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O céu é o limite: as redes sociais e o atleta-herói Fernanda Reis Resumo: No presente artigo, pretende-se apresentar a maneira que as redes sociais digitais contribuem na construção e reforço da imagem do atleta. Para isso, será feito um estudo sobre as manifestações ocorridas no episódio de transferência do jogador Neymar Júnior para o futebol espanhol, tomando o Twitter como motivador da repercussão do assunto e do reforço de imagem do atleta. Palavras-chave: Esporte. Redes Sociais. Twitter. Atleta. Herói. 1. Da gênese do esporte à constituição contemporânea A referência do nascimento do esporte é a Antiguidade, porém, a prática esportiva remonta a tempos anteriores à Idade Antiga. Na verdade, as primeiras manifestações daquilo que se estabeleceu como esporte está no período pré-histórico. A adoração aos deuses e os rituais tinham como base a atividade corporal. Danças, ginástica e os jogos estavam presentes no cotidiano dos povos primitivos. (HUIZINGA, 1971; MAGNANE, 1988; GRIFI, 1989 apud RUBIO, 2001, p.109). Entretanto, essa relação frequente que se faz da origem da prática esportiva à Antiguidade não é um fato infundado, já que foi justamente nesse período que o esporte se tornou uma atividade eminente e adquiriu formas semelhantes as que se conhece na contemporaneidade. De

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O céu é o limite: as redes sociais e o atleta-herói

Fernanda Reis

Resumo: No presente artigo, pretende-se apresentar a maneira que as redes sociais digitais contribuem na construção e reforço da imagem do atleta. Para isso, será feito um estudo sobre as manifestações ocorridas no episódio de transferência do jogador Neymar Júnior para o futebol espanhol, tomando o Twitter como motivador da repercussão do assunto e do reforço de imagem do atleta.

Palavras-chave: Esporte. Redes Sociais. Twitter. Atleta. Herói.

1. Da gênese do esporte à constituição contemporânea

A referência do nascimento do esporte é a Antiguidade, porém, a prática

esportiva remonta a tempos anteriores à Idade Antiga. Na verdade, as primeiras

manifestações daquilo que se estabeleceu como esporte está no período pré-histórico. A

adoração aos deuses e os rituais tinham como base a atividade corporal. Danças,

ginástica e os jogos estavam presentes no cotidiano dos povos primitivos. (HUIZINGA,

1971; MAGNANE, 1988; GRIFI, 1989 apud RUBIO, 2001, p.109).

Entretanto, essa relação frequente que se faz da origem da prática esportiva à

Antiguidade não é um fato infundado, já que foi justamente nesse período que o esporte

se tornou uma atividade eminente e adquiriu formas semelhantes as que se conhece na

contemporaneidade. De acordo com RUBIO (2001, p.107), a Grécia foi o lugar em que

ocorreu a organização dessa prática e onde o esporte se tornou um acontecimento

cultuado.

A atividade esportiva era parte da rotina dos gregos. A educação de um cidadão

estava diretamente ligada ao trabalho com o corpo e ao seu culto. No mesmo patamar

das letras e da música, o esporte era um dos três pilares da formação grega. (CAGIGAL,

1979; TUBINO, 1992 apud RUBIO, 2001, p.115). O desporto era tão relevante que

cada cidade grega possuía um espaço destinado à prática de atividades físicas e de jogos

e, desses jogos, o mais famoso eram os Jogos Olímpicos. As Olimpíadas eram tão

importantes que, durante o período de competições, os conflitos entre cidades eram

interrompidos.

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A educação física na sociedade helênica era levada tão a sério, que o esporte

passou a ser algo intimamente ligado ao heroísmo, como observa BRANDÃO1 (1999).

Sobre essa questão, o autor cita, como exemplo, um fato que acontecia em Esparta.

(...) a rua que conduzia ao estádio, além de ser marcada com o túmulo do herói Eumedes, possuía uma estátua de Herácles, a quem os sphairîs, os jovens próximos da maturidade, faziam sacrifícios antes de seu combate ritual. A conexão entre culto agonístico e culto heróico era tão séria, que os grandes e mais célebres atletas foram heroicizados, como é o caso de Cleomedes de Astipaléia, Eutimo de Locros e Teógenes de Tasos. (BRANDÃO, 1999 apud RUBIO, 2001, p. 113-114)

Nos séculos seguintes, o esporte assumiu diferentes formatos e funções. Por esse

motivo, a questão do atleta como herói seria reconstruída em fins do século XIX e

durante o século XX, com a reorganização dos Jogos Olímpicos. Um dos responsáveis

por esse restabelecimento foi o francês Pierre de Freddy, o Barão de Coubertin. Sua

intenção era retomar alguns ideais do esporte grego, como a “competição leal e sadia, o

culto ao corpo e à atividade física” (RUBIO, 2001, p. 129). Porém, diferente da versão

grega, o evento seria mundial, contando com a participação de atletas de várias nações.

Então, em 1896, se deu a primeira edição dos Jogos Olímpicos da Era Moderna.

Coubertin defendia o amadorismo no esporte, contudo, ao longo do século XX, o

ideal amador foi sendo deixado de lado e, em seu lugar, entrou a prática profissional. Os

atletas se tornaram dedicados não só ao esporte, mas também à construção de uma

imagem, que dependem do apoio da audiência e do patrocínio financeiro para se

estabelecerem. Com a ascensão da competitividade, o fim do amadorismo, e a relação

entre dinheiro e esporte, este passou a ser uma grande atração, e é nesse acontecimento

que a figura do atleta como herói é central: “(...) sem essas figuras ele2 perderia a força,

e sabemos que assistimos a ele tanto pelo prazer do jogo coletivo quanto por aquele

gerado pelos desempenhos individuais.” (LOVISOLO, 2000, p.16 apud RUBIO, 2001,

p. 138).

O panorama do esporte na atualidade não pode ser desvinculado da figura do

atleta como elemento fundamental. É ele quem move toda a estrutura esportiva. É esse

atleta-herói (ou ídolo) quem legitima o esporte como um evento de importância e quem

serve de exemplo – a ser seguido ou criticado – àqueles que acompanham esse grande

espetáculo.

1 Apud RUBIO, 2001, p. 1132 O esporte como espetáculo. (Nota da Autora)

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2. Concebendo o atleta como herói

Heróis são figuras universais e sobreviventes ao tempo. Universais por estarem

presentes em diferentes sociedades e contextos. Sobreviventes por conseguirem

atravessar séculos munidos de significado. A figura do herói, mesmo que concebida de

maneira característica em diferentes períodos e com significado específico a cada época,

possui uma unidade de sentido que é comum e permanece.

Algumas formas do mito manifestam-se em diferentes culturas, em momentos históricos singulares satisfazendo a um mesmo anseio. Nenhum outro mito foi tão cultuado e se mantém por tanto tempo no imaginário como o do herói. (RUBIO, 2001, p.87)

No imaginário coletivo, a figura do herói está ligada aos conceitos de força,

superação a algo sobre-humano e fora do comum. A relação remonta ao homem

primitivo, que vivia em condições adversas, sendo a sobrevivência um desafio diário, e

ao homem grego, como narrado nas epopeias literárias Odisseia e Ilíada. Mas, além da

referência à literatura, a figura do herói grego também está relacionada ao esporte, e é

justamente nessa ideia que a figura do atleta-herói dos tempos contemporâneos se

fundamenta.

Para BRANDÃO3 (1999), “o herói é uma idealização” e, segundo o autor, para

os gregos, é como se esse herói transcendesse aos valores ordinários dos homens

comuns.

O herói (...) para o homem grego talvez estampasse o protótipo imaginário da kalokagathía, a ‘suma probidade’, o valor superlativo da vida helênica. Seres extraordinários que notabilizaram por certas formas específicas de criatividade, comparáveis às façanhas incríveis dos heróis civilizadores das sociedades arcaicas.” (BRANDÃO, 1999, apud RUBIO, 2001, p.88)

Essa percepção funciona de maneira que esses seres, que se destacariam dos demais,

seriam modelos a serem seguidos e suas virtudes deveriam ser alcançadas. Os heróis

gregos seriam as figuras que estariam mais próximas dos deuses, portanto, mais

próximas da perfeição.

O herói enquanto figura mítica vem representar o mortal, que transcendendo essa sua condição aproxima-se dos deuses em razão de um grande feito. A realização de prodígios é quase sempre uma mistura de força, coragem e astúcia, caracterizando essa figura não como alguém dotado apenas de força bruta, mas como uma figura particular, capaz de realizar mais do que apenas a força lhe daria condições. (RUBIO, 2001, p.99)

3 Apud RUBIO, 2001, p.88

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Trazendo para o contexto contemporâneo do esporte, mas fazendo uma relação

com a trajetória da imagem do herói ao longo dos tempos, o atleta de alto rendimento

(contraponto ao atleta amador, de Coubertain) teria como desafio as grandes

competições e também a pressão de mostrar para milhões de pessoas, que acompanham

sua carreira, o que ele é capaz de fazer.

Vitórias constantes ou até mesmo a quebra de recordes funcionam como uma

espécie de garantia de ter o nome gravado não só em veículos de comunicação como na

memória das pessoas. O sabor dos desafios, a vontade incessante de vencer e o prestígio

da vitória são alguns dos principais elementos que movem os atletas. Além disso, existe

o desejo de quem acompanha esse atleta por feitos heroicos. É a junção desses fatores

que contribui para a manutenção do espetáculo esportivo.

3. Mídia, esporte e a construção do herói

Sendo um dos principais acontecimentos sociais, o esporte é importante

elemento na organização da sociedade atual. É um dos principais constituintes da

indústria cultural contemporânea, por ter alcançado, em um curto espaço de tempo,

prestígio social, além de servir de matéria-prima aos meios de comunicação. (RUBIO,

2001, p. 107)

Sobre o esporte nos veículos de comunicação, pode-se observar que nos últimos

anos ele vem mostrando ser um grande nicho de mercado. As abordagens são variadas e

feitas nos mais diferentes meios. Revistas especializadas no assunto, websites que se

debruçam na área, redes sociais digitais que transmitem em tempo real acontecimentos

esportivos, programas de rádio e canais de televisão que dedicam exclusivamente ao

tema são produtos que estão cada vez mais em expansão.

O acompanhamento de uma modalidade por meio da mídia está relacionado a

ela como um todo, porém, o interesse das pessoas não se resume a isso. Na verdade, o

real foco de uma modalidade esportiva está muito mais no atleta que a pratica, do que

nela em si. As atenções estão mais voltadas para o desempenho desse atleta e o que ele

representa. E é justamente a figura do atleta, o principal elemento abordado pela mídia.

A relação do jornalismo esportivo com o entretenimento contribui para que, ao

longo da constituição do discurso, haja uma reconstrução da imagem do atleta. É neste

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momento que a figura do herói aparece, adquire um significado que é transmitido ao

público.

Sustentada pela estrutura de formação e desconstrução do mito, a narrativa jornalística do esporte revela emoções acerca do herói ou do anti-herói, como se fatos reais trouxessem à tona configurações de ficcionalidade. O receptor fica preso a uma teia acerca do desenrolar das circunstâncias factuais. Ocorre principalmente com a figura do mito no esporte, em que o cenário competitivo se vislumbra em ideais de esperança, superação, sucesso, alegria, dor, drama, vitória, derrota. Essa dinâmica comunicacional se assenta através de uma circularidade e atinge um superdimensionamento no jornalismo especializado. (PIEPER, 2009, p.2)

Estabelecida pela mídia a imagem de herói do atleta, toda e qualquer ação

proveniente deste será automaticamente relacionada, mesmo que de maneira

involuntária, ao conceito de heroísmo, ainda que essa ação, em sua essência, não mereça

ser considerada (ou não seja, de fato) heróica.

O atleta no esporte, dentro de um status de glorificação enaltecida pela mídia sob a forma de espetacularização, posiciona-se não só como aquele que defende uma massa, mas também como aquele que representa e gera identificação e reconhecimento. (PIEPER, 2009, p.2)

A existência do atleta-herói é, portanto, uma espécie de personificação do

inatingível, daquilo que é extraordinário à maioria das pessoas. Por esse motivo, é na

figura desse atleta que as pessoas se apegam e acreditam que serão representadas.

4. Redes sociais, Twitter, a força (e reforço) da imagem

A World Wide Web – www – é algo relativamente recente, possuindo pouco

mais de duas décadas de uso. A popularização e uso massivo dessa rede são mais novos

ainda, tendo acontecido nos últimos 15 anos. Nessa mesma época, identifica-se que,

além do desenvolvimento da www, ocorreram as primeiras manifestações e estudos

sobre redes sociais no ambiente digital.

Em 1997, de acordo com Boyd & Ellisson (2007), o SixDegrees.com

foi um dos primeiros sites que pode considerado como rede social.

Nesse espaço, os usuários poderiam criar perfis, listar amigos e

navegar por essas listas. A partir da década de 2000, o surgimento de

redes com o objetivo de conectar pessoas aumentou

exponencialmente. Na primeira metade dos anos 2000, surgiram

MySpace, Orkut e o YouTube, enquanto na segunda metade, a partir

de 2006, foi a vez do Facebook, LinkedIn, Last.fm, Flickr e Twitter.

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Nesse sistema de redes sociais, segundo Recuero (2009) dois aspectos são

fundamentais para que ocorra a interação: os atores envolvidos e as conexões. Os atores,

geralmente, são pessoas envolvidas nas redes que, no ambiente online, em geral, são

representações de pessoas. A interação entre esses atores, por sua vez, são os chamados

laços sociais que, ainda de acordo com a autora, são “formas mais institucionalizadas de

conexão entre atores, constituídos no tempo e através da interação social” (RECUERO,

2009, p.38). Em suma, “as conexões possibilitam a criação dos laços, e estes podem

formar relações sociais no ciberespaço, semelhantes às relações face a face”

(GADELHA, 2013, p.38).

Com as redes sociais e por tais laços que elas possibilitam formar, a sensação

que se tem é de estar mais próximo e íntimo de quem se relaciona, mesmo que não se

conheça pessoalmente e haja uma distância física entre os indivíduos que se está em

conexão. Por isso, as pessoas se sentem no direito interferir, julgar, idolatrar ou odiar

aquele que, até pouco tempo, era um mero desconhecido.

As características dos sites de rede social, neste contexto, acabam gerando uma nova “forma” conversacional, mais pública, mais coletiva, que chamaremos de conversação em rede. [...] São essas conversas públicas e coletivas que hoje influenciam a cultura, constroem fenômenos e espalham informações [...] (RECUERO, 2012, p.18).

Especificamente no Twitter, rede social considerada neste

estudo, a interação instantânea e o uso de marcadores, as hashtags,

contribuem na formação desses laços e reforçam um determinado

tema tratado, já que tais marcadores têm o propósito de

(...) segmentar assuntos e possibilitar um mecanismo de busca por esses assuntos. Elas também facilitam o monitoramento de um determinado assunto, recurso muito utilizado por marcas e empresas para saberem o que anda sendo falado sobre elas na mídia social em questão. (GADELHA, 2013, p. 94)

No caso a seguir, mostraremos esses marcadores do Twitter

como agregadores de conversação sobre determinado fenômeno ou

acontecimento. Isso contribui na manutenção da evidência de um

fato, reforçando e/ou reafirmando determinada representação, seja

de um fenômeno ou de um indivíduo, que no caso específico deste

trabalho, será o jogador brasileiro de futebol, o Barcelona, time do

campeonato espanhol.

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5. #ObrigadoNeymar

Depois de anos de especulação, o que era temido por uns e almejado por outros

aconteceu. Neymar Júnior, jovem jogador do Santos deixaria o clube e passaria a

representar o time espanhol Barcelona. Sua transferência ocorreu em 25 de maio de

2013 e causou repercussão nacional e internacional, com destaque em diversos veículos

e redes de comunicação.

A carreira de Neymar foi construída no Santos. Desde as categorias de base, se

mostrou um jogador habilidoso e, em 2009, com apenas 17 anos, estreou no time

profissional do clube. Daí em diante, a combinação de habilidade dentro dos campos e

irreverência fora deles fizeram com que brasileiros, mesmo e torcedores de times rivais,

e estrangeiros passassem a admirar o jovem que despontava no futebol.

Um ano após sua entrada no time paulista e já defendendo a seleção brasileira no

campeonato Sub-20, times europeus assediavam o jogador, porque viam o potencial

fenômeno que Neymar seria em pouco tempo. Ainda em 2010, especulou-se sua

transferência para o time inglês Chelsea, mas por articulação da diretoria do Santos,

conseguiu-se manter o jogador no time. Em 23 de agosto de 2010, Neymar e seu pai

reuniram-se com Luis Álvaro de Oliveira Ribeiro, diretor do clube, para convencê-los a

permanecer ainda no futebol nacional, apresentou o seguinte argumento:

“Essa é a cadeira do grande ídolo esportivo nacional. Desde a morte de Ayrton Senna ela está assim, vazia. Se o Neymar ficar no Santos e recusar a proposta do Chelsea (clube da Inglaterra), dará o primeiro passo para sentar-se nela". (Luis Álvaro de Oliveira Ribeiro, diretor do Santos Futebol Clube, em 23 de agosto de 2010)4

Esse episódio na carreira de Neymar deu origem a várias outras situações de

admiração, que foram alimentadas pelo desempenho talentoso do jogador dentro de

campo. Ele passou a ocupar um posto que estava vazio há algum tempo e que

brasileiros, principalmente, estavam órfãos. Precisava-se de um herói nacional e

Neymar estava na hora certa e no lugar certo quando o brasileiro procurou por isso, e

achou.

Nas redes sociais, a idolatria por um atleta fica ainda mais evidente. Elas

possibilitam a expressão de contentamento, decepção em tempo real, de maneira

4 Declaração retirada do endereço: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Neymar#cite_note-ospaparazzi-17>

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descentralizada e não necessariamente mediada, em um contraponto aos veículos

tradicionais. O atleta pode ir do céu ao inferno em instantes: ao mesmo tempo em que

pode ser elevado ao posto de mito, pode ser execrado por um comportamento

considerado inadequado, mesmo que não esteja relacionado ao esporte em si. E isso

aconteceu ao longo da carreira de Neymar, quando se envolveu em polêmicas com

treinadores, ou até mesmo quando revelou que seria pai aos 17 anos.

Esses eventos tendiam, potencialmente, a atrapalhar a imagem do ídolo, porém,

o desempenho em campo era tão espetacular e tão sobre-humano, muitas vezes, que o

que ocorria fora dos campos era irrelevante perto do que era feito enquanto jogador. De

alguma maneira, Neymar representava seu time e sua nação quando estava entre as

quatro linhas.

Os feitos do jogador, durante meia década, foram suficientes para elevá-lo ao

posto de ídolo, e a gratidão dessa representação ficou nítida em sua despedida do

futebol brasileiro em 25 maio de 2013, quando transferiu-se para a Espanha, para

defender o time catalão Barcelona.

Com a decisão, lançou-se uma espécie de campanha que homenageava o jogador

e agradecia por sua contribuição por esses anos que representou o time paulista. A

iniciativa foi a criação do marcador (hashtag) #ObrigadoNeymar para expressar a

gratidão e admiração não só do time, mas muito mais por torcedores e apreciadores de

futebol e viam na figura do jovem, um jogador com um potencial espetacular. O pico de

utilização dessa hashtag foi entre os dias 23 e 30 de maio de 2013 e, abaixo, estão

reproduções de tuítes que envolviam essa campanha/homenagem a Neymar e dão bases

aos argumentos propostos neste trabalho.

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6. Considerações Finais

A interação social na internet amplia as emoções humanas, e isso fica evidente

na rede social considerada neste artigo. As redes sociais possibilitam usuários se

expressarem de maneira descentralizada, mas que no todo formam uma unidade de

sentido, e marcadores, como as hashtags, são elementos responsáveis por essa unidade.

Percebe-se que, pelo peso da manifestação nesta rede social em específico e

juntamente com a possibilidade do instantâneo e da gama repercussões que um assunto

gera, essas mostras – como o #ObrigadoNeymar – apresentam uma força que extrapola

a rede social em si.

Elas afetam não só na representação do herói, do ídolo para as pessoas

diretamente e somente, mas nos veículos tradicionais que acabam se baseando nesse

tipo de fenômeno, criando conteúdos e pautas de acordo com o clima apresentado

nesses espaços pelos usuários, retroalimentado, por sua vez, o processo de admiração e

importância que a imagem de determinado atleta representa para as pessoas.

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7. Referências Bibliográficas

ARAÚJO, Thiago de Oliveira. Radar Eleitoral: uma cobertura das eleições 2010 sob a ótica do usuário-eleitor. 2010. Disponível em: <http://www.com.ufv.br/pdfs/tccs/2010/ThiagoAraujo.pdf>. Acesso em 19 ago. 2013.

BOYD, D. M.; ELLISON, N. B. Social Network Sites: Definition, History, and Scholarship. 2007. Disponível em: < http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.1083-6101.2007.00393.x/pdf >. Acesso em 20 ago. 2013.

GADELHA, Tássia Rodrigues. #ÊTAPRESIDENTAMARAVILHOSA: uma análise da página Dilma Bolada no Facebook. 2013. Disponível em: <http://bdm.bce.unb.br/bitstream/10483/5040/1/2013_T%C3%A1ssiaRodriguesGadelha.pdf> Acesso em 20 ago. 2013.

PIEPER, Marcélia Alves. O espetáculo e o mito como sustentáculos da mídia esportiva e do capital. In: VII ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISADORES EM JORNALISMO, 2009, São Paulo.

RECUERO, Raquel. Redes Sociais na Internet. Porto Alegre: Sulina, 2009.

RUBIO, Katia. O imaginário esportivo contemporâneo: o atleta e o mito do herói. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2001.