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Artigo para corumbá

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Comunicação OralGT: Formação continuada de professores

PROJETO SALA DE PROFESSOR: UMA PROPOSTA DE FORMAÇÃO CONTINUADA EM SERVIÇO

Cristiana de Campos Silva1

Rinalda Bezerra Carlos2

Resumo

A presente pesquisa tem como objetivo analisar como se dá a formação continuada no Projeto Sala de Professor desenvolvido pela Secretaria de Educação e Cultura do Estado de Mato Grosso –SEDUC/MT, juntamente com o Centro de Formação e Atualização dos Professores – CEFAPRO na cidade de Cáceres. Esse modelo de formação parte do princípio de que a formação realizada no local onde o professor desenvolve seu trabalho docente é mais significativo, visto que tal processo de reflexão permite desvelar os problemas que estes vivenciam no cotidiano, sobretudo, considerando-se os saberes que o professor adquire no exercício da profissão. Orientada pela perspectiva qualitativa, utilizando a observação participante, a análise de documentos e a entrevista semi-estruturada, esta pesquisa toma como referência os estudos realizados por Tardif (2006), Gauthier (2006), Marcelo Garcia (2009), Gatti (2009) e Nóvoa (2009). Os resultados preliminares da análise dos documentos revelam a busca pela mudança na prática pedagógica de ensino, como sendo um dos efeitos mais perseguido pelo projeto, acrescido da necessidade de uma proposta mais sistematizada de participação dos professores.

Palavras Chave – Formação continuada, Formação centrada na escola, Sala de Professor

Introdução

Em geral, a formação continuada compreende aquela que ocorre após a formação

inicial, a partir do ingresso do profissional na carreira docente. Quase sempre ela aparece com

o propósito de realizar programas de formação de professores com o formato de cursos,

seminários, encontros e conferências, sendo oferecidas por diferentes convênios, secretarias

municipais e estaduais de educação, universidades públicas e privadas. Um breve histórico

das práticas de formação continuada de professores dão conta que ela está associada a várias

terminologias: treinamento, capacitação, reciclagem, compensação, aperfeiçoamento

profissional e outras.

1 Acadêmica do Curso de Licenciatura Plena em Pedagogia na UNEMAT – Universidade do Estado de Mato Grosso /Campus “Jane Vanine”2 Doutoranda em Educação: Psicologia da Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e professora do Departamento de Pedagogia na UNEMAT

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Acerca do assunto Gatti (2009, p. 200) comenta que o motivo para a busca da

formação continuada como recurso para aprimoramento do profissional tem ocorrido por

causa dos crescentes problemas nos cursos de formação inicial de professores. Ou seja,

quando isso acontece, a formação continuada aparece como uma perspectiva compensatória

com fim apenas de preencher brechas da formação inicial.

De acordo com Candau (1996), a formação continuada dos docentes tem acontecido

em duas perspectivas: a clássica e a contemporânea (p.52). A primeira caracterizada pelos

tradicionais treinamentos e cursos isolados que desconsideram as necessidades e as

experiências docentes; a segunda, aquela que pode contribuir para o desenvolvimento pessoal

e profissional do docente de modo que atenda também as necessidades institucionais. A

perspectiva contemporânea da formação continuada está associada às transformações das

práticas escolares com reflexos na formação do cidadão crítico e consciente de seu papel na

sociedade.

Para alguns teóricos, a formação continuada aparece com a finalidade de que os

profissionais docentes estejam inteirados das discussões teóricas atuais e também de propor

novos conhecimentos que contribuam para mudanças e melhoria na ação pedagógica.

Nesta pesquisa, tomamos como objeto de estudo a formação continuada em serviço a

partir do Projeto denominado Sala de Professor implantado pela Secretaria de Estado de

Educação em Mato Grosso nas escolas da rede estadual, tendo como objetivo analisar como

se dá a formação continuada centrada na escola. Para a coleta de dados foi realizada análise

dos documentos oficiais do SEDUC-MT, tendo como eixos os fundamentos teóricos

metodológicos que orientam o Projeto Sala de Professor, o papel do CEFAPRO, da escola e

do professor. Para o seu desenvolvimento fez-se necessário recorrer a um aprofundamento de

conhecimentos, estudando autores como: Tardif (2006), Gauthier (2006), Marcelo Garcia

(2009), Gatti (2009), Nóvoa (2009) e outros.

Apresentamos nesse trabalho, dados preliminares a partir de reflexões e análises de

documentos que abordam o tema em questão.

Fundamentos teóricos que norteiam a compreensão da configuração da formação

continuada em serviço

O novo modelo de formação continuada tem como fundamento o artigo 67, inciso II,

da Lei de Diretrizes e Bases (LDB), Lei nº 9.394/96, que reza que “os sistemas de ensino

promoverão a valorização dos profissionais da educação, assegurando-lhes [...] período

reservado a estudos, planejamento e avaliação incluída na carga de trabalho.”

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A formação em serviço surge como uma opção de formação continuada para atender

a real necessidade do professor e tem como designo criar a autonomia do professor no

desempenho da sua função, sobretudo proporcionar possibilidades para que ele possa criar

uma identidade profissional. Em geral, nesse modelo de formação, tende-se a buscar temas

significativos propostos pelos próprios professores e acontece dentro do ambiente de trabalho.

Isso sem falar que ela acontecerá em horários adequados para os professores e com

profissionais que conhecem a realidade dos locais onde essa formação se dará, possibilitando

a participação efetiva de todo professorado da unidade escolar.

Tal tendência coloca para a escola um enorme desafio que engloba a formação de

seus profissionais com vistas não apenas para o seu desenvolvimento pessoal e profissional,

mas também do desenvolvimento da escola enquanto organização, em busca de um trabalho

condizente com as exigências da atualidade.

Para Marcelo Garcia (1999, p. 76) a formação aos poucos vem sendo compreendida

“como um processo que ocorre não de forma isolada, mas dentro de um espaço intersubjetivo

e social.” Esse não isolamento cria os grupos de estudo chamados “comunidades de

aprendizagem”. Nos encontros desses grupos são realizadas troca de experiências, reflexões

sobre o trabalho e a discussão sobre o fazer docente.

Nóvoa (2010) comenta que a aprendizagem contínua do docente está sustentada em

dois pilares essenciais: o professor como agente e a escola como lugar de crescimento

profissional permanente. Para o autor, a preocupação com a pessoa do professor está

centralizada na reflexão educacional e pedagógica. Nóvoa (2010) argumenta que “a formação

depende do trabalho de cada um, [...] que mais importante do que formar é formar-se, [...]

todo o conhecimento é autoconhecimento, [...] toda a formação é autoformação” (p.12-14).

No tocante à escola, Nóvoa (2010) considera que o contexto onde o professor

desempenha sua atividade, influencia grandemente no desenvolvimento profissional do

docente. Para o autor, a formação de fato acontece no espaço concreto de cada escola,

vivenciando os reais problemas pedagógicos e educativos.

Na mesma direção, é importante que se tenha ciência de que a formação no espaço

escolar envolve algumas posturas a serem seguidas, como por exemplo: primeiro a escola

deve fazer uma autoavaliação, que constitui o diagnóstico da escola. A partir disso, vai pensar

o Projeto Político Pedagógico e o Plano de Desenvolvimento da Educação, e somente depois,

poderá começar a pensar no projeto de formação. Isso porque a formação continuada na

escola está atrelada ao PPP e ao currículo.

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Para Nóvoa (2009, p.41), o conceito da escola como o lugar da formação dos

professores e como o espaço de autoavaliação compartilhada das práticas, posto como método

rotineiro de acompanhamento, de gerenciamento e de reflexão sobre o trabalho docente, tem

como objetivo transformar a experiência coletiva em conhecimento profissional, aliando a

formação de professores ao desenvolvimento de projetos educativos nas escolas. Isso significa

que o projeto de formação junto ao PPP, possibilita a articulação das complexidades e

necessidades existentes na escola, com os conhecimentos dos profissionais em relação a sua

carreira, as suas experiências profissionais e a sua vida.

Compreendendo o objeto de pesquisa

O Projeto de formação continuada Sala de Professor foi implantado nas escolas das

redes estaduais no Estado de Mato Grosso no final de 2003, pela SEDUC - Secretaria de

Estado de Educação e a SUFP - Superintendência de Formação dos Profissionais da

Educação. Na ocasião havia a necessidade de se pensar em um projeto de formação que

viesse substituir os programas que até então eram oferecidos pelo MEC. Assim, surgiu a

proposta de criar uma formação no próprio estado focando a escola, e que fosse uma

formação da escola para a escola.

O Sala de Professor tem em sua configuração a intenção de estabelecer uma

articulação entre a formação continuada e o Projeto Político Pedagógico, no qual devem estar

explícitos os principais problemas da escola, as propostas de soluções e as definições de

responsabilidade para superação dos problemas. Assim, um funciona como estímulo para o

outro se complementando e se transformando, caracterizando a escola como um lócus

privilegiado de formação e desenvolvimento do coletivo e da escola

Resultados e discussões

Ao analisarmos os documentos oficiais da SEDUC, constatamos que o Projeto de

formação continuada Sala de Professor propõe que os encontros de formação em lócus

tenham como princípio fortalecer a escola como um ambiente de aprendizagem e que

possibilitem ao professor a prática contínua de gerir sua formação de forma individual e

coletiva.

Assim, a Sala de Professor anuncia como protagonistas, os profissionais docentes,

não docentes e gestores da unidade escolar, cujo desafio da formação continuada passa a ser

constituir a cultura do estudo em grupo, com ênfase no comprometimento e participação do

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coletivo da escola na elaboração de projetos centralizados à vida escolar e aos problemas que

nela se apresentam, a fim de que os professores desenvolvam as suas potencialidades.

Também revela a preocupação em fazer com que o professor perceba a escola como

espaço de aprendizagem docente, onde as atividades de estudo, os cursos, projetos e

programas de iniciativa da escola possam ser desenvolvidas no mesmo local onde exerce suas

atividades pedagógicas.

De acordo com os documentos analisados percebemos que dentre as exigências da

SEDUC, está o fato de que a definição dos conteúdos a serem estudados devem vincularem-se

ao Projeto Político Pedagógico da escola e ao Plano de Desenvolvimento da Educação.

Também precisa contemplar dois eixos essências: a aprendizagem – melhoria do desempenho

dos alunos e o ensino – melhoria da prática pedagógica. Assim sendo, para elaboração das

propostas de trabalho, deve ser feito um diagnóstico das necessidades da escola, incluindo o

plano de formação continuada dos profissionais da Educação.

Um dos documentos que abordam o projeto Sala de Professor, denominado Parecer

Orientativo nº 01/2010 da SEDUC/SUFP, reza que: para que ocorra a implantação e

implementação do projeto na escola, faz-se necessário orientação durante a elaboração dos

projetos, a aprovação para execução dos mesmos e o acompanhamento para a efetivação do

projeto nas unidades escolares. Para isso a SEDUC conta com a equipe de formadores dos

CEFAPROs, que em forma de orientações, assessoramento, sugestão de temáticas, textos,

vídeos, etc. acompanham o desenrolar dos Projetos Sala de Professor nas escolas.

O processo de elaboração da Sala de Professor nas escolas deve acontecer na Semana

Pedagógica que acontece no início do ano. Os gestores da escola discriminam as temáticas

que serão abordadas, a carga horária, os mediadores, os dias de encontros e horários. A partir

de então, encaminham o Projeto Sala de Professor ao CEFAPRO, com o cronograma de

execução no período de março a outubro. Após deferimento, cada escola recebe o Parecer de

Aprovação do projeto para dar início às atividades.

A carga horária mínima de estudos deve ser de 80 horas no ano letivo, podendo ser

distribuída em 40 horas no primeiro semestre e 40 horas no segundo semestre. Na ocasião, os

profissionais que se reunirem participarão de discussões, apreciação de seminários temáticos,

filme, vídeo, painéis, quadros-murais, oficinas e mostras de produções dos professores e

alunos, com foco na melhoria do processo de ensino e aprendizagem.

A formação deve acontecer em regime presencial nos encontros de estudos coletivos

dos profissionais docentes e não docentes da instituição, onde serão acompanhados e

orientados pela coordenação pedagógica. Quando necessário, o grupo pode ser dividido para

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estudos específicos como: Ciclos, Área de Conhecimento, Disciplina e Modalidade. Todos os

participantes que freqüentarem os grupos de estudos receberão um certificado de participação,

sendo que apenas os que obtiverem no mínimo 75% de freqüência terão direito ao certificado

do Projeto Sala de Professor. Os demais receberão certificados referentes à formação

continuada.

Os Resultados ainda preliminares apontam que a proposta de formação continuada

em serviço implantada nas escolas da rede estadual de Mato Grosso visa atender a demanda

da atual realidade educacional, com vistas para o fortalecimento da escola como ambiente de

aprendizagem, de modo que no espaço concreto de sua prática, o profissional docente tenha

condição de gerir a sua formação, tanto individual como coletiva. Entretanto, entendemos que

alguns pontos do projeto não estão muito claros e por causa disso merecem maior atenção e

pesquisas mais aprofundadas.

Referências:

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional- nº 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996. Disponível em: <http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm>. Acesso em: 13 jan. 2011.

CANDAU, Vera M. F. A formação continuada de professores: tendências atuais. In: REALI, Aline M. de M. R.; MIZUKAMI, Maria da Graça N. (Orgs.). Formação de professores: tendências atuais. São Carlos: EDUFSCAR, 1996.

GATTI, Bernadete A e BARRETO, Elba S. Sá. Professores do Brasil: impasses e desafios. Brasília: UNESCO, 2009.

GAUTHIER, Clermont (et. al), Tradução Francisco Pereira. Por uma teoria da pedagogia: pesquisas e contemporâneas sobre o saber docente. 2. ed. Coleção Fronteira da Educação. Ijui: Ed. UNIJUÍ, 2006.

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NÓVOA. Antônio. Professor se forma na escola. In: Revista Nova Escola. ed. 142, p. 12-14 (mai – 2001). Disponível em http://revistaescola.abril.com.br/formacao/formacao-continuada/professor-se-forma-escola-423256.shtml, acesso: 29 Jul. 2010.

__________. Professores imagem do futuro presente. Lisboa: Educa, 2009.TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. 6. ed. Petrópolis/RJ: Vozes, 2006.