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48 que seria no Brasil a Psicologia Hospitalar é denominada Psicologia da Saúde em outros países. Entretanto, esses dois conceitos não são equivalentes, em primeiro lugar, pelo próprio significado de tais termos – saúde e hospital. Enquanto saúde se refere a um conceito complexo Resumo:  No presente trabalho, apresentamos a definição de Psicologia da Saúde e Psicologia Hospitalar, esta última como especialidade exclusivamente brasileira. Refletimos, também, sobre a formação acadêmica, o mercado de trabalho e a realidade da saúde no País. Consideramos que existem incongruên cias entre a formação de base, a nossa realidade social e a inserção de psicólogos no ramo da saúde. Discutimos a inclusão da Psicologia Hospitalar na Psicologia da Saúde, área ampla que utiliza os conhecimentos das Ciências Biomédicas, Psicologia Clínica e Psicologia Comunitária para intervir em distintos contextos no âmbito sanitário. Palavras-Chave:  Psicologia Hospitalar, Psicologia da Saúde, formação profissional, mercado de trabalho, realidade social brasileira.  Abstract:  In the present article the authors present the Health Psychology and the Hospital Psychology definition, the last one as an exclusive Brazilian specialization. Moreover, we reflect about the academic studies, the work market and the Brazilian health reality . We found some incongruence among the career studies, the social reality and the psychologists’ work in the health field. We discuss the Hospital Psychology incorporation in the Health Psychology area, whic h uses the Biomedical, Clinical and Community knowledge to intervene in different health contexts. Key Words: Hospital Psychology, Health Psychology, professional studies, work market, Brazilian social reality. O questionamento sobre Psicologia Hospitalar x Psicologia da Saúde começou com a experiência do doutorado no exterior, onde descobrimos, surpreendidas, que a tão difundida especialização na Psicologia, denominada no Brasil de Hospitalar, é inexistente em outros países. A aproximação ao Elisa Kern de Castro Psicóloga (PUC-RS). Mestre em Psicologia do Desenvolvime nto  (UFRGS/CAPES). Doutoranda em Psicologia Clínica e da Saúde na Universidad  Autónoma de Madrid, Espanha (bolsista de doutorado pleno CAPES Processo 1129 01/5). Ellen Bornholdt Psicóloga (PUC-RS). Terapeuta em formação pelo Instituto de Ensino e Pesquisa em Psicoterapia  (IEPP).Mestr e em Psicologia Clínica (PUC- RS/CNPq) e doutoranda em Psicologia Clínica  pela Universidad Del Salvador, Buenos Aires,  Argentina. Psicologia da Saúde x Psicologia Hospitalar: Definições e Possibilidades de Inserção Profissional PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO, 2004, 24 (3), 48-57 Health psychology x hospital Psychology: definitions and insertion of professional possibilities      J     u     p       i     t     e     r      i     m     a     g      e     s

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que seria no Brasil a Psicologia Hospitalar édenominada Psicologia da Saúde em outros países.Entretanto, esses dois conceitos não sãoequivalentes, em primeiro lugar, pelo própriosignificado de tais termos – saúde e hospital.Enquanto saúde se refere a um conceito complexo

Resumo: No presente trabalho, apresentamos a definição de Psicologia da Saúde e Psicologia Hospitalar,

esta última como especialidade exclusivamente brasileira. Refletimos, também, sobre a formação acadêmica,o mercado de trabalho e a realidade da saúde no País. Consideramos que existem incongruências entre aformação de base, a nossa realidade social e a inserção de psicólogos no ramo da saúde. Discutimos ainclusão da Psicologia Hospitalar na Psicologia da Saúde, área ampla que utiliza os conhecimentos dasCiências Biomédicas, Psicologia Clínica e Psicologia Comunitária para intervir em distintos contextos noâmbito sanitário.Palavras-Chave: Psicologia Hospitalar, Psicologia da Saúde, formação profissional, mercado de trabalho,realidade social brasileira.

 Abstract: In the present article the authors present the Health Psychology and the Hospital Psychologydefinition, the last one as an exclusive Brazilian specialization. Moreover, we reflect about the academicstudies, the work market and the Brazilian health reality. We found some incongruence among the careerstudies, the social reality and the psychologists’ work in the health field. We discuss the Hospital Psychologyincorporation in the Health Psychology area, which uses the Biomedical, Clinical and Community knowledge

to intervene in different health contexts.Key Words: Hospital Psychology, Health Psychology, professional studies, work market, Brazilian socialreality.

O questionamento sobre Psicologia Hospitalar xPsicologia da Saúde começou com a experiênciado doutorado no exterior, onde descobrimos,surpreendidas, que a tão difundida especializaçãona Psicologia, denominada no Brasil de Hospitalar,é inexistente em outros países. A aproximação ao

Elisa Kern de

Castro

Psicóloga (PUC-RS).Mestre em Psicologia

do Desenvolvimento (UFRGS/CAPES).Doutoranda em

Psicologia Clínica e daSaúde na Universidad 

 Autónoma de Madrid,Espanha (bolsista de

doutorado pleno CAPES

Processo 1129 01/5).

Ellen Bornholdt

Psicóloga (PUC-RS).Terapeuta em

formação pelo Institutode Ensino e Pesquisa

em Psicoterapia (IEPP).Mestre em

Psicologia Clínica (PUC-RS/CNPq) e doutoranda

em Psicologia Clínica pela Universidad Del

Salvador, Buenos Aires, Argentina.

Psicologia da Saúde x Psicologia Hospitalar:

Definições e Possibilidades de Inserção Profissional

PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO, 2004, 24 (3), 48-57

Health psychology x hospital Psychology:definitions and insertion of professional possibilities

     J     u    p  

     i    t    e    r     i    m    a    g      e    s

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relativo às funções orgânicas, físicas e mentais(WHO, 2003), hospital diz respeito a umainstituição concreta onde se tratam doentes,internados ou não. Assim, o próprio significado dapalavra saúde leva-nos a refletir sobre a práticaprofissional centrada na intervenção primária,secundária e terciária

1

. Já quando nos referimosao hospital, automaticamente, pensamos emalgum tipo de doença já instalada, só sendo possívela intervenção secundária e terciária para prevenirseus efeitos adversos, sejam eles físicos, emocionaisou sociais.

Essas diferenças fizeram-nos refletir sobre a nossaprópria formação e prática profissional, o que fezsurgir algumas perguntas:

 O que é, afinal, Psicologia da Saúde e PsicologiaHospitalar? Existem diferenças?

 Qual a origem desses dois conceitos?

  A formação básica universitária e a pós-graduação preparam o psicólogo para a atuaçãonessas áreas?

 A nossa formação é condizente com a demandae as necessidades do País na área da saúde?

 O mercado de trabalho consegue absorver essesprofissionais?

A partir dessas perguntas, no decorrer do trabalho,buscamos aporte teórico como base para refletirsobre cada questionamento proposto .

O que é Psicologia da Saúde

A Psicologia da Saúde tem como objetivocompreender como os fatores biológicos,comportamentais e sociais influenciam na saúdee na doença (APA, 2003). Na pesquisacontemporânea e no ambiente médico, ospsicólogos da saúde trabalham com diferentesprofissionais sanitários, realizando pesquisas epromovendo a intervenção clínica. Complementara essa definição, o Colégio Oficial de Psicólogosda Espanha (COP, 2003) conceitua a Psicologiada Saúde como a disciplina ou o campo deespecialização da Psicologia que aplica seusprincípios, técnicas e conhecimentos científicospara avaliar, diagnosticar, tratar, modificar e preveniros problemas físicos, mentais ou qualquer outro

relevante para os processos de saúde e doença.Esse trabalho pode ser realizado em distintos evariados contextos, como:  hospitais, centros desaúde comunitários, organizações não-governamentais e nas próprias casas dosindivíduos. A Psicologia da Saúde também poderia

Psicologia da Saúde x Psicologia Hospitalar: Definições e Possibilidades de Inserção Profissional

ser compreendida como a aplicação da PsicologiaClínica no âmbito médico.

A Psicologia da Saúde já é uma área consolidadainternacionalmente, e, no Brasil, está conquistandocada vez mais seu espaço. Historicamente, a American Psychological Association (APA, 2003) foia primeira associação de psicólogos a criar umgrupo de trabalho na área da saúde em 1970. Em1979, foi criada a divisão 38, chamada HealthPsychology, cujos objetivos básicos são avançar noestudo da Psicologia como disciplina quecompreende a saúde e a doença através da

pesquisa e encorajar a integração da informaçãobiomédica com o conhecimento psicológico,fomentando e difundindo a área. A APA publica,desde 1982, a revista Health Psychology, a primeiraoficial da área. Seguindo a tendência, em 1986,formou-se, na Europa, a European Health PsychologySociety (EHPS, 2003), uma organização profissionalque visa a promover a pesquisa teórica e empíricae suas aplicações para a Psicologia da Saúdeeuropéia. Cada país-membro possui, ainda, suaassociação de Psicologia da Saúde, que realizaatividades como congressos, simpósios, pesquisasetc. Foram criadas várias revistas especializadas:British Journal of Health Psychology (Reino Unido),

Revista de Psicologia de la Salud (Espanha), Psicologiadella Salutte (Itália), Gedrag & Gezondheid (Bélgica),entre outras.

Na América Latina, a Psicologia da Saúde tambémestá desenvolvendo-se em alguns países. O primeiroencontro de profissionais da área da saúde ocorreuem 1984, em Cuba, reuniu cerca de 1000psicólogos interessados e foi um marco propulsorpara o avanço e o reconhecimento da área (Remor,1999). A partir desses encontros, constitui-se aALAPSA, (2003), uma associação que reúnediversos países latino-americanos. Os congressospromovidos pela ALAPSA são recentes, sendo queo primeiro deles ocorreu em 2001, no México, eo segundo, em 2003, na Colômbia (Flórez-Alarcon,2003). Vinculados à ALAPSA, alguns países latino-americanos possuem também sua própriaassociação de Psicologia da Saúde, como, porexemplo, Colômbia, Cuba, México, Venezuela eBrasil (ALAPSA, 2003). A Psicologia da Saúde naAmérica Latina teve um rápido crescimento emrecursos humanos, mas uma insuficienteincorporação dos psicólogos nos setores de saúde.Apesar disso, essa área é a que mais absorveupsicólogos nos últimos 15 anos, no Brasil e emoutros países latino-americanos, principalmente na

Argentina, mas a produção científica continuaescassa. Em nível mundial, as pesquisas emPsicologia da Saúde estão sendo incrementadas, e90% delas correspondem aos países europeus,Estados Unidos, Japão e Austrália. Já na AméricaLatina, percebe-se uma insuficiência de estudos

1 Prevenção primária: relativoà promoção e educação para a

 saúde quando não ex is te problemas de saúde instalados. Ex: trabalho com a populaçãoem geral na comunidade sobreos riscos do contágio do vírusda AIDS.

 Prevenção secundária: já existeuma demanda e o profissional atua prevenindo seus possíveisefeitos adversos. Ex: trabalhocom pessoas que recorrem aoexame do HIV durante o períododa espera pelo resultado.

 Pervenção terciária: diz respeitoao trabalho com pessoas com

 problemas de saúde instalados,atuando para minimizar seu

 sofrimento. Ex: trabalho (de

 grupo, psicoterápico, de apoio,etc.) com pessoas infectadas

 pelo vírus HIV.

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que possibilitem intervenções rápidas para osproblemas de saúde de cada região, respeitandosuas especificidades e contextos socioeconômicos.Além disso, a formação profissional do psicólogolatino-americano é limitada em nível de pós-graduação (Sebastiani, 2000). Várias situaçõesexistentes na América Latina refletem também aposição brasileira da Psicologia da Saúde.

No Brasil, a própria denominação Psicologia daSaúde já é problemática, suscitando discussões decomo denominar uma área que aplica osprincípios de Psicologia a problemas de saúde e

doença. É recorrente a confusão de terminologias,como Medicina Psicossomática, com o tema emquestão - Psicologia Hospitalar (Kerbauy, 2002) –e com Psicologia Clínica.

A confusão entre o que seria a área clínica, a áreada saúde e também a Psicologia Hospitalar não ésomente de ordem semântica, mas também deordem estrutural, ou seja, estão em jogo osdiferentes marcos teóricos ou concepções de baseacerca do fazer psicológico e sua inserção social. Justamente dessas diferenças, e/ou antagonismosteórico-ideológicos, surge uma Psicologia da Saúde(Yanamoto & Cunha, 1998). Considerando essas

possíveis confusões,  é importante esclarecer,também, o conceito de Psicologia Clínica.

O especialista em Psicologia Clínica (CRP, 2003)também atua na área da saúde em diferentescontextos, além do consultório particular, inclusiveem hospitais, unidades psiquiátricas, programas deatenção primária, postos de saúde etc., prevenindodoenças no âmbito primário, secundário e terciário.Como se pode observar, esse conceito, de fato,está intimamente associado ao que é Psicologia daSaúde. Furtado (1997), nesse sentido, argumentaque os limites da Psicologia Clínica também sãotênues, e o próprio ensino universitário é

diversificado em seu planejamento. A autorachegou a essa conclusão a partir de um estudoque analisou o plano das disciplinas em 10universidades do Rio Grande do Sul. Apesar dasimprecisões entre essas duas áreas, é importantediferenciá-las. A Psicologia Clínica centra suaatuação em diversos contextos e problemáticas emsaúde mental, enquanto a Psicologia da Saúde dáênfase, principalmente, aos aspectos físicos dasaúde e da doença (Kerbauy, 2002).

Enfim, a Psicologia da Saúde, com base no modelobiopsicosossocial, utiliza os conhecimentos das

ciências biomédicas, da Psicologia Clínica e daPsicologia Social-comunitária (Remor, 1999). Porisso, o trabalho com outros profissionais éimprescindível dentro dessa abordagem. Essa áreafundamenta seu trabalho principalmente napromoção e na educação para a saúde, que

objetiva intervir com a população em sua vidacotidiana antes que haja riscos ou se instale algumproblema de âmbito sanitário. O trabalho émultiplicador, uma vez que capacita a própriacomunidade para ser agente de transformação darealidade, pois aprende a lidar, controlar emelhorar sua qualidade de vida. Dessa maneira,torna-se evidente que a Psicologia da Saúde dáênfase às intervenções no âmbito social e incluiaspectos que vão além do trabalho no hospital,como é o caso da Psicologia Comunitária (Besteiro& Barreto, 2003; Gonzalez-Rey, 1997).

 O Que é Psicologia Hospitalar

De acordo com a definição do órgão que rege oexercício profissional do psicólogo no Brasil, o CFP(2003a), o psicólogo especialista em PsicologiaHospitalar tem sua função centrada nos âmbitossecundário e terciário de atenção à saúde, atuandoem instituições de saúde e realizando atividadescomo: atendimento psicoterapêutico; grupospsicoterapêuticos; grupos de psicoprofilaxia;atendimentos em ambulatório e unidade de terapiaintensiva; pronto atendimento; enfermarias emgeral; psicomotricidade no contexto hospitalar;avaliação diagnóstica; psicodiagnóstico;consultoria e interconsultoria.

Para que possamos entender o surgimento e aconsolidação do termo Psicologia Hospitalar emnosso país, é importante ressaltar que as políticasde saúde no Brasil são centradas no hospital desdea década de 40, em um modelo que prioriza asações de saúde via atenção secundária (modeloclínico/assistencialista), e deixa em segundo planoas ações ligadas à saúde coletiva (modelosanitarista). Nessa época, o hospital passa a ser osímbolo máximo de atendimento em saúde, idéiaque, de alguma maneira, persiste até hoje. Muito

provavelmente, essa é a razão pela qual, no Brasil,o trabalho da Psicologia no campo da saúde édenominado Psicologia Hospitalar, e, não,Psicologia da Saúde (Sebastiani, 2003).

É importante ressaltar que nós nos deparamos comdificuldades para encontrar material teórico epesquisas na literatura científica internacionalsobre a Psicologia Hospitalar como campoespecífico. Uma das razões seria que essadenominação é inexistente em outros países alémdo Brasil (Sebastiani, 2003; Yanamoto, Trindade& Oliveira, 2002). Yanamoto, Trindade e Oliveira(2002) e Chiattone (2000), inclusive, explicam que

o termo Psicologia Hospitalar é inadequadoporque pertence à lógica que toma comoreferência o local para determinar as áreas deatuação, e não prioritariamente às atividadesdesenvolvidas. Se já existe fragmentação das práticase dispersão teórica da Psicologia, a adoção do

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termo Psicologia Hospitalar caminha no sentidooposto à busca de uma identidade para o psicólogocomo profissional da saúde que atua em hospitais(Yanamoto, Trindade & Oliveira, 2002).

Diferente do Brasil, em alguns outros países, aidentidade do psicólogo especialista está associadaà sua prática e não ao local em que atua. A APA(2003) e o COP (2003), por exemplo, demarcam otrabalho do psicólogo em hospitais como um dospossíveis locais em que atua o psicólogo da saúde.Especificamente na Espanha, Rodríguez-Marín(2003) e Besteiro e Barreto (2003) definem que o

marco conceitual da Psicologia da Saúde é o quedeve servir de base para a Psicologia Hospitalar.Entretanto, definição parecida a essa é a da brasileiraChiattone (2000), que diz que a PsicologiaHospitalar é apenas uma estratégia de atuação emPsicologia da Saúde, e que, portanto, deveria serdenominada “Psicologia no contexto hospitalar”.Rodríguez-Marín (2003) esclarece que a PsicologiaHospitalar é, então, o conjunto de contribuiçõescientíficas, educativas e profissionais que asdiferentes disciplinas psicológicas fornecem para darmelhor assistência aos pacientes no hospital. Opsicólogo hospitalar seria aquele que reúne essesconhecimentos e técnicas para aplicá-los de

maneira coordenada e sistemática, visando àmelhora da assistência integral do pacientehospitalizado, sem se limitar, por isso, ao tempoespecífico da hospitalização. Portanto, seu trabalhoé especializado no que se refere, fundamentalmente,ao restabelecimento do estado de saúde do doenteou, ao menos, ao controle dos sintomas queprejudicam seu bem-estar.

Rodriguez-Marín (2003) sintetiza as seis tarefasbásicas do psicólogo que trabalha em hospital: 1)função de coordenação: relativa às atividades comos funcionários do hospital; 2) função de ajuda àadaptação: em que o psicólogo intervém naqualidade do processo de adaptação erecuperação do paciente internado; 3) função deinterconsulta: atua como consultor, ajudandooutros profissionais a lidarem com o paciente; 4)função de enlace: intervenção, através dodelineamento e execução de programas juntocom outros profissionais, para modificar ou instalarcomportamentos adequados dos pacientes; 5)função assistencial direta: atua diretamente com opaciente, e 6) função de gestão de recursoshumanos: para aprimorar os serviços dosprofissionais da organização.

Chiattone (2000) ressalta, contudo, que, muitasvezes, o próprio psicólogo não tem consciênciade quais sejam suas tarefas e papel dentro dainstituição, ao mesmo tempo em que o hospitaltambém tem dúvidas quanto ao que esperar desseprofissional. Se o psicólogo simplesmente transpõe

o modelo clínico tradicional para o hospital everifica que este não funciona como o esperado(situação bastante freqüente), isso pode gerardúvidas quanto à cientificidade e efetividade deseu papel. Desse modo, segundo a autora, odistanciamento da realidade institucional e ainadequação da assistência mascarada por umfalso saber pode gerar experiências malsucedidasem Psicologia Hospitalar.

A partir das definições expostas de Psicologia daSaúde, que pode se confundir com a PsicologiaClínica e com a Psicologia Hospitalar, encontramos

semelhanças no que tange às formas de atuaçãoprática dos especialistas dessas distintas áreas. Apsicoterapia individual ou grupal, por exemplo, éuma tarefa que pode ser desenvolvida dentro dostrês campos citados. Contudo, percebemostambém particularidades fundamentais. APsicologia Clínica propõe um trabalho amplo desaúde mental nos três níveis de atuação – primário,secundário e terciário - e a Psicologia da Saúdetambém propõe um trabalho abrangente nessesmesmos níveis, mas aplicada ao âmbito sanitário,enfatizando as implicações psicológicas, sociais efísicas da saúde e da doença. No que diz respeitoà Psicologia Hospitalar, sua atuação poderia serincluída nos preceitos da Psicologia da Saúde,limitando-se,entretanto, à instituição-hospital e, emconseqüência, ao trabalho de prevençãosecundária e terciária.

 Algumas Considerações Sobre aFormação Profissional, aRealidade Brasileira e o Mercadode Trabalho

Para que o psicólogo esteja capacitado a trabalharem saúde, é imprescindível refletir se sua formação

lhe dá as bases necessárias para essa prática. Aaprendizagem não deve ser só teórica e técnica,pois o psicólogo tem que ser comprometidosocialmente, estar preparado para lidar com osproblemas de saúde de sua região e ter condiçõesde atuar em equipe com outros profissionais.

Psicologia da Saúde x Psicologia Hospitalar: Definições e Possibilidades de Inserção Profissional

 A confusão entre oque seria a áreaclínica, a área da

saúde e também aPsicologia Hospitalar não é somente deordem semântica,mas também deordem estrutural, ouseja, estão em jogo osdiferentes marcosteóricos ouconcepções de baseacerca do fazer  psicológico e suainserção social.

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Segundo Sebastiani, Pelicioni e Chiattone (2002),a formação do psicólogo na América Latina e noBrasil está vinculada basicamente ao tratamentoindividual baseado no modelo clínico, que é abase de sua identidade profissional. Entretanto,devido à grande demanda de trabalho existenteno âmbito sanitário, muitas vezes profissionais mal-preparados seguem trabalhando no antigo modeloclínico individual e atuam na área da saúde semter conhecimento das ferramentas necessárias parauma atuação coletiva de prevenção e intervenção.

No Brasil, a formação em Psicologia é deficitária

no que se refere aos conhecimentos da realidadesanitária do País, à participação em pesquisas e empolíticas de saúde, indispensáveis para adeterminação da sua prática e para oaprimoramento da especialidade (Dimenstein,2000; Sebastiani, 2003). Essa formação elitistadistancia o aluno e o profissional das demandassociais existentes, não os habilitando para lidarcom o sofrimento físico sobreposto ao sofrimentopsíquico, a injustiça social, a fome, a violência e amiséria (Chiattone, 2000). Em conseqüência,enquanto as classes privilegiadas têm acesso aotratamento psicológico, as classes menosfavorecidas ficam desassistidas, pois o tratamento

clínico gratuito em instituições públicas e clínicas-escola não abarca as necessidades de grande parteda população. Muitas vezes, são ensinadas teoriasincompatíveis com a demanda e a realidade social,promovendo uma concepção de sujeitodesvinculada do seu contexto sociopolítico ecultural. Obviamente, essas incongruências naformação de base geram dúvidas quanto àcientificidade da tarefa do psicólogo em algunscasos onde a realidade é a da extrema pobreza, jáque a graduação em Psicologia dá ênfase aomodelo psicodinâmico e suas implicações clínicas,voltadas para a população mais privilegiada. Emsíntese, a formação em Psicologia deixapraticamente de lado temáticas relacionadas àsquestões macrossociais relativas à saúde,contribuindo para a manutenção das estruturassociais e das relações de poder sem utilizar todo oseu potencial questionador e transformador(Almeida, 2000; Dimenstein, 2000).

A falta de pesquisas na área também não privilegiaações de prevenção de saúde e, sim, açõesemergenciais. Tal situação distorce o trabalhoprofissional, provoca o afastamento entreacadêmicos e profissionais e não contribui para aampliação da prática e para a incorporação de

psicólogos recém-formados que querem trabalharna área. Com a necessidade crescente dedemonstração das evidências dos resultados dasintervenções psicológicas – o que se chama práticabaseada em provas – o desenvolvimento dapesquisa básica e aplicada é imprescindível (Ulla

Elisa Kern de Castro & Ellen Bornholdt

& Remor, 2003). As evidências dos bons resultadosdas intervenções psicológicas, além de propiciaremavanços no atendimento direto às pessoas, tambémabrem campo de trabalho ao psicólogo. Umexemplo seria o caso de alguns governos de paíseseuropeus que decidiram custear o tratamentopsicológico através da saúde pública sempre quese cumpram critérios de eficácia, efetividade eeficiência.

Então, qual seria a formação indicada para ospsicólogos que desejam trabalhar no âmbito dasaúde? Besteiro e Barreto (2003) afirmam que a

formação do psicólogo da saúde deve contemplarconhecimentos sobre: bases biológicas, sociais epsicológicas da saúde e da doença; avaliação,assessoramento e intervenção em saúde, políticase organização de saúde e colaboraçãointerdisciplinar; temas profissionais, éticos e legaise conhecimentos de metodologia e pesquisa emsaúde. Com relação ao psicólogo da saúde queatua especificamente em hospitais, é indispensávelum bom treinamento em três áreas básicas: clínica,pesquisa e programação. Com relação à a áreaclínica, o psicólogo deve ser capaz de realizaravaliações e intervenções psicológicas. Na área depesquisa e comunicação, é necessário saber

conduzir pesquisas e comunicar informações decunho psicológico a outros profissionais. Por fim,quanto à área de programação, o profissional devedesenvolver habilidades para organizar eadministrar programas de saúde. Com essaformação integrada, é possível melhorar aqualidade da atenção prestada, garantir que asintervenções implantadas sejam as mais eficazespara cada caso, diminuir custos e aumentar osconhecimentos sobre o comportamento humanoe suas relações com a saúde e a doença (Ulla &Remor, 2003).

Neste momento em que somos incitados a refletir

sobre nossa profissão para aperfeiçoar nossosmodelos de atuação profissional, como ocorre coma Psicologia da Saúde, é importante considerarsempre o aspecto social em que estamos inseridos,compreendendo a realidade do nosso país. OBrasil é o país das contradições, ao mesmo tempoem que é a décima primeira economia mundial,portanto, um país rico, ao passo que 1/3 de suapopulação é pobre, melhor dito, miserável (WHO,2003). Um terço de aproximadamente 170milhões de pessoas significa que 55 milhões vivemabaixo da linha da pobreza. Para termos umadimensão ainda mais clara dessa dura realidade,

podemos pensar que é como se toda a populaçãodos nossos vizinhos Argentina, Chile e Uruguaifossem miseráveis, isto é, aqueles que não possuemas condições mínimas de moradia, alimentação,educação e saúde. O Brasil também é o país dascontradições em si mesmo, ou seja, são também

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Psicologia da Saúde x Psicologia Hospitalar: Definições e Possibilidades de Inserção Profissional

gigantescas as diferenças econômicas e educacionais da Região Sul/Sudeste e da Norte/Nordeste/Centro-Oeste. Enfim, é uma nação rica com muitos pobres, como ilustra a tabela:

Tabela 1: Alguns dados demográficos e da saúde no BrasilPopulação (a) 169.872.856Crianças e adolescentes (até 19 anos) 40%Adultos (20-59 anos) 51%Terceira idade (a partir de 60 anos) 9%PIB per cápita (b) 7.548 ($)Gasto total per cápita em saúde (b) 631 ($)Expectativa de vida da população(b)  Homens 65,5  Mulheres 72,0

Mortalidade infantil (b) 43,5Índice de fertilidade (b) 2,2Índice de alfabetização (a) 93,2%  Rio Grande do Sul 93,9%  Alagoas 68,2%  São Paulo 95,4%b) IBGE (2003), Censo Demográfico 2000.

c) WHO (2003), Dados sobre o Brasil.

Como podemos observar a partir desses dados, asituação do nosso país é alarmante devidoprincipalmente às desigualdades existentes. Issoexige de nós, como profissionais e cidadãos

brasileiros, em primeiro lugar, um conhecimentoprofundo dessa triste realidade. Conhecendo asituação que se apresenta, a consolidação de umtrabalho de promoção da saúde pode tornar-seefetivo. Entretanto, nós, enquanto profissionais dasaúde, estamos preparados para essa realidade?Acreditamos que, em muitos aspectos, não. Parece-nos, às vezes, que os profissionais da Psicologia sãoum “retrato” da desigualdade da sociedadebrasileira, com suas práticas elitistas que beneficiamuma pequena parcela da população. Um exemploseria a utilização indiscriminada da prática dapsicoterapia individual, em contextos em que apopulação ou tem outras necessidades maisbásicas, ou até não chega à instituição por falta derecursos. Confirma essa idéia a recente pesquisarealizada sobre o perfil do psicólogo brasileiro (CFP,2003b), mostrando que 54,9% dos psicólogos queexercem a profissão trabalham na clínica emconsultório particular, enquanto apenas 12,4% dosprofissionais atuam em Psicologia da Saúde e 0,6%são pesquisadores.

Queremos esclarecer que consideramos a práticapsicoterápica individual fundamental, e, semdúvida, um dos pilares da Psicologia. Entretanto, éindispensável que sua indicação seja correta. O

que questionamos neste trabalho é o usoindiscriminado de tal modalidade de intervençãoem determinados setores ou contextos em queexistem outros tipos de intervenção maiscondizentes com as necessidades dos indivíduos.Como exemplo, pensamos em duas situações em

que a indicação de psicoterapia individual équestionável: a primeira, no contexto hospitalar, ea segunda, na comunidade. Situação 1: numdeterminado hospital, digamos que exista grande

demanda para o setor da Psicologia com pacientesinternados e se privilegie o trabalho individual.Tendo em vista a dificuldade de atender todos ospacientes, o setor decidiria, de acordo com seuspróprios critérios, atender apenas alguns pacientes,enquanto outros ficariam excluídos desse tipo deajuda. Situação 2: digamos que, num posto desaúde, exista, na sala de espera do ginecologista,várias mulheres infectadas pelo HIV. O setor daPsicologia decide, por sua vez, oferecer inscriçãona lista de espera para atendimento individualpsicoterápico. No entanto, essas pessoas seriamchamadas para atendimento, na melhor dashipóteses, dentro de um mês. A partir dessesexemplos hipotéticos, mas que podem ocorrer narealidade, é provável que seja mais produtivorealizar trabalhos grupais (em suas distintasmodalidades) enfocando a problemática comumnos dois casos.

Nesse sentido, Moura (2003), refletindo sobre “apsicologia que temos e a psicologia que queremos”,analisa essa prática tradicionalmente empreendidapelos psicólogos. Com a diminuição da procurade clientes para os seus consultórios particularesdevido ao empobrecimento da população, ospsicólogos foram obrigados a trabalhar com pessoas

cada vez mais carentes. Isso gerou o que a autoradenominou uma “crise na Psicologia”, a partir dadiscrepância entre as propostas terapêuticas e arealidade do Brasil. A prática profissional passou aser questionada no que tange à eficácia eadequação da Psicologia frente às questões de

Com a diminuiçãoda procura declientes para os seusconsultórios

 particulares devidoao empobrecimentoda população, os psicólogos foramobrigados atrabalhar com pessoas cada vezmais carentes.

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ordem social. Dimenstein (2000) afirma, ainda, quemuitos dos problemas dos quais o psicólogo passoua deparar-se escapam do domínio da clínica, poisreferem-se às condições de vida da população.Tais dificuldades passaram a ser um entrave paraas atividades de assistência pública à saúde tendoem vista a falta de preparo nessa área.

Para mostrar tais discrepâncias, dois estudosempíricos relatam a prática de psicólogos nocontexto hospitalar. No primeiro estudo (Yanamoto& Cunha, 1998), foram entrevistadas cincopsicólogas, no segundo (Yanamoto, Trindade &

Oliveira, 2002), participaram 25, todos atuandoem hospitais no Rio Grande do Norte. Foramanalisados os seguintes aspectos: formaçãoacadêmica, trajetória profissional, caracterizaçãodas atividades realizadas e avaliação do trabalhorealizado nos hospitais. Dentre os resultadosprincipais, aparece uma formação universitáriadeficitária e não condizente com a práticaprofissional, condições adversas de trabalho epráticas que, muitas vezes, não se distinguem do

fazer clínico tradicional em consultório privado.Observa-se que todos os profissionais quetrabalham diretamente com os pacientesdesenvolvem atividades psicoterápicas em suasdiversas modalidades: breve, de apoio, individualou grupal .

Levando em conta a realidade de nosso país e denossa profissão, perguntamo-nos: onde poderiase inserir o psicólogo para abrir novas frentes demercado de trabalho de acordo com asnecessidades da população?

Um dos primeiros passos seria a inserção dopsicólogo em equipes de saúde interdisciplinares.A interlocução entre os diversos saberes seria amaneira de oferecer um cuidado mais completo,eficaz e de acordo com as necessidades dapopulação (Almeida, 2000; Kerbauy, 2002). Alémda utilização de suas práticas e técnicas usuais, o

psicólogo também poderia participarpoliticamente das decisões sanitárias. Relacionadoa isso, algumas mudanças já se percebem. Porexemplo, nos últimos anos, o Conselho Federalde Psicologia vem trabalhando para transformaressa situação, tentando sensibilizar a categoriaprofissional para o desenvolvimento de açõessociais em distintas áreas da Psicologia (ConselhoFederal de Psicologia, 1994). Assim, estudos sobrea prática profissional do psicólogo, no Brasil, têmapontado para dois movimentos contrários: porum lado, a supremacia de atividades classificadascomo pertencentes ao âmbito da clínica; por outro,a emergência de movimentos buscando novas

formas de inserção profissional.O relato de Miyazaki et al. (2002) esclarece comopode ocorrer um processo de mudança permitindomaior inserção profissional de acordo com arealidade do País. Descrevendo o desenvolvimentoe estágio atual do serviço de Psicologia de umhospital em São José do Rio Preto, os autoresexplicam a evolução de uma equipe de psicologiaeminentemente clínica individual para um trabalhodentro dos moldes do que seria a Psicologia daSaúde. A intervenção individual não dava contada demanda, e então foi instalado um programadenominado Aprimoramento em Psicologia da

Saúde. Este possuía duração de dois anos ecombinava a prática à pesquisa em Psicologia daSaúde. Segundo o relato, a atuação foi realizadaem equipes interdisciplinares, abrangendo os níveisprimário, secundário e terciário de atendimento.As intervenções se davam no ambulatório, nohospital, em centro de saúde-escola e nacomunidade, sempre combinadas com pesquisasque justificassem suas ações. O hospital, naatualidade (2002), possuía 40 psicólogos (docentes,contratados e aprimorandos).

A partir dessas idéias, evidencia-se o quanto urgemrevisões e atualizações, tanto ao nível de formação

profissional quanto de estratégias de inserção dospsicólogos. É preciso romper com a “prática dosilêncio”, que compreende o indivíduo isoladoda sociedade (Moura, 2003), e elaborar ummodelo profissional que considere a ação históricados homens. A Psicologia é uma ciência jovem, e

Elisa Kern de Castro & Ellen Bornholdt

Observa-se que todosos profissionais que

trabalhamdiretamente com os

 pacientesdesenvolvem

atividades psicoterápicas em

suas diversasmodalidades: breve,

de apoio, individualou grupal .

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sua participação histórica nos programas de saúde tende a ser tímida. Queremos destacar a importância depodermos discutir, compreender e assumir a função e o papel que nos cabe para transformar a realidadesanitária no País. O próprio psicólogo necessita dessas reflexões para que, efetivamente, torne seu trabalhovetor nos programas de saúde e abra espaço para a atuação de novos profissionais nessas equipes.

Em última análise, acreditamos que, se o indivíduo não pode vir até o psicólogo, o psicólogo pode ir atéele. Isso significa entrar em contato com a dura realidade do nosso país. Conhecendo a populaçãobrasileira, os psicólogos podem utilizar seus conhecimentos para chegar a todos, independentemente deseus recursos: os que têm condições e desejam um tratamento particular, e também aqueles que nemsequer sabem o quanto poderiam ser ajudados por profissionais dessa área.

Considerações Finais

No presente trabalho, procuramos esclarecer e sintetizar o que é a Psicologia da Saúde e a PsicologiaHospitalar. Aprofundando o estudo e os fundamentos dessas áreas, chegamos à conclusão que a PsicologiaHospitalar brasileira, tal como é descrita, estaria incluída na área mais abrangente da Psicologia da Saúde.Para justificar nosso posicionamento, construímos uma tabela em que se resumem as principais semelhançase diferenças entre Psicologia da Saúde e Psicologia Hospitalar a partir do material já apresentado.

Tabela 2: Diferenças entre Psicologia Hospitalar e Psicologia de SaúdePsicologia Hospitalar (Brasil) Psicologia de SaúdeAtenção secundária e terciária Atenção primária, secundária e terciáriaAtuação em hospitais Atuação em centros de saúde, hospitais, ONGs etc.Prática profissional no hospital não Prática profissional na área da saúde exigeexige especialização obrigatória especialização obrigatória em alguns paísesPratica interdisciplinar Pratica interdisciplinar (em alguns hospitais e outras

(em alguns hospitais) instituições de saúde)Distintas teorias psicológicas utilizadas Distintas teorias psicológicas utilizadas

Psicologia da Saúde x Psicologia Hospitalar: Definições e Possibilidades de Inserção Profissional

Como se verifica na tabela, a Psicologia da Saúdeamplia a atuação do psicólogo hospitalar.Contudo, é possível que, em muitos hospitais doBrasil, os psicólogos realizem seus trabalhos emdistintos setores de acordo com a definição daPsicologia da Saúde. No Brasil, entretanto,oficialmente, essa definição não existe comoespecialização oficial definida pelo CRP, aocontrário da Psicologia Hospitalar, que é umaespecialidade.

Nós nos perguntamos: essa definiçãoexclusivamente brasileira de “PsicologiaHospitalar” é adequada? Pensamos que, como essadenominação já está consolidada na linguagemdos psicólogos e de outros profissionais da saúdebrasileiros, parece óbvio que permaneça. Noentanto, estamos de acordo com Chiattone (2000),Yanamoto e Cunha (1998) e Yanamoto, Trindadee Oliveira (2002) quando declaram que seria maisadequado referir-nos à Psicologia no contextohospitalar como um trabalho que faz parte daPsicologia da Saúde. Além disso, consideramos

importante ressaltar que essa denominação podeser inadequada se tratarmos a Psicologia da Saúdecomo sinônimo de Psicologia Hospitalar, poisintervenções em saúde que necessitariam serrealizadas fora do hospital poderiam não sersupridas, principalmente aquelas relativas à

prevenção primária. Todas essas questões estãodiretamente associadas às reais necessidades edemandas da população brasileira.

A polêmica sobre a existência de uma área únicaabrangente ou de duas áreas distintas, PsicologiaClínica ou Psicologia da Saúde, é tema de debateinternacional (Yanamoto, Trindade & Oliveira,2002), e claro, deve ser prioritariamente nacional.Nossa inquietude frente às mencionadascontradições das áreas de especialização e aindada existência de uma Psicologia Hospitalarbrasileira foi a mola propulsora para a presentereflexão. Estando fora do Brasil, vimos “de longe”,e assim, de maneira distinta, nossa realidade, tantode país quanto de profissão. Justamente poracreditarmos no desenvolvimento do Brasil e daPsicologia propomos este questionamento. Maisque respostas, temos perguntas. Mais que certezas,temos inquietações. Mais que conformismo, temosa esperança neste país, dito em desenvolvimento,em que existem realidades de primeiro e terceiromundo que se chocam constantemente.

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Elisa Kern de Castro & Ellen Bornholdt

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