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Artigo Final PDE Certo - diaadiaeducacao.pr.gov.br · regras, diferenças e semelhanças entre elas. As ... Existe uma grande confusão quando se trata de definir jogo, brincadeira

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PARANÁ

GOVERNO DO ESTADO

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEED SUPERINTENDENCIA DA EDUCAÇÃO – SUED

DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS - DPPE PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE

Ficha para Catálogo Artigo Final

Professor PDE/2010

Título “De pai para filho – um resgate da cultura popular através dos jogos e brincadeiras”.

Autor Vânia Aparecida Bernardino

Escola de Atuação Colégio Estadual Souza Naves

Município da Escola Rolândia

Núcleo Regional de Educação Londrina

Orientador Catiana Leila Possamai Romanzini

Instituição de Ensino Superior Universidade Estadual de Londrina

Área do Conhecimento/Disciplina

Educação Física

Relação Interdisciplinar (indicar, caso haja, as diferentes disciplinas compreendidas no trabalho)

Público Alvo (indicar o grupo com o qual o professor PDE desenvolveu o trabalho: professores, alunos, comunidade...)

Alunos dos 7º anos

Localização (identificar nome e endereço da escola de implementação)

Colégio Estadual Souza Naves – Ensino Fundamental, Médio e Profissionalizante

Rua: Monteiro Lobato, 421

Resumo O objetivo deste estudo foi o de resgatar jogos e brincadeiras da cultura popular, antes passadas de pai para filho e que hoje não fazem parte da vida de nossas crianças. Estas atividades foram substituídas por outros meios de diversão, entre eles, os jogos eletrônicos, televisão e computadores. Para que isto se concretizasse o recurso mais usado foi a pesquisa dos alunos com a sua própria realidade, confrontando com a realidade dos seus antepassados, no intuito de descobrir se as brincadeiras novas e antigas têm algo em comum no tocante a modo de jogar, regras, diferenças e semelhanças entre elas. As atividades também foram realizadas na prática, para que os alunos percebam como se constroem as regras de um jogo, dependendo da situação em que está inserido. Ao final, pode-se perceber que nossas crianças não brincam mais, que a transmissão dos jogos e brincadeiras está, quando muito, sendo passada na escola e que devido à vida atribulada, os pais não têm tempo para desenvolver estas atividades com seus filhos. Percebeu-se enfim, a importância da escola, em especial nas aulas de Educação Física, de não deixar que a cultura popular, no caso os jogos e brincadeiras, sejam esquecidos em nossa sociedade.

Palavras-chave ( 3 a 5 palavras)

Resgate;jogos;brincadeiras;cultura popular.

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL DO

ESTADO DO PARANÁ

DE PAI PARA FILHO – UM RESGATE DA CULTURA

POPULAR ATRAVÉS DE JOGOS E BRINCADEIRAS

VÃNIA APARECIDA BERNARDINO

LONDRINA

2012

DE PAI PARA FILHO – UM RESGATE DA CULTURA POPULAR ATRAVÉS DE

JOGOS E BRINCADEIRAS

Artigo da implementação do Projeto de Pesquisa e Caderno Pedagógico desenvolvido para o Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE da Secretaria Estadual de Educação do Paraná – SEED.

Orientadora: Profª Catiana Leila Possamai Romanzini

LONDRINA 2012

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DE PAI PARA FILHO – UM RESGATE DA CULTURA POPULAR ATRAVÉS DE JOGOS E BRINCADEIRAS

Autor (a): Vânia Aparecida Bernardino Orientador (a): Catiana Leila Possamai Romanzini

Resumo: O objetivo deste estudo foi o de resgatar jogos e brincadeiras da cultura popular, antes passadas de pai para filho e que hoje não fazem parte da vida de nossas crianças. Estas atividades foram substituídas por outros meios de diversão, entre eles, os jogos eletrônicos, televisão e computadores. Para que isto se concretizasse o recurso mais usado foi a pesquisa dos alunos com a sua própria realidade, confrontando com a realidade dos seus antepassados, no intuito de descobrir se as brincadeiras novas e antigas têm algo em comum no tocante a modo de jogar, regras, diferenças e semelhanças entre elas. As atividades também foram realizadas na prática, para que os alunos percebam como se constroem as regras de um jogo e que elas podem ser criadas e recriadas a todo momento, dependendo da situação em que está inserido. Ao final, pode-se perceber que nossas crianças não brincam mais, que a transmissão dos jogos e brincadeiras está, quando muito, sendo passada na escola e que devido à vida atribulada, os pais não têm tempo para desenvolver estas atividades com seus filhos. Apesar desta constatação, o trabalho foi muito bem aceito pelos alunos, que participavam ativamente de todo processo, principalmente quando coube a eles a responsabilidade de transmitir os jogos e brincadeiras, por eles pesquisados e praticados, para os alunos de outra série. Percebeu-se enfim, a importância da escola, em especial nas aulas de Educação Física, de não deixar que a cultura popular, no caso os jogos e brincadeiras, sejam esquecidos em nossa sociedade. Palavras – chave: Resgate; jogos; brincadeiras.

Abstract: The objective of this study was to recover and play games in popular culture before passed from father to son and now not part of the lives of our children. These activities have been replaced by other means of entertainment, including, electronic games, television or computers. For this to materialize the most used feature was the research of students with their own reality, confronting the reality of their ancestors in order to discover whether the new and old games have something in common with regard to mode of play, rules differences and similarities between them. The activities were also carried out in practice so that students understand how to build the rules of a game and they can be created and recreated all the time, depending on the situation in which it appears. Finally, one can see that our children do not play, that the transmission of the games and play is, at best, being passed in school and that due to busy schedules, parents do not have time to develop these activities with their children. Despite this finding, the work was very well accepted by students, who participated actively in the whole process, especially when they fell to the responsibility to convey the fun and games, they studied and practiced, for students of other series. It was realized at last, the importance of school, particularly in physical education classes, not to let popular culture, where the games and play, be forgotten in our society.

Keywords: rescue; games; jokes.

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INTRODUÇÃO

Hoje em dia, a falta de espaço e medo da violência, confinam nossas crianças a buscarem outros tipos de diversão, ao invés de brincarem nas ruas com seus amigos. É muito comum perceber como grande parte de nossos alunos tem uma vida sedentária, não brincam mais, estão constantemente ligados no computador, vídeo game, televisão, entre outros. Desta forma nossos alunos perderam o contato com os jogos e brincadeiras populares e principalmente com a possibilidade de exercitar o corpo de uma forma prazerosa e saudável, estimulando a imaginação e a criatividade, desenvolvendo a socialização, o dialogo, e outros aspectos importantes para a sua formação. Nesse sentido, o resgate dos jogos e brincadeiras se faz necessário, principalmente nas escolas, pois, no momento, é o único espaço onde os alunos podem ter mais proximidade com a transmissão desta cultura, uma vez que pais, avós, tios ou responsáveis não tem mais tempo para se dedicar a estes ensinamentos. O projeto pretendeu destacar a importância de se trabalhar com o resgate de jogos e brincadeiras com os alunos na escola. Mostrar as possibilidades de não apenas copiar o que já foi feito, mas sim levá-los a criar e modificar atividades que faziam parte de nossa cultura. Assim, o objetivo do projeto foi o de resgatar jogos e brincadeiras da cultura popular, antes passadas de pai para filho e que hoje não fazem parte da vida de nossas crianças.

Os trabalhos com os jogos e as brincadeiras são de relevância para o desenvolvimento do ser humano, pois atuam como maneiras de representação do real através de situações imaginárias, cabendo, por um lado aos pais e, por outro, a escola fomentar e criar as condições apropriadas para brincadeiras e jogos (D.C.E. – Ed. Física, 2008, p. 66).

O importante, no entanto, é ressaltar que o projeto não teve o intuito de designar a escola como a única transmissora destes ensinamentos, mas sim, paralelo a este trabalho, estimular os pais a perceberem que estas atividades criam um vinculo familiar muito significativo, pois através de um lazer e da troca de experiências que ela nos permite, podemos atingir um dos objetivos dos jogos e brincadeiras, que é a socialização entre os pares que a praticam. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Atualmente é muito difícil observar crianças brincando nas ruas, principalmente envolvidas em jogos e brincadeiras populares. Brincadeiras e jogos que faziam parte da nossa cultura, do nosso folclore, há pouco tempo atrás eram comuns no cotidiano de qualquer criança. Assim, está se perdendo um legado cultural que nos foi transmitido pelos nossos avôs, pais e irmãos mais velhos.

Diante das novas tecnologias e modernidades, o medo da violência, a necessidade dos pais trabalharem fora, entre outras, nossas crianças passam mais tempo dentro de casa do que brincando ao ar livre com os irmãos, amigos ou vizinhos, segregando-os aos jogos eletrônicos, a TV, internet, etc. Estes, sem querer, acabam privando a criança do contato saudável com a natureza e demais pessoas do meio social que o cercam.

Existe uma grande confusão quando se trata de definir jogo, brincadeira e esporte, porém são muitas as diferenças entre eles, mesmo quando um influencia o outro, ou quando a partir de um surge o outro.

Muitos esportes começaram com uma brincadeira ou jogo, que a partir da aceitação do público foram tomando grandes proporções e com regras mais elaboradas

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acabaram por se institucionalizar, tornando-se assim “esporte” (KNIJNIK, KNIJNIK, 2004). De acordo com Huizinga (2004, p.33), “o jogo é uma atividade voluntária, exercida

dentro de alguns padrões com regras previamente combinadas e consentidas entre todos os participantes, dentro de certo tempo de limite e espaço, acompanhado de um sentido de tensão e alegria e de ser diferente do cotidiano”. As regras no jogo são livres e podem ser mudadas de acordo com o ambiente; espaço para a sua realização; criatividade dos participantes; números de pessoas envolvidas entre outras.

No jogo, as crianças aprendem normas de comportamento, hábitos de convivência, sempre sujeito a certas regras que não lhe tiram o prazer ao participar das atividades em que estão envolvidas. Mesmo porque se estas “regras” não forem aceitas pelo grupo elas podem ser criadas e recriadas a todo o momento e só brinca quem se tornar sujeito a elas (GONÇALVES, 2006, p.135).

Todo jogo tem regras próprias a serem seguidas, e com elas as crianças conseguem entender e vivenciá-las no seu dia a dia. Uma criança que brinca, participa e compreende as regras de um jogo pode se tornar um adulto entendedor de regras durante toda sua vida.

Quando se trata de definir brincadeira a confusão gira em torno das características do jogo que são comuns a brincadeira, o que faz com que muitos autores ainda que conceituem como sendo a “mesma atividade”.

O que diferencia a brincadeira do jogo é não ter tantas regras definidas para que a mesma seja praticada. Muitas são executadas por apenas uma criança (faz-de-conta, pipa, pião, etc.), sem que seja necessário haver uma negociação para que a regra seja aceita por todos.

A brincadeira faz parte da cultura corporal e nela a criança aprende a lidar com questões importantes para a sua vida como a imaginação, a criatividade, seus medos e anseios, fantasias que poderão formar sua personalidade ou mesmo sua identidade (FARIA JÚNIOR apud GONÇALVES, 2006, p.143).

“Muitas brincadeiras podem se transformar em jogos desde o momento em que sejam estabelecidas normas e regras previamente formuladas nos deixando o lúdico de lado, como podem também ter caráter competitivo” (GONÇALVES, 2006, p.141).

Enfim, jogo e brincadeira são muito importantes na formação da criança, independente das comparações, diferenças e semelhanças entre elas.

O valor dos jogos e das brincadeiras na vida das crianças é imensurável, pois, além da alegria que elas demonstram na sua execução, oferecem excelentes oportunidades para o desenvolvimento não só físico, mas cognitivo, social e afetivo (GONÇALVES, 2006, p.134).

O esporte, como já foi dito antes, pode ter sido oriundo de alguma brincadeira ou

jogo. Entretanto, no esporte, as regras são institucionalizadas e seguidas regiamente em qualquer lugar do planeta, sem a disponibilidade de variação ou alteração das mesmas.

Apesar de tudo isto o esporte, como o jogo e a brincadeira, também nos proporcionam prazer divertimento e alegria. Também através do esporte é possível a adaptação para transformá-lo num jogo ou brincadeira. Um acaba sempre interferindo no outro, assim uma relação com a cultura corporal onde não importa o que estamos praticando desde que esteja repleta de prazer e satisfação. Se com um, temos toda liberdade pra realizá-lo, em outro, precisamos obedecer a regras e normas que já estão estabelecidas para que isso se concretize.

Percebe-se enfim que de fato, o que diferencia jogo, brincadeira e esporte são as regras. E o ponto alto dos jogos e brincadeiras é justamente a possibilidade de criá-las, desenvolver nos alunos a capacidade de poder pensar, debater, tomar decisões em comum, resolver os problemas que se surgirão com a realização dos jogos para a melhor

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participação nestas atividades. Até bem pouco tempo atrás, era muito comum ver crianças nas ruas; soltando pipa,

pião, brincando de esconde-esconde, pega-pega, bet’s e outras brincadeiras mais. Fazia parte do nosso cotidiano: o convívio com as outras crianças, a espontaneidade, o contato ao ar livre, o jogo e as brincadeiras que estavam intimamente ligadas à infância.

A rua era um espaço democrático, onde crianças podiam brincar e mais do que isto trocar experiências, criar novos jogos e brincadeiras, renovar o que já existia e havia também uma participação efetiva dos mais velhos em várias atividades, uma vez que eles também traziam as suas experiências para enriquecer ainda mais as brincadeiras de rua. Muitas brincadeiras de nossa infância foram ensinadas por avós, pais, tios, que tinham o papel de nos transmitir informações importantes, regras sobre jogos que uma vez passadas tornavam-se parte integrante de nosso cotidiano.

No passado, os jogos tradicionais eram transmitidos de forma oral e pela palavra, e nesse mecanismo de transmissão era inevitável um processo de mudança contínua que garantisse a flexibilidade e adaptação das criações culturais, evolução que ocorre conforme a realidade social e o ambiente (CERVANTES, 2005, p.116).

E nesta troca de informações e renovação, a criança participava ativamente dos

jogos e brincadeiras, desenvolvendo o seu potencial motor, cognitivo e principalmente o social, pois através do convívio com outras crianças, a disponibilidade de debater e trocar idéias, tudo era muito significativa para a construção de um ser humano melhor.

O que se verifica nos dias de hoje é justamente um convívio mais intenso entre crianças, que na maioria das vezes estão quase sempre trancadas em seus apartamentos, com seus jogos de videogame, assistindo TV, computador entre outros aparelhos eletrônicos.

Quando muito, estão nas escolas ou em clubes em horário contrário ao do seu estudo. Ou seja, nos dias de hoje, existe uma possibilidade de participação mais ativa das crianças com a sociedade. Talvez o problema seja que a criança não pode ter uma vida normal, apesar de toda a liberdade existente, e acaba motivada pelo que ela vê e joga nos videogames e a democracia tenha se deturpado em violência: quem manda mais é aquele que manipula as regras e o modo de jogar, e assim os outros devem ser apenas participantes e obedecer e seguir as normas impostas.

Na sociedade contemporânea, grande parte dos jogos tradicionais infantis – ciranda cirandinha, cabra-cega, barra manteiga, queimada, jogo de pião, pedrinhas, amarelinha, entre outros – que encantam e fazem parte do cotidiano de várias gerações de crianças, estão desaparecendo devido à influência da televisão, dos jogos eletrônicos e das transformações do ambiente urbano, ou seja, as ruas e as calçadas deixaram de ser o espaço para a criança brincar (BERNARDES, p. 543).

Aquela transmissão que pais e avós faziam a seus filhos e netos acabou por ser

deixada de lado. Um dos fatores já citados para que isso possa ter acontecido é o medo da violência que está muito presente em nossa sociedade. O modelo de família também mudou: as mães trabalham fora em períodos longos, os pais mantêm um ritmo de vida que muitas vezes os impedem de ter mais contato com seus filhos.

Nos pequenos momentos de folga para os pais o essencial é descansar e não brincar na rua ou em espaços livres com seus filhos. Por isso a importância dos eletrônicos em nossa vida, com eles as crianças ficam quietos, em casa, os seus quartos e estão bem longe de alguns males de nossa sociedade. Mas será que “guardando” nossos filhos estamos lhes dando segurança? Será que não estamos apenas

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transformando-os em pessoas egoístas, inseguras, preguiçosas, ociosas que possivelmente irão apresentar “outros males” o decorrer de sua vida?

Nas grandes cidades, esta cada vez mais difícil encontrar espaços para brincar. As ruas perderam seu atrativo, os quintais estão se tornando raros. Brinquedos simples de lata, madeira, com recheio de algodão deram vez a produtos sofisticados e, para quem não tem acesso a eles, restam as armas de plásticos vendidas nos comércios populares. Em vez de divertimentos como esconde-esconde, passa anel, empinar pipas, tem-se filmes na televisão. Àqueles que podem, incluem-se os jogos eletrônicos com uma variedade de ações que reúnem dezenas de títulos, desde aventuras intergalácticas a tramas envolvendo terroristas, assaltantes e outras querelas sociais (LEITE, 2010, p.130).

Talvez seja quase impossível voltarmos às brincadeiras de rua, mas podemos

ainda resgatar aquelas manifestações culturais tão importantes para a formação do ser humano.

Nas escolas, jogos e brincadeiras fazem parte do currículo dentro das aulas de Educação Física. Contudo, existe uma preferência, em massa, pelo esporte e os jogos são muitas vezes usados como pré-desportivos ou apenas pela obrigação de seguir um planejamento. Também já foi citada anteriormente a importância dos jogos e brincadeiras no desenvolvimento das crianças, por isso, todo professor de Educação Física deveria estar ciente da relevância em desenvolver o conteúdo de forma original, resgatando assim a cultura e valores essenciais na formação do seu aluno.

Possivelmente a escola, para muitas crianças, seja o único espaço para brincar e extravasar toda energia acumulada. Brincando elas podem aprender e resgatar não apenas brincadeiras e jogos populares, mas também valores que na nossa sociedade atual já fazem parte do passado.

Desse modo, trabalhar com jogos e brincadeiras deve ser algo prazeroso e motivante, que proporcione alegria e aprendizagem ao mesmo tempo, pode-se até dizer que o jogo é um excelente meio de preparação para a vivência em sociedade (GONÇALVES, 2006, p.138).

Se pais, avós ou responsáveis não estão dando conta da transmissão destes jogos e brincadeiras para seus filhos ou netos, talvez seja agora tarefa dos professores o resgate e propagação destas atividades, além de estimular, quem sabe, que isto volte a ser encargo da família como era há anos atrás.

Muitos profissionais acreditam que falar sobre cultura popular, folclore, resgate é uma atitude retrógada já que estamos na era da tecnologia. Cervantes (2005, p. 118) destaca que o uso de jogos tradicionais como conteúdo escolar deve ser de forma programada com dois objetivos: aproximar os alunos das tradições do seu ambiente e potencializar as atividades lúdicas numa perspectiva recreativa e social, ou seja, o jogo pelo prazer de jogar.

Nossos alunos já nem sabem o que quer dizer “cultura popular”, envolvidos como estão em atividades muito além do que seria previsto para a idade deles. Não conseguem perceber quão importante é preservar uma identidade cultural. Kishimoto (2001, p.38) destaca que a cultura não oficial desenvolvida de modo oral, não fica cristalizada, está sempre em transformação, incorporando criações anônimas das futuras gerações.

É por este motivo que voltamos a destacar a importância e os ganhos ao se trabalhar com o resgate dos jogos e brincadeiras. Existe a possibilidade de não apenas transmitir ou copiar o que já foi feito, e sim de levar nossos alunos a criarem e modificarem os mesmos com suas experiências e de acordo com o ambiente em que vivem.

Fadeli (2003) complementa este pensamento citando que as brincadeiras e

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brinquedos populares são considerados como parte da cultura popular, sendo transmitidos de geração em geração, principalmente através da oralidade, sendo que alguns preservam sua estrutura inicial, enquanto outros se modificam e recebem novos conteúdos.

Mesmo que hoje não seja viável brincar nas ruas, que pais não tenham tempo para passar sua vivência a seus filhos e inúmeras outras dificuldades que venham a atrapalhar o desenvolvimento e propagação desta cultura, a escola pode e deve preencher esta lacuna através das aulas de Educação Física, motivando os alunos a buscarem por suas raízes e retomarem o prazer pelo brincar, que deveria fazer parte da sua infância. METODOLOGIA O projeto foi desenvolvido com os alunos do 7º ano do Colégio Estadual Souza Naves – Rolândia – em 2011 com 4 etapas de intervenção assim distribuídas:

Unidade 1: Os alunos buscaram, no senso comum, informações sobre o que já sabiam a respeito dos jogos, esportes e brincadeiras. Logo após foi realizada a fundamentação teórica sobre estas atividades, mostrando as semelhanças e diferenças, entre eles dando ênfase ao uso das regras. Foi solicitado então, que os alunos preenchessem uma ficha escrevendo o que eles haviam entendido sobre os jogos, esportes e brincadeiras. Para finalizar esta unidade foi realizada uma atividade prática, onde o objetivo era verificar como se constrói as regras de um jogo, pedindo que os alunos criassem novas regras para um jogo já conhecido. Unidade 2: Como na unidade anterior os alunos tiveram contato com as diferenças entre jogo, esporte e brincadeira, criação de regras, entre outras, nesta unidade eles relembravam todas aquelas atividades que faziam parte de suas vidas, do seu cotidiano. Principalmente aquelas preferidas da nossa infância, com os amigos, vizinhos, familiares, etc. Foi pedido, também que, se possível, eles lembrassem algumas regras de cada uma das atividades listadas. Depois, cada aluno citou para a turma as suas brincadeiras ou jogos preferidos e com base nesta explanação foram formados grupos por afinidade, ou seja, grupos onde as brincadeiras escolhidas eram as mesmas, verificando porém como eram as regras, modo de jogar, de cada aluno, destacando semelhanças e diferenças. A brincadeira escolhida pelo grupo foi apresentada, na prática, para toda a turma, sempre deixando um espaço para que os demais se manifestassem a respeito de outras sugestões para o mesmo jogo. Nesta unidade, também, foi ressaltado que os jogos e brincadeiras eram transmitidos de pais para filhos, que os pais, há alguns anos atrás, tinha este papel em nossas vidas. Com base, nesta informação, foi solicitado que os alunos pesquisassem junto aos seus familiares, quais eram seus jogos favoritos, onde brincavam, quais eram as regras usadas e se os mesmos conheciam aquela brincadeira em questão, que foi apresentada na prática, e como era a execução da mesma, para que fosse feita uma comparação na evolução dos jogos e suas regras. Unidade 3: Nesta unidade foi trabalhado o resgate da cultura popular através dos jogos e brincadeiras e a importante participação da família nesta transmissão. Realizaram uma pesquisa com os pais, avós, tios, buscando verificar se já havia esta transmissão no tempo deles e como se processava. Foi pedido também, que observassem se aquele jogo ou brincadeira escolhido pelo grupo foi citado e se haviam semelhanças ou diferenças na execução da atividade. Em caso de afirmativo eles aplicariam o mesmo jogo acrescentando as regras passadas pelos seus pais. E por fim, na Unidade 4, os alunos fizeram a transmissão da brincadeira escolhida (com as regras dos pais também) para os alunos da 5ª série, relembrando que assim que

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se passa, de geração a geração, a cultura popular. RESULTADOS Unidade 1: Como já era esperado, os alunos faziam muita confusão ao diferenciar: brincadeira, jogo e esporte. Para eles jogo e esporte eram a mesma coisa, ou jogo era visto apenas como “jogo de tabuleiro”. Após as atividades realizadas para mostrar a fundamentação e características de cada um, ficou claro que o uso das regras é que fazem toda a diferença. Os alunos também trouxeram exemplos de jogos, esportes e brincadeiras para que não restasse nenhuma dúvida quanto a aplicação de cada uma destas atividades. Quando foi realizada a experiência prática na construção de regras, com um jogo já conhecido (pega-pega) os alunos gostaram tanto do trabalho que foi solicitado à professora que propusesse outro jogo para a mesma tarefa. O jogo escolhido foi a Bola Queimada e esta atividade teve uma grande aceitação por todos. Unidade 2: Na unidade 2 os alunos buscavam as brincadeiras e jogos que eles praticavam. Fizeram suas listas, colaborando com a citação de regras e modo de jogar. Quando cada aluno levou a turma suas preferências, foi solicitado que se formasse pequenos grupos por afinidade, escolhendo uma brincadeira, onde trocavam idéias, anotavam as características diferentes que surgiam e assim formaram as regras do jogo escolhido. Em seguida foram sorteados os dias para a apresentação prática da atividade. Muitas brincadeiras foram citadas, mas não foi possível colocar todas em prática. Os alunos se empenharam muito na apresentação prática da brincadeira, e após cada apresentação os demais podiam acrescentar regras, comentar como era desenvolvido o jogo na sua cidade, bairro, etc. Foi uma experiência gratificante, pois houve uma participação efetiva dos alunos, tanto na prática como na elaboração do jogo. Após a prática foi comentado com os alunos sobre a transmissão dos jogos e brincadeiras de infância, antes passadas de pai para filho e que faziam parte do cotidiano de cada criança. Os alunos foram indagados se eles sabiam quais eram as brincadeiras do tempo dos seus pais e se estes já haviam lhes ensinado algum jogo. Foi solicitado então que eles fizessem uma pesquisa com seus responsáveis no intuito de descobrir quais eram os jogos e brincadeiras favoritos, se lembravam de algumas regras e como eram estas brincadeiras, onde brincavam, etc. A maioria dos alunos comentou que seus pais não brincavam, só trabalhavam. A professora então provocou alguns questionamentos lembrando que eles também já foram crianças e será que nunca brincaram? Será que seus pais não tiveram esta experiência? As respostas dos pais vieram de encontro ao questionamento feito anteriormente, pois os mesmos citaram várias brincadeiras. Quanto as regras, poucas foram as diferenças, no entanto quase todos comentaram a liberdade de poder brincar nas ruas com seus amigos, vizinhos. Não havia tanta violência, e “brincar” era uma prática constante na vida de todos. Unidade 3: Nesta unidade os alunos responderam a duas questões: 1- O que vocês descobriram na pesquisa feita com os pais, tios, avós? e 2- Perceberam se há diferenças ou semelhanças nas regras e nos jogos que eles praticavam? Na primeira questão alguns alunos comentaram que não sabiam muito da vida dos pais e que ficaram surpresos com a resposta dada por eles. Uma curiosidade levantada foi em relação ao material usado pelos pais nas brincadeiras, por exemplo, boneca de milho, bolas de diversos materiais (meia, jornal, etc.), enfim, sucatas transformadas em brinquedos. Surgiam também algumas brincadeiras diferentes das que eles conheciam. Já na segunda questão, os alunos chegaram a conclusão que os pais brincavam da mesmas brincadeiras que eles, com pequenas diferenças nas regras e no modo de

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jogar. Em alguns jogos, algumas características eram diferentes, mas basicamente a essência era a mesma. Depois desta discussão a professora perguntou aos alunos se os pais haviam citado na pesquisa o jogo que eles haviam demonstrado na prática. A maioria dos grupos conseguiu destacar que os pais praticavam as mesmas brincadeiras que eles e como já foi dito anteriormente, não surgiram grandes diferenças nas regras apresentadas pelos pais. Em alguns casos o que mais se diferenciava da atualidade era basicamente o local onde se praticava aquela atividade e o material usado. Unidade 4: Estava programado para o fechamento deste projeto um “Grande Festival de Jogos e Brincadeiras” onde os alunos participantes iriam aplicar as brincadeiras com os alunos do 6º ano. No entanto, não foi possível realizar o evento no formato planejado, porém cada turma ficou responsável por transmitir o que eles haviam aprendido e pesquisado durante todo o projeto para uma turma da série anterior a sua, durante a hora normal das aulas. A experiência foi válida, porque os alunos puderam assim ter um contato mais direto com outras crianças e, assim, realizar o processo de transmissão dos jogos e brincadeiras da cultura popular. CONCLUSÃO De um modo geral a trabalho foi muito bem recebido pelos alunos. Jogos e brincadeiras são atividades prazerosas e que contagiam a todos que fazem parte delas. Percebeu-se que, como sempre, a prática é muito mais interessante e durante a apresentação dos jogos, criação de regras e mesmo na apresentação para o 6º ano, a participação foi efetiva com muito empenho e envolvimento dos alunos, tanto pelos que estavam apresentando a atividade quanto os que estavam participando dos jogos e brincadeiras. Na apresentação prática para o 6º ano, apesar das mudanças em relação ao Festival, o aproveitamento foi excelente e a relação da turma que estava aplicando o projeto com a que estava recebendo as informações, os jogos e brincadeiras, teve um gosto de transmissão de “pai para filho”, pela proximidade que as turmas tiveram durante a 4ª etapa do projeto. No entanto, quanto à pesquisa com os pais e na teoria, não houve o mesmo empenho. Muitos não conversaram com seus pais para saber realmente as suas preferências quanto aos jogos e brincadeiras, chegando a inventar respostas. Foi necessária a intervenção da professora, no sentido de mostrar a importância da pesquisa para que o resgate fosse realizado em sua totalidade. Verificou-se enfim que nossos alunos de Educação Física, vêem a disciplina essencialmente na prática e apesar das mudanças que a disciplina passou no decorrer dos anos, tem uma dificuldade na teorização e no aprofundamento dos conteúdos.

Deste modo ficou claro, que se faz necessário estimular os nossos alunos a buscarem outras formas de diversão e entretenimento, que retomem o prazer de brincar através das aulas de Educação Física.

Talvez com estas atitudes possamos resgatar não só apenas jogos e brincadeiras, como também alguns valores embutidos nestas atividades (cooperação, respeito, dialogo, etc.), muito importantes e que em nossa sociedade também já estão fazendo parte do passado.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BERNARDES, Elizabeth L. Jogos e brincadeiras tradicionais: Um passeio pela história. Cadernos da Educação, SP, n 06, jan/dez 2006. CERVANTES, Carmem T. O jogo tradicional na socialização das crianças. IN: MURCIA, J.A.M. et al. Aprendizagem através do jogo. Porto Alegre: Ed Artmed, 2005. FADELI, Thiago Tozetti; FERRI, Marco Antonio Parente; SILVA, Roseli Sandra E; GONÇALVES JUNIOR, Luiz. Arco da velha: resgate e vivência de brinquedos e brincadeiras populares. IN XV ENCONTRO NACIONAL DE RECREAÇÃO E LAZER – LAZER E TRABALHO: NOVOS SIGNIFICADOS NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA, 2003, Santo André. GONÇALVES, Nezilda L.G. Metodologia do ensino da Educação Física. Curitiba: Ipbex, 2006. HUIZINGA, J. Homo Ludens: O jogo como elemento da cultura. São Paulo: Perspectiva, 2004. KISHIMOTO, Tizuko Morchida, (Org) Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. Ed. Cortez, 2001, São Paulo, 5ª Edição. KNIJNIK, Jorge Dorfman; KNIJNIK, Selma Felippe, Sob o signo de Ludens: interface entre brincadeira, jogo e os significados do esporte de competição. R. bras. Ci e Mov. 2004, Brasília. LEITE, Zeca Corrêa. Brincadeiras de infância, Revista Sem Fronteiras, edição 3, páginas 128 a 131, 2010. PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares da Educação Básica – Educação Física. Curitiba: SEED, 2008.