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O Burraco Da Fechadura Das Redes Sociais
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O BURACO DA FECHADURA DAS REDES SOCIAIS
VIDA REAL VERSUS VIDA VIRTUAL
Fernanda Soares de Miranda Santos
INTRODUO
O presente artigo aborda o tema Vida Real versus Vida Virtual, tendo por finalidade
explorar as novas formas de interao da sociedade, suas consequncias e limites. O objetivo
principal deste estudo, que tem como base a reviso literria, identificar analogias
comportamentais do real e do virtual nas redes sociais, tomando na maior parte das vezes o
popular facebook como exemplo. Os objetivos especficos pautam-se no aprofundamento das
influncias psquicas, da moral e da cultura em geral agindo sobre as aes em rede. Busca-se
a identificao das instncias que regem as manifestaes interativas e comunicacionais do
indivduo, a fim de compreender o papel do ego e do alterego neste contexto.
As redes sociais se apresentam como um novo mundo que nos permite tornar pblico coisas
que no ousaramos dizer face a face. Estudar as formas de expresso atravs de imagens e
frases feitas, bem como comentrios e pginas relacionadas ao usurio pode delimitar novos
perfis de conduta na sociedade. Empresas, por exemplo, j buscam os perfis de candidatos,
procurando entender a postura e valores pessoais de quem pretendem contratar.
A tecnologia nos mostrou um novo caminho. Neste caminho precisamos de um saber
diversificado, entramos em contato com ns mesmos e com o outro. Precisamos entender o
isolamento que aproxima e os limites de algo que parece sem fronteira. Transformamo-nos
em vozes, imagens e palavras. J fomos transformados em nmeros e agora somos perfis, que
s vezes so mltiplos. Somos seres sociais e tentamos nos inserir, abrindo-nos para uma
sociedade virtual. Essa realidade traz consigo maneiras distintas de comunicao, que podem
vir a ajudar ou podem criar estruturas de maior distanciamento da realidade. Pode-se dizer que
neste novo mundo a realidade passaria a ser aquela que outrora era chamada de virtual. Os
extremos se confundem e essa confuso abre brechas para novos pblicos sedentos de
participao e ateno.
Essa tnue linha entre o real e o virtual que vem mudando as relaes sociais j foi percebida
por vrios autores que trazem em suas narrativas vises diversificadas sobre o assunto. Para
alcanar os objetivos deste artigo, utilizaremos as vises de alguns desses autores para
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discorrer sobre subjetividade, relao homem-mquina, comunicao, cognio, cultura, o
inconsciente, o ego, o alterego, as relaes sociais, redes sociais, dentre outros que constituem
ligaes importantes para o tema abordado.
A atualidade se apresenta em constante mutao e, com a presena de tantos meios e redes,
personalidades tentam se delinear. O impensvel agora j se faz possvel e o espao virtual
est propcio para que se possa ser o que se quer ser. Mas este ser implica tambm
mudanas no modo de se relacionar. A comunicao face a face, temida por muitos, pode ser
colocada de lado desde que haja a conexo. Vamos adentrar nos aspectos desta conexo que
algumas vezes precisa de mais tempo e menos distrao; precisa do receptor preocupado com
o emissor, de limites e liberdades.
Gil Giardelli (2012, p. 16) traz uma reflexo sobre a era em que vivemos, ressaltando que as
pessoas se deslocam pelo tecido social como se estivessem no piloto automtico, como
viajantes robotizados programados para no questionar, no falar, no ouvir. Apenas
sintonizar e conectar-se. O mundo avana silenciosamente nessa bolha. Nesse sentido,
preciso avaliar as nuances da sociedade e seus paradigmas. O mundo globalizado, tecnolgico
e especificamente das redes sociais traz tambm a fragmentao da informao e precisa de
filtros para que, no futuro, a comunicao mediada por mquinas no seja nica ou
dominante.
Diante do exposto, prope-se confrontar novos modos de perceber e viver a vida, trazendo o
cotidiano como fonte de informao, alm de confrontar a presena do real e do virtual em
mbito individual e coletivo. Para o desenvolvimento deste projeto determinou-se a reviso
literria ou bibliogrfica e observao das redes sociais, mais especificamente do facebook.
1- CULTURA E REDES SOCIAIS: OS NOVOS MODOS DE EXPRESSO E
INTERAO
O ser humano busca sempre novas formas de se expressar. As redes sociais tornaram-se
caminho para uma comunicao que delineia a diversidade de interaes e interatividades nas
relaes sociais, revelando tambm novos comportamentos e uma nova cultura.
Motta e Caldas definem a cultura como um
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conceito antropolgico e sociolgico que comporta mltiplas
definies. Para alguns, a cultura a forma pela qual uma
comunidade satisfaz as suas necessidades materiais e
psicossociais. Implcita nessa ideia est a noo de ambiente
como fonte de sobrevivncia e crescimento. Para outros, cultura
a adaptao em si, a forma pela qual uma comunidade define
seu perfil em funo da necessidade de adaptao ao meio
ambiente. (MOTTA e CALDAS, 1997, p.16)
Segundo Giardelli (p. 17, 2012), o computador, ou a interao mediada pelo computador,
altera nossa cultura e nos obriga a repensar valores e costumes. Problemas que antes no
existiam passam a fazer parte da trajetria da sociedade humana em rede e apresentam pontos
importantes do que a vida conectada faz por ns e do que ela faz conosco.
Figura 1 Fanpage Problemas do Mundo Real - https://www.facebook.com/ProblemasDoMundoReal
Entende-se como interao o processo de comunicao que culmina na troca efetiva,
colaborativa e agregadora de contedos e vivncias. Segundo Alex Primo (2007, p. 13), as
relaes socioculturais emergentes com as tecnologias de comunicao e informao
precisam ser confrontadas dentro do contexto de cognio e cibercultura. A partir de uma
abordagem sistmico relacional, o conceito de interao trazido por Primo, que ser utilizado
neste artigo, deve ser entendido como ao entre os participantes do encontro. Ou seja, no
se pode entender interao como o mero envio e recepo de informaes, mas deve-se levar
em conta todo o processo cognitivo de entendimento da mensagem. Vale ressaltar uma
passagem explicativa sobre o que no interao para assimilar o que de fato .
https://www.facebook.com/ProblemasDoMundoReal
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Interagir no algo que algum faz sozinho, em um vcuo.
Comunicar no sinnimo de transmitir. Aprender no
receber. Em sentido contrrio quer-se insistir que interao um
processo no qual o sujeito se engaja (PRIMO, 2007, p. 71).
Ou seja, deve ocorrer uma troca significativa, que faa sentido para ambas as partes, que
busque o envolvimento. A interao mediada por computador precisa ir alm da mquina e
ampliar as formas de se relacionar.
A relao em rede abre caminho para novas formas de interagir e novas possibilidades de
relacionamento. Ao mesmo tempo em que nos aproximamos virtualmente, nos afastamos no
cotidiano real. Vivemos a fase da proximidade distante e da distncia que aproxima.
Nesse mundo em rede, podemos estar solitrios, mas jamais
estaremos sozinhos. [...] Na dualidade digital, pessoas criam
identidades imaginrias, usam avatares e passam horas, dias,
anos em uma existncia paralela, com amigos virtuais em uma
encenao sria da vida. O poder do computador, com seu dom
de simulao e visualizao, muda nosso jeito de pensar e altera
toda a nossa cultura. Precisamos repensar conceitos, revisitar
costumes, resolver problemas que nunca sonhamos que um dia
teramos, causados por essa interface dbia entre o real e o
virtual. (GIARDELLI, 2012, P.17)
Giardeli traz tona o confronto entre o mundo virtual e o real, sobre os quais cabem algumas
analogias. A vida social real transferida para a vida social em rede, que adquire algumas
regras equiparadas e at mesmo organizaes especficas. Ali esto as redes empresariais
acompanhadas do perfil profissional que deve conter determinados conceitos e seguir a
dinmica proposta. Existem os grupos dos quais se faz parte e tambm aquelas redes que
apenas agregam meras presenas, sem qualquer participao que defina um interagente, isto ,
pessoas que fomentem alguma troca ou interao. Sob um olhar mais simplista, pode-se citar
atitudes e costumes como, por exemplo, o fato de observar a vida alheia. Nos tornamos
namoradeiras beira de janelas na internet. Observar a vida dos outros e at mesmo comentar
sobre os episdios do cotidiano alheio uma ao que ganha permisso. E no mundo das
redes sociais muita coisa est permitida. Os caminhos se abrem para novas formas de
expressar e do voz a quem outrora no se revelava ou manifestava. A sociedade conectada
confunde os limites da vida, ressalta Giardelli (2012), que tambm evidencia o poder da
comunicao intermediada pelas mquinas.
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Quando se fala de informao, expresso e comunicao, Dominique Wolton (2003, p.103)
traz tona o indivduo frente s novas mdias e discorre sobre as solides interativas, termo
que se enquadra no contexto de uma sociedade permeada pela liberao de regras e
obrigaes, num lugar onde o prato est posto na mesa e todos podem entrar em contato,
provando o sabor sem de fato matar a fome. Em algum momento se perde a interao da vida
real para uma mera interatividade, na qual no se tem uma troca essencial e as informaes
apenas se encontram brevemente, dando lugar para outras conexes que tambm passam sem
mais delongas. Na realidade, sempre chega o momento em que preciso desligar as
mquinas e falar com algum (WOLTON, 2003, p.103).
A todo momento surgem novas tecnologias, novas redes sociais e as informaes vm
atropelando a velocidade possvel para absoro e degustao de contedos. O excesso de
conexes e de informaes d margem para o cansao mental, que contribui para que muitas
informaes importantes se percam no processo. E nesse meio, nesse tempo diferenciado,
encontram-se os avatares da sociedade em rede, que so os representantes virtuais das
personalidades que esto por trs das imagens e mensagens apresentadas nos perfis. Sob a luz
desse contexto, as mquinas e as ferramentas tornam-se extenso do corpo.
2 - O DILEMA DO SER OU NO SER NAS REDES SOCIAIS
Nas redes sociais as personalidades se distinguem; fatos em fotos se misturam a uma
quantidade imensa de informaes sobre aquilo que se faz, o que se fez ou ainda ser feito. H
quem diga ser possvel se relacionar com todas as conexes feitas na internet, mas avaliando
mais de perto, percebe-se que isso tambm como no mundo real: temos uma rede de amigos,
conhecidos, referncias e admirveis que tm acesso ao nosso cotidiano, incluindo
pensamentos e localizaes. Mas deve-se avaliar at que ponto a exposio benfica e/ou
real, ainda mais no mundo virtual.
O mundo on-line parece um grande palco de teatro de espelhos,
no qual o tmido se torna extrovertido, o calmo se torna visceral,
o rude se torna romntico. A inconvenincia da verdade criar
um alterego digital acima da lei, viver uma vida paralela
completamente diferente da real, que permite namorar em Paris,
tomar caf com amigos virtuais em Roma, pular de paraquedas
do Everest ou visitar uma praia de hedonismo no Caribe.
(GIARDELLI, 2012, p.17)
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Um alterego digital seria a extenso do Eu na rede. Primeiramente deve-se ressaltar que por
trs de cada perfil est a personalidade de um ser humano, dotado de uma construo psquica
e moral que lhe direciona na vida como um todo. Portanto, o ser ou no ser nas redes sociais
implica tambm o modo como a pessoa enxerga sua presena nesse meio. Muitas vezes
revelam-se gostos, valores esquecidos e renovados. No facebook, por exemplo, em cada post,
em cada curtida, comentrio ou compartilhamento est um pouco da essncia de cada um. Em
alguns momentos surge apenas um breve curtir para dizer que concorda. Em outras ocasies
existem as manifestaes do que se pensa e sente, trazendo tona a carga emocional e moral
vigente. Ali est um mundo onde tudo parece se encaixar, onde as fotos so as mais bonitas e
as histrias da linha do tempo contam a parte interessante de si mesmo. Como disse Giardelli,
todo mundo deseja uma vida perfeita, mesmo que seja virtual.
Aprofundando um pouco mais sobre o tema, chegamos teoria estrutural da mente,
desenvolvida por Freud. Pode-se dizer que nas redes sociais tambm projetamos nosso
inconsciente, alm do consciente, isto , exibimos em comunicaes diretas ou indiretas
nossos pensamentos, sonhos e verdades construdas. A teoria estrutural da mente aborda o id,
o ego e o superego, instncias que funcionam em diferentes nveis de conscincia.
Segundo Freud, o id considerado a reserva do inconsciente dos desejos e impulsos de
origem gentica, voltados para a preservao e propagao da vida (LIMA, 2009, p. 281).
Regido pelo princpio do prazer, o id no tem limites, podendo ser associado parte que nos
induz a produzir mensagens e nos faz sair comentando ou compartilhando sem pensar em
qualquer julgamento alheio. J o ego, segundo Freud, regido pelo princpio da realidade,
que o fator que se incumbe do ajustamento ao ambiente e da soluo dos conflitos entre o
organismo e a realidade (LIMA, 2009, p. 281). O ego faz a mediao entre o id e o mundo
exterior, o que nas redes sociais se exemplificaria no discernimento e bom senso para realizar
determinadas postagens, pois se utiliza da lgica e da imposio de limites e convenincia.
Isso caracteriza tambm a reproduo de experincias e mensagens que possam
propositalmente culminar ou repercutir positivamente sobre o autor da mensagem. So posts
espera de curtidas, comentrios e compartilhamentos.
J o superego definido como um juiz ou um censor relativamente ao ego. Freud v na
conscincia moral, na auto-observao, na formao de ideais, funes do superego (LIMA,
2009, p. 281). Ou seja, as concepes individuais que se embasam na moral advinda da
famlia e da sociedade formam um escudo de censuras para os desejos e impulsos que advm
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do id. Nessa instncia, mensagens inapropriadas e exacerbadas so reprimidas. Em caso
contrrio, ocorrem as exposies sujeitas a julgamentos negativos, que posteriormente iro
interferir no modo como as pessoas enxergam um perfil que expressa a essncia da pessoa em
si.
Voltando ao alterego digital citado por Giardelli, podemos inferir que, alm de transferir essas
trs partes da personalidade para o convvio do mundo virtual (id, o ego e superego), em
alguns casos tambm se tem agregado essa quarta parte, caracterizada como um outro Eu
que se faz presente na inconscincia, como uma identidade secreta revelada em simples frases
soltas ou, de modo mais direto, assumindo novas caras, nomes e perfis. Em uma breve
pesquisa no buscador Google, possvel encontrar diversas opes para se diferenciar como
um avatar nas redes sociais. Os servios on-line para criao desses representantes permite
que se monte um personagem com a face pretendida a fim de se mostrar na rede. Desse modo,
torna-se possvel at mesmo associar a prpria imagem a personagens famosos, se construir
com melhores traos e desapegar-se da aparncia de sempre. Servios como The Simpsons
Avatar, FaceYourManga, The Mini-mizer, Clay Yourself, Otaku Avatar Maker, South Park
Studio, dentre outros, oferecem distintas possibilidades.
O mundo virtual proporciona o poder para ser quem se quer ser no espao relacional, sem se
declarar, ou, at mesmo para mostrar aquilo que no se tem coragem para ressaltar na vida
social em geral. Para a psicanlise, o alterego o eu inconsciente, melhor descrito como
algum bastante ntimo sobre quem se deposita total confiana (wikipedia), uma
representao da melhor essncia, seja essa definida como a mais poderosa, ou a mais
carinhosa, ou mais sagaz, ou herica etc.
Neste momento, entra no somente a carga da cultura em que a pessoa est inserida, mas
tambm toda a sua experincia de vida e subjetividade. Tomando as palavras de Suely Rolnik
para explicar o que esta subjetividade, nos deparamos com aquilo que ainda nos passa
despercebido e que, de algum modo, tenta se expressar nas redes sociais. Por ora, o que
vislumbramos da subjetividade o perfil de um modo de ser de pensar, de agir, de sonhar,
de amar etc que recorta o espao, formando um interior e um exterior (Rolnik, 2005, p.25).
Segundo a autora, temos um olhar desatento que enxerga uma superfcie compacta, que nos
d a impresso de que o perfil imutvel. Eis que surge a necessidade da multiplicidade de
olhares sobre essa questo que possui diversas fronteiras ainda no ultrapassadas. A separao
entre o mundo interior e exterior se mescla separao entre o virtual e o real. O mundo
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interior parece se expressar muito mais no espao virtual, sem necessariamente que a prpria
pessoa que expressa se d conta disso. H riscos e vantagens nesse contexto.
Gil Giardelli evidenciou uma questo importante sobre o ser ou no ser nas redes sociais,
trazendo uma reflexo intitulada Voc o que voc compartilha. Se existe separao entre o
real e o virtual, pode-se dizer que inteiramente somos o que compartilhamos? A presena na
rede tambm sofre a influncia da moral e da cultura na qual a pessoa est inserida. Portanto,
pode-se dizer que existem manifestaes das instncias psquicas mais profundas, como o id,
e tambm que aflora um novo modo de expresso e interao. Neste novo cenrio, criam-se
caminhos para distores, para revelaes e confirmaes de determinadas personalidades.
Pessoas se fazem passar por outros muito antes das redes sociais chegarem. Outras atmosferas
que exemplificam isso so os chats, que apresentam um ambiente virtual onde possvel
utilizar apelidos e criar verses de si mesmo.
3- O LIMITE ENTRE O REAL E O VIRTUAL
Atravs das redes sociais vemos pessoas expressando no somente suas ideias, mas tambm
valores, preconceitos e sentimentos, muitas vezes dos mais ntimos. um caderno mostra,
um dirio aberto. Conflitos como admitir um relacionamento srio ou no, por exemplo,
passam para o status do facebook. O que se diz reflete instantaneamente na vida pessoal e
profissional. As pessoas se conectam e se encontram em um mundo imaginrio que oferece a
chance de interao no amplo sentido da comunicao digital.
As palavras aparecem cada vez menos. Agora vdeos e imagens com frases feitas j so
capazes de expressar o humor do dia. O dilogo e a leitura tornaram-se fragmentados e no
lineares. Nesse ambiente possvel realizar atividades corriqueiras em jogos de passatempo e
receber os parabns de mais de 200 amigos, ainda que no se tenha tido qualquer ligao ou
abrao.
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Figura 2 Seu Post - http://www.seupost.net/aniversrio-no-facebook-224688.html
O contato interpessoal mudou de figura. Alex Primo (2007, p. 65) diz que o comportamento
de uma pessoa afeta o comportamento do outro interagente, ao mesmo tempo em que o
primeiro afetado pelo outro. Mas quando se trata de uma mera interao pessoa e mquina,
a reao depender do que foi previamente programado.
Avaliando tambm a qualidade da interao, fazemos referncia ao tempo utilizado para o ato
de comunicar. Na rede somos atropelados por uma avalanche de informaes que chegam de
todos os lados devido imensa quantidade de contatos e tambm necessidade de se saber
muito em pouco tempo. Mas isso no implica saber profundamente, e sim apenas estar ciente.
Dominique Wolton (2003) usou o termo solides interativas para explicar uma sociedade na
qual as pessoas, liberadas de obrigaes e regras, tambm confirmam a dificuldade real de
entrar em contato com o outro. Afinal, pode-se ser um exmio internauta e ter grandes
dificuldades em estabelecer um dilogo com o vizinho do cibercaf (WOLTON, 2003, p.
103). As dificuldades em se relacionar trazem mais pessoas para a provvel segurana do
mundo virtual, onde se recriam prazeres e conflitos comuns do dia a dia, mas sem o
enfrentamento necessrio do olho no olho, da comunicao face a face. Ali sempre h uma
sada, um clique para a desconexo. Contraditoriamente, a vida est exposta nas redes sociais,
vista para anlises, julgamentos e intervenes.
http://www.seupost.net/aniversrio-no-facebook-224688.html
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Figura 3 Projeto Sintonize - http://projetosintonize.wordpress.com/2011/05/26/conectado-ou-desconectado/
Com a internet, no h mais o que se chama, de maneira inbil,
de vida privada, mas que exprime, contudo, uma vontade de
poder conservar uma distncia entre si e os outros, de fechar as
portas. [...] Subsiste um espao onde cada um fabrica a sua
liberdade. (WOLTON, 2003, p.105)
A liberdade gerada pelas possibilidades da interao on-line deve ser confrontada quando se
torna tambm carcereira da vida real. O quarto passa a ser a cela, o computador a porta e as
redes sociais o buraco da fechadura por onde se pode espiar e saber o melhor momento para
se manifestar de acordo com o que as pessoas esperam. Ou , ao contrrio, reagir de modo
inesperado. As pessoas ficam presas em atitudes muitas vezes narcisistas, declaram a falta de
ateno e tambm esperam serem ouvidas e pronunciadas. Uma infinidade de sentimentos
aflora e morre nas redes sociais, sem qualquer banho de sol.
No livro intitulado Abaixo das Nuvens (CARVALHO, Lucas M., 2012) a vida apresenta-se
retratada atravs da era virtual. A histria se passa em 2064, um futuro no muito distante, e
conta a saga de uma humanidade que no interage entre si, a no ser pelo plano virtual. O
isolamento das pessoas, ou as solides interativas de Wolton (2003), aparece com fora
total. Na trama, os usurios do plano virtual podem assumir diversas formas ou avatares e
viver a vida por ali, ou seja, estudar, consumir, trabalhar e se relacionar atravs de imagens,
tudo mediado por um complexo simulador eletrnico. Ali o espao livre para fazer o que
quer, sem referncias reais sobre aqueles que esto do outro lado da mquina.
http://projetosintonize.wordpress.com/2011/05/26/conectado-ou-desconectado/
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O limite entre o real e o virtual totalmente ultrapassado e o alterego ganha bastante
destaque. Na obra de Lucas M. Carvalho (2012), o usurio 097033, narrador principal, mostra
o seu ponto de vista sobre o sistema que capaz de banir, como na vida real, as pessoas que
no se enquadram na sociedade estipulada. Os usurios que excedem a cota de projeo do ser
ficam endividados, tm seus avatares e dados confiscados.
Em uma passagem do livro um homem que se dizia uma bela princesa, na verdade era um
homem deitado em uma cama com um processador virtual, que descrito da seguinte
maneira: um ser repugnante, medocre e digno de pena. Era um ser humano. O usurio
274850 era quase uma aberrao, obeso mrbido, pegajoso (CARVALHO, 2012, p.12). Uma
fico que poderia expressar o futuro da humanidade que se deixa tomar pela tecnologia e
esquece a interao face a face, se afasta do mundo real, onde se faz necessrio aprender a
lidar com as prprias angstias e desejos (nosso id) e dosar as culpas sentidas (nosso
superego).
4- CONSIDERAES FINAIS
As relaes sociais ganham novos formatos e, ao mesmo tempo em que se tem toda a ateno
voltada para a presena on-line, tambm se criam distanciamentos. As redes sociais revelam
valores e comportamentos das pessoas, apresentando reforo negativo ou positivo que
contribuem para a manuteno ou mudana de atitudes e posicionamentos.
Por fim, conclui-se que ainda estamos no caminho, mas j encontramos indcios de uma era
que est se configurando com muitas adaptaes: a era virtual. As mquinas nos acompanham
e ns acompanhamos as mquinas. O mundo on-line permite que sejamos mltiplos, e nessa
multiplicidade encontram-se inseridas a nossa cultura, nossa moral e costumes. O virtual, ao
mesmo tempo em que abre caminhos para que as pessoas possam se expressar e ganhar voz
na sociedade, tambm cria escudos que legitimam a distncia e prejudicam a comunicao
face a face.
As opes para se transformar e assumir novas personalidades geram um certo desconforto
quando se pensa que essa no a melhor sada para resolver problemas de relacionamento e,
por outro lado, proporciona alvio queles que de fato no conseguem se integrar e interagir
no mundo real. Portanto, vivemos em um mundo cheio de contradies, no qual as redes
sociais assumem papel importante na manuteno de laos, na comunicao e interao.
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As redes sociais, vistas como buracos de fechadura, revelam mais do que muitos poderiam
prever ou mesmo imaginar. Ali, tanto o inconsciente quanto o consciente se manifestam.
Nesse contexto, deve-se tomar cuidado para que, na mistura entre virtual e real, no deixemos
de viver a coletividade, o contato com o prximo, a troca genuna de experincias e,
principalmente, que possamos evitar a descaracterizao de ns mesmos.
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