastômeros se destacam pelas propriedades elásticas que

possuem, enquadrando-se nesse contexto, a borracha natural (BN), borracha de estireno

butadieno (SBR), borracha de etileno propileno (EPDM) e borracha de policloropreno (CR).

3.4. ENVELHECIMENTO DO ASFALTO

Um dos principais problemas enfrentados pelos pavimentos são as mudanças das

características físico-químicas dos ligantes devido ao envelhecimento do asfalto, o que leva a

mudanças acentuadas na reologia do mesmo, como o aumento da viscosidade e a diminuição

da penetração. Este envelhecimento pode ser devido a fatores físicos e/ou químicos, e pode ser

verificado na fase de produção e execução da mistura, envelhecimento em curto prazo, e ao

Page 26: Artigo Engenharia Civil

15

longo do tempo, envelhecimento em longo prazo, provocado pelas intempéries atuantes sobre

o pavimento (BERNUCCI et al., 2007).

O envelhecimento do ligante asfáltico, traduzido pelo aumento de sua consistência,

provoca a redução da ductibilidade e da recuperação elástica do ligante, esta redução contribui

decisivamente para o enrijecimento do revestimento que, em função da deformabilidade da

estrutura subjacente pode ter sua vida reduzida (MORILHA JR. e GRECA, 2003)

O envelhecimento é avaliado através dos ensaios de durabilidade, que simulam o

comportamento do ligante tanto na fase de produção como também ao longo da sua vida útil.

3.4.1. Envelhecimento em Curto Prazo

O envelhecimento em curto prazo em asfaltos se dá na fase de produção, usinagem, e na

fase de transporte. A perda de componentes voláteis através de aquecimento da mistura

provoca enrijecimento do ligante.

O ensaio de envelhecimento de ligantes asfálticos em curto prazo pode ser feito

mediante a Estufa de Filme Fino (TFO) ou por meio da Estufa para Filme Fino Rolante

(RTFO). O ensaio utilizando a Estufa de Filme Fino consiste em colocar uma pequena forma

cilíndrica de fundo plano em um rack horizontal no interior de um forno ventilado, cuja

temperatura é mantida a 163ºC ± 1ºC. A pequena forma contém 50 gramas de ligante asfáltico

(aproximadamente 3 mm de espessura), e o rack horizontal gira a uma velocidade de 5 ou 6

revoluções por minuto. O ensaio tem duração de cinco horas e logo após o término desse

período, o material oxidado é transferido a um recipiente apropriado para futura utilização em

ensaios convencionais e Superpave (ROBERTS et al., 1996)

3.4.2. Envelhecimento em Longo Prazo

O envelhecimento em longo prazo é observado ao longo da vida útil do pavimento, e se

deve ao efeito de intempéries atuantes sobre a camada revestida.

O ensaio de envelhecimento de ligantes asfálticos em longo prazo é efetuado mediante o

vaso de envelhecimento sob pressão. Inicialmente, o ligante asfáltico previamente envelhecido

em curto prazo é aquecido, remexido e colocado em pequenas formas cilíndricas de fundo

plano. Essas formas contendo, respectivamente, 50 gramas de ligante são colocadas em um

Page 27: Artigo Engenharia Civil

16

rack e posteriormente inseridas em um aparelho PAV pré-aquecido à temperatura de ensaio

desejada (90ºC, 100ºC ou 110ºC). A temperatura é definida em função da região onde o

pavimento será construído. O ensaio de envelhecimento é então realizado durante 20 horas a

pressão de 2070 kPa (ROBERTS et al., 1996).

A Figura 3.1 faz um comparativo do envelhecimento do asfalto durante a usinagem,

estocagem, transporte, aplicação no campo e durante a vida em serviço.

Figura 3.1 – Envelhecimento Do Asfalto Fonte: Bernutti et al. (2007)

Segundo Bernucci et al., (2007) as maiores perdas ocorrem durante as fases de

transporte, compactação e usinagem e a maior parcela de envelhecimento é observada nesse

período.

3.5. REVESTIMENTOS ASFÁLTICOS

3.5.1. Noções Gerais

Segundo Bernucci et al. (2007), o revestimento é a camada destinada a receber

diretamente os esforços solicitantes do tráfego e impedir que as ações climáticas penetrem nas

camadas subseqüentes do pavimento e venha a deteriorar sua estrutura. Trata-se de uma

mistura de agregados minerais, material de enchimento e ligante asfáltico, em proporções

determinadas por um método de dosagem e que venha a atender os requisitos mínimos

exigidos em norma para bom desempenho a solicitação do tráfego sobre o mesmo.

Page 28: Artigo Engenharia Civil

17

As misturas asfálticas são os revestimentos mais utilizados atualmente para fins de

pavimentação. Essas podem ser fabricadas em usinas especificas ou preparadas no local a ser

revestido. Podem ainda ser identificada quanto ao tipo de ligante utilizado, que pode CAP,

Cimento Asfáltico de Petróleo, ou EAP, Emulsão Asfáltica de Petróleo. Misturas com CAP

são conhecidas por misturas a quente, enquanto que misturas com EAP são denominadas

misturas a frio.

Para efeito deste trabalho, daremos ênfase às misturas usinadas a quente por serem estas

mais utilizadas e correlacionadas ao tema abordado. Inserem-se ai, os concretos betuminosos

usinados a quente, CBUQ, a camada porosa de atrito, CPA, ou revestimento asfáltico

drenante, o SMA, Stone Matrix Asphalt, e o Gap-graded.

3.5.2. Concreto Asfáltico (CA)

Concreto asfáltico é uma mistura executada a quente, com características especificas

composta de agregado mineral graduado, material de enchimento (filer) e ligante betuminoso

espalhado e comprimido a quente (DNER ES313-97).

Segundo Bernucci et al., (2007) a mistura possui uma graduação do tipo densa, contínua

e bem graduada, com quantidade de ligante variando entre 4 e 6% e teor de vazios em torno de

3 a 5%.

Pinto (2002) especifica as seguintes designações para concreto asfáltico, de acordo com

a função estrutural e posição relativa nas camadas do pavimento, descritas a seguir.

1) Camada de rolamento ou capa asfáltica – Camada superior da estrutura responsável

em receber diretamente as ações do tráfego. A mistura empregada deve apresentar estabilidade

e flexibilidade compatíveis com o funcionamento elástico da estrutura e condições de

rugosidade;

2) Camada de ligação ou binder – Camada posicionada imediatamente abaixo da capa.

Apresenta em relação à mistura utilizada para capa e rolamento, diferenças de

comportamento, decorrentes do emprego de agregados de maior diâmetro máximo, de maior

porcentagem de vazios e menor relação betume/vazios;

3 ) Camada de nivelamento ou regularização – Serviço executado com massa asfáltica

de graduação fina, com função de corrigir deformações ocorrentes na superfície de um

revestimento e, simultaneamente, promover selagem de fissuras existentes.

Page 29: Artigo Engenharia Civil

18

3.5.3. Camada Porosa de Atrito (CPA)

Segundo Bernucci et al. (2007), a camada porosa de atrito é uma mistura asfáltica com

elevada porcentagem de vazios em seu interior devido a pequena quantidade de filer, de

agregado miúdo e ligante asfáltico, compreendendo em torno de 18 a 25% de vazios de ar.

Esse tipo de revestimento asfáltico tem como característica principal a permeabilidade a

ação da água de chuva, servindo como camada drenante ao pavimento. Essa particularidade

evita grande lamina d’água em dias de chuva, aumenta a aderência pneu-pavimento e reduz a

reflexão da luz dos faróis noturnos. (PINHEIRO, 2004)

Devido às características próprias da mistura, recomenda-se utilização de ligante com

baixa suscetibilidade térmica e alta resistência ao envelhecimento, enquadrando-se ai os

ligantes modificados por polímeros, para aumentar a resistência e a durabilidade do

pavimento.

3.5.4. Stone Matrix Asphalt (SMA)

O SMA é um revestimento asfáltico, usinado a quente, concebido para maximizar o

contato entre os agregados graúdos, aumentando a interação grão/grão; a mistura se

caracteriza por conter uma elevada porcentagem de agregados graúdos e, devido a essa

particular graduação, forma-se um grande volume de vazios entre os agregados graúdos

(PATRIOTA 2004).

Diferentemente da camada porosa de atrito, o SMA é um revestimento impermeável,

com quantidade de vazios de 4 a 6%, e alto consumo de ligante, 6 a 7,5% (BERNUCCI et

al.,2007).

A Figura 3.2 faz uma análise comparativa entre as faixas granulométricas de CBUQ,

CPA e SMA.

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19

Figura 3.2 - Análise Granulométricas De CBUQ, CPA E SMA Fonte: Mourão, 2003 apud Patriota, 2004

3.5.5. Gap-Graded

Esse tipo de revestimento asfáltico, ainda pouco utilizado, consiste em uma mistura de

graduação descontínua, sem grande índice de vazios e com uma textura superficial rugosa

(BERNUCCI et al., 2007).

No Brasil, essa mistura tem sido empregada como camada estrutural de revestimento, e

utiliza-se ligante modificado por polímero, especificamente o asfalto-borracha.

3.5.6. Caracterização das Misturas Asfálticas

A caracterização das misturas asfálticas é fato de difícil compreensão, visto que as

mudanças que ocorrem ao longo do tempo com o ligante, provocada pela atuação das

intempéries e envelhecimento do asfalto alteram as características da mistura e seu

comportamento sob ação de tráfego de veículos.

Segundo Bernutti et al. (2007), os ensaios mecânicos para caracterização das misturas

asfálticas podem ser divididos da seguinte forma:

٠Ensaios Convencionais: Estabilidade Marshall

٠Ensaios de Módulo: módulo de resiliência; módulo complexo (módulo dinâmico)

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٠Ensaios de ruptura: resistência à tração indireta; vida de fadiga (compressão diametral,

flexão)

٠Ensaio de deformação permanente: simulador de tráfego de laboratório; compressão ou

tração axial estática (creep); compressão ou tração axial de carga repetida;

٠Ensaios Complementares: Cântabro; dano por umidade induzida;

Para efeito desse trabalho, dar-se-á enfoque apenas ao ensaio de estabilidade Marshall,

ensaio de módulo de resiliência e ao ensaio de simulador de tráfego de laboratório.

3.5.6.1 Estabilidade Marshall

Esse tipo de ensaio é o mais utilizado pelos órgãos rodoviários brasileiros atualmente,

embora algumas divergências sejam apresentadas quando aos valores obtidos pelo mesmo.

Consiste na aplicação de uma carga de compressão sobre um corpo-de-prova cilíndrico

regular, denominado corpo-de-prova Marshall, de 100 mm de diâmetro e 63,5 mm de altura.

A carga é aplicada a uma taxa de carregamento de 5 cm/minuto, a temperatura de 60ºC, num

aparelho denominado de prensa Marshall (DNER ME 043/95).

Os parâmetros obtidos nesse ensaio são estabilidade e fluência, denominados como

carga de ruptura sofrida pelo corpo-de-prova e deformação máxima até a ruptura,

respectivamente (BERNUTTI et al., 2007).

Embora seja o mais utilizado no meio rodoviário brasileiro o ensaio não reproduz

fielmente as condições práticas das realizadas em laboratório, especificamente no que se

refere ao tipo de compactação realizada. Esse fato pode originar defeitos prematuros nos

pavimentos como deformação permanente (PINHEIRO, 2004).

3.5.6.2 Ensaio De Módulo de Resiliência

Esse ensaio, padronizado no país através da norma DNER-ME 133/94, visa avaliar o

comportamento da mistura quanto à deformação recuperável sofrida sob ação de carregamento

do tráfego (BERNUCCI et al.,2007).

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21

Segundo o DNER-ME 133/94 o módulo de resiliência (MR) é a relação entre a tensão

de tração (σT), aplicada em um corpo-de-prova e a deformação especifica recuperável (Εt)

correspondente a tensão aplicada a uma dada temperatura.

O ensaio de MR em misturas asfálticas é realizado através da aplicação de uma carga

repetidamente no plano diametral vertical de um corpo-de-prova cilíndrico regular. Essa carga

gera uma tensão de tração transversalmente ao plano de aplicação da carga. Mede-se então o

deslocamento diametral recuperável na direção horizontal correspondente a tensão gerada,

numa dada temperatura (T). Os corpos-de-prova cilíndricos são moldados no compactador

Marshall e medem aproximadamente 100mm de diâmetro e 63,5mm de altura (BERNUCCI et

al.,2007).

3.5.6.3 ENSAIO DE SIMULADOR DE TRÁFEGO

Esse ensaio visa avaliar as deformações permanentes em misturas asfálticas através de

simulação de tráfego, correlacionando os valores obtidos em laboratório com análise empírica

feita em campo (BERNUCCI et al.,2007).

O ensaio é feito em equipamento munido de roda pneumática, cuja pressão do pneu e

carga no eixo são controláveis, assim como também a temperatura. Coloca-se duas placas,

uma em cada lado do equipamento, munido de um eixo com dois pneumáticos. O pneumático

fica em contato com a placa asfáltica e aplica carregamento em movimento longitudinal de ida

e vinda, em ciclos de 1 Hz. Mede-se o afundamento na trilha de roda em diversos pontos a

cada determinado número de solicitações (BERNUCCI et al.,2007).

3.6 PRINCIPAIS DEFEITOS EM PAVIMENTOS

O comportamento estrutural de um pavimento depende, em grande parte das

características do ligante utilizado. Dentre os principais defeitos dos pavimentos brasileiros,

destacam-se as deformações permanentes e o trincamento por fadiga (PATRIOTA, 2004).

Page 33: Artigo Engenharia Civil

22

3.6.1. Deformação Permanente

A deformação permanente em misturas asfálticas ocorre devido a uma combinação do

fluxo do material, viscoelástico ou viscoplástico, e do dano desse material, representado pela

formação e propagação de trincas. A capacidade da mistura de resistir a esse tipo de

deformação depende de diversos fatores, entre os quais, a consistência do ligante e a

volumetria da mistura, agregados e ligantes (BERNUTTI et al., 2007).

Trata-se de um acúmulo de pequenas deformações resultando em uma deformação de

proporções maiores gerando um desconforto e condições de tráfego inadequadas para o local

onde se propagou o defeito.

3.6.2. Trincamento por Fadiga

A vida de fadiga de uma mistura asfáltica é definida em termos de vida de fratura (Nf)

ou vida de serviço (Ns). A primeira se refere ao número total de aplicações de uma certa carga

necessária à fratura completa e a segunda (Ns) ao número total de aplicações dessa mesma

carga que reduza o desempenho ou a rigidez inicial da amostra a um nível preestabelecido

(BERNUCCI et al.,2007).

O fenômeno de fadiga é um processo de deterioração estrutural que sofre um material

quando submetido a um estado de tensões e de deformações repetidas, resultando em trincas

ou fatura completa, após um número suficiente de repetições de carregamento, ou seja, é a

perda da resistência que o material sofre, quando solicitado repetidamente por uma carga

(PINTO e PREUSSLER, 2002).

Page 34: Artigo Engenharia Civil

23

4. INCORPORAÇÃO DE BORRACHA EM MISTURAS ASFÁLTICAS

4.1. HISTÓRICO

A incorporação de borracha de pneus inservíveis em revestimentos asfálticos de

pavimentos rodoviários e urbanos já vem sendo empregada há algumas décadas no exterior.

Podem-se citar aplicações importantes no Canadá, Portugal, Austrália e vários estados norte-

americanos (MORILHA JR. e GRECA, 2003).

No Brasil, esta técnica ainda não é bastante difundida, visto que existe pouco

conhecimento na área e poucos são os trechos rodoviários de caráter experimental para

avaliação do comportamento do asfalto modificado sob ação de tráfego de veículos.

Segundo Specht (2000) apud Cury et al. (2002), a primeira tentativa de modificar as

propriedades dos betumes com borracha data de 1898 na Inglaterra, cujo processo patenteado

originava um produto chamado “rubber-bitumen”.

Em 1940, foi introduzido nos EUA, através da companhia de reciclagem Rubber

Reclaiming Company, um produto modificado composto de material asfáltico e borracha

desvulcanizada, denominada Ramflex (MORILHA JR. e GRECA, 2003).

No entanto foi com Charles H. MacDonald, considerado o pai do asfalto-borracha, em

1963, a utilização de um material altamente elástico composto de ligante e borracha moída de

pneu usado na manutenção de pavimentos (MORILHA JR. e GRECA, 2003).

A partir daí, tentativas de melhorar e aproveitar as características dessa mistura vem

sendo observadas em todo o mundo.

4.2. BORRACHA DE PNEU

Os pneumáticos para veículos de transporte são camadas ajustadas a um aro e têm o

objetivo de amortecer o contato entre o veículo e a via sobre a qual este trafega. O conforto

proporcionado pelos pneus se deve a absorção dos choques mecânicos pelo ar comprimido

dentro do pneu, como também pela composição elástica da borracha. A composição típica de

um pneu é borracha natural, borracha sintética, negro de fumo, tecido de nylon, fibras de aço e

aditivos, como óleos, dentre outros (ANDRIETTA, 2004).

Page 35: Artigo Engenharia Civil

24

A Figura 4.1 apresenta detalhes da formação de um pneu típico e os elementos que

fazem parte dessa composição.

Figura 4.1 - Elementos Constituintes De Um Pneu

Fonte: Andrieta, 2004 apud Pinheiro, 2004

Na composição química de um pneu, os hidrocarbonetos apresentam-se em maior

quantidade e os elementos que fazem parte desse composto são Carbono (C), Hidrogênio (H),

Óxido de Zinco, Enxofre (S) e Ferro (Fe) (PINHEIRO, 2004).

Um pneu de veículo de passeio típico (Goodyear P195/75 R14), com massa aproximada

de 10 Kg, contém os itens seguintes (BERTOLLO, 2002 apud BERNUCCI et al., 2007)

٠ 2,50 Kg de diferentes tipos de borracha sintética;

٠ 2,0 Kg de 8 diferentes tipos de borracha natural;

٠ 2,5 Kg de 8 tipos de negro de fumo;

٠ 0,75 Kg de aço para as cinturas;

٠ 0,50 Kg de poliéster e náilon;

٠ 0,25 Kg de arames de aço;

٠ 1,5 Kg de diferentes tipos de produtos químicos, óleos, pigmentos etc.

4.3. PROCESSO DE REGENERAÇÃO DA BORRACHA

A composição do pneu mostra que não há apenas borracha como elemento constituinte

sendo, portanto necessário separa-lá das demais frações.

Page 36: Artigo Engenharia Civil

25

O processo de recuperação e regeneração de pneus exige a separação da borracha

vulcanizada de outros componentes (como metais e tecidos, por exemplo). Podem-se citar

alguns métodos de obtenção desta borracha, tais como o processo físico-mecânico (trituração

a temperatura ambiente ou por criogênese), por processos químicos (ação de produtos

degradantes ou peptizantes) e processo físico-químico (ação de catalisadores). Os métodos

mais eficientes para a reciclagem da borracha envolvem a quebra das cadeias

macromoleculares da borracha vulcanizada. O termo regeneração refere-se a qualquer

processo que leve a ruptura de ligações covalentes do tipo carbono-carbono (C-C), carbono-

enxofre (C-S) e enxofre-enxofre (S-S). Para que um resíduo regenerado seja de boa qualidade,

pelo menos 70% das reticulações devem ser desfeitas. (GUARÇO, 2005)

4.4. PROCESSOS DE INCORPORAÇÃO DE BORRACHA EM MISTURAS ASFÁLTICAS

A incorporação de borracha às misturas asfálticas pode ser feita através de dois

processos, via úmida e via seca.

Segundo ODA (2000) e Fernandes Jr. (2000) apud Martins (2004), no processo úmido o

cimento asfáltico de petróleo, CAP, é misturado à borracha moída, 5 a 25%, a uma

temperatura elevada (150 a 200º C), durante um determinado período de tempo (20 a 120

minutos).

No processo seco, a borracha triturada é introduzida diretamente no misturador de

asfalto e entra como agregado na mistura com o ligante. (MORILHA JR. e GRECA, 2003

apud MARTINS, 2004).

A incorporação de borracha em misturas asfálticas através dos processos origina dois

subprodutos que são, Asfalto-borracha e Agregado-borracha.

O asfalto borracha é um ligante modificado, originado da incorporação da borracha

moída ao cimento asfáltico de petróleo, CAP, em condições controladas de temperatura, com

teor de borracha variando entre 15% e 20%, diluentes e alguns aditivos especiais se houver

necessidade (PETRÓBRAS, 2003). A função da borracha é modificar as propriedades

químicas do aglomerante, através da presença de elastômeros, que aumentam a flexibilidade e

melhoram a adesividade aos agregados. A Figura 4.2 apresenta o ciclo da produção de ligante

modificado por borracha

O agregado-borracha é um material de enchimento, onde as partículas de borracha

moída de pneu inservível, de granulometria especificada, substituem parte dos agregados

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26

pétreos na mistura ao ligante asfáltico e formam um produto denominado concreto asfáltico

com adição de borracha. (Fonte: REVISTA TÉCHNE, 2005)

A Figura 4.2 mostra os processos de incorporação e as tecnologias empregadas.

Figura 4.2 Processos de Incorporação de Borracha de Pneus Fonte: Patriota, 2004

4.5. COMPATIBILIZAÇÃO ENTRE BORRACHA E CAP

A incorporação de borracha ao cimento asfáltico exige, em alguns casos, a necessidade

de introduzir um agente compatibilizador para melhorar a interação de ambos. Esses agentes

são óleos extensores ou substâncias apropriadas à mistura.

A característica de compatibilidade ou estabilidade de um ligante modificado requer

que, o asfalto base utilizado como matéria-prima possua uma relação asfaltenos/aromáticos

dentro de uma determinada faixa. Se o ligante base não possuir essa compatibilidade com a

borracha, ele deve ser preparado por meio de adição de insumos especiais, como óleo extensor

ou óleo de xisto (MORILHA JR. e GRECA, 2003).

O papel do óleo extensor é facilitar a incorporação da borracha moída ao cimento

asfáltico, resultando um asfalto-borracha de melhor qualidade. A reação entre borracha e

cimento acontece mediante a absorção de óleos aromáticos do cimento asfáltico a cadeia

polimérica da borracha. A adição de um óleo extensor pode recompor a composição química

do cimento asfáltico, proporcionando ao ligante uma viscosidade aceitável para uso na

pavimentação (FAXINA, 2002 apud PILAT 2008).

Page 38: Artigo Engenharia Civil

27

A adição do resíduo de óleo de xisto no ligante asfalto borracha proporciona nas

temperaturas de usinagem e compactação, uma redução na viscosidade do ligante, refletindo

numa melhor trabalhabilidade das misturas asfálticas. Ainda apresenta efeito positivo sobre

parâmetros e propriedades relacionados com a formação de trincas por fadiga devido ao

tráfego e no aparecimento de trincas térmicas; entretanto, o resíduo de óleo de xisto apresenta

efeito negativo sobre todas as propriedades e parâmetros que indicam resistência a

deformação permanente (FAXINA, 2002 apud PILAT 2008).

4.6. ASFALTO-BORRACHA

Inicialmente, o ligante asfalto-borracha foi desenvolvido para ser usado em atividades

de manutenção e reabilitação e para tentar prolongar a vida de um pavimento, posteriormente

passou a ser utilizado de várias outras maneiras na pavimentação asfáltica (MORRIS e

McDONALD, 1976).

Segundo Patriota (2004), foi com a tecnologia Mcdonald , desenvolvida em meados de

1970, pela Companhia de Refinação do Arizona, que foi possível obter o ligante modificado

por borracha, através da mistura de borracha triturada (15 a 25% em relação ao peso do

ligante), durante 20 a 120 minutos a uma temperatura de 170 a 200º C, resultando um

composto com propriedades diferentes do asfalto original.

Distinguem-se dois métodos para obtenção de asfalto-borracha, terminal blend e

continuous blend. O processo continuous blend ocorre com mistura de borracha ao asfalto

com usinagem quase imediata, enquanto que no processo terminal blend, a adição de borracha

permite a estocabilidade do asfalto-borracha para usinagem imediata ou ainda para uma

posterior usinagem. (MORILHA JR. et al., 2003)

No Brasil, o método mais utilizado é o terminal blend. O ligante é modificado em

reatores específicos em fábricas de asfaltos modificados.

4.7. APLICAÇÃO DE ASFALTO BORRACHA

A aplicação do ligante modificado tem sido cada vez mais ampliada em diversos

serviços de pavimentação asfáltica. Segundo ODA, (2000) o uso não fica restrito apenas às

atividades de reabilitação, tais como remendo ou selante de trincas e juntas, têm sido usado

Page 39: Artigo Engenharia Civil

28

em misturas do tipo tratamento superficial (SAM), transição entre pavimentos existentes e

camada de reforço (SAMI) e revestimento de concreto asfáltico.

Além das utilizações mencionadas, o asfalto-borracha apresenta bom desempenho com

outras misturas usinadas a quente, Camada Porosa de Atrito (CPA), Stone Matrix Asphalt

(SMA) e Gap-graded.

O material é um dos melhores selantes de trincas existentes, juntas e remendos e pode

ser utilizado tanto em pavimentos flexíveis, asfálticos, como em pavimentos rígidos, concreto

de cimento portland. Apresenta ainda durabilidade cerca de três vezes mais que os ligantes

convencionais. (ODA, 2000 apud MARTINS, 2004)

A Figura 4.3 mostra a reabilitação de um pavimento com asfalto-borracha em trincas

enquanto que a Figura 4.4 apresenta a utilização em mistura tipo tratamento superficial, SAM.

Figura 4.3 – Selante De Trincas E Juntas Fonte: ODA (2000) apud MARTINS (2004)

Em tratamentos superficiais do tipo SAM (Stress Absorbing Membrane) atua com a

função de prevenir ou retardar a formação de trincas. (ODA, 2000 apud MARTINS, 2004)

Figura 4.4 - Execução De Um SAM

Fonte: ODA (2000) apud MARTINS (2004)

Page 40: Artigo Engenharia Civil

29

Na reabilitação de camadas de asfalto existentes, SAMI (Stress Absorbing Membrane

Interlayer), ajuda a retardar o desenvolvimento de trincas por reflexão e reduzir penetração de

água em camadas subjacentes. (ODA, 2000 apud MARTINS, 2004)

A Figura 4.5 mostra a execução de um reforço entre camadas existentes, SAMI.

Figura 4.5 – Execução De Um SAMI

Fonte: ODA (2000) apud MARTINS (2004)

Na substituição do revestimento, o asfalto-borracha substitui o ligante tradicional e

ajuda a combater os principais defeitos em pavimentos, reduz o acúmulo de deformação

permanente, trincas de origem térmica e trincas por fadiga. (ODA, 2000 apud Martins, 2004)

A Figura 4.3 mostra um recapeamento asfáltico, tipo CBUQ, com asfalto-borracha.

Figura 4.6 – Recapeamento Asfáltico Com Asfalto-Borracha Fonte: ODA (2000) apud Martins (2004)

Page 41: Artigo Engenharia Civil

30

4.8. VANTAGENS NA UTILIZAÇÃO DO ASFALTO BORRACHA

4.8.1 Vantagens Técnicas

Morilha Jr. e Greca, (2003) apresentam as seguintes características técnicas no uso de

ligante modificado com borracha de pneu.

- Redução da suscetibilidade térmica: misturas com asfalto borracha são mais resistentes

as variações de temperatura, o seu desempenho tanto em altas como em baixas temperaturas é

melhor quando comparado com pavimentos construídos com ligante convencional;

- Aumento da flexibilidade, devido à maior concentração de elastômeros na borracha de

pneus;

- Melhor adesividade aos agregados

- Aumento da vida útil do pavimento

- Maior resistência ao envelhecimento: a presença de anti-oxidantes e carbono na

borracha de pneus auxilia na redução do envelhecimento por oxidação;

- Maior redução a propagação de trincas e a formação de trilhas de Rod;

- Permite a redução da espessura do pavimento

- Proporciona melhor aderência pneu-pavimento

- Redução do ruído provocado pelo tráfego entre 65 e 85%.

4.8.2 Vantagens Ecológicas e Sociais

A utilização de asfalto modificado por borracha de pneu em diversos serviços de

pavimentação traz alguns benefícios ecológicos e sociais.

Morilha Jr. e Greca (2003) citam os benefícios gerados no que se refere aos aspectos

ecológicos e sociais oriundos da incorporação de borracha de pneu e modificação de asfaltos

tradicionais:

- Surgimento e fortalecimento de empresas especializadas na reciclagem de pneus para

convertê-los em asfalto borracha;

- Benefícios diretos ao setor público pela criação de novas fontes de tributos a ingressar

no erário público, e adicionalmente serão criados novos empregos diretos nas empresas

Page 42: Artigo Engenharia Civil

31

recicladoras e indiretos ligados ao processo de angariação e movimentação de pneus

inservíveis;

- Inibição maior aos focos de criação de insetos prejudiciais à saúde e até letais ao ser

humano;

- Redução da poluição visual causada pelo descarte de pneus em locais inadequados;

- Diminuição do assoreamento de rios, lagos e baias, causados em parte, pelo indevido

descarte de pneus;

- Diminuição do número de pneus usados em depósitos, com a conseqüente redução de

risco de incêndios incontroláveis e a não deposição de pneus, sob qualquer formato, em

aterros sanitários.

- Redução da demanda de petróleo (asfalto), por dois motivos: pela substituição de parte

do asfalto por borracha moída de pneus e também pela maior durabilidade que será alcançada

na vida útil das estradas. Não se pode esquecer que o petróleo, e por conseqüência o asfalto, é

uma fonte não renovável de energia.

4.9. UTILIZAÇÃO DE LIGANTES COMERCIAIS

A tecnologia Terminal Blend para fabricação de asfalto-borracha estocável

proporcionou que alguns ligantes modificados pudessem ser comercializados em vários

lugares, principalmente no Brasil.

O surgimento de indústrias no setor já é visível. Algumas reconhecidas e com produtos

consagrados como o Ecoflex, do grupo GRECA Asfaltos, outros, fabricados pela própria

Petrobrás, BR Distribuidora, com nome CAPFLEX.

Esses já foram avaliados em trechos experimentais e obtiveram resultados satisfatórios.

A avaliação também mostrou que os ligantes modificados apresentam desempenho superior

aos ligantes convencionais e os ensaios de caracterização desses ligantes obtiveram resultados

que mostram que os asfaltos modificados resistem melhor às solicitações do tráfego e desgaste

ao envelhecimento.

Cita-se a seguir as qualidades dos dois ligantes comerciais apresentados, embora possa

ser encontrado outros tipos no mercado nacional.

Page 43: Artigo Engenharia Civil

32

4.9.1 Capflex

O capflex é um Asfalto-Borracha que tem como ligante base o CAP 50/60 da LUBNOR,

oriundo do petróleo Fazenda Alegre, e tem a incorporação da borracha realizada BR

Distribuidora em uma de suas unidades. O produto foi desenvolvido em conjunto pelo Centro

de Pesquisa da Petrobrás (PETROBRÁS, 2008).

Segundo a Petrobrás (2008), o Capflex é recomendado nas seguintes aplicações: em

curvas de pequeno raio ou que são submetidas a grandes esforços; em pavimentos altamente

drenantes (redução de aquaplanagem em dias de chuva e redução do ruído produzido pelo

atrito dos pneus com o pavimento); em corredores de trafego muito intenso e cargas elevadas,

visando reduzir ou eliminar as deformações permanentes (trilhas de roda); em pistas especiais

(autódromos, aeroportos).

4.9.2 Ecoflex

O Ecoflex é um ligante modificado do grupo GRECA Asfaltos e possui dois tipos

conforme quantidade, em porcentagem, de borracha moída incorporada. O Ecoflex A

apresenta em sua composição 20% de borracha, enquanto que o Ecoflex B possui 15%

(GRECA ASFALTOS, 2003)

Esse ligante em função de suas características pode ser aplicado em diferentes tipos de

revestimentos, seja em misturas asfálticas ou em revestimentos por penetração. As misturas

asfálticas podem ser: descontínuas abertas ou descontinuas densas e contínuas densas.

(GRECA ASFALTOS, 2003)

Recomenda-se a aplicação do Ecoflex A na elaboração de misturas asfálticas

descontínuas com qualquer teor de vazios (drenante ou densa) e também na execução de

tratamentos superficiais e o Ecoflex B é indicado para a fabricação de misturas asfálticas

densas contínuas. (GRECA ASFALTOS, 2003)

Page 44: Artigo Engenharia Civil

33

5. ANÁLISE EXPERIMENTAL DE LIGANTE MODIFICADO

Neste capítulo do trabalho far-se-á uma avaliação do ligante modificado por borracha

diante de ensaios de caracterização e propriedades mecânicas.

5.1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

Trata-se de uma abordagem sobre ensaios de caracterização feitos pelo grupo GRECA

Asfaltos com o ligante comercial Ecoflex. O estudo em questão foi realizado em junho de

2003 e visou avaliar o comportamento das misturas diante de dois problemas mais comuns em

pavimentos, deformação permanente e resistência a fadiga. Essa avaliação é feita de forma

comparativa entre o Ecoflex B com 15% de borracha incorporada, um ligante tradicional

CAP20 e um ligante modificado com 4% de polímero SBS. Inclui-se também na avaliação, o

comportamento com os ligantes mencionados no que diz respeito ao envelhecimento. Os

ensaios foram feitos a diferentes temperaturas, 25º e 40º, visto que essa é fator influenciante

no comportamento dos ligantes.

Os itens seguintes apresentam análise da mistura sob deformação permanente e

resistência a tração por compressão diametral como também avaliação do envelhecimento do

ligante. Os resultados obtidos e as conclusões do estudo são apresentados nos devidos itens.

5.2. ANÁLISE DE MISTURA ASFÁLTICA SOB DEFORMAÇÃO PERMANENTE

A mistura asfáltica foi submetida ao ensaio de Deformação Permanente em um

simulador de tráfego tipo LCPC francês (Laboratoire Central des Ponts et Chaussées), com

duas placas com 50 cm de comprimento, 18 cm de largura e 5 cm de espessura, conforme

especificação francesa NF P 98-253-1 “Déformation Permanente des Mélanges

Hydrocarbonés”. Os ensaios foram realizados no Laboratório de Tecnologia de Pavimentação

da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (GRECA ASFALTOS, 2003).

O ensaio foi conduzido a 60° C até 30.000 ciclos, como especificado na norma francesa

citada. A porcentagem de deformação permanente encontrada foi de 4,53%, atendendo

plenamente as diretrizes de dimensionamento européias do Grupo Cost 333, que limitam as

Page 45: Artigo Engenharia Civil

34

deformações permanentes em 5% no caso de misturas asfálticas densas, utilizadas para tráfego

pesado (GRECA ASFALTOS, 2003).

A Tabela 5.2 mostra os valores de dosagem da mistura e os resultados apresentados nos

ensaios de estabilidade Marshall e Resistência a tração por compressão diametral.

Propriedade Valor encontrado Teor de ligante asfáltico, % 5,4 Densidade aparente, g/cm3 2,392

Volume de Vazios, % 3,68 Relação Betume Vazios, % 76,8

Vazios do agregado mineral, % 16,09 Estabilidade, kgf 1.518,62

Fluência, mm 2,78 Resistência a tração por compressão

diametral, kgf/cm2 12,88

Tabela 5.2 – Parâmetros de dosagem e valores obtidos após ensaios Fonte: Greca Asfaltos (2003)

Segundo Greca (2003), o ensaio ainda possibilitou comprovar que o aumento do ponto

de amolecimento e a baixa suscetibilidade térmica do ligante modificado traduzem em um

melhor desempenho do pavimento e resistência a formação de trilhas de roda.

5.3. ANÁLISE DE RESISTÊNCIA A TRAÇÃO POR COMPRESSÃO DIAMETRAL

A análise feita aqui é de caráter comparativo entre os 3 tipos de ligantes dosados com os

mesmos agregados, oriundos da Pedreira Cartepas de Carambeí no estado do Paraná. A faixa

granulométrica utilizada foi à faixa III da especificação de serviço do DER/PR ES – P21/91 e

apresenta a seguinte composição (GRECA ASFALTOS, 2003):

- 30% de agregados entre as # ¾” e 3/8”;

- 13% de agregados entre as # 3/8” e 4;

- 55% de agregados entre a # 4 e o fundo;

- 2% de cal hidratada CH – 1.

A Tabela 5.3 apresenta os valores obtidos após realização dos ensaios Marshall e tração

por compressão diametral assim como os parâmetros de dosagem são apresentados a seguir:

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35

Valores encontrados Propriedades CAP - 20 AM SBS 4% Ecoflex B

Teor de ligante asfáltico, %

5,2 5,5 5,6

Densidade aparente, g/cm3

2, 324 2, 317 2,318

Volume de Vazios, % 3,73 3,77 3,77 Relação Betume

Vazios, % 76,06 76,58 76,55

Vazios do agregado mineral, %

15,48 16,00 15,98

Estabilidade, kgf 1.714,43 1.510,01 1.654,61 Fluência, mm 2,15 2,00 2,70

Resistência a tração por compressão

diametral, kgf/cm2 15,78 20,26 14,29

Tabela 5.3 – Parâmetros obtidos pela Dosagem Marshall Fonte: Greca Asfaltos (2003)

A Tabela 5.4 apresenta os valores obtidos após realização dos ensaios de resistência a

tração, RT, e resistência a compressão por compressão diametral, RTCD:

Item considerado CAP 20 AMP 4% SBS Ecoflex MR a 25° C, MPa 6877 8575 3577 MR a 40° C, MPa 1650 2543 2567

Relação MR40°/MR 25°

0,240 0,297 0,718

RTCD a 25° C, MPa 1,578 2,026 1,429 RTCD a 40° C, MPa 0,510 0,815 0,735

Relação RT 40°/RT 25°C

0,323 0,402 0,514

Tabela 5.4 – Análise de RT e RTCD Fonte: Greca Asfaltos (2003)

Diante dos valores expostos, Greca (2003) concluiu que:

- a 25° C, o valor de RTCD das misturas asfálticas com CAP 20 convencional e Ecoflex B

encontra-se em uma mesma faixa de valores, com menor valor para o Ecoflex B e o maior

valor desta grandeza é do asfalto modificado por SBS;

- a 40° C, o valor de RTCD da mistura asfáltica com AM SBS 4% é o mais alto, seguido pelo

Ecoflex B. Isto demonstra como era esperado, a menor suscetibilidade térmica dos ligantes

modificados em relação ao ligante convencional;

Page 47: Artigo Engenharia Civil

36

- a relação observada entre a RTCD a 40° C e a RTCD a 25° C, indica de forma análoga a

relação entre os módulos resilientes, que quanto maior esta relação menor a suscetibilidade

térmica do ligante e novamente o Ecoflex B, apresentou resultado superior.

5.4. ANÁLISE DE ENVELHECIMENTO DOS LIGANTES

Conforme mencionado no item 3.4 deste trabalho, o envelhecimento do asfalto é um dos

principais problemas enfrentados e contribui de forma decisiva na duração de um pavimento.

A avaliação descrita nesse item mostra o comportamento dos ligantes diante de ensaio

de estufa de filme fino rotativo, RTFOT, que simula o processo de usinagem feito às misturas

antes da execução do pavimento. Não se insere aqui o processo de envelhecimento sofrido ao

longo do tempo, envelhecimento em longo prazo, por ser essa perda menor que a sofrida pelo

processo de aquecimento.

A Tabela 5.4 mostra os valores obtidos após ensaio RTFOT

Item Analisado CAP 20 AMP 4% de SBS ECOFLEX

Penetração do ligante original, 0,1 mm

57 38 40

Penetração após RTFOT 24 18 23 % de pen. original após

RTFOT 42,10 47,37 57,50

P. amolecimento, °C 50 59 53 PA após RTFOT, °C 57 60 58

Recuperação Elástica, % 6 81 35 Recuperação Elástica após

RTFOT 0 68 73

Variação percentual - -16 +208 Tabela 5.5 – Análise de Envelhecimento dos Ligantes Fonte: Greca Asfaltos 2003

Morilha e Trichês, (2003) concluem a partir dos resultados apresentados na Tabela 5.4

que:

- a penetração retida, a percentagem da penetração a 25º C após RTFOT, traduz efetivamente

em aumento de consistência do ligante após a simulação do envelhecimento ocorrido após

usinagem. Quanto maior a penetração retida menor o aumento da consistência, no caso do

Ecoflex B é o ligante que apresenta o menor aumento dessa consistência comparativamente

aos outros dois ligantes estudados;

Page 48: Artigo Engenharia Civil

37

- no que diz respeito à recuperação elástica os seguintes resultados foram obtidos: o CAP20

após simulação de envelhecimento no RTFOT apresentou baixo valor dessa propriedade; o

ligante modificado com SBS apresentou redução na recuperação elástica comparada à

recuperação inicial; e o Ecoflex B que apresentou recuperação módica inicialmente, obteve

ganho dessa propriedade após ser submetida ao ensaio de envelhecimento.

O aumento da recuperação elástica do Ecoflex após a simulação de usinagem

proporcionada pelo ensaio RTFOT demonstra que, apesar do aumento de consistência inerente

a qualquer forma de envelhecimento, ocorre no Asfalto Borracha um ganho na recuperação

elástica. A causa para este efeito pode estar na severidade do ensaio RTFOT que expõe o

ligante, por meio da formação de uma fina película, a um aquecimento maior localizado,

colaborando para ocorrer uma maior interação entre as moléculas de borracha e de asfalto que

podem proporcionar uma continuação do processo de fusão, melhorando conseqüentemente a

recuperação elástica (GRECA ASFALTOS, 2003).

5.5. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os valores apresentados inicialmente comparando asfalto-borracha e o asfalto

tradicional não mostraram resultados muito diferenciados à temperatura ambiente. No entanto,

após simulação de efeito do envelhecimento o Ecoflex obteve melhorias como mostra os

valores obtidos e pode-se assim prolongar a vida útil de um pavimento com utilização desse

ligante evitando problemas do tipo fadiga na estrutura.

Segundo Bernutti et al. (2007), o aumento da viscosidade do ligante, asfalto-borracha,

deixa a mistura mais resistente à deformação permanente e melhora o retorno elástico com a

redução na energia de deformação.

Pinheiro et al. (2003), acreditam que a diminuição da resistência a tração por

compressão diametral se deve a viscosidade e um elevado teor de ligante que reduzem o

intertravamento com os agregados.

ODA (2000) acredita que a presença de negro de fumo e a composição química da

borracha diminuem o efeito oxidativo da fração volátil presente no asfalto durante o

aquecimento na fase de usinagem e melhorando as características quanto ao envelhecimento

do ligante.

Page 49: Artigo Engenharia Civil

38

Pinheiro et al. (2003), ainda acreditam que o aumento da flexibilidade se deve a

presença de elastômeros na borracha e as melhorias advindas no combate a vida de fadiga

aumentam a vida útil do pavimento.

O teor de ligante influência no comportamento da mistura, teores de ligante acima do

teor dito ótimo favorecem o acumulo de deformações permanentes (BERNUTTI et al, 2007).

Page 50: Artigo Engenharia Civil

39

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do impasse ambiental causado pela disposição inadequada de pneus inservíveis, a

destinação desse resíduo ainda se encontra tímida para solução do problema. O uso em

pavimentação asfáltica apresenta resultados satisfatórios tanto em reduzir o passivo como em

melhorar a situação atual das rodovias que utilizam de revestimentos asfálticos.

Além disso, a avaliação experimental feita com asfalto-borracha mostrou que a interação

entre borracha e cimento asfáltico de petróleo, CAP, trouxe benefícios as misturas no sentido

de melhorar as características do asfalto diante dos ensaios de caracterização a diferentes

temperaturas e que tornam possível a utilização de asfalto-borracha.

O uso de borracha incorporada às misturas asfálticas ainda mostrou benefícios em

comparação aos asfaltos tradicionais diante dos maiores problemas apresentados pela

pavimentação asfáltica, deformações permanentes, trincamento por fadiga e envelhecimento

do asfalto.

As vantagens técnicas, sociais e ecológicas e as possibilidades de utilização de asfalto-

borracha só vêm a trazer benefícios.

Sendo assim, constata-se um ganho na vida útil das estradas que utilizam de

pavimentação asfáltica com asfaltos modificados através da incorporação de borracha de pneu

às misturas asfálticas.

No entanto as dificuldades ainda persistem quanto ao uso desse produto, pois não se têm

incentivos e investimentos para pesquisas a fim de aprofundar o conhecimento e avaliar

trechos experimentais em território nacional.

Há necessidade de uma normatização para uso de asfalto-borracha no país já que a

literatura ainda se encontra baseada em teses, trabalhos científicos e acadêmicos e a inserção

de uma norma tornariam viável a utilização dessa nova técnica e traria uma série de

benefícios.

Para trabalhos futuros, recomenda-se ensaios práticos no laboratório de pavimentação da

UFS com asfalto-borracha no sentido de avaliar a mistura diante de outros pontos de vista e

assim mostrar o comportamento e as melhorias advindas dessa mistura.

Page 51: Artigo Engenharia Civil

40

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