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Argumentum, Vitria (ES), v. 6, n.2, p. 201-217, jul./dez. 2014.
Poltica pblica, juventude e sustentabilidade
Public Policy, Youth and Sustainability
Cristiane Bonfim FERNANDEZ1
Dbora Cristina Bandeira RODRIGUES2
Masa Bruna de Almeida NUNES3
Maria Alcione Pereira TELES4
Resumo: A questo ambiental e a discusso em torno da sustentabilidade tm ocupado espao importante
na agenda dos meios de comunicao, da sociedade civil e do governo, o que requer de diferentes estudiosos
uma anlise. Nesse sentido, este artigo desenvolve uma reflexo sobre a relao entre juventude, poltica
pblica para jovens e sustentabilidade. Trata-se de uma pesquisa bibliogrfica que recorreu literatura sobre
o tema, principalmente, a Poltica Nacional da Juventude. Este estudo revelou os avanos das polticas p-
blicas de juventude, particularmente, a criao de Coletivos Jovens de Meio Ambiente (CJs) e da Rede da
Juventude pelo Meio Ambiente e Sustentabilidade (REJUMA) Constatou-se, ainda, que a discusso da sus-
tentabilidade est presente, principalmente, quando aponta o eixo qualidade de vida na Poltica de Juventu-
de e h uma orientao visando preservao do meio ambiente para as geraes futuras.
Palavras-chave: Poltica Pblica, Juventude, Sustentabilidade.
Abstract: Environmental issues and the discussion around sustainability have occupied important place on the agenda of the media, civil society and government, which requires an analysis of different scholars.
Thus, this paper develops a reflection on the relationship between youth, public policy for young and sus-
tainability. This is a literature search that turned to literature on the subject, especially the National Youth
Policy. This study revealed the progress of youth policies, particularly the creation of young people's Envi-
ronment (CJs) and the Youth Network for the Environment and Sustainability (REJUMA) It was also the
discussion of sustainability is present mainly when you point the axis quality of life in Youth Policy and
there is an orientation aimed at preserving the environment for future generations.
Keywords: Public Policy, Youth, Sustainability.
Submetido em: 01/07/2014. Revisado em: 10/11/2014. Aceito em: 22/11/2014.
1 Assistente Social. Doutorado em Poltica Social pela Universidade de Braslia (UnB, Brasil). Professora ad-
junta da Universidade Federal do Amazonas (UFAM, Brasil). E-mail: . 2 Assistente Social. Doutorado em Biotecnologia pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM, Brasil).
Professora adjunta da Universidade Federal do Amazonas (UFAM, Brasil). E-mail: . 3 Assistente Social. Mestranda no Programa de Ps-graduao em Servio Social e Sustentabilidade na Ama-
znia da Universidade Federal do Amazonas (UFAM, Brasil). E-mail: . 4 Assistente Social. Mestranda no Programa de Ps-graduao em Servio Social e Sustentabilidade na Ama-
znia da Universidade Federal do Amazonas (UFAM, Brasil). E-mail: < [email protected]>.
ARTIGO
Cristiane Bonfim FERNANDEZ
202
Argumentum, Vitria (ES), v. 6, n.2, p. 201-217, jul./dez. 2014.
Introduo
questo ambiental tem ocupado
um espao importante na agenda
da sociedade em todo o mundo,
principalmente na contempora-
neidade. Do ponto de vista do
discurso, todos reconhecem a impor-
tncia de um ambiente sustentvel em
que recursos naturais no sejam utiliza-
dos indiscriminadamente, pois precisam
ser conservados; disso depende a quali-
dade de vida das pessoas e a prpria so-
brevivncia das prximas geraes. No
entanto, persiste a explorao do uso de
recursos da natureza de forma irracional
e exaustiva, sobretudo, pelas sociedades
ocidentais capitalistas. Considerando que
todos so responsveis pela conservao
do ambiente em que vivemos, algumas
questes foram levantadas. Qual a parti-
cipao dos jovens no debate socioambi-
ental? Que relao existe entre este debate
e as polticas pblicas direcionadas ju-
ventude?
partindo destas inquietaes que este
artigo desenvolve uma discusso sobre
juventude e meio ambiente no contexto
das polticas pblicas direcionadas a esse
segmento da populao. Considera-se
que os jovens so objetos de polticas p-
blicas e tambm participantes respons-
veis por uma sociedade (in)sustentvel.
Para tanto, so considerados discursos e
conceitos presentes, principalmente, na
Poltica Nacional da Juventude (PNJ), e no
Estatuto da Juventude que sinalizam a rela-
o entre debate socioambiental e polti-
cas pblicas direcionadas aos jovens. Tra-
ta-se, portanto, de uma pesquisa biblio-
grfica. Sendo assim, discutem-se concei-
tos como meio ambiente e sustentabilida-
de em sua interface com o debate sobre
juventude, na mediao de polticas e
programas voltados para os jovens. Pri-
meiramente apresentado um debate
sobre juventude na sociedade contempo-
rnea, focando as polticas e aes direci-
onadas aos jovens e, num segundo mo-
mento, contempla-se a discusso sobre
sustentabilidade e juventude, conside-
rando os documentos supracitados.
Juventude e polticas pblicas: o jeito
jovem da juventude
Ser jovem vivenciar uma fase especial
da vida, repleta de fora, vigor e sonhos.
Para alguns, quando se comea a viver,
a ter conscincia da vida, tomar decises
e assumir responsabilidades. Quando
jovem, o ser humano faz planos referen-
tes vida familiar, educao e profis-
so. Sendo assim, uma das compreenses
da condio juvenil esta, de um ciclo da
vida, em que se adentra na vida adulta,
pois no se mais criana, o prprio cor-
po sinaliza as mudanas biolgicas,
acompanhadas das sociais, psicolgicas e
culturais. A condio juvenil transitria,
h uma expectativa de emancipao que
acompanha esta fase visando superao
da dependncia dos pais ou responsveis
e autonomia da condio adulta.
A juventude vivenciada de forma hete-
rognea nas sociedades. Ou seja, os jo-
vens percorrem trajetrias diferentes e
so condicionados pela realidade em que
esto inseridos. Para alguns, a autonomia,
a emancipao da condio adulta, adi-
antada, para outros, estende-se mais o
tempo da juventude e da dependncia
A
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dos pais ou responsveis. H jovens obri-
gados a deixar sua adolescncia e juven-
tude, ainda precocemente, devido s con-
dies de vida em que se encontra sua
famlia. Muitas vezes, necessrio contri-
buir para o sustento financeiro e familiar.
Neste caso, a classe social afeta direta-
mente a vida escolar e de trabalho do jo-
vem.
Quando falamos em juventude, no h
consenso. possvel ter compreenses
mltiplas conforme a lente utilizada pelos
atores sociais, portanto, ser jovem signifi-
ca receber todas as inflexes da socieda-
de. Noutras palavras, juventude deve ser
compreendida considerando o contexto
sociopoltico e cultural em que se inserem
os jovens. A juventude tem significados
distintos para pessoas de diferentes estra-
tos socioeconmicos, e vivida de manei-
ra heterognea, segundo contexto e cir-
cunstncias. Esse um dos embasamen-
tos para a utilizao do termo juventudes
no plural (UNESCO, 2004, p. 25).
Um dos parmetros usados para definir
juventude refere-se questo cronolgi-
ca. Logo, faz-se um contraponto com ou-
tros ciclos da vida - infncia, vida adulta,
velhice e suas respectivas faixas etrias.
Assim, firmado um marco para incio
da juventude e consequente sada da in-
fncia. Do ponto de vista demogrfico
uma pessoa jovem corresponde a certa
faixa etria que varia segundo as particu-
laridades dos contextos, mas est geral-
mente localizada entre os 15 e os 24 anos
de idade. As fronteiras no so rgidas,
em alguns casos, podem ter incio aos 10
anos de idade - o caso de reas rurais ou
de extrema pobreza, em outros, pode-se
estender at os 29 anos de idade - estratos
sociais mdios e altos urbanizados.
(UNESCO, 2004).
Juventude, segundo a Poltica Nacional
da Juventude, considerada como uma
condio social, parametrizada por uma faixa
etria, que no Brasil congrega cidados e ci-
dads com idade compreendida entre os 15 e
os 29 anos de idade. Definies como esta
so usadas para promover direitos espec-
ficos ou definir o pblico-alvo de seus
programas, considerando, sobretudo, as
expresses e as peculiaridades histricas
e culturais de cada pas. Se entendemos
que jovens so cidados, devemos consi-
der-los como sujeitos de direitos coleti-
vos, com autonomia, vivncias e identi-
dades que devem ser respeitadas e valo-
rizadas.
Alguns estudiosos trabalham os conceitos
de adolescncia e juventude juntos, con-
siderando a linha tnue que separa estes
ciclos da vida. O adolescente jovem,
ento, a adolescncia faz parte da juven-
tude, mas, o jovem no adolescente. No
Brasil, segundo o Estatuto da Criana e
do Adolescente (ECA), considera-se ado-
lescente a pessoa na faixa etria entre 12 e
18 anos de idade incompletos, a quem
no se imputa a mesma responsabilidade,
direitos e deveres de um jovem acima de
18 anos. Durante muito tempo at incio
dos anos 2000 o termo jovem estava as-
sociado criana e adolescente, no havia
especificamente, a categoria juventude.
Ao sair da adolescncia, entrava-se na
fase adulta, com todos os direitos e deve-
res inerentes a ela. Isso aponta diferenas
e semelhanas na definio de juventude.
Recentemente, em 2013, foi aprovado o
Cristiane Bonfim FERNANDEZ
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Estatuto da Juventude, que considera jo-
vem a pessoa entre 15 e 29 anos de idade,
ratificando assim, a PNJ.
Se, por um lado, ser jovem est condicio-
nado a uma determinada faixa etria, por
outro, no est restrito mesma. Ser jo-
vem uma construo social que est re-
lacionada ao modo como a sociedade v o
jovem e ao modo como ele prprio se v.
uma categoria plural, como j mencio-
nado, no h consenso quando discutida,
pois h diferentes conceitos e significa-
dos. A juventude s pode ser compreen-
dida como uma construo histrica e
cultural inserida numa sociedade mais
ampla. Quando se fala no Brasil, pode-
mos destacar, sobretudo, diferenas soci-
ais e regionais que afetam diretamente a
trajetria de vida dos jovens. distinta a
vivncia e o jeito de ser do jovem, segun-
do o gnero, classe social, raa, religio,
entre outros. Numa sociedade em que
ainda h traos de dominao masculina,
ser jovem branco, homem e rico mais
vantajoso do que ser jovem negro, mulher
e pobre. No entanto, deve se considerar
tambm caractersticas comuns que os
aproximam, pois ser jovem , ao mesmo
tempo, algo singular e plural. Singular,
aquilo que a caracteriza, isto , a peculia-
ridade de ser jovem em qualquer lugar, o
que une; no plural, pois preciso apreen-
der, tambm, o que separa as diferentes
juventudes, seja negra, branca, religiosa,
militante, feminina, urbana, rural, pobre,
rica, desempregada, trabalhadora, intelec-
tual. Pode-se dizer: so todos iguais e
so todos diferentes.
Segundo Carmo (2001), definir jovem
difcil, e ao subdividir a juventude em
diversos segmentos, corre-se o risco de
cair numa pulverizao infinita de gru-
pos. Ainda assim, um risco necessrio
se quisermos compreender a complexi-
dade e particularidades da vida jovem. A
complexidade se refere s mltiplas faces
que envolvem a vida do jovem: a econ-
mica, cultural, poltica, social e tica. Os
jovens sofrem os impactos do capitalis-
mo, do processo de globalizao, da ex-
cluso social, da intensificao das desi-
gualdades sociais. A juventude marcada
pelas diferenas de classes. O jovem po-
bre, negro, morador de favela, trabalha-
dor, com baixo nvel de escolaridade tem
um status diferenciado de um jovem
branco, morador de condomnio de classe
mdia, com nvel superior, que apenas
estuda. Outro aspecto importante refere-
se cultura de consumo da sociedade
capitalista que impe valores, padres e
estilo de comportamentos massificados a
serem seguidos. Assim, muitos jovens so
impelidos a se inclurem socialmente por
meio do consumo, e quando isso no
ocorre, muitas vezes, so estigmatizados
ou discriminados.
Alm destas mltiplas faces, h outras
formas de olhar o Jovem. H certas ima-
gens associadas a ele. Muitos associam
jovens a problemas, a algum que se mete
em encrencas, inexperiente, rebelde,
sem juzo. H uma construo social ne-
gativa em torno da juventude, ou seja,
relacionada violncia, criminalidade,
desorganizao social. Nesta perspectiva,
jovens so vistos socialmente como gera-
dores de problemas. Segundo Esteves e
Abromovay (2007, p. 29), so Jovens Im-
putados de culpa. A juventude constan-
temente associada ameaa social, cri-
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minalidade, delinquncia, como se o ser
jovem implicasse, de forma potencializa-
da e direta, no desvio e na transgresso
criminal, cujos desdobramentos seriam
capazes de colocar em risco tanto a sua
integridade fsica e moral quanto de
toda a sociedade.
Assim sendo, o modo como a sociedade e
o governo concebem o jovem, de uma
forma ou de outra, est relacionada s
respostas dadas aos inmeros problemas
vivenciados pela juventude. Portanto,
necessrio construir polticas pblicas
direcionadas juventude na contempo-
raneidade considerando seus distintos
perfis e suas peculiaridades.
Polticas Pblicas de Juventude
Polticas Pblicas de juventude esto re-
lacionadas ao prprio reconhecimento da
juventude enquanto uma categoria espe-
cifica, pois, durante muito tempo, como j
citado, juventude no Brasil esteve associ-
ada infncia. Do ponto de vista interna-
cional, segundo Leon (2009), somente en-
tre 1985 e 1995, quando a Organizao
das Naes Unidas (ONU) constatou a
condio de vida da juventude mundial,
sobretudo, dos pases da Amrica Latina,
que se encontravam em situao de vul-
nerabilidade social, que surgiram as
discusses sobre juventude, associadas s
mobilizaes de organizaes da socie-
dade civil que chamavam a ateno dos
governantes para as questes que as afe-
tavam e da necessidade de respostas dife-
renciadas.
As primeiras aes voltadas juventude
no Brasil tiveram incio nas ltimas dca-
das do sculo XX, a partir do reconheci-
mento do jovem como ator importante no
cenrio socioeconmico, poltico e cultu-
ral, digno de receber ateno do Estado e
da sociedade civil. Todavia, tais aes
foram norteadas pela viso estigmatizada
do jovem como delinquente, causador de
problemas para sociedade, que participa-
va dos movimentos de contestao e se
envolvia com situaes de violncia, por
este motivo precisava ser contido e inse-
rido na sociedade de acordo com os pa-
dres pr-estabelecidos pelos adultos
(BANGO, 2008).
Na dcada de 1990, comea a generalizar-
se um modelo de polticas juvenis, cuja
preocupao maior a incorporao dos
jovens excludos no mercado de trabalho.
Sobretudo, no final dos anos dessa dca-
da, ocorre uma preocupao mais siste-
mtica com a elaborao de algumas
aes especficas para a juventude. Como
afirma Sposito (2003):
Observa-se, nesse perodo, no plano lo-
cal e regional, o aparecimento de orga-
nismos pblicos destinados a articular
aes no mbito do poder executivo e
estabelecer parcerias com a sociedade
civil tendo em vista a implantao de
projetos ou programas, alguns financi-
ados pela esfera federal, para jovens.
Esse fato bastante recente e decorre
sobretudo de compromissos eleitorais
de partidos [...] que por meio de pres-
ses de sua militncia juvenil ou de se-
tores organizados do movimento estu-
dantil, incluram na sua plataforma po-
ltica as demandas que aspiravam pela
ao de formulaes especficas desti-
nadas aos jovens (SPOSITO, 2003, p.
68).
Cristiane Bonfim FERNANDEZ
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Neste sentido, a juventude passa a fazer
parte da agenda poltica do Estado. Como
afirma Bango (2008), esta presena da
questo juvenil na agenda pblica est
relacionada visibilidade que os jovens
ganharam nos processos de democratiza-
o que ocorreram na Amrica Latina no
final dos anos de 1980. No entanto, so-
mente na dcada de 1990 e nos anos 2000,
que se direcionam polticas e programas
para a juventude. Segundo Sposito e Car-
rano (2003), at o segundo mandato do
governo Fernando Henrique Cardoso
(1999-2002) no se pode falar em polticas
estratgicas orientadas para os jovens
brasileiros, e sim, em propostas realiza-
das com base na preveno, controle ou
efeito compensatrio que abrangem a
juventude, como apontado a seguir.
Quadro 1 - Programas/aes do governo federal aos jovens
Perodo Programa Pblico-Alvo Ministrio
1995-1998
FHC 1
mandato
Jogos da Juventude Jovens Esporte
Esporte Solidrio Crianas e Adolescentes Esporte
Programa Nacional de Educao na
Reforma Agrria PRONERA
Jovens e Adultos Desenvolvimento
Agrrio
Plano Nacional de Formao Profissi-
onal PLANFOR
Trabalhadores em situao de
vulnerabilidade no mercado
de trabalho
Trabalho e Emprego
MTE
Capacitao Solidria Jovens entre 16 e 21 anos Presidncia da Rep-
blica - PR
Alfabetizao Solidria Prioritariamente pessoas de
12-18 anos
Presidncia da Rep-
blica - PR
1999-2002
FHC 2
mandato
Projeto Escola Jovem Jovens e jovens adultos Educao MEC
Programa de Estudante em Convnio
de Graduao
Cidado estrangeiro entre 18-
25 anos
Educao -MEC
Olimpadas Colegiais Adolescente-jovens de 12-17
anos
Esporte e Turismo
Projeto Navegar Adolescente de 12-15 anos Esporte e Turismo
Servio Civil Voluntrio Jovens de 18 anos Justia
Programa de Reinsero do adoles-
cente em conflito com a Lei
Adolescentes em conflito com
a Lei
Justia
Promoo de Direitos de Mulheres
Jovens Vulnerveis ao abuso sexual e
explorao sexual comercial no
Brasil
Jovens brasileiras violentadas
sexualmente nos primeiros
anos de vida
Justia
Programa de sade do adolescente e
do jovem
Indivduos de 10 a 24 anos Sade
Jovem empreendedor Jovens em fase de concluso
de curso ou recm-formado
entre 18 e 29 anos
Trabalho e Emprego
Programa Brasil Jovem Jovens entre 14 e 25 anos em
condies de vulnerabilidade
social
Assistncia e Previ-
dncia Social
Agente Jovem Alfabetizados e carentes Assistncia e Previ-
dncia Social
Capacitao Jovem Jovens entre 16 e 21 anos de Assistncia e Previ-
Poltica pblica, juventude e sustentabilidade
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dncia Social
Prmio Jovem Cientista do Futuro Alunos do ensino mdio Cincia e Tecnologia
Projeto Rede Jovem Jovens de baixa renda Cincia e Tecnologia
Brasil em Ao/Grupo Juventude Jovens entre 15 e 29 anos Planejamento, Ora-
mento e Gesto
Fonte: Elaborado pelas autoras a partir de Sposito e Carrano (2003).
Segundo Sposito e Carrano (2003), as
aes direcionadas aos jovens, no segun-
do governo de FHC, representaram uma
exploso da temtica juventude e adoles-
cncia. No entanto, no constituram uma
totalidade orgnica em relao focaliza-
o no segmento jovem, apresentavam
um quadro de fragmentao setorial e
pouca consistncia conceitual. Era ainda
inexistente uma coordenao do governo
federal com capacidade de concentrar e
publicar informaes sobre polticas de
juventude.
No governo Lula, ocorre a institucionali-
dade das polticas pblicas de juventude
por meio da criao da Secretaria Nacio-
nal da Juventude (SNJ) em 2005, que se
torna responsvel por desenhar, executar,
coordenar e avaliar as polticas pblicas
para os jovens. Na leitura de Furiati
(2010):
Com a criao da Secretaria Nacional
da Juventude (SNJ) e do Conselho Na-
cional da Juventude em 2005, o governo
Lula toma para si o papel de agente
central na Poltica da Juventude, dei-
xando de atuar como legitimador de
acordos em Rede Poltica. [...] O Estado
passou, portanto, a coordenar as polti-
cas de juventude, produzir discursos e
conhecimento, bem como assumiu a
identidade Sujeito de Direito para a ju-
ventude brasileira, alinhando a ao do
executivo (SNJ e Conjuve) com o traba-
lho que j vinha se realizando no Legis-
lativo em prol da aprovao da PEC da
Juventude (FURIATI, 2010, p. 200).
Confirma-se, assim, a primazia que o go-
verno Lula deu juventude, modificando
o olhar sobre a mesma, principalmente,
por meio de polticas e programas volta-
dos para este segmento. Neste sentido,
apontamos algumas aes desenvolvidas
a partir dos governo Lula e Dilma que
apontam a prioridade, o espao e con-
quistas da juventude no incio do sculo
XXI.
Quadro 2 - Marcos histricos de polticas de juventude: no governo Lula e Dilma (2003 2013)
ANO MARCOS HISTRICOS
2003
Criao da Comisso Especial de Polticas Pblicas de Juventude na Cmara Federal
Projeto Juventude
Conferncia Nacional Infanto-Juvenil pelo Meio Ambiente
Encontro da Juventude pelo Meio Ambiente
Criao dos Coletivos Jovens de Meio Ambiente CJs
Rede da Juventude pelo Meio Ambiente REJUMA
2004
Publicao do Mapa da Violncia IV: os Jovens do Brasil e do Relatrio do Desenvol-
vimento Juvenil 2003
Criao das Comisses de Meio Ambiente e Qualidade de Vida (Com-vidas)
GT Interministerial da Juventude
Cristiane Bonfim FERNANDEZ
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2005
Poltica Nacional da Juventude
Secretaria Nacional da Juventude SNJ
Conselho Nacional da Juventude Conjuve
Programa Nacional de Incluso de Jovens Projovem
Relatrio de Pesquisa Perfis dos Conselhos Jovens de Meio Ambiente
2007 Lanamento do Projovem Integrado
Programa Juventude e Meio Ambiente
2008 1 Conferncia Nacional de Juventude
1 Pacto pela Juventude
2010 Aprovao da Emenda Constitucional 65- PEC da Juventude
2 Pacto pela Juventude
2011 Aprovao do Estatuto da Juventude pela Cmara Federal
2 Conferncia Nacional da Juventude
2012 Grupo de Trabalho Interministerial (GTI) de Juventude e Meio Ambiente
2013 Sancionado o Estatuto da Juventude Lei 12852/2013
Fonte: Elaborao das Autoras (2013).
Constata-se partir do governo Lula, uma
nova tica do Estado em relao juven-
tude. Um dos avanos que merece desta-
que a criao do Conselho Nacional da
Juventude, cuja composio assegura a
participao da sociedade civil e do go-
verno na formulao de polticas pbli-
cas. Busca-se, ento, garantir uma poltica
de juventude orientada por um modelo
democrtico e participativo que considera
os jovens como sujeitos de direitos, tam-
bm responsveis no processo de mudan-
as sociais, vivenciados no Brasil, princi-
palmente a partir da Constituio de
1988. Alm disso, quando se discute ju-
ventude, dialoga-se com outros minist-
rios na tentativa de articular polticas pa-
ra os jovens. Neste cenrio de participa-
o, ressalta-se o jovem discutindo no s
o eixo da juventude especificamente, mas
tambm possvel perceber sua insero
numa ao poltica mais ampla, na qual
se destacam as questes concernentes
rea ambiental, que sero abordados a
seguir.
Juventude, meio ambiente e
sustentabilidade
Considerando a sociedade em que vive-
mos, importante destacar que os deba-
tes em torno das questes ambientais se
intensificam a partir da identificao da
crise ambiental global, particularmente
com o aumento da degradao ambiental,
assumindo certa visibilidade com cresci-
mento econmico e tecnolgico vivencia-
do no ps-guerra e se estendendo at o
incio do sculo XXI. Isso est associado
ao modelo de desenvolvimento capitalis-
ta vigente que promove fortes impactos
sobre os recursos naturais existentes.
Com isso, muitas conferncias, pesquisas
e discusses vm sendo desenvolvidas
sobre a necessidade de se estabelecer no-
va forma de (re)pensar a relao homem /
natureza/ sociedade, bem como as aes
de proteo da natureza, pensando de
maneira concomitante o desenvolvimento
econmico e social (GODARD, 1997).
Poltica pblica, juventude e sustentabilidade
209
Argumentum, Vitria (ES), v. 6, n.2, p. 201-217, jul./dez. 2014.
Neste processo, considera-se, de forma
efetiva, a participao do conjunto da so-
ciedade. Com base neste entendimento,
foram realizados fruns internacionais a
fim de abordar de forma especfica a refe-
rida temtica, que se constituram marcos
histricos e terico-prticos neste debate,
conforme apontados a seguir.
Quadro 3 - Marcos histricos no debate sobre sustentabilidade
EVENTO ANO DISCUSSO
Clube de Roma
1972 Conhecido mundialmente como Os limites do cres-
cimento, este relatrio abordou os problemas liga-
dos ao crescimento econmico e populacional, ten-
do como referncia meio ambiente e a sustentabili-
dade do planeta
Conferncia das Naes Unidas
sobre o Meio Ambiente (Estocol-
mo)
1972 Aumento da degradao ambiental, que resultou
no entendimento de que se tratava de uma proble-
mtica tanto local quanto global.
Unio Internacional para a Conser-
vao da Natureza e dos Recursos
Naturais (UICN)
1980
Rompe com ponto de vista limitado de proteo a
natureza, avanando para o reconhecimento das
aspiraes das populaes quanto ao desenvolvi-
mento econmico.
Assembleia Geral das Naes Uni-
das
1983 Criada a Comisso Mundial sobre o Meio Ambiente
e o Desenvolvimento que resultou em 1987 Relat-
rio de Brundtland.
Conferncia das Naes Unidas
sobre o Meio Ambiente (Rio de
Janeiro)
1992 Estabilizao das concentraes atmosfricas de gs
com efeito estufa; marco histrico nas discusses
ambientais no sculo XX .
Protocolo de Quioto 1997
Intensas preocupaes sobre o combate ao aqueci-
mento global e agravamento dos impactos ambien-
tais no globo terrestre.
Rio+10 Conferncia das Naes
Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento
2002 Avaliao quanto efetivao de decises tomadas
pelos governos na rea ambiental, 10 anos aps a
Eco-92.
Rio+20 Conferncia das Naes
Unidas sobre Desenvolvimento
Sustentvel
2012 O futuro que queremos. Afirmao e preocupao
entre os pases sobre necessidade de elaborao e
construo de prticas para um desenvolvimento
sustentvel.
Fonte: Elaborao das autoras com base em Godard (1997) e Bellen (2006).
A realizao destes eventos e aes
contribuiu de forma significativa para o
reconhecimento e visibilidade do
agravamento da problemtica ambiental,
em nvel mundial; ao mesmo tempo,
suscitou questes que merecem destaque,
como o Protocolo de Quioto. Este proces-
so implicou a elaborao de respostas e
aes concretas por parte dos
governantes e da sociedade civil
organizada, de modo geral, para reduo
do impacto ambiental vivenciado neste
incio do sculo XXI.
Em meio a esta discusso, possvel
afirmar que os jovens, gradativamente,
tm-se inserido no cenrio poltico e soci-
al brasileiro, de forma qualitativa, discu-
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tindo e contribuindo significativamente
em diversas temticas, inclusive na ques-
to ambiental. Como exemplo, temos a
Conferncia Nacional Infanto-Juvenil do
Meio Ambiente de 2003 que se configu-
rou como importante espao de partici-
pao e articulao da juventude na dis-
cusso e viabilizao de aes concernen-
tes s questes ambientais.
Outro ponto importante que merece des-
taque neste debate se refere ao incentivo
do Governo Federal para efetiva partici-
pao dos jovens na discusso e elabora-
o de solues para as problemticas
ambientais, haja vista a abertura de espa-
os polticos e criao de programas e
projetos que estabelecem uma interface
entre juventude e meio ambiente. Portan-
to, o jovem pode e deve participar da de-
fesa do direito ao meio ambiente, garan-
tido pela Constituio Federal de 1988,
artigo 225: quando afirma que Todos
tm direito ao meio ambiente ecologica-
mente equilibrado, bem de uso comum
do povo e essencial sadia qualidade de
vida, impondo-se ao poder pblico da
coletividade o dever de defend-lo e pre-
serv-lo para as presentes e futuras gera-
es.
Entre as iniciativas prticas do envolvimen-
to da juventude com a temtica meio ambi-
ente, podemos destacar a experincia da
Rede da Juventude pelo Meio Ambiente e
Sustentabilidade (REJUMA), uma rede de
jovens ligados a questes socioambientais.
A REJUMA, formada em setembro de 2003,
surgiu a partir das discusses realizadas na I
Conferncia Nacional Infanto-Juvenil de
Meio Ambiente. Envolve cerca de 700 jovens
e est presente em todos os estados brasilei-
ros, buscando propor, fomentar e acompa-
nhar as polticas pblicas relacionadas s
questes de juventude e de meio ambiente, a
exemplo da Agenda 21, dos Coletivos de
Jovens de Meio Ambiente, das Comisses de
Meio Ambiente e Qualidade de Vida nas
Escolas (COM-VIDAs) e das Conferncias
de Meio Ambiente nas suas verses Infanto-
Juvenil e Adultos (CONSELHO NACIO-
NAL DE JUVENTUDE, 2005; 2006).
Esta rede constitui-se um importante espao
de discusso, mobilizao e articulao das
juventudes em nvel local, regional, nacional
e at planetrio, visando fortalecer as aes
locais de grupos de juventudes atravs da
troca permanente de informaes, experin-
cias e execuo de projetos a favor da trans-
formao da sociedade. Utiliza-se de estra-
tgias presenciais, ao buscar fortalecer o tra-
balho de base, mas tambm atua a distncia,
a partir de veculos de informao, como o
site da REJUMA que busca difundir concei-
tos e aes, e, desta forma, configura-se,
tambm, como ferramenta para a autogesto
da rede, por meio de uma estrutura descen-
tralizada.
Outro dilogo importante que articula ju-
ventude, meio ambiente e polticas pblicas
encontra-se no Programa Juventude e Meio
Ambiente formulado em 2007 para atuar di-
retamente com os Coletivos Jovens de Meio
Ambiente e seus integrantes - jovens com
idade entre 15 e 29 anos - que participam ou
no de organizaes e movimentos de ju-
ventude ou meio ambiente (BRASIL, 2007).
Este programa busca ampliar e fortalecer
as articulaes entre os Coletivos Jovens e
a REJUMA, com instncias e espaos de
Poltica pblica, juventude e sustentabilidade
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formulao e induo de polticas pbli-
cas na rea de juventude e de educao
ambiental, tais como Conselho Nacional
de Juventude (CONJUVE), Conselhos
Estaduais e Municipais de Juventude,
Conselhos Estaduais e Municipais de
Meio Ambiente, Comisses Estaduais
Interinstitucionais de Educao Ambien-
tal (CIEAs), dentre outros. Um dos seus
objetivos Contribuir para fortalecer
pessoas, organizaes e movimentos de
juventude do pas com foco na educao
ambiental e juventude, com especial atu-
ao junto aos Coletivos Jovens. Portan-
to, h um reconhecimento da importncia
da juventude neste processo de defesa
referente s questes ambientais. Uma
das formas desta articulao se d por
meio dos Coletivos Jovens de Meio Am-
biente que podem ser vistos noutro obje-
tivo que consiste em Contribuir para o
fortalecimento e expanso dos Coletivos
Jovens de Meio Ambiente nos Estados e
da Rede da Juventude pelo Meio Ambi-
ente e Sustentabilidade (BRASIL, 2007).
Neste sentido, os objetivos propostos no
referido programa coadunam se com as
discusses desenvolvidas, em nvel inter-
nacional, quanto necessidade de aes
que contribuam para construo de um
novo tipo de relao homem-natureza-
sociedade. No entanto, quanto ao meio
ambiente, necessrio considerar a com-
plexidade da temtica e a diversidade de
concepes. Desse modo, compartilha-
mos do pensamento de Reigota (1997)
que define meio ambiente como:
[...] o lugar determinado ou percebido
onde os elementos naturais e sociais es-
to em relaes dinmicas e em intera-
o. Essas relaes implicam processos
de criao cultural e tecnolgica e pro-
cessos histricos e sociais de transfor-
mao do meio natural e construdo
(REIGOTA, 1997, p. 14).
Esta compreenso nos remete ideia de
que meio ambiente no se limita ao as-
pecto fsico/natural, embora, muitas ve-
zes, seja usado como sinnimo de flora e
fauna. Ao contrrio, construdo a partir
do estabelecimento das relaes dos ho-
mens entre si e em determinada socieda-
de, com a natureza, tendo como refern-
cia as relaes culturais estabelecidas.
Mais recentemente, na Assembleia Geral
das Naes Unidas (1983), outro conceito
concernente s questes ambientais ga-
nha destaque e passa a ser discutido o de
Desenvolvimento Sustentvel. Naquele
momento, foi criada a Comisso Mundial
sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento
cujo resultado foi a publicao do Rela-
trio de Brundtland em 1987.
No referido relatrio, o conceito de De-
senvolvimento Sustentvel entendido
como [...] aquele que atende as necessi-
dades do presente sem comprometer a
possibilidade de as geraes futuras
atenderem as suas prprias necessida-
des (BRUDTLAND, 1987). Importa sali-
entar que esta proposta de desenvolvi-
mento sustentvel est associada ao con-
ceito de necessidade, principalmente a
dos pobres no mundo, que devem receber
mxima prioridade por meio da satisfa-
o das suas necessidades bsicas, a sa-
ber: sade, roupas, habitao, emprego,
alimento. Partindo desta compreenso,
pode-se entender na leitura de alguns
estudiosos (SACHS, 1986; BELLEN, 2006),
que meio ambiente e desenvolvimento
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sustentvel esto relacionados qualida-
de de vida, principalmente dos pobres,
que discutem esta questo. Importa res-
saltar que as necessidades bsicas so
geralmente asseguradas por meio de pol-
ticas sociais destinadas a toda populao.
No Brasil, a dcada de 1990 foi marcada
pela Conferncia Mundial sobre Meio
Ambiente (ECO 1992). Destaca-se, tam-
bm, a Lei n 9795/99 Poltica Nacional
de Educao Ambiental, mas ainda no
se percebia a presena do segmento ju-
ventude. Somente nos anos 2000, quan-
do surge, no Brasil, o reconhecimento dos
jovens enquanto sujeitos de direitos de
polticas pblicas que se torna possvel
estabelecer a relao entre juventude e
sustentabilidade na mediao de polticas
pblicas, seja as voltadas diretamente ao
meio ambiente ou para o segmento jo-
vem, mas que contemplam a questo do
meio ambiente. Assim, potencializa-se a
relao entre juventude e meio ambiente,
como por exemplo, a insero de jovens
em instncia do Sistema Nacional do
Meio Ambiente (SISNAMA), como os
conselhos municipais e estaduais do meio
ambiente. Portanto, veremos a seguir,
como isso se evidencia na PNJ.
No tocante relao entre jovens e as
questes ambientais, possvel identifi-
car, por meio da Poltica Nacional de Juven-
tude, diretrizes e perspectivas que per-
meiam o dilogo entre Juventude, Polti-
cas Pblicas e Sustentabilidade.
Quadro 4 - Poltica nacional da juventude
POLTICA NACIONAL DA JUVENTUDE - diretrizes e perspectivas
FOCO DA ABORDAGEM AFIRMATIVAS
Igualdade social e sustentabilida-
de socioambiental
Maior equidade e igualdade social proporcionariam maior sustentabi-
lidade socioambiental e mais acesso ao esporte e ao lazer e, consequen-
temente, mais qualidade de vida.
Contexto socioeconmico e ambi-
ental e meio ambiente.
Compreender o contexto socioeconmico e ambiental que afeta a vida
dos jovens dificultando o acesso sade, ao esporte, ao lazer e ao cui-
dado com o meio ambiente.
Desenvolvimento x qualidade de
vida
O padro de desenvolvimento do pas afeta diretamente a vida dos
jovens, por isto mesmo preciso avaliar quais oportunidades esto
sendo construdas para as juventudes no sentido de elevar, de maneira
sustentvel, sua qualidade de vida.
Interfaces entre demandas das
juventudes e reas especficas.
Em nossa tarefa de articular os olhares sobre temas envolvidos, apre-
sentamos um panorama geral de cada rea especfica (sade, esporte,
lazer e meio ambiente) e suas interfaces com as demandas das juventu-
des
Participao de jovens na questo
ambiental
Na rea ambiental, a participao de jovens,- por meio da sua partici-
pao em movimentos e organizaes de denncia e combate degra-
dao ambiental e poluio - histrica.
Marco legal x espaos de partici-
pao da juventude
Decorrente da ausncia de marcos legais, identifica-se a quase inexis-
tncia de instncias e espaos de participao da juventude no Sistema
Nacional de Meio Ambiente. Neste sentido, explicam-se as restries ao
trabalho conjunto e em parcerias entre organizaes juvenis e institui-
es da rea ambiental
Poltica pblica, juventude e sustentabilidade
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Vrios sentidos de meio ambiente
Tema meio ambiente pode ser percebido de diversas formas e sob
diferentes abordagens (muitas delas contraditrias e conflitantes), e isso
possvel identificar tanto entre jovens que j se encontram militando
na rea (por meio dos Coletivos Jovens de Meio Ambiente e Ongs),
quanto entre jovens que no atuam na rea.
Viso integradora - perspectiva
mais socioambiental
Portanto, entende-se que a viso Integradora abarca uma perspectiva
mais socioambiental do tema, englobando as dimenses poltica, cultu-
ral, tnico-racial e no se restringindo apenas ao meio natural. Seria
razovel que polticas pblicas de juventude na perspectiva da quali-
dade de vida dialogassem com esta concepo de meio ambiente, uma
vez que ela se relaciona mais enfaticamente com os elementos sociais,
culturais, polticos e econmicos presentes nos temas da sade, esporte
e lazer e em projetos mais progressistas de desenvolvimento nacional.
Fonte: Brasil (2005).
As polticas e programas desenvolvidos
nas ltimas dcadas indicam um posicio-
namento do Estado frente s questes
relacionadas ao meio ambiente.
Particularmente na Poltica Nacional de
Juventude, foi possvel identificar a propo-
sio de aes para inserir os jovens no
processo de discusso, elaborao de
propostas e implementao de programas
e projetos que assegurem esta discusso
em torno da sustentabilidade, ao mesmo
tempo em que estes se constituem
enquanto espao de denncia poltica e
exerccio de cidadania.
Diante deste cenrio, sabe-se que a
discusso em torno do desenvolvimento
sustentvel tem sido trabalhada por
diferentes grupos, com perspectivas
distintas. Este entendimento revela que o
tratamento desta temtica tem
possibilitado abertura de novos espaos
de expresso, ao mesmo tempo em que se
constitui como campo de legitimidade,
tanto nacional quanto internacional.
Na leitura de Svedin, (1987, p. 474), o
conceito de sustentabilidade se constitui
algo dinmico, uma vez que leva em
considerao as crescentes necessidades
das populaes, assim, [...] o
desenvolvimento sustentvel no
representa um estado esttico de
harmonia, mas, antes, um processo de
mudana, no qual a explorao dos
recursos, a dinmica dos investimentos, e
a orientao das inovaes tecnolgicas e
institucionais so feitas de forma
consciente face s necessidades tanto
atuais quanto futuras . Pode-se, tambm,
considerar as dimenses da
sustentabilidade apontadas por Sachs
(2002):
Sustentabilidade social tem como base
o estabelecimento de uma proposta de
desenvolvimento que assegure um
crescimento estvel, com distribuio
equitativa de renda, garantindo o direito
de melhoria de vida das grandes massas
da populao. Esta dimenso se coaduna
com o foco da igualdade social e
sustentabilidade socioambiental da Poltica
Nacional da Juventude que aborda
diretamente a questo da igualdade e
equidade; Sustentabilidade econmica,
possvel a partir de um fluxo constante de
inverses pblicas e privadas, alm do
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Argumentum, Vitria (ES), v. 6, n.2, p. 201-217, jul./dez. 2014.
manejo e alocao eficiente dos recursos
naturais; Sustentabilidade ecolgica,
atravs da expanso da capacidade de
utilizao dos recursos naturais
disponveis no planeta terra, com menor
nvel de impacto ao meio ambiente.
Impondo-se, ainda, a necessidade de
reduo do volume de substncias
poluentes, a partir da adoo de polticas
de conservao de energia e de recursos,
entre outras medidas. Esta dimenso est
diretamente relacionada a outro foco da
PNJ que trata da Participao de jovens na
questo ambiental que destaca o combate
degradao ambiental; Sustentabilidade
geogrfica, uma vez que a maioria dos
problemas ambientais tem sua origem na
distribuio espacial desequilibrada dos
assentamentos humanos e das atividades
econmicas; Sustentabilidade cultural,
esta se apresenta de forma mais complexa
para efetivao, uma vez que exigiria
pensar o processo de modernizao de
forma endgena, trabalhando as
mudanas de forma sintonizada com a
questo cultural vivida em cada contexto
especfico.
Partindo deste entendimento, Chaves
(2004) afirma que a proposta de
desenvolvimento sustentvel abrange, ao
mesmo tempo, aspectos econmicos,
sociais, culturais, polticos, tecnolgicos e
ecolgicos, buscando uma integrao
entre estes vrios fatores. exatamente
esta complexidade que perpassa a
compreenso de sustentabilidade,
presente na PNJ, sobretudo, quando em
seu foco Viso integradora perspectiva
mais socioambiental destaca uma anlise
que engloba as dimenses poltica,
cultural, tnico-racial e no se limitando
apenas a uma leitura concernente ao meio
natural.
Diante do exposto, possvel afirmar que
h uma relao entre sustentabilidade e
juventude, presente na Poltica Nacional
da Juventude, pois os focos de aborda-
gem da poltica centram-se na igualdade
social, contexto socioeconmico e ambi-
ental, desenvolvimento, qualidade de
vida e participao dos jovens nas discus-
ses ambientais, apresentando uma leitu-
ra de totalidade das relaes ho-
mem/natureza/sociedade.
Um outro documento que aborda esta
temtica o Estatuto da Juventude que
trata do direito sustentabilidade e ao
meio ambiente, os quais podem ser
visualizados no quadro a seguir:
Quadro 5 - Estatuto da juventude
ESTATUTO DA JUVENTUDE
Do direito a sustentabilidade e ao meio ambiente
Artigo Contedo
34
O jovem tem direito sustentabilidade e ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de
uso comum do povo, essencial sadia qualidade de vida, e o dever de defend-lo e preserv-lo
para a presente e as futuras geraes.
35 O Estado promover, em todos os nveis de ensino, a educao ambiental voltada para a preserva-
o do meio ambiente e a sustentabilidade, de acordo com a Poltica Nacional do Meio Ambiente
36 Na elaborao, na execuo e na avaliao de polticas pblicas que incorporem a dimenso ambi-
ental, o poder pblico dever considerar:
Poltica pblica, juventude e sustentabilidade
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I o estmulo e o fortalecimento de organizaes, movimentos, redes e outros coletivos de juventu-
de que atuem no mbito das questes ambientais e em prol do desenvolvimento sustentvel;
II o incentivo participao dos jovens na elaborao das polticas pblicas de meio ambiente;
III a criao de programas de educao ambiental destinados aos jovens;
IV o incentivo participao dos jovens em projetos de gerao de trabalho e renda que visem ao
desenvolvimento sustentvel nos mbitos rural e urbano.
Pargrafo nico. A aplicao do inciso IV do caput deve observar a legislao especfica sobre o
direito profissionalizao e proteo no trabalho dos adolescentes
Fonte: Brasil (2013).
Direitos so geralmente fruto de lutas
histricas que devem ser consolidadas no
cotidiano da sociedade, ou seja, precisam
se transformar em conquistas sociais. O
jovem deve estar ciente do seu direito
sustentabilidade e ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado. Assim sen-
do, merece destaque, no Estatuto da Ju-
ventude a Educao Ambiental, que, se
realmente assegurada em todos os nveis,
muito contribuir para que os jovens de-
fendam e preservem o meio ambiente. E
esta defesa significa assegurar qualidade
de vida, cidadania, direitos e deveres de
cada cidado jovem.
Consideraes finais
Com base nas reflexes desenvolvidas,
pode-se concluir que:
1) O jovem tem um papel de grande
relevncia no processo de construo de
uma sociedade sustentvel. A experincia
da Rede da Juventude pelo Meio Ambiente e
Sustentabilidade - REJUMA um exemplo
de como o envolvimento da juventude
com a temtica meio ambiente pode ser
fortalecido atravs de canais simples de
participao e interao, possibilitando ao
jovem sua insero em discusses que
facilitem seu protagonismo frente s
questes socioambientais que perpassam
o seu cotidiano.
2) O Programa Juventude e Meio Ambiente
constitui-se um marco para a discusso
sobre juventude, meio ambiente, educa-
o ambiental e sustentabilidade, pois
tem possibilitado a participao de diver-
sas instituies e da juventude. Portanto,
preciso fortalecer as polticas pblicas
que envolvem as questes ambientais e
de fomento das prticas sustentveis,
uma vez que assegurar o direito da juven-
tude ao territrio um dos desafios do
programa com vistas superao das de-
sigualdades sociais e ambientais existen-
tes.
3) Tanto as polticas pblicas voltadas
exclusivamente aos jovens quanto as pol-
ticas estruturais que contemplam os direi-
tos fundamentais tm incorporado a
questo ambiental, principalmente, a par-
tir dos anos 2000, por meio de documen-
tos, legislaes, conferncias e polticas
que tm dado maior visibilidade s ques-
tes ambientais.
4) Est presente, na Poltica Nacional da
Juventude, o tema meio ambiente
mesmo que seja um termo com diversas
concepes e em constante construo.
Mas, predomina a ideia de que meio am-
biente e sociedade so indissociveis
da muitas vezes o uso do termo socio-
ambiental.
5) necessrio superar a concepo res-
trita de meio ambiente que o vincula ao
meio fsico/natural sem relacion-lo a
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questes sociais, culturais, ticas e polti-
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