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EXPRESSÃO ORAL NO ENSINO FUNDAMENTAL II 1 Elisângela de Matos Melo Nunes 2 Dra. Maria de Nazaré da Rocha Penna 3 RESUMO: A escola tem o papel de mostrar aos alunos a existência de inúmeras variações lingüísticas, proporcionando-os caminhos para o desenvolvimento da produção oral e escrita. O trabalho com linguagem oral em sala de aula deve ser desenvolvido com a utilização de diferentes gêneros discursivos, escolhendo-se aqueles mais recorrentes nos meios sociais dos alunos. Cabe também a escola trabalhar a oralidade, apontando as diferenças e semelhanças entre a fala e a escrita. Este trabalho tem por objetivo, portanto, analisar e refletir sobre a importância da expressão oral no Ensino Fundamental II, reconhecendo a influencia da oralidade na abordagem da leitura e da produção de textos, valorizando a linguagem de seu grupo social como instrumento adequado e eficiente na comunicação e nas interações com outras variedades. A metodologia aplicada à elaboração desse artigo foi a pesquisa bibliográfica em que autores como Marcushi (2003), Bakhtin (1998), Tardelli (2002), Bagno (1997), entre outros, que tratam da temática foram consultados, e suas obras lidas, analisadas e refletidas. Verificou-se que é necessário favorecer o exercício da oralidade em situações sociais de uso para que o aluno seja capaz de planejar a sua escrita pensando no seu interlocutor, nas intenções que os levarão à produção de um gênero e não de outro. Palavras chave: oralidade, ensino, práticas pedagógicas. ABSTRACT: The school's role is to show students that there are many linguistic variations, providing paths for the development of 1 Trabalho apresentado no Curso de Letras promovido pela Faculdade, em Aracati-CE. 2 Professora do Ensino fundamental II e Discente do Curso de Letras da Faculdade Vale do Jaguaribe – FVJ. 3 Doutora e orientadora da Faculdade do Vale do Jaguaribe – FVJ.

ARTIGO Expressão oral

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EXPRESSÃO ORAL NO ENSINO FUNDAMENTAL II1

Elisângela de Matos Melo Nunes2

Dra. Maria de Nazaré da Rocha Penna3

RESUMO:

A escola tem o papel de mostrar aos alunos a existência de inúmeras variações lingüísticas, proporcionando-os caminhos para o desenvolvimento da produção oral e escrita. O trabalho com linguagem oral em sala de aula deve ser desenvolvido com a utilização de diferentes gêneros discursivos, escolhendo-se aqueles mais recorrentes nos meios sociais dos alunos. Cabe também a escola trabalhar a oralidade, apontando as diferenças e semelhanças entre a fala e a escrita. Este trabalho tem por objetivo, portanto, analisar e refletir sobre a importância da expressão oral no Ensino Fundamental II, reconhecendo a influencia da oralidade na abordagem da leitura e da produção de textos, valorizando a linguagem de seu grupo social como instrumento adequado e eficiente na comunicação e nas interações com outras variedades. A metodologia aplicada à elaboração desse artigo foi a pesquisa bibliográfica em que autores como Marcushi (2003), Bakhtin (1998), Tardelli (2002), Bagno (1997), entre outros, que tratam da temática foram consultados, e suas obras lidas, analisadas e refletidas. Verificou-se que é necessário favorecer o exercício da oralidade em situações sociais de uso para que o aluno seja capaz de planejar a sua escrita pensando no seu interlocutor, nas intenções que os levarão à produção de um gênero e não de outro.

Palavras chave: oralidade, ensino, práticas pedagógicas.

ABSTRACT:

The school's role is to show students that there are many linguistic variations, providing paths for the development of speaking and writing. Work on oral language in the classroom should be developed with the use of different genres, choosing those most frequent in the social student. It is also the school oral work, pointing out the differences and similarities between speech and writing. This paper aims, therefore, analyze and reflect on the importance of speaking in Elementary Education II, recognizing the influence of the oral approach in reading and text production, emphasizing the language of their social group as an appropriate and efficient communication and interactions with other varieties. The methodology applied to the preparation of this article was a literature in which authors such as Marcush (2003), Bakhtin (1998), Tardelli (2002), Bagno (1997), among others, dealing with the subject were consulted, and read his works, analyzed and reflected. It was found that it is necessary to encourage the practice of speaking in social situations of use for learners to be able to plan their writing thinking of his interlocutor, and the intentions that will lead to the production of one gender and not another.

key words: orality, teaching, pedagogical practices

1 - INTRODUÇÃO

1 Trabalho apresentado no Curso de Letras promovido pela Faculdade, em Aracati-CE.2 Professora do Ensino fundamental II e Discente do Curso de Letras da Faculdade Vale do Jaguaribe – FVJ.3 Doutora e orientadora da Faculdade do Vale do Jaguaribe – FVJ.

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O aluno quando sai do ensino fundamental espera-se que seja capaz de planejar um

texto, levando em consideração o propósito, o destinatário e a posição do enunciador, como

também de expressar oralmente suas idéias e pensamentos. E que, de certa forma já tenha

deixado de lado o jeito “errado de falar” empregando “perfeitamente” a língua padrão,

podendo expressar-se adequadamente nas várias situações cotidianas. Esquecem-se de que o

aluno antes de entrar na escola e de ser alfabetizado já domina uma norma lingüística e ao

ignorar esse conhecimento prévio estamos considerando-o um ser oco que precisa aprender a

“língua” portuguesa. Enquanto as escolas não reconhecerem a existência de variedades do

português vão refrear as possibilidades de uso lingüístico impondo assim o português padrão;

ensinando-os uma gramática com caráter prescritivo e discriminatório. E desta maneira,

acabam valorizando apenas quem já tem uma bagagem lingüística e excluindo os que não

têm. Consequentemente, os alunos que ainda não tem esse “domínio” da língua padrão

demonstram medo, insegurança e muitas vezes temor diante da possibilidade de falar,

temendo o ridículo e o constrangimento. Os alunos não devem se preocupar em falar “certo

ou errado”, mas saber empregar o que falar e como falar satisfatoriamente, considerando a

situação de comunicação. A escola não tem o papel de ensinar o aluno a falar. Pois os mesmos

já aprendem muito antes da idade escolar. Nesse contexto, os Parâmetros Curriculares

Nacionais (Brasil/MEC, 1998, p.25) afirma-nos que: “cabe à escola ensinar o aluno a utilizar

a linguagem oral no planejamento e realização de apresentações públicas: realização de

entrevistas, debates, seminários, apresentações teatrais etc”.

Portanto, é papel da escola mostrar aos alunos a existência de inúmeras variações

lingüísticas, proporcionando-os caminhos para o desenvolvimento da produção oral. Castilho

(1998, p.121) sugere que “uma ênfase particular deveria ser dada à língua falada porque esta

modalidade retém muitos dos processos de constituição da língua, os quais não aparecem na

língua escrita”. O trabalho com linguagem oral em sala de aula deve ser desenvolvido com a

utilização de diferentes gêneros discursivos, escolhendo-se aqueles mais recorrentes nos

meios sociais dos alunos. Pode-se trabalhar com fábulas, resumo de novelas, propagandas,

anúncios, cartas, bilhetes, receitas, entre outros. Esses trabalhos devem ser realizados em

atividades significativas, tais como: seminários, dramatização de textos teatrais, simulação de

programas de rádio e televisão, de discursos políticos e de outros usos públicos da língua oral.

Só assim será possível dar sentido e função ao trabalho com aspectos de entonação, dicção,

gesto e postura que, no caso da linguagem oral, tem um papel complementar que dá sentido

aos textos. O educando necessita saber que não existe uma gramática pronta para a língua

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falada, mas diferentes vocabulários na construção de textos falados. Assim sendo, é preciso

refletir sobre a comunicação oral para conhecer os principais motivos da pouca ou da falta do

desenvolvimento da oralidade nas situações de comunicação no contexto escolar, e assim

fazer um planejamento específico para sua aplicação em sala de aula. O professor deve

também realizar atividades que possam ajudar o aluno a perceber que existem textos que são

tipicamente escritos e outros que são tipicamente falados como também existem textos que se

configuram tanto pela utilização de características da escrita como da fala.

Para realizar esse artigo utilizou-se a metodologia da pesquisa bibliográfica em que

diversos autores foram consultados e através da leitura analítica e crítica de obras sobre o

tema, foi possível elaborar esse trabalho, que se divide em três seções: a primeira trata sobre a

importância da oralidade no processo de ensino-aprendizagem da língua; a segunda aborda a

obtenção da linguagem oral em sala de aula, por último analisa-se o ensino de gêneros orais.

Com o estudo, foi possível verificar que podemos desfazer o mito da supremacia da

escrita sobre a fala, e mostrar que a mesma contribui na formação cultural, social e na

preservação de tradições não escritas. Como também enfatizar que a oralidade pode ser usada

de maneira a fazer-se pensar e agir sobre o mundo. Mostrando assim que a expressão oral

deve envolver o educando na utilização tanto da língua formal quanto da língua informal.

Adequando as variedades da língua oral às circunstâncias da comunicação.

2 - A IMPORTÂNCIA DA ORALIDADE NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM DA LÍNGUA

O trabalho do professor para desenvolver a oralidade do aluno não se limita às séries

iniciais, mas a todas as séries, desde o fundamental até o ensino médio, orientando-os para as

falas adequadas ao contexto de uso e estimulando-os no desenvolvimento da competência

oral, para que saiam do ensino médio com a capacidade de elaboração, de articulação e

maturação para a exposição oral competente desenvolvida. Os PCN de ensino médio, Língua

Portuguesa, afirmam que: “A linguagem, na escola, passa a ser objeto de reflexão e análise,

permitindo ao aluno a superação e/ou a transformação dos significados veiculados". Então, é

papel da escola ensinar o aluno a utilizar a linguagem oral no planejamento e realização de

apresentações públicas; com atividades de linguagem oral planejadas, com textos de

diferentes gêneros, com diferentes objetivos e interlocutores, em função de determinadas

condições de produção e situações de interação, nas quais possam desenvolver suas

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habilidades e competências de produção e recepção de textos orais usados em situações mais

formais.

Sobre a língua falada, Castilho (1998, p.13) afirma que:

[…] não se acredita mais que a escola deve concentrar-se apenas no ensino da língua escrita, a pretexto de que o aluno já aprendeu a língua falada em casa. Ora, se essa disciplina se concentrasse mais na reflexão sobre a língua que falamos, deixando de lado a reprodução de esquemas classificatórios, logo se descobriria à importância da língua falada, mesmo para a aquisição da língua escrita.

Fávero et al (1999), a favor do texto falado, argumenta que: “O desenvolvimento do

texto falado está diretamente ligado ao modo como a atividade interacional se organiza entre

os participantes. Essa organização resulta de decisões interpretativas, inferidas a partir de

pressupostos cognitivos e culturais, tomadas durante o curso da conversação”. E Marcuschi

(2003) afirma que: “A oralidade seria uma prática social interativa para fins comunicativos

que se apresenta sob variadas formas ou gêneros textuais fundados na realidade sonora; ela

vai desde uma realização mais informal a mais formal nos mais variados contextos de uso.”

Nessa linha de pensamento, a escola deve proporcionar sequências didáticas para o ensino da

expressão oral em diversos gêneros, nas quais o aluno possa desenvolver seu desempenho e

aperfeiçoá-lo, adequando a fala a determinados contextos. Também Marcuschi (1997) fala em

adequação às diferentes situações comunicativas. Sendo assim, trabalhar a oralidade em sala

de aula é muito mais que leitura de textos em voz alta ou ensinar a falar a norma culta. É

reconhecer a importância da comunicação oral como um conteúdo que vai além da sala de

aula. Sendo a oralidade um instrumento valioso, a escola deve por em relevância o seu papel

no processo ensino-aprendizagem. Diante disso, faz-se necessário criar um ambiente em que

os alunos possam, além de expor suas opiniões, também saiba ouvir e perceber o

desenvolvimento e as descobertas do outro, para que através da comunicação oral os mesmos

possam promover suas produções textuais, aperfeiçoando o seu desempenho oral por meio de

uma aprendizagem individual e coletiva, envolvendo regras de comportamento social,

enfatizando os elementos não-verbais que fazem parte da interação: como gestos, expressões

faciais, postura corporal, dentre outros. E realizarem atividades mais complexas como:

apresentação de palestras e seminários, realização de entrevistas, produção de programas de

radio, TV e outros. Para tanto, se faz necessário que o professor oriente os alunos e debata

sobre o propósito dessas atividades. Como também propicie aos alunos à efetiva pratica de

leitura em diferentes gêneros textuais, motivando-os a incluir-se no mundo da linguagem oral,

no qual poderão perceber que a língua pode ser recriada a todo instante.

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De acordo com Dolz e Scheneuwly (2005), “O professor é a chave certa para que os

alunos entendam, busquem e aprendam, pois cabe a ele ir à busca de novos estudos de ensino

e aprendizagem”. Para tanto, o verdadeiro trabalho pedagógico deve possibilitar ao aluno o

desenvolvimento de sua competência discursiva. Diante desse argumento, compete à escola

ensinar o aluno a empregar a linguagem oral no planejamento e na realização de

apresentações públicas, ensinando uma linguagem oral expressiva que possibilite o uso da

linguagem mais formalizada. São muitas as razões que nos levam a ensinar a língua oral.

Destacamos as seguintes: a formação de futuros cidadãos; o uso adequado nas distintas

situações com diferentes interlocutores; a formação de falantes capazes de adequar às

variedades da língua oral às circunstâncias da comunicação e desenvolver nos alunos a

capacidade de registros formais da oralidade. Portanto, para se desenvolver as habilidades

orais é importante que se promova atividades interativas envolvendo os participantes no

dialogo, nas trocas de idéias.

Segundo Vygotsky (1983), os objetivos da aprendizagem são classificados em:

domínio cognitivo; domínio afetivo e domínio psicomotor. No domínio cognitivo a

aprendizagem está ligada a informações, conhecimentos ou capacidades intelectuais; são as

habilidades de memorização, compreensão, aplicação, análise, síntese e avaliação. No

domínio afetivo a aprendizagem está relacionada às emoções, gostos ou atitudes e

sentimentos: são as habilidades de resposta, valorização, organização e caracterização. Já no

domínio psicomotor estão habilidades relacionadas a movimentos básicos fundamentais, aos

reflexos, as habilidades perceptivas e físicas e a comunicação não discursiva: são as

aprendizagens que ressaltam o uso e a coordenação dos músculos. No entanto, para

desenvolver esses objetivos de aprendizagem é preciso que o professor planeje sua ação,

vinculada ao projeto pedagógico da escola, no qual tenha a responsabilidade de garantir a

todos os alunos o acesso aos saberes lingüísticos necessário para o exercício pleno da

cidadania. Nesse contexto, o espaço escolar deve proporcionar atividades que possibilitem ao

aluno tornar-se um falante ativo e competente, capaz de compreender os discursos e organizar

suas idéias de maneira clara, coerente e coesa.

3 - A OBTENÇÃO DA LINGUAGEM ORAL EM SALA DE AULA.

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A escola deve adequar à oralidade que o aluno utiliza em seu dia-a-dia a diversas

situações de uso, propondo alternativas para o ensino do oral em sala de aula, desvinculando a

oralidade de atividades escritas e ocupando-se principalmente em atividades que valorizem a

aprendizagem e não o ensino. O psicólogo suíço Bernard Schneuwly, em entrevista à Nova

Escola em 2002, afirmou que: “Cabe a escola ensinar o aluno a utilizar a língua oral nas

diversas situações comunicativas, especialmente nas mais formais”. Diante disso, a escola

deve proporcionar sequências didáticas para o ensino do oral em diversos gêneros por meio de

atividades concretas que possibilite o aluno exercitar a expressão oral, preparando-o para

“falar em público” em diferentes situações de comunicação real. Já que os gêneros da fala têm

aplicação direta em vários campos da vida social, o professor deve orientar os alunos a

participarem de diálogos, relatos e discussões, participarem de seminários e congressos, expor

opiniões, dentre outros. Como também considerar os aspectos semânticos, gramaticais e

lingüísticos através do exercício da conversação. Com o trabalho efetivo e eficaz da oralidade

em sala de aula estaremos estimulando o desenvolvimento de alunos participativos e críticos

capazes de expor suas idéias e argumentar suas opiniões. Nesta linha de pensamento os PCN

(1998, p.67) apresentam a “fala pública” como foco da oralidade em sala de aula ao afirmar

que:

Ensinar a língua oral significa para a escola possibilitar acesso a usos da linguagem mais formalizadas e convencionais que exijam controle mais consciente e voluntário da enunciação, tendo em vista a importância que o domínio da palavra publica tem no exercício da cidadania. Ensinar língua oral não significa trabalhar a capacidade de falar em geral. Significa desenvolver o domínio dos gêneros que apóiam a aprendizagem escolar de Língua Portuguesa e de outras áreas e, também, os gêneros da vida pública no sentido mais amplo do termo.

Nesse sentido, é preciso que o professor chegue à sala de aula com uma reflexão

consistente sobre sua pratica pedagógica na abordagem da competência de uso da língua

fundamentada em conhecimento teórico, tendo como ponto de partida o conhecimento

linguístico que o aluno dispõe ao chegar à escola. Para o ensino da oralidade, é necessário o

conhecimento dos gêneros orais e um planejamento mediante técnicas capazes de garantir de

fato esse ensino, não só por todo o ensino fundamental, mas para quaisquer situações formais

publicas. No entanto, o professor deve ter clareza sobre o que vai ensinar, como vai ensinar e

quais os recursos a serem utilizados, dispondo-se a atividades significativas. Para que a

oralidade deixe de ser uma atividade auxiliar da escrita e passe a ser um objeto de ensino

produtivo da língua, é preciso que o professor tenha um embasamento teórico.

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Com base no fato de que a fala já conseguiu um lugar no ensino da língua materna,

Marcuschi (1996) argumenta a favor do trabalho da língua falada a partir de quatro premissas:

a primeira é a heterogeneidade e as variações da língua, a segunda é que a escola deve ocupar-

se da fala propondo um paralelo de análise com a escrita; a terceira, fala sobre a exploração de

textos de diversos gêneros, tanto na modalidade de uso da língua escrita quanto na língua

falada; na quarta e ultima, o autor refere-se ao uso da língua em textos contextualizados. Os

textos orais vão desde uma forma mais coloquial de fala, como conversas com familiares ou

amigos, até uma fala planejada e adequada. A exposição oral de determinado assunto em

situações formais merece atenção por parte dos falantes, possibilitando assim a otimização na

exposição e defesa de idéias. O professor deve verificar a participação dos alunos nos

diferentes textos orais, pois a sua orientação e avaliação são essenciais para o

desenvolvimento da habilidade e competência da oratória dos alunos.

Segundo o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD/2005), Língua Portuguesa, o

trabalho com a linguagem oral deve: favorecer o uso da linguagem oral na interação em sala

de aula como mecanismo de ensino-aprendizagem; recorrer à oralidade na abordagem da

leitura e da produção de textos; explorar as diferenças e semelhanças que se estabelecem entre

a linguagem oral e a escrita; valorizar e efetivamente trabalhar a variação e a heterogeneidade

lingüísticas, introduzindo a norma culta relacionada ao uso público ou formal da linguagem

oral, sem no entanto, silenciar ou menosprezar as outras variedades, quer regional, quer

social, quer estilística, e propiciar o desenvolvimento das capacidades envolvidas nos usos da

linguagem oral próprios das situações formais e públicas.

O estudo da Língua Oral deve garantir que as atividades em sala de aula envolvam

fala, escuta e reflexão sobre a língua. Devendo ser instigada como um meio para comunicar

informações ao interlocutor em diferentes situações.

4 - O ENSINO DE GÊNEROS ORAIS

Cabe a escola uma preparação da modalidade oral, em que o aluno saiba falar em

público e enunciar seu pensamento oralmente. Percebendo que diferentes contextos exigem

também diferentes maneiras de se expressar por meio da fala, essa expressão oral vai refletir o

contexto social no qual o aluno está inserido, podendo adequar sua linguagem de acordo com

o contexto; nessa circunstância é necessário reconhecer e respeitar as diferenças culturais

presentes na língua. No Ensino Fundamental II devem ser trabalhadas atividades mais

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complexas, utilizando gêneros orais mais formais, fazendo uma organização prévia do tema a

ser trabalhado para saber o que se vai dizer oralmente.

Ensinar a língua oral na escola, de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais,

significa: “desenvolver o domínio dos gêneros que apóiam a aprendizagem escolar da Língua

Portuguesa e de outras áreas (exposição, relatório de experiência, entrevista, debate, etc) e,

também, os gêneros da vida pública no sentido mais amplo do termo...” Nesse contexto, se faz

imprescindível o aperfeiçoamento tanto da modalidade escrita como da modalidade falada de

acordo com os objetivos de uma comunicação concreta. Nessa perspectiva, “os gêneros

constituem ações de linguagem que requerem do agente produtor uma escolha que deve ser

feita a partir de gêneros já existentes, nos quais poderá decidir aplicar e acrescentar algo, ou

recriá-los, adequando-os à intenção comunicativa de acordo com o contexto”, (Bronckart,

1994). O mesmo assegura que:

A escolha do gênero deverá levar em conta os objetivos visados, o lugar social e os papéis dos participantes. Além disso, o agente deverá adaptar o modelo do gênero a seus valores particulares, adotando um estilo próprio, ou mesmo contribuindo para a constante transformação dos modelos.

Para Koch e Elias (2009, p.74) é preciso “possibilitar ao aluno o domínio do gênero,

primeiramente para melhor conhecê-lo ou apreciá-lo, de modo a ser capaz de compreendê-lo,

produzi-lo na escola e fora dela (...)”. Como o ensino da língua oral ocupa pouco espaço nas

escolas, e ainda é vista apenas como um meio para o aprendizado da escrita, torna-se difícil

considerar o ensino da oralidade como um conteúdo essencial da língua materna. Isso

acontece pelo simples fato de se considerar a língua falada apenas a que é dominada no nosso

cotidiano e não como uma língua falada formal. É importante ressaltar que devemos

considerar a fala e a escrita como práticas igualmente eficazes de ensino, pois permitem a

construção de textos coesos e coerentes. Para que o ensino do oral seja de fato um objeto de

estudo, se faz necessário considerá-lo como um objeto de ensino paralelo à escrita, passível de

discussão, reflexão e de avaliação.

O professor deve, ao ensinar os gêneros orais, selecionar os que precisam ser

ensinados e identificar os elementos estáveis que determinam à ocorrência do gênero que se

quer ensinar e analisá-los com os alunos. E deve também levar em conta que tanto os gêneros

orais quanto os escritos precisam ser ensinados, já que existe uma interação entre ambos. No

entanto, apesar de disporem do mesmo sistema de signos lingüísticos não são de natureza

semelhante. Da mesma forma que só se aprende a escrever, escrevendo, só se aprende a falar,

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falando. As formas orais que servem à realidade escolar são: exposição, entrevista, discussão

em grupo e relatório, entre outros. Os que servem à vida pública são: gêneros de instâncias

oficiais, negociação e debate, entrevista profissional, conferencia, homilia, dentre outros. E os

gêneros orais realizados em público, tidos como lugares sociais de comunicação são: rádio,

televisão, igreja, universidade e escola. Os gêneros orais privados cotidianos são: o diálogo

familiar-cotidiano, os gêneros breves cotidianos de saudação, as despedidas, os votos, os

relatos cotidianos, os telefonemas e os avisos, dentre outros. Assim, o grau de formalidade do

gênero é determinado pelo lugar social de comunicação.

Neste contexto, Dolz e Schneuwly (2004, p. 174) afirmam que:

Os gêneros orais [...] são instrumentos – ou melhor, megainstrumentos, visto que podemos considerá-los como a integração de um grande conjunto de instrumentos num todo único – que fazem à mediação da atividade de linguagem comunicativa. Falta-nos ainda escolher, dentre uma enorme variedade de gêneros, aqueles que podem, e talvez mesmo devam, tornar-se objeto de ensino. Já que o papel da escola é sobretudo o de instruir, mais do que o de educar, em vez de abordarmos os gêneros da vida privada cotidiana, é preciso que nos concentremos no ensino dos gêneros da comunicação pública formal. Por um lado, [...] exposição, relatório de experiência, entrevista, discussão em grupo etc [...] e, por outro lado, aqueles da vida pública no sentido lato do termo (debate, negociação, testemunho diante de uma instância oficial, teatro etc.).

Nesse sentido, os gêneros usados pelos falantes no dia-a-dia dispensam qualquer

abordagem e sistematização didática, são absolutamente espontâneos, não se aprende no

âmbito escolar. É importante trabalhar a oralidade com o apoio da língua escrita para que o

educando possa esquematizar e organizar suas ideias e argumentos. Já que a fala e a escrita

são gêneros diversos que podem ser trabalhados em sala de aula como objeto de ensino, um

deles é a exposição oral, também chamada de seminário, um instrumento privilegiado de

transmissão de conteúdos. Se referindo a esse gênero Dolz e Schneuwly (2004, p. 174) ainda

relata que:

A exposição é um discurso que se realiza numa situação de comunicação específica que poderíamos chamar de bipolar, reunindo o orador ou expositor e seu auditório [...] Mas, se esses dois atores encontram-se reunidos nessa troca comunicativa particular que é a exposição, a assimetria de seus respectivos conhecimentos sobre o tema da exposição os separa: um, por definição, representa um “especialista”; o outro é mais difícil de caracterizar, mas, pelo menos, apresenta-se como alguém disposto a aprender alguma coisa. Logo, o enunciador, por meio de seu discurso, tende a reduzir a assimetria inicial de conhecimentos.

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O professor precisa antes de pedir para que seus alunos apresentem um seminário

trabalhar com os mesmos o “como fazer”, o passo a passo desde a pesquisa bibliográfica

sobre o tema ou o assunto a ser abordado até a exposição, sem esquecer os elementos estáveis

na situação de comunicação da aula expositiva, são eles:

Os materiais escritos que vão dar apoio ao professor e ao aluno na escrita;

Os conteúdos, procedimentos e competências, a serem ensinados e aprendidos, e os

objetivos a serem alcançados, previamente determinados por escrito;

As atividades propostas, oralmente e por escrito, para que os objetivos se realizem;

Um planejamento prévio do tempo e espaço, registrado por escrito;

A exposição oral que considere todos os elementos citados, dentre outros.

O trabalho com a oralidade vai além das aulas de língua portuguesa, transcorre por

todas as disciplinas. O professor deve avaliar toda a evolução do aluno desde a sua postura

como expositor, os gestos, a voz, a entonação, as imagens e notas de apoio. Essa avaliação

deve ser prevista e planejada para que possa intervir e redirecionar os trabalhos realizados

como também ajudá-los a observar e refletir sobre a fala produzida em diferentes situações

comunicativas e perceberem que em algumas situações de oralidade é preciso fazer uso da

escrita, pois a mesma funciona como suporte para organizar a fala.

O desenvolvimento da capacidade de expressão oral do aluno vai depender do

ambiente escolar, que acolha e respeite as diferenças e as diversidades. Pois segundo os PCNs

(1997,p.49) “Expressar-se oralmente é algo que requer confiança em si mesmo. Isso se

conquista em ambientes favoráveis à manifestação do que se pensa, do que se é...”. Portanto, a

escola deve ser um espaço para a livre expressão e criar oportunidades para o intercâmbio

oral, no qual os alunos possam argumentar, expor, formular, explicar, debater sobre temas

transversais; produzirem textos orais com diversos propósitos adequando as normas e

registros segundo o contexto comunicativo e por fim expressar-se oralmente tendo em conta

as características das diferentes situações comunicativas.

5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho, procurou-se fazer uma reflexão sobre a metodologia do ensino da

oralidade em sala de aula para que possa contemplar de fato a prática discursiva da mesma,

como um conteúdo essencial da língua portuguesa no ensino fundamental que deve ser

ensinado através de uma consciente sistematização didática. O professor deve ter clareza

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sobre esse conteúdo, valorizando assim as diferentes possibilidades de produção de textos

orais que podem também ser relacionados com a escrita.

O trabalho oral em sala de aula deve favorecer os alunos a utilização dos gêneros

orais, de maneira a possibilitar-lhes a produção de textos orais argumentativos e discursivos

sobre temas sociais relevantes, estimulando o pensamento crítico e favorecendo a

aprendizagem nas diferentes áreas do conhecimento. Para serem capazes de expressar-se em

diferentes situações de comunicação, seja de um debate, de um depoimento oral, ou de uma

entrevista. Para isso, o professor precisa trabalhar a fala de forma sistemática todos os dias.

As atividades trabalhadas em sala devem ter como meta a aprendizagem que proporcione o

aperfeiçoamento da modalidade oral de acordo com os objetivos de uma comunicação

contextualizada nas mais diversas situações de uso.

Sabemos que trabalhar a oralidade em sala de aula não é tarefa assim tão fácil, pois são

muitos os fatores que a dificulta, tais como a falta de preparo por parte dos professores, que

viam a expressão oral apenas como um complemento da escrita; os livros didáticos que

trabalham a oralidade superficialmente; o medo de falar em público dos alunos, que temem

errar e serem ridicularizados pelos colegas, a não aprovação pelo professor e o

constrangimento. Sendo assim, é preciso criar um ambiente que convide à escuta e à fala e

aja uma integração e uma interação entre alunos e professor, através de um ambiente escolar

propicio a construção do conhecimento, sem o fantasma da reprovação.

É muito importante que o professor seja criativo ao escolher dinâmicas para trabalhar

a prática da oralidade, pois o conteúdo deve ser abordado de maneira eficaz e estimulante por

meio da participação ativa dos alunos, possibilitando-lhes a pesquisa, a argumentação e a

organização da exposição oral, da roda de conversa, dos debates; com a orientação e o

acompanhamento do professor, levá-los a criar hipóteses, analisar e avaliar o material

trabalhado, oportunizando-os a ser construtores de seus conhecimentos. Para tanto, se faz

necessário diferentes textos que abordem o conteúdo trabalhado, que possam servir de

subsídios para que os alunos possam argumentar e contra-argumentar suas opiniões.

Não podemos nos esquecer que a prática de atividades de expressão oral estimula o

aluno à liberdade de expressar-se oralmente com o objetivo de comunicação independente se

a mesma está “correta” nas regras gramaticais. Pois devemos levar em conta os diferentes

contextos que o aluno está inserido, ajudando-os a adequar sua fala nas mais variadas

situações.

Com este estudo, percebemos que a realização de atividades orais em sala de aula

contribui para as práticas sociais dos alunos, além de colaborar com diversas disciplinas.

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Sendo assim, não podemos mais pensar no ensino da oralidade como um simples apoio à

escrita ou como apenas um transmissor de informações. Mas como um aprendizado que

possibilita a interação entre os elementos envolvidos no processo de ensino-aprendizagem.

Espera-se que esse artigo estimule novas formas de abordagem do assunto, conferindo

espaço para que a oralidade em sala de aula seja de fato vista como um objeto de estudo. E

que, no ensino fundamental, os gêneros orais trabalhados em sala de aula não sejam reduzidos

a simples conversão de enunciados escritos.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BAGNO, Marcos. A língua de Eulália: novela sociolingüística. São Paulo, Contexto, 1997.

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BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem. 4a. ed. Trad. de M. Lahud e Y.W. Pereira. São Paulo: Hucitec, 1988.

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