167
i UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE QUÍMICA DEPARTAMENTO DE FÍSICO-QUÍMICA DESENVOLVIMENTO E CARACTERIZAÇÃO DE FORMULAÇÕES LIPOSSOMAIS CONTENDO O FÁRMACO NISTATINA Edeilza Gomes Brescansin Orientador: Prof. Dr. Francisco Benedito Teixeira Pessine (IQ-UNICAMP) Campinas – SP 2006

Artigo Nano

  • Upload
    natjuli

  • View
    41

  • Download
    6

Embed Size (px)

Citation preview

  • i

    UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE QUMICA

    DEPARTAMENTO DE FSICO-QUMICA

    DESENVOLVIMENTO E CARACTERIZAO DE FORMULAES LIPOSSOMAIS CONTENDO O

    FRMACO NISTATINA

    Edeilza Gomes Brescansin

    Orientador: Prof. Dr. Francisco Benedito Teixeira Pessine (IQ-UNICAMP)

    Campinas SP 2006

  • ii

  • iii

    EDEIZA GOMES BRESCANSIN

    DESENVOLVIMENTO E CARACTERIZAO DE FORMULAES LIPOSSOMAIS CONTENDO O FRMACO NISTATINA

    Tese apresentada Universidade Estadual de Campinas, como requisito para obteno do ttulo de Doutor em Cincias

    Aprovado em:

    BANCA EXAMINADORA Prof. Dr. Francisco Benedito Teixeira Pessine (orientador) Profa. Dra. Eneida de Paula (IB-UNICAMP) Prof. Dr. Cludio Francisco Tormena (IQ-UNICAMP) Prof. Dr. Marcelo Ganzarolli de Oliveira (IQ-UNICAMP) Prof. Dr. Noboru Hioka (DQ-UEM)

  • iv

  • v

    Dedico este trabalho

    A meu Deus pela proteo e paz,

    A minha querida me Maria Eunice que esteve sempre a meu lado em todas as horas,

    A meu querido marido, Jos Valdir pelo apoio e companheirismo,

    A meus filhos Mariana e Pedro.

  • vi

  • vii

    "O valor das coisas no est no tempo em que elas duram, mas na intensidade com que acontecem.

    Por isso existem momentos inesquecveis, coisas inexplicveis e

    pessoas incomparveis".

    (Fernando Pessoa)

  • viii

  • ix

    AGRADECIMENTOS

    Ao Professor Francisco Benedito Teixeira Pessine, meus sinceros agradecimentos, no

    apenas pela orientao, mas tambm pelo incentivo, confiana e amizade nestes anos

    de convivncia.

    Aos amigos que encontrei na UNICAMP pela simpatia, incentivo e auxlio nos

    momentos difceis do projeto e na vida pessoal: Ana Paula, Milene, Neife, Dbora Biloti,

    Adriana, Daniel, Anglica, Josivnia,

    A minha amiga, professora Mrcia Portilho da UEM pela leitura e correes do trabalho.

    Aos professores da UEM , Osvaldo A. Cavalcanti, Graciette Matioli, Elza Kimura, Maria

    da Conceio T. Truiti, Adriana Lenita M. Albiero, Nelson Y. Uesu, Edna Regina N.

    Oliveira pelas palavras de incentivo nesta reta final da tese.

    Ao professor Luiz Carlos Dias (IQ/UNICAMP) e seus alunos, pela amizade,

    companheirismo e pela colaborao na realizao de nosso projeto com o emprstimo

    e doao de equipamentos e /ou reagentes.

    A Professora Eneida de Paula (IB/UNICAMP) e funcionrios do IB pelo auxlio no uso

    da ultracentrfuga

    Aos professores Maria Helena Santana (FEQ/UNICAMP), Pedro L. O Volpe

    (IQ/UNICAMP), Fernando Galenbeck (IQ/UNICAMP), Carlos F. S. Bonaf

    (IB/UNICAMP), Anita J. Marsaioli, Lauro Kubota (IQ/UNICAMP), Maria Isabel M. S.

    Bueno (FEQ/UNICAMP) e Renato Atlio Jorge (IQ/UNICAMP) pelo emprstimo de

    equipamentos em seus laboratrios.

    Ao Dr. Carlos Ramos (BFM/LNLS) e Silvia Lucas F. da Silva (IQ/UNICAMP) e ao

    Laboratrio Nacional de Luz Sncroton (LNLS) pelo emprstimo e auxlio na utilizao

    do MicroDSC.

    A professora Anglica Zaninelli Schreiber (FCM/UNICAMP) e Luzia Lyra

    (FCM/UNICAMP) pelo grande auxlio nas anlises de atividade antifngica do frmaco

    estudado.

    Aos Tcnicos do IQ que tanto nos auxiliaram nesta tese: Claudia Matelli, Robson, Maria

    do Carmo, Ana, Ricardo Pereira, Divino, Sonia (RMN), Sr. Fontana, Pimpim, Cssia,

  • x

    Fabiana, Iveraldo

    Aos funcionrios das oficinas, vidraria, almoxarifado, marcenaria, manuteno e

    informtica

    A CAPES, pelo suporte financeiro com a concesso de bolsa de estudo pelo programa

    Institucional de Capacitao Docente e Tcnico-Administrativo (PICDT).

  • xi

    CURRICULUM VITAE

    DADOS PESSOAIS Nome:Edeilza Gomes Brescansin Tel: (44)3026-8010 - e-mail: [email protected] Endereo residencial: Rua Joaquim Nabuco, 163, apto. 1401.

    Zona 01, Maring PR. - CEP: 87013-340

    FORMAO ACADMICA Doutorado em Cincias Fsico-Qumica. Desenvolvimento e Caracterizao de Formulaes Lipossomais contendo o Frmaco Nistatina. Universidade Estadual de Campinas Instituto de Qumica - Perodo: 2001 2006. rgo financiador: CAPES Programa PICDT Mestrado em Qumica Fsico-Qumica.

    Determinao da Estabilidade Qumica e mecnica do Medicamento Reliflex e seu Princpio Ativo Nabumetona.

    Universidade Estadual de Maring Departamento de Qumica - Perodo: 1995 1998. Especilizao em Gesto da Qualidade. Aplicao de Mtodos Estatsticos para a Melhoria da Qualidade na Produo de

    Comprimidos. Universidade Estadual de Maring - Departamento de Administrao Perodo: setembro 1993 dezembro 1995. Graduao em Farmcia Farmcia Industrial Universidade Federal do Rio de Janeiro Departamento de Farmcia. Perodo: 1981 1986

    ATUAO PROFISSIONAL Universidade Estadual de Maring, UEM, Brasil. Vnculo: Servidor Pblico, Enquadramento Funcional: Professor Assistente Nivel D, Carga horria: 40 h - Regime: Dedicao exclusiva. Perodo: 1991 Atual

    LIVROS PUBLICADOS/ORGANIZADOS OU EDIES BRESCANSIN, E.G. VALENTINI, S. R. MEMENTO TERAPUTICO, SRIE

    APONTAMENTOS. Maring: EDUEM - Editora da Universidade Estadual de Maring, 1999.

    ARTIGOS COMPLETOS PUBLICADOS EM PERIDICOS MORIWAKI, Cristiane ; BRESCANSIN, E. G. ; HIOKA, N. ; MAIONCHI, F. ; MATIOLI, G. .

    ESTUDO DA DEGRADAO DO FRMACO NABUMETONA FRENTE LUZ . Acta Scientiarum, Maring, v. 23, n. 3, p. 651-659, 2001.

    RESUMOS PUBLICADOS EM ANAIS DE CONGRESSO (ARTIGOS) BRESCANSIN, E. G.; MARTINS, M. H.; PESSINE, F. B. T. ENCAPSULATION OF NYSTATIN

    IN MULTILAMELLAR LIPOSOMES. Revista Brasileira de Cincias Farmacuticas, v. 39, supl. 2, 2003.

    MARTINS, M. H.; BRESCANSIN, E. G.; PESSINE, F. B. T. PHOTOSTABILITY OF ISOTRETINOIN IN METHANOL AND IN LIPOSOMES. Revista Brasileira de Cincias Farmacuticas, v. 39, supl. 2, 2003.

    MORIWAKI, Cristiane ; BRESCANSIN, E. G. ; MATIOLI, G. . IDENTIFICATION OF THE OBTAINED PHOTOPRODUCTS OF THE DEGRADATION THE NABUMETONE. European

  • xii

    Journal of Pharmaceutical Sciences, v. 13, n. 1, p. 57, 2001.

    TRABALHOS COMPLETOS PUBLICADOS EM ANAIS DE CONGRESSO FERRACINI, Cristiane Nunes ; MORIWAKI, Cristiane ; BRESCANSIN, E. G. ; MORAES, Flvio

    Farias de ; MATIOLI, G. . STUDY OF THE FORMATION OF THE COMPLEX ALBENDAZOLE-BETA-CYCLODEXTRIN. In: Congress of Pharmaceutical Science - CIFARP, 2001, guas de Lindia. European Journal of Pharmaceutical Sciences. New York : Elsevier, 2001. v. 13. p. 139-140.

    MORIWAKI, Cristiane ; BRESCANSIN, E. G. ; MATIOLI, G. . IDENTIFICATION OF THE OBTAINED PHOTOPRODUCTS OF THE DEGRADATION OF THE NABUMETONE. In: Congress of Pharmaceutical Science, 2001, guas de Lindia. European Journal of Science Pharmaceutical Sciences. New York : Elsevier, 2001. v. 13. p. 57-57.

    MORIWAKI, Cristiane ; BRESCANSIN, E. G. ; MATIOLI, G. . ESTABILIDADE DA NABUMETONA FRENTE LUZ: UM ESTUDO FSICO-QUMICO. In: XIV Semana de Integrao de farmcia, 2000, MARING. Livro de Resumos da XIV Semana de Integrao de Farmcia, 2000.

    MORIWAKI, Cristiane ; MORAES, Flvio Farias de ; BRESCANSIN, E. G. ; MATIOLI, G. . ESTUDO DA FORMAO DO COMPLEXO ALBENDAZOL-BETA-CU\ICLODEXTRINA. In: IX Encontro Estadual de farmacuticos e Bioqumicos e VII Congresso Catarinense de, 2000, Florianpolis. Caderno de Resumos do IX Encontro Estadual de farmac6euticos e Bioqumicos, 2000. v. 1. p. 19.

    LUCENA, F. A. M.; REIS, A. V. BRESCANSIN, E. G. CARACTERIZAO E AVALIAO CINTICA PRELIMINAR DA NABUMETONA. Anais do IX Encontro Anual de Iniciao Cientfica, v. 2, p. 392 393, 2000.

    MORIWAKI, Cristiane ; BRESCANSIN, E. G. ; MATIOLI, G. . FOTLISE DO FRMACO NABUMETONE E IDENTIFICAO DE SEUS FOTOPRODUTOS. In: IV Jornada de Farmcia e Anlises Clnicas de Londrina, 2000. LONDRINA. Anais da IV Jornada de Farmaia e Anlises Clnicas de Londrina, v. 1. p. 8-8 2000.

    MORIWAKI, Cristiane ; BRESCANSIN, E. G. ; MATIOLI, G. . ISOLAMENTO E IDENTIFICAO DE FOTOPRODUTOS OBTIDOS DA DEGRADAO DA NABUMETONA. In: IX ENCONTRO ANUAL DE INICIAO CIENTFICA, 2000, LONDRINA. Anais do IX Encontro Anual de Iniciao Cientfica, v. 1, p. 384-385, 2000.

    BRESCANSIN, E. G.; HIOKA, N.; SANTIN FILHO, Ourides. EVALUATION OF THE STABILITY OF NABUMETONE TO LIGHT. In: 2nd Congress of Pharmaceutical Sciences, 1999, Ribeiro Preto. Bolletino Chimico Farmaceutico. Milano : Societ Editoriale Farmaceutica, v. 138. p. CLXII 1999.

    MARTINS, S. S. M. ; BRESCANSIN, E. G. ; HIOKA, N.; SANTIN FILHO, Ourides . AVALIAO DAS PROPRIEDADES MECNICAS E ESPECTROSCPICAS DO COMPRIMIDO RELIFLEX E SEU PRINCPIO ATIVO (NABUMETONA). In: V Encontro de Qumica da Regio Sul, Porto Alegre - RS. Livro de Resumos, 1997. p. AQ18 1997.

    PALESTRAS PROFERIDAS Lipossomas como Carreador de Frmacos, na disciplina: Pr-formulao e Tecnologia

    Farmacutica do Programa de Ps-Graduao em Cincias farmacuticas, 2006

    Prmios E Ttulos Professsora Homenageada pelos Formandos de Farmcia de 1999, Universidade Estadual de

    Maring. Patronesse da Turma dos Formandos de Farmcia de 2001, Universidade Estadual de Maring.

  • xiii

    RESUMO No presente trabalho, buscamos desenvolver formulao lipossomal sistmica de

    nistatina (NYS) com o propsito de aplicaes futuras na teraputica de micoses

    sistmicas, que tanto afligem indivduos imunodeprimidos. Na primeira parte do projeto

    caracterizamos o frmaco atravs de anlises trmicas (TGA e DSC), anlises

    espectroscpicas (IV, UV e fluorescncia), teste de solubilidade, avaliao da umidade

    segundo o mtodo de Karl-Fischer e coeficiente de partio octanol/meio aquoso. Na

    segunda parte do trabalho procuramos desenvolver e otimizar formulaes lipossomais,

    onde o frmaco apresentasse maior estabilidade qumica. Foram preparadas

    formulaes lipossomais pelo mtodo do filme lipdico que foram analisadas por HPLC.

    As preparaes passaram por processo de diminuio de tamanho e separao entre

    frmaco livre e encapsulado A terceira e ltima fase do projeto consistiu da

    caracterizao de duas preparaes, atravs de anlises do raio hidrodinmico,

    determinao da carga de superfcie das partculas (potencial zeta), teor de fosfolipdios

    totais (teor de fosfato), eficincia e avaliao da encapsulao por anlises de HPLC,

    anisotropia e supresso de fluorescncia. Ainda na fase de caracterizao investigamos

    a atividade biolgica in vitro, destas formulaes, pelo teste de susceptibilidade. As

    preparaes foram desafiadas contra leveduras e dermatfitos. Pela seleo e

    otimizao das formulaes desenvolvidas conclumos que a melhor formulao foi a

    que apresenta uma composio de 70 % de Epikuron 200 SH; 20 % de Colesterol; 10

    % de Diestearoilfosfatidilglicerol, 1,3 % de 2,6 - bis (1,1-dimetil) 4 - metil fenol (BHT) e

    7 % de NYS. Duas preparaes foram caracterizadas L1 (hidratada a 55 C) e L2

    (hidratada a 60 C). Os resultados para anisotropia e supresso de fluorescncia

    evidenciam a encapsulao do frmaco nas preparaes estudadas, tanto na bicamada

    lipdica quanto na superfcie dos lipossomas. Verificamos tambm que L2 apresentou

    menor polidisperdidade de seu raio hidrodinmico, maior carga de superfcie e maior

    eficincia de encapsulao, evidenciando ser L2 a preparao, fsico-quimicamente,

    mais estvel. Todavia, a preparao L1 mostrou, aps sonicao, atividade biolgica in

    vitro maior que L2. Estes resultados podem refletir a possvel degradao do frmaco,

    quando aquecido a 60 C.

  • xiv

    Palavras-chaves: nistatina, antifngicos, lipossomas,

  • xv

    ABSTRACT

    This study was designed to develop liposomal formulations containing Nystatin (NYS), looking forward its future applications in systemic mycosis therapy, which often affect immunodepressed individuals. In the first part of the project, the drug was characterized by means of thermal analyses (TGA and DSC), IR, UV/V and fluorescence spectroscopies, solubility tests, humidity contents evaluation (Karl-Fischer method) and octanol-water partition coefficient. In the second part of the study, liposomal formulations were developed and optimized, in which the drug presented improved chemical stability. Liposomal formulations were prepared by the dry lipid film hydration method and were analyzed by HPLC. The vesicles were submitted to the processes of size reduction and separation of non encapsulated drug. The last part of the project consisted in the characterization of the two formulations by means of analysis of the is hydrodynamic radius; determination of the particles superficial charge (zeta-potential); total phospholipids content (phosphate); degree of NYS with encapsulation by HPLC; degree of anisotropy and fluorescence quenching of NYS. Still during the characterization phase, the in vitro biological activity of the formulations was investigated by means of susceptibility tests. The formulations were challenged against some yeasts and filamentous fungi. Conclusions pointed that the best formulation was the one which presented in its compositions 70% Epikuron 200 SH, 20% Cholesterol, 10 % Distearoyl-phosphatidylglycerol, 1.3 % 2,6 bis (1,1-dimethylethyl) 4 - methylphenol (BHT) and 7 % NYS. Two formulations were characterized: L1 (hydrates at 55 C) and L2 (hydrated at 60 C). Results regarding the degree of anisotropy and fluorescence quenching evidenced by NYS encapsulation at the liposomal lipid bilayers. Moreover, it was observed that L2 presented lower polydispersity in size distribution, higher superficial load and higher encapsulation effectiveness, i.e. L2 presented higher physico-chemical stability. Nevertheless the L1 preparation showed, after sonication, higher biological activity in vitro than L2, which might reflect possible thermal degradation of NYS when heated to 60 C. Key words: antifungal, nystatin, liposomes.

  • xvi

  • xvii

    NDICE

    ABREVIAES ........................................................................................... XXI

    NDICE DE TABELAS ................................................................................. XXIII

    NDICE DE FIGURAS .................................................................................. XXVII

    1 INTRODUO ............................................................................................. 01

    2 OBJETIVOS ................................................................................................. 11

    3 REVISO BIBLIOGRFICA ........................................................................ 15

    3.1 Fungos ......................................................................................................... 17

    3.2 Dimorfismo Fngico ................................................................................... 24

    3.3 Infeces Fngicas .................................................................................... 25

    3.4 Antibiticos Antifngicos Polinicos ....................................................... 29

    3.5 Lipossomas ................................................................................................. 31

    3.5.1 Aplicaes de lipossomas em medicina .................................................. 37

    3.5.2 Lipossomas em doenas parasitrias e infecesfngicas .................. 40

    3.5.3 Mtodos de Preparao de lipossomas ................................................... 41

    3.5.3.1 Mtodo pelo filme lipdico ......................................................................... 41

    3.5.3.2 Mtodo de injeo de Etanol ..................................................................... 43

    3.6 Caracterizao de preparaes lipossomais ........................................... 44

    3.6.1 Determinao do raio hidrodinmico de lipossomas ............................. 44

  • xviii

    3.6.2 Determinao da carga de superfcie das partculas .............................. 45

    3.6 3 Anlise por supresso de Fluorescncia ................................................. 45

    3.6.4 Espectroscopia de polarizao de fluorescncia ................................... 46

    4 MATERIAIS E MTODOS ........................................................................... 49

    4.1 Materiais ...................................................................................................... 51

    4.2 Mtodos ....................................................................................................... 52

    4.2.1 Caracterizao fsico-qumica da NYS...................................................... 52

    4.2.1.1 Avaliao da solubilidade .......................................................................... 53

    4.2.1.2 Determinao do teor de umidade ............................................................ 53

    4.2.1.3 Anlises espectroscpicas ....................................................................... 53

    4.2.1.3.1 Anlise por espectroscopia de absoro na regio do UV/V ................. 53

    4.2.1.3.2 Anlise por espectroscopia de fluorescncia ......................................... 54

    4.2.1.3.3 Anlise por espectroscopia no Infravermelho (IV) .................................. 54

    4.2.1.4 Anlises por Calorimetria Exploratria Diferencial (DSC) e Termogravimetria (TGA).............................................................................

    54

    4.2.1.5 Determinao do coeficiente de partio octanol/tampo ..................... 55

    4.2.2 Anlise da atividade antifngica in vitro da NYS..................................... 56

    4.2.3 Desenvolvimento de formulaes lipossomais com NYS ...................... 57

    4.2.4 Tratamentos efetuados em vesculas multilamelares para obteno

  • xix

    de lipossomas unilamelares ...................................................................... 59

    4.2.5 Caracterizao qumica e fsica de suspenses lipossomais ............... 60

    4.2.5.1 Anlise por Cromatografia Lquida de Alta Eficincia (CLAE)................ 60

    4.2.5.2 Determinao do teor (%) de fosfato ........................................................ 61

    4.2.5.3 Determinao do raio hidrodinmico ....................................................... 62

    4.2.5.4 Determinao do potencial Zeta ............................................................... 62

    4.2.5.5 Anlise do grau de anisotropia de fluorescncia da NYS livre e

    encapsulada em lipossomas ....................................................................

    62

    4.2.5.6 Estudo da supresso de emisso de fluorescncia da NYS livre e em lipossomas...................................................................................................

    63

    4.2.5.7 Avaliao da atividade antifngica in vitro de suspenses lipossomais .................................................................................................

    64

    5 RESULTADOS E DISCUSSES ................................................................. 67

    5.1 Caracterizao fsico-qumica da NYS ..................................................... 69

    5.1.1 Solubilidade ................................................................................................ 69

    5.1.2 Anlise do teor de Umidade ...................................................................... 70

    5.1.3 Caracterizao espectroscpica da NYS na regio do UV/V em Metanol ........................................................................................................

    70

    5.1.4 Anlise fluorimtrica da NYS .................................................................... 74

    5.1.5 Anlise por espectroscopia na regio do Infravermelho (IV) ................. 75

  • xx

    5.1.6 Anlise da NYS por DSC ............................................................................ 78

    5.1.7 Anlise da NYS por TGA ............................................................................ 79

    5.1.8 Determinao do coeficiente de partio octanol/tampo ..................... 80

    5.2 Preparao das formulaes lipossomais ............................................... 81

    5.3 Caracterizao fsico-qumica das suspenses lipossomais ................ 93

    5.3.1 Raio hidrodinmico .................................................................................... 93

    5.3.2 Potencial Zeta ............................................................................................. 95

    5.3.3 Teor de fosfato ............................................................................................ 95

    5.3.4 Eficincia de encapsulao ....................................................................... 96

    5.3.5 Determinao do grau de anisotropia de fluorescncia ......................... 98

    5.3.6 Estudo da interao da NYS em lipossomas ........................................... 101

    5.3.7 Avaliao da atividade antifngica in vitro da NYS e NYS lipossomal . 110

    5.3.8 Concluses sobre as preparaes lipossomais selecionadas ............. 116

    6 CONCLUSES GERAIS ............................................................................. 119

    7 SUGESTES PARA TRABALHOS FUTUROS .......................................... 123

    8 REFERNCIAS BIBIOGRFICAS .............................................................. 127

  • xxi

    ABREVIAES

    AnfB: Anfotericina B ASD: meio de cultura Agar Saboraud Dextrose BHT: 2,6 bis (1,1-dimetil)-4-metil fenol CLAE: Cromatografia Lquida de Alta eficincia DMPC: 1,2-Di-meristoil-sn-glicero-3-fosfatidilcolina DMPG: 1,2-Di-meristoil-sn-glicero-3-fosfatidilglicerol DPPC: 1,2-Di-palmitoil-sn-glicero-3-fosfatidilcolina DSC: Calorimetria Exploratria Diferencial DSPC: 1,2-Di-estearoil-sn-glicero-3-fosfatidilcolina DSPG: 1,2-Di-estearoil-sn-glicero-3-fosfatidilglicerol DTG: Termogravimetria Diferencial ELISA: Enzyme-Linked Immunosorbent Assay FDA: Food and Drug Administration" GUV: vesculas gigantes unilamelares HEPES: N-[2-hidroxietil] piperazina-N-[2-cido tanosulfnico] IgG: Imunoglobulina G IgM: Imunoglobulina M IV: Infravermelho LUV: vesculas unilamelares grandes MIC: Concentrao Inibitria Mnima microDSC: MicroCalorimetria Exploratria Diferencial MLV: vesculas multilamelares MVV: vesculas multivesiculares NYS: Nistatina OLV: vesculas oligolamelares PCH: fosfatidilcolina de soja hidrogenada QELS: Espalhamento Quase-Elstico de Luz

  • xxii

    RMN: Ressonncia Magntica Nuclear RPMI: meio de cultura Roswell Park Memorial Institute SUV: vesculas unilamelares pequenas Tc: temperatura de transio de fases TGA: Anlise Termo-Gravimtrica UV/Vis.: Ultravioleta/Visvel v:v : razo volume:volume max: comprimento de onda mximo

  • xxiii

    NDICE DE TABELAS Tabela 1 Classificao de lipossomas, baseada em parmetros estruturais . .. 34

    Tabela 2 Solubilidade da NYS em diferentes solventes. As concentraes as solues de NYS com os solventes testados foram de 1,94 mol.L-1 ...................................................................................................................

    69

    Tabela 3 Dados de regresso linear da curva de calibrao ( Mx 292 nm) .... 72 Tabela 4 Dados de regresso linear da curva de calibrao ( Mx 304 nm) ..... 73 Tabela 5 Dados de regresso linear da curva de calibrao ( Mx 320 nm) .... 73 Tabela 6 Freqncias de absoro caractersticas das vibraes de ligao

    da NYS Medley e Cristlia ...................................................................... 76

    Tabela 7 Coeficientes de partio da NYS em n-octanol/tampo succinato (0,02 mol L-1; pH 5,6) isotnico a 25 e 37 C .........................................

    81

    Tabela 8 Teores % de NYS recuperada nas formulaes lipossomais, contendo 10 % de NYS em relao concentrao molar de PCH, hidratadas com Hepes (0,01 mol.L-1; pH 7,4) ou tampo succinato (0,02 mol.L-1, pH 5,6) , isotnicos, a 55 e 65 C ...................................................................................................................

    82

    Tabela 9 Teores obtidos de NYS recuperada na formulao 80 % PCH e 20% de Colesterol, hidratada com os tampes Hepes (0,01 mol L-1; pH 7,4) ou tampo succinato (0,02 mol.L-1, pH 5,6), isotnicos, 55 e 65 C ..........................................................................................................

    84

    Tabela 10 Teores de NYS recuperada nas formulaes lipossomais (Etapa 2), compostas de lipdios PCH, colesterol e DSPG, contendo NYS (NYS/lipdio 7 %), hidratadas com tampo succinato (0,02 mol.L-1) , isotnico, a 55 C ....................................................................................

    87

    Tabela 11 Teores obtidos de NYS recuperada nas formulaes: 80 % PCH e 20 % de Colesterol e 70 % PCH e 30 % de DSPG, quando as formulaes so hidratadas com tampo succinato (0,02 mol L-1); pH 5,6 isotnico. As preparaes foram hidratadas a 55 C e foram variadas as concentraes de lipdios de 10 a 15 mM. A relao frmaco/lipdio de 7 para 10 % .....................................................................................................................

    88

  • xxiv

    Tabela 12 Teores de NYS nas formulaes lipossomais compostas PCH, colesterol e DSPG, BHT e NYS em uma relao frmaco/lipdio de 7 %, hidratadas com tampo succinato (0,02 mol.L-1) isotnico, a 60 C ................................................................................................................

    89

    Tabela 13 Teores de NYS recuperada na formulao lipossomal composta de PCH, colesterol, DSPG, BHT e NYS numa relao frmaco/lipdio de 6,5 %; hidratada com tampo succinato (0,02 mol L-1 ), isotnico, a 55 e 60 C, modo de hidratao AU e AE ....................................................................................................................

    92

    Tabela 14 Teores de encapsulao de NYS em preparaes lipossomais L1 e L2 .............................................................................................................

    97

    Tabela 15 Grau de anisotropia de fluorescncia (r) da NYS livre e encapsulada em lipossomas em tampo succinato (0,02 mol L-1), isotnico, pH 5,6 a 25 C ................................................................................................

    98

    Tabela 16 Variao da fluorescncia da NYS em concentraes e temperaturas diferentes, na ausncia e presena de lipossomas, em tampo succinato (0,02 mol L-1), isotnico, pH 5,6 .....................................................................................................................

    100

    Tabela 17 Valores de 1/fa obtidos para a NYS encapsulada em lipossomas (L1 e L2), usando como os supressores iodeto de potssio e Acrilamida .....................................................................................................................

    110

    Tabela 18 Resultados do teste de susceptibilidade in vitro (MIC(M/ml)) para as NYSs 1 e 2 em leveduras do gnero Candida, das espcies krusei, albicans, parapsilosis e do gnero Cryptococcus, espcie neoforman .................................................................................................

    111

    Tabela 19 MIC(M/ml) para as amostras de NYS 1 e 2 em fungos dos gneros Trichophyton (espcies rubrum, mentagrophytes e espcie indefinida (spp.); Fusarium spp. e Aspergillus fumigatus .................................................................................................................

    112

    Tabela 20 MIC(M/ml) e CFM (M/ml) para a NYS livre, NYS 1 e NYSs L1A (hidratadas a 55 C) e L2A (hidratadas a 60 C), em leveduras dos gneros Candida e Cryptococcus .......................................................

    113

    Tabela 21 MIC(M/ml) e CFM (M/ml) para dois lotes de NYS livre (NT/C 645743/Medley e 04102/2004/Cristlia) e preparaes lipossomais L1 e L2, empregando as espcies albicans e krusei ..................................................................................................................

    115

  • xxv

    Tabela 22 MIC e CFM para dois lotes de NYS livre (NT/C 645743/Medley e 04102/2004/Cristlia) e preparaes lipossomais L1 e L2, empregando os gneros Candida (parapsilosis) e Cryptococcus (neoformans) .........................................................................................

    116

  • xxvi

  • xxvii

    NDICE DE FIGURAS Figura 1 Estruturas moleculares de NYSS A1, A2 e A3 ................................. 04 Figura 2 Direcionamento da encapsulao de frmacos em lipossoma

    multilamelar (MLV): molculas hidrossolveis, lipossolveis e anfipticas .........................................................................................

    07

    Figura 3 Ilustraes de hifas septadas mononucleadas, multinucleadas e no septadas, presentes em de fungos filamentosos ...................

    18

    Figura 4 Ilustrao de hifa com esporo assexuado do tipo clamidsporo de fungos filamentosos ....................................................................

    20

    Figura 5 Ilustrao de esporo assexuado do tipo artrsporo de fungo do gnero Geotrichum ...........................................................................

    20

    Figura 6 Ilustrao de esporo assexuado do tipo blastsporo ................... 21 Figura 7 Ilustrao de esporo assexuado do tipo esporangisporo .......... 21 Figura 8 A Cultura, em Agar, de Aspergillus fumigatus (imagem

    esquerda) e Condios de Aspergillus fumigatus (imagem central e direita). B Ilustrao de Condios de Aspergillus agrupados em forma de cabea, ao redor de uma vescula ..............................................

    22

    Figura 9 Ilustrao de Condios de Peniccilium agrupados em forma de pincel ..................................................................................................

    23

    Figura 10 Fotos de Candida albicans crescendo na forma filamentosa ( esquerda) e na forma de levedura (no centro e direita) .............

    24

    Figura 11 Caractersticas dos diferentes gneros de fungos filamentosos e septados, principais causadores de dermatomicoses ...............

    27

    Figura 12 Onicomicose por Trichophyton rubrum .......................................... 27 Figura 13 Representao esquemtica de poro formado pela NYS em uma

    membrana celular .............................................................................. 30

    Figura 14 Frmulas estruturais moleculares dos fosfolipdios 1,2-Di-estearoil-sn-glicero-3-fosfatidilcolina (DSPC), 1,2-Di-palmitoil-sn-glicero-3-fosfatidilcolina (DPPC), 1,2-Di-estearoil-sn-glicero-

  • xxviii

    3-fosfatidilglicerol (DSPG) e do lipdio Colesterol ........................ 32 Figura 15 Grupos cabea de fosfolipdios encontrados em membranas

    biolgicas ........................................................................................... 33

    Figura 16 Seco transversal (A) de um lipossoma e (B) de uma bicamada lipdica ................................................................................................

    34

    Figura 17 Transio das fases gel e lquida cristalina da bicamada lipdica de fosfolipdio (A). Diferentes configuraes (trans e gauche) causadas pela rotao de ligao simples C-C das cadeias acila dos fosfolipdios (B) ..........................................................................

    36

    Figura 18 Possveis mecanismos de interao dos lipossomas com clulas ................................................................................................

    38

    Figura 19 Esquema do mtodo de preparo de lipossomas por filme lipdico ................................................................................................

    42

    Figura 20 Representao Esquemtica da hidratao e o preparo de diferentes tipos de lipossomas ........................................................

    43

    Figura 21 Espectros de absoro, da NYS Medley, na regio do UV/V em MeOH, 25C (2,6; 3,9; 5,3; 6,6; 7,9; 9,2x10-6; 1,0x10-5 mol.L-1) ......

    71

    Figura 22 Curva de calibrao para solues de NYS Medley (mx 292 nm) .............................................................................................................

    71

    Figura 23 Curva de calibrao para solues de NYS Medley (mx 304nm) .............................................................................................................

    72

    Figura 24 Curva de calibrao para solues de NYS Medley (mx 320nm) .............................................................................................................

    73

    Figura 25 Espectros de fluorescncia de NYS Medley em MeOH (1,05x10-5; 9,2; 7,9; 6,6; 5,3; 3,9; 2,6x10-6 mol.L-1) e de metanol puro ..............

    74

    Figura 26 Espectros no IV das amostras de NYS Medley (azul) e Cristlia (preto) .................................................................................................

    75

    Figura 27 Espectros no IV da NYS dos diferentes tipos de cristalizao da NYS A, B e C ......................................................................................

    77

    Figura 28 Curvas de aquecimento obtidas por DSC para as amostras de NYS Medley (A); Cristlia (B) ...........................................................

    78

  • xxix

    Figura 29 Curvas de aquecimento obtidas por TGA da NYS Lotes: NT/C 645743/Medley e 04102/2004/Cristlia. Massas: 3,7mg (Medley) e 3,5mg (Cristlia) .................................................................................

    79

    Figura 30 Curvas de DTG da NYS Lotes: NT/C 645743/Medley e 04102/2004/Cristlia. Massas: 3,7 mg (Medley) e 3,5 mg (Cristlia) ............................................................................................

    80

    Figura 31 Estruturas moleculares das formas isomricas interconvertveis do antibitico NYS. A - maior atividade biologica. B - menor atividade biolgica ............................................................................

    83

    Figura 32 Cromatogramas das duas formulaes (Etapa 1). (A) 80% de PC

    e 20% de colesterol e teor de 98,1 0,4% de NYS e (B) 100% de PCH e teor de 90,8 0,1 % de NYS ..................................................

    85

    Figura 33 Cromatogramas das formulaes com 80 % de PCH e 20 % de Colesterol (Etapa 1). (A): tampo succinato (0,02 mol.L-1), pH 5,6

    e 55 C; (B): tampo succinato (0,02 mol.L-1), pH 5,6 e 65 C; (C): tampo Hepes (0,01 mol.L-1), pH 7,4 e 55 C; (D): tampo Hepes (0,01 mol.L-1), pH 7,4 e 65 C .............................................................

    86

    Figura 34 Cromatogramas das formulaes P1 (PCH 54 %, colesterol 26 % e DSPG 20 %) (A), P2 (PCH 80 %, colesterol 20 %) (B), P3 (PCH 70 %, colesterol 20 % e DSPG 10 %) (C) e P4 (PCH 70 % e DSPG 30 %) (D), respectivamente em tampo succinato (0,02 mol.L-1),

    pH 5,6 e 60 C .....................................................................................

    91

    Figura 35 Distribuio multimodal de tamanho. (A) Preparao lipossomal L1; (B) Preparao lipossomal L2 ....................................................

    94

    Figura 36 Cromatogramas da NYS presente em formulao lipossomal MLV (L2) sem ultracentrifugar (A) e ultracentrifugada (B). Suspenso em tampo succinato (0,02 mol.L-1); pH 5,6; isotnico. O Pico com tempo de reteno prximo a 3 min o pico do solvente e em cerca de 10 min o da NYS ............................................................................................................

    96

    Figura 37 Sobreposio de espectros de emisso de fluorescncia da

  • xxx

    NYS (C = 9,9 M) nos lipossomas L1 (hidratado a 55 C) e L2 (hidratado a 60 C) aps a adio sucessiva dos agentes supressores iodeto de potssio (A e B) e acrilamida (C e D), a

    25 C. As concentraes dos supressores variaram de 0 a 0,29 mol.L-1 ................................................................................................

    103

    Figura 38 Sobreposio de espectros de emisso de fluorescncia da NYS livre (C = 9,9 M) livre em tampo succinato aps a adio sucessiva dos agentes supressores iodeto de potssio (A) e

    acrilamida (B) a 25 C. As concentraes dos supressores variaram de 0 a 0,29 mol.L-1 .............................................................

    104

    Figura 39 Grficos de Stern-Volmer relativos ao estudo da supresso de fluorescncia no estado fixo da NYS livre (C = 9,9 M) e em lipossomas com os supressores iodeto de potssio (A) e acrilamida (B). As concentraes dos supressores variaram de 0 a 0,29 mol.L-1 ..................................................................................

    105

    Figura 40 Grficos da equao de Stern-Volmer modicada (equao 5) empregada para supresso de fluorescncia combinada dinmica e esttica, no estado fixo, da NYS livre (C = 9,9 M) e em lipossomas com os supressores iodeto de potssio (A) e acrilamida (B). As concentraes dos supressores variaram de 0 a 0,29 mol.L-1 ..................................................................................

    107

    Figura 41 Grficos para a equao Stern-Volmer modificada (equao 6) para as fraes de acessibilidade ao supressor no estudo da supresso de fluorescncia da NYS livre (C = 9,9 M) e em lipossomas com os supressores iodeto de potssio (A) e acrilamida (B). ). As concentraes dos supressores variaram de 0 a 0,29 mol.L-1 .............................................................................

    108

  • xxxi

    Figura 42 Grficos para a equao Stern-Volmer modificada (equao 6) para os estudos da supresso de fluorescncia da NYS livre (C = 9,9 M) e em lipossomas, com os supressores iodeto de potssio (A) e acrilamida (B). As concentraes dos supressores variaram de 0 a 0,29 mol.L-1 .......................................

    109

  • _____________________________________________________________________Introduo

    1

    1.INTRODUO

  • _____________________________________________________________________Introduo

    2

  • _____________________________________________________________________Introduo

    3

    Durante muitos anos a teraputica de micoses especialmente de micoses profundas, encontrava dificuldades devido ao fato dos fungos serem clulas

    eucariticas que parasitam hospedeiros com clulas da mesma natureza. Assim, as

    diferenas citolgicas entre o parasito e o hospedeiro so pequenas e os frmacos que

    interferem no metabolismo daqueles habitualmente agem no metabolismo dos ltimos

    (TAVARES, 1984).

    A Nistatina (NYS) (C47H75NO17) ou fungicidina (massa molar 926,13 g/mol) um antibitico extrado principalmente de culturas de Streptomyces Nursei. Este composto

    foi isolado em 1950 por Hazen e Brown da diviso de laboratrios e pesquisa do

    departamento de sade do Estado de Nova York, Estados Unidos da Amrica

    (MICHEL, 1972). Apresenta em sua estrutura uma lactona macrocclica (Figura 1),

    consistindo de dieno tetraeno hidroxilado ligado a um ou dois grupamentos amino

    acar. Devido presena de grupos carboxil e amino, a NYS anfotrica e tambm

    anfiflica, pois possui uma estremidade polar e outra apolar em sua molcula (Figura 1).

    A NYS pouco solvel na gua e solventes orgnicos, mas solvel em

    dimetilformamida e dimetilsulfxido.

    A NYS comercial representa uma mistura de compostos intimamente

    relacionados. Segundo POROWSKA e col. (1972) que caracterizaram amostras de NYS

    comercial, o frmaco na verdade um complexo contendo trs constituintes

    biologicamente ativos, designados como NYS A1, A2 e A3 (MICHEL, 1972 &

    POROWSKA e col., 1972). O principal componente do complexo o componente A1,

    que apresenta em sua estrutura um amino acar, a D - micosamina ligada ao oxignio

    do carbono 19 (RICKARDS & CHONG, 1970; MANWARING & RICKARDS, 1969;

    BOROWSKI e col., 1971). A NYS A2 (figura 1) mostra uma estrutura muito semelhante

    a A1. As diferenas esto na aglicona do antibitico, nas variaes na estereoqumica

    dos grupamentos hidroxilas que carecem de uma hidroxila no carbono 10 do macrociclo

    e na posio da carboxila o carbono 15. J o componente A3 possui mudanas na

    estereoqumica dos grupos hidroxilas e tem um outro radical acar, a L-digitoxose,

    ligada ao carbono 35 (ZIELINSKY e col., 1979; ZIELINSKY e col., 1987) (Figura1).

  • _____________________________________________________________________Introduo

    4

    Todavia A3 tem o mesmo amino acar presente nos outros dois componentes. Os

    compostos A1 e A2 foram identificados por SHENIN e col., (1993) que analisaram

    amostras de NYS grau farmacutico. Todavia, a designao da estrutura do

    componente A2 do complexo NYS foi realizada por PAWLAK e col., (2005). A

    complexidade da composio do composto NYS devida a sua obteno atravs de

    processo fermentativo, onde os trs componentes so produzidos.

    Nistatina A1

    Nistatina A2

    Nistatina A3

    Figura 1. Estruturas moleculares de NYSS A1, A2 e A3 (Borowski e col., 1971; Zielinsky e col., 1987; Pawlak e col., 2005).

  • _____________________________________________________________________Introduo

    5

    A NYS membro de um grupo relativamente grande de compostos

    estruturalmente relacionados, altamente insaturados, chamados antibiticos

    antifngicos polinicos. Entre os quimioterpicos antifngicos, os antibiticos so muito

    eficazes na teraputica de micoses profundas. Essa classe de compostos altera a

    permeabilidade da membrana de clulas sensveis, como as clulas fngicas. A NYS

    ativa frente a diversas espcies de fungos dos gneros Candida, Cryptococcus,

    Aspergillus, Histoplasma, Blastomyces y Coccidioides. Contudo, os polinicos no tm

    ao em clulas de protozorios, bactrias, exceto para Acholeplasma crescido na

    presena de esterol, assim como contra algas azul-verdes (GALE e col., 1972).

    Na prtica clnica, a NYS utilizada no tratamento da candidases superficiais de

    pele e mucosas (esofgica, intestinal e vaginal). O antibitico praticamente no

    absorvido por via oral, entretanto devido a sua ao superficial local, administrado

    oralmente em casos de candidase bucal e intestinal (WASAN e col., 1996). Contra a

    candidase vaginal empregada sob a forma de vulos e na cutnea e periungueal sob

    a forma de cremes, pomadas e loes (TAVARES, 1984). Quando administrada por via

    intramuscular e intravenosa muito txica, sendo capaz de causar hemlise, necrose e

    abscessos frios nos locais de injeo. Isto se deve imediata ligao do frmaco aos

    esteris das membranas das hemcias e clulas tissulares, causando sua destruio

    (HIEMENZ & WALSH, 1996).

    A NYS tem estrutura molecular similar da Anfotericina B (AnfB) mas, em alguns

    casos, mostra um espectro de ao antifngica in vitro mais amplo do que esta ltima,

    pois atua em fungos AnfB resistentes (GROLL e col., 1999). Entretanto, a NYS e a AnfB

    apresentam problemas de pouca solubilidade em gua e de grande toxicidade para os

    pacientes, quando administradas intravenosamente, como nefrotoxicidade,

    tromboflebite, febre, calafrios e nuseas. Em funo disso, tem-se evitado a aplicao

    parenteral da NYS (MORIBE & MARUYAMA, 2002; MORIBE & MARUYAMA, 2000).

    Desde que a NYS mostra propriedades farmacolgicas diferentes daquelas da AnfB, ou

    seja, maior ao sobre leveduras e alguns casos tem um espectro de ao maior do

    que a AnfB, desejvel o desenvolvimento de formulao para a administrao

  • _____________________________________________________________________Introduo

    6

    intravenosa da NYS, j que se dispe no mercado farmacutico uma preparao

    lipossomal de AnfB, comercializada sob o nome AMBISOME (marca registrada da

    NeXstar Pharmaceuticals, Inc.) e distribuda no Brasil pela empresa United Medical.

    A cincia e tecnologia envolvida na obteno de novos frmacos, sejam os

    mesmos, sintticos ou de fontes naturais, tiveram grande desenvolvimento nas dcadas

    de 40 e 50 e continuam, de forma desacelerada, a evoluir. A partir da dcada de 80,

    molculas com efeitos teraputicos, tm sido enriquecidas por produtos obtidos pela

    aplicao de processos biotecnolgicos, que utilizam princpios da engenharia gentica,

    tais como fermentaes com microrganismos geneticamente modificados e cultura de

    clulas de mamferos (GOMES & REIS, 2001). Mais recentemente no cenrio mundial,

    tm-se observado que companhias farmacuticas pioneiras tm deixado de

    comercializar novos frmacos sintticos para produzir produtos genricos, conforme

    tem expirado suas patentes (http://www.sbqrio.sbq.org.br/download/set1801.pdf). Este

    cenrio cria a necessidade de apresentar frmacos clssicos sob novas formas, que

    podem ser novos sistemas de entrega (TYLE, 1988). Outra questo, que o

    desenvolvimento de novos frmacos est relacionado aos altos custos, principalmente

    em rotas sintticas e ainda se observa que pouca inovao ocorreu em relao ao

    surgimento de novas formas farmacuticas mais eficientes na entrega do frmaco aos

    stios de ao, registrando-se efeitos colaterais indesejveis e danos ao organismo do

    paciente. Vrios frmacos empregados na teraputica, devido ao alto grau de

    toxicidade, exigem que a quantidade a ser administrada seja a menor possvel, para

    no causar danos aos tecidos sadios e, ao mesmo tempo, seja suficiente para atingir as

    clulas alvo, aps ser absorvido e distribudo no organismo.

    Teoricamente, um dos objetivos bsicos da qumica teraputica entregar a

    substncia medicinal especfica e eficientemente ao local da doena ou distrbio. Em

    geral isto pode ser conseguido pela administrao do frmaco por via oral (em forma de

    cpsulas, comprimidos, suspenses, solues, entre outras.), nasal, transdrmica

    (tpica), intramuscular, endovenosa, subcutnea, entre outras. Em muitos casos,

    entretanto, a eficcia do frmaco pode ser melhorada, e os efeitos colaterais reduzidos,

  • _____________________________________________________________________Introduo

    7

    encapsulando-o em algum tipo de transportador. Idealmente, este dever vetorizar o

    frmaco em concentrao adequada e apenas no local onde o mesmo necessrio,

    evitando a sua perda, degradao e a ocorrncia de efeitos colaterais indesejveis

    (PRISTA e col., 1996).

    Os lipossomas so vesculas lipdicas, onde uma fase aquosa totalmente

    cercada por uma ou mais lamelas (bicamadas de fosfolipdios), constituindo, ao lado de

    aerossis, hidrogis, micro/nanopartculas polimricas, "patches" um dos sistemas mais

    importantes para encapsulao e liberao sustentada de frmacos in vivo. Eles podem

    encapsular ingredientes hidroflicos, hidrofbicos ou anfiflicos. Drogas hidroflicas tm

    tendncia a permanecer no compartimento central aquoso e drogas

    hidrofbicas/anfiflicas encontram-se inseridas na bicamada lipdica (Figura 2). As

    drogas lipoflicas permanecem mais tempo encapsuladas devido ao alto

    particionamento na fase membranar (SHARATA, 1996).

    Figura 2. Direcionamento da encapsulao de frmacos em lipossoma multilamelar (MLV): molculas hidrossolveis, lipossolveis e anfipticas.(Arajo e col,2003).

    Os sistemas lipossomais tm sido testados com sucesso como transportadores

  • _____________________________________________________________________Introduo

    8

    de diversos frmacos, material gentico e enzimas para o interior de clulas. So

    atxicos, pouco imunognicos, biodegradveis e capazes de proteger os compostos

    encapsulados da diluio e degradao no sangue, de forma que quando alcanam os

    tecidos que necessitam de tratamento podem liberar doses concentradas de frmaco

    aumentando sua ao teraputica. Entretanto, ao circularem na corrente sangunea, os

    lipossomas funcionam como corpos estranhos, sendo rapidamente atacados pelos

    macrfagos que, assim, passam a transportar os frmacos veiculados nos lipossomas.

    Compostos antimicrobianos lipossomados podem penetrar em clulas do sistema

    mononuclear fagocitrio onde microrganismos patognicos residem, causando a morte

    do agente microbiano (PRISTA e Col., 1996 & LASIC, 1993). O tamanho dos

    lipossomas determina o grau de reconhecimento pelo Sistema Mononuclear Fagocitrio

    (SMF) e determina a velocidade de retirada dos mesmos da circulao sangunea.

    Para uso humano, os sistemas lipossomais tm sido empregados para reduzir a

    toxicidade clnica sistmica de frmacos aumentando, assim, a eficcia teraputica de

    agentes antimicrobianos, antineoplsicos e outros (TORCHILIN, 2005). OFFNER e col., (2004) avaliaram a atividade e segurana da nistatina lipossomal, numa dose de 4

    mg/kg, em pacientes com aspergilose invasiva refratria ou intolerante a AnfB, estes

    pesquisadores verificaram que a NYS lipossomal foi efetiva contra a aspergilose

    invasiva, todavia alguns efeitos adversos observados para a AnfB, tambm foram para

    a NYS lipossomal, como: tremores calafrios, febre, hipo ou hipertenso e taquicardia .

    Outros autores, tambm comprovaram que a NYS incorporada em lipossomas, nas

    doses de 2 a 6 mg/kg, demonstrou significante reduo da toxicidade enquanto que a

    atividade antifngica foi preservada (CARRILLO-MUNOZ e col., 1999; GROLL e col.,

    1999; JOHNSON e col., 1998; MEHTA e col., 1987; OAKLEY e col., 1999). A utilidade

    de formulaes lipossomais em clnica mdica comprovada pela aprovao da

    agncia controladora norte-americana, "Food and Drug Administration" (FDA), de

    formulaes lipossomais para entrega de algumas substncias com atividade

    antineoplsica (DOXIL com doxorrubicina e DAUNOSOME com daunorrubicina) e

    antifngica (AMBISOME com Anfotericina B), j comercializadas em vrias partes do

    mundo.

  • _____________________________________________________________________Introduo

    9

    Uma formulao lipossomal de NYS (NYOTRAN) foi preparada pela Aronex

    Pharmaceuticals, com boa atividade em ratos. A referida formulao j se encontra em

    aplicao clnica e para obteno da nistatina lipossomal os autores utilizaram os

    lipdios Dimiristoilfosfatidilcolina (DMPC) e Dimiristoilfosfatidilglicerol (DMPG) em

    uma razo mssica de 7:3. A formulao apresenta tamanho de partculas que variam

    de 0,1 a 3 M porm as propriedades fsicas da formulao ainda no esto bem compreendidas (MEHTA e col., 1987, TORCHILIN, 2005). Sendo assim, plenamente

    justificado um trabalho no sentido de preparar e caracterizar formulaes lipossomais

    contendo NYS.

    Os sistemas lipossomais podem ser estudados em relao a fatores como

    eficincia de encapsulao, tamanho, teor de fosfolipdios na formulao, entre outros.

    Na caracterizao desses sistemas podem ser utilizadas vrias tcnicas analticas

    como espectroscopia (de absoro UV/Vis, de emisso, IV e RMN), espalhamento de

    luz, calorimetria diferencial de varredura (DSC), Cromatografia Lquida de Alta

    Eficincia (CLAE). preciso, tambm, avaliar a atividade dos lipossomas em sistemas

    biolgicos in vitro e in vivo.

  • _____________________________________________________________________Introduo

    10

  • ______________________________________________________________________Objetivos

    11

    2.OBJETIVOS

  • ______________________________________________________________________Objetivos

    12

  • ______________________________________________________________________Objetivos

    13

    Os objetivos deste trabalho foram:

    1) desenvolver e otimizar formulaes lipossomais contendo o frmaco NYS;

    2) selecionar formulaes em que o frmaco apresentasse maior estabilidade

    qumica;

    3) caracterizar as formulaes lipossomais de NYS fsico-quimicamente;

    4) testar a atividade in vitro das formulaes lipossomais contendo NYS.

  • ______________________________________________________________________Objetivos

    14

  • ____________________________________________________________Reviso Bibliogrfica

    15

    3.REVISO BIBLIOGRFICA

  • ____________________________________________________________Reviso Bibliogrfica

    16

  • ____________________________________________________________Reviso Bibliogrfica

    17

    3.1.Fungos

    Fungos (do latim fungus = cogumelo) so seres eucariticos, com um s ncleo,

    como as leveduras, ou multinucleados, como os fungos filamentosos ou bolores. As

    clulas de fungos podem apresentar uma membrana citoplasmtica, que mais

    externamente, apresentam uma parede celular que reveste o citoplasma e organelas

    dispersas. So tambm revestidas por membranas semelhantes o retculo

    endoplasmtico, aparelho de Golgi, ribossomos, mitocndrias, vacolos, ncleo e

    nuclolo. As membranas celulares fngicas contm esteris, assemelhando-se s

    membranas de organismos superiores, como as dos mamferos. As clulas fngicas

    possuem vida independente e no se organizam em tecidos e os componentes

    principais da parede celular so hexoses e hexosaminas. Alguns fungos apresentam

    parede rica em quitina (N-acetil glicosamina). Outros possuem complexos de

    polissacardeos e protenas, com predominncia de cistena. Fungos do gnero

    Cryptococcus, como o Cryptococcus neoformans, apresentam cpsula de natureza

    polissacardica que envolve a parede celular (TORTORA e col., 1993).

    Os fungos constituem um grupo de organismos que no possuem clorofila e so

    ditos hetertrofos por absoro, pois suas hifas, no caso de fungos filamentosos

    (filamentos tubulares), crescem penetrando os substratos orgnicos e neles lanando

    suas enzimas digestivas. Os produtos finais solveis, resultantes da digesto, so lenta

    e continuamente absorvidos. A gua utilizada na solubilizao das enzimas e

    indispensvel na ao das mesmas. Desta forma, justifica-se o bom desenvolvimento

    dos fungos em ambientes midos (PELCZAR e col., 1996). Para seu desenvolvimento,

    esses organismos exigem sempre uma fonte de carbono, que ser utilizada como

    material energtico. Necessitam ainda de fontes de nitrognio, que podem ser

    inorgnica (NO3- e NH4+) ou orgnica (aminocidos, polipeptdeos e protenas). s

    vezes, certas substncias como aminocidos, podem funcionar como fontes de carbono

    e nitrognio. Os fungos podem ser saprobiticos (ou saprfitas) e parasitas (facultativos

    ou obrigatrios), conforme vivam de fontes de alimentos existentes livres ou em

    hospedeiros (PELCZAR e col., 1980).

  • ____________________________________________________________Reviso Bibliogrfica

    18

    Dependendo da forma como os fungos se desenvolvem em meios de cultura,

    pode-se classific-los em leveduriforme e filamentosos. As colnias leveduriformes so

    pastosas ou cremosas, formadas por microrganismos unicelulares ovais ou esfricos,

    geralmente com largura de 1 a 5 m e comprimento de 5 a 30 m, chamados

    leveduras. Esses microrganismos cumprem funes vegetativas (de crescimento) e

    reprodutivas. As colnias filamentosas podem ser algodonosas, aveludadas ou

    pulverulentas; so constitudas fundamentalmente por elementos multicelulares em

    forma de tubo, as hifas (do grego hyphe= teia). Essas estruturas so filamentos

    tubulares ramificados com cerca de 2 a 10 m de largura, podendo ser contnuas ou

    septadas. As no-septadas, tambm denominadas cenocticas, so multinucleadas. J

    as septadas podem ser: mono e multinucleadas (Fig. 3). As hifas septadas tm um

    septo que divide os filamentos em clulas distintas. Entre essas clulas ocorre migrao

    do citoplasma e ncleos por poros existentes em cada septo (TORTORA e col., 1993,

    PELCZAR e col, 1980).

    Figura 3. Ilustraes de hifas septadas mononucleadas, multinucleadas e no septadas multicleadas, presentes em de fungos filamentosos (Pelczar e col., 1980).

    As hifas crescem pelo alongamento de suas pontas (crescimento apical) e pela

  • ____________________________________________________________Reviso Bibliogrfica

    19

    produo de ramificaes laterais. Em geral, as hifas formam um conjunto de estruturas

    tubulares microscpicas, junto ao substrato (fonte de alimento), chamada de miclio

    vegetativo (ALEXOPOULOS e col., 1996). J outras hifas, relacionadas reproduo,

    correspondem ao miclio reprodutivo ou areo. O miclio areo se projeta na superfcie

    e cresce acima do meio de cultura. Quando o miclio areo se diferencia por apresentar

    clulas reprodutivas ou esporos (propgulos), constitui o miclio reprodutivo. Este

    cresce em contato com o ar e dissemina os esporos produzidos. Outras hifas podem

    organizar-se em estruturas grandes para formar fungos corpulentos, como cogumelos,

    por exemplo: bufa-de-lobo e orelha-de-pau (TORTORA e col., 1993; PELCZAR e col.,

    1996).

    A reproduo ocorre por formao de esporos. Os esporos so classificados,

    segundo sua origem, em sexuados e assexuados. Embora o miclio vegetativo no

    tenha especificamente funes de reproduo, alguns fragmentos de hifa podem se

    desprender do miclio vegetativo e cumprir funes de propagao, uma vez que as

    clulas fngicas so autnomas. Os esporos assexuais so produzidos por um fungo

    individual atravs de mitose e consecutiva diviso celular. Entre os esporos assexuados

    podem ser citados os clamidsporos, artrsporos, blastsporos, esporangisporos e

    conidisporos (PELCZAR e col., 1980).

    Os clamidsporos (Fig. 4) tm funo de resistncia, semelhante dos esporos

    bacterianos. So clulas, geralmente arredondadas, de volume aumentado, com

    paredes duplas e espessas que limitam o citoplasma. Sua localizao no miclio pode

    ser apical (terminal) ou intercalar. Esses esporos se formam em condies ambientais

    adversas, como escassez de nutrientes, de gua e temperaturas no favorveis ao

    desenvolvimento fngico. Um fungo que produz clamidsporo a Candida albicans

    (TORTORA e col., 1993).

  • ____________________________________________________________Reviso Bibliogrfica

    20

    Figura 4. Ilustrao de hifa com esporo assexuado do tipo clamidsporo de fungos filamentosos ( Pelczar e col., 1980).

    Os artrsporos (Fig. 5) so formados por fragmentao das hifas septadas em

    segmentos retangulares. So encontrados nos fungos do gnero Geotrichum,

    Coccidioides immitis e em dermatfitos (TORTORA e col., 1993).

    Figura 5. Ilustrao de esporo assexuado do tipo artrsporo de fungo do gnero Geotrichum (SwateK, 1967).

    Os blastsporos, tambm denominados gmulas, so comuns nas leveduras e

    se derivam por brotamento da clula-me. Em alguns casos, os blastsporos

    permanecem ligados clula-me, formando cadeias, as pseudo-hifas, cujo conjunto

    o pseudomiclio, como se pode visualizar na Fig. 6 (TORTORA e col., 1993).

  • ____________________________________________________________Reviso Bibliogrfica

    21

    Figura 6. Ilustrao de esporo assexuado do tipo blastsporo (Alexopoulos e col., 1996). Os esporangisporos (Fig. 7) so formados no interior de uma espcie de saco

    (esporngio), situado ao final de hifas areas denominadas esporangiforo. A liberao

    dos esporos se realiza pela clivagem do citoplasma dos esporngios. Esse tipo de

    esporo produzido pelo gnero Rhizopus (TORTORA e col., 1993).

    Figura 7. Ilustrao de esporo assexuado do tipo esporangisporo (Pelczar e col., 1980). Um quinto tipo de esporo assexual o conidisporo ou condios. Os

    conidisporos se formam em cadeias ao final dos conidiforos, que nada mais so do

  • ____________________________________________________________Reviso Bibliogrfica

    22

    que ramificaes das hifas. Dependendo de suas caractersticas morfolgicas, podem

    ser classificados em micro e macrocondios (PELCZAR e col., 1980). Na Fig. 8A

    visualizamos-se os condios agrupados do gnero Aspergillus e na 8B os condios de

    Aspergillus fumigatus

    A

    B

    Figura 8: Cultura, em gar, de Aspergillus fumigatus (imagem esquerda) e Condios de Aspergillus fumigatus (imagem central e direita) (A). Ilustrao de Condios de Aspergillus agrupados em forma de cabea, ao redor de uma vescula (B) (http://www.enq.ufsc.br/labs/probio/disc_eng_bioq/trabalhos_pos2003/const_microorg/fungos.htm e Alexopoulos e col., 1996).

    No aparelho de conidiao ou produtor de condios (esporos) do gnero

    Aspergillus, os condios formam cadeias sobre filides, estruturas no formato de

    garrafa, em torno de uma vescula que uma dilatao na extremidade do conidiforo

  • ____________________________________________________________Reviso Bibliogrfica

    23

    (Fig. 8).

    Outros gneros, como o Penicillium, apresentam um aparelho de conidiao

    onde os conidiforos se ramificam e no se verifica a presena de vescula. Como no

    caso do gnero Aspergillus, os condios formam cadeias que se distribuem sobre as

    filides (Fig. 9).

    Figura 9. Ilustrao de Condios de Penicillum agrupados em forma de pincel(Alexopoulos e col., 1996) Os esporos sexuados fngicos so os resultados do processo de reproduo sexual meitico, que compreende as fases: 1) um ncleo haplide (metade dos

    cromossomos da espcie) de uma clula doadora (macho) penetra no citoplasma de

    uma clula receptora (fmea); 2) os ncleos macho e fmea se fundem para formar um

    ncleo diplide; 3) atravs de meiose, o ncleo diplide d surgimento a quatro ncleos

    haplides (PELCZAR e col., 1980). ALEXOPOULOS e col., (1996) postularam que a

    reproduo sexual em muitos fungos envolve a formao de esporos especializados.

    Os quatro tipos que tm sido observados so osporos, zigsporo, ascsporo e

    basidisporo.

    Os fungos produzem esporos sexuais com menos freqncia que os assexuais e

    s se reproduzem por processo sexual em determinadas condies, como em casos de

    variaes de umidade, temperatura e disponibilidade de nutrientes (PELCZAR e col.,

  • ____________________________________________________________Reviso Bibliogrfica

    24

    1980).

    3.2.Dimorfismo fngico Alguns fungos e especialmente alguns patognicos apresentam dimorfismo, ou

    seja, duas formas de crescimento: filamentosa e leveduriforme, como ilustrado na Fig.

    10 (PELCZAR e col., 1996).

    Figura 10. Fotos de Candida albicans crescendo na forma filamentosa ( esquerda) e na forma de levedura (no centro e direita) (Pelczar e col., 1996).

    Os fungos dimrficos podem ter morfologia diferente, conforme as condies

    nutricionais e a temperatura de seu meio de desenvolvimento. Esse fenmeno de

    variao morfolgica, muito importante em micologia mdica se expressa por um

    crescimento micelial entre 22 C e 28 C e leveduriforme entre 35 C e 37 C. Em geral,

    as formas so reversveis. A fase micelial ou saproftica a forma infectante e est

    presente no solo e nas plantas. A fase leveduriforme ou parasitaria encontrada nos

    tecidos. O fenmeno de dimorfismo fngico se observa entre os fungos de importncia

    mdica, como Histoplasma capsulatum, Blastomyces dermatitidis, Paracoccidioides

    brasiliensis, Sporothrix schenckii. Na Candida albicans, a forma saproftica infectante

    a leveduriforme e a forma parasitria, isolada dos tecidos, a micelial. Em laboratrio,

    possvel reproduzir o dimorfismo mediante variaes de temperatura de incubao, de

    tenso de O2 e de meios de cultura especficos (PELCZAR e col., 1980)

    Ainda que o pH mais favorvel ao desenvolvimento dos fungos esteja entre 4 e

    7, a maioria dos fungos tolera amplas variaes de pH (ALEXOPOULOS e col., 1996).

  • ____________________________________________________________Reviso Bibliogrfica

    25

    Os fungos filamentosos podem crescer em meio cujo pH est entre 1,5 e 11, mas as

    leveduras toleram pouco o meio alcalino e se desenvolvem bem em meios com pH

    ajustados 3,5 e 3,8. Em geral os limites de tolerncia de pH para leveduras de 2,2 e

    8,0, de acordo com as diversas espcies (PELCZAR e col., 1980).

    O crescimento de fungos mais lento que o das bactrias e suas culturas

    precisam, em mdia, de 7 a 15 dias, ou mais, de incubao. Com a finalidade de evitar

    o desenvolvimento bacteriano que pode inibir ou se sobrepor ao do fungo, necessrio

    incorporar, aos meios de cultura, agentes antibacterianos de largo espectro, como o

    cloranfenicol. Tambm se pode acrescentar cicloheximida, para diminuir o crescimento

    de fungos saprfitas contaminantes de culturas de fungos patognicos (ZAITZ C. e col.,

    1998).

    Muitas espcies fngicas exigem luz para seu desenvolvimento, outras so por

    ela inibidos e outras ainda mostram-se indiferentes a esse agente. Em geral, a luz solar

    direta, devido radiao ultravioleta, elemento fungicida (ALEXOPOULOS e col.,

    1996).

    Por diferentes processos, os fungos podem elaborar vrios metablitos, como

    antibiticos, como a penicilina (Penicillium chrysogenum) e as cefalosporinas

    (Cephalosporium acremonium); agentes imunossupressores como a ciclosporina

    (Cylindrocarpon lucidum e Tolypocladium inflatum); lcoois (etanol saccharomyces

    cerevisae); cidos orgnicos (cido ctrico (Aspergillus niger)), enzimas (amilase,

    celulase, lpase e pectinase (Aspergillus niger)) e micotoxinas, como aflatoxinas

    (Aspergillus flavus e A. parasiticus) que confere aos fungos, um importante papel nas

    reas: farmacutica, agrcola e alimentcia (ALEXOPOULOS e col., 1996, PELCZAR e

    col., 1980).

    3.3.Infeces fngicas

    As infeces fngicas so denominadas micoses e so classificadas,

  • ____________________________________________________________Reviso Bibliogrfica

    26

    geralmente, como micoses superficiais e sistmicas. As micoses superficiais localizam-

    se nas camadas superficiais da pele e seus anexos, bem como nas mucosas e zonas

    cutneo-mucosas. As micoses superficiais podem ser subdivididas em cutneas e

    subcutneas. J as infeces sistmicas ou profundas afetam os tecidos e rgos de

    indivduos imunodeprimidos (RANG e col., 2004; LACAZ e col., 2002).

    Existem condies ambientais, hbitos e condies de sade humanas que

    favorecem o desenvolvimento de micoses superficiais e sistmicas. Com relao s

    micoses superficiais, os fatores que favorecem seu desenvolvimento so calor e

    umidade ambiente, uso de roupas e sapatos impermeveis (botas de borracha, tnis,

    roupas de nylon), deficincias nutricionais (avitaminoses, anemia, desnutrio),

    transpirao abundante e presena de feridas e machucados na pele. No caso das

    micoses sistmicas, como o principal mecanismo de proteo do hospedeiro ao fungo

    a resposta imunolgica celular, as doenas imunossupressivas que diminuem a ao

    dos linfcitos T predispem o hospedeiro a infeces fngicas oportunistas; portanto,

    so considerados suscetveis a infeces oportunistas indivduos infectados pelo vrus

    HIV, ps-transplantados, neutropnicos, com neoplasias, alm daqueles

    imunodeprimidos por drogas ou outras patologias (LAZZARINI e col., 1999).

    As micoses so produzidas por diversos tipos de fungos, de diferentes gneros e

    espcies. Alguns afetam tecidos queratinizados como cabelos, unhas, plos e o extrato

    crneo da epiderme, produzindo as dermatomicoses (micoses superficiais), tambm

    chamadas Tinhas. Os agentes etiolgicos responsveis pelas dermatomicoses so

    principalmente os gneros de fungos filamentosos Tricoppytum, Microsporum e

    Epidermophyton, que apresentam diferenas morfolgicas relativas ao nmero de

    macro e microcondios, as estruturas responsveis pela reproduo assexuada dos

    fungos (Fig. 11) (MAZN e col., 1997; RUBIO e col., 1999).

  • ____________________________________________________________Reviso Bibliogrfica

    27

    Figura 11.Caractersticas dos diferentes gneros de fungos filamentosos e septados, principais causadores de dermatomicoses ([http://ib.ufpel.edu.br/dermatomicose.pdf).

    As dermatomicoses promovem descamaes e ulceraes da pele, placas de

    calvcie, infeces da bainha de plos e unhas. Na Fig. 12, visualiza-se a onicomicose

    provocada pelo dermatfito Trichophyton rubrum.

    Figura 12. Onicomicose por Trichophyton rubrum([http://ib.ufpel.edu.br/dermatomicose.pdf).

    As micoses sistmicas so produzidas por fungos patognicos capazes de

    invadir rgos e tecidos sadios, se multiplicar e provocar dano tecidual. Os fungos ditos

    patognicos pertencem s espcies Histoplasma capsulatum, Coccidiodes imitis,

    Paracoccidiodes brasiliensis, Blastomices dermatitides e Esporotrix schenkii. Todavia,

    fungos oportunistas, que normalmente so incuos para indivduos imunocompetentes,

  • ____________________________________________________________Reviso Bibliogrfica

    28

    podem promover micoses severas. Entre eles citam-se: Candida albicans e espcies

    no albicans to ou mais freqentes, especialmente a Candida tropicalis, Candida

    parapsilosis, Cndida glabrata e Candida krusei; e outras espcies; Aspergillus

    fumigatus, Cryptococus neoformans, Fusarium sp.(ZAITZ e col., 1998).

    H tempos, infeces superficiais graves por fungos eram relativamente raras e

    as sistmicas ainda mais. Nos ltimos 35 anos, houve um aumento uniforme na

    incidncia de infeces fngicas sistmicas secundrias graves. Os fatores envolvidos

    nesse aumento tem sido o uso disseminado de antibiticos de amplo espectro, a

    presena de indivduos com reduo da resposta imune devido AIDS (Sndrome da

    Imuno Deficincia Adquirida) ou ao de agentes imunossupressores ou frmacos

    utilizados na quimioterapia do cncer. Estes fatores levaram a um aumento na

    prevalncia de infeces oportunistas (http://www.cumc.columbia.edu/research/Faculty

    _Profiles/profiles/mitchell_ap.htm). No Brasil, as doenas sistmicas mais comuns so:

    candidase sistmica, criptococose e histoplasmose, sendo o Cryptococcus neoformans

    o agente que infecta 10% dos pacientes com AIDS, causando meningite. A infeco

    pela referida espcie fngica ainda no tem tratamento eficaz; logo, apresenta altos

    ndices de mortalidade

    (http://caibco.ucv.ve/caibco/CAIBCO/Vitae/VitaeOcho/Articulos/Micologia/ArchivosPDF/

    Micologia.PDF; http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/guia bolso 5ed2.pdf.

    No panorama internacional, verifica-se que a sepse fngica vem se tornando

    freqente nas unidades de terapia intensiva peditrica e neonatal. Entre os agentes

    etiolgicos identificados encontram-se a Candida spp., Aspergillus spp. e Fusarium spp.

    A taxa de mortalidade elevada e varia de 15% a 50% (LEIBOVITZ, 2002). Novos

    antifngicos esto sendo empregados, como novos compostos triazlicos, o voriconazol

    e o acetato de caspofungina (equinocandina). A caspofungina um antifngico

    lipopeptdico que inibe a enzima -1-3-D-glucano sintetase, envolvida na sntese de

    polissacardeo vital para a formao da parede celular de fungos filamentosos e

    leveduras e no presente em clulas de mamferos (ARKADER e CARVALHO, 2006).

    No entanto, o emprego de antifngicos mais antigos em carreadores de frmacos como

  • ____________________________________________________________Reviso Bibliogrfica

    29

    os lipossomas devem ser mais uma opo no combate s micoses sistmicas.

    3.4.Antibiticos antifngicos polinicos Os antibiticos polinicos constituem um grupo de substncias ativas contra os

    fungos. Apresentam ao fungisttica e fungicida sobre organismos sensveis. Contudo,

    so substncias txicas para o homem e outros mamferos, por provocarem leses

    celulares. O mecanismo de ao destes polinicos envolve a interao do frmaco com

    esteris existentes na membrana do microrganismo (TAVARES, 1984). Os antibiticos

    antifngicos so compostos amplamente usados no tratamento de infeces fngicas

    tpicas e invasivas em humanos (ZOTCHEV, 2003). A principal vantagem dos

    polinicos sobre outros frmacos antifngicos, como azis e flucitozinas, a ao

    fungicida e a baixa incidncia de patgenos resistentes. As aes fungicidas dos

    antibiticos macroldeos dependem estritamente da presena de esteris na membrana

    das clulas sensveis (BOLARD, 1986).

    Mecanismo de ao

    O mecanismo de ao da NYS e de outros antibiticos polinicos caracteriza-se

    pela sua ligao ao ergosterol presente na membrana citoplasmtica de fungos

    sensveis, resultando em alteraes na permeabilidade da membrana pela formao de

    poros intramembranares, ocasionando perda dos componentes vitais intracelulares, tais

    como ons e pequenas molculas, resultando na morte celular (Fig. 13) (LEIBOVITZ,

    2002). Em geral, os antibiticos polinicos tm maior afinidade pelo esterol fngico, o

    ergosterol, do que o das clulas de mamferos, o colesterol, pois o ergosterol possui

    uma estrutura mais rgida que o colesterol (FRANZINI, 2006). Sendo assim, os

    antibiticos polinicos so menos txicos para as clulas de mamferos (MICHEL, 1972;

    NG e WASAN, 2003).

    A estrutura dos poros formados pela nistatina em membranas ricas em ergosterol

    no est clara. (HELRICH e col., 2006). Contudo, COUTINHO A. e col., (2004)

  • ____________________________________________________________Reviso Bibliogrfica

    30

    declaram que a partir de estudos espectroscopia de fluorescncia, realizadas em

    lipossomas, LUV (Vesculas Unilamelar grande), contendo ergosterol e POPC (1-

    palmitoil-2-oleil-sn-glicero-3-fosfatidilcolina) e a nistatina, o frmaco pode apresentar

    duas fases distintas em seu modo de ao. Na primeira fase, molculas do antibitico

    se ligam superfcie da bicamada lipdica (Nistatina monomrica) e numa fase posterior

    quando o nmero mdio de molculas atinge um valor crtico de 100

    molculas/lipossoma acorre formao de agregados moleculares (oligmeros) que

    passam ao modelo clssico de nistatina transmembrana, ocorrendo a formao dos

    poros.

    Figura 13. Representao esquemtica de poro formado pela NYS em uma membrana celular(Adaptado de Lasic, 1993). A ausncia de ergosterol nas membranas de bactrias pode explicar porque esse

    antibitico no capaz de afetar o crescimento daqueles microrganismos.

  • ____________________________________________________________Reviso Bibliogrfica

    31

    3.5.Lipossomas Os lipossomas so estruturas lamelares constitudas por sistemas lipdio:gua e

    foram descritas em meados dos anos 60 do sculo XX, por BANGHAM e col que

    estudaram a hidratao de filmes lipdicos depositados nas paredes de frascos de vidro.

    Os referidos pesquisadores observaram que as molculas do lipdio se organizavam em

    bicamadas formando estruturas vesiculares microscpicas, que posteriormente, foram

    denominadas genericamente lipossomas por SESSA e WEISSMANN, que mostraram

    que estas vesculas, em seu interior encerravam um compartimento aquoso (SANTOS e

    CASTANHO, 2002). Na realidade, essas estruturas se formam espontaneamente

    quando os lipdios (especialmente fosfolipdios) so dispersos em meio aquoso,

    originando uma populao de vesculas esfricas com dimenses coloidais (cujo

    dimetro pode variar de 0,02m a 100m) limitadas por duas ou mais camadas lipdicas, cuja espessura , aproximadamente, de 4nm. Os lipossomas ganharam

    bastante popularidade como modelos para estudos sobre propriedades de membranas

    celulares (SANTOS & CASTANHO, 2002; PAPAHADJOPOULOS & WATKINS, 1967) e,

    mais recentemente como carreadores de frmaco (TORCHILIN, 2005).

    Os lipdios empregados no preparo dos lipossomas so substncias anfiflicas,

    caracterizadas por apresentarem grupamentos hidroflico e hidrofbico na mesma

    molcula. Os referidos lipdios so compostos por duas cadeias hidrocarbnicas,

    tambm denominadas caudas hidrofficas, ligadas a um grupo hidroflico, comumente,

    denominado como cabea polar. Os lipdios que contenham grupo fosfato na cabea

    polar so chamados fosfolpidios e constituem a principal classe de lipdios das

    membranas biolgicas. Na Fig. 14, so apresentadas as frmulas estruturais

    moleculares de trs fosfolipdios utilizados no presente trabalho, alm do colesterol.

  • ____________________________________________________________Reviso Bibliogrfica

    32

    DPPC

    DSPC

    DSPG

    Colesterol Figura 14. Frmulas estruturais moleculares dos fosfolipdios 1,2-Di-estearoil-sn-glicero-3- fosfatidilcolina (DSPC), 1,2-Di-palmitoil-sn-glicero-3-fosfatidilcolina (DPPC), 1,2-Di- estearoil-sn-glicero-3-fosfatidilglicerol (DSPG) e do colesterol (www.avantilipids.com).

    Alm do grupo fosfato, a frao polar do fosfolipdio, pode conter os grupos

    cabea: etanolamina, colina, glicerol e inositol, encontrados em fosfolipdios de

    membranas biolgicas, como mostra a Figura 15. As cabeas polares podem ser

    carregadas (positiva ou negativamente) e zwitterinicas (carga lquida nula), dependo

    das cargas dos grupos cabea e fosfato.

  • ____________________________________________________________Reviso Bibliogrfica

    33

    Figura 15 Grupos cabea de fosfolipdios encontrados em membranas biolgicas (Adaptado de New, 1990)

    Em geral, as molculas de fosfolipdios so insolveis em gua e nesse meio

    formam estruturas agregadas decorrentes da organizao das molculas. A parte

    hidroflica do fosfolipdio ser seletivamente hidratada e as cadeias hidrocarbnicas

    hidrofbicas preferem ficarem escondidas no interior da estrutura formada, ou seja,

    minimiza-se contato com meio aquoso. As molculas de fosfolipdios se mantm juntas,

    lado a lado formando folhetos separados por compartimentos aquosos. Dependendo

    da concentrao, da estrutura molecular dos lipdios, da temperatura, do teor de gua

    no meio, pH e fora inica, pode se ter diferentes estruturas agregadas, como as

    bicamadas lipdicas (lamelas) que se unem para formar um folheto bidimensional ou

    folheto que se dobra entre si formando uma esfera, denominada lipossoma (LASIC,

    1993). Esquemas da seco transversal de um lipossoma e de uma bicamada lipdica

    podem ser observados na Fig. 16.

  • ____________________________________________________________Reviso Bibliogrfica

    34

    A B

    Figura 16. Seco transversal (A) de um lipossoma e (B) de uma bicamada lipdica.

    Dependendo do nmero de lamelas contidas nos lipossomas, estes podem ser

    classificados em multilamelares, MLV (vrias lamelas separadas por compartimentos

    aquosos) ou unilamelares com uma nica lamela. Os lipossomas unilamelares podem

    ser classificados pelo tamanho; grandes e pequenos (LUV) e (SUV), respectivamente.

    Na Tabela 1, tem-se a classificao de lipossomas de acordo com seus parmetros

    estruturais (tamanho e nmero de lamelas) (BERENHOLZ e CROMMELIN, 1994).

    Tabela 1 Classificao de lipossomas, baseada em parmetros estruturais.

    Classificao do Lipossoma Tamannho

    MLV Vesculas Multilamelares > 0,5m

    OLV Vesculas Oligolamelares 0,1-1m

    UV- Vesculas Unilamelares todos os tamanhos

    SUV Vesculas Unilamelares pequenas 20-100nm

    LUV Vesculas Unilamelar grande > 100nm

    GUV Vesculas Unilamelares gigantes > 1m

    MVV Vesculas Multivesicular > 1m

    Quando so selecionados os lipdios que vo compor uma formulao

    lipossomal, tem-se que considerar questes como temperatura de transio de fases

    (Tc), estabilidade qumica, carga, fonte de lipdios, presena de colesterol na

    composio. Em sistemas compostos de um tipo de lipdio, agregado em bicamadas, a

  • ____________________________________________________________Reviso Bibliogrfica

    35

    temperatura de transio de fase principal corresponde temperatura requerida para

    induzir uma mudana no estado fsico do lipdio agregado de uma fase gel, mais

    ordenada, quando as cadeias hidrocarbnicas encontram-se totalmente estendidas e

    apresentando uma estrutura inclinada, em configurao toda-trans e empacotadas, para

    uma fase lquida cristalina desordenada, na qual as cadeias hidrocarbnicas dos lipdios

    esto menos orientadas e fluidas, em configurao trans-gauche (Fig. 17) (SMALL,

    1986 e NEW, 1990). Na escolha de lipdios para uma formulao lipossomal deve-se

    selecionar aqueles que apresentem altas temperaturas de transio de fase

    (fosfolipdios com cadeias hidrocarbnicas longas), grande estabilidade qumica, ou

    resitncia a oxidao (cadeias acilas saturadas) e presena de colesterol na

    composio lipdica (LASIC, 1993). A presena de ncleos rgidos planares de

    colesterol na bicamada lipdica tem o efeito de mudar a fluidez da bicamada lipdica na

    fase gel, tornando-a mais fluida na referida fase. A mudana na fluidez seguida por

    mudanas na permeabilidade da membrana, diminuda em temperatura maior do que

    Tc, mas aumentada em temperaturas menores que Tc, assim, impedindo o escape dos

    compostos encapsulados (NEW, 1990). A utilizao da combinao fosfolipdios

    neutros e com carga negativa pode favorecer a repulso entre as partculas

    lipossomais, devido carga e formao de partculas com menores tamanhos.

  • ____________________________________________________________Reviso Bibliogrfica

    36

    A

    B

    Figura 17. Transio das fases gel e lquida cristalina da bicamada lipdica de fosfolipdio (A). Diferentes configuraes (trans e gauche) causadas pela rotao de ligao simples C-C das cadeias acila dos fosfolipdios (B) (Adaptado de New, 1990).

    As bicamadas dos lipossomas so qumica e biologicamente compatveis com as

    membranas celulares, o que facilita a entrega de frmacos, aumentando a eficincia

    teraputica. Os lipossomas podem, ainda, ser modificados quimicamente pela insero

    de polmeros como o polietileno glicol 2000 na bicamada, para escapar do

    patrulhamento exercido pelas clulas do sistema imunolgico e aumentar sua interao

  • ____________________________________________________________Reviso Bibliogrfica

    37

    com tecidos doentes, reduzindo seu acmulo nos tecidos sadios.

    Neste trabalho, foram produzidos lipossomas convencionais, definidos como

    aqueles tipicamente compostos de fosfolipdios (neutros e negativamente carregados) e

    colesterol. Os lipossomas convencionais so caracterizados tambm por um tempo

    relativamente curto de circulao no sangue, quando administrados in vivo por via

    parenteral, geralmente intravenosa (STORM e CROMMELIN, 1998). A literatura contm

    muitos exemplos de aplicaes com sucesso de lipossomas convencionais, tendo como

    alvo macrfogos infectados, como na vetorizao de agentes antimicrobianos

    (BAKKER-WOUDENBERG, 1995; RASTOGI e col., 2006) e de imunomoduladores que

    vo aumentar a capacidade dos macrfagos em destruir clulas neoplsicas e

    aumentar a resistncia contra microrganismos infecciosos (DAEMEN, 1992; VASIR e

    col., 2005). Lipossomas convencionais tambm so usados para entrega de antgenos.

    Os lipossomas empregados como vacinas tm sido efetivos em modelos experimentais

    contra vrus, bactrias e parasitas (GREGORIADIS, 1994; ALVING, 1995; TORCHILIN,

    2005).

    3.5.1. Aplicaes de lipossomas em medicina As aplicaes de lipossomas em medicina podem ser divididas em aplicaes

    teraputicas e diagnsticas. Os lipossomas podem veicular frmacos e agentes de

    contraste (marcadores) importantes no diagnstico de vrias patologias. Podem,

    tambm, ser empregados como modelo, ferramenta ou reagente em estudos bsicos

    sobre interaes celulares, processos de reconhecimento e modo de ao de certas

    substncias (LASIC, 1993).

    Devido a sua estrutura de bicamadas, semelhante das membranas celulares,

    os lipossomas so capazes de interagir profundamente com as clulas do organismo.

    Os benefcios e limitaes de lipossomas utilizados como carreadores de frmacos

    dependem da interao dos mesmos com clulas e seu destino in vivo aps a

    administrao. Estudos in vitro e in vivo mostraram que a interao predominante de

  • ____________________________________________________________Reviso Bibliogrfica

    38

    lipossomas com clulas por adsoro simples e subseqente endocitose. A fuso

    com membranas celulares muito mais rara. Outra possvel interao a troca de

    constituintes com os da bicamada, como lipdios, colesterol e molculas ligadas a

    componentes da membrana (Fig. 18) (CHORILLI e col., 2004).

    Figura 18. Possveis mecanismos de interao de lipossomas com clulas(Adaptado de Chorilli e col., 2004).

    O sistema imunolgico humano apresenta um complexo sistema de defesa,

    visando proteo contra agentes potencialmente perigosos que podem trazer riscos

    sade do organismo. Aps a administrao intravenosa de lipossomas convencionais,

    as protenas do plasma conhecidas como opsoninas (imunoglobulinas IgM e IgG,

    relacionadas resposta imune inata do organismo) so rapidamente adsorvidas na

    superfcie das partculas. Esta adsoro leva ao rpido reconhecimento pelas clulas do

    sistema mononuclear fagocitrio (macrfagos, principalmente do bao e clulas de

    Kuppfer, do fgado) e conseqente fagocitose das partculas, especialmente no fgado

  • ____________________________________________________________Reviso Bibliogrfica

    39

    (60 %-90 %), bao (2 %-20 %), medula ssea (0,1 %-1 %) e quantidades variadas nos

    pulmes (GULYAAEV e col., 1998). Em funo disso, foram feitos estudos para reduzir

    a captura das partculas coloidais pelo sistema monuclear fagocitrio, aumentar a

    concentrao desses veculos no sangue e, consequentemente, no tecido ou rgo alvo

    desejado (GUO e THOMAS, 2001; ELLEY, 2001). A resposta do sistema imune tem

    desencadeado esforos no desenvolvimento de superfcies biocompatveis e no

    reconhecveis pelo sistema de defesa humano. Desta forma, tem-se estreitado o

    espectro de aplicaes de micro e nanopartculas empregadas como carreadores de

    frmacos e, em alguns casos, almejando ter como alvo as referidas clulas do sistema

    imunolgico.

    Os lipossomas como sistemas carreadores de frmacos, podem oferecer vrias

    vantagens sobre as formas farmacuticas convencionais, especialmente em relao

    parenteral (injeo local, sistmica ou infuso), tpica e pulmonar. Entre elas, pode-se

    citar (LASIC, 1993):

    - melhora na solubilidade de frmacos lipo e anfiflicos e aumento da solubilidade de

    compostos hidroflicos;

    - direcionamento passivo de compostos para clulas do sistema imune, especialmente

    para as do sistema mononuclear fagocitrio;

    - liberao sustentada de frmacos veiculados em lipossomas, administrados local ou

    sistemicamente;

    - mecanismo de fuga de stios: os lipossomas geralmente no se dirigem a rgos,

    como corao, rins, crebro e sistema nervoso, reduzindo a toxicidade de cert