8
Gl. Sci Technol, Rio Verde, v. 07, n. 03, p.119 126, set/dez. 2014. CLARIFICAÇÃO DE VINHO TINTO PELO PROCESSO DE SEPARAÇÃO POR MEMBRANAS Bruna Seguenka 2 , Vandré Barbosa Brião 1* , Camila Silveira 3 , Ana Cláudia Vieira Salla 2 , Adriana Milani 1 , Suelen Muhl Castoldi 1 RESUMO: O vinho precisa ser filtrado com o objetivo de deixá-lo límpido e brilhante. O processo convencional de filtração consiste de filtros de terra diatomácea, os quais são contraindicados por gerarem resíduos sólidos. Como alternativa, a filtração por membranas tem aparecido como uma tecnologia promissora devido à sua habilidade em realizar a clarificação/filtração/higienização em uma etapa simples em operação contínua. Com o objetivo de avaliar o processo de clarificação de vinhos com o uso de membranas de microfiltração e ultrafiltração, realizou-se ensaios com três tipos de membranas: uma de microfiltração com poros de 0,3 μm, uma de ultrafiltração com intervalo de separação de 80 kDa e uma de ultrafiltração com intervalo de separação de 4 kDa. Os testes foram realizados em um equipamento piloto de laboratório e foram avaliados para a matéria- prima e para os vinhos clarificados os seguintes parâmetros: turbidez, pH, grau alcoólico, acidez total, extrato seco total, açucares redutores, cor e sólidos solúveis. As reduções de turbidez foram gradativas de acordo com a abertura dos poros das membranas, atingindo o resultado esperado quanto ao objetivo de redução de turbidez do vinho. Todos os vinhos submetidos à filtração apresentaram suas características físico-químicas dentro dos padrões exigidos pela legislação brasileira. Palavras-chave: Vinho, microfiltração, ultrafiltração CLARIFICATION OF RED WINE BY THE PROCESS OF SEPARATION BY MEMBRANES ABSTRACT: The wine needs to be filtered with the objective of leaving it clear and bright. The conventional process of filtration consists of land diatom filters, which are contraindicated because they generate solid waste. As an alternative, the membrane filtration has emerged as a promising technology due to its ability to perform the clarification/filtration/sanitizing agents in one simple step in continuous operation. With the objective of assessing the process of clarification of wines with the use of membranes for microfiltration and ultrafiltration,were held tests with three types of membranes: one of microfiltration with pore size of 0.3 μm, an ultrafiltration with interval of separation of 80 kDa and an ultrafiltration with interval of separation of 4 kDa. The tests were carried out in a pilot lab equipment and were evaluated for the raw material and for the wines clarified the following parameters: turbidity, pH, alcoholic degree, total acidity, total dry extract, reducing sugars, color and soluble solids. The reductions in turbidity were gradual in accordance with the opening of the membrane pores, reaching the expected result regarding the objective of reduction of turbidity of the wine. All wines submitted to the filtration presented its physico-chemical characteristics within the standards required by Brazilian law. Key words: Wine, microfiltration, ultrafiltration ____________________________________________________________________________________________________ 1. Engenharia de Alimentos. Faculdade de Engenharia e Arquitetura. Universidade de Passo Fundo (UPF). Endereço: Rodovia BR 285, km 171. CEP: 99052-900. Caixa Postal 611. Passo Fundo. Rio Grande do Sul (RS). Brasil. *Tel (+55) 54 3316 8269. *E-mail: [email protected]. Autor para correspondência. 2. Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos. Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária (FAMV). UPF. Prédio G3. BR 285. CEP: 99052-900. Passo Fundo. RS. Brasil. 3. Engenharia Química e Engenharia de Alimentos. Universidade Federal de Santa Catarina. Caixa Postal 970. CEP 88040-900. Florianópolis. Santa Catarina (SC). Brasil. Recebido em: 24/10/2013.Aprovado em: 01/09/2014.

Artigo Publicado_ Clarificaçã de Vinhos_ 15-650-3978-1-CE - PDF

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Artigo publicado sobre clarificação de vinhos por processos de searação por membranas.

Citation preview

Page 1: Artigo Publicado_ Clarificaçã de Vinhos_ 15-650-3978-1-CE - PDF

Gl. Sci Technol, Rio Verde, v. 07, n. 03, p.119 – 126, set/dez. 2014.

CLARIFICAÇÃO DE VINHO TINTO PELO PROCESSO DE SEPARAÇÃO POR

MEMBRANAS

Bruna Seguenka2, Vandré Barbosa Brião

1*, Camila Silveira

3, Ana Cláudia Vieira Salla

2, Adriana

Milani1, Suelen Muhl Castoldi

1

RESUMO: O vinho precisa ser filtrado com o objetivo de deixá-lo límpido e brilhante. O processo convencional

de filtração consiste de filtros de terra diatomácea, os quais são contraindicados por gerarem resíduos sólidos.

Como alternativa, a filtração por membranas tem aparecido como uma tecnologia promissora devido à sua

habilidade em realizar a clarificação/filtração/higienização em uma etapa simples em operação contínua. Com o

objetivo de avaliar o processo de clarificação de vinhos com o uso de membranas de microfiltração e

ultrafiltração, realizou-se ensaios com três tipos de membranas: uma de microfiltração com poros de 0,3 μm,

uma de ultrafiltração com intervalo de separação de 80 kDa e uma de ultrafiltração com intervalo de separação

de 4 kDa. Os testes foram realizados em um equipamento piloto de laboratório e foram avaliados para a matéria-

prima e para os vinhos clarificados os seguintes parâmetros: turbidez, pH, grau alcoólico, acidez total, extrato

seco total, açucares redutores, cor e sólidos solúveis. As reduções de turbidez foram gradativas de acordo com a

abertura dos poros das membranas, atingindo o resultado esperado quanto ao objetivo de redução de turbidez do

vinho. Todos os vinhos submetidos à filtração apresentaram suas características físico-químicas dentro dos

padrões exigidos pela legislação brasileira.

Palavras-chave: Vinho, microfiltração, ultrafiltração

CLARIFICATION OF RED WINE BY THE PROCESS OF SEPARATION BY MEMBRANES

ABSTRACT: The wine needs to be filtered with the objective of leaving it clear and bright. The conventional

process of filtration consists of land diatom filters, which are contraindicated because they generate solid waste.

As an alternative, the membrane filtration has emerged as a promising technology due to its ability to perform

the clarification/filtration/sanitizing agents in one simple step in continuous operation. With the objective of

assessing the process of clarification of wines with the use of membranes for microfiltration and

ultrafiltration,were held tests with three types of membranes: one of microfiltration with pore size of 0.3 μm, an

ultrafiltration with interval of separation of 80 kDa and an ultrafiltration with interval of separation of 4 kDa.

The tests were carried out in a pilot lab equipment and were evaluated for the raw material and for the wines

clarified the following parameters: turbidity, pH, alcoholic degree, total acidity, total dry extract, reducing

sugars, color and soluble solids. The reductions in turbidity were gradual in accordance with the opening of the

membrane pores, reaching the expected result regarding the objective of reduction of turbidity of the wine. All

wines submitted to the filtration presented its physico-chemical characteristics within the standards required by

Brazilian law.

Key words: Wine, microfiltration, ultrafiltration

____________________________________________________________________________________________________ 1. Engenharia de Alimentos. Faculdade de Engenharia e Arquitetura. Universidade de Passo Fundo (UPF).

Endereço: Rodovia BR 285, km 171. CEP: 99052-900. Caixa Postal 611. Passo Fundo. Rio Grande do Sul (RS).

Brasil. *Tel (+55) 54 3316 8269. *E-mail: [email protected]. Autor para correspondência. 2. Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos. Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária

(FAMV). UPF. Prédio G3. BR 285. CEP: 99052-900. Passo Fundo. RS. Brasil. 3.

Engenharia Química e Engenharia de Alimentos. Universidade Federal de Santa Catarina. Caixa Postal 970.

CEP 88040-900. Florianópolis. Santa Catarina (SC). Brasil.

Recebido em: 24/10/2013. Aprovado em: 01/09/2014.

Page 2: Artigo Publicado_ Clarificaçã de Vinhos_ 15-650-3978-1-CE - PDF

B. Seguenka et al. 120

Gl. Sci Technol, Rio Verde, v. 07, n. 03, p.119 – 126, set/dez. 2014.

INTRODUÇÃO

O vinho é a bebida obtida da

fermentação alcoólica do mosto da uva

fresca, sã e madura. O Brasil figura como o

16° produtor mundial de vinhos (SCHLEIER,

2004). O Brasil tem desenvolvido uma

capacidade excepcional para a produção de

vinhos de qualidade. Atualmente, o país

possui uma das melhores regiões no mundo

para o cultivo de uvas destinadas à produção

de vinhos espumantes (WENDLER, 2009).

A produção de vinho é a atividade que

move a economia da Serra Gaúcha, região

vitivinícola mais importante do Brasil. O

vinho é uma bebida com características

peculiares e que envolve a utilização de

matérias-primas de qualidade e total controle

do processo (OLIVEIRA, 2007).

Os vinhos, para serem

comercializados, devem apresentar a melhor

diafaneidade possível, para tanto são

submetidos à filtração para eliminar a

turbidez e para garantir a estabilidade

química e biológica (OLIVEIRA et al.,

2008). A turvação de um vinho e/ou a

presença de um depósito no fundo das

garrafas, são sinais de possíveis alterações

(CARVALHEIRA, 2010).

A clarificação corresponde à

separação das partículas sólidas do mosto

após sedimentação espontânea ou provocada

(RIZZON & MENEGUZO, 1996), ela é uma

fase final do processamento de vinho, antes

do engarrafamento (SEMIÃO & PINHO,

2010).

A utilização da microfiltração,

operando com escoamento tangencial à

superfície da membrana é uma alternativa

promissora na substituição dos métodos

convencionais de filtração ou como método

de finalização da bebida, principalmente, no

que diz respeito ao tempo de retorno do

investimento e diminuição do tempo de

processamento (NETA, 2005).

A ultrafiltração é aplicada na

clarificação, na concentração de solutos e no

fracionamento de componentes de uma

mistura. Na indústria, é usada na recuperação

de tintas coloidais na pintura de veículos, na

recuperação de proteínas do soro do leite, na

produção de queijo, na recuperação da goma

da indústria têxtil, na concentração de

gelatina, na recuperação de óleos e também

na clarificação de sucos (ALVES et al.,

2006).

O processo convencional de filtração

usado pelas indústrias consiste de filtros de

terra diatomácea, os quais usam o princípio

da filtração frontal (OLIVEIRA; MENDES;

BARROS, 2008). As placas de filtração são

cartões formados de fibras celulósicas

associadas a compostos granulosos como

terras diatomáceas. A contraindicação por

esse meio de filtração são os resíduos sólidos

gerados pelo uso da terra diatomácea

(CARVALHEIRA, 2010).

As principais fontes de efluentes em

uma vinícola são as operações de lavagem, as

águas residuais que contêm resíduos de

subprodutos, perdas de mostos e de vinhos

ocorridos por acidente ou durante a lavagem,

produtos usados para o tratamento do vinho

como colas e terras de filtração e produtos de

limpeza e desinfecção (WENDLER, 2009).

Uma das características dos processos

de separação com membranas é que podem

ser operados em fluxo cruzado (cross-flow

filtration). Na filtração tangencial cross-flow,

a solução de alimentação flui paralelamente à

membrana, e o fluxo de permeado,

perpendicularmente, o que permite o

escoamento de grandes volumes de fluidos,

pois este tipo de escoamento, a altas

velocidades, tem o efeito de arrastar os

sólidos que tendem a se acumular sobre a

superfície da membrana (ALVES et al.,

2006).

Os processos de separação por

membranas apresentam uma série de

vantagens que lhes permitem competir com

as técnicas clássicas de separação. Entre estas

vantagens destacam-se: economia de energia,

seletividade, separação de termolábeis,

simplicidade de operação e de ampliação,

sistemas modulares e dados para o

dimensionamento facilmente obtido a partir

de equipamentos pilotos, operando com

módulos de membrana de mesma dimensão

dos utilizados industrialmente. Além disso, a

Page 3: Artigo Publicado_ Clarificaçã de Vinhos_ 15-650-3978-1-CE - PDF

Clarificação de vinho tinto... 121

Gl. Sci Technol, Rio Verde, v. 07, n. 03, p.119 – 126, set/dez. 2014.

operação dos equipamentos com membranas

é simples e não intensiva em mão de obra

(ALVES et al., 2006).

Alternativamente, a filtração por

membranas tem aparecido como uma

tecnologia promissora para este propósito,

devido à sua habilidade em realizar a

clarificação/filtração/higienização em uma

etapa simples em operação contínua

(URKIAGA et al., 2002). Neste contexto,

este trabalho teve como objetivo avaliar o

processo de clarificação de vinhos com o uso

de membranas de microfiltração e

ultrafiltração.

MATERIAL E MÉTODOS

O vinho utilizado neste trabalho é

proveniente da uva Vitis vinifera cultivada no

interior de Passo Fundo - RS, Brasil. A

matéria-prima passou por processo

fermentativo artesanal e foi recolhida no

processo de vinificação após a fermentação,

na etapa que antecede a clarificação

convencional do vinho, feita por meio de

terra diatomácea e filtros placas de celulose.

A clarificação do vinho foi realizada

com três tipos de membranas: uma de

microfiltração com poros de 0,3 μm, uma de

ultrafiltração com intervalo de separação de

80 kDa e uma de ultrafiltração com intervalo

de separação de 4 kDa.

As membranas utilizadas possuem

uma conformação semelhante a um trocador

de calor tipo casco e tubo, com 5 tubos

circulares de 13 mm de diâmetro cada.

Possuem diâmetro total de 136 mm (Figura

1).

Figura 1. Membrana piloto de filtração semelhante a um trocador de calor tipo casco e tubo. Fonte: Koch membrane system manual (2012).

O módulo de microfiltração que foi

utilizado é do tipo tubular, de PES

(polietersulfona) do fabricante KOCH

Membrane Systems. Possui uma faixa de

abertura dos poros de 0,1 μm e área de fluxo

de 0,1 m².

O módulo de ultrafiltração 80 kDa

que foi utilizada é do tipo tubular de PVDV

(policloreto de vinilideno) do fabricante

KOCH Membrane Systems. Possui intervalo

de separação de 80 kDa e uma área de fluxo

de 0,1 m².

O módulo de ultrafiltração 4 kDa que

foi utilizada é do tipo tubular de cerâmica.

Possui intervalo de separação de 4 kDa e uma

área de fluxo de 0,1 m².

Os testes foram realizados em um

equipamento piloto de laboratório, que é

composto por um tanque de alimentação,

válvula de macho, bomba pneumática,

membrana do módulo, manômetro e uma

válvula globo (Figura 2).

Page 4: Artigo Publicado_ Clarificaçã de Vinhos_ 15-650-3978-1-CE - PDF

B. Seguenka et al. 122

Gl. Sci Technol, Rio Verde, v. 07, n. 03, p.119 – 126, set/dez. 2014.

Figura 2. Fluxograma do processo de clarificação de vinho, utilizando equipamento piloto de

laboratório.

O módulo piloto de separação por

membranas funciona através da alimentação

do vinho com sólidos suspensos em um

tanque, o mesmo é impulsionado por uma

bomba movida a ar comprimido através da

carcaça da membrana, na qual é feita a

separação do vinho clarificado, chamado de

permeado, e o retido composto pelos sólidos

suspensos. O permeado foi coletado em

recipiente limpo e, em seguida, armazenado

em garrafas pet livres da influência do

oxigênio e da presença de luz. O retido foi

recirculado para o tanque de alimentação,

onde foi novamente impulsionado através da

membrana.

Os parâmetros de filtração foram fixos

para os três tipos de membranas, sendo uma

pressão de 0,5 bar (50 kPa), uma temperatura

de 20 oC e a uma velocidade tangencial de

alimentação de 24655 m3.h

-1.

A velocidade tangencial de

alimentação foi obtida por meio da divisão do

fluxo de rejeito (3270,9 L.(m2.h)

-1), pela área

de secção transversal do tubo das membranas

(1,33.10-4

m3.h

-1).

Uma filtração experimental com terra

diatomácea, modo convencional de

clarificação de vinhos, foi realizada para

comparação dos parâmetros físico-químicos.

Adicionou-se terra diatomácea no vinho, em

uma concentração de 1 g.L-1

, e deixou-se sob

agitação constante durante 1 h. Fez-se a

remoção da terra diatomácea com filtração a

vácuo, usando funil de Büchner. O vinho

filtrado foi armazenado em garrafas pet livres

da influência do oxigênio e da presença de

luz.

Foram avaliados para a matéria-prima

e para os vinhos clarificados os seguintes

parâmetros: turbidez com realização do

procedimento de acordo com Instituto Adolfo

Lutz (2008), pH determinado de acordo com

o MAPA (2010), grau alcoólico quantificado

pelo método do alcoômetro a temperatura de

20 oC de acordo com o MAPA (2010), acidez

total determinada pelo método titulométrico

Page 5: Artigo Publicado_ Clarificaçã de Vinhos_ 15-650-3978-1-CE - PDF

Clarificação de vinho tinto... 123

Gl. Sci Technol, Rio Verde, v. 07, n. 03, p.119 – 126, set/dez. 2014.

(acidimétrico) de acordo com o MAPA

(2010), extrato seco total de acordo com

Instituto Adolfo Lutz (2008), açucares

redutores quantificados pelo método de DNS

de acordo com Rodrigues e Santos (2011),

sólidos solúveis quantificado com o uso de

refratômetro digital e cor que foi avaliada

através do equipamento Color QUEST II da

marca Hunter Lab, previamente calibrado.

Esse equipamento faz a leitura de cor nos

parâmetros CIELab. Foi usada a iluminação

D65 e o observador padrão 2º (ALMELA et

al., 1995).

Para análise dos resultados foi

realizada a estatística dos dados através da

Análise de Variância (ANOVA) seguida do

teste de Tuckey (p<0,05) para a comparação

de médias.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As características da matéria-prima,

submetida à clarificação, estão apresentadas

na Tabela 1.

Tabela 1. Valores das características físico-químicas do vinho antes da clarificação

VARIÁVEL VINHO NÃO CLARIFICADO

Turbidez (NTU) 41,2

pH 3,39

Álcool (oGL) 13

Acidez total (meq.L-1

) 111,01

Extrato seco (g.L-1

) 17,04

Açucares redutores (mg AR.L-1

) 297,80

Sólidos solúveis (oBRIX) 5,9

Os valores de turbidez do vinho

clarificado com os três tipos de membranas

avaliadas e com terra diatomácea estão

expressos na Tabela 2.

Tabela 2. Valores de turbidez do vinho comparando os quatro tipos de filtração

(microfiltração, ultrafiltração 1, ultrafiltração 2 e terra diatomácea)

MEMBRANA TURBIDEZ (NTU)

Microfiltração (0,1 μm) 35,65±0,35a

Ultrafiltração 1 (80 kDa) 24,65±0,78b

Ultrafiltração 2 (4 kDa) 19,25±0,49c

Terra diatomácea 14,85±0,21d

* Resultados de média ± desvio padrão; letras diferentes em uma mesma coluna correspondem à diferença

significativa (p < 0,05) pelo Teste de Tukey.

A análise estatística demonstra que a

turbidez apresentou uma diferença

significativa para todos os ensaios.

Comparados com a turbidez do vinho antes

da clarificação, 41,2 NTU, todos os ensaios

mostraram redução da turbidez.

O vinho clarificado pela membrana de

microfiltração (abertura dos poros de 0,1 μm)

apresentou uma redução de 13,47 %, o vinho

clarificado pela membrana de ultrafiltração

com intervalo de separação de 80 kDa

apresentou uma redução de 40,17 %, já o

vinho clarificado com a membrana de

ultrafiltração com intervalo de separação de 4

kDa apresentou uma redução de 53,28 %. As

reduções de turbidez foram gradativas de

Page 6: Artigo Publicado_ Clarificaçã de Vinhos_ 15-650-3978-1-CE - PDF

B. Seguenka et al. 124

Gl. Sci Technol, Rio Verde, v. 07, n. 03, p.119 – 126, set/dez. 2014.

acordo com a abertura dos poros das

membranas, atingindo o resultado esperado

quanto ao objetivo de redução de turbidez do

vinho.

As membranas não atingiram a

eficiência do modo convencional com terra

diatomácea, que teve uma redução de 63,94

% de turbidez. O que não revela ineficiência

das membranas quanto à sua capacidade de

clarificação. Podendo-se dizer ainda que a

clarificação com membranas é o melhor

método para clarificação de vinhos,

justamente pelo fato de a filtração com terra

diatomácea deixar resíduos sólidos que não

podem ser reaproveitados.

Os resultados das análises físico-

químicas do vinho clarificado com os três

tipos de membranas avaliadas e com terra

diatomácea estão expressos na Tabela 3.

Tabela 3 − Valores das características físico-químicas do vinho comparando os quatro tipos

de filtração (microfiltração, ultrafiltração 1, ultrafiltração 2 e terra diatomácea)

Membrana pH Álcool (oGL)

Acidez

total (meq.L-1)

Extrato

seco (g.L-1)

Açúcares

redutores (mg AR.L-1)

Sólidos

solúveis

(oBrix)

Cor (∆E)

Microfiltração

(0,1 μm) 3,28±0,08a 10,00±0,00

a 96,76±2,08

a 12,59±0,12

a 284,52±0,25

a 5,20±0,42a 22,27±0,25

a

Ultrafiltração 1

(80 kDa) 3,26±0,01a 9,50±0,71

a 95,28±1,39

a 10,51±0,27

b 273,02±0,20

a 5,20±0,14a 22,89±0,13

a

Ultrafiltração 2

(4 kDa) 3,19±0,01a 9,00±0,00

a 90,37±1,39

a 9,91±0,07

b,c 270,36±0,05

a 4,80±0,71a 22,50±0,22

a

Terra

diatomácea 3,31±0,01a 10,50±0,71

a 94,76±2,08

a 11,00±0,05

b,d 282,75±0,05

a 5,35±0,21a 22,37±0,02

a

* Resultados de média ± desvio padrão; letras diferentes em uma mesma coluna correspondem à diferença

significativa (p < 0,05) pelo Teste de Tukey.

Segundo dados da literatura, os vinhos

brasileiros apresentam pH, no qual varia de

3,0 até 3,6 dependendo do tipo de vinho

(tinto ou branco), da cultivar, e da safra. O

pH de vinhos de mesa não deveria exceder a

3,6 (RIZZON & SALVADOR, 1987). O pH

para todos os ensaios não apresentou

diferença significativa. Desse modo, estes

respectivos ensaios encontraram-se dentro

dos padrões para vinhos.

Todos os ensaios avaliados

apresentaram um teor de álcool dentro dos

padrões exigidos pela Lei n. 7.678, de 08 de

novembro de 1988, alterada pela Lei n.

10.970, de 12 de novembro de 2004, na qual

está vigente, prevê que vinhos de mesa

valores de etanol variam de 8,6 oGL a 14

oGL

(BRASIL, 2004).

Segundo a Portaria n. 229, de 25 de

outubro de 1988, que estabelece para acidez

total com teor mínimo de 55,0 meq.L-1

e teor

máximo de 130,0 meq.L-1

, todas as amostras

estão dentro dos padrões da legislação em

vigor (UVIBRA, 2004).

A redução de estrato seco de todos os

experimentos, comparado com o valor de

estrato seco do vinho antes da clarificação

(17,04 g.L-1

), mostraram redução de massa.

Em relação às amostras de vinhos

clarificados, todas apresentaram teores

menores que 4000 mg/L que é o máximo

permitido pela legislação e portaria referente

(UVIBRA, 2004). Teores mais elevados de

açúcares redutores, além de indicar que as

leveduras não completaram a fermentação

alcoólica, podem por em risco a estabilidade

do vinho.

Na Tabela 4, está os valores

encontrados para as coordenadas L*, a*, b* e

o ∆E para a matéria-prima e os vinhos

clarificados.

Page 7: Artigo Publicado_ Clarificaçã de Vinhos_ 15-650-3978-1-CE - PDF

Clarificação de vinho tinto... 125

Gl. Sci Technol, Rio Verde, v. 07, n. 03, p.119 – 126, set/dez. 2014.

Tabela 4. Parâmetros de leitura CIELab para a matéria-prima e os quatro tipos de filtração

avaliados, coordenadas L*, a*, b* e ∆E

Membrana L* a* b* ∆E

Matéria-prima 22,12 1,98 -0,12 22,20

Microfiltração (0,1 μm) 22,15 2,26 -0,06 22,27

Ultrafiltração 80 kDa 22,61 4,09 0,44 22,98

Ultrafiltração 4 kDa 22,47 2,84 0,08 22,65

Terra diatomâcea 22,29 1,84 -0,27 22,37

Quando avaliados os parâmetros L*,

a* e b* separados, todas as filtrações

apresentaram um vinho com L* em torno de

22, o que indica que os vinhos são mais

opacos que translúcidos. Os vinhos

submetidos às duas membranas de

ultrafiltração mostraram-se com uma

coloração mais avermelhada e amarelada que

os vinhos submetidos à microfiltração e a

terra diatomácea, que se apresentaram um

pouco menos avermelhados e mais azulados.

Quando a cor é avaliada de acordo

com o ∆E, um número absoluto que indica a

diferença de “sensação” na totalidade da cor,

incluindo brilho, tom e saturação, as amostras

não apresentaram diferença significativa.

Todas as filtrações com membranas e

a filtração com terra diatomácea não

apresentaram retenção quanto ao parâmetro

de cor. Sendo que, a cor do vinho antes das

filtrações (matéria-prima) apresentou um ∆E

de 22,20.

CONCLUSÕES

As reduções de turbidez foram

gradativas de acordo com a abertura dos

poros das membranas, atingindo o resultado

esperado quanto ao objetivo de redução de

turbidez do vinho.

A clarificação com membranas é o

melhor método para clarificação de vinhos,

justamente, pelo fato de a filtração com terra

diatomácea deixar resíduos sólidos que não

podem ser reaproveitados.

O vinho não clarificado e todos os

vinhos submetidos à filtração apresentaram

suas características físico-químicas dentro

dos padrões exigidos pela legislação

brasileira.

REFERÊNCIAS

ALMELA, L.; JAVOLOY, S.;

FERNANDES, L. J.; LÓPES, R. J.

Compararison between the tristimulus

measurements Yxy and L* a* b* to evaluate

the colour of young red wines. Food

Chemistry, n. 53, p. 321-327, 1995.

ALVES, J. A.; OLIVEIRA, R. C.;

INNOCENTI, T. D.; BARROS, S. T. D.;

MENDES, E. S. Estudo do mecanismo de

fouling em vinho e cerveja. Iniciação

Científica Cesumar, Universidade Estadual

de Maringa, Maringa – PR, 2006.

BRASIL. Ministério da Agricultura. Portaria

nº 76 de 26 de novembro de 1986. Dispõe

sobre os métodos analíticos de bebidas e

vinagre. Diário Oficial da República

Federativa do Brasil, Brasília, 28 nov. 1986.

Seção 1, pt. 2. Disponível em:

http://extranet.agricultura.gov.br/sislegis.

Acesso em: 15 de abril de 2013.

BRASIL. Lei no 10.970, de 12 de novembro

de 2004. Altera dispositivos da Lei no 7.678,

de 8 de novembro de 1988, que dispõe sobre

a produção, circulação e comercialização do

vinho e derivados da uva e do vinho, e dá

outras providências. Presidência da

República. Casa Civil. Subchefia para

Assuntos Jurídicos. Brasília, 12 de novembro

de 2004. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2

004-2006/2004/lei/l10.970.htm>. Acesso em:

15 de outubro de 2012.

Page 8: Artigo Publicado_ Clarificaçã de Vinhos_ 15-650-3978-1-CE - PDF

B. Seguenka et al. 126

Gl. Sci Technol, Rio Verde, v. 07, n. 03, p.119 – 126, set/dez. 2014.

CARVALHEIRA J. Filtração dos vinhos.

Curso intensivo de conservação, estabilização

e engarrafamento de vinhos. Laboratório de

química enológica da Direção Regional da

Agricultura e Pescas (DRAP), 2010.

Disponível em: <http://www.drapc.min-

agricultura.pt/base/geral/files/filtracao_vinho

s.pdf >. Acesso em 04 de março de 2013.

INSTITUTO ADOLFO LUTZ – IAL.

Métodos físico-químicos para análise de

alimentos. Normas Analíticas do Instituto

Adolfo Lutz. 4. ed. 1o versão eletrônica, São

Paulo, IMESP, 2008.

MINISTÉRIO DA AGRICULTURA,

PECUÁRIA E ABASTECIMENTO -

MAPA. Manual e métodos de análises de

bebidas e vinagres. 1. ed. Brasil, 2010.

NETA, L. S. F. Clarificação de bebidas

fermentadas utilizando o processo de

microfiltração. Dissertação (mestrado).

Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio

de Janeiro – RJ, Brasil, 2005.

OLIVEIRA, C. M. Viticultura e produção

de vinho. Dossiê Técnico, Rede de

tecnologia do Rio de Janeiro, 2007.

OLIVEIRA, R. C.; MENDES, E. S.;

BARROS, S. T. D. Clarificação de vinho

branco com membrana de cerâmica.

Brazilian Journal of Food Technology, v.

11, n. 4, p. 305-312, 2008.

RIZZON, L. A.; MENEGUZO, J. Influência

da clarificação do mosto na composição e na

qualidade do vinho branco. Centro Nacional

de pesquisa de uva e vinho, EMBRAPA,

Curitiba – PR, 1996.

RIZZON, L. A.; SALVADOR, M. B. G.

Teores de Cátions dos Vinhos da

Microrregião Homogênea Vinicultora de

Caxias do Sul (MRH 311). Embrapa Uva e

Vinho - comunicado técnico 4, Bento

Gonçalves, 1987.

RIZZON, L. A.; SALVADOR, M. B. G.,

Composição Química dos Vinhos da

Microrregião Homogênea Vinicultora de

Caxias do Sul (MRH 311) – Compostos

Voláteis. Embrapa Uva e Vinho -

comunicado técnico 5, Bento Gonçalves,

1987.

RODRIGUES, D. C. G. A.; SANTOS, T. T.

Manual de práticas de processos

bioquímicos. Apostila de Aulas Práticas.

Universidade do Estado do Rio de Janeiro,

Faculdade de Tecnologia, Engenharia de

Produção, Departamento de Química e

Ambiental, Processos Bioquímicos, 2011.

SCHLEIER, R. Constituintes fitoquímicos

de Vitis vinifera L. (uva). Monografia,

Instituto Brasileiro de estudos homeopáticos,

Faculdade de ciências da saúde de São Paulo,

São Paulo - SP, 2004.

SEMIÃO, A.; PINHO, M. N. Membrane

Processes in Wine and Dairy Industries:

IPPC Database, Case Studies. Instituto de

Biologia Experimental e Tecnologia. Oeiras –

Portugal, 2010.

URKIAGA, A.; DE LAS FUENTES, L.;

ACILU, M.; URIARTE, J. Membrane

comparison for wine clarification by

microfiltration. Desalination. Centro

tecnológico Amsterdan, v. 148, n.1-3, p. 115-

120, 2002.

UNIÃO BRASILEIRA DE

VITIVINICULTURA – UVIBRA. Produção

de Uvas, Elaboração de Vinhos e

Derivados. 1998-2004. Disponível em:

<http://www.uvibra.com.br>. Acesso em: 04

de março de 2013.

WENDLER, D. F. Sistema de Gestão

ambiental aplicado a uma vinícola: um

estudo de caso. Dissertação (mestrado em

engenharia de produção), Centro de

tecnologia, Programa de pós-graduação em

engenharia de produção, Universidade

Federal de Santa Maria. Santa Maria – RS,

2009.